Trovadorismo e humanismoIDADE MÉDIA – 1º MOMENTO O TROVADORISMO EM PORTUGAL O Trovadorismo é um movimento de caráter exclusivamente poético e marca o surgimento da Literatura portuguesa. Historicamente é marcado pelo predomínio da Igreja e da nobreza feudal; resultando numa visão cristã teocêntrica e subjetiva, com características como emoção, espiritualismo, pessimismo, pecado e escuridão. As composições líricas desse período são chamadas de cantigas e se dividem em dois tipos: • Cantigas líricas (de amor e amigo); • Cantigas satíricas (de escárnio e maldizer). CANTIGAS DE AMOR A submissão do vassalo ao seu senhor é transferida para o mundo das relações amorosas, por isso o mandamento número um do trovador é fidelidade e submissão absoluta à sua musa. Essas cantigas apresentam eu lírico masculino; o trovador lamenta a coyta d’amor, ou seja, o sofrimento pela impossibilidade de realização amorosa, já que a dama pertence a uma classe social superior à dele. O trovador reitera a promessa de servir, honrar e respeitar a dama, poupando-a até da revelação de sua identidade. O poeta idealiza a amada como um ser quase divino, mas ela ignora seu amor ou tem conhecimento dele e o despreza. Esse amor impossível e inevitável faz com que o eu lírico sofra por tornar-se prisioneiro desse sentimento. Quanto aos aspectos formais, podemos dizer que as cantigas de amor apresentam uma linguagem mais erudita e sofisticada do que as de amigo. Sua estrutura é menos repetitiva, podendo ou não apresentar refrão. “ Eu gran coita, senhor que peior que a morte vivo, per boa fé, e pólo voss’amor esta coita sofr’eu por vos, senhor, que eu Vi pólo meu gran mal, e melhor mi será de morrer por vós já e, pois meu Deus nou val, esta coita sofr”eu por vós, senhor, que eu Pólo meu gran mal vi e mais mi val morrer ca tal coita sofrer, pois por meu mal assi esta coita sofr’eu a Vigo. comemorações e rituais ligados à chegada da primavera. as cantigas de amigo apresentam linguagem mais simples que as cantigas de amor (devido a sua origem popular). a Vigo. bailes. Na maior parte das vezes. ca ven san’e vivo e d’el rei. madr’. a Vigo. a mulher não se dirige diretamente ao homem amado.” ( MARTIN CODAX) . Pois tan coitad’and’eu. a irmã. a vaidade de ser bela. a indignação. a Vigo. madr’. senhor. o colorido do mundo medieval português podem ser sentido nessas cantigas. namorado ou amante. comi’gei mandado. ca ven viv’e e sano e d’el rei privado: e irei. O “amigo” referido é. madr’. Várias dessas cantigas se prestavam a festas. Muitas apresentam refrão e estrutura paralelística. a mãe ou um elemento da natureza. o trovador assume o ponto de vista da mulher. ca ven meu amado e ven viv’e sano: e irei madr’. a Vigo. madr’. amigo: e irei.por vós. o ciúme.” (D.DINIS) CANTIGAS DE AMIGO As cantigas de amigo apresentam eu lírico feminino. madr’. enfim. a Vigo. ca ven meu amado: e irei. Quanto aos aspectos formais. festas. que eu Vi por gran mal de mi. ca ven meu amigo: e irei. adota como confidente uma amiga. ca ven meu amigo e ven san’e vivo: e irei. “Mandad’ei comigo. A vida cotidiana. a saudade do amigo que partiu para às guerras. na verdade. bailarinas. se mi deus a min poder. enfim. e nos cantares que fez sabor de morrer i e desi d’ar viver. per sa sabedoria. pois morrer. e faz [s’] en seu cantar morte prender. par Santa Maria. a identidade do alvo permanecia um pouco na sombra (mascarada). aos quais se misturavam religiosos e até mesmo reis. mas outr’ omem per ren non [n] o faria. de viver.CANTIGAS SÁTIRICAS Esse gênero da cantiga revela o mundo boêmio e marginal dos jograis. porque lh’ela non quis [o] ben fazer fez-s’el en seus cantares morrer. dos artistas da corte. mas ressurgiu depois ao tercer dia! Esto fez el por ua sa señor que quer gran ben. de forma velada e sutil. mas sabe ben.” (PÊRO GARCIA BURGALÊS) . E non há já de sa morte pavor. mencionando o nome da pessoa a ser criticada. • Maldizer: ataque nominal e direto. e mais nos em diria: porque cuida que faz i mestria. e por se meter por mais trabador. A distribuição entre as cantigas de escárnio e maldizer é muito sutil: • Escárnio: crítica indireta. fidalgos. jamais morte nunca temeria. por na dona que gran ben queria. “Rui queimado morreu con amor eu seus cantares. esto faz el que se’o pode fazer. E. crítica rude. que viverá. usando linguagem desbocada. senon as morte mais la temeria. dês quando morto for. mais que non cuidaria. desi ar viver: vede que poder que ehi Deus deu. chula e obscenidades. qual oi’el há. reflete o estado oscilante de um mundo velho e de sua decomposição. . A crítica ao homem tem como função abrir sua consciência e reaproxima-lo de Deus. que esbarrava ainda no teocêntrismo milenar imposto pela Igreja. O ser humano é seu objeto de preocupação. Novas formas de pensar e agir vão construindo um novo código de ética e. encenando peças na corte para os nobres. e pelo florescimento de uma nova cultura.IDADE MÉDIA – 2º MOMENTO HUMANISMO (O RITO DE PASSAGEM PARA O CLASSICISMO) No segundo momento da Idade Média surgiu o Humanismo. mantendo a chama artística acesa. a poesia palaciana (poemas compostos em “medida velha” – redondilhas de cinco e sete sílabas poéticas. profano e divino. caracterizado sobretudo pelo resgate da herança grecolatina. medieval. Obras principais: Farsa de Inês Pereira. Nas peças religiosas o autor coloca sempre um relevo a oposição de dois mundos: material e sobrenatural. é motivo de reflexão porque vive num contexto em que os costumes se degradam. no século seguinte aflora o Classicismo Renacentista. religioso e conservador. O homem de seu tempo. O Humanismo é o período intermediário entre o mundo clássico e inaugura um período que a história chama de Renascimento. Auto da Barca do Inferno e Auto da Alma. sem acompanhamento musical). A prosa didática (ou doutrinária). levado agora por uma racionalidade. sem deixar que seu ponto de vista prevalecesse sobre os fatos verídicos). pelo antropocêntrismo. Humanista. de qualquer categoria social. quando o homem buscava outras maneiras de interação com o mundo.para o prazer da leitura e declamação. Viveu no contexto histórico marcado pelas grandes descobertas e ao mesmo tempo pelo ambiente palaciano. Quatro foram os tipos de produção que marcaram o século XV e o início do século XVI: A historiografia de Fernão Lopes ( escreveu a história de Portugal com base em documentos. Gil Vicente e o Teatro Português Gil Vicente inaugurou o teatro português. desprezando testemunhos frágeis ou duvidosos. trevas e luzes. e ainda o teatro de Gil Vicente. a intransigência religiosa arrasou a Provença e dispersou seus trovadores. região sul da França. carnal. nas ilhas de São Tomé e Porto Príncipe. nobre. foi o berço das primeiras manifestações de uma lírica sentimental. desconfiança etc. Marcabru. erótico. Damão. d)A cultura católica. chamada Langue d´Oc ou Languedo. Assinale a afirmação falsa: a)O judeu Maimônides e o islamista Averróis são expressões do que as culturas dominadas produziram de mais significativo na Península Ibérica b)A cultura portuguesa. ao amor dos sentidos. próxima da Oceania. impôs-se naturalmente desde os primórdios da formação de Portugal e)A expulsão dos mouros e judeus e a Inquisição foram os aspectos mais dramáticos da destruição sistemática que a cultura triunfante impôs às culturas opostas 04. A canção associava o amor-elevação.) e negativos (tendência ao ceticismo quanto a idéias. a)Verdadeiro b)Falso 03. a alegria da razão (o amor intelectual) à alegria dos sentidos. refinada. No inicio do século XIII. inatingível. Raimbaut d´Aurenga e especialmente Arnault Daniel representam a poesia mais elaborada. cortês. de Dante Alighieri a Ezra Pound. facilmente inteligível. impondo uma nova concepção do amor e da mulher. parte oriental da ilha de Timor. com imagens e associações inesperadas. conciliava três matrizes contraditórias: a católica.Questões 01. que fazia da mulher o santuário de sua inspiração poética e musical a)Verdadeiro b)Falso 06. puro. A língua portuguesa não é falada: a)em Macau e em dialetos crioulos de Goa. técnica e literariamente superior às culturas islâmica e hebraica. aclimatabilidade etc. na Guiné-Bissau em Angola e em Moçambique c)no Timor Leste. mas que os mapas geopolíticos atuais incorporam ao Sudeste Asiático d)no arquipélago dos Açores e na Ilha da Madeira e)em Gibraltar e nas Ilhas Canárias . do que resultaram alguns de seus traços positivos (miscibilidade. O primeiro trovador provençal foi Guilherme IX. a islâmica e a hebraica c)Pode-se dizer que a cultura portuguesa esteve desde seu início assentada na diversidade e na contradição. Bernart de Ventadorn e aufre Rudel representam a poesia mais simples. da Aquitânia (1071-1127). mas a lírica provençalesca já havia fecundado a poesia ocidental com a beleza melódica e a delicadeza emocional de sua poesia-música. Sri Lanka (ex-Ceilao). a)Verdadeiro b)Falso 02. capazes de encantar os mais rigorosos exegetas. a)Verdadeiro b)Falso 05. A Provença. Java e Málaca b)no arquipélago de Cabo Verde. no século XII. épico. em Portugal e em outras regiões . autóctone. A poesia lírica dos provençais teve seguidores na França. A distinção está no retórico do “equívoco”. no norte predominava o espírito guerreiro. 10. Foi o que ocorreu em Portugal e Galiza: a poesia primitiva. os próprios poetas (trovadores e jograis eram freqüentemente ridicularizados). a corrupção e a própria arte de trovar b)As cantigas satíricas perfazem cerca de uma quarta parte da poesia contida nos cancioneiros galego. Assinale a afirmação falsa sobre as cantigas de escárnio e mal dizer: a)Os alvos prediletos das cantigas satíricas eram os comportamentos sexuais (homossexualidade. na Catalunha. alastrava-se o lirismo trovadoresco. antes de a repressão inquisitorial atirá-las à clandestinidade c)A principal diferença entre as duas modalidades satíricas está na identificação ou não da pessoa atingida d)Algumas composições satíricas do Cancioneiro Geral e algumas cenas dos autos gilvicentinos revelam a obrevivência. para a vassalagem amorosa. nem está na condição de se omitir a identidade do ofendido. da linguagem livre e da violência verbal dos antigos trovadores e)O elemento das cantigas de escárnio não é temático. as mulheres (soldadeiras. que celebrava nas canções de gesta o heroísmo da cavalaria medieval. Isso revela que a liberdade da linguagem e a ausência de preconceito ou censura (institucional. a)Verdadeiro b)Falso 08.07. onde também os temas folclóricos foram beneficiados com a forma mais culta e elaborada que os trovadores disseminaram. a)Verdadeiro b)Falso 09. ausentes na cantiga de maldizer. estética ou pessoal) eram componentes da vida literária no período trovadoresco. alcoviteiras e dissimuladas). associada à musica e à coreografia e protagonizada por uma mulher. prostitutas.portugueses. na Itália. a avareza. nas proximidades do Mediterrâneo. passaram a se beneficiar do contato com uma arte mais rigorosa e mais consciente de seus meios de realização artística a)Verdadeiro b)Falso . Enquanto no sul da Europa. padres e freiras libidinosos). oral. adultério. as chamadas cantigas de amigo. da ambigüid ade e da ironia. voltado para a exaltação do amor. na Alemanha. já bastante atenuada. b) Trata-se de uma cantiga de escárnio. amigo. e) Trata-se de uma cantiga de maldizer. Joam Garcia de Guilhade) . que dormides as manhãas frias. Ai. a natureza aparece entrelaçada à questão amorosa e as estrofes apresentam estrutura paralelística e refrão. amigo. O eu lírico é feminino. Todalas aves do mundo d`amor dizian: Leda m`and`eu! Levad`. foste-vos queixar Que vos nunca louv`em[o] meu trobar. Todalas aves do mundo d`amor cantavan: Leda m` and`eu! Todalas aves do mundo d`amor dizian: Do meu amor e do voss` em ment`avian: Leda m`and`eu! a) Trata-se de uma cantiga de amor paralelística com refrão e eu lírico feminino. d) Não há sinais de influências folclóricas na cantiga em questão. 12. c) É uma típica cantiga de amigo. embora o nome da pessoa criticada não seja abertamente mencionado. Assinale a alternativa que identifique corretamente o tipo de composição poética exemplificada no trecho. que dormide`-las frias manhãas.11. nota-se que. Mais ora quero fazer um cantar Em que vos loarei toda via. Assinale a alternativa correta sobre o texto abaixo: Levad´. dona fea. E vedes como vos quero loar: Dona fea. velha e sandia! (D. em que uma mulher critica seu namorado por ele haver cortado os ramos em que as aves pousavam para cantar o amor de ambos. nela. a experiência amorosa é adequada aos modos palacianos aristocráticos. sem refrão d) cantiga de escárnio e) cantiga de maldizer 13. e quen mi tolherá Gran coyta do meu coraçon No mundo. sem refrão d) cantiga de escárnio e) cantiga de maldizer . Ay Deus. e. se mi non valer Ela. Assinale a alternativa que identifique corretamente o tipo de composição poética exemplificada no texto. poys mha senhor non Quer que eu perca coyta já! E direy-vos como non quer: Leixa-me sem seu bem viver Coytad`.a) cantiga de amor b) cantiga de amigo c) cantiga de amigo. que[n] mi pode valer? Bernal de Bonaval a) cantiga de amor b) cantiga de amigo c) cantiga de amigo. senhor. dês y Nunca coyta perdi. Dinis) Que coisa tamanha ei a sofrer Por amar amigu` e non o veer! E pousarei sol o avelãal. Sua habilidade satírica e sua crítica moral recriam o cotidiano da sociedade portuguesa de seu tempo. seed`em sabedor. dês y Nunca coyta perdi. Qual a importância e a novidade do movimento cultural conhecido como Humanismo? 17. (D. Por amar amigu`e non lhi falar! E pousarei sol o avelãal. Tanto me coyta e trax mal Amor Que me mata. Por que se pode afirmar que Gil Vicente tem um pé em sua época e outro no passado? 16.14. dês que enton Vos vi. cuytad`é o meu coraçon Por vós e moyro. dês que. Vos vi. Porque sabede que. Suas obras constituem o mais rico acervo de poesia dramática do fim da Idade Média européia. (Nuno Fernandes Torneol) . se Deus mi perdon. deixando entrever a penetração das idéias do Humanismo. com alta qualidade artística. E tod`aquesto é. Leia os textos abaixo e responda o que se pede: Senhor. Trata-se de: a) Sá de Miranda b) Garcia de Resende c) Luís de Camões d) Gil Vicente e) Antônio Ferreira 15. Que coita tamanha ei endurar. flores. embora a natureza esteja ausente. segundo convenções do amor cortês. XIII e XIV. por não poder ver nem falar com seu namorado. freqüentemente inspiração na vida popular. construída da forma mais típica (paralelismo e refrão). fala da coita. estética literária dos séculos XII. c) O texto 5 é fragmento de uma cantiga de amigo. d) O texto 5 é fragmento de uma cantiga de amor. 18. pois o eu lírico louva a mulher amada desrespeitando as convenções do amor cortês. O texto 6 pertence a uma cantiga de amigo. com refrão. apesar da presença do refrão e do eu lírico feminino. desamor e ciúme. pois. Deus. como demonstra a presença do refrão. a presença. o eu lírico feminino fala de seu sofrimento. em que o eu lírico idealiza a mulher amada. por não poder ver seu namorado nem falar com ele. e u é?” Vocabulário: sabedes: sabeis u: onde Escreva as palavras que completam os espaços. O texto ¨pertence a uma cantiga de amigo. e) O texto 5 é fragmento de uma cantiga de amor atípica. construída na sua forma mais típica (presença da natureza. em favor de uma concepção menos platônica e mais erótica. paralelismo e refrão). “Os versos acima pertencem a uma cantiga de (a) _________ características de ____________português.Assinale a alternativa correta. ai flores do verde ramo se sabedes novas do meu amado? Ai. pois é uma composição popular. b) Os dois fragmentos poéticos falam da coita. o eu lírico feminino fala de seu sofrimento. Amor.” 19. a) Ambos os textos são cantigas de amigo paralelísticas. que é o tema central desse tipo de composição. motivo pelo qual devem ser classificados como cantigas de amor. bem como a exploração de eu feminino indicam cantigas de _______________. ou sofrimento amoroso. o texto 6 faz parte de uma cantiga de amor. embora se trate de poesia aristocrática. . “Ai. a presença de refrão indica a contaminação de formas populares. mantém pontos de contato com a poesia trovadoresca. “Um amor assim delicado Você pega e despreza (.) Nem sente que me envenenou Senhora. e agora Me diga onde eu vou Senhora Serpente Princesa” Esse fragmento da Queixa..20.. Quais são esses pontos de contato? . de Caetano Veloso.