Cap. IV. do livro a herança colonial da América Latina

March 29, 2018 | Author: Amanda Rosa | Category: Colonialism, Spain, Spanish Empire, Portugal, Economics


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Coleção ESTUDOS LATINO-AMERICANOS Vol.4 STANLEY J. STEIN BARBARA H. STEIN Ficha catalográfica (Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ) Stein, Stanley J. A Herança Colonial da América Latina: ensaios de dependência econômica por I Stanley J. Stein é Barbara 1-1. Stein; tradução de José Fernandes Dias.3.aEd.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. 158 p. 21 cm (Estudos Latino-Americanos, v. 4) Do original em inglês: The colonial heritage of Latin America: essays on economic dependence in perspective. Bibliografia 1. América Latina - Condições econômicas. 2. América Latina - Condições sociais. 3. América Latina História - Período colonial. I. Stein, Barbara 1-1. II. Título 111. Série. CDD - 330.9801 309.11801 908.01 CDU - 338(8=6)"15/18" 308(8=6)"15/18" 9(8=6)"15/18" A HERANÇA COLONIAL DA AMÉRICA LATINA Ensaios de Dependência Econômica S833h Tradução de José Fernandes Dias ADQUIRIDO COM RECURSOS 1 FACEPE PROJETO APQ-0081-7 C5/07 Prof. George F Cabral de Souza i Departamento de Histeria UFPE c 77-0478 E E EDITORA PAZ E TERRA Conselho Editorial Antonio Candido Fernando Gasparian Fernando Henrique Cardoso PAZ E TERRA . A Espanha. contudo.. não permanecem em seu poder.se. contudo. encontrava-se enfraquecida pela quebra sofrida pelos controles administrativos e pela economia imperial. as riquezas que extraem do seio da terra. 1708 "O comércio mundial floresce às custas dos povos da América e de seu imenso trabalho.'' "Ordenanzas nuevas. 1723 Ao iniciar-se o século XVIII. a segurança do império. Memória encaminhada ao vice-rei do México.". obtendo. do controle e crescimento econômico nas colônias. A resolução portuguesa (da crise) consistiu no reconhecimento de seu papel de dependência face à Inglaterra. os cidadãos espanhóis de maior influência acreditavam que o império americano ainda apresentava possibilidades que permitissem a recuperação. entretanto. embora se ache tão bem situada que possa abrir uni comércio opulento para seus cidadãos. as colônias americanas e suas metrópoles ibéricas achavam-se intimamente vinculadas através de uma relação que servia muito mais aos interesses metropolitanos do que às dependências coloniais.. via restauração. para el comercio y trafico de Ias Indias. recusou-se a aceitar esse tipo de solução. não se beneficia do que é produzido.. A crise generalizada enfrentada pela Espanha à época da morte de Carlos II e os 13 anos de guerra interna e externa que se seguiram a 69 . Essa vinculação.capítulo IV O século XVIII A Espanha. se possui o título de propriedade. em troca. em tal estado de deterioração que. não obstante. encontra . correndo.. o governo espanhol passou a dar mais atenção à economia colonial. A manipulação dos interesses coloniais. isto é. término do asiento. Visando. escolhendo os canais pelos quais os estrangeiros adquiriram o despótico controle do comércio e navegação que oprime e nos arruinará por fim se não for bloqueado. Lançaram-se assim as bases da política colonial espanhola no século XVIII. em realidade. Devemos destacar. na escolha da ocasião oportuna para desfrutar a guerra. contudo. a sabedoria de uma nação não consiste tanto na preservação da paz mas. de forma semelhante ao que fizeram seus ancestrais. Essa política.. à ação política dos senhores da Andaluzia. 1780 (apr. de início. por interesses comuns. Qualquer que seja a denominação escolhida. pela posição social ou pela ideologia. acima de tudo. desenvolvendo a autonomia econômica via maximização do pacto colonial. sobre todos os fluxos comerciais coloniais. sério risco de entrar em conflito com a complexa teia de interesses criados sob o domínio dos I-I absburgo. além disso. Levandose em consideração a compartimentalização da Espanha. constituía o bastião do status 71 . os oligopolistas comerciais de Cadiz. por interesses ou laços familiares. de Lima e Manila e. O reconhecimento. Esse processo implicaria o afastamento completo das influentes firmas comerciais francesas e inglesas estabelecidas em Cadiz. gêneros alimentícios e matérias-primas extraídas das colônias e utilizadas na indústria. como expressaríamos em terminologia de nossos dias. é necessário tornar claro que.. recuos e transigência. a "retomada" de controle. enfrentar as exigências de importação (internas e coloniais). confirmadas (e.. isto é. Larruga. à Espanha . o comércio colonial. agentes de interesses estrangeiros na maioria dos casos. sim. essa política levava em consideração o fomento à agricultura e à manufatura metropolitanas.1740 Toda a energia da junta tem sido dirigida para a remoção de obstáculos.". fiscais e eclesiásticos. burocráticos. Por fim. Cadiz e as colônias. mercantis. considerando-se uma nação subdesenvolvida cuja elite não questionava a sanidade e a viabilidade da tradição monárquica. suas exportações de matérias-primas e. De acordo com as disposições desse tratado. 70 ajusta-se à designação geral de "restauração" (então atribuída) ou. até então negligenciada (por exemplo. da aristocracia.não se trata de uma "revolução burguesa" na Espanha.. "História de la real y general junta de comercio. À França foi concedido direito de acesso à economia colonial pela tolerância tácita à presença de comerciantes franceses em solo espanhol e à possibilidade de cooperação econômica e política contra a Inglaterra. "nacionalizando-se" os empresários através da remoção dos obstáculos-interpostos à transformação dos espanhóis de Cadiz de fatores e agentes de empresas estrangeiras (fornecedores de capital. essa politica caracterizava-se por uma "nacionalização" da economia interna e colonial. a recuperação das concessões comerciais feitas às nações européias ao longo da segunda metade do século XVII. sua economia agrária.despojada de suas dependências européias vestigiais e da posse de Gibraltar . tomada em conjunto com seus métodos de implementação. A interação dos interesses internos e externos não permitiria. E. A implementação desse nacionalismo proto-econômico visava gradualmente a revigorar as estruturas então existentes do Estado. todos centralizados em Cadiz após o eclipse de Sevilha. do controle colonial foi o estabelecimento de privilégios econômicos a favor da Inglaterra.assegurava-se a posse do império americano. o fornecimento de escravos (asiento) e a venda direta de um determinado volume de mercadorias. do privilégio. A sua implementação exigia. no caso inglês. os comerciantes de Cadiz comandavam. economia e sociedade. mercadorias e seguro) em comerciantes independentes. de forma a satisfazer as pressões européias em termos de demanda da prata. as atividades concentradas em torno de Buenos Aires. ampliadas) pelo tratado de Utrecht. por parte dos entrepostos da Andaluzia. freqüentemente obscurecida pela procrastinação. por vezes.'' A Supplement to Britain's Mistakes in the Commencement and Conduct of the Present War. moneda y minas.esse fato levaram a uma aparência de estabilidade . um dos grupos econômicos mais influentes a partir de 1700. Caracas e Havana). o principal setor de atividades do país. 2 "A guerra torna-se..) A política francesa dos Bourbon objetivava tornar a Espanha e suas colônias aliadas no processo de desenvolvimento da economia do pais e em seu conflito com a Inglaterra. necessária à atividade comercial e. assim sendo. Ademais. Esses comerciantes achavam-se vinculados. em termos práticos.. introdução direta de mercadorias e a eliminação dos canais de contrabando em Gibraltar. de "modernização defensiva" ou "revisão defensiva". de molde a permitir que os espanhóis possam novamente tornar-se verdadeiros comerciantes. de seu consulado ou guilda. à estabilidade da exaustão -. aos centros comerciais coloniais de Veracruz e cidade do México. em primeiro lugar. outros objetivos.poder-se-ia afirmar. através da assinatura do tratado de Utrecht. Em seu conjunto. sua dependência à exploração colonial. despojada de diversos direitos regionais. Essa tentativa de incorporar as províncias bascas não se concretizou. mas . Fora de dúvida. em Veracruz. de Viloa a Ward. A sombria literatura relacionada ao atraso económico espanhol produziu um espírito de indagação e experimentação. que questionava a viabilidade e utilidade de algumas práticas tradicionais. ou seja. Decidiu-se que os Bourbon e seus administradores (treinados sob Colbert) poderiam levar a cabo reformas na economia interna da Espanha e no comércio colonial . isto é. os novos administradores (armados de amplos poderes fiscais e militares) introduziram a racionalização na arrecadação de impostos e na redução das barreiras impostas ao comércio inter-regional. para as colônias americanas.questões acerca das quais a elite espanhola permaneceu dividida ao longo do século XVIII.seria preservada. aparecia a eliminação dos privilégios comerciais concedidos pela Espanha à Inglaterra. medidas que privilegiavam a fonte do contrabando em escala incontrolável. os novos burocratas simbolizavam a mudança dentro das estruturas do passado. contudo. via Cadiz.quo que o serviço público francês (e sua contrapartida espanhola. assegurando-se destarte o seu sucesso empresarial. da economia colonial. voltados para a política exterior ou para a politica econômica. os lideres políticos madrilenhos. Das considerações acima percebemos claramente que os administradores e economistas políticos da Espanha dos Bourbon estavam 73 .e isto era o fundamental . O crescimento econômico da Espanha do século XVIII dependia das possibilidades. apenas parte do espectro de mudança visualizado pelos administradores empregados pelo governo de Felipe V. o outro acreditava no fortalecimento desses laços e na transferência. toda uma rede capilar de contrabando levando às fronteiras de Castela e Aragão. a curto e longo prazos. nos termos concedidos a Cadiz) mas. As modificações visualizadas ou levadas a cabo para a Espanha metropolitana sugerem um objetivo de unificação . recebessem o direito ao acesso direto ao império.corporações regionais como as de Barcelona.receberam concessões voltadas para setores especiais do mercado colonial. Esse conjunto de medidas políticas afetando o mundo colonial espanhol consumia.política e econômica. da maior parte dos benefícios decorrenteS da exploração das colônias americanas. diremos que os estímulos ligados ao comércio eram mais fortes. A aristocracia passaria a desempenhar um papel secundário. em realidade. a divisão interna das elites regionais espanholas à época da morte de Carlos II refletia dois grandes grupos ou facções (hesitaríamos em chamá-los partidos): um deles buscava preservar as 72 estruturas que vinculavam a metrópole às colônias em uma teia de atraso. A posição tradicional da Espanha dos Bourbon seria dar ênfase à vaga de "reformas" na metrópole. Zaragoza e G uipuzcoa . a criação de companhias privilegiadas por cartas patentes completava esse programa. porque os privilégios bascos abrigavam uma intricada teia de instituições e práticas que incluíam não apenas as principais casas comerciais de Bilbao (dis postas a aceitar a incorporação somente se. já que somente nesses mercados coloniais "protegidos" as manufaturas espanholas poderiam lograr a distribuição com lucros. ao aproximar-se o fim do século XVII. pedágios e impostos locais que isolavam Cadiz e não permitiam a entrada de mercadorias produzidas na Espanha e exportadas para as colônias. se tivermos que assinalar a prioridade no processo. A Catalunha. especialmente na formação da Junta de Comércio. em busca de análise e de implementação da mudança direcionada para os estratos superiores da sociedade. A eliminação dessas barreiras poderia facilitar o fluxo. Cartagena e Buenos Aires. melhor treinados e doutrinados segundo a concepção de servir ao Estado e nào à localidade ou à região e cuja atuação (na metrópole e nas colônias) poderia melhorar a qualidade da liderança utilizada. de manufaturas produzidas em fábricas subsidiadas pelo governo (segundo a inspiração francesa) e direcionadas para a produção de lãs e sedas de boa qualidade. Sabemos que os impulsos voltados para a mudança ou o ajustamento interligavam-se. Por fim. estimulando a produção para a exportação. preocupavam-se com o destino das colônias na América. isto é. o direito de introduzir. à luz do tratado de Utrecht e que permitiram à segunda acesso ao império. Para a remoção dos enclaves regionais. substituindo-o pelo que hoje denominamos nacionalismo econômico via substituição de importações. Este segundo grupo voltava-se para a iniciativa francesa e dos seus representantes na Espanha sob Felipe. Essas companhias . em troca. Em segundo lugar. para a Espanha. o primeiro passo dizia respeito à criação de um novo corpo de administradores. igualmente. sob Felipe V) desejava alterar. Em ordem de prioridade. os novos encarregados das decisões políticas reconheceram que dever-se-ia ampliar o fluxo de mercadorias de Cadiz para as colônias até então mantidas em condições artificiais de suboferta de bens de consumo. No período anterior à guerra de sucessão espanhola. conforme insistiam os economistas políticos (proyectistas) de Ustariz e Campillo. via protecionismo. porcelana e tapeçaria. sendo que à primeira foi concedido o direito de comerciar com a América através do porto de Cadiz. Tal política seria reformista e renovadora. As áreas periféricas deveriam ser vinculadas à Espanha central. Em terceiro lugar. Para a elite espanhola. e Aragão foram assim incorporados. Tanto os membros das elites conservadoras como das realistas concordavam em um ponto: as distinções aristocráticas deveriam ser mantidas. Havana. um número anual de escravos africanos e uma determinada quantidade de manufaturas. para os portos periféricos espanhóis. Poder-se-ia estabelecer a hipótese de que a essência da política espanhola sob os Bourbon constituía-se no abandono do comércio "passivo". Podemos citar. da França. subornavam e. os comerciantes de Cadiz conspiraram contra a administração (renovadora. quando a administração de Felipe V sancionou a transferência final do monopólio comercial de Sevilha para Cadiz.longe de desempenhar um rapei inovador. Os conflitos de interesses eram convenientemente disfarçados sob a pragmática retórica dos pronunciamentos reais. Inglaterra. voltavam-se para o passado longínquo em busca de marcos indicadores para o presente. Servindo com fidelidade a seus próprios interesses. O que nos chama em verdade a atenção é a preservação do pensamento mágico invariavelmente interligado ao medo a qualquer inovação. A teia de interesses nas colônias. a circunspecção. sempre mencionadas em seus memoriais. as Cinco Grandes Guildas de Madri) ou a aliança entre os dois grupos de pressão mais influentes — os proprietários fundiários da Andaluzia e os comerciantes de Cadiz — que. ampliando a produtividade agrícola via incentivos (concedidos aos proprietários fundiários ou ao campesinato semifeudal). tenazmente. quer sob a forma de criação de padrões mais elevados para os corregidores. dificultando assim as operações de contrabando. expor74 tadores e magnatas da indústria naval de Cadiz e de um número ligeiramente menor (embora provavelmente de maior influência. Se o governo de Madri ocasionalmente criasse obstáculos às práticas comerciais geradoras de lucros para os comerciantes e fornecedores de Cadiz e. Holanda. os comerciantes desta última — quase sempre secundados por seus colegas da cidade do México e de Lima — intentaram manter inalterada uma espécie de morgadio (mayorazgo) comercial. Igreja e comerciantes. A complexa estrutura controlada no século XVIII por Cadiz estendia-se de Madri aos núcleos comerciais e administrativos na América. herança de quase dois séculos de conquista e exploração das colônias americanas. Não desejamos. contudo. forçando os administradores reais. finalmente. senão para sempre. internacionalistas. igualmente. composta pela administração civil. se necessário. as corporações privilegiadas (por exemplo. Ao contrário. na medida em que manipulavam as mercadorias de toda a Europa. de exigência de viagens mais freqüentes de navios de abastecimento para as colônias. facilitando o movimento de manufaturas. Os interesses dessa guilda transatlântica. De início. os comerciantes de Cadiz e seus associados asseguravam estar servindo com fidelidade aos interesses da coroa. pressionavam. ofereciam. e mesmo os espanhóis. embora altamente insegura) dos Bourbon. "Sagrados privilégios" na medida em que esses comerciantes. por outro lado. se as autoridades de Madri decidissem aplicá-las às colônias. reduzindo privilégios regionais. alguns funcionários bem-intencionados preparassem estudos críticos quanto aos efeitos nacionais dos privilégios concedidos a Cadiz. não era monopólio exclusivo de tais grupos. existiriam sempre fórmulas de evitar a publicação dos textos. suborno a burocratas empobrecidos. representantes dos interesses comerciais de Cadiz e México. as "sagradas leis das índias" e sua Recopilación. quer na metrópole quer nas áreas coloniais. os interesses na maximização do lucro por parte de algumas dezenas de importadores. a cautela. ameaçavam. Em resumo: até a ascensão de Carlos III (1759) quase nada havia ocorrido na Espanha em termos de efetiva 75 . em verdade. Esses comerciantes eram. enfatizavam a tradição. come exemplo ilustrativo. Essa estrutura. sempre que os preços e as demais condições oferecessem atrativos suficientes. os agentes de Madri. igualmente bem. o estabelecimento eclesiástico. a retrocederem em sua tentativa de fazer retornar o Consulado e a Casa de Contratación para Sevilha. em seu consulado. como um todo. discutiam. prontamente ofereciam empréstimos a um governo sempre carente de fundos (de forma semelhante ao procedimento adotado pelos monopolistas de Sevilha ao longo dos dois séculos anteriores). Os grupos de interesses da Andaluzia eram certamente os mais significativos em termos de extensão e profundidade de envolvimento. em contrapartida. Sabia-se. em todas as regiões e em todos os níveis. de feição levemente critica. criando uma rede de estradas e canais nacionais e. de classe e de empresa. A partir da segunda década do século XVIII. depreciar o interesse de uma minoria que huscava integrar um território em uma nação. estendendo o fluxo de produtos espanhóis até o território colonial. não fornecesse estímulos para a península. a legislação de Carlos V e Felipe II. Qual a razão — poder-se-ia argüir — do hiato existente entre o pensamento mágico e o medo a qualquer inovação? O que originou a impressão de efêmeros propósitos (e não sólidas realizações). por certo. a nobreza fundiária. Se. que o suborno oferecido aos altos funcionários governamentais poderia evitar a discussão de reajustes necessários em assuntos administrativos e econômicos e bloquear a execução de medidas tendentes a gerar mudanças. sempre objetivando preservar seus sagrados privilégios. na segunda década do século XVIII. ou da abertura de todos os portos espanhóis ao comércio direto com as Américas. os comerciantes das guildas de Lima e cidade do México) nunca foram deixados de lado e se consubstanciaram no controle de todas as mercadorias veiculadas pelo comércio transatlântico. Nuevo Sistema. estabelecendo unidades têxteis. o fato de que o trabalho de Campillo. os portos hanseáticos. e sim criticasse a sua mentalidade de lojistas (economia de hodegón). de insistência em torno de visitas mais constantes dos curas às paróquias. até o nível da atuação do corregimiento e da alcaldia mayor. tendia a absorver quaisquer pressões voltadas para a mudança. ao menos por muitas décadas. marca característica da atuação espanhola até 1763? A esquizofrenia política resultou do confronto entre a necessidade de reajustes e o receio de ir contra interesses poderosos. teve sua publicação retardada por diversas décadas. mais de 700 navios mercantes despejaram manufaturas metropolitanas. A perda temporária chamou os espanhóis à razão. após débil resistência. o que forçaria a Espanha a sustentar uma pesada guerra sem aliados. Carlos reunira um corpo de administradores capazes. A perda de Manila e Havana para os ingleses (agosto de 1762) e o controle inglês sobre esta última até julho de 1763 chocaram os espanhóis da metrópole e os súditos coloniais. em determinadas ocasiões permitidas. A rapidez com que algumas mudanças foram implementadas (e outras visualizadas) na metrópole e nas colônias leva-nos à conclusão de que a queda de Havana. Trouxe consigo administradores napolitanos de comprovada competência e dedicação. achava-se. por outro lado. levaram somente três anos .. periférica e dependente da Europa ocidental. essas nações alterariam seus sistemas e passariam a buscar o comércio ilegal com as possessões espanholas na América. contudo. em termos de desenvolvimento isolado e de portas fechadas. tão grande foi a ênfase depositada por nosso sistema a política comercial espanhola ... a partir desta.para deslanchar uma série de mudanças há muito tempo visualizadas e retardadas peta tenaz ação de grupos entrincheirados nas elites espanholas. ao menos por ora. inquietando-se com as mudanças a serem efetuadas em um sistema comercial e administrativo obviamente defasado das necessidades reais.há muito considerada essencial à manutenção do controle espanhol sobre a América . constatando-se então que até 1762 apenas 15 navios tocavam anualmente o porto de Havana.. as autoridades de Madri começaram a reconhecer as evidências de agravamento do problema colonial: se necessitaram de quase 50 anos (após Utrecht). desorganizando os sistemas de frotas e mercados e ameaçando (após 1740) ignorar por completo o entreposto de Cadiz. durante os II meses de controle inglês.passou a constituir unia área a partir de onde poderiam ser desfechados ataques sobre Veracruz e. permanecendo satisfeita. Ao contrário de seus predecessores. Ao chegar a Madri.. gerou pressões bastante fortes. Assinale-se que a ascensão de Carlos 111 deu origem a profundas alterações no quadro vigente na Espanha. posteriormente. e escravos. de armas na mão. para sacar la agricultura y comércio de esta ysla del apuro en que se hailan.. navegação e agricultura. de molde a transformar os sistemas administrativo e comercial coloniais. entre eles Esquilache 77 [ Referindo-se à possível inovação. imbuído de propósitos de um nacionalismo proto-econômico. abertura de comunicações e facili76 . política e científica. fomente seu comércio.. o novo rei amadurecera fora da corte madrilenha. Nessa escuridão passamos quase três séculos. A ação espanhola na América decorria do estímulo externo: a ameaça de cessação do comércio transatlântico. 3 tação às exportações. de sua liderança e atuação. 1778 Virtualmente toda a teoria desta modesta ciência ( a economia política I concentra-se. com a proteção às indústrias de linho e lã. a ausência da indústria e a imensa transformação produzida pelo tempo na situação mundial. longe das pressões que aparentemente tornaram monarcas como Felipe II incapazes de tomadas independentes de decisões.transformação das estruturas e práticas vigentes. o que nós impediu de perceber o atraso da metrópole. madeira. al Marques de Sonora. uma área atrasada.". ao passo que.." ( Expediente. "Observaciones.. na metrópole e nas colônias. face a essa inovação. Havana . esse sistema foi aberto para as demais nações. oferecendo (abaixo de seus preços reais) as manufaturas espanholas. talvez intentando conquistar algumas ou incitar as outras à rebelião. 1808 Francisco Arango Y Parrefio. na eliminação de obstáculos.. a presença de comerciantes ingleses operando a partir da Jamaica e inundando os mercados coloniais. sobre los medios. dispostos a interferir nos privilégios e tradições e amargurados pela intervenção direta inglesa que buscava manter Nápoles subserviente aos seus interesses mercantis. sobre o México. Como rei de Nápoles.após a conquista inglesa de Havana e Maniliu (simultaneamente em 1762) e a ameaça sobre Veracruz . Cerca de 1750. que o governo espanhol poderia excluir os demais países de seu comércio e navegação. Carlos trazia a intenção de proceder a uma revisão das instituições espanholas. que somente uma vez por ano e. gêneros alimentícios. Considerada fortaleza inexpugnável na preservação da rota das frotas encarregadas do transporte de prata. por essas razões é preferível que a Espanha. houvessem exercido qualquer tipo de pressão sobre o governo de Madri. E.1. Inexistem razões que possam levar à pressuposição de que as condições da Espanha. satisfeitas com o desenvolvimento de seu comércio e a remessa de mercadorias para esses reinos. desenvolver a indústria e os recursos de capital As nações européias que preservam um certo equilíbrio entre si e se interessam em que nenhum país se expanda além de seus próprios limites ou tente conquistar qualquer das possessões espanholas. animais e utensílios de ferro das colônias norte-americanas. a estreita porta controlada pelos comerciantes e por estes mensurada em suas operações. em nosso caso. Afirmava-se que as estruturas da administração colonial necessitavam de descentralização e. visando reduzir o contrabando pela ampliação da oferta. mas de forma lenta e hesitante. com a abertura de diversos portos espanhóis ao contato direto com os portos caribeanos sem parada obrigatória em Cadiz. O testemunho (espontâneo) de cidadãos e os relatórios de oficiais enviados à metrópole para a revisão das condições coloniais. o conjunto das colônias espanholas na América contribuía com 90% da produção mundial. Esses reduzidos ajustes. especialmente. os burocratas madrilenhos sob Carlos III.todos estes fatores atraíram as atenções da Inglaterra e da França e obrigaram os espanhóis à revisão das políticas coloniais caso desejassem evitar a perda do comércio colonial (e. agora voltadas para a produção de açúcar. igualmente. não pelos nomes de família. sob Carlos. na Espanha ou em qualquer outro país europeu. Distinguia-se. os ajustamentos propostos nas sociedades tradicionais e então em voga na Rússia. papel. O sistema de frotas escoltadas por comboios foi gradualmente posto de lado e finalmente eliminado (1798). O notório caráter "popular" do levante de Madri e de outras cidades espanholas de 1766.como Carlos e Esquilache logo perceberam . lado a lado com os poderosos. os homens de talento que cercavam Carlos possuíam excelentes vínculos. de certa forma. França. As transformações no quadro colonial poderiam ser levadas a cabo com maior intensidade. o papel dos interesses ingleses na metrópole e no império colonial não foram isoladas. das próprias colônias) para seus competidores da Europa ocidental. não se admitindo a reexportação de importações européias. para a Holanda. a seguir. Não devemos tomá-los por imitadores acríticos. naturalniente.Por volta de 1789. permitiu-se que 13 portos espanhóis comerciassem diretamente com os maiores portos coloniais (1778). a ascensão fora do sistema de patronato. o desenvolvimento de áreas há muito negligenciadas. exceção de Veracruz e La Guayra (Venezuela). As nações ibéricas. que havia ascendido dos postos inferiores no exército ou que havia freqüentado as pequenas universidades em busca de carreira dentro do direito. franceses e holandeses. não pertencentes à nobreza e por esta chamados ao poder. inicialmente na área do Caribe (1765).os administradores espanhóis constataram um aumento significativo no valor e volume do comércio colonial. monarca absoluto. passou-se à reforma da estrutura do comércio colonial. pelo talento. sabiam que poderiam persuadir os grupos de interesses a aceitar apenas os reajustes necessários. posteriormente. o Banco de San Carlos. E os homens de talento. ostensivamente causado pelos novos regulamentos que prescreviam o corte das capas e baniam os chapéus de abas largas (supostamente preferidos pelos espanhóis). Carlos encontrou. Ao primeiro banco nacional espanhol. administradores com79 . O crescimento demográfico. tabaco e couro cru. representavam em verdade apenas uma liberalização do comércio dentro dos quadros imperiais! Permitia-se um limitado comércio intercolonial e. satélites das economias européias ocidentais mais avançadas. em verdade. Constituíam. França e Inglaterra após a chegada. foi concedido o monopólio das transferências de prata e ouro para a Europa ocidental. em contrapartida. Pombal (em Portugal) dera início ao estabelecimento de companhias comerciais e reformas administrativas para o Brasil. vinhos e conhaques. Mais importante ainda: o volume da prata produzida na América e extraída principalmente do centro mineiro mexicano de Guanajuato elevou-se auspiciosamente. tais ajustes foram levados a efeito na metrópole. a primeira geração de administradores espanhóis que. As tentativas de reduzir.todo esse elenco de medidas objetivando um nacionalismo proto-econômico que permitisse a execução de políticas consideradas hostis pelos interesses ingleses na Península Ibérica e no império colonial.Na Espanha. um corpo de colaboradores entre a baixa nobreza. nas remessas feitas pelas colônias em termos de lucros e excedentes e no que muitos consideravam um importante crescimento percentual no volume de produtos espanhóis saídos das lojas. abandonou Madri. Ao iniciar-se o século XIX.lãs. constituiu . No início de 1755. Essa ampliação no fluxo de mercadorias e metais gerou. mesmo assim. e monopólios de tabaco e mercúrio. aos quais se denominou política do "livre comércio". o México produzia 66% de toda a oferta de prata mundial. por fim incluídos em 1789. uma vez ocupando posições de poder. obtidas a partir de Impostos alfandegários e sobre vendas. esses indivíduos não foram alçados ao poder com o fito de demolir os privilégios. sua posição era intensamente nacionalista e estavam longe de adotar uma perspectiva irreal no tocante às pressões a serem exercidas sobre os estratos da sociedade espanhola que detinham o poder e a riqueza. Pode-se encarar o reinado de Carlos III como o apogeu dos três séculos de colonialismo espanhol na América. restrito unicamente a produtos coloniais. O objetivo dessas mudanças era a melhoria de contato entre a metrópole e as colônias. predispuseram-se a assimilar e adaptar. utensílios de ferro. dos metais em espécie e lingotes. aos portos espanhóis. pareciam dispostas a reerguer-se através de suas possessões americanas. a ampliação das receitas governamentais. reconheciam os mecanismos ilegais (mas tolerados na prática) através dos quais apreciável volume de renda colonial "escoava" -para os contrabandistas ingleses. Sendo impossível à época. de molde a leválos à promoção das transformações administrativas desejadas. Carlos. Prússia e. Cautelo samente. Destarte. em termos das necessidades espanholas. apoiara a empresa industrial na metrópole direcionando-a para o mercado colonial . fábricas e destilarias do país . e elevando a percentagem de manufaturas espanholas no comércio com as colônias. mas sem quaisquer exageros.um aviso para que não se procedesse a reajustes radicais. pois. cacau. a ex78 traordinária expansão da produção anual das minas de prata do México . o rigor no treinamento e na disciplina. destarte. além disso. que os encarregados do processo decisório pretendiam obter o controle integral sobre a economia colonial de molde a efetuar uma política de neutralidade entre ingleses e franceses. manter a Espanha subdesenvolvida mas satisfeita.no caso dos poderes coloniais do século XVIII sustentar as comunicações marítimas em todas as ocasiões. tabaco. café. fábricas reais). armazenagem e comunicações continuavam superiores às oferecidas por qualquer outro porto espanhol. das colônias e da metrópole. tentando renovar através da multiplicação de concessões e privilégios para um diminuto grupo (em lugar de ampliar e oferecer 81 . via Rio de Janeiro e sul do Brasil até o Rio da Prata 80 A independência. abrindo-lhes o acesso aos mercados coloniais americanos. adotando como novas instituições já obsoletas em outras nações (por exemplo. de qualificar aqueles nascidos na América para a execução dessa mesma política colonial. A própria estrutura do oligopólio em Cadiz e nas colônias. comerciantes e financiadores ao império espanhol. seguro. Mais importante que tudo isso. Madri não apresentava indícios. acreditavam que a assistência porventura prestada à Espanha afastaria a Inglaterra e permitiria a obtenção. no momento mesmo em que os grupos de elite colonial cresciam. optaram por lidar com seus fornecedores tradicionais na Inglaterra e na França. de prata e matérias-primas para a indústria e de consumidores para seus produtos. Para os ingleses. Esperavam. os interesses vinculados á mineração (e outros. por seu turno. e. para a França. onde as facilidades relativas a embarque. Concluímos. não obstante. Em resumo. raros administradores acreditavam ser possível igualar a atuação econômica inglesa. Os reduzidos frutos desse tipo de política de ajustamento eram talvez inevitáveis. madeira tintorial e algodão. preferiram monopolizar o fluxo de mercadorias européias ocidentais através de Cadiz. era a crença de que a dedicação ao serviço do Estado. em lugar de produtores espanhóis não competitivos. No reinado de Carlos III os membros da nobreza designavam-se tarefas e responsabilidades condizentes com as possibilidades de efetivo desempenho. caracterizada por uma indústria náutica mais eficiente. Lima e Manila. administradores (geralmente retirados dos corpos do funcionalismo público) para os postos-chave nos vice-reinos.de prata e ouro. Os oligopolistas de Cadiz e seus associados ultramarinos opuseram-se ao intercâmbio internacional. Respondendo unicamente quando e onde as circunstâncias obrigassem a formulação de transformações. associados a estes) no Brasil central haviam quase originado a rebelião. nela buscando assistência. e artigos de algodão de preços mais reduzidos e que estimulavam uma demanda insaciável junto aos mercados espanhol e português e. na América do Sul. as políticas anteriormente deslanchadas por Pombal haviam mudado de rumo através da atuação de seus sucessores. os padrões de honra e a presença militar assegurariam a execução dos planos coloniais da metrópole e a redução da cumplicidade administrativa no contrabando.petentes. companhias comerciais privilegiadas. especialmente. entretanto. ou estendendo o raio de ação das antigas instituições já em funcionamento na metrópole (as guildas mercantis na Espanha e nas colônias). Os espanhóis aspiravam a uma cooperação que gerasse o florescimento de uma Espanha independente e respeitada. em suas colônias tropicais e subtropicais. Em pleno século XVIII a Espanha continuava tão dependente como antes das economias dominantes da Europa ocidental. eficientes e honestos. em quantidade suficiente. Não obstante. taxas de seguro mais baratas. O receio da agressão inglesa contra os portos coloniais constituiu motivo relevante na indicação de militares competentes. resistindo às tentativas dos funcionários madrilenhos voltadas para o fomento da economia das áreas periféricas do país. de privilégio herdado e porque a cooperação franco-espanhola poderia sustar a tomada. bens de capital e . que séculos de colonialismo haviam carreado imensas rendas para as elites metropolitanas mas não haviam gerado recursos internos produtivos. cacau. dependia te ainda depende) de uma economia nacional capaz . que a utilização integral dos recursos humanos e naturais existentes nas colônias ensejaria a perpetuação das estruturas tradicionais de privilégio e poder. bloquearam a expansão da construção náutica colonial. de produzir. açúcar. os realistas alimentavam poucas ilusões acerca das potencialidades de ajustes. Reconheciam. Em Portugal e Espanha. por seu lado. por volta de 1780. À época em que se inicia a Revolução Francesa. e a política de restrições à oferta e aos preços. Na Espanha. já que a monarquia. de outras áreas no império americano. tendendo assim a racionalizar o papel da península e dos impérios ultramarinos americanos como produtores para os mercados europeus . pois permitiria o acesso de seus fabricantes. Uma política gradual para o mundo colonial não enfraquecera o papel dominante desempenhado por Cadiz e seus aliados face aos oligopólios da cidade do México. assim. igualmente. peles. pelos ingleses. indicando-se. ao mesmo tempo . os franceses. via possessões no Caribe. Reconheciam. Para os franceses essa cooperação era valiosa. Voltaram-se. aristocracia e burguesia francesas compartilhavam a mesma perspectiva em termos de sociedade e Estado. As duas metrópoles e suas colônias afiguravamse aos olhos dos realistas como fechadas em um esquema de dependência econômica já bastante antigo e alguns analistas sentiam-se atraídos pelas teorias da fisiocracia. serviram de estimulo ao contrabando. ou ainda na Silésia. a partir do nacionalismo proto-económico posto em prática pelos países ibéricos na segunda metade do século XVIII. Imaginaram-se. apesar da euforia oficial. a cooperação franco-espanhola constituía unicamente um estímulo à atuação ao contrabando agressivo. novas e mais flexíveis divisões territoriais. em sua política colonial. Cifra superior a 85% do intercâmbio colonial era canalizada através do porto de Cadiz. O colapso dessa política de ajustamento. entretanto. Em áreas como Havana. Poderia ser condenado ou mesmo posto de lado por algum tempo mas. cacau e peles deterioravam-se rapidamente e os escravos que os produziam necessitavam ser alimentados com artigos importados dos Estados Unidos (peixe e carne salgada. a monarquia. e especialmente sabendo-se que muitos empresários coloniais participavam avidamente do comércio ilegal com a Inglaterra. para a nomeação e direção de seus administradores e outros pontos indispensáveis à manutenção de sua dependência?. 4 Mas existe um ponto que exige toda a nossa atenção. cessada a guerra. já que os metais preciosos obviamente não deteriorariam armazenados. A que autoridade devem obedecer? Que província deve enviar as ordens necessárias ao seu governo. o enfraquecimento do interesse pek. A elite colonial espanhola aprendera rapidamente a partir da fuga da família real portuguesa para o Brasil e da imediata abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas e aliadas. Pelo menos assim se pensava entre 1808 e 1810. Em síntese. tabaco. a aliança com a França.. às forças conservadoras e antirepublicanas inglesas. da excessiva atenção concedida à mineração acabaram por exacerbar as pressões das colônias entre 1802 e 1808. em realidade.. Sustentaram. a anarquia e movimentação das massas na França levaram a Espanha a romper. Sob Napoleão. a realeza portuguesa abandonara o continente e buscara a segurança junto à colônia brasileira. Era inevitável que a Espanha e Portugal pusessem de lado a política de ajustamentos cautelosos após a Revolução Francesa. cada colônia estabelecerá seu governo independente. embora o movimento voltado para a mudança continuasse até cerca de 1790. os governantes ibéricos simplesmente permitiram a proliferação de estruturas tradicionais na sociedade e na economia. Por último não se deve subestimar o sentimento de independência existente entre a elite criolla após a bem-sucedida rebelião contra a dominação inglesa na América do Norte e as possibilidades de controle político criollo inerente à ideologia da Revolução Francesa. após 1800.a partir da abdicação dos Bourbon -. a elite colonial mostrou sinais de impaciência em torno do controle político efetivo. Aos ingleses não interessava a renovação espanhola. para aumentar os padrões de dependência face à Europa ocidental e. assim. que uma política de tardios ajustamentos constituía um processo irreversível. Lima e cidade do México) encontravam-se freqüentemente divididas entre os interesses agropecuários e os representantes da aliança com Cadiz. entre Amiens e a invasão francesa. Caracas e Buenos Aires. o "edifício gótico" que não se constituía. acabaria por romper todas as barreiras. As concessões gradualmente feitas em resposta às pressões econômicas coloniais serviram. mudança orientada. As colônias de mineração . dentro ou fora de uma estrutura imperial. a política de compartimentalização das colônias. permanecendo comprimida entre as duas forças em luta até a chegada do colapso. face à Inglaterra. as guildas comerciais (ao contrário das de Veracruz. Para estes produtos a questão da armazenagem para embarque. Os espanhóis haviam encorajado (mas com relutância) apenas uma quantidade mínima de intercâmbio comercial inter-regional. com o auxílio de precárias escoras.. abrindo o caminho à penetração nas colônias espanholas. a França parecia conseguir reconciliar a soberania popular. contudo. era extremamente difícil: o açúcar. por fim. sua 83 . farinha) e substituídos por novos 82 escravos trazidos por navios ingleses e norte-americanos. Entrando em colapso a autoridade da monarquia espanhola .oportunidades àqueles de talento). Essa elite percebia. A anarquia na França era interpretada pelos cautelosos gradualistas espanhóis como sinal inequívoco de que mesmo as mudanças orientadas eram perigosas. A defesa dessas estruturas tradicionais à luz do regicídio. Não lhes interessava de fato qualquer revitalização da marinha espanhola e foi exatamente a compreensão dessas atitudes que levou a Espanha a renovar. a evaporação de um espírito de inovação (embora restrita) foram acelerados pela Revolução Francesa.. sob a proteção inglesa. Nesse ano. Tornava-se difícil à administração colonial espanhola forçá-los a aceitar uma política de autocontenção comercial a partir do momento em que os ingleses cortaram as comunicações com a Europa. Uma política de concessões graduais às pressões coloniais e ao contrabando inglês não poderia. em 1808. ser revertida tão prontamente.como o México e o Peru . do reconhecimento tardio das possibilidades da atividade agropecuária exportadora. objetivando esmagar a revolução na França. por um breve lapso de tempo. em 1793. enfraquecer a Espanha. mas sim negar assistência à França. e esse ponto diz respeito à conservação de nossas Américas. o final do século assistiu a um renascimento na defesa das tradições espanholas. a escravidão e o tráfico negreiro. a aliança estabelecida com aquele país e unir-se. E. para os produtos fornecidos pelas regiões cujas plantações e estâncias haviam-se expandido ao longo do século XVIII em resposta aos estímulos da demanda da Europa ocidental.. preferiram. três anos mais tarde.. Ao longo do século XVIII a França representara uma monarquia católica capacitada a crescer sem os levantes e motins que a Inglaterra protestante conhecera durante o século anterior. O mesmo não ocorreria. em realidade.poderiam sobreviver à guerra e à eliminação da marinha espanhola das águas atlânticas.. inevitavelmente. com a invasão das forças francesas. na melhor forma de prepará-lo para enfrentar as grandes crises. As tensões que caracterizavam os repetidos confrontos entre ingleses e franceses haviam.inclinação natural para a independência pode muito bem resultar nisso. É destino dos territórios ou estados coloniais. 3 de maio de 1810 A igualdade de direitos concedida aos americanos não siginifica que passarão a desfrutar todos aqueles desfrutados pelos espanhóis da península. porém. de peles e algodão para sua produção industrial e desejava o acesso direto às centenas de milhares de consumidores no império ibérico na América. Os comerciantes. 7 de junho de 1811 O período de 22 meses que começa em novembro de 1807 e se estende até setembro de 1810 constituiu. necessitava. encarregados de lidar com a crise. Não era mais possível ocorrer qualquer mudança dinástica de maior envergadura (com todas as necessárias implicações em torno dos grupos de pressão) sem que a mesma desencadeasse repercussões no mundo colonial. Pior que tudo isso. os portugueses estavam conscientes do fato de que a aceitação da ocupação francesa originaria a intervenção inglesa no Brasil. Caracas.... na metrópole. poderosas. com suas economias dependentes ou orientadas para o exterior. Passados 100 anos da assinatura do tratado de Utrecht. passavam a ser também essenciais aos dois grandes blocos econômicos em competição pela hegemonia da Europa ocidental. Os ingleses já haviam proporcionado aos espanhóis um antegosto do que poderia ser sua política agressiva se a Espanha insistisse em permanecer aliada da França. por fim. O efetivo bloqueio inglês sobre a península e o avanço das tropas francesas em direção a Portugal e Andaluzia ameaçavam cortar irreparavelmente os vínculos que uniam a península à América. afetadas pelo fluxo de informações entre a França.. Lisboa e Madri. O equilíbrio. Consulado de Cadiz às Cortes. as tropas inglesas ocuparam Trinidad. esperavam que Napoleão assegurasse esse acesso ao império ibero-americano. hl: os americanos . cidade do México e Havana. Inglaterra e Estados Unidos . somente servia para aumentar a impaciência inglesa com a política colonial luso-espanhola de exclusão dos estrangeiros de qualquer modalidade de participação direta. em 1806-7. estimulavam) do crescimento econômico europeu ao longo do século XVIII não eram mais essenciais apenas às economias metropolitanas (subdesenvolvidas) de Portugal e Espanha. Junta de Valência. Uma proposta desse género_ acabaria com o que sobrou do comércio da Espanha metropolitana.j consideraram-na como uma solene confissão do depotismo pelo qual haviam sido até então tiranizados. nas metrópoles. imposta à Europa como o sistema colonial. por seu próprio turno. Essas pressões acabaram por reduzir a frangalhos o modus vivendi anteriormente estabelecido com a França e forçaram a aliança com a Inglaterra. que enquanto as pressões internas freqüentemente aproximam-se de um ponto de ruptura. A esfera de coprosperidade francesa. nem poderia perceber. em vez disso. em 1807 espalharam rumores de que uma força anfíbia aprestava-se na Irlanda para desencadear operações contra o México. contudo. igualmente. as elites coloniais . o liderado pela Inglaterra e o capitaneado pela França. os pontos focais da América ibérica não se achavam mais limitados às áreas de exportação de prata (México e Peru). Os líderes políticos lisboetas e madrilenhos passaram a levar em consideração os interesses dos exportadores de produtos coloniais agropecuários..mostravam-se cada vez mais dispostas a considerar possíveis alternativas. Contemporâneos dos fatos ocorridos a essa época. Por volta de novembro de 1807. respondiam aos estímulos (e. a fonte dos direitos que deveria ter sempre desfrutado e que não lhe poderiam ter sido negados sem injustiça. o confisco das 85 Junta de Caracas à Regência. em 1807. tentaram por duas vezes ocupar Buenos Aires. por seu turno. urgentes. Lembremos.conjuntamente com os encarregados do processo decisório. a igualdade estabelecida não é absoluta. Não é verdade que dentro da própria metrópole algumas províncias gozem de liberdade e muitas outras não?. que as dúvidas acerca da resposta das elites coloniais às decisões políticas oriundas de Lisboa e Madri constituíam um pesadelo para aqueles. A Inglaterra necessitava desesperadamente do acesso à 84 . igualmente. A população e os recursos da América ibérica que. muitos dos que viviam em Paris e Londres.. e. o estímulo decisivo provém do exterior. . isto é. entre aqueles dispostos e não dispostos a fazer concessões aos interesses americanos e às colônias. igualmente.. 16 de julho de 1808 A junta central _I declarou considerar os domínios americanos como partes integrais e essenciais da monarquia espanhola. a América não percebeu. prata mexicana. Essa consideração basta para demonstrar que o estabelecimento de uma autoridade suprema e de uma representação nacional não são somente indispensáveis mas..ricas. Em 1797. fabricantes e financiadores franceses. induzido Napolêao a ordenar a ocupação de Portugal. a fase mais decisiva na história da América ibérica desde a conquista. Rio de Janeiro e Buenos Aires reconheceram esse fato imediatamente. talvez. a partir de tal declaração. as notícias relativas ao exílio da realeza portuguesa e a primazia econômica concedida aos ingleses eram assustadoras. Para muitos criollos. A decisão de separar as colônias da metrópole. de fato. ficou a um triz da deposição. o prestígio e o poder. grupos mais perceptivos e áreas 87 . a pressão para que se eliminasse um sistema de intercâmbio colonial irracional. que o vínculo fundamental era o direito de conquista e o direito de dispor dos recursos coloniais. de fato. O primeiro grupo político a reivindicar a liderança na metrópole. em um processo de lento desdobramento. minas e propriedades agrícolas. Então. a dispersão das Espanhas em regiões competitivas entre si e. um juiz honorário da audiência foi embarcado para a Espanha para julgamento. de dependência entre colônia e poder imperial não são destruídos com facilidade. fugiram para o Rio de Janeiro. capitão-geral de Cuba. escoltados pelos navios de guerra ingleses. de dependência às pensões pagas pelo tesouro colonial — tudo isto agora estava ameaçado de ruir. a renda. Conforme nos sugere a recente história do colonialismo. unilateralmente. Os criollos foram lentamente percebendo que as desejadas mudanças na vida colonial lhes seriam negadas pelas novas autoridades espanholas. em realidade. entre março e maio de 1808 os Bourbon desapareceram do vértice do governo. aguardar que a metrópole se dispusesse a efetuar os necessários reajustes no sistema. sendo enviado para a prisão em Cadiz sob acusação de traição. no México. não se concretizou imediatamente. em face à ausência de qualquer administração central. núcleo florescente da atividade de contrabando.Sevilha (maiosetembro de 1808). Para as elites criollas situadas nos diversos pontos de pressão chegara finalmente o momento da verdade.propriedades inglesas e. Someruelos. Não obstante. porque significava a remoção de todos os poderes legislativos. Séculos de contatos com as colônias. logo revelou sua compreensão da realidade colonial apossando-se. a possibilidade de que as áreas coloniais americanas seguissem o mesmo caminho das Espanhas em direção à administração local. Qual seria o impacto decorrente da abertura do Brasil ao comércio direto? A remoção da sede da dinastia para a América era de fundamental importância para as lideranças políticas e para os interesses comerciais. A presença dos tradicionalistas na vida colonial — militares. via formação de juntas locais ou congressos. de emprego no serviço governamental e da Igreja. foi instrutiva e disciplinadora. em grande escala. inescapavelmente. Ampliou-se. Iturrigaray. contingência há muito encarada como catastrófica para a Espanha. essa demonstração de autoridade. a Junta de . concretizando-se o que os burocratas espanhóis sempre haviam temido: o colapso da autoridade central. finalmente. Essa providência permitiria. destarte. Visando dissuadir os criollos de qualquer modalidade de ação direta. a exploração inglesa direta sobre o comércio do Brasil. Mais assustadora ainda era a possibilidade de que o estabelecimento de juntas autoconstituídas nas colônias poderia levar. para gratificar os grupos de pressão criollos e para tentar consertar algumas partes sem alterar os elementos estruturais fundamentais que permitiam a manutenção do privilégio e da exploração. Prefeririam. executivos. sob a forma de força bruta. Em janeiro de 1808. a rebelião. em todos os pontos da América espanhola. acima de tudo. O acesso direto dos ingleses ao comércio do Brasil levaria. a prisão de um vasto número de comerciantes portugueses no espaçoso porto de Lisboa. baseado no monopólio peninsular e no contrabando. sugerida por tais inibições. A realeza portuguesa e sua corte correram para os navios ancorados no porto e. o sistema imperial significava mais do que simples exploração: permitia-lhes compartilhar com os espanhóis nas colônias o controle sobre a força de trabalho. Preocupavam-se com o fato de que a mais suave forma de liberdade comercial ampliaria a divisão de interesses comerciais divergentes. o produto dos sucessivos fatos ocorridos na Espanha e na América. 86 Esses indivíduos acreditavam. não apenas porque pressagiaria a superação do entreposto comercial peninsular mas. à infiltração da Inglaterra na bacia do Rio da Prata. abrindo todos os portos brasileiros ao acesso direto às nações amigas ou neutras. burocratas e comerciantes espanhóis — fiava-se nos traços tão freqüentemente enfatizados de parentesco. constituiu-se. igualmente. ao estabelecimento e tomada de decisões econômicas desastrosas para a economia metropolitana. judiciários e de nomeação para a América. a riqueza. Sevilha enviou para Havana. Os tradicionalistas espanhóis — na metrópole e nas colônias — voltavam-se para a Junta de Sevilha e seus vínculos com Cadiz em busca da manutenção do status quo. materiais e psicológicos. eclesiásticos. cidade do México e Caracas (verão de 1808) diversos agentes com instruções de efetuar a prisão dos líderes coloniais que tencionavam oferecer às elites criollas a formação pacífica de juntas. do controle sobre as colônias e mantendo inalterado o sistema de intercâmbio comercial com aquelas. deinvestimento e participação no comércio. linguagem e religião (que vinculavam os espanhóis metropolitanos e os da colônia) para conseguir deter o movimento de separação das colônias da metrópole européia. Para muitos criollos. a realeza portuguesa rompeu com o sistema colonial. Para as autoridades coloniais espanholas. embora já se possam encontrar bastante atenuados. Em Caracas os principais criollos que advogavam a formação de uma junta foram presos em novembro de 1808. acabou deposto por um grupo de conspiradores recrutados a partir da comunidade comercial espanhola na cidade do México. os múltiplos vínculos. Sevilha representava os interesses agrícolas e comerciais da Andaluzia interessados na preservação do império colonial na América. economia e Estado coloniais. à sua dissolução.os grupos sociais (ocupando posições superiores e inferiores) vinculados às metrópoles . a elite colonial encontra aliados naturais nos mestiços.menos privilegiadas da península voltaram-se para a Junta Central (que tomou o lugar da Junta de Sevilha em setembro de 1808). agora. 1810 A revolução na América ocorreu em 1810 porque a elite criolla finalmente proporcionou a liderança que as castas e os estratos ainda mais inferiores e mais oprimidos da sociedade colonial há muito esperavam. as virtudes de que carecem. é provável que. Por volta da metade de 1809. a modernização defensiva apenas contribuía para a preservação de uma sociedade e economia tradicionais. as massas. As massas indígenas foram cautelosamente manobradas. abril de 1809. ser controladas e utilizadas como fator adicional na eliminação dos punhados de burocratas e comerciantes espanhóis. que. resultando daí a ocorrência de infindáveis casos escandalosos em nossas cortes. logo passou a ser dominada pela junta da cidade. por sua posição. se inteligentemente mobilizadas.foi aceito. Na América colonial. ocorrendo dissensões civis. embora reconhecessem a exploração sofrida dentro dos quadros do sistema colonial. em seguida à sua recusa em manter as prerrogativas coloniais da Junta de Sevilha. quer contra os europeus. junto ao centro minerador de Guanajuato (setembro). sua união. decorreu do não-aparecimento de qualquer sistema alternativo viável. efetivamente. Os ansiosos criollos americanos ficaram chocados por esse colapso final e pela substituição da junta por uma regência. Por necessitarem manter alguns intere. Os líderes criollos temiam. serviu de argamassa à estrutura da sociedade. que representava uma forma de interesse nacional sobre o regional e (para os criollos/ parecia mais disposta a se curvar à lei da necessidade colonial. Memoria sobre las operaciones de la Comisión de Reemplazos. por. No momento em que parte para o rompimento dos controles metropolitanos. É fora de dúvida que alguns setores da elite colonial acreditavam que as massas indígenas poderiam permanecer inertes em caso de rebelião ou. A manutenção da coesão nas estruturas sociais coloniais da América Latina. por fim. que freqüentemente irrompiam com violência (quer no meio urbano. especificamente." Padrón de Texcoco. 1753 "Os criollos e os mestiços formam. representante dos interesses dos membros das guildas comerciais. fugindo para Cadiz (a última área não ocupada da Espanha).vses e aliviarem algumas injustiças. quer no rural) e que racionalizavam a repressão e exploração de que eram vitimas através do mito de sua inferioridade. a paciência e 'as expectativas dos criollos chegaram ao fim e se constituíram juntas revolucionárias em nome do processo de autonomia (Caracas. flexibilidade e adaptação. As perversas e ambiciosas idéias de homens obscuros e desprezíveis f na América J que. freqüentemente com conotações de guerra civil.. O apoio das castas fortaleceu a posição da elite e assegurou auxílio no controle sobre as massas indígenas. agora intoleráveis. incapazes de obter. Muitos americanos haviam percebido que um sistema injusto somente poderia ser transformado com o recurso à derrubada violenta das estruturas existentes e que. Começava a se desenvolver a longa e sangrenta luta que perduraria por mais de uma década.. Essa disposição da Junta Central em aceitar a possibilidade de revisão do sistema de intercâmbio. optem por uma forma de ação conjunta.. Edinburgh Review. Comerciantes de Cadiz. possuía o monopólio da força para assegurar a sua preservação. já que satisfazia aos interesses e aspirações de uma elite que. 1832 "Ninguém ousa distingui-las 1 castas J. ao mesmo tempo em que uma insurreição de massas irrompia no interior do México. esperavam melhorar sua condição as expensas do solo infeliz que mancharam com seus crimes. mulatos e castas em geral. Essa informa88 ção seria odiosa e. e o crescente antagonismo com a Junta de Cadiz a respeito de questões financeiras e comerciais constituíram fatores de importância e que levaram. a modificar o sistema de comércio colonial.. 5 . descobriríamos nas boas famílias manchas negras apagadas pelo tempo. se a executássemos com rigor. por outro lado. quer contra os indígenas. nunca haviam podido encontrar expressão efetiva para sua amargura e revolta. O princípio da hierarquia . santificada pela injunção religiosa. Aqueles que analisam o processo de desenvolvimento econômico e mudança social em um contexto histórico percebem com clareza que os sistemas sociais aparentam possuir extraordinários poderes de coesão. Com o apoio dessas 89 . ao longo de três séculos. após um período de vacilação inicial. a Junta Centrai parecia pronta a considerar uma política geral de abertura dos portos coloniais com limitado contato direto com nações amigas e neutras em embarcações espanholas. maio). a força principal e a parte mais respeitável dos colonos espanhóis. A fidelidade à Espanha. número e propriedades. Buenos Aires. O legado social preeminente foi. dispondo de lojas próprias para a venda de seus produtos.) 91 . Em síntese. destarte. de dois contemporâneos de Las Casas .para que registrassem seus filhos como espanhóis. à separação (bastando examinar-se os sistemas tributários. podemos afirmar que o número e diversidade das castas tendia a criar uma nova base para a hierarquia. em particular. indígena ou negra. o que ajuda a esclarecer a razão do número de mestiços e mulatos aceitos em determinados níveis sociais. As castas pareciam haver crescido proporcionalmente mais depressa que os demais grupos sociais. sequer. passaram a fazer parte. o acesso aos postos militares e políticos. que pressupostos fundamentam a afirmação (freqüentemente expressa) de que espanhóis e portugueses dispunham de uma política para os negros e indígenas mais humana e mais tolerante do que a posta em prática pelos europeus ocidentais não-católicos no continente americano ? É claro que encontramos eclesiásticos sensíveis. em determinadas funções. a Igreja). pois. sequer. ocasionalmente. a degradação da força de trabalho. e não como mulatos ou mestiços (ainda que de pele clara). teve. que legaram à posteridade relatos etnográficos detalhados concernentes à história social. contudo. brutalizantes e de exploração do contato cultural e do imperialismo ao longo do século XVI: um desses homens foi Las Casas. ocupando as funções (em processo de expansão) exigidas por uma economia diversificada. Havendo poucos europeus para o preenchimento dessas posições. membros dessas castas. tinha noções da reli gião cristã e sabia desempenhar funções domésticas e trabalhos no campo. estudaram as principais instituições e valores dos povos ameríndios. Aqueles que rompessem o estatuto da escravidão ou que abandonassem as comunidades ou enclaves indígenas (ou de ameríndios) passavam a constituir um setor médio habilitado a sobreviver unicamente na busca impiedosa dos próprios inte90 " Indígena (ou escravo) que já falava o espanhol (ou português). aliás. ao findar-se o século XVIII. A limitada integração social e tolerância racial constituíam subprodutos gerados por fatores especiais. em todos os pontos da América Latina. tornaram-se. o governo colonial não se movia em direção à mudança. ascendiam ao grupo que agora denominamos espanhóis americanos. se distinguissem durante as lutas pela independência não constitui argumento de realce em termos de integração racial. Ainda assim. (N. Em certa medida. O colonialismo ibérico não logrou exterminar os povos dominados. posterior. sim. e os indivíduos de pele mais clara. Se a principal herança da sociedade colonial foi a degradação e o conflito social. política e religiosa dos povos americanos conquistados. o rígido controle sobre o acesso às posições sociais e ocupacionais elevadas permitia a absorção de alguns recém-chegados. dos registros paroquiais. a "ascensão" tornou-se mais fácil e mais ampliada. ao findar-se o período colonial.Landa e Sahagun. adotando com freqüência a prática do suborno aos padres . propriedade fundiária e corporações coloniais em algo que se aproximava das estruturas de classes econômicas baseadas na riqueza e na renda. por outro lado. o negro livre tornaram-se. quer na sociedade colonial. tolerando um certo grau de alforria. que aceitar os povos resultantes da miscigenação. Nas áreas coloniais caracterizadas pela intensa importação de escravos. a prática da atividade artesanal fora das corporações. A essas mesmas castas não podia ser negado o acesso às guildas de artesãos ou.possivelmente mais bloqueadas pelas imposições estabelecidas pela hierarquia social espanhola em suas restrições à "ascensão" e à atividade econômica -. alguns membros dos grupos mistos fossem incorporados à elite dirigente ao longo do período colonial ou. O fato de que. O ladino *. (Uma prática alternativa consistia na alteração. o amplo e crescente grupo intermediário de mestiços e mulatos espalhava-se sobre as fazendas e as comunidades indígenas. Não se pode concluir daí que o preconceito racial declinara: simplesmente. a riqueza.T. tornara-se muito difícil a manutenção do status tomando-se por base unicamente a cor da pele e a ascendência. quer Podemos encontrar na América Latina desse século a transformação das bases mais antigas da hierarquia. Se esse processo adquiria contornos evidentes antes das guerras da independência. ademais. de molde a tornar a ordem colonial duradoura. Deve-se. cujo papel fora ampliado pela expansão e diversificação da economia colonial do século XVIII e pelo crescimento demográfico resses. Tornaram-se. à integração mas. tornou-se ainda mais claro após esse período. objetivos. da Igreja e não deixaram. e. significado duradouro da escravidão por dívidas e de escravos negros considerados como bens móveis. reclamavam da dificuldade do registro de indivíduos na categoria de castas para fins de arrecadação de tributos. cooptaram um grupo social reduzido mas influente. recordar que outros clérigos. exploradores mais impiedosos de seus inferiores do que a própria elite branca. capazes de perceber os aspectos destruidores da cultura. em grande número. destarte. Nesse processo de aliança com as castas. Em realidade. de buscar os escalões inferiores da burocracia. Aceitavase a presença das castas naquelas milícias coloniais onde predominassem oficiais criollos. tapeceiros. o mestiço. o número de negros e mulatos livres crescia proporcionalmente. inteligentes e obstinados na vida colonial. lojistas e comerciantes nômades. Esses indivíduos ressentiam o estigma social imposto por um regime colonial à base de suas origens sociais "inferiores". em muitos casos. alguns setores da elite provavelmente visualizaram a possibilidade de uma transição pacífica para a independência. a carência de mão-de-obra livre para as ocupações intersticiais. a sociedade colonial foi compelida a fornecer os braços necessários. Por seu turno.) Os funcionários europeus. os negros escravos e os escravizados por dívidas . Se os indígenas eram ignorantes. e o cerne dessa matriz era constituído pelo privilégio em termos de acesso à propriedade e ocupação. trolava a riqueza e a renda. o trabalho no campo ou o papel de proletariado urbano. que o rigor das barreiras impostas à mobilidade social . A herança colonial de degradacão social e preconceito racial veio à tona no século XIX sob a forma de agudo pessimismo racial. sob a crença de que apenas a imigração de brancos e europeus via colonização poderia fornecer a mão-de-obra capaz de transformar efetivamente a América Latina. por seu turno. cor e privação econômica.barreiras de nascimento. não obstante. preservando dessa forma a essência da estratificação social. sendo inúteis quaisquer esforços de educar indivíduos congenitamente atrasados. lutas e reivindicações enraizadas profundamente no passado colonial. Em verdade. das posições de liderança na batalha pela melhoria das condições de vida de vastas camadas de indivíduos empobrecidos e analfabetos. é importante frisar que os aspectos sociais do colonialismo não podem ser separados de sua matriz econômica. Podemos argüir. supersticiosos. O fracasso . indicava as limitações impostas às oportunidades econômicas. Começamos agora a perceber que grande parte da intranqüilidade social latino-americana ao longo do século passado nada mais foi que a continuação dos conflitos em torno do acesso à propriedade e ocupação 92 que. como única possibilidade. da propriedade das minas.na pós-colonial.na diversificação da economia colonial. esboçados no século XVIII. con. afastando-se.permitiu à elite absorver uma percentagem bastante reduzida de grupos mistos agressivos. A realidade social costuma. explodiram nas lutas pela independência e acabaram sendo suprimidos pela elite após 1824. Expressar esse tipo de convicção equivale a colocar a atividade sexual fortuita ao nível da paternidade planejada e considerar o crescimento da população mestiça ou mulata como índice digno de confiança na análise da integração e igualdade raciais. Uma sociedade estratificada e hierarquizada significava que apenas um reduzido grupo. das grandes fazendas. Assistimos hoje ao retorno das longas lutas em torno de reivindicações sociais. Racionalização semelhante era empregada na manutenção da escravidão negra: a cristandade salvara-os do barbarismo e das guerras tribais. A racionalização servia de esteio à inferioridade. isso se devia ao fato de serem indígenas e não se tratava de qualquer decorrência ou produto social . Às massas restava. acabaram por' perder contato com seus grupos de origem. concomitantemente. dóceis. interligado pelos laços de casamento e parentesco. provar que as racionalizações formuladas pelo status quo são inteiramente inadequadas.assim raciocinava a elite. Essa modalidade de absorção significava que os novos membros aceitavam os valores e aspirações sociais do grupo: em sua luta por atingir posições mais elevadas. na América Latina colonial e pós-colonial . ao contrário. 93 .eram estigmatizados como seres inferiores. das estâncias de criação de gado. carentes de inteligência e iniciativa. Aqueles que ocupavam-se dos serviços mais degradados . do comércio e da burocracia.
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