Corpos Reconstruídos- Os Processos de Transformação de Gênero Das Drag Queens de Brasília.

March 30, 2018 | Author: Di Vina Luz | Category: Anthropology, Social Sciences, Science, Science (General), Science And Technology


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Universidade de BrasíliaInstituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Corpos Reconstruídos: Os processos de transformação de gênero de drag queens de Brasília. Andressa Pinto Ferreira Saraiva – 13/0006009 Bruno Rocha Nascimento – 13/0023035 Daniella Leite da Silva Barbosa – 13/0024309 Diego José “Bernardino” da Silva – 13/0008184 Brasília 2013 ao todo. procurando o ouvir (OLIVEIRA. portanto é necessário elucidar que apesar das referências e do discurso por ela apresentado nos ajudar a compreender movimentos semelhantes nas construções de outras drag queens. 2009). Mackaylla (24) trabalha com festas em eventos em geral e. o que é aqui apresentado diz respeito à sua subjetividade em específico. o que facilita a aceitação do público é o tipo de personagem que ela desenvolve: caricata. Outro ponto a ser esclarecido é que o ser drag queen se constitui somente em espaços ligados ao público LGBT.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Introdução Este trabalho foi realizado com o intuito de explorar os processos que se dão na construção deum corpo performático de drag queens de Brasília. produzindo uma narrativa visual. porém é interessante observar que ser drag em casos como esse pode surgir de uma necessidade de ter um emprego. com quatro delas e nossa observação de campo foi centrada em Carrie Myers (17). foi estabelecido contato. 2008). estão mais propícias a experimentar um maior diálogo com os signos femininos na chamada montagem amapô (GADELHA. no meio drag brasileiro isso é bastante comum. Já aquelas que trabalham em ambientes mais receptivos. utilizamos o recurso de gravação de áudio durante a entrevista. segundo ela. Para compreender o máximo possível de um objeto tão vivo. 1998) e. associando também o olhar com o recurso da imagem. fotoetnografia (ACHUTTI. Bárbara (18) iniciou recentemente um tratamento hormonal para transição de gênero. como Naomi (23) e Bárbara (18). Uma coisa não necessariamente implica na outra. . pois seu desejo é uma mudança de sexo. cômica e extremamente colorida. devido a falta de espaço na sociedade para transexuais e travestis. Abre sua maleta de maquiagem e dispõe sobre a mesa os produtos que utilizará para moldar seu rosto e sua essência. Exceto pelas unhas postiças já coladas. serial killer do filme Halloween. Primeiramente pedimos que Ítalo nos falasse de suas referências pessoais. A casa era bem movimentada. do que o inspirava. Vencedora da 4ª temporada de RuPaul’s Drag Race. o nome. Segundo ele. vem de dois personagens icônicos de histórias de terror: Carrie – A Estranha. A partir desse momento. duas amigas dele se arrumavam para sair e o filho de uma delas transitava pela cozinha onde estávamos. sua maior inspiração é Lady GaGa. Carrie Myers. Visualmente. entretanto. 1 2 Personagem do filme Elvira – The Mistress of The Dark. haveria mais espaço para que realizássemos o trabalho. um amigo dele sentou-se ao nosso lado e perguntou se poderia acompanhar a entrevista. Ao iniciar o seu ritual de montagem. mas sua estética também possui influência forte de personagens como Elvira1 e Sharon Needles2. ele não usava nenhum acessório feminino. pois esta se dá como uma manifestação de sua personalidade. observando com seus olhos curiosos os “estranhos” ali presentes.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Fotoetnografia: Metamorfose “I could be girl Unless you want to be man (…) I could be anything I could be everything” Lady GaGa – Government Hooker Ítalo nos recebeu na casa de uma amiga onde. é muito complicado estabelecer uma diferença entre sua pessoa e sua personagem. ele também admite a necessidade de uma separação. segundo ele. mas não deixa claro em momento algum como a mesma se consuma. Ítalo tem apenas 17 anos e se montar profissionalmente há apenas sete meses. do mestre do terror Stephen King e Mike Myers. Ítalo prepara seu corpo para ser destituído de características masculinas. . Falar de sua drag queen foi consequência. o grupo desenvolve um trabalho que procura ater-se no impacto visual da transformação realizada. da qual se utilizam três tons diferentes.1 . com o intuito de criar um rosto mais feminino. Figura 1.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figura1: O processo inicia-se com o uso da base. para criar a ilusão de profundidade na altura das bochechas. abaixo do maxilar e na altura das têmporas. mas caso a montação escolhida exija um olho mais exagerado. vai assumindo novos contornos. cola em bastão e base de unha entram em cena para esconder o natural. o que parece uma máscara disforme. Carrie não utiliza técnicas para cobrir a sobrancelha. . O olho é uma parte estratégica.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figura 2: Incialmente. permitindo que o artista adquira uma nova moldura para seu rosto. Figura 4: pincéis. contribuindo com a maquiagem e performance. iluminadores e uma palheta de sombras: parte da composição do rosto feminino.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figura 3: O brilho é parte fundamental da montação. . tem a função de destacar o olhar. colocado nem cima da pálpebra. bases. pós corretivos. durante o processo. revelando a ousadia e o mistério de Carrie Myers . a fugura à nossa frente destituiu-se de Ítalo.1 Com a maquiagem quase pronta.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figuras 5 e 5. a mudança na postura é nítida. 1: Rímel e os últimos acessórios são escolhidos para compor o look final .Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figuras 6 e 6. roupas e acessórios no lugar certo. criando um personagem extravagante e vivo.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Figuras 7. 7. o salto 18 evidencia mais ainda a altura.2: Com a peruca.1 e 7. Os pelos da perna são disfarçados por uma meia-calça fio 80. Carrie Myers ganha vida. . Santa Catarina. Maria Teresa Vargas. Guacira Lopes. Cyntia Carla Cunha. p. 2009. OLTRAMARI. LOURO.Doutora em Educação pela UNICAMP. Emerson Roberto de Araujo. 2009 PESSOA. 2009. Juliana transformistas Frota e Drag da Justa. Porto Alegre. 2004 COELHO. Livros de Lilitt: Processos de Construção de um Corpo Perfomático. Florianópolis. As aparências e os gêneros: Uma analise da indumentária das drag queens. 2008 __________. Universidade Estadual de Maringá. Performance e Etnoestética: AMontagem como Ritual ou como Nasce uma Drag-Queen. Fortaleza. 2004 SANTOS. José Juliano B. agenciamentos e subjetividade. de travestis. Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas: Abordagens Antropológicas.Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais DAN – Departamento de Antropologia Bibliografia CHIDIAC. Ser e Estar Drag Queen¹: Um Estudo Sobre a Configuração da Identidade Queer. Brasília. GADELHA. 471-478. 2008 . Universidade Federal do Ceará. Leandro Castro. Sônia Weidner. Masculinos em Mutação: A Performance Drag Queen em Fortaleza. As Queens: Performances Visibilidade. Corpos que Escapam. Estudos de Psicologia. MALUF.
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