BASES FISIOLÓGICAS DO EXERCÍCIONA SAÚDE, NA DOENÇA E NO ENVELHECIMENTO Dr. José Maria Santarem* INTRODUÇÃO Exercícios físicos são parte integrante da prática e preparação esportiva, e podem ser utilizados em medicina com diversas finalidades. Os principais objetivos da prescrição de exercícios são a profilaxia, tratamento e reabilitação de doenças e deformidades, promoção de aptidão para as atividades da vida diária, para o trabalho, para o lazer e para o esporte, além de estímulo à estética corporal e ao bem-estar psicológico. Esses efeitos decorrem de adaptações morfológicas e funcionais induzidas pela atividade física em geral. Alguns parâmetros de aptidão e saúde apresentam incremento em seus valores de medida em função da atividade física, entre eles a massa óssea, massa muscular, taxa metabólica, gasto calórico, hormônios anabólicos, força, potência, resistência, flexibilidade, coordenação, VO 2 máximo, limiar anaeróbio, sensibilidade à insulina, HDL colesterol e níveis de endorfinas. Outros parâmetros apresentam redução de valores: massa adiposa, sensibilidade adrenérgica, LDL e VLDL colesterol, triglicerídeos e níveis de cortisol. ESTÍMULO À SAÚDE Todos os médicos e profissionais da saúde devem estar atualizados nas relações dos exercícios com a saúde, para que não sejam perdidas oportunidades de bem orientar as pessoas. Estudos epidemiológicos evidenciaram que as populações fisicamente ativas têm menor incidência de muitas doenças e situações patogênicas, entre elas a hipertensão arterial, a obesidade, o diabetes mellitus, a dislipidemia, a osteoporose e também ansiedade e depressão. Consequentemente, diminui a ocorrência de aterosclerose e suas consequências: doença coronariana, doença cérebro-vascular e doença vascular periférica. Também diminui o confinamento no leito devido à fraturas ósseas e incapacidade física grave, reduzindo-se a mortalidade por infecções pulmonares e tromboembolismo. Um aspecto importante é que os estudos epidemiológicos não evidenciaram superioridade de nenhuma forma de atividade física sobre outras, no que diz respeito à promoção de saúde. Em publicação conjunta com o Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos da América, o American College of Sports Medicine reconheceu em 1.995 que as suas próprias recomendações para promoção de saúde, anteriores à essa data, estavam incorretas. A entidade divulgava até então, que os exercícios aeróbios que aumentam o VO2 máximo eram preferenciais para estimular a saúde. Atualmente consensos internacionais reconhecem que o estímulo à saúde ocorre também com atividades anaeróbias e interrompidas, que não aumentam o VO 2 máximo. Talvez os estudos não tenham tido a sensibilidade necessária para esclarecer essa questão, mas o fato concreto é que atualmente não é possível afirmar que alguma atividade física seja mais saudável do que outras, a não ser que se considerem os riscos de lesões músculo-esqueléticas e de intercorrências cardiovasculares. Por essa razão, as campanhas de saúde pública não enfatizam a necessidade de uma forma particular de atividade física, mas a importância de um estilo de vida não sedentário. Entende-se por atividade física a contração muscular de qualquer tipo, que pode ou não levar ao movimento, independente da finalidade: postura, trabalho, locomoção, esporte e lazer. Desde que o gasto calórico seja superior à média diária de aproximadamente 200 Kcal, haverá redução na incidência de doenças. Exercício é conceituado como forma especial de atividade física, planejada, sistematizada, progressiva e adaptada ao indivíduo, sempre com o objetivo de estimular uma ou várias adaptações morfológicas ou funcionais. Outro aspecto relevante é que os efeitos deletérios à saúde produzidos pelo sedentarismo são lentamente progressivos. Pessoas jovens sedentárias não se apercebem dos problemas, que são bastante evidentes nas pessoas mais idosas. Esse fato justifica a atitude médica de estimular a atividade física em todas as faixas etárias. Também é importante notar que a motivação para a atividade física pode mudar com a faixa etária, mas isto não afeta o efeito promotor de saúde. Exemplificando, uma pessoa jovem pode ter como primeira motivação para exercícios a estética corporal ou o lazer, mas os efeitos salutares estarão sempre presentes. CLASSIFICAÇÃO DOS EXERCÍCIOS Embora não exista consenso de nomenclatura, alguns dos critérios utilizados para classificar os exercícios são o tipo de contração muscular (isotônicos ou isométricos), deslocamento do corpo (dinâmicos ou estáticos), continuidade do esforço (contínuos ou intervalados), fonte energética (aeróbios ou anaeróbios), ou ainda de acordo com a intensidade dos esforços (suaves ou intensos). Nesse caso a produção de energia ocorrerá pela via aeróbia. Estes exercícios são acompanhado de altos níveis de lactato sanguíneo e tecidual. Nesses casos a produção energética depende da glicólise anaeróbia. Essas atividades são chamadas aeróbias e utilizam como substratos energéticos predominantes o glicogênio muscular e os ácidos graxos livres provenientes do tecido adiposo. como no caso de uma sessão de musculação com pesos sub-máximos. maior a necessidade de aptidão e saúde. porque os mecanismos de captação. que decomposto parcialmente leva à produção do lactato. por exemplo. descondicionadas ou doentes devem realizar apenas exercícios suaves. da oxidação da glicose do músculo e do sangue. como é o caso de contrações musculares em um membro imobilizado por aparelho gessado. AERÓBIOS: a produção energética é quase que exclusivamente aeróbia. Acima desse nível de contração muscular começa a ocorrer oclusão parcial da circulação sanguínea. uma mesma tarefa pode ser de baixa intensidade para uma pessoa bem condicionada. Como veremos adiante. e é menor do que nos exercícios anaeróbios contínuos. e. está-se em um nível de gasto energético de transição. Por outro lado. Exercícios isométricos podem ser suaves. quaisquer que sejam as outras classificações da atividade. transporte e utilização do oxigênio levam algum tempo para aumentar a eficiência. a intensidade somente será alta quando o grau de esforço também o for. Assim sendo. que permitem a circulação do sangue. sendo maiores os riscos de lesões musculo-esqueléticas e intercorrências cardiovasculares. também são anaeróbias. que não forma ácido láctico. a produção aeróbia de energia pode chegar à sua eficiência máxima. INTERVALADOS: apresentam várias interrupções para descanso durante a sessão. exercícios isotônicos e aeróbios como. às vezes sub-clínica. além da energia produzida na unidade de tempo. mas sem produção de lactato. Intensidade é a expressão biológica da potência. DINÂMICOS: apresentam deslocamento do corpo no espaço. caracterizando atividades anaeróbias muito intensas. ASPECTOS DA PRODUÇÃO ENERGÉTICA Quando uma pessoa realiza uma atividade considerada suave para ela. com grande esforço. a aerobiose ocorre apenas nas fases de relaxamento muscular.ISOTÔNICOS: apresentam alternância de contrações concêntricas e excêntricas. a produção energética passa a depender mais do glicogênio. CONTÍNUOS: são interrompidos apenas no final da sessão. portanto a via metabólica é denominada anaeróbia alática. Sempre que ocorre aumento do lactato a atividade é chamada anaeróbia. Nas fases iniciais do metabolismo anaeróbio o substrato energético predominante é a fosfocreatina. SUAVES: produzem pouca energia na unidade de tempo. e de alta intensidade para outra pessoa com baixos níveis de aptidão. chamado limiar anaeróbio. promovem elevação considerável da freqüência cardíaca. Exercícios anaeróbios podem ser suaves. Nas fases iniciais de qualquer exercício a produção de energia é anaeróbia. Embora os exercícios com pesos sejam sempre anaeróbios. sem grande esforço. Assim sendo. Nas atividades mais intensas. mesmo que a intensidade não seja alta. impedindo a adequada perfusão de todas as fibras musculares e assim precipitando o metabolismo anaeróbio. é considerado o grau de esforço necessário para a realização da tarefa. Pessoas debilitadas. As atividades muito curtas e intensas. a noção de que exercícios suaves são sempre isotônicos e aeróbios não é correta. dependentes da fosfocreatina. após alguns segundos de anaerobiose alática. e alcança todas as fibras musculares ativas. No caso de exercícios contínuos intensos como pedalar ou correr com velocidade. pedalar ou correr próximo do limiar anaeróbio são considerados intensos. ou seja. embora nas atividades intensas e muito curtas seja desprezível. e pode oferecer risco cardiovascular para pessoas com doença coronariana. e também da oxidação dos lipídeos intra-musculares. pessoas debilitadas por diversas doenças crônicas ou . Atividades mais intensas utilizam maior número de fibras musculares. No entanto. a classificação mais importante é a que considera a intensidade dos esforços. apenas algumas fibras musculares são utilizadas. porque o oxigênio que chega pelo sangue é suficiente. A produção aeróbia de energia sempre está presente mesmo nos exercícios anaeróbios. Quanto mais intensa a atividade. ou porque a atividade necessita de pouca energia ou porque a pessoa está bem condicionada. ESTÁTICOS: são realizados sem deslocamento do corpo. Do ponto de vista médico. toleradas apenas por pessoas hígidas. ANAERÓBIOS: grande parte da energia é produzida anaerobiamente. INTENSOS: produzem muita energia na unidade de tempo. Quando aproximadamente trinta a quarenta por cento das fibras musculares disponíveis são recrutadas. Os exercícios com pesos são sempre anaeróbios porque a oclusão da circulação sanguínea intramuscular é grande. ISOMÉTRICOS: utilizam contrações estáticas (isométricas). conhecida como VO2 máximo. são tróficos para todas as estruturas músculoesqueléticas. Muitos exercícios produzem apenas forças de tração sobre os ossos. o efeito na massa óssea é pequeno. para força. pesos não excessivos aplicados nas articulações por ocasião dos exercícios. e proliferação conjuntiva. Assim sendo. O impacto tem o efeito desejável de estimular a massa óssea mas também é um fator de lesão.sedentarismo toleram bem exercícios com pesos com grau de esforço sub-máximo. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para estimular a massa óssea e não apresentam o inconveniente do impacto. Constituintes do volume de treinamento são a duração e a freqüência das sessões de exercícios. o mesmo tipo de sobrecarga. é necessário um adequado período de recuperação após os exercícios. que ativa mecanismos adaptativos para manter a homeostase agudamente. O metabolismo energético aumentado durante os exercícios caracteriza uma forma de sobrecarga metabólica. O exemplo clássico desses exercícios é a natação. O treinamento de base para atletas e esportistas costuma utilizar três tipos de exercícios: com pesos. Sobrecarga é uma situação de solicitação funcional acima dos níveis habituais de homeostase em repouso. No entanto. para a flexibilidade. e de alongamento. Períodos inadequados de recuperação prejudicam ou mesmo impedem as adaptações desejadas. produzida pela obesidade. Esse efeito é estimulado pela sobrecarga gravitacional. pode mudar a ênfase dada à alguns desses exercícios. A sobrecarga gravitacional nos exercícios pode ocorrer pelo aumento do peso suportado pelos ossos. quando seguidos por adequados períodos de recuperação. e apesar de contrações musculares vigorosas. Sobrecargas mal dosadas. e o volume. agudas e crônicas. e para melhorar cronicamente a função solicitada. que vem a ser a aplicação de forças compressivas sobre o esqueleto. adaptações benéficas são esperadas. à quantidade de estímulo. é necessário que o organismo seja submetido com regularidade à sobrecargas bem dosadas e progressivas. podem produzir lesões ou deterioração funcional. Essa tensão aumentada estimula os mecanismos de hipertrofia. como por exemplo a ação do solo na corrida e nos saltos. potência e resistência muscular. Por impacto entende-se a desaceleração rápida do corpo em movimento. ou pelo mecanismo do impacto. O impacto também é frequentemente responsabilizado por micro-lesões das cartilagens articulares.O volume dos músculos esqueléticos pode ser estimulado pelos exercícios devido às sobrecargas tensional e metabólica. leva ao aprimoramento morfológico e funcional do miocárdio. a simples identificação de uma sobrecarga não significa que a integridade do organismo esteja em risco. Para que as adaptações crônicas ocorram. A intensidade faz referência ao grau da sobrecarga. quando bem dosados. Os exercícios com pesos receberão considerações especiais devido à sua crescente utilização nos esportes e na medicina. Essa abordagem do treinamento costuma ser também aplicada para objetivos não esportivos dos exercícios. Sempre que a contração muscular encontra uma resistência. EFEITOS NO TECIDO ÓSSEO A adaptação básica do tecido ósseo aos exercícios é o aumento de sua massa: maior quantidade de matriz proteica bem calcificada. Dependendo da modalidade do praticante. hiperplasia. e por essa razão faremos referência aos efeitos diferenciados desses exercícios nos tópicos seguintes. Na hidroginástica ocorre algum estímulo para massa óssea porque a pessoa não flutua na água como na natação. Não ocorrendo excessos de intensidade e volume da sobrecarga. A hipertrofia é o mecanismo mais importante para explicar o aumento de volume dos . que estimula a hidratação e vascularização dos músculos. para condição aeróbia. e ocorrem complementações específicas. como é o caso da maioria dos exercícios com pesos. Exercícios terrestres são mais eficientes para estimular a massa óssea. produz efeitos deletérios pela sua cronicidade e ausência de recuperação. também conhecidos como resistidos ou contra-resistência. BASES DO TREINAMENTO Para que ocorram as adaptações morfológicas e funcionais desejadas. ou fraturas crônicas quando o volume do treino for excessivo. Exercícios de alongamento praticamente não têm efeito estimulante de massa óssea. Toda sobrecarga pode ser entendida como uma agressão ao organismo. porque a freqüência cardíaca e a pressão arterial não atingem valores elevados. Exemplificando. ocorre tensão em todas as estruturas do músculo. aeróbios. ADAPTAÇÕES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO VOLUME . enquanto que a hipertensão arterial crônica produz alterações patológicas no coração e deterioração progressiva da função cardíaca. O aumento da pressão arterial durante os exercícios. podendo produzir fraturas agudas quando muito intenso. com pouca influência do treinamento. principalmente quando realizados com cargas que permitam repetições entre seis e doze. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para estimular todos os mecanismos responsáveis pelo aumento de volume muscular. COORDENAÇÃO NEUROMUSCULAR – A estimulação dos proprioceptores dos músculos e das articulações desenvolve a consciência corporal. devido às sobrecargas e amplitudes controladas. principalmente quando realizados com cargas que permitem cinco ou menos repetições. e por aumento das reservas de substratos como o glicogênio e gordura intra-celular. A vascularização muscular aumenta estimulada por diversos mediadores. portanto os mesmos benefícios dos exercícios de alongamento. evidenciando a importância da coordenação neuromuscular para essa qualidade de aptidão. otimizando reflexos de correção postural e de estabilização protetora dos seguimentos corporais. Os exercícios de alongamento são pouco eficientes para desenvolver resistência. Sendo a velocidade basicamente uma característica genética. e pelo aprimoramento da coordenação no seu aspecto de recrutamento de unidades motoras. que é reposto no período de recuperação dos exercícios. devido alto maior estresse sobre as estruturas articulares. fenômeno conhecido como "tonificação". tanto brancas quanto vermelhas. maior capacidade de aceleração. ou seja. e à ausência de impacto. RESISTÊNCIA – A maior resistência muscular observada nos músculos treinados ocorre principalmente por aprimoramento nos sistemas enzimáticos da produção de energia. no entanto não são aconselhadas para grupos especiais como crianças. Exercícios aeróbios não estimulam a elasticidade dos músculos. Velocistas melhoram suas marcas com o treinamento de força devido ao aumento paralelo de potência. o aumento real de tônus muscular é um fenômeno passageiro. Essas cargas. A proliferação do tecido conjuntivo funcional do músculo (endomísio. e os exercícios aeróbios. restrito ao pós-exercício imediato. se a destruição de fibras durante o exercício ocorrer na mesma proporção da proliferação. com a finalidade de levar mais oxigênio e nutrientes para o músculo em exercício e para otimizar a remoção de catabólitos. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para essa finalidade. idosos e convalescentes. A maior hidratação do músculo treinado decorre do aumento das reservas de glicogênio. Exercícios aeróbios não desenvolvem a força e os exercícios de alongamento o fazem com discrição. POTÊNCIA – Essa qualidade de aptidão é uma associação de força com velocidade. o que parece depender mais do volume do que da intensidade do treinamento. A hiperplasia muscular consiste no aumento do número de fibras. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para desenvolver a força. que é a contração excêntrica. Este mecanismo é responsável pelo aumento da consistência do músculo treinado. Exercícios de alongamento produzem discreto estímulo de volume muscular por sobrecarga tensional. também as cartilagens e ligamentos recebem estímulos tróficos e de fortalecimento advindos da atividade física. ELASTICIDADE – A proliferação de tecido conjuntivo funcional estimulada pela sobrecarga tensional explica o aumento da elasticidade observado nos músculos treinados com pesos e com exercícios de alongamento. músculos e tendões. não ocorrendo aumento volumétrico progressivo. aeróbios e anaeróbios. Músculos treinados com pesos não ficam encurtados e também não ficam hipertônicos. entre eles o ácido láctico. Os exercícios aeróbios apresentam apenas um discreto aumento de volume por hidratação e vascularização. FORÇA – O aumento de força induzido pelos exercícios ocorre pela hipertrofia. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para aumentar a resistência nos esforços intensos e interrompidos. A concepção antiga de que o corpo humano é uma máquina que precisa ser preservada com o . A força aumenta mais e mais rápido do que o volume muscular. o aumento da potência acompanha o da força muscular. EFEITOS NAS ARTICULAÇÕES Tal como ocorre com os ossos. Cada grama de glicogênio retém quase três gramas de água. Admite-se que os exercícios com pesos sejam os mais eficientes para essa finalidade. apresentando. que se instala nos períodos iniciais de sua prática. nos esforços menos intensos e mais prolongados.músculos e consiste no acúmulo de proteína contrátil nas fibras. Aspecto importante é lembrar que os exercícios com pesos apresentam uma fase implícita de alongamento. devido aos movimentos lentos com carga. perimísio e epimísio) apresenta uma pequena contribuição para o volume muscular. Exercícios aeróbios e de alongamento têm mínimo efeito na potência muscular. e a quantidade de glicogênio pode triplicar no músculo treinado. em toda a amplitude das articulações. Na realidade. que aumenta a quantidade de miofibrilas nas fibras musculares. Atualmente está documentada a proliferação das fibras musculares a partir das células satélites mas a hiperplasia poderá não ocorrer. Aspecto importante do emagrecimento é que a taxa metabólica basal pode ser aumentada com os exercícios. As amplitudes articulares aumentam sempre que os pontos limites do movimento são forçados. isto sendo possível apenas com os exercícios específicos. os exercícios com pesos são ineficientes para aumentar ainda mais a flexibilidade. Mesmo atletas costumam ter a taxa metabólica basal próxima desses níveis. Pessoas treinadas gastam muito mais calorias do que pessoas descondicionadas. EFEITOS ENDOCRINOLÓGICOS A atividade física afeta a produção hormonal de diferentes maneiras. e se deteriora rapidamente com o desuso. EFEITOS NO TECIDO ADIPOSO A redução do tecido adiposo costuma ser um objetivo freqüente dos programas de condicionamento físico por razões de saúde. sem interrupção. corresponde a mais de 70 % do nosso gasto calórico diário. seja por sedentarismo prolongado ou por retrações capsulares devidas à imobilizações. hormônio de crescimento. Entende-se por uso não excessivo o controle adequado das sobrecargas da atividade física. Para o gasto calórico. IgF-1 e suas proteínas transportadoras também aumentam.repouso merece reparos. todo o glicogênio gasto tem que ser reposto no músculo. serão obtidas do tecido adiposo. Os exercícios aumentam os níveis de endorfinas e reduzem os de cortisol. Os exercícios aeróbios têm pouco efeito na flexibilidade. estética ou desempenho esportivo. contribuindo para o bem-estar psicológico. Esses conceitos foram bem estabelecidos em revisões de literatura sobre obesidade e atualmente são consensuais. Ao conjunto dessas adaptações dáse o nome de aptidão cardiovascular. as calorias que faltaram na alimentação para manter a vida. Caso a pessoa não restringa a ingestão calórica. e tudo se passa como se a pessoa não o tivesse ingerido. Calorias ingeridas e não utilizadas ficam armazenadas como gordura. os exercício serão menos eficientes ou inúteis para o emagrecimento. fazendo com que a pessoa viva com menores níveis de insulina. Após uma hora. Os aeróbios gastam menos calorias na unidade de tempo. Quando a pessoa já apresenta boa amplitude de movimentos. Os exercícios com pesos e os de alongamento aumentam as amplitudes articulares das pessoas com limitações dos movimentos. e no descanso entre as séries não se gastam calorias com atividade. e assim evitando a falência do pâncreas por sobrecarga crônica e conseqüente diabetes mellitus. A sensibilidade adrenérgica dos vasos diminui. é utilizado o carboidrato alimentar. e para tanto. ADAPTAÇÕES CARDIOVASCULARES Os exercícios aeróbios são os mais eficientes para induzir adaptações hemodinâmicas. principalmente com os exercícios resistidos. portanto não fornece calorias para o metabolismo basal. A sensibilidade insulínica das células aumenta com qualquer atividade física. Para entendermos o processo de emagrecimento é importante conceituar que uma das funções do tecido adiposo é a de reserva energética. Uma máquina biológica é aprimorada pelo uso não excessivo. por exemplo. emagrecem igual aos aeróbios. Na maioria das vezes. O fato de que apenas os exercícios aeróbios utilizam ácido graxo livre proveniente do tecido adiposo como substrato energético nada tem a haver com emagrecimento. Os exercícios com pesos gastam mais calorias na unidade de tempo. em repouso. os exercícios com pesos. Esse carboidrato. mais importante do que o tipo de exercício é a condição física do praticante. para que as reservas energéticas sejam mobilizadas. as calorias necessárias para manter a vida. Qualquer atividade física contribui para o emagrecimento por gastar calorias. o que não deve ser confundido com saúde cardiovascular. mas são interrompidos durante a sessão. como. mas são contínuos. Exercícios com pesos e exercícios aeróbios não têm um gasto calórico muito diferente. pois foi "desviado" para o músculo. como o aumento do volume sistólico e a redução da freqüência cardíaca de repouso. ou seja. para o metabolismo basal. Os níveis de hormônios anabólicos como os esteróides sexuais. por exemplo. em qualquer tipo de exercício. Os exercícios anaeróbios. Esta . os exercícios com pesos são os mais eficientes. que utilizam grandes quantidades de glicogênio e não mobilizam gordura durante a sua execução. Para esse efeito. A explicação é que após os exercícios. A única maneira de diminuir a quantidade de tecido adiposo é ingerir menos calorias do que as necessárias. mas apenas se ocorrer aumento da massa muscular. Assim sendo. ambos gastaram mais ou menos a mesma quantidade de calorias. contribuindo para a redução da pressão arterial. Para evitar lesões nas sessões de alongamento. quando presente. Alguns autores denominam essa hipertrofia como concêntrica o que não é aconselhável. Os exercícios com pesos merecem consideração especial pela sua importância em preparação física. SEGURANÇA MÚSCULO-ESQUELÉTICA As atividades esportivas apresentam risco variável de lesões com gravidade também variável. quando excessivos. Os exercícios com pesos estimulam ambas as qualidades. Como vemos. hipertensão. mas hoje se admite que essa relação seja apenas associativa e não de causa e efeito. como também pelo seu alto grau de segurança atualmente documentado. são mais eficientemente estimuladas pelos exercícios aeróbios. tanto a intensidade como os volumes do treinamento podem ser excessivos. Exercícios de alongamento não induzem adaptações cardíacas detectáveis. como por exemplo. As adaptações cardiovasculares aos exercícios com pesos são devidas mais à uma sobrecarga de pressão do que à uma sobrecarga de volume sanguíneo. Os exercícios com pesos têm pouco efeito no VO2 máximo. mas estimulam bastante o limiar anaeróbio. As adaptações cardíacas aos exercícios. e se os exercícios forem de um tipo que aumenta o VO2 máximo. A falta de recuperação adequada é um freqüente fator de lesão. Pessoas melhoram a saúde quando fazem exercícios. e a capacidade aeróbia. sendo portanto considerada patológica. as acelerações e desacelerações do corpo ou segmentos corporais. o limiar anaeróbio tem nítida relação com qualidade de vida. Durante muito tempo o VO2 máximo foi considerado parâmetro de saúde. são as cargas. de qualquer tipo. depende basicamente da força muscular. sem aumento ou com pequeno aumento do volume das câmaras cardíacas. O treinamento com pesos é uma atividade cada vez mais popular em todo o mundo. geralmente com torção do corpo. consequentemente. mas na vida diária da maioria das pessoas o VO2 não é utilizado no seu limite máximo. e as lesões articulares incidem mais nas pessoas mais flexíveis. ou por contraturas de musculatura postural. e entre nós é conhecida como musculação. Na hipertensão arterial crônica a cardiopatia evolui para a insuficiência e apresenta alta incidência de arritmia. obesidade e diabetes) são evitadas por qualquer tipo de atividade física. parada cardíaca e infarto. portanto com fadiga e desconforto. Assim sendo. estas não devem ser intensas quando realizadas logo após atividade muscular também intensa. Nos programas de condicionamento físico as lesões são muito menos freqüentes do que na prática esportiva.depende em última análise da ausência de aterosclerose. o impacto. os de alongamento apenas a flexibilidade. que serão abordadas em outros capítulos. Graus máximos de flexibilidade são necessários apenas para alguns atletas. que apresenta redução das câmaras. A homeostase hemodinâmica nos esforços da vida diária e do trabalho físico. uma sessão de musculação. Ao contrário. Nos programas de condicionamento físico os fatores promotores de lesões são mais facilmente controlados. medida pelo VO 2 máximo. cujas condições predisponentes (dislipidemia. a qualidade de vida depende basicamente de força e de flexibilidade. por não permitir as adaptações crônicas de fortalecimento dos tecidos. pela sua associação com menor incidência de doenças crônicas. Antes das atividades admite-se que o aquecimento localizado seja importante. Alguns fatores que podem produzir lesões. as mudanças bruscas de direção dos movimentos. podem ocorrer conclusões indevidas. medida pelo limiar anaeróbio. e repetições dos movimentos. que predispõe à distensões musculares. EFEITOS METABÓLICOS E QUALIDADE DE VIDA Parâmetros de aptidão como a potência aeróbia. pois pode haver confusão com a cardiopatia hipertensiva. isto significa menor intensidade de esforço. e os alongamentos costumam ser utilizados. as amplitudes. pois as pessoas com baixo limiar fazem a a maioria das tarefas laborativas anaerobiamente. e os aeróbios nenhuma delas em grau significativo. Basicamente se observa uma hipertrofia de parede ventricular e septal. Isto ocorre porque o fortalecimento dos músculos permite que as tarefas sejam realizadas com menor número de fibras. com pequenas elevações da frequência cardíaca e da pressão arterial. o nível de produção energética que se atinge com 30 % das fibras aumenta após o treinamento. Nos Estados Unidos estima-se em 45 milhões de . Exercícios aeróbios podem produzir lesões músculoesqueléticas pelo mecanismo do impacto. na área esportiva. O VO2 máximo alto é uma necessidade para alguns atletas. Pessoas fortes fazem as tarefas com menor número de fibras. menores repercussões hemodinâmicas por mecanismos reflexos. Do ponto de vista biomecânico. onde os fatores promotores de lesões costumam fugir do controle do praticante. são fisiológicas e não apresentam morbidade. terapêutica e reabilitação. mas podem ser inconvenientes para pessoas com coronariopatias ou predisposição para arritmias. com freqüente queda da pressão arterial diastólica. acidose metabólica e hipoglicemia. a pressão arterial diastólica também aumenta nos exercícios com pesos. equipamento mal projetado. a pressão arterial sistólica somente aumenta perigosamente quando ocorre a contração muscular máxima. amplitudes e volumes. Além disso. Os mesmos pacientes coronarianos que apresentaram 70 % de ocorrência de arritmia ou isquemia nos exercícios aeróbios tiveram cerca de 3 % das mesmas intercorrências nos exercícios com pesos. o volume do treinamento pode ser controlado com facilidade. As lesões mais freqüentes são tendinites crônicas e as mais graves. que é a última repetição possível em uma série. mesmo incluindo os fatores que precipitam lesões como os excessos de cargas. as amplitudes respeitam os limites da dor e a sua lenta progressão promove ganhos de amplitude. Cardiomiopatia hipertrófica e miocardite viral são as situações que mais freqüentemente potencializam a morte súbta em atletas. raras. sem acelerações e desacelerações. os exercícios com pesos têm as características dos exercícios terapêuticos ideais. transtornos dos discos intervertebrais e epifisiolise clavicular. maiores as elevações da freqüência cardíaca e também da pressão arterial. com alguns casos documentados em levantamento de peso competitivo. infarto ou parada cardíaca. Os exercícios aeróbios produzem discreta elevação da pressão arterial sistólica. não existem riscos de trauma direto e de quedas. A elevação da pressão arterial pode. os exercícios aeróbios apresentam cerca de 70 % de intercorrências arrítmicas ou isquêmicas. a freqüência cardíaca aumenta muito pouco nos exercícios com pesos. bem como os períodos de recuperação. e pode levar à depressão imunológica. não existe impacto nas articulações. roturas de feixes musculares. Quando a série é interrompida antes da contração muscular máxima. As cargas podem ser tão pequenas a ponto de induzir esforço menor do que caminhar. Atividades esportivas contínuas e intensas podem levar a acidentes cardiovasculares por desidratação. Lesões de epífises ósseas são muito pouco freqüentes. Nesses exercícios. Quanto mais repetições forem realizadas. e treinamento não supervisionado. Como parâmetro de referência. Em reabilitação cardíaca de coronarianos pósinfartados. exigindo monitoramento rigoroso. caracterizada por contração concêntrica lenta e apnéia. que potencializam a morbidade da elevação do duplo-produto (pressão arterial sistólica x freqüência cardíaca). quando possível. podendo ocorrer morte súbita por parada cardíaca em alguns casos. A elevação da freqüência cardíaca traduz maior necessidade de oxigênio para o miocárdio. A isquemia visceral das atividades contínuas intensas pode levar à anemia por perdas crônicas de sangue devidas à necrose de vilosidades intestinais e de papilas renais. as pessoas em grupo de risco para intercorrências cardiovasculares podem apresentar arritmias. Trombose. geralmente cerebrais. naquele país. porque todos os fatores promotores de lesões podem ser controlados e adaptados para qualquer pessoa.praticantes habituais. liberadas apenas para atletas bem condicionados. Com os devidos cuidados técnicos. que vai de oito à doze. menos de 1 % das consultas médicas por lesões esportivas são devidas ao treinamento com pesos. angina. garantindo boa perfusão do miocárdio. O excesso de atividade física também leva à depressão hormonal. a elevação da pressão arterial sistólica costuma ser discreta. isquemia e arritmias são os eventos patológicos mais comuns nessas situações. com queda nos níveis de estrógeno nas mulheres e de testosterona nos homens. e obviamente alguma lesão são esperadas. cargas sub-máximas para mulheres idosas no exercício "leg press" freqüentemente ultrapassam os cem quilos para cerca de dez repetições. aparelhos bem projetados mantêm o corpo adequadamente posicionado durante os exercícios e podem dirigir os movimentos. . os movimentos são lentos. mas são lentamente progressivas para estimular as adaptações desejadas. e os exercícios com pesos são bastante seguros. Assim sendo. e variável elevação da freqüência cardíaca. são as que permitem menos de seis repetições. Evidentemente esse grau de esforço é contra-indicado para pessoas não hígidas. produzir ruptura de artérias. e a queda da pressão arterial diastólica pode comprometer a adequada perfusão coronariana. Os exercícios de alongamento praticamente não apresentam risco cardiovascular. nessas pessoas. Cargas pesadas. No entanto. na faixa mais utilizada de repetições. Com a elevação da freqüência cardíaca. SEGURANÇA CARDIOVASCULAR A segurança cardiovascular das atividades físicas depende de pequenos aumentos na freqüência cardíaca e na pressão arterial. a musculação é praticamente isenta de lesões. Por outro lado. As cargas utilizadas nessa situação são chamadas sub-máximas o que não significa que sejam leves. Estas adaptações funcionais fisiológicas são toleradas por pessoas hígidas. Richards CL. A prevenção de lesões esportivas em crianças e adolescentes tem recebido bastante estudo. 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Para essa população não são recomendadas as cargas que permitem menos do que seis repetições e os altos volumes de treinamento. Meirelles ES. FAIGENBAUM AD. Taylor N.R. Black W.000. são as lesões epifisárias.. e muito mais freqüentes em outras modalidades. Uma pessoa sedentária perde cerca de 10 % de massa muscular entre os 25 e os 50 anos de idade.M. e Nelson B. sendo a participação em esportes competitivos liberados mais tardiamente em relação às orientações mais antigas. 79:119-125.L. 1. et al.999.999. 4.CONSIDERAÇÕES SOBRE FAIXAS ETÁRIAS Pessoas idosas costumam apresentar graus variáveis de processos degenerativos articulares e vasculares.Strenght training early after myocardial infarction . controlled pilot trial. . Dean CM. Malouin F... INDEXADOR DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Novas referências não obedecem a ordem alfabética dos autores. 16(2): 100-108. 19:8-17. 31(1):18-24. 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