Div Inclusao Educ ARTIGO b

March 29, 2018 | Author: Rodrigo L D Krause | Category: Ethnicity, Race & Gender, Racism, Sociology, Gender, Pedagogy


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Pós-Graduação em Educação Módulo BásicoDiversidade e Inclusão Educacional Juliana Simões Bolfe FAEL Diretor Executivo Diretor Acadêmico Coordenador Pedagógico Marcelo Antônio Aguilar Francisco Carlos Sardo Francisco Carlos Pierin Mendes EDITORA FAEL Autoria Gerente Editorial Projeto Gráfico e Capa Revisão Programação Visual e Diagramação Juliana Simões Bolfe William Marlos da Costa Patrícia Librelato Rodrigues Marcela Mendonça Sandro Niemicz ATENÇÃO: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael. EDITORA FAEL Av. Visconde de Guarapuava, 5.406 Batel | Curitiba | PR | CEP 80240-010 FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 Todos os direitos reservados. 2012 dos estereótipos e preconceitos contra aqueles percebidos como “diferentes” no seio da sociedade desigual e excludente. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz captar o mundo e transformá-lo (FREIRE. estendendo-as. associada a uma determinada classe social. 61-62). discriminação e racismo. A grande tarefa no campo da educação é a busca de caminhos e métodos para rever o que se ensina e como se ensinam. A escola é uma instituição cultural e. Criar novas possibilidades que estabeleçam respeito pela diferença. porque é neste espaço também que as experiências sociais são (re)significadas e (re)elaboradas num devir constante. Currículo. nas escolas públicas e privadas. Diversidade cultural na escola: um grande desafio Vivemos na era da globalização da economia e das comunicações. as questões que dizem respeito à diversidade cultural. elegendo práticas pedagógicas que atentem essas características são premissas para que a equidade se torne um eixo norteador das relações socioeducacionais. a escola pensada como espaço sociocultural imprime marcas nas vidas de todos os atores educacionais que dela fazem parte. preconceito. Multiculturalismo. tal como empregada por Hall (1997). 1979. 30-31). ou exóticos para se poder questionar a construção de diferenças e. p. adotar o multiculturalismo crítico como horizonte norteador significa incorporar nos discursos curriculares e nas práticas discursivas. A expressão “centralidade da cultura”. gênero. Portanto. pois eles reafirmam a superioridade de uma cultura erudita. alunos e sociedade) não devem ser pensadas como dois polos independentes. por conseguinte. O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. assim como dos processos de inclusão e exclusão social e institucional dos sujeitos diferentes. McLaren (2000) entre outros acreditam que o multiculturalismo vai além da valorização da identidade cultural em termos folclóricos Diante disso. Palavras-chave Diversidade. Constata-se que a cultura popular sempre esteve ausente dos currículos escolares. valores e práticas dos alunos são. Práticas pedagógicas. principalmente em relação ao currículo e às práticas pedagógicas. pois há sequelas profundas de racismo e de discriminação na educação. pois é evidente a clara preocupação com o entendimento e o enfrentamento do estereótipo. classe social. mas como uma rede construída com fios interligados pelas relações do cotidiano. 1. Autores como Silva (2000). As transformações culturais se desenvolvem de forma bastante aguda no nível do microcosmo. contingentes e inacabadas (CANEN. que é constituída das relações com a vida cotidiana individual e coletiva. Em decorrência disso. no âmbito do marxismo culturalista. os conhecimentos. ignorados pela educação escolar. as relações entre os seus membros (professores.Diversidade e Inclusão Educacional Resumo Este texto tem por objetivo analisar como a diversidade e o multiculturalismo têm sido abordados no âmbito social e educacional. como construções sempre provisórias. em geral. OLIVEIRA. O multiculturalismo vem sendo debatido devido à necessidade da compreensão da sociedade como constituída de identidades plurais. em que o multiculturalismo vem sendo também discutido e debatido devido à necessidade de se compreender como a sociedade é constituída. por isso. desafios a noções que tendem à essencialização das identidades. padrões linguísticos. Cultura é tudo o que é criado pelo homem. culturais e religiosos. p. existe a centralidade da cultura. refere-se à forma como a cultura penetra em . Tanto uma poesia como uma frase de saudação. e da formação de professores em sociedades multiculturais e desiguais como o Brasil. Percebe-se que o tema da diferença e da identidade cultural aparece com muita força no campo da educação. 2002. A cultura consiste em recriar e não em repetir. ao contrário. No caso da educação. com base na diversidade de raças. Educação. bem como modifica práticas acadêmicas hegemônicas. O contexto social é o responsável pelo processo de identificação. p. e que sejam capazes de reinventar a escola. De acordo com Hall (1997). comunidade. fluido e complexo cruzamento de culturas que se produz na escola entre as propostas de cultura crítica. Teodoro (1987) entende que para o processo de socialização do homem é fundamental a afirmação de uma identidade positiva. delegando à escola e aos professores um papel fundamental. normas. para isso. sentido e consistência do que os alunos e alunas aprendem na sua vida escolar é este vivo. diferenças raciais. artísticas e filosóficas. O responsável definitivo da natureza. ao ver suas relações como intrinsecamente constitutivas do âmbito da educação essa constatação parece se revestir de novidade. p. oferecer às gerações mais jovens a cultura e o saber produzidos pela humanidade. de uma nova postura. rotinas e ritos próprios da escola como instituição social específica. relação essa atravessada por tensões e conflitos. É preciso admitir que toda prática social tem uma dimensão cultural.). é preciso que ocorra o desenvolvimento de um novo olhar. Assim. às crenças dos sujeitos que compõem a sociedade. É dentro deste cenário da pós-modernidade que a escola precisa atuar. . é necessário encarar a escola como um espaço de “cruzamento de culturas” e. Segundo Gómez (1998). a cultura não pode ser estudada apenas como uma variável sem importância. que determina a forma. Desse modo. essa afirmação é um fenômeno sociocultural. não há educação que esteja apartada da vida social e. 35). e as representações e/ou impressões que são construídas nessas relações são fundamentais para saber como o indivíduo se define e define o outro na sociedade. o que torna mais importante ainda pensar em movimentos de interação que deem visibilidade à cultura. ela deve ser vista como algo essencial. A cultura é colocada como condição indispensável para se compreender a vida e a organização da sociedade. impedir a realização da identificação positiva com a cultura nacional (TEODORO. trabalho. um cenário que coloca novos desafios. 1998. as pressões cotidianas da cultura institucional.cada recanto social. e as características da cultura experiencial. que se refletem no currículo. apesar de muitos autores tratarem de práticas pedagógicas desafiadoras. tornando-se elemento fundamental no modo como o cotidiano é configurado e modificado. Desse modo. o caráter e a vida interior desse movimento. presente nos papéis. pois não se pode conceber uma experiência pedagógica desculturalizada. Porém. etc. Logicamente. As identidades são forjadas nas relações sociais. o que caracteriza o universo escolar é a relação entre as culturas. e que as pessoas sejam capazes de identificar as diferentes culturas que se entrelaçam no universo escolar. 17). igreja. 1987. A escola é uma instituição construída historicamente no contexto da modernidade. aos valores. Dessa forma. isso não significa que o posicionamento a favor da centralidade da cultural não implica considerar que nada exista a não ser ela. as transformações culturais buscam privilegiar determinados temas na análise dos fenômenos sociais. sem que a referência cultural esteja presente. ao aceitar a íntima associação entre escola e cultura. estabelecendo-se a matriz intelectual que propiciou a eclosão dos estudos culturais. Ao partir dessas afirmações. Isso se acentua quando prevalece uma cultura em detrimento da outra. mais especificamente. as determinações da cultura acadêmica. que se situa nas disciplinas científicas. ou não devem. étnicas. considerada como fundamental e apta a transmitir cultura. Conceber a dinâmica da escola nesta perspectiva supõe repensar seus diferentes componentes e romper com a tendência homogeneizadora e padronizadora que MÓDULO BÁSICO 2. do momento histórico em que se situa. adquirida por cada aluno através da experiência dos intercâmbios espontâneos no seu entorno (GÓMEZ. fenotípicas e regionais não podem. já que toda prática social depende de significados e com eles está estreitamente associada. reconhecendo o que a diferencia dos demais espaços de socialização: a “mediação reflexiva” que realiza sobre as interações e o impacto que as diferentes culturas exercem continuamente em seu universo e seus atores. as influências da cultura social. Constitui-se um desafio em valorizar identidades que foram massificadas e aviltadas nos diversos espaços sociais (família. ”Os diferentes”. os de origem popular. em uma sociedade. A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. enfim. o desenvolvimento da sensibilidade. muitas políticas públicas têm sido desenvolvidas. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 3. ajudou a sustentar a esperança em alguns indivíduos. tornou-se possível acreditar na possibilidade de que o projeto ilustrado pudesse triunfar devido ao desenvolvimento da inteligência. Graças a ela. ampliar o repertório de conhecimentos entre municípios. Nesse sentido. Essa nova configuração das escolas gera mal-estar. existe uma cultura afro-brasileira que faz parte da raiz histórica do país e que não pode ficar afastada do sistema educacional. à utilização do conhecimento científico e à geração de uma nova ordem social mais racional (SACRISTÁN. A promessa de que a educação multicultural está presente no currículo e na prática diária. Resgatar essa cultura significa valorizar e enriquecer o patrimônio cultural brasileiro. A pluralidade cultural é um tema que vem sendo estudado por várias áreas do conhecimento. formas de alimentação. O novo desafio está em possibilitar a presença da diversidade e da diferença para o cruzamento de culturas. são excluídos do universo educacional. a escola sempre teve dificuldade para lidar com a pluralidade e a diferença. mas respeitar a cultura e. Esse é o modelo cultural que vem perpetuando valores sociais de uma época. apesar deste se constituir o grande desafio da escola na atualidade. Essa é a utopia que impregnou e impregna ainda hoje a educação no âmbito escolar. os afrodescendentes. sobretudo. Tal modelo seleciona saberes e valores mais adequados ao seu desenvolvimento. p. deve ser uma prioridade. Desde o início a educação multicultural prometeu tratar todos os grupos como iguais. valorizarem as diferenças.impregna suas práticas. reconhecerem os diferentes sujeitos em seus espaços culturais e. 21). visando à abordagem da diversidade e das várias manifestações culturais presentes na sociedade. Segundo Sacristán: A educação contribuiu consideravelmente para fundamentar e para manter a ideia de progresso como processo de marcha ascendente na História. Em vez de preservar uma tradição monocultural. ou o domínio da fatalidade e da natureza hostil pelo progresso das ciências e da tecnologia propagadas e incrementadas pela educação. A fé na educação nutre-se da crença de que esta possa melhorar a qualidade de vida. Para Candau (2005). a compreensão entre os seres humanos. assumindo uma visão monocultural. No entanto. o decréscimo da agressividade. assumindo uma visão monocultural do ensino. mas somente algumas são cumpridas. a racionalidade. artes. assim. os atores educacionais precisam aprender a trabalhar com a pluralidade de culturas. o desenvolvimento econômico. promover uma cultura de respeito. pois é mais cômodo trabalhar com a homogeneização e a padronização. No Brasil. trazendo a pauta aos alunos toda construção coletiva historicamente criada pela humanidade. regras de conduta. estados e países. em um mundo e em um porvir melhores. abrir espaços para a diversidade. para a autora. inúmeros estudos têm evidenciado outros olhares que veiculam uma visão homogênea dos conteúdos e dos indivíduos relacionados ao processo educacional. 2001. a pluralidade cultural é um tema que vem sendo estudado por várias áreas do conhecimento. desestabilizando o seu padrão monocultural e propondo outra realidade sociocultural.1 A diversidade cultural na legislação brasileira Com o grande apelo que o paradigma do multiculturalismo tem tido. ao nível da educação o que precisa é não desenvolver novas filosofias. ao exercício da racionalidade. tensões e conflitos denunciados por professores(as) e alunos e mostram a fragilidade do mundo contemporâneo. ainda. 1. de forma contextualizada e centrada na criticidade. já que faz parte dos currículos e programas oficiais do governo. . O intercâmbio entre as várias culturas pode propiciar a troca e vivências sobre práticas. para a diferença e para o cruzamento das culturas constitui um grande desafio a enfrentar. No entanto. Assenta-se sobre a ideia de igualdade e do direito de todos à educação e à escola. Por exemplo. costumes. Para isso devem ser construídas práticas educativas em que a diferença e o multiculturalismo se façam cada vez mais presentes. pertinentes à História do Brasil. Contudo.639/03 contribuiu grandemente com esses objetivos. ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular.A Constituição Federal de 1988 é a primeira. O parágrafo primeiro afirma que: O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos. com base nos novos paradigmas educacionais da atualidade. 55. sendo considerado um grande passo na inserção da população MÓDULO BÁSICO 4. Em 2003 foi sancionada a Lei n. para eliminar a cultura de exclusão escolar e efetivar os propósitos e as ações referentes à educação para todos. estudar a África pela África. 10. que nos levará a discussão da questão racial no Brasil em seus diversos aspectos.298 regulamenta a Lei n. 2003) colocam que o negro. Inúmeras leis foram publicadas no Brasil em defesa do atendimento educacional às pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes regulares. No segundo parágrafo consta que: “Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar. discriminação. . tirando-a da transversalidade. Face à existência desta lei. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL. Mesmo porque. econômica e política. é necessário desvendar a África que foi escondida desde os tempos do tráfico de escravos para se justificar a escravidão. torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. não basta. inciso III). tendo como base uma escola inclusiva. orientados por docentes preparados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos. Essa lei. “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e Médio. o que significa profissionais que saibam trabalhar com diferentes situações decorrentes das desigualdades raciais.394/1996) e tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e Médio e dá outras providências. 8. o da inserção dentro dos currículos escolares no dia a dia do professor/aluno. como todos os outros cidadãos brasileiros. ensino fundamental e ensino médio. 7. A Lei n. 9. Reforçando os dispositivos supracitados. como incluir o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. 21 e 22). 1990). oficiais e particulares. Em 1999. 10. detalhada precisamente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n.394/96. em seu Título V. entre as constituições brasileiras. 10. resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social.853/89. A essas mudanças correspondeu também uma nova estruturação do ensino. com práticas inovadoras acerca da questão racial. o Decreto n.069/90. a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. têm o direito de cursar cada um dos níveis de ensino em escolas devidamente instaladas e equipadas. Arts. formada pela educação infantil. por exemplo. racismo. 1996.639. e trazendo-a para um patamar maior. estabelece que a educação escolar compõe-se da educação básica. prevê expressamente no caput do Artigo 26-A que.639/2003 traz a possibilidade de introdução de discussões desmistificadoras e conquista cada vez mais espaço. O objetivo da educação básica “é assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL. a luta dos negros no Brasil. define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino. Art. que inscreve de modo explícito o direito ao atendimento educacional especializado dos portadores de deficiência na rede regular de ensino (Art. O ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas deve vir acompanhado de toda uma contextualização. faz-se necessário a proposição de atividades ou estratégias de ação para viabilizar o incremento desta temática a partir de vivências dos alunos. em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras”. 9. Desse modo o sancionamento Lei n. o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. é necessário uma linguagem consensual. 208. 3. de forma a conduzir a reeducação das relações entre os diferentes grupos étnico-raciais. que beira ao descompromisso. determina que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” (BRASIL. que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. Entretanto.639/03 vem justamente oficializar a inclusão do tema em nossos currículos. raciocínios. para a superação dessa situação é uma reflexão profunda sobre o tema e investimento na busca de soluções para esse mal que afeta a sociedade brasileira. reconhecendo que indígenas e negros convivem com problemas da mesma natureza. pois havia uma grande lacuna formada pela ausência de discussão sobre o tema. a edição da Lei n. que vai ao encontro das orientações estabelecidas nas diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. necessita do desenvolvimento de políticas e práticas voltadas para a diversidade étnico-cultural no âmbito desses espaços formadores. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 5. o de romper com o racismo. a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR. 9. coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial nos âmbitos federal. Isso só vem confirmar que na educação urge a tomada de posições e ações efetivas de promover políticas equalizadoras. Eis. Como se pode perceber a grande tarefa dos docentes é buscar caminhos e métodos para desconstruir e eliminar as mazelas deixadas pelo racismo e discriminação. então. a luta dos negros e dos povos indígenas brasileiros. A Lei incorpora a História e Cultura Afro-Brasileira Africana e Indígena nas escolas. Diante desse quadro e da necessidade de mudanças na formação do povo brasileiro as políticas públicas vêm ganhando fôlego e legitimidade. A Lei citada trouxe. é grande a necessidade de a escola assumir uma postura contra toda e qualquer forma de discriminação. que a educação se coloca como um grande desafio. tornando obrigatório no ensino fundamental e Médio. Faz-se necessário a adoção de uma postura ética que possibilite a cidadania frente à cultura e identidade de cada povo. Assim. econômica e política. lógicas. 10.negra na educação. lançou o Plano Nacional de Implementação do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena. a discussão sobre a urgente necessidade de mudança nos discursos. levando em consideração os índios e africanos. e um dos caminhos. o de romper com o racismo. a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional. 10. o que se refletia significativamente nas ações sociais e étnico-raciais dentro do ambiente escolar. a grande a dificuldade apresentada pelos educadores é que tanto negros como não negros têm A educação se coloca como um grande desafio. haja vista a criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial como órgão de assessoramento imediato ao Presidente da República na formulação.394/96) estabelece que o conteúdo programático incluirá diversos aspectos da história e da cultura que formaram a população brasileira.645/2008 veio complementar a legislação. 11. É inegável a importância da Lei n. em parceria com o Ministério da Educação (MEC). gestos e formas de tratar a diversidade e de encarar as relações raciais. A nova legislação (que alterou a Lei n. e a Lei n.639/03. não somente para a população negra. ainda. embora em diferentes proporções. estadual e municipal. Posicionamento este que deve levar a questionamentos mais profundos acerca das relações entre as diferenças e os diferentes que. O que antes era um tema transversal. agora é parte oficial e integrante do currículo. mas para toda a população brasileira. com a intenção de resgatar a história e a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. Entretanto. Aspectos como o estudo da história da África e dos africanos. a análise da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. não pode mais ser trabalhado por opção pessoal do educador ou apenas em datas pontuais. para enfrentar as dificuldades encontradas nesse processo. pois consta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. resgatando as suas contribuições nas áreas social. em 2008. . A inclusão da temática na educação brasileira precisa estar entrelaçada com os movimentos sociais e políticas públicas para haver uma real implementação da legislação. definidas em 2004. apesar de passar necessariamente por uma postura político-individual. nas escolas brasileiras públicas e particulares. segundo Candau (2005). Como se vê na inferência de Gomes (2003). gestos . 11. Pelo que se percebe o sancionamento da Lei n. um espaço privilegiado para a construção de relações interculturais. MÓDULO BÁSICO 6. o candomblé. particularmente as do Ocidente. ocasionando uma grande resistência em discutir a temática ou mesmo até em admitir a sua importância nas relações entre educandos e educadores. A escola como instituição é. que em qualquer sociedade a problemática da diversidade assume contornos diferentes de acordo com o processo histórico. com o intuito de resgatar historicamente a participação/ contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. de gênero e outras que têm sido sistematicamente caladas em currículos monoculturais. a ausência de formação dos educadores e a falta de subsídios trazem prejuízos ao trabalho pedagógico. que já é parte componente do cotidiano escolar e tem grande relevância na prática pedagógica. o samba. conforme Candau (2005). É preciso desvendar os mistérios de uma religiosidade calada e marginalizada.dificuldades em lidar com a questão e identificar a sua pertinência racial. social e cultural em que está inserida. 2003. . de modo que a prática pedagógica não esteja distanciada das relações sociais. então. Na desconstrução existe sempre uma disponibilidade para a realização de uma experiência de descentramento. FLEURI. Tem-se de desvendar a riqueza cultural e identitária de um povo que construiu as bases socioeconômicas. Embora a história ensine que a diversidade é um dos fatores primordiais para o progresso material e cultural da humanidade. que ao privilegiar uns. ou deveria ser. indicando a necessidade de comportamentos críticos de confronto das formas totalizantes e absolutizantes de cada tradição cultural. sendo um avanço na discussão da inserção da população negra na educação brasileira. Isto só vem confirmar a necessidade de escolher posições e práticas efetivas de promoção e incentivo de políticas de reparação no que diz respeito à educação. Isso significa. na prática. Práticas discursivas da diversidade Atualmente. Torna-se. comprometendo o processo educativo como um todo. 53). que assuma uma postura de mudanças nos discursos. posturas. produzindo relações desiguais e empobrecidas que estão retratadas em nossos currículos escolares. isso não se reflete nas ações. é preciso estabelecer metodologias que permitam converter. Faz-se necessário. raciais. seja também inserida nos currículos oficiais. Diante disso. as contribuições étnico-culturais em conteúdos educativos. culturais e históricas do Brasil e não só atribuir meras contribuições. Observa-se por parte de muitos educadores uma tendência a desvalorizar e desqualificar o discurso colocado em questão de grupos individuais justificando assim a não inserção ou discussão mais aprofundada no currículo. a capoeira. possibilitando a troca de experiência entre os diferentes. o que até então tem sido tolhido por conta de uma visão eurocêntrica. de se sair fora das próprias certezas (SOUZA. Mediante essa problemática. o papel dos gestores públicos se torna fundamental no sentido de garantir que a questão racial. A falta de valorização dada à questão leva a um cuidado muito grande na abordagem e no desenvolvimento do mesmo. principalmente nas que acontecem dentro da escola que buscam uma padronização de comportamentos. p. tais como o futebol. 2. o tema não pode ser tratado como um “modismo” ou uma “doação” por parte das camadas favorecidas da população e/ou identidades étnicas. tidos como adequados para as diferentes realidades que compõem o universo escolar.645/2008 vem contribuir grandemente com esses propósitos. Entretanto. modos de encarar e tratar a diversidade. exclui e minimiza o valor de outros. fundamental a desconstrução de discursos e conceitos firmemente arraigados que podem atravancar irremediavelmente o desenvolvimento dos educandos e empobrecer consideravelmente o trabalho dos educadores. a diversidade tem sido discutida em grande escala. Isso porque a escola não pode estar desvinculada da realidade histórica. relações de poder imaginários e práticas de inclusão e exclusão que incidem sobre os diferentes sujeitos e grupos. Mas para isso não basta apenas a teoria. O termo desconstrução foi introduzido pelo filosofo francês Jacques Derrida. então. conforme colocam Canen (2001). locais.homogeneizadores. reconhecendo a pluralidade de tais discursos e visando uma reinterpretação das culturas. Vem daí a necessidade de se discutir sentidos mais engajados com posturas teórico-críticas de transformação social. Nesse sentido. e sim determinado pela violência e exploração do português de ultramar contra o africano sob o cativeiro (CARONE. ou o Dia do índio. Canen e Moreira (2001). criticar mitos sociais que os subjugam. que leva a conexões entre os discursos históricos. políticos. Nesse sentido. Canen (1999-2001). Boyle-Baise e Gillette (1998) e Moreira e Macedo (2001) se referem à crítica cultural permanente dos discursos como a possibilidade dada aos alunos de analisar identidades étnicas. A miscigenação entre negros e brancos. entre outros. o multiculturalismo apresenta uma polissemia. Para Bhabha (1998) a linguagem híbrida procura superar os congelamentos identitários e as metáforas preconceituosas como “o diabo não é tão negro como parece”. De acordo com Grant e Wieczorek (2002). pelo de agente cultural. ou seja. nas práticas discursivas multiculturais concretas. possui uma dupla dimensão. Contudo. substituindo-se a visão do professor como “conhecedor cultural” pela de “trabalhador cultural”. por si só. . A luta atual é pela superação desta postura. porque existem os que o concebem apenas como valorização da diversidade cultural. abarcando posturas epistemologicamente diversas. pois de um lado existe a necessidade de se promover a equidade no espaço escolar. políticos e sociais pelos quais são construídos discursos que reforçam o silêncio de identidades e a marginalização de grupos. 2002. essa abordagem. como o Dia da Consciência Negra. tende a desconhecer mecanismos históricos. 14). preconiza a valorização da diversidade cultural sem questionar a construção das diferenças e estereótipos. móveis e provisórias. “moreno” – foi parte da escravidão colonial. buscando promover sínteses interculturais criativas. segundo McLaren (2000). Por outro lado há a necessidade de se promover a quebra de preconceitos contra aqueles percebidos como “diferentes”. singulares. McLaren (2000). A discriminação pode adquirir múltiplos rostos. entendida de forma essencializada e folclórica. culturais e outros. Boyle-Baise e Gillette (1998). com sérias consequências para a formação de professores e para a educação de futuras gerações. uma forma de hibridização discursiva é realizada por intermédio de uma estratégia denominada ancoragem social (social mooring). o multiculturalismo é reduzido a um “adendo” ao currículo regular. o que tem gerado críticas. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 7. A educação multicultural. sociológicos. gerar conhecimento baseado na pluralidade de verdades e construir solidariedade em torno dos princípios da liberdade. O chamado multiculturalismo liberal ou de relações humanas. segundo Grant (2000). compreender a mobilidade das identidades e o seu caráter múltiplo e híbrido implica em propiciar práticas discursivas que contemplem uma linguagem também híbrida. como asseveram Boyle-Baise e Gillette (1998). incorporando discursos múltiplos. conforme os autores citados acima. exaltada por Gilberto Freyre como um embrião da “democracia racial” brasileira e base de nossa identidade nacional – “povo mestiço”. tendo em vista o alargamento dos quadros de referência pelos quais se compreende as relações entre conhecimento. tradições e formas de pensar de grupos contribua para uma valorização da pluralidade cultural. Mas o cruzamento racial não foi um processo natural. Mesmo que o fato de conhecer os ritos. entre outros que levam a uma “descolonização” dos discursos. p. por meio de estratégias discursivas que possam ser ressignificadas em sínteses culturais criativas. “hoje é dia de branco”. e por isso tem pouco a contribuir para a transformação da sociedade desigual e preconceituosa. de modo que se formem futuras gerações nos valores de respeito e apreciação à pluralidade cultural. pluralidade e poder. conforme colocam Boyle-Baise e Gillette (1998). Pinto (1999). como ao gênero. referindo-se tanto ao caráter étnico e social. e de desafio a discursos preconceituosos que constroem as diferenças. A crítica cultural permanente dos discursos implica ressignificar o próprio discurso pedagógico. cruza as fronteiras culturais. que busca transformar relações desiguais cruzando as fronteiras culturais em seus discursos e práticas. e mesmo conflitantes. percebendo o contexto e a cultura dos alunos e colaborando para a superação do fracasso escolar. da prática social e da democracia ativista. definido como a memorização de datas especiais. levando à segunda categoria: a hibridação discursiva que. na qual a marca entre “nós” e “os outros” é uma prática social permanente que se manifesta pelo não reconhecimento dos que consideramos não somente diferentes. o material didático. promovendo a diversidade que não tem como ser ignorada. gestos. equacionando essa relação complexa para que todos desenvolvam a capacidade de analisar criticamente o legado e a diversidade cultural da sociedade. 31) coloca algumas das formas de discriminação dos sujeitos diferentes. A escola é cada vez mais pautada pelo caráter padronizador da igualdade e. porque as expressões fortemente arraigadas no sentido comum. preconceitos. grupos culturais específicos. que certas raças são inferiores (normal. Pode-se afirmar que estamos imersos em uma cultura da discriminação. Dessa forma. a forma de se lidar com as disciplinas. a linguagem oral e escrita (as piadas. Isso ocorre. em muitos casos. é necessário que as políticas educacionais e as práticas pedagógicas promovam uma escola de qualidade para todos. conforme Torla (1997). bem como dos processos de inclusão e exclusão social e institucional das pessoas diferentes. e que esta inferioridade não é social ou cultural (quer dizer adquirida). discriminações e racismos. formas diversas de organização social nos diferentes grupos e regiões.). as comemorações. etapas da vida.) e os jogos e as brincadeiras. por diferentes características identitárias e de comportamentos. fechados. portanto. características físicas e relacionadas à aparência. segundo Silva (2002c). 2. por ter uma determinada proveniência étnica. intelectual e tecnicamente). etc. desafiam a escola e os educadores a adequar os currículos escolares. são sensíveis às manifestações de discriminação. x Racismo – consiste em sustentar que existem raças distintas. bem como as brincadeiras. com ações que deem conta de se pensar as implicações das relações humanas no processo de construção da identidade dos sujeitos. A diferença e a diversidade de identidade cultural aparecem no campo da educação com mais ênfase porque existe uma grande preocupação com o entendimento e enfrentamento dos estereótipos. Torla (1997. O aluno ideal é aquele que está dentro dos padrões ditados pela sociedade e que se adapta perfeitamente aos currículos escolares.orientação sexual. a dinâmica relacional. A explicitação do racismo em forma do juízo ajuda. que se fundamentam na utopia de x Preconceitos e discriminações existem e precisam ser desvelados e extintos. já o aluno real. que expressam juízos de valor sobre determinados grupos sociais e/ou culturais. etc. . que traz para a sala de aula todos os problemas reais da sociedade.1 A diferença na educação A diversidade marca a vida social brasileira. os provérbios populares. diversidade e diferença – a diversidade cultural. “inferiores”. reconhecendo conteúdos e costumes culturais pré-dados. Igualdade. regiões geográficas de origem. MÓDULO BÁSICO 8. A diversidade representa uma retórica radical da separação de culturas totalizadas. que é a grande dicotomia entre o aluno ideal e o aluno real. mas inata e biologicamente determinada. Portanto. afetam várias dimensões: o projeto político-pedagógico. mas. o currículo oculto e o explícito. os comportamentos não verbais (olhares. p. os apelidos. discriminação racial significa todo ato destinado a inferiorizar um indivíduo ou um grupo. as atividades em sala de aula. Essa problemática deve remeter a uma grande discussão que permeia a prática dos educadores sobre a teoria e a prática. pois aqui se encontram diferentes características regionais. a avaliação. preconceitos e discriminações existem e precisam ser desvelados e extintos para que não reproduzam os processos discriminadores presentes na sociedade. refere-se à cultura como objeto de conhecimento empírico. embora procure demonstrar que todos são tratados da mesma forma. para Bhabha (1998). diferentes manifestações de cosmologias que ordenam maneiras diferenciadas de apreensão do mundo. na sustentação das ações discriminatórias que tenham como base as características étnicas. Os elementos discriminadores. que constroem um determinado modo de ser jovem. principalmente entre populações indígenas e afrodescendentes. sentido e conquistado durante as relações sociais. alunos procedentes de minorias linguísticas. deve-se considerar o fator gênero como uma categoria primordial para se explicar as relações sociais mantidas e estabelecidas pela sociedade. “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos”. segundo o autor. 56). Diversidade sexual – esse grupo é formado por gays. numa perspectiva histórica. discutir problemas relativos à imposição da cultura nacional hegemônica. jovens e adultos que durante a sua vida escolar apresentam alterações no processo de aprendizagem. referência. O estudo da cultura da África de ontem e de hoje.x x uma memória mítica. o tema da diversidade sexual na educação e nas instituições de ensino ainda é restrito porque existe historicamente uma posição hétero-normativa muito arraigada. Porém. pois o gênero se constrói na relação com a diferença. ao se propor uma educação intercultural. lésbicas e travestis. cultural e política. as diferenças geracionais foram muito discutidas e focalizaram a infância e a juventude por intermédio de uma pesquisa etnográfica da vida de jovens que participam de grupos diferentes. segundo Torla (1997). vislumbrando sob o ponto de vista ético a escravidão. alunos que trabalham. mas o que é construído. 15). o gênero não é percebido necessariamente como o masculino e feminino. processos de exclusão na escola e diversas representações negativas sobre essas populações historicamente discriminadas. não se mostra sensível à realidade vivenciada por eles na sociedade e acaba sendo apontada por tais estudantes como um espaço de vivência de situações discriminatórias bem maior que o espaço da rua. que requerem das escolas decisões e atitudes diferenciadas daquelas que usualmente ocorrem para o conjunto dos alunos. Contudo. 1998. uma pedagogia que lhes é própria. trata-se de um processo “de significação através do qual afirmações da cultura e sobre a cultura diferenciam. alunos com altas habilidades ou superdotados. a diferença cultural se constitui como processo de enunciação da cultura. do trabalho e da própria comunidade. pois a primeira distinção social é feita por meio do sexo dos indivíduos. discriminam e autorizam a produção de campos de força. x x x Necessidades educativas especiais – é uma expressão que foi consagrada na Declaração de Salamanca (1994) e se refere a todas as crianças. conforme a Constituição. Nesse sentido. temporárias ou permanentes. desigualdade. que não é biológica. de uma identidade coletiva única. buscando compreendê-los em sua totalidade como sujeitos sociais. Para Scott (1999. Também se refere a alunos que moram na rua. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 9. p. Diferenças de gênero – esta temática está entre as questões que atualmente desafiam a perspectiva de um diálogo intercultural nas ações educativas. geográfica. Desse modo. por exemplo. a mercantilização e as repercussões negativas que esses povos enfrentam. Conforme Scott (1999. que coloca dilemas para a vida destes povos e para o futuro de suas próximas gerações. de rap e funk. ressaltando questões relativas ao preconceito. Em contraposição a essa perspectiva essencialista. a escola muitas vezes não consegue envolvê-los. Diferenças de gerações – segundo Dayrell (1999). poderá ajudar a acabar com o racismo no Brasil. éticas ou culturais e aos alunos com deficiência. O gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder. p. . a valorização dos povos indígenas se faz tanto pela inclusão nos currículos de conteúdos que informem sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a sociedade como um todo quanto pela consolidação das escolas indígenas que devem destacar. Sobre as populações indígenas é importante. Diferenças étnicas – as relações interétnicas focalizam as diferenças culturais. O reconhecimento desta diversidade e a promoção de uma sociedade inclusiva passam pela equivalência de direitos e pelas escolhas de cada um. 63). aplicabilidade e capacidade” (BHABHA. p. 33). 2002c. acredita que lutas e conflitos culturais são eventos reais e cruciais na luta pela hegemonia.. os conhecimentos. [. ignorados pela escola. necessidades e identidades de classes e grupos subalternalizados. 64).] o currículo da escola pública das classes populares tem sido um lugar da dissipação dessas identidades. acabam sendo excluídos da escola. p. um renomado autor da teoria crítica do currículo. as ciências. a diversidade cultural é um tema que vem despertando a atenção dos educadores. muitos alunos são discriminados e. valoriza o respeito às diferenças. Sendo por isso que as explicações centradas na cultura. borrando a identidade de classe. operando um distanciamento das origens familiares culturais. isso se deve em muitos casos. p... Isso porque a escola está voltada a padrões homogêneos. “As versões emancipatórias do multiculturalismo baseiam-se no reconhecimento da diferença e do direito à diferença e da coexistência ou construção de uma vida em comum além de diferenças de vários tipos” (SANTOS. p. introjetada. novos objetivos. O currículo “fala” de alguns sujeitos e ignora outros. que se assente de forma dinâmica visando a superar as complexas políticas da igualdade e da diferença. na política e na ideologia assumem hoje papel de destaque no cenário social. p. É preciso que o docente se disponha a reformular o currículo e a prática docente com base nas perspectivas. a desigualdade e a exclusão (COSTA. ao considerar a diversidade cultural. são de interesses de toda a sociedade (LOURO. estratégias e novas formas de avaliação. à formação precária dos educadores e às condições desfavoráveis de trabalho que se constituem obstáculos para que a cultura e a pluralidade cultural sejam efetivadas no cotidiano escolar. incorporando práticas. conhecimentos e valores diversos dos validados pela cultura escolar. de forma a considerar alunos com alguma deficiência ou com dificuldades de aprendizagem como incapazes. ela se constitui como capital cultural. assim Diante disso. embora parciais. nas escolas e nos currículos. [. As consequências disso todos nós conhecemos: um processo violento de homogeneização e simplificação que tem praticamente nos imobilizado e impossibilitado de pensar alternativas para a dominação. Souza (2001) e Santos (2003) colocam que existe a necessidade de uma orientação multicultural. Um currículo e uma pedagogia democrática. conta histórias e saberes que. Assim. as artes e as teorias trazem a voz daqueles que se autoatribuíram a capacidade de eleger as perguntas e construir respostas que. citado por Silva (2002) devem começar pelo reconhecimento dos diferentes posicionamentos sociais e repertórios culturais nas salas de aula. o que reafirma a superioridade da cultura erudita e. supostamente. É por isso que construir um currículo com base na tensão entre as formas de se trabalhar a multiculturalidade na escola não é tarefa fácil e requer do professor nova postura. em nome do acesso a uma identidade padrão classe média.2 Diversidade e currículo A cultura popular sempre esteve ausente dos currículos escolares porque eles atendem a uma minoria da população escolar. . seus hábitos. 2003. A cultura que tem prestígio e valor social é justamente a cultura das classes dominantes: seus valores. 88). No entanto.. em decorrência disso.. valores e práticas da cultura popular são. na maioria das vezes. o capital cultural manifesta-se de forma incorporada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL. 1997. seus gostos. internalizada (SILVA.2.. fator de enriquecimento. os estudos sobre ela ainda não tiveram força suficiente para mudar práticas educativas dos professores. ilustrada e meritocrática. na medida em que ela vale alguma coisa. 1999. citados por Silva (2002): A dinâmica da reprodução está centrada no processo de reprodução cultural. seus costumes. na grande maioria. 34). se pretendem universais. p. reprodução cultural dominante que a reprodução mais ampla da sociedade fica garantida. novos saberes. Apple (1999). As práticas que priorizam a homogeneidade cultural sempre estiveram presentes nas escolas. na medida em que ela faz com que a pessoa que a possui obtenha vantagens materiais e simbólicas. pela ausência de recursos e de apoio. conteúdos. segundo Aplle. 96-97) expressam que “a educação escolar deve considerar a diversidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem [. 1999. pois essas não são obstáculos para o cumprimento da ação educativa e sim.]”. Na medida em que essa cultura tem valor em termos sociais. Por isso há de se enfatizar Bordieu e Passeron. seus modos de se comportar e agir. A escola.] Finalmente. É através da MÓDULO BÁSICO 10. ou seja. o autor coloca quatro pontos fundamentais para o sucesso na elaboração de um currículo que possibilite a diversidade cultural: 1) formação de professores. McCarth (1998) discute sobre o processo de hibridização cultural. a partir dele. professores. a equipe pedagógica. 3) desenvolvimento de materiais apropriados. a partir da experiência de cada um. Assim. por isso a escola deve ressaltar a força de um currículo extraescolar que servirá como uma ponte para que os educadores exerçam o papel de mediadores e possam retratar a perspectiva multicultural a partir de uma realidade mais ampla do que as do currículo escolar. 2002c. pois ela é vivenciada em práticas cotidianas da sala de aula. pais. é preciso fazer com que ela não se torne uma ameaça à preservação da própria identidade. transformado. neutro. intemporal. alunos e demais agentes que fazem parte da instituição escolar. p. na prática pedagógica multicultural. McCarth acredita que é preciso desestabilizar o modo como o outro é mobilizado e representado através do currículo e. como estratégia. consequentemente. a fim de proporcionar ao estudante a compreensão de que tudo que passa por “natural” e “inevitável” precisa ser questionado e. pontos de vista. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 11. como coloca Sarlo (1999). Segundo Sacristán (1995).. a junção de diversas culturas deve levar em consideração as condições sociais e econômicas concretas de cada sociedade. É preciso buscar o conhecimento nas diferentes raízes étnicas. seja da cultura dominante ou das minorias segregadas. como as raízes históricas e culturais desse processo são usualmente esquecidas e esse conhecimento é visto como indiscutível. diferente da presente nas escolas. a fim de favorecer o entendimento de como o conhecimento tem sido escrito e como o mesmo pode ser reescrito de outra forma. MacCarth (1998) defende que é preciso ser colocado com clareza no currículo a forma como foi construído um dado conhecimento. necessita de uma postura ética e ampla do professor. “[. as relações de poder nas diferentes manifestações culturais e também das diversas leituras que podem ser feitas por distintos olhares. Isso porque a cultura escolar deve ser compreendida não apenas como uma discussão de conteúdos a serem colocados nos currículos. 2) planejamento de currículos. ou seja. mas como algo real. Logo. universal..] devemos fundamentar o currículo no reconhecimento dessas diferenças que privilegiam nossos alunos de formas evidentes” (SILVA. é preciso partir do princípio de que não é possível fazer com que membros de uma minoria cultural sejam incluídos nos conteúdos e práticas dos currículos escolares se a cultura escolar. que enfrente os desafios provocados pela diversidade cultural na sociedade e nas salas de aula. para que se possa entender e valorizar a grande diversidade de culturas com a qual se precisa trabalhar.como as relações de poder entre eles se estiverem preocupados com tratamento realmente igual. Nesse sentido. Uma outra questão que merece destaque no currículo é a avaliação escolar e suas relações com a problemática É preciso buscar o conhecimento nas diferentes raízes étnicas. os alunos já possuem um conhecimento de mundo. a partir da experiência de cada um. 34). Isso proporcionará aos alunos a compreensão das relações existentes entre as culturas. a visão das culturas como inter-relacionadas e/ou mutuamente geradas e influenciadas. obras literárias e interpretações dos eventos históricos. mas sim transformar a escola num espaço de crítica cultural. incluindo nele a questão da diversidade. Esse autor acredita que ao se aplicar no currículo a questão da diversidade cultural. 4) análise e revisão crítica das práticas vigentes. ou seja. . Entretanto. Por isso. colocando-o como essencial para que se situe. de modo geral. não tratar o currículo de forma multicultural. O que se propõe não é a expansão dos conteúdos curriculares usuais para se incutir a crítica dos diferen- tes artefatos culturais que circundam o aluno. Para que isso seja colocado na prática cotidiana devem existir estratégias pedagógicas variadas para lidar com a diversidade cultural. de sua realidade. uma ação docente multiculturalmente orientada. engajando nela a direção da escola. Mas para isso é necessário trabalhar de forma diferenciada do modelo dominante. procurar sempre fazer o confronto de diferentes perspectivas. valores e mitos. nem todos os aprendizes vivem a mesma experiência. cotidianas. pois são elas que fomentarão subsídios na construção de um currículo que atenda a todas as culturas. A avaliação tem de ser redimensionada para superar o autoritarismo. ainda não se faz presente em sua totalidade. muitas vezes. mas com estratégias diferentes. 15). que se transmite de geração em geração. normas. levando. entretanto. do aluno e do professor. p. Por isso. Nem os alunos que seguem a escolaridade na classe vivem a mesma história de formação e saem com os mesmos conhecimentos. individuais. a diversidade existente no grupo favorecerá a troca de experiência e o crescimento de cada um. Nesse sentido. Assim. Esteban (2001. mesmo hoje com a mudança de paradigmas. 9. avaliação. e acaba por não valorizar a diversidade de conhecimentos e o processo de sua construção e socialização. indo até a formulação de políticas públicas que possibilitarão a garantia da efetivação dos direitos. currículo. o trabalho com a questão da identidade nas escolas. crenças. Por isso os planejamentos pedagógicos. passam pelo trabalho e mobilizações de ONGs grandes e pequenas. “a escola é um local formado por uma população com diversos grupos étnicos. na perspectiva da promoção de uma educação atenta à diversidade cultural e à diferença. Essas ações vão desde ações simples. precisam ser reestruturados a fim de que sejam abandonadas as práticas educacionais tradicionais que descredenciam valores e invalidam os saberes e práticas sociais. 1997. Essa afirmativa está amparada pelo Art. controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. nas diversas expressões e dimensões que constituem as desigualdades e que excluem quase que 50% da população brasileira. Segundo Morin (2001. . a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes. diz respeito ao combate à discriminação e ao preconceito. composta de pretos e pardos. estratégias. para deixar de ser instrumento de coerção. diante da grande diversidade de culturas é preciso que o professor saiba quais objetivos e resultados pretende alcançar com uma atividade para que os alunos tenham as mesmas oportunidades. p. ideias. Na organização curricular é preciso ter em mente as várias ideologias: a da escola. à repetência e à evasão escolar. O texto do documento sobre pluralidade cultural dos Parâmetros Curriculares Nacionais coloca: “saber discutir pluralidade a partir das diferenças dos próprios alunos é um modo de conduzir o tema de forma mais próxima da realidade brasileira” (BRASIL. Estratégias para o trabalho em sala de aula A complexidade da questão racial no Brasil.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação: 3.da diversidade cultural e da diferença social. com seus costumes e suas crenças”. não significa formar grupos homogêneos com as mesmas dificuldades. Para compreender o desenvolvimento das crianças é preciso considerar o espaço em que elas vivem e a maneira que constroem significados. exclusão. Não pode mais haver uma avaliação realizada de maneira arbitrária e descontextualizada. fazeres. O trabalho diversificado envolve atividades realizadas em grupos ou individualmente previamente planejadas ou de livre escolha por aluno e/ou professor. regras. segundo dados do IBGE do ano 2000. controle e punição e se tornar parte do processo de construção do conhecimento. Diante disso. p. Para o autor. nem todos os indivíduos pertencentes da mesma faixa etária seguem necessariamente o mesmo curso. faz com que sejam necessárias diversas formas de ação e de luta para combater e eliminar o racismo e todas as suas consequências. 16) assevera que “a avaliação que impede determinadas vozes é uma prática de exclusão na medida em que vai selecionando o que pode e deve ser aceito na escola”. conteúdos. Perrenoud (2000) coloca que enfrentar o desafio de propor um ensino que respeite a cultura da comunidade significa constatar cada realidade social e cultural com a preocupação de traçar um projeto pedagógico para atender a todos sem exceção. Diversificar. etc. 26). 210 da Constituição Federal e na Lei n. uma das questões fundamentais para serem trabalhadas no cotidiano escolar. pois mediante um mesmo grupo de formação. se reproduz em cada indivíduo. proibições. MÓDULO BÁSICO 12. a avaliação construída a partir da classificação das respostas do aluno em erros ou acertos impede que o processo de ensino-aprendizagem incorpore a riqueza presente nas propostas escolares. tão presentes na nossa sociedade e nas escolas. Todos os preconceitos e discriminações que permeiam a sociedade brasileira são encontrados na escola. apáticas. quando o professor pelo total despreparo não sabe lidar com essa diversidade cultural e finge que conhece. envolver os professores por meio de palestras para que se motivem a trabalhar de forma interdisciplinar atividades diversificadas. Carregam durante a vida o sentimento de incapacidade de aprender e as culpa pelo próprio fracasso. que respeita as normas e consegue aprender e os que se afastam desse modelo são excluídos. as etapas do projeto e a avaliação. e do outro. desatentas. de acordo com Mrech (1999). alguns alunos são “sacrificados” muitas vezes pela falta de formação e informação dos professores ou. então. Por isso. 14). desenvolvendo uma aprendizagem significativa. num ambiente de cooperação.Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental. entre outros.] os professores alegam pouco preparo para abordar questões que tratam de discriminação. transformar o ambiente escolar num local de formação de alunos ativos. Segundo o autor. diferenças culturais. cujo papel deve ser o de preparar futuros cidadãos para a diversidade. ter um espaço apropriado na escola para o aluno demonstrar as suas habilidades.. por assumir uma postura ideológica/educacional que não considere tais diferenças. lentas. p. demonstra que a formação docente apresenta sérias lacunas no que se refere à reflexão e discussão em torno das diferentes vozes que circulam no espaço escolar.. agressivas. numa perspectiva social (escola/ professor/aluno/pais/comunidade). 89). lutando contra todo o tipo de preconceito. preconceitos. em sala de aula” (GOMES apud PINTO. Mas na prática. . As crianças chamadas “problemas” têm características baseadas em: fracas. p. É por isso que a constante busca de alternativas para trabalhar e respeitar as diferenças pode levar à transformação das desigualdades em aprendizagem e em êxito nos estudos. pensar na dinamicidade e complexidade do espaço escolar e da sala de aula é procurar perceber também a produção e reprodução de práticas e ações discriminatórias que ocorrem quotidianamente. de um lado. Tais problemas configuram um cenário de descaso das identidades neste espaço. ainda. de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos. sua cultura. pois as instituições pedagógicas são organizações elaboradoras e difusoras da concepção de mundo dominante. dos por Gomes apud Pinto (1999. evadem da escola. Na maioria das vezes os professores não estão preparados para lidar com as diferenças e muitos deles se mostram predispostos a não esperar o melhor resultado do estudante negro e pobre (MUNANGA. agitadas. As dificuldades dos professores começam. Na escola. há uma crença na existência de um aluno ideal. nacionais e regionais. Silva (1995). Outros elementos relacionados tanto ao trabalho quanto à formação docente no que concerne às diferenças e à diversidade cultural podem ser destaca- x x x DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 13. submeter a escola aos desígnios da promoção e integração dos indivíduos ao seu meio social leva a perceber que essa instituição exerce um papel diferenciado na vida de negros. tais como: a) falta de um projeto pedagógico que contemple a diversidade do povo brasileiro. detectando junto com os alunos as necessidades e os interesses reais deles para se trabalhar a diversidade cultural. após detectar as dificuldades para trabalhar a diversidade cultural é preciso: x montar um projeto de intervenção para escola. Segundo Mrech (1999). 2000. solidários e com uma consciência crítica do real papel do ser humano no ambiente em que vive. b) falta e insuficiência de material didático e paradidático que subsidiem o trabalho em que se torne visível e traga à tona as facetas do racismo no espaço escolar. p. 88). As singularidades devem ser respeitadas e as diferenças trabalhadas para a mobilização social. 14). 2000. indisciplinadas. em que as decisões serão coletivas e comprometidas com os objetivos. pois: “[. p. ela acaba é reforçando o racismo (MUNANGA. c) desconexão existente entre as demandas dos sujeitos que compõem a escola e os saberes e conhecimentos que lhe são destinados. criativos. os alunos que não se enquadram nos padrões estabelecidos pelo professor de um “aluno ideal”. 1999. Conforme Munanga (2000). e os que veem que a unidade humana tendem a considerar como secundária a diversidade das culturas. na maior parte das vezes. 57) considera que “o homem é ao mesmo tempo singular e múltiplo”. na atividade educacional. Os níveis de autoconsciência da própria identidade cultural. privilegiando-se o multiculturalismo no interior da escola. a diversidade que se inscreve na unidade [. Outra questão importante. exige persistência. Morin (2001. segundo Munanga (2000). . vontade política e acreditar na construção de uma sociedade democrática a partir da articulação entre igualdade e diferença. p. mas nunca se chega a um consenso de que modo fazê-lo. celebrações etc. tem-se feito referência à interdisciplinaridade. Para ele existem duas tendências que envolvem essa afirmativa: os que veem que a diversidade das culturas tendem a minimizar ou ocultar a unidade humana. muitas vezes. admitindo as diferenças como um elemento fundamental no ensino-aprendizagem para vislumbrar o crescimento de um novo homem e uma nova sociedade. na visão de Munanga (2000). O principal propósito é que o docente venha a descobrir outra perspectiva. desnaturalizar e desestabilizar essa realidade é um passo fundamental para acabar com o preconceito e a discriminação às diferentes culturas. Repensar os lugares comuns. pois o caráter monocultural está muito arraigado na educação escolar. é favorecer uma reflexão de cada educador sobre a sua própria identidade cultural: como é capaz de descrevê-la. principalmente por ocasião da elaboração dos planejamentos anuais..As questões relativas às relações entre educação escolar e cultura são complexas e afetam diferentes dimensões das dinâmicas educativas. não se encontram presentes e não costumam ser objeto de reflexão pessoal. na busca por uma mudança na área educacional. Atualmente. Não basta acrescentar temas. indisciplina. Isso porque o que se espera é a formação de agentes sociais e culturais que estejam a serviço de uma sociedade mais democrática e justa. Contudo. Como ressalta Barbosa (1991). é preciso propiciar interação que incorpore uma sensibilidade antropológica e estimule a entrada no mundo do outro. Assim sendo. a marginalização e o fracasso. pois ao falar de identidade de uma cultura em um determinado tempo e espaço e no interior de um grupo. Consequentemente. Barbosa (1991) resgata a ideia de totalidade para o conhecimento buscando inter-relacionar as diversas disciplinas para atingir a compreensão orgânica do conhecimento ou abarcar a globalidade do conhecimento no sentido de conduzir o comportamento humano. como tem sido construída. contextualizando um olhar mais abrangente e menos excludente sobre a mesma. Se a escola tem um projeto pedagógico que não atende às diferenças individuais. impulsionando a valorização das diferentes culturas e promovendo a sua autonomia como uma escola que busca dialogar com todas as culturas e concepções de mundo. uma sensibilidade diferente. Outro ponto que precisa ser trabalhado na formação de professores.]”. Assim. o que corresponderia apenas a uma abordagem que Banks (1999) intitula de “aditiva”. como das relações entre os diferentes grupos sociais e étnicos. é a interação dos grupos culturais e étnicos. Também é indispensável desenvolver um novo olhar. excludente e multicultural. “é apropriado conceber a unidade que assegure e favoreça a diversidade. agressividade e. a interdisciplinaridade é imprescindível. gera um desprazer. um dos grandes desafios da escola também consiste na dificuldade de se desenvolver um projeto político-pedagógico que estabeleça uma visão real da práxis pedagógica em relação à diversidade cultural para a mobilização das competências dos alunos. as leituras hegemônicas da cultura e de suas características. Por isso. A escola deve ser pensada como um local de pluralismo de culturas e pode fortalecer o seu trabalho com grupos e currículos multiculturais. o trabalho pedagógico deve ter uma visão democrática. É necessária uma releitura da própria visão de educação. Todos esses aspectos são importantes na formação do professor para que sejam reavaliadas as questões curriculares e a dinâmica interna da escola. Ao contrário.. o desenvolvimento de um currículo multiculturalmente orientado não envolve unicamente introduzir algumas práticas pedagógicas ou agregar conteúdos. facilitando o trabalho com a diversidade cultural na escola. autores. questionar. O primeiro aspecto a se considerar é partir de uma visão ampla dos desafios da sociedade globalizada. no reconhecimento da diferença e na construção da igualdade. constitui outro aspecto que carece discutir e aprofundar. que referentes têm sido privilegiados e por meio de que caminhos. consequentemente. reinventar a cultura escolar não é tarefa fácil. MÓDULO BÁSICO 14. assentada na centralidade da cultura. Diante dessa problemática. Frequentemente. Para isso. no que tange a questão da diversidade. 2002. M. à gestão escolar acompanhar e fornercer subsídios para o trabalho pedagógico dos educadores. meaning and identity: essays in critical educational studies.org. culturais e materiais. 2002. DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL 15. tirando-a da transversalidade e inserindo-a nos currículos escolares para que se efetive um compromisso com a cidadania para todos e não apenas de grupos isolados.rtf>. Africana e Indígena e trouxe a possibilidade de introdução de discussões desmistificadoras e práticas inovadoras acerca da questão racial. o papel dos gestores públicos se torna primordial no sentido de garantir que a questão racial. W. de reinvenção. Portanto. Visando à implementação da diversidade cultural na escola. que já é parte integrante do cotidiano escolar e tem influência relevante na prática pedagógica. Disponível em: <http://wwwanped. 11. Não é um processo simples. consequentemente. de modo que a prática pedagógica não esteja separada das relações sociais. a Lei n. Power. Cabe. e de mudanças na estrutura física da escola. produto de preconceitos. ou seja. Interculturalidade e educação de jovens: processos identitários no espaço urbano popular (GT06). Outro fator importante também é a valorização da diversidade como quesito enriquecedor do trabalho pedagógico. a escola deve se reestruturar. como afirma Fazenda (1991.639/2003. mas este muitas vezes é tratado como “singular”. Africana e Indígena deve vir acompanhado de uma contextualização. exige uma nova escola. à discussão da questão racial no Brasil. a diversidade é utilizada como instrumento de opressão. 1999. ainda. p. New York: Peter Lang. direta e indiretamente. passando pela discussão das influências pelo educador. de exploração e mesmo de extermínio de grupos humanos. Acesso em: 3 set. o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. In: SILVA. acaba sendo manipulada. como se fosse possível falar em uma única diversidade. 57): a superação das barreiras entre as disciplinas consegue-se no momento em que instituições abandonem seus hábitos cristalizados e portam em busca de novos objetivos e no momento em que as ciências compreendam a limitação das barreiras de seus aportes. já que se pretende formar cidadãos de fato e de direito. desde o planejamento curricular até a execução de novas estratégias. Mas a eliminação das barreiras entre as pessoas. 15). G.645/2008. p. “A diferença – característica que constitui verdadeiro patrimônio da humanidade – Referências APPLE. criando novos mecanismos que possam estabelecer respeito pela diferença e elegendo práticas pedagógicas que atentem e não camuflem quaisquer discriminações. a escola pensada como espaço de pluralismo de culturas pode fortalecer seu trabalho com grupos e currículos multiculturais. estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. 10. rompendo com os mecanismos burocráticos e alienantes que caracterizam o processo educativo. da.Portanto. A sociedade tem se utilizado do conceito de diversidade como elemento fundamental para a convivência social. que levará. em seus diversos aspectos. seja também inserida nos currículos oficiais agrupando a outras discussões consideradas importantes. exige que a escola assuma uma postura de mudanças. impulsionando a valorização das diferentes culturas. em prejuízo de certos grupos humanos” (BENTO.br/25/ gilbertoferreirasilva06. Pelo que se percebe. buscando uma necessária reflexão sobre o verdadeiro papel cumprido pela escola. um dos desafios da escola é encarar a diversidade cultural como meio de transformar a escola e a sala de aula num ambiente de “aprendizagem significativa”. . falta de formação adequada e comodismo complica sua aplicação e a tarefa demandará a superação de obstáculos psicossociológicos. F. que alterou a Lei n. Universos culturais e representações docentes: subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. . São Paulo: Stúdio Nobel. 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