BERKHOF A. Os Elementos Constitutivos da Natureza Humana. 1. AS DIFERENTES OPINIÕES QUE FORAM COMUNS NA HISTÓRIA: DICOTOMIA E TRICOTOMIA. É costume.Especialmente nos círculos cristãos, entender que o homem consiste de duas partes distintas, e de duas somente, a saber, corpo e alma. Esta concepção é tecnicamente denominada dicotomia. Ao lado dela, porém, apareceu outra, segundo a qual a natureza humana consiste de três partes, corpo, alma e espírito. É designada pelo termo tricotomia. O conceito do homem tripartido originouse na filosofia grega, que entendia a relação mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação entre o universo material de Deus. Pensava-se que, justamente como estes só podiam ter comunhão um com o outro por meio de uma terceira substância ou de um ser intermediário, assim aqueles só podiam entrar em relações mútuas vitais por meio de um terceiro elemento, ou de um elemento intermediário, a saber, a alma. Por um lado, a alma era considerada como imaterial e, por outro, como adaptada ao corpo. Na medida em que se adapta ao nous ou ao pneuma, era tida como imortal, mas Ana medida em que se relaciona com o corpo, como carnal e mortal. A mais conhecida, e também a mais crua forma de tricotomia, é a que toma o corpo como a parte material da natureza humana, a alma como o princípio da vida animal, e o espírito como o elemento humano racional, imortal e relacionado com Deus. A concepção tricotômica do homem recebeu considerável apoio dos “pais” da igreja grega ou Alexandrina dos primeiros séculos da era cristã. Encontra-se, embora nem sempre exatamente da mesma forma, em Clemente de Alexandria, Orígenes e Gregório de Nissa. Mas, depois que Apolinário a empregou de maneira ofensiva à perfeita humanidade de Jesus, foi ficando gradativamente desacreditada. Alguns dos “pais” gregos ainda aderiam a ela, apesar de explicitamente repudiada pro Atanásio e Teodoreto. Na igreja latina, os principais teólogos apoiavam, diversamente, a dupla divisão da natureza humana. Foi especificamente a psicologia de Agostinho que deu proeminência a este modo de ver. Durante a Idade Média, tornou-se objeto de crença comum. A Reforma não trouxe mudança alguma, quanto a isso, conquanto uns poucos luminares menores defendessem a teoria tricotômica. A Igreja Católica Romana aderiu ao veredicto do escolasticismo, mas nos círculos do protestantismo ouviram-se outras vozes. Durante o século dezenove a tricotomia foi revivida numa ou noutra forma por certos teólogos alemães e ingleses, como Roos, Olshausen, Beck, Delitzsch, Auberlen, Oehler, White e Heard; mas não encontrou muito apoio no mundo teológico. Os recentes advogados dessa teoria não concordam quanto à natureza da psyque, nem quanto à sua relação com os outros elementos da natureza humana. Delitzsch a concebe como uma exaltação do pneuma, enquanto que Beck, Oehler e Heard a consideram como o ponto de união entre o corpo e o espírito. Delitzsch não é bem coerente e ocasionalmente parece oscilar, e Beck e Oehler admitem que a descrição bíblica do homem é fundamentalmente dicotômica. Dificilmente se pode dizer que a sua defesa de uma tricotomia implica a existência de três elementos distintos no homem. Além dessas duas concepções teológicas, houve também, principalmente no último século e meio, os conceitos filosóficos do materialismo absoluto e do idealismo absoluto, aquele sacrificando a alma em favor do corpo, e este, o corpo em favor da alma. 2. OS ENSINAMENTOS DA ESCRITURA SOBRE OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA NATUREZA HUMANA. A exposição geral da natureza do homem na Escritura é claramente dicotômica. De um lado, a Bíblia nos ensina a ver a natureza do homem como uma unidade, e não como uma dualidade consistente de dois elementos diferentes, cada um dos quais movendo-se ao longo de linhas paralelas em realmente unir-se para formar um organismo único. A idéia de um simples paralelismo entre os dois elementos da natureza humana, encontrada na filosofia grega e também nas obras de alguns filósofos posteriores, é inteiramente alheia à Escritura. Embora reconhecendo a complexa natureza humana, ela nunca a expõe como redundando num duplo sujeito no homem. Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a alma, e sim, o homem, corpo e alma, que é redimido em Cristo. Esta unidade já acha expressão na passagem clássica do Velho Testamento – a primeira passagem a indicar a complexa natureza do homem – a saber, Gn 2.7: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. A passagem toda trata do homem: “Formou o Senhor Deus ao homem... e o homem passou a ser alma vivente”. Esta obra realizada por Deus não deve ser interpretada como um processo mecânico, como se Ele tivesse formado primeiro o corpo do homem e depois tivesse posto nele uma alma. Quando Deus formou o corpo, formou-o d modo que, pelo sopro do Seu Espírito Santo, o homem se tornou imediatamente alma vivente, Jó 33.4; 32.8. A palavra “alma”, em Gn 2.7, não tem o sentido que geralmente lhe atribuímos – sentido deveras alheio ao Velho Testamento – mas denota um ser vivo, e é a descrição do homem completo. Exatamente a mesma expressão hebraica, nephesh hayyah (alma ou ser vivente) é aplicada também aos animais em Gn 1.21, 24, 30. Assim, esta passagem, embora indicando que há dois elementos no homem, dá ênfase, porém, a unidade orgânica do homem. Ao mesmo tempo, ela contém igualmente provas da composição dual da natureza. Contudo, devemos acautelar-nos quanto a esperar ver no Velho Testamento a distinção posterior entre o corpo, como o elemento material, e a alma, como o elemento espiritual da natureza humana. Esta distinção entrou em uso mais tarde, sob a influência da filosofia grega. A antítese – alma e corpo – mesmo em seu sentido neotestamentário, não se acha no velho testamento. De fato, o hebraico não tem uma palavra para o corpo como organismo. A distinção veterotestamentária dos dois elementos da natureza humana é de diferente espécie. Em sua obra sobre A Doutrina Bíblica do Homem, 1 diz Laidlaw: “Vê-se com clareza que a antítese é entre o inferior e o superior, o terreno e o celeste, o animal e o divino. Não se trata tanto de dois elementos, mas de dois fatores que se unem, com uma resultante única e harmoniosa – „o homem passou a ser alma vivente‟”. É evidente que é essa a distinção presente em Gn 2.7. Cf.também Jó 27 .3; 32.8; 33.4; Ec 12.7. Várias palavras são empregadas no Velho Testamento para indicar o elemento inferior do homem ou partes dele, como “carne”, “pó”, “ossos”, “entranha”, “rins”, e também a expressão metafórica de Jó 4.19, “casas de barro”. Há também diversas palavras que indicam o elemento superior, como “espírito”, “alma”, “coração” e “mente”. Tão logo passamos do Velho para o Novo testamento, encontramos as expressões antitéticas com que estamos mais familiarizados, como “corpo e alma”, “carne e espírito”. As palavras gregas correspondentes foram, sem dúvida, moldadas pelo pensamento filosófico grego, mas passaram para o Novo testamento por intermédio da Septuaginta e, portanto, retiveram a sua 1 The Bible Doctrine of Man, p. 60. ênfase veterotestamentária. Ao mesmo tempo, a idéia antitética do material e o imaterial atualmente se liga a elas. Os tricotomistas procuram suporte no fato de que a Bíblia, como eles a vêem, reconhece duas partes constitutivas da natureza humana em acréscimo ao elemento inferior ou material, a saber, a alma (hebraico, nephesh; grego, psyque) e o espírito (hebraico, ruah; grego, pneuma ). Mas o fato de serem empregados esses termos com grande freqüência na escritura não dá base para a conclusão de que designam partes componentes, em vez de aspectos diferentes da natureza humana. Um cuidadoso estudo da Escritura mostra claramente que ela emprega as palavras umas pelas outras, em permuta recíproca. Ambos os termos indicam o elemento superior ou espiritual do homem, vendo-o, porém, de diferentes pontos de vista. Contudo, é preciso mostrar logo de início que a distinção que a Escritura faz entre os dois não concorda com o que é mais comum na filosofia, de que a alma é o elemento espiritual do homem, conforme se relaciona com o mundo animal, enquanto que o espírito é aquele mesmo elemento em sua relação com o mundo espiritual superior, e com Deus. Os seguintes fatos militam contra essa distinção filosófica: Ruah-pneuma, bem como nephesh-psyque, são empregados com referência à criação animal inferior, Ec 3.21; Ap 16.3. A palavra psyque é empregada até com referencia a Jeová, Is 42.1; Jr 9.9; Am 6.8 (texto hebraico); Hb 10.38. Os mortos desencarnados são chamados psyqai,Ap 6.9; 20.4. Os mais elevados exercícios da religião são atribuídos à psyque, Mc 12.30; Lc 1.46; Hb 6.18, 19; Tg 1.21. Perder a psyque é perder tudo. É mais que evidente que a Bíblia emprega as duas palavras uma pela outra, permutando-as reciprocamente. Observa-se o paralelismo em Lc 1.46, 47: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador”. A fórmula escriturística para designar o homem é, nalgumas passagens, “corpo e alma”, Mt 6.25;* 10.28; e noutras, “corpo e espírito”,** Ec 12.7; 1 Co 5.3, 5. Às vezes a morte é descrita como a entrega da alma, Gn 35.18; 1 Rs 17.21; At 15.26;*** e também como a entrega do espírito, Sl 31.5; Lc 23.46; At 7.59. Além disso, tanto “alma” como “espírito”são empregados para designar o elemento imaterial do homem, 1 Pe 3.19; Hb 12.23; Ap 6.9; 20.4. A principal distinção feita pela Escritura é como segue: a palavra “espírito”designa o elemento espiritual do homem como o princípio de vida e ação que domina e dirige o corpo; ao passo que a palavra “alma” denomina o mesmo elemento como o sujeito da ação no homem e, portanto, muitas vezes é empregada em lugar do pronome pessoal no Velho Testamento, Sl 10.1, 2; 104.1; 146.1; Is 42.1; cf, também Lc 12.19. Em diversos casos, designa mais especificamente a vida interior como a sede dos sentimentos. Isso tudo está em completa harmonia com Gn 2.7, “o Senhor Deus...lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Assim, pode dizer que o homem tem espírito, mas é alma. Portanto, a Bíblia indica dois, e somente dois, elementos constitutivos da natureza humana, a saber, corpo e espírito ou alma. Esta descrição escriturística harmoniza-se também com a consciência própria do homem. Enquanto que o homem tem consciência do fato de que consiste de um elemento material e de um elemento espiritual, nenhum homem tem consciência de possuir alma em distinção do espírito. Há, porém, duas passagens que parecem estar em conflito com a usual descrição dicotômica da escritura, a saber, 1 Ts 5.23, “O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e * Grego, psyque e soma. Nota do tradutor. ** Ou “carne e espírito”. Id. *** Grego, paradedokosi tas psyqas. Nota do tradutor. faz separação entre a sua alma e o seu espírito. e Hb 4. com uma declaração epizegética. e na qual o apóstolo se sente perfeitamente livre para mencionar os termos alma e espírito um ao lado do outro. mas simplesmente no sentido de uma declaração de que ela produz uma separação entre os pensamentos e as intenções do coração.5. e apresentam as suas relações mútuas de várias maneiras: (1) Ocasionalismo. Segundo esta teoria. A objeção a esse conceito monista é que coisas tão diferentes como o corpo e a alma não podem ser extraídas uma da outra. . Leibnitz propôs a teoria da harmonia pré-estabelecida. Deve-se notar. As seguintes são as teorias mais importantes relativas a este ponto: a. e este se torna objetivo para si mesmo no que se chama matéria. De acordo com o materialismo. e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Isto baseia-se também na **** De epizeusxis.**** na qual se resumem os diferentes aspectos da existência do homem. p. sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Delitzsch. mas em grande medida continua sendo um mistério. por ocasião da ação de um desses elementos. E de acordo com o idealismo absoluto e com o espiritualismo. 2 Para discussão da psicologia da Escritura. Bijbelsche em Religionize Psychologie. como também Mt 22. a substância primitiva é o espírito. e penetra até o ponto de dividir alma e espírito. Nota do tradutor. segundo a escritura. Cl 2. e essas leis são tão diferentes que não há possibilidade de ação conjunta.2 3. sugerida por Cartésio.12 não deve ser entendido no sentido de que a palavra de Deus. 2 Co 7. alguns dos defensores da tricotomia admitem que essas passagens não provam necessariamente a posição deles. a matéria e o espírito operam cada um de acordo com leis peculiares a cada qual. da apresentação usual da Escritura. paul’s Use of Terms Flesh and Spirit. Deus. penetrando no íntimo do homem. essa substância primitiva é a matéria. que: (a) É boa regra de exegese que as afirmações excepcionais sejam interpretadas à luz da analogia Scripturae. St. Teorias monistas. figura de retórica pela qual há repetição de palavras (ou de seus sinônimos) para maior veemência ou enfase. (b) A simples menção dos termos espírito e alma um ao lado do outro não prova que. e o espírito é um produto da matéria. A matéria é um produto do espírito. A exata relação mútua do corpo e da alma tem sido exposta de várias maneiras. (c) Em 1 Ts 5. 4-150. principalmente Bavinck. Laidlaw. Dickson. RELAÇÃO MÚTUA DO CORPO E DA ALMA.34. b. H. por Sua atividade direta.1. a alma e o entendimento como três substâncias distintas. The Bible Doctrine of Man.3. são duas substâncias distintas. Algumas teorias partem do pressuposto de que existe uma dualidade essencial de matéria e espírito.37 não prova que Jesus Considerava o coração. Em vista deste fato. Ef 2. São as que partem do pressuposto de que o corpo e a alma são da mesma substância primitiva. Wheeler Robinson. (d) Hb 4. o que naturalmente implicaria que são dias substâncias diferentes. (2) Paralelismo.10. 49-138. 1 Co 5.5.12. Ele não poderia ter pensado na alma e no corpo como duas substâncias diferentes. The Christian Doctrine of Man. porque a Bíblia distingue entre ambos. O que se parece com isso só pode ser explicado com base no princípio de que.23 o apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirmação: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo”. “porque a palavra de Deus é viva e eficaz. juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Teoria dualistas. p. porém. cf. System of Biblical Psychology. porquanto noutros lugares da Escritura diz ele que o homem consiste de duas partes. 7. produz uma ação correspondente no outro. Rm 8.corpo. ou seja. e também encontrou alguns defensores no Ocidente. A união entre os dois elementos pode ser chamada união de vida: os dois se relacionam organicamente. como o corpo. mas não presume que Deus produz. pode-se concluir que ela pode agir sem o corpo. Na Igreja primitiva a doutrina da preexistência da alma limitavase praticamente à escola Alexandrina. Syst. a origem e a existência permanente da alma eram objetos de consideração. Tudo que essa corrente deixa como objeto de estudo é o comportamento humano. a alma do homem. p. (3) Dualismo realista. Quando se dá um movimento no corpo. foi criada por Deus e crescentemente se individualiza. Diz Shedd: “Apesar da sua recusa em declarar-se positivamente por uma das teorias. como seu instrumento na vida presente. da mente e até mesmo da consciência. Agostinho hesitou entre as duas teorias. Parecia adequar-se melhor à doutrina da transmissão do pecado que era comum naqueles círculos. mas com o correr do tempo. a favor do criacionismo não se encontra em suas obras nada que se compare à série de alusões pró traducionismo”. 1. III. Na igreja ocidental o traducionismo aos poucos foi ganhando terreno. o Grande. em sua inteireza. Orígenes foi o principal representante dessa idéia e a combinava com a noção de uma queda pré-temporal. Para Leão. Logo apareceram dois outros conceitos e se provaram muito mais populares nos círculos cristãos: o criacionismo e o traducionismo. à medida que a raça humana se multiplica. origina-se mediante reprodução. B. continuou a obter apoio nas igrejas norte-africana e ocidental. ela constituía o ensino da fé católica. mas. sob a influência dele. embora o seu modo de interação escape ao exame humano e continue sendo um mistério para nós. Theol. Strong. 493. enquanto que outras não. 250s. tomadas da obra De Civitate Dei. Foi a teoria dominante na igreja oriental. a julgar pela continuidade da existência e da atividade conscientes da alma. Nota do tradutor . de acordo com certa lei da harmonia pré-estabelecida. Em vez disso. Geralmente se funde com a teoria realista de que a natureza humana. No Oriente não foi bem acolhida.pressuposição de que não há direta interação entre o material e o espiritual. o que é evidente. Dogm. Os fatos simples aos quais temos sempre que retornar e que estão incorporados na teoria do dualismo realista. que de fato interagem. p. que um corresponde perfeitamente ao outro. Grande parte da psicologia dos dias atuais está se movendo decididamente rumo ao materialismo. a alma agindo sobre o corpo e o corpo sobre a alma. Sua modalidade mais extremista vê-se no behaviorismo. embora considerassem o criacionismo a mais provável das duas. A filosofia grega dedicou considerável atenção ao problema da alma humana e não deixou de fazer sentir a sua influencia na teologia cristã. Tertuliano foi o primeiro a expor a teoria do traducionismo e esta. A Origem da Alma no Indivíduo.. A natureza. tornou-se consenso de opinião entre os teólogos que as almas individuais são criadas. Este modo de ver certamente está em harmonia com as exposições bíblicas sobre este ponto.* Alguns dos escolásticos mais antigos mostravamse um tanto indecisos. De acordo com este conceito. são os seguintes: O corpo e a alma são substancias distintas. menciona algumas afirmações de Agostinho em favor do traducionismo. apresenta extratos dos escritos de Agostinho em favor do traducionismo. Jerônimo e Hilário de Pictávio foram os seus representantes mais proeminentes. com a sua negação da alma. A teoria do criacionismo sustenta que Deus cria uma nova alma por ocasião do nascimento de cada indivíduo. Theol. Platão cria na preexistência e na transmigração da alma. As operações da alma estão ligadas ao corpo. Diz * Shedd. ações conjuntas mediante interferência contínua.. 14. CONCEITOS HISTÓRICOS SOBRE S ORIGEM DA ALMA. há um movimento correspondente na alma. a teoria sustenta que Deus fez o corpo e a alma de modo tal. Algumas das ações do corpo são dependentes da operação consciente da alma. 13. ao dizer: “É heresia dizer que a alma intelectual é transmitida por meio de geração”. e este tornou a opinião dominante na Igreja Luterana. E Júlio Mueller recorre à teoria. Scotus Erígena e Júlio Mueller são os mais importantes. Lutero expressou-se em favor do traducionismo. Rufino. portanto. exibe um argumento em favor da preexistência da alma. E Tomaz de Aquino foi mais longe. Desde os dias da Reforma. Orígenes vê a atual existência material do homem. De fato. fazendo da ligação da alma com o corpo uma punição para a alma. apoiou decididamente o criacionismo. ele teme a separação de corpo e alma como uma coisa antinatural. Desde os dias de Lutero o traducionismo tem sido o conceito geralmente aceito pela Igreja Luterana. por outro lado. Diz ele. como um castigo pelos pecados cometidos numa existência anterior. recebendo-o posteriormente. (b) Faz realmente do corpo uma coisa acidental. O homem era completo sem o corpo. Desde a época da reforma. com o fim de conciliar as doutrinas da universalidade do pecado e da culpa individual. tem o apoio de H. Apolinário e Gregório de Nissa eram traducionistas. favoreciam o traducionismo. Smith e Shedd. 2. tem sido sempre esta opinião comum nos círculos reformados (calvinistas). 3. Segundo ele. Jonathan Edwards e Hopkins. na teologia da Nova Inglaterra. Não significa que não há exceções à regra. as almas dos homens são reproduzidas juntamente com os corpos pela geração natural e. A alma estava inicialmente sem o corpo. defendiam a teoria de que as almas dos homens existiam num estado anterior. De acordo com o traducionismo. H. Elas não constituem uma raça. são transmitidas pelos pais aos filhos. . pelo menos nalgumas de suas formas.16: “Tampouco é necessário lançar mão da antiga ficção de certos escritores.Pedro Lombardo: “A igreja ensina que as almas são criadas quando de sua infusão no corpo”. e que. e que certas ocorrências naquele primeiro estado explicam a condição em que essas almas se acham agora. dentre os quais Orígenes. (d) Não acha suporte na consciência do homem. ligado ao da queda pré-temporal. cada pessoa necessariamente deve ter cometido pecado voluntário naquela existência anterior. em seu comentário de Gn 3. Na Igreja primitiva Tertuliano. TRADUCIONISMO. pois presume que todas as almas individuais existiam muito antes de entrarem na vida presente. PREEXISTENCIALISMO. com todas as suas desigualdades e irregularidades morais e físicas. o homem começa a sua carreira na terra como pecador. A. (c) Destrói a unidade da raça humana. tampouco sente que o corpo é uma prisão ou um lugar de punição para a alma. Este ficou sendo o conceito dominante na Igreja Católica Romana. em sua obra sobre A Doutrina Cristã do pecado ( The Christian Doctrine of Sin). de que as almas são derivadas por descendência dos nossos primeiros pais”. Alguns teólogos especulativos. Essa teoria expõe-se a várias objeções: (a) É absolutamente vazia de bases bíblicas e filosóficas e. Scotus Erígena também sustenta que o pecado deu entrada no mundo da humanidade no estado pré-temporal. portanto. O homem absolutamente não tem consciência de uma tal existência anterior. Strong também tem preferência por ele. baseia-se no dualismo de matéria e espírito como ensinado na filosofia pagã. a fim de explicar a origem do pecado. Isto elimina virtualmente a distinção entre o homem e os anjos.B. Júlio Mueller. Entre os reformados (calvinistas). há diferença de opinião entre os protestantes. Calvino. (3) A teoria procura também apoio na herança de peculiaridades mentais e tipos familiais. porque teria pecado de fato em Adão. (1) Alega-se que é favorecida pela descrição bíblica segundo a qual (a) Deus uma única vez soprou nas narinas no homem o fôlego de vida. e (d) afirma-se que os descendentes estão nos lombos* dos seus pais. então. Ver Almeida. Ou provém de ambos? Sendo assim. Vários argumentos são aduzidos em favor dessa teoria. desde que se evidenciam mesmo quando seus pais não vivem para criar os seus filhos.30. Fazendo isso.26.6.a. Sl 104.. Pode-se. depois da criação original. o verdadeiro pecado de cada parte dessa natureza humana. da doutrina da regeneração. Objeções ao traducionismo. porém. b. (1) É contrária à doutrina filosófica da simplicidade da alma. .26. que não podem ser explicados pela educação ou pelo exemplo. cuja ocasião não se pode * “Coxa”. esse conceito tem que recorrer a uma destas três teorias: (a) que a alma da criança teve uma existência anterior. também passagens como Jô 3. é incoerente com a relação de Deus com o mundo. diz Delitzsch. e não pelos seus pecados subseqüentes. (b) que a alma está potencialmente presente na semente do homem ou da mulher ou de ambos. At 17. em certo sentido. Ver e Corrigida. Se em Adão a natureza humana pecou globalmente. (3) O traducionismo parte do pressuposto de que. 4. criada de algum modo pelos pais.23. o que faz deles criadores. levanta-se a questão se ela se origina da alma do pai ou da mãe. na forma imediatamente acima indicada. uma vez que é o único modo pelo qual pode explicar a culpa original. e nada se diz acerca da criação da sua alma. Diversas objeções podem ser levantadas contra essa teoria. ela parece oferecer a melhor base par a explicação da herança da depravação moral e espiritual. diretas.2. isto é. tantas vezes tão notórios e notáveis como semelhanças físicas. nem pelos pecados dos seus outros antepassados. (b) a criação da alma de Eva estava incluída na de Adão. (4) Finalmente. “Lombos”. É muito comum combinar o traducionismo com a teoria realista para explicar o pecado original.7. (2) tem o apoio da analogia da vida vegetal e animal. Além disso. e depois deixou que o homem reproduzisse a espécie. Cf. uma espécie de preexistência. portanto. Para este modo de ver.8). deus só age mediatamente.28. porém. Gn 2. CRIACIONISMO. e não do corpo. afirma a unidade numérica da substância de todas as almas humanas. A alma é uma substância puramente espiritual que não admite divisão. Gn 1. Ed. e esse pecado foi. devendo a sua origem a um ato criador direto. Rm 1. A reprodução da alma pareceria implicar que a alma do filho se separa de algum modo da alma dos pais. A contínua criação de almas. 1.13. Depois dos seis dias da criação a Sua obra criadora cessou. e também deixa de dar uma resposta satisfatória à questão. 2. que é assunto da alma. o que é materialismo. (c) Deus cessou a obra de criação depois de haver feito o homem. ou (c) que a alma é produzida.3. mas pela derivação natural de novos indivíduos de um tronco paterno. por que os homens são responsabilizados somente pelo primeiro pecado de Adão. cada alma individual deve ser considerada como uma imediata criação de deus. a teoria leva a dificuldades insuperáveis na cristologia. Gn 46. levantar a questão: Que será. não se pode fugir à conclusão de que a natureza humana de Cristo também foi pecadora e culpada. não é um composto? (2) para evitar a dificuldade recém-mencionada. em que o aumento numérico é assegurado. desde que se diz que ela foi feita “do homem” (1 Co 11. Cf. (5) Finalmente. Hb 7. que não é efetuada por causas secundárias? (4) Geralmente se alia à teoria do realismo.9. Nota do Tradutor. posição insustentável.10. Argumentos em favor do traducionismo. não por um número continuadamente crescente de criações imediatas. Gn 2. 630. não explica o reaparecimento das 3 Cf. diz: “Dificilmente poderá haver um texto-prova mais clássico em favor do criacionismo”. e faz maior justiça à descrição escriturística da pessoa de Cristo. 137.1. Pode simplesmente significar que a alma. mas unida a um corpo depravado. isto é.determinar com precisão. A alma é. São as seguintes.. Isso foi possível porque Ele não compartiu a mesma essência numérica que pecou em Adão. corrompendo-se depois pelo contato com o corpo. 631. geralmente admitida por todos os cristãos. Esta distinção se mantém através de toda a Bíblia. sem pecado. Ele foi verdadeiro homem. mesmo Delitzch. Separadamente do corpo. todavia. é expressamente reconhecida pelo criacionismo. contudo. Da passagem de Hebreus. se ela sustenta que a alma foi criada pura. Argumentos em favor do criacionismo. supostamente. O criacionismo expõe-se às seguintes objeções: (1) A objeção mais séria é exposta por Strong com as seguintes palavras: “Se essa teoria admite que a alma era possuída originalmente de tendências depravadas. Aquele é tomado da terra. A natureza imaterial e espiritual e. mas em virtude do fato de que Deus lhes imputa a desobediência original de Adão. onde o corpo e a alma não somente são apresentados como substâncias diferentes. e geralmente é considerada como o argumento decisivo contra o criacionismo. E é por essa razão que Deus retira deles a justiça original. não como resultado de serem postos em contato com um corpo pecaminoso. Psych. Hb 12. Objeções ao criacionismo. ao passo que esta vem diretamente de Deus.22. fez-se semelhante a nós em todos os pontos – e. mas também como tendo origens diferentes. Esta é. Diversamente de todos os outros homens. Ele não participou da culpa e corrupção da transgressão de Adão. Bavinck. (3) Evita os perigos latentes que corre o traducionismo na área da cristologia. Dogm. p. Deve-se ter em mente. O relato original da criação indica marcante distinção entre a criação do corpo e a da alma. 4 Bibl.9. o traducionismo defende uma derivação da essência que. portanto indivisível. (2) O criacionismo considera que o pai terreno gera somente o corpo do seu filho – certamente não a parte mais importante da criança – e. II. corpo real e alma racional.7. que. porém. as mais importantes considerações em favor dessa teoria: (1) É mais coerente com as descrições gerais da Escritura. Nm 16. Ec 12. faz de Deus o autor direto do mal moral. como geralmente se admite. faz de Deus indiretamente o autor do mal moral.3 a. adquire a sua vida não acima e fora daquela complexidade de pecado que pesa sobre toda a humanidade. p. apesar de traducionista. Geref. ao contrário do traducionista. o que pareceria pressupor que o pecado é algo físico. uma criatura pura. . Os descendentes de Adão são pecadores. necessariamente implica separação ou divisão da essência. ensinando que Ele introduz essa alma pura num corpo que inevitavelmente a corromperia”. que o traducionismo. Is 42. Cf. assim. uma séria dificuldade. indubitavelmente. possuindo verdadeira natureza humana.5. seguindo-se naturalmente a corrupção do pecado.4 (2) É claramente mais coerente com a natureza da alma humana. conquanto chamada à existência por um ato criador de deus. Não significa necessariamente que a alma é criada primeiro. portanto. que o traducionismo. o criacionista não considera o pecado original inteiramente como matéria de herança. mas debaixo dessa complexidade e nela. da alma do homem. nasceu de mulher. Zc 12. Agostinho já tinha chamado a atenção para o fato de que o criacionista devia procurar evitar este risco. é. na vida dos pais e. pré-formada na vida física do feto. b. Por outro lado. Geref.. Nosso conhecimento da alma ainda é muito deficiente. Parece-nos que o criacionismo merece preferência porque (1) não encontra a insuperável dificuldade filosófica que pesa sobre o traducionismo. Chr. . Raymond. que se deve reconhecer. p. Theol. ele atribui aos animais irracionais poderes de reprodução mais nobres que ao homem. 630. (2) evita os erros cristológicos que o traducionismo envolve. ao mesmo tempo.características morais e mentais dos pais nos filhos. II. e (3) harmoniza-se mais com a nossa idéia de aliança. O criacionismo não tem a pretensão de poder eliminar todas as dificuldades. p. não é preciso supor necessariamente que essas semelhanças só podem ser explicadas com base na hereditariedade. OBSERVAÇÕES FINAIS. estamos convencidos de que a atividade criadora de Deus originando almas humanas deve ser entendida como estando mais estreitamente ligada ao processo natural da geração de novos indivíduos. Of Chr. Chr. 169. II. (2) que todos os 5 Cf. Theol. serve de advertência contra os seguintes erros: (1) que a alma é divisível. Dabney.6 b. Smith. A Bíblia não faz nenhuma afirmação direta a respeito da origem da alma do homem. consciência própria.5 Dorner mesmo sugere a idéia de que cada uma das três teorias discutidas representa um aspecto da verdade completa: “O traducionismo. 36. ou o interesse da personalidade como um pensamento divino. pois o animal se multiplica segundo sua espécie. e em parte no fato de que Deus não cria todas as almas igualmente. a. o criacionismo. é necessário falar com cautela sobre o assunto. Bavinck.. mas em cada caso particular cria uma alma adaptada ao corpo ao qual se unirá. 5. não é surpreendente que Agostinho tenha achado difícil fazer uma escolha entre os dois. Syst. 94. Além disso. Syst and Polemic Theol.. Não pretendamos sabedoria acima daquilo que está escrito. dificilmente podem ser chamadas conclusivas num ou noutro caso. E no concernente às semelhanças morais e mentais de pais e filhos. É uma pressuposição gratuita. para falarmos com absoluta segurança sobre este ponto. Ao mesmo tempo. por tomar esta posição. Em vista deste fato. em parte na influência do corpo. Martensen. consciência de Deus”. II. e assim ignora o fato de que Deus presentemente age por meio de causas secundárias e cessou Sua obra criadora. Mas essas semelhanças podem achar explicação. p. 321. dizer que Deus cessou a Sua atividade criadora no mundo. uma vez que não temos claro ensino da Escritura sobre o ponto em questão. Dogm. Requer-se cautela ao falar sobre este assunto. Deve-se admitir que os argumentos de ambos os lados são muito equilibrados. Doct. 6 Syst. em parte no exemplo dos pais. sobre a alma. A última consideração não tem muita importância. (3) O criacionismo não está em harmonia com a relação atual de Deus com o mundo e com a Sua maneira de agir nele. eterno e separado. mas. exceto no caso de Adão. o preexistencialismo. apresentando peso igual. visto ensinar uma atividade criadora direta de Deus. Dogm. p. 320. 141. p. Esta objeção não é muito grave para os que não têm uma concepção deísta do mundo. e ao complexo relacionamento em que será introduzida. Vários teólogos são de opinião que há um elemento de verdade nestas duas teorias. 35. As poucas passagens da Escritura aduzidas em favor de uma teoria ou da outra. Alguma forma de criacionismo merece preferência. consciência genérica. E. P. "fígado".7 HORTON Os COMPONENTES BÁSICOS DOS SERES HUMANOS Quais os componentes básicos dos seres humanos? A resposta a esta pergunta usualmente inclui um estudo dos termos "mente". verifique-se especialmente o estudo do dr.homens são numericamente da mesma substância. "mente". "lombos". "alma" e "espírito". os escritores sagrados empregam uma ampla variedade de termos para descrever os componentes essenciais dos seres humanos. o "íntimo" e as "entranhas" como componentes das pessoas. . que contribuem para a capacidade 7 Para mais amplo estudo deste assunto. e (3) que Cristo assumiu a mesma natureza numérica que caiu em Adão. Realmente. Honig sobre Creatianisme en Traducianisme. A Bíblia menciona "coração". "corpo". "vontade". "rins". Jr 52. podendo-se esperar.34. mais frequentemente. "carne" (basar. ou a própria vida (Mc 8. "próprio-eu". Jesus "teve compaixão" da multidão (Mc 6. "alma" e "espírito".14).distintivamente humana de reagir a certas situações. Mas.2). onde o significado parece ser "cadáver"). Jeremias. A "mente" denota a faculdade da percepção intelectual. literal).17). Em certo lugar. ver também 8. bem como a habitação do Senhor e do Espírito Santo. a "alma" pode ser: (1) a sede da vida. Às vezes. como um ato da mente que se dirige a uma escolha livre. Os escritores do Antigo Testamento também empregavam o termo kilyah ("rins") para referir aos aspectos íntimos. Em outros trechos. Quando usado nesse sentido amplo. os sentimentos ou emoções. 79 Os escritores do Novo Testamento usaram psuchê 101 vezes para descrever a alma humana.2. 2 Co 7. à pessoa ou à . os escritores do Novo Testamento descrevem uma atitude com a palavra splanchna ("entranhas". No Novo Testamento. ou "coração".9). secretos da personalidade.5). mas longe dos seus rins" (Jr 12.8. o "corpo" (soma).ou "desejo" . Em hebraico.23). lamenta diante de Deus os seus compatriotas insinceros: "Tu sempre estás nos seus lábios. que ocorre 755 vezes no Antigo Testamento.de uma pessoa (Gn 23. o impulso sexual (Jr 2.3. splanchna parece formar um paralelo com kardia (2 Co 6. nephesh descreve o que somos: almas.35). aparentemente para denotar a pessoa inteira. "coração" (kardia) também significa o órgão físico.12). uma divisão material/imaterial? Os escritores sagrados tinham uma ampla variedade de termos relativos ao "corpo". "Força" (me'od) dizia respeito ao poder físico do corpo (Dt 6. E possível incorporar todos os termos já mencionados em componentes como "alma" e "espírito"? Ou é artificial semelhante divisão." a "vontade ou volição humana pode ser representada. a "força" (ischus) do corpo (Mc 12. levav) era usada no tocante ao órgão físico. porém mais frequentemente no sentido abstrato. parece formar um paralelo com o termo "coração" (lev) do Antigo Testamento.77 Posto que os escritores sagrados usavam esses termos de várias maneiras (assim como fazemos na linguagem cotidiana).8.30). bem como a capacidade de fazer julgamentos morais.28). nosso estudo passa aos termos "corpo". Em certas ocorrências no pensamento grego.15). onde termina a "mente" e começa a "vontade". por exemplo. a palavra "coração" (lev. Mais frequentemente. não "possuímos" alma ou personalidade). o termo primário dos hebreus era nephesh. por um lado. por outro lado. pessoas (neste sentido. boulesis).13. quando Jesus adverte o anjo da igreja em Tiatira: "E todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações" (ARA). pensamentos e vontade. pode ser motivada por um desejo que provém pressuroso do inconsciente". Os escritores do Novo Testamento mencionam a "carne" (sarx. para descrever a natureza interior.24) e o desejo moral (Is 26. ou ocorre onde poderíamos esperar a palavra pneuma ("espírito". (2) a parte interna do ser humano. e certamente coincidem parcialmente entre si em algumas ocasiões. O Novo Testamento menciona ainda a "mente" (nous. que às vezes significava o corpo físico). Ocasionalmente.2. no Antigo Testamento. dianoia) e a "vontade" (thelema. 1 Jo 3. no máximo. Agora.11. Nm 5. porém. que ocorre 137 vezes. she'er) e "alma" (nephesh) podiam significar corpo (Lv 21.78 Às vezes nephesh podia significar a "vontade" .20). Dt 21. os impulsos profundos e até mesmo a vontade. "pessoa" (Js 2.30) ou. parece que os gregos distinguiam os dois (ver Mc 12. pelas Escrituras. Para os hebreus. equivalente ao ego. mas primariamente a vida interior com suas emoções. Em Isaías 10.18 nephesh ocorre juntamente com "carne" (basar). destaca aquele elemento nos seres humanos que possui vários apetites: a fome física (Dt 12. nephroi ("rins") é usado uma só vez (Ap 2. Quanto a alma. Ao considerar a "vontade. No pensamento grego. No Novo Testamento. esse termo abrangente significa meramente "vida". a mente ou pensamentos íntimos. 1 Rs 19. é difícil determinar com precisão. boulema. Observe que muitos dos termos estudado são um tanto ambíguos. portanto. porém. 83 Depois desta breve resenha de termos bíblicos. por ocasião da morte. ou (3) a alma por contraste com o corpo. sendo aquele "a sede das qualidades espirituais do indivíduo. 2. At 7.50. e o corpo cessa de representar a pessoa inteira (Mt 27. psuchikos (literalmente: "segundo a alma". e alma. e corpo sejam plena-mente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo".4. Hb 4. inclusive as plantas e os animais. Esses dois textos parecem demonstrar de forma ostensiva três componentes elementares. o espírito se afasta.44.32. Vários outros textos parecem distinguir alma e espírito (1 Co 15. onde são descritos como nephesh chayyah. onde Paulo pronuncia a bênção: "E todo o vosso espírito. "vento". mas alma e espírito são inseparáveis porque o espírito está entretecido na própria textura da alma. A composição física dos seres humanos é a parte mate-rial da sua constituição que os une aos demais seres viventes. vontade. porém.14-3. "hálito". vincula os seres humanos ao mundo espiritual e os ajuda a interagir nessa dimensão. referindo-se ao "espírito" de um homem ou de uma mulher. Não é fácil. O. O espírito. "sopro". Os tricotomistas sustentam que o ser humano é constituído de três elementos: corpo. Wiley. O "espírito" é considerado um poder sublime que estabelece os seres humanos na dimensão espiritual e os capacita à comunhão com Deus.9).por psuchê 25 vezes).20.37). 84 Textos bíblicos que parecem apoiar o tricotomismo incluem 1 Tessalonicenses 5. permanecem algumas perguntas: Quais os elementos constituintes mais fundamentais dos seres humanos? Todos os termos aqui estudados podem ser classificados segundo a divisão "corpo. Pearlman declara: "A alma sobrevive à morte porque é energizada pelo espírito. E o poder que as pessoas experimentam e que as relacionam com "o âmbito espiritual. H. o termo pneuma basicamente significa "vento" ou "hálito". Em outras ocorrências. traçar linhas divisórias definitivas entre os muitos significados dessa palavra.23. 2. 82 No Novo Testamento. provavelmente significa "discernimento. Os animais possuem uma alma básica e rudimentar: apresentam evidências de emoções e são descritos com o termo psuchê em Apocalipse 16. São fundidos e caldeados numa só substância". mesmo assim.15.3 (ver também Gn 1.18. O termo ruach é "espírito". As plantas. Payne indica que tanto nephesh quanto ruach podem partir do corpo na ocasião da morte e. Is 26. B. Lc 23. o "corpo". sensações. portanto. encontrado 387 vezes no Antigo Testamento. poderes morais" 80 (Mt 22. "de alma vivente" no sentido de "indivíduos vivos" dotados de certa medida de personalidade). Os seres humanos e os animais são distintos das plantas.46. não é possível separar alma e espírito.personalidade (a Septuaginta traduz o heb. Embora o significado básico seja "ar em movimento". todos podem ser descritos em termos de existência física. em parte pela capacidade de expressar sua personalidade individual. O termo psuchê.14) e pneumatikos (literalmente: "espiritual". alma e espírito. disposição. como elemento conceituai dos seres humanos. ao passo que nesta residem os traços da personalidade". SI 86. indica que erros podem ocorrer quando seus vários componentes ficam fora de equilíbrio. porém. a dimensão da realidade que jaz além da observação comum e do controle humano". ruach também denota "a totalidade da consciência imaterial do homem" (Pv 16. indivisíveis? O tricotomismo. . os seres humanos. alma e espírito"? Devemos contrastar apenas o material com o imaterial? Ou devemos considerar que os seres humanos são uma unidade e.12). Em 1 Coríntios 2. ruach está contido no seu invólucro.59).1. Em Daniel 7. Paulo refere-se aos seres humanos como sarkikos (literalmente: "carnal" 3.13).3). lev — "coração" .81 J. os animais. O tricotomismo é bastante popular nos círculos conservadores. existir num estado separado dele (Gn 35. Embora distintos entre si.5 Pode-se distinguir o espírito da alma. A "alma" é considerada o princípio da vida física ou animal.15). meu Salvador" (ver também Jó 27. os componentes do dicotomismo perdem o equilíbrio. Muitos texto bíblicos parecem subentender uma dupla divisão nos seres humanos. podem surgir erros. Os gnósticos adotavam um dualismo cosmológico. pois o espírito bom nunca será maculado pelo corpo mau. Em 1 Coríntios 5.3). 88 O monismo.3. sendo devidamente compreendidos". que o monismo. tais como: (1) alguns liberais acreditam não ser o corpo parte essencial da natureza humana. pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber. 89 No entanto. a pessoa pode funcionar muito bem sem ele.24). Um abismo intransponível fazia a separação entre esses dois. nem quanto ao vosso corpo. A dicotomia é "provavelmente o conceito mais sustentado no decurso da maior parte da história do pensamento cristão". Como consequência dessa natureza dualista. da Escola de Samur. Em Mateus 6. espiritual.25. Placeu (1596-1655 ou 1665). Veremos. Pearlman declara: "Os dois pontos de vista são corretos. Lc 9. têm a capacidade de declarar e defender suas opiniões sem cair em erros doutrinários. grupo herético do século IV condenado por vários concílios eclesiásticos. nos dois Testamentos. Na era moderna. Diziam que o Universo estava dividido entre um lado imaterial. por ser ele mau. cujo impacto sobre o seu conceito dos seres humanos era significativo. remonta "aos filósofos pré-socráticos que apelavam a um único princípio unificador para explicar toda a diversidade da experiência observada". Os monistas defendem que. Paradoxalmente.50. O monismo. (2) castigar o corpo mediante disciplinas ascéticas. que era intrinsecamente bom. antigo grupo religioso sincretista que adotava elementos tanto do paganismo quanto do Cristianismo. físico. 85 O dicotomismo. dizia. porém.87 Quando. na França. o monismo era uma reação neo-ortodoxa ao liberalismo. sustentavam que. intrinsecamente mau. onde o Antigo Testamento emprega a palavra "carne" (basar). pelo que haveis de vestir". ensinava que somente o pneuma era criado diretamente por Deus. os escritores do Novo Testamento aparentemente empregam tanto "carne" (sarx) . Observam que. Parece que assim ocorre com a colocação paralela de "espírito" e "alma" em Lucas 1. ao reagir corretamente contra o erro do liberalismo. Em Mateus 10. Paulo fala em estar "ausente no corpo" (soma) mas "presente no espírito" (pneuma). os seres humanos eram formados por esses dois componentes. (2) alguns liberais chegam ao ponto de apontar a ressurreição da alma em substituição à doutrina bíblica da ressurreição do corpo. acreditavam que Cristo possuía corpo e alma. e o faz quando se aplica ao estudo dos seres humanos. era mera vida animal e perecia com o corpo. Ele diz: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma". era imune ao pecado. sendo que "alma" e "espírito" são usados como sinônimos. Erickson cita erros doutrinários dentro da teologia liberal. mas que o espírito humano fora substituído pelo Logos divino.20. mas não a do corpo. há ocasiões em que perder o pneuma significa-morrer (Mt 27.86 Seus adeptos. e o meu espírito se alegra em Deus. Além disso. que havia proposto uma ressurreição da alma. Os Apolinarianos. Os dicotomistas sustentam apenas dois elementos constituintes dos seres humanos: o material e o imaterial.30). o Senhor Jesus adverte: "Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida [psuchê] . aspectos do Universo. porém.Os gnósticos.47: "A minha alma engrandece ao Senhor. Os monistas teológicos argumentam que os vários componentes dos seres humanos descritos na Bíblia perfazem uma unidade indivisível e radical. Parcialmente. pode adotar um enfoque muito mais estreito. assim como perder a psuchê envolve a morte (Mt 2. também uma cosmovisão.46. Jo 19. se o espírito emanava de Deus. e um lado material. os seres humanos podiam optar por um destes dois comportamentos: (1) pecar à vontade. porém. A alma. as palavras "alma" e "espírito" às vezes são usadas de modo intercambiável. apresenta seus próprios problemas. sendo que os dois aspectos aparentemente abrangem a pessoa total.28. assim como acontece entre os tricotomistas. ou seja. estamos prontos a formular uma síntese. é necessária uma mudança essencial. No conceito do Antigo Testamento". obviamente. Os seres humanos são humanos por causa de tudo quanto são.. ou do próprio-eu. A ORIGEM DA ALMA . Esse ponto de vista discorda de numerosos textos bíblicos. vontade e moral. Qualquer desses termos pode referir-se ao ser humano inteiro porque. Tendo passado em revista várias opiniões a respeito do ser humano e observado possíveis erros dentro de cada posição.não podem herdar o Reino de Deus (1 Co 15. inclusive "homem". e. Ef 6. No processo da santificação. O que permanece na terra é um cadáver. 8. parecem descrever a totalidade da pessoa humana. 92 Além disso. cada pessoa individual "é uma unidade psicofísica. imaterial. mas não "plenamente humana"). 2 Pe 2. e parece que alguns cristãos assim acreditam hoje). vê a pessoa individual como um ser unificado. "carne"'. O Antigo Testamento. "corpo" e "alma". por ocasião da morte. Erickson observa: "O cristão que deseja ter saúde espiritual dedicará atenção a questões tais como a dieta. Fazem parte do mundo espiritual e podem relacionar-se com a realidade espiritual. Fazem parte do mundo físico e podem.3. nenhum dos dois elementos em separado pode ser descrito como um ser humano. e não especificamente do corpo físico. criado por Deus. ou espírito (que tem existência consciente pessoal.10).93 De modo semelhante. uma pessoa portadora de doença crônica (no corpo) por certo terá afetadas as emoções e a mente e até o canal da comunhão normal com Deus. Segunda: os conceitos bíblicos de salvação e santificação não devem ser considerados como a redução do corpo mau à escravidão do espírito bom. o repouso e o exercício".2. ao passo que em outras ocasiões se apresentam distintos. e não como vários componentes que podem ser individualmente identificados e classificados. e o que partiu a estar com Cristo. falam da natureza pecaminosa. nos tempos bíblicos. devemos considerar o ser humano como um todo unificado. talvez mais obviamente que o Novo. O ensino bíblico a respeito da natureza pecaminosa do ser humano caído é que todo ele está afetado. empregam os termos de várias maneiras. ser identificados como "carne e sangue" (Gl 1. portanto.14).4. Os escritores sagrados. o Espírito Santo renova a pessoa inteira. Segundo o monismo. "e o que toca numa parte afeta a totalidade". ele era considerado um ser unificado. não é inerentemente mau (era o que os gnósticos argumentavam. Considerar o ser humano uma unidade condicional resulta em várias implicações. Quando os escritores sagrados falam de "corpo e alma. não apenas uma parte. Vários termos bíblicos. Em outras palavras. somos inteiramente uma "nova criatura" em Cristo Jesus (2 Co 5. "Alma" e "espírito" às vezes parecem sinônimos.13-17). deve-se considerar uma descrição exaustiva da-personalidade humana. Quando os escritores do Novo Testamento mencionam a "carne" num sentido negativo (Rm 7. quando o componente imaterial do ser humano parte.conforme os conhecemos e a Bíblia identifica . Em primeiro lugar. mesmo assim. é o fato de não deixar lugar para um estado intermediário entre a morte a ressurreição física no futuro. Hb 2. os seres humanos . São criaturas com emoções.quanto "corpo" (soma). o espírito será reunido com um corpo ressurreto. A Bíblia vê a pessoa como um ser global.28). Acrescente-se que.17). De fato.12. 90 A dificuldade do monismo. nunca mais será considerado humano. na concepção atual (1 Co 15. carne animada pela alma". pois. 91 Jesus também faz clara referência ao corpo e à alma como elementos divisíveis quando adverte: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma" (Mt 10. na realidade.50). transformado e imortal (1 Ts 4.18. Primeira: o que afeta um elemento do ser humano afeta a pessoa inteira. um ser desencarnado. a pessoa que sofre certas pressões mentais poderá manifestar sintomas físicos ou até mesmo doenças físicas.. bem como o substantivo composto "carne e sangue". 2 Co 10.16. O corpo físico.50). Na ressurreição do corpo. segundo parece. Visando os propósitos do estudo que se segue. na realidade. em interpretar esses últimos textos como expressões da criação mediata. diferente. quando o espermatozóide se une ao óvulo. 98 Além disso. que o corpo humano tem sua origem no ato da concepção. As teorias da origem da alma que buscam bases na Bíblia 95 são três: a preexistência. Zc 12. de modo geral.Ninguém no campo da medicina ou da biologia discute a origem do corpo físico do ser humano. "rins".c. (3) A Bíblia jamais atribui nossa presente condição a alguma causa anterior ao pecado de nosso primeiro pai. um corpo individual. Aquino e a maioria dos teólogos católicos romanos e reformados.c. "Não hesitamos. O organismo desenvolvido no útero da mãe é. Somente alguns aspectos especiais e inatos do novo organismo o guardam da destruição.22). porém.97 A cronologia exata da criação da alma e de sua união com o corpo não é assunto levantado nas Escrituras (por essa razão. em vários graus. Hodge aprimora o conceito de Orígenes: "Tem passado por inúmeras outras épocas e formas de existências anteriores. aceitavam o . A teoria da preexistência.c. o teólogo de Alexandria (c. a molécula de DNA deste desenrola-se e une-se à daquele. portanto. esse corpo distinto produzirá mais células.12-21. "alma". Na concepção. de 230). depois de se afixar à parede uterina. que deve sua origem á um ato criador direto". Is 57. de 395) e Agostinho (354-430). As evidências bíblicas usadas para reforçá-la são os textos que atribuem a Deus a criação da "alma" e do "espírito" (Nm 16. e por isso são condenadas a "nascer neste mundo num estado de pecado e em conexão com um corpo material".99 embora nenhum deles forneça uma explicação integral.5). Jerônimo. Entre os adeptos da teoria do criacionismo estão Ambrósio. os reformadores luteranos.16. definiremos "alma" como a totalidade da natureza imaterial do ser humano (que abrange os termos bíblicos "coração". Mais recentemente. Pelágio. em Gênesis 3. 1 Co 15. 94 Por isso é incorreta a expressão "meu corpo". O proponente cristão mais importante desse ponto de vista foi Orígenes. Ec 12. "cada alma individual deve ser considerada uma criação imediata de Deus. as análises dos proponentes e antagonistas dessa teoria são um pouco vagas). A origem da alma é mais difícil de ser determinada. Mais especificamente. Anselmo. Alguns dos que a rejeitam argumentam que as Escrituras também asseveram que Deus criou o corpo (SI 139. a teoria da preexistência nunca conquistou muitos adeptos. a alma de cada pessoa tinha existência consciente e pessoal num estado prévio. Strong cita Tertuliano. nesse estado preexistente. De acordo com esta teoria.22.1. e não imediata". Adão (Rm 5. de 254). o teólogo africano (c. e ainda há de passar por incontáveis épocas semelhantes no futuro".9). formando uma célula inteiramente nova (zigoto). Está claro. Essas almas pecam.13. (2) A Bíblia nunca menciona a criação de seres humanos anteriores a Adão ou qualquer apostasia da humanidade antes da queda. o corpo da mãe reage. O traducianismo. portanto. e todas elas manterão o padrão único dos cromossomos do zigoto original. o criacionismo (Deus cria diretamente cada alma) e o traducianismo (cada alma é derivada da alma dos pais). Jr 1. diz Augustus Strong. (1) Baseiase na noção pagã de que o corpo é inerentemente mau e. "espírito" etc). uma forma de castigo para a alma. 96 Devido às suas dificuldades insuperáveis.7. que comentaram favo-ravelmente o traducianismo. A partir da concepção. empregada pelas defensoras do aborto quando falam do embrião ou do feto . Ele sustentava que o estado presente da existência que observamos agora (o indivíduo alma/corpo) é apenas uma etapa na existência da alma humana. enviando anticorpos para eliminar o intruso não reconhecido. Hb 12. "entranhas". Segundo esta teoria. uma alma criada por Deus em tempos passados entra no corpo humano em algum momento do desenvolvimento inicial do feto. de 160 .em qualquer estágio. A teoria do criacionismo. Essa nova célula viva é tão diferente que. a teoria do criacionismo não leva em conta a tendência inerente das pessoas ao pecado. de 185 .14. "mente". Gregório de Nyssa (330 . influenciados por essa filosofia grega..facilmente.1 registra: "No dia em que Deus criou o homem. W. deixar despercebida a tremenda ênfase bíblica na integridade e na unidade. "transferir").Esse termo. ao ser concebido. Deus outorgou a Adão e Eva a capacidade de gerar filhos de composição semelhante à deles mesmos. E.o termo. e que ambos são propagados da parte dele para a geração natural". pode. no que diz respeito à alma como também ao corpo. Paulo declara: "Deus. e o vosso espírito. Deus outorgou a Adão e Eva os meios pelos quais eles (e todos os seres humanos) teriam descendentes à sua própria imagem. que subentende que tudo quanto se constitui em "humanidade" provém de Adão. Paulo ora para que sejam santificados em tudo. esugeriu que toda Escritura fosse interpretada (1) no seu significado natural ou somático. “em três partes”. consideradas . na declaração de Davi: "Em pecado me concebeu minha mãe" (SI 51. Esse conceito desenvolveu-se da divisão dupla feita por Platão. Orígenes chegou a usar as palavras soma (“corpo”). a totalidade da pessoa material-imaterial. alma e corpo sejam considerados íntegros. Gênesis 5. temos evidências de que ele herdou dos pais. Por contraste. dicha. Essa interpretação parcelada das Escrituras ou da natureza humana. “cortar”).alma e corpo.passando pela divisão adicional da alma feita por Aristóteles: (1) uma alma animal. Finalmente. corpo e alma. E. ondemesmo no texto prova em Tessalonicenses. WARD DICOTOMIA . Tanto Tertulianocomo Agostinho sustentavam a dicotomia do corpo e da alma.. e gerou um filho à sua semelhança. conforme a sua imagem". ao fazerem distinção aristotélica entre alma animal e a alma racional. perfazendo. O termo "traduciano" provém do verbo latino traducere ("levar ou trazer por cima".100 Em outras palavras. psiche (“alma”) e pneuma(“espírito”) como chaves do método apropriado de interpretar a totalidade das Escrituras. as duassão fortemente comparadas. a existência humana. mas quase chegavam à análisetríplice do homem. o aspecto intelectual.temnein. a parteorgânica que respira.5). uma alma com tendência ao pecado. e finalmente (3) no seu significado espiritual oupneumático. (2) noseu significado simbólico ou psíquico. Gênesis 5. aplica-se na teologia àquele conceito da natureza humana que sustenta queo homem tem duas partes fundamentais no seu ser: o corpo e a alma. é aplicado na teologia à divisão tríplice da natureza humana em corpo. “cortar”). de um só fez toda a geração dos homens". Para os proponentes do traducianismo INTERNET Segundo Jeane Kátia dos Santos Silva TRICOTOMIA X DICOTOMIA RICOTOMIA X DICOTOMIA TRICOTOMIA .traducianismo. contra todas as tentativas filosóficas de dividi-la. à semelhança de Deus o fez".temnein. que significa uma divisão em duas partes (gr. tricha. Osescritores cristãos primitivos. "transportar". Asênfases teológicas e psicológicas atuais recaem quase totalmente sobre a integridade ouunidade do ser humano. “em dois”.26.3 declara: "E Adão viveu cento e trinta anos. Sustenta que "a raça humana foi criada imediatamente em Adão. sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor JesusCristo”. e uma (2) alma racional. eque [todo . em Atos 17. Geralmente. acharam a confirmação dasua opinião em I Ts 5:23: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo. que significa uma “divisão em três partes” (gr. almae espírito. assim.A R C] seu espírito. que ensinava que a alma era criada no céu e colocada no corpo em formação na ocasião da“vivificação” no ventre materno.supondo que a unidade aparente entre eles na personalidade humana deve-se à co-relaçãocoincidental que ocorre momentaneamente. assim como quando os pêndulos de relógiosdiferentes acabam balançando no mesmo compasso. portanto. a alma está trancada nocorpo como uma ostra na sua concha. antes da sua encarnação no corpo humano. foi desenvolvida ainda mais na doutrina católico-romana através de Tomás de Aquino. Na ocasião da morte. eraincriada e imortal . O corpo é a prisão da alma.A adaptação que Aristóteles fez de Platão.como de origens diferentes e existênciaindependente. ao dividir a alma nos seus aspectos animal eracional. A teologia contemporânea geralmente .A nova filosofia depois de Descartes afirmava a origem independente do corpo e da alma. Assim. o verdadeiro relacionamento entre o corpo e a alma torna-se questãocrucial. a alma deixa o corpo para voltar ao mundo celestial. A alma.Platão ensinava que o corpo era matéria perecível mas que a alma existia no mundo celestialem forma ou idéia pura.uma parte da deidade. ou para ser reencarnada em algum outro corpo. contudo.DICOTOMIA OU TRICOTOMIA? Compreendendo a natureza humana1 por Paulo Sérgio de Araújo INTRODUÇÃO Nos compêndios teológicos. o corpo. Para eles. Millard J. o homem seria constituído de duas partes: corpo e alma (= espírito). O dicotomismo foi comum desde os tempos mais remotos do pensamento cristão. É provável que a concepção mais difundida na maior parte da história do pensamento cristão é a de que os homens são compostos de dois elementos: um aspecto material. Em linhas gerais. Para responder a essa indagação antropológica. alma e espírito. os termos “dicotomia” e “tricotomia” normalmente aparecem na seção “Antropologia” (ou “Doutrina do Homem”). pgs. com a seguinte questão: “De quais elementos o ser humano é constituído?”. que preserva as atividades pessoais após a morte do corpo físico. “alma” e “espírito” são usados na Bíblia como sinônimos. Após o Concílio de Constantinopla em 381. traduzida por João Ferreira de Almeida. Esta lida. porém. e um componente imaterial. e publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. Editora Vida Nova. 2 ERICKSON. a alma ou espírito. o ser humano seria formado de três componentes: corpo. 1997. . os tricotomistas 1 Todas as citações bíblicas deste estudo foram extraídas da Bíblia Almeida Corrigida e Revisada (1994). referindo-se à única porção imaterial e imortal de nosso ser. das quais mencionarei aqui apenas as duas mais proeminentes: a dicotomista e a tricotomista. cresceu em popularidade a ponto de ser praticamente a crença universal da igreja. Introdução à Teologia Sistemática. Segundo os dicotomistas. surgiram algumas linhas de pensamento dentro do Cristianismo. dentre outras coisas. 1ª edição.2 Para os tricotomistas. a tricotomia sempre encontrou adeptos. tanto dicotomistas quanto tricotomistas. a alma. que são irmãos em Cristo. ou de um elemento intermediário. QUAL CONCEPÇÃO ENCONTRA APOIO BÍBLICO? Um exame mais cuidadoso dos dados bíblicos leva a crer que a concepção dicotômica é a que mais se aproxima daquilo que as Escrituras ensinam acerca da natureza humana. quando essa teoria foi revigorada por teólogos europeus. sobretudo a partir do século dezenove.3 O conceito do homem tripartido originou-se na filosofia grega. A tricotomia apóia-se. conscientemente. desde os primórdios. na idéia de que uma parte do ser humano prossegue vivendo. assim aqueles só podiam entrar em relações mútuas vitais por meio de um terceiro elemento. Por fim. Pensava-se que. têm um ponto em comum: todos eles acreditam na imortalidade da alma. a despeito dessas divergências. ao passo que o espírito. que entendia a relação mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação entre o universo material de Deus. das emoções e da vontade.5 Atualmente. ou seja.4 Embora a dicotomia seja o ponto de vista preponderante dentro do Cristianismo. mas também mais convincentes que os argumentos em favor . depois da morte.23 e Hebreus 4.6 Os argumentos em prol da dicotomia não apenas são mais numerosos.2 sustentam que a alma é a sede do intelecto. sobretudo. convém ressaltar que. justamente como estes só podiam ter comunhão um com o outro por meio de uma terceira substância ou de um ser intermediário. a tricotomia é bastante popular entre muitos evangélicos. o elemento responsável pelo relacionamento do homem com Deus.228-29. em dois textos bíblicos: 1Tessalonicenses 5.12. a saber. quando em contextos que tratam de antropologia (ou não).4 e 14. a designação “dicotomia” apenas para dizer que o homem compõe-se de duas partes.12 não permite extrair lições sobre a natureza humana Fazendo uma leitura objetiva. não está sendo defendida nenhuma espécie de “dualismo”. no fato de as palavras “alma” e “espírito” aparecerem. motivo pelo qual a dicotomia deve ser considerada a teoria que melhor explica a composição humana. pg. 177. direta dos versículos usados para fundamentar a tricotomia. fica difícil extrair deles qualquer lição sobre antropologia. o que é um argumento indefensável.3 bíblicos (tanto do Antigo quanto do Novo Testamento). Isso explica por que tais passagens não são analisadas neste estudo. que trazem claras lições sobre a constituição humana. formado de corpo e alma. será demonstrado que a Bíblia. 3ª edição. Em outras palavras.23 e Hebreus 4.12 estão falando desse assunto. pessoal de que 1Tessalonicenses 5.14-3. devido à sua patente fragilidade para apoiar a constituição tríplice do ser humano. neste estudo. Teologia Sistemática. tais passagens raramente são empregadas pelos próprios tricotomistas.23 e Hebreus 4. em vez de deixar esses textos falarem por si mesmos. 6 Ao usar o termo “dicotomia”. . Tal idéia contraria a Bíblia. Editora Cultura Cristã. visto que foram criados por Deus. 4 BERKHOF. a tricotomia ancora-se. 5 ibid. Louis. indesejável e inferior. Porém. Emprega-se. juntas. Neste estudo. ao passo que o corpo físico seria mau. Enquanto a dicotomia apóia-se numa grande variedade de textos 3 Alguns poucos cristãos enxergam bases para a tricotomia em 1Coríntios 2. Isso só seria possível se partíssemos do pressuposto extrabíblico. naturalmente. esses dois termos falam da única parte do ser humano que se mantém consciente após a dissolução do corpo.14. Ou seja. 177. basicamente. pg.23 e Hebreus 4. 2007. nas passagens de 1Tessalonicenses 5. pois esta ensina que o homem é uma unidadecompostadivisível. empregam alma e espírito como sinônimos. segundo o qual apenas a alma seria boa. superior. O contexto das declarações de 1Tessalonicenses 5.da tricotomia.12.. e que esses dois elementos são igualmente bons. sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (1Ts 5. psyche]. e corpo. psyche] e do espírito [gr. ou seja. em 1Tessalonicenses 5. O simples fato de essas duas palavras serem citadas num texto.23). Para comprovar isso. E por quê? Porque o contexto em que alma e espírito aparecem. e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes. e alma [gr. têm seu conteúdo semântico modificado: E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo. observem. pneuma]. respectivamente. impede-nos de extrair quaisquer pistas sobre a natureza do homem. nos três grupos de passagens abaixo. e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb 4. Passemos para o segundo grupo de textos: . Porque a palavra de Deus é viva e eficaz. Não podemos nos esquecer que alma e espírito são palavras polissêmicas. nessas duas passagens. um ao lado do outro. motivo pelo qual o contexto em que elas aparecem é fundamental para sabermos se estamos ou não perante uma passagem que nos ensina algo sobre a natureza humana. da importância da santificação para os crentes e do poder penetrante da palavra de Deus no ser humano. juntas ou não. e das juntas e medulas. que contém os dois versículos de apoio à tricotomia. entretanto os tricotomistas vão além e afirmam que tal citação é uma lista contendo os nomes das partes que o ser humano tem em sua estrutura. Nesse primeiro grupo.12).23 e Hebreus 4.precisaríamos forçá-los a dizer que o homem tem dois elementos imateriais em sua composição. pneuma]. de forma alguma pode nos levar à conclusão de que esse texto esteja tratando de antropologia. e penetra até à divisão da alma [gr. Em momento algum é dito. possuem diversos significados.12. “alma” e “espírito” são apenas mencionados em contextos nos quais os 4 escritores sagrados tratavam. e todo o vosso espírito [gr. como que esses dois vocábulos. dependendo do contexto. que o homem tem uma alma e/ou um espírito em sua constituição. Esses dois versículos tãosomente citam esses vocábulos. e não de um espírito imaterial que teria saído e. E o pó volte à terra. nesses dois versículos o contexto não nos fornece qualquer informação sobre nossa natureza.5). pois. Agora. nephesh] (porque morreu). e o espírito [heb. Então se estendeu sobre o menino três vezes. Ou seja. E o SENHOR ouviu a voz de Elias.5.Todas as almas (heb. Em Êxodo 1. temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (Mt 10. Deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e dois cachos de passas. psyche]. chamou-lhe Benoni. que o deu (Ec 12. que procederam dos lombos de Jacó. e reviveu (1Rs 17. nephesh] deste menino torne a entrar nele.18). foram setenta almas. usou nephesh para referir-se à parte imaterial e indestrutível de nossa constituição. no primeiro versículo acima. como o era. e clamou ao SENHOR. Já no contexto de 1Samuel 30. leiam o terceiro e último grupo de textos—que podem ser usados somente para defender a dicotomia—e percebam como que o ambiente em que alma e espírito são empregados traz-nos lições acerca de antropologia: E aconteceu que. ruach]. depois. e disse: Ó SENHOR meu Deus. estava no Egito (Êx 1. que continua consciente após a morte do corpo? É evidente que não. rogo-te que a alma [heb. Será que Moisés. 22). retornado ao corpo daquele homem que recebera alimento.28). e a alma do menino tornou a entrar nele. nephesh).21. mas seu pai chamou-lhe Benjamin (Gn 35. 5 E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma [gr. pois o contexto em que esse vocábulo hebraico aparece não dá margem alguma para essa conclusão. nephesh significa “pessoas”. ruach] volte a Deus. porque havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água (1Sm 30.12. ruach tem o sentido de “forças”. e voltou-lhe o seu espírito [heb. José. saindo-se-lhe a alma [heb. “vigor”. e comeu.12).7). porém. . . constatamos que “alma” e “espírito” aparecem num contexto completamente diferente. Lc 8.23). Hb 12. a tricotomia só teria fundamento bíblico se existisse alguma passagem que dissesse algo do tipo: “E aconteceu que. e aos espíritos [gr. portanto. que sai do corpo por ocasião da morte. e Jesus mandou que lhe dessem de comer (Lc 8. A simples citação desses dois termos.”.9) contêm ensinamentos sobre nossa constituição. psyche] dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram (Ap 6. os textos desse terceiro grupo são.12.23. pneuma] voltou. Com relação a 1Tessalonicenses 5. 22. pneuma] dos justos aperfeiçoados (Hb 12. alterando-se o contexto. somente os versículos do terceiro grupo (Gn 35.. E.21. a tricotomia revela-se insatisfatória para explicar a natureza humana.. pois eles trazem nítidas lições sobre esse tema.5 e 1Samuel 30. o juiz de todos. e ela logo se levantou. À universal assembléia e igreja dos primogênitos.23. não prova absolutamente nada.E o seu espírito [gr. alma e espírito adquirem significados totalmente diferentes.55). Diferentemente de 1Tessalonicenses 5. impossibilita-nos de legislar sobre antropologia. que estão inscritos nos céus. Hebreus 4. vi debaixo do altar as almas [gr. havendo aberto o quinto selo.23 e Hebreus 4.7.12. A Bíblia usa alma e espírito como sinônimos Há uma porção de textos mostrando que a alma e o espírito têm as mesmas características e funções.55.”.18. Ap 6. sem levarse em conta o contexto.. Para mim.9). E. Enfim.12. 1Rs 17. o ambiente em que “alma” e “espírito” aparecem. nesses textos.28. como vimos. o que só pode nos fazer concluir que esses dois . saindo-se-lhe a alma e o espírito (porque morreu). Mt 10. Ec 12. e ela logo se levantou. e a Deus. Examinando-se esse terceiro grupo de passagens. Êxodo 1. normativos quando investigamos a natureza humana. o que está sendo ressaltado com esses três grupos de passagens é que. Como tal passagem não existe. que nos permite asseverar que o homem tem uma alma ou espírito em sua composição. “E o seu espírito e a sua alma voltaram. 22. que realizam tarefas distintas. Tg 2. podemos fazer algumas afirmações: . Hb 12. quando retorna. Interpretando os dados dessa tabela. 22.18.7.28.vocábulos são tratados na Bíblia como sinônimos.23. Mt 10. Vivifica o corpo.21.23).21. 20. 20. vai de encontro à concepção tricotômica . Relaciona-se com Deus (At 7. pois esta apregoa que a alma e o espírito são dois elementos distintos. na tabela abaixo.9-11. Hb 12.10. Isso. Mt 10.7 são empregados pelos autores bíblicos como sinônimos: Alma Espírito É imaterial e imortal (Gn 35. At 7. 20. 31. Ap 6. 31. o espírito também faz. 1Rs 17. referindo-se à única parte imaterial e imortal do homem. o corpo é vivificado (Gn 35. 20.4.55. At 2. algumas passagens em que alma e espírito.26).59.27. 6 evidentemente. o corpo morre. tudo aquilo que a alma é. At 7.18. 1Rs 17. Ec 12.10. Tg 2.59. É imaterial e imortal (Sl 146.27. Vejam. o corpo é vivificado (Sl 146. At 2.59. Vivifica o corpo. Quando sai. quando retorna.4).28.4). Ec 12.4. o corpo morre. o espírito também é. Lc 8.9-11. Relaciona-se com Deus (Ap 6. e tudo aquilo que a alma faz.4).26).23. Hb 12. em contextos que tratam de antropologia. Ap 6. Lc 8. 20. Como veremos.55.9-11.7. Quando sai. 21. restando apenas o espírito. 8 A Bíblia também diz que o espírito tem intelecto (1Co 2. 2. a .8 Usando ainda essa tabela. claramente. a não 7 Outros textos ainda poderiam ser incluídos nessa tabela. quando o “espírito-pneuma” volta ao corpo. 3. quando em contextos que tratam de antropologia.55. quando a “alma-nephesh” volta ao corpo. Em Lucas 8. Tais informações bíblicas colidem com o argumento tricotomista de que somente o espírito relacionase com Deus. Diante dessa ambigüidade interpretativa.7 ser por uma única diferença: enquanto 1Reis 17 traz a palavra “alma”. identificam-se tanto pelo que são quanto pelo que fazem: 1. a pessoa revive. alma e espírito podem ou não estar falando sobre a porção imaterial e indestrutível de nosso ser. de imediato já notamos que eles são quase que idênticos. 2. Ou seja. 22 e Lucas 8. ambos sobrevivem à morte do corpo. optei por alistar nessa tabela somente os textos que trazem. Se realizarmos uma rápida leitura desses dois relatos de ressurreições. quando o “espírito-pneuma” sai do corpo.1. Tanto a alma quanto o espírito dão vida ao corpo físico.55. Lucas 8 traz a palavra “espírito”. Isso depõe contra a idéia de alguns tricotomistas de que a alma cessa de existir quando o corpo morre. a despeito de os tricotomistas alegarem que essa faculdade seja exclusiva da alma. Tanto a alma quanto o espírito dos justos vão para o céu. Tanto a alma quanto o espírito são imateriais e imortais.11). quando a “alma-nephesh” sai do corpo. 22. Em 1Reis 17. alma e espírito no seu sentido antropológico. Em Lucas 8.21. a pessoa também morre. pois comprova que espírito e alma.55. essa diferença é muito significativa. Em 1Reis 17. porém resolvi omiti-los por julgá-los ambíguos: neles. alma e espírito foram criados por Deus com uma mesma função: vivificar o corpo material. 22. para desfrutar da presença do Senhor. Ou seja. Como veremos. a pessoa morre.21. vejam como a igualdade entre espírito e alma salta aos olhos quando fazemos uma comparação entre dois textos: 1Reis 17. Em Lucas 8. ao SENHOR.pessoa também revive. como sinônimos. mais ainda. ao SENHOR. assim suspira a minha alma [heb. a “alma-nephesh” é essencial para vivificar o corpo.55. o “espírito-pneuma” também é um elemento que faz parte da constituição humana.55.1. Em Lucas 8. louva ao SENHOR . nephesh]. a “alma-nephesh” é um elemento que faz parte da constituição humana. a “alma-nephesh” é imaterial. em contextos que falam do relacionamento do justo com Deus. Ó minha alma [heb. 4. Em 1Reis 17. 3. Ou seja. Editora Vida Nova. 389-92. Bendize.55. Em Lucas 8. Wayne. ó minha alma [heb.21. o “espírito-pneuma” também é imaterial. Ainda existem dezenas de outros versículos que. alma e espírito não apenas são idênticos (são elementos imateriais e imortais da natureza humana). e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. usam-nos. Em 1Reis 17. são usados indistintamente:9 Assim como o cervo brama pelas correntes das águas.8 Louvai ao SENHOR.55. 22. 5. 1ª edição.21. Em 1Reis 17. ó Deus (Sl 42. ela é imortal. a tese de que o homem é um ser dicotômico. Ou seja. 9 GRUDEM. Bendize. Em 1Reis 17. mas realizam a mesmíssima função (fazem com que o corpo tenha vida). Em Lucas 8. o “espirito-pneuma” também é essencial para vivificar o corpo. 22. 2). pgs. Teologia Sistemática. nephesh] por ti. Como ficou claro. ele também é imortal. e não te esqueças de nenhum de seus benefícios (Sl 103. a “alma-nephesh” não morre junto com o corpo. 22. apesar de não usarem alma e espírito no seu sentido antropológico.21. 1999.21. vejam algumas passagens nas quais esses dois termos.1). 22. 6. nephesh]. ó minha alma. da mesma forma. Por exemplo. o “espírito-pneuma” também não morre junto com o corpo. e isso corrobora. ao lado de “corpo”. Em primeiro lugar.46).12. que está dentro de mim. então poderíamos 10 Se fizermos uma contagem da ocorrência de alma e espírito em toda a Bíblia. as palavras “espírito” e “alma. os tricotomistas vêem nessa passagem uma prova de que o apóstolo Paulo acreditava na triplicidade da natureza humana. 3). psyche] engrandece ao Senhor.(Sl 146. pg. ruach]. e todo o vosso espírito [gr. pois ele mencionou. Como se constata.23). e com o meu espírito [heb. para os autores bíblicos era indiferente dizer que a “alma” ou o “espírito” se relacionava com Deus.9). motivo pelo qual não deveríamos contrariar esse uso. sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (1Ts 5. pois. o fato de as palavras “alma” e “espírito” serem mencionadas num texto não indica que esse texto contenha alguma lição sobre a constituição humana. Disse então Maria: A minha alma [gr. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo. e corpo. Como já havíamos assinalado. seja para falar de antropologia (como nos textos alistados na tabela acima) ou não.23 e Hebreus 4. desconhecia qualquer diferença entre esses dois termos. pois a mentalidade hebraica. tanto dos dias do Antigo quanto do Novo Testamento. pneuma].. e alma [gr. usam alma e espírito como sinônimos. Se o critério para decidir se alma e espírito estão falando sobre antropologia fosse simplesmente o “critério da citação”. visto que até agora só fizemos alguns breves comentários sobre esses dois versículos. psyche].1). e o meu espírito [gr. madrugarei a buscarte. pneuma] se alegra em Deus meu Salvador (Lc 1. Eis duas razões por que discordamos dessa conclusão.23 e Hebreus 4. nephesh] te desejei de noite. será levada a efeito uma análise dos principais textos de apoio da tricotomia: 1Tessalonicenses 5. Com minha alma [heb. (Is 26..10 As Escrituras. Análise de 1Tessalonicenses 5.12 A partir de agora. em contextos que . É o contexto que determina se essas palavras estão sendo usadas para falar desse assunto ou não (v. um ao lado . e de toda a tua alma. e de todo o teu entendimento. qualquer pessoa poderia defender ou inventar a teoria que quisesse. nosso Senhor citou quatro termos. Lc 10. isso seria um erro em nossa exegese.37. necessariamente. é dito que a alma. pois. é a afirmação dos tricotomistas de que Paulo.30. Entretanto.23 indica. tb. relaciona-se com o Criador. onde a criatividade do intérprete seria o único limite. ao dispor essas palavras dessa forma. alegar que esse texto está falando sobre nossa natureza. Em cerca de oitenta por cento das ocorrências desses dois vocábulos. dando a entender que o homem tem três elementos em sua constituição. então como que os tricotomistas interpretam essas palavras de Jesus? Afinal.23 e a seguinte declaração feita por Jesus: Amarás. e aí a interpretação bíblica transformar-se-ia num perfeito “vale-tudo”. no qual o contexto é desprezado. porém. “alma” e “corpo” serem citados. Desse modo. ao Senhor teu Deus de todo o teu coração. v.23 menciona as palavras “espírito”. os números bíblicos só vêm a corroborar a tese de que as Escrituras tratam esses dois termos como sinônimos. O contexto dessa citação paulina não nos permite tirar essa conclusão. O que se questiona. Se o fato de os termos “espírito”.falam de adoração. que esse texto contém informações sobre antropologia. seja para falar de antropologia ou não. Em segundo lugar.27). uma ao lado da outra. e de todas as tuas forças. e não o espírito. o resultado mostrar-se-á totalmente desfavorável à idéia tricotomista de que somente o espírito se relaciona com Deus. Mt 22. Portanto. tivesse deixado uma lista contendo os nomes das partes de nossa estrutura. além de falta de bom senso. Utilizando tal método interpretativo.9 pegar qualquer texto bíblico no qual essas palavras aparecessem e. em 1Tessalonicenses 5. “alma” e “corpo”. em seguida. é inegável que 1Tessalonicenses 5. é sempre útil fazer uma comparação bastante esclarecedora entre 1Tessalonicenses 5. juntos. este é o primeiro mandamento (Mc 12. e de todo o teu espírito.23 (e. o apóstolo não estava transmitindo ensinamento algum sobre nossa natureza. toda a tua alma. Ao citar os termos “espírito”. Nesse caso. “entendimento” e “forças”..... “alma” e “corpo”.. pois obteria o mesmo resultado: “Amarás. sem com isso deixar qualquer lição sobre antropologia.30. e por isso mesmo Ele estava livre para adicionar. todas as tuas forças. valeu-se de um recurso didático a fim de reforçar a idéia de totalidade do ser humano: o homem deve amar a Deus com todo o seu ser. e de toda a tua alma.”. será que Jesus estava descrevendo as partes de nossa constituição? Ora. Essa noção de totalidade fica ainda mais evidente quando observamos que esses quatro termos vêm acompanhados pelo adjetivo “todo”: “. ao texto de Hb 4...”.. deparando-se com os termos “coração”. e de todo o teu 10 entendimento..do outro: “coração”. também. ao Senhor teu Deus de todo o teu coração. os tricotomistas não deveriam concluir. Jesus não estava dando uma lista dos componentes de nossa estrutura. Paulo não quis dizer que somos constituídos de três partes. “alma”. que o homem é composto de cinco partes (incluindo-se o corpo). caso quisesse. o mesmo ocorre com a declaração de Paulo.12): 1. e de toda a tua mente.. e de todas as tuas forças. mas apenas dizendo aos tessalonicenses que eles deveriam estar totalmente santificados para a vinda do Senhor. Ao lançar mão desse expediente. entendimento” e “forças”. pois. mais termos além dos que usou. em vez de três? Ao usar essas palavras.. .todo o teu coração. também com base no “critério da citação”. E é esse mesmíssimo raciocínio que devemos aplicar à passagem de 1Tessalonicenses 5. logo entendem que o Filho de Deus. seguramente tanto dicotomistas quanto tricotomistas. em Marcos 12. “alma”. todo o teu entendimento. longe de falar sobre antropologia. Do mesmo modo que Jesus empregou quatro palavras para enfatizar a idéia de totalidade do ser humano.. Em segundo lugar. de modo que cada item alistado corresponde a um elemento de nossa constituição.. “medulas” e corpo. Assim como na fala de Jesus..12 fala sobre antropologia. e entendimento. e coração. Da mesma forma que Jesus tinha liberdade para usar quantos termos quisesse em Sua fala. então os tricotomistas devem admitir. Dessa forma. e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb 4. agora. e penetra até à divisão da alma [gr. sejam plenamente conservados irrepreensíveis. pneuma]. Essa liberdade reside no fato de que tanto Jesus quanto Paulo. não podemos nos esquecer de que também foram mencionados os vocábulos “juntas” e “medulas”. à análise do último texto que. não estavam expressando suas crenças antropológicas. igualmente Paulo poderia ter dito aos tessalonicenses: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo. 3. e todo o vosso espírito. Ao empregar essa linguagem. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz. e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes. além de “alma” e “espírito”. “espírito”. e todo o vosso espírito.. é significativo que o autor sagrado. junto com 1Tessalonicenses 5.12). e alma. Percebam como que a análise deste é idêntica à que fizemos daquele. em suas declarações.vos santifique em tudo. ao mencionar os . que somos formados de cinco (e não 11 três) componentes: “alma”.. e não de três. forma o alicerce da tricotomia: Hebreus 4. e corpo.. por questões de coerência. e das juntas e medulas. e forças sejam plenamente conservados irrepreensíveis. na de Paulo os vocábulos “espírito”.2. “alma” e “corpo” encontram-se acompanhados por palavras que passam essa idéia de totalidade: “.”.23.12. ensinando que temos dois elementos imateriais: uma alma e um espírito? Em primeiro lugar. psyche] e do espírito [gr. estaria o autor da carta aos hebreus passando alguma lição sobre nossa natureza.. e alma. Procedamos. se Hebreus 4. “juntas”.”. e corpo. etc. a “palavra de Deus” é tão “viva e eficaz”. e (3) do conhecimento de que a Bíblia usa os vocábulos “alma” e “espírito” como sinônimos. o mesmo recurso didático utilizado por Jesus e Paulo. decisão. e penetra até à divisão da alma e do espírito. . Um elemento impessoal não pode relacionar-se com Deus De acordo com os tricotomistas. Absolutamente nada escapa. tristeza. valendo-se dos vocábulos “alma”. Conforme o escritor. “espírito”.termos “alma”. a alma é responsável pelo intelecto (pensamento.). e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes. raciocínio. e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Porém. pretendeu. 13). atinge o ser humano em sua totalidade. o escritor empregou. livremente.12. emoções (alegria. de modo que “todas as coisas” ficam “nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”. enfatizar a totalidade do ser humano. As declarações desses versículos podem ser facilmente compreendidas à luz: (1) de seu contexto imediato. antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4. “juntas” e “medulas”. (2) de uma comparação entre o seu conteúdo e o de Marcos 12. 1Tessalonicenses 5.30) e Paulo (1Ts 5. etc. E para enfatizar essa integralidade do ser humano atingida pela palavra. “espírito”. penso que essa distinção feita entre alma e espírito acaba gerando uma grande contradição para a concepção tricotômica. Já o espírito. este é a parte que se relaciona com Deus (espiritualidade). nem mesmo “os pensamentos e intenções do coração”. E não há criatura alguma encoberta diante dele.30.12 não fazem qualquer alusão à natureza humana. Enfim.).) e volição (vontade. “juntas” e “medulas”. Essa interpretação é amparada pelo contexto: Porque a palavra de Deus é viva e eficaz. etc.23 e Hebreus 4. como explico abaixo. e das juntas e medulas.23). que ela “penetra”. a exemplo do que fizeram Jesus (Mc 12. Em contraposição. portanto.12.) Em vista disso. a concepção tricotômica da natureza humana não encontra apoio nas Escrituras.23 e Hebreus 4. é. Entretanto. indefensável. é claro. existem bastantes passagens—que só podem ser usadas na defesa da dicotomia—mostrando que o homem tem um componente imaterial e imperecível em sua estrutura. os tricotomistas precisariam apresentar algum texto que dissesse que o homem tem uma alma e um espírito. em 1Tessalonicenses 5. A menos. tal texto não pode ser encontrado na Bíblia. que admitam que as Escrituras não fazem qualquer distinção entre esses dois vocábulos. o uso bíblico desses dois termos—é intransponível.Sabe-se que os atributos que qualificam um ser pessoal são intelecto. então só podemos concluir que ele não é uma pessoa. CONCLUSÃO Como demonstramos neste estudo. como que uma “coisa” pode relacionar-se com Deus ou com quem quer que seja? Como que os tricotomistas solucionam essa contradição? Para nós. mas uma “coisa”. esse problema—que surge a partir do momento em que os tricotomistas diferenciam a alma do espírito. assim. uma árvore ou um animal irracional. considerando-os sinônimos. Porém. uma linha de defesa muito frágil e. contrariando. em parte alguma. como que fica a posição tricotômica ao ensinar que tais atributos estão presentes apenas na alma? Ora. de modo que qualquer criatura desprovida dessas características não pode ser considerada uma pessoa. emoção e vontade. por exemplo. não são seres pessoais. (Uma pedra. Construir um argumento somente em cima da citação dos termos “alma” e “espírito”. um elemento impessoal. Para comprovar a constituição tríplice do ser humano. se nosso espírito não pensa. que se separa do corpo no momento da morte. Como se isso não bastasse. estivessem . pois não possuem essas qualidades. para nós. 12 não sente e não tem vontade. ainda há muitas e claras evidências de que os escritores bíblicos usavam alma e espírito como sinônimos. saber do vínculo entre esses dois temas reveste-se de grande relevância para esse debate. ou o estado delas no pós-túmulo. a dicotomia é. Paulo Sérgio de Araújo BIBLIOGRAFIA . No entanto. está umbilicalmente ligado à Natureza Humana. visto que a dicotomia. Se eles não faziam qualquer distinção entre esses dois vocábulos.falando sobre antropologia ou não. reputando-a como a posição que está de acordo com aquilo que as Escrituras ensinam sobre nossa natureza. assunto este que. sem dúvida. talvez os leitores tenham percebido que os assuntos “Natureza Humana” e “Destino Humano” estão íntima e inseparavelmente relacionados. Por fim. uma vez que os textos que a apóiam falam sobre o Destino Humano. Deus nos criou com duas partes: corpo e alma (= espírito). devem ser tratados sempre em conjunto. além de ter a seu favor o fato de alma e espírito serem usados na Bíblia como sinônimos. uma vez que o conhecimento de um lança luzes sobre o outro. tampouco sobre a condição dela no além. Foi por causa da quantidade e do poder de convencimento de todas essas evidências que nos propusemos a defender. a tricotomia busca refúgio em duas passagens que não têm qualquer lição acerca do que se sucede com a pessoa no momento da morte. Ora. como vimos. apóia-se em textos que falam 13 sobre o destino do homem após a morte. então contrariar isso acaba gerando problemas e incoerências para nosso entendimento bíblico acerca da constituição humana. são centrais para aprendermos acerca de nossa constituição (e vice-versa). pois nossa antropologia (o que somos) afeta diretamente nossa escatologia individual (para onde vamos após a morte). portanto. Esses dois assuntos são as duas faces de uma mesma moeda e. Não é por acaso que muitos dos textos bíblicos que relatam o momento da morte de pessoas. uma concepção muito mais sólida e confiável quando queremos conhecer nossa constituição. Portanto. neste estudo. a dicotomia. Editora Vida Nova. Teologia Sistemática. Editora Hagnos. Wayne Grudem. 3ª edição. Introdução à Teologia Sistemática. Louis Berkhof. Editora Vida Nova. 2001. Millard J. 2007. 2. . 1999. 1ª edição. Editora Cultura Cristã.1. 1ª edição. Charles Hodge. 1ª edição. 1997. 4. Erickson. 3. Teologia Sistemática. Teologia Sistemática.