APOSTILA Sociologia da Educação.pdf

March 27, 2018 | Author: elborellacetti | Category: Sociology, Émile Durkheim, Society, Institution, Science


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UNIVERSIDADENúcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS Créditos e Copyright MACEDO, Doroti de Oliveira Rosa. Sociologia da Educação. Doroti de Oliveira Rosa Macedo: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015. 99p. (Material didático. Curso de ciências sociais). Modo de acesso: www.unimes.br 1. Ensino a distância. 2. Educação. 3. Sociologia. CDD 371.12 NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PLANO DE ENSINO CURSO: Licenciaturas COMPONENTE CURRICULAR: Sociologia da Educação ANO/SEMESTRE: 1º CARGA HORÁRIA TOTAL: 80h EMENTA Interpretação e reflexão da educação, da sociedade e da escola, no contexto da realidade brasileira. As relações sociais na sociedade capitalista: desigualdade e exclusão social. Analise da função da escola como prática social numa sociedade multicultural e o papel do educador como mobilizador na construção da cidadania. OBJETIVO GERAL Compreender conceitos sociológicos e diferentes formas de organização da sociedade. Compreender a relação entre a organização da sociedade e a escola. Refletir a relação entre conhecimento, educação e sociedade. OBJETIVOS ESPECÍFICOS UNIDADE I: Sociologia e Educação Ao compreender conceitos de interação social, educação, socialização, instituições sociais e conhecimento perceber-se como ser que passa por estes processos, vivenciando-os de determinadas formas; Compreender o homem como ser histórico, NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE criador de novas formas de vida, ao mesmo tempo capaz, por sua memória, escrita SANTOS ou oral, de acumular experiências. UNIDADE II: Análise Sociológica da Sociedade Capitalista Compreender o capitalismo e o liberalismo como formas de organização da sociedade, tendo como pano de fundo os resultados e as contradições da sociedade brasileira, organizada sob o sistema capitalista; Situar o nascimento da Sociologia no estabelecimento do capitalismo, compreendendo que o uso da ciência não é neutro. A ciência pode ser usada para a conservação ou para a transformação da sociedade. UNIDADE III: A Escola na Sociedade Brasileira Refletir sobre a realidade da educação escolar brasileira como consequência das contradições da sociedade capitalista em que vivemos, buscando alternativas que viabilizem um projeto de construção da autonomia da escola; Questionar, buscando respostas junto à comunidade escolar, sobre a função da escola na atualidade. Bibliografia Básica LAKATOS, Eva M., MARCONI, Marina de Andrade, Sociologia Geral, São Paulo: Ed. Atlas, 2011. NERY, Maria Clara Ramos, Sociologia da Educação, Curitiba : Intersaberes, 2013. (Livro eletrônico – Biblioteca Virtual Unimes) RODRIGUES, Alberto Tosi, Sociologia da Educação, Rio de Janeiro: DP&A.Editora, 2002. NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Bibliografia Complementar SANTOS ARAÚJO, Silvia M., BRIDI, Maria Aparecida, MOTIN, Benilde L., Sociologia – um olhar critico . SP , Editora Contexto , 2009 ( livro eletrônico – Biblioteca Virtual Unimes) BRANDÃO, C. R. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, disponível em https://pt.scribd.com/doc/39369244/O-que-e-Educacao-BRANDAO-Carlos- Rodrigues DIAS, Reinaldo, Introdução à Sociologia, 2ª Edição – São Paulo – Pearson Prentise Hall – 2010. (livro eletrônico- Biblioteca Virtual Unimes) DURKHEIM, E., Fato Social e Divisão do Trabalho, apresentação e comentários de MUSSE, Ricardo, Editora Ática: SP, 2007, (Livro eletrônico - Biblioteca Virtual Unimes) MELLO , Alessandro de, Fundamentos socioculturais da educação, Curitiba - InterSaberes, 2012, Série Fundamentos da Educação ( Livro eletrônico – Biblioteca Virtual Unimes) METODOLOGIA As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores. AVALIAÇÃO A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014. NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Sumário DE SANTOS Aula 01_A contribuição da Sociologia para a educação ..........................................................................8 Aula 02_A Sociologia na formação do educador ...................................................................................12 Aula 03_Sociologia e Educação ..............................................................................................................14 Aula 04_Conceitos básicos de Sociologia...............................................................................................17 Aula 05 _Educação e socialização ..........................................................................................................20 Aula 06_As instituições sociais e a educação.........................................................................................22 Aula 07_Educação e Cultura ..................................................................................................................25 Aula 08_Educação e Cultura ..................................................................................................................32 Aula 09_Educação, cultura e conhecimento..........................................................................................40 Aula 10_Educação, cultura e ideologia. .................................................................................................42 Aula 11_A escola como instituição social ..............................................................................................45 Resumo_Unidade I .................................................................................................................................48 Aula 12_A educação e a escola ..............................................................................................................49 Aula 13_A análise sociológica da sociedade capitalista .........................................................................50 Aula 14_Compreendendo a realidade social .........................................................................................52 Aula 15_Educação e política. .................................................................................................................55 Aula 16_A dimensão social da liberdade ...............................................................................................57 Aula 17_Sociedade Contratual e Sociedade Contextual ........................................................................60 Aula 18_ Emile Durkheim e a Educação .................................................................................................64 Aula 19 _A sociedade para a Sociologia crítica ......................................................................................65 Aula 20_A Educação para a Sociologia Crítica .......................................................................................68 Aula 21_A análise Marxista no estudo da escola ...................................................................................71 Aula 22_A educação escolar e a sociedade brasileira............................................................................74 Aula 23_A educação escolar como intervenção ....................................................................................77 Aula 24_A educação escolar como invenção .........................................................................................79 Aula 25_A escola e a questão cultural ...................................................................................................80 Aula 26_A escola e a questão cultural ...................................................................................................81 Aula 27_A organização da escola ...........................................................................................................83 Aula 28_A organização da escola ...........................................................................................................85 Aula 29_O preconceito na escola...........................................................................................................87 Aula 30_A escola no contexto social ......................................................................................................89 Aula 31_A função da escola ...................................................................................................................94 NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Aula 32_Sawabona!!! Shikoba!!! ...........................................................................................................97 SANTOS NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Aula 01_A contribuição da Sociologia para a educação SANTOS Os estudos sociológicos trazem conhecimentos fundamentais para nossa compreensão sobre o homem e a sua realidade social e, consequentemente, para o processo educacional. Agora abordaremos a contribuição da Sociologia para a Educação. Segundo Rodrigues, o sociólogo Florestan Fernandes entende que: A educação é o elemento da vida social responsável pela organização da experiência dos indivíduos na vida cotidiana, pelo desenvolvimento de sua personalidade e pela garantia da sobrevivência e do funcionamento das próprias coletividades humanas. [...] (RODRIGUES, 2000, p. 9) Para ele, as práticas que têm por finalidade educar utilizam técnicas; seguem normas e valores que fazem parte de uma determinada sociedade, de uma determinada cultura e de um determinado tempo histórico. Para a Sociologia, não há técnica pedagógica neutra: todas são construídas e utilizadas em meio a valores e normas. Florestan Fernandes, ao mencionar o termo técnicas aplicadas à educação queria abranger não só os recursos ou meios utilizados para transmitir conteúdos, mas também a pedagogia, compreendida também em todos os aspectos filosóficos e sociológicos. É neste sentido que as técnicas utilizadas em educação estão presentes nas práticas educacionais que seguem as normas e os valores sociais. As normas são as leis e regulamentos escritos e as regras, aquelas estabelecidas nos grupos sociais. Os valores correspondem aos critérios de julgamento de si e dos outros; as concordâncias e discordâncias; as aprovações e reprovações que nunca são individuais e, sim, aceitas e compartilhadas na vida social. NÚCLEO COMUM 8 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Olhar a educação do ponto de vista da Sociologia é compreender SANTOS que, se a Pedagogia é o fundamento das práticas educacionais as crenças, os valores e as normas sociais são os fundamentos da pedagogia. (RODRIGUES, 2000, p. 10) Neste sentido, a Sociologia é um instrumento importante no processo educacional, como reveladora de práticas sociais que auxiliam a compreender a Pedagogia e o fazer do pedagogo. Como diz Rodrigues (2000, p. 10): [...] a Sociologia da Educação é aquela disciplina acadêmica que se preocupa em reconstruir sistematicamente as relações, que existem na prática cotidiana, entre as ações que objetivam educar e as estruturas da vida social, quer dizer: a economia, a cultura, o arcabouço jurídico, as concepções de mundo, os conflitos políticos. Portanto, toda análise e o estudo a ser realizado devem ter como base os fundamentos trazidos pelos seus iniciadores que analisaram a sociedade de sua época, a sociedade capitalista, buscando compreendê-la em suas peculiaridades, propondo caminhos teóricos interpretativos para os mais variados fenômenos sociais. Vamos “acompanhar o caminho trilhado” por alguns desses autores que iniciaram os estudos da Sociologia. Para complementar seus conhecimentos, breves considerações sobre a História da Sociologia. História sobre a Sociologia O estudo dos acontecimentos sociais é muito antigo. Pode-se dizer que, desde o aparecimento dos primeiros agrupamentos humanos, houve a preocupação de organizar-se da melhor forma para a sobrevivência do homem. NÚCLEO COMUM 9 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Somente no século XIX, a Sociologia passou a existir como ciência independente. SANTOS As transformações pelas quais passou a sociedade européia nos séculos XVIII e XIX contribuíram de maneira acentuada para o aparecimento da Sociologia. A revolução industrial e a revolução francesa provocaram transformações radicais na sociedade da época. Os estudiosos começaram a estudar essas transformações e suas consequências para a vida humana: era início da Sociologia como ciência. O primeiro a registrar o termo “Sociologia” foi o filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), em sua obra “Filosofia positiva”, publicada em 1838. Para ele, a Sociologia deveria realizar seus estudos com base na observação e na classificação sistemática e não baseada na autoridade e na especulação, como acontecia com a ciência antiga. O sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) contribuiu para que a Sociologia analisasse a sociedade, os grupos sociais, os fatos sociais através do método científico. Em seu livro “Regras do método sociológico” (1895), Durkheim explicou como realizou sua pesquisa sobre o suicídio: primeiro planejou a pesquisa; depois coletou grande número de dados sobre pessoas que se suicidaram; por fim, chegou a uma conclusão elaborou a teoria do suicídio, em que apontou como fator principal o isolamento social. Durkheim analisou também a educação como fato social cujas teorias encontram-se no livro “Sociologia e Educação”; daí dizermos que foi o primeiro sistematizador da Sociologia da Educação. O que tem a ver a Sociologia com a educação escolar? A escola não está isolada em relação à comunidade, à sociedade em que está inserida. A escola é até certo ponto, reflexo das condições e das exigências estabelecidas pela sociedade, em seu sentido mais amplo, e pela comunidade, no sentido mais restrito. Por outro lado, mesmo no interior da escola, multiplicam-se os grupos sociais. Esses grupos - de alunos, de professores, de especialistas etc. têm enorme influência sobre o comportamento dos alunos e sobre sua educação. Até dentro da sala de aula, apesar do controle que pode ser exercido pelo professor, a influência das condições sociais do aluno e dos grupos de que ele participa dentro e fora da sala, não pode ser menosprezada. NÚCLEO COMUM 10 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE A contribuição da Sociologia da Educação ao trabalho pedagógico abrange pelo SANTOS menos dois aspectos principais: 1. O estudo dos processos e das influências sociais envolvidos na atividade educativa, em especial na escola. Incluem-se aqui os processos de interação dos indivíduos e de organização social e as influencias exercidas pela sociedade, pela comunidade e pelos grupos sobre a educação. 2. A aplicação dos conhecimentos e descobertas da Sociologia à atividade educativa, ou seja, utilização dos princípios e teorias sociológicas para tornar mais eficiente o processo educativo. Assim, a Sociologia da Educação preocupa-se com três grandes áreas de estudo: - organização da sala de aula - interação entre a escola e a comunidade - educação relacionada com a sociedade em seu sentido mais amplo. Até a próxima aula! Referências bibliográficas: FORACCHI, Marialice M. Sociologia e sociedade, Rio de Janeiro, Livros técnicos e científicos, 1978. RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. RJ, ED. DP&A, 2000. NÚCLEO COMUM 11 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 02_A Sociologia na formação do educador DE SANTOS Dando continuidade ao tema Sociologia na formação do educador, vamos aprofundar um pouco mais a questão da Sociologia como instrumental necessário na formação do professor para ajudar a prepará-lo para as diferentes realidades que encontrará e que, como professor, possa preparar criticamente seus alunos. Heloisa D. Penteado em seu texto “A Sociologia na formação do professor de 1° e 2° grau” (1982) diz que: [...] quando falamos da Sociologia na formação do professor de primeiro e segundo graus como instrumento de trabalho daquele profissional que o professor precisa se transformar estamos pensando no que chamamos, no início deste trabalho, de questões menores ou questões de sala de aula. Estamos pensando num professor instrumentado para perceber problemas do dia-a-dia da sala de aula, como faltas frequentes do aluno por perder a hora (não tem quem o chame); falta de estudo do aluno porque não lhe sobra tempo para tanto (trabalha) ou porque esquece (não tem quem o oriente fora da escola) visando lidar com eles de maneira mais produtiva e adequada. Estamos pensando num professor instrumentado para perceber problemas da relação com os pais como, por exemplo, não poder contar com eles para um acompanhamento dos filhos; para perceber o autoritarismo ou mesmo o passivismo dos pais em relação ao desempenho escolar dos filhos; para enfrentar o insucesso das reuniões de pais montadas pelos professores e buscar formas de superação. Estamos pensando num professor instrumentado para viver os problemas da relação professor – professor, professor – diretor, dentro da unidade escolar. NÚCLEO COMUM 12 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Analise e reflita sobre a importância da Sociologia na formação do educador, a partir SANTOS das seguintes propostas:  É indispensável conhecer conceitos e teorias sociológicas para a compreensão da realidade social.  Qual é a função da escola?  O professor precisa compreender que vai atuar num grupo social (escola), onde são encontrados outros grupos sociais de diferentes origens e culturas.  A finalidade dos conhecimentos sociológicos é a sua utilização para melhorar as condições da existência humana.  É trazer instrumentos para que o educador perceba que os problemas existentes numa escola são problemas sociais.  Os educadores, são construtores da história e da sociedade onde vivem. Precisam construir a sociedade democrática brasileira. Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: PENTEADO, Heloisa D. A Sociologia na formação do professor de 1° e 2° grau. Revista da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, v.8, n.2, p.157-164, dez.1982. NÚCLEO COMUM 13 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 03_Sociologia e Educação DE SANTOS Nesta aula, trabalharemos alguns conceitos da Sociologia a partir de uma história que mostra uma trajetória de vida com várias dificuldades. Esta é uma história, como tantas outras em que “qualquer semelhança é mera coincidência” e foi extraída do livro: Sociologia da Educação de Nelson Piletti (pág. 243 e 244). Leia abaixo! “Isabel é do signo de Leão. Completará dezessete anos no dia 10 de agosto. Nasceu num pequeno povoado, de não mais de vinte famílias de pequenos agricultores. Na escola local fez as três primeiras séries do ensino fundamental. Era uma escola de apenas uma sala, na qual a professora procurava ensinar, ao mesmo tempo, a vinte e duas crianças da primeira a quarta série. Aos dez anos Isabel mudou-se para a cidade. Foi morar num apartamento. Nem sabe quem são seus vizinhos do apartamento em frente. Apenas “bom dia”, “boa tarde”, “tudo bem”? e nada mais. Atualmente frequenta a segunda série do curso de magistério. A tarde trabalha numa loja, para reforçar o orçamento familiar, que anda apertado. Hoje Isabel acordou às sete horas, um pouco tarde para entrar na escola às sete e meia. Lavou-se e vestiu-se rapidamente. Pôs o uniforme da escola, blusa branca e saia azul, meias brancas e tênis. Tomou café e saiu. No caminho encontrou Joana e Sandra, duas amigas inseparáveis. Foram conversando de tudo um pouco, as matérias do dia, os namorados, etc. Saindo da escola, Isabel vai correndo para casa, troca de roupa, almoça e vai para o serviço, onde permanece das 13 às 19 horas. Sabe que não pode chegar atrasada, pois as consequências são pesadas. Seis horas mostrando tecidos, roupas, blusas calças, meias! Preços, descontos, notas! Isabel sai do serviço, vai para casa, toma banho, janta. E agora? Novela das oito, trabalho de escola, cansaço, sono, namorado, etc. O que fazer? Isabel procura conciliar as coisas, fazer o que dá. “Quer ser professora e precisa estudar”. NÚCLEO COMUM 14 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS Procure identificar, nesta história, situações que caracterizem: 1. Fato social; 2. Interação social; 3. Grupo social; 4. Estratificação social 5. Classe social O que vocês entendem sobre esses conceitos? Nesta aula, vamos ainda trabalhar, com o conceito de Fato Social do sociólogo Emile Durkheim. Para isso, leia o texto A Sociologia de Durkheim de Valesca da Costa Abranches disponível no AVA: O trecho abaixo é uma resenha de Cristina Costa para o livro Abortion in United States, organizado por Mary Steichen Calderone. New York: Hoeber-Harper and Row, 1958. O aborto é uma velha prática, mas mesmo na Antiguidade provocava grandes diferenças de opinião. Platão, na República, aprovava o aborto a fim de impedir o nascimento de filhos concebidos em incesto; Aristóteles, sempre prático, pensava no aborto como um útil regulador malthusiano. De outro lado, o juramento de Hipócrates contém as palavras: “não darei a uma mulher o pessário para provocar aborto”; Sêneca e Cícero condenaram o aborto a partir de princípios morais; o código Justiniano proibia o aborto. No entanto, parece haver pouca dúvida de que, no Império Romano e no mundo helenístico, o aborto era, nas palavras de um especialista, “muito comum nas classes altas”. A Igreja Cristã opôs-se rigorosamente a essa “atitude pagã” e considerou o aborto um pecado. Em muitos estados, a lei NÚCLEO COMUM 15 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE seguiu a doutrina da Igreja e considerou o pecado um crime. Mas na lei anglo- SANTOS saxônica o aborto era considerado apenas “um delito eclesiástico”. Hoje, o aborto é um problema mundial. Os levantamentos e estudos realizados por pesquisadores isolados e pela Unesco mostram que essa prática é muito difundida nos países escandinavos, na Finlândia, na Alemanha, na União Soviética, no Japão, no México, em Porto Rico, na América Latina, nos Estados Unidos, bem como em outras regiões. O livro de George Devereux, “A study of abortion in primitive societies”, que abrange aproximadamente 400 sociedades pré-industriais, bem como 20 nações históricas e modernas, conclui que o aborto “é um fenômeno absolutamente universal”. Até a próxima aula! Referências ABRANCHES, Valesca da Costa. A Sociologia de Durkheim. Disponível no site: http://www.duplipensar.net/lit/francesa/2004-02-durkheim.html, consultado em 14/12/2005. COSTA, Cristina. Sociologia. Ed Moderna, SP, 1997. p.68. PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação, SP, ED.Ática, 2003. p. 243 e 244. NÚCLEO COMUM 16 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 04_Conceitos básicos de Sociologia DE SANTOS Nesta aula vamos trabalhar com alguns conceitos importantes da Sociologia. Acompanhem! FATO SOCIAL: Fenômeno ou ocorrência social, com as seguintes características: generalidade, exterioridade e coerção social. AÇÃO SOCIAL: Ato individual de caráter social, com significado e valor ativo. INTERAÇÃO SOCIAL: Ação coletiva que pressupõe reciprocidade e interdependência entre agentes sociais. RELAÇÃO SOCIAL: Forma como ocorre a interação social. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL: Processo que coloca os indivíduos de uma sociedade em camadas ou estratos sociais diferentes, de acordo com suas condições econômicas, de nascimento, étnicas, religiosas etc. NÚCLEO COMUM 17 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE CLASSE SOCIAL: SANTOS Cada um dos estratos ou camadas que constituem a sociedade estratificada. STATUS SOCIAL: Corresponde à posição que o indivíduo ocupa num grupo social ou na sociedade. PAPEL SOCIAL: Função que cada indivíduo desempenha em consequência do status que ocupa. GRUPO SOCIAL: Conjunto de indivíduos que interagem uns com os outros, durante um certo período de tempo. SOCIEDADE: Conjunto de indivíduos, grupos e instituições, cujos relacionamentos são impessoais, formais, utilitários. COMUNIDADE: Grupo ou grupos localizados, bastante integrados, com predominância de contatos primários: pessoais, informais, tradicionais, sentimentais. SOCIEDADE COMUNIDADE Estratificada não estratificada Grande área geográfica área geográfica limitada Formada por muitos grupos formada por um ou poucos grupos Objetivos diversos objetivos comuns Nem todos se conhecem todos ou quase todos se conhecem Competição união de esforços Complexa simples Todo parte do todo. NÚCLEO COMUM 18 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 19 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 05 _Educação e socialização DE SANTOS Nesta aula trabalharemos com o conceito de socialização, para tanto escolhemos dois trechos da obra de Emile Durkheim, o fundador da Sociologia. Segundo Emile Durkheim, pode-se afirmar que: a) “Cada de nós, embora formando uma unidade, é constituído de dois seres: um ser individual formado por todos os estados mentais que só se relacionam conosco mesmos; e um ser social que é um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda espécie. (...) Constituir esse ser em cada um de nós ---- tal é o fim da educação”. b)”Não nascemos com este ser social nem ele se desenvolve em nós espontaneamente. O ser humano, espontaneamente, não se submeteria à autoridade, não respeitaria a disciplina, não se sacrificaria por objetivos comuns. É a educação, como socialização, que o leva a tais condutas. Ao nascer o ser humano não é social. A cada geração, a sociedade deve começar da estaca zero, pois a socialização não é hereditária e deve processar-se sempre de novo, com cada nova NÚCLEO COMUM 20 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE geração. A educação cria um ser novo, transforma cada ser não social que nasce num ser social”. SANTOS Para complementar e esclarecer a socialização como conceito, veja a definição de Sonia Maria Portella Kruppa (1994, p.23): O processo educativo que procura tornar o indivíduo um membro da sociedade é chamado de socialização. A socialização e, por decorrência, a educação dependem da capacidade que os homens têm de influírem uns no comportamento dos outros, modificando-se mutuamente, no processo de interação social. Em outras palavras, é a capacidade de os homens reagirem, de serem capazes de atuar junto a outros homens, aprendendo e ensinando, que torna possível a educação. Leia, no seu ambiente virtual de aprendizagem, o texto “Sobre a importância do estudo dos processos de socialização em um curso de formação de educadores” de Fábio Gregori – Aluno de Pedagogia – FEUSP. Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p. 33 a 56. KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da Educação. São Paulo, Cor- tez, 1994 NÚCLEO COMUM 21 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 06_As instituições sociais e a educação DE SANTOS Para esta aula vamos trabalhar com o conceito de Instituições Sociais. Vocês sabem o que são instituições sociais? E qual é a relação existente entre “instituições sociais” e “educação”? Para esclarecer estas questões leia, em seu AVA, o texto “Instituições”. Leiam, também, as explicações de Sonia Kruppa (1994, p.24): Os indivíduos organizam sua vida em sociedade formando instituições sociais. As instituições sociais são formas de ação ou de vivência a que os homens recorrem, sistematicamente, visando a satisfazer determinadas necessidades. Essa recorrência sistemática vai organizando essas formas de ação, de tal modo que as instituições se destacam do todo social por terem uma função ou finalidade, um objetivo que satisfaça a determinadas necessidades do homem, e uma estrutura, isto é, regras que organizam tanto as relações humanas dos que dela participam, como o espaço físico onde acontecem estas relações [...] Se definirmos a instituição social como sendo uma força que atua sobre a conduta individual, logo perceberemos que qualquer outra instituição, sejam quais forem suas características e finalidades, depende dos padrões da linguagem. Perceba que qualquer forma de linguagem é primordial para a comunicação e a interação entre os homens. Logo, é fundamental no processo educacional. NÚCLEO COMUM 22 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Vamos complementar nossa aula, falando um pouco sobre a Educação Formal e a SANTOS Educação Informal. A educação é um processo que envolve a aprendizagem com sentido amplo. Portanto, a educação não ocorre apenas em instituições formais, mas também nos hábitos e costumes que são normas sociais. Então, você sabe quais as relações e as diferenças entre a educação escolar e educação fora da escola? Segundo Sônia Kruppa (1994, p. 30): A educação escolar distingue-se, portanto, da educação informal (sem forma, sem norma) que acontece fora da escola. A escola tem horários, estabelece critérios para agrupamento dos alunos, tem profissionais executando papéis diferenciados (o professor, o diretor, o servente etc.), possui um sistema de avaliação e deve cumprir uma função: transmitir e criar conhecimentos. Assim, a primeira diferença entre o conhecimento escolar e aquele produzido no dia a dia está nas condições em que o conhecimento escolar é produzido e transmitido. A segunda diferença é dada pela própria função da escola, isto é, a transmissão e criação contínuas de conhecimento. Por essa função contínua, a escola é obrigada a fazer uma organização do conhecimento transmitido. Tal organização é feita a partir de critérios, dos quais o mais usado é aquele decorrente das ciências, cujo conhecimento é a base de onde são extraídos os conteúdos das disciplinas escolares. Agora vamos fazer algumas reflexões: NÚCLEO COMUM 23 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Você compreendeu que: SANTOS a) A educação que ocorre na escola é uma educação formal (é organizada, sistematizada, possui normas). Ela seleciona os conhecimentos considerados científicos. b) A educação que acontece fora da escola é uma educação informal (assistemática, sem normas específicas). O conhecimento que acontece, neste caso, é resultado das necessidades básicas do homem. c) A proposta hoje é para que as escolas não se “fechem” à transmissão de conhecimentos que estão sendo modificados a todo momento, através de novas descobertas. E, sim, “abram-se” ao conhecimento e compreensão da cultura existente em cada comunidade, sociedade ou grupos sociais, diminuindo o distanciamento entre os diferentes conhecimentos (internos e externos à escola). Até a próxima aula. Referência Bibliográfica: KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994. NÚCLEO COMUM 24 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 07_Educação e Cultura DE SANTOS Nesta aula vamos aprender um pouco mais sobre pluralidade cultural. Vocês sabem o que é pluralidade cultural? A resposta à pergunta acima você encontrará lendo o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Você estará em contato com partes dos Referenciais Curriculares, que são fundamentais para a formação do educador. Selecionei aqui apenas a apresentação, a introdução, a justificativa de Pluralidade Cultural nos Parâmetros. No link em nossa sala, pode-se encontrar o texto completo sobre pluralidade cultural. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PLURALIDADE CULTURAL APRESENTAÇÃO Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não NÚCLEO COMUM 25 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE só por diferentes etnias, como também por imigrantes de diferentes países. Além SANTOS disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e que a convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação. O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de aprendizagem de que as regras do espaço público permitem a coexistência, em igualdade, dos diferentes. O trabalho com Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma “Cultura da Paz”, baseada na tolerância, no respeito aos direitos humanos e na noção de cidadania compartilhada por todos os brasileiros. O aprendizado não ocorrerá por discursos, e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes” do que os outros. Secretaria de Educação Fundamental 1ª PARTE PLURALIDADE CULTURAL INTRODUÇÃO A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. NÚCLEO COMUM 26 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Este tema propõe uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e SANTOS cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A afirmação da diversidade é traço fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, tendo a Ética como elemento definidor das relações sociais e interpessoais. Ao tratar este assunto, é importante distinguir diversidade cultural, a que o tema se refere, de desigualdade social. As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação articulam-se no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. NÚCLEO COMUM 27 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem SANTOS os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem produzido também experiências de convívio, reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. A singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais justa. Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto, para a própria nação. Justificativa É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do país consigo mesmo, é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais como em relação a grupos étnicos, sociais e culturais. Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se vêem expostas. NÚCLEO COMUM 28 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas, desenvolveram SANTOS uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e sedimentavam injustiças. Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na Constituição Federal de 1988[1], da discriminação racial como crime. Mais ainda, há mecanismos de proteção e de promoção de identidades étnicas, como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais[2] , assim como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais. A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são decisivos mas insuficientes. Para construir uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo educacional terá de tratar do campo ético, de como se desenvolvem no cotidiano atitudes e valores voltados para a formação de novos comportamentos, novos vínculos em relação àqueles que historicamente foram alvo de injustiças. Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada, o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante. Ao permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, ele forma a criança, o adolescente e o jovem ³para a responsabilidade social de cidadão, consolidando o espírito democrático. Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo. A escola tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo. Em primeiro lugar, porque é um espaço em que pode se dar a convivência entre estudantes de diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família. Nesse contexto, ao analisar os fatos e as relações entre eles, a presença do passado no presente, no que se refere às diversas fontes de que se alimenta a identidade — ou as identidades, seria melhor dizer — é imprescindível esse recurso ao Outro, a valorização da alteridade como elemento constitutivo do Eu, com a qual experimentamos melhor quem somos e quem NÚCLEO COMUM 29 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE podemos ser. Em segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras SANTOS do espaço público para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o país e o mundo, e aí a realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e discussões em torno de questões sociais. A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela. Singularidades presentes nas características de cultura, de etnias, de regiões, de famílias, são de fato percebidas com mais clareza quando colocadas junto a outras. A percepção de cada um, individualmente, elabora-se com maior precisão graças ao Outro, que se coloca como limite e possibilidade. Limite, de quem efetivamente cada um é. Possibilidade, de vínculos, realizações de “vir-a-ser”. Para tanto, há necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações mais precisas a questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento. Esta proposta traz a necessidade imperiosa da formação de professores no tema da Pluralidade Cultural. Provocar essa demanda específica na formação docente é exercício de cidadania. É investimento importante e precisa ser um compromisso político-pedagógico de qualquer planejamento educacional/escolar para formação e/ou desenvolvimento profissional dos professores. Lido o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Pluralidade Cultural, reflita: 1. Qual a diferença entre diversidade cultural e desigualdade social? 2. Como a escola pode auxiliar a compreensão da diversidade cultural? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 30 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância _____ METROPOLITANA DE SANTOS [1]Art. 5o, parágrafo XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. [2] Art. 5o, parágrafos VI e IX: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença...; é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação”. [3]Sobre adolescência e juventude, ver quarta parte do documento de Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. NÚCLEO COMUM 31 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 08_Educação e Cultura DE SANTOS Na aula anterior iniciamos a discussão sobre Pluralidade Cultural. Agora vamos analisar como os conhecimentos sociológicos podem contribuir sobre esta questão. Leiam o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Contribuições para o estudo da Pluralidade Cultural no âmbito da escola. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PLURALIDADE CULTURAL CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA PLURALIDADE CULTURAL NO ÂMBITO DA ESCOLA Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e aprendizagem, é importante esclarecer o caráter interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional, conhecimentos acumulados no campo da História e da Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da Lingüística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a Estudos Populacionais, além do saber produzido no âmbito de movimentos sociais e de suas organizações comunitárias, constituem uma base sobre a qual se opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola, deve ter cunho eminentemente pedagógico. A seguir são apresentadas algumas indicações das diferentes contribuições, a título de subsídios-chave, a fim de balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o esgotem. São pistas que o professor poderá seguir aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu planejamento. Visam, sobretudo, a explicitar que tratar do povo brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no processo NÚCLEO COMUM 32 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE histórico exige estudo e preparo cuidadoso que não se confundem, em hipótese SANTOS alguma, com o senso comum. Fundamentos éticos Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos — da escola e dos educadores em particular —, propostas e iniciativas que visem à superação do preconceito e da discriminação. A contribuição da escola na construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e eqüidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social. Conhecimentos históricos e geográficos Os aspectos históricos e geográficos expõem uma diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania. A formação histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se ao fato de que cada grupo — indígena, africano, europeu, asiático e do oriente médio — encontrou maneiras de preservar sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma clandestina e precária. Assim sendo, tratar da presença do índio pela inclusão nos currículos de conteúdos que informem sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a sociedade, conforme disposto na Constituição de 1988 (art. 210, parágrafo 2o), é valorizar essa presença e reafirmar os direitos dos índios como povos nativos, de forma que corrija uma visão deturpada que os homogeneíza como se fossem de um único grupo, devido à justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias. NÚCLEO COMUM 33 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Compreender a formação das sociedades européias e das relações entre sua SANTOS história, viagens de conquista, entrelaçamento de seus processos políticos com os do continente americano, em particular América do Sul e Brasil, auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só de conteúdos específicos, como também da estruturação de processos de influenciação recíproca. Isso é especialmente importante para o momento atual, quando o quadro internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e variadas formas. O estudo histórico do continente africano compreende enorme complexidade de temas do período pré-colonial, como arqueologia; grupos humanos; civilizações antigas do Sudão, do sul e do norte da África; o Egito como processo de civilização africana a partir das migrações internas. Essa complexidade milenar é de extrema relevância como fator de informação e de formação voltada para a valorização dos descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história mais ampla, na qual os processos de mercantilização da escravidão foram um momento que não pode ser amplificado a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O conhecimento desse processo pode significar o dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético, da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que os povos africanos enfrentam por isso. Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no que se refere às tradições como aos processos históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes momentos. É relevante, também, o estudo do Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição da civilização ocidental. Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala de aula. Conhecimentos sociológicos Toda seleção curricular é marcada por determinantes e fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados de forma isolada, para efeito de estudo, mas NÚCLEO COMUM 34 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE que se encontram amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são SANTOS indispensáveis na Discussão da Pluralidade Cultural, pelas possibilidades que abrem de compreensão de processos complexos onde se dão interações entre fenômenos de diferentes naturezas.A escola pode fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos problemas presentes na estrutura socioeconômica e como se dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado pelo universo cultural nesse processo. Além das diversas contribuições da Sociologia, aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia da educação Sociologia do Currículo. Nesses estudos são analisados os vínculos entre escola democracia, escola e cidadania, democracia e currículo, permitindo uma reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da sala de aula. Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de classes sociais. Conhecimentos antropológicos A Antropologia caracteriza-se como o estudo das alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor inerente a cada cultura, por se tratar do que é exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo grupo, em certo momento, em certo lugar. Cada cultura tem sua história, condicionantes, características, não cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em detrimento de outra. Alguns temas, conceitos e termos da temática da Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de conhecimentos antropológicos, por se referirem diretamente à organização humana, na qual se coloca a diversidade. Entre eles destacamos os conceitos de cultura, raça e etnia. No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no contexto de uma cultura e, ao longo de sua vida, ajuda a produzi-la. Não existe homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se NÚCLEO COMUM 35 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE fosse possível dizer que o homem é biologicamente incompleto: não sobreviveria SANTOS sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o gerou. A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo a partir dos quais se produz conhecimento: neles o indivíduo é formado desde o momento de sua concepção nesses mesmos códigos e, durante a infância, prende os valores do grupo. Por intermédio deles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe. A cultura, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores, adaptando seu acervo tradicional às novas condições historicamente construídas pela sociedade. A cultura pode assumir sentido de sobrevivência, estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como parte indispensável das identidades individuais e sociais, apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida democrática. Por isso, fortalecer a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. O termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências sociais pelos maus usos a que se prestou. Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, cujos membros mostram com freqüência certo número de atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, assenta-se em conteúdo biológico, e foi utilizado na tentativa de demonstrar uma pretensa relação de superioridade/inferioridade entre grupos humanos. Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso comum é ainda muito difundido, para reafirmação étnica, como é feito comumente por movimentos sociais, ou nos contextos ostensivamente pejorativos que alimentam o racismo e a discriminação. NÚCLEO COMUM 36 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Por sua vez, o conceito de etnia substitui com vantagens o termo “raça”, já que tem SANTOS base social e cultural. “Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se diferencia de outros por sua especificidade cultural. Atualmente o conceito de etnia estende-se a todas as minorias que mantêm modos de ser distintos e formações que se distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a uma etnia partilham da mesma visão de mundo, de uma organização social própria, apresentam manifestações culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de um grupo étnico que freqüentemente se autodenomina comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de alguém tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios valores e categorias — muitas vezes dificulta um diálogo intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado que as diversas culturas oferecem. Por isso é errado, conceitual e eticamente, sustentar argumentos de ordem racial/étnica para justificar desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso, exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes, desde a barbárie da escravidão a formas contemporâneas de discriminação e exclusão destes e de outros grupos étnicos e culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante informações corretas, cooperando no esforço histórico de superação do racismo e da discriminação. O SER HUMANO COMO AGENTE SOCIAL E PRODUTOR DE CULTURA Ao pressupormos o ser humano como agente social e produtor de cultura, evocamos a emergência de suas histórias, delineadas no movimento do tempo em interação com o movimento no espaço. Esse movimento, por sua vez, é mediado por diferentes linguagens, cujas expressões denotam traços de conhecimentos, valores e tradições de um povo, de uma etnia ou de um determinado grupo social. Nesse contexto, as imagens NÚCLEO COMUM 37 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE construídas pelos gestos, pelos sons, pela fala, pela plasticidade e pelo silêncio SANTOS implicam conteúdos relevantes para a construção da identidade, pois é nesse universo plural de significados e sentidos que as pessoas se reconhecem na sua singularidade. É no interior desse amálgama que podemos articular os conceitos de agente social e produtor cultural. Os conteúdos apresentam-se numa relação de igualdade, na qual não cabem avaliações preconceituosas e/ou pejorativas às diferenças de linguagens, tradições, crenças, valores e costumes, com o objetivo de valorizar os seres humanos como instância primeira das histórias. • Conhecimento, respeito e valorização das diferentes linguagens pelas quais se expressa a pluralidade cultural. Conhecer e respeitar diferentes linguagens é decisivo para que o trabalho com este tema possa desenvolver atitudes de diálogo e respeito para com culturas distintas daquela que a criança conhece, do grupo do qual participa. Este bloco oferece muitas oportunidades de transversalidade em Arte, quando por exemplo o adolescente poderá aprender sobre a cerâmica artesanal de certa população, ou músicas e danças de certos grupos étnicos, como formas de linguagem. É muito importante que, ao propor a atividade, o professor contextualize seu significado para o grupo étnico ou cultural de onde se originou a proposta, para que o assunto não seja tratado como folclore, mas como elemento cheio de importância para a estruturação e manifestação da vida simbólica daquele grupo. • Conhecimento dos instrumentos disponíveis para o fortalecimento da cidadania. Cidadania é prática, e a escola tem meios de desenvolver essa prática para trabalhar com o aluno não só a busca e acesso à informação relativa a seus direitos e deveres, como o seu exercício. Assim, consultas a documentos jurídicos nacionais e tratados e declarações internacionais poderá ser feita em sala de aula, continuando trabalho desenvolvido nos ciclos anteriores. NÚCLEO COMUM 38 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Da mesma forma, identificar e desenvolver alternativas de cooperação na melhoria SANTOS da vida cotidiana na escola, na comunidade, na família é uma forma de prática de cidadania, no espaço imediato de vivência. É importante, também, entrelaçando com o tratamento dado à importância da imprensa, identificar situações na vida da comunidade, localidade, estado, país, que exigem ação reivindicatória, assim como ação de cooperação, entendendo a dinâmica de direitos e deveres. Em diferentes situações que se apresentem na vida diária da escola, será possível desenvolver uma atitude de responsabilidade do aluno pelo seu ser, como adolescente, exigindo respeito para si, cuidado com sua saúde, seus estudos, seus vínculos afetivos, sua capacidade de fazer escolhas e opções. Da mesma forma, é importante enfatizar conteúdo já mencionado no primeiro bloco, referente à valorização, pelo adolescente, das oportunidades educacionais de que dispõe, como elemento de formação e consolidação de sua cidadania, potencializando-as o máximo possível. Esse cuidado é particularmente importante, tanto para evitar o abandono dos estudos, como na percepção e atitude dos alunos em relação à escola como instituição voltada para o bem comum, a qual cabe valorizar, cuidar e proteger. Entrelaçando-se com Ética, é importante tratar da cidadania a partir de atitude de valorização da solidariedade como princípio ético e como fonte de fortalecimento recíproco. Lido o texto e reflita sobre a seguinte questão: Qual a contribuição dos conhecimentos Sociológicos sobre pluralidade cultural? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 39 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 09_Educação, cultura e conhecimento DE SANTOS O conhecimento é um instrumento para a vida. Nesta aula vamos conversar um pouco sobre este tema. Uma visão do conhecimento Podemos dizer que o homem é um acontecimento cósmico, planetário, social e individual. O homem produz, organiza e difunde o conhecimento para sobreviver e transcender. No processo educacional, o homem deve ser pensado como aquele que vive em busca de sobrevivência e transcendência. O homem procura adquirir conhecimento para sobreviver e transcender. O homem observou a natureza e produziu conhecimento: um bom exemplo é a chuva, pois na sua ausência, o homem passou a regar a sua plantação para substituí-la. Além de produzir, ele organizou e transmitiu esse conhecimento. Conhecimento é o conjunto de meios para a sobrevivência e transcendência, gerados por indivíduos coletivizados e acumulados no curso da história. O conhecimento tem sido o maior instrumento para o exercício do poder e da autonomia. NÚCLEO COMUM 40 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE O grande momento da espécie humana foi a descoberta do outro e a troca com o SANTOS outro por meio da comunicação, de informações e de modos de ações. Vivemos hoje numa sociedade de conhecimentos. Referência bibliográfica: D’AMBRÓSIO, U. Educação para uma sociedade em transição. SP, ED. Papirus, 2000. NÚCLEO COMUM 41 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 10_Educação, cultura e ideologia. DE SANTOS Nesta aula vamos conversar um pouco sobre trabalho, educação, cultura e ideologia. Cultura, Trabalho e Educação A atividade animal é determinada por condições biológicas, caracterizada, sobretudo, por reflexos e instintos. Trata-se de um tipo de inteligência concreta, distinguindo-se da inteligência humana, que é abstrata. O homem representa o mundo por meio do pensamento, expressando-o pela linguagem simbólica. De fato, a linguagem substitui as coisas por símbolos, com palavras, por exemplo. A transformação que o homem exerce sobre a natureza chama-se cultura; entretanto, o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros. A noção de trabalho é fundamental para se compreender o que é cultura. Aliás, o trabalho é condição de liberdade, mas não em situações de exploração em que a maioria é obrigada a trabalhar em condições inadequadas à sua humanização. Isto é, na sociedade dividida em classes, o trabalho se torna alienado. Alienar, portanto, é tornar alheio, é transferir para outrem o que é seu. Por meio do trabalho o homem instaura relações sociais, cria modelos de comportamento, instituições e saberes. O aperfeiçoamento dessas atividades, no entanto, só é possível pela transmissão dos conhecimentos adquiridos através das gerações. É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua sobrevivência. Cultura Erudita e Cultura Popular NÚCLEO COMUM 42 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Não vivemos em uma sociedade homogênea, toda produção cultural está sujeita à SANTOS avaliação que depende da posição social do grupo a que ela pertence. Para exemplificar, vamos estabelecer algumas distinções, considerando as seguintes divisões: - A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade, produzida por uma minoria de intelectuais. - A Cultura Popular é identificada com folclore, conjunto das lendas, contos e concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do campo, das cidades do interior ou pela população suburbana das grandes cidades. - A Cultura de Massa é aquela resultante dos meios de comunicação de massa. Produzida “de cima para baixo”, impondo padrões e homogeneíza o gosto. É preciso entender essas manifestações culturais como sendo expressões diferentes de uma sociedade pluralista, sem considerações a respeito da superioridade de uma ou outra. Ideologia A Ideologia é o conjunto de representações e idéias bem como de normas de conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir de uma determinada maneira que convém à classe dominante. Lidar com conceitos abstratos, eternos e imutáveis, independentes da situação histórica em que se inserem, é um dos artifícios ideológicos pelos quais os valores dominantes são impostos. Os meios pelos quais a ideologia é, a nós imposta, variam, sendo utilizados meios tais como: a escola, os livros didáticos, os meios de comunicação de massa. As estruturas petrificadas que justificam as formas de dominação são ameaçadas pela filosofia, devido a essa ciência exercer papel importante como crítica de ideologia. NÚCLEO COMUM 43 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Até a próxima aula! SANTOS Referência Bibliográfica ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP. ED Moderna, 1996. NÚCLEO COMUM 44 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 11_A escola como instituição social DE SANTOS Na aula de hoje abordaremos, de forma simplificada, alguns momentos e tendências da escola e de sua relação com a sociedade em que se insere. As sociedades antes da escola Desde o aparecimento da educação formal, sempre existiu uma relação indissolúvel entre escola e sociedade. Vamos caminhar sobre as condições do aparecimento da educação formal, as transformações ao longo do tempo e também as críticas que têm sido feitas às soluções encontradas, trataremos das comunidades tribais, onde ainda inexistem escolas. As comunidades tribais - Trata-se de sociedades que não têm Estado, classes, Escrita, Comércio e Escola. Essa sociedade é essencialmente mítica. Nas comunidades tribais, as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos em suas atividades diárias. A adaptação aos usos e valores da tribo geralmente é levada a efeito sem castigo. A escola tradicional burguesa Nos séculos XVI e XVII, são fundados colégios pelas ordens religiosas dos séculos XVI e XVII. E para disciplinar a criança, submetendo-a aos rigores da hierarquia, surge o hábito dos castigos corporais. Com isso, surge o modelo da escola tradicional: nestes colégios existe uma rígida formação moral. NÚCLEO COMUM 45 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Tornam-se famosos os internatos dos jesuítas, que se espalham por toda a Europa SANTOS durante 200 anos (do século XVI ao XVIII). Essas escolas se destinam à nobreza e à burguesia ascendente. Com a Revolução Industrial, passou-se a exigir que, ao lado da formação humanística, fossem também estudadas as ciências da natureza. A escola nova No Brasil, o movimento da escola nova começou só no século XX, na década de 20. Na escola renovada, o aluno é o centro e há uma preocupação muito grande com a natureza psicológica da criança. A educação tradicional é magistrocêntrica. A escola tecnicista A escola tradicional no século XX tem sofrido inúmeras críticas de enfoques diversificados. Entre essas, a partir da década de 60, surgem propostas de inspiração tecnicista, baseadas na convicção de que a escola só se tornaria mais eficaz caso adotasse o modelo empresarial. No modelo citado, há uma nítida preocupação com a transmissão do saber científico exigido pela moderna tecnologia. No Brasil, nunca houve de fato plena implantação de reformas de tendência tecnicista, por estarem os professores imbuídos ou da tendência tradicional ou das idéias escola-novistas. A desescolarização da sociedade A escola nova pretendeu revolucionar os métodos trazendo para a vida a escola tradicional. No entanto, seu ideal de democratização não foi atingido, aliás, ela continuou a reproduzir as formas de dominação social. Devido a esse fato, o australiano Ivan Illich apresenta uma proposta radical, a desescolarização da sociedade. NÚCLEO COMUM 46 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE A principal crítica que pode ser feita a Illich refere-se à dimensão individualista do SANTOS seu projeto, que despreza uma análise mais profunda dos conflitos sociais. Na verdade, ele propõe uma revolução moral, empenhada em conscientizar os indivíduos para a mudança e converter cada um no seu íntimo. Até a próxima aula! Referência bibliográfica: ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP, Moderna, 1996. NÚCLEO COMUM 47 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Resumo_Unidade I DE SANTOS Apresentamos alguns conceitos básicos, pertinentes à literatura sociológica, utilizados por sociólogos e educadores. Introduzimos o significado de educação e socialização como processos interativos. Conhecemos as principais instituições sociais e suas características, bem como o surgimento da escola como instituição social. Por intermédio da análise sociológica da sociedade desvelamos a realidade social, compreendendo a sua historicidade. NÚCLEO COMUM 48 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 12_A educação e a escola DE SANTOS Na aula de hoje veremos como a escola vem realizando sua principal função: a formação do educando. Para esta discussão leiam o texto “Educar pra que? ” de Frei Betto, disponível em nosso AVA. Para complementar nossos conhecimentos, indico dois textos: 1 – A Escola dos meus sonhos, de Frei Betto, e 2 – Pra que serve a Educação, de Selma de Assis Moura: Após a leitura do texto reflita sobre as questões abaixo: 1. Para Frei Betto qual é a finalidade do processo educacional? 2. Para ele a escola está atendendo às finalidades do processo educacional? Por quê? 3. Qual a maior crítica que ele faz a escola? Chegamos ao final de nossa unidade Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 49 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 13_A análise sociológica da sociedade capitalista DE SANTOS Vamos, inicialmente, analisar e reconhecer a sociedade brasileira. No início dos anos de 1970 Edmar Barra usou o termo Belíndia para falar da desigualdade social no Brasil. Segundo ele havia uma pequena parcela da sociedade brasileira que possuía grande poder aquisitivo, comparada com a Bélgica, enquanto a grande maioria era pobre, esta era a Índia brasileira. Sobre isso Kruppa diz que: A explicação que se usa o exemplo da “Bélgica” e da “Índia” como convivendo no mesmo Brasil, impossibilita-nos de ver que, longe de se apresentarem como realidades distintas, aqueles que se encaixam na Bélgica brasileira vivem assim graças à miséria causada pela exploração daqueles que são considerados como pertencentes à Índia brasileira. As razoes disso estão na forma pela qual o capitalismo se estrutura, desde seu aparecimento: na exploração do trabalho assalariado, que progressivamente foi separando os NÚCLEO COMUM 50 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE trabalhadores, o proletariado, dos donos dos meios de produção, a SANTOS burguesia. (1994, p. 48) Leiam também o texto: “Belíndia” de Alan Henriques, disponível em nosso AVA: Agora que você leu, analisou e compreendeu o texto “Belíndia”, vamos refletir sobre algumas questões, em conformidade com as ideias do texto lido: 1- Por que o Brasil é um país de contrastes? 2- O que provoca a diferença social? 3- Qual é a classe social que tem maior acesso aos jornais, bibliotecas, teatros, viagens, etc? 4- O Estado brasileiro tem procurado mudar esta situação de desigualdade, investindo em serviços públicos como educação, saúde e moradia? 5- O modelo econômico adotado e o sistema educacional atendem com qualidade a maioria da população? 6- Você concorda com as ideias da autora do texto? Por quê? Referência Bibliográfica: KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994. NÚCLEO COMUM 51 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 14_Compreendendo a realidade social DE SANTOS Vamos analisar e compreender a realidade em que vivemos com o auxilio da Sociologia. Leia em seu AVA o texto “O Surgimento da Sociologia e do Socialismo” de Lázaro Curvêlo Chaves. Vejam também os textos “Origem da sociedade capitalista” de Paulo Meksenas, e “O que é a Sociologia?” de Lucien Goldmann. Reflita sobre esses aspectos: 1- A Sociologia é uma ciência que surge com a sociedade capitalista. 2- Ela procura explicar a sociedade capitalista. 3- Há várias teorias (explicações) para a realidade social. 4- Na análise da sociedade, os pensadores diferem quanto ao papel que contribuem para a educação, cultura e sociedade. 5- Durkheim e Marx são contraditórios em relação aos processos sociais. 6- A Sociologia, como qualquer ciência, não é “dona da verdade”; está sempre se refazendo. Vamos Relembrar alguns assuntos importantes? 1. Segundo Émile Durkheim: 1.1. A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as novas, que ainda não se encontram preparadas para a vida social. 1.2. A educação é, ao mesmo tempo, múltipla e una: a) Múltipla: varia segundo o grupo social, no tempo e no espaço; NÚCLEO COMUM 52 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE b) Una: procura inculcar os valores dominantes na sociedade e preservar a SANTOS identidade nacional e os avanços da humanidade. 1.3. Como socialização, a educação vai construindo, em cada ser humano, o ser social. 1.4. Embora cada indivíduo eduque a si mesmo, é a sociedade que estabelece o clima, os meios e os objetivos do processo educativo. 2. Segundo outros autores: 2.1. A educação pode ser: a) Intencional: em condições previamente estabelecidas e programadas; b) Não intencional: sem programação, através da convivência social. 2.2. Os primeiros adultos que convivem com a criança, geralmente os pais são os primeiros agentes educadores. São os veículos através dos quais a sociedade inculca nas crianças os padrões sociais vigentes, abrangendo a totalidade do indivíduo, desde o seu organismo até o seu psiquismo. 2.3. Através de métodos impositivos (horários de refeições, educação sanitária etc.) ou não impositivos (o exemplo dos pais), a criança vai internalizando os padrões sociais e sendo socializada. 2.4. A escola é a agência especializada na educação das novas gerações, tendo por finalidade específica levar os alunos a conhecerem o patrimônio cultural da humanidade. 2.5. A escola nem sempre existiu. Em sua evolução, podemos identificar várias fases: a) A época em que não havia escola , em que todo adulto era professor; b) A escola da nobreza, na época medieval, em que predominavam os estudos literários; NÚCLEO COMUM 53 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE c) A escola da burguesia, na época moderna, em que se começou a dar importância SANTOS aos estudos científicos; d) A época posterior à revolução industrial, em que havia uma escola para os ricos, chegando aos estudos superiores, e uma escola para os trabalhadores, limitada ao primário; NÚCLEO COMUM 54 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 15_Educação e política. DE SANTOS Nesta aula vamos abordar o conceito de política e sua relação com a educação. O QUE É POLÍTICA? De acordo com o Dicionário de Sociologia de Allan G. Johnson: Política é o processo social através do qual o poder coletivo é gerado, organizado, distribuído e usado nos sistemas sociais. Na maioria das sociedades, é organizada sobretudo em torno da instituição do ESTADO, embora este fenômeno seja relativamente recente. Nas sociedades feudais, por exemplo, o ESTADO era muito fraco e subdesenvolvido, e o poder político cabia principalmente aos nobres, vassalos e clero, cujas esferas de influência eram bem definidas pela extensão de suas terras. Embora seja associado com mais frequência a instituições de governo nos níveis internacional, nacional, regional e comunitário, o conceito de política pode ser aplicado a virtualmente todos os sistemas sociais, nos quais o poder representa papel importante. Podemos, por conseguinte, fazer perguntas sobre a política da NÚCLEO COMUM 55 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE vida familiar e da sexualidade, a política de escritório, a política universitária ou SANTOS mesmo a política da arte e da música. Este último argumento tem importância especial, porque chama a atenção para o fato de que todos os sistemas sociais têm uma ESTRUTURA DE PODER e não apenas aqueles cujas funções sociais são formalmente definidas em termos de poder”. Para melhor compreensão do que é “política”, devemos ler outras fontes de conhecimento para podermos evitar equívocos, tais como o de que somente os políticos partidários (senadores, deputados, vereadores, etc...) fazem política. Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia – Guia Prático da Linguagem Sociológica. RJ, Jorge Zahar Editor, 1997. NÚCLEO COMUM 56 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 16_A dimensão social da liberdade DE SANTOS Nesta aula vamos estudar o conceito de liberdade sob o viés social. A DIMENSÃO SOCIAL DA LIBERDADE: CRÍTICA AO CONCEITO LIBERAL BURGUÊS DE LIBERDADE Quando nos referimos ao caráter social da moral, queremos significar duas maneiras do social agir sobre o homem. Num primeiro momento, o social é resultado de uma herança cultural e, como tal, condição da imanência ou facticidade. Mas, ao considerarmos o aspecto aperceptivo, o social que aí encontramos é justamente condição da transcendência e expressão da nossa liberdade. Isso significa que é impossível a liberdade fora da comunidade dos homens. As relações entre os homens não são de contiguidade, mas de engendramento, isto é, os homens não estão simplesmente uns ao lado dos outros, mas são feitos uns pelos outros: o homem se humaniza pelo trabalho, e esta ação é social. Daí não podermos falar propriamente do homem como uma “ilha”. Para explicar melhor, vamos examinar o conceito burguês de liberdade, tal como foi teorizado a partir dos séculos XVII e XVIII. O pensamento liberal é essencialmente individualista. Parte do pressuposto do contrato social e legitima todo poder para garantir a propriedade e a segurança dos cidadãos. O Estado não deve intervir, em principio, senão para garantir a liberdade individual (opondo-se ao mercantilismo, o liberalismo defende o “laissez faire”). A liberdade individual surge como ponto de partida onde se alicerçam as relações possíveis entre as pessoas. A expressão clássica dessa concepção é: “A liberdade de cada um é limitada unicamente pela liberdade dos demais”. A escravidão é condenada, e o contrato de trabalho se apresenta como uma forma legal de acordo livre entre iguais: o dono do capital paga o salário ao operário; este, por sua vez, vende sua força de trabalho. Mas também já vimos que a democracia liberal é uma democracia de direito, e não de fato, pois o que ocorre é a elitização do NÚCLEO COMUM 57 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE poder: apenas as pessoas que têm propriedade têm poder político. A decorrência é SANTOS que os homens não são tão iguais assim e, portanto, a “liberdade de escolha” não é tão “livre” quanto se poderia se imaginar. Na verdade, as condições de escolha já estão predeterminadas. Explicando melhor: ao tentar exercer sua liberdade, o proletário verifica que a livre escolha dos indivíduos privilegiados acaba por delimitar cada vez mais o seu próprio espaço de ação. Na selva do salve-se-quem-puder, onde cada um luta por si mesmo e não deve obrigações a ninguém, a liberdade é uma ilusão. Além de que, se os pobres quiserem expressar seus desejos, isso assume imediatamente um caráter de desordem. O principio do liberalismo é: “A raposa livre no galinheiro livre”. Quando nos referimos ao caráter social da liberdade, queríamos justamente nos contrapor a essa idéia individualista de liberdade. O ponto de partida não deve ser a liberdade individual, mas sim o interesse coletivo. É a partir dele que o comportamento individual se regula. Só assim será possível a efetiva liberdade de cada um, como processo final de uma ação calcada na cooperação, na reciprocidade e no desenvolvimento da noção de responsabilidade e compromisso. Nesse sentido, o outro não é o limite da nossa liberdade, mas a condição para atingi-la. Merleau-Ponty dá o exemplo da tortura infligida ao homem para obrigá-lo a falar: “Se ele se recusa a dar os nomes e os endereços que se quer arrancar dele, não é por uma decisão solitária e sem apoio; ele ainda se sentia com seus camaradas e, ainda engajado na luta comum, ele estava como que incapaz de falar (...). Não é finalmente uma consciência nua que resiste à dor, mas o prisioneiro com seus camaradas ou com o que amam e sob o olhar de quem vive. (...). Estamos misturados no mundo e aos outros numa confusão inextrincável”. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 58 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS Referência Bibliográfica ARANHA, M.L.A. e outros. Filosofando. SP, Ed. Moderna, 1991. p. 321-322. NÚCLEO COMUM 59 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 17_Sociedade Contratual e Sociedade Contextual DE SANTOS Nesta aula escolhemos uma crônica para trabalhar com as diferentes formas de “acatar as leis” em sociedades distintas. É importante percebermos que a cultura de cada povo e a sua organização social é responsável pelo modo como entende as leis e respeita-as. Leiam a crônica escrita, na revista “Emoção”, de fevereiro de 2000, pelo jornalista americano Matthew Shirts, 41 anos, colunista do jornal “O Estado de São Paulo” e redator-chefe da revista “Nacional Geographic Brasil”. Nasceu em São Diego, nos Estados Unidos, e fez pós graduação em História na Universidade da Califórnia em Stanford. SOCIEDADE CONTRATUAL E SOCIEDADE CONTEXTUAL No Brasil, furar o sinal vermelho é tido como normal, em certos casos. Já os americanos param até quando não há ninguém na rua. Entenda esta diferença. Você já deve ter reparado em alguma regra que é sistematicamente desobedecida no seu local de trabalho. Gente que fuma onde é proibido ou que ouve rádio quando outros estão tentando escrever. Por que existem as regras, perguntamos, se ninguém obedece? São “coisas do Brasil”, é comum ouvir, a título de explicação. NÚCLEO COMUM 60 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Pior é a situação do trânsito. Somos obrigados a assistir a barbaridades sem trégua. SANTOS Já vi motoristas andando alegremente na contra mão e coisas do gênero. Mas o que mais chama a atenção de um estrangeiro, como eu, é a reação dos brasileiros ajuizados, que costumam pôr em questão a viabilidade política do país, sempre que alguém passa por um sinal vermelho. “Este país não tem jeito” é uma das frases mais ouvidas. Considerações desse tipo soam surpreendentes aos ouvidos de um americano, uma vez que, nos Estados Unidos, muito dificilmente alguém ousaria questionar as bases políticas do país a partir de delitos individuais – menos ainda a partir de infrações do Código de Trânsito. Mesmo quando acontecem fatos graves, como massacres em escolas, não se duvida da viabilidade dos Estados Unidos. Com o tempo, vim a perceber que o hábito de questionar a viabilidade do Brasil, a partir de acontecimentos cotidianos, é apenas a ponta mais visível de uma discussão complexa. O que irrita os brasileiros, na verdade, é a relação dos seus compatriotas com as leis e as regras vigentes no país. Estas tendem a ser vistas com arbitrárias e, portanto, são desrespeitadas. O maior, talvez único, motivo para obedecê-las é a ameaça de punição. Já em outros países, como os Estados Unidos e a Alemanha, os cidadãos cumprem os regulamentos automaticamente e até com gosto. As regras de comportamento são interiorizadas. Fazem parte da identidade dos indivíduos. Alguns antropólogos atribuem essa diferença a uma oposição entre culturas “contratuais”, de um lado. E “contextuais”, do outro. Nas sociedades contratuais, o comportamento é baseado num sistema de regras aceitas por todos. Nas sociedades contextuais, como a brasileira ou a italiana, o comportamento varia de acordo com a avaliação que o indivíduo faz de cada situação. Quando um brasileiro chega a um sinal de trânsito fechado em uma avenida deserta às três horas da madrugada, ele não pára. Dá uma desacelerada, olha para os lados para se garantir de que não vem vindo ninguém – e segue em frente. O americano é diferente. Ele breca com convicção, sem nem olhar (já que vai parar mesmo), e espera até o sinal abrir. NÚCLEO COMUM 61 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância Nas METROPOLITANA DE sociedades contextuais, as regras são apenas uma referência. O SANTOS comportamento depende de cada situação, do momento. É por isso que as leis “não pegam” muitas vezes. Ninguém crê, no íntimo, que devam ser obedecidas cegamente. Vale o juízo individual e, quando necessário, o famoso jeitinho – uma maneira de driblar as regras, no fim das contas. As sociedades contextuais são mais libertárias nesse sentido. Ninguém vai deixar de fumar se não alguém para se incomodar com o cigarro aceso. Tampouco alguém vai parar num semáforo no meio do deserto – afinal, ninguém é bobo. Os integrantes das sociedades contextuais acreditam menos no valor das regras. “Para os amigos tudo; para os inimigos, a lei” é uma frase tipicamente contextual. Já nas sociedades contratuais a lei serve para resolver todos ou quase todos os conflitos, do assédio sexual aos latidos do cachorro do vizinho. É por isso que existem mais advogados nos EUA do que em todos os outros países do mundo juntos. O caso Mônica Lewinsky, por exemplo, foi até a Suprema Corte, o que não é pouca coisa. Era preciso saber se o presidente Bill Clinton violara as regras ou não. As sociedades erguidas sobre um contrato são assim. Por aqui, no entanto, ninguém entendeu o motivo de tanto escândalo. Na visão brasileira, Clinton era culpado de uma pulada de cerca. Devia explicações para a mulher dele, sim, jamais para instância mais alta do sistema legal do país. Era uma questão pessoal. Se havia violado uma lei qualquer não vinha ao caso. Explicar porque algumas sociedades são contratuais e outras contextuais é uma tarefa complexa. Os motivos têm a ver com a formação cultural de cada nação. Alguns analistas destacam a relativa fraqueza de certas burguesias nacionais e a conseqüente dificuldade para impor às sociedades contextuais o que o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) chamou de hegemonia cultural. Também é possível chamar a atenção para o papel da escravidão e do colonialismo na falta de legitimidade dos sistemas legal e político. Se um tipo de cultura – seja contratual, seja contextual – é melhor que o outro, não está claro e depende um pouco do gosto de cada um. Quando os brasileiros reclamam, diante de uma contravenção no trânsito, que o país não tem jeito, estão dizendo que só quando o comportamento dos patriotas mudar é que o país poderá NÚCLEO COMUM 62 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE dar certo. Ou seja, só quando a americanização do brasileiro for completa. Já os SANTOS partidários da cultura contextual tendem a destacar a capacidade do brasileiro para lidar com situações de improviso. A vida por estas bandas é mais divertida. Ao menos é o que dizem. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 63 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 18_ Emile Durkheim e a Educação DE SANTOS Em aulas passadas trabalhamos com o sociólogo Emile Durkheim. Considerado o criador da Sociologia da Educação, ele nasceu em Epinal, noroeste da França em 1858. Lecionou Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras de Bordeaux, onde foi criada a primeira cátedra de Sociologia da França, sob sua alçada. Ele dizia que: "A sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a educação realiza". Vamos compreender o pensamento de Émile Durkheim, por meio dos textos que estão em seu AVA: “O criador da Sociologia da educação” “A Sociologia de Durkheim”. REFLITA SOBRE O TEXTO: 1) Qual a função da educação? 2) Quais as características da educação? 3) Qual a função do Estado na educação? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 64 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 19 _A sociedade para a Sociologia crítica DE SANTOS Iniciamos a partir dessa aula com um pensamento social diferente daquele positivista, baseado numa teoria da harmonia social. A Sociologia Crítica possui uma análise que percebe desigualdade na sociedade, lançando seus esforços para entender a raiz dessa diferença. Um dos mais importantes pensadores dessa corrente foi o alemão Karl Marx. Karl Marx e Durkheim foram criados num ambiente cultural de classe média. Como o pai de Marx era advogado, ele teve a oportunidade e acesso aos estudos. Formado numa sociedade alemã regida por um governo autoritário que para se manter no poder político eliminava seus adversários. Marx era portador de idéias novas e críticas com relação ao estado alemão, governado por Frederico IV. Não consegue ser professor universitário, e sua carreira passa a ser o jornalismo, dirigindo uma agência jornalística. Marx considerava que a sociedade capitalista sempre seria imperfeita, sendo que o único caminho para a superação dos problemas sociais seria a luta política para a construção de uma nova sociedade: o socialismo. Para entender melhor a diferença entre o capitalismo e socialismo, é necessário se aprofundar na teoria de Marx. NÚCLEO COMUM 65 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Há uma enorme diferença entre Durkheim e Marx: para o primeiro a sociologia era a SANTOS ciência que contribuiria para levar a sociedade capitalista à perfeição e analisou a sociedade, a partir da organização da moral social. Já Marx se interessou pela relação existente entre a consciência das pessoas e a forma de se organizarem para transformar a natureza através do trabalho. Concluiu que o modo pelo qual as pessoas trabalham em determinada sociedade influi no modo como pensam e se definem como seres sociais. No capitalismo, o trabalho se organiza para dar origem à produção quase infinita de mercadorias. Essa é a aparência de nossa sociedade: imenso depósito de mercadorias. O que pode haver por trás dessas mercadorias? Que relações sociais elas escondem? Marx concluiu que, para além das mercadorias e das relações de troca está a produção dessas mercadorias. Estudando o modo de produção das mercadorias, concluiu que existem duas classes sociais básicas: de um lado, os proprietários dos meios de produção, e de outro, os proprietários da força de trabalho. Essa segunda classe não tem outro recurso que não seja vender por salário a sua força de trabalho, que acaba por ser considerada, ela também, como mercadoria. Com o capitalismo, a força de trabalho passa a ser considerada uma mercadoria que produz lucro para a classe empresarial. A classe trabalhadora sempre produz mais do que recebe. Seu salário é sempre muito menor que a soma do valor dos bens que produziu. Todo o excedente que a classe trabalhadora produz fica nas mãos do capitalista que, com isso, enriquece sempre mais. Ao analisar a organização do trabalho no capitalismo, descobriu uma contradição básica: que a riqueza de alguns era devida a uma situação de exploração e pobreza a que uma imensa maioria está submetida. É esta contradição entre capital e trabalho que origina os problemas sociais: lucro excessivo de um lado, salário baixo de outro; mansão de um lado, cortiço de outro; saúde de um lado e subnutrição de outro, etc. NÚCLEO COMUM 66 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Uma sociedade com tais distorções, organizada a partir da exploração de uma SANTOS classe por outra, é necessariamente uma sociedade de violência. Propõe resolver tais distorções atacando a raiz do problema, ou seja, a contradição entre capital e trabalho. Para eliminar esta contradição não poderia haver distinção entre proprietários e não proprietários. A construção da nova sociedade, com novas relações e instituições sociais, só se daria a partir do momento em que a classe trabalhadora se organizasse e lutasse pelos seus direitos. Enquanto Durkheim acreditava que a ciência sociológica e a educação poderiam reformar o capitalismo para melhor, eliminando seus problemas,Marx pregava que através da organização e luta da classe trabalhadora dentro de todas as instituições, a sociedade capitalista seria superada com a criação de uma sociedade nova e mais humana. Referência bibliográfica: TOMAZI, N. D. Sociologia da Educação.São Paulo. Ed. Atual, 2003. NÚCLEO COMUM 67 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 20_A Educação para a Sociologia Crítica DE SANTOS A Sociologia Crítica entende que a educação é um processo importante na formação da consciência social dos indivíduos. É o que vamos ver nesta aula. A Educação e a Sociologia Crítica Marx tem preocupação com a educação mas não desenvolve uma teoria da educação. Ele se propôs a analisar a ligação entre a organização do trabalho e as classes sociais, o Estado, a ideologia. Não há nenhum livro de Marx que trate especificamente de educação. A concepção de Marx sobre a sociedade capitalista permite pensar criticamente a educação e a escola. É possível analisar seus textos procurando ressaltar aquilo que se refere a educação; 1. Ideologia e Educação A Sociologia crítica parte do princípio de que o elemento básico é o trabalho. Para sobreviver, o ser humano transforma a natureza que o cerca e cria os bens materiais de que necessita. Assim, ao realizar um trabalho, as pessoas passam a pensar e a desenvolver suas consciências para, em seguida, se comunicar, trocar ideias através de uma linguagem. Nesse processo, passam a interpretar não só a sociedade em que vivem, como também as suas atividades práticas. É assim que as pessoas estabelecem relações sociais. No desenrolar da história, não ocorreu que primeiro os seres humanos estabelecessem formas de comunicação entre si para depois transformar a NÚCLEO COMUM 68 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE natureza, mas, como já vimos, só foi possível desenvolver uma consciência e uma SANTOS linguagem tentando resolver problemas práticos que surgem ao enfrentar a natureza. É a luta do ser humano pela sobrevivência que o faz desenvolver pensamento e linguagem. Em resumo, para Marx, não é a consciência das pessoas que explica a sociedade, mas determinada maneira de se apropriar da natureza e agir cria determinada consciência, determinada maneira de pensar. A consciência das pessoas, suas ideias, seus valores resultam de relações sociais que os indivíduos estabelecem entre si no processo de apropriação material da natureza. Entretanto é importante saber que a ligação entre as relações sociais e a consciência é algo contraditório; nem sempre a realidade social corresponde àquilo que pensamos sobre essa realidade. Por quê? Para Marx, a sociedade capitalista se fundamenta numa organização do trabalho que dá origem a classes sociais e onde os proprietários dos meios de produção exploram os trabalhadores. Essa visão de exploração nem sempre está presente na consciência das pessoas, porque aparecem certas ideias e valores que tentam esconder essa realidade. O que foi afirmado nos sugere uma pergunta: qual a origem dessas ideias e valores que em certos momentos parecem ocultar as relações sociais de exploração? Para responder tal questão, devemos ter em mente que as experiências práticas das pessoas no trabalho e na vida cotidiana são diferentes. Isso dá origem a interpretações diferentes dos fatos, a visões diferentes do mundo. A visão que a classe empresarial tem do trabalho e de sua vida cotidiana é diferente da visão que tem a classe trabalhadora. Para a primeira classe social (proprietária) o trabalho é fonte de lucro; sua tendência é reforçar os aspectos que acha positivos no capitalismo: sociedade boa, de riquezas, de progresso, liberdade para empreender e tornar-se rico etc. Por outro lado, para os trabalhadores, o trabalho é fonte de pobreza. Sua tendência é reforçar os aspectos negativos do capitalismo: sociedade desigual, de privações, de salários baixos, falta de liberdade para se viver dignamente etc. NÚCLEO COMUM 69 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Entretanto essa segunda visão de mundo, nem sempre está presente na SANTOS consciência das pessoas. A visão da classe empresarial predomina, aparece como única visão verdadeira. Isso ocorre pelo simples fato de que a classe empresarial, tendo maior poder econômico, político e de comunicação, consegue impor mais facilidade os seus interesses, convencer o conjunto da sociedade da “verdade” e da “validade” prática de sua visão do mundo. Podemos afirmar que na sociedade capitalista existe ideologia: uma imposição dos valores e idéias da classe empresarial (classe dominante) como sendo a única visão correta da sociedade e a conseqüente tentativa de fazer com que a classe trabalhadora pense com os valores da classe dominante. A ideologia beneficia enormemente a classe empresarial, pois a partir do momento em que ela consegue impor suas ideias, seus valores como sendo os corretos e, a partir do momento que os trabalhadores aceitam isso, fica bem mais fácil para os grupos dominadores manter sua exploração sobre o restante dos indivíduos da sociedade. Sabendo agora um pouco do significado da ideologia para Marx, podemos ir adiante e perceber o que ela transmite. Nos dias de hoje, para impor a sua visão de mundo, a classe dominante utiliza os meios de comunicação de massa, os jornais, as leis e, finalmente, a educação. Nesse sentido, dentro da concepção teórica de Marx, podemos afirmar que a educação escolar vem desempenhar o papel de transmissora da ideologia dominante; é o elemento responsável por inculcar em todos os indivíduos os valores e as idéias da classe empresarial como a única visão correta do mundo. Assim as regras de funcionamento da escola, os seus conteúdos de aprendizado dão meios para reproduzir a desigualdade da sociedade capitalista. Por último, é importante salientar que o conceito de ideologia desenvolvido aqui se refere à teoria de Karl Marx. Outros autores têm dado outras definições da ideologia. No entanto, como a preocupação desse texto é ressaltar algumas ideias de Marx a respeito dela, deixamos de lado outras possíveis definições do mesmo termo por outros autores. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 70 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 21_A análise Marxista no estudo da escola DE SANTOS O Pensamento de Marx ganhou muitos adeptos em vários campos do conhecimento por desenvolver uma análise de questões postas ainda nos dias de hoje. Na educação isso não foi diferente, onde muitos educadores, a partir do referencial marxista, lançam pressupostos para os problemas encontrados, como é o caso da escola. Esse é o assunto desta aula. A análise marxista no estudo da escola Marx possui uma visão de sociedade onde a escola, transmitindo ideologia, seria elemento de reprodução dos interesses da classe empresarial para ajudá-la a manter seu poder e domínio sobre a classe trabalhadora. Numa sociedade dividida por classes sociais em contradição e conflito, temos uma educação e uma escola que reproduzem a divisão e o conflito. Para Marx, a educação não é una, com o pensava Durkheim. Ao contrário, toda educação é de classe, pois a educação que a classe empresarial recebe é diferente daquela da classe trabalhadora. Enquanto os membros da primeira são educados para dirigir a sociedade de acordo com os seus interesses, os membros da segunda são disciplinados e adestrados para o trabalho, para aceitarem a sociedade capitalista como ela se apresenta, sendo submissos. NÚCLEO COMUM 71 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Para Marx, a educação é de classe e, nesse sentido, a escolaridade para a classe SANTOS trabalhadora tem dois objetivos: preparar a consciência do indivíduo para perceber apenas a visão de mundo da classe empresarial como correto, isto é, transmissão de ideologia; preparar o indivíduo para o trabalho, fazendo com que aprenda o necessário e suficiente para lidar com seus instrumentos de trabalho, disciplinando e treinando o corpo/mente do jovem da classe trabalhadora para que possa desempenhar adequadamente suas tarefas de trabalho. Por outro lado, a classe empresarial recebe outro tipo de escolarização muito mais aperfeiçoado e completo, com acesso às melhores escolas, aos melhores professores e materiais didáticos para assim, com bom nível de conhecimentos, poder se aperfeiçoar e se perpetuar na função de classe dirigente. O conhecimento é fonte de poder; a partir do conhecimento, é possível dominar mais facilmente outra pessoa; faz sentido que em nossa sociedade a classe empresarial tenha acesso às melhores escolas enquanto que aos trabalhadores reste apenas o acesso àquele conhecimento parcial que lhe garanta a condição de dominado “eficiente”. Marx admite a escola em nossa sociedade como instituição sob controle da classe empresarial para transmitir a ideologia e treinar os trabalhadores para uma atividade produtiva em que serão explorados. Entretanto, diante desse fato, Marx parece mostrar à classe trabalhadora que ela não deve negar escola ou abandoná-la. Ao contrário, deve exigir com tanto mais força seu direito à educação e, ao mesmo tempo, atuar dentro e fora da escola para que ela se transforme numa instituição que possa representar também os interesses das classe trabalhadora. Estudos da escola, com base nos conceitos marxistas, têm necessariamente uma análise:  da sociedade em que se encontra essa escola: estudo das condições de trabalho e das relações sociais existentes entre as classes sociais;  das implicações das contradições presentes nessa sociedade; NÚCLEO COMUM 72 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância  METROPOLITANA DE das condições de produção de conhecimento;  SANTOS das consequências da divisão do trabalho presente em todas as instituições;  da forma de reprodução da sociedade capitalista. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 73 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 22_A educação escolar e a sociedade brasileira DE SANTOS Nesta aula, iniciamos a Unidade: A Escola na Sociedade Brasileira apresentando um quadro social que relaciona a escolaridade e a ascensão social na sociedade brasileira. A escola é um meio de ascensão social? A população em geral acredita nisso e demonstra essa crença na luta pela escola. Como a escola tem respondido a essa luta? No Brasil, só conclui os estudos uma minoria. A maioria com menor poder aquisitivo não termina o processo de escolarização básica. Logo, aos de maior renda, maior número de estudos e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a repetência e a evasão juntam-se ao trabalho precoce. Isto leva a uma sociedade dividida em indivíduos que servem para pensar e outros para trabalhar. “A escola é para todos”? Vemos essa afirmação nos discursos e na legislação. Entretanto, isso não acontece, pois as informações estatísticas mostram uma outra realidade. Comparando-se 100 brasileiros, tomando-se por base os anos de estudos, temos os seguintes resultados:  8 (oito) com mais de 9 anos de estudo, ganhavam mais de 10 salários mínimo;  22 (vinte e dois) que possuíam entre 5 a 8 anos de estudo, ganhavam de 3 a 10 salários mínimos;  70 (setenta) tinham até 4 anos de estudos, e muitos eram analfabetos e ganhavam até 3 salários mínimos. NÚCLEO COMUM 74 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Percebemos a desigualdade social, quando a concentração de renda se SANTOS encontra nas mãos de poucos e aos de baixa renda, pouco ou nenhum estudo. Logo, ao contrário da aspiração da população, a escola não tem servido como meio de ascensão social. A análise sobre renda e escolaridade mostra os motivos sociais e econômicos da evasão e da repetência, desmascarando o conceito feito pela escola, ao afirmar que o aluno é incapaz de segui-la por ser uma falha pessoal e não um problema de natureza social e de forma de organização da escola. A população que luta pela escola, não recebe dela as informações necessárias para o reconhecimento de sua situação, participando de suas mudanças. A escola, com sua prática, muitas vezes contribui para a deformação da análise a ser feita sobre o fracasso escolar. A população termina por expressar essa avaliação de modo conformista: “O menino é fraco da cabeça, não dá para o estudo”. RESPONDA: - A escola é um meio de obter-se melhores condições de vida? Por quê? - A escola tem proporcionado melhores condições de vida para você? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 75 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE SANTOS Referência Bibliográfica: PILETTI, N. Sociologia da Educação. São Paulo, ED. Ática, 2003. NÚCLEO COMUM 76 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 23_A educação escolar como intervenção DE SANTOS Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a Educação? O livro “O que é Educação”, de Carlos Rodrigues Brandão, é importantíssimo para o educador! Justificativa: É de fácil leitura; Explica o que é educação em seus aspectos essenciais; Temos obrigação, como profissionais da educação, de compreender todo o significado da palavra “EDUCAÇÃO”. Nesta aula, leia o último capítulo: “A esperança na educação”, do livro acima citado, pág. 98 a 110 e reflita sobre essas questões: 1) A educação é determinada fora do nosso poder? 2) A educação que existe no sistema escolar é criada e controlada por um sistema político dominante? 3) A sociedade desigual separa os filhos de operários dos filhos de não operários? NÚCLEO COMUM 77 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE 4) Por que acreditar ainda na educação? SANTOS 5) Quando Paulo Freire cita que temos de “Reinventar a educação”, o que ele quis dizer? 6) Onde existe educação? A quem ela pertence? Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: Brandão, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2003. NÚCLEO COMUM 78 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 24_A educação escolar como invenção DE SANTOS Nesta aula, você irá comparar as respostas da anterior (AULA: 39) com as colocações que faço abaixo: Após a leitura de Brandão, no último capítulo de seu livro “O que é educação”, fazemos as seguintes considerações: a) A educação é determinada fora do poder de quem a pratica, tanto os educadores com os educandos. b) A educação que existe no sistema escolar é criada e controlada por um sistema político dominante. c) A sociedade em que vivemos é desigual, pois reproduz a desigualdade social. d) Temos que acreditar na educação, porque, queiramos ou não ela existe; os sistemas educacionais podem mudar, saindo da reprodução da desigualdade e criando um outro onde aja igualdade e liberdade entre os homens; a educação é uma criação e podemos construir um outro tipo de mundo. e) Paulo Freire usa a expressão: “Reinventar a educação”, para mostrar que a educação foi inventada pelos homens. Ela é sempre realizada pelos seres humanos e poderá ser reinventada de outra maneira. f)“A educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre os opostos”. Ela pertence a todos nós, entretanto, há educações desiguais onde há classes sociais desiguais. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 79 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 25_A escola e a questão cultural DE SANTOS Nesta aula continuamos a discussão sobre o saber a Educação e Sociologia. Releia o último capítulo: “A esperança na educação” do livro “O que é educação” de Carlos Rodrigues Brandão, págs. 98 a 110 e reflita sobre essas questões: 1) Por que a educação aparece como propriedade, como sistema e como escola? 2) O que os pesquisadores descobriram ao estudar as classes subalternas, em relação às formas próprias de educação do povo? 3) Por que os esforços dos professores e diretores, para que haja um maior intercâmbio entre a escola e a comunidade, resultam, quase sempre, em fracasso? 4) Qual é a esperança que se pode ter na educação? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 80 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 26_A escola e a questão cultural DE SANTOS Nesta aula apresentamos alguns comentários sobre as questões da nossa aula anterior. Compare as respostas da anterior (AULA: 41) com as colocações que faço abaixo: Segundo Brandão, no último capítulo de seu livro “O que é educação”, fazemos as seguintes considerações: a) O controle sobre o saber se faz em boa medida, através do controle sobre o quê se ensina e a quem se ensina; de modo que, através da educação erudita, da educação das elites ou da educação oficial, o saber oficial transforma-se em instrumento político de poder. A educação sai da comunidade em que fez parte um dia e ingressa na estrutura dos aparatos de controle, ou seja, a “educação –de- educar” (numa aprendizagem coletiva, onde todos compartilham do conhecimento) desaparece, dando espaço para a “educação-de-instruir” (aprendizagem escolar sobre o controle do Estado e da sociedade civil). b) As classes subalternas aprenderam a criar e a recriar uma cultura de classe – mesmo quando aproveitaram muitos elementos dominantes que lhes foram impostos como ideias ou como políticas e também formas próprias de educação do povo. Souberam criar, dentro dos limites estreitos em que lhes foi permitido criar alguma coisa sua, os seus modos próprios de saber, de viver...criaram o que chamamos de “cultura popular”. c) O intercâmbio entre a escola e comunidade, quase sempre, acaba fracassando, porque a comunidade vê a escola como um posto invasor, que tenta dominá-la, impondo a sua cultura. Para que haja a participação popular, há a necessidade de criação de escolas comunitárias com experiências inovadoras (como vem ocorrendo em algumas partes do Brasil). Elas devem ser mantidas pelo poder público, mas controlada pelas comunidades. NÚCLEO COMUM 81 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE d) Podemos ter esperança na educação, desde que não pensemos que as melhoras SANTOS nesse setor só dependem do desenvolvimento tecnológico. Temos que acreditar que o ato humano de educar existe tanto no trabalho pedagógico, existente na escola, quanto no ato político que luta na rua por um outro tipo de escola, para um outro tipo de mundo. Mesmo que, nesse tipo de mundo, a educação continue a ser movimento e ordem, sistema e contestação. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 82 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 27_A organização da escola DE SANTOS Nesta aula abordaremos a questão da organização da escola como parte da sociedade, mas que possui suas próprias regras. A escola como organização Como uma organização, a escola constitui uma coletividade que busca atingir certos objetivos, exigindo determinadas condutas sociais para realizar tais objetivos. Nela há conflitos entre as necessidades das demais pessoas e suas próprias necessidades; entre relações formais e informais; entre racionalidade e irracionalidade; entre direção e corpo docente, entre corpo discente e corpo de funcionários. Como em qualquer organização há na escola formalidade e informalidade. As relações formais da organização expressam-se principalmente em seu organograma, que mostra as relações entre as unidades da organização, fixando as atribuições de cada uma delas. As relações formais são normalmente visíveis e oficiais da organização. As informais apresentam-se ocultas, naturais. As relações formais da organização baseiam-se em normas e em regulamentos que estabelecem a autoridade no seu interior. Essas normas e regulamentos com freqüência restringem a realização dos objetivos da organização. Assim, certas normas e regulamentos vindos fora dela são erradamente atribuídos a ela. Outros baixados dentro dela são erradamente vistos como manifestação exclusiva de seus objetivos. Nesse caso, as relações informais são ainda erradamente vistas como auxilia ou empecilho. Os objetivos da escola, como em todas as organizações, não podem excluir outros objetivos da sociedade como um todo. NÚCLEO COMUM 83 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE A respeito dos objetivos, a melhor pergunta é a quem eles servem. Os objetivos não SANTOS são explicados por eles mesmos, separados dos conflitos e das contradições da sociedade capitalista. Na escola, os objetivos precisam ser considerados pela perspectiva da escola, política educacional, dos fins da educação, das classes sociais a quem eles servem. Os objetivos escolares, como os das demais organizações, procuram sempre legitimação, justificando-se com algum ou alguns interesses e valores sociais. Vale a pena analisar com carinho esses interesses ou valores sociais. Corre-se o risco de descobrir que, muitas vezes, os objetivos propostos à escola são objetivos impostos a ela. ATIVIDADE Teste a sua compreensão, após a leitura do texto acima, refletindo sobre essas questões: 1. Por que a escola é uma instituição social? 2. Como está organizada? 3. As regras existentes na escola são coerentes com os objetivos de formar cidadãos críticos? Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 84 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 28_A organização da escola DE SANTOS Nesta aula continuamos com a temática da organização da escola. Acompanhem! O administrativo e o pedagógico na escola. O pedagógico da escola, onde se dá o processo ensino – aprendizagem é o ponto marcante e primordial da organização da escola. Entretanto, vemos frequentemente que o administrativo é mais valorizado que o pedagógico. A pressão dos “números” e da papelada sobre o processo do saber é exemplo disso. Em torno do controle dos números de evasão e repetência constitui-se o mito da eficiência da escola: A assistente pedagógica afirma: “Acho que existe muita cobrança em termos de aprovação e o professor acaba se dedicando aos que vão ser aprovados. Os que de início se mostram não prontos acabam abandonados”. As primeiras séries são classes sempre indesejadas e, dentre elas, sempre que possível a dos repetentes é negada pelos professores e pela instituição. Os números falam mais que os processos de aprendizagem: para viver a instituição necessita de uma demonstração de competência, mesmo sendo ilusória. Vemos professores reclamando de que precisam cumprir tarefas burocráticas: mapas de aproveitamento escolar, preenchimento de papeletas, fichas, mapas de merenda escolar etc. NÚCLEO COMUM 85 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE A administração da escola pode e deve ser feita de maneira mais simples, porém SANTOS funcional, liberando os docentes para exercerem a sua função, ou seja, o intermediário do processo ensino – aprendizagem. Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994. NÚCLEO COMUM 86 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 29_O preconceito na escola DE SANTOS Nossa aula é sobre preconceito na escola e como é tratado pelos professores. Acompanhem! Os preconceitos circulam livremente na escola, favorecendo situações de dominação. São percebidos nas falas, nas atitudes em geral de professores e outros profissionais nela presentes, e até mesmo entre os alunos. Há preconceitos, claramente expressos, contra o pobre, o favelado, o negro, o homossexual, o portador de necessidade especial, etc. As famílias são normalmente responsabilizadas pelo fracasso dos filhos, “Seja por defeitos morais e psíquicos, seja pela separação dos pais, por sua ausência que lhes são frequentemente atribuídos” (PATTO, 1987:14). Geralmente são tidos como sexualmente promíscuos, primitivos, vadios, pouco inteligentes, violentos, com vocação para a marginalidade e delinquência. Assim, os professores classificam os alunos por categorias formadas à base de cor, sexo e classe social. Através da classificação, os professores contribuem para o fracasso escolar. Alguns fatores favorecem essa atitude: a. O trabalho dividido separa o planejar do executar, e a sobrecarga dos professores, com uma jornada interminável, que torna o trabalho um peso. O trabalho passa a ser alienado, conforme ocorrem afastamentos e faltas frequentes. Os professores não têm tempo para refletir sobre seu trabalho. Fechados assim em sua particularidade, os professores se tornam alienados. Segundo Patto, “o professor cumpre com sua obrigação, realizando diariamente um ritual, sempre o mesmo, destituído de vida e de significado que o mortifica: obediente mas descrente, coloca conteúdos na lousa passa mecanicamente pelas carteiras, constata sempre os mesmos erros que aponta com maior ou menor irritação, para começar de novo tudo no dia seguinte, no mês seguinte, no semestre seguinte. Os dias são todos iguais...”. NÚCLEO COMUM 87 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE b. Os preconceitos são sustentados por teorias científicas que, tal como eles, SANTOS correm soltas na escola. Dentre elas, a da carência cultural e alimentar: “A criança não aprende porque é desnutrida” ou “Não aprende porque é culturalmente pobre”. Mesmo conhecendo a teoria da diversidade cultural, o professor acaba tendo uma ação discriminatória. De nada adiantam cursos e treinamentos aos professores, se não forem dadas condições efetivas (tempo para reuniões de pequenos grupos), para que estes revejam suas práticas na unidade escolar, com autonomia. A escola precisa discutir a sociedade de classe na qual está inserida. Os educadores precisam repensar esta sociedade que é vista por eles, no contexto do pensamento positivista e dentro dos princípios do liberalismo. Enfim, é preciso mudar o paradigma, a visão de mundo e pensar dialeticamente. Até a próxima aula! Referência bibliográfica: PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar, histórias de submissão e rebeldia.Tese de livre docência. USP, 1987. NÚCLEO COMUM 88 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 30_A escola no contexto social DE SANTOS Nesta aula vamos trabalhar a inserção da escola na sociedade, como uma instituição que faz parte do corpus social, com as desigualdades e diferenças que possui. Acompanhem! A escola é uma peça de uma engrenagem maior. A maneira como a escola está organizada é o resultado da organização da sociedade em seu conjunto. Os mais pobres são marginalizados pela escola do mesmo jeito que são explorados no plano das relações de trabalho e impedidos de participar da vida política. A escola não é democrática porque a sociedade em que vivemos ainda não é verdadeiramente democrática. Os donos do poder são também os donos do saber e os pobres são excluídos tanto da escola quanto da participação nas decisões. A escola, portanto, é parte integrante dessa sociedade injusta e desigual, em que a regra de comportamento é “cada um por si e salve-se quem puder”. Há quem pense que, enquanto as relações de poder na sociedade não mudarem, a escola continuará funcionando do mesmo jeito. Esse pessoal acha que não adianta tentar mudar a escola. NÚCLEO COMUM 89 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Ora, os que pensam assim esquecem que, justamente porque a escola está dentro SANTOS da sociedade, quando mexemos na escola estamos mexendo na sociedade. E a sociedade, por sua vez, também não é uma coisa fixa, parada, que não muda. A sociedade não são só os donos do poder. A sociedade são também todos aqueles que, até agora, não tiveram vez nem voz. A sociedade somos todos nós. A sociedade pode e deve mudar, mas somos nós que temos que provocar essas mudanças. Nós que achamos, por exemplo, que a escola é uma coisa muito importante e que ela está funcionando muito mal. As mudanças só virão se os principais interessados se mexerem. As mudanças não vêm de cima para baixo nem são dadas de presente. As mudanças são sempre resultados da ação dos que protestam contra o tratamento injusto que vêm recebendo a escola e exigem uma escola diferente que atenda realmente os interesses da maioria. Como a escola é peça dessa engrenagem maior, mudando a escola estaremos também ajudando a mudar a sociedade. A educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é influenciada por muitos fatores. Ao longo do seu desenvolvimento físico e intelectual a criança passa por várias fases nas quais a escola da vida, isto é, o ambiente familiar, as condições sócio-econômicas da família, o lugar onde se mora, o acesso a meios de informação, têm uma importância muito grande. Os primeiros anos são decisivos: estudos demonstram que a criança tem sua estrutura básica de personalidade definida até os dois anos de idade, muito antes, portanto, do período da escola obrigatória. A consciência de que a fase decisiva é a que antecede a escola obrigatória tem levado um número crescente de estudiosos a propor que a criança seja atendida mais cedo, como única solução para poder compensar as desvantagens que atingem as crianças mais pobres, dando-lhes melhores chances de sucesso, quando mais tarde entrarem na escola. É preciso adaptar a escola às condições reais vividas pela grande maioria de seus alunos que vem dos lares mais desfavorecidos. No entanto, é preciso ter cuidado NÚCLEO COMUM 90 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE aqui com a solução de facilidade que consistiria em “baratear” o ensino para os SANTOS pobres. Muita gente acha que se deveria exigir menos dos pobres porque de qualquer jeito, eles são menos capazes e não conseguem aprender como as crianças de classe média. Aceitar isso significa aceitar a existência de duas escolas: uma escola boa e exigente para os mais ricos e uma escola de segunda mão, mais fácil para os pobres. Uma solução dessas só faria agravar a divisão e a desigualdade entre ricos e pobres. A questão é como encontra a maneira de dar a todos os conhecimentos básicos, indispensáveis para a sobrevivência em nossa sociedade. É preciso, portanto, garantir que todos os alunos possam aprender coisas indispensáveis como saber ler e escrever bem a língua materna; desenvolver o raciocínio matemático; adquirir conhecimentos básicos de história, geografia e do meio social. O caminho a ser seguido para a mudança da escola é o mesmo caminho que o povo já vem trilhando em busca da solução para tantos outros problemas da vida cotidiana. Ao invés de esperar que as soluções venham de cima _ das autoridades, do Governo, dos especialistas_ o povo mesmo resolveu agir. Discutindo juntos, em pequenos grupos e comunidades, ele começou a tomar consciência de sua própria força e de sua capacidade de descobrir soluções novas. É descobrindo juntos soluções novas e se ajudando uns aos outros ao invés de cada um ficar quieto e calado em seu canto que o povo foi aprendendo a se organizar para defender seus direitos. Nessa luta diária pela sobrevivência e por uma vida melhor o povo aprende e ensina. Aprende na medida em que vai entendendo como funciona a sociedade e vai desmontando, pouco a pouco essa engrenagem complicada da qual a escola é apenas uma peça. Ele aprende quando procura entender juntos por que os filhos vão mal na escola e descobre que o problema não é individual mas sim coletivo e que sua solução depende de toda a comunidade. NÚCLEO COMUM 91 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE O povo aprende na medida em que vai vendo mais claro onde está a raiz de cada SANTOS um dos problemas que enfrenta e vai percebendo que sem união e participação as coisas não mudam. Vendo, julgando e agindo juntos o povo se educa e mostra que a educação não acontece só na escola. A gente se educa cada dia, durante a vida inteira, aprendendo das experiências que vive e aprendendo ainda mais se elas são vividas e discutidas em comum. Mas quando o povo se junta para procurar novas soluções para seus problemas, ele também ensina. Ao longo de toda sua caminhada, o povo ensina a lição da esperança e da solidariedade. Ensina como é possível descobrir saídas em situações onde aparentemente não há saída. Ensina como sobreviver quando o desemprego e a pobreza poderiam levar ao desespero. Ensina como é possível inventar soluções a partir de si mesmo, sem confiar em promessas ou esperar que as coisas caiam do céu. É nesse processo de organização de baixo para cima, temperado nas lutas de cada dia, nas vitórias e derrotas que tanto têm a ensinar, que está a semente de uma nova atitude e de uma nova maneira de agir: não mais esperar por soluções prontas vindas de cima mas confiar nas próprias forças para encontrar as respostas e colocá-las em prática. Essa criatividade e solidariedade não se aprendem na vida da escola tal como ela é hoje mas sim na escola da vida. O desafio consiste então em enfrentar o problema da escola do mesmo jeito que o povo tem enfrentado problemas bem mais complicados. É preciso levar para dentro da escola as lições que o povo tem aprendido e ensinado na escola da vida. Reflita sobre essas questões: 1- Vale a pena tentar mudar a escola? Por quê? 2- É possível mudar a escola? De que modo? 3- O que aprende e o que ensina o povo em sua luta pela mudança da escola? NÚCLEO COMUM 92 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância 4- METROPOLITANA DE Você encontrou, neste texto, citações sobre educação que seguem a mesma SANTOS linha de pensamento contida no livro: ”O que é educação” de Carlos Rodrigues Brandão? Em caso positivo, qual ou quais? Até a próxima aula! Referência Bibliográfica: CECCON, Claudius e outros. A vida na escola e a escola da vida, Petrópolis, Vozes, 1982, p.80-93. NÚCLEO COMUM 93 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 31_A função da escola DE SANTOS A função da escola na atualidade é o tema desta nossa aula. Vamos abordar esta questão sob o pensamento de alguns sociólogos. Acompanhem! As funções da escola, segundo alguns sociólogos: a. Kar Mannheim (sociólogo húngaro, 1893-1947). 1. Expor fatos considerados importantes. 2. Estimular certas atitudes julgadas úteis na realização da tarefa da aprendizagem. 3. Ajudar a preparar o aluno para uma carreira, através de várias maneiras. 4. Treinar e preparar para a vida. Para ele a função da escola é a socialização. É uma proposta conservadora. b. Émile Durkheim (sociólogo francês, 1858-1917). 1. Transmitir a cultura da sociedade, o seu modo de viver, pensar, sentir e agir. Como meio de integração da sociedade. 2. Educar para a divisão de trabalho. 3. Inculcar a moral de toda a sociedade. NÚCLEO COMUM 94 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Para ele, as funções da escola são de integração e de classificação. É uma SANTOS proposta conservadora. c. Karl Marx (sociólogo alemão, 1818-1883) 1.Organizar a cultura e o modo de viver da sociedade. Para ele, as funções de integração e de classificação dos alunos existentes no capitalismo não existirão para sempre. A função da escola é formar cidadãos que participem ativamente da vida econômica e social do país, contribuindo para a transformação de uma sociedade mais justa, com melhores condições de vida para todos. É uma proposta transformadora. Isto requer conhecimentos e habilidades cognitivas que possibilitem às pessoas situarem-se no mundo de hoje, ler e interpretar a grande quantidade de informações existentes, conhecer e compreender tecnologias disponíveis, bem como continuar seu processo de aprendizagem de forma autônoma. Considerações finais: Entendemos que a função da escola, na atualidade é ensinar conteúdos e habilidades necessárias à participação do indivíduo na sociedade. Através de seu trabalho específico, a escola deve levar o aluno a compreender a realidade de que faz parte, situar-se nela, interpretá-la e contribuir para a sua transformação. A escola é fundamental para a formação da cidadania. Por isso, nenhuma criança pode ficar excluída de seus benefícios. Todas têm o direito a uma sólida formação escolar. Todas têm o direito de sonhar e perseguir seus sonhos, realizando projetos individuais e coletivos. Até a próxima aula! NÚCLEO COMUM 95 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Referência bibliográfica: SANTOS PEREIRA, L. & FORACCHI, M. (org). Educação e Sociedade.SP, 1996. NÚCLEO COMUM 96 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA Aula 32_Sawabona!!! Shikoba!!! DE SANTOS Este é um texto maravilhoso que chegou a mim, já algum tempo, e que infelizmente desconheço a autoria! Repasso a você, para análise, reflexão e possível aplicação em sua sala de aula! Leia com muita atenção: SAWABONA!!! SHIKOBA!!! Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito. Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas que ele já fez. A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom. Cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade. Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros. A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro. Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente: "Eu sou bom". Sawabona Shikoba! SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer: "Eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante pra mim" NÚCLEO COMUM 97 UNIVERSIDADE Núcleo de Educação a Distância METROPOLITANA DE Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é: SANTOS "Então, eu existo pra você" Agora, reflita: - Seria interessante esta prática em sala de aula? Por que? - Conseguimos olhar nossos alunos sob esta ótica? - Qual a verdadeira essência de nossos alunos? - Por que não fazermos nossos alunos acreditarem em sua verdadeira natureza: a bondade, o interesse pelos estudos, a sabedoria inata em cada um deles? - Que papel teria o verdadeiro educador nesta ação? NÚCLEO COMUM 98
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