Diagrama ortodôntico individualizado TrevisiTrevisi individualized orthodontic arch form diagram Hugo José Trevisi1 Renata Chicarelli Trevisi2 Resumo As pesquisas sobre formas de arcos vêm demonstrando, desde o início do século 20, que um dos fatores para manter a estabilidade pós-tratamento ortodôntico é não alterar consideravelmente a forma do arco mandibular do paciente, a distância intercaninos e a distância intermolares. A proposta dessa investigação foi idealizar uma forma de arco ortodôntica ideal ao paciente, observando a forma original, analisando a necessidade ou não de fazer algumas modificações, considerando a forma, o diâmetro anterior e o diâmetro posterior do arco mandibular. A recomendação é manter a forma do arco, caso este não apresente alterações significativas. A metodologia proposta é prática, sobrepondo os templates sobre o modelo de gesso inferior do paciente na região anterior pela vestibular de canino a canino e na região de molares no terço cervical, exatamente no sulco gengival. Uma vez selecionada a forma apropriada do arco ortodôntico ao paciente, confeccionar os arcos de aço sobre o diagrama apropriado que serão utilizados no final do alinhamento, na fase da biomecânica (fechamento de espaços) e na fase de detalhe e acabamento. Descritores: Estabilidade, templates, diagrama, oclusão. 275 Tópico especial Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):275-282. Abstract 1 2 Graduado em Odontologia, Especialista em Ortodontia. Graduada em Odontologia, Mestre em Ortodontia. Correspondência com o autor:
[email protected] Recebido para publicação: 09/08/2012 Aceito para publicação: 12/08/2012 Trevisi HJ, Trevisi RC. Research on arch form since the early 20th century has shown that a successful stability after orthodontic treatment can be achieved if the orthodontist refrains from significantly altering the patient’s mandibular arch form, intercanine width and intermolar width. Thus, this research aimed to devise an ideal archwire form for the patient about to undergo orthodontic treatment. An archwire form that could prove ideal for the patient based on his/her original dental arch form, while determining whether or not changes are required in light of the form, anterior diameter and posterior diameter of the mandibular dental arch. The author’s recommendation is that the patient’s original dental arch form be preserved, unless it has undergone significant changes. The proposed methodology is straightforward. It consists in superimposing the templates buccally over the patient’s mandibular cast, from canine to canine, and in the molar region in the cervical third, precisely on the gingival sulcus.Once an arch form suitable to the patient has been found, the orthodontist can then proceed to produce - guided by the appropriate template - the steel archwires that will be used at the end of the alignment phase, in the biomechanics phase (space closure) and in the detailing and finishing phase. Descriptors: Stability, templates, diagram, occlusion. o profissional poderá utilizar os arcos pré-formados de memória. Figura 2 .Curvatura com raio de 19 mm: diagrama número 2. de pré-molares e de molares (Figura 1). 5(19):275-282. com raios que variaram de 18 mm a 26 mm. boa distância intercaninos.Curvatura com raio de 26 mm: diagrama número 8 (Figura 3). Os in-out incorporados nos bráquetes pré-ajustados possibilitam idealizar formas de arcos sem a necessidade de introduzir dobras de primeira ordem nos tratamentos ortodônticos1. 2012. confeccionando os arcos de aço na fase final de nivelamento. a distância intermolares e o perímetro do arco1. Nessa investigação das curvaturas de arcos dos dentes anteriores foram obtidos os raios das circunferências e os modelos foram separados em grupos. . Foram encontradas oito curvaturas de canino a canino. assim classificadas: . por meio das faces vestibulares dos dentes que. Esses modelos foram divididos de acordo com a numeração.Foto de um modelo de gesso selecionado para a pesquisa que apresenta uma boa curvatura anterior de canino a canino. na continuidade dessa curvatura.276 Orthodontic Science and Practice. A pesquisa encontrou 48 formas de arcadas dentárias para as quais o profissional.Curvatura com raio de 22 mm: diagrama número 5. oval ou quadrado”. Metodologia Este trabalho foi obtido por um estudo de 120 modelos de gesso da arcada dentária inferior de pacientes que se submeteriam a tratamento ortodôntico e. inter pré-molares e intermolares. . por meio de templates. . de caninos.Curvatura com raio de 21 mm: diagrama número 4. nos quais. definindo as formas das arcadas dentárias. escolhido para a pesquisa. oval ou quadrado e definir a curvatura anterior de canino a canino. mínimo apinhamento anterior. concluía uma circunferência (Figura 2). na fase de alinhamento e idealizar o diagrama apropriado ao paciente. .Curvatura com raio de 23 mm: diagrama número 6.Foto de um modelo de gesso com visão oclusal. não havia alterações significativas nos segmentos de incisivos. O primeiro estudo da pesquisa verificou a curvatura do arco dentário de canino a canino. obtendo-se oito grupos separadamente. surgiu a possibilidade de idealizar um diagrama ortodôntico apropriado aos pacientes. “triangular. Introdução Com o desenvolvimento dos aparelhos pré-ajustados. .Curvatura com raio de 20 mm: diagrama número 3. . . Figura 1 . idealizará de forma simples e coordenada o diagrama ideal ao paciente.Curvatura com raio de 18 mm: diagrama número 1. na fase de trabalho (fechamento de espaços) e na fase de detalhes e acabamentos8. o qual apresenta boa forma de arco. Por meio deste sistema. a distância intercaninos. na avaliação do autor.Curvatura com raio de 24 mm: diagrama número 7. O sistema proposto pelos autores é definir um diagrama ortodôntico preservando as características individuais de cada paciente a partir do formato triangular. . e a curva de Wilson está plana. A relação entre a linha do arco e borda Wala é boa. Foram feitas as medidas de primeiro molar do lado direito ao primeiro molar do lado esquerdo na região cervical e repetido o procedi- mento para os segundos molares. 2012. levaram-se em consideração a máxima e a mínima distância encontrada para cada grupo (Figuras 4 e 5). Trevisi HJ.277 Orthodontic Science and Practice. unia as curvaturas dos dentes anteriores na região de caninos às larguras máximas e mínimas obtidas dos molares.Estudo das curvaturas anteriores de canino a canino. Criaram-se mais quatro curvaturas intermediárias entre a distância máxima e a mínima dos molares. Essa curvatura que une a distal dos caninos à região dos molares define automaticamente as distâncias interprimeiros e segundos pré-molares (Figura 6). Trevisi RC. O segundo estudo da pesquisa mediu individualmente o diâmetro (largura) do arco mandibular na região de primeiros e segundos molares de cada grupo. O terceiro estudo da pesquisa encontrou um ponto geométrico que. obtiveram-se várias distâncias. Figura 3 . 5(19):275-282. mas para efeito de idealização do diagrama. por meio de uma curvatura. . Figura 4 e 5 . Neste estudo.As figuras mostram as tomadas das distâncias interprimeiros e segundos molares através das faces vestibulares no terço gengival das coroas clínicas. Foram encontradas oito curvaturas com raios que variaram de 18 mm a 25 mm e receberam numerações de 1 a 8. Foram criadas mais quatros linhas intermediárias entre a máxima e mínima. Figura 6 . O quarto estudo da pesquisa definiu o perímetro (comprimento) das arcadas dentárias inferiores e superiores a partir da vestibular dos incisivos centrais até a distal dos segundos molares. Criou-se uma escala vertical lateral nos diagramas de modo que permite ao profissional confeccionar os arcos com o comprimento mais aproximado ao comprimento do arco dentário do paciente (Figura 7). Por meio desse ponto geométrico.Foram criados pontos geométricos (ponto X) que uniram a distal dos caninos ao diâmetro máximo e mínimo das distâncias intermolares dos grupos individualizados. Figura 7 .Foi idealizada uma escala vertical na lateral dos arcos com objetivo de propiciar o perímetro (comprimento) do arco para facilitar a diagramação e o trabalho do profissional na boca do paciente. totalizando seis aberturas posteriores para cada número de diagrama.278 Orthodontic Science and Practice. 5(19):275-282. . idealizaram-se a curvatura e as formas dos arcos. 2012. verificar o diâmetro posterior que é representado pelas letras A. O diâmetro posterior deverá coincidir com o terço cervical da face vestibular dos primeiros e segundos molares (Figura 8).A foto mostra a seleção do diagrama individualizado do paciente superpondo o template no modelo de gesso inferior. Primeiramente. Trevisi HJ. poderá ser considerada. verifica-se qual o número que melhor se adapta por meio das faces vestibulares de canino a canino. Figura 9 . E. 3°: Selecionar o diagrama apropriado ao paciente que encontra-se nas cartelas individuais de formas de arcos (Figura 9). verifica-se qual letra melhor se adapta para abertura posterior intermolar que deverá ser no terço gengival das faces vestibulares. 5(19):275-282.279 Orthodontic Science and Practice. 4°: Verificar o perímetro (comprimento) do arco inferior observando a escala vertical. D. Caso a forma do arco dentário do paciente não apresente alguma alteração sagital transversal anterior ou posterior. a distância existente entre o ponto central das coroas clínicas e a borda Wala (Figura 1). Figura 9 . o profissional deverá seguir a sequência de uso por meio dos templates (diagrama individualizado do paciente): 1°: Verificar no modelo inferior do paciente qual o diagrama que melhor se adapta pela vesti- Figura 8 . 2°: Depois de selecionado o número correspondente que representa a curvatura anterior de canino a canino. Forma de utilização do diagrama e forma de confecção dos arcos individualizados ao paciente . aumentando 3 mm a partir da distal do primeiro ou segundo molar e colocando a letra I dos lados direito e esquerdo no diagrama apropriado do paciente (Figura 10). B. C. Trevisi RC. Nessa avaliação. F. Escolhido o número. bular de canino a canino.A foto mostra o diagrama individualizado apropriado ao paciente que foi selecionado por meio dos templates. A primeira fase para idealizar o diagrama apropriado ao paciente será realizar uma análise detalhada da arcada dentária do paciente por meio do modelo de gesso inferior7. também. da distância intercaninos. representado pelos números 1 a 8 (Figura 8).8. 2012. da distância inter pré-molares e a distância intermolares3.A foto mostra o diagrama individualizado apropriado ao paciente que foi selecionado por meio dos templates. Nessa avaliação. o profissional deverá verificar se existem alterações significativas da forma da arcada. esse procedimento deverá ser feito a fim de verificar o comprimento do arco para que seja confeccionado sem causar desconforto ao paciente. 4°: Verificar o perímetro (comprimento) do arco superior com o mesmo diagrama por meio da escala vertical. 5°: Confeccionar o arco inferior sobre o diagrama escolhido e confeccionar o arco superior 2 mm maior em relação ao arco inferior (Figura 12). recomenda-se utilizar um diagrama com o número maior na letra correspondente. recomenda-se selecionar um diagrama de tamanho maior para confecção dos arcos individualizados do paciente.A foto mostra a superposição do template no modelo superior do paciente para verificar somente o comprimento do arco superior. Seleção do diagrama individualizado em casos ortodônticos considerados atípicos Em casos com fortes apinhamentos anteriores: Em casos que existe muito apinhamento inferior com desalinhamento das faces vestibulares dos incisivos e caninos. que representa o comprimento ideal do arco superior. Obs. Figura 11 . aumentando 3 mm a partir da distal dos primeiros ou segundos molares. foi colocado a letra I do lado direito e esquerdo. Figura 10 . Na Figura 10. 5(19):275-282.: O diagrama individualizado não se adapta ao modelo superior.A foto mostra a confecção do arco de aço inferior sobre a linha do diagrama e a confecção do arco superior 2 mm maior em toda extensão em relação ao arco inferior. Em casos de atresia mandibular: Em casos de arcos dentários atrésicos. mostra a letra S marcada nos lados direito e esquerdo. oval ou quadrada) e o diâmetro posterior (largura) dos molares na região cervical (Figura 13). o que significa o perímetro (comprimento) do arco inferior do paciente.280 Orthodontic Science and Practice. Cinco pontos serão importantes na . aumentando 3 mm a partir dos primeiros ou segundos molares e colocando a letra S do lado direito e esquerdo no diagrama apropriado do paciente (Figuras 10 e 11).A foto mostra o diagrama apropriado ao paciente. Caso não existam alterações significativas. Figura 12 .: Em casos de extrações de pré-molares. recomenda-se selecionar o diagrama por meio do rebordo alveolar inferior1. o rebordo alveolar mantém a forma do arco mandibu- lar do paciente (triangular. Obs. 2012. 2012. Trevisi RC. 281 Orthodontic Science and Practice. selecionar um diagrama que possibilite a expansão somente na região posterior (Figura 14). recomenda-se. Trevisi HJ. 5(19):275-282. selecionar um diagrama que possa expandir na região anterior e posterior (Figura 15). após a expansão do arco superior. d) curva de Wilson e e) relação da forma do arco e a borda Wala. b) distância intercaninos. recomenda-se expandir na região de caninos e na região de molares. Neste caso. . Figura 15 . recomenda-se utilizar o diagrama superior maior para manter os dentes posteriores descruzados no período do tratamento corretivo.Diagramação e coordenação entre os arcos inferiores e superiores para um caso que apresenta mordida cruzada posterior ou foi submetido a expansão ou disjunção maxilar. Casos com mordidas cruzadas posteriores Aos pacientes que apresentam mordidas cruzadas posteriores ou aqueles que se submeterão à disjunção maxilar.A foto mostra um modelo que apresenta inclinação dos caninos e dos molares para lingual e não apresenta boa relação entre a linha do arco e a borda Wala na região de molares.A foto mostra um modelo com forte apinhamento na região anterior. Figura 13 . Nos casos em que os caninos não permitem expansão. Aconselha-se a escolha do diagrama por meio do contorno anterior do rebordo alveolar.seleção do diagrama: a) forma da arcada. Na fase de utilização do arco retangular de aço. c) distância intermolares. Figura 14 . com a curva de Wilson inclinada para lingual e a relação do arco com a borda Wala insatisfatória. O arco dentário mandibular deve ser diagramado de acordo com o diagrama selecionado e o arco superior deverá ser expandido.Modelo de gesso de paciente que apresenta boa distância intercaninos com atresia da distância intermolares. introduzir torque vestibular progressivo a partir da distal dos caninos até o último molar (Figura 16). Nos casos em que os caninos permitem expansão. Neste caso. recomenda-se idealizar um diagrama com o objetivo de definir as distâncias intermolares e manter a distância intercaninos. Figura 16 . procura selecionar criteriosamente a forma e o diâmetro do arco dentário aos pacientes. State-of-the-art orthodontics. Bennett J. diâmetro sagital anterior e posterior o mais próximo possível às formas dos arcos originais dos pacientes.Bom diagnóstico e plano de tratamento. The straightwire appliance explained and compared.C. 7.1990. O tratamento ortodôntico da dentição com aparelho pré-ajustado. Com os estudos pesquisados.P. 2004.P. A partir das investigações.C.. 2011. Revista Española de Ortodoncia. 9.9: . verificou-se que todos os autores tinham como objetivo finalizar os tratamentos ortodônticos com a forma de arco o mais próximo possível da forma inicial do tratamento. . Andrews L. Considerações finais Para o sucesso do tratamento ortodôntico corretivo. Little R.Restabelecer a dinâmica funcional por meio da obtenção da oclusão em relação cêntrica.A. Alterações desordenadas de formas de arcos dentários dos pacientes podem comprometer o tratamento. Interlandi S. ocasionando recidivas das distâncias intermolares.29:46–63.. inter pré-molares e intercaninos com apinhamento dos incisivos. Analisando a evolução da ciência ortodôntica de aparelhos pré-ajustados. Mecânica sistematizada de tratamento ortodôntico.3. Tecco S. 11. SmartClip™: tratamento ortodôntico com sistema de aparelho autoligado – conceito e biomecânica. 1986.F. e os movimentos funcionais por meio das guias dos incisivos e dos caninos. Rio de Janeiro: Editora Sarvier. 5. Ortodontia – Mecânica do arco de canto . McLaughlin R. 3.T. 2. Mosby Elsevier.Determinar uma forma da arcada dentária ideal ao tratamento ortodôntico. 2007.Conseguir um posicionamento anteroposterior ideal dos incisivos inferiores com bom equilíbrio muscular. McLaughlin R. Hawley C.11. Desde 1979. 6.282 Orthodontic Science and Practice. Zanelato R. Dental Cosmos. Trevisi H. utilizar diagramação nos arcos de aços para restabelecer padrões de formas. porque considera tal procedimento um dos fatores primordiais para o sucesso do tratamento. McLaughlin R. Arch form considerations for stability and esthetics. os autores pesquisados tinham a grande preocupação de estabelecer uma forma de arco ideal para todos os pacientes que iriam se submeter a tratamentos ortodônticos1. 10.4. Rio de Janeiro: Editora Sarvier. British Journal of Orthodontics. 2009. et al.P. Determination of the normal arch and its application to orthodontics. Douglas C W. Journal of Clinical Orthodontics. Discussão Visando a estabilidade pós-tratamentos ortodônticos. . São Paulo: Artes Médicas. Referências bibliográficas 1. 2012. 4. 1976. Maxillary arch width changes during orthodontic treatment with fixed self-ligating and traditional straightwire appliances. A experiência clínica de muitos anos vem demonstrando que a estabilidade em longo prazo obtida nos tratamentos ortodônticos está intimamente ligada a esses fatores relacionados..10(4):290-4. 5(19):275-282.10:174–195. 1999. Stability and relapse of dental arch alignment. definiram padrões mínimos de arcos sem se preocupar com formas de arcos individualizados. São Paulo: Artes Médicas. 1962. Trevisi H. os autores propõem trabalhar com os aparelhos pré-ajustados. . World Journal of Orthodontics. . Bennett J. o autor2. utilizando arcos com boa elasticidade na fase de alinhamento e nivelamento e na fase de trabalho e detalhes de acabamentos. Portanto.C.17:235-241. 8. devem ser considerados os seguintes fatores6.47:541–552. a proposta deste diagrama individu- alizado atribui critérios científicos suficientes para estabilidade a longo prazo dos tratamentos ortodônticos.6. Trevisi H..5. Bennett J.M. Comparative changes in mandibular canine and first molar widths. 1998. The Angle Orthodontist..32(4): 232-241. 1905.introdução à técnica.