CONHECENDO ARGAMASSA - Fernando Antonio Piazza Recena

April 2, 2018 | Author: Gustavo Salles | Category: Mortar (Masonry), Cement, Quality (Business), Lime (Material), Clay


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Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Armando Luiz Bortolini Bettina Steren dos Santos Eduardo Campos Pellanda Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Jane Rita Caetano da Silveira Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente Jurandir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klöckner Marília Costa Morosini Nuncia Maria S. de Constantino Renato Tetelbom Stein Ruth Maria Chittó Gauer EDIPUCRS Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe 2012 .Fernando Antonio Piazza Recena Segunda Edição Porto Alegre. 101 a 110 da Lei 9. microfílmicos.pucrs. Ipiranga.1833 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.br/edipucrs> ISBN 978-85-397-0254-1 ISBN 978-85-397-0077-6 (impresso) 1. I. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. por qualquer meio ou processo. Título. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art.02. CDD 624. ed. reprográficos. 184 e parágrafos. Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: <http://www. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.br/edipucrs. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R295c Recena. 6681 – Prédio 33 Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 e-mail: edipucrs@pucrs.© 2008 EDIPUCRS 1ª edição: 2008. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial.www. – Dados eletrônicos.610. conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. fonográficos. videográficos. fotográficos. Ltda. Revestimentos – Construção Civil. do Código Penal). – Porto Alegre: EDIPUCRS. Argamassa – Revestimento. Proibida a reprodução total ou parcial. especialmente por sistemas gráficos.br . 2ª edição: 2012 Vinícius Xavier cedida por Scheiner e Cia. 188 p. Revisão de texto Ferenanda Lisbôa EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Visual Produções adaptação e finalização Rodrigo Braga Capa Contracapa foto Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico. de 19.3. Engenharia Civil. Lei dos direitos Autorais). 2. com pena de prisão e multa. Fernando Antonio Piazza Conhecendo argamassa [recurso eletrônico] / Fernando Antonio Piazza Recena. 2012. – 2.pucrs. bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. .1998. EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS Av. a meus filhos. . pelo que serei. pelo que sou.Dedicatória A meus pais. a maneira mais autêntica de demonstrar o entendimento de que ninguém convive conosco por acaso. Sérgio Antonio Mazoni. eterno e principal agradecimento deve sempre ser feito à vida. Dr. Eng. e à acadêmica de Engenharia Fernanda Dutra. E aos colegas Prof. antes de tudo. Um agradecimento particular deve ser feito a duas instituições: – CIENTEC – Fundação de Ciência e Tecnologia onde exerço minha profissão como técnico e pesquisador há 29 anos e onde este trabalho que se transformou em livro foi desenvolvido. – PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. ao Criador em suas mais diversas manifestações. Eng. Se fosse relacionar. que me abriram portas.AGRADECIMENTOS Agradecer não é apenas um compromisso de educação ou uma manifestação de civilidade. por isso agradeço de forma geral a todos aqueles que sempre acreditaram em mim. pelo incentivo e pela colaboração. Fernanda Macedo Pereira. pela disponibilidade e dedicação. Prof. pela oportunidade de experimentar a gratificação que somente o magistério pode dar. Dr. O grande. que me mostraram caminhos. na crítica construtiva e nas sugestões. que foram exemplos e ainda são modelos que tento igualar. haveria uma imensa lista de nomes a ser feita e certamente esqueceria alguém. e a viabilização desse trabalho como livro. Professores foram muitos. Ronaldo Bastos Duarte e Eng. é sim. e a todos devo um pouco. ao longo de toda a minha vida. . ...................2.61 6.......6..2........... CARACTERÍSTICAS DAS ARGAMASSAS.......................47 5..............1...................... Argamassas minerais................ MATERIAIS ALTERNATIVOS...........................5..................15 2............................ CLASSIFICAÇÃO DAS ARGAMASSAS...................23 3..41 5........ NOTA HISTÓRICA.....64 6...............37 5....64 6...............................1....1..2........... Argamassas aéreas........ Capacidade de absorver deformações.........................................3...................................1... Argamassas hidráulicas............. Retenção de água.............................1. Argamassas de cimento Portland.......... Resistência mecânica...................... INTRODUÇÃO....2........ Durabilidade........................................49 5.............25 4....64 ........................................ FUNÇÃO DAS ARGAMASSAS..... Classificação quanto à forma de endurecimento e resistência à umidade...............................2..........................63 6...........SUMÁRIO PREFÁCIO ..1...39 5....................11 1....................................................1................................56 6................39 5..45 5...4.....62 6................................. Aderência ao substrato. Trabalhabilidade........1..................... Classificação quanto à natureza do aglomerante............................63 6............... ......101 7.2............. Argamassas poliméricas.101 7......6.....2.............1 Argamassas industrializadas... Argamassas feitas em obra.. Classificação quanto à forma de produção.........................6...............4..3...77 6...................3...............65 6...........3......5......................................1.........101 7.73 6......3................. Água não evaporável.............2..4.................................................. Classificação quanto ao volume de pasta...............71 6..........2.. Formas de apresentação da água na pasta........ Estrutura interna da água....1................... Classificação quanto à utilização..... Argamassas de recuperação e proteção......... Outras argamassas..........3............................ Água capilar...5.... Classificação quanto à granulometria do agregado.........6..6...... Argamassas de cal hidráulica e cimento de alvenaria.2.... Argamassas alternativas..... Argamassas mistas de cimento e cal....................99 7........................102 ......1...................67 6..........94 7....3............................1......2......69 6.. Argamassas de fixação.......... Argamassas de cal.......5......6....................84 6...........83 6.....74 6.......... Argamassas de assentamento.............................5.........1............67 6........97 7...... Argamassas de gesso........3.... Argamassas de revestimento..... Argamassas de regularização...2...2..3.. Argamassas semi-industrializadas....4.....1..........2...88 6..6..87 6.... RETRAÇÃO DAS ARGAMASSAS.....2........6....71 6.............................3.......................86 6..75 6.3......1................71 6............2......66 6.... Água evaporável..2...........2.......88 6.4.2............... .....................................104 7...2.119 9..........132 9.................................... Fissura de retração plástica....3.......................................2...................1.1..........1....141 ...................129 9.....131 9..132 9............2..............................................2.4..2...... Fissura superficial.1.................. Tipos de fissuras........2......................2.........................3................. Exemplo de aplicação.............3..........129 9..................2..............................137 9. Inchamento das areias.................128 9......... Massa unitária e massa específica......106 7.........2........3....7.... Composição do agregado...... Composição granulométrica.1... Caracterização dos materiais empregados no estudo....1...........135 9......................... Cimento Portland................2....109 9...2....2 Cal.......3.................2.................129 9...............108 8........ Fissura de escorrimento....2.................5 Definição do proporcionamento (traço) final..........2. PRINCÍPIOS A SEREM SEGUIDOS PARA A DOSAGEM DE ARGAMASSAS...2............. Definição do proporcionamento (traço) de melhor trabalhabilidade...... Materiais empregados no estudo..........2.....128 9..... Transformação do proporcionamento (traço) de massa para volume..................2.....129 9......6....131 9................ Aglomerantes.......102 7....2............131 9...........................................2..1. Areias.............2......3.............2............1................... Desenvolvimento em laboratório............3........1..2...123 9........... DOSAGEM DE ARGAMASSAS MISTAS DE CIMENTO PORTLAND E CAL.....2... .......4.....................7.......169 11...174 11...................................147 11... Danos relacionados com a qualidade da execução. Danos relacionados com a dosagem ou uso inadequado das argamassas.....142 10.................................156 11...........142 9........... Dimensionamento das caixas............. Registro fotográfico..... falta ou deficiência de fiscalização......................................................185 ....9.................................................... Danos relacionados com a inadequada concepção.....4.5....................1........ Danos relacionados com a natureza do substrato e sua preparação.....3...... SUGESTÃO DE TRAÇOS......................................... Dosagem em obra... DANOS MAIS COMUNS EM SISTEMAS DE REVESTIMENTOS...155 11...165 11.. Danos relacionados com revestimentos cerâmicos..4.2.4...... ineficiência ou ausência de projetos de revestimentos.....................7..........177 12.161 11............................................. Danos relacionados com a qualidade dos materiais....................2..............3...........................................1......................160 11.......................1 Danos relacionados com a execução do chapisco............ Danos relacionados com a falta de manutenção........158 11..............181 Referência.. No meu entender. Tenho certeza de que tudo que eu possa fazer para homenageá-los jamais traduzirá a minha eterna gratidão pelo que fizeram e por aquilo que porventura venham a fazer caso seja preciso. ícone da cultura e da competência que distinguia a Universidade Católica por pertencer ao seu quadro de professores. filho do então nosso professor. onde nasci e fui batizado. que permitiu a restauração da Igreja Matriz de Farroupilha. Acho que assim entendo o que Fernando quer dizer sobre a verdadeira argamassa. em um episódio médico decisivo. seguro e perene. Nada der­ruba. Inácio e Martina. da esposa. Qual seja minha surpresa: Fernando herdara tudo de nosso mestre. Disso resultou um “concreto familiar”. nem mesmo abala o Fernando. a de engenharia. José Carlos Felicetti . Obrigado por tê-lo como amigo e pelo Conhecendo Argamassas.PREFÁCIO Poderá parecer estranho ao leitor perceber que o prefácio desta obra se divide em quatro partes. Fernando Antonio Piazza Recena São dessas circunstâncias a que não temos explicação: pas­sei boa parte da minha formação na PUCRS. onde conheci o Pro­fessor Recena. ela foi conseguida com a “fusão” de Recena com o nome da mãe. que na cabeça de um médico significa algo indestrutível. a decisão e o conhecimento profundo na sua área. Dr. todas elaboradas por médi­cos. o caráter. Um bom tempo depois conheci Fernando Antônio. Estranho. que tive a felicidade de conhecê-la recentemente. para quem talvez não conheça com mais intimi­dade os caminhos que a vida me fez percorrer nesses últimos qua­tro anos. sim. e dos filhos. Piazza. Pode imaginar o leitor o tipo de homenagem que tento timidamente prestar a quatro profissionais que orgulham a classe a que pertencem e que abnegadamente dedicam suas vidas a sim­plesmente salvar outras e com isso permitiram indiretamente que esta obra pudesse chegar a suas mãos. Geíza. Roberto Lúcio Feliciate Alves Ao receber o convite para prefaciar o livro Conhecendo Argamassas. . Dr. uma das epígrafes. o qual tive a honra de escrever um dos prefácios. um homem deveria ter plantado uma árvore. o intérprete pergunta como se mede um ano na vida de alguém. Essas três virtudes. Fernando Antonio Piazza No musical da Broadway. enfim. mais apaixonado pelo que faz e com mais capacidade de trabalho do que ele. mas quando a biografia de Recena for escrita. em uma das canções (“Seasons of Love”). tais quais sementes (e não o são?). Homens não são livros. para ter vivido. chancelam este livro.12 RECENA. ter tido um filho e es­crito um livro. Se partirmos desse pressuposto. in Cidadela). em lágrimas. em sorrisos. por si sós. mas confesso que também fiquei preocupado com tão importante missão. RENl. tenho certeza. dizem que. será esta: “É que vives. Recena nos brinda com mais uma obra técnica que. fiquei ao mesmo tempo orgulhoso e honrado com tamanha distinção feita pelo amigo Fernando. será referência para estudantes e profissionais. Fernando Antonio Piazza Recena transcende seu próprio tempo e alcança aquele patamar dos que legam sua obra às gerações vindouras. Não sei de nenhum homem mais sério. Seriam essas as medidas para avaliar a dimensão de uma vida? Note-se que cada um dos três atos projeta o homem para a eternidade e. a centelha da imortalidade. não das coisas. em sua sabedoria. em seu íntimo. portanto não trazem epígrafes. mas do sentido das coisas” (Antoine de SaintExupéry. trazem. Graças a sua competência profissional e ao brilhantismo de seu raciocínio lógico. Conheço Fernando Recena há mais de vinte anos. como se pode mensurar a vida de uma pessoa? Os chineses. Em crepúsculos. não tenho dúvida. em taças de chá. nas coisas que fez. Tenho certeza de que esta obra irá ajudar. transpira e vive com plenitude suas obras e realizações. busca uma melhor composição para os revestimentos.Conhecendo argamassa O autor. a mola mestra para o sucesso no desenvolvimento de novas tecnologias a serem empregadas para a solução dos problemas. evitando trincas e outras imperfeições. Dr. vou falar do Fernando que eu conheço. o da amizade é de longe o maior. com isso. O tempo passou. nas mais diversas áreas do conhecimento. Como em todo campo da ciência. Traçando um paralelo com o trabalho do autor. Poucas coisas o transtornam: incompetência. falta de responsabilidade. desempenho e custo acessível. sem dúvida. ao analisar diferentes traços de argamassas. eu. passa para todos nós a imagem de conhecimento profundo naquilo que faz. (Epicuro) Conheci o Fernando há muito tempo em um churrasco na ca­sa de seus pais. Assim como as argamassas analisadas pelo autor. os jo­vens engenheiros na sua nobre missão. de maneira ímpar. leviandade. que é a sua especialidade. cantar bola fora quando caiu dentro da quadra 13 . Como não entendo de arga­massa. como seu médico. corrupção. venho ao longo desses últimos anos analisando e aplicando traços terapêuticos com a principal missão de manter a saúde de meu amigo e paciente Fernando. nossa argamassa terapêutica tem que ser eficiente e eficaz para que não sofra fissuras e. onde sempre fui batido por aquelas chapadas de direita. seja uma solução de continuidade em sua saúde. o time do Inter perder. ignorância. É extremamente sério quando fala do seu trabalho. aliadas a uma melhor qualidade. Só com muita amizade pode-se entender o convite para que um cirurgião cardíaco prefacie seu livro. minha colega de turma do Colégio Rosário. o trabalho árduo e contí­nuo da pesquisa é. e quis o destino nos reaproximar no Clube Jangadeiros e nas quadras de tênis. João Carlos Azeredo De todos os bens que a sabedoria nos faculta como meio de obter a nossa felicidade. promovido por sua irmã. e o Fernando é um irmão por esco­lha. Os nossos irmãos biológi­cos.. têm educação esmerada e são. assim é a nossa amizade.14 RECENA. Mas. quer coisa melhor. O Fernando tem um trio em casa. por vontade própria do coração e da alma justa e perfeita. Fernando Antonio Piazza etc. com sua plasticidade e seu poder agregador. Boa leitura. pessoas íntegras e confiáveis. Espero que este novo filho seja sua realização co­mo os outros foram. Os frutos não caem longe do pé. por similaridade. nós não podemos escolher. porque ler é aprender e ainda por cima nos faz conhecer amigos contando seus segredos para todo mundo.. Wagner Michael Pereira . que vem de tempo e ultrapassa o tempo. aos quais ele se dedica com minha mais profunda admiração. e é onde ele ganha energias para o enfrentamento da sua profissão. espero que apreciem o passar de sua sabedo­ria como nós que convivemos de perto apreciamos. acima de tudo. a mulher e um casal de filhos. essas coisas também nos trans­tornam e não devemos culpá-lo por isso. Dr. Como a argamassa que ele fala no livro. enfim. mas . vendidas secas e embala­das. como grande e principal van­tagem técnica. em realidade. já são poucos os materiais efetiva­mente produzidos no próprio canteiro. principalmente em revestimentos de paredes que. Livros mais antigos sobre materiais de construção. é onde esses defeitos ocorrem de forma mais frequente. Com maior ou menor grau de industrialização.1. em geral sem critério. embora a indústria venha disponibili­zando ao mercado argamassas prontas. minimizando a probabili­dade de ocorrerem defeitos. INTRODUÇÃO Acreditamos não estar errado pensar em qualquer constru­ção como um processo em linha de montagem com layout de produto fixo. as obras tendem a seguir este rumo. tanto no proporcionamento como na qualidade dos insumos empregados. é possível enquadrar as argamassas. adaptações e outras interven­ções feitas na obra. Dentre esses. percebe-se cada vez mais serem empenhados esforços no sentido de que os diversos componentes possam chegar à obra prontos. Mesmo considerando a construção civil como um segmento da indústria com ainda muitas atividades artesanais no que se refe­re à montagem por assim dizer. Isso não quer dizer que essa operação não seja mais realizada ou que não possa mais ser realizada em obra. ou exigindo um mínimo de trabalho para adequá-los a apenas uma simples operação de montagem. tendo sido este o caminho procurado pelo segmento como um todo. mas que já de há muito tempo não é mais reali­zada em obra. As argamassas industrializadas ou. Essas características elimi­nam a necessidade de correções. ainda trazem informações sobre a téc­nica de extinção da cal virgem. a homogeneidade. já que. infelizmente. bastando apenas adição de água para tomá-las aptas para o uso. já de certo modo desatualizados. como preferem alguns. operação corriqueira até os anos 70 do século passado. argamassas prontas apresentam. empresas voltadas para o comércio de materiais de construção. no passado conhecidas como madeireiras. a menor área disponível nos canteiros e a natural evolução ocorrida na constru­ção civil fizeram com que essa prática de extinção da cal no pró­prio canteiro de obras fosse completamente abandonada. tem sido constatada uma grande variação nos proporcionamentos (traços) adotados na pre­paração destas argamas- . passaram a industrializar argamassas de cal e areia. na pintura. passaram a ser consumidas na grande maioria das obras. não raro. como tantas. em obra. À época em que se extinguia cal na obra. Tão popular se tornou o comércio desse tipo de ma­terial que o termo argamassa. em pou­co tempo. passou a ser empregado incorretamente como sinônimo de argamassa intermediária de cal e areia. O trabalho com a cal e suas argamassas era técnica co­nhecida e dominada e. a qual efetivamente será aplicada. determi­nando o inevitável esquecimento da técnica pela maioria dos profis­sionais. chamadas de argamassas brancas ou intermediárias. definido o canteiro. A consequência da generalização dessa prática foi o total abandono do procedimento de extinção da cal em obra. Através de ensaios em laboratório. a velocidade exigida na execução das obras. Essa argamassa de cal e areia pode ser considerada como um material intermediário. a exiguidade nos prazos de exe­cução. principalmente entre serventes e pe­dreiros. ou simplesmente massa. repassada de gerações para gerações de profissionais. uma das primei­ras tarefas. já que. era a abertura de uma vala no ter­reno para a extinção da cal que seria consumida ao longo de toda a obra nas argamassas e. Em um determinado momento. que.16 RECENA. recebe o cimento Portland para compor a argamassa dita final. tendo sido interrompido o repasse informal das informações que regem essa atividade. Fernando Antonio Piazza trata-se de uma operação difícil de ser presenciada nos dias de hoje na rotina diária de um canteiro de obras. Com o passar do tempo. poden­do. A falta de cri­tério em sua produção. principalmente nos revestimentos. Com frequên­cia ainda são avistados caminhões transportando argamassa e deixando pela via pública um rastro de material devido às fugas originadas pelo excesso de água e pela má vedação da caçamba. favorecendo ao apare­cimento de manifestações patológicas importantes. vista a necessidade de ser promovida a permanente mistura durante o transporte de materiais passíveis de segregação. postas à disposição do mercado por uma imensa quantidade de produtores. Passaram a ser empregados na produção dessas argamassas os mais variados proporcionamentos com o emprego de matérias-primas de qualidade questionável sempre com o objetivo de reduzir custos. o que por si só já constitui uma irre­gularidade. A necessidade de agitação durante o transporte deverá ser tanto maior quanto mais plástica for a argamassa por sua maior tendência à segregação. uma concorrência acirrada que. determinou o comprometimento da qualidade do produto. o que dificul­ta a dosagem final destas argamassas em obra.Conhecendo argamassa sas intermediárias. por parte de comerciantes descuidados com a boa técnica e com os conceitos básicos que caracterizam o mate­rial. também conhecidos como caminhõestombadeira. assim como argamassas e concretos. Sendo um bom negócio e com mercado promissor. por imposição da concorrência e com a anuência do desco­nhecimento técnico sobre o material. Associada à diversidade de traços. naturalmente. até para compensar a deficiência de dosagem de cal. O transporte das argamassas intermediárias ainda é feito de forma inadequada em caminhões-caçamba. em obras de pequeno por- 17 . Ao chegarem ao destino. descarregadas sem qualquer cuidado. infeliz­mente. o que gera danos em grande quan­tidade. vem determinando variações em suas características com con­sequentes variações em seu desempenho. em geral. as argamassas são. diretamente no solo. deve ainda ser considerada a variação na qualidade dos insumos empregados na sua produção. sendo comum a adição indiscriminada de cimento e água. a popu­larização do comércio de argamassas intermediárias de cal e areia estabeleceu. O uso indiscriminado desses materiais alternativos. tal como descar­regada. Contaminações também podem ocorrer duran­te este longo período de estocagem. mais notadamente em revestimentos. postos em obra sem o necessário conhecimento e dosados exclusivamente com a finalidade de sugerirem estar sendo obtida uma argamassa de boa qualidade a um custo menor do que a alternativa conven­cional. existem outros cuja maior preocupação está focada na redução de custos. excremento de animais e por detritos gerados pela própria obra. determinou igualmente o aparecimento de diversos proble­mas. comprometendo o desempenho final da argamassa. essas argamassas são preparadas com uma quantidade excessiva de água para aumentar seu volume. que pode permanecer dias ou até semanas. galhos e impurezas diversas. tão ou mais importantes que aqueles até então observados. . que empre­gam processos de produção estagnados tecnologicamente e abdi­cam de procedimentos de controle da qualidade dos insumos. de certa forma. a descarga ocorrer diretamente no passeio. sendo comum haver mistura com folhas. na verdade. Não raro. favore­cendo o processo de segregação que faz com que parte da pasta seja perdida durante a descarga por escorrer e separar. que induziram o mercado a aceitar novos materiais na tentativa de minimizar a ocorrência de problemas. os insucessos verificados nos revestimentos acabavam por ser relacionados com a cal associan­do o material ao problema quando.18 RECENA. Fernando Antonio Piazza te. todos os problemas na maioria das vezes estavam vinculados diretamente a proporcionamentos incorretos que geraram argamassas pobres em cal e procedimentos inadequados a começar pelo estoque do material na obra. Assim como existem produtores cônscios de sua responsa­bilidade e comprometidos com a qualidade. A evaporação da água no processo de secagem estará propiciando a ocorrência da reação de carbonatação da cal. Esses procedimentos inadequados determinaram ao longo do tempo o aparecimento de inúmeras manifestações patológicas. já que. alterando o traço original. Outra grave irregularidade presenciada com frequência é a inadequada estocagem da argamassa. res­ponsável por seu endurecimento. em um monte na frente da obra. da arga­massa definitiva. Diante de um quadro tão intenso de problemas. com o cuidado de que houvesse. em re­pouso. Como de certa forma a técnica havia sido esquecida por falta de transmissão oral entre os profissionais da construção civil. esses materiais len­tamente foram saindo do mercado a ponto de haver. 19 . seca em sacos. A partir do aprimoramento das técnicas de hidratação da cal virgem pela indústria. houve a iniciativa de algumas construtoras em produzir na própria obra a argamassa intermediária ou branca. As primeiras experiências foram desenvolvidas a partir da produção de uma pasta de cal. foi possível disponibilizar ao mercado con­sumidor cal hidratada em pó. certa dificuldade em encontrá-los.Conhecendo argamassa Não tendo representado a solução esperada. nem sempre foi atingido o êxito esperado. um período de repouso não inferior a 24 horas. a partir da extinção da cal virgem. o que veio a permitir a realização de algumas experiências desenvolvidas no sentido de viabilizar a produção de argamassas de cimento. antes do uso na produção da argamassa definitiva. A dificuldade em manter a umidade da pasta e consequentemente a relação de sólidos por unidade de volume introduziam variações na composição da argamassa final. a partir das 24 horas de descanso. que perigo­samente tendia a ser encarado como normal. para garantir o em­prego de um material de boa qualidade e minimizar o aparecimento de manifestações patológicas. Posteriormente. hoje. Esse período de repouso obrigava a realização de duas operações de mistura. além de não haver conhecimento da técnica mais adequada de produção desse tipo de argamassa. passou a ser produzida uma argamassa intermediária de cal e areia. à época. elevando o custo de produção além de exigir uma área especial de estoque dessa argamassa intermediária. Deve ser ressaltado que. uma da argamassa intermediária e outra. de cal e areia. não havia também um método específico para sua correta dosagem no estabelecimento dos traços definitivos. já que a deficiente hidratação da cal virgem foi tomada como causa de uma grande quantidade de pro­blemas verificados nas argamassas. a partir de um deter­minado momento. cal e areia em uma única operação de mistura. 20 RECENA. a CIENTEC é chamada a opinar em situações de litígio originadas por problemas em argamassas de revestimento de paredes. Como as normas brasileiras sobre argamassas ainda per­mitem a existência de grandes lacunas quanto à especificação de parâmetros de controle ou quanto ao uso dos diversos materiais passíveis de serem empregados em sua produção. viabilizando a produção deste material em uma única operação de mistura. então. muitas vezes o julgamento de questões que envolvem a qualidade das argamassas acaba por apresentar alto grau de subjetividade. A argamassa assim produzida poderá determinar uma certa diminu­ição da plasticidade da pasta de cal com perda de rendimento em sua capacidade de incorporar areia. estando essas misturas consagradas pelo uso. como fator de comprovação da técnica. e sua relação com os materiais empregados. conduzindo sim­plesmente a afirmações do tipo não cumpre de forma eficaz a fun­ção a que se destina. a experiência daqueles produtores de cal que igualmen­te comercializam argamassas prontas de cimento. cal e areia. . ensacadas. determinando tão intenso envolvimento com diversos materiais e técnicas que permitiu fosse adquirido o conhecimento necessário para viabilizar a tomada de um posicionamento imparci­al quanto a essas questões. A pequena perda de trabalhabilidade que poderá ocorrer deverá. Essas situações provocam constante­mente a arguição quanto à possibilidade de emprego de materiais alternativos. Com grande frequência. ser compensada com pequenos ajustes na dosagem. seguramente há mais de dez anos com bons resultados. Deve ser considerada ainda. Fernando Antonio Piazza Em função da quantidade de argamassa produzida nessas condições e do tempo em que a técnica vem sendo adotada com sucesso. principalmente. evidenciando o ainda incipiente conhecimento sobre o comportamento de revestimentos. é possível afirmar que o risco que poderá estar sendo corrido pela eliminação da etapa de descanso da cal em mistura com água ou da argamassa intermediária é pequeno. ambicionando este livro transferir o conhecimento adquirido pela CIENTEC. Pode ainda ser considerado como objetivo deste livro. sobre dosagem de arga­massas mistas de cimento Portland e cal e orientar os profissionais da área quanto à produção de argamassas adequadas às tarefas de assentamento e revestimento de alvenarias em muros e pare­des. quanto ao emprego dos materiais. partin­do do pressuposto que o conhecimento dos vários tipos de aglome­rantes. os aglomerantes. bem como o princi­pal ensaio que pode ser realizado em obra para verificação do desempenho de sistemas de revestimentos que empreguem arga­massas. sua dosagem. preparação em obra e sua aplicação. neste livro. além de apresentar uma visão genérica sobre o amplo horizonte das argamassas. suas possibilidades de misturas. cal e areia. tipos. Alguma orientação quanto ao controle da qualidade das argamassas produzidas em obra é apresentada. empregos e característi­cas específicas. com as características requeridas para os diversos em­pregos. características e peculiari­dades já seja dominado. 21 . ao longo de vários anos. res­gatar o conhecimento das argamassas de cimento. Não serão abordados.Conhecendo argamassa Sempre será possível produzir em obra argamassas de boa qualidade. ou emboço para aplicação de revestimentos cerâmicos. . . este material obtido da mistura de cal e pozolana pode ser considerado o primeiro aglomerante da história com caracterís­ticas hidráuli- . o fato é que um tipo rudimentar de aglomerante. que estivessem oca­sionalmente em contato com o fogo de fogueiras acesas para geração de calor. a cal já pudesse ter despertado a atenção e a curiosidade do homem em função das alterações oriundas da calcinação de rochas calcárias.C. sendo creditada aos romanos sua mistura com agregados graúdos entre os quais. nos anos 2980 a 2925 a.C. podendo ser misturado com outro aglomerante constituído por gesso impuro calcinado. Os gregos conheciam bem a cal e suas aplicações. De algu­ma forma. na realidade blocos de argamassa fundidos no próprio local. Mais tarde. é possível imaginar que. areias e fragmentos de cerâmica vermelha na composição de concretos rudimentares. por volta de 5000 a 6000 anos a. existindo uma teoria que diz serem os imensos blocos de pedra. de onde se origina o nome pozolana. tem seu emprego regis­trado desde a época da construção das grandes pirâmides. com os quais foram construídas as pirâ­mides. já que observações feitas nas pirâmides de Gizé e Quéfrem indicam a existência de argamassas de areia natu­ral em que um dos constituintes é a cal. que também poderia ser cal. Especulações à parte. NOTA HISTÓRICA Segundo Guimarães. Do antigo Egito. em cavernas. proteção ou para cozinhar algum alimento..2. há relatos de emprego de um aglomerante natural caracterizado como um geopolímero obtido de resíduos das minas de cobre existentes no monte Sinai. seixos rolados. para melho­rar o desempenho das argamassas frente à umidade. os romanos passaram a incorporar às misturas cinzas vulcânicas obtidas na região de Pozzuoli. Desde épocas remotas o homem emprega materiais que têm a finalidade de unir solidariamente elementos de várias nature­zas na construção de edificações. O material obtido destinava-se à produção de argamassas e para pintura. tem-se o registro da instalação das primeiras caieiras no ano de 1549. No Brasil. defasa­do de alguns séculos devido.24 RECENA. sendo aplicada em sucessivas camadas até formar uma crosta impermeável. O cimento Portland. No interior do Brasil. a cal era fundamentalmente emprega­da em pinturas de proteção contra as chuvas das paredes de barro das edificações. pode ser considerado uma evolução desses primeiros aglomerantes. ao obscurantismo que carac­terizou a Idade Média. como conhecido hoje em dia. Fernando Antonio Piazza cas com o qual foram erigidas muitas construções que se mantêm estáveis até os dias de hoje. conforme informações citadas por Guimarães. . na construção e manutenção do casario da época. sendo possível dizer que o emprego da cal no Brasil é tão antigo quanto o próprio país. também. Essas unidades produziam cal a partir da calcinação de con­chas marinhas obtidas dos abundantes depósitos existentes na Bahia. 3. é preciso reconhecer ser possível pre­parar argamassas de excelente qualidade com uma gama muito variada de materiais. via de regra. resposta acima de sua competência técnica. a facilidade de “chapar” a argamas­sa e a rapidez com que poderão ser executados o reguamento e o desempenamento ditam as características do material. havendo. a durabilidade e a capacidade de aderência ao substrato. como já citado anteriormente. Não raro o estabelecimento do traço é feito empiricamente pelo mestre de obras ou até pelo pedreiro. é neces­sário discorrer algo sobre alternativas que se apresentam hoje de forma bastante sedimentada no mercado e sobre a maneira como estas alternativas vieram a ocupar um espaço significativamente grande no universo representado pelas argamassas em suas mais variadas aplicações. mesmo que isso possa comprometer a qualidade final da tarefa. A bem da verdade. não rara­mente comprometendo a resistência mecânica. Problemas podem ocorrer fundamentalmente pela aplicação de processos incorretos de dosagem e por ser exigida. Em se tratando de argamassa para revestimento. Sempre haverá um proporcionamento mais adequado a cada tipo de material. Infelizmente o que se observa em obra é a falta de critério na definição tanto do material como do traço a ser empregado na preparação das argamassas. Em função dos diversos problemas ocorridos com as arga­massas de cal. dos materiais. Não é prudente responsabilizar o material empregado pela qualidade final de uma argamassa assim como não é possível responsabilizar exclusivamente o cimento Portland pela qualidade final de um concreto. MATERIAIS ALTERNATIVOS Embora o assunto abordado neste livro diga respeito preponderantemente às argamassas mistas de cimento e cal. uma preocupação imediata com a condição de trabalhabilidade e de velocidade de produção. o mercado consumi­dor abriu-se a materiais alter- . sua qualidade sempre esteve vulnerável às variações da matéria-prima. por serem comercializados sem o estudo necessário. Dos materiais alternativos apresentados ao mercado. Tantos foram os problemas ocorridos em um determinado período que esses. tendo seu uso consagrado pela humanidade. sendo importante e oportuno reforçar a afirma­ção feita em parágrafo anterior de que argamassas de qualidade. aquilo que se vai discorrer adiante no texto não tenciona representar um julgamento das alternativas exis­tentes no mercado. Fernando Antonio Piazza nativos na busca por soluções técnicas que pudessem minimizar os problemas já corriqueiros. e os vários tipos de argila. determinou o relacionamento direto do produto com os problemas surgidos. também conhecidos como aeradores ou estabilizadores para argamassas. que se propu­nham a resolver os problemas que vinham sendo registrados.26 RECENA. a qualidade das argamassas preparadas com ela não pode ser questionada. mas fundamentalmente do proporcionamento (traço) empregado em sua produção. principalmente condicionado por sugestão de proporções inade­quadas. muitas vezes comer­cializados erroneamente como “substitutos da cal”. o mau uso. Tais produtos alternativos sofreram do mesmo mal. foram relacionados diretamente com o aglomerante. Como a cal é conhecida desde há muito tempo. igualmente co­mercializados inadequadamente como produtos capazes de substi­tuir a cal. As incorreções verificadas estão muito . A bem da verdade. exceto quando for de baixa qualidade. caulim e xisto. precipitadamen­ te. ou seja. adequadas ao uso a que se destinam. ainda empregados em larga escala. O desconhecimento de suas características técnicas. Sen­do um aglomerante mineral obtido até pouco tempo atrás por um processo artesanal com pouca tecnologia agregada e de baixo grau de industrialização. bem podem ser obtidas com os mais variados materiais. mas principalmente do processo ado­tado em sua produção. a qualidade dessas argamassas estava condicionada à qualida­de da própria cal. Como durante muito tempo foram emprega­das em obra argamassas intermediárias constituídas por cal e areia. dois destacaram-se por seu uso intensivo num determinado período: os aditivos incorporadores de ar. predispon­do o mercado a aceitar produtos alternativos. mais notadamente junto à Serra do Mar. uma das características que permite classificá-la como um aglomerante aéreo. Além desse mecanismo de endu­recimento citado. ao menos no campo teórico. de argila e areia. como o gnaisse. É necessário ressaltar que a cal é efetivamente um aglomerante. de resistência mecânica e estabilidade química. formado. portanto. em várias regiões do Brasil. ou mais precisamente. alguns registros devem ser feitos com o objeti­vo de esclarecer possíveis usuários quanto às características pró­prias destes produtos colocados inadequadamente no mercado como substitutos da cal. 27 . o que. sendo. com o dióxido de carbono (CO2) presente no ar. após a secagem. sem o suficiente estudo em escala de laboratório e comprovação na prática. argamassas ainda são preparadas a partir da mistura de cimento Portland e saibro. ao manuseio e à aplicação do que aos materiais empregados. sugere poder haver a con­tribuição com o ganho de resistência das argamassas em idades maiores. A capacidade de aglomeração da cal decorre do contato da pasta de cal (cal e água) com o ar. fruto do desconheci­mento das características e peculiaridades dos diversos materiais e de seu emprego prematuro. embora algumas argilas e xistos possam apresentar alguma pozolanicidade. mas também pelo hidróxido de magnésio é alterada por sua carbonatação. poderá haver ainda o aparecimento de produtos aglomerantes neoformados. antes de tudo. dotando a mistura. A estrutura original formada fundamental e preferencialmente pelo hidróxido de cálcio. devemos ressaltar que. No entanto. Entende-se por saibro o material meteorizado resultante da decomposição do granito ou de outras rochas magmáticas de textu­ra granular. em que o quartzo predomina. oriundos da reação da cal com a sílica presente nos agregados ou em pozolanas intencionalmente incor­poradas à mistura. o que não pode ser dito de argilas ou outros materiais pulverulentos e muito menos de aditivos incorporadores de ar.Conhecendo argamassa mais ligadas às dosagens. Falando em primeiro lugar nos minerais argilosos. sob a forma de argamassa ou na construção de paredes em edifi­cações de pau a pique. no afã de tornar seu produto atraente economicamente. teremos em nossa mente imagens de atoleiros em dias de chuva. principalmente no litoral. caracteriza­do pelo emprego em quantidade exagerada de argila. principalmente a partir da década de 80. como compor misturas de areia e argila. a adoção de minerais argilosos na preparação de argamassas é uma alterna­tiva técnica consagrada em algumas regiões. a experiência adquirida com esta técnica de fazer argamassas permite a obten­ção de materiais adequados ao uso e que cumprem suas funções com desempenho satisfatório. Transpondo essa ideia para uma arga­massa feita com argila. De uma forma geral. não raramen­te induzida pelo fabricante. está identificada com o proporcionamento inadequado das argamassas. teremos.28 RECENA. A causa de inúmeros problemas verificados. Nada de novo. nuvens de poeira em dias secos e superfície lisa e firme sem pulverulência para um determinado grau de umidade. Se lembrarmos de uma estrada sem pavimentação implan­tada em região de solo argiloso. . a cal aplicada na forma de pintura em várias demãos sobre paredes de barro garantia a esta­bilidade do maciço pela impermeabilidade conferida. no Rio Grande do Sul. Fernando Antonio Piazza Nessas regiões. o comportamento espe­rado de uma estrada. se a umidade tiver acesso à ar­gamassa de barro. em nítida afir­ mação da falta de estabilidade da argila empregada na construção. poderemos nos reportar à nota histórica referida por Guimarães de que. obtidos das chamadas saibreiras. Imaginemos agora uma parede revestida com barro: se for garantida a impermeabilidade do revestimento. guardadas as devidas proporções. De qualquer maneira. gerando sérios inconvenientes pelo aparecimento de manifestações patológicas mais notadamente nos revestimentos de paredes. nos primórdios da colonização do Brasil. aplicada como revestimento. tanto é possível admitir o emprego di­reto de saibros naturais. principalmente pela falta de maceramento. como exemplificado anteriormente. esse estará. estabilizado. até certo ponto. Ao contrário. Ainda por se tratarem de materiais muito finos. podendo novamente aqui ser traçado um paralelo com o solo argiloso e seu processo de gretamento com a secagem. desde Santa Catarina até a região Nordeste. Como essa água não é convenientemente retida durante o processo de secagem.Conhecendo argamassa As variações na umidade provocam variações no volume da argamassa. Evidentemente esses danos podem ser recuperados. é comum e corri­queiro o emprego de saibro na produção de argamassas. sua rápida evaporação favorece ao apare­cimento de fissuras por retração do material durante o processo de secagem. criando bolhas na su­perfície da parede. O emprego de argila em composição com areia permite a obtenção de um material que se assemelha ao saibro 29 . emprestando mau aspecto à edificação. e via de regra consumidos em grande quanti­dade nas argamassas. Voltando ao que já foi anteriormente dito. no caso de revestimento de paredes. Empolamentos com posterior desagregação da argamassa também podem ocorrer com frequência. com o passar do tempo. comprometendo o revestimento ou até mesmo a estabilidade de uma alvenaria quando for empregada no assentamento. que. portanto sem desmanchar. deter­minando o esfarelamento com destruição do material. em argamassas de baixa resistência. podendo ocorrer em situações mais drásticas o escorrimento pela parede da argila dissolvida pela água ocasionando manchamentos. este pequeno grumo. princi­palmente no litoral brasileiro. de elevada superfície específica. muitas vezes rompendo as ligações promovidas pelo cimento Portland. por ser um material muito fino e sempre co­mercializado com um certo teor de umidade. apresenta uma natural tendência à formação de pequenas bolas que na betoneira perma­necem inalteradas durante o processo de mistura. mas sempre envolvendo cus­tos e desgaste para o construtor. Na argamassa. evoluem para vesículas. essas acabam por exigir uma quantidade mais elevada de água para o atingimento da trabalhabilidade reque­rida. em função de variações na umidade do ar ou das variações de umidade causadas pela incidência direta das chu­vas. Essa argila. vai experimentar variações de volume. Os insucessos relatados em muitas oportunidades tiveram origem quase exclusivamente no equívoco cometido pela utili­zação de uma quantidade excessiva de argila. a manutenção adequada do sistema de pintura tem mantido estáveis revestimentos em argamassas com­postas com argila. já tomado anteriormente como exemplo. cuja mistura possa gerar argamassas de melhor qualidade. gerando a degradação da argamassa. Outra incorreção é admitir como razoáveis traços muito po­bres em cimento. ora de tração que terminam por romper as fracas ligações promovidas pelo cimento. secagem com retração. mesmo a partir de dosagens inadequadas pelo emprego em excesso dessas argilas. . Essas alterações cíclicas de volume determinam o aparecimento de tensões internas na argamassa. Argamassas assim produzidas apresentam forte tendência à retração com a inevitável instalação de intensos processos de fissuração. prin­cipalmente na falta de materiais clássicos. comprometendo o aspecto visual dos revestimentos e. ou minerais simila­res. posteriormente. ora de compressão. o que determina. Fernando Antonio Piazza com a vanta­gem de ser isento de impurezas que podem ocorrer no saibro natu­ral. na argamassa. normalmente com intensa pulverulên­cia.30 RECENA. apresentam estabili­dade apenas enquanto a película de tinta apresentar impermeabili­dade. de­pendendo da magnitude do processo. empregadas em revestimentos. o autor se expressa de maneira indiferente ao empre­go dessa composição como alternativa tecnicamente aceitável. sua estabilidade por esfarelamento com pulverulência ou por destacamento do substrato. Em muitas obras. Há que ser feito um alerta no sentido de vincular a qualidade do produto final com uma conveni­ente dosagem em laboratório e o atingimento dos valores de refe­rência para a avaliação de seu desempenho. um comporta­mento parecido com aquele que ocorre em estradas de chão. Dito isso. Essas argamassas pobres em cimento. A natural degradação do sistema de pintura permite a passa­gem da umidade em ciclos alternados entre molhagem com expan­são e. Os grãos do agregado miúdo. quanto mais água lhe for adicionada. sem o recurso introduzido por este artifício. assim envolvidos pela pasta. se houver a necessidade de aumentar o volume desta pasta com o intuito de melhorar a coesão e. sem o emprego de aditivos. água e ar aprisio­nado. caracterizando uma argamassa coesa cuja trabalha­bilidade será tanto maior. são clássicos esses citados traços de argamassas de cimento e areia. isso pode ser obtido pelo aumento de qualquer uma dessas três variáveis ou por sua combinação. Esse aumento de pasta. na forma de pequenas bolhas. desde que não haja comprometimento da coesão o que representaria a segregação. Ao considerar uma argamassa de cimento e areia. que podem efetivamente ser considerados consumos de cimento muito elevados que. manter-se-ão unidos. considerando uma relação água/cimento de 0. Os aditivos incorporadores de ar. respectivamente. ao aumentarem a quantidade de ar presente na pasta.60. não apresentariam trabalhabilidade em níveis mínimos para utilização.Conhecendo argamassa O caso dos aditivos incorporadores de ar deve ser analisa­do de forma um tanto diferente. viabilizando o emprego de argamassas em traços que. dotando dessa maneira a mistura de coesão. além de gerar argamas­sas de elevado custo. aumentam seu volume. Uma pasta é formada por aglomerante. a trabaIhabilidade de uma argamassa. ao dotar de boa trabalhabilidade as arga- 31 . por exemplo. determinarão características físicas e mecâ­nicas incompatíveis com seu emprego em revestimentos principal­mente. Toda e qualquer boa argamassa necessita de uma quantidade mínima de pasta para preencher os vazios existentes entre os grãos do agregado. para a maioria das areias naturais. já que no assentamento de alvenarias de tijolos à vista. Traços em massa de 1:3 e 1:5. esses objetivos poderão ser obtidos a partir de um proporcionamento em massa de uma parte de cimento para três ou até cinco partes de areia. ou seja. consequentemente. determina­rão consumos de cimento da ordem de nove a sete sacos por metro cúbico. a separação dos constituintes. o que determinará sempre perda de trabalhabilidade. manter esses grãos afastados entre si e propiciar seu movimento relativo para garantia da trabalhabilidade. até os níveis adequados a cada função. mas sem estabilidade. devendo ser feito um balanço entre as vantagens e desvantagens advindas de seu em­prego. sempre contando com o apoio de um laboratório de materi­ais de construção. . por benefícios comerciais. A interrupção dos canais capilares inibe a exsudação. entretanto. Esses aditivos incorporadores de ar. pessoas sem compromisso com a boa técnica a sugerir o emprego desses traços que geram argamassas aplicáveis. redução na resistência mecânica. assim como os concretos empregados em estruturas convencionais. sem acréscimo de água. Fernando Antonio Piazza massas de traço muito fraco.32 RECENA. Como regra geral. de baixas resistências mecânicas e pouco trabalháveis. a introdução de bolhas de ar não propicia a redução da quantidade de água. Em misturas pobres em cimento. ou até mesmo permitindo sua redução. aditivos ou adições devem sempre ser empregados após uma avaliação criteriosa. incentivou. de elevada permea­bilidade e aderência ao substrato sofrível. podendo haver assim aumento na resistência mecâni­ca em função da redução da relação água/cimento. podem me­lhorar algumas características de concretos e argamassas. dosados em quantida­des adequadas à quantidade de cimento empregado. diminui o volume de água eva­porada na unidade de tempo e aumenta a estabilidade das mistu­ras. a introdução de bolhas de ar tem uma ação que pode ser comparada à introdução de defei­tos. ocorrendo. é aconselhável o emprego de aditivos incorporadores de ar para que a trabalhabilidade adequada seja obtida pelo aumento no volume de pasta a partir da introdução de bolhas de ar. Em misturas ricas em cimento. em função da introdução desses defeitos que determinam o aumento da porosidade do aglomerado. É pos­sível diminuir a permeabilidade de concretos e argamassas sempre que as bolhas de ar puderem interromper o fluxo hidráulico respon­sável pelo desenvolvimento dos canais capilares. Como esses concretos ou argamassas já apresentam adequa­da trabalhabilidade. que se instalam no desenvolvimento do processo de exsudação. colaborando para o controle da fissuração por retração. alguns fabricantes recomendam traços dessa or­dem de grandeza. comprometendo a estanqueidade do envelope da edificação e a aderência ao substrato. Sem qualquer dú­vida. Argamassas assim obtidas. o emprego indiscriminado desses aditivos incorporadores de ar. devendo sua dosagem ser deter­minada para cada alternativa de mistura. via de regra. A opção pelo emprego de um aditivo incorporador de ar e a definição da dosagem mais apropriada deve partir do conhecimento de suas características e de seus efeitos sobre a argamassa que está sendo produzida.Conhecendo argamassa No caso particular de aditivos incorporadores de ar. a mistura torna-se extremamente econômica e. sem levar em conta a qualidade final da arga­massa. Perturbações na aderência ao substrato tanto em argamassas de revestimento como de assentamento. sem a definição das características dos materiais emprega­dos como o tipo de cimento e o módulo de finura da areia e sem a avaliação adequada da interferência nas outras características do material. sua efi­ciência na incorporação de pequenas bolhas de ar está diretamente ligada à composição granulométrica da areia e com a quantidade de aglomerante ou material fino. apresentam baixa resistência mecânica e alta porosidade. falta de estanqueidade em paredes externas. em função desta economia. levando em consideração a granulometria da areia. principalmente quando erigi­das em tijolos à vista. trabalhar traços tão fracos como 1:8 ou 1:12 em volume. pode determinar signi­ficativas alterações em outras características igualmente importan­tes das argamassas. visando apenas reduzir a quantidade de cimen­to empregada na produção de argamassas. sendo em geral permeá­veis. seja essa argamassa empregada no as­sentamento de elementos de alvenaria ou em revestimentos de paredes. Muitas vezes. são alguns dos defeitos relacionados com o uso de forma inadequada desses produtos. Em argamassas. a qualidade do cimento e a eficiência do 33 . através do aumento no volume de pasta. a utilização de aditivos incorporadores de ar possibilita. Em função desses aspectos levantados. de tão importante. onde. . Maior incorporação de ar igualmente pode ser obtida em função da eficiência do processo de mistura. O correto emprego desses aditivos deve ser justificado pela consideração de sua finalidade como melhoradores de argamassas de cimento e areia ou até mesmo de concretos de baixo consumo de cimento. poderão vir a ser classifica­dos como vícios construtivos. em seu desempenho. a adoção de arga­massas aeradas principalmente em revestimentos estará sujeita a significativas variações em suas características e. merece ressalva.34 RECENA. ao tipo de equipamento de mistura adotado e fundamentalmente pelo tempo de mistura. sendo possível constatar a ocorrência de comportamentos distintos em uma mesma fachada. é a variação do efeito esperado em função de alterações na composição granulométrica do agregado e na eficiência do processo de mistura da argamassa. já que esses aditivos são produtos espumígenos e quanto mais agitados mais espuma formarão. Outro aspecto a ser considerado na avaliação desse tipo de aditivo que. Dessa maneira. mas jamais como substitutos da cal. Areias finas de granulometria contínua apresentam uma capacidade maior de reter as bolhas de ar introduzidas pelo aditivo. Fernando Antonio Piazza equipamento de mistura. a dosagem do aditi­vo fica igualmente condicionada ao tipo de agregado empregado. induzindo muitas vezes ao uso incorreto com o aparecimento de inúmeros danos. além da interação desta argamassa com o substrato de aplicação. imagem apresen­tada em algumas situações que distorcem a real finalidade do pro­duto. infelizmente. consequente­mente. que. foi verificada significativa variação no desempenho destas arga­massas. quer pelo aumento no tempo de mistura. quer pela maior eficiência do equipamento empregado. aumentando sua eficiência. Em prospecções realizadas em revestimentos acabados. indicavam igualmente haver diferenças significativas. é preciso ressaltar que toda bolha de ar que se situar na interface argamassa/substrato representará uma solução de continuidade diminuindo o contato da argamassa com o substrato. Outro fator importante é a constatação de que em argamassas de baixo consumo de aglomerante é igual­mente reduzida a capacidade de retenção de água o que também compromete a eficiência da ligação da argamassa ao substrato. e na produção propriamente dita com relação ao tempo de mistura. Depreende-se daí a necessidade imperativa de serem estabelecidos. fragilizando-o. nesses casos.Conhecendo argamassa em princípio. quando houver composição. 35 . Quanto à aderência ao substrato. além da quanti­dade de água empregada. principalmente porque o desempeno intenso dessas argamassas aeradas promove a concentração de bolhas de ar na superfície do revestimento. executado com instrumentos pontiagudos. Em algumas regiões do revestimento seu desempenho situou-se aquém dos padrões mínimos de qualidade exigidos por norma no ensaio para verificação da resistência de aderência realizado conforme a NBR 15258:2005 – Argamassa para revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistên­cia potencial de aderência à tração. jamais como um substituto de um aglomerante. a observação subjetiva da pulverulência superficial ou da resistência ao risco. É possível serem obtidas argamassas aeradas de excelen­te qualidade desde que convenientemente dosadas e sendo o aditi­vo empregado como um melhorador. ao volume de material misturado em cada operação. foi emprega­do o mesmo material. Paralelamente. controles rígidos sobre o agregado ou sobre os diversos agregados. . as arga­massas deverão necessariamente apresentar as seguintes proprie­dades: . • absorver as deformações naturais a que uma estrutura está sujeita. • regularizar e/ou proteger mecanicamente substra­tos constituídos por sistemas de impermeabilização ou isolamento termoacústico. • garantir bom acabamento ao paramento revestido. inclusive garantindo o efeito estético esperado. Para o cumprimento das funções relacionadas. FUNÇÃO DAS ARGAMASSAS Qualquer material empregado isoladamente ou compondo sistemas deve desempenhar funções definidas em uma edificação. • garantir a adesão ao substrato de elementos de revestimento em pisos ou fachadas. espera-se ainda que as argamassas possam: • unir solidariamente entre si os elementos que compõem uma alvenaria. • garantir a impermeabilidade das alvenarias de elementos à vista (sem revestimento). • distribuir de forma uniforme os esforços atuantes em uma alvenaria. No caso das arga­massas. levando em consideração sua interação com o substrato e com o ambiente. consideradas como um elemento de um sistema e não isoladamente como um material. é possível admitir como funções primordiais as seguintes: • impermeabilizar o substrato de aplicação. No caso do emprego em assentamento.4. 38 RECENA. Fernando Antonio Piazza • trabalhabilidade adequada à função a que se destinam. . bem entendidas. e • módulo de elasticidade tão baixo quanto o necessário para dotar as argamassas de capacidade de absorver por de­formação tensões internas geradas pela movimentação da estrutura e/ou dos materiais que a compõem. As funções apresentadas e sua relação com as caracterís­ticas requeridas são. • durabilidade compatível com a vida útil prevista para a edi­ficação. no entanto é con­veniente discorrer com mais profundidade sobre algumas dessas características que podem ser consideradas mais importantes por serem fundamentais ao bom desempenho dos diversos tipos de argamassa. • estabilidade química frente aos agentes de deterioração e sem a ocorrência de alterações em seus constituintes re­presentadas por reações retardadas. • eficiente capacidade de retenção de água. • estabilidade física a partir de uma resistência mecânica compatível com as solicitações determinadas por ciclos al­ternados de molhagem e secagem. • capacidade de aderir ao substrato formando um sistema com resistência de aderência compatível com as solicita­ções. de pronto. 5. não será necessário discorrer sobre cada uma delas separadamente. se abordadas. uma argamassa para assentamento de alvenarias de pedra deverá apresentar um comportamento diferente daquele exigido de uma argamassa de assentamento de alvenarias clássi­cas de tijolos ou blocos cerâmicos. visto existirem zonas de intersecção que. CARACTERÍSTICAS DAS ARGAMASSAS Embora no item anterior tenham sido elencadas diversas propriedades das argamassas.1. o emprego de arga­massas de mais elevada plasticidade dificultaria o trabalho em fun­ção da movimentação dos elementos de alvenaria.5. e estas. cumprindo adequada­mente sua finalidade. havendo por esta última característica a necessidade de executar estas alvenarias com juntas de maior espessura. impedindo a obtenção do alinhamento e do prumo desejados. comprometendo a qualidade final da alvenaria e o desen- . de uma argamassa de­senvolvida para a função específica de revestimento de paredes. sendo feitas implicitamente referências às propriedades e características apresentadas no item anterior. neste item. se compa­rados com outros elementos de alvenaria. serão abordadas as principais caracte­rísticas das argamassas. impossibilitando o correto posicionamento das pedras em fiadas. Trabalhabilidade A trabalhabilidade de uma argamassa é um conceito subje­tivo que deve ser entendido como a maior ou menor facilidade de dispor a argamassa em sua posição final. sem comprometer o bom andamento da tare­fa em termos de rendimento e custo. Nessas condições. Uma alvenaria de pedra normalmente emprega elementos de grande massa com superfícies bastante irregulares. Assim. Assim. conduziriam a elaboração de um texto re­petitivo. evitando deslocamentos que possam ser causados pela ação do peso próprio desses elementos ou da força resultante da colocação das fiadas subsequentes. sendo esta a trabalhabilidade adequada para este tipo de tarefa.40 RECENA. pelo aumento na quantidade de água empregada em sua produção. A maior plasticidade garante a aderência instantânea ao substrato. O conceito de trabalhabilidade pode ser entendido. então. Em termos práticos. a argamassa deverá apresentar uma plasticidade que permita a obtenção de uma junta com a menor espessura possível e firme o suficiente para permitir a evolução da parede com velocidade e sem perda do prumo. tornará a argamassa fluida. como a correta interação entre dois conceitos: con- . desde que rompida a coesão. desde que haja uma quantidade tal de material fino. No assentamento de elementos de alvenaria. no momento da projeção da argamassa e permite com mais facilidade um acabamento adequado aos revestimentos de parede. as argamassas empregadas no assentamento de elementos de maior massa e superfícies irregulares devem apresentar maior consistência. “firmes” no jargão popular. incapacitando-a para a função a que se destina. Já as argamassas destinadas ao revestimento de paredes deverão ser caracterizadas por uma plasticidade maior obtida pelo aumento do volume de pasta. mas menos trabalhável pela perda de coesão. Fernando Antonio Piazza volvimento da tarefa. por sua vez obtido. garan­tindo a estabilidade de volume e a coesão necessária para promo­ver a aderência instantânea sem a ocorrência de segregação de seus constituintes. Por isso. suficiente para reter a água adicionada. Uma mesma argamassa ao ser utilizada em revestimento ou assentamento deverá apresentar trabalhabili­dade diferente em cada caso. até o limite da coesão. O excesso de água em uma argamassa. preferencial­mente aglomerante. estando suas características ligadas diretamente às funções a serem desempenhadas. A modificação da trabalhabilidade estará sempre ligada diretamente à quantidade de água empregada em sua preparação. entende-se que a trabalhabilidade de uma argamassa deva estar diretamente ligada à tarefa a ser execu­tada. Condições especiais de agressividade de um determi­nado meio exigirão o emprego de argamassas especiais dosadas para resistir à ação específica dos produtos contaminantes existen­tes em um ambiente. cada uma delas.Conhecendo argamassa sistência e coesão. igualmente apresentará comprometimento em sua trabalhabilidade. pelas condições de agressividade do meio ao qual está exposta e pelo tipo de solicitações de natureza física e mecânica a que estará submetida. desde que submetida aos esforços que foram considerados para seu projeto. trabalhabilidade é um conceito relativo e as duas situações-limite expostas anteriormente podem valer para uma argamassa a ser empregada em revestimento de paredes podendo. A durabilidade de uma argamassa está. Vale dizer que uma argamassa muito pouco consistente. a durabilidade de uma argamassa de assentamento e principalmente de revestimento estará intimamente ligada à presença de umidade e de sais solúveis passíveis de se­rem lixiviados. flexão ou compressão ou de exigência física relacionada com variações de um microclima. Durabilidade A durabilidade de uma argamassa é um conceito que pode ser entendido de uma forma mais simples como sendo a capacida­de de uma argamassa em manter sua estabilidade química e física ao longo do tempo em condições normais de exposição a um de­terminado ambiente. não havendo exigências especiais de resistência mecânica. Como já foi dito. tanto maior deverá ser a participação de aglomerantes hidráulicos na formula­ção da 41 . mas de baixa fluidez.2. uma argamassa de grande coesão. igualmente deverão definir parâmetros de projeto a serem atingidos pelo material durante o desenvolvimento de sua vida útil. 5. Em condições normais. ser adequada a uma outra tarefa não considerada no exemplo. Da mesma forma. ou seja. bastante fluida. sem deixar de cumprir as funções para as quais foi projetada. condicionada por suas características intrínsecas. Quanto maior a presença de umidade. portanto. Elevados níveis de exigência mecânica por abrasão. envolvendo temperatura e umi­dade. sem coesão não será trabalhável. que podem estar permanentemente em contato com água. Muitas vezes o au­mento da resistência mecânica em argamassas é obtido a partir do aumento de sua densidade. por sua vez obtido com o correto pro­porcionamento dos materiais empregados. como fundações em alicerces e muros de arrimo.42 RECENA. já que a resistência à umidade sempre estará diretamente ligada à quantidade de cimento Portland empregado. No caso das argamassas mistas de cimento e cal. não raramente sendo necessário recorrer à mistura de agregados para a obtenção de granulometrias contínuas. Com isso torna-se mais facilmente entendido o conceito de resistência mecânica através do consumo de cimento. as argamassas de assentamento são produzidas exclusivamente com cimento Portland e areia. a percentagem de água sobre o total de materiais secos per­manece praticamente inalterada a partir de pequenas alterações no conteúdo de cimento. Mantida a quantidade de água. muito embora o parâmetro que estabelece o comportamento de todos os aglomerados de cimento Portland seja sempre o binômio: relação água/cimento e massa específica (den­sidade) da mistura. influenciando diretamente sua resistência me­cânica e o módulo de deformação. fatalmente a relação água/ cimento diminuirá pelo aumento no consumo de ci­mento. significativos aumentos na resistên­cia mecânica desses tipos de argamassas somente poderão ser percebidos a partir de também significativos aumentos na quantida­de do cimento empregado em sua preparação. já que a trabalhabilidade é definida por uma quantidade fixa de água sobre o total de materiais secos. já que a quantidade de água empregada na produção das argamassas pouco vai ser alterada por diferenças no consumo de cimento. permitindo imaginar ser extremamente pe­quena a influência direta na resistência mecânica de variações na relação água/cimento. Quando empregadas na construção de alvenarias de pe­dras. Por isso. Fernando Antonio Piazza argamassa. ou seja. caracterizando uma condição extrema para . situa-se normalmente em uma região da curva de Abrams de com­portamento assintótico. função da elevada quantidade de água em­pregada em sua preparação e a pequena quantidade de cimento. a elevada relação água/cimento. Fala-se apenas na quantidade de cimento Portland. Em conclusão. está presente um mineral deno­minado Pirita. depreende-se que as argamassas empre­gadas no revestimento externo das paredes de uma edificação devem ser dosadas com uma quantidade maior de cimento do que aquela empregada em argamassas com outras funções. permitindo a obser­vação no centro da vesícula de grão de coloração branca. já que estarão mais intensamente sujeitas à ação deletéria da umidade. após a aplicação da argamassa. já então de hidróxidos de cálcio e magnésio. em argamassas compostas com cal. A formação dos compostos hidratados é acompanhada de expressivo aumento de volume que determina o aparecimento de tensões internas no material que. Nas partículas de carvão.Conhecendo argamassa garan­tia da durabilidade a partir da característica hidráulica do aglome­rante. mas em seguida por rupturas localizadas caracterizadas pela instalação de processos de fissuração. são dissipadas através de pequenas defor­mações. que poderão dar origem a desplacamentos de revestimentos ou deformações em muros. a hidratação retardada do óxido de cálcio e. ocorre a formação de “bolhas” em sua superfície que evoluem para vesículas a partir da expulsão de pequenas parcelas da argamassa. assim como assentamento ou revestimentos internos. Estabilidade química pode ser entendida como a manuten­ção das características originais de uma argamassa ao longo do tempo. cales obtidas de jazidas próximas a regiões carboníferas e areias naturais mineradas ao longo de rios que passam por essas regiões podem apresentar contaminações por carvão mineral. principalmente. Quando o fenômeno é localizado em revestimentos. caso o fato ocorra em argamassas empregadas no assentamento de elementos de alvenaria. Não raro. do óxido de magnésio. num primeiro momento. não devendo ocorrer reações deletérias nos aglomerantes e em sua interação com os agregados. Como exemplo típico de instabilidade por alteração química é possível tomar. em não sendo suportáveis. Esse mineral em contato com a umidade vai experimentar um processo de oxidação com a formação de óxidos e hidróxidos de ferro que possuem um volume maior do que 43 . formado por sulfeto de ferro. . Fernando Antonio Piazza o composto que os originou.44 RECENA. Figura 1 Bolha na argamassa de revestimento formada pela expansão causada pela hidratação da pirita. carvão. As figuras 1 e 2 a seguir apresentadas registram o fenômeno. Figura 2 Fragmento de carvão que contaminava a areia empregada na produção da argamassa. O efeito desta reação é manifestado pela formação de “bolhas” no revestimento que evolu­em igualmente para a formação de vesículas que em seu interior evidenciarão a presença de um material preto. representados por vegetais inferiores. nos elementos cerâmicos da alvenaria ou em solos saturados. A ocorrência de pulverulência pode ser acompanhada da formação de eflorescências. 5. ao ocorrer nos poros da camada mais externa da argamassa ou do elemento cerâmico.Conhecendo argamassa A presença de sais solúveis no agregado. causam sua destruição. gera a destruição das argamassas e mesmo dos elementos cerâmicos que compõem a alvenaria a partir do aumento de volume experimentado por esses sais em função de sua higroscopicidade ou durante o processo de cristalização que. Retenção de água A retenção de água é a capacidade de uma argamassa de liberar demoradamente a água empregada na sua preparação para o meio ambiente ou para substratos porosos. gerando sempre mau aspecto que pode ser agravado quando ocor­re a instalação de colônias de micro-organismos. A destruição tanto da argamassa de revestimento ou do próprio elemento cerâmico pode ser visualizada na Figura 3.3. Quanto maior a quan­tidade de água empregada na prepara- 45 . Figura 3 Apresenta o aspecto típico de uma alvenaria deteriorada pela ação expansiva de sais solúveis. cuja água é absor­vida por capilaridade. determinando que esses esforços sejam dissipa­dos por ruptura. em uma etapa em que o ma­terial não apresenta resistências mecânicas. mai­or igualmente o volume de água a ser evaporado.00. sendo desen­cadeado simultaneamente ao progressivo ganho de resistência o que garante a estruturação do material minimizando a diminuição de volume e a probabilidade de instalação de processos de fissuração. Fernando Antonio Piazza ção de uma argamassa. Se a argamassa apresenta grande capacidade de retenção de água. A influência da retenção de água na eficiência dos sistemas de ancoragem das argamassas aos substratos de aplicação será mais bem compreendida no texto referente à aderência apresenta­do adiante. a trabalhabilidade adequada para operações de revestimento é determinada por uma plasticidade via de regra obtida a partir de um consumo muito elevado de água. em quantidades que podem che­gar a 30% sobre a massa de material seco. o que pressupõem a existência de muito ampla superfície de evapo­ração em relação ao volume. Em argamassas mistas de cimento Portland e cal. a perda da água de amassamento é lenta. razão pela qual dificil­ mente uma argamassa com essas características deixará de apre­sentar fissuras. ou seja. A capacidade das argamassas em reter água é também de muita importância na garantia da aderência aos substratos. . A rápida evaporação da água de amassamento de uma ar­gamassa de revestimento empregada em pequena espessura. evitan­do o desplacamento de porções de argamassa empregadas em revestimentos de paredes e garantindo a homogeneidade das alve­narias pela manutenção da união dos vários elementos que a com­põem na formação de um todo compacto. determina a redução de volume ainda com a argamassa no estado plástico. gerando sempre retração por maior que seja a capacidade de uma mistura em reter água. em geral de módulo de finura inferior a 1. pela instalação de processos de fissuração. principalmente a resis­ tência à tração que deveria equilibrar os esforços de tração causa­dos pela retração. produzidas apenas com areia fina.46 RECENA. de baixo módulo de elasticidade. A capacidade de um material em absorver esforços por de­formação pode ser relacionada com seu módulo de elasticidade. em revestimentos. assim como concreto armado e alvenaria de tijolos cerâmicos. Sabe-se que embora não linearmente. mate­riais de diferentes coeficientes de dilatação térmica num mesmo paramento vertical. em um ponto estabelecido por um determinado nível de carre­gamento. ou seja. consequentemente.Conhecendo argamassa 5. devendo absorver de forma eficiente deformações diferenciais advindas da resposta dada pelos diferentes materiais às solicitações oriundas das constantes variações térmicas e/ou higrométricas. que pode ser entendido de forma rudimentar como a tensão neces­sária para promover a deformação de uma unidade de comprimento medida sobre um corpo de prova submetido ao ensaio. diferentes comportamentos com relação à ca­pacidade de absorção de água e à deformação causada por ação térmica ou higrométrica. o módulo de elasti­cidade de um material apresenta correspondência com sua resis­tência à compressão.4. representada pela secante à curva que define a rela­ção. O valor do módulo de elasticidade é obtido a partir da inter­pretação da relação entre tensão e deformação característica de um material. Assim é de se esperar que materiais de gran­de deformabilidade. Uma mesma argamassa recobre. Capacidade de absorver deformações Em geral as argamassas são usadas para unir ou revestir elementos fabricados com materiais de diferentes naturezas e. Importa num primeiro momento o conhecimento do valor do módulo calculado para um ponto na curva que define o limite do regime elástico experimentado pelo material. embora a avaliação global deva sempre ser considerada. Trata-se o módulo de elasticidade de uma grandeza de difí­cil quantificação sendo influenciada por pequenos detalhes. apre­sentem baixa resistência à compressão. Não raramente em uma mesma 47 . para os quais existe referên­cia. Assim como não há indicativo preciso sobre os valores de resistência à compressão e à tração a serem verificados em arga­massas para serem empregadas em revestimentos de paredes. . nem sempre efetuada de ma­neira a garantir a representatividade do todo. O conhecimento dessa relação entre resistência mecânica e módulo de elasticidade pode orientar os processos de dosagem no sentido de serem produzidas argamassas com a mínima resistência mecânica necessária para verificar os valores definidos em norma. pelo mesmo operador e curados da mesma maneira são obtidos resultados em muito discrepantes. exigindo sua repetição. que representam a referência conhecida. obtendo-se assim paralelamente baixo módulo de elasticidade. A normalização vigente prevê o emprego de corpos de prova prismáticos para o ensaio de tração na flexão sendo o ensaio de compressão executado sobre prismas obtidos dos corpos de prova ensaiados à flexão o que não permite estabelecer comparação com os valores obtidos a partir do ensaio de corpos de prova cilíndricos. Em se tratando de argamassas. Fernando Antonio Piazza determinação. Os métodos para determinação do módulo de elasticidade são aplicá­veis sobre corpos de prova cilíndricos. é possível esperar a ocorrência de gran­des variações no ensaio em função da maneira como as argamas­sas são preparadas em obra. Em função do exposto. Outro fator a ser considerado como interveniente no processo e determinante importante de variações nos resultados está relacio­nado com a qualidade da moldagem dos corpos de prova e princi­palmente com a coleta da amostra. fica evidente a imensa dificuldade que pode ser esperada caso algum estudo seja desenvolvido no sentido de quantificar tal parâmetro com a finalidade de estabelecer valores de referência para dosagem. do descaso em sua dosagem e da falta de controle sobre os materiais empregados em sua produção.48 RECENA. ou seja. no ensaio reali­zado sobre três corpos de prova moldados com mesma amostra. igualmente não se conhece o valor ou a faixa de valores apropria­dos do módulo de deformação. basta imaginar o comportamen­to de uma mesma argamassa empregada no assentamento de tijolos maciços e no assentamento de tijolos de 21 furos. e c. Superfícies muito lisas definirão certamente sistemas de baixa resistência de aderência. Outros aspectos tais como a temperatura do ar. a aderência instantânea. Considera-se a existência de três mecanismos de aderên­cia que atuam de forma conjunta: a.Conhecendo argamassa 5. sua capacidade de manter-se aderida ao substrato. Como exemplo. sua ve­ locidade e sua umidade podem determinar que mesmos materiais acabem por definir sistemas de revestimento com desempenhos em muito diferenciados. Devido à importância dessa característica. dependendo tanto das características da argamassa como das características do substrato de aplicação. impactos e outras solicitações. com a finalidade de unir elemen­tos em uma alvenaria. seja no assentamento. sem dúvida nenhuma. é necessário co­nhecer o mecanismo de funcionamento e as variáveis intervenientes no processo.5. ou radica­lizando. A eficiência da aplicação. Aderência ao substrato Uma das características mais importantes das argamassas é. ou em revestimentos. no revestimento de uma superfície de concreto e de uma superfície de vidro. sempre relacionada com o fator humano. mesmo diante de mo­vimentações diferenciadas. a microaderência. b. por vezes torna-se a variável mais importante no processo. A resistência de aderência deve ser entendida como o re­sultado do comportamento de um sistema. 49 . a macroaderência. por melhor que possa ser a arga­massa empregada. choques térmicos. imediatamente após sua projeção. a partir da observa­ção à vista desarmada. a força de projeção determina sua deformação sobre o subs­trato no momento do impacto. Essa aderência instantânea dependerá fundamentalmente da coesão e da plasticidade da argamassa. Para o entendimento com maior facilidade do fenômeno. mas que. de curta duração. desta forma sem quaisquer condições de viabilizar a ancora­gem da argamassa. e o terceiro. Fernando Antonio Piazza A aderência instantânea consiste na capacidade da arga­massa em se manter aderida à superfície por um curto espaço de tempo. permitirá o desenvolvimento dos dois outros meca­nismos. O segundo mecanismo pode ser entendido a partir de sua observação em nível microscópico. em se tratando de superfícies porosas e com saliências e reentrâncias. A única forma de essa porção de argamassa ficar aderida à superfí­cie de vidro é através do mecanismo de vácuo. recorre-se ao artifício de imaginar a projeção de uma quantidade de argamassa sobre uma placa de vidro disposta verticalmente. se for ima­ginada agora uma superfície de vidro irregular a partir da existência de uma grande quanti- .50 RECENA. é possível esperar que esta pequena porção de argamassa venha a escorrer pela placa de vidro. na medida em que não irão se desenvolver mecanismos de micro e macroancoragem. seja por microaderência ou por macroaderência. Comentando primeiramente a macroaderência. No instante seguinte a tendência é de a argamassa retornar já que parte da energia tende a ser dissi­pada pela reflexão que é impedida pelo vácuo formado pela distensão da argamassa. Quando a argamassa é proje­tada. esta pode ser caracterizada como impermeável. Analisando as características da superfície admitida como substrato. não havendo qualquer interação entre os dois materiais. Até que a pressão seja equilibrada a argamassa manter-se-á aderida ao substrato em tempo suficiente para que tenha início o mecanismo que caracteriza a microaderência. plana e lisa. Intuitivamente. Essa aderência é obtida pelo vácuo formado no processo de deformação que a argamassa experimenta quando projetada sobre a superfície que compõe o substrato. este imediatamente absorve uma certa quantidade de pasta. capacidade de reter água. Se for imaginada em sequência uma superfície lisa. mas porosa. da fluidez dessa pasta e da capacidade de retenção de água da pasta. consequentemente. Em outras palavras. água ou mais propriamente a pasta da argamassa. da existência de pasta disponível. fixando mecanicamente a porção de argamassa projetada ao substrato. fenômeno associado diretamente à coesão. por parte da argamassa. o que aconteceria caso não houvesse. garante a forma­ção de pequenos insertos. é possível intuir que estas protuberâncias constituirão elementos de retenção que manterão a porção de argamassa projetada presa à superfície. capacidade de man­ter a estabilidade (homogeneidade) da pasta. 51 . já que o que deve ser absorvido para a formação do prego é pasta e nunca somente água.Conhecendo argamassa dade de pequenos elementos superficiais com o formato de um cogumelo. com grande capacidade de absorção de líquidos. o perfeito estabelecimento da microancoragem está condicionado à capacidade do material em absorver pasta em quantidade adequada. como raízes ou como pregos. o que ocorre principal­mente em blocos cerâmicos com ou sem função estrutural. A formação dessas pequenas estruturas que caracterizam a microancoragem está relacionada com a capacidade do material em absorver a pasta sendo uma função da quantidade e do diâme­tro dos poros e da predisposição da pasta em ser absorvida. O preenchimento dos poros. com a pasta. ou seja. O estabelecimento correto desses parâmetros é extrema­mente subjetivo. a estabilidade da argamassa até seu enrijecimento e. Durante a fase de formação desses insertos. pois depende da interação de pelo menos três variáveis de difícil controle. no momento do contato da argamassa com o substrato poroso. dessas pequenas estruturas é garantida pela macroaderência. caracterizando um pro­cesso de ancoragem exclusivamente por macroaderência. que pode ser identificado pelo preenchimento de reentrâncias e saliên­cias propositadamente feitas na superfície. Deve-se aqui. aumentando a quantidade de água na mistura. Consideran­do que argamassas fracas com baixo consumo de aglomerante exigem grande quantidade de bolhas de ar para melhorar a traba­lhabilidade. admitirmos que uma pasta é formada por aglomerante.52 RECENA. em sendo absorvida. não havendo aderência. terão a pasta formada em grande parte por bolhas de ar que garantirão a boa trabalhabilidade. viabilizar a aderência. argamassas de cimento e areia preparadas com aditivos incorporadores de ar em traços muito fracos. aumenta-se o volume de pasta que será inadequada pelo excesso de água e deficiência de aglomerante. não disponibilizará a pasta adequada para. não haverá absorção de pasta. água e ar. O rebote será total. pobres em aglomeran­te. a argamassa não ficará aderida à parede. Ou seja. por oportuno. Se. Fernando Antonio Piazza Se uma argamassa apresentar-se muito seca. No caso do emprego deste tipo de argamassa. O fraco desempenho não pode ser atribuído ao aditivo e seus efei­tos na argamassa. em recapitulação. mas não a adequada aderência. fazer uma breve consideração sobre o fraco desempenho das argamassas obtidas pelo emprego de aditivos incorporadores de ar quanto à resistência de aderência. muito fraca. o que fatalmente comprometerá a resistência de aderência. o substrato estará absorvendo quase exclusivamente água. Fala-se em pasta adequada porque. mas sim à má concepção do traço. deverá ser privilegiada a aderência por macroancoragem como aquela verifi­cada pelo refluxo da argamas- . ocorrerá a diminuição da superfície de contato entre os dois materiais. Como exemplo é possível pensar em projetar contra um paramento verti­cal uma porção de argamassa muito seca. sempre que uma bolha de ar se posicionar entre a ar­gamassa propriamente dita e a superfície do substrato. Uma argamassa mal dosada. deficiente em pasta ou em outras palavras. com uma pasta de baixa fluidez e com grande viscosidade. pois o que será absorvido pelos poros existentes no substrato será em grande quantidade água e não uma pasta bem dosada capaz de formar elementos de fixação de adequada resistência a ponto de garantir a boa ligação da argamassa com o substrato. magra. que permite o parcial preenchimento com argamassa. sendo possível identificar. apenas de água e não de pasta.Conhecendo argamassa sa por entre os orifícios de um tijolo de 21 furos no caso de argamassas de assentamento. Em resumo haverá uma interface de baixa resistência mecânica no sistema que fatalmente represen­tará o elo mais fraco. A sequência fotográfica apresentada a seguir ilustra o fe­nômeno de microaderência. 53 . O mesmo pode ser garantido no assentamento de blocos cerâmicos com função estrutural por possuírem um tipo de perfuração sempre com o eixo paralelo à direção de aplicação das cargas. a argamassa deverá ser dosada a partir do consumo de aglomerante que garanta um volume de pasta de boa qualidade para garantir eficiência no processo de aderência por microancoragem. Voltando um pouco a falar de retenção de água. Já no trabalho com elementos sem condições de propicia­rem a macroancoragem. se a capa­cidade de reter água de uma argamassa for insuficiente a ponto de permitir a sucção por parte do elemento poroso. sobre o qual está sendo aplicada a argamassa. caracterizando um proces­so de macroancoragem. Nestes casos. a formação do “prego” pela absorção da pasta pelo material cerâmico através de sua porosidade. a hipótese de que poderá haver falta de água para as reações de hidratação do cimento e para a manutenção do meio aquoso ne­cessário para predispor o hidróxido de cálcio às reações de carbonatação não pode ser descartada. a partir da terceira imagem. não haverá a formação de estruturas resistentes que possam garantir a microaderência. Se houver uma absorção de água muito intensa. as argamassas deverão ser bem mais ricas que aquelas oriundas da reprodução de traços indicados pelos fabricantes destes aditivos que sugerem proporcionamentos visando ao atendimento de aspectos muito mais comprometidos com a economia do que com a técnica. a argamassa.54 RECENA. Fernando Antonio Piazza Figura 4 Dois materiais distintos – à esquerda da fotografia. . o elemento cerâmico. à direita. um grão de areia e a argamassa que se estende pelo material cerâmico. formando a estrutura responsável pela microaderência. Figura 7 Apresenta de forma bem definida. sendo possível identificar na região delimitada na Fotografia 6 a penetração da argamassa na porosidade da superfície do material cerâmico.Conhecendo argamassa Figuras 5 e 6 Mesma imagem em maiores magnitudes. 55 . da esquer­da para direita. De forma consagrada. pela verificação da homogeneidade das operações de produção. na execução de pilaretes. este parâmetro sempre recebeu uma consideração secundária. No entender do autor a resistência mecânica das argamas­sas será sempre um elemento importante. em alvenaria estrutural. Fernando Antonio Piazza 5. qual o valor que deve ser obtido e como deve ser feita a medição deste valor de referên­cia. Da mesma forma é possível intuir ser importante a resistência de uma arga­massa a ser empregada na fixação de equipamentos. é importante ressaltar que. inclu­indo a definição do corpo de prova e o método de ensaio a ser seguido. no mínimo como um elemento de controle na avaliação da qualidade. Resistência mecânica A grande questão com relação à resistência mecânica de uma argamassa é sua quantificação. em estruturas. deve-se ter em men­te sempre a maneira como será quantificada essa resistência. ou quando for empregada na forma de microconcreto. Evidentemente que a resposta a essa questão está diretamente vinculada com o emprego previsto para a argamassa e com as solicitações previstas em projeto. qual a idade de ensaio. são dois os tipos de corpos de prova empregados na avaliação da resistência à compressão. quando for o caso. quando se fala em resistência de um material. ou seja. qual o método a ser empregado e qual o corpo de prova a ser adotado. a ponto de serem indicados apenas traços para determinados usos sem qualquer referência à resistência a ser atingida ou outras ca­racterísticas ou com relação às características dos materiais a se­rem empregados em sua produção. No caso de argamassas de assentamento e revestimento.6.56 RECENA. É possível pensar em uma argamassa destinada à recupe­ração de uma peça estrutural em que a resistência mecânica torna-se um elemento de projeto de fundamental importância. Antes de justificar a afirmativa. tanto de concretos como de . define corpos de prova cúbicos para a determinação da resistência à com­ pressão obtidos de metades de corpos de prova prismáticos rompi­dos previamente por flexão. adotado no Brasil e o corpo de prova cúbico. Um corpo de prova cilíndrico. é possí­vel afirmar que este parâmetro é normalmente negligenciado. Embora importante. com altura igual ao dobro do diâmetro da base. Essas forças tangenciais representam restrições ao movimento lateral do corpo de prova. A NBR 13279:2005 – Argamassa para assentamento de paredes e revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência à compressão – hoje vigente –. Em edificações com este modelo estrutural com alturas correspondentes a três pavimentos. Sabe-se por várias experiências apresentar-se diferente à resistência de um mesmo material. exercida pela prensa. Essas forças de tangenci­ais e a força de compressão aplicada na direção do eixo do corpo de prova. O corpo de prova cilíndrico é sem­pre com a altura igual ao dobro do diâmetro da base. colocado entre os pratos de uma prensa hidráuli­ca ao ser ensaiado é literalmente apertado até a ruptura. 57 . O contato entre as bases do corpo de prova e os pratos da prensa determina o aparecimento de forças de atrito tão mais intensas quanto maior a pressão exercida sobre o corpo de prova. a resistência é um elemento tão mais im­portante quanto maior for a espessura das juntas. medida sobre cilindros ou sobre cubos. estabelecem o aparecimento de um sistema triaxial de tensões representando uma ação de confinamento do material naquela região. a resistência à compressão das arga­massas não é objeto de controle na grande maioria das obras exe­cutadas em alvenaria portante. A forma do corpo de prova e a proporção entre suas di­mensões são muito importantes na avaliação da resistência de um material.Conhecendo argamassa argamassas. No caso das argamassas de assentamento empregadas em alvenarias portantes. impedindo a ocorrência de deformação. maiores as forças tangenciais de contenção estabelecidas não somente pelo atrito entre os elementos de alve­naria e a camada de argamassa. A NBR 8545:1984 – Execução de alvenarias sem função estrutural de tijolo e blocos cerâmicos – Procedimento . Nesse ponto. Assim. assim como 10 cm x 20 cm e esses dois elementos de alvenaria como os pratos de uma prensa. estando o material. A espessura da camada de argamassa de assentamento deve ter uma espessura capaz de permitir a perfeita distribuição de carga entre os elementos de alvenaria e garantir a monoliticidade da alvenaria. Fernando Antonio Piazza Na medida em que são consideradas regiões do corpo de prova cada vez mais afastadas de suas extremidades.58 RECENA. nesse ponto. mais elevada deverá ser a carga aplicada no ensaio para que ocor­ra a ruptura. dando a falsa ideia de que a resistência do material é mais elevada. Se for admitida a camada de argamassa colocada entre dois elementos de alvenaria como um corpo de prova com seção transversal igual à superfície de um tijolo. menos in­tensas serão as forças tangenciais de confinamento até que no centro geométrico do corpo de prova não serão mais percebidas essas forças. é possível entender que quanto menor a espessura da camada de argamassa de assentamento. a deformação transversal será máxima e proporcional à deformação vertical por uma relação conhecida como coeficiente de Poisson. menor a resistência à compressão dessa argamassa necessária para man­ter a estabilidade do sistema. Quanto menor a relação entre a altura e o diâmetro de um corpo de prova. indicando que o material está sendo submetido a forças de tração. havendo a necessidade de um maior esforço axial de compressão para compensar as forças de confinamento para que o concreto seja submetido aos esforços de tração que determinarão a ruptura do corpo de prova. fazendo com que o corpo de prova experimente um aumento no diâmetro com intensa fissuração de desenvolvimento vertical. Quanto menor for a relação entre a altura e o diâmetro do corpo de prova mais efeito das tensões tangenciais de confinamento será percebido no centro geométrico do corpo de prova. quanto menor a espessura da camada de argamassa. é possível entender que. mas também pela aderência me­cânica existente. submetido exclusi­vamente a uma tensão de compressão. 1 estabelece como espessura máxima para a junta em argamassa o valor de 10 mm.3 MPa. Embora seja uma especificação para execução de alvenarias sem função estrutural. embora este expediente devesse ser adotado sempre em qualquer situação. Então. se a resistência de aderência à tração de uma argamassa ao substrato deve ser igual ou maior que os 0. É sabido existirem correlações entre a resistência à com­pressão de alvenarias e a resistência obtida de ensaios de prismas compostos por elementos a serem empregados na alvenaria unidos com a argamassa que se pretende reproduzir na obra. a ser avali­ado indiretamente pela avaliação do conjunto. durante o ensaio para determinação da resistência de aderência. Assim. se a resistência de aderência de um revestimen­to em argamassa ao substrato deve ser de 0. significa que a argamassa deverá apresentar uma resistência à tração maior para que tenha condições de transferir esta tensão para a interface com o substrato. não sendo possível avaliar a eficiência do sistema. conforme o padrão adotado no Brasil sugerido pela NBR 13281:2005. a resistência da al­venaria fica condicionada à avaliação do desempenho de um sis­tema em que a argamassa de assentamento e principalmente sua espessura na composição de juntas é um componente. Quanto menor a espessura da camada de argamassa de assentamento.Conhecendo argamassa em seu item 5. esta não será atin­gida.3 MPa especificados para reves­timentos externos ou como base para aplicação de cerâmica. a argamassa 59 . sendo aquela da ordem de 10% a 15% desta. por exemplo. maiores serão as tensões de confinamento e a rup­ tura ocorrerá com uma tensão muito maior que aquela que seria verificada caso a resistência do material fosse medida em um corpo de prova cilíndrico com altura igual ao dobro do diâmetro da base. Miniparedes e paredes em verdadeira grandeza podem ser ensaiadas à com­pressão. para o qual existe referência consagrada. essa espessura pode ser sugerida como objetivo geral a ser atingido em qualquer alvenaria. 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura. Os materiais cerâmicos caracterizam-se entre outros aspectos por apresentarem uma resistência à tração muito inferior à sua resistência à compressão. Se a argamassa romper por tração. definindo condicionantes de projeto para edificações em alvenaria estrutural. Dessa maneira. o método de dosa­gem de argamassas que será apresentado adiante considera como referência a resistência à compressão simples obtida de ensaios realizados sobre corpos de prova cilíndricos e a resistência à tração obtida por compressão diametral. a resistência à compressão da argamassa deverá estar situada entre 2 MPa e 3 MPa. métodos de ensaios amplamente utilizados no Brasil e já consagrados. . Agora deverão ser moldados corpos de prova prismáticos com seção transversal quadrada com lado de 4 cm e 16 cm de compri­mento. A norma NBR 13281:2005 – Argamassa para assentamen­to e revestimento de paredes e tetos – Requisitos. Fernando Antonio Piazza deverá apresentar uma resistência à tração direta maior que este valor para permitir a transmissão da carga aplicada sobre ela até a interface com o substrato. estabelecendo um padrão de compa­ração na dosagem da argamassa ou no controle de sua produção. sendo este valor uma referência efetiva. Será necessária uma grande quantidade de ensaios para que seja estabelecido um referencial para comparação direta das argamassas ensaiadas por métodos diferentes. cada uma das metades do prisma é ensaiada à compressão de forma a que a carga de ensaio seja aplicada sobre um cubo com 4 cm de aresta. Em função do exposto anteriormente. adotando critérios diferentes daqueles até então praticados no Bra­sil. posteriormente. Esses corpos de prova são ensaiados à flexão definindo uma resistência à tração e. Esta observação sugere que para a verificação desta condição. Trata-se de uma metodologia nova e os resultados gerados ainda não podem ser correlacionados com os valores obtidos atra­vés da aplicação dos métodos clássicos consagrados.60 RECENA. altera substancialmente o método de ensaio de argamassas. vigente desde 2005. Este ar.6. Independentemente do tipo de argamassa. A argamassa será obtida. não sofrerem qualquer processo mais intenso de adensamento. sempre é pos­sível esperar a presença de ar na pasta. uma argamassa pode ser produzida com a utilização de resinas poliméricas em suas mais variadas composições químicas. Em algumas situações o aglomerante mineral pode ser substitu­ído parcialmente por uma resina polimérica. tem origem. de durabilidade e naturalmente de resistência mecânica. dito aprisionado. em seus mais corriqueiros empregos. com a função prin- . o ar intencionalmente introduzido. No caso das argamassas obtidas a partir do uso de aglomerantes minerais. não sendo posteriormente removido em fun­ção de argamassas. no processo de mistura. consequentemente. este ar sempre se apresenta em um volume tal que exige ser considerado não só no cálculo do volume produzido de argamassa e. o agregado miúdo. no seu rendimento. então. podendo ainda haver o emprego de aditivos e adições. devendo também ser considerado o ar aprisionado durante a mistu­ra ou intencionalmente incorporado pela ação de aditivos específi­cos. sendo argamassas poliméricas obtidas a partir da adição de uma carga. CLASSIFICAÇÃO DAS ARGAMASSAS Por argamassa entende-se o material de construção obtido a partir da mistura de uma pasta com um agregado miúdo. à resi­na. como também na interpretação de suas carac­ terísticas reológicas. principalmente. em outras. o desempe­ nho da argamassa poderá ser melhorado em alguns aspectos pelo emprego de pequenas percentagens de resinas poliméricas. Por pasta deve ser entendida como o material obtido da mistura de um ou mais aglomerantes de origem mineral com água. incorporando à pasta um agregado miúdo. normalmente areia natural. Além dos aglomerantes minerais. Por sua vez. pelo tipo de agregado e pela maneira como será procedida a mistura em função do princípio de funcionamento do misturador utilizado. Classificação quanto à forma de endurecimento e resistência à umidade Normalmente esta classificação é empregada de forma análoga à dada aos aglomerantes minerais que podem ser hidráuli­cos ou aéreos. Como uma mesma argamassa pode ser classificada de mais de uma maneira. Fernando Antonio Piazza cipal de alterar suas características reológicas. que se verificará mesmo em condições de saturação. sua eficiência e. por si. um roteiro explicativo sobre a natureza das diversas argamassas empregadas no universo da construção civil. quanto ao volume de pasta. não con­templando senão aquelas que mais comumente são aplicadas em obras sendo esta relação. principalmente.1. quanto à natureza do aglomerante. do tempo de mistura. é chamado de ar incorpora­do. ainda. quanto ao seu emprego ou. quanto ao teor de aglomerante empregado em sua produção. após o endurecimento. As argamassas podem ser classificadas de várias manei­ras. Neste caso. Os primeiros necessitam da água para hidratação dos compostos básicos e devem ser. No presente trabalho é feita uma simplificação. . Os aglomerantes aéreos dependem da exposição ao ar e não apresentam boa resistência à umidade após seu endurecimen­to. o controle do ar presente nas argamassas é feito através de ensaios ou estimado indiretamente pela quantidade de aditivo empregado. A NBR 13530:1995 – Revestimentos de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – apresenta uma classificação para os vários tipos de revestimentos e para as arga­massas. resistentes à ação da umidade. a classificação a seguir apresentada procura não criar redundâncias para não dificultar o entendimento em seu aspecto mais didático.62 RECENA. Desta maneira é possível classificar as argamassas como segue: 6. quanto à forma de endurecimento e resistência à umidade. Como exemplo típico é possível apresentar a rea­ção: Ca(OH)2+CO2 ► CaCO3+ H2O 63 .1. As argamassas obtidas pelo emprego de cal hidratada te­rão sua resistência definida a partir da formação de carbonatos de cálcio e magnésio resultantes da reação de carbonatação envol­vendo os hidróxidos de cálcio e magnésio e o dióxido de carbono presente no ar. por possuírem um teor elevado de cimento na sua consti­tuição apresentam um comportamento ditado quase exclusi­vamente pelo cimento Portland.1. na forma quimicamente adequada. Algumas argamassas mistas de cimento Portland e cal. Argamassas hidráulicas As argamassas ditas hidráulicas são produzidas com aglo­merantes hidráulicos ou estes como aglomerante principal. Argamassas aéreas As argamassas aéreas são obtidas pelo emprego de aglo­merantes que depois de endurecidos não resistem bem à umidade. como a cal hidratada. por exemplo. 6.1.Conhecendo argamassa 6. podendo ser classificadas como hidráulicas. devendo neces­sariamente apresentar estabilidade frente à água após seu endure­cimento. que poderão ocorrer por reação direta com compostos presentes no ar. ou por reidratação como ocorre com o gesso. Essa característica específica define os aglome­rantes como hidráulicos e enquadra as argamassas que empregam o cimento Portland como aglomerante único ou em misturas cujas características são definidas pelo comportamento do cimento Por­tland. Necessitam da água para a formação da pasta e para disponibilizar. os compostos básicos do aglo­merante às reações que determinarão seu endurecimento. Seu endurecimento ocorre através de reações químicas de hidratação dos compostos básicos do aglomerante hidráulico.2. endurecendo mesmo debaixo da água e adquirindo ga­nhos de resistência ao longo do tempo pela continuidade das rea­ções de hidratação. 1/2 H2O + 1.1. 6.2. sendo o entendimento dos processos de endureci­ mento ou das reações químicas que os determinam. podem apresentar elevadas resistên­cias mecânicas.5 H2O ► CaSO4 . entendendo-se como aglomerantes minerais aqueles que são obti­dos a partir de insumos constituídos de minerais naturais.2. .2. baseado nos conhecimentos da química inorgânica. Dependendo do traço e da relação água/cimento. A secagem do mineral gipso origina o gesso comercial que vai adquirir características aglomerantes a partir da reincorporação da água perdida no processo de secagem como pode ser observado através da reação exemplificada a seguir: CaSO4 .1.64 RECENA. Argamassas de cimento Portland São as argamassas obtidas apenas da mistura de cimento Portland. que so­frem algum processo industrial de transformação. ou são emprega­dos in natura. sempre obedecendo à lei de Abrams. 6.1. de qualquer tipo. Fernando Antonio Piazza Argamassas de gesso são classificadas como aéreas muito mais por sua vulnerabilidade à ação da umidade do que pela forma de endurecimento. 2H2O Será igualmente considerada uma argamassa aérea a ar­gamassa mista obtida com uma quantidade de cal tão elevada a ponto de seu comportamento ser determinado pelo comportamento da cal em detrimento das características de outros aglomerantes empregados que passarão a ser considerados como aditivos. e agregado miúdo. Argamassas minerais Argamassas classificadas como minerais são aquelas pro­duzidas a partir do emprego de um ou mais aglomerantes minerais. Classificação quanto à natureza do aglomerante 6. como em fundações ou qualquer outra construção em contato com o solo úmido ou direta­mente com água.Conhecendo argamassa Normalmente apresentam elevada rigidez. tendo uso recomen­dado onde esta característica é importante. baixo módulo de deformação. Argamassas de revestimento externo. caso contrário será fundamental a adoção de algum sistema de impermeabilização.1. com frequentes períodos de chuva. Seu emprego deve ser limita­do a locais secos e bem arejados. principal­ mente em climas úmidos. eleva igualmente o módulo de deformação desse tipo de argamassa tornando-a mais rígida. garante a este tipo de argamassa uma grande estabilidade de volume traduzida por baixa re- 65 . A grande resistência mecânica. menos deformável e mais suscetível à retração. determina uma grande capacidade de ab­sorver deformações. consequentemente. o que somente pode ser obtido com o em­prego de cimento Portland em uma dosagem mais elevada do que aquela sugerida para argamassas de uso interno ou externo em regiões de clima ameno.2. Argamassas de cal É a argamassa obtida apenas da mistura de cal e agregado miúdo. Esta característica associada a uma grande capacidade de reter água. Essa imperme­abilização era obtida no passado por pinturas em diversas demãos de tintas produzidas a partir de cal. Como a cal é um aglomerante aéreo. Sendo produzidas a partir de um aglo­merante hidráulico. Sua baixa resistência mecânica e. resistem bem à umidade. devem ser produzidas visando a garantia de sua estabi­lidade frente à umidade. definida por seu elevado módulo de deformação diretamente relacionado com sua resistência à compressão. esperada pelo elevado consumo de cimento. 6. em que ocorrem ventos com velocidades importantes que possam pro­jetar a água das chuvas diretamente contra as paredes de uma edificação.2. apre­sentam baixa resistência à umidade. Apresentam normalmente baixa resistência mecânica com endurecimento lento. não raro com intensa fissuração quando aplicadas em revestimentos. 66 RECENA, Fernando Antonio Piazza tração, contri­buindo para a minimização da ocorrência de fissuras por retração, principalmente quando empregadas em revestimentos. Até meados do século XX esse era o tipo de argamassa mais empregado, sendo até hoje objeto de confusão por pessoas menos esclarecidas que chamam de “argamassa” à mistura de cal e areia. Ainda hoje são produzidas comercialmente grandes quanti­dades de argamassa de cal e areia, vendidas como um material intermediário para posterior complementação com cimento Portland, em obra, no momento de seu emprego. O emprego direto da argamassa produzida apenas tendo a cal como aglomerante não é mais visto, sendo exceção os trabalhos de restauração de edifi­cações de interesse histórico e cultural erigidas em uma época em que a cal era o único aglomerante disponível. 6.2.1.3. Argamassas mistas de cimento e cal Com a popularização do cimento Portland, este passou a ser misturado às argamassas de cal para a produção de um mate­rial intermediário entre as argamassas de cimento e as argamassas de cal, sendo obtido um material com características intermediárias. As características das argamassas mistas variam em grande ampli­tude dependendo da proporção entre cal e cimento Portland, esta­belecida na dosagem. Nestas argamassas o cimento pode ser considerado um aditivo empregado em proporções variáveis com o intuito de acele­rar o tempo de pega da mistura, permitindo o acabamento das su­perfícies em um prazo menor, ou para que o produto final apresente uma maior resistência à umidade, viabilizando seu emprego em algumas situações específicas. O longo tempo de espera para ocor­rência da reação de carbonatação no processo de endurecimento da cal, principalmente em épocas de grande umidade, seria absolu­tamente incompatível com a velocidade imprimida às obras atual­mente o que impõe o emprego do cimento Portland na obtenção de argamassas mistas, que em geral apresentam um comportamento Conhecendo argamassa hidráulico. Nessas argamassas, a cal, embora contribua para a resistência mecânica, é empregada em função de sua grande plas­ticidade e capacidade de retenção de água, permitindo a obtenção de uma argamassa com grande volume de pasta, mas com uma resistência mecânica muito menor do que aquela esperada em argamassas de mesmo volume de pasta produzidas apenas com cimento Portland e, consequentemente, com menor módulo de de­formação como desejável. Esta argamassa é hoje o material mais utilizado no assen­tamento de elementos de alvenaria e em seu revestimento, por estar internalizada na cultura da construção civil. 6.2.1.4. Argamassas de gesso Assim são chamadas as argamassas onde o aglomerante empregado é o gesso. São pouco utilizadas em nosso meio em função de seu elevado custo frente às alternativas convencionais, visto não haver reservas de gesso na região. Por ser pouco empre­gado esse tipo de argamassa exige uma técnica específica de apli­cação pouco dominada no sul do Brasil. Prédios mais antigos apre­sentam revestimentos de paredes feitos com argamassas de gesso ou somente com pasta de gesso permitindo a execução de dese­nhos artísticos. O gesso, por também ser um aglomerante aéreo, apresenta baixa resistência à água, limitando seu emprego apenas a ambientes internos. Embora pouco utilizadas, as argamassas de gesso apresentam aspecto agradável, grande durabilidade e estabi­lidade de volume, aceitando retoques com facilidade. Na bibliografia mais antiga, o revestimento de paredes com pasta de gesso ou argamassas de gesso eram sempre citados como revestimentos de qualidade superior. 6.2.1.5. Argamassas de cal hidráulica e cimento de alvenaria Como cal hidráulica e cimento de alvenaria são aglomeran­tes que não estão disponíveis no mercado do Rio Grande do Sul, cabe apenas a citação com algumas considerações relevantes. 67 68 RECENA, Fernando Antonio Piazza A classificação sugerida suscita, por oportuno, o discorrer breve sobre este aglomerante denominado cal hidráulica. Por cal hidráulica entende-se o material obtido da calcinação da rocha calcária da mesma forma como é processado o miné­rio na obtenção da tradicional cal aérea. A diferença está na com­posição química da matéria-prima, o calcário, mais especificamente na relação entre os óxidos de cálcio, silício, alumínio e ferro. A pri­meira cal hidráulica obtida foi considerada como o aglomerante precursor do cimento Portland, sendo sempre citada a experiência de John Smeaton no desenvolvimento de uma cal de melhor quali­dade para a reconstrução do farol de Eddystone na Inglaterra, o que foi obtido pela calcinação de um calcário com elevado teor de argila em sua composição. A partir da constatação de Smeaton de que a atividade pozolânica era mais intensa quando a cal era obtida a partir de um calcário impuro, James Parker otimizou a calcinação de calcários com essa característica obtendo um aglomerante cha­mado de cimento natural muito mais próximo de uma cal hidráulica do que de um cimento Portland. O grau de hidraulicidade de uma cal é definido por um número que representa o quociente entre a soma dos teores de sílica (SiO2), alumina (AI2O3) e óxido de ferro (Fe2O3) e o óxido de cálcio (CaO), representado pela seguinte equação: grau de hidraulicidade O grau de hidraulicidade compreendido entre 0,1 e 0,50 ca­racteriza os diversos tipos de cales hidráulicas, variando entre a cal fracamente hidráulica e a cal eminentemente hidráulica. Estes aglomerantes apresentam um rendimento superior às cales eminentemente aéreas, sendo mais resistentes à ação da umidade em função de seu caráter hidráulico, embora a carbonata­ção represente parcela importante no ganho de resistência de for­ma decrescente a partir de um grau de hidraulicidade de 0,1. No mercado do Rio Grande do Sul são comercializadas ca­les ditas hidráulicas, obtidas pela mistura de cal aérea e pozolana. Estes compostos aglom- Conhecendo argamassa erantes apresentam hidraulicidade a partir da reação pozolânica tal qual as misturas empregadas pelos roma­nos, podendo, por isso, ser denominados de cales pozolânicas com maior propriedade. Na comparação direta com cales aéreas de boa qualidade, empregadas como matéria-prima em sua fabricação, essas cales pozolânicas possuem menos plasticidade, menor capa­cidade de incorporação de areia e de retenção de água. Cimentos de alvenaria são aglomerantes em geral deriva­dos de cimentos Portland que apresentam rendimento muito inferior a esses, estando seu emprego restrito à produção de argamassas. Não podem de forma alguma ser empregados na produção de con­cretos. Este tipo de cimento que, no passado era objeto de normatização específica, já não é mais produzido no Brasil e as normas já foram oficialmente canceladas. Embora esse aglomerante não seja mais produzido em ter­ritório nacional, sua citação neste livro justifica-se por ser um mate­rial citado em livros de materiais de construção mais antigos e por serem ainda recomendados por normas sobre alvenaria estrutural em outros países. 6.2.2. Argamassas poliméricas Quando o endurecimento ocorre a partir de uma reação de polimerização, estamos diante de um aglomerante polimérico obtido por síntese química. As argamassas produzidas com este tipo de aglomerante, que na verdade pode ser considerado como uma cola, serão então denominadas de poliméricas ou sintéticas, apre­sentando comportamento consonante com as características do aglomerante. São em geral de elevado custo se comparadas às arga­massas tradicionais, sendo empregadas em condições específicas principalmente em trabalhos de recuperação estrutural ou onde igualmente seja necessário um desempenho diferenciado de resis­tência mecânica, ou resistência química, em se tratando de ambien­tes agressivos. 69 constituindo as ditas argamassas mo­dificadas. tais como epóxi e poliéster. . embora nada impeça sua produção em obra a partir do conhe­cimento das características do polímero a ser usado como aglome­rante. pode ser aumentada. PVA. emulsionadas em água. diminuindo a probabilidade de aparecimento de fissuras oriundas de processos de retração. não são normalmente em­pregadas onde houver a presença de umidade a menos que te­nham sido formuladas para algum emprego específico. Os polímeros emulsionados em água mais emprega­dos como aglomerantes na construção civil são as resinas acrílicas. o aumento da resistência a agressões quí­micas. Este último grupo de argamassas é empregado quase exclusivamente em trabalhos de recuperação de estruturas. Fernando Antonio Piazza Normalmente são vendidas já formuladas e prontas para o uso. As primeiras. Esses agregados ou quaisquer outros materiais a se­rem empregados como carga deverão estar necessariamente se­cos. vinílicas e SBR. normalmente são misturadas à água de amassamento na produção de argamassas de cimento Portland e areia. empregadas na recuperação de imperfeições em pisos. As resinas de maior rendimento como aglo­merantes. a eficácia esperada de argamassas melhoradas com polímeros. Em função dessas alterações. Essas argamassas de cimento e areia melhoradas pela adi­ção de resinas poliméricas podem então apresentar melhorias em algumas de suas características podendo ser esperada a diminui­ção da permeabilidade.70 RECENA. Polímeros que não apresentam afinidade com a água são empregados diretamente com agregados miúdos na composição de argamassas. Na construção civil este grupo de argamassas pode ser di­vidido entre aquelas produzidas com polímeros que apresentam afinidade com a água e aquelas cujo polímero base exige isenção de umidade. da capacidade de aderir aos substratos e da capacidade de absorver deformações. Classificação quanto à utilização 6. emprestando um bom aspecto ao elemento revestido e assumindo importância quanto ao fator estético das edificações. absorver da melhor maneira possível as deforma­ções a que uma alvenaria está sujeita.Conhecendo argamassa Apresentado o conceito. Argamassas de revestimento As argamassas de revestimento são empregadas. no caso de um alicerce feito em alvenaria de pedras sujeito à ação direta da umidade. Argamassas de assentamento São argamassas empregadas no assentamento de elemen­tos de alvenarias. cujo aparecimento certamente irá contribuir para que o revestimento não cumpra com suas finalidades. Deverão apresentar adequada resistência de aderência ao substrato além de contribuir de forma importante para a impermea­bilidade e. além de unir solidariamente os elementos da alvenaria. na formação de um todo compacto. em menor escala para o isolamento termoacústico. como o próprio nome sugere. 6. Ao bom acabamento deve ser associada a ideia de estabi­lidade volumétrica para que não ocorram fissuras de retração. ricas em cal. torna-se desnecessário estender o texto. como aquelas empregadas na elevação de paredes de uma edificação. impermeabilizar ou contribuir para a impermeabilização das paredes.3. como hidráulicas.3. classificando as argamassas poliméricas ou as modificadas segundo o polímero empregado.2. 6. Tanto podem ser argamassas aéreas. no revestimento de alvenarias em paredes.1.3. 71 . em muros ou de estruturas de concreto armado. Têm como funções distribuir uniformemente as cargas atuantes. as argamassas acabam por desempenhar de alguma forma este papel tendo em vista que. depreen­de-se ser igualmente importante que a argamassa empregada no revestimento externo das paredes de uma edificação também pos­sa atuar como isolante térmico. colocada em primeiro lugar sobre o substrato. executada sobre este. Dessa última afirmação. capacitando o material a esta função. O revestimento em argamassas aplicado sobre o paramen­to de alvenarias é atualmente composto de uma única camada chamada de reboco.72 RECENA. A estrutura de concreto (pilares. e outra de menor espessura. lajes e vigas) apresenta igualmente . Uma camada intermediária de argamassa entre o revesti­mento e o substrato. uma argamassa de revestimento deverá ser capaz de absorver. tanto quanto possível. com areia fina. as movimentações do substrato principalmente com relação ao trabalho térmico. os revestimentos em argamassas sempre foram constituídos de duas camadas. Classicamente. Essa argamassa é constituída por cimento Portland e areia média ou grossa. determinando que as expressões revestimen­to em argamassa e reboco sejam empregadas como sinônimos. chamada de reboco. uma mais espessa. dependendo da quan­tidade de ar aprisionado. pode ser executada com a finalidade de melhorar as condições de aderência do reves­timento e de uniformizar o substrato. podendo ainda ser modificada pelo emprego de um polímero. por isso produzida. chamada de emboço. via de regra. chamada de chapisco. poderá haver significativa redução em sua densidade. Fernando Antonio Piazza Muito mais que numa argamassa de assentamento. Na verdade. blocos cerâmicos ou tijolos maciços. com a finalidade de promover o acabamento do sistema através de uma textura mais lisa. Em alvenarias uma par­cela significativa da superfície a ser revestida é formada pela arga­massa de assentamento que apresenta porosidade diferente da porosidade do elemento empregado na alvenaria assim como blo­cos de concreto. apresenta sulcos e ranhuras suficientes em quantidade e forma para garantir a macroancoragem da argamassa de revestimento em ambientes internos. apenas azulejos. apresentava uma espessura bastante grande. caso contrário esta água não tinha por onde sair gerando uma pressão de vapor responsável pelo estufamento dos azulejos.Conhecendo argamassa condições de porosidade e absorção diferentes. 6. Azulejos eram assentados com o auxílio de uma argamas­sa produzida na própria obra que se diferenciava das demais arga­massas pela quantidade de aglomerante empregado. Como a técnica à época determinava a aplicação do azulejo diretamente sobre a alvenaria. o que exige materiais e técnicas distintas para sua aplicação sobre o substrato. muitas vezes responsáveis pela difícil execução do revestimento. o que as assemelhava a verda­deiras colas. espessuras e processos de fabricação. determinando um volume de pasta muito grande. exigindo igualmente um tempo muito longo para a aplicação do rejunte. como o próprio nome diz. em geral. o chapisco poderia ser perfeitamente dispensado já que a superfície. A argamassa empregada em grandes volumes retinha uma grande quantidade de água de amassamento que necessitava evaporar antes do rejuntamento. Hoje em dia essas argamassas para fixação de revestimen­tos cerâmicos foram substituídas por argamassas colantes que. hoje. esta argamassa de assen­tamento tinha também a função de regularizar o substrato e.3. como referi­do pela normalização vigente. diversas em suas formas. uma quantidade enorme de peças ou elementos cerâmicos. Este trabalho era altamente especializado e requeria muito tempo para ser realizado de forma adequada. Não fosse essa função de uni­formização do substrato.3. No início. Argamassas de fixação São argamassas empregadas na fixação de elementos ce­râmicos de revestimento. em muitas alvenarias de elementos cerâ­micos. não raro havendo comprome­timento da aderência e fissuração. dimen­sões. funcionam em camadas de pequena es­pessura atuando efetivamente como co- 73 . principalmente de blocos cerâmicos. Em se tratando especificamente de pisos. Sucede que para facilitar o trabalho. para a formação de verdadeiros bura­cos.4.74 RECENA. de rolamento de cadeiras com rodízios e armários de grande massa. no caso de carpetes. segundo um proporcionamento que ga­ranta um grande volume de pasta para que posteriormente o con­sumo de cola. por exemplo.3. mais versátil e rápida. principalmente aquelas classificadas como emboço. Pode-se dizer que a primeira argamassa industrializada a ser apresentada ao mercado foi sem dúvida a argamassa colante. haja vista a quantidade de locais. evoluindo. esta função é desempenhada pelas argamassas de revestimento. No caso de pisos. Fernando Antonio Piazza las. danificados a partir do esmagamento da argamassa com posterior pulverulência. inevitavelmente. imediatamente. Argamassas de regularização São argamassas empregadas na regularização de para­mentos verticais ou horizontais. A situação mais desfavorável é aquela representa­da pelos diversos tipos de carpetes. o elemento cerâmico que representará o revestimento final. seja o menor possível. 6. essas argamas­sas necessitam apresentar boa resistência mecânica tanto mais elevada quanto mais fino e flexível for o material a ser aplicado posteriormente. estas argamassas são produzidas . Essa técnica demonstrou ser muito mais eficiente. Estas argamassas devem ser produzidas com cimento e areia em proporções tais que garantam um bom acabamento super­ficial de baixa porosidade. constituindo o emboço sobre o qual deverá ser aplicada a argamassa colante e. muitas vezes a argamassa empregada é chamada de contrapiso já que seu emprego pressupõe a preparação do substrato para a aplicação de um revestimento posterior que pode ir do car­pete ao taco de madeira. No caso de paramentos verticais. a ponto de ter substituí­do por completo as argamassas clássicas de fixação. O substrato deve ser previamente regularizado com uma argamassa de boa resistência mecânica. em zonas de maior circulação de pessoas. Mui­tas vezes o adensamento dessas argamassas pode ser feito ape­nas com a batida da desempenadeira de madeira. já que deverão ser responsáveis pela durabilidade da peça recuperada através da proteção a ser exercida sobre a armadura. sendo o empre­go de argamassas. Em outras situações estas argamassas são assim denomi­nadas por exercerem proteção sobre sistemas menos resistentes mecanicamente. O emprego de pouca água em sua preparação deverá impor à argamassa uma consistência seca. com grande consumo de cimento. comprometendo a resistência mecânica. Estas argamassas devem apresentar características especiais. como no caso de sistemas de impermeabilização. apresentam elevada relação água/cimento.3. O excesso de água deter­mina grande retração na argamassa sempre com intensa fissuração. As características específicas de cada 75 . Nem sempre em função das di­mensões das peças é possível empregar concreto. não raramente comprometendo a aderência ao substrato pro­movendo seu desprendimento. 6.Conhecendo argamassa com grande plasticidade obtida à custa de uma elevada quantidade de água e que. Posteriormente com o auxílio de desempenadeira e pequenas aspersões de água por meio de trincha pode ser obtido o acabamento final pretendido com uma superfície lisa e pouco poro­sa. exigindo o adensamento por apiloamento. como baixa permeabilidade e grande aderência ao substrato. para um adensamento mais enérgico. A recomendação que se faz é a de empregar traços ricos em cimento para dotar a argamassa de um grande volume de pasta o que permitirá a obtenção de um bom acabamento.5. mesmo com um traço forte. garantindo o isolamento do metal com relação ao exterior. em outras situa­ções são empregados pilões de madeira. a única alternativa. Argamassas de recuperação e proteção Em muitas situações durante trabalhos de recuperação de estruturas é necessário reconstituir peças ou restaurar a camada de cobrimento sobre as armaduras. Em se tratando de argamassas para proteção mecânica em sistemas de impermeabilização. que também podem receber a denominação de microconcreto. Em casos de recuperação de peças estruturais. Várias são as marcas e várias as opções no mercado. A preparação em obra de argamas­sas especiais de proteção estará sempre condicionada a uma do­sagem específica a ser desenvolvida por laboratório especializado para que o desempenho esperado possa ser efetivamente atingido.76 RECENA. sen­do sempre recomendável a consulta aos fabricantes sobre o produ­to mais adequado a cada caso. além de aditivos para alterar sua reologia. formuladas especificamente para trabalhos especi­ais de recuperação estrutural. não raramente a resis­ tência mecânica é o principal requisito a ser considerado na esco­lha da argamassa mais adequada para a reconstituição da seção original de peças degradadas. Essas argamassas para trabalhos especiais são normal­mente produtos comerciais formulados que partem de um aglome­rante mineral. É possível incluir nessa classificação as argamassas de­nominadas grautes. atuando como juntas . Entre as argamassas modificadas destacam-se aquelas que têm como agente modificador uma resina acrílica. Em situações especiais podem ser empregadas argamas­sas sintéticas em que o aglomerante é um polímero de elevado desempenho como a resina epóxi. Fernando Antonio Piazza argamassa podem ser as mais variadas possíveis dependendo do fim a que se destinam. mais comumente empregada em argamassas de recuperação de estruturas. proteção ou chumbamento de insertos metálicos em peças de concreto armado ou até mesmo de ar­maduras adicionais. não raramente possuindo uma certa percentagem de fibras flexíveis em sua formulação para auxílio no controle da fissuração por retração. em reforços. agregados selecionados e modificados por meio de polímeros. particular atenção deve ser dada à estabilidade de volume já que a retração determina o aparecimento de fissuras que. ou a resina poliéster. ou para a execução de camadas de reforço. 77 . Pode-se dizer que uma argamassa será cheia quando o vo­lume de pasta for o necessário e suficiente para preencher os vazi­os existentes entre os grãos do agregado e. por mais estranho que possa parecer o termo. consequentemente. parâmetro identificado pela manuten­ção da aglutinação das partículas que compõem a pasta. 6. estará exposto o sistema de impermeabilização a ações mecânicas e aos efeitos das intempéries. É necessário explicar o que se entende por “gordura” de uma argamassa ou de uma pasta. atenção especial deve ser despendida aos indesejáveis efeitos do trabalho térmico experimentado por argamassas expostas ao sol. Pelo mesmo motivo.Conhecendo argamassa de movimentação. Por analogia. promovem o desplacamento da argamassa sendo destruída a camada de pro­teção. Evidentemente que uma argamassa cheia pressupõe um conceito teórico que não existe na prática onde apenas podem ser verificadas as duas outras situações. apresentando dificulda­de em serem removidos e permitindo o movimento relativo entre esta superfície e qualquer outro material que possa ser esfregado sobre ela. Assim. Tanto mais gorda será uma pasta quanto maior esta sensação de lubrificação que ela possa transmitir. então. A existência desses dois tipos de argamassa pressupõe a existência de um terceiro tipo intermediário entre eles. Classificação quanto ao volume de pasta O conhecimento desta classificação é importante por estar relacionado com uma linguagem comumente empregada em obra que emprega as expressões bem conhecidas argamassa gorda e argamassa magra. Essa caracterís­tica é conferida pela coesão. gorda será a argamassa que apresentar um excesso de pasta fren­te aos vazios do agregado. Esse conceito está muito ligado efetivamente a uma das características dos óleos ou das graxas. magra será aquela em que o volume de pasta for inferior ao volume de vazios do agre­ gado. a argamassa cheia.4. que são materiais que aderem às superfícies de qualquer tipo. Destruída a argamassa de proteção. ou seja. maior a quantidade de grãos por unidade de massa e. Fernando Antonio Piazza tanto mais gorda uma pasta quanto maior sua coesão. caracterizando um sistema de elevada coesão. por conseguinte.3. maior a quantidade de energia necessária para fazer com que haja a eva­poração da água adsorvida. imagine um punhado de areia seca. Quanto menor o grão do aglomerante. diminuindo a retração e minimizando a probabilidade de instalação de processos de retra­ção. Uma das vantagens da utilização de cal em argamassas é exatamente por sua maior capacidade de reter água. fenômeno este que será tão mais intenso quanto menor o tamanho das partículas como já dito. Pastas gordas em volumes maiores que o volu­me de vazios do agregado gerarão argamassas igualmente gordas e de elevada coesão. Como exemplo. visto que a água existente sobre a superfície dos grãos exercerá um poder de aglutinação por efeito da tensão superficial. em uma areia e assim por dian­te. determinando ao aglomerante maior capacidade em reter água. para que esta água despren­da-se do grão. esta. em função de sua elevada tensão superficial. o que pode ser entendido como a gordura da pasta. As argilas emprestam bem uma ideia do fenômeno que será menos intenso em uma cal e me­nos intenso ainda em um cimento. Quanto menor o tamanho das partículas que compõem um aglomerante. Em complementação ao enunciado no item 5.78 RECENA. por sua tensão superficial. aglutinados os grãos do aglomerante. garantindo maior estabilidade de volume à argamassa. A mesma quantidade de areia molhada já apresentará maior difi­culdade em escorrer. Ao me­nor movimento da mão. maior a quantidade de água retida na superfície sólida do aglome­rante. Quanto menor o tamanho dos grãos. . Essa água manterá ainda. fica aderida à superfície dos grãos em uma camada tanto mais espessa quanto menor for o diâmetro do grão. essa poderá escorrer quase como um fluido. à medida em que o tamanho das partículas vai aumentando. Ao ser adi­cionada água a qualquer material particulado. maior o volume de água capaz de manter-se aderido ou adsorvido à superfície dos grãos. essa carac­terística também deve ser observada com relação à capacidade do material em reter água. já que o volume de pasta pode ser influenciado pela quantidade de ar aprisionado ou intencionalmente incorporado à mistura. em um cálculo simples. demons­trar o fenôme- Seja uma argamassa preparada com a areia média conhe­cida como areia do Guaíba. no: Como exemplo.0 cal 2.57 0. e um cimento Portland Pozolânico CP IV 32. Seja uma cal comercial do tipo CH II.50 (kg/dm3) Para o cálculo do volume de pasta é necessário conhecer a quantidade de água empregada para a verificação da trabalhabili­dade adequada às operações em obra. Considerando uma arga­massa bem dosada para aplicação como revestimento. e em boa parte do estado do Rio Grande do Sul. Sejam os valores de massa específica e massa unitária do quadro a seguir apresentados. tomados como característicos dos materiais considerados no exemplo: Massa unitária Material Massa específica (kg/dm3) cimento 2.70 1.Conhecendo argamassa Não existe uma proporção predeterminada entre pasta e agregado que condicione uma argamassa a ser gorda ou magra. encontrada facilmente no mercado.65 areia 2. além de o volume de vazios ser consequência direta da distribuição granulométrica do agregado. e reconhecidamente de boa qualidade. amplamente utilizada na construção civil em Porto Alegre.63 1. comercializado no varejo em sacos de 50 kg. podemos imaginar ser necessário algo em tomo de 20% de água sobre o total de materiais secos. podemos. 79 . que em qualquer arga­massa sempre haverá uma certa quantidade de ar aprisionado em percentagens que variam entre 5% e 7%. elevando o volume de pasta para: . A quantidade de água necessária para uma boa trabalhabilidade desta argamassa será então de 2. Fernando Antonio Piazza As recomendações existentes na bibliografia indicam ser adequado um traço em volume de argamassa de 1:3 (dm3).13 (kg). Considerando então um traço em volume de 1:1:6 (dm3).65:9.00:0. respectivamente cimento. cal e areia. também. O volume de pasta será então: a) cálculo do volume absoluto de cimento b) cálculo do volume absoluto de cal c) cálculo do volume de pasta (volume de cal mais o volu­me de água) É necessário considerar.00 (kg). aglo­merante e agregado.80 RECENA. devendo este volume correspondente ao ar justificar uma correção. a transformação deste traço de volume para massa conduz a um traço em massa de 1. com os valores apresentados no quadro. Conhecendo argamassa d) Cálculo do volume de vazios da areia. sempre que for usado este proporcionamento. a não ser que seja empregada uma cal de muito baixa 81 . O volume desejado para a obtenção de uma arga­massa cheia trabalhável deverá ser aumentado em uma percentagem compreendida entre 10% e 20%. é muito pequena. e) Correção O volume de pasta necessário na argamassa do exemplo deverá variar. Este volume será dado pela diferença entre o volume apa­rente e o volume absoluto do material. de traços em volume de argamassas de uma parte de cimento para aproximadamente três partes de areia. deve haver uma quantidade de pasta maior do que o volume de vazios da areia para afastar os grãos do agregado permitindo seu movi­mento relativo. inclusive com orientação em normas. Esse volume de vazios sugere ser necessário o mesmo vo­lume de pasta para se obter uma argamassa cheia. A probabilidade de ser obtida uma argamassa deficiente em trabalhabilidade. no entanto. então. em função da distribuição granulométrica da areia.84 dm3 e 3. podendo variar.10 dm3: O volume de pasta calculado permite classificar a arga­massa do exemplo em termos práticos como cheia. Este exemplo explica o porquê de ser clássico. embora a trabalhabilidade esteja condicionada igualmente pela plasticidade da cal e pela distribuição granulométrica da areia. entre 2. mas mantendo-os juntos para que a mistura apre­sente coesão. Na prática. mas principalmente em maior estabilidade de volume na medida em que a argamassa poderá ser produzida com menor quantidade de água. são realizados em geral de forma terceiriza­da ou remunerados por produtividade. já que o objetivo sempre será a maior velo­cidade na realização das tarefas. ao contrário. Como os trabalhos de revestimento de pare­des com argamassas. exigem na formação da pasta. a mistura apresenta maior tendência à fissuração.82 RECENA. o que vai se traduzir em economia. havendo por parte de quem executa o revestimento uma preferência pelo uso de arga­massas magras. um volume maior de água devido à grande superfície específica da mistura. uma grande di­ferença no rendimento do trabalho de revestimento de paredes empregando argamassas gordas e magras. geralmente. em termos operacionais. por sua vez. existe. pleiteiam sua alteração. aumenta a ligação da desempenadeira com a argamassa sendo possível dizer que a desempenadeira tende a “grudar” na argamassa. o que permitirá que dessa forma seja obtida uma argamassa gorda com menor volume de pasta. A maior coesão. apresentando maior coesão. Cabe ressaltar a importância da mistura em proporções adequadas de areia média e areia fina para redução do volume de vazios do agregado. A quantidade maior de água exige um tempo de espera maior para o início das atividades de desempeno por haver maior quantidade de água a evaporar até o atingimento de um ponto ótimo para a operação. por apresentarem um volume maior de aglomerante. naturalmente toda e qual­quer característica das argamassas que possa significar retardo na operação não é bem aceita pelos trabalhadores que. o que exige maior esforço do profissional na tarefa de desempeno. A incorporação intencional de ar às argamassas permite igualmente aumentar o volume de pasta sem o aumento de aglo­merante ou água concorrendo este fato para o aumento da estabili­dade de volume do material. expõe a areia. Argamassas gordas. Fernando Antonio Piazza qualidade e/ou uma areia com distribuição granulométrica descontínua. Uma argamassa magra. Por haver uma quantidade maior de água. No jargão popular é dito que a argamassa demora a “puxar”. ha­vendo sempre . Com o passar do tempo as duas camadas foram substituídas por apenas uma. sempre visando à viabiliza­ção dessa proposta com o menor consumo de água possível. Na verdade. no entan­to. uma argamassa com maior tendência à fissuração por apresentar menor capacidade de reten­ção desta água empregada. pelo aumento no consumo de água. Deve ser ressaltado. gerando esfarelamento superficial.5. médias e grossas. além de diminuir as resistências mecânicas. ou seja. No passado. Dosagens criteriosas devem visar à obtenção de argamas­sas com a melhor trabalhabilidade possível de ser obtida em função dos materiais empregados no estudo. A autonomia que é atribuída a pedreiros e mestres de obra na dosagem das argamassas gera misturas que muitas vezes apresentam quantidades insuficientes de pasta. 6. em duas camadas. por­tanto. determinando. uma argamassa produzida com uma mistura de areia grossa e de areia fina de maneira a permitir um acabamento em nível tal que dispensasse o emprego posterior do emboço. que uma argamassa dosada com pouco material fino somente poderá apresentar trabalhabilidade adequada se o volume de pasta for corrigido pelo aumento na quantidade de água. o desempeno da argamassa pode ser realizado quase que imediatamente após a passagem da régua. comprometendo o resultado final.Conhecendo argamassa contato da desempenadeira com o agregado. A deficiência de material cimentante na pasta poderá comprometer a competência da argamassa em aderir ao substrato. o objeti­vo era atingido pelo emprego de uma areia com granulome- 83 . Nessas condições. em duas operações. Classificação quanto à granulometria do agregado As argamassas quanto à granulometria dos agregados po­dem ser classificadas em finas. muitas vezes apenas pelo roçar dos de­dos. areia fina para o reboco. aumentando subs­tancialmente o rendimento da tarefa. O revestimento de paredes era feito. eram trabalhadas em revestimento de paredes duas argamassas: uma empregando uma areia mais grossa para o emboço e outra. Classificação quanto à forma de produção Originalmente as argamassas eram produzidas em obra a partir da extinção da cal para posterior mistura com a areia e o ci­mento. inclusive a resistência de aderência e a estabilidade de volume. De qualquer sorte.6. O controle sobre a qualidade do material era grande. cal e agregado miúdo. mas comprometendo a resistência mecâni­ca. em obra. era possível imaginar concluir uma obra rigorosamente com uma mesma arga­massa. os revestimentos são feitos em uma única camada com argamassas produzidas com areias cada vez mais finas. privi­legiando o acabamento. já que o objetivo sempre será a minimização de qualquer tipo de problema.84 RECENA. Essa argamassa assim produzida. a experiência tem mostrado que a quan­tidade de problemas em um revestimento em argamassa é direta­mente proporcional à “finura” da argamassa e que a economia pretendida com a massa corrida não é significativa frente ao custo decorrente da quantidade de reparos exigidos por uma argamassa por assim dizer. Como regra geral. Atualmente é considerada uma argamassa feita em obra tanto a produzida em betoneira a partir da adição de cimento Por­tland a uma argamassa intermediária de cal e areia comprada pron­ta como aquela proporcionada a partir da mistura em betoneira de cimento Portland. ao menos no mercado da região da Grande Porto Alegre. mal dosada. princi­palmente quanto ao aspecto de reprodução. Hoje em dia. é possível ainda identificar argamassas finas. A produção de argamassas em obra a partir de misturas intermediárias foi um procedimento absoluto durante muitos anos. Fernando Antonio Piazza tria con­tínua que garantia um acabamento compatível com o revestimento final da parede. médias ou mistas e grossas em função da granulometria da areia empregada na sua produção. não existe mais. ou seja. 6. a ponto de permitir o em- . ficando a areia ao fundo da caçamba.Conhecendo argamassa prego indistinto do termo argamassa para identificar essas argamassas de cal compradas prontas. como se chamava à época o que hoje conhecemos como loja de materiais de construção. maior o volume ocupado na carga. produzida sem acompanhamento técnico eficiente. não se comportando mais como aglomerante. Restará para uso uma argamassa mal dosada. consequentemente. é a mais incorreta de transportar mate­riais dessa natureza. possuía uma unidade de produção destas argamassas. em suspensão em uma grande quantidade de água. determina a segregação da mistura que ocor­re pela vibração transmitida durante o transporte. boa parte da cal já terá carbonatado. O material fino da argamassa. mas em muitas situações o mate­rial poderá aguardar dias ou até mesmo semanas para ser utilizado. qualquer madeireira. maneira que. O transporte em caminhões tombadeira. Tão generalizado tornou-se o sistema que. cobrado como se ar­gamassa fosse. via de regra. pois jamais incorporar-se-á novamente ao restante do material. Quanto mais água é em­pregada. Cada uma produzia a sua maneira com mate­riais distintos e traços diferentes e. mas como um agregado muito fino. 85 . com uma quantidade de pasta inferior àquela original existente durante seu preparo. como já citado anteriormente. Muitas vezes a argamassa intermediária é consumida adequadamente em um tempo curto. Não raro observam-se estoques deste tipo de argamas­sa quase completamente endurecida sendo necessário o em­prego de picaretas e enxadas para sua desagregação e posterior mistura com cimento na produção de uma argamassa completa­mente descaracterizada e. com dife­renças gritantes na qualidade. composto pelo próprio aglomerante e a porção mais fina do agregado. Quando isso ocorrer. é empregada uma quanti­dade excessivamente elevada de água. Até hoje nesse tipo de argamassa intermediária. Ao ser descarregada na obra. sendo perdida. escorrendo por ser fluida. tende a posicionar-se na parte superior da carga. de péssima qualidade. a parte superior da carga é despejada primeiro. diga-se de passagem. além de contrapisos e regu- . muitas vezes de qualidade duvidosa. Fernando Antonio Piazza Esta prática equivocada alicerçada por expressões infun­dadas como “argamassa de cal: quanto mais velha melhor” foi res­ponsável por uma quantidade tal de problemas.6. Por serem fornecidas em sacos.1 Argamassas industrializadas Por industrializadas o mercado identifica aquelas argamas­sas que chegam à obra necessitando apenas do acréscimo de água para serem utilizadas. Também em função de sua homogeneidade. sua estocagem é simplifi­cada. aditivos e adições e outras que também utili­zam cal na sua composição. Estas argamassas industrializadas são tipificadas em fun­ção do uso recomendado. podendo ocorrer nas proximidades do local de aplicação on­de poderá ser também misturada com a diminuição do transporte dentro da obra. O agregado empregado tanto pode ser uma areia natural como uma areia artificial obtida de operações de cominuição de rochas sãs. dosadas em massa e fornecidas ensacadas. havendo.86 RECENA. principalmente em revestimentos. permitindo um maior controle sobre o consumo do material. que abriu o mercado para materiais alternativos. argamassas para assentamento de elementos em alvenarias estruturais. este tipo de argamassa vem sendo cada vez mais aceito no mercado. 6. A produção de argamassas intermediárias é uma tarefa de responsabilidade que exige conhecimentos específicos sobre o assunto e deve ser supervisionada por um profissional com conhe­cimentos sólidos em tecnologia das argamassas. Existem no mercado argamassas industrializadas à base de cimento Portland. São produzidas por processos industri­ais bem controlados. além das várias categorias de argamassa colante para aplicação de revestimentos cerâmicos tanto internos como externos. em alvenarias de fechamento e em revestimentos internos e externos. do traço. Argamassas semi-industrializadas Essas são as argamassas de cal e areia ditas intermediá­rias ou brancas que são vendidas para posterior composição com cimento Portland na obtenção das argamassas finais. pelo processo de dosagem.2. 87 . posteriormente. não raramente para atender necessidades específicas de algumas obras. mas principalmente da composição com areia. condições adequadas de estocagem e pro­ porcionamentos adequados com cimento Portland. já apresenta­das na introdução do presente item.Conhecendo argamassa larizações onde a resistência mecânica é uma das exigências principais. A idoneidade do fabricante e seu compromisso com a qua­lidade são aspectos fundamentais para a escolha do fornecedor. É um material largamente empregado apresentando como vantagem o menor custo frente às argamassas industrializadas. Variações sobre os traços básicos são criadas com muita frequência. podendo um fabricante disponibilizar ao merca­do uma grande quantidade de variações de argamassas. considerando as condições de exposição e o tipo de material a ser assentado. ou seja. Cabe ressaltar a importância de verificar junto ao fabricante a melhor alternativa para cada caso. A obtenção de argamassas intermediárias de boa qualida­de definida dependerá da qualidade dos insumos empregados em sua produção. Podem ser empregadas nas mais variadas composições com cimento Portland na formação de argamassas finais com dife­rentes características. particularizando o uso. 6. determinarão a qualidade do produto final.6. da eficiência da mistura. mas exigem conhecimento e cuidado para que sejam empregadas corretamente. Na obra. capacetes. Argamassas alternativas É possível considerar alternativas todas aquelas argamas­sas feitas com materiais diferentes de cimento Portland. até mesmo. como mistas de cimento e cal. areia. em última análise. O objetivo a ser atingido por todas as alternativas concen­trava-se na garantia de boa trabalhabilidade. Na verdade. Infelizmente em uma grande quantidade de obras a dosagem é feita de forma inadequada e sem o cuidado necessário por meio de pás. sendo compostas por materiais aglomerantes. O mercado abriu-se. Como já foi dito.88 RECENA. baldes ou. Tanto podem ser preparadas com cimento e areia. Em ambos os casos uma dosagem prévia deve ser realizada para a garantia do bom desempenho do material no atingimento das características exigidas para cada emprego. podendo ou não ser aditivadas. agregados e água.3. gordura. retomamos o período em que era usada quase unicamente argamassa feita em obra a partir de argamassas intermediárias de cal e areia. com ou sem o emprego de aditivos incorporadores de ar.4. e novos materiais foram propostos.6. inúmeros foram os problemas verificados nas obras os quais con­correram para desacreditar essas argamassas intermediárias quan­to à sua qualidade. Estas argamassas são produzidas a partir de proporcio­namentos preestabelecidos de acordo com uma dosagem específi­ca. Levam este nome por se­rem preparadas no próprio canteiro de obra. Fernando Antonio Piazza 6. aditivos e adições.6. vendidas prontas. Argamassas feitas em obra São as argamassas tradicionais. sem o em­ . cal. 6. semelhante àquela proporcionada pela cal. sendo alguns destes produtos vendidos de forma irresponsável como substitutos da cal. a maioria destes produtos visa a melhorar uma argamassa de cimento e areia garantindo boa coesão e. Fazendo apenas uma menção histórica ao aparecimento dessas misturas. haverá sem sombra de dúvida prejuízo ao material. não contribuem para a melho­ria da aderência. a adição desses materiais alternativos apenas irá dotar essa arga­massa da trabalhabilidade que lhe faltava originalmente. Uma argamassa fraca. O elevado consumo de cimento determina a obtenção de argamassa de elevada resistência mecânica. não con­tribuem para a resistência mecânica. Não se está aqui afirmando que os produtos não podem ser empregados ou que não são bons. ou mesmo que com eles não possam vir a ser obtidas argamassas de boa qualidade. uma argamassa de cimento e areia bem dosa­da que atenda às exigências estabelecidas em projeto. por absoluta falta de trabalhabilidade. devido às características do cimento. devem inevitavelmente ser produzidas com elevados consumos. estabilidade de volume e capa­cidade de absorver deformações pela incorporação de algum des­ses produtos alternativos contribuindo para a produção de uma ar­gamassa de menor custo. Ocorre que esses produtos não são aglomerantes. não melhoram as condições de impermeabilidade nem tampouco aumentam a capacidade de absorver deformações de argamassas de cimento e areia. Em resumo. o que se está dizendo apenas é que se for tomada como ponto de partida uma argamassa fraca de cimento e areia em que a deficiência de pasta não permitiria seu uso.Conhecendo argamassa prego da cal. com baixo teor de aglomerante apresentará sempre por isso baixo desempenho mesmo que possa ser trabalhada até com maior facilidade. Se o emprego destes materiais alternativos exigir um consumo maior de água. mas as características de desempenho com relação aos demais parâme­tros permanecerão inalteradas ou prejudicadas. já que argamassas de cimento e areia para apresentarem boa trabalhabilidade. são sugeridos traços fracos de baixo consumo de cimento comprometendo o desempenho geral da argamassa. elevado módulo de deformação e forte tendência à retração o que maximiza a probabi­lidade de ocorrerem processos de fissuração em revestimentos tão intensos a ponto de propiciarem ao desplacamento das 89 . poderá ser melhorada em sua trabalhabilidade. Em geral. para justificar-se eco­nomicamente. a fissuração. promovendo . em tese. o uso destes materiais argilosos apresenta como proposta a reconstituição de um saibro a partir da mistura entre areia e argila. considerando baixo teor de cimen­to. Na verdade. conferindo a essas argamassas grande plasticidade e facili­dade de projeção contra paredes quando da execução de revesti­mentos. Esses produtos alternativos apresentam basicamente uma ação física já que em momento algum podem ser considerados aglomerantes. o resultado final poderá ser tão satisfatório como aquele obtido do emprego de sai­ bros na região litorânea do Brasil. Os materiais argilosos são materiais de elevada finura.90 RECENA. mais notadamente aquelas localizadas em regiões de formação granítica. Quando o traço é fraco. Enquanto esta mistura for benfeita. podendo ser divididos em dois grupos: os materiais argilosos e os aditivos espumígenos. é possível observar falta de estabilidade da argamassa seca. enorme demanda de água e grande tendência à retração com sua inevitável consequên­cia. por­tanto capazes de dotar a mistura de elevada coesão e trabalhabili­dade. com o emprego da quantidade adequada de cimento. A grande afinidade com a água que apresenta a argila associada à própria porosidade da argamassa permite a absorção de grandes quantidades de água. Como já citado anteriormente. Fernando Antonio Piazza porções de revestimento definidas pelas fissuras que normalmente formam poligonais fechadas. mas quando ocorre exagero na adição destes materiais argilosos obtém-se uma argamassa por demais fina com elevada superfície específica. permite considerar tratar-se de um material de boa qualidade em função de seu intenso emprego. em algumas cidades brasilei­ras. tão logo a impermeabilidade conferida pelo sis­tema de pintura esteja abalada. que é um material composto por areia e argila e cimento Portland. o que. ainda hoje é possível encontrar argamassas sendo produzidas a partir de uma mistura de saibro. com pulverulência. como a Serra do Mar. Lentamente ocorrerá a degradação do material com comprometimento do sistema de revestimento. ocasiona­dos por seu incorreto uso. alternadamente. Alguns produtores deste tipo de material. foi sendo paulatinamente abandonado. Novamente o erro não está na opção pelo uso do material. não há como ocorrer a reação pozolânica de forma significativa pela carência de hidróxido de cálcio disponível para a reação. A reação pozolânica ocorre entre a sílica ativa de materiais pozolânicos e o hidróxido de cálcio presente na pasta de cimento. principalmente em sendo empregados cimentos pozo­lânicos que já possuem em sua constituição pozolanas. Enquanto a mistura encontra-se plástica apresenta excelente traba­lhabilidade como normalmente verificado em argilas. como argumento de venda. mas pela adoção de uma incorreta proporção de mistura. Ciclos alternados de molhagem e secagem definem períodos de expansão e contração com a introdução de tensões de compressão e tração. em presença de água. determinando sua retração. ocasionando a ruptura das tênues ligações promo­vidas pelo cimento. A bem da verdade. havendo hoje alguma dificuldade em ser 91 . Na verdade. mas em função de muitos problemas verificados. o que se deve evitar é produzir uma argamas­sa tão pobre em cimento que possa ser comparada com argamas­sas de barro como aquelas empregadas em casas de pau a pique. mas após a sua secagem é perdida a coesão sem que se possa evitar a sua degradação. esse material foi largamente uti­lizado. Num determinado período.Conhecendo argamassa o aumento do volume do material. Se na mistura houver muito pouco cimento. O caminho inverso da água é tomado em períodos de seca. não havendo contribuição para a resistência mecânica da argamassa. apregoaram a atividade pozolânica eventualmente presente. alguns revestimentos vêm sendo mantidos estáveis a partir da observação de uma criteriosa manutenção com a repintura feita em prazo hábil garantindo a impermeabilização da argamassa. no passado. cabe esclarecer que o emprego desses aditivos pode melhorar a resistência de uma ar­gamassa de baixo desempenho. incorporadas ao aglomerante. Como impermeabilizantes promovem a interrupção dos canais capilares que se formam durante a exsudação da água de amassamento. . água e o ar aprisionado natu­ralmente ou intencionalmente incorporado. em um sentido mais amplo. o aumento virtual desse volume de pasta pelo aumento na quantidade de ar na forma de pequenas e estáveis bolhas aumenta sobremaneira a trabalhabilidade da mistura. como citado no parágrafo anterior. porém não aditivada em que a trabalhabilidade é obtida à custa do aumento da quantidade de água. têm o poder de formar grande quantidade de pequenas bo­lhas que. a pasta é formada pelo aglomerante. não permitindo a intercomunicação entre os canais e desses com o exterior da massa. o que determina a trabalhabilidade de uma argamassa é o binômio – consistência e coesão – que pode ser traduzido pelo volume de pasta. mas em geral mantendo as carac­terísticas que continuarão a classificá-la como de baixo desempe­nho. Os aditivos espumígenos. traços magros nos quais o aumento da trabalhabilidade que somente pode ser obtido pelo aumento do volume de pasta. Como já foi visto anteriormente. Como. O volume de pasta pode. Fernando Antonio Piazza encontrado no mercado em suas mais variadas apresentações. criam um aumento virtual no volume de pasta da mistura. A redução de água pode ocorrer em misturas realizadas a partir de traços deficientes em pasta. Então. ou seja. o que impede a formação de um fluxo hidráulico. é obtido pelo aumento da quantidade de bolhas de ar ao contrário do que seria feito intuitivamente pelo aumento da quantidade de água. conhecidos como incorporadores de ar.92 RECENA. Aditivos incorporadores de ar são muitas vezes emprega­dos como impermeabilizantes ou como redutores de água. em argamassas pobres em cimento poderá haver um au­mento de resistência mecânica em comparação direta com uma argamassa igual. ser aumentado pelo aumento de qualquer um destes ele­mentos ou combinadamente. então. viabilizando o emprego de argamassas extremamente pobres em aglomerante. Para que não ocorram equívocos. sem qualquer comprometi­mento com a boa técnica. aderência ao substrato e durabilidade. por exemplo. Assim. Sempre que for feita a opção pelo emprego de um aditivo desse tipo. ou seja. poden­do chegar a proporções de 1:12 em volume. No caso de revestimentos. podemos citar o assentamento de tijolos em alvenarias sem revestimento (alvenarias de tijolos à vista). o resultado poderá não ser adequado. embora possam garantir condições de re­sistência e aderência. Como exemplo. o emprego de aditivos incorporadores de ar pode dotar uma argamassa de traço em massa 1:5. para que o custo das argamassas se torne efetivamente atraente. o que se verifica é uma tendência de imposição ao mercado de argamassas em que o traço é dimensionado no limite extremo da trabalhabilidade. esses produtos químicos devem ser empregados como tais. sem fazer qualquer referência ao tipo e. muitas vezes. fabricantes ou vende­dores destes produtos. de trabalhabilida­de adequada à tarefa com redução de custo. Na prática. à qualidade do cimento ou à relação água cimento e sem especificar adequadamente as ca­racterísticas da areia sugerida. sugerem o emprego de traços que atin­gem proporções entre cimento e areia tais como 1:8 ou 1:9. A bibliografia e a boa prática recomendam o emprego de argamas­sas de cimento e areia em traços em volume de 1:3 ou 1:4. visto que traços mais fracos. são difíceis de serem trabalhados. Neste caso. Nessas condições. ensaios deverão ser realizados para comprovação da qualidade da argamassa obtida.Conhecendo argamassa Como são aditivos. consequentemente. processos de fissuração instalam-se com 93 . indicando apenas a condição fina ou média sem levar em conta a ampla gama de variações existentes em cada uma dessas classificações. eles poderão ser empregados na melhoria de argamassas desde que essas por si só já cumpram as funções básicas de resistência mecânica. A aderência de argamassas aeradas ao substrato pode ser enormemente prejudicada comprometendo a estabilidade das alvenarias e sua estanqueidade à água. 94 RECENA. Quanto à argamassa projetada. limitações e cuidados. Outras argamassas Este livro não estaria completo se não destinasse algum comentário sobre argamassas ainda pouco divulgadas. aquelas aplicadas por projeção. também é um dano ob­ servado com muita frequência principalmente quando são empre­gadas areias finas na sua produção.5. execução de reforços estruturais e contenção de encostas. não raro ocor­rendo o desprendimento da argamassa. podem apresentar efeitos colaterais graves e seus efeitos na maioria das vezes não são proporcionais às dosagens. devem ser empre­gados. além de não fazerem milagres. já que. já que. com pulverulência. a seguir será destinado um breve texto mais a título de informação do que efeti­vamente destinado a transferir um conhecimento ainda incipiente na medida em que muito ainda deve ser aprendido sobre as técni­cas de aplicação. Fernando Antonio Piazza frequência. mas sim alertar para a interpretação errada que é feita do seu efeito. Não se está aqui querendo condenar um determinado pro­duto. Não foi considerada uma classificação quanto à forma de aplicação que poderia abranger. A desagrega­ção das argamassas. mas de grande potencial. em placas. além das argamassas aplicadas de forma convencional. Por serem produtos ainda não popularizados. não há muito o que ser dito tendo em vista ser essa técnica de projeção amplamente emprega­da em revestimentos de túneis. E o que é uma argamassa senão um con­creto sem agregado graúdo? Uma argamassa pode . 6. tecnicamente. como tais. no item argamassas industrializadas seria possível incluir as argamassas estabilizadas. Aditivos são apenas aditivos e.6. assim como remé­dios. Por outro lado. seu uso não pode ser questionado. pouco utili­zadas. Praticamente é possível considerar essas argamassas bas­tante similares às argamassas industrializadas vendidas em sacos. Eventualmente podem ser empregadas pozolanas ou cargas minerais sem atividade química significativa. Como grande vantagem é possível admitir a minimização da variável humana. trata-se de uma técnica amplamente empregada que apresenta excelentes resultados práti­cos. As argamassas estabilizadas são produtos desenvolvidos para serem produzidos e fornecidos por centrais dosadoras assim como o concreto usinado. e essas devem apre­sentar características de coesão e trabalhabilidade adequadas à forma de aplicação. Evidentemente que os equipamentos são projetados especificamente para o emprego de argamassas. agregado miúdo. Há notícias sobre a existência de empresas que dispõem dos equipamentos e que contam com equipes treinadas especificamente nessa atividade garantindo a execução de um trabalho mais rápido e bastante mais homogêneo.Conhecendo argamassa perfeitamente ser chamada de microconcreto. Enfim. A velocidade de execução de revestimentos é outro fator favorável ao emprego dessa técnica. Normalmente são produzidas com cimen­to Portland. No momento em que a argamassa é aplicada em camadas de pequena espessura. a evaporação da água permite que as rea­ções de hidratação do cimento Portland ocorram garantindo o de­senvolvimento de todas as características desejáveis de uma ar­gamassa tanto para o assentamento de elementos de 95 . tanto com relação aos materiais como com os proporcionamentos. água. sempre com a mesma pressão. aditivo incorporador de ar e aditivo estabilizante. uma vez que é garantida uma perfeita unifor­midade na aplicação. A grande diferença reside no emprego de um aditivo cha­mado de estabilizador que tem a propriedade de permitir a estocagem dessas argamassas em mistura com a água por períodos de até 36 horas sem perda de trabalhabilidade e sem que ocorra o início de pega do cimento. A qualidade final do revestimento dependerá do proporcio­namento das argamassas e não da forma como é projetada. com um amplo prazo temporal para sua utilização. Em tese não se tratam de argamassas com características diferentes das tradicionais. permitindo a avaliação precisa do volume adquirido pela obra. transportada e distribuída. Estocada em caixas. em grande quantidade. . as argamassas vão sendo consumi­das lentamente no decorrer de uma jornada de trabalho sem prejuí­ zo da qualidade e sem perdas. nor­malmente de material plástico. dosa­da. Fernando Antonio Piazza alvenaria como para o revestimento de paredes. o que efetivamente é alterado como inovação é o conceito relativo à forma de aplicação e à possibilida­de de serem fornecidas prontas. No dia seguinte nova carga é forne­cida para o desenvolvimento de mais uma jornada de trabalho.96 RECENA. sem prejuízo da qualida­de. Normalmente a central dosa um caminhão betoneira com 7 ou 8 m3 que percorre diversas obras distribuindo o produto que é deixado em caixas de volume conhecido. 7. em geral areia natural. mas com quantidades diferentes de produtos da hidratação. uma região de pequena espessura. sempre será possível associar a retração de uma argamassa mineral e sua inevitável consequência. pela fase representada pela chamada zona de transição. como um fenômeno diretamente ligado ao movimento da água no interior da pasta com a qual foi formada ou desta para o exterior. algumas considerações sobre o desenvolvimento do sempre presente processo de retração em pastas de cimento Por­tland. Por zona de transição entende-se a região situada na inter­face entre a pasta e o agregado. Essa zona. ou seja. RETRAÇÃO DAS ARGAMASSAS Considerando que a dosagem de uma argamassa deve ser feita a partir do consumo de água e que o objetivo a ser atingido está em obter um material com a maior estabilidade de volume possível para minimizar a probabilidade de aparecimento de pro­cessos de retração. em similitude ao que é considerado no concreto. qualitativamente de mesma constituição química que a pasta. sendo o fenômeno o processo de retração e sua manifestação. é necessário apresentar. assim como a pasta propriamente dita. consequen­temente. já que o comportamen­to da pasta dita o comportamento do aglomerado. Em nível macroscópico pela fase agregado. menor resistência mecânica. menor densidade e. sendo constituída por aglomerante água. menor relação água/aglomerante. a fissuração. por assim dizer. . envolve o grão do agregado. que por analogia podem ser estendidas para pastas mistas de cimento Portland e cal ou puramente cal. Em princípio. Admite-se que uma argamassa. seja constituída por três fases distintas. a fissura­ção. mesmo que de forma resumida. em nível microscópico. e pela fase pasta e. . O esfarelamento superficial de argamassas submetidas a processos alternados de molhagem e secagem é determinado pela ruptura das ligações entre a pasta e o agregado. A pasta. além de representar uma região de menor resistência caracteriza-se por apresentar microfissuras e maior porosidade. fase plástica. ou pos­teriormente ao endurecimento. Não havendo restrições ao livre movimento do cor­po. não sofrendo a ação de tensões internas por serem essas dissipadas por deformação ime­diatamente ao seu aparecimento. pois a retração é restrita à pasta. embora de pequena magnitude. re­presenta a fase suscetível de experimentar redução de volume. a quantidade de agregado na mistura terá influência primordi­almente sobre sua estabilidade de volume. que funciona como o elemento de aglutinação. já que não há restrição à livre movimentação. Assim. Movimentações da água no interior da pasta podem também favorecer ao aparecimento de processos de retração que. podem contribuir para o processo global. Se a resistência do material for inferior ao esforço solicitante. Sendo. dificulta a transferência de tensões para o agregado. No momento em que ocorre uma restrição ao livre movimento do corpo. Um sólido solto no espaço sem qualquer restrição ao seu livre movimento em processos de expansão e contração de qual­quer natureza estará sempre em equilíbrio.98 RECENA. essas tensões serão dissipadas por deformação na forma de aumento ou diminuição do volume do sólido. por conse­guinte. diretamente ligada à movimentação da água para o exterior durante o processo de secagem antes de endurecer. Fernando Antonio Piazza Em qualquer material produzido com aglomerantes mine­rais. e consequentemente o desempe­nho mecânico do material. surgem tensões que não serão dissipadas por deformação já que esta não ocorrerá. menos resistente. Por ser na zona de transição verificada uma relação água/aglomerante maior que na pasta propriamente dita. falar em tornar uma argamassa menos friável significa falar em aumentar a resistência da zona de transição. suportando sem alterações. resistem bem mais aos esforços de compressão do que aos de tração. deve ser explora­da antes a estrutura interna da água. forma-se um dipolo permanen- 99 .1. a espessura. em sendo esta formada por aglomerante e água. Nessas condições haverá condições propícias à instalação de processos de fissuração pelo impedimento à livre movimentação impedindo que ocorra o alívio de tensões por defor­mação. O processo de evaporação da água de amassamento será facilitado pela elevada relação superfície de exposição/volume igualmente verificada em lajes de concreto armado. completamente aderido ao substrato sem qualquer liberdade de movimentação. Considerando um revestimento em argamassa aplicado sobre uma parede como uma placa de argamassa fundida no local. é possível perceber essa placa como um sólido lamelar com duas dimensões imensamente maiores que a terceira. embora este conceito seja amplamente explorado pela técnica construtiva conhecida como argamassa armada.Conhecendo argamassa as tensões internas serão dissipadas por sua ruptura manifestada pelo aparecimento de fissuras. como concreto e argamassa. principalmente em peças de concreto. sendo de fun­damental importância o conhecimento de sua estrutura interna e. Estrutura interna da água No momento em que os pequenos átomos de hidrogênio li­gam-se de forma covalente com um átomo grande de oxigênio. aos esforços gera­dos por expansão. mas a retração. ou de um concreto de cimento Portland. Para o preciso entendimento do processo de fissuração de uma argamassa. Por ser indesejável o aparecimento de fissuras em qualquer material não raramente são empregadas ar­maduras com a finalidade de absorver os esforços de tração gera­dos pela retração. Materiais cerâmicos. elemento de uma estrutura mais suscetível aos efeitos da retração com maior probabilidade de vir a fissurar. na maioria das vezes. é neces­sário conhecer o mecanismo de retração da pasta. 7. determina o aparecimento de fissuras. já que a nuvem de elétrons dos átomos de hidrogênio tende a se concentrar junto à parte da molécula que contém o átomo de oxigênio despro­tegendo seu núcleo com a formação de um polo positivo. uma vez que dois terços do calor necessário são gastos para o rompimento destas ligações. À medida que o gelo derrete. Os átomos de hidrogênio podem assim estabelecer pontes com os átomos de oxigênio de outras moléculas permitindo a liga­ção das moléculas de água entre si.00. restam elé­trons não compartilhados. representada pela ten­são superficial. Esta é a razão pela qual a água não funciona como lubrificante tão eficazmente como outros líquidos. da capacidade da água em aderir a superfícies sólidas e da superfície de contato. aproximadamente 15% das liga­ções hidrogênio são rompidas. entre outras características. .100 RECENA. Essas ligações explicam também o aumento do volume da água ao solidificar. O número de ligações hidrogênio existentes na água justifi­ca. seu anormalmente alto ponto de ebulição. o que determina o aparecimento de cargas elétricas superficiais insatisfeitas com o aumento significativo da energia superficial. da tensão superficial. pois neste estado sua estrutura regular permite que cada molécula ligue-se a outras quatro em formação tetraédrica. ou seja. Na parte oposta da molécula onde se situa o átomo de oxigênio. que pode ser encarada como a força necessária para afastar as moléculas superficiais que se comportam como em uma membrana elástica tensionada. parte do entendimento dos fenômenos físico-químicos de superfície. permitindo que cada molécula de água ligue-se a um número maior de outras moléculas. Na temperatura ambiente a água possui aproximadamente 50% de suas ligações hidrogênio desconectadas. caracterizando o carregamento negativo. O estudo da movimentação da água no interior de sólidos porosos. diminuindo os espaços vazios com o aumento da densidade da substância de 0. Fernando Antonio Piazza te de grande magnitude.97 para 1. fenômeno chamado de “liga­ção hidrogênio”. É a quantidade mínima de água necessária para que ocorra a hidratação do cimento o que corresponde. Formas de apresentação da água na pasta Em pastas de cal a água funciona como o elemento que vi­abiliza a reação de carbonatação que ocorre com a liberação de água para o meio ambiente sempre com redução de volume na formação do carbonato de cálcio. 7.2. Água não evaporável Assim é identificada uma parcela da água que é emprega­da na produção de aglomerados que contenham como aglomerante total ou parcialmente o cimento Portland. 7. Essa trabalhabilidade é . a relações água/cimento entre 0. a água pode apresentar-se retida na pasta das seguintes maneiras: 7.2. Considera-se não evaporável porque esta água não pode ser removida por simples secagem. De uma maneira geral é possível simplificar como a seguir se apresenta. Sua retirada só é possível por desidratação da pasta por meio de aquecimento enérgico acima dos 700° C. A água não evaporável é representada pela água quimicamente combinada a partir da ocor­rência das reações de hidratação do cimento Portland e integra a estrutura dos cristais hidratados. dependendo das ca­racterísticas do cimento.Conhecendo argamassa 101 Conforme a umidade ambiental e a porosidade da pasta.1.2. Em pastas de cimento Portland a água se apresenta de forma diferente. Água evaporável Todos os aglomerados produzidos a partir de pastas for­madas por aglomerantes minerais necessitam de certa trabalhabi­lidade para poderem ser empregados nas atividades clássicas da construção civil.23 e 0.28.2. determinando forte retração na pasta. servindo como meio de ligação e transporte dos íons liberados durante a dissolução das partículas de cimento. por ser o constituinte de menor densidade. Fernando Antonio Piazza obtida pelo aumento no volume de pasta pela incorporação de uma quantidade maior de água do que aquela necessária para desencadear as reações quí­micas que promoverão o endurecimento do aglomerado. A água. Essa movimentação ocorre pela formação de uma rede de canais capilares durante o estabele­cimento do um fluxo hidráulico.3. nesta condição. O tra- . ocorre sua movimentação no sentido de encontrar uma região de menor pressão. somente poderá ser removida por forte secagem a uma umidade relativa de 10 a 15%. Uma parte desta água encontra-se fixada à superfície sólida do aglomerante pela ligação hidrogênio. É comum ocorrerem fissuras no canto de aberturas em fun­ção da não colocação de contravergas ou fissuras a 45° nos cantos de edificações indicando a ocorrência de deformações em balanços ou assentamento de fundações. A movimentação desta água será tão mais intensa quanto menor a capacidade do aglomerado. quando este for empregado. ou quando pressionada por efeito da sedimentação. mas “na” argamassa.3. Durante o processo de evaporação. em retê-la no seu interior e quanto maior a quantidade de água empregada. a superfície da peça. 7. ou disponibilizando o hidróxido de cálcio solubilizado à reação de carbonatação. 7. Tipos de fissuras Muitas vezes é possível verificar no revestimento em arga­massa de paredes a existência de fissuras transmitidas pelo subs­trato não sendo fissuras “da” argamassa. argamassa ou concreto.2.102 RECENA. Água capilar O restante da água adicionada permanece dispersa na pas­ta. . ele ainda pode ocorrer. e trinca. A manifestação causada pela corrosão da armadura em peças de concreto armado será sempre uma fissura e o recalque diferencial de fundações causará o aparecimento de trincas. todas terão sempre o fato de os processos de fissuração terem origem hidráulica. Fissuras que são características de retração das argamas­sas podem ser classificadas assim como é apresentado a seguir com a consideração apenas dos principais tipos. a fratura ocorrida em uma peça estrutural decorrente de sobrecargas. Há na bibliografia muita confusão acerca dos termos “fissu­ra” e “trinca”. fissura será o efeito de um processo de retração sofrido por um material. Embora este fenômeno não esteja sendo observado a um bom tempo. Já de algum tempo o autor vem empregando o termo fissura como representante de uma manifestação ocasionada por um fenômeno físico experimentado por um material e trinca como o resultado de uma ação mecânica atuante sobre uma estrutura. a que aqui é apresentada poderá diferir de outras classificações relacionadas na bibliografia. em fun­ção da evolução tecnológica verificada nos processos de hidratação industrial das empresas produtoras de cal hidratada.Conhecendo argamassa 103 balho térmico de estruturas pode determinar a instalação espontânea de juntas que são igual­mente refletidas no revestimento em argamassa. sinistra. Muitas vezes é ouvido o termo “rachadura” que sugere a exis­tência de uma manifestação de maior magnitude. ou seja. sempre sugerindo o comprometimento estrutural. Assim. Podem ocorrer fissuras por expansão causada pela hidra­tação retardada dos óxidos de cálcio e magnésio. Muitos autores estabelecem a abertura dessas mani­festações como o elemento de definição. sendo um critério subjeti­vo. Em comum. oriundos da movimen­tação da água do interior do material para a superfície. Por haver diferentes formas de classificação dos diversos tipos de fissura. A migração da água internamente ao material e o processo de carbonatação podem gerar um tipo de retração interna de pequena magnitude.3. Fissura superficial Este tipo de fissura caracteriza-se por apresentar em geral pequena abertura muitas vezes sendo visível somente após molhagem do revestimento. seja trazido à superfície por sucção. Imediatamente após a passagem da desempenadeira a argamassa tende a retornar à sua posição original. Haven­do na superfície uma concentração maior de material fino. 7. mais propícia à retração e consequentemente vulnerável à instalação de processos de fissuração. responsáveis pelos mais intensos estados de fissuração. a ação da desempenadeira pressiona a argamassa contra o substrato. conhecidas popularmente como “pés de galinha ou pele de crocodi­lo”. é hidráulica. portanto. sua tex­tura será igualmente mais fina. com menor densidade em função da maior quantidade de água. conferindo me­lhor acabamento. Durante o processo de desempeno. como dito na prática.104 RECENA. quando a argamassa possui ainda muita plasticidade ou. sem ter “puxado”. o que representa um alívio de tensão. decor­rente da movimentação da água principalmente do interior do mate­rial para a superfície. é possível dizer que a causa dos processos de retração de grande magnitude. mas que colaborará com o proces­so global. ou seja. A pequena abertura das fissuras se deve ao fato de serem es­sas fissuras oriundas da retração de uma camada superficial de pequena espessura constituída de aglomerante e a porção mais fina do agregado. Seu desenvolvimento “mapeado” sugere a formação de poligonais fechadas aproximadamente hexagonais. Não está errado afirmar que esta operação pro­move a segregação do material na superfície da argamassa. fazendo com que o material mais fino. como se por assim dizer houvesse um revestimento posterior com uma argamassa muito fina produzida com muita água. . A causa de seu aparecimento não pode ser dis­sociada da excessiva movimentação da camada superficial da ar­gamassa na tentativa de melhorar o acabamento do revestimento ou quando este desempenamento é iniciado antes do momento próprio.1. mais lisa. em função da pressão negativa gerada na interface da desempenadeira com a argamassa. Fernando Antonio Piazza De uma maneira geral. Com o passar do tempo essas pequenas fissuras tornam-se zonas de concentração de ten­sões. por isto as fissuras apresentam pequena abertura. Muitas vezes este fenômeno ocorre após o processo de pintura da parede e. após a ocupação do imóvel. em algumas situações. Figura 8 . algumas fissu­ras poderão interligar-se na definição de um caminho preferencial para alívio de tensões com um comportamento similar de uma jun­ta. apresen­tam casos típicos desse tipo de fissura facilmente identificado em função da secagem mais intensa exatamente ao longo das fissuras por constituir regiões de maior superfície de exposição. poderem surgir movimentações de origem termo-higrométrica. As fotografias 8 e 9. já que o processo de retração continua com o tempo além de. apresentadas em sequência. sendo muitas vezes não perceptíveis à vista desarmada quando a argamassa encontra-se seca. tendo sua abertura gradativamente aumentada. não raramente. Em decorrência desta evolução.Conhecendo argamassa 105 A retração ocorrerá num primeiro momento apenas nesta fina camada superficial. no estado fresco. Esse fenômeno é identifica­do com facilidade.3. pois em um mesmo pano de revestimento ocor­rem muitas fissuras com esta mesma característica. pode ocorrer uma fissura.106 RECENA. como se houvesse mesmo um escorrimento. Fissura de escorrimento Quando a argamassa para aplicação como revestimento em uma parede é preparada com excesso de água. Fernando Antonio Piazza Figura 9 As figuras 8 e 9 apresentam dois aspectos da forma como se apresentam as fissuras ditas superficiais. 7. e menor em outros.2. . onde vai haver um deslocamento mais intenso. Em função da irregularidade do substrato. Na região de transi­ ção entre essas duas situações. normal­mente de grande abertura e pequeno comprimento. permi­tindo a observação da evolução do processo com o aumento na abertura das fissuras. a ligação desta camada de argamassa. pode ser efetiva em determinados pontos onde a argamassa escorrerá menos. com desenvol­vimento predominantemente horizontal. já a Figura 9 foi tomada de um revestimento mais antigo. a Figura 8 foi obtida alguns dias após a execução do revestimento. ocorre pela ação da gravidade uma tendência à movimentação vertical dessa argamassa na parede. além de contrariar a norma. for maior que a pressão negativa criada durante a operação de projeção da argamassa sobre a parede que mantém o material posicionado até o desenvolvimento dos mecanismos de aderência. Também por esta razão. pela ação da gravidade. apresentada a seguir. A Figura 10. mas assim como a realização do revestimento em mais de uma camada au­menta a massa a ser mantida aderida ao substrato. mas isso. pode atenuar o efei­to negativo sobre o revestimento final decorrente do emprego de camadas muito espessas. existe uma limitação de norma quanto à espessura da camada de revestimento que não deve ex­ceder 30 mm. representando uma sobrecarga. de maneira a suportar a força vertical de escorrimento. O uso da técnica de “encascotamento” igualmente pode reduzir o aparecimento de fissuras. é possível ocorrer o mesmo fenômeno. já que. é verificada a mesma tendência à movimentação verti­cal. exigirá a prepara­ção de uma argamassa de muito mais elevada coesão para garantir a sucção estabelecida na projeção da argamassa à parede. Figura 10 Apresenta um caso típico de fissuração por escorrimento. É possível aplicar camadas mais espessas em reves­timentos. registra este tipo de fis­sura. . o escorrimento ocorrerá sempre que a força exercida por determinada porção da argamassa. sob a ação da gravidade. O emprego de telas ou fibras.Conhecendo argamassa 107 Quando a argamassa é aplicada em camadas muito espes­sas. que estruturam o revestimento. Nesse caso específico. mas sim de toda sua espessura. . com tendência à formação de poligonais fechadas. placas definidas pelo “mapa” gerado pelas fissuras po­derão desprender-se evidenciando o colapso total do sistema de ancoragem. sempre haverá tendência à fissuração. Todo o trabalho de dosagem de uma argamassa deve ser desenvolvido com o intuito de compensar essa natural tendência. Fernando Antonio Piazza 7. O desenvolvimento desse tipo de fissura ocorrerá de manei­ra semelhante ao mecanismo desenvolvido no processo de fissuração superficial.108 RECENA. che­gando ao substrato. Fissura de retração plástica Como sempre há evaporação da água de amassamento de uma argamassa. impedindo a instalação de processos de fissuração. em que a ancoragem possa estar sendo garantida mais por microaderência do que pelos outros mecanismos. As fissuras igualmente serão na forma de ma­peamento. embora sua ocorrência no es­ tado plástico possa garantir o estabelecimento de novas pontes de aderência.3. mas de grande abertura e atravessando a camada de argamassa.3. com a diferença de não representar a retração de uma camada muito fina e superficial do revestimento. Como a abertura das fissuras é significativa. Em situações-limite. Essa movimentação estabelece o apa­recimento de esforços de cisalhamento que podem romper a ainda tênue microaderência estabelecida. Figura 11 Apresenta um típico processo de fissuração causado por retração plástica. é possível admitir que igualmente significativa é a movimentação da argamas­sa em relação ao substrato. constituindo a maior fonte de reclamações e o motivo de reparos em obras já entregues: a fissu­ração por retração e a baixa resistência mecânica evidenciada pelo esfarelamento superficial. é possível estabelecer um questiona­mento sobre quais as características que devem ser consideradas num processo de dosagem . privilegiando. dois são os problemas que efetivamente causam transtor­ nos. se fosse permitido aos operários optar quanto à consistência. antes de todos. mas fatalmente o concreto será mais caro devido ao maior consumo de cimento ne­ cessário para a manutenção de uma mesma relação água/cimento. o proporcionamento dos ma­ teriais na produção das argamassas vem sendo es­tabelecido de forma subjetiva ao longo do tempo. Evidentemente que o trabalho en­ volvido nas operações de concretagem será realizado em um prazo menor. PRINCÍPIOS A SEREM SEGUIDOS PARA A DOSAGEM DE ARGAMASSAS Sendo fruto de um conhecimento empírico. O problema apenas configura-se como tal a partir da ocorrência do desplacamento do reves­ timento.8. No caso das argamassas. Na maioria das obras não são avaliadas a resistência à compressão e a de aderência à tração ao substrato das argamas­sas empregadas. principalmente com relação à fissuração por retração em suas variadas formas. Voltando a fazer uma analogia com o concreto. principalmente aquelas empre­gadas no reves­ timento de paredes. o aspecto trabalhabilidade. sem qualquer dúvida a opção recairia so­ bre um concreto tanto quanto possível fluido. Diante do exposto. Igualmente a probabilidade de aparecerem defeitos será aumenta­da. termo entendido com alguma imprecisão como a característica que determina a maior velocidade na realização da tarefa. fraturas mediante pequenos impactos ou de sua deterioração precoce. O baixo volume de pasta torna mais barata a argamassa e facilita a operação de desempeno. por sua influência sobre o processo de pintu­ra. não raro esfarelando ao roçar dos dedos. exigirão em sua produção. na medida em que propicia um melhor acabamento superfici­al. determina o aumento da demanda de água favorecendo a retra­ção. argamassas de mesmo traço. Se depender das observações que são feitas em obra. frequentemente é observada pre­ ferência pelo emprego de uma argamassa produzida com areia fina por propiciar melhor acabamento e maior coesão sem aumento no volume de pasta. embora apresente como efeitos colaterais menor resistência mecânica. principalmente daque­las que serão empregadas em revestimen­ tos de paredes. principalmente pela redução de custo obtida em função de a pre­paração da parede não exigir grandes trabalhos. Fernando Antonio Piazza de argamassas. Se esta argamassa for empregada como substrato para aplicação de revestimentos cerâmicos ou qualquer acabamento aplicado com emprego de ar­ . menor resistência de ade­rência e sempre forte tendência à fissuração. A obtenção de argamassas que possam atender a essas característi­ cas pressupõe o emprego de agregados de baixo módu­lo de finura e pequeno volume de pasta. quantidades subs­ tancialmente diferentes de água. Durante a execução de revestimentos. Essas argamassas apresen­ tam em geral friabilidade superficial. O emprego de agregados finos. O aumento na demanda de água pela substitui­ ção de uma areia média por areia fina pode chegar a 50%. certa­mente será privilegiada a trabalha­ bilidade de tal forma que seja possível reguar e desempenar tão logo a argamassa tenha sido projetada sobre a parede.110 RECENA. para a obtenção de uma mesma trabalhabilidade. mas produzidas com agregados de superfícies específicas diferentes. ou seja. Com relação à demanda de água. se os crité­ rios forem estabelecidos pelos aplicadores. O acabamento final visando à obtenção de uma superfície lisa e de baixa porosidade também é um fator sempre considerado. tanto menos água quan­ to possível para viabilizar em menor prazo o trabalho de acabamento. devendo ser considerada igualmente a eficiência de sua aplicação ao substrato. mas sim do sistema constituído pela camada ou camadas de arga­ massa. mas não permitindo conclusões sobre a qualidade do revesti­ mento. vindo a ocor­rer. de traço fraco. dificultando sua tarefa. Parale­ lamente essa característica concorrerá para a minimização da pro­babilidade de instalação de processos de retração e para o aumen­to da resistência mecânica. não constitui uma característica exclusiva da argamas­sa. atividade extremamente variável em função do aplicador e das condições de trabalho. pela redução da relação água/aglome­rante. Dessa maneira. tanto a resistência de aderência como a re­sistência à compressão simples podem ser consideradas apenas características de controle. com o tempo. É desejável para o aplicador numa argamassa para aplicação como revestimento. Em função da velocidade de execução. É sabido que a resistência à compressão simples de uma argamassa de revestimento não é o melhor parâmetro para carac­terizá-la ou para ser adotado como referência em um processo de dosagem. podendo informar sobre a qualidade da argamassa e principalmente sobre sua homogeneidade. A resistência de aderência. Contrariamente ao que ocorre com o concreto em obra. em­ bora seja extremamente importante. desplacamentos de porções do revestimento cerâmico por ruptura da argamassa de emboço. observa-se uma tendência ao emprego de argamassas magras. a superdosagem de água numa argamassa dificilmente ocorrerá pelo simples fato de criar sérias dificuldades ao aplicador. Evidentemente que a argamassa de­ verá atender a um pa­drão mínimo de trabalhabilidade a ser obtido a partir de um consu­mo mínimo de água.Conhecendo argamassa gamassas colantes. incluindo aí sua preparação. pelas características do substrato. com a finalidade de reter menos 111 . a estabilidade deste revestimento estará comprometida por risco de ruptura na argamassa de emboço de baixa resistência mecânica. apresentando resultados satisfatórios a ponto de permitir sua divul­gação. Esse princípio tem sido adotado pela CIENTEC nas dosagens de ar­ gamassa realizadas ao longo dos últimos três anos. Fernando Antonio Piazza a desempenadeira por falta de pasta. sem que o comprador manifeste qual­quer preocupação com relação ao traço adotado ou com as carac­terísticas dos materiais empregados. feitas aos construtores. para reparar ou tentar de alguma forma corrigir os problemas existentes princi­palmente nas argamassas de re­ vestimento. seu transporte de forma absolutamente inadequa­ da. os construtores veem-se na obrigação de retornar aos imóveis. A preocupação com as argamassas tem início a partir de reclamações dos proprietários dos imóveis.112 RECENA. dão uma clara ideia da pouca importância que é dada às argamassas. é possível identificar como parâmetro a ser otimiza­do num pro­ cesso de dosagem a quantidade de água. procedi­ mento ainda mui­to difundido em nosso meio. que pode ser representado pela per­ centagem de água sobre o total de materiais secos. após a entrega. as argamassas sempre foram tratadas de for­ma deslei­ xada. sendo sua dosagem e produção de responsabilida­de do mestre da obra ou até mesmo do pedreiro. permitindo a aceleração do processo de desempeno. sua estocagem em condições desfavoráveis e seu emprego em um prazo muito além do recomendado. Cada vez mais frequentemente. já que o requisito mais importante na visão do aplicador é a facilidade de aplicação e a rapidez nas tarefas de reguagem e desempeno. Na verdade. geralmente dando conta da existência de fissuras nos revestimen­tos ou de sua friabilidade manifestada pela pulverulência caracterís­tica. mas comprometendo a qualidade final do revesti­mento. Assim. aumentando a produtividade. A compra de argamassas intermediárias de cal e areia. . Na bibliografia mais antiga é possível ler as expressões “água de amas­ samento” e “virar concreto”. A mistura das argamassas produzidas antigamente e até hoje em pequenas obras é feita com enxadas. De uma certa forma. Tanto produzindo concreto como argamassa. mais notada­ mente por aquelas a serem empregadas em revestimentos. lista­das na biblio­ grafia existente sobre o assunto. Outras manifestações patológicas em revestimentos. exatamente para permitir o esmagamento ou o amassamen­ to da argamassa contra o fundo da caixa. pois em geral mascaram a falta de homogeneidade. Quando o concreto era produzido em obra. de alguns anos para cá. ocorrem de forma menos intensa e. as betoneiras de gravidade que constituem a maioria maciça dos equipamentos de mistura. pelo movimento circular. viram o concreto. efetiva­ mente ele era virado. não é o mais adequado para a produção de arga­massas. estas betoneiras são extremamente ineficientes para misturas secas o que faz com que uma quantidade adicional de água seja incorporada com a finalidade de facilitar aparentemente a operação de mistura. Fato que passa geralmente despercebido é o de que o tipo de mistura­ dor empregado na produção das argamassas. estão diretamente ligadas à qualidade dos insumos empregados na produção das argamassas. as betoneiras de obra. promovem a formação de grumos ou não favorecem a sua destruição depois de formados. pois sua mistura era feita com pás. por parte de quem constrói. é possível perceber. ou dos torrões de argamassa intermediá­ria formados pela estocagem do produto em tempo muito longo. pois. na maioria das vezes. um crescente interesse pela qualidade das argamassas. inclusive em caminhões-betoneira. 113 .Conhecendo argamassa Assim. em caixas. Este procedimento de mistura garantia a destruição dos grumos que sempre se formavam. O aumento da coesão pelo emprego de areia fina está liga­do à capaci­ dade de adsorção de água pelos grãos de menores dimensões. Essa menor exigência de água deve ser obtida a partir do emprego de uma areia adequada. determinando que na produção de argamassas com areia fina seja empregada uma quantidade muito maior de água. o que tem sido percebido a partir da ob­ servação do trabalho desenvolvido pelos pedreiros e por suas informações em­ píricas. sugere que a velocidade de tratamen­to de uma argamassa após sua aplicação na parede está muito ligada à sua coesão o que é obtido a partir do emprego de areias mais finas. Essa afirmação explica o fato de existirem no mercado argamassas de cal e areia sendo comercializadas com traços tão fracos como 1:15. Não é procedimento corriqueiro na CIENTEC a dosagem de argamassas para assentamento. nem o ensaio de corpos de prova no controle da resistência à compressão de argamassas. o que favorece o emprego de ar­gamassas magras. Claro torna-se. Fernando Antonio Piazza Há à disposição no mercado argamassadeiras que podem executar a mistura com muito mais eficiência e que deveriam ser empregadas sempre na mistura de argamassas. em massa. deve necessariamente ser vinculado ao menor consu­mo de água possível. com as implicações já citadas anteriormente no texto. dificulta o desempeno “pren­ dendo a desempenadeira”. O aumento do volume de pasta. então. como já determinado em laboratório. que também aumenta a coesão. que o melhor desempenho de uma argamassa. Como já citado anteriormente. a partir de determinados limites. com granulometria o mais contí­nua possível.114 RECENA. ga­ rantindo um mínimo de capacidade de retenção da água empregada em sua produção. com o menor teor de finos possível e com o emprego de cales de boa qualidade que apresen­ tem elevada plasticidade. exceto em algumas poucas obras envolvendo . Atualmente. além da habilidade e competência do pe­dreiro para a tarefa. do preparo e da natureza do substrato. mesmo não havendo cuidados maiores com a maioria maciça das arga­massas para assen­ tamento utilizadas. que. 115 . por outro pode gerar processos de retração após o endurecimento da arga­massa com fissuração e desplaca­ mento. o grande desafio tornou­ -se a aquisição do conhecimento necessário para a dosagem de argamassas específicas para revestimentos. além das características intrínsecas desta arga­ massa. a ar­ gamassa deverá garantir a resistência de aderência mínima prevista em norma. já que o bom de­sempenho de uma argamassa em revestimentos depende. o traço é ajustado para atendimento aos demais parâmetros de controle como a resistência de aderência e a própria resistência à compressão. quando especificada. Além da necessidade em se obter um revestimento sem patologias. diante do desempenho das edificações de uma maneira geral. em função destes problemas. das condições climáticas no momento de sua aplicação e da cura. muitas dificuldades têm sido encontradas na produção de argamassas adequadas para a obtenção de revesti­mentos isentos de qualquer tipo de manifestação patológica. as mesmas apresentam características técnicas compatíveis com as solicitações presentes nas alvenarias. Posteriormente então. O aumento do consumo de cimento nas argamassas se por um lado favorece o aumento da resistência mecânica. Isso permite inferir. a preocupação principal sem­pre estará relacionada com a fissuração. de modo que o primeiro trabalho consiste na obtenção de uma arga­ massa que apresente a maior estabilidade de volume possível com os materiais escolhidos para sua produção.Conhecendo argamassa alvenaria estrutural com um número maior de pavimentos. No dimensionamento de um traço de argamassa para em­prego em re­ vestimentos de paredes. No entanto. aumentaremos a superfície específica do conjunto de prismas sempre para a mesma massa “m”. relacio­nado com a pega do cimen­ to. Este sólido terá uma superfície de 6 cm2. Considerando a tensão superficial da água. Como exemplo é possível imaginar um cubo de 1 cm de aresta e massa “m”. o que não é levado em conta no exemplo numérico apresentado. evidenci­ando sua presença por uma coloração mais escura do que a super­fície do revestimento. Fernando Antonio Piazza A grande incidência de fissuras por retração ocorre na fase plástica. e a soma da superfície desses prismas será acrescida de 2 cm2 em relação à superfície do prisma original. teremos um volume de 600 mm3 de água aderida que pode ser considerada como água de molhagem do sólido considerado. Se assim procedermos indefinidamente. an­ tes do início do endurecimento da argamassa.116 RECENA. Dessa maneira fica claro que uma mesma massa de areia terá uma quantidade de água de molhagem função do tamanho dos grãos que a compõem. quanto menor a partícula mais es­ pessa a camada de água adsorvida. Mesmo depois do endurecimento da argamassa muitas fissuras só poderão ser visua­ lizadas a partir da molhagem do paramento revestido já que nas fissuras haverá maior absorção de água garantindo sua permanên­cia na fissura após a secagem superficial da argamassa. teremos dois prismas. Se dividirmos o cubo do exemplo por um plano. . devendo ser considerado que a quantidade de água ad­ sorvida na superfície de um material granular aumenta tão mais intensamente quanto maior a superfície específica deste material. sendo possível admitir a necessidade de mais 200 mm3 de água para a molhagem dos dois prismas embora a massa original não tenha sido alterada. O consumo de água para uma dada trabalhabilidade sem­pre estará con­ dicionado à superfície específica da mistura. Se admitirmos ser possível a adsor­ ção de uma película de água de 1 mm de espessura sobre a superfície do cubo. quando a argamassa ainda apresen­ta uma coloração mais escura que impede na maioria das vezes que fissuras de pequena abertura sejam notadas. mesmo 117 . na qual o cimento é substituído em 60% por cal hidrata­da apresentará. Evidentemente que o fenômeno exposto estará condicionado a variáveis de difícil controle. maior a redução de volume da argamassa e. Ao contrário. além da temperatura ambiente e do substrato no momento da aplicação da argamassa. se esta mesma ar­ gamassa for preparada com areia fina. Fica claro a partir da interpretação de um exemplo simplifi­cado que. a redução de volume ocorrerá lentamente na medida em que a argamassa vai adquirindo resistência mecânica.00. maior a demanda de água para uma mesma trabalhabilidade. Assim. deve ser levada em conta nesta análise a capacidade de retenção de água da mistura. com módulo de finura de 2. Se a evaporação da água ocorrer de forma rápida imediatamente a argamassa experimentará uma redução de volume certamente com fissuração. consequentemente. Uma argamassa de mesmo traço em massa. Fica clara a relação íntima entre tamanho de grão e capacidade de retenção de água. em um traço em massa de 1:3 poderá apresentar plasticidade adequada ao trabalho com algo entre 12% e 15% de água sobre os materiais secos. a quantidade de água sobre o total de ma­teriais secos poderá chegar a 30%. se a argamassa apresentar uma maior capacidade de reter a água empregada na sua produção. com módulo de finura em torno de 1. será sempre mais propícia à fissuração por apresentar menor capacidade de retenção de água em função do tamanho dos grãos do material empregado como aglomerante.Conhecendo argamassa Uma argamassa de cimento e areia média. a argamassa de cimento e areia. tais como umidade rela­tiva e a velocidade do ar durante o pro­ cesso. maior a retração.40. não haverá fissura­ ção. quanto maior a superfície específica de uma mistura. Como os grãos de cal são muito menores que os grãos de cimento. não haverá ruptura. No entanto. uma mesma argamassa poderá apresentar desempenho diferenciado em função dessas variáveis. a mesma trabalhabilidade a partir de um teor de água/materiais secos que deverá variar entre 18% e 22% e. maior a quantidade de água a ser evapora­ da. Quando a resistência à tração da argamassa for superior ao esforço de tra­ção determinado pela retração do material. Voltando ao exemplo já citado. mesmo que produzida com uma quantidade muito menor de água. Fernando Antonio Piazza que argamassas que empreguem cal exijam uma quantida­de de água maior em sua preparação sempre apresentarão maior capacidade de retenção de água.118 RECENA. minimizando a probabilidade de ocorrerem fissuras oriundas de processos de retração. determinando maior capacidade de acomoda­ ção frente aos esforços solicitantes gerados pelas movi­mentações que sempre ocorrem em qualquer estrutura. além de introduzirem características desejáveis às argamassas como um menor módulo de deformação. . sendo a incorporação intencional de ar às argamassas uma delas. Existem outras maneiras de aumentar a capacidade de re­tenção de água de uma mistura. Ainda pior. condicionadas pela qualidade da cal empregada. sugere a utilização de traços específicos em função do empre­go da argamassa sem. é possível esperar significa­tivas diferenças nas argamassas produzidas a partir de um mesmo proporcionamento. principalmente com relação à plasticidade e à capacidade de incorporação de areia. o que interfere diretamente na trabalhabilida­de. pozolânico. incluindo aquela produzida pela ABPC – Associação Brasileira dos Produtores de Cal. principal­mente no estado fresco. até mesmo inadequados. principalmente quan­to ao aspecto de resistência mecânica.9. como exemplo. no entanto. É consi­deravelmente variável o desempenho das cales existentes no mer­cado. Argamassas cuja composição considere além do cimento o emprego de cal terão igualmente suas características. Esse fato faz com que argamassas preparadas a partir de um mesmo proporcionamento possam apresentar desempenhos completamen­te diferentes. podem ser tão significativas quanto a diferença existente no de­sempenho destes dois tipos de cimento. Assim. mais notadamente com relação à trabalha­bilidade. . podendo não atender às exigências mínimas requeridas para uma determinada utilização. DOSAGEM DE ARGAMASSAS MISTAS DE CIMENTO PORTLAND E CAL A bibliografia existente sobre argamassas. as diferenças a serem percebidas em argamassas produzidas a partir do emprego de cimentos do tipo V. orientar sobre procedimentos de dosagem que possam sugerir alterações nas proporções dos mate­riais em função de suas características particulares. Em sendo considerados todos os tipos e classes de cimen­to Portland previstos pela normalização brasileira vigente e conside­rando ainda que um cimento de mesmo tipo e classe fabricado nas diferentes unidades industriais existentes em todo o território nacio­nal possa apresentar características diversas. de alta resistência inicial. e tipo IV. nessas orientações de caráter geral não há qualquer informação sobre as características dos materiais a serem empregados. Principalmente em se tratando de argamassas de revesti­mento. chamadas pelos fabricantes de cales hidráulicas. na dosagem de argamas­sas devem ser considerados aspectos subjetivos e objetivos. há apenas refe­rência a um tipo de areia média ou fina o que conduz a uma classi­ficação muitíssimo ampla de vez que areias entendidas popularmente como médias ou finas podem apresentar composições granulométricas em muito diferentes a ponto de alterar substancial­mente o desempenho das argamassas com elas produzidas.120 RECENA. Fernando Antonio Piazza condicionando o traço e interferindo no custo final do material. a condições visuais de acabamento e a condições de estabilidade volumétrica. Muita importância também deve ser dada ao agregado já que nas sugestões de traços encontradas na bibliografia ou forne­cidas por alguns fabricantes de cal ou de aditivos. quando muito. de maneira alguma. estando o atingimento da resistência espe­cificada. Se ainda forem consideradas as alternativas apresentadas ao mercado de cales produzidas a partir da adição de materiais pozolânicos. Esses mensuráveis como a resistência mecânica. pode ser representado por simplificações traduzidas pela apresentação de traços de caráter geral vinculados apenas à utilização da argamassa e. a uma exigên­cia superficial de desempenho. nas quais o desempenho está associado a características específicas do material no estado fresco. é possível ser obtido um espectro imenso de possibilidades e combinações que. vinculado à relação água/ aglomerante e à densidade da mistura. a resistência à compressão passa a ter maior importância. aqueles estimados co­mo a trabalhabilidade. Como na dosagem de concretos. sendo sempre o procedimento de dosagem um exercício em que deve haver a complementa- . Quando a argamassa é empregada no assentamento de elementos de alvenaria portante. no que tange a processos de fissuração. a tarefa de dosagem torna-se extremamente difícil na medida em que deve compatibilizar os di­versos aspectos em essência conflitantes. Infelizmente embora a argamassa seja um material muito antigo. seu estudo sempre foi relegado a um segundo plano. é possível. no caso de al­venarias portantes. No entanto. podendo haver a necessida­de de corrigir o traço a partir da observação dos processos de pro­dução da argamassa em obra e principalmente das condições de aplicação. e al­guma coisa obtida de publicações. e ain­da nos dias de hoje a comunidade técnica carece de dados e pa­râmetros de referência para o julgamento de sua qualidade. O conhecimento das características do clima da região. dependendo fundamentalmente da experiência prática daque­les que realizam a dosagem. sendo os ajustes procedidos em obra diante das especificidades de cada conjunto de variáveis.Conhecendo argamassa ção entre ciência e arte. A definição de um traço de argamassa não pode ser enten­dida como o resultado de um procedimento estanque de dosagem em laboratório. da qualidade da aplicação e da preparação do substrato. estabelecer proporcionamentos que possam ser adotados de uma maneira geral. Essas afirmações sugerem que toda e qualquer argamassa deva ser objeto de um procedimento específico de dosagem base­ado em ensaios de laboratório complementado pelas informações fornecidas pela observação de sua aplicação em obra. em função de os parâmetros que norteiam o estabelecimento das características das argamassas serem bastan­te amplos ou de avaliação puramente subjetiva. Segundo informações de profissionais mais antigos. em fases de testes. ou da épo­ ca do ano de sua aplicação. Assim os resultados de um estudo de dosagem devem ser considerados como pontos de partida. para que possa ser garantido o bom desempenho dos sistemas de revestimentos ou do comporta­mento estrutural de argamassas de assentamento. para materiais similares. teoria e prática e entre aspectos subjetivos e objetivos. deve igualmente ser considerado. mas como o desenvolvimento de um produto a par­tir da interação entre laboratório e obra. quando a argamassa era produ­zida em obra a partir da ex- 121 . O grande divisor de águas pode ser considerado o fato de a argamassa de cal e areia ter passado a ser produzida de uma for­ma semi-industrializada. havia controle total sobre todas as etapas do processo. industrializadas. para serem competitivos no mercado são apresentadas muitas vezes em traços de baixo consumo de cimento. o que determina que sejam feitas adequações dos traços empregados à nova exigência.122 RECENA. comprometendo em muitos casos a qualidade do revestimento final. no entanto. Como já referido anteriormente. Essas. emboço e reboco. neste estágio de coisas o mercado. Pode também ser considerado como fator de mudança. observa-se uma penetração intensa de ar­gamassas prontas. No momento. gerando argamas­sas de baixa qualidade que não tardam a evidenciar novas patolo­gias. bem emprega­das. rela­cionados principalmente com as argamassas de revestimento. abriu-se a novas alternativas. que são vendidas ensacadas com fácil armazenamento e . garantindo a qualidade do produto final dentro dos padrões intrínsecos do profissional que orientava a produção dessas argamassas. A relação de trabalho na obra também foi alterada. criando custos adicionais ou prejuízos a partir da recuperação de revestimentos em obras já entregues. ge­ rando o aparecimento de inúmeras manifestações patológicas. passando a ser mais importante a velocidade de sua execução em detrimento de aspec­tos técnicos. representado pelos consumidores de argamassa semi-industrializada. sen­do a maioria das tarefas hoje empreitadas. Muitas mudanças ocorreram ao lon­ go do tempo. A inadequada extinção da cal. Fernando Antonio Piazza tinção da cal. as argamassas obtidas a partir destes materiais alternati­vos. chamados à voz corrente simplesmente de rebocos. até a própria qualificação dos profissionais. desde o abandono dos revestimentos em duas cama­das. para a adoção de revestimentos de camada única. efetivamente podem ser entendidas como alternativas. o emprego de materiais mais baratos e traços definidos sem qualquer critério técnico determinaram uma sucessão de problemas nas obras. a velocidade de execução das tarefas e a forma de preparo das ar­gamassas. introduzidos no mercado erroneamente como substitutos da cal. provavelmente por estar diretamente relacionado com produtividade. Paralelamente. na obra. um ponto de partida. em obra. simultaneamente. um proporcionamento que deve ser otimizado na medida em que a argamassa vai sendo empregada em escala. O que se apresenta a seguir é a descrição de um procedi­mento que vem sendo adotado pela CIENTEC no proporcionamen­to de misturas para assentamento de elementos de alvenaria e revestimento de muros e paredes. observa-se novamente o aumento do interesse na produção de argamassas mistas de cimento e cal. a otimização de todas. em função do preço destas argamassas. A observação dos revestimentos em argamassa de várias obras e considerando a expectativa explicitada por profissionais que executam diretamente o serviço de revestimento. Desenvolvimento em laboratório Neste item serão apresentados os princípios do método que a CIENTEC vem adotando para dosagem de argamassas. o aspecto trabalhabilidade muito importante. é praticamente im­possível.Conhecendo argamassa com homogeneidade comprovada. Como essas características são interdependen­tes. já que atualmente é possível dizer 123 . a preocupação com a obtenção de revestimentos isentos de fissuras é sempre manifestada por aque­les profissionais que demandam o serviço de dosagem prestado pela CIENTEC. otimizando todas as características desejáveis de uma argamassa no estado fresco e no estado endurecido. 9. há alguns anos.1. Evidentemente que o procedimento de dosagem de uma argamassa deve ser o mais completo possível. Paralelamente. sem qualquer dúvida. permite chamar este procedimento de “método de dosa­gem”. sendo necessário estabelecer prioridades. que podem ser considerados ex­celentes. permite con­cluir ser. com bastante sucesso. A obtenção de resultados. O produto deste trabalho é uma referência. es­tará condicionada a aspectos culturais. assim como a características dos materiais envolvidos. Muitas vezes as características do microclima onde está in­serida a obra determinam fatores de difícil controle. Por isso. Quando é feita a opção pelo desenvolvimento de um pro­cedimento racional de dosagem. a habilidade de quem aplica. de corrigir e não de evitar. infelizmente. o clima da região onde está inserida a obra. além de sua preparação. relacionados com a experi­ência própria de uma região transmitida dentro das obras pelos pedreiros. mas. que podem ser traduzidas pela confi­guração superficial da peça. representando preocupação o ato de recuperar. Em um processo de dosagem devem sempre ser levados em conta. além evidentemente do substrato de aplicação e de sua prepara­ção. suas condi­ções de absorção de água. A trabalhabilidade. sendo o processo de dosagem um ponto de partida ou a minimização da probabilidade de insucessos. muitas vezes após a entrega do imóvel. as condições gerais de aplicação. Fernando Antonio Piazza ser esta a pato­logia de maior incidência e que vem exigindo retrabalho. sendo este último um fator extremamente importante no caso dos revestimen­tos. o microclima do local de aplicação e as carac­terísticas intrínsecas do substrato e de sua preparação. como já enfatizado anteriormente. condições superficiais para o desenvol­vimento da macroancoragem. sempre após a manifestação do problema na obra. uma argamassa bem dosada pode gerar revestimentos de diferen­tes desempenhos. Outros aspectos como esfarelamento com pulverulência e perda de aderência ao substrato com desplacamento são igualmente motivos de preocupação. Diante do que foi exposto. sendo o mais significativo aquele relacio- .124 RECENA. como já referenciado anteriormente. é necessário conhecer a natureza do substrato onde deverá ser aplicada a argamassa. fica evidente que os elementos norteadores de um processo de dosagem de argamassa determi­nam um procedimento com forte conotação subjetiva. de mistura aglomerante e água. em tese. o processo de proporcionamento das argamassas deve sempre privilegiar a minimização da probabilidade de aparecimento de fissuras por retração. Sendo as fissuras formações absolutamente indesejáveis e quase sempre inaceitáveis pelo usuário do imóvel. determinando a instala­ção de processos de retração intensos o suficiente para determinar o aparecimento de fissuras. pois esta é a fase passível de experimentar redução de vo­lume. sendo este o primeiro princípio básico do método referido. Para exemplificar é possível considerar. deverá ser suficiente para preencher os vazios da areia. e do aglome­rante. areia. O volume de pasta de uma argamassa. Como já visto anteriormente. ou seja. o consumo de água está dire­tamente ligado à superfície específica da argamassa definida pela superfície específica da mistura do agregado. como constatado realmente. a partir dos materiais colocados à disposição do laboratório. Para tanto. dotando a mistura de coe- 125 . permitindo a movimentação relativa e a mobilidade da mistura. O que pode ser feito com o proporcionamento das arga­massas em nível de dosagem é estudar os materiais a serem em­pregados e sua mistura de maneira a haver a menor demanda pos­sível de água para uma trabalhabilidade adequada. afastar seus grãos. A pasta ainda deverá apresentar-se em um volume tal que garanta o envolvimento dos grãos. é objetivo do processo de dosagem obter a argamassa com as características pretendidas a partir do menor consumo possível de pasta. é definida a mistura que apresente a trabalhabilidade adequada com o menor consumo possível de água. a diferença na velocidade do ar verificada nos primeiros pavimentos e em andares superiores em edifícios altos na medida em que o prédio começa a sobressair diante de outros prédios mais baixos no seu entorno.Conhecendo argamassa nado com a maior ou menor velocidade de evaporação da água de amassamento. não raramente exigindo adaptações nos traços originais. Desta maneira. O objetivo sempre deverá visar à composição de um agregado com o menor volume de vazios possível o que normalmente é obtido pela mistura de areias com­pondo um agregado de composição granulométrica o mais contínua possível.2 MPa ou 0. Como o conceito de resistência à compressão está relacio­nado com o ensaio de corpos de prova cilíndricos de 5 cm de diâ­metro e 10 cm de altura conforme indica a NBR 7215:1996. Em termos práticos deve-se obter uma mistura com a menor diferença possível entre massa específica e massa unitária. de extrema importância. Fernando Antonio Piazza são. con­sequentemente ao volume de pasta e à proporção entre cimento e cal. Conforme a NBR 13281:2005. no entender do autor. a re­sistência à compressão de uma argamassa de revestimento é. Dessa maneira o método CIENTEC parte de valores observados em ensaios à compressão realizados em analogia à NBR . e permita o bom acabamento após o desempeno. para revestimentos internos com aplicação de pintura no primeiro caso ou para revestimentos externos ou substrato para assentamento de elementos cerâmicos no segundo caso. Embora relegada historicamente a um segundo plano. a resistência de aderência à tração de uma argamassa ao substrato deverá ser de 0. A atual NBR 13279:2005 alterou radicalmente o método de ensaio para a determinação da resistência à compressão de arga­massas para revestimento e introduziu o ensaio visando à determi­nação da resistência à tração na flexão. A obtenção de um revestimento estável à umidade e às ações mecânicas às quais estará submetido durante sua vida útil está diretamente ligado à resistência mecânica da argamassa. ainda não há experiência que relacione os resultados obtidos pelos dois métodos.3 MPa. pois permitirá ser avali­ada indiretamente a resistência à tração que esta argamassa apre­sentará de extrema importância na medida em que o esforço de tração no ensaio de arrancamento deverá ser transmitido pela argamassa ao substrato de aplicação do revestimento.126 RECENA. em revestimentos. a retração possa determinar um esta­do de fissuração interna no corpo de prova responsável pela redu­ção da resistência mecânica.Conhecendo argamassa 7215:1996 e à NBR 7222:1994 para determinar a resistência à tração por compressão diametral. A referência é tomada aos sete dias de idade. já que argamas­sas mistas de cimento e cal podem apresentar aos 28 dias de idade comportamentos diferentes daqueles esperados. inclusive. Com muita frequência em ensaios realizados visando à de­terminação da resistência de aderência à tração por arrancamento a argamassa rompe por tração com tensões inferiores ao valor mínimo estabelecido por norma para a resistência de aderência. como base para cálculo. de uma aproximação. Por essa razão adota-se a resistência aos sete dias de idade como referência admitindo-se que o comportamento da arga- 127 . mas uma referência útil ao processo de do­sagem. Considerando que a reação de carbonatação é causa de retração. o valor da resistência de aderência não é avaliado por que a argamassa não foi capaz de transmitir o esforço mínimo até a inter­face com o substrato. ser verificada a perda de resistência o que pode indicar uma perturba­ção no ensaio pelo uso de um corpo de prova inadequado. podemos admitir que uma argamassa de revestimento deva ter uma resistência à com­pressão entre 2 MPa e 3 MPa dependendo do valor de resistência de aderência pretendido. aos sete dias de idade. principalmente com relação ao crescimento da resistência dos sete para os 28 dias de idade podendo. em argamassas ricas em cal. Assim. em argamassas mais ricas em cal. Sabe-se que em argamassas a resistência à tração por compressão diametral atinge algo como 10 a 15% da resistência à compressão. ou seja. Os corpos de prova cilíndricos adotados apresentam um grande volume se comparados com finas camadas de argamassa aplica­das sobre um substrato. É possível imaginar que o tamanho do corpo de prova em­pregado nos dois ensaios contribua para a ocorrência desta anoma­lia. a hipótese de que. Trata-se. por certo. não pode ser descartada. Em resumo. conhecida comercialmente como “areia fina – de Osório”. . 9. e na verificação de uma resistência à tração suficiente para transmitir o esforço de tração à interface da arga­massa com o substrato. conhecida comercialmen­te. classe 32. por ser pratica­mente o único tipo de cimento encontrado no varejo no estado do Rio Grande do Sul.128 RECENA. extraída de cavas no município de Osório no Rio Grande do Sul. podendo ser avaliada indiretamente pela resistência à compressão simples.1. e uma cal hidratada em pó do tipo CH II.2. o método de dosagem aqui abordado baseia-se na obtenção de uma mistura com o menor volume de pasta pos­sível. como “areia média – do Rio Guaíba”. se­rá apresentado um estudo já realizado cujo resultado é um traço de argamassa mista de cimento e cal que vem sendo reproduzido em obra possibilitando a execução de revestimentos de boa qualidade.2. exigindo a menor quantidade de água possível para uma dada trabalhabilidade. minerada indistintamente na bacia do rio Jacuí e seus afluentes e uma areia igualmente natu­ral quartzosa. Materiais empregados no estudo No presente exemplo como aglomerantes foram emprega­dos um cimento pozolânico tipo CP IV. Considerando ser praticamente impossível encontrar uma areia natural com granulometria que dispense qualquer correção. Fernando Antonio Piazza massa na parede seja em muito diferente daquele verificado nestes corpos de prova com 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura. Exemplo de aplicação Para exemplificar o método empregado pela CIENTEC. 9. foi adotada uma areia natural quartzosa. tendo sido caracterizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil da CIENTEC para a realização da dosagem.2.2.Conhecendo argamassa Os materiais supracitados são largamente empregados na construção civil e reconhecidamente de boa qualidade. tendo sido obtidos os resultados apresentados nos quadros que seguem: 129 .2.45 2.2. apresentando as caracte­rísticas descritas a seguir. Caracterização dos materiais empregados no estudo 9.63 9. Composição granulométrica A composição granulométrica das areias foi determinada segundo a NBR NM 248:2003.50 2.2.1. Os resultados obtidos estão apresentados no quadro que segue: Material Massa unitária (kg/dm3) Massa específica (kg/dm3) Areia Fina 1.63 Areia Média 1.2.2.1.2. 9. Areias 9.1. Massa unitária e massa específica A massa unitária das areias foi determinada segundo a NBR 7251:1982 e a massa específica.2. pelo método do picnômetro.1. 196 20 99 < 150 mm 0.36mm - 1.042 4 4 150 mm 0.001 0.36mm .999 100 228 % em massa Módulo de Finura 2.75mm 2.130 RECENA.18mm 600 mm % em massa Retida - Acumulada - - - 0.36mm 0.002 0 0 0 0 300 mm 0.034 3 4 1.999 Módulo de Finura 10 100 10094 0.18mm 0.463 46 79 150 mm 0.75mm 0.013 1 100- Total 0.206 21 33 300 mm 0.099 0.94 < 150 mm Total Dimensão máxima característica 300 mm Areia média Peneiras (aberturas) Massa retida (kg) Retida Acumulada 4.855 86 90 0. Fernando Antonio Piazza Areia fina Peneiras (aberturas) Massa retida (kg) 4.076 8 12 600 mm 0.011 1 1 2.28 Dimensão máxima característica 2. Aglomerantes 9.3 MPa 07 24.2.4 MPa Resistência à compressão NBR 7215:1996 Massa específica NBR NM 23:2001 2.70 kg/dm3 Massa unitária Analogia à NBR 7251:1996 1.3.1. A massa específica e a massa unitária foram determinadas em função de seu conhecimento ser indispensável para a transformação de traços de massa para volume e vice-versa.2.2. Inchamento das areias O coeficiente médio de inchamento das areias empregadas no estudo foi determinado de acordo com a NBR 6467:1987.1. sendo de 1.2.00 kg/dm3 131 . Cimento Portland Para caracterização do cimento Portland empregado no es­tudo.Conhecendo argamassa 9.25 respectivamente para as areias média e fina.2. Ensaio Método Resultado Idade (dias) 03 19.2. foi realizado ensaio visando à determinação da resistência à compressão simples. 9.2.4 MPa 28 37.2.30 e 1. 57 kg/dm3 Massa unitária Analogia à NBR 7251:1996 0. sendo determinada a massa unitária de cada mistura. em termos práticos. Retenção de água NBR 9290:1996 94% Incorporação de areia NBR 9207:2000 1:4. Composição do agregado A otimização do agregado passa necessariamente por um estudo visando a composição mais adequada de no mínimo duas areias.3.5 Plasticidade NBR 9206:2003 304 Massa específica NBR NM 23:2001 2.2 Cal Ensaio Método Resultado Estabilidade NBR 9205:2001 Ausência de protuberâncias e/ou pipocamentos.65 kg/dm3 9. podem ser consideradas iguais. Fernando Antonio Piazza 9.2. de maneira a viabilizar a obtenção de um traço adequado à finalidade a que se destina com a menor quantidade possível de pasta. as areias empregadas são misturadas em várias proporções. .2. Para a consecução deste objetivo.132 RECENA.2. com vistas à obtenção de um agregado com a menor dife­rença possível entre massa específica e massa unitária. A melhor mistura é definida por aquele proporcionamento que apresentar a maior massa unitária medida diretamente já que areias quartzosas em geral apresentam massas específicas que. consequentemente. como existe no gráfico um patamar em que o valor da massa unitária não experimenta alterações significativas. em tese. Na prática. 133 . 60% de areia média. deverá ser calculada a massa unitária ponderada de cada mistura. Desta maneira é possível obter um gráfico relacionando a massa unitária de cada mistura com a proporção de cada areia na mistura. apresentado em sequência. O valor referente à percentagem de areia fina que conduz à melhor mistura é aquele que anula a equação obtida pela derivação da equação de ajusta­mento para o conjunto de pontos que compõem o gráfico. adota-se a proporção que define o início do patamar para que a mistura seja obtida com a menor percentagem da areia fina por conduzir.Conhecendo argamassa Se os agregados apresentarem naturezas mineralógicas diferentes. A definição do ponto de início deste patamar deverá ser feita adotando-se o mesmo pro­cedimento gráfico usado na definição do coeficiente médio de inchamento de uma areia por ser a interpretação física de mesma natureza. A proporção de mistura das areias que conduziu à maior massa unitária matematicamente determinada foi de 40% de areia fina e. a um agregado de menor superfície específica que demandará menor quantidade de água. No entanto a substituição de uma parcela da areia média por areia fina torna mais contínua sua distribuição granulométrica. exige uma quantidade de água superior em até 50% àquela requerida por uma argamassa onde tenha sido empregada apenas a areia média. normalmente 1:3 em massa. por sua elevada superfície específica. onde a areia fina a substitui em percentagens variáveis e crescentes.134 RECENA. Como as misturas são preparadas com a mesma quantidade de água. O uso exclusivo desta areia fina. para ser dotada da trabalha­bilidade requerida para sua aplicação em revestimentos. pois seria contraditório ao princípio do método de dosagem aceitar uma proporção de mistura que condu­zisse a um aumento na demanda de água. . a definição da pro­porção ótima é feita com base na mistura que apresentar o mais elevado índice de consistência. por tentativas. melhorando a trabalhabilidade e o acabamento final após o desempenamento. a partir da reprodução de um traço de argamassa de cal e areia média. envolvendo a percentagem teóri­ca estabelecida previamente. A proporção mais adequada de substituição de areia média por fina deve ser confirmada empiricamente. o que igualmente pode ser expresso na forma gráfica como apresentado a seguir. gera uma argamassa que. medido de acordo com o recomen­dado pela NBR 13276:1996. Fernando Antonio Piazza Essa mistura é feita para conferir à argamassa uma melhor condição de acabamento a partir da obtenção de uma textura mais fina. foi adotada uma proporção de mistura em que a areia fina representa 30% do agregado. O relacionamento entre o traço em massa da argamassa e o índice de consistência permite obter o gráfico apresentado em sequência a partir dos dados tabelados: 135 . 9. Para tanto são preparadas diversas misturas de cal e a areia. a mistura que poderá ser obtida com a trabalhabi­lidade requerida a partir do menor consumo de água. com as quais é de­terminado o índice de consistência em analogia ao recomendado pela NBR 13276:1996. Todas as argamassas são preparadas rigo­rosamente com a mesma quantidade de água de maneira que aquela que apresentar o mais elevado índice de consistência estará representando o melhor proporcionamento ou a mistura de melhor reologia.Conhecendo argamassa Neste caso exemplificado.4. ou seja. já compostas conforme definido no item anterior. Definição do de melhor trabalhabilidade proporcionamento (traço) O passo seguinte visa a determinar a proporção entre aglomerante e agregado que conduza à melhor trabalhabilidade. Esta atividade deverá ser desenvolvida por uma pessoa com significativa experi­ência em argamassas em condições de aproximar o material em estudo tanto quanto possível do aspecto que deverá apresentar em obra. Posteriormente. Fernando Antonio Piazza Como adotado na definição da melhor proporção de mistu­ra das duas areias. igualmente o traço a ser adotado como deter­minante da melhor trabalhabilidade será determinado pelo mesmo procedimento. Neste momento deverá ser feita uma avaliação subjetiva da argamassa obtida com vistas a identificar alguma deficiência visível com relação à coesão e ao acabamento pretendido. aí considerando uma escala de produção diferente. a opinião do profissional que realmente empregará o material. que indireta­mente estarão representando a trabalhabilidade.136 RECENA. parte da cal será substituída por cimento. na obtenção do traço definitivo. a mesma avaliação deverá ser feita. dentro do limite técnico acei­tável. Da mesma maneira imprecisões oriundas dos arredondamentos e simplifica­ções decorrentes da transformação do traço de massa para volume e sua adaptação às condições de obra serão absorvidas pelo volu­me de pasta que num primeiro momento poderá ser considerado excessivo. Deve ser considerado ainda que. em obra. avaliada pelo índice de consistência. A definição do traço final deverá então prever o emprego de um traço que permita uma maior folga no parâmetro trabalhabilida­de para absorver as variações previstas. O traço que define o início do patamar de constância será considerado o de melhor rendimento. em massa. devendo ocorrer com isso perda de coesão além de diminuição na capacidade de retenção de água. definindo um patamar em que a trabalhabilidade. O aparente excesso de pasta é importante para que pequenas variações na composição granulométrica das areias possam ser absorvidas sem comprometimento da trabalhabilidade da argamassa. No presente caso a conti­nuidade do estudo deverá ocorrer com a adoção do traço 1:5. Essa determinação sempre conduzirá a um traço rico em pasta permitindo ser obtida uma superfície lisa e de bom acabamento para o revestimento. pode ser considerada cons­tante. com os materi­ais dosados em volume e respeitando. . apenas se o equipa­mento empregado possuir precisão compatível com o nível de re­sistência esperado. na moldagem de corpos de prova cilíndricos com 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura. O outro caminho. a fim de permitir igualmente a avalia­ção de aspectos subjetivos como a qualificação da mão de obra. aos 28 dias de idade. O ensaio com 28 dias de idade pode ser realizado como elemento balizador. Após os 28 dias de idade. deve ser realizado com muito cuidado. é feita substituição de cal por cimento Portland em no mínimo três proporções. à tração por compressão diametral. argamassas empregadas em revestimentos representam apenas um elemento de um sistema que sempre deve ser avaliado de uma forma ampla e preferencialmente após sua aplicação em paredes teste. embora seja impor­tante. para serem ensaiados à compressão aos sete e 28 dias de idade e. a argamassa empregada nos diferentes painéis é submetida ao ensaio visando à determinação da resistên­cia de aderência à tração cujos resultados associados àqueles obti­dos em laboratório permitirão definir o traço a ser empregado. que pode ser seguido paralelamente ao desenvolvimento em laboratório.Conhecendo argamassa 9. até porque os valores obtidos podem apresentar distorções. O ensaio de tração por compressão diametral. já que os valores esperados são sempre muito baixos. principalmente em argamassas mais ricas em cal. 137 . onde poderão igualmente ser variadas as condições de preparação do substrato para definição do melhor procedimento de preparação.5 Definição do proporcionamento (traço) final Conhecido o traço entre cal e areia. em continuidade ao tra­balho de laboratório. determinado a partir do gráfico construído experimentalmente. Por outro lado. parte da reprodução das mesmas argamassas em obra com a supervisão do laboratório e emprega­das no revestimento de painéis-teste sobre alvenaria já executada. pelas razões já citadas ante­riormente. determinando três traços diferentes. Uma primeira alternativa consiste. já que. sempre levando em consideração as observações do profissional designado para a consecução da tarefa. A definição do traço a ser empregado é feita com o auxílio de gráficos que relacionam os parâmetros quantificados nos ensai­os realizados apenas com a quantidade de cimento empregada em substituição à cal na preparação de cada uma das argamassas consideradas. o rendimento e a estabilidade de volume em relação às condições climáticas no mo­mento da execução do serviço. em sacos. assim como a trabalhabilidade. Fernando Antonio Piazza Durante a aplicação das argamassas em obra no revesti­mento dos painéis-teste. o trabalho em laboratório . inerentes àque­la obra. A proporção entre cimento Portland e cal vai depender novamente da finalidade da argamassa e da qualidade tanto do cimento Portland empregado como da cal. não raramente para se­rem atingidos os parâmetros de resistência quantificados em norma é necessário empregar cimento Portland em quantidade superior a de cal. como é o caso da Grande Porto Alegre em que é consumida a areia conhecida como areia do Guaíba. Em regiões onde os materiais apresentam pouca variação com relação a seus parâmetros físicos e mecânicos. Embora a bibliografia faça sempre referência a traços de argamassas mistas de cimento e cal proporcionados em volume. a quanti­dade de água sobre o total de materiais secos não deve variar sig­nificativamente.138 RECENA. entre três e cinco vezes a quantidade de aglomerante. embora a definição do traço deverá ser baseada fundamental­mente nos resultados do ensaio de aderência admitindo-se estarem absorvidas as variações inerentes ao processo de produção e aos cuidados despendidos à preparação da argamassa. observa-se uma certa constância nos traços determinados. variando a quantidade de areia em volume. para uma mesma trabalhabilidade. podem ser moldados corpos de prova para a execução dos ensaios de contro­le. Durante a execução das argamassas em obra. Em função do baixo rendimento verificado nos cimentos comercializados no varejo. são observados os aspectos subjetivos mencionados. Traço-base Traços desdobrados Cal Agrega­do Cimento Cal Areia 0. difi­cultando a definição do traço a ser empregado.33 16.43 7.00 0.00 10. facilitando sua reprodução.50 0. obtendo-se: Traços desdobrados em massa. A adoção do trabalho diretamente em obra.30 5.70 0.00 2. tomando-se o procedimento simplificado. admitido como próprio para o propósito desejado. com a eliminação da etapa de laboratório. são aguardados 28 dias e então é realizado o ensaio para a verificação da resistência de aderência que definirá um traço mais indicado para a produção diretamente sobre os painéis-teste.50 5.00 1. em obra. em função do propor­ cionamento em volume. Se os traços são reproduzidos diretamente na obra.Conhecendo argamassa é feito a partir de proporcionamentos em massa.00 Traços desdobrados unitários Cimento Cal Agrega­do 1. foram calculados três traços em massa com diferentes percentagens de substituição de cal por cimento Portland.70 5.00 0.00 1.67 1. pode conduzir a algumas distorções. mas sempre gerando al­guma alteração por conta dos sucessivos arredondamentos no cálculo e simplificações feitas para não dificultar as operações de produção. o que poderia ser evitado com o conhecimento do desempenho das argamassas em laboratório. com a indicação dos traços com a composição das areias: 139 . No presente exemplo.14 Com os três traços foram moldados corpos de prova para serem submetidos a ensaios para a determinação da resistência à compressão e da resistência à tração por compressão diametral.30 0. os traços são convertidos para volume. Evidentemente que.00 0.00 1. considerando o traço em massa de 1:5 de cal e areia. Os resultados obtidos estão apresentados no quadro que segue.00 5. quanto menos água maior a estabilidade de volume da argamassa.37 0. à medida que a superfície específica da mistura vai sendo reduzida pela substituição em massa de um ma­terial mais fino por outro menos fino.50 1. Fernando Antonio Piazza Resultados dos ensaios.51 1.16 18.50 1.42 16.08 2. a dosagem deve ser procedida por aspectos de praticidade através da proporção de cimento Portland na mistura aglomerante representada pelo gráfico a seguir apresen­tado.79 Resistência (MPa) Compressão Tração H a/agl a/c Areia (%) 7 dias média 12.15 2.6 4.51 28 dias 28 dias 1.63 5.17 2. .09 0.43 Areia fina 4.0 2. A percentagem de água sobre o total de materiais secos decresce levemente com o aumento da quantidade de cimento Portland na mistura.41 0. Traço em massa Cimento Cal 1.12 3.99 1.140 RECENA.40 A análise dos resultados obtidos permite algumas observa­ções.21 0. Apesar desta evidência.33 1.32 5. conduzindo à conclusão de que a resistência mecâ­nica está diretamente ligada ao teor de cimento Portland na mistu­ra.00 1. É nítida a relação entre a resistência mecânica e a relação água/cimento.7 1.00 2.74 18.04 7.00 0.00 1. Em tese. em obra.50 5.75 MPa que corresponde a uma percentagem de cimento Portland na mistura aglomerante de aproximadamente 60%.03 2. Assim tem-se: Material Cimento Cal Areia fina Areia média Massa 1.85 Traço Volume 1. sempre apresentará umidade.6.3 MPa.16 5.80 18.00 a/agl a/c Areia Areia fina média 0.08 1.75 0.50 5.67 2.3 1. Assim.85 H (%) Compressão Tração 28 dias 28 dias 3. para a obtenção de uma resistência média à tração de 0. deverá ser pretendida uma resistência média à com­pressão de 3.00 0. Desta maneira o traço em massa da argamassa será: Resistência estimada (MPa) Traço em massa Cimento Cal 1.Conhecendo argamassa A resistência à tração pode ser estimada com certa segu­rança se a estimativa for feita considerando que possa representar algo em torno de 8% da resistência à compressão. Transformação de massa para volume do proporcionamento (traço) A transformação de um traço de massa para volume é feita mediante a divisão do valor em massa pela massa unitária de cada material devendo ser considerado o inchamento da areia já que esta.00 1.07 141 .67 2.0 9. por compatibilidade com o diâmetro da boca das betoneiras normal­mente empregadas em obras. será obtido um volume de cimento de 30 dm3.7. Como o volume de cal correspondente a 20 kg é de aproximadamente 31 dm3. uma caixa não deverá apresentar dimen­sões maiores do que 30 a 40 cm em sua seção transversal. sendo a seção transversal da caixa dosadora de 12 dm2. a correta reprodução em obra deverá ser feita a partir do dimensionamento de caixas que deverão ser emprega­das na alimentação do misturador. O traço em volume calculado a partir de um saco de 20 kg de cal será: Materiais (dm3) Cimento Cal 30 31 Areia fina 67 Areia média 160 9.56 partes de areia úmida. um volume de areia fina de 67 dm3 e 160 dm3 de areia média. . Dosagem em obra Após a transposição do traço calculado em massa no labo­ratório para volume. é possível colocar na betoneira um saco de cal por operação.7.Cálculo da altura das caixas. Dimensionamento das caixas Por comodidade.1. Como a cal é comercializada em sacos de 20 kg. ambas considera­ das com umidade estimada em 4%.142 RECENA. 9. man­tido a proporção entre os materiais. Então: . Fernando Antonio Piazza Observa-se que o traço final em volume é de uma parte de aglomerante para 3. representada pelo traço unitá­rio. na betoneira. O proporcionamento será procedido então: Material Cimento Cal Areia fina Areia média N° de caixas 01 01 saco 02 05 Altura da caixa 25 cm 28 cm 27 cm A água a ser empregada na produção da argamassa será aquela correspondente a 18% em massa sobre o total de materiais secos subtraída da quantidade de água trazida com a areia. esti­mada em 4% sobre a massa total de areia. Como a massa de areia é de aproximadamente 250 kg. a massa de água incorporada à arga­massa por conta da umidade da areia é de 10 dm3. A partir do traço em volume é possível estimar estar sendo empregada uma massa de argamassa de aproximadamente 300kg. 44 dm3 de água. Esta massa de 40 kg corresponde a um volume de areia de aproximadamente 27 dm3 o que define o número de caixas de cada material em fun­ção da altura.Conhecendo argamassa Cimento: Areia fina: Areia média: Uma caixa não deverá pesar mais do que 40 kg para não dificultar a operação de carregamento do misturador e não exigir um esforço físico demasiado grande dos trabalhadores. 143 . correspondendo a essa massa um volume de água de 54 dm3. devendo ser adicionados ao material. proporcionados a partir de 1 kg de cimento. Deve ser considerado ainda o grande volume de argamassas industrializadas compostas com cal. Resta ainda calcular o consumo de materiais necessários para a produção de um (01) m3 de argamassa. O volume absoluto de um material. A necessidade de complementar a hidratação de cales antes de seu emprego em argamassas inviabilizaria o processo por demandar duas operações de mistura. devendo ser conhecido para tanto o volume de um traço unitário a ser obtido pela soma dos volumes absolutos dos componentes da argamassa. o volume do traço unitário será a soma do volume absoluto do cimento.144 RECENA. fun­damental para a composição de custos. uma na produção da argamassa intermediá­ria e outra na produção da argamassa definitiva. ou seja. deve ser feito a partir do traço em massa da argamassa. 1 m3 de argamassa será obtido a partir da reprodução de um determinado número de vezes desse traço de referência. a soma do volume de todos os grãos que compõem o material. produzido e aplicado em obras sem registro deste tipo particular de manifestação patológica. Se o traço unitário em massa for expresso a partir de 1 kg de cimento.: O emprego da cal hidratada em pó diretamente na betonei­ra tem se mostrado prática perfeitamente aplicável haja vista o tempo de adoção desta alternativa sem nenhum registro de patologias causadas por hidratação retardada da cal. Assim. é obtido dividindo a massa do material por sua massa específica. devendo ser considerado ainda o volume ocupado pelo ar sempre aprisionado durante o processo de mistura de uma argamassa. Acredita-se que a técnica assim empregada pode de certa forma subutilizar a cal na medida em que um tempo maior para a dissolução dos grãos de cal permitiria uma maior plasticidade. do volume absoluto da cal. do volume absolu­to da areia e da água. após a adição do cimen­to. . Fernando Antonio Piazza Obs. Este cálculo. Conhecendo argamassa A quantidade de água para a obtenção de uma argamassa trabalhável foi estimada em 18% sobre o total de materiais secos correspondendo. O número de reproduções deste traço para a composição de 1 m3 será obtido dividindo 1. obtém-se: Expressando os demais materiais em função do cimento é possível determinar seu consumo por m3 de argamassa. consideran­do 7% de ar aprisionado: O volume unitário é aumentado em 7% considerando este valor como correspondente ao volume de ar aprisionado.80. Sendo “C” o consumo de cimento por m3. em relação ao traço unitário. Assim tem-se. Como o traço unitário refere-se a 1 kg de cimento. a uma relação água/cimento de 1. 145 .000 dm3 pelo volume do traço unitá­rio. o número de reproduções deste traço determinará a massa em kg de cimento a ser despendida. para o volume do traço unitário. Considerando que. a trans­formação de massa de areia seca em volume de areia com umida­de será dada pela divisão da massa de areia por sua massa unitá­ria e pelo produto deste volume pelo coeficiente médio de inchamento. alguns arredondamen­tos para cima são feitos para o cálculo da quantidade de material a ser empregado em uma obra. Fernando Antonio Piazza Como a areia é adquirida no mercado em volume.146 RECENA. mas nunca deverão ser introduzidas se houver aumento na demanda de água. já que o princípio deste “Método CIENTEC de Dosagem de Argamassa” reside exatamente na pesquisa de um proporcionamento que exija a menor quantidade de água possível para garantir a trabalhabilidade desejada com garantia de atingimento das características físico-mecânicas especificadas. Não raro essas adaptações são significativas. as condições de armazenagem nem sempre são as melhores. em obra. considerando que sempre ocorrem perdas quando se trabalha com argamassa. . Uma dosagem tanto de concreto como de argamassa deve ser considerada sempre como um ponto de partida sendo sempre passível de correções e adaptações com o intuito de ser obtido sempre um material mais próprio para as tarefas propostas. uma incógnita. Em obras de pequeno porte é comum o emprego de arga­massas mistas. condição desejável em qualquer obra. podendo gerar prejuízos além dos sempre desagradáveis desgastes pessoais. via de regra. o custo de um trabalho desta natureza por vezes se torna muito elevado em relação ao valor global da obra. nem sempre corretamente dosadas. é . a realização de uma dosagem experimental é interessante e viável economicamente na medida em que o traço calculado poderá ser reproduzido em qualquer obra desde que sejam empregados os mesmos materiais com os quais foi realizado o estudo. principalmente em reves­timentos. onde sempre será possível encontrar os mesmos materiais. minimizará a probabilidade de ocorrerem imperfeições ou defeitos. O investimento será diluído no grande volu­me de argamassa produzido para o atendimento de todas as obras.10. Mesmo em obras de pequeno vulto. que serão empregadas na combinação com cimento Portland para a obtenção das argamassas finais segundo uma proporção definida subjetiva­mente por um mestre de obras ou o próprio pedreiro. principalmente em revestimen­tos. Para uma empresa que desenvolve suas atividades na construção civil em uma mesma região. podem ter repercussão negativa. os problemas advindos do emprego de argamassas inadequadas. No entanto. sendo o resul­tado. SUGESTÃO DE TRAÇOS A opção pela dosagem experimental de argamassas é justi­ficável pela garantia de obtenção de um material otimizado que. quando não é feita uma dosagem experimental. conduzindo a adoção de alternati­vas mais econômicas. mas nem sempre a melhor solução técnica. Para que não sejam adotadas soluções inadequadas com prejuízo para a qualidade final da edificação. sendo empregado adequadamente. Esta situação pode ser vivenciada por um grande número de profissionais que desempenha suas ati­ vidades em de obras de pequeno porte. Fernando Antonio Piazza possível dispor de traços tipo “guar­da-chuva” que podem ser empregados como ponto de partida para a definição dos traços definitivos. sempre de uma parte de aglomerante para três partes de agregado. em geral com orçamentos apertados. por seu tamanho. em volume. normalmente. conside­rando o emprego de areia úmida. A bem da verdade é preciso imaginar que uma comunidade como a Grã-Bretanha deva dispor.148 RECENA. com um teor de umidade superior à umidade crítica. Publicações da ABPC (Associação Brasileira de Produto­res de Cal) igualmente sugerem traços de argamassas mistas de cimento Portland e cal em proporções. ou seja. Os traços que podem ser sugeridos. estão apresentados no quadro que segue. Como já visto e justificado. acima de 3%: . é possível recomendar três traços que poderão ser o ponto de partida para a produção de argamassas em obras. traços em volume da ordem de uma parte de aglomerante para três partes de agregado geram sempre argamassas de cheias a gordas como se admite serem adequadas ao uso. Normas britânicas especificam traços de argamassas par­tindo dessa mesma proporção de uma parte de aglomerante para três partes de agregado. Deve ser feita a ressalva de que os materiais a serem empregados deverão sempre ser de boa qualidade. Diante da experiência adquirida nas diversas dosagens de argamassa realizadas no Laboratório de Materiais de Construção Civil da CIENTEC. de materiais bastante homogêneos a ponto de especificar em norma traços a serem seguidos na produção de argamassas. sempre como um pon­to de partida. em volume. O emprego de materiais em desacordo com as normas vigentes poderá conduzir à obtenção de argamassas com características diferentes daquelas almejadas. 18 mm e 2.: a) A areia fina de Osório. obedecer a um projeto específico e ter sua execução monitorada. de Osório -RS em pó classe 32 1 1 1 0.Conhecendo argamassa Material Traço Traço em volume Forte Médio Fraco Cimento Cal hidrata­ Areia fina Portland da tipo CH II. em cada etapa. A aplicação de revestimentos cerâmicos em grandes ex­tensões de fachada deverá sempre ser objeto de um estudo particularizado.10 e uma dimensão máxima característica de 300 mm. A reprodução dos proporcionamentos apresentados. como em cozinhas e banheiros. apresen­ta grande regularidade em suas características sendo possível supor como módulo de finura um valor que se situa entre 0. sendo a dimensão máxima esperada situada entre 1.00 e 2. Em geral o módulo de finura estará compreendi­do entre 2.5 1 2 1. deverá ser feita sendo tomado como unidade de referência o volume de um 149 .90 e 1. O traço médio poderá ser empregado em revestimentos ex­ternos e o traço fraco será sempre mais indicado para a argamassa de assentamento de elementos de alvenaria e no revestimento interno.36 mm.8 2. por ensaios que possam atestar o atingimento de padrões estabelecidos por norma. por ser obtida de cavas. O traço forte deverá ser empregado em locais onde é espe­rada a presença de umidade.2 6. tanto para a resistên­cia da argamassa como para a aderência entre as diversas cama­ das que compõem o sistema.3 Obs. para aplicação em obra.4 1.RS 3.7 Areia média de Porto Alegre . b) A areia média pode ser encontrada na forma bruta ou benefi­ciada por peneiramento.40.1 4. ou na execução do emboço para a posterior aplicação de revestimentos cerâmicos. 150 RECENA, Fernando Antonio Piazza saco de 20 kg de cal hidratada. Como a massa unitária da cal pode apresentar variações, inclusive em fun­ção de sua elevada finura, é recomendável a medição direta, em obra, do volume ocupado por um saco de cal. O saco de cal deverá ser aberto e despejado em uma caixa sem nenhuma operação de adensamento, apenas sendo nivelada a superfície do material para permitir a medição de sua altura dentro da caixa. A altura medida será a referência para o cálculo da altura da caixa a ser empregada na dosagem do cimento e das caixas a serem empregadas na do­sagem das areias, lembrando que, por corresponder a um volume muito maior, as areias acabam por ser dosadas em mais de uma caixa. Como exemplo, podemos tomar o traço médio, que trans­formado para a referência fornecida pelo volume de um saco de cal, considerando os parâmetros apresentados no item 9.3.2.2, e caixas com seção transversal de (30 x 40) cm, será: - volume de um saco de cal: - altura da caixa de cimento: - altura da caixa de areia fina: ou duas caixas com altura de 25 cm. Conhecendo argamassa - altura da caixa de areia média: ou quatro caixas com 29 cm de altura. A partir desse exemplo é possível expressar os traços su­geridos como segue, considerando caixas com seção transversal de (30x40) cm: Material Traço em volume Traço Forte Médio Fraco Cal hidrata­da Areia fina de Cimento Portland tipo CH II, CP IV, classe 32 Osório - RS em pó 2 cx h = 28 cm 1 cx h = 28 cm 1 cx h = 14 cm 1 saco de 20kg 1 saco de 20kg 1 saco de 20kg 3 cx h = 31 cm 2 cx h = 25 cm 2 cx h = 22 cm Areia mé­dia de Porto Alegre - RS 6 cx h = 34 cm 4 cx h = 29 cm 4 cx h = 26 cm Como os traços apresentados são sugestões, poderão es­tar apresentando consumos de cimento e cal mais elevados do que aqueles a serem obtidos em dosagens experimentais, mas, desde que sendo empregados materiais de boa qualidade, apresentarão resultados que não irão comprometer a qualidade das argamassas com eles produzidas. Segundo Duarte, há orientação nos EUA para o emprego de argamassas em que o volume de agregado corresponda ao triplo do volume de aglomerante, correspondendo a misturas de traço em volume 1:3. Os vários traços recomendados são identificados pela pa­lavra “M a S o N w O r K”, que corresponderia em português a “tra­balho do pedreiro” aproximadamente, onde as letras grafadas em caixa alta identificam os traços sugeridos, apresentados a seguir: 151 152 RECENA, Fernando Antonio Piazza Traços em volume Identificação Cimento Cal Areia M 1 ¼ 3½ S 1 ½ 4½ N 1 1 6 O 1 2 9 K 1 3 12 Embora esses traços sejam sugeridos para a preparação de argamassas a serem empregadas no assentamento de elemen­tos de alvenaria, podem também servir como ponto de partida para a obtenção de argamassas de boa qualidade. Considerando a qua­lidade dos materiais encontrados no nosso meio deve ser feita a recomendação para que, da tabela apresentada, sejam usados em revestimentos os traços relativos às letras S, N e O. Cabe novamente a mesma observação feita anteriormente com relação à não indicação das características dos materiais a serem empregados, devendo ser levadas em consideração as dife­renças que podem ser esperadas no desempenho de cada arga­massa em função de alterações na qualidade dos aglomerantes e principalmente na demanda de água determinada pela superfície específica da areia, sempre tendo em mente que a instalação de processos de fissuração sempre deverá ser vista como um indício de que algo não corre bem, devendo o trabalho ser interrompido para reavaliação do traço empregado. Areias de baixo módulo de finura como aquelas provenientes de Osório-RS, já apresentadas anteriormente não deverão nunca ser empregadas isoladamente na produção de argamassas de revestimento pela elevada demanda de água o que conduzirá a uma imensamente maior predisposição à fissuração. É possível ser realizada a mistura de uma areia média com uma areia fina, o que poderá melhorar em muito a reologia da argamassa, como visto durante a exposição do “Método CIENTEC de Dosagem de Argamassa”, no entanto percentagens de areia fina superiores a 20% sobre o agregado total poderão já estar aumen­tando a demanda de água, não sendo aconselháveis. mas que pode sugerir algo sobre a qualidade da argamassa executada consiste na passagem de um prego sobre a superfície da argamassa para observação do “risco” produzido. produzir um sulco mensurá­ vel na argamassa deve ser questionada sua resistência mecânica e.Conhecendo argamassa Ensaios de controle. independente do traço empregado ou da forma como foi obtido. principalmente se puder ser observada na superfície do revestimento a presença de fissuras. Uma verificação expedita. 153 . Para a sugestão de boa qualidade a marca deixada pelo objeto contundente deverá ser necessariamente superficial. sua qualidade como um todo. por conseguinte. com facilidade. principalmente com relação à determi­nação da resistência de aderência. cujo resultado é avaliado de for­ma absolutamente subjetiva. devem ser sempre realizados. Sempre que. a ponta do prego ou de outro elemento contundente qualquer. . • a dosagem das argamassas ou seu uso inadequado. o comprometimento da estanqueidade do envelope da edificação. nenhum trabalho versando sobre argamassas estaria completo sem que o tema tivesse ao menos uma observação. no entanto. deficiência ou ausência de projetos de revestimentos. . Impressiona de forma contundente a quantidade de vistori­as e perícias realizadas pelo Laboratório de Materiais de Constru­ção Civil da CIENTEC em edificações que apresentam danos em sistemas de revestimentos representados por desplacamentos par­ciais de revestimentos de fachadas em elementos cerâmicos. gerando danos nos pa­ramentos internos das paredes externas e. Dependendo da magnitude das manifestações patológicas os problemas podem variar entre a depreciação dos imóveis por desmerecimento da estética das fachadas. Os danos mais observados podem ser mais frequentemen­te relacionados com: • a qualidade dos materiais empregados. • a inadequada concepção.11. esfarelamento com pulverulência das argamassas empregadas e in­tensos processos de fissuração causados pela retração das arga­massas. a ocorrência de sérios incidentes que podem colocar em risco não só o patrimônio material como também a integridade física de pessoas. DANOS MAIS COMUNS EM SISTEMAS DE REVESTIMENTOS O assunto a ser abordado nesse capítulo por sua importân­cia e amplitude bem poderia fornecer material para uma outra pu­blicação específica. ainda. • a falta de manutenção. oriundos da hidratação retardada de cales ou pela formação de produtos de corrosão de minerais que apre­sentem ferro em sua composição como a pirita. A redução da seção resistente ge­nericamente ocorrerá em função da presença de partículas friáveis. mesmo sendo o assunto amplo e de grande complexidade.1.156 RECENA. praticamente informam o suficiente sobre danos causados por processos de expansão. pois é sabido que esses contaminantes sempre terão uma ação que envolve os dois aspectos. Simplificadamente é possível considerar que os contaminantes terão sua ação baseada em fenômenos de caráter físico ou químico. a classificação feita em função da ação de maior intensidade. torrões de argila ou fragmentos de material orgânico como folhas e gravetos. Estendendo o assunto que trata de contaminação dos agregados é possível fazer uma classificação dos elementos contaminantes mais comumente encontrados. A ação física de um contaminante sobre uma argamassa pode ser representada pela redução da seção resistente ou pelo aumento na demanda de água. sendo. Fernando Antonio Piazza • a qualidade da execução. O au­mento na demanda de água é um efeito típico dos materiais finos que passam na peneira de 75mm de abertura . falta ou deficiência na fisca­lização. algumas considerações de caráter geral e de cunho informativo serão apresentadas referentes àqueles te­mas de maior relevância. químico e físico. Paralelamente a essa ação clássica deve ser considerado também o possível comprometimento estético caso esses materiais contaminantes venham até a superfície dos revestimentos. Diz-se simplificadamente. então. conforme sua forma de atuação. Como citado anteriormente. 11. Danos relacionados com a qualidade dos materiais As considerações feitas anteriormente no corpo dessa obra. associando à ação química outra de natureza física representada por esse efei­to de impedimento da ligação pasta/ agregado. embora a resistência final possa atingir um nível mais elevado. alterando o tempo de início de pega e a velocidade de endurecimento. A ação química pode ser representada pela interferência di­reta nas reações de hidratação do cimento Portland. conhecidos como materiais pulverulentos. independente do aglomerante empregado. assim como nitritos e nitratos. em argamassas onde o aglomerante é apenas o cimento Portland. Com o tempo. A matéria orgânica. por lava­gem. e os compostos de sódio e potássio na formação dos vários tipos de eflorescências. por apresentar-se na forma de ácido húmico. esses grumos absorvem umidade e aumentam de volume. É determinado pela elevada superfície específica desses materiais. que em seguida evolu­em para vesículas. é ainda necessário destacar outras que ocorrem na obra. e ocasionam sempre a diminuição da resistência mecânica da argamassa com aumento da probabilidade de ocorrerem pro­cessos de retração com fissuração. ou indi­retamente causando alterações no comportamento da argamassa pela alteração do pH da pasta mais notadamente quando for em­pregado apenas cimento Portland como aglomerante. Sais solúveis poderão ser lixiviados formando eflorescências ou criptoflorescências destruindo a argamassa e/ou os elementos da alvenaria. retardando o tempo de início de pega e prejudicando o desenvolvimento da resis­tência no período inicial. Uma fina película de material orgânico aderido sobre a superfície dos grãos reduzirá a eficiência da ligação pasta/agregado. causando o aparecimento de bolhas nos revestimentos. Quando esses finos apresen­tam-se aglutinados em torrões podem não ser esmagados no pro­cesso de mistura e vão ter ao revestimento. em geral siltes e argilas. Em revestimentos externos. Como exemplo. reduz o pH da pasta.Conhecendo argamassa de malha. a incidência direta da água promove a lavagem do material e o aparecimento de man­chas de coloração característica na parede. Além das contaminações com origem na própria jazida. podem ser citados os cloretos como principais responsá­veis na alteração do tempo de início de pega. decorrentes de depósitos de agregados 157 . inclusive na forma de escorrimentos. Danos relacionados com a dosagem ou uso inadequado das argamassas Embora já citado anteriormente. e por aumentar o volume. convém repetir como ação didática e por sua importância. Por ação da gravidade. A areia a ser empregada na pro­dução das argamassas deve receber cuidados especiais para que seja evitada qualquer possibilidade de contaminação. por impurezas como caliça. A correta estocagem. Fernando Antonio Piazza mal planejados que permitem a mistura com britas. obrigando a ex­ploração de areias em locais alternativos. cavacos de madeira. fragmentos de argamassas já endurecidas. outros tipos de areia e os mais variados resíduos. inclusive com cobertura de proteção. demandando um tempo menor para essa operação. Essa quantidade excessiva de água é por vezes deliberadamente adicionada às argamassas por facilitar sua mistura. muitas vezes sendo obti­dos agregados com características e qualidade diferentes daquelas internalizadas ao longo do tempo. A preocupação com o meio ambiente tem criado restrições à exploração de jazidas no leito de rios naquelas regiões consagra­das pela obtenção de materiais de boa qualidade. 11. o que não pode deixar de ser considerado em última análise como uma adulteração do produto. em se tratando de argamassas intermediárias de cal e areia. é fundamental para a garantia da integridade do material. impedin­do que muitas alterações importantes decorrentes dessas altera­ções sejam percebidas. que. tanto maior será a tendência da areia em deslocar-se para o fundo da caçamba num processo de sedimentação que determinará a segre­gação do material .158 RECENA.2. Não raro em obra é possível observar a contaminação de areias a se­rem empregadas na produção de argamassas. tidas como adequadas. ou até mesmo de argamassas intermediárias. quanto mais plástica for a mistura. cacos de ce­râmica vermelha e tantos outros. o transporte realizado inadequada­mente em caminhões tombadeira pode ser responsável pela segre­gação que sempre ocorrerá se for empregada uma quantidade excessiva de água em sua produção. segregada e pobre em cal. Muitas vezes a argamassa intermediária de cal e areia é estocada em obra por muito tempo sem o cuidado necessário para evitar a perda do poder de aglomeração da cal. No Laboratório de Materiais de Construção Civil da CIENTEC. separando-se do restante da argamassa. a argamassa apresentará certamente deficiência de trabalhabilidade e a corre­ção. já foram reconstituídos traços de argamassas intermediárias tão fracos como 1:13. Dessa prática surgem danos ao revestimento decorrentes da elevação do módulo de elas­ticidade do material e de sua mais elevada tendência à retração. é feita pela incorporação de uma quantidade maior de cimento à mistura. A formação de pequenos grumos que não são desmanchados pelo processo de mistura dificultam o trabalho e comprometem o acabamento final da superfície do revestimento. ao longo do trajeto. disposta em cima da carga. por sua elevada superfície específica aumenta a demanda de água. uma argamassa que poderá ser muito pobre em cal. A causa tanto pode estar na incorreção da dosagem como no emprego de aglomerantes de baixo rendimento.Conhecendo argamassa com a concentração da pasta de cal na parte superior da carga. Na medida em que vai ocorrendo o processo de carbonatação da cal as características da argamassa vão sendo alterada negativamente. O esfarelamento da argamassa com pulverulência. escorre primeiro. favorece a separação de grandes quantidades de pasta no basculamento da carga na obra. A deficiência de trabalhabilidade em argamassas intermediárias pode também ser decorrente da reprodução de traços muito fracos o que evidencia uma incorreção na dosagem. certamente é um dos fatores determinantes desse tipo de problema. em massa. Além de causar o normalmente não punido in­conveniente de derramamento da pasta de cal ou mesmo da arga­massa na via pública. após a descarga. 159 . A pasta de cal. a que­bra de cantos no revestimento de paredes e danos oriundos de impacto ocasionados pelos mais variados objetos indicam baixa resistência mecânica da argamassa. em geral realizada intuitivamente. mais fluida. Nessas condições. restando. O emprego de areia fina que. Insertos metálicos dimensionados adequadamente com base na massa das placas a serem fixadas e projetados com um metal estável eletroquimicamente. 11. obrigando o retorno à obra para reparos. ineficiência ou ausência de projetos de revestimentos Não é objetivo deste livro desenvolver o tema relacionado com projetos de revestimentos visto tratar-se de uma área específi­ca.160 RECENA.3. ou nas arestas definidas por diferentes fachadas. devem ser sem­pre empregados. o sis­tema de fixação de placas de rocha em fachadas externas deve ser concebido de tal maneira que jamais transfira a responsabilidade pela estabilidade do sistema exclusivamente à aderência da arga­massa sobre a qual foram fixadas as placas ao substrato. Fernando Antonio Piazza Mesmo que o sistema de pintura possa por um tempo es­conder fissuras e vesículas. é importante ressaltar a extrema necessidade de um revestimento ser pensado racionalmente sob a ótica de seu comportamento frente à movimentação da estrutura e das solicita­ções decorrentes do trabalho termo-higrométrico diferenciado em regiões distintas da superfície revestida. esses defeitos acabam por se apresen­tar. reentrâncias e saliências. Danos relacionados com a inadequada concepção. Juntas deverão ser previstas em qualquer mudança de plano do revestimento como sacadas e detalhes construtivos. Por compor um tipo de revestimento muito difundido. Varia­ções no substrato como alvenaria e concreto devem justificar a implantação de juntas podendo haver o "desenho" . A definição de juntas em revestimentos é de fundamental importância principalmente em revestimentos com elementos cerâ­micos. sendo tão maiores quanto maiores as dimensões dos segmentos ou "panos". No entanto. como já citado anteriormente. constituindo fator de desagrado do usuário e. preferencialmente o aço inoxidável. não rara­mente a partir de processos judiciais. A abertura das juntas deve ser calculada com base no ta­manho dos segmentos de revestimentos estabelecidos. antes de seu recebimento e liberação para a aplicação dos elementos cerâmicos. de tal forma que definam a formação de panos da forma mais próxima possível de um quadrado. Danos relacionados com a qualidade da execução. Pela quantidade de defeitos identificados du­rante as vistorias realizadas em revestimentos com problemas de desplacamento. principalmente quando a atividade é desenvolvida sobre um andaime ou balancim. não raro. nos últimos anos. em pare­des de grande altura em espigões.Conhecendo argamassa da estrutura.4. é geralmente negligenciada ou não realizada. 11. é possível admitir que muitas destas situações de colapso poderiam ser evitadas a partir de uma inspeção visual e de uma verificação por percussão nos revestimentos. Em alguns casos os danos registra­dos vinculam-se às causas apresentadas nos itens anteriores. A fiscalização que deve ser exercida sobre a tarefa de exe­cução de um sistema de revestimento. Como reforço. deve ser dito novamente que sempre que um reves­timento é executado o ensaio para a verificação da resistência de aderência deve ser realizado. juntas horizontais devem ser colocadas a cada andar e juntas verticais. a CIENTEC tem sido solici­tada com grande frequência a vistoriar revestimentos de edifica­ções. mas em outros é possível perceber nitidamente que os problemas têm origem na etapa de construção e poderiam ter sido evitados. falta ou deficiência de fiscalização Como já dito. Nos últimos três anos tem sido percebida uma maior inci­dência de casos de desprendimento de elementos cerâmicos em­pregados no revestimento de fachadas. que apresentam danos. têm comprome­timento maior com a velocidade de execução do serviço do que com sua qualidade. Em uma ou outra oportuni­dade. ficando o serviço inteiramente sob a responsabilida­de dos profissionais que o executam que. Em geral. quando a queda de revestimento 161 . O tratamento das juntas deverá seguir um procedimento que atenda a dois requisitos fun­damentais: a manutenção da estanqueidade e a livre movimenta­ção da área definida pelas juntas. sendo esses os dois tipos que serão abordados adiante no texto. Fernando Antonio Piazza ocorre em ruas muito mo­vimentadas. em sua expressão mais simples. em algumas situa­ções. De uma maneira geral. é preciso partir do entendi­mento de que o revestimento de uma edificação não é um material. esses fatos tornam-se notícias já tendo sido registrados casos em Porto Alegre em que o material desprendido atingiu pes­soas no passeio. a grande maioria dos prédios em que se observa desplacamento de revestimentos cerâmicos possui entre oito e dez anos de idade. b. embora possam excepcionalmente ocorrer em prazos menores. O revestimento de uma edificação. mas sim um sistema composto de diferentes materiais e com exe­cução fragmentada em mais de uma etapa e. Casos isolados de danos materiais de fragmentos que atingem automóveis em esta­cionamentos dentro de áreas condominiais também têm sido regis­trados com uma freqüência no mínimo preocupante. a natureza do substrato. é formado por argamassa e pintura ou por argamassa e material cerâmico. permitindo a formulação de algumas hipóteses para justificar os fatos. c. os revestimentos devem ser avaliados por seu desempenho e não apenas pela qualidade dos materiais empregados em cada etapa. a constatação empírica obtida a partir das vistorias realizadas permite afirmar que. Por se tratar de um sistema. o número de camadas que compõem o revestimento. a preparação do substrato. uma vez que algumas considerações sobre reves­timentos com placas de rocha já foram feitas. . devendo esta avaliação considerar: a. embora tenham sido identificadas situações em que o revestimento des­prendeu do substrato em pouco mais de um ano. ocasionando lesões físicas.162 RECENA. executadas por profissionais de diferentes capacitações. Para organizar o conhecimento. para permitir mais facilmente a penetração do ar em função da maior espessura. de espessura não maior do que 5 mm. no passado. A primeira camada aplicada com a finalidade de regularizar a superfície deveria sempre apresentar maior porosidade.Conhecendo argamassa d. chamada de reboco. A camada de reboco deveria ser produzida com uma argamassa fina para garantir o bom acabamento da superfície. a orientação de cada fachada. Por ser menos porosa. e. e outra. Na segunda camada. a qualidade dos materiais empregados. de acabamento final. a qualidade da execução (mão de obra). O revestimento clássico em argamassa de cal deve ser composto por duas camadas: uma aplicada diretamente sobre o substrato. identificada como emboço. deve ser usada uma outra argamassa produzida com areia fina. determina a resistência do material pela formação de carbonato de cálcio. não era comum o emprego de massa corrida. a espessura de cada camada e do revestimento final. Os prazos exigidos para que ocorra uma perfeita carbona­ tação hoje seriam impossíveis de serem praticados pela velocidade imprimida às obras. no caso de revestimentos externos. f. e h. já que. as condições climáticas durante a execução. g. A adoção de duas camadas pode ser explicada em função de as argamassas de cal serem aéreas e demandarem um tempo maior para que ocorra de forma adequada a carbonatação da cal hidratada que. 163 . é em­pregada uma argamassa feita com areia de maior módulo de finura (mais grossa). a espessura dessa camada necessariamente deveria ser muito pequena pela maior dificuldade de penetração do ar. Para a execução da primeira camada. e sua espessura deve variar entre 10 mm e 25 mm. Em épocas de elevada umidade do ar. esses prazos poderiam bem exceder a meses. ao reagir com o dióxido de carbono presente no ar. como costuma acontecer durante os meses de inverno no Rio Grande do Sul. menor custo. c. Com o passar do tempo. que num primeiro momento pode ser encarado como um aditivo. sendo esta prática. já incluindo aqueles com fun­ção estrutural. maior resistência à umidade. verificada após o endureci­mento da argamassa. d. Fernando Antonio Piazza Com o emprego do cimento Portland. adotada de forma generalizada. foram introduzidas algumas características nas argamassas que permitiram. já que o comportamento da argamassa de revestimento pode ser em muito distinto se o . sendo a prática estendida igualmente quando empregados tijolos maciços. maior durabilidade. entre outros benefícios. e. maior velocidade de execução. A introdução desta ponte de ade­rência entre o substrato e o revestimento propriamente dito permi­tiu melhorar sobremaneira a aderência da argamassa ao substrato. Outra função que pode ser atribuída ao chapisco é a de uniformizar o substrato. Em paredes erigidas com este tipo de elemento.164 RECENA. tão mais importante quanto maior for a espessura da camada de argamassa empregada no assentamento dos elementos da alvenaria. principalmente num momento em que os elementos cerâmicos para alvenaria passaram a apresentar superfícies lisas a partir do de­senvolvimento de blocos cerâmicos vazados sem função estrutural. hoje. incorretamente chamados de tijolos furados. maior resistência mecânica. foi sendo alterada de maneira a aumentar a aderên­cia instantânea e a macroaderência. obter: a. a conforma­ção superficial dos blocos cerâmicos. permitindo em paramentos internos a elimi­nação do chapisco. a adoção de uma ponte de aderência passou a ser indispensável. Igualmente sobre superfícies de concreto o emprego de chapisco é de fundamental importância não podendo ser dispensado. b. O emprego do cimento Portland viabilizou a execução de revestimentos em apenas uma camada. O cimento Portland permitiu ainda a introdução no sistema de revestimento clássico em argamassa de uma nova camada: o chapisco. Seu emprego está ligado à expectativa de obtenção de uma melhor aderência do chapisco ao substrato. sem qualquer controle da água empre­gada. respectivamente. cimento e areia com granulometria de média a grossa. citadas anteriormente. são produzidas. Os chapiscos preparados em obra. daí a denominação po­pular para colas plásticas ou tintas plásticas. o que por si só constitui fonte de variação de suas caracterís­ticas físico-mecânicas. com o emprego de ar­gamassas industrializadas ou preparadas em obra. que po­dem ser chamadas de aditivos.1 Danos relacionados com a execução do chapisco A preocupação em melhorar a aderência do chapisco ao substrato.4. via de regra. nem sempre obtida. O resultado de sua polimerização é uma película plástica tão mais espessa e impermeável quanto mai­or a concentração do polímero na solução. a rolagem ou desempenamento. em função das diferenças de porosidade que determinam diferentes comportamentos na absorção da pasta de constituição das argamassas.Conhecendo argamassa substrato for o elemento cerâmico. Vários são os tipos de chapisco e várias as maneiras de aplicação. Essas argamassas. principalmente se esse for o concreto. que podem ser melhoradas com a inclusão de resinas poliméricas. Na verdade essas resinas são empregadas comercialmente como matéria-prima de vários produtos como a cola branca para madeira ou papel ou tintas. são consti­tuídos por uma argamassa de cimento e areia em proporções em volume que variam entre 1:3 e 1:5. a observação de algumas 165 . Essas resinas poliméricas. Embora necessitando de comprovação científica. podendo ser citadas a clássica projeção com a colher de pedreiro. costumam ser emulsionadas em água. em geral. 11. tem predisposto o mercado ao emprego de resinas poliméricas em solução na água de amassamento das argamassas a serem aplicadas como chapis­co. a argamassa de assentamento ou as superfí­ cies de concreto da estrutura. A passagem repetidamente do rolo sobre uma mesma região do substrato favorece a formação da película que impedirá o chapisco de absorver a pasta de cimento na configuração do efeito de microancoragem. empregados concretos dimensionados para resistências mais elevadas. é dever considerar que o aumento da resistência característica à compressão de projeto (fCk. mas desde há muito tempo são. A pergunta que se impõe é: a causa dos problemas de aderência do chapisco às superfícies de concreto reside apenas no fato de estarem sendo empregados concretos de mais elevada resistência? A bem da verdade. Talvez melhor desempenho pudesse ser obtido pela aplicação da argamassa sobre uma superfície previamente pintada com o produto. Fernando Antonio Piazza situações em que houve comprovadamente prejuízo da aderência da argamassa ao chapisco melhorado com o emprego de resina polimérica suge­re ter havido a diminuição da capacidade de absorção de água da argamassa de chapisco comprometendo a microaderência. diminuindo a capa- . No passado não era usual o projeto de estruturas de con­creto armado com resistências características à compressão eleva­das. assim como se fosse aplicada ao substrato uma fina camada de cola. Como consequência ocorreu a diminuição da porosidade do concreto pela redução da relação água/cimento e pela concentração de um maior volume de pasta na superfície das peças. é verdade. superio­res a 25 MPa ou 30 MPa. maior consumo de cimento. na formação de uma ponte de aderência.proj. sim.) adota­da no projeto de estruturas do concreto armado determinou fossem dimensionados traços para o atendimento da proposição de projeto com mais baixa relação água/cimento e. impossibilitando o desenvolvimento da microaderência.166 RECENA. A im­pressão advinda da observação direta da superfície do chapisco e do resultado de testes expeditos permite supor ter ocorrido a im­permeabilização da superfície pela formação de uma película plás­tica. consequentemente. Este efeito negativo que pode ser causado pela superdosagem do polímero na tentativa de melhorar o desempenho da argamassa. também pode ser verifi­cado quando o chapisco melhorado com polímero é aplicado por rolagem. não raro com tratamento superficial. que muitas vezes o chapisco é executado sobre o substrato cuja super­fície apresenta alta temperatura em dias quentes e secos. O emprego de formas de melhor qualidade. ou seja. A insuficiência de água ao processo. alterando também as condições de macroaderência. ou seja. Considerando que a espessura de um chapisco é sempre muito pequena. termo que no Rio Grande do Sul é empregado como sinônimo de cinza volante. permite a ocorrência da reação com a sílica amorfa existente na pozolana. especificação – permite a substituição de até 50% de clínquer por cinza. desestimula a rea­ção. ao manter em solução o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) liberado como subproduto durante a hidratação de compostos básicos do clínquer Portland (C3S e C2S). para viabilizar o início das reações ou para garantir sua continuidade. o que redunda em uma diminuição da superfície de contato entre concreto e chapisco. gesso e calcário moído e 25 kg de cinza. constitui um fator de agravamento do problema pela diminuição das irregularidades. Por ser o Estado grande produtor de cinza na geração de energia em usinas termoelétricas. podendo diminuir de forma drástica o rendimento do cimento. em um saco de cimento pode haver 25 kg de clínquer. in­clusive com plastificação. comprometendo a formação dos silicatos de cálcio neoformados pela reação pozolânica.Conhecendo argamassa cidade de absorção da pasta da argamas­sa de chapisco necessária para garantir a microaderência deste às superfícies das peças produzidas com concreto de mais elevado desempenho. ocorre necessariamente em presença da água que. pozolânico. No entanto é igualmente dever levar em consideração que no Rio Grande do Sul o cimento disponível no varejo é do tipo IV. É possível dizer que a não realização de qualquer tipo de cura no chapisco dificulta o desenvolvimento destes compostos cimentantes. A norma brasileira NBR 5736:1991 – Cimento Portland pozolânico. conhecida e explorada já pelos romanos. e que com muita frequên- 167 . A reação pozolânica. mais lisas e menos irregulares. é natural que este resíduo gerado seja consumido na produção de cimento ou em qualquer outra finalidade por se tratar de um rejeito de grande po­tencial poluidor. haverá. não sendo considerada a reação pozolânica. denotando secagem quase que imediata. então.5. Embora o exercício seja um exemplo radical. é possível admitir que a contribuição da reação pozolânica para a resistência final da argamassa possa ser muito pequena.5:0. Se considerarmos que uma argamassa de cimento e areia utilizada em chapisco pode ser obtida com uma quantidade de água sobre o total de materiais secos de aproximadamente 15%. tão logo a argamassa de chapisco seja projetada sobre o substrato. Fernando Antonio Piazza cia. a CIENTEC foi chamada a colaborar na solução deste tipo de problema. Como em várias oportunidades. em massa. Como exercício. O traço citado transformado será. uma conclu­são plausível a que se pode chegar é a de que com um cimento de baixo rendimento e uma relação água/cimento elevada será obtida uma argamassa de baixa resistência e deficiente capacidade de aderência ao substrato. experiências foram feitas com diferentes tipos de cimento e a recomendação pelo em­prego em chapisco de cimentos de alta resistência inicial (tipo ARI) demonstrou ser adequada. respectivamente cimento. a preparação do substrato é igualmente importante. para não dizer na maioria das vezes. comprovando que o emprego de cimen­tos de baixo rendimento pode comprometer o desempenho de chapiscos. se não hou­ver cura do chapisco. ou seja. em um dia quente e seco. e considerando ainda que não é praxe executar cura de chapisco.0.5:3. Deve ser ressaltado que. podendo ser expresso como 1:8. é possível concluir ter sido produzida uma argamassa com um traço em massa de 0. e este traço expresso pela unidade de cimento será 1:1:7. além da melhor qualidade do ci­mento na produção da argamassa para chapisco.35. é possível imaginar uma condição hipotéti­ca em que um chapisco será executado a partir de uma argamassa de cimento e areia em um traço em volume de 1:4. ou seja. 1:3. respectivamente cimento Portland pozolânico e areia. cinza e areia.5 e. uma relação água cimento de 1. sua coloração altera-se. uma parte de aglomerante para oito partes de ma­terial inerte. .168 RECENA. sempre deve ser feita uma eficiente limpeza de qualquer substrato para a remoção de poeira. Em qualquer situação.2. com a intensificação da deman­da feita à CIENTEC por ensaios para a avaliação da resistência de aderência em sistemas de revestimento. Em superfícies de concreto. camadas de material deteriorado e sujidades em geral. com muita frequência. O escovamento com escovas de cerdas de aço ou. cuidados especiais devem ser dispensados à preparação da superfície. em um mes­mo pano.4. a partir do entendimento da me­cânica do ensaio. em casos extremos. permitindo. O fato chamava a aten­ção particularmente em função de tratar-se de uma mesma arga­massa aplicada pelo mesmo profissional e praticamente ao mesmo tempo. Quando a superfície de concreto for muito lisa. 169 . a preparação da base é de fundamental importância seja a cola uma resina polimérica. a quantidade de ensaios cresceu rapidamente. Danos relacionados com a natureza do substrato e sua preparação Em qualquer procedimento de colagem.Conhecendo argamassa 11. gorduras. o subs­trato deve ser submetido à lavagem com o emprego de jato de água sob pressão. se for possível. afirmar que. No caso específico de argamassas. a água poderá ser aquecida para aumentar a eficiência da lavagem de superfícies que possam conter resíduos de desmoldantes empregados nas formas. Ao longo dos últimos anos. o desempenho da argamassa em transmitir o esforço de tração apresentava variações importantes. o que acon­tece quando são empregadas formas de bom acabamento ou com tratamento superficial. uma tinta ou uma argamassa. o apicoamento por percussão são sempre alternativas a serem consideradas. sendo muitas vezes registrados valores elevados para a resistência de aderência. Nesse caso. A aceitação desta hipótese permite justificar a diferença de comportamento da argamassa durante o ensaio de aderência reali­zado sobre um substrato de concreto e uma alvenaria convencio­nal. a água transporta consigo material fino que se concentra. relacionado diretamente com a resistência da argamassa. é possível formular a hipótese de que apenas uma parcela muito pequena da água possa ser absorvida pelo substrato. Fernando Antonio Piazza Esse fenômeno. em que o substrato é concreto. por sucção. Em outras regiões da mesma parede.170 RECENA. Em sua migração até a superfície do revesti­mento. a concentração de uma quantidade maior de água juntamente com o material mais fino da argamassa. na superfície exposta. na superfície. imediatamente abaixo da fina camada impregnada com o adesivo empregado na fixação do dispositivo de transmissão de carga. suge­rindo que durante o desempeno pudesse ocorrer. nunca na camada superficial. determinando a alteração da resistência nesta porção superficial. va­mos nos reportar ao procedimento adotado no chamado “polimento” de pisos de concreto. Para introduzir o raciocínio sobre a segunda situação. estabelecendo o fluxo hidráulico de secagem através da superfície livre do revestimento. após a evaporação da água. Em algumas oportunidades a resistência da argamassa apresentava-se muito inferior quando o ensaio era realizado em regiões que tinham por substrato o concreto da estrutura. A observação dos corpos de prova no plano de ruptura permitia constatar a existência de uma argamassa alterada. A ruptura ocorria invariavelmente na argamassa. embora não tenham sido avaliadas a espessura da camada de chapisco e sua homogeneidade. a ruptura ocorria na interface da argamassa com o substrato. com chapisco. permite a consideração de duas situações distintas. chapisco ou elemento cerâmico. A . sobre alvenaria de blocos cerâmicos sem função estrutural. Por ser mais compressível. o mesmo efeito é obtido ma­nualmente. além da variação esperada na argamassa pelos fatores citados no parágrafo anterior. além da qualidade do aditivo. principalmente. a hipótese de que possa haver na superfície da argamassa uma região com maior concentração de material fino e água não pode ser descartada. do tempo de mistura e da eficiência do equipa­mento de mistura. Assim. pela maior ou menor incorporação de ar.Conhecendo argamassa textura fechada e lisa é obtida por meio de equipamentos chamados popularmente de “helicópteros” que nada mais são do que desempenadeiras mecânicas. A maior quantidade de ar aprisionado parece favorecer a ocorrência do fenômeno. além dos controles clássicos sobre a relação água/ cimento e sobre a quantidade total de água empregada na produção. O problema pode ser potencializado quando forem empre­gadas argamassas aeradas. da granulometria da areia. Essas citadas medidas passam por um rigoroso controle sobre a granulometria da areia. da intensi­dade do desempenamento e do teor de finos. Com isso. Dependendo da plasticidade da argamassa. a hipótese de que um desempeno mais prolongado possa facilitar a concen­tração de água. Nos revestimentos em argamassa. cuidados especiais durante a produção de arga­massas aeradas deverão ser tomados. O acabamento pre­tendido é obtido pela concentração de pasta na superfície da placa de concreto pelo efeito de sucção promovido pelo desempenamento. ou das areias empregadas. e do tempo de mistura. exigindo a adoção de medi­das de controle que garantam a homogeneidade da argamassa produzida. 171 . bolhas de ar na superfície da camada de argamassa não pode ser desconsiderada. É sabido que a incorporação de ar em uma argamassa depende. material fino e. a alteração em qualquer uma dessas variáveis pode alterar as características da argamassa. mesmo que este seja apenas uma pintura. mais frequentemente notado nesse tipo de argamas­sa. A hipótese de que possa haver influência do desempeno na característica superficial do emboço reforça a necessidade de haver um criterioso procedimento de inspeção antes de sua libera­ção para aplicação do revestimento final. uma solução de caráter geral seria promover a raspagem desta camada comprometida. Se o acaba­mento final for uma pintura. Substratos demasiadamente secos poderão ab­sorver rapidamente. embora recomenda­do e tecnicamente . é dispensado o emprego de chapisco. No caso de substratos compostos por alvenaria. Fernando Antonio Piazza Por certo essa hipótese necessita de confirmação científica. a ligação da argamassa colante para fixação de elementos cerâmicos ficará debilitada. o que permitirá a absorção de uma quantidade maior da água utilizada na produção da argamas­sa. mas a ocorrência desse fenômeno é inegável e deve ser conside­rada. em alvenaria de ele­mentos cerâmicos. o problema é menos sentido devendo ser controlada com mais critério a intensidade do desempenamento. comprome­tendo a resistência na interface e favorecendo a retração. é reco­mendável proceder à lavagem da parede no dia anterior à execu­ção do revestimento para promover a saturação do material cerâ­mico da alvenaria. comprometendo a estabilidade de qual­quer revestimento que venha a ser aplicado no local. para somente então executar o reves­timento cerâmico. No caso de o substrato ser concreto. o substrato estará na condição de saturado com superfície seca. No momento da aplicação do revestimento. Quando for prevista a aplicação de um revestimento cerâ­mico. Como desvantagem da adoção desse procedimento. não a pasta. com ou sem chapisco. mesmo que exija execução em mais de uma camada. mas a água de amassamento de argamassas de baixa capacidade de retenção de água. reduzindo a quantidade de água a ser evaporada. Havendo menor resistência na camada superficial do em­boço. situação que garante a absorção da pasta da argamassa em quan­tidade adequada. o problema poderá mesmo ser negli­genciado. a solução poderá ser o aumento da espessura do chapisco. ao mesmo tempo em que determinará a redução da espessura do revestimento.172 RECENA. Quando em revestimentos internos. verificação do desempenho da arga­massa nesta nova situação. a presença de ventos. tem-se a interferência na dinâmica de execução do emboço. haverá menos retração e melhor desempenho mecânico. a execução de re­vestimentos deve ser programada de maneira a permitir a execução do serviço em períodos do dia de menor incidência dos raios sola­res. pelo retardo que pode ser esperado na ope­ração de desempenamento. Esta situação ocorre preferencialmente em paramentos ex­ternos em dias quentes e em fachadas com incidência direta dos raios solares. A velocidade do ar. ou seja. A elevada temperatura superficial do substrato no momento da aplicação da argamassa pode alterar significativamente as con­dições de evaporação da água de amassamento prejudicando a aderência e favorecendo a retração e o consequente desplacamento do revestimento no futuro. contribuindo para o au­mento da probabilidade de instalação de processos de retração com sua inevitável consequência. tendo em vista que na região sul praticamente todo o cimento adquirido no varejo é pozolânico composto com mais de 40% de pozolana. mantendo o ambiente com elevada umidade diminuindo a velocidade de evapo­ração da água de amassamento da argamassa. Na execução de revestimentos internos. Podem ser empregadas películas de ma­terial plástico para evitar o efeito negativo do vento. não deve ser des­considerada a possibilidade de vedar as aberturas da peça onde é desenvolvida a atividade. pode acelerar o processo de secagem da argamassa pelo favorecimento da evaporação da água de amassamento. não devendo ser executada quando as condições climáticas não forem favoráveis. Se for minimizada a evaporação da água. mesmo quando empregadas argamassas mis­tas de cimento e cal. A execução de revestimentos externos deve ser programa­da.Conhecendo argamassa adequado. reduzindo a velocidade de execução da tarefa em favorecimento da qualidade final. representando um processo de cura. No verão. ao menos nas primeiras 72 horas. 173 . a fissuração. em fachadas externas. necessitando sempre de eficientes processos de cura. Estas tensões se manifestam nas interfaces entre as dife­rentes camadas como forças tangenciais de cisalhamento. por isso deve apresentar maior capacidade de deformação. permi­tindo o desplacamento da camada mais externa. A observação feita em prédios onde o fenômeno foi regis­trado identifica como elemento comum a todas as situações o em­prego de elementos cerâmicos. ocasionando a dilatação do material cuja movimentação fica restringida. Fernando Antonio Piazza 11. em pré­dios onde ocorre o desplacamento. É observada. a partir de sua superfície. mais intensamente quanto maior o gradiente de temperatura e quanto maior a diferença na rigidez dos materiais. experimentadas pelo revestimento. . Danos relacionados com revestimentos cerâmicos De uma maneira geral. por ser mais exposta à radiação e mais intensamente submetida à ação da umidade. a repetição cíclica do fenômeno culmi­na com a ruptura dos elementos que estruturam a aderência. surgem tensões decorrentes do impedimento da livre movimentação relativa entre as diversas ca­madas.4. o que permite supor ter sido o revestimento executado sem projeto espe­cífico. não raramente de coloração escu­ra. a inexistência de juntas. traduzida pelo módulo de elasticidade característico de cada material. Ao longo do tempo.174 RECENA. À medida que a temperatura das camadas mais exter­nas do revestimento se eleva. A afir­mação é justificada a partir do entendimento de ser maior a solicita­ção gerada por variações térmicas e higrométricas. assentados por meio de uma argamassa colante sobre um emboço executado com uma argamassa sempre menos resistente que a argamassa colante e a própria cerâmica. Este mecanismo pode explicar a razão do cada vez mais frequente desplacamento de revestimentos cerâmicos em fachadas.3. a estabilidade de um sistema de revestimento estará condicionada à observação de um princípio iden­tificado como Princípio Geral da Estabilidade que promulga a ne­cessidade de que as diversas camadas de um revestimento devam apresentar resistências decrescentes a partir do substrato. Atenção especial deve ser dada ao tempo de emprego da argamassa colante já que seu uso após o vencimento. não sendo visível. ocorrendo a ruptura na argamassa com uma tensão infe­rior ao mínimo admitida para a resistência de aderência entre as diversas camadas do sistema. Muitas vezes a ruptura ocorre na própria argamassa.Conhecendo argamassa O emboço. Em geral. além de dificultar a aplicação dos elementos cerâmicos pela dificuldade em esmagar os cordões de argamassa. além da quebra do Princípio Geral da Esta­bilidade. além de comprometer o aspecto da edifi­cação. são identificadas falhas no assentamento do elemento cerâmico por deficiência no seu pressionamento contra os cordões de argamassa colante. a baixa resistência da argamassa empregada no emboço não permite a transferência do esforço de tração até a interface com o substrato. o fato de serem empregadas argamassas de baixa resis­tência associadas a uma deficiente execução do emboço. Cabe lembrar que a presença de fissu­ras em um revestimento. havendo o destacamento de parte da argamassa de emboço juntamente com a argamassa colante aderida ao elemento cerâmico. compromete a eficiência da colagem pela perda de resistência da argamassa. via de regra. alguns defeitos sejam inadvertidamente admitidos. perden­ do a plasticidade. com espessura superior ao recomendado por norma e consti­tuído por uma argamassa de baixa resistência. A 175 . apresenta-se intensamente fissurado. Em outras tantas situações. diminuindo sig­nificativamente a área de contato entre o elemento cerâmico e a argamassa colante. A baixa qualidade do emboço faz com que o desplacamento ocorra na sua interface com a camada de argamassa colante. durante a realização de ensaios para a verificação da resistência de aderên­cia. Podem ser tomados como fatores condicionantes do apa­recimento do problema. dificulta o esmagamento dos cordões. Talvez por se tratar de uma camada do sistema que servirá de substrato a um revestimento nobre. Essa irregularidade também pode ocorrer se for extrapolado o tempo em aberto da argamassa colante que. indica a existência de problemas no sistema. é possível concluir que o estado geral de conservação e da estabilidade é muito bom se for considerado que na maioria dos prédios não há desplacamento. Se o material empregado no rejuntamento admite movimentações. A qualidade de um revestimento. com relação a sua estabi­lidade e durabilidade. Um reves­timento com as tradicionais pastilhas possui uma linha rejuntada a cada 2. de elevada rigidez e grande durabilidade. está relacionada diretamente com a capacita­ção da mão de obra e seu comprometimento com a boa execução das tarefas. Dife­rem de muitos dos materiais empregados atualmente apenas nas dimensões. Os elementos cerâmicos empregados nestes revestimen­tos. será mais efetiva nos revestimentos compostos por elementos de menores dimensões. Fernando Antonio Piazza variação no tempo em aberto destas argamassas está relacionada diretamente com a temperatura sendo este mais um exemplo da influência das condições climáticas sobre a qualidade dos revestimentos. claro está que a dissipação de tensões de origem térmica. já que hoje existem prédios revestidos com elementos com lado de até 300 mm. por deformação. justifi­cando a elaboração de um projeto de execução de revestimentos externos que deverá levar em conta inclusive o turno e o horário de trabalho.176 RECENA. as pastilhas. vitrificadas. enquanto um revestimento executado com elementos de 10 cm de lado apresenta quatro ve­zes menos cordões de rejunte. são peças de pequenas dimensões com lado de 25 mm. nos dois sentidos. Mesmo que o comportamento dos diferentes materiais ce­râmicos seja similar. sistemas semelhantes com desempenhos diferentes devem ser analisados por suas diferenças e não por suas semelhanças. Fazendo uma avaliação do revestimento de prédios com mais de 30 anos executado com as chamadas pastilhas. .5 cm. A primeira diferença a ser considerada é a quantidade de juntas naturais existentes em cada caso. 5. o emprego de argamassas colantes introduz duas novas interfaces no sistema. ao mesmo tempo em que encaminham a discussão do tema. • O material empregado no rejuntamento não deveria apre­sentar sempre mais facilidade em absorver deformações. não deveria possuir módulo de deformação tão baixo quanto possível? • As juntas concebidas pela aplicação das diretrizes de proje­to adotadas atualmente podem ser consideradas realmente eficientes? • Qual o custo do tratamento dessas juntas e. Atu­almente.Conhecendo argamassa Outro aspecto a ser considerado é a forma de aplicação das pastilhas. exigindo maiores cuidados no assentamento. de sua manutenção? • Qual o procedimento de investigação a ser adotado para julgar sobre a necessidade de substituição do material selante empregado na vedação das juntas? Essas perguntas. Danos relacionados com a falta de manutenção O título dado ao presente item identifica o grave erro come­tido de imaginar que alguns revestimentos dispensam manutenção. Diante destas constatações. podendo ser entendido como um processo de fusão apre­sentando-se os elementos cerâmicos encravados no emboço. De uma maneira geral manutenção na construção civil está sempre associada a um aspecto corretivo nunca sendo executada com cunho preventivo. algumas questões podem ser formuladas para obrigar a reflexão sobre o porquê dos revestimen­tos em pequenas pastilhas apresentarem inegavelmente maior estabilidade ao longo do tempo. feita diretamente sobre o emboço ainda no estado plástico. indicam a necessidade de muito mais estudos sobre o assunto. ou seja. 11. posteriormen­te. 177 . Fernando Antonio Piazza Já está internalizada a cultura de manutenção em revesti­mentos constituídos por pinturas. muito mais em função da manu­tenção de um aspecto estético pretendido do que a manutenção de um desempenho desejado. É sabido que periodicamente as cama­das de pintura devem ser renovadas sendo os prazos função da qualidade de cada tinta. sempre qualquer ação de manutenção deve ter como objetivo a garantia da estanqueidade do sistema. promovendo uma série de danos a partir da saturação da argamassa.178 RECENA. Figura 12 Aspecto característico da deterioração típica de revestimentos em argamassa causada por falta de manuten­ção na pintura. O mesmo efeito pode ser promovido pela pressão de vapor que surge no processo de evaporação da água retida na argamassa de emboço que en­contra a barreira impermeável represen- . desprotegendo a argamassa e propiciando o apa­recimento de danos já amplamente conhecidos. Em revestimentos com elementos cerâmicos a queda do rejunte ou a falência do sistema de vedação de juntas permite a infiltração de água por trás do revestimento. A não renovação das pinturas apresenta como primeira consequência a perda de estanqueidade do sistema de revestimento. Independentemente das características do material empre­gado no revestimento de uma parede. Saturada a arga­massa experimenta expansão que cria tensões que tendem a proje­tar o revestimento para fora do plano da parede. A lavagem periódica. fungos e outros vegetais inferiores.Conhecendo argamassa tada pelo revestimento. impedindo o desenvolvimento de algas. e observação do som produzido. duran­te a repintura da superfície. Um revestimento cerâmico deve ser inspecionado periodi­camente para observação do aspecto dos elementos cerâmicos. deve ser realizado por amostragem. Juntas devem apresentar integridade. O mastique não pode apresentar ruptura ou falta de aderência às bordas da junta. Sua substituição deve ser realizada no prazo estipulado pelo fabricante. para a verificação da existência de regiões onde a aderência possa estar comprometida o que será evidenciado pela observação da ocorrên­cia de um som cavo. O estado do rejunte deverá ser objeto de avaliação cuida­dosa. além de garantir o bom aspecto do revestimento. no passado. da edificação e a estabilidade do emboço. O estabelecimento de um fluxo hidráulico por trás dos elementos cerâmicos promove a lixiviação do hidróxido de cálcio existente na argamassa. reali­zado com um martelo de madeira. pois podem existir locais por onde possa haver a infiltração de água. Essa era. que irá formar eflorescências sobre o revestimento pelo carbonato de cálcio precipitado durante a secagem da água dissolvente. removerá precocemente colônias de microrganismos. que consiste da promoção de pe­quenos choques sobre a superfície dos elementos cerâmicos. Esse mesmo procedimento poderá igualmente ser aplicado sobre revestimentos de argamassa com pintura. da tinta e das condições de aplicação. a maior causa do estufamento de azulejos. 179 . Alterações de cor ou da textura superficial são indicativos prelimi­nares de degradação do material. comprometendo o aspecto do revestimento. A manutenção de pinturas deve seguir a orientação do fa­bricante da tinta quanto à preparação do substrato. O ensaio de percussão. em inspeções de rotina. . 12. preparados em emboço . Registro fotográfico Figura 13 Registra o ensaio de verificação da resistência de aderência em elementos cerâmicos formando painéis-teste em obra. Figura 14 Registra seis corpos de prova exposto pela queda dos elementos cerâmicos. a perda de ade­rência entre o elemento cerâmico e a argamassa colante e entre a argamassa colante e o emboço. Figura 16 Ensaio de resistência de aderência em corpos de prova preparados em laboratório. . Regis­tra igualmente. Fernando Antonio Piazza Figura 15 Apresenta a região definida pelo corpo de prova destinado ao ensaio de verificação da resistência de aderência com ruptura na interface chapisco alvenaria. na região do desplacamento.182 RECENA. Conhecendo argamassa Figura 17 Estufamento típico de elementos cerâmicos. Observase o deficiente apicoamento e a não remoção da camada de pintura. Figura 18 Substrato mal preparado para receber o revestimento cerâmico. 183 . Referências ABITANTE, A. L. R.; BONIN, L. C. Qualificação de agregados para concretos e argamassas e cales hidratadas para argamassas. Porto Alegre, UFRGS, CPGEC, NORIE, dez. 1993 (relatório parcial). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-05738: Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 1994. ____. NBR-7175: Cal hidratada para argamassas – Requisitos. Rio de Janeiro, 2003. ____. NBR-7211: Agregados para concreto – Especificação. Rio de Janeiro, 2005. ____. 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