Artigo Musicoterapia e a clínica do envelhecimento

March 27, 2018 | Author: Marcell Marinho | Category: Pop Culture, Alzheimer's Disease, Old Age, Self-Improvement, Emotions


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Márcia Godinho Cerqueira de Souza1111 ,I r INTRODUÇÃO A musicbterapia é uma forma de tratamento em que o cliente, atravésdo canal sonoro-musical, dará vazão à sua criatividade, estimulando suascapacidadesfísicas, mentais, cognitivas e sociais, seja em grupo ou individualmente, a partir primordialmente do fazer musical durante o processo terapêutico (Bruscia, 2000). Cabe ao musicoterapeuta estudar e investigar, com todo o rigor científico à sua disposição na rede do conhecimento atual, os processosque relacionam música e terapia, cérebro e comportamento, cmoção e razão, bem como a utilização da música e seus elementos constitutivos como objetos intermediadores na relação musicoterápica.Tal estudo deve também se reportar àsépocasmais antigase~ que medicina e música eram a fusão das alternativasde tratamento, como ainda hoje é observado na maioria das denominadas"culturas primitivas" (Bruscia, 2000). Com o avanço das pesquisas científicas no que se refere aos desafiosdo envelhecimento, bem como dos estudos funcionais da música no ser humano, as várias modalidades de tratamento foram surgindo como coadjuvantesao tratamento médico convencional. Com os resultados positivos, muitas dessas formas de tratamento acabaram por serem indicaáas como a:terapia principal em determinados casos.Como o cérebro processaa música, sempre fascinou os neurocientistas, e a partir da última décadao processamentoda música tem se tornado uma área de intenso e sistemático estudo, em trabalhos publicados recentemente sobre neurociência cognitiva da música (Peretz, Zatorre, 2005). Atualmente os avançosdo tratamento musicoterápico em todo o mundo, para pessoasna terceira idad~, vêm obtendo sucesso, devido aos resultados que essetipo de terapia vem demonstrando, bem como com as pesquisas"que relacionam a música e as funções cerebrais. Principalmente nas áreascognitivas e límbicas, que influenciam marcadamente os resgatesde memória, e naativaçãopsicofísica,aliando comando e movimento, razão e emoção. O homem constrói-se e é co~struído, já em seusprimórdios gestacionais,com o ritmo da respiração da mãe. Esse ritmo, em sua ordenação de contração e descontração corporal, traz o entendimento primevo de movimento a esseser em formação, juntamente com e como a canção que o embala desde o seu nascimento (Souza,1996). Música é movimento, e o homem não possui seuequilíbrio na inércia, ele o encontra no próprio movim~nto. O homem, portanto, é uma construção de si e do meio qu~ o I1 , cerca,ele é criador e criatura que sofre asinfluências do meio, mas nele deixa suasmarcas. Cada vez mais, o tratamento musicoterápico com pessoasna terceira idade estimula, a partir do prazer de cantar, tocar, improvisar, criar e recriar musicalmente, o redescobrir das cançõesque fizeram e fazem parte da sua vida sonoro-musical. O trabalho de musicoterapia, portanto, vem buscando a excelênciado tratamento em estudos investigativos e na práxis em que os resultados falam por si. Desenvolvendo o potencial Griativo através da linguagem musical, o tratamento musicoterápico auxilia diretamente no resgate da identidade sonora do cliente, tendo por conseqüência a elevaçãoda sua auto-estima e autoconfiança. A música e seus elementos constitutivos (harmonia, melodia e ritmo) implicam a musicoterapia, portanto, num veículo de estabelecimento de comunicação. A música é a ponte a partir da qual se estabelecea relação terapeuta-cliente, também por onde transita a mem6~a do profundo ao superficial do ser, levando à busca do autoconhecimento e do crescimento pessoal deste. O trabalho com a terceira idade implica a participação dos vários campos dO'saber,pois a filosofia de trabalho atual visa ao atendimento global do idoso no âmbito biopsicossocial. As várias disciplinas colaboram para a melhora da qualidade de vida do indivíduo, mas, muitas vezes,na justaposição de saberes,como é o caso da multidisciplinaridade, sem articulação entre os objetivos diversos,perdemos a oportunidade de coordenar esses saberese focalizar os objetivos de tratamento e cuidados para com o idoso. A interdisciplinaridade é uma ~rspectiva de trabalho em que as diversasdisciplinasbuscaminteragir entre si, desdeos conhecimentos mais simples aos mais complexos, visando ao atendimento integral do indivíduo. Por isso verifica-se importante uma avaliação gerontogeriátrica ampla e conseqüentemente multiprofissional. Com a terceira idade, o tratamento musicoterápico vem se mostrando de grande importância no que se refere aos resgates de mem6ria, como tratamento coadjuvante de valor reconhecido mundialmente nos processosdemenciais (doença de Alzheimer), na doença de Parkinson e em indivíduos com seqüelade aci~ente vascular encefálico (AVE). Do mesmo modo, é ba~tanteconhecida a sua eficácia na manutenção das funções cognitivas, elevação da auto-estima e sociabilização com idosos residentes em casas gerontol6gicas bem como fora delas, tanto em atendimentos individuais quanto de grupo, bem como nos atendimentos de caráter preventivo-social. Estetrabalho enfoca asdiferentes formas de esta vem carregada no. ao ser estimuJado musicalmente. suainfluência no ser humano é verbal. der ao tempo. mos a música como terapia. ao mesmo tempo atual e necessáriopara quem decide pia como a utilização da música elou dos elementos musicais (som. por seu caráter de universalidade. 286). sons./ 1217 intervenção da musicoterapia com idosos.refletindo os sentimenindivíduo.percomo amálgamaa razão e a emoção. já associava a músicaà matemática.ao estimuJarnossas conexões em um nível pessoale intransferívd. pelo profissional musicoterapeuta.1997). essaforma de esiase inflexões sonoras. a mobilização. a gem musical é a guia e norteadora dos processosmentais e cognicapacidadede fundir e ligar cuJturas. to mais simples. evoluindo até a chegadaà compreenque. 2000. A música sempre acompanhou o envelhecer da humanidade. em que tambémpermeia asdiferentes cuJturasegeraçõesinteiras. em um processoestruturado para facilitar e promover a como manteve a crença do homem dura.de criatividade e prazer. apresentando uma panorâmica dessaárea de estudo e investigação e a sua articulação interdisciplinar .bem ou grupo.pr rn1~~i('. melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente a música sempre teve seu poder social. Zatorre. nos rituais de pasindivíduo estabeleceum canal de comuniçação no qual a música é sagem. de grande atuação nas funções cognitivas.ser estimuJado em instâncias psíquicas que muitas vezesa palavra não poderá al~nçar. físicas e socitegração intra e interpessoal e conseqüentemente melhor qualiais. estruturados em ritmos. demonsa música. possui. improvisações. 1999).êutico.podemos entender o modo de ser de um povo são e elaboraçãode seusconteúdos na linguagemverbal. Música.. muitas vezesé a partir da música que comunicamos nossos senticombina sons e silêncios. ou seja. Em momentos de ~de dificuldade de comunicação verbal. visando à melhoria da qualidàde de vida. Tais proe de um indivíduo. ou seja. Refletir sobre guagem musical (ritmo. mental.E por ela e com ela ples às funções superiores. reguJador.1998. Ela reflete o que somos e quem somos. do som.ências. o indivíduo.a músi~ está presente. A música é o elo caracterizados por grande comprometimento cognitivo.Remontamos àsépocasmais arcaicas. sejam sons. devido ao acometimento por doenças e deficiconcepçãointegradoraque interliga os vários tipos de saberes. é encontrado nos estudos de grandes dade de vida (Bruscia. pos. Ao se estabelecera comunicação musical. suasfunções e aplicabilidades. nasdiferentes áreasdo conhecimento. cabe-nos compreender a importância dessepensamento na formuJação de tratamento musicoterápico.orientados pela linguagem verbal. DEFININDO MUSICOTERAPIA A Musicoterapia é a utilização. a pressiva. mesmo tempo em que as diferencia (Souza. aos rituais de cura impregnada pelo corpo e o corpo pela música. da música e de todo tipo de manifestação sonoromusical. 1997). 1989). 2005). seisséculos cognitiva) para desenvolverpotenciais e desenvolverou recuperar antesde Cristo. em linhas gerais. asfunções psíquicasdo indivíduo. desdeasatividadesmais simsetoma difícil em face das diferentes cuJturas. suasfunções e poderes. Neste da superfície à profundidade em n6s mesmos. uma cuJtura. consegueresgatarreminiscências. a música uJtrapassa não só sécuJos e décadas. Por sua capacidade de transcenca (Souza.estabele. Para entendermos um pouco melhor essaforma de ~e e co. o um povo.nteos tempos a respeito comunicação. silêncio ou a musicalidade das palavras. potiva e individual.sentimentos e emoções. a música Muitas sãoas questõesque devemos responder antes de alcançaruJtrapassa fronteiras tanto cuJturais como mentais. composições instrumentais. filósofoscomo Platão eAristóteles (Sacks. A música atuará como intermediadora no estabelecimento da relaA MÚSICA E O ENVELHECIMENTO ção terapeuta-cllente. O cliente no musicoterapia.a arte das musas. a psicologia. possuindo de códigos emocionais mais primitivos que.aspectosmais característicosdos humanos (Peretz.dor.letras de música. O que produzimos atravésdela manecem preservados mesmo nos processos de envelhecimento ou o que ela provoca em nós é via de mão dupla.essa comunicação te.agregador. Tendo o corpo cótno seu primeiro instrumento musical..O uso da música funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor inna formação do homem. A música éum dos de comunicação sem precedentes. desdeos de fecundidade e nascimento.caso. é um produto da inteligência do home~.? Nn~ fa7. social e estudava a música.já não intervém com grande poder de penetração. E um canal de co. A música vincuJaa capacidade de criar e recriar do indivíduo. caberá ao musicoterapeuta a decodificação de tais representaçõesjunto ao cliente (Souza. a matemática.como Essaabordagem visa estabeJecer uma relação de ajuda. Por seu poder estruturador.Onde quer que haja la. Como estudo científico em processo investigativo. Na Grécia antiga. Pitágoras. surge a necessidadede dennirmos o que é música. p~~~~"p f~. Ela reflete o que se conserva na memória e cessos podem ser representados em movimentos. é o objeto integrador e estimutrando asdiferenças e assimilitudes entre elas. Aí resimunicação. em instâncias mentais nas quais a sibilitando-nos caminhar pela complementaridade. progressivamencendo nossasdiferenças e semelhançascom o outro.1997). a partir do canal sonoro-musical. portanto. inte~do-o consigo mesmo e com o meio que o cettos e sonorizando as realidades. o homem a expressão e a organização (física.portanto.de valor estético e ético. disciplinador e ao mesmo tempo ela pode produzir em nós? O que nós produzimos a partir dela? de comunicação e expressão. dará início a municação. cantos. A World Federation ofMusic Therapy define musicoterafato antigo.emos músiç~ p~r~ ~o~ escutarNo que serefere ao seu papel terap.associrapia na terceira idade se apresenta como uma terapia auto-exarmosváriasformas de conhecimento como a filosona. Do macrocosmo ao microcosmo. A música nos faz comunicar mesmo quando . passandopelos elementos que constituem a linNunca houve nem haverá um povo sem música. no sentido mais amplo. a. pode conceitose associações. à musicalidade do o que é e o que significa a música. reestruturando a história cole. muitas vezes. anteriormente a qualquer dennição. a medicina. de seu poder curador e regenerador. de nossossentimentos e expressões. estimulando as ações físicas. ao tivos do indivíduo. suasfunções psicológicas. trabalhar nessa área. Tais estímulos acabam por organizar.~mel~dia e harmonia). psicológicas e sociais do dando sentido aosmomentos e àsépocas. direto. desde o movimene morte (Wisnik. A criação e a recriação do musical têm como elementos primordiais o pensar e o sentir huma. a música. Numa série de códigos em que a lingualinguagem. Palavrade origem grega. emocional. proporcionando ao homem uma forma mentos. o relacionamento. a musicoteMais que valorizannos o pensamento analógico. melodias e harmonias. p. a aprendizagem.em que ritmo. O de um dos principais diferenciais que a linguagem musical possui que é música? Quem a inventou? Paraque fazemosmásica? O que em relação à abordagem verbal tradicional. Abdounur.um processo de compreensão e elaboração de seussentimentos e emoções.music~- . biológicas. utilizando o corpo como o primeiro instrumento musical do homem. A questão da velhice tem como espelho a sociedadeà qual pertence o indivíduo. 9) Muitas vezeso não se sent}r velho é denunciado. que marcaram uma determinada fase da vida. Trabalhando com um aporte mental. como a música. 1998). Este é o princípio equilibrador. é comum observarmos. tratando-o como ser biopsicossocial. Essesestudos evidenciam. preservada. na maioria dos indivíduos. por exemplo. após sofrer um acidente vascularencefálico no hemisfério lateralizado para a linguagem. Muitos estudiosos. Através das canções de uma vida inteira. de sua potência como sujeito.dentre eles Samson& Zatorre (1994).que conhecemos e que nunca vimos?" (Souza.1997).transformando-se a cada devir. mesmo em indivíduos com gravesdanos cerebrais. Um exemplo conhecido é o do célebre músico e compositor francês Maurice Ravel (1875-1937). ao meio que-o cerca e a que pertence. pode resgataro fio melódico da vida do indivíduo. a reação a um estímulo musical sedá nas diversasáreascognitivas e emocionais. f~ções que. Ao marcar um tempo.no fortalecimento de suaidentidade. A música acompanharáesse processo de envelhecimento. uma época. O não se perceber externamente velho é flagrado e denunciado. alterando para melhor o conceito que a sociedade tem dele e ele de si mesmo. Mas.a linguagem musical. de classificar e escrever notas musicais. e. marcando as épocas e os acontecimentos sociais. que ele está velho e que algo mudou. colaboram entre si. Ela caminha junto do tempo. A velhice. sujeito de suas próprias ações. O que severifica em estudos recentes é que essa dicotomia não é inteiramente aceita (Patel. encarando suasfunções como parte de um todo não-dissociado. a função musical permanece. melodia e harmonia.dando forma e sentido.emória. ao retratar todas assuasidadesno contexto sonoro-musical. A musicoterapia tem como função principal. mesmo quando tais notas eram ditadas por outrem.ele elaboraconteúdos mentais mais complexos a partir de sua produção sonoro-~usical. A musicoterapia visa ao tratamento global do sujeito. improvisar. sim. conseguindo. não envelhece. se instalam. no tratamento com a terceira idade. é possível relembrar momentos que. por seu vínculo afetivo. parte delas. ~ Tal exemplo demonstraque. A partir de sua produção musical. criar e partilhar experiências. constata-se a sua reestruturação enquanto indivíduo. É estimuladoa retomar movimentos corporais. pelo meio que o cerca. O ser é ritmo. Reabilitar. A música. refletindo-o e. Tais fatos proporcionam um campo fértil para novas descobertas. as canções cívicas. nas quais o tempo de reação muitas vezesé imediato. portanto. ao mesmo tempo em que vê resgatadaa sua memória como um todo (Souza. no paciente idoso. devido ao processo natural do envelhecimento. no qual o indivíduo se reconhece. para o indivíduo.as canções de amor. São canções de ninar.notadamente com a linguagemmusical. No tratamentomusicoterápico. A MUSICOTERAPIA NA REABILITAÇÃO DE IDOSOS É importante abordar a questão da reabilitação em todos os níveis em que ela atua. O tratamento com a música proporciona um canal de comunicação que associaa carga afetiva e emotiva do indivíduo às diversas funções e áreas cerebrais.' positor perdeu a capacidadede identificar a escrita musical.atingir asdemais funções cognitivas. uma geração.1218 / Musicotera ia e a Clrnica do Envelhecimento as limitações impostas pelo processo de envelhecimento. na verdade. biológico e social. Ao restituir essacapacidade de crença em si mesmo. físico. em que a respostaa um estímulo musical se dá de forma motora e/ou de forma mental. assim como a música. é a ponte.pais. ainda que na presençade um acometimento em um dos lados do hemisfério cerebral.1997.Assumpção. principalmente. de estimular suas atividadesmnêmicas e.filhos. apesarde ter sido criada em uma determinada época. perceber se um piano estava ou não afinado (Springer & Deutsch. é uma crença na sua capacidade como ser integral. o idoso vê restituídas. em que o indivíduo. E o cotidiano que evidencia. O com. os brinquedos cantados. Entretanto. quando esses elementos estão em sincronia. permaneceu intacta a sua capacidadede reconhecimento de melodias. o idoso terá a oportunidade. A música. 1994). p. num primeiro momento.1997). que. a emergência de conteúdos elaborados e fortalecidos. ao indivíduo. pelo social. as músicas da escola. Landrino. o elo pelo qual o indivíduo se reestrutura e se recicla. ou que foram alteradaspor algum processopatológico. possui elementos que constituem partes de um todo (Souza. pert~~~e ao tempo. fornecendo subsídiospara o enfrentamento do novo: o novo movimento. cognitivo. 2003). recobrando suas funções através de uma linguagem terapêutica prazerosa. distinguindo nelas os possíveiserros melódicos. bem como as dificuldades emocionais que as acompanham. A VELHICE E A MÚSICA . o conjunto vibra e soa como música para os ouvidos. portanto. reabilitando-o globalmente. No ato de tocar.o piano). Tais acontecimentos vinculam asvivências pessoais e intransferíveis àsvivênciassociais e coletivas (Souza. restituir ao indivíduo sua capacidadede equilibrar suas funções. enfim. apesarde individuais. portanto. a ação de tocar o instrumento (no caso. de todos os tempos e sentimentos.podendo ser estimulada. A musicoterapia busca tratar o indivíduo a partir da integração e interação dos hemisférios cerebrais e suas funções. formando cisõese fissuras. restabelecer a auto-estima do idoso diante de suas potencialidades. a partir de suaprópria produção e de sua ação. vêm investigando a questão das especializações hemisféricas e sua importância nas funções psíquicas superiores. Estimular o potencial do indivíduo. .Não é maravilhoso saber que acançãocom aqual fomos ninados também embalou nossosavós. em todo momento. Um tempo que marca o corpo e constrói a m. foram sealterando com o tempo. em parte.As músicasde nossas vidas fazemparte dessaconstrução. indissociado. A música provoca reaçõesde vários tipos. desenvolveu uma afasiade recepção (afasiade Wernicke). é armar esseinstrumento para que possatocar uma música regeneradora no contexto biopsicossocial. o papel do hemisfério esquerdo como lateralizado para asfunções de linguagem verbal e o hemisfério direito possuindo uma relação maior com a linguagem de natureza não-verbal. então.entre outras atividades. o idoso restabeleceo crédito diante do social. a partir delas. c' o proçe~9d~ ~rvelhecimento acompanha o indivíduo desde o seunasc(mento e caminha com ele atravésde seuviver. a canção. "A canção que pertence à infância de uma pessoade 90 anos pode ser a ponte que liga asinf'anciasde diferentes gerações. cantar. inclusive. é trazer à tona funções adormecidas pelo desuso. é restabelecerfunções a~avésda própria produção do indivíduo. irmãos e pessoas que não amamos. que. não deixam de ser coletivos. Durante o processode b:atamento musicoterápico. Nem sempre um:indivíduo com lesãono hemisfério direito terá ' prejudicadas todas as funções relativas à música e. de amizade. Quanto àsespecificidadesdo instrumental para a música em grupo. qbtém-se. complementação de melodia e letra. O musicoterapeuta deve valorizar as mensagens ção dos significados musicais propriamente ditos. aparentemente. como já mencionamos. bem como os associadosà semânticà (Priestley. Maleabilidade. que pode ser feita se.que aí podem ser elaborados e reconstruídos no foco do presente. Musicotera ia e a Clfnica do Envelhecimento / 1219 df material sonoro-musical. é função do profissicoterap~a. zaç~odo instrumental por parte do musicoterapeuta.sical no atendimento clínico musicoterápico com a terceira idade sua infância aos dias atuais. entre outros. Esseobjeto de trabalho pode ser de.ação e interpretação dos dados emergentes durante um processo musicoterápico.Sãocatalogados os dadoscompletos do cliente. bem como as músicasque marcam as etapasde seuviver.seja atravésdo cliente ou do familiar nhecimentos musi~ais.trazendo à tona a emoção do vivido e também do revivido. maior profundidade.canto. partir da linguagem musical. Dentre eles podemos listar os seguintes: musicoterapia. desde ascançõesde ninar até asmúsicasatua música tem valor de mensagem.1981). o instrumento deve possuir leveza. etapa específica do processo musicoterápico épocas. podemos verificar que a testificação idoso.em que ela pode beneficiar o paciente.ser e fonte de pesquisapara o musicoterapeuta. também. . madelra~)eves e acessórios.surgem. no decorrer do tratamento musico.de sua musicalidade. improvisação de letra e música. Nessasegundaetapa. des. mas a coleta membranas naturais. em nossàprática clínica. épocas inteiras resatendimentosposteriores. veremos adiante. entre outros dados. o musicoterapeuta que atua junto a essapessoanetar os conteúdos pelos quais o terapeuta. ele terá registrado os códigos musicais que darão sentido e A entrevistamusicoterápica possuiuma peculiaridade: é necesque poderão ser analisados. sãofatores a serem obcessode atendimento do idoso e. devem serverificados importantes aspectosque dizem resI O musicoterapeuta é um profissional especializado cujos copeito à vida sonoro~musical.musicais que possuam ascaracterísticasgerais inerentes a um Ç>bterápico.I feito de material o mais natural possível. técnica de tenterceira idade. vá junto com ele nas canções. são e relaxamento musical. . idade. buscando conhecê-lo em irão transitar. musical se inicia na primeira entrevista e segue seu caminho em A partir de recordações musicais. O retrato sonoro é uma técnica que vimos desenvolvendo com E importante a observaçãoquanto ao uso de instrumental muo objetivo de delinear o perfil sonoro-musical do indivíduo. Entrevista al!sociando-os no decorrer da testificação e das sessõesiniciais. emoções. foi esquecido atravésdos tempos. pode exbeleça um elo entre a experiência do paciente com a música e a pressar. posteriormente. melódi(Benenzon.âebaixo peso e PROCEDIMENTOS GERAIS . Cabe ao musicoterapeuta o domínio sobre a esparadamente. um arquivo ParainiciarnloS um atendimento musicoterápico com a terceira d sonoro o paciente. assim. representadas e retratadas nas canções de cada fase de suasvidas. verifica-se necessário o uso de instrumentos utilizado tanto com o idoso. um dos princípios básicosde atuaçãoclíniDurante a testificação musical. melodicamente e O INSTRUMENTAL MUSICAL harmonicamente o momento sonoro-musical. esta. Portanto.de forma seqüencial e cronológica.Acima de tudo. a sical é o . E a partir dele que o paciente. atravésde conversa informal. O objeto intermediário é utilizado como uma extensão O musicoterapeuta tem um papel importante na construção do corpo do paciente. paciente e/ou familiares cessita acompanhar esse repertório. trará um campo fértil de experimentação de suasmem6rias musi. por exemplo. realizamos a entrevista inicial com o cliente e seusfamiliares. na qual sãotrocadas informações gerais crita musical. Aqui.o som tem o poder de fazer salais.no conteúdo verbal. como suporte técnico servados. o musicoterapeuta colhe dados essenciaise faz a musical individual e as vivências e emoções mais pessoais. como nas entrevistas com os familiares mais pr6ximos. cais. Daí o valor e a necessidadede análise criteriosa da utilipotencializado. co e harmônico que dará sentido ao que está desestruturado no Em nossaprática clínica. Primeiramente. por meio da associaçãodas experi~ncias musicais com as etapas e momentos especiaisda sua vida. principalmente. como. de conteúdo não-verbal. O musicoterapeuta devenortear as experimentações. em grande parte. seus .avaliPrimeiramente. o próprio tempo.mas é ponte para a segundaetapa do processo de atendimento clínico: a também o fio condutor que transpass:a uma coletividade. reza não-verbal são sumamente importantes para a análise.proporcionar uma amplitude de movimentos corporais àsvivênciasdo indivíduo funcionam como parte da etapa do progradativos na ação de tocar. to.objeto que intermediará a relação'terapêutica (Benenzon. fornecendo-lhe a oportunidade de experienciar ritmicamente. no que serefere ao registro e àsanotaçõesdo material des. Portanto. indicação.uma fonte de pesquisase estudos para o melhor entendimento do ente. sociais e políticas que essesindivíduos vivenciaram. não s6 a ordenação da sua vida sonoro-musical. grande potência sonora. em que as informações tanibém se dão Na terceira idade. sob a forma da linguagem musical.sentimentos e suapr6pria ação de fazer a música.paciente.o paciente encon. jeto intermediário.1981). estudando as implicações históricas.no qual o seusimbolismo e significadossão inicial do que denominamos o "retrato sonoro-musical" do paci. Objetiva-sé. Em musicoterapia. Esse percurso é o fio. é importante que o musicoteca é a utilização de um objeto intermediário.dos códigos musicais e de outros de natumais próximo. em que estarão à sua disposição todo o Para esseresgate terapêutico. o indivíduo possui e. sedarão a partir do canal sonoro-musical. O instrumento murapeuta esteja ao lado do paciente em suasexperimentações e. rítmico. . do alcançar o paciente em seu nível musical. E nessa entrevista que se dá o primeiro contato do tera. buscan. várias testificação musical. fácil A elaboraçãodo retrato sonoro e o conteúdo musical relacionado manuseio. à luz da interpretasário que ela vá além das informações contidas nas palavras. modo. 1994).onal musicoterapeuta reter na memória o material sonoro-musical emergente e transcrevê-Ioapósa sessão de musicoterapia. o que é a musinada aos seusconteúdos internos. ao que.Desse peuta com o paciente. portan. durante a testificação musical. O que podemos Testificação Musical verificar é que 4In repertório não só representa a vida soÍloroNa entrevista. um repertório vasto.. portanto. relaciosobre o atendimento musicoterápico. muitos são os recursos musicoinstrumental musical e os recursos que concernem a uma sala de terápicos utilizados. além do desempenho na sua capacidade de "visualizar" e associara imagem musical trazida pelo indivíduo. frustrado com seudesempenho no ato de tocar. Em qualquer tempo da existência. O paciente. a continuidade do tratamento.integrando-o socialmente. satisfazendonecessidadesimportantes para os participantes do grupo (Hilliard. Eu me dou conta. escaleta 3. bulação. 1. 1996). No caso específico do idoso. O paciente geriátrico possui..tais como a sensação de impotência diante do declínio inexorável dascapacidades físicas.trazendo os aspectosdepressivos como carro-chefe de um processo de baixa estima e desvalorização (Bright. devemos terem mente essasmudanças sociais e históricas. sobremaneira. agogô 2. o objetivo de elevaçãoda auto-estima do idoso se evidencia na sua realização musical. em princípio. que vêm envelhecendo (Souza. trazendo à t.entre outros. e devo me interrogar sobre estemeu envelhecimento" (Souza. clavas . estabelecerum elo entre os participantes do grupo. que esse instrumento musical deixa de ser um facilitador do processo musicoterápico como objeto intermediário da relação terapeutapaciente. O musicoterapeuta deve aprender a escutar e dar um valor de mensagemàscançõesque marcaramcada um dos tempos do seu viver. Tais comprometimentos geram. uma pele muito sensível. Sopro: família das flautas. rnaspara sereestruturar e seapossardo presente: "O tempo é um grande círculo com movimento ritmado. .conseqüênciaspsicol6gicas profundas. frente a uma evolução. no resgate e na manutenção da mem6ria individual e coletiva.Sons indeterminados: chocalho. Somos acometidos por dificuldades gradativasna audição. de lapela e de cabeça. disciplinador e esttuturador. dos mais sutis aos mais amplos.dogosto do paciente. conga e quinto. Os instrumentos musicais de maior utilização no atendimento musicoterápico com a terceira idade são instrumentos que. canal pelo qual as hist6rias familiares eram passadas. atuando como suporte de caráter preventivo-social. pertençam à cultura do indivíduo e aquelesque. do atendimento individual (Souza. sintetizadores Também são utilizados. para que estesnão causemferimentos que possam vir a acarretar uma impossibilidade no prosseguimento dos atendimentos. desde a infância até a velhice. 1994). adolescência.potência sonora e conforto nos instrumentos. o fator tempo é de suma importância. o ritmo pertence ao indivíduo. em geral. velhice. Landrino. a partir de sua produção sonoro-musical. xilofone. pandeiro. À proporção que envelhecemos.. conseqüentemente. ventude. inicia uma sessãocom um instrumento musical com o qual se identificou. o lugar da suposta perda objetiva e subjetiva que o processo natural de envelhecimento nos impõe: o tempo.A utilização de recursos como o compãct disc. e era ele quem arquivavaas informações a respeito da continuidade de determinado grupo. Tempos atrás. pela debilidade do corpo. o núcleo familiar tem semodificado amplamente. mas durante a mesma.p. Cordas: . então. visão. muitas vezes. por seu poder organizador. por exemplo. A música é um forte e poderoso canal de comunicação entre as geraçõese dentro de uma época. Assumpção. Na terceira idade. Ao indicarmos o atendimento de musicoterapia em grupo para a terceira idade. A musicoterapia busca reativar o processo de ressocialização do indivíduo potencializando a sua força criativa a partir do prazer de cantar. A razãopara tal preocupação é que.a partir do resgateda música do indivíduo e do grupo. no compartilhar de experiências a partir do canal sonoro-musical.1220 não-cortantes. Sãoverificadas também dificuldades quanto à manutenção nos ritmos da fala e do sono. infância. A musicoterapia. muitas vezes. além das dificuldades sociais. no partilhar das experiências musicais. maracas. .1997. improvisar.também. Portanto. propiciar um lugar para o encontro do indivíduo com as suaspr6prias vivências. . o atendimento em grupo é recomendado. A dificuldade de encontrar no mercado instrumentos com essas característicasapontadasnão devejustificar a utilização de instrumentos referentes à bandinha de música. mas também aquilo que não sevê. deam.verificou-se a importânCiado atendimento musicoterápico no que serefere à maior estimulação para a vida. tem sido cadavez maior e se abre à exploração de novaspossibilidades. Ocorre.fitas cassete. Portanto. mas que possuamqualidades de instrumento musical convencional e. Percussão: . A música propicia a ordenação do espaço individual e coletivo no tempo musical. Cabe também ressaltar a importância de não se utilizarem instrumentos que possam infantilizar o paciente. passo a passo.8). e qualquer pequena lesãopode vir a prejudicar. em determinados casos. e é possível instalar-se uma frustração na suaprodução sonoro-musical. leveza. estruturalmente harmônico. O idoso era o registro vivo de uma época. por parte do musicoterapeuta. tambor.. com motivos infantis. a partir do resgatede suamem6ria musical. fOrámdetectados como da formação e . maturidade.Cordas percutíveis: piano 4.rtante o cuidado. Devem ser observados. ABORDAGENS DO ATENDIMENTO TERCEIRA IDADE PARA A em Musicoterapia Preventivo-social Grupos de Idosos Na musicoterapia preventivo-social. nesta roda-viva.recursos eletrônicos como gravadoresportáteis e microfones sem fio. de que vou envelhecendo. A música. não mais para recordar o passado ou o "bom tempo que se foi". no decorrer da sessão. O idoso passaa sentir o desprazerde estar com um objeto que gera dificuldades. em primeira instância. ele representae marca afetiva e emocionalmente todos os tempos inscritos em seucorpo e em sua mente. Num estudo recente com idosos asilados.coco.não retirando a relevância. o idoso era o centro da família. bumbo. justa~ente. ju.ünaa auto-realização do idoso no coletivo e no individual. O idoso. A musicoterapia busca. por exemplo. A partir da linguagemmusical. de leve manuseio e boa potência sonora.. 2004). psicol6gicas e sociais semodificam. principalmente. verificando-se impo. o ritmo de nossos movimentos se altera. os quais visam proporcionar condições para o desenvolvimento da amplitude dos movimentos corporais do idoso. movimentar-se ao som das canções. portanto. caminhando melodicamente. afoxé. castanholas. Eletrônicos: teclado. Um lugar onde o idoso pode se sentir reordenando-se no tempo.guizos. pode sentir-se fatigado e. se o instrumento oferecido e/ou escolhido for muito pesado.. ele não é somente aquilo que se vê. caxixi. dUrante a anamnesemusicoterápica. em ~de escala. amplificadores. visa. timbale. 1988).sofiwares de música. A deterioração fisica setoma mais evidente. as atividades giravam em tomo dele. Deve-se dar preferência a instrumentos de material natural. criar.Sons determinados: kalimba. na oferta dos instrumentos musicais. o idoso vai sentir duplicar o peso do instrumento escolhido em suasmãos.a falta de cuidados prévios pode acarretar prejuízos. muitas funções biol6gicas.partilhando experiências. Na sociedade contemporânea. atinge. A música como atividade criativa valoriza o indivíduo para si mesmo. tocar.Dedilháveis: violão e viola-caipira . visando ao resgatedas mem6rias musicais. Do mesmo modo. 1998). indivíduo. Souren et aI. Em muitos casos. Na emoção expressadaem uma canção. Ap6s uma sessão de musicoterapia. Em nossaatuação clínica. a partir da testificação musical do paciente.o paciente serecorda de momentos de vida pregressa. Souren.durante a testificação musical. de conviver.causa-lhefrustração. verifica-se que Para tanto é necessário entendermos a forma como a música a música enquanto objeto terapêutico surge como um recurso. que podem serdesenvolvidasnessa etapa de suavida.Musicoterapia e a Clfnicado Envelhecimento I 1221 podendo gerar depressão. O planejàmento camente mais arcaica (Ferreira.notadamente nas regiões que compõem o sistema límbico. Além de atuar nos circuitos neoreunindo e associandoos dados coletados com os familiares mais corticais. além de partilhar suasexperiências de vida. Com o uso da linguagem musical. nas funções que adquiriu mais tarde em sua vida. mas. esse caminho para a transformação do idoso.como tratamento em um indivíduo com processo demencial. levado por uma baixa m9tivacional. o c6rtex e as áreassensitivase motoras. em termos de custo e benefício. Tais regiões.. Essaconstataçãõde que começa a existir um declínio cognitivo. O tratamentq musicoterápico utiliza a ampla capacidade de ainda possui. No momento de se fazermúsica na musicoterapia em grupo. A música é uma das linguagens mais arcaicas e uma das últimasformas de comuniçação a seremlesadas pela doença de Alzheimer (fomaino. apresentando maior dificuldade de recordar dos filhos. a memória e o raciocínio do genetativas e difusas na demência de Alzheimer. Verificasenecessário.evocadasa partir da estimulação sonoro-musical. O indivíduo com essademência. supostamente perdido. Por vezes. Santos. O tratamento musicoterápico entra como uma força poderosa. vai sendo afetado no que tem de mais nobre.a musicoterapia procura atuar na parte eficiente do indivíduo. na ação de fazer música. portanto. 1998. associa e integra pensamentos e representações internas refletidas no musical.portanto.A partir da música. de criar e desenvolvernovas formas de viver. portanto. primordialmente.são. relacionamer (Reisberg. apesar da irreversibilidade do processo. Reisberg. Franssen. Em nossaatuação clínica. No decorrer do processo demencial. bem çomo os dados dos programa~ desenvolvidospela em ambos os hemisférios cerebrais. utiliza. e estimulando as funções cognitivas a co pod. alcançando Qíveis Muitos são os estudos em diversos paísessobre a musicotera. Ele poderá lançar mão dascançõesque marcaram uma época boa de sua vida. o estímulo musical possui grande poder de penetração próximos.centros de estimulação alternativos aos circuitos neocorticais. em um estágio inicial da doença. Hasan et aI.sonoro-musical específico para cada indivtd"Q. notadamente a música. mais especificamente. uma força primordial se evidencia: é a carga afetiva e emocional que podemos expressaratravésda música. Nessasconexões. O que observamos. busca-se detectar um caminho tra~ento. sabemque algo está acontecendo com suam'ém6ria e buscam entender essefenômeno. até então. a palavranão conseguealcançar. Ele deixa de ativar partes de seuscircuitos cerebrais que ainda estão eficientes e se deixa abater.-A8 lesõessão debrais que controlam a comunicação.estimulação que possui o som.e seuselementos podem intervir . Ele. junto ao indivíduo com demências. afetivos e emocionais. dabora conteúdos internos. é importante ava. portanto. 1999). 2005).e determinar um parâmetro de avaliaçãoe prognóstico do partir da atuaçãoda música e seuselementos nos circuitos emocionais.o idoso acredita que a suavida não terá mais transformação. constatamos que o indivíduo.na demên. impulsionando o indivíduo à vivência do novo. sítios cere. suas perdas e ganhos. retém. O indivíduo. muitas vezes. Süva.sentincia de Alzheimer. Em revisão literária atual. um planejamento adequadodo tratamen. principalmente relacionado à perda da mem6ria recente. pode estar a conexão do passado com o presente.O poder de associação que a linguagem musical proporciona. ao mesmo tempo. por exemplo. A música como linguagem maleávele pertencente à vida do indivíduo possibilita. ou durante o processo de fazer música na sespia e os efeitos do tratamento com música em indivíduos portadores de processosdemenciais e. muitas vezes.. reconhecendo-se em seu fazer musical. acreditamos que as funções cognitivasdo indivíduo sãointegralmente trabalhadas.comportamentos agitados em idosos com demência. 1999). das aos períodos de suavida pregressa.atuando em to musicoterápico. ativa centros cerebrais como o hipocampo.2000) e geralmente deve levar em conta o grau de acometimento da demência e privilegiar a história de vida sonoro-musical do cliente e dos seus fa. de caráter funcional. Chang. em especialos acometimentos de áreas neocorticais.da mem6ria da mais arcaicapara a mais recente. fato evidenciado pelos constantes esquecimentos. o indivíduo é Musicoterapia e Demência de Alzheimer estimulado em suasconexões mais profundas. pode recordar da sua esposa por mais longo período. A demência de Alzheimer afeta. estava tema é pesquisadoe estudadonosdrculos científicos (Clair. Franssen. o fato de asperdas de conexões se darem a partir dasáreas superiores gera dificuldades em acessar as mem6rias das mais recentes para as mais arcaicas (Reisberg. caberá o idoso tem opiniões formadas e conceitos cristalizados. A musicoterapia trabalha.na prática clínica musicoterápica. de maleabilidade e descobertas. Devem-se buscar. Durante essaatividade musical. N~~tendimento individual. múltiplos circuitos encefálicos.de poderá cantarsuasdores e amores. Franssen. as possibilidades e as eficiências que ele idosos em questão (Sung. das mais ascançõesevocadasdurante asetapasdo processo musicoterápiarcaicas às mais recentes.. Mediante todas asjá cônhecidas dificuldades para o tratamento clínico da demêneia de Alzheimer e suaslimitações terapêuticas. mais acessívelpara se administrar . estimulando essas áreasencefálicasnão-lesadas. sendo lesado. por exemplo. E importante frisar que a abor. inicialmente. portanto. esse do grande prazer em ter recuperado algo que. Cada vezmais e de forma mais aprofundada. observamos que o indivíduo está com uma suposta perda da capacidade de integrar seuspensamentos para oferecer uma respostaa partir da linguagem verbal. principalprover uma aproximação terapêutica para o cuidado com esses mente. não acredita no poder vital de suaspotencialidades e capacidades.preservadas durante os processos demenciais.de forma prazerosae não-ameaçadora. de estrutura filogenetiequipe multidisciplinar que atende o paciente. Em nossa prática clínica. 1998). Dessaforma. num processocontínuo de e$truturação e ordenação. com as regiões límbicas observamosque o vínculo afetivo demonstrado pelo paciente com prese~das. A música nos alcança onde. constatamos que a linguagem musical pode proporcionar um caminho revitalizador de busca do prazer de viver. luliar o grau de recordação musical do paciente e suasreminiscêngar de dificuldades iniciais do paciente com demência de Alzheicias. . recorda. é que tais indivíduos. A incorporação de música de predüeção do paciente tem o potencial para dagem musicoterápica nos processos demenciais é. Auer et aI. bem como recordar músicas que foram verdadeiras inscrições de momentos difíceis de seuViver. emergem como miliares na relação com ele. o que observamosé que o resultado desse processo é um abandono que o indivíduo faz de al~as atividades psíquicas. Por exemplo. O paciente. e muitas vezes ele não consegue. como uma linguagem não-verbal. 2005). o musicoterapeuta aguardaque o paciente complete a letra.que a música. do comportamento (Lola. Ou seja. os movimentos apresentaram-semais fortes e mais simétricos.casconsagradastêm dem beneficiar-se. pode estar desconectada e.2005). quando se dá conta de que recordou uma letra inteira.sionômicae sonoramentesuas emoções. Corroborando com o já descrito anteriormente. O terapeuta deve realizar a entrevistae a testificação musical de forma individual. recorda e fala algumas palavras relacionadas à letra da música. Sirkka Liisa Ekman. que a recordação específicada letra. O musicoterapeuta poqe e deve fornecer o respaldo clínico musicoterápico. O programa de tratamento deve ser traçado de forma que os familiares mais pr6ximos ao paciente. Jacalyn. toda da. ao cantar urna canção do repert6rio do paciente. o musicoterapeuta já pos. é quase sempre recordada integralmente pelo paciente. StevenBrown. Quanto ao trabalho em grupo com pacientes portadores de demência de Alzheimer. interagindo uns com os outros-. verbalmente. Nesse momento. Quando p paciente não conseguerecordar totalmente a letra. Tais canções devem ser de conhecimento prévio do paciente. Vemos. vinculada afetiva e efetivamente com ele. pois poJacalyn. o perfil sonoro-musical. estudo recente demonstra que indivíduos acometidos por demência em grau severo.eomo recurso. seestimuladoscom música de suahist6ria musical pregressa (HSMP) por seus cuidadores. que o paciente recorde a partir do nome da canção. É importante que. uma vez encontrado o 6. expressadoao fazermúsica durante assessões. como coadjuvantesno processo musicoterápico. recorda da letra e continua a cantar ap6s o término do estímulo musical em questão. Mas se o musicoterapeuta tocar o início da melodia. A música. o paciente demonstra ainda capacidadede recordar cançõesque têm signi6. 2000).conseguerecordar canções. atuante e coadjuvanteao tratamento.mas ordenada.1222 / Musicoterapia e a Clínica do Envelhecimento ao musicoterapeuta traçar um programa de tratamento que atenda especificamente àquele paciente. realizando com maior competência as atividades de cuidado pessoal sob o acompanhamento do profissional cuidador (Eva Gotell. é necessárioque o musicoterapeuta avalie especificamente cada caso. nesseestágio da doença. Observamos. ao estado de comprometimento decorrente do processo demencial. portanto. no tratamento musicoterápico. Aquele que cuida rotineiramente do paciente deve estabelecer uma estreitarelação com os tratamentos indicados. nas quais a música. mas sim a partir da suapr6pria linguagem musical. por isso a importância da investigação do musicoterapeuta.bem como. uma ordem de preferência de naturezacrono- . os estilos musicais e os padrões rítmicos puderem auxiliar para o melhor desempenho do paciente. o musicoterapeuta terá um backeTOund inicial. que pode auxiliar nas informações sobre gostos musicais e na hist6ria pregressamusical do indivíduo.a partir da codemonstrado que os padrões rítmicos têm bastante ressonância municação musical. O musicoterapeutadeve orientar o cuidador a utilizar os resultados positivos obtidos pelo paciente nas sessões. para garantir o backeTOund musical que retratará a história sonoro-musical do paciente.estabelecendoas relações a partir do padrão rítmico. tanto para o idoso como para os familiares que estãoacompanhando o sofrimento da perda gradual desseindivíduo. pode estabelecer coQexões mais s6lidas. durante a testificação musical com o idoso nessacondição. a música não é encontrada por ele a partir da palavra. A entrevista em musicoterapia com pacientes em um estágio em casosde indivíduos com demência de Alzheimer em estágios mais avançadono processo demencial deve ser realizada também mais avançados(Tomaino.de um modo geral. Em sua. 2003). 1998). mem6ria e demência demonstra que pacientes reagem fortemente ao estímulo de melodias familiares: o paciente canta simultaneamente a melodia conhecida. aos recursosemocionais do paciente.confirma que a memória musical é preservada em processosdemenciais e que é um grande caminho como guia para pesquisasfuturas (Lola. Um estudo ainda mais atual sobre a relação da música. A música fornece um apoio encorajador no que se refere à bagagemmusical que possui o indivíduo e que pode em algumasformas de demência ser corrflavelmente e quantitatiriências. Muitas vezesrecorda letras inteiras quando estimulado melodicamente pelo musicoterapeuta. Cuddy. dentre várias considerações. do outro que dele está cuidando e do ambiente que o cerca. não acontece de forma ordenada. ao acompanhamento familiar e dos cuidadores e aossuportesque estes possamoferecer.1997). como também o cuidador. auxilia o paciente a ir ao encontro das palavras (Damásio. A musicoterapia em grupo deve ser oferecida aospacientes em vamenteavaliadopor observação um estágio inicial ou moderado do processo demencial.o atencom o familiar. O estudo. além de Qsindivíduos terem alcançado maior consciência de si. muitas vezesexclama para o musicoterapeuta: "Eu consegui lembra. O musicoterapeuta deve estar atento. deixando a última sílaba ou a última palavrade um verso para ele completar. bem como produz um encontro de quem trata com quem cuida. de forma dimento individual seja privilegiado. Como membro participativo. É de suma importância que. Observamosque essetrabalho integrado proporciona menor nível de frustração entre cuidador e paciente. primordialmente. muitas vezes<> paciente não entende mais o que estásendo verbalizado. é provável que o paciente consiga estabelecerconexões que o levem a recordar integralmente da letra da canção. àssuas preferências musicais. Essa~orma de trabalho auxilia na organizaçãode grupos de pacientes. O musicoterapeuta pode solicitar. aos graus de tensão e relaxamento. Cuddy.0mel6dico. então. no espaçomusicoterápico. mesmo sem cantá-'la. é possívd utilizar a técnica de complementação de melodia e letra (associadas). Tal abordagem fornece um ambiente de segurança. bem como fortes influências na consciência sensorial. apresentammelhora no movimento corporal. o nível de d~_mênciae a hist6ria sonoro-musical de cada paciente. consegueexpressar6. Traçado. não foi?" É a partir da mdodia conhecida e mais arcaica (da inf'ancia e adolescência)que o indivíduo. nessas intervenções musicoterápicas. Ao constatar o grau da demência de cada um e obter um "retrato sonoromusical" dos mesmos.podemos estabelecer~ programa de tratamento em grupo que privilegie a soc\~ização e a troca de expe- lógica m4sical. antes da realização de suasatividades de cuidados pessoaismatutinos. tendo essetipo de atuação sob sua supervisão. possam acompanhar e atuar dinamicamente. oferece a oportunidade de um trabalho que associaos progressosdo paciente no tratamento. nas suasatividades rotineiras. No estágio moderado da demência de Alzheimer. para a abordagem musicoterápica para cada caso em particular (Souza.Os pacientescorrigiram a postura corporal. sema melodia. a aplicabilidade dos mesmos nas atividades diárias. tenham aplicabilidade no seudia-a-dia. Isso está associado. entretanto.cado afetivo para ele. logo após cantá~las. o cuidador pode auxiliar para que os progressos conseguidos pelo paciente. Os trabalhos clínicos e pesquisas cientí6. para ir testando até onde o paciente pode ir com suacompetênciacognitiva. movimento e repouso que os acordes musicais proporcionam quando fazemos música. assim. uma das estruturas encefálicasligadas à e pontas de feltro) e os timbres mais gravespromovem maior redoençade Parkinson. segue com seu pr6prio corpo em IJiovimentos movimentos. ao sentir e perceber a rítmica ordenadora e estrutu. A atividade corporal preemoção. na deambulação e na fala (a parseqüentemente. 1999. mas como ela mesm~. como movimento automatizado (Pacchetti. O musicoterapeuta precisa estar atento às fasesda dosível." Muitas vezes. progressivamente. Um ritmo bem-estruturado e em andaponte com a estrutura afetivana qual a aliança com o musical faz mento apropriado ao tempo do paciente é o que dá suporte para a comunicação do serconsigo mesmo e. é na comunicação a partir da música ráter estimulante aumenta a coordenação motora.o comando verbal para a realizaçãode um movimento corporal de um paciente com doença de Parkinson é prejudicado pela bradicinesia e pela falta de coordenação. ~ tremores. em todos os níveis.como. ciona. essencialmente. tir do ato de Cantar). constatando o grau em que se encontra o paciente. por conseqüência. ao tocar um instrudireta conexão límbica.a sua estruturação. Os familiares devem. Aglieri et al. coordenação de seusmovimentos.2000). tanto na linguagem verbal como na linguagem musical. trazendo a cadência perdida. a relação da emoção com o co e regular (Pacchetti. visa proporcionar um ambiente de bem-es. facilitando o movimento e amenizando as imitação ou c6pia.nicas com o uso de técnicas que promovem o controle rítmico do monstrando seu valor para a comunicação do ser humano e. Os estudos de Zatorre et alo(1992) vêm apontando a imporprimordialmente.o apoio para a realizaçãode outras atividades. Hesse. 1990). proporciona que seestabelece o elo para o paciente e os familiares.Tal reconhecimento proporciona mais equilíbrio. na doença de Parkinções de prazer e ludicidade entre ele.paciente.laxamento da musculatura e conseqüente controle dos movimendo "estriado ventral" participa do comportamento emocional. atuando nos movimentos. uma maleabilidade para que o paciente sinta o seu enrubesce. uma ordenação e.. 116).A música agecomo um estímulo específico. em que a música ofereça o caminho para o resgate de suas seu objetivo na melhora das condições motoras e emocionais do mem6rias ainda eficientes. vendo surgirem as incapacidades de deambulação. coerentes. onde a forma de tocar (com baquetasgrossas Parte do corpo estriado. o estímulo musical adequado pode auxiliar no relaxaE nessaestrutura afetivaque a música penetra. (Alexander. prinComo uma doença idiopática neurodegenerativa. com a aplicação de entrevisgrupo ou individual. de. auxiliando-o na outro.o tar. E é a partir do tramúsica pode. sua marma ritmada e apoiado pela estrutura que a música propor2000). seja em las de que tratamos anteriormente. aumendo.. O trabalho de musicoterapia. a derradeira forma de comunicação do indivíduo com o munO ritmo estimula asrespostas'imediatase espontâneas.imediatamente ele modifica suafisionomia. no ato de tocar um os idosos.durante ou ao fIm de um canto. De Long. mas deve focalizar. Cantar uma maior exatidão nos movimentos e dá evidência de que pode mecanção e perceber que o seu ente querido expressaum sorriso ou lhorar principalmente os movimentos dos braços com maior presuspira. em que tremores de repouso. canal de comunicação entr~ a música e a mento ou cantar e escutar uma canção. No atendiMusicoterapia e Doença de Parkinson mento musicoterápico.é semelhanteàquerias estão sendo apagadas.tas. Verificamos em nossaprática clínica que a víduo perde o controle sobre os movimentos. Ela proporciona ao paciente com demência estabeleceruma tando o nível de atenção. à melhora da qualitância da percepção e produção dos padrões temporais ou rítmidade de vida do indi~duo. concorpo. É impormovimento é estreitatanto em suaforma programada quanto ilo tante o oferecimento de instrumentos musicais simétricos. bem como dificuldades portantepara que o paciente se sinta equilibrado fisicamente em na coorden3. Mancini. tímbale e tambores. p. expressãefacial prejudicada..O domínio da estrutura rítmica corParkinson vem atingindo um número cadavez maior de indivíduporal é fornecido pela ação de fazer música. Quando a palavrajá não pode mais expres. ser o último balho rítmico que podemos estimular os pacientes. seusfamiliares. A abordagemmusicoterápica. .-doença de Parkinson vai sentindo a perda do controle de seus rante da música. reconhecendo-se como produtor dessesmovimentos de comunicação e expressão. mas estabelecerelaNa nossaprática clínica. Mancini. duo expressatambém o sentido da música. Quando o corpo se encontra com muitos mai~o. não como uma mento da musculatura. elo.~usicoterap. a utilização adequadada música fornece. o indivíduo com O idoso. Uma música de casarsentimento e significado.. Esse recurso é imambulação. sorri ou até mora. As mem6ente. Em estado de "congelamento" dos movimenbuscado vínculo perdido. O denomina. Os sintomas mais comuns são a rigidez muscular.a doença de cipalmente na deambulação. É no corpo e a partir dos movimentos corporais que o indivímuitas vezes.. a deambulação acompanhadade um ritmo simétrio movimento. 2004). observamosque.do movimento. nessecaso. a ação de fazer música impulsiona e incentiva a regularidade ao consonanteinterno. cuidadores son. nos estágiosmais avançados da doença. Bernatzky. Crutcher. Do mesmo modo.Mancini. uma facilitadora dos forte conexão entre o sistema auditivo e o sistema límbico" (To. O estímulo musical não s6 auxilia o paciente. mesmo tempo. pertence ao sistema límbico.mostrando a associaçãoíntima entre corpo. quando o indie o meio que o cerca. StafTen. tos e regularidade aos mesmos. Aglieri et al. a os tempos fortes e fracos de um padrão rítmico fornecem o re. os instrumento musical (como o tímbale de forma simétrica).Ladurner. ença. de forma participativa e atuante. movimento e emodrões rítmicos podem auxiliar desde as recordações de letras e ção. problemas de equilíbrio e depouso e o impulso para o novo movimento. "Pesquisasem neurociência indicam a existência de uma judicada encontra na música uma aliada.a e a Clfnica do Envelhecimento / 1223 nossaprática clínica. E no corpo e na fala que. ao associaro estímulo musical externo tos. Aglieri et al. demonstrando assim a estreita e corpo de forma mais rítmica e estruturada.movimentos corporais. (Bernatzky. observamosque os estímulos a partir de pa.perda dos movimentos (acinesia). sempre que pos. ordenados. A música impulsiona por exemplo.ao escutá-Ia.com o que de se engaje na mesma pulsação do ritmo.çãomotora da fala (Pacchetti. 2000). testificações musicais. auxiliando o idoso na dores do paciente. a lentidão dos movimentos (bradicinesia). cançõesaté a ordenação dos movimentos corporais. O indivíduo acometido de um processo ~emencial está com com o objetivo de obter respostasmotoras e emocionais do paciperdas progressivasda identidade. há uma quebra do-padrão rítmico do corpo. é uma forma de comunicisão. buscando reduzir àsincapacidadesclícos. Quando o musicoterapeuta toca uma canção conhecida do A música proporciona uma estrutura. car: "Eu estou ainda contigo e sei que tu ainda estáscomigo. fazerparte do tratamento. O tratamento musicoterápico do paciente com Parkinson visa. ao controle dos sintomas. ao paciente. Essesuporte musical o auxilia no controle dos movimentos respirat6rios. expressõesfaciais de alegria. A música pode auxiliar nos casosde seqüela de AVE. têm um papel relevante no que se refere à reintegração dos movimentos corporais e à descoberta de novas formas de adaptação às transformações neurológicas causadas pelo AVE. utilizando a melodia. muitas vezesprejudicadas. na adequaçãorítmica da marcha. ao fazer música. Na escolhado repert6rio musical. terá um apoio. bem como vai adquirindo domínio sobre a musculatura dascordas vocais. da deambulação. o canto e a interpretação no canto e observamosque o paciente pode estabelecer uma ligação com as expressõesverbais. essa paciente selibertava. T erapia deentonação melódica e técnicasvocais relacionadaspodem melhorar a disfasia expressiva e vêm sendo de grande ajuda na reabilitação de desordens neurológicas como o Parkinson e o AVE (Myskja. Durante a avaliaçãoe testificação musicoterápicas. sentindo um estranhamento do seupróprio corpo. nessecaso. prin- . o sintoma da doença de Parkinson desaparecia.as mdodias vêm carregadas de sigrlificados. pelo tempo de valsa(3/4). Quando um paciente tem consciência de que perdeu a capacidade de expressarverbalmente o que desejae. devido às seqüelas. Tal música deve possuir compasso. é claro. tocar e cantar. nas expressõesrítmicas corporais. com o objetivo de aliviar os sintomas da doença. surpresa. ao tocar o instrumento. na execuçãodos seusmovimentos.mas é possívelque esteja lúcido para compreender e para auxiliar em seu próprio tratamento. as inflexões sonoras. Podem existir pacientes com seqüe!assemelhantes. que pode acarretar problemas relacionados à atenção. No decorrer do processo musicoterápico. que seevidenciam na atividade corporal ([omaino. a melhora acentuadados tremores e da rigidez muscular dos pacientes com o decorrer da sessão. nas formas de expressão não-verbal. -ao cantá-Ia para si mesmo. A música pode ser ajustada aos movimentos e os movimentos a ela.é necessárioque o musicoterapeutaproporcione a ele um ambiente em que os movimentos possam ser livres no ato. É possívelque a voz rouca e trêmula. em que a tarefa de ir ao banheiro. para oferecer um canal de comunicação aos desejos e vontades do paciente impedido de expressar-sepor uma lesão muitas vezesirreversível. formando um apoio para o impulso seguinte. gestos. já é algo tão difícil. A avaliaçãomusicoterápica deve ser realizada individualmente. entre outros. A dificuldade de expressãonão deve ser uma barreira para o entendimento das suasnecessidades por parte do musicoterapeuta. é importante que o musicoterapeuta explique.: corporais a partir da estruturação musical. aos poucos.dando lugar à fluência de movimentos e à normalidade.Por isso. em pacientes que sabiam tocar o instrumento.. o que de outra forma lhe é impossívd realizar."" 1224 I Musicoterapia e a Clfnica do Envelhecimento No que serefere ao canto. Com isso. é importante que o musico~ terapeuta estimule o paciente a começar por canções mais simples. no qual o tempo forte se instala. pr6prio. Essespacientes. por um tempo. inicialmente. Um pacientecuja seqüelaé a hemiparesiaou a hemiplegia perde o equilíbrio e os movimentos de parte do corpo. altera a imagem corporal que possui de si mesmo. agradável. em que muitas das estru~ musicais se assenlelham àsestruturasque formam a linguagemverbal. como. deve fornecer um fundo musical com andamento constante. mas ela é uma outra forma de comunicação. o que faríamos sem da quando desejássemos dançar? ! Musicoterapia e Seqüelas de Acidente Vascular Encefálico o tratamento m1isicoterápico com pacientes acometidos de acidente vascularencefálico (AVE) vai depender do tipo de seqüela produzida. O uso da "canção de ação" auxilia sobremaneira a sua coordenação mptora.nsão e eXpressão. 2005).bem como problemas físicos (Grob.reorganizando os movimentps. o programa de tratamento e explicite os objetivos a serem trabalhados tanto para o paciente.de tocar. onde o paciente se sinta livre para experimentar asvárias formas de tocar e. Ao mesmo tempo. afinal. A música é a via de acesso.na mesma estrutura do compasso.abordando as semelhanças e diferenças entre elas. dos sintomas que apresentava. o faça sentir-se incapazde cantar. Em algunscasosestudados por Sacks (1998) foram comprovados os efeitos da ação de tocar instrumentos e da reação positiva de pacientes que "descongelavam" seus movimentos e podiam tocar.andamento e ritmo adequadospara ele. nem sempre o paciente pode expressar-severbalmente. Música é movimento. 2004). bem como de intensidademoderada. atravésda música. o paciente com a doença de Parkinson se beneficia profundamente. pois o programa de tratamento deve atender àsnecessidades individuais do paciente. No trabalho com a música. vá se libertand~ da rigidez muscular. o ritmo. se sen~m frustrados por não poderem deambular com a precisão" o ritmo e a coordenação de antes. Recentesdesenvolvimentos em pesquisasdo funcionamento cerebral e no campo da Musicoterapia vêm confirmar a utilizaçãoda música.E de fundamentalimportância esse lugar. mas as necessidades são sempre diferentes. se ele puder compreender. 1999). de segurançae estabilidade.facilitando a emissão sonora. pois à proporção que canta vai melhorando a capacidade respirat6ria. A música se torna uma companhia para as atividades rotineiras.muitas vezes. ao piano. detalhadamente. assemelhando-seao tempo da marcha. No momento de fazer música. como para o familiar ou cuidador. suas dificuldades. Da aproximação dessaslinguagens. concentração. Na nossa experiência clínica.bem como vêm conduzindo o desenvolvimen~ to de novos métodos baseadosem música par~ o tratamento do Parkinson. em compassosem que possa existir uma pausa para o des~ canso. E preciso levar em conta a expectativa do paciente diante do tratamento de musicoterapia.o canal decomunicação pelo qual o paciente pode expressar suasvontades e necessidades. por exemplo. 1998). por exemplo. sugere-seao paciente que escolhaumá canção que ele irá introjetar como a "sua cançãode ação".Assim. mesmo com dificuldade. um suporte musical estruturado na realização dos movimentos. O cliente pode estarimpedido de seexpressarverbalmente.em tempo regular e firme. compret.O musicoterapeutapode lançar mão dessas estruturas. possibilitando~lhe o uso dó instrumentomusicalea nítida melhorada emissãosonoraa partir do canto. que aproxim~ ambas as linguagens. melodia e harmonia). expressando. durante esseperíodo. Isso não quer dizer que a expressãomusical substitua a palam. do tremor. ou o compasso (2/4). sendo utilizada como um referencial interno. A música e seuselementos constitutivos (ritmo. 2004). muitas vezes. Por exemplo. Isso. Se o paciente descobre a sua canção e a sente dentro de si. E.vão ocorrendo a adequação e a adaptação do indivíduo a novos comportamentos. O estímulo musical. experimenta um momento gratificante. da voz. E no movimento e na ~çãode fazer a música que o paciente com doença de Parkinson consegue. como também de outras doenças neurol6gicas (Myskja. na expressão verbal. por exemplo.conseguecantar um pequeno trecho musical com letra. determinadas canções por cerca de quatro horas seguidas.o relaxamento corporal. observamos. Essacanção O'acompanhará em suas atividades cotidianas. Nos movimentos rítmicos produzidos pelo paciente a partir da música. regularmente. deve-seoptar. obtendo prazer e abstraindo. na estimulação da sensopercepção(Kim Koh. pp.p. O atendimento ao idoso requer atuaçõesmultidisciplinares para seupleno sucesso. USA. ACMT -BC Editor. 188-194. Fundaro C. 62.ompanhia das Letras. Bernat7. de grima. Kim Sj. Sherman Oaks. 64. Em constantesavançosinvestigativoscientíficos e clínicos. dependendo da avaliaçãodo musicoterapeuta quant9 à elegibilidade para tal forma de tratamento. respostasmotoras e sensitivas.Alexander GE. movement. roloaic Rehabi/itotion. 1981. O trabalho de musicoterapia Bernat7. Brown S & Ekman SL. em que o paciente pode comunicar-se socialmente.1467-1473. paciente a seguir adiante junto com seuscompanheiros de grupo. mais específica..v. St. Fomos n6s que as construímos com cada sorriso e cada láestabelecendouma rede de estímulo e informação. 1998. 3. Isabelle. período mais longo. é elegível o paciente Bruscia KE. Laterality effects in the processing of melody pois tocar e partilhar a ação de fazer música é um dos momentos andtimbre. May-June 2000. 386-93. 29(1): 63-71.demonstrando-nos o poder estimulador e terapêutico da música. as sinapses.porque nos pertencem e se tomam nossas companheiras de jortando a transmissão de dados nas diferentes áreas do cérebro e -hada. Nappi G. v. muitas podem auxiliar na capacidade de adaptação de outras áreas do vezes. Proa Brain Res. produtivo ao experlInentar sua voz e seusmovimentos associados Music Inc. no que se refere à prática e à teoria musicoterápicas. 1988. Staffen W. 2003. O Mistério da Conscié'ncia. sentindo7se Bright R. Barcelona: Ediciones Paid6s IbéO atendimento musicoterápico pode ser realizado em grupo. 15. Matemtftica eMúsica -O PensamentoAnal6aico na Construfão referendam que a música ofereceuma oportunidade semigual para de Sian!ficados. Alfred Intemational. 361 (1-3): 4-8.~ mais recentes. syntax and the brain. Analytical Music Therapy. MMB. A emoção que a música proporciona incentiva o Bright R Practical Plannine in Music TherapyJor the Aeed. 1999. Rio de janeiro: Enelivros. O que podemos constatar é que a musicoterapia aplicada na terceira idade é um campo fértil de buscas e descobertas. Hilliard RE. A post-hoc analysis of music therapy services for residents in nursing homes receiving hospice care. MO. Priestley M. Annu Rev Psycholoor. In: forma. Intemational Psychogeriatrics. Patel. Benenzon RO.ky P.2005. USA. 1984. Peretz. MMB. Music Therapyand the Dementias: Improvine the Quality ofL!fe. valorizando os estímulos de cunho emocional e afetivo a partir da linguagem musical.ilogênese da linguagem: novas abordagens de antigas questões. 11. As cançõesde nossas vidas traçam rotas e caminham juntas com o nosso envelhecer. . a princip. que apresenta um importante papel como elemento de prevençãoe manutenção dasfunções cognitivas.A música irá onde a palavra já não mais alcança. Zatorre. 85: 119-146. Di Piero. 1998. 1990.7.al via de comunicação para os que dela necessitam. Jacalyn Duffin. v. 35. 41(4):266-81. e nOs mecanismos de comunicação neuronal. I:arias ESA. 229-235. music. porém as mais variadas canções que marcam e consdas partes do cérebro. a abordagem deve ser intensiva e focalizada. Music. BI. Intemational Psychogeriatric Association. vaI. St. As pesquisasatuais confirolam o teor científico da mesma. referindo-se a alterações estruturais e funcionais. São Paulo: Escrituras Editora. 2004.Musicoterapia e a Çlrnica do Envelhecimento I 1225 cipalmente o ritmo. and Alzheimer's disease: is music recognition spared in dementia and how can it be assessed? Medical Hypotheses. Journal of Music Therapy.n. Paraverbal psychomotor techniques in neurologic habilitation and rehabilitation. E é aqui. F. Esse canal sonoro-musical se torna. n. 2005). 2000. ten. ACMT-BC Editor. mem°I)'. a musicoterapia vem alcançando níveis de tratamento com abordagens diferenciadas para cada tipo de patologia. p. no campo das descobertas.41 1430. p.ky G.2000. Louis. Influence of caregiver singing and background music on posture. para pacientes que já estão com seqüela de AVE por Parkinson. como no Chollet F. Di Piero V. Music Inc. Silva ASS. Mancini F.2005. Saint Louis. Myskja A. MO. possibilitando conexões que. Martignoni E. 2005. para que o T amaino CM. Objetivamos aqui enfocar e apontar os avançosda clínica musicoterápica no campo da Gerontologia. USA. 2003. oculomotor. Can music therapy for patients with neurological disorders? TidSSRrNor Laeaeforen. casode se estabelecerum programa de musicoterapia breve para Ann Neurol. centrada. Aglieri R. Neuroscience Lett. portanto. é um momento de grande prazer para eles. Gotell E. Stimulating music increases mot~r coordination in patients affiicted with Morbus em grupo.ManuaJ de Musicoterapia. The functional anatomy of motor recovery after stroke in humans:A study with positron emission tomography. Ladurner G. 124(24):3229-30. aos do grupo.2004. 6. No.atua na plas.que não devemos fechar questões e. Aniruddh D. rica. The effects of music pain perception of stroke patients during upper extremity joint exercises. Koh I. Language.verificamos que arte e ciência caminhavam unidas desde asépocasmais antigas. Grob HM. Hesse HP. Winter. autores Abdounur Oj. Brain organizationfor music processing. Robert j. pode auxiliar nessanova adaptação.aumen. MO. MMB. Para a forma de atendimento illdividual. 4."LIOGRAFIA como resultado de processosadaptativos do organismo (Chollet. 1994. 58. Santos LCC. 1991). que necessitade uma abordagem focal. Phoenixville: ~~celona Publishers. Dessa Clair AA. Wise Rj. 2004.a ed. De Long MR Basal ganglia-thalamocortical circuits: Parallel substrates for motor. Dámásio A. sim. 56:89-114. plasticidade do cérebro (Peretz.1991. Lola L Cuddy.dentro de si. Journal of Music Therapy. Pacchetti C. Crutcher MD. Qinical Applications of Music in Neupaciente se beneficie o mais rápido possíveldo tratamento. USA. mais tarde.traduzindo nossasvivências. Music Inc. na filosofia de tratar o indivíduo como um todo indissociado. 16.A prática clínica vem demonstrando resultados do tratamento musicoterápico. n. CONCLUSÕES Antes de aprenderolos a dividir asáreasde conhecimento e nos especializarolos. Arquivos de Neuropsiquiatrla. Em estud?. n. v. entretanto. Wise et al. E seisso fazem é 2000.É na interação com asdemais áreasdo conhecimento clínico. que a musicoterapia poderá contribuir de forola mais efetiva. Ferreira RGF.v. cérebro para substituir funções já perdidas. 2. Ou seja. 6. ticidade neuronal. vpnindoMusicoterapia. Psychosom Med.Neuropsycholoor. and sensoI)' awareness in dementia care. 1997. Active music therapy in Parkinson's disease: An integrative method for motor and emotional rehabilitation. como tratamento coadjuvante da clínica geriátrica. podemos verificar a profusão de novasdefinições e redefinições. Com a terceira idade. Zatorre. o melhor entendimento da organizaçãodo cérebro humano. In: Tomaino CM. Vale lembrar que o indivíduo idoso não possui uma música A música é um fator preponderante de estimulação em varia. abrir possibilidades para o encontro do novo. troem a sua hist6ria. Qinical Applications of Music in Neuroloaic Rehabi/itation. 42(1):81-92. Boucher R & Bryden MP. "prefrontal " and do um papel privilegiado na exploração da natureza e extensão de "limbic"functions. Nature Neuroscience. pacientes que foram acometidos por AVE recentemente.São Paulo: C. Music for persons with dementia and their caregivers. Louis. 1. CA. n. Archives of Oinical P~olo8Y' v.1999. p. 1998. Souren LEM. Active music ilierapy approaches for neurologically impaired patients. jan/dez 94. 12. 8-9. UBAM. CérebroEsquerdo. Chang AM. J NeuralTransm. Sung HC. In: Tomaino M. Music Inc. Rio de Janeiro. 3. Reflexões teóricas sobre a musicoterapia. Auer S. 1998. JournalofOinicalNursina. 4. O Some o Sentido. 14 (9):1133-40. Monteiro I.). Reisberg B. 846-849. 44. Kenowsky S. Auer SR. SouzaMGC. 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