Bandarra Trovas

March 27, 2018 | Author: luizdecarvalho | Category: Daniel (Biblical Figure), Jeremiah, Portugal, Prophecy, Elijah


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Profecias do Bandarra, Sapateiro de TrancosoDedicatória a Dom João de Portugal, bispo da Guarda SENTE BANDARRA AS MALDADES DO MUNDO E PARTICULARMENTE AS DE PORTUGAL I Como nas Alcaçarias Andam os couros às voltas, Assim vejo grandes revoltas Agora nas Cleresias. II Como usam de Simonias E adoram os dinheiros, As Igrejas, pardieiros, Os corporais por mais vias. III O sumagre com a cal Faz os couros ser mociços, Ah! Quantos há maus noviços Nessa Ordem Episcopal. IV Porque vai de mal a mal Sem ordem nem regimento, Quebrantam o mandamento, Cumprem o mais venial. V Também sou oficial Sei um pouco de cortiça Não vejo fazer justiça A todo o mundo em geral. 2 VI Que agora a cada qual Sem letras fazem Doutores, Vejo muitos julgadores, Que não sabem bem, nem mal. VII Borzeguins para calçar Hão-de ser de cordovães. Notários, Tabaliães Tem o tento em apanhar. VIII Vê-los-eis a porfiar Sobre um pobre ceitil, E rapar-vos por um mil Se vo-los podem rapar. IX Também sei algo brunir Quaisquer laços de lavores: Bacharéis, Procuradores Aí vai o perseguir. X E quando lhe vão pedir Conselho os demandões, Como lhe faltam tostões, Não os querem mais ouvir. XI Há-de ser bem assentada A obra dos chapins largos, A linhagem dos Fidalgos Por dinheiro é trocada. XII Vejo tanta misturada Sem haver chefe que mande; Como quereis, que a cura ande, Se a ferida está danada? XIII Tenho uma gentil sovela, 3 Com que coso mui direito: Se a mulher não desse jeito, Não olhariam para ela. XIV Em que seja uma donzela Nobre, casta e oradora Ela é a causadora, Do que acontecer por ela. XV Sei também mui bem coser Uns borzeguins Cordoveses; Todos os trajos Franceses Quem quer os quer já trazer. XVI Os que não têm que comer Fazem trajas mui prezados, Ficam pobres, Lazarados Por outros enriquecer. direi. XXII O Pastor Mor se assanha: Já ajunta seus ovelheiros E esperta sua campanha Com muita força. XIX A cerca dos Grecianos Corrê-la-ão os Latinos. vejo. Os gados tem degolados. Serão contrários os signos A todos os Arrianos. XXIII . XXI Já os lobos são ajuntados D'alcateia na montanha. E deixar a sua vinha. E muitas alobejados Fazendo grande façanha. XX Também os Venezianos Com as riquezas que tem. vejo Agora que estou sonhando. Virá o Rei de Salém Julgá-los-á por mundanos. e manha Correrá os pegureiros.4 SONHO PRIMEIRO QUE FINGE A MODO PASTORIL XVII Vejo. E dizer esta casa é minha Agora que cá me vejo. Semente d'El-Rei Fernando Fazer um grande despejo. XVIII E seguir com grão desejo. PASTOR MOR XXVII Aquela vaca. E João bom ovelheiro. XXVI E depois um estrangeiro. Que se erguerá primeiro. E bestas nas ameijoadas Com tiros muito ligeiros. E Pedro bom bailador. Porque está assim berrando? ANDRÉ XXVIII É porque desce da serra. E Fernando tangedor. E as montanhas salteadas Por homens muito sabidos.5 Depois já de apercebidos. E por isso está bramando. Que sabem as pisadas. E André mui verdadeiro: Entrarão com alegria. E o nobre pastor Garcia. que berra. E Rodoão que esquecia. cepos de azeiros. E pastores mui escolhidos. Atalaias nas estradas. XXIV Armar-lhe-ão nas passadas Trampas. FIGURAS DO SONHO XXV Virá o Grande Pastor. Não conhece bem a terra. XXIX . PEDRO XXXI Todo já tendes contado. XXXIV Por honra de tal memória Não haja aqui mais tristura. que lhe queremos. Ficarão em seu lugar. PASTOR MOR XXX Ajunte-se o vacum Aqui neste verde prado. E também o ovelhum. Os quais mui bem guardaremos. Mais do grão touro fuscado. E conte o seu cada um. PASTOR MOR XXXII Oh! que dor do coração! Oh! que dor! Oh! que pesar! Oh! que grão tribulação! Arredemos a paixão. que era rosado. Antes cantemos com glória. XXXIII Seus filhos devemos criar. Que não se acha neste bando. E um fuso. Fernando. Tudo lhe havemos de dar Pelo bem. Tem razão de estar berrando. Do vacum achamos menos: Um touro esmadrigado. Pois se não pode cobrar. Que não sabe onde é lançado. Do ovelhum nada sabemos. .6 Esta é a vaca. Ver-se-á a quem falta gado. XLI Sempre foi mui agoureira Com os estranhos dançar . o arrabil. Em que sempre é referteira. e baile com florença. XXXVI Tanja-se a frauta maior Ajunte-se todo o rebanho. que é mais subtil Entre. Pousa teu surrão. É mui bem que lhe pertença. vales e pastores. Ao Senhor da altura Com prazer mil graças demos. e vara. XXXVII Tudo nos é sufraganho Montes. XXXIX E Pedro. XL André baile com Pasquala. Com mui grão sobra de amor Vamos partir o ganho. Antes de meter mais fala Entre. e baile esta zagala. Já que é dama gentil. E eu como vosso Pastor. XXXVIII Fernando tanja a guitarra. XXXV Pois se cumpra a figura. Alegra bem tua cara. João. Em tal bailo pastoril. E venha após a primeira. E nós outros bem o vemos: Pois que já tudo se apura. Tu. Que não entre aqui estranho.7 Que fique sempre em memória Aprovando a Escritura. E repunham os bailadores. e Constança. que lhe entregaram. Sempre foi nobre Pastor. Este baile com Mecia. O monte que reluzia. Este baile com Leonor. que o acossaram. XLVI Por não ficar em olvido O nobre Pastor Garcia. XLV Sempre foi bom guardador Do gado. Que sempre foi atrevido.8 E pois está tão cantadeira. Aonde faça a bailia. Não se conte derradeiro. Pelo bem que lhe queremos Seja ele o mestre de dança. XLVII Pois é de alta valia. XLIV João. XLIII Sus! antes de mais extremos Baile Fernando. Mui grande acometedor. . o bom ovelheiro. Dêmos-lhe outro montado. que aqui temas. Não seja ela a derradeira. E pois que tudo já vemos. E a todo que bailar Hão-lhe muito bem de pagar E assim lhe prometemos. XLII Há-de ser mui de louvar Este auto. E mui grande corredor Dos lobos. Pois é igual ao primeiro. E paste bem o seu gado. Venha logo a bailar. E de nós muito querido. Eu que fui de vós querido. Todos os montados dais. LI Aquelas serras erguidas. Fiquem a toda a companha. Por inveja o mataram: . e piornais. L Também ficam umas ladeiras De ervas mui saboridas Donde saem umas ribeiras Que regam muitas lameiras Com águas esclarecidas. Onde acho que muitos tem Grande virtude. Tudo vos dou. Vossos gados pastarão Ficam terras de chão tais Os vales. Rodoão.9 RODOÃO XLVIII Todos já tendes partido. GARCIA LIII Já mataram o grão Pastor. E dos lobos mui ferido. e mais. De mim já vos não lembrais? PASTOR MOR XLIX Ainda fica mais. Pois por nós foram havidas E até agora perdidas. e valor. Onde está a nobre montanha. LII Aquele vale de além É o vale de Salém. E um mocho está cantando. e no escuro Sempre bailou mui seguro. PEDRO LVI Também lá naquela altura Está um lobo uivando.10 Porque era bom guardador Das ovelhas bom criador. FERNANDO LIV Os bailos são acabados. Sobre mesa lhe daremos. Que assim por bem o temos. Que no claro. Que convém de repousar. Onde bem pode mandar. Senhor. E no meio da espessura Um bufo está bufando. É um barão singular. E André está sentindo Não bailar como Fernando. vamos a jantar. JOÃO LVII Também Pedro. Por cobiça o acabaram. E há-de ficar sem lhe dar? PASTOR MOR LVIII . Que dos trabalhos passados Muitos há aqui desmaiados. LV Se algo lhe quereis dar. E o seu gado bem pastar. por quem procuro. Cai no bailo de João. Mil vezes cometido. Pois que do meu vencimento Lhe pesa mui por inteiro? ESTRANGEIRO LXI Em que vos hei ofendido E de mim sois anojado? PASTOR MOR LXII É porque te hei requerido. PASTOR MOR LX Quem mete ao estrangeiro Cá no meu nobre assento. LIX Ao redor da grão cabana Naqueles montes erguidos. Dando grandes alaridos. Muitos mortos. E far-lhe-ão grandes danos. I-lo-emos ajudar. Lobos que andam fugidos. E outros andam perdidos. Pois o defendi primeiro. e feridos. E tu sempre desmandado: E porque estás abraçado Com os meus competidores. . No vale que se diz Cana. Fazendo grande agonia. Até poder sujeitar Os cavalos Marianos. Ouvimos esta semana. Não mereces ter montado Com estes nobres Pastores.11 Pois vá o ele cercar. Caem no bailo de Garcia. E com eles aliado. Negavas-me a verdade. Mentes o Pastor dá volta. Abraçado com Babel Mui descrido e cruel. Que vos vades logo essa hora. LXVII . e harmonias.12 LX III Tu me hás sido revel Contra os meus ovelheiros. Pastor. Minhas ovelhas. FERNANDO LXVI Não te queiras mais deter. Derrubavas meus chiqueiros. se passagem. Grande mercê nos fareis. Por onde tomes alegrias Antes que hajam de volver. E depois que fordes fora. ANDRÉ LXIV Ide-vos. Busca jogos. tomei prazer Que o grão Porco selvagem Se vem já de seu querer. JOÃO LXV Para aqui vos saireis. mui embora. Oh! Senhor. Alguma razão tereis. Contra os meus pegureiros. Que depois não podereis E quiçais nos metereis Nalguma grande revolta. carneiros. Meter em vosso poder Com seus portos. Não lhe tinhas lealdade Degolavas meus cordeiros. LXXI Este Rei tem tal nobreza. E segundo vejo. Que gostam nosso tanger. Todos mudam a carreira Com medo do seu rafeiro. . LXIX Portugal é nome inteiro. Todos nelas bailareis. Prognostica o autor os males de Portugal. Este é a cabeceira. segundo sento. LXX Portugal tem a bandeira Com cinco Quinas no meio. Que em Calvário lhe foi dada. E será Rei de manada Que vem de longa carreira. Portugal tem a fronteira. Com os filhos de Ulisse. Com ferro sem azeiro. Sobre todos principal. Nenhum porco roncará. E porá sua cimeira. É Rei do cabo poente. Não se acha vosso igual Rei de tal merecimento: Não se acha. e creio.13 Em os campos de Tropé Vossa frauta tangereis E nas terras de Tomé E nas terras de Tomé. Nenhum lobo uivará Senão por vosso querer. E senão olha primeiro. se queres: Os outros Remos mulheres. Nome de macho. canta suas glórias com a aclamação do na Encoberto LXVIII Forte nome é Portugal. Um nome tão excelente. Do Poente ao Oriental. E os mais serão taxados. Vem de mui alta semente De todos quatro costados. Que as Igrejas comeis. E havido por Senhor Não por dádivas. De quem tomei minha teima. Todos quatro principais Do Levante ao Poente. LXXII Este Rei tão excelente. LXXIII Serão os Reis concorrentes. . Do Leão. Não é de casta Goleima. Demonstra que vai ferido Desse bom Rei Encoberto. Porque é Rei das passagens Do Mar. Senhoreia Sua Alteza Todos os portos. LXXIV Comendadores. e da grandeza. e viagens. Todos contribuirão E haverá grão confusão Em toda a sorte de estados. e parente. anda caminho. Todos Reis de primos grados De Levante até ao Poente. Quatro serão. Os outros Reis mui contentes De o verem Imperador. e sua riqueza. nem presentes. e é mui certo. Prelados. e seu bramido. Já acordou. Fugirá para o deserto. Tirará cedo do ninho O porco.14 Qual eu nunca vi em Rei: Este guarda bem a lei Da justiça. LXXV Já o Leão é experto Mui alerto. Mas de Reis primo. e volvereis Por honra dos Três Estados. e não mais. Traçareis. Entregar-se-á à forçada Envolta na sua faixa. Correrá. e morderá E fará mui grandes danos. LXXVIII Um grão Leão se erguerá. Abrir-se-á aquela caixa. LXXVII A lua dará grão baixa. E os que têm lei com ela: Porque se acaba a taixa. Que nunca se cerrara. Que anda mui desmandado. e orações Irá fortemente amado. LXXXI Entrará com dois pendões Entre os porcos sedeúdos. LXXX De perdões. E dará grandes bramidos: Seus brados serão ouvidos. Contrária aos Arrianos. Dará neles S. Na volta que faz depois. Com prazer de tanto bem Seu leite derramará. e dará bocado Na terra da Promissão. Prenderá o velho Cão. Segundo o que se vê nela. A vaca receberá A nova gente que vem. LXXIX Passará. Que até agora foi cerrada.15 LXXVI Uma porta se abrirá Num dos Remos Africanos. . Tiago. E a todos assombrará. E nos Remos Africanos A todos sujeitará. um chamado Fraim e outro Dão. FERNANDO Judeus que lhe haveis de dar? JUDEUS LXXXIII Dar-lhe-emos grande tesouro Muita prata. se quereis. e acham Fernando ovelheiro à porta FRAIM LXXXII Dizei. Bem podeis falar com ele. Judeus. Introduz o autor poeticamente dois judeus. LXXXV Tomará com seu poder. poderemos Com o grão Pastor falar? E daqui lhe prometemos Ricas jóias que trazemos Se no-las quiser tomar.16 Com fortes braços. Senhor. Todos os portos de além. Marrocos. e Tremecém. Que lá dentro o achareis. FERNANDO LXXXIV Entrai. muito ouro. Far-nos-eis grande mercê De nos dardes vista dele. que vêm buscar o Pastor Mor. . e escudos De seus nobres infanções. E grão saber. Que trazemos de além-mar. Já dá brado. Por um Doutor já passado. As quais estão declaradas. Dar-lhe-ão aquela noite Tal açoite. Vir-lhe-ão novas rum instante Daquelas terras prezadas. O seu nome é D. E tomarão a estrada De calada.17 E Fez também: Fará tudo a seu querer. João. Do que intenta. saia esse infante Bem andante. O Rei novo é alevantado. E o guião Poderoso. Lisonjeiros Os quais não deve querer. e triunfante. Não terão quem os afoite. Antes que cerrem quarenta. E afirmadas Pelo Rei dali em diante. LXXXVI E depois da Embaixada Declarada.. Erguer-se-á a grão tormenta. Que querem ser tributários. Já assoma a sua bandeira Contra a Grifa parideira. Que a Fé seja exalçada. . LXXXVIII Saia. Que tais prados tem gostado. LXXXVII Já o tempo desejado É chegado. e leve o pendão. Tire. Que se ementa. E lhe querem dar dinheiros. Lá gomeira. E logo será amansada. Segundo o firmal assenta: Já se cerram os quarenta. Vê-lo-ão a cometer Pelo deter. Que não recebeu bautismo. Mas acho. De seu fato Leixando o todo desnudo. Que arrepelará o gato. XCI Em que venham mais. E salvador São as armas de nosso Rei: Porque guarda bem a Lei. Bestiais são. Firmal põe declaração Nesta tenção. sem razão.18 LXXXIX Não acho ser deteúdo O agudo. e Imperador. Todos mortos. Que se o texto bem olhais. Pelo que mostra a figura. Dos bestiais. E assim a grei Do mui alto Criador. XC Não tema o Turco. Nenhum Rei. . Nem o seu grande Mourismo. Sendo ele o instrumento. Nem sacramentos. Nem o crismo. Haverão a sepultura Da amargura Como brutos animais. XCII As chagas do Rendentor. É gado de confusão. e mais. confundidos Nos abismos infernais. Não acho. E far-lhe-á murar o rato. não Nesta sezão. segundo sento O excelento Ser falso no seu Escudo. E declarais Com fundas serão feridos. que o Lanudo Mui sezudo. Chama-lhes animais sedentos Que não têm os mandamentos. Em possessão O Calvário por bandeira.19 Nem grão Senhor Nunca teve tal sinal. E das gentes guardador. Levá-lo-á por cimeira. Alimpará a carreira De toda a terra do Cão. XCIII As armas. E o guião Foram dadas por vitória Daquele alto Rei da Glória Por memória A um Santo Rei barão. Sucedeu a El-Rei João. e o pendão. . Como este por leal. XCVIII Um dos três que vão arreio Demonstrar ser grão perigo. XCV Tirará toda a escória Será paz em todo o Mundo. Que aqui faz o conto cheio. Os sonhos que o homem sonha! Mas hei medo. A Escritura não era.20 SONHO SEGUNDO XCIV Oh! Quem tivera poder Para dizer. Sem nada lho defender. Vi um grão Leão correr Sem se deter Levar sua viagem. e glória. e castigo Em gente que não meneio. Haverá açoite. De quatro Reis o segundo Haverá todo a vitória. Tomar passagem. XCVI Será dele tal memória Por ser guardador da lei. Polas armas deste Rei Lhe darão triunfo. que me ponha Grão vergonha De mos não quererem crer. XCVII Trinta e dois anos e meio Haverá sinais na terra. XCIX Já o tempo desejado É chegado Segundo o firmal assenta . E bem sabido. em bondade. Bom capitão. E nestes seis Vereis coisas de espantar. CII Este Rei tem um Irmão. CI O néscio quer afirmar. Não se sabe a irmandade? Todo é nobre. O Rei novo é acordado Já dá brado: Já arressoa o seu pregão Já Levi lhe dá a mão Contra Siquém desmandado. E declarar Desde seis até setenta Que se ementa. Agora se cumprirá: A desonra de Dina Se vingará Como está prometido. C O Rei novo és escolhido E elegido. Já alevanta a bandeira Contra a Grifa parideira Que tais pastos tem comido. Louvemos este Barão Do coração. . Porque haveis de notas. E assentar Aprazendo ao Rei dos Céus Trará por ambas as Leis. Porque é Rei de Direito. E na verdade Que sairá com o pendão.21 Já se passam os quarenta Que se ementa Por Doutor já passado. Do Rei que irá livrar. Deus o fez todo perfeito Dotado de perfeição. E segundo tenho ouvido. E fantasias Serão bem apontoadas. Pondo guerra. Que até agora são corrigidos. E desprezados. E com os Reis estimados. e está falando. Com furor. E não selado. Desconsoladas . E tirar as heresias. Serão todas derrubadas. CVI Se lerdes as Profecias De Jeremias. conta a Escritura. CIV Este Rei de grão primor. Semente del Rei Fernando. Com gente de grão valor. Passará o mar salgado Em um cavalo enfreado. CV Este diz. E altercando. Desde. E mui queridos.22 CIII Muitos estão desejando. se de perto? E sobre o tal praticando Aquele grão Patriarca No-lo mostra. Se o meu dito será certo. Que o campo despejará. E tirará. Se de longe. Derrubar as Monarquias. Irão dos cabos da terra Tomar os Vales. e comarca. socorrerá. Os Fidalgos estimados. e Serra. E declara o grão Monarca: Ser das terras. Aos que estão em tristura. Com o tal serão erguidos. Já o Leão vai bradando. CVII Ainda mais profetizando. Derrubar-lhe-ão as moradas Bem entradas. Se lerdes as Profecias De Daniel e Jeremias Por Esdras o podeis ver. E dizer: Com que prova o sapateiro Fazer isto verdadeiro. E tomá-lo-á na passagem Assim o vai declarando. E declarando: Seus pequenos das manadas. E desejando Correr o porco selvagem. CVIII Muitos podem responder. E assim o vai mostrando. Ou como isto pode ser? Logo quero responder Sem me deter.23 Fora das possentadorias. . que eram saídos Fora daquela prisão. CXIII E também vi a Rubem Com grão voz de muita gente. e do Dragão. CX Sonhava com grão prazer.24 SONHO TERCEIRO CLX Oh! quem pudera dizer. Que os mortos ressuscitavam. e estandartes . todas as partes Com bandeiras. Jerusalém. CXI E que via aos que estão Trás os rios escondidos. Sonhava. E muitos despedaçados Da Serpente. CXIV Oh! quem vira já Belém E esse monte de Sião E visse o Rio Jordão Para se lavar mui bem! CXV Vi também a Simeão Que cercava. Os sonhos que o homem sonha! Mas eu hei grão vergonha De nos não quererem crer. O qual vinha mui contente Cantando. CXII Vi ao Tribo de Dão Com os dentes arreganhados. E tornavam a renascer. E todos se alevantavam. Sem haver um só pião. tu és de Agar. CXVI Gad vinha por capitão Desta gente que vos falo Todos vinham a cavalo. e Zabulão. CXVII Eu por mais me afirmar. Nem conheço esses tais. Que me vinha a perguntar. CXVIII Dize-me. . e Elias Doutra parte estão folgando.25 Neftalim. CXXI Muitos estão desejando Serem os povos juntados: Outros muito avisados O estão arreceando. CXXII Arreceiam vir no bando Esse Gigante Golias Mas por ver Henoc. Ou como falas cananeu? Ou és porventura hebreu Dos que nós vimos buscar? CXIX Tudo o que me perguntais (Respondi assim dormente) Senhor. E ver se estava acordado Vi um velho mui honrado. não sou dessa gente. CXX Mas segundo os sinais Vós sois do povo cerrado. Que dizem estar ajuntado Nessas partes Orientais. como Agar. E achei muitas pinturas E o sonho afigurado. Magot. E assim Gad. Senão nisto acordei E tomei grande prazer. O meu nome é Arão. Que tudo se há-de acabar Dizendo: cerra os setenta. Que nos mostra nestes dias Sair o povo cerrado. Pergunto. Sacerdote como Heli. E achei no seu cantar Segundo o que representa. E também vi Isaías. CXXVI E depois de acordado Fui a ver as Escrituras. CXXVIII O qual logo fui buscar A Got. CXXVII Em Esdras o vi pintado. se sois contente. Dizer-me vossa semente Se é da casa de Abraão? CXXIV Que eu sam dessa geração Saí da Tribo de Levi.26 CXXIII Dizei-me. e Ezequiel. E tocar-lhe em a Lei. CXXV Eu quisera-lhe responder. . As Domas de Daniel Comecei de as olhar. nobre Barão. Quais não viram os que viveram. Senhor. CXXXIV Antes destas cousas serem Desta era que dizemos. Senhor. Mais se calam mais e mais. Terão quanto desejarem.27 Resposta do Bandarra a algumas perguntas que lhe fizeram. e Jeremias. CXXXII E depois de eles entrarem Tudo será já sabido. Muitas grandes cousas veremos. E as outras duvidosas Ainda não hão começado. O que a minha conta soma: Porque de partir a vir O texto se há-de cumprir Primeiro. CXXX O mais está por cumprir. perguntais. E um só Deus será conhecido. CXXXI E nestes trezentos dias. Aqueles que aos seis chegarem. Como com um grande letrado. Nas quais agora entramos. Que muitos dizem Amen. Mui grande segredo tem. que agora contamos Se contem as Profecias De Daniel. em Roma. CXXXIII Convosco falo estas cousas. e da resposta delas se conhecem quais foram CXXIX Os tempos que já se vem Porque. . Senhor. As umas são perigosas. Que aquestas cousas serão. Filho de Jacob primeiro Com tudo o mais que tem. que está bufando. que nos últimos dias. CXXXVI O mocho está assobiando. CXXXV Sairá o prisioneiro Da nova gente que vem Dessa Tribo de Rubem.28 Nem vimos. CXLI Não deve a terra tremer Mas fundir-se sem tardança. CXXXIX Dizem. nem ouviremos. Tudo se está arreceando. Pois os que têm a governança . CXXXVII Os dois bois estão berrando. Que não entre na sua toca O Bufo. CXL Vejo os lobos comer As ovelhas degoladas E as vacas mortas montadas E os cordeiros gemer. E com medo de depois. Pelo tirar da barroca. A vinte e quatro acharão Este dito de Isaías. CXXXVIII Acho em as Profecias Que a terra tremerá E como abóbada soará Quando faz harmonias. Dizendo e chamando bois. CXLII Vejo o mundo em perigo. Que virá um contador Tomar conta ao pastor E pagará um por cento.29 Os não querem defender. CXLVI Vejo o lobo faminto Concertado cos rafeiros: Os pastores. . Vejo como por peneira A Grifa morrer no cano. Dizer dele muito tenho. e ovelheiros São de um consentimento. CXLV Vejo um grande Rei humano Alevantar sua bandeira. CXLIV Vejo quarenta e um ano Pelo correr do cometa. Vejo gentes contra gentes. Nenhum tem o ventre são. CXLVII Acho cá no instrumento. CXLIII Já não nenhum amigo. Pelo ferir do planeta Que demonstra ser grão dano. Somos já vento soão Que não tem nenhum abrigo. CXLVIII Resolvi o meu canhenho Sabre este forte barão Não lhe acho nenhum senão. Já a terra não dá sementes Senão favacas por trigo. Vejo subir um Infante No alto de todo o lenho. que depois virá Às ovelhas dum pastor Mui manso. CLI Este guardará a Lei De todas as heresias. E de suas ovelhas. Que o fato reformara. E será tão prosperado. CLV Este pastor lhe dará A comer erva mui sã. Derrubá-lo-á por inteiro. CLII Vejo sair um fronteiro Do Reino detrás da serra. e lã Ao mesmo Deus vestirá.30 CXLIX Vejo um alto engenho Em uma roda triunfante. Que defenderá a grei. o que não sei. CLIV Acho. e bom guardador. Desejoso de pôr guerra Esforçado cavaleiro. Derrubará as fantasias Dos que guardam. Que porá o seu pendão Na cabeça do Dragão. CL Vejo erguer um grão Rei Todo bem aventurado. . CLIII Este será o primeiro. e porfias. e variedades. Mil contendas. Ponderem-nas de raiz. e Jeremias. Sem jamais haver error. Os Judeus serão Cristãos. que já veio O Ungido Salvador.31 CLVI Todos terão um amor. que nomeio. . Todos crerão. Gentios como pagãos. CLIX Acharão. que nestes dias Serão grandes novidades. CLVIII Tudo quanto aqui se diz. Novas leis. Olhem bem as Profecias De Daniel. CLVII Servirão um só Senhor Jesus Cristo. porque há movimentos aparentemente obscuros em as nações que. e prata. Muito amarga o sargaço: Tudo quanto agora faço . é claro. de importância para o país. por vezes. IV Não conto sapatarias Que noutros tempos sonhei O que agora contarei São mais altas profecias. em os seus seis sonhos e a introdução que os abre. De todos os «corpos» de que se compõem as profecias de Bandarra. nas alturas humanas. se remata.32 TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE GONÇALO ANNES BANDARRA Neste terceiro corpo das suas Trovas aplica-se o Bandarra a desvendar misteriosamente grandes movimentos das nações. por assim dizer. Já vos vejo erguido cedro: Pouco vai de Pedro a Pedro Se a rama o tronco medir. é este o mais ordenadamente disposto. têm uma importância maior que factos que todos vêem e estão. não sempre porém os de mais importância. III Fiz trovas de ferro. concretos. Senhor. Fernando Pessoa I Em vós que haveis de ser quinto Depois de morto o segundo. Hoje quanto faço é ouro Que em vós. Minhas profecias fundo Co estas letras que aqui pinto. culminâncias da civilização. V A giesta não se torce. precisos. Dignas de qualquer tesouro. II Inda o trono está por vir. É de notar que nos outros corpos das trovas Bandarra se ocupa de factos nítidos. sempre. X Mas ai! que já vejo vir O Presbítero maior Arriscar todo o primor Que outra vez há-de surgir. Senhor. VII Eu componho. Muitos folgarão de vê-las. que daqui há-de ir Vos há-de tornar a vir Passadas trinta tesouras. O certo é que me cheira Que me vem honrar à beira Um Grande do pé do Tejo. Versos muito bem medidos Que hão-de vir a ser cumpridos Lá nas eras derradeiras. Que o devoto Gabriel Vai riscando. SONHO PRIMEIRO VIII Vejo. VI Faço trovas mui inteiras. quanto eu sonho. IX Formas. gentes vindouras Que o Rei. SONHO SEGUNDO XI Augurai. cabos e sovelas Lavradinhas com primor Mandareis abrir. mas não ponho As letrinhas no papel.33 São bocados de erva doce. . mas não sei se vejo. E por detrás lha arrima. Que passados cem Janeiros Os Portugueses primeiros Se levantarão em bando. XVIII Põe um A pernas acima. XIV Irão tempos de lazeiras Virão tempos de farturas Os frades terão tristuras Por acudirem as freiras. E com as unhas no cabo Faz o ninho em Portugal. Tira-lhe a risca do meio. Que se vai perdendo o gado Por mais que gritando berra. XIII Desamparar o cortiço Uma abelha mestra vejo. . As outras com muito pejo Não têm asas para isso. XVII Ergue-se a águia Imperial Com os seus filhos ao rabo. XV Este sonho que sonhei É verdade muito certa Que lá da Ilha encoberta Vos há-de vir este Rei. SONHO TERCEIRO XVI Sonhei que estava sonhando.34 XII O Pastorzinho na serra Grita que tenham cuidado. XX Vejo sem abrir os olhos Tanto ao longe como ao perto Virá do mundo encoberto Quem mate da águia os polhos. XXII Vosso grande capitão.35 Saberás quem te nomeio XIX Tudo tenho na moleira. E quem for homem maduro Há-de me dar fé inteira. Se bem souberes contar. XXIV Põe três tesouras abertas Diante um linhol direito Contarás seis vezes cinco E mais um. O povo errado e perverso Já caminha com o erço. XXV Muito rijo bate o vento . Verás certa a profecia. O passado e o futuro. vai satisfeito. E vós dormindo no chão. SONHO QUARTO XXI Lá para as bandas do Norte Vejo como por peneira Levantar uma poeira Que nos ameaça a morte. XXIII Na era que eu nomear Terá fim a heresia. SONHO QUINTO XXVII Vejo. A grimpa se revirava. E o sino andava a pino. XXIX Meto a sovela nas viras. XXVIII Rugia a porca do sino. XXXI Doutos e sandeus conhecem Pelo volver das estrelas Puras verdades mais belas Que inda os Judeus não merecem. XXVI Mas ai! do calçado a obra Logo requer o salário. Porém não há muita sobra Se não dobra o campanário. Alguém caída a deseja.36 Na parede da Igreja. dizer vejo. XXX Que belamente que soam As Profecias direitas! Depois que forem perfeitas Verão que a terra povoam. E o borborinho sem dor Resolve um e outro sexo. . Andar a terra ao redor. No levantar vai o tento. O sino não badalava. vejo. E vejo pelo buraco Os ossos de Pêro Jaco No penedo das mentiras. XXXIV Dará fruto em tudo santo Ninguém ousará negá-lo. . Sonho agora. XXXIII O outeiro é Portugal E a vara castelhana Da minha pobre choupana Vejo esta vara Real. que uma vara Vai dando luz a um outeiro. O choro será regalo E será gostoso o pranto.37 SONHO SEXTO XXXII Quando o sonho é verdadeiro Dá-se uma luz muito clara. feita no Porto. Actualizou-se a grafia. 1997-2000 http://www. © Projecto Vercial. com excepção do Terceiro Corpo.ipn.pt/literatura ********************************************************** .38 ********************************************************** Obra digitalizada e revista por Deolinda Rodrigues Cabrera a partir da edição de 1866.
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