Defesa do dom de línguas Zwinglio Rodrigues

April 2, 2018 | Author: Susana Cardoso | Category: Paul The Apostle, Acts Of The Apostles, Pentecostalism, Bible, God


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Defesa do línguas.dom de Este artigo é uma defesa da contemporaneidade do dom de línguas. Já é histórico o debate que envolve os chamados continuistas e cessacionistas. Nomes de piedosos estudiosos estão envolvidos nesse debate. O debate no nível do diálogo e do respeito é sempre bem vindo. Acredito que continuistas e cessacionistas tem o que aprender uns com os outros. Se soubermos submeter as divergências ao amor, acredito que uma união, marcada por uma abundante graça, pode surgir. Não creio que todos os continuistas irão se tornar cessacionistas ou que o oposto ocorrerá. Então, pensando na unidade da Igreja e propagação urgente do Evangelho, defendo, acima do uso e do não uso do dom línguas, o estreitamento, em Cristo, dos laços fraternos. Pensando nisso é que este texto será cuidadoso na apresentação das minhas convicções. A defesa que se segue pautar-se-á em uma breve abordagem bíblica partindo de uma referência do Antigo Testamento. Ao chegarmos no Novo Testamento, destacarei a experiência do Dia de Pentecostes, outras referências no livro de Atos que apresenta o fenômeno das línguas e, depois, passarei a um comentário sobre o dom de línguas em 1ª aos Coríntios. Na sequência, apresentarei algumas informações sobre o dom de línguas no período pós-apostólico. Nesse momento, destacarei informações sobre o dom durante o período patrístico; comentarei a ausência de relatos sobre as línguas por parte dos reformadores; citarei a presença do fenômeno pós-período dos reformadores e, por fim, chegarei ao século XX abordando breves informações. Finalmente, apresentarei uma interpretação de 1ª aos Coríntios 13:8-10, 12. O texto base que me guiará na defesa da continuidade histórica do dom de línguas é o capítulo 52 da Teologia Sistemática de Wayne Grudem. O leitor irá perceber também que, infelizmente, algumas citações são de segunda mão. Porém, as fontes de onde extrair tais informações são de pesquisadores que reputo serem sérios e competentes. Sendo assim, passemos ao estudo. Uma Breve Abordagem Bíblica Alusão Veterotestamentária ao “Falar em Línguas” • E saiu Moisés, e falou as palavras do SENHOR ao povo, e ajuntou setenta homens dos anciãos do povo e os pôs ao redor da tenda. Então o SENHOR desceu na nuvem, e lhe falou; e, tirando do espírito, que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o espírito repousou Se o raciocínio acima em hipótese alguma pode provar que as “línguas” é um assunto já presente no Velho Testamento. Porém. digamos. falar sobre o fenômeno das línguas não me parece ser uma possibilidade absurda. penso eu. Pedro afirma: “[. fato que o distingue dos profetas comuns. e do outro Medade. meu senhor. No Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (DITAT). posso. nesse sentido. “ferver e derramar” e “extravasar palavras. Porém. Então correu um moço e anunciou a Moisés e disse: Eldade e Medade profetizam no arraial. e repousou sobre eles o espírito (porquanto estavam entre os inscritos. nãbî’ é traduzido por “porta-voz”. Já Paulo. há apenas uma intenção divina em sinalizar mais uma vez a real presença do Espírito de Yahweh entre os israelitas e não qualquer ação didática. não podemos negar que Pedro e Paulo indicaram isso. servidor de Moisés. ao falar sobre os fenômenos “vento impetuoso”. E Josué. haveria um espaço para o falar em línguas. proíbe-lho. falar em línguas. conjecturar. e não por enigmas” (Nm 12:8). Não me sinto instrumentalizado para me posicionar tecnicamente. respondeu e disse: Moisés. que ao falar com os demais profetas e através deles. ao explicar a natureza do dom de línguas.sobre eles. ainda que não saíram à tenda). a partir de uma leitura. No entanto. No caso dos setenta anciãos. “a tendência tem sido afastar-se da idéia ativa de falar em êxtase como o sentido essencial do profetizar”. possivelmente. crua. visto que Deus falava com (e por) Moisés “claramente. faz alusão ao profeta Isaías dizendo: “Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estranha falará o Senhor a este povo” (1ª Co 14:21). segundo o DITAT. um dos seus jovens escolhidos. Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do SENHOR fosse profeta. filho de Num. como os profetas e poetas”. mas depois nunca mais. Esta proposição torna-se provável devido ao uso vocábulo hebraico nãbî’ traduzido por “profetizaram”. o nome de um era Eldade. a visão de “línguas como de fogo” que “pousou uma sobre cada um deles” e o “falar em outras línguas”.profetizaram (ênfase minha). Deus poderia usar de pouca clareza e de diversos enigmas e. como aqueles que falam com mente fervorosa ou sob inspiração divina.. onde. . A adoção desse ponto de vista faz com que nãbî’ signifique “falador extático” cujas expressões vocais em êxtase expressam revelações vindas do Espírito de Deus. e profetizavam no arraial. Porém no arraial ficaram dois homens. e que o SENHOR pusesse o seu espírito sobre ele! Alguns estudiosos concordam que a experiência dos setenta anciãos está relacionada a uma expressão vocal em êxtase o que indica. “profeta” e é indicado como derivado do verbo nãba’ que significa “borbulhar”. Em Atos.] o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel” (2:16).. página 904. existem outros pontos de vista sobre a derivação de nãbî’ e. ao que me parece. idiomas estrangeiros usados para louvar a Deus (proclamação de Suas grandezas – v. o máximo que um quadro como esse pode representar é o estado ou condição de embriaguez (2:13). A meu ver. Além de servir como fator de atração da atenção dos judeus.11) e não para evangelizar.“Falar em Línguas” no dia de Pentecostes O fenômeno das línguas no Pentecostes Cristão não parece apresentar nenhuma dificuldade de aceitação. leio e escuto a afirmação de que as línguas faladas em Atos 2 serviram como meios de evangelização. Elas foram pronunciadas por pessoas já devidamente evangelizadas e convertidas. Quem afirma isso parte apenas e exclusivamente de um entendimento particular. Wayne Grudem apresenta um comentário importante sobre a palavra glossa e a alegação daqueles que insistem que as línguas sempre devem ser humanas conhecidas. os crentes reunidos “ficaram cheios do Espírito Santo. de modo que deve referir-se também no Novo Testamento a línguas conhecidas. Na casa de Cornélio. o fenômeno das línguas ocorre novamente e. Os que dizem sim jamais poderão defender satisfatoriamente a necessidade da manifestação de línguas conhecidas neste momento. os acontecimentos sobrenaturais serviram como sinal do poder de Deus sobre e a favor dos seguidores de Jesus. a evangelização ocorre com o poderoso discurso de Pedro registrado a partir do versículo 14. refere-se a línguas humanas conhecidas. Cento e vinte pessoas falando ao mesmo tempo variedades de línguas não torna nenhum contexto favorável a qualquer trabalho evangelístico. visto não haver necessidade de pregar e/ou ensinar a alguém de um idioma humano desconhecido. nesse contexto. Costumeiramente. o Senhor e Cristo a ser apresentado imediatamente depois dos eventos extraordinários. Teriam sido por força paradigmática as “línguas” faladas por esses gentios línguas humanas conhecidas? Acredito que não. Não concordo com essa afirmação. elas eram initeligíveis. Não há como escusar-se do fato de que as Escrituras não exigem que o falar em línguas humanas conhecidas. e passaram a falar em outras línguas” (At 2:4). em Cesaréia. As línguas – glossai no grego – que os crentes falaram eram dialektos. Mas essa objeção não é convincente. As línguas aqui serviram como provas da descida do Espírito Santo sobre os gentios. Evidências Posteriores do “Falar em Línguas” em Atos Em Atos 10:44 e ss temos o “Pentecostes” Gentílico. • Alguns acreditam que glossa. fato que enaltece uma teologia e não uma boa interpretação. se torne uma regra para todos os demais casos. como ocorrera em Atos 2. todo o evento serviu para atrair a atenção das pessoas que estavam no entorno do Cenáculo. mesmo que implicasse falar a Deus em línguas . já que não havia outra palavra grega mais apropriada para designar esse fenômeno. Embora seja possível compreender palavras soltas. Naquela data. em outros textos gregos (fora do Novo testamento). Depois. temos. temos demonstrada mais uma vez a “multiforme graça de Deus” (1ª Pe 4:10) que manifesta-se e concretiza-se de muitas maneiras na vida do homem. Porém. (13:1) Para alguns. Em minha opinião. lembro que o fenômeno lá ocorrido – do mesmo modo o de Éfeso (At 19:2-7) e. As “Línguas” em 1ª aos Coríntios A abordagem clássica sobre as línguas aparece nos capítulos doze e catorze dessa epístola. requerer que todos os aspectos do evento se repetissem. independente destas palavras tratarem de possibilidades hipotéticas ou reais. ou como o címbalo que retine. Até onde pude constatar as Escrituras não tratam de tipos de línguas pronunciadas por anjos. possivelmente. • Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos. Nada mais (sobre)natural. se não tiver amor. A seguir. No entanto. É sabido que os rabinos discutiam sobre a natureza das línguas desses seres e que o controverso Orígenes tratavam-nas como superiores às humanas. por isso adoto-a. isso é difícil de ser averiguado. 924) Em sua crítica alucinada ao dom de línguas. Em não ocorrendo os mesmos fenômenos. p. MacArthur (2002). (1999. Talvez 1ª aos Coríntios 13:1 fundamente isso. não traz essa informação importantíssima de Grudem. fazem isso a partir da língua desses últimos. não se deve desconsiderar a associação de tais palavras com línguas angelicais. Os defensores de que as línguas faladas em Atos 2 devem servir de paradigma deveriam. Porém. não há nada do ponto de vista escriturístico que nos impeça de supormos a existência de língua(s) própria(s) pertencentes a esses seres. Quando eles aparecem falando aos humanos. Para outros. o apóstolo estava empregando uma hipérbole. a apresentação das línguas como um dos dons espirituais (charismata): . desde que algum conteúdo ou informação fossem transmitidos pelo discurso. Será que ele a desconhece? Voltando à casa do centurião. darei uma atenção maior às referências 14:2 e 18. por uma questão de coerência. ao referir-se às línguas dos anjos.não humanas ou qualquer tipo de língua não plenamente desenvolvida. Retornando aos capítulos clássicos. na insistência de que glossa sempre tem que ser línguas humanas. A segunda maneira de lhe dar com a referência me parece mais equilibrada. serei como o bronze que soa. no capítulo doze. Outros tantos são taxativos ao afirmar que Paulo está admitindo a possibilidade de alguém com o dom falar as línguas dos anjos. a linearidade que os cessacionistas exigem para os demais fenômenos com línguas em Atos é um enquadramento que não se sustenta. o de Samaria (At 8:14 ss) – não é repetição do fenômeno de Atos 2 com suas necessidades específicas. antes desejo dar um destaque a uma referência importante do capítulo treze. estudo e reflexão da Palavra. condenatórias.] quem fala em outra língua. A palavra edificando é usada para denotar edificação espiritual que resulta em desenvolvimento espiritual. Não nego que no capítulo existam momentos de exortação (prefiro esta palavra no lugar de “condenação”). conduzir o crente à imagem metafísica e moral de Cristo. pois é função de todos os dons. mas o encontramos em Jerusalém. isso mesmo que nada entenda. o apóstolo explica que o dom de línguas cumpre um papel específico e particular na vida de quem o possui. porém. O caráter de edificação particular do dom de línguas esboçado neste capítulo muitas vezes é atacado com o argumento de ser o mesmo de natureza egoísta. fatalmente. visto que ninguém o entende. A equação é simples: quem edifica-se via dom de línguas (ou. algo de significativo do ponto de vista da adoração. Cesaréia. Detalhe: esse falar em língua não significa falar no coração ou sem ruído. também o dom de línguas converge para os . A idéia por trás de “fique calado na igreja” consiste em não se separar em pleno culto público como quem estivesse realizando um culto particular liberando palavras incompreensíveis para os demais. por exemplo) apto está para edificar o Corpo e o edificará. No versículo 28 Paulo indica mais uma vez a edificação pessoal via o falar em língua quando orienta que sem a presença do intérprete que possibilita a edificação corporativa. elas aparecem também em Roma (Rm 8:26-27). não fala a homens. e não comendatórias. Nesse processo didático.. pois isso contraria o sentido primário do verbo grego lalein (falar audivelmente) e a natureza de qualquer língua que seja. A título de lembrança. em Samaria. Ou seja. e em espírito fala mistérios. Incisivo esse MacArthur! Mas essa leitura não passa de impressões pessoais. Eu também tenho as minhas.. Ora. O dom de línguas aqui é o mesmo a respeito do qual Paulo discorre no capítulo catorze da mesma epístola. senão a Deus. As línguas faladas em Corínto serviam a propósitos diferentes do de Pentecoste. Éfeso e. Aqui elas tornam-se discursos dirigidos a Deus em forma de oração e/ou louvor que redundam em edificação para quem as fala (14:4). devo destacar que o fenômeno das línguas não se restringe à igreja de Corínto. Sobre essas palavras MacArthur diz que são sarcásticas. via oração. A meu ver estamos diante de uma ação pedagógica interessada em esclarecer finalidades e ordenar situações sem o uso dos meios propostos por MacArthur. No capítulo 14:2 o apóstolo escreveu: • [. possivelmente. não sinto exalar das palavras paulinas em questão nenhum sarcasmo e nem odor de condenação. poderia dizer. Ainda para alguns.“a um variedade de línguas” (12:10). doutrinal e ético deve ser falado. pois quem beneficia-se com ele é quem o tem. em última análise. Logo. isso é reduzir desavisada e/ou maldosamente a importância desse dom também para o Corpo. no final das contas. o crente dotado do dom deve falar “consigo mesmo e com Deus” desfrutando de todo conteúdo de edificação para si. a discussão que circunscreve o fato do apóstolo Paulo usar a palavra “língua” (singular) em alguns casos e “línguas” (plural) em outros. Disso. Eram essas línguas para edificação que o apóstolo praticava fora da igreja: • Dou graças a Deus. Quando Paulo referia-se ao verdadeiro dom de línguas. (2002. Ele escreveu: • Quando Paulo usou o singular nos versos 2. as minhas insistentes leituras do capítulo 14 sempre me apresentam orientações quanto ao uso do legítimo dom de línguas. como no Pentecostes. estava se referindo à falsa algaravia pagã (fala ininteligível) que estava sendo utilizada por muitos dos crentes coríntios em lugar do verdadeiro dom de línguas. pois está evidente que na igreja de Corínto existiam pessoas movidas por esse danoso sentimento visto estarem interessadas no caráter teatral das línguas. p. Não nego que alguém dotado do dom possa ter motivações egoístas. MacArthur vê nessa distinção um indicativo de que o escritor canônico falava da primeira como sendo falsa e da segunda como legítima. Vamos às razões. onde os visitantes estrangeiros poderiam compreender? (idem) Digno de nota é o fato de que o texto grego apresenta a forma plural “línguas” e não diz “diferentes tipos de línguas”. Porém. isso é um problema do portador do dom e não deste. ele usava o plural. (1999. A meu ver. de maneira breve. porque falo em outras línguas mais do que todos vós. em vez de falar na igreja. 1) Em nenhuma parte do capítulo 14 o escritor fala sobre um verdadeiro dom de línguas e outro falso. dizem: • [é] forte indício de que as línguas não são idiomas estrangeiros. onde ninguém poderia compreender. por que Paulo falaria mais que todos os coríntios em particular. e isso sem nenhuma menção às contrafações. 4. 13.interesses da coletividade. Grudem explica: • Se fossem línguas estrangeiras que estrangeiros pudessem compreender. 924) Seguidamente. está claro que durante todo o percurso pedagógico o apóstolo se mostra . Eu não duvido que existisse manifestações psíquicas e até inspiradas por demônios em Corínto – como ocorre hoje. deduz-se que o apóstolo enfatiza mais sua condição de falar em línguas do que qualquer capacidade de falar diferentes línguas conhecidas (KISTEMAKER. Devo destacar nesse momento. 14 e 19. Não vejo alternativa senão admitir que o apóstolo está falando de uma “linguagem de oração” particular que prescinde da obrigatoriedade de ser uma linguagem humana conhecida. Porém. 2004). 153-154) Analiso essa conclusão de MacArthur como sendo arbitrária. (14:18) Robertson e Plummer – citados por Grudem – comentando essa afirmação. p. Warfield (1851-1921). língua. 2) Um problema de Variante Textual. dentre eles o dom de línguas. e precisamos admitir que esse é o texto “mais difícil”. respectivamente. ADG (manuscritos bem antigos). Como os livros dele. e a maioria dos outros manuscritos gregos e das versões antigas. exibem a forma plural. isso poderia dever-se simplesmente à atração exercida pela palavra subentendida “dom (de línguas)”. Paulo usa “línguas” e “língua”. ele não deveria se furtar a esse trabalho. Talvez o grande propagador dessa tese tenha sido o competente teólogo de Princeton B. tem a missão de expor a “verdade” sobre o dom de línguas. devo dizer duas coisas: a) Antes de MacArthur afirmar que “língua” representa o falso e “línguas” o verdadeiro. Champlin apresenta a seguinte questão relacionada à variante textual: • Alguns manuscritos mostram aqui a forma singular. há editores que tem preferido o singular. Porém. com base nesse fator. Mas.categórico em tudo o que diz e. que está no singular. Comentando a respeito de 1ª Co 14:18. ele deveria ter tratado desta questão devariante textual dizendo porquê ele prefere a forma plural nesse caso. visto que o poço ainda é mais profundo. No entanto. Os Carismáticos e O Caos Carismático. os mss P(46). Li os dois livros e não me lembro de encontrar tal discussão. B. p. Assim dizem os mss Aleph. quem sabe. As “Línguas” na Igreja Pós-Apostólica Período Patrístico É comum ouvirmos dos cessacionistas que os dons miraculosos. 222) Depois de confrontar o que disse MacArthur com comentário de Champlin. b)Caso a forma singular “língua” deva receber a preferência como variante correta. “línguas”. B. se de fato o original continha a forma singular. bem como a tradição latina em geral. (1985. Pergunto: praticava o apóstolo dois tipos de “língua(s)” ou. estamos diante do uso de “língua” como uma peculiaridade especial desprovida de qualquer sentido particular ou motivo evidente? Acredito que o uso de “língua” por Paulo encerra apenas uma forma alternativa para “línguas” e nada tem a ver com a fantástica explicação que MacArthur apresenta. ao invés do plural. Há quem diga que algumas das obras . o que encontramos é um total silêncio a respeito de uma contraposição entre o verdadeiro e o (pseudo) falso dom. nesse caso. e que se pode dar-lhe a preferência. Há algo que para mim é digno de destaque: nos versículos 18 e 19. referindo-se à sua própria experiência. como fica o apóstolo Paulo dentro da teoria de MacArthur? Passaria ele a ser incluído no rol dos dados à algaravia pagã visto falar em “língua”? Já sei! Isso se tornaria mais uma cláusula de exceção (1ª Co 14:27 seria uma segundo MacArthur) dentro do puro e simples raciocínio dedutivo dele. acabaram depois do século I. Crisóstomo e Agostinho – alguns dos maiores teólogos da igreja antiga – consideravam as línguas uma prática remota. • Também ouvimos de muitos irmãos na igreja que possuem dons proféticos e através do Espírito falam todo tipo de línguas (ênfase minha). ele faz menção ao historiador cristão Eusébio de Cesaréia (263-340 d.cessacionistas modernas não passam de notas de rodapé aos trabalhos de Warfield contra a defesa continuista. e seu discípulo Tertuliano. trazem à luz coisas ocultas aos homens para o benefício geral [. Durante os primeiros quatrocentos ou quinhentos anos da igreja. .] certa e verdadeiramente expulsam demônios. o Professor Stanley Burgess [conheça-o aqui] em uma obra a respeito da história da doutrina do Espírito Santo escrita em três volumes diz: • Antes de João Crisóstomo (347-407 d.. Ele inclina-se mais ao lançamento de dúvidas sobre se realmente Irineu estava reconhecendo a presença do dom de línguas no II século do que qualquer outra coisa. de maneira que os assim libertados dos espíritos malignos não raro crêem e juntam-se à igreja..] outros ainda curam os doentes impondo as mãos sobre eles. e estes são curados.” (idem p. Anthony Hoekema em seu livro …E as Línguas? (veja aqui) argumenta de maneira interessante sobre a maneira como compreendermos as palavras de Irineu. Orígenes.). No entanto. que foi considerado herege. tiveram visões [...C. no Ocidente. p.. 230) Está claro que os autores acima não estão afirmando a mesma coisa.] aqueles que são de fato seus discípulos [. MacArthur também advoga tal proposição nos seguintes termos: • Clemente de Roma. e Agostinho de Hipona (354-430 d. como já disse. no Oriente.C.C. até mesmo mortos foram ressuscitados e permaneceram entre nós durante muitos anos. (2002. Há uma citação de Irineu em Contra as Heresias que Banister traz a baila para confrontar a opinião de que os dons miraculosos acabaram depois do século I. Sim.) como quem entendeu que Irineu estava descrevendo eventos ocorridos em seu tempo. 163) De acordo com Banister. Acredito que as citações patrísticas a seguir devem resolver o impasse. mais ainda.nenhum pai da igreja disse que qualquer dom espiritual fosse concedido apenas para a igreja do século I(ênfase minha). algo que aconteceu durante os dias mais primitivos do cristianismo (ênfase minha). Outros tiveram conhecimento de coisas por acontecer. as únicas pessoas que disseram ter falado em “línguas” eram os seguidores de Montanus.). p. 231) A frase em negrito admite que no II século alguns cristãos falavam em línguas.. (1999. Justino Martir. ] Um milagre foi operado entre nós mesmos [. • [.. Segundo Crisóstomo. segundo ele. em A Cidade de Deus. estando ainda o mesmo Deus que operou aqueles de quais lemos a realizálos (ênfase minha) [... que havendo ocorrido então.] Dois deles vieram a Hipona [..] ou pelo discernimento de espíritos [. também do IV século testemunha a respeito dos dons miraculosos atuando em seu tempo da seguinte maneira: • O dom do Espírito é manifesto [. agora já não mais sucedem. Aliás. pelo que tenho lido. Porém.] Vinham todos os dias à igreja e especialmente ao santuário do muito glorioso Estêvão.] ou pela operação de milagres [.. o teólogo latino Hilário de Poitiers.. orando para que Deus pudesse ser apaziguado e restaurasse sua saúde [. mas o fragmento contraria a afirmação de Warfield.. 1999..... e no dia do Senhor [.] ou por tipos de línguas.] o dom de curas.. De maneira geral.] todos tomados de um tremos horrível nas pernas [. Evidente que não há uma referência direta ao dom de línguas. Todos os que estavam presentes ficaram atônitos [. as línguas “não mais sucedem”. subitamente caiu ao chão.... Porém.... mas não tremendo como fazia mesmo enquanto dormia...] Chegou a Páscoa.] Suponho que não há morador de Hipona que não tenha visto ou ouvido falar dele [. pois havia sido curado.. O que temos acima é um comentário sobre a discussão paulina a respeito do falar em línguas em 1ª aos Coríntios 12 e 14.. Agostinho. Hoekema . Vejamos...] muitos milagres operados. orando.. ficando exatamente como se estivesse dormindo.Hoekema faz menção a seguinte fala de João Crisóstomo (345-405 d.): • Tudo isso é muito obscuro. fala sobre milagres operados em seu tempo como aqueles realizados no período apostólico. já não tremia. sobre isso Grudem (1999) diz que as evidências históricas a respeito da continuidade da manifestação dos dons miraculosos são cada vez mais fortes.] ou pela profecia [. terminaram com os apóstolos. para que pela cura da enfermidade possamos dar testemunho de sua graça [..] o jovem estava agarrado ao santo lugar onde estavam as relíquias. e.. o dom de línguas parece ter desaparecido virtualmente (falo sobre desaparecimento no sentido da profusão e não da total ausência) pelos idos do século IV. p.... 232) MacArthur classifica o dom de línguas como sendo um dom de milagres e esses.] E veja! Ele se levantou. MacArthur e de outros cessacionistas que dão por finalizada a era de milagres com o desaparecimento dos apóstolos. mas a obscuridade produz-se da nossa ignorância dos fatos que se referem à sua cessação. ou pela interpretação de línguas.] Havia sete irmãos e três irmãs [.C.. (BANISTER.] onde há [.. para que o falar em línguas possa ser concedido como sinal do Espírito Santo (ênfase minha). Enquanto não surgiu quem irrompesse com o brado Sola Scriptura contra o amálgama Escrituras. imporão as mãos sobre os enfermos.] Então. É perfeitamente compreensível que os reformadores não tenham se debruçado sobre o tema. Mesmo assim. Período da Reforma Não tenho informações sobre uma discussão dos reformadores quanto ao dom de línguas. quando partir. você deve fazer o seguinte [. ele faz menção a Marcos 16:17-18 onde é dito também que os crentes “falarão novas línguas”. . 2340) Nada é dito objetivamente sobre o dom de línguas por Lutero.. Devemos observar de igual modo que outros temas teológicos importantes como os escatológicos não receberam a atenção deles. de acordo Banister. imponha as mãos sobre o homem novamente e diga: “Estes sinais seguirão os que crêem. Assim. Já disse que o foco teologal deles era outro. No entanto. Ou não? O que precisa ficar claro nesse momento é que a não abordagem pelos reformadores do assunto em questão não prova em nada a cessação do dom de língua. No entanto.. podemos depreender da fala de Lutero que ele admitia a operacionalidade de dons de milagres em seu tempo. Se os médicos não conseguem encontrar um remédio. os discípulos de Whitefield e Wesley falaram em línguas e que nos avivamentos dos Estados Unidos. e estes serão restaurados. no mínimo. porque Deus permitiu que simplesmente desaparecesse da igreja?” A isso eu responderia salientando o violento e crescente institucionalismo da igreja e um possível descaso para com o dom de línguas e demais dons espirituais. p.questiona: “se a glossolalia é um dom do Espírito tão importante como os pentecostais e neopentecostais de hoje afirmam. Não acredito que dependesse apenas de Deus a manifestação dos dons assim como não dependia somente dEle que a igreja pautasse sua vida espiritual e doutrinal apenas pelo conteúdo dos livros canônicos. as coisas continuaram mescladas durante séculos. Período Pós-Reforma Hoekema nos informa que os quakers. pode ter certeza de que não é um caso de melancolia comum. Tradição e Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana.] Pela graça digne-se a libertar esse homem do maligno e aniquile a obra que satanás fez nele [. Lutero aconselha um pastor sobre o caso de um homem enfermo nos seguintes termos: • Não tenho conselho humano nenhum para lhe dar. Antes. deve ser uma aflição que vem do diabo e deve ser desafiada pelo poder de Cristo e pela oração da fé... Enfim. pois seus interesses teológicos gravitaram em torno de questões mais essenciais à fé cristã como a justificação pela fé.” (ênfase minha) (1999. isso não significa que o silêncio deles se constitua em um apoio ao cessacionismo. os dons miraculosos. a voz da história da igreja diz o oposto do que Hoekema atribui a ela.” (1ª Co 13:10) Para não dizer que estou em total desacordo com Hoekema. em Topeka. é no estado da Carolina do Norte. Os estudiosos. que esse fenômeno é antecipado por William F. exerceu grande influência nos inícios do movimento carismático (CHAMPLIN. 2) Grudem e Banister dizem que há uma farta produção acadêmica demonstrando que Deus continuou dando. elas nada ensinam. Ele fala também sobre o fenômeno de línguas na Rússia e Armênia. porém. Nesse caso. nos Estados Unidos. vier o que é perfeito [2ª Vinda de Cristo]. ao tempo em que tem seguido guiando a sua igreja em toda a verdade. faço minhas as palavras dele que indicam a ação do Espírito Santo guiando a igreja a toda verdade.Escócia e País de Gales a glossolalia ocorreu. A única maneira de acatarmos a voz da igreja de modo seguro é quando as Escrituras estão à frente dela e. Porém. Bryant. via de regra. Embora Hoekema destaque algumas manifestações das línguas em grupos que ele considera heréticos e em outros que não são. Sendo assim. Walker apresenta o início da Missão Azusa como segue: . logo após o período apostólico. objetivamente. foi noticiado. dentre eles. concordemente. pois ela está calçada escriturísticamente: “Quando. estado de Kansas. e ainda faça menção do surgimento e do vigor do movimento pentecostal. não existem textos bíblicos nos quais os adeptos do cessacionismo possam se apoiar. diretor do Bethel Bible College. Seymor. sob a liderança de William J. em toda a história da igreja. dizem que o movimento carismático surgiu com Charles Fox Parham. A seguir apresento duas ressalvas em relação às palavras supra. 1) A voz da história da igreja nem sempre foi confiável. línguas e outros dons imperfeitos] será aniquilado. em 1896. de Topeka. O máximo que eles conseguem é construir “bons” argumentos a partir do raciocínio dedutivo. no que tange à futura cessação do dom de línguas. Aliás. O renomado avivamento da Rua Azusa. parece estar sempre no meio do caminho. 2008). o de línguas. de Los Angeles. então o que é em parte [profecia. • Mais um pouco sobre as origens do movimento carismático moderno O moderno movimento carismático tem suas origens vinculadas aos Estados Unidos e a antiga União Soviética. devemos ouvi-la. Leiamos as palavras dele: • A voz da história da igreja parece dizer-nos que o Espírito não tem seguido outorgando este dom ao povo de Deus. A minha opinião é que a verdade. ele afirma que devemos voltar nossos olhos para o passado pós-apostólico da igreja (cerca de 1800 anos) como um testemunho contra a tese continuista. Em 1º de janeiro de 1901 o fenômeno das línguas. havendo ciência. a) “O amor jamais acaba. Irei explorar de maneira breve cada um desses versículos para que cheguemos à conclusão de quando o dom de línguas cessará. ROGERS. havendo línguas. Todos esses movimentos tiveram a manifestação do dom de línguas. por falta de espaço. porque em parte conhecemos. Aqui cabe uma observação mais detalhada. havendo ciência. Quando. havendo profecias. agora conheço em parte.. e demais dons. que. alugara um velho galpão na Rua Azusa e então o fogo se alastrou. chegaram à cidade de Belém e fundaram a Igreja Assembléia de Deus quatro anos antes das Igrejas Assembléias de Deus dos Estados Unidos serem organizadas.] Porque agora vemos como em espelho obscuramente. pelo menos quanto às suas expressões terrenais. eles receberam uma profecia para se dirigirem a um estado chamado Pará. Paulo usa a palavra pausontai (do verbo pauo) no tempo futuro indicativo médio e isso significa que as línguas cessarão automaticamente (RIENECKER. A partir de Azusa o fogo do avivamento espalhou-se por todos Estados Unidos. A indicação desse desaparecimento é apresentada sem sombras e enigmas na referência supra que transcrevo a seguir. e em parte profetizamos. mas. desaparecerão. 1995). Ele entrou em contato com Seymour. Depois de um contato com um grupo de oração em Chicago. porém.. pois. faz com que . devido ao uso dos verbos katargeo para o desaparecimento da profecia e do conhecimento e de pauo para a cessação da línguas. cessarão”. havendo línguas.Frank Bartleman era um evangelista Holiness que recebera notícias do avivamento em Gales ocorrido em 1904 e desde então dedicou sua vida para orar e publicar literatura conclamando outros a orar e buscar avivamento pata Los Angeles. mas. (2001.” O apóstolo vaticina: o amor é eterno! Contrastando com isso está a afirmação da transitoriedade das “línguas”: “havendo línguas. Obedientes à voz divina. 18-26) Na “terra brasilis” foram os missionários suecos Gunnar Vingrem e Daniel Berg que trouxeram a mensagem pentecostal. então conhecerei como também sou conhecido. passará. 12 A cessação do dom de língua está prevista nas Escrituras. então veremos face a face. havendo profecias. • O amor jamais acaba. desaparecerão. providenciando a base para o que se tornaria mais tarde as Igrejas Assembléias de Deus. cessarão. vier o que é perfeito. p. • Uma Interpretação de 1ª aos Coríntios 13:8-10. então o que é em parte será aniquilado [. cessarão. são transitórios e imperfeitos. passará. Através de toda a nação centenas de congregações independentes eram formadas da noite para o dia. pois esse. ] se [. (2004. De fato.]” no versículo 8 sugere que Paulo poderia ter alistado mais dons aqui (sabedoria. interpretação?) se quisesse. MacArthur conclui que a profecia e o conhecimento desapareceriam sob a influência do “que é perfeito”. dependendo da tradução. p. A diferença é apenas uma mudança estilística.875) Simon Kistemaker comentando a questão diz a mesma coisa: • O verbo cessar da segunda cláusula é um sinônimo e uma variante do verbo colocar de lado (vs 8. p.. Paulo.. 159) Com essa ênfase no uso de diferentes verbos pelo apóstolo. Dessa maneira. enquanto as referências ao conhecimento e á profecia continuam. Contudo. concluo que a presença de dois verbos diferentes no versículo 8 não indica necessariamente que esteja em foco algum sentido particular. gar). mas omitiu a repetição excessivamente pedante por razões estilísticas. o versículo 9 deve dar a razão pela qual as línguas vão cessar. p. Aderindo ao raciocínio de Grudem e Kistemaker.. a repetição de “se [. que constitui a explicação do versículo 8. cura. mas não é o verbo utilizado por Paulo para dizer como cessariam as línguas.] se [. “serão abolidos” ou “tornados sem efeito”. que significa simplesmente parar. 643-644). as línguas devem ser entendidas como parte do sentido do versículo 9. Quanto à profecia e ao conhecimento lemos que “desaparecerão”.. MacArthur escreveu: • É importante notar que em 1ª Coríntios 13:8 as palavras empregadas dão uma visão clara de que as línguas cessarão num período de tempo diferente da profecia e do conhecimento.. ao passo que o dom de línguas cessará também. tal como o conhecimento e a profecia. pretendia incluir também no sentido do versículo 9 as línguas como uma das atividades “imperfeitas”. enquanto o verbo com línguas é interpretado como estando na voz ativa. “passarão”. Não há quase nenhuma distinção entre os dois verbos gregos que descrevem o término tanto de profecia como de línguas. (2002. como mostra a palavra “porque” (gr. só que antes do aparecimento do “que é perfeito” e por si mesmo. e nada mais. É verdade que o verbo com profecias está na voz passiva (os crentes são os agentes implícitos).intérpretes cessacionistas como MacArhtur pensem em dois momentos de desaparecimentos dos dons. mas que . A mesma palavra grega é usada com referência a profecia e ao conhecimento.” (idem) O argumento de Grudem a seguir me parece mais consistente do que a dedução de MacArthur. Ele diz ainda: “É por isso que vemos desaparecerem as línguas do texto depois do versículo 8. 10. • Sem dúvida.. (1999. A palavra grega usada com referência às línguas é pauo. A raiz grega aqui para “desaparecerão” é katargeo. 11). e em parte profetizamos. e a minha vida foi salva.. então o que é em parte será aniquilado. Adoto a terceira alternativa como a que é mais fiel ao contexto. vier o que é perfeito. tudo se reduz a uma experiência marcada por fluxos.] (Ex 33:11) • Face a face falou o Senhor conosco [. embora eles desfrutem de grandezas divinas. Tudo isso é dito contrastando a atual dispensação e a por vir que será inaugurada pela Segunda Vinda de Jesus Cristo. Por isso.” (v 12) A expressão “face a face” é outra prova de que o “perfeito” que está por vir é o tempo da parousia. Ela eliminará o que é em parte (v 10). Vejamos. Aos crentes está franqueado no estado terrenal o acesso a diversas grandezas espirituais. mas isso reduzido às sombras. Muito embora o dom de línguas possa edificar a igreja e quem o possui.] (Dt 5:4) . 2) O encerramento do cânone das Escrituras que deixou-nos uma fonte fidedigna da autêntica doutrina cristã. b) “porque em parte conhecemos. d) “então veremos face a face. porém. • Àquele lugar chamou Jacó Peniel. como legado aos crentes. Depararemo-nos com um estado de plenitude e perfeição. A vinda desse “perfeito” é marcada por ações poderosas e definitivas. No entanto. reflexos e imperfeições.” Chegamos ao tempo em que o dom de línguas cessará: Quando “vier o que é perfeito”. (Gn 32:30) • Falava o Senhor a Moisés face a face. a frase “face a face” significa ver Deus pessoalmente. 3) A parousia que porá fim a tudo que é imperfeito e parcial.. No Antigo Testamento. Em Deus não há o propósito da privação do crente quanto ao que é elevado e perfeito. pois não é intenção divina tal condição. visto que eles estão no estado de mortalidade.isso representa apenas uma peculiaridade especial sem motivos óbvios. e isso será inaugurado quando “vier o que é perfeito”. as doutrinas centrais da fé cristã..” A razão da cessação do dom de línguas é a mesma do conhecimento e da profecia: todos só podem gravitar em torno do que é parcial e neles não há completude.. c) “Quando. isso não será assim para sempre. São três as maneiras de interpretar esse “perfeito”: 1) O fim da era apostólica que deixou revelada e ensinada. tudo que é imperfeito há de ser substituído por percepções verdadeiras (v 12) e toda inadequação do atual conhecimento humano cederá lugar a um tipo de conhecimento segundo o que Deus tem do próprio homem [um conhecimento perfeito] (v 12). nunca tal edificação abarcará todas as solicitudes de quem quer que seja. pois disse: Vi a Deus face a face. como qualquer fala a seu amigo [. o conteúdo do versículo 12 não se relaciona com o versículo 10 nos termos propostos neste artigo. com quem o Senhor houvesse tratado face a face. pois vi o Anjo do Senhor face a face. então. Isso não significa dizer que o escritor não fala de um tempo de conhecimento pleno... Senhor Deus. eles fazem a primeira referir-se a uma maior compreensão em contraposição à segunda que trata do que é parcial. p. É lógico que o apóstolo não pensa em um conhecimento pessoal infinito ou onisciente (GRUDEM 1999)..]”. além dele proporcionar uma transposição do que é parcial. que o “perfeito” seria o cânon do Novo Testamento fonte perfeita e completa que suplantaria profecia. Em outras palavras. conheço em parte. mas ele não tirou os crentes de uma vez por todas do estado de um conhecimento parcial. e disse: Ai de mim.. K. as línguas e o conhecimento [fontes de conhecimentos revelacionais]. em contraste com o conhecimento que Deus tem do homem e o conhecimento de Deus que os homens terão na era futura(ênfase minha). contemplarão a sua face [. A visão beatífica referida por Paulo trata do contato direto e imediato com o Cristo que proporcionará ao crente uma inédita e grandiosa revelação do Senhor. Sobre o tempo de cessação do dom de línguas [e demais dons]. 320). (Dt 34:10) • Viu Gideão que era o Anjo do Senhor. acontecimento marcado para o tempo daparousia.] os seus servos o servirão. Há problemas graves nessa interpretação. ele também facultará ao crente a seguinte experiência: “agora. então conhecerei como também sou conhecido”. C. (1995. Barret a respeito dessas palavras: • As palavras apresentam a inadequação do atual conhecimento humano de Deus. imperfeito e temporário. Apenas lá será possível conhecer como Deus conhece já. Alguns cessacionistas afirmam que a expressão “face a face” não passa de um contraste relacionado a expressão “vemos como em espelho obscuramente”. Ele aborda essa questão quando diz: “então conhecerei como também sou conhecido”. Concluem eles. Pergunto: mesmo com o cânon neotestamentário em mãos os crentes possuem o conhecimento pleno e total? Não! O cânon das Escrituras trouxe um amplo conhecimento revelacional.Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés. Rienecker e Rogers apresentam o seguinte comentário do Dr. (Jz 6:22) Não há dúvidas que a expressão paulina “face a face” é uma lembrança das experiências apresentadas nos textos veterotestamentários. Assim. De acordo com as palavras em negrito apenas na era futura (inaugurada pela parousia) é que Paulo espera superar o conhecimento parcial. • . É evidente que essa benção é preliminar e inaugurará um tempo de experiência permanente da visão beatífica na Nova Jerusalém como ensina Apocalipse 22:3-4: “[. no tempo em que vier o que é perfeito. A referência corintiana acima é uma dessas. para o versículo 10. veremos “face a face” e conheceremos “como também somos conhecidos”. Assim. Será que existe algum dogmático que admita tal coisa? Bom. só posso concluir que o arrazoado dos cessacionistas apresentado imediatamente acima não passa de um argumento assumido. Então. virá “o que é perfeito” e “o que é em parte” irá desaparecer. de igual modo deveremos considerar legítimo o fato de que com a conclusão do cânon das Escrituras nosso entendimento seria mais completo que o de Paulo. Caso alguma . Leiamos mais uma vez o Dr. 875-876) Por fim. (idem p. olhamos mais para trás.. frente a tudo isso.] Nada no versículo fala de uma época futura em que algo irá acontecer. Devo ressaltar também que o argumento cessacionista em questão esquece-se de pensar sobre a conexão gramatical que o advérbio “então” (o antecedente de “veremos face a face”) exige.Outro problema com esse argumento é que ele despreza o significado claro apresentado pelas Escrituras para a expressão “face a face”. Paulo diz que. Está clara a afirmação do autor de que os dons estariam com os coríntios até a segunda vinda de Cristo. devo apresentar outra prova de que o dom de línguas durará até aParousia. Isso significa que o tempo em que virá “o que é perfeito” deve ser o tempo da volta de Cristo. conforme já demonstrado. aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. a Bíblia diz que é isso o que é ou significa a expressão. caso esse argumento cessacionista deva ser considerado legítimo. irá se tornar inútil Quando isso vai acontecer? Isso é o que se explica por meio do versículo 12. devemos preferir o entendimento de “face a face” como sendo uma visão da pessoa de Deus. Aqui temos uma declaração acerca do futuro. pois. essa expressão está vinculada à visão beatífica de Deus. Refirome à perspicuidade das Escrituras. de modo explícito. Do ponto de vista hermenêutico. Ela encontra-se em 1ª Coríntios 1:7: • De maneira que não vos falte nenhum dom. Era crença dos reformadores que a Palavra de Deus possui passagens tão claras que prescindem de qualquer ferramenta interpretativa mais sofisticada. Qualquer leitor mais atento chegará a essa conclusão. mas percebemos que nada ali pode ser a época futura a que Paulo se refere como “então” [. Wayne Grudem: • [A] palavra “então” só pode se referir a algo nos versículos anteriores que ele [Paulo] já explicou. Como se não bastasse tudo que já foi dito. Olhamos primeiro para o versículo 11.. Esta referência enquadra-se em um termo técnico usado pelos reformadores no século XVI para tratarem da clareza da Bíblia. em algum ponto do futuro. como no Novo. Tanto no Antigo Testamento. 1997. O fato é que. mas isso ficará para outra oportunidade. CHAMPLIN. posso apresentar uma lista de notáveis e piedosos estudiosos que na atualidade defendem a continuidade do dom. 1999. Claudionor de Andrade. Mark Driscoll. o contexto imediato corrobora tal compreensão apresentando o versículo 8 que trata do “dia de nosso Senhor Jesus Cristo. pois qualquer leitor da Nova Tradução na Linguagem de Hoje jamais duvidaria do que diz o texto de modo explícito. Esdras Costa Bentho. Por Pr Zwinglio Rodrigues Referências AGOSTINHO. Digo isso no que tange ao meu esforço de reflexão pessoal. Embora esse artigo tenha se tornado longo. vol. . Palma. é claro que ele não esgota o assunto. Junte-se aos indicativos das evidências. Santo. 4). Gordon Fee. Antonio Gilberto e Esequias Soares são apenas alguns nomes que me vem à memória nesse instante. Doug. Russel Norman. Wayne. São Paulo: Vida.dúvida possa surgir. 1999. __________ Enciclopédia de Bíblia. pois sei que textos mais completos já foram escritos e estão disponíveis para aqueles que se interessarem pelo assunto. Anthony D. Stanley M. Horton. GRUDEM. o verso é traduzido assim: “Que vocês não tem deixado de receber nenhum dom espiritual enquanto esperam a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo. A Cidade de Deus. digo que além de toda argumentação apresentada em defesa da contemporaneidade do dom de línguas. São Paulo: Paulus. a defesa da atualidade do dom de línguas está amparada por uma erudição respeitável e por uma piedade nos melhores moldes bíblicos e isso não pode passar desapercebido. Jack Deere. A Igreja da Palavra e do Poder. São Paulo: Vida Nova. 4. elas me fazem ser um continuista convicto. São Paulo. vol. Paul Walsher. BANISTER. a minha própria experiência com o dom de línguas que é marcante e produz em minha vida exatamente o que as Escrituras lhe atribui como função (1ª Coríntios 14:2. 1985. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. Gordon Chown. Hagnos 2002. eu não teria problema em ser um cessacionista caso as evidências me guiassem nesta direção. Paulo Romeiro. Teologia e Filosofia. Wayne Grudem. São Paulo: Millenium. 4. Bom. Teologia Sistemática.” Isso estou falando referindo-me à tradução Almeida Revista e Atualizada. No entanto. John Piper. Muito mais poderia ter sido dito. Nesta.” Esse conjunto de argumentos me parece suficiente para reafirmar que há um tempo determinado para a cessação do dom de línguas e que tal tempo é a parousia. A guisa de conclusão. Archer. RIENECKER.HARRIS. Bruce K. . WALTKE. KISTEMAKER. WALKER. JR. Simon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. ROGERS. 1995. John. Os Carismáticos. São Paulo: Cultura Cristã. 2001. John. São José do Campos-SP: Fiel. Cleon. Gleason L. Fritz. São Paulo: Vida Nova. Comentário do Novo Testamento: 1 Coríntios. Americana-SP: Worship. A História Que Não Foi Contada.. Laird. 2004. R. MACARTHUR. São Paulo: Vida Nova. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. 1998. 2002.
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