Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação SocialIII Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 A mídia e os novos movimentos sociais: o papel do discurso jornalístico no 1 processo de mobilização Danielle Scheffelmeier MEI2 Juliana da Rocha PEDROSO3 Myrian Del VECCHIO4 Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR RESUMO O presente trabalho trata sobre os novos movimentos sociais e a importância do discurso midiático no processo de mobilização. Tem por objetivo analisar essa relação quanto ao tema meio ambiente e a função que o discurso desempenha com propósito de mobilizar a sociedade. Analisa a campanha “A Hora do Planeta” que tem alcançado a cada edição mais adeptos a fim de averiguar se apresenta características que configurem mobilização social. Para análise da problemática apresentada o artigo fundamenta-se em estudos de Bernardo Toro. PALAVRAS-CHAVE: mídia; movimento social; discurso; mobilização; sociedade. 1 Introdução Os movimentos sociais surgem no cenário de contextos históricos e sociais dos países em uma determinada época e sociedade, sendo mais frequentes a partir da segunda metade do século XX. São formas que grupos organizados encontram para reivindicar mudanças de caráter político-social, ocorrendo por meio de protestos sociais, pressões políticas, manifestações, divulgações e lutas diversas sob as mais diferentes expressões e formas de encaminhamento. De maneira geral, seus processos ocorrem por meio da mobilização social. Existem diversos tipos de movimento sociais: o de organizações não governamentais (ONGS), movimentos comunitários, urbanos, entre outros que 1 Trabalho apresentado no III Encontro de Pesquisa em Comunicação, evento promovido pelo Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná.. Mestranda do Curso de Comunicação e Sociedade da UFPR, email:
[email protected] Mestranda do Curso de Comunicação e Sociedade da UFPR, email:
[email protected] Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Pós Graduação em Comunicação e Sociedade da UFPR, email: 2 3 4
[email protected] 1 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 compartilham diversos objetivos e buscam promover mudanças em prol de determinadas questões relacionadas às minorias. Autores como Warren-Scherer e Gohn, no Brasil, têm se dedicado a produzir inclusive tipologias dos movimentos sociais. Por mobilização social, entende-se as ações de grupos de pessoas, comunidades ou sociedades em função de um mesmo objetivo que busca alcançar determinados resultados por meio de diversas forma de participação. Também podem ser entendidas como manifestações que procuram obter espaço e visibilidade junto à mídia, com vistas a atingir chamar a atenção, obter visibilidade e tentar o convencimento para suas causas das autoridades políticas e também a sociedade em geral. Na sociedade contemporânea, as mobilizações têm acontecido e vem se intensificando também pela internet e outras mídia digitais, se transformando em um novo canal de compartilhamento de informações, visões de mundo e políticas e assim, fortalecendo o entendimento e apoio em prol de alguma causa. Nesse sentido, entende-se que a reflexão sobre os discursos produzidos pela mídia no relato de informações sobre ações desenvolvidas pelos movimentos sociais é, e merece atenção, pois tais discursos são no percurso traçado para se buscar o posicionamento de autoridades políticas, instituições e segmentos pessoais com relação a questões de relevância sociopolítica, socioeconômica, cultural, etc. Em se tratando do meio ambiente, é válido rememorar a Conferência RIO-92, em que, conforme Luis Fernando Angerami Ramos (1995) um dos objetivos era o de criar metas para reduzir os impactos ambientais, se focando na união das nações em torno do tema. Organizações não governamentais e movimentos sociais participaram do evento e, mesmo sem poder de voto, detinham o poder de mobilizar a opinião pública sobre os temas ambientais em jogo. O evento representou um divisor de águas com relação à visibilidade da questão ambiental no Brasil, pois a partir dele (embora o Brasil possua um histórico de comunicação ambiental bem mais antigo) passando-se a perceber que os eventos sobre o meio ambiente estão tendo mais espaço para discussão e que os movimentos sociais apresentam-se ativamente nessa questão. Dessa forma, o foco deste trabalho é fazer uma reflexão da importância da relação entre o discurso jornalístico e os movimentos sociais relacionados à questão ambiental. Para isso o artigo se utiliza da literatura especializada para obtenção de informações e conhecimentos que poderão nortear à problemática, no caso, sobre a mídia e os novos movimentos sociais. 2 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 2 A sociedade e os novos movimentos sociais Os atores sociais que aparecem neste trabalho são personagem dos chamados novos movimentos sociais, das organizações não governamentais, além de outros que lutam na proteção do meio ambiente. Segundo Maria Da Glória Gohn (1997), esses novos movimentos e as organizações não governamentais se tornaram os organismos de ação, fugindo das características de luta sindical que os primeiros movimentos sociais apresentavam no Brasil; o Estado também deixar de ser o principal responsável pelas ações de muitos movimentos ou de ser o objeto principal do protesto de outros movimentos. O poder público se torna um agente repassador de recursos. A operação é intermediada pelas ONGs. Na prática, as ONGs têm tido o papel principal no processo, pois são elas que estruturam os projetos e cuidam da organização e divisão das tarefas. (GOHN, 1997, p. 36) De acordo com Alberto Melucci (1991, p. 61) “a situação normal do “movimento” hoje é ser uma rede de pequenos grupos imersos na vida cotidiana que requerem um envolvimento pessoal da experimentação e na prática de inovação cultural”. (MELUCCI, citado por GOHN, 1997, p.61). O autor trabalha aqui com a ideia de que os movimentos se tornam estruturas específicas, preocupados com diversas causas, como a participação na elaboração de programas e políticas públicas, cidadania, protestos coletivos e os assuntos que dizem respeito ao meio ambiente, no foco deste trabalho. Quanto a esta questão Ilse Scherer-Warren (1993) também lembra que os movimentos não atuam mais sozinhos, mas estabelecem laços para fortalecer a sua luta. São realizados fóruns e encontros, por exemplo, para que os temas comuns sejam discutidos e o trabalho valorizado. Segundo o entendimento da autora Maria da Glória Gohn (2007), os chamados novos movimentos sociais são mais recentes e a favor do direito das mulheres, dos homossexuais, negro, da ecologia e de outras causas. Há, portanto, um distanciamento da característica classista que aparece nos “antigos” movimentos sindicais, os quais giravam em torno do mundo do trabalho. Segundo a autora 3 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 Os novos movimentos sociais caracterizam-se pelo estudo de movimentos sociais num approach mais construtivista, tomando como base movimentos diferentes dos estudados pelo paradigma clássico marxista. Eles se detiveram no estudo dos movimentos de estudantes, de mulheres, gays, lésbicas e em todo o universo das questões de gênero, das minorias raciais e culturais. (GOHN, 2007, p.128). Além disso, os novos movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico. Conforme Gohn (1997) os atores pertencem a classes sociais diferentes e criam um campo político de força social, tendo os mesmos objetivos em comum. Scherer-Warren (1993) apresenta uma característica adicional para o entendimento dos novos movimentos sociais: Têm surgido novos movimentos sociais que almejam atuar no sentido de estabelecer um novo equilíbrio de forças entre Estado (...) e sociedade civil (...), bem como no interior da própria sociedade civil nas relações de força entre dominantes e dominados, entre subordinantes e subordinados. (SCHERER-WARREN, 1993, p. 49 50) Esses movimentos atuam no seio da sociedade civil e buscam um modo alternativo de poder resultante da ruptura diante das crises da sociedade contemporânea nos seus moldes de desenvolvimento econômico, estatal e cultural (SCHERERWARREN, 1993). HARDT e NEGRI (2005) definem em sua obra o início da luta pela igualdade de direitos e sobre a democracia afirmando que “os direitos e a justiça têm sido tradicionalmente assegurados pelas constituições nacionais e, por isto os protestos se tem articulado em termos de “direitos civis” cobrados às autoridades nacionais”. (HARDT, NEGRI, 2005, p. 346) Os autores explicam a atuação de alguns exemplos de queixas que provém das minorias, como reivindicações de mulheres e negros. Em todo o mundo, ONGs de defesa dos direitos humanos expressam queixas sobre injustiças contra mulheres, minorias raciais, populações indígenas, trabalhadores, pescadores, agricultores e outros grupos subordinados. (HARDT, NEGRI, 2005, p. 346) Quando o poder dominante não permite que certas necessidades dos grupos sejam atendidas, entram em cena os movimentos sociais. São vários os protagonistas da 4 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 construção da história, e neste trabalho se privilegia os novos movimentos sociais e ações coletivas. 3 O discurso jornalístico e a mobilização social A linguagem em si, como forma de ação, apresenta uma função importante na construção de informações. Partindo do caráter performativo que apresenta o jornalismo, ao produzir determinados efeitos àquilo que transmite, qualquer que seja o discurso, manifesta sempre uma determinada intenção que se dá dentro do processo discursivo por meio de operações articuladas por procedimentos da própria linguagem que é onde então o trabalho da enunciação produz sentido. Sendo assim, compreende-se que a mídia, irá produzir discursos com finalidade de orientar o seu interlocutor, a determinadas conclusões, conforme argumenta KOCH (2006) A argumentação e a persuasão são elementos que carregam, mesmo que implicitamente, a intencionalidade do indivíduo envolvido no processo de comunicação. O ato de argumentar representa a orientação planejada de um discurso, no sentido de conduzir a uma determinada conclusão (KOCH, 2006, p. 19). Quando se trata de matérias jornalísticas que dizem respeito às mobilizações sociais, ações de movimentos sociais, principalmente quando relacionadas à causa ambiental, um tema que atinge a todas as pessoas em maior ou menor grau, a “grande imprensa” e também o jornalismo ambiental5 em especial, deve desempenhar um comprometimento quanto à forma de veiculação das informações. Bueno (2007), um pesquisador e professor da área, aponta algumas das principais funções que a mídia deve levar em conta na construção de suas matérias: a função informativa, função política e função pedagógica. De acordo com o autor a função informativa preenche a necessidade que a sociedade possui de estar informada sobre os principais assuntos que envolvem a questão do meio ambiente e que têm impacto sobre a qualidade de vida dos cidadãos. Quanto à função pedagógica, Bueno explica que esta diz respeito à explicitação de 5 Conceito adotado por Wilson Bueno (2007) Jornalismo Ambiental como o processo de captação, produção, edição e circulação de informações (conhecimentos, saberes, resultados de pesquisas, etc.) comprometidas com a temática ambiental e que se destinam a um público leigo, não especializado. 5 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 causas e soluções para os problemas ambientais bem como a indicação de caminhos (que incluem necessariamente a participação dos cidadãos) para a superação dos problemas ambientais. Já a função política, entendida em seu sentido mais amplo, isto é, sem vinculação político-partidária, tem a ver com “mobilização dos cidadãos para fazer frente aos interesses que condicionam o agravamento da questão ambiental”. (BUENO, 2007, p. 36). A partir dessas reflexões entende-se que a participação dos cidadãos é de suma importância quando se trata de problemas relacionados ao meio ambiente. Logo, compreende-se que a mobilização não é somente objetivo restrito de grupos engajados pela causa, mas da sociedade de uma forma geral, ações que surgem a partir de um objetivo em comum. Henriques (2004) lembra que a comunicação é importante para a tarefa mobilizadora, pois faz "criar condições para a participação e manter os atores engajados em suas causas" (Henriques, 2004, p. 33). Salienta algumas características de mobilização, como a corresponsabilidade, que indica que o público age por se sentir responsável por determinada causa. A comunicação também deve ser planejada para estimular a participação da comunidade, a fim de que o projeto tenha continuidade e gere mais frutos. De acordo com Bernardo Toro (96, p. 5) “Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados.” (TORO, 96, p. 5) Sendo assim, é preciso ressaltar que a mobilização parte da premissa da escolha do indivíduo em querer participar, fato que ocorre à medida que o cidadão se vê como responsável e capaz de promover transformações com determinadas atitudes e ações. O autor ainda reforça ao explicar a questão da atitude, apontando que A formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se perceba a si mesma como fonte criadora da ordem social, pressupõe compreender que os “males” da sociedade são o resultado da ordem social que nós mesmos criamos e que, por isso mesmo, podemos modificar. (TORO, 1996, p. 8) E isso também vale para questão da mídia que publica informações sobre meio ambiente, na promoção do desenvolvimento de uma consciência ecológica dos 6 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 cidadãos, por meio de produtos midiáticos diversos (TV, rádio, jornais, revistas, sites eletrônicos, etc) que podem auxiliar nessa construção, promovendo discursos textuais e imagéticos para que as pessoas modifiquem hábitos de consumo e tenham atitudes mais conscientes com relação ao meio que vivem. 4 Mídia e mobilização: o caso “A Hora do Planeta” Quando envolve o tema meio ambiente, já assinalou que atores importantes surgem e ganham destaque no cenário mundial como as Organizações Não Governamentais (ONGs). As ONGs ambientalistas se fortalecem a partir nos anos 1960, sendo a primeira a World Wildlife Fund (WWF), criada em 1961. O Greenpeace, outra importante entidade no cenário interacional, surge em 1971 tentando impedir uma prova atômica dos Estados Unidos no Alasca. E assim as organizações vão se desenvolvendo em números, tipos, tamanhos e intencionalidades até tomar os moldes que se observas atualmente. Para Héctor Leis (1999), as ONGs apresentam algumas características, como a atuação mundial e a busca de diferentes graus de emancipação do governo, tomando a liberdade de circular em diversos países. Além disso, alguns protestos são tão marcantes que chamam a atenção da mídia internacional também, dada ao número de países onde essas organizações atuam se sua característica de ação em rede, em especial após o surgimento das novas tecnologias da informação e da comunicação (NTICs). “Por essa razão, a governabilidade dos problemas globais depende hoje mais da sociedade civil mundial que emergiu através das ONGs do que dos Estados” (LEIS, 1999, p. 111), em especial a partir dos anos de 1990, quando se observa no mundo um Estado em crise e o crescimento de um terceiro setor como forma de compensar o espaço que o Estado tradicional (em especial o Estado do Bem Estar Social) vai deixando de ocupar. Transportando esta questão para o cenário de movimentos sociais ambientais, Manuel Castells (1999) percebe a importância do tema na pauta política, constatando que muitos candidatos não conseguem mais se eleger se não inserirem em suas campanhas e discursos temas referentes à proteção do meio ambiente. O autor cita ainda a necessidade da mudança dos processos de produção e os níveis de consumo para 7 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 tentar minimizar o aquecimento global que ‘paira como uma ameaça mortal, as florestas tropicais ainda ardem em chamas’ (CASTELLS, 1999, p.141). Diante desse quadro, os movimentos sociais e organizações não governamentais voltadas à defesa do meio ambiente têm ganhado espaço no cenário político internacional, através da mobilização de diversos grupos em muitos países. Toro e Werneck (1996, p. 5) defendem a “mobilização social como um ato de comunicação”. Compreende-se que é a comunicação que permite que a mobilização aconteça, pois é a partir dela que informações e discursos são compartilhados entre os atores envolvidos na campanha. A sociedade, por exemplo, pode ajudar nesse processo, a partir do momento que passa a comentar, trocar informações e visões, e aderir à campanha. A partir da comunicação, todos os atores conseguem conhecer o projeto e as diretrizes, o que permite que haja uma atuação de maneira uniforme por parte de todos. Para ilustrar o exercício teórico a que este trabalho se propõe, escolheu-se a campanha “A Hora do Planeta” (FIGURA 1) a fim de averiguar se configura características de mobilização social, posto que apresenta a cada edição, um número maior de adeptos. A campanha se trata de um ato simbólico em que governos, cidades, pessoas e empresas em todo o mundo são convidados a apagar as luzes de suas residências e estabelecimentos durante o período de uma hora, em uma determinada data e horário, com vistas a mostrar seu apoio à proteção do meio ambiente. Figura 1: Logo da campanha A Hora do Planeta Criada pela Rede WWF na Austrália em 2007, o movimento de combate ao aquecimento global e preservação de ecossistemas vem continuamente realizando 8 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 edições anuais, e assim aumentando o número de países, organizações, instituições e empresas adeptos à causa. A próxima edição já tem data definida e ocorrerá em março de 2012. Os dados e resultados do ano de 2010, apresentados no site da WWF6, mostram um resultado positivo na questão de adesão. Cento e cinco nações participaram, somando mais de 4.211 cidades e 56 capitais nacionais. No Brasil, 98 prefeituras, três mil empresas e 579 organizações adeririam ao movimento de alerta contra o aquecimento global e em favor da conservação de ecossistemas. Ao longo do processo de mobilização social, segundo Toro e Werneck (1996), a participação aumenta, se tornando meta e meio, o que significa que, de acordo com os autores, se deve considerar a participação como um valor democrático, sendo que a participação de todos os indivíduos é necessária para o desenvolvimento social. O objetivo da mobilização é atingido, portanto, quando o processo adquire abrangência e a profundidade, alcançando o resultado esperado. A mobilização social não é uma oportunidade de conseguir pessoas para ajudar a viabilizar nossos sonhos, mas de congregar pessoas que se dispõem a contribuir para construirmos juntos um sonho, que passa a ser de todos (TORO, WERNECK, 1996, p.22). Para os autores, a mobilização precisa despertar o desejo da população para aderir a uma causa, utilizando a comunicação para tornar atraente esse conteúdo. A mobilização também chama a atenção para determinados assuntos através da comunicação que atinge aos atores envolvidos. Os autores reforçam que “deve tocar a emoção das pessoas. Não deve ser só racional, mas ser capaz de despertar a paixão” (TORO, WERNECK, 1996, p.20) Percebe-se que a campanha consegue aderir uma significativa participação das pessoas, pois à medida que foram realizadas edições, aumentou o número de adeptos. É preciso ressaltar que a participação e o comprometimento dos atores com determinada causa acontece de uma forma espontânea, ou seja, as pessoas se integram porque desejam aderir, porque sentem uma afinidade e possíveis de promover mudanças. E isso acontece, mesmo momentaneamente, na campanha “A Hora do Planeta”, onde os meios 6 Site da WWF : http://www.wwf.org.br/informacoes/especiais/horadoplaneta/ - acesso em 24/07/2011 9 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 de comunicação foram importantes, inclusive a utilização da internet que possibilitou a transmissão da mensagem de uma maneira veloz a diversas nações. Além disso, o discurso produzido pela campanha auxilia no desenvolvimento da mobilização se levar em conta o conceito de “convocar vontades’’, proposto por Bernardo Toro, buscando atingir um interesse em comum. O que é possível perceber na análise desse exemplo é que a campanha é pontual e realizada periodicamente uma vez por ano. A questão do meio ambiente, concretiza um peso a mais, pois de uma forma ou outra, o assunto já “mexe” com as pessoas, nem que seja pelo menos, em determinados momentos. Durante o seu desenrolar, a campanha é capaz de chamar as pessoas a fazer parte, tanto que cento e cinco nações participaram da última edição. Verifica-se o crescimento no número de participantes conforme as edições vão acontecendo, o que indica que as estratégias de comunicação adotadas pela Rede WWF para desenvolver e também divulgar a campanha estão funcionando. As pessoas estão sendo convocadas e estão participando. Pensando no vínculo, ou o envolvimento da comunidade com determinada causa, conforme Henriques aponta, no exemplo “A Hora do Planeta’’ percebe-se que existe participação, entretanto não há uma continuidade no projeto. Entende-se que a mobilização precisa ir além, embora trate de um tema que preocupa a sociedade, apresenta-se de uma maneira isolada, na convocação das pessoas em apagar as suas luzes, mas não toma uma sequência e verifica-se o desenvolvimento de um projeto que de fato busque um engajamento das comunidades em prol da proteção do meio ambiente, mobilizando-as apenas momentaneamente. 5 Considerações finais A partir do conteúdo apresentado, é possível afirmar que a comunicação exerce um papel fundamental no processo de mobilização social, à medida que desempenha a função de promover sentido, circular as informações e através da circulação de promover sentidos, ‘convocar vontades’, de acordo com o conceito proposto por Bernardo Toro. É a comunicação que permite que a mensagem seja distribuída a diversos lugares, países e pessoas. Pensando no exemplo da “Hora do Planeta”, o evento alcança essa repercussão e orienta para a mobilização a partir da eficiência na 10 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 transmissão das informações, com a internet, inclusive, ajudando na propagação das informações de uma maneira muito veloz e de maior alcance. Além disso, a mídia já vem distribuindo informações sobre a questão do meio ambiente, e assim ganhando espaço na esfera pública, por ser também uma preocupação internacional, conforme apontam Castells e Leis. A questão ambiental ganha dimensões ampliadas quando se pensa que os países não conseguem por conta própria atuar na proteção do meio ambiente, já que os efeitos de queimadas, acidentes nucleares e outros fenômenos são sentidos em diversos territórios. Não se trata, portanto, de um assunto para ser resolvido em separado, por cada nação ou estado individualmente, mas é necessário se encontrar soluções em conjunto. Em outras palavras, mobilizar a maior quantidade de pessoas, pois, em se tratando de meio ambiente, é um questão que atinge a todos. Nesse cenário, os movimentos e organizações não governamentais ganham destaque pela sua capacidade de atuação transnacional, à medida que a questão do meio ambiente é uma preocupação global e que as ações devem atuar com vistas ao coletivo. Entretanto esses novos movimentos não se concentram apenas ao tema ambiental, mas também abordam outras temáticas, como as questões de gênero, raça e outros assuntos importantes para o desenvolvimento da democracia. Entende-se que a comunicação e o discurso produzido dão visibilidade e tornam a mobilização possível, através de meios técnicos. Entretanto, a mobilização não é possível, portanto, sem a comunicação, já que é por ela que os conteúdos são transmitidos para os atores envolvidos. A participação e o comprometimento dos atores com determinada causa são espontâneos, as pessoas se integram porque desejam aderir a uma determinada causa. Com o passar do tempo, as pessoas acabam se sentindo parte da causa a que aderiram. Isso permite que a participação seja, ao mesmo tempo, meta e meio da mobilização, conforme mencionado anteriormente. De acordo com Toro e Werneck, a mobilização e as campanhas têm como objetivo convidar a população a participar de uma causa e a campanha só continua com a sua participação. No exemplo da Hora do Planeta, é possível perceber a participação das pessoas, à medida que adotam a atitude de apagar as luzes durante uma hora em suas residências e estabelecimentos. Há, portanto um envolvimento das comunidades através de diversas formas de divulgação e comunicação, que tornam o movimento uniforme em diversas 11 Universidade Federal do Paraná – Departamento de Comunicação Social III Encontro de Pesquisa em Comunicação – Curitiba, PR – 22 a 26 de agosto de 2011 partes do mundo. Por outro lado, a campanha pode ser considerada pontual e que não dá continuidade à ideia de proteção do meio ambiente que defende. É uma ação que consegue convocar vontades e a participação, porém por um curto período de tempo. 6 Referências Bibliográficas BUENO, W. da Costa. Jornalismo ambiental: explorando além do conceito. Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, V. 15, n. 1, Curitiba: UFPR, 2007. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. Tradução de Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra, 1999 GOHN, Maria da Glória. Teoria dos movimentos Sociais – paradigmas clássicos e contemporâneos. 6ª edição. 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