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March 27, 2018 | Author: Francisco Ramos | Category: Immanuel Kant, Mind, Knowledge, Morality, Hermeneutics


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Departamento de EducaçãoA RACIONALIDADE NA FILOSOFIA DA CONSCIÊNCIA E NA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO Aluna: Cloê Schmidt Arantes Orientador: Prof. Ralph Ings Bannell Introdução Nos séculos XVI e XVII, houve modificações na visão do mundo com Descartes e Locke, entre outros. Assim concepções do conhecimento e da identidade do sujeito foram substituídas com outras, ambos sendo concebidos como sendo construída por ele próprio, surgindo a ideia de autonomia, que é muito importante na educação. A pessoa é capaz de pensar por si mesma, e de construir sua própria identidade, o que depende da consciência de cada um. A visão do mundo não era mais visão cósmica, mas sim um mundo que possui uma ordem mecânica com base em relações de causa e efeito, como uma máquina, e compreender o mundo é uma questão de desvendar os caminhos dessa máquina. Uma grande metáfora usada nos séculos XVII, XVIII e XIX, era comparar o mundo a um relógio no qual só vemos a face e a ciência tem o objetivo de olhar além dessa face para entender como funciona, sendo assim há uma busca por leis de funcionamento dessa máquina. No entanto, como seres racionais, estamos à parte dessa máquina. Assim podemos separar o espírito, o racional e o emocional que são do individuo que está à parte do corpo, separando-se a alma do corpo, separando-se o sujeito do objeto. Começou a pensar a racionalidade como uma faculdade interior, tentando-se entender como o indivíduo se constrói. A educação começou a ser vista como um processo que forma pessoas racionais que tenham identidade individual. A ideia que hoje temos que todo mundo é capaz de produzir conhecimento é pág. 1 a concepção que fazemos sobre a racionalidade humana torna-se importante no processo educativo. é necessário desenvolver outra concepção do sujeito e da racionalidade. Kant {3}. Na modernidade. Por isso. Ao mesmo tempo. Departamento de Educação moderna. a razão não é vista mais como uma faculdade separada da mente e o sujeito não age apenas de acordo com sua consciência interior. Locke {2}. costumes. caminhamos hoje para uma ideia de uma racionalidade humana social e historicamente construída. Nessa nova concepção. a Igreja e a nobreza eram capazes de produzir o saber. a educação é universal. etc. individual ou coletivamente seguindo nossos desejos. uma nova concepção de racionalidade poderá ser pensada no sentido de se educar com base numa outra concepção do sujeito. e Gadamer {4} sobre pensamento e razão. Portanto. A mente é separada. independente do corpo e do mundo. somos capazes de modificar essas estruturas agindo de modo voluntário e intencional. que nos levará a entender a educação como um importante processo que forma indivíduos que saibam agir conscientemente buscando sua realização como seres humanos. tornando-se útil a si mesmo e aos outros. pelo menos em teoria se não na prática. 2 . em que a racionalidade era fruto da consciência interior de cada indivíduo. metas. visando a formação plena e consciente do individuo que vai se integrar à sociedade. Não podemos mais aceitar a ontologia pré-moderna de um cosmos harmonioso (o logos ôntico). crenças. para fundamentar uma pedagogia para os dias de hoje. não podemos mais conceber as ideias da filosofia do sujeito ou da consciência. é uma preocupação do educador levar o educando a pensar de forma crítica. Por mais que estruturas sociais anteriores que herdamos tenham moldado nossa existência. baseada em ideias transcendentais e uma concepção do sujeito desprendido. Neste trabalho. de modo a usar sua razão na construção do seu pensamento e do seu agir. livre de influências (de Descartes a Kant). pois no passado somente os filósofos. Assim. pág. a partir das concepções de Descartes {1}. mais adequado à pedagogia contemporânea. A RACIONALIDADE NA FILOSOFIA DA CONSCIÊNCIA DESCARTES (1596-1650) Em Meditações Metafísicas.. logo existo”. Descartes demonstra a distinção real entre a mente e o corpo. com base em argumentos divergentes. Kant e Gadamer. Para ele.128) O espírito é o ser pensante e por isso deve ser trabalhado. pag.Descartes. através dos conceitos de racionalidade estudados em Descartes. Locke . através de uma reflexão pessoal. as ideias surgem a partir de uma intuição intelectual e são trabalhados num processo que ele chama de indução ou dedução (sem fazer a distinção entre esses dois conceitos). ao agir consciente. Na educação deve-se levar as crianças sempre a pensar. Avaliar o papel da linguagem e a concepção de racionalidade inserida na hermenêutica filosófica e suas implicações na pedagogia.há uma grande diferença entre o espírito e o corpo pelo fato de o corpo por sua natureza ser sempre divisível e de o espírito ser inteiramente indivisível” (1. que forma o indivíduo consciente e responsável (autonomia). a partir da crítica dos textos discutidos e interpretados. Desse estudo. textos indicados e discutidos com o orientador e com o grupo de pesquisa. 2011. 3 . Qualquer pessoa é capaz de construir conhecimento pág. Nesta obra estão os argumentos para provar o dualismo entre mente e corpo quando explica “.. Departamento de Educação Objetivos Chegar a um conceito de racionalidade útil à educação. Metodologia Esse estudo é consequência da análise e interpretação de textos de obras dos filósofos citados. podemos chegar à construção de um novo texto. É dele a frase ”penso. Com isto quis dizer que a consciência implica em existência. o empirismo . fazer os vínculos. Descartes fundamenta a sua ciência na racionalidade para sustentar as suas deduções e conclusões. logo está tudo interligado. inaugurado por Descartes. Mas como entender esse pensamento quando se imagina a remoção do cérebro ou parte do sistema nervoso? Isto afeta a mente além do próprio corpo. é o que constitui o sistema filosófico cartesiano. estabelecermos relações e chegarmos a uma lógica. exagerada. Descartes inaugura o racionalismo que se iniciou com o princípio que tudo que existe tem uma definição inteligível. Como explicaria essa teoria. O racionalismo. Com esse pensamento. sem o cérebro? O pensamento não se registra na mente. por dedução/ indução. mente e corpo são bem diferentes: o corpo é sempre divisível enquanto a mente é indivisível.em oposição a Descartes. Qualquer pessoa é capaz de obter conhecimento se prestar atenção. este é o método científico. e que para tanto é necessário muito treinamento. em detrimento da experiência do mundo sensível. porque apenas por intuição é possível aprender os conceitos básicos e. só precisando de treinamento e educação. coloca a razão como explicação maior para se atingir o conhecimento. o método dedutivo cartesiano. Este modo de pensar o conhecimento encontra-se também no Discurso do Método. A construção do conhecimento não precisa ser elaborada. se não falhar. precisamos passar por pesquisa (investigação) das partes do objeto de estudo. 4 . pág. não podemos dividir em partes nossa existência. Aponta a dedução como método superior da investigação científica. tendo se baseado na matemática como modelo. que se pode explicar mesmo que não possa ser demonstrado. Para conhecermos algo novo. De acordo com o pensamento cartesiano. LOCKE (1632-1704) John Locke criou um movimento filosófico . Departamento de Educação se seguir o método certo. os limites e a validade do conhecimento serão resultantes da percepção de nossas ideias. mas depende de nosso entendimento. em última instância daí deriva todo ele. mas o que vai além desses acordos. Não depende apenas de conceitos exteriores. O conhecimento baseia-se nas ideias. nosso conhecimento é real e não imaginação do espírito ou uma simples quimera.pag. bem como as operações da mente. um papel em branco. que a activa e ilimitada fantasia do homem nele pintou. O conhecimento que se baseia na identidade e na coexistência são estreitos. Então. pág. vazio de todos os caracteres. Houve época em que tudo se explicava através da vontade de Deus. o que existia dependia de fator transcendental. A percepção mais o entendimento são as bases do conhecimento. a causa de tudo era explicada como resposta ao divino. Departamento de Educação Segundo essa teoria. que fornecem à nossa mente a matéria de todos os seus pensamentos. de onde brotam todas as ideias que temos ou podemos naturalmente ter” ( 2. em detrimento de nossa vontade própria e de nossa experiência. 5 . Como chega a recebê-las? De onde obtém esta prodigiosa abundância de ideias. de que nos apercebemos e sobre as quais nós próprios refletimos.106). com uma variedade quase infinita? De onde tira todos os materiais da razão e do conhecimento? A isto respondo com uma só palavra: da EXPERIÊNCIA. o conhecimento é fruto da experiência sensorial: “Suponhamos então que a mente seja. São as observações que fazemos sobre os objetos exteriores e sensíveis ou sobre as operações internas da nossa mente. Estas são as duas fontes de conhecimento. Aí está o fundamento de todo nosso conhecimento. Se existir conformidade entre nossas ideias e a realidade das coisas. mas de nossa concordância ou discordância entre nossas ideias. o que depende de raciocínio e de nossa capacidade de estabelecer ideias intermediárias é o elo que formam outras ideias. sem quaisquer ideias. como se diz. do elo entre as ideias que são os objetos de nosso entendimento. em sua obra principal A Crítica da Razão Pura estudou a questão do conhecimento. Para a cadeia de raciocínio que vamos formando. se o demonstrativo é falho. ele discute os princípios da razão moral: a ação do homem aos outros e à conquista da felicidade. pode ocorrer o erro na construção do conhecimento. Kant acreditava que o conhecimento não existiria sem uma mistura de conceitos puros (quando não se origina da sensação) e empíricos (que se pág. mas também do modo como são assimilados. sem imposições. o demonstrativo e o sensível. A Crítica Razão Prática. resultante também da capacidade de se estabelecer ligações entre as coisas (objetos fora do mundo) e as ideias que temos desse mundo. Aqui o que conta é a probabilidade. 6 . Departamento de Educação Para Locke há três graus de saber: o conhecimento intuitivo. desse modo. a memória vai confirmar a intuição e a demonstração. O conhecimento sensível não é tão preciso quanto os outros dois e diz respeito à existência dos objetos do mundo exterior. Locke não é cético em relação ao conhecimento do mundo exterior porque acredita que os sentidos em conexão com esse mundo são assertivos. O conhecimento é. sem silogismo. No entanto. investigando seus limites. É o conhecimento dotado de certeza. um perceber sem coação. suas possibilidades e suas aplicações. do modo como é constituído. Em outra obra. KANT (1724-1804) Emmanuel Kant. porque não dependem de raciocínio. são nossos sentidos que vão permitir esse conhecimento. A demonstração se baseia nas ideias que foram primeiramente introduzidas (pela intuição) e o conhecimento se completa a cada etapa com as ideias supervenientes. O conhecimento nesse modo de ser atingido depende não somente dos conteúdos. Entretanto. Quando entre duas ideias se interfere uma terceira. há um encadeamento para se buscar o raciocínio e provas ou demonstrações são necessárias. A clareza de nossas percepções é o que nos faz produzir entendimento que leva ao conhecimento. não erram. O intuitivo é a percepção imediata da mente entre duas ideias diferentes (acordo ou desacordo). incluindo conhecimento além de outras pág. a saber: habilidade. intuições ou conceitos empíricos só a posteriori. Portanto. 7 . O homem é diferente. “do projeto de sua conduta”. Kant acreditava que a educação era um fenômeno cultural e não natural. na visão do autor. o homem nasce com tendências para viver no estado de natureza (rude e selvagem) e para. Com essa combinação. prudência e moral.pag. Kant diferencia o homem do animal a partir do conceito de construção da moral. O animal só é capaz de agir por instintos e não consegue tomar decisões diferentes disso porque não possui razão e assim não consegue desenvolver a moral. Apesar disso. puros. porém se a representação não se mescla nenhuma sensação. inclui os cuidados que dependia de outros seres humanos para acontecer. é preciso que seja educado desde cedo.” (3. Inclui também a formação que é composta de disciplina e instrução. Nessas obras. e o conceito puro unicamente a forma do pensamento de um objeto em geral. morreria sem sombra de dúvidas. pois atrairia predadores. Somente intuições ou conceitos puros são possíveis a priori. O seu choro seria determinante para isso. ou seja. A educação prática deve se dar em três pilares a serem desenvolvidos na criança (as funções da razão). Se um bebê ficasse sozinho no meio de uma floresta. passar para o estado de humanidade. bem como na sua Sobre a Pedagogia. A última pode ser denominada matéria do conhecimento sensível. a intuição pura contém unicamente a forma sob a qual algo é intuído. Ele nasce precisando inicialmente do cuidado da mãe em todos os aspectos. Cria dois aspectos da educação: a física e a prática. é nas suas obras na filosofia prática que Kant talvez tenha mais a dizer à pedagogia. depois. No entanto. para tornar-se um sujeito moral. Habilidade é a capacidade cognitiva. A educação inclui os cuidados que os pais e adultos têm com as crianças para evitar que corram perigos.60). Departamento de Educação origina das sensações): “Ambos são puros ou empíricos. Empíricos se contem sensação (que supõe a presença real do objeto). Kant tentou superar tanto racionalismo como empirismo na sua teoria de conhecimento. ou seja. Departamento de Educação habilidades cognitivas. esse pilar existe e é muito importante para o desenvolvimento dos conhecimentos e da vida. mas não acredita que essa seja a única maneira de desenvolvimento da razão prática porque menciona também a razão moral. pág. o que significa que possui autonomia. Essa se fundamenta na razão prática teórica. a moral nunca poderia ser formada de sentimentos e inclinações. mas somente com os conceitos da razão. este é o uso puro de nossa razão prática e não um conceito empírico. relacionada às máximas morais universais. que poderia levar o espírito a questionar os motivos que poderiam guiar nossa ação tanto para o bem quanto para o mal. O conceito do dever está vinculado a uma razão prática pura e. Esse pilar é o da razão prática empírica. portanto. É dele a máxima universal: “age de maneira tal que a máxima de tua ação sempre se possa valer como princípio de uma verdade universal”. de acordo com seus interesses individuais. Para Kant. suas vontades. A razão ordena os princípios da moral. seus interesses. o oposto do estado de natureza onde cada um vive por si. necessárias para que a criança adquira a capacidade de desenvolver a própria vida. Em relação ao conceito do dever. tendo assim uma vontade. Quando a criança já estiver disciplinada. Para Kant. com bons hábitos e com sua razão desenvolvida. ela terá capacidade de entender a moral. A razão determina a vontade (filosofia pura). fundamentada na faculdade da razão prática pura. Prudência é composta pelas regras sociais de comportamento. A lei moral possui um significado de maneira extremamente obrigatória (imperativo categórico). Somente um ser racional possui a faculdade de agir de acordo com princípios. sem pensar na coletividade. que atinge os fins morais. 8 . Tornar-se um sujeito moral para Kant significa que ele apenas escolhe fins que sejam bons para todos e que possam ao mesmo tempo ser escolhidos por cada um dos indivíduos. Vou abordar essa perspective a partir de dois filósofos importantes. 2002). O que acontece em torno do ser. no confronto de pág. precisa ser compreendido. não mais ligada a uma compreensão ôntica. que nos leva a perceber com o outro. porque há modos de ser. A RACIONALIDADE NA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA A hermenêutica filosófica representa uma concepção alternativa do sujeito e da razão e. Departamento de Educação De acordo com o pensamento kantiano. mas ela deve ser utilizada no início da infância. Heidegger investiga o sentido de Ser. através do diálogo. O modo prático de ser no mundo nos abre as possibilidades da compreensão. portanto. outro fundamento para pensar a pedagogia. a criança ou o jovem não age mais por medo do certo ou errado. A abertura a novos horizontes ontológicos é o que ilumina o ser (Hermann. É preciso estudar o ente a partir de um modo de ser próprio do ente em estudo. HEIDEGGER (1889-1976) Para Martin Heideggar. No entanto. filósofo alemão considerado um dos pensadores fundamentais do século XX. com hábitos ruins o seu conhecimento de certo ou errado é distorcido e ela poderá agir de maneiras não muito bem aceitas na sociedade. mas o horizonte sob o qual a coisa se situa e se revela. dominada pelo ente. antes que a criança desenvolva sua razão. visando alcançar uma colocação correta do sentido de ser. O raciocínio lógico que atingimos depende do desenvolvimento da linguagem. Como Hermann nos ensina. porque senão. ela poderá desenvolver hábitos ruins já que serão muito difíceis de serem modificados. não é o olhar que mede a coisa. e sim por saber o que é certo ou errado. O compreender só é possível se percebemos o contexto em que vivemos. a disciplina é muito importante na formação do sujeito moral. A disciplina não fará mais efeito já que com a razão desenvolvida. os modos e as maneiras de enunciação e expressão de ser. Somos nós que temos o sentido da existência. 9 . A filosofia hermenêutica de Gadamer vai buscar a razão diluída na história da tradição da civilização. não sendo assim nada que possa ser conhecido de maneira científica” (4. Departamento de Educação nossas ideias. formas verbais e não verbais. Mas consiste numa ideia que supera as possibilidades finitas do conhecimento. Não há dúvida que o âmbito da filosofia não é algo positivo que possa ser situado ao lado dos âmbitos de investigação das outras ciências. pág.pág. Porém este todo não é somente o todo como união de todas as suas partes. também filósofo alemão do século XX. mas chegou a ser preocupada com a análise da compreensão em si. que se desenvolveu a partir da interpretação de textos escritos. que ele vê como o acontecer na obra de arte. 10 . Esboço de uma Hermenêutica Filosófica ( 1960). É contra o método científico cartesiano na filosofia e assim demonstra: “É obvio que aquilo a que chamamos de filosofia não é ciência no mesmo sentido em que são chamadas ciências positivas. nosso existir. A filosofia se ocupa do todo. Procura mostrar como a razão deve ser recuperada na historicidade do sentido e isso vai ser possível graças à compreensão que o ser humano possa alcançar como participante e intérprete da tradição histórica. Com sua hermenêutica filosófica. o acontecer na história e o acontecer na linguagem.09). Gadamer apresenta uma lição nova: a interpretação requer a inserção num contexto de caráter existencial ou com as características do acontecer da tradição da história do ser. GADAMER (1900-2002) Hans-Georg Gadamer. que foi assistente de Heidegger no período de 1923 a 1928. Gadamer. assume a posição relativista em que pensamento e razão são sempre determinados pela história e pela comunidade linguística. Sua obra principal foi Verdade e Método. somos capazes de criar novos conceitos que contribuem para nosso desenvolvimento. é considerado um dos maiores construtores da hermenêutica filosófica. uma forma única de se produzir conhecimento. no ambiente da ciência moderna. com suas opiniões e crenças. a compreensão do texto vai depender da autocompreensão do intérprete que se forma progressivamente. assim também não existe a possibilidade de uma interpretação total do texto. Para a educação. Isto significa educar-se pela confrontação do sujeito consigo mesmo. Cria-se o sujeito e a produção do saber através da percepção do mundo ao qual pertencemos. Nossa compreensão está ligada às nossas tradições. A interpretação é a chave da abertura para o mundo. não há mais lugar para se pretender chegar à verdade por um único caminho. mas ao mesmo tempo temos a oportunidade de ampliar nossa experiência humana. produzir sentido. isso significa uma autocompreensão. Compreender é interpretá-lo porque emergimos dele. para o conhecimento. É na compreensão da experiência humana no mundo que se produz conhecimento. Nesse sentido. Para tal. novas interpretações no sentido da formação. pág. com toda radicalidade. à sociedade a qual pertencemos. ao mundo. O ser não pode ser compreendido na sua totalidade. e pela incapacidade de se separar o sujeito do mundo objetivado. Compreensão somente é possível pela nossa capacidade de interpretar. 11 . uma autocrítica da prática pedagógica. O diálogo surge com toda força. compreender pode tornar-se uma aventura perigosa porque não temos a segurança do método. como era visto o conhecimento no cientificismo. A partir daí vamos interpretá-lo. sendo isso que predetermina o que compreendemos e interpretamos. Não há mais lugar para o monismo metodológico. O mundo é finito e tem historicidade. compreender significa uma abertura ao outro. só podemos aprender pelo diálogo pois é o próprio sujeito quem se educa com o outro. Na concepção da hermenêutica filosófica. nosso autoconhecimento e nosso horizonte do mundo. Para Hans-Georg Gadamer. Departamento de Educação Com Gadamer. como processo formativo. 12 . através do sentido da alteridade: isso significa compreender o outro e o saber cultural. mas no confronto com o outro. nossa identidade no mundo. como é importante analisarmos esse caminho sem preconceitos. para que apreendam não só com a sua opinião e crença. que vincula o “eu” e o mundo. mas também com o seu mundo exterior. a partir da realidade cultural de cada sociedade. caminhamos hoje para uma ideia de racionalidade humana social e historicamente construída. Isso quer dizer que não existe uma forma exclusiva. CONCLUSÃO Com esse estudo. mas sim podemos aliar as tradições culturais com experiências vividas no mundo contemporâneo. Departamento de Educação A EDUCAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA DA HERMENÊUTICA Não se pode reduzir a experiência da verdade a uma explicação metódica cartesiana. O sujeito não pensa e age apenas de acordo com uma racionalidade interior. a construção de nossa existência. cheguei à conclusão que há vários caminhos que nos conduzem a verdade. mas é quando se reconhece as produções culturais válidas que abrem o mundo e que vêm enriquecer nossa própria interioridade. Através do diálogo com o outro em suas diversas modalidades é que se interpreta o mundo e adquirimos conhecimentos. para determinar o espaço de produção do conhecimento. Concluí que é importante que as crianças interpretem esse mundo através da linguagem. pág. A possibilidade da compreensão hermenêutica nos leva a um tipo de educação. buscamos a verdade na dinâmica do tempo. E é essa a contribuição dos filósofos: pensar a nossa existência. do dialogo. construindo o presente com sabedoria e ética. dar sentido aquilo que não vem só de nós mesmos. de cada indivíduo. outras sociedades. 13 . No entanto. do corpo e etc. percebendo sua organização com um olhar crítico e construtivo. além da dimensão ética da educação. sua concepção de experiência é limitada à experiência sensorial. de se colocar frente ao educando e ao grupo. exposições. mostrou a importância de se analisar o momento em que vivemos com mais lucidez e levar os alunos a uma prática de construção do saber consciente. e também procuro encontrar as razoes e as influencias que estão na raiz do que se apresenta. com olhos que buscam a compreensão de nossa existência em seus aspectos exteriores. Para mim. O educador deverá elaborar temas. Com Gadamer aprendi. aprendi sobre a importância de se construir o espaço ideal para que a criança tenha oportunidade de se mostrar. situações e debates quando o educando observará outros lugares.. Como futura educadora. Com Locke. Kant. mas também as linguagens de arte. usando vários tipos de linguagens. agora vejo através da filosofia. entrevistas. o estudo da visão dos filósofos. O aprendizado é fruto das experiências e a escola deve ser o local para tudo isso. Descartes me fez ver a importância do estudo metódico dos focos que levam ao uma conclusão maio. partindo da compreensão do seu mundo. sabendo trazer sua contribuição para o enriquecimento do saber. com sua influencia na educação. pág. analisar e criticar outras culturas. principalmente através do dialogo com o outro. o educando será levado a conhecer. de fazer experiências. de se estudar o objeto com muita atenção . não somente verbal (escrita e falada). com os critérios da hermenêutica filosófica. cada um em sua época. visitas. nos mostra a importância da disciplina e instrução no processo de formação das crianças. Departamento de Educação Desse modo. que é preciso perceber a construção da identidade do aluno. bem como interiores. 1983. 4. pág.LOCKE. Sobre a Pedagogia.KANT. 2. 6. Editora Martins Fontes. N. J. I. Edição.HERMANN. 14 . Fundação Calouste Gulbenkian.DESCARTES. Hans-Georg. 2010. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.GADAMER. Rio de Janeiro: DP&A. 2006. 5ª. Meditações Metafisicas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2011. Hermenêutica e Educação. 5. A razão na época da ciência. São Paulo: UNIMEP. Ensaio sobre o entendimento. 2005. 2002. Departamento de Educação Referências Bibliográficas 1. R. I. 3.KANT. A crítica da razão pura.
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