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Psicologia: Teoria e PesquisaPrint version ISSN 0102-3772 Psic.: Teor. e Pesq. vol.17 no.1 Brasília Jan./Apr. 2001 doi: 10.1590/S0102-37722001000100003 Um Caso de Transtorno de PersonalidadeBorderline Atendido em Psicoterapia Dinâmica Breve1 Paulo Jannuzzi Cunha2 Universidade de São Paulo Maria Alice Salvador B. de Azevedo Universidade Estadual Paulista - Bauru RESUMO - Trata-se de um caso de Transtorno de Personalidade Borderline, encaminhado para a área de Psicoterapia Dinâmica Breve (PDB) do Centro de Psicologia Aplicada da UNESP - Bauru/SP. O foco delimitado consistiu em trabalhar as características depressivas do paciente, buscando ajudá-lo a elaborar o luto pela perda de sua mãe. A análise deste caso veio corroborar a hipótese de que pacientes com transtorno de personalidade borderline também podem ser beneficiados com a PDB. A peculiaridade desta modalidade de atendimento está relacionada ao estabelecimento de objetivos terapêuticos (foco) condizentes com as reais possibilidades e limites de cada paciente. Palavras-chave: psicoterapia dinâmica breve; transtorno de personalidade borderline. A Case of Borderline Personality Disorder Treated Within Short-Term Dynamic Psychotherapy ABSTRACT - This paper presents a case of borderline personality disorder treated within Short-term Dynamic Psychotherapy at the Applied Psychology Center of the UNESP-Bauru/SP. The psychotherapy focused the patient's depressive characteristics aiming to help him to elaborate his losses. This case, considered a successful one, confirms the hypothesis that borderline patients can also benefit from Short-term Dynamic Psychotherapy, once realistic aims are set. Key words: short-term dynamic psychotherapy; borderline personality disorder. O que permitiu o desenvolvimento da psicoterapia psicanalítica (Alexander & French, 1946/1965) e, posteriormente, da psicoterapia breve de orientação psicanalítica ou Psicoterapia Dinâmica Breve (PDB) foram os avanços dos estudos psicanalíticos (Knobel, 1986), aliados às mudanças sociais e econômicas, que exigiram uma maior No Brasil. no entanto. de objetivos e tempo limitados. repercussão nos meios clínicos e científicos do país. será que um sujeito com transtorno borderline de personalidade poderia ser beneficiado com a PDB? Fiorini (1999) considera que a psicoterapia breve oferece. utilizando duas modalidades de atendimento. O presente trabalho consiste no relato de caso de um paciente borderline. capacidade para confiança. Mas. 1990). que o paciente apresente inteligência acima da média. Os resultados demonstraram que os pacientes de ambos os grupos apresentaram melhora significativa em relação aos sujeitos do grupo controle. como por exemplo. Para ele. 1988). obtendo uma boa resposta dos mesmos à PDB. a indicação ou não para este tipo de psicoterapia dependerá do psicoterapeuta e do próprio caso clínico. não pode ser considerada uma psicanálise abreviada. Romaro (2000) conduziu uma pesquisa com pacientes borderline. há critérios psicodiagnósticos específicos. com a aplicação consciente e planejada de conceitos psicanalíticos. indicando os que podem ou não ser beneficiados com uma psicoterapia breve (Yoshida. embora em grau variável. os pacientes que melhor respondem à psicoterapia breve são os que possuem uma boa força egóica. assim como rejeita alguns casos específicos. 1983). É uma técnica psicoterápica ativa. Além disso. dentro de uma abordagem flexível e individualizada (Azevedo. o seguimento feito um ano e meio depois revelou que as melhoras persistiam. constatada. Marmor (1979) enfatiza a força egóica. atendido em PDB no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru-SP. tema que vem ganhando. Winston e cols. que permaneceram na lista de espera sem psicoterapia. Discute-se algumas considerações sobre os principais desafios e possibilidades no atendimento de pacientes borderline. quem pode ser beneficiado com a PDB? Para vários autores. Sifneos (1979) adota critérios mais rígidos. (1994) conduziram uma pesquisa sobre a eficácia da psicoterapia breve com sujeitos portadores de transtornos de personalidade. Relato do Caso Identificação e descrição geral do paciente . já que as suas características configuram-lhe uma estrutura própria (Azevedo. Mas. uma oportunidade de beneficiar praticamente todos os pacientes que procuram ajuda psicológica. abstração e de interação com o terapeuta.flexibilidade nos modelos de assistência à saúde mental estabelecidos até então (Azevedo. Para Wolberg (1969). 1985). também. cada vez mais. Malan (1979) apresenta algumas contra-indicações. O resultado revelou uma melhora adaptativa por parte dos pacientes. A PDB. Knobel (1986) é contrário a critérios rígidos para selecionar pacientes. no seguimento realizado seis meses depois. incluindo pacientes borderline. É normal que o paciente faça um vínculo já com o primeiro profissional que o atende (Segre. O terapeuta surpreendeu-se com os sintomas e o sofrimento do paciente. ficando preocupado o resto do dia. apanhou do mesmo e foi expulsa de casa. era prestador autônomo de serviços. Batista aparentava bom nível de inteligência e falava sobre diversos temas. preocupando-se com a possibilidade de ter que passar. Seu pai conheceu uma outra mulher. época de muitas brigas entre seus pais. Entrou na sala da psicoterapia. que veio a ser sua madrasta. sua infância mudou bastante. O paciente tinha o costume de brincar com insetos mortos. auto-agredia-se. Somente após esclarecimentos sobre a PDB e o contrato. vestia-se com simplicidade. Disse que. Sua mãe. brasileiro. pois tudo isto prejudicava-o em sua vida. passou a expressar-se melhor. chegando a machucar-se. após trair seu pai. . Gostaria de não ser tão distraído e "sem memória". buscava uma razão para tudo isso. Logo depois. que. Batista chegou com uma hora de atraso. O paciente tinha estatura e peso médios e. Inicialmente. nos momentos em que o paciente relatava ter a impressão de que havia pessoas escutando-o atrás da porta ou olhando pela janela. Motivo da consulta e sintomas apresentados Batista apresentava as seguintes queixas: sentia-se deprimido. ainda. Comparou seu funcionamento cognitivo com o de um computador. ocorrendo uma ideação paranóide. Ideações paranóides foram detectadas logo na primeira entrevista. O paciente disse que não conseguia sentir nada ao lembrar de tudo isso. etc. talvez. geralmente. de origem católica. dificuldade em lidar com as perdas. O terapeuta escutava-o com atenção e preocupação. caótico e um "vazio". os quais gostava de enterrar. indecisão. Perguntou sobre hipnose e o seu uso na terapia. algum trauma. falhas de memória e atenção. mas pensava que deveria sentir. quando tem muita memória ocupada. solteiro. Batista era chamado de "CDF" pelos colegas e outros garotos da escola. isto pudesse ter algo a ver com alguma memória antiga. mudava de estado de ânimo sem razão aparente. Quando criança ajudava seu pai no trabalho. bem como à sua terapeuta. para outro terapeuta. para pior. As suas fantasias de cura pareciam estar ligadas à expectativas imediatistas de melhora de seus sintomas: gostaria de se submeter a uma hipnose ou queria ter uma serra para abrir sua cabeça e ver o que o incomodava tanto. Impressões Iniciais Na primeira sessão. aguardando a orientação do psicoterapeuta sobre onde deveria sentar-se. fato que odiava. Resumo da história pregressa e atual Batista era um menino que se considerava feliz até os 4 anos. Após esse fato. falou de sua impulsividade e personalidade. funciona lentamente ao se apertar o "enter". cursava o terceiro grau. perguntou pela estagiária que o havia atendido na triagem. Batista disse que não estava à vontade e que nunca havia feito terapia. a quem gostava muito de fazer perguntas.Batista (os nomes são fictícios). que funcionava como um continente para as angústias. mulato. 1999). 21 anos. Recorreu então à sua supervisora. total: 35. 2 Hipóteses Psicodinâmicas: a) dificuldade em elaborar o luto pela perda da mãe. Quando sentia-se assim com os amigos. fazia gestos e sentia coisas estranhas: tremedeira. este buscava monitorar a contratransferência. ele dizia que estava cansado. Há alguns anos. Às vezes. não foi estimulado pelos seus familiares. há cerca de três anos. batia em sua própria cabeça ou plantava bananeira e perdia a noção do passado e só tinha consciência do presente. para que ele não fosse discriminado na escola por sua ascendência materna negra. Pacientemente. sem fazer coisa alguma. Evolução do paciente durante o processo O paciente veio ao CPA por iniciativa própria. evitando assim atuações da sua parte. de acordo com a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV. são apresentados na tabela 1. o terapeuta sentiu dificuldade em lidar com a resistência. Quando Batista sentia-se deprimido queria ficar sozinho e parado. Os critérios para esta patologia. sentindo-se desvalorizado e até agredido. Morava numa cidade do litoral e trabalhava numa discoteca. Gostava de fazer tudo por prazer. Nesta época. Para este diagnóstico. Inicialmente. inquietude. ou algo parecido. Atrasos e faltas ocorriam com freqüência. sentimento de caos e vazio. que estava com dor de cabeça. É muito importante que o psicoterapeuta esteja alerta às manifestações de resistência do paciente. urinava na calça. c) dificuldade para verbalizar experiências e desejos sexuais. Irritava-se quando estes lhe perguntavam a razão daquele estado. Sentia-se muito inseguro e superficial. seu pai sofreu um derrame e ficou com os membros paralisados. deve-se considerar todos os aspectos do paciente (OMS. prorrogação: 10. Cursava a universidade e tinha uma namorada (Débora). 1992/1993). tinha problemas de relacionamentos com as pessoas e sentia a falta de uma namorada. Hipóteses de trabalho 1 Hipótese Diagnóstica: Transtorno de Personalidade Borderline. 1994/1995) pela APA. . o que fazia-o sentir-se inferior ao seu irmão.Até uma certa idade. Quando expressou vontade de prestar vestibular. seu pai penteava o seu cabelo com bastante força. dizia precisar da psicoterapia. Às vezes. 4 Atendimentos propostos inicialmente: 25. só escutava. No início. Na ocasião. mostrava-se pouco cooperativo. para que esta possa ser trabalhada adequadamente no contexto psicoterápico. b) bloqueio da afetividade. 3 Foco: trabalhar o luto pela perda da mãe e o conseqüente bloqueio das emoções. Na tabela 2. Para seus atrasos e faltas. que se constrói com o decorrer do tempo.no sentido de ser neutralizada e dissolvida. bem aceita e compreendida pelo paciente. como se fosse um manual de sobrevivência. Batista respondeu: interessante. a cada sessão. e as intervenções do psicoterapeuta pautavam-se na clarificação de que a psicoterapia não é como um tratamento médico tradicional. foi a de que sua reação inicial ao ver este (após ter passado por rápido atendimento por outra estagiária do sexo feminino. É um processo. legal. Após este objetivo ter sido alcançado. que. Num processo lento e gradual. parece que eu vou usar no meu dia-a-dia. reforçando-se o setting.. quando o paciente perguntava algumas coisas para o psicoterapeuta. é possível observar os temas principais trabalhados em cada uma das sessões. no qual se reelaboram aspectos da vivência pessoal.. Desta forma. a partir daquele momento. sua participação e seu envolvimento no trabalho foram aumentando. lembrara-se que gostava muito de fazer perguntas também para o seu pai. os limites foram colocados claramente. deveria cuidar e preocupar-se com o filho abandonado. a postura ativa do terapeuta foi fundamental: combinou-se que se ele chegasse atrasado. O paciente demonstrou possuir uma boa capacidade de insight durante o processo psicoterápico. Foi feita uma hipótese interpretativa ao paciente através da formulação de que o fato de ele ter brincado de enterrar insetos mortos durante a infância poderia estar ligado ao fato dele estar simbolicamente tentando elaborar o luto por uma perda muito significativa de sua vida. . não haveria reposição da falta. por sua vez. quem iria cuidar dele a partir daquele momento.cada vez que eu escuto e aprendo aqui. que realizou a triagem) parecia ter relação com a situação em que foi abandonado pela mãe e viu-se sozinho com o pai. o que parece ter contribuído para a viabilização do atendimento do paciente. e para atingir tal objetivo ela exige esforço. basicamente.é. Uma outra formulação interpretativa feita pelo psicoterapeuta. desde o início até o final da psicoterapia. soltando-se e colaborando com a psicoterapia.. As expectativas imediatistas de cura do paciente foram trabalhadas.. sentira-se como o pai. quando criança. paciência e empenho do paciente. O primeiro objetivo psicoterapêutico foi. perderia aquele tempo da terapia e se ele não viesse por algum motivo banal. Não fora à toa que logo na primeira sessão. o processo transcorreu melhor e. A participação de Batista foi modificando-se. conscientizar Batista sobre a sua necessidade de atendimento e os benefícios que ele poderia ter com a psicoterapia. o paciente foi "abrindo"-se. O terapeuta. o paciente mostrou-se mais envolvido com o tratamento. muito provavelmente o da perda de sua mãe. . filho de uma mãe negra e de um pai branco. pois não perdoou a sua mãe. mas. também foi muito bom.. numa discussão com a Débora. foram oferecidas mais dez sessões. eis alguns momentos da psicoterapia em que comentou sobre esses episódios: Tem a ver um pouco com a loucura: você fazer o que tem vontade.. ao falar do abandono da sua mãe e/ou de brigas com a namorada atual. No entanto. eu tenho muito dó. e pareciam vir principalmente em momentos em que Batista sentia a iminência do retorno da vivência traumática infantil ligada ao abandono. Da mesma forma. psicologicamente.. em que foram trabalhadas as características depressivas ligadas ao abandono da mãe. expulsando-a de casa. ele queria. Foi-lhe apontado que este bloqueio cognitivo parecia estar mais ligado a uma defesa.. inicialmente propostas. eu não sei quem sou. Relatava ter dificuldade em descrever o que sentia em suas "crises". principalmente quando o assunto era um pouco mais delicado para ele: Onde é que eu estava? ou Por que eu estava falando disto?. Apresentava em certos momentos idéias confusas e lapsos de memória. Por outro lado. Além deste aspecto. pois foi ele quem cuidou dos filhos. Após decorridas as 25 sessões. Parece que a única coisa que te pára é a morte. Sabe. Sua mãe foi uma mãe boa e carinhosa no início (Eu era o xodó dela e ela me defendia). suas ideações paranóides vinham em momentos em que o paciente falava de assuntos mais profundos e ansiógenos. ainda.A questão da ambivalência. ao deparar-se com situações e vivências difíceis de suportar.quando o assunto é de raça. nós não conseguimos nos entender. me incomoda: porque eu não sou nem preto. . sempre presente no discurso do paciente. com o objetivo de se trabalhar melhor a separação e o término da psicoterapia. mas não queria. o paciente voltava à realidade. As "crises" foram bastante pesquisadas. porque não tinha Batista como seu xodó. Lidar com a perda é muito problemático para mim. porém à medida em que estas questões eram clarificadas. foi trabalhada também: ele amava.. Ele era mestiço. e. Era também nos momentos mais complicados da vida de Batista que suas "crises" apareciam.Teve uma que extrapolou. mas também tenho um pouco de vontade de ter. mas Batista também achava que ela foi muito má. a sua história de vida mostrava indícios de como isso foi sendo construído. é ruim mas é bom. a sua última defesa como uma forma de sobrevivência emocional. comecei a me bater. mas não gostava. como após uma discussão com a namorada. ele gostava. por ter traído o pai e abandonado os filhos (minha mãe aprontava com um vendedor que passava lá em casa. A "crise" seria a válvula de escape. o seu pai foi mau. e isto ocorria mais no início da terapia. Se nunca mais aparecer. mas odiava. Eu tenho medo de ter. O curso do pensamento era então interrompido.Parece que as coisas mais profundas vão se revelando.perda. intervenção esta que lhe trazia maior controle e permitia uma continuidade da reflexão.. por isso fiquei do lado do meu pai e é como se ela tivesse merecido o que aconteceu). não sabia se era negro ou branco: Eu sou sempre indefinido.. nem branco. Eis o que ele verbalizou no final: É bom fazer terapia.Término do processo A visão de Batista sobre a terapia foi se modificando com o decorrer das sessões. 2000). da amizade e cognitiva. sabe-se que déficits neuropsicológicos. Agora. 2000). 2000). Conscientizou-se da relação existente entre eventos do passado e sua vida atual. 1988) e procurou-se complementar os dados com a análise dos comentários e das vivências do paciente. Outro dado obtido através do QAS mostrou a sua satisfação com o atendimento e que. portanto. foi aplicado o Questionário de Avaliação Subjetiva . Eu me apoiei em alguma coisa. eu entendia bem menos o que estava fazendo aqui. inclusive de memória e aprendizagem (O'Leary. Eu estou contente por ter passado um tempo e agora eu vir para cá. nem todos os pacientes têm . suas dificuldades e entendera um pouco sobre as causas desses problemas. 1994/1995). A ocorrência do transtorno borderline de personalidade é de 2% na população em geral. 10% nas clínicas ambulatoriais de saúde mental e 20% entre pacientes psiquiátricos internados (APA. Batista notou melhora em seus sintomas. apontando para um modelo multifatorial da etiologia do transtorno borderline de personalidade (Zanarini. a taxa de morbidade desta patologia é alta. alterações genéticas (Torgersen.. Embora a psicanálise seja uma possibilidade de atendimento. familiar. 2000) parecem desempenhar papéis importantes na doença. 2000) e fatores ambientais (Zanarini.. De acordo com a Associação Psiquiátrica Americana (APA). estar atento aos critérios para a detecção de pacientes com transtorno borderline de personalidade. sem ficar achando que não vale a pena. O profissional desta área deve. prolongaria a terapia. Você vai se descobrindo. relatando que aprendeu a lidar melhor com seus comportamentos. se lhe fosse possível. Para avaliação do término da PDB. pronto a manejá-los de acordo com as suas especificidades e necessidades de atendimento.e isso me dá alívio. achando que não poderia ter dispensado a terapia. eu sei mais quem eu sou. pois nessas horas eu me sinto melhor. Antes. Atualmente. Tratamentos psicodinâmicos para os pacientes borderline Hegenberg (2000) considera a psicanálise uma esperança para os borderline. Discussão Vários avanços para a compreensão do transtorno borderline de personalidade foram alcançados até hoje (Paris. Sentia-se melhor do que antes da terapia e notou melhoras em seu rendimento nas esferas do trabalho. Ao longo do processo psicoterápico o paciente foi tomando consciência da sua patologia e da necessidade de se submeter a um tratamento mais prolongado.QAS (Azevedo. demonstrado a sua eficácia em quadros de personalidade borderline. O interesse do paciente e sua motivação são considerados o principal critério para indicação de psicoterapia breve por Sifneos (1979) e pela maioria dos autores nesta área (Yoshida. 1990). Fatores que contribuíram para o resultado satisfatório da PDB de Batista Entre os fatores que contribuíram para o resultado final satisfatório do processo terapêutico de Batista estão: a motivação do paciente. a supervisão de um profissional com ampla experiência clínica em saúde mental. No caso relatado. Por sua vez. Azevedo. 2000). 2000. Clarke & Reid. Batista. Isto parece compatível com as idéias e o trabalho de Fiorini (1999). Waller. Para Kernberg. 1985. o estabelecimento de uma aliança terapêutica positiva. Kandel. A PDB mostra-se como um recurso valioso de atendimento em saúde mental (Azevedo. Gabbard. Winston & cols. 2000. considerando-se sua fragilidade egóica.. afirmou ter compreendido melhor algumas situações de sua vida. Batista demonstrou interesse pela psicoterapia e motivação para mudança. também. As intervenções . Por outro lado. O transtorno borderline de personalidade congrega alguns dos sintomas psiquiátricos que trazem as maiores dificuldades de manejo. 1999). fato atribuído às mudanças neurobiológicas nos pacientes (Gabbard. apontando e clarificando ao paciente que estes sintomas vinham nos momentos emocionalmente mais delicados para o mesmo. o treino do terapeuta na técnica da psicoterapia breve e sua psicoterapia pessoal. 2001. Schoueri. Selzer. Muitos dos pacientes atendidos nessas clínicas têm dificuldade financeira até para pagar a condução para poderem comparecer às suas sessões. apontando para alterações duradouras mesmo após o término do processo (Romaro. além de ter tomado consciência da necessidade de um tratamento psicológico mais prolongado. o paciente foi atendido em PDB e pode-se dizer que foi bastante beneficiado com a mesma. e em outros trabalhos. o tratamento de escolha seria a psicoterapia psicodinâmica a longo prazo. as pesquisas têm sugerido que os tratamentos psicanalíticos/psicodinâmicos parecem estar associados não só com a manutenção das mudanças positivas como também à melhoria contínua após o término da psicoterapia. De acordo com Marmor (1979). 1999). No caso de Batista foi muito importante a postura ativa do terapeuta. como por exemplo a ideação paranóide (Wildgoose. tendo neste relato de caso. autor renomado na área da Psicoterapia Breve. em termos de possíveis relações causais entre os eventos. como um tratamento preparatório pré-analítico. Carr & Appelbaum (1989/1991).condições econômicas para se submeter à mesma. Além disto. as quais foram bastante trabalhadas. apesar das suas resistências iniciais. 1994 ). 1988. Batista não seria um caso para atendimento em psicoterapia breve. Desde o início. Os profissionais que têm experiência de trabalho em clínicas comunitárias em nosso país conhecem a realidade brasileira e a dificuldade de uma grande parcela da população para pagar um atendimento psicológico. que chegou de uma forma bastante resistente para o tratamento. defende o uso da psicoterapia breve para beneficiar pacientes borderline. Fiorini (1999). Koenisberg. 2000). o borderline induz o profissional ao enfrentamento de suas próprias situações-limite. 1990. Não raramente. Acredita-se que são necessários outros estudos e pesquisas que possam esclarecer qual a natureza e a profundidade das mudanças proporcionadas pela PDB a pacientes borderline. ansiedade e terror. Coloca em xeque a capacidade técnica. 3) compreensão de alguns aspectos significativos de sua história de vida. tendem a ocorrer no terapeuta. Romaro. que permitiu o árduo trabalho com as questões contratransferenciais. A análise deste caso veio corroborar a hipótese de que é possível atender pacientes com transtorno de personalidade borderline dentro da PDB. o atendimento ao paciente borderline é desafiante. a delimitação e manutenção do setting. Como afirma Hegenberg (2000). devolvendo-lhe a capacidade de pensar. bem como o próprio sistema de atendimento em saúde mental. Segundo Gabbard (1994/1998). direcionada principalmente a sintomas-alvo específicos (Gabbard. junto com o estabelecimento do contrato. a intervenção farmacológica combinada pode ser muito útil. teórica e de tolerância do terapeuta. a postura ativa do terapeuta. Outro fator positivo foi a psicoterapia pessoal do terapeuta. fantasias de salvação. colocando uma lente de aumento nos problemas humanos e sabendo como ninguém o que é o intangível e assustador "nada" (ídem).do terapeuta proporcionavam ao paciente condições de reintegração cognitiva e emocional. estas não são incomuns no atendimento a pacientes borderline (Gabbard. Referências . possibilitando a continuidade do tratamento. Em determinados casos. dentre os quais destacam-se: 1) a conscientização do paciente no tocante a sua patologia e necessidade de tratamento. No caso relatado foram alcançados vários objetivos. a fim de se delimitar mais especificamente quais as vantagens e desvantagens desta abordagem para este tipo de patologia. raiva e ódio. 2000. A peculiaridade desta modalidade de atendimento parece estar relacionada ao estabelecimento de objetivos terapêuticos condizentes com as reais possibilidades e limites de cada paciente. Stone. Stone. ajudam a colocar uma ordem nas vivências caóticas dos pacientes borderline. Conclusões Como foi possível observar neste relato. 2000). proporcionando-lhe uma experiência clínica e de crescimento pessoal incomparável. que emergiram no decorrer do tratamento do paciente. sentimentos de culpa. além de sentimentos profundos de desamparo. Mas nem sempre a postura ativa per se pode atenuar as vivências mais primitivas dos pacientes borderline. 1994/1998. 1994/1998. De acordo com Romaro (2000). em que os seus sentimentos vêm à tona de um modo muito intenso e particular. o paciente borderline tem algo a nos ensinar. Hegenberg. 2) elaboração da perda de sua mãe. transgressão de limites profissionais. [ Links ] Kernberg. Psicoterapia Dinâmica Breve: Saúde Mental Comunitária. Jorge & M. The frontier of brief psychotherapy.S. (1988). (Trabalho original publicado em 1994) [ Links ] Azevedo. Trad. G. Fabricant. (1965).R. 1-3. Selzer.C. Koenisberg..N. Short-Term Dynamic Psychotherapy.) Porto Alegre: Artes Médicas.. [ Links ] Gabbard. M. American Journal of Psychiatry 136. 35. M.A. Trad.W. São Paulo: Casa do Psicólogo. (2001) Empirical Evidence and Psychotherapy: A Growing Scientific Base. 92-104. Trad. 117-122. Terapeutica Psicoanalítica. (C. American Journal of Psychiatry. (1985). [ Links ] Hegenberg.A.S. Nova York: Plenum Medical Book Company. 177. M.DSM . (1979). [ Links ] Azevedo. 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Cândida Helena Pires de Camargo (IPq-HCFMUSP).Brasília . is licensed under a Creative Commons License Psicologia: Teoria e Pesquisa Instituto de Psicologia Universidade de Brasília 70910-900 .2001 Aceito em 13. M.2001 1 Trabalho apresentado no XXVII Congresso Interamericano de Psicologia.03.2001 Versão final em 23.br .Psychiatric Clinics of North America. 89-101. 2 Endereço: GREA .Brazil Tel. E-mail: [email protected] .C. 23 .IPq-HC-FM USP. except where otherwise noted.05.com All the content of the journal./Fax: (061) 274-6455 revptp@unb. Rua Dr. ocorrido de 26 de junho a 2 de julho de 1999. Childhood Experiences Associated with the Development of Borderline Personality Disorder. em Caracas. Venezuela. Agradecimentos: ao Dr. Maurício Knobel (UNICAMP) e à Dra. Ovídio Pires de Campos s/nº .
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