Educomunicação

March 24, 2018 | Author: Dr Prof Cleiton Cesar Schaefer | Category: Communication, Learning, Cognitive Science, Psychology & Cognitive Science, Entertainment (General)


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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUDIVISUAL PROF. MS. MÔNICA CRISTINE FORT SEMINÁRIO DE TELEVISÃO EDUCOMUNICAÇÃO CLEITON CESAR SCHAEFER CURITIBA 2010 EDUCOMUNICAÇÃO O conceito de Educomunicação vem ganhando fórum de cidadania nos últimos anos. Durante o Seminário Internacional sobre Comunicação e Educação, que resultou no livro Comunicación-Educación, coordinadas, abordajes y travesías, coordenado por Carlos Eduardo Valderrama. Esse encontro foi considerado um marco na definição dos parâmetros teóricos que aproximam comunicação e educação na América Latina assim como o Fórum sobre Mídia e Educação, promovido no Brasil em 1999. No Brasil, a grande justificativa é descrita como a des igualdade social do acesso à informação: o mundo digital pode aprofundar a desigualdade que já existe entre os brasileiros, pois a ameaça do apartheid digital. A Educomunicação vem firmando-se, no Brasil, como campo epistemológico entre pesquisadores e tem seus estudos ampliados e sistematizados . Uma pesquisa realizada de 1997 a 1999 (Soares, 1999) entre estudiosos e profissionais de Comunicação e de Educação do Brasil e de tod a a América Latina e recentemente confirmada (1999 e 2000) mostrou que o campo da inter -relação Comunicação/Educação legitima-se como importante novo campo interdisciplinar de ação e reflexão frente ao desenvolvimento da sociedade midiática, das novas tecnologias da comunicação e da informação e do deslocamento da escola como fonte privilegiada do conhecimento. O conceito de Educomunicação entendido por Soares é ³o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos, centro produtores de materiais educativos analógicos e dig itais, centros de coordenação de educação à distância ou e-learning e outros...´ (Soares, 2000). Para ele, a inter-relação comunicação e educação trabalham ³a partir de um substrato comum que é a ação comunicativa no espaço educativo, ou seja, a comunicação interpessoal, grupal, organizacional e massiva promovida com o objetivo de produzir e desenvolver ecossistemas comunicativos através da atividade educativa e formativa´. (Soares, 2002a). O lócus de ação da Educomunicação são os ecossistemas comunicativos, ambos intrinsecamente ligados, já que a primeira é representada pelo ³conjunto de ações que permitem que educadores, comunicadores e outros agentes promovam a ampliem as relações de comunicação entre as pessoas que compõem a comunidade educativa´ (Soares, 2002c). Do conceito de ecossistema desenvolvido pela Biologia, é importante ressaltar a relação de trocas, de interdependência entre seres diferentes, que acontece em variados níveis; e do fato de que ecossistemas maiores podem conter ecossistemas menores. Jesús Martín-Barbero articulou o conceito de ecossistema comunicativo, não apenas conformado pelas tecnologias e meios de comunicação, mas também pela trama de configurações constituída pelo conjunto de linguagens, representações e narrativas que penetra nossa vida cotidiana de modo transversal (Martín -Barbero, 2000). Segundo Baccega (2002), o ecossistema comunicativo ³nos impregna a todos e o carregamos conosco em nossas atitudes, em nossos comportamentos, em nossos valores, em nossas decisões.´ A preocupação de Martin-Barbero é com o desafio de ³como inserir na escola em um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto´ (Martín-Barbero, 1996). Daí a necessidade que Soares vê da criação de ³verdadeiros "ecossistemas comunicativos" nos espaços educativos, que cuide da saúde e do bom fluxo das relações entre as pessoas e os grupos humanos, bem como do acesso de todos ao uso adequado das tecnologias da informação´ (Soares, 2002c). Desse modo, o conceito de Educomunicação de Soares (2002) é entendido, nas suas ações, da perspectiva da gestão comunicativa: ³a organização do ambiente, a disponibilidade dos recursos, o modus faciendi dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de educação comunicacional.´ Isso implica em buscar a descentralização de vozes, a dialogicidade, a interação. As relações devem buscar equilíbrio e harmonia em ambientes onde convivem diferentes atores, não apenas no mundo tecnoló gico, mas em todas as esferas. É fundamental pensar na qualidade das relações interpessoais do processo, visto que não podemos desconsiderar que, antes de tudo, temos seres humanos que estão interagindo. Essa posição está lastreada em Paulo Freire, para quem a comunicação é fundamental nas relações humanas, assim como a inter -relação de seus elementos básicos no processo educativo. Para haver conhecimento, é necessária uma relação social igualitária e dialogal entre os sujeitos, que resulta em uma prática socia l transformadora. ³A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados´ (Freire, 1979) Dizia Paulo Freire, para quem a dialogicidade como essência da educação libertadora apresentava algumas características importantes: a colaboração (a ação dialógica só se realiza entre sujeitos), união (fundamental para a consciência de classe ou de grupo), a organização (momento da aprendizagem em q ue se busca transformar) e síntese cultural (instrumento de superação da cultura), idéias também basilares da Educomunicação. Para o professor colombiano Omar Rincón, a televisão é hoje um fluxo que pode ser visto a qualquer momento e em qualquer lugar. O mundo inteiro, e em particular a América Latina, segundo o pesquisador Omar Rincón, está vivendo hoje uma situação inédita, que vem obrigando a televisão, enquanto negócio, a se reinventar. ³Um exemplo são as novas tecnologias, que já são intensamente esp eradas, como a televisão digital´, afirma o diretor da pós-graduação em Televisão da Universidade Javeriana de Bogotá e em Jornalismo da Universidade dos Andes. De acordo com as pesquisas de Rincón (2002), se antes, em muitos países, os telespectadores estavam limitados às televisões nacionais, hoje a muito mais possibilidades, sobretudo com a televisão paga, cuja oferta é muito variada. ³E, se no início´, diz o também crítico de televisão do jornal El Tiempo, ³essa oferta se restringia a algumas áreas (esportes, infantil, cultural etc.), os canais da televisão paga também já começaram a fazer sua própria ficção.´ Além disso, por haver tanta oferta televisiva em escala tão global, os públicos passam a exigir cada vez mais reflexões locais, o que é, sem dúvida, uma contradição. ³Diante de uma maior globalização, pedimos mais conteúdos locais, e isso obriga, hoje em dia, a que não se compre a televisão norte-americana para passá-la no Brasil ou a televisão brasileira para passá-la na Colômbia, mas sim as idéias e os formatos de onde quer que sejam para serem produzidos de acordo com a cultura local´. (Rincón, 2002) Mas há outro elemento: hoje as pessoas já não são prisioneiras dos horários da TV. Antes, como afirma o professor, ³os horários televisivos marcavam a rotina do nosso dia: de manhã, a gente acordava com um noticiário, continuava com um programa de variedades e terminava vendo um programa de culinária, e à noitinha vinha a novela das seis, e assim por diante´ (Rincón, 2002) Agora, a audiência é feita, segundo ele, de telespectadores de canais, ou seja, de fluxos de programas. ³Isso acarreta que hoje a programação seja o que chamo de µdesprogramação¶. O que vemos hoje é uma televisão desprogramada, uma televisão que é um fluxo que você pode ver a qualquer momento, a qualquer hora e em qualquer lugar´ (Rincón, 2002) Considerando-se, portanto, esses novos elementos, não é difícil constatar que a televisão enfrenta hoje uma questão central, como explica Omar Rincón, que é membro do International Public Television Screening Conferences. ³A televisão como um todo ² não somente a teleficção, mas também os noticiários, os programas de esportes etc. ² tem de responder à seguinte pergunta: como narrar? E como fazê-lo usando todas as riquezas que temos em cada dispositivo midiático e toda a bagagem cultural que trazemos.´ (Rincón, 2002) Em parte, a exigência de responder a essa pergunta se deve à evolução do próprio público telespectador, que já aprendeu algumas chaves narrativas. Isso obriga, por exemplo, a que se diminua bastante a carga verbal explicativa. ³Hoje em dia´, prossegue Rincón, que também é diretor do Centro de Competência em Comunicação para a América Latina da Fundação alemã Friedrich Ebert, ³a ficção já é bem entendida, e, por exemplo, a transição entre o que ocorre no passado, no presente e no futuro já não precisa de muitas palavras; tanto o recurso do flashboard (para o futuro) quanto o do flashback (para o passado) já foram perfeitamente assimilados pelo público.´ (Rincón, 2002) Por outro lado, tal exigência se deve também a uma necessidade da própria indústria televisiva: para poder competir, ela agora tem de pensar muito mais na cultura local, pois sem isso não despertará a sensibilidade coletiva com o seu produto. ³Se me apresentam um produto que é o mesmo para os Estados Unidos, para o Brasil, para o México, para a Argentina e para a Colômbia, eu o verei uma vez para verificar como é feito, mas, como não tem nada a ver com a minha vida e a minha cultura, logo o deixarei de lado´. (Rincón, 2002) Por tudo isso é que, em vez de pensar a televisão principalmen te em termos de conteúdo, de valores, de cultura, de educação, de sexo, de violência etc., temos de pensá-la, segundo Rincón, ³pelo ofício que centralmente ela exerce: o de contador de histórias´. E isso, ainda de acordo com o estudioso colombiano, ³vale sobretudo para a televisão pública, que, tendo de promover o universal, deve deixar de se programar como uma seqüência linear e curricular de escola para ganhar o processo e o fluxo próprios das narrativas audiovisuais´. (Rincón, 2002) Omar Rincón busca, como ele mesmo diz, ³ser uma ponte entre a academia e a indústria televisiva, entre o jornalismo e os demais meios de comunicação, entre a telenovela e o livro´. E, de fato, também em termos editoriais se destaca o pesquisador. Entre suas obras, está La televisión pública: del consumidor al ciudadano , que trata de como ³a televisão pública é feita para uma minoria´. Para o professor, ³o projeto de TV pública é feito desde a perspectiva ilustrada da educação e da cultura que, obcecada por educar, acaba tratando todas as áreas de maneira igual, como se as pessoas não pudessem ter prazeres, gozos e vida cotidiana´. (Rincón, 2002) Outro livro famoso do pesquisador é o Televisión, video y subjetividad, que tenta explicar de que maneira pode -se compreender o fenômeno que é a televisão. ³Nesse livro, proponho como podemos entender e inovar a TV a partir da prática, além de oferecer maneiras de experimentá-la a partir de estéticas diferentes´ (Rincón, 2002). O lançamento mais recente do autor é Narrativas mediáticas o cómo cuenta la sociedad del entretenimiento , ³no qual´, conclui Rincón, ³afirmo precisamente que a nossa questão é a narração, defendo que vivemos numa sociedade de cultura midiática e de entretenimento e me atrevo a propor critérios narrativos não só para a televisão, mas também para o rádio, o vídeo e a publicidade´. (Rincón, 2002) ³A possibilidade de aprender é muito mais ampla que a possibilidade de ensinar´ - Guillermo Orozco Gómez. Para Orozco, há uma grande brecha entre a educação formal e os meios de comunicação, especialmente a televisão. ³Existe uma percepção errônea e generalizada, principalmente nos países da América Latina, sobretudo dos professores de ensino básico e médio, que os meios de informação servem apenas para distrair, divertir e informar. Os meios de comunicação são vistos como algo que deve ficar fora da escola, fora do processo educativo formal. É fortíssima a impressão de que os meios de comunicação não têm legitimidade para ensinar. Ainda faltam iniciativas públicas, privadas e individuais que corrijam essa distorção e ampliem definitivamente a inserção das novas tecnologias em sala de aula´. (Orozco, 2006) Marisol Moreno chama a atenção o fato de que tal perspectiva garante a superação da tradicional visão instrumental das tecnologias, para instaurar um discurso sobre o cenário e o ambiente em que atuam. Nesse sentido, o âmbito dos debates é o das mediações e não apenas o da ³instrumentalidade tecnológica´. Para o argentino Daniel Prieto, o desenho conceitual para introduzir as tecnologias ao serviço da educação é primordialmente comunicacional. Pierre Lévy prefere, contudo, situar a aprendizagem no contexto de uma ³ecologia cognitiva´, repleta de valores e significados simbólicos, que nutre psíquica e culturalmente a sociedade contemporânea. Isto posto, a Educomunicação trabalha a partir do conceito de gestão comunicativa, como sendo o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Milton. Imagens e sons. A nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 1994. ARENDT, Hannah. As esferas pública e privada. In: . A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 31 -88. BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: Boitempo, 1997. FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão & educação: fruir e pensar a TV . Belo Horizonte: Autêntica, 2001. MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1988. A TV levada a sério. São Paulo: SENAC, 2000. RINCON, O. (org.). Televisão Pública: do consumidor ao cidadão . São Paulo: SSRG, 2002. SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna. Intelectuais, arte e vídeo-cultura na Argentina. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. Globo Universidade. Acesso em 08.05.10, disponível em: http://globouniversidade.globo.com/GloboUniversidade/0,,AA1690308 -8744,00.html Midiativa.tv. Acesso em 06.05.10, disponível em: http://www.midiativa.tv/blog/?p=694 Revista Digital de Tecnologia Educacional e Educação a Distância http://www.pucsp.br/tead/n1a/artigos2/artigo2b.htm Tvebrasil. Acesso em 07.05.10, disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/dte/index.h tm
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