Contos Sufis O Homem Cuja Vida Era InexplicávelPostado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Havia uma vez um homem chamado Mojud. Vivia numa cidade onde obtivera um emprego como pequeno funcionário, e tudo parecia indicar que terminaria sua vida como Inspetor de Pesos e Medidas. Certo dia quando caminhava ao longo dos jardins de um antigo edifício próximo à sua casa, Khidr, o misterioso Guia dos Sufis, surgiu diante dele, vestido de um verde luminoso. Então Khidr disse: - Homem de brilhantes perspectivas! Deixe seu trabalho e se encontre comigo na margem do rio dentro de três dias. – Dito isso, desapareceu. Excitado, Mojud procurou seu chefe e lhe disse que ia partir. E todos na cidade logo souberam do fato e comentaram: - Pobre Mojud! Deve ter ficado louco. Mas como havia muitos candidatos ao posto vago, logo se esqueceram de Mojud. No dia marcado, Mojud encontrou Khidr, que lhe disse: - Rasgue suas roupas e se lance no rio, talvez alguém o salve. Mojud obedeceu, embora se perguntasse se não estaria louco . Já que sabia nadar, não se afogou, mas ficou boiando à deriva um longo trecho da corrente antes que um pescador o recolhesse em seu bote, dizendo: - Homem insensato! A corrente aqui é forte. Que está tentando fazer? - Na verdade eu não sei – respondeu Mojud. - Vejo que perdeu a razão, mas o levarei à minha cabana de juncos junto ao rio e aí veremos o que se pode fazer por você – disse o pescador. Quando o pescador descobriu que Mojud era bem instruído, passou a aprender com ele a ler e escrever. Em troca, Mojud recebeu alojamento e comida e ajudou o pescador em seu trabalho diário. Transcorridos uns poucos meses, Khidr apareceu novamente, desta vez ao pé do leito de Mojud, e disse: - Levante-se e deixe a cabana deste pescador. Será provido do necessário. Vestido como um pescador, Mojud deixou imediatamente a humilde cabana e perambulou sem rumo certo até alcançar uma estrada. Ao romper da aurora, viu um granjeiro montado num burro, a caminho do mercado. - Procura trabalho? – perguntou o agricultor. – Estou precisando de um homem que me ajude a trazer algumas compras da cidade. Mojud o acompanhou então. Trabalhou para o granjeiro durante quase dois anos, ao fim dos quais aprendeu muita coisa, mas somente sobre agricultura. Uma tarde quando estava ensacando lã, Khidr fez nova aparição e lhe disse: - Deixe esse trabalho, dirija-se à cidade de Mosul, e empregue suas economias para se converter em mercador de peles. Mojud obedeceu. Em Mosul tornou-se logo conhecido como um negociante de peles, sem voltar a ver Khidr durante os três anos em que exerceu seu novo ofício. Tinha reunido uma considerável quantia e estava pensando em comprar uma casa, quando Khidr lhe apareceu e disse: - Dê-me seu dinheiro, afaste-se desta cidade rumo à distante Samarkand e lá passe a trabalhar para um merceeiro. Foi o que Mojud fez. E logo começou a demonstrar indícios indubitáveis de iluminação. Curava os enfermos, servia a seu próximo no armazém e nas horas de lazer, e seu conhecimento dos mistérios da vida tomou-se cada vez mais profundo. Sacerdotes, filósofos e outros o visitavam e indagavam: - Com quem você estudou? - É difícil dizer – respondia Mojud. Seus discípulos perguntavam: - Como iniciou sua carreira? E ele retrucava: - Como um pequeno funcionário. - E deixou o emprego para dedicar-se à automortificação? - Não, simplesmente abandonei a carreira. Eles não o compreendiam. Extraído de ‘Histórias dos Dervixes’ Idries Shah Nova Fronteira 1976 . E mais. A presente versão é do manuscrito do século XVII de Lala Anwar.Mas esse comportamento inexplicável não esclarece de modo algum seus estranhos dons e exemplos edificantes – observaram os biógrafos.Assim é – disse Mojud. Então fui para Samarkand. Coisas – diz ele – que encaramos como inexplicáveis são. O Homem Cuja Vida Era Inexplicável O Xeque Ali Farmadhi (falecido em 1078) reputava importante este conto para exemplificar a crença sufi de que o ‘mundo invisível’ está todo o tempo. larguei meu trabalho e me dirigi para Mosul. em vários lugares. O Xeque é o décimo Xeque e Mestre instrutor da Ordem dos Khwajagan (‘mestres’). E foi assim que os biógrafos teceram em torno da figura de Mojud uma história maravilhosa e excitante. A vida real de um dos maiores sufis. .Pessoas dele se acercavam. . e esta deve estar de acordo com a curiosidade do ouvinte.Em me atirei a um rio. É por isso que esta história não é verídica. devidas a tal intervenção. Quando estava ensacando lã.Que tem feito em sua vida? – indagavam. fui salvo por um pescador com quem morei e trabalhei. me converti num agricultor. . Porque todos os santos afinal devem ter sua história. interpenetrando a realidade comum. É uma representação de uma vida. . passando a trabalhar para um merceeiro. Mas não a conhecem. conhecida depois como o Caminho Naqshbandi. Certa noite. desejosas de escrever a história de sua vida. E a ninguém é permitido falar de Khidr diretamente. é que tal dimensão pode tornar-se acessível a elas. Depois. as pessoas não reconhecem a participação desse ‘mundo’ no seu. Somente quando advertem a possibilidade de outra dimensão que atua às vezes sobre as experiências comuns. onde me tornei mercador de peles. não com as realidades da vida. abandonei a sua cabana de juncos. de fato. E aqui estou agora. mas o doei. por acreditarem conhecer a causa real dos acontecimentos. Hikayat-i-Abdalan (‘Histórias dos Transformados’). Economizei algum dinheiro ali. por seus conhecimentos e feitos técnicos. Viveu com um filósofo da seita Sarracena. há longo tempo esquecida. Foi nesse meio certamente que aprendeu esta história Sufi. Uma história muito parecida era contada pelo Papa Silvestre II. que difundiu. o Egípcio. Espanha. traçava uma linha no pavimento ao pé da estátua. incluindo matemática. Como era feito de pedra sólida demais. ignorada durante séculos. falecido no ano de 634. Gerbert (como era chamado originariamente) ganhou a reputação de mago. e assim pode adquirir os tesouros. no século X. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Dhun-Nun. Diz-se que a mesma foi divulgada pelo Califa Abu-Bakr. explicou graficamente numa parábola como extraíra os conhecimentos ocultos nas inscrições faraônicas.Bata Neste Lugar Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. Dhun-Nun observou que exatamente ao meio-dia a sombra do dedo indicador. e aqueles outros de gênero mais convencional que os acompanhavam. Marcou o ponto exato. os golpes deixaram poucas marcas e o significado permaneceu oculto. ensinamentos árabes. ao contemplar absorto a estátua. A origem dessa inscrição era desconhecida. Extraído de ‘Histórias dos Dervixes’ Idries Shah Nova Fronteira 1976 . muniu-se dos instrumentos necessários e com uma barra de ferro fez saltar uma lousa. Havia uma estátua apontando com um dedo sob o qual se achava a inscrição: “Bata neste lugar para obter um tesouro”. Esta continha estranhos objetos de tal feitura que permitiram a Dhun-Nun deduzir a ciência de sua fabricação. Aconteceu ser esta uma espécie de alçapão no teto de uma caverna subterrânea. desde Sevilha. Certo dia. mas ger ações inteiras haviam golpeado o lugar indicado. não se sabe porque motivo. o vizir foi até as termas públicas. não fez maiores perguntas. O Rei era uma pessoa muito justa e magnânima. porém também percebeu que seu anel pesado. e enquanto se banhava percebeu que havia perdido seu anel. . boiava na sua frente. e seu reino era rico e cheio de palácios. para que possam ficar por lá. o próprio vizir disse a sua esposa que teriam que viver a dor da separação. as paredes úmidas. jardins maravilhosos com riachos muito belos. mas nada abalava aquela relação. esbaforido. jogado numa cela fria e úmida. Até que um dia. e todos os outro ministros do reino viviam cobiçando seu lugar. como boa mulher de seu tempo. boatos e calúnias. Para completar seu sofrimento. os meses. e depois de um tempo. Certo dia. Ficou em silêncio. Os dias foram se passando. Todos os dias. Sete dias se passaram sem que nada acontecesse. fazendo intrigas. e o Rei não tomava nenhuma decisão antes de pedir um parecer ao seu fiel Grão Vizir. seu braço direito. meses a fio. de ouro e pedras. Vocês pensam que o que mais martirizava o vizir era a ingratidão do rei. aonde temos parentes.Lucun A La Pistache Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. Mas no sétimo dia. reúne todos os meu pertences do palácio. O Grão Vizir era muito invejado. e resolveu lhe dar um pedaço de Lucun. além de outros truques no preparo. recobertas com musgos e lodo verde. feito com a semente de pistache. O Grão Vizir era seu homem de alta confiança.“Seu traidor ! Logo você. o rei. você terá o seu castigo !” O Vizir foi levado aos porões do palácio. sádico e intransigente. antes da partida. Esse é um doce esverdeado. e era aconselhado pelo seu Grão Vizir. resolveu chamar seu fiel serviçal: . meditativo. e que aguardem minhas notícias”. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Na antiga Pérsia vivia um poderoso Rei. mas o que o vizir sentia mais falta era de Lucun a la Pistache. mas nada. o carcereiro ficou bem humorado e generoso. mas ela.“Caro Omar. ou falta de sua esposa ? Tudo isso era muito triste. pegue minha mulher e filha e leve-as ao próximo povoado. Dias depois. um pedacinho do doce. que sempre teve minha confiança! Não precisa dizer nada. pesado. e recoberto com o mais fino açúcar encontrado no oriente. entrou no gabinete do vizir e foi logo esbravejando: . o homem pedia ao seu carcereiro. o faziam lembrar-se do doce. os anos…. Os olhos do Vizir ficaram cheios d’água. diversos tipos de Lucun a la Pistache. atolou a outra pata. O empregado obedeceu. e o vizir fez questão de celebrar. usufruía o bom e do melhor. e o maior símbolo de minha riqueza. . nada ficaria pior. Era o rei. tomando providências para resguardar sua família. . pensei que dali não poderia descer mais. a porta se abriu.“Omar. agiu como se soubesse disso!” Ele olhou para o amigo e disse: . seu fiel empregado. Tudo não passou de uma conspiração. pensando-se numa armadilha. No meio da festa. daqui não posso subir mais. para depois degustar o doce.“Eu tinha uma vida invejável. acabou com as quatro patas em cima do doce. numa tarde. pensativo. colocando uma pata exatamente em cima do maravilhoso doce. uma coisa me intriga: quando você caiu em desgraça. de 5 metros por 3 de largura. era rico e famoso. naquela cela.“Por outro lado. por favor. cheguei ao topo. de um pequeno buraco da parede da cela surgiu uma gigantesca ratazana. prepare minha casa e peça a eles que aguardem minhas notícias”. que se pôs humildemente de joelhos: . e peço-lhe que imediatamente volte às suas funções palacianas. um grande amigo do vizir. que assustada correu em linha reta. O Vizir ficou um bom tempo calado. Aquele néctar merecia ser esperado. urinou em cima do doce.“Mas meu amigo Vizir. se preparava para comer o doce. colocou-o no meio da cela com o doce. Por fim pediu que chamassem Omar. Assustada. Peço-lhe perdão. colocando numa enorme mesa. parecia tê-la previsto. aceitou o pedido. e todos foram já punidos. não se perdeu naquele mundo de águas e ainda permaneceu boiando na minha frente. eu pensei”: “Não é possível. paralisado. com a ratazana estragando tudo. que era muito paciente. brilhando como espelho de tão cobiçado doce. Quando fui às termas.“Meu querido Vizir. com um rosto perturbado que encheu o ambiente. e acreditar naquela corja de invejosos e ciumentos. e quando foi cair em graça novamente. e presa . sob o olhar do Vizir. Decidiu esperar a ração horrorosa que todo dia comia. Ele então pegou um pedaço de lenço que guardava para ocasiões especiais. aquele pesado anel. quando meu maior desejo ia ser concretizado e aconteceu aquele desastre. Por favor!” O Vizir. após a ração. de muitos anos. privado de tudo. providencie que minha mulher e meus filhos retornem do reino vizinho. Não tive dúvida que algo mudaria em minha vida para melhor”. Quando então. Morrendo de medo. como fui injusto ! Como pude desconsiderar tantos anos de lealdade. e pressenti algo” . querendo sair. chamou-o num canto: . e gostava do Rei. e passados sete dias na cela. após refletir um pouco. Houve uma grande festa para comemorar o evento. Assim. . o vizir soube se antecipar e preparar para os acontecimentos. Conto do Folclore Árabe traduzido por Gislaine Mattos. por saber interpretar e Ter sensibilidade para sentir o que a vida lhe trazia. devemos querer o que existe e não preferir a persistê ncia da tristeza no lugar da persistência da alegria. nem perdas nem coisas inalcançáveis” . Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Indicações para Combater A Tristeza E Manter A Altivez Da alma em Toda A Sua Virtude “Aquele que deseja as coisas que são passageiras pode ser considerado um homem infeliz. perderá objetos amados e se-lhe escapará aquilo que busca. onde não há carências nem desgraças.” “Visto que a alegria e a tristeza não podem coexistir no mesmo instante na alma. a este jamais desaparecerá a tristeza porque.” “Aspirar a felicidade e nos guardar de sermos desgraçados é possível se fazemos com que nossa vontade e aquilo que desejamos estejam além daquilo que nos chega pelo mundo sensível. ao passo que aquele cuja vontade se cumpre é um homem feliz.” “A quem se entristece com a perda das coisas que se perdem assim como com a necessidade das coisas que se necessita.A Arte Da Consolação (Al-Kindi) Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª.” “E nessa senda devemos conduzir nossa alma aos costumes excelentes e acostumá-la a isso até que forjemos um caráter que torne a vida agradável durante o tempo de nossa existência.” “Se não existe o que queremos. mutante e instável e também. devemos ao menos ter cuidado em reduzir o tempo em que ela dura em nós. se não nos entristecemos com aquilo que nos escapa do mundo sensível. devemos fazer com que nossas almas estejam satisfeitas em todas as circunstâncias mediante uma condução correta que proporcionamos a ela. em todas as situações da vida.” “Se realmente houvesse um motivo para nos entristecermos este deveria ser o da separação de nosso verdadeiro lugar e de nossa verdadeira pátria.” “Como não podemos nos manter totalmente isentos de estarmos tristes e como faz parte da natureza tropeçarmos na tristeza. Foi então que compreenderam a razão pela qual seu pai usara aquele expediente para discipliná-los. os filhos do lavrador pensaram novamente na remota possibilidade de que o ouro talvez lhes tivesse passado despercebido. Transcorridos alguns anos eles acostumaram-se a semear e colher. Finalmente se deram conta de que possuíam riqueza suficiente para não precisarem se interessar pelo tesouro escondido. que escavaram de ponta a ponta. o pai distribuíra seu ouro em vida. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Havia uma vez um lavrador generoso e muito trabalhador que tinha vários filhos. e se converteram em lavradores honestos e contentes com sua condição. Assim que o lavrador morreu. seus filhos correram para o campo. Não encontraram o que buscavam. A presente versão é atribuída ao sufi Hasan de Basra. que cresceu e deu abundante safra. poderiam plantar ali algum cereal. Extraído de ‘Histórias dos Dervixes’ Idries Shah . Dá-se o mesmo com o ensinamento acerca da maneira de entender o destino humano e o significado da vida. Assim plantaram trigo. com ânsia e desespero crescentes ao não encontrar o ouro no trecho indicado. O professor. Isto talvez seja devido a ser prefaciada assim: “Aqueles que a repetem obterão mais do que sabem”. que viveu há quase doze séculos. de maneira inusitada. todos preguiçosos e cheios de cobiça. pensaram que. deve encaminhá-los para uma atividade que ele sabe ser instrutiva e benéfica para eles. o velho lavrador lhes disse que encontrariam seu tesouro se viessem a cavar num lugar determinado. ao defrontar-se com a impaciência. desistiram da busca. mas cuja verdadeira função e objetivo com frequência lhes permanecem ocultos devido a sua própria inexperiência. que viveu no século XVII. Ela foi publicada pelo frade Roger Bacon (que citava a filosofia sufi e a ensinou em Oxford. A Parábola dos Filhos Cobiçosos Esta história que enfatiza a afirmação de que uma pessoa pode desenvolver certas faculdades a despeito de seu esforço para desenvolver outras é. de onde foi afastado por ordem do Papa). Em seu leito de morte. algo que não tinham aprendido antes. E foram cavar de novo em suas terras. já que a terra fora revolvida. mas sem resultado. a confusão e ansiedade dos estudantes. Eles venderam o produto da colheita e tiveram um ano de prosperidade.A Parábola dos Filhos Cobiçosos Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. e pelo químico Boerhaave. Concluída a colheita. seguindo o curso das estações. Imaginando então que por ser muito generoso. muito conhecida. Por fim. Talvez haja algum ninho de abelhas no interior da árvore.Estou com certa pressa – retrucou Dinar. parem e tirem de meu flanco a causa desse incômodo. . quando se encontrou com um dervixe que caminhava com certo esforço pela estrada empoeirada. – Voltemos lá depressa. de quem é dito também achar-se na parte mais profunda de meu ser – disse para si mesmo. segundo dizem.Quando estávamos perto da árvore julguei ter sentido cheiro de mel. a fim de que eu possa repousar”. . – O Mestre Oculto.Como queira – disse o dervixe. e seguirei com você – disse o dervixe.Eu sou El-Malik El-Fatih. assim poderemos recolher o mel. Saíra de sua casa levando como alimento apenas algumas tâmaras. Malik Dinar achou que chegara o momento de viajar em busca de conhecimento. reside no próprio ser do homem. e inicio a viagem em busca do Mestre Oculto. . Algumas milhas adiante.A Iniciação de Malik Dinar Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª.Posso ajudá-lo e pode você ajudar-me? – perguntou Fatih. . no estilo meio irritante próprio dos dervixes. .Esta árvore está dizendo: “Alguma coisa me incomoda. o dervixe disse: . como pode uma árvore falar? – E seguiram seu caminho. deve ser isso – disse Dinar.Quem é você e para onde se dirige? .Irei à procura do Mestre Oculto.Sim. para nos alimentarmos com uma parte dele e vender a outra para nos mantermos durante a viagem. E isto é algo que só é transmitido parcialmente por um companheiro. . – E além disso. chegaram ao pé de uma árvore que estava balançando e se inclinando. Pouco tempo depois.Poderá ajudar-me a encontrar meu mestre? – indagou Dinar. A maneira de encontrá-lo depende do uso que se faça da experiência. . Finalmente o dervixe perguntou: . O dervixe parou e disse após alguns instantes: .Eu sou Dinar. . Malik se pôs a caminhar junto a ele em silêncio. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Depois de muitos anos de estudo sobre temas filosóficos. Todos os dervixes se parecem muito – disse Fatih. pois eu. Sim. Amanhã voltaremos lá. – Seguíamos pela estrada quando um velho e frágil dervixe nos disse: “Cavem neste lugar e encontrarão aquilo que para uns é simples rocha e para outros. irmão – disse Dinar -. . ó dervixe. Pouco tempo depois alcançaram o sopé de uma montanha.Debaixo de nós há milhões de formigas. Ajudem-nos a tirá-las do caminho! – Devemos parar e ajudá-las. . Este zumbido é um pedido coletivo de ajuda. embora digam que todas as coisas se acham relacionadas..Fazem parte de um tesouro escondido que acabamos de desenterrar – explicaram aquelas pessoas. Fizeram uma parada ao anoitecer.Devo tê-lo deixado cair perto daquele formigueiro. O dervixe encostou o ouvido no solo. Estamos escavando. Na manhã seguinte. mas esbarramos em pedras estranhas que impedem nosso avanço. Então disse: .Quando se acercaram novamente da árvore. .” Dinar lamentou sua má sorte. Nós. Em troca.Se tivéssemos parado um pouco aqui ontem. e isto poderia ter uma certa conotação conosco. . pobres peregrinos. recolhendo uma grande quantidade de mel. construindo uma colônia. ajudem-nos. e aí Dinar deu por falta de ser canivete. . ouro. cobertas de barro. de minha parte. ao chegarem novamente ao lugar do formigueiro.Forasteiro. irmão – falou o dervixe -.Formigas e rochas não são assunto nosso. não encontraram nem sinal do canivete de Dinar. o dervixe que o acompanha se parece bastante com o que vimos ontem à noite – disseram os que haviam achado o tesouro.Que sorte a nossa! – diziam aqueles homens. e assim foi que seguiram adiante. você e eu estaríamos ricos agora. nosso futuro está garantido. Dinar não prestou a devida atenção ao que o velho murmurava.Está bem. Dinar e Fatih seguiram seu caminho. ou prefere seguir em frente? – indagou o mestre dervixe. . E retomaram seu caminho. poderemos agora converter-nos em mercadores. . viram um grupo de pessoas. estou à procura de meu mestre. . – Aqui há mel suficiente para alimentar todo um povoado. onde ouviram um zumbido. E observou: . viram que outros viajantes já tinham se antecipado. descansando junto a uma pilha de moedas de ouro. Na linguagem das formigas. quer dizer: – Ajudem-nos. viu seu mestre afastando-se pela rua. Na manhã seguinte estavam tomando chá quando apareceu o barqueiro. tenham piedade! Nesse instante a balsa chegou. Hoje. com um pequeno grupo de viajantes que discutiam sobre os riscos da longa jornada que os esperava. Os peregrinos lhe haviam trazido sorte. viu um peixe que parecia muito aflito. Segurem-me e me dêem certa erva para comer. sempre impaciente para seguir viagem. Eu sou aquele que se acha a serviço do Mestre Oculto. na margem oposta.Este peixe nos envia uma mensagem – disse o dervixe. e enquanto esperavam sentados a chegada de uma balsa. formigueiros e peixes! Mal dissera tais palavras sentiu como se um forte vento lhe sacudisse o íntimo. Este vomitou uma pedrinha e voltou à água. irmão. . O barqueiro mostrou-se agradecido pela moeda que deram. Isto é que é o verdadeiro companheirismo? Antes. Já se dispunha a voltar para casa quando vira o dervixe e seu companheiro sentados na margem do rio. e Dinar. Caminhantes. cujo nome significa Rei Vitorioso. Assim poderei vomitar a pedra e me sentir aliviado.Você bem o merece. mas sem você jamais teria conhecido as possibilidades ocultas em troncos de árvores. a tal pedra era um grande e perfeito diamante de incalculável valor e brilho. – Estava a par dos três tesouros graças a alguma percepção oculta. isto é. O barqueiro agora era um homem rico.Dinar e Fatih prosseguiram viagem.Agora. e no entanto nada me revelou nas três ocasiões apropriadas. para receber sua benção. a benção pela ajuda prestada a um viajante. O dervixe parou. a fim de obter a “baraka”. a minha má sorte era muita. o nome de Malik Dinar figura entre os principais dervixes. empurrou o dervixe para dentro da embarcação. tocou suavemente o ombro de Dinar. Pois bem. a noite passada fora muito afortunada. Mais tarde. Beijou as mãos do venerável dervixe. O dervixe. sempre perto dos dois viajantes. . numa casa de chá para viajantes que fora construída por alguma alma caridosa. sorriu e disse: . . Quando Dinar se atreveu a erguer a vista. meu filho – disse Fatih. Estava junto à margem do rio e tentava engolir algo. ainda que eles parecessem pobres. descobrirá que pode aprender com a experiência. um peixe pulou fora d’água várias vezes. de retorno à outra margem. . furioso. Segundo ele.Você é um velho demônio! – gritou Dinar. ao dervixe Fatih. Então compreendeu que acabara de dizer o reverso da verdade. – Ele diz: – Engoli uma pedra que me sufoca. Aí o barqueiro pôs uma erva com cuidado na boca do peixe. o Homem que Chegou. Aí resolveu fazer mais uma viagem. Explicou aos dois homens o que realmente lhe acontecera. chegando alguns dias depois às margens de um belo rio. e Fatih e Dinar dormiram bem naquela noite. companheiro e modelo. Malik Dinar foi um dos primeiros mestres clássicos. O Rei Vitorioso desta história é uma encarnação das “funções superiores da mente” as que Rumi denominava “O Espírito Humano”. A presente versão é creditada ao Emir el-Arifin. Extraído de ‘Histórias dos Dervixes’ Idries Shah Nova Fronteira 1976 . que o homem deve cultivar antes que possa operar de uma maneira iluminada. cada qual uma metade da maçã. Mas de qualquer forma. dizendo que à noite. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Há muito tempo. Dias depois. O mesmo aconteceu com uma terceira e uma quarta parteira. chegaram até uma fonte. Temo que minha sucessão coloque o reino em perigo. onde pararam para descansar. chamou um dia seu vizir e disse-lhe: . que tão logo colocou sua cabeça para fora. Este rei não tinha descendente. pegou a maçã e fizeram o caminho de volta. e deu para o rei uma maçã. tenho uma idéia: proponho que saiamos disfarçados. enchendo o castelo e todo reino de imensa alegria. viveu um rei respeitado pelos seus inimigos e amado pelo seu povo. Fez-lhes uma profunda reverência. e procuremos alguém que. até que chegaram em uma casa onde a mulher que os atendeu tinha uma enteada a quem odiava e lhes disse: .A História da Serpente Negra Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. e com isso me trono e minha coroa cairão em mãos estranhas.Deus salve o rei! O rei recebeu surpreso a saudação do dervixe: . dando a outra metade à sua esposa. estou ficando velho e não tive a graça de ter filhos. . Foi chamada uma parteira. mas também foi morta pela serpente. saberás também a que viemos? O dervixe disse que sim. o rei fez como disse o velho dervixe: antes de deitarem. percebeu-se que a rainha estava grávida. Depois de muitas horas de caminhada. dizendo: . eu tenho um filha que é mestra em trazer crianças ao mundo.Meus filhos. possa nos ajudar. Então viram que ali chegava também um dervixe de longas barbas brancas. e seus anos de juventude já estavam distantes.Meu rei – disse o vizir – queira Deus que seus dias ainda sejam muitos. .Como sabes quem somos. por força de sua magia ou de sua fé. Por isto. e no dia seguinte. e logo ninguém mais atendeu ao chamado para ser parteira no castelo. À noite. ele deveria comer a metade. rei e rainha comeram. O rei agradeceu. Os guardas andavam de porta em porta pelo reino procurando uma parteira. de aspecto venerável e vestindo um manto branco. aproveitando-se da solidão do amanhecer. a rainha sentiu as dores do parto. Minha morte se aproxima. e quando a rainha ia dar à luz… viu-se que se tratava de uma serpente negra. Uma outra parteira foi chamada.Vizir. mordeu a parteira e esta morreu. Nove meses e dez dias após aquela noite. O rei gostou da sugestão do seu conselheiro. saíram os dois disfarçados para uma caminhada de destino incerto. A garota fez como lhe disse a voz: colocou leite em uma caixa. e quando foi atender a rainha colocou a caixa diante de si. e assim foi. exceto seus pais. Quando a garota chegou no castelo. levou ao rei para que ele conhecesse seu filho. Quando a serpente pular em ti. Tudo aconteceu muito rápido.Minha filha. deu as moedas para sua madastra. o príncipe crescia trancado num quarto no alto de uma torre. eu eu não se o que fazer. fecha a tampa e leva a caixa ao rei. Então. e ele mandou novamente guardas até a casa daquela garota para que a trouxessem. Esta proposta agradou ao rei.Mãezinha. minha madrasta me manda para a morte. passou novamente pelo cemitério onde estava enterrada sua mãe. e fiz nascer a serpente. O rei ficou muito surpreso. Mas logo nos primeiros dias. O rei mandou trazer outro. e este morreu. A serpente saiu para dentro da caixa e a garota fechou a tampa. diante de alguma contrariedade. Agora procuram um professor.Os guardas pediram então que permitisse que a garota fosse levada ao castelo. passaram pelo cemitério. No castelo. O rei fazia trazer outra e assim passavam-se os anos. mas foi como lhe disse a voz. quando chegares no castelo. De tempos em tempos. Quando o príncipe-serpente completou cinco anos. e assim mais outro e outro mais… Até que não se encontrasse no reino alguém disposto a dar aulas para o príncipe. uma escrava era mordida e morria. mordeu o professor. e ela rezou: . Ele deve me trazer um professor. e finca com a quadragésima primeira. mãezinha. Quando estava sendo trazida ao castelo. Então o vizir sugeriu ao rei que mandasse buscar a parteira do príncipe para que ela lhe desse aulas.Minha filha. . Agora.Mãezinha. voltando para casa. e quando a serpente sair.Diga ao meu pai que eu quero estudar e aprender. Ficava aos cuidados de escravas. Lá colheu as hastes de roseira e foi até o quarto onde estava o príncipe. mãezinha. Providenciou que trouxessem um professor e o príncipe começou a ter aulas. ela deixou o castelo e. O rei ficou satisfeito com o pedido. põe leite numa caixa. A rainha tem uma serpente negra em seu ventre. vieram me buscar. corria risco de vida. e disse: . porque quem quer que estivesse com ele. disse que precisava ir até o jardim. pois todos os outros a serpente mordeu e matou. Coloca a caixa diante de ti. Depois. eu fiz como tu disseste. onde estava enterrada sua mãe verdadeira. bate nela com as quarenta hastes. me ajuda mãezinha! Ela escutou uma voz que dizia: . Agradeceu e recompensou a jovem com muitas moedas. e o mesmo aconteceu. disse para a escrava que então tomava conta dele: . Tirou-o da caixa e abriu o . Pelo caminho. não tema – disse-lhe a voz – corta quarenta e uma hastes de roseira. o príncipe precipitou-se contra a garota e ela defendeu-se com as hastes de roseira. Veste a pele de quarenta porcos. após um mês de ausência do filho. tal como dissera a voz. O rei concordou. passaram-se os dias e os meses. Mas logo na primeira noite em que os noivos ficaram juntos. Mas um dia. querem que eu seja sua esposa. A garota fez como disse a voz. Novamente a moça foi trazida ao castelo. culminando com o desencantamento.Pai. Entretanto. e joguem-na fora”. Eram indescritíveis a emoção e a alegria de todos. Assim. os pais do príncipe foram até o quarto dos noivos e ficaram maravilhados com o acontecido. despediu-se da sua esposa. o rei concordou com o pedido. e para surpresa e agrado do rei. O príncipe e sua esposa (a jovem que agora era princesa). não tema. E quando passava pelo cemitério onde estava enterrada sua mãe. o príncipe foi até seu pai e lhe disse: . E o mesmo aconteceu com outra e mais outra… Até que o rei foi aconselhado a casar o filho com aquela que havia sido sua professora. eu quero viajar para o estrangeiro. a serpente pulou na garota tentando mordê-la.Mãezinha. Quando os noivos foram para o seu quarto. . mas seus dentes não conseguiram atravessar as peles. onde se lia: “Qu ero que cortem mãos e pés da minha esposa. joga-a no fogo. Quando ele tirar sua roupa. Tanto o rei como a rainha eram imensamente gratos à moça que. ela jogou a roupa de príncipe no fogo que ardia na lareira do quarto. este não era o sentimento de outros dentro do castelo: algumas escravas sobreviventes dos tempos dos príncipe-serpente. e logo todo o reino participava desta felicidade. e a serpente não te atingirá. E assim. Eu não sei o que fazer. O príncipe-serpente acalmou-se e a aula pode continuar. desde o nascimento. ela disse: . Depois de muitas aulas. Então o príncipe disse para que ela tirasse suas roupas. Novamente foi recompensada com muitas moedas.Corão para começarem o estudo. tratavam-na melhor que a uma filha verdadeira. Quando ele pedir que tu tires a roupa. voltou para sua casa e entregou tudo à sua madastra. beijando-a nos olhos.Minha filha. e procurou uma princesa para casar o filho. tanto ajudara seu filho. tal como tu o disseste. Então ela viu que diante de si estava um jovem. Ela falou para que ele primeiro tirasse a sua. Após alguns momentos. belo como a Lua no décimo quarto dia. e os noivos abraçaram-se. Mas agora. e depois podes deitar com ele sem medo. a garota já não tinha mais nada a ensinar-lhe. as escravas escreveram uma outra carta. Quando ele o fez. Ao sair. e o rapaz arrumou tudo para a sua partida. sem muita festa ou alarde. Os anos passavam e quando o príncipe tinha dezesseis anos. o príncipe aprendia. viveram muito tempo juntos. foi até seu pai e disse: . O casamento foi feito. pede que ele tire a sua primeiro. volto em dois meses. .Pai. tinham inveja da sorte da jovem tornada princesa. mãezinha. eu quero me casar! Mal ou bem. a serpente mordeu a moça e ela morreu. recebeu uma carta sua. eu dei aulas e ensinei a serpente. Se Deus quiser. e o casamento foi realizado. Na manhã seguinte. Quando a rainha. A escrava levou-a para o palácio.Oh. O rapaz levantou-se. vai matar-te. A rainha emocionada disse para sua filha.Dali. Ela estava cansada e triste. estava deitado um jovem. quando ele voltou. Quando chegou o tempo do nascimento do filho que a princesa trazia em seu ventre. mostrando todo seu ódio. A pomba veio. sobre a qual estou. sendo cuidado pela sua irmã mais velha. Ali ela foi instalada. como chegaste até aqui sem medo? Saiba que logo virá uma pomba. deve secar! – e a árvore começou a secar e suas folhas a caírem. Exatamente à meia-noite. e todos sentiam muitas saudades. e certamente é dele que está grávida. ele disse que deveria voltar antes que o pássaro percebesse a sua ausência. então eu virei e darei um nome para a criança. deita neste caixão e te esconde. pois ainda era muito cedo e as estrelas ainda brilhavam. e a rainha sempre dizendo ao seu filho que não fosse. a quem deves dizer: “Por Bachtijar. Bem perto dela. . esta jovem conhece meu filho Bachtijar. Vem. cheia de horror. o rapaz lhe disse para seguir pelo caminho até uma fonte. O rapaz tinha sido levado do castelo quando ainda era menino. E deste encontro. à janela. Mas o jovem deitou-se junto. gritou: . a luz do dia chegou e com ela.A árvore. e assim passavam os dias. mostrou-a para a princesa. num dos caixões. juntou alguns poucos pertences e partiu. nasceu um lindíssimo menino. vestiu um roupa simples. e se ela te vê. Do palácio. A jovem foi levada até a rainha. pois vou dar a luz”. e perguntou pelo seu Havbetjar. Quando a pomba se foi. a princesa chegou a um lugar onde estavam alguns caixões. Depois de algum tempo de andança. sugerindo que a princesa fugisse. e logo começou com os trabalhos de parto. ele dividiu seu alimento com ela. pois era cedo. mas a mãe fê-lo ficar. As horas foram passando. Traga-a imediatamente. leva-me para casa. garota. Ele voltou na noite seguinte. sairá uma jovem. foi até a fonte.Ei. o pássaro. Bachtijar. A princesa então falou conforme o rapaz mandara. A moça contou para a rainha e sua cunhada que Bachtijar estava vindo ver seu filho. a princesa ficou grávida.Ei. foi até a rainha e contou o que havia acontecido. A princesa levantou-se. até que rebentou. Ela vai amparar-te. que a levou para o quarto do seu filho Bachtijar – que estava vazio. veio uma jovem escrava com um grande jarro nas mãos. trouxe comida ao rapaz que dormia no caixão. sentou-se em uma pedra e aguardou.A rainha leu a carta e. A princesa respondeu que ele estava no berço. Na noite seguinte. E o pássaro continuou: . Depois de se abraçarem. De um galho. irmã mais velha do rapaz: . e se foi. foi até ela e disse: . E assim continuou a pomba a falar. Assim. veio o rapaz e disse que seu filho deveria se chamar Havbetjar. A jovem foi para o seu quarto. . que caia a parede a qual toquei! Mal disse estas palavras e a parede caiu com grande estrondo. em frente da qual havia um palácio. Disse que não conseguiria fazer cumprir a ordem de seu filho. Poucas horas depois. sua mãe e sua irmã o esperavam no quarto. Bachtijar disse: .Deus os abençoe! – e saiu da sala. Bachtijar percebeu de quem se tratava a moça que aquele jovem buscava. Viram que se tratava de alguma maldade e ele saiu desesperado a procurar pela sua esposa. que durou quarenta dias e quarenta noites. Türkische Märchen. que tanto sentiam a falta daquela que salvou seu filho do terrível destino de serpente. foi ao quarto onde estava a jovem e disse-lhe: . Quando o príncipe contou sua história. Eugen Diederichs Verlag. E a mesma alegria que reinou durante os dias e noites de festa. Ali. foi direto até ele. bem próximos um do outro. um jovem estrangeiro entrou e sentou-se perto de Bachtijar. e te quer de volta. e ele vem à tua procura. do começo até o final. Bello . Era o príncipe que havia nascido serpente: quando voltou da sua viagem. Renovaram suas bodas com grande festa. Bachtijar voltou e sentou-se. Trouxeram muita alegria ao rei e à rainha. Passados alguns dias. ficarei com o nosso filho. pois não havia permitido que suas ordens fossem cumpridas. e ele começou a perguntar por ela. se quiseres ir. ela havia ido embora. acaba de chegar teu primeiro marido. Sua mãe disse-lhe que por causa da sua carta. parou. Diz que a carta que recebeste era uma fraude. Enquanto comiam. 1925 Traduzido do Alemão por Sergio C. Depois de algum tempo de espera. Tu deves refletir. Foi até ele e convidou-o para ir até sua casa. Agora estavam ali.. O príncipe não entendeu nada. Depois. pois sua carta verdadeira não trazia senão saudações e manifestações de carinho. Na manhã seguinte. a jovem veio até a porta. Mas te aviso que. contou Bachtijar a sua história. foi logo perguntando pela sua esposa. Bachtijar foi até a casa de chá da cidade. e a rainha disse que agora deveriam tratar do casamento do seu filho com a jovem que tanta felicidade havia trazido àquela casa.Minha princesa. na direção das montanhas. Jena.Graças a Deus!! – disse o rapaz – O pássaro morreu e eu agora estou salvo. Todos se abraçaram. Deixaram a casa de chá e foram para o palácio. acompanhou-os por toda a sua vida. Quando olhou nos olhos do príncipe serpente. os dois voltaram para sua casa. Justo neste momento. e depois ir até aquele com o qual queres ficar. Eis aí em que termos falava dos sufis este ignorante. nós todos aqui sabemos que os sufis são os eleitos entre os homens.Eu tinha sido convidado a falar para uma assembléia composta de letrados e de ignorantes. um assassino e um inimigo do gênero humano. este cabeça-dura do governador de Koufa. e o que se tornará a folha sobre a qual se entorna toda a água do poço?” Comecei por dizer: . . Eu disse à aqueles que eu havia trazido comigo para mostrar-lhes os limites do efeito que se pode ter sobre os inaptos: “O orvalho não enche o poço. . Eles preservam ensinamentos secretos que recusam dividir com o homem comum. As fogueiras de hoje são as cinzas de amanhã. Quem dentre vocês se diria ser um sufi? A estas palavras.As Fogueiras De Hoje Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. Por isso não é de se espantar que ele tenha acreditado ser uma boa coisa manchar os sufis com cores tão pouco agradáveis. Todos pareciam atentos e interessados. Ora. do qual todos vocês já ouviram tanto falar. É pelo exercício de poderes ilícitos que um grande número deles veio a ocupar dentro da sociedade uma eminente posição. Eu prossegui: . vocês querem ser sufis? Quase todos meus ouvintes fizeram não com a cabeça. que é uma das manifestações do “eu dominante” (nafs i ammara). Havia um grande número de pessoas. não vi entre eles nenhum “ser humano”. Agora digam-me. ele é um farsante.É assim que a auto-suficiência (ab o tab) nasce da vaidade (ghurur).Os sufis são a vergonha da humanidade. mas quando eu olhei e senti. este idiota. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Conta-se que Bahaudin Naqshband fez este récito: . Como vocês não ignoram. todos se levantaram. Quando regressou a Ghazna.Traga-o novamente dentro de um ano. sabendo que sois o mentor do conhecimento desta época. Quando levou o jovem novamente à corte. Qasr-i-Arifin e Taqshqand. . Rogo que o examinem. Quando regressou à corte. seja treinado nas técnicas dos sufis. Durante os doze meses seguintes. Haidar Ali cruzou o Oxus e visitou Bokhara e Samarkanda. selecione um mestre e. Um pouco desiludido. viva um homem jovem chamado Haidar Ali Jan. mas com grandes esperanças. Haidar Ali fez esse ano a peregrinação a Meca.A História De Hiravi Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. . Mahmud lhe disse: . quando soube os récitos e as posturas físicas das escolas sufis. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Nos tempos do Rei Mahmud.Pode ser que queira regressar dentro de mais um ano.Deixe que regresse depois de outro ano – disse Mahmud imediatamente.Poderoso Mahmud – disse Iskandar – tenho feito com que este jovem. meu filho mais velho e mais inteligente. ao mesmo tempo. Iskandar mandou Ali estudar os trabalhos dos grandes sufis do passado e visitar os templos dos antigos mestres de Bagdad. decidiu conseguir-lhe a proteção do imperador e o mandou estudar temas espirituais com os maiores sábios de seu tempo. se ele te aceitar. . Seu pai. Dushande e as tumbas dos santos sufis do Turquistão. e na Pérsia consultou livros raros e nunca perdeu a oportunidade de encontrar e estar com os grandes dervixes da época. para que possa obter uma posição digna em vossa corte. Simplesmente disse: . para que o tempo que havia a transcorrer não fosse desperdiçado. meu filho tem levado a cabo grande e difíceis viagens e.Pavão Real desta época. Quando Haidar Ali dominou as repetições e os exercícios. Mahmud não se deteve em averiguações. o Conquistador de Ghazna.Agora. foi levado por seu pai à presença do imperador. disse: . Iskandar Khan. regresse dentro de um ano. para que se demonstre que poderia ser um adorno na corte de vossa majestade. tem agregado a seus conhecimentos uma familiaridade completa com os clássicos. Mahmud de Ghazna o olhou e disse: . Viajou à Índia. Esta é a história dos estudos de Hiravi. No caminho até a fazenda. Haidar Khan não mostrou nenhum interesse em ir. Ao entrar o Imperador e seu cortejo em Herat. As vacas eram o principal meio de vida das pessoas de Colinas Arenosas.Preparem-se para fazer uma visita a Herat. e abandonou a empresa. mas que agora é alguém a quem os reis visitam. . mas estou certo de que Shakir ficará encantado de lhe brindar com sua hospitalidade esta noite. O dervishe perguntou educadamente a alguém que passava se havia algum lugar onde poderia encontrar comida e abrigo para aquela noite. se apresentaram no santuário. Mahmud – disse o Sheik sufi – o homem que não era nada enquanto visitava os reis. Haidar Ali Jan. Levou-o à porta da tekkia e ali esperaram.Quando terminou esse ano e Iskandar Khan estava se preparando par levar seu filho à corte. o Sábio de Herat. Não havia muito verde. O povoado se chamava Colinas Arenosas e era quente e seco. o dervishe parou perto de um pequeno grupo de anciões que estavam fumando cachimbo e eles confirmaram a direção. . e nada do que disse seu pai o fez mover-se dali. o mestre de Haidar Ali o tomou pelas mãos. chegou por fim à civilização.Aqui está.Tenho desperdiçado meu tempo e meu dinheiro e este jovem tem falhado nas provas impostas pelo Rei Mahmud – se lamentava o pai. . Isto Também Passará Um dervishe. exceto feno para o gado e alguns arbustos. Então o homem indicou o caminho da fazenda de propriedade de Shakir. tirando os sapatos. disse o homem coçando a cabeça – não temos um lugar assim no povoado.E isso é maior do que a riqueza de Haddad. o dia em que o jovem teria que se apresentar chegou e passou. Entretanto. então Mahmud disse a seus cortesãos: . Um dos homens disse que Shakir era dono de mais de mil vacas. ao som de trombetas. Por lá tem alguém a quem tenho que ver. que vive no povoado ao lado.Bem. Toma-o como teu conselheiro sufi. depois de uma árdua e longa viagem através do deserto. pois está pronto. . . Eles disseram que Shakir era o homem mais rico da região. Simplesmente ficou sentado aos pés de seu mestre em Herat. cujo nome significa “o que agradece constantemente ao Senhor”. Pouco depois Mahmud e seu cortesão Ayaz. Um dia. No momento da despedida o dervishe havia dito: .O que lhe aconteceu? – quis saber o dervishe. concentrado nas ordens do seu coração. Entretanto. Shakir. As palavras de Shakir ocuparam seus pensamentos e ele não estava seguro de ter compreendido completamente o seu significado. como requeria o costume Sufi. fechou a porta dos seus pensamentos e submergiu sua alma em um estado de profunda meditação. Além de tudo. Inclusive. Agora trabalha para Haddad – respondeu um homem do povoado. . valia a pena considerá-la. para aprender mais. E assim se passaram mais cinco anos. o dervishe foi bem recebido por Shakir. Para tanto. compreenderia. lhe deram uma grande quantidade de comida e água para sua viagem. insistiu para que o dervishe ficasse por alguns dias em sua casa. e portanto. o dervishe não conseguia parar de se perguntar o significado das últimas palavras de Shakir. o dervishe havia compreendido que qualquer coisa que ouvisse ou visse durante sua viagem lhe oferecia uma lição para aprender. viajando por diferentes terras.Dervishe – havia respondido Shakir – não se engane pelas aparências. . a dez milhas daqui. recordou do ensinamento Sufi sobre guardar silencio e não se precipitar em tirar conclusões para finalmente alcançar a resposta. Durante o tempo em que havia passado no caminho Sufi. O dervishe lembrou surpreendido que Haddad era o outro homem rico da região. o dervishe voltou a Colinas Arenosas. Quando estava sentado sob a sombra de um arbusto para rezar e meditar. . A mulher e as filhas de Shakir eram igualmente amáveis e deram o melhor para o dervishe. que era uma pessoa muito hospitaleira e amável. se apressou para ir ao povoado vizinho. Contente com a idéia de voltar a ver Shakir outra vez. permanecia em silêncio. Quando chegasse o momento. Cada nova aventura oferecia uma lição a ser aprendida. o mesmo povoado onde havia passado alguns anos antes. essa era a razão pela qual havia feito a viagem. conhecendo pessoas novas e aprendendo com suas experiências no caminho. Na maravilhosa casa de Haddad. .Dê Graças a Deus pela riqueza que tens. ao final de sua estadia.Está vivendo no povoado ao lado. porque isto também passará. já que havia sido ensinado a permanecer em silêncio e sem fazer perguntas. Se lembrou de seu amigo Shakir e perguntou por ele. No seu caminho de volta para o deserto.Pouco tempo depois o dervishe estava parado em frente a casa de Shakir a admirando. que agora parecia muito mais velho e estava vestido em andrajos. quando o próprio Shakir havia pronunciado estas palavras.O que ele quer dizer com esta frase desta vez? O dervishe sabia agora que as últimas palavras de Shakir na sua visita anterior se anteciparam às mudanças que ocorrerem. O rosto sorridente do homem e seu espírito tranqüilo não abandonavam seu pensamento. Mas em vez de de encontrar seu amigo Shakir. Depois da peregrinação. O dervishe ficou ainda mais surpreendido do que das outras vezes. lhe mostraram uma humilde tumba com a inscrição “Isto também passará”. mais uma vez se pós em marcha para Colinas Arenosas. Quando estava terminando sua visita. uma antiga tradição entre seus companheiros.Shakir respondeu que uma enchente três anos antes o havia deixado sem vacas e sem casa. e o dervishe. . decidiu deixar sua fortuna para mim como recompensa dos meus leais serviços. como não tinha herdeiro. . Assim deixou a frase de lado outra vez. Ao voltar a sua terra natal.Isto também passará. o dervishe se preparou para a viagem mais importante de sua vida: cruzaria a Arábia Saudita para fazer sua peregrinação a pé até Meca. que estava ficando velho. Passaram meses e anos. Mas sei é que Deus tem um motivo para aquilo que faz. Entretanto. que sobreviveu à enchente e agora desfrutava da posição de homem mais rico da região. decidiu visitar Shakir mais uma vez para ver o que havia acontecido com ele. Na despedida. esta alteração na sorte não havia mudado o caráter amistoso e atencioso de Shakir e de sua família. A despedida de seu amigo não foi diferente das outras vezes. . Cuidaram amavelmente do dervishe na sua cabana durante os dois dias e lhe deram comida e água antes dele sair. suas viagens sempre o levavam de volta ao povoado onde vivia Shakir. continuou viajando sem nenhuma intenção de parar. preferindo esperar pela resposta.Mas não se esqueça. demorou sete anos para voltar a Colinas Arenosas e Shakir estava rico outra vez. Assim sendo.. Agora vivia na casa principal da propriedade de Haddad e não na pequena cabana. isto também passará. . A voz de Shakir ressoou como um eco nos ouvidos do dervishe. o dervishe disse: . Curiosamente.Sinto muito pelo que aconteceu com você e sua família. se perguntava o que poderia justificar um comentário tão otimista. assim ele e sua família se tornaram empregados de Haddad.Haddad morreu há dois anos – explicou Shakir – e. Assim. Shakir repetiu sua frase favorita: . Mas dessa vez. Pérsia. o dervishe viajou à Índia. que havia estado deprimido por vários dias. No anel que usava estavam escritas as palavras “Isto também passará”. Poucos dias mais tarde. como pode trocar um túmulo? A partir de então o dervishe adquiriu o costume de visitar a tumba de seu amigo de tantos anos e passava algumas horas meditando na morada de Shakir. levantou a cabeça em direção ao céu e então. sua fama chegou até o grade conselheiro do rei. O anel teria de ser especial: devia ter uma inscrição de tal forma que quando o rei se sentisse triste. Finalmente o dervishe ficou muito velho para viajar. arrasados por uma enchente. Entretanto. decidindo se fixar e viver tranqüilo e em paz pelo resto de sua vida. o dervishe enviou sua resposta. Vinha gente de todas as partes para beneficiar-se de sua sabedoria. um anel foi feito com uma esmeralda e foi entregue ao rei. ao olhar o anel se entristeceria.. Agora. O dervishe permaneceu durante horas nas ruínas do cemitério. pedindo ajuda e o convidando para ir ao palácio. que casualmente estava buscando alguém com grande sabedoria. Os melhores joalheiros foram contratados e muitos homens e mulheres se apresentaram para dar sugestões sobre o anel. O rei.Isto também passará. Finalmente.As riquezas vem e as riquezas se vão – pensou o dervishe – mas. olhasse o anel e ficaria contente e se estivesse feliz. como se houvesse descoberto um significado mais elevado. pouco depois. mas o rei não gostava de nenhuma. abaixou a caberá em sinal de confirmação e disse: . deu um suspiro de decepção. O fato era que o rei desejava que lhe fizessem um anel. o velho dervishe havia perdido o único vestígio deixado por um homem que havia marcado tão excepcionalmente as experiências de sua vida. Farid Ud Din Attar – Histórias da Terra dos Sufis . ria às gargalhadas. Sem abandonar sua casa. Os anos se passaram e o ancião se dedicava a ajudar a quem se acercava dele para os quais aconselhava e a compartilhar suas experiências com os jovens. Finalmente. mal o recebeu. olhando o chão fixamente. Então o conselheiro escreveu para o dervishe explicando a situação. botou o anel no dedo e olhando-o. Logo começou a sorrir e. em uma de suas visitas o cemitério e a tumba haviam desaparecido. até que eu tenha aprendido a falar com elegância e propriedade.Que será? – indagou o dervixe. uma série de fatos entremeados para exemplificar processos psicológicos. . em que estou agora quase imobilizado – respondeu o outro. . quer dizer. Por esse motivo tais contos tem sido denominados “A Arte dos Cientistas Dervixes”. a presente narrativa acerca dos Mevlevis e suas supostas façanhas foi escrita no século XIV. Editado na Inglaterra em 1965 sob o título de “Lendas dos Sufis”.O Gramático e o Dervixe Postado em 10 de agosto de 2010 · por Profª. Este conto foi relatado por Jalaludin Rumi e está registrado em “Feitos dos Adeptos” de Aflaki. – Sua gramática e pronúncia são incorretas. . Extraído de ‘Histórias dos Dervixes’ Idries Shah . quando do interior do mesmo brotou um chamado de socorro. caí neste poço profundo. olhando para o fundo do poço. Algumas dessas narrativas são meramente lendas sobre feitos fantasiosos. por desconhecer o caminho. amigo. e algumas pertencem ao estranho gênero conhecido pelos sufis como “histórias ilustrativas”. mas outras são históricas. . por favor! – exclamou o gramático. Vou buscar uma escada e corda – gritou o dervixe.Se isso é mais importante que o essencial será melhor que você permaneça onde está.Um momento. seria bom que as corrigisse. Rita Alonso (Analogias e Metáforas) · Numa noite escura um dervixe passava junto a um poço seco.Sou um gramático e infelizmente. .Aguenta firme aí.