7INTRODUÇÃO A ocorrência cada vez maior de crises financeiras atingindo diversos setores da economia decorre das contradições e complexidades da atual etapa imperialista do capitalismo financeiro globalizado. O consumismo e a expansão das oportunidades de crédito e financiamento mascaram algumas das contradições deste sistema. Em um cenário como este, de grandes instabilidades econômico-financeiras, é indispensável que os indivíduos busquem orientações para uma vida estável. Em meio a essa necessidade, surgem inúmeras iniciativas no âmbito da educação financeira com o propósito de conduzir o indivíduo à satisfação de seus desejos e necessidades a partir de um bom comportamento, adquirindo, assim, uma vida financeira saudável. Diante deste quadro de complexidades, tornam-se pertinentes alguns questionamentos. As iniciativas de educação financeira, consideradas tradicionais, são responsáveis pela manutenção da lógica de dominação da esfera financeira do capital e, desta forma, conduzem o indivíduo a uma inclusão financeira subordinada? Há possibilidade de se formular uma alternativa de educação financeira que vá além destes princípios e promova uma inclusão financeira autônoma? Já existem alternativas no âmbito da educação financeira que tratam de temas complexos do modo de funcionamento do sistema capitalista e, ainda, contribuam para o desenvolvimento, conscientização e emancipação pessoal? A partir de tais questões é possível formular a seguinte hipótese: Uma inclusão financeira autônoma somente é possível a partir de iniciativas de educação financeira que incorporem a crítica ao sistema, ou seja, delineie os principais atores envolvidos na lógica financeira do capital e seus respectivos interesses, propondo esclarecer as contradições e complexidades do sistema capitalista em sua fase atual. Desta forma, este estudo tem por objetivo geral mostrar uma alternativa de educação financeira voltada para inclusão financeira autônoma e crítica. Mais especificamente, deve ser entendida a adequação e pertinência da interpretação crítica fornecida pela economia política marxiana aos programas de educação financeira; a complexidade que envolve o tema do capital financeiro em termos de suas relações de poder e subordinação e, por fim, o estudo de caso do Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável – PEFISS. 8 No primeiro capítulo, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapa atual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no capitalismo, causador de crises e contradições existentes em nossa sociedade. Nesta parte será mostrado, ainda, por que o movimento de concentração e centralização de capitais, iniciado no século XX, é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e cartéis, da expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca entre o capital industrial e o capital bancário. No segundo capítulo, em um primeiro momento é feita uma breve caracterização das estratégias ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo, assim como, as linhas tradicionais de educação financeira. Em um segundo momento, apresenta-se uma alternativa de educação financeira, o Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica Sustentável – PEFISS. Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens tradicionais tanto por sua concepção teórico-metodológica crítica, quanto por seus conteúdos ministrados, e suas formas de avaliação. 9 1. REFERENCIAL TEÓRICO O entendimento acerca do domínio global da lógica financeira do capital é fundamental para a análise da superficialidade teórica das linhas tradicionais de educação financeira, reforçando a importância de se discutir o funcionamento do sistema capitalista, em sua fase atual, de maneira crítica, sob a ótica da economia política marxiana. O estudo de Marx é fundamental para a compreensão de questões contemporâneas como, crises financeiras, especulação, volatilidade dos preços dos ativos, bem como o desenvolvimento do conceito de dinheiro, tendência à autonomização do valor e o detalhamento da idéia de valor e fetichismo1. A discussão envolvendo conflitos sociais, em escala nacional e mundial, acompanhados da nova concentração da riqueza, da maior centralização de capitais, do progresso técnico contínuo, da mecanização e das economias de escala, deve compor o campo teórico das iniciativas de educação financeira, pois evidenciam as contradições do dinheiro, sua circulação e posse. Na primeira seção, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapa atual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no capitalismo. Ou seja, segundo Marx, o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da troca e da produção. Em conseqüência disto, a esfera autônoma do capital financeiro passa a valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia, ou seja, a esfera produtiva, comprometendo sua capacidade de produção. A tendência de autonomia do capital traduz-se no chamado, capital fictício ou ilusório. É aquele que, ao ser emprestado, o dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e em títulos que representam direitos sobre dinheiro. Desse modo, a mesma soma de dinheiro pode dar origem a um grande número de títulos de crédito — elementos do capital fictício. Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia capitalista, que “é a multiplicação ilusória da riqueza realmente existente, com base no capital portador de juros, por intermédio dos mecanismos monetários e financeiros”. (MARX, 1984, p.13). Na segunda seção, “o movimento de concentração e centralização de capital, iniciado 1 GERMER, C. O Sistema de Crédito e o Capital Fictício em Marx, 1994 p.183 elas se comparam e medem entre si e se desenvolve tecnicamente a necessidade de relacioná-las a um quantum fixado de ouro como sua unidade de medida (MARX. dentro de uma análise neoliberal caberia. o qual será objeto desta análise. portanto. o movimento é M — M. metabolismo do trabalho social. apenas.10 no século XX é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e cartéis. (HILFERDING. p. trabalho humano objetivado e. como para refletir sobre as conseqüências negativas trazidas para a sociedade em geral.1. na seguinte mudança de forma: Mercadoria — Dinheiro — Mercadoria (M — D — M). p. 3 Como tais quantidades de ouro.217). também. Esta última função divide-se na função de ‘tesouro abstrato’ – somente guardar o dinheiro – e. livro I de O Capital. 4 O processo de intercâmbio da mercadoria se completa. enquanto valores. em especial aquelas de classe de renda inferior. A reflexão sobre cada um destes fatos mostra a importância dos momentos históricos de formação e evolução da sociedade capitalista. além de alguns episódios especulativos característicos dos eufóricos ciclos econômicos. o dinheiro não assume novas funções. ‘fundo de reserva de meio de pagamento’. por causa dos derivativos acumulados em escala cada vez maior. Marx apresenta as três funções básicas do dinheiro – medida de valor2 (unidade de conta). assim como não assume uma nova natureza ou definição. . em comum.207). Dentro de uma visão panorâmica. p. 5 Esta função. meio de circulação3 (intermediário na troca de mercadorias4) e meio de entesouramento5. destacam-se. ou seja. finalizar com a etapa histórica é conveniente para entender a crise atual da economia capitalista globalizada e seus impactos. elas podem medir seus valores. em cujo resultado o próprio processo se extingue. Apenas se altera a 2 Sendo todas as mercadorias. 1. na economia capitalista. os momentos importantes ao longo da história de formação dos regimes monetários do pós-guerra.210). A perspectiva marxiana do capital portador de juros Discutir Marx é de suma importância diante do quadro atual de crises econômicas. Na terceira seção. Deve-se notar que. portanto. da expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca entre o capital industrial e o capital bancário”. na mesma mercadoria específica e com isso transformar esta última em sua medida comum de valor. 1912. é a principal causa das crises especulativas. tanto para compreender o desenvolvimento imperialista do capitalismo por todo o globo. p. em dinheiro (MARX. No capítulo 3. sendo em si e para si comensuráveis.339). principalmente de sua fração fictícia ou ilusória. Segundo seu conteúdo material. A absurda ampliação do capital financeiro. (MARX. A lógica de giro do capital portador de juros mostra a tendência de autonomização do valor do capital fictício. troca de mercadoria por mercadoria. a função de ‘tesouro abstrato’. o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da troca e da produção. Se há dívida. sejam desembolsados como capital na compra de meios de produção (capitais industriais. só no capital a juros a autonomia será plena. Portanto. . concentrada nos bancos como capital emprestável ou capital portador de juros. tudo é capital. É imprescindível que. por ex. senão. o conteúdo das suas funções pode alterar-se. quando ocorre à variação dos preços da mercadoria. No ciclo D – D – M – D’ – D’. (CHESNAIS. A análise do capital a juros é fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no capitalismo.). necessito adquirir mercadorias a serem compradas no futuro. 2005. que têm por encargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros – divisas.37). cuja fonte e papel se alteram substancialmente (GERMER. Por outro lado. Ou seja. para realizar a função de meio de pagamento. há a necessidade de remunerar o capital emprestado pelo tempo que ele foi disponibilizado. diferentemente do que ocorre na economia de circulação simples. o capital real não tem autonomia total enquanto valor: para se valorizar ele precisa assumir a forma de mercadorias. Surge quando há a quebra temporal entre a compra e a venda (M — D /D — M). Se há taxa de juros há capital a juros. ao contrário do que acontece com o capital real. p.180). Seu crescimento acompanha o desenvolvimento capitalista. entende-e a centralização em instituições especializadas de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas. Se ao final do processo houver acréscimo de valor.11 hierarquia das suas funções e surgem novas formas de dinheiro para realizá-las. em particular. tem maior autonomia (enquanto valor) porque assume a forma de mercadorias sem perder a finalidade de se valorizar (D – M – D’). As funções entesouramento e meio de pagamento já pressupõem o capital a juros. em lugar do ouro. do entesouramento. Passam a valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia. ou seja. Aqui o juro substantiva-se como forma autônoma de remuneração. O entesouramento próprio do desenvolvimento da produção capitalista. Posso comprar antes de vender minha mercadoria. Por acumulação financeira. que precisa transformar-se em mercadorias para depois voltar à forma genérica do dinheiro. como é o caso. para o dinheiro e a mercadoria exercerem a função de capitais. tudo é capital. segundo Marx. Para Marx. Porém. O capital real que visa mais dinheiro. é um fundo de reserva de que necessita o capitalista produtivo. o entesouramento exigido pelo processo de troca. 1994. consiste na soma global das reservas monetárias dos capitalistas. No entesouramento é a taxa de juros que determina a conversão de tesouro em dinheiro. p. nada será capital. do que é exemplo o uso de notas bancárias. obrigações e ações – mantendo-os fora da produção de bens e serviços. o entesouramento no capitalismo. cheques. no qual predomina o Sistema de Crédito correspondente à fase do domínio do capital industrial. que consiste nos créditos que os capitalistas industriais e/ou comerciais se concedem uns aos outros. isto é. por isso também é denominado de crédito monetário. A letra de câmbio substitui o dinheiro em espécie e apresenta-se como a forma originária do dinheiro de crédito. é o dinheiro de crédito.12 Para Marx. O sistema bancário combina duas funções básicas. crédito comercial entre capitalistas e todos os títulos de dívida. Desta forma. A generalização do dinheiro de crédito decorre de uma das funções essenciais do crédito que é a de economizar meios de circulação. Este sistema de crédito envolve bancos. o capital bancário forma-se de modo semelhante ao capital comercial. como notas bancárias. ao crédito comercial e à base metálica comparativamente modesta. etc. A forma geral e dominante do dinheiro. Uma forma antiga de crédito é a usura. O conjunto dos títulos correspondentes a esses créditos pode ser representado pelas letras de câmbio (ou duplicatas. Marx define uma das funções do dinheiro como meio de realizar pagamentos diferidos. O crédito bancário forma-se por um processo independente do crédito comercial. O crédito bancário nasce como comércio de dinheiro. através do deferimento dos pagamentos. isto é quando a parcela do . que não ocorreria na escala conhecida se permanecesse atada ao sistema monetário. Ao lado do ouro circulam títulos de crédito que são as diferentes formas de existência do dinheiro de crédito. etc. letras de câmbio. uma margem mais ampla. Este tipo de crédito diferencia-se do crédito moderno. cobranças. guarda dos fundos de reserva. A base do dinheiro de crédito é constituída pelo crédito comercial. para expandirse sem se chocar com os limites impostos pela base metálica. que se baseia na dominância da função de meio de pagamento. na economia capitalista desenvolvida. no decorrer do processo de produção e comercialização. no Brasil). a de executar as operações monetárias rotineiras dos capitalistas industriais e comerciais — pagamentos. o crédito aparece antes mesmo do sistema capitalista esteja instalado. Em sua teoria. em contraste com os pagamentos à vista — função de meio de circulação do dinheiro o meio de pagamento. a economia capitalista conquistou uma relativa liberdade. O surgimento e a expansão do dinheiro de crédito apresentam-se como condição essencial de expansão do capitalismo. No que diz respeito a essa função. Em primeiro lugar. p. é que constitui valor real. a acumulação do capital rentista depende. o dinheiro. (MARX. Tais juros constituem parte do lucro obtido pelo capital industrial e resultam da sua divisão em juro e lucro empresarial. pois só um deles. Assim. apropriado pelos capitalistas financeiros. sem dúvida. por exemplo. A parte do capital monetário que advém da acumulação do capital rentista é. Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia capitalista. a acumulação do capital industrial.13). que produz sucessivamente novas parcelas de capital monetário que se acrescentam à massa preexistente do capital monetário propriamente dito. um único valor monetário transformou-se aparentemente em dois valores. ao ser emprestado. ao crescer. sobretudo a parte da mais-valia destinada ao consumo capitalista. A segunda função é a de administrar o capital monetário do conjunto dos capitalistas. na medida em que os juros constituem uma parcela destes. que são a sua razão de existir. adquirindo autonomia funcional. o sistema bancário centraliza e redistribui o capital monetário agregado da economia. Assim. que se deposita nos bancos para ser gasta ao longo do tempo Nessa segunda função. capital produtivo e capital-mercadoria —. O capital fictício diferencia-se não somente do capital real — isto é. como também do capital monetário. o dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e em títulos que representam direitos sobre dinheiro. o capital industrial. Por outro lado. Assim. em parte. que não é capital real. o que obviamente é impossível. Conhecido como capital ‘fictício’ ou ‘ilusório’ é aquele que.13 capital industrial necessário à realização das operações monetárias se destaca do capitalmatriz. mas é forma monetária do capital ou é simplesmente dinheiro o depósito que um capitalista faz no . o capital monetário autônomo previamente existente — o capital rentista — se acumula com base nos juros obtidos pelas suas aplicações correntes na esfera monetário-financeira. com base no capital portador de juros. a que mais cresce. que “é a multiplicação ilusória da riqueza realmente existente. do movimento dos lucros do capital industrial. como. além de todas as demais frações de dinheiro existentes na economia. transformando-o em capital de empréstimo. O lucro. Por um lado. 1984. claramente. como manifestação da mais-valia criada pelos trabalhadores é. por intermédio dos mecanismos monetários e financeiros”. promove o crescimento do capital monetário. a forma-dinheiro do rendimento. englobando as frações temporariamente inativas dos capitalistas industriais e comerciais e o capital rentista. sendo este variável e incerto e. a ação nada mais tem a ver com o giro real do capital industrial. Após a venda das ações o dinheiro obtido não retorna para a empresa. Os conceitos estudados nesta seção são para esclarecer as contradições internas ao funcionamento da etapa financeira do capital. A variação do preço das ações não afeta diretamente o capital industrial ativo. a outra (D1) se transforma em capital produtivo: D = d1 + D1. Desse modo. sem nenhum elemento intermediário que lhe seja exterior e estranho. Uma vez criada. então. aparentemente. Dá direito a um rendimento. 2009. As ações têm uma esfera própria de circulação e valorização.14 seu banco. a mesma soma de dinheiro pode dar origem a um grande número de títulos de crédito — elementos do capital fictício. O fetichismo inerente e imanente às formas de ser da produção capitalista se encontra efetivada de maneira cabal naquela do capital a juros. o que as diferencia do capital portador de juros. duplica-se em dinheiro depositado no banco e título de crédito — certificado de depósito — nas mãos do capitalista. Por exemplo. O dinheiro adiantado pelos acionistas se transforma irreversivelmente em capital industrial. Dependente torna-se. A circulação A – D2 – A se desenrola num mercado próprio (Bolsa). corresponde apenas à transformação do capital produtor de lucros em capital que rende juros).03). Primeiramente observa-se a circulação ações são emitidas (A) e vendidas contra pagamento em $ (D). da taxa de juros vigente que traz para o presente o valor do rendimento esperado. diferente do movimento do capital monetário e do capital real. Seu preço é determinado pelo valor presente dos rendimentos futuros ou lucros incertos. p. os títulos que dão direito a uma fração do rendimento são denominados ação. dentro do sistema de crédito. ainda. a temporalidade estabelecida em nexos sociais contratuais. É um dinheiro que se faz mais dinheiro num intervalo de tempo determinado. Forma na qual o valor se valoriza tendo por mediação apenas e tão-somente. de capital monetário momentaneamente desocupado. (ALVES. As características dessas transações revelam o fato de que o capital fictício também se distingue por possuir um movimento próprio. do montante do lucro. O mesmo ocorre com o capital fictício. geralmente. mas este é incerto (depende do lucro e da taxa de juros). A autonomização do valor do capital portador de juros ao deslocar-se numa esfera própria na forma de capital . vejamos como funciona. esse dinheiro se divide em duas partes: uma (d1) constitui o lucro do fundador (de direito do banco emissor. na medida em que aparece como capital em sua imediatidade como forma capital pura. não dependendo diretamente do valor do capital ativo. “O movimento de concentração e centralização de capital. ou seja. Diferentemente do capitalista industrial.15 fictício é o principal aspecto que evidencia duas principais contradições presentes na atual etapa do modo de produção capitalista. esta autonomia é apenas relativa uma vez que. o acionista tem apenas direito a apenas uma parte do lucro. O capital fictício é a forma mais avançada de capital e. (HILFERDING. 1985. portanto. 1. da expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca entre o capital industrial e o capital bancário”. portanto do próprio sistema capitalista. conduz à beira da socialização integral da produção. ou seja. é a produção. passa a arriscar apenas uma soma que ele mesmo determina. Contudo. Primeiro. Assim. de forma contraditória. suas contradições explicitam a origem e natureza da instabilidade sistêmica. não sendo responsável por mais do que essa soma. como. pois o capital fictício não tem condições de manter seu valor.339). o capital financeiro tende a minar a base mesma de sustentação sobre a qual se assenta Este é o caso da valorização especulativa dos derivativos que gerou a crise financeira atual. mas pode recuperar o capital investido .2.25) A expansão das SAs é fundamental para se compreender o desenvolvimento capitalista na medida em que se considera a separação entre a propriedade e a gestão. 1912. consideram-se os proprietários capitalistas como capitalistas de dinheiro. a dimensão financeira subordina a dimensão produtiva. O capitalista convertido em acionista está liberado da função empresarial. segundo Marx. a de acionista. independente de sua vontade e sem que eles tenham consciência disso. Sua nova função. o lócus por excelência da mais valia e. a partir disso. reforçando aquilo que Marx previa. p. é fetiche. O imperialismo europeu do final do século XIX é. p. A Expansão das Sociedades Anônimas – SAs e a Formação dos Monopólios O estudo da expansão das Sociedades Anônimas – SAs por Hilferding e Lênin mostra como o capital monopolista se desenvolve e a importância determinante do capital financeiro para viabilizar isso e. ela arrasta os capitalistas. seja como for. chegado à sua fase imperialista. intermédia entre a livre concorrência e a socialização integral. prescinde da dimensão material para seu processo de valorização. para uma nova ordem social. um aprofundamento dos mecanismos de exploração que já funcionavam desde o século XVI. sob o nome de colonialismo. porque é um capital ‘irreal’. iniciado no século XX é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e cartéis. O capitalismo. (LÊNIN. como a Bolsa de Valores. Portanto. mas também pela emissão de novas ações.16 rapidamente como.16). 1985. “Esta transformação de uma massa de modestos intermediários em um punhado de monopolistas constitui um dos processos essenciais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista” (LÊNIN. realizando o levantamento das cotas e oferecendo as ações aos clientes. somente grandes investidores costumam ir à Bolsa. a juros. os bancos coordenam a subscrição de ações adiantando capitais as SAs. duplicatas) porque as empresas desse tipo só podem pagar tais empréstimos através de seus lucros. Já com o desenvolvimento do sistema bancário a situação é diferente. Conseqüentemente. Através do controle acionário é possível controlar um capital muito superior àquele que foi aportado. evidenciando a tendência de autonomização do valor. separadamente. A capacidade de obtenção de crédito das SAs junto aos bancos é muito maior. de um lado. “O processo de concentração do desenvolvimento industrial apresenta-se como característica importante do sistema capitalista” (Lênin. o capital do acionista investido na SA passa a se comportar como capital monetário. . pois eram pequenos demais para desempenhar isoladamente a função industrial. Já na relação com as SAs. pois eles podem ser pagos não apenas com o lucro advindo da produção. a composição de seu capital se dava através da adesão direta de capitais individuais que. p. atualmente. sendo que. instrumentos fantásticos de centralização por potencializarem as capacidades produtivas e. mesmo incorporando lucro e juros. Em sua relação com as empresas familiares. estando estes encarregados da mediação entre os pequenos capitais e as SAs. por exemplo. É a existência de um mercado organizado que dá ao capital do acionista o caráter de capital a juros. de outro. pois as ações são a riqueza na forma mais líquida. Na fase inicial das SAs. capital de giro. Dividendos tomam a forma de juros. pois os capitais individuais já se encontram reunidos nos bancos. no contexto tecnológico e científico da II Revolução Industrial. vendendo em um mercado próprio. instrumentos que convertem lucro em juros. as SAs são. ou seja. São eles que vendem fundos de ações aos seus clientes. compravam ações de grandes empresas. 1985.30). p. Há a concessão ao capitalista individual (que detêm o controle acionário) de um enorme poder de disposição sobre o capital e o trabalho alheio. os bancos geralmente concedem crédito de pagamento (liquidez. mas ainda são embriões. Deste modo. À concentração da produção nessas organizações. Portanto. pois os bancos passam a ser representados nos conselhos fiscais e diretorias das SAs e. Ou seja. Tornam-se agentes ativos no mercado de capitais. corresponde à etapa da livre concorrência e do livre comércio. ainda. p. Vê-se aqui mais uma maneira pela qual as SAs promovem a centralização de capital: na guerra de preços eliminam concorrentes menores. não é tão clara hoje em dia a diferenciação entre empresários produtivos e financeiros. as SAs podem fixar preços abaixo dos custos de produção e. A primeira fase. os oligopólios já estão se formando. segundo Lenin é o que caracteriza a atual etapa do modo de produção capitalista como monopolista ou imperialista. necessariamente. as SAs geralmente retêm parte dos lucros e criam reservas para o futuro. mesmo assim. Lênin (1985. nesse sentido um dividendo levemente superior à taxa de juros já o satisfaz. Os bancos também podem investir em ações ao invés de apenas intermediar sua venda. Os processos de industrialização de nações como Alemanha. Característica importante para justificar a evolução crescente na formação de oligopólios. . A totalidade dos lucros não precisa ser distribuída entre os acionistas (dividendos). num contexto de acirramento da concorrência ou recessão. fiscalizam as SAs. 22) divide em três fases a história de formação e evolução dos monopólios. Com isso. O acionista se comporta como capitalista do dinheiro. As integrações e fusões atuam sob a forma de trustes ou cartéis. nasce um interesse duradouro do capital bancário pelo capital industrial (capital financeiro). Dadas a superioridade no tocante à capacidade de crédito e acumulação. determinando o fim da livre concorrência.17 É grande o interesse dos bancos nisso. da França e dos EUA foram beneficiados pelo avanço da importação de bens de capital ingleses a baixos preços. distribuir dividendos iguais ou levemente inferiores à taxa de juros. entre os anos de 1860 a 1880. já que. as SAs geralmente obtêm lucros muito maiores que as empresas individuais. Como a técnica era a da I Revolução Industrial. pois as SAs têm mais opções de capitalização: lucros correntes e novas emissões que dão lucro ao próprio banco. era fácil promover a implantação de setores industriais copiando os processos produtivos ingleses (a contratação de operários especializados ingleses – homens práticos – garantia a cópia dos processos). Os bancos também costumam adiantar crédito de capital (e não apenas capital de circulação) as SAs com mais freqüência. pois é uma atividade que lhes dá o lucro do fundador. há maior segurança de recebimento. nesse caso. Estas 12 mil empresas integradas consomem mais da metade do vapor e da eletricidade. os cartéis são transitórios. Na terceira e última fase. compromete os investimentos em novos ativos de capital e. Na Alemanha. Possibilita aperfeiçoamentos técnicos e. contribuiu para perpetuar o domínio da esfera financeira sobre a esfera produtiva. O capitalismo se transforma em imperialismo. também. nas palavras de Hilferding e Lênin. a partir de 1903. Até aqui vimos que. Com o objetivo de mostrar como o processo de desregulamentação bancária. 1985. Os mercados financeiros que criam e negociam esses ativos são.18 Na segunda fase. os cartéis já apresentam maior estabilidade e seu número avança significativamente. Repartem os mercados entre si. é fundamental para se compreender o desenvolvimento imperialista na medida em que se considera a fusão do capital financeiro com o capital produtivo. por conseguinte. A integração elimina o intermediário. as trocas etc. A autonomização de seu valor na esfera financeira caracteriza o capital fictício. Nessa fase há grande desenvolvimento dos cartéis. os 250 cartéis existentes em 1896 passam para 385 em 1905. fixam os preços e repartem os lucros entre as diversas empresas. . elementos centrais na operação das economias capitalistas. A seção a seguir analisará o funcionamento da etapa financeira do capital globalizado destacando os interesses do mercado e do Estado. Tornam-se uma das bases de toda a vida econômica. a obtenção de lucros suplementares por confronto com os da empresa não-integrada. Já nos EUA o número de cartéis era 185 em 1900 e 250 em 1907. na economia capitalista. p. dos anos 1880 até a crise de 1900-03. 286-287). ocorrida ao longo dos últimos anos dentro do Regime DólarWall Street (RDWS). determinam a quantidade dos produtos a fabricar. os mercados financeiros dominam o ritmo de crescimento e o potencial de emprego das economias capitalistas. portanto. A integração elimina as diferenças de conjuntura e assegura. Eles estabelecem entre si acordos sobre as condições de venda. A grande depressão de 1870 é a primeira crise marcada por superprodução e deflação da história do capitalismo. reunindo cerca de 25% das empresas. assim. pois estes são meios que evitam que a queda de preços (e de lucros) se prolongue. à empresa integrada uma taxa de lucro mais estável. reforçando o que Marx previa. A expansão das SAs. a propriedade do capital é financiada pela emissão de ativos financeiros. (HILFERDING. por exemplo. Globalização financeira é o processo de integração dos mercados financeiros locais tais como os mercados de empréstimos e financiamentos. seguros. Gestão de Ativos. de forma sistemática e organizada. (PRADO.3. No limite os mercados nacionais operariam apenas como uma expressão local de um grande mercado financeiro global.47). p. Entre os serviços financeiros6 que têm crescido aceleradamente nas últimas décadas temos as atividades bancárias internacionais. Esta última década foi marcada não apenas por um grande crescimento da 6 Um estudo recente do Grupo dos Dez. (PRADO. Este processo de integração dos mercados financeiros locais só tornou-se possível. especialmente os norte-americanos. cambial. . O número de bancos. desenvolvimento e vendas de produtos financeiros. Na análise da globalização financeira. para retomar um processo de crescimento acelerado na década de 1990. Seu objetivo é demonstrar que a atual etapa do modo de produção capitalista potencializa e explicita todas as contradições presentes na análise de Marx. 2001. garantia de transações (custódias.A Globalização Financeira – O Regime Dólar-Wall Street (RDWS) O tema da globalização financeira. da instabilidade e das crises do mercado de capitais. Bancos de Investimentos. 36). definiu serviços financeiros como as atividades dos Bancos Comerciais. as operações com moedas e o mercado de derivativos. etc. confirmação de contratos etc). estudados nesta seção. . O fenômeno da integração não trata apenas do crescimento de transações financeiras com o exterior. sob a perspectiva da economia política. a partir do Regime Dólar-Wall Street (RDWS). merece destaque o papel dos mercados e do Estado.aos mercados internacionais. mas na integração dos mercados financeiros nacionais na formação de um mercado financeiro internacional. no qual se desenvolve o processo de autonomia da esfera financeira e seu domínio sobre a esfera produtiva. de títulos públicos e privados. 2001. com filiais no exterior também cresceu rapidamente desde essa década. Tais desenvolvimentos são fundamentais para uma proposta crítica de educação financeira voltada para a autonomia. Com a crise da dívida na década de 1980 a expansão dos bancos através da abertura de filiais no exterior desacelerou-se. Desde a Crise do Petróleo em 1973 observou-se um rápido crescimento da atividade bancária com euromoeda. Seguro. A estes podemos acrescentar as atividades do mercado financeiro internacional associadas a diversificação de risco (inclusive mercados câmbial e de derivativos). estimulada pela grande demanda por empréstimos dos países importadores de petróleo.19 1. Hilferding e Lênin. monetário. serve para mostrar como se caracteriza e evoluem tais fenômenos. p. mas também de um elevado nível de fusões e aquisições dessas firmas nos principais países industrializados. 55). associada ao esgotamento das oportunidades abertas com a tecnologia da época. Uma explicação para este fenômeno seria a desaceleração da taxa de crescimento da produtividade. O sistema de Bretton-Woods foi negociado para reorganizar as relações econômicas e internacionais depois da 2ª Guerra. Entretanto. 2001). baseadas no uso intensivo de equipamentos eletro-mecânicos. o número de firmas bancárias caiu em todos os países durante a década e a concentração da atividade bancária. explica em grande parte esta instabilidade. Por um lado. tem sido fonte de grande instabilidade. mas ajustáveis. combinado com a política keynesiana empreendida pelos países da Europa Ocidental e os EUA. o dólar seria a moeda de referência do sistema. as políticas macroeconômicas de promoção do pleno emprego começaram a pressionar o nível de preço de forma mais significativa que seus efeitos sobre a taxa de desemprego. Nesse sentido. (PRADO. com relação ao dólar. associado as 7 Ver Group of Ten. e deveria ser trocado pelo Tesouro Norte-Americano à taxa de câmbio fixa. cresceu continuamente7. medida como percentagem dos depósitos bancários controlados pelos grandes bancos. em rendimentos crescentes de escala e na organização fordista da produção.3 . as outras moedas deveriam manter-se com regime de taxas de câmbio fixas. tal fato. 2000. A globalização financeira.20 internacionalização de empresas financeiras. Isto não ocorre por acaso. seriam controlados movimentos especulativos na conta de capital. no entanto. (PRADO. O colapso do sistema monetário internacional criado na conferência monetária de Bretton-Woods em 1944. 2007. O Sistema de Bretton-Woods. viabilizou que os países industrializados tivessem entre 1948 e 1971 as maiores taxas de crescimento econômico registradas na história econômica contemporânea. e a ordem internacional que surgiu na década de 1970 em substituição a este sistema.p. O crescimento dos fluxos financeiros internacionais e a desregulamentação dos serviços financeiros internacionalmente vêm sendo acompanhados por crises cuja freqüência vem aumentando na última década. com objetivo de evitar a repetição da grande instabilidade monetária que acompanhou as tentativas de recriação do Padrão Ouro no período entre guerras. p. Entretanto na segunda metade da década de 1960 este sistema já dava mostras de crise. O FMI seria a organização internacional responsável por supervisionar a operação do novo sistema monetário. essas transformações ocorreram nos países desenvolvidos. pressionavam não apenas a inflação mundial. a partir da década de 1970. A década de 1970 foi marcada por uma crise financeira no início da década. mesmo em atividades antes exclusivas do setor público. em substituição aos economistas keynesianos. os países em desenvolvimento foram também obrigados a realizar profundas mudanças na suas políticas econômicas e reavaliar suas estratégias de desenvolvimento. Com a crescente instabilidade internacional. o que acarretou mudanças profundas na política econômica da maioria dos países do mundo. a primeira crise latino-americana pósPlano Brady. que marca a primeira crise de nova geração latino-americana. reverteram em alguns poucos anos a economia de seus países. com o abandono das taxas de câmbio fixa e a progressiva liberalização no movimento de capitais de curto prazo. completamente estatizadas. na maioria dos casos. Em um quinto e dramático movimento. com liberdade de movimento de capitais. mas a taxa de câmbio dólar-ouro. até então totalmente centralizadas e. marcando a primeira crise financeira pós-socialista. isto é. levaram a erosão dos obstáculos . as economias desenvolvimentistas da Ásia oriental entraram em crise. O argumento apresentado era de que os avanços tecnológicos e organizacionais. em maio de 1998. em um capitalismo desorganizado e selvagem. a crise alcança a América Latina com a desvalorização do Real e a pressão crescente sobre o regime de taxa de câmbio fixa argentina. Inicialmente. em uma revolução comparável com as ocorridas após a Primeira Guerra Mundial. a Rússia mergulhada no caos político e na corrupção crescente desvaloriza o rublo.21 políticas monetárias expansivas dos países industrializados. sob a pressão da negociação da crise da dívida externa. e pela crise gerada pela elevação da Taxa de Juros nos EUA a partir de 1979. O quarto movimento foi a desvalorização do peso mexicano em 1994-95. partidários das novas correntes liberais que sustentavam a necessidade da redução do estado para a um nível similar ao período anterior a Segunda Guerra Mundial. nos governos e nas organizações internacionais. Finalmente. nas universidades. pela primeira crise do petróleo em 1973. nos governos Regan e Carter. depois da difusão da microinformática na década de 1980. Em um terceiro momento os países socialistas da Europa Oriental. Posteriormente. e em especial aos elevados déficits da Balança de Pagamentos norte-americanas. aliada a uma rápida desregulamentação e confiança no papel do mercado. começaram a ascender. encerrando um longo ciclo de crescimento acelerado. Em um segundo momento. por um lado. A produção foi . como altamente desejável para os mercados e instituições financeiras.22 geográficos. ideológicos e políticos às transações internacionais e a ação das firmas transnacionais. porém. foi considerada através dessa interpretação. A globalização financeira nada mais é que a etapa atual orientada pelas regras do RDWS. a globalização financeira. levariam a um crescimento mais rápido. Portanto. mas apenas na medida em que regimes dirigistas resistiam a uma rápida e ampla liberalização e desregulamentação das atividades domésticas que lhes facultasse o aproveitamento das novas oportunidades. subordinado à dominação financeira do capital. vê-se. isto se manifestou através da expansão das SAs e formação de monopólios. que estes economistas chamavam de globalização. Nesse contexto. grande parte da população do mundo sofre com desemprego e capacidade ociosa. e por outro lado. presentes nas palavras de Lênin e Hilferding. desta forma. principalmente dos países mais pobres. a tendência de autonomização do seu valor frente à esfera produtiva leva ao colapso. generaliza pelo conjunto do sistema um regime permissivo e desregulamentado para as instituições financeiras. que como vimos foi consequência de um conjunto de acontecimentos históricos. potencializando e legitimando a acumulação de capital fictício. o capital financeiro assume o controle do Estado hegemônico norteamericano. Historicamente. A idéia geral consiste em mostrar que dentro da lógica do capital financeiro. Ao passo que os mercados foram sendo cada vez mais desregulamentados. portanto. no mundo todo. já havia uma crescente importância do capital financeiro perante o capital produtivo. Ao reformular o sistema financeiro internacional de acordo com a lógica do capital financeiro. concluir que o funcionamento do sistema capitalista em sua fase atual é produto de uma assimetria de poder e dominação existente na lógica financeira do capital. Neste caso. Dá plena liberdade para que elas atuem Como é dever do Estado estabelecer regras de regulação. Ao mesmo tempo em que a primeira década do novo milênio chega ao fim. permitindo a convergência nos níveis de renda e dos padrões de consumo. ainda havia algum tipo de regulamentação que freava este desenvolvimento. Pode-se. política econômica seria ainda relevante. Nesse período. Essas novas forças. a superioridade do capital financeiro tornou-se inevitável. como produto inevitável das transformações econômicas e tecnológicas recentes. Recontar a história de formação do sistema capitalista ajuda a entender a magnitude das implicações desta etapa madura e contraditória. considerando o contexto atual de funcionamento do modo de produção capitalista e suas contradições. Porém. Para tanto. ainda. E. contribuir para a emancipação social e política a partir de métodos interdisciplinares de ensino. . envolvendo a correta gestão dos gastos e receitas. ainda. o próximo capítulo tem por objetivo mostrar ao leitor como e porque nasceram as iniciativas de educação financeira no Brasil e no mundo. será apresentada uma iniciativa inovadora de educação financeira. as iniciativas de educação financeira devem contribuir para a autonomia das decisões individuais e coletivas. a regulação e segmentação dos mercados de capitais não são suficientes para garantir a solidez e eficiência do sistema financeiro num contexto de crises. Sejam elas públicas ou privadas. o entendimento crítico do funcionamento do sistema capitalista em sua etapa atual e. destacando algumas linhas tradicionais no tratamento do tema. que propõe uma educação crítica e autônoma. Uma forma de amenizar as desigualdades sociais a partir de um entendimento acerca dos conceitos e produtos financeiro dá-se através da promoção de iniciativas de educação financeira.23 paralisada por causa da violenta crise financeira vivida nos países mais ricos do mundo e que interrompeu a atividade econômica em todo o planeta. o programa apresenta outra faceta inédita ao articular a sustentabilidade financeira também à sua dimensão ambiental. Na primeira parte deste capítulo. inúmeras ações voltadas para a educação financeira têm se desenvolvido. Órgãos governamentais. o desenvolvimento tecnológico e alterações regulatórias e institucionais de caráter neoliberal. afirma Pinheiro (2008). é feita uma breve caracterização das estratégias ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo.1. instituições financeiras (bancárias ou não) e. iniciativas particulares estão cada vez mais mobilizados em disseminar a educação financeira à sociedade em geral. as linhas tradicionais de educação financeira. será apresentada uma perspectiva alternativa de educação financeira.24 II – A EDUCAÇÃO FINANCEIRA A educação financeira é um tema com crescente interesse por parte da sociedade não só pela importância que as decisões financeiras têm ao longo da vida. 2. em particular do capital financeiro. Além disto. tal iniciativa permite compreender da maneira mais aprofundada e crítica a dinâmica de funcionamento da economia. levando países desenvolvidos a reduzirem o escopo e o dispêndio de seus programas de seguridade 8 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fundada em 1960 então como OCEE (Organização para Cooperação Econômica Européia). Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens tradicionais tanto por sua concepção teórico-metodológica crítica. desenvolvimento e emancipação pessoal. . inclusive no Brasil. Na segunda parte. O objetivo principal é demonstrar que. e suas formas de avaliação. diferentemente das abordagens tradicionais. A partir do quadro das Estratégias de Educação Financeira proposto pela OCDE8 em vários países. o Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica Sustentável – PEFISS. assim. quanto por seus conteúdos ministrados. contribuindo. mas também devido ao atual cenário de crise econômico-financeira. até mesmo. assim como. A Educação Financeira: características e linhas tradicionais A globalização. são as principais forças que produziram mudanças fundamentais nas relações econômicas e sociopolíticas mundiais nas últimas décadas. para a conscientização. de seguros. o Brasil esta dando a devida importância para a educação financeira. et. a poupar e investir. a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores. Instituída pelo Decreto Nº 7. em especial no Brasil. na maioria dos países. de capitais. é agora. econômicas e políticas. a aprovação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). A educação financeira sempre foi importante aos consumidores. o ambiente de inflação crônica então existente no Brasil. Essa situação colocava à margem do sistema financeiro parcela significativa da sociedade brasileira. uma vez que era difícil conciliar os constantes acréscimos nos preços com seus ganhos. O acesso aos serviços financeiros. Na área legislativa. e pouco a pouco. (OCDE.. sua crescente relevância nos últimos anos vem ocorrendo em decorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros. cujos recursos não eram suficientes para atender às exigências das instituições financeiras quanto à obtenção de crédito e à realização de investimentos. foi um ponto onde se constata que.223) Tais mudanças econômicas. e a evitar que se tornem vítimas de fraudes. ampliar o nível de compreensão do cidadão para efetuar escolhas conscientes relativas à administração de seus recursos e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiro. (SAVOIA. e das mudanças demográficas. al. p. 2004. Todavia. (SANTOS.25 social. tornou-se condição necessária para a vida econômica e social dos indivíduos. 2007). No entanto. possui a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania. houve o rompimento do paradigma paternalista do Estado. para auxiliá-los a orçar e gerir a sua renda. para fazerem suas . Até meados da década de 90. 2009). ou seja. de previdência e de capitalização (Site Vida e Dinheiro) É através da Educação Financeira que consumidores e investidores aperfeiçoam sua compreensão dos produtos financeiros e também desenvolvem habilidades e segurança para se tornarem mais conscientes dos riscos e oportunidades financeiras. dificultava o planejamento adequado das finanças das famílias brasileiras. afirma Pinheiro (2008).397 de 22 de dezembro de 2010. Objetivando fomentar a cultura de educação financeira no país. sociais e tecnológicas dos últimos anos têm apontado para a urgência em implementar ações com o objetivo de educar financeiramente a população no Brasil e no mundo. há uma relevante parcela da sociedade que enfrenta dificuldades em acessar e utilizar de maneira adequada os produtos dessa natureza. Os indivíduos que estão para se aposentar devem estar cientes da necessidade de avaliar a situação de seus planos de pensão. pelos órgãos administrativos e legais de um país. O quadro a seguir contempla os princípios e recomendações propostos pela OCDE no âmbito da educação financeira. O envolvimento das instituições financeiras no processo de educação financeira deve ser estimulado. Artigo publicado no Livro “Fundos de Pensão e Mercado de Capitais”. isto é. sendo necessário que se busque complementar o papel exercido pela regulamentação do sistema financeiro e pelas leis de proteção ao consumidor. para que façam escolhas fundamentadas e para que saibam onde podem encontrar ajuda. o endividamento e a contratação de seguros. a nova fronteira dos fundos de pensão. A educação financeira deve ser promovida de uma forma justa e sem vieses. necessitando agir apropriadamente para defender seus interesses. 10. educação financeira é o processo pelo qual agentes financeiros melhoram sua compreensão de produtos e de conceitos financeiros. acompanhando a evolução dos mercados e a crescente complexidade das informações que os caracterizam. particularmente.vidaedinheiro. em seu conteúdo. oferecendo informações gratuitas e de utilidade pública. livres de interesses particulares. Segundo a OCDE10. Além disso.26 escolhas e para saberem onde buscar ajuda. Os programas de educação financeira devem focar as prioridades de cada país. o que promove a habilidade e a confiança necessárias para que os indivíduos se tornem mais conscientes dos riscos e das oportunidades financeiras. em set/2008 na cidade de São Paulo-SP. R. Os programas devem ser orientados para a construção da competência financeira. As instituições financeiras devem ser incentivadas a certificar que os clientes leiam e compreendam todas as informações disponibilizadas. 5. Por meio da mídia. Educação financeira e previdenciária. quando forem relacionadas aos negócios de longo prazo. o desenvolvimento das competências financeiras dos indivíduos precisa ser embasado em informações e instruções apropriadas. bem como conceitos elementares de matemática e economia. aspectos importantes do planejamento financeiro pessoal. especificamente. 6. como um instrumento para o crescimento e a estabilidade econômica. 2005. como a poupança e a aposentadoria. Princípios e recomendações de educação financeira 1. devem ser veiculadas campanhas nacionais de estímulo à compreensão dos indivíduos quanto à necessidade de buscarem a capacitação financeira. 9 Disponível em http://www. É recomendável que as pessoas se insiram no processo precocemente. 2. se adequarem à realidade nacional. 10 . ou aos serviços financeiros. A educação financeira deve ser um processo contínuo. 4. A educação financeira deve começar na escola. podendo incluir. 9. melhorando assim a relação com suas finanças (Site Vida e Dinheiro9).br Pinheiro. O processo de educação financeira deve ser considerado. de tal forma que a adotem como parte integrante de suas práticas de relacionamento com seus clientes. Lançado pelo Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia e Editora Peixoto Neto. Fonte: OCDE. de endividamento. bem como o conhecimento dos riscos envolvidos nas suas decisões.gov. adequando-se a grupos específicos. como as decisões de poupança. Os programas de educação financeira devem focar. provendo informações financeiras que estimulem a compreensão de suas decisões. aspectos básicos de um planejamento financeiro. 7. precisam ser criados sites específicos. instrução e aconselhamento direto. ou seja. principalmente nos negócios de longo prazo e naqueles que comprometam expressivamente a renda atual e futura de seus consumidores. P. 3. de contratação de seguros. e elaborados da forma mais personalizada possível. mediante informação. 8. com conseqüências relevantes. . por outro lado. Se. 2007. a população. a principal dificuldade do indivíduo é planejar adequadamente suas ações de longo prazo. os empréstimos são interrompidos e a economia reduz a sua atividade.27 Os princípios e recomendações da OCDE para a educação financeira no Brasil estão disponíveis no site ‘vida e dinheiro’11. O discurso dominante é de que na atualidade os indivíduos precisam dominar certas habilidades que lhes permitam tomar decisões financeiras acertadas. Adicionalmente. seja por não estar preparado para enfrentar situações de dificuldades financeiras. (SAVOIA.1123) Para agravar esse quadro. reavaliar as decisões sobre a compra de sua casa própria.br . controlando suas finanças pessoais e alcançando assim seu bem estar. A partir daí. busca caminhos para restaurar o seu equilíbrio. do governo federal. p. (PINHEIRO 2008). 2007). Como conseqüência dessas ações. a educação financeira pode ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões sobre seu dinheiro. (SAVOIA. surge um círculo vicioso de expansão e retração do crescimento. (SANTOS. despreparada para dimensionar o volume de comprometimento do seu orçamento. a falta de informação consistente leva o indivíduo a agir de forma financeiramente irresponsável. bem como entender as novas modalidades de crédito e dominar a tecnologia disponível para a realização das transações financeiras básicas. de um lado. 11 Disponível em http://www.vidaedinheiro. AL. 2009). seja por assumir compromissos superiores à sua capacidade financeira.gov. gerando um aprofundamento nos estudos sobre o tema. levando a um aumento dos níveis de inadimplência. Embora haja críticas quanto à abrangência dos programas e seus resultados. Capitaneadas pela OCDE. A educação financeira tornou-se uma preocupação crescente em diversos países. propostas de Estratégias nacionais sobre o tema. avança com ímpeto ao crédito fácil e. J. a ausência de conhecimento básico de finanças expõe os cidadãos a ações de pessoas mal intencionadas. O crescimento desorientado do crédito produz a inadimplência. já citado neste capítulo. estão sendo desenvolvidas em vários países. Nele encontra-se presente o plano diretor da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) e seus anexos. e dos bens duráveis. endividada. ET. principalmente entre a população adulta. é preciso poupar por conta própria para a aposentadoria. como instrumento política nacional de incentivo às práticas de educação financeira. é inegável a importância do desenvolvimento de ações planejadas de habilitação da população. Logo. 2008. para significativa parcela da sociedade. o que deve ser compatível com a sua realidade financeira.aspx?idioma=pt-br . de modo a permitir o planejamento e a tomada de decisões adequada às suas reais necessidades. (SANTOS. (OCDE. poupança. Desse modo. A primeira iniciativa no campo da educação financeira. melhorando o gerenciamento de suas finanças pessoais”. a ampliar a compreensão sobre os riscos inerentes a esse mercado”. a educação financeira pode ser definida como a habilidade que os indivíduos apresentam de fazer escolhas adequadas ao administrar suas finanças pessoais durante o ciclo de sua vida. (PINHEIRO. p.12 Esse conhecimento deve permitir que os clientes tenham visão integrada das suas decisões de crédito. avaliar o impacto das decisões para a sua vida e a de sua família.28 Portanto. trata-se de uma ação pioneira no país em prol da popularização dos conceitos de economia. de linguagem fácil e enfoque bem humorado. ao mesmo tempo. exemplificaremos algumas iniciativas tradicionais de educação financeira.2) Diante deste quadro. agora. têm a capacidade lidar com as questões financeiras do cotidiano e as imprevistas.1122).bmfbovespa. (SAVOIA. destacando seus objetivos e propostas.com. é necessário um esforço para que essas pessoas ampliem cada vez mais suas informações sobre gestão do dinheiro. 2009). atingir uma parcela ainda maior da população brasileira por se tratar de um veículo de comunicação de massa. quando devidamente instruídos. 2007. p. 2005). Já. investimento e consumo. o Programa de Educação Financeira da BM&F-BOVESPA e TV Cultura. Diante da diversidade de ofertas inerentes ao estágio atual dos mercados e da crescente inclusão de pessoas com maior capacidade financeira. O programa oferece um conteúdo didático. AL. Usuários desse tipo de produto. finanças pessoais e tipos de investimento a partir da televisão. Sua proposta é fazer com que os ensinamentos já contemplados nos programas educacionais da BM&F BOVESPA possam. 12 Disponível em http://www. compreender seus direitos e suas responsabilidades e ter o conhecimento de fontes confiáveis de consulta. ET. a educação financeira revela-se um instrumento necessário para preparar essas pessoas para os desafios do complexo mundo financeiro que hoje se apresenta. “Os programas de educação financeira devem ajudar os consumidores de produtos e serviços financeiros a encontrar soluções adequadas às suas necessidades e.. “a educação financeira é entendida como um processo de transmissão de conhecimentos para que os indivíduos possam tomar decisões fundamentadas e seguras.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educaçãofinanceira. orçar e poupar’ o DSOP – Educação Financeira entende que a educação financeira de qualidade tem que ser responsável pela mudança comportamental de se adequar ao sistema no planejamento das finanças pessoais. desta forma. A Educação Financeira hoje se mostra muito maior que apenas um termo da moda. cursos e palestras – o DSOP – Educação Financeira preocupa-se com a saúde financeira dos indivíduos e empresas. [. as pessoas adquirem os valores e as competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dos riscos a elas associados e. Destinado à sociedade brasileira em geral. seu compromisso é manter o sistema sólido e eficiente “o Banco Central busca atingir três dimensões: cognitiva. então.com. 13 No âmbito das iniciativas particulares de educação financeira. sonhar. também considerada tradicional. empresas e clientes bancários com o propósito de conduzi-los a um comportamento correto no planejamento das finanças pessoais para realização de seus sonhos e objetivos. empresas. gerando o hábito correto de como administrar o dinheiro”. São produtos para escolas. Reinaldo Domingos.goc. é o Programa de Educação Financeira do Banco Central. as pessoas aprendem que o mais importante é atingir objetivos e. saibam onde procurar ajuda e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar. estimular a responsabilidade no uso do crédito e promover mudanças de comportamentos com base nas boas práticas de finanças pessoais”. gastar menos do que ganha. é apenas um meio para se conseguir. formação e orientação claras. atitudinal e comportamental. Através de diversos tipos de produtos e pacotes – livros. Dentre as principais lições. comprometidos com o futuro. com foco nos clientes e usuários dos produtos e serviços financeiros.dsop. sendo uma necessidade para todos os consumidores. Assim. “Educação financeira é do ramo das ciências humanas. A utilização da metodologia ‘diagnosticar. Com informação. entre outros..br/?BECEDFIN Disponível em http://www. para isso a DSOP Educação Financeira desenvolveu materiais que possibilitam a inserção do tema nos mais diversos setores da sociedade. tem destaque o DSOP – Educação Financeira.. Idealizado pelo educador e terapeuta financeiro.] além de incentivar o hábito de poupança. famílias.bcb. façam escolhas bem embasadas. governo. O conhecimento nessa área traz muitos benefícios à sociedade como um todo e. que mudam a forma com que as pessoas lidam com o dinheiro14. saber investir e como comprar com 13 14 Disponível em http://www. a Educação Financeira é um processo que contribui de modo consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis. que lidam diretamente com o comportamento e costumes.br/educacao-financeira . que o dinheiro.29 Outra iniciativa de educação financeira. o DSOP fornece ferramentas e produtos financeiros aos consumidores. (DSOP). será mostrada a concepção do referido programa. Isto é. ao se apresentarem como instrumentos para mudança de comportamento. capacitam os indivíduos a ter um “bom comportamento” para lidar com um sistema econômico e financeiro cujo modo de operação de suas instituições e regras de funcionamento são pré-determinadas e não sujeitas à crítica. verifica-se que. o DSOP – Educação Financeira acredita que só é possível educar financeiramente a partir de experiências individuais. como é o caso do seu presidente e consultor. representativas da visão hegemônica da educação financeira.1. Em síntese.2. estimular a adoção de atitudes compatíveis com a lógica do funcionamento do sistema financeiro. É assim que o Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável – PEFISS atua. usando-o com responsabilidade e foco na satisfação pessoal e familiar”. torna-se evidente a necessidade de promover alternativas de educação financeira que atuem no sentido de uma educação libertadora. Justificativa 15 Os fragmentos apresentados a seguir foram extraídos da versão original do PEFISS. 2. Tratam-se de abordagens orientadas. sua experiência aos 12 anos. . 2013. pode-se afirmar que não obstante tais iniciativas. enviada à PROEX. 2. senão de forma meramente superficial. tratam tão somente de conhecimentos transmitidos com o objetivo de adequar o comportamento individual às condições estabelecidas. A seguir. À guisa de conclusão. Segundo ele. Reinaldo Domingos. foi após ter planejado sua poupança consciente de seus ganhos. no sentido de promover o desenvolvimento e emancipação pessoal de maneira consciente. ao realizar sua primeira conquista comprando uma bicicleta. portanto a promover a inclusão financeira de forma subordinada.30 consciência. a fim de mostrar o tratamento crítico do programa ao tema da educação financeira15. bem como seus objetivos e metodologias. Programa de Educação Financeira para Inclusão Sócio Econômica Sustentável PEFISS A partir do exposto na seção anterior.2. “Foi priorizando seus sonhos e sabendo exatamente quanto custavam e quanto deveria poupar para alcançá-los. que aprendeu a ter o dinheiro como aliado. o processo de transnacionalização capitalista (“globalização”) com as seguintes características essenciais: Elevação extraordinária dos fluxos internacionais de bens. mas também do protecionismo. em dimensão produtiva. com alta volatilidade das taxas de câmbio e de juros e elevada capacidade de propagação com forte impacto sobre o sistema financeiro nacional. Destacando um aspecto positivo: a redução do custo (spreads) e a alongamento dos prazos de intermediação financeira. consumo e ao acesso ao crédito no caso dos segmentos até então excluídos. com inclusão social (parcial e imperfeita): elevação do emprego formal. No âmbito comercial. reorientação e desenvolvimento de negócios direcionados para a “nova classe média”. finanças públicas e capacidade de gerenciamento da economia. deve integrar-se em todas as disciplinas e empregar métodos formais e informais e meios efetivos de comunicação. a elevação dos gastos em P&D. O imperativo da sustentabilidade fica explícito no capítulo 36 da AGENDA 21. Na dimensão financeira. e o encurtamento do ciclo de vida dos produtos. inclusive o ensino formal. O ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. o acirramento da concorrência por novos mercados. . elevação do nível de renda. o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do socioeconômico e do desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual). diversidade e complexidade dos produtos/serviços financeiros e previdenciários. a consciência pública e o treinamento devem ser reconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas potencialidades. em diferentes níveis analíticos. o ensino informal é indispensável para modificar a atitude das pessoas. Em nível nacional houve aumento. serviços e capitais. Acirramento da concorrência nos mercados internacionais. Liberalização e desregulamentação dos mercados nacionais.31 ` A guisa de justificativa são apresentados abaixo alguns fatos estilizados que. Maior integração entre os sistemas econômicos nacionais. Em nível internacional. crescimento econômico (a partir de 2003). Para ser eficaz. ocorre a elevação das pressões liberalizantes. par.04: O ensino. a forte instabilidade monetário-financeira. o surgimento de novos produtos e novas oportunidades (e custos). retratam o quadro atual da realidade social que demonstra a necessidade do programa. Como resultado verifica-se que. para que estas tenham capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável e abordá-los. Assim como o ensino formal. familiar e coletivo de forma a orientá-los rumo ao desenvolvimento sustentável.) e abrangem não só a perspectiva meramente técnica e (e. carnê de loja. analisar situações. Objetivos O objetivo geral do PEFISS é contribuir para a conscientização. das capacidades cognitivas.2. sintetizar. mas também um arcabouço teórico-metodológico mínimo necessário ao desenvolvimento. empréstimo pessoal. de forma crítica. (POF 2008-2009. definições.problema. desenvolvimento e emancipação pessoal.g. cartão de crédito. enfrentar situaçõesproblemas. etc. . A partir dos conhecimentos adquiridos são desenvolvidas as habilidades básicas necessárias à mudança para um comportamento sustentável a partir do saber-fazer planejamento orçamentário. na categoria Avaliação do grau de dificuldade para chegar ao fim do mês com o rendimento. p. O objetivo específico do programa é contribuir para a formação. Assim como.6% em dezembro de 2011’ (PEIC. correlacionar informações. matemática-financeira). 2012). julgar e decidir. prestação de carro e seguros são os maiores vilões. comportamentais e técnicas orientadas para o desenvolvimento pessoal. ante 58. construir argumentação e elaborar propostas a partir dos conhecimentos apresentados em cada módulo do programa. 2. Trata-se. Os conhecimentos são de natureza quantitativa (dados e informações mensuráveis) e qualitativa (os conceitos. no campo econômicofinanceiro e ambiental. compreender fenômenos. política monetária e política fiscal. desenvolvimento sustentável e educação ambiental). afirma que ‘Cerca de 75% das famílias brasileiras referiram dificuldades e somente 25% fizeram referência a facilidades’.8% em janeiro de 2012. As dívidas entre cheque pré-datado.32 Os resultados da 5ª Pesquisa de Orçamento Familiar – POF realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE entre os anos de 2008-2009. A peça orçamentária operacionaliza as habilidades de identificar variáveis. ‘apresentando leve alta após sete meses consecutivos de queda. de competências transversais sociais. 80). relações. portanto de dominar linguagem. alcance e abrangência limitados dos métodos tradicionais de educação financeira. reflexivas e criativas (abrangendo conceitos e significados de história econômica geral. alcançando 58. economia política.2. exercício da cidadania para inclusão econômica e financeira a partir da adoção de atitudes (saber–ser) sustentáveis. compreender fenômenos relevantes. Tal enfoque limita-se a busca.3. Esta atualidade do marco de análise de Marx e. Neste sentido. a educação financeira se pauta pela noção de autonomia em Paulo Freire. No primeiro. Tratam-se. bem como aos perfis particulares de gestão patrimonial e de restrição orçamentária que configuram padrões de financiamento específicos. tais abordagens possuem viés de natureza “bancária” em duplo sentido. mas não menos importante. costuma se concentrar tão somente no conhecimento/utilização de produtos previdenciários e bancários (de aplicação e captação de recursos). No Brasil os métodos tradicionais de educação financeira padecem de extrema limitação em termos de seu alcance e abrangência. pela ideia de emancipação em Theodor W. Fundamentação teórica Nosso ponto de partida para os fundamentos conceituais que orientam as atividades desenvolvidas são três referenciais teórico-metodológicos que procuramos articular e adaptar para responder ao problema identificado e atender aos objetivos propostos. Em primeiro lugar. a educação é também “bancária” no sentido da crítica formulada por Paulo Freire em relação ao paradigma burguês de educação. portando. de eficiência marginal do capital (ou taxa interna de retorno) e adequação à composição dos portfólios individuais. os principais conceitos e relações socioeconômicas são apresentados a partir da perspectiva Marxiana. isto é que este consiste em instrumento de poder e subordinação. para o conjunto do sistema mundial. Estephani (2005).33 2. em sim mesma. Em síntese. em resumo. tal abordagem mostra-se pertinente para revelar a condição alienada da vida cotidiana moderna. O problema central neste caso refere-se a insuficiência das abordagens tradicionais de educação financeira e ambiental em função da despolitização no tratamento dos temas abordados. a generalização do processo de mercantilização das relações sociais. No segundo referencial adotado. Adorno e pela proposta de educação matemática crítica em Ole Skovsmose. a ênfase. de seu conteúdo programático. o . Em segundo lugar. na medida em que esta permanece válida como modo de pensar criticamente a realidade econômica atual. se justifica na medida em que se verifica no mundo contemporâneo a exacerbação do domínio global da lógica da acumulação de capital. centralização de capitais. Via de regra. o agravamento das crises estruturais. de abordagens de caráter tecnicista e instrumental. Na visão “bancária” da educação.2. de sua escolha. mecanização e ampliação exponencial das escalas de produção acirram antagonismos de interesses e conflitos sociais a exemplo do que se assiste hoje em diversos países. resultante da ampliação e concentração de riqueza. mais do que puramente treinamento..] a inclusão do ser humano.. p.]” (2003. sua inserção num permanente movimento de procura [. Em Adorno a ideia de emancipação se coloca de forma a complementar a noção de autonomia em Paulo Freire. de acordo com Skovsmose (2000). em uma constante reinvenção do indivíduo. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão. 169) trata do tema dizendo que “a exigência de emancipação parece ser evidente numa democracia”. 2008. Ao mesmo tempo em que diz que “a democracia repousa na formação da vontade de cada um”. sem saberem de tudo que pode estar envolvido no conteúdo aprendido acabam por deixar-se formatar pela matemática na qual estão inseridos.. os conteúdos não são considerados neutros. trazer dados de sua realidade objetiva para análise e buscar o desenvolvimento de suas próprias competências. tomando suas decisões em sociedade de maneira condicionada e não crítica. Na Educação Matemática Crítica. Nesta mesma direção se coloca a educação matemática crítica pela qual o ensino não deve ser processar sem que esteja articulado com da realidade objetiva de estudantes e professores. crédito uso dos recursos naturais. a educação tradicional. p. Parece que o mercado de trabalho e o mercado de consumo ditam as regras sob as quais a sociedade deve viver. que não foi desenvolvido por ele. pag. cuja história não conhece.34 “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Segundo Paulo Freire.. Esta proposta quer colocarse contra este aparente fatalismo oferecendo instrumentos através dos quais seja possível repensar suas atitudes em relação ao consumo. Os alunos. Vê-se que a Educação Matemática Crítica tem profunda relação com a Pedagogia de Paulo Freire. etc. (Freire. na qual a execução de exercícios apenas para a fixação do conhecimento ensinado previamente pelo professor. porém com um foco mais político. livres de amarras e contextos que propiciaram o seu surgimento. e na Educação Matemática Crítica isso é ainda mais importante. 64) . está se comportando como um mero reprodutor desse conhecimento. saberes e habilidades. impede o desenvolvimento da capacidade crítica e transformadoras da sociedade. 2011. Neste sentido. 14) é o que o impulsiona a um permanente estado de formação. (SOARES. Também nas duas se pretende promover a consciência do que está sendo aprendido pelos educandos. Adorno (2000. Quando o professor os ensina não levando em conta tudo o que esse conhecimento representa. “[. que conta com a iniciativa dos alunos para buscar as aulas oferecidas. esvaziada de qualquer espírito investigativo e questionador . nem tampouco dos fatores históricos. 80) A crença de Paulo Freire no potencial humano de constante aprendizado e busca de soluções para seus problemas norteia o pensamento pedagógico desta proposta. socioeconômicos e ambientais que a determinam. Com esta preocupação focada na capacidade de atuação político-social de um cidadão que detém informações e ferramentas para determinar seu próprio futuro e intervir no seu contexto sócio político nosso projeto se insere. p. 35 O terceiro referencial teórico empregado refere-se ao tema do desenvolvimento sustentável. ar e água. A degradação ambiental e seus efeitos não são “democráticos”. 07): O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo no qual. o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos. energéticos. Esta é a perspectiva com a qual o presente programa se identifica e se propõe a adotar como referência. Entorno da questão ambiental é possível distinguir duas perspectivas antagônicas diametralmente opostas. em outras palavras a justiça ambiental depende da justiça social. Assim sendo. da conscientização e do Treinamento. do ponto de vista dos movimentos sociais a degradação do meio ambiente é indissociável da problemática que envolve a desigualdade social. principalmente nos países desenvolvidos. seus impactos e riscos se concentram nas classes ou frações de classe subordinadas. bióticos. a degradação ambiental é tratada como sendo de natureza técnica e seus riscos e impactos como um problema comum a todos. sobretudo os agrícolas. p. Por um lado. produzido pela Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Conscientização Pública para a Sustentabilidade da Organização das Nações Unidas para a Educação. de um lado. com menor poder e. como sugerido pela noção de desenvolvimento sustentável de Jacobi (2003. Além disso. e Agenda 21 em seu Capítulo 36: Promoção do Ensino. Para tanto. portanto escassa capacidade de enfrentar com chance de sucesso tais impactos. isto é cujos custos são igualmente distribuídos pelo conjunto da sociedade. para poder manter e aumentar os recursos-base. no caso das classes e/ou frações de classe com maior poder. . nas necessidades básicas e na alteração de padrões de consumo. Neste caso. a Ciência e a Cultura (UNESCO). dado o progresso tecnológico e o suposto consenso político quanto ao imperativo de “economizar o planeta” (razão utilitária). o uso de recursos – em particular da energia – e a geração de resíduos e contaminantes. Por outro lado. os instrumentos de mercado seriam os mais eficientes para proteger o meio-ambiente. a luta em defesa do meio ambiente exige o respeito e a garantia de condições de vida dignas a partir do enfrentamento da segregação socioterritorial e da desigualdade ambiental vinculadas ao movimento permanente de expansão dos mercados. De outro. notadamente os relacionados com a equidade. as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploração dos recursos. a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional. minerais. a ênfase no desenvolvimento deve fixar-se na superação dos déficits sociais. conforme estabelecido pelos documentos Educação para um futuro sustentável: uma visão transdiciplinar para ações compartilhadas. (ii) atividade em sala. Metodologia Projeto possui três eixos estruturantes. durante os três módulos presenciais. O desempenho é avaliado segundo a assiduidade e participação ativa nas aulas e atividades desenvolvidas. ministrada por um dos extensionistas. prudência. Tanto a divulgação. prevenção. os encontros serão realizados no Campus Dom Bosco. . quanto as inscrições serão efetuadas diretamente junto aos parceiros estabelecidos. Educação financeira sustentável (compreensão. não presencial. quais sejam: Noções básicas aplicadas de história e economia. pelos três módulos na etapa presencial. dinâmicas de grupo. em duplas. na etapa não presencial. Exemplo desta estrutura pode ser observado a seguir: Na parte expositiva. Os encontros semanais com os participantes. tais como: apresentação de vídeos.4. além das aulas expositivas e interativas. No segundo ciclo. O oferecimento do programa envolve a realização de um encontro semanal. organização das receitas e despesas pessoais/familiares através do orçamento. simulações. envolve também atividades diversas. Cada turma tem dois ciclos de trabalho de três meses cada. controles e ajustes. nos determinantes das decisões de aplicação de capital: liquidez (o que é). O primeiro. proposta de atividade extra-sala. apresentação de vídeos. e trabalhando conjuntamente. Considerando que as atividades de extensão devem não só levar a universidade até a comunidade. e. em que medida são (ou não) aplicados os conhecimentos adquiridos no primeiro ciclo. mas também levar a comunidade à universidade. no máximo. rentabilidade. com duração entre três e quatro horas. para turmas com. vivências. debates. risco. de caráter presencial. etc. conduzida por outro extensionista. os determinantes das decisões de gasto consumo. foram estruturados em três tipos de atividades: (i) parte expositiva. palestras abertas. expectativas e aspectos comportamentais. Noções sobre desenvolvimento sustentável e meio-ambiente. os participantes devem elaborar e gerenciar orçamentos mensais a partir dos quais se pode avaliar (através reuniões de acompanhamento quinzenais).36 2. planejamento. Orçamento familiar como lidar com consumo e aplicação.2. O programa contou com a participação voluntária de seis alunos do curso de graduação em ciências econômica da UFSJ distribuídos. 50 alunos. Detalhamento do Público-alvo O público-alvo apto a integrar o programa compõe-se de jovens (a partir faixa etária de dezesseis anos de idade) e adultos. tal público dispõe. Organizar e as faturas de cartão de crédito. telefone etc. O orçamento consiste em elaborar proposta de planejamento de gastos mensal. internet). mídia impressa. Em terceiro lugar.37 Nas atividades em sala. Garcia de Lima 80 São Gonçalo do Rio das Mortes Pequeno 20 Associação de Moradores do Alto das Mercês. sobre decisões de consumo e aplicação tomadas e seus resultados.5. água. Desta forma. de base prévia de conhecimentos elementares e experiências de vida necessárias ao programa. É a partir desta idade que.2. o acompanhamento da economia do dia-a-dia (experiência pessoal. Em segundo lugar. o segmento padece de extrema vulnerabilidade e suscetibilidade a estímulos orientados para adoção acrítica de um perfil de consumo insustentável. aluguéis e outras fontes de rendimento. Nas atividades extra-sala. as entradas de salários. seja do ponto de vista financeiro. TV. de modo geral. o público alvo compõe-se de: Público alvo Público atingido Escola Estadual Dr. 2. depoimentos com experiências pessoais.488). Debate. em São João del-Rei 20 Quilombos Palmital e Jaguará. entre outros gastos. 2013 . cujas famílias possuem renda de até quatro salários mínimos (R$ 2. recibos de contas de energia. identificar e trazer material de promoção ao consumo e aplicações de dinheiro atraentes e seus níveis de risco. são realizados estudos de caso. atentando para as despesas do grupo familiar e as despesas individuais dos membros do grupo. seja da perspectiva socioambiental. ao menos em princípio. na cidade de Nazareno 30 Associações de Produtores Rurais Senhora das Dores e Vargem dos Cochos em Barbacena (Comunidades da zona rural de São João del-Rei) 50 Fonte: PEFISS. se situa a maioria da chamada população economicamente ativa (PEA). bem como. Além disso. por um lado. técnicos. O NAST é derivado dos ‘grupos de estudo’ realizado pelo Grupo de Pesquisa Transdisciplinar em Arte e Sustentabilidade 16. A. o PEFISS ampliou seu escopo de atuação através da elevação do número de participantes.6. produtores culturais de diversas áreas. das atividades propostas e da assiduidade dos participantes. Garcia de Lima com o cadastramento de cerca de duzentos interessados dentre os quais cinquenta foram sorteados para participar desta primeira edição. Ainda no ano de 2012. no âmbito da parceria já estabelecida com a Escola Estadual Dr. As diversas etapas deverão ser avaliadas de acordo com suas próprias especificidades. professor Glauco dos Santos idealizaram a proposta metodológica transdisciplinar. para os estudantes com disponibilidade de horário no período vespertino. Em 2012. decorrente da parceria com o Núcleo de Arte e Sustentabilidade – NAST. o professor Adilson Siqueira. O coordenador do grupo e orientador do NAST. Acompanhamento e avaliação O acompanhamento do PEFISS realiza-se através da avaliação. ao final de cada uma das etapas de oferecimento ao público.2.2. 16 Grupo de pesquisa vinculado ao curso de Teatro do Departamento de Letras.br . Foram criadas duas turmas (com vinte e cinco participantes em cada uma delas). por exemplo: no ato das inscrições serão mapeadas as expectativas do público.com.38 2. no decorrer das aulas e vivências a forma de avaliação coletiva através de seminários poderá verificar a compreensão e aplicação dos conteúdos ministrados. artistas. e aos sábados. na conclusão do programa um questionário de avaliação indicará a qualidade e adequação do programa. Acessado em http//:www. o PEFISS agrega mais uma área disciplinar do saber: o Teatro. e integrado por professorespesquisadores. Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ.7. nova parceria foi firmada junto a Escola Estadual Ministro Gabriel Passos com a abertura de uma turma com quinze estudantes inscritos. estudantes. passando para duas turmas com cinquenta inscritos cada. Resultados O programa teve inicio em maio de 2011 a partir de parceria firmada junto à Escola Estadual Dr. com aulas ministradas às quartas-feiras. juntamente com um dos membros do Grupo de Pesquisa Transdisciplinar em Arte e Sustentabilidade e também coordenador do PEFISS. coordenado por SIQUEIRA.arteesustentabilidade. para os estudantes sem possibilidade de frequentar as aulas diurnas. 2. Garcia de Lima. Além da apresentação o programa gerou a publicação de resumo e artigo completo nos anais do encontro. Participaram desta viagem 45 pessoas. tanto da perspectiva econômico-financeira. que estimulavam de modo transdisciplinar a troca de saberes. No mesmo ano. p. a importância dessas conferências para alcançar-se um mundo sustentável. reunir um grande arquivo áudio-visual com os materiais coletados durante a Cúpula. realizada na cidade de Aveiro. O objetivo da performance era despertar a atenção do público para que. de grande importância para o programa. houve uma substantiva ampliação do programa a partir do inicio de nossas atividades em novas frentes para atender as demandas originadas nas seguintes comunidades: São Gonçalo do Rio das Mortes Pequeno. Com o apoio da Universidade Federal de São João del Rei . A intervenção dentro do evento deu-se através de atividades realizadas simultaneamente pelos alunos dos dois programas: performances e entrevistas junto ao público visitante.NAST. o PEFISS foi apresentado em comunicação na III Conferência Internacional de Educação Financeira. já que o público recebeu muito bem nossas intenções.05). Associação de Moradores do Alto das Mercês. Quilombos Palmital e Jaguará. Pode-se. O resultado foi muito gratificante. e da cooperação em benefício de objetivos comuns. desta forma. tornou-se possível a produção e realização do espetáculo teatral “Pane no Sistema” e da performance de rua “O Ser que habito: uma ação que transforma” integradas pelos alunos da escola Garcia de Lima. Associações de . 2013. aplicação de tais recursos para financiar empreendimento cultural orientado para a abordagem crítica de temas locais considerados relevantes.NAST participaram ativamente dentro das atividades desenvolvidas no evento como debates. bem como.UFSJ a equipe do PFFISS e o Núcleo de Arte e Sustentabilidade . na cidade de Nazareno. as entrevistas fossem realizadas. Portugal. também. palestras e manifestações junto aos movimentos sociais. Através de vivencias. quanto do ponto de vista socioambiental. do curso de Teatro. (PEFISS. contribuíram para explicitar as preocupações e anseios como ponto de partida para as atividades artísticoeducacionais. O tema 'sustentabilidade' norteou os questionamentos. com formação de um fundo de reservas coletivo. sem dúvida. no dialogo e na reflexão entorno dos principais temas e problemas identificados durante os processos de elaboração e gestão assistida das peças orçamentárias que representam a síntese. sistematização e aplicação dos conhecimentos transmitidos em cada módulo do programa. e.39 O PEFISS se articulou de forma transdisciplinar com o Núcleo de Arte e Sustentabilidade . A participação na Cúpula dos Povos paralela à Conferência Internacional sobre meio ambiente e desenvolvimento da ONU – Rio +20 foi. em São João del-Rei. Em 2013. a gestão orçamentária torna possível a constituição de reservas para satisfação de desejos e aspirações. Nesse sentido. Os participantes foram capazes de repensar suas atitudes e opções de consumo. também. Também se encontra em adiantado entendimento a aplicação do programa também em duas comunidades da zona rural de São João del-Rei. energia e solo. o incentivo à reciclagem e combate ao desperdício. reestruturando as finanças da família e promovendo esforço no sentido de equilibrar o orçamento doméstico. os participantes foram habilitados a construir e gerenciar instrumentos concretos para se organizar tendo em vista uma postura mais consciente e pró-ativa para lidar com os temas e questões colocadas pelo sistema econômico e as pressões capitalistas. Mais que isso. Portanto. poupança. em parceria com o Núcleo de Ensino a Distância da UFSJ e as Secretarias de Agricultura e de Assistência Social da Prefeitura Municipal. a redução do volume de resíduos e o consumo consciente dos recursos naturais como água. Desde modo. contribuindo para avançar em direção do pleno exercício de sua cidadania. assim como a conscientização sobre a otimização do uso de recursos naturais. em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura de Barbacena. o programa desenvolve a responsabilidade ambiental. a partir das contribuições do PEFISS. Os conhecimentos e práticas de planejamento e gestão do orçamento pessoal/familiar enfatizam. . objetivos tais como o consumo.40 Produtores Rurais Senhora das Dores e Vargem dos Cochos. crédito e aplicação. considerada através dessa interpretação. Pode-se afirmar. Dá plena liberdade para que elas atuem Como é dever do Estado estabelecer regras de regulação. senão de forma meramente . Ao reformular o sistema financeiro internacional de acordo com a lógica do capital financeiro. A idéia geral consiste em mostrar que dentro da lógica do capital financeiro. Pode-se. como altamente desejável para os mercados e instituições financeiras. vê-se. capacitam os indivíduos a ter um “bom comportamento” para lidar com um sistema econômico e financeiro cujo modo de operação de suas instituições e regras de funcionamento são pré-determinadas e não sujeitas à crítica. Isto é. o que põe tais iniciativas a serviço do capital financeiro e dirigidas aos mercados . por um lado. A despeito dos discursos que compõem as iniciativas tradicionais de educação financeira. potencializando e legitimando a acumulação de capital fictício.uma orientação subordinada aos interesses do capital financeiro.41 CONSIDERAÇÕES FINAIS A globalização financeira. Em síntese. o principal deles será a constituição de indivíduos-consumidores de produtos financeiros. como produto inevitável das transformações econômicas e tecnológicas recentes. Ao que nos é relevante. não declarados. que como vimos foi conseqüência de um conjunto de acontecimentos históricos. Portanto. que não obstante tais iniciativas. portanto. presentes nas palavras de Lênin e Hilferding. subordinado à dominação financeira do capital. tratam tão somente de conhecimentos transmitidos com o objetivo de adequar o comportamento individual às condições estabelecidas. ao se apresentarem como instrumentos para mudança de comportamento verifica-se que. Historicamente. concluir que o funcionamento do sistema capitalista em sua fase atual é produto de uma assimetria de poder e dominação existente na lógica financeira do capital. isto se manifestou através da expansão das SAs e formação de monopólios. o capital financeiro assume o controle do Estado hegemônico norteamericano. estimular a adoção de atitudes compatíveis com a lógica do funcionamento do sistema financeiro. portanto. desta forma. generaliza pelo conjunto do sistema um regime permissivo e desregulamentado para as instituições financeiras. acreditamos que existam interesses. a tendência de autonomização do seu valor frente à esfera produtiva leva ao colapso. representativas da visão hegemônica da educação financeira. e por outro lado. A globalização financeira nada mais é que a etapa atual orientada pelas regras do RDWS. Ao conceituar o juro somente como o rendimento adquirido pelo empréstimo ou a remuneração a quem dispõe de liquidez. juros. no que tange sua aplicação no Brasil. também. O conteúdo das cartilhas. . Isto implica não só na dominação do capital financeiro portador de juros sobre a esfera produtiva. portanto a promover a inclusão financeira de forma subordinada. no âmbito das políticas públicas. conscientização e emancipação pessoal. traduzem-se em formas cada vez mais exploratórias de dominação. o PEFISS trabalha de maneira crítica. mais tarde. sugere-se. São muitas as conseqüências negativas trazidas com a organização capitalista da sociedade. está repleto de informações meramente instrumentais e conceitos simplificados de economia. é a remuneração cobrada pelo empréstimo de dinheiro. por exemplo. também. dentro das Estratégias Nacionais de Educação Financeira – Enef. também. a remuneração adquirida pelo investidor que aplica dinheiro em empresas. contrariamente ao tratamento informativo e mero ilustrador dos fatos históricos. E a educação bancária perpetua tais contradições. No plano normativo. sugere-se a reformulação dos princípios e recomendações da educação financeira pela OCDE. A educação bancária. Ao contrário do que ocorre nas linhas tradicionais de educação financeira. isto é. na multiplicação fictícia de dinheiro por dinheiro o que compromete todo o desenvolvimento saudável da esfera real da economia. Paralelamente aos programas de transferência de renda do governo federal. a adoção de programas como o PEFISS. já que é a partir da educação orientada para a compreensão crítica da realidade que empodera-se indivíduos e comunidades na luta para o desenvolvimento. já citadas neste estudo. resulta numa sociedade cada vez mais desigual. A possibilidade de transformação só é possível quando se problematiza as questões polêmicas do nosso tempo. bancos ou qualquer outro tipo de aplicação que lhe renderá. O significado de juro. no sentido paulofreiriano do termo. Tratam-se de abordagens orientadas. É. Danos ao meio ambiente e às camadas mais pobres da sociedade que. cursos e artigos publicados pelas iniciativas tradicionais de educação financeira. Ao deixarmos de lado a educação bancária e assumirmos o indivíduo como sujeito consciente de suas ações estaremos trabalhando para a transformação da sociedade desigual em uma sociedade justa. desconsidera-se a autonomização de seu valor perante a esfera da produção. mas.42 superficial. _________. Dinheiro e as Transfigurações da Riqueza. Artigo publicado no Livro “Fundos de Pensão e Mercado de Capitais”.dsop. 6º Colóquio Internacional Marx e Engels. M. 1984. 2000. A. I. (vários autores). JACOBI. a nova fronteira dos fundos de pensão. http//:www. 32. _______.com. Ensaios FEE. 2003. UNICAMP. Vol.br < acessado em 25 de julho de 2013>. Theodor W. 1894. In: Cadernos de Pesquisa. P. V. Porto Alegre. do livro. 1997. FREIRE. Poder e Dinheiro – Uma Economia Política da Globalização.43 REFERÊNCIAS ADORNO. Cap. A forma capital a juros e a questão da aparência em Marx. O Processo Global da Produção Capitalista. O Capital: crítica da economia política. 1994.br < acessado em 05 de agosto de 2013>. 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Report "Educação Financeira para Inclusão Autônoma. Um Estudo de Caso."