Dos Saberes a Pratica Pedagogic A Na Educacoo Infantil

March 23, 2018 | Author: iomor1 | Category: Preschool, Learning, Sociology, Pedagogy, Schools


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DOS SABERES Á PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL PROF. DR. THOMÉ ELIZIÁRIO TAVARES FILHO RESUMO Este trabalho tem como objetivo estimular a valorização dos saberes infantis nas práticas pedagógicas, tendo como público alvo os professores, pois estes estão em contato direto e envolvidos com as crianças no cotidiano escolar. Tendo conhecimento da relevância dos saberes infantis estuda-se o que é preciso fazer junto à equipe pedagógica para articular esses saberes no processo de ensino-aprendizagem. Desenvolveram-se estudos teóricos, com atenção especial a Piaget que partiu de uma concepção de desenvolvimento como um processo contínuo de trocas entre o “organismo vivo e o meio ambiente”, a Vygotsky no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal e a Freinet onde o centro da sua pedagogia é como a criança apreende conceitos, sua aprendizagem relacionada com vivências, com saberes e fazeres. A priori, o trabalho buscou na literatura autores que militam pela educação infantil cidadã, sendo esta o alicerce de todo o processo educacional. Assim, com essas perspectivas, consideradas durante observações numa escola particular de classe média, foi observado que as práticas pedagógicas alinhavadas aos saberes infantis são aporte de aprendizagem significativa. Palavras-chave: saberes infantis, práticas pedagógicas. ABSTRACT The aim of this work is to stimulate the valorization of childish knowledge in the pedagogical practices. The public target is the teachers, since they are in direct contact and involved with the children in the school daily. Having knowledge of the children knowledge relevance, it’s studied what it has to be done with the pedagogical team to articulate this knowledge in the process of teaching and learning. Theoretical studies has been developed with special attention to Piaget, who thinks that the development is a continuous exchange process between a live organism and the environment, to Vygotsky, in the concept of proximal development zone, and to Freinet where the center of his pedagogy is how a child seize concepts, and their learning with experience, knowledge and activities. It was researched in the literature authors that fight for citizen childish education, being that, the foundation of educational process. Thus, based on perspectives observed in a middle class private school, it was noticed that the pedagogical practices articulated with the childish knowledge are the means of significant learning. Keywords: childish knowledge, pedagogical practice. 1 1. INTRODUÇÃO Ao iniciar este trabalho me dei conta do que penso e sinto sobre educação infantil está intimamente relacionado com minha vida. São teorias, práticas e emoções que fazem a professora e aluna se fundirem numa só expectativa, direcionando o meu olhar sobre a Educação Infantil, um olhar que não nasceu só na academia, mas é talhado dia-a-dia com experiências dentro da escola e no meu relacionamento direto com meu objeto de estudo; as crianças. Foram anos de convivência com sujeitos tão singulares, ensinando e principalmente aprendendo com elas... crianças. Assim, nasceu esse trabalho, nasceu do medo que em um mundo não muito distante será quase impossível encontrar crianças jogando bola, brincando descalço, descobrindo o mundo em brincadeiras de fazde-conta. Um grande medo que a escola deixe de perceber a importância dos saberes infantis e participe efetivamente do encurtamento da infância, num processo de desconstrução da identidade infantil, e é neste caleidoscópio de práticas e teorias que a importância da Educação Infantil se faz presente, o verdadeiro desafio da Educação Infantil é perceber que seu objetivo não é de transmitir conhecimento, ou de construir aprendizagens sem significados, mas de enriquecer os saberes das crianças, tirando proveito do grande repertório lingüístico, comportamental e vivencial que esses pequenos levam consigo para a escola. A contribuição dada por Regina Leite Garcia (2001) é que a infância vem sendo encurtada por fatores históricos: “seja pela mídia, seja pela miséria e pela contravenção” e por diversos fatores que levam nossas crianças a destinos diversos, uns já trabalham, outros são escravos da televisão, do computador e do videogame. Assim, nós educadores comprometidos com a infância, que lutamos em prol de uma Educação Infantil que valorize a criança, temos que considerar que apesar dos percalços da nossa história todos são crianças, diferentes sim, mas com saberes particulares, pequenos sujeitos que possuem saberes inerentes ao seu universo infantil. Saberes esses que não podem ser desperdiçados dentro da escola, pois é a partir desses saberes que a construção da aprendizagem se torna significativa. A escola deve ser um espaço que passe por cima desta adultização precoce e resgate a infância como prioridade para o ensino/aprendizagem. Quantas crianças sonham com a escola e entram nesse sonho com perdas, pois são desprestigiadas em seus saberes. Não se pode precisar uma escola generalista com discursos precisos sobre aprendizagem, dificuldades e comportamentos, com propostas pré-concebidas de como ensinar. Tanta padronização gera um discurso estereotipado, que visa atender a determinadas crianças, fica claro que uma escola aberta aos saberes infantis deve buscar ferramentas para o ensino nas salas, mas também além delas. Freneit já fazia uso dessa metodologia nas aulas passeios, onde o saber próprio era alinhavado com vivências do dia-a-dia em prol da construção da aprendizagem. Nós professores temos incutido em nossa formação o reproduzir o que aprendemos, assim tirar esse manto que encobre os prazeres do ensino/aprendizagem, é descobrir que a vida ensina coisas que não se aprende na escola, e é preciso que professores e alunos partilhem saberes que irão constituir uma educação significativa e prazerosa. Vygotsky e Piaget, nas suas concepções interacionistas, priorizavam a corrente teórica construtivista, apoiando-se na idéia de interação entre o sujeito e o meio (ambiente ou social). A aquisição de conhecimento é um processo construído pelo indivíduo durante sua vida. Práticas pedagógicas alinhavadas aos saberes infantis levam a situações privilegiadas de aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de conteúdos temáticos. na escola aprende”. de explicar o mundo que as crianças trazem para o cotidiano da escola. do saber/fazer ou do fazer por fazer. Sua vida não é reconhecida como objeto de conhecimento e real articuladora de seu conhecimento sobre o mundo”. não são consideradas na pré-escola. as relações que estabelece. Num profundo momento questionador me aproprio da pergunta da professora Teresa Esteban (2001. pois é a articulação entre esses conhecimentos prévios e a prática docente que o prazer em apreender significados e sentidos se faz prazeroso e a aprendizagem se torna real. articulando educação e inserção social. as informações que possui. A Educação Infantil deve apreender as formas de saber. Atentos a ensinamentos de Piaget e Vygotsky e tantos outros teóricos. o fato de ser um sujeito participante da vida social. observar a criança no seu fazer e descobrir nesses fazeres caminhos de aprendizagem significativa e desconstruir a idéia de criança receptáculo de informações sem sentido. rica e encantadora. É nesta etapa da Educação Básica que fortes alicerces devem ser constituídos para que a aprendizagem seja sadia. se faz necessário buscar significados na história de vida das crianças que serão alinhavados a teorias que trarão subsídios às propostas pedagógicas. e que pertence a uma determinada classe. Essas devem priorizar trocas de saberes.21).( Esteban. . pensamos que a Educação Infantil é onde tudo começa e nos deparamos com uma dualidade. nossos professores devem procurar na prática não um saber. é o começo do prazer ou do desprazer. “A criança é vista como material a ser moldado.2 Uma criança nunca pode perder a curiosidade a respeito do mundo que a envolve. e esse certamente há de ser um grande objetivo da Educação Infantil. p. Assim. “Educar ou Formatar?” Que educação infantil vislumbramos para nossos pequenos? Pensando no resgate dos saberes infantis enquanto aporte para prática pedagógica vêm se descortinando a falsa idéia que na “pré-escola se brinca. Os conhecimentos que traz. p.25) Priorizar o que a criança sabe é uma ponte para intervenção docente. pois. do sucesso ou do fracasso. mas os múltiplos saberes do universo infantil. 2001. para que isso aconteça. as habilidades que desenvolve em seu cotidiano. Com esses princípios norteadores. pois a preocupação neste momento da história era assistencialista. A criança. Só a Constituição deste mesmo ano (1988) que reconheceu o ensino infantil. é o momento que atribuí significados àquilo que a cerca. Até o século XIX a criança não era considerada um ser pensante. A reivindicação por uma Educação Infantil de qualidade começa a ser embrionada e a luta em considerar os saberes e fazeres inerentes a criança como parte de uma educação cidadã será a chama que acenderá as lamparinas que irão iluminar o caminho da Educação Infantil. ao contrário do que era considerada no passado. ou seja. visando afastar as crianças pobres do trabalho servil que o sistema capitalista em expansão lhes impunha. um caminho cheio de percalços. A educação da criança pequena carrega uma herança histórica de abandono. a partir do século XIX.3 2. e o desvinculou das políticas de assistência social. Embora nos anos 80 pesquisas já mostrassem que os seis primeiros anos da vida são fundamentais para o desenvolvimento do homem. foi nos meados de século XX que a pedagogia começou a se interessar pela educação da criança pequena. em 1996. a pré-escola tinha como função principal a guarda da criança. quase um objeto. tem sentimentos e emoções. pois a pré-escola é intitulada a suprir as “carências” culturais. alcança uma dimensão que perpassa a proteção e a assistência. crianças que eram consideradas sem saberes. A criança vive um momento fecundo. Com a Lei de Diretrizes e Base da Educação. até 1988 a criança com menos de sete anos não tinha direito a educação no Brasil. ou seja. sua pobreza e negligência de suas famílias. oferecer condições que diminuíssem a mortalidade infantil. mais relacionada a idéia de educação do que de assistência. respeitando as individualidades e as formas de aprender e é nesse caminho que projetos para uma Educação Infantil cidadã vão sendo construídos. 2. Eram as creches que surgiam. é ativa no mundo. A LDB e o . nos dias de hoje. uma nova função passa a ser atribuída a pré-escola. econômicas e políticas que ocorrem na Europa. História da educação Infantil A necessidade por pré-escola aparece. o relacionamento com as crianças. mas com idéias e ideais que remetem a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica. na medida que visava compensar as deficiências das crianças. A importância da Educação Infantil começa a ser revelada na concepção de criança como sujeito histórico e social. historicamente. e aponta para um objetivo mais amplo que é o de educar. a educação infantil foi considerada a primeira etapa da educação básica brasileira e os municípios adquirem a responsabilidade por essa formação. OS PRIMEIROS PASSOS NA CONSTITUIÇÃO DE TEORIAS E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL A discussão sobre a identidade da educação infantil tem constituído um tema desafiador para aqueles que se têm dedicado a ela como objeto de estudo vislumbrando uma Educação Infantil de qualidade que respeita a criança como sujeito detentor de saberes. nas suas interações com as pessoas e com as coisas do mundo. uma educação “compensatória”. Neste sentido. Uma idéia que anda na contramão dos saberes infantis. assim. com caráter assistencialista. além de servir de guardiãs de crianças órfãs e filhos de trabalhadores. mostra-se como um ser que pensa.1. como reflexo direto das grandes transformações sociais. assim. A criança deveria ser “educada” e não apenas “cuidada” (no sentido de assistencialismo). lingüísticas e afetivas das crianças pobres. 15) Respeitar a criança como sujeito de direitos é o caminho que temos para compreender que a infância é uma fase em que se forjam as melhores condições para serem criados adultos felizes. promover a ampliação das experiências e dos conhecimentos infantis..4 Parecer sobre educação tentam reverter o quadro em que se encontra a educação infantil exigindo dos municípios e Estados que fiscalizem essas instituições. estimulando o interesse da criança pelo processo de transformação da natureza e pela dinâmica da vida social. conquistada na LDB.(Freire. “Os sonhos são projetos pelos quais se luta. assim. “(. mas não foi o que ocorreu. seus prazeres e dissabores. 2000. um pequeno e importantíssimo cidadão.54) . já é objetivada pelo MEC.. a transformação do mundo a que o sonho aspira é um ato político e seria uma ingenuidade não reconhecer que os sonhos têm seus contra-sonhos”.. “A luta. Na verdade. que apesar de não ter valor legal pode nortear a prática docente. Algumas armadilhas ainda trilham o caminho desta educação cidadã como o Referencial Curricular de Educação Infantil.” (Kramer. para incluir todas as creches nos sistemas públicos de ensino é para garantir que essas instituições não tenham apenas um caráter assistencialista e se preocupem em dar uma educação adequada à idade das crianças matriculadas. com objetivos e normas bem traçados direcionando à uma educação de direito e qualidade..15) “sem paixão não poderia existir a condição do conhecimento”. A prática docente com alunos de até seis anos deve contribuir para estruturar os alicerces sobre os quais eles prosseguirão constituindo conhecimentos e valores ao longo de toda a vida. p. essa etapa do ensino que vem ganhando destaque e mostrando sua enorme relevância na formação do desenvolvimento humano é a realização de sonhos e desejos de educadores comprometidos com a construção do humano em todo sua complexidade do nascer até. (. diretrizes e uma série de documentos que escritos de forma objetiva e clara têm influenciado a construção da educação infantil com responsabilidades acreditando ser esta o pilar de sustentação de uma educação de qualidade. motor. A escola cidadã..(BRASIL. tirando do RCNEI o valor de um trabalho democrático em parceria com o governo.31). p. a priori esse documento tão importante desconsiderou as sugestões dos especialistas desta área. E como disse Madalena Freire (1893. liberdade. o espaço de educação infantil que respeite a criança como sujeito de direitos – nosso pequeno ser social. pois são os primeiros anos de vida da criança que determinam o seu desenvolvimento. 1994. e contribuir para que sua interação e convivência na sociedade sejam produtivas e marcadas pelos valores de solidariedade.)favorecer o desenvolvimento infantil nos aspectos físico. educar bem as milhares de crianças entre 0 e 6 anos de idade do País é um desafio que pode mudar o futuro do Brasil. pareceres.. emocional. assim. 1997. p. “foi um grande retrocesso em construir uma política democrática para as crianças”. Segundo Aristeo Leite Filho (2001. p. cooperação e respeito”. suas deficiências. quando digo armadilhas falo da desconsideração da voz popular em participar da política de educação de nossos pequenos cidadãos. social e intelectual. A Coordenação Geral de educação Infantil com parceria do MEC contribuindo com leis. seria um material construído com apoio de sociedade civil.) Implica luta. especialistas e a sociedade civil. p.68) Em defesa da educação infantil muito se tem feito: A formulação de uma Política Nacional de Educação Infantil que norteia os preceitos desta educação. quem sabe também a realizações de seus sonhos. ou seja. aprendizagem social (aquisição de valores. Pensadores que contribuíram para a Educação Infantil Na perspectiva interacionista. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade mas sim fruto de um intenso trabalho de criação.1. assim. como em classe. As crianças são singulares refletindo em seus saberes suas particularidades. investigou o processo de construção do conhecimento. Esses pequeninos sentem e pensam o mundo de um jeito próprio. Vygostky e Freinet a respeito da infância. 2. na maturidade. Porém são nas considerações de Piaget. Ou seja. Os pressupostos básicos desta teoria é o interacionismo. Ao longo da História da Educação autores como Montaigne (1483-1553) sustentavam que a educação deveria respeitar a natureza infantil. a partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de muitas outras crianças.2. além de ter comportamentos típicos a sua condição: ser criança. não somente em grau. da construção social da criança que faremos um link entre saberes infantis e práticas de ensino. Por ainda lhes faltarem certas habilidades. que a todo o momento interage com a realidade. apenas a sua natureza infantil. procurando entender os mecanismos mentais que o indivíduo utiliza para captar o mundo. 2. Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir de interações que estabelecem com outras pessoas e com o meio em que vivem. onde a construção da aprendizagem se faz a partir de trocas de conhecimentos e vivências podemos tirar substratos valiosos de pensadores e educadores que pensavam a educação infantil como significativa. vimos também na concepção de Rousseau (1533-1592) uma proposta pedagógica mais centrada na criança. essa interação com o ambiente faz com que construa estrutura mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. operando ativamente com objetos e com pessoas. a criança como sujeito social e histórico faz parte de uma organização familiar que faz parte de uma sociedade respaldada por uma cultura e um momento histórico. Piaget. e nessa trajetória correntes explicativas relatam que o ambiente é o principal elemento de determinação do desenvolvimento humano. A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo é uma teoria de etapas. Jean Piaget (1896-1980) estudou a evolução do pensamento até a adolescência. a criança é concebida como um ser dinâmico. costumes e padrões culturais e sociais) e . estimular a atividade da criança e associar o jogo à aprendizagem. diferentes concepções de crianças têm sido traçadas na psicologia. a idéia de construtivismo seqüencial e os fatores que interferem no desenvolvimento. partiu de uma concepção de desenvolvimento como um processo contínuo de trocas entre o “organismo vivo e o meio ambiente”. No processo de construção do conhecimento. linguagem.5 Como vimos podemos entender criança como um ser diferente do adulto.2. significação e ressignificação. Piaget e o processo de construção do conhecimento Tomando como ponto de partida que o desenvolvimento humano é um processo em construção. exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos). uma educação voltada para criança. comportamentos que apontam a criança como ser atuante na sociedade e que atua em papéis que dependem da sua relação familiar e da classe social e econômica que está inserida. concluiu que em muitas questões cruciais as crianças não pensam como os adultos. diferenciado na idade. Assim. uma teoria que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. Deixando claro que não se pode analisar a criança descontextualizada. Como mencionado a criança ao constituir seu meio o modifica e será modificado por ele. Seus saberes fazem parte da sua constituição como sujeito na nossa sociedade. sofre marcas do meio social em que se desenvolve e vice-versa. e não apenas um receptáculo de informações. Piaget considera que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos). as crianças utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. a maneira de pensar é diferente. Piaget não propõe um método de ensino. A educação na visão Piagetiana. a criança é aquela que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo. Nesse processo. a aprendizagem e as relações entre eles. Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal: a importância da intervenção pedagógica Lev S. cujo significado é o de uma adaptação progressiva ao meio físico social. mas. desde o nascimento da criança se constitui como sujeito e seus estudos a respeito da criança e da aprendizagem recorrem a uma linha interacionista. inventivos e descobridores". de pessoas críticas e ativas. tendo como principais objetivos educacionais à formação de homens "criativos. o aprendizado dos conteúdos e a interação social que acontece na sala de aula. mas. Tal adaptação vai se constituir em um equilíbrio. todo organismo vivo procura manter um estado de equilíbrio ou de adaptação com seu meio. a qual permite a assimilação de experiências de muitas gerações. na medida em que o conhecimento não é concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente pela criança. Os temas centrais nos trabalhos de Vygotsky são a respeito do desenvolvimento humano. em que a interação entre o sujeito e o objeto permite que o primeiro possa incorporar a si o segundo (assimilação) levando em considerações suas particularidades (acomodação).2. despertado e acentuado pela vida social e pela constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos. A educação caminha tensionada pelos conceitos de ensino/aprendizagem. . 2. sendo essa teoria considerada histórico-social. sendo o alicerce da teoria de Piaget.6 equilibração (processo de auto regulação interna do organismo. promovendo a descoberta e a construção do conhecimento. na qual o sujeito é sempre um elemento ativo. Segundo ele. e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo. Para ele. com base nesses pressupostos. que procura ativamente compreender o mundo que o cerca. agindo de forma a superar perturbações na relação que estabelece com este. sendo um processo dinâmico e constante. que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido). propondo atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessivas. Surge a noção de equilíbrio/equilibração. Vygotsky deixou grande contribuição sobre vários aspectos do desenvolvimento e aponta o aprendizado como uma das funções psicológicas organizadas pelo homem e pela cultura. e que busca resolver as interrogações que esse mundo provoca. portanto. nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou pelos adultos.112) A escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança. O processo de formação do pensamento é. elabora uma teoria do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos. o ambiente sócio-cultural vai ser fundamental para desencadear o aprendizado e o desenvolvimento.” (Henriques. deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico em todas as etapas do desenvolvimento descritas por Piaget. a infância vai representar uma etapa biologicamente útil. Não é um sujeito que espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um ato de bondade. Vygotsky (1896-1934) construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico. como resultado de uma interação. as concepções infantis combinam-se às informações advindas do meio. “Para Piaget. Para construir esse conhecimento. 2001. Segundo Piaget. enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. p. e na busca constante da construção da autonomia. ao contrário. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.2. agindo de forma a superar perturbações na relação que ele estabelece com o meio. A criança para obter sucesso na vida escolar deve aproveitar ao máximo as oportunidades mediante o ensino do professor. . Qualquer situação de aprendizagem com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia. onde a prática pedagógica prevaleça baseada nas relações sociais e nas ações de todos. onde professores podem exercer uma posição fundamental no sucesso escolar dos alunos. assim. é apropriar-se dos saberes das crianças em prol da aprendizagem. já que sabemos que o conhecimento é estruturado pelos sujeitos que aprendem na interação com os outros. cabe a escola ser espaço e tempo de cidadania. Ele usou esse termo para se referir à distância entre o nível de desenvolvimento atual (determinado pela capacidade de solução de problemas. é fazer da escola um lugar de aprendizagem mútua. A zona de desenvolvimento proximal permite que a interação entre criança e professor seja transformadora. é um resgate vital que a escola precisa fazer para que seus pequenos . é neste sentido que será apontado o desenvolvimento do sujeito. para a experiência de vida do sujeito. a educação tem uma visão prospectiva e é neste momento que o conceito vygotskyano de zona de desenvolvimento proximal serve para iluminar o caminho da educação. É necessária a mudança da dinâmica do processo educativo.) o aprendizado das crianças começa muito antes de elas freqüentarem a escola.) De fato. Só uma educação transformadora permitirá o desenvolvimento da identidade do aluno. A escola diante da diversidade de seus pequenos alunos tem o papel de fazer com que essas crianças independentemente da sua origem avancem na sua compreensão do mundo a partir de seu desenvolvimento já consolidado. atingiu seu nível de desenvolvimento real. a intervenção pedagógica assume um papel importante na aprendizagem escolar. acima de tudo. de sentido e de sentimentos. que é essencial para promover o desenvolvimento. universo social onde aprendizagem com significado dependerá muito da qualidade da relação entre educador e educando. porém já anuncia que saberá. É transformar a escola em espaço de vida. para tanto. No entanto. ver a escola como espaço de trabalho e construção do conhecimento. A interação entre os saberes de educandos e educadores é assunto que nos leva a refletir intensamente sobre aprendizagem. Está caracterizado assim. A condição primeira para a interação é a participação efetiva de todos os agentes que fazem parte do universo escolar. visando a formação não o adestramento da criança.(Vygotsky. É nesta interação que se destaca a importância que Vygotsky dá para a cultura. As pessoas vivem aprendendo coisas. ou seja. O percurso a ser seguido nesse processo estará balizado nos saberes e fazeres das crianças com respaldo no meio sócio-histórico-cultural em que vivem. É neste momento que falar da interação professor/aluno é.. 1998. A priori. um momento de nova aprendizagem e conseqüentemente de desenvolvimento. sem ajuda do professor. espaço essencialmente político que precisa de um tempo novo. p. aprendizagem e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. buscar novas aprendizagens com a ajuda de adultos que já tenham o nível de desenvolvimento real naquela atividade. conquistando um novo conhecimento para elevar seu nível de aprendizagem real. isto é. sem ajuda) e o nível potencial de desenvolvimento (medido através da solução de problemas sob a orientação ou em colaboração com as crianças mais experientes) A criança que desenvolve uma habilidade e é capaz de executá-la de forma independente. pode-se dizer que esta região abstrata é um vulcão em ebulição. (. é aquilo que a criança ainda não sabe. nesta perspectiva. entre o presente e o futuro da criança há esta região abstrata que é a zona de desenvolvimento proximal. é nesta linha tênue entre o não saber e o saber que está a zona de desenvolvimento proximal e a relação direta entre aprendizagem e interação. será um ponto de partida. O processo de ensinoaprendizagem escolar deve ser acionado com base no nível de desenvolvimento real da criança.7 “(. Para ele o desenvolvimento está atrelado à aprendizagem. A interação entre desenvolvimento e aprendizagem nos remete a esta grande contribuição de Vygotsky para a educação. é buscar nos fazeres das crianças uma proposta pedagógica que encante as crianças. a teoria aponta o nível de desenvolvimento potencial como grande engrenagem da aprendizagem e do desenvolvimento. Assim.. Concretizar tudo isso não é fácil.. isto é.110) A interação entre os indivíduos é extremamente importante para Vygotsky que destaca o papel do outro social no desenvolvimento e formula um conceito específico importante em sua teoria: o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal ou Potencial. pois. do movimento da escola moderna. São aulas que vão pontuar os saberes e fazeres infantis relacionando-os com o dia a dia das crianças... a aula–passeio foi a realização dessa decisão. Para ele.8 possam conhecer o mundo de forma plena. na verdade se está alienando-a da sua capacidade de construir seu conhecimento. socialização e inteligência. que saberes infantis sejam entrelaçados com a proposta pedagógica da escola. eis o ponto inicial da educação. Freinet é um teórico que se diferencia dos outros pelo fato de desenvolver uma pedagogia diferente. Segundo Freinet. partir de suas manifestações morais e sociais tais como se apresentam na vida livre e natural de todos os dias.2. segundo as circunstâncias.3. Celestin Freinet (1896-1966) foi crítico da escola tradicional e criador. e eu não posso comer ou dormir por alguém. experimentando. “A atividade espontânea. Freinet foi percebendo que existiam outras formas de melhorar o relacionamento entre as crianças e ele próprio. E é esta vida que precisa ser resgatada pela escola”. a história. sua aprendizagem relacionada com vivências. com as ciências. Assim. 1985. dos interesses dos próprios alunos a fim de propiciar relações mais autônomas. a escola se abria para vida. qualquer que seja.15) 2. professores e crianças. os professores o construam. uma escola transformadora. que se o interesse das crianças está além do espaço da sala de aula: Porque ficar dentro da classe? Freinet decide que suas aulas irão ao encontro dos desejos infantis. 1983. para que a escola possa contribuir no processo de construção de conhecimento da criança. horários e programas exigidos oficialmente. Freinet: experimentação e aprendizagem Quando pensamos numa formulação teórica freneitiana nos remetemos a uma criança que constrói seu conhecimento no fazer e refazer de atividades significativas. Só assim a busca do conhecimento não é preparação para nada. democráticas e livres. Começou a questionar a eficiência das rígidas normas educacionais: filas. . pois o período que a criança passa na pré-escola é de extrema importância na construção dos alicerces de sua afetividade. e sim VIDA. ou seja. o centro da pedagogia de Freneit é como a criança apreende conceitos. num mesmo fluxo de inquietações e buscas. impedindo que a criança e. Conhecendo cada vez mais a personalidade de seus alunos. A priori. Porque o ato de conhecer é tão vital como comer ou dormir. Partir da atividade espontânea das crianças. partir de suas atividades manuais e construtivas. são observações diretas que despertavam os interesses infantis. é caminhar junto. numa simples observação do desabrochar de uma flor muitos saberes foram colhidos. é necessário que cognitivo e afetivo caminhem juntos.69) Durante as aulas passeios as crianças podiam entrar em contato com a geografia.” (Freinet. deixa uma marca indelével e é com essa marca que a criança constrói seu conhecimento. partir de suas afeições. pois segundo Freinet um experimento. (FREIRE. na França. Questiona. com saberes e fazeres. p. que o conhecimento pode ser doado. críticas. de seus gostos predominantes. a interação professor-aluno perpassava a sala de aula. “Quando se tira da criança a possibilidade de conhecer este ou aquele aspecto da realidade. Assim. o que significava um despertar para compreensão do mundo. os acontecimentos previstos ou imprevistos que sobrevêm. Madalena Freire em seu livro a Paixão de Conhecer o Mundo nos mostra como é rentável uma prática pedagógica que siga o mesmo fluxo que seus alunos. de seus interesses. a educação que a escola dava às crianças deveria extrapolar os limites da sala de aula e integrar-se as experiências vividas por elas em seu meio social. aqui e agora. ou seja. então. que partia da vontade. A escola em geral tem está prática. também. todos se comunicavam informalmente discorrendo sobre os elementos de cultura adquiridos. Para ele ficou claro que o interesse das crianças estava fora da sala de aula e percebeu que nos momentos da leitura dos livros de classe o desinteresse era total. pessoal e produtiva. operacionalizando seus saberes em práticas ilustrativas. eis o ideal da escola ativa. p. Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular. trazendo uma gama de conhecimentos socializados nessas trocas de registros. pais e amigos. isto é. fazendo um verdadeiro intercâmbio cultural. . enriquecendo o trabalho de professores e alunos. necessariamente há mudanças". considerando que só o conhecimento possibilita ao homem um estado de equilíbrio interno que o capacita a adaptar-se ao meio ambiente. o estudo dos processos de pensamento presentes desde a infância até a vida adulta. defendendo o ponto de vista de que "se respeita a palavra da criança. pretendia um professor que incentivava as crianças em suas observações acerca do mundo e da vida e declarava que a riqueza das observações das crianças seria o gancho de práticas pedagógicas com sentido e sentimentos. onde privilegiar o saber infantil é o pilar de sustentação da educação. Freinet elabora toda uma pedagogia. Freinet com sua Pedagogia do bom senso abriu portas para que novas técnicas e novos instrumentos viessem facilitar o processo de aprendizagem. Piaget preocupou-se com variáveis do conhecimento. Piaget. pois. registros esses que eram socializados com colegas da classe. Vygotsky e Freneit pensadores que viam a criança como sujeito de suas práticas educativas. os saberes proporcionados por esses teóricos. amor e dedicação serão base para práticas educativas que se tornem significativas quando articuladas aos saberes infantis. alegria.9 Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental. Nessa troca de conhecimentos vislumbramos a Educação Infantil cidadã. Assim. com técnicas construídas com base na experimentação e documentação. questionava as normas rígidas e a forma de ensinar. de comparações de resultados. O método de Freinet proporcionava que dificuldades fossem respondidas a partir das trocas de idéias. esse sim. 1985. bom senso. Vygotsky na sua concepção interacionista via na relação professor aluno uma troca de saberes em prol da aprendizagem. Freinet buscava no seu método natural potencializar os saberes infantis com práticas pedagógicas vivas. postulava a figura do professor mediador. (Freinet. era a imprensa escolar dando notícia do que ocorria durante as aulas passeios. p. poderia articular saberes infantis com as práticas pedagógicas. que dão à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. sua principal preocupação foi a do “sujeito epistêmico”.78) Freinet foi um grande incentivador dos registros escolares. galhos fortes. imaginarei que os grandes pararão seu trabalho para fazer lugar para o brinquedo das crianças. se este pretende trabalhar numa perspectiva interacionista. que a sua sombra eu nunca me assentarei. como poemas. Plantarei uma árvore. crianças no balanço e muitos frutos carnudos. diferentes das armas dos homens de guerra e dos números dos homens de lucro. As árvores celebram a vida e com elas se inicia um futuro. a criança é uma pessoa capaz de aprender. basear a prática em princípios válidos e conhecer um vasto repertório de metodologias eficazes de trabalho. tão devagar.10 3. As crianças ensinam em toda sua plenitude e comemoram a vida em pequenos gestos.. O desafio de educar esses pequenos cidadãos perpassa pela prática do professor. A PRÁXIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Vou plantar uma árvore. E vou dizê-los.. com um adulto ou com uma criança. enquanto minhas mãos revolverem a terra: desejarei que haja pão para todos. .. sendo capaz de interpretar esses saberes em prol da aquisição de mais conhecimento. Mas o mais importante de tudo. (Rubens Alves – A Gestação do Futuro)1 São nas palavras de Rubens Alves que direcionei meu olhar dentro da escola. ao . Será o meu gesto de esperança. passarinhos em revoada. A escola observada prioriza a interação de adultos com as crianças e com o meio. Contarei minha esperança. A escola acredita que as crianças são ativas e seus educadores também. As tarefas de um educador de Educação Infantil são bem complexas. Escolhi este gesto porque as árvores são coisas mansas e tranqüilas. de educar e ser educada. não me foi permitido usar o nome da mesma. copa grande. Por toda a parte pode-se ver crianças produzindo.. As crianças aprendem com o outro. cheia de oportunidades para crescer para todos os lados.vale ressaltar que por motivos de andamento no processo de legalização da escola. Durante duas semanas estive dentro de uma escola participando. ou seja... Eu a amarei pelos meus sonhos que ela abriga. muito devagar. atuando como mediador entre a criança. criando. ouvindo relatos e convivendo com a rotina da mesma . conhecer os critérios que identificam uma educação infantil de qualidade.. procurando acreditar que a escola infantil é igual a uma árvore.. os seus saberes e o seu ambiente. é preciso saber a concepção de criança. Ela terá que crescer devagar. cantando e desenvolvendo seu potencial. sombra amiga. o Projeto Político Pedagógico da escola observada vem sendo construído com base nessas diretrizes. de forma prazerosa em contato permanente com a família e a comunidade.(Jacilene Mesquita Viana) 2 O encantamento de investir em nossa formação está em podermos atuar com qualidade e contribuir na formação do humano com dignidade e respeito.11 interagir com o outro e com o meio. como ser total. O desafio de compreender o desenvolvimento da criança num contexto coletivo. sei que essa não é a realidade da maioria das escolas de educação infantil. porém sei que essas pessoas tiveram sonhos e correram para alcançá-los. olhando a educação infantil com todo seu valor.. A essência das Diretrizes extraídas da versão integral do Parecer CEB 022/98:  Fundamentar-se em princípios éticos. o professor é o grande mediador deste processo.  Articular e integrar conhecimentos. o professor ativo organiza essas interações de forma a estimular e favorecer a aprendizagem. com incentivos a formação continuada. a sociedade que pretendemos. o investimento na educação infantil. Três professoras. tendo o diálogo e a interação como eixos do trabalho pedagógico. Em rodas de conversas com professoras pude perceber a importância de práticas onde os saberes infantis são articulados com saberes oferecidos na escola. é ter a certeza que a criança que tivermos mediado na sua formação surgirá diante de nós como biografia e retrato de nossa sociedade. ou seja. políticos e estéticos discutidos por toda a equipe. O centro é a criança. respeitar e fortalecer a identidade de todos os envolvidos. criando ambientes e situações que estimulam a autonomia e a criatividade da criança. é mais que uma atitude justa e oportuna. . pois se faz necessário um movimento dialético. e que direcionam suas práticas no foco do interesse infantil. uma direção: articular os saberes infantis em suas práticas Foi encantador encontrar professoras que respeitam as crianças. se a criança modifica o meio e o meio a modifica.  Aperfeiçoar os processos de gestão e o exercício da liderança educacional no Centro de Educação Infantil. Neste sentido. A dificuldade de trilhar esse caminho é grande. onde o trabalho de supervisão pedagógica é articulado com todos da escola.  Investir na formação profissional especializada para quem faz Educação Infantil. São sete diretrizes que podem delinear os projetos de uma escola de educação infantil. tendo em vista uma educação infantil de qualidade.  Educar e cuidar da criança. é tarefa de quem acredita que educação deve ser cultivada com propostas embasadas em teorias que visam o desenvolvimento integral da criança. onde respeitar a individualidade e a subjetividade faz parte de uma escola cidadã que valoriza os saberes infantis em prol da construção do humano. Ana Lucia (professora do maternal) e Patrícia (professora de música) fizeram relatos importantes das suas rotinas escolares. três olhares. sem a pressa do imediatismo. rotinas essas transformadas e enriquecidas com saberes plurais. respeitando a individualidade e a subjetividade de cada uma. que os saberes das crianças estão despontando como alicerce das práticas pedagógicas.. intelectual e social”. 3. “A infância é o momento propício para aguardar os procedimentos e ações adequadas a fim de que lhe sejam proporcionadas as condições de pleno desenvolvimento psíquico.  Reconhecer. completo e indivisível. justa e coerente. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil devem nortear a práxis dos professores. Ao mesmo tempo em que tive a oportunidade de observar professoras em uma escola que investe na formação das mesmas. Mônica (professora do jardim III). é um pensamento inteligente. investir no potencial humano que venha a ser revertido em benefício de todo processo de ensino/aprendizagem.1. com grupos de estudos. onde cuidar e educar se entrelaçam em propostas interessantes e estimulantes.  Avaliar a evolução das crianças e registrar seus progressos. seus saberes e necessidades. saberes infantis e saberes de professoras que apostam no seu trabalho e investem nessa aposta. mas com calma e perseverança. inclusive das famílias. trabalho individual e em grupo.(Ana Lúcia) “A realidade das crianças e a diversidade que trazem com elas deve ser o ponto de partida das práticas pedagógicas. musical. pois é este que vai guiar os primeiros passos das crianças dentro do universo escolar.(Patrícia) “Os saberes das crianças devem ser elo no processo de ensino-aprendizagem. As três professoras fizeram um pequeno relato da rotina escolar. elas experimentam sentimentos.(Mônica) As professoras partilham que a criança possui um discurso permeado de sentido. Noções de espaço e tempo. cênica. Seja. com esse aporte podemos fazer intervenções que valorizem nosso dia-a-dia na escola”. sempre valorizando os saberes infantis numa perspectiva construtivista. um momento mágico onde a criança se humaniza. a fala deve ser incentivada como forma de expressão de sentimentos. percepções e regras”. seus saberes são inerentes a sua constituição social. criar. Pensar a prática na lógica infantil é o primeiro passo articulador do processo que aborda a construção da aprendizagem a partir dos múltiplos saberes infantis.12 Olhar a Escola de Educação Infantil com responsabilidade. suas professoras não descuidavam de sua formação. sua realidade. o desafio de pensar as crianças como sujeitos de cultura e história. A prática na Educação Infantil com uma visão que aborde saberes infantis perpassa pelo olhar atento do professor. cuidar e educar de crianças faz parte da prática dessas professoras que tiveram muita boa vontade em me receber e contar as suas histórias. jogos e canções que digam respeito às tradições culturais de sua comunidade e de outras – valorizando a sua cultura e a cultura de outros povos. abrindo espaço para que os alunos possam explicar suas idéias e pontos de vista e fazer suas argumentações. Por meio destas atividades. brincadeiras. levando sempre em conta as possibilidades que todas as crianças têm de se desenvolver e de aprender e promovendo a constituição de sua auto-imagem positiva”. uma teia tecida com saberes particulares. Assim. são muitas as conquistas a serem alcançadas por elas. pensando a educação infantil com seriedade e olhando a criança como sujeitos curiosos e com uma enorme vontade de conhecer o mundo. pensar que esta criança possui uma bagagem sócio-cultural que faz parte de sua história de vida é o elo de articulação entre prática pedagógica e conhecimentos prévios. “A prática docente com alunos de até seis anos deve contribuir para estruturar os alicerces sobre os quais eles prosseguirão constituindo conhecimentos e valores ao longo de toda a vida”. concentração e muitas outras habilidades. enfrentando os desafios de pensar a pré-escola e a escola como instâncias de formação cultural. Era uma vez. relações com o meio ambiente.(Patrícia) 3 . jogos. Tudo isso desenvolve atenção. seja por meio de linguagem corporal. aprendendo a viver “brincando”. que podem narrar fatos e recontar histórias.(Ana Lúcia) “Os alunos devem participar de atividades que envolvam histórias.(Sonia Kramer)3 Numa conversa informal fui percebendo a visão de educação que as professoras priorizavam. é indicado promover a articulação entre os conceitos espontâneos que as crianças trazem de seu grupo social e os conceitos constituídos coletivamente na escola”. uma visão onde as crianças pequenas devem ter a oportunidade de expressar-se sobre sua vida. aprender. “A prática docente também deve favorecer o relato de experiências dos alunos. assim. “É preciso assegurar o direito de brincar. idéias e pontos de vista. pensamentos e opiniões. por meio da fala. neste cenário de caminhos difíceis e interessantes se fez possível essa práxis.. como sujeitos sociais”. uma escola que priorizava o saber infantil. quando nos remetemos aos saberes infantis mergulhamos num mundo fantástico de brincadeiras. além de muito prazer em viver. incentivo à tomada de iniciativas... histórias. onde espontaneidade e criatividade constroem regras sociais e morais.. e a articulação com a supervisão pedagógica é a sustentação de práticas interessantes e com forte embasamento teórico. Histórias sobre os saberes infantis 4 . conhecer o processo de desenvolvimento infantil. Tais detalhes ficam a critério dos professores e da escola. deixando claro que o bom senso não basta para educar crianças pequenas. Merendar. arrumar a sala de aula. Ana Lúcia e Mônica falam com desenvoltura de suas rotinas escolares. Como diz Madalena Freire. 3.(Ana Lúcia) “O dia escolar pode ter ou não uma rotina. conseqüências das mais graves. seriedade e muito riso”. Os erros educativos nessa fase têm. “Não existe prática sem teoria. o acolhimento. Há ainda aqueles que preferem que as crianças tomem. Convém lembrar que as decisões tomadas. “A primeira infância é um momento em que as estruturas fundamentais da pessoa são organizadas. Quando o professor aprova e expressa seu reconhecimento está alimentando a independência da criança. elas estarão se apropriando deste espaço.(Patrícia) A proposta de trabalho apresentada pelas professoras é recebida com entusiasmo na escola. Entendo ser importante. como não existe educador que. fechando um elo com escola e saberes infantis.2. Alguns educadores preferem estabelecer horários fixos para realização de algumas atividades. as músicas. ouvir histórias e cantar são atividades que podem ser realizadas em grupos”. “Articular os saberes infantis com propostas pedagógicas condizentes com o universo infantil requer estudo e dedicação”. para os profissionais da educação infantil. cuidados e atenção. uma brincadeira na qual estão interessadas. as narrativas de história precisam estar presentes na educação infantil. sobre suas concepções de desenvolvimento infantil e a relação destes processos com o meio sócio-econômico e político que os cerca.(Mônica) “O professor deve valorizar e incentivar tanto atividades individuais. contemplando ou não maior flexibilidade.13 ”É importante dar às crianças a oportunidade de construir e reconstruir o espaço da sala de aula. enfatizamos sempre a natureza sócio-histórica e cultural deste desenvolvimento e o quanto ele é dependente do meio sócio-cultural que os cerca. o lanche juntas. praticando. não possa construir sua teoria. o educador precisa da inspiração do saber teórico. portanto.(Patrícia) Patrícia. de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem. assim como a circulações de saberes. porém.(Philippe Perrenoud)4 Nesta perspectiva a importância de provocar. Todas estas dinâmicas favorecem a interação social e a cooperação entre os alunos. a atenção. para estarem mais aptos no lidar com as crianças. trabalhando a sala de aula como espaço individual e coletivo”.(Mônica) “O cuidado. nos educadores infantis. com os materiais disponíveis. Outros preferem utilizar o tempo de maneira mais flexível em que as diferentes atividades são realizadas em horários variados. para poder recriá-lo. por exemplo. É portanto nesta reflexão que o educador descobre a relação dialética entre prática e teoria”. a prática pedagógica envolve conhecimentos e afetos. é dar sustentação a importância do processo de ensino/aprendizagem dedicados aos primeiros anos das crianças.(Mônica e Ana Lúcia) “É fundamental enfatizar as iniciativas de cada aluno de modo que se torne consciente de suas conquistas. quanto em duplas e em grupos. adequando-o à sua necessidade e à do grupo. sob a orientação do professor. todos os dias na mesma hora. É preciso oferecer aos professores da educação infantil um elevado nível de formação”. de modo que as crianças possam aprender e ensinar umas às outras. Outros preferem que a hora da merenda seja flexível para que as crianças não interrompam um jogo. um olhar mais crítico sobre o próprio trabalho. reforçando sua auto-estima e incentivando sua capacidade produtiva”. Desta forma. devem basear-se nos objetivos educacionais que se deseja alcançar”. já está em sintonia com as letras. trilhando a construção da aprendizagem com acordes bem interessantes ao universo infantil. resolver conflitos e principalmente trabalhar corpo e mente em verdadeira sintonia com ensino e aprendizagem. representa valores para a construção de uma vida mais justa e feliz. rostinhos eram pintados de tinta e emoção. em cantigas e em Faz-de-conta.Ana Lúcia continua seu relato. numa visão bem de Vygotsky. estavam tão felizes que fui cirandar junto. ela me respondeu que além de ser uma preparação para a alfabetização era uma descoberta da leitura. Ana Lúcia me falou sobre a importância dessa brincadeira na construção da aprendizagem e de noções de cidadania. aquieta e prende a atenção das crianças. “Neste momento o meu papel é de mediar o conhecimento das crianças. A priori. minha aula ajuda a socialização e desperta a imaginação das crianças”. estimulando o diálogo entre as crianças que não têm uma linguagem bem articulada. Observei na aula da professora Mônica mesmo as crianças que não sabem ler reconhecem as marcas de produtos. são nas conversas da rodinha que as crianças contam e ouvem experiências e vão percebendo as diferenças existentes entre as pessoas”. Os rótulos são selecionados com as crianças. onde o conhecimento é construído em interações e trocas de saberes colocando o aluno . guiar. As crianças encontram no trabalho com rótulos uma outra oportunidade de interagir com a linguagem. aprendem em conjunto. E mais uma vez Mônica contribuiu: “Temos que orientar. 3. Patrícia investe na criatividade da criança para dar encaminhamento em aulas alegres e musicais. os rótulos escolhidos articulam o processo de aprendizagem numa perspectiva construtivista do ensino de língua materna.. As crianças da turma de Ana Lúcia. com todos de mãos dadas. com materiais de um verdadeiro contador de histórias. aproximá-las do conhecimento que estão por adquirir. considerando ser este um relato de uma professora de maternal. assim as crianças usam essas” letras “em situações diversas”. desafiar. A história alimenta a emoção e a imaginação criando oportunidades de trocas e interação”. Criança: sujeito epistêmico As práticas realizadas pelas professoras têm grande investimento naquilo que a criança constrói a partir de conhecimentos prévios. Mônica. Segundo ela: “Ler rótulos ajuda na aprendizagem da escrita e da leitura.. sou fã de sua teoria”. as histórias das professoras foram contadas em rodinhas. “A história cantada ao mesmo tempo em que informa. A relevância de ter uma metodologia apoiada em teorias construtivistas. porém sua metodologia de ensino é pautada nesta perspectiva. panos envolviam corpinhos cheios de expressões e fantasias e vozes gritavam transformadas por personagens fantásticos. A professora Mônica não falou sobre Letramento. assim. a intervenção das mesmas priorizam aproximá-las de um conhecimento novo descortinando significados sociais. foi numa aula de leitura incidental que Mônica me falou de sua prática articulada aos saberes de seus alunos. ou seja. interagir com as crianças para que elas próprias construam os seus conhecimentos sobre como ler e escrever”. são meus pequenos cidadãos”. relacionam as imagens às letras. trocam saberes e conquistam seu espaço de falar. Patrícia ilustra sua prática: “a música faz parte do mundo de Faz-de-Conta. os saberes vindo de casa. do Jardim III. “a roda. ou seja. sendo assim. Canto e conto uma dupla que faz mágica nas aulas de Patrícia. Observei que Ana Lúcia valorizava a fala e estabelecia elos entre uma fala e outra.3. Foi na aula de música de Patrícia que vivemos no mundo do Faz-de-Conta. olhinhos brilhavam. “Oba! Estou de fantasia!” Patrícia com grande habilidade transformava aquele turbilhão de saberes em fazeres.14 As três professoras entrevistadas relataram momentos onde o saber foi o fio condutor do fazer pedagógico. Patrícia tem um perfil de contadores de história. são interessantes e simples criados para facilitar a memorização visual. cognitivos e afetivos. cantando e brincando de roda. fazendo a sua música mais um recurso para as aulas. Observei nas aulas de Patrícia que a oportunidade dada à criança de interagir com seu mundo imaginário permite a mesma a aceitar situações desagradáveis. “As conversas de roda contribuem para o aumento de vocabulário e são as opiniões das crianças que me ajudam na organização da rotina da escola e do planejamento da aula”. pois estar em roda requer aprender a falar e ouvir. Em sua observação final Ana Lúcia falou da sua simpatia pela rodinha: “na rodinha as crianças se descobrem. e elas são capazes de reproduzir frases que estão relacionadas aos rótulos escolhidos. quando perguntei se era uma preparação para alfabetização. de viver a aprendizagem. que desde a mais tenra idade coloque a criança em contato com uma imensa variedade de estímulos e experiências. Além disto. a educação da mais importante fase da vida humana para a construção da cognição e da afetividade numa perspectiva de conquistar o conhecimento. fatos e sonhos. p. “Procure saber se nessa escola existem espaços diferenciados para que. Não se trata de propostas vazias e sem fundamentos. valorizando o seu eu. (Antunes. para ouvir e inventar histórias. na medida que elas demonstram agir com inteligência e coerência. Deve ser uma educação. prazerosa. mais apoiadas em teóricos que traduziram a criança como sujeito epistêmico. seus valores e atitudes. de experimentar e construir conceitos de entrelaçar saberes em propostas pedagógicas voltadas para o conhecimento infantil.. de sua inserção social e ser capaz de atentar para o desenvolvimento infantil valorizando seu modo de ser. da capacidade de criar expectativas. princípios. possibilitando o exercício de ações que dêem sustentação para a construção de novos conhecimentos. quando possível para assistir o desafio da vida no parto de um animal”. contextualizada. 2004. seus conhecimentos prévios. criadora. palavras que trilham um novo paradigma para educação infantil. ou seja. ficando ao encargo do professor estabelecer recursos de desenvolvimentos para a criança. que se abre para o mundo e se manifesta plenamente através de diversas formas de expressão – necessita contemplar a criança inserida em um universo que influencia a formação de seus valores pessoais. sem descuidar do que se pretende a escola.15 no centro de interesse das práticas pedagógicas. conceitos. suas atitudes são pautadas em vivências e observações. para dramatizar e assistir dramatizações e. a sutileza do ouvir e compreender e a diferenciação entre a condição biológica do “enxergar” e a competência e a sensibilidade mental do “ver” e ainda espaços para criar. Uma visão educacional deste porte que acredita nesta criança ativa. fundada em varias experiências e no prazer de descobrir a vida.. sua espontaneidade. Nesta visão a educação infantil deve ser lúdica. . para descobrir e fazer arte. deve enfatizar os conhecimentos prévios da criança para que ela possa elaborar seus conceitos sobre o mundo que a cerca se reconhecendo como sujeito social.53) Patrícia. e absorvem as essências das mesmas. A experiência de conhecer crianças pequenas é muito interessante. privilegiando as atividades que levem as mesmas ao desenvolvimento da inteligência. delimitando seu espaço. em propostas que equilibram a iniciativa infantil e o trabalho dirigido com objetivo do desenvolvimento integral da criança. esperanças. de sua compreensão da vida. seus objetivos e projetos. onde o respeito pela criança é prioridade imprescindível. Mônica e Ana Lúcia partilham as palavras de Celso Antunes. conduzidos pela própria curiosidade ou levados a vivenciar a arte de dizer e de descobrir palavras. no entanto. seus códigos e símbolos e tudo mais que as crianças usam para se expressar.  As crianças podem compartilhar seus conhecimentos e saberes. crescendo com o mundo e com as pessoas que a cercam é imprescindível para revolucionar o currículo de educação infantil. da interpretação. Sonhar com uma escola de educação infantil que considere a criança como ser que pensa. UTOPIA. não são antecipadamente planejados pelos professores.   5 . mas é um grupo único. Estes projetos. Foi este educador quem constituiu um princípio de ensino em que não existem as disciplinas formais e que todas as atividades pedagógicas se desenvolvem por meio de projetos. Essa escola que faz sentido é a Reggio Emília. toda forma de expressão usada por elas. A Reggio Emília tem três grandes princípios norteadores das suas abordagens pedagógicas. da pintura. eles proclamam a abordagem. cidade no norte da Itália. nasceu o modelo de Educação Infantil onde a pedagogia desta escola é considerada como a melhor do mundo. Essa escola ficou universalmente conhecida pela sua abordagem pedagógica para a educação infantil. como a melhor do mundo pela revista norte-americana Newsweek. A capacidade criadora e a característica dos trabalhos desenvolvidos fizeram com que esta atitude típica de educar fosse avaliada. Após o término da Segunda Guerra. pois todas as da região haviam sido devastadas. Os seguidores desta pedagogia recusam o “método”. pois esses são decisivos nas escolhas dos projetos a serem desenvolvidos na escola. valoriza-se a colaboração de todos envolvidos na escola. na qual interesses e envolvimentos recíprocos devem permanecer e interagir para que um objetivo comum seja alcançado: o saber. que nasceu numa cidade no norte da Itália. As múltiplas linguagens se evidenciam através do desenho. pois essa palavra remete a procedimentos planejados e aprendizagens pré-determinadas. mas. decidiram erguer e administrar uma escola para os filhos. mas sua concepção pedagógica viaja pelo mundo e serve de inspiração para países de realidades bem diversas. as mulheres de Villa Cella. as mil linguagens das crianças. vislumbramos as realizações. SONHOS E REALIZAÇÕES Quando pensamos na realidade de nossas escolas e o que esperamos delas. em 1991. É a Pedagogia da Escuta que sempre deve estar atenta aos caminhos que as crianças propõem para aprender. da dança. A Pedagogia da Escuta5 têm que ter sensibilidade para ouvir as cem. O pedagogo e educador Loris Malaguzzi foi o criador da idéia da Reggio Emília. O mundo de conhecimentos não está dividido em assuntos escolares. sem enfatizar nenhuma. no meio de incertezas. A interação entre o adulto e a criança deve ser uma parceria. do canto. nos colocamos em buscas de realizações. sempre partindo de pressupostos que a criança é o centro desta pedagogia.16 4. sendo até hoje seu incentivador primordial. Pessoas que acreditaram na importância da formação inicial das crianças. divulgadas por distintas passagens que se somam na execução do projeto e nos saberes que são construídos. e nessas buscas cheias de utopias e repletas de sonhos. sua criatividade e imaginação por meio de múltiplas linguagens. e são desenvolvidos por meio de diferentes linguagens. que tem como princípio respeitar a maneira de cada um aprender. a curiosidade e os questionamentos de todos têm valor. onde certas áreas são sugeridas por meio de projetos com uma matéria de trabalho. age e interage. enfim. surgem através das idéias dos próprios alunos. considerando e reconsiderando. esculturas. Cem modos de escutar as maravilhas de amar. mas se encontra em permanente processo de “reexame e reexperimentação”. promove a formação por meio do desenvolvimento de diversas linguagens: expressivas.de jogar e de falar. A criança tem cem mãos. dos que mandam e dos que obedecem. imaginativas e racionais. A terceira lição envolve a natureza e a seriedade do relacionamento adulto-criança. que sempre se transforma um pouco. observando e reobservando. onde as mãos e mentes das crianças se entrelaçam em uma alegria criativa e libertadora. desenhado. colagens e música. arquitetônicas e pedagógicas. Uma importante lição que os professores de Reggio Emília transmitem aos seus colegas de todo o mundo é que. A evolução pretendida para as crianças da Reggio Emília não é linear e sim um espiral. são encorajadas a repetir experiências. uma vez que não existem lições pré-especificadas e formais que todas as crianças precisam aprender. a ferramenta para o pensamento. O sistema educacional Reggio Emília não representa uma obra acabada. principalmente na arte. teatro de sombras. Os educadores promovem os processos de aprendizagem cooperativos e o trabalho em conjunto. São relacionamentos que contêm interesses e envolvimentos mútuos e. As lições de Reggio Emília Uma primeira lição. cem pensamentos. sociedade e vida. que. “Ao contrário. fundamentado na imagem de uma criança com enorme potencialidade e sujeito de direitos. através de uma aprendizagem real. A criança é feita de cem. éticas. dançado. são diariamente encorajadas a explorar o ambiente escolar. É essencial que as crianças conheçam. instrução e construção do saber. talvez a mais significativa.17 A Reggio Emília têm nas diversas linguagens. curriculares. Tudo isso identifica e sustenta o Projeto Educativo global para crianças de 0 a 6 anos. O Projeto Educativo da Reggio Emília traduz a realidade cotidiana privilegiando a atenção principal à criança e não aos conteúdos escolares. cem modos de pensar. Cem alegrias para cantar e compreender. ou seja. as cem existem. nenhuma se destaca. ao contrário. as crianças não passam seqüencialmente de uma atividade para outra. dramatização. musicado. seria impossível não concluir com a importante mensagem de que nessa comunidade escolar a educação é sempre centrada no aluno e em seu potencial ótimo e que. comunicativas. Cem sempre. substituída por um relacionamento fundamentado em essencial parceria e centrado em torno de um projeto. Outra lição importante é substituir a visão de um mundo de conhecimentos organizados em disciplinas escolares.1. É essencial a descoberta de que o que aprendemos pode ser falado. expressado por diferentes vias. enfim. não possa existir a suposição de que virtualmente todas as crianças devam ser sujeitas à mesma seqüência de tratamento. por um outro em que as lições de todas as áreas do saber se insinuam através de um projeto no qual um tema de interesse dos alunos é proposto por eles foi eleito como prioritário. seus sentimentos e sua imaginação através de múltiplas linguagens e que. onde crianças pequenas. ocorre uma parceria de profunda relação afetiva e de plena interação pedagógica. é aceitar que as crianças podem comunicar seus pensamentos e seus saberes. entre elas. pinturas. com a alegria e com a vida. inclusive as portadoras de necessidades especiais. experimentem e respeitem todas essas vias e saibam descobri-las em sua relação com o mundo. formulando e reformulando sua concepção de mundo. Esse sistema educacional que encanta o mundo mostra-se integrado a um singular conjunto de suposições filosóficas. mas pode também ser interpretado. os professores e os pais podem criar múltiplos jogos e atividades que contribuam para o entendimento mais amplo do tópico que define a meta do projeto escolhido. . de alguma coisa. simbólicas. montagens. Uma escola feita de espaços. lógicas. quando o adulto se comunica com sincero e sério interesse pelas idéias das crianças em suas várias formas de expressão. Entre ainda outras tantas lições. Desaparece nesse sistema educacional a hierarquia dos que sabem e dos que não sabem. visando à conquista de algum saber. desenhos. metafóricas. Sua aprendizagem é um caleidoscópio onde idéias e ideais se fundam numa corrente de saberes e fazeres inerentes ao universo infantil. movimentos corporais. 4. cognitivas. e a expressar essa exploração através de todas as linguagens incluindo palavras. dessa maneira. de compreender sem alegrias. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. as cem existem”. Dizem-lhe: que as cem não existem. de fazer sem a cabeça. mas principalmente é uma abordagem repleta de realizações. A criança tem cem linguagens. o céu e a terra. 6 . pois é preciso sonhar antes de realizar. são escolas possíveis que não representam sonhos e sim realizações. Ter uma visão integral do aluno liberando suas potencialidades em prol do desenvolvimento integral do humano. a ciência e a imaginação. são realizações.. a razão e o sonho são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos. de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. participantes ativos e interativos. a realidade e a fantasia. do cidadão crítico e criador. A escola e a cultura lhe separam a cabeça do corpo. mas roubaram-lhe noventa e nove. é cheia de sonhos.. As experiências de escolarização e a trajetória de desenvolvimento de cada aluno são também únicas. (Loris Malaguzzi)6 Elas existem. Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho. as escolas que são capazes de proporcionar uma educação infantil com todas as possibilidades. A Pedagogia da Reggio Emília é uma realização que transpôs fronteiras e faz parte de muitas escolas que compreendem as crianças como detentores de múltiplos saberes e de múltiplas linguagens. Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e de cem roubaram-lhe noventa e nove. de escutar e de não falar.18 Cem mundos para descobrir. é essa a abordagem pedagógica que perpassa pela utopia. e como diria Madalena Freire “com uma enorme paixão de conhecer o mundo”. Escolas onde cada ser humano é único. A criança diz: ao contrário. assim. histórico. intelectual e social”. A preocupação e a responsabilidade com a educação infantil devem acompanhar todos aqueles que têm a tarefa de conduzir e orientar crianças em seu processo de crescimento e formação como pessoas. CONSIDERAÇÕES FINAIS “A Educação Infantil vive o seu grande momento. A compreensão que a criança é um ser participativo e ativo no mundo. transforma o relacionamento com as mesmas. daí a importância da atenção pessoal a cada aluno e do professor articulador. como a escola higienista ou assistencialista. A Educação Infantil tem que ganhar destaque na formação de seus pequenos. A Educação Infantil que coloca a criança no centro do processo . em todas as instâncias sociais. de explicar o mundo e a nossa existência. na medida que ao reconhecermos os distintos saberes. torna-se imprescindível a preocupação com uma educação de qualidade. autonomia. estando sua maior sustentação na letra da Lei 9394/96 que trata das diretrizes e bases da educação.19 5. portanto. Novas descobertas sobre a mente humana e a maneira pela qual ela processa a memória. num processo de aperfeiçoamento sem fim. Trabalhar com os saberes das crianças é um projeto de cidadania social. entendendo a importância da mesma na democratização da educação e na construção da cidadania. a ação e. tem sentimentos e emoções. .. reflexo de uma sociedade plural. respeitando sua individualidade e formas de aprender. A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e tem “como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade. aponta para um objetivo muito mais amplo que é o de educar. tendo a oportunidade de desenvolver sua identidade e autonomia. sepultam de forma definitiva dois preconceitos tradicionais que reduziam o sentido do trabalho pedagógico com crianças do nascimento até os seis anos de idade”. é a visão do aluno como ser social. a motivação. as considerações sobre os saberes que as crianças possuem já fazem parte da literatura que articula projeto pedagógico e conhecimentos prévios. curiosidade e saberes inerentes a infância. que possui formas distintas de saber. (Celso Antunes) 7 Há muito tempo a sociedade reconhece de forma premente a necessidade de educar nossas crianças. O que caracteriza a essência deste trabalho. que pensa e formula hipóteses “geniais” sobre a vida. Eliminando o estatuto dominante que ainda teima em ficar em nossas escolas. A Educação Infantil tem sido foco de estudos. estamos fazendo da educação um processo perpétuo e um alicerce central da proposta de uma sociedade mais justa e válida. assim. a aprendizagem. psicológico. estamos mudando o teor da escola reprodutiva. em seus aspectos físicos. escola e sociedade. alcançando uma dimensão que vai além da proteção e assistência. a atenção. deixando sempre o questionamento sobre a função da educação de nossos pequenos. um compromisso contínuo entre família. agente ativo do processo de construção do conhecimento. Dando ênfase à interação social.. responsabilidade. a linguagem. a emoção. toda instituição de educação infantil deveria ser um espaço onde crianças de até seis anos são educadas e cuidadas por profissionais bem formados. A Educação Infantil vem passando por formulações que alinhavam interesses políticos e econômicos. dinâmico. é preciso reconhecer a criança naquilo que lhe é próprio. o resgate da mesma como espaço privilegiado de construção de conhecimento nos remete a uma escola que trabalhe temas do interesse das crianças. criatividade e ao pensamento reflexivo para solução de situações problema. A Educação Infantil tem estimulado alunos a avançarem cada vez mais no enriquecimento de um repertório que levará à elaboração de novos conhecimentos. desenvolvendo as capacidades de ouvir o outro. VygotsKy e Freneit nos deram a sustentação teórica para encaminharmos práticas pedagógicas que privilegiam os saberes infantis numa aposta de democratização de saberes no interior da escola. que se revelam pertinente para o grupo de crianças”. do desenvolvimento da autonomia e da cidadania.20 de ensino aprendizagem prioriza propostas pedagógicas como meio e não como fim da aprendizagem. 2003. Para atender esse princípio. Defendo o que se aprende em interação com o outro. e não como os adultos gostariam que fosse. “Não seria bonito e verdadeiro se as escolas ao invés de se parecerem com linhas de montagem se parecessem com jardins”? (Alves. onde cada indivíduo tenha sua parcela de cumplicidade com a escola. “A criança só sabe viver a infância. as atividades têm sempre um caráter lúdico. E mais uma vez me remeto à professora Esteban8 que qualifica a educação infantil o espaço para formar e não formatar crianças dentro de padrões socialmente pré-estabelecidos. falar. 2001. socialização. Tomando como ponto de partida a educação infantil. Henri Wallon nos presenteia com palavras que ilustram essa perspectiva educacional. com informações. p. o educador tem de aprender a olhar a infância como ela é. que a vida seja elaborada em cores. significação e ressignificação. “A pré-escola torna-se mais um espaço de descobertas sobre a vida. p. onde as diversidades se encontrem e se completem. mas sim. partindo sempre dos conhecimentos prévios de cada aluno. desafiador e interdisciplinar. sabores e saberes. numa busca prazerosa de novos saberes. pois ali se reúnem crianças diversas. “As crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. discussão de hipóteses. fruto de um intenso trabalho de criação. A Educação Infantil tem a oportunidade de receber crianças sem as marcas da escola/linha de montagem. refletir questionar e argumentar.” (BRASIL. Juntos constroem novos conhecimentos disponíveis.21) Talvez seja essa a escola dos sonhos. Predispomos. que interagem entre si e com a professora.34) 8 . pois gera cooperação. A priori. Conhecê-la cabe ao adulto”. uma escola livre para apreender a curiosidade de seus pequenos e transformar essa curiosidade em momentos ricos de ensino/aprendizagem. Como se fossem jardins em plena luz da primavera! Quem sabe seja essa a função da escola/jardim. 1994. Partindo da premissa que socializar saberes é uma divertida forma de aprender. realidades e curiosidades diferentes. p. buscando uma aprendizagem significativa que desperte o prazer em aprender. educar cada criança para que ela possa desenvolver-se em sua plenitude.17) No processo de construção do conhecimento a interação entre as crianças é um momento muito importante. assim. Piaget. É o momento que se tem para formar crianças com toda essência de saberes. criativo. que também traz suas experiências e conhecimentos acumulados. Espaço privilegiado. (Esteban. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade. conflitos. e a riqueza das trocas. nossas crianças à curiosidade. Não podemos perder as sabias palavras de Nietzsche em nossa prática. (Alves. palavras que colocam a sabedoria infantil dentro da escola.) que transformam as crianças em adultos”.. p. criança que a escola trancafiou no quarto escuro. não podemos transformar a escola infantil numa “máquina de destruir crianças(. É essa sutileza do processo de ensino/aprendizagem que deve ser recuperada em nossas escolas de educação infantil. A essência da criança é livre seus saberes são construídos com experiências.38).” . uma criança tem tanto a ensinar quanto a aprender. palavras que libertam as escolas da estagnização. 2003.21 Podemos sonhar com a escola que não cristaliza o saber.. que não formate as crianças. As crianças socializam seus saberes em verdadeiras aulas. ”passaria o tempo todo à procura da criança que mora nos homens. palavras que dizem assim. e é no universo infantil que o pensamento voa e se liberta em brincadeiras e histórias fantásticas... São Paulo: EPU. São Paulo. Ministério da Educação e do Desporto.). PÁTIO EDUCAÇÃO INFANTIL. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : 1998b. Ministério da Educação e do Desporto. Ensino: as abordagens do processo. __________.). Petrópolis. Brasília : MEC/SEF/COEDI. essas desconhecidas tão desconhecidas. Ano 1. _________. 1993. Referencial curricular para a educação infantil: desenvolvimento pessoal e social. Marta Khol. Rio de Janeiro: DP&A. 2001. 2003. 2002 OLIVEIRA. volume 2. __________. Claudia. Maria Clotilde Rosseti (org. 2003 . Regina Leite e FILHO. São Paulo: Paz e Terra. 2004. GARCIA. OLIVEIRA. Regina Leite (org). Regina Leite (org. 2001. Cortez. 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