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March 18, 2018 | Author: Lia Norcia | Category: Minimalism, Design, Aesthetics, Fashion & Beauty, Fashion


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Richard Serra: Equilíbrio entre gigantes Richard Serra: Balance between giantsAna Carolina Corá Barbosa, Angela de Mattos Ghizzi Soares, Lia Novaes Norcia Silveira, Raissa Nascimento de Faria1 Sob orientação de: Profa. Dra. Patrícia Sant’Anna RESUMO A presente coleção e artigo foram desenvolvidos a partir de uma pesquisa sobre o artista Richard Serra (1939) e seu trabalho, dando preferência às obras públicas expostas ao ar livre. O conceito criativo que construímos a partir de Serra, para o design de moda foi baseado no equilíbrio das obras no espaço utilizado, sua aparência, textura e qual a sensação do público ao passar por elas. O resultado final foi uma coleção da qual confeccionamos um look completo primavera/verão 2010/2011 desenvolvido para um público jovem do gênero masculino. Palavras-chave: Richard Serra; Moda e Arte; Obras públicas; Aço e Oxidação. ABSTRACT The project developed from research about the artist Richard Serra (1939) and his work, giving preference to the giant sculptures outdoors. The creative concept of Serra for fashion design, was based in the balance works in the space used, appearance, texture and how feels the public when they go through them. The collection was the final result which we made one full look spring/summer 2010/2011 developed for a young male audience. Keywords: Richard Serra; Fashion and Art; Public Art; Steel and Oxidation. 1 Graduandas de terceiro semestre em Design de Moda na Escola de Artes, Arquitetura, Design e Moda da Universidade Anhembi Morumbi. Emails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]. 1 O projeto interdisciplinar proposto no terceiro semestre de Design de Moda, traz como tema “Design de Moda e Artes Visuais”, inserido nesse tema tivemos a oportunidade de trabalhar com um período no qual houve um avanço na liberdade de interpretações e opiniões. Baseamos nossa pesquisa teórica referencial no período da arte contemporânea e tomamos como sub-tema Richard Serra e sua produção artística. Este artista foi influenciado pelo movimento minimalista, e suas obras quando introduzidas nos espaços públicos, desafiam o equilíbrio e causando no observador a necessidade de questionar-se sobre a sensação vivida naquele momento ao lado de um gigante. Criamos, desenvolvemos e confeccionamos além da pesquisa teórica referencial, dois painéis sendo, um dedicado aos referenciais criativos e outro de iniciação científica, um look completo e um editorial de moda. Buscamos relacionar arte, design e moda afim de esclarecer o posicionamento do artista trabalhado e como refletimos as suas características no resultado final apresentado. Arte, Design e Moda Para dar-se início à inter-relação entre arte, design e moda, é imprescindível que se tenha um entendimento individual de cada área. A arte surge da necessidade do ser humano de se comunicar além da gestualidade e da fala, aparece como uma forma simples de expor a subjetividade do artista, levando o observador a uma experiência sensível e novos questionamentos. ARCHER (2001) em seu livro “Arte contemporânea: uma história concisa” comenta que, atualmente, não existe mais um material e uma técnica ao certo que faça com que uma obra seja ou não considerada como arte. A arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mas também luz, ar, som, palavras, pessoas, comida, e muitas coisas. Hoje existem poucas técnicas e métodos de trabalho, se é que existem, que podem garantir ao objeto acabado sua aceitação como arte. (ARCHER, 2001: 9) O design propõe a produção de produtos com acessibilidade a grande maioria e funcionalidade, agregando valor ao seu grau de inovação de uso, técnica e estética. 2 Atualmente, porém, cabe ao designer também propor soluções inovadoras [...] Porque hoje, mais do que qualquer outro momento da história do design, o profissional desta área é aquele que, a partir de um panorama cultural e social, apresenta propostas visando melhorias da qualidade de vida do ser humano em seus núcleos socioculturais e econômicos. (MOURA, 2008: 40) A moda, a rigor, teve seu início no Renascimento, século XIV-XV, na península Itálica, onde era fator determinante de distinção e ambição entre as classes sociais, “[...] a dialética da pretensão e da distinção, princípio da transformação permanente dos gostos. Nesse jogo de recusas recusando outras recusas, de superações superando outras superações [...]” (BOURDIEU, 1983: 115) A partir desse momento, a moda cresce como um fenômeno sociocultural em que se torna possível expressar os hábitos e costumes de uma sociedade em um determinado período. Design supõe a construção de um objeto com finalidade prática e o objeto de arte dedica-se a sua intenção estética, visão essa defendida por FLÜSSER (1999: 17) porém, esse ponto de vista é posto como equivocado por MOURA (2008: 46), pois, durante o passar dos anos, houve objetos de design que, além da finalidade prática, também tiveram um apelo estético muito grande. A partir desse pensamento, percebemos que arte e design são universos que dialogam entre si, possibilitando, através da observação das diferenças incontáveis, novas maneiras de gerar criações inovadoras. Tanto o design quanto a moda necessitam de uma organização na qual são executados diferentes processos (criativo, produtivo, etc.), desta forma, acabam por surgir soluções para outros produtos e novos rumos. Trabalhar com ambas as áreas, nos permite a possibilidade de desenvolver um produto a partir de referências artísticas. Fazer design significa trabalhar com o futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir, anunciando novos caminhos e possibilidades. Trabalhar com design de moda é trabalhar com as relações acima citadas. (MOURA, 2008: 69) O presente processo criativo partimos da arte contemporânea. Segundo DANTO (2006: 15), a esta tudo se torna permitido. A liberdade de pensamento e 3 crítica vem a partir do público, que agora tem a possibilidade de construir sua própria subjetivade a partir da proposta do artista. (...) O contemporâneo é, de determinada perspectiva, um período de desordem informativa, uma condição de perfeita entropia estética. Mas é também um período de impecável liberdade estética. Hoje não há mais qualquer limite histórico. Tudo é permitido. (DANTO, 2006: 15) A produção criativa de Richard Serra se insere neste contexto e o artista foi tomado como referência para o desenvolvimento deste projeto interdisciplinar. Richard Serra2 (1939) é um artista norte-americano muito influenciado pelo movimento minimalista de Donald Judd (1928 – 1994), Robert Morris (1931) e Frank Stella (1936)3. Na década de 60 iniciou experiências com combinações de matérias e técnicas com borracha, metais e lâmpadas. Nos anos 70, Serra desafiou a gravidade equilibrando grandes placas de metal apoiadas entre si. E foi a partir deste tipo de obra que ganhou grande destaque no meio artístico contemporâneo. Suas esculturas passaram a ser expostas em lugares públicos e em cidades como Nova Iorque, Paris e Londres, com o propósito de alterar a rotina dos que habitualmente passavam pelos ambientes, o que consequentemente causou muitas manifestações populares, como por exemplo, em 1981, instalou a obra "Tilted Arc", uma imensa estrutura de aço, no meio da Federal Plaza, em Nova York, houve protestos de trabalhadores das redondezas que a viam como um obstáculo, o caso chegou aos tribunais e a obra foi retirada. 2 A formação de Serra se iniciou em 1961 quando estudou literatura inglesa na Universidade de Berkeley e mais tarde na Universidade de Santa Bárbara, ambas no Estado da Califórnia. Após esse momento, continuou seus estudos, porém se redirecionou para a área de “Fine Art”, que descreve qualquer forma de arte primeiramente pela estética e/ou conceito utilizado, na Universidade de Yale. Na Costa Oeste, conseguiu manter-se trabalhando em uma usina siderúrgica, que resultou em uma forte influência em seu trabalho posteriormente. 3 Movimento ou estilo artístico que surgiu nos Estados Unidos da América durante a década de 60 como reação à extrema subjetividade e emotividade do expressionismo abstrato dos anos 50.(...) O minimalismo, tal como o construtivismo, privilegia o racionalismo e o pensamento matemático. Rejeita o lirismo, a subjetividade e os interesses sociológicos exteriores voltando-se sobre si mesmo e sobre a sua própria análise. O movimento foi uma reação à prolongada obsessão americana pela individualidade, que estava esgotada com a constante luta entre as liberdades de cada um e as exigências da sociedade. Formalmente, a arte minimal caracteriza-se por uma estrutura muito simplificada, utiliza um método conceptual de composição racionalmente desenvolvido que consiste em disposições simples de unidades idênticas e impermutáveis, com frequência modulares, de inspiração matemática, ou resolvendo permutações geométricas, grelhas ou repetições que podem continuar ou prolongar-se infinitamente. (BALEIRO, 2009) 4 Fig. 1 - David Aschkenas, Richard Serra: Tilted Arc, 1981. Nova York. Desdobrou sua pesquisa minimalista em obras monumentais que alteram consideravelmente a maneira como as pessoas sentem o espaço. Conhecido por ser um escultor de site specific, ou seja, produz obras que possuem desde o seu planejamento um local específico de instalação, levando em consideração os acessos à obra, a escala do ambiente em que será instalada e os possíveis pontos de vistas. Com a grandiosidade de seus trabalhos Serra teve como solução trabalhar em estaleiros, e formou uma equipe especializada para realizar o processamento de informações para a conclusão de suas obras, tais como a instalação nomeada “Wake”, em Seattle (USA), há uma pessoa destina para realizar um cálculo que garanta a estabilidade das placas utilizadas e engenheiros que efetuam as curvas no metal. Fig. 2 – Richard Serra: Wake, 2004. Museu de Arte de Seattle. Richard Serra diz que sua obra, para ser compreendida, não exige conhecimento prévio sobre a história da arte, ou da escultura, e sim ser capaz de compreender as sensações sentidas: “O que sente aquele que entra nas minhas estruturas é o tema delas. O que me interessa são as sensações que ocorrem ali dentro, mais 5 do que o efeito estético do conjunto." Para ele, o observador deve apenas "confiar em sua experiência no momento que está entre as paredes.” (COLOMBO, 2008) O artista também observa que a percepção das pessoas se modificou, a influência tecnológica do mundo moderno, como a internet, e isto pode distorcer o real significado de arte. “Hoje convivemos demais com realidades virtuais, consumimos imagens que logo desaparecem. Minhas esculturas lembram que a arte é uma experiência física que tem um tempo e um espaço.” (COLOMBO, 2008) Apesar de o contexto atual ser diferente, o artista crê que, mesmo com uma sociedade imediatista como a nossa, tem a missão de sensibilizar os expectadores de suas obras, para que os mesmos possam refletir sobre o tema afim de compreendê-lo melhor. "Quero mexer com impressões e sentimentos. A arte não pode evitar catástrofes ou mudar a história. A “Guernica” não impediu os alemães de fazerem bombardeios na Segunda Guerra Mundial. Mas Picasso tê-la pintado alterou a sensibilidade com relação a essa questão. (COLOMBO, 2008) Conceito de Criação Ao analisarmos a obra de Richard Serra observamos tensões entre vários fatores que envolvem o observador. Inicialmente, temos um confronto entre a força da gravidade e equilíbrio, que dão início a uma série de questionamentos e sensações que são explicadas por Richard Serra como o real significado de seu trabalho: equilíbrio, deslocamento, grandes massas, etc. Com base nos planos pesados e gigantescos, feitos com aço moldado, definimos as formas e volumes de nosso projeto. O conceito de criação define-se pelo equilíbrio tênue das peças metálicas no espaço-público, desafiando a gravidade e o equilíbrio, entre a massa e o vazio, gerando alterações na percepção do espaço, sensações de segurança e insegurança com a monumentalidade das obras. A estampa e a cartela de cores vieram a partir de uma análise de fotografias sobre as superfícies ásperas e oxidadas das placas que constituem a obra, que se desfaz a um simples toque, presente no aço utilizado em decorrência das condições 6 climáticas e dos diferentes níveis de oxidação encontrados nas obras de Serra em vários países diferentes. A partir deste primeiro ponto, levantamos detalhadamente as cores que surgiram a partir das oxidações. E a cartela demonstrou-se ir para além do ferrugem com tons de laranja, marrom, violáceos e amarelos escuros surgindo. Fig. 3 – Ken Mccown, Orange County Performing Arts Center: “Connector Texture”, 2008. Orange County. Fig. 4 – Figura reproduzindo a estampa produzida a partir da oxidação, 2010. São Paulo. Para reproduzirmos a oxidação como estampa primeiro realizamos um estudo de qual seria o resultado que pretendíamos, então utilizamos apenas com tinta para tecido no fundo e trabalhamos com sua diluição em água obtendo desta forma as manchas alaranjadas. Em seguida criamos uma estampa digital com o estudo feito anteriormente para que houvesse a possibilidade de aplicá-la em uma metragem maior de tecido. Por fim, para não perdermos a sensação do toque da textura permanecemos com a idéia inicial da produção da estampa de maneira artesanal. Com proporções gigantescas e inumeráveis cálculos para sua execução as obras de Richard Serra remeteram imediatamente o universo masculino, pois o gênero masculino é construído hoje como detentor das qualidades de ser: racional, equilibrado e seguro. A estrutura das obras públicas torna-se um desafio para esse público. Público Alvo 7 Após analisarmos nossas referências de criação para uma coleção Primavera/Verão 2010/2011, concluímos que nosso público alvo é constituído de jovens do gênero masculino entre 25-30 anos, recém formados nas áreas de Design, Comunicação e Artes, e que atuam profissionalmente em áreas de criação tais como Design Gráfico, Ilustração e Cinema. Possuem como hábito freqüentar museus, parque e galerias culturais, ou seja, possuem um grande interesse em arte e design. Esse interesse também pode ser identificado em seus hobbies, carros e, até mesmo, nas roupas que vestem. Como são recém-formados, podem ainda não ter um grande sucesso profissional, porém, já são aptos a se sustentarem sozinhos, sendo auto-suficientes. Uma de suas características mais marcantes é a busca pelo novo e inusitado, o que os leva a serem pessoas que estão constantemente se atualizando com a finalidade de aumentarem e melhorem os seus repertórios culturais. Considerações Finais A partir do tema proposto foram dadas alternativas de artistas contemporâneos para a realização da pesquisa. Esses artistas têm em comum propor a possibilidade do observador de ter liberdade de pensamento e muitas vezes repensar em suas atitudes, desta forma, são imensas as possibilidades de pesquisas em relação às sensações e pontos de vista durante esse momento da arte. Para entender um pouco mais a fundo os ideais propostos por Richard Serra, indicamos uma pesquisa sobre o movimento minimalista. Este projeto teve como objetivo demonstrar a plena influência na perspectiva do espaço que o trabalho de Richard Serra possui perante os visitantes de suas obras. Conseguimos capturar as percepções que ocorrem no espaço para o observador da obra de forma que pudesse ser feita uma apresentação clara e objetiva com elementos que sozinhos pudessem expor a idéia das características criadas por Richard Serra. Durante as etapas processuais o reconhecimento com a obra do artista foi aumentando, a pesquisa referencial tornou-se interessante e prazerosa de ser realizada. Tentamos imaginar as sensações que teríamos estando ao lado do trabalho de Serra, escolha essa que ajudou essencialmente a embarcar no 8 significado proposto por Serra. A decisão de qual seria o gênero de público alvo foi por características em comum com as obras públicas, descobrimos a necessidade de trabalhar com o gênero masculino, jovem e com dispostos a novos desafios. Referências Bibliográficas ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: Ortiz, Renato (org.). São Paulo: Ática, 1983. DANTO, Arthur C. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história. São Paulo: Odysseus Editora, 2006. FLÜSSER, Vilem. The shape of things: a philosophy of design. London: Reaktion Books, 1999. MOURA, Monica Cristina de. “A moda entre a arte e o design ”. In PIRES, D. B. Design de moda: olhares diversos. Barueri: Estação das Letras e Cores, 2008. PIRES, Dorotéia Baduy. Design de moda: olhares diversos. Barueri: Estação das Letras e Cores, 2008. SERRA, Richard. Writing Interviews. London: The University of Chicago Press, LTD, 1994 SHERRILL, Jordan. Public Art/ Public Controversy: The Tilted Arc on Trial. In: American Council for the Arts Books. New York: ACA Books, 1987. Referências Webgrafias BALEIRO, Rita. E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 98920-0088-9, Disponível em: <http://www.fcsh.unl.pt/edtl>. Acesso em: 28 de abrol de 2010. 9 COLOMBO, Sylvia. No Brasil, Richard Serra diz que arte é experiência física . Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u467195.shtml>. Acesso em 05 de abril de 2010. DESCONHECIDO, Autor. Richard Serra. Disponível Acesso em: 10 em: de <http://www.absoluteastronomy.com/topics/Richard_Serra>. março de 2010. MCCOWN, de 2010. MUSEUM, Seattle Art. Wake. Ken. Serra Texture. Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kenmccown/2559659103>. Acesso em 25 de fevereiro Disponível em: <http://www.seattleartmuseum.org/mimi/enlarge.asp?objid=32045>. Acesso em: 20 de abril de 2010. SEATTLE TIME, The Installation of Richard Serra's “Wake". Disponível em: <http://seattletimes.nwsource.com/html/photogalleries/sculpturepark1318/>. em 04 de abril de 2010. WGBH, Educational Foundation. Richard Serra's Tilted Arc. Disponível em: : <http://www.pbs.org/wgbh/cultureshock/flashpoints/visualarts/tiltedarc_a.html>. Acesso em 04 de abril de 2010 WGBH, Educational Foundation. Richard Serra’s Tilted Arc – Image Zoom. Disponível em: Acesso <http://www.pbs.org/wgbh/cultureshock/flashpoints/visualarts/tiltedarc_big2.html>. Acesso em 20 de abril de 2010. 10
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