Curso de Heráldica

March 29, 2018 | Author: Yuri Pedrosa | Category: Heraldry, Red, Color, Cavalry, Information


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Curso de HeráldicaCURSO DE HERÁLDICA I – O Início da Heráldica Quantas vezes nos deparamos, em filmes e jogos de rpg principalmente, com escudos e brasões e nos perguntamos – será que existe uma lógica, uma regra nisto tudo? Pois é, a heráldica desvenda os mistérios seculares de uma das atividades que já foi umas das mais raras e requisitadas da sociedade ocidental. Numa sociedade cujo meio de comunicação e transmissão de conhecimento era a palavra falada e a imagem, a necessidade de transmitir informações e mensagens claras era primordial. Isso não seria possível sem um ordenamento, uma regra estabelecida. A heráldica surgiu como uma solução para isso. Um conceito um tanto frio é dado nessas palavras: “heráldica é a ciência que estuda e interpreta as origens, evolução, significado social e finalidade da representação icônica da nobreza, isto é, dos escudos de armas. Como ciência, a heráldica é atual e autônoma, embora intimamente ligada à história e à arte”. Infelizmente eu considero ele parcial pois quem já estudou, mesmo que de forma superficial sabe que estudar um brasão é como desvendar um mistério, como procurar nuances escondidas num quadro pintado, tentando perceber o que o artista estava tentando transmitir. É a apreciação da arte num de seus mais interessantes elementos. Durante a Idade Média uma das atividades mais importantes e requisitadas para a realização dos torneios de cavalaria e justas era a do “heraldo”. À ele caia a responsabilidade de apresentação dos cavaleiros, assim como a sua identificação adequada, atestando sua nobreza. Isso por si só já demonstra a importância do procedimento de dar um símbolo à uma pessoa passando este a ser sua verdadeira identidade. A história da heráldica ainda não tem pontos seguros para seu início. A teoria mais aceita a remonta para o início das invasões árabes à Europa, remontando o surgimento da heráldica à Península Ibérica em pleno século VIII. Mesmo assim o reconhecimento de uma organização e codificação apenas aconteceu muito tempo depois, no século XII. Mas por que essa necessidade? Uma razão aceita, e até certo ponto muito simples, era de que a heráldica surgiu para pura identificação de cavaleiros durante as batalhas ou sua função. Numa época em que um cavaleiro usando uma armadura completa fica sem possibilidade de que fossem identificados, um sistema que sanasse isso era imperativo. Fosse num torneio, fosse num combate, a confusão sobre quem era aliado ou inimigo ocorria. Com isso emblemas pessoais eram pintados nos escudos, elmos, nas roupas sobre a armadura e nas coberturas dos cavalos. Inicialmente a aceitação foi tão grande que rapidamente se difundiu por toda a comunidade cavaleiresca e aristocrática. Nesta fase os emblemas representavam um cavaleiro de forma individual e, em certos casos, seus laços de vassalagem (ligação à um outro nobre) e as terras que possuía. Mas a confusão foi evidente já que por vezes os cavaleiros usavam até mais de um emblema. Para sanar duplicações e confusões criou-se uma rígida normatização. Os brasões começaram a ser „concedidos‟ pelo monarca como uma recompensa por serviços. Para a criação desses brasões de armas instituiu-se o serviço de “arautos-de-armas”. À eles foi deixada a tarefa de criação de uma norma. Num primeiro momento usaram cores contrastadas e figuras simples – era a heráldica dando seus primeiros passos. Durante o século XII, logo após a codificação, a posse desses brasões passou a ser hereditário e representativo de uma família ou linhagem. Outra grande modificação aconteceu no século XIII com o aparecimento dos primeiros emblemas para mulheres (nesse caso recebiam o nome de „Lisonja‟). II – Conceitos Vamos começar com uma série de conceitos e entendimentos necessários para podermos ter uma compreensão melhor do assunto. O brasão seria o trabalho completo, com todos os seus elementos e trazendo a mensagem que deve ser dada e transmitida à quem o olha. As regras são uma normatização de como cada elemento do brasão será utilizado e trabalhado. Essas regras conceituam formas, cores, adereços e elementos decorativos dando um norte para quem trabalha com a fabricação de brasões – esta atividade se chama „brasonar‟. Muitas o brasão em si é confundido com um outro termo que serve quase como sinônimo – escudo. Na verdade o Escudo é um dos elementos, o elemento primeiro, de um brasão. Mas não podemos confundi-los para bem de não criarmos conceitos errados ou entendimentos equivocados. O último conceito necessário, neste primeiro momento é com relação à posições – esquerda (sinistra) e direita (destra). Sempre que utilizamos essas referências de posição não podemos esquecer de que ela deve ser utilizada pela perspectiva de quem está segurando o „escudo‟. Isso no início pode causar um pouco de confusão, mas rapidamente será absorvido por vocês. O brasão de armas pode ter duas formas. O Brasão de Armas Maior seria o brasão composto pelo escudo e por todos os adereços que compõe a figura. A segunda forma seria a apresentação apenas do escudo, quando o espaço não possibilita a apresentação do desenho completo (por isso que a confusão dos termos, apresentada anteriormente, surgiu). III – O Escudo Reconhecidamente como o elemento principal do brasão, o escudo é onde está a maior parte da informação – ou a parte principal dela – que o brasador desejar transmitir. Por isso mesmo é, também, a parte mais complexa do brasão. Ele possui uma série de elementos que podem transmitir milhares (ou mais) de informações quando em junção com outros elementos. Por isso será a parte mais complexa e demorada deste pequeno curso. O mais complicado é que grande parte deste elemento muda conforme a nacionalidade do brasão ou conforme o período da história. Muitos livros e sites tentam dar uma certa organizada nisso, mas é claro que perdemos uma grande parcela de informação com isso. Tentaremos deixar isso o mais organizado possível, sendo criando apartes para informações pertinentes e interessantes. Os elementos ligados ao escudo tem a ver com a forma que ele possui, a posição em seu interior, as cores utilizadas em sua pintura em diversas de suas partes, elementos que são sobrepostos ao interior do escudo e figuras que podem ser gravadas no escudo. Escudo: As formas Este é um elemento estranho. Digo isso pois, ao mesmo tempo em que ele é a alma do brasão, visto que nele estarão todas as informações que serão interpretadas pelo „heraldo‟, ao mesmo tempo sua forma simplesmente não possui qualquer elemento interpretativo. Muito do que está relacionado à forma do escudo decorre de simples estética. Embora alguns estudos digam que em alguns casos essas formas podem indicar informações como nacionalidade e época de criação, mas mesmo essas informações não são confiáveis e fixas. Abaixo apresentamos apenas algumas das muitas formas existentes. Escudo: Os esmaltes Os esmaltes nada mais são do que as cores aplicada à estrutura do escudo e ao resto do brasão. Eles são elementos fundamentais para a compreensão do brasão. Se dispuséssemos apenas da forma teríamos uma quantidade muito limitada de interpretações. Mas com os esmaltes – e sua mistura – essa interpretação aumenta em muito em quantidade. Existem três tipos de esmaltes: os metais, as cores e as peles. Eles são divididos em setes esmaltes tradicionais (cinco cores e dois metais), mais as peles (sendo duas as principais, mas existindo mais dez) e mais cinco esmaltes secundários (ou de uso restrito). Existem duas formas de representarmos essas cores. A primeira delas é com a própria coloração nos sendo possível, visualmente, identificar suas diferenças. Mas o que fazemos quando desejamos representar tais esmaltes, mas não dispomos de colorações para tanto? Esse problema surgiu no século XVII quando havia uma grande dificuldade de demonstrarmos os esmaltes. A solução veio com um sistema de representação gráfica criada pelo padre Pietra Santa. Cada um dos esmaltes ganharam um equivalente representado por pontos ou traços. Assim, mesmo que não tenhamos a cor em si, podemos descobrir qual ela é. Os metais são Ouro e Prata. As cores são Azul, Verde, Vermelho, Preto e Púrpura (como as cinco cores tradicionais) e Laranja, Escarlate, Vinho, Marrom e Cinza. As peles são Arminhos e Veiros (ainda existindo muitas outras). Vamos vê-los um a um. Metais Eles são em número de dois – ouro e prata. Esses dois metais têm uma representação nobre (embora fosse e pudesse ser utilizado em qualquer brasão). Ouro Cor: Ouro (amarelo dourado) Outros Idiomas: gold, or, oro. Representação: superfície pontuada Metal: ouro Pedra preciosa: topázio Astro celestial: sol Elemento da Natureza: fogo Dia da semana: Domingo Mês: Junho Virtude: caridade e excelência da nobreza Na armaria real: „tol‟ Na armaria de nobres: „topázio‟ Na armaria restante: „ouro‟ Obrigações cavaleirescas: servir seus soberanos cultivando as belas letras. Prata Cor: Branco Outros Idiomas: silver, argante (arjante e arjent) Representação: superfície lisa Metal: prata Pedra preciosa: pérola Astro celeste: lua Elemento da natureza: água Dia da semana: segunda-feira Mês: Junho Virtude: fé, pureza, integridade Na armaria real: lua Na armaria nobre: pérola Na armaria restante: prata Obrigações cavaleirescas: servir seu soberano na náutica, defender as donzelas e amparar os órfãos. Vermelho Outros idiomas: gules. Por exemplo. e mais outras cinco não-tradicionais. conhecidas por manchas. a representação de uma folha verde seria descrita como “uma boa folha verde” (ou „au naturel‟). fidelidade. O uso das cores pode variar muito entre países sendo algumas muito usadas em uns e raramente em outros. Preto e Púrpura. na heráldica britânica se usou o Vinho (conhecido por eles como Murrey). bons cuidados. Representação: linhas traçadas na vertical Metal: Pedra preciosa: rubi Astro celeste: Marte Elemento da natureza: fogo Dia da semana: terça-feira Mês: março e outubro Virtude: fortaleza. rouge. quando uma cor é usada da mesma forma que aparece na natureza (folhas verdes ou água azul).Escudo: Os esmaltes Cores Como já dito as cores são em número de cinco tradicionais sendo conhecidas também como tinturas escuras (enquanto os metais são conhecidos como tinturas luminosas). Um termo relacionado às cores é „cor adequada‟ ou „bom‟. Verde. quando descrevemos algum elemento de um escudo que esteja com sua cor em conformidade da forma como aparece na natureza usamos esses termos. muitas vezes. red. nomes e denominações específicas. Assim. alegria e honra. rot. De qualquer forma essas manchas eram usadas por questões distintas em cada país recebendo. assim como as luminosas. As cinco cores tradicionais usadas são Azul. Elas serão apresentadas após a apresentação e descrição das tinturas escuras e manchas. . As cores que não são tradicionais surgiram e foram usadas em países específicos ou momentos históricos específicos. Haviam ainda o Cinza e o Marrom. Vermelho. Por exemplo. rosso e rojo. valor. O mais importante para o entendimento de como realizar a construção de um brasão são principalmente as regra para a utilização das tinturas. De forma extremamente rara usavam o Cravo (ou a cor da pele humana) e o Azul celeste. Na armaria real: marte Na armaria nobre: rubi Na armaria restante: gules Obrigações cavaleirescas: socorrer os oprimidos injustamente. o Escarlate (semelhante ao sangue e também conhecido por vermelho-sangue) e o Laranja (conhecido por Tenne). Cada tintura escura. representa virtudes e compromissos principalmente no que diz respeito à vida cavaleiresca. blau. cuidado. blu. verdade. sabedoria e amor. Na armaria real: Mercúrio Na armaria nobre: ametista Na armaria restante: púrpura Obrigações cavaleirescas: defender as personalidades eclesiásticas. abundância e amizade. azurre. silêncio. bleu. Azul Outros idiomas: blue. Representação: linhas traçadas na horizontal. constância. celester. Representação: superfície traçada em oblíquo de cima para a direita. grandeza. purpure Representação: linhas traçadas em oblíquo de cima para a esquerda. Púrpura Outros idiomas: jacinto. green. cuidados humanos. Metal: Pedra preciosa: safira . Na armaria real: Vênus Na armaria nobre: esmeralda Na armaria restante: sinople Obrigações cavaleirescas: servir ao rei no comércio e socorrer os lavradores. Metal: Pedra preciosa: esmeralda Astro celeste: Mercúrio Elemento da natureza: água Dia da semana: quarta-feira Mês: maio e agosto Virtudes: esperança. intrepidez.Verde Outros idiomas: vert. grün e sinople. Metal: estanho Pedra preciosa: ametista Astro celeste: Terra Elemento da natureza: terra Dia da semana: quinta-feira Mês: fevereiro e novembro Virtudes: justiça. ingenuidade. Astro celeste: Vênus Elemento da natureza: ar Dia da semana: sexta-feira Mês: setembro e dezembro Virtudes: justiça. lealdade. . modéstia. Representação: linhas traçadas na horizontal e na vertical juntas. Metal: ferro Pedra preciosa: diamante Astro celeste: Saturno Elemento da natureza: Dia da semana: sábado Mês: janeiro e abril Virtudes: prudência. black. socorrer os necessitados injustamente por seus senhores. Preto Outros idiomas: negro. temor e discrição. sable. inocência e piedade. Na armaria real: saturno Na armaria nobre: diamante Na armaria restante: sableObrigações cavaleirescas: servir ao rei politicamente e militarmente. cuidados humanos. Na armaria real: júpiter Na armaria nobre: safira Na armaria restante: azul Obrigações cavaleirescas: promover a agricultura. Seu uso mais conhecido era nos Países Baixos.Escudo: Os esmaltes Cores II Depois de apresentarmos as tinturas escuras – os esmaltes tradicionais representados por seis cores – vamos falar hoje das manchas. por serem de abrangência muito restrita. traumatizado pela perda de seu filho. Esta mancha trás consigo uma lenda sombria. existem uma infinidade de tons espalhados pelos pavilhões de muitas nações. Morado Outros idiomas: vine. sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a esquerda. acrescido da cor da pele ou carnação (cravo). Marron Outros idiomas: pardo. Então o uso desta mancha não trazia boa impressão em algumas partes da Europa. tan. diferente das tinturas escuras. sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. sépia Representação: linhas traçadas na vertical. Segundo a lenda Murrey teria sindo um reino supostamente entre o Mar Negro e o Mar Cáspio. Embora as mais comuns dessas manchas sejam em número de quatro. . as manchas são muito mais representações estilísticas do que elementos para interpretação. Outra coisa à se acrescentar é que. Laranja Outros idiomas: orange Representação: linhas traçadas na horizontal. como já foi dito. ordenou a morte de todas as crianças do reino. Márvio III. Eles possuem uma representação por linhas da mesma forma que as tinturas escuras e metais. as manchas. Em suma. as cores utilizadas na confecção de brasões que não são tradicionais (ou seja. extinguindo posteriormente toda o seu povo. não possuem interpretações quanto ao que representam. Carnação A cor da pele humana foi utilizada na Europa quase que exclusivamente. brown. tenné. mas a proximidade entre eles fica apenas nisso. sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. ou com interpretações específicas para cada região). são utilizadas de forma esporádica e localizada. murrey Representação: linhas traçadas em oblíquo de cima para a esquerda. sobrepostas a outras traçadas em oblíquo de cima para a direita. na Casa de Orange-Nassau. Seu governante. vinho. Elas seriam. onde cada esmalte tinha uma interpretação equivalente e reconhecida de forma geral. Escarlate Outros idioma: sanguine Representação: linhas traçadas na horizontal. Cendrée O cinza-escuro que recebe seu nome do francês. onde foi amplamente utilizado. Ciel Azul-celeste que também recebe seu nome do francês. . onde a única forma de escapar fosse por um caminho que sujasse a sua pelagem. A representação do arminho (como de todas as peles) na heráldica necessita de alguma atenção. Existem duas interpretações para o uso da peles desses animais. No caso dos arminhos a representação clássica é feita pela Mosqueta. De qualquer forma as peles acharam seu lugar dentro da construção dos brasões. Tradicionalmente as duas peles mais utilizadas pela heráldica. eles prefeririam ser mortos. Na heráldica as peles são representadas de forma estilizada representando o animal à que pertence. E. Segundo ela as peles desses roedores eram muito mais caras e representativas de riqueza e status (diferente de peles de animais maiores). Na Europa isso foi uma constante. Esse termo representa a pegada do arminho e sua cauda negra. são a de Arminho e de Vieiro. Isso era interpretado como alguém que preferia a morte a ter seu nome e posição sujos. A primeira seria uma lenda européia.Escudo: Os esmaltes Peles Desde o início da história do homem um dos principais materiais utilizados para a proteção contra o frio e a intempérie foram as peles. Sua representação e descrição parte do esmalte do escudo e depois descreve a cor da mosqueta. As principais peles usadas em brasões eram de roedores europeus conhecidos por arminhos. Segundo esta lenda os arminhos seriam animais extremamente limpos. Essa segunda versão também era corroborada pelo fato de a maioria dos mantos e vestimentas reais eram forradas por essas peles. se fossem encurralados. embora não sejam as únicas. Eles possuem uma pelagem muito branca com uma mancha preta apenas na ponta da cauda. Arminhos Essas são as mais tradicionais e as mais usadas peles da heráldica. Veja os dois primeiros escudos abaixo. Não por menos que esse elemento acabou ganhando seu espaço na representação de armas de muitos cavaleiros e reinos. Os arminhos são roedores semelhantes às doninhas com uma pelagem extremamente branca. A outra explicação veria de uma interpretação um pouco mais realista. . É considerado como base a mosqueta negra sobre a prata. Desta forma temos quatro representações possíveis. As figuras estilizadas representam a pelagem do Esquilo da Sibéria. Vamos entender da seguinte forma. É importante salientar que toda a explicação das nomenclaturas é relativamente complicada. Essas peças têm a forma de uma campânula (vaso de vidro ou metal em forma de sino). Essa disposição das peles costuradas também deram o nome „veiro‟. Isso é quase que uma regra. e chegou ao português „veiro‟. recebendo propriamente o nome de Arminho. ou sua inversão na cor escudo-mosqueta. na figura acima). com três mosquetas em negro colocadas 2 e 1. com três mosquetas em vermelho colocadas 2 e 1. lado a lado. cinza-azulado ao lado de branco. Nos quatro escudos da figura podemos perceber bem a relação da mosqueta com seus respectivos escudos. Na segunda: de ouro. dizemos que o mesmo está „veirado‟ (por exemplo. Apresentamos a tintura aplicada ao escudo. Quando temos a campânula com outra cor de esmalte. seguido de seu inverso em metal. A segunda representação das peles parte da relação da mosqueta com o escudo e sua tintura (veja os quatro escudos abaixo. dá seu nome. se as cores fossem ouro e vermelho diríamos que a peça estaria „veirada de ouro e . Conforme o metal. Veiros Esta é a segunda pele mais comum nos brasões. Por esse motivo que a estilização ficou com a configuração apresentada. mas muito necessária se qualquer um ter em mãos a descrição de um brasão sem sua imagem. Normalmente a mosqueta em cor negra é depositada sobre uma tintura (seja cor ou metal). passando para o francês „vair‟ e espanhol „vero‟.O primeiro é: de prata. As imagens estilizadas são formadas por peças dispostas horizontalmente. embora na grande maioria das vezes isso aconteça com metais. que possui uma coloração azulada em suas costas e a cor branca na barriga. Sua representação é ainda mais estilizada que a dos arminhos. e depois apresentamos a cor da mosqueta e sua disposição (isso será explicado depois). Todas as outras três nomenclaturas são relacionadas à esse nome. que vem do latim „de variis coloribus‟. Durante a Idade Média os mantos eram forrados com as peles desse esquilo de forma alternada. Devido à cor da pelagem do animal a cor básica do veiro é uma peça em azul. que significa „de cor variada‟. . A variedade de disposições é enorme como. se pode perceber. É importante salientar que o veiro deve sempre ocorrer entre uma cor e um metal. nunca podendo deixar lado a lado duas cores ou dois metais.vermelho‟). como referência ao elemento central. As duas laterais superiores são chamadas de cantões (cada uma das quatro extremidades) – cantão direito ou dextro do chefe e cantão esquerdo ou sinistro do chefe. Estaremos falando sobre as parte (os campos) existentes imaginariamente no escudo.Escudo: Partes O escudo. Veja a seguir: A parte intermediária do escudo é composto por dois flancos – flanco direito ou dextro e flanco . A linha externa que delimita o escudo é chamada de Bordo do escudo. Ela é chamada. A parte superior do escudo possui caráter de destaque e é considerada com a parte mais nobre. como forma básica e central do brasão. A partir daí temos uma denominação específica para cada uma das partes do escudo. Para um bom entendimento das posições no escudo (como já foi dito anteriormente) é preciso termos claro a questão de esquerda e direita. é dividido tradicionalmente em nove partes. de a “Parte do Chefe”. também chamadas de dextra e sinistra. É importante. Mas a forma correta de denominação seria “Topo do Escudo”. no conjunto das três partes. antes deixarmos claro a diferença entre “partes” e “partições”. em seu conjunto.esquerdo ou sinistro. O segundo fica entre o „coração‟ e a „ponta‟ e é chamado de “Umbigo do Escudo”. O primeiro deles fica entre o „chefe‟ e o „coração‟ e é chamado de “Ponto de Honra”. . A parte central é chamada simplesmente de “Ponta”. Especificamente dizemos que uma peça (isso será visto posteriormente) está no “coração do escudo” quando ela tiver o mesmo tamanho das peças restantes. Ao mesmo tempo dizemos que ela está no “abismo do escudo” se a peça tiver um tamanho menor do que das restantes. por “Ponta do Escudo”. As laterais são chamadas também de “cantões” – cantão esquerdo ou sinistro da ponta e cantão direito ou dextro da ponta. A parte central possui o nome de “Coração” ou “Abismo” do escudo. Dois pontos importantes são referenciados pelas partes do escudo. A parte inferior é denominada. apenas verbalmente. A partir desta situação ele pode ser dividido em duas. As partições têm o objetivo de identificar e localizar um esmalte no escudo. Primeiramente o escudo pode ser limpo. Vejamos como ficariam descritas as quatro imagens anteriores. sem nenhuma divisão visível. Após percebermos que um escudo possui partições como designar e localizar. „Fendido‟ e „Talhado‟. „Cortado‟. No caso do escudo „Partido‟ descrevemos primeiramente o esmalte que está do lado direito do escudo. Neste situação dizemos que o escudo é “Pleno”. o que significa que elas são colocadas no escudo posteriormente à sua criação. seguindo algumas regras e denominações específicas. No caso dessas quatro partições básicas começamos sempre pelo esmalte que está mais próxima do Topo do Escudo ou em maior quantidade no Topo do escudo. Cada uma delas representa um dos quatro grandes golpes que uma espada ou machado podem infringir à um escudo. mas „partição‟ é bem diferente de „partes‟. O escudo possui partes específicas que não importa o que fizermos. três ou mais partes. São eles „Partido‟.Partições do Escudo I Pode parecer a mesma coisa. algo que pode ou não estar nele. Na grande maioria das vezes. elas sempre estarão ali. as partições significam alianças entre famílias ou territórios. os esmaltes e em que parte eles estão na partição? Essa pergunta é uma questão básica. Outra informação importante é que as partições quase nunca são impostas ao escudo quando de sua criação (o termo técnico de quando algo está no escudo desde sua criação é “de origem”). Mas as partições são algo imposto ao escudo. . Existem quatro partições básicas. significa que o escudo foi particionado em três partes onde a parte central é uma „pala‟. banda e barra.Essas quatro partições básicas podem se reproduzir novamente dentro do escudo. A descrição dos esmaltes é diferente do exemplo das partições básicas. ao invés dele ser dividido em dois. Iniciamos a descrição pelo esmalte da partição central. E isto vale para todos os quatro tipos – pala. será em três partições. Então. quando dizemos „terciado em pala‟. e depois passamos para a descrição do esmalte mais próximo do Topo do Escudo ou em maior quantidade no Topo do Escudo. Vendo os exemplos abaixo claramente entendemos os nomes específicos de cada terciado. faixa. . Assim. Vejamos os exemplos abaixo. Neste caso a nomenclatura se baseia na posição da partição central. Chamamos isso de “Terciado”. não sendo mais terciado. se a primeira e a terceira partição fossem do mesmo esmalte. como no exemplo abaixo: .Uma coisa muito importante que não sei se todos se deram conta. Caso contrário. Para um escudo ser „terciado‟ ele deve necessariamente ter esmaltes diferentes em cada uma de suas três partições. seria descrito como um faixa de um determinado esmalte sobre um escudo de determinado esmalte. primeiro em ouro.no que diz respeito à quantidade de informações. Começa-se a descrição pelo esmalte mais acima e mais à direita do escudo (lembram da posição dos flancos do escudo que se baseia pela posição de quem segura o escudo?). as partições apresentam sempre esmaltes diferentes nos três espaços. por último o verde. Desta forma. . Esta partição seria o resultado de uma partição partida junto com a partição talhada. como visto no exemplo abaixo. Heráldica não é. segundo em vermelho e terceiro em verde.Partições do escudo II O último artigo foi um tanto pesado. no exemplo acima. Como mostrado na gravura acima temos Terciado em mantel. Como já foi dito anteriormente. temos primeiro o ouro. Por fim descrevemos o esmalte mais abaixo. muito menos simplista. Continuando com o tema das partições do escudo temos agora um tipo especial de terciado. sem dúvida alguma. um tema simples. A descrição utilizada para este tipo de partição é simples e segue a mesma lógica apresentada na postagem anterior. Ele se chama „Terciado em Mantel‟. depois o vermelho e. Depois passamos para a o esmalte mais acima e mais à esquerda. usa-se dois esmaltes de forma alternada. De forma técnica seria melhor explicado quando dito que subpartições são quando existe combinação entre partições. No exemplo abaixo seria: esquartelado em ouro. Está é a subpartição mais freqüente da heráldica. O esquartelado é a combinação do „partido‟ com o „cortado‟. esquartelado em vermelho. no esquartelado. Um deles ocupará os quartéis 1 e 3. O contra-esquartelado seria quando temos um escudo esquartelado e algum de seus quartéis também é esquartelado. enquanto o outro ocupará os quartéis 2 e 4.Partições do escudo III Depois das partições principais vamos avançar às subpartições. Como as cores se repetem não necessitamos descrever todos os quartéis. Parece meio complicado. Assim a descrição apresentará dois esmaltes dessa forma: esquertelado em cor tal. esquartelado em cor tal. mas visualmente tudo fica mais simples. cada uma delas chamada de „quartel‟. apenas os dois primeiros. Olhando bem o escudo acima fica muito mais fácil de entender. os mesmos esmaltes dos quartéis do esquartelamento. Para uma descrição começamos sempre pelo quartel superior direito do escudo. Como podemos ver o esquartelado produz quatro áreas iguais. Esses quartéis contra-esquartelados possuem. Veja a figura abaixo. Como se pode verificar. . Vamos à elas. ou não. O que seriam elas? As subpartições ocorrem quando existem partições (divisões) dentro do espaço de uma partição. O primeiro e o terceiro quartel estão esquartelados. segundo o exemplo apresentado. ficaria: esquartelado. Assim. os segundo e terceiro de verde. . os segundo e terceiro de vermelho.A descrição dos contra-esquartelamentos segue a mesma regra do esquartelamento já apresentado. o primeiro e o quarto contra-esquartelado – os primeiro e quarto de ouro. e por fim abaixo a quarta. A descrição começa pelo esmalte do girão indicado. de „girão‟. . neste caso. cortado. é „esquartelado em aspa‟. mas sem numeração. Como vocês podem ter notando a questão do particionamento vai se complexando conforme adiantamos. fendido e talhado). embora menos comum. passando a seguir para o esmalte do próximo girão no sentido horário. O Gironado seria a união de todas as partições principais (partido. Simplesmente deve-se indicar quais das partições têm cada esmalte. A disposição começa pela partição superior.Partições do Escudo IV Continuando com nosso curso vamos ir mais fundo hoje. Cada uma das partições do gironado é chamado. O escudo Franchado é quando o escudo é particionado numa combinação do „fendido‟ e do „talhado‟. Neste caso existe um ponto inicial para a descrição. Veja abaixo. tendo à direita do escudo a segunda e à esquerda do escudo a terceira partição. já que não há numeração como nos casos do esquartelado e do franchado. A descrição é um pouco diferente. A descrição do franchado é bem fácil. Hoje veremos o Franchado e o Gironado. Da mesma forma que o esquartelado há uma ordem para a visualização das partições. Este ponto de início é convencionado. Outro nome usado para esta partição. Essa combinação dá idéia visual de um „xis‟. . esses espaços são chamados de „quartéis‟. por medo de ser muito vulgar. já foi apresentado na „Partições de Escudos III‟. 6. Mas há uma diferença na questão dos esmaltes utilizados nessas múltiplas partições. .Partições do escudo V Até agora apresentamos as partições mais simples e usuais. Este tipo de partições acontecem quase sempre como resultado de alianças familiares. 12 e 16 quartéis. O mais comum são partições em 4. Como já acontece em outras partições. Como elas resultam de combinações de brasões de famílias diferentes. por coincidência. formado em 4 quartéis. A nomenclatura é muito própria. Essa regra vale para qualquer quantidade de múltiplas partições. chamado de esquartelado. 10. Raramente eles serão de esmaltes iguais. De qualquer forma esses múltiplos quartéis não devem ultrapassar os 32 quartéis. acontecendo apenas quando. é regra que cada quartel seja de um esmalte diferente. brasões sejam iguais em seu esmalte de uso. O „partido‟ e o „cortado‟ podem se combinar em uma série de múltiplas partições. Mas elas não ficam apenas nelas. Sempre apresentamos primeiro o número de „partidos‟ e depois e número de „cortados‟ (veja as imagens abaixo com suas respectivas nomenclaturas). 8. A partição simples de „partido‟ e „cortado‟. Neste caso descrevemos. Importante informar que a partição é para a figura e não para o escudo. É um elemento muito pouco utilizado. primeiro o esmalte do escudo. depois a figura informando seu esmalte superior. na ordem. . Nesse caso são utilizadas as quatro partições básicas – cortado. o tipo da partição. fendido e talhado. Esta forma de subdivisão acontece apenas nos escudos „cortados‟ e „partidos‟. depois a subdivisão e seus dois esmaltes. e depois outras informações sobre a figura (que veremos mais adiante). Seria uma divisão em apenas uma das partições. A descrição segue as mesmas normas já apresentadas. onde primeiro mostrarmos o primeiro o tipo de partição e seu esmalte. As partições não ficam limitadas apenas à estrutura do escudo – ela pode ser utilizada nas peças internas do escudo. No exemplo abaixo a descrição segue o que já foi visto. A descrição é bem simples e segue as formas anteriores. Como último item deste tópico sobre partições um detalhe importante. partido.Partições do escudo VI As partições podem ser subdivididas de forma independente. seu esmalte inferior. Veja o exemplo abaixo: Assim encerramos este longo tópico sobre as partições. as formas e as partições dos escudos. Vamos apresentar as regras conforme formos introduzindo os assuntos às quais elas se referem. Esta regra pode ser quebrada. e historicamente. onde cores fortes e contrastantes seriam muito mais facilmente identificáveis. inclusive muitos dos que nos veremos apenas mais adiante neste curso. como se pegássemos partes de escudos e as montássemos num só. elementos muito parecidos com as partições. nem cor sobre cor. Isso é fácil de explicar. Neste caso não se aplica a regra. mesmo sem receber uma postagem exclusiva para isso nem o status de „lei‟. Contrário à isso as regras estabelecidas (e consideradas como tal) chegam a serem consideradas e chamadas de „Leis da Heráldica‟ e dizem respeito à muitos temas. As peles não sofrem essa restrição.Regras Gerais I Depois desta primeira parte onde mostramos e descrevemos os esmaltes. pois considero que as regras com relação às partições funcionam mais como „orientações‟ para a constituição dos escudos. um escudo vermelho com uma cruz azul ao centro. Quando isso acontecer devemos deixar claro na descrição do escudo a intenção de tal procedimento. podendo ser sobrepostas tanto à metais quanto às cores. mas não pode uma pele sobrepor outra pele. deixamos as regras específicas para mais tarde. Se todos recordarem as postagens anteriores essa regras não se aplica quando falamos em partições. em última análise. . embora não seja aconselhável. Durante toda a apresentação das partições regras foram mostradas e devem ser seguidas. antes das batalhas. Essa regra se aplica muito bem para o que chamamos „Peças Internas‟. por exemplo. Esta regra não existe sem fundamento. 1ª Regra: Como regra fundamental não devemos sobrepor metal sobre metal. Outra vertente histórica dizia que a explicação seria mais funcional. Como exemplo podemos imaginar um escudo partido de ouro e vermelho e sobre a cor e o metal uma cruz azul. Elas foram separadas. com uma cruz cosida de azul‟. Outra exceção é quando uma figura está sobreposta à um escudo partido. Por exemplo. As partições seriam. diz-se „escudo vermelho. procurava-se não colocar cor sobre cor para que não houvesse a possibilidade do risco de borrarem as tintas. Tradicionalmente. Para isso usamos o termo „cosidos‟. Esta regra também não se aplica quando esmaltes específicos são utilizados em detalhes de alguma figura que compõe o escudo. É só lembrarem quando mostramos os escudos „Terciados‟. diz-se que quando se pintava um escudo. Com relação à isso. Elas podem assumir variações em sua forma.Linhas de partições Vamos dar continuidade ao nosso curso de heráldica depois de uma breve parada. As linhas de uma partição não precisam ser necessariamente retas. As linhas de partições são exatamente o que dizem. ou seja. Outra coisa importante por salientar é que essas linhas não possuem em si um elemento interpretativo. O tema de hoje é apenas um interlúdio entre as partições e as honrarias. mas sempre separando partições. duas áreas ou mais áreas independentes e não sobrepostas do escudo. Isto é tão são regras não há consenso sobre quais são as linhas tradicionais e quais não são. não encontrando nada sobre isso. embora tenha perdido alguns dias sobre livros e sites de variados idiomas. Quanto à descrição confesso que não sei informar. Mesmo quando olhamos a nomenclatura de um país para outro percebemos que as traduções nem sempre são fixas. . alguns estudiosos da heráldica escocesa e britânica apresentam exemplos onde um mesmo tipo de linha pode variar na sua incidência (exemplo deste tipo é o número de pontas no estilo „recuado‟). que será nosso próximo assunto. As peças de honrarias de primeira ordem são: Aspa. Barra. Lembrem-se do que foi explicado anteriormente. pois geometricamente analisando. Faixa e Pala. Por definição as peças de honraria são uma figura geométrica simples. Cruz. A diferença reside primeiro no conceito. Elas são divididas em ordens. vocês perceberam que a impressão que temos é de que um elemento (a honraria em si) foi depositada sobre um escudo de uma só cor. Um segundo diferencial está nas cores. Enquanto as partições possuem uma função de localização de um esmalte dento do corpo do escudo. Chefe.Peças de Honraria I À primeira vista as peças de honraria podem ser facilmente confundidas com as partições do escudo (já visto anteriormente). Asna. As peças de primeira ordem (ou também conhecidos por Ordinários) são em número de oito. Isso ocorre. as peças de honrarias existem para simbolizar alguma honraria concedida para quem detém o escudo. Já nos escudos que possuem honrarias. Banda. Na quase totalidade das vezes as partições apresentam cores distintas em cada uma de suas partes. Por esse motivo elas são quase que tratadas como objetos. . Já as peças de segunda ordem (ou subordinadas) existem em grande número e com significados diversos. algumas formas são idênticas. limitada por linhas retas e indo de um lado ao outro do escudo (de cima à baixo. ou de lado à lado). A lógica que se usa é que quanto mais objetos sobre a área do escudo (se usa o termo „quanto mais carregado o escudo está‟). Pela importância desta honraria ela pode ser usada em conjunto com outras. Há uma certa controvérsia sobre qual o tamanho que esta banda deve ter. . principalmente com Pale ou Aspa. mas nunca superado (nunca sendo sobrepostos) por elas. A peça de honraria Chefe tem a forma de uma banda horizontal na borda superior do escudo.Hoje vamos conhecer as honrarias Chefe e Pala. mais estreita é a faixa. Alguns dizem que ela deve ter no máximo de um quarto à um terço do tamanho do escudo. Quando isso não acontece a denominamos como „couped‟. Normalmente ela também atinge as beiradas do escudo. A simbologia dela representaria a lança do cavaleiro. .Já a Pala é uma honraria que apresenta-se como uma banda que corre de cima à baixo pelo centro do escudo. Seu tamanho varia entre um terço e um quinto do escudo. Da mesma forma que a Cruz ela pode ser utilizada com outras honrarias. em heráldica. A cruz como um elemento simbólico é um dos que mais possui variações e significados no mundo. as interpretações mais comuns seriam como elemento religiosos. sendo o resto considerado excessão: Posição da cruz na heráldica (Cruz de San George): a cruz deve ter quatro braços de tamanhos iguais e centralizados no centro do escudo. ou como elemento representando a ligação do divino e do mundano. ondulada. A Cruz é o cruzamento de duas faixas. fazendo com que a variedade de formas de honrarias em cruz seja enorme. Existem pelo menos trinta e cinco formas ou características diferentes para cruzes dentro da heráldica. é denominada „cruz grega‟. a diferenciando da „cruz latina‟. Ao mesmo tempo a cruz pode aparecer também como adorno em escudos. Não por menos que é um dos elementos mais complicados de se fazer a nomenclatura. uma vertical com uma horizontal. não tendo uma largura especificada. tendo uma outra nomenclatura e significação diferente – mas isso será visto muito mais adiante. Como significado. como já dito. Isso não influencia em nada a cruz.Peças de Honraria II Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Cruz. desde que obedeça a posição dos braços e sua localização no escudo. onde o braço inferior é maior. Isso acaba também por criar uma grande variedade de interpretações. recortada etc. já que nesta época a igreja católica esta intimamente inserida na sociedade européia. depositada no centro do escudo. segundo alguns manuais. Em heráldica não seria diferente. As beiradas da cruz estão sujeitas à variedade de flexões (Sire Thomas de YNGOLDTHORP): As cruzes podem ter suas beiradas em formas variadas como dentada. mas que ocupe pelo menos um quinto do escudo e que cada braço tenha o mesmo tamanho (este modelo é chamado de „cruz grega‟ (ou crux immissa quadrata) para diferenciar da „cruz latina‟ onde o braço inferior é maior‟) e é a mais comum. Mas são aceitas oito características como as principais. Este tipo de cruz. . A cruz pode ser usada com outros elementos: ela pode ser adornada outros elementos que não sejam normalmente usados na heráldica. . O escudo de Eustace de Witeneye é um exemplo disso. como no caso do escudo de Sir Nicholas de Valeres.As cruzes podem ser de tinturas diferentes: uma mesma cruz pode ter mais de uma tintura em sua estrutura. que tem a cruz vermelha de seu escudo adornada com conchas. porém. A cruz pode ser anulada: A cruz é descrita como anulada quando a parte central dos quatro membros da tintura é igual ao campo (o fundo do escudo). sendo que o campo do centro é da mesma cor do fundo (como se fosse vazado). no escudo de Thomas Langton) ou em equivalente inverso (chamamos isso de contra-alternado) de toda uma área (como no segundo exemplo. como no brasão abaixo (escudo de Atkins). de cinco peças ou divisões. como "chequy de nove painéis”. onde a superior teriam braços mais finas e a inferior teria braços mais largas (assim ela assume a forma de uma borda dos braços da cruz superior). a cruz é composto por assim dizer. Note que o centro é como se fosse vazado. o termo quartas-deperfurado é usado (veja o exemplo abaixo par ao escudo de BOISY de Ile de France). Escritores heráldico. Pode ser por parte de cada braço (como no primeiro exemplo. no entanto.A cruz pode ter duas tinturas: Isso pode se dar de mais de uma forma. no escudo de BOISY de Ile de France. de Bevercott). Uma segunda forma dela ser uma cruz anulada seria tendo duas cruzes sobrepostas. inventaram vários termos como. E alguns caso é descrito a forma (tendo em conta o campo). quartas-deanulado e quadrado-perfurado. . Quando. Isso pode ser visto no mesmo exemplo anterior. Uma terceira forma da cruz ser anulada é se ela possuir uma borda formada por um adorno onde o exemplo mais clássico seria uma meia flor-de-liz. por exemplo. Ela pode ser uma ‘cross couped’: isso acontece quando os braços da cruz não tocam as laterais do escudo. teríamos uma cruz grega ao centro do escudo sem alcançar as beiradas. Ou seja. Abaixo temos alguns exemplos: . Como foi dito existe uma enorme variedade de tipos e interpretações para outras cruzes além destas apresentadas acima. por isso mesmo sendo uma das formas mais comumente utilizadas nas construções dos escudos. Existe muita controvérsia sobre os significados desta peça. Algumas interpretações associam a Faixa com o cinto militar. Assim. a posição da Faixa. mostrada na postagem Curso de Heráldica 15. De uma forma mais genérica a Faixa é associada à todas as funções e responsabilidades dos agentes de armas.Peças de Honraria III Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Faixa. localiza-se na parte superior do escudo. . logo abaixo do Chefe teria lógica do posto de comando dos cavaleiros subalternos apenas ao senhor das terras às quais ele vive. A Faixa é facilmente reconhecida como uma barra horizontal no centro do escudo. A forma mais clássica dá conta de que a Faixa representa a armadura do cavaleiro. Outra coisa que deve-se notar é que a honraria „Chefe‟. mas gerando mais debates do que certezas. e quando abaixo do centro ele denomina-se „abaisse‟. mas isso dificilmente é vislumbrado constantemente (ela varia de um terço à um quinto). localizado próximo do centro. . Nesses casos ele recebe denominações próprias. ficando.Segundo as regras da heráldica esta Faixa deveria ocupar um terço da altura do escudo. Quando acima ele é chamado de „transposto‟. como já dito. Essas variações claramente destinam-se a dar mais clareza às relações de poder e posição social e de comando dentro da comunidade em questão. Ele pode estar localizado levemente acima ou abaixo do centro. Elas podem não ser retas apenas na parte superior. Essa possibilidade abre margem para uma infindável variedade de bordas. ou em ambas. . embora as retas sejam as mais comuns.Não podemos nos esquecer que existem ainda as variações com relação às bordas da Faixa. apenas na parte inferior. A Banda é uma peça reta que se estende do ângulo superior esquerdo na direção do inferior direito. Os exemplos do brasão do Conselho Cleethorpes. no Canadá. . na Inglaterra. Estudiosos e manuais do século XVIII e XIX dizem que a origem da „banda‟ estaria nos cinturões baudrick (ou baldrick) – um cinturão medieval de uso comum entre os cavaleiros que ajudaria a fixar a espada. A Banda deve ter largura de cerca de um terço do tamanho do escudo. como no exemplo do brasão do Conselho distrital de Richmondshire. assumindo aí uma largura de um quinto. Suas margens podem ser retas ou não. e de Michel Picard.Peças de Honraria IV Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Banda. Mas isso pode variar se houverem outros elementos juntos. Mas sempre que isso acontecer deve ser descrito claramente. deixam claro isso. Este cinto era uma marca da cavalaria. Uma terceira variação é quando existe um mesmo número de bandas. neste caso sendo chamado de „Blendy‟ (sem tradução para o português). aparecendo somente aos pares. Se tiver um quarto do tamanho normal assume o nome de „Cotise‟ (sem tradução para o português). Como já disse o padrão é uma espessura de por volta de um terço do escudo. Uma banda padrão é fácil de descrever. sendo necessário uma grande precisão dos termos. Para terem um exemplo cada espessura da Banda assume um nome diferente. Se a espessura tiver a metade do tamanho normal ela assume o nome de „Bendlet‟ (sem tradução para o português). Veja abaixo: .As descrições. são complicadas principalmente devido à sua variedade. Mas isso pode ficar bem mais complicado. Veja abaixo o escudo da Bôsnia que seria descrito simplesmente com: escudo em azul com banda em prata (excluí a descrição das flores de lis). quando falamos de peças de honrarias. Estes três exemplos seriam descritos assim: o primeiro seria um escudo em ouro com três blendlet azuis. Isto vale para qualquer nomenclatura em que se descreva esmaltes. o segundo seria escudo em prata com banda vermelha cotisado em vermelho. . com três blendlets em ouro. O primeiro escudo é o do conselho da cidade de Manchester e a nomenclatura do escudo em si (excluindo o elementos extras) seria: escudo em vermelho. Para nomenclatura devemos levar em conta sempre o esmalte do fundo (ou o esmalte do escudo) e depois indicando o tipo e a cor da honraria. com chefe em prata com ondas do mar e barco ao seu centro. e nos casos em que há igualdades deve-se descrever primeiro o metal e depois o esmalte. e o terceiro seria escudo com seis bandas prata e vermelho ou escudo prata com três blendy vermelhas. Peças de Honraria V Vamos ver mais uma das peças de honrarias – a Aspa. esta aspa é denominada „saltorel‟. Caso a aspa seja formada por braços mais estreitos. A única excessão é um aspa formada por duas linhas entrelaçadas que recebe o nome de „saltire parted and fretty‟ (sem tradução exata para o português). Sua espessura média é de cerca de um quarto à um quinto da largura do escudo. Diferente da peça de honraira „Cruz‟. ou verticalizada. Algumas obras. descrevem a aspa como a junção de outras duas peças de honraria – a banda e a contra-banda (ou barra). Em última análise uma aspa nada mais é do que uma cruz colocada de lado. A Aspa. as aspas não possuem variações tão diversas quanto ela. . é uma honraria baseada na cruz em que Santo André foi crucificado (a chamada bandeira de Santo André é um fundo azul com uma aspa vermelha). Se seus braços não chegarem até as extremidades chamamos de uma aspa „cortada‟. Sua caracterização clássica estende-se até as bordas do escudo. Suas alterações residem apenas no tipo de linha lateral que forma a aspa. ou sautor (originário do francês sautoir). como acontece com o brasão de Greenwood. principalmente do meio e final do século XIX. verdes. . descrevendo depois o esmalte dos flancos. Necessriamente.Eles também podem aparecer mais de um vez sobre um escudo. com escudo em azul e negro. Ele poderia ser descrito como „aspa em prata. em segundo o flanco esquerdo. com flor de liz acima e abaixo e símbolo do signo de gêmeos nos flancos etc‟. depois o do flanco direito. começamos a descrição pelo esmalte nas partes superior/inferior (áreas do chefe e base). desta forma podem estar sobre o escudo sem a necessidade de estar a disposto simetricamente e todas serão consideradas „aspas cortadas‟. Caso haja mais de dois esmaltes. sobre escudo prata‟) na imagem abaixo. quando temos mais de uma aspa no escudo. Caso o escudo apresente dois esmaltes diferentes postos de forma regular (os mesmos em cima e em baixo. e por último o da base inferior. elas serão „cortadas‟. No exemplo abaixo temos um caso do primeiro tipo apresentado. Um exemplo claro disso é o estranho brasão de Greenland (cuja descrição seria „três aspas cortadas. Não esqueçam que as honrarias são peças colocadas sobre o escudo. e outro nos flancos). nos espaços criados pela „aspa‟. descrevemos primeiro o superior. Além disso. Para o brasonamento deste tipo de caso colocamos primeiro a descrição da figura informando sua possição em aspa e depois damos as informações do escudo. . como no caso do brasão do Vaticano. podemos ter figuras em uma posição de aspa. onde temos duas chaves cruzando-se no centro do escudo. A Asna representa as esporas dos cavaleiros. Pode-se dizer que a Asna pode ser considerada como uma combinação parcial das peças de honraria Barra e da Banda. quando é acrescida de mais asnas. e aparecendo posteriormente em escudos das fases mais antigas de Esparta.Peças de Honraria VI Depois de tanto tempo sem postar nada para o Curso de Heráldica. tomando-se o cuidado de estreitar suas espessura à cada vez que se repete a honraria. E mais. e técnica. a ponta fica para cima. ou seja. Não por menos que ela aparece até os dias de hoje como representantes das patentes militares. Assim. A Asna é uma peça de honraria representada por um esquadro invertido com um ângulo inferior à 45º. ela é a única que representa qualitativamente uma honra ou um posto.C. ela pode ser repetida até três vezes (embora mais vezes possa aparecer de forma raríssima). diz-se que ele fica distante da borda superior uma duodécima parte da largura do escudo). Está ponta ficaria quase encontrando a borda superior do escudo (de forma mais específica. representa um posto superior ou uma elevação de posto. em Cretar. significando ‘caibro de telhado’). visto que ela. . remontando pinturas no palácio de Cnossos. eis que voltamos com tudo no pós-carnaval. O símbolo é um dos mais antigos da humanidade. O termo em francês (e usado também em inglês) é chevron (ou do francês antigo cheveron. em espanhol é chamado de cabria. por volta de 1800 a.. Vamos retomar exatamente de onde havíamos parado abordando agora a honraria chamda de Asna. onde suas extremidades não se encontram com as beiradas do escudo em nenhum dos lados. Nesses casos a asna pode ser dita que ela está ‘brisada’ para destra (direita) ou sinistra (esquerda). Outra variação seria uma inclinação que pode ser parcial (um quarto de volta para ser mais específico) para um lado ou outro. Ou ainda a asna pode estar com sua ponta na posição horizontal. A Asna pode estar deslocada para a esquerda ou direita. Ela pode ter um tamanho menor do que o normal. como se saísse da borda lateral.Ela possui muitas variações. Quando nesta condição ela é chamada de . Uma variação mais rara é quando as asnas são entrelaçadas estando uma ao lado da outra. A honraria também pode estar ligada à uma das partições do escudo ou interligada à outra honraria. Objetos podem estar dispostos em uma posição que represente uma asna. Como nos exemplos abaixo em que asnas estão dispostas dentro de uma . Assim dizemos que os objetos estão chevronados.‘chevronel’. desde que a asna os separe. . A honraria e o fundo (o escudo) não podem ser de mesmo tipo de tintura. Assim.Como regra básica para esta honraria segue as mesmas que para as demais. Pode-se inclusive postar mais de um esmalte de um mesmo tipo. o escudo será um metal ou uma pele e vice-versa. se a asna for um esmalte. . filhos bastardos também tinham direito ao brasão da família. visto sua posição invertida em relação à Banda. Os filhos bastardos. Em muitos casos a Barra não é considerada uma honraria. Em heráldica. eram chamados de ‘nascidos do lado esquerdo’. invertido. a Barra era vista como uma peça de desonra (não por menos que o termo ‘esquerdo’ por muito tempo simbolizou algo errado. A Barra também pode ser conhecida por Contra-banda. Da mesma forma que a Banda. do ombro à cintura. mas uma simples inversão da Banda. mas de forma inversa. a Barra também é simbolicamente a visão da correia que o cavaleiro usa. em tempo da Idade Média. . Historicamente. trocado.Peças de Honraria VII Esta é a última das oito honrarias principais do escudo. mas haveria uma ‘barra/contra-banda’ sobre o seu brasão. Ela tem de possuir cerca de um terço da largura do escudo e suas laterais podem ser irregulares. Ela possui as mesmas características da Banda. na Inglaterra. . Um dos mais celebres exemplos desta honraria é o brasão do Condado de Loncolnshire.A Barra é uma faixa que se estende da parte superior direita até a base inferior esquerda do escudo.
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