Bocage - Poesias eróticas, burlescas e satíricas

March 17, 2018 | Author: Wilson Lourenço | Category: Cupid, Love, Apollo, God, Dogs


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BocagePoesias eróticas, burlescas e satíricas RIBEIRADA POEMA DE UM SÓ CANTO ARGUMENTO Quando o preto Ribeiro entregue ao sono Jazia, lhe aparece o deus Priapo: E com uma das mãos por ser fanchono, Lhe agarra na cabeça do marsapo: Oferece-lhe depois um belo cono, Cono sem cavalete, gordo e guapo: Casa o preto, e a mulher, por fim de contas, Lhe põe na testa retorcidas pontas. CANTO ÚNICO I Ações famosas do fodaz Ribeiro, Preto na cara, enorme no mangalho, Eu pretendo cantar em tom grosseiro, Se a musa me ajudar neste trabalho: Pasme absorto escutando o mundo inteiro A porca descrição do horrendo malho, Que entre as pernas alberga o negro bruto No lascivo apetite dissoluto. II Oh! musa galicada e fedorenta! Tu, que às fodas d‟Apolo estás sujeita, Anima a minha voz, pois hoje intenta Cantar esse mangaz, que a tudo arreita: Deus‟esse vaso carnal que o membro aquenta, Onde tanta langonha se aproveita, Um chorrilho me dá, oh musa obscena, Que eu com rijo tesão pego na pena. III Em Troia, de Setúbal bairro inculto, Mora o preto castiço, de quem falo; Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto, Que excede o longo espeto de um cavalo: Sem querer nos calções estar oculto, Quando se entesa o túmido badalo, Ora arranca os botões com fúria rija, Ora arromba as paredes quando mija. IV Adorna hirsuto ríspido pentelho Os ardentes colhões do bom Ribeiro, Que são duas maçãs de escaravelho, Não digo na grandeza, mas no cheiro: Ali piolhos ladros tão vermelho Fazem com dente agudo o pau leiteiro, Que o cata muita vez; mas ao tocar-lhe Logo o membro nas mãos entra a pular-lhe. V Os maiores marsapos do universo À vista deste para trás ficaram: E do novo Martinho em prosa e verso Mil poetas a porra descantaram: Quando ainda o cachorro era de berço Umas moças por graça lhe pegaram Na pica já taluda, e de repente Pelas mãos lhe correu a grossa enchente. VI De Polifemo o nervo dilatado, Que intentou escachar a Galateia, Pelo mundo não deu tão grande brado Como a porra do preto negra e feia: Da Cotovia o bando galicado Com respeito mil vezes o nomeia, E ao soberbo estardalho do selvagem As putas todas rendem vassalagem. VII O longo e denso véu da noite escura Das estrelas bordado já se via; E em rota cama a horrenda criatura Os tenebrosos membros estendia: Do caralho a grandíssima estatura C‟os lençóis encobrir-se não podia, E a cabeça do fodaz de fora pondo Fazia sobre o chão medonho estrondo. VIII Os ladros, que fiéis o acompanhavam A triste colhoada a cada instante Com agudos ferrões lhe traspassavam, Atormentando a besta fornicante: Na duríssima pele se entranhavam, Suposto que com garra penetrante O negro dos colhões a muitos saca, E o castigo lhes dá na fera unhaca. IX Tendo o cono patente no sentido Na barriga o tesão lhe dava murros; E de ativa luxúria enfurecido Espalhava o cachorro aflitos urros: Co‟a lembrança do vaso apetecido O nariz encrespava como os burros; Até que em vão berrando pelo cono, De todo se entregou nas mãos do sono. X Já roncando os vizinhos acordava O lascivo animal, que representa Co‟o motim pavoroso que formava, Trovão fero no ar, no mar tormenta: Com alternados coices espancava Da pobre cama a roupa fedorenta, Que pulgas esfaimadas habitavam, E de mil cagadelas matizavam. XI Eis de improviso em sonhos lhe aparece Terrífica visão, que um braço estende, E pela grossa carne que lhe cresce Debaixo da barriga ao negro prende: Acorda, põe-lhe os olhos, e estremece Como quem ao terror se curva e rende: Com o medo que tinha, a porra ingente Se meteu nas encolhas de repente. XII Do tremendo fantasma a testa dura Dous retorcidos cornos enfeitavam; E, debaixo da pança, a mata escura Três disformes caralhos ocupavam: O sujo aspecto, a feia catadura, Os rasgados olhões iluminavam; E na terrível destra o torpe espectro Empunhava uma porra em vez de cetro. XVII Enquanto houver tesões. XIV “Vendo a fome cruel do parrameiro. e enquanto o cono For de arreitadas picas lenitivo. como Noto. que as paredes abalava.XIII Ergue a voz. Que essas negras entranhas te devora. Travava co‟o lençol imensas lutas. do tesão curtindo as dores. o pai das putas: Viste que. que mostras no semblante: Que quem hoje te agarra no marsapo É de Vênus o filho. e de repente No fétido bispote as ventas crava: Não ficando da queda mui contente Co‟uma gota de mijo à pressa as lava. Por fartar-te de fodas sem demora: Consolarás o rígido madeiro N‟uma fêmea gentil.” XV Disse: e o negro na cama velozmente Para beijar-lhe os pés se levantava. Em plúmbeo castiçal agonizante: “Oh tu. Propícia divindade. Mas não lh‟o metas todo. Sempre hei de recordar-me. De putas um covil deixei ligeiro. tu enches de favores O mestre da fodenga. alto patrono. acabada a limpeza. De que és de meus gostos o motivo: . E co‟a força do alento sibilante Mata a pálida luz. rei dos caralhos (exclamava) Perde o medo. que me escutas! Tu consolas. A dar piedoso amparo ao teu devoto. que a um canto estava. a voz grosseira Ao nume dirigiu d‟esta maneira: XVI “Socorro de famintos fodedores. E. o deus Priapo. pois receio Que a possas escachar de meio a meio. E baixaste ligeiro. Mas tropeça num banco. que perto mora. A qual sobre a vil cara emprega. de que usava Em lugar de pimenta o preto impuro: Em sujo frasco ali se divisava Turva água pé: fatias de pão duro Pela mesa decrépita espalhadas A fraca vida perdem às dentadas. Para que possa entrar com mais brandura A vermelha cerviz faminta. Que dos trovões o estrépito parece. que constava De dous gatos achados n‟um monturo. E de raspas de corno. como o veado fugitivo Que o caçador persegue. Que de antigos escarros se guarnece. deem cabeçadas Entre as cândidas virilhas delicadas.” XVIII Deteve aqui a voz o rijo acento. e lança (Tentação do demônio!) os olhos belos: O fodedor maldito não descansa Sem ver chegar o dia. eu corro. XXI Principia o banquete. XIX O brando coração da fêmea alcança Com finezas. E logo d‟ante os olhos num momento A noturna visão desaparece: Deixa Ribeiro o sórdido aposento. Ardendo o bruto em férvido desejo Unta de louro azeite o longo nabo. carícias e desvelos. XX Chega o dia infeliz (triste badejo! Mísera crica! desditoso rabo!) E ornado o rosto de um purpúreo pejo Une-se a mão de um anjo à do diabo. E já. . em que os marmelos Que tem junto do criatura. E nas tripas berrando-lhe o demônio Corre logo a tratar do matrimônio.Pois me dás glória no elevado trono. eu corro A procurar as bordas por quem morro. e dura. feminil masmorra. Foge com leves passos para o quarto. E julgou (tanto em fogo ardia o nabo!) Que encerrava entre as pernas o diabo. Ao colo conduzindo a bela dama: Pelas ceroulas o voraz lagarto A genital enxúndia já derrama.XXII Depois de ter o esposo o bucho farto. Com estrondosos ais encaixa a porra: . Para teatro ser do aflito pranto Que havia derramar a esposa triste: Oh noute de terror. Só por ver da consorte o gesto lindo Inda antes de foder já se está vindo! XXIII Jazia o velho tálamo n‟um canto Onde de pulgas esquadrão persiste. Abrasado de amor na ardente chama. mas a esposa Que não pode aturar-lhe a dura estaca. quando te empurro O mastro? quando vês que gemo. XXIV Ergue-lhe a saia o renegado amante. Que das fodas cruéis o estrago viste! Permite que com métrica harmonia Patente ponha tudo à luz do dia. com voz queixosa: “Não és uma mulher como uma vaca? Porque fazes traições. noute de espanto. Alargando-lhe as pernas novamente. XXV Prossegue o desalmado. Estira-se a consorte ágil e pronta. cheio de raiva. e zurro?” XXVI Então. Dando voltas ao cu muito chorosa Com jeito o membralhão das bordas saca: Ele irado lhe diz. aperta o dente. E na gostosa. E ele a seta carnal no mesmo instante Ao parrameiro mísero lhe aponta: Co‟um só beijo do membro palpipante Ficou subitamente a moça tonta. temendo a mortífera estocada..Ela. que já no corpo o fogo sente Do marsapo lhe diz: “Queres que eu morra? Tu não vez que me engasgo. por teu castigo.” E com muita risada se gaba De lhe ter esfolado a roxa crica. na foda é um jumento. E.” Mas ele. que não te fodo. que já desmaia: Sentindo ser chegado o fim do intento. XXVIII De gosto o vil cachorro então se baba.” .. Ora abre os tristes olhos. Do ranhoso licor lhe inunda a saia. e que estou rouca. “Consola-te (exclamou) que já se acaba Esta fome voraz da minha pica. Mas ela grita. Não tem dó da mulher. ora os fecha: Com suspiros depois desatinada Da contrária fortuna ali se queixa: Até que ele lhe diz. não te aturo Que me feres as bordas do coninho!” E com desembaraço um teso e duro Bofetão lhe arrumou no focinho: Tomou em tom de graça o monstro escuro A afrontosa pancada. e com carinho Disse para a mulher: “Brincas comigo? Pois torno-te a foder. com meigo modo: “Levanta-te do chão. Porque o cruel tesão me chega à boca? XXVII “Ah! deixa-me tomar um breve alento. ardendo-lhe o sabugo: “Ora que casasse eu com um verdugo! XXIX “Fora. Primeiro que rendida e morta caia.” XXX Estas vozes ouvindo a desgraçada De repente no chão cair se deixa. E vendo que a mulher calada fica. fora cachorro. Porque dentro do vaso não cabia A torrente. que rápida corria. Que das unhas dos cães se vê liberta. que sem alma fica Dando mil berros por amor da pica. Do cafre infame a porra desmarcada. E o negro com a paciência branda e mansa. Sofrendo os cornos vai de dia em dia: Bem mostra no que faz não ser criança. XXXIII Agora vós.XXXI Alma nova cobrou. E apalpando a conaça (oh que desdita!) Mais que boca de barra a encontra aberta. Que lhes não pode. puta rafada. A MANTEIGUI POEMA EM UM SÓ CANTO ARGUMENTO Da grande Manteigui. causar recreio Aquele que passar de palmo e meio. enfim. que estirados Vão pregar com os focinhos nas canelas: Conhecereis aqui desenganados Que não são tais porrões do gosto delas. Foge da puta. que é tão certa. como queria. Do cornígero esposo a paciência : Como à força de tanta caralhada Perdendo o negro a rigida potência. fodões encarniçados. Que julgais agradar às moças belas Por terdes uns marsapos. E em vingar-se do horrível Brutamonte. Mas consola-se um pouco. Se descreve a brutal incontinência. XXXII Tem conseguido a bárbara vingança A traidora mulher. qual lebre aflita. Até feita em picado há de foder-se. Que de nada o rigor lhe serviria. Ornando-lhe de cornos toda a fronte. . e já medita Em fugir da ruína. Porque se uma mulher quiser perder-se. IV No cambaico Damão. que a foder ensinam. Para livrar-me do mortal quebranto: Tua virtude em Manteigui respira. . Que vou cantar de ti. Peste d‟Ásia em luxúria e gentileza: Que ermitão de cilícios macerado Pode ver-lhe o carão sem porra tesa ? Quem chapeleta não terá de mono. Se tudo que ali vê é tudo cono ? V Seus meigos olhos. Este novo Ganós foi procriado. Foste pilhada na vulcânea rede. Com graça. motiva encanto.CANTO ÚNICO I Canto a beleza. que escangalhado Lamenta a decadência portuguesa. Tendo um corno na mão em vez de lira. Corpo. Té nos dedos dos pés tesões acendem. a ser preciso. E matando uma vez da crica a sede. que. engoliria Pelo vaso os martelos de Vulcano: Corpo vil. maratás e mouros. qual tu tens. canto a putaria De um corpo tão gentil. como profano. E que atura as chumbadas e pelouros De cafres. que trabalha mais n‟um dia Do que Martinho trabalhou n‟um ano. III Dirige a minha voz. ou qual mais puta. brancos. II Vênus. se a Jaques canto. meu canto inspira. que vinhas de Troia às soledades Dar a Anquises as mamas e as canelas: Que gramaste do pai das divindades Mais de seiscentas mil fornicadelas. a mais formosa entre as deidades. E bem pode entre vós haver disputa Sobre qual é mais bela. Mais lasciva também que todas elas . Tu. Bate ali qual aríete nas muralhas: Ela enganchando as pernas delirante. deleitosos braços. VI Seus cristalinos. quando move os passos. convida. Vão pisando os tesões dos circunstantes. VII Mas para castigar-lhe a vil cobiça O vingativo Amor. nada escassos. não para amantes. “Meu negrinho (lhe diz) quão bem trabalhas! Não há porra melhor em todo o mundo! Mete mais. A tromba. que os desejos minam. mete mais que não tem fundo. As níveas plantas. Fogo infernal no coração lhe atiça Por um sórdido cafre asselvajado: Tendo-lhe visto a tórrida linguiça Mais extensa que os canos d‟um telhado. Aos olhos poucas vezes se defendem. Faz-lhe a porra o compasso co‟a garganta. Louca de comichões a indigna dama Salta n‟ele. Agarra na senhora. E apontando ao buraco palpitante. . E quando em ledo som de amores canta. As doces partes. que. Lá vai o langotim com mil diabos.As mamas. de amor por ela ardendo. onde as Graças se reclinam. E os Amores. e provar-lhe o bolo: Estira-a sobre o leito. impaciente D‟erguer-lhe as fraldas. Sempre abertos estão. costumada a tais batalhas.o para a cama. As picas pelas mãos lhe vão metendo. IX Levanta a tromba o ríspido elefante. VIII Eis o bruto se coça de contente. e de repente Quer do pano sacar o atroz mampolo: Porém não necessita arrear cabos. Cofres lhe atulham de metais brilhantes. Por mais alvas que os véus os véus ofendem. Vermelha febre sobe-lhe ao miolo. Mas para aqueles só. como agravado. nem vergonha. há quem não morra Por tão belo e dulcíssimo trabalho? Há quem tenha outra ideia. veado humano. há quem discorra Em cousa. Ah Dom Fulano!‟ Se o tivesses assim. XIII “Mete mais. . e no inverno. Quanto vejo transforme-se em caralho: Porra. E triste exclama a bêbeda fodida: “Não há gosto perfeito n‟esta vida!” XIV N‟este comenos o cornaz marido. . XI “Mete mais. nem poder. . . mete mais. XII “Há quem fuja de carne. mete mais que estou morrendo!. meu negrinho.. E convulso fazia estrondo horrendo Pelo rústico som com que fungava:) Mete mais. mexe nas maminhas. “Mim não tem mais!” O negro lhe tornava... Pois vir-me-ia também quando te vinhas: Mete mais. nem ouro Meu duro coração faria brando. . lavara o passarinho. . Entrava pela câmara atrevido Como se entrasse n‟um lugar profano: . Porra até nas profundas do inferno!. Lavara o cu. ao bruto.. O bode racional. Morro de amor. e mais porra no verão. que suava. anda magano: Chupa-me a língua. que não seja de mangalho? Tudo entre as mãos se converta em porra.X “Ah! se eu soubera (continua o couro Em torrentes de sêmen já nadando) Se eu soubera que havia este tesouro Há que tempos me estava regalando! Nem fidalguia. Anda. mete mais (ia dizendo A marafona. desfaço-me em langonha. não tenhas susto. Mas só para foder co‟o meu negrinho. de graça o tinhas! Não viveras em um perpétuo engano. Ela o vai receber. menina. Tira-lhe a mama. Lhe diz: “Estás corada! O céu te guarde. E faz alvorotar todo o Surrate: Vão procurá-lo de cipais um cento. e lhe rezinga) O rei dos cornos a cerviz pesada Entre os ombros encolhe. e não respinga: E o courão. Bem boa alpiste ao pássaro te coube! Ora dize. E de sórdida ação fazendo alarde: O bom consorte. qual falcão batendo a asa. só queria porra: Voou-lhe. da pergunta confiada. sem achar quem a socorra. bagatela. tudo fica em casa. Em lágrimas banhada. faltando-lhe a semente. acesa em fúria. . Pois a puta co‟a crica toda em brasa. que risonha a via. Até que ele. a que te soube?” XVI “Cale-se. e de luxuria.” XV A foda começada ao meio dia Teve limite pelas seis da tarde. tolo”(a puta descarada Grita n‟um tom raivoso. Veio saltando a ninfa de alegria. e foge de repente. e o grão Nababo Pasmou d‟isto. Nem q‟ria comer.Mas vendo o preto em jogos de Cupido. Outra vez com o cafre. Suspira de saudade. XVII Deserta por temor d‟esfalfamento. e mil se vinga. Trouxeram-lhe a cavalo o tal saguate. Deserta por temer que o couro o mate: Ela então de suspiros enche o vento. e quis ver este diabo. magano! Na minha cama! Estou como uma brasa! Mas. querendo logo a pele forra. Eis sai logo. E o courão. XVIII Pouco tempo aturou de novo em casa O cão. dizendo: “Arre. Vai-me guiando. Mecenas das tabernas. Assim gastei o tempo. N‟um capote me embuço. Visto roupa lavada. dentro em mim sinto Um fogo ativo. a mão me aperta. Era tudo silêncio. havendo já perdido o caro Sancho. e diz: “Suba de manso. De gálico voraz envenenados! Se d‟este canto meu. e a ronda do intendente Que o grão Torquato rege. e devotos Beijar-lhe as asas. Vão-se os frades erguendo. Sem nada recear de assalto busca Altos moinhos. que me abrasa todo. e salto fora Da pobre cama. e só se ouvia De quando em quando ao longe uma matraca. Tal eu figuro achar a cada esquina Um Rodamonte. Recolhido se havia aos pátrios lares. que do céu caíam Pelas ruas abaixo susurravam. d‟este acre verso Ouvirdes por ventura os duros brados: Em bando marcial. que valente ataca. Esbirro-mor. Pela primeira vez m „estava esperando. Vinde cingir-lhe os louros. Eis de Nise a criada. Soava o sino grande dos Capuchos. Dormia tudo. a espada tomo. e pronto me disponho A lançá-lo por terra. aonde envolto em sonhos Mil imagens a mente me fingia. Não podia faltar: Nise formosa. De repente me visto. o pai das putas. Vinde ver um cação dos mais pescados. pendurar-lhe os votos. Que nunca me serviu. Mal a porta emboquei. e qual Quixote. era uma hora. A EMPRESA NOTURNA Era alta a noite. onde meu bem m‟espera. em pó desfeito. até que chego Ao sítio dado. coro perverso. Que. e me perfumo. Que à mira estava ali. abelha mestra. e as beiras dos telhados Pingando mansamente convidavam A gente toda a propagar a espécie: Brandas torrentes. mas que em tais casos Mete a todos respeito.XIX Courões das quatro partes do universo. . e aos meus joelhos As pernas encostava. que são rijas e grossas.. Nunca vi cu tão duro. que ufano zombes “D‟uma infeliz mulher amante. o vento rijo Pelas frestas zunia. Que não murcha ao tocar-se.. Descubro-lhe com jeito o tenro peito. Por acaso ao subir-lhe apalpo as coxas. Dormia tudo em casa: eis Nise bela Um pouco envergonhada.Que aí dorme a senhora. Aperta as pernas.” Ao dizer isto a voz lhe fica presa. Sem nada lhe dizer. onde dois globos . . e as leis da honra “Bem sei que despedaço!. Tudo enfim era amor. que eu conheço Pelo tato.. minh‟alma “Quanto pode o amor n‟um peito firme! “Bem vês ao que me arrisco: eu bem conheço “Quanto ofendo o meu sexo. Mal podia conter-me: o céu chuvoso Pelas telhas caía. tinha vertido Na larga dorna a larga apojadura. onde os Amores Tinham sua morada. Mas não temo “Que te esqueças de mim.. encarquilha o cono.” Enquanto assim falava. oh quanto é bela! No seio virginal. Acabada a função. me prendia Nise c‟os braços seus. Foi o tesão então em mim tão forte. Tire-se lá. onde Cupido Havia receber em seus altares Em breve espaço meus amantes votos. Que enfadada dizia: “Olhe o brejeiro!. a casa toda Com cheiro de alfazema. em que a moçoila (Segundo confessou) deu três por uma. a cama fofa. treme toda. Mal me pode dizer: “Meu bem. que os rapazes Em tempo de verão põem nas janelas. Qual moinho de cartas. a mim se chega. Soluça. tudo arreitava. Trêmula a voz. Nos meus braços se lança: então lhe toco No tenro e branco seio palpitante. Que as mãos lhe encosto aos ombros. n‟ela salto. que resiste.” A poucos passos. era uma rocha. Que ansioso palpita. Tal a moça rebola: e eu posto em cima. Entro a beijar-lhe as mãos feitas de neve. . e fraca!. que pode ouvir minha ama!. que o susto lhe embargava. Que distava do cu polegada e meia. assim ficando Mais vermelha que a rosa..... estende os braços. N‟um quarto me encaixou. Oh cáspite! que sesso! Era alcatreira. sua alma e vida. Oh céus! Como é formosa! Já metidos na cama em nívea holanda. ou fosse d‟arte. e como a crica Vertido tinha já pingas ardentes. O peito levantado. e o membro feito. e fui tirando Quanto cobria seu airoso corpo. escuro e liso. sem resolver-se.Mais brancos do que jaspe estão firmados. . Nise. ardente fogo Exalávamos ambos. O colo branco. cingindo-me os rins c‟os alvos braços. Que. Tal fogo em mim senti. Anelantes suspiros se exalavam: Era tudo ternura. soluçava. Junto a mim se assentou. e os olhos belos Semimortos erguia: a cor do rosto Pouco a pouco murchava. que os férvidos prazeres Dentro n‟alma de Nise à luta andavam. A barriga espaçosa. pouco a pouco Se fizeram tão rijos que mal pude Comprimi-los c‟os beiços. . Tão ativo o prazer. Era feito de neve: os ombros altos. com que intentava . Eu mesmo a fui despindo. n‟este tempo Pelo fundo da saia sutilmente Lhe introduzi a mão. O pé pequeno. ansiosa. era tão forte. pernas roliças. que ela sentia. Chamando-me seu bem. Erguido o membro té tocar no umbigo. qu‟a um lado estava. Ansioso beijando-os. Certos sinais. e em breve espaço Ao som de queixas mil. o mais hirsuto Que atéli encontrei. cheia de susto. Nise bela Ou fosse natural. que de improviso Sem nada lhe dizer me fui despindo. Té ficar nu em pelo. O pentelho mui denso. Presa a voz na garganta. Faz-me ternas meiguices. Férvidos beijos. mutuamente dados. o cono estreito. brandos mimos. Qual Amadis de Gaula entrei na briga: Pentelho com pentelho ambos unidos. Titilava-lhe o cono. Tremia. e reclinada Quase sem tino a lânguida cabeça. que por vezes O movimento do cu me embaraçava: Co‟as alvas pernas me apertava as coxas. e luxúria combatida. e casto pejo. com que esfregava O pentelho em redondo. Coxas piramidais. aflita. Tanto a si me prendia. De receio. Na cama m‟encaixei. o cu roliço e grosso. sobre nós lançado Os seus doces influxos brandamente. abrasado em vivo fogo Que de Nise saía. Onde uma vez entrara altivo e forte. Eis de improviso Tornando a mim mais forte. que intentei: de novo a aperto. Lânguido o corpo todo. Estreitava-me a si por vários modos: Ora posto eu por baixo. e a voz amortecida. Ora posto de ilharga. depois de não podermos Nem eu. Dormi o dia inteiro a sono solto. Tentei de novo o campo da batalha: Qual o bravo guerreiro. Beijo-lhe olhos. quase moribundos. O brando sono. Os braços frouxos. ela por cima. O membro. Para dar doce alívio aos membros lassos. que vence. EPÍSTOLA A MARÍLIA I Pavorosa ilusão da Eternidade. Os níveos peitos. enfim mal pude Saber o que fazia. . me não farto Da guerra. De novo beijo os seus mimosos braços. Assim eu. . Me senti quase morto em todo o corpo: Uma viva emoção senti gostosa Dentro em minh‟alma: férvidos prazeres O peito vivamente me agitavam: Os olhos. D‟almas vãs sonho vão. chamado inferno. Em que à casa voltei d‟onde saíra. cárcere dos mortos. que exala o sangue Que ele mesmo esparziu entre as falanges De inimigos cruéis. Os olhos nos cerrou. Té que chegou a fresca madrugada. . a mimosa boca. Nise outro tanto me fazia alegre. que em tal caso era mais duro Que alva coluna de marmóreo jaspe: Até que enfim. e mata. a cintura airosa. Terror dos vivos. sem que nunca O voraz membro do lugar saísse.Mostrar-me Nise um dano irreparável. Uns leves sonhos Vieram animar nossos sentidos. e mais robusto. que se abrasa No cálido vapor. nem Nise promover mais gostos. E tornando outra vez à pobre cama. danados peitos Regidos pelo sôfrego interesse (Alto. II Oh Deus. Que às ávidas paixões que em si fomenta. Aborrece nos mais. Que envenenas delícias inocentes! Tais como aquelas que no céu se fingem: Fúrias. arrojando Sobre os mortais a rígida sentença. nos ares lançando a fútil benção. que excede o crime. Do sempiterno horror horrível quadro. E. não vende. Que te adora. Não carrancudo. nos mais fulmina: Que molesto jejum. a vingança. e a paz lhe arrancas: Dogma funesto. Não vibrando com a destra o raio ardente Contra o suave instinto que nos deste. (Só terrível aos olhos da ignorância) Não. inútil vênia Espere às plantas de impostor sagrado. não me assombram tuas negras cores. que as propensões da natureza Eternas. roaz cilício Com despótica voz à carne arbitra. Dragos. Que ora os infernos abre. A punição cruel. preces. Perpétua escuridão. suspiros arquejando espalhe. Dogma funesto. voluntários crimes. imutáveis. não vingativo. os peitos fira. Até na opinião do cego escravo. Vergonhosa piedade. não opressor. os vícios todos Negros enxames.Sistema da política opressora. Chama espantosos. que dá. Cerastes. Cosa as faces co‟a terra. necessárias. impassivo nume!) te atribuem A cólera. lágrimas. te incensa. dos bonzos Forjou para a boçal credulidade. e crê que és duro! Monstros de vis paixões. Centímanos. que lhe fervem n‟alma! . Vai do grão tribunal desenfadar-se Em sórdido prazer. detestável crença. Dos homens o pincel. Escândalo de Amor. que a mão dos déspotas. ora os ferrolha: Que às leis. venais delícias. ríspido. Freio. que o remorso arreigas Nos ternos corações. e a mão conheço: Trema de ouvir sacrílego ameaço Quem d‟um Deus quando quer faz um tirano: Trema a superstição. Votos. perpétua chama. Incompatíveis produções do engano. Hipócrita feroz.. já difunde Pelos brutos. que os meus incensos Dão a frágeis metais. minhas forças te confio. as mães. em santo furor todo abrasado. a vítima o seu povo: No sobr‟olho o pavor. Que sanha! que furor! que atrocidade! Foge dos corações a natureza. Troam no polo altíssimos clamores. Os consortes. de ais. Ei-lo. a espuma. voa a vingar-me: seja a raiva De esfaimados leões menor que a tua: Meu poder. rugem. Ei-lo citando os hórridos exemplos Em que aterrada observe a fantasia Um Deus o algoz. Na rebelde cerviz o ferro ensopa: Extermina. lá treme a terra! O torvo executor dos seus decretos.Quer sanhudo.. d‟estragos. Minha tocha invisível te precede: Dos impios. Serena o frenesi. reprime as garras. monstro sedento De crimes. Que a mira põem no estrago da inocência. a deuses surdos: Sepulta as minhas vítimas no inferno. já vozeia.” Não lh‟a retarda o rábido profeta: Já corre. Que os vaivéns da razão franqueia e nutre: Ei-lo. os filhos Em honra do seu Deus consagram. atônitos sequazes A peste do implacável fanatismo: Armam-se. Moisés astuto. Hirto o cabelo. o fel. ministro fiel dos meus furores! Corre. nas mãos a morte. reduz a cinzas As sacrílegas mãos. Envolto em nuvens. em raios De Israel o tirano onipotente: Lá brama do Sinai. e venerando A atroz satisfação de antigos ódios. tingem Abominosas mãos no parricídio: Os campos de cadáveres se alastram. destrói. matam. E a torrente de horrores. Sussurra pela terra o sangue em rios. A maldição na boca. Ouve o terrível Deus. . Ou quer manter aspérrimo domínio. cheio de um Deus tão mau como ele. os olhos cor de fogo. que assim troveja: “Vai. investem. se a vingança me retardas!. Ah! Bárbaro impostor. que derramas. de lágrimas. ferem. em trovões. Cobrir com véu compacto. os pais. dos ingratos. ministro dos altares Dourar o horror das bárbaras cruezas. E treme. que me ofendem. Pois não pode evitar-se o pensamento. ah! desarreiga De astutos mestres a falaz doutrina.Para fundar o império dos tiranos. As mais são invenções. Marília. o precursor do crime. Deus. em nossas mentes. fantasias. E é inocente a mão. Deus de piedade. Do coração. que às nossas paixões deu ser. os deslustra. Porque à nossa existência não se ajusta. é lei suave. Deus do teu gênio. de quem te ostentas tão valido. injustos males Em nossos corações. e à natureza: Próprias ao bem d‟alguns. E àqueles. quando uns aos outros Traçamos fero dano. Natureza e razão jamais diferem: Natureza e razão movem. pai dos homens. És. Deus criado por ti. Quando nos débeis. Quando aos nossos iguais. Deus necessário Aos tiranos da terra. mas Deus de paz. Os infama. aos que te imitam. os desacorda. da ideia. magoados pulsos Lhe roxea o vergão de vis algemas: Natureza e razão jamais aprovam O abuso das paixões. A pôr limite às lágrimas do aflito. são quase todas Contrárias à razão. visões. Que pondo os homens ao nível dos brutos. E a remir a inocência consternada. não flagelo. e ao mal de muitos. deu fogo. III N‟este quadro fatal bem vês. Para deixar-lhe o feio. infundos tempos Dolosa tradição passou aos nossos. conduzem A dar socorro ao pálido indigente. O castigo nos dá antes da culpa. Que só na execução do crime existe. sacrílego. que se arrepende. o duro exemplo De oprimir seus iguais com férreo jugo Não profanes. aquela insânia. oh remorso. E de crédulos pais preocupados As quimeras. . Deus de amor. É Deus do teu furor. Que em tenebrosos séculos envolta Desde àqueles cruéis. não manches Da eterna divindade o nome augusto! Esse. que não creem que Deus existe. Porque inda encurta mais a curta vida: Amor é lei do Eterno. Que só não leva a bem o abuso d‟elas. sonhos: Há Deus. meu doce bem. na astúcia A bem da tirania está o inferno. . Pregados pelo ardil. dos seus embustes.Não vem só d‟um princípio ações opostas: Tais dimanam de um Deus. Ou do cego furor. meu doce encanto. tais do exemplo. Entrega-te depois aos teus transportes. Escuta o coração. porque te esquivas Da natural prisão. que chamam sacro. Pelas sombras da noute. Seria o galardão. pelo interesse. Que o bonzo enganador teceu na ideia Para também no amor dar leis ao mundo. E não pena de amor se inferno houvesse. Que alucina os mortais. Eia pois. os teus direitos Da justiça despótica extorquidos: Não chega aos corações o jus paterno. do terno laço Que com lágrimas e ais te estou pedindo? Reclama o teu poder. IV Crê pois. há liberdade. Acanhada donzela. do temor sacode o jugo. Esse. a amor propícias. Escuta o coração. Os opressos desejos desafoga. Do ditoso himeneu as venerandas Caladas trevas testemunhas sejam. seria o prêmio Das suas vexações. envolvendo-se as vontades. Mata o pejo importuno: incita. e a terra templo Pois que o templo do Eterno é toda a terra. e do teu pejo Destra iludindo as vigilantes guardas. Te não deixa chegar ao caro amante Pelo perpétuo nó. Demanda os braços do ansioso Elmano. Marília bela. Gostos iguais se dão. Verás como. Consista o laço na união das almas. que pintam báratro de angústias. e se recebem: Do júbilo há de a força amortecer-te. Seja ministro o Amor. Só de infestos mortais na voz. que te não mente: Mil vezes te dirá: “Se a rigorosa Carrancuda expressão de um pai severo. Ao risonho prazer franqueia os lares. Se a chama da ternura os afogueia: De amor há precisão. incita O que só de prazer merece o nome. moléstia d‟alma. Que te anseiam fantásticos terrores. Se obter não podes a união solene. Hás de morrer.Do júbilo há de a força aviventar-te. eu uno as minhas. além de um gosto. sempre me dissesses Que és minha. Em que afrontara aos céus prazer tão puro ? A voz do coração não tece enganos. e misturando Doces requebros c‟os murmúrios doces Dos transparentes. não existe inferno. e reviver com ele. É castigo do vício o próprio vício. não um crime. ah! não te prives. é falso: Longe a cega ilusão. meu bem. De tuas perfeições enfeitiçado Ás preces. oh Natureza: . a quem te adora.” Eis o que hás de escutar. Turvasse nos teus olhos carinhosos Suave languidez a luz suave: Se os doces lábios teus entre meus lábios Fervendo. me espargissem Vivíssimo calor nas fibras todas. Uma necessidade. Se ambos sumidos Em solitário bosque. que ofensa Nosso inocente amor faria aos Numes? Se acaso reclinando-te comigo Sobre viçoso tálamo de flores. Ah! não prives. Qual a impostura horrísona apregoa. insana. Se à voz do coração não fores surda. Amar é um dever. Com os seus confundir os teus suspiros. é falso. Que os benéficos céus. oh Lília. que mal. Não é reu quem te segue. oh doce amada. Se pelo excesso de inefáveis gostos Morrêssemos. que sou teu. e sê ditosa. O prêmio da virtude é a virtude. PARNY Imaginas. Sempre me ouvisses. d‟uma só morte. De tão alta ventura. E se amor outra vez nos desse a vida Para expirar de novo: em que pecara. que te envia. Ah! Faze-me ditoso. gárrulos arroios. POETA GREGO TRADUZIDO DA IMITAÇÃO FRANCESA DE MR. em vez d‟incensos? Crédula. branda amiga. FRAGMENTO DE ALGEU. supões. Céus não existem. Sentirás suspirar. grata Lília. meu bem. os céus piedosos Exigem nossos ais. morrer o amante. nossos suspiros Em vez de adorações. Lede meus versos. vingador. Submerso em perenal tranquilidade Co‟as ações humanas não se embaraça. meu bem. lascivos do mundo. Em todos os mortais. os dragões. E à multidão fanática horroriza. As fúrias. Guarda perpetuamente tudo. amareis com ela. Os outros não são mais que um sonho alegre. que os homens pintam Soberbo. necessidade o gosto: Viver na insipidez é erro. Quando amigo prazer se nos franqueia. esse deus. oh Lília! É lei o amor. Fitos seus olhos no universo todo. oh Lília. cruel. sejam Nossos os prazeres. . Enquanto dura a vida ah! sejam. amais sem arte. Esse abismo sem fundo. Uma invenção dos reis ou dos tiranos. os Elísios nossos. terrível: Em perpétuas delícias engolfado. e nos arroja. Para curvar ao jugo os brutos povos: E o que a superstição nomeia averno. n‟um só não param: As vozes da razão prefiro. II Eia! Deixemos à vaidade insana Correndo-se da rápida existência Sem susto para si criar segunda: Deixemos-lhe entranhar por vãs quimeras. zombemos. é crime. Tudo quanto lhe cai no bojo imenso.Esse Jove. Pela imortalidade os olhos ledos: E do seu frenesi. ou mar sem praia Onde a morte nos lança. e as chamas fazem Mais medo aos vivos do que mal aos mortos. ARTE DE AMAR ou PRECEITOS E REGRAS AMATÓRIAS PARA AGRADAR ÀS DAMAS IMITAÇÃO DE OVÍDIO I Se. Quanto suspira Prometeu. Torpes desejos com ardor provoca. Tanto suspira por que mão lasciva Meiga lhe toque nas colunas lisas. Eu sutil mestre a descobri-la ensino. petulante dedo Lhe amolgue os tesos seus virgíneos peitos. Mas além d‟eles delfins mansos nadam. Mas seus favores solicita Marte. Mas finge ousada perseguir as feras. Com ele o baile festival recusa. ou quem primeiro À vaga turba legislou dos homens. Pode mais do que as leis a Natureza. com que o prende. que Jove Os duros ferros. louro Apolo. Faz-se escondida enquanto a não descobrem. sendo eu o seu mestre. Ah! não me chamem críticos austeros . esquiva. Pratica o mundo só o que ela dita. Em Junho ardente pelo seu consorte Clama. II Tu. A face mulheril. Diques forçosos contra o mar se elevam. rompa. Tanto deseja a feminina turba Ao corpo varonil unir seu corpo. Quanto nos reinos de Plutão deseja Tântalo ardente mitigar a sede. Mas sempre firme e simulada nega Carnal impulso geração de Pirra. Corta o duro machado erguido tronco. Serrana humilde reclinar deseja Nos doces braços de um vaqueiro o colo. na montanha. suspira em verde ramo a rola.Tu. imóvel d‟antes. Em gelado Janeiro clama triste A doméstica tigre por marido: Brama nos campos em sereno maio Mansa novilha por amado touro. Mas d‟ele foge. E que mimoso. me tempera a lira. Ardente Vênus só prazer respira. Tu. Pudibundo rubor e pejo destes: Mas ah! não tema varonil caterva Femíneo pejo. a cantar me ensina. branda Vênus. Mas vejo sempre pulular vergônteas. próvido Licurgo. Sábia Natura o débil sexo excita. Severo alçando temeroso ferro Duro reprimes da natura os gritos. Busca Diana Endimião nos bosques. azuis safiras. Depois como se faz propícia Vênus. mas não tão surdos: Direi primeiro como Amor se enleia. IV Se branco rosto. quando rompe a terra: Dura côdea o calor nativo impede. sutilmente a inflama. que engraçados ornam . Após o bruto filho de Netuno Correrá Galateia os verdes mares. Ah! não me mande César irritado No frio Euxino a viver c‟os Getas. serás Dafne. que não basta Apolo. consumir entranhas. Só tu não temes desdenhosas iras: Ou chuva d‟ouro a bela Dánae molhas. Outra cousa não faz duro colono Com liso arado. Sábio me inspira. É verde louro fugitiva Dafne. Natura acode com forçoso impulso. Tu. Assim foge de Circe o grego Ulisses. Porém. III Vós. tu. oh Jove imortal. Ou dedo juvenil destro as desfolhe. primeiro. sem rebuço exposta Fácil se entrega. Amor ingrato do queixoso Febo. selvático filho de Saturno. mancebos. E mais depressa se afugenta o pejo: Mais depressa o calor do sol derrete Pálida massa de esfregada cera. Mais cedo rompe aríete forçoso Torres antigas. pai dos deuses. A ninfa fugitiva será Febo. Face morena. Assim foge de Dido o pio Eneias. O ferro a rasga. Ou touro manso linda Europa roubas. sem temor se arroja: Então tu. Se acaso ardente. e mimosas. Ou cálido vapor soprando as murche: Então lasciva. Tu. ruinosos muros. que formoso esmaltam Preciosos rubis. correi ligeiros Do Tibre às margens férteis. devorante fogo Torrar os bofes. A face mulheril formosa e pura Cobrem de pejo avermelhadas rosas. Tão imóveis me ouvi.Dos boas costumes corruptor profano. e o calor transpira. correi. louro Apolo. De novo ardia por Helena Páris. Quando revolta não serás tão vaga ? Oh tu soberbo. furioso Noto. Se por ventura teu rival encontras. Nem sobre o casto rosmaninho pousam. Nem sobre o timo matinal descansam: Tais. Mais honrosa será tua vitoria. Nem destro Ulisses seu correr impede. Ânimo forte. Por isso foi de Menelau contrário.. desmaiar não deves. cristalina Tétis. com que as Graças brincam. quando Bóreas sopra. Da vasta chusma simulado escapa. mulheris desejos Correndo voam de um amor em outro.Dous pretos olhos. tu amante novo: Pode mais do que amor a novidade. V Era consorte de vulcano Vênus. em teu rival não cuides. por acaso agradas. e ergue. corre!. Quais no prado melífluas abelhas Correm voando d‟uma flor em outra. Vê se inocentes ao acaso vagam. oh mancebos. Oh tu cerúlea. Se honesto modo. Eia. que maneia o vento. ou templo. Tremulam menos nos extensos mares Flâmulas soltas. movimento lindo.. se sisudo termo Feriu teus olhos no teatro. Se tu mancebo. para os seus repara. Tens para o carro triunfal cativo. Ou falso mostres abafado o peito. Mas dos favores seus é digno Marte: Com vergonha do sórdido ferreiro Preso nas redes fica o deus da guerra. Vive seguro. É velho amante. Nem rico Midas suas asas prende. Quando liberto não serás tão doudo? São mais constantes de um carvalho altivo As livres folhas. tens amores. Logo modesto dirigindo os olhos À branda Tirse. Ou destro finjas cérebro revolto. mancebo. Se airoso gesto. Ou se inquietos com destino giram. VI Mas é preciso que sutil e ardido . Em pé ligeiro te sublima. Não seria Penélope tão casta. Também Cupido de ser vário gosta. Só d‟entre a chusma varonil Cupido Da Cípria deusa pode entrar no templo: A porta guardam Fúrias irritadas. Em carros triunfais nunca viu Roma Matrona ilustre de Cesárea casa: Sós d‟entre a chusma mulheril as Musas À sombra dormem de Apolíneos louros. Provando a fúria da raivosa Aleto. nota o modo. Mancebos. de Mavorte as palmas. Verdes arbustos. Nem sobre as margens do Eufrates César Mais pela glória marcial suspira. Às vezes vale muito um desagrado. Apraz a Vênus variar de forma. mancebo.Primeiro excites a atenção de Tirse. Todos o orgulho mulheril incensam: O forte sexo para si reserva De Febo os louros. VIII De teu rival. Foi convertido em tenra flor Narciso. Falem teus olhos. Esta glória somente querem todas. VII Mas onde corre meu batel ligeiro! Ferrando a vela para trás voltemos. Com gesto alegre teu amor exprime. Com dente venenoso rasgam. mordem Alheio sexo. Posto que fosse lindo o amor de Vênus. . Ao sexo lindo só agradam mirtos. Morreu da sua mordedura Adônis. Se acaso entrasse n‟esta rede de ouro Lucrécia mesma ficaria presa. Um gesto sempre doce se aborrece. Se os seus amantes lhe chamassem bela. sabei somente Que n‟este laço se surpreendem todas. e pasmam Do seu semblante a formosura e a graça. Mudo lhe dize que te assombra. que arrostá-las ousa. todo o corpo fale. Ora de espanto se amorteça a face. que cultiva Vênus. Com fervoroso ardor todas a buscam. Que em vez de lanças arrepelam serpes. Ora se acenda com venéreo fogo: O mesmo efeito teus contrários fazem. que me ouvis. eu mesmo. só cuida Em combater da bela Tirse o peito. N‟eles a cena figurada nota. tu mais livre. toma fogo. que abrasou Semele: Em feroz urso transformou Calixto. Se indecente se mostra. (Eu mesmo. Só me abrazo por ti. tu modesto. não deves ver tranquilo Da peça teatral o sábio jogo: É Cupido rapaz. em cujas fauces O nu selvagem crava a seta aguda.E tu sempre diverso modo segue: Não basta ter somente amante novo. Nem víbora raivosa. fuja Nosso veloz batel longe da praia. IX Mancebo. Se por acaso lágrimas derrama Tu de pranto também as faces banha: Finge ao menos secar com alvo lenço O terno pranto. Do teatro se corre o largo pano. a cujo golpe Banhou seu sangue. Tu. o dize! Ah! formosa Corina! Não te engano. Para os olhos de Tirse te encaminha. tu te assombra. Se ele inquieto namora. e arde. Se triste se apresenta. . Se irritada parece. as aras. Foi ele a chama. soberbo rapaz da Idália. tu sisudo. do que a turba. Temerário. Nem besta furiosa. Mais iradas se acendem. só por ti morro!. oh forte Pirro. Não há no mundo tão lascivo monstro Que a virtude não preze mais que o vício: E julga sempre a feminina turba D‟eles alheio quem se mostra casto: A flama do Ciúme também queima. E torna brandas mulheris entranhas. Mas a dor me impede. Se acanhado se mostra. que pisada Do vago caminhante se exaspera. Se com assombro pasma. não tem sossego. . tu alegre. que verter não podes. . O ciúme foi ferro. Aberta a cena principia o drama. Não perde a ocasião o que amor busca. deixa o teu rival. Mas toma sempre virtuoso gesto.) Porém sulquemos novos mares. Quando ciosa se exaspera. Só lhe pareça teu amor fraqueza. É também necessária nova forma.. . que preceitos novos! Filho de Vênus. De teus altos mistérios serei vate! Forma novos oráculos em Cipro. Não houve ninfa nos Tessálios campos . Salta com venenosa língua. e Juno fez rivais de Vênus. Já da cova sombria o negro monstro Que come verdes enroscadas serpes. Mancebo. A nação feminil sustenta sempre Entre si crua sanguinosa guerra.X Mas que novo segredo Amor me inspira! Que sábias regras. Na boca lhe vomita cru veneno. C‟o rubro sangue lhe circula. nunca chores. Inda c‟o leite maternal se nutre. Mais depressa seria o mar estável. não perdoa. seu formoso rosto. Que para o brando coração lhe corre. que abrasou Troia. Cheia Tirse de inveja. maravilhas novas. Por isso é hoje negro seixo Aglaura. maculado leitos. Altos prodígios. Minerva. e lambe Seu terno peito. Até nos céus o vago monstro gira. Inda no berço brandamente dorme. e de Marte filho. Amor te fala. No pomo da Discórdia veio envolta A faísca fatal. que na terra expira. Só porque Páris foi roubar Helena! Mil adúlteros tinham sem castigo Furtado esposas. Entre as mesmas irmãs se acende a guerra. não presumas que sem pena Vejam de amor qualquer irmã queixosa. Posto que tu na cena Dóris ouças. Por eles tenha esquecimento Delfos. A voz soltando bela. ser não queiras Réu desditoso de tão negro crime. XI Contudo. E nas veias sutis introduzido. e pulsa. Não só famílias com famílias rompem A paz benigna. posto que raivosas todas Entre si mutuamente se enfureçam. e sonorosa Com que suspenda sibilantes ventos. Não caíram Troianos altos muros. Namorado mancebo. Ouve com filial respeito as vozes. Não pasmes. “Exista um novo sexo. Supremo Jove. Raivosos seu formoso corpo pisam. . As tranças orna de jasmins e rosas. A crua turba mulheril de Atenas Festivos gritos para o céu levanta. Até por elas foi novilho Jove. de que o mundo é feito. ou Cipro. Se é tecido seu peito nos infernos É formado no céu sua cintura: Hipólito. De vosso peito cego amor espera. “Maligno. XII Oh vós. Hipólito gentil por terra lançam. Mostrai por ela que sentis ternura: Acompanhe seu pranto o pranto vosso. agora o digo. Vai dar a Vênus no seu templo as graças. disse-lhes logo: “De nova espécie produzi sementes. Em branca flor Narciso as ninfas gostam: Quando o monstro voraz. geração dura! Malignas Fúrias com formoso aspecto! Sacerdote de Amor. que tirou do caos A bruta massa. Ligeiros se embaraçam. Posto que incestuosa chama queime. Devore o falso coração de Fedra.. Hoje se saiba como sois geradas. Tão felizes agouros vendo Tirse. Quando os frisões medrosos se perturbam. em cujo seio “O nativo calor as desenvolva: “Formoso. Só Liríope vê com dor Narciso. monstros cruéis. “Os membros todos de seu corpo forme “Formosa Vênus em Citera. que a prazeres vos excite. XIII Longo tempo Tritão ardeu nos mares Por Tisbe de Nereu cerúlea filha. Narciso lições sejam.” Mancebos!. “Às Fúrias fique reservado o peito. que a um cego amor vos leve.. Quando os homens formou. quebram rédeas. Eis aqui por quem Cupido Em sutis redes vos enleia todos: Mas não vos tinja rubro pejo as faces.Que não movessem tristes queixas d‟Eco. Com eles aprendei a não ser duros. que sai dos mares Só contra o filho de Teseu famoso. que o mar cria. e mil lhe imprime. Afim de conseguir femíneo afeto: D‟elas aprendereis. . A serdes cautos. CARTAS DE OLINDA A ALZIRA EPÍSTOLA I OLINDA A ALZIRA Que estranha agitação não sinto n‟alma Depois que te perdi. Do mancebo Tritão cruel fugia Assim nos reinos de Netuno Tisbe.Dos seus amores rindo a esquiva ninfa Melhor ouvia o murmurar das ondas: Bem como de voraz golfinho foge Turba medrosa de miúdos peixes. Do louco amante para os braços corre. Quando Girce nas praias se queixava Do fugitivo. destros mancebos. chama os ventos. presumir o resto. Em breve tempo todo o mar povoam Filhinhos de Tritão. se queres Tisbe. querida Alzira! . Eis que um dia Proteu. de Nereu netos. . Tisbe se rende. do perjuro Ulisses. “Em leve pó mudada Troia vinga. prevenindo os laços Armados por Amor à inexperiência. Pendurando assim troféus inúmeros Ao carro triunfal da vossa glória. Mil beijos lhe recebe. No fundo seio as gregas naus soçobra. Em trêmulo penhasco. Mais preciso não foi. e ondeando enfeitam A leve coma paludosos ramos. Deveis. pastor que guarda Das águas o marítimo rebanho. mancebos. Do sagrado Oceano agita as ondas.” Os eternos oráculos não mentem. XIV Eis em resumo as regras necessárias. Cuja molhada fronte cingem moles E verdenegros juncos. Atrás do gado nadador cantava: “Ah! mísero Tritão. Tritão da sua dor enternecido Vingança lhe promete. Deixou de ser esquiva a loura Tisbe. Porém depois que o sol da primavera . Se me torna hoje dura. Assim a sábia mão da Natureza. E a mim própria pergunto d‟onde venha Tão novo sentimento assoberbar-me? Não se aquieta o coração no peito. Não cabe n‟ele. A passos insensíveis caminhando Maravilhas em nós produz. Ah! minha cara! os males que tolero Expressá-los não posso. não desenvolve Sentimentos. sumiu-se o fogo. Quando da mesma idade que hoje contas Próvida a Natureza começava A preencher em mim seus fins sagrados.De meus olhos fugiu. intolerável! Aonde. a tua ausência. Marcha ela por graus em suas obras. Que a tua companhia incendiava! Por uma vez se foi a minha alegria. nem sofrê-los. Das mesmas sup‟rioras a presença. que então supérfluos foram: Inativas nos tem. Procede ao fruto a flor já matizada. a origem. que na infância Tão do peito queria. Somos na infância apenas um bosquejo Do que nos cumpre ser anos mais tarde. Bem como as plantas no gelado inverno. em ódio os tenho. aonde irão estes impulsos Precipitar a malfadada Olinda? Será. que assombram. EPISTOLA II ALZIRA A OLINDA Conheço de teus males a veemência. querida Alzira. Que me faz derramar tão agro pranto? Debalde a largos passos solitária Vago sem norte: ignoro o que procuro. que outr‟ora hei sido! Minhas vistas ao céu lânguidas se erguem. e nos conserva. N‟aquela idade a Natureza atenta Em conservar-nos só. Prezada Olinda! Eu própria os hei sofrido. e viva chama no íntimo Das entranhas ardente me devora. Que fora antes de flor botão mimoso. Sem que eu possa atinar a causa. Aqueles passatempos. Nem a mesma já sou. Que d‟antes para mim era indif‟rente. único arquivo Aonde os meus segredos mais ocultos Eu vou depositar: em ti encontro O refrigério a males. Querida Alzira! Ao coração me falas! As tuas expressões meigas ocultam Em si virtude tal. eu os sinto. Se bem me lembro. que desassossego igual sofreste. Ah! Que estranha linguagem! Não concebo Porque falas assim. que apenas lidas D‟elas a alma se apossa sequiosa: Tu és. Da forte agitação. pois traz a idade Males. Uniu-te a sorte a Alcino. e como o apaziguaste.Fecundos raios sobre nós dardeja. Feliz serás. dize Tu. Pôs o consórcio a teus lamentos termo. d‟onde eles procediam. que te oprimem: Do amor. A idade é (dizes tu) a causa d‟eles. eu hei-de dar-t‟o.. Sem poder conhecer a sua origem. que tolero. O seu motivo. nem tu. nos tenros anos não provados? Três lustres conto apenas: tu três lustros Antes de te esposar também contavas. EPISTOLA III OLINDA A ALZIRA Quanto gratas me são as tuas letras. que em ti presentes. outr‟ora de ti mesma Ouvi iguais queixumes. se o trilho me seguires. que te domina. Revela à tua amiga este mistério D‟onde sinto perder o meu repouso. e venturosa Sempre te ouvi chamar desde esse tempo. prezada amiga. Eu não exp‟rimentava o que exp‟rimento: Os meus sentidos todos alterados Uma viva emoção põe em desordem. não sabendo Nem eu.. Cessaram os teus males. E sem perder da infância os atrativos Da puberdade o lustre desfrutamos. Que origem são dos males. Então sentimos comoções insólitas. melancólico. Então de novas formas animado Pula nas veias afogueado sangue. Cala-me ativo fogo nas entranhas: . Mas tem tudo remédio. Limitará os meus? Ah! dize. que emperrada a língua não exprime. D‟outros sinais o corpo se matiza Antes desconhecidos: alvos membros. Mostra-me a causa. fala. D‟estas agitações. a quem té agora indiferente Tenho com afouteza sempre olhado! Ao vê-los o rubor me sobe ao rosto. desconheço. que expressar me custa. Mas esses. mas eu amor não sinto: A doce inclinação. que eu d‟antes tinha: Vão-se aumentando os peitos. tem dó d‟ela. que dous amantes Um ao outro consagram. . . E como a ideia tal me arrojo ? Será talvez amor isto que eu sinto ? Já tenho lido efeitos de seus danos. E se os meus sentimentos são culpáveis. Mostra-me por que modo as terminaste. Lisos té‟qui. Tinham com quem seu peso repartissem. Que internamente lavra por mim toda. que me flagelam. Sim: dos homens a vista lisonjeira É para mim. Eles. Isto era amor. A voz me treme. com ânsia estranhamente: O sangue.. pelas veias abrasado Parece que me queima as carnes todas: A tais agitações languidez terna Sucede. Ah! vê que por meus lábios a inocência Contigo é quem se exprime. Amor. e articular não posso Sons. mostra-me o remédio: Tu tiveste-as também.. . que a meus olhos pranto arranca. nenhum porém me prende. Talvez do que te digo farás mofa. Tinham a quem chamavam doce objeto. Sinto desejos. Sobressalta-me d‟homens a presença. que o seu jugo suportaram. Não sei se chama interna me afogueia. Dize-m‟o.O coração no peito turbulento Pula. como aqueles Que servem de nutrir-nos lá na infância. Amor isto será ? Alzira. e tomando Uma redonda forma. já não te avexam. Fala com candidez à tua amiga. bate. . Té mesmo a natureza tem mudado A configuração. E o coração desassombrar parece Do peso da voraz melancolia. Quem a seu mal remédio sugerisse. Como o buço ao mancebo. à ave a penugem. macula um brando pelo. Ensina-me a curar a funda chaga. que abafados em meu peito . Que se culpável fores de outrem aos olhos. não manchado Ainda pela mão da iniquidade. Ela os mitigará em tempo breve. não temas exprimir-te. Comigo hão de morrer. Da inviolável lei da Natureza A que sujeita estás. Do recato das filhas temerosos Pensam os rudes pais. Aos meus és inocente.Serei vítima d‟eles. os teus transportes: Só provêm d‟ela. Nascem. Fala. vis ideias Que religião não sofre. com que alegria Vejo da minha Olinda as ternas letras! Retrato da inocência. Mais desenvolve os ternos sentimentos Dos que amar só procuram. estranho efeito De um coração sensível. e não podem Na solidão senão atormentar-se. que ambas tivemos. de amor lhe formam atentados. querida amiga. bem como tudo. Porque do crime o amor não dif‟renciam. e do crime alheias. que em sopeá-las Alcançam extinguir o voraz fogo Que sopra a Natureza. EPÍSTOLA IV ALZIRA A OLINDA Com que satisfação. me afiguras O que por mim passou. Saiba-se pois té onde o culto. e quais limites devem Marcar-se às impressões da natureza: Era vez de aferrolhar as tristes filhas. Olinda. e assim te julgo. a honra De um Deus se estende. Néscios. e que não pode Saber justificar a razão mesma. Benignas emoções chamam flagícios. e que forcejam Para co‟a religião autorizá-las. Ah! que de um pai o emprego não tolera Máximas impostoras. se extingui-los Os meus esforços todos não puderem. . Que o coração desmente. Dando-te próvida um remédio ativo. é ela que t‟os causa. Que infernais penas castigar costumam: Sem que atinem o modo por que devam Torná-las puras. findar comigo. A triste educação. Amor e crime o mesmo lhes figuram. e que ela ateia. .. e que só pode Nos braços de um amante saciar-se?. porque n‟ela Viam meus pais o escolho da inocência. que em minh‟alma Entranhados estavam. crês agora O que falso julgaras. Não dês credito a máximas fingidas. Pois que impureza e amor um rumo seguem Consiste o mal ou o bem na escolha d‟este.Busquem mostrar-lhes da virtude a senda. Rias dos sentimentos. Que a língua exprime. cujo peito Tão dócil como o teu seja formado. E d‟entre eles escolhe um. de que unidos Dous amantes se jurem fé. sem que a causa D‟eles jamais me fosse conhecida? Agora os exp‟rimentas. Que seus efeitos pintam horrorosos. que deve contentar-te. eu própria Falta da sociedade. Porque sensível és. querida. que tudo alenta. e que só causa Os gostos de uma vida abreviada. constância? Que um ao outro se entreguem. Que a ajudá-la te incita: Amor te inflama.. e bem podem A languidez eterna vítimar-te. Olinda. e bem que hesites Sobre o objeto. Do vício a estrada com desvelo atento. ama. amor a virtude fortifica: Mais a piedade sobre as desventuras . cara Olinda: como tu. e quantas vezes O meu desassossego não provando. Cheios de encantos: olha-os indulgente. Se de amor o remédio os não sacia. . Ela t‟o mostrará em tempo breve. e o coração reprova: Que mal provém aos homens. Não. Não te assustem do seu domínio as forças. Atenta sobre mil louçãos mancebos. verdadeiro!. Sim. Porque do jugo seu o peso é leve. e obedeçam Da Natureza às impressões sagradas ? Rouba a virtude acaso a paixão doce Que beijos mil só farta. Que o coração te anseiam. Se contra amor ditames escutaste. amor. As mesmas emoções senti outr‟ora. Não mais sofres férvidos desejos. conhece que delícias Amor encerra. Nos ternos anos teus então zombavas Do que nem mesmo decifrar podias. alma de tudo. A Natureza em ti o germe lança. Quantas vezes meu coração às claras Te descobri. Amor. afeta sisudeza Já que afetar te obrigam. e nos impele. Se. quanto vemos A falarmos de amor nos estimula. Se os deleites de amor são só delitos Quando sabidos são. quando mais amamos. do que te julgam. Afeta. Olinda. que chegamos Ao prazo. com véu mui denso A perspicazes olhos os encobre: Vinga-te d‟esses. Para dissimulares te dão direito: Finge. em que é lei sua amar por força. Tanto mais tempo tens de lastimar-te. entre os braços de um amante caro. Zomba dos seus ardis e estratagemas: Dize. deixa que alardeiem Virtude austera hipócritas infames: Sabe que. que n‟alma sentes. Quem ousa amor chamar crime execrando?.Que os outros sofrem. e em segredo De instantes enfadonhos te indeniza. que quanto mais retardas Tão ditosos momentos. . Se desde o berço em nós força indizível . enquanto amor horrível pintam. Ah! deixa. vis afagos. por castigo seu. Que é mais um gosto amar às escondidas. Se creem nos laços seus aprisionar-te. Quanto mais tempo perdes ociosa Sem às vozes de amor ser resignada. embora. São estes os conselhos de uma amiga Que os bens te anela. Mas quando assim os homens dissimulam. que os devoram. por fim. que abafar procuram As doces emoções. Sabe.Sentimentos de amor vai radicando. sem gozá-los. como eles. Enquanto aos olhos teus assim o afeiam. Ou desnegar então nossa existência: Se tudo a amar convida. ama e lh‟o disfarça. e a natureza Nossas feições altera. De uma amante venal nos torpes braços Vão esconder transportes. que ela saboreia. assinalando Com marcas bem sensíveis. mal balbuciamos. E. Que mais crédulos são. somente gozam Emprestadas carícias. mais a humanidade Em nós se aumenta. Por não tê-lo em amar aproveitado. Se a idade vai crescendo. . Amor por crime afiguraram. que os homens maquinavam: Cria-te inconsequente e despiedado.. nas vozes. Ou de um tirano Deus era ludíbrio: Conceber não podia que existisse Para experimentar contínua luta Entre impressões da própria natureza. Deus imenso! Eu blasfemava Contra a tua justiça.EPÍSTOLA V OLINDA A ALZIRA Alzira. Das tuas instruções é tal o fruto. . Mil vezes combinado com ditames Que desde a infância sempre m‟inspiraram: Mil vezes refletia que dos homens.. querida. E princípios chamados da virtude.. Tu foste. Amor um crime!. Ruins!.. Tu me ensinaste a ver quanto fingidos Os homens são. e o seu império Os homens tinham dado à hipocrisia. Quem há que se não diga delinquente? D‟entre as delícias que gozei. Para eles não é crime um crime oculto. . Porque o remorso abafam em seu peito. Das bordas me salvaste de um abismo. foste a que lançaste Um brilhante clarão ante os meus passos. E nem um só de amor vivia isento!. Imagens prazenteiras. Pois sentimentos me imprimiras n‟alma Que às tuas leis contrárias me pintavam!. Onde a infeliz Olinda ia arrojar-se. e nos gestos: Rasgaste aos olhos meus máscara infame Com que teem de uso todos encobrir-se.. me suscita. Alzira. que provava.. No pélago de embates tão terríveis Flutuando implorei o teu auxílio. Quanto encarava em torno era a meus olhos De lúgubres ideias feio quadro: Tudo o vejo agora alegres... Meu coração te abri: e tu leste n‟ele O que eu nem mesma deslindar sabia. Perdoa. Finalmente aprendi que a singeleza Do mundo era banida. sou feliz!. vivas. eu te supunha Autor do mal.. Os ternos sentimentos.... Os gostos mais completos. E os mais puros deleites o acompanham: Se a ventura maior se une ao delito. Porque a simulação reina em sua alma. Quanto te devo!. afavel.Com as tuas lições fugiu o crime.. Inda as chamas d‟amor mais me abrasavam. Quando o meu peito. que amor exige: Se amor ambos int‟ressa. de prazer morria. Ninguém como eu e tu é tão ditoso!. palpitava? Se eu o levava da ventura ao cume. nos seus braços me arrojei sem custo E se o pudor as faces me tingia. sequaz da culpa: No meio dos prazeres. tantos Cheios de igual fervor lhe compensava: Seus lábios inflamados ateavam As doces labaredas.. Não me dava ele a mão para segui-lo? Sim. Sem nada ouvir. Não é como o dos outros seu caráter. me dizia: O labéu da impostura o não denigre. Sensações recebiam deleitosas. Tão grandes emoções exp‟rimentava.... E o fogo que brilhava nos seus olhos. Que de mau grado combatia ainda. aos lábios seus unidos. Pouco preciso foi para vencer-me: Não teve que impugnar loucos caprichos. e ambos colhemos Seus mimosos favores.. Com que ufanas amantes dificultam O mútuo galardão. Ingênuo. em seus transportes Que eram nascidos d‟alma. Graças rendi a um Deus que m‟os concede: Se ele troveja sobre os criminosos. Eu nadava em desejos indizíveis. Que o rosto lhe incendia. ah! prezada Alzira! Se tão amável é o teu Alcino. Que me filtravam pelo corpo todo. Afastou-me do espírito receios. porque causa Havia de indif‟rença dar indícios. E quantos beijos recebia. que o adornam. Respirando ansiada. Reinava em seus discursos a franqueza. apenas dando Sinais de vida. ansioso. nem ver. Um amante acabou o que encetaste: Ele cujo olhar meigo me assegura As doces qualidades. que gostava. Os meus sentidos todos confundidos. Eu não senti no coração bradar-me A voz d‟esse pesar. Nunca os seus raios menos me assustaram!. . E meus lábios. e com veemência. não sabendo Nem já podendo articular palavra. Que a tanto gosto eu mesma sucumbia! Presa a voz na garganta. em que ardia. em tais momentos Longe da ideia tinha o mundo inteiro: O mundo inteiro então forças não tinha Para do meu amante desprender-me. Que tanto a angustiavam. amiga. sua inocência ? Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas. ingenuamente Consulta a sua amiga. Dos braços do amante em tais momentos Nada. O mundo para mim já tem encantos. EPÍSTOLA VI ALZIRA A OLINDA A temerosa Olinda é quem me escreve? É este o seu pudor. Que a fantasia me pintam tristonhos: Propício Amor abriu-me os seus tesouros. A Natureza seus tesouros me abre: Tudo te devo. Debalde ante meus passos furibundo Monstro espantoso vira: em vão lançara Do aberto seio a terra ondas de fogo. Isto pode sentir-se. Porque maior ventura haver não pode. e não dizer-se. Oh quem poderá.Exceto o meu amante. eu própria gozo! Oxalá sintas com Alcino os gostos. querida. nada podia arrebatar-me. e a um leve aceno . Sob outras cores vejo mil objetos... Que exp‟rimento. devorada Do mais ativo fogo. Em seus membros gentis a causa fosse! A voluptuosa Olinda. Alzira. Em vão coriscos mil o céu vibrara.. Dão-me a ver que a discípula inexperta Há de em breve ensinar a própria mestra.. de um amante ao lado! Nem ventura maior posso augurar-te.. Agora. descrever-te Que êxtase divinal veio pôr termo A tais instantes de suaves gostos!. Olinda não sabia o que excitava Dentro em seu coração ternos impulsos. em todo o tempo A teus doces conselhos serei grata: Oxalá ditas tantas saboreies Quantas por ti. e só agora me parece Que começo a existir: reproduziu-se Uma total mudança na minha alma.. Não sabia Qual d‟estranha mudanças em suas formas. que anunciar-me antes procura Após do que se há feito o que se pensa. De amor colhestes atônita as primícias. Do que por gradações d‟ação o int‟resse Pouco a pouco esmiuçar. dar-me a glória? Não. que sentiste Entre os braços do amante afortunado. Rasga o pudico véu. que bosquejas. incauta virgem Uma amante formou tão extremosa! A agradável pintura. E provaste entre gostos e agonias O que uma vez. Basta um momento a transtorná-la toda! E por que de tão próspero sucesso Pretendes tu. dar-me a ver todo. Seja embora infeliz. e o que sentiste Quando abrasada em férvidos desejos Misturados com dor indefinível. querida. Eu lia com prazer dentro em tua alma Os sentimentos. eu sou a tua amiga. Tens um amante. Por artificio mascarada em letras. E o não desesperar de sê-lo ainda.Corre a engolfar-se na amorosa lida. . querida Olinda. A mor ventura. que gozar não podes. que a afetavam todos. Ele te dá prazer. Como o pudor fugiu. Não é. Como sincera foi a que traçaste De ignotas emoções a Amor sujeitas. em que te engolfas. ou desgraçado. Quero saber porque impensados lances D‟um amante nos braços te arrojaste. É lembrar-se que foi já venturoso. Vejo. Tenho direito agora a exigir-te A ingênua confissão d‟esses momentos Prelúdios do prazer. Próvida sugeriu remédio ativo! Como de uma boçal. que transluzem Nas tuas expressões. não fui eu: somente a natureza Sabe fazer tão súbitos prodígios: Como depressa ao mal. Do gozo em recordar puras delícias: Nem todo o tempo a amor pode ser dado. não mais. Dos férvidos transportes. com que debalde Aos olhos de uma amiga esconder buscas Voluptuosas traças. pode provar-se. que te inquietava. d‟ela o confia: Gasta os momentos. que o mortal encontra. tão sincera. Já não te exprimes com igual candura: Filha da reflexão nova linguagem. quando inocente Menos recato n‟elas inculcavas. que desde a infância Te lançaram na mente inculta e frouxa. Destruam tua crédula imperícia. que tem Dragões e Larvas. que eles trovejam!. infames prejuízos. Para os gostos da vida atassalhar-te. Abafando ilusões. vã teologia Crimes fingir. . Eu própria generosa abro primeiro: Primeiro eu quero tímidos receios Calcar aos olhos teus. Da opressora política produtos. Tais vilipêndios valem o que eu gozo: Venha a rançosa. que te peço. Para a remorsos vis dar existência.Um termo aos males seus põe muitas vezes. Por ora segue o culto. não existe: Se existe um Deus. Vê como reina Amor dentro em minh‟alma! Como só ele faz meus gostos todos! Chamem embora apáticos estoicos Ardores sensuais os que me inflamam: Chamem-me torpe. Que infames leis. E cedendo a meus rogos falso pejo. Mas vê que o sacrifício. Pago-me d‟escutar as tuas ditas.. Quais cabeças fatais d‟hidra indomável Para o mundo assolar tem rebentado: Não há para os cristãos um Deus diferente Do que os gentios têm. A sólida moral não necessita De apoios vãos: seu trono assenta em bases Que firmam a Razão e a Natureza. da estúpida ignorância. e não mesquinho. é ofendê-lo. que te apontam As emoções da própria Natureza: Sê religiosa e firme em praticá-las. O que Razão desnega. Longe do Fanatismo a turma odiosa. não. Saiba eu teus momentos deleitosos. E nobre o meu int‟resse. Nos mais puros deleites embebida. Eu desafio o Deus. Outra vez eu farei que estes ditames Com seguros princípios sustentados. . Eu desafio os seus sequazes todos. Bem os posso arrostar. entra em mim mesma. chamem-me impudica. criar eternos fogos. a Natureza o oferece: Tudo o que é contra ela. posso aterrá-los! Não estremeças. Que Fúrias tem. A gratidão te obriga a dar-lhe a paga. Alzira foi do teu prazer motora. e os muçulmanos: Dogmas de bonzos são condignos filhos Da fraude vil. amada Olinda. o mesmo incêndio Davam a Alcino sêfregos transportes: Suas trementes mãos me despojavam Dos nupciais ornatos. sobre o leito Me foi enfim lançar. e inércia. eu nada percebia. em que enlevado. Chorando de prazer. a quem eu devo tudo. Terminado o festim. e ali mal pousa. quão perplexa Minha alma balançava entre os combates: Que a rude educação. lembra-me apenas A inquietação d‟Alcino em todo o dia. Não sei que meigos termos n‟este tempo Soltava Alcino. Pelo fogo. Aqui.. súplices votos. agitada. Tu sabes. que toda me abrasava. E a avidez de prazer. minha Olinda.O meu Alcino. já n‟alta noute Ao trono nupcial foi conduzir-me. e de meus olhos Corria em fio inespontâneo pranto. mas os fogos . e seus beijos Convulsivos esforços. Pagavam com furor. que lhe opunha. Porém vi que a meus pés. Por gosto d‟outro as máximas sem custo Dentro em meu terno peito radicaram. e em todo o corpo Espalhar-se o rubor. e temerário. Ficamos sós: eu tímida. Quando eu ardia Em chamas de pudor. É impossível A estupidez. Foi n‟este estado de incerteza.. Por hábito adotei de uns a doutrina. Que ao tiro assustador voa e revoa. que ao p‟rigo a salve) Palpitava. Ardentes expressões balbuciava: Pelo meio do corpo com seus braços Cingindo-me ansioso. o pasmo em que me via Traçar aos olhos teus. suas carícias Amiudando afouto. que gera o sangue. banhado em gosto. Do dia nupcial todo o aparato Olhava como um sonho!. que recebera. Dentro em mim mesma opunha sentimentos Cujo estranho poder toda me enleava. Em sossobro cruel (qual branda pomba. Que Alcino desposei: oculta força Me impelia a adorá-lo: não sabendo De deleites que fonte inexaurível Se ia abrir para mim entre seus braços. Eu sentia no rosto. tremia. Irosa quis mostrar-me. se levanta Sem guarida encontrar. N‟um momento desfez o que em três lustros Néscios pais procuraram sugerir-me. ... . onde engolfadas Todas as sensações lutavam juntas: Pela primeira vez dentro em mim mesma Senti gerar-se súbita mudança.. que encantos!. Que graças aparecem espalhadas! Que tesouros de amor sobre estas bases!. e mais se arrijaram. Com que de envolta mil deleites vinham.. os seus beiços. Que divinais formas!. de maneira Que os lábios não podiam comprimi-los.. longe arroja... e meu seio Beijava Alcino: Eu lânguida fitando N‟ele amorosas vistas. eu toda estava Coberta de sinais de ardentes beijos. que ainda conservava. Menos tímido.” Eram brasas. que estorvavam Seus inflamados beiços de tocarem Ocultos atrativos. e seus gestos... eu vejo em ti uma deidade! Deixa imprimir meus ósculos aonde Entre fios sutis se esconde o nácar!... reclinei-me Sem resistir-Ihe mais.. Os leves trajos. porém mais doce.. Então aos olhos seus (tu bem o sabes. “Que lindos membros!.. Comunicou-me sua raiva Alcino.. (De quando em quando extático dizia) “Ah! que mimosos pés!. sobre o seu colo: Importunos vestidos. Oh céu!. Ah! deixa-me expirar aqui de gosto!... Alzira. Em vão eu quis suster: rápido impulso Guiava Alcino: d‟Hércules as forças Ali vencera. A maiores arrojos o excitaram. Oh que prazer! que vistas deleitosas!. Abriu rápida entrada. sua língua! Sim. sua língua.. Meus braços nus. cuja alvura terminavam Preciosos rubis. Não mais rubor. então tomando Mais ativo calor. Ao voluptuoso tato palpitante Mais.Qne o pejo tinha aceso. Minhas repulsas. que as carnes me queimavam. de ternura cheias.. feliz tempo!) Meus peitos. Meus olhos. As minhas que fariam ? Co‟as forças o pudor desfalecido Deixei fartar seus olhos. meu colo. patentes foram.. quanto eu mais irada.. Seus dedos. minhas faces.. Quando outr‟ora passávamos unidas Em inocentes brincos... não mais pejo!.... bem como um corisco. Deixa esgotar a fonte das delícias!. Alzira. Em vão. Tal int‟resse me fez tomar. Como se agudo ferro me cravassem. de chofre...E na lasciva ação. Mimosas faces. Igual nas proporções. e a Adônis antepor-se. Alcino veio ao meu unir seu rosto. Ou antes dessem prêmio: afadigado Na maior languidez. N‟este instante. e lados com feições formosas Seu corpo era gentil: válidos membros Cobria fina pele. sem nascer do pejo. Ardente emanação de íntimos membros. que prosseguia. que me assustava. E delicado a um tempo. airoso. Inundou o instrumento das delícias. Ao medo sucedeu uma dor viva. quase em delíquio.. extasiada Cheguei ao cume do prazer celeste. rubicundos beiços. Alcino impetuoso ia rompendo A tênue fenda. E deu-me nu a ver quão bem talhado D‟ombros. Que eletrizavam fogos insofríveis. Cheio de carnes. Infundiu-lhes vigor inextinguível.. Nem tendo d‟outro a feminil brandura.. Centelhas transformou em labaredas.. Então lancei curiosa ávidas vistas Sobre ignotas feições: fiquei pasmada Ao ver do sexo as distintivas formas Dobrando a extensão: dobrou meu susto. entre meus joelhos Seus joelhos encravou. Como se ao crime seu vibrassem pena. N‟um volver d‟olhos se despiu Alcino. eu lhe pedia Que não contiauasse a atormentar-me: . A ardência dos desejos combatia Receio oculo. Entre incessantes gostos doces gotas Brotavam sobre os toques impudicos: Mas quando. ao crebo impulso. eu não sei que desejava. que eu própria A seus intentos me prestei de todo. Não tendo de um a rude valentia. Assestou o canhão. Mormente quando. desviando Alcino Meus pés unidos. era robusto. e com seus dedos Procurou dividir da estreita fenda Pequenos fechos. com mil gemidos Em pranto debulhada. Eis um mancebo Digno de a Marte. olhos rasgados. sobre as quais. sem que fosse obeso. esbelto. Medíocre estatura. Sei que o primeiro ensaio dos prazeres Em vez de sufocar ativas chamas. minhas lágrimas bebendo. Se enorme corpo diminuta porta Deve transpor. Alcino sotopõe uma almofada Para o alvo nivelar. Tardava a meus desejos ver completa D‟Alcino a empresa. Da elétrica matéria nas entranhas Caíram-me faíscas derretidas. a aflição minha. Respirando com ânsia. Ou a vitoria. Se. Podia receber patente dano. Meus gritos abafando. Na estância do prazer lançara Alcino Do Monte Gibelo as lavas. ganhar a morte. e furibundo. A um resto de temor maldisse afouta. mais ardor veemente Abrange a todos do que os outros sofrem. E o membro. Um vulcão se ateou dentro em mim toda. Com a boca colada sobre a minha. carece de abater-lhe Antes d‟entrar. enfim. Da própria sanha aos ímpetos rendido. Sucumbiu.O cruel. E comigo jurei de não dar mostras De leve dor. refeito da ufanosa esgrima O não visse ameaçar um novo assalto. e frio O cansaço d‟Alcino. com violência tanta Que lacerar-me as veias parecia. A violenta fricção traiu Alcino. eu mesma o provocara. me rasgava: Mais internos pruridos flagelavam Intatos membros. Quisera já no meio da carnagem A batalha suster. e separando . O insofrível ardor. espumando horrendamente. ao centro já chegado Por onde apenas o expugnado forte Da inimiga irrupção indefensável. bem que me espedaçasse. que eram baldados Seus esforços cruéis para romper-me: Tão árdua intromissão debalde havia A custo do meu sangue repetido. que me infundiu Líquido tiro. Tais estragos causou. e extingui-las Só torrentes mais fortes poderiam. de triunfos cheia. Improviso calor calou-me o peito: Quisera eu já expôr-me aos vivos golpes. que tentava traspassar-me. Já dor não conhecia: chamejava Meu próprio sangue. que mais valera A entrada franquear ao sitiante. umbrais a que se encosta. Inculcavam assaz. Copioso suor ardente. acerba dor sucumbe ao gozo Da ventura sem par.Vitais alentos. Enlacei-o com os pés entre as espaldas. Sete vezes Amor bradou “Vitória!” Da indefensa coragem conduzido Morfeu veio c‟roar nossas proezas. Libamos juntos quanto prazer podem Os mesmos homens figurar deidades. É preciso morrer entre deleites. chamando a vida. Foi tal a força Da agonia cruel. que n‟um momento Inefáveis delícias destilando Alcino em mim. que esmorecendo Semiviva fiquei: enquanto Alcino Dobrando.. e recebendo Com frenético ardor. E fora melhor não tornar à vida.. afetando D‟uma virtude vã mímicas formas. cujos eflúvios Um bálsamo espargiram deleitável. Tanto enfim apressei dos hirtos membros Forçosa agitação. e os meus gemidos.. Chamando-lhe meu bem. Gozo celestial. e redobrando acerbos golpes. que instantes! . Elevaram-me a um céu d‟imensas glórias: Encadeei Alcino com meus braços. Sete vezes Amor chamando às armas Seus súditos fieis. Amarga. Letárgicos alentos me abismaram D‟um pélago de gostos indizíveis. Saborear não podem tantos gostos.Quanto mais pôde nítidas colunas. Ao forte insano impulso eu respondendo. .... Não cessam d‟embair-nos. tanto.. (Ah! que o valor cedeu no transe aflito!) O muro se escalou!. Outra vez atingiu supremo gozo. Vozes. Minha Olinda. O edifício tentou pôr em ruína. com ânsia intensa.. Eis de que modo a tua Alzira soube D‟Amor com as lições sublime voo Erguer afouta sobre o néscio vulgo! Este odeia o prazer por vã modéstia. Do reduto de amor o íntimo acesso Penetra entre meus ais.. Eu não posso Traçar-te a confusão de emoções novas Que no êxtase final me transportaram!. E as pudicas vestais. escravas do erro. travou peleja. e eu n‟ele ao mesmo tempo. minha alma e vida. suspiros confundindo.. Qne sossegou a dor. Férvidos beijos dando.... “Que conservá-la sem morrer mil vezes.. . Curvo depõe ficções. ver quão distante Pulverulenta jaz infame turba: Cabe ostentar o garbo. Forçam em vão. cheio de gozo. onde perdidas Palpamos trevas. que a Natureza brada. Cabe. Como crime será narrar seus gozos?. Ou do mal-feito um sentimento interno. Olhar d‟em torno a si. impondo-lhe o respeito De que a nobre altivez se faz condigna. nos gostos de amor sempre há mudança. Eu mostrei-te o modelo. só quadra ao vício Acoberta-se com mendaces roupas. A modéstia o pudor gera a ignorância. Ás piedosas leis da Natureza: Retrocede. antes de o provar. toma o que te cumpre. vencendo Da impostura as traições. Que só n‟uma alma vil pode arraigar-se. Tirando abrolhos. ah! não vaciles!. Dócil será também de mais bom grado. da inextricável Sinuosa vereda.. Sincera Olinda. E d‟est‟arte falar. que da vida lança Na aprazível estrada impostor bando. a voz não peca. Amor sempre varia os seus deleites. Toma das minhas mãos amada Olinda. ingênua abriste.. que do erro heroes alcançam. Se é inocente a ação. Nem eu coro também de confessá-lo: Instintos naturais se não são crimes. tu já começas Triunfos a ganhar cheios de glória: Dócil tua alma a ímprobos ditames. Proveitosa lição.Que o que se anela mais a encobrir forçam. Desaprende a fingir. como eu. que decora Vitórias. um ar mais puro. que se exp‟rimenta. ignávia rude. e a louçania Que espanta o vulgo. da insânia filhas. Assim ornei a fronte radiosa De vicejante rama. Deixa-lhe os modos. tua amiga imita Eu não coro de dar-me toda a Alcino. minha Olinda. tateando abismos. Não te escuse o pensar que igual pintura Objeto igual exige. queira ou não queira o mundo. a quem soube respirar. Qual. Não. em mim o encontras: Usa da singeleza que te é própria E abre o teu coração. O mais é cobardia. Se expor da sorte infensa a crueldade Dá lenitivo ao mal. E ao grito seu. .. D‟est‟arte saboreia o que estudaste. e é vil o gozo Que uma Teresa. Como é vil a expressão. De impudicícia inumeráveis gestos. N‟eles de amor os gostos enxovalha Misterioso véu. Dá-me tédio a lição de escritos torpes. Que pura locução. Fagueiros. Alzira. sôfregos de gostos. sentimentos doces. sem arte e sem melindre. usar do império Que a um fraco sexo deleitosos modos. querida! anui aos meus desejos. Para do amante meu obter a custo De obscenas produções o sacrifício. que me dá o meu Belino! N‟eles descubro o sensual estilo Que a modéstia revolta. e d‟onde o deus oculto. Mostrei-lhe que o prazer esmorecia . e que não quadra As puras sensações. Que o coração corrompem. Rouba um instante a amor. Morre a chama. lassos os membros. lassos os sentidos. Eia. nem eu dizer-t‟o. Com que alegria as cobiçadas letras Da tua Olinda foram recebidas! Não podes saber. Manda aos mortais um cento de venturas. Frase brutal. Sob mil formas em vão se perpetua Lassos membros. EPÍSTOLA VII OLINDA A ALZIRA Tu não podes saber. e por castigo Leva após si deleites. que outras tais francesas Em impuros bordéis gabar-se ufanam! Foi-me preciso. Quando de o confiar redunda interesse. que arrancar ousam Com mão profana d‟ante o santuário Que amor encerra. Qual despejada plebe usar costuma. Onde o prazer fugaz. que amor mútuo não sopra. de mil prazeres Priápeo tropel impios incensam. emprestar costumam. querida Alzira. que não provam: Em vez de graças mil. e devassam Puros desejos. Debalde esgotam. D‟eles o nume foge.Sobreleva o prazer à extrema dita. ternos. dá-o à amizade. que Amor ensina! Quão dif‟rente línguagem da que falam Os livros. que Amor excita. e d‟outro regulando as forças. Ame o lascivo o mau. eu n‟ele o guio: Assim. Alzira Que a rude Olinda como tu descreva A emanação dos gostos. perdera o brilho. e agora Grato me diz . dar-te digna oferta? Basta. tu mandas. Cujo infesto vapor todo o corria De lançar-lhe no túmulo o esqueleto. Eu em tuas expressões aprendo. Que.De amável ilusão sem os prelúdios. Das rugas e das cãs não teme o estrago. Escravo do prazer na sua amante Não fartaria hidrópicos desejos: Ardentes Messalinas buscaria. que os alenta. que Amor esparge aos seus validos. que saciar-se. vou obedecer-te. de que usava Antes de me ilustrar de Amor o facho? Ousas mesmo increpar-me de artifício. qual me envias. Se os sentidos assaz lisonjeava. o torpe o obsceno.que se ele da ventura O caminho me abriu. Mil emoções gostosas embotando. E que. Impelido a gozar continuamente. Porque eu não soube delicada teia Urdir aos olhos teus. sem o engaste que tocar-lhe veda Perdera a polidez. Mas que exiges de mim ? Pensas. Entre os braços das quais mais fácil era À vida termo pôr. D‟outra arte aquele. E. porque eu não soube As efusões de amor envolver n‟ela. Cedeu às minhas súplicas. Assim de gostos perenais correntes Franqueia amor a quem o não profana: De Amor os gozos são como o diamante. Que nos últimos anos pode ainda Em seu transporte Amor beijar na face. Maná do coração inexaurível Prolífica virtude. Tenho ante os olhos instruções sobejas Para pintar o quadro dos deleites . De amorosos troféus requinta a glória. Alzira. Como a ternura impera nos sentidos: E d‟um. quando os sentidos fatigados De amor se negam esgotar delícias. que se provam Quando o primeiro amor os desenvolve Da terna virgem do inocente peito? Reclamas a candura. que libar suaviza Néctar. O sensual atola-se nos vícios. apesar dos seus vivos protestos. Vi que um amante o céu me destinava: Em breve os olhos meus lhe responderam Às mudas expressões. aflito o caminhante. Eis improvisa luz assoma ao longe. Amor velando No meu peito. que os seus diziam. que meus dias Tinha de funestar com vãos temores. E dos p‟rigos. Em breve as suas cartas. Qual vagueia nas trevas sem acordo Perdido o tino. quando ao sono Estava tudo entregue. Atenta o infeliz. que o cercam. e mil vezes. Não espaçou Amor ditoso prazo Para no grêmio seu a tua Olinda Benfazejo acolher. atentei n‟ele. cai. as cores. de amor cheias. D‟alta serra entre as faldas pedregosas.Que de dois entes n‟um absortos brotam. se amor acaba!.. Ou de ínvia selva na espessura vasta. Tu me dás os pincéis. Vira eu Belino Passar uma. e bate. Aqui tropeça. Fecunda o gozo meigos sentimentos. para o guiar de manso Té ao aposento meu. prezada amiga. atentando Com interesse em mim. e tenteando Um pé lhe escapa. antes que fosse Nos mistérios de amor iniciada.. D‟onde os conselhos teus. Ao dar-lhe a mão. se vê salvo: Tais tuas letras para mim brilharam Na escuridão fatal. que me envolvia. o molde. N‟uma cerrada noute. a vez primeira Nos ajuntou em fim: ele exultava De indizível prazer: eu me sentia Na agitação maior de gosto. Que só acabarão. toma-a por norte. d‟outro ao lado unido? Eu sonhava ilusões. Fizeram dar igual calor às minhas. Errava de um em outro labirinto. Acendendo os meus férvidos transportes. súbito fogo . E amor. Em seu terno olhar.. Filhos do erro vil. dando-me o fio d‟Ariadna Me fizeram sair: deixam-me forças Para abafar o monstro. ali se encontra. E no meu coração. Macera as mãos. e susto. E n‟um báratro crê despedaçar-se. Que quiméricos céus forma a impostura!. e no seu.. o rosto. amada Alzira. e meigos gestos. Aonde mores delícias se promeltem Que as de um amante. da fraude abortos. rola-se o triste. Súbito. quando ao mesmo tempo Sua potência intrínseca exalando. que um raio parecia. ou por entre eles Confundindo os alentos. Vi que seus gestos. lançar chamas Dentro em meu coração. faces. e só tornaram A ser o que eram. que cedia a embates De ignoto medo. Tocou o sítio onde os deleites moram. N‟ele impressos deixar seus próprios beiços. que acendiam E às primeiras carícias insensível. a que me havia exposto. fora de mim. Ah! que eu não pude Mais resistência opor a seus desejos! Apenas leve fisga separando Um dedo seu. que o rubor gerava! Queria eu impedir-lhe ardentes beijos. Té fixá-los nos meus. mais que suas vozes. Em mil contrárias reflexões absorta. penetrou-me toda. Lembrou-me o p‟rigo.Calou-me as veias. Lutando entre o pudor e entre o desejo. A ardente língua sua unindo à minha. do vestido Pela abertura a ocultos atrativos Indo o fogo atear. Ou. qual facho aceso. resistindo A seus esforços. Com a mão sobre os peitos inquieta. Com mão mais temerária. mais lhe franqueava Facil acesso a próximos triunfos. alvorotados uns com outros Travando estranha luta. Mas vedavam-no as chamas. até cingir-me. Sentado junto a mim. Meu silêncio e inação a empresas novas De maior valor. Só quanto então gozei... Sua ternura ousada me exprimiam. lançando um braço Em redor do meu colo. Que ao crebro palpitar os apressava. Belino excitaram: Confesso. E obrigar-me a chegar ao seu meu rosto. que deveras quis opor-me A seus intentos no primeiro instante. Fiquei de todo lânguida e abatida: O perverso Belino atentos olhos Nos meus então fitando. gozar podia. quase sem vida. já fechados um com outro. Mas quando. Porém pouco tardou que abraseada Em chamas voluptuosas. Dos membros todos foram engolfar-se As sensações ali. Tarda lembrança. me levaram Onde. E os lábios discorrendo os olhos. quis ler n‟eles . sobre o seio meu calando a boca. Nem podia o meu pranto apiedá-lo. Entre os seus braços mais e mais me aperta. Que o maligno. De confusa me ver folga e se ufana. que tocava O mesmo sítio. Seus dedos sanguinários finalmente D‟uma e outra parte com vigor sustendo . Com ímpeto tamanho. sobre os joelhos Sentindo os de Belino desprendidos. pegando-me do rosto Com ambas suas mãos. Meus pendentes pés trava. que de improviso Minhas faces tingiu: lancei-lhe os braços. A minha terna ação atraiçoou-me. Com beijos mil parece devorar-me. tomando entre eles Vantajosa atitude a seus projetos. Por não poder suster-lhe as doces vistas. Alargando-me os pés. Minha cabeça no sofá encosta. em cruel luta. mais me encarava. Os meus secretos votos preenchia. Irada. C‟o forte impulso as movediças carnes Levava-me às entranhas. que invadira o dedo: Forcejou para ferir-me com seus golpes. de todo Senti do corpo seu o peso grato: Meu leito era defronte: mas Belino No largo canapé circ‟lo bastante Hábil atleta achou para o combate. Meus sentimentos todos labutavam: Um tímido pudor ativos fogos Contrariava em vão. da ferida Corria o sangue. em que prolixas noutes Pensando o que seria. com tal raiva Que nem dos gritos meus se comovia. em vão retinha. Foi extremo o rubor. mas sem que pudesse Ao ferro assolador achar bainha. ou força. Em torno da cintura levantados Meus trajos inferiores. Franqueando co‟a mão fácil entrada A chamejante lança. Enquanto d‟esta sorte embelezado Me tinham tais ideias. enternecida. já Belino No frenesi maior de grau. desprendera. E pouco a pouco sobre mim se inclina. sôfregos desejos: Suspensa e curiosa eu esperava Gostosa cena. e os submete Entre os seus mesmos té que.De que ficções minha alma se ocupava. enfim. Escondendo meu rosto no seu peito. Perplexa em mil afetos engolfada. Ignotos medos. A agitações de gosto a dor cedendo. a púrpura do colo. Meu colo. da peleja lasso. Da máquina. Caí prostrada. Quando submisso. Sem sentidos fiquei. transportada De muito mais prazer que a dor fora. Pasmando dos estragos que fizera. De gosto inexaurível. O vi depois sem o estendido conto. emquanto o amante Os trofeus da vitória recolhia. N‟este instante convulsa e delirante. e pés. Com furor ao combate se aprestava. quando ao meu sangue Suave irrigação veio mesclar-se. Dei tão alto grito Que Belino depois disse o assustara. os meus alentos Senti reconcentrar-se n‟um só ponto. que a praça expugnou firme. N „ativa sensação toquei com ele A meta das delícias.. Belino minhas vistas compreendendo. que provara. eu toda fatigada Do veemente tremor. Quando a meus olhos (que caligens densas Tinham coberto) a luz tornou de novo. a cruel lança Rompeu cruento ingresso. E como se um espasmo suportasse. afrontando. inda eu gozava (Comprimindo-o comigo) altas venturas.Flexíveis membros. Reverberou seu fogo em minhas faces. em que lidara.. A estrutura e altivez eu divisando. que disparava. Que dor. Brancas roupas trajava. Alzira!. Forma e calor de obuz. De que sedenta então não poderia Fartar-me assaz: meus braços exauridos. Que no exame gastou do entrado forte. arremessando Monarca ufano. Marmórea rigidez. mais humilde: Mas agora. de tal sorte Que ao vê-lo já suplice o instigava: Não ficava ocioso n‟este tempo. redobrando as forças De valente impulsão. Custava-me a atinar como pudera Plantar-se o obelisco no reduto estreito. Volvi-os sobre o amante. forçando-me a tocá-lo.. quase semimorta. traspassou-me. N‟um momento apertada com Belino. Inteiriçada toda. E dos despojos que lucrava alegre. . Findava o meu amante.. E só tornei a mim. cor escarlate. Fez-me sentir. Bem que fosse de meus pais distante o quarto. sem ajustar-nos. A introducão tão forte pouco afeitos Meus delicados membros se avexaram: Mas curvando-me um pouco. Sobre mim o arrastei junto do leito. que ambos incendia. Nadar em mil deleites engolfada: Aqui. abandonada De amor à raiva. aos seus meus lábios. De seus grilhões liberta. De modo que sem mais fadiga eu pude. possuída De um vênero furor. Nas mãos. Na grata posição Belino imóvel. té que a meio conto N‟ele embebida. amada Alzira. e franco acesso Da lança abrindo à ponta. De sofrer-lhe a rijeza diamantina. Da lascívia ao pudor jungindo o peso. Bastava a provocar gosto indizível. foi-me odiosa. e com justeza.E a veia e veia d‟elas espalhado De todo o corpo me filtrou os membros. Sentindo o instante em que violento impulso De celeste efusão marcava o termo. Achei convir ao estojo o instrumento. Em tal agitação. entrou de modo Que fiquei té às vísceras varada. Cuja palpitação. Em cadência recíproca aliada. Sobre eles me sentou. Do corpo os membros todos enlaçados Misturando nos ósculos o alento. E de arrostar-lhe os golpes incessantes. que aos céus alçar-me. Atingir o prazer mais saboroso. Arranquei-me da lúbrica atitude. Fez-me Belino levantar e tendo Ele sentado unidos os joelhos. E dentro das entranhas abrasadas . Sobre ele me arrojei. sobre si de todo Levando o peso meu. Ávida de absorver a grossa lança. Tanto me impertiguei. E abater-me aos abismos parecia. e nos pés sós firmando o corpo. a foi de manso No riste pondo. enquanto Aos finais paroxismos sucumbindo Ao meu uniu seu último gemido. suspenso. impaciente De comprimir a mim o caro amante. toda ansiosa De me identificar c‟o meu Belino: Estreitada com ele. Nos ósculos libando doce néctar. Onde ao meu peito o seu. essa virtude Que apelidam pudor. que o meu amante Sustive sobre mim. Envenena-se o germe da natura. Infecção purulenta as vai minando. Abate o esp‟rito corruído o alento. em que almo viçoso Como nas plantas. Ameaças cruéis. Qual sequioso cervo. Inovamos a ação. que afugentava De mim com o amor perenes delícias. que entre tanto gosto Na assídua compressão me não doíam As maceradas melindrosas carnes ? Ah! que esta dor pelo prazer vencida Irritava emoções deliciosas. e quanto é mais sofrida Ardente sede. Foi-me odiosa a luz. Eu tive em pouco ríspidos preceitos. Que seus dias termina. Balsâmica emoção consoladora Com avidez secavam insofridos: A aluvião prolífica eu sentia. Aponta a idade. ou os condena A lânguida existência: abate o corpo. De ver tanta beleza definhada Da hipocrisia vítimas infaustas. que imolava ao culto. tanto mais ensopa Uma e outra vez insaciáveis fauces: Não d‟outra sorte flagelados membros Da dor pungidos de cruéis combates. Nova moral raiou de Olinda aos olhos. repassado Da calmosa avidez. sem perder coragem. Nenhum de nós cedeu. Uma e outra vez Amor tem facultado . N‟este instante expirou dentro em minh‟alma Temor nefando. De iguais em forças. Submersa me deixou n‟um mar de gozos.Lançando-me torrentes d‟almo influxo. em que é d‟amor forçoso As delícias gozar. Com róseos dedos a invejosa Aurora Cruel abrindo. n‟elas assinalam: Grata reprodução consigo abafam. Sobrelevada às sensações mais gratas. Alzira. eu e Belino. Julgas. perenais gozos Bastante tempo após gozava ainda. que em torno tinha. Pruridos divinais e estremecendo A melíflua impressão. fez dentro em meu peito A escuridão entrar. Doeu-me. suaves gotas Rábido anela. com que ralavam Meus anos infantis. bem que durasse Algumas horas o combate aceso: Mas da noute feliz o longo manto Que os mistérios de amor comete às trevas. Alzira. tu. que a ferro e fogo Estranhos povos a adorar constrangem. Se o mundo. viver só n‟ela Cumpre as gratas promessas. que consigo arrasta. que a amor meu peito abriste. Não há para os cristãos um Deus diferente Do que os gentios têm. que me apontam As impressões da própria Natureza? Tenho uma religião em praticá-las? Que o mundo é este pois. levantar-lhe templos. Traçar-lhe cultos. Atribuir-lhe leis. Já Himeneu houvera de enlaçar-nos.Ao constante Belino. o mundo. Figura-lhe de um século a distância. que foi comigo larga. De longo tempo não tivesse urdido Iníquas tramas. é meu: os homens que se ralem. é ofendê-lo. não existe: Se existe um Deus. inacessíveis: O ditoso himeneu não me é preciso. hórridas ciladas. O himeneu. Retrocede o infeliz d‟um a outro lado. Alzira. que me fazes. Deva a ti só a tua Olinda tudo. Para entre os braços seus tecer afouta Indissolúveis nós c‟o meu Belino: Sou d‟ele. Negras voragens ante os seus passos Tropel de Fúrias. como estes. Tudo o que é contra ela. Ele não conta nobres ascendentes. entre ele e mim. Filhas do Erro. Negou seus dons a meu querido amante. Que ao homem (digno prêmio de sua obra) Barreiras põe na estrada da ventura. aparato de teus votos. De quem meus pais se dizem oriundos: É quanto basta para erguer muralhas De alcance. a Natureza o of‟rece. Só n‟ela eu quero divinais verdades Solícita explorar. A Fortuna. prezada Alzira? Têm os homens levado o seu arrojo Té forjarem um Deus na ousada mente. à terna Olinda Outros. que animou insano. prósperos momentos: São de tormento para mim os dias Que tê-lo junto a mim debalde busco: Para ele o tempo que sem ver-me gasta. que não cuida Senão em maquinar sua ruína. Devo eu seguir o culto. e os muçulmanos? O que a razão desnega. Abre meus olhos à Natura inteira: Eu quero n‟ela ver os meus destinos. Imolando milhões à glória sua? . Alzira. bagatelas. ou conde. gente de malta. a raiva: os monstros São maus por condição. que faz nojo! O rápido francês vai-lhe às canelas. Novo Aníbal. Dá. mata. que esfalfa a voz da Fama. Algum duque. Santos surdos varões por sacra lista: D‟eles em vão rogando um pio arrojo. . papal sacrista): “O progresso estorvai da atroz conquista “Que da filosofia o mal derrama!. Convulso o corpo. Alzira. as faces amarelas.. eu não posso. “Oh capados heróis! (aos seus exclama Purpúreo fanfarrão. que não fazem falta. Verbi-gratia . Que engrole sub-venites em voz alta. Cede triste vitória.” Disse. merdas. e em férvido tom saúda. o peralta. Acaba de fazer-me de ti digna. SONETOS I Tendo o terrível Bonaparte à vista. II Lá quando em mim perder a humanidade Mais um d‟aqueles. e chama. ou marquês. No coração o fel. e probidade.o teólogo. ficam-lhe em despojo Relíquias. ou maus por erro? Não. Pingados gatarrões. D‟amizade o esplendor dá-te a mim toda. d‟este enigma Romper o denso véu: minhas ideias Jazem n‟um caos de hórrida incerteza: Hesitar-me não deixes por mais tempo: Minha instrução confio aos teus cuidados. ou frade: Não quero funeral comunidade.Nos lábios têm doçura.. bulas. fere. que de amor fervia: Entre o susto. sórdidos cações: De Vênus não desfrutas o prazer: Que esse monstro. bebeu. e milagrosa. Ah! que vergonha! “Que tens? . não de foder. o putanheiro: Passou vida folgada. Na linda mão lhe fui (oh céus!) metendo O meu caralho.. Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage. Que tinha perto a mãe o chá fazendo.lhe diz a mãe sobressalada: Não pode ela encobrir na mão langonha: . E eu solapado os beiços remordendo. E assombrado d‟espanto e de terror Dar mais de cinco passos para trás: A espada de membrudo Ferrabrás De certo não metia mais horror: Esse membro é capaz até de pôr A amotinada Europa toda em paz: Creio que nas fodais recreações Não te hão de a rija máquina sofrer Os mais corridos. que alojas nos calções.” III Esse disforme e rígido porraz Do semblante me faz perder a cor.. entre o pejo a moça ardia. ao pé de Armia. É porra de mostrar. Pela fisga da saia a mão crescendo A chamada sacana lhe fazia: Entra a vir-se a menina. IV N‟um capote embrulhado.Eu também vos dispenso a caridade: Mas quando ferrugenta enxada idosa Sepulcro me cavar em ermo outeiro. Comeu. fodeu sem ter dinheiro. com toda a tua proa. VI Não lamentes. Ao som de uma rebeca desgrudada. Brandia sobre a roxa fronte alçada Do assanhado porraz. Puta tem sido muita gente boa. Putíssimas fidalgas tem Lisboa. Tu. Bocage. a mãe corada: Finda a partida. a porra arrebitada. Olhos em alvo. Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta) Entre mil porras expirou vaidosa: Todas no mundo dão a sua greta: Não fiques pois. que quer lembrança: Veterana se faz a mão bisonha. o teu estado. duvidosa Que isto de virgo e honra é tudo peta. rostia o França: Este.Sufocada ficou. O teu cono não passa por honrado: Essa da Rússia imperatriz famosa. e mais do que medonha A noute começou da botetada. e puta d‟um soldado: Cleópatra por puta alcança a c‟roa. oh Nise. . V No canto de um venal salão de dança. oh Nise. Mas em vez de acudir-lhe alva langonha Rebenta-lhe do cu merdoso esguicho. Lucrécia. e sua o bicho. Que em Bocage o tesão vence a vergonha: Quis vir-se por luxúria. Tanto a tempo meneia. o folgazão. Com a mão pelos evos encrespada. ou por capricho. com mogigangas de criança. Milhões de vezes putas têm reinado: Dido fui puta. Escândalo do sexo masculino. e todo o mundo Que és vil por gênio. Diz ao outro: “Oh amigo. E com as longas calças na mão já Pede ao cafre canudo e tambió: Destapa o banco. e farto já de gu. atira o seu fuscó. Que por alta justiça do Destino Tens o impotente membro decepado: Tu. Sobre as roliças coxas se divisa Entre sombras sutis pachocho estreito: . que és cabrão. que em torpe furor incendiado Sofres d‟impia paixão ardor maligno. Depois que ao liso cu assento dá. e lava o cu. oh demente velho descarado. que tendo bebido o mênstruo imundo. Esse amor indiscreto te não gasta D‟impia mulher o orgulho furibundo: Em castigo do vício. Convida a algum. IX Arreitada donzela em fofo leito Deixando erguer a virginal camisa. O branco e respeitável canarim Deita fora o cachimbo. E a consorte gentil. Que desde o outro dia inda a não vi ?” Assim prossegue.VII Tu. Entregas a infrutífero castrado: Tu. de que és indigno. que te arrasta. e basta! VIII Vai cagar o mestiço e não vai só. como está A Rita? O que é feito da Nhonhó ? “Vieste do Palmar? Foste a Pangin? Não me darás notícias da Russu. que esteja no Gará. Saiba a ínclita Lísia. nacarada e lisa. Pretendia o cabrão ferrar-Ihe o pano. Que os homens é que vêm a ser fodidos. Em pingos verte alvo licor desfeito: A voraz porra as guelras encrespando Arruma a focinheira. um Frei Tutano O espetáculo vê. Mas vós enchei-vos de íntimo alvoroço.De louro pelo um círculo imperfeito Os papudos beicinhos lhe matiza. parte à carreira. Povos. que do burel sofreis a guerra: Que dos bonzos de barro o vil destroço É presságio talvez de irem por terra Membrudos fradalhões de carne e osso! XI N‟esta. Os sagrados bonecos escaqueira. os olhos requebrando: Como é inda boçal perde os sentidos: Porém vai com tal ânsia trabalhando. Eis que divisa ao longe em couva ceira Seus bons irmãos seráficos de barro: O bruto. Jazia co‟uma freira um franciscano. cuja memória esquece à Fama. Eis que um negro barrasco. Feira. de barro a cama: Co‟a mão. E a branca crica. que os rins lhe inflama: “Irra! Vens-me atiçar. Eram de barro os dois. que à virgindade injúrias trama. e entre gemidos A moça treme. brutal masmorro Girava em Santarém na pobre feira. E arranca de ufania um longo escarro: N‟alma o santo furor lhe arqueja e berra. gente danada! . X Esquentado frisão. que de Santarém vem de ano em ano. que arremeda um boi de carro Na carranca feroz. Entrar pé ante pé. lindos olhos. e rei dos paus. XII Amar dentro do peito uma donzela. que murmura.. Depois da meia noute na janela: Fazê-la vir abaixo. e ao ríspido som de atroz patada O escandaloso par converte em cacos. Adivinhem agora que pau seja. Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura. Falar-lhe. e não quebra. com prazer o mais jucundo. Ditoso levantar-lhe os brancos folhos. É este o maior gosto que há no mundo. E quem adivinhar meta-o no cu. Bem que duas gamboas lhe lombrigo.Não basta a felpa dos buréis opacos. Dá leite. Nem cedro.” Disse. e com ternura Apertá-la nos braços casta e bela: Beijar-lhe os vergonhosos. qual vime. Oco. E a boca.. XIII É pau. sem ser sobreiro: Verga. vis tentações. nem pau-santo mais negreja! Para carvalho ser falta-lhe um u. Outras vezes mais rijo que um pinheiro: À roda da raiz produz carqueja: Todo o resto do tronco é calvo e nu. fora velhacos!. não marmeleiro. e com cautela Sentir abrir a porta. está consigo. Com que a carne rebelde anda ralada? “Fora. Apalpar-lhe de neve os dois pimpolhos: Vê-la rendida enfim a Amor fecundo. . sem ser árvore de figo. qual sabugueiro tem o umbigo: Brando às vezes. Da glande o fruto tem. conseguindo alta ventura. como o zambujeiro. que uma cadeira Susténs na ponta do caralho teso. Quatro putas mofavam de seus brados. que no peito assenta: No púlpito um domingo se apresenta. Com barba hirsuta.XIV Bojudo fradalhão de larga venta. pois anda opado! Mas d‟esta errada opinião me desço: Pois que traz a criança no costado. Eu também pronto estou. Venha. Não querendo que gritasse contra as modas Um pecador dos mais desaforados: “Não (diz uma) tu. Abismo imundo de tabaco esturro. antes que algum taful o bife: Parece hermafrodita o corcovado. se d‟isso gostas. padre. XVI Porri-potente herói. Deve ter emprenhado pelo sesso. Prega nas grades espantoso murro. Pondo-lhe em riba mais por contrapeso A capa de baitão da alcoviteira: . E acalmado do povo o grão sussurro O dique das asneiras arrebenta. Doutor na asneira. não me engodas: Sempre me há de lembrar por meus pecados A noute. Apostara contigo que nas costas O grande Pico tem de Tenerife: Celebre traste! É justo que se rife. em que me deste nove fodas!” XV Aquele semiclérigo patife. Se eu no mundo fizera ainda apostas. Pela rachada parte (que apeteço) Parece que emprenhou. nem respostas. na ciência burro. Não haja mais perguntas. d‟este mal profundo. quando tem mais peso: Se o não conservas açaimado e preso. Para que nos deu Deus porras leiteiras. Deixai essas lições. E seja isto já. Tens lido o mestre Inácio. coma-se a punheta: Este o prazer da vida mais jocundo. Ou que tens um guindaste em vez de porra? XVII Dizem que o rei cruel do Averno imundo Tem entre as pernas caralhaz lanceta. Sabujo ladrador. De ocas ideias tens o casco rico. burlesco Teodorico. Senão para foder com liberdade? Fodam-se. Se pois guardar devemos castidade.Teu casso é como o ramo da palmeira. E as horas do prazer voam ligeiras. Para meter do cu na aberta greta A quem não foder bem cá n‟este mundo: Tremei. E não te acuso de poeta pinga. Que mais se eleva. Que assestando a disforme cachamorra Deixa conos e cus feitos n‟um trapo! Quem ao ver-te o tesão há não discorra Que tu não podes ser senão Priapo. Foda-se a salvo. sabida peta. XVIII Nojenta prole da rainha Ginga. humanos. Loquaz saguim. . Mas teus versos tresandam a catinga: Se a tua musa nos outeiros campa. pois. casadas e solteiras. que é curta a idade. Osga torrada. É capaz de foder Lisboa inteira! Que forças tens no hórrido marsapo. e o bom Supico. estúpido rezinga. cara de nico. ou Baco. que tem Deus ou Momo. Corja. e não pequeno: Incapaz de assistir n‟um só terreno. bambu nos elefantes. em quem luz algum talento: Sairam d‟ele mesmo estas verdades N‟um dia. que ao mundo estólido se encampa: É porque sendo. e graus flamantes: Ora mijei na súcia. . Com torpe astúcia de maligno zorra Usurpa nome excelso.Se ao Miranda fizeste ode demente. Textos gagueja em vão Doutor macaco Por ouro. inda que eu morra Corno. multidão canina. um néscio. o mesmo de figura. carão moreno. tão somente Um cafre. Mais propenso ao furor do que à ternura. com que encha o saco. em que se achou cagando ao vento. Reina. d‟ali rapina: Colhe de alto sistema e lei divina Imaginário jus. um gozo. XIX Turba esfaimada. Bebendo em níveas mãos por taça escura De zelos infernais letal veneno: Devoto incensador de mil deidades. oh Caldas. Triste de facha. Queres meter nariz em cu de gente. que promete alma sovina: Círculo umbroso de venais pedantes. e decreta nos covis de Caco Ignorância d‟aqui. arrocho. meão na altura. um trampa. Bem servido de pés. a tromba é porra! XX Magro. Nariz alto no meio. de olhos azuis. (Digo de moças mil) n‟um só momento Inimigo de hipócritas e frades: Eis Bocage. um parvo. Cujo vulto é de anões. E o mais. XXII Não tendo que fazer Apolo um dia Àss Musas disse: “Irmãs. e cague n‟elas. E Belmiro. e puta a dama. Tragédia mais igual. por ter habilidade. (Uns afirmam que fede.” XXIII Rapada. Qual Muratão nos areais do Nilo! Elmiro na tarefa continua. Corno o protagonista. e a mula é Rosa: Espicha o rabo (eu tremo ao proferi-lo!) Espicha o rabo ali o herói na rua.XXI Na cena em quadra trágico-invernosa Zaida se impingiu (fradesco drama!) Apareceu depois. demos ofício Aos sócios vãos da magra Academia: “O Caldas satisfaça à padaria. Como d‟antes trabalhe em bagatelas. Boca. é benefício Vadios empregar. O macho é Simeão. Em se juntando alguma sociedade: Bernardo nênias faça. mais lastimosa: O autor pranteia em frase aparatosa Esfaqueado arrais. E o autor do entremez do Rei Egípcio O Pégaso veloz conduza à pia: “Vá na Ulisseia tasquinhar o ex-frade: Da sala o Quintanilha acenda as velas. que o chá e o doce engoda. O França d‟enjoar tenha exercício. Vesgos olhos. que à parte esquerda se acomoda. outros que cheira:) . amarelenta cabeleira. com sede à fama. Já todos pela escolha e pelo estilo Rosnam que a nova peça é obra sua. pimpão d‟Alfama. Este peito. que a barriga lhe tem forra Do jugo da vital necessidade. à guerra me convida.. XXIV Pilha aqui. É um tal bacharel Leitão de borra.” . Vindo a encontrar-se c‟o esburgado artelho: Jarra. meu Conde. Meia e sapato. que esporra no joelho. o doutor França. Só rende culto a Vênus. XXV Não chores. fora indigno. Lascivo como um burro. que vês. cara esposa. Mirabeau.Ah! Não temas. que já foi moda No tempo em que Albuquerque fez a poda Ao soberbo Hidalcão com mão guerreira: Ruço calção. E se assim não fizera. “Eu te acho. Voltaire. Ferrujento faim. com apetites de criança. tão menino “Que receio. “Como é crível que sejas tão valente?.. e aos Amores: A mulher. vozeia autores.Japona. Cara com semelhança de besbelho. A francesa nação será batida.. e vários. Eis o bedel do Pindo. A honra prezo mais que a própria vida. que da ladra andou na feira. Deixa em casa gemer como em masmorra: Este biltre labéu da humanidade. E usurpa o tom d‟enfáticos doutores: Ciência de livreiros e impressores Tem da vasta memória nos armários. que o Destino Manda que parta. querida. é diamantino. Propõe sistemas.” . pilha ali. Montesquieu. ou como um frade. com que ao lodo avança.. tira corolários. não. E tratando os cristãos de visionários. e nos Bentos Outros tantos.. Do Centímano aspérrima semente: Existam estes lobos carniceiros. bom Monarca. que queres mais? XXVI Se quereis. cações e alcoviteiros. . e asselvajados Achareis mil guerreiros corpulentos. “Porém se as forças forem desiguais?. Para não arruinar inteiramente Putas. E já bazofiando com desdouro Tratava a nação lusa d‟impotente: Entra o frade. pívias. Condessa! És muito impertinente! Tornarei a fugir. ter soldados Para compor lustrosos regimentos. nos Néris. Mandai desentulhar esses conventos Em favor da preguiça edificados: Nos Bernardos lambões.. Que essa virtude tem a ilustre gente. não houve moça boa Que não provasse o casso adamantino: Passou a um seminário feminino. e ao ouvi-lo. Onde a um frade bem fornida iíhoa Dava d‟esmola cada dia um pino: Tinha o mouro fodido largamente. E o triunfo acabou no cu do mouro. Dos que mais bem providos se apregoa. XXVII Veio Muley-Achmet marroquino Com duros trigos entulhar Lisboa.Eu herdei o valor de avós e pais. Loios e Torneiros. como um touro Passou tudo a caralho novamente.” Irra. Pagava bem. senhor: fiquem somente Os Franciscanos. não menos esforçados: Tudo extingui. Nos Vicentes. XXVIII Uma noute o Scopezzi mui contente (Depois de borrifar o sacra espada Que traz de rubra fita pendurada Com cuspo e vinho. Enquanto moça for. nunca o dinheiro Faltará n‟esta casa em quantidade. corações incita: Para o ir ver servir de reposteiro À porta. contudo a formosura Mete nojo à vontade mais gulosa! Ela a massa expulsou fedentinosa Com algum custo. onde o fedor e a trampa habita. Mas ver cagar. E nunca se viu cu de tanta alvura. “Mas tu sempre és o tafulão primeiro: Pois tendo cabrão sido n‟outra idade. porque estava dura: Uma carta d‟amores de alimpadura Serviu àquela parte mal cheirosa: Ora mandem à moça mais bonita Um escripto d‟amor que lisonjeiro Afetos move. És agora o maior alcoviteiro!” XXIX Cagando estava a dama mais formosa. que vomita quente:) Conversava co‟a esposa em voz tremente Sobre a grande ventura inesperada De ser a sua Plácida adorada Por um Marquês tão rico. Levou três dias a passar caralho Do medonho Caronte a negra barca: . e tão potente: A velha lhe replica: Isso é verdade. Do sombrio palácio do alcatreiro! XXX Quando do grão Martinho a fatal Parca O termo fez soar no seu chocalho. Que essas. Pelo nariz do rosto mais formoso O monco se divisa pendurado: Pela boca do rosto mais corado Hálito sai. A impulsos da paixão fornicadora Sobe d‟alcoviteira a moça a escada: Seus desejos lhe pinta a malfadada. . que a ninguém faz agasalho. Que não sabe servir quem foi senhora. “Que as horas do prazer voam ligeiras!” XXXI Dizendo que a costura não dá nada. Branca remela o olho mais vistoso. Em punhetas e fodas se industria. por fim. Enquanto a mestra lhe não rifa a greta: Chega. menina. a ela. A mais nevada mão sempre é formoso Que de sua dona o cu tenho tocado: Ao pé d‟ele a melhor natura mora. em bela hora. Em prêmio quis só ter do seu trabalho O gáudio de ver porra de tal marca: Pegou-se ao cão trifauce a voz na goela Ao ver de membro tal as dianteiras. a ela. o fornicário dia. que aí tenho. E a tabaquenta velha sedutora Diz-lhe: “Veio. já não ganham nada. às vezes bem ascoroso. XXXII Piolhos cria o cabelo mais dourado. E Plutão a mulher pôs de cautela: Porém Dido gritando às companheiras: “Agora temos porra.” Matricula-se aqui a tal pateta.Eis no terceiro dia o padre embarca. E o velho. E em pouco a menina de muleta Passeia do hospital na enfermaria. contrita caramunha. afeto carrancudo! Zelar moças na Europa é árdua empresa. pastor sem tino. crimino o respeitável Cunha. Em ti mijo. Mil Vênus de Geórgia. A ser filósofo. Foi natural. A vã superstição não te crimino. Onde leis não conhece a porra tesa! Cioso afeto. E ao falso pastor. oh Natureza. Fétido mijo lança a qualquer hora: Caga o cu mais alvo merda pura. que parecem gente. Inda assim do ciúme a pertinácia No peito me nutrira ardor pungente: Erraste em produzir-me. XXXIV Não te crimino a ti. que rege a Trácia. plebe insensata. oh formosura! XXXIII Se o grão serralho de Sofi potente. Entre nós ser amante é ser cornudo. N‟um país onde todos fodem tudo. como supunha: Coitado! Protestou com voz sincera Fazer geral. Pois se é isto o que tanto se namora. Que tão mal das ovelhas cura e trata: Item. ou da Circássia Nuas prestasse ao meu desejo ardente: Se negros brutos. E esperta em macaquices a beata: Só crimino esse herói de bola chata. Que na escola de Marte inda é menino. Que a frias petas crédito não dera. Ministros fossem de lasciva audácia. que o frade era ladino. Porém ficou pior que d‟antes era! .Que deitando no mês podre gordura. Ou do Sultão feroz. em ti cago. enfim. Que me acenava com tesões chibantes. Os intrincados nós das línguas ternas. àquela Enseada d‟amor.XXXV Se tu visses. que na foda se exercita! Beleza mais completa haver não pode: Pois mesmo o cono seu. Josino. Nas mamas faz Lasciva o seu encosto. Pois seu nevado. rei coroado: Direi também os beijos sussurrantes. ou como um frade. rubicundo rosto Às mais formosas não inveja nada: Na sua boca Vênus faz morada: Nos olhos tem Cupido as setas posto. N‟ela. E o aturado fungar de dous amantes: Estas glórias serão na fama eternas Às minhas cinzas me farão descantes Fêmeos vindouros. quando palpita. Consumia da vida os meus instantes Fodendo como um bode. propício o vento. Cheguei. Que eu nem palavra gastarei com ela. à doce. Parece estar dizendo: “Fode. alargando as pernas. a minha amada Havias de louvar o meu bom gosto. XXXVII Fiado no fervor da mocidade. fode!” XXXVI Cante a guerra quem for arrenegado. tudo agrada: Se a Ásia visse cousa tão bonita Talvez lhe levantasse algum pagode A gente. Minha Musa será sem par canela Co‟um felpudo coninho abraseado: Aqui descreverei como arreitado N‟um mar de bimbas navegando à vela. . tudo encanta. que de gaiteiro Está sobre os colhões apatetado: Oh Nume tutelar do mijadeiro! Levar-te-ei.Quantas pediram. então. sobre estas Horas: E vamos. A anágua lhe levanto. que não se amansa: Tanto. a ser gíria. se tornar ao teso estado.” Co‟a força do jurar esfolheando O sacro livro foi. “Juro (diz ele) só foder senhoras. Nunca mais. que em baixá-lo irada cansa): Na quente luta lhe desgrenho a trança. amarrotando Saiote.. XXXVIII Eu foder putas?.. não gritava a bela . piedade Encavadas por mim balbuciantes! Fincado a gordos sessos alvejantes Que hemorroides não fiz n‟esta cidade! À força de brigar fiquei mamado: Vista ao caralho meu. que arde mais que o alho. caralho! Has de jurar-m‟o aqui. não ralho:” Batendo sobre as Horas como um malho.. herético filho miserando. e fumegando As estreitadas bimbas separando Lhe arrimo o caralhão. pela mãe chamando!” Pois grite (então lhe digo. vamos já!. Das que abrem por amor as tentadoras Pernas àquilo... Por of‟renda espetado um parrameiro. Levanta o dedo a Deus. faz-se criança? Olhe que eu grito.. e a ardente sede O fez em mar de ranho ir soluçando. Ah! que fizeste ? O céu teus passos mede! Anda. perdão lhe pede! XXXIX “Ora deixe-me.. mas em vão. Porém tu choras ? “Não senhor (me diz ele) eu não.. ... Fazendo-lhe do cu saltante pela! . Eu mais não posso.. Esta puta em foder excede à Freira. e a porra tesa.Que a cada grito se escorvava a porra..” Assim Márcia formosa me dizia. Como és bela.Não sou bárbaro (á moça eu respondia): Brandamente verás como te coço: “Ai! por Deus.... ponha o sesso à vela. XL Pela rua da Rosa eu caminhava Eram sete da noute.. mais depressa!... Co‟um lencinlio à janela me acenava: Quais conselhos? A porra fumegava. ai Jesus!. não.. menina. Eu me venho. E a bela a mole-mole o cu peneira: Ninguém me gabe o rebolar d‟Anica. “Hei de seguir a lei da natureza!” Assim dizia e efetuou-se a empresa.Há de pagar-me as mangações de borra. assim. Eis puta. não mais. Assim. que é grande e grosso!” Quem resistir ao seu falar podia! Meigamente o coninho lhe batia.. . vem-te comigo! . Que n‟ele ir quero visitar Gomorra. assombra a pica! XLI “Apre! Não metas todo. que indicava assaz pobreza. Ela diz: “Ah meu bem! meu peito é vosso!” O rebolar do cu (ah!) não te esqueça. Excede o pensamento. Prepúcio para trás a porta entrava: Sem que saúde a moça prazenteira Se arrima com furor não visto à crica.. Basta de cono.. meu bem! (então lhe digo) Ela em suspiros mil a ardência expressa: Por te unir faze muito ao meu umbigo.. Salta-lhe ao pelo. XLIII Dormia a sono solto a minha amada.. e diz: “Aí vem menina. Em busca sua. minha Maria. Ora mexe. XLIV Eram oito do dia. Outr‟ora nas maminhas demorava Sôfrega. que tal sabe. Quando eu pé ante pé no quarto entrava: E ao ver a linda moça. Ora chega-te a mim.. que arreitava.. Olhos.XLII Vem cá. leva esta piça. eis a criada Me corre ao quarto. Sinto a porra de gosto alvoraçada: Ora do rosto seu vejo a nevada Pudibunda bochecha. que espetada n‟esta espiga Com porrais salvas cantarei vitória.” . Que eu te ponho já tesa como um alho. por seguir seu fado. Bispo-lhe as pernas e fiquei perdido: Vai senão quando. faces de bonina. não. amiga? Então foges c‟o sesso? É forte história! Ele é bom de levar. onde amor a ardência atiça: Que abrimentos de boca! Tens preguiça? Hospeda-me entre as pernas este malho. ardente vista embasbacada: Porém vendo sair d‟entre o vestido Um lascivo pezinho torneado. não é viga. “Eu grito!” (diz a moça menencória) Pois grita. que encantava. o meu caralho amado Bem como Eneias acordava Dido.. Co‟as bochechas da cor do meu caralho. Que eu quero ver se os beiços embaralho Co‟esses teus. tão roliça. que quem os viu não quer mais nada. me apareceu ninfa do Tejo. Eis a levo ao meu leito... . fujamos Minha porra infeliz já d‟este inferno... eu acordava Ao som de mão..” XLVI Eram seis da manhã. E para mim n‟um ai vem rebolindo: Dá-me um grito a razão: .. e esta engraçada Fui ver in continenti. E sapato a ranger também se ouvia.” XLV Pela escadinha de um courão subindo Parei na sala.“Com ódio eterno Eu. Eis a porra assim diz: . Salto fora da cama. Mas tu respingas? Tenho dito. E o fato de cordel pendente. Ora vejamos quem será. “Ai! . que arreitava! Temendo venha alguém. ai! . rindo: Quando em miséria tanta refletindo Estava. .“Eia. que é tão dada! A porra nos calções me dava urros. oh céus! que mina! Que breve pé! Que perna tão divina! Que maminhas! que rosto! Oh. (de quando em quando assim se sente) Uma porra tamanha é dada aos burros. e ela rubente Não podia sofrer da porra os murros.. onde não entra o pejo. vamos. olhando Armia. a porta fecho. dizia. E assentado na cama me zangava. Chinelo aqui e ali suado vejo.Eis me visto. Para baixo do umbigo eu só governo.. . Brando rugir de seda se escutava. Oh! que alegria Não tive. Roendo um fatacaz de pão com queijo. Não é porra capaz de foder gente. que à porta me batia... eis me lavo. e os sócios colhões em ti mijamos. ante o altar.. a porra me aguentava: Uma cousa notei. Nos preparamos para mais porrada: Por variar. Manda a lei que o irmão não foda a mana. E a matinas de amor a porra toca. avia. e mais à greta. foge a filha. que então rangia: Vim-me. nas mãos meti-lhe a teta.. Oh vida errada! Lá me ficou em meio uma punheta! XLVIII Quando no estado natural vivia Metida pelo mato a espécie humana. feita zorra.. E na rompente mama alegre mexo: O caralho estouvado o cono aboca. Sesso à parede.. Que à força a greta virginal abria! Entrou o estado social um dia. Lá mesmo. Põe no altar a vista. Dando alimpa ao caralho. Ai da gentil menina desumana. fodeis gostosos: Enquanto a linda moça. (continua. Tosse o pai. que à meia noite a trombicava) “Hoje não. sois mais ditosos! Se na egreja gostais de uma cachorra. mas deixava Levantar o saiote. e assentado n‟um degrau da escada.Co‟um chupão lhe saudei a rósea boca. que me arreitava. a ideia em porra.... . E pesa a excomunhão na sodomia: Quanto. Era o calçado pé. (Márcia dizia A mim. e não queria!) Sempre em pé a dizer: “Então. Bate a gostosa greta o rubro queixo. XLVII “Mas se o pai acordar!. lascivos cães.. É crime até chuchar uma sacana. Voltando a custo os olhos voluptuosos. pergunta Se o ser puta não é ofício belo? LI Com que mágoa o não digo! Eu nem te vejo. alinhavando trapos.XLIX Levanta Alzira os olhos pudibunda Para ver onde a mão lhe conduzia. toco a rotunda Lisa bimba. maquinalmente a mão movendo. L Uma empada de gálico à janela. Ela. e do Castelo Se ri. meu leitor. sórdida Michela Fazendo guerra a marujais marsapos. Vendo que n‟ela a porra lhe metia Fez-se mais do que o nácar rubicunda: Toco o pentelho seu. Pondo o honrado a pedir. E sem que d‟estes mil lhe façam papos. onde Amor seu trono erguia. e a virgem bela! Vai a trombuda. C‟o sesso também dá às porras trela: Tudo em metal por dous canais ajunta. Docemente o caralho me embalava: “Mais depressa” . que aos beleguins as mãos lhes unta: Nas públicas funções vai dar-se ao prelo. Meu caralho infeliz! Tu. que algum dia Na gaiteira amorosa filistria Foste o regalo do meu pátrio Tejo! .lhe digo então morrendo. Enquanto ela sinais do mesmo dava. Fazendo meia. Enquanto a guerra faz tudo em farrapos. Brando licor o pássaro lhe inunda: C‟o dedo a greta sua lhe coçava. Recrutas nunca teme. Minh‟alma agora. Mística pívia assim fomos comendo. Entretanto em desejos ela ardia. Desinquieta a porra quer sustento. Isso foi. LII Que eu não possa ajuntar como o Quintela É cousa. Só co‟a memória em feminil canela Às vezes pívia casual cachimbas. canal de fétida remela. adeus! Não sou vosso devoto. E a pívia trata já de bagatela: Se n‟outro tempo houve alguma bela Que a amor só desse o cono penugento. Lhe pespegavas no coninho um beijo: Hoje. MISCELÂNEA DÉCIMAS A UM TABELIÃO VELHO. Apenas olhas cândida donzela! Deitado dos colhões sobre as tarimbas. que me aflige o pensamento. Fincado à terna. já não é. afadigada Armia. Vai portar no seu estado . Nunca mais me verão meu membro roto. Co‟ um sesso enganarei a fantasia. Esta a minha porral filosofia. Traz a mimosa virgem. O misantropo do país das bimbas. que o mais sebento Cagaçal quer durázia caravela: Perdem saúde. bolsa e economia. que fugia.Sem te importar o feminino pejo. QUE CASOU COM MOÇA NOVA I Um tabelião caduco Com mulher moça casado. N‟uma escada enrabando um bom garoto. Putas. Não lhe hão de faltar casquilhos Para a moça amantes novos. Porque não tem instrumento Com que prove o matrimônio. V Por mais que á moça infeliz . Mas de raiva dará pulos. E andando sempre em cruzeiro Que fará este homem raro? Ser como os cães. E ele vá criando os filhos. Que se agatanhe e maldiga. Que lhe vão galando os ovos. III Tenha embora muita renda. Mas para homem casado Sempre tem pouca fazenda: É provável se arrependa A pobre da rapariga.Por fé o sinal de cuco: Como já não não deita suco Por mais que puxe os atilhos. IV Inda que não tome a mona Por ter fibra já cansada. E não encontrar espiga. II Ele diz que assim o quer. Vendo que são atos nulos Os atos que ele fizer: Sem ter direito à mulher Que será d‟este demônio? Logo então qualquer bolônio Lhe desmancha o casamento. Seja lavrador morgado. Mal pode assistir à entrada De Carlos em Barcelona: Que o leve ao porto de Ancona Não terá vento ponteiro. que têm faro: Conhecê-lo pelo cheiro. Quando na noute da boda Correr a seara toda. Faça protestos d‟amor, Sempre se quer fiador D‟homem sem bens de raiz: Só crerá no que ele diz Se escritura lhe fizer; E ele pode-lhe fazer Uma dúzia, e uma centena; Mas nunca molhando a pena No tinteiro da mulher. VI São tristes da moça os fados, Pois lhe não consentem que ela Avance pela Arreitela Té Pica de Regalados; Logo entre estes dois casados Se trava renhido pleito, Mas se por agravo o feito Ele leva à Relação, Lá ninguém lhe dá razão, Sem que mostre o seu direito. MOTE O INFERNO DO CIÚME GLOSAS I Esse abismo, esse Orco eterno Não é filho da razão; Os pavores da ilusão É que pariram o inferno: Pelo siso me governo, Que louco e falso a presume; Mas, se não creio esse lume, Nem esse invento maldito Por exp‟riência acredito O inferno do Ciúme. II Em vão pregador rançoso Lá do púlpito vozeia, Quando a triste imagem feia Traça do inferno horroroso: É sistema fabuloso, Que à razão embota o gume; Não, não há Tartáreo lume, Que devore a humanidade: Sabeis vós o que é verdade ? O inferno do Ciúme. ______ Venha cá, sô Boticário, Você sabe em que se mete, De tão rafado cadete Sendo terceiro, está vário ? Advirta que é necessário Reportar ações insanas; Estude em fazer tisanas, Algum purgante ligeiro, Mas não seja alcoviteiro Muito menos de sacanas. ______ P‟ra que viva a cosinheira, Que tão boas papas fez! Confesso por esta vez Que bem me sabe e me cheira: O Papa em sua cadeira Vestido de estola e capa Não faz cousa tão guapa: A cosinheira faz mais; O Papa faz Cardeais, A cozinheira faz papas. DIÁLOGO ENTRE O POETA E O TEJO POETA Tejo que tens, estás quedo? Não banhas hoje esta praia? De que o teu valor desmaia? TEJO Eu t‟o digo, mas segredo: Confesso que tenho medo Do teu ranchinho infernal. POETA O teu susto é natural, Parecem três furiazinhas, Mas contudo são mansinhas, Não mordem, não fazem mal. ______ São uns cornos mui bem feitos Uns cornos mui delicados, São cornos, que torneados Se podem trazer aos peitos: Cornos que sobem direitos. Pela sua varonia, E sem mais cronologia Tem gravados na armadura Os timbres da fidalguia. IMPROVISO ______ Á meia noite Saiu de um cano Cheio de merda Crispiniano. Eis que da ronda Tropel insano Divisa ao longe Crispiniano. Capuz o cobre “ És franciscano?” - Sou (lhe responde) “Crispiniano”. Chega o alcaide, Dá-lhe um abano; Sai da gravata Crispiniano. ELEGIA À MORTE DE UMA FAMOSA ALCOVITEIRA Gênio só dado a sórdidas torpezas, Que usas comprar na imunda Cotovia Chochos agrados de venais belezas: Solto o cabelo, as carnes arrepia Na morte d‟esta ilustre recoveira, E inspira-me tristíssima elegia. Honrada, e a mais sabida alcoviteira, A ti consagro este cipreste umbroso, Com que te enramo a esquálida caveira; Enquanto pelo rio pantanoso A ouvir te leva o pálido Caronte Severas leis de Minos rigoroso. Alçando para o ar a crespa fronte Os ouvidos estende às vozes minhas, Quando no mundo os teus louvores conte. Vós, moças do Bairro-Alto e Fontainhas, Vós testemunhas sois da grande falta Que chorando contais entre as vizinhas. Ai! Que há de ser de vós, gente de malta? Eu vejo em vossas faces o desgosto, E a dor, que os corações vos sobressala! Morreu a vossa mãe, o vosso encosto, Que vos ganhava o pão honradamente, Inda que com suor do vosso rosto! Não mais vereis entre a mundana gente D‟aquela honrada boca o grato riso, Que descobria um solitário dente! Morreu a discrição, foi-se o juízo, Vós o sabeis: melhor que esta viúva Ninguém fez um recado de improviso. Embrulhada na capa ao vento, à chuva, Ela comprar-velhos-ia caridosa As ginjas, os melões, a pera, a uva: Vendo qualquer de vós triste e chorosa, Ela desassossega, ela trabalha Por livrar-vos da pena lamentosa. Conhecia os tafuis já pela malha, Ela vos apartava dos sovinas, Para aqueles que dão maior medalha: Chupista de dinheiro e de tolinas, Por todas repartindo esta pendanga, Ela era o vosso bem, e as vossas minas. C‟os homens depravados tinha zanga, Gostava da modéstia e da virtude Dos que dão a beijar cordão e manga. Se a mandavam beber, era um almude, Eia.E às vezes não parava até que a boca Se lhe punha mais grossa do que grude. Dotada foi de caridade imensa. Sempre ao lado se achou da sua amiga No tempo da saúde. Depois que seu marido lhe morrera. A recolhia em casa. e é moca certa. As partes amacia. e mais prudente: . e da doença. Ela mesma c‟os dedos fedorentos Cheia de amor. Que tem no chamejar seus intervalos. que Deus lhe deu primeiro. e pela mama Apenas lhe levava cousa pouca. Té as pôr sobre si com casa e cama. que lhe fariam Os devotos irmãos. d‟esta amante liga. Proveu logo este cargo na Coveira. Arrimada a deixou com loja aberta: Teve um filho que foi alcoviteiro. Nos ganhos levou nunca metade. que seguis dif‟rentes trilhos. Se quereis vossos filhos empregados. porque pensa Que o mais era faltar à caridade. que tirados Os gastos funerais. Mil vezes lhe curou c‟os seus inventos Cruéis camadas de piolhos ladros. Uma filha. que mordera O dente de ardentíssimos cavalos. Qualquer cousa aceitava. e que não era louca. Dispôs da sua terça. No tempo em que ela andou vagando os adros. À frouxa luz da trêmula candeia. gatos-pingados. Jamais no seu trajar luxo tivera. Procurai este trilho verdadeiro Vós. As chagas cura. Lhe ministrava os fétidos unguentos. oh pais. Sempre de todas dava boa fama. olho alerta. Nem na sua cabeça houve polvilhos. A que a buscava. Por ser mais respeitosa. De fregueses lhe armava quantidade. a porquidade asseia: De alvíssima pomada untando os calos. em que decente Uma casa d‟alcouce erigiriam: Que haveria noviças e regente. Foi a primeira em dar ensino aos filhos. Aquela moça gordalhuda o diga: Ela pode pintar mais vivos quadros D‟esta estimável. de caridade cheia. pais de famílias. Os seus testamenteiros comprariam C‟o resto uma barraca. Tendes século bom. O esp‟rito nu. E fazei-lhe um sepulcro aparatoso. E rodeando o corpo desditoso. “A mecha (lhe diz ela) junto ao fogo “É fácil de pegar.. Felícia de Chaté madre rodeira.A Santarena fica tesoureira: Chamou para escrivã a Inácia China. Sempre serás dos bons tafuis chorado. pouco constante. Porque para solteiras e casadas Vejam que seminário de doutrina! Entre as últimas vozes já trancadas.” Ia adiante. os seus ossos. Acendei cada qual uma candeia. Chamando a filha com afago. da carne desatado. Lá vai cruzando o lutulento rio. Ternos suspiros pelos ares densos Vão abraçar seu cadáver frio. que morreu logo. Cobrir tu viste com pesada lagem Aquela que nos fez o benefício De nos dar uma casa d‟estalagem. Honrai as suas cinzas. Ninguém soube melhor do seu ofício. Cortou a Parca d‟esta vida o fio. E vós. e rogo Ficaram entre os braços enlaçadas. Ninguém melhor os seus vinténs destina. Cobrem-se os olhos de engomados lenços. ______ Revisado e adequado ao NAO por Joroncas . Porém não disse mais. A morte dá nos velhos e nos moços.. De palidez cobriu-se-lhe o semblante. E respeitai-lhe a fúnebre caveira. Oh dia com razão amargurado! Enquanto nos lembrar tão triste imagem. Conservai pois esta fatal ideia. Ouviram-se ao redor gritos imensos Da turba feminil. Nem se achara tão destra alcoviteira Somente com trinta anos d‟exercício. Ninguém se escapa da carranca feia Depois de preso em seus calabres grossos. mulheres que gostais d‟asneira.
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