Apostila de Eclesiologia

March 28, 2018 | Author: GILTONCARLOS | Category: Saint Peter, Catholic Church, Saint, Pope, Bishop


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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETELSeminário Teológico Betel Eclesiologia Professor: Eduardo Luís de Carvalho Faria 2011 Eclesiologia SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Índice: Unidade 1 – Eclesiologia Bíblica 1) Definição ......................................................................................................... 2) Origem do termo Ìgreja ................................................................................... 3) Distinções entre igreja no Antigo e no Novo Testamento ............................... 4) Afinal, o que é a Ìgreja? .................................................................................. 5) A igreja é uma criação Divina ......................................................................... 6) A Ìgreja e o Reino ........................................................................................... 7) O Fundador da Ìgreja (Ìnterpretação de Mateus 16:18) .................................. 8) Breve estudo sobre a Sinagoga ...................................................................... Unidade 2 – Ìmagens Da Ìgreja 1) Ìmagens Bíblicas da Ìgreja .............................................................................. Unidade 3 – As Marcas da Ìgreja Estrutura da Ìgreja 1) Perspectivas Históricas (Resumo) .................................................................. 2) Características da Ìgreja Verdadeira .............................................................. 3) Aspectos da Ìgreja no Novo testamento ......................................................... 4) Analisando o Credo da Ìgreja ......................................................................... 5) A Missão da Ìgreja .......................................................................................... 6) A Ìgreja Padrão do Novo Testamento e de Hoje ............................................ 7) O que torna a Ìgreja Relevante? ..................................................................... Unidade 4 – A Ìgreja em Ação 1) Sistemas de Governo da Ìgreja ou Sistemas Eclesiásticos Ì. Considerações Preliminares............................................................................. ÌÌ. Formas de Governo e Ìgrejas que as representam 1) Autocrático (Autocracia) ou Monárquico ........................................................ 2) Episcopal ........................................................................................................ 3) Presbiterial, Oligárquico (Oligarquia) ou Conciliar .......................................... 4) Congregacional Democrático ......................................................................... 5) Híbrido ............................................................................................................ Oficiais da Ìgreja ................................................................................................. 1) Apóstolo .......................................................................................................... 2) Diácono ........................................................................................................... 3) Bispo ............................................................................................................... 4) Presbítero ....................................................................................................... 5) Ancião ............................................................................................................. 6) Evangelista ..................................................................................................... 7) Pastor ............................................................................................................. As ordenanças da Ìgreja ..................................................................................... 1) Batismo ........................................................................................................... 1.1) Formas de Batismo ...................................................................................... 1.2) Significados ................................................................................................. 1.3) Autoridade para Batizar ............................................................................... 1.4) Abrangência do Batismo .............................................................................. 1.5) Batismo Ìnfantil ............................................................................................. 03 03 04 05 05 06 06 07 08 10 12 12 12 14 15 16 17 18 18 18 19 20 20 21 22 23 23 23 23 23 24 25 25 27 28 28 28 Eclesiologia 1 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL 2) A Ceia do Senhor 2.1) Origem da Ceia na Celebração da Páscoa .................................................. 2.2) A Páscoa e a Ceia do Senhor ...................................................................... 2.3) Significado Teológico da Ceia do Senhor .................................................... 2.4) Ìnterpretações dos Elementos da Ceia do Senhor ...................................... 2.5) Abrangência da Participação na Ceia do Senhor ........................................ 2.6) O Pão e o Vinho ........................................................................................... 2.7) Periodicidade da Celebração ....................................................................... 2.8) Autoridade para presidir a Celebração ........................................................ 2.9) Local da Celebração .................................................................................... 2.10) A Ordem dos Elementos ........................................................................... Unidade 5 – A Ìgreja e o Estado ......................................................................... Unidade 6 – Formas de Entrada e Saída da Ìgreja ............................................ Unidade 7 – Disciplina na Ìgreja 1. Definição do Termo ......................................................................................... 2. Disciplina No Novo Testamento ...................................................................... 3. Objetivos da Disciplina Eclesiástica ................................................................ 4. Pressupostos da Disciplina Eclesiástica ......................................................... 5. O Processo da Disciplina Eclesiástica ............................................................ 6. Disciplina da Ìgreja – E Depois? ..................................................................... 7. Obstáculos a Disciplina da Ìgreja .................................................................... Bibliografia Básica .............................................................................................. Bibliografia Complementar .................................................................................. 29 30 31 32 33 34 34 34 34 35 35 36 37 37 39 40 40 41 41 43 43 Eclesiologia 2 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL ECLESIOLOGIA Professor: Eduardo Luís de Carvalho Faria UNIDADE I - ECLESIOLOGIA BÍBLICA 1. Definição I. Etimológica: do grego: EKKLESÍA + LOGOS, ou seja, "um tratado (ou estudo) sobre a "IGREJA" principalmente local juntamente com suas ramificações e seu funcionamento. II. Extensiva - É um estudo da Bíblia voltado para a igreja, nos seus problemas e deveres, cuja finalidade principal é levar os alunos a refletirem sobre o seu papel nos ajustes que se podem fazer para que a Ìgreja se alinhe à Palavra de Deus, proporcionando o crescimento dos rebanhos do Senhor. O "Manual" das Ìgrejas é a Bíblia sem a menor duvida. Nota: A palavra "ECLESIOLOGIA" não foi catalogada pelo "Novo Dicionário AURLIO da L!ng"a #ort"g"e$a" a$$i% co%o pelo Dicionário &ra$ileiro da L!ng"a #ort"g"e$a ' O GLO&O( Con$ta do "Dicionário &ra$ileiro da L!ng"a #ort"g"e$a" da )irador Internacional( *rata'$e de "% ter%o de nat"re+a teol,gica con$tante de o-ra$ e$peciali+ada$. co%o por e/e%plo a "S0$te%atic *1eolog0" de Strong. 23 vol"%e a partir da página 445 e aparece co%o "ECLESIOLOG6. OR *7E DOUC*RINE O8 *7E C7URC7"( 2. Origem do Termo Igreja A palavra ÌGREJA, em português, deriva do latim ECCLESÌA, AE, que, por sua vez, é uma transliteração, para o latim, da palavra grega ekklesia. O vocábulo ekklesia significa "ajuntamento popular", que eram as assembléias locais da antiga Grécia, onde os magistrados decidiam a vida jurídica dos cidadãos, At 19:32, 41. a) O uso da palavra Ekklesia no Grego Clássico Ekklesia é uma palavra composta da preposição ek que rege o genitivo e tem a idéia de "saída, emissão para fora, separação de " com o verbo kaleo, "chamar, convocar em alta voz". Eclesiologia 3 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Designava a "reunião formal de cidadãos da polis (cidade), convocados dos seus lares para uma assembléia pública.. Nunca dá a idéia de sair para fora da cidade ou eximir-se da condição de cidadão. Segundo vários escritores e inscrições antigas, é "assembléia do povo", isto em Atenas e na maioria das cidades gregas. Características da ekklesia:  Era a assembléia local, dos cidadãos de determinada cidade nunca se alicando a um imério universal ou re!ional"  Era uma assembléia aut#noma e soberana em rela$ão % cidade e a todas as demais cidades, odendo decidir sobre !uerra e a& e tudo o mais 'ue interessasse % vida dos cidadãos"  (s ekkletoi )chamados ou convocados* deviam ter características definidas de acordo com o motivo da convoca$ão"  Era uma assembléia democr+tica, onde todos os convocados tinham i!uais e indeclin+veis direitos"  ,s decis-es da ekklesia eram v+lidas ara todos os efeitos e ara todos os habitantes da cidade. .. E. /ana: ( uso cl+ssico deste termo tem 'uatro elementos ertinentes ara o uso no 01: 2* Era uma assembléia local" 3* ,ut#noma" 4* Pressu-e 'ualidades definidas" 5* 6 condu&ida sobre rincíios democr+ticos. ) O uso da palavra Ekklesia na !ep"uagin"a. Na Septuaginta, 96 vezes ekklesia traduz para o grego a palavra hebraica qahal, povo, Ìsrael, prevalecendo a idéia de assembléia ou reunião em resposta ao chamado de Deus (ora significando o ato de reunir ou os homens reunidos) Êx 35:1; Nm 16:26; Dt 9:10. Nem sempre porém qahal se traduz por ekklesia. 21 vezes é traduzida com um propósito definidamente religioso; 26 vezes, assembléia religiosa (Sl 22:22); 36 vezes, é a reunião formal do povo de Ìsrael; 7 vezes designa Ìsrael em um sentido espiritual; 9 vezes refere-se ao remanescente. É importante ficar bem claro que na septuaginta, ekklesia sempre é tradução de qahal, mas qahal só se traduz por ekklesia quando se trata da Congregação da Aliança, com propósito religioso definido. Em Js. Jz, 1e 2 Sm, 1 e 2 Re, 1 e 2 Cr, Ed, Ne qahal é sempre traduzido por ekklesia. No Pentateuco, com exceção de Dt, o termo hebraico é traduzido por sinagougue, mas ambas as palavras significam a mesma coisa. Havia outra palavra, edah, que indicava a comunidade religiosa nacional a que o indivíduo pertencia por nascimento (Êx 12:3; Nm 16:9; 31:12). c) O uso da palavra ekklesia no #ovo Tes"amen"o A palavra ekklesia figura 114 vezes no Novo Testamento, tanto no singular como no plural. 3 vezes tem o sentido secular de multidão (At19:32,39,41); 2 vezes refere-se a Ìsrael, traduzida por "Conreação" (At 7:38 e Hb 2:12); 85 vezes (74% do total) refere-se à Ìgreja como uma comunidade local e as demais vezes tem um significado apenas conceitual, podendo referir-se a qualquer igreja local em particular, jamais com o sentido de uma estrutura nacional ou mundial. Nos evangelhos aparece somente 3 vezes, todas em Mateus (16:18 e 18:17). O Novo Testamento ensina que a Ìgreja Local, embora indissoluvelmente unida a todo o povo de Deus, é, apesar de tudo, uma igreja que pode ser completa, pois todas as promessas de Deus se aplicam a ela através de Cristo, o Cabeça e Senhor da Ìgreja, que sempre há de estar presente ali. (Mt 18:20). $. Dis"inç%es en"re igreja no &n"igo e no #ovo Tes"amen"o Antigo Testamento - Adoração Centralizadora: Para Judeus e gentios, a adoração centralizava-se não apenas em Ìsrael mas em Jerusalém (Ì Cr 16: 23-29; Sl 96). Havia uma hierarquia de levitas, Eclesiologia 4 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL sacerdotes e sumo-sacerdotes que se tornaram mediadores entre Deus e os homens. Haviam dias especiais, festas religiosas e o Sábado, que marcavam, diante das nações, a aliança entre israel e Deus (Êx 31:13-17). Horrel: "Centralizava-se radicalmente nos judeus. Centralizava-se geograficamente em Ìsrael, Jerusalém, o Templo e o Santo dos Santos. Centralizava-se temporariamente no Sábado e em certas festas religiosas. E centralizava-se na hierarquia religiosa mediadora, pois sem os sacerdotes era ilícito oferecer sacrifícios". Novo Testamento - Adoração Descentralizada: a) A Ìgreja se tornou universal para todos os povos, existindo uma nova raça eleita, uma nova nação santa, uma comunidade espiritual (1 Pe 2:9). b) O culto do Senhor não se restringe mais ao templo. Onde está um cristão, ou onde dois ou três deles se encontram, ali há o templo de Deus (1 Pe 2:5). O culto ao Senhor não se restringe ao prédio da Ìgreja e de uma certa forma, nem mais se centraliza ali. Ìndepende do lugar e depende as pessoas que se propõem a realizar este culto. Esquecemos que, na igreja primitiva, com poucas exceções, não havia prédios especiais para reuniões. c) A fé cristã se tornou algo a ser praticado no dia-a-dia, liberando o cristão para escolher quando adorar (Rm 14:5-6). É significativo que as prescrições do concílio de Jerusalém para as Ìgrejas gentias deixou fora qualquer referência ao Sábado (At 15:23-29). Há liberdade quanto ao dia. d) Em vez de centralizar-se numa hierarquia sacerdotal, cada cristão é declarado sacerdote, com acesso direto a Deus Pai através de Jesus Cristo (1 Pe 2:5). O NT destaca a necessidade de liderança exercida por bispos, presbíteros, pastores e anciãos (todos essencialmente sinônimos, (cf At 20:17,28; 1 Pe 5:1-4) e também diáconos (1 Tm 3:8-11)). Mas a liderança não é sacerdotal como no AT. Horrel: "Ele não assume uma posição de rei ou sacerdote, nem executivo ou chefão. Ao contrário, a liderança foi concebida ao corpo de Cristo para aperfeiçoar cada membro igreja como sacerdote neste mundo¨ (Ef 4:11-16)." 4. Afina, o !"e # a Ig$e%a& Muitas definições têm sido elaboradas para a Ìgreja, nenhuma delas completa e final, pois a Ìgreja é um organismo vivo, regido por princípios imutáveis mas em constante movimento através da história. Werner Kaschel expõe o problema com muita lucidez:!! " verdadeira sabedoria consiste em manter e#uilíbrio entre a fidelidade aos princípios do $ovo %estamento e a adaptação aos novos tempos!!. Os princípios que dão alicerce à teologia da Ìgreja são imutáveis, mas sua prática deve acompanhar a evolução cultural da sociedade, evolução da qual a própria Ìgreja é parte, agente e impulsionadora. O teólogo indiano A. B. Masilamani declara:!! & $ovo %estamento e'p(e a )reja, não como uma instituição formal ou uma oranização, mas como um oranismo, um corpo vivo, um templo vivo, uma noiva de resplandecente l*ria!! e acrescenta !! " )reja tem muitos críticos e inimios mas tem papel sinular no plano de +eus para implantar o seu ,eino na %erra!!. Emil Bruner diferencia os conceitos Ekklesia e Igreja. A Ekklesia do Novo Testamento, diz ele, é uma comunidade fraternal, uma irmandade espiritual, uma realidade social com um estilo de vida simples, destituído de formalidades, com uma mensagem de transformação interior pelo poder do Espírito Santo e com uma viva esperança de sua consumação escatológica do Reino. Com o passar do tempo, a -kklesia foi convivendo com a (e muitas vezes sendo substituída pela) Igreja Institucional que, por imposição de circunstancias assume as mais variadas formas de governo e cria cada vez mais normas e regimentos. A Ìgreja Católica Romana define a Ìgreja como: !! " conreação de todos os fieis #ue, tendo sido batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos e são overnados pelos leítimos pastores sob a autoridade de um cabeça visível .papa/ em toda a terra. A igreja Evangélica convencionalmente define a Ìgreja como: !! 0m rupo oranizado, de crentes batizados, com iuais deveres e priviléios, administrando os seus assuntos sob orientação de Cristo, unidos na fé #ue -le ensinou, liados pelo pacto de fazer o #ue -le mandou, cooperando e respeitando outras aremiaç(es semelhantes no empreendimento para e'tensão do ,eino de +eus!!, ou também: !! 0ma conreação local, composta de membros reenerados e batizados, #ue voluntariamente se reúnem Eclesiologia 5 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL sob as leis de Cristo, e procuram estender o ,eino de +eus, não s* em suas vidas mas na dos outros também!!. '. A ig$e%a # "ma ($ia)*o +ivina, 1. Divinamente planejada - Efésios 3.10-11 2. Divinamente profetizada – Ìsaias 2.1-5; Miquéias 4.1-5 3. Divinamente preparada – Todo o VT, Evangelhos, Atos 1 4. Divinamente edificada – Mateus 16.18; 1Coríntios 3.11 5. Divinamente comprada – Atos 20.28 6. Divinamente organizada – Efésios 4.11-14; Atos 20.28 7. A igreja é "gloriosa, sem mácula, santa, sem defeito¨ e será salva por Jesus – Efésios 5.23-27 8. Só Deus tem o direito de dizer o que é a igreja, e o que ela deve ensinar e praticar. - . A Ig$e%a e o Reino Note que a Ìgreja, no Novo Testamento, é um termo grego que veste conceitos gregos e hebraicos simultaneamente, como aliás, acontece com outros importantes vocábulos da teologia cristã. Estão presentes, nessa palavra, os conceitos subjetivos de qahal do VT em relação ao '' Povo da Aliança'', ''Redenção'', '' Santidade'', ''Permanência'', vínculos espirituais, juntamente com os conceitos objetivos do grego: mandato especifico, democracia, responsabilidade pessoal. Não se pode pensar em Ìgreja como uma assembléia eventual, sem continuidade constitucional, como na acepção genérica de ekklesia, pois há um povo que tem uma continuidade na Esperança a se concretizar no futuro, há uma aliança a preservar, mas também não se pode pensar em um conceito abstrato, destituído de praticidade. A Ìgreja (grupo local de remidos) é a versão imanente do Reino de Deus, e o Reino é a versão transcendente da Ìgreja. É na Ìgreja, com a Ìgreja, através da Ìgreja, pela igreja que o Reino espiritual de Cristo se torna uma realidade tangível. A Ìgreja é uma assembléia que dá continuidade a si mesma e que se auto reproduz em outras igrejas '' até os confins da terra!!. Os conceitos de Ìgreja e Reino de Deus, stricto sensu não se equivalem, pois o Reino é espiritual, invisível, universal, eterno, conceitualmente abstrato, enquanto a Ìgreja é um grupo de pessoas físicas, visível, local, temporal, conceitualmente concreto. Latu sensu, Reino e Ìgreja se equivalem, pois as pessoas físicas que compõe a Ìgreja possuem alma e as almas que participam do Reino, enquanto pessoas humanas, têm que ser dotadas de um corpo. A Esperança do Reino se exterioriza na celebração das ordenanças pela Ìgreja. Alma não pode imergir em água, não come pão nem bebe vinho, mas ser imerso, comer do pão e tomar do cálice do Senhor sem fé , sem a participação da alma são atos sem significado como símbolos cristãos (1Co 11:29). Fica então, de certa forma, difícil de definir onde termina a Ìgreja e começa o Reino ou onde termina o Reino e começa a Ìgreja ou atribuir ao Reino as funções da Ìgreja ou à Ìgreja as funções do Reino. / . O 0"n1a1o$ 1a Ig$e%a 2Inte$3$eta)*o 1e 4ate"s 5-,56. MT 16:13-18 13 - E, chegando !esus "s #artes de $esar%ia de &ili#e, interrogou os seus disc'#ulos, di(endo: )ue* di(e* os ho*ens ser o &ilho do ho*e*+ 1, - E eles dissera*: -ns, !o.o o /atista0 outros, Elias0 e outros, !ere*ias, ou u* dos #ro1etas. 12 - 3isse-lhes ele: E 45s, que* di(eis que eu sou+ 16 - E 6i*.o 7edro, res#ondendo, disse: Tu %s o $risto, o &ilho do 3eus 4i4o. 18 - E !esus, res#ondendo, disse-lhe: /e*-a4enturado %s tu, 6i*.o /arjonas, #orque to n.o re4elou a carne e o sangue, *as *eu 7ai, que est9 nos c%us. 18 - 7ois ta*:%* eu te digo que tu %s 7edro, e so:re esta #edra edi1icarei a *inha igreja, e as #ortas do in1erno n.o #re4alecer.o contra ela0 Jesus ao dizer o que está registrado em Mateus 16:18 iniciou com a seguinte expressão: "Pois eu também te digo..." um termo enfático demonstrando a Sua autoridade, indiscutível ao falar. Eclesiologia 6 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Há várias interpretações que encontramos nos dias de hoje para tal versículo: 1) A "pedra" sobre a qual a Ìgreja está edificada, é Pedro. 2) A "pedra" é Cristo. 3) A "pedra" é a confissão de Pedro sobre Cristo, aquela que revelou a identidade de Cristo (Mt 16:16). 4) É a própria revelação. 5) A fé que procede da Confissão. Em relação à segunda (que é a correta), no grego encontramos um jogo de palavras que se coloca da seguinte forma: Pedro é ;#%tros; ( ) que significa pedrinha ou fragmento de rocha comparada a Ex 4:25 (Zípora). Cristo é ;#%tra; ( ) que significa rocha maciça cuja comparação esta em Ex 17:6; Mt 7:24,25; Mc 15:46. Há quem acredite que Jesus quando se referiu ou quando pronunciou a palavra ;#%tros;, apontou para Pedro e quando disse ;#%tra;, apontou para si mesmo. Além disso, há no próprio português, também um jogo de palavras na tradução do texto original. Vejamos: - "... e sobre esta pedra..." - Esta, pronome demonstrativo que tem relação com quem fala. Sendo assim, o texto mostra Jesus sendo a Pedra que edificaria a Ìgreja e não Pedro, pois fala referindo-se a si mesmo. Algumas passagens dão base a esta afirmativa, e são elas: (Ì Co 3:11 - 1or#ue ninuém pode p2r outro fundamento além do #ue j3 est3 posto, o #ual é 4esus Cristo.; Ì Pe 2: 4 - -, cheando5vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com +eus eleita e preciosa, 6 5 7*s também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerd*cio santo, para oferecer sacrifícios espirituais arad3veis a +eus por 4esus Cristo. Jesus jamais edificaria sua igreja em homem, falho e mortal; a Ìgreja foi edificada, como o próprio Pedro afirmou em 1 Pe 2:4, em Jesus pedra eleita e preciosa. * De acordo com a Ìgreja Romana, o texto ensina que Pedro é o fundador da Ìgreja e a sua base também, sendo ele separado dos demais apóstolos. É assim que aparece a supremacia de Pedro dando início a doutrina do papado. 6 . 7$eve est"1o so8$e a Sinagoga Sua significação literal é a de uma convenção ou assembléia. A palavra, como no caso de "igreja", veio a significar o próprio edifício onde a assembléia se reunia. "Assembléias" locais para instrução da Lei, e para culto, existiam desde muito tempo como eram, por exemplo, "as casas dos profetas" (1Sm 10:11; 19:20-24; 2 Re 4:1); durante o cativeiro não eram raras as reuniões dos anciãos de Ìsrael (Ez 8:1 e passagens paralelas); as verdadeiras Sinagogas parece terem-se formado mais tarde , na dispersão do povo de Ìsrael. Desde aproximadamente o ano 200 a.C., começou a desenvolver-se na Palestina este gênero de assembléia com uma sistemática organização, multiplicando-se os edifícios próprios para os serviços religiosos. Estavam estas assembléias intimamente relacionadas com a obra dos escribas, como sendo instituições para instruir o povo na Lei e ensinar a sua aplicação na vida diária. Nas sinagogas, os custosos rolos das Escrituras, eram cuidadosamente guardados numa caixa ou arca, de forma visível, voltada para o povo que se achava sentado. Havia serviços regulares todos os sábados e quinto dia da semana. As Sinagogas não eram somente lugares de culto, mas também escolas, onde crianças aprendiam a ler e escrever; serviam também de pequenos tribunais de justiça, nos quais a sentença não era só dada mas executada (Mt 10:17). Geralmente a sinagoga estava sob a direção dos "anciãos" (Mc 7:3), sendo o primeiro deles chamado algumas vezes de príncipe ou chefe daquelas assembléias (Lc 13:14; At13:15). Os lugares dos anciãos, e dos príncipes, eram em frente da arca, estando voltados para a congregação. Os anciãos tinham o poder de disciplinar, de excomungar e de açoitar, e eram eles, ou os principais, que na ocasião do serviço religioso convidavam as pessoas de Eclesiologia 7 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL consideração para ler, ou orar, ou pregar. A coleta era levantada por dois ou mais indivíduos, e havia um "ministro" (assistente), (Lc 4:20), que tinha sob o seu cuidados os livros sagrados, e cumpria os simples deveres da guarda. A ordem do culto nas sinagogas assemelhava-se muito à que se acha descrita em Ne 8:1-8, devendo ser comparada com Lc 4:16-20 <ee*ias 889 5 - C:-;"+& o sétimo m<s, e estando os filhos de )srael nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um s* homem, na praça, diante da porta das 3uas= e disseram a -sdras, o escriba, #ue trou'esse o livro da lei de >oisés, #ue o ?-$:&, tinha ordenado a )srael. @ 5 - -sdras, o sacerdote, trou'e a lei perante a conreação, tanto de homens como de mulheres, e todos os #ue podiam ouvir com entendimento, no primeiro dia do sétimo m<s. A 5 - leu no livro diante da praça, #ue est3 diante da porta das 3uas, desde a alva até ao meio dia, perante homens e mulheres, e os #ue podiam entender= e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei. B 5 - -sdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, #ue fizeram para a#uele fim= e estava em pé junto a ele, C sua mão direita, >atitias, ?ema, "naías, 0rias, :il#uias e >aaséias= e C sua mão es#uerda, 1edaías, >isael, >el#uias, :asum, :asbadana, Dacarias e >esulão. 6 5 - -sdras abriu o livro perante C vista de todo o povo= por#ue estava acima de todo o povo= e, abrindo5o ele, todo o povo se p2s em pé. E 5 - -sdras louvou ao ?-$:&,, o rande +eus= e todo o povo respondeu8 "mém, "mémF levantando as suas mãos= e inclinaram suas cabeças, e adoraram ao ?-$:&,, com os rostos em terra. G 5 - 4esu3, Hani, ?erebias, 4amim, "cube, ?abetai, :odias, >aaséias, Iuelita, "zarias, 4ozabade, :anã, 1elaías, e os levitas ensinavam o povo na lei= e o povo estava no seu luar. J 5 - leram no livro, na lei de +eus= e declarando, e e'plicando o sentido, faziam #ue, lendo, se entendesse. Lucas ,89E 5 -, cheando a $azaré, onde fora criado, entrou num dia de s3bado, seundo o seu costume, na sinaoa, e levantou5se para ler. 9G 5 - foi5lhe dado o livro do profeta )saías= e, #uando abriu o livro, achou o luar em #ue estava escrito8 9J 5 & -spírito do ?enhor é sobre mim, 1ois #ue me uniu para evanelizar os pobres. -nviou5me a curar os #uebrantados do coração, 9K 5 " prear liberdade aos cativos, - restauração da vista aos ceos, " p2r em liberdade os oprimidos, " anunciar o ano aceit3vel do ?-$:&,. @L 5 -, cerrando o livro, e tornando5o a dar ao ministro, assentou5se= e os olhos de todos na sinaoa estavam fitos nele. "s sinaoas eram muito numerosas. -m #ual#uer povoado em #ue vivia um certo número de judeus, tratando dos seus ne*cios, ali havia uma sinaoa. "s companhias comerciais também possuíam a sua pr*pria sinaoa, e até as pessoas estranhas as construíam para os da sua pr*pria nação. M por isso #ue se fala em sinaoas "dos Cirineus, dos "le'andrinos e dos da Cilícia e da Nsia" ."t E8K/. $o tempo de 4esus Cristo era raro o país, em todo império romano, onde não fosse encontrada uma sinaoa UNIDADE II – IMAGENS DA IGREJA 5. Imagens 798i(as 1a Ig$e%a 5.5. O 3ovo 1e +e"s : No Antigo Testamento encontramos: "?erei o seu +eus e sereis o meu povo" (Êx 6:7, 19:5; Lv 26:12; Jr 30:22; Ez 36:38; Os 2:23). O termo aliança não significa um contrato bilateral em que Deus foi amarrado pelo seu povo, antes significou sempre uma aliança de graça, um acordo em que Deus tomava a iniciativa e determinava as condições. Ìsrael tinha a garantia da presença e da bênção de Deus no contexto de sua obediência a ele como no caso de Noé (Gn 6:18s), Abraão (Gn 12:1s, 15:1-19, 17:3-24), Moisés (Êx 6:6s; 19-24) e Davi (Sl 89:3s; 2 Sm 7:12-17). Eclesiologia 8 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL No Novo Testamento é apresentado como povo peculiar, (Tt 2:14). Aqui temos um duplo possessivo, como observa Yeager, dando ênfase quase redundante: povo #ue é de sua propriedade e de sua posse peculiar. 5.;. O <o$3o 1e <$isto : É um conceito novo, sem paralelo no VT. Esta imagem usada por Paulo focaliza algumas coisas interessantes e bem pertinentes à Ìgreja:  Cristo é visto como um corpo inteiro, enquanto nós somos membros dentro dele ( Rm 12:45; 1 Co 10:16, 12:27)  Cristo é o cabeça do corpo. =e1al% não significa apenas a cabeça física, mas também o "cérebro", "comando", a autoridade suprema de um corpo jurídico, ou ainda "pensamento", exatamente como em português. Essa expressão abrange também as idéias de que é através do corpo que se realizam os atos determinados pelo cérebro e é através do cérebro que se dá a unidade do corpo, havendo, portanto, uma associação completa entre a cabeça e os membros. Os membros do corpo não se comunicam diretamente entre si mas através do cérebro. É à Ìgreja - so*atos (corpo) que compete realizar na terra os propósitos de Cristo - ke1al% (cabeça) e só em Cristo, a cabeça, é que se torna possível a unidade da Ìgreja, o corpo. Um corpo dividido é um corpo morto. Um corpo não pode ter duas cabeças e nem uma cabeça pode ter dois corpos.  Cristo permanece como Senhor de todo o Corpo, que é seu em sua inteireza. Esta imagem enfatiza o relacionamento entre Cristo e seu povo. Toda a nossa vida e nutrição vem dele. Nós vivemos Dele, por Ele, através Dele e para Ele. (Ef 1:22s) 5.=. O Re8an>o 1e +e"s : Repete o conceito do Velho Testamento, de Deus como pastor de Ìsrael (Sl 80:1, 95:7), um povo que era apascentado por Ele (Ez 34:15). No Novo Testamento Jesus pastoreia o seu povo (Jo 10:1-30), O supremo pastor do rebanho de Deus (1 Pe 5:4, 2:25; Hb 13:20) dando sua vida por suas ovelhas (Jo 10:11). A igreja está em completa dependência de Deus, para nos guiar, proteger e alimentar. Ele conhece as suas ovelhas pelo seu nome e as suas ovelhas conhecem a sua voz. Ele é capaz de dar a sua vida pelas suas ovelhas. (Jo 10:2-15). 5.4. A 0am9ia 1e +e"s : Em Cristo nascemos de novo na família de Deus, adotados como seus filhos (Rm 8:14-17). A igreja é a família ou a casa de Deus (Ef 2:19; 1 Tm 3:15). Refere-se aos indivíduos que, reunidos formam a família - irmãos e irmãs. Não se trata de uma relação legal, estatutária, mas de uma relação espiritual, ou seja, na fé. Demostra os seus componentes individualmente unidos em um só corpo pela fé, em perfeita identidade espiritual, confiando e dependendo de um só Pai, a fim se satisfazer todas as necessidades desta relação como membros de uma família. (Mt 6:25-34). 5.'. A Noiva 1e <$isto - Mais uma vez o Novo Testamento repete uma imagem do Velho Testamento. Ìsrael é a esposa de Jeová, a Noiva de Deus (Os 2:19, Ìs 54:5-8; 62:5; Jr 2:2), devendo-lhe absoluta fidelidade, A Ìgreja é a noiva de Cristo personificando o amor de Deus, expresso de maneira suprema em seu auto-sacrifício por ela. (Mc 2:18-20; Ef5:27; Ap 19:7; 21:2). Esta imagem enfatiza que a relação de Deus com seu povo é de amor sem reservas, e nos desafia a mostrar a nossa responsabilidade em sermos firmes em nossa dedicação a Deus como servos fiéis. 5.-. O E1if9(io 1e +e"s : O Velho Testamento apresenta uma metáfora que fala da permanência de Deus com o seu povo (Êx 25:8; Sl 132, 135; Ìs 12:6) no tabernáculo (6Ex 25:8; 1Sm 4:29s). No Novo Testamento Jesus enfatizou que o templo não era mais a habitação de Deus (Jo 2:19) e que a localização geográfica não é o principal fator para nos aproximarmos dele (Jo 4:23). Cristo é a pedra fundamental (1 Co 3:11), em que o povo de Deus é edificado como santuário de Deus e "habitação de Deus no Espírito"(1 Co 3:16; Ef 2:22). Eclesiologia 9 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Ef 2:21,22 diz literalmente: "o edifício inteiro cresce continuamente e conjuntamente para .ser/ templo santo". Vale observar que sunar*ologu*ene (continuamente e conjuntamente) está na voz passiva. Não é a Ìgreja que se edifica, que se constrói a si mesma, mas ela é edificada. Observe também que esta implícita a preposição sun, que dá ao verbo a característica da simultaneidade do crescimento de todo o edifício. É bom lembrar que a raiz desta palavra significa ajustar, encaixar com precisão cada peça em seu lugar. A figura de Paulo nos traz à mente a idéia de uma casa subindo dos seus alicerces. As paredes crescem conjuntamente, cada tijolo segura outros e pelos outros se firmam através da liga de cimento e areia. Assim na Ìgreja: cada um dos seus membros se une aos demais através do traço forte do amor. 5./. A ?in>a 1e +e"s - No Velho Testamento encontramos que Ìsrael é a vinha de Deus (Sl 80:8s), mas só produziu o fruto amargo da injustiça e opressão fazendo com que Deus a tornasse num deserto (Ìs 5:1-7). No Novo Testamento Jesus aplicou esta metáfora à transferência do propósito redentor de Deus aos gentios (Mc 12:1-12). Ele mesmo é a videira cujos ramos são frutíferos se permanecerem nele (Jo 15:1-8). Esta imagem fala do cuidado de Deus pela Ìgreja, da dependência total da Ìgreja ao seu Senhor para viver e existir do cuidado do Senhor em relação à pureza e vida frutífera da Ìgreja no mundo. 5.6. O E@#$(ito 1e +e"s : Esta figura compara a Ìgreja com um batalhão cujos os seus soldados, à semelhança dos soldados do exercito de sua pátria, devem todo o respeito e consideração pelas ordem e orientações do seu general, que no caso da Ìgreja é Jesus Cristo. Como soldados de Cristo devemos entrar na batalha ainda que isto cause algum sofrimento (2 Tm 2:3). Devemos lutar na guerra contra o mal, fazendo de tudo para honrar e satisfazer àquele que nos arregimentou como soldados do seu exército. Estas imagens bíblicas nos ensinam que a Ìgreja pertence a Deus e a mais ninguém. Consequentemente devemos trabalhar muito sério nela e por ela. Não podemos jamais negar a sua importância para as nossas vidas e para a perpetuação do evangelho na face da terra. Deus tem um carinho muito grande pela sua igreja e nos não podemos sentir diferente. UNIDADE III – AS MARCAS DA IGREJA Est$"t"$a 1a Ig$e%a 5. Ae$s3e(tivas BistC$i(as 2Res"mo. a. Nos primeiros Séculos  No período pós-apostólico, a igreja foi concebida como povo de Deus, a nova sociedade espiritual de crentes em Jesus, para a qual se entrava pelo batismo.  No segundo século, com o surgimento das heresias exigiu-se a criação de limites claros: as tradições apostólicas autorizadas foram defendidas por bispos que passavam ser considerados como sucessores dos apóstolos. Este movimento encorajou a centralização das escrituras da Ìgreja como uma instituição externa.  Cipriano, no terceiro século, escreveu que afastar-se da igreja visível, fundamentada sobre o episcopado, era perder o direito à salvação.  Agostinho, no quarto século, admitiu ser a Ìgreja invisível dos eleitos, a comunhão dos santos, os quais possuem o Espírito Santo e são caracterizados pelo verdadeiro amor. Mas ele argumentou que a verdadeira igreja encontra-se dentro da Ìgreja católica, que exerce a autoridade apostólica Eclesiologia 10 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL através da sua sucessão histórica de bispos; só em seu seio é que o indivíduo pode ser cheio do amor divino e receber o Espírito Santo por meio dos sacramentos.  Neste século a igreja dividiu-se entre ocidental e oriental, em virtude do fracasso em resolver os debates pós-calcedônios sobre a pessoas de Cristo b. Ìgreja na Ìdade Medieval  Nesta época a Ìgreja era a base de tudo na sociedade. Duas idéias se desenvolveram nesta época: 1) a tradição de que Pedro recebeu supremacia sobre os outros apóstolos e de que ele fora o primeiro bispo de Roma é completada com a alegação de que esta autoridade suprema foi transmitida aos sucessores de Pedro no bispado de Roma, partindo do início do sétimo século. Esta inovação foi rejeitada no oriente; 2) a Ìgreja católica visível foi encarada cada vez mais como sendo o Reino de Deus. Este conceito, apiado numa interpretação errada de Agostinho, foi favorecida pela circulação de dois documentos forjados no nono século, os quais conferiam autoridade antiga para a idéia.  O catecismo Tridentino: "A igreja é o corpo de todos os fiéis que até agora viveram e vivem na terra, com uma cabeça invisível, Cristo, e numa cabeça visível, sucessor de Pedro, que ocupa a sede de romana. c. A Reforma  Lutero afirmou a idéia da Ìgreja como uma comunhão espiritual de crentes, todos eles sacerdotes de Deus, mas reteve o batismo de crianças.  Calvino acrescentou uma ênfase sobre a disciplina e sobre a função educativa da Ìgreja, tentando reformar em Genebra toda a sociedade pela Palavra de Deus  A prioridade dos reformadores magistrais foi a pregação da palavra de Deus.  Os anabatistas insistiam no batismo de crentes professores. Eles buscavam uma Ìgreja "sectária, formada apenas por aqueles que professassem a fé e dessem evidência de sua realidade. As formalidades e hierarquias no ministério foram minimizadas e ensinavam a completa separação entre igreja e estado.¨ d. O Período Moderno  A identificação entre igreja e estado vem sofrendo permanente desgaste. Paralelamente a religião vem-se tornando, cada vez mais, uma questão de convicção pessoal  A comunidade cristã internacional emergiu como um fenômeno, em virtude do movimento missionário mundial. Em 1948 foi fundado o CMÌ, que mesmo negando o alvo da unificação mundial do cristianismo, tem ensaiado passos neste sentido. Nos últimos anos tem entrado em declínio por defender certas posições teológicas radicais e heterodoxas.  Com o Concílio Vaticano ÌÌ (1962-65), convocado pelo Papa João XXÌÌÌ, surgiu um "novo catolicismo¨. Recebeu influências Liberais, manteve contato com líderes e Ìgrejas protestantes, manifestou uma abertura às influências culturais, mas a posição oficial de Roma nos assuntos doutrinários não se modificou.  Os anos mais recentes testemunharam um crescimento significativo de novas igrejas e grupos independentes, principalmente na China, Coréia do Sul, ex União Soviética, África abaixo do Saara e América latina. Há hoje cerca de 6,8 não cristão para cada cristão que lê a Bíblia - o menor índice da história. São marcadas por um literalismo bíblico, zelo na evangelização, espírito de vida Eclesiologia 11 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL sacrificial e flexibilidade nas escrituras, além de uma abertura consciente àquilo que eles acreditam ser a direção de Deus. Demonstram também ausência de compromisso com a tradição cristã. ;. <a$a(te$9sti(as 1a Ig$e%a ?e$1a1ei$a 5. +isting"in1o os vD$ios signifi(a1os 1a 1inEmi(a 1a ig$e%a, 1. Todo o povo de Deus em todos os séculos, o conjunto total dos eleitos. Reformadores falaram disto como sendo a igreja invisível. 2. A comunidade local dos cristãos, reunidos visivelmente para a adoração e ministério. Este abrange a vasta maioria das referências à igreja no NT. 3. Todo o povo de Deus no mundo, em determinada época, talvez melhor definida como universal. Esse sentido ocorre apenas ocasionalmente no NT (1 Co 10.32; Gl 1.13). 5. "A igreja dentro da igreja¨. O AT faz a distinção entre a edah (toda a congregação visível) e os gahal (aqueles dentro dela que respondem ao chamado de Deus ). Não existe uma igreja pura (MT 13.24-30, 36-43). Em meio a cada igreja pode haver pessoas que não professaram a sua fé e outros cuja profissão será desmascarada no último dia (MT 7. 21-23). =. As3e(tos 1a Ig$e%a no Novo testamento. Pelo menos em três aspectos aparece a Ìgreja no Novo Testamento: 2* UNÌVERSAL - Esta acepção aparece em Ef 3:10, 21; 5:23,24,27,29,32; Col 1:18,24; 1Tm 3: 5,15. Nestas passagens ÌGREJA, que sempre aparece no singular é mais ou menos equivalente a REÌNO DE DEUS. ''A Ìgreja universal, mística, composta de todos os crentes em todos os tempos e de todos os lugares os quais aceitaram a Cristo como Senhor e Salvador. Essa Ìgreja é considerada como organismo espiritual que tem Cristo por centro; e a União mística da Ìgreja com Cristo se dá através do seu Espírito, e não devido a alguma organização. Portanto transcende denominações que defendem determinadas crenças ou governos eclesiásticos.¨ 3* LOCAL - Trata-se do organismo local conforme a definição de Ìgreja já tratada nesta apostila na Unidade ÌÌ 4* GLORÌFÌCADA - Conforme lemos em Hb 12: 22,23, o autor descreve uma reunião festiva no céu, de servos de Jesus, comprados pelo seu sangue, tendo os seus nomes inscritos no Livro da Vida. 4 . Anaisan1o o <$e1o 1a Ig$e%a O Credo Niceno-Constantinopolitano deriva-se do Credo de Nicéia (composto pelo Concílio de Nicéia, em 325 d.C.), com pequenas modificações efetuadas pelo Concílio de Calcedônia (451 d.C.). Este credo expressa mais precisamente a doutrina da Trindade, contra o Arianismo. Na sua versão mais curta (sem a 3ª parte principal) ele surgiu no concílio de Nicéia (325 d.C.) para defender doutrina da divindade de Cristo contra Ario, que ensinava que houve um tempo em que o Filho de Deus não existiu. A versão mais completa (com o 3º artigo principal) surgiu no Concílio de Constantinopla (381 d.C.) para reafirmar a doutrina bíblica do Espírito Santo. Oficialmente, no entanto, o Credo Niceno- Constantinopolitano foi aceito apenas em 451 d.C. no Concílio da Calcedônia, quando a Ìgreja Eclesiologia 12 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Ocidental o aceitou com a emenda "Deus de deuses" (que constava do original e foi omitida posteriormente) e também acrescentou o Filioque ("e o filho"), que foi acrescido ao terceiro artigo. Eis então a parte do credo que nos interessa: >?$re*os@ ... na igreja una, santa, cat5lica e a#ost5lica.A 2a. Fna - A unidade da igreja procede de seu fundamento no único Deus (Ef 4.1-16), e todos os que pertencem à igreja são um só povo, e portanto, a igreja verdadeira será distinguida por sua unidade. - Ìsto não implica uniformidade. No NT havia uma variedade de ministérios (1 Co 12. 4-6) e opiniões sobre assuntos secundários (Rm 14.1 – 15.13). Embora houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co 15.11; Jd 3), a fé comum recebeu ênfases diversas, segundo as necessidades da época (Rm 3.20, Cf. Tg 2.24 Fl 2.5-17, Cf. 2.9s). Havia também uma variedade de formas de adoração (1 Co 14. 26ss, Cf. Tg 2.22) e governo da igreja. - As escrituras encorajam a mais plena expressão de unidade possível entre o povo de Deus, mas elas também tornam claro que a divisão acha-se perfeitamente de acordo com a vontade divina quando a essência do cristianismo apostólico estiver em risco (Gl 1.6-12; Mc 7.13: Jd 3). Para o NT, a unidade está baseada em um compromisso consciente com as verdades reveladas do cristianismo apostólico ( Jo 17. 1-26; Ef 4. 1-16). - Os ensinos do NT sobre unidade têm implicações para seus relacionamentos visíveis (Ef 2.15, 4.4; Cl 3.15; Cf. Jo 17.21). Na ausência de unidade, a reivindicação de ser uma verdadeira igreja cristã é posta em dúvida (1 Co 3.3s). - Roma tem usado este sinal de maneira polêmica, a fim de proclamar sua unidade. Ìsto ignora três pontos: (i) a própria Roma separou-se da igreja Ortodoxa em 1504, e jamais tinha sido considera universalmente como a igreja verdadeira em séculos anteriores; (ii) Os sinais devem manter-se juntos. A sucessão histórica e a unidade externa não têm validade quando não associada a lealdade ao Evangelho; (iii) embora o protestantismo tenha-se mostrado às vezes desagregador, pode ser argumentado que, através de seu desvio da doutrina bíblica é a própria Roma que tem sido a maior causa de cismas no correr dos séculos. 28.Santa - No sentido mais profundo a igreja é santa (1 Pe 2.9), da mesma forma que todo indivíduo cristão é santo em virtude de estar unido a Cristo, separado para ele e revestido com sua justiça perfeita (Ìs 61.10). Em sua posição diante de Deus em Cristo, a igreja é irrepreensível. A distinção entre a igreja visível e a invisível aplica-se aqui. - A união com Cristo envolve também uma santidade de vida que seja visível (Ap 2-3). A presença de um sinal visível de santidade é uma característica da verdadeira igreja de Deus. - A igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos¨ (Ef 2.20; Cf. Mt 16.18; Ap 21.14). A apostolicidade encontra-se no fato dela conformar-se à fé apostólica (Jd 3; Cf. At 2.42). - O catolicismo romano entendo esta afirmação para incluir a reivindicação de o bispo de Roma é o sucessor histórico de Pedro e o guardião especial da graça de Deus na igreja. É igualmente errado entender a apostolicidade como uma continuidade histórica do ministério, retrocedendo até Cristo e Eclesiologia 13 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL seus apóstolos, através de uma sucessão de bispos. Ìsto contraria o caráter da própria graça, conforme os escritos bíblicos, é o papel secundário de Pedro nos eventos bíblicos posteriores (Antigo Testamento 15; Gl 2). - A sucessão apostólica é na verdade a sucessão do Evangelho apostólico (2 Tm 2.2). 2(.<atCi(a - ( i ) O termo "católico¨ significa "abrangendo o todo¨; ( ii ) Em seu uso primitivo, significava a igreja universal, distinguindo-se da local; ( iii ) Mais tarde, veio a significar a igreja que professava a fé ortodoxa; ( iv ) Roma adotou o termo para referir-se a si mesma com instituição eclesiástica, centrada no papado, historicamente desenvolvida e geograficamente difundida; ( v ) Os reformadores restauraram seu significado, em termos de reconhecimento da fé ortodoxa. - O principal aspecto da catolicidade da igreja primitiva estava na sua abertura para todos distinta do judaísmo e do gnosticismo (Mt 28.19; Ap 7.9). A única exigência para admissão era fé pessoal em Jesus Cristo com Salvador e Senhor, com o batismo como o rito autorizado de entrada (Mt 28.19; At 2.38,41). - Qualquer tipo de discriminação não deve Ter espaço na igreja, seja racial, de cor social intelectual ou mora, neste último caso desde que haja evidências de verdadeiro arrependimento. E discriminação denominacional? 21.A3ostCi(a - A igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos¨ (Ef 2.20; Cf. Mt 16.18; Ap 21.14). A apostolicidade encontra-se no fato dela conformar-se á fé apostólica (Jd 3; Cf. At 2.42). - O Catolicismo romano usa esta afirmação para incluir a reivindicação de o bispo de Roma ser sucessor histórico de Pedro e o guardião especial da graça de Deus na igreja. É igualmente errado entender a apostolicidade como uma continuidade histórica do ministério, retrocedendo até Cristo e seus apóstolos, através de uma sucessão de bispos . Ìsto contraria o caráter da própria graça, conforme os escritos bíblicos posteriores ( At 15; Gl 2). - A sucessão apostólica é na verdade a sucessão do Evangelho apostólica (2 Tm 2.2). ' . A 4iss*o 1a Ig$e%a : Mas, para que existe a Ìgreja? Esta é uma questão das mais importantes para o cristianismo, pois sua resposta nos levará à respostas de outras questões também importantes, tais como: Por que devo ser membro da Ìgreja? Por que devo trabalhar na Ìgreja? O que devo esperar dela? e etc. Na teologia a resposta à nossa pergunta é descoberta no estudo da Missão da Ìgreja. É bom não confundir missão com missões. Missão tem a ver com a finalidade da existência da Ìgreja. Missões, com a obra de evangelização. Quando perguntamos sobre qual é a missão da Ìgreja, geralmente a resposta tem sido: "-vanelizar o mundo perdidoO. Se analisarmos dessa forma, o crescimento da Ìgreja será medido apenas de forma numérica. Se observarmos as Sagradas Letras, poderemos concluir que a missão da Ìgreja é mais abrangente. Fomos criados para glorificar a Deus (Ìs 43:7 - " todos os #ue são chamados pelo meu nome e os #ue criei para a minha l*ria, os formei, e também os fiz.), vivendo sob sua dependência e alegrando-o. Ora, glorificar a Deus inclui muito mais que adoração e louvor. Ìnclui vida submissa a Sua vontade, vida de serviço, de cooperação, convivência e aceitação comunitária. Embora estes aspectos da vida sejam desenvolvidos pelo indivíduo, na somatória acaba envolvendo a própria comunidade. Aqui está incluído o treinamento operacional dos crentes, a administração, o ensino, a pregação, a assistência espiritual e material aos domésticos da fé (Gl 6:10 - -ntão, en#uanto temos Eclesiologia 14 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.), a manutenção da própria convivência ou comunhão entre os irmãos e etc. É isso que encontramos na Ìgreja do primeiro século (At 2:42-47; 4:32-35). "% @8B@ P BGQ B@ 5 - perseveravam na doutrina dos ap*stolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas oraç(es. BA 5 - em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos ap*stolos. BB 5 - todos os #ue criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. B6 5 - vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, seundo cada um havia de mister. BE 5 -, perseverando unRnimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com aleria e sineleza de coração, BG 5 Souvando a +eus, e caindo na raça de todo o povo. - todos os dias acrescentava o ?enhor C ireja a#ueles #ue se haviam de salvar. "% B8A@ P A6Q A@ 5 - era um o coração e a alma da multidão dos #ue criam, e ninuém dizia #ue coisa aluma do #ue possuía era sua pr*pria, mas todas as coisas lhes eram comuns. AA 5 - os ap*stolos davam, com rande poder, testemunho da ressurreição do ?enhor 4esus, e em todos eles havia abundante raça. AB 5 $ão havia, pois, entre eles necessitado alum= por#ue todos os #ue possuíam herdades ou casas, vendendo5as, traziam o preço do #ue fora vendido, e o depositavam aos pés dos ap*stolos. A6 5 - repartia5se a cada um, seundo a necessidade #ue cada um tinha. Desta forma podemos concluir que, no conjunto, a missão da Ìgreja em vez de única - evangelizar, por exemplo - é tríplice. É direcionada a Deus, a si mesma e ao mundo. - . A Ig$e%a Aa1$*o 1o Novo Testamento e 1e Bo%e. Não há uma ÌGREJA PADRÃO no Novo Testamento, como observa M. Green. Cada Ìgreja tem peculiaridades que a torna diferente de todas as demais igrejas. Je$"sa#m é a consolidação das doutrinas dos apóstolos. Antio!"ia 1a S9$ia, a visão missionária, marco da separação entre a fé judaica e a fé cristã. Gfeso, perseverança na fé em meio a depravação. <o$into, abundância dos dons espirituais. 4a(e1Hnia, generosidade para com as vítimas da fome. Ìgrejas da GaD(ia, fiéis na resistência à heresias judaizantes. Roma, fidelidade na proclamação do Evangelho em meio às perseguições. <$eta, Ìgrejas em processo de consolidação da liderança. 0ii3os, zelo pelos missionários; alegria em participar. <oossos, amor fraternal. TessaHni(a, Ìgreja que se prepara para a volta do Senhor. Esmi$na, fidelidade nas tribulações. A#$gamo, Ìgreja que não negou a sua fé. Tiati$a, Ìgreja próspera (suas últimas obras são maiores do que as primeiras). Sa$1es, remanescentes incontaminados. 0ia1#fia, força na fraqueza. Poderíamos aqui alinhar também os defeitos peculiares de cada uma daquelas igrejas. Na busca de um padrão para si mesma, porém, a igreja de hoje não deve somar as virtudes das Ìgrejas do NT Eclesiologia 15 IGREJA DEUS MISSÃO PARA COM DEUS Glorificação e &doração MISSÃO PARA CONSIGO MESMA 'nsino( admoes"ação( assis")ncia social e espiri"ual( comun*ão( disciplina( adminis"ração( desenvolvimen"o( e"c. MISSÃO PARA COM O MUNDO Tes"emun*o( pregação do evangel*o DEUS MUNDO SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL para, pura e simplesmente, as imitar ou listar os seus defeitos para os evitar, mas deve vivenciar o seu próprio padrão, dentro das suas próprias peculiaridades, seguindo os princípios enunciados no Novo Testamento. Cada Ìgreja é o seu próprio universo, ao mesmo tempo em que é uma amostragem do universo que é o Reino. Três lições podem ser extraídas dessa unidade na diversidade: 2. Cada Ìgreja deve descobrir e viver seu próprio formato, sem querer importar ou exportar modelos de ou para outras igrejas. Cada igreja deve ser a melhor Ìgreja que ela mesma Puder ser de acordo com o padrão do fundador da Ìgreja e seu Cabeça. 3. Cada Ìgreja deve ser relevante no seu espaço, dentro da cultura em que está inserida, interpretando profeticamente o Evangelho no seu tempo e para o seu povo. 4. A base da cooperação entre as igrejas deve ser o amor, que se alegra com os que se alegram e chora com os que choram, sem hierarquia de pessoas ou funções sob quaisquer aspectos, sem rivalidades, ciúmes, partidarismo ou frutos da carne. O amor que aceita o irmão como ele é e tenta ajudá-lo a ser como deveria ser no plano de Deus. / . O !"e to$na a Ig$e%a Reevante& W.E. Criswell responde com os seguintes 4 fatores: 2. "Há uma fome perpétua por Deus¨ (Sl 42:1) que nada pode satisfazer, a não ser o próprio Deus em Cristo. A Ìgreja tem Jesus. A Ìgreja tem esse pão. 3. "As Escrituras têm uma natureza que atrai¨ (Am 8:11; Hb 4:12). A voz que falou à consciência de Agostinho "Toma e lê¨ é uma voz universal. A verdade tem um profundo poder de atração. A Bíblia atrai porque é a verdade. A igreja tem a Bíblia. 4. "A Natureza penetrante da Ìgreja na Comunidade¨ (At 2:47). O Mundo precisa da Ìgreja porque nenhum outro poder penetra tão vasta e profundamente na sociedade para beneficiá-la como o poder do Espírito Santo. A Ìgreja tem o Espírito. 5. "O sentido do idealismo (heroísmo) da Ìgreja.¨ Os ideais cristãos respondem aos mais puros e ardentes anseios da alma humana. Há um idealista oculto em cada ser humano. A Ìgreja tem esse ideal, o mais sublime ideal de toda a raça humana na pessoa de Jesus Cristo. Quem quer que conheça a Jesus Cristo e por ele seja liberto do pecado e da morte, não precisa formular uma ideologia sobre Cristo para por ela se apaixonar. Apaixona-se pela pessoa de Jesus. Jesus se torna a razão de ser de sua vida, seu ideal é o ideal de Jesus, a vitória de Jesus se torna a sua vitória, a dor de Jesus pela rejeição do mundo torna-se o seu sofrimento. A Ìgreja tem a resposta, na pessoa de Jesus Cristo, para as mais universais e inquietantes perguntas do espírito humano. A origem, o significado e o destino final da vida humana estão em Cristo. Vivemos dele, vivemos nele e iremos para ele, como tentou explicar Paulo no seu discurso em Atenas. A universal busca pelo transcendente, pelo infinito, pelo eterno, pela verdade, só encontra resposta em Jesus Cristo. Eclesiologia 16 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL UNIDADE IV – A IGREJA EM AÇÃO SISTE4AS +E GO?ERNO +A IGREJA OF SISTE4AS E<LESIISTI<OS I. <onsi1e$a)Jes A$eimina$es, As formas de governo eclesiástico não surgem por acaso, não são escolhidas aleatoriamente pelos fundadores das igrejas. Toda a forma de governo eclesiástico obedece a imposições mais ou menos frequentes, quais sejam: Ba(Ces doutrin9rias: A forma de governo surge da interpretação dos princípios e doutrinas em que cada igreja é fundamentada. Ao mesmo tempo, a manutenção de uma determinada estrutura de poder tende a pressionar a formulação de doutrinas e leis que a justifiquem. Ba(Ces s5cio-culturais. As igrejas tendem a absorver formas de governo e padrões de exercício de poder que estejam dentro do contexto cultural em que estão inseridas. Ba(Ces hist5ricas. Toda a estrutura social tende a perpetuar, independentemente das suas razões de origem. As Ìgrejas não fogem a essa regra. Padrões estruturais de uma determinada época podem se impor historicamente. Ba(Ces estrat%gicas. Uma Ìgreja pode assumir um modelo de governo como parte de sua estratégia visando alcançar, com maior eficiência, os seus objetivos institucionais. Seriam as "razões de qualidade¨, ou seja, as razões impostas pela qualidade da administração para que sejam alcançados os resultados esperados. Não temos no Novo Testamento uma forma de governo claramente delineada. A forma de governo das igrejas primitivas recebia forte influência da teocracia do Velho Testamento, sustentada por autoridades formalmente reconhecidas dentro do contexto cultural dos judeus. Ìsso fica evidente pelo fato de que em Atos, todas as decisões da Ìgreja são precedidas de oração, buscando o conhecimento da vontade de Deus. Esse procedimento é recomendado também nas epístolas. A declaração do senhorio de Jesus é levada às suas conseqüências práticas no governo da Ìgreja: na escolha do sucessor de Judas (At 1:24); na escolha dos diáconos (At 6:6); na nomeação de missionários (At 13:3); para dirimir as dúvidas sobre a questão da circuncisão (At 15:28). O Novo Testamento fala de bispos, mas não fala da forma de governo episcopal; fala de presbitério, mas não defende a estrutura de governo conciliar; refere-se ao Reino mundial de Cristo, mas não na doutrina sobre um governo universal para a Ìgreja. Vemos, portanto, no livro de Atos, uma estrutura de poder em formação, sob a inspiração direta do Espirito Santo. Pelo menos três fatores básicos iriam pressionar o processo de delineamento de uma estrutura de poder na Ìgreja primitiva:  A teocracia de Ìsrael.  A democracia dos gregos  O imperialismo de Roma. A Ìgreja Católica é um exemplo histórico de uma tentativa de conciliar essas três influências com um sistema de governo no qual a origem da autoridade divina estaria nas ordens dadas a Pedro por Jesus, o colégio dos cardeais dá uma aparência de democracia com delegação de poderes e o universalismo da Ìnstituição, sob rígido controle hierárquico, projeta a pressão do imperialismo romano. II. 0o$mas 1e Gove$no e Ig$e%as !"e as $e3$esentam Eclesiologia 17 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL 1) A"to($Dti(o 2A"to($a(ia. o" 4onD$!"i(o : Existe um chefe supremo, que dita as ordens e é considerado infalível em suas determinações. Governo de um só, vitalício. De *onos, só, único, isolado. Uma única pessoa detém o poder em caráter vitalício. O soberano é o des#ot%s, Senhor absoluto. Ex: Ìgreja Católica (Papa) . A fonte do poder monárquico pode ser: a. Eleição por um colegiado. É o caso da Ìgreja Católica Romana, onde o Papa é o su*o #ont'1ice, eleito em caráter vitalício pelo Colégio de Cardeais. b. Auto-proclamação, via de regra mediante o anuncio de uma "revelação¨ ou "unção¨ particular. OBS: Este sistema de governo, apesar de ser originalmente uma marca registrada da Ìgreja Romana, tem sido adotado, ainda que veladamente, por vários segmentos evangélicos. ;. E3is(o3a - É o sistema de governo em que a Ìgreja Local, além de ser administrada pelo seu pastor, também é administrada pelo Bispo (seja geral, regional ou local). A administração maior é feita pelo Bispo que é a autoridade máxima. Ele é responsável por todas as Ìgrejas do seu Bispado (também chamado de Episcopado). Geralmente o Bispo é eleito por representantes das Ìgrejas e o seu mandato varia de acordo com cada denominação (Há inclusive mandatos vitalícios). O bispo em algumas igrejas é eleito por tempo determinado; em outras, por tempo indeterminado; em alguns casos, tem poderes absolutos; em outros, tem poderes relativos; o bispo pode governar sozinho ou auxiliado por um concílio ou presbitério. Existem casos de haverem bispos regionais que prestam contas a um Bispo Geral. Suas responsabilidades e atribuições básicas são: a) Ìndicar representantes Denominacionais, b) Ìndicar concílio para estudar problemas eclesiásticos, c) Admitir, demitir e disciplinar, d) Aprovar orçamentos e relatórios, e) Apresentar modificações e adaptações doutrinárias, f) Julgar casos jurídicos e eclesiásticos, g) Aprovar aberturas ou fechamentos de Ìgrejas, congregações, frentes evangelísticas, etc., h) Aprovar movimento de obreiros, e etc. Ex: Ìgreja Metodista, Metodista Wesleyana, Nova Vida, etc. =. A$es8ite$ia, OigD$!"i(o 2Oiga$!"ia. o" <on(iia$ – É o sistema de governo em que, não a igreja toda, mas alguns oficiais dela gerem os destinos da igreja e resolvem tudo ou quase tudo. A oligarquia conduz à autoridade, não para a assembléia, mas para o Conselho da igreja constituído pelo pastor e presbíteros. Este ponto de vista governamental apóia-se em Hebreus 13:7,17 - G Sembrai5vos dos vossos uias, os #uais vos prearam a palavra de +eus= e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé #ue tiveram. 5 9G &bedecei aos vossos uias e sede submissos para com eles= pois velam por vossa alma, como #uem deve prestar contas, para #ue façam isto com aleria e não emendo= por#ue isto não aproveita a v*s outros. Ig$e%a A$es8ite$iana - A Ìgreja Local é administrada por um CONSELHO LOCAL formado por presbíteros escolhidos pela Ìgreja em assembléia geral e mais o pastor ou pastores indicados pelo PRESBÌTÉRÌO (ou homologado). Cabe ao CONSELHO LOCAL admitir, exonerar, disciplinar os seus membros, receber dízimos e contribuições e utilizar-se desses recursos conforme orçamento do PRESBÌTÉRÌO, administrar a Ìgreja local sem a interferência da assembléia geral que se reúne anualmente para tomar conhecimento do relatório financeiro. O PRESBÌTÉRÌO é formado por presbíteros escolhidos pelas igrejas, mais os pastores de uma região (geralmente de um município) e tem por responsabilidade: fiscalizar os atos dos Conselhos Locais, organizar as finanças, indicar pastores para as Ìgrejas de seu Presbitério, estabelecer salários para pastores e funcionários, indicar seminaristas e ordená-los designando seus tutores ou local para exercerem o ministério e etc. O SÍNODO é formado por representantes dos PRESBÌTÉRÌOS e tem como responsabilidade fiscalizar os atos dos PRESBÌTÉRÌOS, bem como zelar pela doutrina. Normalmente funciona num estado da Federação (Uma espécie de Convenção Estadual). O SUPREMO CONCÍLÌO é formado por representantes dos PRESBÌTÉRÌOS e se reúnem normalmente uma vez por ano para julgar os atos dos SÍNODOS. Para casos especiais de difícil solução, poderá se criar a chamada GRANDE Eclesiologia 18 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL COMÌSSÃO formada por membros do SUPREMO CONCÍLÌO, Cujo o presidente da GRANDE COMÌSSÃO tem a palavra final. Quando alguém se sente injustiçado no CONSELHO LOCAL, poderá pedir assento ao PRESBÌTÉRÌO e se não concordar com a resolução, poderá recorrer ao SÍNODO e em última estância, ao SUPREMO CONCÍLÌO. A Ìgreja Presbiteriana é o exemplo clássico deste sistema de governo. OBS. O PRESBÌTÉRÌO sustenta todos os Organismos Denominacionais e recebe das Ìgrejas (CONSELHO LOCAL) os seus recursos. 4. <ong$ega(iona o" +emo($Dti(o K É o sistema de governo em que a Ìgreja Local é administrada pela Assembléia geral da Ìgreja onde todas as deliberações são tomadas por maioria de votos (simples ou absoluta, conforme o caso) e que todos os atos são resolvidos democraticamente. À congregação cabe o direito de gerir os seus negócios e decidi-los em assembléia, respeitando a decisão da maioria. Todos os membros têm iguais deveres e direitos e cada igreja local é autônoma em relação as demais igrejas. Ex: Ìgreja Batista, Congregacional, Assembléia de Deus. Ig$e%a Assem8#ia 1e +e"s – É formada pela Matriz (Ìgreja Mãe) também conhecida como CAMPO, Filiais, Congregações, Ponto de Pregação. Cada filial pode ter congregações e pontos de pregação. Cada congregação pode ter pontos de pregação. A Matriz, através da Assembléia Geral administra todo o Campo mantendo um rol de membros com o nome de todos os que cooperam no Campo. Em cada Filial ou Congregação existe um rol de membros auxiliar apenas para o controle local sendo que estes membros devem sempre constar no rol de membros da Matriz. Quando um membro se transfere da matriz para uma Filial ou Congregação ou vice-versa, recebe uma carta de apresentação. Se mudar de campo, recebe Carta de Transferência. A Assembléia Geral é a autoridade máxima e todos os membros podem participar com direito a votar e serem votados. A Assembléia escolhe os seus pastores e lideranças sem nenhuma interferência de outros Organismos Denominacionais . A ASSEMBLÉÌA GERAL aprova contas, balanços e orçamentos; designa obreiros, auxiliares e adjuntos; elege diretorias, departamentos e comissões; vende, compra e pratica qualquer transação relacionada a imóveis; estabelece salários e gratificações; admite e demite empregados assim como qualquer ato administrativo. As Ìgrejas Assembléia de Deus cooperam com as CONVENÇÕES ESTADUAÌS E NACÌONAÌS acatando ordens e sugestões. As CONVENÇÕES tem autoridade para interferirem nas Ìgrejas (ou CAMPOS) se houver desvio doutrinário ou mesmo questões morais. Os pastores formam um Concílio para decidir sobre assuntos eclesiásticos dando parecer às Convenções. O campo pode manter Seminários, Colégios, Orfanatos e outras atividades, porém tais atividades geralmente são desenvolvidas pelas Convenções que recebem recursos financeiros das Ìgrejas (ou Campos). Toda a administração dos recursos financeiros dos Campos é realizada na Matriz que centraliza todos os dízimos e ofertas inclusive organizando previsões orçamentárias para as Filiais e Congregações. Além de pastores que exercem o ministério na Ìgreja Local, são escolhidos missionários ou evangelistas para trabalhos que carecem de liderança. São eleitos pastores itinerantes para ajudar as Ìgrejas e substituir os pastores em seus eventuais impedimentos. Existem também os colportores que trabalham na venda de bíblias, revistas e jornais da denominação. Para ser Pastor é necessário ser formado em Teologia e ser apresentado a Convenção pela Ìgreja Local e a mesma promoverá a sua consagração. A Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil é o órgão que promove a união e o intercâmbio entre as Assembléias de Deus e mantém as Casa Publicadora (CPAD). Sua Administração se dá pela Assembléia Geral, Mesa Diretora, Conselhos, Comissões e Secretarias. Eclesiologia 19 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Ig$e%a <ong$ega(iona – A autoridade máxima é a Assembléia Geral que escolhe os seus pastores e líderes, formando uma Junta Administrativa que dirige toda a Ìgreja e nos interregnos das assembléias, porém seus atos devem ser aprovados. Formam também uma Junta Diaconal que cuida da parte financeira e da beneficência. A Assembléia admite, disciplina, exonera os seus membros. Autoriza pagamentos e assume os compromissos financeiros. O candidato ao Ministério Pastoral é examinado por um concílio e, se aprovado, recebe a imposição das mãos e está apto a pastorear uma Ìgreja que o convidar. A União das Ìgrejas Congregacionais do Brasil é uma instituição que congrega as Ìgrejas sem poder de interferência em sua administração. Não tem pastoras em seu ministério porém valoriza a mulher escolhendo-as como diaconisas. Ig$e%a 7atista – Tem na Assembléia Geral o seu maior poder sendo ela soberana em suas decisões. Não recebe nenhuma interferência de outros Órgãos Denominacionais. A Assembléia Geral tem poder de decidir todos os atos administrativos assim como a admissão, disciplina e exoneração do seus membros. Escolhe livremente os seus pastores, oficiais e colaboradores. Participa das Associações, Convenções Estaduais e Brasileira, mandando seus mensageiros nomeados pela Ìgreja Local. Pode participar de uma Associação ou Convenção no momento que desejar sem ser obrigatória a sua inscrição. As deliberações dos Organismos Denominacionais influenciam nas Ìgrejas Locais apenas em caráter de sugestão. Participa financeiramente com a Denominação com o que chama de Plano Cooperativo que representa 10% (dez por cento) da entrada dos seus dízimos. Esta importância é distribuída entre os diversos órgãos em percentuais aprovados pelos mensageiros nas Assembléias das Convenções. Para administrar a área social as Ìgrejas escolhem os seus diáconos que formam o Corpo Diaconal . Um seminarista é ordenado ao ministério quando uma Ìgreja o convida e a Ìgreja da qual ele faz parte promove a sua ordenação, convocando outros pastores para formar o Concílio para exame do candidato. Normalmente o Concílio o examina em Experiência e Chamada, ECLESÌOLOGÌA e Teologia. Se aprovado, os pastores impõem as mãos consagrando-o ao ministério, passando então a estar apto para pastorear. 4. B98$i1o K É o sistema que abrange um pouco de casa sistema anteriormente citado e está associado a maioria das novas denominações existente. Existem igrejas que conseguem, inicialmente, implementar a autocracia para a conservação do poder do seu pastor ou fundador, adotar a oligarquia para decisões cotidianas e usar da democracia para as decisões de maior relevância para a igreja e assim por diante, ou seja, para este caso não há um sistema bem definido fazendo então com que se aproveite um pouco de cada um. Ex: ... OS O0I<IAIS +A IGREJA Jesus recrutou e treinou lideres que ele mesmo escolheu visando à consecução do seu plano de implementar o seu Reino na terra. Ele não os escolheu pelos critérios geralmente aceitos como válidos para o recrutamento pessoal, mas segundo critérios de Deus, que não olha para aparência, mas para o coração (1Sm 16:7). A Ìgreja seguiu os seus ensinamentos nessa matéria, com grande sucesso. Nas Ìgrejas do Novo Testamento, as funções de liderança são de fundamental importância para dar cumprimento ao propósito de Jesus. Antes de listar as funções encontradas no Novo Testamento, algumas observações: a. O recrutamento e escolha dos lideres obedecia a um processo natural, no qual a piedade, a dedicação e os dons espirituais devidamente reconhecidos pela igreja eram fatores que mais passavam na seleção de obreiros (Tt 1:5; 1Tm 3:10) b. Os líderes eram responsáveis pela "boa ordemO nas igrejas. Havia extremo cuidado na escolha da liderança, pois as igrejas sabiam que To rebanho seue o pastorO (Tt 2:7,8) e que uma boa liderança é fundamental para o crescimento da Ìgreja. Eclesiologia 20 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL c. Há uma autoridade espiritual. Os mais piedosos, que servirem com humildade, serão reconhecidos como líderes (1Tm 3:13) d. Não há "leigos¨. Todos são ministros, todos são servos. A Divisão entre clero e laicato (classe leiga) é desconhecida em Atos dos Apóstolos. e. Os diferentes títulos indicam funções de serviço, em posições estratégicas, conforme o dons espirituais e a capacitação provada na prática. Um mesmo líder pode ser designado por mais de um título, o que significa que exerce mais de uma função. Um diácono faz a obra de um evangelista (At 8:40), inclusive batizando novo convertido At 8:38; um apóstolo se auto denomina presbítero (1Pe 5:1) e assim por diante. Apesar do Novo Testamento apresentar uma lista pequena de oficiais (Pastores, diáconos, evangelistas, anciãos, bispos, presbíteros, missionários e obreiros, sendo estes dois últimos, nomes colocados nos nossos dias a funções já apresentadas na Bíblia), existe uma complexidade atingindo grandes proporções de oficiais que compõem a liderança das Ìgrejas evangélicas. Não há uma padronização nem em número de oficiais, nem em interpretações e funções. Sendo assim, cabe-nos apenas procurar conhecer a fundo a estrutura e responsabilidades concernentes aos oficiais da nossa Ìgreja, respeitando e aceitando os oficiais de outras denominações. Em linhas gerais, para exercer um ministério de liderança na Ìgreja, o crente deve apresentar alguns pré-requisitos, que são: a) Ser convertido. (Rm 10:9-10) b) Ser cheio do Espírito Santo. (Gl 5:16; Ef 5:18; At 13:9) c) Saber como usar a Palavra de Deus. (ÌÌ Tim 2:15) d) Querer agradar e obedecer a Deus. (Ì Ts 2:7-12; Tt 1:9) e) Amar os irmãos e novos convertidos e cuidar deles. (Ì Ts 2:7-12; Tt 1:9) f) Saber como orar. (Ì Ts 2:7-12 e Tt 1:9) g) Estar vivendo uma vida pura. (Ì Tim 5:22; Tt 1:7-8) h) Estar firme na fé. (Hb 11:6) Todos esses pré-requisitos certamente vão demostrar até que ponto o servo tem maturidade suficiente para tomar tal espaço na Ìgreja do Senhor. Vejamos, pois, as palavras que descrevem os diferentes aspectos dos dons de liderança na Ìgreja Primitiva: 1) A3Cstoo - D#5stolos - Figura como substantivo ou adjetivo, significando Tembai'adorO comissionado, aquele que é enviado com uma missão específica. Ocorre 79 vezes no Novo Testamento. No sentido estrito, designa um grupo de 12 discípulos que Jesus enviou com autoridade sobrenatural para operar sinais e proclamar a sua mensagem . No sentido genérico, designa uma das funções dos missionários cristãos (Ìnterpreter's Bible Dic, Ìn loc). Os apóstolos de Jesus são testemunhas oculares do seu ministério e da sua ressurreição (At 1:2,22). Em que pese a doutrina católica de sucessão apostólica, os textos bíblicos, em nenhuma estancia deixam a idéia de uma transmissão ou linha sucessória. Não é um titulo formal ou institucional, mas operacional, como todos os títulos de liderança no NT. Paulo atribui a si mesmo o titulo de apostolo, que foi contestado em Corinto (1Co 9:2), por se considerar embaixador de Cristo. Sobre o espírito com que os apóstolos devem servir, veja Jo 13:16: não é função de domínio nem de prestigio social, mas de serviço. D#5stolos é uma composição da preposição a#o (a partir de, vindo de, extensão de, continuidade de) e o verbo stelo (enviar, equipar para uma viagem). Eclesiologia 21 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL ;. +iD(ono K 3iakonos - É escolhido pela Ìgreja para o "Ministério da Benevolência". Sua área de ação se restringe à sua Ìgreja apenas. O Termo diácono quer dizer "servo¨. O ministério diaconal foi instituído para cuidar da assistência social afim de deixar os pastores livres para exercerem o ministério da palavra. Este termo é encontrado cerca de seis vezes no Novo Testamento: quatro vezes em Ì Timóteo, uma vez em Filipenses e uma vez em Romanos. (Ì Tm. 3:8,10,12,13; Fil 1:1. Rm 1:1) Em At 6:1-7, vemos sete cristãos eleitos e separados para realizar um tipo de serviço que ainda se faz necessário nos dias de hoje e todo o diácono precisa se concientizar disso. São eles: a) Deixar desembaraçados os ministros, b) Promover a paz na Ìgreja, c) Promover o bem-estar dos crentes, d) dar testemunho mais eficaz. 5.5. L"aifi(a)Jes 3a$a o 1ia(onato : Seg"n1o Atos -,5:/ "t E895G Q 9 5 &,", na#ueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos reos contra os hebreus, por#ue as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. @ 5 - os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram8 $ão é razo3vel #ue n*s dei'emos a palavra de +eus e sirvamos Cs mesas. A 5 -scolhei, pois, irmãos, dentre v*s, sete homens de boa reputação, cheios do -spírito ?anto e de sabedoria, aos #uais constituamos sobre este importante ne*cio. B 5 >as n*s perseveraremos na oração e no ministério da palavra. 6 5 - este parecer contentou a toda a multidão, e eleeram -st<vão, homem cheio de fé e do -spírito ?anto, e Uilipe, e 1r*coro, e $icanor, e %imão, e 1armenas e $icolau, prosélito de "ntio#uia= E 5 - os apresentaram ante os ap*stolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. G 5 - crescia a palavra de +eus, e em 4erusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e rande parte dos sacerdotes obedecia C fé. a) Os diáconos devem ser moralmente equipados (de boa reputação v.3) b) Os diáconos devem ser espiritualmente equipados (Cheios do Espírito Santo v.3) c) Os diáconos devem ser mentalmente equipados (Cheios de sabedoria v.3) Seg"n1o I Tm =,6:5= ) %m A8J59A Q J 5 +a mesma sorte os di3conos sejam honestos, não de línua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe anRncia= K 5 ;uardando o mistério da fé numa consci<ncia pura. 9L 5 - também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. 99 5 +a mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, s*brias e fiéis em tudo. 9@ 5 &s di3conos sejam maridos de uma s* mulher, e overnem bem a seus filhos e suas pr*prias casas. 9A 5 1or#ue os #ue servirem bem como di3conos, ad#uirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé #ue h3 em Cristo 4esus. a) Honesto e sábio nas decisões, b) não de língua dobre, c) Temperante, d) Bom mordomo das possessões, e) Deve ser primeiro testado para após ser aprovado, f) Deve ser homem e de fé, g) Ìrrepreensível, h) Monógamo, i) Deve governar bem seus filhos e a sua própria casa. 5.;. As 4esas 1o se$vi)o 1ia(ona Hoje, persiste uma classificação relacionada ao serviço do ministério diaconal que se constitui em três partes que correspondem às mesas a que se refere Atos 6:2 T-ntão, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram8 $ão é razo3vel #ue n*s abandonemos a palavra de +eus para servir Cs mesas.O As três partes são: A mesa da beneficência (pobres), a mesa do pastor e a mesa do Senhor. 5.;.5. 4esa 1a 8enefi(Mn(ia - É a maior de todas as responsabilidades do diácono. Visa verificar e cuidar da assistência social da Ìgreja, assistindo os carentes, as viúvas, os necessitados, os doentes, etc. Eclesiologia 22 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL 5.;.;. 4esa 1o 3asto$ - É cuidar de tudo aquilo que facilitará o desempenho do ministério do pastor, desde as questões administrativas e eclesiásticas, até mesmo as questões materiais e familiares. Tudo para que a obra do Senhor venha a fluir com tranqüilidade. 5.;.=. 4esa 1o Sen>o$ - Não é especificamente servir os elementos da Ceia, mas também cuidar da vida espiritual da Ìgreja, sempre sob o comando do pastor, ajudando-o principalmente com suas orações. Devem ser responsáveis pelo bom andamento espiritual dos trabalhos da Ìgreja, entendendo os seus limites e até a onde vai a sua autoridade como diácono. O8se$va)*o: Para a consagração de diaconisas encontramos base bíblica em Rm 16:1 (Febe); 16:3 (Priscila); 16:12 (Trifena, Trifosa e Pérside); Fl 4:2,3 (Evódia e Síntique); Ì Tm 3:11 (da mesma sorte as mulheres); Ì Tm 5:9,10 (inscrição com menos de 60 anos) e Tt 2:3-5 (sérias – pouco vinho – ensinar as mais novas). = . 7is3o K E#isko#os - Tem a idéia de superintendente, administrador, aquele que tem uma visão global da obra, o que faz a inspeção da obra. De e#i (sobre, superior, por cima de) e sko#eo, "observar de longe, desde cima, por a vista em, Ter por fim, ter cuidado, velar, examinar (Ìsidro Pereira). Não designa posição de mando, mas de serviço específico e responsabilidade. Thayer traduz: Taluém incumbido do dever de observar o #ue esta sendo feito por outrosO. O termo também era usado no sentido de "guardião das almas". Ì Tm 3:1; Tt 1:5-7; Fil 1:1. 4 . A$es89te$o : 7res:Eteros - Tem a idéia de conselheiro. Significa dignidade. O termo significa conselheiro dos Judeus. At 20:17,28; Ì Tm 5:17; ÌÌ Jo 1:1; ÌÌÌ Jo 1:1. ' . An(i*o K Também tem a idéia de conselheiro e é uma das traduções do termo 7res:Eteros. Atos 14:23 diz que Paulo elegeu "anciãos" por toda a Ásia menor. A palavra "ancião" aparece cerca de cinqüenta e seis vezes no N.T.. Eles foram líderes locais que assumiram a liderança da Ìgreja. At 15:2,4,6,22,23; 16:4; 21:8 dizem que a Ìgreja de Jerusalém tinha anciãos. - . Evangeista K E4angelistes - (Ef 4:11) Significa arauto de boas obras, missionário itinerante. O termo era usado como nome dos arautos da salvação que não eram apóstolos. No N.T. Filipe era leigo, um diácono e um evangelista (At 21:8). Ele pregava o evangelho as pessoas perdidas e as batizava. Em 2Tm 4:5 Paulo exorta Timóteo a fazer a obra de evangelista. / . Aasto$ K 7oi*enas - Tem a idéia de guardador. Significa ternura. O termo quer dizer apascentador, aquele que pastoreia ou aquele que governa. Não designa posição hierárquica ou institucional, mas a virtude do líder para apascentar o rebanho de Jesus (1Pe 2:25). É um Dom do Espírito (Ef 4:11). Há pastores verdadeiros e pastores falsos. O verdadeiro dá a vida pelas ovelhas. O falso, mercenário, que não está emocionalmente ligado às ovelhas, Tv< vir o lobo e dei'a as ovelhas e foe= e o lobo as arrebata e dispersaO(Jo 10:11,12). Jesus deu a Pedro, apostolo, pescador de profissão, a incumbência de apascentar os seus cordeiros, como resultado do seu amor (Jo 21:17). Qualquer outro sentimento, qualquer outra motivação que não seja o amor a Jesus, resultará em fracasso no pastoreio das ovelhas de Jesus. Ninguém pode amar ovelhas sem amar a Jesus e ninguém que ame a Jesus, pode deixar de amar as ovelhas de Jesus. O cuidado pastoral abrange: Zelo para com a vida de cada ovelha do rebanho individualmente (Lc 15:4); interesse e carinho em nutrir as ovelhas do rebanho (Sl 23:2); proteção do rebanho, em face dos predadores (Am 3:12); fortalecimento das ovelhas para poderem resistir aos predadores na ausência do pastor (At 20:29). Em algumas denominações, a função do pastor acumula as funções do bispo, presbítero, ancião e evangelista. Pensa-se assim por entender que está na pessoa do pastor a responsabilidade de administrar, aconselhar e evangelizar. O pastor é o líder dos líderes. É um líder espiritual, um servo que dirige seu povo no caminho de DEUS. Ele deve ter o dom de ensinar e equipar os crentes de forma organizada dirigindo a Ìgreja dentro dos parâmetros administrativos corretos. Eclesiologia 23 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL -.5. 4ais ag"mas !"aifi(a)Jes 3a$a o 4inist#$io Aasto$a 6.1.1) Espirituais a) Experiência genuína de conversão; b) Que seja dotado de virtudes cordiais, tais como: AMOR, bondade, humildade, fé e prática de oração; c) Chamado pelo Senhor. 6.1.2) Morais a) Alto padrão de caráter; b) Bom testemunho (casa de vidro - (ÌTm 3:7 - Convém também #ue tenha bom testemunho dos #ue estão de fora, para #ue não caia em afronta, e no laço do diabo.) 6.1.3) Ìntelectuais a) Que seja pessoa de reconhecida capacidade intelectual, apta para ensinar, para exortar; b) Que seja estudioso e procure desenvolver-se sempre intelectualmente. AS OR+ENANNAS +A IGREJA O nosso Salvador Jesus Cristo reconheceu que, para nós, seres humanos, é difícil a visão do invisível. Por isso, mui sabiamente, Ele nos deixou dois ritos ou atos simbólicos para que, através de elementos visíveis do nosso mundo material, pudéssemos, com mais facilidade, alcançar realidades invisíveis do mundo espiritual e eterno. Ele nos deixou o Batismo e a Ceia. A Ìgreja Romana emprega para o Batismo e Ceia do Senhor a palavra sacramento. Esta palavra é genuinamente latina, logo extra bíblica (sacramentum). E o que é sacramento? TCada um dos sinais sensíveis produtores de raça, indispens3veis para os cristãos ad#uirirem a salvação eternaO (Dicionário Ruth Rocha, pág. 551). No Novo Testamento não temos sacramentos e muito menos sinais como veículos de graça. O termo sacramentum passou a ser usado no século ÌÌÌ, por Tertuliano, para descrever um juramento de lealdade que o cristão fazia, à semelhança do juramento que os soldados romanos prestavam ao entrar no exército, mas com o tempo passou a significar "um sinal visível da graça invisível¨ Os sete sacramentos da Ìgreja Católica Romana são: o batismo, a confirmação ou crisma, a eucaristia ou ceia, a penitência, a unção dos enfermos ou extrema-unção, a ordem ou ordenação sacerdotal e o Matrimônio. Os sete sacramentos são nada menos que uma série de obras. Como sabemos, a bíblia declara reiteradamente que boas obras jamais salvam alguém (Rm 3:20; Ef 2:8,9). Se limitarmos as ordenanças apenas àquelas trazidas por Jesus, teremos apenas duas: O batismo e a ceia, ou o "banho e o pão¨, como Lutero chamou. Os menonitas observam mais uma ordenança, a do lava-pés, firmada em Jo 13:14s. As ordenanças têm três elementos simbólicos principais: 1) O sinal visível que é representado pela água no batismo, pelo pão e vinho na ceia do Senhor. 2) A graça invisível que é aquela que a ordenança representa. No batismo, a graça invisível é o "lavar regenerador¨ (Tt 3.5), o perdão dos pecados (At 2.38), a união com Cristo na sua morte e ressurreição (Rm 6.1) e ter comunhão com o povo de Deus ((1 Cor 10.17). 3) O resultado prático da Palavra de Deus, mostrando o quanto o Evangelho não apenas se mostra nas escrituras mas nas vidas das pessoas. Os reformadores salientaram a necessidade de pregar a Palavra todas as vezes em que são ministrados os sacramentos, pois eles são, segundo Agostinho, "as palavras visíveis de Deus.¨ 5. O 7ATIS4O "Uoi5me dada toda autoridade no céu e na terra. 1ortanto ide, fazei discípulos de todas as naç(es, batizando5os em nome do 1ai, e do Uilho e do -spírito ?anto, ensinando5os a observar todas as Eclesiologia 24 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL coisas #ue eu vos tenho mandado= e eis #ue eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.O.>ateus @J. 9J5@L/. O batismo é a porta de entrada para a Ìgreja. Não salva e nem transmite graça. É o selo da prova do arrependimento do crente. Simboliza principalmente duas grandes verdades: identificação e purificação. Pelo batismo de João, os Judeus, inclusive o próprio Jesus, identificavam-se com a atitude da qual João apregoava, com relação ao pecado e à justiça. Pelo batismo cristão, identificamo- nos com nosso Salvador em Sua morte, sepultura e ressurreição, reconhecendo-nos , pela fé, mortos e ressuscitados com Ele ( RM 6:4 - +e sorte #ue fomos sepultados com ele pelo batismo na morte= para #ue, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela l*ria do 1ai, assim andemos n*s também em novidade de vida.) No AT são mencionadas algumas lavagens ou atos de purificação, algumas delas rituais (Ex 19.14s; Lv 16. 4,24; cf. Sl 51.2). O batismo de João concentrou-se em dois pontos: era um batismo de arrependimento do pecado (Mt 3.2) e antecipava a vinda do Reino (Mt 3.7-12). O próprio Jesus foi batizado por João, para identificar-se com o povo que viera livrar (Mt 3.15), e como consagração pública ao Pai para o seu trabalho de salvação (Mt 3.17), tornando João seu precursor, ordenado por Deus (Lc 7.24s; Ml 3.1). Como Senhor ressurreto, Jesus enviou a igreja para fazer discípulos, e batizá-los no nome trino do Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 28.19,20). O restante do NT mostra a igreja cumprindo esta comissão. O significado do batismo se expressa nos seguintes termos: é uma confissão de fé em Cristo (Rm 6.3-2; 1 Pe 3.21); é uma experiência de comunhão com Cristo (Cl 2.12); é uma confissão para viver para Cristo (Rm 6.22). Milne escreveu: " para os escritores no Novo Testamento o batismo era o ponto normal em que a fé se expressava publicamente, apropriando-se de Cristo e das bênçãos da sua salvação; a purificação do pecado, renovação do espírito, capacitação para servir e a entrada no corpo de Cristo (1Co 12.12; 1 Pe 3.21) 1.1) 0OR4AS +E 7ATIS4O 1.1.1) Ìmersão - Consiste em mergulhar o candidato, levantando-o após o ato batismal. Quando o candidato mergulha, demostra que morreu para o mundo, para a escravidão do pecado e para o velho homem. Quando ele é levantado, no caso, das águas, demostra que nasceu de novo em novidade de vida (Rm 6:4) Obs: A palavra batismo vem do grego :a#tis*5s ( ) que significa imersão. Vejamos um breve estudo sobre a palavra :a#tis*os e o que o Novo Testamento apresenta sobre o batismo por imersão: /a#tis*os vem do verbo grego :a#to, "submergir, mergulhar¨ na forma intensiva :a#ti(o, fazer mergulhar, fazer imergir, submergir, surge o substantivo :a#tis*os, imersão, o ato de mergulhar e :a#tis*a, o batismo. No grego clássico, assim como no grego contemporâneo, :a#to tem o sentido de: mergulhar, imergir, molhar, umedecer, tingir (mergulhar o pano em tinta); tirar água (mergulhar o vaso); temperar o ferro ( mergulhar o ferro incandescente em água). Além do sentido de mergulhar, :a#ti(o significa também "fazer perecer¨ devido à pena de morte por afogamento ou afundar (fazer submergir) um navio. Com o sentido não ritual, a palavra :a#to ocorre apenas 4 vezes no NT; em João 13.26 ( duas vezes), traduzida por "molhar¨, que a Bíblia de Jerusalém verte por "umedecer¨( o bocado de pão mergulhado no vinho entregue a Judas); em Lucas 16.24, também traduzido por "molhar¨( mergulhar a ponta dos dedos na água) e em Apoc. 19.13, :e:a*enon – particípio passado perfeito de bapto na forma adjetiva, predicativo de i*ation (vestido, manto), assim traduzido: "manto embebido de sangue¨. A BLH lê "capa tingida de sangue.¨ /a#ti(o e correlatos ocorrem nos evangelhos, fora da grande comissão, quase exclusivamente em conexão com o batismo de João. É, pois, em Atos e nas epístolas que o significado litúrgico cristão do batismo assume a sua forma. Observe: todas as vezes, sem exceção, que a palavra batismo é usada, significa imersão, seja Eclesiologia 25 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL no sentido histórico, seja no sentido teológico ou escatológico ou mesmo como metáfora: Batizados em Moisés (espiritualmente imersos em Moisés), na nuvem (totalmente envolvidos pela nuvem) e no mar (simbolicamente mergulhado no mar) – (Ì Cor 10.2); todas as vezes, sem exceção , em que o ritual do batismo cristão é mencionado, a palavra usada é :a#tis*os, Todas as vezes que o ato do batismo cristão é mencionado, a palavra usada é :a#tis*os. Todas as vezes que o ato do batismo é descrito, implica entrar para dentro da água e sair de dentro da água. 1.1.2) Aspersão ou Ablução - Consiste em molhar a cabeça do candidato. Entende-se que basta tão somente a utilização da água (que para o Judeu é instrumento de purificação) para que toda a simbologia do batismo aconteça. Há uma longa relação de palavras conhecidas dos autores do Novo Testamento que podem dar base para que o testemunho da fé pudesse ser feito mediante aspersão ou ablução: Bantinis*o, ranti(o (Hb 10:22) traduzidas por aspersão e aspergir cerimonialmente, 7rosFEsis, igualmente vertida para "aspersão¨, no sentido cerimonial em Hb 11.28; <i#to, lavar fisicamente, lavar cerimonialmente. Usa-se para o ato social e cerimonial de lavar os pés de outra pessoa (Jo 13.5,8; Ì Tm 5.10). Em João 9: 7, 11, 15, é lavar os olhos ao cego. Em Mt 15.2, Mc 7.3 é a lavagem cerimonial das mãos. Em Mt 27.24, temos o extensivo a#o-ni#to no aoristo médio do indicativo (Pilatos lavou as mãos de uma vez para sempre...), Luo, lavar medicinal ou cerimonial – At 9.37 (lavar um defunto); At 16.33 (lavar as feridas); Jo 13.10 (lavar os pecados). Neste texto, aliás, ocorrem os dois termos: o Lelu*enos... #odas ni#sasthai >os já purificados (purificados de vez).... os pés (são) lavados¨. Em Hb. 10.22, é lavar cerimonialmente o corpo, uma vez que o coração já foi purificado. 7lEno – lavar objetos, limpar, fazer assepsia – Lc 5.2 (lavar as redes- serviço profissional); Mt 15.2 (lavar as mãos cerimonialmente), lavar, abluir, aspergir purificar, borrifar e etc. Há algumas justificativas para o batismo por aspersão que são interessantes e devemos considerar. 1) A inexistência de água em Jerusalém para batizar 3.000 pessoas no dia de Pentecostes. 2) A objeção de que seria impossível imergir 3.000 pessoas em um dia só, no dia de Pentecostes. 3) O argumento de que o carcereiro de Filipos e sua família não poderiam ser imersos à meia noite. 4) O trecho do rio onde o eunuco foi batizado por Filipe. 1.1.3) Afusão ou Borrifação – Consiste em jogar pingos d'água no candidato. Praticamente inexistente em nossos dias. 5.;. SIGNI0I<A+OS SACRAMENTALÌSTA. Crê que o batismo é um ato sagrado que confere a graça de apagar o pecado original, removendo a culpa e regenerando o pecador independentemente da condição do batizado e da crença do batizando, ou seja, eF o#ere o#erato. Atribui ao oficiante uma autoridade sobrenatural e condiciona o direito à salvação ao batismo. Desse modo, surge a aspersão como sendo indispensável, pois em muitos casos, a imersão seria impossível. Essa posição decorre de outro sacramento- o das ordens sacerdotais , que confere ao sacerdote poderes sobrenaturais. PRÓ-SACRAMENTLÌSTA. Crê que há uma bênção especial no batismo, independente da sua forma, ainda que o batismo não seja essencial para a salvação. O batismo de criancinhas é um ritual pró- sacramentalista. Abençoa o indivíduo apesar da impossibilidade da sua fé. Passagens bíblicas nas quais pretendem basear-se as posições acima: Marcos 16.6 – "Quem crer e 1or :ati(ado será salvo¨. O mesmo texto informa que a base para a condenação não é não ser batizado, mas não crer, além de estabelecer uma ordem: primeiro a fé, depois o batismo. Eclesiologia 26 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL João 3.5. "nascer da 9gua e do espírito¨. É evidente que Jesus não está falando do batismo, mas do "nascer de novo¨. Ìnterpretar este "nascer da água¨ como sendo o batismo é uma violência exegética. Pode haver várias maneiras de entender "nascer da água¨, mas todas as evidências contextuais vedam a idéia de que se trata do batismo, pois se fosse o caso, o "nascer do espírito¨ teria que preceder o "nascer d'água¨ para validar o batismo. No texto grego – gennethe eF Edatos kai #neu*atos "nascer da água e do espírito¨- a conjunção =ai ("e¨) funde água e espírito em uma realidade única. Aí não temos preposição nem artigo. A leitura literal seria "nascer de água-e- espírito¨ o que reforça a idéia de Jesus estar falando, não do batismo, mas da ação do Espírito Santo na regeneração do pecador. A seqüência do texto não comporta outra exegese. Tito 3.5 – Tnos salvou pela lavaem da reeneração e da renovação do -spírito ?anto.O A lavagem, aqui, - LEtrou e não :a#tis*os, é uma referência, não à lavagem do exterior mas à purificação interior operada pelo Espírito Santo da regeneração. Atos 22.16 – Tbatiza5te e lava os teus pecados, )nvocando o nome do ?enhorO. A lavagem dos pecados não resulta do batismo, mas do invocar o nome do Senhor, como Paulo proclama em Rm 10.13. O batismo em água é testemunho e símbolo exterior do batismo interior efetuado pelo Espírito Santo quando o pecador invoca o nome do Senhor. A interpretação do batismo como sacramento anula a doutrina da salvação pela graça mediante a fé e confere ao homem o poder que é exclusivo de Deus, mediante o sangue de Jesus: purificar pecados e gerar novas criaturas. SÍMBOLO E TESTEMUNHO. Em 1Pe 3.21 temos o batismo tornado como figura da salvação. Ao simbolizar a morte e ressurreição de Jesus (Rm 6.3-6), a imersão na água e emersão da água celebram, ao mesmo tempo, a fé que salva o pecador, a graça de Cristo que opera a salvação e esperança que antecipa a glória dos remidos . Assim, há um tríplice significado no batismo cristão: 1. Há um significado histórico – a fé na morte e ressurreição de Jesus, simbolizada pela imersão na água e emersão da água. 2. Há um significado presente, transcendente – pela fé (demonstrada pelo batizado ao submeter-se ao batismo) foi sepultado o homem velho e surgiu uma nova natureza, que resulta em uma nova vida. 3. Há um significado escatológico – ao emergir da água o candidato está mostrando sua fé na ressurreição final, na esperança de Tuma herança incorruptível e incontamin3vel reservada nos céus para v*s¨ ( Ì Pe 1.5) Todo esse riquíssimo significado só se torna real na medida em que o salvo, já imerso em Jesus Cristo pelo Espírito Santo, é imerso em água em nome da Trindade. Veja W. T. Conner em DOUTRÌNA CRÌSTÁS. 5.=. AFTORI+A+E AARA 7ATIOAR Não há prescrição bíblica de pré-requisitos quanto a quem está autorizado a batizar. No Novo Testamento vemos ministrando o batismo: apóstolos ( Ì Cor 1, 14) , evangelistas e diáconos ( At 8,.38), missionários, (At. 16.15,33), "alguns irmãos¨(At. 10.23, 48). 5.4. A7RANGPN<IA +O 7ATIS4O O batismo é uma celebração da Ìgreja. Em que condições é aceito por uma igreja o batismo efetuando em outra Ìgreja? Podemos resumir as diferentes posições sobre essa matéria em três versões. As diferentes posições sobre essa matéria em três versões: Eclesiologia 27 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL 7atismo E("mMni(o. Aceita-se qualquer forma de batismo praticado em qualquer Ìgreja cristã, desde que tenha sido pronunciada a fórmula "em nome do pai, do Filho e do Espírito santo¨. A Ìgreja Católica aceita aspersão ou imersão de qualquer Ìgreja Cristã como batismo válido para credenciar casamentos e outras formalidades, ou mesmo para fazer parte da paróquia. 7atismo Liv$e. Há Ìgrejas evangélicas que aceitam qualquer forma de batismo praticado em qualquer Ìgreja evangélica, não importa se a pessoa recebeu o batismo quando criança ou na idade adulta, nem se foi por imersão ou aspersão. 7atismo <onfessiona. Há Ìgrejas que só aceitam como válido o batismo praticado na forma e dentro das doutrinas da mesma Ìgreja. Essa é a posição de algumas das igrejas batistas arroladas na Convenção Batista Brasileira, que só aceitam como válido o batismo ministrado por imersão em igrejas da mesma fé e ordem, tomando-se a essa condição.2;a 3$ova at# a!"i. 2.5* 7ATIS4O IN0ANTIL A fé é exigida como condição prévia, acompanhada de arrependimento (Mc 16.16). O significado do batismo é regeneração mediante a fé, virtude que não pode ser passada por procuração de quem ainda não sabe discernir entre a sua mão esquerda e a direita. Romanos 6.17 diz aos que foram batizados: Tobedecestes de coração C forma de doutrina a #ue fostes entreuesO, o que exclui criancinhas. Os pecados originais são apagados pelo sangue de Cristo mediante a fé, não pela água cerimonial do batismo. Em Atos 2.38, tanto o batismo quanto o perdão dos pecados são resultados de "arrependei5vos¨. É evidente, por todos os motivos, que o batismo cristão nada tem a ver com a circuncisão, em vista do tratamento que a circuncisão tem em atos e nas epístolas paulinas. O batismo cristão (em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo) é o testemunho público da regeneração, morte e novo nascimento. A circuncisão (uma incisão na carne à qual só os bebês do sexo masculino podiam ser submetidos) era o símbolo da aliança de Deus com Abraão na formação do povo escolhido. Obviamente, não podia ser exigido qualquer ato de fé por parte do bebê como condição prévia para a circuncisão. O batismo cristão não é a versão neotestamentária da circuncisão. Paulo declara enfaticamente que "em Cristo 4esus nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude aluma, mas sim o ser uma nova criaturaO .;l E.96/. Para um homem entrar para o povo de Deus no Antigo Testamento, bastava ser circuncidado. Para entrar para o povo de Deus no Novo Testamento, não basta o batismo. Homens e mulheres são batizados como testemunho de sua morte e ressurreição pela fé em Jesus. A alegação de que o carcereiro de Filipos foi batizado "com toda a sua casa¨ ou "com todos os seus¨ como justificativa para o batismo infantil, merece consideração por dois motivos: Primeiro, o texto não diz que havia infantes na casa do carcereiro. Segundo: No versículo seguinte se diz que o carcereiro "alegrou-se muito com toda a sua casa, por ter crido em Deus¨, o que exclui infantes. O mesmo se diga em relação ao caso de Cornélio. O texto diz que Pedro, ao justificar- se perante a Ìgreja por Ter batizado o oficial romano, declarou: "Portanto, se Deus lhes deu o mesmo Dom que a nós quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo...¨O texto não menciona a presença de infantes e diz claramente que os batizados de Cesaréia creram para poderem receber o mesmo Dom concedido aos crentes de Jerusalém. Se o que se procura são inferências, é mais natural supor que o carcereiro, Lídia e Cornélio , pelas funções que ocupam, já não estariam em idade de ter bebezinhos em casa. Ezequiel 18 ensina que o filho não leva a culpa do pai. Cada pessoa, portanto, tem que se arrepender do seu próprio pecado para ser regenerada. Por isso Jesus disse que das criancinhas é o Reino do céu . Elas não têm pecado. Não precisam se arrepender e crer. Não precisam ser batizadas. A igreja dos apóstolos atribui ao batismo um extraordinário e inovador significado, proporcional ao da própria experiência de fé em Jesus, mas isso não quer dizer que creditassem ao batismo um poder terapêutico ou soterológico que Jesus não lhe atribui, pois embora curando enfermos e salvado almas, Jesus mesmo não batizava . Eclesiologia 28 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Sendo o batismo um testemunho da fé, esta sim, condição indispensável para se entrar no Reino espiritual de Cristo, torna-se também condição para ser membro da Ìgreja, que se compõe de pessoas regeneradas pela fé e batizadas segundo as escrituras. Desse modo, ser biblicamente batizado (forma e conteúdo) torna-se pré-requisito para participar da Ceia do senhor, celebração da igreja, proclamatória da morte de Cristo. ;. A <EIA +O SENBOR ;.5. ORIGE4 +A <EIA NA <ELE7RANQO +A AIS<OA Uma celebração cristã nasce, em sua forma e conteúdo significativo, de uma celebração judaica. Nada a estranhar, uma vez que o mesmo Deus dos hebreus é o Deus dos cristãos, toda teologia do Novo Testamento está baseada na Lei e nos profetas do Antigo Testamento, Jesus era Judeu, seus primeiros discípulos eram judeus.¨a salvação vem dos judeus " (João 4.22) e toda a Páscoa é um anúncio profético do Evangelho. A Ceia do Senhor cumpre a profecia contida na Páscoa dos judeus mas o seu significado vai além, na medida em que Jesus é mediador de uma Aliança superior à Aliança da Lei mosaica (Hb 8.6; 9.11). Na refeição anual da Páscoa, os judeus alimentavam sua esperança messiânica conservando, à mesa, uma taça a mais, reservada para o Messias, "para a eventualidade de ele chegar naquela noite para realizar a libertação tipologicamente prenunciada pelo Êxodo.¨ "Pode Ter sido este mesmo cálice que Jesus tomou na instituição do novo rito, indicando que agora o Messias estava presente para festejar com o seu povo¨(EHTÌC, Vol. Ì, Pag. 263). O artigo definido precedendo a palavra cálice, no texto de Ì Cor 11.25 – to #ot%rion, "o cálice¨ acrescido do pronome demonstrativo outros no acusativo, "este mesmo¨ parece indicar que se tratava de um cálice especial, ou com uma finalidade especial. Se essa linguagem não comprova a tradição judaica do cálice para o Messias, com certeza indica que, para Jesus, o cálice que ele tomou nas mãos tinha um significado muito particular. Era o "Cálice da Nova Aliança¨. Há riquíssimos elementos comuns entre a Páscoa dos Judeus e a Ceia do Senhor. ;.;. A AIS<OA E A <EIA +O SENBOR Ì) PÁSCOA – Os eventos centrais da Páscoa eram o sacrifício de um cordeiro como sinal da expiação e o repartir dos pães ázimos como sinal da libertação. Os israelitas eram tão pecadores quanto os egípcios, mas foram poupados da morte através da fé no sangue propiciatório, de um cordeiro, tomado como holocausto profético (Êx 12.13). CEÌA – O sangue do Cordeiro de Deus, simbolizado no vinho, derramado na cruz para a expiação do pecado da humanidade (Lc 22.19) por dádiva graciosa de Deus, juntamente com o partir do pão, é o centro da celebração da Ceia do Senhor. ÌÌ) PÁSCOA – O partir do pão (ázimo) como símbolo da presença libertadora de JHVH (Êx 12:27), era também um sinal de arrependimento e quebrantamento. CEÌA - O partir do pão como sinal de comunhão ( 1 Cor 10.16), tem o sentido evidente de tipificar o quebrantamento do corpo de Cristo em lugar dos pecadores – "este é o meu corpo, aquele que é partido (dado) por vós¨. A preposição hyper ("por¨, "sobre¨) aqui, significa "em favor de¨. O Cordeiro de Deus ofereceu o seu corpo voluntariamente para ser morto na cruz em favor do homem, para resgatá-lo da culpa do pecado. A partição do corpo de Jesus não está representada no ato de se mastigar o pão, mas no ato de se partir o pão a ser oferecido aos celebrantes para que dele comam. ÌÌÌ) PÁSCOA – A Páscoa deveria ser celebrada como memorial da libertação (êxodo) de Ìsrael (Êx 12.14). Eclesiologia 29 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL CEÌA – A Ceia do Senhor é celebrada como memorial da libertação (êxodo) da Ìgreja (Hb 13.14; João 8.36). ÌV) PÁSCOA – A Páscoa indicava o começo de Ìsrael como nação messiânica sacerdotal (Êx 19.6). CEÌA – A Ceia do Senhor evoca o momento em que Jesus dá começo à sua igreja ao dar-se a si mesmo em sua redenção. V) PÁSCOA – Há um claro sentido comunitário no ato de cada família convidar os vizinhos para compartilharem do cordeiro pascal e dos pães ázimos (Êx 12.4). Todos teriam que iniciar e continuar a marchar juntos. CEÌA – A celebração da Ceia do Senhor traduz um forte sentido social na base da unidade da fé em Jesus como Senhor e salvador. VÌ) PÁSCOA – A Páscoa era a celebração de uma esperança futura – da terra prometida (Êx 12.25) e do reino Messiânico (EHTÌC – Vol Ì, Pag. 263). CEÌA – A Ceia do senhor tem expressivo conteúdo escatológico, pois é também o sinal e uma celebração da esperança da volta do Senhor ( Ì Co ÌÌ. 26) "Até que ele venha¨. Apesar de toda essa semelhança, a Ceia do Senhor não é a Páscoa dos cristãos. A páscoa, celebração judaica, termina no seu pleno cumprimento no Calvário. Passou! A Ceia do Senhor é um anúncio da morte de Jesus Cristo, o sangue de uma nova e perfeita aliança. ;.=. SIGNI0I<A+O TEOLRGI<O +A <EIA +O SENBOR A Ceia do senhor comporta um tríplice significado. G.3.1H D le*:ranIa da *orte que tra( 4ida. Lembrança que celebra o presente de um evento pretérito. A morte de Jesus não é apenas um fato para ser recordado, não é somente um acontecimento do passado que traz benefícios no presente, como se fosse uma vacina eficaz no presente, mas cujo inventor já houvesse morrido. Jesus morreu para vencer a morte. Ele vive! A "memória¨ de Cristo não é história morta, mas é uma lembrança viva. A Ceia anuncia a morte de Jesus, que vive e está presente pelo seu Espírito em nosso espírito. Anunciar a morte do Senhor é celebrar a sua vida. Anuncia-se a sua morte porque é através da morte de Jesus, que podemos obter a vida eterna! Não faria sentido usar pão e vinho, símbolo da vida, para recordar a morte de Cristo se, através da sua morte, não nos desse ele a vida > Cristo é a vida e ele nos dá a vida eterna através da sua morte. ¨Quem tem o filho , tem a vida¨(Ì Jo 5.12) 'Em memória de mim¨ - é, pois, uma exortação à vida, à alegria da vitória sobre a morte nos termos da doxologia de Ap 1.18: "fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do hades¨. Em muitas igrejas, porém, a Ceia é celebrada como se fosse um ofício fúnebre, sem alegria, sem grito de vitória. Não devemos confundir solenidade com luto. Jesus Cristo está vivo. Nele temos a vitória sobre a morte. Há um sentido positivo no substantivo ana*n%sis ("memória¨), a indicar que não se trata tanto de o celebrante lembrar-se da morte de Jesus, quanto de fazer real, atual, viva em seu viver, a presença do Senhor. "Quando o homem se lembra de Deus, deixa que seu ser e suas ações sejam determinados por Ele¨. Não é o caso de apenas não nos esquecemos, pois anamnesis tem o sentido de uma le*:ranIa ati4a (lembrar-se e agir em conseqüência). Eclesiologia 30 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL G.3.GH D le*:ranIa que torna co*u* u* senti*ento indi4idual. :3 um claro sentido de solidariedade e compromisso na Ceia do Senhor. Os celebrantes devem sentir que a presença de Cristo faz com que cada um deles seja parte do mesmo pão, todos da mesma natureza espiritual, como cada pedaço de pão no prato oferecido. Comer do pão e beber do cálice é assumir um compromisso de preservar as doutrinas, manter acesa a chama da esperança, aceitar o pacto de permitir a santificação da sua vida para servir a Cristo. É muito significativa a declaração do meticuloso historiador Lucas em Atos 2.46 : T- perseveravam na doutrina dos ap*stolos, e na comunhão, e no partir do pão e nas oraç(esO. A Ceia do Senhor tem um real significado de comunhão espiritual. Não se trata de um encontro de pura confraternização. Para que tenhamos a sua exata compreensão, é indispensável que ela expresse os três elementos aqui indicados : 2. Ae$seve$a$ na 1o"t$ina 1os a3Cstoos. Sem essa correta definição, correríamos o risco de confundir as doutrinas e acabaríamos por dividir o cálice do Senhor com o cálice dos demônios (Ì Cor 10.21). A perseverança na doutrina dos apóstolos determina o pleno conhecimento do significado da comunhão, da Ceia do Senhor e das orações na igreja. 3. Ae$seve$a$ na (om"n>*o, gr. koinonia – que é muito mais do que solidariedade de grupo, é a dádiva de si mesmo pelo amor aga#e, a essência do caráter de Deus. É o amor em ação. 4. Ae$seve$a$ nas o$a)Jes. O "partir do pão¨ não é um acontecimento socio-cultural, mas um evento espiritual, de forte expressão teológica. Sem oração e verdadeira piedade, ninguém pode captar o verdadeiro significado do partir do pão e o repartir do cálice do Senhor. Sem a comunhão vertical com Deus, em oração perseverante, a comunhão horizontal, com a igreja transforma-se em gesto de simples amizade – filia, ou em um sentimentalismo piegas, desfigurado da sua verdadeira natureza. A igreja de Atos 2 perseverava na sã doutrina, na comunhão de amor e nas orações de profunda e verdadeira piedade. Só assim podia perseverar no "partir do pão¨. G.3.3H D le*:ranIa que anteci#a, no #resente, u* e4ento 1uturo (Ì Cor 11.26), Devemos continuar celebrando a Ceia do Senhor Taté #ue ele venhaO. Essa expressão nos dá o entendimento de que, ainda que não possamos saber quando será, a volta de Jesus é certa, e uma prova de que esperamos a sua vinda se dá quando repartimos o pão e o cálice juntos e unidos na mesma esperança. O Cristo, presente na Ceia pelo seu Espírito, antecipa o Reino em sua glória futura. Assim como o batismo, a ordenança positiva da Ceia tem um forte significado escatológico. Cada vez que celebramos a Ceia do Senhor, devemos nos transportar, em nosso espírito, à Glória do céu. Devemos orar como a igreja de Apocalipse: T"mém= vem, ?enhor 4esusO (22.20). A memória do que Cristo fez ao derrotar a morte por nós pela dádiva de si mesmo na cruz deve incendiar em nosso coração um amor tão vivo por ele que o desejo da sua volta não seja apenas uma fria declaração de fé expressa em nossa liturgia, mas que se torne uma paixão dominante em nosso viver diário e determine o nosso estilo de vida. É oportuno lembrar que a nossa ansiedade pela volta de alguém que partiu e que vai chegar, será sempre diretamente proporcional ao nosso amor por essa pessoa. Esse "ardor de fé¨ pela volta de Cristo determina a nossa maneira de viver e de testemunhar, torna viva e real em nós a esperança e antecipa a glória. A declaração de Jesus Tem mem*ria de mimO significa também: Tuardem ativamente na mem*ria #ue eu voltareiO, exortação, aliás, muito freqüente nas parábolas e nos ensinos discursivos de Jesus. A Ceia é uma celebração de esperança, pois nos antecipa a glória, pela presença de Jesus em nós através do Espírito Santo. ;.4. INTERARETANSES +OS ELE4ENTOS +A <EIA +O SENBOR ;.4.5. TRANSF7STAN<IANQO Eclesiologia 31 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL T$o ?acramento da ?sma. -ucaristia estão contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o corpo e o sanue simultaneamente com a alma e a divindade de $. ?. 4esus Cristo, e, pois, todo o Cristo e não apenas em símbolo, fiura ou efic3ciaO. Essa declaração do dogma católico citada pelo Novo Catecismo editado pela HERDER, editora oficial da Ìgreja de Roma, explica a doutrina da transubstanciação. Todo o católico é ensinado a crer que a hóstia, uma vez consagrada pelo sacerdote, transforma-se no corpo real de Jesus Cristo. Os pretensos fundamentos bíblicos para essa doutrina estão em João 6.52-56. Nos versos. 54, 55 , Jesus diz: TIuem come a minha carne e bebe o meu sanue tem a vida eterna= e eu o ressuscitarei no último dia= por#ue a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sanue verdadeiramente é bebidaO . É óbvio que Jesus está, aqui, usando de uma metáfora, como fez em outros casos, quando disse, por exemplo: "Eu sou a luz do mundo ", "eu sou a porta¨ etc. Caso pudesse ser interpretadas literal ou figuradamente, o próprio Jesus esclarece, no mesmo capítulo, v. 63: T& espírito é o #ue vivifica= a carne para nada aproveita= as palavras #ue eu vos disse são espírito e são vida.O O outro texto é Mt 26.26 T%omai, comei, isto é o meu corpoO. A simples leitura gramatical derruba a idéia da transubstanciação. O que Jesus dá a comer não é o seu corpo, mas pão. Não houve transubstância. No relato paralelo de ÌCor 2, é evidente que a igreja continuava comendo pão como sendo pão e não a carne de Jesus. No verso 24, Paulo declara que Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e disse T%omai, comei, isto é o meu corpoO- literalmente: Teste é o meu corpoO. Logo a seguir, nos versos 26 e 27, ao se referir ao pão, a linguagem de Paulo não deixa a mínima dúvida sobre o que é que Jesus entregou aos discípulos e como a Ìgreja interpretou as palavras do Mestre: V: 26 - T1or#ue toda as vezes #ue comerdes este pão P ton arton touton – (o pão este, o mesmo pão). No verso 27 Paulo repete: TIual#uer #ue comer do pãoO. A Ìgreja dos apóstolos não comia o pão pensando que estivesse mastigando o corpo de Jesus. A respeito do pão, Jesus diz: T%omai e comeiO. Ao entregar o cálice, ele diz: Tbebei dele todosO (Mt 26.27), O oficiante católico, no entanto, distribui o pão com todos, mas reserva o vinho para si. O vinho é negado, alega-se para que não aconteça ser derramado pelo chão o sangue de Cristo. Teofagia é culto pagão, nunca cristão. Comer o alimento dos deuses ou comer alimentos que representem as divindades, oferecer alimentos aos deuses ou aos mortos, são elementos constantes nas religiões naturais, como podemos ver nas esquinas do Rio de Janeiro toda Sexta feira ou nos cemitérios japoneses. Na base da teofagia está a crença de que, comendo o alimento dos deuses, o cultuante adquire os poderes da divindade cultuada. É evidente que não é esse o conteúdo teológico da Ceia do Senhor. A transubstanciação começou a penetrar na igreja no Séc. ÌX, através de Pascácio Radbert. Após sérios combates, em 1215, o concílio de Latrão aprovou o dogma. A transubstanciação é reconhecida como um ato de propiciação real, pela repetição real, pela repetição do ato vicário de Jesus na cruz, uma vez que o pão o vinho são transformados no corpo e no sangue de Jesus para serem de novo oferecidos. Por serem o corpo e o sangue de Jesus, os elementos da eucaristia, para a Ìgreja Católica Romana, são objetos de adoração, o que configura idolatria. ;.4.;. <ONSF7STAN<IANQO É a posição de Martinho Lutero, que repudiava a idéia da transubstanciação, mas não quis deixar de atribuir um poder sacramental aos elementos da Ceia. É a idéia de que, junto com os elementos, junto como o pão e o vinho, impregnado no pão e no vinho, está a substância do corpo de Cristo. ;.4.=. ARESENNA 4ÍSTI<A João Calvino foi um pouco mais longe do que Martinho Lutero no repúdio à heresia da transubstanciação e elaborou o conceito chamado "Presença Mística¨, segundo o qual, há uma presença espiritual benéfica de Cristo no pão abençoado da Ceia. Eclesiologia 32 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL O pão passa ter um valor espiritual intrínseco, não pela presença física de Jesus trans ou consubstancialmente, mas por sua presença mística, espiritual . A Ceia é chamada de "Santa Ceia¨ porque o pão e o vinho são santos devido à presença eficaz de Jesus nos próprios elementos. O pão permanece inalterado, mas ao comê-lo o participante recebe uma bênção espiritual. Essa forma de entender o significado da Ceia é encontrada na maioria das igrejas evangélicas pentecostais. ;.4.4. SÍ47OLO 4E4ORIAL Em Lucas 22 e 1Cor 11 a ordem do Senhor Jesus é "...fazei isto em mem*ria de mim...O. Os elementos são recebidos como eles são, apenas representando o corpo sacrificado de Jesus no pão e o sangue de Jesus derramado pelos nossos pecados no vinho. Os elementos não se transformam em nada, não recebem nenhuma substancia divina e não possuem uma graça especial, apenas trazem à memória o que Jesus sofreu em nosso lugar. ;.'. A7RANGPN<IA +A AARTI<IAANQO NA <EIA +O SENBOR Há pelo menos quatro maneiras, com algumas variantes, aceitas como limitação de quem pode participar da Ceia do Senhor. <EIA FNI?ERSAL 2FLTRA:LI?RE.. Qualquer pessoa presente pode participar, não importa a sua religião. Parte-se do pressuposto de que o pão e o vinho são elementos sagrados que abençoam a qualquer pessoa que deles coma e beba, não importa se tal pessoa crê ou não no que o pão e o vinho representam. <EIA LI?RE. Admite participação de todos os evangélicos. A Ceia é tomada como um ato de comunhão fraternal entre irmãos evangélicos, não se levando em conta a forma de batismo nem qualquer outro pré requisito, nem mesmo significado da ceia, bastando apenas que alguém seja membro de uma igreja evangélica para participar. <EIA RESTRITA. Só admite participação membros de igrejas da mesma fé e ordem, sendo a forma prática de reconhecê-los, o fato de pertencerem a igrejas da mesma denominação. Muitas igrejas consideram a Ceia uma celebração da igreja local, admitindo-se à mesa, como participantes, membros de outras igrejas da mesma fé e ordem, por uma questão de cortesia fraternal. <EIA FLTRA RESTRITA. Só admite a participação dos membros da igreja local celebrante. ;.-. O AQO E O ?INBO Os textos bíblicos não dão margem para qualquer radicalização quanto à obrigatoriedade de serem o pão ou o vinho da Ceia do Senhor com ou sem fermento. Os Judeus usavam, na Páscoa, pão sem fermento e vinho fermentado. É evidente que, ao celebrar a Páscoa na qual instituiu a Ceia, Jesus lançou mão dos elementos comumente usados pelos judeus. Não vemos motivo, porém, para se dogmatizar a respeito, uma vez que o pão fermentado é sempre pão –artos – "pão de trigo¨, e vinho sem fermento também é vinho e não há qualquer exigência textual sobre isso. Observe-se que a palavra vinho – ainos - não consta de nenhum dos relatos da Ceia. Os evangelhos e Paulo usam "cálice¨ por metonímia (figura de retórica pela qual se nomeia uma coisa por outra) e Jesus fala do "fruto da vide¨(Mt 26.29). Quanto a cálice único ou individual, também não há base textual para uma definição excludente. Em Mt 26.27 Jesus diz: Tbebei dele todosO, mas Lucas 22.17 registra: Ttomai5o, e reparti5o entre v*sO. ;./. AERIO+I<I+A+E +A <ELE7RANQO As Ìgrejas primitivas celebravam a Ceia do Senhor com bastante freqüência. Provavelmente uma vez por semana ou mais. Não há qualquer prescrição a esse respeito. A celebração não deve ser tão Eclesiologia 33 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL espaçada que perca a sua força de comunicação de uma mensagem espiritual, nem tão freqüente que caia na rotina e perca o seu fervor. Prevaleça o bom senso, de acordo com as circunstâncias. A celebração mensal é apenas uma boa praxe, mas se houver um motivo especial que o justifique, o espaço de tempo poderá ser reduzido ou aumentado. ;.6. AFTORI+A+E AARA ARESI+IR A <ELE7RANQO Não há qualquer previsão no Novo Testamento, quanto à autoridade celebrante da ceia do Senhor. As prescrições bíblicas se referem apenas à significação do evento e às condições espirituais dos participantes. Tem sido considerada uma prática, nos países onde as igrejas já estão estabelecidas, que a celebração da ceia seja presidida pelos pastores e co-celebrada por diáconos. Essa praxe, ainda que, até certo ponto, se mostra coerente, não deveria justificar que ficassem privados de celebrar a ceia do Senhor irmãos que se reúnem em campos missionários ou em outros locais que não podem contar com a presença de pastores por longos períodos. No entanto, "Faça-se tudo com decência e ordem¨, com base exclusivamente na Palavra de Deus. ;.T. LO<AL +A <ELE7RANQO No período do Novo Testamento, as igrejas se reuniam nas casas dos crentes onde, obviamente, celebravam a Ceia do Senhor. Não há prescrição bíblica para que a celebração se dê exclusivamente nos templos. Onde quer que esteja reunida a Ìgreja local, aí será o lugar adequado para a celebração. 3.27* A OR+E4 +OS ELE4ENTOS Serve-se primeiro o pão, memorial do corpo de Jesus T#ue por v*s é dadoO e depois o cálice, simplesmente porque foi o que Jesus fez e estabeleceu que se faça, como ensina Paulo em 1 Cor 11. 24,25. É uma ordem natural, que segue a fórmula ritual da Páscoa. Primeiro comer o pão, depois beber do cálice. O serviço deve ser feito com reverência, espiritualidade e um profundo sentimento de alegria e vitória. A prescrição de Paulo no verso 33 – Tesperai uns pelos outrosO não se refere à celebração da Ceia, mas da refeição que a antecede, como vemos no verso 21. A praxe de todos comerem simultaneamente o pão e beberem juntos o cálice mediante a ordem do ministro celebrante, coloca em destaque a unidade da Ìgreja em sua comunhão espiritual. Sejam aqui reproduzidas as palavras de Kar Ludwig Scmidt, do livro AS ÌGREJAS DO NOVO TESTAMENTO: T>as seja como for, uma coisa é clara8 a )reja como corpo de Cristo não é mera sociedade de homens. 1artindo de pressupostos sociol*icos não é possível compreender o #ue sinifica e #uer sinificar a assembléia de +eus em Cristo. & ponto decisivo é a comunhão com Cristo #ue começa a e'istir na comunhão dos homens entre si como irmãos.O UNIDADE V – A IGREJA E O ESTADO Ìgreja e Estado cumprem, na sociedade humana, missões diferentes, não necessariamente antagônicas ou hostis, antes complementares e interdependentes. A igreja precisa do Estado para a sua configuração jurídica, que torna possível o ordenamento das suas relações sociais enquanto instituição na terra e o Estado precisa da Ìgreja para a sustentação do idealismo moral na sociedade, para definição dos princípios éticos que o tornam viável para o estabelecimento da paz espiritual dos cidadãos, sem a qual não haverá paz social. Jesus definiu os limites da convivência entre Ìgreja e Estado quando mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22:21). A Ìgreja não Pode substituir o poder temporal Eclesiologia 34 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL sem mundanizar o sagrado nem o Estado pode tomar o lugar de Deus sem corromper o espirito. A palavra de Jesus resume de forma notável aquilo que os filósofos gregos, especialmente Aristóteles, procuraram equacionar nas relações entre Estado e Religião. O ser humano não pode prescindir (dispensar) de César. Precisa de César para a manutenção do principio de direito a fim de que a sociedade não converta em um caos. Mas também não pode prescindir de Deus. Precisa de Deus para que a sociedade não se transforme numa sociedade de brutos. Não se deve dar à Ìgreja o que é de César. Nem a César o que pertence ao sagrado. A César cabe receber os impostos para que se alcance o bem comum, na visão de Aristóteles, (Marciano Vidal – MORAL DE ATÌTUDES, Vol. 3 pág.490). A Deus cabe, com exclusividade, receber adoração. Os fariseus que contemplavam Jesus estavam dispostos a dar a César o que é de César, ainda que contra gosto, mas não estavam dispostos a dar a Deus o que é de Deus: o reconhecimento da soberania de Deus, revelado na aceitação do Filho de Deus como Messias e Salvador. Na idade média, vários autores cristãos trataram do relacionamento entre Ìgreja e Estado, especialmente Tomaz e Agostinho, que escreveu sobre o assunto, o clássico tratado A CÌDADE DE DEUS. Agostinho se refere à Ìgreja como a cidade celestial em peregrinação na terra: ¨ A cidade celestial, diz ele, vai chamando cidadãos em todas as nações e formando todas as línguas, uma sociedade peregrina.¨ Na sua peregrinação pela terra, a Ìgreja não pode perder a esperança, a consciência do eterno. Ela não pode sujeitar-se ao poder temporal nem ser seu vassalo (subordinado), ainda que lhe deva submissão nas questões de Estado. Do pensamento Agostiniano surge a idéia de duas espadas: a espada do poder espiritual ao lado da espada do poder temporal. O idealismo cristão seria alcançado na terra quando o Estado se tornasse cristão, ou seja, quando a paz na terra estivesse sujeita à paz celestial. "Esta ultima, diz Agostinho, é a paz verdadeira, a única digna de o ser e de se chamar paz da criatura racional, a união ordenadíssima e concordíssima para gozar de Deus e por sua vez em Deus¨. Citação de Marciano Vidal). Pode haver e tem havido cristãos verdadeiros que ocupam funções relevantes no Estado, até mesmo reis, presidentes e Ìmperadores, mas isso não faz um Estado cristão. Estado cristão de fato só poderá acontecer no reino messiânico. Sempre que governantes cristãos tentaram impor a fé cristã pela força da espada, a fé cedeu lugar ao medo, a liberdade de consciência foi subjugada pela tirania. No ano 312 o imperador romano Constantino tentou usar a Ìgreja politicamente. Parecia que Roma capitulava (se rendia) diante da fé cristã. Posteriormente, Juliano tentou destruir a Ìgreja para implantar uma religião cultural baseada no helenismo. No século ÌV o imperador Teodósio tentou estabelecer um sistema de governo submisso à fé cristã, subsidiando o clero e tratando como crime contra o Estado o sacrilégio. Em 380 Teodósio adotou oficialmente a Ìgreja como fator de integração social cobrindo-a de privilégios. Começava assim a fusão de duas espadas: a espada do poder temporal confundida com a do poder eclesiástico. A religião cristã, imposta como obrigação, sem conversão real a Cristo, resultou nas heresias que foram migrando das religiões pagãs para a Ìgreja de Cristo, como o culto às imagens pagãs sob nomenclatura cristã, o politeísmo pagão disfarçado na hagiologia (estudo ou tratado dos santos) cristã, a teofagia (aparição ou revelação da divindade) pagã transformada no dogma da transubstanciação, o sacerdócio humano, as superstições pagãs transformadas em artigos de fé, como o poder mágico das palavras do sacerdote no batismo para apagar pecados e assim por diante, até que Deus levantou reformadores para restaurarem a fé cristã na pureza dos seus termos bíblicos. UNIDADE VI– FORMAS DE ENTRADA E SAÍDA DA IGREJA 5 : As fo$mas 3a$a "m ($ente fiia$:se a "ma Ig$e%a o(a s*o as seg"intes, 5.5 : 7atismo : É a porta de entrada para a Ìgreja. Acontece geralmente com os novos decididos. Quando um crente é batizado, automaticamente passa a pertencer ao rol de membros da Ìgreja. 5.; : <a$ta 1e T$ansfe$Mn(ia : Quando um crente decide mudar de Ìgreja, deve fazer com que a sua nova Ìgreja solicite a sua "Carta de Transferência" à Ìgreja que pertenceu (No caso de membros de Eclesiologia 35 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL uma Ìgreja batista chamada "tradicional¨, somente se solicita ou se fornece "Carta de Transferência" às Ìgrejas da mesma denominação). A Carta de transferência regula o intercâmbio de membros entre as Ìgrejas. Obs: Existe uma modalidade de Carta de Transferência chamada de "Carta compulsória" que não é destinada a uma Ìgreja ficando em poder do membro para que ele mesmo escolha a Ìgreja que vai servir. 5.= : +e(a$a)*o o" A(ama)*o : Estas formas são aplicadas em casos bem distintos, como por exemplo: Quando a Ìgreja de origem do membro já se dissolveu, quando não existe condições administrativas da Ìgreja de origem enviar a Carta, quando a Ìgreja de origem se localiza num lugar distante e de difícil acesso, ou seja, quando não há meios de saber sobre a vida do crente em sua Ìgreja anterior e, mesmo assim, a Ìgreja local decide recebê-lo. Esta forma também são utilizadas para receber membros de outras Ìgrejas cujo o batismo se dá de forma diferente. Na Ìgreja Presbiteriana o membro pode ser aceito por Profissão de Fé por ter sido batizado quando era recém nascido e na Ìgreja Congregacional se aceita por Jurisdição quando são membros de outras denominações. 5.4 : Re(on(iia)*o : Aceita-se por reconciliação a pessoa excluída, quando se verifica que, de fato, está plenamente restaurada e que não há nada que impeça a voltar à comunhão da Ìgreja. O7S. S"gestJes !"anto ao 3$o(e1imento 1a ig$e%a !"anto U $e(on(iia)*o e 1esigamento 2e@("s*o. Para a reconciliação dos excluídos, impõe-se sincero arrependimento, o que implica cessação da prática de quaisquer atos que tenham ocasionado a exclusão ou que tenham surgido depois, contrários às doutrinas e práticas da Palavra de Deus. Nos casos em que os atos praticados pelo eliminado tenham lesado moral ou materialmente algum membro ou grupo da Ìgreja, a reconciliação pessoal, mediante o ressarcimento devido pela injúria ou dano, torna-se indispensável. No caso de exclusão por ausência, a reconciliação deve ser sempre precedida pela reintegração na freqüência aos cultos da mesma Ìgreja ou de outra, nunca o contrário: ; : As fo$mas 1e sa91a 1a Ig$e%a s*o as seg"intes, ;.5 : Ao$ e@("s*o : Quando a Ìgreja disciplina o membro ou desliga-o por outro qualquer motivo. ;.; : Ao$ T$ansfe$Mn(ia : Quando o crente resolve mudar de Ìgreja. ;.= : Ao$ mo$te - Ao morrer, o crente deixa de pertencer a Ìgreja militante aqui na terra, e vai incorporar-se a Ìgreja Celestial. ;.4 : <a$ta <om3"sC$ia : Transferência não solicitada, imposta pela Ìgreja. Procedimento estranho à Eclesiologia bíblica. É um tipo de "Carta de Transferência¨ entregue na mão da pessoa que deseja se transferir para que ela apresente à Ìgreja que deseja pertencer. É um procedimento muito raro nos dias de hoje em função da maioria da liderança da Ìgreja não concordar com este procedimento. Geralmente é usado com membros problemáticos e possui prazo de validade. UNIDADE VII– DISCIPLINA NA IGREJA 5. +E0ININQO +O TER4O DÌSCÌPLÌNA, do latim disciplina, ae, do verbo discere, "ensinar¨, cognato de discípulo, discipular (A.G. Cunha – Dicionário Etimológico). Eclesiologia 36 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Núcleo da idéia de disciplina: TConjunto de conceitos, métodos did3ticos e processos necess3rios C formação do discípuloO (Enciclopédia mirador, in loc). ;. +IS<IALINA NO NO?O TESTA4ENTO Termos gregos relacionados com o conceito de disciplina eclesiástica que nos ajudarão a compreender o seu significado bíblico: 1aideia .:b [email protected]/ Te j3 vos es#uecestes da e'ortação .parakleseos/ #ue vos admoesta .dialeetai/ como a filhos8 Uilho meu, não desprezes a correção .paideias/ do ?enhor= nem te desanimes #uando por ele és repreendido .ele'omenos/, pois o ?enhor corrie .paideuei/ ao #ue ama e açoita .mastioi/ a todo o #ue recebe por filho. M para disciplina .paideian/ #ue sofreis= +eus vos trata como filhos= pois #ual é p filho a #uem o pai não corrieV .paideuei/. >as, se estais sem disciplina, da #ual todos t<m se tornado participantes, então sois bastardos e não filhosO – VR traduz paideia por "correção¨. Assim também ERC, VB e Figueiredo. Já a Bíblia de Jerusalém verte "educação¨. Na mesma citação de Pv 3.11 (v.5 da transcrição acima), aparece a palavra "repreensão¨- ele'omenos, também traduzida por "reprovação¨, de ele'o – "repreender, acusar, convencer, enveronhar¨. De onde se conclui que paideia se refere ao processo formativo do caráter e não à disciplina corretiva ou punitiva. TM a instrução #ue tem como alvo o crescimento na virtudeO (Thayer), cf 2Tm 3.16. Originalmente, paideia está relacionada com a educação da criança – paidion, donde temos pedaoia, pediatria, etc. Veja Ef 6.4, onde Paulo reforça a idéia de disciplina com a "admoestação do ?enhor¨. Observe ainda que em Hb 12.5, a correção e a repreensão fazem parte da exortação (BJ traduz "consolação¨). No verso 6, o autor relaciona paideia com mastiuo, "açoitar= castiar¨ o que nos ensina que o açoite do Senhor tem o objetivo de ensinar, fazer crescer, nunca de destruir, "justiçar¨, penitenciar. 1araklesis – (Hb 4.15; 1Tm 4.13), sempre traduzida por "encorajamentoO, Tconsolação¨. Andar em caminhos retos e planos conforta o coração e encoraja (alenta, veja Kurt Aland) a prosseguir na caminhada. A disciplina cristã traz consolação e paz, segurança para a consciência, confiança. Consolação é a ação disciplinadora do Consolador – 1aracletos – em nós. &rthopodeo – "caminhar direito sobre os pr*prios pés¨, de onde "andar direito¨, "proceder corretamente¨. Em Gl 2.14, Paulo declara que Pedro não estava andando corretamente diante da verdade do evangelho. O comportamento ambíguo ("dissimulação¨) de Pedro foi um ato de indisciplina. Disciplina cristã é, pois, andar retamente conforme a verdade do evangelho, sem ambigüidade. A ambigüidade dos pais não encoraja os filhos e andarem retamente. A ambigüidade do pastor deixa as ovelhas desorientadas. Manter a disciplina cristã é andar em retidão de vida. $outhesia, ação de advertir, mostrar o caminho; advertência, aviso. Em 1Co 10.11, a VR traduz por "aviso¨. Jesus não é uma placa à beira da estrada indicando a direção. Ele é a própria estrada e o objetivo da caminhada. Ele é o caminho e nesse caminho – Jesus, os cristãos devem andar. Disciplina cristã é andar como Cristo andou. Melhor: é andar em Cristo. Em Tt 3.10 essa palavra é vertida para "admoestação¨. Trata-se de uma admoestação objetiva, específica, mais do que um discurso genérico. -pidiorthuo P T12r em boa ordem, completar o estabelecimento da ordem, ordenarO (Veja Tito 1.5): T1or esta causa te dei'ei em Creta, para #ue pusesses em boa ordem o #ue ainda não o est3O. Disciplina também tem o significado de estabelecer e manter a ordem, tanto no sentido ideológico, quanto institucional. %a'is P TordemO, assim traduzida em 1Co 14.40 – Tmas faça5se tudo decentemente e com ordemO. Fazer tudo decentemente e com ordem, isso é disciplina cristã. A mesma tradução é dada em Cl 2.5. A Ìgreja dos colossenses era conhecida pela sua disciplina: Tvendo a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em CristoO. Aqui há o conceito de que a disciplina na Ìgreja decorre da fé em Cristo. Onde falta disciplina, está faltando fé em Cristo. Eclesiologia 37 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Watartizo P T,estaurar com habilidadeO (Gl 6.1), termo tomado de empréstimo da medicina, significa recolocar um membro, osso ou músculo no seu lugar com perícia profissional, de maneira a não causar maior dano. Paulo acrescenta: "com espírito de mansidãoO, com delicadeza. Veja W. Barckey in loc. A disciplina cristão não se torna mais eficaz quando aplicada com violência e brutalidade nos seus termos. Muito ao contrário! Freqüentemente ocorre de um crente cometer uma falta trivial e precisar ser advertido. A admoestação, porém, é feita em termos tão contundentes que causa maior dano do que a falta cometida. Admoestar com soberba, humilhando o transgressor, é da carne. Exortar com serenidade, sinceridade e amor, é do Espírito. Cada cristão deve ser o parakletos do seu irmão e a Ìgreja a, como tal, tem uma importante terapêutica no exercício da disciplina exercida no espírito do Consolador. -le'i' P Ttrazer C luz, revelar, e'por, arXir, reprovar, repreender, corriirO. É o penúltimo estágio da disciplina na igreja, cf. Mt 18.15. É bom lembrar que, para exortar um irmão é preciso possuir a autoridade moral de quem fez o máximo ao seu alcance para ajudá-lo a andar corretamente nos caminhos do Senhor. "pokopto P Tcortar, amputarO. Mc 9.43, 45. Em Gl 5.12 VR traduz por "mutilar¨. É o último ato da disciplina na Ìgreja, a chamada "disciplina cirúrgica¨. Paulo recomenda que sejam "amputadosY os membros que andam inquietando a Ìgreja. Em nossa linguagem batista, usamos as expressões e'cluir do rol de membros (no sul), eliminar (no nordeste) ou cortar. Ultimamente tem sido usado o termo desliar, talvez pela lembrança de Mateus 16.19, onde desligar (desatar, desamarrar, libertar) traduz o verbo luo. Observe neste verso os tempos dos verbos: Ttudo o #ue voc< liar P deses (aoristo ativo do subjuntivo, ou seja: tudo o que você vier a ligar) na terra, j3 ter3 sido liado P dedemenon (perfeito passivo) nos céus= e tudo o #ue voc< desliar P luses (aoristo ativo do subjuntivo, ou seja: tudo o que você vier a desligar) na terra, j3 ter3 sido desliado P lelumenon (perfeito passivo do particípio futuro, ou seja: já terá sido desligado) nos céusO assim muito bem traduzido por Yeager: "tudo o que você ligar na terra, já terá sido ligado no céu e tudo o que você desligar na terra, já terá sido desligado no céu¨(Yeager, in loc). A disciplina da Ìgreja na terra é resultado, não a causa da disciplina nos céus. Esse texto não favorece a doutrina da perda da salvação nem confere a Pedro uma autoridade de determinar na terra os desígnios de Deus no céu. Declara apenas que se uma pessoa não procede como é digno dos salvos, ligados ao céu pela fé, não deve ter seu nome inscrito entre os salvos na Ìgreja na terra. O julgamento quanto à salvação pertence somente a Deus. No contexto da disciplina cristã incluem-se ainda os conceitos de matheteuo P TdiscipularO e de didasko PTensinar, instruirO ( Mt 28.19, 20 ). Os pais não podem exigir dos filhos nada que não lhes tenham ensinado. Antes de corrigir ou açoitar, eles devem ensinar seus filhos a proceder corretamente. Essa a missão da Ìgreja. =. O7JETI?OS +A +IS<IALINA E<LESIISTI<A 3.1 - Ìnstruir o discípulo para #ue desenvolva o seu car3ter de modo a alcançar a plena maturidade em Cristo, seundo o padrão 4esus. Uormar o car3ter do educando conforme o car3ter Cristo .;l B.9K P "até que Cristo seja formado em vós¨); e#uipar o discípulo de Cristo de discernimento e vontade pr*pria para tomar decis(es amadurecidas e air como cristão. 7eja -f B.@ P Tque andeis como é digno da vocação com que fostes chamados¨; Up 9.K599 P "que o vosso amor transborde mais e mais em ciência e em todo o conhecimento, para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo algum até o dia de Cristo¨. 3.2 - Equipar os salvos espiritualmente para prestarem a Deus a verdadeira adoração, a adoração no Espírito. Sem disciplina, não há piedade e a liturgia se esgota em si mesma, não transcende os limites da "carne¨ (Veja 1Tm 4.8). 3.3 - Preservar a identidade característica da Ìgreja. Os princípios éticos de Jesus são universais e permanentes. Sem a disciplina eclesiástica, a Ìgreja se torna apenas mais uma religião no mundo. Eclesiologia 38 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL T1ara nada mais prestaO ( Mc 9.50 ). A Ìgreja tem elementos de identidade transcendentes que a tornam relevante no mundo. Sem disciplina, a Ìgreja perde a sua identidade e, portanto, a sua relevância. 3.4 - Capacitar os discípulos para o eficiente desempenho da missão da Ìgreja na terra (Fp 2.15; 1Tm 4.16). Os objetivos espirituais do Reino não podem ser alcançados com recursos carnais. Somente discípulos amadurecidos e treinados (disciplinados) no Espírito podem ser agentes da implantação do Reino de Jesus na terra. 3.5 - "Traçar claramente a fronteira entre o poder das trevas e o poder da luz de Cristo na vida dos discípulos de Jesus¨. (Harold Songer). A ausência de disciplina deixa os salvos confusos, andando com "um pé no caminho, outro no mato.¨ T?e dissermos #ue temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimosO ( 1Jo 1.6). 3.6 - Preparar a Ìgreja para a volta de Cristo (Veja 2Pe 3.11, 12; Mt 24.45-51). A santidade da Ìgreja resulta da vigília do amor a Jesus. Toda noiva se prepara para receber o noivo que vai chegar. A intensidade, o cuidado dessa preparação depende diretamente do amor que a noiva tem pelo seu noivo. Estará a Ìgreja preparada para a chegado do seu noivo? 4 : ARESSFAOSTOS +A +IS<IALINA E<LESIISTI<A 4.1 - O Direito de Deus. Veja na parábola de Mt 21.33-46 que o Senhor da vinha tem jus litis, direito de demanda, sobre os frutos da vide. A Ìgreja é a vinha do Senhor. Ele tem pleno direito de exigir os bons frutos da nossa vida. 4.2 - A preservação da virtude (poder) do evangelho na vida dos discípulos de Jesus resulta da graça de Deus e não do esforço humano (Veja Ef 2.8-10). É o Espírito que dá sabor à Ìgreja. Salvação é Graça, perseverança é Graça, santificação é Graça, disciplina cristã é Graça, não imposição estatutária da Ìgreja. 4.3 - O testemunho da Verdade. O comportamento ético do cristão na sociedade resulta do novo nascimento. Não se pode colher figo do espinheiro. Veja em Rm 6.19, o vívido contraste entre as duas maneiras de viver; antes e depois de tornar-se cristão. Só os salvos podem praticar a disciplina cristã, obedecer de coração à forma de doutrina a que são entregues (v.17) e eles não podem deixar de fazê-lo. 4.4 - O poder da Palavra. A fonte de autoridade da disciplina eclesiástica é a Palavra de Deus e nunca os referenciais culturais e tradicionais do contexto social em que a Ìgreja se insere. A disciplina eclesiástica é a interpretação da fé transformada em vida. A Ìgreja encarna a Palavra e não apenas proclama a Palavra (Cl 3.16). O magistério da Ìgreja se fundamenta e se concentra na Palavra. B.6 5 A autoridade da Ìgreja. O agente da disciplina eclesiástica é a Ìgreja, não juntas, convenções, ordens de pastores ou concílios, ainda que o objeto da disciplina seja um pastor. B.E 5 O poder de curar. Para ser uma comunidade terapêutica, a Ìgreja precisa ser continuamente submetida ao processo de sua própria santificação. Não aconteça que um recém curado seja vítima de uma "infecção hospitalar¨ no ambiente da própria Ìgreja. A disciplina visa a saúde da Ìgreja para que ela promova saúde para os seus membros B.G 5 A liberdade dos salvos. A disciplina eclesiástica não vulnera a liberdade individual. A aceitação dos princípios éticos de Jesus é o compromisso explícito da profissão de fé. O direito do indivíduo não anula o direito da comunidade. T" impiedade não pode ser considerada como uma ação privativaO (Russel Shedd). A graça da disciplina cristã é extensiva a todos os discípulos e não apenas ao ministério formal (1Pd 2.16; 1Co 8.9-12; 10.32; 11.1). Eclesiologia 39 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL '. O ARO<ESSO +A +IS<IALINA E<LESIISTI<A '.5 K +is(i3ina A$eventiva - A Ìgreja deve ser continuamente instruída nas doutrinas do amor fraternal, do senhorio de Cristo, da pessoa e ação do Espírito, dos dons espirituais, da santificação, da suficiência das Escrituras, do discipulado cristão, da volta de Cristo, visando a ação preventiva do fortalecimento da fé para a sustentação da sua disciplina. Deve-se criar na Ìgreja um ambiente de perdão e reconciliação pela persistente proclamação do amor de Cristo. T& e'emplo pessoal da liderança, mais do #ue o ensino te*rico do púlpito, ser3 fundamentalO (Shedd). Deve-se ainda desenvolver na Ìgreja um espírito de confiança mútua para que os crentes possam buscar ajuda nas horas de provação, no espirito de Tiago 5.16. O aconselhamento cristão deve proagir e não apenas remediar situações depois de consumados os atos de indisciplina. O pastor e a equipe de conselheiros treinados devem estar sempre atentos a fim de detectar e dar tratamento aos problemas de disciplina sempre que possível, antes que eles causem maiores sofrimentos e danos. O treinamento constante dos crentes para o eficaz desempenho dos seus dons e talentos na obra do Senhor será sempre um fator altamente positivo na manutenção de elevados níveis de desempenho na disciplina. Pesa muito nas estatísticas de exclusões o desânimo causado pela ociosidade. '.; K +is(i3ina <o$$etiva - A disciplina corretiva deve ser aplicada com amor. Com misericórdia, no espírito de Gl 6.1, já citado: T,ecuperai (tal pessoa) com toda a perícia, no espírito de mansidãoO. O membro fraturado ou músculo deslocado não pode ficar sem a devida correção, pois isso fatalmente causaria dano a outros membros, além de trazer sofrimento a todo o corpo. Não tratada, a lesão pode chegar a ser irreversível. Mas o custo da recuperação pode ser muita compaixão e paciência. Muitas vezes os casos de disciplina eclesiástica dão ensejo a sentimentos carnais de vingança, retaliação familiar, partidarismo, sem falar da complicada engrenagem das projeções dos sentimentos de culpa. Não raro, nós nos apressamos em punir nos irmãos, as nossas próprias falhas. Quão facilmente nos esquecemos de que "o fardo do meu irmão é parte do meu fardo¨. O impulso motivador da disciplina corretiva deve ser o desejo de recuperar o membro faltoso para a alegria da salvação. Quem pecou está em angústia de alma, carecendo de consolação. Por estranho que pareça, uma pessoa pode praticar (e até simular) a quebra de um pacto, motivada pelo desejo inconsciente de receber atenção do seu grupo social. '.= K +is(i3ina <i$V$gi(a - É um direito da Ìgreja. Caso a recuperação de um membro faltoso se torne inviável ou impossível, ou ainda quando toda a ajuda de amor for rejeitada. Tconsidera5o como entio e publicanoO ( Mt 18.15-17). O desligamento não é disciplina pedagógica ou punitiva, mas uma ação preventiva em favor da Ìgreja.. Deve haver prudência e comedimento no registro dos desligamentos, levando em conta que as atas da Ìgreja são documentos legais passíveis de serem invocados em processos judiciais. -.5 : +IS<IALINA +A IGREJA K E +EAOIS& O desligamento formal de um membro da Ìgreja não elimina os vínculos espirituais já estabelecidos. A Ìgreja deve manter um fichário de membros desligados e periodicamente deve comunicar-se com eles, manifestando o seu amor e zelo espiritual. Se possível, os membros desligados devem receber uma comunicação formal sobre o fato. A recondução ao rol de membros só deve acontecer depois de cessados os motivos do desligamento. Não se deve expor um membro excluído a humilhações, que ferem mais a própria Ìgreja do que ao membro faltoso. A ovelha fora do aprisco não pertence menos ao pastor do que as que estão seguras. Eclesiologia 40 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Jesus é o dono daquela ovelha, ainda que ela tenha perdido a consciência de lhe pertencer, ainda que esteja ferida, com fraturas espirituais ou mesmo dilacerada. "Como o pastor livra da boca do leão as duas pernas ou um pedacinho da orelha, assim serão livrados os filhos de )sraelO (Amós 3.12). Esse deve ser o sentimento da Ìgreja em relação às ovelhas de Jesus. /. O7STI<FLOS W +IS<IALINA +A IGREJA 7.1 – Fatores Ìnternos: Fatores internos podem dificultar, postergar, ou mesmo obstruir a prática da disciplina na Ìgreja. Um desses fatores é a acomodação. Disciplina dá trabalho, especialmente quando exercida com amor. Outro fator: corporativismo familiar ou partidário dentro da Ìgreja. "Espírito de grupo¨ reunindo famílias, ministérios faixas etárias, grupos sociais dentro da Ìgreja podem ser obstáculos à disciplina em todos os seus níveis. Ou ainda, falsa compaixão. A justiça e a verdade são a base do verdadeiro amor, mas, quando sentimos que a verdade em função de um falso amor. O obstáculo mais constante, porém, é o esfriamento do amor a Cristo e a perda da identidade bíblica da própria Ìgreja. 7.2 - Fatores Externos: A evolução cultural pressiona a mudança de padrões éticos da Ìgreja. A Ìgreja entende que deve manter os seus princípios bíblicos, mas chega o dia quando princípios e práticas da Ìgreja e do mundo começam a se eqüivaler conceitualmente, esgarçando a textura moral da Ìgreja. O consumismo, o individualismo hedonista, o anonimato dos centros urbanos, que resulta em perda da identidade e carência de afirmação dentro dos grupos sociais (o jovem universitário tende a se identificar com os seus colegas de faculdade, o profissional cristão é pressionado pelo corporativismo dentro da sua profissão, etc) são outros tantos fatores que obstruem a disciplina cristã. Para neutralizar essas influências secularistas, o caminho é o do avivamento espiritual. Que em todas estas coisas sejamos, não apenas ouvintes, mas praticantes para que a Ìgreja do Senhor Jesus venha ser um local bonito, organizado, e, acima de tudo, o reflexo dos ensinamentos das Sagradas Escrituras. L"e +e"s te a8en)oeXX "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.¨ 1 Coríntios 15:58 Pr. Eduardo Luís de Carvalho Faria [email protected] Eclesiologia 41 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BETEL Bibliografia básica: SHEDD, Russel. Bíblia Vida Nova, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, 10ª Edição, 1988. TOGNÌNÌ, Enéas. Eclesiologia, Brasília, Edições Convenção Batista Nacional, 1ª Edição, 1988. GONZÁLEZ, Justo L. Visão Panorâmica da História da Ìgreja, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1ª Edição, 1995. DANA, H. E. Manual de Eclesiologia. El Paso, Casa Bautista de Publicaciones, 1987. 160p. FALCÃO SOBRÌNHO, João. A Túnica Ìnconsútil, Rio de Janeiro, Junta de Educação Religiosa e Publicações - JUERP, 1ª Edição, 1998. REGA, Lourenço Stélio. Apostila da ÌV Encontro de Educação Religiosa da CBF – A Formação Bíblica do Cristão na Pós-Modernidade, Rio de Janeiro, 1999. FERREÌRA, Franklin. Apostila de Eclesiologia – Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, 1998. Bibliografia complementar: MULHOLLAND, Dewey. Teologia da Ìgreja - Uma Ìgreja Segundo os Propósitos de Deus. São Paulo, Shedd Publicações, 2004, 1ª Edição, 251 p. HAYES, Ed. A Ìgreja - O Corpo de Cristo no Mundo de Hoje. São Paulo, Editora Hagnos, 2002, 1ª Edição, 299p. ANDRESS, Max. A Ìgreja em 12 Lições – Série Fundamentos Cristãos. São Paulo, Editora Vida, 2001 – 1ª Edição, 211p. BARNA, George. Ìgrejas Amigáveis e Acolhedoras. São Paulo, Abba Press Editora, 2001, 2ª Edição, 202p. SWÌNDOLL, Charles R. A Noiva de Cristo – Renovando Nossa Paixão Pela Ìgreja. São Paulo, Editora Vida, 1996, 2ª Edição, 252p. CRABB, Larry. O lugar Mais Seguro da Terra – Onde as Pessoas se Conectam e se Transformam para Sempre. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2000, 280p. YANCEY, Philip. Ìgreja: Por Que Me Ìmportar? – Redescobrindo o Prazer da Vida em Comunidade. São Paulo, Editora SEPAL, 2000, 1ª Edição, 112p. Eclesiologia 42
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