Crise no Modo Produção FeudalAlunos: Angela Deise S. Conceição* Leanderson R. Santos* Renilfran C. de Souza * Resumo Este trabalho tem o propósito de relatar, pelos mais variados fatores, a crise que ocorreu no modo de produção feudal. Para tanto, optamos por trabalhar os fatores internos e externos, tendo como ponto de partida o seu auge, e culminando na sua transição para o Estado Moderno, e consequentemente o surgimento do capitalismo. Palavras-chave: Emperramento, crise, sistema, mecanismos de produção, peste, fome, cidades medievais, comércio. Introdução De modo geral, o feudalismo, que surgiu no século X, e expandiu-se no decorrer do século XI, e que atingiu o seu esplendor no século XII, XIII, tinha tornado a Europa Ocidental uma civilização unificada e desenvolvida. Mas como todo meio de produção fundado na exploração do homem pelo homem, seu tempo de criação e de equilíbrio tem duração limitada. As relações de produção e relações sociais, juntamente com a recuperação dos solos, foram motores da economia feudal durante três séculos, mas já prenunciavam sérios sinais de crise. Nem o sistema de arroteamentos dos solos, nem a anexação de novas áreas, como por exemplo: derrubada de florestas para o cultivo (o que por sinal já não estava mais acontecendo), conseguia suprir o grande crescimento demográfico, que exigia uma maior produção de alimentos, é o que explicita Perry Anderson: ∗ Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira como um dos pré-requisitos para a obtenção da 3ª nota na disciplina História Medieval. tais áreas eram pobres.. para que o sistema econômico feudal encontrasse sua crise. no entanto.0 Fator Interno Vários foram os fatores que contribuíram. sendo que o mau uso e o não investimento na melhoria desses solos e também em técnicas que pudessem auxiliar o camponês no cultivo e manutenção da terra. não iremos só tratar dos fatores internos. aumentou a demanda. mas também os externos que contribuíram significavelmente para a crise. os meios de produção estagnam. com o aumento populacional. .. levantou uma série de outros fatos que vai culminar no colapso desse sistema. não obstante. (. o solo. ou seja. que trata da crise numa perspectiva econômica à parte.) O determinante mais profundo desta crise provavelmente está num “emperramento” dos mecanismos de reprodução do sistema até o ponto das suas capacitações básicas.. de difícil cultivo. O emperramento dos mecanismos de reprodução do sistema evidencia esta crise nas forças de produção dentro das relações de produção predominante. quanto de quem esta dentro dele. provocou conseqüências que ao se desenrolarem. o que na opinião de muitos historiadores pode ser explicada pela chamada “trilogia” da crise. a peste e a guerra. uma crise geral afeta toda a população da Europa Ocidental. ou seja.foi necessária à expansão para áreas ainda não cultiváveis. O principal motor da economia feudal. por vários motivos. estava entrando em desgaste. mas.)” Então por início do século XIV. Acrescenta-se a isso o fator interno..“(. no modo de produção feudal: a fome. por causa da grande demanda – o aumento populacional . não suprindo assim as necessidades básicas tanto do sistema. 1. afetando assim vários setores da economia. sendo da paralisação no surgimento de novas técnicas agrícolas.1 Fator fome A dinâmica da crise interna pela qual passa o sistema feudal. urbanos e monetários. 2. mostra sua verdadeira dinâmica. mas. provocando escassez de dinheiro. O que irá eclodir em diversas reações camponesas. atingindo assim a classe nobre que se sentindo ameaçada tenta recuperar parte dos excedentes e reforçar as condições servis. culminou em uma séria de outros fatores. que quando não se há mais o que explorar. refletindo também na prática da extração da prata que servia de subsídios para esses setores. que com as péssimas colheitas trouxe uma alta nos preços dos produtos agrícolas e.Esse desgaste do solo refletiu na baixa produtividade agrícola. da exploração. levou os europeus a conviver mais perto da fome. passa deixar evidente as suas vulnerabilidades como um sistema de produção. que somada ao crescimento demográfico. O modo de produção feudal quando começa então a entrar em crise.0 Fatores externos 2. que abasteciam a Europa de moedas. . entre eles a fome. sobretudo por causa da pressão que o senhor feudal exercia sobre o camponês. o que tornou a exploração inviável. Diante de todas essas dificuldades que assolavam a Europa durante o século XIV. no entanto encontra resistência por parte dos próprios camponeses. como na mineração não havia o desenvolvimento de tecnologias. deixando de ser praticada por não ser mais rentável e também por não haver meios de cavar poços mais profundos. Tanto na agricultura. o resultado foi uma devastadora escassez na mão-de-obra. outro problema que podemos elencar como um fator interno é o esgotamento das fontes de minérios preciosos. para que ele viesse a produzir mais. . Muitas aldeias desapareceram provisória ou definitivamente. Em 1348. ocorrendo. a terra perde sua qualidade. que devastaram os campos e as colheitas. a Europa foi atingida por chuvas torrenciais (entre 1315 a 1317). 2. o historiador Phillipe Wolf acrescenta ainda que: “o problema de subsistência na Europa é explicado pelas más condições de armazenagem que provocam perdas consideráveis. algumas cidades tiveram sua população esmagada. Além desses aspectos. em 1385. Florença. favorecendo o alastramento de epidemias e trazendo a mortalidade da população.” vinda da Ásia. que de 30 000 habitantes. na França. por apodrecimento do trigo. nesse período. Uma colheita fraca bastava para ameaçar o equilíbrio entre a oferta e a procura. que tornou o solo mais úmido e frio. que fez com que o solo fosse mais utilizado. comprometendo ainda mais sua produtividade e agravando mais ainda a escassez de alimentos. “Acredita-se que. houve uma repentina mudança no clima europeu. antes de a peste afetar a população. A esse panorama de saturações. ocasionando o empobrecimento cada vez maior da atividade agrícola. nem tampouco a batata que mais tarde terão um papel importante na alimentação). por extensão de diversas doenças que o tornavam impróprio ao consumo. por exemplo. Ou seja.gerou um enorme desequilíbrio entre o meio de produção e o consumo. restaram apenas 24000.2 Fator peste No decorrer do século XIV. em virtude do mau uso constante. para apontar as razões que desencadearam a grande fome do século XIV. e. elimina cerca de 25% a 35 % da população. após. duas seguidas inevitavelmente provocam a fome”. ficou reduzida a 50 000. finalmente. como por exemplo: Toulouse. de 110 000. ainda não era conhecido. dificultando o trabalho e a produção agrícola”. em 1348. a fome voltou a afligir a vida dos camponeses. pelos hábitos alimentares demasiado uniformes (o milho. a falta de alimentos. vários historiadores acrescem ainda fatores de natureza geográfica. assim. a “peste negra. Como conseqüência inevitável. O pai deixava o filho em seu leito.. entre a França e a Inglaterra. e o filho fazia o mesmo com o pai. PEDRERO-Sánches.] os vivos. São Paulo: Editora Unesp. os gatos. os cachorros. ou os evitavam com horror. coisa horrorosa de ouvir. e ainda mais. de fato. e mesmo abandonada por seus parentes. a vitima ficava privada de toda assistência. todos os outros moradores terem sido contaminados e mortos da mesma maneira súbita.[. quase não conseguiram enterrar os mortos.]. geralmente embaixo da virilha ou da axila. que. que quando numa casa alguém tinha sido tocado por este mal e tinha morrido. entre períodos de .. 2. de tal maneira que no momento que aparecia em alguém uma úlcera ou um inchaço. pois.. acontecesse muito frequentemente. Aqueles que estavam sãos fugiram apavorados de medo[. os galos. pg 194. Não é surpreendente. 2000.. História da Idade Média: Texto e testemunhas. Um terror tão grande tinha-se apoderado de quase todo mundo. as galinhas. e todos os outros animais domésticos tiveram o mesmo destino. Maria Guadalupe.3 Fator guerra Todas sucessivas conseqüências da crise foram gravemente ampliadas com a guerra dos Cem Anos. A guerra dos Cem Anos surgiu por interesses meramente econômicos. a revolta ficou marcada pela brutalidade e violência. foram também as ambições da França e da Inglaterra para dominar a região de Flandes. apenas eram insatisfeitos com a relação de servidão. Paralelo a isso. que pertenciam a mesma classe social dos camponeses. Apesar de só durar um mês. Felipe IV. anexou a região de Bordéus. duravam pouco e. mas também homens. mulheres e crianças. nas quais milhares deles foram mortos. durou mais de um século. Outro fator decisivo para a eclosão da guerra.paz. Os praticantes das revoltas não Os jacques traziam consigo nenhuma mobilidade social.] o recrudescimento da exploração feudal sobre os servos contribuiu para as revoltas camponesas que grassaram na Europa do século XIV. na qual não só matavam nobres. pois o rei da França. Logo que os lideres morriam ou eram feitos prisioneiros.. o que dificultava mais ainda as relações de servidão e enfraquecia o poder da nobreza. Elas consistiam em súbitas explosões de resistência feroz. paralisações e inatividades. [. a resistência apagava-se novamente com a mesma . várias revoltas camponesas aconteciam internamente na França. em regra estavam mal organizadas. rica por seu comércio e produção de tecidos.. cerca de 116 anos. que era de domínio feudal do rei da Inglaterra. de onde provinha grande parte dos vinhos que os ingleses bebiam. A mais famosa das revoltas camponesas foi a “jacquerie” ocorrida em 1358 ao norte de Paris nos arredores de Londres. . em A evolução do Capitalismo.. Com o enfraquecimento da nobreza. até porque os senhores feudais eram. ao passarem a possuir independência econômica e política em diversos graus”.ou melhor o seu desenvolvimento foi um dos fatores decisivos para a crise.) 2. culminando assim o fim dos senhores feudais. apóia a centralização do poder nas mãos com os Reis. num estágio mais superior.]. Tais cidades foram originadas de acampamentos das caravanas de mercadores. mas veremos que com o tempo. A história dessa influência pode ser em grande parte identificada com o surgimento das cidades. op. esse mesmo senhor do qual necessitava o mercador. quase extinta. acrescenta: “(. preparou o terreno para o crescimento de forças que iriam enfraquecê-lo e suplantá-lo. que cada vez mais passa a afastar-se em características sociais e espaço territorial da sociedade feudal. Começa a surgir um novo tipo de sociedade. abrem um espaço considerável para a Burguesia.. cit.4 Surgimento das cidades medievais e o Comércio O reaparecimento do comércio . a comunidade comercial. o surgimento do capitalismo. a relação de servidão.) na medida em que o crescimento do mercado exerceu uma influência desintegradora sobre a estrutura do feudalismo. H. por sinal. e o surgimento das cidades. em certas circunstâncias. 192. mas em seu estágio inicial não eram totalmente independentes da autoridade feudal. B. vai ser um dos principais protagonistas para as cidades medievais se fortalecerem. que mantinham os mercadores “ambulantes”.rapidez com que tinha começado a arder[. Com relação a isso. Maurice Dobb. P. Desta feita surgem os grandes Estados. (SLICHER VAN BATH... pois compravam seus produtos. conseqüência da ampliação do mercado. que. a ponto de ser um dos aspectos que causaram a crise no modo de produção feudal. Parte daí o surgimento das cidades medievais.Nações e. 9ª ed. Do Feudalismo ao Capitalismo. Editora Brasiliense. Perry. 1974. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo.Referências Bibliográficas: PEDRERO. História da Idade Média: Textos e testemunha. 46 – 90.Sánchez. contexto 1998. Maria Guadalupe. Rio de Janeiro. DOOB. LTC editora. A evolução do capitalismo. 2000. SANTIAGO. pp. S. São Paulo. . Editora Unesp. capII. ANDERSON. Paulo. Theo & outros. Maurice. São Paulo: Editora.