As Leis Morais Rodolfo Calligaris

March 18, 2018 | Author: karlzen | Category: Spiritism, God, Science, Prayer, Jesus


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1 AS LEIS MORAIS RODOLFO CALLIGARIS2 ÍNDICE Kardec 4 NOTA DO AUTOR CAPÍTULO 1 = As Leis Divinas CAPÍTULO 2 = O Conhecimento da Lei Natural CAPÍTULO 3 = A Progressividade da Revelação Divina – 1º CAPÍTULO 4 = A Progressividade da Revelação Divina – 2º1 CAPÍTULO 5 = A Progressividade da Revelação Divina – 3º CAPÍTULO 6 = A Progressividade da Revelação Divina – 4º CAPÍTULO 7 = O Problema do Mal CAPÍTULO 8 = A Responsabilidade do Mal CAPÍTULO 9 = Os Espíritos Podem Retrogradar? CAPÍTULO 10 = Como Adorar a Deus? CAPÍTULO 11 = A Prece CAPÍTULO 12 = Sacrifícios CAPÍTULO 13 = A Lei de Trabalho CAPÍTULO 14 = Limite do Trabalho CAPÍTULO 15 = O Repouso CAPÍTULO 16 = A Lei de Reprodução CAPÍTULO 17 = O Aborto CAPÍTULO 18 = Celibato, Poligamia e Casamento Monogâmico CAPÍTULO 19 = A Lei de Conservação CAPÍTULO 20 = A Procura do Bem-Estar CAPÍTULO 21 = A Lei de Destruição CAPÍTULO 22 = O Assassínio CAPÍTULO 23 = Heliotropismo Espiritual CAPÍTULO 24 = A Pena de Talião CAPÍTULO 25 = Sociabilidade CAPÍTULO 26 = A Missão dos Pais CAPÍTULO 27 = A Família CAPÍTULO 28 = A Lei de Progresso CAPÍTULO 29 = Terra — Instituto Educacional CAPÍTULO 30 = A Evolução da Humanidade CAPÍTULO 31 = Influência do Espiritismo no Progresso da Humanidade CAPÍTULO 32 = A Lei de Igualdade CAPÍTULO 33 = A Igualdade de Direitos do Homem e da Mulher CAPÍTULO 34 = A Lei de Liberdade CAPÍTULO 35 = O Livre Arbítrio CAPÍTULO 36 = Fatalidade e Destino CAPÍTULO 37 = Como Conquistar a Prosperidade CAPÍTULO 38 = Conhecimento do Futuro CAPÍTULO 39 = Direito e Justiça CAPÍTULO 40 = O Direito de Propriedade CAPÍTULO 41 = Esmola e Caridade – 1º CAPÍTULO 42 = Esmola e Caridade – 2º CAPÍTULO 43 = As Paixões CAPÍTULO 44 = O Egoísmo CAPÍTULO 45 = Conhece-te a ti Mesmo 3 Kardec Lembrando o Codificador da Doutrina Espírita, é imperioso estejamos alerta em nossos deveres fundamentais. Convençamo -nos de que é necessário: sentir Kardec; estudar Kardec; anotar Kardec; meditar Kardec; analisar Kardec; comentar Kardec; interpretar Kardec; cultivar Kardec; ensinar Kardec e divulgar Kardec... Que é preciso cristianizar a Humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação. EMMANUEL (Psicografia de Francisco “Reformador” de 3/61.) Cândido Xavier, publicada em parte 3ª. ou foram por ele inspirados.4 NOTA DO AUTOR Os assuntos desenvolvidos nesta obra apóian-se em “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”. . as quais interferem em seu comportamento em muito maior escala do que ele queira admitir.5 1 As Leis Divinas Desde tempos imemoriais. embora ainda repelido e duramente atacado. suscetíveis de serem examinados pela observação e experimentação. Apoiada na Razão. incapaz de subsistir por si mesma. por outro lado. é passível de. criatura complexa que é. revidava como podia. e a ordem moral. das entidades espirituais — boas ou mas — que coabitam este planeta (os chamados anjos ou demônios). como o atesta a psiquiatria moderna ao fazer medicina psicossomática. enquanto encarnado. como apregoava a pseudo-ciência materialista. começa-se a reconhecer que o homem. quais o clima. formada de corpo e alma. tanto mais vai-se inteirando de que o mundo material. não sofre apenas as influências do meio físico em que vive. a alimentação. Daí a recomendação do Cristo: “orai e vigiai para não cairdes em tentação. com isso. a Ciência passou a zombar da Religião. para que se ponham de acordo e se prestem mútua cooperação. Com o avanço científico nos últimos séculos. do interesse de ambas. tanto pela Ciência como pela Religião ditas oficiais. ocasionando-lhe. principalmente no 19º. com suas emoções. veio trazer. mas sim um ser individualizado. Devido à posição extremada que tomaram e ao ponto de vista exclusivo que defendiam. a Ciência. se é exato que a Religião não pode ignorar os fatos naturais comprovados pela Ciência. desarvorada e ferida em seus alicerces — os dogmas sem prova —. igualmente. mas que. o solo. esta. Não é assim. objeto especulativo da . Graças ao Espiritismo. que. ser afetado pelas enfermidades ou pelos traumatismos orgânicos. nem tão-pouco unta “centelha” informe. e superestimando os descobrimentos no campo da matéria. porque.” Graças ainda ao Espiritismo. deixando a cargo da. ou seja. Ciência e Religião deram à Humanidade a falsa impressão de serem irreconciliáveis e que os triunfos de uma haveriam de custar. o elo de ligação que lhes faltava. também afeta o indumento (soma) de que se serve durante a existência humana. que o espírito (ou alma) não é mera “função” do sistema sensório-nervoso-cerebral. hoje. necessàriamente. Religião o trato das questões metafísicas ou espirituais. O Espiritismo. como o imaginavam as religiões primevas ou primárias. no momento oportuno. mas tanto ou mais as influências da psicosf era terrena. apesar de imperceptível aos nossos sentidos grosseiros. sabe-se. jamais chegaria a completar-se se continuasse a fazer tábua rasa do elemento espiritual. vem-se dedicando exclusivamente ao estudo dos fenômenos do mundo físico. sem desacreditar-se. esfera de ação da Ciência. oferecendolhes. o divórcio entre a Ciência e a Religião transformou-se em beligerância. enquanto esta. preciosa cota de conhecimentos novos. Quanto mais o homem desenvolve suas faculdades intelectuais e aprimora suas percepções espirituais. etc. lançando anátemas às conquistas daquela. felizmente. revestido de uma substância quintessenciada. apontando-as como contrárias à Fé. o enfraquecimento da outra. distúrbios funcionais e até mesmo lesões graves. concorrendo.) . um e outra. guardam íntimas e profundas relações entre si. eternas e imutáveis que os regem. portanto. (Capítulo 1. para a harmonia universal. questão 614 e seguintes. como são. como sábio. Não pode nem deve haver. outra e. Sendo. juntas. o que precisaxn fazer é dar-se as mâos. nenhum conflito entre a verdadeira Ciência e a verdadeira Religião. mercê das leis sábias.6 Religião. apoiando-se recí­ procamente. eterno e imutável é o Seu legislador. ajudem o homem a realizar os altos e gloriosos destinos para que foi criado. de modo que o progresso de uma sirva para fortalecer a. expressões da mesma Verdade Divina. igualmente dosada. sem dúvida. dispersas que se acham em meio de acessórios sem fundamento. Não deve. se bem pareçam contraditórias entre si. ao alcance de todos. mas. para que seja útil. o seu valor. instruído pelas vozes do Alto. dispondo-se a envidar sérios esforços no sentido de extinguirem. responsável por tantos males. parar aí. precisa ser revelada de conformidade com o grau de entendimento de cada um dé nós. embora não cristãs. não há nenhum sistema antigo de filosofia. dei de mão às coisas que eram de menino. uma excelente contribuição à causa da fraternidade universal. diz-nos que em todas as épocas e em todos os quadrantes da Terra. em suas respectivas hostes. graças à explicação que o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até agora se nos afiguravam sem razão alguma. ali e acolá. A Verdade. discorria como menino.7 2 O Conhecimento da Lei Natural Depois de muitos séculos de desunião. que seja despicienda. com a intensidade da luz para que ela não nos deslumbre ou encegueça. pois na doutrina moral de cada uma delas existe algo de sublime. Deus. julgava como menino.” Kardec. pior ainda. (Capítulo 1º. do mesmo modo. e cuja realidade está irrecusàvelmente demonstrada”. Destarte. capaz de levar os seus profitentes ao conhecimento e à observância da Lei Natural estabelecida por Deus para a felicidade de todas as criaturas. Ninguém contesta ser absolutamente indispensável habituar-nos. Essas almas simples não estão à margem da Lei do Progresso e. Todas têm. em sua primeira Epístola aos Coríntios (13:11). Esse nobre movimento constitui. se expressou desta forma: “Quando eu era menino. de estúpida e feroz hostilidade recíproca. questão 619 e seguintes. ou mesmo risíveis. nenhuma tradição. o malfadado sectarismo. sempre.) . mas sim evoluir até o reconhecimento de que as demais religiões. todavia. falava como menino. nenhuma religião. após uma série de novas existências. entretanto. “para o estudioso. sempre houve homens de bem (profetas) inspirados por Deus para auxiliarem a marcha evolutiva da Humanidade. facilmente coordenáveis se vos apresentam. também são dignas de todo o respeito. Para os que já alcançaram apreciável desenvolvimento espiritual. depois que cheguei a ser homem feito. pois em tudo há germes de grandes verdades que. substituindo-o por um espírito de tolerância e de colaboração mútuas. muitas crenças e cerimônias religiosas vigentes aqui. Daí não ter sido posta. para darem mais ênfase ao objetivo essencial que lhes é comum: a edificação das almas para o Bem. tempo virá em que também se libertarão de crendices e superstições para se nortearem por princípios filosóficos mais avançados. porqüanto satisfazem à necessidade de grande número de almas simples que a elas ainda se apegam e nelas encontram o seu caminho para. ou. parecerão absurdas. Por compreender isso foi que Paulo. eis que as Igrejas Cristãs começam a compreender a conveniência de colocarem em segunda plana as questiúnculas que as di­ videm. pouco a pouco. 8 3 A Progressividade da Revelação Divina – 1º Há uma opinião generalizada de que, sendo a Bíblia, um livro de inspiração divina, tudo o que nela se contém, “de capa. a capa”, forma um bloco indiviso, uma unidade indecomponível, um repositório de verdades eternas, e que, rejeitar-lhe uma palavra que seja, seria negar aquele seu caráter transcendente. É preciso, entretanto, dar-nos conta de que entre a época em que foi escrito o pentateuco de Moisés e aquela em que João escreveu o Apocalipse, decorreram séculos e séculos, durante os quais a Humanidade progrediu, civilizou-se e sensibilizou-se, devendo ter ocorrido, paralelamente com esse desenvolvimento, um acréscimo correspondente nos valores morais da Revelação Divina, como de fato ocorreu. Por outro lado, sendo o progresso constante e infinito, essa revelação, necessàriamente, também deve ser ininterrupta e eterna, não podendo haver cessado, por conseguinte (como alguns o supõem), com o último livro do Novo Testamento. Certo, sendo Deus a perfeição absoluta, desde a eternidade, “sempre revelou o que é perfeito — como lembra um renomado pensador contemporâneo —, mas os recipientes humanos da antigüidade receberam imperfeitamente a perfeita revelação de Deus, devido à imperfeição desses humanos recipientes, porqüanto, o quer que é recebido, é recebido segundo o modo do recipiente. Se alguém mergulhar no oceano um dedal, vai tirar, não a plenitude do oceano, mas a diminuta fração correspondente ao pequenino recipiente do dedal. Se mergulhar no mesmo oceano um recipiente de litro, vai tirar da mesma imensidade medida maior de água. O recipiente não recebe segundo a medida do objeto, mas sim segundo a medida do sujeito. Na razão direta que o sujeito recipente ampliar o seu espaço, a sua receptividade, receberá maior quantidade do objeto”. Aos homens das primeiras idades, extremamente ignorantes e incapazes de sentir a menor consideração para com os semelhantes, entre os quais o único tipo de justiça vigente era o direito do mais forte, não poderia haver outro meio de sofrear-lhes os ímpetos brutais senão fazendo-os crer em deuses terríveis e vingativos, cujo desagrado se fazia sentir através de tempestades, erupções vulcânicas, terremotos, epidemias, etc, que tanto pavor lhes causavam. O sentimentto religioso dos homens teve, pois, como ponto de partida, o temor a um poder extraterreno, infinitamente superior ao seu. E foi apoiado nisso que Moisés pôde estabelecer a concepção de Jeová, uma espécie de amigo todo-poderoso, que, postando-se àfrente dos exércitos do povo judeu, ajudava-o em suas batalhas, dirigia-lhe os destinos, assistia-o diuturnamente, mas exigia dele a mais completa fidelidade e obediência, bem assim o sacrifício de gado, aves ou cereais, conforme as posses de cada um. Era como levar os homens à aceitação do monoteísmo e encaminhá-los a um princípio de desapego dos bens materiais, que tinham em grande apreço. O Velho-Testamento oferece-nos um relato minucioso dessa etapa da evolução humana. Vê-se, por ali, que “o Deus de Abraão e de Isaac” e uma 9 divindade zelosa dos israelitas, que faz com eles um pacto (Êx., 34:10), pelo qual se compromete a obrar prodígios em seu favor, mas que, ciumento, manda passar à espada, pendurar em forcas ou lapidar os que se atreva.m a adorar outros deuses (Êxodo, capítulo 32 versículo 27; Números capítulo 25 versículo 24; Deuteronômio, capítulo 13) e, com requinte de um znestre-cuca, estabelece como preparar e executar os holocaustos em Sua memória OU pelos Pecados do “seu” povo (Lev., Capítulos 1 a 7). Por essa época, conquanto fossem, talvez, os homens mais adiantados espiritualmente os judeus não haviam atingido ainda um nível de mentalidade que lhes permitisse compreender que, malgrado a diversidade dos caracteres físicos e culturais dos terrícolas, todos pertencemos a uma só família: a Humanidade. E Porque não Pudessem assimilar lições de teor mais elevado a par das ordenações de Moisés especificamente nacionais que tinham por objetivo leválos a uma estreita solidariedade racial e regras outras, oportunas porém transitórias que servissem para discipliná-los durante o êxodo, receberam também a primeira grande revelação de leis divinas — o Decálogo - que lhes prescrevia o que não deviam fazer em dano do próximo. Chegou o momento, todavia, em que a Humanidade devia ser preparada para um novo avanço e... 10 4 A Progressividade da Revelação Divina – 2º “... Surgiu o Cristo, proclamando: “Sede perfeitos, porque perfeito é o vosso Pai celestial.” Não fora nada fácil fazer que os homens, contrastando seu orgulho odiento, limitassem seu direito de vingança e, vencendo seu forte egoísmo, se dispusessem a levar seus melhores bens ao templo, para oferecê-los em sacrifício. Neste novo passo, entretanto, a dificuldade é bem maior: O Criato pedelhes que renunciem a qualquer espécie de desforra; que, às ofensas recebidas, retribuam com o perdão e a prece pelos ofensores; e que se sacrifiquem a si mesmos em benefício dos outros, até mesmo dos inimigos! Para conduzi-lOS à realização de tal magnanimidade, dá-lhes então uma doutrina excelsa, em que Deus já não é aquele ser facciOSO, que faz dos israelitas “a porção escolhida” dentre todos os povos (Ex, 19:5), mas sim o Pai “nosso,” isto é, de todas as nações e de todas as raças, porque para Ele “não há acepção de pessoas” (Atos, 10:34; Rom., 2:11). Ante essa estupenda revelação, desmoronam, diluem-se todas as diferenças do antigo concerto. Já não há Judeus e gentios sacerdotes e plebeu senhores e escravos Todos são iguais, porque filhos do mesmo Pai justo e. bondoso, que nos criou por Amor e quer que todos sejamos partícipes de Sua glória. São freqüentes, no Evangelho, as referênciaas do Cristo a essa irmandade universal tão em contraposição ao sectarismo estreito da legislação moisaica. Sirva-nos de exemplo apenas a seguinte: Certa ocasião, quando pregava foi interrompido por alguém que lhe disse: “Eis que estão, ali fora, tua mãe e teus irmãos, os quais desejam falar-te” Ao que ele respondeu: “Quem é minha mãe? e quem são meus irmãos!” E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: “Eis aqui. minha, mãe e meus irmãos; Porque todo aquele que fizer a Vontade de meu Pai que está nos Céus, este é meu irmão, minha irmã, e mãe.” (Mat, 12: 46-50) Contrariamente ainda à expectativa dos judeus, que sonhavam com as delicias de um reino terrestre, de que teriam a hegemonia pois a isso se cingiam suas esperanças, o Crsto anuncia-lhes algo diferente — “o reino dos céus”, ou seja, uma vida de felicidade mais intensa e mais duradoura, nos planos espirituais, de cuja existência nem sequer suspeitavam! Esse reino, porém, não pode ser tomado de assalto, à força. Para merecêlo, cada qual terá que, em contrapartida, edificar-se moralmente, o que vale dizer, pôr-se em condições de ser um de seus súditos. Então nos instrui, solícito, no maravilhoso Sermão da Montanha: Bem-aventurados os pobres de espírito —os humildes, os que têm a candura e a adorável simplicidade das crianças —, porque deles é o reino dos céus Bem-aventurados os brandos e pacíficos — os que tratam a todos com afabilidade, doçura e piedade, sem jamais usar de violência —, pois serão chamados filhos de Deus... Bem-aventurados os limpos de coração —os que, havendo vencido seus impulsos inf eriores, não se permitem qualquer ato, nem mesmo uma palavra, acrescenta ainda: “Não queirais acumular tesouros na terra. 6: 19-20) * ConquantO estas normas de ética datem de há quase dois milênios. que está nos céus. larga-lhe também a capa. e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. e vir chuva sobre justos e injustos Porque. se não amais senão os que vos amam. questão 627) E foi certamente prevendo isso que. a seu turno. onde a ferrugem e a traça os consomem. para serdes filhos de vosso Pai. Dá a quem te pede. se alguém te ferir na face direita. mas formai Para Vós tesouros no céu. Ao que quer demandar Contigo em juízo para tirar-te a túnica. que recompensa haveis de ter? Não fazem os Publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os Vossos irmãos que fazeis nisto de especial? Não fazem também assim os gentios ?“ (Mat. vai com ele ainda mais outros dois mil.. Bem-aventuradoS OS misericordiosos —os que perdoam e desculpam as ofensas recebidas e. capítulo 5) Ressaltando a superioridade do anunciado reino celestial sobre as Posses e os gozos materiais. dizem-nos os Espíritos do Senhor. sem guardar quaisquer ressentimentos. e orai pelos que vos perseguem e caluniam.” Amai os vossos inimigos. antes.. pois eles verão a Deus. e onde os ladrões não os desenterram nem roubam.. resistais ao que Vos fizer mal. pois. oferece-lhe também a outra. se mostram sempre dispostos a ajudar e a servir aqueles mesmos que os magoaram ou feriram —. fazei bem aos que vos têm ódio.. obterão misericórdia. o qual faz nascer o seu sol Sobre bons e maus. “poucOS são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam”. que possa ofender o próximo em sua honorabilidade —. (Capítulo 1.11 ou o menor pensamento impuro. e onde os ladrões os desenterram e roubam. . E se qualquer te obrigar a ir Carregado mil passos.” (Mat. onde não os consome a ferrugem nem a traça. “Não. Se me amais. 16) Diante disso. porém. Jesus. crêde também em mim. vo-lo enviarei. dizendo-lhes: “Não se turbe o vosso coração. porque não falará por si mesmo. 15. estejais também. Capítulos 14. Não se tratava. Ora. onde o episódio de Pentecostes vem narrado. de .” E após dar-lhes outras instruções. da realização da promessa quanto à vinda do Consolador. mas dirá tudo que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que estão para vir. nenhum ensino especial lhes foi ministrado. de fato. porém. nessa ocasião. o Consolador não virá a vós. Vejamos porque: Segundo os textos evangélicos que vimos de transcrever. nem o conhece. se eu não for. se eu for. o que só se daria quando viesse o Consolador? Ensina a Teologia tradicional que esse Consolador já teria vindo no dia de Pentecostes. O Consolador. para verificar que nada de novo lhes foi dito. pois. basta ler Atos. Depois virei outra vez e tomar-vos-ei para mim mesmo. vós o conhecereis. porque ele ficará convosco e es­ tará em vós. se o Cristo não dissera tudo quanto tinha a dizer. entender certas verdades. a fim de que.” (João. já haviam esses mesmos homens alcançado as luzes necessarias à compreensão do que ele deixara de dizer? Só mesmo quem desconhecesse por completo a natureza humana poderia admitir tal hipótese. para que fique eternamente convosco. aquele Espírito de Verdade. O Espírito de Verdade.12 5 A Progressividade da Revelação Divina – 3º Ao soar a hora de sua saída deste mundo. se o Cristo não dissera tudo que tinha a dizer. mas vós não o podeis suportar agora. como podem as religiões que se fundamentam exclusivamente na Bíblia afirmar que têm a posse da verdade total. será que. algumas semanas depois. em colóquio amoroso com seus discípulos. o Espírito de Verdade. Ainda tenho muito que vos dizer. porque os homens não estavam em estado de compreendê-las”. a missão do Consolador seria “ensinar aquelas coisas que Jesus não pudera dizer. a quem o mundo não pode rece ber. Credes em Deus. vou a aparelhar-vos o lugar. procura confortá-los. repete-lhes: “Convém-vos que eu vá. onde eu estiver. vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que vos tenho dito. porque o não vê. Talvez se diga que precisamente para dar-lhes esse entendimento é que descera o Espírito Santo sobre os apóstolos. mas. que lhes abriram as inteligências e provocaram a eclosão de suas faculdades medianímicas. Estará certa? Nesse dia. Na casa de meu Pai há muitas moradas e. Mas. porque nem mesmo seus discípulos podiam. ainda. que é o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome. capítulo 2. pois. Quando vier. A admitir-se ainda que eles tivessem recebido alguma revelação particular. ele vos ensinará todas as verdades. bem como “fazer lembrar tudo o que fora ensinado por ele”. antes deixou MUITO para ser revelado posteriormente. guardai os meus mandamentos e eu rogarei ao Pai que vos envie outro Consolador. necessárias à tarefa que iriam desempenhar. exortando-os à prática do amor universal. foram os apóstolos influenciados pelas potestades do Alto. conforme o preceito que lhes dera. dividiu o Cristianismo em numerosas seitas. Os cinquenta dias que decorreram da ressurreição ao Pentecostes. o que se sabe é que a interpretação contraditória dos ensinos do Mestre. seriam poucos. entretanto. cada uma delas se supondo proprietária exclusiva da. empenhando-se em lutas impiedosas e cruentas. Muito ao contrário disso. obscuros ou omissos do Evangelho. para que houvessem esquecido as palavras do Mestre e se fizesse preciso “recordá-las”. as quais. então deveriam ter ficado aptos a elucidar todos os pontos dúbios. im­ puseram à Humanidade o sacrifício de milhões e milhões de vidas. igualmente. Não sendo exato que o Consolador tenha sido enviado no dia de Pentecostes. antes de ascender aos céus. permaneceu ele cá na Terra.13 que as Escrituras não nos dão noticia. durante quarenta dias. desde os primeiros séculos. verdade. assim como não seriam suficientes para dar aos homens os conhecimentos que só podem ser adquiridos a longo prazo. manifestando-se aos discípulos. é de perguntar-se: Teria ele aparecido em outra ocasião? Quando? . tanto mais que. conforme ficou demonstrado. incompreensíveis e falsos que. “de onde vem. personifica uma doutrina eminentemente consoladora. questão 628) Às idéias vagas e imprecisas da vida futura. O Espiritismo veio revelar-nos. com uma lógica irretorquível. pode permanecer para sempre conosco. possui condições para realizar todas as promessas do Consolador. quais as diferenças de aptidões . aviva a crença. que o sofrimento Pode ser vencido pelo arrependimento SIncero e a devida reparação dos males cometidos por via da lei das vidas sucessivas. na época oportuna. destino esse feliz ou desgraçado. porqüanto não existem abismos intransponíveis a separar-nos definitivamente uns dos outros. mas segundo o grau de pureza e perfeição adquirida. e estará em vós”. Com efeito. por não falarem à inteligência nem tocarem o coração dos homens. Com isso. para onde vai e porque está na Terra”. sal­ vando-os da degradação. quando assimilada. a natureza e o estado dos seres que o habitam e. pois não as encontrariam nas religiões materializadas erigidas à sombra da cruz. desvenda-nos “as leis que o regem. ao materialismo e. tais religiões. também. todas as aparentes anomalias da vida terrena. transformaram-nos num amontoado de dogmas esdrúxulos. o destino do homem depois da morte”. consequentemente. contidas no Evangelho. acrescenta agora o Espiritismo a demonstração palpável e inequívoca da existência do mundo espiritual. que. Sim. “jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicações tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são dadas. por conseguinte. que não há culpas irremissíveis nem penas eternas. não por se haver crido desta ou daquela forma. dá ao homem o conhecimento exato de si mesmo. não há como deixar de reconhecer — di-lo Kardec — que isto não pode aplicar-se senão a uma doutrina que. desvirtuando completamente os ensinamentos do Cristo. Por ele ficamos sabendo ainda. ao desvario. ao anunciar o Consolador: “para que ele fique eternamente convosco.14 6 A Progressividade da Revelação Divina – 4º Se atentarmos bem para estas palavras de Jesus. porque só ele. Essa nova Doutrina só pode ser o Espiritismo. Ao mesmo tempo que explica e desenvolve tudo quanto Jesus ensinara por parábolas ou em linguagem velada. também no mundo esPiritual há seres bondosos e devotados Cuja missão é Socorrer as almas infelizes guiando-as no conhecimento de Deus. coisas que não puderam ser reveladas antes. Assim como aqui na Terra há criaturas abnegadas e generosas que se dedicam à tarefa de amparar os que se aviltaram nos chavascais do vicio e do crime. O Consolador. viria trazer aos homens as consolações de que iriam precisar. Nem mesmo aqueles que se comprometeram seriamente com a Justiça Divina ficam esquecidos. que todos os que se amam Podem reencontrar-se no Além. acabaram levando-os à descrença.” (Ibidem. porque os tempos não eram chegados. ou em nós. lei sublime esta. assim. que esclarece. suas rela­ ções com o mundo invisível. filosofia e religião. dá-lhes um seguro Ponto de apoio desfazendo a dúvida pungente que pairava em torno da sobrevivência. em seu tríplice aspecto de ciência. pelas consolações que lhe oferece em quaisquer circunstâncias da vida. o verdadeiro Consolador. sem solução de continuidade! Ensejando tão alta visão das coisas. (o Espiritismo) assilnilará sempre todas as doutrinas progressivas de qualquer ordem que elas sejam. e pela radiosa esperança com que o faz encarar o futuro. que se alternam para a realização do progresso. mas gloriosa jornada. pela fé inabalável que lhe comunica. sem desfalecimento. ajuda-o a ganhar paciência e resignação nos mais duros reveses. a Doutrina Espírita faz que o homem empreste menos importância às vicissitudes terrenas. Destarte.. ELE SE MODIFICARIA SOBRE ESSE PONTO. amanhã. assim como. pela perspectiva de felicidade que lhe mostra. infundindo-lhe a necessária coragem para prosseguir. em seguida. etc. Longe de ser um punhado de argila que se agita. as enfermidades e os aleijões congênitos. é o homem um ser imortal. as mortes Prematuras. o Espiritismo é. o Espiritismo. não está fadado a ceder lugar a uma. ao seio da mãe natura. elevadas ao estado de verdades práticas. a seu turno. evolvendo incessantemente através das gerações de um determinado mundo. O ESPIRITISMO JAMAIS SERÁ ULTRAPASSADO. superior à que ele nos trouxe? Responde a isso o próprio Kardec: “Ligado a todos os ramos da economia social. de mundo em mundo. nº 55) . revelação de que a vida nos planos espirituais e a vida corpórea são dois modos de existência. hoje.” “MARCHANDO COM O PROGRESSO. PORQUE.15 intelectuais e morais. aos quais empresta o apoio de suas próprias descobertas. as desigualdades de sorte e de posição social.” (Gên. ao seu destino vário e às muitas dores que o excruciam.. até à perfeição. pelos novos cabedais que dá ao homem. como foi afirmado no primeiro capítulo desta série. outra grande revelação. Que amplitude dá o Espiritismo ao pensamento do homem! Que vastos e esplêndidos horizontes lhe descortina com a. para voltar. SE UMA NOVA VERDADE SE REVELAR. até ao termo de sua longa. * Talvez nos indaguem: Se a manifestação das Leis Divinas é ininterrupta e eterna. ELE A ACEITARÁ. capítulo 1. de fato. e. e quantos problemas possam ser levantados no tocante ao ser. SE NOVAS DESCOBERTAS DEMONSTRASSEM ESTAR EM ERRO SOBRE UM CERTO PONTO. com ferro será ferido”. inclusive católicos e reformistas. tanto no Plano físico. isto é. etc. cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades. O Espiritismo. é por meio delas que os maus se castigam reciprocamente. Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela hegemonia foi e continua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os povos. por isso. Foi. então. são falsos e Insustentáveis. nos lares. Certos fenômenos geológicos por exemplo. agente do Mal. Um dia. dano da Humanidade. buscando-a. dores e prejuízos. que se compreenda isto. que é o Paracleto anunciado pelo Cristo.16 7 O Problema do Mal Desde as mais priscas eras o homem tem observado que. admitir o triunfo do Maligno. e Satanás. esclarece-nos que o Bem é a única realidade eterna e absoluta em todo o universo. Com efeito. em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos. é preciso. Entre estes. é o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e da onipotência sem os quais não poderia ser verdadeiramente. porém. fonte do Bem. em novas reencarnações). sincera e . à mudança de costumes arcaicos. Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem. a melhoria das instituições. Podem ter sido considerados Catastróficos à época em que ocorreram. à queda de tiranos e opresssores. provocando-nos arroubos de admiração. a infalibilidade da Providência Divina frente aos destinos da. Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções intestinas. as nações aprenderão a valorizar a paz. dos séculos ou dos milênios é que farão ressaltar nitidamente. Para. Criação. porque só estes. ao longo dos anos. de comunicações. embora se constituam. só causam aflições. dão ensejo. a idéia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre é geral. havendo até quem afirme que o número dos perdidos é muito maior do que a cifra dos bem-aventurados. considerar não as conseqüências imediatas de tudo quanto observamos. maior liberdade de pensamento e de expressão. à extinção de preconceitos e privilégios iníquos. dolorosos flagelos para as gerações que nelas são envolvidas. ditadas pelo egoísmo. a. Deus. outras existem ou acontecem que são o reverso da medalha. foram eles. consoante o ensinamento: “quem com ferro fere. como na esfera espiritual. mas sim os seus efeitos mediatos futuros. no campo Social. resultando daí. pelo orgulho e outros sentimentos tais. maior conforto nos sistemas de transportes. e que Satanás estaria conseguindo derrotar a Deus. frustrando-Lhe os desígnios de salvação universal. que compuseram os continentes e formaram os oceanos emprestando-lhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam. ao progresso tecnológico e quejandos. sendo O Mal apenas um estado transitório. contrariando os ensinos da Teologia tradicional. Em que pese à ancianidade de tais conceitos. Quando não. diríamos mesmo heréticos. uma justiça mais perfeita. a par das boas coisas que tornam a vida deleitável. ainda que longínquo. induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por duas potestades rivais: — Deus. por seu turno. como de fato se constituem. entretanto. concorre para enriquecer nossa Sensibilidade aprimorar nosso caráter. São as enfermidades. vida. se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade. Porém. Assim também acontece com as nossas almas. a Bondade infinita de Deus! (Capítulo 1. fazer que se nos desabrochem novas faculdades. Criadas simples e ignorantes. as mil e uma Vicissitudes da existência. esplendorosamente. pós vida. através da fraternidade e do solidarismo cristão. Uns riem hoje. e outros. cada qual vai Colhendo Vitórias ou amargando derrotas. nesse autêntico entrevero usando e abusando do livre arbítrio. que agora se exaltam serão humilhados depois. questão 634) . o Espiritismo pela revelação dessa verdade & luz da qual se nos patenteia. Para chorarem amanhã. hão mister de. segundo o grau de experiência conquistada. Tudo. pois. É a luta pela subsistência. o que vale dizer. Bendito seja. mas dotadas de aptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria.17 veementemente. As insatisfações Os conflitos emocionais Os desenganos As imperfeições próprias e daqueles com os quais convivemos Enfim. passar por um processo de burilamento que muito as farão sofrer. neste orbe e em outros. neste caso. praticada por outras pessoas. o Rei dos reis. Como. porém. a Teologia argumenta que. Isto posto. (questão 639. . se. Ninguém. porque não leva em conta os atributos da Divindade. no cumprimento desse dever cívico. direta e pessoalmente. dependendo dos sentimentos que experimentemos e da. supondo-a menos perfeita que a Humanidade. 640 e 641. Exemplificando: poderemos ser enviados à guerra contra a nossa vontade. independentemente de sua Vontade ou por injunções a que teve de submeter-se Nessas condições. Tirarmos vantagem de uma ação má. todavia. autoridade ou de sua influência sobre outrem. questão 637) Colhamos ainda. se originem. então. o homem instruído que pratica uma simples injustiça. Sim. como também pelo mal que tenha ocasionado em decorrência de sua. e nunca à importância de quem a recebe. virtudes e poderio. não obstante o homem seja finito. jamais poderá ser violentado em seu foro íntimo. dos E. defende o Princípio de que a. seremos tanto ou mais culpados do que os assassinos passionais. tanto maior será a nossa responsabilidade.” Em verdade quanto melhor saibamos discernir e mais livremente possamos decidir entre o Bem e o Mal.” (Capítulo 7. forma como ajamos ao cumpri-la. não raro. a culpa maior é dos que hajam determinado tais circunstâncias ou injunções. o respectivo castigo. seremos ou não culpáveis.18 8 A Responsabilidade do Mal Ao justificar o dogma das penas eternas a que seriam condenados os pecadores impenitentes. Pode o mal. “Assim — diz Kardec — mais culpado é. sua culpa se torna infinita pela natureza infinita do ofendido — Deus. do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. porque transfere do agente para o paciente a gravidade do ato culposo. porque um homem sensato certamente nem sequer tomaria em consideração as ofensas que lhe fôssem dirigidas por uma criança ou por um idiota. mais alguns esclarecimentos em torno dessa magna questão. portanto. a tese de que o elemento moral do delito esteja intimamente ligado à qualidade do ofendido e não à resolução e malícia do ofensor. e. responsabilidade pelas mortes e calamidades que dela. isto é. Sustenta.). em L. sentirmos prazer em eliminar nossos adversários ou se agirmos com crueldade. aos olhos de Deus. limitado em sabedoria. Capciosa. não nos cabendo. porque perante a Justiça Divina cada um se faz responsável não só pelo mal que haja feito. Iníqua. ter sido cometido por alguém em circunstancias que o envolveram. Isso ensinou o próprio Jesus. nenhuma. “Perdoa-Ihes Pai. conseqüentemente. quando compelidos por uma ordem formal. infinito deve ser. pois não sabem o que fazem. culpa por toda e qualquer ofensa é sempre proporcional ao grau de conhecimento e à determinação Volitiva de quem a pratica. tese essa capciosa e iníqua. quando suplicou em favor dos que o crucificaram. admitir-se possa Deus consentir sejamos castigados eternamente pelo haver ofendido (infantes espirituais que somos) com fosSa imensa ignorância ou inconsciência? A Doutrina Espírita ao contrário. também. nós. . então somos tão repreensíveis como se o houvéramos praticado. apenas porque nos faltasse ocasião propícia Para tal. pois isso equivale a aprovar o mal. embora oportunidade houvesse de levá-lo a cabo.19 constitui igualmente. para. demonstramos que o Bem já se está desenvolvendo em nossas almas. deixamos de satisfazer àquele desejo. qual se fôssemos os próprios delinqüentes. solidarizando-Se com ele. Nas vezes em que desejamos fazer o mal. falta grave. Se entretanto. mas recuamos a tempo. nem. tornandose piores do que eram. para que lhes pertencessem os méritos dessa glória e também porque só assim a saberiam apreciar devidamente. ignorantes e completamente inexperientes. Com as agruras que lhes são consequentes. os conhecimentos que haverão de conduzi-los à plenitude da sabedoria e da bondade. ainda. poderão degenerar. Em seus sábios desígnios. pelo próprio esforço. carecendo adquirir. os Espíritos estão sujeitos a errar e permanecer estacionários por algum tempo. E muito. cristalizar-se definitivamente em determinado estágio evolutivo. ou seja. de . Nessa escalada. então. poderia tê-los criado já perfeitos e isentos de qualquer trabalho para gozarem os benefícios da perfeição. sofrem tropeços quedas e acúleos que os fazem retornar ao bom caminho. a par dos meios que lhes põe ao alcance para esclarecê-los e atraí-los a si. por isso. são simples. concedelhes relativa liberdade para que realizem. porém. consciência de si mesmo nos embates da Vida. De sorte que passar do estado de inocência. acrescentamos nós. ignorância que vai desaparecendo. se o quisesse. todavia. Deus deseja que todos tenham o merecimento do progresso moral e da bem-aventurança a que se destinam e. pouco a pouco. através do aprendizado em vidas sucessivas. tudo. as mesmas faculdades. os Espíritos se assemelham a inocentes crianças. Perguntam alguns: 1) Se os Espíritos foram criados nem bons e nem maus. constituem experiências que eles vão adquirindo para se conduzirem com acerto no futuro e não mais fugirem ao roteiro que lhes cumpre palmilhar. (questão 634) Diz-nos. diz um refrão popular. paulatinamente. vai-se ampliando e fortalecendo à medida que cada um toma. fê-los apenas perfectíveis. porém.20 9 Os Espíritos Podem Retrogradar? A Doutrina Espírita nos ensina que. não estarão contrastando a afirmação kardequiana de que “os Espíritos não retrogradam”? Respondendo à primeira questão. latentes. com iguais aptidões Para. distanciando-se da retidão (o cumprimento das leis de Deus). diremos que. Destarte. o Bem é a única Realidade Absoluta. os que se desencaminharam. porque uns seguiram o caminho do bem e outros trilharam a senda do mal? 2) Estes. Cada vez. que isso acontece. esses transviamentos temporários. esse sublime desiderato. por sua vez. contrapondo-se à ordem divina que os inipele para a frente e para o alto. o qual. em Conformidade com o enunciado linhas acima. cujo desenvolvimento mais ou menos rápido depende de seu livre arbítrio. sendo o Mal apenas a ignorância dessa realidade. Conforme foi dito páginas atrás. enveredar por ínvios carreiros (os vícios e os crimes). que todos possuem. “Errando também se aprende”. o destino final da Criação. Deus. Insipientes podem eles. isto é. tal qual o filho pródigo da parábola evangélica. jamais. em sua origem. sejam o resultado de progressos realizados em existências pregressas como ensina o Espiritismo Essas diferenças. vamos aprendendo a evitá-las e dia virá em que. no entanto. a Justiça Divina? . desiguais e sem as mesmas aptidões! A que se reduziria neste caso. Advertidos pela Dor a cada falta que cometemos. são reais. à Humanidade. dizem: é porque. Pois bem! O mesmo sucede na conquista da perfeição. porque os resultados obtidos. feliz” é a consequência natural de “ser bom”. em virtude de engano na escolha de certo modo de agir. estabelecida por Deus para a felicidade de todos. milhares e milhares de coisas que tanto conforto e bemestar oferecem. o pesquisador estará evidentemente mais próximo da solução que persegue do que antes de iniciá-las. Em qualquer ramo de Ciência. como não encontram uma causa anterior para justificálas. Os que perfilham doutrinas anti-reencarnacionístas não aceitam que todas as almas sejam criadas “com iguais aptidões para evoluir” e nem aceitam que as diferenças atuais dessas almas. desenvolver a capacidade de discernimento. incontestáveis e ressaltam à vista de qualquer um. Como se sabe. sem o que nenhum avanço seria possível. lhe terão fornecido preciosos subsídios a respeito. senão mesmo de desastres e de sacrifícios cruciantes que afinal se transformaram em grandes e esplêndidos triunfos. mas sim ganhar tirocínio. não significa retrogradar. Deus as tem criado assim. mas.21 total inconsciência para o de culpabilidade. em saber e moralidade. todos haveremos de cumprir a Lei de Amor. são frutos de uma série enorme de fracassos. depois de uma dezena de experimentações diferentes mal sucedidas. indicando-lhe o melhor rumo a tomar. hoje. percebendo que “ser. embora negativos. ajudando-as em guerras de­ fensivas ou de conquista. E os próprios “cristãos”. por outro lado. buscando-lhe o arrimo. também os deuses fossem sensíveis às manifestações do culto exterior. séculos pós séculos. auxiliado pelo povo. ciosos de Sua autenticidade ou de sua hegemonia e. sendo então considerado vencedora aquela que Conseguisse Operar feito mais surpreendente. Em sua imensa ignorância. v. 22 a 40. ali os decapitou. empolgados pelo fanatismo da pior espécie. a ferro e fogo. visto as diferenças. O monoteísmo. Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava). primeiro. Imaginavam-nos. o conforto e a proteção. chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam. o nome do meu Senhor. e a consequente necessidade de recorrer a Alguém. pelo menos. a respeitar-se mutuamente. afinal. porém.22 10 Como Adorar a Deus? Em todas as épocas. impôs-se. Tempos houve em que cada família. esse seja o Deus. a seu modo. Não foi tal. milhares e milhares de “hereges” e “infiéis”. capítulo 18. Diante disso. e seria de crer-se que. Chegada a vez do deus de Israel. cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares. que devorou não apenas a vítima e a lenha. mas até as próprias pedras do altar. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos. Elias agarrou os seguidores de Baal e. tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal. disse Elias a seus antagonistas: “Invocai vós. com esse progresso. os homens sempre imaginaram que. depois de muito tempo. serem apenas quanto à forma de cultuar esse mesmo Deus. agora. Com efeito. cada tribo. em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas. compreendendo que o Deus adorado por todas as religiões é um só. mandando fogo. todos os povos praticaram. e eu invocarei depois. este fêz cair do céu um fogo terrível.” Diz o relato bíblico que por mais que os baamitas invocassem o seu deus. submetendo-a a provas. os nomes dos VOSSOS deuses. adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra. os homens passassem. não hesitaram em trucidar. jamais houve quem não reconhecesse intimamente sua fraqueza. o que sucedeu. para saber-se qual o deus verdadeiro. vez por outra. e o deus que ouvir. Vida pudesse sentir-se honrado . em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados. os deuses tudo faziam pelos seus adoradores. “para maior honra e glória de Deus!” como se Aquele que é o Senhor da. ao politeísmo. Sirva-nos de exemplo o episódio constante do 3º Livro dos Reis. arrastando-os para a beira de um rio. nos transes mais difíceis desta tão atribulada existência terrena. nada conseguiram. e daí a pomposidade das cerimônias e dos ritos com que os Sagravam. contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo. todo-poderoso. atos de adoração a um Ente Supremo. segundo o seu costume. o que demonstra ser a idéia de Deus inata e universal. .. a quem não vê?” (Capítulo 2º. somos de origem divina e integrantes de uma só e grande família. graças à rápida aceitação que a Doutrina Espírita vem alcançando por toda a parte. daqui para o futuro.. Acreditamos. que lhe está próximo como pode amar a Deus. o apóstolo (1 ep. mesmo. Atualmente. E posto que Deus é Amor. 4:20). muito breve haveremos de compreender que todos. pois.23 e glorificado com tão nefandos assassínios. questão 649 e seguintes) . não há como adorá-lo senão “amando-nos Uns aos outros”. como sabiamente nos ensina João. sem exceção. que. o sectarismo religioso começa a derruir. se o homem não ama a seu irmão. bastante enfraquecido. o que constitui prenúncio seguro de melhores dias. nem de horas convencionais. Exemplos: per dão de faltas Cometidas forças para resistir às tentações e aos maus pendores proteção contra os inimigos. Decorre. em todas as Suas manifestações. As petições visam a algo que se deseje obter. por exemplo. mesmo bem. Que é o que se pode pedir? Tudo. A louvação consiste em exaltar os atributos da Divindade. seja ela de ordem material ou moral. longe de ser inútil. por meio das ondas eletromagnéticas. pelas vitórias conseguidas e outras Coisas Semelhantes. anular a Lei de Causa e Efeito. através de ondulações mentais. das palavras mais ou menos bonitas com que seja. se revela detentor da perfeição absoluta. Há-de traduzir-se por um sentimento espontâneo e puro de admiração por Aquele que. da humildade e da fé daquele que a emite. Tal crença seria enganosa. com o propósito de ser-Lhe agradável. inspiração sobre como resolver uma situação difícil. pedir e agradecer. mas pode. Não se creia. a par da Sinceridade e veemência que lhe imprima. cortam o espaço a uma velocidade de 300. ser-Lhe endereçada. que. nem sempre aquilo que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convém. que são os Seus mensageiros e os executores de Sua vontade. paciência e resignação nos transes aflitivos e dolorosos.000 quilômetros por segundo. Tão-pouco dispensa quem quer que seja do uso das faculdades que possui. saúde para os enfermos. visto que Deus é inacessível à lisonja. com vistas à sua felicidade futura. então. A prece não pode. desde que não contrarie a Lei de Amor que rege e sustenta a Harmonia Universal. formulada. não. isto sim. que éo Senhor da Vida. iluminação para os Espíritos conturbados e paz para os sofredores (encarnados ou desencarnados) amparo diante de um perigo iminente. Deus. A eficácia da prece não depende da postura que se adote. por intermédio dos bons Espíritos (Santos). em Sua onisciência e suprema bondade. a prece é recurso de grande . O veículo que conduz a prece até ao seu destinatário é o pensamento o qual se irradia pelo Infinito. à feição das transmissões radiofônicas ou de televisão. segundo a qual cada um deve colher os resultados do que faz ou deixa de fazer. para que os efeitos desejados se façam sentir de imediato e em qualquer circunstância. na busca ou na realização do objetivo pretendido. evidentemente. pelas graças alcançadas.24 11 A Prece “A prece — define Kardec — é uma invocação. Três podem ser os objetivos da prece: louvar.” Deve ser feita diretamente a Deus. mediante a qual o homem entra em comunicação com o ser a quem se dirige. “como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses Apesar dessas restrições. também. Coragem para vencer as contingências terrenas. do lugar onde se esteja. deixa de atender ao que lhe seria prejudicial. entretanto. etc. em benefício próprio ou de outrem. nem do trabalho que Lhe compete. Os agradecimentos obviamente por todas as bênçãos com que Deus nos felicita a existência. que basta orar. pelos favores recebidos. Por outro lado. de modo a que. com a assistência e o socorro dos prepostos de Deus. em recebendo do Alto uma idéia salvadora. é imperioso que façamos a nossa parte. a fácilitemos. quando Lhe suplicamos ajuda para sair de uma dificuldade. quando Lhe exoramos que nos livre da sanha de nossos adversários. rogando-lhe que nos perdoe uma ação má. ou que. e assim por diante. superar necessidades ou minorar tribulações. sempre. sejamos providos daquilo que mais carecemos. quer se trate de remover obstáculos. quando oramos a Deus. mesmo sem derrogar-lhe as leis. pelo menos. nos empenhemos em sua execução da melhor forma possível. é preciso que estejamos efetivamente arrependidos de havê-la praticado e alimentemos o firme propósito de não repetí-la. nem frustrar-Lhe os desígnios.25 valia. Destarte. (Capítulo 2º. estejamos certos. alijando de nossa mente as cogitações e as lembranças que com elas se relacionem dando. haveremos de contar. questão 658 e seguintes) . quando Lhe pedimos ânimo para vencer determinadas fraquezas. que o céu te ajudará”. também. os devidos passos no sentido de desenvolver as Virtudes que lhes sejam opostas. revista-se das qualidades a que nos referimos linhas acima e seja complementada por nós com os movimentos de alma ou com os esforços exigidos pela vicissitude que no-la tenha inspirado. Agindo de conformidade com a máxima: “Ajuda-te. desde que feita com discernimento. é necessário que. é indispensável que tomemos a iniciativa de uma reconciliação com eles. verdadeiro monstro. sômente não o fazendo porque.000 caveiras de vítimas sacrificadas aos deuses ali adorados pelos astecas. Dionísio. Entre os povos Primitivos da América. intentara. antes as rebaixavam ao nível deles mesmos. como prova de amor a Jeová. ou quanto mais interesse tenhamos em conquistar-lhe as boas graças a fim de solicitar-lhe certos favores? Não eram outros os motivos que levavam nossos antepassados a sacrificar às divindades. capítulo 22. em sacrifícios humanos. mas sim por mera ignorância. Segundo relata um escritor do passado. não o escolhemos de tanto maior valor quanto mais estima queiramos testemunhar a esse alguém. por muito tempo. a. esse costume bárbaro deve ter vigorado também. entretanto. porém. só haverem oferecido a essa divindade filhos de escravos estrangeiros. exigia. Zêus e outros deuses. enchiam-na de vítimas e deitavam-lhe fogo. um anjo interveio. Haja vista que. Na Europa. ordenando fôsse suspensa a. também foram praticados séculos pós séculos. erroneamente. até então. Moloque e outros. oferecidos em sacrifício a Saturno. cujas carnes eram queimadas nos altares. às águas do rio Tibre. Como. os sacrifícios humanos. que o holocausto a ser-lhes oferecido seria tanto mais valioso quanto mais importante fosse a vítima. julgavam. sendo que o Gênesis. foram encontradas em um templo cerca de 136. um dos patriarcas do Judaísmo. 300 cidadãos e 200 crianças das melhores famílias de Cartago (África) foram. depois. se bem que em menor número. . imolação. em igual período. nos conta que até mesmo Abraão. visando a aplacar-lhe a ira. transformando-se. Já na Gália. através de Kardec. Na Bretanha. Esclarecem-nos. anualmente. no último instante. matar seu filho único Isaac.26 12 Sacrifícios Compulsando-se a história das religiões. a constituir-se de animais. não podiam concebê-las com os atributos da perfeição. adotava-se o afogamento atirando-se trinta pessoas. Dizem-nos os historiadores que na Grécia. conforme o relato de César. colocavam-nas num altar e abriam-lhe o peito à espada. passaram. que a princípio consistiam em frutos da terra. no século 16. o sacrifício de nada menos que noventa e nove pessoas. O Velho Testamento faz inúmeras referências ao holocausto de vítimas humanas aos deuses Baal. quando nos dispomos a oferecer um presente a alguém. fazia-se uma colossal estátua de vime. mais tarde. quando da conquista do México. por acreditarem que a situa ção penosa em que se encontravam (o sítio da cidade por poderosas hostes conquistadoras) fósse motivado pelo fato de. perder-se na noite das idades. As oferendas. jovens e crianças eram queimadas em piras fúnebres lançados do alto dos penhascos ou chibatados até a morte. para homenagear ou saciar Apolo. que não era por maldade que os homens da Antigüidade procediam dessa forma. O deus cultuado na Zelândia. Na Itália. certa vez. dando-o como prática generalizada entre os povos asiáticos. os mentores espirituais. E explicam: em nossos dias. verifica-se que o oferecimento de sacrifícios àDivindade remonta a um passado remotíssimo. as maceraçôes e as penitências que certos religiosos Continuam a impor-se sem que aproveitem a ninguém A Doutrina Espírita fazendo luz sobre este assunto. e. com o tempo. os deuses haveriam de sentirse muito mais honrados. questão 669 e seguintes) .27 Dai porque nos ofícios sacrificatórios os produtos agrícolas foram. que. As pessoas esclarecidas compreendem agora. ensina-nos que o Único Sacrifício abençoado por Deus é aquele que se faça por amor e em benefício do próximo. com estas oblatas. e que “o melhor meio de honrá-lo. Consiste em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos. em lugar destes. foram substituídos por seres humanos: estrangeiros ou inimigos. como não podem agradar-lhe tão-pouco. tais sacrifícios nunca foram agradáveis a Deus. sacrificar os próprios filhos! É que — supunham —. que.” (Capítulo 2º. preteridos pelos animais. posteriormente. os pais passaram a. por sua vez. conquanto praticados com piedosa intenção. irmãos nossos à condição de párias. enquanto incontáveis hectares de terra permanecem inexplorados. estão dando o melhor de si.” Sujeitar. faz-se mister que cada qual se dedique a um tipo de atividade de acordo com suas aptidões e preferências. sem se deixar influenciar pela vitória de outrem nesta ou naquela carreira. quando bem realizado. Para que o homem tenha êxito no trabalho. O desemprego. assim. constituem provas de que a sociedade se acha mal organizada. Por con­ seguinte. pois é por meio dele que ô homem desenvolve sua inteligência e aperfeiçoa suas faculdades. como se fôssem títulos negociáveis. o crime. Concorrendo. “constitui dolorosa anomalia deixar-se o ser humano em situação de não poder defender-se da miséria. a enfermidade. fá-lo respeitado pela comunidade em que vive. Isso ajudará a gostar dele. em Contrapartida lhes seja exigido que provejam às necessidades próprias e da fanília. mas uma constante satisfação Íntima. Quando se trate de algo automatizado que não permita qualquer mudança. até delinqüir ou morrer. carecendo de reformas radicais que melhor atendam à Justiça Social. e conseqüentemente a fome. para o progresso e o bem-estar social. Como acertadamente disse Constâncio C.28 13 A Lei de Trabalho O trabalho é uma lei da natureza a que ninguém se pode esquivar. Importa. três coisas fundamentais que todos buscamos. desde que desenvolvam um trabalho Prestadio. por fazê-lo cada vez melhor. ofício ou profissão exige determinadas qualidades que nem todos possuem. igualmente se adquira a convicção de que embora apenas alguns Poucos possam ser Professores. o trabalho deve ser assegurado a todos os homens válidos que o solicitem para que. esforçando-se. contribui para dar-lhe a sensação de segurança. sem prejudicar-se. indistintamente. o desabrigo. o remédio é compenetrar-se de que sua função na empresa também é importante. para não ser infeliz. como lhes compete. O trabalho honesto fortalece-lhe o sentimento de dignidade pessoal. etc. a nudez. pelo fato de ser Uma lei natural. portanto. assumindo a atitude daquele modesto operário Cujo serviço era quebrar pedras e que. interrogado sobre o que fazia. De outro lado. é um crime de lesa-humanidade. Quem não consiga uma ocupação condizente com o que desejaria. O desempregado tem direito à vida. nas mãos do Estado ou de uns poucos ambiciosos que os foram acumulando. respondeu com entusiasmo: “:Estou ajudando a construir uma catedral”. porqüanto cada arte. Os governos devem fazer que as terras devolutas ou mal aproveitadas . Como acontece em muitas fábricas modernas. e como tal deve entender-se não necessàriamente o ganho de muito dinheiro. sem precisarem Pedir nem aceitar esmolas. adaptar-se ao trabalho que lhe tenha sido dado. deve. a prostituição. médicos. o Estado só pode castigá-lo pelo roubo se lhe proporciona meios para assegurar a subsistência através do trabalho. Vigil. advogados ou administradores todos. e. mesmo que seja extremamente fácil. engenheiros. ” (Capítulo 3º. Poderiam julgar-se desobrigados de trabalhar. sem outra finalidade que não a de facultar os meios necessários à existência. em abun­ dância. evidentemente não épara que nos entreguemos ao hedonísmo. Em verdade. Isso Constitui uma forma de trabalho que engrandece e enobrece nossa alma. Ë indispensável prestarse-lhes. mas para que movimentemos na prática do Bem. de modo que. a lei de trabalho não isenta ninguém da obrigação de ser útil. Ao contrário Quando Deus nos favorece. porém. conjugando-se. Se o fosse. suficiente para a colimação desse objetivo. entretanto. também. * Os que supôem seja O trabalho apenas um “ganhão pão”. de maneira que Possamos alimentar-nos sem verter o suor do próprio rosto. então todos aqueles que possuíssem tais meios. tornando-a rica daqueles tesouros que “a ferrugem e a traça não corroem. assistência técnica e ajuda financeira. tornem viável a fecundação do solo e a erradicação da indigência que assola tão vastas áreas do mundo. questão 674 e seguintes) . os “talentos” que nos haja Confiado.29 sejam devida-mente cultivadas. Uma distribuição pura e simples de pequenos lotes a homens desprovidos de conhecimentos e de recursos pecuniários para o seu trato não será. nem os ladrões podem roubar. capital e trabalho bem orientados. laboram em erro. que os beneficiários dessa legislação se mantivessem um pouco mais na ativa. pois cá entre nós está-se tornando cada vez mais difícil. mesmo às classes médias. que encontremos. tornando-se desassossegados.” Isto posto. sentindo-se ainda em pleno gozo de suas forças físicas e mentais. Nações existem. quer-nos parecer. tanto a saúde como a paz íntima. ganharem sem produzir. fonte de equilíbrio físico e moral. ao atingirmos certa idade. algum outro interesse que mantenha ocupado o nosso intelecto. o trabalho é medicinal. entretanto. inclusive o Brasil. se cansam de uma coisa e outra. porém proveitosa. Alivia os males da alma. então. sendo. o trabalho deve ser exercido por tanto tempo quanto nos mantenhamos válidos. ao mesmo tempo. diminuamos o ritmo de nossas ocupações ou o peso de nossas responsabilidades. por fim. ao invés de os interrompermos bruscamente. entregandose. Abalizados psiquiatras e psicanalistas afirmam. porém. Que dizer-se. com exato conhecimento de causa. convém que. de vez. através da socialização dos serviços médicos. onde se considera uma conquista social a promulgação de leis previdenciárias que permitem ao homem cruzar os braços com menos de cinqüenta anos de idade. cheios de vitalidade. em diversões. por exemplo. que o afastamento do trabalho de homens prestativos se patenteia danoso. Cremos se trate de erro clamoroso. ao aposentar-nos. outros. com que preencher saudàvelmente nossa vida. depressa caem no fastio. das camadas inferiores. responderam os mentores espirituais incumbidos de lhe ditarem os fundamentos da nova Revelação: “o das forças”. para que boa parte do numerário atualmente despendidO no pagamento de aposentadorias pudesse ser apli­ cado em favor da coletividade. Seria mais justo. adquirindo. como acontece. Mais cedo ou mais tarde. todos haveremos de pagar por isso. pois não há sistema econômico que resista a essa aberração de milhões e milhões de homens. ao alcoolismo.30 14 Limite do Trabalho À pergunta (nº 683) do Codificador: “qual o limite do trabalho?”. uma ocupação leve. à jogatina e a outros vícios que lhes arruínam. dizer: “Tal como o amor. . Cáprio (Ajuda-te pela Psiquiatria) chega a. que “todos os seres humanoS precisam encontrar alguma coisa que possam fazer”. na Inglaterra. Alguns tentam eliminar o vazio de suas horas em viagens. Isso deixa claro que. se é que já não o estamos. se formos homens de negócios.” Frank C. que constituem a maioria de nossa população? Não é só por esse lado. pois “ninguém consegue ser feliz sem que se sinta útil ou necessário a alguém. odontológicos e correlatos. A natureza exige o emprego de nossas energias e aqueles que se aposentam. quase todos. repartindo-as gradativamente com nossos auxiliares ou com aqueles que devam sucedernos. su­ portarem os gastos pertinentes a tais serviços. Se assalariados. como é. irritadiços ou hipo­ condríacos. manteve-se operoso durante cerca de 75 anos. declarou: “Sou o homem mais feliz do mundo. em hipótese alguma. sem nunca ter es tado doente. trabalhou intensamente até à decrepitude. Rockefeller ao completar 90 anos. . malgrado a rudeza do meio em que passou a quase totalidade de sua fecunda existência. tendo começado a trabalhar quando era ainda uma criança. condenar-nos à completa ociosidade. nessa mesma idade. Os dias não são suficientemente longos para que eu Possa fazer tudo que desejo. o fabuloso artista italiano. O marechal Rondon. Goethe acabou de escrever “Fausto”. aos 92 anos de idade. notabilíssimo sertanista brasileiro e um dos grandes benfeitores da Humanidade falecido em 1958. Sou feliz porque posso trabalhar.” E é mesmo. Edison. Miguel Ângelo. deixando patenteadas mais de um milhar de invenções. aos 89 anos ainda continuava produzindo obras de arte.31 Jamais. Indubitàvelmente o trabalho é o segredo da felicidade. Morreu aos 84. Parece-me começar a viver agora. a mais famosa de suas produções literárias. a pior coisa que pode acontecer a alguém. Benjamim Franklin tinha 81 anos quando foi chamado a colaborar na elaboração da Carta Magna dos Estados Unidos. e tudo o que neles há. a par disso. para que. nos 365 dias do ano. a fim de celebrarem a ressurreição de Jesus. mas sim longos períodos milenares. constituindose. que a substituição do repouso no sábado.” Sabe-se. a terra. como alguns ainda. bem diferentes: “Para que descanse o teu escravo. ou o domingo. reservemos pelo menos um dia para o repouso.32 15 O Repouso Nas respostas que deram às questões de ns. em Deuteronômio. tomaram o hábito de reunir-se também no primeiro dia da semana judaica (domingo). que os seis “dias” da criação não foram dias de 24 horas. baseia-se na lei natural.” Julgamos interessante elucidar. de sol a sol. e esta o que recomenda é que após seis dias de trabalho. nem teu filho. Os que advogam a observância do sábado. nem o peregrino que vive de tuas portas para dentro. dedicados ao provimento do indispensável ao nosso bem-estar corporal. Nesse dia não farás obra alguma. Seis dias trabalharás e farás todas as tuas obras. para consegui-los. e mais: que “oprimir alguém com trabalho excessivo é uma das piores ações”. O Decálogo. nesse dia. pelo domingo. o dia de descanso do Senhor teu Deus. concedam o merecido descanso igualmente ao elemento servil. nem tua escrava. o 4º mandamento preceitua: “Lembra-te do dia de sábado. nossos amigos espirituais nos esclarecem que “o repouso é uma lei da natureza. inclusive aos animais. como era observado entre os judeus. supõem. Além disso. Com efeito. apela-se. sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha”. o que importa é que o façamos segundo o espírito da Lei. Lembra-te de que tam­ bém serviste no Egito.” Como se vê. e a tua escrava. simplesmente. talvez se apóiem nas razões anexas do referido mandamento. nesta oportunidade. agora. formuladas por Kardec. era o máximo que. ninguém o ignora. apenas o domingo passou a ser observado por eles. servos e animais. Isto. Eles continuavam a frequentar as sinagogas aos sábados. não hesitavam em so­ brecarregar familiares. Com o decorrer do tempo. como atualmente é de uso entre nós. como tu também descansas. mas. nem tua filha. porqüanto todos precisãm de repouso para o refazimento de suas energias. nem teu escravo. nem tu. para o santificares. e descansou no sétimo dia: por isso o Senhor abençoou o dia sétimo. obrigando-os a penosas jornadas de trabalho. as reflexões aduzidas para recomendar esse mandamento são outras. entretanto. Isso começou com os primeiros cristãos. isto é. e que de lá te tirou o Senhor teu Deus. e a folga semanal não é mais que uma questão de higiene. e o santificou. 682 e 684. aqui não se alude ao sábado como sendo o dia em que o Criador teria descansado de Sua obra. conforme o Êxodo: “Porque o Senhor fêz em seis dias o céu. nem teu animal. Assim sendo. quer guardemos o sábado (sábado significa descanso). o mar. naquela época. podia obter-se de homens embrutecidos e materializados cujos ideais se concentravam unicamente na conquista de bens terrenos e que. grave transgressão do Código Divino. carece de importância. foram deixando de comparecer às sinagogas e. para os sentimentos de caridade dos judeus. consagrando-o ao cultivo dos valores espirituais. mesmo. con­ sequentemente. . mas o sétimo dia é o sábado. aliás. . o estar-se generalizando a chamada “semana inglesa”. em pleno século 20. como se fôssem heróis dignos dos maiores aplausos. pois. cuidemos porém. com cinco dias de trabalho e dois de descanso além das férias anuais. muitos homens. que lia alguns decênios já se Constitui um direito universal. já que o trabalho é uma bênção.33 Por incrível que pareça. e. Sim. ao revés. antes que esses males nos conduzam à neurastenia ou ao esgotamento nervoso. exigindo-nos um gasto excessivo de energias físicas e mentais. continuam a impor-se tal regime (estendendo-o a outrem. Trabalhemos. quando. só merecem lástima. porque hoje que a vida urbana se caracteriza por uma agitação contínua. a necessidade que todos temos de repousar periodicamente tornou-se. daí. e ainda se jactam disso. “até o limite de nossas forças”. dominados pela ambição. de evitar a exaustão e a estafa. maior. sempre que lhes permitam dar largas ao seu poder de mando). como de fato há. e que obstá-la seria grave pecado. por reduzir as oportunidades de que os desencarnados necessitam para expiar delitos do passado. para satisfação da sensualidade”. isso não quer dizer. ex. que o desenvolvimento excessivo de determinadas plantas ou animais se revele nocivo e perigoso. a Doutrina Espírita nos autoriza a afirmar que.. Os que se atêm à letra das Escrituras.” Portanto. pautada nos princípios da Moral e da Justiça. deva ser livre e ilimitada. dignifique o nome de pai ou de mãe com que Deus lhe honra a existência. A questão nº 694 do livro que estamos estudando diriame todas as dúvidas sobre o assunto. esses tais não agem de conformidade com o ponto de vista que defendem. evitando a concepção. objeto. a reprodução dos seres vivos é lei da natureza e preenche uma necessidade no mecanismo da Evolução. a par do amor a Deus. inclusive a humana.. entretanto. em havendo razões. pode o homem limitar sua prole. reprodução. ou seja. reprodução das espécies. Sem dúvida. cujo efeito consiste em obstar a. convém repetí-lo. mas que. pois condena tachativamente apenas “os usos. via de regra. que. No que tange ao controle da natalidade humana. . de modo que se tornem elementos úteis a si mesmos. Há quem não admita nenhum motivo para a limitação dos filhos. E preciso se reconheça que o lar não éum estabelecimento destinado a reproduzir seres humanos em série. na suposição de que tal medida se constitua um entrave à lei de progresso. bem compreendida por todos. p. pois “a ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da natureza”. incutindo nos filhos. realmente justas para isso. pode-se perfeitamente impedir-lhes a reprodução. dão-se por satisfeitos e. mas sim um santuário-escola. vêem nessas palavras uma lei divina. mas até mesmo evitar qualquer quantidade de filhos. deixando claro que pode haver. o que dele se espera não é apenas que procrie por força do instinto sexual. tal o ensino que nos chega através de Kardec. da Sociologia. até hoje. onde os pais devem pontificar como plasmadores de nobres caracteres. estabelecendo que a. dois ou três filhinhos. “O homem se distingue dos animais —disseram ainda os mentores da Codificação — por obrar com conhecimento de causa. da Genética. Acontece. e de acalorados debates entre teólogos e moralistas de várias tendências. de complexas pesquisas nos campos da Biologia. qual mero reprodutor. o planejamento da família. à família e à sociedade.. já que eles próprios. inúmeros casos em que se faz necessário não só restringir. porém. ao terem um. ficam por aí. uma vivência sadia. hoje. “contrariando a lei da natureza”. sem penetrar-lhe o espírito. etc. Tudo depende da finalidade que se tenha em vista.34 16 A Lei de Reprodução A ordenação bíblica — “crescei e multiplicai-vos” — não tem sido. da Farmacologia. seja proibido ao homem adotar certas medidas para a regular. Dado. a tê-los numerosos. preventiva ao invés de curativa. aos olhos de Deus. numa progressão geo­ métrica que não acabaria mais. pois contribui para aumentar o número dos desajustados. se existem tantos seres precisando retornar à Terra. absolutamente não ajuda o adiantamento da. õbviamente se tornam tanto mais repreensíveis quanto maiores sejam as suas possibilidades de concebê-los. Assim. e daí porque• a medicina terrena tende a ser. também. exigiriam outras tantas oportunidades de reajuste e assim sucessivamente. que é a mais sacrificada). ou físicamente bem dotadas. por sua vez. é preferível ter poucos filhos e fazer deles homens de bem. é preci­ samente porque faltou a muitos. (Capítulo 4º. Porque não haveria de ser assim. infelizes que.recursos econômicos. como acontece amiúde. Quanto aos casais que evitam ou limitam os filhos. Terra. “Mais vale prevenir que remediar”. etc. para provações reparadoras. a orientação espiritual que só um lar bem constituído pode oferecer. antes o retarda. que julga segundo as intenções de cada um. reza um refrão da sabedoria popular. nas encarnações anteriores. haveriam de compreender outrossim que. visto se acharem endívidados perante a Justiça Divina. dos marginais e dos criminosos de toda sorte. cada vez mais. seus.35 Se raciocinassem um pouquinho. mas abandoná-los àprópria sorte. atendendo tão só ao comodismo e quejandos. mas votadas ao abandono. e que lançar ao mundo proles enfermiças e deficientes. no universo moral? O preceito com que abrimos este estudo não determina o fator da multiplicação dos casais. fator esse que pode e deve variar de acordo com a robustez dos genitores (principalmente da mãe. criá-los e educálos. questão 686 e seguintes) . tanto neste mundo como no outro. que. os atentados à vida fetal acarretam. pois. Em consequência dessas perdas sanguíneas.36 17 O Aborto Conforme deixámos enunciado no capítulo anterior. senão imperiosa. com evolução geralmente aguda e ainda vários estados septicêmicos de alta gravidade. comumente fica impune pela justiça terrena. que sobrevém após um período de incubação de 4 a 8 dias. que passem despercebidas. As hemorragias externas tanto podem aparecer logo após a prática do aborto como passado algum tempo e perdurar ainda por longo período. se repetido com frequência. e acreditamos tal aconteça no mundo inteiro. porém. executado em locais desprovidos de completa higiene e assepsia. é preferível sacrificar o primeiro e não a segunda. Nesta circunstância. conquanto se inclua entre as contravenções penais de todas as nações civilizadas. nunca á interrupção da gravidez. Yves Lezan. e o que é de estarrecer. ou por passagem do cáustico através das trompas e queda dentro da cavidade abdominal. só são escusáveis os usos que objetivem impedir a concepção.” Esclarece. dois são interrompidos pelo aborto provocado. isto constitui crime. b) irregularidades nas regras. terríveis consequências. esclarece-nos que a provocação do aborto só não é considerada culposa — esta a ressalva a que aludimos linhas acima — quando o ser em formação ponha em perigo a vida de sua mãe. Segundo o Dr. razões existem que justificam ou tornam aconselhável. tais como peritonites. que será propor­ cional ao volume total do sangue perdido. sempre. optando. “sendo o aborto provocado uma prática clandestina e. que tanta luz tem feito em torno deste magno assunto. não raro. entre dois males. a limitação dos filhos. ou um outro processo anticoncepcional que venha a ser descoberto pela Ciência. Fora disso. o referido especialista. entretanto. desde as mais priscas eras. Não seria demais falar no possível aparecimento do tétano. isto é. o abortamento pode provocar: a) “inflamação dos ovários. desde que reconhecidamente inofensivo à saúde. o que exigirá tratamentos especializados. com cólicas durante e após o período menstrual. quando a nascituro já e um ser vivo a palpitar no ventre materno! Essa prática. que em cada três casos de gravidez. nem sempre coroados de êxito. sinais de anemia. salvo uma única hipótese. qual a abstinência do intercurso se­ xual nos períodos fecundos da mulher. pode trazer gravíssimas conseqüências oriundas de infecções. Lamentàvelmente. especialista em ginecologia. o que equivale a um tácito consentimento. depois do quarto mês. que se manifesta por meio de dores ao nível do baixo ventre e corrimento. que. surgem. e dos mais nefandos. O Espiritismo. na grande maioria das vezes. Releva frisar. c) . mesmo nos casos em que o controle da natalidade se imponha como absolutamente necessário. quer por pequenas perfura ções no útero. este tem sido o recurso escolhido pela maioria da Humanidade para frustrar os nascimentos não desejados. pelo menor. Apurou-se recentemente em diversas regiões brasileiras. secundàriamente. mais. exigindo por vezes transfusões de sangue. por não dar à vítima qualquer possibilidade de defesa. ” (André Luiz: “Ação e Reação”) Não terminam aí. essas entidades passam a votar profundo ódio aos que se recusaram a recebê-los em novo berço e. d) esgotamento. são ainda mais de temer. os funestos resultados do aborto provocado. demandando o Além para responder. não raro. o vaginismo. castigando-os sem dó nem piedade. os reflexos da criminosa irresponsabilidade dos pais (em especial das mães). as leis de Deus. aguardam. o enfarte uterino. e) perturbações nervosas. predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades. muita vez. para então tirarem a forra. em longos processos obsessivos. com os quais. agora. Diante disso. rechaçando aqueles que deveriam retornar à carne. que façam o trespasse. desencarna. Talvez haja quem indague: E a Providência Divina permite fiquem os que fugiram ao cumprimento de suas obrigações. ou traidos. permite. quando não lhes infernizam a existência terrena. todavia. porque cada um precisa car pir seus próprios erros. a tumoração cancerosa. Sentindo-se roubados. a sofrer alterações deprimentes no centro genésico de sua alma. o que a respeito nos diz um médico do Mundo Maior: “A mulher que o promove ou que venha a coonestar semelhante delito é constrangida. sequiosos de vingança. haviam assumido sagrados compromissos. não convém refletir maduramente se vale a pena pagar tão alto preço por leviandades dessa ordem? .” Ouçamos. perante a Justiça Divina. quais sejam a metrite. à mercê da sanha desses Espíritos vingativos? Sim. flagelos esses com os quais. por leis irrevogá veis. f) envelhecimento precoce. como deve. sem o que jamais aprenderia a respeitar. pelo crime praticado. etc. Espiritualmente. a metralgia.37 a frigidez sexual e a esterilidade definitiva da mulher. Com efeito. A poligamia. por sua vez. creches. se mostram capazes de total devotamento ao próximo. pela predominância do apetite carnal sobre o senso moral de homens ricos. É verdade que ainda se mantém nas populações muçulmanas do Norte da África e em grande parte da Ásia. tanto em suas ordens masculinas como femininas. Tanto não corresponde aos desígnios da Providência que jamais foi possível generalizar-se. mas tende a desaparecer. questão 695 e seguintes) . É ainda por esse modo que os pais podem dar aos filhos tudo o de que eles necessitam para um desenvolvimento normal. os sacrifícios daqueles sacerdotes e freiras que. (Capítulo 4º. constituem exemplos grandiloqüentes de amor sublimado. face à relativa igualdade numérica dos sexos. conservado em nossos dias como uma disciplina no seio da Igreja Católica Romana. pois revela forte egoísmo. sempre. nem assim pode o celibato ser considerado o estado ideal. no sentido de preparar a família para uma convivência de paz. desde a mais remota antiguidade. tendo por base a união constante dos cônjuges. não há como deixar de reconhecer que foi. em asilos. no futuro. não só nas horas de regozijo como nos momentos difíceis e dolorosos. com o aperfei­ çoamento das instituições. sem problemas de personalidade. o (a) ce­ libatário (a) alimente o sincero propósito de melhor servir à coletividade. ser o casamento monogâmico o instituto que melhor satisfaz aos planos de Deus. orfanatos e em misteres outros. é e será. que os eleva muito acima da craveira comum dos terrícolas. monges budistas e iniciados essênios. de bá muito que se tornaram condenáveis pelos códigos de Direito dos povos de cultura mais avançada. permite se estabeleça entre ambos uma estreita solidariedade. alegria e fraternidade. observando a castidade. introduzido em certa época. é um costume que.38 18 Celibato. a monogamia. entre persas e babilônicos. seja. A ordem natural e inerente à espécie humana é. visto que. que se dão ao luxo de sustentar várias esposas e numerosa prole.). etc. Contudo. se adotado para escapar às canseiras e responsabilidades da família. dadas as condições e as finalidades da vida neste mundo. altamente meritório. o celibato a contraria frontalmente. já não se justifica. aliás. renunciando às satisfações e ao aconchego doméstico. em determinadas circunstâncias da evolução social. em que dão o máximo de si sem pensar em si. então. Poligamia e Casamento Monogâmico Qual desses três estados o mais conforme à lei de Deus? À luz do Espiritismo. As demais formas de associação dos seres. à Humanidade inteira. na assistência espiritual. desde que. Forçoso concluir. conquanto possam ter sido autorizadas ou consentidas durante algum tempo. nos serviços hospitares. notadamente no mundo ocidental. por motivos econômicos (o aumento de braços para o trabalho grátis nos clãs). Quanto ao celibato de religiosos (praticado. nas tarefas educacionais. pouco a pouco. estado esse que há-de estender-se. incontestàvelmente. concluir que. habilitando-o. poder-se-ia. Aceita a.39 19 A Lei de Conservação O instinto de conservação. fortalecemlhe a razão. e. seja aperfeiçoando cada vez mais as técnicas de cultivo da gleba. frequentemente se desmanda. tornando-se. Fôssem os homens menos egoístas. no sentido de descobrirem outras fontes de alimentos. que. vai-se desenvolvendo à medida que os seres animam organismos mais complexos e melhor dotados. porém. Deus sempre lhes facultou os meios de conservá-la. enquanto outros carecem do mínimo necessário. no exercício de seu livre arbítrio. A par disso. de modo a conseguirem aumento de produção. no reino hominaL. para matar a fome. Maquinal entre os espécimes situados nos primeiros degraus da escala evolutiva. . na qual uns se regalam com o supérfluo. a distinguir o uso do abuso. fazendo que a terra produzisse quanto fôsse suficiente à mantença de todos os que a habitam. Sabendo. de fato. lei de conservação não seria cumprida. cumpre aos homens aplicarem-se no estudo dos problemas que os afligem a fim de dar-lhes a devida solução. pela própria constituição somática com que modelou os seres. premissa de que a conservaçao da vida é um dever imposto ao homem pela lei natural. lhe seja lícito. resultando daí muitas das doenças que o excruciam e o conduzem à morte. limite esse que. Mas como nada se perde na economia da. é inerente a todos os seres vivos. entretanto. em certas regiões do globo. sacrificar um seme­ lhante? Não! Isso fôra homicídio e crime de lesa-natureza. restringiu-lhes o gozo da alimentação ao limite do necessário. Em tal caso. cometendo toda sorte de excessos e extravagâncias. houve Deus por bem imprimir a esse ato o atrativo do prazer. nessas contingências. menos fértil. Poder-se-á dizer que. lhes asseguraria uma saúde perfeitamente equilibrada. Além disso. finalmente. o solo. Tais calamidades ocorrem. já que a terra e eles mesmos pertencem a uma só familia: a Humanidade. não produz o bastante para a nutrição de seus habitantes e que o grande número de pessoas que nelas sucumbem vitimadas pela fome parece desmentir haja uma Providência Divina a provê-los dos recursos com que cumprirem a lei de conservação da vida. prematura­ mente. antes morrer que matar. se as criaturas tivessem que usar os frutos da terra apenas em função de sua utilidade. inteligente e raciocinado. se observado. dando a cada coisa um sabor especial que lhes estimulasse o apetite. prestar-se-iam mútuo apoio. assinalando novas etapas no progresso da civilização. por ser uma das manifestações da lei natural. esforços esses que lhes engrandecerão a inteligência. pois grande será o nosso merecimento se formos capazes de tão sublime renúncia por amor ao próximo. mas não por culpa de Deus. Sendo a vida orgânica absolutamente necessária ao aperfeiçoamento dos seres. em circunstância extremamente crítica. O homem. seja entregando-se a pesquisas. não tivessem apenas a máscara de religiosos. os sofrimentos decorrentes dos desregramentos que comete dão-lhe experiência. a. a quem não se pode imputar as falhas de nossa sociedade. evolução. (Capítulo 5º. aqui vai. para a elevação da alma? Segundo a Doutrina Espírita. deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem ?“ A resposta que obteve. sufocai o vosso egoísmo. observadas por alguns seguidores de várias religiões. que sempre foi e continuará. Objetivando elucidar. pois solapam as forças vitais de seus praticantes. que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração. todos os usos que prejudiquem a saúde. o melhor possível.40 E as privações voluntárias. longe de apressarem o desenvolvimento espiritual. perguntou Kardec a seus mentores: “Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários. seriam meritórias aos olhos de Deus? Contribuiriam. este assunto. . efetivamente. retardam-no. questão 702 e seguintes). clara e precisa. sendo o único caminho do progresso. como fecho de ouro a estas linhas: “Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. mortificai o vosso orgulho. e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século”. que nenhuma utilidade tenham para outrem. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo. diminuindo-lhes a disposição para o trabalho. 41 20 A Procura do Bem-Estar Pergunta nº 719 de “O Livro dos Espíritos”, de Kardec: “Merece censura o homem por procurar o bem-estar?” Resposta das vozes do Alto: “Ë natural o desejo do bem-estar. Deus só proibe o abuso, por ser contrário à conservação. Ele não considera crime a procura do bem-estar, desde que não seja conseguido àcusta de outrem e não venha diminuir-vos nem as forças físicas, nem as forças morais.” Aí está um ensinamento que contesta fundamentalmente a concepção absurda e até certo ponto blasfema, corrente em certos meios religiosos, de que “o homem nasce neste mundo para sofrer, a. fim de fazer-se merecedor de suaves recompensas no céu”. Sem dúvida, sendo a Humanidade terrena uma das mais imperfeitas no concerto universal, compreende-se porque mais sofre do que goza. Ë o preço de sua. primariedade. Cada um de nós, porém, pode e deve trabalhar para promover-se socialmente, conquis tando, para si mesmo e para os seus, tudo quanto seja agradável, útil e concorra para aumentar a alegria de viver. Não é verdade, pois, que o homem deva aceitar, passivamente, tudo que o excrucia; conformar-se, submisso, com a má organização da sociedade, responsável pela miséria de tantos; ou mesmo impor-se penitências volun­ tárias, por serem estas coisas conformes aos planos divinos a nosso respeito. Se assim fora, Deus seria um sádico. O que Ele quer, tal o ensino da Doutrina Espírita, é a felicidade de todos, não apenas “post-mortem”, num suposto paraíso de delícias, onde ninguém tenha o que fazer, mas desde agora e aqui mesmo, contanto que Lhe compreendamos os amorosos e sábios desígnios e saibamos pautar nossos atos por uma fiel observância de Suas leis. Não, não é crime a busca do bem-estar. Criminosa, isto sim, é a ignorância em que os homens vêm sendo mantidos acerca de seus direitos naturais, direitos esses inerentes à sua condição de filhos de Deus, sem acepção de raça, cor ou nacionalidade. Criminosas são as manobras do egoísmo empregadas por uma minoria dominante, no sentido de impedir o advento da justiça social e a consequente melhoria do padrão de vida dos povos. Criminosos são os gastos enormes que se fazem por toda a parte em programas armamentistas, em detrimento da produção dos bens de consumo que escasseiam ou faltam por completo em milhões de lares. Criminoso é o desvio de vultosas parcelas da Humanidade (exatamente os elementos mais válidos) dos trabalhos fecundos que ativam a civilização, para a improdutividade das casernas, ou, o que é pior, para as operações bélicas que destroem, em minutos, o que levou séculos para edificar. Ao influxo da lei de evolução, pela qual tudo se engrandece e prospera, diz-nos ainda a. Doutrina Espírita, os mundos também progridem, pois se destinam a oferecer aos seus habitantes condições de morada cada vez mais aprazíveis. Não é possível, então, que a. Terra permaneça, eternamente, como mundo de expiações e de provas. 42 O aperfeiçoamento da estrutura sócio-econômica das nações terrenas é, assim, um imperativo categórico, e bom seria que, ao invés de resistir às medidas que o favoreçam, as classes privilegiadas, em cujas mãos se en­ contram as rédeas do poder, renunciassem espontâneamente a algo do que lhes sobeja, em favor do bem-estar coletivo. Isso evitaria os processos violentos e do lorosos que hão assinalado, até o presente, a marcha do progresso neste minúsculo planeta, inaugurando uma nova era, de compreensão e boa vontade, que os reacionários batizarão com outros nomes, mas que representará o triunfo do Cristianismo em sua expressão mais autêntica, mais nobre e mais bela. 43 21 A Lei de Destruição Embora nos custe compreendê-lo, a destruição também se constitui lei da natureza, cumprindo um sábio desígnio providencial. Já foi dito que a vida orgânica é indispensável à evolução dos seres, e daí haver Deus estabelecido as leis de reprodução e de conservação com o fim de, por meio delas, assegurar o desenvolvimento do princípio inteligente que neles se elabora. Pois bem, a lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vão passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir, na espécie humana, o reinado da Razão. Destarte, em última análise, “a destruição não é mais que uma transformação que tem por finalidade a renovação e a melhoria dos seres vivos.” A parte essencial dos seres — lembram os luminares da espiritualidade — não é o envoltório físico, mas o elemento anímico que o impulsiona, elemento esse que, sendo também imortal nos animais, retorna ao palco da vida terrena para a continuação de sua jornada progressiva, como ocorre com todas as criaturas de Deus. Sob outro prisma, ao se destruírem uns aos outros, pela necessidade de se alimentarem, os seres infra-humanos mantêm o equilíbrio na reprodução, impedindo-a de tornar-se excessiva, contribuindo, ainda, com seus despojos, para uma infinidade de aplicações úteis à Humanidade. Restringindo o exame desta questão apenas ao procedimento do homem, que é o que mais nos interessa, aprendemos com a. Doutrina Espírita que a matança de animais, bárbara sem dúvida, foi, é e será por mais algum tempo necessária aqui na Terra, devido às suas grosseiras condições de existência. À medida, porém, que os terrícolas se depurem, sobrepondo o espírito à matéria, o uso de alimentação carnívora será cada vez menor, até desaparecer definitivamente, qual se verifica nos mundos mais adiantados que o nosso. Aprendemos, mais, que em seu estado atual o homem só é escusado dessa destruição na medida em que tenha de prover ao seu sustento e garantir a sua segurança. Fora disso, quando, p. ex., se empenha em caçadas pelo simples prazer de destruir, ou em esportes mortíferos, como as touradas, o “tiro aos pombos”, etc. terá que prestar contas a Deus por esse abuso, que revela, aliás, predominância dos maus instintos. No que tange aos flagelos naturais, como as inundações, as intempéries fatais à produção agrícola, os terremotos, os vendavais, etc. que soem causar tantas vítimas, instruem-nos, ainda, os mentores espirituais, são acidentes passageiros no destino da Terra (mundo expiatório), que haverão de cessar no futuro, quando a Humanidade que a habite haja aprendido a viver segundo os mandamentos de Deus, pautados no Amor, dispensando, então, os corretivos da Dor. Uma vez que a destruição se nos apresenta como uma lei natural, a pena de morte aplicada alhures, com o objetivo de eliminar os elementos tidos como em nome da justiça”. graças ao progresso social. dizem-nos as vozes do Mundo Maior. (Capítulo 6º. diminuiu consideràvelmente o número de povos e dos casos em que tal pena continua em vigor. .44 perigosos. Com efeito. do que o assassínio daqueles que a prejudicam. A propósito. e dia virá em que será completamente abolida. mesmo porque todo delinqüente é um enfermo da alma. será também uma necessidade? Não! “O homem julga necessária uma coisa. há muitos outros meios com provadamente mais eficazes de preservar a sociedade. À proporção que se instrui. e aos enfermos devese acudir com a medicina e não com a morte. vai compreendendo melhormente o que é justo e o que é injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância. cumpre se diga que. questão 728 e seguintes). sempre que não descobre outra mais conveniente. ” (Êxodo) “Se um homem tiver um filho contumaz e insolente. o boi será apedrejado e também o seu dono morrerá.. será apedrejado. Mas se o boi já era es­ corneador e o seu dono foi conhecedor disso e não o encurralou. (Deut. já que o próprio Deus teria estatuído uma série de circunstâncias e de motivos em que o assassínio seria não apenas lícito.” “Todo aquele que se deitar com animal. citações do V. será morto. e não só ao Senhor. e o tal homem morreu. visto que o (mau) exemplo viria de cima. passa a vida em comezainas.) “Das cidades destas nações que o Senhor teu Deus te dá em herança. etc.45 22 O Assassínio Em pleno século 20. pegarão nele e o levarão aos anciães daquela cidade e. os reis de Israel tenham praticado os crimes mais horripilantes. matando homem ou mulher. diretamente de Deus. o direito de matar. morrerá. E trazendo os seus moradores. os mandou serrar. Bíblia. à porta onde se fazem os juízos.. dissoluções e banquetes. e que os fizessem em pedaços com cutelos. Toda a congregaçao o lapidou.” (Deut. recusar com desprezo obedecerlhes. Assim o fêz com todas as cidades dos amonitas. Moisés teria recebido. . Via de regra.” (II Reis. e os botassem em fornos de cozer tijolo. todo o povo o apedreje fora do arraial. despreza as nossas admoestações. o qual foi metido em prisão.” “A feiticeira não deixarás viver.” “O que sacrificar aos deuses. acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. como o Senhor ordenara a Moisés. que não está pelo que seu pai e sua mãe lhe ordenam. como se vê nos seguintes excertos: “Estando os filhos de Israel no deserto. argumentam que o sexto mandamento não pode ser interpretado em sentido absoluto. e. de sabermos que tudo o que se contém na. a tomou.) Se tais sentenças procedessem realmente de Deus — agora somos nós que o dizemos não haveria porque hesitarmos na prática de qualquer assassínio. O povo da cidade o apedrejará e ele morrerá. seguindo à risca tais prescrições. então. e não se comerão as suas carnes. capítulo 15 versículos 32 a 36. que morra. 12: 29-31. nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. entretanto. mas até aconselhável ou necessário. e que passassem por cima deles carroças ferradas. lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz. castigado. antes destruí-las-ás. para que assim tireis o mal do meio de vós. Uma pequena amostra: “Ajuntou David todo o povo e marchou contra Rabbath: e depois de combatida. Disse então o Senhor a Moisés: Este homem morra de morte. quais as seguintes: “Se algum boi escornear homem ou mulher. que. porque ainda não se sabia o que deviam fazer com ele. o dono do boi. em vários casos. será inocente. Já é tempo.) Ainda segundo o Velho Testamento. Surgem.” (Números. portanto. para que não vos ensinem as abominações que fizeram a seus deuses e pequeis contra o Senhor vosso Deus. T.) Não é de se admirar. ordens tachativas e peremptórias para eliminar os transgressores da fé judaica e os adversários do povo judeu. homens existem que ainda defendem com ardor a pena capital para certos criminosos e. contudo. quanto mais o assassínio! E a Doutrina Espírita. Tanto assim que o Oristo. vos digo”. questão 748). mas tão sômente preceitos humanos. e se punha a ensinar coisas diametralmente opostas. porém. várias vezes. de modo que possa preservar sua vida. em tudo conforme com a moral cristã. pois. quase sempre outorgados por Moisés para o povo judeu e para aquela época de ignorância e barbarismo. Aquele que ditou o NÃO MATARÁS e “em quem não há mudança nem sombra de variação”. não poderia contradizer-se. nunca o de atentar contra a de seu agressor.46 em contraposição ao Decálogo. mesmo quando agredido e em situação extremamente difícil. em todo o Evangelho. segundo o apóstolo Tiago. . qualquer que seja a hipótese. destrói. (Capítulo 6º. proclama que. extermina!” Não se encontra. é preferível morrer a ter que matar. acrescentava: “eu. cabe ao homem apenas o direito de defender-se. nem mesmo uma palavra ofensiva. Efetivamente. uma só passagem que autorize o uso da violência. após fazer referência a eles. ordenando alhures: “mata. não é e nem poderia ser de origem divina. ao passo que a sabedoria nas mãos de um malvado pode converter-se numa arma terrível. em estado virtual. Mesmo entre as criaturas comuns. porém simplesmente a junção. que nada têm de geniais. dizemos. de aprender. donde volveremos ao proscênio da Terra. de percorrer. desses desejos veementes de progresso. porém. os germens dos nossos futuros desenvolvimentos. qual a origem. se tudo findasse com a morte ou se a sobrevivência da alma se verificasse em condições tais que não comportasse nenhuma espécie de atividade. duros. porque a virtude do ignorante (a palavra ignorante. a menos que se trate de seres anormais. Ser bom não é tudo. perfeitamente. em benefício da coletividade. no entanto. mesmo naqueles a quem a desilusão desta vida ou o orgulho fátuo levaram a abraçar as teorias malsãs do materialismo dissolvente. Como. e a morte. mas . um por um. ao Qual se dirige. O virtuoso sem sabedoria é um fruto silvestre: não satisfaz à vista. latente. con­ turbando razões e anulando caracteres. crescer primeiramente em virtude e depois em sabedoria. Urge. a que nos referimos linhas acima? Mas. a causa. consequentemente. dentro de nós. a fim de representarmos os inúmeros atos do drama grandioso e sublime que se chama Evolução. que por ai campeia. esse desejo. de conhecer coisas novas. nestes últimos tempos. mas conservam seus corações. Temos. a vida atual não é senão uma das fases da vida infindável. assimilar todos os conhecimentos do gênio e adquirir todas as virtudes da santidade numa única existência? Impossível! Daí a lei sábia e bendita dos renascimentos. o umbral pelo qual passamos da vida corpórea para a vida espiritual. fenômeno esse que prova a insaciedade do espírito em seus anseios de glória e de progresso. isto é. todos os meandros das artes e das ciências? Não cremos. se a vida se limitasse ao insignificante ciclo do berço ao túmulo. sempre insatisfeito. Ser sábio não basta. os grandes expoentes das artes jamais se deram por satisfeitos com aquilo que conseguiram realizar. existirá quem não sinta. Sim. desenvolvem permanentemente renovados esforços para aperfeiçoar tudo quanto existe a serviço do conforto e do bem-estar da Humanidade. não obstante suas produções se constituíssem de verdadeiras obras-primas. de dilatar a esfera de seus conhecimentos. não. o motivo dessa sede de saber. de desbravar os mistérios da natureza. dentro de si. natural.47 23 Heliotropismo Espiritual Como se sabe. não tem o sentido pejorativo •em que é empregada comumente) pode ser utilizada. Haja vista o que vai pelas chamadas grandes nações. onde os homens têm a inteligência prenhe de conhecimentos científicos. porque decorrente da idéia inata que se acha enraizada nas profundezas de sua cons ciência psíquica — a da certeza de sua imortalidade e de sua semelhança com o Criador. fechados aos códigos da moral evangélica. que não cessam jamais. tal qual as plantas heliotrópicas se voltam para o Sol quando ele esplende no horizonte. Ora. É preciso ser bom e sábio. porqüanto esse impulso é natural e inerente à espécie humana. os cientistas. aqui. da mesma forma. não pode ser o término. a intuição da imortalidade é um fato. Imitá-lo. negue-se aos brutos o direito ou a possibilidade de se adaptarem. depois. emprestando a Deus paixões que Ele não tem e preferências que aberram dos Seus soberanos atributos. dos homens civilizados das grandes metrópoles. e estar-se-á negando a Providência Divina. por atestar a justiça e a sabedoria de Deus. o patrimônio cultural de cada um e verificarão. constitui o único meio através do qual poderemos atingir a meta dos nossos destinos. como perfeito é o vosso Pai Celestial. bem assim com seus valores materiais e espirituais. A lei da reencarnação ou pluralidade das existências. Aliás. O contraste é chocante. Exclua-se.” Aqueles. lancem as suas vistas para os inúmeros povos disseminados pelo planeta. através de múltiplas existências. Comparem. quanto é enorme a diferença que separa os bárbaros e os selvagens (alguns até antropófagos). cuja razão não pode. ainda. identifiquem-se com seus usos e costumes. ele mesmo o disse: “Eu sou o Caminho. eis o nosso alvo. porém. a Verdade e a Vida. questão 753 e seguintes) . como meio de depuração e perfectibilidade dos espíritos. Jesus é o protótipo da bondade e da sabedoria conjugadas e desenvolvidas em grau máximo. desde que os consideremos como espíritos em diversos graus de adiantamento. mas perfeitamente explicável. seguir-lhe as pegadas. isto é. aglutinados em suas respectivas esferas. aos centros urbanos.48 sacia a fome. que habitam determinadas regiões do globo. destinos esses consubstanciados naquelas imorredouras palavras do Cristo: “Sede perfeitos.” (Capítulo 6º. por conseguinte. em seu heliotropismo para Deus. a hipótese (digamos assim) reencarnacionista. mas não tem perfume. O sábio sem virtude é uma flor artificial: tem beleza. assombrados. Ninguém vai ao Pai senão por mim. admitir a realidade das vidas sucessivas. A Justiça exige que toda infração à Lei seja punida e desde a origem dos tempos isso tem acontecido. todos os grandes missionários religiosos que têm vindo à Terra. não porque . todavia. p. e o “quem com espada fere. se torna claro quando nos lembramos de que as boas qualidades morais são filhas do Amor e que este sentimento sublime sempre encontra meios de harmonizá-las. Moisés. fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam”. por sua vez. “tende entre vós mútua caridade”. com espada será ferido”. terá de pagar na. uma nova ética: “amai vossos inimigos. acenam com “premio igual ao merecimento”. mas. Já aquele que perdoa as ofensas recebidas. exemplificando-a. Daí a razão de muitos não compreenderem como possa Deus exercitálas. se não lhes perdoardes quando vos tenham ofendido. de Moisés. castigo igual à culpa. de adverti-los.. com a diferença de que. do Cristo. mas. seja na mesma existência ou em outra(s) posterior(es). está exercendo a justiça. enquanto o Cristo. Senão. a fundo. Tudo. inspirados que foram pelo Alto. mesma moeda toda injúria que fizer a outrem. também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados. amiúde: “suportai-vos uns aos outros”. mui explicitamente: “Se perdoardes aos outros as faltas que cometerem contra vós. etc. então. ele mesmo. cobrando o que lhe devem. fica com um crédito do mesmo valor na contabilidade celeste. “o amor cobre uma multidão de pecados”. dava ao ofendido o direito de tirar desforra. estas novas regras de conduta. sem que uma precise ser anulada para que a outra prevaleça. são preceitos que consagram esse princípio fundamental da Justiça. crédito esse que será levado em conta quando lhe aconteça cometer alguma falta. ex.” Analisando. vejamos.49 24 A Pena de Talião Pode parecer à primeira vista que justiça e misericórdia sejam virtudes antagônicas. Talvez nos perguntem: no segundo caso. percebe-se conterem elas a mesma justiça da pena de talião. pessoalmente e na proporção da ofensa recebida. porém. ele “sofrerá o que tenha feito sofrer”. ou seja. Introduziu nas relações humanas. que se excluam reciprocamente. surgindo entre nós quando era chegado o momento de os terrícolas darem início a uma fase mais avançada de sua evolução espiritual. Aliás. sendo o ofensor perdoado pelo ofendido. tão-pouco vosso Pai celestial vos perdoará os pecados. Não deixou. entretanto. O“olho por olho e dente por dente”. até às últimas consequências. E quem não está sujeito a errar? Por haver entendido perfeitamente esse mecanismo da Justiça Divina é que o colégio apostólico proclamava. ao invés de “castigo igual à culpa”. trouxe como missão ensiná-los a quebrar as cadeias do mal a que se jungiam pela lei de ação e reação. infalivelmente. ficará sem a punição devida? Absolutamente! A Providência cuidará disso e. estabeleceram em seus códigos a pena de talião. Reparemos bem: Aquele que revida ao seu ofensor com igual ofensa. 50 apraza a Deus castigar os culpados. preferindo perdoar a usar de represálias. questão 764) . mas para que todos se corrijam. que Deus se revela. como convém Àquele que é o Santo do santos. retribuindo ao mal com o bem. valendo isso dizer que já estaremos adentrando “o reino dos céus”. Quando transportarmos para a vida prática os luminosos ensinamentos do Cristo. (Capítulo 6º. E é assim. bem como nos ensejando a oportunidade de emendar-nos através das vidas sucessivas. soberanamente justo e misericordioso. progridam e sejam felizes. a um só tempo. deixando-nos experimentar os funestos resultados de nossas más ações. a paz e a. alegria farão morada permanente em nossos corações. menores e menos frequentes se irão tornando os atritos e conflitos que nos afligem. ou melhor. se aquele que a deve exercer. É que Deus. a anarquia toma conta da casa. com acerto. despotismo. etc. para. todos haveremos. A sociabilidade é instintiva e obedece a um imperativo categórico da lei do progresso que rege a Humanidade. porém. abstendo-se de tudo que as possa destruir. tudo fazendo pela concórdia entre os povos e a prosperidade universal. não recebe da parte da mulher e dos filhos o acatamento e a obediência devidos. de uma forma ou de outra. pois não há como desenvolver e burilar nossas faculdades intelectuais e morais senão no convívio social. A par disso. o lar. resultando nulas as medidas propostas no sentido do progresso social. um outro princípio existe que precisa. nessa permuta constante de afeições. Com efeito. interdependentes que são. já não seria autoridade. por exemplo. assim. exorbitar de suas funções. senso de responsabilidade. ser observado: o da autoridade. conhecimentos e experiências. Sendo o fim supremo da sociedade promover o bem-estar e a felicidade de todos os que a. famoso pensador da Antigüidade. ampliados. Na sociedade civil acontece o mesmo. o chefe de família. seja frustrando-lhes o gozo de seus direitos individuais. honradez. sem a qual a sorte de nosso espírito seria o embrutecimento e a estiolação. querendo com isso significar que ele foi criado para viver. são válidos igualmente para a sociedade natural. desprendimento. Um e outro — chefe de família e governo — não devem.). Se os indivíduos e os grupos não derem correto atendimento às normas traçadas pelo governo (que deles recebeu delegação de poderes para dirigir os destinos do Estado). Estes conceitos. espírito público. seja impondo uma sobrecarga de obrigações aos que estejam subordinados à sua jurisdição. conviver com seus semelhantes. generosidade. antes as in­ frinjam ou desobedeçam. então. cujos membros devem respeitar-se e auxiliar-se mütuamente. a boa ordem na sociedade depende das virtudes humanas.51 25 Sociabilidade “O homem é um animal social”. etc. tem­ perança. No menor tipo de sociedade que se conhece. sempre que alguns componentes do cosmo social entrem em guerra ou se vejam a braços com crises econômicas. fêz-nos perfectíveis. também. cumprindo-os à risca. não nos fêz perfeitos. tomando consciência de nossos deveres para com nós mesmos (amor ao trabalho. para que a sociedade funcione e possa corresponder à sua finalidade. mais estável será a paz e mais deleitável a harmonia que devem reinar em seu seio. de sofrer . com sérios prejuízos para todos os os familiares. para que tal seja alcançado há necessidade de que cada um de nós observe certas regras de procedimento ditadas pela Justiça e pela Moral. todos precisamos uns dos outros. controle emocional. Á medida que nos formos esclarecendo. porque. formada pelo concerto das nações. atingirmos a perfeição a que estamos destinados. compõem. já o dizia. a desordem não tardará a fazer-se senhora da situação. e sim tirania.) e para com a comunidade de que somos parte integrante (cortesia. em Seus sábios desígnios. tolerância. porque isso. lealdade. além da renúncia às satisfações mundanas. visto que “não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a ninguém”. têm a seu favor a prática das leis do trabalho e da caridade cristã. Já aqueles que se afastam do bulício citadino. assim os que se recolhem a determinadas instituições fechadas para se dedicarem. questão 766 e seguintes) . fugindo (segundo dizem) ao pernicioso contacto do mundo? Pela Doutrina Espírita. ao socorro dos desgraçados. amorosa­ mente. porqüanto. prestam excelentes serviços à sociedade. (Capítulo 7º. ôbviamente. embora afastados da convivência social. adquirindo duplos méritos.52 -lhes as danosas consequências. que pensar daqueles que se isolam completamente. Uma vez que a vida social é uma necessidade geral. tal procedimento revela forte dose de egoísmo e só merece re provação. buscando no retiro a tranquilidade reclamada por certa natureza de ocupação. Essa virtude. invariàvelmente. como nós. a se despojarem de suas imperfeições. e dura apenas enquanto seja necessário protegê-la contra aquilo e aqueles que lhe ameacem a sobrevivência. já que não titubeiam em dá-los ou mesmo abandoná-los à própria sorte desde a mais tenra idade. de quanto é sagrada a mis­ são de ser pai ou mãe. ao contrário. e principalmente das mães pelos frutos de suas entranhas. que colocam acima de tudo e de todos. Sob a aparência de angelitude que lhes caracteriza a infância (sábio processo da Providência para que nos afeiçoemos a eles). . atingindo. Em seu fanatismo por eles. esse amor não só é mais duradouro.53 26 A Missão dos Pais Como todos sabem. Em face disso. conquanto compreensível e indispensável até certo ponto. os seres infra-humanos tornam-se adultos e portanto independentes dos pais em menos de um décimo do tempo médio de vida da respectiva espécie. aqueles aos quais chamamos “nossos filhos” são. por si mesma. ainda. adquirindo o gosto pelo que é belo. Razão. do que tenha mister para a sua con­ servação. como se manifesta em maior intensidade. recusando-se a admitir sejam capazes de qualquer ação menos digna. A Doutrina Espírita nos esclarece que essa dedicação. entretanto. a par de segura orientação cristã para que possam reformar seus caracteres. O amor dos animais pela prole é mais instinto do que sentimento. julgam-nos possuidores das mais excelsas qualidades. as raias do heroismo. espíritos em evolução. geralmente. fazem dos filhos verdadeiros ídolos. enxergando neles. não raro. enquanto o homem precisa de um terço de sua existência para alcançar a maturidade. Daí porque sempre encontram um meio de justificar-lhes os erros e as sordícias. se não obedecer aos ditames da. entre aqueles. “vítimas inocentes” da maldade do mundo. pois persiste até à morte. pode tornar-se prejudicial se não for controlada pela mente. reencarnados em nossos lares para que os auxiliemos a se melhorarem. podem ocultar-se individualidades que se transviaram do bom caminho. não se acha igualmente desenvolvida em todos os indivíduos. Outros. embora lhes caiba inteira responsabilidade por tais situações. são também muitíssimo menores do que na espécie humana. puro e nobre. Alguns existem que não têm pelos filhos o carinho e a solicitude das aves e dos mamíferos. necessitadas de reajuste. a exigirem de nós um pulso firme para conter-lhes os maus pendores. cessando. isto é. Essa falta de equilíbrio entre o amor materno ou paterno e o senso de justiça. porqüanto. quando ela se mostre apta a defender-se e a prover-se. Nos homens. os cuidados e obrigações dos pais para com os filhos. inclusive de Deus. desde que se trate de livrar os filhos de um vexame. como acontece com as demais. diríamos mesmo essa devoção dos pais. pode levar (e tem levado) muitos pais a praticarem crueldades tremendas. uma difi­ culdade ou uma sanção dolorosa. Tais criaturas não se com-penetraram. servo bom e fiel.54 Nos primeiros anos de vida dos filhos. difícil. sua desídia para com a árdua. ou seja. movidos por um amor piegas. devem ser movimentados com inteligência para que produzam os juros devidos. éque podem os pais exercer salutar influência em favor do aprimoramento moral deles. ou. vergonhas e humilhações. revelarem-se abertamente tais quais são. Compartilha da alegria do teu Senhor!” (Capítulo 7º. Tratemos. mais no período infantil do que na adolescência. mas sublime tarefa que o Pai Celestial há confiado aos progenitores aqui na Terra. conforme o ensino da parábola. a fim de que. no dia da prestação de contas ao Senhor. ao atingirem a maioridade. possamos merecer a felicidade de ouvir dele estas confortadoras palavras: “Bem está. deixarem sem corrigenda seus impulsos inferiores. o que é mais impor­ tante. questão 773 e seguintes) . pagando. o adiantamento daqueles por cuja educação nos tenhamos feito responsáveis. Se se descuidarem disso. dos bons exemplos que lhes possam oferecer. com as fraquezas de que se ressentem e as viciações a que se afizeram em existências anteriores. através dos bons conselhos e.. então. vê-los-ão.. Ser pai ou mãe significa receber preciosos “talentos” que. portanto. com desgostos. reintegrarem-se na posse de si mesmos. de cumprir à risca os deveres que a paternidade ou a maternidade nos impõem. para recebê-los em tutela e encaminhá-los na senda do aperfeiçoamento. se verdadeiro. à semelhança de inclinações ou à igualdade . neste caso. Lá. que ninguém se afeiçoasse a ninguém. encorajam-nos e. no mesmo meio social ou na mesma família. em regiões purgatoriais. Mesmo os que tenham fracassado numa ou mais existências. não raro. Quando uns reencarnam. nos quais todos aqueles que se estimam permanecem unidos. O Espiritismo. depois. em seus braços? Pelo ensino da Teologia. com essa inexorável separação. conforme dissemos acima. a amizade com que se querem e a abnegação recíproca de que dão provas chegam a alcançar as raias do sublime. em que a maioria dos terrícolas vamos fazendo o nosso aprendizado de fraternidade. grupos afins. entre esses extremos. E. sofrendo com as consequências de seus erros ou de suas paixões infamantes. baseado no testemunho pessoal das almas trespassadas. rasga-nos perspectivas bem mais animadoras. obedecem à afeição real. um escalonamento quase infinito. o que. ensejando-nos o melhor modo de aprendermos a amar-nos como irmãos. Tão logo isso aconteça. embora retardando o seu progresso ou renunciando àfelicidade a que fazem jus. Enganam-se os que imaginam seja assim. integrando comunidades tanto mais felizes quanto mais perfeitas as qualidades morais que hajam adquirido. aqueles que os amam.55 27 A Família A família é uma instituição divina cuja finalidade precípua consiste em estreitar os laços sociais. os outros que se mantêm na pátria espiritual velam por eles. precedem-nos no retorno à Terra. em outros. tomando cada qual o seu próprio rumo tão logo surja uma oportunidade propícia. Freqüentemente aceitam novas encarnações no mesmo país. por muito fracas. talvez nos indague: e a coexistência familiar tem como objetivo desenvolver e aprofundar a simpatia e a amizade entre os homens. são rompidas fàcilmente. a fim de trabalharem juntos pelo ideal comum ou pelo seu mútuo adiantamento. Diz-nos. não permanecem nessa situação mais que o tempo necessário a que se arrependam e se disponham a redimir-se. por isso. para não sofrer. seja em missão ou em expiação. entretanto. podemos alimentar a certeza de que “post-mortem” reencontraremos nossos entes queridos? O amor que nos tenha unido aqui na Terra será levado em conta por Deus. ajudando-os a saírem vitoriosos. não e não. As uniões. todavia. Existem grupos familiares cujas relações afetivas. Alguém mais sensível. porém. Não se creia. que elas formam. a resposta a estas perguntas seria uma só: não. no outro lado da Vida. capaz de raciocinar em termos de eternidade e não apenas em função dos breves instantes de uma existência terrena. e se achem. tornaria insubsistentes os liames familiares e forçosa a conclusão de que fora melhor. novamente. poderá trabalhar pela salvação dos filhos supostamente condenados ao inferno. de modo a poder aconchegá-los. que é o Consolador prometido pelo Cristo. descem a ampará-los. no sentido de garantir que continuemos juntos no Além? E a mãe que haja merecido o céu. que todos quantos aqui estiveram Ligados pelo parentesco mantenham esses mesmos vínculos nas esferas espirituais. Pela lei da reencarnação. a simpatia lhes fizesse vibrar as cordas do coração. “não têm nenhum motivo para se procurarem no mundo dos Espíritos. (Kardec) Não admitindo as doutrinas anti-reencarnacionistas a. em verdade. apenas pela atração física. sem que. seus inter-relacionamentos no passado. as pessoas que se uniram. (Capítulo 7º. questão 773 e seguintes) . por outro lado. gravitando.56 de nível evolutivo. visto que as relações de natureza carnal ou de interesse exclusivamente material se extinguem com a causa que lhes deu origem”. ao mesmo tempo que destrói as afeições nascidas e cultivadas ao influxo das ligações familiares. por conseguinte. dogmatizando. as almas amigas se mantêm solidárias. na vida futura. que a diversidade da sorte. por mera conveniência ou por outra razão qualquer. mas pelos milênios afora. ao contrário. neste mundo. em busca de Deus. em tal convívio. Destarte. preexistência das almas e. estas. não apenas durante o fugaz período que vai do berço ao túmulo. torna-as praticamente estranhas umas às outras. nosso Pai Celestial. juntas. é definitiva e irreversível. sem qualquer possibilidade de comunicação entre as “eleitas” e as “rejeitadas”. 57 28 A Lei de Progresso Segundo a Teologia. embora a contragosto dos reacionários e dos retrógrados. isso quer dizer o gênero humano teria surgido na Terra perfeito. sempre lhe concede moratória para que corrija e aperfeiçoe suas instituições. a amoralidade do bárbaro. “imagem e semelhança de Deus”. podem retardar. Providência. a z toda a sorte de misérias do corpo e da alma. Argumentam alguns filósofos que a civilização só serve para aumentar a . “o rei da criação” foi perdendo. e assim poderia ter-se mantido por toda a eternidade. não só na técnica como nos costumes. que o progresso é lei natural. inspiradores de muitas da leis iníquas em vigência neste mundo. sim. fatalmente. eis que. por satanás. mas seguro e ininterrupto. em nossos dias. Com efeito. que o seu progresso moral se acha muito aquém do fabuloso progresso intelectual a que chegou. a perda do paz ignorância. visando àquele objetivo. sofrer. por conseguinte. e que a Paz. ganhará experiência. a prosperidade e o bem-estar comuns. as ferezas do troglodita. até que. dando ensejo a que. sobre si mesmo. É verdade. porém. É que a. como lhe convém. Claro que ele se encontra. num desenvolvimento intelecto-moral vagaroso. a insipiência do selvagem. não poucos. De tempo em tempo. desobedeceu ao Criador. gradativamente. seja uma bênção a felicitar todas as raças e nações. aprendendo então a equilibrar as forças da mente e do coração. Em outras palavras. cuja ação sentir em tudo no Universo. entretanto. ou quase. que o egoísmo e o orgulho. ao longo dos séculos. impulsionado por ela. É verdade. o homem fora justo. o progresso se faça e a conduta humana se harmonize. que outra coisa não quer senão que os bens terrenos sejam partilhados equitativamente por quantos hajam concorrido para produzi-los. para dar ao homem o mérito de elevar-se pelo próprio esforço e livre iniciativa. sacode-as violentamente. favorecendo os poderosos em prejuízo dos fracos. arrancando-lhe “sangue. A Doutrina Espírita. não sendo admissível. e daí porque prevalece. ao contrário. trabalhado pela Dor. também. Os funestos resultados do mau emprego de sua inteligência recairão. está fadado a adquirir todos os conhecimentos da Sabedoria e todas as virtudes da Santidade. suor e lágrimas” em crescente profusão. puro. possa o homem frustra-la ou contrapor-se-lhe. que conseguiu realizar. esgotados os compassos de espera. Tentado. mas quem quer que conheça um pouquinho de história da civilização. para que sua marcha ascensional se efetue sem quedas nem desvios. a Inclinação para o mal. bastante distanciado dessa perfeição. em consequência desse grave a privação da graça. não pode deixar de reconhecer o enorme avanço. feliz. como efetivamente têm retardado. preconceitos estúpidos e governos opressores. alicerçada na Justiça. ainda. com a Lei Divina. valendo-se. apenas para a prática do mal. uma ciência sem consciência. lo haver “decaído”. de suas aquisições culturais. mas depois se degradou até quem opine que se vem tornando cada vez pior. destruindo privilégios odiosos. de ignorância e irresponsabilidade. é correr o risco de ser esmagado. multiplicar os vícios. (Capítulo 8º.58 ambição. complicar e dificultar a vida. questão 776 e seguintes) . resistir-lhe. O absurdo de semelhante concepção é evidente. Se tais pensadores estivessem com a razão. estimular a vaidade. etc.. convir-nos-ia regredir. mas à condição de meros vermes.. porque. e que seria melhor para o homem que ele retornasse ao estado primitivo. não apenas à semiconsciência do bruto. em vez de tentarmos embaraçar a torrente do progresso. e. não acham? Antes de malsinar a civilização. urge que cada um de nós ofereça a sua contribuição pessoal para que ela se apure. e o gozo fôsse inversamente proporcional ao grau evolutivo das criaturas. acompanhe-mo-lo. que reencarnam entre eles a fim de iniciá-los no conhecimento ou despertar-lhes os bons sentimentos. Vejamos: Tal como sucede nos educandários dessa espécie. no passado. sem o aprendizado correspondente ao grau médio. para que tirem proveito das experiências que eles possam ensejar-lhes. até que os dominem satisfatôriamente. a se movimentarem em aristocráticos salões. na Escola da Vida. O mesmo se dá com os espíritos: sua encarnação. habitam as selvas. entre os estudan­ tes do clássico. os Espíritos são compelidos. em qualquer plano evolutivo em que se encontrem. não compulsõriamente. Os alunos dos cursos elementares são instruídos por normalistas. mas em função do bom aproveitamento de cada existência que se lhes proporciona.59 29 Terra — Instituto Educacional Um instituto de educação. são obrigados a repetir determinados exercícios ou graus. constitui símile perfeito do que seja a Terra para os espíritos que aqui. não se faz por acaso. os povos selvagens também contam com Espíritos mais adiantados. o aluno que. ginásio. em cujo seio espíritos de escol desempenham missões especiais. em que a posição dos alunos nos diversos cursos resulta não prôpriamente da idade. com seus vários cursos: jardim de infância. no campo da Ciência. de sorte que cada discente se acha. a cartilha. ontem. o jardim de infância da Humanidade terrena. os de civilização mais avançada. compõem as classes dos cursos secundários. Nenhum aluno pode matricular-se regular-mente num curso de grau médio sem haver passado antes pelo primário. quantas vezes se façam necessárias. os espíritos agora encarnados. da Política. exatamente. rasgando novos caminhos para o progresso e o bem-estar coletivos. e aquele que. lecionados por professores universitários. Semelhantemente. De modo análogo. da Religião. entre povos que lideram a civilização. Em qualquer dos cursos. hoje. o mesmo se verificando entre os civilizados. Igualmente. através das reencarnações. Como é óbvio. a reviver certos episódios ou a retornar ao mesmo meio social. . capazes de expressar-se em diversas línguas. um dos que aprendiam a tabuada numa classe do primário. amanhã. e os que frequentam cursos secundários são. se encarnam e reencarnam para realizarem uma parte de sua evolução. que não comete equívocos nem concede privilégios. etc. os alunos que se descuidam ou não se aplicam convenientemente em seus deveres. neste ou naquele povo. enquanto no extremo oposto. primário. figurará. por assim dizer. mas da assimilação dos programas de cada ano ou grau que hajam freqüentado. colégio. o escalonamento dos espíritos evolucionantes vaise fazendo. foi. Os povos primitivos formam. assim também. por sua vez. o que patenteia a Justiça Divina. foram. hoje. retribuindo a todos rigorosamente de acordo com os seus méritos pessoais. brutais antropófagos. etc. está fazendo o curso científico. ainda está soletrando. onde deve e precisa estar. nem no secundário. no futuro serão damas e cavalheiros cultos e educados. e aqueles que. em nossos dias. da Arte. tantas vezes quantas sejam precisas. normal. e assim por diante. mas em função de seu adiantamento. em hipótese alguma. até atingirem os planos mais felizes da espiritualidade. quanto sabem de cada matéria. exatamente. tal e qual. após conquistarem o grau de progresso peculiar a este mundo. pelo que fizeram aqui neste mundo. pessoalmente. em colaboradores da Providência. É o que acontece. e assim por diante. Ë essa. são transferidos para outros mais adiantados. não sendo admitidas. Os espíritos que pertencem à nossa Humanidade. nos quais começam novo ciclo evolutivo. convertendo-se. a situação dos espíritos perante Deus: têm que responder.60 Os currículos dos vários graus ou séries de cada curso mantêm-se os mesmos sempre. então. onde irão estender e aprofundar os conhecimentos já adquiridos. também. individualmente. possa interferir em seu favor. porque o lugar dos que se adiantam vai sendo tomado por outros espíritos que necessitam das con­ dições sociais que lhes são características para o seu gradual desenvolvimento intelectual e moral. os alunos têm que demonstrar. com os povos primitivos e civilizados: eles se conservam mais ou menos estáveis. os est udantes que se disponham a fazer um curso superior passam a frequentar outras Escolas. questão 786 e seguintes. Uma vez vencido o período de aprendizagem proporcionado pelos institutos educacionais a que nos temos referido como exemplo.) . iniciar-se em outros. com os alunos novatos que vêm substituir os que foram promovidos. salvo pequenas alterações. procurações dos interessados para que tais provas sejam realizadas por outrem. Nos dias de sabatinas ou dc exames. e assim sucessivamente. nenhum guia ou protetor. mas as respectivas classes vãose renovando. de ano para ano. sem que nenhuma igreja. agora de nível universitário. nenhum santo. (Capítulo 8º. nas sublimes tarefas da Criação. a tuberculose. como a febre amarela. (questão 797. . por outro lado. vultosos empréstimos. fazendo que prevaleçam os sentimentos nobres. a trabalhar pela vitória do Bem. a despeito dos inúmeros males Sociais que ainda nos assoberbam a Humanidade tem progredido. em condições de resgate bastante vantajosas. O magno problema do desarmamento. um de seus órgãos. visando ao aumento da produção de víveres e consequente melhoria de seus padrões de nutrição. inspiradores dos mais belos e puros ideais. etc. de persistentes debates no seio da Assembleia Geral e. ganhando extensão e profundidade. obrigando milhares de pessoas a deixar suas pátrias em busca de refúgio em outros países. porém.61 30 A Evolução da Humanidade Em que pese à Opinião dos Cépticos e das criaturas mal informadas. inclusive a proscrição das armas de destruição maciça. ao contrário. Digna de destaque. alimentação. se dispõem. notáveis progressos já foram alcançados. igualmente. através de mediações ou negociações entre as partes litigantes. da crueldade e da injustiça. com tais soluções conciliatórias. o sacrifício de milhões de vidas. Graças àqueles que. ao solidarismo cristão? As relações amistosas entre as nações vão. dia a dia mais se desenvolve a noção de solidariedade para com UOSSOS semelhantes. em complemento. nesse documento. a malária. finalmente. Sob os auspícios das Nações Unidas. garantindo-se. ou seja. a varíola. seja auxiliando a erradiação de doenças epidêmicas ou de disseminação em massa. um dos objetivos precípuos da ONU. afastando-se pouco a pouco. a segurança e a paz internacionais. Enquanto esse dia não chega. vários conflitos armados foram evitados ou tiveram fim nestas últimas duas décadas. Haja vista que. na elevação das condições sanitárias de toda a Humanidade. seja amparando e fomentando a pesquisa médica internacional. as guerras continuam flagelando diversas regiões. fornecendo-lhes.) Uma boa prova disso no-la dão as Nações Unidas no relatório correspondente aos seus vinte anos de existência. tem sido alvo. iniciada a 24 de Outubro de 1945. dando-nos a esperança de que um acordo geral venha a ser firmado em breve. do egoísmo. Perguntamos:essa colaboração espontânea dos povos mais adiantados em benefício dos menos desenvolvidos não constitui indicio seguro de que estamos caminhando rumo ao altruísmo. um exame atento e sem juízo preconcebido da conduta humana há-de levar-nos à conclusão irrefutável de que. o compartilhamento de conhecimentos científicos promovido pelas Nações Unidas. bem assim assistência técnica. mais vivazes se mostram os anseios pela abolição da guerra e maiores avanços se verificam na luta em prol dos direitos humanos. evitando-se. esses refugiados (menores de idade. tendo em vista o desenvolvimento de todos os países e a eficiente ajuda da Organização Mundial da Saúde. apesar das divergências entre as principais potências nele interessadas. a seu turno. a informação de que algumas das nações mais prósperas estão doando seus excedentes agrícolas e outros gêneros alimentícios para amenizar os graves efeitos da fome em outras áreas do mundo. Ressalte-se. em vez de julgarem o Mal uma fatalidade. em grande parte) recebem abrigo. tem sido a porfia da Organização das Nações Unidas pela implantação da justiça social em todas as partes do mundo. segundo a qual todos. capazes de se auto-sustentarem onde quer que venham a viver. dos quais resultaram declarações especiais. de associação e de informação. no emprego. é “palpável”. os direitos da criança e a eliminação da discriminação racial na educação. subisse para 114. nas práticas religiosas e no exercício dos direitos políticos. gozavam desse privilégio. de religião. como se vê. como os direitos da mulher. Tais realizações revelam que entre os homens não existe apenas ódio. ou­ trossim. ISSo equivale a dizer que “as liberdades fundamentais do homem” vigoram. e daí o haver elaborado e proclamado. em mais do dobro dos países que. as Nações Unidas utilizaram fortes estímulos junto aos povos dependentes para que reivindicassem o autogoverno. do mesmo modo. todos os seus Estados membros de providências efetivas para a concretização dos princípios aprovados. têm “direito à vida. . Certos setores especializados. o direito de trabalhar sob condições favoráveis. o direito a uma nacionalidade. àliberdade de movimento. notadamente na Ásia e na África. recebendo remuneração igual por igual trabalho realizado. há vinte anos. mas também muita bondade e muito esforço sincero no sentido de acabar com o sofrimento. Agindo em consonância com os propósitos gerais da Organização. que abrangia apenas 51 Estados fundadores. Fecunda e incansável. A evolução da Humanidade. indistintamente. a Declaração Universal dos Direitos Humanos. resultando desse apoio o surgimento de grande número de novas nações independentes. à liberdade e segurança física. fazendo que seu quadro de membros.62 cuidados médicos. a 10 de Dezembro de 1948. Não é só. acurados estudos. pois. juntamente com a solicitação a. é dar mostra de acentuada miopia espiritual. hoje. tornando-se. assim. têm-lhe merecido. o direito ao casamento e a constituir família”. educação e formação profissional. Não enxergá-la. só depois de codificado. parece um mal. patentes. tirando delas as deduções filosóficas que suscitam? Não! Não é esse o meio pelo qual os homens haverão de ser convencidos. muito lento mesmo. mas em verdade é um bem. vai ele felicitando os que o compreendem. O que a conduz sempre para a frente são as novas idéias. isto é. para só vin garem aquelas que devam contribuir. porque funciona como um processo de seleção natural. porque os Espíritos não desencadeiam uma onda de manif estações ostensivas. Acontece. fazendo que as destituídas de real valor desapareçam e caiam no olvido. via de regra. só ao cabo de várias gerações logra ser aceito e assimilado pelos que seguem na retaguarda. mas principalmente a marcar uma nova era na História da Humanidade. demanda algum tempo. dizem: à parte esses fenômenos. Ainda quando pareça estar regredindo. uma solução racional para os problemas que no mais alto grau interessam ao meu futuro. quantos lhes reconhecem a autenticidade ou se dignam levá-las a sério. mas constante e ininterrupto.63 31 Influência do Espiritismo no Progresso da Humanidade O progresso da Humanidade. que “a Natureza não dá saltos”. às suas vistas. pela comprovação que oferecem da existência e da imortalidade da alma. que se revestiu de um corpo de doutrina. se o Espiritismo está fadado a exercer grande influência no adiantamento dos povos. até mesmo os materialistas e os ateus. impulsionando-a para a sublimação espiritual. o que ocorre em certos períodos transitórios. e qualquer princípio mais avançado. esse recuo não é senão o prenúncio de nova etapa de ascensão. é lento. são trazidas à Terra por missionários incumbidos de lhe ativarem a marcha. Nela encontro. pela profunda revolução que provoca em seus pensamentos e em seus ideais. “Enquanto sua influência não atinge as massas — como bem observou Kardec —. sejam forçados a crer neles e nas informações que nos trazem acerca do outro lado da Vida? Respondemos: Porventura o Cristo conseguiu convencer os seus contemporâneos quando realizou. Não se pode negar importância aos fenômenos espíritas. Talvez nos perguntem: se é assim. os feitos mais sur­ preendentes. Ela me dá calma. que fuja aos padrões culturais estabelecidos. O Espiritismo é um desses movimentos e se destina não apenas a abrir um campo diferente de pesquisas à Ciência. forçoso é convir. sociais ou religiosas. nos três anos em que com eles conviveu püblicamente? Tais manifestações sempre ocorreram e continuam ocorrendo por toda a parte. seja por orgulho ou outra razão qualquer. para o aperfeiçoamento das instituições. unicamente por meio do raciocínio. efetivamente. as quais. como ficou dito de início. há a filosofia. todavia. No entanto. entretanto. . pela vivência do Evangelho. sejam elas políticas. o Espiritismo começou a implantar-se no mundo. o que. Mesmo os que nenhum fenômeno têm testemunhado. mas sim pela inteligência. sem dúvida. que me explica o que nenhuma outra me havia explicado. de modo que todos. firmeza. principalmente nas classes mais cultas. Essa resistência às concepções modernas. pela razão. muito em breve. além de se espalharem por todo o Brasil e pelas Américas. apressando. assim. a fim de que seja cada vez mais digna da sublime tarefa que Jesus lhe há confiado. alicerçado no Amor. século esse abalado e conturbado pelas mais terríveis guerras da História. V. na Paz e na Fraternidade universais. da Ásia e da África. venha o Espiritismo a tornar-se crença comum. pois. na Justiça.) Tomando por base a difusão extraordinária que alcançou em apenas um século de existência. Ao lado de tudo isso. inclusive em Esperanto. é de se esperar que. um conhecimento universal. também. Suas edições de livros básicos da Doutrina. vem dando. secundária se torna a questão dos fatos materiais. Que Deus.” (L. conclusão. concorrendo sobremaneira para a reforma e a evangelizaçâo da Humanidade. livra-me do tormento da incerteza. têm penetrado. (Capítulo 8º questão 798 e seguintes) . uma contribuição valiosíssima. Como nenhuma outra entidade o tem feito. a construção de um mundo melhor. em dezenas de outros países da Europa.64 confiança. uma das maiores do Continente. ou melhor. “porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o caminho e lhe serve dc apoio”.E. a ampare e continue a iluminar seus dirigentes. através de sua Editora. A venerável Federação Espírita Brasileira. nesse sentido. e . As dissemelhanças que apresentam entre si. somadas ao idealismo irrefletido de outros. tal a equação oferecida pelo Evangelho à problemática social. quer em inteligência. incutindo-lhe. as vozes que ditaram a Kardec os delineamentos filosóficos do Espiritismo. para com o próximo e para com Deus. fazem que muitos sonhem com uma quimérica igualdade das riquezas. as san­ ções penais não recaiam tão somente sobre os fracos. A ambição e a inveja de uns. “seria desfeita a curto prazo pela força das coisas” —. todos devemos lutar para que as instituições terrenas se aperfeiçoem. Pelo contrário. não devam ser sanadas. amando-nos realmente uns aos outros como preceitua a Religião. que. não é a subversão da sociedade. todos os homens são iguais. quer em moralidade. através do mecanismo das vidas sucessivas. etc. o que retardaria o progresso e o bem-estar coletivos. levando-o ao cumprimento exato de seus deveres para consigo mesmo. haja oportunidades educacionais para quantos as desejem. serena e inabalável confiança nos desígnios da Providência. Quando o egoísmo e o orgulho deixarem de ser os sentimentos predominantes na Terra. pois tiveram o mesmo princípio e destinam-se. ainda. extingam-se os preconceitos de cor. outrossim. acrescentaram. não derivam da natureza íntima deles. resultam apenas de haverem sido criados há mais ou há menos tempo e do maior ou menor apro­ veitamento desse tempo. Essa igualdade absoluta dos homens perante Deus seria válida também em Sociologia? “Não. quando compreendermos que somos todos irmãos. “todos os homens são proletários da evolução” e que a diversidade de funções no complexo social é tão indispensável à sua harmonia quanto as variadas finalidades dos órgãos o são ao equilíbrio de nosso organismo. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres”. no desenvolvimento das aptidões e virtudes que lhes são intrínsecas. de raça e de crença. ao mesmo fim: a glória e a felicidade. que lhe garanta o mínimo necessário a uma vivência compatível com a dignidade humana. há mais de um século. O melhor meio de atingirmos esse objetivo. a todos retribui de conformidade com seus méritos. a mão-de-obra seja associada e não escrava do capital. permi­ tindo alcancemos uma situação tal em que caiam os privilégios de casta ou de nascimento. malgrado certas aparências enganadoras. já o disseram. indistintamente. todavia. Não se infira daí que as falhas de nossa estrutura sócio-econômica. perante Deus. se chegasse a concretizar-se. sem exceção. a cristianização do homem. “Que os trabalhadores da direção saibam amar e que os da realização nunca odeiem” (Emmanuel).65 32 A Lei de Igualdade Ensina a Doutrina Espírita que. nem é possível. Urge compreendamos que. qualquer que seja a posição em que se achem situados. responsáveis por tantos sofrimentos. todo homem de boa vontade achará ocupação adequada às suas aptidões. consoante o bom ou o mau uso do livre arbítrio por parte de cada um. que não desampara ninguém e. aquelas mesmas vozes. mas sim. que nos assinalou um só e único destino. questão 803 e seguintes. razão teleológica de nossa existência. conquistar a Sabedoria e o Amor. Beneficiados pela lei de Deus. sem que precisem humilhar-se. dedicando-nos ao trabalho e à prática do Bem. embora momentâneamente co locados em diferentes planos na paisagem social da Terra. o que vale dizer — todos haveremos de sentir. por doença ou velhice. recorrendo àcaridade pública. o “reino do céu” dentro de nossos próprios corações. guardando a ceríeza de que. em atenção às necessidades evolutivas de cada qual. um dia. busquemos.66 mesmo aqueles que não mais possam manter-se em atividade.) . todos. terão a seu favor o amparo da lei. (Capítulo 9º. todos caminhamos para um atado de justiça perfeita. transportando quase toda a bagagem. inclusive. é devida “ao predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem”. visto que. É possível tenha existido um período na evolução da sociedade em que a mulher houvesse exercido papel predominante na família e na tribo. em todas as fases de sua vida e em todo e qualquer sistema social vigente. o sogro. Mais tarde. caso não fosse cerceada. o homem habilitou-se ainda mais a impor sua supremacia. dando origem a uma linhagem matrilinear. foi-se enfraquecendo ao afeiçoar-se à arte do cesto e da esteira. A regra. a iniciativa de tomar marido ou maridos. misteres estes que exigiam maior resistência física. No estágio da caça. em sua liberdade e em seus anseios de realização. etc. desde as sociedades primevas. é verdade que.67 33 A Igualdade de Direitos do Homem e da Mulher Disseram. mulher. mas são casos excepcionais. gado. se assim o desejasse (o que deve ter durado muito pouco). aqui. nos intervalos de suas excursões cinegéticas. com muito acerto. sempre a prejudicaram na competição dos sexos. era abandonada pelo caminho. em quase todo o mundo. as pesquisas sociológicas comprovam que a supremacia masculina só foi obtida pela violência. Nas marchas.. a herança. quando deixou de ser nômade para aplicar-se à agricultura e ao pastoreio. ali e acolá. se se mostrasse incapaz de acom­ panhar o bando. presa ao lar. é certo que ainda existem alguns povos de civilização primária. o irmão mais velho. etc. que Deus outorgou a ambos os sexos os mesmos direitos. cresceu também a subordinação da. a mulher tê-lo-ia auxiliado e acompanhado nas glórias de que se ufana. cozinhava e fazia as vestes para a família. E assim nasceu a moralidade dupla. enquanto o homem descansava. tão inteligente quanto o homem. mantinha-a em ordem. à subordinação e à obediência a um homem: o pai. era ela quem construia a cabana. e que a situação de inferioridade em que se acha a mulher. condenando-a. que perdura até hoje. à tecelagem. conquanto se permitisse exercitar o sexo fora de casa. predispondo-a à delicadeza das funções maternais. folgadamente. É que o homem. ou seja “o abuso da força sobre a fraqueza Efetivamente. como coisa absolutamente natural. sob qualquer ponto de vista. era usada como besta de carga. . e. as entidades que forneceram a Kardec os subsídios com que foi composto “O Livro dos Espíritos”. A periódica perturbação uterina que a acomete. à costura. cioso de que a herança só fôsse transmitida a filhos seguramente seus. lenhava. a fragilidade de sua constituição orgânica e a maior sensibilidade com que Deus a criou. em que a mulher tem maior importância econômica que o homem. foi e continua sendo a sujeição da mulher. já que a mulher. Com o crescimento da propriedade transmissível. a qual o nome dos filhos. passou a exigir delâ a mais perfeita castidade antes do casamento e a mais completa fidelidade depois. provêm da mãe e não do pai. algumas mulheres ascenderam à chefia de nações. constituída de produtos da terra. o marido ou o filho. cabendolhe. exclusivamente ao sabor do egoísmo que o tem caracterizado ao longo das idades. por Leis e preconceitos engrendrados pelo sexo forte. além de cuidar dos filhos. segundo. àcerâmica e a outros afazeres que tais. os povos que o adotaram erigiram o casamento monogâmico como a única forma legítima de associação dos sexos. Sólon baixou um decreto. e depois entregava o chicote ao marido. definitivamente. com o advento do Cristianismo. em plena “idade do ouro”. para livrarem as filhas de tanta miséria. Embora honrada no lar. Muitas mães. antes tolerado como pecado venial. Aquela podia ser repudiada com uma simples palavra ou dada em pagamento de dívidas. A família patriarcal. impôs-se. quase todos os homens ricos possuíam”. pelos cães ou por feras. além da “esposa principal”. Assim. Esposa e filhas tornaram-se. Gradualmente. por ocasião do casamento das filhas. o pai aplicava-lhes. sem que lhe importasse conhecer o objetivo da transação. que delas dispunha. Na velha Rússia. vendidas a quem as quisesse adquirir. o maior regozijo. verdadeiras escravas do chefe de família. persistiram. as concubinas foram desaparecendo. com o macho mais velho à frente. a poligamia expandiu-se.” Nos primórdios de Roma era comum as crianças do sexo feminino serem abondonadas num distrito baixo e pantanoso. como “coisas” de sua propriedade. com o progresso moral. com o nascimento dos meninos do que com o das meninas. Vem daí. a seu bel-prazer. que as destinavam ao meretrício. mesmo em nossos dias. certamente. fazendo-se a base econômica. até bem pouco tempo. não raro. As restrições às atividades da mulher. a esta altura. atenuado em outros. para acompanhá-lo na sepultura. Na Grécia. onde eram devoradas por aves de rapina. quantas concubinas lhes aprouvessem.68 A partir daí. situado perto do Monte Aventino. legal e política da sociedade. foi a mulher submetida a um regime de reclusão. sendo considerado tanto mais próspero quanto maior fôsse o número delas e de filhos. já o profeta Oseias obteve sua mulher por muito menos: apenas quinze ciclos de prata e alguma quantidade de cevada. todavia. visto que cada nova mulher que desposava era. Haja vista que em algumas não lhe permitem sequer . Entre os judeus. algumas chicotadas. sendo que seu compatriota. preferiam destruí-las ao nascerem. numa transmissão de poder. para o homem. o não menos famoso Eurípedis. o casamento fazia-se. Jacob pagou Lia e depois Raquel com catorze anos de trabalho no clã do sogro. moral. Como mulher e prole se constituíssem unidades de trabalho lucrativas. No Oriente. devendo suicidar-se ou ser morta. rigorosíssimo em alguns povos. pelo qual “qualquer ato realizado sob a. As religiões (dominadas pelo homem) também hão considerado a mulher como um ser inferior. estas. sete para cada uma. como que a aplicação de capital a lhe produzir juros. ela não tinha o direito de sobreviver ao marido. por compra. até que. influência de uma mulher não seria considerado válido perante a justiça”. nem lhe permitiam ombrear-se com o homem na vida pública. então. pagando com a morte o adultério. de leve. não lhe davam oportunidade de ilustrar-se além do necessário ao múnus doméstico. considerava-a “vítima de irremediável inferioridade mental. Salvavamse apenas as que eram apanhadas por mercadores de escravos. Chegará o dia em que. a mulher venha a desfrutar os mesmos direitos do homem? Sim. para a perfeita harmonia no lar e. visto que inexistem razões em contrário. imita o homem em seus desvarios e licenciosidades e deixa de dar aos filhos a atenção e o carinho devidos. em outras.69 entrar nos templos. consequentemente. mas não conseguiu ainda ficar em pé de igualdade com o homem. há-de tributar-lhe o merecido apreço. Entretanto. refere-se a ela como criatura imperfeita. Troca as alegrias sacrossantas do lar pelos gozos turvos do mundanismo. convencido. enquanto o homem. talvez. A mulher acabará com preendendo que. nas próprias igrejas cristãs o sacerdócio é dignidade privativa do sexo masculino e se. chegando a declarar. por um lado. descendo do pedestal de pretensa superioridade em que se colocou. perdendo. compensar-se do longo período de escravização a que foi submetida. a mulher vem ampliando bastante sua atuação na sociedade. de coadjuvar nas cerimônias ritualísticas. de que sua compa­ nheira faz jus às mesmas prerrogativas humanas. se tudo é lícito a ambos. pois até em países de cultura mais avançada continuam a negar-lhe regalias políticas e a exigir-lhe autorização do marido para que possa praticar diversos atos de natureza civil. o Alcorão. cabe ao bom-senso determinar o que seja mais conveniente ao homem e à mulher. (Capítulo 9º. vencendo barreiras milenares. exaltam a mulher na pessoa da mãe de Jesus. masculinizando-se no pior sentido. o que é pior. que o ho— mem pode até espancá-la. contribuindo. participando de tarefas outrora únicamente masculinas. deve voltar a ocupar-se doa seus deveres de esposa e de mãe. no corpo social. Há pouco mais de meio século. Acreditamos. a mulher moderna está agora cometendo um grave erro: o de subestimar ou mesmo rejeitar a sublimidade das funções que lhe foram des­ tinadas pela Providência. Querendo. para que eles (os filhos). que essa estado de coisas seja transitório. de conformidade com suas aptidões”. finalmente. livro sagrado dos muçulmanos. em grande parte. pois. por outro apontam-na como agente do demônio. todavia. porqüanto. explicitamente. como o prova esse trágico fenômeno a que se convencionou chamar “juventude transviada”. sen­ tindo-se desprezados. completamente emancipada. ipso-facto. e. questão 817 e seguintes). se revoltem contra a vida. “preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. di-lo a Doutrina Espírita. para ser verdadeiramente feliz. . é a sua cara «metade”. causa da perdição da Humanidade. em última análise. o seu amor e o seu respeito. Essa liberdade. só existe uma espécie de homens e que. ainda. não pela cor da epiderme ou do sangue. de há muito que a escravatura foi abolida e. também. nem fôssem nossos irmãos em humanidade. isto é. livremente. se assim lhe aprouvesse. Sinais evidentes desta evolução. com ela. definitivamente superado e não voltará jamais. pela melhor compreensão que tenham das coisas e principalmente pela bondade que imprimam em seus atos. que homens de certas raças fôssem caçados e vendidos. inclinando-a ao liberalismo e à tolerância. Isto posto. as chamas das fogueiras foram substituidas pelas luzes do esclarecimento. dono de si mesmo. a extinção do famigerado “Index Librorum Prohibitorum”. conquanto padeçam. Coube ao Cristianismo mostrar que. de nossos destinos. De século para século. o rol dos livros proibidos pela congregação do Santo Ofício. João 23 e Paulo 6º. notáveis progressos.70 34 A Lei de Liberdade O homem é. daqui para o futuro. deram à Igreja Católica. pelos códigos terrenos. isto é. Felizmente. todos somos cidadãos. e nem poderia sé-lo. assim como foi permitido. Nas dissensões religiosas. buscar-se-á empregar. na falsa suposição de que eram seres inferiores e. convivendo em sociedade. no qual eram incluídas todas as obras que. quais bestas de carga. talvez. Durante muito tempo. mas pelo espírito. e na catequese filosófica ou política. o privilégio que tinha o senhor de poder maltratar impunemente o escravo. todo e qualquer costume. cada vez mais. idéias bem diferentes. vêm alcançando. igualmente. . A liberdade de pensamento e a de consciência. não é absoluta. mais amplas se tornam as garantias individuais no que tange à inviolabilidade do foro íntimo. embora edificantes. tem o direito de fazer tudo quanto achar conveniente ou necessário à conservação e ao desenvolvimento de sua vida. mais ou menos puros e elevados eles o são. porém. que torne uma pessoa completamente sujeita a outra. ali e acolá. ou seja. aqui. aceitou-se. temo-los: a) na orientação que os dois últimos papas. ou mesmo matá-lo. está. Vingam e viçam. hoje. podendo dispor. por se inscreverem. entre elas. entre os direitos naturais do homem. perante Deus. a cada geração que surge. estejamos certos. que alguns retrógrados desejariam ver restabelecido. a força da persuasão ao invés da imposição pela força. como justa. certas restrições e repressões. como o provam as decisões tomadas no Concílio Ecumênico recentemente encerrado. o homem tem o dever de respeitar esse mesmo direito em cada um de seus semelhantes. de jeito nenhum. infirmassem ou contradissessem a sua doutrina. pela simples razão de que. Agora. por natureza. constitui uma iniquidade contrária à lei de Deus. menos dificuldade encontra o homem para pensar sem peias e. O sistema do “crê ou morre”. a escravização dos povos vencidos em guerras. pois tal concordância há-de levar-nos. estamos ainda muito distantes de uma vivência mundial de integral respeito às liberdades humanas. menos dia. como o fazia até há alguns anos. em lugar da conquista pelas armas. mais dia. a esse estado de paz e de felicidade a que todos aspiramos. (Capítulo 10º.71 b) na linha adotada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Sem dúvida.) . questão 825 e seguintes. já as aceitamos como um ideal a ser atingido. e isso é um grande passo. todavia. ao optar pela propaganda ideológica como o meio mais eficaz de atrair os povos para o socialismo. a distribuir graças a uns e desgraças a outros. cabendo ao homem apenas o regozijarse. o caráter e a in­ dole da raça a que pertença. em maior ou menor escala. Se Deus regula. dando ensejo a que se formulassem. a possibilidade que ele tem de. ou resignar-se. três correntes filosóficas existem que negam peremptõriamente o livre arbítrio: o fatalismo. de alimentação e de filosofia. Assim. escolher uma delas e fazer que prevaleça sobre as outras”. No extremo oposto. . as condições de saúde.72 35 O Livre Arbítrio O livre arbítrio é definido como “a faculdade que tem o indivíduo de determinar a sua própria conduta”. enquanto outras foram de antemão marcadas para uma vida reprovável e. tamanha a. Os fatalistas acreditam que todos os acontecimentos estão prêviamente fixados por uma causa sobrenatural. pois. palavras e ações do homem são espontâneos e. à bem-aventurança celestial. no estilo de vida. porqüanto não há como deixar de reconhecer as inúmeras influências e constrangimentos a que. Evidentemente. várias doutrinas díspares e antagônicas até. estamos sujeitos. Ambas repugnam às consciências esclarecidas. de sua inteira responsabilidade. fazem de hindus e americanos do norte tipos humanos que se distinguem profundamente. por exemplo. Problema fundamental da Filosofia ética e psicológica. sem mérito nem responsabilidade. Os fatores apontados acima são. diferenças climáticas. ou. ensinando que desde toda a eternidade algumas almas foram predestinadas a uma vida de retidão e. tanto na complexão física. precondenadas às penas eternas do inferno. a seu turno. a respeito. antecipadamente. vem sendo estudado e discutido acaloradamente desde os primeiros séculos de nossa era. de sentir e de proceder do homem. o solo e o meio social em que viva. “entre duas ou mais razões suficientes de querer ou de agir. depois da morte. em outras palavras. como pode este indivíduo ter liberdade para fazer ou deixar de fazer o que Deus terá decidido que ele venha a fazer? Estas duas doutrinas. que os pensamentos. Acham alguns que o livre arbítrio é absoluto. laboram em erro. capazes de condicionar e cercear a nossa liberdade. o clima. apresentando-O àfeição de um déspota injusto. como se vê. longe de serem livres. consequentemente. de fato. Os predestinacionistas baseiam-se na soberania da graça divina. reduzem o homem a simples autômato. dependem integralmente de uma série de contingências a que ele não pode furtar-se. se o destino lhe for adverso. Os deterministas. incontestáveis e pesam bastante na maneira de pensar. sustentam que as ações e a conduta do indivíduo. sua aberraçao. além de outras circunstâncias não menos importantes. a educação. os princípios religiosos e os exemplos que receba. etc. ünicamente ao sabor de seu capricho. ao mesmo tempo que rebaixam o conceito de Deus. todos os atos e todas as vontades de cada indivíduo — argumentam —. o sexo. quais o regime alimentar. como nos ideais. como os costumes. se favorecido com uma boa sorte. o predestinacionismo e o determinismo. a fortuna nos torna soberbos. porém. Com efeito. terá a capacidade de. já na idade provecta.73 via de regra. de parceria com as impressões. voluntàriamente. muitas vezes. embora desatendendo. ainda que todos ao seu derredor estejam em pânico. numa criatura de pequena evolução espiritual. adquire energias poderosíssimas que o tomam cada vez mais apto a franquear obstáculos e limi­ tações. questão 843 e seguintes) . estamos sempre dispostos a cantar e a dançar. uma sonata romântica nos predispõe à ternura. realmente pouca liberdade tem de escolher entre o bem o mal. Daí. sejam de que natureza forem. mesmo faminto. conquanto rudemente ofendido. para decidir sempre pelo mais justo. preferimos a meditação e a tranqüilidade. há em nós uma força íntima e pessoal que sobreexcede e transcende a tudo isso: nosso “eu” espiritual! Esse “eu”. que domina suas paixões e desenvolve sua vontade nos embates da Vida. aos seus próprios desejos e interesses. como o Cristo. pois. saberá refrear sua cólera e não revidar à ofen­ sa. e. contràriamente a uma tarde sombria e chuvosa. etc. um dia claro e ensolarado nos estimula e alegra. abster-se de comer. à medida que se esclarece. Um dia. enquanto a necessidade nos faz humildes. visto que se rege mais pelos instintos do que pela inteligência ou pelo coração. sua paz interior. condicionamentos e sanções do ambiente que nos cerca. a dogmatizar que somos completamente governados pelas células orgânicas. Não é só. (Capítulo 10º. Habilita-se também a pesar as razões e medir conseqüências. poderá afirmar que já venceu o mundo. que nos deprime e entristece. Mas. ser moral ou alma (como quer que lhe chamemos). ao passo que os acordes marciais nos despertam ímpetos belicosos. quando jovens e saudáveis. vai uma distância incomensurável. manterá. imperturbável. nem de seus esforços. desgostos e aflições há que nos alcançam sem que possamos atribuir-lhes uma causa cognoscível. faz-nos compreender claramente o porquê de todos os problemas relacionados com a nossa suposta “má sorte”. dentro dos quadros de nossa existência atual. fracassos e tristezas decorrem. inexoràvelmente. o resultado de nossas decisôes. ao contrário. com a chave da reencarnação. vicissitudes. embora grande parte daquilo que nos acontece sejam consequências naturais de atos consciente ou inconscientemente praticados por nós. inteiramente irres­ ponsável. não de nossa “má estrela”. entretanto. porque “a semeadura é livre. a criatura humana se reduziria a simples máquina. determinadas doenças e aleijões. destituída de liberdade e. A Doutrina Espírita. mas a colheita é obrigatória”. nossas decepções. Ora. sem causa imediata nem remota nesta vida. Os acontecimentos que nos ferem e magoam. Sirvam-nos de exemplo certos acidentes pessoais. quase sempre. . realmente. Importa reconhecermos. As doutrinas que negam a pluralidade das existências. de nossa falta de aptidão para conseguir o que ambicionamos. porém. Em anterior(es) existência(s). impossibilitadas de apresentar uma explicação satisfatória para essa importante questão. os conceitos de Bem e Mal ficariam sem base. como se isso fôsse suficiente para saciar a sede das mentes perquiridoras e tranquilizar os corações dilacerados pela dor. que. à mercê dessa força e desse arrastamento? Raciocinemos: Se todas as coisas estivessem previamente determinadas e nada se pudesse fazer para impedi-las ou modificar-lhes o curso.74 36 Fatalidade e Destino Fatalidade e destino são dois termos que se empregam. ou o caso de pessoas duramente feridas em suas afeições ou cujos reveses cruéis não dependeram de sua inteligência. Estaríamos nós. ou a recomendar paciência e resignação aos desgraçados. tornando nulo todo e qualquer princípio ditado pela Moral. pois. que nenhuma providência nossa ou de quem quer que seja teria podido evitar. Subseqüentemente. no corpo ou na alma. desastres financeiros absolutamente imprevisíveis. com ou sem a intenção de atingir-nos. para expressar a força determinante e irrevogáveL dos acontecimentos da vida. entre a virtude e o vicio. longe de se constituírem azares da fatalidade ou caprichos de um destino cego. bem assim o arrastamento irresistível do homem para tais sucessos. tivemos a. como acreditam os supersticiosos. limitamse a dizer que os desígnios de Deus são imperscrutáveis. pela qual cada um recebe de volta aquilo que tem dado. independentemente de sua vontade. temos que sofrer. são efeitos da Lei de Retorno. mas pura e simplesmente de nossa maneira errônea de proceder. ou por uma expectativa exageradamente otimista sobre o que este mundo nos possa oferecer. ou por outrem. faculdade de escolher entre o amor e o ódio. é evidente que. amiúde. entre a justiça e a iniquidade. agora. amanhã. para que nossas agruras de hoje se transformem. Em suma. antes de reencarnarmos. a fim de merecermos acesso a planos mais felizes onde a paz e a harmonia reinam soberanamente. sômente em bênçãos e alegrias. mas já vimos que somos nós próprios.) . então. ser fatais. (Capítulo 10º. palavras e ações de cada momento. no exercício do livre arbítrio. de dignificar nossa presença à face da Terra. algumas circunstâncias graves.75 Quando assim não seja. ativando. destarte. agindo sempre em conformidade com as leis divinas. questão 851 e seguintes. portanto. que o resultado de nosso passado. que Lhes geramos as causas determinantes. Tratemos. com o objetivo de desenvolver esta ou aquela boa qualidade de que ainda nos ressentimos. podem. pelos pensamentos. nosso aperfeiçoamento. assim como nosso futuro está sendo construído agora. sim. bem-estar e tran­ quilidade. Nosso presente nada mais é. as dificuldades e os sofrimentos por que passamos fazem parte das provas por nós mesmos escolhidas. capazes de ensejar nosso progresso espiritual. mas o certo éque jamais chegam a realizá-las. firmeza e pugnacidade. imitamos. Em tão breve trajeto cada um há-de acabar a sua tarefa. ingênua-mente. de que apreciável parte do que fazemos é produto ou resultado de influências que outros exercem em nós e muitas de nossas atitudes são o reflexo desse poder. Outrossim. urge. acaba por acomodar-se à situação em que está. É preciso partir em direção do triunfo desejado. pela morte.” Quase todas as pessoas têm aspirações. Como disse o grande Rui Barbosa. não devemos louvar-nos nos indolentes. não devemos esperar. nem nos negligentes. Aquele que não sabe para onde vai. desafiando contingências. entretanto. amoldamos. corajosamente. deixando passar as horas. chegando a ocupar lugares de destaque. renovam promessas e intenções. Se quisermos prosperar. Aqueles são a . que nos. poucas. desejos. Não pode ter ímpeto de subir quem não tem orientação. Diariamente desperdiçam ensejos de se melhorarem. Assim. menos ainda nos pessimistas. enfim. também. A aparente “boa sorte” nada mais é que o resultado de uma conduta inteligente à face das vicissitudes terrenas. os dias e os anos na mais completa passividade. as oportunidades que almejamos. Inconsciente ou conscientemente. como e porque se tornaram verdadeiros luminares. “a vida não tem mais que duas portas: uma de entrar. antes de mais nada. as pegadas. tendo sempre na lembrança aquela máxima que nos adverte: “Há poucos bancos com sombra no caminho da glória. inclinando-nos para a mediocridade e o comodismo. que façam diminuir o nosso interesse pelas coisas grandiosas. Cumpre estejamos advertidos. A que atribuir isso ?“ Resposta de seus instrutores espirituais: “De ordinário. determinemos claramente o objetivo a ser alcançado. Quando ficamos na expectativa da ocasião oportuna para intentarmos algo. arrostando sacrifícios. dominante. e que por ela conseguiram vencer suas próprias fraquezas e deficiências. outra de sair. geralmente ela não chega. Investiguemos como e porque essas pessoas conseguiram sobrepor-se a todas as adversidades. criando. Procuremos conhecer a biografia dessas criaturas vitoriosas que se constituíram paradigmas para a Humanidade e sigamos-lhes. pelo nascimento.76 37 Como Conquistar a Prosperidade Indagação de Kardec: “Pessoas há que parecem favorecidas pela sorte. Inspiremonos. isto sim. Aí está. pois tudo lhes sai bem. é que essas pessoas sabem conduzir-se melhor em suas empresas. episódios sublimes de paciência. com seus exemplos. se pretendemos classificar-nos entre os homens de primeira ordem. naqueles que mostram possuir uma vontade poderosa. pois. que nos convidem a participar do banquete da vida. as que se propõem chegar à meta de seus sonhos. Com que elementos? Com os que herdou e os que cria. copiamos os atos e pensamentos de outras pessoas. valor e distinção. escrevendo. Nesse aprimoramento. para todos aqueles que a saibam viver! (Capítulo 10º. a do trabalho. arruínam a saúde. perdulàriamente. pode reagir sobre as desigualdades nativas e. como alguns indivíduos. que adquiramos o hábito da economia e nele nos adestremos.) . Assumamos. a sobriedade. sobre serem contrários aos princípios da moral cristã. portanto — concluímos nós —. não devem ser esquecidas certas virtudes a que poderíamos chamar domésticas. nem tão-pouco procedendo como aqueles que gastam tudo quanto possuem. mas sàbiamente aproveitado na aquisição de novos conhecimentos e experiências que nos enriqueçam a personalidade. como a pontualidade. questão 864. Em tudo isso não há surpresas. que não convém ser malbaratado à-toa. por lhe minguarem de nascença haveres e qualidades. que se não possam esperar da tenacidade e santidade do trabalho. só para ficarem mais ricos. roubani a paz interior e aviltam a dignidade humana. fixemos bem Isto: não é apenas o dinheiro que devemos poupar. que não devem ser dissipadas loucaxnente em noites mal dormidas. pelo aprimoramento constante de suas faculdades. existindo sempre mil e uma possibilidades de realizações bem inspiradas. de sorte que haja sempre algumas sobras. É o tempo. portanto. O ideal está no meio termo: não ser pródigo. o progresso é ilimitado. ninguém se creia malfadado. Há outros bens de maior valia que precisam e devem ser pou pados com mais cuidado ainda. na satisfação de prazeres desonestos. para com elas formar um pecúlio que nos ponha a salvo das incertezas do amanhã. Ninguém desanime. nem avarento. infinito. resolutos. Faz-se mister.77 parte da natureza. capazes de nos premiarem com o êxito e a prosperidade. pela perseverança. sempre para a frente. pois. graduando as necessidades na proporção das rendas que se tenham. a ética profissional. Ao contrário do que a alguns possa parecer.” Qualquer. de que necessitamos para uso cotidiano. São as energias físicas e espirituais. em coisas supérfluas ou no aprazimento de vícios perniciosos e vaidades tolas. e às vezes mesmo o que não possuem. Não certamente. que se privam do útil e até do necessário. nos limites de sua energia moral. na convicção plena e inabalável de que a vida é bela e boa e venturosa. igualar-se e até mesmo sobrepujar os que a natureza ou a sociedade melhor haviam aquinhoado. pois muitos homens mentalmente superiores têm fracassado em seus empreendimentos por negligenciarem de tais predicados. ainda. de que o berço lhe não fôsse generoso. Estes. pela fé em si mesmo. pela atividade. mas criterioso no gastar. Mas. a delicadeza. uma atitude de otimismo e de autoconfiança e marchemos. Esses dois extremos são deformações linfelizes. etc. pois tais desregramentos. para a frente. sim. há sido predestinado a praticar um crime ou qualquer outro ato delituoso que envolva responsabilidade moral. p. ligadas ao nosso carma (débitos ou créditos perante a Justiça Divina. embora muitos fatos possam ser previstos. porém. conforme diz o Evangelho. dirigem os destinos do mundo ou têm sob sua tutela este ou aquele setor das atividades humanas. ao nascer. Isto deixa claro que ninguém é constrangido. se bem que muito relativa. jamais. permitem prever. a fim de que cada um concorra para a realização das coisas. Destarte.78 38 Conhecimento do Futuro Pode o homem conhecer o seu futuro? E. Importa esclarecer. Afora isto. existe. de forma absoluta. que. por duas razões. É que se todo sucesso tem uma causa. e que ninguém. já que as pessoas trazem. por constarem dos planos das entidades espirituais que. Sempre que. Segunda: as circunstâncias a que chamaríamos inevitáveis. tudo o mais será bem mais difícil. certas tendências. assim como de resistirem ou cederem (como no caso de Judas) a um alvitre que poderá acarretar-lhes as mais dolorosas con­ sequências. se pode. o que serão ou o que farão na vida. ex. cujas manifestações. e o tem sido. negligenciaria do presente e não agiria com a liberdade com que o faz. resultantes de nosso procedimento em encarnações anteriores). a obrar desta ou daquela maneira. com as modificações provocadas por aquilo que formos fazendo de instante a instante.) Algumas vezes. tenham plena liberdade de cumprir ou não as tarefas que lhes estavam assinaladas. algo de suma importância deva necessàriamente . até daquelas a que desejaria opor-se”. O que sucede é que “cada um é tentado segundo suas próprias concupiscências”. É quando a revelação favoreça a consumação de algo em benefício da Humanidade. e como quem se aproxima de uma forja acesa grande probabilidade tem de se queimar. como prepostos de Deus. em última instância. entretanto. também o ambicioso pode sucumbir ante uma situação que lhe exacerbe a cobiça.. de modo a que. cada causa produz determinado efeito. ou então procuraria obstar a que acontecesse. os acontecimentos porvindouros de nossa existência vão depender do que estivermos fazendo agora. (Kardec. mais ou menos evidentes. se uma coisa tem que acontecer. inútil será ocuparse com ela. semelhando-se a páginas em branco de um livro parcialmente anotado. o futuro pode ser revelado. reciprocamente. “se o homem conhecesse o futuro. e assim por diante. deve procurar conhecêlo? Eis aí duas perguntas interessantíssimas. porque o dominaria a idéia de que. o livre arbítrio das pessoas diretamente ligadas a esses fatos é sempre respeitado. Primeira: grande parte de nossa sorte futura ainda não está nem poderia estar delineada. por outro lado também não podem ser-nos desvendadas. aptidões e qualidades inatas. até certo ponto. às quais responde a Doutrina Espírita da seguinte maneira: Essa possibilidade. pois. Não quis Deus que assim fôsse. todavia. da necromancia. O interesse — diríamos melhor —.) . desaconselha-as aberta e veementemente. o mesmo acontecendo quando. subordina-as a estas duas condições: 1) a espontaneidade. saibam-no de uma vez por todas. etc. julgadas desnecessárias. e aquele ou aqueles que seriam os possíveis agentes não se mostrem à altura. da quiromancia. ou. o desespero. face à “segurança” de um por-vir próspero e venturoso. não as utiliza nem as recomenda. do que podem resultar terríveis decepções.79 acontecer. a sôfrega expectativa de um evento feliz. a curiosidade que tantos demonstram em conhecer o seu futuro apresenta sérios inconvenientes. da vidência. amiúde e injustamente confundido com as práticas adivinhadeiras. a falta de iniciativa e de ação. (Capítulo 10º. ou se tenham desviado de moto próprio do caminho que os levaria a tal objetivo. questão 868 e seguintes. senão mesmo a loucura e o suicídio ante um funesto presságio. embora admita a possibilidade de eventuais revelações do futuro. ainda. o desfecho é que deva ser outro. rendosos meios de vida. as referidas entidades espirituais sabem como encaminhar as coisas de maneira que outrem lhes tomem o lugar. Outro. O Espiritismo. em conformidade com os desígnios providenciais. Um deles. inversamente. 2) um fim sério que as justifique. pelo contrário. o de contribuir para que espertalhões sem escrúpulos façam da astrologia. pois. da cartomancia. jamais erraríamos. ex. porém. em inúmeros casos. p. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo. esses modos de agir. é que prevalecerá no complexo social. por “direito” expresso em suas constituições. é evidente que só lhes faria o bem. por conseguinte. se aquele significa “o que é justo”. foi por muito tempo consagrado como coisa legal. conquanto baseados na jurisprudência terrena. ou seja.” (Mat. outorgada para a felicidade universal. a justiça humana há feito leis prescrevendo como direitos umas tantas práticas que favorecem apenas os ricos e poderosos. isto é. . não se harmonizam com a verdadeira justiça. em detrimento dos pobres e dos fracos. se cada qual procedesse com seus irmãos de conformidade com aquela regra. constituindo-se. gratificações especiais. imunidades especiais. o “jus primae noctis”. assim como há concedido a alguns certas prerrogativas que de forma nenhuma poderiam ser generalizadas.. era ou ainda é um “direito” civil reservado exclusivamente aos proprietários. dava ao barão feudal “direito” de deitar-se com a noiva dos seus servos antes que ela se juntasse ao noivo. aos nobres cabia o “direito” de se armarem com espadas de um metro de comprimento. o assassínio igualmen­ te tem sido utilizado. licenças especiais. pois tinham que estar preparados para matar ou ser mortos. que o divino mestre Jesus sintetizou na máxima: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam. ignorando ou desprezando a Lei de Deus. quando se sabe que todo privilégio é contrário ao direito comum. Ora. no século 17. com todas as crueldades que lhe eram peculiares. em muitos países. Lamentàvelmente. “Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças — comenta Kardec (capítulo 11º. O escravismo. esta se traduz por “conformidade com o direito”. pois. isen­ ções especiais. quando era costume todos os homens portarem um instrumento mortífero. o que implica tremenda iniquidade. aposentadorias especiais. em um e outro hemisfério. são outros tantos “direitos” sacramentados por leis. um “direito” assegurado pelos sistemas sociais vigentes por mais de um milênio. que é a causa mâter de quase todos os atritos e conflitos que infelicitam a Humanidade. assim. em toda e qualquer circunstância. deveriam expressar a mesma virtude. Talvez nos digam que se os homens atribuírem a si mesmos. o exercício de cargos eletivos. em privilégios. nações houve e talvez ainda haja. indistintamente. enquanto os plebeus só podiam usar punhais de até 30 centímetros.80 39 Direito e Justiça Direito e Justiça deveriam ser sinônimos perfeitos. bom e útil. porque. a justiça natural. na Idade Média. cuja governança. fazei-o também vós a eles. qual um “direito”. regimes de trabalho especiais. e não a ordem. com exclusão das demais. Ninguém deseja para si senão o que é agradável. 7:12) Se a aplicássemos em nossas relações sociais. Direito e Justiça nem sempre se correspondem. iguais direitos. questão 876) — o homem sempre se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. resultando daí a extinção do egoísmo. a hierarquia de poderes será desfeita e então o caos. aqui na Terra. etc. não apenas pelos indivíduos como pela própria Sociedade. só podia ser exercida por alguém de determinada confissão religiosa. aos seus olhos. conformes aos códigos da época.81 Respondemos com as vozes do Alto: “Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens. Esses direitos são eternos. e todos. não há razão para temer-se que o reconhecimento da igualdade dos homens possa prejudicar a organização social. desde os de condição mais humilde até os de posição mais elevada. É importante acentuar isto. e sua supressão. de sorte que. A subordinação não se achará comprometida. para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres. fundamentando-se numa só norma: “ama a teu próximo como a ti mesmo”. melhores concepções vão tendo acerca de tudo. pois em tal consiste “toda a Lei e os Profetas”. que hoje consideraríamos bárbaros e monstruosos. quando o Cristianismo se haja implantado. ao invés de arruinar a sociedade. Demais.) Com efeito. de verdade. cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que a mereçam por suas virtudes. vem-na tornando cada vez mais perfeita. pouco a pouco. são iguais. . o Direito e a Justiça confundir-se-ão finalmente. quando a autoridade for deferida à sabedoria” (questão 878. do estado ideal. aproximando-a. Deus não fêz uns de limo mais puro do que o de que se serviu para fazer os outros. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Muitos costumes do passado. foram julgados “direitos” naturais. em cada coração. a fim de merecer essas deferências. À medida que os homens progridem em moralidade. O desejo de possuir. etc. porque a ambição é. um dos mais fortes sentimentos humanos. Ora. egoisticamente. onde essa prerrogativa democrática foi proscrita. ao invés de malgastar seus rendimentos no vicio e no luxo. subseqüentemente. tudo santifica. cabendo-lhe. o homem passa a compreender . entretanto. constituindo-se. a Sociedade não teria que arcar. o homem renuncie aos interesses pessoais em nome de um ideal igualitário. e tão cedo não deixará de sê-lo. 19:24). reparação essa que.. não resistem ao fascínio das riquezas e. tratassem de formar um pecúlio com que assegurar a tranquilidade de sua velhice. em mola propulsora do progresso. um entrave ao seu desenvolvimento. a aquisição e a. Pretender-se que. precisadas de teto. proporcionando assim uma reparação àqueles que inicialmente as adquiriram mal. todavia. mas aperfeiçoar nossas leis. O tempo. agasalho. mesmo. deixam-se tomar pela cobiça. a curto prazo. dispondo-se a uma revisão do assunto. com o pesado ônus da manutenção de tantas criaturas que chegam ao fim de seus dias na maior indigência. sem prejuízo de ninguém”. verificar-se-ia. porém. Não raro. os meios que certos homens soem empregar para conseguir bens de fortuna. não justifica.” Se todos os homens fôssem previdentes e. é desconhecer-lhe a natureza e esperar o impossível. defendido com unhas e dentes pelos netos e bisnetos dos ladrões. traficantes e criminosos que o erigiram. tais haveres se transformam em “sagrado e inviolável patrimônio”. se se pudesse investigar a origem de muitas fortunas acumuladas nas mãos de determinadas famílias. aquilo que receberam. de que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Mat. de sorte que. também o de “acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar. Tanto assim que a União Soviética. Dai a afirmação do Mestre. por herança. como hoje acontece. se efetuada. após algumas gerações. começa a admitir ser isso um erro. defesa da propriedade individual devem e precisam ser consagradas. tratando de aumentar. no plano espiritual. Neste mundo e no grau evolutivo em que nos encontramos. de modo a reinstituir o direito de propriedade. a oportunidade de voltar ao proscênio da Terra para dar-lhes uma aplicação nobre. criando condições para que aumente o número de proprietários. Quase sempre. por ser ele o mais poderoso estímulo à produtividade do individuo. com o fim de resguardar-se das incertezas do futuro. longe de corresponderem ao que delas se esperava. mediante uma participação mais equitativa da riqueza. traficâncias infames e crimes execráveis. com horror. alimento. Propriedade legítima — di-lo o Espiritismo — só é aquela que foi conseguida por meio do trabalho honesto. a pessoas que solicitaram. essas fortunas se transferem.82 40 O Direito de Propriedade A Doutrina Espírita nos ensina que o direito de viver é “o primeiro de todos os direitos do homem”. que são frutos de roubos vergonhosos. remédio. lhes suavizaria os remordimentos de consciência. À medida que se adianta espiritualmente. O que de melhor se deve fazer não é confiscar os haveres de quem quer que seja. Será. pois tudo pertence a Deus. Filhos que somos do Pai Celestial e portanto co-herdeiros do Universo. . questão 880 e seguintes). (Capítulo 11º. Por conseguinte. então. meros usufrutuários dos bens terrenos. dia virá — se bem que assaz longínquo — quando. função social. com imensa autopiedade que nos recordaremos desta fase de nossa evolução em que tão grande é o nosso apego a uns pedacinhos de chão lamacento e tão desesperada a nossa luta por uns papeizinhos coloridos. por merecimento. mas para que aprendamos a movimentá-los em benefício de todos.83 que. em última análise. não é para que os utilizemos em proveito exclusivamente familiar. ninguém é dono de nada. es­ tampados na Casa da Moeda. libertos.. sendo. haveremos de tornar-nos puros espíritos. dando-lhes uma. além das fronteiras da morte. tendo por morada as suaves e maravilhosas esferas siderais. se a Providência no-los confia. de forma alguma.. todos nós. já que eles não po­ derão seguir conosco. do ciclo de reencarnações em mundos grosseiros como o nosso. por determinado período. coisa. Antes. aliás necessária. há quem considere a esmola um constrangimento para aquele que a dá e uma humilhação para o que a recebe. por alguns. se eu não tivesse caridade. remédio. não amor a nós mesmos (egoísmo). caridade sem esmola.84 41 Esmola e Caridade – 1º Esmola e Caridade são tidas. de nada me serviria. que lhes sejam intrínsecos. as espontâneas. No terceiro. comida. em que o coração não intervém. ex. etc. No primeiro degrau situam-se os óbolos concedidos de boa vontade. quando solicitados. a pesar seu. é a coisa que se dá.” As esmolas com caridade. encerre. mas sim dos estados de alma. porém não na justa medida dos recursos de que disponha o esmoler. seja para exaltação da própria personalidade. dinheiro. isto é. mas amor ao próximo (altruísmo). uma de suas múltiplas manifestações. Por outro lado.. conceituemos um e outro termo: “Esmola”. Feita essa distinção. pode haver: esmola sem caridade. quando disse: “mesmo que eu houvesse distribuído meus bens para alimentar os pobres. as dadas com alegria e em acordo com as possibilidades de quem as dá. quanto mais delicadeza. A essas e outras esmolas.. cujos autores.. negando. é que o apóstolo Paulo quis referir-se em sua 1ª Epístola aos Coríntios. ser-nos-à fácil demonstrar agora o que afirmamos linhas acima. compreendem uma escala progressiva de mérito. enquanto para outros a primeira seria apenas uma faceta da segunda. assim. têm como certo tornarem-se merecedores do paraíso por causa delas. quanto mais às escondidas seja feita. quanto mais abnegação expresse e quanto menos vergonha cause a quem a recebe. esmola com caridade e. p. isto quer dizer que a esmola será tanto mais meritória aos olhos de Deus quanto mais puro seja o seu conteúdo caritativo. não evidentemente em função do quantum distribuído. mas já sem que o beneficiado tenha conhecimento de . os donativos feitos com total indiferença pela sua aplicação. No quinto. mas de forma que o favorecido saiba a procedência do favor recebido. visando a granjear fama de santo ou de benemérito. dependendo tudo dos sentimentos que acompanhem ou inspirem o modo de agir das criaturas. seja para “fazer cartaz” em períodos preeleitorais. por injunções a que. ou melhor. seu caráter filantrópico. etc. como. a seu turno. No segundo. esperando os doadores provas de gratidão dos infelizes aos quais favoreceram. Em outras palavras. conquanto não contem com a gratidão imediata dos homens. Do ponto de vista espírita. de dar prosseguimento àtese que nos propomos desenvolver. a “vítima” não pôde resistir nem esquivar-se. enquanto “Caridade” é essencial-mente amor. as esmolas da mesma espécie. como uma só e mesma. Entre as esmolas sem caridade incluem-se as doações arrancadas contra a vontade. No quarto. porém. assim como quem atira fora a ponta de seu charuto. os auxílios dados com fins propagandísticos. vestimenta. para nós. idem. mental. o ouro amoedado.” (Kardec) Podendo. em que consiste? Como pode ser praticada? Consiste no cultivo das virtudes cristãs. aquelas que se realizam em absoluto anonimato e de maneira tal que nem o dispensador de benefícios conheça individualmente seus beneficiários. sintam-se “gente” como nós e experimentem. Sim. curar feridas e dirimir aflições. para que se promovam. que são “filhas do Amor”. fazer um esforço útil. elevando física. havendo para todos inúmeras formas de exercitá-la. é ele o recurso mais apropriado para estancar lágrimas. os enfermos. cada vez mais. enfim. “ninguém há que. ao invés de simplesmente socorrer os pobres. No sétimo. con corram para eliminar a pobreza. minorar um sofrimento físico ou moral. transformar-se em toda sorte de bens e utilidades de consumo é. em que as boas qualidades do coração valem mais ou operam melhor que todas as riquezas materiais. aquelas que. sem dúvida. os necessitados de todos os matizes. nem sempre. do nababo ao mendigo. “a alegria de viver E a caridade sem esmola. pois males existem. e infinitos.85 quem seja o seu benfeitor. espiritual e socialmente OS pârias de todo o mundo. No sexto. no pleno gozo de suas faculdades. a enfermidade e os demais aspectos da miséria humana. entretanto. . não possa prestar um serviço qualquer. prodigalizar um consolo. um precioso elemento de que a Caridade sói lançar mãos nas taref as do Bem. nem estes possam identificar o filantropo que os ajuda. ensejando novas e mais amplas oportunidades de educação e trabalho. como pode. fazendo bom uso dê nossas forças mentais. nos atingisse com expressões irônicas ou zombeteiras. do prazer de um programa radiofônico ou de T. embora sabendo de antemão nada podermos fazer por ele. o infeliz que nos deseja confiar seus problemas íntimos. ao revés. abstendo-nos de expender qualquer juízo apressado e temerário contra eles. de vez em quando. de ordem material. V. dar de comer aos famintos. a defesa do fraco e do pobre. sem enfado. Seríamos caridosos se. Exemplos? Eis alguns: Seríamos caridosos se. como se a caridade se reduzisse a. visitássemos pessoalmente aqueles que. Seríamos caridosos se. o aconselhássemos a tempo. vibrássemos ou orássemos diariamente em favor de quantos saibamos acharem-se enfermos. habituado a escarnecer de tudo e de todos. mesmo entre os familiares. desde que verificássemos haver outros direitos mais legítimos a serem atendidos em primeiro lugar. Seríamos caridosos se. senão dirigir-lhe algumas palavras de carinho e solidariedade. percebendo em nosso irmão um intento maligno. Seríamos caridosos se. que não implica o gasto de um centavo sequer e. nos fizéssemos intencionalmente cegos para não vermos o sorriso desdenhoso ou o gesto desprezivo de quem se julgue superior a nós. alegando precariedade de bens. ao contrário. com sacrifício de nosso valioso tempo. privando-nos. Seríamos caridosos se. curtem prolongada doença e anseiam por um pouco de atenção e afeto. mantendo permanentemente uma norma de proceder sereno e otimista. tranqüilidade e bom humor. em leitos hospitalares ou de sua residência.86 42 Esmola e Caridade – 2º Escusam-se muitos de não poderem ser caridosos. Seríamos caridosos se. disciplinando nossa língua. Seríamos caridosos se. mesmo sendo verdadeiras. Além dessa caridade. fôssemos capazes de ouvir. tomássemos. vestir os nus e proporcionar um teto aos desabrigados. Seríamos caridosos se deixássemos de postular qualquer benefício ou vantagem. é a mais difícil de ser praticada. jamais passando adiante notícias que. outra existe — a moral. embora essa atitude pudesse prejudicar nosso interesse pessoal. matar a fé e o entusiasmo daqueles que nelas se acham empenhados. Seríamos caridosos se. não suspeitàssemoe mal de nossos semelhantes. Seríamos caridosos se. sempre. Seríamos caridosos se. tristes ou oprimidos. só sirvam para conspurcar a honra ou abalar a reputação alheia. em determinadas situações. vendo triunfar aqueles cujos méritos sejam . não obstante. dar de beber aos sedentos. sem excluir aqueles que porventura se considerem nossos inimigos. endereçássemos uma palavra de aplauso e de estímulo às boas causas e não procurássemos. procurássems criar em torno de nós uma atmosfera de paz. contra a prepotência do forte e a usura do rico. soubéssemos fazer-nos momentâneamente surdos quando alguém. Seríamos caridosos se. só nos referíssemos ao que existe de bom nos seres e nas coisas. de nosso agrado. mostrando-lhe o erro e despersuadindo-o de o levar a efeito. embora as circunstâncias a tal nos induzissem. vez por outra. Nós traímos. não os invejássemos e nem lhes desejássemos mal. ainda. quando cedemos algumas migalhas do que nos sobra ou prestamos algum serviço.87 inferiores aos nossos. raras vezes agimos sob a inspiração do amor ao próximo. empregamos a violência. que aprendamos a dar ou sacrificar algo de nós mesmos em benefício de nossos semelhantes. não nos deixássemos tomar pela soberba. questão 886 e seguintes. na oficina de trabalho ou na sociedade. isto é. transgredimos. para fazermos a caridade. perdoando-lhes de coração. quase não nos apercebemos dessas oportunidades que se nos apresentam. no lar. porém. que a. um gesto fraterno ou uma simples demonstração de simpatia. exercitemos. não nos irritássemos com a inépcia daqueles que nos cercam ou nos servem. ou. soubéssemos tolerar. todos os preceitos da Caridade. regozijamo-nos com a impostura. tiranizamos subalternos e familiares. dezenas ou centenas de outras circunstâncias poderiam ainda ser lembradas. alimentamos ódios. mostramo-nos intolerantes. fazemos comentários de má fé. Seríamos caridosos se. seriam expressões inequívocas da maior de todas as virtudes. nem provoca glorificações. não chama a atenção. ajudando-os a levantar-se e limpar-se. espalhamos inquietações. possuindo alguma parcela de poder. desconfiamos. exploramos os nossos semelhantes.) . os pequeninos de condição. enfim. via de regra fazemo-lo por mera ostentação. tratamos os outros com leviandade. porém. porque «a caridade é o cumpri ment o da Lei”. não transparece. Seríamos caridosos se. praticamos vinganças. Seríamos caridosos se não guardássemos ressentimento daqueles que nos ofenderam ou prejudicaram.. desperdiçamos fortunas no vício e no luxo. Quão longe estamos de possuir a verdadeira caridade! Somos. Mister se faz. prejudicamos interesses alheios. que feriram o nosso orgulho ou roubaram a nossa felicidade. Nós. por sermos mais inteligentes. demasiadamente egoístas e miseravelmente desprovidos do espírito de renúncia para praticá-la. as impertinências daqueles que ocupam melhores postos na paisagem social. tratando. sempre com doçura e urbanidade. em situação inversa. E assim. sendo pacientes e tolerantes com as fraquezas e imperfeiçôes daqueles com os quais convivemos. ou por amor a nós mesmos. sem ódio. Seríamos caridosos se não desdenhássemos nem evitássemos os de má vida. tendo em mira o recebimento de recompensas celestiais. fomentamos intrigas. desencorajamos iniciativas nobres. e. a todo instante. uma amizade sincera. Seríamos caridosos se reservássemos nosso rigor apenas para nós mesmos. se não temêssemos os salpicos de lama que os cobrem e lhes estendêssemos a nossa mão amiga.. compartilhamos do erro e da fraude. (Capítulo 11º. em que. Porquê? É porque esse tipo de caridade não transpõe as fronteiras de nosso mundo interior. tornar-nos sensíveis ao prazer para que cada um de nós. “Deus é Amor” e. como abatidos têm sido todos quantos se escravizam a essa terrível viciação. Nisto. porém. com a enfermi dade. senão mesmo com a morte. no excesso. que lhes estabelecem limites em função das reais necessidades de nosso corpo físico e dos justos anseios de nossa alma. e se assim há determinado é porque sabe que. a si mesmo e ao próximo. É que. de uma arte. dotados dessa virtude por excelência. fêz-nos participantes de Sua natureza. pelo lucro fácil de um lance na roleta. o homem começa causando. façam dos “prazeres da mesa” a razão de sua existência. e os entretenimentos ocasionais valem por excelentes fatores de higiene mental. menos dias. para. até a sublimaçâo. são regulados por leis divinas. sempre escolhe os melhores caminhos possíveis para o nosso progresso. então. . em sua imensa ignorância. por outro lado. para que não se converta em obsessão. Os gozos que o mundo nos proporciona. não sabe distinguir o uso do abuso. numa outra etapa. o preço desse mau hábito. A recreação. ou quejandos. no entanto. carecendo apenas que a desenvolvamos e a depuremos. ser capaz de estender esse amor aos semelhantes. visando a tal objetivo. Muito natural o nosso desejo de preparar dias melhores para nós e a nossa família. Apresentemos alguns exemplos: Alimentar-nos é um imperativo da natu­ reza. entretanto. mais dias. que aquelas e estes se transformam em paixões. cultivasse o amor a si mesmo. cujo atendimento é coisa que nos dá grande satisfação. ou do exercício de um poder qualquer. e transpô-los ocasiona consequências tanto mais funestas quanto maiores sejam os desmandos cometidos. se deixem dominar pelo jogo! A desgraça não tardará a abatê-los. em Sua Onisciência. Todavia. isto é. antes. jamais chegaríamos ao extremo oposto. seja de um ofício. ao criar-nos. Houve por bem. por sumamente egoísta. a um refrigerante gelado ou a uma dose alcoólica. como em todo aprendizado que lhe cumpra fazer. mais prejuízos que benefícios. de sacrificar-nos por amor a outrem. exagera suas necessidades e sentimentos. e é aí. é preciso que essa preocupação pelo futuro não ultrapasse os limites do razoável. terão que pagar. Pode parecer que a busca do prazer pessoal seja uma forma errônea. provocando perturbações danosas ao seu organismo e ao seu psiquismo. rendendose à glutonaria. Calor excessivo ou frio intenso podem forçar-nos. vez por outra. Infelizes. Deus. bem assim as lutas a que nos entregamos e os sacrifícios que nos impomos. os que. é uma exigência de nosso espírito. sem experimentarmOs. buscando-o. seduzidos pelas emoções de uma partida de ba­ ralho ou de víspora. para que possa conduzir-nos à efetivação desse grandioso desiderato.88 43 As Paixões A Doutrina Espírita nos ensina que todas as paixões têm como princípio originário uma necessidade ou um sentimento natural. com o que nos dessedentamos. entretanto. quanto é bom o amor que nos devotamos e ao qual tudo sacrificamos. colocados em nosso âmago com o fim de estimular-nos ao trabalho e à conquista da felicidade. Quantos. questão 907 e seguintes. a determinados estudos. É de todo conveniente. e daí porque alguns se atiram. pois seus malefícios. às atividades artísticas ou científicas que os abrasam. aprendamos a respeitar as leis da Vida. (Capítulo 12º. pois. inteiramente. fazendo depender unicamente dela o nosso interesse pela vida. repartir nosso afeto com os que pertencem ao nosso círculo familiar. assumem características de verdadeiro flagelo social. porém. Todo mal. com inusitado entusiasmo. poderemos sofrer um golpe doloroso demais para ser suportado sem perda do equilíbrio espiritual. ao perder esse alguém.89 ou nos reconfortamos gostosamente. responsável por neuroses ou insânias de difícil recuperação. já que ninguém consegue ser feliz sem isso. repetimo-lo. do que nos traga maior soma de gozo. não se voltem contra nós. Como se vê. mediante a realização de algo que corresponda às suas tendências dominantes. o princípio das paixões nada tem de mau. reside no abuso que delas se faz. Importa. em certos casos e enquanto governadas. podendo inclusive. estendê-lo a amigos e outros semelhantes.) . Urge. inexoráveis como são. outros se empolgam na procura ou no apuramento de uma nova técnica com que sonham projetar-se na especialidade de sua predileção. evitando concentrá-lo em uma só pessoa. portanto. e outros ainda des­ cuidam de tudo e de todos para devotar-se. que. levar o homem a feitos nobilitantes. Mas todo cuidado será pouco para não descambarmos para a bebedice. acautelar-nos com o perigo do monoideísmo. na procura do melhor. Não há quem não deseje autoafirmar-se. entre tanto. provam-no as estatísticas. compelindo-nos a penosos processos de reajuste e reequilíbrio. Todos nós sentimos necessidade de dar e receber carinho. visto que “assenta numa das condiçôes providenciais de nossa existência”. para que elas. egoísmo nacional. os que desconhecem que todos somos irmãos (porque filhos de um só Pai celestial). com exclusão dos demais. Oegoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos reivindicatórios tão em voga em nossos dias. não puderam tornar-se marido e mulher. por uma série de dramas e conflitos dolorosos. irmãos. impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade. Humanidade. vítimas de cruéis discriminações em várias partes do mundo. egoísmo familiar. ou são servidores públicos que pres­ sionam os governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências. inclusive os que habitam o mesmo teto. o ciúme. destroem-lhes a nacionalidade. hão-de explodir em novas lutas sanguinolentas. consoante os anseios de seus corações. egoísmo de classe. são os primeiros a lhe sofrerem os efeitos. egoísmo de raça. pelas díssensões que provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo. o orgulho e toda sorte de males que infelicitam a. Que o digam os pretos. são muitos.90 44 O Egoísmo Não é preciso ser versado em psicologia para perceber que a fonte de todos os vícios que caracterizam a. agindo cada grupo tão somente em função de suas conveniências. Oegoísmo de raça é responsável. não raro. Limitados por esse espírito de família. e aos quais se inculca ser um dever de . Ora é uma classe profissional que entra em greve. egoísmo sectário. ora é outra que promove dissídio. sendo. também. fontes de erro e de perdição. os quais. porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais alto. aos quais se interdita auxiliar instituições de assistência social cujos dirigentes tenham princípios religiosos diversos do seu. O egoísmo familiar consiste no amor aos pais. pelas mágoas que produzem. invadem outros países. e no desamor a todos os outros. ódios insopitáveis que. o ódio. sem atentar para o desequilíbrio e os sacrifícios que isso possa custar à coletividade. no cuidado exclusivo de si mesmo. Oegoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde sob o rótulo de “patriotismo”. escravizam-lhes as populações. assim como os enamorados que. a inveja. em tão grande número. todas as outras. ainda. Em seu aspecto individual. assim. é o egoísmo. a saber: egoísmo individual. Dele dimanam a ambição. a cujos olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora. gerando. e se furtam a qualquer expressão de solidariedade fora do círculo restrito da própria parentela. a pretexto de engrandecer sua pátria. funda-se num sentimento exagerado de interesse pessoal. mais dia menos dia. enfim àqueles que estão ligados pelos laços da consangüinidade. Ha bitantes de um país. imperfeição humana. Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas formas. filhos. O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes em fanáticos. fanáticos aos quais se proíbe de ouvir ou ler qualquer coisa que contrarie os dogmas de sua organização religiosa. infligindo torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens. retardando o estabelecimento daquela Fraternidade Universal que o Cristo veio preparar com b seu Evangelho de Amor. praticá-lo é. acoroçoa e mantém a animosidade entre milhões de criaturas. ainda hoje. de tão triste memória. o mais funesto. fazendo-o sentir-se um ser cósmico. mulheres e crianças. pela poderosa influência que exerce no homem. desperta. Esse tipo de egoísmo é. no passado. questão 913 e seguintes. destinado a. na realidade. seguramente. pois. e.) . é o mais eficaz antídoto ao veneno do egoísmo. obstando que os ingénuos e desprevenidos o reconheçam pelo que é. trilhar o caminho da Evolução e preparar-se um futuro incomparàvelmente mais feliz! (Capítulo 12º. Foi esse egoísmo sectário que. O Espiritismo. por se revestir de um fanatismo religioso. promoveu as chamadas guerras religiosas e a “santa” Inquisição.91 consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos. ascender pelo progresso moral às mais esplendorosas moradas do Infinito. constitui-se até hoje a chave de nossa evolução. fama. comprazimento dos sentidos. do mesmo modo que toda perfeição adquirida éfonte de gozo e atenuante de sofrimentos. um só pensamento mau que não acarrete funestas e inevitáveis consequências. É que grande parte dos terrícolas. Destarte. Com efeito.” Pela natureza dos seus sofrimentos e vicissitudes na vida corpórea. no entanto. “O reino dos céus está dentro de nós”. não se conhecendo a si mesmos. por conseguinte. aquilo que venha de fora ou dependa de outrem (bens materiais. Não nos pode oferecer. isto é. é e será sempre a maior e a mais profunda aspiração do homem. glória. que aprendamos a ser sinceros com nós mesmos e . quais “imagem e semelhança de Deus”. assim. Além disso. menos sofrerá. Raros.. que haveremos de encontrar a plenitude da paz e da alegria com que sonhamos. e ignorando os altos destinos para que foram criados. em exata consonância com os ensinamentos do Mestre. ex. tornando-as desculpáveis. esforçar-se no sentido de vencê-las. É verdade que esse autoconhecimento não é muito fácil. conduz fatalmente àdesilusão. De todo extintas. assim como rotula como qualidades meritórias o que não passa de vícios e paixões. e cuja aquisição compensa o sacrifício de todos os tesouros de menor valor a que nos temos apegado. já que nosso amor-próprio sempre atenua as faltas que cometemos. então. “Toda imperfeição — di-lo Kardec — e causa de sofrimento e de privação de gozo. a alma que tem dez imperfeições. p. aqueles que a têm conseguido. etc) é precário. tanto aqui na Terra como no outro lado da Vida. nos torna infelizes. contingente. Ninguém há que não deseje conquistá-la. pode cada qual conhecer a natureza das fraquezas e mazelas de que se ressente e. A máxima — “nosce ty ipsum” — inscrita no frontão do templo de Delfos e atribuida a um dos mais sábios filósofos da Antigüidade. A Doutrina Espírita. conhecendo-as. caminhando. como não há uma só qualidade boa que se perca. tê-la como companheira inseparável de sua existência. instável. à vacuidade. a “pérola” de subido preço de que nos fala a parábola. ao fastio. porqüanto é na autorealização espiritual. em nos sendo negado ou retirado. Importa. poder. sofre mais do que a que tem três ou quatro. e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou uni quarto. Não há uma só ação. elucida-nos que. a alma será perfeitamente feliz. nenhuma garantia de continuidade. a felicidade é inerente e proporcional ao grau de pureza e de progresso moral de cada um. Urge. não compreendem ainda que a verdadeira felicidade não consiste na posse nem no desfrute de algo que o mundo nos possa dar e que. que cultivemos nossa alma. proclamou Jesus. no aprimoramento de nosso próprio ser. para a felicidade completa reservada aos justos. porém. continua sendo o melhor meio de melhorarnos e alcançarmos a bem-aventurança.92 45 «Conhece-te a ti Mesmo» A felicidade foi. crede-me. onde nada pode ser ocultado? Examinai o que puderdes ter obrado contra Deus. também o serão em nós.93 procuremos aquilatar o real valor de nossas ações. questão 919 e seguintes. depois contra o vosso próximo e. igualmente. teria que temer o olhar de alguém. em comparação com o que es­ pera o homem de bem?” (capítulo 12º. interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou qual circunstância. aconselhanos: “Aquele que. sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. principalmente aqueles que não pertencem ao círculo de nossas amizades. turbado sempre pelas enfermidades do corpo. Se forem censuráveis em outra pessoa. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias. como de seu jardim arranca as ervas daninhas. ao entrar de novo no mundo dos Espíritos. qual o juízo que delas fazem os outros. a vós mesmos. possuído do propósito de melhorar-se. a fim de extirpar de si os maus pendores. livres de qualquer constrangimento. evocasse todas as noites as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si próprio o bem ou o mal que houvera feito. contra vós mesmos. porque. Dirigi. Perguntai ainda mais: se aprouvesse a Deus chamarme neste momento. podem estes expressar-se com mais franqueza. Deus o assistiria. ou a indicação de um mal que precise ser curado. As respostas vos darão. grande força adquiriria para aperfeiçoar-se porque. eis que “Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça”. indagando-nos como as qualificaríamos se praticadas por outrem.) Leitor amigo: não acha que vale a pena pôr em prática tão preciosas recomendações? Fim . finalmente. ou o descanso para a vossa consciência. pois. Será útil conhecermos. Uma entidade sublimada. questões nítidas e precisas. em magnífica mensagem a respeito.
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