Chasin, Da Razao Do Mundo Ao Mundo Sem Razao

March 26, 2018 | Author: David Emanuel De Souza Coelho | Category: Capitalism, Karl Marx, State (Polity), Communism, Sociology


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cadernos ensaioSÉ«E GRANDE FORMATO filo f- HARX HIMU BC - FSA M0018931 10018931 J. Chasin (Organizador) Karl Marx Bert Andréas Friedrich Engels V. I. Lênin Georg Lukács António Gramsci István Mészáros Florestan Fernandes Henrique Lima Vaz Jaime Labastida Maurício Tragtenberg Ricardo Antunes / CtNTOftAENSAK) 1987 da morte de Marx aos dias atuais verte um século de inaudita complexificação: do homem. da unificação nacional alemã e da conclusão do mesmo processo na Itália. mas de Professor do Departamento de Filosofia da UFMG. tememos transformar os partidos. tentemos compreender a nova estrutura social. discutir. Pode ser difícil: mas tudo isso é necessário. não há alternativa. fazer análises. elaborar novos programas económicos. Como também é necessário saber que há coisas que não podem ser feitas do dia para a noite." Para Mudar a Vida Agnes Heller Introdução Sem mito e sem mística. pouco mais de uma década após a erupção e derrocada da Comuna de Paris. do nascimento de Lênín. Chasin "Decerto. cinco anos antes da abolição da escravatura e seis antes da proclamação da República no Brasil. por cujos gomos e condutos expande a figura intelectual e política do filósofo alemão. ao mesmo tempo que por diversos modos é contestada e combatida com sutileza e ferocidade crescentes.Da Razão do Mundo ao Mundo Sem Razão * J. do ser social Sociabilidade implexa. da sociedade e da história em suma. busquemos novas possibilidades. è muito difícil dizer: mudemos as coisas. Marginando a centúria de 1883 a 1983: fins dos anos oitocentos.Marx . 13 . Lènin deparou com urna questão do mesmo talhe: por que alguns buscavam. percebido e aflorado por correntes distintas dela. para não falar de outros descendentes. e até 14 mesmo. Da morte de Marx ao presente. em junho. Toda inquirição genuína está na ordem do dia. de dois agentes: 1) a crise global do movimento comunista. não se esgota no saber e na prática revolucionária intrínsecas ao capitalismo. por exemplo. cinquenta anos antes do ascenso de Hitler e trinta e cinco depois do massacre operário. subreptícia ou "irritadiça" da herança intelectual marxiana. de modo necessário e decisivo. dois anos antes do nascimento de Lukács e quase setenta depois da queda de Napoleao e setenta e cinco depois da publicação do Fausto. até mesmo contra os possíveis "filhos legítimos" do património marxiano. simultaneamente. a prática das "colagens" ou "composições". quase duas décadas depois da Syllabus Errorum de Pio IX e nove antes da morte de Allende. cerca de setenta anos depois da publicação da Ciência da Lógica de Hegd. Posto e reposto o drama do socialismo de acumulação (atual. nas suas derrotas. hoje toda a manifestação de desconfiança autêntica é legitima.remanejamenlos a vários níveis. para "acudi-lo" ou sufocá-lo. Não só enquanto processo exuberante da universalização do capitalismo. em primeiríssimo lugar. A certa altura. No todo. recusar toda negação banal. cerca de vinte depois da criação da I Internacional e quase cem antes do estupro da Comuna de Gdansk. da prática teórica livre e avançada. "completar" Marx com as teorias de Mach? O fenómeno. ou como se queira). eis a universalidade em que se dá o transcurso do Centenário de Marx. na raiz genética sotoposta às mediações. nem o socialismo. não é disto que se trata aqui. Compreende. no atendimento próprio à sua posição crítica e metodológica. Remete-se ao que diz respeito a acréscimos e reordenações. bem como o estudo urgente da razão social de um conjunto de posições teórico-politicas que propalam a chamada "crise do marxismo". é imperativo. Contudo. O itinerário de uma Comuna u outra totaliza uma complexificaÇao da sociabilidade posta em crise radical. não efetivam nem o capitalismo. sem condução marxista. Husserl ou Kant. resultante. em gritante desmentido ao seu orgulhoso "vanguardismo". Por que "completar" ou "refundir" Marx com Sartre. Tanto quanto. por consequência. nas barricadas de Paris.' tem sido engalanada acriticamente com o cariz da renovação. a corrosão da herança marxiana corre por conta. prenunciam. Ambas. na atualídade mais intrincado. Em suma. um mundo em crise . a grave problemática oriunda das formações que. uma centena de anos ata a Comuna de Paris à Comuna de Gdansk. O exame hoje da herança marxiana. Desconfiança e inquirição para as quais nenhuma dimensão do teórico ou do político fica excluída ou interditada'. esparrama-se por um leque maior e por uma gama que alcança a tonalidade da pura negação de Marx. com pertinência e validade. E tudo na admissão indemonstráda de que o logos marxiano careça de fôlego intrínseco para sua congénita expansão e desenvolvimento filosófico/cientifico. e da ruptura de sua hegemonia sob a emergência de um sistema de acumulação pós-capitalista. bem como de seu genuíno potencial de desenvolvimento marxista. De um pólo a outro. E não foi outra a atitude de Mane ao instaurar e levar à frente sua própria concepção. nutrem e engordam obstinado preconceito. (Que seja inverso o sentido da determinação. a supressões e. real. nada estranhas à prospectiva marxiana. o advento de novas histórias. sua expressão política. Heiddegger. é genuíno resgatar e retrabaIhar para a dialética marxiana tudo quanto haja sido. em especial. de maneira que fica alterada a própria integridade ontológica e lógica da propositura marxiana. De Paris a Gdansk vai um enredo histórico sem paralelo. não é aqui relevante). mais de um século depois do aparecimento da Riqueza das Nações e menos de uma década antes da Rerum Novarum. às custas em especial da corrosão e do tolhímento do próprio saber marxiano e de seu ilimitado potencial de ampliação e desdobramento marxista. e mais de sessenta antes de Hiroshima e em torno de noventa antes de Medellín e Puebla. no extremo.pela crise geral de suas partes. com igual força.três décadas antes da revolução bolchevique e quase um século depois da Revolução Francesa. Revelando natural e sintomática preferência pelos "rebentos ilegítimos". de outra parte. as "colagens". da 15 . dá-lo ceticamente como moribundo e embebê-lo na cânfora "radical" de tisanas políticas e epistêmicas vencidas? Ortodoxa e não dogmaticamente (a nenhuma má-íe seja lícito confundir estes termos). multiplicável ao infinito. contra estd lança todo seu poder de fogo. as suas muito justamente execradas contrafações teóricas. redundando numa entificação da contemporaneidade tecida e involucrada por uma crise global e universal. exibem com brutalidade os perfis de uma dupla barbárie.aposta por aposta . razão pela qual é . que submete a generalidade das latitudes e longitudes .fazer a minha em beneficio de Marx. quando è tão erudito e prestigioso fazer passar. dada a um tempo como perdida e impossível. e tem estreitadas as condições para continuar. acre nostalgia pela "certeza". em todo caso carentes de revitalizaçÕes híbridas. em suma. fino e elevado padrão reflexivo. merecem verdadeiro respeito e exigem exame detido.. na tessitura das "colagens" ou "composições" alcança. pelo "fracasso" ou pela "impossibilidade" do saber. Ao tempo que corre. sobre as passarelas filosófico cientificas. destacadas aqui. a contragosto. Nem o fascínio e a arrogância destas são passíveis de legitimo e eficiente combate. a levantar muralhas a mais ao exercíco legitimo e necessário do próprio rigDr e da própria certeza. tem como pré-juízo a depreciação de'toda certeza. isto ao menos. I . porém conexos. a não ser por meio de fascínio maior c arrogância redobrada. não são descartáveis com a simples mirada de indignação displicente de quem. até ao círculo abafaoo dos "pauvres d'esprit" a grande curtição é desvalíar o património político e intelectual marxiano. 2) de uma postura intelectual recrudescente. ora mundano ora raivoso. se vê obrigado a olhar para "flores do mal". a grande moda filistina não é falar de Marx. o sarcasmo.nas formas emanadas dos últimos cem anos. oriunda e alimentada pela dupla crise do mundo contemporâneo. antes da própria desvaliação do marxismo. no mínimo. Quase a um só tempo.e tem de ser . Tudo em clima de velaturas do espírito. 17 .geográficas e ideológicas. que por si só traduz mais do que as meras conjecturas sobre a opacidade intransponível das coisas. (aliás. com todas as suas mazelas. Agora. como o indeterminado. perversão da legenda socrática. voltada hoje contra o marxismo (pense-se antes no efetíváveí do que no efetivado). que ceticiza o marxismo. ou sobre a igualmente insuperável limitação do entendimento. nunca se dão por atendidas (em verdade nunca demasiadas. seja-me permitido. cm certo número. nas condições da dupla crise contemporânea.. quando não pretensas). Ideologia (no pior sentido) do rigor e da certeza. transpassadas pelo desfile em fibrilaçao das pretensas demandas de "rigor". em fastio.) que. da alternativa tornada impossível de simplesmente ignorar ou descartar. trata-se de tema em declínio . A enevoar quase tudo. assumiu a qualidade de moldura e substância da "liberdade". Atitude teórica que. ao menos insuficientes. o ideário marxiano. em especial o exasperante aparentar para si mesmo de que as "generosas" (ah! quanta piedade) teses de Marx são. Desde o afetado "grand monde de fesprit".falência do socialismo de acumulação. provenha. em alguns casos.A Dupla Barbárie A complexiScação da sociabilidade . que nascem do que possa ser a própria ultrapassagem da arrogância: a convicção da certeza. não cabe mais silenciar: hoje. apenas e para a neutralização de Marx. Por outro lado. Do útero apavorante da dupla crise contemporânea brota o terror da certeza e a revolta do dessaber. que embora não nasça nem se destine. como a exorcizar o devir pelo cancelamento da razão. cujos produtos. (como já o tornoi mais do que evidente a contrafaçàb stalianiana). em linha rela. Postos em crise indísfarçável. não apenas qualquer certeza traz algo ponderável da efetivação cognitiva desenhada pelo saber marxiano. problemáticas. por roteiros diversos. mas contra Marx. Erriça-se a contrapartida da simulação. Há que desvelar que toda uma ironia de nervo à flor da pele. os doís sistemas mundiais ultrapassaram os limites de possibilidade para prosseguir velando com credibilidade seus impasses. sem os quais o marxismo insubsiste. 16 Contudo. hoje. como é palpável em dadas praçus e círculos. . O requebrado. Donde. os jogos de dilação e deslocamento de suas contradições especificam.o mais radical de seus postulantes. independentemente da nobreza de propósitos. tal como demarcadas pelas erupções e derrotas pressagas das Comunas de Paris e Gdansk acabou por desbordar em crises sem precedentes . Uma espécie de deleite corrompido. na ginga que vai do desdém ao mistificante. que aceita o desafio de se pôr e de se expor às provas da verificação. quando tantos apostam contra a letra e o espírito marxiano.do capitalismo e do socialismo real. Na bruma deste fim de século. um certo gosto. princípio. um novo ceticismo. com resultados estáveis. em qualquer área ou nível. Ademais. pelo menos em parte. Aqui fica: a favor do saber que faculta e do gesto possível que ele reclama. à semelhança da fórmula marxiana de "miséria alemã" (originariamente sintetizada para designar processo e resultantes da objetívação capitalista retardatária. na crise atual do capitalismo hipermaduro. A sociedade capitalista como um todo . o fim do trabalho. pelo talhe marxiano. roeu seus controles e devorou seu nexo. por momentos distintos da mesma lógica perversa "do capital. incluindo a relação capital/trabalho . em clima de 2001. atinentes ao desenvolvimento das forças produtivas em fase avançada de acumulação capitalista. pelos quais o sistema se repõe. a lógica do real. em segundo lugar. então. a barbárie do socialismo atual. Mediação a Marx. o fim do capitalismo pela mediação de suas melhores qualidades. por força do próprio desenvolvimento capitalista. Complexo movente/movido que. gestadas ambas. miséria do socialismo de acumulação remete ao conjunto de eventos e problemas. sem a presença ativa da lógica do valor? Ou seria a realização do sonho de ouro das personae do capital: a criação infinita de riqueza. Então. a "miséria" do socialismo de acumulação. sob a forma de um monopólio único. A dado ponto. E mesmo. Nem a produtividade do trabalho. sem a presença incómoda e perigosa dos agentes do trabalho? Adviria. outras adesões./ No gigantismo de sua hípermaturidade perdeu a proporcionalidade interna. em especial a do capitalismo avançado. e com esta os recursos compensatórios que era capaz de engendrar em fases anteriores. do tópico ao profundo. isolando e dando curso unilateral a uma única determinação.não mais se mediria pela lei do valor. à saturação. pois.i capacidade de recorrer a reciclagens periódicas. sob a forma de uma única e restrita associação das personae do capital. como todas o foram até hoje. Ou seja. Transições que evidenciam. co-exibem a simultaneidade de uma perturbação estrutural permanente e irreversível. quando efetivadas. a barbárie do capitalismo.trocas mercantis. a despeito dele conservar. em suas diversidades. a partir de países atrasados. tendo em vista o enorme incremento qualitativo/quantitativo dos meios de produção. em países desenvolvidos. É. ainda que essencialmente de forma manjpulalória. por certo. no geraTmais antiga e um tanto melhor conhecida.A barbárie é. vale dizer que estaria cancelada. o que importa è que ao se retomar. Tomo de Giannotti a tónica da medida (sem que isto compreenda de imediato. à condição de atos da pura gerência continuada de uma crise ininterrupta. se destes viessem a dispor. que redundam das tentativas de transição ao socialismo. em suma.. como se manifestam também enquanto espaços históricos da produção e da reiteração ampliada da ofensa social e da alienação. é a do colosso desgovernado/desgovernante. . reajustando os tempos verbais de um vaticínio da Ideologia Alemã: "Com a carência recomeça novamente a luta pelo necessário e toda imundície anterior é restabelecida". conciliada a vetores sociais da formação a ela precedente). em especial por sua contextura fenomenológica) e com ela medeio: "Quando a medida deixa de funcionar. nem a distribuição da riqueza a teriam mais por parâmetro. A descompensação intrínseca já parece obrigar o próprio circuito imperialista a confundir. Hoje. pois. transcorrem normalmente sob dominação capitalista.No primeiro caso. não mais pela saturação de suas maiores deficiências? O fim do capitalismo seria. Em delineamento sumário . Os chamados elos débeis da cadeia capitalista. a embricação concretante das múltiplas determinações põe em evidência que as personae do capital não disporiam do tempo (aliás. para determinadas considerações dos Grundrísse. l . o desenho que se mostra. fazendo do sagrado Livro Caixa peça profana de museu. pelo seu próprio estatuto. nem da linearidade histórica (nunca exis tente) necessárias para a efetivação de seu mais caro desejo. ou seja. dele já não dispõem). os vasos comunicantes. só transformariam o "sonho" em realidade. De modo que o exercício rígido de uma ilação genérica. a lógica do valor trabalho. ou seja. as colunas do.'a contribuição do 'trabalho vivo se tornaria inexpressiva. ab absurdo. no que poderia consistir a valorização do capital.Deve e do 18 Haver. dado o estatuto do desenvolvimento desigual. e refundida para efeito de transposição a um quadro pós-capitalista -. O que viria a dar no próprio cancelamento do sistema. o sistema entra em crise" (Trabalho e J?e/7exao/Entrevista ao Folhetim). não mais o desestranhamento do trabalho e a sua conversão em "primeira necessidade"? Se por mera derivação abstrata se chega à possibilidade do "sonho de ouro". que não poderia ser outra coisa do que o próprio estado. reduzidas. não apenas fracasso estrutural na montagem du formação socialista. equivalência lógica de uma ilu- . condicionantes de largos processos imperativos de acumulação económica que. em primeiro lugar. Barbáries. nada impediria. Todavia. para que opere. em face do extraordinário desenvolvimento dos meios de produção. Ou seja. desapareceria com o irrecorrível desapareci20 fer- mento do próprio sistema. que vai reduzindo a contribuição do trabalho vivo. Muito mais estreitamente personae do capital. não sonhadora do capital é. que desproporção (sustento mais um pleonasmo) gera e acentua tal desproporcionalidade? Os recursos da nova tecnologia e o consequente "escape relativo" da lei dq valor redobram a capacidade de produção e sucção do capital monopolista centrado nos países hegemónicos. assiste-se a um quadro completamente diverso: prossegue e se acentua o paralelismo entre a produção cada vez mais fabulosa da riqueza e da não menos fabulosa produção de pobreza e miséria. a que está a se desenrolar sob nossas vistas. sem eliminar nenhuma das antigas. É suficiente pensar na reprodução alargada da miséria nos países periféricos. em outras partes. em concomitância com o auge do delírio. ou seja. a desigualdade írremovivel entre os componentes é tal que. a tendência aventada nos Grundrisse' ganha corpo. os concentra e monopoliza. o capitalismo adquire pela via de seus melhores predicados — uma nova e fantástica contradição. todo restante do sistema continua e tem de continuar "regularmente" sob a lógica do valor. na forma da maior e mais geral de suas crises. Ao inverso de qualquer escandalosa difusão dos meios de produção mais avançados. no resumo concreto de uma situação histórica real. a uma taxa muito superior à capacidade de absorção e reprodução (dentro das regras do jogo) dos países periféricos. não apenas enquanto privilégio. A monopolização' (certos setores e cenas empresas.) a contribuir de modo determi-. o aspecto mais avançado mostra seu lado de dependência da conservação do aspecto mais atrasado. Todavia. mas. à medida que só pode vir à luz sob uma encarnação que dissolve o capital privado (o que não significa a dissolução do próprio capitai). a tendência ao rompimento para que fique convulsionada toda a regulação pela lei do valor. pode "levar" o capital à beira da felicidade máxima. se não de imediato.são de classe. só estas e não mais outras) conquista um privilégio único. as personae do capital são menos "temerárias" e "sonhadoras". conduziria. na medida em que estas perdem a proporcionalidade contraditória que as integrava e as mantinha "solidárias". Tome-se a questão por outro angulo. É a alta tecnologia (microeletrônica/automação/etc. ainda assim desiguais. mas. sob pena de desaparecer. Basta. e a realização do capital monopolista seria impossível. As excetuaçÕes.dourado" se converte. Tão maior que as reciclagens modernizadoras se esgotam em tempo extremamente curto. pelo menos em pouco tempo. engendra um privilégio novo. portanto. em especial depois dos breves surtos de expansão que marcam a sua processualidade económica. do que personae de alguma lógica inovadora. a tendência ao "rompimento" monopolista da lei do valor se dá no quadro da necessidade de sua conservação. mas teria também que arcar com o suposto objetivo de uma difusão universal. o que seria o óbvio. ou seja: o conjunto do sistema fica desgovernado em todas as suas faces. privadas e estatais. que toda a demanda mundial de valores de uso fosse satisfeita. Porém. A descompensação monumental entre as partes. o capital. o '^sonho . Mas esta monopolização não é apenas a simples reiteração de um privilégio antigo. sem o que toda valorização tenderia ao insignificante. Isto. Em outras palavras. Na forma do capitalismo contemporâneo. (arco com o pleonasmo) os monopólios monopolizam uma arma especial: um "escape relativo" à lei do valor. rigorosamente. -f> A contrapartida concreta. Na atualídade. em qualquer dos momentos do ciclo. a superação não mais do trabalho desestranhado mas a supressão do próprio trabalho. Desta vez. nos países centrais e as temporárias. com a conversão dos resultados da atividade científica em força produtiva. impossível de ser partilhado. reduzindo de forma drástica a participação do trabalho vivo. não só à supressão do capital privado. Porém. Tecnicamente. que atingiram o mais alto grau de desenvolvimento. e muito mais fiéis à sua "autenticidade". ou a mais absurda e/ou sangrenta das escatologias. como hipótese extravagante que exagera a linha de tendência real. em sua lógica mais genuina. se dissolvido enquanto privilégio e. Hoje. . integram e não alteram a tendência global a médio e a longo prazo. nante na criação da riqueza. enquanto esta lógica de "exceção" opera e . expandido como lógica geral do sistema. no "pior dos pesadelos". menor sujeição à lógica do valor trabalho -. com a socialização dos meios de produção. no entanto. pelo menos uma das par- 21 . antecedem e não coincidem com o capital industrial e o capitalismo. já não è possível a difusão da produtividade média do trabalho. obviamente desigual. Julgando ter "domesticado" a lei do valor e estar próximo da realização do "sonho dourado". monetário ou usurário. pois. è responsável também pela barbárie do socialismo de acumulação. guardadas as especificidades. tratava-se de determinar o itinerário que pode levar ao capital industrial. sobre o. e apenas este. porém. Da mesma maneira. o sistema só faz agudizar de modo vulcânico o conjunto de suas contradições. 2 . que desgovernam a lei do valor. só atuantes no processo de circulação. onde realizam a captação do excedente. sob forma modificada. Comercial ou mercantil. que matriza a barbárie do capitalismo contemporâneo. em fases anteriores. a "assimilar" por completo.A lógica do capital. que ultrapassaria o caráter contraditório do capitalismo. não faltou a ideia e um super imperialismo. por exacerbação. talvez inesperadamente para alguns. tanto quanto estas duas últimas categorias não se confundem. está diretamente envolvido com a apropriação e. contradições que a periferia estava destinada. No fulcro da determinabilidade marxiana. o capital industrial. em formações sociais diversas do capitalismo. e com este à objetívação do capitalismo verdadeiro. a partir de um dado momento. que rebrota das melhores qualidades do capitalismo. a tacada essencial de Lênin no Imperialismo. instaurando um modo racional de produção. passando a um trânsito de mão dupla. de capital. os laços contraditórios que antes coeriam o sistema.capital industrial . pelo transtorno e constrangimento da lógica do valor. o circuito inteiro apresenta a face de um sistema que parece ter perdido a capacidade de reter seu nexo.a barbárie. 23 . Tudo em perfeita conformidade com a genuína lógica do capital. Aliás.tes. Nesse regorgitamento de contradições multiplicadas. Como uma diferença essencial: se os antigos adeptos do 22 superimperialismo ainda podiam imaginar uma transfiguração racional do capitalismo. para recambiar ao centro. hoje. a respeito da natureza do imperialismo. o capital se põe como forma de captação do excedente mercantil. domina o processo de produção gerador de sobreproduto. ter encontrado a panaceia universal. industrial ou básico são exemplos clássicos. Bastante. não deixa de aparecer a teoria de que o monopólio da tecnologia avançada ensina ao capital a maneira eficaz de "domar" :i Icj d(j valor. O circuito internacional do capitalismo è tomado pelas consequências do super desenvolvimento e monopolização do incremento tecnológico. pois. no deslocamento das contradições do centro à periferia. a monopolização do incremento tecnológico. O capital aparece e entra em rota de efetivação sob várias formas particulares. ou ambas (centro e periferia) ao mesmo tempo (como na atualidade) são tomadas e atravessadas por crises de caráter estrutural. no curso da sua processualidade histórica. ciisiinguem-se. hoje. Reencontra-se. o que vai inv plodindo. Supondo. capitalismo avançado. (agigantado de qualidade nova da desigualdade própria e intrínseca ao sistema do capital). À época. Na desproporcionalidade estrutural alargada que se instaura. Formas distintas. e cuja "mercadoria" mais abundante passa a ser a própria crise.como agente dominante da própria produção de mercadorias. capital e capitalismo não são idênticos. independentemente de continuidade ou descontinuidade a nivel das teses. ocupados em raslreur as especificklades de cada um deles e das transições que conduzem de um a outro. É "qualquer coisa" (Marx) que. na atualidade não se manifesta qualquer perspectiva crítica que deixe de proclamar categoricamente que é . endoidece a todo o sistema. Mészáros (Parte l do artigo integrado nesta coletãnea). De um modo todo genérico. talvez. retomada e explicitada por I. na moldura estupefaciente do capitalismo avançado. No que mais importava a Marx. Enquanto o capital comercial e o capital usurário são formas económicas pré-capitalistas. de maneira que de passa a ostentar toda sorte de desequilíbrios e instabilidades. e numa essencial objetivação particularizadora . ou melhor. reproduz as linhas de tendência da polémica travada nas primeiras décadas do século. Concluindo com uma fórmula de Giannotti: "Cada ato que repõe o capital no universo dos objetos refiexionantes è um ato de barbárie". que Irequcniam os textos marxiunos. por meio de trocas não-equivalentes. a discussão. de tal sorte que o fluxo entre os vasos comunicantes do sistema deixa de funcionar apenas em mão única. de fato. e não qualquer forma de conversão do capital. industrial .momento subsequente. já se tenha completado. na ímediaticídade. não se transforme em mercadoria e portanto ò processo de produção social ainda esteja muito longe de estar dominado em toda a sua extensão e profundidade pelo valor de troca. são o produto natural de uma evolução histórica longa e penosa" (O Capital. Tal estágio de desenvolvimento é. no transcurso da fase pós-capítalista. Sua transfiguração cabal não é empreendimento simples.J O produto total da associação é um produto social. orientada diretamente ao autoconsumo. etc. 3). mercado etc. preconfigurando os objetívos compulsórios e as determinantes inevitáveis da fase pôscapitalista de desenvolvimento". cuja relação social geral de produção consiste em relacionar-se com seus produtos como mercadorias. Ou seja. Desfetichizada a nível crítico. porém. pela regência do capital. o capital é uma relação social de dominação fundamental e matrizadora.. portanto como valores.força de trabalho (convertida em mercadoria). porém. Geneticamente: "Produção de mercadoiras e circulação de mercadorias podem ocorrer embora a grande massa de produtos. 4). De modo que há uma produção capitalista de mercadorias (produtos) e uma produção de produtos (mercadorias). mercadoria. . No desenho a distinção é nítida: 1) sob a regência do capital. Vale estampar. na circulação. que. como produto de homens livremente socializados. e nessa forma reificada relacionar mutuamente seus trabalhos privados como trabalho humano igual". usuário) à sua forma básica (Marx) . portanto dos valores que velam. superando o capital. à apropriação da própria energia que produz . E só a plena superação do capítalèoingresso na "nova forma histórica" de que falava Marx. que a separação entre o valor de uso e o valor de troca. que vem à luz.continuam a integrar a composição do aparato econômico-social. postos em concorrência. a forma básica é desvelada como relação social de produção. isto é. I. Efetiva-se o capitalismo pela encarnação das personae do capital: proprietários privados. apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando. mais uma vez. 2) ao passo que. Por isso tem de ser distribuída entre eles. que apenas principia no escambo direto. na máxima generalidade da sua forma acabada. mas manifesta sua necessárias implicações práticas 24 para o presente e o futuro. A representação do produto como mercadoria supõe uma divisão de trabalho tão desenvolvida dentro da sociedade. Mas parte è consumida pelos sócios como meios de subsistência. a primeira frase de O Capital: "A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma 'imensa coleçao de mercadorias'". que subordina o trabalho assalariado ao trabalho ' acumulado. IV. Pensando na transição para o socialismo. Com peso estrutural . nem linear. mas também necessariamente sobrevivem ao capitalismo" e isto como uma "questão da interioridade das determinações estruturais". Parte desse produto serve novamente como meio de produção. por sua vez. De modo que "A dimensão histórica do capital e da produção de mercadorias não está confinada ao passado. esclarecendo a transição dinâmica das formações prc-capitalislas para o capitalismo. temos "uma sociedade de produtores de mercadorias. O modo dessa distribuição variará com a espécie particular do próprio organismo so25 . Reíletindo sobre o "caráter fetichista da mercadoria". não se opera o desaparecimento repentino e fulminante da lógica do capital. comum às formações sócioeconômicas historicamente as mais diversas" (O Capital.valor. e despendem suas numerosas forças de trabalho individuais conscientemente como uma única força social de trabalho /. Em suma. Para tanto. se requer uma base material da sociedade ou uma série de condições materiais de existência. as relações dos homens com as coisas e dos homens entre si. pÕe-se "uma associação de homens livres. apenas do rompimento de linhas dominantes da entificação do capitalismo. que a antecede. diz Mészáros com toda propriedade: "O capital e a produção de mercadorias não só precedem. no seu ponto de maturidade. cujo sentido é precisamente a radical superação da regência do capital na tessitura da formação nascente. mesmo quando compreendida no quadro mais favorável possível para a transição socialista. do processo da produção material.vai um itinerário de avassalamento: da mera apropriação dos produtos. Das formas "antediluvianas" (Marx) de capital (comercial. ela ficar sob seu controle consciente e planejado. distinta da primeira. Marx precisa no que consiste a efetiva superação da regência do capital: "A figura do processo social da vida. Ela permanece social. com a própria produçao da riqueza. que trabalham com meios de produção comunais. o tempo de trabalíiO serve simultaneamente de medida de participação individual dos produtores no trabalho comum e. "Lê mort saisit lê 27 . mas na determinação rigorosa de presente enquanto trabalho vivo. o trabaJho vivo é apenas um meio de aumcntur o trabalho acumulado. o capital. Ou seja. quando a jornada principia e compulsoriamente fica na dependência de um quadro de atraso manifesto em todos os planos específicos da formação econômico-social? Em tais condições. pois. Na sociedade comunista. tanto mais pesa e determina o passado. um como o outro. Ponto de chegada. o presente domina o passado. força social que cria riqueza é. e Q passado enquanto trabalho acumulado. não coágulos extra-históricos. em propriedade de todos os membros da sociedade. tanto menos pode e efetiva o presente. de promover a existência do trabalhador. não ainda maneira de produzir já "cristalizada". determinações sociais. de enriquecer. Na sociedade burguesa o capital é independente e tem individualidade. tanto na produção quanto na distribuição" (O Capital. em última instância. na sociedade comunista. pressupomos que a pane de cada produtor nos meios de subsistência seja determinada pelo seu tempo de trabalho. I. O tempo de trabalho deempenharia. Portanto. que principia a se converter em ato na interioridade de uma contradição modificada. O trânsito de um pólo a outro è. todavia. Presente e passado que se põem e repõem na transição socialista através de um emaranhado espetacular. Trânsito que se põe antes na dependência compulsória de seu ponto de partida do que seu ponto de chegada. na fase pós-capitalista. que perde a sua vinculação de classe" (Manifesto. da mesma maneira que consubstancia ou não a possibilidade objetiva de um desenvolvimento autêntico do homem e da razão. de algum modo. mesmo nas condições mais favoráveis para a transição socialista. Além de ficar grifado que a presença ou não da regência do capitai è que faz a distinção essencial entre as "formas históricas". As relações sociais dos homens com seus trabalhos e seus produtos de trabalho continuam aqui transparentemente simples. não apenas no sentido alusivo e genérico. portanto. quando se converte o capital em propriedade comum. os países historicamente retardados e retardatários. um confronto entre o presente. a fim de explorá-lo novamente U O capital é um produto cdetivo e só 26 pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade ou. Ora. não é propriedade pessoal que se transforma em social Muda-se apenas o caráter social da propriedade. duplo papel. Só para fazer um paralelo com a produção de mercadorias. pelos esforços combinados de todos os seus membros. também na parte a ser consumida individualmente do produto comum. de alguma forma de propriedade não comum (social) do capital é a irrealLação da "nova forma histórica". o trabalho acumulado é apenas um meio de ampliar. que é inconfundível na expressão aparentemente vaga de Marx. ou seja. II). Por conseguinte. mesmo quando o trânsito. itinerário complexo e multifacètíco entre dois "pontos". ou seja. desviado da posse e gestão de seus genuínos criadores e em prejuízo. Tem sido descurado que transição socialista é essencialmente caminho. e é deste que designadamente se fala. 4). II). sempre grave e decisivo. O guante do trabalho morto jugula o trabalho vivo. enquanto a pessoa é dependente e não tem individualidade própria" (Manifesto. uma força social e não pessoal. o que não terá que ser visto e dito. O capital é. portanto. como até agora entraram com exclusividade. Sua distribuição socialmente planejada regula a proporção correia das diferentes funções de trabalho conforme as diversas necessidades. pois a "forma" a ser ultrapassada é a que "cria capital. Pois. aquele tipo de propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado. quando indica que a "nova forma histórica" è aquela que "supera o estado de coisas atual". Vale o registro de que a opacidade e a transparência da "coisa" social são. não è difícil convir que a problemática se agiganta e agudiza com toda brutalidade quando entram em cena. diz respeito a paises de modo de produção capitalista desenvolvido. neste caso. a tensão entre o domínio sobrevivente da mercadoria e & potência da dominação do produtor. que demarcam a possibilidade ou a impossibilidade perenes do acesso cognitivo. A sobrevivência "petrificada" ou o surgimento. por isso. "Na sociedade burguesa. na moldura dos países capitalistas desenvolvidos.»- cia? de produção e o correspondente nível de desenvolvimento histórico dos produtores. Por outro lado. Posto que a regência do capitai ultrapassa a vigência do capitalismo. destes. Portanto. na sociedade burguesa o passado domina o presente. porém ainda não resolvida. voluntário ou involuntário. pdo moios um dos países mais atrasados/. com que cada um deles dependa das revoluções dos outros l-j Empiricamente. a linha compulsória de desdobramentos a que deu origem e o caráter da resultante constituída. p comunismo é apenas possível como ato dos povos dominantes 'súbita' e simultaneamente. 3) "efetivaçao da re•volução através da iniciativa dos povos dominantes". porque. diz Marx no Prefácio à primeira edição de O Capital. está embutida a necessidade real e cruel que a anima e torna impostergável: criar riqueza . e que. não poderia ser tomada como "dote" pelo novo estado de coisas que forceja por se afirmar. e às "condições materiais de existência" que os facultam. já estampados. assim se expressou: "Devido ao desenvolvimento dos acontecimentos militares. Portanto. ademais de que b) "toda ampliação do intercâmbio superaria o 'comunismo local" (Ideologia Alemã). devido ao desenvolvimento dos acontecimentos políticos. em ambos os casos. pobreza e solidão não conduzem ao socialismo. uma tendência histórica que sustenta e condiciona o prosseguimento da ruptura com o capitalismo pela mesma via./ Agora o povo e toda a massa de trabalhadores vêem que o essencial para eles consiste em serem ajudados praticamente em sua extrema miséria e fome. Não importa. 28 . A. que simplesmente exorta a "contar com as próprias forças". Lênin. fazendo . sem ele. ao mesmo tempo.a tão célebre quanto esquecida passagem da Ideologia A lema. recomeçaria novamente a luta pelo necessário e toda a imundície anterior seria restabelecida". dada num plano histórico-mundial e não na vida puramente local dos homens) é um pressuposto prático. todavia. desencadeada simultaneamente e sob hegemonia dos países ricos e dominantes.proceder a uma acumulação. e está criada uma linha de força.vi/J" (O morto se apodera do vivo!). e que se encontre. apenas generalizar-se-ia a escassez e. simultaneidade internacional" das revoluções. Via que rompe na periferia pela face atrasada do sistema.-. pelo deslocamento das contradições do centro para a periferia. 1). que remetem à superação da regência do capital pela sua apropriação comum e controle social consciente. tivemos que ser os primeiros a abrir uma brecha no velho mundo burguês. 29 . um grande incremento da força produtiva. A história mundial do desenvolvimento do capital. portanto. Nem se torna económica e politicamente resolutivo para tal propósito a conversão desses predicados desfavoráveis em lema moralista. senão o mais atrasado. . "O mono se apodera do vivo". de um lado.coisas que pressupõem. devido' ao desenvolvimento do capitalismo no antigo Ocidente culto e ao desenvolvimento das condições sociais e políticas das colónias. Nesta subversão voluntarista das palavras.mente em todos os povos (concorrência universal). eis a legenda profana e sintética das transições "socialistas" do nosso século. a possibilidade concreta da superação da regência do capital dar-se-ia por uma transição socialista mundial.aos fragmentos de O Capitule do Manifesto.V x Caso contrário: a) "com a carência ocorreria o restabelecimento da imundície anterior". os pressupostos práticos são: 1) "amplo grau de desenvolvimento das forças produtivas"/"mundo de riquezas (material e cultural)". Atraso. induziu a ruptura da hegemonia capitalista pelo lado menos promissor e mais problemático. o que pressupõe o desenvolvimento universal da força produtiva e o intercâmbio mundial conectado com o comunismo" (Ideologia Alemã.intercâmbio universal dos homens. o fenómeno da massa 'destituída de propriedade' se produz simultanea. b) "apenas com este desenvolvimento universal das forças produtivas dá-se um. com a carência. por outro lado. em contradição com um mundo de riquezas e de cultura existente de fato . em virtude do qual. É fundamental aditar . que a formação econòmico-social anterior não realizara. numa de suas descrições da questão. mas a matriz do ponto de partida. São eles: a) "é necessário a massa da humanidade como massa totalmente 'destituída de propriedade*. Em suma. redundando em duas graves questões: nenhuma transição socialista foi materializada até hoje. este desenvolvimento das forças produtivas (que contém simultaneamente uma verdadeira existência humana empírica. que versa precisamente sobre os supostos concretos da revolução. Tal qual a palavra de ordem maoísta. ou seja. 2) "interdependência. (em nada contrária ao espírito mais profundo do stalinismo). o inventário dos lances singularizantes dos processos reiterados ao longo de sete décadas. um alto grau de seu desenvolvimento. descende dos chamados elos débeis da cadeia capitalista. portanto. e que lhes mostrem que realmente se verifica uma melhora necessária para o camponês. num momento em que o nosso pais era economicamente. absolutamente necessário. aqui. que é formação e ín'cremento do capital industrial. . nas condições em que se entifica o elo débil. de fato. portanto. arranque e reiteração numa gestão igualmente coleiiva/não-social. no modo de produção comunista desaparece a regência do capital e advém a consciente regência dos trabalhadores.do magro produto efetívado.isto é. No capitalismo e. Conclusivamente. Incremento urgente e máximo possível do capital industrial. Ora. mais ou menos rápido. i Nesta acumulação pós-capitalista. negada de antemão a formação social à qual ele tende a dar origem. em situações de atraso. (Discurso. nas condições de atraso. Afinal. . a transição para o socialismo não pode ser outra coisa que o itinerário da regência do capital para a regência do 'trabalho. então. ao capital básico privado corresponde o capitalismo. março/22). excluída a formação social do capitalismo. uma alta taxa de reaplicaçao como meio de produção . pretender uma entificaçao superior das formas políticas e culturais da sociabilidade. do mesmo modo que ao capital básico social corresponde o comunismo. situação nova e inesperada e só plenamente inteligível bem mais tarde. Negação. Do que resulta uma posição pouco significativa e sempre subalterna no intercâmbio internacional. designadamente do capital industrial. O camponês conhece o mercado e conhece o comércio. que todo o esforço está 'condicionado pela necessidade da criação urgente e ampliada da riqueza. um diapasão localista da existência social. pois. interditadas as formas privada e social da propriedade do capital. é apropriado no capitalismo por uma pluralidadae de personae do capital. Donde. Faltavam para isso as fábricas e a maquinaria para elas". pois. livremente associados.lse não está devidamente criado . para passar a ser regido conscientemente pelos seus produtores. da sustentação e reprodução do atraso que se tratava e tinha de romper. sociabilidade estreita e acanhada.mais ou menos rápida. Neste caso perde seu caráter de força de dominação.adequada a seus costumes. o capital.recomeça novamente a luta pelo necessário e toda a imundície anterior é restabelecida". com a carência.. não passa de voto piedoso e tola mistificação. Esta tem seu ponto de inflexão.o imperativo concreto era desenvolver o capital básico. Na imediação. da regência do capital. Romper esta canga é acima de tudo desmantelar a estrutura do atraso. quando para desenvolver o capital industrial é preciso recusar e ultrapassar o capitalismo? Na polaridade conhecida. no comunismo verifica-se. tanto mais. XI Congresso do PC Russo. sem alternativa. é despertar e impulsionar as energias da acumulação material. De maneira que. emerge uma "apropriação" Cóletiva/Não-Social. Em suma. deixando. o que vale dizer aparente.e o próprio imperativo é a sua criação? O que poderia vir a ser a propriedade social do capital. dentro dele era impossível. tanto quanto uma concreta aproximação. o que implica. Um afastamento. política e cultural. "generaliza-se a escassez e. irrecorrivelmente. tolhida e amesquinhada em todos os seus âmbitos. dado que uma gestão de caráter sociais duplamente impossível nas condições próprias ao elo débil. E isto . mas paradoxo histórico. Não pudemos implantar a distribuição comunista díreta. de retardamento no desenvolvimento do capital. se a chave da questão é a forma da apropriação do capital. Exatamente o contrário do que se passa nas condições especificas do elo débil: aí o pressuposto inexiste. . como é preciso. de reger aos homens e à sociedade. só depois assumida e reforçada pela teíeologia revolucionária. porém. Sem as quais. advinda primariamente da própria realidade. De maneira que. além de que seja impensável uma gestão universal sem a possibilidade da propriedade universal do capital. promover semelhante convulsão da estrutura económico-social.rompimento do atraso e criação de riqueza num contexto especialissimo.|como ter a posse social dele. enquanto no 30 íí- T comunismo ele é apropriado pela universalidade de seus produtores. do que é feito semelhante atraso e pobreza? Em essência. pois o atraso è também miséria social. a propriedade social do capital é inútil e/ou impossível. não fora o próprio retardo e a fraqueza da objetivação capitalista a razão fundamental. (agregados os interesses capitalistas internacionalmente hegemónicos). 31 . Ou seja. fragilidade e distorção no crescimento das forças produtivas. cultural e politica. sob a forma do capitalismo. Paradoxalmente. incipíéncia. da regência dos 'trabalhadores. força gerada socialmente. Mas o que é passível de objetivação como forma de sociabilidade. o pressuposto do "mundo de riquezas e de cultura" de que fala Marx. se não a perversa subdivisão da miséria? Subdivisão ainda mais agudamente precária se considerado. Em suma. porém é um fato absolutamente indiscutível" (Discurso. O comunismo como o sistema de relações sociais de produção do capital social. 28 de março). que intentaria primeiro organizar a grande produção e a distribuição para os camponeses e depois. peto menos aqui. que entende necessariamente transitório. porque ninguém podia prever que o proletariado chegaria ao poder num dos países menos desenvolvidos. com a mesma pertinência. determina-se o capitalismo enquanto uma formação social especifica. para precisar um pouco mais. tivesse falado em capital estatal do que em Capitalismo de Estado. que no decurso do tempo tenha o referido aparato desenvolvido interesses próprios. para Lênin. o Capitalismo de Estado pode ser. pois. é função mesmo que também (o que è apenas o outro lado da mesma moeda) seu fiel guardião. Na medida em que é flagrado. Lênin viria a falecer quando toda essa questão ainda mal havia se desdobrado. incorporaria a ela o capitalismo. quanto à questão do capital estatal. Preobrazhenski afirmou que "o Capitalismo de Estado è o capitalismo. o mesmo que ele disse com relação a Marx no que tange ao Capitalismo de Estado: "Nem sequer a Marx ocorreu dizer uma única palavra sobre esse assunto e morreu sem deixar nem uma citação precisa.e comunistas. na configuração do elo débil que recusa e tem que recusar o capitalismo. isto sim. dos quais os eunucos são apenas uma das expressões mais visíveis e detestáveis. um capital pré-capitalisía e. à época (NEP) principiavam a ser criadas as "sociedades mistas". essa gestão/1'apropriação" coleíiva/nãosocial tem por corpo um complexo dispositivo partidáriofestaíall administrativo.. e é. Qualquer incursão por esta linha. que funcionalmente mantém e reitera nesta formação pós-capitalísta a regência do capital. estreitar e indeterminar a especificidade do fenómeno.de de seus produtores.me que teria sido mais feliz se. dificilmente (para não dizer que era impossível) poderia ser visualizado. mas não é todo o problema. que se objetiva sob a regência do capital coletivol'não-social ou estatal. Porém. os eunucos nunca teriam existido. Lènin retrucou que isto era. Todavia. e que se encontrava em estado embrionário.a lógica de uma formação pós-capitalista que. Pode ser divertido chamar os burocratas em questão de eunucos da regência do capital. regido conscientemente pela universalida. E o que designei por capital estatal (coletivo/não-social) estava apenas em germe. Não custa reiterar. ainda que esta última designação possa. sendo a identidade do "socialismo" de acumulação (autodenominado de socialismo real) a forma de uma sociabilidade do póscapitalismo. Regência da qual o aparato. um capital pós-capitalista. no XI 32 Congresso do PC Russo (março/abril-1922).tiesde então.Sui generis. nem indicações irrefutáveis. as formações sociais (das quais eles são categoria privilegiada) mantêm e reproduzem aspectos decisivos da estruturação social que tem no valor. e que só assim se o pode e deve compreender". isso teria sido praticamente impossível. na sua debilidade analógica. numa especificidade que torna ingénuo pensar seus integrantes com os atributos. em certa medida. os "trustes do Estado". vale mais compreender que. inclusive ideológico. mas não insignificante. no trabalho assalariado etc. pois. na subsunçao a essa regência. Mas. pois. na processualidade histórica do capital. mesmo porque ele analisa um evento. um momento importante na formação do capital coletivo/não-social. Em outros termos. De sorte que. a distinção entre capital e capitalismo só tínha]existência histórica passada. ainda que caricatos. e está literalmente impedido de transitar 33 . minha tematização não pretende. que se põe e repõe sob a hegemonia do capital privado. em consequência das condições culturais. Portanto. dos quais participavam capitalistas privados . no mercado. reitera a regência do capital. De tal modo e peso que o mundo da feíichização da mercadoria impera e com ele toda a pletora de estranhamentos. desvia da questão essencial e decisiva: . sem burgueses e sem capitalismo. Menos de dois anos depois (tempo durante o qual sua atividade declinou acentuadamente). das personae do capital. 27 de março). suas determinações essenciais. Por isso temos agora que nos esforçar por ir adiante sozinhos" (Discurso. absolutamente não previsto por ninguém. Vale dizer que o Capitalismo de Estado foi possível exatamente porque. ao não cumprir esta tarefa. Jamais se havia previsto nada disso. parece-me secundário.escolasticismo e argumentou: "o capitalismo de Estado é um capitalismo inesperado ao extremo. Nas discussões sobre o Capitalismo de Estado. Há que lembrar que nem toda guarda é posse. Grifo Q funcionalmente. enquanto tento abordar um fenómeno de longa duração e obviamente estabilizado. Contudo^parece.russos e estrangeiros . a polémica com a tese de Lênin. Vale para ele. Se assim não fosse. "è cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas".. Conquanto. cada ato que reitera esta gestão/"apropriação" coleliva!não-social do capital é um ato de barbárie./Porém. através das quais há de se efetivar a superação de suas profundas mazelas. Território dentro do qual. guardadas as diversidades reais. como propriedades naturais sociais dessas coisas e. decadentemente a . que se trata da liquidação da regência do capital que as preside. posta para além do capitalismo. assim.. Donde a simultaneidade de um "mundo de riqueza" e a "massa da humanidade como massa totalmente 'destituída de propriedade'". é básica a compreensão das especificidades para a determinação das vias mais promissoras. 35 . dado o número de paises sob esta figura. quanto 34 à organização partidária. À mesma hora em que se sepulta qualquer tolerância ou conivência para com suas aberraçÕcs. sempre que isto suponha. uma ditadura do proletariado. como características objetivas dos próprios produtos de trabalho. ao mesmo tempo que deixa de ser necessária a produção da miséria. o partido da razão do 'trqbaiho daqueles foi substituído pela parafernália manipuladora e. o capital atende de modo absoluto a sua própria lógica de acumulação. tal como o proletariado foi derrotado em 1848/9 e na Comuna de 1871.caráter concorrencial que as entrelaça. compreender a inutilidade e a futilidade do anti-sovietismo (anti-sociiJismo real) "nervoso" e epidérmico.que a categoria de ditadura do proletariado è o motivo por excelência das aberrações manifestas pelos países referidos. quedando subjugadas a ela as necessidades sociais em geral . . na exata medida que esta é precisamente a sustentação de uma relação social de produção em que o trabalho acumulado continua a reiterar e a dominar o trabalho assalariado. de fato.que haja.pa?a o capital social. Em paralelo. Tais distinções remetem apenas às suas formas particularizadoras e às suas concreções singulares. que tende a ser ainda maior. Na vigência do capitalismo. Hoje. foram soterrados e enxovalhados pela avalanche stalinista. ao inverso: os princípios e concepções de Marx e Lênin.proletária dos dias de hoje. é equivoco intolerável supor: . .que esteja constituído um campo socialista.Barbárie e Consciência A mercadoria. . entre os países do socialismo real. naturalmente presente. ou até mesmo de qualidade em planos secundários. principia a se especificar em capital coletivo/nãosocial. há. E seu "caráter enigmático" provém de sua própria forma: "o mistério da forma mercadoria consiste simplesmente no fato de que ela reflete aos homens as características sociais do seu próprio trabalho. na atualidade. Não são tais diferenças que podem despertar esperança de imediato. por certo. cuja atrocidade menor não é.que a vulgata stalinista e neo-stalinista (inclusive sua vertente euro-liberal) seja o corpus (filosófico e cientifico) do saber marxíano e marxista. a regência do capital. na formação do pós-capitalismo o conjunto da sociabilidade. Ou seja. o sistema "permanece no interior dos parâmetros do capital" (Mészáros). permanece sob a regência do capital. jamais houve. "à primeira vista trivial". mas uma nova ordem social. essencialmente. afinal.à universalidade das formações ao pós e anticapitalismo e não do socialismo. haja uma dimensão antícapítalista limitada. o Soviet de 1917 também sucumbiu. um padrão de partido do trabalho. diz Marx. atacadas e superadas as forças dominantes reais ou potenciais do capitalismo. caracterizada por antagonismos. refutada pela história. quanto à superação da canga que as rege. nas formações do póscapitalismo. De modo que o campo do pós-capitalismo (autodenominado de campo socialista) não é a concretização incompleta ou imperfeita de uma ideia. Do mesmo modo que no caso do capitalismo ultraavançado. por isso. II . . um sistema mundial de países óopóse anticaplíalismo. e com irradiação para multo além dele. também refiete a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles. por consequência. no mínimo. a de ter se travestido em socialismo. Não e a possibilidade de pinçar diferenciações de grau. entre objetos. há que. e. Sem dúvida. mas no interior da regência do capital."o trabalho vivo é apenas um meio de aumentar o trabalho acumulado". dado o desaparecimento das personae do capital e do . que se debatem com enormes problemas internos e que conflitam entre si por mais de um motivo. de procedência clássica e provado pela prática. ao contrário. /. a ideia socialista foi pervertida em uma nova ideologia do poder. de fato. que desfaz a sua condição de entificaçoes subsumidas.
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