[eBook] Carlos Alberto Messeder Pereira - o Que e Contracultura
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1osebodigital.blogspot.com 2 Carlos Alberto Messeder Pereira O QUE É CONTRACULTURA EDITORA BRASILIENSE 3 Pereira. Heloísa Buarque de Hollanda.“Eu pensava ter dado um grande salto para a frente e percebo que na verdade apenas ensaiei os tímidos primeiros passos de uma longa marcha. José Leonardo Gomes da Silva Neto. 4 . C. Luís Carlos Maciel. Luís Carlos Fridman e Maria Lygia M..” (A Chinesa — Godard) Agradecimentos a: Alberto Sabino Jr. capazes de mobilizar multidões de jovens e intelectuais. num novo foco de contestação radical. aos olhos das famílias de classe média. modos diferentes de encarar e de se relacionar com o mundo e com as pessoas. É Proibido Proibir. começa a ficar mais claro que aquele conjunto de manifestações culturais novas não se limitava a estas marcas superficiais. O que estava acontecendo? Falava-se no surgimento de uma nova consciência. Corriam os anos 60 e um novo estilo de mobilização e contestação social. roupas coloridas. com suas regras próprias. Etc. um tipo de música. Rapidamente. Palavras de ordem e expressões como estas foram. Desrepressão. You Are What You Eat. Turne in and Drop out. Era uma revolução em curso? Estava-se presenciando o surgimento de uma nova utopia? Aos poucos. Revolução Individual. enfim. Um conjunto de hábitos que. num determinado momento. pegando a crítica e o próprio Sistema de surpresa e transformando a juventude. firmava-se cada vez com maior força. Paradise Now. parecia no mínimo um despropósito. o fenômeno é caracterizado por seus sinais mais evidentes: cabelos compridos. bastante diferente da prática política da esquerda tradicional. os meios de comunicação de massa começavam a veicular um termo novo: contracultura. Etc. misticismo. de novos tempos. tão ciosas de seu projeto de ascensão social. Desbunde. com enorme apelo junto a uma juventude de camadas médias urbanas e com 5 . . no entanto. Ao contrário. significava também novas maneiras de pensar. de uma nova era. Aqui e Agora. enquanto grupo. Começavam a se delinear. Enfim. . . drogas e assim por diante. Flower Power. Inicialmente. Turn on. nas mais diferentes partes do mundo. um absurdo mesmo. um outro universo de significados e valores. assim.HÁ ALGO NO AR ALÉM DOS AVIÕES DE CARREIRA Paz e Amor. os contornos de um movimento social de caráter fortemente libertário. A Imaginação Está Tomando o Poder. que viria a marcar tão fortemente isto que ficou conhecido como a contracultura. motocicletas e revoltas contra os professores nas salas de aula. algo que seria de grande importância para a compreensão da década seguinte: uma consciência etária. alguns valores centrais da cultura ocidental. 1956). aglutinando um público jovem que começava a fazer deste tipo de música a expressão de seu descontentamento e rebeldia. sintetizado na figura provocativa de Elvis Presley. Nesta mesma época. posteriormente. São os “rebeldes sem causa” tão retratados. capaz de inaugurar para setores significativos da população dos Estados Unidos e da Europa. que. um modo devida e uma cultura underground. desde os anos 50. no mínimo. que. pelos filmes da época e encarnados na figura de James Dean.uma prática e um ideário que colocavam em xeque. Esse espírito libertário e questionador da racionalidade ocidental. nos anos 60. A oposição jovem/ não-jovem começava a ganhar cada vez maior sentido para a compreensão de determinados movimentos sociais. surge o rock-’n-roll. frontalmente. davam o que pensar. traduzido. É. e de vários países de fora do mundo desenvolvido. no entanto. com uma geração de poetas — a beat generation — que produziu um verdadeiro símbolo do fenômeno com o poema “Howl” (Allen Ginsberg. não importa se justa ou injustamente. inicialmente. marginal. como um movimento profundamente catalisador e questionador. de modo bastante claro. aos olhos do Sistema e das oposições (ainda que gerando incansáveis discussões). tornando inseparáveis a música (ou a arte) e o comportamento. especialmente certos aspectos essenciais da racionalidade veiculada e privilegiada por esta mesma cultura. significa uivo ou berro. com suas gangs. É a chamada juventude transviada. que essa explosão político-cul6 . Ainda que diferindo muito dos tradicionais movimentos organizados de contestação social — e isto tanto pelas bandeiras que levantava. um estilo. quanto pelo modo como as encaminhava — a contracultura conseguia se afirmar. já se anunciava nos Estados Unidos. com seu apogeu por volta dos anos 1956-1968. Já começava a se delinear. tural ganha potência máxima. na França. que realizava a cobertura jornalística do festival para um jornal underground brasileiro. do Tropicalismo. e. A segunda metade da década é marcada por grandes concertos e festivais de rock que. como Rogério Sganzerla. se era um sinal evidente da alienação de parcelas cada vez maiores das populações de países situados nos quatro cantos do mundo ou se significava a crítica mais radical que já se havia produzido à cultura ocidental como um todo. o da Ilha de Wight. Na música. sintetizada pelo Maio de 68. na verdade. A partir de então. como Caetano Veloso. José Vicente ou Antônio Bivar. o de Woodstock. que não deixa 7 . com suas comunidades e passeatas pela paz. por sua vez. Entre alguns dos mais importantes estão o de Monterey. contou com a presença de figuras importantes da música brasileira. ao lado de pessoas de outras áreas. estas eram algumas das questões centrais que estavam colocadas na pauta de uma discussão quente e prolongada. se transformavam sempre em grandes happenings. que vinha lançar a figura do yippie (o hippie politizado). ainda no mesmo ano. Este. finalmente. o ié-ié-ié dos Beatles e o novo som de Bob Dylan começavam a reunir um público crescente e cada vez mais significativo diante da opinião pública. em 1967. era difícil ignorar-se a contracultura como forma de contestação radical. pelo Establishment — palavras consagradas pelo jargão da época —. surgia um curioso partido: o Youth International Party (Partido Internacional da Juventude). Ainda um fato importante na caracterização desse quadro são as revoltas nos campi universitários que culminam com a radicalização do movimento estudantil internacional. Por volta de 1967. ou melhor. Gilberto Gil (ambos vivendo em Londres na época) e Gal Gosta. quando um negro é assassinado pelos Hells Angels. na mesma época em que na lendária São Francisco era realizado com grande alarde o enterro simbólico do mesmo movimento hippie. Toda essa movimentação na música era seguida de perto pelo movimento hippie. Se seria fácil e totalmente absorvida pelo Sistema. o de Altamont. evidenciando-se a presença da violência no interior da contracultura. quando surgem Jimmy Hendrix e Janis Joplin. em 1969. pelo menos no Brasil. publicadas já nos anos 80.de apontar para um saldo que parece exigir e merecer um balanço cuidadoso do qual possam sair pistas que apontem no sentido de uma melhor compreensão do que foi ou do que é a contracultura. bem como autor de vários livros sobre o assunto em questão —. Seu nome é Luís Carlos Maciel — colaborador do Pasquim do começo dos anos 70 e de vários outros jornais underground. estando um pouco distante do nosso dia-a-dia. a experiência da juventude internacional. descrever. a natureza de um movimento complexo e rico como a contracultura. já faz parte de um passado histórico. o movimento de contracultura. que nestas anotações que se seguem. Nesse sentido. em poucas páginas. ou mesmo contar um pouco de sua história. não é tarefa fácil. teve um papel fundamental tanto na atualização quanto na divulgação das idéias da contracultura. nos dá algumas pistas fundamentais que vale a pena seguir. um bom ponto de partida para uma aproximação mais direta do fenômeno da contracultura é. Especialmente se o que se pretende é compor um quadro capaz de passar de modo vivo e atual um pouco do clima daquele momento. sem dúvida alguma. num certo sentido. A ASCENSÃO DE UM PODER JOVEM Embora bastante próximo no tempo. o depoimento de alguém que. para designar um conjunto de manifestações culturais 8 . Primeira anotação O termo “contracultura” foi inventado pela imprensa norte-americana. nos anos 60. o pique da movimentação daqueles anos 60 que tanto marcaram. Por outro lado. de modo radical e definitivo. Os tempos mudam e fica então difícil reconstituir o vigor. mas culturas. cuja origem pode ser localizada nos anos 60. Na verdade. Cultura é um produto histórico. No sentido universitário do termo é uma anticultura. é e certamente será. porém. em face da cultura convencional. é um termo adequado porque uma das características básicas do fenômeno é o fato de se opor. Criamos. — do que outra. a ver na cultura que herdamos de nossos pais e antepassados uma entidade intocável. lugares e condições. a palavra. e b) como uma postura. ou o resultado de uma evolução que se diria “biológica” porque inevitável. de crítica radical. mas diferentes maneiras de ver essa realidade e de interpretá-la. como em vários outros países. de diferentes maneiras. que se apresenta diante de nós como parte da própria essência da realidade — algo “natural” como o Sol ou a Lua. contingente. Elas expressam não a realidade em si. especialmente na Europa e. independente do reconhecimento oficial. “verdadeira”. a rigor — como manifestação de uma inexistente “natureza” humana. no plural. tanto objetivas quanto subjetivas. criadas por diferentes homens em diferentes épocas. É evidente. Obedece a instintos desclassificados nos quadros acadêmicos. de duas maneiras: a) como um fenômeno histórico concreto e particular. Terceira anotação Acostumamo-nos. a contracultura não é. Segunda anotação Pode-se entender contracultura. São diferentes leituras do mundo e por nenhum critério pretensamente objetivo podemos afirmar que uma seja mais válida — ou mais “objetiva”. que não é assim. praticamente 9 . definitiva. no segundo. através da educação. ou até uma posição. foi. Não há cultura. “científica” etc. No primeiro sentido. embora com menor intensidade e repercussão. só foi. não só nos Estados Unidos. mais acidental do que necessário. Contracultura é a cultura marginal. à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições das sociedades do Ocidente. inventamos culturas — e a todo momento. na América Latina. uma criação arbitrária da liberdade — cujo modelo supremo é a Arte. isto é. por exemplo —.novas que floresceram. introjetado em todos nós desde a infância: o de que nossa cultura particular e suas formas específicas e limitadas são. insubmisso a todos os tipos e tentativas de racionalização. O surgimento e o desenvolvimento do que se chamou contracultura não foram previstos — e só foram precariamente apreendidos. Esta é uma ilusão tenaz. sempre. é o resultado psicológico da exploração econômica. Esta é a principal originalidade histórica da contracultura. pois. como um antídoto. Tais doenças condicionaram seu surgimento. Quarta anotação A compreensão do fenômeno da contracultura depende da erradicação desse preconceito. é essencialmente Arte — um dos piores prejuízos causados pela visão científica que domina a nossa cultura foi o de distorcer. Quinta anotação A contracultura foi certamente propiciada pelas próprias doenças de nossa cultura tradicional. de alguma maneira. ou anticorpo. amparada por todas nossas instituições — da universidade à política —. Nossa cultura é. ela própria.sem cessar. Ela tem mais a ver com um passe de mágica do que qualquer processo racionalizável. Há de ser am10 . ou melhores. No marxismo. apenas. pretéritas ou a inventar. necessário à preservação de um mínimo de saúde existencial. de um jogo cuja graça maior há de ser. que passou a ser socialmente exigido pelo próprio instinto de sobrevivência de nossa vida em comum. o produto social da repressão dos instintos. Esse ato foi espontâneo. O valor mais alto de uma cultura é sua visão poética. e o primeiro ato indiscutivelmente positivo e genuinamente revolucionário da contracultura foi o de desmenti-la. obscurecer e finalmente ignorar esse fato. na psicanálise. à custa de distorções — pelos quadros de conhecimento elaborados por nossa cultura. em Freud. de Marx — e “neurose”. sua carga poética. Uma arte mórbida. Cultura. Trata-se. ou mais objetivas etc. Sua fonte foi a magia fundamental da realidade. superiores. uma doença. Chama-se “alienação”. O pensamento do século XIX tentou diagnosticar essa doença de diferentes maneiras. no fundo. seu poder incessante de criação. do que quaisquer outras. arte. Sexta anotação “Na noite dos tempos” quer dizer: aqui e agora. A audácia dessa visão não pode ser considerada mera precipitação ingênua. Sua mente conturbada cria uma série interminável de monstruosidades econômicas. o adormecido o confunde com o real. ao nível da experiência coletiva concreta. O olho desperto o vê assim. de absoluta confusão mental. maturidade — com o mundo tal como o conhecemos. cujo instinto natural é para a saúde. jogo. suas formas mórbidas — dinheiro. a preservação e mesmo a evolução da doença são asseguradas. um escravo do que os hindus chamam Maya. pois funda-se. repressão. Nas teias de Maya. portanto. autoritarismo etc. antes. sociais. — são suas conseqüências ou sintomas. Mente. O grande obstáculo é que esse estado onírico.bas as coisas — e mais ainda. A origem dessa doença perde-se na noite dos tempos: ela não depende apenas das maneiras que os homens organizaram sua sobrevivência material ou suas relações familiares. o sujeito vive um estado de alucinação completa. Sétima anotação O doente é o homem condicionado que conhecemos em nossa cultura. e a visão juvenil. prende-se em sua teia. reconhecida como doença. Oitava anotação A contracultura surgiu do confronto entre a cultura. o doente não procura médico nem remédio — e atribui seu sofrimento a uma fatalidade absurda e incompreensível. Considerando-se “saudável”. exploração. cada vez mais. Em função disso. Sua perda básica é a da própria liberdade. alucinatório. Maya significa ilusão mágica. Corpo e Espírito — esses três são um só. num desencanto radical — atingido por saturação. ou ainda melhor: são ela própria. dessa forma. A doença é essencialmente mental — e. é considerado “normal” por sua própria ótica. que é a vigente. Eternidade do Instante Eficiente. antes. 11 . Essa condição caracteriza o nosso cotidiano. ele se torna. psicológicas e existenciais. tanto física quanto espiritual. especialmente. Tratava-se. o rótulo contracultura foi ganhando um espaço de circulação cada vez mais amplo. especialmente da grande imprensa. porque continha em si mesmo uma expressiva carga de informação a respeito do movimento que designava. por si só. A afirmação e a sobrevivência de uma parecia significar a negação e a morte da outra. E agora. Desta forma. principalmente. mas sublinhadas pelo denominador comum da intenção libertária. talvez. o termo “colava” não apenas porque se referia a um fenômeno que assumia proporções cada vez maiores. p. E isto. n0 2736. mas. de fato. Revista Careta. na medida em que o fenômeno a que ele se referia ia também se expandindo e se revelando. 12 . a visão juvenil. é claro que não se pode esquecer ou deixar de levarem consideração a força. E a fonte instintiva dessa intenção é. Diante desta cultura privilegiada e valorizada. de outro — o que é um ponto fundamental —. não parece ser suficiente para explicar a enorme e rápida difusão do termo contracultura. amplificada e difundida pelos meios de comunicação de massa. Assim que. o grande vigor expressivo do próprio rótulo. pelo Establishment. a recusa radical da juventude ganhava a cena com grande alarde e assumia ares de uma verdadeira contracultura. no sentido de lançar rótulos ou modismos. Podemos entender por contracultura duas coisas até certo *Luís Carlos Maciel. aos olhos de um número crescente de pessoas.* Surgido inicialmente na imprensa. de um lado. temos a expansão e difusão do fenômeno a que o rótulo se referia e. Ano LIII.As vertentes que confluíram para a formação de contracultura são várias. 19. o poder da imprensa. sem dúvida. de 20/07/1981. como um tema obrigatório de discussão. de um movimento de contestação que colocava frontalmente em xeque a cultura oficial. de naturezas aparentemente diversas. ou porque era veiculado por uma imprensa mais ou menos poderosa. a contracultura se encontrava efetivamente do outro lado das barricadas. Mas isto. prezada e defendida pelo Sistema. 13 . já faz parte do passado. reaparece de tempos em tempos. entendida assim. explícita ou implícita. eles já não têm o mesmo sentido de antes. De um lado. embora muito próximo de nós. um certo espírito. em diferentes épocas e situações. quando alguém usa o termo. de insatisfação. Trata-se. o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral. um certo modo de contestação. De outro lado. o termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude de que falávamos anteriormente e que marcaram os anos 60: o movimento hippie. “rompe com as regras do jogo” em termos de modo de se fazer’ oposição a uma determinada situação.ponto diferentes. E tudo isso levado à frente com um forte espírito de contestação. então. questionadora. Aquela postura ou posição de crítica radical em face da cultura convencional. a música rock. mesmo quando nos vemos diante de um ou outro destes elementos. Um tipo de crítica anárquica — esta parece ser a palavra-chave — que. e bastante “diferente” se comparada às formas mais tradicionais de oposição ao status quo. E isto na medida em que esta nova realidade se apoia sobre uma recusa fundamental. mais abstrata. E. drogas. o termo aponta para uma realidade cuja natureza extremamente radical. uma certa movimentação nas universidades. ainda que muito ligadas entre si. de um outro modo de vida. é possível que esteja se referindo a uma ou a ambas as coisas. Tanto no sentido mais geral quanto no espec íf ico. Hoje. à qual se refere Maciel em suas anotações. sugere a idéia de que estamos de fato diante de algo situado fora da ou contra a cultura oficial. de certa maneira. de enfrentamento diante da ordem vigente. e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social. viagens de mochila. Uma contracultura. ou pelo menos não com aquela força. de caráter profundamente radical e bastante estranho às formas mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. de busca de uma outra realidade. orientalismo e assim por diante. de experiência. de um fenômeno datado e situado historicamente e que. de alguns dos 14 . Fiel à filosofia utópica do dropout. Era exatamente a juventude das camadas altas e médias dos grandes centros urbanos que. E mais. embora privilegiada. a juventude engajada na contracultura dos anos 60 buscava. estudioso dos agentes alucinógenos do final do século passado: “. É a recusa radical destes princípios mais do que consagra15 . através deste conjunto de idéias e comportamentos. segundo o consenso da época.. visasse uma redistribuição da riqueza social e do poder em favor dos mais humildes. cair fora do Sistema. a seu redor. rejeitava esta mesma cultura de dentro. por suas grandes possibilidades de entrada no sistema de ensino e no mercado de trabalho. jazem formas potenciais inteiramente diferentes (. Descrente do futuro e desencantada com o presente — uma sociedade e uma cultura que. situado nos interstícios daquele mundo desacreditado. constitui apenas um tipo especial de consciência. a consciência racional. Rejeitavam-se não apenas os valores estabelecidos mas. por exemplo.. Não se tratava da revolta de uma elite que. Elas impedem um fechamento prematuro de nossas contas com a realidade”.. Rompia-se com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamento e comportamento da cultura dominante. estavam simplesmente “doentes” —. basicamente. o predomínio da racionalidade científica. a estrutura de pensamento que prevalecia nas sociedades ocidentais..valores mais sagrados e prezados por aquela cultura. Nenhuma concepção do universo em sua totalidade que ignore essas outras formas de consciência pode ser definitiva (. como a chamamos. o que tentava criar era um mundo alternativo.).. tendo pleno acesso aos privilégios da cultura dominante. tentando-se redefinir a realidade através do desenvolvimento de formas sensoriais de percepção. dela separadas por um tenuíssimo biombo.. Nem de uma “revolta de despossuidos”. underground.). Ao contrário. Nas palavras de William James. realizandose uma espécie de “crítica selvagem” a esta mesma cultura e sociedade ocidentais. enquanto. Criticava-se e rejeitava-se. ou no que se acreditava ser o outro lado de suas muralhas. o que se pressentia era uma ruptura. Não se tratava mais de um fenômeno episódico e particular. na falta de sistematicidade de sua crítica — esteja a dimensão essencial da radicalidade da contracultura. mas também pelas alianças que conseguia estabelecer com grupos de contestação às vezes muito diferentes. o que é fácil de demonstrar pela idade avançada de alguns de seus teóricos e gurus mais destacados. hipóteses e suposições daqueles teóricos “mais velhos”. algumas das idéias. Eram estes mesmos jovens que atualizavam e colocavam em prática. com a ordem dominante.dos que parece emprestar ao rótulo contracultura seu forte sentido. quanto da parte dos que lhe faziam oposição. em contextos diversos. ia se revelando uma presença cada vez mais incômoda do ponto de vista do status quo. ela encontra no jovem o seu intérprete principal e o seu motivo mais forte. Está. da expressão conflito de gerações. Houve quem dissesse que a “revolução” havia chegado às salas de visita de algumas das mais pacatas famílias burguesas ou mesmo sentado à mesa do jantar. no sentido mais rico da expressão. Tanto da parte daqueles que se colocavam ao lado do novo fenômeno. no sentido mais essencial da palavra. Mas não era apenas no interior da família que o jovem se 16 . podia-se falar agora da entrada em cena de um poder jovem que. A partir de um certo momento começou a ser cada vez mais freqüente e comum o emprego. assim. no seu cotidiano. Falar então de conflito de gerações era tocar em um problema essencialmente político. profundamente marcada por um inegável “espírito juvenil”. De uma certa forma. O espaço privado e íntimo da família — palco por excelência destes conflitos — ganhava ares de arena política. E aí talvez — na sua fúria. Embora a contracultura não seja uma invenção exclusiva da juventude. a burguesia o encontrava na figura de seus filhos cabeludos. Ao invés de encontrar seu inimigo de classe no operariado das fábricas — afirmavam alguns —. não apenas pelo seu vigor próprio. justificando sua fácil aceitação de ambos os lados das barricadas. mas de um foco importante de contestação social de nossa época. o que se materializava. Por outro lado. por exemplo. uma dimensão nova e radical. jovem e juventude passavam a ser sinônimo de contestação. Efetivamente. este país começava a se constituir então no primeiro grande exemplo de uma sociedade afluente. E. por maior que tenha sido entre nós o impacto da II Guerra Mundial e mesmo de seu término ou das transformações ocorridas no período que se seguiu a ela. Afinal de contas. ganhava. de modo mais acentuado a partir da II Grande Guerra. cada vez mais. O mesmo acontecia na escola. não deve ser muito fácil perceber e avaliar de modo imediato o alcance e o significado destas alterações. ou melhor. e todas estas transformações apontavam no sentido de fazer deste mesmo jovem uma peça importante. as condições de vida e a definição mesma do que fosse o jovem ou a juventude haviam se transformado bastante. é a juventude branca de camadas médias de países como os Estados Unidos ou aqueles da Europa Ocidental que vai se constituir em algo que poderia ser definido como o núcleo básico deste novo espírito de contestação radical da contracultura. entrá17 . enfim. a oposição filhos/pais. um estilo de vida exportado com razoável sucesso para o mundo inteiro. nossa situação era muito diferente daquela vivida pela Europa — o palco mais vivo daquele conflito não apenas militar mas sobretudo ideológico — ou pelos Estados Unidos. a oposição jovem/adulto.constituía num foco de contestação. na música. tecnocrática. para quem está situado deste nosso lado não-afluente do mundo contemporâneo. nos campi universitários. Contudo. e especialmente nos países ditos desenvolvidos — com destaque para os Estados Unidos —. Com especial destaque para certos países e para certos grupos sociais. Pelo menos inicialmente. assim. em grandes movimentos sociais. Especialmente no que se refere aos Estados Unidos. parece não ter sido tão de repente que tudo isto aconteceu. em todos os lugares e/ou instituições onde sua presença se fazia notar. Certamente. talvez a grande novidade do período pós-guerra. de destaque no grande xadrez social. nas movimentações de rua. na afirmação do american way of life. que por si só já favorecia o incremento de uma identidade grupal. o que adiava um pouco mais o contato mais direto entre o jovem e o “mundo dos adultos” decorrente. Por outro lado. falando ainda especialmente do caso dos Estados Unidos. Ainda na área educacional. se libertava agora destas amarras tradicionais e locais. que até então estivera sob a influência mais direta do círculo mais íntimo. vale lembrar que o repertório de informações desta mesma juventude havia se transformado bastante durante a década de 50. por exemplo. pela família ou outras instituições afins. Como se tudo isso não bastasse para reforçar as fileiras deste exército de jovens. da profissionalização. entre outros. de uma educação liberal que tinha. portanto bastante jovem. vinha se acrescentar o forte desenvolvimento. vale lembrar que ao volume extremamente grande de sua população com menos de 20 anos. por exemplo. naquela hora. em um novo período da luta entre as grandes potências. ganhando uma dimensão mais universal e aproximando realidades até então infinitamen18 . no pósguerra. como também ajudava a transformar a juventude numa “carreira” ainda mais longa. valores. gostos e padrões de comportamento. Vivia-se a “guerra fria”. a difusão de normas. é bom chamar a atenção para a expansão de cursos superiores que vinha ocorrendo tanto no Estados Unidos quanto na Europa Ocidental. quanto no macarthismo. alimentada pela ameaça atômica. representado. fenômeno que tanto marcou a década de 50 nos Estados Unidos com suas listas negras e uma implacável perseguição a personagens da esquerda americana.vamos. Com o desenvolvimento galopante que tiveram os meios de comunicação. o efeito de reforçar a existência de um espaço legítimo de questionamento e reivindicação específicos do jovem. entre os Estados Unidos e a União Soviética. A experiência do campus universitário não apenas significava uma enorme concentração de jovens num espaço bastante aberto de discussão e questionamento. e que se expressava tanto nos maciços investimentos industriais de guerra realizados por ambas as partes. dado que. na verdade. Mas como se caracteriza essa sociedade em que se constitui e com que se defronta este poder jovem? Como ela se apresenta aos olhos daqueles que vão desafiá-la? Suas marcas mais fortes parecem ser uma indústria altamente avançada. vai afastar esta população jovem das formas mais tradicionais e disponíveis de luta política. racionalização e planejamento. com privilégio dos aspectos técnico-racionais sobre os sociais e humanos. apoiado e referendado pelo dogma da ciência. reforçando uma tendência crescente para a burocratização da vida social. o mundo da comunicação de massa era aquela “aldeia global” de que nos fala McLuhan — um nome importante no elenco de teóricos que tiveram seu lugar no movimento de rebelião da juventude. Se. muitas vezes. Neste sentido. ao lado de outras marcas não menos importantes. Trata-se. aliança que se traduz numa pauta de consumo sempre renovada e num sistema essencialmente massificante. o intérprete autorizado do discurso da tecnologia. a tecnocracia — esta forma social acima apontada — se afirma como um imperativo cultural incontestável e indiscutível à cuja dominação boa parte da população mundial do final do século XX se rende sem muitas vezes ter ao menos a mais leve consciência deste fato. uma das características essenciais de toda a contestação da juventude vai ser a ênfase na afirmação da individualidade. Tudo isto. de uma sociedade tecnocrática voltada para a busca ideal de um máximo de modernização. Assim. aliada a uma razoável afluência. altamente repressivo e massificante. por seus próprios pais. ou melhor. Afinal de contas. pela crença absoluta na objetividade do conhecimento científico e na palavra do especialista. por sua vez. uma parte significativa da juventude de um semnúmero de países do mundo ocidental se encontrava. numa situação de difícil saída. de 19 . da produtividade e do progresso. Diante de um tal sistema.te afastadas umas das outras. aquela política “quadrada” e “careta” — na versão desta mesma população — praticada. no final dos anos 50 e começo dos 60. de uma ilusão? E de um sonho fracassado? Seria só isso que diziam os versos de Lennon? É difícil negar que a con20 . seja o Sistema. cultural. sejam os valores tradicionais. depois de muita fantasia e ilusão. lá com os seus botões tenha pensado que. para o mundo inteiro: “o sonho acabou”. se surpreenderam e se decepcionaram com a possível e cantada “falência revolucionária” da contracultura. o ex-Beatle John Lennon declarou. manifestando-se de maneiras as mais surpreendentes para quem não estivesse suficientemente atento ao surgimento daquele novo fenômeno de contestação social intitulado por Marcuse — um de seus teóricos e ideólogos mais destacados — como a Grande Recusa. de outro não conseguia canalizar este descontentamento para as formas consagradas de luta política. E certamente houve também muitos jovens que. pois aquele projeto de revolução individual. cada vez com mais força. Tratava-se apenas de mais um castelo revolucionário que desmoronava e até que. grande parte da energia crítica desta nova geração de descontentes vai ser canalizada para atividades até então não descobertas pelas formas tradicionais de luta política. por não encontrar neste tipo de contestação respostas a sua nova problemática. certamente deve ter havido quem. afinal de contas. rejeitava. no começo da década de 70. E assim. não passava de um sonho. aquilo não podia dar certo mesmo. haviase chegado novamente ao duro terreno da realidade. sem conseguir esconder uma ponta de satisfação. Mas será a história da contracultura apenas a história de um sonho.um lado. apesar de suas simpatias para com aquelas novas propostas de transformação social. Deste modo. a História havia andado rápido. HISTÓRIA DE UM SONHO? Quando. em alto e bom som. desta vez. regadas com bom vinho e alguma droga da moda? Não seriam as coisas mais complicadas e a História menos cruel? * * * Falar da contracultura é. de modo mais marcante e evidente. novo e radical quando comparado à luta da esquerda tradicional. que tanto marcou o Ocidente nos anos 60 e parte dos 70. falar dos Estados Unidos — pelo menos num momento inicial. estava apoiado sobre noções e crenças tais como a da necessidade do “desengajamento em massa” ou da “inércia grupal”. toda aquela ânsia de transformação revolucionária. foi lá onde primeiro se manifestou. Afinal. certas condições especiais dos Estados Unidos faziam deste país o berço por excelência da contracultura. num sonho? Como se move uma utopia ao longo da História? É possível afirmar que toda aquela energia. era bastante visível na sociedade americana a familiaridade crescente que a noção de antiintelectualismo vinha ganhando. Já desde os anos 50.tracultura seja a mais recente ou a última (pelo menos até agora) grande utopia radical de transformação social que se produziu no Ocidente. simplesmente se esgotou ou não deu em nada? Foi um sonho que passou e deixou suas marcas frágeis em alguns hippies de boutique ou em festinhas elegantes. É no interior desta geração de rebeldes marginalizados dos bairros boêmios que surge a poesia beat. à qual se ligam nomes como Allen Ginsberg. cujo estilo de contestação e agitação. num certo sentido. esse novo espírito de contestação que os movimentos de rebelião da juventude dos anos 60 viriam colocar na ordem do dia. Um exemplo desse fato é o surgimento de toda uma tradição boêmia — aquela dos beatniks — de verdadeiros representantes de um anarquismo romântico. Mas a utopia se resume numa ilusão. Apesar da importância do papel que a Europa seguramente desempenhou na formação de toda essa nova ideologia da juventude. Iíder e inspirador do flower power (o poder 21 . Já fascinados pelas doutrinas orientais. ponto fundamental de encontro entre eles e os alegres hippies dos anos 60. os hippies prematuros de um momento anterior. seguindo com a pregação de obediência a “nenhuma disciplina que não seja a da exaltação retórica e da afirmação não censurada”. em dado momento. romancista americano indissoluvelmente ligado a todo este novo espírito de revolta que já começava a se afirmar na década de 50 nos Estados Unidos. sendo presença obrigatória nesses acontecimentos. como ocorreu com o poeta Carl Solomon. sendo. é este estilo de comportamento que os faz um dos grupos pioneiros do espírito de contestação da contracultura dos anos 60. Sua fórmula de intervenção se encontra em um de seus poemas. a rebeldia marginalizada dos anos 50 nos Estados Unidos. autor do livro On The Road. afirmou: “Eliminai a inibição literária. o berço dos beatniks. que. de um processo por obscenidade em São Francisco. Foram os beatniks um dos grupos de destaque a encarnar. de modo especialmente vigoroso. Ginsberg foi um dos verdadeiros idealizadores do estilo típico de concentração e manifestação dos hippies. 22 . intitulado “How to Make a March/Spectacle”. de 1958. de uma certa forma. quem vai chamar a atenção para um outro fenômeno de contestação contemporâ*Em português: “Vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura”.da flor) dos anos 60. Os versos iniciais deste poema — “I saw the best minds of my generation destroyed by madness”* — exprimem toda a dramaticidade da angustiante experiência desta geração. devotando-se a uma vida marcadamente sensorial e deixando-se arrastar por sua ludicidade e desprezo pelas satisfações de uma carreira e de um rendimento regular. Por sua vez. rejeitavam o caminho do intelectualismo. na época. a quem o poema é dedicado. gramatical e sintática”. Ainda outros nomes expressivos são os de William Burroughs ou Jack Kerouac. É Norman Mailer. cuja busca passava freqüentemente pelos caminhos dolorosos da loucura e dos hospitais psiquiátricos. seu já mencionado poema “Howl” (1956) foi objeto. por sua posição marginalizada. Da mesma forma como o On The Road de Kerouac havia feito do beatnik um grande assunto da imprensa de todo o mundo. aqueles que o Sistema pode transformar com sucesso em conformistas bem ajustados. isto é. O que Mailer admirava no hipster era sua disposição de aceitar o desafio “de se desligar da sociedade. um ano antes. cuja consciência dos extremos terrores da vida assemelha-se e é derivada da que tem o negro. Trata-se dos hipsters. uma atitude de revolta ou de conformismo diante do status quo das então modernas sociedades tecnocráticas. Apesar do valor que Mailer percebe na atitude beat de “busca da sensação” e da “satisfação orgástica”. ele pode ser definido como um “negro branco” (o white negro de Mailer). o lançamento literário do termo através de seu poema “Howl”. Ao contrário do square. os “quadrados”. ele é aquele que se revolta e nega violentamente os valores estabelecidos. de explorar aqueles domí23 . uma vez que está constantemente exposto ao perigo. a decisão está em encorajar o psicopata que existe dentro de si mesmo. “pois nenhum negro pode andar por uma rua seguro de que a violência não virá encontrá-lo em seu passeio”. Em suma. não aceita aquilo que ele vê como sua passividade ou falta de afirmatividade. Vale lembrar que coubera a Ginsberg. um “estado de espírito”. o hipster é aquele que se rebela contra aquela situação. Na sociedade americana. de empreender essa viagem sem rumo pelos rebeldes imperativos do ego. se vê obrigado a manter sempre uma atitude de rebelião. o termo e o assunto hipster são. seja ou não uma vida criminosa. ele colocaria o hipster. de existir sem raízes. Finalmente. no mesmo ano de 1958. aqueles que se opõem aos square — os “caretas”.nea ao dos beatniks. antes de mais nada. definitivamente consagrados por um artigo de Mailer intitulado “The White Negro: Superficial Reflections on the Hipster”. acima do beatnik. hipster e square são. exatamente porque nesta sociedade os negros são aquele grupo que. conformista e fiel defensor do american way of life. Diante da falência da revolução proletária nestas sociedades industriais avançadas. Assim. que aquela forma de “delinqüência juvenil” atualizada pela atitude hipster estava “desafiando o desconhecido”.)”. diante das novas contradições surgidas no período do pós-guerra e diante do tipo de organização e vida social que vinha se evidenciando naquelas sociedades industriais avançadas. de envolvimentos pessoais e não de idéias abstratas) que começava a despontar com suas idéias e publicações. . O vigor da presença da Nova Esquerda nas novas forças de contestação social pode também ser avaliado pelo papel de enorme importância que tem. com uma marca fortemente existencial e anárquica. neste sentido. nomes como Paul Goodman. e voltada principalmente para a transformação da consciência. Assim como São Francisco. organização estudantil de amplitude mundial. de esquerda. antes de tudo. . na busca de novos espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e para as pequenas realidades do cotidiano. que evidenciavam a tentativa de renovação por parte do próprio pensamento teórico crítico. também os bairros boêmios de cidades européias como Londres ou Paris se enchiam daqueles mesmos rebeldes que começavam a falar uma linguagem de revolta e contestação. Mas não era apenas nos Estados Unidos que essa combinação de marginalidade. nos anos 60. as quais teriam. com suas barricadas e seus slogans renovadores. junto ao movimento estudantil internacional que provocaria a grande explosão do Maio de 68 francês. É. um papel e um desenvolvimento extremamente importantes junto aos setores da contracultura que levavam à frente uma forma de contestação mais explicitamente política e. Dwight Mcdo24 . De ambos os lados do Atlântico sopravam também novos ventos. por exemplo. de modo especial. a SDS (Students for a Democratic Society).nios de experiência em que a segurança é tédio e portanto doença (. ao longo dos anos 60. Chicago ou Nova York exibiam suas hordas de estranhos e novos rebeldes. Por sua vez. Era. a Nova Esquerda (para a qual a política é feita. assim. dos valores e do comportamento. boêmia e revolta vinha se evidenciando. o livro intitulado Life against Death: The Psychoanalitical Meaning of History. viriam a constituir. nos Estados Unidos. por sua vez. do mesmo autor. as próprias condições da sociedade americana faziam com que o pêndulo da contracultura caísse mais fortemente na direção dos Estados Unidos. e. uma vez mais. do prazer. em 1955. Norman O. Em 1954. cruzando. nem a psique nem a classe social podiam ser dispensadas. C. o Eros and Civilization. Se. pelo confronto que forneciam entre as obras de Marx e Freud e pelo que exploravam no sentido de descobrir os mecanismos. a ênfase na busca não apenas da liberdade mas. Brown. um dos mais sólidos pilares teóricos da crítica da contracultura. aparecia o One Dimensional Man. de Marcuse. os projetos de transformação social revolucionária explicitavam. publicava. as raízes ou o sentido de fenômenos tais como a dominação. por sua vez. a psicanálise e a investigação social. tentando desvendar a nova realidade das sociedades tecnocráticas. No entanto. em 1959. no sentido de dar conta das novas realidades que se apresentavam àqueles que se empenhavam num projeto e numa prática de transformação social nas novas condições de desenvolvimento industrial e afluência que caracterizavam especialmente as sociedades européias ocidentais e a norte-americana. como sugere o próprio título. bem como as possibilidades de transformação social radical nas modernas sociedades industriais. Os trabalhos de pensadores como Herbert Marcuse ou Norman Brown. especialmente. que trazia às costas todo o peso de uma longa tradição de luta política de esquerda bastante institucionalizada. de um lado. o que se pode observar por toda parte é uma tentativa de renovar e atualizar o instrumental teórico de análise da crítica social mais progressista. vinham. a repressão ou a alienação. Ao contrário da juventude européia.nald e. ao lado de grupos que sustentavam publicações radicais como Liberation e Dissent. fundamentalmente. Wright Mills. de outro. ambos analisando e discutindo a natureza das sociedades industriais avançadas e suas possibilidades de transformação revolucionária. cada vez mais claramente. 25 . Em suma. na cidade ou no campo. este é o pano de fundo contra o qual vemos florescer toda a cultura jovem dos anos 60. de uma certa forma. quando alianças com hippies. ou melhor. A população jovem norte-americana. como o das Artes. Aqui chama a atenção tanto o novo estilo de manifestação e intervenção surgido no bojo de toda a cultura psicodélica que os mesmos hippies popularizavam. batizada com o rótulo de contracultura. e. se concretizou através de inúmeras manifestações surgidas em diferentes campos. mas que não encontravam um lugar muito definido e estabelecido em espaços institucionais tradicionalmente voltados para uma atuação política mais reconhecida. a juventude americana mostrava-se mais sensível àquelas novas formas de contestação. por sua vez. sentia-se especialmente estimulada pela presença de grupos bastante significativos do ponto de vista político (minorias étnicas ou culturais). Deste modo.o jovem norte-americano contava com um background radical de esquerda bem menos sólido. negros ou outras “forças emergentes” permitiram aos estudantes abrir as portas de novos espaços de intervenção política. Assim. Isto pode ser melhor observado tanto na prática do movimento estudantil internacional (especialmente na sua grande demonstração de força que foi o Maio de 68). quanto a atuação da Nova Esquerda. ainda. menos sistemáticas e menos explicitamente políticas. 26 . se revelava ainda mais inovadora e radical na formulação e concretização daqueles tipos de luta que deixavam em muitas cabeças uma mesma dúvida: mas isso é político? Em linhas certamente muito gerais. como em inúmeros outros momentos. aparecendo em primeiro plano a ênfase dada pelo movimento hippie à vida comunitária. mais livre do peso de uma tradição que seus colegas europeus. bem como. como sindicatos ou partidos. com especial destaque para a música. o da atuação política. o da organização social. Esta. era nos Estados Unidos que as novas formas de contestação e luta política postas em cena pelos movimentos de rebelião da juventude iam encontrar o campo mais fértil de surgimento e desenvolvimento. para o rock. cuja luta teve como ponto de partida e ponte de articulação com a revolta de outros grupos a difícil batalha pelos direitos civis que marcou. tendo que se valer de um alto grau de inventivida27 . Deste modo. portanto. o negro assume. é acompanhada de perto pelo surgimento e pela consolidação do black power. recusando suas eventuais ofertas e vantagens. Para este jovem branco o negro é. o papel de depositário de valores já nostalgicamente perdidos para o branco. o poder negro. e o encontro com ele. enfim. ao mesmo tempo. suas tradições. mas em todos os lugares onde floresceu. o tipo de luta que estes grupos se viam obrigados a levar adiante — fora dos espaços políticos tradicionais e. e branca. ainda que não seja possível omitir a diferença racial existente entre os dois grupos. como também se constitui num aliado quase que natural do jovem branco de camadas médias que se rebela diante do Sistema. .Especialmente no que se refere aos Estados Unidos. Não apenas nos Estados Unidos. toda a movimentação em torno das várias manifestações da cultura jovem. o poder negro — aos olhos daquela cultura jovem. todo o peso e o significado que o negro vai ganhar — e. ele não apenas detém um enorme potencial de revolta. visivelmente oprimido e radicalmente excluído frente ao american way ofiife. sua música. a cultura jovem dos anos 60 foi extremamente sensível e simpática a toda e qualquer movimentação de grupos étnicos ou culturais que se vissem nessa posição de marginalidade ou exclusão diante das vantagens e promessas da sociedade ocidental. passando por movimentos como o gay power ou women’s lib. de certa forma. é o encontro com a força de uma vigorosa fonte “natural” de rebeldia e recusa. portanto. um corajoso símbolo de rebeldia diante da opressão e de recusa de um estilo de vida contra o qual aquele mesmo jovem — filho do Establishment — luta desesperadamente. a década de 60 nos Estados Unidos. . Além disso. desde o início. Pela posição especial que o negro ocupa na sociedade americana. Não é de estranhar. indo do flower power aos estudantes e intelectuais da Nova Esquerda. sua cultura. por aí. por todo o envolvimento social que conseguiu provocar.de — os aproximava da utopia revolucionária daquela juventude que. o rock é um tipo de manifestação que está longe de ter um significado apenas musical. 28 . o surf. Fats Domino ou The Platters? Ou de músicas como “Rock around the Clock”. este tipo de música operava uma vigorosa e expressiva síntese de música branca e música negra. Chuck Berry. com sua voz sensual e seus requebros audaciosos. Mas algum tempo antes do rock dos anos 60. seus estridentes acordes de guitarra elétrica e seu fiel e alucinado público jovem. é um fenômeno verdadeiramente cultural. o hully gully. o Watusi. por suas idéias e também pela posição que ocupava naquela mesma sociedade. o jerk e assim por diante. Ainda que feito por músicos mais velhos. um outro ritmo não muito afastado daquele já havia também demonstrado sua enorme capacidade de mobilização social. é a música. com seu balanço frenético e sensual. o Madison. “Roll over Beethoven”. quem não se lembra de figuras como James Dean — símbolo máximo da contestação dos “rebeldes sem causa” — ou Elvis Presley. fazia muita moça desmaiar nas primeiras filas da platéia de seus shows? Esta era a época do rock-’n-roll. Por outro lado. por exemplo. se via na contingência de ter que buscar saídas alternativas para expressar seu descontentamento e fazer valer suas crenças e sua voz. Era o rock-’n-roll. Little Richard. Quem não se lembra de nomes como Bill Haley. é deste filão musical que surge toda uma sucessão de danças e ritmos tais como o twist. “Only You”. “Back in the USA”. certamente. que. Ao mesmo tempo. afinal. no sentido mais amplo da palavra. constituindo-se num dos principais veículos da nova cultura que explodia em pleno coração das sociedades industriais avançadas. E. No quadro da contracultura. estas saídas foram encontradas. em meados dos anos 50. “Rock and Roll Music”. Alan Freed. “Tutti Frutti” ou “Sweet Little Sixteen”? E. Uma delas. “Carol”. o rock-’n-roll dos anos 50 já tinha um público certo e definido: a juventude branca rebelde e com uma forte consciência de idade. Por tudo que conseguiu expressar. Inglaterra. o rock dos anos 60 era um tipo de música feito por jovens e para jovens. a palavra Beatles passava a significar não apenas música. aí estava a música a evidenciar ruidosamente este fato novo. este som do rock-’n-roll que acompanhou e embalou o dia-a-dia de uma juventude que então começava a descobrir a força e o alcance de seu potencial de contestação. invenção. assim. Bob Dylan e os Rolling Stones. Aos poucos. George Harrison e Ringo Starr. constituindo-se. quatro rapazes colocavam no ar sua música eletrizante. além disso. São eles: Os Beatles. comportamento e contestação uma nova possibilidade de expressão e sustentação de sua identidade. principalmente. novas roupas e até mesmo um novo corte de cabelo. mas. especialmente. Rapidamente. compositores e grupos que compõem o mundo do rock internacional. Diante do grande número de intérpretes. incluía também humor. No começo da década de 60. Paul McCartney. Entretanto. Desta forma. na cidade operária de Liverpool. uma coisa é certa: há três nomes que iniciaram. o trabalho destas pessoas abria novos caminhos para a música. para aqueles que ainda não acreditavam que a juventude havia se tornado uma poderosa força social. esta verdadeira revolução cultural que a música rock dos anos 60 sintetiza. Mas o rock dos anos 60 não apenas levaria toda esta história adiante como também traria dados novos. Mas. criado para jovens por músicos mais velhos. elas eram capazes. Ao contrário do rock-’n-roll. uma verdadeira beatlemania tomava conta 29 . Eram eles John Lennon. em referências obrigatórias para quem quiser evocar o “espírito” desta época. todo um novo estilo de vida que. pelo menos em suas grandes linhas.Foi. De ambos os lados do Atlântico. ao lado de novos comportamentos. finalmente. é difícil saber quem apontar no sentido de reavivar um pouco desta história. de encarnar a revolta e as aspirações de toda uma juventude rebelde que via na aliança entre Arte. Um deles — e que não era de pequena importância — refere-se a uma maior aproximação de idade entre os compositores e/ou intérpretes e o público da música jovem. Em 1958.da juventude. desde Beethoven”. era a vez de George Harrison se juntar ao grupo. Estava no ar o Liverpool Sound. passava a se chamar The Silver Beatles. Havia brigas homéricas porque eu me recusava a me embonecar. gritavam frases como: “Pete is best” e “Pete Best Forever — Ringo never!”. em 1966. surge o primeiro grande sucesso dos Beatles: é lançado o compacto de Love Me Do. de Londres. Certamente não era à toa que. que. que o primeiro havia organizado naquele ano. reunia “os maiores compositores. Em janeiro de 1963. o conjunto se apresentava para a Família Real. as quais. Afinal de contas. Ringo Starr vinha se juntar aos outros três. e. Em 1962. Brian sempre demonstrou. ocupando o lugar do baterista Pete Best. tendo praticamente inventado os terninhos e o corte de cabelo dos Beatles. e causando por isso enormes protestos por parte das fãs do baterista anterior. nas apresentações. fato que provocou uma enorme onda de protestos na tradicional Câmara dos Lordes. segundo a declaração do crítico do jornal Sunday Times. em 1971: “Brian literalmente limpou a nossa imagem. com seu humor crítico. foi o responsável por uma certa orientação disciplinadora e pelo constante reparo da imagem pública do grupo. o que evidentemente era acompanhado de perto pela indústria da comunicação de massa. durante todo seu contrato com o conjunto. agora. Estava assim formado o conjunto que. Conforme declarações do próprio Lennon. Ele e Paul formaram até uma espécie de aliança para me manter na linha: eu estava sempre sujando a imagem dos Beatles”. Em 1961. Foi nesta apresentação que Lennon. rapidamente. era contratado o empresário Brian Epstein. Já desde 1956. apenas um ano antes. que. Em outubro de 1962. Lennon afirmava: “Somos mais populares que Jesus Cristo”. convidou 30 . Lennon e Paul McCartney tocavam juntos no conjunto The Quarrymen. por exemplo. eles haviam sido condecorados pela rainha da Inglaterra. se tornava o assunto do momento em todo o mundo. o grupo lançava o seu primeiro LP: Please Please Me. no Royal Variety Show. o que se constituiu numa fonte freqüente de conflitos. grande preocupação com as roupas e a aparência do grupo. Em novembro do mesmo ano. 31 . George Harrison. O misticismo e.a platéia a participar do espetáculo dizendo: “Quem estiver nos lugares mais baratos. só na Inglaterra. a alusão ao uso de drogas começavam a aparecer no trabalho do grupo. fazia uso da citara. O ano de 1967 foi uma época de grande influência oriental. o grupo lança o disco Rubber Soul. Uma vez conquistado o Reino Unido. Em 1964. No ano seguinte. aparecem no Ed Sullivan Show e são assistidos por mais de setenta milhões de pessoas. especialmente. O ano de 1967 marca o começo de uma série de modificações na vida e na produção do grupo. o conjunto é recebido por mais de dez mil fãs no aeroporto Kennedy. passam a trabalhar apenas em estúdio — a última apresentação ao vivo havia sido em São Francisco. o conjunto batia um recorde: o LP With the Beatles chegava às lojas com mais de 250 mil pedidos antecipados. No mesmo ano. os Beatles seguiam sua enorme carreira de sucesso. crescentemente interessado pela Índia. através principalmente do contato com o Maharishi — o guru da Meditação Transcendental. “A Day in the Life” tem sua execução proibida em estações americanas e inglesas por referência direta a drogas. em Nova York. bata palmas. Em 1965. por exemplo. partiam agora para a conquista dos Estados Unidos. por exemplo. os Beatles ainda se encontrariam na Índia estudando meditação com o * O correto é Norwegian Wood (nota do digitalizador) 32 . Suas apresentações no Washington’s Coliseu e no Carnegie Hall são um estrondoso sucesso. recebeu o título de Os Reis do lé-lé-lé) é um enorme sucesso de público e crítica. A partir deste mesmo ano. Além disso. provocando verdadeiras reações de massa com jovens gritando e desmaiando. o empresário Brian Epstein se suicida. em agosto de 1966. os outros. No mesmo ano. depois de várias apresentações por toda a Inglaterra. Assim. é a vez do álbum e do filme Help. Em agosto. nos assentos mais caros. A partir daí. no Brasil. que vai marcar o começo de sua maior sofisticação — na faixa “Norwegian Soul”*. o filme A Hard Day’s Night (que. apenas agitem suas jóias”. Ainda neste ano. as mesmas que identificavam o alucinógeno responsável pelas grandes “viagens” daquele momento. na justiça. cuja faixa “Lucy in the Sky with Diamonds” trazia as iniciais LSD. entre outras produções. os desentendimentos entre Paul e John aumentavam. No ano de 1968. ao mesmo tempo que suas posições individuais iam tomando rumos cada vez mais específicos: o agressivo ativismo político radical e inovador de Lennon. Em 1969. Em dezembro deste mesmo ano. afirmava: 33 . é lançado o filme Magical Mistery Tour. o orientalismo psicodélico de Harrison ou o humorismo simpático de Ringo. primeiro lançamento da gravadora Apple. No mesmo mês de dezembro de 1970. o carisma romântico e pragmático de Paul. a dissolução legal dos Beatles. de propriedade do grupo. em uma entrevista concedida ao jornal Rolling Stone. cada um dos Beatles começava a se tornar mais independente um do outro. Ainda um fato importante marcava a vida do grupo neste ano: em novembro de 1969. Paul McCartney pedia. apareciam. surgia o LP SGT Pepper’s Lonely Hearts Club Band — verdadeiro marco na história dos Beatles. Mas. surge Abbey Road. Em dezembro deste mesmo ano. John Lennon devolvia a condecoração recebida da rainha. apesar de tudo. em protesto pelo envolvimento britânico no Vietnã e na Biafra.mesmo Maharishi. ainda um grande sucesso: em agosto de 1969. que praticamente inaugura a era do experimentalismo eletrônico na música popular contemporânea —. o desenho Yellow Submarine e o disco Hey Jude. o casamento de John Lennon com Yoko Ono — representante do mundo da Arte Experimental nova-iorquino — significava mais um passo no reforço dos caminhos individuais de cada um dos Beatles. que foi duramente criticado. nenhum dos quatro Beatles comparecia. encerravase uma época. John Lennon. fazendo um balanço das transformações causadas por toda a “revolução” da contracultura daqueles anos 60. Com eles. Por sua vez. À estréia do filme Let It Be. o último LP do conjunto. Por esta época. Em junho de 1967. em 1965. ela não deixava de apontar para um novo momento que mais uma vez se traduziria no trabalho individual de cada um deles a partir dali. trocava seu estado natal de Minnesota pelo já famoso bairro de Greenwich Village. como é bem mais conhecido. Ao longo de sua trajetória nas décadas de 60 e 70. uma das cenas privilegiadas de toda a movimentação do underground americano. Vocês têm de continuar O sonho acabou. não era à toa que os Beatles se separavam. As coisas continuam como eram. Como se pode avaliar pelas afirmações de Lennon.” Juntos desde o começo dos anos 60 e fiéis representantes daquele momento. Entretanto. havia uma marca de desencanto no ar. Dylan desempenhou o papel de uma figura extremamente polêmica. Na sua composição “God”. também desde o começo dos anos 60. em 1960. Era Robert Zimmerman ou. fim de uma década e fim de um sonho. em Nova York. com a diferença que eu estou com trinta anos e uma porção de gente usa cabelos compridos. se a separação daquelas quatro figuras que tanto haviam influenciado a juventude dos anos 60 tinha um pouco a ver com aquele clima de desencanto.” Fim de um grupo. eu era um fabricante de sonhos mas agora eu nasci novamente Eu era o leão-marinho mas agora eu sou John E então. também desta época. O sonho acabou. o mesmo tom era reafirmado: “O sonho acabou o que é que eu posso dizer? O sonho acabou ontem. Bob Dylan. meus amigos. Nos Estados Unidos. capaz de gerar os protestos mais radicais por parte de seu públi34 . que.“Eu acordei pra isso também. um outro nome marcava a música da década. com apenas 19 anos. Paul and Mary e mesmo Joan Baez. The Freewheelin’ Bob Dylan. que Dylan se encontra com Woody Guthrie — seu verdadeiro ídolo —. mas Bob Dylan é um cantor folk”. 35 . porta-voz da Nova Esquerda americana. bem como canções de velhos compositores de blues e outras que variavam do mais tradicional ao mais moderno folk. ao lado de Joan Baez. algum tempo depois. ao mesmo tempo em que era tomado como um verdadeiro mito. em Washington. guru dos hippies. ao mesmo tempo que lhe facilitava um contato mais direto com todo o mundo pop que então se concentrava especialmente no Village. lançado em março de 1962.co. por exemplo. O disco incluía composições do próprio Dylan. É dentro das estruturas da música folk americana que Dylan vai construir o seu LP de estréia — intitulado Bob Dylan —. no Newport Folk Festival. Jack Elliot é um cantor de músicas folk. alguns meses antes do lançamento do primeiro sucesso dos Beatles. É por volta desta época. Peter. não apenas como artista mas. da Marcha dos Direitos Civis. que se tornou verdadeiro hino do Movimento dos Direitos Civis que se estruturava com mais vigor naquele momento. estes são alguns dos rótulos com que ele teve que se defrontar naqueles anos quentes e difíceis. a canção “Blowing in the Wind”. É deste LP. inovador do rock. que ele se afirma definitivamente. em julho. basicamente. como um dos líderes de toda uma geração. desempenhava um papel de frente. como o grande cantor da protest song. que. lhe faria este enorme elogio: “Pete Seeger é um cantor de músicas folk. por exemplo. no começo da década de 60. Sua chegada a Nova York. O seu segundo LP. De um modo ou de outro. Assim. lançado em maio de 1963. ao lado de nomes já consagrados como Pete Seeger. evidenciava o desenvolvimento de seu trabalho. e diante do qual Dylan. havia significado um encontro radical e duradouro com a música folk. É por volta deste momento que Dylan começa a se afirmar como o porta-voz da Nova Esquerda. Cantor folk. em agosto de 1963. por exemplo. o fato é que Dylan alcançava um sucesso estrondoso. ambos participam. É neste mesmo ano. lançado em agosto de 1964. acima de tudo. Dylan tematizava a liberdade de espírito e. As declarações de Dylan e Baez à imprensa reforçam suas posições e lideranças. de janeiro de 1964. Dos temas sociais e políticos mais explícitos. O LP Another Side of Bob Dylan. cada vez mais. no qual Dylan. De sua parte. contra as bombas e os preconceitos raciais. Joan Baez afirmava: “Há coisas que me chocam profundamente: o assassinato de crianças por poeira radioativa ou o assassinato dos espíritos pela segregação racial. Nela. por exemplo. só vem reafirmar o fato de que. Dylan havia se convertido num verdadeiro “caminho a seguir” para uma juventude que via nas suas canções a denúncia das mazelas e contradições de uma sociedade que se afirmava como o reino absoluto da liberdade e da qual. que efetivamente significou um divisor de águas. Tambourine Man”. representaria um momento de virada. a perda do apoio de Joan Baez. O seu terceiro LP. assim. agora o público mais específico que conquistava eram os hippies. Gosto de cantar e não posso esquecer tudo isso quando canto”. The Times They Are A-Chan-gin’. e tudo isto. Se antes havia se tornado o arauto da Nova Esquerda. surgia o LP Bringing It All Back Home. “Minhas canções protestam contra a guerra. Cada vez mais. Mas o público não aceitaria assim tão facilmente a mudança de orientação daquele que se havia convertido num autêntico líder e iria protestar ruidosamente. na trajetória de Bob Dylan.Emerge. já bem mais do que um músico. diga-se de passagem. deste Festival. partia para o que se começava a chamar de folk-rock. com o mesmo pique inovador e revolucionário de antes. dizia Bob Dylan. retomando os caminhos do rock. cantada no Newport Folk Festival daquele ano. 36 . Em março de 1965. trazia uma música intitulada “Mr. o jovem americano desconfiava abertamente. Mas o ano de 1964. os efeitos das “viagens” de drogas. contra o conformismo”. Esta retomada do rock lhe custaria. como uma das grandes vozes do novo movimento juventude/folk. passava agora a explorar especialmente aqueles referentes ao amor e ao seu mundo interior. como uma verdadeira traição ao movimento de contestação. de quem se esperam respostas a todas as perguntas. imagem esta que o público. duas músicas country. opondo-se diametralmente à linha do rock progressivo. É no histórico ano de 1968. Entretanto. para o mundo dos pequenos camponeses e freqüentemente apropriada pela mentalidade conservadora das classes dominantes. Aqui não se pode esquecer a conotação fortemente reacionária que tinha a country music. Ironicamente. depois daquele ano e meio de ausência. de guru. Sua vontade de questionar e de inovar era bem maior que a preocupação com um sucesso fácil e garantido. foi durante esta ausência prolongada e involuntária que aquela parcela da juventude universitária “engajada” conseguiu se desvencilhar de seus preconceitos com relação à música rock. voltada para o interior. 37 . E Dylan sabia muito bem de tudo isso. O LP intitulava-se John Wesley Harding e trazia a marca de um grande despojamento com músicas cantadas numa voz tênue. pela negação de toda complexidade ou radicalismo. na Inglaterra. Mais do que apenas uma nova experiência musical. insistia em cultivar diante dele. Trabalho que.suas novas posições apareciam. era uma verdadeira volta às raízes e à simplicidade. suave. para o campo. que havia se consolidado durante seu afastamento mas que rapidamente começava a dar mostras de desgaste e empobrecimento. apesar dos desencontros. isto não seria capaz de pacificar inteiramente as relações de Dylan com o público e mesmo com a crítica. Fechando o disco. Nessa mesma linha situa-se o LP Nashville Skyline. no mês de janeiro. este seu trabalho investia vigorosamente contra sua imagem de mito. Mas sua grande performance de questionamento diante do público teria lugar no Festival da Ilha de Wight. de abril de 1969. que Dylan faz sua rentrée. O acidente de motocicleta sofrido por Dylan pouco depois do surgimento de seu álbum Blonde on Blonde (1966) o afasta por um ano e meio das gravações e das apresentações em público. experimental. para o seu público de esquerda mais tradicional. mais evidente. Em junho de 1970 era a vez do polêmico álbum duplo Self Portrait. o seguinte comentário: “Dylan nos pertence de novo!” Durante o ano de 1971. O público reagia indignado. Já em 1974. Mas. desta forma. Os anos de 1972 e 1973 foram. fechando a turbulenta década de 60. tudo isto acompanhado de uma interpretação amena e discreta. E. talvez até mesmo por isso. se apresentou como alguém próspero. e numa espécie de “correção de rota”. um período de atividades mais tranqüilas e discretas. Recusando a imagem do gênio místico e revolucionário. provocativamente. ele não apenas volta a se apresentar em público com grande freqüência — realizando. por exemplo. de certa forma uma reutilização no seu trabalho de uma contestação mais explícita. Ainda neste mesmo ano. que havia criticado duramente seu trabalho anterior. uma dose talvez excessiva. já ia longe o tempo áureo da contracultura e. Planet Waves fazia um pouco a ponte entre as várias facetas de sua controvertida trajetória artístico-musical: de arauto da Nova Esquerda a guru dos hippies.em agosto de 1969. No entanto este ainda não era o ponto máximo de indignação que ele seria capaz de provocar. por esta época. mesmo para Dylan. fosse agora possível este tipo de síntese da parte de alguém que viveu tão intensamente as propostas e os conflitos de seu momento. dois trabalhos em que ele revisita com mais freqüência seu passado: Watchin’ the River Flow e More Gratest Hits. elegantemente vestido. de convencionalismo. 38 . passando por fonte de indignação generalizada de todas as partes. como lança um de seus grandes sucessos de público e de crítica: o LP Planet Waves. Pelos anos afora. reunindo diversos textos seus. para Dylan. ele. ele grava New Morning. uma grande e bem-sucedida tournée pelos Estados Unidos —. É também deste ano o lançamento do livro Tarântula. mais importante do que o sucesso deste seu trabalho era o fato dele evidenciar a extraordinária capacidade de Dylan no sentido de trabalhar simultaneamente com as diversas variantes contidas em sua criação musical. Porém. Este disco lhe valeu da revista Rolling Stone. liderava uma importante blues band chamada Blues Incorporated. alucinada. os Rolling Stones ainda não eram conhecidos. com o apoio de Alexis Korner. Seu jeito agressivo e provocador fez de sua imagem a marca registrada dos Stones e. quando. acidentes nos shows. os Rolling Stones são a figura de Mick Jagger. por exemplo.o trabalho de Bob Dylan vem continuando. Durante o segundo semestre de 1962. a rápida ascensão da banda de Liverpool não deixava de ser útil aos Stones. do incrível sucesso de “Satisfaction”. estes são alguns dos ingredientes de uma imagem que traduzia a fúria radical da contestação de uma parcela da juventude internacional. estava assim constituído: Mick Jagger. até mesmo temível. nos anos 80. embora este grupo trilhasse um caminho próprio e bastante diferente daquele seguido pelos Beatles. ele se apresenta ao vivo pela primeira vez. No entanto. conflitos e choques com autoridades. já atingiu sua maioridade. em janeiro de 1963. fi39 . Quando os Beatles já faziam grande sucesso na Inglaterra. aos poucos. de uma maneira ou de outra. em meados da década de 60? Mas este é um fato pequeno se comparado à história deste grupo que hoje. a imagem dos Rolling Stones era de uma rebeldia agressiva. Brian Jones. ele foi se tornando a figura central do grupo. em julho. numa série de idas e vindas. Quem não se lembra. no clube Marquee. Ao contrário. em Londres. Para muita gente. mas também na cultura: os Rolling Stones. O período de formação do grupo vai de mais ou menos 1960 — ano em que Mick Jagger e Keith Richards se encontram num trem e conversam sobre sua paixão comum pelo rhythm and blues — a 1962. com seu discreto ar de “bons moços”. ainda sem todos os nomes que fariam a fama do grupo. Voltando à Inglaterra. Bill Wyman. Keith Richards. naquela época. Homossexualismo. escândalos. uso de drogas. que. nos defrontamos agora com a violenta fúria revolucionária de um grupo que certamente marcou como poucos uma época não apenas na música. o grupo vai tomando sua forma mais definitiva e. Charlie Watts e. a desempenhar o papel constante de um verdadeiro marco na música internacional. surgia um novo compacto: I Wanna Be Your Man. intitulado Out of Our Heads. Surgia o primeiro álbum: The Rolling Stones. novamente. Aliás. de Chicago. Uma semana depois. França. efetivamente. o grupo já estava plenamente afirmado. freqüentemente. 1964. Ao longo de praticamente vinte anos. O ano de 1963 marcou. quase não se podendo nem mesmo ouvi-los. com enorme sucesso e uma imagem definida. encontra-se com Chuck Berry. tournées dentro e fora da Inglaterra e encontros memoráveis. De setembro a novembro realizam uma excursão por toda a Inglaterra e. os Stones conseguiram um contrato de gravação com a Decca e um compacto simples — Come on. lan Stewart. durante uma gravação no Chess Studios. Muddy Waters e Willie Dixon. Também por essa época fazem sua primeira apresentação na TV. Ainda um fato importante: sua apresentação no Ed SuIlivan Show. da Austrália. Alemanha. Áustria. Aliás. que logo deixaria o grupo. os Rolling Stones vêm produzindo um trabalho que inclui numerosos discos. E o ano seguiu realmente cheio de atividades e eventos: apresentações no palco e TV. Naquele ano foi a vez. Foi em abril que Andrew Loog Oldham os viu pela primeira vez. voltando apenas para eventuais encontros e gravações. ele assinava um contrato para empresariar o grupo. trazia um dos 40 . Irlanda e. os Estados Unidos. elas sempre foram uma constante na vida do grupo. O público enlouquecia. o início de carreira dos Stones. As tournées por diversos países continuaram em 1965. países da Escandinávia. atirava objetos sobre o palco. No ano seguinte. desencadeou tal histeria na audiência do estúdio que eles não puderam mais aparecer por lá. naquele mesmo ano. o grupo. pouco antes do final da tournée. No espaço de apenas seis semanas que se seguiram. destruía os teatros.nalmente. A partir daí. Em uma de suas duas viagens realizadas aos Estados Unidos naquele ano. inicia-se um verdadeiro turbilhão de atividades. suas apresentações ao vivo eram bastante tumultuadas. alguns filmes e uma incrível performance no palco capaz de abalar qualquer platéia. Um novo LP. por exemplo. 41 . dois merecem destaque: Aftermath. 1966: novamente várias tournées pela Europa e Estados Unidos. tendo sido marcado pelo primeiro de uma longa série de processos por uso de drogas. sua difícil convivên42 . Brian tinha pouca participação. os dois de 1968 significavam a opção por um caminho diferente. O ano de 1967 não foi fácil para os Stones. Jagger e Richards começam a compor suas próprias canções. condenado a nove meses de prisão. vai aparecer em LP do ano seguinte. que começam a se evidenciar diferenças musicais fortes entre ele e o restante do conjunto. a condenação de Richards era anulada e a Jagger era dada liberdade condicional. com a famosa faixa “Paint it Black”. mas acaba hospitalizado sob a alegação de exaustão nervosa. “The Last Time”. onde aparece a referida canção “The Last Time”. Por essa época. que foi a primeira e última grande incursão dos Stones na onda da música psicodélica. com tanto espaço na imprensa internacional. e Got Live If You Want It. inclusive. Quanto aos LPs. finalmente. Their Satanic Majesties Request. O ano de 1967 foi de LPs como Between The Buttons. o grupo produzia dois LPs de enorme sucesso: Jumpin’ Jack Flash e Beggar’s Banquet. definido pela imprensa especializada como “um dos maiores álbuns de rock-’n-roll dos anos 60”. É a partir daí. Em 1968. Logo foi a vez de Brian Jones. Sai sob pagamento de fiança. de autoria de Jagger e Richards. em julho. aliás. suas dificuldades de relacionamento com o grupo e. Keith Richards e Mick Jagger foram julgados e condenados a penas de respectivamente um ano e três meses de prisão. bastante marcado pelo interesse de Brian Jones no uso de instrumentos eletrônicos. A primeira delas. e que trazia duas faixas que marcariam época: “Sympathy for The Devil” e “Street Fighting Man”.grandes sucessos dos Stones: a composição “(I Can’t Get No) Satisfaction”. Ao contrário do último LP de 1967 — Their Satanic Majesties Request —. especialmente. Era o primeiro grande affair envolvendo drogas e astros do rock de modo tão aberto. onde. Flowers e. Por outro lado. Foi enorme a reação de todo o mundo do rock e. uma tragédia abalava a vida dos Stones: Brian Jones aparecia morto em sua piscina. a partir de então simplesmente Bianca Jagger. Muitos se perguntavam como era possível que uma figura tão radical e contestadora do mundo do rock como Mick Jagger fosse capaz de se submeter às regras de uma cerimônia de casamento que. sempre notada em qualquer lugar. em 1971. título que. que estreou na Inglaterra em 1971.cia com o fato da liderança quase natural de Jagger terminam por isolá-lo cada vez mais. no entanto. um grande concerto gratuito no Hyde Park. novamente com ele. o casal passava a ocupar lugar de destaque no jet-set internacional. é também deste ano de 1969 o LP Let It Bleed. afinal de contas. até que viesse a deixar o grupo em junho do ano seguinte. 1969 foi também o ano dos trágicos episódios de Altamont. O primeiro LP a aparecer com o novo selo foi Sticky Fingers. quando se 43 . todos os discos do grupo seriam produzidos pela Rolling Stones Records. vitimado por um ataque de asma. o concerto não deixou de ser realizado. tendo sido dedicado ao excompanheiro. segundo a versão que circulou oficialmente. para o dia 5 de julho. A partir de então. Sua separação definitiva. Também neste ano de 1971 surgia a “Rolling Stones Records”. era a vez de Performance. Mas o ano de 1969 seria bem mais tumultuado do que o afastamento de um dos componentes do grupo poderia fazer supor. era igual a qualquer outra. que contava com a participação de Mick Jagger e. Havia sido programado. traduzido. Em 1970 aparecia o fime Ned Kelly. cujo símbolo era o desenho de uma enorme língua. registrados no referido filme Gimme Shelter. estando a imprensa atenta a sua presença. sendo posteriormente contratado o guitarrista Mick Taylor. Apenas dois dias antes da data prevista para o show. viria a ocorrer em 1979. Apesar do abalo causado por aquela morte súbita. Foi também em 1971 que se deu o polêmico casamento de Mick Jagger com a nicaragüense Bianca Perez Morena de Macias. significa “deixa sangrar”. Imediatamente. descontados alguns “efeitos especiais”. No entanto. os rumores sobre um consumo constante e excessivo de drogas não cessavam. Led Zeppelin. Quanto aos LPs. num certo sentido. assumindo então os Stones sua composição atual. era a vez de lt’s Only Rock-’n-Roll. Em 1972. que apareceria também em compacto simples. The Who. Surgia o LP Goats Head Soup com a faixa “Angie”. Passados mais de dez anos desde seu aparecimento. surgia o álbum duplo Exile on Main Street.divorciam também com grande alarde. Em 1974. Eis alguns: Black and Blue (1976). os Rolling Stones seguem com seu trabalho musical. os Rolling Stones haviam alcançado um lugar absolutamente próprio e incontestável no mundo do rock internacional. embora este último país logo volte atrás em sua decisão. registrando uma longa série de álbuns realmente incríveis. Mothers of Invention. são apenas algumas referências dentro de uma enor44 . Yes. E cada apresentação era uma ocasião sempre renovada de verdadeiro delírio por parte do público. Love You Live (1977). um fato marcante: devido às sucessivas acusações de uso de drogas. The Mama’s and The Papa’s. Queen. mais um remanejamento na estrutura do conjunto: Mick Taylor deixa o grupo que. por essa época. eram um grupo que resistia como poucos à diminuição de intensidade da contestação da contracultura. não parece diminuir com o passar do tempo — muito pelo contrário. Animais. Jethro Tull. que. Tattoo You (1981). tournées pelos Estados Unidos e também Canadá. E o fôlego do conjunto. Deep Purple. incorpora Ronnie Wood. E. apesar da força e da importância do papel que tiveram grupos como os Beatles e os Rolling Stones ou um compositor/intérprete do porte de Bob Dylan. posteriormente. Novamente. Gênesis. o panorama da música jovem dos anos 60 e começo dos 70 certamente engloba uma quantidade incrível de outros nomes que seria difícil listar aqui. Ao longo da década de 70 e mesmo entrando agora na de 80. assim como o de seu público cativo. Some Girls (1978). já dava mostras evidentes de desintegração como movimento. os Stones têm sua entrada proibida no Japão e Austrália. No ano de 1973. Mas. Emotional Rescue (1980). Pink Floyd. Hendrix inicia uma longa improvisação com a guitarra a partir do tema de “Star Spangled Banner”. Em entrevista à revista Esquire. Foi no Festival de Monterey. em seguida. “a guitarra elétrica. nos próprios valores que norteiam seu comportamento e no seu próprio sistema nervoso”. para que se estabeleça uma comunicação efetiva. todos os sons possíveis e impossíveis deste instrumento eram radicalmente explorados. pelo impacto que causaram no curto espaço de suas carreiras. Esse mesmo sentido de urgência diante do momento presente. em Jimmy Hendrix. no auge da fama. por exemplo. Hendrix o fazia através de uma habilidade toda especial no uso da guitarra elétrica. Nas palavras de Luís Carlos Maciel. Pouco a pouco.me série. em 1970. incluindo-se mesmo o uso deliberado da distorção como elemento musical. Enquanto Janis Joplin interpretava os sentimentos da época através de seus blues. sua apresentação no Festival de Woodstock. não vou servir para nada. exigem um registro especial: Jimmy Hendrix e Janis Joplin. nos Estados Unidos. em dado momento. ambos morriam. agora”. mas. a nível da música popular. Tanto num caso como no outro eram mortes que. no ano de 1968. significavam a angustiante exploração quase obrigatória dos limites do seu tempo. não é apenas um novo som: é uma nova experiência existencial que exige. que eles fizeram sua explosiva aparição e. Janis Joplin declarava: “Talvez eu não dure muito tempo. se eu me controlo. cantados com voz rouca e lancinante — chegando mesmo a ser tida como a cantora favorita dos Hells Angels —. em 1967. Era a música eletrônica no seu desenvolvimento máximo. nos Estados Unidos. o hino dos Estados Unidos. há dois nomes que. sem 45 . dissolvida e. no ano de 1969. através de um som violento e angustiado. a melodia vai sendo literalmente estraçalhada. quando. uma alteração profunda na própria maneira de viver do ouvinte. No entanto. Uma excelente amostra de tudo isso que vem sendo dito é. num período de quinze dias. de valorização extrema do “aqui e agora” marcou a atuação de Jimmy Hendrix. Nas suas mãos. de uma certa maneira. obviamente.” Principalmente durante a segunda metade da década de 60. ambos extrapolaram de muito as fronteiras da música e marcaram época na história do movimento de rebelião da juventude internacional. numa tentativa de contrapor. foram transformados nas principais disciplinas da academia do underground. nas mais diferentes cidades dos Estados Unidos e da Europa. pelo menos dois deles. uma de suas composições mais célebres. Ambos os festivais se realizaram no ano de 1969. No entanto. pelo menos. Consiste basicamente em recolher o lixo da cultura estabelecida. esses happenings musicais eram uma ocasião única para o encontro daqueles que. Misticismo irracionalista. com enorme suavidade e delicadeza. filosofia oriental. às vezes desesperadamente. Por razões diversas mas. “Do ponto de vista estritamente musical. um novo hino da contracultura. tendo resultado em filmes {Woodstock e Gimme Shelter) igualmente 46 . tentavam criar um mundo novo que fugisse aos limites do Sistema. especialmente. geralmente considerados bobagens infantis pelo melhor pensamento moderno. um público gigantesco —. Foram inúmeros esses festivais e tiveram lugar. Ainda uma vez é Luís Carlos Maciel que chama a atenção para a expressiva ligação entre Hendrix. Reunindo um número enorme de grupos. Foi essa música que praticamente estabeleceu o método fundamental de criação da contracultura. astrologia. a obra de Hendrix encerra a grande lição cultural do rock. hedonismo primitivista etc. e o rock e a contracultura. possivelmente. ele começa a tocar o “Purple Haze”. mas do movimento de contracultura como um todo. à desintegração do hino nacional americano. de outro. pela importância que tiveram enquanto marcos não apenas da música.nenhuma interrupção. de um lado. e curtir esse lixo. considerado lixo pelos padrões intelectuais vigentes. o que é. exigem uma referência especial — Woodstock e Altamont. compositores e intérpretes — e. levá-lo a sério como matéria-prima da criação de uma nova cultura. especulação metafísica. com igual impacto sobre o momento. os grandes acontecimentos musicais da contracultura foram os festivais. há uma diferença profunda entre eles: enquanto o festival de Woodstock representou a realização. Richie Havens. Realmente. o clima daquele encontro foi assim descrito: “Se eu tivesse que resumir a experiência de Woodstock. foi posto em prática de verdade. não teve a mesma sorte e se configurou como um dos momentos mais negros da utopia da contracultura. Escolheram Altamont. para o fim da chamada “era de Aquarius”. muita alegria. que fica a quarenta milhas de San Francisco. Ten Years After. pelo tom agressivo e pelos episódios de violência sangrenta que o marcaram. em texto escrito na época. ao contrário. etc).incríveis e que não podem deixar de ser vistos por alguém que queira entender por dentro um pouco daquele tempo. Joe Cocker etc. um outro país. os Rolling Stones resolveram oferecer um concerto de graça aos fãs da Califórnia. ao contrário. Altamont. contrataram alguns 47 . onde é alta a percentagem de hippies e afins. num ambiente psicodélico. intitulado Woodstock Nation. do Maio de 68 francês. Nas palavras de Abbie Hoffman. no melhor estilo da filosofia hippie da época. em dezembro de 69. onde meio milhão de pessoas formavam uma verdadeira comunidade. da utopia do peace and love. um outro mundo. deixando no ar um forte sentimento de frustração. o que se configurou durante aqueles três dias foi a “nação” de Woodstock. Joan Baez. apontou para a destruição. realizado quatro meses depois de Woodstock. No entanto. É assim que Maciel. pelo clima de tranqüilidade e alegria em que transcorreu. perplexidade e fracasso. um dos nomes obrigatórios da contracultura norte-americana e autor de um livro sobre um desses festivais. onde o lema “é proibido proibir”. culminando com o assassinato de um negro pelos Hells Angels. Santana. Janis Joplin. Já Altamont. aqui e agora. eu diria que foi a primeira tentativa de aterrissar um homem na Terra”. intitulado “O Fracasso da Contracultura”. com muita música (nomes como Jimmy Hendrix. comenta o festival: “Para comemorar uma bem-sucedida excursão pelos Estados Unidos que lhes rendeu mais de um milhão de dólares. e ao contrário do que aconteceu em Woodstock. mas que se estendeu por vários países da Europa. os Angels espancavam quem pintasse na frente.grupos famosos para os números de abertura (Santana. como um despertar cruel para a dura realidade”. E a presença marcante dos Hells Angels nos episódios de Altamont só corroborava ainda mais esta evidência. com um comportamento pautado pela intolerância e autoritarismo. em discussões e brigas sangrentas.. um caminhão cheio de cerveja como pagamento por seus serviços como ‘guarda de segurança’. Aquele sonho colorido não poderia durar para sempre e. Mas a água continuava a rolar sob a ponte e o próprio Woodstock teria de ser esquecido.. Este grupo era uma organização direitista e extremamente violenta que surgiu na Califórnia. com todas suas contradições. do ódio. Jefferson Airplane etc. Quatro pessoas morreram: uma afogada e duas atropeladas pelos automóveis irritados. os grandes momentos de atualização da 48 . enfim. um estudante negro chamado Meredith Hunter. Declaradamente fascistas. Grateful Dead. a assustadora gang de motociclistas. Mas. Compareceram cerca de trezentas mil pessoas — e o desastre foi total. (. talvez. O restante. foi esfaqueado por um Angel no momento em que apontava um revólver na direção do palco. de acordo.) A euforia criada por Woodstock era forte demais e 1970 foi. enquanto Mick Jagger cantava os versos escabrosos de ‘Sympathy for the Devil’. da contra-utopia no interior da própria contracultura. Chamados de ‘fascistas’ pelo público. O congestionamento de tráfego transformou a área num verdadeiro inferno. Altamont foi ressuscitada com seus sombrios significados.) e deram aos Hells Angels. na falta de novas felizes confirmações. as bebidas alcoólicas e as bolinhas de anfetamina tiveram um amplo consumo. Ficava assim evidenciada a presença da violência. o grupo sempre chamou atenção pelo uso ostensivo de capacetes. Além do ácido e da maconha. A violência estourava a cada momento. suásticas e medalhas sobre seus blusões de couro negro. nos Estados Unidos. estes e outros festivais de música foram. um ano carregado de otimismo. não fazemos espetáculo. afirma o seguinte: “No espetáculo convencional. No grande rito da contracultura. com seu ar freak (estranho. Sobre o show de rock. para isso. certas partes ou mesmo avenidas convertiam-se. As luzes relampejantes. enfim. 49 . por exemplo. Marcuse e tantos outros. um grupo tinha um papel absolutamente fundamental: eram os hippies. suas roupas coloridas e exóticas. a música. eles começaram a encher as ruas dos Estados Unidos. Não somos gente de espetáculo. que corta toda possibilidade de comunicação não só com a pessoa ao lado mas de cada pessoa consigo mesma. O som amplificado. o rock desempenhou um papel fundamental.utopia da contracultura: da transformação. com o aval de nomes nada desprezíveis como Andy Warhol. que diluem as relações de espaço e anulam a capacidade de orientar-se segundo o hábito embrutecedor do espaço tridimensional. já desde os primeiros anos da década de 60. aceitos passivamente porque são mais cômodos e ajudam a sobreviver. da Califórnia. No rock são os músicos que devem se identificar com o público e se anular no público. da revolução aqui e agora. Então tudo explode. em verdadeiros centros de hippismo. Ginsberg. Somos apenas provocadores de um rito”. que o rock ajudava a encenar. com HaightAshbury (em São Francisco). pouco a pouco. E. É uma técnica reacionária. Era o flowerpower que começava a ganhar seu lugar ao sol. extravagante). numa viagem longa e sinuosa. eles começaram a se espalhar pelo mundo inteiro. ou melhor. o artista procura fazer que o público se identifique com ele e nele se anule. O homem se encontra consigo mesmo e ao mesmo tempo confundido com uma multidão infinita de outros homens. Billy Mundi. seus cabelos agressivamente compridos. É um sentimento revolucionário. do conjunto Mothers of Invention. Sunset Boulevard (em Los Angeles). Thimothy Leary. ou melhor. Com seu mundo psicodélico. Explode a segurança que o Sistema oferece. Explode a segurança que oferecem a rotina e os hábitos. de lá. E não é preciso dizer que. Mc-Luhan. Nas principais cidades dos Estados Unidos. Alan Watts. É o que ocorre. Marrakesh ou Cuzco. uma retórica que só protegia interesses —. nos Estados Unidos. O final dos anos 50 e começo dos 60. A descrença no liberalismo — visto. sua música. um importante líder negro que teve um papel de destaque na articulação de seu movimento com o protesto da juventude branca. como Katmandu. que figuras como o pastor Martin Luther King (que viria a ser assassinado em 1968) vão aos poucos perdendo a hegemonia na luta anti-racismo para líderes e grupos com posições mais radicais. a crescente corrida armamentista e o início da guerra do Vietnã. cada vez mais. que surge o Black Panther Party. por exemplo. foram especialmente movimentados. o que marcava esta nova onda de protestos que começava a tomar conta. cidades como Londres e especialmente Amsterdã.Old Town (em Chicago) ou East Village (em Nova York). convertiam-se também. vinham se acrescentar a este clima de descrédito e descontentamento. a recusa ao pagamento de impostos. No entanto. é por volta de 1965. São desta época as grandes marchas pacifistas contra a guerra ou pelos direitos do cidadão. é apenas num segundo momento que ele assume uma tática e um tom de maior agressividade diante. Mesmo no caso do movimento negro. nos Estados Unidos. foi o ministro de Informação. do qual Eldridge Cleaver. por volta de 1963. da sociedade americana era o seu caráter de não-violência. Por outro lado. as passeatas hippies com seus slogans alegres. em verdadeiras “mecas” de um novo misticismo mundano. por parte daqueles que discordavam do destino 50 . O acirramento das lutas raciais. constituía o pano de fundo das primeiras reivindicações em torno dos direitos civis. da constatação da progressiva falência da luta pacífica pelos direitos civis. Aumenta. como um mito. é nesse processo de radicalização. para desespero das autoridades locais. principalmente. suas cores e seus toques de orientalismo e os sit-ins dos jovens estudantes de universidades americanas e européias. inclusive. aliada ao crescente questionamento dos “benefícios” da sociedade industrial. por exemplo. por exemplo. ou ainda outras marcadas por um traço qualquer de “exotismo”. Esse é o contexto mais imediato no qual os hippies estão surgindo e se espalhando pelos quatro cantos do mundo. teve o título de campeão cassado diante de sua recusa.dado pelo governo ao dinheiro público (guerra do Vietnã. neste período. Em perfeita sintonia com o projeto de revolução cultural dos anos 60. É impossível esquecer. com seus slogans de um radicalismo bem-humorado como Faça Amor. o Cassius Clay. Aqui vale a pena lembrar acontecimentos como a peça Hair. passa a viver o exílio europeu. o grande fato a ser salientado. chegando-se. em 1966. até mesmo. No entanto. o som que. havia realizado a mais radical fusão da música branca com a negra. o cinema de Andy Warhol. por motivos político-religiosos. 51 . artista que se converteu em um dos gurus do movimento hippie. o drama da juventude diante da guerra do Vietnã — peça que foi transformada posteriormente em filme com trilha sonora de enorme sucesso — e a figura do lutador de boxe Muhammad Ali. armas nucleares etc). o grupo teve sua sede em Nova York. negros e aqueles estudantes que representavam os começos de uma nova esquerda. com todas as cores da época. Mas não era apenas na música que o clima da época estava presente. talvez seja a intensidade com que toda a agitação político-cultural de caráter novo aglutinava grupos sob certos aspectos tão diferentes como hippies. Também exige uma referência especial o trabalho realmente revolucionário do Living Theater. com muito rock ao fundo. Cresce a resistência à prestação do serviço militar. Até 1964. destacando-se o seu Chelsea Girl — filme fundamental para o hippismo. E tudo isso. em função de problemas com as autoridades. afinal de contas. à queima de cartões de recrutamento. um de seus espetáculos trazia o famoso título Paradise Now. grupo teatral que consagrou internacionalmente os nomes de Julien Back e Judith Malina. à prestação do serviço militar. diga-se de passagem. por exemplo. tendo estado no Brasil em 1971. que. numa clara demonstração do repúdio dos jovens norte-americanos à guerra do Vietnã. a partir desta data. ao alistamento e embarque para as frentes de combate. um musical que tematizava. com a surpreendente emergência de novos vencedores num quadro de novas vitórias. para uma redefinição política dos hábitos. alguns dos grandes acontecimentos que se destacavam no panorama mais geral daquela época. a Revolução Cultural significava uma tentativa de mobilização e de crítica que visava a construção de um tipo de sociedade socialista que não esbarrasse nos mesmos impasses do socialismo soviético. Por outro lado. de modo bastante especial. dentre os quais pelo menos três exigem uma referência especial: a Revolução Cultural Chinesa. entre os jovens. ao invés de gritar violentas e conhecidas palavras de ordem. com um sorriso nos lábios. capaz 52 . Na China. respectivamente representativos de cada um daqueles três grandes acontecimentos dos anos 60. já duramente avaliado e criticado. É assim que os hippies encarnavam. esperança e inovação nas formas de luta política. por exemplo. este era o dado que tanto fascinava a juventude da época e lhe permitia. de distribuir flores às pessoas em volta. boa parte da energia revolucionária passa a ser canalizada. não se pode esquecer que a década de 60. Basta lembrar. Da mesma maneira. a nova radicalidade de um determinado momento e de certos segmentos sociais. O grande objetivo era fazer com que os sistemas culturais e ideológicos da sociedade chinesa passassem por um rigoroso processo de transformação revolucionária. é talvez por aí que se deva compreender o prestígio e a popularidade. Em todos estes casos. de personagens como Mao Tse-Tung. costumes. a nível internacional. modos de pensar e agir tradicionais. a nível internacional. Muito provavelmente. Neste sentido. inclusive. naquele momento. Paz e Amor ou com o curioso hábito. foi realmente um tempo de muita agitação. a resistência popular vietnamita à agressão armada dos Estados Unidos e a guerrilha de Guevara na Bolívia. Ho Chi Min e Che Guevara. freqüente nas suas passeatas e manifestações. o que estava em jogo era a abertura de novos espaços de contestação política e de luta. a partir de 1965/1966.Não a Guerra. uma identificação tão forte com acontecimentos até certo ponto bastante afastados de seu cotidiano. num verdadeiro símbolo de resistência capaz de despertar um insuspeitado espírito de solidariedade internacional e que se expressava. a luta do povo vietnamita. surgida com a revolução proletária ocorrida há quase vinte anos. a resistência do povo vietnamita convertiase. no famoso lema de Guevara: “criar um. era que o movimento revolucionário se estendesse a outros países da América do Sul. como demonstram as palavras de Fidel Castro: para Che. A partir daquela “base guerrilheira” boliviana. cada vez mais. capaz de transformar. a tentativa de ganhar aquela guerra exigia. muitos Vietnãs”. isto não era suficiente para que ocorresse uma suposta e esperada “vitória fácil” em termos estritamente militares. por exemplo. sendo cada palmo de terra disputado violentamente. aos olhos do mundo inteiro e da juventude em particular. avaliada por ele próprio. havia produzido. em condições de enorme inferioridade militar. contra o avantajado poderio bélico dos Estados Unidos simbolizava a capacidade de resistência que era possível brotar em resposta a uma agressão imperialista. o que se buscava era uma espécie de politização radical de todas as áreas de vida social. Para os Estados Unidos. num sentido revolucionário. E o empenho pessoal de Guevara neste processo era total. dois. Assim. Entretanto. era vista como a grande experiência de implantação do socialismo na América Latina. 53 . então. numa verdadeira frente antiimperialista. O moral do inimigo não se abatia e a luta continuava. a experiência da luta revolucionária guerrilheira de Che Guevara nas selvas da Bolívia. naquele momento histórico particular. Por sua vez. o uso de um potencial de violência poucas vezes sequer imaginado. o que se esperava. significava uma primeira tentativa de internacionalização dos melhores frutos e esperanças da Revolução Cubana. como a forma fundamental de ação para a libertação da América Latina.de colocá-los em sintonia com as mudanças políticas que a nova estrutura de poder. Enfim. três. naquela época. desde as mais simples relações de trabalho e de família até o conjunto da estrutura do sistema de ensino. No trágico episódio da guerra do Vietnã. que. “o comando militar e político da guerrilha devia estar unificado e (...) a luta só podia ser dirigida da guerrilha e não de cômodos e burocráticos escritórios urbanos”. Era exatamente este seu enorme envolvimento pessoal numa luta de libertação verdadeiramente sem fronteiras que fazia dele um herói como poucos. Sua morte em combate, no mês de outubro de 1967, significava um dos mais fortes golpes no clima progressista daquela época. No ano seguinte, 1968, vinha a público o seu diário, em que ele pacientemente registrava o dia-a-dia de sua luta. Em sua edição cubana, o diário vinha acompanhado de uma longa introdução assinada por Fidel Castro, onde ele afirmava: “Nos próprios Estados Unidos o movimento negro e os estudantes progressistas, que são cada vez mais numerosos, convertem em algo seu a figura de Che. Nas manifestações mais combativas pelos direitos civis e contra a agressão ao Vietnã, seus retratos são esgrimidos como emblemas de luta. Poucas vezes na História, ou talvez nunca, uma figura, um homem, um exemplo, se universalizaram com tal celeridade e apaixonante força. É que Che encarna em sua forma mais pura e desinteressada o espírito internacionalista que caracteriza o mundo de hoje e cada vez mais o mundo de amanhã”. Confirmando esta forte identificação da juventude com a figura de Che, vale lembrar que o livro Woodstock Nation, de autoria do líder yippie Abbie Hoffman, incluía, entre outros documentos, uma longa carta manuscrita do líder guerrilheiro dirigida “à juventude dos Estados Unidos”, na qual, depois de toda uma reflexão sobre a importância e especificidade da luta do jovem norte-americano, ele se despedia com o seu clássico “venceremos”. Assim vivia o conturbado mundo dos anos 60, cheio no entanto de muita fé e esperança no presente, ou mesmo num futuro bastante imediato. E é nele que se insere a grande utopia do movimento hippie da construção, no mundo aqui e agora, do seu paraíso de paz e amor. Para tanto, era fundamental que eles conseguissem escapar, de algum modo, aos limites da sociedade e da cultura ocidentais. E este era, na verdade, o sentido de sua filosofia do drop out — expressão que literalmente significa “cair 54 fora”. Para os hippies, “cair fora” dessa camisa-de-força ocidental significava ganhar um outro lugar, fugindo então simultaneamente ao cerco do espaço físico, institucional e lógico deste mundo ocidental, é por aí que se pode entender melhor os três grandes eixos de movimentação que marcavam sua rebelião — da cidade, a retirada para o campo; da família para a vida em comunidade; e do racionalismo cientificista para os mistérios e descobertas do misticismo e do psicodelismo das drogas. Este era, portanto, o verdadeiro sentido da crítica do movimento hippie à repressão que, do seu ponto de vista, caracterizava o modo de vida do Ocidente: a busca às vezes desesperada e nem sempre muito consciente de um novo espaço onde fosse possível viver uma outra vida. Assim, começa a ocorrer uma enorme expansão das “comunidades hippies”. No seu interior, a própria organização econômica se torna comunal, surgindo, por exemplo, inúmeras “comunidades agrícolas”. Para a opinião pública de classe média, são pessoas marginais, na sua maioria viciadas em drogas. Para eles próprios, aquela nova forma de vida significava a fuga da máquina e uma volta à natureza, vivendo do próprio trabalho, quase sempre manual. Nesta sua tentativa de inventar uma nova maneira de viver, os hippies concentravam sua energia revolucionária especialmente no questionamento da repressão internalizada em cada um, na busca de si mesmo e do significado da existência, enfim, grandes “viagens”, por mais abstratos que estes objetivos possam parecer. Segundo Paulo Coelho, em texto de época intitulado “As Sociedades Alternativas” e publicado na revista Planeta, a questão era assim colocada: “Todos os movimentos políticos tradicionais partiam do princípio de que a sociedade era a justificativa para a existência do homem. O hippismo inverteu o processo: o homem era a única justificativa para a existência da sociedade”. O homem, ou o indivíduo, era assim a peça central no complicado xadrez da revolução cultural/individual que os hippies tentavam efetivar. E para tanto não faltaram adeptos e aliados. É também como parte desse processo de libertação das 55 56 ou seja. sobre a própria estrutura do pensamento científico que. pode não representar absolutamente nada. Expressão que. o que a tornava especialmente atraente no contexto da contracultura era o caráter “demolidor” daquela experiência em termos de certas estruturas de pensamento. além do prazer que a droga é capaz de proporcionar através de seus efeitos. como tal. “A viagem de LSD é uma peregrinação religiosa”. do “psicodelismo”. Fundamentalmente. que agem sobre as consciências individuais. enquanto Watts defendia o uso do LSD como via legítima para experiências místicas devido aos fortes esquemas repressivos contidos na cultura ocidental. e tanto o misticismo quanto a droga constituíam-se numa forma de oposição ao racionalismo dominante nas sociedades tecnocráticas. ou melhor. dos quais o LSD é o mais famoso”. nascido de uma conquista científica: a descoberta das virtudes dos produtos químicos alucinógenos. ao mesmo tempo que impõe. do misticismo — especialmente aquele marcado por uma forte dose de orientalismo — e da droga. uma determinada percepção da realidade.amarras da repressão da sociedade e da cultura ocidentais que se deve compreender a difusão e o sucesso. entre os hippies e no interior da contracultura em geral. a longo prazo. 57 . permite. E mais: tanto para um como para o outro ambas as experiências são basicamente complementares. é assim definida por Maciel: “movimento social e até certo ponto político. Assim. o que se buscava eram novas possibilidades de apreensão da realidade. limitando-as na sua sensibilidade. Racionalismo este calcado sobre o modo de conhecer da Ciência. dizia Leary. do conjunto Animais: “A experiência da droga. conhecido como o “papa psicodélico” e que havia sido expulso da universidade de Harvard em 1963 por suas práticas com o LSD — bem como Alan Watts — o “papa do zen-budismo” nos Estados Unidos — estão indissoluvelmente ligados a toda esta onda de misticismo e psicodelismo. Nomes como Thimothy Leary — um dos principais teóricos da utilização das drogas alucinógenas para “expandir ou alargar a consciência”. Nas palavras de Eric Burdon. por sua vez. em uníssono. Assim. dois fatos importantes: em São Francisco. Já no caso das religiões orientais. Um caixão é cremado. Do ponto de vista da história e da organização do movimento hippie. verdadeiro berço do hippismo. o hippismo tinha um papel realmente de vanguarda. enquanto os manifestantes. bradam: “Os hippies morreram! Vivam os homens livres!” Praticamente ao mesmo tempo. o Partido Internacional da Juventude). Ainda durante este ano. que fazer levitar o Pentágono. estes arautos da Era de Aquarius vão constantemente reafirmar sua presença através de acontecimentos sempre significativos. toda uma outra maneira de encarar a natureza ou o corpo. exigindo portanto o surgimento de uma nova consciência ou de uma “nova sensibilidade”. era toda uma outra concepção do universo que estava em jogo. ao longo de toda a década de 60. é fácil perceber que se trata. Foi em outubro. de uma nova e curiosa forma de enfrentar o poder.mas nos ensinou que deixar-se caotizar não é necessariamente inútil”. no melhor estilo do ativismo da época. 1967 é um ano especialmente marcante. que ocorreu aquela enorme e colorida manifestação pacifista na qual se tentou. Abbie Hoffman e Jerry Rubin fundam o YIP (Youth International Party. realiza-se o enterro simbólico do movimento hippie. o homem novo que a contracultura tentava construir pressupunha efetivamente um novo modo de conceber e de se relacionar com o mundo à sua volta. Este era também o sentido do lúdico ou do mágico para a contracultura — uma nova forma de aproximação do real. no mínimo. tentativa de abrir um espaço mais institucionalizado que fosse capaz de 58 . por exemplo. que tinham tanto prestígio junto à juventude rebelde dos anos 60. por exemplo. Desta forma. Mesmo sem entrar no mérito objetivo das técnicas empregadas. Em todo esse processo de transformação. nas mais diferentes áreas do seu cotidiano. E estes dados as transformavam em sistemas de pensamento extremamente questionadores e polêmicos quando postos frente à visão de mundo dominante no Ocidente. nada mais nada menos. no ano de 1967: “No verão de 1967. estudantes e hippies. Jerry Rubin. organizado pelo psicanalista existencial R. afirmava: “Os yippies são revolucionários. na segunda metade da década de 60. procurando dar forma a uma ‘esquerda visionária’ e fundir a política radical com a política do êxtase”. Entrava assim em cena a figura do yippie. São grupos da Nova Esquerda. o rock é um dos assuntos estudados em Londres no congresso Dialética da Libertação. expressando talvez o início de uma convergência entre os projetos de revolução cultural e revolução política.canalizar a energia revolucionária de toda aquela juventude rebelde. Nossa maneira de viver. Aliás. O 59 . psicanalistas e sociólogos que debatem. Laing e seus colegas da ‘antipsiquiatria’. De uma certa forma. O que se viu foram três dias de intensas manifestações e violentos choques com uma polícia disposta a fazer um uso essencialmente político de sua força. Outro acontecimento que dá mostras desta “politização radical do psicodelismo”. num esforço para conciliar libertação social e libertação psíquica. este esforço de tentar a fusão de um ativismo mais diretamente político com o psicodelismo daquele momento era vivível por toda parte. D. estes episódios demonstravam os limites do liberalismo americano na sua possibilidade de tolerar e absorver a contestação que os grupos ali presentes representavam e engendravam. Misturamos a política da Nova Esquerda com um estilo devida psicodélico. Em seu livro Rock. O episódio se converteu numa das maiores demonstrações do potencial de violência e repressão que o Sistema era capaz de mobilizar contra o protesto organizado de negros. Roberto Muggiati afirma o seguinte sobre o importante congresso de antipsiquiatria realizado em Londres. nossa própria existência é a Revolução”. ex-líder estudantil em Berkeley. ou yippies. são os distúrbios que envolveram a Convenção do Partido Democrático realizada em Chicago. em agosto de 1968. o hippie politizado. o Grito e o Mito. revelando a existência de um verdadeiro plano com o objetivo de assustar e intimidar os manifestantes e tendo como resultado um enorme saldo de mortos e feridos. tendência Groucho”. Nomes como Daniel Cohn-Bendit. “É proibido proibir” e tantos outros. em 1964. o Processo de Chicago. Nova York.resultado final foi o famoso Chicago Trial. “Temos uma esquerda pré-histórica”. A primeira grande revolta estudantil ocorrida em Berkeley. uma incrível efervescência. seria a vez da grande revolta na universidade de Colúmbia. já haviam se convertido em pólos internacionais da luta dos estudantes. Do mesmo modo. Na verdade. Também na Europa. Mas não foi apenas nos Estados Unidos que o ano de 1968 significou um momento de confrontação radical com o Sistema. com suas barricadas e seus slogans de um radicalismo que em nada se parecia com o das manifestações políticas tradicionais? “Sejam realistas: peçam o impossível”. “O sonho é realidade”. o que chamava a atenção nesta onda de revolta estudantil que marcou a década de 60 era a sua originalidade em termos da abertura 60 . este foi um ano decisivo para o movimento estudantil — uma das grandes manifestações do ativismo da juventude rebelde dos anos 60. as universidades alemãs demonstraram. tomem LSD”. nos Estados Unidos. do Black Panther Party. do YIP. Quem não se lembra do Maio de 68 francês. com sua consciência crítica e seus ideais de transformação social. o que estava sendo julgado neste momento era a própria identidade de uma geração. na França. um dos fundadores da SDS (Students for a Democratic Society). Em 1968. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental. Enquanto isso. especialmente Berkeley. na Alemanha. ou Tom Hayden. envolvendo diversos líderes dos movimentos ali presentes. teve como um de seus resultados a criação do Free Speech Movement. ou Rudi Dutschke. como Bobby Seale. embora a falta de provas fosse evidente. todos indiciados sob a acusação de “conspiração”. com forte presença do movimento negro. No ano de 1966. se tornavam internacionalmente conhecidos. “O álcool mata. durante toda a década. e Colúmbia. e um importante líder da Nova Esquerda. novos e violentos distúrbios viriam a ocorrer na Califórnia — o nome de Mário Sávio se tornava definitivamente conhecido. Jerry Rubin e Abbie Hoffman. “Sou marxista. Califórnia. de novos espaços de luta política e da elaboração de uma nova linguagem crítica. Quando se questionava a repressão. Era a Nova Esquerda. Fiel à ideologia da rebelião da juventude internacional. de outro. De um lado. em boa medida. dentro do espírito mais geral da criação de anti ou contra-instituições. no desempenho de seus papéis. Este novo caminho trilhado pelo movimento estudantil internacional era. a ênfase era posta naquela exercida no interior da escola e que se manifestava tanto no dia-a-dia das relações entre as pessoas ali envolvidas. mas também aquelas de uma sociedade industrial. é no bojo deste processo que vão surgir as universidades livres ou as antiuniversidades. que vinha se organizando desde o começo dos anos 60. tecnocrática. hippies. o ponto focal da crítica e do protesto destas fileiras do movimento estudantil era a própria universidade enquanto instituição. a maior organização estudantil dos Estados Unidos. com forte presença em vários países europeus. Um de seus frutos no interior do movimento estudantil foi a SDS (Students for a Democratic Society). nas suas manifestações 61 . quanto no discurso que se produzia e reproduzia dentro daquelas instituições. Suas bandeiras de luta. negros e uma infinidade de minorias etnoculturais que se organizavam e. longe de estarem referidas apenas às questões mais gerais do conjunto da sociedade. um novo pensamento de esquerda que tentava se ajustar às transformações e à complexidade das sociedades industriais. que tanto marcava aqueles anos de intenso vigor da contracultura. Por sua vez. o resultado do encontro de todas aquelas forças emergentes que a rebelião da juventude havia posto em cena. falavam da sala de aula e das relações mais diretas vividas no espaço específico das instituições de ensino. com seus currículos radicalmente transformados e sua organização montada em bases muito diferentes das do ensino tradicional. este discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos 60 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista. fundada por volta de 1962. yippies. por exemplo. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. é evidente que a contracultura não estava. em determinado trecho. Esgotada. know-how e as poucas e boas idéias liberais”. se afirmava o seguinte: “A nova sociedade. . como um cogumelo novo brota de um tronco apodrecido. Califórnia. bem como a avaliação das possíveis saídas a curto e médio prazos. Em 1971. a Sociedade Alternativa. Acabou-se a era do protesto subterrâneo e das demonstrações existenciais. . os sinais de um remanejamento das linhas básicas de seu projeto inicial são evidentes. do qual participaram. os principais líderes das comunidades hippies. dinheiro. aquela reorientação era realmente inevitável. vista com o recuo de uma perspectiva histórica que a passagem de mais dez anos já nos permite ter. No entanto. Quais as chances de vitória desta reorientação tática. Devemos de agora em diante investir toda a nossa energia na construção de novas condições. Black Panther e assim por diante. Nas palavras de um manifesto afixado à entrada principal da Sorbonne durante o Maio de 68: “a revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. foi organizado um enorme congresso em Berkeley. estratégia. representantes de minorias como o Gay Power. A imaginação está tomando o poder”. O mínimo que se pode dizer é que. Estamos inventando um mundo novo e original. jovens radicais de organizações estudantis. 62 . nós utilizaremos sem escrúpulos: meios de comunicação. e estratégica? Quais os riscos de absorção pelo Sistema? Difícil responder. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. O que se procurava realizar era uma espécie de balanço de toda aquela intrincada movimentação dos anos 60. deve emergir do velho Sistema. O resultado foi a publicação de uma “declaração de princípios” na qual. O que for possível utilizar da velha sociedade.mais simples e corriqueiras. Acabou-se o mito de que os artistas têm que estar à margem de sua época. ao lado de sociólogos e outros cientistas. Women’s Lib. aliás. possibilitando o exercício mais sistemático de um tipo de crítica social que. certamente é uma tarefa difícil. mas. mais ou menos utópicos. o que é certo é que a revolução anárquica que a contracultura pregava e realizava deixou marcas inequívocas.* * * Dentre os inúmeros projetos de transformação social. Medir sua eficácia. pelo modo como as veiculou e pelo espaço de intervenção crítica que abriu. que surgia. 63 . principalmente. com marcas de uma extrema complexidade. tendo. E isto não apenas devido ao seu poder de mobilização — que não foi nada pequeno —. mais ou menos radicais. introduzido novos interlocutores no debate cultural. antes de mais nada. que os anos 60 viram surgir. No entanto. a contracultura certamente tem um lugar importante. Tarefa que. Não eram apenas novos atores que surgiam na cena do já tumultuado debate políticocultural internacional. pela natureza das idéias que colocou em circulação. até aquele momento. não estava disponível. Era todo um novo discurso. em termos de curto e médio prazo. é dificultada pela impossibilidade de que esta avaliação seja realizada segundo os critérios de eficácia dos projetos mais tradicionais de transformação social. organizada por Peter Stansill e David Zane Mairowitz e editada por Penguin Books. há dois trabalhos que devem ser lidos: A Contracultura. 4) Sobre o movimento estudantil internacional.INDICAÇÕES PARA LEITURA 1) Em termos do movimento de contracultura como um todo. number 2. México. relativos aos diversos grupos responsáveis pelo desenvolvimento da contracultura. Há muitos deles editados em português. Praticamente todos os nomes mais importantes e suas respectivas obras aparecem comentados na bibliografia que acompanha o livro de Theodore Roszak indicado anteriormente. se converteram nos “gurus” da contracultura são fundamentais para quem quiser se aprofundar no assunto. em 1972. há duas coletâneas. em 1972. 1972). 2) No que se refere a documentos de época. Há ainda um volume do International Social Science Journal. Londres. Londres. Londres. de um modo ou de outro. de Marialice Foracchi. e A Juventude na Sociedade Moderna. 5) Não esquecer que os discos de rock e os jornais e revistas underground internacionais. organizada por Alexander Cockburn e Robin Blackbum e editada pela Penguin Books em associação com a New Left Review. reunindo artigos de diversos autores. editado pela Vozes. bem como alguns filmes da época 64 . editado pela Livraria Pioneira Editora. organizada por Julian Nagel e editada por Merlin Press. organizada por Robert Cohen e editada por Siglo XXI Editores. 1969. 3) Os livros teóricos e ativistas que. 1971. que são excelentes: Student Power. e Student Power. 1969. contendo desde artigos mais teóricos até análises de casos concretos. e BAMN (By Any Means Necessary) Outlaw Manifestos and Ephemera 1965-70. publicado pela UNESCO. 1969. que é extremamente interessante. de Theodore Roszak. há duas coletâneas que merecem uma olhada: Rebelión en Estados Unidos. intitulado Youth: a Social Force? (volume XXIV. A Morte Organizada. s/ data. etc). Cultura e Participação nos Anos 60. Rio. 1973. Gil. De Caetano Veloso. diversos artigos seus publicados na imprensa da época: Nova Consciência! Jornalismo Contracultural-1970/72. especialmente aquele surgido no período 1967 — 1972/1974: os jornais e revistas underground. não esquecer o material de época. entre outros. Codecri. editado pela Brasiliense. e Retrato de Época. volume n0 41. como. intitulado Teatro Oficina (1958-1982). em 1980. Arte em Revista. Flor do Mal. na coleção “Tudo é História”. Trajetória de uma Rebeldia Cultural. Luís Melodia etc. que reúnem. ver o volume n0 60 da coleção “Tudo é História”. há umas leituras obrigatórias. publicado pela Brasiliense. Sobre o Teatro Oficina. Caetano. de Heloísa Buarque de Hollanda e Marcos A. e Negócio Seguinte. Gimme Shelter. Além disso. De Luís Carlos Maciel. São Paulo. 6) No que se refere ao Brasil. 1978. de autoria de Fernando Peixoto. Funarte. por exemplo. Para um balanço geral da trajetória da cultura brasileira nos anos 60 e 70. Rio. Presença. Alegria. Editora Max Limonad Ltda. Verbo Encantado. Gonçalves. 1982 (organizado por Ana Maria Silva de Araújo Duarte e Waly Salomão). da Editora Brasiliense. Pasquim (que começa em 1969) etc. 1981 (de minha autoria). Novos Baianos. De Torquato Neto. São Paulo. Hair etc. Rio. especificamente. n0 5. Alegria. Raul Seixas. São Paulo. coletânea organizada por Waly Salomão e editada pela Editora Pedra Q Ronca. ver o livro Os Últimos Dias de Paupéria (edição revista e ampliada). Global e Ground. ver ainda: Impressões de Viagem. Bondinho. etc). Eldorado. Woodstock. são um material da maior importância.. 65 . São Paulo. Gal. 1981. 1981. ver os seguintes livros.(Easy Rider. Rio. Rio/São Paulo. além de publicações como Navilouca e Polem e discos (Mautner. de Heloísa Buarque de Hollanda. o Brasil). filia-se ao PT mas vota em Leonel Brizola para governador do RJ. em 1951. experimentava os efeitos do fechamento político. Em 1975. ficando. elegendo. Funarte. sem partido. Abril. os impasses de sua geração: defende. entra para o Museu Nacional da UFRJ e faz o mestrado em antropologia. a universidade. em 1980. os alunos começavam a descobrir e a se interessar por aquelas formas indiretas de contestação e de resistência política. Fez o curso de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Brasiliense. da UFRJ. através dos temas da contracultura. como campo de pesquisa. por enquanto.. Nos anos 80. — Retrato de Época. Tem os seguintes livros publicados: — Patrulhas Ideológicas — marca reg. — Poesia Jovem/Anos 70 (com Heloísa Buarque de Hollanda). — Participa também das coletâneas: Testemunha Ocular (1979) e O Desafio da Cidade (1980). entre 70 e 74.Biografia Carlos Alberto Messeder Pereira nasceu no Rio de Janeiro. 66 . prosseguindo na mesma linha de (auto) investigação. especialmente aquelas escolas da área social e humana. Brasiliense. na Coleção “O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira” (com Ricardo Miranda). Neste momento. (com Heloísa Buarque de Hollanda). Enquanto isso. a tese “Retrato de Época/Um estudo de produção cultural nos anos 70”. Atualmente é professor da Escola de Comunicação da UFRJ. onde reside atualmente. — Televisão (As Imagens e os Sons: No ar. 67 . 68 . 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