Como Atua o Carma -Rudolf Steiner

March 27, 2018 | Author: EricaSenne | Category: Reincarnation, Spirit, Soul, Physics, Physics & Mathematics


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Rudolf SteinerComo atua o Carma O passado e no tecer do próprio destino Tradução de Gerda E. Hupfeld 1 2 Eu me levanto de manhã. Ed. No pleno sentido da palavra. Eu posso assegurar a todos que os fatos transcendentais que descreverei a seguir são. as 1 Reinkarnation und Karma. mas ser criado novamente. Minha atividade cotidiana esteve interrompida durante a noite.) 2 . por saber que a esta objeção necessariamente é impelido quem não tem experiências no campo supra-sensível e. Admita-se que eu me tenha empenhado em algo que só tenha conseguido realizar pela metade. A esse conhecimento se segue necessariamente a seguinte pergunta: como essas vidas diversificadas se relacionam entre si? Em que sentido a vida de um homem é o efeito de suas encarnações anteriores.) 2 Nas edições iniciais o texto deste parágrafo constava numa nota de rodapé. Não faria sentido se. não possui a necessária reserva e modéstia para admitir que ainda poderia aprender alguma coisa. e continuará a me seguir em meu futuro. expus que a atual mentalidade científico-natural. Se ainda não estivermos tão avançados para vê-los por nós mesmos. descrita por alguém que a viu. sob condições normais. Fatos podem ser vivenciados. é válido que minhas ações de ontem sejam meu destino de hoje. E o sentido da vida exige que eu fique atado a esta situação. orig. portanto. os caminhos do espírito humano — pois existe uma idéia do sentido em que estão relacionadas as inúmeras encarnações pelas quais esse espírito humano passa. se os efeitos de minhas ações de ontem não fossem meu destino de hoje. ao mesmo tempo. E. mesmo que eu tenha estado separado delas por algum tempo. vindo a achar as explicações seguintes “sem qualquer rigor científico”. São Paulo. continua vivendo em meu presente. Eles provocaram por seu feito. vom Standpunktd der modernen Naturwissenschaft notwendíge Vorstellungen. E encontro essas causas após me haver afastado um pouco delas. tendo sido incluído no corpo do texto por sua importância fundamental. Fiquei pensando por que esse fracasso parcial me atingiu. No artigo intitulado “Reencarnação e carma do ponto de vista das concepções necessárias à moderna Ciência Natural”1. Certamente eu mesmo fui transformado por eles. alguém nos deverá descrevê-los. Não posso retomar esta atividade pela manhã de forma arbitrária. uma nova habilidade.E. mas não “atestados com a razão”. Numa observação superficial. tão “objetivos” quanto a baleia. E novamente criado a partir do nada deveria ser o espírito humano se os resultados de suas vidas anteriores não ficassem ligados aos subseqüentes. Preciso ligar-me ao resultado de minha atividade de ontem. Ele não o pode tal como aqueles animais que. o homem não pode viver em outra situação que não aquela criada por sua vida anterior. Há ainda outro sentido em que os efeitos de minhas vivências de ontem fazem parte de mim. Com aquilo que fiz ontem foram criadas as precondições para aquilo que terei de fazer hoje. Pelo menos uma única coisa essas pessoas não deveriam dizer: que os acontecimentos aqui apresentados “contrariam a razão” e que “com a razão não podemos comprová-los”. Rudolf Steiner Verlag. talvez mais do que se tenda a aceitar. a partir do nada. 1960 (in GA Nr. 34) e 1978 (em separata juntamente com o presente texto). eu não habitasse uma casa que eu tivesse mandado construir para mim. Com a razão tampouco podemos atestar uma baleia. pela migração. Meu passado permanece ligado a mim. então. Assim também ocorre com os fatos transcendentais. (N.O sono foi amiúde designado o irmão mais jovem da morte. Sim. Elas fazem parte de mim. A razão nada pode fazer além de combinar e sistematizar fatos. Por meu passado eu criei a situação em que me encontro atualmente. Ou esta deve ser vista ou. neste campo. esta comparação simboliza. Eu não deveria acordar hoje. Adquiri. conduz à remota doutrina da evolução do espírito humano eterno através de muitas vidas. Com isto minhas vivências de ontem são as causas de minhas habilidades de hoje. Eu mesmo formei as causas às quais devo anexar os efeitos. Dornach. após sua migração para as cavernas no Kentucky. Posso entendê-los. em tradução de Lélio Candiota de Campos. se é que deve existir regra e coerência em minha vida. Posso imaginar que existam muitos acreditando estarem no topo do cientismo. perderam a visão e não poderão viver mais em outro lugar senão nessas grutas. é fornecida pela comparação com o sono. Antroposófica. tornando-se motivo para outra? Uma imagem da relação entre causa e efeito. (N. Edição brasileira sob o titulo Reencarnação e carma. Quando eu tiver de fazer outra coisa similar. para quem cujo sentido superior está desenvolvido. desde que realmente compreenda a si própria. evitarei erros conhecidos. 1990. Num deles ele vive fisicamente. de certa forma. e sobre essa vida nada podemos saber por meio de leis físicas. A atividade que se tornou destino é carrna. É por isso que o sono é uma boa imagem para a morte: durante o sono o homem está. está sujeito somente às leis físicas. o corpo humano segue somente as leis físicas: o homem acorda e a luz do agir racional entra como uma faísca na existência puramente física. Esta associação de uma entidade com os resultados de suas ações é a universal lei do carma. algo que ela não consegue apreender aplicando somente as leis obtidas no mundo físico. a Estética e assim por diante. E à medida que as houver trazido. etc. Tenha-se em mente o que o pesquisador natural Du BoisReymond falou sobre isto em seu discurso “Sobre os limites do conhecimento da Natureza”: Um cérebro inconsciente por qualquer razão — por exemplo. Contudo este anímico continua a corrente de suas ações conscientes no ponto onde a interrompeu antes de adormecer. Porém o espírito humano traz essas leis da razão para dentro do mundo físico.3 Isto não pode ser diferente — pois o que o pesquisador descreve aqui como a pessoa adormecida sem sonhar é aquilo que. perderam a visão. ligado ao que surgirá de suas ações. Enquanto dormimos. até à essência da matéria e da energia. Permaneçamos ainda. seu metabolismo. retomar o fio de sua atividade. subtraído à cena onde o destino o espera. no homem. sujeito apenas às leis físicas. não se poderá achar nele o anímico. o homem pertence — também no que tange a esta observação — a dois mundos. de fato. jamais pode realizar algo ligado ao sentido das leis da razão. o Direito. 3 . Sendo assim. Mas a partir do momento em que aparece novamente permeado de alma. A ciência reconhece ocorrer. por um instante. a Lógica. precisaremos aternos às leis físicas da Ciência Natural. Se quisermos estudar uma vida. págs.condições de sua vida posterior. A personalidade deve 3 Emil Du Bois-Reymond. com isto. a partir daí. após uma interrupção. 26 e ss. Por certo tempo não temos influência nesse curso. por esse tipo de vida. mas se quisermos entender a outra vida. com sua respiração. assim o espírito humano só pode viver no ambiente que criou por suas ações correspondentes a ele próprio. seu calor. mas tal como o mundo se tornou duplamente incompreensível com o primeiro sintoma de consciência. Assim acontece com os atos de nossas encarnações anteriores. disposto ao nosso redor durante o dia. no outro ele vive espiritualmente consciente. assim acontece também ao adormecido com o despontar da primeira imagem onírica. segue as leis da vida anímica.. A pessoa adormecida sem sonhar é compreensível como o mundo antes de existir consciência. na imagem do sono. os acontecimentos continuam correndo nesse cenário. e também durante o conhecimento científico do corpo restante estaria totalmente decifrada toda a máquina humana. Uma entidade que uma vez foi ativa não está mais isolada na continuação: colocou-se a si mesma em suas ações. dormindo sem sonhar — não percebe mais cientificamente [Du Bois-Reymond diz “astronomicamente” ] segredo algum. A cada nova manhã o corpo humano é como que novamente permeado de alma. porém fazem parte de nós tal como a vida nas cavernas pertence aos animais que. E tudo o que ela vier a ser estará. reencontramos os efeitos de nossas ações e precisamos reatar-nos a elas. Seus resultados estão incorporados ao mundo em que estamos encarnados. Corresponde inteiramente ao sentido do pesquisador natural Du Bois-Reymond exprimir-se do seguinte modo: não se pode examinar de todos os lados o corpo adormecido. a Economia Politica. Tal como esses animais só podem viver quando reencontram as imediações às quais se adaptaram. sendo que essa vida física pode transcorrer pela linha das leis físicas. O corpo humano adormecido. precisaremos conhecer as leis do agir consciente — por exemplo. Über die Grenzen des Naturerkennens. Leipzig 1872. Dormindo. O que esteve separado de nós durante a noite está. suas batidas cardíacas. ele as reencontrará quando. Nossa personalidade realmente se encarna de novo a cada dia em nosso universo factual. Não obstante. pelos escopos que aqui se perseguem. poderíamos de fato iniciar uma nova vida a cada manhã. Não se deve acreditar entendermos por alma algo 4 5 V. todo meditar mais profundo nos convence de que sem a admissão de uma memória inconsciente da matéria viva as funções mais importantes são de todo inexplicáveis. Eu não poderia receber o resultado de minha atuação de ontem se em mim mesmo não houvesse ficado algo dessa atuação. Em cada nova reencarnação o homem se encontra num organismo físico sujeito às leis da natureza exterior. Minha memória une meu agir lógico de hoje ao meu agir lógico de ontem. que durante meu sono obedeceu somente a leis físicas. nascimentos e morte vigoram na corporalidade segundo as leis do mundo físico. no verdadeiro sentido. Corpo e espírito situam-se frente a frente. É a minha memória que me possibilita o reatamento com minhas ações de ontem. faz com que o espírito apareça.religar-se hoje aos seus atos de ontem. o seguinte: De fato. de uma imagem ao se falar de memória. meu espírito humano. “que à memória devemos quase tudo que somos e temos” . Ela não poderia fazê-lo caso não se sentisse ligada a esses atos. Über die Wellenzeugung der Lebensteilchen oder die Perigenesis der Plastidule (1875). como uma entidade tríplice: reencontro meu corpo. na memória inconsciente do vivo. a alma os une sempre de novo. reencontro a mim próprio. faz parte de minha vida racional — por exemplo. e encontro. primeiro. cuja atividade é infinitamente mais significativa que a da memória consciente. no ponto onde ultrapassa nascimento e morte e onde deve supor algo que sobreviva à morte. só é importante que o cientista pesquisador se veja obrigado. a aceitar uma entidade que ele imagina semelhante à memória. a alma e o espírito. Esta memória me prende às conseqüências de meu agir. na nova encarnação. Desse modo eu me encontro realmente. guardado na memória. Também para a comparação entre alma e memória é possível reportar à Ciência Natural de hoje. conforme esse argumento. que na seqüência da procriação guarda lembranças de formas anteriores. como tal. da alimentação e da procriação baseia-se na função da memória inconsciente. mas a memória fica guardando o que nos prende ao nosso destino. tudo o que o dia de ontem e todo o meu passado fez de mim. sendo deste último transmitidas propriedades ao primeiro. de manhã. deve fundamentar. E com isto temos ao mesmo tempo um quadro da entidade tríplice do homem. acima de tudo. pág. do exercício e do hábito. deve-se reparar que aqui se trata. constituindo. para que a vida não careça de sentido. a lógica — é hoje o mesmo de ontem. O fato de o ente-filha ser semelhante ao ente-mãe. e Ernst Haeckel concorda com os pontos de vista de Hering dizendo.5 E então Haeckel tenta atribuir todos os processos de hereditariedade nos seres vivos a essa memória inconsciente. 12. como aquilo que a vida anterior fez dele. em seu trabalho “Sobre a geração de ondas das partículas vitais”. do pensar e da consciência. entre ambos deve haver algo como a memória entre minhas ações de ontem e de hoje — e isso é a alma.4 A alma guarda os efeitos de minhas ações das vidas passadas. Hering diz. Aliás. o elemento eterno nas várias encarnações. seria um novo homem e não poderia ligar-me a coisa alguma. Assim se ligam o corpo. Isto se aplica também ao que ontem de maneira alguma e. e em cada encarnação ele é o mesmo espírito humano. No ano de 1871 o pesquisador Ewald Hering publicou um tratado intitulado “Sobre a memória como função geral da matéria organizada”. tecendo o destino a partir das ações. onde as leis da natureza física não alcançam. A capacidade da imaginação e da continuação. Ele naturalmente lança mão de uma força supra-sensível. somente de uma comparação. Caso só dependesse da lógica. Eterno é o espírito. Ernst Haeckel. jamais entrou em meu círculo de visão. Aquilo que. Se hoje eu tivesse esquecido tudo o que vivenciei ontem. que hoje é o mesmo de ontem e possui o mesmo dom da ação racional de ontem. com razão. Aqui não é o caso de se investigar o que há de cientificamente sustentável nas exposições de Hering e Haeckel. 4 . Desse modo se pode dizer que nada poderá atingir o homem. certamente é transferido para um mundo totalmente diferente daquele em que esteve antes? Esta pergunta tem como base uma idéia muito superficial do entrelaçamento do destino. por exemplo. no ínterim entre as duas encarnações. Aliás. na Alemanha. não se deve imaginar ser a lei do carma tão simples quanto um juiz comum ou como a curadoria pública. para tanto coopera o parentesco de minha alma espiritual. Aliás. ou melhor. também passo a me encontrar num ambiente totalmente novo — e apesar disto minha vida na América depende totalmente da anterior. Quem se lembra de todos os detalhes pelos quais aprendeu a ler e a escrever? E a quem todos esses detalhes se tornaram conscientes? O costume. após a desencarnação lhe foi retirada a influência imediata desse mundo. para quem está ciente de se tratar somente de uma comparação — se bem que uma das mais acertadas. disto se encarrega o decurso espontâneo dos acontecimentos. e a alma conjugada a ele intermedia sua ligação com este destino. eu encontre estas ou aquelas condições. nem sempre está em jogo a memória consciente quando se utilizam as vivências do passado. em sua reencarnação. portanto. Tais ações são. Isto só parece ininteligível quando se observa a vida isoladamente. são particularmente os opositores da idéia do carma que partem de tais premissas errôneas. Mesmo na vida cotidiana. pois a alma espiritual se encontra fora dele. Pela compreensão da lei do destino — do carma — somente se tornará compreensível por que “o bom precisa freqüentemente sofrer e o mau pode ser feliz”. Muitos incorrem neste erro. Para que eu reencontre. pois. embora nem sempre recordemos conscientemente o que foi vivenciado. Se transfiro minha residência da Europa para a América. situado entre o corpo e o espírito. se equipara à memória consciente. Assim sendo. e não contra a dos verdadeiros confessores. de todo o derredor. atraindo de certa forma. Por isso. Deve ser apenas indicativa a comparação entre a memória e o elemento anímico. Como é que o homem está relacionado com o ambiente físico ao ingressar em nova encarnação? Por um lado esse relacionamento resulta do fato de. do mundo suprafisico. e o que eu faço hoje será igualmente motivo para que. Os frutos destas vivências nós os carregamos em nós. Isto não pode contradizer a comparação do sono com a morte. Se me tornei mecânico na Europa. se para tal ele próprio não houver criado condições. seu destino. por outro. restando dele tão-somente o que comparamos à memória. Fica claro. tudo o que nela se passa ela agora pode haurir somente de si mesma. as coisas que lhe são relacionadas. desde o início. não a considerando um elo das vidas consecutivas. mediador entre o que é eterno e aquilo que está inserido como corpo físico na seqüência formada por nascimento e morte. que para essa evolução nada pode fluir do mundo físico. 5 . Eles lutam contra a idéia que eles endossam a respeito de quem confessa o carma. dentro do mundo físico os resultados de suas ações como sendo seu destino. Em todo caso minha vida anterior determina meu ambiente. O espírito que se reencarna encontra. numa vida posterior. e no outro de papéis de banco. Para que de manhã eu encontre a situação que eu mesmo criei no dia anterior. essas propriedades eu só as tenho pelo fato de as ações de minhas vidas anteriores as terem impregnado na alma espiritual. Esta aparente desarmonia de unia vida desaparece quando se amplia a visão às muitas vidas. Assim ocorre com minha alma espiritual: ela necessariamente se cerca daquilo que com ela se relacionou na vida anterior. o homem cria. de fato. quando me reencarno. Isto se assemelharia a imaginar Deus como um velho de barbas brancas. a causa real de eu haver renascido em certas circunstâncias. O que me faz entrar nesse ambiente? Diretamente as propriedades de minha alma espiritual na nova reencarnação. Como estivesse inserida na encarnação do mundo físico dos objetos. um ambiente que corresponda ao resultado de minhas ações na vida anterior. sem mais nem menos. na vida. ele não ter participado do mundo físico. é uma forma de memória inconsciente. minha vida na América se organiza de forma totalmente diferente do que se eu me tivesse tornado bancário. de sua evolução nesse ínterim.que. e. renascida. Pode-se perguntar: como é que o espírito pode encontrar os resultados de suas ações se. com as coisas desse ambiente. No primeiro caso estarei certamente rodeado de máquinas. tanto mais quanto maior pretensão. resta-lhe o fruto de suas experiências. A experiência. esteve ligado à vida física isolada. por isto. e eu mesmo sou. À vida física segue-se outra. por outro formam seu caráter pessoal. A ação que executo é conseqüência de meu impulso. assim o instinto é reforçado por cada nova ação que eu executo sob sua influência. relacionou-se com o mundo das formas. Esta soma constitui a predisposição para habilidades que possam manifestar-se a seguir. O espírito viveu no corpo e. Por ser corpóreo. etc. Via de regra. maior aspiração exista. a outra parte lhe indica o futuro. A segunda parte do “resíduo de memória” é formado de outra maneira. A partir do momento em que o espírito não está mais encarnado ele não pode. Essa soma é o que o espírito humano possui por ocasião de sua desencarnação. 6 . a vivência se estampa no espírito como uma elevação de suas habilidades. na morte. assim. o desejo subsiste mesmo tendo cessado a possibilidade de satisfação. após ter deixado o “local do desejo”o espírito encontra-se num estado em que suas vivências de vidas anteriores se transformam em germes — predisposições. As habilidades que adquirimos por meio de uma vivência dependem.) Fica óbvio que este estado perdura. Reconhece-se facilmente que esta condição deve demorar tanto quanto o ser humano se sentiu ligado à vida dos sentidos. E do mesmo modo como a imagem representativa em minha memória é imediatamente reforçada por cada nova impressão similar. continuar sua formação. Por seu trabalho no corpo o espírito travou conhecimento com o mundo ao qual esse corpo pertence. em que se processa essa libertação. Em certos momentos de minha vida eu sempre possuo em mim uma soma dos resultados de minhas experiências. Se nenhum laço corpóreo o liga mais à existência física. do trabalho espiritual que executamos em relação à vivência. Assim vive em minha alma.Duas partes compõem esse “resíduo de memória”. por seu intermédio. e através do primeiro ela tinha conseqüências totalmente diferentes do que através do último. em geral. o homem age sob a influência dos instintos. pois surge sob a influência da corporalidade física. Essas partes surgem quando se leva em conta o que contribuiu para sua formação. o que esse impulso expressa. Sendo assim. desejos e paixões. Contudo. E essa soma deve extinguir-se após a morte. Só um homem livre de desejo morre sem conservar em seu espírito uma soma de desejo. como personalidade. Este “corpo do desejo” está intimamente ligado à existência material. o que somos capazes de fazer a partir daí — disto depende o que ela significa para o nosso futuro. instintos. por causa da existência corpórea. por cujo intermédio se concretizaram atividades externas. e tendo-se ele despojado dos desejos que o acorrentam a ela. É assim que nossa experiência age sobre o nosso futuro. O estado dessa extinção é chamado “permanência no lugar do desejo” (Kama loka). desejos e paixões. A ação passa ao mundo exterior. e quando não mais temos oportunidade de fazer experiências o resultado das mesmas fica como “resíduo de memória”. que têm seu significado por dois lados. o homem executa melhor cada coisa na segunda tentativa. Tal soma denomina-se “corpo do desejo” (Kama rupa). a adquirir novas habilidades. O espírito deve livrar-se dele à medida que. Só um ser humano que nada deseja no mundo físico deixa de possuir um excesso de desejo sobre a satisfação. por meio do corpo. deixando o coração bater meramente pelo futuro. o impulso fica em minha alma tal como a representação em minha memória. Cada novo esforço. Por um lado eles imprimem sua marca nas ações externas que o homem executa. nenhuma experiência poderia agir em nós se não tivéssemos as habilidades para tirar proveito dela. Designa-se a vida do espírito nesse estado como sendo a permanência no “local de enlevo” (Devachan). habilidades. Para Göethe. uma vivência era algo diferente do que para seu camareiro. uma soma de instintos. à medida que em cada momento da vida física o desejo prevalece sobre a satisfação. por seu intermédio. o qual está totalmente liberto da imediata influência da vida passada. O modo como podemos assimilar a experiência. cada nova vivência aumenta este conhecimento. desejos e paixões. Pode-se perguntar o seguinte: será que com a morte não se destrói também esse “corpo do desejo”? A resposta é não. (“Enlevo” pode designar um estado que faz esquecer toda preocupação pelo que passou. levando-a para a vida supra-sensível. Tal como o desejo atrai o espírito para a vida passada. Agora o espírito só se pode preocupar com o que dá para formar o futuro. — para o futuro. Esse relacionamento encontrou sua expressão no fato de se haverem desenvolvido. com outras palavras. O espírito que se autodetermina a partir de si próprio é o espírito livre. mas com cada nova encarnação mais claridade existe à sua volta. ed.Naturalmente não se pode tratar. Da mesma forma. É que agindo nós nos aproximamos. E foi o próprio Kant que em 1755 procurou explicar. Já numa encarnação posterior. Talvez se pudesse dizer: se o carma é uma 6 A filosofja da liberdade. O ambiente dentro do qual o homem nasce mediante nova encarnação apresenta-lhe os resultados de suas ações sob forma de seu destino. Os filósofos que indagam desta forma a respeito da liberdade jamais poderão chegar a uma clara concepção acerca disto — pois no presente estado o homem não é nem deixa de ser livre. Ele é parcialmente livre. mas primeiro eu coloquei em atividade essas leis necessárias. só posso executar uma ação no sentido das leis necessárias de meu carma. Se acendo um fósforo. ou quanto maiores houverem sido seus esforços em suas encarnações anteriores. que em relação à eficiência da lei do carma poderá apoderar-se de alguém. originalmente entregue por inteiro aos instintos. isto sim. E com isto ele enfrenta seu meio ambiente. brasileira em tradução de Alcides Grandisoli. 1987. São Paulo. 2ª ed. Primeiro o espírito não se norteia no meio ambiente: ele tateía no escuro. Não se pode perguntar se o homem é livre ou não. mas sou eu quem coloca essas leis necessárias em atividade. o que o espírito leva dessa vida física aos estados supra-sensoriais e o que disto ele traz de volta para uma nova encarnação. Ele traz de volta experiências de vidas passadas que se tornaram propriedades de seu ser. Também por isto suas vivências no mundo físico estarão. levando para as situações supra-sensíveis as vivências havidas com tal comportamento. Ed. É livre à medida que adquiriu o conhecimento. parcialmente não-livre. (N. de desenvolver todos os conhecimentos relacionados com o espírito humano.6) A total liberdade do espírito humano é o ideal de sua evolução. quanto falou em Kant. Nas encarnações iniciais pelas quais o homem passou. Isto o torna cada vez mais senhor do destino. a formação gradual de um cosmo. E a ação que parte de mim criará novo carma. em geral. não atua mais nele o mero instinto: este já é guiado pelos efeitos das experiências feitas anteriormente. Cada vez menor se torna a pressão do meio ambiente. nosso carma se nos aproximar sob forma de uma necessidade absoluta não é impedimento para a nossa liberdade. Aqui elas se tornam aptidão superior. aqui. Ele adquire o saber.) 7 . cada vez mais o espírito consegue se autodeterminar. Por isto a peregrinação pelas encarnações será urna evolução ascendente. e sim formou-se aos poucos. Tampouco essa lei moral surgiu do nada. O fato de nosso destino. Para tal basta saber. suas experiências acumulam em seu espírito. Só se deve mostrar como a lei do carma age na vida física. Um agir à luz totalmente clara da consciência é um agir livre. Com isto se lançou ao mesmo tempo uma outra dúvida. seu destino com crescente maturidade. a lei moral não falava tanto. surge o fogo segundo as leis necessárias. editada em Berlim em 1893. acareie com seu meio ambiente a lei moral purificada. em grau tão superior quanto mais amiúde ele se houver encarnado. O homem primitivo age inteiramente de acordo com seus instintos. num escrito fundamental.” Cada ser pensante concorda que o céu estrelado não surgiu do nada. a consciência da conexão do mundo. desse destino que age: somos nós que agimos de acordo com as leis desse destino. de início. mas encontra-se no caminho para a liberdade. Cada vez mais rico se torna o tesouro que. pois trata-se justamente do que ele obtém de suas vivências: ele aprende a interpretar as leis do mundo em que decorrem essas vivências. designada por Kant como algo que se pode admirar com tanto deslumbramento quanto o céu estrelado. tal como o fogo continua agindo conforme leis necessárias após eu o haver acendido. o conhecimento das leis de seu mundo ambiente — ou. E muitas encarnações são necessárias até que o homem. deve-se esclarecer o processo somente num único exemplo. Mas tampouco se deve aceitar o fato da lei moral sem uma explicação. Kant diz: “Duas coisas preenchem a mente com admiração sempre crescente: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim. Antroposófica. (Eu tentei apresentar a essência do espírito humano livre em minha Philosophie der Freiheít. Para avaliar o alcance disto.E. nele. Ele próprio entra nesse ambiente com as habilidades que formou a partir de suas antigas vivências nos estados suprasensíveis. realiza com cada vez mais consciência o que antes realizava com apatia. lei inalterável. será que a isto não contradiz o fato de tais predisposições e habilidades — por exemplo. Mas quem o faz não tem noção da natureza de tais verdades. antes da reencarnação. respectivamente de outubro e dezembro de 1904. editado pelo Autor de 1903 a 1908. Porém agora o ambiente em que o ser humano reencarnado entra não é casual. Suponha-se. posso conseguir que. A individualidade que se reencarna tende. etc. O fato de se possuir um vivo sentido visual.) 8 . não se acha contradição no acima expresso. se omito a ajuda. a propensão para um caráter moral forte. No caminho da evolução está o ponto em que o homem. — serem transmitidas diretamente de pais para filhos? Interpretando-se corretamente as leis de reencarnação e carma. Pois o que o atinge é o resultado de seu carma. surgindo em sua próxima reencarnação como habilidades. a autenticidade de sua memória. consegue rever suas encarnações. mas está em relação necessária com seu carma. e naturalmente é muito fácil criticá-las com desdém. Isto se deve ao fato de essa individualidade já se unir. o senso moral. às forças do mundo astral tendentes a certas circunstâncias físicas. as habilidades cognitivas e artísticas adquiridas. só se podem transmitir hereditanamente aquelas propriedades do ser humano pertencentes ao seu corpo físico e ao seu corpo etérico. como por exemplo o rigor e a precisão de sua vida imaginativa. Contudo.E. Certamente eu não posso anular os efeitos do destino que um espírito humano criou em vidas passadas. disposições. está somente no futuro. tendo-as transmitido por herança. e este consiste em esforçar-se para aicançar essa realidade. que um ser humano tenha adquirido. então talvez suceda o contrário. uma audição bem desenvolvida. para os homens. e qual destino novo ele cria sob influência do velho. é óbvio que ele não poderá encontrar como fato no presente. pode depender de os antepassados terem adquirido tais propriedades. Só existe um caminho para alguém se convencer de sua realidade. em sua vida anterior. Consta de seu carma o fato de essa propensão aparecer numa reencarnação. Pois verdades cuja realização. Já em menor proporção se transmite hereditanamente o que está ligado ao assim chamado corpo anímico. isto dependerá de minha ajuda ser sábia ou não. Também com relação a ele. por sua inerente força de atração. Desta forma o ser humano nasce naquela família que lhe poderá transmitir as condições cármicas. Mas a este mundo pertencem as próprias encarnações. talento musical. mas trata-se de como ele se ajeita com esse destino. Uma evolução superior do espírito humano significa um contínuo caminhar através de novas encarnações. Esta é uma colocação da qual se pode facilmente zombar. etc. ele dê ao seu destino um rumo favorável. Parece 7 Publicadas no periódico Lucifer-Gnosis. Estas são propriedades que permanecem encerradas em sua individualidade. habilidades. etc. deve-se imaginar que a individualidade humana possui suas predisposições. As duas primeiras perguntas constam no nº 17 e as três últimas no nº 19. etc. e será simplesmente necessário que isto ou aquilo o atinja. Isso não poderia ocorrer se ele não se encarnasse num corpo de natureza bem específica. (N. por suas ações. então é um absurdo ajudar alguém. Essa evolução superior se efetua pelo fato de o mundo em que se realizam as encarnações do espírito ser cada vez mais percebido por ele. Aí se deve subentender uma certa disposição nas sensações. caráter. como efeito de suas vidas anteriores. etc. Contudo essa condição corpórea deve ter sido herdada de seus antepassados. Se eu o ajudo. o espírito sai do estado de inconsciência para o da consciência. coragem moral. por exemplo. Respostas a algumas perguntas sobre carma 7 De acordo com a lei da reencarnação. em total consciência. Com o último se subentende o portador de todos os fenômenos vitais (as forças de crescimento e de procriação). ninguém pode transmitir a seus descendentes aquilo que está relacionado com o ser espiritual propriamente dito do homem. Em contrapartida. E tanto o escárnio quanto a crítica estarão postadas como um dragão diante do portal do santuário dentro do qual é possível conhecê-las. Aliás. àqueles pais que lhe podem dar corpo adequado. Tudo o que está relacionado com isto pode ser transmitido diretamente. Ora. e o desastre as tenha reunido para os mundos superiores. um tal caso ser o efeito de uma culpa conjunta de tais pessoas. Uma hora antes. Elas o são totalmente. talvez em uma hora novamente nada tenham em conjunto. um empreendimento comum. Só quem consegue ver claramente em mundos superiores pode dizer em detalhes o que sucede. que esta foi herdada dos pais. mas seu encontro é expresso no chamado perfil comum. Só o pode. num incêndio de teatro. O que vivenciaram em seu encontro no mesmo espaço terá para cada uma sua conseqüência especial. por exemplo. A desgraça conjunta está então. por exemplo. 2. para o carma das pessoas em si. necessariamente se deparará com contradições. Pode. Num bilhete do círculo dos leitores está a seguinte pergunta: “Então o ensinamento teosófico não permite a existência do ‘acaso’? Eu não posso. Deve-se ter bem claro que vivências comuns incidindo em várias pessoas no mundo físico pode significar para cada uma delas. podendo facilmente parecer que só seria herdado o que é condicionado carmicamente. de certa forma. É possível que a vivência das quinhentas pessoas nada tenha a ver com seu passado cármico. 3. ou seja. pensar que se trate do carma de cada um quando. por sua natureza individual. É inteiramente sábia a afirmação de que as crianças são “presenteadas” aos pais. realmente. perecem quinhentas pessoas juntas. por isto. no exemplo da coragem moral. estaria bem equivocado. nos mundos superiores. em qualquer acontecimento que atinja o homem. que concatenações se ativem em vivências terrenas conjuntas. então são possíveis. entre outras. Quem. Para a visão cotidiana estas coisas se misturam. Talvez essas quinhentas pessoas ponham em funcionamento. Aí ainda pode entrar em consideração que as individualidades dos filhos e dos pais em vidas anteriores já estiveram ligadas e. no que respeita a um aspecto comum a essas pessoas. Na verdade o ser humano. no que respeita ao espiritual. Nisto 9 . algo completamente diferente. Mas aos pais são presenteadas crianças com certas propriedades espirituais justamente por eles possuírem a possibilidade de fazer desabrochar essas propriedades espirituais das crianças. e justamente por causa dessa vivência se prepare algo que no futuro as unirá carmicamente. Ao místico experiente é bastante conhecido. para a compreensão humana. mais ou menos como a sombra de cinqüenta pessoas numa parede está para o mundo dos pensamentos e das sensações dessas pessoas. numa época longínqua. em contradição com a validade dessa lei. também consegue observar o organismo anímico (corpo astral) e o espírito (corpo mental) vê bem claro o que foi transmitido ao homem de seus antepassados e o que é sua propriedade. Mas as leis cármicas pertencem inteiramente aos mundos superiores (na Alemanha é usual dizer “planos superiores”). aquele diante de cujos órgãos sensitivos os mundos espirituais estão parcialmente descobertos. que agremiações formadas na atualidade devem sua origem ao fato de as pessoas que se unem terem vivenciado. Se as concatenações cármicas de quinhentas pessoas se expressam de tal forma que essas pessoas pereçam num incêndio de teatro. adquirida em vidas pregressas. talvez essas pessoas nada tivessem em comum. imaginá-lo provocado carmicamente da mesma forma como se imagina a validade de um juízo puramente na vida físico-terrena. encontraramse novamente. por isso mesmo.então. Caso se queira.” As leis do carma são tão emaranhadas que ninguém se deve admirar se à primeira vista qualquer fato parece estar. As concatenações cármicas de nenhuma das quinhentas pessoas precisam necessariamente ter alguma coisa a ver com as das outras pessoas acidentadas. As leis cármicas são tão complicadas que jamais se pode formar um juízo das aparências externas. as seguintes conseqüências: 1. Naturalmente o contrário tampouco é excluído. escolheu a família que lhe possibilita o desabrochar da coragem moral. um desastre em conjunto. Porém quem quisesse tirar desse perfil alguma conclusão. num passado longínquo. e que em geral estamos acostumados apenas a admitir o que aprendemos neste mundo. além do corpo físico. Deve-se tornar perfeitamente claro que este entendimento foi formado em nosso mundo físico. Existe. por exemplo. Porém se uma vivência do ser humano é conseqüência de seu passado cármico. estar combinadas entre si. A medida que sucedem nesse espaço. só podem ser expressas nesse mundo quando existe um cérebro totalmente desenvolvido. Uma coisa é certa: nada fica sem compensação cármica. O período infantil existe para estabelecer harmonia entre as antigas e as novas condições. e assim por diante. nada ilógico nem insuportável para o pensamento o fato de se nascer como criança. a partir do intimo. Pode-se entender. O corpo espiritual inferior (Kama manas) e o corpo de sentimentos e sensações (corpo astral) são. Mas nesse espaço podem coincidir externamente coisas que à primeira vista nada têm internamente em comum. não é absolutamente necessário. segundo o ensinamento do carma. Ele adquiriu suas habilidades e forças sob outras circunstâncias. mas somente por experiência e observações ocultas. Quando. então deve ter merecido carmicamente esse ferimento. Falar de “acaso” no mundo físico é certamente válido. O erro que aí se comete consiste no fato de muitos imaginarem as concatenações cármicas como sendo simples demais. É realmente necessário que primeiramente o ser humano reencarnado se adapte às novas condições de vida. Idéias superiores. serei indenizado no futuro. e não pode ser decidido pelo juízo acostumado ao mundo físico. indeterminados em certo grau. ainda dócil e flexível. não se adaptaria ao meio ambiente. ainda que inteligente. que uma alma humana extremamente desenvolvida renasça numa criança desamparada e não-desenvolvida? Para muitos. Assim como o pianista tem de esperar até que o construtor lhe apronte o piano a ponto de ele poder reproduzir suas idéias musicais. porém. da antiga época romana caso simplesmente nascesse neste mundo com suas forças adquiridas então? Uma força só pode ser aplicada quando colocada em harmonia com o ambiente. Seria muito mais insuportável nascer como homem pronto num 10 . nasce um gênio. as duas partes podem ser instrumentos das forças adquiridas. desde o início da vida humana uma cooperação entre forças da alma e do corpo. Nesse processo atuam o corpo causal. precisa ter algo a ver com meu carma. proveniente do meu passado. contém algo de insuportável e ilógico o pensamento de se ter de começar sempre de novo no grau da infância. já existe a força genial no mais intimo cerne da pessoa. tampouco as origens de uma telha caída do telhado. O modo como o ser humano pode ser ativo no mundo físico depende dos instrumentos físicos que ele possuí. ou causa de seu futuro cármico. Caso quisesse simplesmente entrar no mundo em seu estado anterior. As forças da Natureza precisam percorrer seu caminho. Isto. elas devem também obedecer às leis desse espaço. Quando este trabalho é realizado. portanto. por exemplo o seguinte: se este homem foi ferido por um tijolo. Como se apresentaria em nosso mundo um homem. Pelo que hoje me acontece imerecidamente. e num ambiente totalmente diverso. O acaso no mundo físico não é causado pelo fato de neste mundo as coisas sucederem no espaço sensorial. Não é. Na vida de cada ser humano surgem constantemente acontecimentos que nada têm a ver com seu merecimento ou culpa no passado. tanto injustificado seria eliminar a palavra “acaso” ao se falar somente da concatenação das coisas do mundo físico. a qual me machuca enquanto sou transeunte momentâneo. no entanto. E tanto quanto soa incondicional a frase “Não existe acaso” ao se levar em consideração todos os mundos. porém. Tais acontecimentos encontram sua compensação justamente no futuro. de maneira que este possa tornar-se mais tarde portador daquelas forças adquiridas em períodos de vida passados. mas a alma age no corpo infantil. por exemplo. e a alma também. Essas duas partes da entidade humana são então aperfeiçoadas. adaptáveis. Eles pressupõem. Todas as três possibilidades indicadas podem. Se ele simplesmente aparecesse numa nova vida com tudo anteriormente adquirido. a alma deve esperar com habilidades adquiridas em vidas anteriores até que as forças do mundo físico hajam construído os órgãos corpóreos a ponto de estes se poderem tornar uma expressão dessas habilidades. Do mesmo modo como é improvável que meu rosto esteja realmente deformado por se mostrar deformado num espelho irregular. a partir do exterior. e o ambiente.ainda existem inúmeras outras possibilidades. por exemplo. seria aí um estranho. isto deve ser constatado em detalhe. chamado também de corpo causal. o desamor dos homens — e renasceu como verdadeiro gênio de beneficência. Podem duas encarnações subseqüentes assemelhar-se entre si. mas pela experiência científico-oculta. Nota do Autor relativa à página 4 Para os que estão acostumados às usuais expressões teosóficas. poi isso. que alguém seja músico numa vida. compensadora. Mas assim eu posso saber que cada uma de minhas ações. É justamente se não houvesse carma que reinaria arbitrariedade no mundo. O corpo é composto por: 1) o corpo em si. em vida anterior. regularmente em seu balanço. por exemplo. Suponha-se. naturalmente. por sua vez.. apesar de sua conta de vida ser a cada momento bem específica. estando seu efeito absolutamente de acordo com as leis. mas a conseqüência cármica de seu destino futuro de modo algum falhará. exceções a esta regra. extraio minhas expressões de uma linguagem oculta. mas não representa a regra. um músico de novo como músico? Isto pode acontecer. de três membros. o resultado disto se encaixa. Por isto o homem aparece formado por nove membros. de modo que. ter merecido seu destino por suas ações no passado. Existem porém. Responde-se aqui à pergunta mediante um exemplo realmente ocorrido. O que passa de uma encarnação a outra deve estar situado mais profundamente no cerne do homem. a ter uma vida de embotamento por subdesenvolvimento do cérebro.mundo em que se fosse estranho. As harmonias e ritmos espirituais que vivem nos sons alcançam o corpo causal. Os sons em si pertencem à vida física externa. Por isto quero conjugar aqui as duas formas): Cada uma das entidades — corpo. Chega-se facilmente. Porém estas inclinações nem tocam o corpo causal. por exemplo. golpes do destino. e muito mais. apenas a origem para uma compensação no futuro. Como se deve observar carmicamente o caso em que o homem. que nas designações difere um pouco daquela contida nos escritos teosóficos difundidos mas. mas totalmente compatível com a liberdade. pode sê-lo em outra vida para a contemplação das relações de números e espaço — e do músico pode surgir um matemático. concorda totalmente com eles quanto ao tema. como fatalidade. Trata-se de uma livre ação do comerciante quando ele realiza um negócio. É justamente por este fato que o homem se desenvolve num ser multifacetado através de suas encarnações. assinalo o seguinte (por certos motivos. Por isto o carma não deve ser entendido como destino não-influenciável. sendo certamente. etc. Elas têm significado somente para uma vida. que para os sons é o instrumento adequado. alma. em absoluto. Entrementes. contudo. Minha ação é livre. cada uma de minhas vivências se encaixa num contexto regular. podendo ele. neste campo. entre sua morte e um novo nascimento ela pôde elaborar em si todas as experiências opressivas de tal vida — o repúdio. Alguém. ao passar pelas mais variadas atividades em vida. mas não é absolutamente necessário. foi condenado à ídiotia? Sobre todas estas coisas em especial não se deveria falar por especulações e hipóteses. nenhuma vivência do homem fica sem conseqüência ou se desenrola sem lei no mundo. 11 . por exemplo. um arquiteto nasça novamente como arquiteto. O carma não exige resignação à sorte inalterável — ao contrário: traz a certeza de que nenhuma ação. Assim como no comerciante o respectivo balanço se deve aos números do livrocaixa. Com a mesma freqüência se deve pensar que uma vivência qualquer não está relacionada com o passado. com a vontade do homem. Tal similitude acontece. mas se encaixa em lei justa. O corpo Kama manas. porém. e essas são explicáveis pelas grandes leis do mundo espiritual. por doença cerebral. como foi dito. ama os países do sul da Europa e pensa. na vida do homem podem suceder sempre novas ações. Não se pode dizer sempre: este destino se origina desta ou daquela culpa no passado. Uma pessoa foi condenada. estando nas duas partes do homem que surgem e desaparecem. a idéias errôneas por se pensar nas leis da reencarnação como sendo ligadas demais a fatores externos. Um caso assim mostra claramente como se erra ao relacionar carmicamente tudo com o passado. fazer sempre novas anotações de entradas e saídas. espírito — é composta. que em vida passada foi um sul-europeu. Um idiota não precisa. 10 Corpo causal é o nome usado no Oriente para designar o eu. 3) corpo sensitivo permeado pela alma da sensação (corpo astral. 2) corpo vital (Prana). causa que produz incessantes renascimentos ou reencarnações. É por isto que para ele os nove membros aparecem diminuídos para sete. O espírito é composto por: 7) personalidade espiritual. Kama rupa). Nota da tradutora relativa à pág. No ser humano encarnado se unem (confluem) os membros 3. 5) alma da consciência permeada pela personalidade (Buddhi manas). ação. de carma.2) o corpo vital. A alma é composta por: 4) a alma sensitiva. 8) espírito vital. 4. 9) homem-espírito. 6 e 7. 12 . mantendo-se a tradicional divisão teosófica do homem: 1) corpo em si (Sthula sharira). 6) a alma da consciência. 3) o corpo das sensações. 5) a alma do intelecto. 4) alma do intelecto (Kama manas). 7) homem espírito (Atma). 6) espírito vital (Buddhi). nas escolas trans-himalaianas é sempre chamado de “corpo cármico”.
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