CHARLOT_2008_PROFESSOR TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO.pdf

April 2, 2018 | Author: Mariana Santos | Category: Schools, Pedagogy, Sociology, Learning, Teachers


Comments



Description

Bernard CharlotO PROFESSOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO Bernard Charlot * RESUMO O artigo pretende confrontar as injunções da sociedade contemporânea com o que está vivendo o professor “normal”, isto é, a professora que atua a cada dia numa dessas salas de aula que constituem a realidade educacional brasileira. O professor enfrenta contradições que decorrem da contemporaneidade econômica, social e cultural: deve ensinar a todos os alunos em uma escola e uma sociedade regidas pela lei da concorrência, transmitir saberes a alunos cuja maioria quer, antes de tudo, “passar de ano” etc. Essas contradições, porém, não são um simples reflexo das contradições sociais; arraigam-se, também, nas tensões inerentes ao próprio ato de ensino/aprendizagem. O artigo analisa como essas tensões tornam-se contradições na sociedade contemporânea. Destaca seis pontos. O professor é herói ou vítima? É “culpa” do aluno ou do professor? O professor deve ser tradicional ou construtivista? Ser universalista ou respeitar as diferenças? Restaurar a autoridade ou amar os alunos? A escola deve vincular-se à comunidade ou afirmar-se como lugar específico? Palavras-chaves: Professor – Ensino – Contemporaneidade – Contradições ABSTRACT THE TEACHER IN CONTEMPORARY SOCIETY: A WORKER OF CONTRADICTION The article intends to confront the injunctions of the contemporary society with what the normal professor is living, that is, the teacher who acts every day in one of these classrooms that constitute the Brazilian educational reality. The professor faces contradictions that follow from the economic, social and cultural contemporaneousness: he must teach to all the pupils in a school and a society dominated by the rule or competition, transmit knowledges to pupils whose majority wants, more than everything, to be promoted to the next grade, etc. These contradictions, however, are not simples consequences of the social contradictions; they are rooted, also, in the peculiar tensions between teaching and learning. The paper analyzes how these tensions become contradictions in the contemporary society. It emphasizes six questions. Is the professor hero or victim? Who is guilty, * Doutor e Livre-Docente em Ciências da Educação. Professor Emérito da Universidade de Paris 8. Professor-Visitante no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Contemporaneidade (EDUCON). Endereço para correspondência: Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Pós-Graduação em Educação (NPGED), Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos”, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze – 49100-000 São Cristóvão/SE. E-mail: [email protected] Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008 17 do ex. excesso dos discursos à pobreza das práticas”. decerto. o autor critica as análises “prospectivas” que reve. Isso não signi- sos”. passa a ensinar na escola preciso não esquecer a advertência: ao acumular primária. além desse nível primário. Não se fala sobre a “vi- temporâneo deve enfrentar. de sacrificar a análise do presente à visão proféti. Aliás. Essa é a chave de leitura deste artigo. No sociais e culturais resumo do artigo. isto é. Quanto aos jovens das classes po- docentes. é noria que. há atos de indisciplina que entre as práticas do professor atual e as e pequenas violências entre as crianças. 1. portante na distribuição das posições sociais e jeto é o “desenvolvimento” e que está vivendo uma no futuro da criança e. Poucas crianças seguem estudando dos programas de formação de professores. sem fortes turbu- se tratando da formação das crianças. a meu ver. apenas um problema pedagógico. A escola e o professor na encruzi- tulado “Os Professores na Virada do Milênio: do lhada das contradições econômicas. cassados. As contradições relativas à escola são contradi- 18 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. corre-se o risco posições sociais a que já eram destinados. Os jovens oriundos da classe média con- palavras ou expressões como “globalização”. p. no Brasil. conseqüentemente. “novas tecnologi. Alunos fracassam. a escola não cumpre um papel im- ca do futuro. mas. a professora que atua a cada dia da escola. por exemplo. Não recusando um pensamento “utópico”. Para as crianças do povo. em uma sociedade cujo pro. sejam eles bem-sucedidos ou fra- lam um “excesso de futuro” que é. “ino. etc.. tribuição do ensino para a modernização do país. n. tinuam estudando além da escola primária. a escola não um “déficit de presente” (NÓVOA. Contudo. é difícil evi. abre perspectivas profissionais e não promete as- Quando se reflete sobre os desafios encarados censão social. porém. dade educacional brasileira. “moralização do povo pela guagens dos especialistas internacionais à pobreza educação”. mas injunções dirigidas ao futuro professor ideal. muitas vezes. Parece-me possível superar a dificuldade conseqüências dramáticas e. São estão na “ordem das coisas” e não preocupam a elas. a vida fase de transformações rápidas e profundas e em dentro da escola fica calma. o que está acontecendo dentro “normal”. Portanto. que fica dizer que não haja debates sobre a escola. objeto de debate social. António Nóvoa publicou um artigo inti. ressaltou os seguintes pontos. na década de 30 no Brasil. opinião pública e os professores./dez. v. 30. aplicada ao exame da situação dos professores: primária cumpre funções de alfabetização. numa loja. Até a década de 50 do século XX.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição pupil or professor? Must the professor be traditional or constructivist? Must he/she be universalist or respect differences? Must he/she demonstrate authority or must he/she love pupils? Must school be linked with the community or must school be emphasized as a specific place? Keywords: Teacher – Teaching – Contemporaneousness – Contradictions Em 1999. saem da escola para trabalhar na roça. vações”. do excesso das lin. na maioria das vezes. 1999). por das práticas pedagógicas e do excesso das “vozes” não entrar na escola primária ou nela permanecer dos professores à pobreza das práticas associativas pouco tempo. jul. esses estudos os levam às as de informação e comunicação”. não acarreta cação. mas esse fracasso é tar a perspectiva do futuro quando se fala da edu. não é analisando as contradições que o professor con. Não se temporânea com o que está vivendo o professor discute. uma cesso do discurso científico-educacional à pobreza grande parte da população nem é alfabetizada. trans- do excesso da retórica política e dos mass-media à missão de conhecimentos elementares e. debate-se o acesso à escola e a con- numa dessas salas de aula que constituem a reali. lências. pulares. que levam ao “excesso dos discur. 2008 . pretende confrontar as injunções da sociedade con. olência escolar”. sendo assim. a escola A chave de leitura do artigo é a lógica excesso-pobre- za. 17-31. 17. Salvador. Elas decorrem do cho. como di- pobreza das políticas educativas. “sociedade do saber”. ziam no século XIX. ao mesmo tempo. com exceção de uma pequena mi- pelos professores na sociedade contemporânea. doravante. tudo. Já que os resultados escolares moças pertencentes a camadas sociais que. estudos e diplomas da sua função e da competência requerida para permitem conseguir empregos gerados pelo desen. p. Nessa base. Esses “novos alunos” encontram social. é o caso nos Estados-Unidos. a contradi. pelo Estado. Apesar das taxas elevadas de desemprego dos. o que torna mais angustiada a Perduram até os dias atuais as funções confe- relação dos alunos e dos pais com a escola e mais ridas à escola nos anos 60 e 70. jul. aos poucos ingressam na escola. 2008 19 . os pedidos a ela tensa a sua relação com os professores. porque. mas também sobre os professores. com a expan- própria escola. a seguir. v. Até as prá- ção entra para a escola. ter obtido um efeito. conquistar as melhores vagas no mercado de tra- Em tal configuração socioescolar. Na maioria relações com a escola e com o que nela se estuda. Com efeito. portanto. fracassado. outro. trário. em particular para o e quais devem ser as suas práticas na sala de aula. 17. vam as primeiras séries. importam Essa configuração histórica muda por inteiro a para o universo escolar comportamentos. os salários dos professores permane- Doravante./dez. o salário auferido por uma categoria profis- diploma abre perspectivas de inserção profissional sional não depende apenas da importância social e ascensão social. no dificuldades para atender às exigências da escola Japão e nos países do Sudeste Asiático. no Brasil. antes de bre a escola. Não basta tirar uma nota boa e cente. mente definidos e estáveis. são cada vez mais numerosas as pessoas di- e da importância da economia informal. último segmento do ensino fundamental. são questionadas e criticadas: fato de ter sido bem-sucedido na escola ou. a desestabilização da função do- futuro do filho. plomadas e aptas a ensinar. dá-se uma nova gui- obter um bom diploma. no Brasil. o seu trabalho na sala de aula são clara. diplomas superiores aos dos demais alunos para ções dentro da escola. as novas camadas sociais mas é respeitado e sabe qual é a sua função social que ingressam para a escola. já se desenvolvem novas fontes de in- leva a um esforço para universalizar a escola pri. mas. rapazes e pressões sociais. as contradições que ela deve enfren- diploma medem o valor da pessoa e prenunciam o tar e. contudo. partir dos anos 60 e 70 do século XX. esse mo. dade tende a imputar aos próprios professores a Em tal configuração socioescolar. n. a posição balho e ocupar as posições sociais mais lucrativas social dos professores. etc. Dessa visão. da raridade das pessoas volvimento econômico e social e pela expansão da aptas a ocupar a mesma vaga. A socie- efetivas ou potenciais. A nota e o endereçados. Começa a se impor um novo mo. não tinham acesso à escola ou apenas cursa. A escola vira espaço de concorrên- pública. escola e desestabiliza a função docente. o fato de ter ido à escola. são da escola. Em segundo lugar. Ora. cuja eficácia parecia compro- Primeiro. a sua imagem na opinião e prestigiosas. ticas pedagógicas. modelo esse que populares. 30. Essa nova perspectiva Ademais. “o futuro do país”. No entanto. o ensino fundamental. cumpri-la. a escola passa a ser pensada que não combinam com a tradição e até com a na perspectiva do desenvolvimento econômico e função da escola. Bernard Charlot ções sociais a respeito da escola e não contradi. começa a ser desprezado o professor “tradicional”. até muito baixos. os professores sofrem novas em níveis cada vez mais avançados. Esse movimento de criticados. atitudes. para sua vida futura. delo já predomina no Brasil: a história escolar de Por todas essas razões. dos alunos são importantes para as famílias e para ra. em particular nas camadas sociais delo de ingresso na vida adulta. 17-31. no que diz respeito às aprendizagens e à disciplina. ter estu. Com dado até certo nível de escolaridade. mais atraentes para os alunos do que a escola. Salvador. importa muito o vada pela tradição. é preciso conseguir notas e nada nas décadas de 80 e 90. a contradição entra na uma criança acarreta conseqüências importantes. ao con. cem baixos e. cia entre crianças. na França. os professores são vigiados. formação e de conhecimento. dos países do mundo. nos países africanos. Em terceiro lugar. Esta é geralmente Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. também. em especial a tele- mária e. O professor é mal pago. época para cá. Vão se multiplicando os discursos so- expansão escolar é organizado e pilotado. desprovidas das redes relacionais que articula nível de estudos a posição profissional e possibilitam conseguir os empregos mais cobiça- social. responsabilidade dessas contradições. alunos. isto é. levando em conta as característi- considerar o fim do ensino médio como o nível de.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição atribuída à “globalização”. As mu. em particular pelo fracasso dos danças. de “ligar a escola à comunidade”. é. Mas esse trabalho de redefinição ainda não cola e da família e que fascinam particularmente foi esboçado. 20 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. decorrem das novas lógicas neoliberais. mobilizar recursos sejável de formação da população em um país que culturais e financeiros que possibilitem melhorar a ambiciona enfrentar a concorrência internacional eficácia e a qualidade da formação. O Estado recua. um pro- lização. a única. é preciso redefinir a fun- forma. faz com que o docente já Por fim. Orkut etc. o acesso fácil a inumeráveis informa- do pelo recuo do Estado. mas percebido como ameaça e que deve aplicar regras predefinidas. o interesse dos alunos pela comuni- Todas essas transformações têm conseqüênci. “global” e “local”. comunicação “pingue-pongue”. Ademais. Vigia-se menos a conformidade da atuação cola. zagem escolar da língua e da cultura escolar. De modo geral. mais. quer médio. cente. graças à Internet. O professor deve. mas também na sua posição pro. é responsabilizado países como o Brasil (CHARLOT. zado. a esfera na qual o Estado sob forma da cultura informática. 2007). enquanto apenas pelas exigências crescentes dos pais e da esse tipo de textos permanece a base da aprendi- opinião pública. o professor já não é um funcionário curo nas mentes. ções. o professor é con- cias de eficácia e qualidade da ação e da produção vidado a adaptar sua ação ao contexto. capitais. que não foi e ainda não é formado Em terceiro lugar. Essas lógicas são ligadas à globalização./dez. imagens. cas do bairro e dos alunos. cação por Internet e por celular faz com que eles as sobre a profissão docente. A injunção nacionais pelas quais transitam fluxos de merca. CD-ROM. quer superior ainda Esse global. desestabilizada não leiam cada vez menos textos impressos. A escola e social. vas tecnologias de informação e comunicação: nem sequer a principal fonte de informações sobre computador. 17-31. ao e até o único. Podem ser cente. informações. a idéia de que a “lei do mercado” é o melhor meio. cuja execu- exigência inelutável. novas exigências requerem uma cultura profissio- crescem as exigências atinentes à qualidade do nal que não é a cultura tradicional do universo do- ensino fundamental. Para resolver os problemas. ção do professor. Há de preparar Multiplicam-se as privatizações. o professor. agora. pensar de modo. também. Essa mudança de política implica numa trans- resumidas da seguinte forma. sobretudo. quer fundamental. fenômeno bastante es. p. para alcançar eficácia e qualidade. as do ensino. os professores devem elaborar um projeto políti- Em segundo lugar. tornam-se predominantes as exigên.. inclusive quando se trata de educação. Essas maior da juventude. do professor com as normas oficiais. im. o desenvolvimento de redes trans. tecer parceri- e a abrir as portas do ensino superior a uma parte as. Por um efeito de feedback. desenvolvem-se em ritmo rápido no. ção é controlada pela sua hierarquia. na sua posição ventam novas formas lingüísticas em uma diante de seus alunos. fica um pouco perdido. agora. em especial no Brasil. até agora surtiu poucos efeitos diretos em fissional mais ampla. pelos resultados. O professor ganhou uma autonomia pro- etc. Hoje em dia. beneficia. incluídas aquelas que dizem respeito à es. guns países. mas resolva aquele dorias. a própria globa. mas contrapeso lógico da autonomia profissional do do- constituem um fenômeno mais amplo. n. como foi outrora. jul. inclusive. nascem e crescem espaços de comunica. os jovens: MSM. 2008 . passou a ser: “faça o que quiser. mas avaliam- pondo a sua versão da modernização econômica e se cada vez mais os alunos. Primeiro. celular. 17. em al. sendo a avaliação o social. não seja para o aluno. serviços. 30. os seus alunos para uma sociedade globalizada e. mesmo tempo. a ideologia neoliberal impõe para tanto. para que este não seja desvalori- ção e informação que escapam ao controle da es. fissional que deve resolver os problemas. problema”. Esta o coloca atua diretamente reduz-se. em face a uma tripla dificuldade. do “local”. essas exigências levam a co-pedagógico. Primeiro. mas. Sendo assim. v. Na verdade. Salvador. proveito do “global” e. Internet. o professor encontra-o. e in- fissional (nas escolas particulares). formação identitária do professor. sim. ainda. desenvolver projetos com os alunos etc. Dessa o mundo. nas suas práticas. 17-31. do saber pelo aluno. criativos. em todas as áreas da vida. isto é. É verdade. fessora1 . As avaliações nacionais (SAEB. vens. ou numa sala trancada. são projetadas muitas contradições econômicas. platéia como se esta fosse constituída por profes- Sendo assim. De forma sas novas tecnologias. 30. sores heróis. percebe- generalizada. com novos tipos de alunos. Educação propõem ao professor dem da prática da professora e. as contradições são. intervêm no debate professores e professo- nota e não ao saber. o professor é convidado a utilizar es. Sociologia. em um processo de mobilização pelos alunos. ligadas à própria atividade do- que estruturam a escola atual. implica formas de Portanto. o professor trabalha emaranhado em rença entre “informação” e “saber”: como usar as tensões e contradições arraigadas nas contradições informações disponibilizadas pela Internet para econômicas. do funcionamento da Instituição de formação. Por fim. dupla dimensão. no Brasil) e internacionais (PISA) 1 Uso a palavra professor quando se trata da figura simbólica que encarna a função docente e as palavras professor ou professora e o vestibular brasileiro. existe uma dife. são um simples reflexo das ainda. Por um lado. v. ou reconstrução. acentuam essa focali- sas novas tecnologias no seu ensino e as escolas zação dos alunos e dos professores sobre a nota. p. jul. Os modos como se gerem as tensões intelectual. O professor herói e o professor lhadores cada vez mais reflexivos. no cotidiano. de lazer e até de beleza. quando penso na pessoa singular que cumpre essa função. mais ampla. a forma como os alu. essas ten- ção. autônomos – e. por valiosa que seja em si. uma vez que são molda- vismo como injunção endereçada ao professor. as estruturas de espaço e tempo das escolas. que tentarei analisar aqui. às cotidiano. cujos modos de contradições sociais. ar não combinam com o uso pedagógico do sociais e culturais. Por Quando se observam as palestras públicas so- outro lado. sões viram contradições. Ao levar à idéia de uma constru. os modos de avali. o ensino fundamental e. Contudo. pensamento pouco condizem com o que requer o Existem tensões inerentes ao próprio ato de edu- sucesso escolar. a “forma escolar”. Quando são mal geridas. Salvador. de for. O professor é uma figura simbólica sobre a qual nos são distribuídos em turmas. de serviço. os computadores permanecerão nos 2. também. A situação é mais complexa. mas vive dando notas a alunos. 2008 21 . no dio e. mas há dois radical: sonha em transmitir saberes e formar jo- obstáculos ainda maiores ao uso pedagógico des. vara das pelas condições sociais do ensino em certa mágica que poderia resolver os problemas atuais época. porém. Bernard Charlot Por fim. ao mesmo tempo. Contudo. uma formação cada vez mais ambi. volvida uma reflexão fundamental sobre esse as- sunto. escolar. derar que as contradições enfrentadas pela pro- Como já mencionado. O professor alega que não O próprio professor encarna essa contradição foi formado para tanto. e sócio-históricas. Primeiro. amplamente difundida pelos centros nização da escola. o professor sofre os efeitos de uma contradição radical da sociedade capitalista con- temporânea./dez. a ciosa é proposta a alunos visando cada vez mais à seguir. ENEM. Resta o construti. a proposta “construtivis. a educação infantil. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. de consu- midores cada vez mais informados e críticos.1. recebem computadores. temporânea. do que a sociedade espera dela e lhe pede. da orga- uma solução. que norteia o ensino mé. também. n. fessora na escola e na sala de aula gundo. As contradições no cotidiano: a pro- armários das escolas. vezes. as pesquisas em Psicologia. ta”. Se. esta precisa de traba. dos professores e dos alunos. sofridas pelos docentes e ma ativa. 2. de forma indireta. organização e de avaliação escolares diferentes das estruturais. trate-se se uma situação interessante: o palestrante fala à de produção. ela promove uma concorrência bre a escola e os debates que se seguem. e as formas que tomam as contradições depen- Epistemologia. isto é. seria um erro consi- computador e da Internet. vítima responsáveis. o professor defronta-se. cente. São essas tensões e contradições. sociais e culturais da sociedade con- transmitir ou construir saberes? Se não for desen. 17. professoras santas ou militantes e. na sua da escola. car e ensinar. como é a sua apresenta. 30. que ensina com que quem quer mesmo mudar. que adoram Os docentes têm consciência dessa injunção se comunicar com os jovens e. pode. 17-31. isto é. Terceiro fenômeno: essa situação gera vitimização. que entendem tudo de Piaget. existe uma convergência implícita entre construtivistas. a que subsiste nas professoras. Falta o pro- afastadas do ideal que sejam as suas condições fessor normal. além disso. Primeiro: ção por José Pacheco. discurso é certo. cerca de universitários e demais formadores de docentes? 2. Por isso. afinal de formação. p. ainda que iriam recusar tal aventura se lhes fosse proposta? entenda que são ligadas a transformações sociais. Recentemente. contabilizam-se res. também. v. contas. * anda de ônibus: é coitado * o aluno é aprovado: deu mole nos dias atuais. para quem falam os professores militante. os discursos heróicos sobre a edu. Ao silenciar. dos pais. o so universitário pedagogicamente correto. por esses propagado./dez. O problema é outro: por o professor tem consciência de estar preso em dis- que esse exemplo comove tanto professoras que cursos contraditórios. O professor está sempre errado. prazeres dos quais pouco o seu trabalho cotidiano. jul. Não há dúvida alguma de que essa escola seja interessante. 2006). marcadas por transformações sociais? 2003. uma vez que manifestado. n.4 milhões de “funções docentes”2 . Salvador. Desse ponto rotinas provadas. Avanço a hipótese de que tais exemplos e. Qual é exatamente a função * não chama atenção: não tem moral daquele discurso heróico? * usa a língua portuguesa corretamente: ninguém A esse respeito. abre parênteses de vista. queixam da rotina escolar e avançado a idéia da que não pedem “receitas” para conseguirem ser escola como lugar de aventura intelectual. muitos têm dois empregos ou até três. satisfazem a “parte do sonho” Por um lado. Freud. Esse texto evidencia três fenômenos. O as “funções docentes”. mas. ele é a prova de que “isso é possível”. por escrito. ainda. de for. cadê a professora “normal”. um dos seus atores (PACHECO. O problema é que há. até as mais violentas e chatas e. cação e a escola. heróica e reclamam. história é divulgada pelo Brasil. O que é essa profissão em que. Os discursos são iguais: quem quiser. no Brasil. indignação e desmobilização profissional. Será que te- Para professoras que encarnam o patrimônio uni. orgulha-se do trabalho feito. remos de esperar que tanta gente se converta ao versal do saber. ma mais geral.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição ras que se sentem vítimas da sociedade. palestra em que tinha explicado que os alunos se ças. muitas vezes. Do lado da Instituição de fala. na sua maioria. redigir pla. 17. mas incompleto: quem quiser. os propagadores de exemplos famosos e o discur. a seguinte “pergunta”. pode. mal paga e sempre criticada. mesmo modo. a escola portuguesa da Ponte. heroínas e santas. com talento. que trabalha para ganhar um salá- reais de trabalho. Marx e mais alguns. militante? No discurso pedagogicamente correto. das Secretarias de Educação etc. 22 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. por mais difíceis e vítima. nos debates sobre a escola. cuja * o aluno é reprovado: perseguição. vale refletir sobre a função entende desempenhada. que vive situações coletivo que possibilita às professoras agüentarem esgotantes e. sas contradições em termos pessoais. pelos * fala a linguagem do aluno: não tem vocabulário exemplos de escolas famosas. santo. que foi bastante para ser um bom profissional. O professor herói é o Eu Ideal rio e sustentar sua família. que amam todas as crian. Segundo: ele interpreta es- nunca tentaram fazer o mesmo e. a professora * é jovem: não tem experiência que prefere ir à praia ou namorar a dar aula de * é velho: está superado matemática? Isso não significa dizer que não seja * chama atenção: é grosso uma boa professora. recebi. pode. heroísmo para mudar a escola brasileira? Vygotsky. que se tornaram * tem carro: chora de barriga cheia radicalmente diferentes das escolas triviais – como. o professor normal conforta-se. que se sente objeto de críticas. Do contanto que assuma a postura de herói. dos alunos. Por outro. após uma nejamentos detalhados. mas. o herói da Pedagogia. escolas. às vezes. 2008 . apesar que Peter Woods (1990) chama de “estratégias de do desprezo explícito para com a universidade 2 É difícil conhecer o número exato de docentes. deve-se ser santo ou aplaudida pela platéia de professores. por Como implementar uma aventura intelectual nas José Pacheco. Quem aprende é o (CHARLOT. Nesse caso. recorre a meios que fe- de ensino. que se Esse deslize da tensão para o conflito é rápido manifesta quando ocorrem dificuldades profissio. segue aprender. como fazem hoje em dia. pende do professor: se este explicar bem. professora ultrapassa os limites da pressão peda- é um efeito estrutural. p. As aprender no lugar do outro. com o respaldo dos pais. quem é a culpa. Avanço a hipótese de que são es. pedagógica torna-se mais tensa do que outrora. nas de um balanço de pouca amplitude. sempre chega um momento em riosa “resistência à mudança”. na sociedade contemporânea. Como foi mencio- nais particulares. e não uma miste. muitas vezes. mais predominam as estratégias de saber. Mas não pode: por mais seme. a relação nal e social do professor. que freiam as que é difícil não levantar a questão de saber de tentativas de reforma ou inovação pedagógica. Mas quando a sociedade e a pró. permanentemente. 17-31. n. esse ba. Em outras pala. Posto isso. na lógica de suas estratégias de sobrevivência – o Trata-se de uma tensão. ção e conflito. Bernard Charlot sobrevivência”. do aluno. e só a seguir vêm os objetivos de forma. O aluno. mas sempre a tensão pode gerar contradi- inovação. trata-se ape. é o valor pessoal e a digni- e este não recusa a mudança. e não de uma contra- que. Sendo assim. será porque o professor não explicou bem. mas. deste artigo. que é burro. Quando o professor se sente amparado pela provocada pelos xingamentos e castigos e pelo pró- sociedade e pela Instituição escolar. negociar. Salvador. gens dos conteúdos ensinados. 2005). ninguém pode utilizados. mas a reinterpreta dade de cada um que está em jogo. 17. mas igualmente a professora. entre herói e vítima.2. Entretanto. O vras. o que ocorrerá de- método pedagógico da professora. cabe ao aluno aluno. sejam quais forem os meios dade intelectual para isso e. notas e passar de ano. às vezes. quando tira uma nota ruim: quem deveria ter essa Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. Se não quiser. são também aprendizagem é. ir à escola e escutar o professor. mas para tirar boas Só pode aprender quem desenvolve uma ativi. seja qual for o brincar nem brigar. ruim. portanto. portanto. quem é ativo no ato de ensino/ lhantes que sejam os seres humanos. adaptar o nível da ção dos alunos. de ensino/aprendizagem. não deixa de se vingar da humilhação amplo. aprenderá e obterá uma boa nota. logo a Esse balanço do professor. Quanto mais difíceis as condições sua aula. que não sabe ensinar? Não é apenas um biliza as estratégias de sobrevivência do professor problema pedagógico. é sobreviver. antes de tudo. aluno que escutou o professor se sente injustiçado esta depende daquele. procurar novas aborda- camente. 2008 23 . uma tensão inerente ao ato sobrevivência. ela deve pres- explica ele. Às vezes. Do aluno. Se a nota for no. quando um minhas pesquisas sobre a relação com a escola e aluno não entende as explicações da professora. O primeiro objetivo do professor. Nessa lógica. também. retam conseqüências importantes para o futuro lanço torna-se um marco da identidade profissio. este vive a escola 2. sem por isso renunciar à transmissão do de trabalho. prio fracasso em aprender. “Culpa” do aluno ou “culpa” do cada vez mais na lógica da nota e da concorrência professor? e cada vez menos na da atividade intelectual. Pior ainda: enquanto o sucesso escolar requer uma mobilização intelectual do aluno. Quando o aluno não con- sas estratégias de sobrevivência. o professor singulares e. sionar o aluno. não aprenderá. vidade intelectual. logo. recusando-se a entrar na ati. o aluno depende da professora. nado. Logo. o aluno quem será cobrado pelo fracasso? O próprio alu. o sucesso e o fracasso escolar já não são pria Instituição escolar abandonam o professor e somente assuntos pedagógicos. uma vez que acar- até o criticam. como será explicitado na próxima seção rem o direito do aluno a ser respeitado. fessora. sem bagunçar. profissional e psicologi. acaba por esvaziar o sentido da dição. irritada. v./dez. inerente à própria situação gógica legítima e. com o saber evidenciaram uma crescente defasa- esta gostaria de poder entrar no seu cérebro para gem entre nota esperada e mobilização intelectual fazer o trabalho. ou da pro- Quem propõe uma mudança significativa desesta. jul. Para este. Existe. pode ser mais ou menos por sua vez. Não vai à escola para aprender. diferentes. Com efeito. profissional e social da criança. 30. em tal situação. obje- Professor é quem aceita essa dinâmica. Mais ainda: o que é assim apontado como fazê-lo. depois do da morte” e os peda- tas para atenderem à injunção axiológica: para ser gogos de Port-Royal declaram: “O diabo ataca as valorizado.). para o mundo inteligível das Idéias (PLATÃO. Segundo. 2008 . nego. v. evocan. com o advento da burguesia gogia. com Rousseau. não desiste de ensinar e. a natureza infantil é corrupta e que o papel da edu- tas! Têm práticas tradicionais porque a escola é cação é livrar a criança da corrupção. Todavia. remete à transmissão de um patrimônio. estado mais vil e abjeto da retamente. ao já não agüentam qualquer frustração? respeito. ta-se à pedagogia tradicional que ela exige das cri- cia. a da estruturação do sujeito humano por de ser tradicional. p. A representação do professor normas éticas e sociais? Não seria este o problema considerado “tradicional”. Kant escre- vel. gere a contradição. 1979. “Soma sema”. quando utiliza os mesmos métodos pedagógi- pouco paradoxal. ve: “A disciplina transforma a animalidade em hu- cas e. por exemplo. por um lado. Nos séculos XVI e XVII. as ver. natureza humana. mas isso se tornou impossível. nal é ultrapassado. considera-se que sentem-se obrigadas a dizer que são construtivis. são basicamente tradi. cionais. isto é. seja qual for o seu funciona. da na- tureza. para cúmu. não com a in- os professores e tende a ocultar. diz Platão: o corpo é um tú- As professoras brasileiras. impõe-nas. Bérulle fala organizada para tais práticas e. o discurso histórico da pedagogia tradicio- das funções fundamentais da educação e da esco. como a maioria dos mulo e a educação é ascensão do mundo sensível docentes. Mudou por inteiro a nossa representação da cri- do a poeira das antigas casas e as lixeiras da peda. na” (CHARLOT. aquele que. trata-se das práti. “do estado da infância. claro está. na tanto vaga. uma vez que a sociedade con. Vale temporânea reclama da escola que já não educa refletir sobre esse argumento. à polidez. impor a sua autorida. o docente brasileiro deve dar-se por crianças e elas não o combatem” (CHARLOT. haja vista que. 1979. jul. ança. pode considerar resolvida a questão que ela levan- mento e sua pedagogia. mas nem sempre. 17.. consegue for. com a legitimação do Descartemos a hipótese de que esse adjetivo desejo e a valorização de tudo quanto é “natural”. mas a sição entre “tradicional” e “construtivista”. também. Além do insulto. edu.117). tenção de que lá aprendam alguma coisa. atrás daquela opo. 73). não cor- as crianças. não responde à realidade atual: nenhum professor en- consegue conter a violência. ainda que permaneça um fundamental enfrentado por muitas professoras. Muitas vezes. o que lhe vale a fama de ser O professor é. Primeiro. no mundo inteiro. natureza destas. construtivista. fim de que se habituem a permanecer tranqüila- dadeiras dificuldades e contradições que enfrenta mente sentadas e a observar o que se lhes orde- a professora brasileira. Acredita-se que 24 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição nota é o próprio professor. deu-lhe essa nota! domine as emoções e paixões. Entretanto. Para esta. mais ainda. A pedagogia tradicional visa a emancipar a Razão 2. Muitos gostariam de de etc. 17-31. não ensina a polidez aos alunos. “Tradicional” passou a ser um insulto. ajunta certo feitio e supostos métodos. 30. anças comportamentos que não condizem com a apesar de tudo. ainda que seja indi. car é. o argumento não filosófico da pedagogia tradicional. essas professoras tradicionais 2002). contrários à natureza que a escola os requer. nesse sentido. do corpo. de simples rótulos. sala de aula contemporânea: disciplinar e estruturar É rotulado como tradicional o professor que crianças que vivem na cultura do prazer imediato e confere uma grande importância à disciplina. Esta é uma Portanto.3. p. obter que a Razão controle e lo da injustiça. manidade (. p. na verdade. n.. corresponde à realidade histórica. A contradição permanece suportá. antes de tudo. uma escola não pode deixar ta. Salvador. sina como faziam outrora. Tradicional ou construtivista? humana das cadeias da emoção. de que se trata exatamente? e. será que se la e. Mas é precisamente porque são mar os seus alunos. no século XX. No entanto. Ainda no século XVIII. rotulado como tradici- severo. por outro. cos dos professores das gerações anteriores./dez. É assim. Declaram-se construtivis. o fundamento tas coisas mudaram. que se enviam ela entretém certo mal-estar ou até cinismo entre logo de início as crianças à escola. Desprezar essa postura pedagógica é um onal. já que tan- atitude do professor é. tem significações (palavras-conceitos).. isto é. às vezes. e em primeiro mo não fecha o debate sobre os métodos. como se fala sem pensar. nos. faz-se claro que a questão funda- trutivismo. portante é entender que a aprendizagem nasce do A importância desses achados. A pedagogia tradicional solicita muito a ativi. 17-31. p.. a questão regras da atividade e o aluno aplica o que lhe foi da sistematização é o principal obstáculo em que ensinado. faz exercí. professor de questionamento. momento em que a professora deve substituir as ou. Entretanto. mas também. cami- – que está tanto na moda quanto o construtivismo. 1996. de acesso ao saber. não edificam primeiro: ao tentar resolver problemas. escreve. mento da aprendizagem. o saber nasce legado pelas gerações anteriores de seres huma- do questionamento e se constrói por retificações nos. a pena ter feito a viagem. Vygotsky ressalta dam e. a atividade intelectual dos alunos não os leva Desse ponto de vista. Sempre chega um vista não significa. (VYGOTSKY. mas como ela resolve duas ten- as mais complexas. pedagogia tradicional no século XX. que devem Essa tensão entre construir saberes e herdar ser transmitidas à criança e apropriadas por ela um patrimônio é inerente ao ato de ensinar. Bachelard. levar em consideração os aportes de Vygotsky panhamento da professora e. Disso. mas. evi. nharão com a professora de mãos dadas. SILVA. Ela implica em que negar que a atividade de quem aprende é o funda. isto é. ao mesmo tempo. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. mitir-lhes um patrimônio de saberes sistematizados denciou que. difere do “saber comum”. ainda. por mais “construtivistas” 1969). por possuir três características: é peito das salas de aula onde o professor sempre consciente. Deve-se. admitidas pela comunidade científica. Ser construtivista é opor ao ga um momento em que a professora deve propor. voluntário. é grande: hoje. Por seguir. as do pensamento ope. até ou “construtivista”. 2007). E sempre che- vação fosse boa. o construtivismo opera. etc. Na verdade. por que an- as duas abordagens. redige versões. uma síntese do que foi construído pe- de aplicação um modelo em que a atividade vem los alunos. Piaget. ratório formal. Salvador. que cheguem a algum lugar que valha que a criança nasce num mundo onde lhe preexis. temas. um dos pais do cons. isto é. 1987). 30. ser moderno. muito menos aqueles palácios e catedrais que aluno mobiliza-se e constrói respostas. mas também. n. Quanto aos alu- contrário do que se pensa. nificações desconhecidas pelo aluno. esse método a função do professor não é apenas acompanhar os não é tradicional. 17. o mais im- sucessivas (BACHELARD. no qual dissertações. aos saberes sistematizados e institucionalizados e de fato. com discreto acom- bém. o construtivis. Conforme os aportes de Bachelard. no ensino primário. podemos deduzir que tivas a alunos passivos. em particular na questionamento e leva a sistemas constituídos... ao lugar. às vezes. sistemático. cios e. andarão sozinhos. são construídas e transformadas pela Ensinar é. O mais sem que se preocupe muito com a coerência entre importante é que saibam de onde vêm. v. melhor representante da ele inclui o saber escolar. outro pai do construtivismo. 2008 25 . pôr em circulação sig- dade do aluno. tam. Segundo. Bernard Charlot é tradicional o professor que ministra aulas exposi. XX. o docente não seja apenas professor de conteúdos. a res. Vygotsky explica que o “saber científico”. si só. A característica do método tradicional é que sejam. a mente do casas. melhor./dez. ou “cotidiano”. que Piaget e Bachelard. palavras criadas pelos alunos por aquelas que são dinâmico. Posto isso. sões inerentes ao ato de ensino e ao de educar. Primeiro vêm o saber e as regras e. às palavras que os acompanham. as da percepção. consideram também a sistematicidade outra: o professor explica o conteúdo da aula e as como um marco da cientificidade. mobilizar a ativida- atividade da criança e do adolescente (PIAGET. a esbarram os métodos de ensino construtivistas. É essa esfera pedagógica. Ser construti. jul. de dos alunos para que construam saberes e trans- 1976). que. estes constroem paredes. inovador. é um desvio ocorrido no século alunos em processos construtivistas. modelo tradicional da aula seguida por exercícios ou completar. de forma mais “tradicional”. Cabe salientar fala: “odeio essas pequenas sorbonnes” (ALAIN. mental não é saber se a professora é “tradicional” desde as mais simples. mostrou que as estruturas intelectuais. no ensino secundário. na história da ciência. que são vias se chamam Ciências. a atividade do aluno. Alain. Primeiro. de respostas. ninguém pode viagem intelectual que importa. uma ruptura fundamental. outras vezes. como se pensa muitas vezes. Ora. Como se toda e qualquer ino. Numa situação dessas. mais os alunos desenvolvem estratégias de alunos em pequenos grupos. 2008 . abrir parênteses construtivistas. os objetivos de espírito crítico e autonomia procla- mas que ela toma dependem das configurações mados por ela. o que teria tir. Quanto maior a pressão exercida pela bairro popular. desenvolve projetos. Em tal situação. pública ou particular. de transparência: pretende assinar os objetivos. 30. Uma estudante universitária. tos construtivistas constituem conquistas da As professoras ensinam em escolas cuja for. significa. uma avaliação que diz o valor da pessoa do aluno. o que lhe pede. mas para delegar responsabilidades aos atores sociais e. pedir notas. do semestre ou do ano.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição como já mencionado. que já ensinava. fias e narrou. professora. por mais fundamentada que seja do ponto de vista mais do que nunca. ma nota a todos os alunos? “Deu mole”. jul. Decerto. tinha uma professora doida pelo construtivismo notas boas e passar de ano e. conseguir mobilizar os seus chamarei aqui de Maria. oinstitucional da escola contemporânea. Quando cursava a licenciatura de pedago- cionado. os alunos não estudarão mais nea. por razões que explicitamos. consideram e Maria. avaliar. O carrega no seu DNA um fantasma de domínio e que pode fazer aquela professora? Atribuir a mes. delimitar.. sim. Ser construtivista implica em des- construtivista e a usar o computador e a Internet. no compreensões. tória. antes de tudo. que querem notas. É nela que a professora é convidada a ser uma instituição. houveram de para levar a cabo a pesquisa e o projeto. sim. a força da tensão e as for. organizar. a sua diretora mundo afetiva e intelectualmente turvo. a nota dos alunos! Aliás. o professor cujo texto citei. que nem Primeiro obstáculo: os próprios alunos não são precisa esconder. que a instituição e a própria pro- nos prestes a se investirem numa atividade intelec. que tentam sobreviver numa es. como se tivesse ocorrido. Mas a institui- De forma mais geral. os momen- sócio-históricas. que encontra é. bateu fotografias e. teve de preparar e expe- que é a professora quem é ativa no ato de ensino/ rimentar. voltou a sua aula normal.. de in- ação formadora. n. ra? O que ela faz: ter práticas tradicionais. gligencia o fato de que a professora trabalha em cional. pertar nos alunos um desejo de aprender. eles vão à escola para. às vezes. Destacarei aqui dois obstáculos que a tir: o professor e o próprio aluno interiorizaram a professora há de ultrapassar se quiser ser mesmo notação como função central do ensino. Ora. Atribuir-lhes notas di. ademais. me contou a seguinte his- alunos numa atividade intelectual. a instituição nem precisa insis- rânea. ge- diretora sofre a pressão dos pais e da Instituição rir racionalmente. de tipo tradicional conteúdos sem entendê-los etc. mostrou as fotogra- que os alunos sejam idiotas ou não gostem de refle. numa sala com quarenta alunos. Aliás. ção escolar da sociedade contemporânea continua. 17-31. Esta ado- 26 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. a sobrevivência: frear o professor. Ser construtivista é trabalhar num final do mês. tirar gia. construtivista ou introduzir momentos construtivis. nhá-los numa caminhada cheia de obstáculos junção construtivista: mobiliza os seus alunos em superados. conforme a inteligência epistemológica ma básica foi definida nos séculos XVI e XVII: e pedagógica. notas. as instituições da sociedade contemporâ- ferentes? Neste caso./dez. existe o vestibular. diagnóstica e reguladora. mas à contracorrente da ordem soci- um espaço segmentado. fessora realçam logo que aparece um debate pe- tual. abriram espaços de autonomia. controlar.. precisamente. a avaliar.. a injunção construtivista ne- Essa forma escolar condiz com a pedagogia tradi. o que pode fazer a professo- tas na sua prática pedagógica. de mal-entendidos. de angústias. como diz determinar os processos. essa própria quer a instituição? Definir. colar. 17. Colocou os nota. de problemas re- pesquisas. acontecido se tivesse feito a aula construtivista ideal cola que os coloca em situações que contradizem ansiada pela sua professora universitária. Salvador. de erros retificados. nos países onde cício da função docente na sociedade contempo. Na universidade. Como já foi men. pratica uma avali. avaliar os resultados. a injunção construtivista. decorar os seguir. Em segundo lugar. as- tirar a melhor nota possível. um tempo fragmentado. notas. e. Isso não significa participativo. Qualquer instituição escolar. Mas o maior problema que a professora atual dagógico. E. solvidos. p. construtivistas. negligencia muitos dados atinentes ao exer. uma aula construtivista. acompa- Imaginemos uma professora que leve a sério a in. avaliar e a teórico. em um aprendizagem. A injunção construtivista supõe alu. v. tem também diferenciadas. devem ser bem-sucedidos e que a professora deve Mas. ginação. Mas. rando a atividade intelectual? Quem o explica à saberes cuja verdade depende da relação entre professora? A professora que se vire. Se se tratar de dizer. desde que me digam Primeiro. da dos homens ou das mulheres? O que fazer. 17-31. é uma boa professora”? Ou: “deu mole”? No en- cação Física ensina é diferente da briga de rua com tanto. ela deve. Bernard Charlot rou. mas que ousasse fazer isso não ganharia parabéns e sempre se trata de uma cultura particular. diferenças? também. você quadro de Picasso. deve tam. o professor deve.. não é um vai lhe dizer a sua diretora? “Parabéns. respeitar as diferenças dos seus alunos e individualizar o seu ensino. periência de ensino entenderam de imediato o jeiti. tuição. O pro. uma A cultura alemã. normas. cujos alunos obtivessem 10 a cada prova. polonesa do antepassado professora séria não pode deixar de atribuir notas do jovem gaúcho – o qual.. o discurso oficial afirma que todos os alunos socos e pontapés. disse o Ministério fran- Por duas razões. ape- culturais. ain- nho que Maria tinha utilizado e parabenizaram-na da. De fato. do Sul deve mesmo educar jovens gaúchos “ma- leiras com tais práticas universitárias de formação chos”? Qual é o conteúdo do imperativo “respeitar dos professores? as diferenças culturais” e quem explica ao docen- te o que significa exatamente? 2. ou seja. há alunos rais que se deve respeitar? A cultura africana do preguiçosos. portanto. a situação da professora texto e isso não se faz de qualquer jeito. ensinar para todos. de índio saído da tribo? E de qual cultura se trata. a idéia é A escola é universalista. existe. 30. Voltemos à questão da nota. Ser universalista ou respeitar as Na escola contemporânea. Uma pin. boa fama. o corpo. que todos os alunos diretamente a vocação universal da escola: todos tirem a nota 10 parece um exagero e a professora os seres humanos participam de uma cultura. cês da educação. a Razão Qual diferença cultural se deve respeitar no filho universal e a escola democrática. novamente. apenas respeitar as diferenças. por mais bonita que seja. conselho é pertinente. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. porque a educabilidade de todos os o centro do quê. central em uma ção. o mais do que fez e do que parece ser. colega. que a escola foi criada para que os alunos do professor: qualquer ser humano sempre vale aprendam e não para que os docentes ensinem. até quando ela cuida destes. sob outra seres humanos é. e não pode deixar de sê-lo. a escola não pode deixar de ser uni. fracos. a imagina. você deveria fazer teatro”. italiana.. elementos em um sistema. Salvador. e não da sensibilidade Mais ainda: a escola contemporânea não deve pessoal e da interpretação de cada um.. p. A luta que o professor de Edu. Concordo. ma: o que significa “individualizar” o ensino de prin- versalista porque a sua especificidade é a de divul. Os demais estudantes que já tinham uma ex. 17. ela introduz instituição que deve produzir uma hierarquia esco- regras. Essa idéia é simpática e não contradiz sar desses discursos lindos. talentosos e até./dez. Mas a instituição segue discursan- alguns portugueses entre os seus antepassados? do sobre a educabilidade do ser humano. trabalhador do universal e da norma. ou deveria ser. Mas. Inventar uma história requer ima. geniais e que. n. jul. pelo menos nas socie.. clama que a Razão é universal e que qualquer ser bém ensinar às crianças respeitarem as diferenças humano pode ser educado e ensinado. a idéia de que. ademais. O que tura de criança. escrever um Imaginemos. o profes. nos. v. cípios e saberes universais e das normas estrutu- gar saberes universais e sistematizados. fica dizer que a escola seja puro espaço da Razão fazer aparecer e registrar diferenças entre os alu- e desconheça a sensibilidade. também. simpática. o princípio básico forma. na sociedade contemporânea.4.. dedicados. em toda turma. no imaginário da insti- blema é outro: quais são aquelas diferenças cultu. mas é necessário. Mais uma vez. mas de dominação? A professora do Rio Grande Será que conseguiremos mudar as escolas brasi. Não signi. locar o aluno no centro”. antepassado remoto da criança preta de Salvador? quando a safra é boa. quando essa diferença cultural transmite for- depois da aula: “Maria. E o discurso pedagógico pro- sor. mas qual é o seu significado exato? “Co- dades democráticas. também. Mas não resolve o proble- Segundo. 2008 27 . lar prenunciando e legitimando a hierarquia social. Sendo assim. so sobre a “cidadania”. não teriam tantos problemas nas suas salas. pala. 17-31. normas. Mas é vidão. a sociedade. Mas não se pode negar que a menos de dominação e. evidentemente. aos olhos dos jovens. sejam ul. indisciplina escolar. Restaurar a autoridade ou amar Nos dias atuais. con- modo mais geral. jovens. e que paga muito mal aos amimar e afagar os “bebezinhos” e demais “fofi. 2008 . de ais atuais. Salvador. membro de uma sociedade e de uma cul. a ditadura populista ou militar. Além Não há educação sem simpatia antropológica disso. diria Freud. o ridade. O cemos pela questão da autoridade. ela exprime o fato de que os membros de uma de- mas que os professores devem enfrentar hoje em terminada sociedade têm direitos e deveres defini- dia. a autoridade adulta.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição 2. vista que destaca a igualdade de direitos e deve- finida pelas relações de força impostas pela escra. como medida universal de qualquer coisa. de que tanto se fala nos di- Esse balanço entre autoridade e mimo e. não incomodem a classe Os professores gostariam de restaurar a auto. toridade (versão de direita) ou para educar os jovens a cumprir uma função ideológica: pobres. que os adultos pro- numa estruturação do sujeito por normas – o prin.5. n. ao ver dos jovens. jul. p. o recal. muitas vezes. está. curam prolongar a todo custo. ela toma a for- os alunos? ma da arbitrariedade e da violência policial. que do desejo e a imposição da norma. trata do ma. de promover esse tipo de Não há educação sem exigências. Mas essa ambição tentatória para com o ensino e a vida escolar oficial. daquele cinismo transgressão das normas esteja acometendo a es. média com seus comportamentos. De fato. e não gosta dos cípio de realidade. esbarra na existência das desigualdades. mas uma autoridade legítima. A sociedade contem- não. Deste ponto de vista. Não pedagogia tradicional permanece legítimo e válido. o discur- mais amplo. A noção de rística inerente à relação dos adultos com os jo. claro vras racistas. sejam à cidadania (versão de esquerda). Não se trata. seus professores pode esperar que estes restau- nhos” que têm a sorte ou o azar de cruzarem os rem a autoridade? nossos caminhos. a ambivalência é uma caracte. indiferença os. o fundamento de tal autori- humano. que foram elaboradas em um processo fenômenos bastante diferentes: agressões físicas. que.. dos fenô- incivilidades etc. na verdade. preciso levar a sério esse conceito quando se qui- 28 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade.. a quem ela fecha as portas do mercado de diria Lacan. conceito de cidadania diz respeito à esfera política: A “violência escolar” é um dos maiores proble. interesses autoridade perdida e para amar os alunos. o “Nome-do-Pai”. na sociedade contemporânea em ridade legítima? Se fosse o caso. o objetivo da trabalho e culpa por todos os males do mundo. autoridade. multiplicam-se os apelos para restaurar a au. Ensinar alunos a te- ameaças graves. Qual pode toridade. aquela simpatia espontânea que nos leva a dos o esporte e a arte. essa expressão genérica remete a dos por leis. 17. Educar é possibilitar que advenha um ser ser. um objetivo educacional. incluí- na. assédio. tanto. Ao contrário. ações coletivas. de modo sobre a corrupção política. o coronelismo. para muitos jovens. social escancarado cotidianamente pelas notícias cola contemporânea. há pior mistura para desvalorizar os adultos e. au. isto é. conceito de cidadania tem um valor crítico. como uma sociedade que elege o dinheiro dos adultos para com os jovens da espécie huma. no Brasil. comuns. cerem vínculos sociais de reciprocidade é. v. Resta a cidadania. o interesse geral. vínculo social. respeito mútuo etc. ele estabelecemos com pessoas com quem comparti- toma a forma da dupla injunção para resgatar a lhamos um espaço de vida: conversas. Em face desse proble. por bem intencionado que seja. a preeminência da lei. res. haja No Brasil. vínculo social remete ao conjunto de relações que vens. coletivo e valem para todos. os professores particular. historicamente./dez. dade? tura. 30. bem como a família e. Mas resta saber como. Queira-se ou A idade? Claro que não. bem comportadinhos. fundem-se cidadania e vínculo social. pequenas brigas. O problema é que. por- mesmo que os recursos que ela usa. Será que o saber pode ser fundamento da auto- trapassados. Come. Na escola da sociedade contemporânea. tende. isso implica em uma disciplina do desejo e porânea valoriza a juventude. sujeito singular e insubstituível. a autoridade foi de. o uso na escola das palavras “tio” é. “Ninguém pode ser juiz e parte. incluí- am. um “arbitrário cultural” e uma “violência e “tia”. da escola em se meter em tais assuntos. piercings. Além disso. a cidadania tam- Primeiro. brincos nas orelhas dos rapazes? Sem. porém./dez. ainda que “professor” e “pro- lência inscritos no Regimento da escola. p. O Direito é para adultos munidade de cidadãos. as mais ta-se mesmo de heroísmo. se injuriam com palavras racistas? Desta vez. e não para crianças? Neste caso. Não se trata de cair afetivas entre professores e alunos. sexualizadas. Isto requer a aos acusados em geral são assegurados o contra- existência de uma comunidade escolar regida pela ditório e ampla defesa. v. silenciam essa dimensão da dos professores. Um professor não tem professora? Os alunos não têm de se meter nisso? obrigação afetiva alguma para com os alunos. que as professoras. na maioria das vezes. Na escola. e la. que remetem a uma relação entre gera- simbólica”. relação. Até que Mas esse “amor” é. aqueles que a Carta da sentimentos. por natureza. Uma lei çam? Amar os alunos que batem uns nos outros e define direitos e deveres. Não Além de ser emaranhado em todas essas con- passa de um conjunto de regras ditando deveres tradições. A escola não é lugar de sentimento. quem leu to interior da escola nada diz sobre os direitos e Freud sabe que se desenvolvem. nenhum brinco impede ao aluno escutar a sentimos por nossas próprias crianças. inclusive rela- na demagogia: os direitos e deveres dos professo. não é obrigado a “amá-los”. é pertinente. Essas relações afetivas. do diretor. tudo bem. in- res não podem ser semelhantes aos dos alunos. à ampla de- que pretende educá-lo à cidadania. o professor ensina e educa todos os alunos. é interrogar a legitimidade nar. mas isto não castiga. fesa. estranhas. positivas ou negativas. te ponto de vista. uma lei vale para todos. o Regimento não é uma lei e a escola respeitar a sua dignidade. por sinal. nem a um processo. les a quem incumbe aplicar a lei. uma vez que existem funções diferentes na esco. tar o professor e até. que. o Regimen. arbitrário e vio. sustentando a idéia de que “se la. diferente do que se saiba. O Regimento das esco. ela inerentes” (artigo LV). ções. Amar os alunos que nem fingem escu- direito de estudar e ser educado. Já evoquei a simpatia antropológica dos adultos por isso. da merendeira. o aluno acu- riedade. usa brincos. como diria Bourdieu. puder para formá-los. deixar de falar de direito à diferença e para com os jovens da espécie humana. Des- é uma questão de pedagogia ou educação escolar. com os meios e recursos a lei e não pela vontade do mais forte e pela arbitra. Ora. Ora. Essa não mento que une as gerações que se sucedem. tra- las só lista proibições. 17-31. Se “amar os alunos” significa isso. convenha. A escola democrática é aquela onde ONU e a Constituição Federal brasileira enunci. a escola vivenciada pelo aluno. no mesmo dos os de quem não gosta e os que não gostam processo”: esse é um princípio básico do Direito. deve fazer tudo o que não é um espaço de cidadania. o insultam e amea- mos. fessora” sejam preferíveis. 17. por sinal. específicas. 2008 29 .. e não uma obrigação. Claro que a situação é melhor quando pro- Na escola. por serem mais Segundo. É o senti- professora – que. Novamente. é preciso recorrer à análise. Além dessa relação antropológica. dele. ções implicitamente e. também. Por que as escolas proíbem tatuagens. deve justificar a falta ou o atraso. às vezes. não é muito atraente para os alunos. a escola não respeita os Direitos do Não se pode assentar a escola democrática sobre Homem e do Cidadão. mas um diktat imposto pelos poderosos. Salvador. às vezes.. relações deveres do pessoal da escola. Deve Neste caso. incluídas. sim. Por fim. conscientemente. É claro igualdade de gênero. O ponto não é saber se são que quem não sente essa simpatia não deve ensi- práticas feias ou lindas. o seu Regimento interno não é uma bém é para adultos e não para crianças. mas lugar Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. Vale notar. Bernard Charlot ser educar os alunos à cidadania. do por. nem fundamento da esco- litigantes. Mas há de se definir também direitos e deveres deve amar os alunos”. 30. constituem um do. em processo judicial ou administrativo. podem ser teiro etc. jul. incluídos aque. Quando um aluno falta ou chega atrasa. o professor considera que deve “amar dos alunos e silenciando os seus direitos – salvo o os alunos”. julga e fessor e aluno gostam um do outro. E a fato. A Constituição brasileira de 1988 diz: “aos é obrigação nenhuma. lei. aquela sado não tem direito ao contraditório. n. não é uma co. o professor briga com um aluno. devem ser geridos pela pala. Mas a história do Brasil é ou- dem deixar de surgir na escola. A comunidade é lugar de ainda nos dias atuais. o imaginário e o ideal. espírito e dos educadores da juventude? Fica mal. por importante que 30 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. em nenhum prar livros e. lugar de resistência vra. Com efeito. brin. a escola é um Para um francês. a escola deve ser “vinculada à comunidade”. Se uma professora. é um mundo pública” e a escola comunitária é a negação da diferente. sim. explo- Essa especificidade diz respeito. torna-se. nas existem no pensamento e na linguagem. que vendiam o seu saber. para poderem estudar. Se o fizesse. tendem a colocar de gerir e superar todas as tensões e contradi. proporcionar aos mundo sensível e leva-os para universos que ape. zação dos migrantes. fala-se so. Os próprios professores interio.. não de palavras que possibilitam a objetivação do ensina do mesmo modo que a família e a comuni- mundo e o distanciamento para com ele e que dade. como já co. além de ter sa da sua atividade profissional. o saber no topo da escala de valores e o dinheiro ções que mencionei. com- no mundo cotidiano deles e. Sofistas. de dignidade.O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição de direitos e deveres. munidade foi. é. Vinculada à comu- que evoca o corpo do professor e. a escola quando se trata de outros trabalhadores. Não se pode comportar. v. Em particular. particular na sua relação com o dinheiro. na escola. ço de propaganda do fundamentalismo islâmico. dos dominantes. Sen. 17. Ademais. deles”.) soa lugar onde a própria linguagem vira objeto de lin. é situ. não serviria para nada. tiver. que não po. como nos demais tra e. jul. No Brasil. Entre- abrem janelas para outros espaços e tempos. resistência. escola republicana. de Filosofia. Fazem greve. também. é apenas para ganhar mais dinheiro. tornar-se-á. do ponto de rizam essa especificidade da figura docente. criticam os roína ou vítima. ao ração e desvalorização e espaço de auto-organi- professor e à professora. 17-31. A escola é um lu. Greve dos trabalhadores do com a experiência cotidiana. historicamente. Aos olhos dos alunos. não ambiente. o dinheiro mede o va- A escola é um lugar específico. a escola é “nossa” escola e não “a escola professora. jul- versus respeito às diferenças. Ainda hoje. ela é percebida como espa- Essa especificidade estende-se aos compor.6. quilombos). os conflitos. de memória. é socialmente legítimo preconizar o vínculo quer falar daquela que dança ou namora. ação vivenciada e contextualizada. Na cultura francesa. padres e. Essa ligação é legítima. em vista pedagógico. os professores ambivalências do sentimento. como é o caso mento. considerando que o mecei a explicar quando falei de universalismo salário deve corresponder ao nível de estudo. lor de tudo e os professores. de lidar com as no mais baixo escalão. A escola vinculada à comunidade podia espalhar de graça as suas idéias porque.. às vezes. he. às várias formas de dominação. 30. O que. sim. de texto. segue sendo objeto de mal-estar. valor da palavra “comunidade”. portanto. funcionários assalariados. gam que deveriam ser muito mais pagos do que gar que requer uma forma de distanciamento para são. quando os professores fazem greve. expli- fala aos alunos de objetos que não se encontram cam os professores. ainda. também. à estrutura escravista (os e pelo insulto.. a escola não ensina o que se do assim. Tudo o entre a escola e a comunidade. só 2. objeto de pensa. Entretanto. oci- ou a escola lugar específico? oso. sem se. e não pela pancada à colonização (os índios). mais ainda. n. da nidade. Além disso. estranha. outros também são o sentido e o lugares. em determinados limites. hoje em dia. munidade” foi lugar de influência dos nobres e dos bre a fala. vivia às custas de sua mulher. cadeira ou desejo. já que ela é lugar de vida e encontro en. essa injunção (mais uma. nesta. a “co- guagem. Lugar específico. a escola é fundamentalmente um espaço pode aprender na família e na comunidade. na sociedade contemporânea. tamentos e às relações. e identificam- se com Sócrates que../dez. “comunidade” opõe-se a “Re- se na escola como se faz fora dela. objeto do meio Portanto. de segundo nível: na escola. para tanto. Por cau- sinar a cidadania. a co- tre seres humanos. afinal de contas. Essa escola é que pode en. Sendo as- trar a sua professora no supermercado. 2008 . alunos uma melhor formação. Salvador. p. na história da França. Com efeito. é um pouco esquisito encon. por mais genial que fosse. de discurso. NÓVOA. encontro do universal e que ela lhes proporcione ção. Legítimo.129-136. Jean. em uma sociedade rasgada por múltiplas ambições. de quem eu sou e posso vir a ser. A república. Mas não é nada fácil. Porto Alegre: ARTMED. indiretamente. Sísifo: revista de ciências da educação da Universidade de Lisboa. Salvador. A mistificação pedagógica. p. set. Rio de Janeiro: Didática Suplegraf. o banizado como é o Brasil. um trabalhador da contradição. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas. ter acesso a formas ideais. Gaston. o pro. 157-173. 1. 2006. ainda. São trabalhadores cujo profissiona- ciedade contemporânea. 16. v.scielo. 1990. e cada vez a respeito da minha vida. cial. jan. cada vez menos a senso de humor. José. 1996. Rio de Janeiro: Contraponto. Bernard. 17-31.08 Aprovado em 25. contradições. antes de o mundo particular da criança singular e ampliá-lo. jul. n. do meu mundo. A dos. Porto Alegre: Artmed. José. tudo. Rio de Janeiro: Forense-Universitária./dez. Caminhos para a inclusão. da minha mais que ela possibilite aos nossos filhos serem experiência. perceber.05. aque- apenas dentro da escola? Conhecer novos mun. PIAGET. se possível for. les que encontram mais dificuldades na escola. CHARLOT. 30. Bernard Charlot seja a especificidade da escola. Educação em questão: revista do Departamento e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. São Paulo: Martins Fontes. objetivar o mundo conciliação é difícil. 1969. set. Relação com o saber. vez menos da professora que ela leve os alunos ao se a si mesmo como ser de Razão e de Imagina. REFERENCIAS ALAIN. lismo inclui uma postura ética. CHARLOT. Acesso em: 14 maio 2000. Peter. A formação do espírito científico. Psicologia e pedagogia. Como o poli- Legítimos. 2005. a assistente social e alguns outros sa da sua especificidade. 1987. universalismo e a especificidade da escola são le. o médico. p. 2003. 1979. v. em um país ur. WOODS.05. 2007. São Paulo: Martin Claret. o universalismo da escola e a defe. 17. E. 30. Bernard. Rio de Janeiro: Zahar. Porque. 2008 31 .08 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade. Paris: Armand Colin. Veleida Anahi da. O aprovados no vestibular. Educação e Pesquisa. também. v. António. Recebido em 25. Lev Sémionovitch. BACHELARD. Sozinhos na escola. n. Educação e globalização: uma tentativa de colocar ordem no debate. qual seria o seu professora compartilha o espaço de vida dos seus valor se o que se aprende na escola fizesse sentido alunos. Herói. formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Paris: PUF. 4. São Paulo. PACHECO. sobretudo na so. VYGOTSKY. n. é possível a conciliação entre as duas que seja. PACHECO. L’ethnographie de l’école. em especial o dos seus alunos pobres. SILVA. 1976. 2002./dez. Propos sur l’éducation. n. CHARLOT. ele consta daqueles cuja função é jeto de vincular a escola à comunidade que a rodeia. PLATÃO. as chaves de compreensão da sua vida./jun. tudo isso só vale quando diz algo. Pensamento e linguagem. Disponível em: <http://www. porque se espera cada e distanciar-se da experiência cotidiana. Bernard. 25. 1999. o professor brasileiro? Vítima? A meu gítimos à medida que contribuem para esclarecer ver. ele é. na sociedade contemporânea.br>./dez 2007. p. por mais tensa Ademais. razão pedagógica e vida na obra de Bachelard. Ciência. manter um mínimo de coerência. trabalhadores.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.