Design e Semiótica da Cultura: a análise de estruturas modelizantes e a brasilidade em marcas gráficas

March 29, 2018 | Author: Eduardo Ferreira | Category: Information, Design, Natural Language, Sociology, Discourse


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Design e Semiótica da Cultura: a análise de estruturas modelizantes e a brasilidade em marcas gráficasDesign and Culture Semiotic: the analysis of modeling structures and the Brazilianness in graphic marks Ferreira, Eduardo; Graduando; FAUUSP [email protected] Braga, Marcos da Costa; Dr; FAUUSP [email protected] Resumo O presente trabalho propõe a uma introdução aos conceitos mais gerais da Semiótica da Cultura de maneira a aproximar designers pesquisadores do universo de possibilidades desta escola da semiótica, dando ênfase a análise de estruturas modelizantes e da maneira que pode ser usada no campo do design, em especial em análises culturais e históricas. Apresenta ainda como exemplo um breve caso de aplicação sobre a ideia de brasilidade em marcas gráficas de eventos esportivos internacionais. Palavras Chave: semiótica da cultura; design e cultura; brasilidade no design. Abstract This paper proposes a more general introduction to the concepts of Cultures Semiotics in order to bring researchers to the universe of possibilities in this semiotics school, emphasizing the modeling structure’s analysis and the way that it can be used in the design field, specifically in cultural and historical analysis. It also presents a brief case as an example of application about the idea of Brazilianness in graphic marks of international sports events. Keywords: cultural semiorics; design and culture; brasilianness in design. IMPORTANTE: na parte inferior desta primeira página deve ser deixado um espaço de pelo menos 7,0 cm de altura, medido da borda inferior, no qual serão acrescentadas, pelos editores, informações para referência bibliográfica contexto esse denominado de texto. 43) Lotman ainda ressalta que todo objeto cultural possui uma dupla função social: 1. o de análise do processo do signo. para nosso propósito. possibilitando assim melhor compreender seu sistema e códigos dentro do panorama cultural respective.Sistemas Modelizantes . Sendo esta ontologicamente constituída da informação de uma coletividade. conservam e transmitem. Temos aqui aquilo que Lotman (1996) chama de Meta-Semiótica: 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. intersecção. ibdem. Sendo assim. conservação e transmissão de informação. todo objeto passível de leitura possibilita a transmissão de informações. ou ação do signo. e 2.uma definição Modelização é a relação. uma possível definição de cultura é “O conjunto de informações não-hereditárias. Como ponto de partida à definição do que é uma análise modelizante. texto. A cultura é. matéria prima de toda ciência semiótica. e a comunicação como processo de semiose. e estas podem ser analisadas de acordo com seu contexto original. que as diversas coletividades da sociedade humana acumulam. abarcando não mais unicamente assuntos relacionados à escrita. a ideia de modelização floresceu a partir do aprofundamento de alguns conceitos. Assim. como uma das camadas determinantes das características daquela cultura. e o de análise do sistema de signos. A análise modelizante visa a encontrar a estrutura que encobre determinado fenômeno cultural. mas vincularam a própria língua à dinâmica cultural e semiótica. todo texto e objeto que contenha informação. A partir dessa enunciação de cultura e comunicação. O texto é a base à comunicação. como cultura. . seguindo a ideia do autor. serve tanto à uma função social de “culturalização” (sua função prática) quanto de apreensão de dados culturais. isto é. influência e sobreposição que existe entre os diversos sistemas de uma cultura. dois momentos. pois reúnem em si uma quantidade de dados importantes sobre sua origem e contexto a pesquisadores como historiadores. está em sua essência manifestar-se por meio de signos. Ferrara ressalta esse aspecto da informação como necessário à produção de conhecimento e hábito: “A informação é inerente à experiência como produtora de conhecimento. Segundo o autor. assim como o modelo semiótico de representação e construção de uma linguagem. pode-se recorrer à definição de cultura dada por Lotman (1979) em seu texto Sobre o problema da tipologia da cultura. tratada como um grande texto. O entendimento de tais conceitos terminaram por sofrer um alargamento. 2004). quando dela é possível inferir aprendizado que alicerça mudanças de comportamento” (FERRARA. sociólogos etc. dessa forma. ou seja. sistema e código segundo os estudos deste grupo. mais especificamente na Escola de Tártu. São Luís (MA). sua função prática. p. Nascido dentro do ambiente da Semiótica da Cultura. Segall (1977) nos afirma que: “Semiotics distinguishes between the sign process (semiosis) and the sign system (semiotics) in communication. na Estônia.” A análise semiótica possui. é importante destacar o princípio pelo qual a cultura é informação” (Lotman. a comunicação realiza-se sobre uma base cultural. bem como compreender o papel da semiótica nesse panorama. português. Entre esses dois opostos.“La aspiración a una modelización exacta conduce a la cración de la metasemiótica: devienen objectos de investigación no los textos como tales. identificando as semelhanças e influências entre os mesmos. e possui. dado sua alta formalização (portanto. causando. modelização. Assim. biologia. o autor procura argumentar o aspecto determinístico que as diversas linguas excercem sobre seus falantes.) é possível estabelecer que os vários sistemas de signos modelizam o mundo de diferentes maneiras. 77) Sendo a meta-semiótica a matéria de análise e identificação de estruturas nos diversos textos de forma a reconhecer quais são as amarras por detrás destes.) Esta gradação é definida progressivamente pelo grau de abstração do sistema de signos S em relação ao conjunto de objetos W. justamente pela alta abstração. conseguem mais fortemente influenciar e modelizar outros sistemas da cultura que a ele se relacionam. maior interferência. pg. y así sucesivamente” (Lotman. uma abrangência maior de alcançar a interagir com outros sistemas. os autores identificam a língua como um sistema modelizante anterior ao religioso. mas menor sua modelização. ou de determinar aspectos desses outros sistemas é baixo.. ou seja. p. No livro Língua e Realidade. assim. Para compreender essa precedência do sistema linguístico aos demais. No entanto. assim. (. Essa explicação serve. compara as estruturas ontológicas de alguns idiomas. por exemplo. menor abstração). nesse contexto. los modelos de los modelos. Sobre essa relação entre abrangência e modelização. ou mesmo as metalinguagens da própria língua e suas análises sintáticas. alemão e tcheco. físico. defende que as estruturalidades de cada língua estão de tal forma amarradas em suas respectivas ontologias culturais que terminam por condicionar de maneira extremamente forte o desenvolvimento tanto de ideias quanto filosófico e de ação daquela cultura. constituída de diversos sistemas de códigos. código linguístico. temos sistemas religiosos. assim. Os exemplos dados pelos autores ajudam a melhor entender: a matemática é um sistema de máxima abstração. podemos incluir nesse fato também outros sistemas de códigos científicos. pode-se buscar respaldo em Flusser.. a modelização é o relacionamento entre os diversos sistemas de uma cultura. código religioso. maior a abrangência do sistema. (1979) nos afirma: (. Por sistemas entendemos os diversos códigos de uma cultura. São Luís (MA) . como pôde se observar. 1996. com uma modelização maior ou menor. ritualísticos etc. que. sino los modelos de los textos. Quando Zalizniák et al afirmam que o sistema matemático é de maior abstração e menor modelização que a língua. seu grau de modelizar.. A relação entre abstração e modelização faz-se da seguinte maneira: quanto maior o grau de abstração. o qual se apresenta como a interpretação mais natural de S” (Zalizniák et al. da física. a entender que de alguma maneira.. Toda cultura é.. Na contramão. Zalizniák et al. que são: inglês. como o código matemático. os autores afirmam que há uma gradação de sistemas com grau maior ou menor de abstração e. Como argumento a favor de tal tese. alguns com ação mais ou menos abrangente que outros. 1979. 81) Clarificando essa passagem. os sistemas linguísticos a que se está inserido interferem de maneira maior do que se imagina (ou até que 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. influência tal que o autor chega a afirmar que a língua é a realidade. como a linguagem da química. lhes serve de fonte” (Zalizniák et al. em que o superior modeliza o inferior. mas também pelo recurso à lingua natural que. o espaço cultural. portanto. e pode-se defini-lo.. e justapondo-a à de Geertz de cultura como rede de significados.. Em outras palavras. que carregam determinado conteúdo discursivo. a qual está necessariamente inserida num contexto maior. Design Gráfico como texto cultural Lotman.. ferramentalmente. que certa “hierarquia” de níveis e graus de modelização servem a entender e. um sobre o outro. p. Entendendo o discurso como uma sistematização lógica de um conjunto de ideias baseada num código linguístico e cultural necessariamente imbuído de conteúdo ideológico. a Língua Natural.). o que 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. O design gráfico está inserido nessa mesma dinâmica de significados e influências culturais. de certa maneira.83) identifica na cultura duas linguagens básicas ao homem: 1.se desejaria). O design gráfico no momento de projeto faz-se sobre determinados pressupostos teóricos (tanto epistemológicos quanto metodológicos e críticos). os quais encontram espelhamento no resultado projetual em si. a averiguar por meio de certas análises e métodos de observação alguma estruturalidade dentro das modelizações de um sistema de códigos em outro. São Luís (MA). Retomando a ideia de Lotman de que todo objeto é portador de informação. no texto El texto y el poliglotismo de la cultura (1996.. 1973). ‘design gráfico não é tão somente a visualização do discurso.. junto à gradação de níveis de abstração e modelização de sistemas de signos anteriormente citados. torna-se possível porque a semântica de cada um desses sistemas artificiais (. desvendar a partir de sistemas inferiores (modelizantes primários). Ary Moraes em sua tese de doutoramento aborda o tema do design de notícias e.. aproxima-se à ideia de Geertz de identificar a cultura a uma “rede de significados” (GEERTZ. assim. 1994 apud MORAES. p. afirma que este “(. a nomeação do design gráfico como um tipo de texto cultural emerge naturalmente. em última análise.82). apesar das individualizações. 2010. Explica-se. voltando-se ao pensamento de Margolin. 1979. Essa contextualização do espaço. Categorizar a realidade (mesmo que funcionalmente) é fornecer sentido à mesma a partir de determinada leitura. Por espaço cultural refere-se a certa categorização de esferas de conteúdo e significado inerentes à maneira interpretativa do homem quanto à realidade e que levam a diferentes maneiras de interagir com a mesma em seus diversos contextos. ou ao menos em parte. visa justamente entender a estrutura atuante em um sistema da cultura e seus códigos de acordo com a relação desse sistema com seu meio cultural. Assim: “A construção de diferentes sistemas semióticos. pois é informação.) classifica o design no interior desse conceito comunicacional (. Ele é uma forma de discurso em si mesmo’” (MARGOLIN. Esse dado nos aponta. p. os sistemas superiores (modelizantes secundários).87) A análise de estruturas modelizantes serve. 2. como um texto cultural (ou ao menos parte de um texto).) pode ser discutida não só através de sua relação com os sistemas superiores. Segundo ele. pode-se concluir que todo objeto cultural é um signo. .. as próprias situações de uso a que o projeto pressupõe.86)  Interpretação da semântica do sistema: análise da significação dos códigos por seus interpretadores. e não o signo isolado de seu conjunto. Entre eles. Essa cultura que modeliza os aspectos de projeto do designer normalmente é a mesma que age sobre aquele para o qual o designer projeta. o ambiente cultural do usuário.podemos identificar como uma ação política (BONSIEPE. podemos citar a língua. (p. mesmo partindo de pressupostos individuais daquele que projeta. pode-se dizer que o design gráfico é um texto cultural por definição modelizável por sistemas anteriores a ele. em seu diálogo com os demais itens do sistema e demais sistemas que modelizam em diferentes camadas o sistema em questão.  Separação das camadas do sistema (modelizantes primarios e secundário): separação das camadas do texto e reconhecimento das modelizações que acontecem no texto escolhido. o usuário. Etapas do processo de análise modelizante Uma vez que a análise de sistemas modelizantes visa observar o sistema de signos e suas regras. que tem por etapas análises individuais sob um olhar dialógico. os passos para sua observação restringem-se basicamente a análises dos próprios conjuntos dos signos. desejos diversos envolvidos etc. tomando cuidado com as manifestações por onde se captam e entendimentos que se fazem de tal processo sígnico. dividindo em etapas. senão antes importa a análise das causas e estruturas que operam em tal significação. p. chegar ao seguinte modelo de analise proposta por Zalizniák et al:  A constituição e delimitação do sistema: consiste na escolha do texto a ser trabalhado. ou seja. necessidades do contratante. ou seja. posteriormente. Esses diversos sistemas de códigos e de discursos afetam diretamente e indiretamente o resultado dos projetos. e são o que caracterizam o design gráfico como um texto cultural. um ambiente cultural e processos de modelização. 91) 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. necessidades essas que englobam o projetista. diversas manifestações de identidade cultural no design de cartazes).83). Não há (ou não se busca) uma correspondência a priori tida como exata e única entre signo e objeto do signo. história e tradições gráficas. e as regras sobre as quais se combinam (p. Trata-se de uma teoria das relações dos diversos sistemas (p. de modo a distinguir as unidades básicas. 85). Por conta desses motivos que julgam-se de necessidades ontológicas do projeto. Entretanto. 2011.  A estratificação dos textos e filtro das informações do texto que não participam a priori do sistema em questão: filtrar o texto nos pontos que não fazem parte a princípio da situação em análise escolhida. 88)  Constituição de uma matriz tipológica dos vários sistemas semelhantes ao caso escolhido: busca por uma ampliação do entendimento das modelizações para outros sistemas de mesmo tipo do caso em estudo (exemplo: análise de uma e. o projeto modeliza-se a partir dos diversos textos culturais no qual o projetista encontra-se imerso.48). concepções políticas do projetista e também do usuário. Podemos. e na construção de um sistema mais completo possível de forma a prever a maior parte das situações estandartizadas do texto em questão (p. São Luís (MA) . (p. preparar o terreno de estudo a uma posterior expansão. não revelamos completamente a estrutura que opera naquilo que se classifica por “brasilidade”. escolheu-se um recorte menor que é o de marcas gráficas de eventos esportivos internacionais sediados no Brasil. muito mais do que a busca por uma verificação ontológica entre a brasilidade do design e a cultura brasileira em si. além de possuírem largo material verbal com explicações dos conceitos e manifestações com alusões à pontos de brasilidade nos projetos. 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. não entramos no mérito de juízos a respeito da validade ou não. analisando textos sobre cultura nacional. ao menos revela-se uma das estruturas que modelizam todo o discurso do tema. O motivo disso é o de. Observa-se claramente que a investigação de modelizações perpassa necessariamente o processo histórico. Escolheu-se o motivo de eventos esportivos por uma explícita massa coesa de informação inicial. São Luís (MA). apresentamos de maneira resumida esses resultados. e não unicamente de situação. Se. revisão dos diferentes tipos de discurso que desenvolveram-se ao longo do tempo etc. e explicitamos de maneira mais didática as maneiras como acontecem tais modelizações. de qual maneira evoluiu. senão em apenas revisar os aspectos discursivos de tal característica. ou mesmo da adequação ou não de tais marcas gráficas com a realidade cultural brasileira. aplicamos a mesma no estudo do discurso da brasilidade em marcas gráficas de eventos esportivos. assim. Interpretação do sistema na métrica social: verificar manifestações do sistema estudado no âmbito social. o papel dos pioneiros do design gráfico no Brasil nesse panorama. . Ou seja. perpassamos pelas etapas apontadas pelos autores. A seguir. que facilitam em muito um primeiro olhar. Um ponto importante. averiguamos dentro daquilo que se diz e se usa para justificar algo como “brasileiro” em quais pontos são comuns. uma forte ferramenta de investigação de movimentos da história do design em relação à cultura. pois avalia de maneira ordenada as influências e diversas camadas de significação e modelização que trabalham nele. Exemplo de análise: marcas gráficas de eventos esportivos brasileiros Como forma de fornecer um exemplo da aplicação de tal matriz teórica ao design. Mostra-se. manifestações essas que devem ser encaradas não de maneira simplória. observando as interferências de políticas públicas nacionalistas. Assim. antes de entrar nos méritos dos resultados. Para a averiguação do discurso da brasilidade em marcas gráficas de eventos esportivos. e qual é o código que justifica algo como brasileir. pelo motivo de tanto ferramenta quanto objeto de estudo estarem diretamente envolvidos com aspectos culturais. mas de entender o próprio novo sistema como um modelizante de outras situações (p. Para essa primeira aproximação do tema da brasilidade em marcas gráficas por via da análise de suas estruturas modelizantes. pois. seguindo as recomendações dos autores de reduzir o escopo para formação das primeiras ideias de um conjunto em aproximação. é esclarecer que tratouse de uma revisão das origens e desenlace do discurso da brasilidade. Faz-se importante esclarecer tal recorte feito. como originou-se. 95). ” (Ortiz.. A qualidade democracia passa desta forma a constituir a essência da brasilidade. p. um artista com raciocínio sério. ou ao menos o momento de formalização de tal discurso nacionalista. 1968) Após análise dos trabalhos de Aloisio Magalhães. 2001. Rubens (SIC) Martins. na formação de determinado repertório estético-intelectual 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Sua gráfica não surgiu no rastro daquelas suiçadas que no Brasil tem um certo sabor de neve em flocos. embora suas pesquisas e falas voltem-se muito mais aos aspectos de identidade nacional e contexto local per si do que na busca por um desenvolvimento formal de tal identidade. Tal incentivo com fim ideológico para o desenvolvimento de um sentimento de identidade brasileira influencia a busca por características brasileiras inclusive no design. o designer que em poucos anos conseguiu montar um dos ateliers mais ativos e inteligentes do Brasil. em relatos do período percebe-se já uma busca por tais características expressas no desenvolvimento formal do design. constatando que a arte deve ser operação de utilidade teve uma crise. 2006. Observa-se em Aloisio Magalhães e Lina Bo Bardi as figuras mais proeminentes nessa busca. 2003). MELO. respeitando poderes e volições individuais. muito próprio da gente da província que foge das facilidades dos sucessos do jornal. PAULA. 2008) contrapostos aos projetos de Alexandre Wollner e Carlos Cauduro. como observamos no relato de Lívio Levi na nota de morte de Ruben Martins à Revista Mirante das Artes: “Deixou-nos. ETHEL. LEITE. LEVI. a ponto de não identificarmos de maneira precisa ou mesmo indicial qualquer atribuição de significados brasileiros a formas precisas e enumeradas (BO BARDI. PINI. 1994. observamos nos pioneiros uma ampla busca por questões de identidade nacional. mas em especial na ditadura militar de 1964.95). Mesmo assim. 1998..) Rubens vinha da pintura.). 2005. assim. Nas palavras de Ortiz: “É significativo que o discurso do primeiro presidente do CFC estabeleça um antagonismo entre cultura ‘para todos’ ou ‘soviética’ e cultura ‘para cada um’ ou ‘democrática’. enquanto Wollner e Cauduro estudaram em escolas de design e arquitetura. Ruben Martins. passando a dedicar-se ao desenho industrial. Além disso. SABO. estrutura-se na simplicidade e na simplificação que serve para comunicar elementarmente” (Levi. que se harmoniza à tradição do Brasil como nação democrática’.Resultados segundo análise modelizante O ponto de partida à análise do discurso da brasilidade em logotipos de eventos esportivos passa pelo estudo da construção de uma identidade nacional. cultura brasileira. Averiguou-se que tal aconteceu de maneira especial nos governos Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas.(…) ‘É essa cultura para cada um. espontânea. o que significa reconhecer a existência objetiva de uma ‘verdadeira. para sempre. que são os designers aos quais normalmente se atribuem características brasileiras (STOLARSKI. 2011. Martins e Magalhães foi na área das artes plásticas e foram auto-didatas no campo do design. 2008. São Luís (MA) . há antes um ponto por demais importante para ser esquecido: a formação que receberam Chamie. Emilie Chamie. Ao voltarmos a esse campo. 1989. Depois. o que resultou. MAGALHÃES. (. aos 40 graus do trópico. o que observamos é que as diferenças formais que existem caracterizam muito mais idiossincrasias formais de cada um do que um conjunto suficientemente coerente para que se denomine de brasilidade. sincrética e plural. 1968. voltamo-nos ao estudo enunciado de marcas gráficas esportivas. estes necessariamente acompanhados de algo que mais seguramente remeta ao Brasil. Jogos PanAmericanos Rio 2007. Logotipo oficial da Copa do Mundo FIFA 2014. são as cores da bandeira que garantem a certeza de identificação do Brasil nessas marcas. Diversidade da População. Artesanato e Rusticidade. Na maioria dos casos observados. Encontrados os fundamentos sociais e políticos à brasilidade e mapeado de maneira breve mas abrangente algumas manifestações de reconhecimento da identidade no design e seus principais intelectuais. Candidatura aos Jogos Olímpicos de 2004. VII Jogos Sul Americanos Brasil 2002. 8. 3. Candidatura à Copa do Mundo FIFA 2014. O mapeamento das características mais comuns e semelhantes nesses 11 exemplos permitem que elenquemos as seguintes manifestações formais como mais diretamente ligadas ao significante de brasilidade: 1. 6. ao nosso ver. 7. respectivamente: 1. pois não mostram-se suficientemente inequívocos na sua referencia nacionalista.e até mesmo metodológico. faz-se necessário uma combinação de elementos que necessariamente devem acontecer para que o significado da brasilidade seja latente nessas marcas: o uso icônico de elementos diversos. Selecionamos 11 exemplos. Paisagens Naturais. Marca gráfica oficial aos Jogos Olímpicos Rio 2016. Humor do Povo. e é isso que mais interessa aqui. Assim. Tais elementos manifestam-se não apenas formalmente. 5. Mundial de Futsal FIFA 2008. . Tal ponto. e a atual manifestação da mesma. 3. 2. 9. na análise formal embasada pelas manifestações discursivas do que se afirma por brasilidade. figura arquitetônica. colocados a seguir: Figure 1: Marcas gráficas utilizadas para a análise. 10. as primeiras ideias de brasilidade. resta explicar a ligação entre eles para que o entendimento das 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Candidatura aos Jogos Olímpicos Rio2012. Os eventos a que se referem são. 2. é o que caracteriza de maneira mais proeminente as diferentes manifestações visuais de suas marcas gráficas. Cores da Bandeira. Fauna/Flora. mas principalmente nas falas que defendem ou analisam tais projetos. Candidatura para Jogos Olímpicos Rio 2016. Candidatura aos Jogos Olímpicos em Brasília 2000. Imagem montada pelos autores. São Luís (MA). Candidatura à Copa do Mundo FIFA 2006. já que uma arara pode remeter tanto ao Brasil quanto à Colômbia e demais países amazônicos. Festas. Retomando os pioneiros do design nacional. 8. o que não caracteriza algo que se possa dizer com propriedade como “brasileiro”. 4. 5. 4. 11. 6. 7. Ainda. universalização das cores da bandeira como ligadas ao país. então. a produção pioneira com a produção atual de marcas gráficas. dessa maneira. Resumindo. historicamente foram: 1. 4. julgamos que terminou-se por tomar tais idiossincrasias por aquilo que se chama de brasilidade. 6. mostra-se no presente exemplo como tal ferramenta instrumentaliza o pesquisador no tratamento de dados em história do design e análises culturais diversas. O uso numeroso de curvas complexas em Aloisio Magalhães. Comparando. e que foram aplicados conjuntamente àquele conjunto de ícones (numero aliás bastante restrito em suas possibilidades) aliados à cor da bandeira nacional. 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. que desenvolveram tal ideia de brasilidade. de desenvolvimentos estéticos no campo. por exemplo. é uma das características que tornaram-se por demais comuns nos projetos contemporâneos ditos brasileiros. sobre o qual o discurso trabalha. de modelos de compreensão históricos e até mesmo de análises e pesquisas que possam embasar o projeto de design. que formam um conjunto bastante limitado de signos combinados mutuamente e com características repetidas universalmente ligada ao Brasil (as cores da bandeira). como maneira unívoca de remeter ao Brasil. Atribuímos parte dessas características à estereotipação das idiossincrasias dos pioneiros do design nacional. a uma produção diferenciada daqueles três pioneiros que por metodologias próprias chegaram a um desenvolvimento próprio no design de marcas. Considerações Finais O presente artigo teve por intenção apresentar alguns conceitos da semiótica da cultura. 3. políticas públicas nacionalistas. relação de estereótipos icônicos que podem ligar-se ao Brasil. A ideia que montamos do conjunto nos leva a crer que. 5. São Luís (MA) . mas foram cada vez mais “caricaturizadas” e exacerbadas. 2. Acredita-se que seu desenvolvimento no design pode render frutos importantes no entendimento de dinâmicas culturais no design. ideia de sincretismo da cultura nacional. ainda com a busca por características formais que remetessem ao Brasil per si. aliando uma política pública que incentiva o desenvolvimento de uma identidade nacional. idiossincrasias formais dos pioneiros do design brasileiro. julgase que tais idiossincrasias tornaram-se pontos base ao desenvolvimento de uma alegada brasilidade. Pretende-se que tal apresentação tenha demonstrado minimamente a capacidade que tal ferramenta fornece ao pesquisador e das relações formuladas graças ao entendimento de camadas e modelizações. desenvolvimento de um discurso falado coeso dessas características que repetem-se constantemente a cada novo projeto que se apresenta. em especial o de modelização e um modo de análise de modelizantes fornecidos por Zalizniák et al. o sistema de códigos de brasilidade em marcas gráficas de eventos esportivos revela-se no uso de unidades estandartizadas (ícones).diversas camadas de modelização sejam coesas. As modelizações. e um exemplo dos resultados de aplicação em pesquisa sobre o discurso da brasilidade em marcas gráficas de eventos esportivos. La Semiosfera I. Madrid: Ediciones Cátedra.com/eduardo.gl/yUcrD. Rosari. 1979 _________. S. Madrid: Ediciones Cátedra. 1996 _________. 2003 LEVI. La memoria a la luz de la culturología. São Paulo: Revista Ciano nº6. 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