DO RITO E DO MITO AFRICANO: A DRAMATURGIA COMO DIFUSORA DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

March 28, 2018 | Author: Tássio Ferreira | Category: Greek Mythology, Slavery, Sociology, State (Polity), God


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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEBSEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS - SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA DO RITO E DO MITO AFRICANO: A DRAMATURGIA COMO DIFUSORA DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA Tássio Ferreira Santana1 RESUMO O presente trabalho se dedica a relacionar os conceitos de mitologia, cosmovisão e rito em torno da valorização e divulgação da mitologia africana. Acredito que através dos mitos africanos é possível fomentar a cultura africana e afro-brasileira nas escolas, estando a ludicidade como base para a construção de um ser social ativo e consciente. Nesse sentido, a mitologia africana, com seus orikis, itans e orins, irá atuar como estímulo genuíno para a iniciação e aprofundamento do da disciplina artes, no estudo prático da dramaturgia. Através da referida pesquisa, compreende-se o estudo e prática do drama, como importante ferramenta de voz na sociedade, atuando não como reparo social, das marcas deixadas pela escravidão, mas como ampliadora da visão crítica do mundo, e uma possibilidade de voz perante o seu social. Palavras-Chave: Dramaturgia. Educação. Mitologia. Cultura. Africanidade. ABSTRACT This work is devoted to relate the concepts of mythology, worldview and ritual surrounding the promotion and dissemination of African mythology. I believe that through the African myths can promote African culture and African-Brazilian schools, with the playfulness as a basis for building a social being active and conscious. In this sense, African mythology, with its orikis, itans orins and will act as genuine stimulus for the initiation and expansion of the arts disciplines, the practical study of drama. 1 Mestrando em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC/YFBA), PósGraduado em Arte na Educação pela Faculdade Afonso Claudio (FAAC), Licenciado em Teatro pela Universidade Federal da Bahia. Email: [email protected] 1 Sobre a pintura rupestre é preciso registrar que a relação do homem com essa arte dita primitiva estava além do registro histórico. Mythology. 2 . mas relacionada a ritos. Africanness. Percebamos como desde sempre houve o rito no cotidiano do homem – desde as civilizações ditas pré-históricas até o nosso cotidiano. No presente artigo trataremos desses registros históricos e de como eles podem contribuir para o processo formativo do ser através de um caráter formal de educação.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA Through this research. Education. que atravessa gerações e chega até sua família. sementes. os homens primitivos pintavam nas paredes das cavernas (pinturas rupestres) o seu cotidiano. the marks left by slavery. por exemplo. Ou seja. O homem primitivo pintava nas paredes das cavernas porque acreditava que assim teria sucesso na caça de um boi. as a tool to import voice in society. como mote inicial para o ensino de Artes. portanto. utilizando de materiais orgânicos como fezes de morcego. me utilizei da Mitologia Africana. é possível dizer que esse homem primitivo já possuía uma crença em alguma força maior do que ele. Mais especificamente. O presente trabalho pretende investigar caminhos para que a história e cultura do povo africano contribuam para o ensino formal de artes na cidade do Salvador. Keywords: Dramaturgy. acting not as a social repair.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . apresentarei elementos da cultura africana e afro-brasileira. (Vanda Machado. além do entendimento desse cotidiano como parte de sua formação de caráter. Para repertório genuíno desse estudo.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . me refiro à cultura africana. Desse modo. we understand the study and practice of drama. algo abstrato que possa ser isolado da vida. 1 Introdução A cultura africana não é. que não se explica. and a chance to voice before their society. à cosmovisão do seu cotidiano. como participação histórica e formativa de seu povo. 2002) As histórias de seus povos foram registradas das maneiras mais diversas. Culture. Por exemplo. Essa crença se relacionava diretamente com a natureza. na tentativa de reconstrução dos mitos africanos em ritos contemporâneos. frutas etc. but as widening of the critical view of the world. possibilitando aos educandos a identificação dos mesmos no cotidiano. de suma importância na cidade Grega. num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . tem por efeito obter a purgação dessas emoções (ARISTÓTELES. quando. um 2 A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa.] o relato de uma história verdadeira. e que. Ele nos diz que o mito é: [. ou tão somente um fragmento. Através desses eventos.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . direcionando a conduta dos cidadãos. que influi diretamente no social e caracteriza uma realidade ocorrida de fato. a acordos sociais de ética e moral. p. Essa formação de conduta era difundida através das manifestações artísticas. que também cumpria a função de educar seu povo através da moralidade implícita no mito. logo a sua relação é de fundamental importância. Nos festivais. 2 O Mito.37) traz o conceito que o mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial. 305) 3 . o cosmo. Existe ainda outro conceito trazido pelo mesmo autor que apresenta outra realidade interessante – não só a interferência divina está em voga. p.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA Como estímulo inicial para o fomento dessa cultura que foi desconstruída ao longo dos séculos. bem como suas desventuras e fracassos. Junito de Souza Brandão (2010. 1959. e as tragédias narravam as aventuras e prodígios dos heróis. mas por atores. Aos mitos é possível atribuir também o valor da crença. o Rito e a Tradição Oral Muitas civilizações desenvolveram seu próprio repertório mitológico. um acontecimento incontestável que vem à tona e influi diretamente no tempo presente desse povo. os deuses e personagens célebres. seja uma realidade total. que resumidamente consiste na organização de relatos de uma civilização. ação apresentada. mediante a intervenção de entes sobrenaturais. porque está relacionado ao modo de vida. eram difundidos os efeitos moralizantes e a manutenção dos interesses de uma sociedade vigente.. ocorrida nos tempos dos princípios. da fé de seu povo. dos festivais em que poetas e escritores competiam elegendo as melhores peças de teatro e textos. utilizaremos a mitologia africana. mas a contextualização da interferência desse divino. as comédias2 tinham o papel de satirizar os poderosos. Há ainda muitos conceitos que envolvem a significação do mito. aos seus deuses. com a interferência de entes sobrenaturais. illo tempore.. VI. segundo as partes. suscitando a compaixão e o terro. de certa extensão. não com a ajuda de uma narrativa. uma realidade passou a existir. Na verdade o mito foi criado como ferramenta moralizadora na tentativa de organizar a Polis Grega. medo etc.. o divino é a base para as decisões sociais nessas sociedades ditas. Desse modo é despertado o horror. por interesses políticos. p. uma ilha.] do latim religione. a palavra possivelmente se prende ao verbo religare. Já foi possível compreender a significância do mito e suas implicações sociais. p. não podem ser revelados – que excedem a concepção humana.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . começou a ser” (Brandão. ‘primitivas’. A mitologia seria justamente o ‘movimento’ desse material – o estável e mutável simultaneamente. Deus é colocado no extremo da bondade e da maldade. alimentando-o com sensações que não se pode ter com elementos materiais. Existem vários significados para a mitologia. p. apenas sentir”.932): Religionum animum nodis exsoluere pergo – esforço-me por libertar o espírito dos nós das superstições – onde o poeta epicurista joga. caracterizando com a soma de elementos antigos transmitidos pela tradição e mitema as unidades constitutivas desses elementos. uma pedra. “Ela dá o que não se pode ver. espanto. Essa relação é bem próxima da relação mitológica. como está claro.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . acontecimentos que não se explicam ou que. ditos sobrenaturais. que não era. com as palavras religio e nodus. A religião pode ser considerada como um conjunto de atos e manifestações que cumpre a função de ligar o homem ao divino. um comportamento humano. – sentimentos que são responsáveis por um controle da ordem social. concebidos como história verdadeira. o que parece comprovado pela imagem do grande poeta latino Tito Lucrécio Caro (De Rerum Natura. nos contando “de que modo algo. a transformações. A religião está ainda na relação de “completar o que falta ao homem”. portanto. religião (“ligação”) e nó (uma outra ligadura). (p.37) (grifo nosso) Tanto o primeiro conceito quanto o segundo se justapõe ao significado de mito que será abordado nessa pesquisa – que se resume à narrativa de uma criação. Se considerarmos a etimologia da palavra mitologia encontraremos a mesma como o estudo dos mitos. 41) considera ainda o conceito relacionado à religião: [. Como já foi dito anteriormente. receio. Mas qual o significado de Mitologia? Qual a relação do rito e do mito? Qual a sua relação com o Mito? Por que o mito se associa à tradição oral? São perguntas que tentaremos responder nesse subcapítulo. sujeito. admiração. 1. Muitas vezes é feito um uso indiscriminado da divindade na tentativa de encobrir os mistérios.40) inicia com o conceito de mitologema. Brandão (2010. no instante em que explicações são 4 . 2010.37). uma espécie animal ou vegetal.. numa relação de dependência de seres invisíveis.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA monte. Brandão (2010. ação de ligar. encontrar uma relação direta entre o sagrado e o profano. nas quais percebemos a relação em equilíbrio existente entre a natureza e o uso dessa natureza. 41). porque considera a realidade atual da cosmovisão. Assim sendo. ao menos. canalizando à sua alma toda a energia e força que é possível extrair dessa relação. o rito comemora” (Brandão. Em resumo: “o rito é a práxis do mito. graças ao qual é possível dominá-las.19) através do rito é possível conhecer a origem das coisas. de religa-lo com aquilo que não seria 5 .SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA dadas para atitudes e ações que não se explicam pelas vias naturais. sobre as ervas. O rito possui. adquirir sobre as mesmas um poder mágico. de ir e vir. p. Ainda na relação existente entre o mito e o rito. Isso porque através do rito o homem se incorpora ao mito. as crianças aprendem desde pequeno. Brandão ainda reitera que “a religião para os antigos é a reatualização e a ritualização do mito. Segundo Mircea Eliade (1972.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS .UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . na comemoração do culto a seus deuses – nos seus ritos religiosos. de reafirmar o mito” (p. No rito ainda é possível transcender o mito. E não são uma realidade distante comunidades que ignoram isso. multiplica-las ou reproduzi-las à vontade. recuperando. Justamente essa relação de circularidade estabelecida nos rituais que confere ao homem a possibilidade de libertação. ele se transpõe às suas origens. conseguindo chegar à contemporaneidade. para entender como fenômenos sociais e naturais vêm acontecendo no planeta. assim. Nos rituais não é considerado o tempo profano. Se não fossem os ritos talvez não existisse essa preocupação no conhecimento da origem das coisas. seus usos no axé e seus usos medicinais. Visto que essa comunidade necessita diretamente dos frutos dados por Deus. percebemos outra relação crucial estabelecida entre o tempo.41). porém com a evolução do mundo – que mais involui o planeta que o evolui de fato – percebemos que o homem a cada dia necessita muito mais dessa ligação com suas origens. mas não pode fazer volta-la no tempo). O mito rememora. É o mito em ação. seus nome. dentro daquilo que está na normalidade. Acredito na ideia que a ritualização do mito contextualiza-o e o faz mais forte. 2010. p. o poder de suscitar ou. Nessa recuperação do tempo sagrado é evidente uma relação circular. na qual o tempo sempre volta sobre si mesmo. Isso é muito claro se pensarmos nas comunidades de candomblé. Justamente porque o tempo cronológico é linear e irreversível (você pode comemorar uma data histórica. no dizer de Georges Gusdorf. Isso porque não podemos perder de vista a noção de que a mitologia atravessa gerações. por exemplo. o tempo sagrado. ditas popularmente como “família do axé”. Ter muitos escravos hoje significava geralmente ter ainda mais escravos amanhã. de diabólico foi implantado pelos senhores de escravos ao longo a colonização do país. e não é de se assustar que ainda no século XXI. p. dentre outros.42). o adultério. Esse espírito de sujeira. Malês.675) A preferência nesse processo era por mulheres e crianças. Segundo Albuquerque (2006. 2006. existia uma rivalidade grande entre as nações africanas. As pessoas podiam ser penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas. em alguns casos. (Silva.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . feitiçaria. os Mussurumins.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA possível através das vias profanas. E de fazê-la crescer. Possuir escravos (em África) era o modo por excelência. E confesso que não é de se espantar que. mas veloz o ritmo de investimento natural e mais rápido o incremento do número de braços. Mulheres porque poderiam aumentar ainda mais o número de braços trabalhadores que. Posso elencar aqui alguns os povos: os Bantus.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . Tal como se passava com o gado. o sagrado. a troca e a compra eram outras maneiras de se tornar escravo. e pessoas se reportando ao universo cultural negro com horror e escárnio.14) a penhora. na busca pela sobrevivência. reconfigurar seus caminhos para construção de um futuro azado. seja desconhecida. poderia ter alguns dos seus escravizados pelo grupo vencedor. de acumular riquezas. disputavam territórios mais férteis. qualquer produção literária-artística-científica. nas comunidades pastoris. haja preconceito. A verdade é que esses povos viviam em guerra. Durante as batalhas. de podridão. e. Houve motivos específicos que contribuíram para a escravização do povo negro e a vinda dos mesmos para o Brasil. aquele grupo que perdesse. em grande parte da África. caso seus parentes saldassem o débito. iria aumentar a 6 . vinda da África (Subsaariana). A escravidão entre esses povos era uma prática recorrente. p. Outras práticas sociais também culminavam para a escravização. 3 A Mitologia Africana Inicialmente surge uma pergunta inquietante: Existe mitologia africana? Foi assim a reação de muitos amigos meus ao comentar sobre o desejo desta pesquisa. o “tempo” da eternidade (p. Nesta situação. O homem consegue abolir o passado. assassinatos. como: condenados por roubo. consequentemente. os Nagôs. quanto maior a escravaria. Primeiramente. o rapto individual. Brandão diz que o profano é o tempo da vida. os Gêge-Ijexás. extinguia-se o cativeiro. Sempre houve uma negação desse povo preto que ergueu esse país chamado Brasil. Aparecida etc. com a tentativa de unificação com a língua portuguesa e a conversão ao catolicismo. faltava articulação. É preciso salientar que a escravidão é uma prática presente ao longo da história do homem na terra. e que nada justifica os processos cruéis que ocorreram com a escravização no Brasil e no mundo. e até mesmo as línguas diversificadas que falavam. com as quais estabeleciam comunicações que não alcançavam os 7 .UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA .UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . – nomes de santos católicos. Sobre as diferenças culturais e linguísticas são outros fatores que acentuavam a desunião dos negros subsaarianos. Enfim. assimilavam facilmente as regras e constituíam rapidamente vínculo com a família do seu senhor – como diz Foucault. era fácil acontecer o jogo de manipulação por conta dos colonizadores. Esse movimento é mais forte na África Saariana – África branca – quando os árabes invadem o Egito. Para mim. porque eram a força jovem. Também criaram novas línguas. Desse modo. por volta do século VII. É preciso que se diga que houve um movimento forte para reprimir a propagação dessa cultura “preta”. É preciso deixar claro que não concordo com o processo. modulada em meio ao universo de cada povo. Com isso a comunicação era truncada.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA produção na lavoura. é claro. são seres facilmente docilizados. Essa tentativa é clara se rememorarmos os inúmeros batismos que houveram dos cativos com nomes portugueses e de santos católicos: Maria das Dores. o motivo mais forte para a desunião desses povos era. a vinda dos negros africanos alteraram subitamente o curso do processo identitário e cultural do nosso país. as guerras recorrentes por disputas de territórios dentre outros. O fato é que os Portugueses não conseguiram eximir de um todo a cultura africana. com isso. Todavia. além. João. foram elencados aqui alguns dos principais fatores que me parecem importantes para o processo de escravização ter tido êxito no Brasil. das diferenças culturais. sem dúvidas. Os Árabes conseguiram estabelecer um poderoso esquema envolvendo a escravização de modo bem organizado e articulado. Os africanos conseguiram estabelecer uma língua geral. através dos quais muitos homens e mulheres foram vendidos. Isso não se ocorre apenas na África. compreende-se que houve motivos que facilitaram o tráfico negreiro. o movimento atravessa o atlântico e chega às Américas – inclusive no Brasil. não é de se esperar que sua língua também difira. Com povos de costumes diferentes. As crianças. corpos dóceis. UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . Eles eram venerados por causa de suas virtudes. banana. Foi assim que esses homens se tornaram orixás. muitos deles não eram valentes. Dentro desta cultura acredita-se que cada um de nós tem um Orixá.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA senhores. Iemanjá. cuíca. são feitos à imagem e semelhança do homem comum. sendo que. canjica. A maioria dessas palavras se origina de um tronco linguístico denominado bantu. eles foram completamente esquecidos. banzo. malungo. curinga.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . fuzuê. boboca. cachaça. taco. cabaça. os orixás eram homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes. Não se tornaram orixás. zangado. 8 . como hoje. Elas designam aos seus deuses o nome de orixás. bingo. antigamente. dendê. quizomba. passando então a manifestarem-se como divindades controladoras ou sendo eles as próprias forças da natureza. Zumbi. o que mais influenciou a língua portuguesa no Brasil. são voduncis. olubajé. exprimem uma tentativa um tanto anárquica e sem dúvida frustrada – mas fascinante – da criatura humana para desvendar seu próprio mistério. a vida de muitos desses orixás é narrada como meio de ensinamentos. mugunzá. sua grandeza e mesquinhez. Os homens eram numerosos sobre a Terra. os deuses envolvidos nas histórias são os orixás ou inkices ou voduncis3. potoca. pesquisador Francês dos temas Africanos: Um Babalawo me contou: Antigamente. estabelecendo seu código linguístico de defesa social. A seguir. Abaixo selecionamos um texto de Pierre Verger. axé. Eles eram respeitados por causa de suas forças. você confere exemplos da herança Africana que permanecem em nossa cultura: quilombo. bengala. Homens que se tornaram orixás por causa de suas sabedorias. tempo. Na mitologia em questão. tagarela. caçula. afoxé. Nós adoramos suas memórias e os altos feitos que realizaram. toco. dendê. cafuné. a memória destes não se perpetuou. com suas lutas e paixões. dengue. Já na nação Bantu (Angola) recebem o nome de inkices e na nação Jêje-Ijexá. sopapo. bunda. A nação Ketu é a que mais domina na Bahia. nem sábios. Oxalá. Na mitologia Africana. cachimbo. “um pai que rege nossa cabeça” e nossa vida. em especial os orixás e seus enviados. nem capatazes – assim sobreviviam os negros. Em cada vila o culto se 3 Existem três nações que são mais recorrentes no candomblé da Bahia. pururuca. moleque. uma das maneiras de alcançarem a divindade e transformarem-se em Orixás. e da própria perpetuação da cultura. ginga. bugiganga. Boi-Bumbá. Os deuses e heróis. fora através de atos extraordinários que praticaram crises passionais ou sofrimentos extremos. orixá. que a transcende. os negros se encontravam. na tradição oral. 2005. Outra personagem dessa história que poderia constar de um livro de aventuras (com toques trágicos. estava acontecendo um ato ecumênico. ou atualizadas de tradições já difundidas no Brasil pelos Jeje (Nicolau. e na Barroquinha. teria sido. talvez) é Marcelina Obatossi. a sacerdotisa Iyá Nassô (Francisca Silva) 4 trouxe o culto de Xangô. e. como a suposta proprietária do escravo. desenvolvia festas votivas à Xangô no salão de sua casa. a que se somou a originalidade de invenções litúrgicas em terras brasileiras. festejam o dia dedicado a ele etc. No Brasil se teria criado. O segundo é considerado por seus descendentes na Bahia como um príncipe do reino de Oió. de diferentes etnias. Posteriormente ela regressa à África. para onde. oferecem presentes. por ela alforriado. Não havia e não há um “politeísmo”. A primeira.10) Em África. Com a escravização. chamado Bamboxê. conforme já elucidado por Costa Lima (Costa Lima. 1977: 24) era a sacerdotisa do Xangô do Rei: Iyá Nassô é um titulo dado à dama que assume tais atribuições. 2002).UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . Obviamente que a questão da mitologia africana está além do religioso. 71) Para mim. teriam vindo duas proeminentes figuras da estrutura imperial de Oió: Iyá Nassô e Bamboxê Obitikô. (Oliveira. então. intensificaram-se as migrações de escravos do reino de Oió para a Bahia. O candomblé da Barroquinha. Voltemos à Mitologia Africana em si. p. 4 Os integrantes da família real de Ketu devem ter dirigido o candomblé da Barroquinha até as cercanias do ano de 1830. os povos foram misturados. Ao chegar ao Brasil da África. e Bamboxê inaugura a Casa Branca (Ilê Axé Iyá Nassô Oká) nos moldes do candomblé Ketu que conhecemos hoje. p.62) 9 . o crédito por essa criação é dado pela tradição oral a Bamboxê Obitikô. (p. a dança em roda. (Oliveira. 2005. entre outros ritos. no instante que preocupou-se em manter as raízes espirituais de seus cultos aos orixás. pois. uma composição ritual das vertentes Ijexá e Efan somadas às já antes amalgamadas em processo sincrético verificadas desde a África: Jeje-nagô e Ioruba-tapá (Silveira. o culto aos orixás variava de cidade para cidade. Cada cidade tem seu orixá guardião.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA estabeleceu sobre a lembrança de um ancestral de prestígio.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . onde têm igual dignidade todos os Orixás (o Xirê). E lendas foram transmitidas de geração em geração para render-lhes homenagem. É a partir dessas matrizes que se pode identificar as origens de diferentes Orixás e de ritos variados. se pensamos na diversidade já citada dos cultos envolvendo os orixás africanos. Nos encontros no salão de sua casa. e todos no lugar veneram este orixá. que consta. Nessa época. Iyá Nassô tem um papel fundamental no Brasil – a unificação dos povos Africanos. Mas seria um erro meu falar de mitologia africana e ignorar a presença do culto aos orixás e do candomblé brasileiro. ali. 2000). Mas ao desferir o golpe. a história trata ainda da explicação fantástica para justificar um traço físico da lebre. orim da África do Sul. “A origem da Morte”. Quando a lebre voltou para perto da lua.Eu disse a eles que você tinha me mandado dizer que da mesma forma como você nasce e morre. recontar um Orim. orins e itans que fornecem um estímulo genuíno para o desenvolvimento de crianças. “É preciso mencionar que os contos são as vozes de um povo. coisas são agregadas. português. coisas se perdem. Itans são cantigas. ouvir da boca da própria lebre as mesmas palavras que ouviram os homens: . 7 Orins são histórias. Por que ele já existe. (p. como aporte para o estudo formal tradicional brasileiro. 8 Sim. Além da morte. na tentativa de exprimir aquilo que o científico não consegue comtemplar.] A oralidade. em vez da cabeça. Encadeados dialogicamente. desse episódio. narrativas.. a lebre.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . simplesmente. Por isso ela acredita que muitos orikis5. Nesse sentido. assim também os homens nascerão e morrerão. a machadinha atingiu o lábio superior da lebre. E as manchas escuras que ainda hoje se veem na superfície da lua são as cicatrizes que ela guarda. assim como o conceito de autoria. a humanidade também morrerá e voltará a viver. de lembrança. E a lua pôde. quando chegou onde estavam os homens. simplesmente. pertence ao universo cultural social do povo. Daí para frente a lebre ficou com essa rachadura na boca.” (Pinheiro. do jeitinho que a lua tinha pedido. p. 16 a 18) Em. em vez de levar exatamente esse recado. assim também os homens nascerão e morrerão. história. A lua ficou tão enfurecida com a falta de cuidado e a troca de palavra e de sentido feitas pela outra. a morte. formam esse imaginário coletivo e essa memória resguardada. a lua chamou a lebre e mandou-a levar o seguinte recado aos homens.” Mas. é parte integrante desse universo.. na terra: “Assim como eu morro e volto a aparecer. levantou as garras e arranhou a cara da lua. esta logo quis saber se o recado havia sido dado tal qual ela havia recomendado. que sua reação imediata foi passar a mão numa machadinha para rachar ao meio a cabeça oca da lebre. está recontando. trata de como a palavra tem força. com o sangue fervendo pelo tratamento nada amável que recebera da amiga. transmutada de geração em geração. deixando nele um profundo talho.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . disse: . que todo mundo chama de “boca de lebre”. [. No instante que alguém o “passa à frente”. o povo africano gosta muito de poesia.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA Segundo Carolina Cunha (2007). E como sua organização ou modificação de 5 Orikis são poemas sagrados. E tanta ludicidade existe nos orikis. como tema central. tão carregada de mistérios. não se pode falar em uma construção individual. então. Mas vai além. está laçado ao mundo.8) 6 10 . pois em se tratando de uma tradição da palavra narrada. podendo ser utilizado na escola com qualquer disciplina: geografia. de um tempo e de um espaço em constante processo de transformação. Por sua vez. e nesse processo. em certa ocasião. a lebre. matemática. explora-se. isolada do seu contexto sociocultural. itans6 e orins7 foram inventados. s/d. não se sabe se por esquecimento ou por malícia. é preciso ser revisto o processo de autoria. jovens.A lua mandou dizer para vocês que da mesma forma como ela nasce e morre. Vejamos esse Orin de recontado8 por Celso Sisto (2007) A Origem da Morte Contam por aí que. que não apenas da ordem exotérica. ao científico. quase sempre severas – como sofreu a lebre. através dos mesmos. quando a lua está cheia. na construção dos saberes. tendo uma relação mais ampliada do conhecimento. Elencarei problemas enfrentados desde os alunos até a instituição escola (coordenação pedagógica. Ele sempre terá uma solução “simples” para resolver um problema aparentemente complicado. existe um lugar da floresta perigoso. o espontâneo. lugar este proibido por habitar uma força espiritual fantástica. porém não único. Quem sabe conversar. as crianças tirem o aprendizado de determinada situação. No próximo capítulo tentarei explorar as dificuldades que enfrento enquanto educador ao explorar conteúdos voltados à cultura africana. Cabendo ao leitor ou ouvinte do orim a interpretação das reflexões ali presentes. em um orim podem conter inúmeros conhecimentos. itans ou orikis para que.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA poucas palavras pode alterar o sentido das coisas. O texto também ilustra o fato da lua ter manchas que é perceptível.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . Por exemplo. (Machado apud Souza e Nazaré. dentre outros. Se a criança. sobretudo aquele que está imbrincado nos mitos africanos. p. gerando atitudes drásticas. entendendo ou não a moralidade presente insistir em ir para o lugar da floresta referido.) 11 . Acredito que. ela arcará com as consequências. A cultura oral assume. A prática do diálogo é o que cria a possibilidade do ser ouvinte. Enfim. Jamais uma mãe diria ao seu filho não vá por aí. na base do diálogo. sobretudo. como foi descrito. 107) Justamente assim. além de tentar explicar o início do processo de morte. Elas contam orins. sem nunca ter feito medicina. é formado o ser africano. através do qual ele se relaciona de maneira mais plural com seu social. seleciona e expressa seus pensamentos e emoções com mais facilidade. de preocupar-se com o que é dito. Ele conhece as folhas e ervas necessárias para curar doenças cotidianas. assim. Nesse sentido se afirma a relevância de incorporar à escola formal brasileira o conhecimento não oficial. Ela contaria alguma história e dali caberá a criança inferir o ensinamento.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . O bom ouvinte cria naturalmente a possibilidade de ser alguém de percepção ampliada e transformadora. Aliás. é assim que fazem os africanos com suas crianças. A criança. o orim é importante nesse ensinamento de pensar antes de falar. o homem africano é conhecedor de medicina. articulação com outros docentes. um papel fundamental. Isso desenvolve no africano um repertório social rico. não se limitando ao formal. 2006. associa e organiza ideias. em alguns casos. sem investimentos tecnológicos. inicialmente. Qualquer projeto que houvesse de se trabalhar com as diferenças sociais. e. precisa usar um torço branco na cabeça. quase sempre. que se tornam cada vez mais claros para mim. Esse aluno certamente irá sofrer discriminação. Invisibilidade e Desvalorização Existe um jogo de interesses.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . e. Sim! Eles são os mais discriminatórios. Existem ainda indivíduos que saltam à realidade da massa manobrada. Esse aluno deve se alimentar seguindo uma dieta específica. porque as regras são tão evidentes. Desse modo fica claro perceber que a grande massa não tem escolha. Em primeiro lugar ela virá dos professores. Escola pública de péssima qualidade. falta de material didático aquedado. Nesses valores está imbricada. pós-ritual. opção sexual heterossexual.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . que quase sempre beneficiam as classes mais abastadas. usa as contas ou guias de seu orixá. ou boné. ainda. na sala dos professores. de fossos. que. de um menino que é iniciado no candomblé. com um aparelho físico gasto. Posso dizer isso com pouca experiência que tenho no ensino formal brasileiro. e se cumprem através de interesses pessoais – e tratamos de uma legislação cheia de brechas. Estamos falando de escolhas arbitrárias de conteúdos que são ensinados com objetivos de manobrar a massa ignorante. Por que ele já tem seus valores cristalizados. não condiz com a realidade da merenda escolar. Ao passar por esse processo. Esses precisam ter estômago para suportar a vida. que saltam aos olhos. através dos quais os valores cristãos são fortes e dominam ainda todos os setores sociais. Ela será conduzida. ele calça um abatá (chinelo de couro branco). 12 . profissionais mal remunerados e desestimulados. da escolha em ser o que quer. Falamos todo o tempo de uma era da liberdade de expressão. o machismo. com mudanças tão radicais de ideais e da postura da sociedade frente aos ideais. doutrinada. Digo isso por conviver de perto com um caso muito parecido com esse. Infelizmente estamos falando de um país cujas leis não são para todos. com o homem à frente das grandes decisões e profissões. ele necessita de cuidados especiais. em torno da educação no Brasil. ao se deparar com um caso como esse. O pior é pensar que essa mentalidade é viva em pleno século XXI. por exemplo. Falamos de um país que ainda se arrasta com sua herança colonialista. deveria ser fomentado. do ir e vir. rejeita o aluno.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA 4 Silenciamento. mas o que se percebe é a castra. Nesse caso o menino usa roupa branca. Falo. educação.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . ele aborda que a mesma interfere no processo social curando suas mazelas. que é real. Não existe conhecimento. Quando tocamos nesse ponto. para chegar até essa formação. É estranho pensar que na verdade a intenção dos governantes é homogeneizar o ensino/conhecimento. conhecido como educação redentora. ideal. e seu conceito de ensinar tudo a todos. concreta e verdadeira. revelando a escola como um espaço de exclusão possibilitando afirmar que o sistema educacional brasileiro não tem conseguido contemplar e assimilar o diverso. Sabemos que o cristianismo impera e rege muitos setores sociais. mas essa ação parte de um modelo ideal. mas logo o discente é incorporado à sua realidade. Seria essa uma das vertentes dessa abordagem educacional. Ainda nesse viés versado por Luckesi. Vivemos em um país laico de mentira. Nesse sentido percebo uma fragilização no discurso de Luckesi. bloqueando ainda mais outro tipo de manifestação de fé. Essa análise do contexto social é maquiada.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA Os colegas de sala do aluno até brincam. apontam inicialmente como chacota.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . mas a abrangência ainda é maior. bairro. Partindo dessa fragilidade encontramos no caminho com Comênio – autor desse viés da redenção. Segundo ele. Mas nessa tentativa errônea: Essa homogeneização acaba negando a diversidade brasileira. novamente nos debruçamos sob o processo educacional brasileiro.02) O que se tem que fazer é tratar das diferenças e não igualá-las. em uma de suas abordagens. É criar um ambiente comum a todos. é cada indivíduo e sua pluralidade intelectual. Esse movimento de afirmação de poder entre ambas gera um mal estar social. numa perspectiva global. que não seja uma delas. interacionais e entrelaçado. Isso porque a igreja católica vem perdendo fiéis para as grandes casas evangélicas. (Almeida. casa. considera um modelo único. promover a coesão social e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social. Falta a consciência de que a educação é o mundo. porque não somos e não queremos ser iguais. família. já que são unilaterais. rua. cidade. e as identidades culturais e raciais que construíram a nação. ela deve reforçar os laços sociais. O oposto acontece aqui em nosso território. é o país. todavia. p. a diferença. Cipriano Carlos Luckesi (1994). a especificidade e temporalidade do outro. porque não existe interesse em 13 . Hoje existe uma disputa entre o protestantismo e o cristianismo. já que ele entende a educação redentora preocupada com a formação particular do indivíduo. sem sociedade e vice-versa. 2005. nos diz que a educação deve ser pensada como meio de adaptação do indivíduo à sociedade. É inevitável a afirmação de que nesse processo falta um olhar de fora de uma espécie de diretor teatral que media o processo para uma boa qualidade ao fim do mesmo. em algumas localidades. o sistema capitalista-tecnicista pede o enformamento que Rubem Alves (2001) trata muito bem em suas explanações. a escrever. o conhecimento. existe uma mobilidade maior. mas quem nem sabe que ela existe e tão pouco o que de fato ocorre no mundo. Mas será que realmente consegue-se melhorar o ensino com padrões curriculares que não se contextualizam? Apesar das entrelinhas do próprio PCN conter as informações da contextualização. morrerá prole. Interessante essa intervenção de Comênio que desloca a grande parte da responsabilidade para o todo. e ajuda a eleger os responsáveis pela sua trajetória mundana.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS . mas a condução caminha para tal. Ensina-se o básico.. Seria essa uma abordagem pessimista do trato educacional. essa estranha manipulação governamentalista – ou quem sabe uma falta de interesse. A escola consegue perpassar por vários caminhos como dizia Camões: “Por mares nunca dantes navegados. a contar.”.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . tendo autonomia para desenvolver projetos inter e transdisciplinares. De fato. mostrando muitas vezes que a tentativa é melhorar o ensino como um todo. ela de fato quase sempre não ocorre. a escola tem suas reuniões pedagógicas. em Salvador – por exemplo – não se estuda fundo sua história. até porque somos produto desse todo. e que a escola ainda esteja submetida a tal bloco consolidado e muito articulado. organizando o conhecimento a ser ensinado. uma visão de que a sociedade que institui a escola para seu serviço.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA contextualizar a educação. É importante a valorização nacional e regional – já que é desta que muitos servem-se. hoje. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) instituídos em 1997 têm um pano de fundo enformador. iluminismo – sem querer aqui desmerecer a importância do entendimento de como as relações mundiais se configuraram. Não em uma perspectiva determinista. O Brasil do século XXI é deformado pelas instituições públicas onde o enlace manipulatório é maior. 14 . na sociedade.. Engessada. Tão bem coeso que aos poucos pratica auto sabotagem e hoje vivemos nessa crise mundial que afeta não só os mais interessados nessa ótica. a revolta dos malês. É interessante que se tenha a prole-funcional que vota. Ainda existe. a unidade escolar se mantém presa a muito desses conceitos. mas sabemos muito bem o processo da revolução francesa. onde nasceu prole. Por isso. quando cabe a cada um a parte desse todo. mas ainda percebe-se. Lamentável que este modelo ainda exista. inspirado no modelo reprodutor versado por Luckesi: ensina-se a ler. 2001. Pierre Fatumbi. Arte Poética e Arte Retórica. 2005. Campinas: Papirus. Emil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais. Ed. 1997. ed – Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia. São Paulo: Perspectiva. 2002. 2006. out. São Paulo: Difusão Européia do Livro. São Paulo: Cortez. ed. Mito e Realidade. Beatriz. 1998. ALMEIDA. I. Filosofia da Educação. BRANDÃO. 22. Petrolina. Salvador: Corrupio. VERGER. 1959. Historien: revista de história [4]. OLIVEIRA. Maria (org). São Paulo: Hucitec: Edições Mandacaru. São Paulo: Edições SM. Cínthia Nolácio de. 1997. ________. 2ª.UNEB SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACOLHENDO AS LÍNGUAS AFRICANAS .UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA . Brasília: Fundação Cultural Palmares. STAIGER. 1972. Drama Como Método de Ensino. SOUZA. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. (Tese de Doutorado) – Salvador: Programa de PósGraduação em Ciências Sociais – PPGCS /UFBA. 2006. BENISTE. José. Vanda. 2011. Lendas Africanas dos Orixás. CABRAL. Literatura Afro-Brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. Rubem.SIALA LÍNGUAS E CULTURAS AFROBRASILEIRAS E AS NOVAS TECNOLOGICAS 22 a 26 de Setembro de 2014 Salvador – BA Referências ARISTÓTELES. Junito de Souza. 2010. Conceitos fundamentais da poética. 639/2003. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). Florentina e NAZARÉ. 2007. 15 . CUNHA. Ilê Axé: vivências e invenção pedagógica – as crianças do Opô Afonjá. ALVES. Trad. Mitologia Grega. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. LUCKESI. – Petrópolis./mai. Rafael Soares de. Poética. 1994. Carolina. Eleguá e a sagrada semente da cola. ELIADE. RJ: Vozes. [ilustrações: Carybé]. Eudoro de Sousa. Feitiço de Oxum: um estudo sobre o Ilê Axé Iyá Nassô Oká e suas relações em rede com outros terreiros. Mitos Yorubás: o outro lado do conhecimento – 4ª. Mircea. Porto Alegre: Globo. Cipriano Carlos. A Obrigatoriedade do Ensino das Histórias e Culturas Africanas e Afrobrasileiras na educação Escolar: reflexões sobre a lei 10. 2011. vol. MACHADO. 1966.
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