CAIO PRADO JR FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO 1.MOTIVAÇÕES DOS COLONIZADORES Dentre os motivos que motivaram os colonizadores a partir para a conquista ultramar estava a procura de regiões onde não houvesse a concorrência comercial como havia nas Índias. Enquanto os outros países se ocupavam do comércio entre eles com o deslocamento das rotas comerciais para o mar, que gerou a primazia dos Estados costeiros, Portugal partia em conquista da África, com o périplo africano, de onde tirou ouro, marfim, escravos e pimenta malagueta, para tentar alcançar as Índias pelo oriente, e das Ilhas do Atlântico. Os países que dominavam as rotas terrestres ficaram para trás na conquista de colônias. Porém, a idéia de ocupar e povoar não ocorreu de início a nenhum deles, mas apenas a de usar as colônias como feitorias. Para os espanhóis, por exemplo, a América foi um obstáculo, já que tentavam alcançar as Índias pelo ocidente e buscavam nela uma brecha de passagem, o que Magalhães conseguiu adiante, mas que se mostrou pouco viável. De fato, era impossível para a Europa considerar a idéia de ter uma sangria na sua população, que se recuperava das perdas demográficas por causa da peste. Mais na frente, viram que as feitorias não funcionariam aqui, pois era um território primitivo e sem mãode-obra eficaz nesse sentido, daí surge a idéia de iniciar um povoamento, mas apenas no sentido de abastecer e manter as feitorias e organizar a produção dos gêneros que interessavam ao seu comércio. Então, as atividades extrativas foram substituídas pela agricultura. Ninguém a princípio havia sequer cogitado outra forma econômica senão a extração (peixes e peles no norte e pau-brasil aqui). 2. ÁREAS COLONIZADAS Prado compara o tipo de colonização realizada nos trópicos e nas regiões temperadas. Em ambas, o europeu só viria como trabalhador a contragosto. Nas regiões tropicais eles viriam apenas como dirigente e encontraram índios para trabalhar para eles. Apesar da predisposição de não se instalar nas áreas tropicais, eles tinha o estímulo dos produtos tropicais como o açúcar, pimenta, tabaco, algodão, de que a Europa necessitava. Nas regiões temperadas o povoamento se deu em condições especiais. A fuga político-religiosa de europeus, que buscavam apenas reconstruir seu modo vida em uma terra nova, longe das condições de perseguição que enfrentavam na Europa, como por exemplo a indústria têxtil na Inglaterra e a perseguição a protestantes. Tinha portanto um caráter apartado do comércio. Viveram inicialmente da pesca e do comércio de peles e mesmo os que se instalam no sul querem mais tarde migrar para o norte por causa das condições climáticas semelhantes à Europa. De fato, isso auxiliou o desenvolvimento da plantation no sul, alimentada pela mão-de-obra escrava. fora o adensamento das populações. Alguns fatores que marcaram o povoamento foram: 1. boas matas. tabaco. que era um conjunto de rios com estuários longos e profundos e uma zona de terras férteis articuladas por rios e era o ponto mais rico da colônia. quebramar e recifes. e seu povoamento só ocorreu para que o europeu pudesse explorar comercialmente a terra em proveito próprio. Além disso. Soma-se a isso a inércia castelhana que se fixara nos altiplanos andinos e logo encontraram ouro e mão-de-obra fácil. desenvolveu a pecuária. o consumo de carne no Nordeste que fez surgir a pecuária.Vale salientar que o litoral brasileiro era muito pouco favorável ao estabalecimento do homem por formar uma linha regular e uniforme. POVOAMENTO O povoamento do Brasil foi marcado por uma forte irregularidade de distribuição. Os maiores povoamentos se fixaram no Recôncavo Baiano. sua posição excêntrica dificultou a agricultura. muito se assemelha ao da época. No Rio se instalaram alguns engenhos de açúcar e aguardente. Como foi dito. ouro e diamantes. sem endentações. A entrada no interior só acontece no segundo século. 5. O Ceará. as minas. solo fértil. A melhor faixa foi a que ia do Cabo Calcanhar até Maceió.3. que logo se recupera. quando surfe o interesse na agricultura. Fomos constituídos para fornecer açúcar. POVOAMENTO INTERIOR . Na Amazônia o acesso foi fácil dada a soberania duvidosa na época da união das coroas. Toda a organização ou desorganização da vida no Brasil se deu em função disso. as missões jesuítas. para atender esses precípuos. águas calmas. Tínhamos vários núcleos densos ligados a outros por uma rala população. 5. senão inexistente. com solo arenoso e serras. Já em São Paulo. atendendo interesses exógenos. Portugal povoava muitos pontos simultaneamente. 3. o povoamento se deu quase que exclusivamente no litoral. o bandeirismo. gerando uma crise e uma sangria de gente no Nordeste. o peso de manter o território custou o futuro isolamento entre as povoações. 4. Surge então a pecuária no Nordeste e a penetração pela bacia Amazônica. com abrigo escassos e depósitos arenosos que dificultam o acesso ao interior. os jesuítas se instalam do sul ao norte do continente. O SENTIDO Prado conclui que a economia brasileira surgiu voltada para fora. demarcado pelo tratado de Madri. que tinha vários rios navegáveis. Assim. 4. A descoberta do ouro desloca o eixo econômico do norte para a região centro-sul. 2. Tínhamos 60 por cento da população distribuída em 10 por cento de território litoral. O território atual. chamado de “Paraíso Terrestre do Brasil”. a mineração e a penetração da Amazônia. por ser espremido pela serra do Mar e Mantiqueira. alguns núcleos de povoamento surgiram como subsidiários da mineração ou que a substituíram com a decadência da região. Desenvolveu-se principalmente em PE. Houve forte presença jesuíta com missões catequizadoras. Com o esgotamento do ouro as populações tendiam a convergir para o RJ. conhecido como Campos Gerais. Aqui. A segunda é na primeira metade do século XVIII. Já a pecuária surgia em resposta ao surgimento de qualquer núcleo agrário ou minerador. Prado distingue a expansão pecuária de Pernambuco (externa) e da Bahia (interna). Minas e no extremo-sul. surgindo desertos entre os núcleos e pontos de partida (SP). Desenvolveu-se em povoamentos ribeirinhos e da extração de drogas do sertão. São Paulo. cuja única área de penetração era o delta. havia um litoral pouco povoado que se separava do interior. No sul. Ela se desenvolveu a principio descendo o Rio São Francisco. a pecuária não encontrou concorrência até o fim do século XVIII. e a região não era favorável nem a agricultura nem a pecuária. Em Minas. BA. No princípio o gado era fornecido da Bahia. Houve uma brusca e violenta adaptação do homem à vida na região. marcada pelo ouro e pelo deslocamento brusco de populações. e o ouro foi a única coisa que existiu aí até então. que dava no Atlântico. mas surgiam na caatinga os lambedouros. que estremeceu a estrutura demográfica do país. Também. No NE encontraram terras que não precisavam de desbravamento e a agricultura se mostrava impossível dada a falta d’água.Deu-se por três fatores: a fazendas de gado. Mato Grosso foi importante pela sua posição estratégica fronteiriça. dificultando o acesso aos espanhóis. constituiu uma zona de passagem e não formou vida própria. na região de Minas Novas. onde se instalaram fortificações. que se destacou pela ocupação do litoral. sendo sempre contígua às áreas que abastecia e tinha um contato íntimo com o seu centro irradiador. Era um fim de mundo. Nesta última predominou a comunicação fluvial. somando-se a agricultura e nas Vacarias mais no sul. constituindo os maiores latifúndios do Brasil. 6. que abastecia o Rio de Janeiro e os centros agrícolas do sul. as fazendas de gado e a fundação de Sacramento. sofrendo sangrias demográficas com a descoberta do ouro. A primeira vai da colonização até o fim do século XVII. que forneceu a SP. também com o charque. que favoreceu o surgimento dela no sul. No sul de Minas apareceu a pecuária. que agora fornecia aos grandes centros. A pecuária abarcou grandes porções de terra. A mineração não apresentava contigüidade na expansão. Goiás sofria constantemente com os ataques de índios. CORRENTES DE POVOAMENTO Prado aponta três fases de povoamento. a infiltração no Amazonas. excêntrico. Elas se confluem na altura do Ceará. e no nordeste o algodão. a pecuária no NE sofria com a seca. Mas desenvolveu-se em Curitiba. Finaliza com a decadência do ouro e da substituição da mineração pela agricultura na região das . Ele tinha contato mais próximo com o branco. O branco foram as únicas matrizes que possuíam uma heterogeneidade histórica. antes de português. A terceira fase é na segunda metade do século XVIII. as restrições voltariam. que tinham poucos incentivos. AS RAÇAS Prado associa a mistura de raças. Víamos portanto um almejamento das classes mais ricas. e sofria de forte preconceito social o mestiço dessa raça. Na primeira. e no Pará. o que aconteceu bastante. o que causou disputas territoriais graves. Recuperam-se PE e BA e no Maranhão surgiu o algodão. Assim. 7. Durante a união das coroas. principalmente vindos de Açores. o critério principal de seleção de colonos era a religião – dever-se-ia ser cristão. Ele sempre imigrava sozinho. tanto por colonos estrangeiros e do interior. que emigrava sem motivo. uma gota de sangue negro o faz ser negro. e a mistura era desestimulada. instalando-se no sul. em SC e RS. e coincide com a descoberta do ouro em Minas. Prado divide em duas fases a emigração do reino. Porém. apenas para tentar outras oportunidades e melhorar de vida.Minas. queria cargos na administração ou se tornava profissional liberal. Nesse momento a Coroa estava preocupada com o comércio oriental. Eles vieram em grandes correntes. marcada pela extrema mobilidade da população. O eixo econômico muda do interior para o litoral e da mineração para a agricultura. portanto havia bem menos mulheres negras. o que forçou o governo português a limitar a emigração. à capacidade dos portugueses em se cruzar com outras raças. antes da abertura dos portos é quase nula a participação de não portugueses na formação do nosso povo. ou simplesmente entrava para o comércio. Houve um deslocamento para o litoral buscando a agricultura. que eram uma população rural que vivia da agricultura. e assim veio uma grande leva de Portugal que diluiu qualquer outra que já existisse aqui. e foi mais numerosa no sertão. que vieram em grande quantidade. O branco português quando vinha para cá. Isso concentrou um grande número de brancos nas cidades. Nessas áreas concentravam-se os brancos açorianos. . A variante cafuza é escassa. ela foi escassa. Com a descoberta de ouro. caso não pudesse ser proprietário. Em Minas surge o fumo no sul e o algodão em Minas Novas e um movimento demográfico centrífugo para a periferia. A integração do negro em nossa sociedade apresentou características próprias. Uma gota de sangue branco faz um brasileiro ser branco. O negro desceu ao sul com as charqueadas. na proporção em que se deu aqui. e a princípio eram quase todos portugueses. Destacamos o papel dos judeus. vindo apenas os desgregados. Ocorre o despovoamento de Goiás e Mato Grosso. recebemos alguns espanhóis principalmente no sul. Desenvolve-se a pecuária e a agricultura na região e os que ali moravam terminaram por naturalmente penetrar em São Paulo. já para o americano. Portugal se encontrava em crise. Portugal realizou a imigração por casais. Na segunda fase de emigração do reino. Ele menciona ainda o setor extrativo. queria estender a todos a soberania da Coroa. com o choque de interesses entre o plano da Coroa e o que ocorria. Esse sistema predominou nos trópicos pelas condições climáticas e da discriminação dos gêneros agrários. Declarou-se guerra ao Botocudo Aimoré em 1808. que é quando o crescimento da população cria um mercado interno quantitativo mas ainda não qualitativo e incapaz de fazer o país gravitar em torno dos próprios interesses e atender esse mercado endógeno. Ele aceitou a liberdade do índio. e não deixar o poder na mão dos padres. e que a atuação de trabalhadores livres como faiscadores já era um sinal de declínio dessa atividade na região. que era quase inexistente desde a conquista de Roma. O quadro geral da população brasileira era o seguinte: A predominância de mestiços era do cruzamento de brancos e negros. Essas leis não serviriam para os selvagens. . menos de índios. Com a abertura dos portos a afluência de brancos aumenta. era como expulsá-los. Maranhão. também nas regiões cuja economia é extrativa e nas mais pobres. O problema para os colonizadores do norte. viraram autômatos visceralmente dependentes dos administradores das missões e daquele novo modo de vida. As missões jesuíticas apresentavam um agravante. Apenas mais tarde o branco desceria às camadas mais pobres. a agricultura tropical visa apenas a produção de gêneros de valor comercial. Elas não atuam apenas como um instrumento da colonização. sob a tutela de um empresário e não de um proprietário fundiário e não estava ligada à terra. trabalhador e povoador. predomina o índio. coabita e se amalgama com o branco. Ele aponta que para fazer essas três primeiras atividades funcionarem. bem como nas regiões onde havia missões. estimulou casamentos. Assim. Ele aponta também a escravidão como o regime dominante na mineração. por isso exige o trabalho escravo. colocou-os sob a tutela de administradores. Aqui ele foi um elemento participante. através do Diretório. No período pós-Pombal. No NE. os índios se equiparam aos outros súditos e os desocupadas eram usados em obras e obrigados ao trabalho remunerado. Tocantins. mas aos rios. Enquanto isso. Prevemos que o sucesso dos jesuítas teria sido a criação de uma nação totalmente diferente do que temos hoje. Sempre havia novos influxos. Aqui o trabalho escravo só se adapta por não ser necessária a especialização de trabalho na grande lavoura. Pombal foi quem introduziu as medidas que permitiriam essa introdução sistemática. Enfim. Inicialmente baseando-se na grande propriedade. diferentemente do negro.O índio. um Estado dentro do Estado. ECONOMIA Prado esboça a economia do Brasil no final do século XVIII. intensificaram-se os ataques no Pará. o que explica o ressurgimento da escravidão. a sua incorporação passou por ocasionais dubiedades. 8. passadas as guerras. Na América espanhola eles foram apenas parceiros nas guerras entre franceses e ingleses – não se queria incorporá-los na civilização. mas por vezes se opõe ao objetivo da Coroa. Contudo. principalmente no Rio. Isso favoreceu o incremento do tráfico africano. Os jesuítas tiveram uma economia rural menos elementar e rudimentar. com baixíssima produtividade. caiu a oferta de mercado do açúcar. que era produzido nas engenhocas. 9. com exceção do algodão. Com a Revolução Industrial o algodão ganhou extrema importância na indústria têxtil inglesa. Graças à fertilidade do massapé foi possível manter a produção de açúcar. com o renascimento comercial e o incremento das relações comerciais no mundo e com a neutralidade de Portugal nas guerras da Europa. exportava-se para a África. Também foi cultivado em SP. até o esgotamento dos recursos ou o fim da conjuntura. Além do mais. que se tornou grande produtor no planalto. São exemplos a pecuária e a agricultura de subsistência. que podia ser cultivado por lavradores modestos. não caracterizaram a economia. GRANDE LAVOURA Prado explica como até hoje não existem processos de cultura extensiva nas regiões tropicais. que quem não se poderia esperar muito. Isso valorizou os produtos das colônias e aumentou sua importância. surgia uma nova procura de um meio de gerar lucro para o Estado ou para si próprio.desenvolveram-se as atividades subsidiárias. o governo intervinha. que facilitava o rápido desenvolvimento. usavam a força do homem ou do animal. O Brasil inteiro foi atingido pelo boom do algodão. As condições tecnológicas em que se desenvolvia a agricultura eram extremamente precárias. Além disso. especialmente do Maranhão. deixando tudo o que faziam até então para trás. O engenho de açúcar era um mundo em miniatura. a colonização não teria entrado ao interior. Foi praticamente uma “agricultura extrativa”. Só com a agricultura. sendo precariamente desenvolvidos. Prado explica como todos os atos da administração favorecias as atividades que enriqueciam seu comércio – a qualquer sinal de outra coisa ou intenção. com um aperfeiçoamento técnico quase nulo e utilizando processos bárbaros e destrutivos. semeando desertos. mas não hidráulica. Soma-se isso à decadência do sertão nordestino que com a seca perdeu mercado para o RS. derivado do próprio sistema que apartava a colônia do mundo e era baseado no trabalho escravo. Estas por sua vez. visto que a grande lavoura só se fixou no litoral. As regiões da BA e PE renascem depois do ciclo do ouro. Sempre que havia uma conjuntura internacional favorável. No RJ. Reinava um desconhecimento das novas técnicas utilizadas pelo mundo. Um sério agravante foi a separação da agricultura da pecuária. causando o abandono de engenhos. deslocou-se o eixo econômico novamente para o litoral. para então partir a outra busca. O contexto era o seguinte: Com o colapso de São Domingos em 1792. O consumo indiscriminado de lenha levou a devastação das florestas. Aproveitavam-se oportunidades momentâneas. Exportava-se a aguardente. foi produzido nos Campos dos Goitacases. Foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão- . privando o solo do adubo. Ele fala das evoluções cíclicas que sofreu a nossa economia. Rio. Ficava nas proximidades dos grandes centros que atendia. O milho no norte combinou-se com o algodão. O interior tinha condições naturais de cultivo e mão de obra abundante. normalmente pelo regime de agregados. onde houve fome generalizada e secas no sertão. plantava-se entre os algodoeiros e canaviais. Na PB. no ES. A mandioca foi consumida no norte. O milho no norte só se usava na casa grande. e normalmente escolhiam as marinhas. na região de Minas Novas e na Bahia. A mão-de-obra era o próprio lavrador. No sul.Pará e Maranhão. Com a proibição do trafico de escravos acima da linha do Equador. que fornecia para o Rio. Nasceram em alguns lugares plantações especializadas nessa produção. AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA A grande lavoura era a única atividade capaz de gerar alguma aglomeração urbana. e seu consumo desce mais no litoral do que no interior. A América era o maior produtor moderno e maior concorrente nosso. quase sempre vegetativo. O tabaco foi cultivado no litoral paulista. Nossa posição no mercado internacional caiu com a concorrência dos americanos. O arroz foi produzido no PA. ficou prejudicado. que era estimulada pela Inglaterra. o algodão superou a cana. Foi uma atividade de baixo nível econômico. Da Bahia ao Rio. e cuja comida vinha do Rio. O tabaco só perdeu o segundo lugar para o algodão no fim do século XVIII. no Recôncavo Baiano e no sul de Minas. por isso foi cultivado no sertão de Minas. ficaram na costa. São Paulo e Goiás com a produção de milho para bestas. o tráfico baiano. a Bahia se tornaria o maior produtor dele. 11. O centro mais importante foi Cachoeira na Bahia. Seu principal centro foi o RJ. surgindo no Pará e depois no MA. dependente de Guiné. tendo que importar seus gêneros alimentícios de outras cidades. O anil era discriminado por ser de qualidade muito inferior do que o estrangeiro. quando possível. Encontrou certo vulto nas estradas entre Minas. 10. MINERAÇÃO . a produção Maranhense foi superada por PE e BA. por exemplo. O Rio não sofreu dessa fome por ser abastecido por Minas. cuja produção não conseguíamos acompanhar. que foi o maior produtor do centro-sul. As regiões urbanas são sérias dependentes da agricultura de subsistência. Em seguida. Foi combinado com a cana de açúcar. Foi o caso de PE e BA. Concorria diretamente com a Índia. O trigo foi produzido em pequena quantidade em Minas e na Bahia. o milho assumiu o papel da mandioca. O cacau também foi um produto importante. em situação precária. RJ e MA. Depois. Foi forte em Minas. A lavoura de tabaco precisava de grandes cuidados e podia ser cultivada por trabalhadores modestos. Neste último foi destinado também à exportação. Do PR até SC foi destinado à exportação. mas era impossível que se ignorassem as pedras. que alugava escravos. A partir do século XIX o território foi franqueado para a exploração do ouro. O leite aqui não era aproveitado comercialmente. A pecuária no Nordeste foi marcada pela grande propriedade com o proprietário absentista. A exploração do diamante foi feita no Distrito Diamantino (Arraial do Tejuco) por conta da Coroa. a região das Minas e no sul do Brasil. a de relação extração. pela incapacidade de organização. As conseqüências para a região foi uma área arrasada. precisava-se de um maior aparato para as escavações. a de concessão e 3. 2. Nesse ponto. a de livre exploração. salvo nas regiões produtoras. especialmente no . com as terras sendo preparadas pelo sistema de queimadas. Os ingleses viriam em 1824 recolher os espólios. com a exploração livre e o pagamento do quinto. uma diáspora populacional. Surgiu a figura do garimpeiro. A exploração de diamantes foi caracterizada por três fases: 1.Na época da mineração. Forneceu para Minas Gerais e da Paraíba até a Bahia no litoral. bem como da forma de remuneração e da precariedade do sistema. As péssimas condições de transporte e de alimentação do gado faziam com que apenas 50 por cento da carne fosse perdida no transporte. de onde os bois tiravam o sal. O vaqueiro recebia ¼ das crias como remuneração e eram auxiliados pelos fábricas. a saber. Foi no Nordeste. concentrando suas atividades nas áreas fiscais. a tecnologia de exploração aurífera foi marcada pela rotina e pela ignorância. 12. pelos lambedouros. As causas do declínio da era do ouro a partir de meados do século XVIII foram naturalmente o esgotamento das jazidas. Houve o regimento dos Superintendentes e GuardasMores. Explorava-se a superfície. Foram criadas as Casas de Fundição e a Intendência de Minas. as riquezas tinham se perdido nos gastos da administração. Nos outros lugares era proibido. O sistema criatório no Nordeste foi marcado pela facilidade de se levantar uma fazenda. A legislação a principio foi levada por um rigoroso controle. e o fato de que quando o ouro de aluvião se esgotava. O Nordeste apresentou condições naturais desfavoráveis à pecuária. marcados pela vegetação de caatinga. O monopólio foi abolido em 1882. Concentraram-se nas margens do São Francisco por causa da salinidade do rio. o sertão nordestino. PECUÁRIA A pecuária no Brasil colonial se desenvolveu principalmente em três regiões. O seu papel principal foi o de auxiliar na conquista total do território ocupando áreas subsidiárias às grandes aglomerações. e a volta à agricultura e à pecuária na região. e foi relegada a setores impróprios para a agricultura. Com a grande seca perdeu o mercado do litoral bem como o de Minas para o Rio Grande do Sul. Suas principais características gerais é que ela nunca conseguiu suprir satisfatoriamente a demanda interna. marcados pelo hibridismo de funções. bem como ao Maranhão. Este falhou para regular as divisões de propriedade e dar auxílio técnico na exploração. O gado era criado solto e passava-se a maior parte do tempo vigiando-o. havia os capatazes. O gado alimentavase de farelo de milho. EXTRATIVISMO . com exceção da região dos Campos Gerais. 13. com um sistema parecido com o do Nordeste. Nessa região houve a doação de sesmarias enormes. o leite era aproveitado comercialmente. os rebanhos nesta região aumentaram rapidamente. abastecendo São Paulo. Isso também ajuda a condicionar o gado. Nas Minas a criação de gado surge com a descoberta do ouro como atividade subsidiária. que causou nessa região uma maior aproximação das classes. O sistema criatório foi caracterizado pelo gado solto. Aqui. Rio de Janeiro e mais na frente perdendo o mercado do Rio para a região das Minas e ganhando o Paraná. pois o seu sistema criatório era precário. O gado sulino foi considerado de qualidade 50 por cento inferior ao gado platino. a abundancia de água e da densa mata. com um terreno leve coberto com ervas e com água em abundância. assim ele não ingeria o barro dos lambedouros. O sal era distribuído regularmente. Aqui. impulsionando a produção na região. O seu sistema criatório foi marcado pela não existência de fazendeiros absentistas e pelo trabalho escravo. peões.Ceará que surgiu a técnica da carne-seca. dando origem ao famoso queijo de Minas. principalmente na região do Rio dos Mortos. O charque aqui coincidiu com a seca no Nordeste. A outra região foi a dos Campos Gerais. O gado de Minas foi o que apresentou melhor qualidade. Em ambas. obtido diretamente pelo ar. apesar de usarem cavalos como animais de carga. No Nordeste o cavalo exercia o papel de besta de carga e de montaria. fornecendo às zonas de mineração e tomando mercado dos fornecedores do sul e do Campo dos Goitacases: o Rio de Janeiro. A mão-de-obra era volante. O gado aqui era domado graças aos currais com cercas de pau. Essa cultura teve origem com as missões jesuíticas. estendendo-se por imensos latifúndios. devendo ser caçado. as condições naturais eram extremamente favoráveis. favorecendo sua domação. que daí passou para o domínio do Piauí e por último do Rio Grande do Sul. Na região Sul do Brasil. que pareceu de qualidade um pouco melhor. onde o gado era mais organizado. o leite aproveitou-se para fazer manteiga e criaram-se muares e cavalos. sendo a carne desprezada. cujo principal negócio foi o couro. Com o fim das guerras platinas. Também forneceu a São Paulo. vimos o surgimento de duas áreas com características distintas no tocante à pecuária. Era favorecido por excelentes condições naturais como as terras férteis. A criação no sul foi favorecida principalmente pelas condições naturais. O sal vinha do mar. a boa pluviosidade. A primeira foi a região do extremo-sul. com pouca necessidade de vigilância do gado. sendo grande fornecedor de bestas de cargas para a região das Minas. mas não escravos. O Maranhão era o nó das vias interiores nordestinas. vimos uma linha que vai do Piauí ao Sudeste. Usava-se o índio por este estar mais adaptado. que pretendia recompor a frota Portuguesa depois da União Ibérica. principalmente no Paraná. mas depois da introdução da navegação a vapor. Estes foram obrigados pela Coroa a servir aos colonos. Na região do Amazonas foi forte a luta para superar as condições naturais impostas pelos igapós. As comunicações entre litoral e litoral deram-se preferencialmente por via interior. A exploração de madeira se deu principalmente na costa ligada à construção naval com um estaleiro real na Bahia. que eram áreas imensas alagadas. dividem-se as comunicações na época colonial em quatro categorias: interior-interior. litoral-litoral. Os principais gêneros foram o cravo. além da pesca. na pesca. Nas comunicações entre regiões do interior com as outras. Aqui havia somente duas atividades: penetrar a floresta à procura de gêneros ou acompanhar as embarcações que os transportavam. 14. passando por Goiás. Uma característica determinante dessas atividades era que a economia era ligada aos rios e não à terra. mas foi mais consumida e apreciada nas regiões platinas como Montevidéu e Buenos Aires. O Rio São Francisco transportou sal para Minas e Goiás. a canela. e instalaram-se alguns pesqueiros reais e também outros móveis. Outra característica marcante foi a considerável dispersão dos gêneros pelas áreas. A pesca era sedentária. que decaiu com a concorrência dos ingleses e americanos nas ilhas Falkland. outra que vai do Piauí ao sul. .As atividades extrativistas concentraram-se na Região Norte do País. tanto na caça. desde São Romão. que se mostrou menos eficiente do que prometeu. Elas constituíram mais uma aventura do que a constituição de uma sociedade estável. Nas comunicações entre o litoral e o interior vimos formarem-se sistemas autônomos. VIAS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE Para fins didáticos. dificultando a produção colonial e deixando sub aproveitadas nossas reservas salinas. desbancou-se a preferência por vias interiores. cujo monopólio era da Coroa. na navegação fluvial por canoas. além de servirem em obras públicas. Além das supracitadas houve também a exploração de sal. No Pará chegou-se a produzir os mesmo gêneros que nas regiões exportadoras mas sempre em proporções insignificantes. Houve a pesca da baleia em todo o litoral. litoral-interior e Minas-Brasil. a salsaparrilha e o cacau. com cada via independente das outras. A erva-mate foi encontrada no sul. que acabavam por confluir no interior. Serviram-se também da rede hidrográfica do Amazonas. No interior o comércio de gado foi o único que teve importância. Outros ligavam-se ao comércio. solicitadores. É de lá que vinham as bestas até Sorocaba e daí distribuíam-se para toda a colônia. azeite. sendo uma espécie de refugio da cultura. O homem livre quando não podia ser proprietário. de advogados. manufaturas e escravos. Estes últimos eram responsáveis por ¼ do volume total de importações. no melhor dos casos. Cabe lembrar o papel da igreja em proporcionar estudos de muitos. Ela foi aberta pela colônia de povoamento que saiu de São Paulo e povoou o Rio Grande do Sul. motivados pela proximidade das áreas produtoras e consumidoras. sobravam-lhes poucas profissões rurais. Assim. A estrada São Paulo – Rio Grande do Sul teve um papel histórico de articular aquela região ao resto da colônia. Em sua estrutura. o patronato e a escravidão. cirurgiões. Eles traziam seus produtos e levavam matéria-prima daqui. pois havia um preconceito contra comerciantes herdado da era feudal. sal.Na região das Minas houve a ligação com São Paulo através dos escalões da Serra do Mar e Mantiqueira. que gozava de certa liberdade. Importávamos vinho. Usava-se o comércio de cabotagem. Um traço marcante na constituição da força de trabalho do Brasil colônia foi o fato de o trabalho braçal ser considerado humilhante. . Usavam para isso testas-de-ferro e enfrentavam a concorrência dos reinóis. O contrabando por parte dos ingleses também foi uma atividade realizada escancaradamente. principalmente com o Sul de Minas quando este tornou-se agrícola. Esse fato era agravado pela instabilidade da economia que não permitia empregos de base segura. o comércio por via terrestre era desprezível. 16. Vimos que os maiores portos eram os que se situavam nas maiores cidades da colônia. com a Bahia aberta pelos emboabas e com o Rio de Janeiro. Isso explica-se pelo caráter exportador da nossa economia. Surgiram as feiras de gado. No extremo-sul. Todos aqueles que tinham uma certa sede de conhecimento viam na igreja uma forma de alcançá-los. abraçando profissões. ORGANIZAÇÃO SOCIAL Há três elementos da organização social da colônia que devem ser analisados à parte: as profissões livres. sendo a mais importante delas a de Sorocaba. e o fornecimento de carne-seca ao litoral. 15. sendo 2/3 das exportações de Portugal feitos com produtos do Brasil. metais. sendo discriminados. O homem livre era portanto empurrado à margem da sociedade pela escravidão e pelo sistema. COMÉRCIO O nosso comércio foi marcado principalmente pelo fato de Portugal ser intermediário entre a colônia e os mercados de consumo. as bestas da região platina faziam concorrência às do Rio Grande do Sul. preferia não ser nada a ter que pegar na enxada. Esse paternalismo ajudou a suavizar os efeitos do sistema ao mesmo tempo em que o torna mais consentido. pois seu cabedal cultural não encontrou espaço social para se mostrar. forros. Distinguiam-se entre os matriculados e os comissários. Era nessas massas que se recrutava a força armada para a luta de partidos. 17. como a arrogância. que era uma unidade econômica. Os homens livres que não conseguiam encontrar uma ocupação formavam uma massa de excluídos. No Sul eram raros os escravos e havia menos absentismo do que no Nordeste. com maior aproximação entre o senhor e o peão. ADMINISTRAÇÃO Dividiremos a administração colonial em cinco esferas: a das Câmaras Municipais. Teve aqui uma contribuição cultural passiva. da Geral e da Militar. não sendo apenas uma massa de trabalho bruto. O vaqueiro tinha uma maior liberdade aqui e era comum um certo brio nas suas relações com os senhores. Eram compostos sobretudo de pretos e mulatos. Não trouxe portanto nenhum elemento construtivo. da Administração Tributária. . fazendo surgir o clã patriarcal. grande parte na região das minas. mantendo o país num estado pré-anárquico latente. As conseqüências foram o baixo teor moral da constituição social e a baixa produtividade dos escravos e da economia. de vadios. mas apresentam algumas semelhanças. da Igreja.Tornaram-se assim uma classe credora. o afilhado. Ele tomou as características de qualquer aristocracia. os agregados. Outro subproduto da escravidão foi a submissão das escravas aos prazeres sexuais dos colonos. mostra-se como um corpo estranho que se insinua num sistema onde não cabia. que apenas os auxiliavam. social. pois passaram a financiar as lavouras. índios e brancos pobres. O patronato colonial possui características que variam de acordo com a região em que surgiram. administrativa e religiosa que brota do próprio regime econômico. Devido ao paternalismo dos engenhos o escravo foi mais bem tratado aqui do que nas colônias inglesas e francesas. na qual o escravo era uma situação fatal. Eles formaram também as massas de agregados das fazendas. insubstituível. A escravidão aqui não se liga ao passado ou tradição. e alguns desses ficaram sob a proteção de senhores e serviço deles. derivado de uma série de acontecimentos ultramarinos pertencentes a essa ordem. o que ajudou a conter a situação de caos iminente. Surge o padrinho. No Sul de Minas os proprietários são mais rudes e participam do trabalho. com as fazendas dispersas e com uma pequena proporção de escravos com relação aos peões. A escravidão foi no Brasil idiossincrática em alguns aspectos. não sendo portanto absentistas. que deles dependia visceralmente. pondo de lado todas as normas e princípios de sua cultura. sendo os povos escravos de nível igual ou superior à raça dos senhores. que para eles não humilha. os bandos do sertão. Foi portanto um recurso da oportunidade para explorar um mundo novo. contrastando com a escravidão antiga. o orgulho e a tradição. No sertão do Nordeste o proprietário era absentista. o que gerou abusos com a avaliação arbitrária dos dizimeiros de produtos que estavam para vender. Algumas até se impuseram aos governadores. Os contratos duravam três anos e gerou acúmulos de dividas dos dizimeiros. o que constitui mais um sinal de que Portugal não tinha para o Brasil um projeto de crescimento próprio. Eram formadas com convocações periódicas. As ordenanças auxiliaram bastante a administração com o problema dos índios. mas arrolamento. A Igreja era a única porta para quem queria adquirir cultura. divididas em terços e regimentos. Assumiram o papel de cabeça do povo. pelo hibridismo de funções. exceto as donatárias. no divorcio. com ingerência nos mínimos negócios). a administração geral foi dividida em órgãos diversos. tornando a colônia governável. muitas vezes superfaturado. As milícias eram tropas auxiliares. a Mesa de Consciência e Ordem. tirando os tributos antes de o produtor vender o produto. mas ela tinha jurisdição privativa como nos casamentos. e a arrecadação era feita por contrato. As ordenanças tiveram um papel importante na administração da colônia. Tinha também renda própria com a desobriga. chegando até a destituí-los. a igreja não era admitida. pela indefinição entre o direito público e privado. Por último.A administração colonial foi marcada pela indisciplina reinante em todos os setores. A organização militar foi feita em três categorias: as tropas de linha. e que se adaptava a novas contingências improvisadamente. Os negócios da igreja sempre estiveram nas mãos do rei. na vida domestica e na educação. Foi marcada principalmente pelo hibridismo de funções. com medidas desordenadas e inarmônicas. Elas auxiliavam o governador através de ordens de serviços. ela simplesmente era. como o Conselho Ultramarino (que tinha como objeto a administração da colônia. que as criava para atender apenas necessidades imediatas sem integrá-la harmonicamente no sistema jurídico. não havia recrutamento. as Juntas de Arrecadação e os Tribunais de Relações (de instância superior) e as Intendências do Ouro e dos Diamantes. Vimos o recrutamento como o maior espantalho da população. Enfim. O juiz tinha também atribuições administrativas. enquanto o governador era uma . pela inobservância da lei e pela ausência de métodos na confecção destas. Portugal apenas estendeu ao Brasil o seu sistema. as milícias e as ordenanças. pois colocou senhores no comando das ordenanças. sem criar aqui nada de novo. Isso foi uma das causas para a dispersão da população na área rural. fortalecendo os poderes regionais e fazendo valer por todo o território as ordens do governo. Ela era responsável também pelas diversões públicas e eram zeladores dos bons costumes com uma onipresença sobre um conjunto de crenças e costumes. Um elemento importante na política colonial foram as Câmaras Municipais. tinham patrimônio e finanças próprios e foi o único órgão que sobreviveu à independência. Ela teve um papel importante na assistência social. causando a carestia de gêneros de primeira necessidade com a fuga de lavradores na época do recrutamento. A administração tributária foi feita através da Junta da Fazenda. cuja competência e jurisdição variava de acordo com a região. tudo isso fruto do próprio sistema. toda política girava em torno do rei e da corte. que caracterizava a nossa sociedade como ausente de nexo moral. As áreas que dependiam da servidão se agruparam em torno do clã patriarcal. Esse malestar era incendiado por influência americana e francesa. freguesias e bairros. Ela manipulou os acontecimentos da nossa história. vimos que não se pensava na independência. pela cisão entre comerciantes e proprietários. deixando desgovernado os interiores e o resto do país. 18. que se construiu graças ao modo de vida comum. Ele devia prestar contas pormenorizadamente da vida na colônia. em que os indivíduos mal se unem. pelo preconceito. O sistema não tinha portanto capacidade de se sustentar como estava. Apenas nos agregamos graças à unidade cultural do nosso povo. A maçonaria desempenhou o papel de articular a colônia à política geral da Europa. Quanto à vida política do país. A proporção da população que se situava à margem da atividade produtiva normal crescia assustadoramente. Prado Júnior explica que toda sociedade organizada se funda na regulamentação de dois instintos básicos: o econômico e o sexual. mas várias novas categorias que não tinham lugar nesse novo sistema. e no setor de subsistência vimos a incoerência e a desagregação social com a vadiagem. Em algumas capitanias a qualidade de militar do governador era bastante absorvida.figura polivalente. fato agravado pela esterilização progressiva das terras. Ela trouxe para cá uma situação em que tudo o que se começou a escrever no Brasil trazia o cunho francês. o que demonstrava uma certa desconfiança por parte da metrópole. apenas com raras correições e visitações. Contudo. termos. além da independência das outras colônias da América. Assim. e nunca com a organização de nossa sociedade. não havia mais somente senhores e escravos. foi o único elemento de organização real e sólido na colônia. Faltou portanto um força de aglutinação que mantinha os homens coesos. mas em reformas na nossa sociedade. sendo a colônia um negócio do rei. Vimos portanto atuarem como os principais flagelos da população o recrutamento e a cobrança do dízimo. prostituição e caboclagem. O enfraquecimento do reino levou-nos à iminência da anarquia. As capitanias eram divididas em comarcas. buscando uma idéia para justificar seus interesses. Os impulsos sexuais dos homens que formaram a nossa sociedade determinaram uma série de . VIDA SOCIAL E POLÍTICA Um elemento de destaque na vida social e política foi a servidão. que gerava membros cada qual com suas razões. querendo mais abalar a monarquia do que favorecer o Brasil. apenas coexistem. e a grande distância da metrópole aumentava ainda mais seu poder. Houve sobre nós uma preocupação sempre fiscal. O efeito mais nefasto da administração geral foi concentrar as autoridades todas nas capitais e sedes. havia na colônia um mal-estar generalizado causado pela ação do fisco. no qual as energias do indivíduo não eram estimuladas. As moças pobres caiam na prostituição por não terem perspectiva de um bom casamento. vivíamos num sistema acunhado de oportunidades. pelo custo e pela distância das paróquias. Assim. Quanto à organização do trabalho. a moleza e a atividade retardada dominar as atitudes do homem daqui. ocorrendo principalmente em famílias ricas. O casamento aqui foi excepcional. vindo os homens sozinhos. onde faltava a força para obrigar alguém a trabalhar faltava a disposição para o trabalho. envolvendo-se despudoradamente com as escravas e serventes. Somente entre os reinóis vimos alguma atividade. os filhos dos senhores encontraram um ambiente para desregramento. O trabalho braçal denegria o homem livre e nenhum deles se rebaixava ao nível da servidão. . sem suas mulheres e família. A libertinagem dominava. graças à forma como se deu a imigração para cá. Na CasaGrande. A formação brasileira não se formou num ambiente de família. Além do mais. limitado pelo preconceito. que vinham para cá com mais disposição para encarar o trabalho. vimos o ócio.aspectos da nossa constituição sóciopolítica.
Report "Caio Prado Jr - Formação do Brasil Contemporâneo (resumo)"