Bianca Mistico- 903.1 - Heather Grothaus - O Lobo Branco

March 24, 2018 | Author: Valerieort | Category: Vampires, Cats, Homo Sapiens, Beer, Gray Wolf


Comments



Description

Os Caçadores de VampirosO Lobo Branco “The Vampire Hunter” Heather Grotaus Como última sobrevivente de uma família de bruxas, Beatrix Levenach tem de proteger os habitantes da cidade dos vampiros que rondam a região. Mas quando sua vida é ameaçada, ela não tem escolha senão aceitar a ajuda de Alder the White, um vampiro do clã que, um século atrás, assolou seus ancestrais. E quando Beatrix e Alder se descobrem perdidamente apaixonados um pelo outro, eles decidem fazer o sacrifício final por um amor eterno... Digitalização: Crysty Revisão: Alice Akeru 1 Heather Grothaus - O Lobo Branco (Bianca 903.1) Querida leitora, Você vai ler duas histórias incríveis, de duas autoras extraordinárias! Em O Lobo Branco, de Heather Grothaus, Beatrix é a última bruxa branca das Terras Altas. Porém, ela é acusada dos infortúnios que atacam o povo, e somente o vampiro Alder poderá salvá-la... Em Os Perdidos, de Hannah Howell, quando Gybbon MacNachton, de um clã de vampiros, salva Alice, as faíscas de uma paixão inacreditavelmente poderosa explodem entre ambos... Leonice Pompônio Editora Copyright "The Vampire Hunter" ©2009 por Heather Grothaus Copyright "The Beast Within" ©2009 por Hannah Howell Originalmente publicado em 2009 por Kensington Publishing Corp. PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP. NY,NY — USA Todos os direitos reservados. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. TÍTULO ORIGINAL: HIGHLAND BEAST EDITORA Leonice Pomponio ASSISTENTES EDITORIAIS Patrícia Chaves Vânia Canto Buchala EDIÇÃO/TEXTO Tradução: Dorothéa De Lorenzi Grinberg Garcia Revisão: Giacomo Leone ARTE Mônica Máldonado MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli PRODUÇÃO GRAFICA Sônia Sassi PAGINAÇÃO Ana Beatriz Pádua Copyright © 2010 Editora Nova Cultural Ltda. Rua Butantã, 500 — 10º andar — CEP 05424-000 — São Paulo - SP www.novacultural.com.br Impressão e acabamento: RR Donnelley 2 Heather Grothaus - O Lobo Branco (Bianca 903.1) Capítulo I Floresta Leamhan, Escócia — Gosta disso? — Beatrix sussurrou ao ouvido do estranho, o qual gemia e se contorcia contra seu corpo. Ela o prensara contra o muro, nos fundos da Taverna do Lobo Branco. Talvez tivesse sido uma tolice, pois estavam muito próximos da porta da cozinha, porém o perigo tornava tudo mais excitante. Não pudera perder aquela oportunidade. Investiu outra vez contra o corpo dele, e o sangue ferveu em suas veias quando o escutou gemer. — Tome, seu patife — murmurou, finalizando o golpe. Sentiu algo úmido empapando o avental comprido e a frente do vestido, e logo soube que a mancha iria incriminá-la. Porém, essas preocupações ficaram em segundo plano quando percebeu os lábios frios do estranho de encontro ao pescoço. — Não ouse! — murmurou e, com ímpeto, lançou-se sobre ele e terminou o que começara. O corpo do vampiro pendeu para frente, e Beatrix se afastou da parede, largando-o no chão lamacento atrás da taverna, perto do balde que ela viera despejar. Fitou-o, a respiração entrecortada. Um raio de luar incidia sobre o rosto pálido e petrificado, deixando ver nos lábios entreabertos e cinzentos a ponta afiada de uma presa. A lua também iluminava as roupas sujas e rasgadas, a pele emaciada, e o peito onde estava cravado... — Maldição! — exclamou, irritada. Abaixou-se- sobre o cadáver e, firmando um pé no peito sem vida, agarrou o cabo de seu forcado de madeira com ambas as mãos e o arrancou com um gesto decidido. Um chiado pareceu sair do morto e Beatrix olhou para o utensílio quebrado, cuja madeira se encontrava empapada pelo sangue escuro. — O terceiro que quebro esta semana — lamentou, atirando o objeto na direção da pilha de lixo. Fitou mais uma vez o cadáver que agora desaparecia em meio a uma nuvem de pó. Um gemido agudo, típico de quando um corpo sem alma era levado para o além, a fez franzir a testa. Antes que o vampiro desaparecesse completamente, contudo, ela cuspiu sobre ele. Beatrix Levenach examinou com calma o grupo cerrado e sombrio de árvores perto da porta dos fundos da taverna. Não via nenhum movimento na escuridão; pelo menos não de algum morto-vivo. E também não sentia mais o arrepio que costumava alertá-la sobre um ataque iminente. Salvo o assobio do vento das Terras Altas que assinalava o inverno, a floresta estava silenciosa. Por enquanto. A noite parecia mais fria depois que matara, porém o suor descia por seus ombros, espáduas e seios, enquanto ela lutava com os cordões do avental e o tirava pela cabeça. Embrulhou-o e o atirou na mesma direção do forcado quebrado. Depois se voltou sob o luar, analisando os danos causados ao vestido, ao mesmo tempo em que se dirigia ao 3 começava a tremer. Beatrix sentiu vontade de se estender no chão e dormir naquele mesmo instante. e as palavras provinham de sua memória e não da boca sorridente. da floresta e de toda a Escócia. esfregando com cuidado o sangue negro e pegajoso. Outra caneca de barro que se espatifava nas pedras.O Lobo Branco (Bianca 903. só se permitiu repousar a cabeça na madeira dura de uma mesa e suspirou. a cabeça pendendo para frente por um instante. ela era uma Levenach. aborrecido por não ser servido com rapidez. contudo essa mesma gente cochichava às suas costas sobre seus hábitos estranhos Essa bruxa ainda vai nos levar à ruína. De qualquer modo.. todos impacientes para ser atendidos. A última da linhagem. — Não está tão mau — murmurou para si mesma. — Malditos vampiros — resmungou. Não. O som forte de algo se quebrando ecoou pela porta aberta. marcas da matança daquela também sairiam das vestes. Precisava voltar para as pessoas que sussurravam a seu respeito. Porém. Suspirou profundamente. os braços avermelhados pelo frio e muito rígidos. depois se aprumou diante do barril e esfregou os olhos a fim de olhar mais uma vez a lua antes de voltar para o salão e para os fregueses da floresta. Poderia disfarçar o fato de as marcas serem recentes deixando cair um pouco do molho espesso e escuro do guisado sobre o tecido. depois de concluir cada tarefa e constatar que o perigo desaparecera. Não queria voltar para a Taverna do Lobo Branco. Porém. Mas precisava fazer isso. Um pouco de sujeira aqui. não gostavam dela. Depois ergueu os olhos para a lua cheia e branca. que bebiam sua cerveja e comiam seu guisado enquanto a observavam com olhos desconfiados. Sacudiu os ombros num riso mudo.. Seu desejo de vingança a conduzia na luta contra aquelas criaturas desumanas. Beatrix se agarrou à borda do barril com as duas mãos molhadas. no íntimo. mas ela nem piscou.1) barril no canto da taverna. Mas isso era uma tradição de séculos. pensou. Elas pagavam de má vontade e. Era esse um dos comentários mais leves a seu respeito.. e respirou. 4 . Você é uma Levenach.. nos fundos da taverna. A protetora. guardiã dos Leamhnaigh. sentindo a pele queimar com o muco que a emporcalhava. Os Levenach protegiam os habitantes da floresta e das redondezas. Depois de passar a barra de ferro na porta. todas as noites sujava as roupas. uma mancha ali. após a saída do último freguês. Aquele alívio tardio acontecia sempre. Não tinha medo dos mortos-vivos e jamais estremecia nem hesitava ao enfrentá-los. fundo. Na certa um dos Leamhnaigh que ela jurara proteger. mas nunca de suas recordações. Só que agora ele morrera.Heather Grothaus . pôde ouvir a voz de seu pai mais uma vez. Afinal. Alcançou o barril e mergulhou os braços com as mangas enroladas na água da chuva. e então poderia repousar. mas logo se esqueceu dele. Já mal conseguia manter os olhos abertos. Ajeitou os cabelos para trás das orelhas e limpou as faces e a testa na manga do vestido. que carregou para a cozinha. entre as prateleiras da parede. com um gemido. estreitos e altos. Uma brisa fresca e perfumada emergiu do quadrado negro. Mas isso seria o mesmo que colocar um aviso na entrada: "Bruxa solitária. tal qual gigantescas nozes sacudidas de uma árvore. Beatrix endireitou o corpo moído. Uma mecha de cabelos vermelhos caiu sobre seus olhos. Inclinou-se e puxou a passadeira para um lado.uma mesa com negligência. Banquetas reviradas cruzavam as pernas de madeira umas com as outras. ela pensou em seu vestido sujo e manchado. para evitar expor as costas e o traseiro aos bêbados. mas não rangiam sob seus pés enquanto ela avançava com cuidado para o porão. lançando sobre o objeto inanimado apenas um olhar. podia lançar um encantamento sobre a mobília para que esta saísse do lugar.O Lobo Branco (Bianca 903. A luz da vela era como um sol nas paredes de pedra.. continuava encostada a. abrindo um alçapão. fazendo com que o restante do bando demoníaco se mantivesse a distância da taverna e dos moradores do vilarejo por talvez um dia ou dois. fazendo-a respirar fundo. pegajosas e molhadas com os restos de bebida e comida. atirou o pano na água turva. Beatrix voltou a erguer a grossa vela amarela e caminhou pela passadeira estreita que cobria uma parte do chão da cozinha. Pensou em sua tataravó que. Com a mesa da cozinha limpa e as tigelas e canecas largadas no sabão. O ar estava impregnado do odor de cerveja e fumaça e. Por um instante. naquele momento ainda não podia se dar ao luxo de dormir. deixando o conteúdo escorrer para as bordas. Arrastando os pés. A vassoura. Menos a última. fazendo barulho. afastou-se da porta e se virou para olhar para o salão vazio. E por fim o salão ficou limpo e arrumado. o do descanso cristão. Os degraus eram antigos. E ela ainda não limpara os cacos da caneca quebrada. Colocou a panela de ferro com os restos do guisado sobre o chão. Quisera ter alguém com quem conversar e passar o tempo de modo mais agradável. Canecas e tigelas de madeira permaneciam sobre os tampos e o chão. e em seguida pularam para o chão sem fazer ruído ao ouvir o som conhecido que anunciava o jantar: eram dois gatos silenciosos e tranquilos. Mas suas obrigações ainda não haviam terminado. Então. desejando terminar logo.Heather Grothaus . Mas o dia seguinte seria sábado. pela milésima vez. As mesas estavam desalinhadas. apagando cada vela. determinada. que não se mexera um só milímetro sem sua ajuda. 5 .. e Beatrix a soprou para trás. Uma sombra branca e outra preta se esgueiraram na escuridão. No entanto. segundo haviam lhe contado. depois a virou de lado. Vampiros são bemvindos". analisando os danos da noite. Beatrix desejou abrir as portas e janelas a fim de receber no rosto o ar frio da noite. e até mesmo fazer a vassoura varrer.1) Seus músculos doíam de exaustão e suas pálpebras pareciam cheias de areia. acendeu várias velas grossas e começou a fazer seu trabalho. Ali havia pouca coisa a fazer. Era verdade que não estava hospedando viajantes e que já eliminara um vampiro naquela noite. embora de vez em quando ela lhe lançasse olhares de comando. foi atiçar as brasas da lareira e depois deu uma volta pelo salão. Já estava quase amanhecendo e não podia perder tempo para se mostrar mais apresentável. Após mais um suspiro. segurando o balde e. protetora das Terras Altas e dos inocentes que viviam sob as ramas da floresta. seu único conforto. ela murmurou no aposento silencioso e frio: — Teine. sangue de seu sangue. perdendo-se na cor negra e brilhante por um momento. águas ondulantes e negras começaram a refulgir. que haviam sido chamados para o além. e a abertura começou a se distender em duas metades sem o menor ruído. A cada dia ficam mais convencidas de que sou eu quem mata sua gente. — Mesmo assim ele virá.1) Ao chegar ao porão. ter um ombro amigo que a confortasse. — Não quero que ele venha. quando ainda era uma menina. 6 . — Não posso mais fazer isso. O sorriso desapareceu do semblante do homem. querida? — Bem. surgiu um buraco negro. Precisa fazer. Beatrix balançou a cabeça. Uma guerreira contra o mal. o tom de Beatrix combinou com as lágrimas que já corriam por seu rosto. que falou em tom grave: — Foi um juramento que fez. O pai aquiesceu com um gesto de cabeça. Beatrix. minha filha — garantiu o homem. Surgiu um homem de cabelos brancos e barba curta e bem aparada. sim.. Beatrix. quase num sussurro. mais frio do que uma noite de inverno. com frequência.. e suas sete velas brilharam. Pela fresta. por fim. meu pai! Estou só. suas únicas forças. — Desejo uma companhia que não me considere um demônio. dando a impressão de um espelho e fazendo sua silhueta brilhar também. acreditara no que dizia a lenda: que era uma bruxa do poderoso e antigo clã Levenach. tal qual uma jóia engastada sobre um veludo cinza e sem graça. — Como vai. Enormes candelabros de ferro imediatamente surgiram nos quatro cantos sombrios do recinto. Beatrix usufruiu esse momento como sempre fazia desde que recebera permissão. — Pode. Ela liberou a mente de todos os pensamentos. Mas eu sei que são os vampiros.Heather Grothaus . pela primeira vez. ao dizer: — Não é justo. e as pessoas se voltaram contra mim desde que você partiu. Mesmo mantendo a voz controlada.queixou-se Beatrix. Ali ela. — Fosgail! — Assim que a ordem saiu de seus lábios. A luz que emanava dos candelabros incidia sobre a laje. e o senhor? Senti saudades. Estou exausta. Não queria falar sobre aquilo naquela noite. Sob a luz suave das velas. ver os espectros de seus ancestrais. — Hoje tive uma noite cansativa —. mais escuro do que as profundezas de um pântano. — Também senti. Ali se encontravam seus únicos amigos. o qual era dado pelos mortos e suas promessas. Ele virá e salvará os Leamhnaigh. Uma mulher com sangue forte nas veias e magia eficaz no coração.O Lobo Branco (Bianca 903. Um poço. papai. onde uma laje maciça. Ali podia. Beatrix pousou o toco de vela no chão e caminhou para o centro do cômodo. papai. uma fenda estreita apareceu na laje de rocha sólida a seus pés. depois ergueu os braços. e pouco me importo com os Leamhnaigh — insistiu Beatrix com voz trêmula. para visitar o mágico e secreto mundo dos Levenach. só desejava conversar com o pai. brilhante e negra tomava conta de uma grande parte do solo. para se consultar. em seu lugar. — Tem todos os poderes de que precisa no momento — afirmou o pai. embora eu só lhes faça o bem. Enquanto se lamentava. ele virá e você deve aguardar. e ela soube que logo veria a figura de quatro patas que dera o nome à taverna dos Levenach: o lobo branco. Você será a ressurreição de nosso clã. a Solitária. aqui no porão. desta vez. — É isso que sou: Beatrix Levenach.1) — Mesmo assim. Mas. em frente a uma mesa. ainda rindo. Sem outro Levenach para ficar a seu lado. Já a vira centenas de vezes. — Em breve isso terminará — prometeu o pai.— insistiu o pai. — Uma Levenach. à medida que a imagem do pai começava a se desvanecer na água escura do poço. Perguntam sobre meu noivo. eles acham que sou eu a causadora de suas desgraças. — É provável que o povo da floresta queira me ver enforcada como bruxa. gargalhando. Mas seria o mesmo símbolo que havia muito perdera o significado ou interesse para Beatrix. a Dominada. mas já não acreditam muito nisso. uma bruma branca começou a surgir na água ondulante do poço. Beatrix. e esta continuava nada significando para ela. ele estivesse bebendo de um riacho ou descansando em uma planície. Era de novo o lobo branco.O Lobo Branco (Bianca 903. eu sei — resmungou Beatrix. aos poucos. e eu às vezes me esqueço das histórias que já inventei a respeito.. Fitou a imagem na água ondulante que. Mas. — Continua dizendo a todos que está noiva? — Sim. e o mais importante: pode caçar e matar vampiros melhor do que qualquer outro Levenach de nossa história. o animal encontravase sentado em uma cadeira. seu poder a tornaria um alvo. e quando você confrontar uma força tão poderosa quanto a sua. ou correndo por um atalho estreito. Talvez. — E não é verdade? — provocou ela. Tem sido assim por cem anos. de fato. Beatrix. querida.. Beatrix. seus poderes estão se tornando menos óbvios. O pai franziu a testa. Beatrix. — É como um homem sem um pênis. Retornarão na hora mais apropriada. alguns de nossos dons ficaram ocultos.Heather Grothaus . a "bruxa-eunuco". desta feita. papai! —rogou Beatrix. Não queria que ele partisse e que. foi se tornando mais clara e parou de oscilar. em um salão parecido com o que 7 . — Menos óbvios? — Mas isso é só para sua proteção. — Pode vir até o poço.. Irônico porque é isso mesmo que sou. surgisse a imagem da besta branca correndo pelos campos e floresta. — Ele vem. a Bruxa-Eunuco. À medida que nossa família diminuía em número. — Não. — De que serve uma bruxa sem poderes? — retrucou Beatrix com voz petulante. — Beatrix!—exclamou o pai. Franziu a testa. A cada vez que um vampiro imundo mata alguém por aqui..— Você é. Deus a abençoe. — Mas será que sou uma boa Levenach? Não comando nada além de algumas velas e uma rocha! Mal consigo fazer uma magia para que a água ferva! — É uma bruxa poderosa. e o movimento o fez exalar um cheiro nauseabundo: um misto de bebida forte.1) estava acima do porão. enquanto fitava o homem gordo e seboso sentado à sua frente. Será que o homem que fora um dia ainda existia? — De White? Belo nome! — O sujeito gordo gargalhou. — Ele piscou e se recostou na cadeira. -— Ei.. vagabunda. como se ele tivesse dito algo muito engraçado. devia ter sido de boa qualidade no passado. o que acontecera ao nobre de quem esta fora roubada. Dividirei com prazer os segredos sobre esses matadores sedentos de sangue depois que tiver aplacado minha própria sede. sentindo uma ponta de melancolia. tivera muito poder. O monstrengo se inclinou em sua direção como se estivesse disposto a compartilhar um grande segredo. Esse nome. também suja. água-de-colônia e suor azedo de muitos dias sem banho. Alder imaginou. além de outras secreções. traga mais bebida! Uma moça trajando roupas muito apertadas trouxe uma bandeja até a mesa. — Alder de White — respondeu. Alder se permitiu sorrir a fim de manter seu interlocutor à vontade e sempre falando. Sua camisa. meu amigo inglês? Alder hesitou apenas por um breve instante. certo? Alder ergueu a caneca de cerveja com cuidado. por um instante. e estudou suas feições. — Qual seu nome.Heather Grothaus . — Pois veio ter com o homem certo. — Muito bem. sem dúvida surpreso com os cabelos tão loiros que pareciam brancos e a pele muito pálida. Pouco importava que o ser imundo soubesse seu nome verdadeiro. Capítulo II 1° de outubro. E segurava uma caneca com cerveja em uma das patas. Alder de White. a qual rangeu com o peso enquanto ele brincava com uma das longas correntes de ouro que trazia no pescoço. O homem riu e a barriga dilatada estremeceu sob a túnica imunda e gasta. e Alder pôde ver a nudez total da moça sob o linho gasto. no passado. ninguém ali iria reconhecê-lo. 1104 Edimburgo — Então veio aprender sobre os chupadores de sangue. — Relanceou um olhar para uma mulher que passava..O Lobo Branco (Bianca 903. os olhos nunca abandonando o nojento mortal. Balançou a cabeça devagar e tomou um gole da bebida. Os mamilos achatados de encontro ao tecido apertado e o "V" escuro dos pelos púbicos sinalizavam sua profissão 8 . Mas talvez não percebessem nada em particular. a mulher se virou para Alder e. pois esta pretendia obedecer a Alder e fugir.. Ousada. tivesse uma ampla visão de seus seios. os olhos arregalados. sem mudar de expressão.. Deixe a bandeja. pois a maioria das pessoas o julgava irresistível. até mesmo uma solidão escura e eterna.Heather Grothaus . Apenas confirmara um fato. tanto homens como mulheres. Então fitou a moça nos olhos. Recebendo a mensagem telepática. ansiosos por aventuras.. puxou para baixo o corpete. Fossem prostitutas ou damas nobres. — É claro. Pegue seus pertences e fuja deste lugar. — Talvez — ele respondeu. que penetram na floresta para comprovar a existência deles com seus próprios olhos. desde que adquirira aquela profunda cicatriz no pescoço. se é que me entende. Desejavam ficar perto dele para tocá-lo e ser tocados também. — E os vampiros? O que tem a me dizer sobre eles? O olhar do gordo se tornou vítreo. — E por que ela não gostaria de você. Ignoravam. — Já ouvi histórias sobre homens como você. camponesas ou soldados. e o tom combinava com as sombras escuras sob os olhos. exibindo os seios como se a pedir sua aprovação. porém chupa também. — Piscou um olho. um rapagão que deve ter muito dinheiro? — continuou o homem em tom de zombaria. riqueza. A verdade era que já não se envaidecia havia muito tempo. e seu sorriso se tornou ainda mais malévolo. Mas seus olhos privilegiados o fizeram ver as marcas recentes de dedos que haviam machucado a pele fina e branca. ou morrerá aqui. amor. impassível. que seu toque seria a sua destruição. a não ser o grande poder que emanava dele: algo sinistro e primitivo. esboçando um leve sorriso. — Aposto que também é muito bem dotado.. Alder tornou a fitar o monstrengo com toda a calma.. — Gostou dela? — perguntou o repulsivo.1) mais do que a bainha curta da saia que revelava os tornozelos e as botas de couro.. Os cabelos negros estavam presos em um coque no alto da cabeça.. até que fosse tarde demais. enquanto enchia a caneca do monstrengo. sem desconfiar de que nunca mais a veria. como se acordasse de um longo sono. e os hematomas nos braços e na face. — O homem riu e dispensou a garota com um gesto entediado. cheios de remorso e confusão.O Lobo Branco (Bianca 903. inocentes ou depravados: todos se sentiam atraídos por Alder de White e todos desejavam algo dele: beleza. Ela franziu a testa de leve. Cubra-se. sempre oculta pela túnica. malicioso. — No momento me pertence. — Todas gostam — ele retrucou. esta noite. a moça se apressou a cobrir os seios.. Alder. — Acho que ela gostou de você. Como se respondesse a uma deixa. permitindo que ele. E ansiavam por esse poder estranho. — Mas apenas depois que terminarmos nossa conversa. mulher. Alder ignorou o comentário. mas por algumas moedas poderei compartilhá-la com um bom amigo. — Ela não faz parte dos matadores. É 9 . ela se inclinou muito sobre a mesa. — No passado. tentaram se libertar. — Conte o que sabe. — Os vampiros rondam de novo. estes eram tão maus ou piores do que os vampiros sedentos por sangue. porém ele. o que também era verdade. Alder fora o único a ser feito prisioneiro. ele. Laszlo. assim como um punhado de bruxas. no passado. mas agora.. os quais alimentavam seu poder. as terras da Escócia estavam infestadas dessas bestas — começou o gordo. 10 . Dizem que há cem anos. fazendo seu sangue correr dolorosamente nas veias. — Nesse ponto. Parece que uma nova geração deles foi formada pelo demônio solitário que pertenceu a esse bando danado há cem anos. — O que acontece? — incentivou Alder. Bruxas. o Caçador ou Anjo Vingador surgira no meio da batalha. Isso também era mentira. Teria sido mais piedoso se o anjo o tivesse enviado para o inferno.. O clã dos Levenach: todos ruivos como o próprio demônio. o nome ecoando em sua mente como se saísse de uma caverna escura. liderada por um mortal. Alder. segundo dizem. meu amigo. solene. atacando em bando os habitantes dos vilarejos e os viajantes. — Disse que.1) perigoso.. Eram os únicos que podiam matar as bestas e se banqueteavam com os cadáveres que apodreciam.O Lobo Branco (Bianca 903. pensou Alder. — Não tenho medo — retrucou Alder. sussurrava. Alder bem sabia que o último comentário era mentiroso. — Bruxas. A maioria deles não volta. você disse? — Ficou satisfeito por constatar que sua voz saíra tranquila e apenas um pouco curiosa. conseguiu escapar. Mesmo durante as noites que passara fugindo do Anjo Vingador que desejava recuperar seu escravo. Laszlo se coroou rei. como se desejasse sair de suas veias e de sua pele. O gordo continuou: — O rei dos sugadores de sangue. e.Heather Grothaus . continuara perseguido pelos gritos dos danados que ecoavam em seus ouvidos e sentira muito medo. Não estão mais? Eles foram destruídos pelos Levenach? — Quase. — As terras da Escócia tiveram uma relativa paz por certo tempo. Sentiu o sangue ferver. Apenas uma antiga família de bruxos e bruxas ousava enfrentá-las. Mas não totalmente. — Sim. Começava a se impacientar. estas terras estavam infestadas de vampiros. como um mar revolto. mas não se preocupou em corrigir o homem à medida que sua esperança crescia. — Elas percorriam as florestas mais densas. ele teve a audácia de fazer o sinal da cruz. Um estremecimento percorreu Alder. Os dois lados foram quase aniquilados quando o Caçador Selvagem caiu sobre eles e mandou grande parte para o inferno. os vampiros e os Levenach realizaram uma grande batalha. e as lembranças. pensou Alder.. deixando os cadáveres de seus afins como aviso para todos aqueles que tentassem desobedecer às leis da Cristandade. De fato. e a lua cheia sobre o telhado da taverna gemia para ele. Ainda podia escutar o rumor dos cascos dos cavalos e a pressão da coleira de ouro em volta de seu pescoço. a menos que deseje ter uma morte terrível. Um atalho escuro e estreito se une à trilha em uma clareira de árvores negras e galhos sem folhas.Heather Grothaus . — Esse atalho conduz à floresta de Leamhan e à Taverna do Lobo Branco. sempre contente com as próprias piadas. Passando o lago. — Ela é a última de sua raça? — Sim. dando graças por sua voz continuar calma apesar do nó na garganta. E que vá para o inferno logo. a última. — Disse que quase todos os Levenach desapareceram. já não existe garantia para os mortais que se aventuram pela floresta encantada em busca de emoção. acabou de esvaziá-la. conheço tudo sobre Edimburgo. uma floresta parece surgir do nada. arrotando alto. Contra os famintos por sangue.. Alder precisou fazer força para falar com calma. pois sua alma dependia dessa família. onde a Levenach permanece à espera de suas vítimas. tome o atalho escuro para Leamhan. Os ouvidos de Alder doeram ao escutar palavras tão injuriosas. — Quase todos desapareceram. O homem franziu a testa. depois se inclinou para frente outra vez. Ninguém chega perto dessa floresta maldita à noite. Sobre toda a Escócia! Muitas lendas me são contadas sob meu teto e até em minha cama. e depois a colocou sobre a mesa com estrondo. A mais bela e perigosa feiticeira de toda a Escócia.. O sujeito gargalhou. Poucos a frequentam nos últimos tempos. — E onde um homem que deseje morrer de maneira terrível pode encontrar a última Levenach? O gordo arqueou as sobrancelhas. Por isso quero alertá-lo com consideração. — Existe uma estrada -— murmurou em tom de conspiração. recordou Alder. Porque foram queimadas. — O monstrengo ergueu a caneca como se fizesse um brinde. na direção da costa e do lago Lomond. É um aviso de inglês para inglês: afaste-se daqui. Alder não se importou em fingir que ria também. O homem curvou os lábios num sorriso malévolo. — É esse o meu plano — murmurou Alder. — A oeste de Edimburgo. Ainda existe algum? — Sim. 11 .1) — E o que aconteceu com os Levenach? — perguntou. Se anseia por uma aventura sangrenta. se quer minha opinião. fazendo a mesa ranger.O Lobo Branco (Bianca 903. — Uma bruxa. porém ele tratou de repetir com serenidade: — A Taverna do Lobo Branco? — Isso mesmo. pareceu analisá-lo por um momento. — Tem certeza da localização dessa taverna? — Meu amigo. Um covil dos Levenach para atrair os inocentes e os viajantes perdidos. O aviso de fogo do arcanjo Miguel permanecia. — Sem dúvida — concordou Alder. Mas fica o aviso: é provável que não saia pelo outro lado do mesmo modo como entrou. porém de maneira diferente. — Quer saber por que procuro os Levenach? — murmurou em seu ouvido. O outro ficou paralisado por um momento.. era eu. Já era muito tarde. A canção da lua. agarrando-o pelo braço. pensou. Alder o. — Estou curioso para ver o que esconde sob essas calças. Seus sentidos eram tão aguçados que podia captar o gosto da cevada crua na cerveja. quase o deixava surdo. Devo chamar uma prostituta para satisfazer seus desejos ou basta que fiquemos conversando? — Não estou com vontade de ficar sozinho esta noite — retrucou Alder. que estavam sozinhos. — O gordo soltou uma gargalhada e começou a se levantar da cadeira com dificuldade. Ele também estava faminto. contudo. — Deixou a frase no ar e passeou o olhar pelo físico atlético de Alder. embora estes não o satisfizessem muito.Heather Grothaus .interrompeu... reparando que a taverna onde passara a noite conversando com o mortal detestável estava quase deserta.. — O que me responderia se eu pedisse que fosse você a ficar comigo? — indagou com voz aveludada.. e podia sentir o cheiro de sêmen e fluidos sobre sua cabeça enquanto os mortais apaziguavam sua fome sensual. devo dizer que não tenho essas inclinações. isso não o desagradou. depois sua boca se curvou em um sorriso melífluo enquanto Alder se postava à sua frente. Olhou por cima do ombro de modo casual e sorriu. Olhou em volta. Tomou um gole da caneca esquecida. — O mortal que participou da batalha entre os vampiros e as bruxas. fazendo o monstrengo gemer como uma mulher cheia de desejo. Sabia que faziam sexo lá em cima. e os donos haviam se recolhido para o andar superior. — Parece que ficamos sem companhia. E.. — Bem. meu amigo desconhecido e inquisidor..gemeu o gordo.1) — O que foi que disse? — Nada. — Sim —. Sabia que sua presença provocava essa reação nos depravados. Com facilidade. O monstrengo percebeu.. Os mortais mais devassos e ruins eram as presas mais fáceis. inaudível para os outros.O Lobo Branco (Bianca 903. — Já percebi. vou chamar a melhor das moças e. como todos os outros. — Em deferência à sua pessoa. Alder se recostou na cadeira e sorriu para o homem repulsivo. — Conteme. nesse momento. 12 . Era tão agradável beber líquidos mortais outra vez. aquele gordo também tinha seus desejos secretos e inconfessáveis. Alder o arrancou do assento e passou os braços pelos ombros mortais. os joelhos moles diante do abraço de Alder. Alder disfarçou uma careta. agora muito mais relaxado. Mas para alguém tão nobre e rico como o senhor. também sorrindo para o homem. apesar da fome ter aumentado desde que o sujeito começara a contar sua história. sendo o tolo que era. resignada. — E já não sou mais mortal. os instintos deficientes alertando-o. Para o povo da floresta. em volta da taverna. e as pessoas logo chegariam. tomando cerveja como um homem. e enxotar os gatos para a cozinha. ele corria com leveza por uma terra estranha e já não se comportava como um ser humano. ouviu os gritos do lado de fora. Beatrix. Se soubessem a verdade sobre as criaturas que os perseguiam. Em especial depois da noite anterior. e deveriam permanecer assim por boas razões. Dependia dela.Heather Grothaus . seriam mal interpretadas e teriam mais a temer do que os sugadores de sangue. 13 . sobre o perigo iminente. assim como as bruxas em toda a Escócia. iriam rever suas opiniões. agradeceu o fato de sua taverna e sua presença lhes dar um refúgio seguro onde passar as horas mais perigosas da escuridão. embora fosse forçada a caçar naquela noite a fim de impedir qualquer ataque aos habitantes do lugar. Essa batalha aconteceu há cem anos — ele gaguejou de olhos arregalados. Portanto. A visão anterior do animal. com um sorriso paciente. — Tratem de ir! Sabem como os fregueses gostam de judiar de vocês quando bebem demais — lembrou. — Isso mesmo.. — Mas. sedentas. e decidira confiar nas palavras do pai. Os Leamhnaigh eram seres rudes. Depois voltou ao salão para desaferrolhar a porta. A noite caía. a deixara confusa e amedrontada.1) O homem enrijeceu e lutou para balançar a cabeça com força. se cogitassem levar a sério as velhas lendas. Duas noites mais tarde. Era uma Levenach e esperaria. Beatrix desceu a escada e se dirigiu ao salão com um propósito: substituir as ervas secas sobre o batente da porta e da janela por outras frescas.O Lobo Branco (Bianca 903. Até porque isso a deixava um pouco menos solitária. apenas nesse momento. agir sozinha e vencer o reinado dos vampiros de uma vez por todas. em que o poço de águas escuras no porão lhe mostrara imagens do lobo que dera nome à taverna.. os Levenach eram seus protetores segundo uma tradição que vinha de épocas muito remotas. Ela não sabia como iria fazer isso. porém inocentes.. mas agiria como seu pai e obedeceria ao sangue que corria em suas veias: esperaria a chegada do lobo branco. Então ela. Beatrix Levenach. Passara o fim de semana descansando e refletindo em meio a tachos de cerveja em várias fases de preparação.. contudo. Dessa última vez. Beatrix abria ao público a Taverna do Lobo Branco. escancarando a boca e deixando as presas surgir. — concordou Alder. Com um breve sorriso. sentia-se bem com a serenidade que a envolvia no momento. havia névoa. ^ Quando se encaminhava para a porta. Cantarolou enquanto seguia para a cozinha e dava um toque final ao guisado. A floresta Leamhan. andava em paz e silenciosa desde que atacara o último vampiro. e seus braços.. pois já podia farejar problemas. repetiu por telepatia. Mas a porta da taverna se abriu. movendo as saias remendadas. bruxa! Venha ver o que sua maldade provocou e aceite a punição. à espera de que o brilho alaranjado do ocaso desaparecesse. o povo sem dúvida a mataria. — O que significa isso? — inquiriu a bruxa. e as palavras do monstrengo da outra noite voltaram a retumbar em seus ouvidos: Cabelos vermelhos como os do próprio demônio. com seu destino logo à frente. Ela era tão alta quanto a maioria dos homens ali reunidos. se encaminhava para a perigosa turba. e Alder sentiu as pupilas dilatadas enquanto examinava a última Levenach. Sem dúvida era ali o reduto dos Levenach. significaria sua destruição. seu destino. embora fracos. o líder do grupo continuou: — Levenach! Já suportamos demais! Suas bruxarias contra nossa gente terminaram e estamos aqui para acabar com sua estirpe! Por trás da cortina de árvores. E uma Levenach morta de nada valeria para ele. A última Levenach. Não saia. concordando. Era ele quem deveria derramar seu sangue. A fachada da taverna de aparência humilde estava iluminada pelo brilho amarelado de muitas tochas carregadas por pessoas que se acercavam. Sentiu um profundo medo por sua alma. e Alder ficou paralisado enquanto sua salvadora... ele parecia ver raios prateados de luz. eram longos e delicados. Os últimos raios do sol ainda eram muito fortes para que assumisse a forma humana. e os pelos de sua nuca se eriçaram.berrou um homem próximo a taverna. impaciente. lançavam fagulhas sobre os cabelos vermelhos da bruxa. Alder caminhou de um lado para o outro.O Lobo Branco (Bianca 903. Não saia. mesmo que você fique aí dentro como uma covarde! A multidão urrou. e foi arrancado do estupor quando o líder 14 . murmurou em pensamento.1) Capítulo III Alder caminhava por trás da cortina de árvores ao longo do atalho. Os malditos raios do sol. — Apareça. — Beatrix Levenach! —. assassinada por mortais. Apenas ele e mais ninguém. Se ela fizesse isso. os sentidos respondendo ao poder que emanava dela apesar da distância que os separava. A cada movimento que a ruiva fazia. e não trazidos apenas por suas quatro patas.Heather Grothaus . Começou a respirar com dificuldade.. fincados nos quadris num desafio. esperando que a porta se abrisse: Quando isso não aconteceu. do contrário iremos incendiar sua casa. dando lugar à escuridão total. Outras portavam machados de lâminas afiadas e duas carregavam alguma coisa embrulhada em panos. eu imploro! — pediu a mulher nesse instante.. na clareira em frente à taverna.1) da multidão voltou a gritar: — Mais um assassinato. — Durante anos engolimos suas mentiras e as de seu pai. Várias mulheres soluçavam. As velhas lendas são só lendas. não parecia estar fazendo efeito em seus captores. 15 . eu sou uma Levenach! Vocês juraram que. E agora vamos acabar com isso! — Dunstan. Olhou por cima do ombro para o grupo de companheiros da floresta reunidos logo atrás. Levenach! — Com um gesto. sacudindo a tocha diante de Beatrix outra vez.. Haviam arrastado a mulher para trás de um velho olmo..Heather Grothaus . Talvez mais três minutos. — Ateiem fogo! — bradou Dunstan. se era isso. mas Alder pôde sentir o poder dos Levenach em seu próprio coração. — Não existe nenhum noivo! — o tal Dunstan a interrompeu outra vez. — Não façam isso. ordenou que os homens que traziam a carga embrulhada em panos se aproximassem. — Mentiu para nós. dirigindo uma taverna como se fosse um homem de negócios! — Mas meu noivo. brandindo a tocha em sua direção. Era ainda um menino.O Lobo Branco (Bianca 903. — Não pode explicar isso! Sua sede de sangue acabou com sua última vítima! — Quem? — Alder pôde escutar a bruxa murmurar. mas foi detida por várias pessoas antes de alcançar a Levenach. Ele tornou a olhar para o sol que desaparecia nas copas das árvores... não é? Prostituta monstruosa! Demônio! — Não! — sussurrou a bruxa. e seus soluços eram mais altos do que o clamor dos homens. — Uma mulher solteira.. — Tom não! — Sim! — gritou o líder. suas próprias tochas cada vez mais brilhantes à medida que o sol desaparecia no horizonte. o destino da taverna não interessava a Alder. — Dunstan. como se um dedo gelado percorresse sua espinha.. — Meu filho! — exclamou uma mulher. Você protege tanto os Leamhnaigh quanto o demônio! Alder estremeceu diante disso. pensou. alimentou-se de nós muitas vezes. mas você o queria. Dois. murmurando palavras em um tom baixo demais até para seus ouvidos aguçados. Ergueu o olhar para as copas das árvores e um rugido feroz escapou de sua garganta. — Peguem a bruxa e incendeiem a taverna! Gritos de incentivo mútuo ecoaram. Talvez fosse um encantamento. Alder viu seus lábios se movendo. abrindo caminho na direção da taverna.... Os encarregados de destruir a taverna continuavam parados.. enquanto a mulher Levenach era aprisionada. não está pensando que eu. — Meu Tom! Ele tinha apenas dezesseis anos. — E agora pagará pelas vidas que levou. Beatrix Levenach. Sei como matar uma bruxa — ameaçou Dunstan. — E o que devemos pensar? — interrompeu o líder. e Alder detectou uma espécie de dor física na palavra. Porém.. Os últimos momentos da mulher Levenach na Terra estavam contados. como se hesitassem em se aproximar mais do local humilde. mas. . Um grito estrangulado deixou sua garganta diante da visão das duas marcas negras no pescoço do jovem. já que ele continuava parado à sua frente. Ele brilhava ao sair da floresta escura.O Lobo Branco (Bianca 903. enquanto estremecia diversas vezes e emergia das árvores como um ser humano. e o focinho branco tocou o solo. segurando-a pelos cabelos vermelhos. — Não fui eu! — Beatrix murmurou em um rogo para a multidão. A mãe de Tom abriu caminho e. bruxa! — retorquiu o líder. sem conseguir acreditar. Quem se alimentara de Tom o sugara como se ele fosse a polpa de uma fruta. Seu pai. as lendas e profecias. Alguém que não era Dunstan. Beatrix disse a si mesma. Não parecia carregar nenhuma arma e surgia na clareira que 16 . — Os Leamhnaigh ficarão livres de seu mal quando atirarmos seu cadáver ruim sobre os destroços queimados da Taverna do Lobo Branco. pensou que já tivesse morrido e que fitava o anjo que a levaria até seus ancestrais. Um rugido baixo e gutural soou em seus ouvidos antes que o comando fosse dado: — Soltem-na! — As palavras ecoaram como se viessem do coração da floresta. desejava gritar. Não podia esperar nem mais um segundo. fitando-a com ar triunfante. porém tranquila. Nada tinha funcionado. Não fui eu. bruxa! — bradou a mulher. Beatrix lamentou pela pobre mulher e por seu doce filho morto por vampiros demoníacos. cadavérico e encarquilhado. desaparecendo nas costas. tudo estava errado. depois. caminhando de maneira determinada. Foi Laszlo e seu grupo maldito! — Olhe! — A mulher afastou o pano que cobria o filho. Seus cabelos longos e lisos eram tão loiros que pareciam brancos. papai!.Heather Grothaus . os Leamhnaigh e todos os escoceses cairiam nas mãos de Laszlo e seus vampiros. Beatrix abriu os olhos e respirou fundo. Os olhos castanhos. com ou sem a luz do sol. apareceu. Agachou-se. o que enfatizava a virilidade dos músculos rijos. enquanto a corda ia apertando seu pescoço. — Não! — gritou a bruxa. amarrava seus pulsos. mesmo refém de um medo mortal. Desesperada. — Eu juro! — Você vai iluminar este lugar quando estiver ardendo na fogueira! — gritou Dunstan. Iria queimar ate morrer. Era como se ela cantasse uma linda canção de ninar para um bando de animais selvagens.1) — Não me ameace com suas maldições. desmaiada. nos braços de uma vizinha. pediu enquanto seus olhos se fechavam. enquanto cordas eram amarradas em seus braços. torcendo o corpo sinuoso de um lado para o outro. O encantamento para afastar o mal. pareceram fitar Beatrix. — O rosto de meu filho deveria ser o último que seus olhos satânicos vissem antes de queimar e ir para o inferno. Um rugido partiu de suas vísceras. Vou morrer. Ajude-me. Alder sentiu um nó na garganta e sua cicatriz doeu. Por um instante. outro para escapar. enquanto o laço da corda cingia seu pescoço e depois era apertado de encontro à sua garganta. cuspindo em sua face antes de cair. Um outro uivo doloroso partiu de Alder. que haviam retido para sempre o terror. até que o rosto de Tom. Beatrix se ergueu na ponta dos pés ao perder a respiração. E. e esvoaçavam sobre a testa alta.. Heather Grothaus - O Lobo Branco (Bianca 903.1) distava vários quilômetros do lugarejo mais próximo como se tivesse acabado de sair de sua própria casa. Seu comando fora dado para os Leamhnaigh, porém seus olhos com íris negras como os dos Levenach miravam apenas a figura dela. De repente, tornou a se dirigir à pequena multidão com rispidez: — Eu disse para soltarem a minha noiva! Um murmúrio ecoou entre os Leamhnaigh. Em seguida, o estranho se postou ao lado de Beatrix, as mãos longas veraneando o nó de seu pescoço sem o menor esforço, enquanto os habitantes do vilarejo recuavam. O odor que,emanava dele a envolveu um perfume de jasmim misturado a lenha: forte e exótico. Ele a fez se virar para desamarrar seus pulsos, e Beatrix suspirou quando seus dedos se encontraram. Foi como se seu corpo produzisse faíscas. — Sua noiva? — Escutou Dunstan desafiar o estranho. A suspeita em sua voz era muito clara. — Sim. Beatrix Levenach será minha esposa. — Ela sentiu o hálito perfumado junto ao ouvido: — Meu nome é Alder. — Alder! — ela repetiu em voz alta, enquanto as cordas caíam ao chão. — Por que não mandou notícias?! Ele hesitou por um momento, o olhar passeando pela multidão curiosa. — Fui detido inesperadamente. Peço perdão. Se eu soubesse que seria ameaçada por esses selvagens, teria corrido para o seu lado sem me preocupar com outras coisas. — Espere um minuto! — Dunstan deu um passo à frente, na direção do homem loiro. — Não sabemos quem é você de verdade: se é Alder ou Jake ou John. De qualquer modo, sua interferência em nossos assuntos com a bruxa não é bem-vinda. Ela é uma assassina que mata gente de bem e inocente em seus próprios lares. Pessoas que confiavam nela! O recém-chegado voltou-se com ímpeto, e um rumor soou de sua garganta: algo como um grunhido. — Meu nome não é Jake nem John, e se der mais um passo na direção de Beatrix Levenach, arrancarei seus dois braços do torso e darei uma surra em você com eles até que morra! Um olhar chocado e medroso surgiu no rosto tosco de Dunstan. —- Meu nome é Alder de White — prosseguiu o estranho, dirigindo-se â todo o grupo. — Beatrix Levenach me foi prometida como esposa há... — Seis anos — incentivou ela. — Isso mesmo — confirmou Alder. — Por seu pai. — Sim, meu pai Gerald. Alder lançou-lhe um olhar de advertência, como a dizer que parasse de assoprar. — Gerald Levenach prometeu-me sua filha em casamento há seis anos. Demorei a vir buscá-la porque, como já disse, precisei resolver assuntos em minhas propriedades na Inglaterra. Que uma praga caia sobre quem ousar fazer mal a um membro da família Levenach, líder de seu clã. O que diria Gerald? A mãe de Tom se aproximou. 17 Heather Grothaus - O Lobo Branco (Bianca 903.1) — Ela não é líder de nosso clã. É uma bruxa! Matou meu Tom! Alder olhou para o cadáver e de novo para a mãe, falando com voz pensativa. — Minha cara mulher, diga-me, por favor... Acha possível que mesmo uma pessoa alta como esta Levenach poderia dominar um rapaz do tamanho de seu Tom? Ele era um gigante! Enquanto ele falava, Beatrix tinha a estranha sensação de que poderia se deixar hipnotizar por sua voz. Sem perceber, foi se aconchegando a ele. — Sim, Tom era muito alto e forte — admitiu a mulher com voz triste. — Mas essa mulher aí é uma bruxa poderosa, e Tom confiava nela. Todos nós confiávamos! Alder arqueou as sobrancelhas. — Sim, pude constatar o poder maligno dessa bruxa pelo modo como escapou com facilidade do nó no pescoço e soltou as cordas nos pulsos, fugindo de sua morte iminente. — replicou com sarcasmo. Então percorreu as outras pessoas com o olhar. — Alguém testemunhou o ataque a Tom? Beatrix reparou que muitos também se inclinavam na direção de Alder com expressão estática. Pareciam hipnotizados. Ninguém respondeu. Ele, então, dirigiu-se a Dunstan, um dos poucos que não parecia fascinado por sua presença. — Talvez esta seja uma vingança pessoal? — O quê!? — gritou Dunstan de olhos arregalados. — Quem sabe se insinuou para minha noiva e ela o repudiou. Será que não é o seu amor-próprio que deseja destruí-la? — Sou um homem casado! — protestou o outro. — E estamos falando de assassinato, estranho! Uma preocupação de nossa gente que não lhe diz respeito, portanto... Antes que pudesse continuar com seu discurso, contudo, Alder se voltou mais uma vez para a multidão, segurando Beatrix pelo cotovelo. — A taverna não irá funcionar esta noite, a fim de dar a vocês, rainhas boas pessoas, tempo para esfriar a cabeça e voltar ao bom-senso. Hoje, minha noiva passou por maus bocados em suas mãos e tenho certeza de que deseja descansar. Beatrix abriu a boca para dizer alguma coisa, mas não soube o quê. Então pôde ouvir com total clareza a voz do estranho em sua mente: Não diga nada. — De qualquer modo — prosseguiu ele em voz alta —, tenho muita vontade de conversar a sós com minha prometida. — Começou a arrastar Beatrix para a taverna. — Talvez os vejamos amanhã em circunstâncias mais auspiciosas. Nesse meio tempo... — De costas para a porta da taverna, fez um cumprimento de cabeça para a turba. Não vai me convidar a entrar?, ressoou a voz irritada na mente de Beatrix. Ela estremeceu, como se acordasse de um sonho, e convidou com voz clara e alta para que todos escutassem: — Não quer entrar, Alder? — Obrigada, querida, assim farei. — Relanceou um último olhar para as pessoas que assistiam à cena, estupefatas. — Desejamos boa noite a todos. 18 Heather Grothaus - O Lobo Branco (Bianca 903.1) Então empurrou Beatrix para dentro e passou o ferrolho na porta, mergulhando na escuridão do salão principal. Alder se deixou cair em uma cadeira dura assim que se viram a sós e trancados, ainda agitado pelo que se passara com a mulher Levenach. Aquela gente não estivera para brincadeiras. Ela ainda permanecia de pé, a cinco passos de distância, os lábios sensuais entreabertos numa expressão pasmada e um vinco na testa que a deixava muito atraente. — Você veio... Veio de verdade. O lobo branco — murmurou, encantada. Alder enrijeceu. Ela conhecia sua outra identidade? Se, de acordo com os rumores, era uma bruxa tão poderosa, predestinada a livrar a Escócia dos vampiros, e ele suspeitava de que sim, então acabara de se trancar com sua pior inimiga. Uma linda inimiga, sem dúvida. Mas que o destruiria do mesmo modo. — Sim — murmurou com cautela —, alguns me chamam de lobo branco. — É o único que pode me ajudar — Beatrix sussurrou como em um sonho. — Não acabei de fazer isso? — É um matador de vampiros — continuou ela num murmúrio, como se não o tivesse escutado. Alder aquiesceu com um gesto de cabeça, depois apontou para ela. — Assim como você, segundo o que ouvi dizer. A mulher Levenach concordou. — Minha vida, a vida dos Leamhnaigh... todas correm grande perigo. Os vampiros estão se multiplicando. — Conhece aquele que a persegue? — ele perguntou. Queria que ela dissesse o nome e, ao mesmo tempo, temia que o fizesse. — Ele se chama Laszlo — declarou Beatrix. — O rei dos vampiros é muito idoso, sábio... e perigoso. — Como eu, embora eu não seja tão velho como ele. Alder franziu o cenho de leve, imaginando se fizera bem em dizer aquilo. — Claro que não. — Um sorriso tímido surgiu nos lábios carnudos de Beatrix, no entanto, logo desapareceu. — Por que me procurou? — Procuro Laszlo. Ele roubou algo de mim há muitos anos. Vim para recuperar o que perdi e destruí-lo. Mas, para realizar essas duas tarefas, só você, Beatrix Levenach, pode me ajudar. Como ela não fizesse nenhum comentário, prosseguiu: — Mora aqui sozinha? — Sim. Meu pai morreu há três meses. — Gerald? Beatrix esboçou um sorriso triste e balançou a cabeça de modo afirmativo. — Sim. Arrumamos uma bela confusão, nós dois. 19 porém muito eficientes. Deu de ombros. Ele não a questionou mais a esse respeito. creio que sim. — Diga-me. Ele fez um gesto de cabeça. — Foi a vez de Alder sorrir. — Talvez não precise dizer nada a elas. Beatrix concordou em silêncio. concordando.1) — Imagino.. atirá-la de costas sobre uma das mesas toscas da taverna e cobri-la com seu próprio corpo. — Quando fecho a taverna. Meu pai me contou que você viria. depois da meia-noite. encoberta pelos longos cabelos. Era tudo perfeito demais. — Não haverá nenhum cavalheiro injuriado me perseguindo? — Não. — Sim. no entanto. São antigas. no andar superior. enquanto compartilhavam uma paixão mortal. até que você viesse. o luar está mais fraco. Após um longo minuto de silêncio. e depois? Quando matarmos Laszlo e o restante de seu bando? O que direi às pessoas? Alder se pegou olhando para a curva do pescoço delicado.O Lobo Branco (Bianca 903. Vou mostrar seu quarto. — Beatrix aquiesceu. Beatrix questionou: — Deveremos fingir que somos noivos? — Diante das circunstâncias. espantado. depois não pensou mais no assunto como se a solução fosse aceitável. Assim dizendo. porém quis saber: — Você caça à noite? — Sim. encaminhou-se para a escada estreita. Inventei essa história para ganhar tempo com o povo do vilarejo. embora dissesse a si mesmo que preferiria ser empalado vivo a tocar uma daquelas armas antigas.Heather Grothaus . e aquilo o deixou estranhamente excitado. — Onde estão suas estacas? -— ela perguntou. já muito usadas. e viu uma veia pulsando ali.. — Não trago nenhuma comigo no momento. — Então ambos caçaremos à noite. no qual ambos se examinaram com cuidado. preocupado. — Muito bem. Não existe nenhum noivo? — Ele perguntou. e ele desejava tomá-la naquele instante. Os olhos de Beatrix o analisaram da cabeça aos pés. — Verdade? — murmurou Alder.. — Pode pegar uma das minhas emprestada. e afastou esses pensamentos.. A caça deverá ser fácil esta noite. não acha? — Acho. Durmo durante o dia e abro a bodega ao entardecer. Costumo lançar mão de forcados também. Mas. Alder a seguiu com os olhos por alguns momentos. depois se ergueu da cadeira e seguiu a mulher Levenach para o alto da escada. que desconfia de mulheres sozinhas e independentes. as narinas captando seu odor. 20 . O coração de Alder bateu mais forte. O sangue da mulher Levenach o chamava. e as bestas não tão entusiasmadas. De White adquirira poder e conhecimento sobre coisas que em geral passavam despercebidas por olhos mortais. escolhendo o jovem e ambicioso Alder de White. dava a Laszlo uma sensação de plenitude e poder. ia pensando. Por isso ele se deixava ficar ali sempre que podia. no entanto não se deixaria intimidar. Precisava achar um modo de se livrar dele antes que o oposto acontecesse. e esse dom parecia ter aumentado com o tempo. por algum motivo misterioso. Laszlo. No interior subterrâneo de cavernas sinuosas e entrelaçadas que constituíam seu palácio. mas seu sangue fervia.Heather Grothaus . Quando o arcanjo Miguel havia descido sobre as bruxas massacradas. Era uma espécie de trono feito com os ossos de suas vítimas mais importantes. e arrancara o corpo de Alder da clareira. com sua sede de poder e riqueza. Embora a peça não tivesse um encosto almofadado e confortável. Laszlo le Morte se acomodou em sua poltrona favorita. Não tinha medo de Alder. e tentaria se vingar do vampiro que a roubara dele. portanto. o arcanjo não condenara de White por toda a eternidade. enfiara suas presas em seu arrogante pescoço inglês. nesse caso. não percebera o perigo que estava prestes a enfrentar. Laszlo remoeu sobre as maneiras como os de sua espécie podiam perecer. vulnerável ao ataque dos vampiros. O rapaz era muito ganancioso e. Laszlo estreitou os olhos. e retornara à Escócia. na floresta. soara inútil. mas estava cauteloso. e seus filhos desumanos e letais tomassem o poço mágico no centro da mata. Talvez o albino sugador de sangue só tivesse entrado na casa da bruxa para matá-la discretamente e. Mas. havia tomado o sangue do humano ambicioso e sua alma! Há cerca de cem anos as bruxas de Levenach tinham encantado a floresta para impedir que ele. Para sua infelicidade. nem mesmo o trono real conseguia provocar o mais leve dos sorrisos no rosto longo e pontudo do vampiro. impedindo sua vitória final. Laszlo. E estava morando com a mulher Levenach. apenas quando ele. prometendo vingança. porém. ele ficaria satisfeito. Era um desafio e tanto. Enfrentar face a face o vampiro que ele mesmo criara poderia ser muito perigoso. O grito que ele soltara. Alder de White tinha de morrer para sempre dessa vez. Depois que Alder bebesse o sangue de Beatrix Levenach. 21 . Mas. Alder de White percebera seu erro tarde demais.1) O luar podia estar fraco.. todo manchado de sangue seco.O Lobo Branco (Bianca 903. agora recoberto por uma barba curta. Ele próprio. e ele levara seu novo vassalo até as águas encantadas que lhe garantiriam o domínio sobre aquela parte sombria da Escócia e sobre seu povo para sempre. Naquele início de noite. agora Alder tomaria o sangue da mulher Levenach na esperança de reaver sua alma. o que preocupava Laszlo era o fato de Alder ter voltado. Então ele atraíra um mortal para a Escócia com promessas de muitas terras. Alder de White retornara. iria se tornar mortal de novo e. Na certa. Respirou fundo.. Laszlo esboçou um sorriso malévolo. o rei dos vampiros. Seu plano dera certo. Alder conseguira escapar da maldição depois de quase um século. ele presumira que o infeliz fosse passar a eternidade no inferno. macabro e frio como ele próprio. O rei dos vampiros de Leamhan estava com problemas. Não podia arriscar perder mais de suas crias se desejava originar uma boa dinastia. Os mortais eram tão ingênuos quando bebiam! E muito apetitosos também.O Lobo Branco (Bianca 903. ansioso por se esgueirar por trás da cortina de escuridão. dirigindo-se para suas patéticas casas de madeira. os indesejáveis poderiam ser sugados até a última gota de sangue. envenenados por várias ervas perigosas. Ergueu o rosto para o teto rochoso e úmido da caverna. mas havia poucos vampiros no momento. o aldeão Dunstan seria um ótimo vampiro serviçal. Poderia enviar seus filhos à caça. contudo. sinal de que o sol já devia ter desaparecido no horizonte. gritos agudos e sombrios de sua tribo chegaram a seus ouvidos. Ele se alimentaria depressa e depois retornaria para a segurança de suas catacumbas a fim de planejar. Alder chegara. A única possibilidade restante era construir um exército. Preguiçoso. mas muito forte. Todas essas possibilidades eram muito perigosas para que ele assumisse em pessoa tal missão. o fez curvar os lábios com desdém.1) enumerando-as em seus dedos longos. Como para confirmar suas suspeitas. A mera ideia de misturar sua tribo com o povo estúpido da floresta. depois que Alder morresse. Não era segredo que o infeliz odiava a mulher Levenach. sorriu com langor e satisfação. então.Heather Grothaus . Seria como colher cogumelos. graças à bruxa Levenach. ou sugados até a última gota de sangue por outro vampiro. O tolo Dunstan. Ganancioso e com pouco cérebro. enquanto os vampiros se erguiam no interior das cavernas. então. seria muito fácil recrutá-lo. quase o ajudara ao tentar matar Beatrix. Mas. Beatrix depôs as armas sobre uma mesa no salão. ossudos e brancos como alabastro: sufocados com uma estaca trespassando o coração. Mas. Seu sangue começou a correr mais rápido nas veias. que agora 22 . Nas horas seguintes. Capítulo IV Era hora de caçar. muitos estariam cambaleando. ele refletiu. embriagados. o chamado que iria reunir seus filhos para mais uma ceia sangrenta. sem saber. distendeu os lábios finos e cinzentos e deixou ecoar seu próprio grito. Talvez a gente da floresta tivesse voltado a sucumbir à fraqueza humana da bebida apenas dois dias depois de tentar matar a dona da taverna local. claro. Laszlo pensou como chegara perto de se descartar da mulher Levenach. e com muito prazer. Laszlo ergueu o corpo delgado da poltrona de ossos e. Essa tarefa ele mesmo faria. Aqui está também uma bolsa com ervas e um frasco de águabenta. Apontou para as peças e as tocou de leve enquanto Alder se postava a seu lado. Quem poderia ser seu companheiro? Um habitante da floresta? Nenhum jamais demonstrara o menor interesse por ela como mulher. posso? Ficaria 23 . No mesmo momento. Ainda não queria se virar e olhá-lo. um sorriso aflorou nos lábios sensuais. Será que aquele homem. Será que Alder de White era de fato um caçador de bestas? Sua companhia seria uma ajuda ou representaria um perigo mortal? Ela suspirou. Só então se voltou para encará-lo. para onde iria? A Escócia bravia era seu lar. — Não posso andar pela floresta no meio da noite usando saias. — Peguei as armas de meu pai para você usar.. Suas narinas benfeitas se dilataram brevemente. não podia deixar a floresta Leamhan enquanto esta continuasse cheia de vampiros. depois pelos cabelos arrumados no alto da cabeça e amarrados com finas tiras de couro. obrigando-se a não retroceder diante da franca análise dos olhos escuros de Alder. Mas o que aconteceria com seu coração? Beatrix respirou fundo. Também tenho seu cajado. mesmo que a livrasse dos sugadores de sangue. coisas que falavam de desejo e luxaria sob o luar. Como última protetora viva dos Leamhnaigh. nervosa. sem dúvida. E o sangue que corria em suas veias sussurrava.Heather Grothaus . — É possível que precise apertar a correia. estaria vagando naquela parte amaldiçoada da Escócia à procura de uma bruxa para ser sua noiva? Balançou a cabeça diante de tamanha tolice e tratou de fitar o tampo da mesa quando o som das botas de Alder se fez ouvir nos degraus da escada. naquele momento. Nunca caçara acompanhada. a não ser com o pai. sabia que havia pouca chance de um dia se casar. Ele fazia seu sangue ferver como se ela estivesse enfeitiçada.1) se encontrava deserto e arrumado. enquanto aguardava que Alder descesse do quarto. Beatrix voltou a corar. como se ele estivesse sentindo seu odor por baixo das roupas pesadas de lã. e ela pôde sentir sua energia a envolvê-la como um manto à medida que ele se dirigia para o salão. se assim desejar — disse. pois sentia as faces vermelhas só em pensar no físico másculo e poderoso. Passou um dedo ao longo da aljava bordada de Gerald Levenach. pois meu pai era um pouco mais gordo.. Depois se estreitaram de leve ao pousar na camisa masculina e calças compridas que ela usava. a qual guardava o suprimento de estacas afiadas. eles passearam por seu rosto.O Lobo Branco (Bianca 903. Além do mais. que ninguém confiava nela. e Alder piscou como se apenas então percebesse que estava sendo indiscreto. — Sua aljava e estacas — anunciou. Sua aproximação era ritmada. Suspeitava da segunda alternativa. se precisar lutar um pouco antes de matar. Brilhantes. em um idioma muito antigo. Fora profetizado que o lobo branco viria salvar os Levenach. sentiu como se o chão oscilasse e viu-se inclinando o corpo em sua direção. E. De repente. e estava muito claro. relanceando um olhar de esguelha para a camisa branca que ele usava. Percebendo o gesto involuntário. — Vejo que se vestiu para a ocasião — murmurou apenas. Alder de White. e ele já salvara sua vida na clareira. Não tinha mais parentes ou amigos ali na floresta escura ou em qualquer outro lugar. esforçou-se para se pôr de pé. pois não conseguira afastar os olhos do físico musculoso e daquele sorriso enigmático nos últimos dois dias. — Sem esperar resposta. cínica. segurou sua própria aljava. em pilhas diferentes. Parecia fascinado pelo objeto. e serei forçada a bani-lo para seu próprio b. — Não se ofenda.1) toda cortada pelos espinhos e galhos quebrados. — É assim que fala com sua mulher na Inglaterra? — Não tenho nenhuma mulher na Inglaterra. Alder a puxou para si. — Ou para minha própria segurança — acrescentou. espantada com o comentário audacioso. ainda rindo. Esse é meu único propósito na vida. Diante de tamanho ultraje. no entanto. era a palavra que tinha na ponta da língua. — O sorriso de Alder se tornou malicioso. por baixo da camisa grossa. Levenach — ele pediu com delicadeza.. portanto. Alder de White — ela retrucou. Mas. pois tinha um nó na garganta. o que disse — argumentou Alder. enquanto arrumava as ferramentas simples. Portanto pode enfiar sua língua ferina de volta na boca. — Por que não verificamos primeiro se somos compatíveis caçando? Talvez você não me seja útil. segurando a aljava.. — Nenhum de nós dois é inocente porque conhecemos um mar de maldades. Deu uma tossidela. depois começou a rir. Beatrix deixou escapar um riso nervoso e muito feminino. e seu sorriso se ampliou enquanto se inclinava para o lado deliberadamente para vislumbrá-la por trás. E também não estou oferecendo casamento nem filhos.. — Eu não quis lhe faltar com o respeito quando disse. Beatrix fulminou-o com o olhar. O contato dos músculos rijos fez com que seus seios se avolumassem. —. 24 . examinando-a com mais atenção. sentindo-se muito à vontade..Sem dúvida que sim — ela replicou com frieza. ajeitando a faixa de couro entre os seios. — Posso ser uma Levenach e. Antes que ela terminasse de dizer a última palavra. Beatrix engoliu em seco. mas exijo respeito. — Fui atrevido demais? — Ele riu.O Lobo Branco (Bianca 903.Heather Grothaus . seus mamilos estavam enrijecidos e suas pernas tremiam. — Posso pensar em outros lugares onde enfiá-la. — O que me diz sobre isso? Dessa vez Beatrix quis engolir. mas não conseguiu. e passou-a pela cabeça. Gostei. não estar predestinada a uma vida mundana com marido e uma família. — Escolheu bem sua vestimenta. — Sou uma Levenach. pressionando-a de encontro ao peito. mas mortais. — Mas desejei seu corpo no momento em que a vi na clareira — admitiu sem preâmbulos. — Talvez você esteja se oferecendo para ser minha companheira na Escócia? — Não sou mulher de ninguém.. Então seus olhos escuros voltaram a se fixar em Beatrix. despreocupado. e ele inclinou a cabeça para um lado.. finalizou: — irá me guiar pela floresta? Beatrix abriu a boca. uma caçadora. virando-o de um lado para o outro à luz fraca da vela. Gosto do caimento das calças em particular. por mais que realizasse atos muito básicos e mortais com seu corpo. Beatrix se aprumou e recolheu a bolsa contendo as ervas e a água-benta.. o hálito acariciando sua têmpora. Beatrix Levenach se ergueu sobre o cadáver que emitia uma luz prateada e respirou com calma. Alder se afastou e. — É bom que saiba. neste momento corre mais perigo do que já correu em toda a sua vida. Ansiava por confessar que era maldito também. que produziu um rumor cavernoso. poderia muito bem matá-lo com uma de suas estacas pontiagudas. Quis entregá-la a ele. Desejava provar seu sabor e sentia todos os órgãos revirar dentro do corpo. Alder de White — disse com um sorriso tentador. Tudo o que desejava era tomá-la nos braços. ele pensou. enfiou uma das estacas no peito do morto-vivo. Até que o primeiro vampiro surgiu. Sua fome estava quase fora de controle. Talvez não fosse a única em perigo e ele devesse redobrar seus cuidados. na floresta negra. passou a aljava de Gerald Levenach pela cabeça. conduzindo Alder pela floresta na primeira hora da caçada. com mil perigos ao redor. o coração batendo forte. fato que ele muito apreciou por poder olhar para as nádegas roliças por baixo das calças masculinas. sua fome desumana por sangue. e o fogo em seu olhar o fez se retesar. Beatrix Levenach caminhou na frente. e se atirou sobre ela. então. Ele respondeu com um cumprimento de cabeça. e dentro do maior silêncio. revelando as curvas generosas de um modo mais erótico do que a nudez. — Muito bem — retrucou Beatrix. sibilando. ele mal conseguiu se concentrar nos arredores. porém seus olhos de vampiro iluminavam as sombras tal qual flamas esbranquiçadas. Olhou para Alder. Antes que Alder pudesse ajudá-la. — Na verdade.Heather Grothaus . 25 . Todo o confronto não levou mais do que dez segundos. entretanto Alder a recusou. — Precisará ser muito mais veloz para se manter no meu nível. despi-la e beber seu sangue ali. Com o olhar fixo na boca sensual à sua frente. sem o menor esforço. A noite estava escura como breu. constrangido. suas calças se ajustavam mais sobre o corpo. — Não saberia usar essas coisas — explicou.O Lobo Branco (Bianca 903. A cada vez que Beatrix saltava um tronco caído. ergueu os braços em arco e. a mulher Levenach se soltou das garras poderosas. Vendo os movimentos sinuosos e femininos.. — Mas levarei o cajado que me ofereceu.1) — Não está segura comigo — ele concordou. — Esse foi meu. das profundezas da mata. A bruxa Levenach possuía poderes de verdade. Se ela chegasse a descobrir sua verdadeira natureza. pois não confiou na própria voz nesse momento. Beatrix não conseguiu impedir o gesto de passar a língua pelos lábios. após ajustar bem os nós. — Sei disso — murmurou por fim. sem parar. rastejando à sua frente. talvez a bruxa ficasse decepcionada para sempre com ele. desejando com todos os seus instintos continuar a se banquetear dessa vez com o sangue da ruiva. — Missão cumprida por enquanto. quando ela visse o sangue em suas roupas. Porém seu coração começou a bater de maneira mais compassada. baixando a estaca. mas ele ergueu a cabeça... mas poderoso. que já se encontrava a alguns metros de distância. — Alder! Onde você está? Ele saiu de trás da árvore. Suas narinas estremeceram com o cheiro ácido do morto-vivo. sua mente foi clareando e seu autocontrole retornou. Antes que o vampiro pudesse gritar. O corpo do vampiro morto por fim se desintegrou. e mal conseguia conter o rugido que partia de suas entranhas. — Sou eu. que Beatrix chegara perto do vampiro morto. estava ficando quase surdo com o rumor que o vampiro fazia. a mulher Levenach prosseguia. Então ele agiu. A sua frente. Beatrix passou em segurança pelos arbustos onde Alder pressentira o vampiro se esgueirando e continuou a caminhar pela floresta. Ele deixou o corpo que se desintegrava sobre as folhas mortas e se escondeu atrás de uma árvore frondosa. Limpou a boca. O rumor de ossos quebrados pôde ser ouvido por Beatrix.. — Alder! — A voz parecia alarmada agora. não reconhecesse sua sede bestial. Se não conseguisse matar o sugador de sangue seguinte. Beatrix estava quase a seu lado. apoiando a cabeça no tronco e sorvendo o ar com ansiedade. as pupilas dilatadas ao máximo. as presas longas liberando a torrente de sangue negro. ou ficaria louco. Percebeu. pela exclamação excitada. Ele desacelerou o passo e deixou o atalho que seguiam. pronto para atacar. Apertou a aljava de encontro às costelas. — Mãe do Céu! — ela exclamou. Podia sentir o odor de outro vampiro adiante e à direita. o queixo e o pescoço com o braço.O Lobo Branco (Bianca 903. Levou um instante para 26 . e Beatrix fez um aceno satisfeito. do lado oposto em que ela se encontrava. Alder caiu sobre seu pescoço.. — Alder? O chamado parecia um suspiro. Precisava se alimentar. os sentidos agora em alerta para cada detalhe que o circundava. ficou meio agachado. Pronto para prosseguir? — Fitou Alder por cima do ombro. — Ergueu as mãos em um gesto de paz. fazendo-a dar meia-volta com uma estaca pronta para o ataque. esperando que. Com seus sentidos apurados.1) Respirou fundo. furando-lhe a pele. satisfazer pelo menos parte de seu apetite negro. Suas entranhas e veias queimavam como se ele tivesse engolido brasas incandescentes. O vampiro seguia a mulher Levenach. Movendo-se rápida e silenciosamente. puxando com força.. Sabia que se a mulher Levenach pudesse enxergá-lo. — Calma. colocou uma das mãos sobre a cabeça oleosa do monstro e a outra em seu ombro.Heather Grothaus . veria que o branco de seus olhos tinha desaparecido. Ele a seguiu. Por um instante. virou-se e continuou a se embrenhar na floresta. Bebeu aos sorvos.. — Você quase decepou a cabeça dele. Os homens pareciam fascinados pelo inglês com sotaque esquisito. Alder de White morava na taverna havia quase quatro semanas. Ela sorriu de volta. de novo liderando a caça na escuridão. de maneira desavergonhada. Ele a observou abrir caminho. Beatrix sentia que estava se aproximando desse demônio também.1) recuperar o fôlego. chegara a tocá-la de leve várias vezes.O Lobo Branco (Bianca 903. com uma atitude mais simpática em relação à mulher Levenach. dizendo a si mesma que não era ciúme o que sentia quando alguma mulher do vilarejo flertava com Alder.Heather Grothaus . O poço secreto no porão dos Levenach dissera a verdade: eles estavam vencendo. Ele sorriu. pensou como conseguiria fazer o mesmo com Beatrix Levenach quando chegasse a hora. A taverna vivia cheia de moradores do vilarejo. refletiu. infestado por sugadores de sangue. Embora Laszlo continuasse oculto. e depois voltou a cabeça para a luz prateada que se extinguia no lugar onde sugara o vampiro. e era difícil encontrar uma mesa disponível em meio à atmosfera mais relaxante e alegre. a matança de pessoas das redondezas diminuiu. Pela primeira vez. Beatrix Levenach era uma estranha combinação de matadora implacável e mulher doce. depois apontou para a mancha prateada que desaparecia sobre as folhas tal como milhares de vermes entrelaçados. Nunca saía de uma caçada sem fazer um comentário picante a seu respeito e endereçava-lhe olhares maliciosos que a faziam pegar fogo.. Nesse meio tempo. e. Embora fosse tudo uma 27 . apenas cautela. Beatrix comprimiu os lábios. dezessete vampiros tinham sido enviados para o inferno. e com sua ajuda. Beatrix sorria para todos enquanto servia seu guisado e enchia as canecas com cerveja. embora o desejo por seu corpo continuasse a percorrer suas veias como lava incandescente. Alder também colaborara para que isso acontecesse. como também flertava com ela todas as noites. Havia uma razão para isso. Alder não só não encorajava as atenções das outras moças. divertido. Alder já não sentia medo de precisar se alimentar de Beatrix. parecendo não perceber que estava em um meio hostil. com o fim dos vampiros menos importantes. — Não poderia deixar você me vencer. sem dúvida. maravilhada com a mudança radical em sua situação na comunidade. incomodada. Alder não arriscaria sua missão namorando alguém de Leamhan. Sua espontaneidade fez Alder arder de excitação. Os habitantes da floresta pareciam mais tranquilos e esperançosos.. Até porque. Nos últimos dias. ou fugir da floresta Leamhan para sempre. e as mulheres praticamente se derretiam por ele. Em breve o rei dos vampiros não teria escolha a não ser sair de seu esconderijo e enfrentá-los face a face. Suspirou. pois todos pensavam que ele era seu noivo. Rodeavam-no como abelhas diante do mel. ainda que não tivesse chegado ao fim. Satisfeito com o sangue do vampiro. e que seu companheiro de caçada era um deles. Naquela noite. fantasiando que seu noivado era verdadeiro.. dizendo a si mesma que aquela fantasia era apenas um passatempo inofensivo em meio à matança de vampiros e ao trabalho na taverna.. e especulara que talvez ele e a esposa Freda tivessem deixado a floresta Leamhan para sempre. era algo que desconhecia e a deixava insegura.Heather Grothaus . sua mulher. O rústico lenhador não era de ficar afastado da diversão por muito tempo. faria uma visita à casa do lenhador para perguntar sobre sua saúde. antes de começar a caçada com Alder. não deixa ninguém entrar. Capítulo V Alder estava inquieto. intrigados. O que fazer com ele. e com o valoroso. — A coitada está se acabando. e isso o preocupava mais do que o misterioso desaparecimento do aldeão.O Lobo Branco (Bianca 903. o casebre cheirava a vampiros. continuava sendo a Levenach protetora e conhecia seu dever. Depois que tivesse cumprido com essa obrigação. — Dunstan não sai de casa há dias — diziam. começava a ter certeza da participação de Laszlo naquele desaparecimento. Beatrix não fez muitos comentários sobre a ausência do dono da casa. tal pensamento sempre conseguia embrulhar seu estômago. Na verdade. e até mesmo os Leamhnaigh pareciam preocupados com ele e sua submissa esposa. misterioso e sensual Alder a seu lado. Diz que Dunstan não se sente bem e dorme o dia todo. sabia por experiência própria que era da natureza do rei dos vampiros usar os que considerava úteis aos seus propósitos pessoais. poderia se dedicar à caça dos vampiros com tranquilidade. De início atribuiu isso ao fato de ele estar envergonhado com a humilhação que Alder lhe causara na floresta quando ele tentara insuflar o povo contra ela. Alder permaneceu mais alerta do que o normal durante todas as horas da caça. mas não conseguiu sentir nem farejar sinais de sugadores de sangue. A única coisa que a preocupava era a constante ausência de Dunstan. Alder não tinha a mesma opinião. 28 .. Embora Beatrix não simpatizasse muito com Dunstan. ousado. assim que se afastara com a mulher Levenach do chalé às escuras e aparentemente deserto de Dunstan. Sacudiu a cabeça.. Para ele. mas havia pressentido isso. e nos últimos dias ela começara a se deixar levar pela imaginação. — E Freda.1) farsa. sim. A caçada daquela noite não tivera sucesso. Afinal. Sem dúvida estavam bem ocultos. . cada vez aumentava mais. na altura da nádega. — Respirou fundo. Alder sentiu um frio na espinha.Está apenas aborrecido com a caça de hoje e pelo fato de não ter havido uma matança de vampiros. Tentou arrancar os braços fortes de sua cintura. de certa forma. Voltaram para a Taverna do Lobo Branco um pouco antes do amanhecer. Alder estava com a fome de novo. doce e suave como uma colônia. E não tem outro homem para ajudá-la além de mim.. — Você também está frustrada pelos nossos esforços que não deram certo. concluiu.. quando ela abriu a porta dos fundos da estalagem. Queria aquela pele macia. Precisaria usar todos os seus dons para que ele e Beatrix não fossem pegos. Agora havia um buraco logo abaixo do quadril. — Mas encontraremos em breve.. Não posso esperar mais. cansados. — Quero você. A magia que Beatrix Levenach exercia o encantara. persuasivo. Quando eu partir. misturado ao seu odor natural. Sentiu as presas crescendo por trás dos lábios. Alder cheirou os cabelos que recendiam ao aroma noturno da floresta: úmido e frio. Pouco se importava com Laszlo ou com sua própria alma.. e imaginara coisas muito eróticas. —. ambos ficaremos solitários. Beatrix fizera um grande rombo nas calças de lã que se enroscaram em um espinheiro. Jamais estivera tão forte e ao mesmo tempo tão fraco diante do desejo.Heather Grothaus . Está me deixando louco. — Já está falando em partir? Ainda não encontramos Laszlo. Ou ele nos encontrará. — Por que não? — perguntou. Você não gostaria que eu ficasse se soubesse. e Al der sabia que era porque imaginava que. rindo. Depois que Laszlo morrer. — Alder! — ela exclamou. ele a segurou de costas pela cintura. Sua excitação sexual. acabou indo atrás dela até a cozinha escura. Levenach. porém ele a segurou com firmeza. mas sua necessidade de sangue ainda não era tão grande para ameaçar a vida da mulher a seu lado. Beatrix riu.. Ela dera pouca atenção ao fato. Já não raciocinava direito. no entanto. — Não quero claridade — ele murmurou de encontro à massa de cabelos vermelhos e perfumados. Durante a caçada.. ele não conseguiria ver o pedaço branco e macio de carne que surgia a cada movimento. perspicaz.1) Uma armadilha estava sendo preparada. Beatrix se aquietou.. eu disse a verdade quando revelei ser perigoso para você. e agarrar seus braços fortes com as mãos.. Mas ele vira. e sua carne a desejava como o ar que ele respirava. No escuro. Quando não respondeu de pronto. isso arrefeceu seu desejo.O Lobo Branco (Bianca 903. 29 . — Que você está me usando? — ela completou.. não poderei ficar aqui. Alder pressentiu o tom magoado na voz de Beatrix e. sujos e frustrados.. Mas não irá se aproveitar de mim para aplacar sua frustração. — Vou pisar nos gatos. aquele corpo tenro. Beatrix gargalhou. Largue-me para que eu possa acender uma luz. Estava louco para possuir Beatrix e. — Levenach. fazendo-a soltar uma exclamação de surpresa. Antes que ela tivesse tempo de pegar uma vela. no escuro.. não o temo. que quase a penetrou com as presas afiadas. Era como se ela soubesse. É poderosa demais. Alder de White. abertura da camisa. Ele prendeu a respiração e tratou de ocultar as presas. — Agora é você quem está me enfeitiçando. Beatrix inclinou a cabeça devagar. mas não se importava. Precisa de mim tanto quanto eu de você. -— Não irá gerar nenhuma criança.. Podia sentir o coração de Beatrix batendo apressado de encontro ao seu. — Desconheço muita coisa a seu respeito -— prosseguiu ela. Chego a pensar em fazer coisas que você não gostaria. Não me deito com uma mulher há mais tempo do que possa imaginar.. no momento.. Um brilho intenso surgiu nos olhos dela. — Meu desejo por você é quase nocivo e está me devorando aos poucos.. e ele a virou nos braços tal qual uma boneca de pano. Beatrix passou a mão por sua nuca e tocou a cicatriz.. esquecendo-se de que aquele era um gesto perigoso. E me deseja também. inclinando-se para ele. Não porque não tivesse a oportunidade. se é que possui esse órgão no peito. Isso era impossível de acontecer. então tire a roupa e deite-se comigo esta noite. Hipnotizado por sua beleza. — Mas não poderia fazer isso se você não estivesse disposta. ele inclinou os lábios até seu pescoço a fim de sentir o gosto de sua pele. Seria espetacular. — Se não tem medo de mim. em atos violentos. Deslizou a língua por seu pescoço. — Talvez — ele concordou. — Preciso possuí-la! — As palavras soaram como uma súplica. — Beatrix. perturbado. Uma de suas mãos deixou sua nuca para descer e abrir as calças onde seu 30 . e atirou a cabeça para trás. Caso um de nós dois morra antes de Laszlo ser destruído.. Ela ficou quieta por muito tempo. — Quero sentir seu poder misturado ao meu enquanto a possuo. pensou. o outro irá perecer também. Beatrix Levenach. pois seus joelhos tremiam. e. bombeando o sangue espesso e quente por baixo da pele sedosa dos seios que arfavam. — Para que eu possa gerar um bastardo seu? Alder sacudiu a cabeça com ímpeto.. — Não esteja tão certa disso — Alder alertou.. chegando à. Eu juro. Levenach. mas por total ausência de desejo. estão entrelaçadas. Sentiu que um gemido rouco escapava de sua garganta.. — Tenho certeza de que não me machucaria — ela murmurou com meiguice. — Mas sei que nossas vidas. Quero ouvi-la gritar de prazer. Sei que não veio aqui movido pela bondade de seu coração.1) — Sou uma Levenach e tenho cérebro. Alder sentiu a ponta dos dedos delicados percorrendo seu tórax. Beatrix! Ela tentou se equilibrar.. subindo depois até a orelha.Heather Grothaus . Alder. Talvez suas presas tivessem. não é verdade? — Claro que sim! — ela aquiesceu com um suspiro. Beatrix sabia que ele desejava se alimentar com seu sangue e o provocava. por esse motivo. machucado a pele delicada. — Desejo você.O Lobo Branco (Bianca 903. Ficaram frente a frente. Alder já estava próximo do clímax. e suas presas ficaram enormes sob os lábios benfeitos. ofegante. Seus olhos de vampiro podiam enxergar com clareza o monte de Vênus entre as coxas de Beatrix. Alder se afastou um pouco. tentando se livrar da pressão do corpo másculo contra o seu. — Por quê? — ele quis saber. a outra segurando um dos seios brancos. Foi então que percebeu um zumbido nos ouvidos.. excitada. Deixou-se cair de costas. enquanto era levada até o salão escuro e colocada sobre uma mesa junto à lareira. e Alder não perdeu tempo: rasgou a camisa que ela usava. fez com que ela se encostasse à mesa da cozinha. Seus dedos apertaram as nádegas roliças de Beatrix. Segurando-a dessa maneira. — Fogo! — murmurou Beatrix. — Porque cozinho nesta mesa — Beatrix explicou. A visão do corpo de Beatrix com as roupas em farrapos e as partes mais eróticas reveladas. mas desejou se controlar mais para que Beatrix também se satisfizesse.O Lobo Branco (Bianca 903. — Fogo! A taverna está em chamas! — Rolou para um lado enquanto ele lutava para cair na realidade e ver as 31 . equilibrando-se com a mão espalmada sobre a mesa. ela o incentivava a prosseguir. Alder caiu sobre ela. Alder. estranhos sons. revelando os seios redondos e arfantes. sentiu mil sensações diferentes. a cada nova investida... puxando-o sobre seu próprio corpo com uma força incrível. puxando-lhe as calças para baixo com um movimento súbito. — Mas não aguento mais esperar! — Nem eu — Beatrix sussurrou. o fez vibrar de desejo. e ele se posicionou para penetrá-la. mexendo o corpo com sensualidade e gritando em delírio. — Não.1) membro viril latejava. e Beatrix passou as pernas por seu torso. — Ela o afastou com um gesto brusco. — Aqui não — ela protestou com voz rouca.. fazendo-a gritar de prazer e abrir as pernas para recebê-lo. Havia cem anos que não se deitava com uma mulher. — Leve-me para o salão! Alder a ergueu com facilidade. — Faça! — gemeu. Alder sabia que estava louco. — Faça agora! — Ergueu um braço e o segurou pelos cabelos. Como se pudesse ler seus pensamentos. A outra mão o segurou pelos cabelos. Com uma estocada firme. Beatrix se contorceu. mesmo no escuro.. Calor. ela comandou com um sorriso: — Não se reprima. Sobre a mesa. confuso. Sentia vontade de devorá-la e fazê-la em mil pedaços. — O fogo do desejo. Cavalgando Beatrix.Heather Grothaus . mas acatou a ordem com alegria e tirou as próprias calças depressa. Não tinha medo de machucá-la.. porém jamais fora abençoado com uma tão maravilhosa quanto Beatrix Levenach! A bruxa mais poderosa da Escócia. odores de óleo e fumaça. revelando os olhos ardentes de paixão. enquanto seus movimentos furiosos faziam a mesa balançar. ele a penetrou. — Sim— retrucou Alder com os olhos fechados. pois. sibilou. e sentiu o sangue do lobo nos lábios enquanto as primeiras exclamações de revolta dos Leamhnaigh 32 . Beatrix se moveu entre a fumaça espessa que já tomara a cozinha. — Bo! Era! — Chamou os gatos. e. fazendo um ruído delicado nas pedras e na terra. deixando a passagem livre. Quando conseguiu abrir a porta dos fundos. Ela tampou a boca com as mãos a fim de sufocar um grito. Voltou-se com ímpeto para olhar seu lar quando a chuva começou a cair com mais força. o longo avental. um barulho soou na clareira atrás dela. De repente. pressionando o nariz e a boca com força para não sufocar. enquanto o lobo branco se refugiava na mata com o flanco esquerdo todo vermelho.1) chamas avermelhadas que lambiam as paredes de madeira a poucos passos de distância da mesa sobre a qual faziam amor. Beatrix vislumbrou duas pessoas recostadas na porta fechada de sua taverna: Dunstan e sua mulher. ansiosa. Resoluta. a fumaça começou a dispersar. — Beatrix! Virou-se e deparou com a porta da frente aberta. Ergueu as calças com rapidez e. Esperava que ouvissem sua voz e viessem até ela. que sentiu algo úmido e pegajoso. pendurado a um canto. com olhos escuros e raiados de vermelho e pelos sujos de fuligem.Heather Grothaus . mas também exibia quatro patas.O Lobo Branco (Bianca 903. encontravam-se sentados no chão. Beatrix o seguiu sem hesitação e deu a volta na casa. O barulho de um trovão saudou sua chegada na entrada da taverna também já coberta pela fumaça. Em seguida. pela qual a luz do sol se misturava ao fulgor das chamas brilhantes. — Vá. quando deu por si. ombro a ombro como um casal feliz. por aqui! Era impossível enxergar através da cortina densa e cinzenta. — Alder! — ela murmurou. ergueu bem alto as mãos espalmadas. Era maior do que Bo ou Era. esbarrou na mão de Beatrix. de olhos fechados. viu que a mulher Levenach desaparecera. Agarrou. e cobriu com ele a cabeça. o animal saltou para fora da cozinha. Ela ouviu gritos vindos da floresta. A única nota destoante eram suas cabeças decepadas repousando em seus regaços. A luz do dia mal conseguia penetrar pela porta dos fundos. mas sabia que não os veria na bruma causada pelo incêndio. Então. e pingos grossos e frios lhe tocaram o rosto. Sua paixão foi sufocada pelo alerta. sentiu algo macio passando por sua perna e soltou o ar. Um lobo branco. e uma sombra branca se materializou diante dela. sufocada pela fumaça. abafados pelo arvoredo. Eram habitantes do vilarejo que se aproximavam. escuridão infernal! Invoco a chuva contra esse mal! A cortina de fumaça começou a se dividir. Depois se voltou para a cozinha. O dia nascera e ele estava preso ali. Freda. Como era possível que o salão pegasse fogo tão depressa? E por que Alder não estava atrás dela?! Ouviu um barulho de madeira queimada no cômodo ao lado e depois um chamado rouco. — Alder. aliviada. Alder. Esperou ser agarrada a qualquer momento. Ela era forte... Ele respirava com dificuldade. — Irá pagar por esse crime. Beatrix reunia uma coleção de medicamentos sobre a mesa para cuidar do ferimento. Ajoelhando-se. à procura de Alder. olhando para ela com a cabeça baixa.. perguntando-se se os remédios que Beatrix misturava naquele momento não iriam matá-lo... procurando de novo o abrigo das árvores.. — Virou-se e começou a caminhar na direção da porta dos fundos. Ela olhou por cima do ombro ao ouvir o som arrastado das botas. Sabia que Alder era o lobo.. estaremos preparados e não haverá ninguém para nos deter. — Piedade! Ela matou Dunny e Freda! Tornou a se virar. como a fumaça e o fogo desapareciam da taverna. a chuva tamborilava no telhado da taverna. Suas roupas estavam cobertas pelo amplo avental. e Beatrix pôde ver que sua pata traseira esquerda não se apoiava no chão. que virou a cabeça para ver o lobo branco sair mancando da mata e parar.O Lobo Branco (Bianca 903. certa de que o lobo a seguiria. Onde ele está? Será que também o matou? Diante da hipótese. Mas isso logo desapareceu. e a chuva jogou seus cabelos molhados sobre os olhos. Às suas costas. — Vamos entrar para que eu possa examinar essa perna. Sua natureza a impelia a lutar contra os sugadores de sangue. — Confiamos em você e em seu noivo. mas todos continuavam a fitá-la de olhos arregalados. Beatrix Levenach! — declarou um homem quase com tristeza enquanto um trovão ecoava sobre o arvoredo. Eles. embora a tempestade naquele momento houvesse amainado. — E quando viermos buscá-la. — Vejam! O sangue ainda está nas mãos dela! Beatrix ficou imóvel sobre o solo enlameado. esperta. Uma mancha clara chamou a atenção de Beatrix. Beatrix pegou a pequena bandeja e rumou para um canto afastado do salão. a fim de encarar seus acusadores. e as chamas desapareciam aos poucos. — Venha. e ela devia suspeitar de que ele era um deles. por um momento. os Leamhnaigh se dispersaram em meio às árvores.Heather Grothaus . diante do semicírculo de pessoas horrorizadas. já na forma humana e sobre as duas pernas. e logo retornou à tarefa sem fazer comentários. Um raio iluminou a floresta. Com a terrível promessa pairando na manhã úmida. a pequena multidão começou a se afastar como um bando de ovelhas assustadas.1) penetravam em seus ouvidos. Dali a pouco não havia mais ninguém. e ela finalmente falou: 33 . — Não! Eu. pensou ver um brilho de dúvida em seus olhos.. — Ela suspirou. Fitoua com cuidado. Relanceou um olhar para Alder que. deixando à mostra apenas os tornozelos e os braços. pôs de lado um pesado tapete de lã. — Vai pagar por isso! — prometeu o homem de novo. Puxou um anel de metal e o alçapão se ergueu. olhando em volta com medo. sem conseguir se aproximar mais. Quando Alder entrou mancando na cozinha. revelando a entrada quadrada de um alçapão. uma caçadora. mas agora preferia que fosse ele e não ela a morrer. inseguro. Decidido. Porém seus cabelos se eriçaram na nuca e. Recusava-se a beber o sangue de Beatrix.1) — Tenho vários alçapões nesta casa. Beatrix se encaminhou até a cama encostada em uma parede de pedra. E se ela desejasse vê-lo morto por ser um vampiro. Uma mesinha de madeira suportava uma tigela perto da cabeceira. aturdido. — Teine! Uma luz amarela surgiu a seus pés como um lago mágico. Estava no domínio encantando dos Levenach. Pude sentir seu fedor no chalé de Dunstan quando fomos até lá. Alder aquiesceu. e ele podia sentir as presas cada vez maiores em resposta à dor. que poderia ser encontrada em qualquer dormitório. ambos atingidos 34 . O cômodo encontrava-se iluminado por quatro castiçais altos. e depositou a bandeja sobre a coberta de lã. e ganchos ao longo da escada mantinham várias roupas. refletiu. os quais jamais conseguira imaginar. Sua perna esquerda doía muito. — As palavras soaram estranhas aos seus próprios ouvidos. — Trabalho de Laszlo. refletiu Alder. um tapete colorido cobria o antigo chão de pedra. que assim fosse. A mulher Levenach bem poderia estar conduzindo-o para a morte. trajando a veste longa. desceu uma série de degraus. constatou. e foi até a cama. de modo instintivo. que hesitou em acompanhá-la. Alder a seguiu até o porão. evitando encará-lo. Em seguida. ficando invisível aos olhos dele. Quando desceu o último degrau para o porão da Taverna do Lobo Branco. Lá não seremos perturbados pelo cheiro de madeira queimada e estaremos seguros no caso de os Leamhnaigh voltarem. depois se agachou nas sombras. Selecionou uma veste longa e larga. Acabou de rasgar o tecido. Não deveria se iludir com a simplicidade do ambiente.O Lobo Branco (Bianca 903. Então se lembrou de seu rosto apaixonado quando haviam feito amor no salão e respirou fundo. tomando o cuidado de não tocar na bandeja com os objetos. Beatrix entornou um líquido desconhecido sobre uni pedaço de linho limpo e começou a pressioná-lo com firmeza sobre o joelho e a coxa de Alder. cada um com sete velas finas e amarelas.Heather Grothaus . Havia descido apenas metade da escada quando ouviu o suave comando lá embaixo. enquanto afastava as calças rasgadas de Alder e exibia o ferimento. Alder sentou-se na beirada da cama e depois se deitou. — Suponho que tenha visto os corpos de Dunstan e Freda — disse. passando por ele ao se dirigir para os ganchos junto à escada. Ele soubera desde o início que sua estranha relação com a Levenach conduziria à fatalidade. e jamais se sentira tão vulnerável. Venha para o porão. A mulher Levenach soubera se proteger. revelando toda a extensão da perna. — Deite-se — ordenou Beatrix. Percebeu que ela guardava muitos segredos. Beatrix emergiu das sombras um momento depois. suas presas surgiram. Era uma mobília comum. e seus lábios tentaram ocultar as presas alongadas. viu que o cômodo era também o dormitório de Beatrix Levenach. Beatrix. Desculpe-me pela dor — ela murmurou sem fitá-lo. você não deverá me seguir. — Não. Quando o sol se puser hoje.Heather Grothaus . eu o farei. — Respirou fundo e prosseguiu: — Também estou sendo caçado por outra criatura que não é vampiro. não afastou a mão de Beatrix. você não compreende. Se ela me encontrar esta noite com você. de preferência. mas.. ele tornou a segurá-la pelo pulso. — Laszlo não está mais brincando conosco — comentou. mesmo assim... — Seja por meio da multidão enraivecida que necessita de um bode expiatório. — Se ele não o fizer. Beatrix não respondeu e continuou a cuidar da perna.. mulher Levenach. embora sua mente se agitasse na tentativa de descobrir uma maneira de convencê-la a não acompanhá-lo na caça a Laszlo.Sei que tem um dever perante sua família e já cumpriu sua promessa. porém o desconforto não foi tão grande. seja pelas presas de um vampiro. — Não fugirei — ela afirmou. — Então morrerá — ele retorquiu. Desta vez a turba não poderá ser detida. depois o Dia de Finados. Alder permitiu que ela acabasse de costurar sua perna em paz. —. muito séria. Agora sou eu quem deve acabar com o monstro. a testa franzida. e eu estarei longe da floresta de Leamhan — falou por entre os dentes cerrados. — Beatrix. — O amanhecer seguinte deverá encontrar Laszlo morto. — Não ficarei sozinha. Os pontos dados com a agulha eram pequenos e rápidos. Estou quase acabando. Estarei com você. Sou sua maior ameaça. Era possível que seu ferimento fechasse sem esses cuidados. -— É melhor que você também deixe a floresta de Leamhan — sugeriu Alder diante de seu silêncio. dominado pela surpresa: — Fique quieto. 35 . — Sei disso. Ela deixou de lado o pano e pegou uma agulha com linha grossa. — Ouça-me.1) por uma tora de madeira em chamas. — Quando eu for procurá-lo esta noite. — Afastou-se do braço que a prendia e comandou. — O esforço para esconder as presas dificultava sua fala. contei a verdade no dia em que cheguei. ao vê-lo se mover. Não pode ficar sozinha aqui. — O juramento de minha família me proíbe de fazer isso. Alder enrijeceu instintivamente. Então se inclinou sobre a perna ferida e enfiou a agulha na carne com firmeza.. E mesmo que não encontre.. Alder sentiu a dor em antecipação.. — Alder engoliu em seco. pois era mais uma oportunidade de sentir seu toque. Quando Beatrix deu um nó na linha e a partiu com uma faca. porém é imortal. nós dois estaremos condenados. Alder aquiesceu. estendendo o braço e segurando-a pelo pulso para obrigá-la a fitá-lo. será o Dia das Bruxas. pois manteve a besta afastada até minha chegada. — Antes do cair da noite. Ela continuou a falar: — Em breve Laszlo atacará.O Lobo Branco (Bianca 903. Sozinho.. aturdido. encarando-o de frente. Não o temo. —. Alder. Caçar está no meu sangue. — Vivi toda a minha vida na floresta de Leamhan e. Jurei dar minha vida para proteger os Leamhnaigh e não fugirei dessa obrigação. Alder de White.. —. que você viria.Não é da minha natureza amar. — Sou uma caçadora. eu. Beatrix se inclinou sobre ele com rapidez e colocou os dedos sobre sua boca. confusa. Mas. sabendo com certeza de que as horas de que dispunham para ficar juntos passavam depressa. sua boca e suas presas. mesmo assim. creio que é — Beatrix argumentou e se estendeu ao lado dele na cama estreita.. Aproximou-se mais. e agora que sabe que não ignoro quem e o que você é. — Sorriu. por meio das lendas mais antigas da minha família.. — Sabia antes de minha chegada? — Não — ela admitiu.— Ela baixou a cabeça. Confio a você minha vida e minha alma. Ela tornou a sorrir. acariciou o rosto pálido e perfeito. — Não quero feri-la. 36 . eu morreria com prazer por sua causa. — Também não tenho consciência — resmungou Alder. Viu o pomo de adão de Alder se mover enquanto ele engolia em seco. Beatrix permitiu que suas palavras pairassem no ar frio do porão. quando Laszlo morrer. — Não. — Mas assim que se aproximou de mim na clareira.. Tomara uma decisão. então que seja pelas suas mãos. o brilho suave das velas iluminando o rosto pálido. — Será possível que me ame? Ele franziu a testa e afastou os olhos como se envergonhado. Ouça-me! No dia em que o véu que divide a vida terrena da eternidade se tornar mais tênue. diante do silêncio que os envolveu. Sentiu as presas agudas ocultas sob os lábios benfeitos e balançou a cabeça. o desejo inflamando o corpo.1) — Compreendo muito bem — ela retrucou em voz baixa. Não queria saber. não me matou — ele murmurou. — Então sabia e. desde pequena. A expressão dele se tornou dolorida. pois eu mesma não compreendo. e ouviu o rosnar baixo e forte enquanto passava a mão com liberdade sobre seu tórax e pescoço. — Sei que é um vampiro.Já me salvou da morte uma vez. Em seguida. a mão apertando seu pulso. — Jamais desejei um homem antes. Pensou que eu não perceberia o que você é só por causa de sua beleza? Foi profetizado. Mas também não me importo em compreender. Beatrix. pode me possuir com a consciência tranquila. Alder.Heather Grothaus . — Oh. embora a última coisa que sentisse fosse alegria. Depois continuou: — Não consigo explicar.O Lobo Branco (Bianca 903. Beatrix torceu o braço até conseguir entrelaçar os dedos nos dele. soube que era a Levenach escolhida. Se eu precisar morrer esta noite. Alder. detendo qualquer confissão que Alder pretendesse fazer. Beatrix pôde ver os olhos escuros se dilatando à luz bruxuleante das velas. Beatrix — ele murmurou. — Alder. Alder a prendeu sob o corpo. Dormiram abraçados enquanto o sol surgia devagar e alcançava seu pino do lado de fora da Taverna do Lobo Branco. A mordida veio firme e seguida por um prazer indizível que o fez arremeter uma. enquanto os corpos frementes iniciavam uma dança ritmada e sensual. Eu ordeno: faça amor comigo! Um gemido rouco escapou da garganta de Alder tal qual o lamento de uma fera. e Beatrix passou uma coxa por seu quadril. se aproximaram e começaram a fazer círculos agitados aos pés da cama. perturbado. Encorajado. Agradecida e feliz. tentadora.. Beatrix gritou de júbilo.. pronta para o que viria a seguir. tomando o cuidado de não tocá-lo na perna ferida. duas. — Dê-me o que estou pedindo. Não me recuse. Suas bocas se uniram em um beijo violento e passional. Bo e Era. Capítulo VI 37 . fazendo-a sentir toda a angústia e desespero que o haviam possuído nas últimas noites em que fora obrigado á dormir sozinho. As mãos fortes a acariciavam de tal maneira que sentia-se desfalecer. arqueando os quadris e pressionando o corpo contra o dele. em parte apavorada. e que tenhamos essas poucas horas de felicidade. Ele a beijou com desespero. inebriada. Beatrix roçou os seios túmidos de encontro ao tórax musculoso. ansiando por ela.. Beatrix fechou os olhos. Alder. Estiraram-se sobre o colchão. — Beijou-o na boca de leve. — Permito e quero — replicou ela. estendendo o braço a fim de suspender o longo avental e a veste. sentindo o próprio corpo sacudir em êxtase. e o ondular frenético dos quadris alcançou seu máximo. até explodir de prazer e levá-la consigo a um poderoso clímax. inúmeras vezes. — Precisa fazer isso. em parte cheia de desejo. executando seu percurso no firmamento para depois começar a desaparecer sobre as copas das árvores uma vez mais. Alder desejava vê-la excitada até o delírio.O Lobo Branco (Bianca 903. — Seu desejo é uma ordem. O desejo não lhe permitia raciocinar. Ansiava por senti-lo dentro de seu corpo mais uma vez e alcançar a plenitude do prazer que lhe fora negada quando o incêndio tomara conta da taverna. estou convidando mais uma vez.. Beatrix! — ele implorou. Nenhum deles se moveu quando os dois gatos.1) — Então me possua — pediu com simplicidade.Heather Grothaus . — Não me permita fazer isso. Enterrou o rosto no côncavo de seu pescoço e Beatrix inclinou a cabeça para facilitar o gesto. enfiando a língua em sua boca e puxando-a para si com violência e doçura ao mesmo tempo. ela recebeu a semente do vampiro. Ela sentiu as presas roçando a pele do pescoço e prendeu a respiração. Em seguida a penetrou. Levenach — ele disse com voz profunda. sujos de fuligem. Já não estava segura ali. Um "X" fora gravado na madeira queimada da porta. segurando-a pelos ombros e puxando-a para si. Se eu não tivesse feito o juramento com minha própria boca. Posso ter entregado meu corpo a você. E iriam matá-la se tivessem a oportunidade. — Então vou sozinha! Tem suas razões particulares para se vingar de Laszlo. mas sua lógica fria de vampiro exigia uma resposta. a escuridão ao seu redor parecendo um manto frio. No lugar onde tinham estado. — Nem mesmo sobre seu doce e mortal coração? Não acredito. Alder deixou pender a mão. Como se o pensamento o invocasse. Sou uma Levenach e aqui comando eu. talvez pudesse escapar. os quais pareciam ter sido reunidos às pressas. mas à minha família. Ainda tenho um dever a cumprir. hoje ou em qualquer outra noite! — Nenhum poder? — repetiu Alder num desafio.1) Os corpos haviam sumido. Beatrix. Os restos mortais do casal haviam mesmo desaparecido. Eu já disse. e pode mantê-las para si se assim desejar. — Nada mudou. Beatrix semicerrou os olhos na escuridão que envolvia a porta da frente da Taverna do Lobo Branco e constatou que os cadáveres de Dunstan e Freda não estavam ocultos nas sombras. concluiu. e seu tom de voz ficou ainda mais frio.O Lobo Branco (Bianca 903. — Não a levarei comigo. mas isso não o torna meu dono. Ela balançou a cabeça em negativa. Os habitantes do povoado tinham voltado para recolher os corpos. Uma criminosa. — E o seu coração. — Como pode achar que lhes deve alguma coisa quando desejam matá-la? — As palavras foram ditas com brandura. talvez na esperança de que os talismãs os salvassem da bruxa Levenach. mas as minhas são muito claras e não devem ser ocultadas. — Não devo nada aos Leamhnaigh. O povo que sua família protegera por gerações lançava mão dos mesmos talismãs que esta o ensinara a fazer contra ela! O símbolo na porta era claro: consideravam-na uma assassina de inocentes. e deixado aqueles objetos para ela. Isso fez Beatrix ficar com o coração apertado. Beatrix sentiu a mão forte em seu ombro. lobo branco dos vampiros? Bate por mim? Renunciaria 38 . — Então o que pretende fazer? — Vou com você procurar Laszlo e o matarei. Alder tinha razão. na floresta. E honrarei essa promessa. mulher Levenach.. agora só existia uma pilha de ervas e talismãs entrelaçados. Você é um vampiro e não tem poder sobre mim. afastando os olhos da pilha de amuletos. Ela o afastou. A meu pai. Poderia ter me matado há muito tempo se quisesse. Alder.. refletiu. Não tenho escolha.Heather Grothaus . Nem percebera que a noite já havia chegado. Ela se voltou com ímpeto para fitá-lo. — Vai me dar ouvidos agora? — ele perguntou com suavidade. Porém sabia muito bem o que estava prometendo quando resolvi me sacrificar anos atrás. tal como olhos malévolos. e Alder colocou a mão sobre a 39 . incitando-a a fazer algo. até que este feriu e queimou a pele. — Entre e pegue nossas armas. Deixou-o e caminhou para a porta da estalagem. em maior número. sorrindo no escuro. Aprumou-se e se virou. mas nada disse. A cozinha estava às escuras com o cair da noite. Se procurarmos Laszlo juntos e o matarmos. — E. então. refletindo o céu negro e estrelado acima de suas cabeças. Beatrix respirou fundo. caçada como um animal por causa de sua sede maligna? Sim. Beatrix ficou sozinha diante da floresta. Depois balançou a cabeça. Alder — ela retrucou. — Esta noite sou de fato uma Levenach. e tirou um punhado de sal grosso de lima tigela de madeira que jazia no chão. como uma feiticeira Levenach. Sabia que jamais o convenceria com palavras.Heather Grothaus . Olhou por cima do ombro ao escutar o som abafado das vozes dos habitantes da floresta que.. Fitou-o nos olhos por um longo momento. Virouse e tornou a se dirigir para a taverna. — Se tivermos sucesso.O Lobo Branco (Bianca 903. e para você. que já caiu sobre nós.. analisando a gravidade do que estava para sugerir.1) à sua vingança contra Laszlo para fugir da floresta Leamhan comigo e ser meu homem? — Meu coração não é doce nem mortal — ele retrucou com seriedade. Alder fitou por algum tempo a claridade que ela produzira. surgiu um clarão de luz branca. muito breve. A floresta ao redor estava silenciosa e gélida enquanto suas emoções ferviam. até que a clareira ficou toda iluminada. embora ela não soubesse o quê. enquanto o barulho da turba que se aproximava parecia mais forte..Talvez não — argumentou Beatrix. Não havia vento e. Levenach. — Então não podemos perder tempo — respondeu com calma. podia sentir a impaciência que emanava da folhagem agitada dos olmos naquela noite de magia. — Esta me pedindo para transformá-la em uma estrige! — ele exclamou sem acreditar no que ouvira. não morrerei nas mãos dos Leamhnaigh. você poderia me tornar uma igual. — Esta noite sou uma bruxa — finalizou com simplicidade. — Só temos esta noite e apenas esta noite. apertando o sal na mão com toda a força. voltavam para capturá-la. — Prefere me deixar? — A condená-la a uma eternidade sem alma. -— Nunca. Seus olhos encontraram os de Alder outra vez. — Nosso futuro juntos seria triste. Tenho visitas a receber e de nada me ajudará se o virem mal-humorado. — Sacudiu o punho. Inclinou-se. vendo o brilho alaranjado das tochas que serpenteavam pelas árvores vindo em sua direção. espalhando quase todo o sal em um amplo arco sobre a clareira. —. — É tão tola que já se esqueceu do toque da corda em seu pescoço? — Foi um dia diferente.. mesmo assim. Onde cada grão caiu. que. De perseguidores. Uma risada amarga escapou de seus lábios. As armas Levenach permaneceram esquecidas sobre a mesa. Alder voltou a se concentrar em Beatrix. sem querer. decidiu. Alder deixou cair com um estrondo as aljavas com estacas e os talismãs mágicos sobre a mesa da cozinha. — Fujam! — gritava ela com firmeza. Depois segurou a alça que prendia as armas de Beatrix. matando Laszlo. Desde então permanecia sem alma e sem coração: uma concha fria e oca. Fechou os olhos e cerrou os punhos. estes agora passavam a perseguidos e se comprimiam uns aos outros. Perturbado. Eram as armas que haviam permitido aos Levenach e aos Leamhnaigh sobreviver por cem anos desde a matança que ele próprio ajudara a realizar. Iria libertar a terra do vampiro e da bruxa para todo o sempre. chegou às suas narinas. a despeito disso.1) velha aljava que pertencera a Gerald Levenach. a fúria e a fome por sangue inundando seu corpo como um pano encharcado em óleo e fogo. agora ainda mais fulgurante com as tochas que os habitantes da floresta carregavam em bando a alguma distância de Beatrix. Existem matadores ao redor e logo este lugar estará banhado em seu próprio sangue se não me ouvirem! 40 . e Alder se sentiu zonzo ao pensar na vingança que estava tão próxima. suas presas surgiram e suas pupilas se dilataram à medida que os gritos desesperados dos Leamhnaigh pareciam emergir de todos os cantos. A clareira além da taverna continuava brilhando com o fogo branco da bruxa Levenach.O Lobo Branco (Bianca 903. mas podia cheirá-lo. senti-lo. pútrido. Sacrificara a própria alma como pagamento. Não conseguia ver Laszlo. Laszlo! Dirigiu-se à porta como se mergulhado num transe. ele estivera em uma clareira como um mortal ambicioso e arrogante. Seus cabelos se eriçaram na nuca quando os primeiros gritos desumanos chegaram a seus ouvidos. a copa das árvores. — Aqui não é seguro para vocês. ainda mantinha lembranças de dias felizes. Precisava matar Laszlo e depois sugar o sangue da última bruxa Levenach a fim de recuperar sua alma e natureza humana. assim como seus companheiros. Consertaria pelo menos parte do erro. ajudara a libertar o mal sobre aquela terra e aquelas pessoas. num reflexo. Girou a cabeça para a porta dos fundos da taverna. as sombras que perseguiam os mortais na clareira. um século antes. A luminosidade feriu seus olhos de vampiro e.Heather Grothaus . E fora castigado. Fitou o céu. e os analisou com seus olhos de vampiro. examinando o céu sobre a clareira. ele deixou escapar um sibilo. sustentando os objetos à sua frente. Numa noite como aquela. e um odor de vampiro velho. que. No mesmo momento. Viu a mulher Levenach comandando os habitantes da floresta. o rosto adorável e mortal de Beatrix surgiu em sua mente. sendo sentenciado a cem anos de servidão junto ao grupo do arcanjo justiceiro. Mas tudo deveria acabar naquela noite. No mesmo momento. — A história de que sua gente era protetora da nossa não passava de uma grande mentira! Sempre fomos o rebanho que pôde dizimar para se divertir segundo sua vontade. na frente de seus preciosos Leamhnaigh que a veriam ser destruída e saberiam. isso só durou um momento. A multidão gritou. venha até mim! — Sim! — berrou uma mulher. Estavam em grande número e.1) — A única assassina aqui é você.. para dominá-la de novo. Seus olhos de vampiro podiam ver cada fio da cabeleira vermelha. — Beatrix Levenach é nossa única esperança! Alder observou do canto da taverna enquanto dois terços dos humanos se reuniam em volta dela e da entrada da bodega. Estava com tanta fome que já não conseguia evitar que os mortais fossem caçados pelos vampiros assassinos. brandindo a tocha para ela. como se este viesse de muito longe. Mas não importava.. Cerca de cinco monstros retrocederam ao comando mágico de Beatrix. então. Depois. e se apoderaria de seu corpo e sangue ao mesmo tempo. juntos. Ela parecia se mover devagar em sua direção. Porém. por fim. assim como a luz vibrante que a circundava. Mais gritos irromperam quando dois vampiros mergulharam sobre as pessoas e. pois estes logo retornaram ao bando. como aves de rapina atacando peixes em um lago. também olhando para o alto e mantendo a atenção no bando faminto que sobrevoava a clareira. seu poder era muito forte. — Você é má! Má! Você é. 41 . abocanharam seus alimentos e retornaram às profundezas da escuridão. derrubando-a sobre o solo.O Lobo Branco (Bianca 903. Um desejo alucinado o possuiu. ainda que seus olhos cheios de medo se voltassem para o alto. escutando seu próprio rugido. Ele ainda podia recordar a sensação de ter o corpo dentro dela. fazendo a tocha cair e rolar na lama.Heather Grothaus . os olhos arregalados de pavor diante da horda de vampiros que circulava nos céus. Beatrix Levenach! — acusou um homem dos Leamhnaigh. Precisava se alimentar logo. e queria que seu alimento fosse Laszlo. Ou Beatrix. Um a um. — Mentira.. o leve gosto de sangue em sua boca quando suas presas haviam raspado o pescoço alvo. Voaria sobre ela. que Beatrix Levenach fora uma bruxa boa... — É verdade! — O homem voltou a sacudir a tocha para ela.. e sabem disso! — contestou Beatrix. cada poro da pele sedosa.. afasta o mal! Estou comandando! A nuvem negra formada pelos vampiros se agitou.. ele destruiria todos os outros. e Alder se preparou. e Alder estreitou o olhar. analisou Alder com frieza. — Povo Leamhnaigh. os Leamhnaigh foram se voltando. Pôde sentir com clareza o poder da Levenach e estremeceu quando ela falou: — Luz milenar. —: Fiquem atrás de mim! — gritou Beatrix. Mas suas palavras foram interrompidas de modo brusco quando uma silhueta negra e esquelética emergiu das sombras da noite e o ergueu no ar. ameaçador. Ainda podia se lembrar da sensação do toque daqueles dedos em seus ombros. inclinou-se mais um pouco sobre seu pescoço e a cheirou. os olhos negros e oblíquos. Os braços estavam cruzados nas costas.Heather Grothaus .. ocultando as palmas das mãos e os dedos longos demais. anunciando a chegada do senhor do mal como um arauto da realeza maligna. Há muito desejava outra vez sentir na boca o gosto de uma bruxa. fazendo-o cair enquanto sua alma deixava seu corpo e seu sangue jorrava para fora das veias. a mão enorme sobre seu lindo rosto. — Beatrix Levenach! — bradou a voz num tom gutural que foi ouvida por todos os mortais na clareira. o nariz longo e ossudo. — Farei isso — concordou Laszlo.1) Nesse instante. Porém Laszlo era mais experiente.. Laszlo — rosnou Alder. A visão de Laszlo le Morte saindo da floresta para a clareira como um cavalheiro fez Alder ficar cego de fúria por alguns segundos. — Parece que não nos vemos há cem anos. — Deixe-a. — Riu da própria brincadeira.O Lobo Branco (Bianca 903. lá estava a face que o assombrara nos últimos cem anos: o queixo pontudo com barba. — Vejam só! Já provou uma amostra! Quem sabe até já bebeu o suficiente do sangue desta bruxa e poderei acabar com a sua vida de uma vez por todas? — Por que não experimenta? — Alder provocou. e você me deu essa oportunidade. Um sorriso malévolo surgiu em seus lábios finos. já apoiado sobre as quatro patas de lobo. puxando sua cabeça para trás a fim de expor a curva do pescoço. — murmurou Laszlo com voz suave. — Você parece deliciosa.. criador de corpos sem alma. talvez não — o monstro replicou pensativo. e nem mesmo a visão sobrenatural de Alder conseguiu prever com que rapidez o demônio de cabelos negros partiria para cima de Beatrix. Portanto. Alder pousou no solo lamacento com um baque surdo. não foi? E o que vejo aqui? Marcas de presas? — Tornou a cheirar a pele de Beatrix e gargalhou. — Assim que tiver provado o sangue da Levenach também. inclinando-a contra o próprio corpo. Laszlo tanto se orgulhava. Cem anos antes. — Ora. Alder sentiu a vibração repercutir dentro dele como um choque. na direção do ser desumano. um grito horroroso fez estremecer a floresta. Alder se agachou e depois voou para a clareira em um único pulo. Afinal. dos quais. — Talvez sim.. 42 . Começou a escancarar a boca e presas enormes surgiram. Esta noite terei seu sangue.. enquanto imobilizava Beatrix. Alder sabia. tenho certeza de que não irá se importar. mas que ao mesmo tempo parecia um sussurro de amante.. Foi então que Beatrix conseguiu erguer o punho direito e atirou no rosto de Laszlo o restante do sal que guardara na mão. — Alder de White. pronto a se lançar de novo sobre o rei dos vampiros. Olhou para Beatrix. ora! Você a possuiu. -— Concentre-se em mim. à luz da tocha e do luar. — Uma tarefa por demais ambiciosa. Foi esperto o suficiente para ser meu aliado. E demonstrara a Laszlo que a mulher Levenach não seria uma presa fácil. e ela era a mulher Levenach.. é claro. mas estúpido demais para perceber a realidade. — Olhou para Alder. Nesse momento. — Lembra-se de um caso parecido? Com o rabo do olho. Dunstan. impaciente. por exemplo. é isso? — perguntou Laszlo em tom condescendente. —. e o riso foi aumentando. Não existe mortal ou bruxa que possa me vencer. como uma faixa de cera onde brasas ardentes houvessem pousado. postando-se atrás de seu mestre. Permitiu-se virar o rosto e viu que tinham pegado os talismãs que haviam estado empilhados junto à porta da taverna. e. desafiadores. — Pretende acabar com todos nós. Teria acabado com você depressa. Espero que esteja preparada. tentando limpar da boca o hálito podre que sentira tão junto de si.O Lobo Branco (Bianca 903. — Os olhos oblíquos brilharam com crueldade.1) Capítulo VII As garras de Laszlo se afastaram de Beatrix e o vampiro sibilou enquanto retrocedia. Honraria o juramento antigo de sua família. Aquela era a Noite das Bruxas. por fim. não podia permitir que seu coração fosse afetado pela escolhas de Alder. perfilados num exército satânico.Isso não foi bonito — murmurou o vampiro como se falasse com uma criança. — Morrer? Eu? — Laszlo começou a rir em leve tom de chacota. formando uma barricada à sua volta. O sal não o mataria. Seu pobre amigo. Beatrix pôde ver as marcas semelhantes a pústulas que o sal deixara na pele do monstro. descobriu isso tarde demais. mas dera tempo a ela de fugir. plagiando a frase de Alder. diante dos companheiros de Laszlo. Como se atraídos pela gargalhada infernal. — Eu o usei para inflamar o povo da floresta contra você e depois o fiz segurar com as mãos gordas sua cabeça gorda. Ela olhou para a direita e cuspiu no chão. Agora os estendiam. Beatrix percebeu o grupo dos Leamhnaigh se aproximando cada vez mais dela e. seu demônio. Laszlo e seus discípulos do outro. Laszlo levou a mão ao rosto. Agora creio que seu fim será muito mais doloroso por causa de seus maus modos. antes de se dirigir a Laszlo mais uma Vez: — Esta noite a luta acabará. Alder se postou no meio dos dois grupos: Beatrix e os Leamhnaigh de um lado. — Fiquem atrás de mim — ordenou aos Leamhnaigh em voz baixa. — Por que não tenta? — replicou Beatrix. pelas veias. Ergueu-lhe um dedo ameaçador. — Morrerá esta noite. os outros vampiros principiaram a despencar no solo como frutas podres das árvores. — Está determinada a ser admirada.Heather Grothaus . mulher Levenach.. Porém.. O povo da floresta afinal percebera a verdade. Ela segurou o ar nos pulmões. Beatrix sentiu seu sangue antigo e mágico correndo.. tão longo quanto seu próprio antebraço. 43 . sem saber de que lado ele ficaria. porém fiquei ofendido. — Não compreendeu bem. Era ambicioso e eu lhe prometi poder.? — Um mortal — completou ela. Beatrix sentiu-se enregelar. Já esteve aqui antes. sorrindo. logo além da fronteira. — Acha que ele a ama. Alder quer se vingar de mim. e o motivo pelo qual se tornou tão próximo de você. Alder não é estranho aos Leamhnaigh. Pense um pouco. Não tinha importância. não é mesmo? — Tornou a rir do modo desprezível de sempre. porém não havia sinal dela.. é que ele voltou a este lugar. quase engasgando. deixando escapar seu hálito nocivo. mas ele já não estava mais ali.. Levenach? Um século. — Está imaginado para onde o lobo foi? — perguntou o líder dos vampiros com um sorriso malévolo. — Acredita que ele a levará consigo depois que me matar. O que aconteceu aqui. — Laszlo fez uma pausa e olhou para Beatrix sem disfarçar a satisfação. tentando se recuperar do 44 . enquanto escavavam o solo como animais sedentos por sangue. — Laszlo exibiu as presas. não é isso.. a fim de recuperar o farrapo de humanidade do qual o liberei com tanta generosidade. — Ouviu isso. — Isso mesmo! O massacre! Há cem anos fui conduzido ao reduto dos Levenach por. não é verdade? — provocou o vampiro. mulher. Alder de White? Beatrix não pôde evitar olhar para o local onde o lobo se agachava. embora eu não consiga entender qual a importância disso. O pânico ameaçou invadi-la. nesta mesma clareira. Não precisa de você para me matar. — O vampiro riu de olhos arregalados. há cem anos? — O massacre -—murmurou Beatrix. — Sim. — Oh. sem dúvida. sim.. — Correto! — exclamou Laszlo.O Lobo Branco (Bianca 903. mostrando as presas e grunhindo com impaciência. — Ficou muito ofendido quando descobriu que eu era um vampiro e que iria transformá-lo em um também. e nada que Laszlo pudesse dizer a deteria em sua missão. não é verdade. mas sabe por quê? — Porque foi você quem o transformou em um vampiro — replicou Beatrix com ousadia. Deseja a volta de sua alma patética. — Pouco me importo se foi Alder — replicou Beatrix. Laszlo. — Alder não necessita de mim para matá-lo. mas também possui outro motivo. — Vou lhe contar por que Alder está aqui. líder de um pequeno povoado inglês. Seduzido por essa possibilidade. ele não perdeu tempo em vir para cá. — Respirou fundo. Alder era o que era.Heather Grothaus . é verdade que Alder pode estar aqui para me destruir. minha querida.1) Os sentidos aguçados e maldosos de Laszlo deviam ter percebido seu rápido olhar para o lobo branco. — Oh. A verdade é que ele precisa de você. — Correto de novo! E esse mortal não era outro senão Alder de White. Seus olhos procuraram a fera pela clareira. mas sim de seu sangue.. Levenach. — Do meu sangue? — repetiu num fio de voz. — Sim.. E devo admitir que ele ainda está furioso comigo por causa disso. Seus filhos do mal andavam de um lado para o outro. logo atrás. e prosseguiu: — A verdade. um século mais tarde. Alder a tinha abandonado? Tratou de afastar a ideia. nesta noite em especial. e ele não pode ser considerado culpado. Na verdade.Heather Grothaus . O sangue começou a pulsar com violência nas têmporas de Beatrix. da mesma cor dos de Alder. fazendo cada palavra sair de seus lábios como uma chicotada. porém mais frios que o inverno. — Para que Alder recupere sua alma. Não está segura comigo. Vim para recuperar o que perdi e destruílo. 45 . por fim. — Agora mesmo. Mas. — Agora faz sentido não é? A voz dele ecoou de súbito. Mas duvido que se sinta tão caridosa a seu respeito quando eu lhe disser que Alder voltou com um propósito maior do que a minha destruição. mas Alder estava a apenas cinco passos de distância. — Eu não me recusarei a fazer isso. toda a extensão da vinda de Alder e o objetivo de sua missão. se assim desejar — prosseguiu o monstro com sua voz macia. congelado na noite fria. penetraram a mente de Beatrix como garras. e os vampiros atrás de Laszlo também se mantinham em seus lugares. e depois matá-lo — explicou com voz pausada.. embora Beatrix não o tivesse visto se mover. Você não gostaria que eu ficasse se soubesse. sua imbecil! Beatrix balançou a cabeça. mas ele se recusou. — Bem. — E você.. hipnotizadas pela presença ruim. esperando o ataque. Mas o demônio parou de avançar e levou a mão grotesca até a boca. Beatrix — murmurou Laszlo. fazendo-a retornar ao momento presente. só você. — Laszlo deu um passo à frente e as pessoas à volta de Beatrix enrijeceram. As pessoas à volta de Beatrix continuavam paralisadas. Nesse momento.. como se... Não sabia como ele conseguira chegar tão perto dela... minha desejável bruxinha.1) choque e impedindo que Laszlo o percebesse. Aprenda o verdadeiro significado da palavra "poder"! Então poderá seguir Alder de White para sempre.. ela recordou todos os avisos que o próprio Alder lhe dera: Ele roubou algo de mim há muitos anos. Pediu a ele que a transformasse em uma estrige. para realizar essas duas tarefas.. Era como se o tempo houvesse parado na clareira. Beatrix Levenach. compreendendo. Porém Laszlo apenas balançou a cabeça com um sorriso seguro nos lábios. Os olhos negros de Laszlo. sedutor. Suas palavras foram como uma carícia doentia: — Pobre mocinha Levenach. neste momento corre mais perigo do que já correu em toda a sua vida. E logo antes de fazerem amor. — Está mentindo — murmurou.O Lobo Branco (Bianca 903. não é verdade? Porque deseja acabar com você para sempre. — Rompa com esses mortais estúpidos que a cercam. pois não conseguia falar.. é a última de sua linhagem. Depois que Laszlo morrer. se assim o desejar.. deverá beber o sangue de um Levenach vivo. nesse mesmo dia. no instante seguinte. talvez tenha razão. — Você o enganou. olhando-o de esguelha. E. não poderei ficar aqui. — Não? — questionou Laszlo em tom zombeteiro. Alder sussurrara: Não me permita fazer isso. pode me ajudar. estava diante dela. Beatrix! Ela respirou fundo.. como se risse às escondidas. sobre ela. — Seu malefício termina esta noite — profetizou. Cães começaram a uivar. aproximando-se tanto do rosto do Rei dos Vampiros que uma de suas presas provocou um corte profundo na face carcomida e cruel. mesmo quando a velha cicatriz em seu 46 . deixando-o tonto por um segundo. Agachou-se. e no momento comandava os Leamhnaigh à medida que os urros dos vampiros abalavam a floresta.O Lobo Branco (Bianca 903. as bocas abertas. Os dois começaram a andar em círculos.Heather Grothaus . Laszlo hipnotizara Beatrix. que se ergueu para a de Laszlo como se tivesse vontade própria. rapaz — bradou Laszlo. o solo sob seus pés começou a tremer. Laszlo urrou de dor.. A não ser por sua mão direita.1) Basta pegar minha mão e estará feito. pesado com morte e magia. Desejava gritar que não. — Está ouvindo isso? — disse Alder. A imagem grotesca oscilou. fazendo-o perder o equilíbrio por tempo suficiente para lançá-lo ao chão. voaram pela clareira. enquanto lutava para se livrar de Alder.. as presas enormes em posição de ataque. Alder podia sentir o sangue negro de Laszlo tão próximo como se fosse uma grande tempestade chegando. Beatrix incitou os Leamhnaigh à batalha contra os outros vampiros. e seu inimigo escapara. mas com a interrupção. — Nunca irá me vencer. e Alder fez o mesmo. longa e anormal que se abria para ela. um segundo antes da ponta dos dedos de Beatrix tocar a mão do velho vampiro. Atracados numa luta feroz. Mal parara de se mover ao se chocar com uma árvore. enquanto lágrimas quentes rolavam por suas faces. Beatrix baixou os olhos e viu a mão malformada. levantando-se. Foi o suficiente para que Alder sentisse a pontada das presas em seu ombro. mas logo em seguida estava rolando de cabeça para baixo. unindo-se aos sons de gritos dos humanos e dos vampiros. mas sua garganta. Alder atacou Laszlo vindo da escuridão. e o ar. ela voltara à razão. O odor de sangue estava em todos os cantos. atingiu Laszlo no estômago com os joelhos. mas em seguida esmurrou Alder em um dos olhos. Com um gesto rápido. Suas cabeças se chocaram. analisando-se. e gritos mortais se misturaram aos urros famintos. caindo na lama. e Laszlo já estava sobre ele de novo. estavam paralisados. O solo continuou a se mover de maneira violenta. Alder empurrou o rosto de Laszlo. ambos soltando gritos de fúria. fazendo o vampiro voar pelos ares. — Alimentem-se! — bradou o líder sugador de sangue para seus discípulos. De repente. como se centenas de cavalos estivessem galopando na direção da clareira. assim como todo o seu corpo. cada qual buscando uma brecha para estripar e se alimentar do outro. usando os longos dedos com garras para ferir seu peito. um rumor parecido com o sibilar de uma cobra escapando por entre suas presas. Alder passou as mãos pelo pescoço de Laszlo e bateu com a cabeça do vampiro no solo. como se clamasse por se unir à estranha claridade. por fim. Foi então que Alder sentiu a luz dourada e prateada do Caçador atingir seu rosto. O solo reverberava sob seus pés e o relinchar de cavalos enchia o ar. Beatrix ouviu o urro de Laszlo le Morte em algum ponto além do círculo iluminado pelas tochas.O Lobo Branco (Bianca 903. por baixo do tecido grosso. Não. Estava claro agora que Laszlo desistira de eliminá-lo e queria apenas manter o próprio sangue nas veias e escapar antes que o novo grupo chegasse à clareira. Alder rasgou a túnica do vampiro. fitando os olhos velhos e negros. marcada e úmida.. e a cicatriz profunda começou a doer ainda mais. O tempo dele se acabava.. Deixe que o Caçador leve o restante. mas não conseguiu vê-lo. Você e eu construiremos um império de vampirismo em outra parte do planeta. O ódio deu a Alder a força para competir com o mais velho e superá-lo. pois fui escravo de quem está provocando esse rumor durante cem anos. — Soa familiar. enquanto o vampiro erguia a cabeça em um grito derradeiro. -— Nós dois juntos poderemos escapar. porém de uma luz mais clara. Por fim. 47 . Laszlo. olhando em volta. — E dito isso. Não se tratava apenas das chamas que dançavam na clareira. Os Leamhnaigh gritavam. e prosseguiu: — Morrerei depois de você. procurando se defender. Laszlo gritou e chafurdou na lama. Laszlo viu-se com o rosto virado para a lama e esperneando para se livrar do inimigo. empalideceu ainda mais.1) pescoço começou a queimar. outros retardando a fuga para terminar sua refeição depressa em solo. correndo pela clareira sem saber para onde ir. chamando pelos nomes dos entes queridos. uma mistura de prata e ouro que vinha em ondas da floresta. alguns carregando suas presas. —. lançou-se outra vez sobre o velho vampiro. enquanto os relinchos dos cavalos sacudiam o ar impregnado do odor de sangue na clareira..Alder! — gritou. Alder soube que ele procurava uma nova maneira de escapar. Temos o poder! Una-se a mim! — Poderei me unir a você.. — Solte-me! — implorou Laszlo por cima do ombro. obtivera sua vingança. — Então reconhece o som de sua morte — ele replicou. Alder. — concordou Alder. Teria o grito de Laszlo sido de triunfo? Teria matado Alder e agora chamava seus discípulos de volta? Beatrix prendeu a respiração ao pensar que Alder poderia estar morto sobre o solo de Leamhan.Heather Grothaus . revelando a pele escamosa como a de um peixe. — Mas só depois que o tiver enviado para o inferno! Inclinou-se e fincou as presas no pescoço de Laszlo. Laszlo? Para mim sim. O rosto de Laszlo. Um a um. que já ostentava a coloração de um cadáver. tentando reunir os corpos dos que haviam caído. os outros vampiros alçaram voo. que agora parecia impregnado com um estranho perfume. os olhos perscrutando o brilho das tochas. alguns grandes como potros. Seu olhar caiu sobre Beatrix. fazendo círculos em volta dos cascos dos cavalos. E eu o quero de volta. — Alder veio até aqui para obter uma vingança pessoal — argumentou Beatrix com voz entrecortada. histérica. as unhas arranhando o próprio rosto. com um rumor que saiu das entranhas de alguma fera. com chifres. — Alder é um vampiro — retrucou o ser. — Beatrix Levenach — disse. feridas e sangrando. Cães negros. e ficaram em silêncio. parecendo suspensas no ar. e em seu lugar. Uma visão tão horripilante que a fez se sentir tonta. Não usava camisa. vislumbrou os companheiros do líder: um grupo estranho formado por seres que lembravam cadáveres humanos. Beatrix permaneceu no meio do caos sem se mexer. e carregava uma espada enorme que parecia ter a capacidade de derrubar uma árvore com apenas um movimento do braço musculoso. Beatrix prendeu a respiração ao constatar que o gigante sabia seu nome. na mão enorme. Os joelhos de Beatrix quase cederam frente ao olhar do gigante. A montaria do líder começou a corcovear e relinchar. cabelos castanhos e longos que alcançavam as costas e esvoaçavam. os olhos vermelhos e brilhantes. os Leamhnaigh caíram. — Ele estava lutando com um vampiro. apenas uma malha de metal. Atrás dela.O Lobo Branco (Bianca 903.Heather Grothaus .. e sim criaturas fantásticas. — Vim buscar o lobo. — Meu vampiro. fitando-a de alto a baixo. escamas e garras. 48 . prostrados. — Conheço muito bem Laszlo le Morte — interrompeu o líder — e o motivo por que Alder escapou de meu poder para encontrá-lo. Mas o espanto maior estava sobre os cavalos monstruosos.1) — O inferno está chegando! O inferno! — exclamou uma mulher. fazendo-a voltar a atenção para o comandante da legião de demônios. Agora sua espada fora embainhada. Você. deveria se negar a proteger a criatura que já ajudou a massacrar seus ancestrais. havia uma corda dourada e brilhante. levando a mão ao rosto para se proteger da luminosidade que penetrava sua alma como uma lâmina. E então. Mas esses animais também não eram cavalos comuns. a luz prateada e dourada explodiu na clareira. trazendo um grupo de cavaleiros e monstros com uma aparência que Beatrix jamais poderia imaginar em seu mais terrível pesadelo. Os mortos reanimados montavam bestas negras. com corpos equinos e cabeças de monstros marinhos. vinham à frente. os corpos sacudidos por soluços apavorados. Suas faltas e enganos estavam escritos na névoa dourada que circundava o cavaleiro. que semicerrou os olhos. O líder dos cavaleiros tinha três metros de altura. Seria o Juízo Final? Ainda protegendo o rosto da claridade. Suas patas mal tocavam o solo.. a própria voz soando estranha aos seus ouvidos. mais do que ninguém. a voz soando com a aspereza de duas rochas se chocando. — Lutou contra o vampiro que. O uivo de cães se misturava ao vento que inclinava os troncos grossos das árvores mais próximas e que pareciam também ulular. e ela sentiuse nua diante dele. caindo de joelhos na lama. Onde ele está? — Não sei — ela respondeu. — Beatrix. Alder encarou o grande líder sem medo. e tomei-o como meu caçador em vez de enviá-lo ao inferno como exigia sua vida mortal de pecador. Mas agora que Laszlo le Morte morreu. erguendo-a do chão apenas com uma das mãos. creio que poderá escolher seu destino. por favor! Ele estava tentando fazer a coisa certa. quer queira quer não. Sabe disso. Junte-se a mim de novo e sofra sua penitência.. de pé sobre uma pilha de roupas que ondulava. Os olhos de Beatrix se voltaram para o arcanjo. nesse instante. santa criatura. — Não o leve. Salvei-o da danação eterna e esse foi nosso trato. para onde quer que seu olhar se dirigisse. correu para o arcanjo. Beatrix se forçou a afastar os olhos da figura temível a fim de descobrir o que ele procurava e. e seu olhar era de resignação. concordando. — Agitou a corda sobre a cabeça uma vez e depois a deixou voar. deixando-se seduzir pelas palavras do vampiro. Lá estava ele. cercada por um brilho difuso. Seus braços pendiam sem forças. — Tive pena de você. mulher Levenach. Estremeceu quando fez esse contato físico e depois gritou quando o arcanjo se inclinou e a puxou pelo vestido.Heather Grothaus .O Lobo Branco (Bianca 903. também seguia a luz brilhante que o circundava. e Laszlo está morto. pois foi ingênuo e tolo. Da boca de Alder. o cavalo do anjo se voltou para ela com agressividade. Alder de White. A seguir. Ela não se deteve. afaste-se! — avisou Alder. pingava o sangue negro do monstro. Miguel procedeu como se não a tivesse ouvido. contudo. — Devia ter continuado pagando por seus pecados sob meu poder. — São Miguel — disse com voz calma.implorou em um sussurro. Ficaram face a face. perto da panturrilha de Miguel. — Não! — gritou Beatrix. até que as palmas das mãos tocaram o flanco quente do animal. Um laço perfeito atravessou a clareira e caiu sobre a cabeça inclinada de Alder. ou parta para a eternidade. Salvou minha vida. ignorando o perigo que a ameaçava. aninhando-se junto à profunda cicatriz em volta de seu pescoço. — Tenha piedade de mim. e ela soube de imediato que Laszlo morrera. Porém. — Está testando minha paciência.. — Não fiz nenhum pacto com você.. — Não lhe faça mal! —. — Não! —Beatrix exclamou outra vez e. e murmurou: — Agora sei. Alder ergueu a cabeça para fitar Miguel. e ele a segurou como um homem seguraria um camundongo pela cauda. Miguel o fitou com severidade. viu Alder. arregalados. saltou dos restos pútridos de Laszlo e caiu de joelhos. — Irá reassumir seu lugar entre os outros pecadores mais uma vez — decretou o arcanjo.. O estranho ser virou a cabeça com brusquidão e. mulher Levenach — disse com bom humor. Em vez de escavar a terra num gesto nervoso por sua aproximação. 49 .1) — Alder também veio por sua causa. não é mesmo? Beatrix balançou a cabeça. O mal chama o mal. lobo — avisou o anjo. Alder não terá permissão de existir nem você. Precisa confiar em mim. — Eu o amo! — Ama uma criatura condenada que ajudou a dizimar sua família e que agora precisa de você para seus propósitos egoístas? — desafiou Miguel. estremecendo sob a pressão dos dedos do arcanjo. olhando por sobre o ombro de Beatrix —. mas agora irá destruir a nós dois. Beatrix balançou a cabeça com veemência. — Sei qual é o preço a pagar pela volta de sua alma. aquiesceu. — Leve-me com você! — exigiu ele. Levenach. sua voz soou calma e segura. não leve Alder! — implorou Beatrix. — Não sabe o que fez. Suas palavras seguintes foram para Beatrix. não sabe o que está dizendo! — falou Alder com a voz entrecortada. Podia sentir seu poder como se fosse a luz do sol penetrando suas roupas. Levenach — ele rosnou. -— Recolheu a corda com um gesto do punho e sorriu.Heather Grothaus . — Tem certeza de que compreende o que deve ser feito? Não poderá prometer e depois deixar a tarefa pela metade. sentiu que Alder passava por ela como uma flecha na direção do arcanjo. — Confie em mim. — E deseja pagar esse preço — concluiu Miguel. deixando-a horrorizada com a raiva que emanava de seus olhos brilhantes. — Não permitirei. Juro a você que me encarregarei disso. Ele se voltou com ímpeto e a afastou. É a única maneira! 50 . — Não se aproxime de mim. — Beatrix. Não permitirei que o lobo exista em sua forma humana atual. — Dessa vez. — Não! — foi a vez de Alder gritar. Mantendo o olhar firme. pondo Beatrix no chão. que apertou mais ainda o pescoço de Alder. — Alder não precisa continuar amaldiçoado —. Assim que ela se viu livre. voltarei e levarei os dois. — Antes do final desta noite. e ela pôde escutar o gemido estrangulado de Alder. — Alder deverá sugar o sangue de um Levenach vivo. caso me desapontem. eu voltarei — disse o arcanjo com simplicidade.insistiu Beatrix. Miguel deu novo puxão na corda dourada. — Muito bem — murmurou Miguel.O Lobo Branco (Bianca 903. — Ou envie-me para o inferno de uma vez por todas! Só não me deixe aqui com esta mulher. Beatrix não desviou os olhos do arcanjo. ele terá corpo e alma novamente — ela prometeu em um sussurro. — Se você não fizer como a Levenach prometeu. enquanto Beatrix o ouvia se aproximar. que continuava suspensa diante dele. — Está preso à promessa que ela fez. Não vou sugar seu sangue e matá-la. Miguel deu um safanão na corda que segurava com a outra mão.— Eu estava disposto a poupá-la. Beatrix se aproximou de Alder por trás e estendeu a mão para tocá-lo. sua pele e sua alma.1) — Por favor. — Se você falhar — disse Miguel. Recuso-me a matá-la. passando pela Taverna do Lobo Branco e pelos corpos das pessoas vivas e mortas. Dito isso. na direção oposta à de Miguel e seu grupo de Caçadores Santos. não tentou ocultar as presas. por assumir e cumprir seu juramento de família. os Leamhnaigh voltarão para suas casas.O Lobo Branco (Bianca 903. alguns começando a trabalhar em conjunto para erguer os cadáveres. Levantou-se e estendeu a mão para Alder. Capítulo VIII 51 . espalhados pelo chão. rumando pelo atalho da floresta. a clareira escureceu. — Não — protestou Beatrix. Ao falar. o tom ainda trêmulo após os eventos fantásticos da noite. tentando sorrir. Beatrix imaginou se.1) O cavalo do arcanjo Miguel empinou enquanto o som vibrante de uma trombeta ecoava na clareira. indicou Alder. porém Miguel ainda tinha o que dizer a Beatrix: r — Agiu bem. Beatrix e Alder observaram os Leamhnaigh se espreguiçar. Ele ignorou o gesto e se ergueu por conta própria. Rezo para que tenha sucesso nessa nova tarefa também. O bando de monstros que o seguia começou a entoar um coral de lamentos. Levenach. terminando o encontro. sem dar atenção a eles dois. depois correu o olhar pela clareira. será seu dever continuar a protegê-los dos discípulos de Laszlo. Mal falou e um vento forte passou pela clareira. Não se lembrarão do que aconteceu esta noite e atribuirão as mortes de sua gente a uma doença. como se ansiasse por partir. a cabeça baixa. enquanto o grupo mergulhava na floresta com um barulho ensurdecedor. quando tudo tivesse terminado. No momento seguinte. — Quando eu partir. ele iria deixá-la para sempre.Heather Grothaus . — Você nos amaldiçoou. então. Beatrix viu. Ficou de frente para ela por um longo e silencioso momento antes de rumar sozinho pára a taverna. Beatrix fitou Alder e viu que ele a analisava sem esconder a raiva no rosto coberto de sangue. De novo sozinhos. os ombros pendendo. pela primeira vez. Compreendeu? — Sim — murmurou Beatrix. Se eu não voltar. e se levantar como se despertassem de um sono profundo. — Que assim seja — disse Miguel. Aos poucos foram desaparecendo na noite. o enorme par de asas se abrindo nas costas do arcanjo. Os cães voltaram a uivar num lamento enquanto Miguel se voltava e comandava: — Caçar pecadores! O deslocamento de ar quando ele deixou o solo fez Beatrix e Alder cair. um vampiro. Mas nada conseguiu. Alder abriu os olhos ao ouvir passos suaves pela porta e virou-se a fim de fitá-la. Não queria nem iria levá-la à danação. depois o envolveu pela cintura.O Lobo Branco (Bianca 903. Estou maculado pela imundície de Laszlo. quem sabe o arcanjo fizesse o mesmo que fizera com ele. mas é verdade. Beatrix vinha a ele sem hesitar Ele a tomou nos braços com fúria. e por ele pusera em jogo sua vida e sua alma. fazendo sulcos no sangue seco de Laszlo le Morte. defendera Alder de White. Alder vira a fúria de Miguel em ação por um século e não podia nem pensar nas penitências que Beatrix teria de suportar se fracassasse. e esperou que a mulher Levenach o seguisse como uma tola. Mas. Beatrix ficou imóvel.. conduzindo-o para o canto onde estava o alçapão. ela dissera a Miguel. Por isso deve acreditar em mim.. Amava uma criatura imunda como ele! Porém. Alder a seguiu.. Miguel e sua Caçada Santa iriam encontrá-la. O arcanjo vingador dissera a verdade: se ela não cumprisse a promessa. Diante do mais poderoso e letal justiceiro de Deus. Beatrix o amava com seu coração puro e mágico. Para ele. porém Alder recusou o beijo. e não por ter matado Laszlo le Morte. tampouco iria matá-la. — A voz dela era suave. Não a transformaria em uma estrige. tentando aliviar a angústia que sentia. Beatrix. Ela falava como se ele tivesse se sujado trabalhando no campo honestamente. cada passo aproximando-o mais do momento quando se veria separado de 52 . Eu o amo. Sua única certeza era de que. Então o tomou pela mão. bruxa da floresta Leamhan. só havia uma alternativa: passar com a única mulher que amara em mais de cem anos as últimas horas que lhe restavam. Alder não podia deixar a taverna e abandoná-la. Como se um pouco de água pudesse lavar seus pecados. — Então vou banhá-lo. Sacudiu a cabeça. e a mantivesse como uma caçadora em seu bando vingador.1) Alder parou na cozinha enfumaçada da Taverna do Lobo Branco. causando sensações que não sentia havia mais de um século. Apesar de seus crimes. O fogo frio das lágrimas de vampiro lambia suas faces.. — Que seus lábios não toquem os meus. por mais que desejasse. Criatura imbecil. Beatrix Levenach. Seu peito e garganta doíam muito.. iria regressar e castigá-la.. mulher Levenach! Não sei como isso é possível. de modo que a eternidade no inferno valesse a pena. — Muito bem. Acredite! Ele nada disse. a escuridão não impedindo que seu olhar privilegiado tudo visse. atordoado. Alder fechou os olhos com força. presa ao abraço. Beatrix ergueu o rosto como se fosse beijá-lo. — E eu o amo também. Mesmo depois de sua rejeição. — Amo-a.Heather Grothaus . se Beatrix se transformasse em vampiro ou continuasse intocada. As chamas das velas dançavam de modo sensual. ela se aproximou mais. — Não permitirei que me sirva como uma criada — murmurou. fez o pano cair na tigela e ergueu as duas mãos para desfazer os laços da roupa. Beatrix sorriu com tristeza e doçura. continuou apenas a olhar para o espaço entre suas botas sujas. Já não se podia sentir o cheiro de umidade e mofo. os longos cabelos loiros emoldurando o rosto. sob o pano.Heather Grothaus . dessa vez para tratar de um ferimento mais sério do que o provocado pelo incêndio da taverna. O sangue negro e pegajoso de Laszlo desapareceu sob a ação da água-benta com a facilidade do vento dispersando a poeira ou folhas mortas. o coração dolorido pela luta que ele travava consigo. Beatrix tremia de medo e ansiedade enquanto conduzia Alder de novo para o porão da taverna. com um fulgor prateado de magia e mistério.O Lobo Branco (Bianca 903. — Não valho a pena. mas sua luz parecia diferente naquelas últimas horas do Dia das Bruxas: mais intensa.1) Beatrix Levenach. tocavam o tórax de pele muito branca. Iremos queimá-la pela manhã. Sentou-se também na beira da cama e mergulhou um pano limpo na tigela de águabenta. O gesto fez com que Alder saísse de uma espécie de transe. Beatrix Levenach. — Tire a camisa — pediu com delicadeza. — Eu acho que vale. Ele a fitou nos olhos apenas por um instante. porém Beatrix teve tempo de ver tanta dor nas profundezas das pupilas negras. Ele sentou-se na beirada do colchão sem fazer comentários. que foi forçada a engolir em seco antes de tornar a falar. Como pudera se apaixonar tão rápida e profundamente por uma criatura que jurara destruir? Será que a chegada de Alder à floresta de Leamhan significava que estavam 53 . Beatrix deixou a mão pender. Encorajada. — Confie em mim — murmurou outra vez. ela apoiou de leve a mão em sua testa. depois se afastou para as sombras do porão a fim de juntar seus utensílios. Beatrix levou Alder até a cama. Quando ele hesitou. Beatrix se manteve em silêncio enquanto tornava a segurar o pano e estendia a mão para tentar limpar a face direita de seu amado. os punhos cerrados sobre os joelhos em atitude de derrota. Voltou antes que ele tivesse tempo de fazer um só movimento. pois também levantou os braços e afastou as mãos que o tocavam. Alder nada disse. mas Beatrix não conseguiu conter a emoção enquanto seus dedos. Livrou-se da força de seu olhar apenas quando Alder passou a camisa imunda pela cabeça e a deixou cair sobre o chão frio. As velas ali continuavam como sentinelas brilhantes nos cantos. — Jogue a camisa no chão. Condoída. Alder não a fitou enquanto ela o lavava. o qual fora substituído por um odor agradável que lembrava a água murmurante de um regato na floresta e a brisa fresca sobre pedras. os ombros curvados como se houvesse assumido a idade avançada que tinha. A bruxa Levenach estendeu os braços ao longo do corpo. — Pronto — disse com calma. na mesma postura em que Laszlo le Morte a segurara na clareira. Preciso fazer tudo o que estiver a meu alcance para salvá-la. percebeu Beatrix. — Sim.. mas usaria seu sangue de bruxa para recuperar minha alma. que exterminara aquele ser abjeto. A mente de Beatrix se revolveu num turbilhão. Não podemos compartilhar a vida..Heather Grothaus . sorrindo: — Iria se sacrificar por mim? — Sim.1) predestinados a ficar juntos? Ou será que seus ancestrais lhe dariam um grande castigo por sua traição? Ainda não podia saber. — Seu plano era mesmo me matar? — perguntou num fio de voz. Agora. não era porque no grande poço poderia interpretar seu ato de piedade como uma abominação. O rosto de Alder estava enterrado em seu pescoço como faria um amante. e se não me deixar sacrificá-la.. Tentou recuperar o ar nos pulmões enquanto o porão voltava a entrar em foco. — Esperou um instante. pousando a tigela e o pano no chão. mas a expressão de Beatrix não era de paixão. era seu dever continuar tomando conta dos que haviam sido tocados por sua crueldade. Beatrix. para em seguida explodir em chamas. quando pensara que tal sentimento fosse impossível para uma Levenach. Devagar Alder ergueu a cabeça e a fitou. Beatrix teve uma visão: viu a si mesma nos braços de Alder. Alder erguia a cabeça com lágrimas escorrendo pelas faces e o sangue dela nos lábios. as palmas de frente para 54 . os olhos se dilatando cada vez mais e se tornando opacos. mas. Consegue entender isso? As peças daquele inacreditável quebra-cabeça se encaixaram por fim. O porão ao redor pareceu mergulhar na escuridão enquanto surgia um túnel de claridade que ia de seus olhos para os dela. você fez uma promessa a Miguel.. os membros lassos. porém de horror. Continuaria a realizar sua obrigação. depois respirou fundo. mas porque no momento em que Alder recuperasse sua alma poderia deixá-la na taverna como a encontrara: sozinha. Estava amando. Retornando ao momento presente. e ela via sua vida fluir para fora do corpo. — Amo você e prefiro morrer por sua causa. Beatrix. e Beatrix concordou.. — Está preparado? Resta-nos pouco tempo. Eu não a transformaria no que sou agora. De repente. Porém me apaixonei por você e não vou matá-la. Beatrix estremeceu. Beatrix? — A voz dele soou alarmada. — Alder franziu a testa. O medo que sentia. Ele bebia seu sangue. Ela se levantou da cama e caminhou para o centro do porão. — O que está fazendo. E isso. Depositava seu corpo sem vida sobre o solo e se erguia com um grito arrepiante. a carne contraindo e se tornando acinzentada. contudo. no entanto. a pele murchando. fitando a gigantesca pedra negra que encerrava o poço mágico. E naquele corredor estreito de luz. Agora que o rei dos vampiros estava morto.. segundo sua opinião. porém Alder continuou a falar enquanto ela tentava ver algum sentido em tudo aquilo.O Lobo Branco (Bianca 903. ninguém era mais digno desses cuidados e de misericórdia que Alder de White. E. À medida que a fenda negra aumentava. Ela se voltou para ele e o segurou pelo braço. encostadas às paredes. fazendo um círculo em volta das paredes do porão. depois outro. Pessoas! Em um piscar de olhos. Um pavor ainda maior do que aquele que sentia por saber que em suas veias corria sangue de vampiro. ele pôde ver que ela também estava muito assustada. juntos. um ciclone de energia e luz.. Ele ergueu a mão para proteger os olhos da intensa luminosidade que lembrava estrelas cadentes em um céu de meia-noite. até que uma espécie de rio prateado sem fim surgiu do solo e transformou o ar do porão em uma nuvem enorme e assustadora. Beatrix deixou cair os braços ao longo do corpo e recuou um passo. na verdade. porém permaneceu imóvel. — Abra! *** O corpo de Alder começou a tremer de maneira estranha enquanto Beatrix permanecia de pé. as costas para ele.1) a pedra. O primeiro fantasma emergiu da escuridão como uma faixa nebulosa. branco e radiante. não sabia o que estava prestes a liberar. Beatrix prendeu a respiração e se afastou de Alder. Formas brancas de. Quando virou a cabeça e o fitou. Não podia responder à pergunta porque. Estaria a Levenach abrindo as portas do inferno? Algo naquele cerimonial trouxe o medo a seu coração... acreditava que o poder que trouxera Alder até ela não iria abandoná-los agora. o chão com a pedra negra e lustrosa começou a se abrir. Então. — Fosgail! — comandou. caindo sobre o chão como grossas gotas de chuva. e mais outra. com a mesma rapidez com que a tempestade se formara. a enorme nuvem se dividiu em várias. as mãos erguidas. os cabelos vermelhos dançando sob um vento impossível de soprar dentro do porão fechado. que parecia empurrar Alder para Beatrix cada vez mais. 55 .O Lobo Branco (Bianca 903. o porão da Taverna do Lobo Branco ficou repleto de imagens espectrais.Heather Grothaus . erguendo os cabelos de Beatrix e Alder. Beatrix? Ela engoliu em seco. emanando raios prateados. até que ficou ao lado dele.. Contudo. Não abandonaria Beatrix antes de saber o que estava acontecendo exatamente. A aparição foi logo acompanhada por outra. — O que está acontecendo. assustada. — Não sei. e embaralhando as mechas vermelhas e loiras. Alder passou um braço por seus ombros e. fitaram o buraco brilhante no chão. Frente à palavra de comando. a luz das velas nos cantos do porão começou a diminuir. Alder desejou fugir. Alder se obrigou a afastar os olhos dos outros fantasmas a tempo de ver Beatrix confirmar. E o que trará o fim desse mal para sempre? — Ele precisa de nós. Laszlo le Morte se foi. e peço perdão. — Baixou os olhos e suspirou. — Não farei isso! — exclamou Alder. a mais bondosa e nobre criatura que já conheci em toda a minha longa existência. — Digo de novo a você. querida. apenas seu perdão. e não farei isso. Chegara o momento de seu julgamento. — Muito bem. — Amo Beatrix mais do que qualquer pessoa em toda a minha vida mortal e imortal. — Levá-la à danação? Claro que não. — Que alegria poder abraçá-la mais uma vez.Heather Grothaus . papai! — soluçou Beatrix de encontro ao ombro do fantasma. Gerald aquiesceu com um gesto de cabeça e seus olhos pareceram penetrar no corpo de Alder. Amo-a.1) — Pai! — gaguejou. — Não precisa pedir meu perdão. — Querida! — disse Gerald Levenach com um sorriso. — Ele fez o que estava escrito. — Talvez seja só isso que eu mereça. Alder passeou o olhar pela multidão de figuras que o encarava e sentiu as presas surgindo na boca devido ao medo. — Não depende só de mim. apenas para me salvar. Juro que não vou levá-la à danação eterna. Transformei-me no que sou por Laszlo le Morte. Eram os Levenach de cem anos antes: as vítimas do massacre.. Mas não condenarei a última Levenach.. não conseguira esquecer. que mais pareciam gotas prateadas. sozinho com ela. conduziram-me ao massacre. Beatrix: amo-a. como sempre fez. É melhor que me levem para as profundezas do que me deixar. aquele para a qual ela correu a recebeu com um forte e sólido abraço. meu pai. monstro que sou. correndo para uma das figuras fantasmagóricas. escorreram por suas faces. — Oh. Alder não entendeu a resposta misteriosa e. Não peço sua bênção. — É ele? — perguntou Gerald Levenach para a filha. depois fitou um a um de seus companheiros. Reconheceu vários rostos. Embora os espectros parecessem feitos de fumaça. continuar escravo. papai — disse Beatrix.. — Mas nosso clã decidirá. Minha ambição e sede de poder. quando eu ainda era um mortal. caiu de joelhos e se dirigiu à platéia de espíritos que continuava a observá-lo com muita atenção. Gerald arqueou as sobrancelhas. — Fiz um grande mal à sua família no passado. ignorando-a. Eu o persegui durante um século como escravo de um anjo vingador em vez de ser condenado ao inferno.. — Precisa recuperar sua alma bebendo o sangue de um Levenach. Alder — ela retrucou com voz embargada. mas ele já não existe. ansiosa.O Lobo Branco (Bianca 903. E também peço que me perdoe por não ser o homem que merecia. Voltou a fitar Beatrix. se a ama como diz — observou Gerald. Mesmo depois de um século. zombeteiro. 56 . e lágrimas. — Mas que ele obtenha sua alma de volta. Alder não entendeu o que estava acontecendo. querida. Dê-lhe seu sangue. — Amo você. — Obrigado — murmurou. Quando se calaram. — Amo você. Fora considerado culpado. irmãos? Qual seu julgamento a respeito desta criatura? — Culpado — proferiu um dos espíritos com voz sepulcral.. a visão embaçada. — Sim. — Então estamos todos de acordo.1) Gerald Levenach se dirigiu aos companheiros fantasmas. confuso. mas o porão começou a pender para um lado. lobo branco — anunciou Gerald. E assim foi até que todos se pronunciaram. Piscou diversas vezes.Heather Grothaus . E Alder sentiu que caía. — Culpado — disse outro. pai querido! Os espíritos encostados às paredes começaram a ulular. papai? — murmurou ela. portanto eles não permitiriam que ficasse com Beatrix. sou. Não tenha medo. Alder — murmurou Beatrix ao seu ouvido.. Alder quase sentiu alívio. Ele entreabriu os olhos. Que o sangue de nossa família sustente e proteja vocês dois. A Escócia precisa de vocês. confuso. — O que dizem. — Não! — Alder sussurrou com voz débil. — Verdade. querida filha — disse a voz de Gerald Levenach cada vez mais distante..O Lobo Branco (Bianca 903. — Não — murmurou Alder tentando afastar o rosto. — É culpado. Fechou os olhos. Beatrix pressionava seu corpo nu ao dele.. Mas quente. 57 . completamente tonto. Ainda estava tão escuro. Gerald fitou a filha. franzindo a testa. Capítulo IX — Beba. Mas Gerald prosseguiu como se ele fosse mais etéreo do que a multidão de fantasmas reunida no porão: — Você cumpriu seu juramento. Beatrix atirou os braços em volta do pescoço do pai. pressentindo. assustada. e fitou o sol nascente que surgia sobre a copa das árvores como se desejasse abraçar o homem que se contorcia e gemia.. Podia sentir o cheiro da terra. claro.. ou apenas suas vestes com uma luz prateada e fúnebre. Eu também me sacrificarei.? — Beba. Sangue por sangue. Beatrix afastou a taça com lentidão. Que a paz caia sobre esta terra e esta gente. esvaziou a taça com o restante da água do poço Levenach sobre o solo. — Então precisa confiar em mim e beber agora! Alder sentiu os primeiros raios do sol queimando a pele e. ele estaria acabado. Então o sol incidiu sobre a floresta Leamhan como uma bola de fogo. o certo em vez do errado. Esqueça que disse que preferia matá-la a transformá-la em uma estrige. e seu grito deixou escapar cem anos de dor e remorso. Afinal. que o sol se aproximava.1) — Beba! Precisa disto. Esperava não ter sido tarde demais. agradeço sua bondade — murmurou com voz trêmula. o solo rijo sob os pés. quando abriu a boca para protestar. Então tudo ficou muito quieto. — Só temos alguns momentos. e nós as protegeremos. Por um longo momento. Ela correu para o seu lado e caiu de joelhos. Não quero nem uma coisa nem outra. ela se voltou de súbito.Heather Grothaus . as pernas bambas.O Lobo Branco (Bianca 903. Alder ouviu os primeiros trinados dos pássaros na floresta. não fui considerado culpado por seus ancestrais? — Você me ama ou não? — ela perguntou com urgência. Expulse o mal enquanto meu homem oferece seu sacrifício neste solo sagrado. Tinha medo de se virar e ver o cadáver de Alder.. a voz emergindo da escuridão. — Deixe-me ser destruído de uma vez por todas. Estava ao ar livre? Mas como Beatrix. com seus sentidos aguçados. observando com olhos assustados enquanto Alder jazia no chão da frente da taverna. fitando o céu brilhante com olhos arregalados. o hálito bafejando sua face. fazendo as lágrimas salgadas arder nos olhos de Beatrix. Beatrix fitou a floresta. produzindo uma música que decretava o fim de um século de maldades. Levantou-se.. sussurrando com as vozes satisfeitas de seus ancestrais. Alder— insistiu ela. — Pai Eterno. — Mais do que minha própria alma. tampouco pretendo matá-la — ele teimou. Alder gritou. — Beatrix? Ante o chamado fraco. — Não! Não vou condená-la à danação. Em breve o sol nascerá. Caso o sol surgisse sobre ele e tocasse sua pele. O vento da manhã se encaminhou para a clareira.. saindo dos ninhos e anunciando o alvorecer. Talvez tivesse agido tarde demais.. que a recebeu com um leve murmúrio. das folhas. um líquido quente e fino escorreu por sua garganta. 58 . Atrás de Beatrix. — A lenda foi realizada. Dito isso. deitado no solo. as presas livres. Alder jazia sobre o solo. brilhante como nunca. Alder a fitou.. analisando seu rosto com espanto... Beatrix gargalhou. — Mas. que abraçou o corpo rijo e másculo. seus ancestrais não disseram que eu era culpado? Beatrix riu com doce malícia. — Você também. o desejo tomou conta de Beatrix. — E era. — Bebi água de um poço? — Água mágica do nosso poço — ela corrigiu.. Alder se aprumou de supetão. mas também se redimiu. 59 . — Nem eu. estupefato. e a beijou com ardor. — Deu de ombros.. — Está bem. Você só precisava de permissão para bebê-la. Beatrix aquiesceu com um gesto de cabeça. — Estou vivo! — exclamou. — Não estou com frio nem quero esperar mais.1) — Alder! — exclamou com voz embargada. Alder se afastou um pouco e a fitou nos olhos. perguntando com preocupação: — Está com frio? Devemos entrar? Beatrix balançou a cabeça em negativa e segurou o rosto de seu amado. e os olhos que tinham sido dois poços negros agora brilhavam. deslizando os dedos por suas faces. Alder riu ainda mais. — Agora mesmo. refletindo o azul do céu matinal sobre suas cabeças. Alder voltou a beijá-la. Ele reprimiu uma risada. Ele a deitou de costas no solo.. quase com agressividade. E estamos salvos perante o arcanjo Miguel também. Teve culpa por nosso massacre. Em um instante. — Quero constituir uma família com você — anunciou sem preâmbulos. O sangue do clã dos Levenach é a água-benta que protegeu minha família por todos esses anos. Segurou Beatrix pelos ombros. estendendo as mãos diante dos olhos e virando-as de todos os lados. fingindo indiferença..Heather Grothaus .. A pele. Ele sorriu. estava rosada. junto com meus ancestrais. Alder.O Lobo Branco (Bianca 903. — Continua viva e nem se transformou em vampiro — murmurou. antes tão branca. — Vivo de verdade como um mortal! Mas. incrédula. fez com que se sentasse em seu colo. mas apenas por um instante porque logo falou: — Iremos nos casar e iniciar uma nova família dos Levenach e dos White. E foi isso que o salvou perante eles. já que você recuperou sua alma e eu não fui sacrificada. E o sangue de sua família? O sangue dos Levenach? — Estava no poço. mas todos os escoceses.Heather Grothaus . à luz do sol daquela manhã gloriosa. que cresceria e se espalharia para proteger não apenas os Leamhnaigh. Fim 60 .O Lobo Branco (Bianca 903. uma nova dinastia começou a se formar: uma árvore genealógica mágica e de muitos ramos.1) E na clareira.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.