MISSIOLOGIAMATERIAL DIDÁTICO – INTRODUÇÕES Faça-se menção aos autores dos conteúdos. para enriquecimento dos mesmos. que caracterizam a liberdade dos Cursos Livres. anexando conteúdos livres no material. disponibilizada gratuitamente aos alunos da mesma. Trata-se apenas de uma junção de textos interessantes e disponíveis para estudo online. Segue abaixo a Grade Curricular e Carga Horária do Curso de Missiologia Livre: GRADE CURRICULAR CARGA HORÁRIA 1 INTRODUÇÃO À MISSIOLOGIA I 40 2 INTRODUÇÃO À MISSIOLOGIA II 40 3 FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA MISSÃO 40 4 ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA 40 5 MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA CRISTÃ 40 6 A MISSÃO DA IGREJA CRISTÃ 40 7 TEOLOGIA DA MISSÃO 40 8 NATUREZA E MISSÃO DA TEOLOGIA 40 9 MISSÃO URBANA 40 10 MOBILIZAÇÃO MISSIONÁRIA 40 FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . esta apostila somente poderá ser utilizada pelos alunos da Faculdade Teológica Nacional. Dessa forma.1 APRESENTAÇÃO DO CURSO O material aqui presente tem como objetivo introduzir a aprendizagem dos discentes. ........... 10 O QUE É MISSÃO?...................................................................SUMÁRIO A MISSIOLOGIA................................................................................................................... 11 HISTORICIDADE DA MISSÃO ............................................................................................................................ 6 TEOLOGIA DA MISSÃO....... 1 A MISSIOLOGIA URBANA .. 13 ............................................................................................................... MISSÃO E MISSÕES .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 4 ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS .................................................................. e ainda. até os confins da terra e. A palavra “missão” procede do verbo latino “mittere”. significando desde uma autorização ou poder concedido por alguém. Desta forma. “missione” e outro grego “logia”. políticas ou de outro tipo qualquer. Estas considerações se conformam aos principais textos missiológicos dos evangelhos de Mateus (28.18-20. pautas de trabalho e lideranças que a igreja tem desenvolvido em cumprimento ao mandamento de Deus. segundo a ordem imperativa de Jesus registrada no evangelho de Mateus (28. a saber.18-20) e de Marcos (16. Hb 1. métodos. MISSÃO E MISSÕES O termo missiologia é a junção de dois vocábulos. até o enviado ser incumbido de uma missão especial.1 CAPÍTULO 1 A MISSIOLOGIA. restrita: analisar. objetiva e criticamente os projetos. tarefa. a ciência que estuda.1518) e confirmada pelo restante das Escrituras. até o fim dos tempos (Mt 28. a comissão de Jesus à todos os seus discípulos para serem suas testemunhas. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . até uma função especial da qual um governo encarrega um diplomata junto a outro país. logo a seguir.8).6). um latino. cronologicamente. estruturas. “ação.15-18). podemos afirmar que Missiologia é a ciência que estuda a missão evangelizadora da Igreja. éticas. quer sejam sociais. filosóficas. ordem. Literalmente significa “estudo ou tratado sobre missões”. ampla: examina todos os tipos de atividades humanas. por meio da morte e ressurreição de Jesus.18-20) e de Marcos (16. para ver se as atividades são adequadas com os critérios e metas do reino de Deus. geograficamente. Inicialmente chamando o povo de Israel para ser luz à todas as nações (Is 49. analisa e estabelece estratégias e formas de incentivo do trabalho missionário. isto é. seja nacional ou estrangeira. dogmática: a Missiologia ao investigar a Missão da Igreja tem como fundamento a própria “missão de Deus” ao planejar a salvação dos povos. mandato” e pode significar desde uma função ou poder que se confere a alguém para a realização de alguma atividade. São três as tarefas da Missiologia. e. motivos. que combatem os diversos males que há no mundo. O vocábulo missiologia também pode agrupar os significados de sua própria raiz. Uma acepção técnica conduz ao conceito de ser a disciplina da Teologia Prática que se ocupa do estudo da missão integral da igreja. sendo. o primeiro conceito alude a missio Dei (missão de Deus). desse modo. a missio Dei e a missio ecclesiae. ou seja. o qual. a natureza e atividade divinas. Como conseqüência secundária. como igreja. naquilo que a igreja deve ou não fazer. a saber. isto é. portanto. da serviço à geografia. Segundo Bosch. Percebe-se. a plantação de novas igrejas[1]. da ação ao preparo. para perto de Si”. a propagação do evangelho aos povos não alcançados. Em termos bem simplórios. o centro do qual os misionários iradiam o evangelho. não é demais dizer que a missão se origina em Deus. Outrossim. ou seja. a agência missionária responsável pela logística e pelo envio de missionáriso aos seus respectivos campos. a propagação da fé cristã. definidor da ação a ser desenvolvida pelo corpo de Cristo. mas utilizadas pelo missiólogo David Jacobus Bosch[2] para distinguir a missão de Deus e a missão da igreja. Contudo. o envolvimento de Deus no e com o mundo. a expensão do reino de Deus. a autorevelação de Deus como aquele que ama este mundo. Timóteo Carriker nos ajuda a compreender melhor tal afirmação ao declarar que: FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações missionárias. dois termos que devem ser considerados para a definição do conceito. o que é missão e o que não é. e das quais a igreja tem o privilégio de participar.2 A questão da definição e do conceito de missão tem sido amplamente discutida ao longo dos anos. como já dito. missão “é o ministério global da igreja para evangelização mundial”. tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários. convém destacar. e a falta de um vocabulário comum no meio cristão tem causado embaraço na definição das atividades da igreja. até que ponto a igreja pode ir ou deve realizar obras tendo a convicção de que está cumprindo fielmente o propósito Divino. Essa definição ou delimitação da missão parte do conceito. no decorrer dos anos. E ainda. pode-se dizer que missão “é o trabalho amoroso de Deus para trazer a espécie humana. tem vestido várias roupagens. dentre elas pode-se citar que Missão é: o envio de missionários para um designado território. expressões. que o conceito de missão flutuou do genérico ao específico. que a qualquer atividade nas quais os cristãos estejam envolvidos para cumprir esta tarefa. a conversão dos povos pagãos. na Trindade. a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios. chamamos “missões”. para melhor elucidação do tema. as quais abarcam a igreja e ao mundo. não cunhadas. da torre de Babel e do próprio cativeiro. de participaçao na missio Dei. em vez da independência característica da queda. chamar. Esta perspectiva nos guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na tarefa missionária. uma dependência confiante em Deus. ouvir. primeiramente uma atividade que a igreja realizada por si só. Nesse toar. Desse modo. as missões são secundárias. A missão. do dilúvio.”[3] Noutra quadra. os lugares ou necessidades específicos. apontar. sua vocação é tornar-se co-participante da própria ação de Deus no mundo. Se a missão é de Deus.3 “Portanto. derivadas da primeira. Isto implica numa profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação missionária. designando formas particulares. A missão é primária. relacionadas com os tempos. a missão não é. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . mas um atributo divino. orientar. pois. ‘missão’ é uma categoria que pertence a Deus. antes de ser da igreja. ajudar e tornar-se solidária como parte do testemunho daquela ação de Deus. é de Deus. as missiones ecclesiae (missões da igreja) referem-se aos empreendimentos missionários da igreja. antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja. A tarefa da igreja deste Deus missionário – como enviada – é ver. então é dEle que a igreja deve depender na sua participação na tarefa. de acordo com o 2005 Revision of World Urbanization Prospects. não corredores. Na verdade. de onde o evangelho seria espalhado. a esta altura. por uma razão ou outra. A população urbana mundial. já tem mais habitantes urbanos do que rurais. a rápida urbanização.4 CAPÍTULO 2 A MISSIOLOGIA URBANA O século 20 testemunhou várias mudanças no cenário da população mundial. De fato. ‘Todas as cidades. Naqueles primeiros anos. cultura e educação. pela primeira vez na história. “Elas eram centros estratégicos. alcançou 49 % em 2005 (sendo que na América Latina. nas quais ele plantou igrejas eram centros de administração romana. estimada em 3 bilhões em 2003. o que a Bíblia tem a ensinar sobre o cumprimento da missão no contexto urbano? Como Paulo se relaciona com as cidades no seu ministério? O que a Igreja pode aprender com a experiência dos cristãos da Galácia? Paulo e as cidades O contexto urbano era familiar para Paulo. esse era um importante centro de comércio. 78 % das pessoas moram em cidades). dos valores seculares e da desmistificação do mundo. ou vilas. eram importantes para o seu plano de rápida evangelização do império. ele priorizava os contextos urbanos e se dedicava.[2] Além disso. Mas Paulo também via as cidades favoravelmente na estratégia evangelística. há menos de uma FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . E. a população mundial. Entre elas. de influência judia. em 2007. deve atingir 5 bilhões até 2030. A proporção global de população urbana cresceu de 13 % em 1900 para 29 % em 1950 e. ou de alguma importância comercial”. mas de acordo com um relatório do Population Fund das Nações Unidas. de civilização grega. Ele escolheu aquelas que. foi a bem-sucedida pregação cristã em Damasco que despertou os ataques de Paulo e ali ocorreu sua conversão (Gl 1:13-17). “tem havido uma renovação do interesse religioso em muitos países” [1]. Perante tais transformações. Esperava-se que a rápida urbanização significasse o triunfo do racionalismo. Paulo não pregou em todas as cidades do caminho. bem como o relegar a religião a um papel secundário. Ele havia nascido numa região metropolitana e conhecia a situação daquelas comunidades ao ponto de mencionar que era “natural de Tarso. nas viagens. a visitar e evangelizar cidades. cidade não insignificante da Cilícia” (At 21:39). Esse grupo de congregações é mencionado tanto em 1 Coríntios 16:1 como em Atos 18:23. a principal rota de comércio entre Éfeso e a região oriental do império. Derbe e Antioquia da Psídia. A igreja era primariamente formada por gentios.5 década da crucifixão de Jesus. mas as igrejas estavam possivelmente localizadas em cidades como Icônio. pregaram nas sinagogas e mercados e plantaram igrejas. quando diz que “desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico. Por esse caminho Paulo e Barnabé viajaram. um canal de comunicação essencial para o governo. de origem celta. tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15:19). continuavam sendo verdadeiras igrejas de Cristo.[5] E foi de acordo com essa estratégia que Paulo escolheu trabalhar na região da Galácia e fundar igrejas ali. Como parte do seu trabalho naquela região.[7] Apesar de as igrejas gálatas estarem em erro. Aos gálatas A região da Galácia tinha várias igrejas aparentemente com organização distinta e fundadas pelo apóstolo Paulo. Se o mundo de Paulo consistiu basicamente de cidades do Império Romano. O Novo Testamento não destaca nomes de lugares ou pessoas naquela região. Paulo escreveu a epístola aos Gálatas.[6] Essas cidades estavam situadas ao longo da Via Sebaste. se atentarmos para o contexto em que viviam as pessoas mencionadas nessa carta. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . procurando combater os problemas e alimentar a fé dos irmãos. mas ao redor de um núcleo de judeus conversos. talvez fique mais fácil entender sua conclusão quanto a seu ministério urbano. certamente poderemos extrair lições importantes para os dias atuais. Apesar de a epístola aos Gálatas não ser tradicionalmente uma “cartilha” para missão urbana. a cultura de vila da Palestina havia ficado para trás e a cidade grecoromana havia se tornado o ambiente predominante no movimento cristão. Listra. originado na dinâmica da comunicação do evangelho.6 CAPÍTULO 3 ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS Ao se aproximar da epístola aos Gálatas. 1:9). destaca que Paulo era inflexível e dogmático. que havia operado milagres (Gl 3:2. Algumas atitudes infiltradas nas comunidades da Galácia. o que é detalhado no final do capítulo 1 e no capítulo 2. Como George Knight enfatiza. Paulo não começa sua epístola da maneira habitual. Em relação ao conteúdo do evangelho. como David J. além de responderem ao evangelho com entusiasmo (Gl 4:13. ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado. O resultado da missão de Paulo na Galácia. seja anátema” (Gl 1:8) [9]. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . sendo sensível à cultura local. porque “há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1:7). Tal zelo. louvando a Deus e orando pelos santos. no entanto. Esses falsos mestres aparentemente haviam tido bastante sucesso nas suas investidas e haviam desviado um grande número de membros das igrejas da Galácia. Gálatas convertidos haviam se apostatado através dessa influência e foram chamados por Paulo de “insensatos!” (3:1). Reforçando as características já mencionadas. passaram a minar aquela experiência inicial. Além disso.” Autoridade na Palavra de Deus. seguindo esses princípios não poderia ter sido mais legítimo. logo no início de Gálatas. 3. é ainda maior quanto ao evangelho supracultural. mas no sentido em que sua teologia é uma teologia missionária” [8]. Paulo menciona sua tendência de pregar particularmente aos “de maior influência” com o objetivo claro de “não correr ou ter corrido em vão” (Gl 2:2) e de delegação do trabalho. motivo para o envio da carta. “a teologia e missão de Paulo não simplesmente se relacionam como ‘teoria’ e ‘prática’ no sentido em que sua missão ‘flui’ da sua teologia. nem sempre reconhecida. é importante atentar para a dimensão missionária. as pessoas tinham recebido o Espírito de Deus. Herbert Kane. a introdução da carta oferece o pano de fundo para o seu desenvolvimento. nem por um anjo do Céu: “Mas. Neste caso. Bosch comenta. De fato. 5). Paulo se apresenta como “sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1:14). em pouco tempo (Gl 1:6). A mensagem jamais podia ser mudada. da teologia de Paulo. 14. J. “Eles tinham tido uma experiência cristã genuína. Paulo se dedicou à missão entre os gentios (2:7-8). e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (2:16). porque eu não recebi. Em seguida.7 Nesse contexto. até mesmo os líderes tiveram dificuldade em lidar com as diferenças. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . no entanto. nem o aprendi de homem algum. a fim de que fôssemos justificados por fé” (3:24). Esses falsos mestres eram judaizantes. porém. Tão logo o Evangelho passou a ser pregado àqueles que não eram judeus. 7-9). Ele relembra sua vida anterior de perseguição à igreja de Deus (1:13). ao visitar Antioquia. que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem. enfatizavam um retorno às tradições judaicas em detrimento do verdadeiro significado do ministério de Cristo e foram qualificados por Paulo de “falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzirnos à escravidão” (Gl 2:4). Finalmente. sua aprovação pelos demais apóstolos Cefas e Tiago (1:18-19) e pelas igrejas da Judeia (1:22-24). Paulo comenta sobre (1) a fé. a pergunta era: como ser salvo? Em resposta a essa pergunta. o apóstolo inclui duas seções longas reafirmando sua conversão e caminhada espiritual que certamente serviram a esse propósito (1:11-24 e 2:11-21). diferentemente da contextualização sábia típica das missões de Paulo. Primeiramente. A sua autoridade. (2) a lei. agiu de modo incoerente com o evangelho da graça (2:12). na parte central da epístola. Paulo passa para a razão de ser da lei (3:19) e conclui que “a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo. não estava primariamente baseada nesses fatos: “Faço-vos. Apesar do acirrado debate missiológico nos dias de Paulo envolver a questão prática da circuncisão (Gl 2:3-4. Esses “missionários”. até a autoridade de Paulo estava sendo questionada. (3) os cristãos e (4) Cristo. queriam impor sua cultura aos gentios como parte do evangelho. ele declara que “o homem não é justificado por obras da lei. Apesar de esse questionamento não aparecer explicitamente. Salvação em Cristo. as diferenças culturais ficaram evidentes na vivência do cristianismo e no convívio entre eles. Num primeiro momento de compreensão e adaptação. saber. E então faz uma pergunta retórica conectada à própria experiência dos gálatas: “Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (3:2). mas mediante revelação de Jesus Cristo” (1:11-12). um lembrete sobre o exemplo da fé de Abraão (3:6. Abraão é mencionado novamente em Gl 4:21-31 para demonstrar a prática da justificação pela fé) e o resgate do texto de Habacuque 2:4: “O justo viverá pela fé” (Gl 3:11). talvez os mesmos que haviam causado problema em Antioquia da Síria (At 15:1). Paulo cita que até mesmo Pedro. irmãos. a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (4:3). por frutificar no Espírito e crucificar na carne. para resgatar os que estavam sob a lei. Paulo introduz essa parte relembrando a própria experiência (4:16-20) mais uma vez. a conciliação do papel da lei e o sacrifício de Cristo (4:8-10). vós que procurais justificar-vos na lei. a Igreja na Galácia seria conhecida por andar no Espírito e jamais satisfazer à concupiscência da carne (5:16). portanto descendente de Abraão e herdeiro da promessa dada a Abraão. já que era importante que entendessem que Cristo era o libertador (5:1). se alguém for surpreendido nalguma falta. nem a incircuncisão têm valor algum. Paulo ainda faz uma advertência: “De Cristo vos desligastes. Dessa forma. porque todos vós sois um em Cristo Jesus. nascido sob a lei. torna-se filho de Deus. em particular. De novo. não pode haver judeu nem grego. Paulo chega ao cerne da questão ao apresentar de forma compacta e concentrada quem é Jesus: “Vindo. também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (3:28 e 29). vós. E. apela aos gálatas por uma vida liberta dos preconceitos tradicionais. Essa mudança também serviria de antídoto para as dificuldades do dia-a-dia.[11] Seguindo a coerência da sua argumentação sobre o relacionamento entre Cristo e a lei. testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei” (5:2-3). Cristo de nada vos aproveitará. que sois espirituais. Em seguida. Como foi mencionado anteriormente. esperança da justiça e atos de amor (5:4-6).8 Na sequência. Paulo define: “Porque. como o falso ensinamento de que o homem pode se salvar pelas obras. Na última seção do livro. em Cristo Jesus. a plenitude do tempo. apesar de mencionar essa questão. nem homem nem mulher. Autenticidade no Espírito. se sois de Cristo. corrigi-o com espírito de FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . nesta epístola Paulo não está tão preocupado com a circuncisão. nem a circuncisão. nascido de mulher. Deus enviou seu Filho. nem escravo nem liberto. Paulo destaca de forma especial que se alguém aceita Jesus. que pratica aquilo que prega. mas firme na fé em Jesus Cristo (5:13-15). Paulo deixa claro o propósito da sua perseverança “até ser Cristo formado em vós” (4:19). no seu fervor. sobre a circuncisão Paulo diz: “Se vos deixardes circuncidar. “Dessarte. o apóstolo apresenta as credenciais de um cristão autêntico. “Irmãos. mas a fé que atua pelo amor” (5:6). da graça decaístes” (5:4). Mesmo que chocante para alguns. Posteriormente. porém. uma vida de abundante graça. ou outro aspecto da lei. O conceito é expandido alguns versos depois com a conclusão de que acima de tudo aquele que aceita Jesus é um herdeiro de Deus (3:26). “porque toda a lei se cumpre em um só preceito. Por isso. Finalmente. porque a seu tempo ceifaremos. sem querer recomeçar a discussão. Ele apresenta que essa seria uma vida de verdadeiro cumprimento da lei de Deus. para se gloriarem na vossa carne” (6:13). assim. a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5:14). “levai as cargas uns dos outros e. cumprireis a lei de Cristo” (6:2). enquanto tivermos oportunidade. mas principalmente aos da família da fé” (6:9. Os conselhos práticos de Paulo se encontram após uma pequena introdução entre as duas últimas vezes que Paulo usa a palavra “lei”. querem que vos circuncideis. cultivem o amor “e não nos cansemos de fazer o bem. antes. façamos o bem a todos. 10). se não desfalecermos. Se alguém tiver uma carga muito pesada.9 brandura. “Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei. e guarda-te para que não sejas também tentado” (6:1). FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . o conceito de missão aplicava-se somente às missões divinas. Cada ação individual tem a sua autonomia e o seu valor próprio. Não é uma totalidade de tipo militar ou imperial em que todos copiam o mesmo esquema de ação e obedecem a um mesmo plano. Mas. Não quer dizer que Jesus abandona a sua missão e descansa. toda a vida dos discípulos. Essa missão não é algo além das outras prescrições. na intensidade. mas todo o conteúdo do envio. Todas as atividades dos cristãos são ou deveriam ser parte da missão de Jesus. Não há uma ação única do povo da qual todas as ações particulares seriam uma peça. também eu vos envio”. Não é um novo mandamento ao lado de outros. mas uma totalidade unida pelo sopro do mesmo Espírito com a maior diversidade de aplicações particulares. “Como o meu Pai me enviou. a obra do Pai que é preciso realizar. O conjunto do Novo Testamento mostra que Jesus delega toda a sua missão aos discípulos. os jesuítas usaram esse conceito para expressar a atividade de expansão do cristianismo no mundo recém descoberto. não é outra obra como se houvesse outra ao lado. no espaço. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . pois os discípulos são o núcleo inicial do povo. á missão do Filho e à missão do Espírito Santo. no tempo. A entrega da missão aos discípulos A missão pela qual Jesus foi enviado pelo Pai. Por meio deles Jesus realiza a sua missão. No século XVI. Jesus a transmite aos seus discípulos.10 CAPÍTULO 4 TEOLOGIA DA MISSÃO Até o século XVI . todas juntas estão inseridas numa obra comum que é a missão entregue ao povo como totalidade. já que Jesus exige deles a totalidade da sua vida. mas que doravante a sua missão Ele a realiza usando as pessoas dos seus discípulos. O que se comunica não é somente o fato de ser enviado. Esta delegação da missão dirigese ao povo inteiro. A missão dirige-se ao povo como coletividade e a cada um dos membros desse povo. Os discípulos são aqueles que são enviados ao mundo como presença ativa de Jesus. A missão é tudo. a realização das promessas proclamadas por Maria. Um mundo novo está começando. Por um lado estão os poderosos e por outro lado estão as vítimas dos poderosos. os sacerdotes. Por que a missão é envio aos pobres? Porque o objeto da missão é para eles uma mensagem de alegria e que não o é para todos. Em João. a consciência de que os pobres são os destinatários da missão permanece mais nos textos do que na realidade. mas Jesus vem para dar vida a todas essas vítimas. Há sobretudo uma geração de missionários que foram para os pobres entregar a boa notícia que lhes era destinada. O objeto da missão é o anúncio da chegada do reino de Deus. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . os poderosos. O evangelho de João expressa essa libertação com imagens muito fortes. Os discípulos são os pequenos e Jesus defende os pequenos contra a dominação dos grandes. Como diz Jesus às autoridades de Israel: eles só querem a morte. Para ele. Ele atua por meio das autoridades de Israel. o que é a missão de Jesus é o combate final entre Deus e Satanás. os fariseus.11 CAPÍTULO 5 O QUE É MISSÃO? O envio aos pobres Jesus foi enviado aos pobres. Também as bem-aventuranças são muito claras. O que está acontecendo. Paulo é claríssimo na sua opção. todos aqueles que exigiram que Pilatos condenasse Jesus à morte. O evangelho de Lucas está centrado na oposição ricos-pobres e o Magníficat representa de certo modo a sua síntese. Todos eles querem a morte. Os Sinóticos mostram-no vivendo no meio do povo pobre de Galiléia. mas ela reapareceu nas crises sociais do século XIX. Desde então. a vida de Jesus foi um imenso debate entre Jesus e as autoridades. Já começou com a chegada de Jesus e continuará com a missão dos discípulos. em disputa permanente com as autoridades. os doutores. mais nas palavras do que nas ações. a missão dirige-se ao pobres a tal ponto que quis viver do seu trabalho manual como um pobre. É o advento da vida. mas Jesus quer a vida de todos aqueles que as autoridades querem matar. O reino de Deus é a libertação dos pobres: a realização das bem-aventuranças. Satanás quer a morte e seduz por meio de mentiras. Esta doutrina tão evidente foi esquecida durante quase sete séculos. a libertação anunciada por Jesus é obra de justiça. A missão do povo de Deus é entrar na caminhada de libertação conduzida pela força do Espírito Santo. Pois. Por todas essas razões a missão se dirige para os pobres. recuperar a liberdade. recuperação da dignidade e dos direitos dos pobres. a dignidade humana. mas pela ação do próprio povo pobre.12 Esse reino de Deus é boa nova para todos aqueles que ainda esperavam nas promessas dos profetas. O reino de Deus não vem por milagre. A missão de Jesus é essa ação do povo pobre que se liberta. A missão da Igreja é anunciar. mas a chegada de uma era nova em que os próprios pobres. proclamar esse evangelho. animados pelo Espírito de Deus. Jesus não veio anunciar um milagre. Pois. mas também trabalhar para esse advento. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . reconquista da auto-estima depois de tantas humilhações. poderiam recuperar a vida. Tudo foi feito pelas estradas existentes. Viajava-se muito no Império Romano. Condições culturais Certas culturais mostraram-se mais abertas e outras mais fechadas. A mensagem de Jesus foi levada por comerciantes. ela teria começado em Jerusalém. Houve tentativas de missão entre os mongóis na idade média. como na China ou no Japão. Ainda hoje. viajantes. boa parte dos mongóis entrou no Islã. ela começou na Galiléia.13 CAPÍTULO 6 HISTORICIDADE DA MISSÃO As condições históricas A missão começou na terra de Israel. os povos da América e grande parte da África. a colonização deixou uma implantação forte do cristianismo na América. lenta primeiro e mais acelerada depois. a entrada nos países inimigos foi mais difícil. Foram 1400 anos de guerra. Os apóstolos não eram nem geógrafos. Não elaboraram nenhum plano. Paulo teve um pouco a ilusão de percorrer o mundo inteiro com a sua viagem a Espanha. Segundo Lucas ou João. De qualquer maneira. Uma vez que o cristianismo se tornou religião oficial do Império. Ela deve ter começado simultaneamente em Jerusalém e na Galiléia. e. nas Filipinas. Os que resistiram à conquista. Seguiram os caminhos abertos. nem estrategas. Mas. na Sibéria. Viram onde estavam as portas abertas. Milhares de mártires morreram no Império persa por causa da guerra entre Roma e a Pérsia. Depois da primeira geração. os missionários tiveram que descobrir um Império imenso feito de 50 povos. Não puderam evangelizar o mundo inteiro de uma vez. finalmente. não FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . Por isso a missão estendeu-se ao Império Romano e permaneceu dentro dos limites do Império na sua quase totalidade até o século VIII. quando Carlos Magno fez a conquista da Germânia. Isto torna o diálogo muito difícil. a missão cristã é quase impossível em todo o mundo muçulmano por causa das guerras incessantes entre a cristandade e o Islã. Então começou a dispersão. Muitos países entraram na cristandade como consequência da conquista militar: os povos germânicos e eslavos. a missão não foi feita em primeiro lugar por missionários enviados oficialmente. resistiram também à religião dos conquistadores. As condições políticas A terra de Israel estava dentro do Império Romano. Segundo Mateus e Marcos. Mas era preciso contornar todo o mundo muçulmano. soldados itinerantes. ritos e leis que constitui um obstáculo maior para a missão. Em muitos casos. mas muito mais difícil na Ásia. por causa da resistência de religiões mais antigas e amalgamadas com culturas milenares. FACULDADE TEOLÓGICA NACIONAL . O cristianismo encontrou um terreno muito favorável na África. Ninguém consegue mais reconhecer a mensagem de Jesus debaixo de um revestimento tão sólido. o próprio cristianismo desaparece debaixo da abundância de formas culturais do sistema católico. o catolicismo se fechou num sistema rigoroso de dogmas. mas por razões culturais. Pois. Depois de Trento.14 somente por razões políticas. a missão da Igreja pede ao mesmo tempo a conversão ao evangelho e a aceitação de todo o sistema religioso da cristandade ocidental. A rigidez do sistema católico tornou o diálogo mais difícil. Alguns povos puderam achar que podiam combinar a sua própria cultura com o cristianismo e outros não.