BURKE, Peter. A fabricação do Rei

March 23, 2018 | Author: garcez.joaop | Category: Palace Of Versailles, Portrait Painting, Renaissance, Poetry, Paintings


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2. O jovem Luís. Jean Warin apresenta sua medalha ao infante Luís, pintura anônima, c.1648.Musée de la Monnaie, Paris II Persua sã o C ’est un grand art que de savoir bien louer.* Bouhours ste capítulo propõe uma breve descrição, ou melhor, talvez, uma colagem das imagens de Luís XIV, realçando temas, motivos e lugares-comuns recorren­ tes. No entanto —como os teóricos da comunicação frequentemente assinalam - é impossível separar a mensagem do meio em que é apresentada. Os críticos literários fazem uma observação semelhante a respeito da impossibilidade de separar o conteúdo da forma e sobre a necessidade de conhecer os gêneros e suas convenções. Por isto, este retrato compósito do rei é precedido por uma discussão sobre meios e gêneros. E M e io s Desde que o crítico alemão Lessing publicou seu famoso ensaio sobre Laocoonte (1766), os críticos tenderam a salientar as características específicas de cada meio de expressão artística. Na época de Luís XIV, no entanto, como no Renascimento, dava-se maior ênfase aos paralelos entre as artes, desde a poesia até a pintura.1 Cenas da vida do rei eram apresentadas de modos similares em diferentes meios. Retratos e estátuas equestres se ecoavam mutuamente, medalhas eram reproduzi­ das em baixos-relevos e escreviam-se panegíricos do rei na forma de descrição de pinturas, em especial o Portrait du roi (1663) de Félibien, que pretende descrever uma pintura de Lebrun.2 Nessa confusão de meios, é difícil concluir se as imagens visuais ilustravam os textos ou o contrário. O que importa é que certamente eles se influenciavam e reforçavam mutuamente. A figura da Vitória, por exemplo, aparece não só em medalhas, estátuas e pinturas, mas em peças teatrais, como no Toison d ’or * É uma grande arte saber bem elogiar. (N.T.) 27 tão imensa que 20 homens podiam se sentar e almoçar dentro do cavalo . como o da estátua de Luís de pé na Place des Victoires ou o da estatua equestre para a Place Louis-le-Grand. Por outro lado. conhecida como “a história do rei” [Vhistoire du roi]. Se os relevos esculpidos em tomo da estátua de Luís na Place des Victoires imitavam algumas medalhas do reinado. com frontispícios gravados que represen­ tavam um evento diferente a cada ano.3 O mesmo pode ser dito do número de gravuras do rei. As medalhas. era notável para os padrões da época. madeira. pedra. como a chamariam os retoricos. Os chamados almanaques reais . bronze. águas-fortes. em pastel. Medalhas e monumentos eram reproduzidos em gravuras. calcografias. sendo baratos. terracota e até cera). Os meios orais incluíam sermões e discursos (dirigidos aos Estados provinciais. em prosa e verso. O simples número de estátuas e retratos pintados do rei. Abundavam as representações de representações do rei e de seus feitos.(i66o). eram também qualificados. Histórias .4 A imagem real era construída também com palavras. As medalhas cunhadas para comemorar os grandes acon­ tecimentos do reinado (são mais de 300. durante a instalação do monumento. faladas e escritas. eram reproduzidos em milhares de cópias e puderam assim contribuir consideravelmente para a difusão tanto de aspectos de Luís como de informações a seu respeito. mais raramente. outro número inusitadamente elevado) eram gravadas e as gravuras eram publicadas na forma da “história metálica” do rei. cunhou-se por outro lado uma medalha para comemorar a inauguração da estátua. em francês e latim. Imagens do rei eram por vezes agrupadas para compor uma narrativa. Havia imagens visuais de Luís em pintura. ou feitos por embaixadores no exterior). gravuras em aço e até gravuras a mezzotinto). deviam ser cunhadas em centenas de cópias.o que de fato fizeram. Igualmente notável era a escala colossal de alguns dos projetos. dos quais mais de 300 se conservam. por vezes. como “a história do rei” . Uma famosa série de pinturas de Lebrun. As reproduções ampliavam a visibilidade do rei. sendo relativamente caras. Vão desde a infância (Figura 2) até a digna velhice do retrato assinado por Hyacinthe Rigaud (ver Figura 1). os “impressos” (xilogravuras. Os arcos do triunfo provisórios erigidos para as entradas reais c os arcos de pedra construídos em Paris e outros lugares eram espelhos uns dos outros. Essa narrutio. A importância dos meios passíveis de reprodução mecânica merece destaque. O número de representações de Luís em forma seriada é inusitado no período. das quais quase 700 ainda podem ser encontradas na Bibliotheque Nationale. dc Corneille. tapeçaria (ou. foi reduzida na forma de tapeçarias e também de gravuras. esmalte. por exemplo. Poemas em louvor ao rei eram continuamente produzidos. representava eventos importantes do reinado até a década de 1670. por sua vez. Saint-Germain. poderiam também ser vistos como eventos multimídia. Havia também eventos multimídia. combinando concisão e dignidade. em especial a Gazette de France. assemelhava-se mais a uma masque. que poderia.10 Ali se via Luís por toda parte. não recorrentes) como a unção do rei em 1654 ou seu casamento em 1660. um meio para sua autoapresentação (Figura 3).78-9). Eram. um palácio: Louvre. deitar-se . Fcriódicos. E um símbolo de seu proprie­ tário. até no teto.9 De fato. Fontainebleau e. a estátua do rei aparecia e a Fama descia para coroá-lo com louros.riVin. uma extensão de sua personalidade.8 Rituais excepcionais (isto é. dedicavam considerável espaço aos atos do rei. ou rituais recorrentes. O ballet de cour não era um balé no sentido moderno. Quando o relógio instalado em 1706 batia as horas. poderia ser visto como uma exposição permanente de imagens do rei. coreógrafos e pintores. Essas inscrições davam considerável contribuição para a eficácia das imagens. uma vez que instruíam o espectador sobre o modo de interpretar o que viam. cada vez mais.5As inscrições em latim para monumentos e medalhas eram compostas com esmero por escritores eminentes. As letras das músicas dos balés e das óperas frequentemente incorporavam referências elogiosas aos feitos do rei. destinar-se a glorificar um acontecimento particular. em si mesmas. Jean-Baptiste Lully e Philippe Quinault conseguiram substituir o balé por uma forma mais unificada de teatro musical. em geral. difundidas e até publicadas enquanto o rei ainda vivia. a ópera.. imagens. o mesmo poderia ser dito dos atos cotidianos do rei —levantar-se. Este último. mas até Colbert considerava importante se . publicada duas vezes por mês.6 Nas décadas de 1670 e 1680. quanto compositores. e o Mercure Galante. os “divertimentos de Versailles em 1674 comemoraram a tomada da província do Franche-Comté. assim. Um palácio é mais que a soma de suas partes. Versailles.in» • do reinado foram escritas. que eram a tal ponto ritualizados que podem ser vistos como minipeças teatrais. em que palavras. De fato. como Isaac Benserade. isto é. balés e óperas eram muitas vezes encaixados num festival mais amplo. que apresentavam a “imagem viva” do rei. fazer refeições. publicado todo mês. em 1670.7 Encenações teatrais. uma forma de arte. a Gazette referiu-se a uma encenação de Le bourgeois gentilhomme como um balé “acompanhado por uma comédia” . como o toque dos doentes para curá-los ou a recepção de embaixadores estrangeiros. Colbert criticou os projetos para o Louvre feitos pelo escultor e arquiteto italiano Gianlorenzo Bernini sob a alegação de que eram desconfortáveis e pouco práticos. entre os quais Racine. ações e mú­ sica formavam um todo. Como veremos (p. O cenário desses rituais era. Peças de Molière ou Racine eram frequentemente en­ cenadas como parte de um espetáculo que incluía também um balé. sobretudo nos prólogos. em especial. em que colaboravam tanto poetas. uma forma epi­ sódica de espetáculo dramático. 1’ara transpor esse hiato a prudência exige. como (irotte de Versailles (1668). Les fontaines de Versailles (1683). pelo menos. Gravuras de Versailles eram oficialmente publicadas e distribuídas para a maior glória do rei. e Le canal de Versailles (1687). descrições de retratos reais foram compostas por poetas e historiadores. O palácio não foi somente cenário de encenações. Cour de marbre. Para não interpretar mal as imagens de Luís.11 Versailles. eram feitos para moldar as percepções dos espectadores. como as inscrições nos monumentos e medalhas. de Philidor. O palácio do Rei Sol. pelo menos quando a distância cultural entre o autor e o espectador é tão grande quanto a que nos separa do século XVII. Algumas delas podem ser encontradas em guias de Versailles daquele tempo. Versailles ter uma fachada digna do príncipe” . de Lalande c Morei. em particular. que.r n n n n /ly A W i m » n m 3. Cada . que se dê considerável atenção a descrições dessas imagens feitas na época de sua produção.12 Como vimos. era uma imagem do soberano que supervisionou com tanto desvelo sua construção. G êneros Ler imagens não é tão fácil quanto parece. devemos levar em conta não somente os meios de divulgação como os diferentes gêneros e suas funções. foi ele mesmo tema de peças teatrais. de Lully. Usa armadura. como símbolo de coragem. Para isso. contudo. nenhuma objeção aos lugares-comuns e às fórmulas. A maioria das pinturas do rei se enquadra no gênero a que os historiadores da arte chamam de “retrato solene” . conhecia essas convenções. ou roupas ricas.15 E provável. pintores e escritores se inspiravam numa longa tradição de formas triunfais. não só em Paris —nas portas Saint Denis. ou parte dela. e um pouco mais óbvio. ouvintes e leitores de sua grandeza. glorificá-lo. como sinal de posição social elevada. de modo geral. O cavaleiro era geralmente representado envergando uma armadura romana. A audiência. que marcavam a natureza da ocasião. vestindo as próprias roupas. para sublinhar sua po­ sição superior. de pé ou sentada num trono (Figura 5). a pessoa é geralmente apresentada em tamanho natural ou até maior.16A postura e a expressão transmitem dignidade. Sob suas patas podia haver uma figura representando a derrota das forças do mal ou da desordem. ao que parece. por exemplo. em outras palavras. o casal passou por uma série de arcos do triunfo pro­ visórios. Ao contrário dos espectadores pós-românticos. Os olhos do retratado estão acima dos olhos do espectador. de Lille a Montpellier. Nesses retratos solenes.gênero tinha as próprias convenções ou fórmulas. Construíram-se também arcos do triunfo permanentes durante o reinado de Luís XIV. o público do século X V II não tinha. e está cercado por objetos associados ao poder e à magnificência —colunas clássicas. Outra forma triunfal foi a estátua equestre. sentado numa poltrona e até jogando bilhar. A entrada do rei nas cidades. As convenções para esse monumento equestre eram bastante estritas. As regras dos diferentes gêneros estavam resumidas em tratados formais . Saint Antoine e Saint Martin . O cavalo ge­ ralmente trotava. foi de fato intitulado Entrée triomphante (Figura 4). O gênero é igualmente importante no caso da poesia. construídas segundo a “retórica da imagem” desenvolvida durante o Renascimento para a pintura de pessoas importantes. que tenham sido feitos mais para serem vistos privadamente que para exibição pública. que permitiu carimbar os espaços centrais da cidade com a imagem do soberano. mais um antigo gênero romano.13 Quanto à função da imagem.como em cidades das províncias.14 Como em outras entradas reais em cidades. O decoro não permite que ele seja mostrado usando as roupas do dia-a-dia. Alguns retratos de Luís o mostram de modo relativamente informal. que moldavam suas expectativas e interpretações. ela não visava. a finalidade era celebrar Luís. persuadir espectadores. seguia geralmente o modelo de um triunfo romano. a fornecer uma cópia reconhecível dos traços do rei ou uma descrição sóbria de suas ações. em 1660. que rejeitam o clichê como uma ofensa à espontaneidade. e o relato da entrada de Luís em Paris com sua rainha. Ao contrário. caçando. cortinas de veludo etc. C. K ZST..rrmur.cim*'. ^ T O r . Londres .mai. British Library. Arco do Triunfo provisório erguido no Marché Neuf. T M K A R .ALLM * WP B E L t. n e T . gravura extraída de Entrée triomphante. pnnri\aRK'TfS^.ãaiu lemarrhr'nrm t-monco-xir. PAC* • CVMJ' 1 1 i : H 1: fl •1 1i II Mats 1fi S I 1 4.ul BBg. 1660. n e . de Henri Testelin.5. óleo sobre tela. 1666-8.Luís entronizado. Retrato de Luís XIVcom o protetor da Academia de Pintura e Escultura. Château de Versailles . de La Beaune. 1684. British Library. Luís como protetor das artes.6. Londres . extraído de Panegyricus. a imagem do rei era mergulhada em retó­ rica triunfalista. poeta que aconse­ lhava o governo no tocante à glorificação literária do rei. o que provavelmente reflete falta de confiança mais no gênero que no monarca. O poeta Píndaro.rmm w in m » 55 c na Art poitique (1674). que pregou em Versailles com grande sucesso no final do reinado. comparando Luís ao Sol e seu reinado à idade de ouro.14 Os pregado­ res da corte (escolhidos pelo próprio rei) comparavam o monarca francês com a monarquia sagrada de Saul e Davi. mais conhecido como Boileau. e o oratoriano Jean-Baptiste Massillon.11 Tanto em poesia como em prosa. da Grécia antiga. Os sermões eram uma forma de discurso muito apreciada na época.'8 Uma ode pode ser definida como um poema lírico em estrofes que com­ binam linhas longas e curtas. condenou a epopeia com o argumento de que incluía necessariamente “ficções” (sem dúvida tinha em mente o papel desempenhado pelos deuses em Homero e Virgílio) que poderiam prejudicar a reputação do rei. ou o discurso em louvor de determinado indivíduo em várias ocasiões (de aniversários a funerais). durante a Quaresma e o Advento) e Charles de La Rue. e muitas vezes o celebraram em sonetos.17 No entanto. Um bom exemplo é o “panegírico do generosíssimo Luís o Grande. Todo um batalhão de poetas louvou as vitórias de Luís de maneira similar. escrevera odes em louvor aos vencedores nas corridas de biga. madrigais e odes.10 Muitos ecos dessa ode podem ser ouvidos entre os poetas menores do reino. os jesuítas Louis Bourdaloue (que. Luís náo foi herói de nenhuma epopeia. O panegírico. Ao que se saiba. Nicolas Despréaux.13 O discurso fúnebre de Fléchier para o marechal Turenne e o de Bourdaloue para Condé foram considerados clássicos no gênero. Em 1663. da autoria de um dos maiores poetas do reinado. Racine celebrou o fato com uma ode à sua convales­ cença. era um gênero tão em voga na França do século XVII como na Antiguidade clássica. e exaltavam Luís muito antes de seu funeral. Pregar era uma arte. em que descrevia a “perfídia” da “insolente doença” que tivera a ousadia de o ameaçar.'9 Sua função . especialmente em 1687. descrita no Antigo Testamento. pai e protetor das artes liberais” (1684). O sermão feito por Bossuet quando da morte .como a da estátua equestre ou do retrato solene . quando o rei se restabeleceu de uma séria cirurgia. escreveu-se um “poema heroico” em latim sobre as habili­ dades do rei como cavaleiro. pregou dez ciclos de sermões na corte. tornando o leitor cético quanto às suas verdadeiras proezas. ao passo que os jesuítas eram notórios por sua habilidade para compor esse gênero de texto em latim.11 escrito em latim por Jacques La Beaune e recitado no colégio jesuíta de Paris antes de ser enviado ao prelo (Figura 6). cujos mestres (sem falar de Bossuet) eram Valentin-Esprit Fléchier.era essencialmente celebrativa. quando o rei se recuperou de uma doença. entre 1672 e 1693. ensaio em verso. Jean Chapelain. Regularmente se realizavam concursos para a escolha do melhor panegírico de Luís no país. o natural ou. uma dignidade serena e uma maior preocupação com o verdadeiro.27 Por isso. Esperava-se que uma obra de história incluísse uma série de passagens primorosas dedicadas ao “caráter” . p. caracterizado pelo movimento . do soberano. era permitido aos pregadores lembrar ao rei seus deveres e criticar suas ações (em termos vagos e gerais). quando é pos­ sível fazê-lo sem incorrer em servilismo” [Le secret dans lesportraits est d ’augmenter le beau et donner du grand. não há por que estranhar que Boileau e Racine tenham sido nomeados historiógrafos reais.. o estilo apropriado era a chamada maneira “grandiosa” ou “magnífica” [lagrande manière. de qualquer modo. o vívido relato de uma batalha e a apresentação de debates. aquele estilo que os historiadores da arte chamam em geral de “ barroco” e associam a Bernini. la manière magnifique]. para que pudessem representar suas conquistas com precisão. . E st ilo s Para a pintura narrativa e os retratos solenes. por outro. “O segredo nos retratos é aumentar a beleza e emprestar gran­ diosidade.). Luís levava consigo seus pintores Lebrun e Van de Meulen.25 No entanto. Assim também o que fez por ocasião da morte do chanceler Michel Le Tellier (1686).28 Esse estilo envolve a idealização. A incompa­ tibilidade entre os “bárbaros” nomes de lugar de Flandres e da Holanda e o estilo elevado foi um problema para os poetas da época. diminuer ce qui est laid ou petit. ou le supprimer quand cela se peut sans intérêt de la complaisance\ . pelo menos nos detalhes.30 A solução encontrada por Boileau para este e outros impasses foi discuti-los dentro dos próprios poemas.16 A história também deve ser encarada como um gênero literário. e muitos outros pronunciados na época da Revogação do Edito de Nantes (abaixo.cavalos que se empinam. le naturel. ou até suprimi-lo. o ideal do “classicismo”. ou retrato moral. o verossímil [le vrai. de um ministro ou comandante.29 Havia importantes variações de estilo dentro dessa maneira grandiosa: por um lado. Como Bernini observou enquanto trabalhava num busto do rei. a ode era um dos gêneros que exigiam o chamado “estilo elevado”. empregando eufemismos ou cir­ cunlóquios para evitar termos técnicos ou referências à vida comum. le vraisemblable].113 s. especialmente nos sermões da Quaresma. Ao partir em campanha. o equivalente da maneira grandiosa na pintura.|6 A PABRICAÇAO DO RKI cia rainha (1683) incluía muitas referências à virtude do rei. O objetivo era exprimir pensamentos elevados em linguagem elevada. associado a Poussin e ca­ racterizado por gestos contidos. gestos teatrais etc. Como a epopeia. com falas atribuídas a participantes eminentes (mas frequentemente inventados pelo historiador). diminuir o que é feio ou mesquinho. óleo sobre tela. de Theodor van Thulden.Alegoria da Paz dos Pireneus. c. Louvre. Paris . 1659.7. O tom sóbrio (exceto no caso de números especiais comemorativos de vitórias etc. usando tanto a prosa como o verso (como alguns jornais da década de 1660). Racine nada mais fazia que usar o vocabulário padrão de seu tempo ao descrever o reinado de Luís como “um encadeamento contínuo de fatos maravilhosos” .33 Outra figura de retórica recorrente é a metáfora. deviam obedecer ao estilo elevado. à les attribuer uniquement à ses conseils. sendo Luís a parte que re­ presenta o todo. Era papel dos historiadores celebrar ações heroicas. sendo o estilo elevado uma imposição da própria “dignidade” dos seus temas.86). à sa valeur et à sa conduite] . que reunia a experiência de diplomata em Versailles à de ex-professor de retórica em Genebra. sua prudência. em particular. A legenda da medalha que celebrava o bombardeio de Argel em 1683 era “Argel fulminada” [a lg e r ia fu lm in a ta ]. Obviamente. Como os poetas. A retórica da Gazette assumia a forma da aparente rejeição da retórica. O estilo da Ga­ zette tendia a ser despojado. com poucos adjetivos e outros ornatos. seu valor e sua direção” \On s’attache à le faire seul l ’auteur et U mobile de tous les heureux succès de son règne. confiabilidade. ao mesmo tempo. em atribuí-los unicamente às suas decisões. p. A tomada de Estrasburgo por tropas francesas em 1681 foi comemorada com uma medalha que exibia a legenda “Estrasburgo recebida” [a r g e n t o ra tu m r e c e p t u m ]. Introduziu também uma nota irônica. portanto. sem evitar termos técnicos ou topônimos estrangeiros. por razões tanto políticas quanto estéticas. a Gazette. a hipérbole é uma figura retórica constantemente empregada nessa literatura de exaltação. empregava um estilo “raso”. le miracle suit de près un autre miracle] A Por outro lado. mas muito informativo. A história. próximo da linguagem comum. pelo menos os que eram pregados na presença do rei. é tão minuciosamente .Escreveu tanto epístolas semifòrmais quanto odes. envolvendo uma elegante referência clássica a Luís como Júpiter e. os historiadores e os autores de inscrições eram especia­ listas em eufemismos. “ Insiste-se em torná-lo o único autor e causa de todos os êxitos de seu reinado. em que um “milagre” seguia de perto a outro [un enchaînement continuel de faits merveilleux. que rompia com a tradição do panegírico e por vezes foi interpretada como subversiva. era o equi­ valente em prosa da epopeia..31 Também os sermões. embora talvez não passasse de uma tentativa de adaptar um género antigo às exigências do mundo moderno. Outra é a sinédoque.. analisou as técnicas dos panegiristas de Luís. de generais e até de exércitos eram atribuídos ao rei em pessoa (cf. por sua vez. apresentando a ação das naus de guerra francesas como uma força da natureza.) sugeria imparcialidade e. Ezechiel Spanheim. de tal modo que os feitos de ministros. Esta metáfora. O grande pregador Massillon foi criticado por seu rival Bossuet por não alcançar o sublime. à sa prudence. como na clássica com­ paração do rei com o Sol. Minerva à sabedoria. A fam ília de Luís X IV . óleo sobre tela. a de uma mulher com uma cor­ nucopia. ou a . A vitória tomava a forma de uma mulher alada. deusas e heróis clássicos estavam associados a qualidades morais: Marte à coragem. Deuses. A abundância. mas o interesse por enigmas literários e pictóricos fazia parte do gosto da época. está povoada de personifi­ cações. ao passo que os rios tomavam a forma de anciãos. por exemplo. algumas clássicas. como a Académie Française na forma de uma mulher empunhando um caduceu. mesmo para os contemporâneos. de Jean Nocret. Reinos como a França e a Espanha (Figura 7) e cidades como Paris e Besançon também eram representados na forma de mulheres (por vezes usando traje regional). como Netuno ou Vitória. Château de Versailles explorada nos ornatos de Versailles e outras construções que podemos vê-la como uma forma de alegoria arquitetônica. pelo menos entre as elites. outras modernas. A Grande Galerie de Versailles.3*5 Frequentemente Luís era representado ao lado de figuras alegóricas desse tipo. Hércules à força etc. 1670.PBMUAIAO 39 8.34 A leg o r ia A linguagem da alegoria era bem conhecida nessa época.35 As alegorias nem sempre eram de fácil decodificação. Versailles Triunfo de Luís X IV . Château de . Luís como Apoio. 1664. guache.9. de Joseph Werner. eventos como a decisão do rei de governar pessoalmente. devendo com fre­ quência ser entendidas como referências indiretas ao presente (e os espectadores do século X VII eram treinados para isso). o u portmit historié. o pintor era capaz de representar. na tradição renascentista de identificar indivíduos com determinados deuses ou heróis. de Charles Lebrun. em que Luís figura no lugar de Apoio. Júpiter.52-3). na forma de uma mulher sentada num leão e segurando sete flechas como símbolo das sete províncias. que representa os camponeses que tinham zombado da mãe de Apoio transformados em sapos. c. com alguma plausibilidade.UMIASA o io . Graças à linguagem da alegoria. A pintura que Jean Nocret fez da família real (Figura 8). por exemplo. numa pequena superfície visível.38A famosa Fonte de Latona. Tuileries e outros palácios reais. é um “retrato mitológico” . como referência à Fronda (ver p. Luís como Alexandre Magno. O próprio rei era.39 Representações do passado eram outro tipo de alegoria. foi interpretada. Um concurso promovido em 1663 para escolher a melhor pintura de feitos heroicos do rei exigia que eles fossem “representados na forma de Dânae. A fam ília de Dario aos pés de Alexandre. por vezes. em Versailles.I'I'. estava não só expressando sua . Château de Versailles Holanda. representado de maneira indireta ou alegórica.1660. Quando Luís pediu a Charles Lebrun que pintasse cenas da vida de Alexandre Magno. também se destinavam a uma leitura alegórica (Figura 9). Hércules ou Netuno. Versailles.37 As séries de pinturas mitoló­ gicas do Louvre. óleo sobre tela. adaptando-a à história da retomada de Dunquerque” . ii. LuísXIVcom o o Bom Pastor. sobre pergaminho . provavelmente de Pierre Paul Sevin. Esperava-se que também os súditos fizessem essa identificação. podem ser vistos sem muito esforço como descrições de suas façanhas passadas (ou futuras). c a Carlos Magno.r I'1'KSUANAO 41 admiração por Alexandre como se identificando com ele (Figura io). O erudito ( lliarles du Cange comparou os dois monarcas na dedicatória ao rei que abria a edição que fez de uma biografia de são Luís do século XIII. um cetro ou um bastão. sendo representado como ele em pintura c escultura. são Luís (I . de Bussy Rabutin. todos símbolos de comando. por exemplo (Figura 11). o equivalente literário da série de pinturas de Lebrun. Provavelmente era a isso que os autores da época se referiam ao comentar o “ar” de grandeza ou majestade dos retratos reais. Luís foi identificado a Clóvis. ao passo que a Histoire amoureuse des Gaulês (1665). na forma do Bom Pastor.io rei quando de sua publicação. Luís chegou a ser identificado até a Cristo. da autoria de Mlle.45 O rei é geralmente retratado vestindo armadura. Na mão. reuni-las num retrato compósito. foi dedicada . de Scudéry. 1666). de Jean Desmarets. Alexan­ dre le Grand. adido ao Ministério das Relações Exteriores. cujo sig­ nificado oculto só era inteligível pelos que conheciam bem o mundo da corte. romana ou medieval. de Louis Le Laboureur e Nicholas Courtin. (dedicado ao rei) e as epopeias sobre Charlemagne (1664. Embora o próprio rei não tenha sido herói de uma epopeia.44 O RETRATO DO REI A esta altura talvez seja possível fazer nossa colagem de imagens visuais e literárias de Luís XIV. Não foi por acaso que o padre Jean-Baptiste Du Bos. respectivamente. por exemplo. 25 de agosto. poemas como Clovis (1657). Os romances históricos do período eram.uís IX.40 Luís X IV foi identificado também com seu predecessor e xará. era uma óbvia alegoria de intrigas da corte. ou o “manto real” ornamentado com flores-de-lis e debruado de arminho. pose que também simboliza o poder. Clélie (1654-61). celebrava Luís como “Alcândor”. publicou uma história da Liga de Cambrai contra Veneza exatamente no momento em que havia uma liga de nações europeias contra a França. O dia de são Luís. foi celebrado com pompa cada vez maior no decorrer do reinado. não raro. rei de França de 1226 a 1270). Combina esses trajes arcaicos com uma peruca do final do século XVII. Criou-se o costume de incluir nas comemorações um panegírico não somente de Luís IX mas também de Luís XIV. em 1666. romans à clef.4' Considerava-se que seguia os passos de seu predecessor. Sua atitude é em geral impassível e imóvel.43 Até obras eruditas podiam ter significado alegórico. o primeiro rei cristão de França. traz um orbe.42 Além disso. A tragédia de Racine.46 . Roma A expressão do rosto real.48 A coluna clássica (com uma figura alegórica da Justiça na base) e a cortina de veludo são remanescentes do retrato solene do Renascimento. por sua vez.47 Talvez seja útil focalizar uma única imagem. ou. tende a variar entre a coragem infla­ mada e uma digna afabilidade. Um exemplo óbvio é o famoso retrato solene pintado por Rigaud (ver Figura 1).'Ait no um 12. E uma hábil conci­ liação de tendências opostas. No entanto. Modelo para um monumento equestre a Luís X IV . sua reciclagem num herói da Roma antiga. o sorriso era considerado ina­ dequado para um rei de França. a pintura é menos tradicional do que pode parecer.•I-I a iAiH(i( A(. sugeriu-se que foi o sorriso indecoroso no rosto da estátua equestre de Bernini (Figura 12) que provocou sua rejeição. De fato. Ao que tudo indica. mais interessante ainda porque se sabe que Luís apreciava particularmente esse retrato. de Gianlorenzo Bernini. . já que seria pena desperdiçar o mármore. O malfadado monumento de Bernini. tendo encomendado cópias dele. 01670. mais exatamente. Galleria Borghese. 1635.Um modelo para o retrato de Rigaud. c. Louvre. Retrato de Carlos I. Paris . óleo sobre tela.13. de Antonio van Dyck. cercado por suas insígnias reais: coroa. a espada medieval da Justiça. a van­ tagem de deixar claro seu significado pelo uso de adjetivos. espada e cetro. As representações literárias de Luís têm. entre as quais inimigos derrotados. como se fosse o bastão que costumava empunhar em público (Figura 18). cetros. carros de guerra e vários tipos de 1 roféus militares. Deusas como Minerva e personificações femininas da Vitória ou da Fama muitas vezes estão postadas ao lado do monarca ou pairam à sua volta. Mesmo assim. Augusto loi sempre representado com a idade em que tomou o poder. Monstros são esmagados sob o pé . Como na Assíria antiga e na Roma imperial. como orbes. com a ponta para baixo. cativos encurvados. Como Boileau. na cinta. o Cérbero de três cabeças e o Gerião de três corpos (os dois últimos.o píton da rebelião. Luís desejava também ser um monarca moderno pelos padrões do início do século X VIII. Rigaud talvez estivesse fazendo uma alusão ao retrato informal que Van Dyck pintara de Carlos I numa caçada. Outro historiador identificou nas pernas elegantes e na “pose de balé” dos pés uma evocação dos dias de dançarino do rei. mas a Luís foi permitido envelhecer discretamente em seus retratos. e em que Carlos (que também segurava um bastão) faz um gesto parecido (Figura 13). mas o faz como se fosse uma espada comum. quando não lhe põem efetivamente na cabeça uma coroa de louros. não um objeto sagrado. Um histo­ riador recente descreveu o retrato como “ fiel ao modelo até os olhos cansados e a boca encovada após a extração de dentes da arcada superior em 1685”. para o leitor de nossos dias. e a rainha Elisabete I com aquela arte que os historiadores chamam de “a máscara da juventude”. Rios como o Reno erguem as mãos. um conjunto padronizado de epítetos era aplicado .51 Luís é retratado em geral tendo à sua volta todo um feixe de elementos cheios de dignidade ou dotados de propriedades dignificantes. embaixadores estrangeiros prostrando-se perante o rei e assim por diante.r' A I AMNI» AÇ AO no MCI Hm primeiro lugar. combina idealização com detalhei realistas. o primeiro cavalheiro de seu reino.50 I uís traz de lado. Entre os acessórios incluem-se também várias figuras em atitude de subordinação. Representa o rei vestindo seu manto de coroação. raios. No entanto.49 () retrato alcança também certo equilíbrio entre formalidade e informali­ dade. símbolos da tríplice aliança dos inimigos de Luís). e há uma informalidade estudada no modo tomo ele segura seu cetro. espadas. os símbolos de seu poder. a Hidra da heresia. Rigaud apresenta 0 rei exibindo sua dignidade com leveza e adapta a tradição clássica renascentista ao mundo moderno. O retrato de Rigaud sugere que os pintores do período teriam pouco a aprender com Goffman a respeito da importância do que ele chama de “fachada” na apresentação de um indivíduo. maravilhados ante as proezas do rei. Rigaud pôs esse rosto envelhecido num corpo jovem. era “grande” . piedoso.de agréable a zélé _ „um único soneto. invencível. de que era o pai de seu povo. iluminado. heroico. adjetivo oficialmente adotado em 1671. de Ciro da Pérsia a Henrique IV de França.58 A imagem do rei era associada ainda aos heróis do passado.55 Louis-LE-GRAND —era assim. para a maioria de nós. dizemos. Outra dificuldade é a mudança de atitude diante do estilo elevado. da Academia de Aries. belo. um novo são Luís. Em nossos dias. retórica tornou-se um termo pejorativo.55 “o árbitro da paz e da glória [l ’A rbitre de la Paix et de la Gloire]. com sua cornucópia. Essas modificações nas mentalidades. um novo Constantino. glorioso. campo em que mostrava discernimento seguro e “gosto delicado .l'IUtNUASÂO A7 ao monarca. brilhante (como o Sol). tendemos a perceber a duplicação de adjetivos. Ele foi procla­ mado um novo Alexandre (a comparação que mais lhe agradava. pelo menos na década de 1660). mais temido que o trovão” [plus craint que le tonnerre].57 “nosso Deus visível” [notre visible Dieu}-. . laborioso. um novo Augusto (que encontrou uma Paris de tijolos e deixoua de mármore). como redundância desnecessária. com suas asas e sua coroa de louros. Um poeta conseguiu introduzir 58 adjetivos . ou a Abundância.sé o ampliador das fronteiras. Numa palavra. constante.51 Em geral. nos valores e no “horizonte de expectativas” formam considerável obstáculo à compreensão da arte e da literatura da época de Luís XIV. soa aos nossos ouvidos democráticos como servilismo. imor­ tal. um novo Carlos Magno. que seu nome figurava frequentemente no meio de textos em caixa baixa. o subjugador (ou destruidor) da heresia. que soa insuporta­ velmente pomposo aos ouvidos de hoje. um novo Salomão. De fato. e o mais poderoso monarca do universo. ilustre. bajulação. o protetor das artes e das letras. generoso.59 A necessidade de ter sempre em mente a possibilidade da alegoria é uma das ra­ zões que distanciam grande parte dessa literatura dos leitores atuais. Por sua vez. justo. produziu uma coleção de paralelos entre Luís e outros príncipes também chamados “grandes . munificente. “o mais perfeito modelo dos grandes reis” [des grands rois le plus parfait modèle]. triunfante.S4o mais católico dos reis. personificações como a Vitória. Elas encorajam julga­ mentos anacrônicos. como “formalidade” ou “ritual : mera retórica . outrora sinal da “riqueza vocabular” do bom orador. o restaurador das leis. em letras maiusculas. Charles-Claude de Vertron. o louvor a pessoas importantes. O leitor (ou ouvinte) era também informado de que Luís era acessível a seus súditos. magnânimo. que tendem a achar algo esquisitas. o segundo fundador do Estado. um novo Clóvis. Luís era qualificado de augusto. sábio e vigilante. se não absurdas. um novo justiniano (ao codificar as leis). um novo Teodósio (ao destruir a heresia dos protestantes como este destruíra a dos arianos). como era chamada) constituía uma das três grandes divisões da oratória. O poeta declarava-se incapaz de cantar louvores ao rei \je sais peu louer] e criticava os versos pomposos e previsíveis de poetas rivais. como entre os bantos do sul. Al MM MM I Dada esta distância cultural. Essa foi também a técnica do historiador Paul Pelisson. como outrora na Roma antiga e na Eu­ ropa renascentista. descrevendo o príncipe não como era. criticou asperamente alguns de seus colegas por exceder a dose apropriada. O problema é decidir quando e a que ela se aplica. A aplicação de adjetivos lisonjeiros ao rei podia. si vous ne me louiez tant\. aplicado a Luís em determinado poema.6‘ Retornamos à retórica da rejeição da retórica. Em algumas partes da África. pelo menos ocasionalmente. A ideia de escrever um panegírico era normal no século XVII. ao dedicar seu Alexandre le Grand ao rei. Em primeiro lugar.•I" A IA IIIII ( A l . por exemplo. ou em Mali. o ritual e a literatura desse período inteligíveis para leitores c espectadores atuais. especialistas na compreensão de outras culturas. mas. sem lison­ jear” [ilfau t louer le Roy partout. Racine. na idade . e Boileau. como “heroico” . Racine registrou a seguinte observação que lhe fez o rei: “Eu o louvaria mais se não me louvásseis tanto” \Je vous louerais davantage. para fazer a arte. era esse tipo de adjetivo que se tinha de usar. ou outra forma de panegírico. uma forma sutil de aconselhar. Podia ser. Um último ponto que é preciso ter em mente ao ler esse tipo de literatura é que um panegírico não era necessariamente pura louvação. pode ajudar a diminuir nossa resistência natural —ou. Essa foi. o próprio Luís protestou. determinado epíteto. A ideia de servilismo não é anacrônica. mas como se desejaria que fosse.18-19). que a explicou num relatório confidencial enviado a Colbert: “É preciso louvar o rei em toda parte. cultural —aos panegíricos de Luís. é claro. deveria nos estimular a fazer distinções. ou em Boileau como \im griot{o termo para “bardo” em Mali). Quando se escrevia uma ode ao rei. Certa feita. mais precisamente. maispour ainsi dire sans louange\ . ser feita com maior ou menor prodigalidade. problema que se torna ainda mais agudo porque alguns poetas e cortesãos eram peritos em louvar sem parecer que o faziam. O “Estado de teatro” de Bali no século X IX já foi descrito (p. a tradição do poema de louvor ou panegírico ainda floresce. por exemplo. não deveria ser extraído do contexto e tratado como uma mentira inventada pelo autor para lisonjear o monarca. talvez seja prudrnie adotar a estratégia dos antropólogos.60 Pensar no poema de louvor como gênero recorrente. própria da Idade Clássica. observou-lhe que “a história está repleta de jovens conquistadores” e que muito mais inusitada era a ascensão de um rei que. tão frequentes na França do século XVII. por exemplo. a técnica empregada por Boileau em seu famoso Discours au roi (1665). por assim dizer. que comparavam o rei com o Sol ou o aborreciam com o relato das próprias façanhas. A retórica do louvor e da condenação (retórica epidíctica. Pelo menos. que serão discutidos nos próximos capítulos. não as militares. exaltava as façanhas pacíficas. Advertências desse tipo eram feitas com maior liberdade nos primeiros anos do reinado. o que não era muito frequente. já se comportava como Augusto [qui à l'âge d'Alexandre ait fa it paraître la conduite d'Auguste].PKRSUASÂO 49 ilc Alexandre. quando tecia loas a Luis. Também La Fontaine. . Documents Similar To BURKE, Peter. 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