A_Sabedoria_das_Multidões

March 30, 2018 | Author: martcheeelo | Category: Decision Making, Knowledge, Google, Market (Economics), Car


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A Sabedoria das Multidões“A Sabedoria das Multidões” (Record, 2006, 376 páginas), de James Surowiecki, colunista e editor da área de negócios da revista New Yorker, reflete sobre o funcionamento de mercados, economia e da vida cotidiana. Você encontra o livro no original, em Inglês (Amazon, Cultura), e em Português. Ao longo do livro o autor defende o pensamento contrário de Thoreau, Nietzsche, Charles Mackay e outros, para os quais as multidões nunca serão mais sábias do que a média dos seus indivíduos, ou que tendem a tornar-se estúpidas. Por meio de diversos exemplos – o que chega a tornar a leitura um pouco repetitiva e enfadonha – o autor demonstra o contrário: que as multidões normalmente são mais sábias do que o seu indivíduo mais inteligente, desde que existam determinadas condições. Os exemplos variam de experiências de mais de cem anos com a avaliação do peso de um boi, contagem de jujubas em um pote de vidro por alunos universitários, eleições presidenciais, vereditos de um júri, e muitos outros. Logo no primeiro capítulo, o autor lembra do programa “Who Wants to Be a Millionaire?”, cuja versão no Brasil foi o “Show do Milhão”. O modelo dos dois programas era um concorrente que deveria responder 15 perguntas sobre variedades em seqüência para receber um prêmio de 1 milhão. No formato americano, o concorrente podia escolher previamente um amigo que julgasse ser a pessoa mais inteligente que conhecesse. Caso se deparasse com uma pergunta muito difícil, poderia ligar para este amigo até três vezes, mas também poderia perguntar para a audiência presente ao programa (no Brasil a pergunta para a audiência foi substituída pelo infame trio de universitários). Pesquisas constataram que a audiência do programa se saía muito bem, com uma taxa de acertos de 91%, contra 65% dos especialistas. Uma conclusão interessante é que, independente do experimento, alguns indivíduos obtém melhores avaliações do que o grupo. No entanto, a cada consulta os indivíduos que tiveram melhores avaliações do que o grupo não são os mesmos, mas outros indivíduos. A conseqüência é que as respostas mais confiáveis vem do grupo, e não do indivíduo que tenha obtido a melhor avaliação recentemente. O autor denomina de mercado qualquer instituição que reúna pessoas cuja finalidade seja a troca de qualquer tipo de bens, propriedades ou idéias. Por exemplo, os mercados de apostas, a bolsa de valores e as pesquisas eleitorais são tratadas como mercados, e como tal também refletem as constatações do autor. Assim, nas corridas de cavalo a ordem das apostas tende a refletir o resultado final (o cavalo favorito vence na maior parte das vezes, o segundo mais apostado tende a chegar em segundo lugar e assim por diante). São observadas distorções, pois as pessoas tendem a apostar mais em azarões com mais freqüência do que deveriam, e apostam menos em favoritos do que deveriam, no que consistiria um comportamento de busca de risco. As buscas do Google são um outro fascinante exemplo da sabedoria das multidões. O algorítmo PageRank leva em conta os links entre as páginas para ordenar as páginas mais relevantes. O Google interpreta um link da página A para a página B como se fosse um voto de A em B. Além vai contra o que parece ser o senso comum. E mesmo tendo conhecimento especializado. ou seja. método. Desta forma o pensamento inovador é perigosamente desestimulado. como na escolha do melhor produto. o Google também leva em conta a importância da página que está referenciando outra. A princípio parece uma dispersão de energia e recursos. Não há uma reflexão inicial sobre a melhor alternativa. quanto mais diverso for o mercado. quando haviam carros a vapor. Em resumo. Outros mercados semelhantes são o HSX . em lugar de deixar a decisão a cargo de uma ou duas pessoas extremamente inteligentes. bateria e gasolina. fontes de financiamento. mas a seleção das melhores alternativas é um exemplo de sabedoria coletiva. Um voto de uma página importante também torna outra página mais importante. e alternativas que fogem ao senso comum do grupo tendem a ser descartadas muito cedo. Os especialistas têm um conhecimento profundo em poucas áreas do conhecimento. O exemplo é dos primeiros anos da indústria automobilística. seu conhecimento é profundo e estreito. e ter lucro real com estas ações. O uso de um mercado para previsão do futuro parece inconseqüente. No entanto. melhor tende a ser escolha. (Ainda outro mercado é o Trendio. Como nos demais mercados. pesquisas mostram grandes divergências entre especialistas sobre o mesmo assunto. este sistema funciona melhor quanto maior for o número de “votos”.de uma simples contagem de votos. Até o grande sucesso do Ford Modelo T. pois o valor da especialização é freqüentemente superestimado. O autor também explora a criação de mercados pouco convencionais. Todas as alternativas são apresentadas ao mercado. Tanto em um júri popular. diferentes formas de se dirigir os veículos. que seleciona a melhor alternativa. pois não se sabe de antemão quais são as alternativas possíveis. é importante que haja diversidade também nos indivíduos que compõe o mercado. alguém com restrição financeira pode oferecer uma alternativa econômica para um determinado problema. O . Por exemplo. como o IEM . que permite a negociação de “ações” de candidatos das eleições majoritárias americanas em dólares de verdade. Um grupo variado de pessoas inteligentes pode produzir excelentes decisões. para não haver distorções de sites pouco importantes ou links irrelevantes. no Show do Milhão. o autor apóia-se em pesquisas para dizer que não é possível alguém se tornar especialista em algo amplo como a tomada de decisões. Uma das conclusões do livro. As melhores decisões podem vir de grupos variados. para obter alternativas realmente inovadoras é importante haver variedade – de pensamento. O mais impressionante no entanto é constatar que a margem de erro em 49 eleições entre 1988 e 2000 foi de apenas 1. Assim como nos outros exemplos. diferentes formatos. É possível comprar e vender ações de candidatos. Grupos coesos tendem a pensar de forma parecida. Outra face da variedade é a diversidade cognitiva que ela proporciona. portanto. nos mercados de investimento. No momento da criação de uma nova tecnologia não existe uma definição clara de como ela se deve parecer e várias alternativas aparecem para disputar o sucesso. mas pode ser usado com assustadora precisão para a previsão de atentados terroristas.Hollywood Stock Exchange (previsão de bilheteria dos filmes de Hollywood). enquanto que caçar “a” pessoa mais inteligente pode ser infrutífero. NewsFutures (previsões de futuro) e TradeSports (previsão de futuro em Esportes). um mercado de palavras “quentes” na Internet).Iowa Electronic Markets.37% nas eleições presidenciais. ninguém sabia como um carro deveria se parecer. onde um grande grupo de programadores voluntários é responsável por encontrar bugs. de orientação política. Tanto a bolha quanto o estouro da bolha são irracionais e alimentadas pela imitação. A parte 2 do livro ilustra com inúmeros exemplos os diferentes tipos de problemas. Quanto mais as pessoas seguem o senso comum. mais a decisão dos próximos indivíduos vai sendo distorcida. quanto mais próxima de um problema está uma pessoa. A informação. Quando as pessoas começam a descobrir que aquela ações está sobrevalorizada e começam a se desfazer delas. de atitudes em relação ao risco Diversidade cognitiva – quando os indivíduos não conversam entre si. O problema com as cascatas é que depois de um certo ponto as pessoas deixam de prestar atenção ao próprio conhecimento e passam simplesmente a imitar as outras pessoas. revisar código e sugerir melhorias. e emitem suas avaliações individuais os resultados tendem a ser melhores A descentralização favorece a especialização e a produtividade. as outras pessoas tendem a imitá-las. Quando uma primeira experiência é bem sucedida e a notícia é divulgada para o mercado. onde a imitação levou a ganhos de escala. Em teoria. Em resumo. de condição econômica. Exemplos clássicos de descentralização são os bandos de pássaros. As cascatas de informações reforçam o sentimento de seguir a manada. O acerto do número de jujubas no pote de vidro e os resultados de busca no Google são exemplos de problemas cognitivos . a tendência dos próximos indivíduos é repetir a mesma experiência em lugar de escolher outra alternativa. mais provável é que ela tenha uma boa solução para ele. mesmo depois que o valor da ação chega no patamar adequado. o Linux não seria o que é hoje. as cascatas também podem ser positivas. que são aqueles que buscam resolver ou encontrar a melhor resposta para um problema. Provavelmente o grupo sozinho poderia ter tomado excelentes decisões. de classe social. As bolhas nos mercados de investimento são exemplos de cascatas de informação. melhor A diversidade do grupo – seja de formação. O Linux é um excelente exemplo de descentralização.autor cita experimentos que demonstraram o comportamento de “seguir a manada” (ou Mariavai-com-as-outras). como ilustram os exemplos da padronização do parafuso ou da introdução do milho transgênico. que geralmente é visto como algo fundamental. pode ser o fator que alimenta o desastre. Por outro lado. ou não tem afinidades de grupo. as economias de livre mercado. os problemas discutidos no livro podem ser classificados em: • Problemas cognitivos. Os fatores determinantes para que as decisões das multidões sejam realmente mais sábias do que as de especialistas são: • • • O tamanho do grupo – quanto mais indivíduos. as cidades e as redes de computadores. sendo que todo o trabalho é direcionado aos “tenentes” e ao próprio Linus Torvalds para o coordenação do projeto como um todo. As pessoas passam a investir em determinada ação ou segmento de mercado simplesmente porque outras pessoas estão fazendo o mesmo. Os noticiários em tempo real das bolsas na CNBC foi um grande fator tanto para a formação como do estouro da bolha da Internet. mas é certo que se não houvesse a coordenação do grupo de Linus. O grande desafio da descentralização é garantir a coordenação entre as diferentes partes do sistema. o desenvolvimento do Linux e o trânsito são exemplos de problemas de coordenação. a pesquisa da AIDS e a descoberta de estrelas são problemas de colaboração. o autor finaliza com sua crença de que a democracia é um exemplo da sabedoria das multidões. Parafraseando Churchill. Os mercados de compra e venda. para quem a democracia era o menos pior de todos os regimes. que são aqueles onde os diferentes elementos de um grupo precisam coordenar suas atividades com os outros. é melhor ter uma democracia do que um regime autocrático.• • Problemas de coordenação. onde os elementos de um grupo precisam dividir tarefas entre si para alcançar resultados que não poderiam ser alcançados individualmente. O Projeto Genoma. O autor finaliza o livro com um libelo democrático. Apesar de dar contra-exemplos da democracia americana. . Problemas de colaboração.
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