Comunicação e Expressão

March 25, 2018 | Author: Tina O'neil | Category: Poetry, Communication, Natural Language, Sociology, Definition


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Comunicação e ExpressãoNoções de texto e aspectos da comunicação Nilza Carolina Suzin Cercato . sabe-se que ele é uma unidade de sentido. como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida. trazendo sentido para os interlocutores. formando um todo compreensível. Nessa situação. como tecido. Em primeiro lugar: ao dizer unidade linguística. (KOCH. ou de marido. quem fala e para quem fala. o termo específica significa. em uma situação de interação comunicativa específica. Segundo Koch e Travaglia. portanto o significado de uma parte não é autônomo. discurso. trazem o valor da presença de interlocutores. Para ter o significado global de um texto. meio e fim. Lugar. refere-se a um lugar social. ele só faz sentido quando relaciona-se com outras partes. Texto. p. isto é. nessa definição. Quando se conceitua texto. Por exemplo: o pai que fala ocupando o lugar de pai. independentemente da sua extensão. nesse contexto. de autores que servem de referência para este estudo. Quando os autores afirmam que o texto envolve uma situação de interação. TRAVAGLIA. 5 . valorizando os aspectos da comunicação. que é tomada pelos usuários da língua. os autores pressupõem que essa construção tenha começo. constrói-se numa relação de fios que se entretecem. em que cada parte se inter-relacione. A seguir.Noções de texto e aspectos da comunicação O maior presente que você pode dar a outra pessoa é a pureza da sua atenção. Richard Moss Nesta primeira aula da disciplina Comunicação e Expressão vamos trabalhar os conceitos de texto. deverá haver um funcionamento da língua. O texto será entendido como uma unidade linguística concreta. falar do lugar de empresário. alguém que fala de um lugar para seu interlocutor que ocupa outro lugar. é preciso estabelecer uma combinação geradora de sentido. em outra situação. 9) Vamos compreender a definição. pode. vamos analisar algumas definições de texto. 1997. Aquele pai.Está bem.Maior. também.Não serve. .. agora tem 15. . professor.A língua tem como constituinte a interação verbal. Isso significa que os enunciados devem estar inter-relacionados. caso não haja a presença real do interlocutor. que se reconhecem socialmente. gerente. aluno. pode ser citado o papel social que desempenha. não.Você comprou um no ano passado. não aparecem os nomes das personagens. pai.É. Fazendo uma paráfrase do que diz M. H. Veja o exemplo a seguir: Aquele pai não entende nada . pai. Eu cresci. Noções de texto e aspectos da comunicação (VERISSIMO.Um biquíni novo? . 6 com/2011/05leitura-e-interpretacao-de-text—cornica-html>) Você deve ter percebido que nesse breve conto de Luís Fernando Verissimo. não entendia nada.. Duarte Marques (1990). encadeados entre si. para o papel social desse interlocutor. pai. para uma função desempenhada. encaminha-se.blogspot. portanto. Disponível em: <http//chaodeestrelascassilandia. pai. mas são identificadas pelo lugar social que ocupam: pai e filha. não cresceu tanto assim. .Não serve mais. Mas. Compra um biquíni maior. deve ter coerência e coesão. está bem. . que vem a ser a relação entre dois indivíduos: o locutor e o interlocutor..Como não serve mais? No ano passado você tinha 14 anos. como diretor. . Toma o dinheiro. Luís Fernando. menor. .. podemos dizer que um texto. Nota-se que o interlocutor está sempre marcado. pois não há possibilidade de um enunciado dirigido a um ser abstrato. para ser definido como tal. etc. . o texto (discurso) vai ter um dado efeito de sentido. p. “Um todo organizado de sentido. mesmo fora da situação de comunicação entre autor e editor. Note-se que também coloca a necessidade de uma unidade de sentido para que realmente estabeleça a comunicação. Quando a obra ficou pronta. um vídeo. Na medida em que retiramos de um discurso fragmentos e inserimos em outro discurso.Por outro lado. poesia. podemos compreender: Victor Hugo interroga seu editor: Que tal? Está bom? Ao que o editor responde significando: Maravilhoso! Estupendo! Na contemporaneidade. isto é. mas numa situação social. consequentemente. no caso. a autora propõe a presença da coesão e coerência para que o significado esteja presente entre os interlocutores. fazemos uma transposição de suas condições de produção. prosa. Um exemplo clássico. escritor do romance Os Miseráveis. tudo é texto. Depois que o editor leu o romance. pois é importante verificar “o quando” para o texto ter sentido.” Esse lugar no discurso é governado por regras anônimas que definem o que pode e deve ser dito. e num tempo. Somente nesse lugar constituinte. com um bilhete. um filme etc. O acréscimo que a autora coloca está na citação de formas de texto. uma frase. Noções de texto e aspectos da comunicação Os autores trazem um acréscimo na definição de texto: a presença de um sujeito. Aqui não se está falando do sujeito gramatical (aquele que pratica ou sofre a ação do verbo). O importante é que faça sentido na situação de uso. que comunique. Desdobrando o conceito. Se for falado em outra situação que remeta a outras condições de produção. também pode apresentar-se como um artigo científico. num espaço (lugar) não geográfico. uma conversa informal ou telefônica. Mudadas as condições. é o caso de Victor Hugo. 1993). no qual havia apenas: “?”. Hoje em dia. escreveu outro bilhete em que estava: “!”. ele mandou os originais para o seu editor. a significação desses fragmentos ganha nova configuração semântica (BRANDÃO. mas sim de um indivíduo que ocupa um determinado lugar e fala desse lugar. será outro. 18). notícias. agora pelo leitor. a extensão do texto pode ser variável e a materialidade com que se apresenta também varia: pode ser uma foto. Afinal. 7 . surgem as mesmas exclamações. delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo. Segundo Fiorin e Savioli (2006. seu sentido. muito citado. que funcione. quando se lê Os Miseráveis. O que precisa para que um texto seja um discurso? Segundo elas. o efeito de sentido construído por dois “personagens”: o locutor. 1988. O título de uma reportagem de jornal foi oferecido a um grupo. acontece o uso de uma mesma língua. Ao surgir. Dessa forma. sentindo-se ofendida. para o discurso funcionar. em que os vazios são preenchidos por conhecimentos anteriores que formam uma memória. se chama de interdiscurso. com novas experiências.. falando sobre o mesmo referente. A incompletude é constitutiva de qualquer signo – qualquer ato de nomeação é um ato falho. 20). Agora. um mero efeito discursivo. ele depende da língua. tendo na língua sua possibilidade de existência. pois sempre haverá falta. E Você. discurso é o espaço em que emergem as significações e a língua é a materialidade na qual o discurso aparece. aquele que fala. “[. Interdiscurso vem a ser tudo o que o sujeito sabe ou conhece e usa no momento da construção de seu discurso. 8 Devido ao interdiscurso. o discurso mobiliza condições determinadas. Para Eni Orlandi (2001. que. com novas palavras. e o interlocutor. sempre há o que acrescentar. 64). Quando falamos em incompletude. o que entende por Sementes de suicídio? Os sentidos oferecidos pelo grupo foram: descoberta de uma semente que mata. o discurso é o funcionamento. Noções de texto e aspectos da comunicação A unidade do texto é verificada pelo sentido. fica evidente o quanto a incompletude faz parte do discurso. pistas que devem ser interpretadas ou descobertas pelo alocutário. A imagem que podemos relacionar com o texto é de uma rede. para que cada um dissesse qual seria o teor do texto Sementes do Suicídio.] discurso é o efeito de sentido entre locutores”. p. podemos compreender melhor o sentido de incompletude que caracteriza o discurso. suicidou-se. aquele para quem se fala. Vemos que as duas autoras concordam na definição de discurso. Sua compreensão foi semelhante? . pois nada está acabado para sempre. Veja um caso que aconteceu em sala de aula. Com a imagem da rede. o que permite o surgimento do sentido.Discurso Depois de termos trabalhado com a definição de texto. uma pessoa. Segundo Brandão (1998).. a violência sofrida por alguém gera sementes de ódio e pode levar ao suicídio. que é a materialidade. mas não o mesmo discurso. pois um discurso nunca está só. vai ser muito interessante ver o que é o discurso. a ofensa foi a semente que gerou o suicídio. estamos dizendo que um mesmo discurso pode voltar com novas materialidades. falha e o ainda a dizer. na Análise de Discurso. “A multiplicidade de sentido é inerente à linguagem” (ORLANDI. p. O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretendia. depende de um “já-dito”. o texto falava sobre uma pesquisa feita pela indústria da Monsanto. determinados por condições sociais. quando.Veja o que aconteceu. à cor. para levantar hipóteses de desenvolvimento da reportagem. o furo. ao sabor. Aí está a multiplicidade de sentido. no caso do exemplo anterior. A falha. Essas frutas foram obtidas por meio de várias experiências. resultando perfeitas quanto ao tamanho. O que quer dizer isso? Locutor e alocutário vão ocupar um determinado lugar social. devem-se colocar em evidência os protagonistas do discurso – quem fala? para quem fala? As respostas a essas questões vão determinar outros dois novos elementos da comunicação: Código linguístico (que é a materialidade. à textura. Aspectos da comunicação Deve ter ficado claro para você o significado de texto e de discurso. Essa foi a forma encontrada pela empresa para proteger sua pesquisa. Vejamos: Locutor e Alocutário Para melhor conhecer os elementos da comunicação. construindo uma rede. para deixar inférteis as sementes de frutas. mais outro. o idioma) Locutor (quem fala)  Discurso (o que é falado)  Alocutário (para quem se fala) Noções de texto e aspectos da comunicação Esses dois primeiros elementos constituem-se em sujeitos. Quem desejasse plantar essas sementes não conseguiria reprodução. vamos ver como os interlocutores funcionam num dos esquemas de comunicação. historicamente delineáveis e portadores das significações ideológicas de tais condições. ela estava sendo empregada no sentido literal. (como já vimos anteriormente) e esse lugar é determinado por condições sociais conhecidas. marcadas pela história e se colocando em seu lugar na luta de classes. Agora. faz-se referência ao que fala antes. Quando se fala em interdiscurso. Na verdade. 9 . está no fato de os alunos empregarem a palavra “semente” em sentido figurado. em outro lugar. O mais conhecido e funcional foi traçado por Jakobson (1969). Esse conhecimento forma o conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico que cada indivíduo acumula ao longo de sua experiência linguística. o que foi importante para cada leitor trazer o conhecimento que possui em relação às palavras “semente” e “suicídio”. Os alunos criaram hipóteses de leitura. Em seguida. na verdade. refizeram o seu caminho e atribuíram outro sentido. T. Veja o que aconteceu entre um turista francês e uma baiana de acarajé pelo fato de não usarem o mesmo código linguístico (a mesma língua). B.Um diálogo entre um turista francês e uma baiana de acarajé. 1969) Noções de texto e aspectos da comunicação Agora. sim. Je ne comprend pas. podemos acrescentar novos elementos: . a mensagem (que é o discurso). para haver comunicação. T. um contexto (que aqui significa as condições de produção).) O caso anterior evidencia o fato de que códigos linguísticos diferentes geram uma situação de não comunicação. 10 LOCUTOR Contexto (Referente) ALOCUTÁRIO Remetente Mensagem (Discurso) Destinatário Contato (Forma como se dá a comunicação) Código (Linguístico) Podemos compreender então que. segundo Jakobson. Para que o discurso atinja sua finalidade de comunicação. é fundamental que o código linguístico seja comum ao locutor e ao alocutário. em Amaralina: Turista: Qu’est que ça? (Traduzindo: o que é isso?) Baiana: Tem que cessá. há um locutor (aquele que fala). um alocutário (aquele para quem se fala). o contato (via em que o discurso acontece) e. porque a fila tá grande. (Eu não compreendo) B. finalmente. : Com a mão também.C. (JAKOBSON. passe a frente. O código linguístico e o tipo de discurso são condicionados aos papéis que locutor e alocutário desempenham – o discurso é resultante das relações dos papéis sociais. (N. o código linguístico (o idioma que é falado). Se não vai comprar. sim. : Comment? (Como?) Nilza Carolina Suzim Cercato. informativos (buscar compreender as informações que estão sendo passadas) e performativos da linguagem (que tipo de performance está funcionando). Contexto (função referencial)   Mensagem (função poética)  LOCUTOR ALOCUTÁRIO (função emotiva) (função conativa) Contato (função fática) Cada um desses fatores vai determinar uma diferente função da linguagem. o sentido pode mudar. de todo ato de comunicação verbal. de que lugar essa pessoa está falando comigo? De que lugar eu vou responder à questão proposta? Vai ser uma experiência muito produtiva em matéria de comunicação. Essa função emotiva deve ser usada quando a subjetividade surge aos olhos de todos. Por exemplo. um objetivo. pela expressão fisionômica. tom de voz. 118-129) traça os fatores constitutivos de todo processo linguístico. Então. A função emotiva está centrada no locutor. é a expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que se está falando. Essas marcas são de atitude pessoal do emitente.. passe a analisar suas falas e as falas do outro dirigidas para você. a partir do momento em que você conhece os elementos de comunicação. Jakobson (1969. pausas. como se pode ver a seguir: 11 . às vezes. seja oral ou escrita. o texto a seguir. Leia. o estrato puramente emotivo da linguagem é apresentado pelas interjeições. Funções da linguagem centradas nos elementos de comunicação Pela nossa experiência pessoal. é preciso considerar os seguintes elementos: emotivos (ver qual a emoção envolvida no momento da comunicação). isto é. observando a pontuação: Noções de texto e aspectos da comunicação Código (função metalinguística) (JAKOBSON. daquele que fala.. conforme se pontua ou pronuncia uma expressão. pois a forma com que construímos nossa comunicação pode trazer efeitos diversos. exclamações. No discurso escrito. relacionando os elementos de comunicação com as funções da linguagem. Se pergunte.É interessante que. tem um fim. para melhor entender as funções. em voz alta. sabemos que qualquer produção. p. Elas dão um colorido às manifestações verbais nos níveis fônico ou gramatical. no discurso oral. 1969) Continuando com nossa referência. é possível verificar formas de manipulação. Já as frases declarativas podem ser submetidas à prova da verdade. A objetividade torna-se uma marca dessa função. compare com essa outra manchete: cidade cuidada: obras em todos os bairros. Por isso. que é o objeto ou a situação de que a mensagem trata. Veja como a função emotiva colabora para a expressão comunicativa. Por quê? Há uma intenção de valorizar o que é feito. manipulatória. estamos falando do referente. certo tipo de correspondência. Embora ela apareça em muitas mensagens. . Noções de texto e aspectos da comunicação Se a mensagem estiver orientada para o contexto. Se a objetividade é resultado de uma atitude premeditada. Não digo as 48. Agora. quando falamos. teremos a função referencial – denotativa ou cognitiva. há a função conativa. Boa noite? Boa noooite! Existe uma história de um ator cuja peça teatral consistia em dizer de 48 formas diferentes a expressão boa noite. o que não acontece com a função conativa. A palavra conativa vem do latim conatus. no uso do vocativo e do imperativo. Nessa função. embora seja uma manchete bem objetiva. esse tipo de frase não pode ser submetido ao julgamento de verdadeiro ou falso. pode acontecer uma manipulação a fim de alcançar determinado objetivo. É uma das funções mais presentes na vida cotidiana. o uso do imperativo exerce uma voz de comando forte. Por quê? Porque. Por isso. Isso é comigo. Se a comunicação estiver orientada para o destinatário. persuasiva – às vezes. Por outro lado. Há imparcialidade? Não. deve-se considerar a participação adicional de outras funções. é preciso desconfiar de sua aparente neutralidade. Basta lembrar aquela que dizia: “Compre baton” repetidamente – mensagem que era transmitida por uma voz autoritária. Há imparcialidade? Não. em sua forma mais específica. um texto impessoal e objetivo traduz um comportamento linguístico de quem o produziu. mas umas três. Comigo. Outra diferença é que as frases declarativas podem ser transformadas em interrogativas. etc. 12 Quando dizemos função referencial. textos de caráter científico. Esse tipo de função é muito usado nas propagandas. que quer dizer “ação de coagir”. O uso é variado: reportagens. Nos dois casos. escolhemos determinadas palavras que acabam traindo nossa imparcialidade. Tente você também. Ou então: Booooa noite! Boa noite. há o desejo de impulsionar o alocutário ou destinatário da mensagem para um determinado comportamento. Se estivermos diante de uma manchete “impessoal” que diz: cidade abandonada: autoridades incompetentes. Ela aparece.Isso é comigo? Isso! É comigo. No entanto... Isso? É comigo? Isso é comigo! Isso é. A função poética está na busca do melhor som para enunciar a mensagem.. Em todo o texto. Por exemplo. não pode ser reduzida apenas à poesia. Por exemplo. Vejamos os primeiros versos: Lutar com palavras / é a luta mais vã / entanto lutamos/ mal rompe a manhã. destaca a função emotiva. orientada para a primeira pessoa. 1969. A elaboração do texto com função poética parte de um trabalho de seleção e arrumação das palavras. O texto volta-se para o código – explicar a linguagem. devemos ter em mente que é muito difícil um texto ser de um tipo de função apenas. Trata-se da função fática. ou exortativa. Noções de texto e aspectos da comunicação Então. Quando estudamos as funções da linguagem. num diálogo convencional. Continuando. Como exemplos. por carta. a poesia épica põe em destaque a função referencial da linguagem. fala da luta do poeta com as palavras. caracterizar a poesia. Não se pode restringir o estudo da poesia à função poética. Ela deve ser estudada no âmbito dos problemas gerais da linguagem. Essa função ocorre também nas situações em que desejamos preencher o silêncio. É importante levar em consideração se a comunicação se faz por telefone. da exploração de seus significados. 13 . Carlos Drummond de Andrade. então. explicar os usos da linguagem. o estudo da função poética deve abranger toda poesia e ultrapassar esse limite. 128). a lírica. em uma poesia intitulada O lutador.. mas podem aparecer outras em segundo plano. a poesia súplice.Outra função da linguagem pende para o contato – suporte físico por meio do qual a mensagem caminha do remetente para o destinatário. A função centrada na mensagem recebe o nome de função poética. só porque assim soa melhor” (JAKOBSON. a tendência é achar que essa função só se aplica à poesia. vamos encontrar a função da linguagem centrada no código: a metalinguagem – função metalinguística. o poeta mostra como existe um embate no momento de usar as palavras. Essa é uma questão de sonoridade que marca um idioma. Haverá uma função dominante. está ouvindo?”. “Pois é!”. causando surpresa – o estranhamento dos surrealistas franceses e formalistas russos. Quando dizemos poética. podemos citar: “Alô. Metalinguagem significa a linguagem falar da própria linguagem. vem imbuída da função conativa. muitas vezes. p. falamos do tempo. Não. O exemplo de Jakobson é o seguinte: “Por que você sempre diz Joana e Margarida e nunca Margarida e Joana? Será porque prefere Joana à sua irmã gêmea? De modo nenhum. rítmicos no texto. destaca a segunda pessoa. de filmes etc. Essa função se evidencia pela troca de fórmulas ritualizadas – presentes nos diálogos –. que cria efeitos sonoros. cujo objetivo é prolongar a comunicação. Entendemos por formações imaginárias como vemos o lugar social do locutor. Essa imagem varia de acordo com o papel social desempenhado no momento da mensagem. 1990) Quadro 1 – Funcionamento das Formações Imaginárias . produzindo um jogo de efeitos de sentido que.Formações imaginárias – seu efeito na comunicação Um aspecto importante a ser considerado na comunicação interpessoal diz respeito às formações imaginárias. os sentidos se efetivam. Para Pêcheux ([1969] 1997). estamos nos referindo à “imagem” que os interlocutores fazem de si e do outro. A (locutor) e B (alocutário) se representam. a partir dela. a partir do lugar social dos interlocutores. De acordo com Pêcheux (1969). a partir das chamadas Formações Imaginárias. a partir dos quais os sentidos se constroem. das relações de poder e força. que ocupam determinado lugar social. criam um imaginário. Quando emitimos uma mensagem. uma informação é passada de emissor A para receptor B. Os interlocutores se representam. sendo o lugar evidenciado pelo discurso. uma imagem é construída simbolicamente e. Então. pois. HAK. num discurso. podemos estabelecer o seguinte quadro: Expressão que designa as formações imaginárias Noções de texto e aspectos da comunicação A 14 B { { I (A) A I (B) A Significação da expressão Questão implícita cuja “resposta” subentende a formação imaginária correspondente Imagem do lugar de A para o sujeito colocado “Quem sou eu para lhe falar assim?” em A Imagem do lugar de B “Quem é ele para que eu lhe fale para o sujeito colocado assim?” em A B Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B “Quem sou eu para que ele me fale assim?” I (A) B Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B Quem é ele para que me fale assim?” I (B) (GADET. comunicam-se de lugares sociais. Quando falamos imaginário. Essa atitude pode trazer sentidos inesperados ou diferentes da primeira interpretação. vamos ficar sem sair. Nesse caso. porque o que vimos nesta aula deve acompanhar seus estudos e suas comunicações ao longo de sua vida. por exemplo. Você deveria ter reservado o espaço ontem. os lugares sociais podem mudar completamente e uma nova análise das formações imaginárias é construída. e sua mulher lhe dizer: por que você não reservou lugar no restaurante? Agora. reflita de que lugar a pessoa está falando ou escrevendo.Por exemplo. numa situação de comunicação. Noções de texto e aspectos da comunicação Encerramos aqui o estudo de discurso e texto. Seria o caso de o diretor chegar em casa. Imagem de B para o sujeito situado em A: quem é ele para eu lhe falar assim? Ele fala do lugar social de componente de uma equipe que deseja usar o laboratório. Em outra situação de fala. de lugares sociais. o professor diz ao diretor: “Vamos trabalhar com o material do laboratório. temos: Imagem de A em relação à posição de A deriva nesta pergunta: quem sou eu para falar ao professor assim? Eu falo de um lugar social e responsável pela organização do uso do laboratório. Essa mobilidade de papéis sociais. digo.” O diretor fala: “Hoje é impossível. 15 . Imagem de B para o sujeito colocado em B: quem sou eu para que ele me fale assim? Falo do lugar social de professor que deseja usar o laboratório e que deveria ter reservado o espaço. Por exemplo. no discurso anterior.” Considerando a fala do diretor como a posição A e a do professor como a posição B. era ocupado pelo diretor. Imagem de A para o sujeito situado em B: quem é ele para que me fale assim? Ele falou do lugar social do responsável pela organização do uso do laboratório. a mulher estaria no lugar de A que. encerramos enquanto espaço de tempo. dinamiza as formações imaginárias a partir das quais os efeitos de sentido são construídos e ativados. trabalhamos com os aspectos de discurso. 6. do livro O Texto e a Construção de Sentido. Helena H. Lições do Texto: Leitura e Redação. Roman. da Editora Contexto. ed. M. São Paulo: Hucitec. 1998. Noções de texto e aspectos da comunicação Referências 16 BAKHTIN. FIORIN. Nagamine. Campinas. É importante ver como. JAKOBSON.ht>. SAVIOLI. Site indicado <www. Platão. texto. de Ingedore Koch. Debates do NER (UFRGS). 96) Leitura indicada Para complementar seu estudo. São Paulo: Cultrix. ([1939] 2001. v. por usar o discurso como instrumento de convencimento. 2000. Introdução à Análise do Discurso. 2001. Marxismo e Filosofia da Linguagem. VOLOCHINOV (1939). bem como os diversos enfoques feitos por autores da área. Questão para reflexão Reflita à luz das definições e teorias que estudamos sobre frase de Bakhtin: “A linguagem é essencialmente ideológica”. São Paulo: Ática. As práticas religiosas sob a mirada do discurso.. textualidade. Linguística e Comunicação. 5. SP: Unicamp. Luís. Porto Alegre. BRANDÃO. 2001. em cada aspecto. FERREIRA. p.Síntese Nesta aula. leia o capítulo “O que é um texto”. ed. 7.br/mestcii/ines1. . 2006. 2005.uff. Maria Cristina Duarte. encontramos complementos para orientar o que se entende por comunicar-se. 1988. Campinas. KOCH. (Orgs. M. São Paulo: Cortez. Ingedore Villaça. de Eni P. Rio de Janeiro: LTC. Villaça. In: GADET F. 2002.) Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. ______. Trad. TAVAGLIA. Duarte. H. Ingedore G.KOCH. T. Análise Automática do Discurso (1969). 1990. PÊCHEUX. São Paulo: Cortez. M. LYONS. São Paulo: Contexto. John. Iniciação à Semântica. Luiz Carlos. Texto e Coerência. 1990. HAK. Rio de Janeiro: Zahar. Linguagem e Linguística: uma introdução. Campinas: Cortez/Editora Unicamp. SP: Pontes. Discurso e Texto: formação e circulação de sentidos. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp. O Texto e a Construção de Sentidos. ed. Discurso e Leitura. Campinas: Unicamp. Orlandi. ______. Noções de texto e aspectos da comunicação 17 . 2001. 4. 2000. 1997.. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 2001. ______. 1987. MARQUES. Desvendando os Segredos do Texto. Eni P. ORLANDI.
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