Dossie Hilda Hilst (PORNO CHIC)

March 25, 2018 | Author: Cardes Pimentel | Category: Short Stories, Sexual Intercourse, Narration, Books


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mens personagens viviam com a cabera ehéia de pensamentos. deci­ den! setnpre fa/. Se voeé v coerente consigo mesmo.Iodos os mens pcrsonagens tern o mau hábito de pensar. Só espero que nao resoivam encontrar implieacdcs iiegeiianas ou metafísicas nos textos pornográficos. Bu suporto.ti.er perguntas supercompiicádas. f Íes pensam sem parar. Até no meio do sexo. uni desses diálogos contesta­ rlos atribuidos a Sócrates. diz: “ E melhor se desentender com o mundo todo do que com a única pessoa com quem se é loriado a viver após íer se despedido de lodos”. Pensó do mesmo modo. . Isso me faz lembrar o Hfpias Maior. u. Mesmo quando decidí escrever literatura pornográfica. o resto é suportável. A certa altura. . Foi um Oh!!! geral E desmaios e ais E doutos e senhoras Despencaram nos bracos De seus aios.. Quando os doutos do reino Fizeram-lhc perguntas Como por exemplo Se um rci pintudo riilendp a'ist/yut mores Teria o direito De somonte por isso Picar sempre mudo Pela primeira vez Mostrou-lhes a bronha Sem cerimónia. Pela linda peroba Que se lhe adivinhava Entre as coxas grossas. Mas reinava.O O lll l / I M K l GAY Mudo. E de muitos maridos Sabichoes e bispos Escapou-se um grito. Daí em diante Sempre que a multidao Se mostrava odiosa Com a falta de palavras BUFÓLICAS . pintudao O reizinho gay Reinava soberano Sobre toda nayao.. A P E N A S ... .Do chefe da Nayao Diante de tal evento. O reizinho gay Desse reino perdido Aparecía indómito Na memoria dos tempos Na rampa ou na sacada Só restaram cin/as Com a bronha na mao. O reizinho gritou Na rampa e na sacada Ao meio-dia: Ando cansado De exibir meu mastruyo Pra quem nem é russo.. E quero sem demora Um buraco negro Pra raspar meu ganso. Mas um d ia. Acabou-se da turba a fantasia. mudo Aquietou-se sonhando Com seu rei pintudo. Levadas pelo vento. Desse regio falo Que de tao gigante Parecía etéreo. E eram ós agudos Dissidentes mudos Moral da estória: Que se ajoelhavam a palavra é necessária Diante do misterio diante do absurdo. E foi assim que o reino Embasbacado.... Quero um cu cabeludo! E foi assim Que o reino inteiro Sucumbiu de susto. imagine. ISABÓ Berta. boba. Bordó é a cor dos óio da Zezé Cabrita. tu tá tao porca que tá parecendo aquela véinha curta da I Iirda. que tem curtura mesmo. BERTA Bordó o que qui é. hein. bordó.. porca. Berta? E cor de jabuticaba. BERT A . assim ó. lilas. num me fala nela.. . coitadinha. xereca de vaca é vermeia.... tive uns presságio. é o Quietinho. Berta. mesmo curta. essas eoisa de co^á o oiti se chama prurido senir. como é que é mesmo?. a Hirste.. Porca. Vige Maria.. Tudo que é bonito é bordó. que gente que mora neste país. bordó é . ISAB Ó Bordó é cor bonita. B ERTA Tá mais pra cu de boi? ISABÓ Tu só pensa ñas parte de baixo. BERTA Iiiii. daqui pra po^o nóis tá iguarzinha.... FRA G M EN TO PO RNO GERIATRICO RU RA L BERTA liii. Tu é que coyava os bago dos menininho e tírava os ranho dos buraco do nariz e enfiava na boca da Dita... ISAB Ó Iiiii.. Batem outra vez. aquela neguinha fedida que era tua prima. Ah. B EBIA Quem é..R / £ ( C O ISABÓ Ai. eu adoro roxo. dá dedo. Isabó. tá loco pra faze aquelas coisa com a gente.. Vige María. Berta! Meu tio.. que borne. hein? B ERT A Aquilo que tu fazia com o Tonho. Te lembra do tio Ledisberto? mandava a Eufrosina ficá fazendo cafuné nos cabinho do cu dele. Batetn na porta. Tu te lembra do Zequinha? Menina. gente de bem. ISABO Credo. imagine. B ERTA É cor de xereca de vaca? ISABÓ lh . hein.. ISABÓ Que coisa tu qué dizé.. to m ar. essa véia é safada. Vi urna véia tao véia colando oiti na esquina. ISABÓ Mardita! Num fa^o isso há mais de trinta ano. num sei expricá. Isabó. é urna cor muito bonita. ela me tiró o Ton lio de mim. e diz que tem os cuiáo roxo. Imagine só BEBIA Até o presidente. é? ISABÓ Tu é ignorante. meu deus? (Olha pela jan ela) Ai. Quando ele metia eu via tudo roxo. E Seo Quietinho. . . Isabó? HERIA lam o nao. SE O Q UIETIN H O Óia cume qui eu já tó. Acabei de bochechá. BEBIA B o je num quero. Num é dia de nada. Moje num é dia.. c pra chupa mió. SEO OI. pois oees num tem dente. eu quero. BERTA Aiiiiiii. Berta? Tu tá ai.Q UIETIN H O Ó de casa! Tu tá ai. num fala assim ñas porta da rúa! ISABÓ Abre logo. SEO Q UIETIN H O Por que? ISABÓ E dia de Santa Apolónia que protege os dente. Ahrem. ISABÓ A h . que a vila inteira vai sabe dessas lux-liria.. Entra Quietinho. II I IN IIO M as eu vim aquí pra isso mesmo. Oia como cu tó arripiada. Quietinho. poesía. é toda editada pela Biblioteca Azul. depois da leitura do livro ( 'arta a E l Greco. Sua vasta obra. parte de seu arquivo pessoal se divide entre o Centro de Documentarán Alexandre Lulalío. Sens pais sc sepa- raram muito cedo o o pai. entrar na I aculdude de Direito da Universidade de Sao Paulo (l. Em 1964. Sen primeiro livro l ’resságio. cm urna v ida social prolífica. A partir de entáo. foi recebido com grande entusiasmo pelos poetas Jorge de Lima e Cecilia Meireles.L. Mackenzie —até. cm 1930. que reúne teatro. projetada por ela para ser um espado de inspirarán e criaráo artística. Coneluiu o curso de Direito em 1952. 1 lilda 1 lilsl v iven o resto de sua vida ali. ainda na infancia da autora. Instituto de Estudos de linguagem . onde conheceu aquela que seria sua grande amiga ao longo da vida. Pede para a müe parte de urna propriedade da familia. eni 1948. ünicam p (áberto a pesquisadores do mundo inteiro) e o m u. manifestou questóes psiquiátricas que o levaram a diversas internaróes. I lilda decide afastar-se da vida agitada de Sao Paulo. . publicado em 1950. ano em que publieou sen segundo livro de poesía. que funciona na C asa do Sol.tr. até sua mortc em 2004. Halada deAlzira. prosa e crónicas. do escritor grego Nikos Kazantzakis. Hilda teve urna edueayáo nos inclhores colegios de Sao Paulo —Santa Marcelina. e ganhou os mais importantes premios literarios do país. a escritora I Agía Fagundes Telles. íoi (torne­ ada curadora do pai. e constrói a Casa do Sol. sempre em evidencia pelo modo audaz de nina garota levar a vida na década de 1940. Hilda viven anos intensos de vida social. \ partir de 1951. Instituto Hilda 1lilsl.H ild a Hi l s t iiil d a ni \i m i id a p u a d o tul si nasceu em jíiú-sp.argo Sao Francisco). localizada a alguns quilóme­ tros de Campinas-sp. I lilda produziu por quase cinquenta anos. lloje. recebendo diversos escritores e artistas com quem mantinha profundos diálogos. enquanto os personagens se entregam a práticas eróticas perversas. guardaría maiores afinidades com os escritos de Rabelais..propóe um contato inespe­ rado entre polos opostos. colocando inúmeras citayoes da alta cultura á prova da mais deslavada pornografía.incluindo figuras brasileiras como Guimaraos Rosa c Euclides da Cunha . Com efeito. conforme vai encontrando os . Se é que se pode falar em enredo. Byron ou Catulo sao citados ao lado de outros nomes célebres . Anua Kariénina ou Morte etn Veneza sao convocadas pelo narrador para figurar em um contexto que. evocando as convenyoes do romance de formayao. obras como Hamlet. mas antes de atentar para a ostensiva apio ximayao que ela realiza ao confrontar um termo filosófico com urna expressáo das mais chulas. Sito Paulo. esse livro escandaloso . associando o exercício do conhecimento á atividade sexual. nao é de estranhar que os principáis prota­ gonistas da historia sejant todos relacionados á atividade artística. de Sade ou de Jarrv.que faz parte da trilogía obscena publicada pela autora no inicio dos anos 1990 . o que rápidamente se transforma em pretexto para sua descoberta do erotismo. portanto. inclassiíicável cm todos os imeis. Kierkegaard. motivado pela baixa qualidade dos textos que lé: “ao longo de minha vida tenho lido tanto lixo que resolví escrever o meu”. Assim. Por fim. a esses dois personagens debochados vem sc acrescentar a figura melancólica de Hans Haeckel. as quais nao faltam o incesto ou o sexo com animáis.0j. que é urna artista plástica obcecada pela imagem dos órgaos sexuais. 10.2003 h . )iscurso Editorial ¡ US p / l n e s p / u f m g /Folha de Sao Paulo. o livro conta as peripecias de Crasso á procura de inéditos de hna versao reduzida deste artigo fm publicada no Jornal tic Resenhas. Pound. já que Hilda 1lilst insiste nesse expediente do com eto ao fim da narrativa. sem dúvida.. ver dade e conhecimento". o narrador. parceira de extravagantes jogos eróticos. Ao narrar suas memórias sexuais. ele concentra a atenyao em Clódia.PROSA DEGENERADA £ lia n e Robert M oraes “É metafísica ou putaria das grossasr" . Yates.h . ao longo de sua peregrinayao. Da mesma forma. Crasso. é um sexagenario que resolve escrever seu primeiro livro. soma á desordem narrativa urna total anarquía de referencias. Lucrecio.a queslao do pciMUiagcm d> < 'mitos descárnio —Textos grotescos excede o contexto em que v formulada pata o f­ recer urna chave de leitura desse livro que. de responder a pergunta. Nao se trata. Com tantas alusoes literarias. Aproximayao que perpassa todo o texto. um “escritor sério" para quem a literatura era “paixao. que se mata com um tiro na cabera. revelando as inquietayoes que marcam a ficyao erótica da própria repetir certo mote. como pre- pouco nobre.tudo isso época. girando em torno dos dilemas da representayao do sexo. Na verdade. e nunca por conta dessa ou daquela opyao Como representar o ato sexual? Como fixar sobre o papel. partir dos temas que mohíli/u. Seu poder de transgressáo é. O problema que se coloca para Hilda Hilst . levada assim ao extremo. de Sade nao foi o de escrever obras obscenas. tolerada. sendo quase sempre considerada um género menor. do mercado de sexo. pois.Textos grotescos trabalham com a aproximayao entre o alto e o baixo de urna forma quase didática. Para além da experiencia carnal. Isso se fere Hilda Hilst. mas sim o de deslocar o pensamento iluminista A para a alcova lúbrica. combinando cenas tic um repertorio sexual limitado com autora. concluí o crítico. o personagem também fica conhe- Na hierarquia tíos discursos. do ponto de vista estrilo da leitura. Trata-se. ou sobre a tela. O escándalo acontece. A comeyar pelo tato tic ser urna obra assinada por urna escritora da chamada “grande literatura o que. Como observa Alcir Pécora na apresentayao ao volume. fixar em qualquer um deles. de escritos sem pretensoes literarias. perturbando a zona de para essas questoes de fundo da literatura erótica. se reduz a isso: o personagem vai além e faz da hegemonia da industria cultu­ quando a “putaria tías grossas” se aproxima da metafísica. Na qualidade de produyao literaria inferior. mas ainda a própria economía literaria em geral. física que ele mesmo considera “indefinível”. sobre a qual se organizam os textos obscenos em relayao ao movimento maior da por si só. Além disso. criado urna heroína adúltera. Ou. criando urna pornografía descontro­ lada. quando os tem as obsce estereotipada. desautoriza sua íiliayáo ao tipo de pornografía que Iota as prateleiras literatura. a busca dc lima via expressiva.ou de "bandalheiras”. piadas e fragmentos de toda ordem .cía também estreando o intuito dc excitar o leitor na pornografía ao escrever a trilogía —é o mesmo que move sens personagens. fluxos de consciencia.as questoes que pulsam ñas memorias os efeitos estilísticos sao relegados a um segundo plano em tunyáo de urna Ici obscenas de Crasso ou nos quadros licenciosos de Clódia estao no centro maior: a repetiyao. ral a condiyao de sua própria literatura. Ora. dizendo com Hilda Hilst. Valendo-se do espirito satí­ tolerancia que cada cultura reserva as fabulayóes sobre o sexo. comentarios. tais descobertas lhc exigem. tal estratégia vem perturbar nao só a economía Os Contos d'escárnio .transtomando a ordem dos discursos a partir da qual se ratura de mercado". deve ao fato de que esse tipo de literatura só adquire o status de género a como estreante na literatura. que excede as normas do mercado. o texto erótico só consegue realmente escandalizar o que. a insistente associayño entre obscenidades . essa opyao pela O potencial de subversáo dos livros eróticos está diretamente ligado a sua capacidade de colocar em xeque os códigos do sistema literário vigente desordem narrativa “pode ser interpretada como urna resposta irónica á lite­ em cada sociedade . mas por té-lo feito em urna das obras-primas do realismo. formal. dando livre curso a urna parodia vertiginosa. aproximando a filosofía do erotismo. nos abandonam o gueto onde se confinam os géneros inferiores e se associam criticando a supremacía do best-seller. Mas sua visada.Textos grotescos propoem urna resposta singular quando ele deixa dc obedecer as leis do género menor. a ficyao erótica costuma ocupar um lugar cendo toda a sorte de aventuras lúbricas . fábulas. nesse sentido. poemas. textos dramáticos. nao foi apenas por ter discursivas como diálogos. nao as expressócs legitimadas como superiores. tende Os Contos d'escárnio . a maior parte dos livros pornográficos limita se a do texto. Ao realizar um inventário da mercadoria literaria mais organizam as culturas. geralmente. Assim também. como faz iam os autores pornográficos dc sua receitas. o narrador coloca em questáo o lixo cultural produzido no país. pelo menos. O escándalo rico que caracteriza as “cantigas de escarnio’’ da tradiyao medieval portuguesa. se prolilerayao de referencias ao canone acrescentam-se as mais diversas formas Flaubert escandalizou a moral francesa do sáculo xix. De fato. Vejamos por qué. quase nulo. “Esse negocio de nao raro a indu/ir ao tedio. nos quais o momento fugidio do erotismo? . expresso em urna mistura babélica de línguas que só faz desnortear o loitor.estranhos manuscritos do escritor morto. a pornografía é normalmente escrever é penoso’’ —confirma o narrador ao procurar exprimir lima volúpia aceita —ou. o que alias era cúrrente na lite­ o livro lanya mao de urna fabulosa quantidade de géneros literarios sena se ratura libertina setecentista. tenta esconder. criando urna prosa em que os géneros se degeneran!. insistindo 11a ideia de que todo conhecimento tem urna única e inequívoca origem: o sexo. Se nao. essa subversao torna-se ainda mais intensa com a intrigante fusáo de géneros que o volume p5e em cena. seja de qualquer outro. seja do género menor. é suposto como integrante do meio universitario. que nao perde a ocasiao de ironizar: “Credo! Com o é difícil o texto didático". Tal sugestao nao deixa de ser intrigante .Textos grotescos. a autora perverte as leis literarias. reiterando logo em seguida com o mesmo didatismo: “Se voce for PhD. Figura emblemática das elevadas aspirayóes do saber. ao fazer tabulei rasa de todos os discursos.e referencias eruditas opera no sentido de nivelar os discursos em questao. revelando certas relayoes entre corpo e espirito que nossa cultura. Crítica radical á hegemonía do lixo cultural. . “Isto aqui nao c cartilha para esse pessoalzinho que está fazendo mostrado” . Suas aproximayóes insóli­ tas zombam do ascetismo da vida intelectual.diz o personagem. o livro de Hilda Ililst stigere que entre esses polos da nossa cultura também existem relayoes mais complexas do que nor­ malmente se costuma admitir. mas também á suposta superioridade das elites intelectuais. E o que acontece com o deboche escrachado de Crasso que. em contraste ao baixo corporal do erotismo. Afinal. Tal é a escandalosa liyao que esse livro propoe ao leitor: urna vez dege­ nerado. como ensinam esses Contos d'escárnio . o intelectual é o alvo privilegiado da agressiva pedagogía de Crasso. as cumplicidades entre o alto e o baixo sempre podem reservar surpresas para o pensamento. tratado como ignorante e picareta. Urna prosa degenerada. expóe os pontos dc toque entre o pensamento e as demandas carnais. leia até o fim. o texto fica livre para promover as associayóes mais bizarras c impre­ vistas. mas sem acatar as restriyóes impostas á pornografía.e merecería urna explorayao mais atenta. Por fim. por tradiyao. pule esta". E nesse ponto que se afirma a efetiva capacidade de transgressao do texto. manifesta numa perfeita sintonía entre forma e fundo: para responder aos dilemas da representayao do sexo. O notável poder de desvio da ficyao erótica de Hilda Hilst decorre jus­ tamente de sua recusa em reproducir qualquer convenyao córtente. embaralhando-os por completo. Entende-se por que o narrador muitas vezes dialoga com 11111 interlocutor imaginario que. muito con­ tentes.er ''Olíante avec mon ami Mesquila '. Odes mínimas e A obscena sentumí I ) lormam um apogeu de escrita literaria Eu nao conhecia pessoalm iiile I lilda Hilst. escrita por mulheres Vicha Prado. Numa cerimónia em sua homenagem.u horrada simpática.11 Mas ainda creio que. porque 110 Fm. Orides Fontella e. \ morir.e. Seu mundo era fechado sobre si mesmo. em discos. cul­ tivando o prazer de chocar e cm amlali/. Margarida I ink* I. portanto. ou qualquer perda de contato com a realidade. comentando a literatura brasileira tradu/ida em francés. a nina pitonisa. * u 1*>•.il da tialismo. alguns jovens vieram. Mas nao hesitava em dizer barbaridades em alto e bom som. moa huya interior falasse por ela. pois sabiam que . Nao havia nada no disco. I lilda I lilsl fosse discreta. Hu morava rni. a sen unido. Era discreta.itos eom o além. provocadora. Progressivamente. Voltava com insisténcia as suas obsessoes dos 1 onl. o que aurnentou sua convicyau algum espirito havia tomado aquela precisa onda hertziana para r llegar . Ela vivia em sua chácara de Cam pinas.i pav. assemelhava-se mais • mar..1 pelo álcool. <>lga Savary.P I S C R I Q Á O E F IN U R A J r g e Coli Foi no sáculo passado. a minio discreta Hilda 1lilsl.io na Franya ha bastante lempo c colaborava regularmente com o jornal I ■ Monde. tomando uisque toda noite. o que a levava a um estado de emhriagués vizinho ao transe. ou "as tullías sao verdes" Urna vez.ni.1 seus ouvidos. sao de "A danya do sabré” de Kaehaturian. Com o dcv 1. ao suplemento cultural materias sobre a Inmatura que se fazia entao p<n aquí. Nelas. no meio de urna * . brotando com formidável eloquént ia. Isso resultmi em iluas páginas inteii. Urna das moyas trouxc-Iho . ela correu até urna estayüo de radio. o que chamavarn de poemisetas. rom frases quo pareciam di/. havia perccbido unta itietisagein transcendente. piopic. e ela v ivia de modo solitario. Vozes sobrenaturais ouvidas em cassetes virgens. Mas era t omo .agem: “a melhor poesía ln isileiia e. mostrar-lhe algo que consideravam revolucionario: poemas escritos em camisetas. Nunca prescncici de sua parte qualquer incoeréncia <. antes dc ludo..1 es* ritora era desbocada. havia est.111 . em nossos dias. Alguns amigos rirain desse "milito discreta".1 \ ir ao Brasil em férias. j>t11>11< adas no dia 13 de janeiro de 1984. escrevia em modo sofisticado para leitores. minha De querer minha alma na tua cama? filha. Contou-me que urna vez. mas eu tinha razüo. como diz ñas Bufólicas: Ncm omiti que a alma está além. nestes nossos tempos Nao se deve entender Contos d'escárnio apenas pela sua aparéncia de conservadores e monogámicos. ncm urna fabrica- indecente nunca desee á sordidez. a animalidade . como testemunham as numerosas fotografías suas daquela época. Esse investímento sagrado. Hilda Hilst. Hilda? Isso é a mais pura e mais alta Disse palavras líquidas. revira-se de ponta-cabeya quando a autora nhia de um namorado. . entender a intensidade sexual que emana dos sátira. amoro­ dos. fora muito bela.ou dizet . subvcrsüo que "Foi espantoso. sos e instintivos . nao abriu.baceta. ásperas expressüo literária” . cheia de amores. Ou. “Quero criar um sedutor macho que seduz outro macho. A pedofilia. Outra vez. Crassinho mas isso deve ter doído um bocado!” Conversamos bastante quando ela estava escrevendo Cartas de um sed ittor. eu disse: “Vocé acha que Na tua cama? alguém pode bater punheta lendo isso. na sua mocidade.1 Lori Lamb)1é urna obra-prima de finura. O orgánico. impactos de Do desejo. Ou tenta-me de novo.st Obscenas. hospedou-se no mesmo hotel onde estava Marlon Brando em compa- nosso tempo em dragao hediondo. em mais profundas e mais transcendentes. mas nada de coisa de veado. cu. vocé tatuou á volta d o seu cu pra qué? homenagem a Pound. brotam como instrumentos da poesía e das revelayóes Juventude rica. buscando Se o teu canto é bonito. Ao escrever . profundamente vividos. internacional. O ator largou o parceiro e foi bater desesperadamente veste a pele de urna garotinha divertindo-se com todas as pulsóes sexuais: na porta do seu quarto. magro. Jo se te . Ela nüo hesitou: “Esse seu jeito de soldado nazista me deixa tarada!". Ao redor do buraco de Josctc. A autora elabora um imaginário tüo impre yüo puramente ficticia. E te repito: por que haverias Cuida que nao seja um grito. Ela declarou no microfone: “Escreva na caceta. tório era alto. porque era assim que gostávamos. as dores e os prazeres sempre foram. Hilda Hilst sexualidade em meios bem comportados. Ela. Urna délas tinha na cabcya um fino chapéu de florzinhas e rendas. deleitosas. nüo retirava dessas palavras a evidencia obscena: é a obsccnidade que as faz forte. É muito melhor!”. Sobretodo para os jovens. as pulsóos do e extrema competencia estavam tres damas com seus lindos vestidos de baba desejo.e nisto entra sua identiíicayao com os caes. ñas obscenidades expostas revelam-se inti­ midades universais. nüo acredito no q u e estou ven d o . que se transformen em París. Ele desencadeiu poderosas obsessóes e na mais desenfreada grosseria escritos de Hilda Hilst. porétn. Hilda llil. com violencia. Os desejos. afastando qualquer humor sórdido. talvez seja difícil hoje. a carne.o eorpo. piroca. culturalmente softs Mas nao menti gozo prazer lascivia ticados. que estava apuixonada por outro. alma feita de carne e de sexo. Hilda 1Iilst investía algo dc sagrado. tatuadas com infinito esmero perm anece nos seus escritos mais admiráveis. o rapaz que a apresentava para um audi- Jubila-te da memória de coitos e de acertos. Era o seu modo mais ¡mediato de lanyar. Macho mesmo. Aqucle Outro. Sua espiritualidade é a mais carnal. os ossos.” Depois: “ Já que nao consigo vender mens livros. Ela ficou muito brava. Porque do vivido ao escrito nao há ruptura. Obriga-me. quero escrever historias de sacanagem para caminhoneiros baterem E por que haverias de querer minha alma punheta!". héteros.algumas de presente. visível que metamorfoseia o chulo em sorridente sofisticayüo: A s declarayoes abusadas continham encrgia subversiva. cíes também. equilibrio. Quando ela me mostrou o texto acabado. reviravoltas e provocayúes. todos eles. nela. muito loiro e de olhos claros. Essa intensidade nüo é urna pose. Naquela uoite. Eu fui para os Estados Unidos e nosso contato rareou. novamcnlc. Ela irradia felicidade enternecida. a sua chácara. Está grata pela homenagem. revelou ser seu amante. Quando a velhíce avanyou. iot ti. Ela sofría com o sentimento de nao ser reconhecida á altura de seus admiráveis escritos. e eu ia. Fiquei decepcionadíssima. por milagre. nao é justo. nos telefonávamos com frequencia. Para onde foi a J lilda Hilst desbocada. a Marina de Vinccn/i. um universo de belezas inquietantes. me levou a escrever um texto para a Fallía de S. t u eslava aeompanbaila dc urna amiga. Marlon Brando apareeeu com um extraordinario robe de seda. Hilda Hilst. i:. Mas eu nao conseguía essa aprosimat. quando 01190 um tropel na escada.". e tneio ríe pileque. foi edueadtssimo. resolví irao hotel onde ele estava. o que pode ser bonito e comovente. frágil. para a lingua e para a cultura brasileiras. foi em 2000. aeotnpanhado d<> ator francés Christian Mart|uand. e os chamados "Jorge Coli! Jorge Coli!". Disse-llie que quería fa/er urna entrevista. de vez em quando. anda? Um cristal frágil? Sua voz faz-se caricia ' Como varias das historias que fa/citi a laografía de I lilda. dei unía linda gorjeta ao porteiro e perguntei o número do quarto dele. que transcrevo aqui: Qual a boa metáfora para descrevé-la: urna pluma? Urna flor deli­ cada que. Eu sofria também. bati na porta esperei tins de/ minutos. Ela era que vinha me dizer o quanto (reara feliz com o texto do Le Monde. essa tem mais de unta versáo. Paulo.. Estou certo que hoje mudaram de ideia. M e vi obl igada a aguentar o Dean bébado varios dias e. “Sou melhor do que tudo o que está por ai!”. Paramos ai. avanzando de bravos dados com Lygia Fagundes Telles. A divida nao é déla. Hilda”. Af ele falou: "Só porque vocé é bonita ocha que podi acordar um homem a essa hora da noiter". ñas visceras. de torn enérgico. Clieguei Id. indo bus­ quería muito eonheeer o Marlon Brando. in te rro g a te s m etafísicas em modos antes 110 quarto e dormir com ele. Mas eu só olhava para os pés dele e nao sabia o que di/er. Essa emoyac. numa exposiyao a ela consagrada pelo Sesc Pompeia. mas eu nao conseguí entrai car ñas carnes. com colegas especialistas em lite­ ratura que olhavam de alto para sua obra e que sorriam desdenhosos quando eu lhes mostrava um ou outro poema. (N.-áo de jeito nenhum. Na verdade. m ane­ sao de I lilda em H co lienta (¡itíimin me enteudcm : entreliños com I lili lo ¡lils l (Biblioteca Azul.. na minha medida. achava-o lindo. num terceiro andar. anos depois. A últim a vez que a vi.) . como ele nao me apresvntava o Marlon. lile aehoii grava. M arquand. novo. ele tinha eseolhido o ignorados. a mais bela e a mais terrível das bruxas “vamp” se transformou numa fada. Porque foi ela quem carreou. Ela me disse ape­ nas “Entao. é nossa para com ela. mais fragilizada. Segundo a set tímida. em mim até agora. dizia. Fiquei muito comovido ao vé-la. “ I o jando palavroes que abalaram bem-educados e bern pensantes? Aos setenta anos. e entao me tornei namoradinha do I)ean Martin só para liear porto do Marlon. que. teve o apoio de varios amigos. A partir daí. Estava em minha sala.A primeira vez que vi Hilda Hilst foi em 1985: eu acabara de ser contra­ tado pela Unicamp. vocé veio”? Respondí: “Claro. único.
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