Conceitos Elementares e Correntes Teóricas Das Relações Internacionais

March 27, 2018 | Author: André Wilson Sant'Anna Silva | Category: Superpowers, International Relations, International Politics, State (Polity), Globalization


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22/3/2014Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES TEÓRICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Site: Curso: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Relações Internacionais: Teoria e História Livro: Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Impresso por: André Wilson SantAnna SIlva Data: sábado, 22 março 2014, 14:09 http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 1/78 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Sumário Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo Pág. 3 - O Processo de Globalização Pág. 4 - Dilemas da Globalização Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente Unidade 2 - Conceitos Fundamentais Pág. 2 - Conceitos Fundamentais Pág. 3 - Sociedade Internacional Pág. 4 - Sociedade Internacional Pág. 5 - Ator Internacional Pág. 6 - Sistema Internacional Pág. 7 - Forças Profundas Pág. 8 - Potência Pág. 9 - Potência Pág. 10 - Potência Pág. 11 - Hegemonia Pág. 12 - Hegemonia Pág. 13 - Hegemonia Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais Pág. 3 - A fase idealista Pág. 4 - A fase idealista Pág. 5 - A fase idealista Pág. 6 - A fase realista Pág. 7 - Behavioristas e pós-behavioristas Pág. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo Pág. 9 - Pluralismo Pág. 10 - Globalismo Pág. 11 - Outras correntes teóricas Pág. 12 - Idealismo x Realismo Pág. 13 - Tradicionalistas x Científicos Pág. 14 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais Pág. 15 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais Pág. 16 - Realistas x Pluralistas Pág. 17 - Mudanças na Teoria das Relações Internacionais Unidade 4 - O Realismo Pág. 2 - O Realismo Pág. 3 - O Realismo Pág. 4 - O Realismo Pág. 5 - O Realismo Pág. 6 - O conflito e a questão da segurança Pág. 7 - Críticas ao Realismo Pág. 8 - O Neorrealismo Pág. 9 - O Neorrealismo Pág. 10 - Os Últimos Grandes Debates Pág. 11 - Neorrealistas X Globalistas Pág. 12 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Pág. 13 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Pág. 14 - Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependência Pág. 15 - Conclusão Unidade 5 - Sociedade Internacional: Aspectos Gerais Pág. 2 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 3 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 4 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 5 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 2/78 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. 6 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 7 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 8 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 9 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 10 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 11 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Pág. 12 - Conclusão do Módulo I Exercícios de Fixação - Módulo I http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 3/78 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 1 .php?id=13651 4/78 .O Realismo http://saberes.senado.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Módulo I .As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Unidade 2 .Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 4 .br/mod/book/tool/print/index.leg.Conceitos Fundamentais Unidade 3 . senado.br/mod/book/tool/print/index.As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Ao final desta Unidade inicial. Portanto. Em um curso de educação a distância por meio da Internet. http://saberes. assinalar a evolução histórica e a importância de Relações Internacionais como disciplina acadêmica.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 1 . estabelecer o conceito e as características da Globalização.php?id=13651 5/78 . estabelecer a importância das relações internacionais para o Brasil.leg. o estudante tem um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade com o conteúdo proposto. o aluno deverá estar apto a: identificar os principais pontos da agenda de relações internacionais contemporâneas. procure organizar-se para ter o melhor aproveitamento possível do curso. O último século do segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! http://saberes. as fronteiras perdem sua importância. de uma maneira como nunca experimentada anteriormente. globalizado. disponível na página do ILB. “blocos econômicos” etc. os tratados e políticas para a nova ordem internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”. As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os povos. interligado física e eletronicamente.As Relações Internacionais no mundo contemporâneo Antes de iniciar os estudos desta unidade.php?id=13651 6/78 .Mundo Digital"). O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor. e não há limite ao conhecimento humano. tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos pais e avós. e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre dois pontos é uma tecla”.leg.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.br/mod/book/tool/print/index. assista ao primeiro vídeo educacional da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global . pode-se tomar café em Londres e almoçar em Washington. a tecnologia alcança milhões de pessoas.senado. Os programas enfocam toda a história das relações entre os povos. as distâncias estão menores. Cada vez mais. o sistema internacional vê-se cada vez mais integrado. Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais que oferece informações necessárias à compreensão dos novos processos de intercâmbio entre as nações. 2 . O mesmo se aplica à Turquia. Portugal e Espanha.php?id=13651 7/78 . ademais. Nesse contexto.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. envolvendo aspectos sociais. para serem aceitos na então Comunidade Europeia. Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do “mundo sem fronteiras”. processos e atividades. com vista à promoção de uma interdependência global e. que essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno. econômicos. Cite-se. a qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos podem participar do bloco. com consequências que ultrapassam os benefícios econômicos. em última escala. mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX. com as economias interligadas. Essa cláusula evita as alternativas autoritárias em alguns países do Mercosul. http://saberes. 3 .br/mod/book/tool/print/index. sociais e políticas. por exemplo. ganham destaque ao influenciarem a conduta dos Estados. há a chamada "cláusula democrática". à integração econômica e política em âmbito mundial. que aspira a tornar-se parte da moderna Europa. “Contra a Antiglobalização”. como as organizações não governamentais. em momentos de crise institucional. Registre-se. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de benefícios econômicos. tiveram que promover importantes mudanças econômicas. que. novos atores.senado. No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). as empresas transnacionais. a opinião pública e a mídia. com a redução das distâncias em virtude do desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala global. o atual processo de globalização envolve a integração econômica mundial em diversos níveis. e a comunicação através das fronteiras é praticamente instantânea.O Processo de Globalização O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e intensificação de mecanismos. Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida. Assim. e do fortalecimento dos meios de comunicação. pois as conquistas sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios de todos os outros. blocos se formam. o caso de países como Grécia. culturais e políticos. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem. Trata-se de conceito revolucionário.leg. Em nossos dias. o qual não é recente. br/mod/book/tool/print/index. políticas. mas questões globais que devem ser encaradas sistemicamente. há a criminalidade. ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Crimes como o narcotráfico. a parte significativa da raça humana que sofre com a fome. segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Cite-se. a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. ao lado das grandes conquistas. ainda.Dilemas da Globalização Entretanto. com organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas no âmbito internacional. há novos e grandes desafios: parte significativa da população mundial ainda permanece no século XIX. http://saberes. as guerras.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.leg. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro. que ultrapassa as fronteiras dos Estados. culturais e sociais. Nesse sentido. Nações ricas e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria.php?id=13651 8/78 . a pobreza. E o destino da humanidade permanece uma grande incógnita. Assim. Alguns locais do globo ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. o tráfico de armas. A sociedade internacional presencia crises econômicas. que movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo. todos esses há muito não são problemas exclusivos de um ou outro país. 4 .senado. agressões contra uma pessoa devem ser consideradas crimes contra toda a raça humana. O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente americano refletem essa nova realidade. No último quartel do século XX. empregaremos iniciais maiúsculas. uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda presenciaremos o fenômeno da guerra. enquanto que. para Relações Internacionais como disciplina acadêmica ou área do conhecimento. Direitos Humanos. o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo o globo. 1998). Ademais. Nesse sentido.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. surgem também os conflitos. a proteção ao meio ambiente passou a ser uma das grandes preocupações da comunidade internacional. sob suas diferentes formas.leg. neste século. http://saberes. mas também entre todos os habitantes do planeta. quando nos referirmos ao objeto de estudo. E no extremo dos conflitos. De fato. Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga. e multiplicaram-se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais. inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a sociedade internacional. não será mais entre países. alguns cogitam mesmo que a guerra.Meio Ambiente. 5 . Entretanto. tanto assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre o tema.php?id=13651 9/78 . mas entre civilizações (HUNTINGTON. No moderno sistema internacional. usaremos o termo em minúsculas. sobretudo quando notícias de violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do planeta. temos a guerra.br/mod/book/tool/print/index. não só na esfera de governo. A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência. Conflitos Internacionacionais Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado envolve os problemas ambientais. Daí que os males causados ao meio ambiente afetam toda a humanidade. A terra é um corpo único e seus recursos são patrimônio de todos os seres humanos e das futuras gerações. outro componente marcante da agenda internacional desde sempre. à medida que nos aproximamos uns dos outros. Convém registrar que. Cada vez mais a humanidade toma consciência de que o meio ambiente não pode ser tratado como assunto interno dos Estados e que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras.senado. senado. e com o Atlântico.adobe. temos fronteiras com praticamente todos os países sul-americanos. em uma tendência praticamente irreversível. Estamos estrategicamente localizados. brasileiros.br/mod/book/tool/print/index. empreendedor e. 6 . do outro lado do planeta.Importância do conhecimento de Relações Internacionais Eis. o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas. portanto. Na Administração Pública. se você não é parte da solução.com/br/flashplayer/) O Brasil e as Relações Internacionacionais Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial. No Poder Legislativo. grandes desafios! E é nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento das relações internacionais. É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. que situações ocorridas na China podem afetar a nós. nos dizeres de Gilberto Freyre. Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário internacional. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos setores da nossa sociedade. não devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um povo multiétnico. por ocasião de curso presencial ministrado no ILB.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.leg. Atualmente. é parte do problema! Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves. o Brasil não pode se furtar a ter um papel de destaque nas relações internacionais. com suas peculiares “características antropofágicas”. Finalmente. somos uma nação tida como pacífica e respeitadora do direito internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. essa demanda é mais evidente. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get. com condições e pretensões de se tornar uma grande potência. a sociedade internacional está tão interligada. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil começou a se fazer mais presente. tão integrada em um processo de globalização. é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores http://saberes. Hoje. quem não estiver informado sobre o que ocorre no mundo poderá ver-se bastante limitado. Daí que o problema do outro passa a ser também um problema nosso. e o bem-estar de cada homem passa a significar o bem-estar de toda a humanidade. Aumente o som de seu equipamento e bons estudos! Duração: 5min29 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. e estando entre as maiores economias do planeta. pessoal e profissionalmente. principal via para a Europa e a África. Nesse contexto. Ademais. As transformações e acontecimentos no mundo globalizado farão cada vez mais parte de nosso dia a dia.php?id=13651 10/78 . 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. Um sítio interessante para o estudante e o profissional de Relações Internacionais é o Inforel. política interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa.php?id=13651 11/78 .br/mod/book/tool/print/index. http://saberes. além de artigos com análises interessantes. que traz cobertura atualizada das questões gerais da área e também de defesa nacional.leg.senado. Afinal. O relacionamento entre Estado e indivíduo. http://saberes. concessão de asilo político.As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. também os direitos e garantias fundamentais estão intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de sua história. que o mundo moldou uma cultura de direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. trouxe como princípio a incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte. os EUA e a Rússia. por exemplo. cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia. sinais de uma crescente interdependência até mesmo no campo jurídico. Há. 7 . decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva. Ainda no que concerne à Lei Maior. não intervenção. vê no que chama de “fator direitos humanos” um dos principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção internacional no pós-Guerra. no art. portanto. estabelece.leg. Quando não há dispositivos legais expressos. prevalência dos direitos humanos. e o Tribunal Penal Internacional nada mais é que uma expressão e consequência disso. os princípios que regem as relações internacionais do Brasil: · · · · · · · · · · independência nacional. que tradicionalmente foi objeto de preocupação de leis internas. por exemplo. E a violação a esses direitos gera repulsa da comunidade internacional. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países.senado. defesa da paz. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra. repúdio ao terrorismo e ao racismo. em todo o planeta. Na década de 1990. já em seu Título I. as cortes constitucionais têm dado o rumo da interpretação.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. não mais pode ser considerado uma questão puramente doméstica dos países. Vereshchetin (1996). a França. 4º.br/mod/book/tool/print/index. A Constituição da Rússia de 1993. caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras. referente aos “Princípios Fundamentais”. igualdade entre os Estados.php?id=13651 12/78 . solução pacífica dos conflitos. por exemplo. A Carta Magna. autodeterminação dos povos. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque. Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e defesa nacional. II . No Senado Federal. na esfera do Legislativo. dos principais temas da área.senado. O art.br/mod/book/tool/print/index. mais importante se faz o conhecimento. a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). quaisquer tratados que o Brasil celebre com outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente passar pelo aval do Congresso Nacional antes de serem ratificados. 8 . http://saberes. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I . Compete também ao Senado autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.. composta por 19 membros titulares e 19 suplentes. é competente para tratar das questões que envolvam as relações internacionais do País. (. a celebrar a paz. Em nosso sistema jurídico-político. do Distrito Federal e dos Municípios. as competências exclusivas do Congresso Nacional: Art.resolver definitivamente sobre tratados. autoridades máximas das missões diplomáticas brasileiras..) E o Senado Federal. logo nos dois primeiros incisos.O Poder Legislativo e as Relações Internacionais As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. tem atribuições mais específicas. pois é a Casa Legislativa que avalia e aprova nossos embaixadores. ressalvados os casos previstos em lei complementar. 49. A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações internacionais. a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer.leg. designados para representar o País no Exterior.php?id=13651 13/78 .autorizar o Presidente da República a declarar guerra. por sua vez. acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. por exemplo. FAO. Assim. as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a necessidade de atuarem em uma economia globalizada. há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações Internacionais e Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU. Para se tornar um diplomata no Brasil.O Estudo das Relações Internacionais Antes de concluirmos a primeira Unidade. secretaria. Além disso. outro leque de alternativas se abre aos que possuem formação na área. sobretudo. podendo chegar a Embaixador. autarquia e empresas públicas. Ao assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em tempo real.php?id=13651 14/78 . E o perfil do internacionalista se destaca. Filosofia. é necessário o ingresso na carreira por meio de concurso público. UNESCO.org No serviço público.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. alguns véus foram retirados. Antropologia. Sociologia. O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito. de questões internacionais contemporâneas. convém apresentar algumas considerações gerais sobre o estudo das relações internacionais como disciplina. OPEP. as áreas de atuação do profissional da área e a realidade brasileira. Greenpeace. No Brasil. WWF e outras. o diplomata inicia uma carreira como Terceiro Secretário.senado. sempre há uma “assessoria internacional” em cada ministério. Estadual e Municipal. Na iniciativa privada. além da Chancelaria. submetido a um período de treinamento no IRBr. uma das mais conhecidas é a diplomacia. com isso.leg. Administração. as relações internacionais são aplicáveis em diversas áreas. O diplomata é o legítimo representante do Governo e da nação junto a outros povos e organizações internacionais. Aprovado no concurso. Brasília tem representação da maior parte dos organismos internacionais dos quais o Brasil é membro e. Estatística e. Constata-se a presença de profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado. que afeta países nos hemisférios Norte e Sul. há profissionais dessa área atuando em vários setores da Administração Pública e da iniciativa privada. em um mundo cada vez mais integrado econômica e financeiramente. e. 9 . O terrorismo passa também a ser uma questão global. as empresas precisam de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema internacional. OMC. História. Aquelas que desconsideram essa percepção frequentemente acabam por sucumbir. OEA. No campo profissional. e aos poucos tomamos consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. Em termos de carreira. promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. http://saberes. O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Palácio do Itamaraty Fonte:www.inforel. Afinal. Além das grandes corporações multinacionais e transnacionais. Economia. no Ocidente e no Oriente.br/mod/book/tool/print/index. OIT. o profissional de relações internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos vários órgãos da Administração Federal. o mercado do profissional de relações internacionais se amplia na capital federal. a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo. as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 10 . Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX. os temas centrais eram: O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica? O que leva os Estados à guerra? É possível se evitar o conflito entre os povos? Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses entes? Claro que. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. como o Direito. desenvolvimento.br/mod/book/tool/print/index. Mesmo assim. Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso. na década de 1970. e evolui à medida que também evolui a complexidade da sociedade internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam constituir uma nova área do conhecimento. conflito sem precedentes até então. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras ciências. Até meados da década de 1990. de carreira de grata expansão. a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente. a Sociologia e a Ciência Política. portanto. integração.Relações Internacionais como disciplina independente Até o início do século XX.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Trata-se. Naquele contexto. sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma grande potência entre seus pares. paz. vinham à baila. são dezenas de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo o País. como cooperação. fazendo da capital da República o referencial brasileiro em estudos internacionais.senado. De fato. o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas.php?id=13651 15/78 . as relações internacionais não eram estudadas como disciplina independente. Hoje. direitos humanos e globalização. Daí o aparecimento das primeiras cátedras de Relações Internacionais pelo mundo. nas principais universidades europeias e norteamericanas. que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas. havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Atualmente. em seguida. O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na Universidade de Brasília. no decorrer do século XX. independente e com autonomia para gerar suas próprias percepções da realidade. passemos às teorias e aos principais conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações Internacionais. realize as atividades propostas e.leg. À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações entre os Estados mais diversificadas. http://saberes. a Economia. percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos atores em um cenário internacional. Assim. sobretudo no território europeu. e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam diretamente no cotidiano das pessoas e na política interna das nações. hoje há cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado. relações estas que envolviam conflito e cooperação. senado.br/mod/book/tool/print/index. • Potência. • Forças Profundas. o aluno deverá ser capaz de identificar e definir os seguintes conceitos fundamentais de relações internacionais: • Sociedade Internacional. • Hegemonia. • Atores.leg.php?id=13651 16/78 .22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 2 . Tenha um bom aproveitamento! http://saberes. • Sistema Internacional. que devem servir de guias para o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista.Conceitos Fundamentais Ao final desta unidade. Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos. Hegemonia. Antes de iniciar o estudo desta unidade. seria complicado tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses conceitos. Sistema Internacional. restrições de diversas naturezas – históricas. Apesar da ausência de uma autoridade central no cenário internacional. frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente. os Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a. vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses conceitos. Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade. e constituídos por. no século XX.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Forças Profundas. Atores. 2 . disponíveis no sítio do ILB.senado. http://saberes. Dentre eles ressaltamos: Sociedade Internacional. mais tarde. podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução histórica das relações entre os grupos. povos e. sugerimos que assista atentamente aos dois vídeos seguintes do Conexão Mundo. legais e morais.leg. com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos XVIII e XIX e o seu declínio. Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse conceito? A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século XVII – permite direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. Nesse sentido.Conceitos Fundamentais Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos fundamentais de Relações Internacionais.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 17/78 . Sociedade Internacional Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade Internacional. entre outras. passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea. A seguir. sistêmicas. Num primeiro momento. “Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais”. Estados-nações organizados em âmbito espacial determinado. Potência. br/mod/book/tool/print/index. O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780. pelo filósofo inglês Jeremias Bentham. 3 . inserido em um Sistema Internacional da Antiguidade. às cidades-estados e aos impérios. a “Cristandade”.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.php?id=13651 18/78 . refletia mais um conjunto de sociedades regionais localizadas. estenderam-se às relações entre os povos. culturais ou comerciais entre si. desde o século XVI. para os europeus. tornar-se o centro de uma sociedade global. e estes. não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. até então simbolizados e conduzidos pelos monarcas. Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta é que se estrutura uma Sociedade Internacional global. Assim.senado. com uma diversidade de povos e reinos autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas. como o extremo oeste do continente euro-asiático. conhecido como Europa. o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado. muito pelo contrário. Essa é a época do apogeu dos Estados nacionais. A Sociedade Internacional representava. Era uma época em que as forças naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente. onde o súdito tornou-se cidadão e as relações entre os Estados. território e soberania). exercendo relações políticas. vistos em um contexto macro e nas relações entre si. tem-se uma Sociedade Internacional embrionária. com clareza. Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da soberania. em sua obra já clássica Ascensão e Queda das Grandes Potências. O Estado soberano era o principal ator internacional. a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados.leg. em pouco mais de dois séculos. nos moldes como os concebemos hoje (compostos de povo. muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência umas das outras. Afinal. em sua obra Princípios de Moral e Legislação. Das tribos passaram-se aos reinos.Sociedade Internacional Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais. que só se deu. O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são necessariamente relações entre os Estados. e a “Sociedade Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o principal ator. Paul Kennedy. há dois séculos. com seus paradigmas e princípios seculares. com o início do declínio do absolutismo no continente europeu. analisa. seja pela força da economia e do comércio. http://saberes. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a esse respeito. subjugando forças tradicionais como a China e o Império Otomano. seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais europeias. formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo. Era um período em que a ideia de nação ainda estava muito ligada à figura do soberano. Esta passou a residir essencialmente na nação. consegue expandirse pelo mundo e. Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional. leg. de todos os atores que a compõem ou a compuseram e das forças que influenciam a sua atuação. Estados. Juan Carlos Pereira (2001) apresenta uma definição mais precisa e completa: “um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados. apresentaremos nosso conceito de Sociedade Internacional. ao estudo dos componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações entre eles. que podem ser reunidos em três grandes grupos (CERVERA.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional. http://saberes. afirma não só ser possível. é simplesmente impossível definir Sociedade Internacional. pois a Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo. duradouras e desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”. autores. vejamos alguns conceitos de autores renomados.senado. Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder social autônomo. que põe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados. eles não deixam de sua definição de Sociedade Internacional. Os teóricos essa ótica. Antes. reinos. cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional. Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que vivem sobre a terra”. para esses formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. então. De qualquer maneira. 4 . Qual é. o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de “humanidade”. do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em contraposição a outros grupos sociais. A nosso ver. mas também necessário. independentemente de suas origens e do grupo ou povo a que pertence. que é baseada na corrente historiográfica. territorialmente ou geograficamente organizados e com poder de decisão. que mantêm entre si relações recíprocas. Hedley Bull (2002). entre os quais se destacam os Estados. Para o autor. Percebemos uma definição genérica e abrangente. portanto. Impérios e nações. Desmembremos esse conceito para melhor compreensão. Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas. o conceito de sociedade internacional? A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos teóricos das Relações Internacionais.br/mod/book/tool/print/index. definiu Sociedade Internacional como um “grupo de comunidades políticas independentes que não formam um sistema simples”. para que se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se desenvolvem em seu meio. porém. Uma vez que concordamos com essa percepção. Limitam-se. como as nações ou os Estados nacionais.php?id=13651 19/78 . com base em uma análise sistêmica. povos. intensas. majoritário. assim. pela qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e de sua evolução desde a Antiguidade. enfim. Para os teóricos do primeiro grupo. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista. Por fim. proceder à definição do termo “Sociedade Internacional”. Por a pergunta que se busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante.Sociedade Internacional Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos. mas apenas para instrumentalizar suas explicações.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. como veremos O terceiro grupo. a apresentar adiante. 1991). os atores não governamentais interestatais (i.senado. Não obstante. organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator internacional. organizações não governamentais e empresas multi. entre outros) e os indivíduos.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. algumas de natureza familiar. http://saberes.br/mod/book/tool/print/index. no passado. não sendo à época Atores internacionais. é necessário que a atuação desses entes tenha destaque em escala global. pequenas organizações comerciais. tornaram-se Atores internacionais. organização. A percepção desses atores varia conforme o tempo e a corrente teórica que os identifica. qualquer grupo. uma associação estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país não é um Ator internacional. na atualidade. grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator Internacional. Ator internacional é toda autoridade. expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na Sociedade Internacional. Grandes empresas transnacionais de hoje foram.e. Esses entes nada mais são do que os Atores internacionais. Por exemplo.. que atuavam exclusivamente no interior de seu país de origem.Ator Internacional A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um conjunto de entes.e transnacionais.php?id=13651 20/78 . Para nossa classificação. os atores governamentais interestatais (as organizações internacionais). Não são todas as pessoas. grupo ou pessoa que representa ou pode vir a representar um papel de destaque na Sociedade Internacional. mas podemos destacar aqueles que. À medida que essas empresas cresceram. 5 . podem ser considerados os mais importantes: os Estados nacionais.leg. leg. ainda. portanto. em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um dado momento. o sistema internacional como um todo. também. A ideia de sistema. a Sociedade Internacional tem características suficientemente estáveis para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas relações dentro de certos padrões. Raymond Aron. nervoso etc. Assim. http://saberes. está relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à interdependência entre esses componentes. o que alguns autores defendem corresponder ao mundo pós-1945. Pearson e J. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o conjunto de inter-relações entre os Atores internacionais como sujeito a padrões e normas – enfim.php?id=13651 21/78 . a forças profundas –. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas política.senado. Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia internacional. tendente a um resultado”. Por exemplo. em que o aspecto relacional é importante. Em contrapartida.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Cabe aqui. 641): Sistema Internacional. à Europa do pós-1815. que remetem ao conjunto mais amplo. em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações. no qual vários subsistemas – circulatório. Martin Rochester (2000. de acordo com Frederic S.br/mod/book/tool/print/index. econômica. “conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias. por exemplo. que alguns defendem corresponder. Sistema pode ser conceituado como “conjunto de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma relação” ou. pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano. Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de Sistema Internacional para identificar certos períodos históricos. apresentar um conceito de Sistema Internacional. p.Sistema Internacional O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à atuação sistêmica na esfera internacional. recorreu ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. 6 . social e tecnológica. Nesse sentido. As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. Sistema Internacional traduziria a existência de vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se harmonizam no todo. Adotamos uma abordagem sistêmica. fator econômico. fator político-jurídico e fator militar-estratégico. sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que elas impõem à sua ação. De acordo com esses historiadores. organizações internacionais. Todavia. o terceiro elemento fundamental são as “forças profundas”. fator ideológico/sistema de valores. obra-mestra da historiografia francesa das relações internacionais. de Arno Wehling: Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. http://saberes. indivíduos. Portanto. empresas transnacionais. 2001. lhes determinaram o caráter. os movimentos demográficos. quando ele possui quer dons intelectuais. tecnológicos etc. as forças profundas nada mais seriam que determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades. lançado no Brasil em 2000. p. de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional. Identifica alguns desses fatores: fator geográfico. entre outros – que são influenciados pelas forças profundas – fatores geográficos. demográficos. Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as Forças Profundas. fator demográfico. a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. políticos.leg. 44). ideológicos. organizações não governamentais. religiosos.php?id=13651 22/78 . as grandes correntes sentimentais – todas essas forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos humanos e. Além do clássico Histoire des Rélations Internationales. os interesses econômicos e financeiros. os traços da mentalidade coletiva. quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites. – em suas ações sistêmicas na esfera internacional.br/mod/book/tool/print/index. não pode negligenciá-las. de São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de Duroselle. fator tecnológico. em grande parte. pode tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus próprios fins. As condições geográficas. migratórios. nas suas decisões ou nos seus projetos. caberia destacar dois livros de Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro. Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA.senado. A ideia de “forças profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais cujos principais expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. quer firmeza de caráter.Forças Profundas Finalmente. 7 . O homem de Estado. econômicos e financeiros. e quase pode ser definido como a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”. Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional. designava exclusivamente URSS e EUA. à época das Guerras do Peloponeso. Esses países. Assim. Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência Dominante. é o de Superpotência. Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra todos os rivais juntos. conforme definida por Wight. cabem. Há inúmeras definições para Potência. M. Potências Dominantes e Potências Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande Potência. ou seja. a capacidade de destruição massiva do planeta é o elemento central do conceito de Superpotência.Potência Além dos conceitos já tratados. neste curso introdutório. como Atenas. assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de Varsóvia). algumas observações – ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades. o Estado ocupa papel de destaque. mas o aspecto de liderança de um bloco de nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político-econômico-ideológicosociais não pode ser desconsiderado. o Império Romano. importante para a compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação.leg. a Espanha de Carlos V e de Filipe II. http://saberes. Segundo Martin Wight (2002). Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o poderio exclusivamente militar. Smouts.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX. Esse termo.br/mod/book/tool/print/index. E cita exemplos ao longo dos séculos. mas existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Passemos a eles.php?id=13651 23/78 . pretendem oferecer um modelo universal de sociedade. cunhado com o advento da Guerra Fria. Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo. Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências: têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo. tinham status único na comunidade das nações.senado. Potência O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de atores. inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional e à influência político-ideológica mundial. De fato. como aquele Estado “mais ou menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um ou mais âmbitoschaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”. Nesse contexto. uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de influência significativa no Sistema Internacional. Grandes Potências. em virtude de suas capacidades nucleares – com poder de destruição global –. capaz de causar danos diferenciados dos armamentos convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de outros meios de destruição em massa. Em última análise. Potências Mundiais e Potências Menores. a França de Luís XIV. por sua vez. 8 . Rafael Calduch Cervera (1991). a diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores. cita o conceito de Potência Internacional segundo C. Martin Wight relaciona Potências Dominantes. dispõem de amplo arsenal. De fato. na produção de bens de consumo. Do ponto de vista econômico. Rússia. O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a ideia de hegemon. na segunda metade do século XXI. por exemplo. consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para outras regiões do planeta. Seu grau de influência no sistema varia significativamente. Ademais. como a cultura. uma vez que esta. o conceito de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento. uma potência tão poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as demais nações para contê-la. Alguns autores vislumbram a possibilidade de a China vir a ocupar. restou. disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-se a potência dominante. o mesmo se podendo dizer das economias asiáticas. Finalmente. o lugar da URSS. envolve um misto de coerção e consenso. Assim. ou seja. os EUA não encontram. não pode ser chamada de Superpotência. Os EUA são um bom exemplo disso. do que propriamente por meio do hard power (poder militar). De qualquer maneira. Japão e Grã-Bretanha.senado. ainda. apenas a coalizão das grandes economias europeias pode fazer frente aos EUA. Esse aparato não se resume ao acervo das armas de destruição em massa. poderiam ser relacionadas desde as Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e Egito. convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status. As potências menores constituem a maioria.Potência Atualmente. são hoje o único Estado com as características básicas da superpotência.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta. não tem pretensões – nem condições – de projetar um modelo sócio-político-culturalideológico seu para o mundo. algo sem precedentes na História. adversários militares à altura. De fato. como veremos a seguir. a Economia e até o Direito. e. ainda não há que se falar na China como Superpotência. 9 . França. Entretanto. há outros atores estatais com capacidade significativa de influência na Sociedade Internacional. a hegemonia. A Rússia. de fato. por exemplo. e são a Grande Potência econômica e a liderança mundial. como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões. Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –. Alemanha. exatamente porque também não tem condições de aspirar a qualquer pretensão hegemônica no sistema internacional. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não encontra precedentes. a alcançar esse objetivo. Como exemplos atuais de Grandes Potências teríamos China. chegando. por sua vez. essa nação tem-se tornado tão poderosa que já se cunha o conceito de Hiperpotência. a estrutura social interna. considerados os vencedores da Guerra Fria. essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas Potências disputariam poder em um jogo de influência. sua influência na política internacional é marcante e.php?id=13651 24/78 . A concepção de hegemon ultrapassa a esfera exclusivamente político-militar. A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. com o colapso da URSS. muitas vezes. os EUA. http://saberes. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência Dominante. no início do século XXI. Além da potência hegemônica. mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operação militar em mais de um teatro no globo. apenas uma Superpotência: os EUA. Esses são as Grandes Potências.br/mod/book/tool/print/index. Assim. as quais. de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade Internacional em esferas diversas. além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio de Estados como EUA e Rússia. trata-se de uma Economia de peso diante do sistema. no planeta. e alguns analistas já começam a analisar a política externa estadunidense como uma política de império. Além disso. inclusive. Nesse grupo.leg. nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado. como fazia a URSS. não têm grandes pretensões internacionais de projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais. um Estado pode ser classificado como Microestado. Potência Média.br/mod/book/tool/print/index. Participantes das atividades comuns da vida internacional. esses entes ganham força quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde tenham poder de voto igual ao de outros Estados. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado de Mônaco e a República de San Marino. sua envergadura ideológicas ou seu peso militar. As Potências Locais são as mais numerosas. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear. Esses países exercem influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos. diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao afirmar que estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias capacidades. Síria. Egito. Nigéria.senado.Potência Max Gounelle (1992) comenta que. à medida que dispõe de capacidade de influenciar de maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares. no entanto. Encontram-se constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações internacionais. Potências com interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. em sua maioria. Como exemplos para essa categoria. a Alemanha. econômico.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. ou seja. Ao chamar Potências como China e Grã-Bretanha de Potências Médias. fundadas em seus potenciais materiais ou demográficos. URSS e EUA. Grande Potência ou Superpotência. De maneira geral. A França. Potência Local. Brasil. econômico e até social. Paraguai. Camboja. Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos dias e que. diversos Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. temos países como Bolívia. tiveram origem na formação histórica dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonização. o que Gounelle relaciona como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de Grandes Potências. http://saberes. Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época. cultural. esses entes têm como objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. Albânia e Moçambique. diplomático). a China e o Japão estariam nessa categoria. 10 .leg. De fato. São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas.php?id=13651 25/78 . Apesar de minimamente influentes na Sociedade Internacional. Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Gounelle. Daí que. Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis. Assim. por parte das Potências. da hegemonia na Sociedade Internacional. da mesma maneira que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais atores. o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo de nações. apesar de ser o Estado mais poderoso no cenário internacional. cujo interesse é manter o status quo do sistema. Para isso. muda também a liderança no grupo. É claro que tal liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário internacional. significa “liderança”. Um Estado que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. À medida que é alterada essa relação. Uma relação que se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica. Não acumule dúvidas. com base em recursos de poder. http://saberes. Pode ser regional ou global.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Essa hegemonia. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coerção e consenso. o hegemon só pode exercer sua liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em um meio internacional. ordem que deve ser percebida pelos demais entes da comunidade como positiva a seus interesses. no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade. Procure saná-las logo que apareçam.Hegemonia Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra International Relations: the Key Concepts. diante de outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o hegemon. portanto. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica. cultural ou ideológica. toda relação de poder tem por base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. econômica. presume-se que haja uma certa ordem na Sociedade Internacional. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre sua liderança. pode ser militar.senado.php?id=13651 26/78 . o hegemon deveria dispor de alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e poder político baseado no poder militar. As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa. além de política. 2002). 11 . o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coerção. de Martin Griffiths e Terry O’Callaghan (London: Routledge. A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon. o hegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema. então. Hegemonia.leg. Para o exercício da hegemonia. em Relações Internacionais. Em sentido amplo. em grego. Hegemonia consiste.br/mod/book/tool/print/index. Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as economias ocidentais agonizavam por causa da crise de 1929. a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. ordem e uma moeda estável para o comércio financeiro. uma infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei. H. Gilpin argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da permuta internacional dependem da existência de uma “hegemonia”. imaginava-se que a União Soviética se tornaria uma grande potência econômica. mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada como ameaça à hegemonia econômica dos EUA. 12 . essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica.senado. Deve-se esclarecer. a economia soviética crescia a taxas espantosamente altas. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na economia internacional no século XIX. de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais. que.Hegemonia Para Robert Gilpin. ordem e moeda estável. era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra Fria. Isto inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos. Por definição. p. por coerção. que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais. As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight. A hegemonia político-ideológica no planeta.php?id=13651 27/78 . os governos fornecem tais bens. 26-27): (. taxas e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar.br/mod/book/tool/print/index. regulamentos. os mercados dependem da transferência. Conforme didática explicação de Griffiths (2004. http://saberes. além de um meio de permuta estável (dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e serviços. todavia. ao tratarmos do debate teórico travado entre neorrealistas e neoliberais. Mas os mercados dependem do Estado para lhes dar. durante a maior parte da Guerra Fria. como lei. Baseando-se na obra de Charles Kindleberger e na análise de E. não existe Estado no mundo capaz de multiplicar sua provisão em escala global.) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não houver um Estado que forneça certos pré-requisitos.leg. por meio de um mecanismo de preço eficiente. É claro que. Em termos gerais.. por exemplo. como lei. e o hegemon nada mais é que a Potência Dominante. É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4. Dentro das fronteiras territoriais do Estado. internacionalmente.. Duração: 2min55 Caso não consiga v isualizar: 1) seu acesso ao Y outube pode estar bloqueado. 13 .Hegemonia Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia.br/mod/book/tool/print/index.adobe.senado. Artigo interessante para concluir os estudos desta Unidade é o texto de João Marques de Almeida.leg. sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo. 2) pode precisar atualizar o Flash Play er (http://get. http://saberes.com/br/f lashplay er/) Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentais para a compreensão das unidades seguintes e para a discussão dos temas tratados neste curso.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. atente para esta aula do Professor Joanisval.php?id=13651 28/78 . identificar os principais debates teóricos da disciplina Esperamos que você tenha excelente aproveitamento em seus estudos! http://saberes.leg.br/mod/book/tool/print/index. o aluno deverá ser capaz de: indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das Relações Internacionais no Século XX.Correntes teóricas das Relações Internacionais Ao final da unidade.senado.php?id=13651 29/78 .22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 3 . as práticas dos agentes e dos atores na Sociedade Internacional levaram à formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise convencional realista das relações internacionais. Arnold Toynbee. a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada. com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nação. conhecido historiador. é o que mais próximo existe de uma teoria política das relações internacionais. e faz-se necessária uma coalizão das Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Sob o argumento de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a guerra deveria ser evitada a qualquer custo. Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados. a teoria defende que o balanço ou o equilíbrio de poder é a escolha preferível e." A Teoria do Equilíbrio de Poder Começamos por essa teoria por uma razão simples: para muitos estudiosos da política internacional. no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. baseadas em uma nova corrente teórica. portanto. a teoria é chamada a ministrar essas explicações. no caso das ciências sociais. como em outras ciências. Foi. a qual se fundamentava no Direito Internacional. É na Grécia Antiga. Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado para prevenir predominância. Quando um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais. No campo das ciências sociais. em virtude dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública internacional.Teorias de Relações Internacionais O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método científico (CERVERA. teleologia e prospecção. 2 . portanto. p. http://saberes. e a arriscar algumas predições. hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e. Na era moderna. em virtude de um objeto de estudo tão complexo. Nas palavras de Tomassini (1989. Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais. Claro que. também conhecida como Teoria do Balanço de Poder. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário internacional e no equilíbrio de forças. 55): "A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. certamente têm em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem.senado. na solução pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais. como resultado.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. a Teoria do Equilíbrio de Poder. que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria de Relações Internacionais. resulta num equilíbrio geral). História da Guerra do Peloponeso. Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso. a Teoria do Equilíbrio de Poder.php?id=13651 30/78 . pretendemos apresentar apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas. o imediato pós-guerra foi marcado por novas concepções sobre as relações internacionais. multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. pressupondo o Estado como um ator racional. na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de Relações Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o tema em um contexto de disciplina autônoma. 1991). pondo ordem ao mundo heterogêneo e muitas vezes incompreensível dos fatos isolados. Exige uma explicação de por que ocorreram. conforme Karl Popper.leg. há uma perturbação no equilíbrio. uma mescla de causalidade. como será visto nas Unidades 2 e 3 do módulo seguinte deste nosso curso. a tendência do sistema internacional. chegou mesmo a dizer que tal teoria constituía uma “lei” da História. diversas foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. conjecturas) sobre seu comportamento provável no futuro. Assim. A teorização sobre as Relações Internacionais surgiu quando se buscou explicar a existência e as condutas dos entes internacionais. com a obra de Tucídides. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).br/mod/book/tool/print/index. que efeitos causaram e algumas predições (ou. A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação de equilíbrio. Como não é este um curso de teoria. a teoria internacional dominante se orientava pelos caminhos do Idealismo. ademais. Importância significativa foi dada pelos idealistas ao Direito Internacional e às instituições jurídico-normativas que garantissem a ordem nas relações entre os Estados: ganhava força o institucionalismo nas relações internacionais. foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações (SDN).22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. O estudo de Relações Internacionais. mas. contribuía para acentuar o otimismo frente ao futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os fundamentos de um sistema dirigido para preservar a paz. entre os Estados? No que se refere ao contexto internacional. do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica e de propostas de desarmamento. ausência de governo. Anarquia é. 3 . como evitar o conflito. em escala mundial.senado. a Primeira Guerra Mundial. sim. o clima nunca poderia ter sido mais favorável ao Idealismo. O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se em estado de natureza. As enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis. sobretudo bélico. lembra Arenal (1984).br/mod/book/tool/print/index. http://saberes. ou melhor. sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson. o estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas. Para estimular ou obrigar esses Estados a seguir tais princípios. como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de Relações Internacionais. surge em um contexto do final de um conflito muito marcante. Pregava-se. e reflete a crescente preocupação daqueles que então começavam a teorizar sobre as relações internacionais: Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional.php?id=13651 31/78 . Anarquia internacional não significa “desordem”. deveriam portar-se de acordo com os mesmos princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. Assim. acreditavam os idealistas.leg. mostrou-se como uma ciência da paz. ausência de um governo central superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas a si mesmos e a outros Atores do sistema). A Grande Guerra havia demonstrado a fragilidade da tradicional diplomacia europeia como meio para assegurar a ordem e a paz internacional. ou seja.A fase idealista O Idealismo. Nesse contexto. dos projetos de organização internacional. Os Estados. pelo advento de uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada como instrumento de política dos Estados. superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em âmbito internacional que ordene as relações entre os povos. A SDN. também. As nações devem buscar. portanto. o interesse comum de todos os povos em alcançar a paz e a prosperidade. de anarquia internacional. destarte. seria fundamental que se institucionalizasse. com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança coletiva e um fórum em que os Estados pudessem resolver suas contendas de maneira pacífica. como disciplina autônoma. portanto. em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo Tratado do Governo Civil). na verdade. Segundo Inis L. 4 . nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. essas três teorias correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma centralização cada vez mais repleta de autoridade e poder (no sentido balanço de poder > segurança coletiva > governo mundial). do século XVII em diante. em que se explora. é uma tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia de igualdade formal. é particularmente importante a visão construída por Hugo Grócio sobre a sociedade internacional a partir da teoria do contrato. já ter iniciado a moldar uma concepção anárquica do mundo.senado. a do equilíbrio de poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva. Todavia. em seguida. em Leviatã. Historicamente. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade. em que o ponto de partida é a dicotomia anarquia x ordem. mas a minimiza para efeitos de teorização. o qual não alimenta uma tensão perpétua. apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de poder. Apesar de Tucídides. é com Thomas Hobbes. ou potencial solidariedade. A teoria do equilíbrio de poder. e o mundo é uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso normativo suficientemente amplo e intimidador para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. Claude. o que acabaria atenuando a anarquia internacional. a história do sistema de Estados modernos.leg. defendeu ser o direito um conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa. O mundo nunca passou do segundo estágio. Segundo Lijphart (1982). duas visões de mundo opostas.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. o qual foi. Grócio. Para ele. como fazem os realistas). e procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos Estados de irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só pode ser legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade internacional como um todo.A fase idealista O Realismo e o Idealismo encerram. como se observa. Para a teoria da segurança coletiva. A tese de Grócio parte da noção de anarquia. http://saberes. entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional. Segundo a teoria do governo mundial. o estado de natureza anárquico a respeito das relações internacionais. com História da Guerra do Peloponeso. é necessário celebrar um contrato social internacional para instituir um governo mundial soberano e único. desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra. Para as Relações Internacionais. para pôr fim à anarquia. com John Locke. Grócio. o foco da maior parte dos autores idealistas. o melhor seria que os Estados se empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo agressor.br/mod/book/tool/print/index. as noções de soberania e de anarquia internacional inspiraram três teorias interligadas: a do governo mundial. citado por Lijphart. dado que a anarquia é responsável pela tensão internacional. considerado o pai do Direito Internacional. na verdade. ao contrário. mas cria uma ordem internacional. existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas. defende que a luta pelo poder entre os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio. Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados soberanos. relação esta reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”. soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas Hobbes. pela primeira vez. e.php?id=13651 32/78 . antes mesmo de surgirem os conceitos de soberania e a tese do estado de natureza. a ciência política internacional tem sido marcada e francamente utópica. o sistema internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio idealista da segurança coletiva. o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento idealista geral e que continha a resposta de Wilson: “se não funcionar. o substituíram. fruto da analogia com a alegoria da sociedade doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII. não com um argumento destinado a mostrar como e por que ele pensa que seu plano funcionaria. ou de algum outro projeto para uma ordem internacional. derivam da fórmula grociana. Carr cita. Para os realistas.A fase idealista A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial. e o objetivo-mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa doença do corpo internacional. ou para a ‘segurança coletiva’. em 1939. no qual o desejo prevalece sobre o pensamento. Para reforçar e ilustrar os conceitos acima. que concebe a sociedade internacional de forma ordenada. foi elaborado para remover a necessidade de equilíbrio ou balanço. ou com a demanda por alguma panaceia alternativa. a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de Nuremberg. a Liga das Nações foi um esforço específico da política internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio da segurança coletiva. em se falar de “balanço de terror”. Como outras ciências na infância. e noções de bipolaridade e multipolaridade. principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris).php?id=13651 33/78 .br/mod/book/tool/print/index.senado. Como resultado. essa sua remoção no período entreguerras teria sido justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. ou com uma declaração de que ele tem que ser posto a funcionar porque as consequências de sua ausência de funcionamento seriam desastrosas. analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam ao tratarem das interações entre os povos: O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente desde o princípio. Tal princípio. ainda." Após a Primeira Guerra Mundial. cuja primeira edição foi lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial. que sustentou a criação daquela Organização. mas sim. a generalização sobre a observação. típicas das análises de balanço de poder. teremos que fazê-lo funcionar!”. geralmente responde à crítica. autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939. Ela se encontra no estágio inicial.leg. a atenção está concentrada quase exclusivamente no fim a ser alcançado. 5 . nos períodos mais quentes da Guerra Fria. O desejo passional de evitar a guerra determinou todo o curso e direção iniciais do estudo. quando indagado se aquele modelo moralizante e pacifista funcionaria – e esclarece: "O advogado de um plano para uma força de polícia internacional. Neste estágio. Surgiu de uma grande e desastrosa guerra.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. http://saberes. Edward Hallett Carr. assista ao vídeo. Chegou-se mesmo. e poucas tentativas são efetuadas de uma análise crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. br/mod/book/tool/print/index.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Duração: 10min Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. 2) pode precisar atualizar o Flash P layer (http://get.php?id=13651 34/78 .senado.leg.com/br/flashplayer/) http://saberes.adobe. fazendo-se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como suportes da diplomacia. Os acontecimentos internacionais novamente foram essenciais para a mudança no aporte teórico. Abordaremos essa corrente com mais detalhes a seguir e também em unidade própria. internas e internacionais. cerca de 90% da produção acadêmica dos EUA em Relações Internacionais têm por fundamento a corrente realista. Carr assinalava que o significado último da crise internacional era "o colapso da total estrutura do utopismo baseado no conceito de harmonia de interesses". em um primeiro momento. acreditavam. os Estados poderiam assegurar a paz internacional e a solução pacífica das controvérsias. o apelo à opinião pública e à razão humanista.senado. tornando-se a corrente teórica mais relevante para explicar as Relações Internacionais. em relação a poder. consequência de comoções políticas.php?id=13651 35/78 . O Realismo representou. Atualmente. preconizada pelos idealistas. entretanto. mostrou-se incapaz de prevenir a guerra. a reação dos especialistas às insuficiências teóricas e práticas dos idealistas. Nesse período. a doutrina realista difundiu-se pelo globo. caracterizada por uma crescente instabilidade internacional. o grande eixo da conduta dos Estados soberanos no meio internacional.br/mod/book/tool/print/index. A pragmática nova geração de estudiosos do pós-Segunda Guerra Mundial baseava-se no pensamento clássico maquiavélico e hobbesiano e via na defesa dos interesses nacionais. Apenas por meio de um poder efetivo. marca a decadência da perspectiva idealista para a teoria das Relações Internacionais. e pelo fracasso do sistema da Sociedade das Nações e da política de apaziguamento das democracias europeias. tem-se o debate entre o Idealismo e uma nova corrente que ganhava força. O Realismo encontrou maior respaldo nos EUA. Desse país. Para os realistas. http://saberes.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. no contexto de convulsões internacionais dos anos trinta e da própria Segunda Guerra Mundial. o Realismo Político.A fase realista A década de 1930. 6 . econômicas e ideológicas.leg. alguns especialistas norte-americanos em política de segurança nacional repensam os postulados do realismo político. a partir dos quais uma linguagem científica das ciências sociais deve ser elaborada com base em dados empíricos. Para os behavioristas.br/mod/book/tool/print/index. O pós-behaviorismo constituiu.Behavioristas e pós-behavioristas A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também nos EUA como “resposta aos excessos do Realismo”. sobretudo por quererem converter o estudo da política em uma ciência segundo o modelo físico-natural. Trata-se de uma aproximação com a vertente behaviorista da Sociologia.php?id=13651 36/78 . Finalmente. a Teoria Sistêmica das Relações Internacionais e a Teoria dos Jogos. dirige sua atenção à conduta humana enquanto tal e aos problemas reais do mundo. Para Arenal (1984.leg. motivada pelo que David Easton (1969) chamou de “nova revolução da ciência política”. sem abandonar o enfoque científico do behaviorismo.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. A partir desse momento. o objetivo das Relações Internacionais é o comportamento dos atores.senado. Arenal identifica uma quarta fase. David Singer e G. com base no caráter impreciso e intuitivo dos mesmos para a análise da realidade internacional. com base na aplicação de métodos quantitativo-matemáticos. o tratamento quantitativo desses dados e. invade as Relações Internacionais. portanto. O estudo desse objeto deve atentar para parâmetros que envolvam fases como a coleta e a elaboração de dados. Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a uma profunda insatisfação com a pesquisa política e os ensinamentos behavioristas. convém destacar a Teoria da Tomada de Decisões. Essa corrente ficou conhecida como behaviorista ou científica. O novo movimento. finalmente. que trata de desenvolver uma ciência das Relações Internacionais. http://saberes. Entre os vários enfoques da corrente behaviorista. e que se convencionou chamar de pós-behaviorismo. O impacto dos métodos de pesquisa e os modelos das ciências físico-naturais são notados com força nas pesquisas que começam a pôr em marcha. O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos sessenta entre os tradicionalistas filosóficointuitivos (idealistas e realistas) e os científicos (behavioristas). da História ou da Filosofia. dando atenção a um objeto de análise que difere dos objetos das ciências exatas. Para os behavioristas.82): No início dos anos cinquenta. impondo-se o que se denominou perspectiva behaviorista ou conducista. 7 . a produção de modelos dentro do rigor científico das ciências exatas. rejeitando-se análises provenientes do Direito. As bandeiras levantadas pelos pós-behavioristas são ação e relevância. às motivações e aos valores subjacentes a toda conduta. Allison. Busca-se uma pesquisa com ênfase ao caso concreto. Os autores científicos mais renomados são Morton Kaplan. e buscam um enfoque de caráter científico capaz de dar resposta à complexidade das Relações Internacionais. p. os estudos devem estar sempre voltados para os casos concretos. uma onda de cientificismo. T. a síntese do debate entre as concepções tradicionalistas e as científicas. por exemplo. com os conceitos de processo de tomada de decisão e transnacionalismo. O Realismo trabalha mais com os conceitos de poder e equilíbrio de poder. dependendo. por exemplo. No pós-Guerra Fria. pelo veto – os interesses de poder da URSS e dos EUA iam em sentidos opostos e. o contraste entre a ação rápida na Guerra do Golfo e a inércia diante da crise iugoslava. e o estudo das relações Atores não estatais. o Globalismo com dependência. do “interesse” dos Estados para atuar. Pluralismo e Globalismo A tualmente. por consequência. a doutrina reconhece três grandes correntes teóricas das Relações Internacionais: o Realismo. ainda com o Professor Joanisval.br/mod/book/tool/print/index. Primeiro. que determinam internacionais. Assistindo ao vídeo abaixo. não possuem existência autônoma ou independente. em cada circunstância. Duração: 5min25 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. verdadeiras unidades soberanas. impediam a organização de funcionar. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get. e as organizações internacionais. você terá uma visão introdutória do surgimento do Realismo. porque são compostas de Estados. as o comportamento dessas organizações O Conselho de Segurança da ONU. por sua vez.Realismo. São também chamados de paradigmas teóricos. internacionais foca essa unidade política. Realistas citam. Vamos abordá-las brevemente a seguir.php?id=13651 37/78 . que era uma forma de “gerência” do poder na visão realista. análise. o Pluralismo e o Globalismo.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. um dos conteudistas deste curso. independentes e autônomas. 8 . o Estado é o ator principal no meio internacional.senado. http://saberes. e o Pluralismo.com/br/flashplayer/) Realismo O Realismo tem algumas proposições básicas. foi paralisado. dado que as variadas teorias que existem na disciplina podem ser encaixadas em uma dessas três correntes.leg. como as empresas multinacionais. durante a Guerra Fria. apesar da superação das rivalidades dentro do Conselho.adobe. a Organização ainda não funcionava automaticamente. são menos relevantes para a como a ONU ou a OTAN. após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. pré-julgamento e erros de percepção. Os realistas reconhecem a existência de problemas como falta ou ruído de informação. para os realistas.leg. Isso porque. Finalmente. A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganistão. e sua guerra preventiva contra o Iraque. Até mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA: vêm sendo negados a vários suspeitos. o que inclui preocupações de alta política relativas à sobrevivência do Estado (segurança) assim como os objetivos de baixa política ligados a esse campo.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Segundo. estrangeiros e nacionais. os democratas o criticaram constantemente por ter abandonado as questões de economia doméstica em nome da segurança nacional. dados certos objetivos. mas. à luz de suas capacidades. incerteza. para que o Estado fale uma só voz. durante os quatro anos do Governo Bush. os Estados tentam maximizar a probabilidade de atingirem qualquer objetivo que tenham estabelecido. finanças. resolvidas. os Estados são atores racionais. câmbio e bem-estar. contudo.php?id=13651 38/78 . Em outras palavras. Os Estados atuam para maximizar o interesse nacional. os Estados são atores unitários. pois. a segurança nacional é a questão de maior importância para a agenda de política exterior de qualquer Estado. pressupõem que os tomadores de decisão não medem esforços para alcançar a melhor decisão possível. Questões políticas e militares dominam a agenda e são chamadas de “alta política” (high politics). direitos garantidos constitucionalmente.senado. como comércio.br/mod/book/tool/print/index. em ampla afronta ao princípio do devido processo legal (due process of law). no final das contas. conquista de mais de dois séculos da sociedade norte-americana. evidenciam o conflito alta política x baixa política. http://saberes. Terceiro. trabalham com alternativas viáveis para alcançá-los. em 2003. por meio de uma análise de custo-benefício. São unitários porque quaisquer diferenças de visão entre os líderes políticos ou burocracias dentro do Estado são. por exemplo. como grupos terroristas (como a Al Qaeda). lembram os pluralistas. Nessa corrente normalmente se enquadram os neoliberais. em algumas questões. a Sony. gravada no curso presencial no ILB. Primeiro. também não se poderia negar o impacto de atores não estatais. ao contrário do que defendem os realistas. grupos de interesse e burocracias que competem entre si. por consequência. que veio para desafiar as proposições do Realismo. a IBM. como as FARC colombianas etc. podem tornarse. o Estado não é um ator unitário. de grupos de interesse. como a Petrobras. mas por uma combinação de atores por trás da definição da política externa. para os pluralistas. Para os pluralistas. a General Motors. sobre Pluralismo.br/mod/book/tool/print/index. Atualmente. como a WWF. Organizações internacionais. Competição. Elas são mais do que simples fóruns em que Estados competem e cooperam uns com os outros. e corporações multinacionais. O corpo de funcionários de uma organização internacional pode reter um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma agenda.adobe.senado. movimentos guerrilheiros.com/br/flashplayer/) Os anos de 1980 e 1990 deram força à corrente teórica conhecida como Pluralismo. 9 . e.leg. atores independentes. Similarmente. O Estado é composto de indivíduos. “China” ou “EUA”. ou http://saberes. Apesar de as decisões serem noticiadas como decisões de “tal país”. Essa decisão “estatal” pode ser o resultado de lobbies levado a efeito por atores não governamentais (como o lobby dos fazendeiros norte-americanos contra o fim dos subsídios agrícolas. é geralmente mais correto se falar em decisão feita por uma coalizão governamental particular. Segundo. Vamos lá! Duração:6min24 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. organizações não governamentais. entre várias outras. das empresas multinacionais. O Pluralismo é baseado em quatro proposições básicas. também desempenham papéis importantes na política mundial.php?id=13651 39/78 . atores não estatais são importantes na política internacional. 2) pode precisar atualizar o Flash P layer (http://get. uma agência burocrática do Executivo ou mesmo um único indivíduo. assim como ao fornecer informações sobre em quais representantes de Estado baseiam suas demandas (como acontece com o FMI em relação aos países que pedem empréstimos além de suas cotas. comerciantes de armas da máfia russa. Diferentes organizações podem apresentar perspectivas distintas em determinada questão de política externa.Pluralismo Assista à aula introdutória.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. a Exxon. precisam seguir o receituário do “consenso de Washington”). até mesmo na área comercial as ONGs têm sido chamadas a atuar. formação de coalizões e compromissos eventualmente resultarão numa decisão que será anunciada como uma decisão do país. A decisão não é tomada por uma entidade abstrata chamada “Brasil”. o Citicorp. 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais mesmo de um ente amorfo. uma vez que tal rótulo perderia de vista a multiplicidade de atores que formam e compõem a entidade chamada de “Estadonação”.br/mod/book/tool/print/index. http://saberes. o choque de interesses.senado. para os pluralistas. Assim. Alguns pluralistas. enfatizam o comércio e as questões monetárias e energéticas. Nesse sentido. ao contrário. os pluralistas desafiam a suposição realista de que o Estado é um ator racional. pressupõe-se. Outros. por exemplo. energéticas e ecológicas que têm surgido com o aumento da interdependência entre os países e as sociedades nos séculos XX e XXI. Embora a segurança nacional seja importante. Por fim.leg. focam a poluição e a degradação do meio ambiente. a opinião pública). as quais estariam no topo da agenda internacional. para os pluralistas.php?id=13651 40/78 . a agenda da política internacional é extensa. Terceiro. a barganha e a necessidade de compromisso que nem sempre levam a um processo de tomada de decisão racional. sociais. Dada a visão pluralista e fragmentada do Estado. Outros dedicam-se à solução do problema demográfico e da fome no Terceiro Mundo. os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta política (high politics) e baixa política (low politics) dos realistas. os pluralistas também se preocupam com um número variado de questões econômicas. o Estado não pode ser visto como um ator unitário. ainda. o burocrático. entender a estrutura geral do sistema global no qual esses comportamentos se manifestam. por sua vez.Globalismo Para introduzir o conceito de Globalismo. 10 . é necessário entender o contexto global em que Estados e outros atores interagem. antes. Primeiro. a hierarquia. Terceiro. Nesse sentido. é mais importante do que a anarquia. Os globalistas.br/mod/book/tool/print/index. o comportamento de atores individuais é explicado por um sistema que fornece limitações e oportunidades. Finalmente. A economia http://saberes. que constantemente restringe suas opções. dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema. os globalistas assumem que existem mecanismos de dominação que impedem que o Terceiro Mundo se desenvolva e que contribuem para o desenvolvimento desigual ao redor do planeta. O fator histórico chave e a característica definidora do sistema como um todo é o capitalismo. o societário e o estatal –. Numa extensão mais larga. Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questão básica de como a estabilidade pode ser mantida num macroambiente anárquico. mais ligados à linha marxista. Até mesmo os Estados socialistas precisam operar dentro desse sistema econômico. em seguida. Segundo.senado. os globalistas defendem que os fatores econômicos são absolutamente críticos para se explicar a evolução e o funcionamento do sistema capitalista mundial e a relegação do Terceiro Mundo para uma posição subordinada. militar. os globalistas realçam a importância da análise histórica na compreensão do sistema internacional. assista ao vídeo e. essa questão faz parte de um campo maior de análise: o desenvolvimento do capitalismo no mundo. na África e na Ásia não têm conseguido se desenvolver. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get. leia atentamente o texto que se segue! Duração: 3min25 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. A compreensão desses mecanismos requer o exame das relações de dependência entre os países industrializados do Norte (América do Norte e Europa) e os vizinhos pobres do Hemisfério Sul (América Latina. Apenas rastreando a evolução histórica do sistema é possível entender sua estrutura atual. Os globalistas são guiados por quatro proposições. é necessário.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.com/br/flashplayer/) Historicamente. Para eles. Os pluralistas se perguntam como mudanças pacíficas podem ser promovidas num mundo que é crescentemente interdependente política.php?id=13651 41/78 . se concentram na questão de por que tantos países do Terceiro Mundo na América Latina. África e Ásia). representa uma visão ignorada e desprestigiada da realidade internacional.adobe. social e economicamente. o Globalismo se relaciona com o surgimento do Terceiro Mundo na política mundial. Assim como os realistas.leg. como uma característica chave. Os globalistas argumentam que para explicar o comportamento em qualquer nível de análise – o individual. globalistas acreditam que o ponto de partida da análise é o sistema internacional. Para muitos globalistas. classes.br/mod/book/tool/print/index. podemos traçar o seguinte quadro. não necessariamente levando a resultados ótimos. organizações burocráticas. com questões sócio-econômicas tão ou mais importantes do que questões de segurança nacional. elites. que relaciona os três paradigmas das Relacões Internacionais: Realismo Unidades analíticas Pluralismo Globalismo Estado. Concepção de ator Estado unitário e racional. organizações internacionais. sociedades. questão mais importante.php?id=13651 42/78 . como de análise. grupos de indivíduos. Questões econômicas como mais importantes. Para fins didáticos. barganha. sociedades e atores não estatais como operadores do sistema capitalista. Política externa como padrões racionais de dominação dentro e entre Estados e sociedades. Estado não unitário e não racional: desagregado em componentes.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais funciona como uma espécie de “alta política” para os globalistas. Dinâmica comportamental Estado como maximizador de Conflito.leg. organizações não governamentais. http://saberes. processos transnacionais e de tomada de decisão em política externa. alguns dos quais com atuação transnacional. indivíduo. visto sob a perspectiva histórica do desenvolvimento do capitalismo. formação de seus próprios interesses na coalizões e compromissos nos política externa. corporações multinacionais. elites.senado. Estado não unitário e racional. Estado como principal unidade Estado e atores não estatais. Agenda Segurança nacional como Agenda múltipla. Não obstante. ou que o faz “somente de uma forma superficial”. http://saberes. 3) Racionalismo: considera que uma ordem política é racional e possível na Sociedade Internacional e que. outrossim.senado. A política de poder sempre foi e será o cerne das Relações Internacionais. com maior ou menor força. aos principais debates que marcaram a Teoria das Relações Internacionais no século XX. 3) Distinção entre os códigos de conduta moral do indivíduo e do Estado: a ética pública é diferente da ética na vida privada. É possível compreender o processo histórico. 11 . não está limitado em sua atuação pelas normas éticas e morais que regem os particulares. ganham força perspectivas de vanguarda. com destaque para o Construtivismo. uma vez que é difícil se obter a confiança entre os entes estatais que lhes permita escapar dessa situação. 4) Harmonia natural de interesses: os Estados teriam interesses mais complementares que antagônicos. REALISMO 1) Pessimismo antropológico: nega a possibilidade de evolução para uma sociedade mais humanista. Daí o conceito de “razão de Estado”. É a racionalidade que conduz ao progresso. De acordo com John Herz (1951. Porém. inclusive tendo recobrado força com novas perspectivas em nossos dias”. da mesma maneira os Estados são capazes de comportarem-se de forma racional e moral em suas relações. portanto. 2) Visão não determinista do mundo: a fé no progresso careceria de sentido se não fosse acompanhada de uma similar crença na eficácia da mudança por meio da ação humana. conforme acentua Arenal (1984). Não obstante. p. trata-se “de um debate que está presente. O Realismo. OS GRANDES DEBATES TEÓRICOS Idealismo X Realismo O debate entre realistas e idealistas iniciou-se na década de 1930. foge ao escopo deste curso a análise dessas outras correntes.Outras correntes teóricas Registre-se.leg.php?id=13651 43/78 . por sua vez. em virtude do qual condutas inaceitáveis em âmbito interno do Estado seriam plenamente aceitáveis na política internacional. Arenal relaciona as características essenciais do Idealismo e do Realismo na Tabela 1: TABELA 1: IDEALISMO X REALISMO IDEALISMO 1) Crença no progresso: diante da suposição de que a natureza humana pode ser compreendida não como imutável. enquanto defensor da comunidade nacional. mas como potencialidade que se atualiza progressivamente ao longo da História. como os indivíduos são morais e racionais. o Idealismo é um tipo de pensamento político que “não conhece os problemas que surgem do dilema da segurança e poder”.8). 4) Ausência de harmonia natural de interesses: os Estados encontram-se em uma competição constante. 2) Visão determinista do processo histórico: a ordem internacional dificilmente pode ser modificada pela ação humana. mas não alterá-lo. neste contexto de pós-modernidade. considera fatores de segurança e poder inerentes à sociedade humana.br/mod/book/tool/print/index. que as correntes citadas nesta unidade são as mais difundidas e tradicionais. O homem de Estado. Daí a ideia de que é possível a cooperação entre os povos por um fim último de paz e integração. em toda a história da teoria internacional. Passemos. ao contrário.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. php?id=13651 44/78 . para os idealistas. a conduta racional dos Estados os levaria à constituição de um poder supranacional. definido em capacidade de influência.br/mod/book/tool/print/index. por sua vez. e o poder político não constitui fenômeno natural. em um primeiro momento. o senso de oportunidade e o cálculo racional. que garantiria a segurança e a paz no Sistema (a “paz perpétua” de Kant).leg. a capacidade ou habilidade de controlar os outros entes internacionais.senado. O Realismo não considera a moral ou a ética como limites à ação do Estado. http://saberes. ou seja. a política é a arte do bom governo.Idealismo x Realismo Assim. lei imutável da natureza. Um governo mundial baseado apenas no Direito e no desejo global de paz é inconcebível para o Realismo. de aumentar o poder. consideram a política internacional uma constante e interminável luta pelo poder. mas a anarquia internacional seria naturalmente substituída não por um sistema baseado no equilíbrio de poder. A Sociedade Internacional. Essa consideração explica o pragmatismo e a falta de credulidade em organizações internacionais como instituições que não sejam apenas meros instrumentos de alguns Estados no jogo de poder internacional. uma confederação de nações. Negam o otimismo idealista. Assim. poderia até se encontrar em um estado de natureza.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. mas por uma ordem fundamentada na lei internacional. o Realismo percebe o Estado como um gladiador envolvido em um combate perpétuo pela sobrevivência na Sociedade Internacional anárquica em que as relações de força predominam. Os realistas. em instituições e na cooperação entre os povos. Partindo do princípio de que o homem não é naturalmente bom e que se reúne em sociedade apenas porque é a melhor maneira que encontrou para garantir a segurança essencial à sua sobrevivência diante da guerra de todos contra todos. mas a prudência. Atuar racionalmente significa agir em favor dos próprios interesses. 12 . Faremos apenas algumas breves considerações introdutórias a esse respeito.leg. não é possível. devido ao sigilo. O debate entre tradicionalistas e behavioristas tem caráter metodológico. da física e até da biologia – e a busca de “leis naturais” para explicar as relações sociais. Os neorrealistas são o melhor exemplo desse resultado. Os behavioristas criticavam os tradicionalistas pelo fato de estes dissociarem o sistema internacional do sistema nacional. outrossim. os behavioristas não davam atenção a questões filosóficas e morais. enquanto o primeiro debate referiase a questões substanciais – aspectos da natureza humana. Tomassini assinala que. http://saberes. nas ciências sociais. Na resolução de questões urgentes na Sociedade Internacional. o homem – seja sob seu aspecto individual.Tradicionalistas x Científicos O debate entre os enfoques clássico e científico ou entre tradicionalistas e behavioristas ultrapassa. Nesse sentido. o nível de exatidão similar ao das ciências exatas. Afinal. Em Relações Internacionais. 13 . lembra que. Finalmente. Afinal. exatas. Certamente foi de grande relevância a contribuição behaviorista para a análise das relações internacionais. assinalavam que. em Relações Internacionais é longo o tempo até que se tenha acesso a determinadas informações que seriam essenciais para “quantificar a análise científica”. o segundo debate estabelece uma paulatina aproximação das colocações e um entendimento final. ainda. o processo de tomada de decisão no âmbito interno –.br/mod/book/tool/print/index. ensina o mestre. Não obstante.php?id=13651 45/78 . esperar até que se consigam os dados estatísticos ou a conclusão das várias análises de casos em que os científicos querem basear-se. Ademais. tanto pensadores realistas quanto teóricos idealistas poderiam assumir uma perspectiva científica em suas análises. o segundo (tradicionalistas x científicos) está centrado na totalidade das ciências sociais. repousa no fato de que. na ótica de Arenal. e também porque os tradicionalistas ignoravam as variáveis internas – como. as quais seriam. tendo ocorrido em virtude da “revolução behaviorista”. Nesse sentido. não se pode querer atribuir às ciências humanas equivalência em relação às ciências naturais. por tratar de questões substanciais. ou quais seriam os melhores mecanismos para a estabilidade internacional baseada no crescimento e na cooperação entre nações. Daí a tentativa de adoção de técnicas semelhantes às utilizadas nas ciências naturais – como as da química. Finalmente.senado. segundo Tomassini. Lembravam. Os científicos buscavam alcançar. faz com que as duas correntes sejam eternamente irreconciliáveis.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Tentar explicar as relações humanas com base apenas nos critérios exclusivamente quantitativos pode conduzir o analista a erro em sua avaliação. como a busca da paz. A resposta tradicionalista às críticas behavioristas fundamentava-se no fato de que a Sociedade Internacional é complexa demais para que se chegue a “leis” que expliquem o sistema e a conduta dos atores com base na análise de variáveis isoladas. assim como em qualquer ciência social. da essência do poder –. ao relacionar as principais diferenças entre os dois debates. na concepção científica. o segundo debate teve cunho metodológico. enquanto o primeiro debate (idealistas x realistas) tem sua origem específica no âmbito das relações internacionais. Uma segunda distinção. tanto os partidários da análise clássica quanto os da perspectiva científica podem inscrever-se nas visões realista ou idealista. seja por meio de suas manifestações coletivas – é o objeto central de estudo. a moralidade da Sociedade Internacional. o aspecto intuitivo ou racionalista das ciências sociais jamais poderá ser desprezado. Luciano Tomassini (1989). que o método quantitativo não permitia a compreensão de situações chaves – fundamentadas em aspectos intuitivos ou racionais. foi possível aperfeiçoar os métodos da teoria e sistematizar as análises sob uma perspectiva mais empírica. dos fundamentos da Sociedade Internacional. fundamentais para a compreensão da política exterior. dando origem aos pós-behavioristas. o debate entre realistas e idealistas. se o debate entre idealistas e realistas. por exemplo. Um sistema geral pode ser definido como algo substantivado em um conjunto de elementos ou partes interconectados. permanecem abertos a influências de um meio ambiente externo. 14 . alguns dos quais podem configurar subsistemas que se relacionam com o conjunto. mais simplesmente. Pode-se dizer. por um rol de interação hipotético entre seus distintos componentes. · a natureza fechada ou aberta do sistema diante desse contexto. e · a interação observável entre o sistema e os diferentes segmentos que o integram. Essa conexão entre os diversos elementos ocorre por meio de um princípio claramente identificável ou.php?id=13651 46/78 . em geral.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. o Sistema Internacional em seu conjunto e os diversos subsistemas que operam em seu interior. A maior preocupação da perspectiva sistêmica está na interação entre os componentes de um Sistema Internacional e nos efeitos que o sistema tem sobre a conduta dos atores. http://saberes. Tomassini conclui que os enfoques sistêmicos têm permitido conhecer e melhor compreender as relações existentes entre as distintas unidades nacionais. não sujeitas a pautas nem a qualquer previsibilidade. · a necessidade de trabalhar com diferentes níveis de análise. Sua principal diferença frente ao enfoque convencional consistia no fato de que. Há. entretanto. com os limites entre um Sistema Internacional e seus elementos contextuais.br/mod/book/tool/print/index. enquanto os tradicionalistas concebiam as relações internacionais como um conjunto de interações entre unidades independentes e soberanas – os Estados –. que um sistema é um conjunto de unidades que interagem entre si de acordo com padrões relativamente regulares e perceptíveis. Daí a atenção maior aos mecanismos e à estrutura do conjunto que às partes específicas. portanto. quando se começou a aplicar conceitos de análise de sistemas ao estudo das Relações Internacionais.leg. que seria o Sistema Internacional em seu conjunto.A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais Segundo Tomassini. O enfoque também é importante para: · a percepção das funções que desempenham as estruturas e sua influência sobre o comportamento das distintas unidades.senado. a análise sistêmica percebia as relações internacionais influenciadas ou determinadas pela estrutura ou pelas tendências de uma unidade mais ampla. e cujos limites ou parâmetros também são reconhecíveis. mas que. o enfoque sistêmico para explicar as relações internacionais encontra-se “entre os aspectos substantivos que dividiram os realistas e idealistas durante o primeiro pós-guerra e as questões metodológicas que foram objeto das disputas entre tradicionalistas e científicos” após a Segunda Guerra Mundial. aqueles que situam a corrente sistêmica na escola científica. A escola sistêmica encontra suas origens na década de 1950. seguindo o mesmo tipo de padronizações. a UE e o Japão mantenham interrelacionamento comercial substancial e crescente ao longo do tempo. europeus e japoneses têm feito nas últimas décadas é negociar. cuja perspectiva é eminentemente sistêmica. por exemplo. e não entre as principais potências. o estado e a guerra. como o conflito e a cooperação. a gradual e seletiva diminuição de barreiras ao comércio internacional. Essa é. ao mesmo tempo. Assim. uma das conclusões de alguns pesquisadores a respeito da formação de blocos econômicos. das ideias de subsistema econômico. particularmente. normalmente vem associado à ideia de região – “subsistemas regionais” – ou às relações dentro de um setor (subsistema econômico.br/mod/book/tool/print/index. Isso não impede que os EUA. http://saberes. implica categorizar o todo (ou sistema) em partes distintas. uma tendência dominante em um subsistema. Índia e Brasil são bons exemplos. Usamos o texto intitulado Estratégias Comerciais do Brasil: Alca. ainda. O subsistema apresentaria as mesmas características do sistema.. Aplicado às Relações Internacionais. militar etc. O homem. Karl Deutsch e Richard Rosecrance. na Unidade 5. ainda. Entre os principais expoentes da escola sistêmica nas Relações Internacionais estão Morton Kaplan. OMC e Negociações Sul-Sul. no âmbito multilateral. Sugerimos as obras de Waltz. Dentro do sistema mundial. podem igualmente se manifestar no nível subsistêmico e.senado.php?id=13651 47/78 . militar e ideológico. argumenta que os EUA e a União Europeia (UE) não têm e nem pretendem ter acordo de livre comércio entre si. União Europeia. com a mesma validade. ou entre o Japão e a UE. Além disso. O conflito palestino-israelense é ilustrativo disso.A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais Um termo muito usado na análise sistêmica é o de “subsistema”. 15 . provocar um efeito spillover sobre o macrossistema. O que os norte-americanos. patrocinado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. No caso do Neorrealismo. dois processos sistêmicos relevantes. Tampouco está em cogitação uma área de livre comércio entre os EUA e o Japão. que também será explorado no decorrer deste curso. em rodadas sucessivas de liberalização. que normalmente eram empregadas no estudo do sistema macropolítico da política internacional. Trataremos mais adiante. particularmente Teoria das Relações Internacionais (Theory of International Politics) para o estudo mais aprofundado da perspectiva neorrealista de relações internacionais. e. tem-se em Kenneth Waltzseu grande expoente. na análise de subsistemas regionais. podem ser aplicadas. embora não necessariamente apresentando os mesmos resultados. poder-se-ia considerar a integração uma tendência periférica em um sistema mundial e. sendo que em um nível diferente. A busca por padrões e processos característicos se daria da mesma forma que na análise de sistemas. esta seria uma tendência dominante apenas entre países periféricos.). realizado em 04 de novembro de 2003. concebida como um subsistema. Por exemplo. Concepções relativas a hierarquia. entre outras.leg. A região. preparado para o seminário “O Brasil e Oportunidades de Integração”. Paulo Nogueira Batista Jr.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. um ator estatal pode apresentar papel significante em um nível e apenas modesto em outro. Realistas x Pluralistas Outro debate relevante é o que se dá entre realistas e pluralistas. Ao contrário do mundo idealizado pelos realistas. Vamos abordá-los na próxima Unidade.leg. como os debates entre neorrealistas e globalistas e entre neorrealistas e neoliberais. da Sociedade para os quais e o dilema da força tende a Os pluralistas nem sempre usam os conceitos de sistema e de equilíbrio nas relações internacionais. dado que não concebem atores autônomos e predeterminados no cenário internacional. http://saberes. Os pluralistas colocam o caráter anárquico Internacional e a importância da segurança em segundo plano. Eles criticam as previsões baseadas em análises de balança de poder dos realistas por serem demasiado genéricas. Outros debates Há discussões mais recentes e igualmente relevantes. os pluralistas veem indeterminação e imprevisibilidade. irracional e altamente permeável. agências burocráticas etc. Para os pluralistas. dado que não há separação entre política externa e política interna. sendo aquela mera extensão desta.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Também sobre o debate teórico de relações internacionais. dada a complexa interdependência da Sociedade Internacional. nenhuma análise das relações internacionais será completa sem se considerar a estrutura anárquica do Sistema segurança. A Teoria da Estabilidade Hegemônica.php?id=13651 48/78 . A noção de Estado-nação dos pluralistas. veja o texto de William Gonçalves.). pois não deixa de ser influenciada por fatores como a opinião pública. ao contrário do que concebem os realistas. a indústria do lobby e processos de barganha entre os atores internos (políticos. Relações Internacionais. é exemplo de uma tentativa de conjugação da perspectiva realista com a pluralista. o uso militar da ter menos utilidade na resolução de conflitos.senado. Alguns consideram essa teoria um “compromisso parcial” entre ambas as correntes. 16 . é difusa. que vimos na Unidade 2 ao tratarmos de hegemonia.br/mod/book/tool/print/index. o que é fortemente criticado pelos realistas. terrorismo) passam a ser de responsabilidade de todos. sem que a nova ordem internacional demonstrasse capacidade para superar problemas globais. narcotráfico. o que solapa a identidade tradicional. Como sugestão de leitura. reforçamos a indicação da última grande obra de Jean-Baptiste Duroselle. na Europa e na literatura mais recente da América Latina. A Política entre as Nações. O Realismo passou a sofrer várias críticas devido à dificuldade do Estado em administrar forças transnacionais. interesse nacional. epidemias. A transição da bipolaridade para a globalização ocorreu. o arrocho econômico mundial requerido para o ajuste de economias centrais e o desemprego estrutural. uma vez que as suas preocupações com as questões sociais teriam sido desprezadas pela nova política internacional (SARAIVA. migrações. Esses também são temas importantes para os teóricos de Relações Internacionais no século XXI. um livro básico para a compreensão do Realismo. e os problemas globais (ecologia. Todo império perecerá: teoria das relações internacionais. mas exigem mudanças de sua conduta – na política interna e externa. como “soberania operacional”. na prática. direitos humanos. e o Globalismo. no menu de apoio. 2003). Interessante. relativização do conceito de soberania. Alguns autores identificam. surgindo expressões. nas interpretações da esquerda ainda presente na América Latina e em outros países do Hemisfério Sul. de Hans Morgenthau. Um filme interessante para se entender. a hegemonia do mercado financeiro. a ramificação das escolas da Teoria das Relações Internacionais em três direções: o Realismo.Mudanças na Teoria das Relações Internacionais A partir de 1990. Os seguintes movimentos passaram a ter relevância para a análise das relações internacionais contemporâneas: soma de fluxos transnacionais como fator que afeta o cotidiano das pessoas e leva à crise do Estado-nação. no entanto. de Hedley Bull.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Finalmente. p. teoria das relações internacionais é “Sob a Névoa da Guerra” (Errol Morris. a Economia desliga-se do espaço nacional e das regulamentações do Estado.php?id=13651 49/78 . 1997. de Martin Wight. soberania. http://saberes. o Pluralismo. convém conhecer a Escola Inglesa de Relações Internacionais por meio de duas obras fundamentais: A Política do Poder. faz uma análise da política externa dos EUA na II Guerra Mundial. o Sistema Internacional passa a ser composto de sistemas confederados. funcionando para o exterior. O Pluralismo se revelou inadequado. como o endividamento internacional. nos EUA. Robert McNamara. 17 . e A Sociedade Anárquica. entre outros.senado. nos meios diplomáticos. território nacional. atores não estatais não necessariamente agem contra o Estado. O Globalismo se enfraqueceu com a crise do socialismo real. atores não estatais forçam o Estado a levar em conta a Comunidade Internacional. EUA. uma vez que estava acostumada a trabalhar com os conceitos de Estado nacional. 361-362). a Teoria das Relações Internacionais passou a enfrentar um problema epistemológico.leg. na década de 1990. ainda. cujo universalismo e soberania são questionados. Veja a referência completa sobre essas obras na Bibliografia Complementar. uma vez que a interdependência torna-se fato. documentário em que o ex-Secretário de Defesa dos EUA.br/mod/book/tool/print/index. senado.php?id=13651 50/78 . que pode contribuir para o aproveitamento do curso. é sua organização pessoal e a disponibilidade de um tempo diário e preciso para os estudos.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 4 . • discorrer sobre a validade do Realismo no século XXI. o aluno deverá ser capaz de: • identificar as características da principal corrente teórica das Relações Internacionais e as críticas a essa corrente.br/mod/book/tool/print/index. • descrever a evolução do pensamento realista nas Relações Internacionais ao longo do século XX.O Realismo Ao final da unidade. http://saberes. Outro fator importante.leg. Devido a essas peculiaridades.O Realismo A tentativa mais notória do século XX para explicar as relações internacionais foi conduzida por um grupo de pensadores que contemplavam a realidade internacional com base nas relações de força. 2 . culturais etc. ela teve notório fortalecimento.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. o caráter praticamente exclusivo do Estado como o único ou. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. sem uma autoridade central superior aos Estados e titular legítima do uso da força. ordem esta imposta pelas Potências hegemônicas aos demais Estados e em benefício das primeiras.br/mod/book/tool/print/index. que atuam na esfera internacional perseguindo sempre seu interesse nacional.senado. o predomínio da competição e da dimensão conflitiva sobre todas as formas de relações entre os aaAtores internacionais. a busca da racionalidade na conduta dos Estados. a preocupação com a segurança como umas das grandes orientadoras da conduta dos atores. Esses autores foram os representantes da corrente teórica conhecida como Realismo Político ou. o principal ator internacional. estabelecido pelas Potências. a heterogeneidade desses atores. simplesmente.leg. políticos. que conduz a uma paradoxal ordem internacional no sistema anárquico.. Realismo. no que os realistas consideram ”alta política” (high politics) em contraposição à chamada baixa política (low politics). o interesse nacional definido com base no poder. Trata-se da doutrina mais clássica e aceita das Relações Internacionais. buscaremos analisar as ideias que mais se destacam. poder e dominação. optamos por dedicar uma unidade específica a essa corrente. chegando-se a ponto de muitos a considerarem o tronco central do estudo teórico do tema. Entre os fundamentos do Realismo. a saber: a percepção de um sistema internacional anárquico. http://saberes. quanto a aspectos econômicos. a percepção de que os Estados são entes unitários e racionais ao conduzirem sua política externa. o desprezo pelo institucionalismo e pelo papel efetivo das organizações internacionais no sistema. ao menos.php?id=13651 51/78 . a ideia de equilíbrio de poder na ordem internacional. quanto mais forte for um Estado frente a seus pares. http://saberes.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. o Estado é visto internacionalmente como um ente unitário e que atua em política externa de maneira racional. menos sujeito a ser subjugado por estes ele se encontra.senado. então. transferindo uma parcela de seu poder para um soberano – o Estado – que. Para garantir sua segurança. sendo o cálculo estratégico essencial para garantir sua sobrevivência. 3 . Daí buscarem distinguir. reproduzindo a visão hobbesiana sobre o homem. na qual perseguem seus interesses nacionais. Desenvolveram. os Estados irão buscar aumentar seu poder – definido pela capacidade de influenciar os demais Estados e de ser influenciado o mínimo por eles –. 16). a política internacional da política interna dos Estados. O pensamento realista inspira-se nas concepções de Thomas Hobbes sobre o “estado de natureza” e. Esse poder relaciona-se intimamente com o uso da força – sobretudo de poderio político-militar e os aspectos econômicos relacionados a ele. declaram os realistas. 2000. em última análise. os Estados não reconhecem e não se submetem a qualquer autoridade que não a sua própria. Nesse sentido. no qual não existe poder central ou superior dos Estados soberanos. não há uma autoridade superior à qual os Estados estejam dispostos a transferir parcela de seu poder ou soberania em troca de segurança. Em outras palavras. Assim. tornando-se o único e legítimo titular do uso da força (coerção). o interesse nacional definido em termos de poder guiará a conduta dos Estados. também não estando. a percepção anárquica do sistema internacional. projetando-o no sistema internacional. Nesse contexto anárquico. em meio à guerra de todos contra todos.php?id=13651 52/78 . segundo Hobbes. os realistas percebem o sistema internacional como anárquico. entretanto. percebe os Estados numa situação de guerra permanente – não necessariamente de conflito armado –. os homens associam-se e abrem mão de parte de sua independência para garantir sua segurança. preliminarmente. os Estados “são livres para fazer sua própria justiça e podem recorrer à força para defender seus interesses nacionais” (SENARCLENS. p. Em âmbito interno. protege-os e garante a ordem. Na esfera internacional.br/mod/book/tool/print/index. Para os realistas. internacionalmente sujeitos nem mesmo às regras do Direito.O Realismo Os realistas tiveram por objetivo inicial definir as características que fariam do campo de estudo das Relações Internacionais uma ciência própria. e.leg. são essenciais para a sobrevivência de qualquer ente a garantia de sua segurança e o aumento de sua capacidade de influência no sistema. Nesse sentido. as grandes potências definem as condições da segurança internacional e se arrogam em uma boa margem de manobra na interpretação dos princípios da Carta das Nações Unidas. o principal Ator nas Relações Internacionais. (. produzindo. os Estados só seguirão e defenderão o Direito Internacional enquanto isso lhes for interessante. 18): De fato. em um equilíbrio de poder instituído pelas relações entre as Potências. As instituições internacionais são frágeis e somente prevalecem enquanto for mais conveniente para as Potências. no mínimo. argumentos jurídicos para justificar sua política de agressão.O Realismo Paradoxalmente. este não se furtará a violá-las. os realistas acreditam que há uma ordem internacional estabelecida pelas Potências – Estados mais poderosos –. Periodicamente. Outro aspecto importante do pensamento realista é a percepção do Estado como o único. 4 . para os realistas.. Os realistas não acreditam em uma ordem internacional instituída por princípios morais e fraternos.senado.. as normas jurídicas e as instituições são frágeis. o sistema poderá ser levado ao desequilíbrio. em uma nova ordem imposta pelos vencedores. nem forças policiais [internacionais] que possam coibir agressões a fim de estabelecer a paz. entrará em atrito com as demais – que não aceitarão ver sua capacidade de influência diminuída.. notadamente para efetivar suas ambições políticas e seu desejo de hegemonia. http://saberes.. Caso as instituições jurídicas internacionais contrariem interesses de um Estado.leg. por sua vez. Quando uma Potência aumenta sua esfera de poder. Nessa perspectiva. Qualquer forma de cooperação internacional será conduzida pelos Estados enquanto esses perceberem que a cooperação garantirá mais segurança que a não cooperação. A ordem se fundamenta. Dessa maneira. uma vez que é impossível a coexistência em um sistema internacional caótico. [os Estados] as transgridem invocando a defesa de seus interesses nacionais. (. Segundo Senarclens (2000.) o direito e a moral nas Relações Internacionais não fazem mais que exprimir a racionalização dos interesses dos principais Estados que dominam a política mundial. os governos recorrem à força e violam os princípios de Direito Internacional.. uma vez que os Estados interpretam a seu bel-prazer as obrigações que elas impõem. O indivíduo que viole a lei dentro de um Estado é passível de sanção. não encontra abrigo na perspectiva realista.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Elas dominam as organizações internacionais. O institucionalismo.php?id=13651 53/78 . Destarte. não há [no meio internacional] um poder legítimo capaz de instaurar e assegurar uma ordem política impondo sua arbitragem frente aos conflitos entre os Estados. inclusive. as utilizam continuamente para servir aos seus próprios fins [das grandes Potências]. Não existe uma corte internacional capaz de julgar de maneira sistemática e coerente as diferenças entre os Estados. nenhuma autoridade é capaz de produzir um conjunto de normas jurídicas universalmente reconhecidas como legais. que culminará. o Direito acaba quando a força começa. que a impõem aos demais Atores. os demais Atores – reconhecidamente as organizações internacionais – não seriam mais que instrumento de manobra das Potências para garantir sua hegemonia na Sociedade Internacional. sua implementação é frágil. portanto. chegando-se ao conflito entre os Estados poderosos. p. (.) Para os realistas. ou. desde que tenha capacidade –potencialidade de uso da força – para fazê-lo e para suportar as reações dos outros Estados que defendam aqueles institutos. Contrariamente ao que ocorre na esfera estatal interna.br/mod/book/tool/print/index.) Definitivamente. portanto. O Estado que transgrida o direito internacional em geral não é punido.. No meio internacional. capacidade militar. níveis de desenvolvimento em que se encontram. para os realistas. política. A heterogeneidade – econômica. O artigo 2º da Carta da Nações Unidas dispõe que a ONU é "fundada sobre o princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros. ou o Brasil à Somália. No que concerne ao meio internacional heterogêneo. a liberdade de ação dos Estados na esfera internacional estará relacionada à força que cada um deles tenha frente aos demais. ou ainda. Raymond Aron. O que os realistas buscam deixar claro é que não se pode querer igualar a China a Liechtenstein. a política internacional de cada Estado é conduzida considerando-se as próprias potencialidades e as daqueles com os quais o Estado vá relacionar-se. na prática.O Realismo Ademais. social – é a regra no sistema internacional. admitiu que o direito desses entes de recorrer à força constitui uma das especificidades das relações internacionais. livres para perseguir sua própria justiça –. militar. É exatamente em virtude dessas diferenças que os Estados terão maior ou menor influência no sistema internacional e buscarão formas de defender seus interesses. ou ainda. capacidade de exploração desses recursos. portanto. Destarte. populações. http://saberes. apesar de os Estados serem juridicamente idênticos e terem direitos iguais de pronunciar-se perante o concerto das nações. portanto. a capacidade de exercerem sua soberania varia consideravelmente.php?id=13651 54/78 . Em Paz e Guerra entre as Nações.br/mod/book/tool/print/index.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. cultural. 5 . localização geográfica. Não adianta. recursos econômicos. e não levar isso em consideração pode ser tremendamente desastroso para qualquer Ator. Os Estados são distintos uns dos outros quanto à grandeza territorial. querer arguir o artigo 2º da Carta das Nações Unidas para que se imponha o princípio da igualdade entre os Estados nas relações internacionais. os EUA ao Afeganistão.senado. os realistas afirmam que.leg. partindo do pressuposto de que os Estados são soberanos – e. ideológica. Ao estabelecer uma ligação necessária entre a aspiração das nações ao poder e as políticas de equilíbrio. e os faz.O conflito e a questão da segurança A política internacional. http://saberes. em Teoria das Relações Internacionais (1990. Os realistas percebem diferentes maneiras pelas quais os Estados buscam sua segurança. a maioria dos Estados dispõe de forças armadas para garantir sua segurança.leg.br/mod/book/tool/print/index. exprimidos em termos de poder. um dos mestres do pensamento da escola realista americana. natureza que não é essencialmente boa. agir como uma ave de rapina. Temos. que é fortemente inspirada pela obra do teólogo Reinhold Niebuhr. É exatamente a conduta dos Atores internacionais em uma persecução . necessariamente confiam sua defesa à proteção de uma Potência hegemônica. Aqueles que renunciaram a elas (a Costa Rica é o caso mais notório). optam pela proteção de uma grande Potência.muitas vezes desordenada . que é o fundamento de toda a relação política e que constitui. como toda política. marcada pelo pessimismo. assim. Também sobre o Realismo. Os Estados atuam na arena internacional considerando essa disputa por poder e por recursos econômicos.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. no fundamento da teoria política de Morgenthau. de Marcelo Beckert Zapelini. por isso. No que respeita particularmente à política internacional. mais precisamente. onde tem a sua origem. a participação em sistemas de segurança coletiva ou em alianças políticas ou militares. como toda política. De qualquer maneira. 115). veja o texto que trata da moral nas Relações Internacionais numa perspectiva realista. é uma luta pelo poder. uma visão filosófica do homem. Philippe Braillard.por seus interesses nacionais que leva à situação de conflito e caos. a procura pelo poder. Daí a assertiva de Morgenthauem A Política entre as Nações: A política internacional. a aspiração ao poder por parte das diversas nações.senado. o poder é sempre o fim imediato. p. Para assegurar a independência. 6 . com frequência. Morgenthau pretende evitar o erro cometido pelos que acreditam que podemos escolher entre a política fundada no equilíbrio e uma política. uma antropologia. esquecendo que todos os Estados procuram os seus interesses. de um gênero melhor. E os governos não devem ter objetivos maiores que os da defesa de seus “interesses nacionais”. já que ela confere a todos os homens um ardente desejo de poder ou animus dominandi. o conceito chave de toda a teoria política. tem por base os conflitos relacionados à distribuição do poder e dos recursos econômicos. entre os quais o mais importante é assegurar sua sobrevivência. Quaisquer que sejam os fins últimos da política internacional. dependendo da posição e do status internacional.php?id=13651 55/78 . resume bem os principais conceitos do pensamento de Morgenthau: Para Morgenthau é o poder (power ) e. necessariamente. Esta procura do poder está inscrita profundamente na natureza humana. cada uma procurando manter ou modificar o status quo. conduz. pelo menos ao nível das relações dos grupos sociais entre si. a uma configuração que constitui o que chamamos de equilíbrio [de poder] (balance of power ) e as políticas que visam conservar esse equilíbrio. Ademais. dando valor exacerbado a fatores político-militares. sugere-se a leitura dos trabalhos de Raymond Aron.Críticas ao Realismo Claro que o Realismo tem sofrido pesadas críticas ao longo de décadas. tanto em virtude da diversidade das forças do interior do Estado que estabelecem quais são as prioridades e os interesses da nação. 7 . um motivo e uma relação”. http://saberes.br/mod/book/tool/print/index. quanto devido à heterogeneidade do sistema internacional.leg. afirma-se que a teoria negligencia aspectos sociais. Outra crítica é de que o conceito de poder na perspectiva realista estaria mal definido e seu emprego demasiado vago. ainda. Há. ou mesmo na primeira metade do século XX. um meio. aqueles que lembram que o interesse nacional definido em termos de poder é discutível. uma vez que é complicado determinar e quantificar esse interesse. Daí que interesse nacional seria um conceito bastante subjetivo. marcado pela diversidade de Atores e de grupos.senado. Por exemplo. ao mesmo tempo. organizações não governamentais e empresas transnacionais. Além da já citada obra de Morgenthau. Finalmente.php?id=13651 56/78 . culturais ou mesmo econômicos.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. há a ponderação de que a teoria realista assenta-se numa visão das relações internacionais limitada à configuração dessas relações nos séculos XVIII e XIX. “um fim. com destaque para Paz e Guerra entre as Nações e dos livros de Henry Kissinger. O conhecimento da perspectiva realista é fundamental para a compreensão das relações internacionais. uma vez que o poder seria. sendo inadequada ao sistema internacional contemporâneo. o Estado jamais poderia ser considerado um Ator unitário e racional. e as decisões e ações de política externa são fruto de um complexo conjunto de interesses de forças em diferentes níveis da sociedade interna. como organizações internacionais. adobe. por se concentrar nas unidades e nos seus atributos funcionais. o Estado e a Sociedade (economia doméstica/sistemas políticos). e o Sistema Internacional (ambiente anárquico). Segundo os estruturalistas. a política internacional. o importante é identificar os padrões. da decomposição das coisas. Assim. o Realismo tradicional. A análise dos diferentes sistemas constitutivos da Sociedade Internacional e de sua articulação mostra serem eles a aplicação de certo número de leis lógicas encontráveis em toda sociedade. O Neorrealismo deriva de um movimento epistemológico que ficou conhecido como Estruturalismo. pois varia entre os Estados. concentra-se no terceiro nível. Dos três níveis de análise identificados por ele. Enquanto esse primeiro critério da estrutura. é incapaz de trabalhar com mudanças de comportamento ou na distribuição de poder que ocorre independentemente das flutuações entre as próprias unidades. ao final da década de 1970. 8 . além disso. também chamado de Realismo Estrutural. o Estruturalismo foi fundamental para o desenvolvimento dos métodos “científicos” ao ensinar que o processo científico básico é o analítico.com/br/f lashplayer/) O Neorrealismo é uma versão mais atual do Realismo. Em outras palavras. apesar de o sistema ainda ser anárquico e as unidades ainda serem autônomas no Neorrealismo.br/mod/book/tool/print/index.O Neorrealismo Duração: 7min08 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. é a estrutura que molda e conforma as relações políticas entre as unidades. independentemente das características atribuídas ao poder e ao status. uma vez que as relações são constantes. deu um renovo para a corrente realista. e que se deve privilegiar o aspectorelacional da realidade. a sociedade se define pelas condições de possibilidade de toda organização social. a distribuição de capacidades. O Neorrealismo busca explicar como as estruturas afetam o comportamento e os resultados. e. o segundo. é uma variável. como as que veem as “leis” da anarquia e do poder como explicativas da realidade (como a “lei” do balanço de poder já estudada). Para os estruturalistas. assim. para dizer que a anarquia é uma constante. Kenneth Waltz (2002) se utiliza do Estruturalismo para criar o seu Neorrealismo. Para Waltz. é uma constante. os arranjos.php?id=13651 57/78 . as organizações sistemáticas em determinado estado. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get. http://saberes. Pegou emprestado alguns elementos do cientificismo behaviorista e.senado. para os estruturalistas. O Neorrealismo foca mais as características estruturais do sistema internacional estatocêntrico do que as unidades que o compõem (os Estados).leg. Waltz identifica três níveis de análise nas Relações Internacionais: o Indivíduo. um “dado” na estrutura do Sistema Internacional. enquanto que os elementos podem variar. O referencial empírico para essa variável é a quantidade de Superpotências que domina o sistema. que ele modestamente chama de “revolução de Copérnico” no âmbito das Relações Internacionais. a anarquia. Tal ponto de vista se casou com algumas perspectivas “clássicas”. são essas as invariantes ou constantes que dão unidade necessária à fundamentação científica. Em suma. segundo ele. a atenção voltada para o nível estrutural fornecia-lhe uma imagem mais dinâmica e menos restrita do comportamento político internacional emergente. Enfim. Dado o pequeno número de tais Estados – importante perceber que ele escrevia na época da Guerra Fria –.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. poderia ser estudada em termos da lógica de poucos sistemas. dando luz ao Neorrealismo. não mais que oito já foram importantes. para Waltz. br/mod/book/tool/print/index. Em contraste. Em Waltz.senado.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. no sistema bipolar da Guerra Fria. conta mais a sociedade presente na consciência do indivíduo do que sua própria história individual. É o mercado que condiciona seus cálculos. confiando mais nos próprios armamentos do que nos aliados. http://saberes. o que não se harmonizava com as expectativas da teoria de Waltz. o qual está interposto entre os atores econômicos e os resultados que eles produzem. uma vez que existem potências demais para se permitir que qualquer uma delas trace linhas claras e fixas entre aliados e adversários. Para ele. a estrutura do sistema em si gerava a estabilidade. e. Ficam. um dos polos da estrutura ruiu. Com o fim da Guerra Fria. Muitos críticos argumentaram que o modelo de Waltz era muito estático e determinístico. a URSS e os EUA mantinham o equilíbrio central. Waltz lembra que as empresas devem desenvolver sua própria estratégia para sobreviver em um meio competitivo. por consequência. o sistema internacional funciona como o mercado. seus comportamentos e suas interações. segundo as quais as Superpotências amadureceriam para se tornar “duopolistas sensíveis” no comando de uma estrutura crescentemente estável. Waltz usa a noção de poder estrutural – espécie de poder que pode estar operando quando os Estados não estiverem agindo da forma que se esperava. na bipolaridade. sendo difíceis ações coletivas que otimizem o lucro a longo prazo. Assim. Isolando a estrutura. para ele. além de desprovido de qualquer dimensão de mudança estrutural (revolução). Na multipolaridade. Waltz argumenta que uma estrutura bipolar dominada por duas Superpotências é mais estável que uma estrutura multipolar dominada por três ou mais Superpotências. Os conceitos de multipolaridade e de bipolaridade serão abordados com mais detalhes no próximo módulo.leg. pois é mais provável que se sustente sem guerras espalhadas no sistema. e jamais um fato da psicologia individual. Ou seja. a corrida armamentista e a guerra. assim. Waltz foi criticado por Raymond Aron.O Neorrealismo Para Waltz. o que é inerentemente instável. a desigualdade entre as Superpotências e cada um dos outros Estados assegura que a ameaça posta a cada um deles seja mais fácil de ser identificada. Em seu trabalho sobre o suicídio. são as características do Estruturalismo. dada a desigualdade de distribuição de poder no sistema internacional. os Estados confiam em alianças para manter a segurança. minimizados os perigos decorrentes de previsões erradas. A intimidação nuclear e a inabilidade das Superpotências em superarem mutuamente as forças retaliadoras aumentam a estabilidade do sistema. Abordaremos esse debate entre neorrealistas e neoliberais mais à frente. na verdade. Mas essas. gera o dilema da segurança. 9 . mesmo no ato privado de tirar a própria vida. a URSS. Percebe-se que Waltz se inspirou em Durkheim. os Estados estão condenados a reproduzir a lógica da anarquia. o ambiente é mais importante do que o agente. Ou seja. para quem a sociedade não é a simples soma de indivíduos e que todo fato social tem por causa outro fato social. é a estrutura do sistema internacional que limita o potencial de cooperação entre os Estados e que. para Waltz. Os neoliberais criticam Waltz por exagerar o grau de “obsessão” dos Estados pela distribuição de poder e por ignorar os benefícios coletivos que podem ser alcançados pela cooperação. e essa é a tese por trás do Neorrealismo de Waltz. para quem a estabilidade da Guerra Fria tinha mais a ver com as armas nucleares em si do que com a bipolaridade. há diferenças expressivas entre multipolaridade e bipolaridade. Durkheim procurou demonstrar que. Outros acusaram Waltz de tentar legitimar a Guerra Fria sob o manto da ciência. e qualquer cooperação que ocorra entre eles ficará subordinada à distribuição de poder.php?id=13651 58/78 . “Existe uma influência marxista no globalismo. a sua própria preservação. usa algumas das categorias que o Neorrealismo usa (como o poder estrutural). é mais importante do que a anarquia.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Afirmam também. o Globalismo busca explicar as relações internacionais não em virtude de cooperação ou conflito. principalmente nas análises sobre o padrão de evolução histórica das relações de dominação (o conflito seria o motor da dinâmica entre as classes sociais). ou seja.senado. IV. http://saberes. doméstica ou internacionalmente. Debate Interparadigmático das Relações Internacionais. pois também deriva do Estruturalismo. que podem ser percebidos como. Como já referido na Unidade 3. Os globalistas enfatizam o poder estrutural e centram as capacidades chaves no sistema econômico. mas com adaptações que tinham que considerar a nova realidade internacional mais complexa. dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema. por sua vez. agora podemos abordar os últimos grandes debates teóricos de interesse para o presente curso introdutório. mas defendem que isso se dá mais em razão da hierarquia do que da anarquia no Sistema. mas surge como uma corrente alternativa. 10 . a corrente neorrealista surge com o objetivo de desenvolver uma análise mais precisa das Relações Internacionais. no mínimo. como a minoria consegue dominar a maioria. Existe também um enfoque na totalidade. que há limitações estruturais para a cooperação entre os Estados. como uma característica chave. a dominação universal. ou seja. no máximo. Para eles. Como visto. a hierarquia. O autor retoma a ênfase na teoria do equilíbrio de poder diante do Sistema Internacional anárquico.leg. que surgiram nas últimas décadas do século XX. e essa dominação encontra na Economia seu aspecto central. mas sob a ótica do subdesenvolvimento de vários países. Os globalistas reconhecem. Os globalistas buscam analisar as Relações Internacionais dentro de um contexto global e geral. Tais debates. como os neorrealistas. no Caderno Pet Jur n.” Miguel Burnier. refletem as teorizações que se fizeram necessárias para explicar as significativas mudanças nas relações internacionais produzidas pelo processo de globalização e pelo aumento da interdependência entre os Atores. Como já referido.Os Últimos Grandes Debates Visto o Neorrealismo.br/mod/book/tool/print/index. O Globalismo. não é possível entender o capitalismo sem entender as relações de exploração. Waltz (2002) reafirma a perspectiva tradicional realista: o princípio da soberania estatal confere à Sociedade Internacional características próprias e limita os domínios da cooperação internacional. Neorrealistas X Globalistas Um dos últimos debates que merece referência neste curso é o que se dá entre neorrealistas e globalistas. prejudicando qualquer integração durável. mas acreditam que o que deve ser explicado são as relações de dominação. que qualquer solução localizada deve ser vista apenas como uma etapa da solução global. no qual os Estados competem e atuam em defesa de seus interesses. assim como fazem os neorrealistas.php?id=13651 59/78 . uma divisão peculiar do trabalho ocorreu historicamente no sistema mundial como resultado do desenvolvimento do capitalismo como a forma dominante de produção. e. baseada nos pressupostos realistas clássicos. Para eles. nessa perspectiva global. quando surgiu o debate. a discussão era travada entre os que acreditavam que o sistema internacional não estava sofrendo nenhuma mudança sistêmica (a escola neorrealista) e os que argumentavam que o Realismo passou a ser um guia inadequado para a compreensão das mudanças dramáticas ocorridas nas relações internacionais como resultado das forças econômicas transnacionais (a escola neoliberal). As áreas centrais se engajaram. agricultura de alta tecnologia etc. http://saberes. O relacionamento polarizado entre as duas categorias é um dos motores do sistema. já que os liberais e neoliberais se reúnem no paradigma pluralista. industrial.). Esse debate teórico ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e perdura até os dias de hoje. se a agenda tradicional das relações internacionais passou ou não a reduzir a importância da “alta política” (high politics – segurança militar. Também pode ser referido como um debate entre neorrealistas e pluralistas. Para os globalistas.senado. não bastaria nenhum dos dois se não fosse a divisão da maioria numa camada inferior maior. Na época em que surgiu. a questão era se o modelo clássico da “anarquia” estava perdendo seu poder explicativo frente à “interdependência” entre os Estados. dissuasão nuclear) e a elevar a “baixa política” (low politics – comércio.Neorrealistas X Globalistas O Globalismo vê um sistema-mundo capitalista composto por um núcleo (o centro) e a periferia. Autores globalistas. e que a periferia será cada vez mais marginalizada na medida em que a sofisticação tecnológica do centro se acelerar.br/mod/book/tool/print/index. A periferia tem fornecido matéria-prima. e aos países periféricos é negado o acesso a tecnologias avançadas nas áreas/setores em que podem vir a competir com os países centrais. Como pano de fundo desse debate temos a Teoria da Interdependência.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. como minérios e madeira. No fundo. finanças internacionais etc. Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Este último debate é o mais relevante para o mundo que se descortina diante de nossos olhos neste início do século XXI.php?id=13651 60/78 . O debate se dá em torno de questões como: se o sistema internacional mudou ou não sob o impacto da interdependência. Assim. em busca do acúmulo sem fim de bens e capital. não basta um consenso ideológico a favor do capitalismo (como pensam os neoliberais) ou uma concentração do poder militar entre as hegemonias do centro (como pensam os neorrealistas) para que um conflito sério no sistema possa ser evitado. para a expansão econômica do centro.leg. como Immanuel Wallerstein. historicamente. nas atividades econômicas mais avançadas: bancária. O trabalho não qualificado é sufocado. acreditam que o sistema-mundo continuará a funcionar como tem feito nos últimos quinhentos anos. e quais as implicações de tal mudança para a teoria e prática das relações internacionais. 11 . Os benefícios coletivos do comércio e a influência dos fluxos financeiros para as políticas domésticas dos Estados assegurariam uma cooperação maior entre os Estados e contribuiriam para o declínio do uso da força entre eles. firmemente preocupados com seus ganhos relativos. Argumentou que os períodos de abertura na economia mundial correspondem aos períodos nos quais um Estado é nitidamente dominante. todavia. vista na Unidade 2. O poder político e a estabilidade social também são cruciais. Segundo Waltz (2002). e isso significa que. 2004). não se pode deixar de citar. a crescente irrelevância do controle territorial frente ao crescimento econômico e a divisão internacional do trabalho tornavam o Realismo obsoleto.Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência A razão desse debate era a crise do sistema Bretton Woods. Para ele. e a relutância no uso da força durante as crises do petróleo nos anos de 1970. uma área de importância econômica insignificante para os EUA. eventos que abalaram todo o mundo. no sistema bipolar então vigente. trata desse ponto. em si. Um dos fortes defensores das teses neorrealistas foi Stephen Krasner. Krasner também ataca os globalistas. os Estados soberanos continuam sendo. Krasner ataca os globalistas pelo fracasso em explicarem o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. foi a Grã-Bretanha. Para Waltz. garantia que os Estados continuassem a privilegiar a segurança acima da busca por riquezas (GRIFFITHS.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. embora o comércio aberto possa fornecer ganhos absolutos para todos os Estados que se comprometerem com ele. No século XIX. agentes racionais e interesseiros.senado. da distribuição de poder entre os Estados. Se os EUA frequentemente desejavam proteger os interesses das corporações norte-americanas. como os fluxos financeiros. os EUA.br/mod/book/tool/print/index. e essas diferenças de poder são o principal fator determinante e explicativo do comportamento dos Estados. que afirmavam que o crescimento das forças econômicas transnacionais. a direção da interdependência econômica dependia da distribuição de poder no Sistema Internacional.leg. a crise de conversibilidade do dólar e os choques de petróleo. Isso explicaria a guerra contra o Vietnã. concorda com Waltz: o grau de abertura depende. O significado político das forças transnacionais não decorre de sua escala. no período 1945-1960. o fracasso dos EUA na Guerra do Vietnã. que provocou tão intensas discordâncias domésticas para tão pouco ganho econômico. claro. alguns Estados ganharão mais do que outros. A “interdependência” econômica é subordinada ao equilíbrio de poder econômico e político entre os Estados. e a persistência da anarquia. E. 12 . que ameaçaram o fornecimento do produto em todo o mundo capitalista.php?id=13651 61/78 . http://saberes. reservaram o uso da força em larga escala. o grau de interdependência era relativamente baixo entre as Superpotências. Para Krasner (1983). Por consequência. Do outro lado do debate estavam os neoliberais. nos tempos de hoje. A teoria da Estabilidade Hegemônica. o que importa é a vulnerabilidade dos Estados às forças fora de controle e os custos da redução de exposição a essas forças. os Estados nem sempre colocam a riqueza acima dos outros objetivos. para as causas ideológicas. como princípio central organizador das relações internacionais. e não o contrário. a hipótese de que os Estados perseguem simplesmente riqueza. mas formas de cooperação. querendo diminuir sua vulnerabilidade ao mercado e exercer um controle estatal maior sobre ele (é o que estaria por trás. proteção. ativos financeiros. atmosfera. Tentam se proteger contra a operação de mercados em que eles se encontram em desvantagem.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Tais regimes não disfarçam as diferenças de poder existentes nas relações internacionais e tampouco conseguem alterar a importância da soberania dos Estados.) ou de distribuir acesso a recursos internacionais (fundo do mar. Os regimes implicam não apenas normas e expectativas que facilitam a cooperação entre os Estados.leg.). Os Estados do Terceiro Mundo procuram. e argumenta que os Estados do Terceiro Mundo também se envolvem em lutas pelo poder. que. http://saberes. das discussões na China sobre o controle ou não dos fluxos de capital – deixar ou não fechada a conta de capital do balanço de pagamentos). Segundo ele. o paradigma realista é de uso limitado para ajudar a compreender a dinâmica dos regimes internacionais. na verdade. normas. princípios e procedimentos que aumentam os poderes soberanos dos Estados individualmente. 2004). O argumento básico de Keohane é que. rejeita.senado. etc. e todo o institucionalismo supostamente por trás dela. identifica uma dicotomia regulamentação/Terceiro Mundo versus desregulamentação/Primeiro Mundo. Krasner. Regimes internacionais são normalmente definidos como princípios. no fundo.br/mod/book/tool/print/index. regras e processos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas do Ator convergem para uma dada questão setorizada (issue area). as normas. Regimes internacionais “autoritários” são aqueles conjuntos de regras. Assim. normas. Neoliberais como Robert Keohane (2001) tentariam derrubar essas teses. assim. Não seria por outro motivo o apoio de países do Terceiro Mundo ao Fórum Social Mundial.Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Krasner atacou de frente a “interdependência” neoliberal. dando aos Estados o direito de regulamentar fluxos internacionais (migração. sinais de rádio. como o dinheiro. ou seja. num mundo interdependente. por exemplo. cujas preocupações têm sido a regulamentação dos fluxos financeiros internacionais e a imposição de uma tributação sobre eles (a chamada “taxa Tobin”). buscando uma resposta positiva para a questão de se as instituições explicam ou não o comportamento dos Estados. aviação civil etc. a tentativa de estabelecer regimes internacionais como meio de superar ou atenuar os efeitos da anarquia não funciona. Estados pequenos e pobres do Sul tendem a apoiar os regimes internacionais que distribuem recursos autoritariamente. Portanto. para os neorrealistas. a soberania dá aos Estados do Terceiro Mundo uma forma de “metapoder” ou poder de uma ideologia coerente para atacar a legitimidade dos regimes do mercado internacional e as injustiças do capitalismo global (GRIFFITHS. mais uma vez.php?id=13651 62/78 . 13 . regras e princípios que governam as tomadas de decisão e as operações em relações internacionais sobre determinadas questões. evidencia relações de poder. desse modo. ao passo que os Estados mais ricos do Norte favorecem regimes cujos princípios e regras dão prioridade aos mecanismos de mercado. Krasner. demográficos. como defendem os realistas. http://saberes. A Teoria da Estabilidade Hegemônica procurou responder ao argumento neoliberal de que o crescimento da interdependência econômica entre os Estados os estaria enfraquecendo e atenuando o relacionamento histórico entre a força militar e a capacidade de sustentar interesses nacionais. dentre outros. A Teoria da Estabilidade Hegemônica é normalmente citada como a conjugação das ideias do realismo com as ideias pluralistas de interdependência (vide Unidade 2). apresentou tese no mesmo sentido. Ela explica. tornando o debate mais acalorado. 14 .senado. Sob condições de interdependência complexa. responderam dizendo que não é verdade que a distribuição de poder político e militar não se relacione com a condição de interdependência complexa. dependia da habilidade e da disposição dos EUA em fornecer as condições sob as quais os outros Estados estariam participando da concorrência por ganhos relativos e cooperando para maximizar seus ganhos absolutos com base em uma cooperação no comércio e em outros setores de controvérsia. sociedade civil. ou um papel minimizado para o uso da força.php?id=13651 63/78 . Os neorrealistas. Giovanni Arrighi. longe de tornar obsoleto o poder. e o Estado deixa de ter o único papel relevante nas relações internacionais. os neoliberais afirmam que é difícil para Estados democráticos delinearem e perseguirem políticas exteriores racionais. Afinal. com operadores extremamente variados: organizações intergovernamentais. por exemplo. está a interdependência econômica que testemunhamos no mundo atual reduzindo a importância do poder militar? A resposta dessa teoria é negativa. em sua obra O longo século XX. Portanto. serviços e de informações. Waltz.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. não teria havido os anos dourados do pós-Guerra. Trata-se de um modelo explanatório das relações internacionais que pressupõe múltiplos canais de contato entre as sociedades. como visto. a ligação entre o poder hegemônico e o grau de interdependência complexa no comércio internacional. mostrou que a interdependência. organizações não governamentais. uma ausência de hierarquia entre questões de agenda e uma diminuição da utilidade do poder militar. a liderança hegemônica dos EUA e o antissovietismo foram as bases do compromisso com o “internacionalismo liberal” e com o estabelecimento de instituições internacionais para facilitar a grande expansão comercial ocorrida entre os Estados capitalistas nos anos de 1950 e 1960 (chamados de “anos dourados” por Eric Hobsbawm). para autores como Gilpin. embora ainda proeminente. ao falar sobre a importância do equilíbrio de poder. de bens. multinacionais. A “interdependência complexa” é o resultado da multiplicação das interconexões globais e da aceleração de fluxos financeiros. os quais passam a ganhar espaço nas decisões e discussões internacionais.br/mod/book/tool/print/index.leg.Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependência Os neoliberais usam o modelo da “interdependência complexa”. Sem a presença de um hegemon. Conclusão O Realismo continua sendo a principal corrente teórica de Relações Internacionais. 15 .senado.br/mod/book/tool/print/index. Volte ao início da Unidade e verifique se os objetivos propostos foram alcançados. Nesta Unidade então. a novas adaptações. nunca o mundo pareceu tão realista. esses novos elementos não conduzem à decadência ou obsolescência do paradigma. mas.leg.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. De fato. Não obstante. com as mudanças na política internacional que vêm ocorrendo neste início de milênio. estudamos a principal corrente teórica das Relações Internacionais: O Realismo. No século XXI. sim. As teses neorrealistas são bons exemplos. http://saberes.php?id=13651 64/78 . motivadas pelas pretensões hegemônicas de projeção de poder da Hiperpotência norte-americana. análises sob uma ótica realista passam a considerar diferentes fatores e novos Atores. br/mod/book/tool/print/index. http://saberes. • assinalar as subestruturas que compõem a Sociedade Internacional e sua importância na compreensão da mesma.leg.php?id=13651 65/78 .22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 5 . Outro fator importante.Sociedade Internacional: Aspectos Gerais • apresentar os aspectos gerais que caracterizam a Sociedade Internacional.senado. é sua organização pessoal e a disponibilidade de um tempo diário e preciso para os estudos. que pode contribuir para o aproveitamento do curso. heterogênea. podemos relacionar a Sociedade Internacional à evolução histórica das relações entre os grupos. desde a família às organizações intergovernamentais. pouco contato havia entre as diversas “sociedades” dentro da Sociedade Internacional. é possível identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade. povos e Estados-nações organizados em âmbito espacial determinado. Registre-se que há cerca de apenas três séculos é que a Sociedade Internacional começou a adquirir características “globais”: até recentemente. de forma pacífica ou conflituosa.php?id=13651 66/78 . 64-55). sendo.” A Sociedade Internacional pode ser percebida como um conjunto de sociedades.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea. quaisquer que sejam seus graus de evolução e poder”. “a Sociedade Internacional é uma sociedade global de referência”. em cujo seio surgem e se desenvolvem os grupos humanos. com a ascensão e o declínio do Estado-nação frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente. constitui “um marco social de referência. p. ou macrossociedade. Conceito de Sociedade Internacional Convém apenas lembrar que definimos Sociedade Internacional como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Em um primeiro momento. É uma “sociedade de sociedades. Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional Para Rafael Calduch Cervera (1991. a análise histórica pode ser de grande auxílio. Passemos aos elementos fundamentais da Sociedade Internacional. http://saberes.senado. Assim. 2 . ou seja.br/mod/book/tool/print/index. Essa análise é definida como o estudo do grande número de eventos ou fatos que transcenderam as fronteiras entre os Estados e que relacionaram entre si as nações e os povos.leg. um todo social em que estão inseridos todos demais grupos sociais. portanto. passando pelos Estados. Em nossas observações acerca da Sociedade Internacional. A Sociedade Internacional pode ser percebida na dicotomia “anarquia x ordem comum”. o que não se pode conceber. 3 . controle ou imponha a conduta a seus membros. 2007).php?id=13651 67/78 . legítima titular do uso da força. de maneira geral. Nesse sentido. Afinal. Mesmo sendo o Estado o principal Ator internacional. interdependente. 2000). Pode-se dizer que esse ordenamento é estruturado com base em elementos como extensão espacial. estratificação e hierarquia. Sobre as transformações na Sociedade Internacional. autoridade superior no sistema. nos termos apresentados. polarização. 2002). a presença e influência cada vez maior de grupos diferentes dos Estados-nação no sistema internacional.senado. deficiente da realidade. interessante a trilogia de Manuel Castells: A Sociedade em Rede (Paz e Terra. Ademais. convém lembrar que a doutrina aceita a existência de uma Sociedade Internacional antes do surgimento dos Estados nacionais. Evidente que é anárquica por não possuir uma autoridade superior que. compreender a Sociedade Internacional apenas com base nas relações interestatais conduziria a uma percepção obscura e. os Atores conduzem suas relações internacionais de acordo com seus próprios interesses e. Discordamos dessa percepção de Calduch.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.leg. Sociedade Internacional sempre houve. Assim. O Poder da Identidade (Paz e Terra. sem que seus membros mantenham relações mútuas intensas e duráveis no tempo. diversificação estrutural.br/mod/book/tool/print/index. Fim de Milênio (Paz e Terra. Não existe um governo mundial ou uma autoridade supraestatal. http://saberes. é uma sociedade global. Com isso. podendo ser identificados em todas elas. como a dos dias atuais. portanto. Há uma ordem comum no meio internacional. o papel das grandes Potências é essencial.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional (cont. São os chamados “elementos da estrutura internacional” (Esse s e le m e ntos foram apre se ntados por C alduch. relembre-se que anarquia internacional não é sinônimo de desordem.) Outro ponto a que Calduch chama a atenção é que “a Sociedade Internacional é distinta da sociedade interestatal”. e as obse rvaçõe s que fare m os a re spe ito são prove nie nte s do e studo de sua obra. Variam conforme o tempo e as diferentes sociedades. não aceitam. Calduch afirma. Não poderiam existir “relações internacionais” sem um ordenamento mínimo na Sociedade Internacional.) . pois são elas que definem os rumos do sistema. assinala que a mera ocorrência de ações esporádicas e ocasionais não basta para se considerar a existência de uma Sociedade Internacional. estabelecida pelos próprios Atores para viabilizar suas relações. Entretanto. que não é possível considerar a existência de uma Sociedade Internacional em seu sentido estrito. Não há como desconsiderar. ao menos no que concerne aos Estados. ainda. Essa ordem internacional emana da correlação de forças e poderes entre os Atores internacionais. mesmo que sua principal característica fosse a falta de interação entre as sociedades/civilizações que a compunham. sobretudo nos dias atuais. grau de homogeneidade ou heterogeneidade e de institucionalização. Todavia. 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. marcada por uma minoria da população do globo com alto padrão de vida e a maioria vivendo em condições subumanas.senado. Com o desenvolvimento tecnológico. ainda que com espaços definidos e com crescentes intercâmbios culturais. Entre esses “desafios” estão o fenômeno do esgotamento dos recursos naturais. até o século XX. comerciais. a utilização do espaço estratosférico e das profundezas oceânicas. O que deve ficar claro é que. http://saberes.leg. o crescimento exponencial da população mundial. quando algum de seus membros principais experimentar mudanças em seus limites fronteiriços ou em sua zona de influência territorial direta – como ocorreu no Leste Europeu para a URSS. ainda. a deterioração ambiental ocasionada pela contaminação da terra. sob regimes autoritários e sem quaisquer perspectivas de futuro digno. suas mudanças territoriais e reações a mudanças têm marcado as diferentes sociedades internacionais. “a Sociedade Internacional é uma sociedade territorial”. ao Ocidente ou ao “mundo civilizado”. a ideia de “globalização” apresenta uma Sociedade Internacional não mais espacialmente limitada ao continente europeu. 4 .php?id=13651 68/78 . Vale lembrar que. sendo o Estado o principal Ator internacional. mas às dimensões do planeta Terra. Daí considerar-se essencial para a análise de qualquer Sociedade Internacional o conhecimento do “marco espacial” em que a referida sociedade se encontra assentada. Os problemas da Sociedade Internacional globalizada têm efeitos em todo o território do planeta. o uso crescente da energia nuclear para fins civis ou militares. a constante expansão geográfica da Sociedade Internacional gerou conflitos e mudanças nos Atores e nas relações de poder entre eles. ou. Esse foi um problema que surgiu quando a Sociedade Internacional alcançou dimensões planetárias. Portanto. da mais remota Antiguidade aos dias atuais. Essas condições implicam necessariamente uma reestruturação da Sociedade Internacional. do ar e das águas. em que a questão geográfica. sociais e políticos. O século XX marca o limite espacial da Sociedade Internacional.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito A extensão espacial Para Calduch. isoladamente. Não se pode mais buscar soluções para problemas locais sem um pensamento global. na miséria absoluta. Acrescente-se a significativa disparidade de renda na esfera internacional. A Sociedade Internacional sofrerá transformações em sua estrutura e dinamismo sempre que sua dimensão espacial for alterada. cai para segundo plano. a característica da Sociedade Internacional era exatamente a composição espacial de diferentes sociedades internacionais. mas com características distintas e espaço geográfico delimitado.br/mod/book/tool/print/index. Compõe-se das comunidades políticas e organizações internacionais. comércio e consumo).Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito A diversidade sistêmica A Sociedade Internacional é composta de distintos subsistemas.php?id=13651 69/78 . segundo Calduch. no qual está a base material e produtiva indispensável para a existência dos grupos humanos. o subsistema econômico. desajustes e crises. Cite-se.senado. http://saberes. Calduch prefere chamá-los de “subestruturas”. cuja correlação configura a ordem internacional imperante. bem como das relações de autoridade e dominação que elas mantêm entre si em virtude de normas jurídicas ou mediante o exercício do poder militar. Forma-se. tanto entre os grupos que as capitalizam quanto ao conjunto da Sociedade Internacional. O segundo subsistema a ser considerado é o político-militar. desempenha um papel de mediador entre a dimensão político-militar e a econômica. uma vez que a Economia é uma das “forças profundas” mais influentes na conduta internacional dos Atores.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. em virtude das características exclusivas de cada um de seus componentes. O terceiro subsistema é o cultural-ideológico. provocando tensões. O subsistema econômico não pode ser descartado para a compreensão da Sociedade Internacional. Suas respectivas evoluções seguem ciclos e ritmos de diferentes intensidade e duração. valores ou ideologias comuns a distintas sociedades humanas e dos processos de comunicação que deles derivam”. por exemplo.br/mod/book/tool/print/index. Incluem-se aí tanto o conjunto dos fatores e forças de produção quanto as inter-relações associadas ao processo econômico (produção. cada um dos subsistemas está conformado de maneira particular. Cada um desses subsistemas corresponde a uma das áreas imprescindíveis para a existência da Sociedade Internacional em seu conjunto. por “atores e relações internacionais desenvolvidas a partir da existência de conhecimentos. Naturalmente. como foi testemunhado. então. 5 . nos anos da Guerra Fria. tão importante quanto os anteriores. O subsistema cultural-ideológico.leg. “deve-se considerar aqueles grupos internacionais cujo protagonismo fica limitado a certas áreas da vida internacional.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito A estratificação hierárquica A Sociedade Internacional constitui uma realidade complexa. a estratificação hierárquica em cada um dos subsistemas internacionais pode realizar-se atendendo às diferentes características de Atores (Estados. Calduch lembra. para a política. sejam políticas. países. indivíduos. Acrescentemos a relevância no papel de alguns indivíduos na Sociedade Internacional contemporânea. http://saberes. Para exemplificar. existe uma hierarquia “de fato” entre os Atores na Sociedade Internacional. por exemplo.” Uma primeira observação a ser feita a respeito da estratificação é que a hierarquia internacional não é única e imutável em cada Sociedade Internacional e muito menos homogênea para cada subsistema. para o subsistema econômico. considerando cada um dos grupos com capacidade de participação nos diferentes subsistemas. que.br/mod/book/tool/print/index. o indivíduo. efetivamente. empresas multinacionais/transnacionais. 6 . junto aos Estados soberanos. a influência atual do Brasil na economia internacional é bastante diferente de sua influência na política ou de seu poder militar. mais ainda. pois é inquestionável sua influência nos diferentes subsistemas. a posição ocupada por um Estado no Subsistema econômico internacional poderá não ser a mesma no subsistema político-militar.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. cultural/ideológico. o Papa João Paulo II. organizações não governamentais. entre outros) ou. o [extinto] Pacto de Varsóvia. George Soros.php?id=13651 70/78 . Assim. entendido como Ator internacional. na Sociedade ou até Portanto. nas que relações muitos internacionais.senado. também.leg. ou vice-versa. em alguns casos muito superior à da maior parte dos Estados-nacionais. influência como Atores internacionais. Uma vez que há diferentes graus de influência nos assuntos internacionais. também ocupa um estrato dessa hierarquia. ainda. a Agência de notícias Reuters. cujos membros ocupam níveis ou estratos segundo a desigualdade de poder – político. social. e. mostraram-se econômicas mais influentes culturais. só para citar alguns nomes mais conhecidos. Assim. econômico. Inegável que Bill Gates. Claro que esses outros membros da Sociedade Internacional não podem ser desconsiderados. Internacional contemporânea. Daí o conceito de Calduch para essa estratificação: “conjunto das diferentes e desiguais posições ocupadas pelos atores internacionais em cada uma das estruturas parciais que formam parte da Sociedade Internacional. no plano cultural”. organizações internacionais. de seu papel cultural-ideológico internacional. ou mesmo Osama bin Laden. os quais exercem. militar. o Fundo Monetário Internacional. ao tratarmos de polarização. haverá uma drenagem tão grande de seus recursos e capacidades para projetos e atuações exteriores que esses Atores terão seu poder debilitado. consideramos os membros da Sociedade Internacional nas posições superiores da estratificação hierárquica. apenas um exemplo. portanto. Para os Atores que ocupam essa posição de destaque. Introduzimos. para usar os termos de Paul Kennedy. vai ocupando o vazio de poder fruto do enfraquecimento desse ou desses. Entretanto. a manutenção da estrutura imperante mostra-se questão de sobrevivência. É importante observar que um ente muito adaptado a determinado ambiente e. tanto interna quanto externamente. depois de determinado tempo – anos. 7 . fatal – alteração no equilíbrio de poder no sistema. a polarização – ou polaridade – contempla somente aqueles que dominam as relações básicas de cada subsistema internacional. A “ascensão e queda das grandes potências”. décadas ou séculos –. ocorre também na Sociedade Internacional. com o objetivo de perpetuar sua hegemonia. sempre relacionado à incapacidade de manutenção da hegemonia internacional nos diferentes subsistemas ao longo do tempo. A longo prazo. até adquirir capacidade suficiente para afetar o Sistema. Enquanto a estratificação considera o conjunto dos Atores. Assim como ocorre na natureza. a única certeza é que surgirá um novo Ator para ocupar seu espaço no Sistema Internacional. http://saberes. Entenda-se lógica darwiniana como a capacidade de um ente se adaptar a determinado ambiente. numa lógica darwiniana. como dito. bem-sucedido.leg. um dos elementos essenciais para a compreensão da estrutura do sistema internacional: a ideia de polarização. por meio dos quais alcançam ou garantem uma posição hegemônica na hierarquia internacional. às vezes.br/mod/book/tool/print/index. aqui. com a consequente – e. Segundo Calduch. pois qualquer sinal de mudança pode significar que outro polo está a se estruturar. Portanto. que culminou no desaparecimento daquele Estado em 1991. O caso da URSS é.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. Um bom exemplo disso é o que ocorreu com a URSS na década de 1980. pode desaparecer se as condições se modificam.senado. Polarização pode ser definida como a capacidade efetiva de um ou vários Atores internacionais para adotar decisões. comportamentos ou normas que sejam aceitos pelos demais Atores e.php?id=13651 71/78 . os Atores à frente de cada subsistema internacional se veem obrigados a intervir de modo crescente e constante nas relações internacionais. aos poucos. é um fato que pode ser constatado em diversos momentos da evolução histórica da Sociedade Internacional.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito A polarização Alguns Atores atraem para si outros em virtude da capacidade de influência no sistema e da desigualdade entre os diferentes protagonistas do cenário internacional. A evolução é fatal: um Ator hegemônico surge ainda quando o Sistema está polarizando por outro ou outros atores. e multipolaridade.) e ainda empresas multinacionais ou transnacionais (Exxon. ao menos sob a perspectiva de poder militar. NAFTA. surgem também organizações intergovernamentais e blocos econômicos (União Europeia. bipolaridade. EUA e URSS. Já para exemplificar a multipolaridade econômica. Citicorp). para perdurar. a hegemonia na multipolaridade não tem uma direção única. a dinâmica de determinado subsistema internacional. IBM. Alguns autores. nas quatro décadas seguintes ao término da II Guerra Mundial (19391945). entre a derrota de Cartago (136 a.) e seu desmembramento (476 d. na Grécia clássica.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág.leg.) Há três formas de polarização internacional: unipolaridade. no mundo antigo.C. Um exemplo atual poderia ser a condição dos EUA. tem-se a multipolaridade. 8 . no contexto da Sociedade Internacional mediterrânea. General Motors. Entende-se por unipolaridade a situação em que um só Ator é capaz de dirigir. Mercosul etc. China). uma vez que.Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito Polarização (cont. Japão. devido à incapacidade de outro Ator fazer-lhe frente. quando o domínio de um subsistema internacional é disputado por mais de dois Atores. Não se pode exercer a liderança em um sistema por muito tempo apenas com base no uso da força. http://saberes. discordam e vislumbram um sistema multipolar no contexto geral. APEC. Como na bipolaridade. a relação hegemônica deve basear-se em dois alicerces: coerção e consenso. É possível. Como exemplos de sistemas bipolares no plano político citamos: Esparta e Atenas. ao mesmo tempo.php?id=13651 72/78 . No seu auge. entretanto. algumas das quais com capacidade para influenciar o sistema de forma muito superior à da maior parte dos Estados soberanos do globo. tendendo a uma ou outra esfera de influência conforme interesses específicos e. o que obriga os distintos polos a considerarem em suas condutas internacionais os interesses e condutas de seus pares. Finalmente.senado. estabelecido em 1815. com a derrota de Napoleão. com o fim da Guerra Fria e o colapso da URSS. ainda. mais complexas e aleatórias são as relações internacionais. o poder de influência desse Ator é incontestável. junto às Grandes Potências econômicas (EUA.C. ademais.br/mod/book/tool/print/index. de modo decisivo. A bipolaridade ocorre quando dois Atores dividem a hegemonia de um subsistema. Como exemplo de multipolaridade no subsistema político-militar tem-se o Concerto Europeu. e que perdurou por cerca de 100 anos na ordem europeia. Os demais componentes do Sistema acabam migrando para a esfera de influência de um dos dois Atores principais. que os demais Atores optem por uma política pendular. Cartago e Roma. Quanto maior o número de Atores polarizando o Sistema. que. ao mesmo tempo em que hegemonia fundamentada simplesmente no consentimento dos pares pode ser ameaçada por uma crise de legitimidade. Registre-se.). “jogando” com a disputa entre os polos. Alemanha. O exemplo clássico de unipolaridade político-militar está no Império Romano. apresentamos a Sociedade Internacional de nossos dias. 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. 9 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito O grau de homogeneidade e heterogeneidade A Sociedade Internacional encontra-se condicionada também pela presença ou ausência de homogeneidade entre seus membros. Uma vez que existem Atores com diferentes naturezas, composições, poder e objetivos, só é possível estudar o grau de homogeneidade/heterogeneidade se forem comparados Atores pertencentes a uma mesma categoria. Não se pode, portanto, comparar Estados soberanos com organizações internacionais para se medir o grau de homogeneidade de determinado subsistema. Existe homogeneidade internacional quando são observadas identidades ou similitudes internas fundamentais entre os Atores que pertençam a uma mesma categoria e participem de um mesmo subsistema internacional, principalmente entre os Atores estatais. Já a heterogeneidade é constatada com a existência de divergências internas básicas entre os referidos Atores. Uma análise das relações internacionais sob o enfoque do grau de homogeneidade/heterogeneidade da Sociedade Internacional deve considerar: 1) a comparação entre Atores da mesma categoria; e 2) a não existência de categoria com grau de homogeneidade absoluto. Sempre haverá diferenças entre os Atores, uma vez que a diversidade é uma característica inata das sociedades que compõem a Sociedade Internacional. Um terceiro aspecto que deve ser considerado é que um elevado índice de homogeneidade em um subsistema internacional não se transfere automaticamente aos outros subsistemas. Assim, há casos em que são vislumbradas relações políticas homogêneas em contraposição à heterogeneidade econômica e sociocultural em um mesmo grupo de Atores. Finalmente, vale observar que, para alguns autores, os sistemas homogêneos tendem a ser mais estáveis (ARON, 1986). Afinal, a homogeneidade permite maior grau de previsibilidade na conduta internacional dos Atores. Trata-se, entretanto, de uma tendência que não pode ser considerada de maneira categórica, visto que ao próprio conceito de estabilidade são atribuídas diferentes interpretações. Muitas vezes, os Atores fazem uso dessa dicotomia homogeneidade/heterogeneidade para conduzir seus interesses internacionais e influenciar a conduta de outros Atores. Exemplos são os grupos que se formam sob a égide de bandeiras como “nações civilizadas”, “países desenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”, “capitalistas, socialistas e não alinhados”. Enquanto o caráter homogeneidade/heterogeneidade, em alguns casos, realmente se faz presente, em outros nada mais se tem que uma forma de apresentação internacional pouco condizente com a realidade. http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 73/78 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. 10 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito O grau de institucionalização O último elemento fundamental para o estudo das relações internacionais identificado por Calduch é o grau de institucionalização, que, por sua vez, resumiria todos os anteriores. Para o mestre espanhol, “o grau de institucionalização de uma Sociedade Internacional é formado pelo conjunto de órgãos, normas e valores que, independentemente de seu caráter expresso ou tácito, são aceitos e respeitados pela generalidade dos Atores internacionais de um mesmo subsistema, permitindo, dessa maneira, a configuração e a manutenção de determinada ordem internacional.” (CALDUCH, 1991, p. 74). Esse conceito traduz o entendimento e o consenso social que deve imperar entre componentes de uma Sociedade Internacional ao estabelecerem ou modificarem suas relações mútuas. Calduch defende que não se pode analisar o grau de institucionalização apenas com base nas normas jurídicas: há normas que não estariam envolvidas pelo Direito Internacional, ainda que este sintetize a maior parte das instituições fundamentais da Sociedade Internacional. Ao estudar as instituições internacionais e suas transformações, o analista depara-se com a estrutura da ordem internacional, os interesses dos Atores e as forças que influenciam as condutas dos membros da Sociedade Internacional ao longo do tempo. As instituições estão relacionadas aos valores, às normas e aos objetivos dos membros de uma sociedade e, mesmo, à essência de seus subsistemas. As mudanças nas instituições refletem, portanto, as transformações da própria sociedade em que se encontram, suas formas de cooperação e seus antagonismos. Finalmente, Calduch afirma que a diplomacia, o comércio e a guerra são formas de relações internacionais presentes em diversos tipos de instituições internacionais. Daí não ser cabível, para a análise do grau de institucionalização de uma sociedade, a exclusão de valores ou normas que emanem diretamente da existência de conflitos bélicos. Portanto, compreendendo as instituições de uma sociedade, pode-se compreender seus membros, as forças que nela interferem e os reflexos das relações entre os Atores. http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 74/78 22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. 11 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito O grau de institucionalização Um exemplo recente de dificuldades geradas em modelos institucionais críticos é a guerra em regiões menos desenvolvidas do globo. Enquanto o conflito entre as Potências busca seguir determinadas “leis” de conduta, um confronto em áreas menos desenvolvidas foge a qualquer padrão. Muitos oficiais ocidentais ficaram perplexos ao combater em 2001 no Afeganistão, porque as milícias afegãs “desconheciam os usos e costumes do direito de guerra das nações civilizadas”. Não havia nada parecido com as instituições da guerra clássica no cenário da Ásia Central, o que levou à violência exacerbada de ambos os lados no combate. Cite-se entre as principais as Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos Adicionais, que regulamentam as condutas dos combatentes. Assim, as instituições refletirão os subsistemas e a maneira como estão ordenados. Pode-se, portanto, analisar as relações internacionais sob a ótica das instituições que se manifestam no Sistema Internacional. É essencial, portanto, ao internacionalista, conhecer as instituições que regem as estruturas da sociedade objeto de seu estudo. Assista à aula do Professor Joanisval Gonçalves, em duas partes, sobre Sociedade Internacional, que engloba conceitos tratados neste primeiro módulo. Vamos lá! Parte 1-duração: 7min29 Parte 2 - duração: 7min08 http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 75/78 leg.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado.com/br/flashplayer/) Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. Nos módulos seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da Sociedade Internacional a partir da era moderna. http://saberes. 2) pode precisar atualizar o Flash P layer (http://get.br/mod/book/tool/print/index. com esses aspectos teóricos operando como pano de fundo.php?id=13651 76/78 .adobe.senado. 12 . a qual tem uma perspectiva das relações internacionais muito fundamentada nas ideias de sociedade internacional.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Pág. de Adam Watson (Brasília: Ed. Nos módulos seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da Sociedade Internacional a partir da era moderna. de Hedley Bull (Brasília: Ed. com esses aspectos teóricos operando como pano de fundo. 2002).Conclusão do Módulo I Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. UnB. 2004) e A Sociedade Anárquica.senado. Bull e Watson são dois ícones da chamada Escola Inglesa de Relações Internacionais. Dois livros importantes para se compreender a ideia de sociedade internacional são A Evolução da Sociedade Internacional. UnB.br/mod/book/tool/print/index.php?id=13651 77/78 .leg. Você pode encontrar resenhas dos livros sugeridos na Internet: # A Sociedade Anárquica e # A Evolução da Sociedade Internacional http://saberes. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Para ter acesso aos Exercícios de Fixação.leg.Teoria e História. Como parte do processo de aprendizagem.22/3/2014 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Exercícios de Fixação .php?id=13651 78/78 . O resultado não influenciará na sua nota final.br/mod/book/tool/print/index.senado. http://saberes.Módulo I Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Relações Internacionais . clique aqui. sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo.
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