202Cristiana Mendes Garcia Arquivo Público do Distrito Federal Construindo Brasília Senatus, Brasília, v.8, n.1, p.202-211, abr. 2010 203 “Já o pioneiro é influenciado pela atração da terra. personagens esses que tiveram influência definitiva nos fatos que geraram e tornaram realidade o “sonho da capital”: Juscelino Kubitschek. porque ele próprio se detém. vilas que se convertem em cidades. também aparecem com relevo na história da construção da Capital do País. 21 de abril de 1960. que por algum tempo foi efêmero.8. Planta e espera pela colheita. e cidades. mas também pelo notável feito no urbanismo e na arquitetura moderna brasileira. Não deixa sinal de sua passagem. costuma despertar especial interesse o período situado entre os anos de 1956 a 1960. É um símbolo que se projeta através de um ânimo de permanência. muito havia ainda por construir. que. 2010 A história de Brasília é comumente narrada em torno de alguns personagens de inquestionável mérito e prestígio. Continuam reverenciados pelo vigor de seu talento e pela importância de sua realização. Brasília. n. . abr.1. Juscelino Kubitschek Senatus. brotam valores duradouros: povoados que se transformam em vilas. que armam a estrutura de uma civilização”. o estadista cuja decisão desencadeou a saga da construção. a história da construção de Brasília não se encerra na data de sua inauguração. o “inventor” do traçado urbano inovador. Ademais. A jornada pode ser longa. e mais alguns poucos. Descobre e fica. pelo contrário. transferida a Capital. prolongando-se o enredo nos anos que seguiram. não só em termos nacionais. mas a parada – quando ocorre – é quase sempre mais longa ainda. Entretanto. p. Lucio Costa.202-211. que corresponde propriamente à ação considerada épica na história do País do século XX. o construtor cuja energia e dinamismo foi capaz de levar a cabo a obra de uma cidade. v. Israel Pinheiro. por sua atuação. Oscar Niemeyer. como os pioneiros Ernesto Silva e Bernardo Sayão. o criador das principais formas arquitetônicas. E do seu rastro. porque os presenciou ou deles fez parte. Brasília. Fez o curso primário e o ginasial. cujo tema foi um projeto para um Centro Recreativo Cultural. o modernismo fervilhava notadamente na área de arquitetura. ocupando altos cargos na área de Arquitetura e Urbanismo em Brasília. Conheceu minuciosamente os fatos da construção da Capital. 2010 . onde viveu a infância e a adolescência.204 Destaca-se. Seu nome completo: Nauro Jorge Esteves. Posteriormente. mudou-se para São Paulo. apenas em parte.8. escola federal altamente conceituada pela qualidade do ensino. A Senatus. v. o arquiteto Nauro Esteves que. com vistas à construção da Capital. ao lado de Oscar Niemeyer.1. Desenvolveu os projetos de arquitetura para a capital e precisou envolver-se também nos projetos de urbanismo. E cuja atuação se alongou após 1960. em função técnica. nesse contexto.. nasceu no dia 26 de agosto de 1923.202-211. ainda estudante. Voltou para o Rio de Janeiro com a intenção de cursar arquitetura e diplomouse em 1949. participou efetiva e intensamente do processo de construção da cidade desde o ano de 1956. coordenou. Pode-se inferir que tal conjuntura o tenha influenciado significativamente e. desde logo. Os inúmeros projetos de sua autoria registrados no CREA-DF desde 1962 até 1994 comprovam. coincidindo. com quem já trabalhava desde 1950. É de se considerar que durante os anos que Nauro passou na faculdade (1945-1949). onde estudou no Colégio de São Bento. Considerando a história da cidade. Esteves tomou parte na ação que se desenvolveu em torno de Oscar Niemeyer. construiu. pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil. portanto. Quando criada a NOVACAP. p. este no Colégio Pedro II. O objetivo era “estimular as aptidões vocacionais e ao mesmo tempo oferecer aos estudantes os conhecimentos profissionais indispensáveis ao melhor êxito no exercício da profissão” (BOM TRABALHO. Ainda em 1949 – cursava o último ano da Faculdade – o Instituto de Arquitetos do Brasil-IAB. em 1956. promoveu um concurso entre os estudantes. com o período decisivo para a definição do estilo modernista na arquitetura brasileira. decidiu. abr. na cidade do Rio de Janeiro. Projetou. posicionou-se dentro da avalanche modernista que acontecia no Brasil. dando continuidade ao trabalho e à história de Brasília.. em conjunto com o Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura.1949). A partir de 1961. ocupou. manteve-se na liderança. Filho de João de Castro Fernandes Esteves e Helena de Araújo Esteves. O projeto vencedor foi o de Nauro Esteves em co-autoria com Hilda de Araujo Maia. n.. Ele foi um pioneiro. a imensa atividade do arquiteto. um posto imediato a Niemeyer. com diversos nomes. É a passarela que une os dois prédios verticais paralelos. porque eu era o coordenador. Nauro Esteves transferiu-se para Brasília em 18 de agosto de 1958. Quando estava fazendo. a Catedral. ainda iniciando a vida profissional. Sabe como se chamava o edifício? Brasília”. conservando sempre o estilo da cidade. entre tantos outros). N. p. N. eu participei na hora que ele rabiscava. como também na área de urbanismo. 2004b). Nesse interim. de prédios públicos. Então os projetos sempre eram aprovados por mim. Este lhe reconheceu de imediato a capacidade. então expoentes do modernismo carioca na arquitetura. os Ministérios. Tudo. Marcelo Roberto e Oscar Niemeyer. também o Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal foram “feitos totalmente por nós e acabou – eles não acreditavam absolutamente naquilo” (ESTEVES. Projetou também. n. todos passaram na minha mão” (ESTEVES. Dedicou-se por inteiro aos projetos. Integrou o primeiro grupo de arquitetos que pensou no projeto de Brasília. Ele chegou e disse: ‘ó Nauro. Então. devido à altura dos prédios. até a forma com que foram edificados. Esteves revela: “Foram dez anos. às vezes a noite toda. Junto com toda a equipe de arquitetura. o escritório de Oscar Niemeyer mudou-se para a Avenida Atlântica.. de monumentos. relata: “Olha. especialmente do Rio de Janeiro.18). Os da iniciativa privada e os do governo eram todos visados por mim. Dentre muitos fatos peculiares. e era o primeiro a chegar. (ESTEVES. investido na responsabilidade criativa e técnica da obra que assumiu e dividiu – de fato – com um dos maiores expoentes da arquitetura brasileira da época. E aí. tudo. Senatus. para que Brasília fosse feita do jeito que fora idealizada. Porque eu sempre fui o coordenador de arquitetura e urbanismo. 16-17). 2004b). 1989.205 comissão julgadora foi constituída pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy. No projeto inicial. quando eu deixei a NOVACAP1. p. “Eu estava lá na hora.170) – de Oscar Niemeyer para a Capital do Brasil. 2004a. no dia seguinte. passando pelas modificações que cada um sofreu. No começo.1989. doze anos por aí. teatro. Muitos anos depois. de igrejas. 2004a. p. com a tarefa praticamente cumprida. e confiou nele. de 50 a 60. De modo que. eu estava lá com ele (Niemeyer)” (ESTEVES. sem hora. Bem jovem. Sempre. Nauro Esteves procurou contato no escritório de Niemeyer. que carrega a autoria de Oscar Niemeyer. Tanto que o manteve ao seu lado na etapa seguinte. que se referisse a urbanismo ou arquitetura. que era comigo” (ESTEVES. Daí pode-se afirmar que a arquitetura de Brasília. Foi assim que Nauro Esteves situou-se na trilha da arquitetura moderna e teve seu primeiro contato com Oscar Niemeyer. Assim. Absorveu-se no trabalho. pelo que não houve da parte dos parlamentares nenhuma interferência no projeto ou na construção dos prédios. Dessa forma. pode-se dizer. Brasília. Jorge Machado Moreira. N.1989). esquina com Avenida Beira Mar. v. Recém-formado.1989. participou dos grandes projetos de Oscar Niemeyer. abr. Em depoimento. Esteves passou logo a chefe do escritório e.8. clube. p. para a história do Brasil” (ESTEVES. Os anexos do Congresso Nacional receberam uma passarela que não existia no projeto original.1. começou onde poucos chegaram. sua atuação abarcou a dimensão de uma cidade. Pode-se constatar essa relação até mesmo pelo conhecimento minucioso com que fala daquele período da construção da cidade. sem se afastar do plano original. “Eu era o chefe do escritório dele. nada nessa cidade deixou de passar pela minha mão. Então. ou o “lápis”. Alcides da Rocha Miranda.18). que não eram poucos. o Brasília Palace Hotel.. Foi necessário fazê-la para o travamento da estrutura metálica. p. nós vamos fazer Brasília’. Nauro Esteves. portanto. ele mesmo relata: Brasília foi construída sob forte oposição e desconfiança dos meios políticos e de diversos setores da sociedade. 2010 Foram 12 anos sem interrupção. Defendeu o projeto da cidade. de Nauro Esteves. 32). de 1956 a 1968-69. desde o primeiro dia até eu sair. não só na área de arquitetura. nos projetos e na sua execução. tem o “dedo”. o Congresso Nacional.202-211. sempre fui eu. 1989. 1996). tem coisas fantásticas. em posição exigente. Ele conta que foi o primeiro a quem Oscar Niemeyer revelou o convite do Presidente Juscelino Kubitschek para que projetasse a Capital – era ainda o início do governo JK. então Capital do País. Ele relembra: “Na vida tem coincidências. nessa obra de dez anos. Quase que eu caí morto. ESTEVES.. o Palácio do Planalto. dez anos colado. desenvolveu as “fantasias” – como referia-se Yves Bruand (1981. cinema etc. o tempo todo. chegava cedo lá. Nauro teve participação em praticamente em todos os trabalhos de Niemeyer para a Capital. que se localizava na Avenida Rio Branco. o gramado na frente do Congresso seria no mesmo nível das pistas e da laje de cobertura dos blocos dos plenários da Câmara . ESTEVES. como tal. já mergulhou em trabalho de grande porte. Conheceu esses projetos desde a idéia inicial (o Palácio da Alvorada. em 1956. p. à qual atribui devido valor: “Brasília é uma coisa importante demais para o Brasil. nós já começamos a falar de Brasília” (ESTEVES. a mais importante: o projeto e a construção de Brasília. em Copacabana (ESTEVES. a partir da decisão de Juscelino Kubitschek. participou do desenvolvimento dos projetos de palácios. no processo da construção de Brasília – ligado que era a Oscar Niemeyer. Em contrapartida. a qual não chegou a ser construída. o D.22). das ruas. 1989. que permanecia em Brasília. orientando.206 e do Senado. Com Cardozo também trabalhavam os engenheiros Samuel Rawet e Victor Fadul (ESTEVES. O nosso escritório não tinha ar condicionado. garra e fé. porque a gente punha um papel na prancheta de manhã e de tarde. e Onofre Gontijo Mendes. abr. p. Em fevereiro de 1962. a gente ficava numa fossa danada. p. mas sempre com as mesmas atribuições e as mesmas responsabilidades. a gente ficava sozinho aqui” (ESTEVES. No ritmo alucinante de construção que marcou a época dos pioneiros da nova Capital. era uma poeira infernal. Verifique-se.22). órgão superior no qual eram tomadas as decisões relativas às questões de arquitetura e urbanismo de Brasília. foi designado para o cargo de Diretor de Divisão de Arquitetura da Assessoria de Planejamento da Prefeitura do Distrito Federal. o Planalto ali do lado”(ESTEVES. 1996). 1989. 6). Senatus. também estava muito ligado a ele durante muito tempo” – testemunha Glauco Campello (1989. mesmo após a inauguração da cidade. um rebaixo entre os dois eixos2. (Divisão de Urbanismo). Em 06 de setembro de 1961.8. p. p. hoje. nós tínhamos uma espécie de produção da poeira. Ele tinha a confiança e o apoio do Diretor. Tinham uma copiadora grande do próprio escritório da NOVACAP. Na mesma data foram também designados Lucio Costa.A. relata: “Começou a obra de urbanização. 1996). 2010 . inclusive coordenando toda a equipe de arquitetos e desenhistas da Divisão de Arquitetura. desde o início. Esteves foi designado membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU. Então. era o primeiro arquiteto depois de Oscar Niemeyer.9). e da copiadora ‘para a obra no ato!’ E as firmas. também. não só pela conhecida capacidade de desenvolvimento e execução dos projetos. Nauro Esteves. certeza. no qual permaneceu até 30 de novembro de 1965. Com a transferência da Capital. coordenando. falam no barro da região do cerrado e nas estações bem definidas. Os pioneiros descrevem o “clima” daquele período histórico da construção da Capital: entusiasmo contagiante. e que permaneceu no Rio de Janeiro porque “tinha muita idade. o relevo do cargo e da responsabilidade de Nauro Esteves na hierarquia da NOVACAP – portanto. 1989. que era o engenheiro calculista de Niemeyer. 1989. “com diversos nomes”. de chuva e de seca. Esse espaço receberia uma cobertura. foi o Coordenador de Arquitetura e Urbanismo da Secretaria de Viação e Obras da Prefeitura do Distrito Federal. p. Desse modo. o sacrifício.U. de acabamentos. Os projetos saíam da prancheta para a copiadora. e nós não tínhamos como deixar de ser rápidos. também arquiteto do escritório de Niemeyer e pioneiro em Brasília. conforme as mudanças da administração. Brasília foi inaugurada na data prevista: 21 de abril de 1960. não tinha nada. o diabo a quatro fazendo aquele movimento fantástico de implantação das vias.1. pretendendo no local construir um espaço que abrigasse as manifestações do povo. n. (Departamento de Urbanismo e Arquitetura) foi transferido para o barracão na Esplanada dos Ministérios. enfim. isto é. v. as empreiteiras solicitando planta. era uma loucura. as máquinas e os caminhões. ele era perdido praticamente no dia seguinte. Com a chuva. No barracão ficava a área de arquitetura e instalações. “Nauro Esteves era o coordenador dos arquitetos. todas elas.U. queriam uma produção em massa de todos os projetos. porque muito havia ainda que se construir. Ficava também. como consultor jurídico. p. Das casas da Quadra 23. 5). permaneceu no cargo da NOVACAP. que era gigantesca” (BARROSO. “porque as obras mais pesadas para nós eram o Congresso e os Ministérios. da D. ‘Olha. sempre empenhado no cumprimento fiel do plano urbanístico e arquitetônico da cidade. Oscar Niemeyer e Flávio D’Aquino. na parte de detalhamento. 1989. continuou decidindo. “atolava tudo”. se não tivesse pronto. No rebaixo existe. A área de cálculo estrutural ficou sob a responsabilidade de Joaquim Cardozo. muitos voltaram. “era uma poeira danada” (ESTEVES. acorreram para Brasília. não deixa ali que vai perder’. não pôde vir para Brasília”. p. Sabino Barroso. fora o “braço direito”. a sala do arquiteto Adeildo Viegas. No período da construção. não só pelo interesse em termos financeiros. Nessa função. determinação. era ele que chefiava e coordenava a equipe que elaborava os projetos de Niemeyer.202-211. Era a pessoa que respondia pelo escritório na ausência do Oscar. as grandes firmas brasileiras. passou a ocupar o cargo principal. como conselheiros. A partir de novembro de 1965. Esteves conta que Niemeyer modificou o projeto. Tanto que Niemeyer sempre o manteve à frente da área de arquitetura. cuja confiança já se lhe provara e de quem. Na seca. mesmo após a inauguração. mas pelo interesse da própria obra. continuou praticamente com as mesmas atribuições e responsabilidades que abarcava quando na chefia da Divisão de Arquitetura da NOVACAP. o barro formava lama. como também porque rigorosamente respeitava a concepção dos trabalhos de Niemeyer. Foi feito. a solidão: “muitos desistiram. o desconforto. 21) Além disso. empreiteiras de esquadrias. um extenso gramado inclinado (ESTEVES. Brasília. tal a poeira que impregnava no papel. convicção da grandeza da obra que tinham a realizar. “que era fixo” (ESTEVES. então. n.1.Arquivo Público do Distrito Federal 207 Senatus.8. Brasília. p. 2010 .202-211. abr. v. 2010 . Era cabeça não só pela autoridade do cargo que ocupava. Esteves trabalhou nos projetos e na urbanização das superquadras: locação e projetos arquitetônicos dos blocos residenciais. Todos esses projetos eram coordenados por Nauro Esteves. ele deu essa oportunidade. abr. junto com o operário”. as escolas-parque. afobado. cada um desenvolvia o seu” (REPUBLICANO. no tempo antigo não tinha” (BARROSO. o Itamaraty. em frente ao Palácio do Buriti. o estacionamento. por conta própria. conversar com Lucio Costa para obter orientação sobre como fazer. 2004).8. a EscolaClasse da SQS 114. já elaborava também para a NOVACAP projetos de sua autoria. Durante todo esse tempo. Nauro Esteves avalia: “Para fazer tecnicamente. por incrível que pareça. com projeto. assim como outros arquitetos da equipe. Mas eu tinha que tocar. do próprio Nauro Esteves. mas ele era a cabeça” – completa Mirtes Republicano. Brasília Senatus. 1989). com plantas.208 Também coordenou os Grupos de Trabalho que definiram o plano de numeração definitiva da cidade de Brasília e o Código de Obras e Posturas do Distrito Federal – CODF. arruamento. de Wilson Reis Neto. a Escola-Parque da SQS 308 e o Colégio Elefante Branco foram projetos de José de Souza Reis. 2004c. Nauro definiu os arruamentos das superquadras. Segundo informações de Luiz Henrique Duarte (2004). você ia numa superquadra e ele estava riscando no chão. mas atrás deles tinha quem? O Nauro. A esse tempo Nauro. foi feito por sicrano. com o possível rigor. Com muita determinação. Muitas vezes o presidente da NOVACAP Conjunto Nacional. o Tribunal Federal de Recursos e o Tribunal de Justiça. Então eu tinha que fazer rapidinho” (ESTEVES. porque tinha que fazer. W3 Sul. Posteriormente (1961/62). Como exemplos. acima de todos. não. em depoimento. asfalto. 1996). Você ia procurar o Nauro. Havia também grande parte das escolas-classe. de Hermano Montenegro. o arruamento das superquadras etc. de joelhos. eu ia lá e levava um esquema básico” (ESTEVES. O trabalho no desenvolvimento dos projetos de Oscar Niemeyer continuava. p. v. no lugar. estava ele. às vezes ia ao Rio de Janeiro. porque não tinha projeto. “A gente diz assim: foi feito por fulano. o Superior Tribunal Militar. 2004c.202-211. Nauro foi responsável pela parte técnica de elaboração dos projetos e pela parte burocrática: “Nessa época já tinha processo. o Tribunal Superior do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos. já estava contratando empreiteiras para fazer meio-fio. traçando no chão: ‘a rua vem aqui’. Nauro relata: “Eu comecei um pouco apavorado. de Flávio de Aquino. 2). ia levar muito tempo”. do Lúcio Estelita. indo lá. Geraldo Orlandi testemunha: “o Nauro trabalhou no arruamento. relembra: “inicialmente o desenvolvimento era só dos projetos de Oscar Niemeyer. E Duarte complementa: “O Nauro como profissional e entusiasta de Brasília. o Posto de Saúde da Av. mas pela capacidade profissional e pelo nível de exigência no seu próprio trabalho e no trabalho da equipe que tinha sob sua orientação. Brasília. o Hospital das Forças Armadas. era eu. o Tribunal Superior Eleitoral. o Ministério da Justiça e outros ministérios. Ele sentava no chão e desenhava o arruamento das superquadras e os estacionamentos. Havia a equipe dele. de cócoras. p. ele fez à mão. Quanto à urbanização das superquadras. nada disso. uma vez que Niemeyer não estava mais em Brasília. na urba- nização das superquadras. Mas. Ficou a critério do próprio Nauro executar e ver quem executava esses projetos. E ainda: “Então quem marcava no chão a calçada. Era Nauro quem definia tudo. p. as áreas arborizadas. O asfalto onde era. em tudo o que se referia a urbanismo. ele riscava no chão. calçamento e ajardinamento. n. os taludes gramados das “tesourinhas”.1. Mirtes Republicano3. os blocos de apartamentos. e preocupou-se em cumprir. para que nós fizéssemos os nossos projetos. ele trabalhava na prancheta e trabalhava no campo. o plano de Lucio Costa (ESTEVES. Não havia tempo de ficar projetando calçada. Nauro Esteves conhecia bem o esquema das superquadras. 11). Era engraçadíssimo: ia lá e fazia no lugar” (ORLANDI. que ainda estavam em construção. 2004). exatamente. os Edifícios Ceará. marcando os estacionamentos. “Era muito bom nisso. vinha atrás o operário pintando no chão. Como exemplo. 405 e 406. além do trevo no final da Via L2 Sul.8. com a finalidade de abrigar as prefeituras de cada superquadra (REPUBLICANO. abr.1. com tinta ou cal. Mirtes Republicano acrescenta que “depois ele subia ao último andar do prédio para verificar lá de cima se coincidia com o que ele estava querendo que se fizesse” (REPUBLICANO. o Hotel Nacional. a Fundação Ballet do Brasil. Lá estava ele “agachado junto com os peões. o Engenheiro Cláudio Starling4 (apud Orlandi. em seguida. 1996). lá tem uma amendoeira plantada que eu que plantei” (ESTEVES. Para fazer as calçadas. Ficava esperando o Nauro acabar de riscar pra ir lá passar o trator” (ORLANDI. n. Brasília Senatus. Marcava as curvas das ruas com cordas. o Edifício Central Brasília no Setor Bancário Norte. alguns projetos de sua autoria que viriam a ter forte presença na paisagem urbana de Brasília: o Palácio do Buriti e Anexo. os projetos de sistema viário: o “balão do aeroporto fui eu que fiz. Enumeram-se ainda. “As superquadras que têm ruas curvas fui eu que fiz” – afirma Esteves (1996). v. 2004). ligações viárias entre as Vias W4 e W5 Sul. determinou: “um metro e cinquenta (largura) acompanhando o meio-fio” (ESTEVES. 1996). Deixava as calçadas já definidas com as ripas de madeira. E Orlandi confirma: Starling “ia com o trator atrás do Nauro. p. inúmeros blocos de apartamentos nas superquadras etc.209 precisava falar com Nauro Esteves e “a gente tinha que dizer que ele estava na superquadra”. marcando as calçadas. 2004). 2004).202-211. ele modelava o chão com as máquinas (ESTEVES. E mais. 2004). o Edifício Venâncio VI. o Edifício Casa de São Paulo. o meio-fio. marcando o lugar onde era colocado. Palácio do Buriti. 2004) “trabalhava comigo nessas loucuras o tempo todo” – diz Esteves. os taludes gramados das chamadas “tesourinhas” (DUARTE. o Hospital Santa Lúcia (projeto inicial). desde a própria locação dos blocos. o Jardim de Infância 21 de Abril. 2004). não tem exagero nenhum nisso. e os projetos dos prédios das Administrações de Quadra – ADQs. Sônia e Presidente no Setor Comercial Sul. entre outros. Mas seu trabalho na urbanização da cidade não se limitou às superquadras. cujos projetos elaborou e desenvolveu por completo. Hotel Nacional. o Cine Karim da EQS 110/111. para ficarem de acordo com o que ele queria na planta” (DUARTE. 2010 Outras contribuições de Nauro Esteves para as superquadras foram a criação dos blocos quadrados das SQS 403. o Carlton Hotel. Brasília. Brasília . p. 3). o Conjunto Nacional. 1996. Fazendo o quê? Marcando metro a metro com a linha as curvas dentro das próprias superquadras. dez. considerando todo o trabalho que desenvolveu na cidade. 10). respondeu: “não tenho praticamente nada de fotografia de Brasília. modelando a “cara” da cidade. 3ª seção. Muda a designação da Comissão de Localização da Nova Capital para Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal. Perguntado que lhe foi se tinha fotografia sua no período da construção.016. 1955 BRASIL. Nauro Esteves teve que ser rígido e enfrentou pressões por parte de empresas construtoras. O Globo. COSTA. de empreendedores imobiliários. realizando.1. 1956. 1956.5 Na condição de arquiteto. Decreto nº 40. abr. 11 dez. coordenando. 1949. sempre respeitou o plano urbanístico de Lucio Costa. BRASIL. Rio de Janeiro. Relatório do Plano Piloto de Brasília. p. Mas é fundamental. Arquitetura Contemporânea Brasileira. Brasília. São Paulo: Perspectiva. orientando. 2010 . desde as primeiras ações até a cidade já desenvolvida. DePHA. Não se colocou debaixo das luzes. serviços. 20p. 20 set. Brasília. 24 set. BOM TRABALHO REALIZADO PELOS ESTUDANTES DE ARQUITETURA. 23p. LIMA. Lei nº 2. com a consciência profissional que foi sua marca.281. COSTA. sem se preocupar com os holofotes. Correio da Manhã. Diário Oficial da União. não se postou diante das câmeras. CODEPLAN. Lucio. de 9 de dezembro de 1955. para entender Brasília é fundamental” (ESTEVES. cidade que também fez nascer. porque eu não me ligava muito nisso. Brasília: GDF. de 19 de setembro de 1956. p. Glauco de Oliveira. era resolver aquilo”: era construir Brasília! (ESTEVES. Decreto nº 40. Arquivo Público do Distrito Federal. CAMPELLO. ainda em Brasília. cujos bens.8. projetando. direitos e obrigações são pelo mesmo ato transferidos à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil”. Depoimento . conhecendo. Nauro Esteves fez tudo isso. Diário Oficial da União.Programa de História Oral. tem muita gente que nunca leu aquilo. de autoridades. 24 set. 1989. porque o negócio de correr aqui era 24 horas por dia. e quis preservá-lo conforme as diretrizes traçadas no Relatório do Plano Piloto de Brasília: “O relatório dele é uma peça fantástica. 1949. Mas permaneceu integrado à história de Brasília: mergulhado nos contextos da construção e da implantação da Capital.874. 1981. ArPDF. Brasília Senatus. Aprova a constituição da sociedade por ações da Companhia Urbanizadora da nova Capital do Brasil”. BRASIL. 1989. talvez o mais importante tenha sido o empenho com que defendeu a idéia central segundo a qual Brasília foi “inventada”. Depoimento . Decreto nº 38. Adeildo Viegas. BRUAND. perto de completar oitenta e quatro anos de idade. Só não se fez estrela. Maria Elisa. participando efetivamente dos fatos. 13 dez. de 24 de setembro de 1956. BARROSO. v. contracenando lado a lado com atores notáveis. Diário Oficial da União. 1996). Rio de Janeiro. Extingue a Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal.202-211.Programa de História Oral. Arquivo Público do Distrito Federal. influindo. 1991. 1956. Tem muita gente que fala de Brasília. de 24 de setembro de 1956. O tempo da gente era atender.210 Entretanto. Dispõe sobre a mudança da Capital Federal e dá outras providências. Yves. No dia 23 de fevereiro de 2007. Sabino Machado. Para tanto. Nauro Esteves faleceu. Brasília. Referências Bibliográficas ARQUITETURA E ROMANCE. 1989. Diário Oficial da União. defendendo. BRASIL. n. De fato.017. ———. Entrevista. Maria de Lourdes Junqueira Edreira. 1967.1999. n. Entrevista. 1989. Brasília. Entrevista. Arquivo Público do Distrito Federal. 2004. 1991. KUBITSCHEK.1985.211 57-85: do plano piloto ao Plano Piloto. s/ data. Por Cristiana Mendes Garcia. Por Matheus Gorovitz. abr.A. 5 Referência ao termo usado por Lucio Costa: “Brasília. Palestra proferida em 26/07/1996. Olhares sobre o Lago Paranoá. jul. 2004. Diário Oficial da União. Por Cristiana Mendes Garcia. (Brasil). Rio de Janeiro : Renavam. Brasília. 2000. Geraldo Roberto. 3 Mirtes Amora de Assis Republicano. Projeto. Minha Experiência em Brasília. ———. Brasília. Entrevistas. DISTRITO FEDERAL. Nauro. 1989. Brasília. Por Cristiana Mendes Garcia. Arquitetura Moderna Brasileira. ed. v. Brasília. Luiz Henrique Freire. 2 Vias S1 e N1 correspondentes ao Eixo Monumental. Este tempo corresponde à época em que fazia parte do quadro de funcionários da NOVACAP. DISTRITO FEDERAL. ———. ———. 12p. de 8 de março de 1967. 30 jul.8. posteriormente do Governo do Distrito Federal. Brasília : Instituto dos Arquitetos do Brasil – DF. B r a s í l i a : TERRACAP. DISTRITO FEDERAL (Brasil). Designa membros do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. ESTEVES. Marlene Milan. DUARTE.1961. Brasília. 3699 col. 2004. 2001. Decreto nº 596. Depoimento . Fernando Oliveira (org). In: COSTA. Por Cristiana Mendes Garcia.Programa de História Oral. p. 4 Cláudio Starling. REPUBLICANO. Oscar. 2004. GuiArquitetura Brasília. Por que construí Brasília. Entrevista. As Curvas do Tempo. engenheiro chefe do Departamento de Estradas e Rodagem. de 6 de setembro de 1961. ———. Depoimento . São Paulo. Juscelino. . Brasília. de 13 de junho de 1960. 1982. 2004a. Geraldo Sá Nogueira. Brasília : Arquivo Público do Distrito Federal. Depoimento . 1999. Brasília : Linha Gráfica. Por Cristiana Mendes Garcia. 40p. 1 Aqui Nauro Esteves se refere à NOVACAP como todo o tempo em que trabalhou no serviço público em Brasília. Brasília. ORLANDI. FONSECA. Empresa das Artes e Senatus. ESTEVES. 2002. Código de Edificações de Brasília e seus regulamentos.1. ———. 1. Entrevistas. Entrevista. História de Brasília. SILVA. 2010 Editora Abril. Aprova a Consolidação das Normas em vigor para as construções em Brasília. 18 ago.NOVACAP. 1º semestre de 2004c. 2. Permaneceu como arquiteta na Prefeitura do Distrito Federal – PDF e posteriormente no Governo do Distrito Federal. 9.capa. Brasília : CREA-DF. ———. a cidade que inventei”. 29 mar.202-211. Portaria nº 210. Brasília. Brasília : Senado Federal. NIEMEYER. Arquivo Público do Distrito Federal. 5. ———.Programa de História Oral. Brasília. Sylvia e Acayaba. Rio de Janeiro : Vitória. 6 ago. 2004b. depois da Prefeitura do Distrito Federal – PDF e. 2004. Brasília. arquiteta da D. Ficha Técnica do Profissional. Por Cristiana Mendes Garcia. São Paulo. ed. Mirtes Amora de Assis. Brasília. Curriculum Vitae do Profissional. Ernesto. 1989. FICHER. Sylvia e Batista. Decreto nº 7.Programa de História Oral. SEMARH. 2 jul. 27p. 7 jun. (Brasil). (Divisão de Arquitetura) . p. Memória do Arquiteto de Brasília.1996. FICHER.