Dolabela

March 17, 2018 | Author: Ana Maria Bencciveni Franzoni | Category: Entrepreneurship, Economics, Economic Development, Innovation, Learning


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oficina do empreendedor14.09.08 23:30 Page 1 OFICINA DO EMPREENDEDOR oficina do empreendedor 14.09.08 23:30 Page 2 oficina do empreendedor 14.09.08 23:30 Page 3 Fer n an do D o l a b e l a OFICINA DO EMPREENDEDOR sextante. RJ D682o Dolabela. Brainstorming. por GMT Editores Ltda. Título.012.: (21) 2286-9944 – Fax: (21) 2286-9244 E-mail: atendimento@esextante. 45 – Gr.com. no Brasil.09. Rua Voluntários da Pátria. 1.br .404 – Botafogo 22270-000 – Rio de Janeiro – RJ Tel. Planejamento estratégico – Estudo e ensino.11 CDU 658. 2008. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. I.oficina do empreendedor 14. Apêndices Inclui bibliografia ISBN 978-85-7542-403-2 1. Empreendimentos – Estudo e ensino.2 Todos os direitos reservados. 08-1988 CDD 658.com.08 23:30 Page 4 Copyright © 2008 por Fernando Dolabela revisão Ana Grillo Luis Américo Costa Sheila Til projeto gráfico e diagramação Valéria Teixeira capa Raul Fernandes pré-impressão ô de casa impressão e acabamento CIP-BRASIL. Jovens – Educação. 4. 2.br www. Sucesso nos negócios. 3. – Rio de Janeiro: Sextante. 5. Fernando Oficina do empreendedor / Fernando Dolabela. Janice.09. André. meu pai.08 23:30 Page 5 Geraldo Pinheiro Chagas. Fernanda. Luísa e Pedro e também para Para . Eduardo.oficina do empreendedor 14. oficina do empreendedor 14.09.08 23:30 Page 6 . oficina do empreendedor 14.08 23:30 Page 7 Sumário PREFÁCIO AGRADECIMENTOS INTRODUÇÃO 9 11 12 PARTE I OS NOVOS PARADIGMAS CAPÍTULO 1 Razões para disseminar a educação empreendedora CAPÍTULO 2 Um panorama do empreendedorismo CAPÍTULO 3 Os conceitos CAPÍTULO 4 A Teoria Empreendedora dos Sonhos CAPÍTULO 5 O empreendedor visto sob a ótica das relações CAPÍTULO 6 O estudo das oportunidades: a essência do trabalho do empreendedor 24 37 59 77 122 125 PARTE II QUESTÕES DE MÉTODO CAPÍTULO 7 Educação empreendedora: questões fundamentais.09. 140 princípios e pressupostos CAPÍTULO 8 Os instrumentos metodológicos 154 PARTE III A OFICINA DO EMPREENDEDOR CAPÍTULO 9 Os instrumentos da arte e do ofício CAPÍTULO 10 Iniciando os trabalhos na Oficina CAPÍTULO 11 As avaliações do ensino CAPÍTULO 12 Montando a Oficina do Empreendedor 176 184 255 263 . oficina do empreendedor 14. EXERCÍCIOS E FIGURAS NOTAS BIBLIOGRAFIA 278 288 299 301 316 .08 23:30 Page 8 ANEXOS ANEXO 1 Exemplos de programas de cursos ANEXO 2 Vinte princípios para a educação empreendedora. Mitos e equívocos ÍNDICE DE QUADROS.09. ofertando capital de risco a empresas emergentes da área tecnológica. O tema abordado neste Oficina do Empreendedor me é muito caro. a partir de 2002. estimulam e apóiam as empresas emergentes em seu caminho de consolidação e crescimento. Dolabela passou a ser propagador do ensino de empreendedorismo. Apaixonado pelo tema. levando a Oficina do Empreendedor a centenas de cursos universitários em todo o Brasil e no exterior. através da Fir Capital. Dolabela nos lembra que o empreendedorismo é um fenômeno cultural.08 23:30 Page 9 PREFÁCIO No Brasil há falta de empreendedores em todas as áreas. em países do Primeiro Mundo. ensino fundamental e médio.oficina do empreendedor 14. Incansável. me envolvi com a criação de empreendimentos de base tecnológica. Desde cedo. Dolabela tem o sonho de construir uma sociedade em que todos possam desenvolver o seu potencial empreendedor. universidades. que nasce da conjunção entre centros de pesquisa. que acompanho desde quando. A metáfora que Dolabela utiliza – “libertar e dinamizar 9 . mas em uma delas a sua ausência é crítica: a empresa de base tecnológica. a primeira disciplina de empreendedorismo da UFMG. que congrega 36 empresas e uma incubadora na área de biotecnologia. em 1992. É este justamente um dos alvos do trabalho de Dolabela.09. Eu acrescento que faltam também percepção e vontade aos nossos dirigentes para adotar políticas públicas como as que. através da metodologia Pedagogia Empreendedora. tão difícil em si mesmo que dispensa os pesos adicionais da legislação imprópria e da ausência de infra-estrutura de suporte em nosso país. capital de risco e o mercado. ele passou também a levar a educação empreendedora a crianças e adolescentes da educação infantil. biotecnologia e inovação em geral. tenho. de professor. Além de ter participado da criação da Biobrás. participação em cerca de outras 20 empresas nas áreas de software. implementou. no Departamento de Ciência da Computação. Minha preocupação com o desenvolvimento econômico do país me levou a agir também do outro lado do balcão. Participei da criação da Fundação Biominas. originadas principalmente de centros de pesquisas universitários. Além de ser simples. Sendo inovadoras. O presente livro lida com o empreendedor. têm um imenso poder de aceitação. em especial. ele é tão importante para qualquer estudante como matemática para os engenheiros ou anatomia para os médicos. ele transforma professores universitários de qualquer área em educadores de empreendedorismo. Mas talvez a maior contribuição de Dolabela esteja no processo que engendrou para disseminar este tipo de ensino: através do seminário Formação de Formadores. em nossas escolas. que podem viabilizar ou atravancar as soluções técnicas. o processo é barato. pois utiliza o corpo docente das instituições de ensino médio e universitário. GUILHERME EMRICH Membro do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral Membro do Conselho da FIR Capital Partners Presidente do Conselho Curador da Biominas 10 . principal motor do crescimento econômico. Oficina do Empreendedor aparece em boa hora: o desenvolvimento do Brasil tem que se apoiar na pequena empresa e. E não se trata de uma proposta sem comprovação prática.08 23:30 Page 10 o potencial empreendedor que todos temos” – simboliza a amplitude da mudança necessária na nossa cultura. cujo principal substrato é a aliança do conhecimento com o espírito empreendedor. Oficina do Empreendedor é originalíssimo em nosso mundo editorial. transformando os professores em semeadores da cultura empreendedora. feitas no Brasil e para brasileiros. o livro mostra como aprender a sê-lo. Dolabela nos apresenta o paradigma empreendedor como o valor que sinaliza para o desenvolvimento e nos diz como podemos nos contaminar.09.oficina do empreendedor 14. criando uma rede nacional de propagação do tema. na empresa de base tecnológica. É por essa razão que as propostas educacionais de Dolabela trazem a semente de uma grande mudança na nossa cultura. Os economistas há muito dominam modelos coerentes para apoiar projetos de indução do desenvolvimento regional. O aprendizado do conteúdo empreendedor é fundamental em todos os cursos de todas as áreas do conhecimento. Dolabela esperou anos de testes e resultados excelentes para apresentá-la ao grande público. Mas nem sempre uma variável fundamental é considerada: os sistemas de valores da comunidade. Não será exagero afirmar que. capaz de agir de forma independente e autônoma. Além de nos dizer o que é ser empreendedor. pois respeitam e se moldam às nossas raízes. que tudo esteve sempre dependendo de pequenos acasos. Na edição argentina deste livro. anônimas mas fundamentais. o que nos faz um pouco mais íntimos de nós mesmos. que desenvolveu uma profunda visão sobre o empreendedorismo no Brasil.09. Roberto Amorim e Maria Auxiliadora Vargas. do Programa Softex e da Fumsoft. foi decisivo o apoio da UNR.oficina do empreendedor 14. Paula Corgozinho. emanaram dos meus alunos da UFMG e dos colegas professores de todo o Brasil. Contei com a decisiva contribuição de uma equipe de alto nível para a implantação dos programas que permitiram o teste e o desenvolvimento da presente metodologia: Roberto Mendonça.000. cerca de 5. com um calafrio na espinha. Ronilda de Araújo. ao compor o mosaico das forças internas e externas que me impeliram a escrever este livro. à qual agradeço por intermédio do professsor e engenheiro David Asteggiano. Com o mestre e amigo Louis Jacques Filion aprendi a perceber a energia inesgotável que repousa em cada ser humano e a mergulhar na grande aventura de tentar mobilizá-la. sob o título Taller del Emprendedor. Outras. corajosamente foram para a sala de aula e transformaram as idéias agora englobadas neste texto em ação.08 23:30 Page 11 A G R A D E C I M E N TO S Este é um momento importante e alegre para qualquer autor. Rosa Mendes. envio meu agradecimento especial ao IEL Nacional (Instituto Euvaldo Lodi). 11 . após alguns dias de convívio comigo. de ações singelas aparentemente desconexas. Universidade Nacional de Rosário. que. algumas das quais explodiriam em projetos imensos. do CNPq. que se integraram com mente e coração ao sonho de libertar o empreendedor aprisionado em cada brasileiro. E se não tivessem ocorrido? Algumas dessas forças positivas vieram do Departamento de Ciência da Computação da UFMG. percebo. Ainda no campo das instituições. Ao tentar pagar dívidas de coração. Lina Iewa. lembramos dos motivos e sonhos que nos alimentaram. E também dos vários empresários Brasil afora. No meu caso. 09.08 23:30 Page 12 I N T RO D U Ç Ã O Uma metodologia inovadora “‘Venham para a beira’. Aberta e flexível. Eles responderam: ‘Nós estamos com medo. assim como por professores de qualquer especialidade que pretendam levar a formação empreendedora a seus alunos. Assim.. a Oficina do Empreendedor permite que cada um crie uma forma própria de aplicá-la. Aplicada em ambientes de ensino. de física a belas-artes. por outro lado. disse ele. adaptável a cargas horárias variadas. Esta é uma inovação mundial e a principal razão do sucesso da Oficina: por se ocupar do aprendizado. Eles vieram. por exemplo). serve a alunos e professores de qualquer área – de letras a computação. disse ele. e não do ensino no sentido tradicional. e eles voaram. repetitiva e sempre igual. portanto. uma receita de bolo. Não é. foi concebida para ser utilizada indiscriminadamente por pessoas que estejam fora do ambiente escolar e queiram ser empreendedores (empregados desejosos de criar seu próprio negócio. preparar o profissional do futuro tanto para ser dono de um negócio como para atuar como empregado-empreendedor. a Oficina do Empreendedor atende a professores que queiram substituir a “síndrome do empregado”1 pelo “vírus do empreendedor” – ou seja.oficina do empreendedor 14. Ele os empurrou. O que é a “síndrome do empregado”..” Apollinaire Este livro apresenta uma metodologia para formação de empreendedores. marco do século XX e deste.’ ‘Venham para a beira’. baseada em princípios de auto-aprendizado. ela assume a forma de uma disciplina a ser inserida na grade curricular de um curso de graduação ou de ensino médio. que 12 . Mas. de acordo com suas características pessoais. monopolizada por temas acadêmicos: entender o mundo que existe além da porta da rua. não poderá identificar e aproveitar oportunidades. e entender a sua dependência dos fatores políticos. porque não foi estimulado a formulá-lo e a transformá-lo em realidade. Não poderia ser de outra forma.oficina do empreendedor 14. o pólo definidor está fora do indivíduo. é composto pelo “figurino de profissões” oferecidas pelo mercado de trabalho. principal competência do empreendedor. O entrante se prepara para seguir uma delas. A lógica antiga de inserção no mundo do trabalho não se aplica ao mundo atual. O portador da síndrome não entende que mais importante do que saber operar um processo ou um sistema é saber transformar conhecimento em produto ou serviço. despreparado para interpretar o mercado e identificar oportunidades. que. Em síntese. Ele deve saber transformar necessidades em especificações técnicas. É um profissional que. é conhecer a cadeia produtiva. porque a sua educação o preparou para lidar somente com as soluções já conhecidas. preparou-o como especialista no conhecimento já existente. o ser humano é passivo. O portador depende de alguém que crie um trabalho para ele. na maioria das vezes sem levar em conta as suas características pessoais (porque não conhece a si mesmo) e o seu próprio sonho.” Todavia. A porta de entrada é outra. deve ser preparado para ser especialista naquilo que não existe. Ele geralmente diz ao seu chefe (quase sempre necessita de supervisão): “Pode pedir o que quiser. Nesse fluxo. As condições de permanência e sucesso se alteraram. mas irá criar a sua própria atividade. aprender a lidar com a sua complexidade socioeconômica. tendo desenvolvido o autoconhecimento e formulado o seu próprio sonho. não está preparado para inovar. os meandros do negócio.08 23:30 Page 13 contagia a nossa sociedade e as nossas escolas? É uma coleção de sintomas que poderíamos chamar também de “síndrome da dependência”. No mundo atual o fluxo se inverte. porque eu domino a tecnologia. Para tanto ele deve aprender a lidar com conteúdos não abordados na nossa escola.09. saber transformar conhecimento em riqueza. ele talvez ainda não tenha compreendido que mais importante do que saber fazer é criar o que fazer. porque se submete ao que existe. o “figurino das profissões”. Para tanto. Sem a capacidade de interpretar o mercado e conhecer o setor em que pretende atuar. mas o indivíduo. Segundo esta lógica. O pólo não é o mercado. sem o know-why. não tomará o “figurino das profissões” como referência. 13 . mesmo tendo domínio de uma tecnologia. O que se pode fazer é desenvolver o potencial empreendedor presente na espécie humana. O fato de as relações de trabalho não serem relações sociais é o que torna possível a 14 . tirar do envelope. Se alterarmos a pergunta.oficina do empreendedor 14. talvez compreendamos o quanto estamos apoiados em crenças às vezes conflitantes com a contemporaneidade: pode alguém aprender a ser empregado sem renunciar ao próprio sonho e ao desenvolvimento do próprio eu e do espaço personalíssimo que este último exige? O emprego. como o conhecemos hoje. existe há dois séculos. impele o indivíduo a submeter-se a relações artificiais sob todos os aspectos. É a pergunta que aflige indiscriminadamente interessados e céticos. as relações de trabalho não são relações sociais. Da mesma forma. a universidade e cursos profissionalizantes se esquecem do que é mais essencial ao profissional dos novos tempos: dominar uma linguagem para se comunicar com o ambiente que lhe permita conversar ou conectar-se. torna disponível e utilizável um potencial presente em todo ser humano. Isso é o que justifica a negação do humano nas relações de trabalho: ser humano em uma relação de trabalho é uma impertinência. desembrulhar. oferece uma boa metáfora. Mas para tanto não se pode usar a didática convencional. caracteriza a percepção comum que se tem sobre este campo. O conhecimento empreendedor não é transferível. em especial. a educação empreendedora dinamiza. entender e trocar energia com as múltiplas dimensões que o compõe. O verbo inglês develop.08 23:30 Page 14 Fascinada e absorvida pela tarefa de formar especialistas (o que permitiu e permite o avanço tecnológico em proporções inimagináveis). é possível que qualquer pessoa aprenda a ser empreendedor. Aqui cabe abrir um parêntese para mostrar o quanto o hábito nos imobiliza. Mas tal aprendizado se dá sob circunstâncias específicas. É como se lhes ensinasse uma língua morta. daí a necessidade de uma metodologia específica para o “ensino” do empreendedorismo. como temas acadêmicos convencionais. de quem sabe para quem não sabe. não os seres humanos que (o) produzem. uma.09. críticos e apaixonados: pode alguém aprender a ser empreendedor? A prática das três últimas décadas nos diz que sim. Preso ao paradigma industrialista. Develop é derivado do francês antigo desveloper. Por isso. o sistema educacional oferece aos alunos um único instrumento de comunicação: o curriculum vitae. Entre as questões clássicas do empreendedorismo abordadas neste livro. A revelação (development) de uma foto torna visível a imagem que já existia. “As relações de trabalho são acordos de produção nos quais o central é o produto. usado no sentido de revelar uma foto. central. só floresce em ambientes em que os erros sejam permitidos e em que os indivíduos possam expandir o seu próprio eu e buscar a realização dos seus sonhos. enquanto as grandes empresas continuam a gerar empregados infelizes. na nossa era – em que o valor maior é a inovação –. negando o que foi feito durante toda uma vida. o foco do empreendedorismo é o ser humano e sua coletividade. quando o velho modelo entrou em crise e presenciamos a emergência do 15 . Enquanto a administração de empresas elege como tema central as organizações (e tem colhido estrondosos sucessos. artistas.3 O próprio sistema de aposentadoria (produto do emprego) reconhece isso: oferece como prêmio o não-trabalho. que é filha da liberdade. Para o historiador americano David Landes. Talvez a formulação da pergunta “Pode alguém aprender a ser empregado sem renunciar ao próprio sonho e ao desenvolvimento do próprio eu e do espaço personalíssimo que este último exige?” tenha sido bloqueada porque vivíamos sob o signo do emprego.oficina do empreendedor 14.” A aposentadoria não é prática de pessoas que amam o que fazem. por sua vez. No entanto. Ela parece óbvia agora. Isso porque a inovação exige criatividade. que os trabalhadores ignorantes dessa situação vivenciam como exploração. que está preocupada com a empresa e não com o ser humano. atores. mais chances uma nação terá de sair ganhando no jogo da globalização. “Quanto mais pessoas do primeiro tipo houver.4 a humanidade se divide em duas classes: a dos que vivem para trabalhar e a dos que apenas trabalham para sobreviver.”2 Em outras palavras. Talvez porque ela não seja viável dentro dos padrões que atualmente regem o emprego em todo o mundo. empreendedores e tantos outros que amam o que fazem jamais pensam em se aposentar. que. existem empregados felizes? Pesquisas dizem que são raros. Poetas. a emoção e a liberdade dos empregados começam a substituir a razão como elemento basilar.09. Os teóricos da administração ainda não encontraram solução para os conflitos entre indivíduos e empresas. transformando-se em conteúdo indispensável em qualquer área da ação humana).08 23:30 Page 15 substituição dos trabalhadores humanos por autômatos e o uso humano no desconhecimento do humano. profissionais liberais. A fragilidade e a artificialidade das relações no trabalho sob a forma de emprego deixam o campo da administração de empresas vulnerável a aventureiros de toda espécie. Mas também porque esses conflitos não são prioritários no campo da administração tradicional. o leitor está diante de um método que já demonstrou sua eficácia e lançou a semente de importantes mudanças no ensino brasileiro. o sonho. por mais de 5 mil professores que participaram do seminário Formação de Formadores. o que aprendemos na escola é superado rapidamente pelo que aprendemos fora dela. Estamos ainda no início de um processo. não pretendemos opor empreendedorismo a emprego. a Oficina apresenta um processo de aprendizado. alunos. exposta a esta intensa multivivência didática.) Pela primeira vez na História. inovadores. este livro é para aqueles que pensam que o profissional dos novos tempos deve ter um compromisso com a inovação e estar preparado para realizá-la. Por isso. que provoquem mudanças. mas já é possível encontrar em todo o Brasil professores. Não só a razão. É preciso que saibamos aprender. Assim. Portanto. Mas não há dúvida de que o empreendedorismo contesta radicalmente a síndrome do empregado. Ela foi construída com as seguintes características: • A sala de aula se transforma em um ambiente em que os alunos geram os conhecimentos de que irão necessitar para empreender (diferentemente 16 . o que equivaleria a uma redução equivocada. corrigindo rumos. Criada em 1993 e já aplicada em cerca de 400 estabelecimentos de ensino superior e médio no Brasil e no exterior. identifica e aproveita oportunidades. Que deve ter a coragem de assumir riscos. Em algumas áreas. Não adianta mais acumular um “estoque” de conhecimentos. Ela induz ao contínuo aprender a aprender.oficina do empreendedor 14. Sozinhos e sempre. empreendedores aplicando a presente metodologia. (Naturalmente. um projeto. de ver seu nome associado a uma obra. independentemente de sua área de conhecimento ou de atuação.09. Assim. oferecido pelo autor deste livro. a Oficina do Empreendedor.08 23:30 Page 16 paradigma do empreendedor. Que não tem medo de transformar seus sonhos em realidade. seja ela uma empresa. e não de ensino. errando. uma pesquisa. pois um dos temas do primeiro é o empregado empreendedor. o conhecimento tecnológico é renovado em poucos anos. que leva o aluno a proceder como faz o empreendedor na vida real: fazendo. Que é auto-suficiente. vem sofrendo ao longo do tempo constantes aprimoramentos e “recriações”. mas a emoção. o livro pode ser utilizado por professores de qualquer arte ou ciência que acreditem que educar significa desenvolver todo o potencial do ser humano. a autoimagem como substrato de atitudes e comportamentos criativos. criando. trazendo o empreendedor real para a sala de aula e transformando-o em mestre.09. o aluno e a instituição que irá aplicá-la. as respostas constituem o centro da tarefa empreendedora e serão construídas pelos alunos. sem conhecimento prévio sobre empresas.5 sobre Plano de Negócios. (Por exemplo: os cursos de graduação em Ciência da Computação e Física foram pioneiros na implementação do empreendedorismo na UFMG.6 também dirigido aos alunos. • É simples e permite aplicação imediata. construído em forma de romance. lidando com marketing. Os trabalhos na Oficina são facilitados por duas ferramentas concebidas dentro dos mesmos princípios: o software MakeMoney . o incerto e não sabido. atendendo às dimensões continentais do país e a sua urgência de mudanças.) • Utiliza a experiência e a proficiência dos quadros docentes já existentes. o indefinido. o sonho. finanças. o ego. • Abre vagas na sala de aula para a emoção. não exigindo especialização nem duplicando meios. possam planejar o seu empreendimento. • Pode ser utilizada por professores com qualquer base acadêmica.oficina do empreendedor 14. em uma linguagem simples. • Pode ser utilizada tanto por quem queira ser empreendedor como por professores e alunos dos cursos de nível médio e universitário. • Considera o saber adquirido como uma conseqüência da forma de ser. que busca associar prazer ao ato de aprender. • Cabe ao professor formular perguntas. organização. em que o conhecimento é transmitido pelo professor). • Possibilita rápida disseminação. • É flexível e aberta para que possa se adaptar às características pessoais dos seus usuários: o professor. 17 . ao contrário do que acontece nas instituições de ensino do resto do mundo.08 23:30 Page 17 do ensino convencional. que permite que estudantes de todas as áreas. onde a formação de empreendedores é atividade exclusiva de especialistas da área de administração de empresas. • Promove a integração universidade-empresa. e o livro O segredo de Luísa. através de demandas do Programa Softex.9 A introdução da cultura empreendedora no ensino médio e universitário é o primeiro passo na persecução de um objetivo maior: a formação de uma cultura em que tenham prioridade valores como combate à miséria através da geração e distribuição de riquezas. No entanto. barata e de fácil disseminação. criou um clima extremamente hostil ao empreendedor emergente. sistemas de apoio e capacitação. através dos Programas Reune-MG. Eles estavam certos: nas cinco primeiras ofertas semestrais da disciplina de empreendedorismo na UFMG foram criadas 25 empresas. do CNPq. Assim. onde a cultura empreendedora se manifesta de forma tímida. inovação. a indução externa e o fato de a Oficina estar fora do imediato interesse acadêmico de professores de informática. Entre esses.8 cujos criadores acreditaram ser possível transformar alunos de computação em futuros proprietários de empresas.7 Nasceu na área de informática. oferta de crédito. estímulos de toda ordem. criatividade. UFMG. o que exige uma estratégia que seja ao mesmo tempo eficaz.09. A partir de 1997.oficina do empreendedor 14. 18 . após três anos. mais de 100 instituições haviam implantado o ensino de empreendedorismo. A democracia guarda estreita relação com o empreendedorismo da base da população. de tradição autocrática. que necessita do trânsito livre da informação econômica. a Oficina começou a ser aplicada nas demais áreas do conhecimento. Reune-Brasil e Senai-MG. sustentabilidade. foi criado em 1996 o projeto Softstart (do Softex-CNPq). no Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais. tributação adequada. o Brasil. microcrédito e capital de risco. em 1993. desburocratização. o passo seguinte foi buscar uma metodologia que viabilizasse sua propagação para todos os cursos de informática do país. a inclusão de uma nova disciplina na grade curricular. Pela ausência de tais condições.08 23:30 Page 18 Como surgiu a metodologia? Uma resposta brasileira A Oficina foi concebida como resposta às necessidades do nosso país. liberdade. Após o teste bem-sucedido. em três anos – causou grande perplexidade em virtude dos obstáculos que deveria superar. cuja meta – implementar a Oficina em 30 instituições de ensino. em que alguém comunique verdades absolutas e distinga o certo do errado. estamos sugerindo que o professor que utilizar a metodologia proposta por esta Oficina se auto-intitule Organizador da Oficina do Empreendedor (OOE) – alguém que irá prover os recursos para que os alunos desenvolvam e aprimorem o próprio espírito empreendedor. Esta Oficina do Empreendedor tem justamente o objetivo de mostrar como fazer isso.oficina do empreendedor 14. No entanto. alunos. 19 . São somente dois os pré-requisitos para o professor que deseja levar o tema empreendedorismo à sala de aula. A Oficina deve ser vista como um conjunto de fundamentos aplicáveis de forma livre e criativa. O formato mais simples que esta Oficina pode assumir é o de uma (ou várias) disciplina inserida em um curso de nível médio ou universitário. atendendo às características de professores. instituições de ensino e à cultura da comunidade. Nem mesmo os fundamentos centrais são imutáveis. com a prática descobrimos que é possível aprender a ser empreendedor. Neste sentido. Ainda não foi inventada a “escola de empreendedores de sucesso”. qual é a tarefa central do professor de empreendedorismo? Transformar a sala de aula em um ambiente em que os alunos sejam estimulados a gerar novos conhecimentos. visto aqui como a concepção do futuro que tem para a sua comunidade e para si mesmo. Mas o seu objetivo é transformar a cultura da instituição de ensino mudando-a de formadora de empregados para desenvolvedora de empreendedores. • Capacidade de construir caminhos para transformar os sonhos em realidade. com o ambiente onde os conhecimentos que domina são transformados em riqueza. Muito pelo contrário. Evidentemente o convite ao professor para se inserir na área de empreendedorismo não pressupõe o abandono da sua especialidade.08 23:30 Page 19 Carta ao professor No empreendedorismo sabemos que não é possível realizar o que a aula convencional propõe: transferir conhecimentos. Por isso. Não é uma camisa-de-força. Quais seriam tais conhecimentos? Podem ser sintetizados em dois requisitos essenciais ao empreendedor: • Capacidade de gerar o próprio sonho.09. com empresas e empreendedores. O primeiro é estar disposto a enfrentar o desafio de introduzir novo conteúdo e novos processos didáticos e a superar os obstáculos que inevitavelmente se apresentam a quem quer inovar. O segundo é ter a disponibilidade e a vontade de estabelecer vínculos com o mercado. este livro pode ser visto como a suma narrativa de centenas de “casos”. não há uma versão certa. Neste campo. Compartilho com os professores que estão começando nesta área algumas reflexões colhidas da prática e dos mestres: • Não se considere um professor. Estes devem buscar sozinhos os conhecimentos de que necessitam. Hoje.09. alguém que vai ensinar a ser empreendedor. sobretudo. É assim que faz o empreendedor real na vida real. No Brasil. • Jamais influencie o aluno na busca de uma idéia de negócio. a projeção do ego. Desta forma.oficina do empreendedor 14. Habilite-se a fazer perguntas. Seja somente um Organizador da Oficina do Empreendedor. Ela é o principal caminho para a razão e o talento. empreendedorismo deve significar. 20 . a Oficina é uma obra em constante transformação. alguém que vai criar as condições necessárias para o aluno aprender sozinho a ser empreendedor. a capacidade de combater a miséria. a exteriorização do que se passa no âmago de uma pessoa. “recriada” e enriquecida (por ser inteiramente flexível) por milhares de professores em todo o Brasil e fora dele. • Não pretenda que os alunos abram empresas logo após sua exposição à disciplina. já que a metodologia está sendo aplicada. Quando foi concebida. estimular pessoas a se transformarem em atores centrais no cenário de mudanças econômicas e sociais. • Habitue-se a questionar e relativizar ao invés de ter respostas prontas. Empreender é deixar-se emocionar. Considere esse resultado excelente mas inesperado. • Não se sinta responsável por apresentar soluções. • Abandone o paternalismo nas relações com os alunos. O seu papel será o de criador de um ambiente (a sala de aula) que estimule a geração de novos conhecimentos pelos alunos. • Não dê respostas. • Dê lugar à emoção dos alunos – e também à sua. Este é o papel do aluno. Lembre-se de que uma empresa é a realização de um sonho. a Oficina poderia ser considerada “um estudo de caso”: a experiência do autor na concepção e aplicação de uma metodologia de aprendizado de empreendedorismo. O empreendedor é alguém que aprende sozinho. Os esforços feitos na sua criação serão gratificados de forma magnânima se sua aplicação continuar a ensejar adaptações e aprimoramentos.08 23:30 Page 20 Não se pode perder de vista o resultado a ser alcançado: desenvolver o espírito empreendedor. • Elimine as pressões do conformismo.09. • Na atividade de disseminação da cultura empreendedora. os conhecimentos técnicos representam pequena parte da solução global. existe um dito que contém uma profunda verdade: “O Organizador da Oficina do Empreendedor aprende mais que o aluno. Pode soar pouco acadêmico (o que não tem importância. Incentive a autonomia e a liderança entre os estudantes. • Não se apóie na improvisação. Só assim você saberá avaliar seus resultados e terá um mecanismo de feedback. Como a empresa tem “a cara do dono”. Você deve trazer a sua rede de relações para a sala de aula. • Crie oportunidades para que os alunos transformem suas idéias em ação. de forma intransigente.” 21 . • Encoraje os alunos a definir seus problemas. • Incentive os alunos a acostumar-se a identificar o que lhes interessa e os motiva a aprender. Estabeleça fortes conexões com os Sistemas de Suporte e as forças vivas da Sociedade: poderes públicos. As pessoas só realizam algo caso se julguem capazes de fazê-lo. mas ela será um recurso fundamental na vida do futuro empreendedor. porque empreendedorismo não é considerado tema acadêmico). da inovação. mas não a tema. situações e visões. • Monte um sistema que permita acompanhar os alunos depois de sua exposição à disciplina. • Lembre-se de que. bancos. Nesta área. na Oficina. eles devem saber como são para vislumbrar como será a empresa que criarem.08 23:30 Page 21 • Os alunos devem buscar o autoconhecimento. Aperfeiçoe sua habilidade para as relações interpessoais. órgãos de comunicação. • Leve em conta o que os alunos já sabem e também seu potencial de aprender sozinhos. • A auto-imagem positiva e a elevada auto-estima (conceito de si) são os principais alimentos da criatividade e. • Defenda junto aos alunos. associações de classe. Estimule sua habilidade de canalizar energia para os objetivos. portanto.oficina do empreendedor 14. networking é fundamental. que o saber isolado não é suficiente. todos aqueles que podem e devem apoiar a criação de novos negócios. Busque conhecer o mundo dos empreendedores e chame-os para colaborar no andamento do curso. financiadores – ou seja. Você ficará surpreso. 08 23:30 Page 22 • Afirme e reafirme a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento econômico. a lidar com a complexidade sócio-político-econômica e a estabelecer múltiplas interfaces com a sociedade. para se relacionar com o mundo profissional e nele se inserir. Diferentemente da formação do especialista (proposta do ensino convencional). • Acima de tudo. por extrema sorte. É lá.09. Aos que se iniciam na tarefa de estimular o empreendedorismo entre os estudantes brasileiros. comportamentos coletivos. E não quem o subtrai. visão de mundo. • O aluno da escola tradicional aprende. a enviar o seu curriculum vitae. desejo que sejam tomados pela mesma paixão que me capturou desde os primeiros momentos e que. 22 . repito o lembrete: ao introduzir esta disciplina você estará inovando e talvez desperte reações contrárias.oficina do empreendedor 14. estimule a capacidade de sonhar (esquecida em nossas escolas) e a coragem de realizar sonhos. Pergunte sempre aos alunos (e a si mesmo): qual é o seu sonho e o que pretende fazer para transformá-lo em realidade? • Não se esqueça de que os sonhos individuais são fortemente influenciados pela sociedade: ética. Em termos éticos. • Por fim. • Não avalie o empreendedor exclusivamente por critérios de competência. no que acontece além da porta da rua. que estão as oportunidades. no empreendedorismo o aluno deve aprender a ler o mundo. vem crescendo na razão direta do meu envolvimento com o tema. Isso deve servir de estímulo para a sua motivação. atitudes de líderes. Por essa razão a formação empreendedora exige que se discuta e analise o mundo com todas as suas variáveis. somente deve ser considerado empreendedor aquele que oferece valor positivo para a coletividade. 09.08 23:30 Page 23 PA RT E I OS NOVOS PARADIGMAS .oficina do empreendedor 14. 24 .09. disparem e coordenem o processo de desenvolvimento. Desenvolvimento social e crescimento econômico O crescimento econômico sustentável é conseqüência do grau de empreendedorismo de uma comunidade. Talvez seja muito difícil encontrar um empreendedor que queira se aposentar ou que espere ansiosamente pelo fim de semana para se desvencilhar do trabalho. através de sua liderança.08 23:30 Page 24 CAPÍTULO 1 Razões para disseminar a educação empreendedora Criando uma cultura empreendedora Por que introduzir a cultura empreendedora em nossas escolas? Quais os motivos que estão por trás da necessidade de motivar e estimular os nossos jovens a abrir o próprio negócio ou ter atitudes empreendedoras na área que escolherem para atuar? Quais os elementos que tornam esta necessidade urgente? Auto-realização Pesquisas indicam que o empreendedorismo oferece graus elevados de realização pessoal. Por ser a exteriorização do que se passa no âmago de uma pessoa. Não é raro encontrar empreendedores que tiram poucas férias.oficina do empreendedor 14. e por receber o empreendedor com todas as suas características pessoais. a atividade empreendedora faz com que trabalho e prazer andem juntos. As condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento precisam de empreendedores que as aproveitem e que. capacidade e de seu perfil. cujas raízes estão sobretudo em valores culturais. vontade comunitária de implementação de uma rede de negócios. alguns fatores – o endividamento crescente dos governos. Existe relação entre o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico local?10 Segundo o PNUD (ONU).oficina do empreendedor 14. o nível local é entendido como o meio ambiente imediato das PMEs. que irá fornecer os recursos de toda ordem e. privados e do terceiro setor –. As grandes empresas passaram a produzir mais com menos empregados. 25 . encontram recursos humanos e materiais dos quais depende o seu dinamismo e estabelecem sua rede básica de relações. ou seja. Até o fim dos anos 1970.11 “o pequeno empreendedor é um elemento tão importante do setor privado quanto uma corporação multinacional”. a utilização intensiva de tecnologia nos processos produtivos – transformaram este panorama. etc. Ali elas nascem e se formam. o GEM12 – Global Entrepreneurship Monitor conclui que “a criação de empresas é o instrumento mais eficaz para a geração de empregos. A partir daí. o desenvolvimento social e. Na sua pesquisa. Entre eles. Assim.08 23:30 Page 25 na forma de ver o mundo. que não mais se restringiram ao mercado local ou regional. facilidades para obtenção de financiamentos. não menos importante. instituições de apoio.09. É a comunidade local. o aumento da concorrência dos mercados e sua mundialização. a dimensão humana da comunidade local surge como um dos elementos mais essenciais. Nos anos 1980. o crescimento econômico. Uma das características das PMEs é a sua dependência da comunidade local. O empreendedor cria e aloca valores para indivíduos e para a sociedade. as únicas criadoras de empregos passaram a ser as PMEs (pequenas e médias empresas). conseqüentemente. o Estado e as grandes empresas eram considerados os únicos suportes econômicos relevantes para a sociedade. os governos buscaram diminuir seus déficits através de cortes e redimensionamento dos quadros de pessoal. para combater a pobreza em uma sociedade”. com todos os seus atores – públicos. é responsável pela inovação tecnológica e crescimento econômico. como ambiente favorável ao empreendedorismo. que poderá ou não estar dotada de fatores importantes de aceleração do desenvolvimento. mas começaram a concorrer no mercado internacional. desenhando uma nova organização econômica. os valores empreendedores que criarão condições favoráveis ao surgimento de idéias e projetos. É antes uma questão de diálogo entre todos os atores locais. apoiar-se-á no empreendedorismo. as PMEs não sejam uma opção de segunda categoria. ou seja. Na comunidade local. porque têm embutido no seu âmago os valores do desenvolvimento. é possível aplicar políticas econômicas baseadas em modelos mecânicos. Em conseqüência. criando uma sinergia que sinalize positivamente para o desenvolvimento. sendo impossível desconsiderar os comportamentos individuais dos integrantes da comunidade. Pode-se dizer que este é um fenômeno humano. que produzem uma imagem no grupo. Ao transformar os principais atores do processo de desenvolvimento local em 26 . disseminado fortemente entre os principais atores e nas PMEs locais. principalmente. estabelecer vínculos e relações necessários ao alcance dos objetivos. inovar. Desta forma. parece não ser suficiente para orquestrar o desenvolvimento econômico local. e não em instituições.09. é orgânico. mobilização e participação. precisam receber educação sobre empreendedorismo. também os promotores e gerenciadores de projetos. instituições. identificar oportunidades e buscar recursos onde estiverem. é importante que os valores do empreendedorismo sejam difundidos entre os atores centrais da comunidade local para que. Quando se aborda o desenvolvimento local. mas assumam uma posição de prioridade. grupos e associações comunitárias. no processo de desenvolvimento econômico. ONGs ou na comunidade em geral. tendo como pressupostos que os atores econômicos e o sistema produtivo têm características uniformes e que toda a população está inserida no mesmo sistema de valores. Mas. O desenvolvimento econômico local é endógeno. deve-se buscar apoio nos conteúdos de mudança organizacional e animação social. Tal abordagem. o desenvolvimento econômico local não pode ser um processo mecânico. Neste sentido. as parcerias serão baseadas em projetos e pessoas. além da utilização de teorias econômicas. estejam eles em órgãos públicos. sobrenome e é conhecido em seus pormenores. Tais comportamentos empreendedores têm mais importância do que as estruturas colocadas em jogo. seus pontos fracos e fortes. Tudo tem nome.08 23:30 Page 26 No âmbito nacional.oficina do empreendedor 14. empresas. universidades. devem adotar uma visão e postura empreendedora. visando a sua sensibilização. emerge das iniciativas e do dinamismo da comunidade. tudo é personalizado: lideranças. não hesitarão em correr riscos. Assim. Valoriza os recursos financeiros e materiais locais. Na comunidade local. como fontes de geração de emprego. Para tanto. talvez apropriada para a intervenção em grandes conglomerados econômicos. das quais destacamos as referentes ao ensino e à participação da mulher na economia. Em países onde tais políticas são mais efetivas. • Independentemente do nível de ensino. • O aumento auto-sustentado a longo prazo das atividades empreendedoras exige forte comprometimento e investimento em educação no ensino superior. • Para a maioria dos países que foram alvos da pesquisa do GEM.oficina do empreendedor 14. envolvendo um número crescente de nações. o resultado melhor e mais rápido na criação de novas empresas será obtido pelo aumento da participação das mulheres na dinâmica empreendedora. como os Estados Unidos. as perspectivas de crescimento econômico são significativamente maiores do que em países como a Finlândia. Os seus relatórios indicam que o empreendedorismo é o principal fator de desenvolvimento econômico de um país e apresentam recomendações a países que buscam o desenvolvimento econômico que se ajustam inteiramente à situação brasileira. médio e superior. Segundo Paul Reynolds.08 23:30 Page 27 veículos de criação e difusão do espírito empreendedor. A partir de 1999. e que um país sem 27 . a pesquisa “fornece evidências conclusivas de que a principal ação de qualquer governo para promover o crescimento econômico consiste em estimular e apoiar o empreendedorismo. onde essa relação é de 67 pessoas para cada empresa”. um dos coordenadores do Relatório GEM. onde para cada 12 pessoas é criada uma empresa. o GEM realiza anualmente a mais abrangente pesquisa sobre empreendedorismo.09. estaremos combinando de forma adequada os comportamentos com os objetivos a alcançar. • As habilidades e capacidades necessárias para criar uma empresa deveriam integrar os programas de ensino em todos os níveis: fundamental. a ênfase deve ser concentrada no desenvolvimento da capacidade individual de procurar e identificar novas oportunidades. apresentadas a seguir: • O apoio ao empreendedorismo e o aumento da dinâmica empreendedora de um país deveriam ser prioridades de qualquer política ou ação governamental que tenha por objetivo promover o desenvolvimento econômico. A pesquisa do GEM endossa o argumento de que o empreendedorismo faz a grande diferença para a prosperidade econômica. que deve estar no topo das prioridades das políticas públicas. de participação no PIB. a percepção da importância da pequena empresa ainda não é suficientemente clara entre nós. de exportação. A pequena empresa A nova organização da produção no mundo coloca a pequena e a média empresas em seu centro. como a Akwan. seu nascimento está intimamente ligado à criatividade: o empreendedor tem que perceber o mercado de forma diferenciada. Portanto. temos agora a obrigação de educar nossas crianças e jovens dentro de valores como autonomia. independência.oficina do empreendedor 14. Acostumados a ver as grandes empresas e o Estado como pólos da economia. As empresas de base tecnológica surgem no século XX como uma das principais forças econômicas. de inovar e produzir riqueza. através da criação de várias empresas. É preciso dar-lhes o estímulo adequado. A pequena empresa surge em função da existência de nichos mercadológicos. Nações que são capazes de renovar o estoque de empresas e têm a capacidade de acomodar a volatilidade e a turbulência no setor empresarial estão em melhores condições de competir efetivamente. capacidade de gerar o próprio emprego. Em resumo. Elas são responsáveis pelas taxas crescentes de emprego.13 adquirida pela Google. como fontes de emprego. Pesquisadores. são esses os valores sociais capazes de conduzir países ao desenvolvimento. se no passado – e ainda hoje – desenvolvemos grande habilidade em incutir em nossos filhos e alunos valores como emprego. ou seja. professores e alunos de universidades apresentam alto potencial para a criação de novos empreendimentos baseados no conhecimento. porque. a 28 .08 23:30 Page 28 altas taxas de criação de novas empresas corre o risco da estagnação econômica. Por isso. coragem de assumir riscos e crescer em ambientes instáveis. temos resistência a redirecionar nossas expectativas em relação aos principais agentes econômicos e às praxes do ambiente de trabalho. A UFMG. ver o que os demais não percebem. diante das condições reais do ambiente. No entanto. estabilidade financeira e nível universitário como instrumentos fundamentais de realização pessoal. a pesquisa deixa claro que um pré-requisito para a atividade empreendedora em um país é a existência de um conjunto de valores sociais e culturais que possam encorajar a criação de novas empresas. de inovação tecnológica. lacunas de necessidades não atendidas pelas grandes empresas e pela produção de massa.09. São alinhados a seguir alguns motivadores para a preparação do empreendedor em potencial: As elevadas taxas de mortalidade nas empresas nascentes A regra é falir. Apesar de as estatísticas apresentarem falhas – pois registram o fechamento de empresas. que poderá estar abrindo outro negócio –. muitas vezes desnecessariamente. duas fecham as portas. Desemprego Em uma economia movida pelas grandes empresas e pelo Estado.14 a PUC-Rio. através do Cesar. a maioria fracassa. Este modelo. e não ter sucesso. cumpriu sua missão. As pequenas empresas (menos de 100 empregados) fecham mais: 99% das falências são de pequenos negócios.oficina do empreendedor 14. O aprendizado na área tem o objetivo de reduzir esses índices. Esgotou-se. através do Plano de Negócios.09.15 são exemplos brasileiros que devem servir de modelos. Se alguns têm sucesso sem qualquer suporte. diante das profundas alterações nas relações de trabalho e na produção. através do Gênesis. A preparação do empreendedor Por outro lado. dar elementos ao empreendedor sobre sua empresa antes de abri-la. fundamentando sua decisão. Ao terem seu eixo deslocado para os pequenos negócios. nada mais natural do que formar empregados. mas não acompanham o empreendedor. é elevada em todo o mundo.08 23:30 Page 29 UFPE. as sociedades se vêem induzidas agora a formar empregadores. pessoas com uma nova atitude diante do trabalho e com uma nova visão do mundo. 29 . não basta que exista a motivação para empreender. a mortalidade infantil entre empresas nascentes. É necessário que o empreendedor conheça formas de análise do negócio. De cada três empresas criadas. ou seja. do mercado e de si mesmo para perseguir o sucesso com passos firmes e saber colocar a sorte a seu favor. A quantidade de empresas que fecham prematuramente. não há como negar que uma descomunal energia e incalculáveis recursos são desperdiçados por novos empreendedores. porém. dirigido à criação de empregados para as grandes empresas. ligados às tarefas de prospecção de mercado. a falácia da ratoeira deve ser sempre lembrada. pode impedir que ela sofra um processo de validação e. O apego à idéia. Assim. ligado ao produto. não raro. corresponde a uma parcela menor do que a de outros fatores. Na nossa experiência didática com estudantes de áreas tecnológicas. tão insuficiente como agora. O jovem empreendedor deve aprender a ver sua idéia com distanciamento emocional.09. em que a qualidade do produto era um diferencial mercadológico em virtude de uma concorrência ainda leve e de um mundo em que as mudanças não eram tão rápidas como hoje. o sucesso está garantido.08 23:30 Page 30 A solução tecnológica não é. sozinha. se têm uma nova idéia e. principalmente entre os empreendedores da área tecnológica. que transformaram suas idéias em grandes empreendimentos. se esta idéia utiliza uma tecnologia avançada. distribuição e comunicação da existência e das vantagens do produto/serviço. vendas. mais ainda. com uma grande idéia. Entre eles. visto o processo de geração de idéias estar contaminado pelo sentimento de identificação e propriedade. Idéia é diferente de oportunidade Empreendedores sem sucesso confundem idéia com oportunidade. apesar de ser fundamental. não corresponde à verdade. por razões psicológicas. 30 . a empresa que chega primeiro sinaliza a existência de um mercado altamente convidativo. Sabemos também que a contribuição do conhecimento puramente tecnológico. A grande falácia da ratoeira O conhecimento científico e tecnológico nunca foi tão indispensável e. Outro pressuposto é a imagem de grandes inventores do século XIX e começo do século XX. ao mesmo tempo. Esta falácia tem suas origens em vários pressupostos. A falácia da ratoeira16 é alimentada pela tendência do dono da idéia de subestimar os outros elementos que conduzem ao sucesso. Entrar antes no mercado. Mas sabemos que isto. devido ao alto grau de competição do mundo atual. também não é garantia de sucesso. para o sucesso da empresa. como Edson e Bell. Muitas vezes. Existe um pensamento tão comum quanto enganoso que leva as pessoas a achar que. verificamos que a supervalorização da tecnologia ligada ao produto é uma tendência perigosa. a idéia causa grande fascínio em seu autor. garantia de sucesso. faz com que se torne uma das causas do insucesso. a lógica da primeira metade do século XX.oficina do empreendedor 14. Como foi dito anteriormente. atraindo concorrentes que poderão dominar o nicho. de modo a poder fazer uma análise detalhada dela. As relações universidade-empresa. lida com corações e mentes das novas gerações e tem uma dispersão geográfica que facilita seu apoio ao desenvolvimento regional. são voltados quase exclusivamente para o gerenciamento de grandes empresas. indispensáveis na formação de empreendedores. Assim.18 grandes transformações nos campos da economia de desenvolvimento empresarial e da educação sugerem que os atuais modelos já não são adequados para explicar problemas e prover soluções. Segundo William Bolton. a universidade tem papel de vanguarda. filósofo americano Os valores do nosso ensino não sinalizam para o empreendedorismo. para a formação de profissionais que irão buscar emprego no mercado de trabalho. Por outro lado. cujo elemento fundamental são as empresas de base tecnológica. Vai mais além. no novo modelo em curso – que batiza de enterprise paradigm –. e não os característicos dos pequenos negócios. ao dizer que não há meio-termo no envolvimento da universidade: ou ela exerce a liderança do processo ou ficará a reboque dos acontecimentos. ou seja. são ainda incipientes no Brasil. são abordados os temas relativos às grandes organizações.17 Outra característica nos cursos profissionalizantes e universitários é a “cultura da grande empresa”. quando se fala de empresa. a universidade parece ignorar o perigo representado por sua tradição e seu tamanho. Os cursos de administração. Mas adverte: ao mesmo tempo que está diante de uma grande oportunidade. em todos os níveis. associações de classe. Grandes empresas tradicionais enfrentam dificuldades financeiras. financiadores. muitas das nossas instituições de ensino estão distanciadas dos “sistemas de suporte”: empresas. enquanto empresas de base tecnológica apresentam crescimento espetacular e batem recordes de valor nas Bolsas. órgãos governamentais. que fazem com que processe mudanças de forma lenta. uma vez que apresenta a maior concentração de talentos intelectuais em qualquer setor. o emprego assume um valor fundamental na formação da nossa sociedade. Ele sugere que. entidades das quais os pequenos empreendedores dependem para sobreviver.oficina do empreendedor 14. 31 . estando voltados.08 23:30 Page 31 Nova orientação ao ensino “A função mais importante da universidade na era da razão é proteger a razão de si mesma.” Allan Bloom. com raras exceções.09. dez anos depois. mesmo para aqueles que vão ser empregados. Empreender com sucesso significa ser capaz de desenvolver um potencial de aprendizado e criatividade. este número saltou para 25 mil produtos. conheçam o negócio. além de dominar a tecnologia. em 1975. o ensino de empreendedorismo é obrigatório. deve ser capaz de conceber um novo futuro e de transformá-lo em realidade. alguém que domina os conhecimentos da área em que atua. além de dominar os conhecimentos do estado-da-arte. atender a suas necessidades e. deve ser especialista no que não existe. introduzir inovações. envolvendo novas tecnologias. que contratam pesquisadores. As empresas de base tecnológica precisam de colaboradores que. O autor deste livro teve a oportunidade de fazer palestras em Cuba sobre a cultura empreendedora.19 O número de instituições universitárias que oferecem este tipo de conteúdo nos Estados Unidos passou de 50. ou seja. A competitividade de empresas e países é representada agora pela capacidade de inovar. o empreendedorismo é uma febre. saibam auscultar os clientes. um alto grau de empreendedorismo. ou seja. professores e empreendedores do Ocidente para divulgar a cultura empreendedora. acompanhadas com grande interesse. principalmente. O intra-empreendedor Na era industrial. 32 . cuja ênfase é a otimização do desempenho da produção.oficina do empreendedor 14. está a par dos avanços feitos até o passado mais recente. junto com a capacidade de implementá-lo em velocidade maior que o ritmo das mudanças no mercado. Em cinco estados daquele país. Na era do conhecimento um novo elemento passa a ser o centro da competitividade: a capacidade de inovar. Na última década do século passado o empreendedorismo explodiu nas antigas nações comunistas do Leste Europeu. para mais de mil em 1988. o elemento principal é o especialista. etc. Exige-se hoje.09. Isto faz com que o profissional dos novos tempos.08 23:30 Page 32 Velocidade das mudanças O mundo está presenciando grandes mudanças em velocidade alucinante: em 1985. Tendências internacionais No mundo todo. novas formas de comercialização. foram lançados 5 mil novos produtos nos Estados Unidos. mas pronto para o compromisso Acomoda-se ao sistema ou o leva ao curto-circuito sem o abandonar As transações sociais se processam dentro do respeito às pressões hierárquicas As transações e a negociação são seus principais modos de relação 33 . automotivado Empreendedor Atividades Competências Usualmente graduado em Administração.08 23:30 Page 33 Motivação Motivado pelo poder Gerente QUADRO I. o setor em que atua.09. ela protege seu status e poder Mestre na arte de convencer os outros da boa fundamentação da sua visão. Compreende as necessidades do mercado Dissimula os projetos de risco para não macular a imagem de qualidade de sua empresa ou unidade Relações com Funciona tendo a os outros hierarquia como princípio básico Atitude frente Vê a burocracia com ao sistema satisfação. mas utiliza certa habilidade política Centro de interesse O erro e o fracasso Decisões Sobretudo os acontecimentos internos à empresa Esforça-se para evitar os erros e as surpresas Aprova as decisões dos seus superiores. O trabalho de escritório mobiliza todas as suas energias Arregaça as mangas. mas coloca a mão na massa quando necessário Intra-empreendedor Parecido com o empreendedor. ele o rejeita para construir o seu Tudo o que acontece dentro e fora das empresas. Possui habilidades políticas Delega sua autoridade. Conhece o negócio. Toma suas próprias decisões e privilegia a ação em relação à discussão Se o sistema não o satisfaz. Certifica-se do que eles querem antes de agir Considera que o erro e o fracasso são ocasiões para aprender alguma coisa Segue a própria visão. a dinâmica do negócio Motivado pela liberdade de ação e pelo acesso aos recursos organizacionais. voltado para oportunidades Principalmente o que se passa fora da empresa: o mercado.oficina do empreendedor 14. Colabora no trabalho dos outros Tem mais faro para os negócios que habilidades gerenciais ou políticas. Orientado para a ação. Automotivado mas sensível às recompensas organizacionais Pode delegar.1 Agentes na empresa inovadora Motivado pela liberdade de ação. O empreendedor deve apresentar alto comprometimento com o meio ambiente e com a comunidade. Segundo Tocqueville. a partir de empresas existentes (empresas-mãe) ou de laboratórios de pesquisa.08 23:30 Page 34 O empreendedor spin-off 20 Spin-offs são processos de geração de novas empresas e negócios. Por sua grande influência na sociedade e na economia. bem vivas.oficina do empreendedor 14. enquanto o indivíduo 34 . Empreendedorismo não pode ser considerado exclusivamente como uma via de enriquecimento individual. em formatos organizacionais diferentes da organização de origem ou criando “famílias”.1.22 a diferença entre indivíduo e cidadão é que este procura o seu bem-estar construindo primeiro o bem-estar da sua comunidade. os empreendedores. O spin-off é uma das formas de empreendedorismo mais efetivas. em função de oportunidades identificadas de inovação e criação de valor que exigiam novos modelos de negócios. extraído de Lavoie. No Quadro 1. tornam inútil a inovação. numa síntese bastante elucidativa. que eles saibam que os danos causados pelas licitações públicas irregulares e a prática de propinas vão além dos ganhos ilícitos de alguns: na verdade. porque gera empresas com alto potencial de sucesso. inibem o crescimento tecnológico. Ética. cidadania e responsabilidade social A formação de empreendedores nas escolas enseja uma oportunidade única de abordar os conteúdos éticos que envolvem a atividade econômica e profissional. genealogias de negócios assemelhados e com parentesco entre si. despreparam o país para a competição internacional.21 as novas exigências do ambiente econômico são extrapoladas para os perfis dos agentes no interior das empresas. É importante. Somente deve ser considerado empreendedor aquele que oferece valor positivo para a coletividade. como qualquer cidadão. São novas “colméias” de negócios ou empresas “filhotes” “ejetadas” e apresentadas ao mercado. A sociedade também deve estar atenta para os empreendimentos cujos resultados não são aplicados na localidade onde se situam.09. ser alguém com forte consciência social. por exemplo. A sala de aula é um excelente lugar para o debate desses temas. devem ser guiados por princípios e valores éticos. uma vez que aproveitam a sinergia com a empresa-mãe e com os centros de pesquisa. As pesquisas continuaram e. mas a vida. em 1971. na década de 1970 um estudo do U. O conceito de responsabilidade social das empresas e dos atores econômicos é recente e significa uma conquista da cidadania. elas proporcionavam mais crescimento econômico que as grandes empresas. que criou grupos de pesquisa para estudar a importância da pequena empresa na economia após a Primeira Guerra Mundial. já que as pequenas. A mensagem da “responsabilidade social” deve ser entendida como: o objetivo central não é o produto. é inegável que. a democracia.S. na década de 1920.oficina do empreendedor 14.23 citando Kirchhoff. Para Kirchhoff (1997). ou seja. porque provava que a economia de escala não dominava o crescimento econômico. Small Business Administration – SBA – sobre emprego de mão-de-obra concluiu que as pequenas empresas criavam cerca de 80% do emprego líquido nos EUA. O tema da ética é retomado no Capítulo 4. o emprego nas grandes 35 Duas formas de empreender . essa descoberta colocou em dúvida o modelo do capitalismo americano baseado na teoria econômica neoclássica e transformou os empreendedores em heróis. Segundo Cozzi. toda e qualquer responsabilidade tem a ver com a vida humana. eram responsáveis pelo crescimento da economia. deve ser biocêntrica. Uma das descobertas foi que os pequenos negócios geram mais empregos do que as grandes organizações. A sustentabilidade nasce na coletividade e se estende aos indivíduos.09. e não as grandes empresas. No entanto. a felicidade. porque sugeria que a teoria da destruição criativa de Schumpeter descrevia melhor a economia. Segundo. sob o ponto de vista ético. Ele evidenciou também que os pequenos negócios são criados por empreendedores.08 23:30 Page 35 segue o caminho inverso: cada um por si e o poder público por todos. e não o contrário. Com o reconhecimento da contribuição do empreendedorismo para a sociedade americana. A pequena empresa A forma de empreender através de pequenas empresas foi primeiro percebida pela Inglaterra. o equilíbrio ecológico. o que reserva a estes e aos que geram o auto-emprego lugar central no campo do empreendedorismo. com a vida em todas as suas manifestações. Essa descoberta causou perplexidade entre os economistas neoclássicos por duas razões: primeiro. o relatório da Comissão Bolton demonstrou: os pequenos negócios surgem quando as circunstâncias não favorecem a produção em massa das grandes empresas e sua conseqüente economia de escala. Em outras palavras. equivocadamente. Por que tal distinção? Porque empreender significa identificar oportunidades permanentemente. Ficar economicamente independente por meio da iniciativa individual virou a última expressão do ideal americano de individualismo. O conceito de sucesso também vem sofrendo mudanças entre jovens empreendedores. fechamentos. Para permanecerem. representados principalmente por recém-formados e por trabalhadores demitidos de corporações e órgãos públicos em virtude de reestruturações. os empreendedores criam um método ‘justo e eqüitativo’ de redistribuição de riqueza. Educar na área de empreendedorismo ou disseminar uma cultura empreendedora significa preparar pessoas capazes de criar empresas. etc. como status ou altos lucros. 1997.oficina do empreendedor 14. inovar e mudar sempre. depois de lançada. não poderiam ser chamados de empreendedores no sentido schumpeteriano do termo. Como isso é largamente respeitado como base apropriada para a distribuição da riqueza. Nas palavras do autor: “Empreendedores criam riqueza através da inovação e estão no centro da geração do emprego e do crescimento da economia. fusões. como auto-realização. caminhará com as próprias pernas.08 23:30 Page 36 organizações deixou de ser o primeiro objetivo de quem está procurando trabalho e renda. as empresas precisam se transformar. portanto.” (KIRCHHOFF. privatizações. Empreendedores criam um mecanismo de distribuição de riqueza que depende da inovação.09. de trabalho duro e de assumir risco. se vêem forçadas a criar seu próprio emprego como única alternativa de sobrevivência. A visão mecânica do mundo empresarial nos quer dizer. que uma empresa. não conseguindo colocação ou recolocação no mercado. 455) O auto-emprego Os tempos atuais são marcados pelo aumento da opção pelo auto-emprego e pelo surgimento de empreendedores involuntários. Sabemos que empreender significa identificar oportunidades e inovar permanentemente. Ou seja: pessoas que. Muitos dos empreendedores involuntários não são movidos pela inovação. p. os que as criam. Não raro testemunhamos a queda de gigantes empresariais aparentemente indestrutíveis. que o associam muito mais a critérios internos. do que a critérios extrínsecos. Formar empreendedores e não empresas Muitos pensam que as empresas existem sem os empreendedores. 36 .
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