Argumentação.doc

May 23, 2018 | Author: jackinin | Category: Communism, State (Polity), Journalist, The United States, Brazil


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UFMG – FaE Disciplina: Leitura e produção de textos acadêmicos Prof.Gilcinei Teodoro Carvalho e Célia Abicalil Belmiro Assunto: Estratégias de argumentação. Elementos para a construção da ‘justificativa’ Todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor, usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística. Chamamos procedimentos argumentativos a todos os recursos acionados pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o texto diz e a fazer aquilo que ele propõe. Quais recursos uma boa argumentação deve possuir? (...) O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com as inconvenientes que se devem evitar, há de se responder às dúvidas, há de se satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apartar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela. Pe. Antônio Vieira. Sermão da Sexagésima Defeitos de argumentação . Confrontos entre oralidade e escrita Na escrita, o interlocutor está ausente e não pode fazer interrupções para obter esclarecimentos; o texto escrito deve ser o mais autônomo possível não só no que diz respeito à clareza e à quantidade de informações necessárias como, principalmente, no que toca aos procedimentos argumentativos. 1) emprego de noções confusas – uso de palavras com uma extensão de significado muito grande. Essas palavras, para não prejudicar o esquema de argumentação, devem vir previamente definidas porque, se não o forem, podem servir de argumento para um ponto de vista e o seu contrário. Ex. a palavra liberdade. Muitas vezes, os textos lançam mão dessas palavras para apoiar afirmações com argumentos de fundo moralizante, repetindo, sem elaboração própria e sem critério, expressões do senso comum destituídas de qualquer consistência. Ex. “o problema dos posseiros e a luta pela terra não têm sentido, pois perturbam a ordem estabelecida”; “Deve-se respeitar o professor porque, afinal de contas, na escola ele é uma autoridade”. 2) emprego de noções de totalidade indeterminada – uso de palavras de abrangência tão vasta que comprometem o esquema argumentativo exatamente por causa do inconveniente de envolverem, em um conjunto indeterminado e impreciso, dados de realidade que têm em comum apenas alguns poucos aspectos. Ex. “todos os políticos são iguais: só querem o poder para encher os próprios bolsos”; “o comunismo e o capitalismo, no fundo, são a mesma coisa”; “os países latinoamericanos são diferentes em tudo: nos hábito, nos costumes, na concepção de vida, nos valores”. Exercícios 1) Os jornalistas convocaram o governador para debater publicamente alguns atos de seu governo. O governador recusou-se ao debate por uma questão de honra. pela ilustração ou pelo modelo Usar inadequadamente os exemplos concretos e as ilustrações como recursos de argumentação. Examinemo-los sucessivamente e vejamos o que dizer contra e a favor deles. F. você acha o esquema argumentativo bem montado? 4) A educação pode ser considerada de muitos pontos de vista: o do Estado. b) Não se deve negar ao cidadão o direito de protestar: isso já é comunismo . Qual a vantagem do procedimento utilizado para criar um efeito de argumentação? Ref. às vezes para exibir erudição. não temos diferenças de idioma. SAVIOLI. porque liberdade é uma coisa e libertinagem é outra. Qual o inconveniente de um tipo de argumentação como essa? 3) Quando se fala em liberdade de expressão. Cada qual desses pontos de vista é parcial: cada um concorre com alguma coisa para o ideal da educação. a maioria da população ativa ganha acima de dez salários mínimos. a seguir. o da Igreja. Se não houver nenhum tipo de censura. o povo é ordeiro e pacífico. Como se nota. O debate. Defeitos de argumentação pelo exemplo. Para entender o texto. terminou sem que se chegasse a uma . termos de correntes científicas opostas entre si. os jornalistas e o governador usaram o mesmo argumento para justificar duas atitudes opostas. Sem levar em conta a opinião de quem argumenta. J. é preciso tomar cuidado. à burguesia. Os jornalistas retrucaram que exatamente por uma questão de honra é que ele deveria comparecer. empregam termos em significado largo. 2. os últimos. ao proletariado. 173. conjugando. SP: Ática. ou mesmo (embora seja geralmente esquecido) o da própria criança. Exemplos: a) No Brasil.L.. As duas frases. 1995 p. Emprego de noções semiformalizadas Nas suas redações. FIORIN. b) Venho acompanhando pelo jornal um debate acalorado entre professores universitários a respeito de um tema da especialidade deles: literatura moderna. afrouxado. o dos pais.P. 201-6 Defeitos de argumentação (continuação) 1. o do mestre. produzindo efeitos de sentido indesejáveis: a) Professores e alunos pertencem a classes sociais distintas: os primeiros. Por que é possível essa contradição? 2) Podemos ter esperança de um glorioso futuro para a nossa pátria. podem ilustrar o mau emprego de termos. não temos problemas de catástrofes. O Brasil pode considerar-se privilegiado em relação aos outros países do mundo: aqui não existe preconceito racial. que se iniciou com dois professores e acabou envolvendo outros mais. porém também aduz elementos maus. estabelecese a anarquia e a baderna. inclusive. os alunos. d) Na festa não havia nenhum conhecido. aos poucos caindo. c) Eram oito horas da noite: horário de verão. me aproximar delas. Entre os brasileiros. ao menos. Pensamentos corriam na minha mente e.conclusão uniforme.. Nos últimos meses. por isso. só e temerosa. o mundo está repleto de guerras. sentada. As pessoas que me convidaram tiveram de sair às pressas e eu fiquei completamente só. porque nem mesmo . então. Mas valeu. Muitos encontros e surpresas. Um amigo. Inesperadamente. esse não foi. a maioria dos homens trabalha ou trabalhava na construção. rever meu amigo. presente na festa. como muitos brasileiros. pois novos relacionamentos sempre acabam enriquecendo a gente. é que me convidava. Resolvi. na cidade de Newark. Contudo. Apenas algumas trocas de palavras com pessoas que me rodeavam. Agora. foi atrás desse sonho. A festa seria à tarde e eu não estava decidida se compareceria ou não. Pensava o que significava estar eu. então. Contagiado por aquele momento de grandioso espetáculo da natureza. Tudo isso resultou e trouxe muitas análises e impressões. parecia mergulhar nas profundezas do mar. Isso nos leva a concluir que o homem não é mesmo capaz de entrar em entendimento e. Tentei alguns contatos mas. Muitas surpresas ao encarar pessoas diversas e desconhecidas. as suas casas. sem poder trocar idéias com as pessoas. E. muitas para voltar ao Brasil. na verdade. Foi inútil. recebi um convite naquela tarde. Leia os textos: Texto 1 Brasileiro nos EUA perde casa e trabalho O estouro da bolha imobiliária e a paralisação do mercado de construção de novas residências nos EUA atingiu em cheio uma das maiores comunidades de brasileiros nos EUA. Afinal de contas voltei para casa e não me arrependi de ter ido à festa. conhecê-las. e) Uma festa. que nada! O pessoal era fechado demais. deixando atrás de si um rastro de cores indefiníveis e uma atmosfera de mistério e compenetração. o máximo possível – assim pensei. pelo que continha o convite. Ia até o banheiro. Desculpou-se num tempo posterior. olhava no espelho e minha imagem refletida era a única cara conhecida. empregou suas últimas economias numa passagem para os Estados Unidos e foi – com a cara e a coragem. No fim. Esperava. 02/11/2008 Texto 2 A casa dos sonhos Moacyr Scliar Como muitos brasileiros. isso mostrou-me o quão é importante as relações amigas que devemos manter com pessoas ou poder. Josimar acreditou no sonho americano. pois estava tensa.. perdem. essa talvez. acabei por concluir que a vida é cheia de altos e baixos e que precisamos enfrentar com coragem as dificuldades e exultar com vibração diante do sucesso. porém. Meu amigo. um de dez e outro de oito. A festa. procurei me acomodar e relaxar. Eles não só perderam os empregos. O sol. Nunca experimentei uma solidão tão grande no meio de tanta gente. pelo menos. às vezes. no estado de Nova Jersey. desanimado. Tentei. Chegando. Deixou no Brasil a mulher e os dois filhos. As relações entre amigos devem ser mantidas com o tempo. em massa. Folha Online. me perguntava o que fazia naquele instante ali. as desconhecia. ir. a única razão de minha presença na festa. era de pessoas que vagamente conhecia. dezenas de famílias deixaram Newark. como se costuma dizer. ah!. naquela hora. sentei-me num sofá e fiquei plantado até quase o final da festa. Josimar ficou sem emprego. Procurou o construtor. O esquilo talvez encontrasse o diário oculto. Era uma casa relativamente pequena. não precisava mais daquilo e era pouco provável que alguém descobrisse a caderneta. Folha de S. mas uma delas mexeu com ele. Josimar anotava tudo em uma caderneta. passou a mandar. a bolha imobiliária estourou. A partir daí. Josimar não tardou a encontrar um emprego na indústria da construção. não o abandonaria. A rigor. E assim trabalhou na edificação de várias residências. o que fariam no pequeno jardim. bom eletricista. apresentando e comentando as principais semelhanças e diferenças que aproximam ou distanciam as duas produções. Mais que isso. confiava na sua determinação e. 10/11/2008. tinha certeza. para Josimar. O esquilo que ele muitas vezes via correndo pelo pátio ou subindo na árvore e a quem dava castanhas. pensando em como daria a notícia à família. “Esta casa vai ser nossa”. Talvez até o comesse. Mas confiava na sua capacidade de trabalho. Pareciam-lhe todas iguais. De alguma forma seus sonhos permaneceriam vivos. era uma espécie de consolo. Na comparação. Radicado em Newark. via internet. E então. claro.C2 Questão: Faça um estudo comparativo entre os textos. confiava na sorte que. ele guardava no oco de uma árvore do jardim. agora que já não tinha castanhas. e já não podia pagar a elevada prestação da casa. na falta de um lugar melhor. mas ele podia conseguir. Ele era eletricista. que foi tomada pelo banco. No avião chorou muito.Paulo. situada junto a um bosque e a um pitoresco riacho: a casa dos seus sonhos. Assinou os papéis e de repente viu-s proprietário de uma residência na costa leste dos Estados Unidos. como ele dizia. coisa que ele sabia providenciar como ninguém. escreveu à mulher. em geral padrão classe-média. E foi então que lembrou do “diário da casa”. como tantos outros brasileiros. O preço não era barato. mas muito bonita. e naquele momento milhares de casas estavam sendo levantadas – e essas casas precisavam de rede elétrica. Mal conseguiu arranjar dinheiro para voltar ao Brasil. dê especial atenção à análise da seleção das informações que resultam na construção de um ‘efeito argumentativo’. A não ser o esquilo. facilmente. já discutiam como iriam decorá-la. . O que. p. E não estava errado ele. um empréstimo. Ainda que num pequeno e modesto roedor. “o diário da casa”. fotos da casa. a caderneta em que anotara as idéias sobre o que fazer na residência e que. exatamente quando a construção chegava ao fim.inglês ele falava direito.
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