Apostila Candomble

March 30, 2018 | Author: Rogerio Raimundo da Silva | Category: Religion And Belief, Nature


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CandombléO candomblé é uma religião de origem africana, que segue os ensinamentos de Olorún (DEUS), aplicando sua doutrina por meio dos Orixás. O candomblé basicamente cultua as forças da natureza, pelos adeptos chamados de Orixás (divindades africanas). Sua Origem no Brasil deu-se apartir da vinda dos negros africanos, vendidos como escravos para trabalhar em terras brasileiras. O culto de candomblé é dividido em nações que recebem o nome de Ketu, Angola, Ijexá, Jeje, Cabinda, entre outras nações que tem particularidades em seu culto, porém com o mesmo objetivo, seja cultuando Orixá, Nkisis e voduns (Todas energias da natureza). Por meio de canto em liguas africanas, danças, oferenças, festas, ritos entre outras formas de culto, o Candomblé é caracteístico e inconfundível. Marcado pela prática Encorporação dessa divindades especiais das qual nos aproximam cada vez mais de Deus (Olorún). O Canbdomblé é lindo, é 100% do bem! Nações: Nação de Ketu e Ketu/Nagô A Nação de Ketu é a mais comum e a mais conhecida, ela cultua os Orixás. Dos escravos Nagôs vindo da Africa estavam os Yorubás, que vieram para o Brasil com sua cultura e louvação aos Orixás de Ketu. Essa nação é bem diferenciada das outroas pelo Toque dos Atabaques (Ilu), Cantiga, Idioma (Yorubá), Dança, Cores dos Orixás e as festas. Essa festas podemos destacar o Padê, Aguas de Oxalá, Olubaje, Axêxê etc… Nação de Angola/Bantu A nação de angola é conhecida por cultuar os Nkisi, essa é uma das maiores nação de candomblé. Desenvolvida pelos escravos que falavam a lingua Kimbundo e Kikongo. Saõ exemplos de Nkisis: Katendê, Nzazi, Nkosi, Dandalunda etc.. Nação de JeJe É o Candomblé que cultua os Voduns, do Reino de Dahomey, tazidos para o Brasil pelos escravos da Afria Ocidental e Central. Como exemplo de Voduns temos: Lissá, Gun, Loko, Bessen etc… Uma curiosidade é que na nação de Jeje, nas casa de culto é nescessario que haja um Poço. ORI MEJI Orí Mejí é a expressão em Yorubá que quer dizer “Cabeça dupla”, ou seja um individuo que tenha um Orí regido por dois Orixás ao mesmo tempo. Mas devemos observar os dois tipos de Orí Mejí que encontramos dentro da liturgia das casas de candomblé, o Primeiro é quando uma pessoa tem dois orixás Iguais regendo a cabeça, mudando apenas a qualidade, exemplo: Oxaguian e Oxalufan; Odé Ibualama e Odé Inlé; Oxum Òpará e Oxum Yeye Pondá…, Ou seja, ter no Orí dois Orixás Iguais de frente. A Segunda explicação para Orí Mejí é quando a pessoa tem dois Orixás de frente, não definindo-os como Orixá frontal e Juntó, pos eles caminham juntinho no mesmo Orí, Exemplo: Yemanjá e Ogún; Oxalá e Oxóssi; Omolú e Oyá… 1 Sabe quando nos informam que nosso Orí está em “Briga”, dizem que há uma disputa no nosso Orí, isso pode ser por causa do Orí Mejí. Essa Ideia de Orí duplo ou Orí mejí vai do entendimento de tradição passada de casa pra casa, assim sendo que ainda há outros pontos de vista para esse tema que não é favorável ao entendimento dos mais velhos e da tradição Yorubá. Quartinhas Dos Orixás As Quartinhas de santo, são jarrinho nos quais preenchemos de água e oferecemos ao orixá. A Água é a fonte da vida e por isso impressindível. Dentro da quartinha do orixá terá o Otà (Pedra), Omin (Àgua) e talvez haja um Obì (Fruto Sagrado). O Dono da quartinha trocar a água da quartinha (Tirar a água velha e por uma nova) e depois acender uma velha, fazendo pedidos e agradecendo ao orixá. Tudo isso simboliza uma renovação do axé e da vida, já que a vida (Água) foi renovada. A Quartinha parece ter vida, pois ela transpira por meio do material de que foi feito. Devemos ter muito respeito por ela, pois ela é uma união de energias, todas essas entre você e seu orixá. A Quartinha fica ao lado do assentamento do mesmo Orixá, fazendo assim uma maior conscentração de energia. As quartinhas de barro podem ser oferecidas aos orixás homens, com exceção à Oxaguian e Oxalufan (Orixás FunFun) que recebem quartinhas de louça branca. As Yabás (Orixás mulheres) Recebem geralmente quartinhas de louça florida e enfeitada de suas respectivas cores; Iansã em muitas casas recebe quartinha de Barro. As Quartinhas com Asa é entregue às orixás mulheres e sem Asa para os Orixás Homens. Antigamente na áfrica todas as quartinhas eram de barro, mas com a vinda dos negros para o Brasil, as escravas se encantaram pelas porcelanas portuguesas das senhoras, e assim passaram a enfeitar mais esses pequenos jarrinhos. Borí ou Eborí Para entendermos o Eborí (Ebó= oferenda + Orí=cabeça) ou Borí como é popularmente conhecido o ato cerimonial de dar comida à cabeça, temos primeiramente que entender o Orí. O Orí é a base da filosofia de vida para o povo de língua Yorubá. O Orí é um Orixá individual exclusivo, co-existe nos dois mundos (Orun=céu e Aiyê=terra), ele é duplo, compõe-se de duas partes que estão interligadas, o Orí Inú que habita em nossa cabeça física e o Orí Òde que habita no orun. Eles se interligam através de uma canal 2 permanente de energia. Quando tomamos o borí, procuramos dar equilíbrio ao Orí Inú, descansá-lo e também prepará-lo adequadamente para as obrigações de Orixá, como também para prover o equilíbrio, centralizar energias, reorganizar-se de uma maneira geral centralizando as idéias. O Orí é a entidade fundadora de cada personalidade, símbolo arquetipo em potencial que ordena a relação do homem com a sua origem, responsável pela qualidade de vida e longevidade da passagem existencial pela terra. Orí serve apenas a uma pessoa , nenhuma outra divindade poderá contestá-lo, ele é soberano. Tomar Borí é também, estabelecer uma equilíbrio de energia entre seu estado físico e o energético, é criar um fluxo magnético entre o Orí Inú e o Orí Òde e, por consequência, sintonizar-se com seu Orixá, que por sua vez, nos levará a nossa ancestralidade, forças sobre naturais, o clímax, o Axé. O corpo humano é a base do Orí, o seu igbá, o Orí não responde a preceitos, kizilas, ewós, dos orixás, ele é independente e único e tem seus preceitos e culto próprios, detém o livre arbítrio, designado por Olorun para acompanhar o ser humano na sua concepção até a sua morte, nenhum Orixá poderá contestá-lo. Quando morremos o Orí Inú retorna ao Orun juntando-se ao Orí Òde e ambos se desfazem aos pés de Olorun. Nossa memória, nossa energia contida, se juntará a nossa família de antepassados através do ritual de Axexe e toda a liturgia de liberação corpo/matéria – Energia/Orixá. O Orí se comunica através de dois principais odús, Obará e Osá e, dois também são os Orixás que apadrinham o Orí: Oxalá na qualidade exclusiva de Babá Ajalá, o modelador de Orís e Yemanjá na qualidade exclusiva de Iyá L’Orí, a regência da Inteligência humana, ambos conferidos por Olorun. Existem vários tipos de Eborí, e, em todos, o uso o Obí, fruto africano sagrado e fundamental. Para todo esse conceito, existem procedimentos básicos a se cumprir antes de se tomar um Borí: Estar conciente da necessidade de tomar um borí, uma vez que através do jogo, seu Orí se posicionou nesse sentido; estar convicto da indoneidade da casa e sua Raíz e Axé; Estar ciente do preceito propiciatório de quando se toma um borí; Estar confiante na mão do zelador e o seu comportamento e de seus filhos. E para que tudo ocorra na mais perfeita consonância de energias, é necessário e importantíssimo que todos estejam concentrados e envolvidos, todos num só pensamento positivo, numa união consentida de entrega e troca de energias. As oferendas serão partilhadas promovendo o concílio de fé, seriedade e irmandade. Respeita-se o Orí da pessoa que está tomando a obrigação, tal igual fosse o seu, rezas, cantigas entoadas, levan-nos a uma festa prazeirosa onde celebramos o Orí. Tomar um Borí é fortalecer acima de tudo o nosso bem estar interior, pessoal e energético. Texto: Babá Fernando D’Osogiyan 3 A Importância da Galinha D’Angola A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza. Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de tudo e todos. Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse: “Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”! A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho. A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver. O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada. Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça. CONTRA EGUM 4 Ogan. não ficar em barracas e tudo que possa desliga-lo do Orixá. como exemplo o Borí. claro. Oyá e Ogun também cumpram seu papel quanto a esse traçado de palha da costa. e deve-se continuar usando durante um tempo. O contra Egun é posto no braço. Ekedjes e Egbomís usam Contra-Eguns. no tornozelo e/ou na barriga. Enquanto se usa essa proteção estamos livres da perturbação ou até mesmo da aproximação dessas energias que podem ser brandas ou revoltadas e sem nenhuma luz. Segundo o Conhecimento aplicado pelos antigos no candomblé. pois são esses espíritos de desencarnados e assim não se comportam dentro dos segredos do Candomblé. muito menos se incorporam. É importante lembrarmos que ao usarmos os contra eguns nem mesmo Caboclos. mas alguns dizem que Ewá. o pano – da .costa. Hospital. que 5 . Nas pernas usamos outro elemento que também pertence a Obaluayê e nesse utiliza-se um guizo preso. Ninguem está livre de energias ruins. seja Cemitério. Presídio. é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros. Hospício. Pretos Velhos ou outra entidade qualquer se aproxima de nós. Já na cintura usa-se o cordão umbilical que representa a ligação direta do iniciado com seu Orixá. por isso até Zeladores. O Contra Eguns é instrumento de Obaluayê (O Rei da Terra). não é apenas um complemento da indumentária da mulher. que espantaria as energias negativas das pessoas. PANO DA COSTA ᄃ Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afrobrasileiras. não praticar sexo. Mas após retirar esse contra egun ainda devemos usa-lo quando estivermos em um lugar dito “Carregado”. Costuma-se ganhar o Contra Egun em Obrigações feita para cabeça. pois seu barulho espanta os eguns. que serve de proteção contra espíritos desencarnados. Esse traçado é posto no braço. Observemos a profunda conotação sócio religiosa desse simples pedaço de tecido.Contra Egun é um traçado de palha da costa. Delegacia… Quando estivermos com esse traçado é necessário não Beber. aqui no Brasil. das Yamis. O tecido original foi substituído por outros tipos de tecidos. Esta errado. a mesma proteção ta.costa branco. O que não é. A situação do pano – da . pano – da . o que não diminui em nada as funções do pano – da .costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos. envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano . Aqui no Brasil acabou virando indumentária religiosa. pode-se enrolar até abaixo dos seios. Nos rituais de sirrum / axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e seios. O pano – da . aparece guardando as mulheres das presenças de egum. ᄃ O sentido protetor do pano – da . porque uma das principais funções do mesmo é proteger os órgãos reprodutores das mulheres. O pano – da . Costa Mina. As famosas mães de santo não usam o pano-da-costa na cintura nunca. ao terminar o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano – da . protege as costas das mulheres.costa é outro aspecto que merece atenção. iniciada. isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher. só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. As Yaos. isto é. esse pano. onde a chamada evolução está destruindo e recriando situações a bel prazer. 6 . Mas na realidade.costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos.costa identifica a mulher feita. aqui no Brasil. procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros. quando muito.costa.costa deve ser usado de acordo com a idade de santo.atua em tão diversificadas situações.costa.da . No Rio de Janeiro e outros estados. O pano – da . Costa do Ouro. Nos sirruns / axexes.costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura. que representa o prolongamento do Ala de Oxalá. e servem de “carrega bebê”. mesmo que ela não esteja de roupa de santo completa.costa é de maior importância. se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder sócio religioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade. Nada mais que isso. O pano – da . desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivência dos rituais africanos. ateado como capa envolvente mágica. convencionou-se que o pano – da .costa deve ter no mínimo 60 cm de largura para que possa proteger os órgãos que necessitam de proteção. que foi cortejada pelo vento = Òòrìsànlà-Òbátálà.costa. Com 4º. mas nenhum deles até agora explicou o porquê de usá-lo e nem podem explicar. O Ovo possui três diferentes cores. deu origem a Òòrìsànlà-Òbátálà. ou seja. mostrando seu poder de fertilidade sobrenatural. As abians ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura. deu origem a Ògún. representando a cor preta relacionada ao “Aba” = a escuridão (As trevas das profundezas da terra e dos mares). Para proteger o que? Observem que as santas mulheres usam o pano – da . surgindo na explosão da luz.da . O ovo cru com seu frescor. Dele nasceu um novo ser associado a idéia de que o universo surgiu. relacionada ao Àsé = fogo mantenedor da fertilidade.  O ovo de casca branca. tinha num pote de barro “4 ovos”. sem forma. quando literalmente Deus disse: – haja luz! E assim Òòrìsàlà surgiu no mundo. Origina-se assim. o usam na cintura. estourando-se no chão e revelando sua riqueza. paz… O Ovo pertence à Orixá Oxum (São os olhos de Oxum) e na hora das obrigações fazse um corte em cruz no topo do Ovo (Cozido) para representar a abertura dos olhos de oxum para o que está acontecendo. iniciação. deu origem a Òbálúwàiyé. exposto a olho nu. o ovo acidentalmente cai de suas mãos. pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino. os santos homens usam o pano .costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado para trás. portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda. amor. como um filho de asas negras = Ìyàmi-Òsòróngà. Seu conteúdo possui diversas características. Com o 1º ovo. frágil e oval. a primeira mulher universal chamada Ìyàmi-Òsòróngà. Um deles conta que Òlódunmàré (Deus) estava para dar origem ao universo. Existem vários contos de Ifá relatando a grande importância do Ovo. relacionada ao “Iwà” = a explosão da luz. esse procedimento esta errado. tem a função de tranqüilizar e refrescar. nascendo assim.De alguns anos para cá os homens aderiram o pano – da . a fonte mantenedora da vida. ou simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas contas e brajas. Em algumas casas encontramos abians usando pano da costa.costa. utilizado amplamente nos rituais de purificação. na maioria das vezes. dinheiro. expondo o segredo de sua riqueza para o grande pai. O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade. Com o 3º. primordialmente. diante do Deus Supremo. a forma. na forma de um protótipo do mundo. totalmente relacionado ao poder sobrenatural.  Finalmente o ovo de casca vermelha. prosperidade. E pior ainda. aos 7 . O Ovo no Candomblé O Ovo é utilizado em diversos rituais do candomblé e da umbanda como um simbolo de atrair fertilidade. dele próprio. a estrutura. Com o 2º. Por isso é comum vermos muitos ovos crus depositados no chão. é branco. borí e ebós de propiciação e defesa. quando utilizado inteiro em oferendas. associado às cores principais e primordiais do universo:  o ovo de casca azul. as quais. Ògún. Yòbá. buracos. e finalmente o sangue branco do igbin (caracol). A finalidade será de atrair abundância e proteção. vulgarmente chamados de descarrego. que é espremido por cima de tudo. tirando as dificuldades da vida da pessoa ou qualquer espírito de força contrária que esteja acoplado no corpo (obsessores). Por este motivo é que o ovo cru deve ser quebrado. também não aceita que os animais sejam sacrificados (mortos) em cima de seu Okuta. ela não só atuará no tocante a fertilidade. O Ovo de Pata Como relata Ifá. Iyémowo. ele revela sua riqueza e seu poder. Quando num Èbò.pés de certos Ojùbò (assentamentos dos Òrìsas). Onilé. com a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo. ovos crus são atirados no chão ou quebrados em cima do corpo de uma pessoa. e. mais também propiciará dinheiro. após ter sido purificada com o ovo cru. têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% de qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí de uma pessoa. Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual. Ao ser quebrado. Passando pelo corpo de uma pessoa em Èbòs de Egungun ou Onilé. acalmando qualquer energia avessa ao caminho de uma pessoa. começando 1º pelo sangue negro. o nome Ìyàmi-Òòsòróngà é respeitosamente citado e reverenciado. nascer algo dele. porque. num sacrifí¬cio de purificação. em seguida o sangue vermelho de aves ou quadrúpedes. Òmòlú. saúde e desenvolvimento na vida. acalmando e fertilizando a cabeça que estará recebendo o puro àsé. pois no exato momento que é quebrado. Por ela não aceitar qualquer relação com situações de morte. numa preparação da cabeça. felicidade. e utilizado no igbá-Orí e assentamentos de ÒrÌsá que tenham relação com Ikú. 8 . saúde e tranqüilidade. ou seja. Não admiti a utilização de qualquer utensí¬lio de cor escura. o Agbo-tutu (sumo de ervas frescas). tendo como finalidade quebrar as forças da morte. Òòrìsànlà . Quando cozido e esfarinhado. o “Ovo de pata” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú (morte). Oyà . como relata vários Itãn-Ifá. Erinlé. principalmente no Òri de uma pessoa. por três ou sete dias consecutivos. Já quando quebrados diretamente na cabeça. chamando Èlegbara e Ìyàmi-Òòsòróngà e espargindo dendê por cima do ovo. Com casca e tudo. Iroko. este lhe pertencerá. é transformado em pó (seco ao sol). dependendo da atuação da Divindade. Como relata Ifá. com a união dos três sangues primordiais. Egungun e Gèlèdè. Òbálúwàiyé. tanto sobrenatural. Ex: Èsú. fazendo com que todas as divindades compreendam perfeitamente que o èbò é uma súplica de fertilidade e germinação de filhos. Quebrar um ovo na rua. possibilitando a pessoa obter sorte. terá a finalidade de desobstruir os caminhos. atirando ao chão pela manhã. Sàngó. Ibeji. Ajagémó. é um simples e poderoso ritual do culto de Ìyàmi-Òòsòróngà . A utilização do ovo de pata cru é essencial em certos rituais. num tipo de substituição ou troca. é utilizado como agente purificador. que logo depois irá levar ritos sacrificatórios. Iyewá. possibilitando o fim uma situação negativa. dinheiro. o ovo não terá mais a possibilidade de germinar. das doenças e das perdas. purificando e possibilitando a existência de forças sobrenaturais. nem ossos. que acabará com o problema que aflige a pessoa. sorte. o único Òrìsa que não possui relação com Ikú é o Òrìsa Òsún. como concreto. qualquer que seja o ovo. fertilidade. Fica claro que o ovo utilizado na casa de Òrìsa é um elemento de Ìyàmi-Òòsòróngà sendo um elemento de muito Àsé. Na iniciação tem por objetivo trazer a prosperidade para o Iniciado e acompanhar diversas Obrigações. principalmente para Ossain. Assim. Ovo de Dangola: propicia dinheiro. Classificação dos Ovos: Ovo de galinha cru: purifica e tranqüiliza. sorte. Xangô e Orunmilá. Seus efeitos são gloriosos para saúde. dando-lhes longa-vida. riqueza e sucesso nos negócios. mas muitos deles ainda não comprovados cientificamente. tirando qualquer tipo de morte. Ovo de pata cru: enfraquece a força da morte. Isto porque Sàngó é um dos maiores representante de Eegun. sassanha… E ainda possui efeitos divinatórios sendo assim usado no culto de Orunmilá-Ifá. assim Òsún as protege. Todos esses aspectos de Òsún estão relatados nos Itãn do Odu Ósé. comida ritual. Abò. doenças graves e perdas.agressividade e doença. fato latente no culto Yorubà e ignorado aqui no Brasil. espiritual. Dentro dos cultos de Candomblé. Este fruto é utilizado como meios medicinais sendo um ótimo anti-inflamatório e Antiviral. seja material. 9 . financeira ou sentimental. Borí. Ovo de pombo: propicia tranqüilidade e fertilidade. O Orogbo é um fruto negro predileto de Egun e Sàngó. Orogbò ᄃ Orogbo é um fruto de Origem africana muito usado nos rituais feitos para os Orixás no candomblé. Ovo de galinha cozido: tira doenças. Isto também explica o porquê Òsún não aceita que suas filhas morram facilmente. Fruto usado no culto de Aborós (Orixás homens). iniciação. este fruto tem como nome científico Garcinia kola Heckel. Sendo o predileto de Xangô e Egún por ser um elemento de ligação com Ikú (morte). atrai prosperidade e abundância. por ser um elemento de pura ligação com Ikú (a morte). Devido as suas relações com a morte. numa ânsia de prolongar ao Maximo o contato com a morte. Ovo de codorna: Neutraliza feitiços. prosperidade. muito usado em todo tipo de Obrigação. o ovo de pata é amplamente utilizado nos “Èbós-Aiku” (sacrificio de longevidade). ele é tão importante quando o Obí. onde dizem que Sàngó tem pavor a Egun isto acontece por falta de conhecerem que na verdade é Sàngó. Ovo de galinha esfarinhado: neutraliza negatividade do ambiente. onde todos vivem totalmente sob o domínio do grande Rei da terra (Òbàlúwàiyé). lyàmi-Òsòróngà. ele é on» grande Egungun de inteira relação com dos os ancestrais cultuado na terra. O orogbo por ser um fruto quente totalmente relacionado Ikú. Dendezeiro e o Dendê O Dendezeiro ou Palma-de-oleo-Africana. Ao fazermos o abô (que é um banho de purificação com ervas frescas do Orixá de cabeça do iniciante e não aquele banho podre que se aplica em muito Terreiros). No Candomblé a palmeira de dendê é uma árvore Sagrada. aliás.Sàngó é tão quente quanto Eegun e o orogbo é o melhor fruto para ser oferecido tanto no culto de egungun resultado da morte no culto a Sàngó associado à Ikú por soa capacidade de destruição através do raio. de onde sai o mais conhecido óleo dos cultos chamado de Dendê. os fundamentos de Orixá estão incompletos sem ele. representa «ma comunhão do físico com o espiritual. essa fruta é um dos itens ritualísticos. ou seja. Ásia e Austrália. pois incomoda um pouco. seu gosto desagrada ao paladar. Ao mastigarmos. Neste momento a morte é inteiramente representada pelo orogbo principalmente por sua casca negra. o qual è sua fruta predileta de principal relação com Ikú e egun. não fazemos um Yawô sem esse fruto. Òmólú. também é encontrado na Polinésia. Originário da África. por este aspecto. por este fato está relacionado à morte. tendo também outras dezenas de nomes é uma das mais sagradas árvores do candomblé. seu óleo é muito utilizado 10 . Muitos e muitos orogbos devem ser ofertados à Sàngó com mel. Òbàlúwàiyé. Assim como o obi. Ogúo. porém. ou seja os seres vivos cultuam seus ancestrais partilhando o fruto. Fatos desconhecidos por muitos e ignorados por outros. Oyà. Os orogbo representam as pedras de raios no culto a Sàngó. Também sendo utilizado como banho em determinados momentos de nossa vida quando indicado. já no culto a Eegun representa os descendentes raciais ou familiares. Os principais òrisás que também recebem oferta de orogbo é Esú. lyémowo-Iyémònjá e Òòrisànlà-Òbátálà só recebem ferta de Orogbo sem a casca exibindo sua parte branca. por isso é ofertado aos ancestrais. quando um ser vivo parte orogbo e oferece juntamente com mel a seus ancestrais. é de imensa utilidade nos preceitos religiosos e serve também para “fechar o corpo” em nosso dia a dia. entra em harmonia com a vivacidade de Sàngó por ser um Orisá oriundo de Iká (norte). ENERGIA . tem energia agressiva . para diversas finalidades e são essenciais pela ação de proteção que exercem: Osun. Outro momento em que esta fibra é utilizada é n confecção de Umbigueiras. a pintura do ori de iyawos. Todos são transformados em pó para preparar pintura. Portanto. Isso porque. Osun. todo o mal fica nessas pessoas. Efun 11 . A IMPORTÂNCIA DAS PINTURAS Três elementos são utilizados nas casas de Candomblé. é usado também nos rituais de Ogun. no intuito de impedir o pouso dos pássaros maus e que são denominados de eleye. principalmente para a Esquerda. contra os efeitos negativos das ajé da sociedade das iyami. SABOR e FEITIÇO. Osun e Waji são elementos vegetais e Efun é mineral. onde é peça fundamental para o Padè (Farinha usada para dar comida a Exú). pois são símbolos da Sabedoria trazida dos negros africanos. Seu fruto sagrado é conhecido como Dendê. Com os coquinhos de dendê pode-se fazer guias que. vale ressaltar a importância da pintura de iyawo com esses elementos Osun. Mókàn e contra-Egúns. boiadeiros e até pelos caboclos. usados para afastar espíritos que possam atrasar os adeptos da religião. Das folhas do Dendezeiro tiramos o Mariwo. Dentro do candomblé é muito vista nos cultos de Omolú e Obaluwayè sendo usada para confecção da roupa destas divindades. Oyá… E principal vestimenta de Ogum. representa a imortalidade da alma e a eternidade da vida espiritual. Efun e Waji servem aí para proteção da cabeça do iyawo. além do seu Óleo o conhecido Azeite de dendê ser muito usado nos rituais de Orixá (com exceções). mas isso é balela arrumadinha. Conhecida como Ìkò é extraída da palmeira e nome em Yorubá IgíÒgòrò. acordá-lo. com a função de desagregar qualquer tipo de carga ou energia negativa. Utilizamos o óleo de dendê nas oferendas. após serem imantadas e consagradas pelos baianos. indispensável em diversas obrigações. portanto precisa ser usado com critério. se tornarão fantásticos instrumentos de trabalho e de proteção. o dendê é integrante da comida do orixá por ser quente! MUITO POR SINAL (kkk). que se caracterizam por vestir seus corpos como esse tipo de palha. Daí o procedimento de se pintar o iyawo. da cabeça aos pés. Egún. acredita-se que esta palha represente a vida e a morte como um ciclo de vida. Quando isso acontece. O azeite dendê tem a característica de “erva quente”. Outra forma de se proteger das yamin é passar a mão constantemente pela cabeça. os pássaros enviados pelas ajé costumam pousar com as asas abertas sobre as cabeças das pessoas. e é usado nos rituais de Ifá. Costuma-se dizer que o Dendê é usado pra “esquentar” o santo. ou seja. das pessoas que se iniciam no Candomblé. Efun e Waji. principalmente. A palha da costa A palha da costa é uma fibra de ráfia muito usada nos cultos de Orixá. não comprometendo o período de obrigação destes filhos de axé. VIDA .nas Comidas de Orixás e o coquinho é usado em um dos Oráculos de Ifá. desfiando as folhas e usando para proteger o terreiro de egúns. Representa a SABEDORIA ANCESTRAL trazida pelos negros da África. ou seja. principalmente de Exú. A representação é simples. Representa FORÇA. ativa e quando aquecido torna-se mais agitado. dependendo da situação. É considerado muito sagrado. materiais e psiquicos. principalmente para assentamentos de orixá "Igba Orixá" e na feitura de santo sobre a cabeça do iaô/elegun. Seu preparo é forma de utilização nos rituais e oferenda. Alumínio e Silicato. da mesma maneira que o Osun.Costumeiramente é empregado em beberagens. porém é interdição para os Orisa funfun. Sua aplicação está relacionada à força espiritual. osun . de Exu a Oxalá. banhos.-Osun. pois os mesmos neutralizam a cólera das yamins. esse iyerosun que foi encantando. Uaji ou Arokin é um tipo de pó azul. Símbolo da idealização. recebem acaçá. o osun é associado ao ase de sangue vermelho dentro do reino vegetal. diversas fórmulas para proteção e sorte. Ele é espalhado sobre o Opon Ifá.. ele é proibido para os Orisa funfun.-Iyerosun. além de fazer parte do preparo de algumas magias para a sorte e saúde. levam acaçá. Efum. Em rituais de iniciação. principalmente da negatividade de Iyami. Todos os orixás. Também empregado em algumas fórmulas. chamado pelo povo de santo de indigo. Este pó é utilizado em inúmeros rituais do candomblé. A definição é correta. ser espalhado sobre oferendas aos Orisa ou Orunmila. transform. principalmente para as Iyabas.-Efun. A utilidade dos pós . Com a utilização do Osun busca-se a fertilidade e a prosperidade. após ritual próprio pertinente aos Babalawos. ACAÇA As definições mais elementares do acaçá (àkàsà) é de uma pasta de milho branco ralado ou moído. Todas as cerimônias. Envolvem preceitos e regulamentos bem rígidos. do ebó mais simples as sacrifícios de animais. Wáji Wáji na cabeça do Iaô iniciação ketu. onde o Babalawo faz a marcação dos Odu e. trás o equilíbrio.ação. tranqüilidade. podendo ainda. em folhas de bananeiras. paz e paciência.pó vermelho extraído da arvore de mesmo nome. associado ao ase de sangue preto do reino vegetal. mas extremante superficial.Yerossum.É um potente "giz" branco empregado nas pinturas iniciáticas de todos os Orisa.. pois o acaçá é de longe a comida mais importante do candomblé.é um pó amarelado oriundo da arvore osun através da ação de cupins.Mas somente terá valor litúrgico se for preparado por um Babalawo. principalmente os Orisa funfun. sabão para banho. que nunca podem deixar de ser observados. de passagens fúnebres e tudo o mais que ocorra em uma casa de candomblé só acontece com a presença 12 .waji. poderá ter diversas aplicações. ele é utilizado nos rituais iniciáticos para a maioria dos Orisa. envolvido.e Waji.-WajiUsado também nas pinturas dos rituais de iniciação aos Orisa. posteriormente. normalmente o compramos em pequenas bolas. Wáji. ainda quente. direcionamento com o objetivo de proteger contra todos os males espirituas. Resulta da mistura de minerais cuja a composição é: Sódio. Existem determinados ebos onde fazemos o uso do Osun. assim como e emi. nesse caso. que todos ser leva dentro de si. Ambos configuram-se como símbolo da vida. o acaçá é um corpo. pois não existem substitutos para nenhum dos dois. uma vez que o eco só passa a ser acaçá quando envolvido em uma folha verde que lhe atribui existência individualizada. é preciso esclarecer que a pasta branca à base de farinha de milho (que fica alguns dias de molho e depois passada pelo pilão ou moinho) chama-se na verdade eco (èko). Mas o que faz de uma comida aparentemente tão simples a maior das oferendas aos orixás? Será que todos sabem o que realmente é um acaçá? Façamos então uma classificação dos elementos que compõem o acaçá para chegarmos à derradeira conclusão. um acaçá. que dá vida aos seres. (Hoje em dia nós temos a facilidade de encontrar o milho vermelho moído que é o fubá vermelho e o milho branco que é o fubá branco. que são oferecidos. que são. percebemos o grande mal que a humanidade todas as vezes que se afasta do poder divino. representada. na verdade. É importante insistir que o que faz do acaçá um corpo único. ou do próprio Olorum. pelo poderoso Orun. tornando-se. A vida e a morte no candomblé se processam à partir desta oferenda fundamental. A única oferenda que restituí a redistribui o axé. também conhecido como Olorum (Zambi). senhor do Destino dos Homens. uma parte da atmosfera. elementos indispensáveis em qualquer ritual. é envolvida em um pedaço de folha de bananeira para enrijecer (na África é utilizada outra folha. 13 . Só existe uma oferenda capaz de restituir o axé e desenvolver a paz e a prosperidade na Terra.do acaçá. para que o sacrifício não seja o homem. é a folha. pois passa a ser uma porção desprendida da massa. o ar que respiramos. mais existem sacerdotes que ainda utilizam o ritual de antigamente). sem a qual nenhum homem seria poupado dos dissabores e percalços do destino. que lhe confere individualidade e força vital diante do poderoso orun. ela é justamente o acaçá. Percebe-se a fundamental importância da folha de bananeira. seu poderoso invólucro verde. o símbolo de um ser. uma porção da pasta ainda quente. os orixás e do grande Deus Oludumaré. é. eminente representação de um ser. e pelo supremo. Depois de coxear. a morada de todas as divindades. e é justamente para afastar a morte do caminho das pessoas. agora sim. a exemplo do obi. chamada èpàpo). Olodumaré. Primeiramente. o sopro da vida. Portanto. Somente a água é tão importante quanto o acaçá. Quando recorremos á história dos orixás. que arranca a morte. portanto. Primeiro vem o acaçá antes dele só a vida. No primeiro caso a massa de ecó. fartura e prosperidade. fartura. prova de que o segredo é quase sempre um elemento consagrado. A religião dos orixás não admite modificações na essência na essência. é colocada às colheradas sobre o mármore das pias.O acaçá remete ao maior significado que a vida pode ter: a própria vida. pois as regras e diretrizes da religião nunca foram ditadas pela intuição. Só então é retirado da folha. Fundamento é o segredo compartilhado. nem acaçá sem folha. É como se o sagrado tivesse de ficar oculto até a hora da oferenda. mas fundamento sim. E por ser o grande elemento apaziguador. a doença. prosperidade dentro de sua casa? Eu acredito que todos. Não há candomblé sem acaçá. imaculado até o momento de ser entregue ao orixá. “Constituem grandes fundamentos cristalizados” ao longo de anos e anos de tradição. a imprudência vigora em muitos terreiros e não raras vezes se ouve falar de novas iguarias apresentadas como acaçá. Não existe acaçá que não seja enrolado na folha de bananeira. é o que mantém um terreiro de candomblé de pé. Aos incautos vale afirmar que candomblé não é intuição. a folha de bananeira guarda uma vida. E o segredo do acaçá é enrolar na folha de bananeira. Entretanto. vocês devem adquirir: *01 alguidar pequeno *01 estrela do mar daquelas pequeninas *01 ímã em forma de ferradura *05 moedas correntes do mesmo valor *05 punhados de girassol 14 . Fato é que quem não faz um bom acaçá não é um bom conhecedor do candomblé. inviolável. Este é um procedimento incorreto e condenável. Na segunda receita a massa é espalhada em uma forma e posteriormente cortada em quadradinhos. a pobreza e outras mazelas do seio da vida. o detalhe que faz a diferença e a prova de que ninguém pode enganar o orixá. e as pessoas que agem assim então fadadas ao insucesso e não podem ser consideradas pessoas de axé. divulgo para vocês uma oferenda para trazer sorte. Logo. mais grossa. Por isso. O acaçá deve permanecer fechado. e fundamentos se aprende. Em um Sábado de lua cheia. onde os bolinhos esfriam antes de serem utilizados nos ritos. e esta comida é essencial. Os mais comuns são os acaçá de pia e de forma. tornou-se a comida e predileção de todos os orixás. Eis o grande fundamento PARA SE TER SORTE Quem não quer ter sorte. Deixar a massa do acaçá exposto é o mesmo que deixar a vida vulnerável. Inversamente. Evoca o enxofre aprisionado na matéria. fartura e prosperidade. isto deve ser feito num Sábado de lua cheia. despachando o velho num galho alto de uma árvore bem frondosa e repetir o ritual. à posteridade. o embrião. permanecer dentro do ciclo das reencarnações e sujeitar-se aos poderes da matéria. a partilhar do alimento dos mortos e. Em nossos rituais. E isso leva-nos a compreender as razões da proibição estabelecida por Orfeu e Pitágoras para os quais comer favas era o equivalente a comer a cabeça dos próprios pais. a fava era usada no culto dos mortos por acreditar-se que continha a alma dos mortos. ao pólen das flores. Em seguida. fazemos uso tanto da fava inteira como ralada. as favas constituem. 15 . a fava representa e confirma a ancestralidade dos Deuses. No sacrifício que se costumava realizar na primavera.*05 punhados de açúcar cristal *01 pedaço de pano branco virgem Depois de lavar bem o alguidar e colocá-lo em cima do pano branco.denominação que os egípcios usavam com sentido simbólico. ao contrário. portanto vocês devem fazer olhando para a lua e pedindo que vocês tenham sorte. elas representavam a primeira dádiva vinda de baixo da terra. vocês devem colocar a estrela do mar no fundo do alguidar. O "campo de favas" . pertencem ao grupo dos Deuses protetores. por vezes é signo da morte. Fazer uso da fava e do pó da fava representa perpetuarmos nossa ancestralidade. Elas representam os filhos-homens esperados. as primícias da terra e dos Deuses. assim como a cinza é comparado ao sêmen. na qualidade de símbolos dos mortos e de sua prosperidade. no ápice dos rituais. FAVAS A fava simboliza o sol mineral. Como expliquei. No entanto fora do âmbito dessa teoria. o símbolo de todas as benfeitorias proveniente dos Deuses que habitam debaixo da terra. O pó. em forma de pó. numerosas tradições confirmam e explicam essa aproximação. era o lugar onde os defuntos aguardavam a reencarnação. Segundo Plínio. Em resumo as favas são as primícias da terra. ou seja de sua encarnação. graças a isso. Dentro do cultos dos Voduns/Orixas/inkices e outros. As favas. o signo de sua fecundidade. o elemento essencial da comunhão como os Deuses. colocar o ímã e em cada ponta uma moeda e um punhado de açúcar cristal e de girassol. No meio da estrela. vocês devem embrulhar no pano branco e esquecer este embrulho num canto alto da casa e só repetir de 05 em 05 (cinco) meses. As favas fazem parte dos frutos que compõem as oferendas rituais. O que confirma a interpretação simbólica geral dessa leguminosa. a primeria oferenda dos mortos aos vivos. FAVA DE OXALÁ 21 .OROBO 12 .FAVA DE XANGO .ATARÉ 18 .COCO DO DENDE 16 .GARRA DE EXU 5 .FAVA DE OGUM 9 .1 .FAVA DE EXÚ 4 .DANDA DA COSTA 7 .ARIDAN 20 .FAVA DE AGUÉ 24 .AMENDOIM 15 .FAVA DE OXUM 23 .FAVA DE OBALUAYE 6 .IKIN 8 .ALIBÉ 13 .FAVA ARIO 22 .PIXURIN 14 .FAVA DE IANSà 19 .FAVA TONCA 10 .NOZ NOSCADA 17 .FAVA CUMARU 16 .FAVA DE ABRE-CAMINHO 2 .BEJERECUM 3 .FAVA DE JATOBA 11 . No Batuque-RS manga. pitanga. uvas. cajá manga.FAVA DE OXOSSI 31 . grosselha. maça.FAVA DE KARITE FRUTAS DOS ORIXÁS/VODUNS/MIKISI IANSÃ/OYA Manga rosa. maçã. ameixas. cajá. marmelo e cana. ameixas.LELECUN 27 .morango. melão. framboesa. uva. No Batuque-RS laranja. jenipapo. mamão 17 . de preferência melão. caqui. pitanga. figo. laranja . *caju (Ogum Xoroque). LOGUM todas da natureza.FAVA DE OBALUAYE 29 .FAVA DE OSAIN 30 . maçã. pêra.FAVA DE LOGUN 28 . laranja.25 . abacate. OGUM manga. amoras. *jenipapo e *tamarindo *(Oya Igbale). pêra. pêssego.FAVA OFA 26 . romã. mamão. banana. uva. Djeje . manga rosa. laranja. Pêssego. abiu roxo. No Batuque-RS maçã. uva. banana da terra. banana prata. melancia. morango. morango. melancia. No Batuque-RS abacaxi e romã YEWA banana da terra. melão. coco. Gosta também de coco. maça. abóbora moranga. mamão. mamão. jaca. amendoa NANà melancia. ameixa branca e maçã OXUM melão. No Batuque-RS banana. abacaxi. manga. banana da terra.banana ouro. YEMANJA melão. maracujá.goiaba. banana ouro.XANGO Todas da natureza. a melancia e o caja manga OBÁ maça. pêssegos. abacaxi. desde que tenham as cascas claras. zimbro. framboesa. laranja Bahia. de preferencia nas cores da terra. pêra. bergamota. banana de são Tomé. morango. No Batuque-RS melancia e coco OXALÁ qualquer espécie da natureza. banana. mamão. ou avermelhadas. banana. damasco. pêra. pêssego. carambola. mexerica. uva. uvas de todas as espécies. ameixa. sem a casca e fruta-pão No Batuque-RS 18 . figo. cana. cana-de-açúcar.butiá . abacate. bergamota. melão. maça. maçã. Tamarindo. butiá. Tamarindo. coco.Uva branca. mamão. alfarroba. laranja azeda . descascada e cortada em rodelas. laranja uvas verdes. como mamão. groselha. mamão. OXOSSI todas da natureza. banana. ameixa vermelha. guaraná No Batuque-RS pitanga. IBEJI de todas as espécies OXUMARE todas da natureza.laranja de umbigo . OBALUAYE todas da natureza. pode ser agraciado com todas as espécies de frutas. cola toronja (pomelo). BESSEN frutas como banana da terra e acerola OSSAIM Todas da natureza. por ser ele um dos orixás da terra. mas tem preferencia por frutas nas cores amareladas ou esverdeadas. mas as favoritas dele são: limão. goiaba. figo. ingá. manga. jabuticaba.guarana. mas da preferencia para 19 . goiaba vermelha. gabiroba.goiaba No Batuque-RS ODE OTIM uva preta. butiá e araçá EXU pôr ser o senhor de todos os caminhos e responsável pelo equilibrio no mundo.ameixa No Batuque-RS BARA manga.amora. maracujá. mamão e coco. jaca. pêra. descascado e cortado em cruz. sal. caju. No Batuque-RS XAPAN uva preta. Obá e Ibeji). avelã. algumas vezes com camarão seco. mamão. (No candomblé. amendoim e café EGUM E ANTEPASSADOS Graviola. manga. amora do mato COMIDA RITUAL ABARÁ: Bolinho de origem afrobrasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta. inteiro ou moído e misturado à massa. jabuticaba. 20 .banana de qualquer espécie. é comida-desanto. ameixa. cebola e azeite-de-dendê. sapoti. que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. jaca. graviola. tamarindo. oferecida a Yànsán. ABRAZO:Bolinho da culinária afrobrasileira.(No candomblé. feito de milho ou de arroz moído na pedra.BERÉM: Bolinho de origem afrobrasileira. oferecida a Omulu e Osùmàrè). inerentes aos 21 . ABALÁ é um nome comum a dois tipos de comidas rituais votivas. salgado e cozido em folhas de bananeira secas. apimentado. macerado em água. frito em azeite-dedendê. é comida-de-santo. feito de farinha de milho ou de mandioca. 22 . As pamonhas são submetidas a cozimento submersas em água fervente por um período de 15 minutos. atados nas extremidades. Esta massa é colocada em "palha" da própria casca do milho. ou da massa de carimã votiva ao orixá nanã. Abalá de milho O milho verde é ralado e à massa resultante é misturada ao leite de coco com parte do bagaço. Xango e Yewá. Abalá de carimã O aipim previamente descascado é submergido por um período de quatro dias para obter uma massa chamada de carimã.orixás obá. sal e açúcar. quando feita de massa de milho verde. As pamonhas são submetidas a cozimento submersas em água fervente por um período de 25 minutos. Este alimento ritual é muito apreciado pelo povo do santo e pela maioria dos nordestinos e chamado popularmente de pamonha de milho verde e pamonha de carimã. sal e açúcar. atados nas extremidades. misturada ao leite de coco com parte do bagaço. Esta massa é colocada em "palha de aguedé" (bananeira). e deve ser depois passado em um moinho para formar a massa que será cozida em uma panela com água. É servido a Exu e Logun-Ede. pequenas porções da massa devem ser embrulhadas em folha de bananeira já limpa. que fica de molho em água de um dia para o outro. Feito com milho branco ou vermelho. fazendo o mesmo do outro lado. passada no fogo e cortada em pedaços de igual tamanho. Colocar a folha na palma da mão esquerda e colocar a massa. Ainda quente. para ficar tudo harmonioso. sem parar de mexer. até ficar no ponto. 23 . Acaça Amarelo: feito com farinha de milho vermelho enrolado na folha de bananeira da mesma forma que o acaça branco. O formato que resulta é o de uma pirâmide retangular. Este se adivinha quando a massa não dissolve. Com o polegar dobrar a primeira ponta da folha sobre a massa. Todos os orixás recebem o acaçá como oferenda. dobrar a outra ponta cruzando por cima e virando para baixo. se pingada em um copo com água.ACAÇÁ é uma comida ritual do candomblé e da cozinha da Bahia. ACARAJE: comida ritual da orixá Iansã. A essa massa acrescenta-se cebola ralada e um pouco de sal. José Benistes). passar novamente no moinho. é chamado de àkàrà que significa bola de fogo. o acarajé ainda é considerado. O bolinho se tornou. uma oferenda a esses orixás. é um bolinho característico do candomblé. Quando a massa está no ponto. a sua receita. simbolizando “mensan orum” nove Planetas. 24 . o principal atrativo no tabuleiro. embora não seja secreta. não pode ser modificada e deve ser preparada apenas pelos filhos-de-santo. Para fritar. Esse primeiro acarajé sempre é oferecido a Exu pela primazia que tem no candomblé. O segredo para o acarajé ficar macio é o tempo que se bate a massa. O acarajé. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas. assim. Os seguintes são fritos normalmente e ofertados aos orixás para os quais estão sendo feitos e seus adeptos. Mesmo ao ser vendido num contexto profano. enquanto je possui o significado de comer. ou seja. O azeite deve estar bem quente antes de colocar o primeiro acarajé para fritar. uma colher para pegar a massa e uma colher de pau para moldar os bolinhos. Por isso. Oxum e Iansã. O acará de xango tem uma forma Ovalar imitando o cágado que é seu animal preferido e cercado com seis ou doze pequenos acarás de igual formato. “comer bola de fogo”. O acará Oferecido ao orixá Iansã diante do seu Igba orixá é feito num tamanho de um prato de sobremesa na forma arredondada e ornado com nove ou sete camarões defumados. (Orum-Aye. No Brasil foram reunidas as duas palavras numa só. use uma panela funda com bastante azeite-de-dendê ou azeite doce. pelas baianas. Após retirar toda a casca. como uma comida sagrada. que deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e colocado de molho na água para soltar a casca. fica com a aparência de espuma. Na África. cercado de nove pequenos acarás. acara-je. desta vez deverá ficar uma massa bem fina. O acarajé é feito com feijão-fradinho. Normalmente usam-se duas colheres para fritar. coloca-se em uma tigela e acrescenta-se água fresca. é oferecido principalmente à Orixá Oxum. ornado com doze quiabos inteiros. doze bolos de milho branco e seis Orobôs.é uma Comida ritual feita de milho vermelho torrado e moído em moinho e temperado com azeite de dendê e mel. regado com gotas de mel de abelha e azeite doce. 25 . com seis ou doze quiabos. A mesma oferenda pode ser oferecida a outras qualidades de Xangô. AJABÓ é comida ritual do Orixá Xango Ayra É feito com seis ou doze quiabos cortado em “lasca”. bate-se com os dedos até ele espumar e ficar digamos ligado. a diferença que ele é ofertado em uma tigela ou uma gamela redonda. em algumas casas com oito quiabos. batido com três clara de ovos até formar um musse. doze moedas circulante.ADO . Colocado em uma gamela forrada com massa de acaçá ou pirão de farinha de mandioca. todavia acrescenta-se azeite de dendê e substitui os doze bolos de milho branco por doze acarajés ou corta-se o quiabo em pequenas rodelas. Iansã. menos o dende e o pirao que forra a gamela é feito de farinha de acasá. Sempre que for servir o amala de Sango deverá por ao lado uma vasilha branca com ajabó Axoxô ou Oxoxô é como é conhecida a comida ritual dos Orixás Oxóssi e Ogum no candomblé. Garganta: casos de saúde. Ir misturando sem por agua. camarão seco defumado.AMALÁ: é comida ritual votiva do Orixá Xangô. enfeitado com fatias de coco sem casca. a costela e a garganta. cortados em jogo da velha (#) levar ao fogo com tempero de camarao. não confundir com mel de abelha que é o grande ewo deste orixá. que não poderá ter sido molhado antes. Vai pingando vagarosamente gotas de agua. que consiste em milho vermelho cozido. tudo do boi. Rabada: prosperidade.cebola. Quando oferendado para orixá oxóssi o milho cozido é misturado com melaço (Mel de cana de açúcar). 26 . Obá. para que este cresça. sal e azeite de dendê. Quando estiver bem cozido. para cada caso usa-se uma destas carnes. servir em gamela forrada com pirao de farinha com dende. Peito: justiça. Quando oferendado para o orixa ogum é refogado com cebola ralada. a rabada. gengibre ralados fritos no dende. é feito com quiabos frescos. Aos Amalás poderao ser adicionados o Peito de boi cortado em cubos grandes. no caso de Ayrá leva tudo acima. ao corar o tempero jogar o quiabo. e batendo o amalá como se estivesse batendo um bolo. Costela: feitiçaria. Este amala serve apenas para Sango. são filhos de Xangô com Iansã ou de Xangô com Oxum. Esta mesma oferenda pode ser consagrado à Olokun. servido no rigor dos terreiros. Ritual que rememoriza fartura. castanhas e amendoins torrados e moídos. As crianças são convidadas a comer do caruru.Nota. é acrescentado frango desfiado. Consiste de quiabos cortado bem miúdo. e todos. ao mesmo tempo.é a comida ritual dos Orixás Obaluaiyê e Omolu. camarões secos (alguns moídos). Ao final. ancestralidade e vida sagrada. CARURU: O caruru. O caruru é colocado sobre a esteira. em alguns lugares com óleo. em outros com areia. é o milho de pipoca estourado em uma panela. sal. é acompanhado de preceitos que viram ações propiciatórias das divindades gêmeas que. cebolas raladas. Deburu . azeite de dendê. segundo o Padre Vicente Ferreira Pires. Nesse último caso. é preciso peneirar a areia dessa pipoca depois de pronta. gengibre ralada. No Dahome. a pipoca colocada em um alguidar (vasilha de barro) e enfeitado com pedacinhos de coco 27 . A mesma comida ritual recheada de camarão defumado. dentro das religiões afro-brasileiras. azeite de dendê ou azeite doce. palavra oriunda do iorubá. possuindo o mesmo valor ritual. podendo ser vista nos rituais de ori. Preparado com carne fresca de preferência dos rituais de sacrifícios. independente do ixé. no sentido de dar equilíbrio espiritual. pertinente á vários rituais e orixás da cultura afro brasileira.Ebô. É o milho branco cozido sem tempero e sem sal. sal e rapidamente frita no azeite de dendê. em caso do orixá ser funfun. É uma comida oferecida especificamente ao orixá Iemanjá. Erã peterê. A mesma oferenda pode ser preparada com o milho branco na falta da fava. chamado popularmente xinxin ou moqueca de carne é servida normalmente aos adeptos do candomblé nas festas de barracão. Ebôya. deve-se substituir o sal pela cebola e o dendê por azeite doce e oferecido ao orixá regente da obrigação. eboia ou fava de iemanjá é uma comida ritual feito com fava cozido refogado com cebola. consiste num alimento religioso e votivo para os orixás funfun (branco) Oxalá. camarão. bori e assentamento de cabeça. sendo uma comida votiva ao orixá Akueran (oxossi) por ter ligação ao eran (carne). 28 . eran peterê ou simplesmente peteran como é comumente chamado pelo povo de santo é o nome da comida ritual votiva. todavia recebe o nome de Dibô. são 29 . Farofa branca. camarão seco. que tem como base farinha de mandioca. “farinha de pau ou farinha de guerra”. também é um alimento ritual e muito apreciada pela maioria do povo do santo da cultura Nago-Vodum. feijão fradinho sem casca triturado. Tipos de Farofas Farofa-de-dendê. afexu. A massa é preparada da mesma forma que a massa do acarajé. farofa de azeite ou farofa de bambá são nomes comumente chamado pelo povo do santo em sua variada apresentação a depender do ritual que esteja acontecendo. farofa de agua ou farofa de egum. Farofa ou mi-ami-ami é um nome comum a vários tipos de comidas rituais votivas. Normalmente é chamada de farofa de dendê a farofa servida aos adeptos e participantes do candomblé. A única diferença é que nesta comida substitue o azeite-de-dendê por azeite dôce (Oleo de oliva) ou banha do Ori. sasanha. farofa amarela. feita de uma mistura. axexê etc. Também oferecido para alguns orixas e preparadas só com azeite de dendê e sal. azeite de dendê. Esta comida ritual sagrada.Ekuru é uma comida ritual. cebola e sal. feita com farinha. farofa vermelha. vista sempre no ritual do olubajé. padê de exu. Os outros tipos são denominações para rituais pertinentes a limpeza de corpo. envolto em folhas de bananeira como o acaçá e cozido no vapor. pertinente á vários rituais e orixas da cultura afro brasileira denominado de candomblé. é o nome da comida ritual votiva. muito utilizada nos rituais de exu. O Arroz é cozido na água sem sal. muito utilizada nos rituais de erê. Farofa de mel ou mi-ami-ami owin é uma farofa preparada com farinha e mel de abelha. bori. Furá. ou bola de: arroz. comumente visto nos carurus dos santos gêmeos e devoção a São Cosme e São Damião. O povo do santo também chamam de farofa de cachaça toda farofa feita com aguardentes. 30 . bolinhos. assentamento de cabeça. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori. vinhos ou qualquer bebida alcoólica. até ficar pastoso. Farofa de cachaça ou mi-ami-ami otin é uma farofa preparada com farinha e cachaça. sasanha etc. Crispim e Crispiniano. farinha de mandioca. padê e limpeza de corpo. feitura de santo. osain e oxun. Determinados orixas funfuns apreciam esta iguaria e algus preferem sem sal. depois batido com uma colher de pau até soltar da panela.farofas preparadas só com água e sal. Este alimento ritual é muito comum nos rituais de limpeza de corpo. farinha de milho… etc. axexê. assentamento de cabeça. Bolas de arroz. apanan. ibeji. em seguida formar os bolos de forma arredondada com as mãos. inhame. sasanha etc. Bolinhos de egun. axexê e oferenda ao orixá Exu. depois a água com aguardente e modela os bolos de forma arredondada com as mãos e acrescenta um pequeno pedaço de carvão vegetal. assentamento de cabeça. Esta comida ritual é para limpeza de corpo. oxalufan. oxalá. azeite de dendê e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é para limpeza de corpo. feitura de santo. apanan. depois pilado em pilão. Em um alguidá coloca-se a farinha. O inhame deve ser bem cozido em água sem sal. ou com a ponta de um garfo. Esta comida ritual é para limpeza de corpo e axexê.Bolas de farinha. yemanja e entra em vários rituais como bori. axexê. Em um alguidár coloca-se a farinha. Em um alguidár coloca-se a farinha. axexê e Egum. depois a água e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. 31 . Esta comida ritual é muito apreciada pelos orixás oxaguian. Bolas de inhame. Bolinhos de dendê. em seguida sovado para obter uma massa pastosa e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. depois a água. depois batido com uma colher de pau até soltar da panela e depois sova. em especial como o nome já diz é oferecido para o orixá Yemanjá. Ipeté. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori. O Arroz ou milho branco é cozido na água sem sal. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori. Bolinho de tapioca. assentamento de cabeça. assentamento de cabeça. A tapioca e colocada em leite de coco e açúcar até ficar pastoso. é um dos pratos da culinária baiana e 32 .Bolinhos de Yemanjá. sendo carinhosamente oferendado aos ibejis e apreciados pelo povo do santo. em seguida formar os bolos de forma arredondada com as mãos. até ficarpastoso. Nota Este mesmo bolinho é vendido nos tabuleiros das baianas de acarajé com o nome de punheta ou bolinho de estudante. em seguida formar os bolos de forma arredondada ou alongada com as mãos. depois batido com uma colher de pau até soltar da panela. Os de formas alongadas são fritos em azeite ou óleo. oxalufan e o ikise lembarenganga. com pequena quantidade de “água de flor de 33 . Mungunzá. mugunzá. algumas vezes com leite de coco e de gado. Alimento ritual feita de grãos de milho branco. do quimb. doce feito com quirela de milho vermelho. Colocar em uma tigela e enfeitar com os camarões inteiros. a canela em pau. Oferecido aos Orixás Oba e Ewa e Ode. oxaguian. coco ralado. tanto no candomblé como na umbanda. (uma quantidade que cubra todo o milho) com o cravo. substituindo o dendê por azeite doce na festa do Pilão.Em uma panela coloque água e o pacote do milho quebradinho chamado de xerem. camarões frescos inteiros e cozidos para enfeitar e sal. sal e leve ao fogo ate virar um mingau durinho. pertinente aos orixás oxalá.como o acarajé também faz parte da comida ritual do candomblé. Inhame. deixe de molho num periodo de meia hora. gengibre ralado. mu’kunza. quando já estiver durinho. Também oferecido ao Orixá Oxaguian. ‘milho cozido’) “Dicionário Aurélio”. açúcar e leite de coco. cozinhar ao ponto de amassar com um garfo. Escorra a água e coloque outra. Preparo: Tirar a casca do inhame e cortar em pedaços pequenos. cozidos em água sem sal e com açúcar. cebola raladas. azeite de dendê. ou mucunzá como é chamado pelo povo do santo é o nome da comida ritual votiva. açúcar. acrescente o leite do coco. camarão sêco e defumado. (De mucunzá. colocar os temperos e um pouquinho de sal e bater com uma colher de pau até ficar no ponto de um purê. oferecida especialmente ao orixa Oxun. Lelê iguaria africana. jogando-se ao chão aleatoriamente para. O Obi ao qual nos referimos é o originário da Africa que é a Noz do caminho = odus. a partir daí. Obi = Noz de cola. OBI. usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana. o Obi é um elemento de grande importância para o culto dos orixás. em si. extrair a mensagem de Ifá e determinar 34 . Dentro do Ifá. servido aos adeptos com bastante caldo e aos orixás bem compactada em forma de ebô. o obi representa os quatro pontos cardeais da terra e que tem o poder de gerar o espaço em qualquer circunstância. Uma semente pequena e que faz parte de todos os rituais promovidos na vida de um ser humano. Ele. Aluá Bebida refrigerante feita de milho. de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura. inclusive o ajeje – ritual fúnebre. Uma definição que não determina seus vários significados. seu consumo deve ser precedido de orações.O Orixá da Sorte OBI O ORIXÁ DA SORTE Conhecido como Noz de Cola. por ser um alimento básico e o símbolo das orações no Orun. Assim jogar o Obi é como se o individuo estivesse fazendo um exercício corporal. O Obi é um oráculo complexo e completo.laranjeira”. destinado à ritualidade e não à espiritualidade. algo equivalente à noz do destino. implica em espiritualidade ao come-lo. é o elemento mais usado dentro dos rituais. cabeça. três. podendo ser oferecido para Exú ou Iyami. oke-orì. depois de ekó. seis ou com dois obis de quatro partes. O quinto elemento extraído do Obi. Normalmente. desde que despertado seu axé adequadamente. As orações são modos íntimos de comunicação e os oráculos. O oraculo obi também conta com o tempo e o espaço. Quando o Obi é de cinco partes. e mesmo o significado do obi. representa seu sacrifício. as pessoas especializadas o jogam dentro de uma ritualidade específica. O Obi mais comum de ser encontrado é o de quatro partes. alto da cabeça. dividida em quatro. a “ele” cabe a responsabilidade de indicar o resultado do ebó. em si. embora a consulta possa ser feita com obi de duas. alcança a consciência de oludumare e esclarece sobre os elementos utilizados no ritual. o que significa a união entre os seres humanos e os orixás. estabelece vínculo e a extracção da consciência de Oludumare – Orunmila. os braços como elementos que indicam espaço gerado em torno do ritual e a sua orì. Somente aqueles que possuem conhecimentos sobre os odus de Ifá conseguem ter uma visão ampla do resultado alcançado. COMO É MAIS USADO O ORÁCULO DO OBI O Obi. acaçá e água. cabendo a “ele” a responsabilidade de resolver essas questões a favor dos menos afortunados. osun e iyerosun. os orixás. o Obi dos caminhos é usado para obter uma resposta simplificada do resultado – sim ou não como resposta dos orixás e ancestrais – através de uma simples abordagem diante de se ojubo ou “assentamento”. para encontra-los. faz referência às quatro partes que compõem o obi. dentre eles. que estão contidos dentro desse jogo e. É preciso que leve em consideração os odus de Ifá. o do Obi.como “ele” mesmo encontra dentro de seu próprio espaço ou ambiente sagrado para poder descobrir qual resultado do ritual promovido. Além de participar como elemento da própria oferenda. assim como a quinta parte. O que significa que essa parte do obi deve ser mascada e soprada sobre o “assentamento do Orixá” antes de dar continuidade ao ritual de oferecimento do Obi. se encontrará dentro de quatro. serve para dar continuidade à vida e equilíbrio à natureza. Se o homem abrir os braços e as pernas. 35 . sem o qual não poderá ser aceito. além de servir de alimento à terra na própria oferenda. que aparece como testemunho dos infortúnios da vida. são usados para estabelecer diálogos entre os devotos e as divindades. a quinta é considerada infértil. que é o embrião ou bulbo. O Obi apresentado num ritual. sendo impossível fazer um ritual de obi se o individuo que o consulta não sabe o significado dos elementos como efun. as pernas aparecem como a força da estrutura terrestre mantida pela força gravitacional. animais e plantas. a prosperidade. mas todos mal sucedidos. Ele decidiu convidar as quatro divindades mais moderadas que existem: a paz. abriu e fechou a mão esquerda e. paz e concórdia fizeram outros experimentos. elas foram até Olodumare disseram que era impossível preparar os frutos. que cresceu. eles mudaram de textura e o gosto ficou ruim. “ele” percebeu que os frutos estavam vigorosos e frescos. uma árvore surgiu no lugar – era a árvore do Obi. a avisar que daquele dia em diante os frutos de obi não seriam somente um alimento do céu. Como ninguém descobriu como preparar o Obi. descobridora dos segredos dos frutos das orações. de novo. Eles rezaram pela união e equilíbrio de todos. ficaram horríveis. lavou e os guardou embrulhados em folhas por 14 dias. no dia seguinte. antes de ficar esclarecido que Exú era o responsável pela confusão. “ela” os cozinhou. A divindade do obstáculo partiu a cabaça do obi. Enquanto isso. Olodumare decretou também que. A Vida levou os frutos para Olodumare e disse que os frutos das orações. e que seu consumo fosse sempre precedido de orações. Em seguida. eles mudaram de cor e não podiam ser comidos. começou a come-los crus e viu que não havia problema algum. retirou os frutos-sementes. a divindade dos obstáculos se ofereceu como voluntário. Primeiro. como símbolo das orações. obi. Foi para fora e plantou o conteúdo no chão – Olodumare plantou as orações e. começaram a cair no solo. prosperidade. Então. mas também que onde fossem apresentados.A CRIAÇÃO DO OBI No dia que oludumare descobriu que as divindades estavam lutando entre si. apanhou o ar. mais velha divindade de sua casa. Enquanto rezavam em harmonia. a Vida os torrou. No outro dia. Todos os frutos colhidos foram entregues a “ele”. Olodumare abriu e fechou a mão direita e apanhou ar. Quando os frutos amadureceram. Então. Olodumare ordenou à divindade dos obstáculos. floresceu e deu frutos. A vida – divindade feminina – pegou os frutos elevou para Oludumare e este lhe disse para preparar os frutos do jeito que mais lhe agradasse para come-los. podiam ser ingeridos crus sem qualquer perigo. concórdia e a vida – única divindade feminina presente – para resolver a questão do desrespeito dos mais jovens contra os mais velhos. a árvore de obi somente 36 . deveriam ser oferecidos primeiro ao mais velho que estiver sentado no meio do grupo. Após esse período. cresceria em lugares onde os mais novos respeitassem os mais velhos. Naquela reunião no céu, Olodumare abriu primeiro obi, que tinha somente duas partes: “ele” deu uma parte para a divindade do obstáculo, a mais antiga presente; o segundo obi tinha três partes, as quais representavam as três divindades masculinas que fizeram as orações que deram origem ao nascimento da arvore do obi; o terceiro obi tinha quatro partes, e representava a vida, única divindade feminina presente na reunião; o quarto obi tinha cinco partes e representava Orisá’nla; o quinto obi tinha seis partes, foi dividido e distribuído entre todos os participantes da reunião, representando a harmonia e o desejo das orações. A vida levou o obi para a terra, onde sua presença é marcada por orações e só germina e floresce em comunidades humana onde existe respeito pelos mais velhos, pela ancestralidade e tradição. POR QUE OBI É JOGADO NO CHÃO Obi era um rapaz forte e saudável, cujo trabalho era levar os recados dos homens aos orixás. Toda vez que alguém necessitasse fazer alguma oferenda, precisava falar no ouvido de obi suas orações, pedidos e desejos, para transmitir os recados e trazer a resposta dos orixás. Assim obi ficou famoso e passou a ser muito requisitado, pois com sua ajuda os problemas eram mais fáceis de serem solucionados, a resposta era imediata – e todos dependiam de obi. Envaidecido, obi tornou-se orgulhoso e, cobrando altos preços pelos seus serviços, juntou muitas riquezas. Assim obi agia livremente, andava pelas ruas, sem falsa modéstia, dizendo o quanto as pessoas precisavam de seus favores. Com o tempo, essas atitudes de obi passaram a incomodar Exú. Sendo Exú, aquele que transita entre o céu, ao tomar conhecimento, entristecido, foi pessoalmente à casa de Obi para ouvir seus argumentos. Obi sem saber quem batia à porta, ao abri-la assustou-se tanto que caiu de costa estático; nisso, Olodumare disse: " por causa da sua vaidade e orgulho, Obi vim do céu à sua casa com muita tristeza e descontentamento”. E, para reparar seus erros, a partir de agora nunca mais falará de pé, sempre que alguém precisar do seu trabalho é no chão que deverá ser invocado, este será o seu castigo todo o sempre”. NASCIMENTO DA ORI Como a Noz do poder realizador, segue aqui um (relato) sobre o nascimento da orì (cabeça) e revela sua importância dentro do culto. O relato diz que os orixás se rebelaram e queriam usurpar o Poder e a Sabedoria de Olodumare. Como mensageiro, Exú, levou as reivindicações. Olodumare Consultou Ifá e foi orientado a enviar para os orixás um obi, que se tornaria poderoso após ser deixado por uma noite numa encruzilhada. Que cada Orixá tentasse abri-lo para demonstrar seu poder. Ori ainda não possuía forma e mais se parecia com uma ‘porção de qualquer coisa’, era 37 muito pequena, não tinha um corpo e ninguém respeitava. Para conseguir partir o obi, orí foi procurar Ifá, que a aconselhou a fazer uma oferenda aos odùs para conseguir a força deles ‘todos’. Além disso, orí deveria se espojar na poeira do chão. No dia seguinte, todos os orixás tentaram partir o obi, mas todos fracassaram, pois o obi enviado por Olodumare era muito forte e resistente. Foi quando chegou orí se espojando na poeira do chão, pedindo para partir o obi. Como ultima alternativa, os Orixás deixaramna tentar. Orí espojando na poeira, deixou que o seu peso caísse sobre o obi, que se partiu em seis partes. Os orixás ficaram muito felizes e gritaram Ãré-Ifá! Campeão do Ifá! Olodumare ao saber da notícia, imediatamente, enviou uma linda almofada na qual orí se instalou. Neste momento, orí nasceu, ganhou um corpo para sustenta-la e ocupou o mais alto posto no céu, passando a ter conduta, Ìwá, dada por Olodumare, como premio por ter sido a única capaz de partir o fruto-ventre, obi. Os orixás gritaram: Ori Ápere! Cabeça padrão! A ARROGÂNCIA DE OBI RESULTA EM CASTIGO Olodumare viu que Obi era uma pessoa justa e simples. Então Olodumare decidiu coloca-lo no alto de uma arvore, fazendo-o branco por dentro e por fora, dando-lhe, também uma alma imortal. Exú fiel servidor de Olodumare e também de obi, conhecia todos os amigos de obi e obi conhecia todos os amigos de Exú; pobres, ricos, limpos, maltrapilhos, bem vestido, bons correctos, maldosos e malandros. No dia que obi fez aniversário encarregou Exu de convidar todos os seus amigos. Exu viu que obi havia se tornado arrogante, pretensioso e prepotente: aproveitando-se desta situação, convidou todos os pobres e s desafortunados da cidade para irem à festa. Quando obi viu a casa repleta de pobres, maltrapilhos e imundos, ficou muito descontente e irritado perguntou: - Quem os convidou? Eles responderam: - Foi Exú quem nos convidou! 38 Obi retrocou: - Ah, então foi Exú quem os convidou? - Sim foi ele! Obi retrocou novamente: - Mas não tão maltrapilhos e sujos! Obi aos berros: - Fora daqui, eu não quero pobres e miseráveis em minha casa! Mas o que obi não sabia, é que Exú estava entre eles. Exú os chamou e foram embora rapidamente. Ao tomar conhecimento do erro que cometera, obi chamou Exú, mas este fez como se não tivesse ouvido e foi embora. Um dia, Olodumare convidou Exú para ir a casa de obi, mas Exú recusou-se, dizendo: - Vou a qualquer lugar, menos na casa de obi! Como Olodumare não sabia do ocorrido, perguntou: - O que obi fez para estar tão magoado Exu? – O que você tem contra obi? Exú relatou o ocorrido a Olodumare, que ficou perplexo. Triste com o acontecimento, Olodumare se transformou em maltrapilho e foi bater à porta da casa de obi para certificar-se da conversa de Exú. Quando obi viu aquele mendigo bater a sua porta, disse: - Vá tomar banho e trocar as roupas antes de bater à minha porta, seu imundo, você também quer sujar a minha casa? Obi bateu a porta na cara de Olodumare, sem saber quem estava falando. Olodumare se afastou da casa de obi e o chamou em voz alta; - Obi, seu indecente, eu sou aquele que o transformará, venha ver quem sou. Quando obi viu que foi Olodumare quem batera à sua porta, fez de tudo para se desculpar. Olodumare disse: - Obi, agora não adianta você querer se desculpar, achei que fosse uma pessoa boa e atenciosa com todos. - Eu o coloquei no alto da árvore e o fiz branco por dentro e por fora. Com isso, você se tornou orgulhoso a ponto de expulsar os infelizes de sua casa na ocasião de seu aniversário e repetiu a mesma atitude comigo, Seu Criador, Obi. Como você, eles também são meus filhos! Como castigo permanecerá na árvore, mas não nascerá tão alto como antes. Nunca mais será tão elevado quanto eu. E, pelo tempo que a terra existir, você rolará no chão e será verde ou negro por fora e somente sua alma imortal permanecerá branca. - O negro servirá para lembra-lo das ofensas contra os mendigos. - O verde servirá para lembra-lo que todas as pessoas são meus filhos. - De agora em diante, você anunciará o bom e o mau acontecimento da vida, os nascimentos e as mortes que ocorrerão sobre a terra. (este relato esclarece o costume de se consultar obi sobre as graças e infortúnios.) Origem do Sabão da Costa 39 "No inicio do século XVI, navegadores ibéricos, por falta de conhecimento geográfico, passaram a designar genericamente toda a costa atlântica africana e seu interior imediato, como «da Costa», e naturalmente, tudo o que dali procedesse possuia a mesma denominação, ou seja, seria «da Costa», e isso não serviu apenas para o sabão, mas também outros artigos tais como: pano (da Costa), pimenta (da Costa), limo (da Costa), esteira (da Costa), etc. Segundo estudos, de diversos historiadores, o sabão da Costa era importado pelo Brasil desde o ano de 1620. Nessa época ele era procedente de paises como Gana e Camarões e, principalmente da Nigéria, grande produtor. O antigo Daomé (actual Républica do Benin) e Togo, também produziam sabão, o dito da Costa, que era trazido por escravos e seus algozes, os traficantes de escravos. No livro «Casa Grande e Senzala», o clássico estudo de Gilberto Freyre, este grande erudito nos informa que o sabão da Costa, passou a ser vendido ao povo em geral, no Brasil, notadamente nas ruas do Rio de Janeiro, por escravos libertos logo após a Abolição da Escravatura. No Rio de Janeiro, já no século XX e principalmente a partir dos anos 70, com a chegada massiva de estudantes nigerianos que aqui vieram para estudar em diversas Universidades, iniciou-se um intenso comércio, não só do sabão da Costa, como também de muitos outros artigos religiosos. O Mercadão de Madureira, sem duvida é o maior centro difusor. No Brasil no inicio dos anos 70, poucas eram as lojas que o tinham para venda. Devido ás suas propriedades medicinais, terapêuticas religiosas, seu uso tornou-se mais intenso. Mas é bom saber, e estar alerta, pois alguns africanos em concluio com alguns comerciantes inescrupulosos misturaram sabão da Costa legitimo com um outro, que é tido como sabão da Costa, porém é inferior ao original, embora também seja vendido em larga escala. Nos grandes mercados africanos podemos encontrá-lo geralmente envolto em folhas de bananeira ou até em pequenas bolas de 100g envoltas em plástico. É o mesmo e velho sabão da Costa!" Texto extraido do livro «O uso mágico e terapêutico do Sabão da Costa» de Fernandez Portugal Filho - Rio de Janeiro, 2011 - Editora Cristális Sabão da Costa: principios, usod e propieades "Sabão da Costa, òsé dudu em Yorùbá, literalmente sabão negro. Òsé dudu é um sabão negro consistente, de origem africana, comum em todos os mercados populares em diversos paises africanos. Os originais são feitos de forma artesanal, com gordura animal; é pastoso e faz bastante espuma. Pode ser associado a ervas secas, especiarias, azeites, óleos, pós de vegetais, minerais, ossos de diversos animais, sangue de animais, enfim, uma infinidade de elementos que os Babalawo utilizam para as mais distintas finalidades. Como toda a arte mágica, ao preparar o òsé dudu temos que ter cuidado ao misturar os ingredientes para que possamos alcançar os melhores resultados, devemos com atençao conhecer previamente a potência de cada elemento, para então sabermos que reunidas produzirão os efeitos 40 atração de boas energias e abertura de caminhos .Prosperidade. pois ao obdecermos ás indicações estaremos contribuindo e muito com o sucesso da realização da finalidade a que se destina. para descarregar os maus fluídos. após a sua finalização.) . invejas.Calma. paz. tranquilidade.se for. para o batismo." Texto extraido do livro «O uso mágico e terapêutico do Sabão da Costa» de Fernandez Portugal Filho .desejados. chuvas e poços). espiritos do astral inferior. sorte. devemos seguir as indicações como dia. imantado pela poderosa energia do Òrisá que você deseja. sono tranquilo A importância da água no Candomblé Sua utilidade é variada. 2011 . Todo sabão preparado só atingirá seu objectivo. preparado artesanalmente e segundo a tradição Yorùbá. rios.Editora Cristális Temos disponiveis Sabão da Costa (òsé dudu). não é suficiente apenas misturar os elementos. 41 .. para cozinhar.. Dependendo de sua procedência (mares. para lavar as contas. A observância da luz solar e da energia lunar fazem a diferença. Serve para os banhos de amacis. para os seguintes fins: . terá um emprego diferente nas obrigações.Rio de Janeiro.Quebra e descarrego forte de energias negativas (magias. o Asé. Para esses resultados que esperamos.Limpeza e descarrego . etc. Ao prepararmos o òsé dudu. hora. equilibrio. é água batida nas pedras. A Água está presente em praticamente todos os trabalhos do Candomblé. Ao rezar-se uma pessoa com um copo de água. embora menos intensa. traz força física. toda a vibração negativa dela passará para a água do copo. Nunca se deve encher de água. fertilidade.boa-vontade. a água ficará fluidificada. enfim. Mar Doce 42 . Nunca se deve acender vela para o Anjo da Guarda. vitalidade – é a mais indicada para se utilizar nas quartinhas e em assentamentos. quando cai é benéfica. tornando-a embaciada. dependendo do seu emprego. A água tem o poder de absorver. para jogar búzios. anti-séptico e cicatrizante. porém não isenta de carga. convém notar que os bueiros mais próximos da encruzilhada são os mais pesados. batida contra as rochas e as areias da praia. Mar Ligada a Yemojá – imã de energias negativas. tais como: Rocha Água detida em saliências nas rochas. depois de cair no chão. atraídas pela Luz. porém. seja material ou espiritual. por isso nunca se apanha água do mar quando o mesmo está sem ondas. Mina Ligada a Òsún e Nanan – força. pois atrai à si as vibrações negativas do local. Por seu poder de propiciar vida ela atrai a vida à sua volta. acumular ou descarregar qualquer vibração. As águas em quartinhas nas obrigações significam energia vital. assim como a água do mar. sem ter um copo de água do lado. têm funcionamento parecido com a fumaça. pura. todo o malefício. passando pelos trabalhos nas encruzilhadas. A água que se apanha na cachoeira. nas quais vibra. sendo que a fumaça carrega as energias consigo similar ao vento. Conhecemos e fazemos uso em rituais de água de procedência de campos sagrados. e a água absorve estas energias. e sua função é importantíssima. porque ela crepitará. As águas utilizadas para descarrego.A água poderá concentrar uma vibração positiva ou negativa. têm a finalidade de atrair para si as energias que por ali passam. A importância da água pode ser traduzida numa única palavra: ”VIDA!” Sem água a vida é impossível. também acontece o mesmo. A água da chuva. crepita e livra-se de todas as impurezas. e nas quartinhas junto às velas do Eledá. caso não haja mal algum. para cruzar o terreiro. Ligada a Sangò – entre suas funções. calma. disposição. o copo até a boca. Por esse motivo nunca se deve pisar em bueiros das ruas. os demais bueiros da rua. carregam para os bueiros toda a carga e a vibração dos trabalhos. seja benéfica ou maléfica. sabedoria. torna-se pesada. porque as águas da chuva. Ligada a Yewá – trato do corpo sentimental. Todas podem ser utilizadas em banhos. Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la. assim além de portadoras de seus próprios axés. porrão…) com todas as águas citadas. Lagos e Lagoas Ligada a Osùmárè – inventividade. serve de veículo para o axé dos demais componentes do banho. enche-se o pote (quartilhão. afeto. os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. pois “água parada apodrece”. sabedoria. AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS Sendo a água muito utilizada nas casas de Candomblé. utilizando-se recepientes adequados. humor. e no assentamento dos Òrìsás da casa. Chuva Ligada a Nanan e Òsún – excelente função de limpeza e descarrego. – Ligado a Osáàlá – calma. até o ritual das águas de Osáàlá. Diria ainda que as águas de Osáàlá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado. fecundidade. imaginação.Encontro de rio e mar. quando ela é utilizada para acalmar as ajé. paciência. Rio Ligada a Òsún (na correnteza) e a Oba (nas margens) – determinação. quando ela representa a limpeza lustral do egbé. 43 . força de pensamento. alegria. Cachoeira Ligada a Òsún e Sangò – sentimentos. Poço Ligada a Nanan – resistência. em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante. outras águas não podem e não devem ser armazenadas por muito tempo. desde o rito do ìpàdé. o omierò ou agbò é feito usando-se destas águas. bons pensamentos. ao alvorecer do dia. mas também restituir-lhe seu "sangue branco" com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência. Estas águas devem preferencialmente ser recolhidas e armazenadas. dependendo do Òrìsá da ìyáwò. Orvalho Recolhido das folhas. bom senso e independência. Em especial. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Este ato é para acalmar Esú e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. jovialidade. ela é de suma importância pois. a água é o princípio da vida. exato para podermos solucionar a questão. ou seja. O saber é um dever de todo o segredo do sucesso é a diferença nas características de cada Ebó! O ebó não pode ter dúvidas. É o òrìsá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemoja e o rio Ogun – não confundir com o òrìsá Ògún. Yemojá também está muito ligada às águas. a água entra como um escudo contra o mal. sendo assim através de uma leitura de Ifá nós devemos buscar a origem do problema. EBÓ O poder e a magia dos ebo. Não diferente dos demais òrìsá femininos. é através de nossas informações básicas que devemos o complemento de cada ebó para uma solução exata. oferenda como complemento do ébó. Oyá ou Yánsàn. "Mãe dos Rios". como é chamada no antigo Dahomé. destacamos aqui Nanan que está associada à terra. como é dito. mas como em toda a vida. Sendo assim podemos concluir que a arte divinatória é muito complexa. Deus do ferro. à lama e também às águas. pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger. Òsún tem toda a sua história ligada às águas pois. também está ligada às águas. Outro òrìsá feminino associado à água é o òrìsá Òsún. o que esta gerando os conflitos vividos pela pessoa e o Etutu. também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oyá". O jogo divinatório trás ao sacerdote do culto de òrìsá informações detalhadas da vida do suplicante. 44 . divindade dos ventos e tempestades. pois está interligada de forma direta com os aspectos sociais nobres e sábios que a manifestação o dos Orisas nos trazem. Nànan Burúkú. Resumindo. Entre os òrìsás femininos.Neste caso. além de um direcionamento correto das energias presentes no ebó. a água é um elemento natural aos òrìsá femininos. na Nigéria. Não só dentro do culto de Candomblé. Daí Yemoja estar associada à expressão Odò Iyá. foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons. Òsún é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do òrìsá. pois quanto maior for o seu conhecimento e suas proteções maiores será o sucesso do mesmo. patuás. o igba Ori e a iniciação contribuem de forma decisiva para nossa evolução. o problema e a depressão tanto de origem mental física quanto de origem espiritual. Ebó preventivo . O sacerdote usa anéis preparados que o protegem na hora do ebó. O Asé da magia é que nos favorece no ebó. pois nos das condições de nós sacerdotes nos alinharmos com os Orisas e com as forças consumidoras dos ebós. tirando os obstáculos e tornando assim nossa vida mais simples.Impede que os problemas. evitando assim que haja uma disfunção em nosso destino. o poder da magia nos previne de todos os males que as energias negativas possam nos causar. além é claro de um conhecimento específico para poder direcionar esse Asé de maneira específica. Ebó atrativo .Possui a capacidade de fazer chegar até nós tudo o que está em nosso destino. O sacerdote precisa ser iniciado e preparado. A base da preparação e o sucesso do ebó estão interligados a própria formação e capacidade do sacerdote na confecção do mesmo. sofrimentos e doenças cheguem até as pessoas. que pode ser um Ojubó de um Orisa receptor. dar para alguém tomar e aliviar os seus problemas e males. pois passando por determinados rituais que tem por principal finalidade promover um aumento do seu Asé e força vital essencial. O sacerdote busca através da magia do sobrenatural direcionar o ebó para promover o crescimento e o progresso de seus suplicantes e filhos. pois através desses rituais ganhamos recursos extras para o domínio dessa forças. Além do que. a angústia.Elimina a dor. O ebó ori.Existem basicamente ebó com três características diferentes Ebó curativo . ao ponto de pegar um copo com água ativá-lo. O destino dos Ebós O ebós possui três fazes: Babalawo / ebó / destino. Usa Afosés para que sua manifestação oral se consagre no astral e 45 . preparados mágicos e medicinas para que seus desejos se consagrem e esteja protegido na hora de ebós. Quanto menos Ojubó ele possuir mais cargas em cima do sacerdote. 46 . por que estou fazendo esse ebó e o que me levou a fazê-lo? E um fim qual a finalidade deste ebó? A razão pelo qual o ebó esta sendo feito. materiais utilizados em sua confecção. No ato do ebó quando falamos com cada elemento material fazemos com que esse elemento manifeste seu asé que está dentro dele mesmo e seu segredo. pois somos nós é que direcionamos a energia deles. Por isso um ebó pode curar uma doença. além de realizar o objetivo específico ele trás consigo um situação de saúde dinheiro e felicidade. Babá egungun. é necessário que ele tenha um nome. pois é através desse diálogo que damos vida a ele e mandamo-lo para frente e de encontro à solução para esta pessoa. Existe um ditado em Yoruba que diz: A folha é que faz ferver a água dentro do copo! Sendo assim podemos concluir que a força está dentro do sacerdote e em suas mãos. Já em relação aos poderes sobrenaturais do espaço Ikolé Orun.se realize na vida da pessoa. Eyonus aye. faz parte da base de um sacerdote o Ojubó Esu. ebos ingeridos. Para o ebó existir. ato do ebó pra qual finalidade e um fim. pobreza. pra onde realmente ele deve ir. o preparo da vista para transportar o ebó. a força desses Asé esta no conhecimento da energia dos elementos. O ebó trás vários benefícios. pois o Asé está dentro de cada um! Portanto os elementos presentes em um ebós nada mais são de que agenciadores do ebó. ou seja. devemos conversar com o ebó. Sendo assim podemos concluir que um ser humano passa por várias situações antes de estar apto a realizar suas funções sacerdotais. Iyá mi Aye e Ogun. pois sem a responsabilidade e o conhecimento do sacerdote para invocar suas forças e energias sobrenaturais e direcioná-la da formas correta de nada é válido. Por isso muitas vezes os elementos dos ebós são os mesmos. venerar a terra de maneira correta. tirar obstáculos e abrir caminhos para as pessoas. Oso e outros pactos com energias uteis a um sacerdote. a conscientização do ebó em relação ao seu objetivo. Batizamos o ebós com um início. o Orisa é sofisticado por que ele é muito simples. basta conhecê-lo. Cada elemento trás consigo e injeta no ebó suas energias que irão trazer para o cliente soluções. já que ele joga a responsabilidade e os problemas nos elementos e no ebó montado. para transformar o destino. no ebó. onde o cliente ou o filho nos acompanha através da conscientização do problema. A partir daí a responsabilidade do sacerdote vai diminuindo. porém isso é só começo. devendo nesse momento pedir com convicção para convencer a sorte. Ao realizarmos isso tudo damos personalidade e forma ao ebó. atraindo novas possibilidades. ou seja. Sendo assim podemos concluir que os sacerdotes nada mais são do que interlocutores entre o homem e os Orisas.Não existe um ebó que seja para um só objetivo específico. O destino de cada ebó pode ser: *na *no *no *na *na encruzilhada em T rio mar cachoeira estrada 47 . pois a energia é dinâmica e bilateral capaz de enlouquecer alguém. A situação é muitas vezes complexa e sofisticada. Pode se tratar de energias muito complexas por isso é necessário termo os Ojubós Orisas para suportarmos essas energias dinâmicas! Após essa invocação que formamos o ebó. O poder da palavra é muito importante. pois constrói e destrói. Òrìsà é solução e não sofrimento! Após a utilização é necessário o processo da reza. Reza para conscientizar o ebó de sua função. concentramos todos os elementos utilizados no ebó e assim consertamos os problemas da pessoa numa energia só. por isso falamos com o ebó e com a pessoa com o poder claro para que a pessoa se livre de todo sofrimento e perturbação. Reza para propiciar e encaminhar o ebó. a pessoa expressa sua vontade e desejo e nesse momento ela se abre para a energia da vida. Essas rezas levam o ebó e com ele o problema. O ebó não pode ter enfoque negativo. Não existe distancia para o ebó e seus elementos. Animais e Sacrifícios Um animal pode ser utilizado e não sacrificado. no Esu. *O cabrito ou a cabra: Trabalham pela resistência. pela reconquista da energia vital em todos os seus aspectos e dimensões. Para a energia vital precisamos do ejé para manter a vida. no banho ou no ebó. Yami. com isso definimos o ebó. Por ex: O coração é utilizado para levar problemas de coração da pessoa para o coração do animal. ou seja. A cada consulta gera um Odú que gera um ebó. Ògún.. Este transporte garante assim a sobrevivência da pessoa. Os elementos do sacrifício são de suma importância. reforçála impedindo assim a morte. trazemos assim energia vital à pessoa a parte afetada. tem o poder de revitalizar a pessoa em energia para que isso faça reflexo no físico. *na feira *aos pés de uma árvore *Na copa de uma árvore *no lixo e etc. Na verdade quando sacrificamos um animal encaminhamos seu espírito e fazemos a troca de energia dando a pessoa à energia vital necessária. e cada destino tem a ver com a fase e o momento da vida de cada pessoa. a pessoa pode 48 . pois cada ebó tem seu tempo certo e destino correto.*na mata *montanha *Ojubó Èsù. O tempo do ebó é uma coisa específica que deve ser consultado no jogo. Se for o pai encostamos à testa e no peito. Muitas vezes utilizamos à parte interna dos animais (órgãos) correspondentes a o que esta causando mal e doenças a pessoa. porém ao ser sacrificado nós sacerdotes buscamos na vida desse animal força vital de energia para alimentar um filho ou um cliente. por isso o jogo não deve ser consultado desnecessariamente. Nos ebós de cura tiramos determinadas partes do animal e colocamos no ebó.. Os destinos são múltiplos. Antes de sacrificarmos um animal nós encostamo-nos à testa e no peito da pessoa. na saúde e vida cotidiana da pessoa. encostamos então os elementos no peito esquerdo da mãe. em caso de doença a mãe pode ser representante da pessoa. pois visão sempre o benefício da pessoa. O ejé na pessoa. para doença é importante sempre colocar um pouco de ejé no Ojubó Esu.estar do outro lado do mundo. seu ejé equilibra e harmoniza o ebó e tudo o que foi feito. O carneiro: animal importante quanto a questões de justiça. Obs. Quando for feito um ebó dirigido a Songo. as Yami são muito ligadas às curas por serem detentoras da vida na terra e consumidoras de ebós. Obs. no banho e na pessoa. (porque em qualquer lugar do planeta existem os elementos fundamentais. estress e para a pessoa renovar as suas forças e conquistas. e a parte do animal correspondente a doença da pessoa com bastante dendê. no ebó. absorver e encaminhar um problema e ativar o poder de Odu Ifá. O igbin prepara a pessoa para receber tudo aquilo que esta sendo dado a ela. proteção de eliminar problemas e inverter e prevenir situações. atrai a estabilidade e preservação da vida da pessoa. pois com ele fazemos prevalecer à justiça no caminho da pessoa. Propicia a pessoa à energia que direcionamos no final do ebó. ao ser oferecido as Yami ela atua em um campo de proteção ampla e ilimitada. Pois ele tem o poder de colocar o que esta ausente na vida da pessoa. abre caminhos à pessoa. A galinha: absorve os problemas. 12 edun ara (pedra de Sango) mais todas as comidas de Sango mais a cabeça do animal. Elementos 49 . O pombo: Para fazer as coisas se tornarem favoráveis as pessoas. fogo e ar). Usado muitas vezes como complemento do ebó. Pepeyé: Aquele que tem a longevidade. água. Reduzir o cansaço e esgotamento. O galo: Serve para alimentar Esu com energia para alguém e também para absorver problemas da pessoa. para consagrar o ebó. perseguições físicas e espirituais de energia negativa e traições. também utilizado para limpeza na pessoa e para questões físicas. usado também para pessoas que alternam bons e maus momentos. O Igbin: Sua energia trás a ponderação. A D'angola: Ela possui energia dinâmica para trazer resistência e harmonização à vida da pessoa. A ovelha: possui um ase destinado abrir caminho e a prolongar a vida das pessoas. É usado para pessoas que não conseguem absorver o asé que está sendo colocado em seu caminho. terra. Ilé (terra): utilizada para abençoar a pessoa para que seu destino seja o melhor possível. multiplicação sempre torrados. Yami. Ireke (cana de açúcar): Pra prosperidade e felicidade. Orogbo: utilizado para vida longa. harmonia. usado em determinadas medicinas para atrair a simpatia das pessoas. indispensável no culto a Obatalá. Owo eró: búzios utilizados para comprar o sofrimento das pessoas. Ayó (sal): Para sorte e preservação.) Adìn funfun: Elemento utilizado para cura de espírito de uma pessoa. Oyin (mel): Utilizado para alegria. para que a pessoa consiga manter suas conquistas. trás equilíbrio e facilidades. bem estar. Ekó (akasá): Para alimentar as energias e acalmá-las. Carne vermelha: trás garra.Ogédé (banana): Para simplificar e facilitar situações. Eyin adié (ovos de galinha): para dar a vida. Ori (gordura vegetal): para acalmar a dor. Asó funfun (pano branco): Usado como elemento de ligação e transporte entre os elementos do ebó e as energias da natureza. Eyin pepeyé (ovos de pata): limpar a negatividade e revitalizar. Ejá aró: peixe defumando utilizado para iniciativa e vencer obstáculos. Adìn Dudu: Elemento utilizado para atrair e ativar a ira de energias negativas (Esu. prosperidade e para que algo ou alguém nunca seja desprezado. aumento de resistência e perseverança da pessoa. Obi: utilizado com oráculo para conversar com as energias e os ebós. para fazer prevalecer à sorte e transforma a negatividade. Ebo (canjica): para paz e harmonia. Atare: Utilizado para consagrar o diálogo dar forças as palavras. ajoguns. etc. utilizados em comidas e também para multiplicar os desejos. neutralizar negatividades. Grãos: símbolo de abundância. Epo (dendê): Elemento de efeito calmante. quando utilizado com casca para que um segredo não seja revelado. aplacar a ira de energias negativas e a fruta da vida onde no momento de comunhão com os Orisas a pessoa se conecta com sua ancestralidade. para ser presenteada e ganhar coisas de 50 .. Efun: para atrair o asé. Ejáaró tutu: peixe fresco utilizado para dar força ao Ori e que essa pessoa nunca bata cabeça na vida. Moedas antigas: Utilizadas para pagar os Ajóguns (energias negativas que são ligadas com as Yami. perseguição e morte da vida da pessoa. Fava de Opelé: utilizada para equilibrar o destino de uma pessoa. Alukó: pena roxa utilizada para que a pessoas encontre a própria sorte. para consagrar o que esta sendo feito trazer muita sorte para a pessoa. Aridan: para atrair brilho e sorte a vida da pessoa. sem ter prejuízos. grandeza. Agbe: Para atrair a sorte e atingir objetivos difíceis sem ter prejuízos. e para aumentar a capacidade de entendimento das pessoas. Leké-leké: ave sagrada traz harmonia leveza e nitidez às pessoas. Iyán (inhame cozido): usado para solução de dúvidas para Obatalá. ativar o Odú Ifá. sofrimentos físicos depressões e mesmo doenças graves EXU (o mensageiro dos Orixás) (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Esun Isu (inhame assado): usado para Ogun para abertura de caminhos. sabedoria. pois o pássaro Aluko voa o mais alto possível sem queimar suas asas. Yerosun: Elemento sagrado de Ifá tem o poder de transmitir o asé de Odú ao que esta sendo feito. pois o pássaro Agbe ele mergulha fundo pra caçar sem se afogar. publicado pela Editora Três ) 51 . Erú (cinza): utilizada para apagar o sofrimento.alguém. Akará e Abará: tem o poder de atrair e neutralizar energias. Iyepé Odó (areia de rio): proteção e riqueza devem ser utilizadas na entrada das casas. Iyepé okun (areia do mar): utilizada para trazer sorte. Utilizado também em rituais de iniciações para pintar os filhos para livrá-los da morte como Obatalá livrou a galinha da angola pintando-a. Agbón bigbé (coco seco): usado para aliviar qualquer tipo de problema e sofrimento. Ikodidé: Simboliza o nascimento. Osun: usado para que a essência vital o asé e as conquistas não se acabem. Bejerekun e Lelekun: para afastar forças intrusas e surpresas desagradáveis. abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados. se revelam em suas cores. Exu é o símbolo das grandes contradições. O poder de comunicar e ligar. desconhecendo seus limites e suas conseqüências ao envolver os seres humanos vivos. já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação. onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos. a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Exu é figura de status entre os Orixás.é o que leva os pedidos e oferendas do homens aos Orixás. Seus aspectos contraditórios também podem ser analisados sob outro ponto de vista: o negro significa em quase todas as teologias o desconhecido. Sua função e condição de figura-limite entre o astral e a matéria. é imprescindível para a realização de qualquer ritual. sendo esta última a vibração de menor freqüência no espectro do olho humano. onde trafegam Orixás. a discussão se Exu é um Orixá ou apenas uma Entidade diferente. antes de mais nada. provoque um descontrole energético que possa ser prejudicial ao ser humano. ele trafega tanto pelo mundo material ( ayé ). quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu Orixá pessoal (quando a consciência de quem carrega o Orixá desaparece). Sua função mítica é a de mensageiro . os Kiumbas (espíritos atrasadíssimos na evolução). porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão ( ayé ou orum ) o que está acontecendo na outra. Entidades afins e as Almas dos mortos ( eguns ). que apesar de ser subordinado ao poder deles. confere à ele também o oposto. Se possibilita a construção. Há. Até em suas cores. mas nem sempre conscientes dessa força.O PERFIL DO ORIXÁ Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida. como pela região do sobrenatural ( orum ). mesmo com o propósito de ajudá-lo. que ficaria entre a classificação de Orixá e Ser Humano. É Exu quem traduz as linguagens humanas para a das divindades. constitui uma figura tão poderosa que freqüentemente desafia as próprias divindades. ficando sob o seu controle e comando. Sem dúvida. Assim ao utilizar-se de suas vibrações. também permite a destruição. Esse Orixá (ou Entidade) não deve ser confundido com os eguns . a forte iluminação em oposição à escuridão do negro. há ausência de luz. Por isso. abaixo do qual tudo é negro. Os Exus são considerados entidades poderosas. Esse 52 . o negro e o vermelho. o vermelho é a cor mais quente. um iniciado precisa tomar cuidado para não permitir que Exu. apesar de transitar na mesma Linha das Almas (uma das três linhas independentes) sendo o seu dia a segunda-feira. do amplo terreno de atuação. possibilitando brincadeiras e prazeres aos seres humanos.muito diversificadas. tratados como subumanos e sem os mínimos direitos. fazemos a respeito de seus desígnios. conseqüência evidente de uma sociedade dividida em raças. os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas. Qual a visão está correta? A rigor. Cada ser humano é filho de dois Orixás e. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum. provoca acontecimentos dramáticos. Outra razão de confusão vem do fato de os negros terem chegado ao Brasil na condição de escravos. ocidentais. Como. as culturas africanas que cultuam os Orixás . Também mexe com forças terríveis. Assim. Em termos históricos.são muito mais antigas que as que conhecemos. pela expansão do reino. nem principalmente em Exu. Para a cultura africana. suas atitudes serão as mais corretas. o surgimento do primeiro conceito de sociedade agrária. de acordo com as lendas). mas vários. então. se coaduna com a imagem popular que associa Exu ao Diabo? Mesmo em cultos de Umbanda (alguns) Exu é freqüentemente considerado um representante do mal. politeísta. essa imagem de menino brincalhão. Exu realmente brinca e se diverte. 53 . Há lendas de Orixás que se explicam como respostas socialmente criativas a acontecimentos perdidos num longínquo passado. passagens. das forças perigosas e não totalmente recomendáveis. como a substituição do matriarcado pelo patriarcado. como encontrar uma figura que representa o mal numa cultura onde não existe a dicotomia bem-mal? A moralidade ou imoralidade portanto. muito pouco centralizada para os parâmetros ocidentais . e ser o senhor das porteiras. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (que são irmãos. causando o mal. enquanto Exu é o senhor da força que percorre esses caminhos.poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas. mas sim nas interpretações que nós. portas entradas e saídas. não está nas figuras dos Orixás. em oposição a uma cultura nômade e caçadora. enquanto um filho de outro Orixá deverá manter postura diferente. ambas ou nenhuma delas. Ogum é responsável pelo desbravamento. mesmo que imprudente. tribos. pelo desmatar e o criar de novos caminhos. não existe um certo e um errado. mas adaptada ao arquétipo de comportamento associado ao seu próprio Orixá. o Orixá da guerra. para ele. cada um tomando atitudes radicalmente opostas às dos outros. onde os deuses brigam entre si. ser considerado o senhor dos caminhos. o sangue de animais seja o último ingrediente. dada a grande intercomunicação entre as duas vertentes. provavelmente porque sendo o mais humano dos Orixás. porém. É costume que. na teologia cristã. Exu era a divindade que protegia. Sua dança é uma gira frenética. portanto. para que Exu e outras figuras míticas do Candomblé e da Umbanda. e o prazer .elemento do Diabo e também freqüente nos cultos e oferendas para o mensageiro dos Orixás africanos . aos mitos cristãos.Nenhuma hipótese havia. figura comum nos cultos de Umbanda e presente em diversos Candomblés. existe certo temor e preconceito com relação a Exu. usando cabelos soltos. Uma divindade africana ao ser capturada pelas explicações católicas. vestir a sua roupa. de um Exu Feminino. Exatamente por isso. debochada. divindade menor. praticamente humana. na medida do possível. o que resulta que a maior parte das oferendas do culto vá. Para completar os tabus que marcavam Exu como uma figura que subvertia o conceito de faça o bem e será recompensado. para ele. as atividades favoritas de Exu. 54 . não passa. Como. à ele se pede interferência nas questões mais mundanas e práticas.e o sexo. em oferendas. meio forçadamente. os jesuítas encontraram na figura de Exu. o Orixá que poderia. que significa a paixão pelo gozo. Dois outros fatores associam Exu ao Demônio. onde estão em destaque o senso de humor debochado. a voluptuosidade e sensibilidade desenfreada. ou seja. sendo freqüentemente representado em estatuetas. teria no máximo o status de santo. Era para Exu que pediam desgraças para seus senhores. Isso se revela no temor que os babalorixás (sacerdotes que dirigem a Umbanda ou um Candomblé) têm em identificar alguém como filho de Exu. os mitos de desgraça que ronda a figura de Exu. Como precisavam de um Diabo.já que ele podia fazer qualquer coisa e alterar qualquer resultado . como figura humana sorridente. os negros dos repressivos senhores. A sensualidade desenfreada costuma ser atribuída à influência de Exu. como pessoas cuja energia básica é a mesma do mensageiro dos deuses. faça o mal e será punido .em geral. fossem aceitas como independentes: os negros tinham de ser convertidos ao Deus Único . essa base filosófica africana foi esquecida na prática pelos brasileiros. território considerado tabu pelos católicos.mas um fator fez com que fosse não só usado como o Diabo mas reconhecido como sua própria encarnação por parte dos jesuítas: Exu gosta de sangue. A Pomba-gira. Reforçam-se assim. saias rodadas e vaidosas flores na cabeça. o fogo . A relação de Ogum com os militares (é considerado o protetor de todos os guerreiros) tanto vem do sincretismo realizado com São Jorge. notadamente pela Umbanda. Acontece que os mitos ocidentais e orientais de perigo e desgraça que andam junto de Exu. figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE EXU São muitas as pessoas que têm Exu. onde é muito popular. Essas guias de comportamento ou matrizes . É comum um certo temor do pai-de-santo em comunicar ao iniciado que é um filho de Exu (englobado na Linha das Almas ). preferindo certo apego à maleabilidade e ao pragmatismo que faz cada situação ser encarada como totalmente independente de outra. cada uma. Bastante cultuado no Brasil. mas são poucas as que o sabem. como da sua figura de comandante supremo ioruba. de acordo com a visão ocidental. após a confirmação do jogo de búzios. fazem com que a pessoa que está sob a égide desse Orixá seja considerada uma perseguida da sorte. são os Orixás. tradicionais guerreiros dos mitos católicos. mas guias de comportamento. destemidos e cheios de iniciativa. à conquista. em meio a uma batalha. é a figura do astral que. Foi uma das primeiras figuras do candomblé incorporada por outros cultos. como se ligados ao mal ou ao padecimento. suas características principais seriam a ambivalência e o relativismo. violenta até. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Divindade masculina ioruba.sem compostura . especialmente por ser associado à luta. a falta de posturas morais rígidas e inabaláveis. O arquétipo psicológico associado aos filhos de um Orixá é a síntese das características comportamentais que fazem parte de cada Orixá e que são atribuídas aos seus filhos. depois de Exu. Ogum é o arquétipo do guerreiro. No caso dos filhos de Exu.desenfreada. marcada pelo destino. Dizem as lendas que se alguém. como fonte energética principal. e são comumente apontados como sofredores. repetir 55 . merecendo uma saída diferente OGUM (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . está mais próxima dos seres humanos. Tem sincretismo com São Jorge ou com Santo Antônio. também lutadores. com quase nenhum controle . Não deve ser encarado como camisa de força que limite os seres humanos. portanto. sempre associado às forças armadas. detonaram um processo violento e incontrolável. portanto. é aquele que gosta de iniciar as conquistas mas não sente prazer em descansar sobre os resultados delas. ao mesmo tempo é figura imparcial. É muito mais paixão do que razão: aos amigos. ele não gostava de ficar quieto no palácio. promove o desenvolvimento de um novo meio de transporte. Não se interessava pelo exercício do poder já conquistado. mas sim pela luta. Assim. Ogum é o deus do ferro. Ogum não era. instala uma fábrica numa área não industrializada. pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das pesquisas armamentistas.determinadas palavras ( que são do conhecimento apenas dos iniciados ). a sanha destruidora mais forte. da busca de novas fronteiras. mecânicos. por extensão o Orixá que cuida dos conhecimentos práticos. figura que se preocupasse com a administração do reino de seu pai. hoje em dia. e. Porém. sendo o patrono da tecnologia. de computação e da aviação. o símbolo do trabalho. sendo o padroeiro de todos os que manejam ferramentas: ferreiros. É. Segundo as pesquisas de Monique Augras. na África. Do conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós. de esmagamento de qualquer força que se oponha à sua própria expansão. 56 . Ogum não é apenas o que abre as picadas na matas e derrota os exércitos inimigos. o que é particularmente notável na industria automobilística. mas também contra o desconhecido. da produção e da expansão. motoristas de caminhões e maquinistas de trem. tudo. é também aquele que abre os caminhos para a implantação de uma estrada de ferro. barbeiros. dava voltas sem conseguir ficar parado. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta. da atividade criadora do homem sobre a natureza. É pois. pois. se não encontrar inimigos diante de si após te sido evocado. Ogum se lançará imediatamente contra quem o chamou. Odudua. com a capacidade de calmamente exercer (executar) a justiça ditada por Xangô. a divindade que brande a espada e forja o ferro. inclusive o doloroso perdão: aos inimigos. luta não só contra o homem. tatuadores. a cólera mais implacável. sendo posteriormente incorporada à produção de objetos de consumo civil. arrumava romances com todas as moças da região e brigas com seus namorados. Ogum. elas (as palavras) não podem ser usadas em outras circunstâncias. por que fosse a independência a ele garantida nessa função pelo próprio pai. Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o evocou. segundo as lendas. transformando-o no instrumento de luta. tendo excitado a fúria por sangue do Orixá. segundo Pierre Verger. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OGUM Não é difícil reconhecer um filho de Ogum. dos assuntos definidos em rápidas palavras. mas Ogum Xoroquê merece um destaque específico. que possam ser complicadas de vestir ou que exijam muito espaço na mochila. Tal como Exu. De qualquer forma . não tinha mais ninguém para apelar. porém não explicam Ogum totalmente. nesse sentido. assim como o prazer com os amigos e com o sexo oposto. aonde as explosões. Ele não é o tipo austero. arrebatado e passional. de peito aberto. embora sério e dramático. do trabalhador. nunca contidamente grave. além da ajuda que pode prestar em qualquer luta. precisa que o corpo entre em contato sempre direto com a natureza e dispensa roupas elaboradas e caras. senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam: Exu (a magia) e Ogum (a guerra). o negro reprimido. apaixonadamente destruidor e vingativo. terão alguns traços comuns: são conquistadores. Ogum sempre ataca pela frente. Não tem compromisso com ninguém. A violência e a energia. É fácil. sendo considerado guerreiro feroz. pois passa seis meses do ano como Ogum e os outros como Exu. Ogum gosta do preto no branco. vão ter comportamentos diferentes. Tem um comportamento extremamente coerente. como o clássico guerreiro. Existem sete tipos diferentes de Ogum. nem com seus próprios objetos. a obstinação e a teimosia logo avultam. de acordo com os segundos e terceiros Orixás que os influencia ajuntós (adjutores). A força de Ogum está tanto na coragem de se lançar à luta como na objetividade que o domina nesses momentos (e o abandona nos momentos de prazer e gozo). do operário que transforma a matéria-prima em produto acabado: ele é a própria apologia do ofício. é implacável. Ogum é o representante no panteão africano não só do conquistador mas também do trabalhador manual. em geral. É associado à irmandade e afinidade estreita de Ogum com Exu. de seu papel social tradicional. irascível e imbatível. Ogum também gosta de vir à frente. quando apaixonado. posição de destaque logo no início de um ritual. incapazes de fixar-se num mesmo 57 . entender a popularidade de Ogum: em primeiro lugar. na sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas . Os homens e mulheres que têm Ogum como seu Orixá de cabeça. Ogum gosta de dormir no chão. do conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo. sua sensualidade não se contenta em esperar nem aceita a rejeição. Quando irado. longe de sua terra. de falar diretamente a verdade sem ter de preocupar-se em adaptar seu discurso para cada pessoa. pois é um Orixá masculino duplo.Tem. Em segundo lugar. junto com Exu. ou seja possui duas formas diferentes de manifestação. os Orixás são divindades a serem respeitadas e cultuadas por seus filhos. os Orixás são vibrações de energia. como Nanã. Numa visão teológica. Assim como Roma se comportou em relação aos mitos gregos. Omolu e outros. Uma diferença. assimilando-os gradativamente e adaptando-os as suas próprias necessidades. porém. a franqueza absoluta. na verdade. o próprio Oxóssi. que se manifesta em ambientes como florestas cerradas. espaços enfim. também encontraram espaço. a Umbanda e o Candomblé. com as quais os seres humanos se identificam. que com eles entrariam em contato através de diferentes rituais disseminados na cultura tribal africana e que no Brasil estão agrupados sob o rótulo de uma religião. parques onde animais são preservados. sempre existiu para quem se propusesse a analisá-los. dominado politicamente por um povo de civilização mais recente. o Daomé foi. os iorubas. São apreciadores das novidades tecnológicas. Iroco. há muitos séculos. a coragem é muito grande. Cada divindade possui lendas que justificam seu destino e principalmente o arquétipo de comportamento à ela associado. 58 . OXÓSSI (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . cada uma numa faixa própria. tanto no centro-sul da África. chegando mesmo à falta de tato. são pessoas curiosas e resistentes. unindo preceitos e práticas que no continente negro se manifestam em povos isolados. e os Orixás mais populares são dela originados. A Umbanda cultuada no Brasil é uma síntese de diversas manifestações diferentes da África. são aqueles cujo metabolismo básico e características de personalidade herdadas geneticamente mais se identificam com uma matriz. Há porém. como no Brasil. do Daomé (atual República do Benin). mudanças de endereço e de cidade. Assim os filhos de Oxóssi. a dos iorubas ou nagôs. uma corrente predominante. com grande capacidade de concentração no objetivo em pauta. Um trabalho que exija rotina. conseqüentemente apaixonados por viagens. Os rituais Jeje . de contato entre o homem e os animais. o que justifica a existência de filhos de diferentes Orixás. os iorubas assimilaram usos. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Numa visão antropológica. tornará um filho de Ogum um desajustado e amargo. Sua visão do mundo material e sobrenatural foi a que mais se espalhou. principalmente porque tiveram de lutar contra mitos antagônicos dos iorubas. gostando de temas e assuntos novos. costumes e Orixás daomeanos.lugar. A floresta é a terra do perigo. melhor momento para a caça. o solitário senhor das folhas. que significa caçador. Oxóssi é um Orixá que vive ao ar livre e está sempre longe de um lar organizado e estável. é o fato de ambos representarem atividades e possuírem temperamentos próprios de uma mesma faixa etária. sendo por isso consagrado como protetor dos caçadores e 59 . a apologia da caça em detrimento da agricultura. sendo à ele consagrada a cor verde. mas sim pelas árvores. a floresta virgem. O mundo dos daomeanos é mais soturno. a cor verde é consagrada a Oçanhe por sua proximidade com as folhas. Já no Candomblé. Seu combate cotidiano. perigoso. numa transição cromática. e Oxóssi. não costumam ter o senso de humor dos iorubas. o segundo para poder estudar sozinho e recolher as folhas sagradas. as novas atividades com as tradicionais. Assim como o irmão ligado à guerra. Oxóssi está mitologicamente muito próximo de Ogum. o mato invade as trilhas não utilizadas. Oxóssi é o Orixá masculino ioruba responsável pela fundamental atividade da caça. Oxóssi e Oçanhe têm na floresta o próprio fim. vindos de uma cultura mais hierarquizada. onde a energia se expressa fisicamente. recebe o título de Rei das Matas. Já os Orixás daomeanos são mais frios. Por isso na África é também cultuado como Ode . Oxóssi e Oçanhe representam as formas mais arcaicas de sobrevivência. discreto. onde os deuses são vistos de maneira um pouco ameaçadora e coercitiva. caçando os animais que vão garantir a alimentação da tribo. Outro dado que identifica e aproxima Oxóssi de Ogum. o caçador. Ambos são irmãos de Ogum na maior parte das lendas e possuem em comum o gosto pelo individualismo e o ambiente que habitam. Na Umbanda. à noite. entretanto. a apologia da magia e do ocultismo em detrimento da ciência. É o território do medo. como conciliando o novo e o velho. ficando o azul para Oxóssi. os animais estão soltos e podem atacar livremente. por conseguinte. as terras verdes não cultivadas. dois Orixás iorubas fogem da tradição básica: o mago Oçanhe. onde contendas difíceis às vezes são resolvidas por palavras hábeis. está nas matas. envolvendo personalidades extrovertidas como Exu. É tradicionalmente associado à lua e.Os mitos iorubas manifestavam grande vitalidade. Os caminhos não são traçados pelas cabanas. Nesse sentido. o mundo desconhecido além do limite estabelecido pela civilização iorubana. O primeiro para capturar os animais. é o que está além do fim da aldeia. sua flexibilidade. pois são mitos adultos. um azul pouco mais vivo e claro que o de Ogum. a juventude ( mas não a adolescência. nela se escondem. Ao mesmo tempo. viris ). além de um grande número de filhos. mas sem 60 . o culto a Oxóssi é bastante difundido no Brasil mas praticamente esquecido na África. Por isso Oxóssi nunca aprova a matança pura e simples. e a caça. onde chegou a receber o título de rei. Segundo Pierre Verger. sendo símbolo de resistência à caça predatória. mas o maior destaque é para Oxum. A ele estiveram ligados alguns Orixás femininos. pois são seres do mesmo espaço. O conceito de liberdade e independência para Oxóssi é muito claro. A hipótese do pesquisador francês é que Oxóssi foi cultuado basicamente no Keto. o caçador. coisa importante tanto para a mãe da água doce como para o caçador. Representa o homem impondo sua marca sobre o mundo selvagem. Seus símbolos são ligados à caça: no Candomblé. possui um ou dois chifres de búfalo dependurados na cintura. alguns filhos de Oxóssi o identifiquem não com um negro. Sua responsabilidade principal com relação ao mundo é garantir a vida dos animais para que possam ser caçados. Na mão. que são pelos de rabo de boi presos numa bainha de couro enfeitada com búzios.eterno provedor da subsistência do gênero humano. Protege os antagonistas. já que é um fim nobre a morte de um ser para servir de alimento para outro. mas difícil no cotidiano. a floresta. O mito do caçador explica sua rápida aceitação no Brasil. conceitos igualmente arraigados na Umbanda popular e nos Candomblés de Caboclo. o Orixá tem grande prestígio e força popular. Seu objeto básico é o arco e a flecha. um sincretismo entre os ritos africanos e os dos índios brasileiros. também se atribui à ele o poder sobre as colheitas. para ele a morte dos animais deve garantir a comida para os humanos ou os rituais para os deuses. com quem teria mantido um relacionamento instável. já que enquanto ela representa o luxo e a ostentação. Em alguns cultos de Umbanda. mesmo em cultos um pouco mais próximos dos ritos tradicionalistas africanos. Já no Brasil. pois identifica-se com diversos conceitos dos índios brasileiros sobre a mata ser região tipicamente povoada por espíritos de mortos. já que agricultura foi introduzida historicamente depois da caça como meio de subsistência. mas com um Índio. Protege tanto o que mata o animal como o próprio animal. o ofá e o damatá . como manda a tradição. comuns no Norte do País. usa o eruquerê (eiru) . Essa nação. Talvez seja por isso que. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXÓSSI O filho de Oxóssi apresenta arquetipicamente as características atribuídas do Orixá. porém foi praticamente destruída no século XIX pelas tropas do então rei do Daomé. nele intervindo para sobreviver. Oxóssi é o que basta a si mesmo. bem identificado no plano sexual. ele é a austeridade e o despojamento. Busca a alimentação. portanto. aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para agir. Geralmente Oxóssi é associado às pessoas joviais. gostando de viver sozinhas. Os filhos de Oxóssi tendem a assumir responsabilidades e a organizar facilmente o sustento do seu grupo ou família. apenas recolhe o que pode ser imediatamente consumido. Afinal. Oxóssi desconhece a agricultura. Quando isso acontece. No tipo psicológico a ele identificado. Esse Orixá é o guia dos que não sonham muito. preferindo receber 61 . trazendo as provisões ou trabalhando para que elas possam ser compradas. portanto são aqueles em que a vida apresenta forte necessidade de independência e de rompimento de laços. não muda o solo para ele plantar. Ao mesmo tempo . Sua luta é baseada na necessidade de sobrevivência e não no desejo de expansão e conquista. a necessidade do silêncio e desenvolver a observação tão importantes para seu Orixá. Tem portanto. Os filhos de Oxóssi. pelas reuniões ruidosas e tipicamente alegres. o afastar-se de casa e da aldeia para embrenharse na mata. respeitando como sagrado o espaço individual de cada um. o que pode ser entendido como sua luta do dia-a-dia. alertar os animais da proximidade do caçador. Buscam preferencialmente trabalhos e funções que possam ser desempenhados de maneira independente. rápidas e espertas. São pessoas tipicamente extrovertidas. a caça. relute em manter casamentos ou mesmo relacionamentos emocionais muito estáveis. pela conversa que não termina mais. grande capacidade de concentração e de atenção. Seus filhos. e não no contato íntimo com cada membro da família. Podem ser paternais. sem ajuda nem participação de muita gente. É basicamente reservado. dão preferência a pessoas igualmente independentes. guardando quase que exclusivamente para si seus comentários e sensações. o resultado dessa atividade é o conceito de forte independência e de extrema capacidade de ruptura. Assim os filhos de Oxóssi trazem em seu inconsciente o gosto pelo ficar calado. não gostando do trabalho em equipe. compartilham o gosto pela camaradagem. já que o conceito de casal para ele é o da soma temporária de duas individualidades que nunca se misturam. é sobre ele que recai o peso do sustento da tribo. sendo muito discreto quanto ao seu próprio humor e disposição. não gostam de fazer julgamentos sobre os outros. é marcado por um forte sentido de dever e uma grande noção de responsabilidade. afim de caçar. Nada pior do que um ruído para afastar a caça. Não é estranho que. Os filhos de Oxóssi. quem tem Oxóssi como Orixá de cabeça. tanto mental como fisicamente. mas sua ajuda se realizará preferencialmente distante do lar. mas sua violência é canalizada e represada para o movimento certo no momento exato. fator que pode ser modificado radicalmente pelo segundo Orixá ( ajuntó ).alterá-lo. grupos limitados de amigos. bem menos numerosos em qualquer sociedade. Seu domínio estendese ao reino vegetal. Oçãim. a senhora dos ventos. sendo como Oxóssi. até Iansã. pois praticamente todos os rituais importantes utilizam. Graças a esse domínio. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ OSSAIN é o Orixá masculino de origem nagô (ioruba) que como Oxóssi. é freqüentemente confundido com uma figura feminina. Oçanha. elas foram divididas entre todos os Orixás. Oçanhe é figura de extrema significação. as folhas cultivadas em jardins ou estufas. mas sim os pequenos recantos. de acordo com a esfera da atividade humana que controlassem. Como os orgulhosos deuses do panteão africano raramente se submetem a qualquer tipo de autoridade. habita a floresta. do contato mais íntimo e misterioso com a natureza. Não é um dos Orixás que possuem mais filhos-de-santo: pelo contrário. Oçãe. É o Orixá da cor verde. têm os pés ligados à terra. mais especificamente às folhas. entretanto. às plantas. libertar uma forte corrente de ar ( ou mesmo um furacão. OSSAIN (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . É portanto. Por causa do som final da palavra. Por tradição. Oçânim e Oçonhe. Segundo algumas lendas. que crescem livremente sem a intervenção do homem. sendo conhecido por diversos nomes. Não é um Orixá da civilização no sentido do desenvolvimento da agricultura. não são consideradas adequadas pelo Candomblé mais conservador. a rebelião era latente. mas as das plantas selvagens. fazia os outros Orixás dependerem dele em quase todos os litígios. continuaram sob 62 . Oçanhe era dono de todos os vegetais. o sangue escuro que vem dos vegetais. o tipo coerente com as pessoas que lidam bem com a realidade material. nos quais as plantas crescem da maneira mais selvagem possível. Esse poder concentrador. seus filhos são do tipo raro. evitar as variações com dois SS. porém. * Embora mais usuais. onde só os sacerdotes (mão de ofá) podem entrar. seja em forma de folhas ou infusões para uso externo ou de bebida ritualística. onde corre o sumo. uma figura que encontra suas origens na pré-história. É bastante cultuado no Brasil. conforme a versão ). Algumas plantas. As áreas consagradas a Oçanhe nos grandes Candomblés. fazendo as folhas voarem. de uma maneira ou de outra. não são jardins cultivados de maneira tradicional. Com isso. a forma mais popular. sonham pouco. MÃE. a capacidade de retirar delas sua força energética básica. como nos de adivinhação. Os filhos de Oçanhe são aqueles que não permitem que suas simpatias e antipatias subjetivas e individuais intervenham em suas decisões ou influenciem as suas opiniões sobre pessoas e acontecimentos. um apaixonado pelo Candomblé. não se admitindo uma folha colhida de maneira aleatória. Antes de tocá-la. Essa é a justificativa para o pequeno número de filhos de Oçanhe. ou de qualquer outra forma de trabalho mágico no Candomblé. o arquétipo psicológico associado a Oçanhe é o das pessoas de caráter equilibrado. alguém que carrega manifestações de temperamento e uma visão de mundo coerente com as de energia-base. mesmo depois de ela ter sido afastada da planta e. que assim assegura que a vibração básica da folha permaneça. uma pessoa sempre tem de invocar a participação de Oçanhe ao utilizar uma planta para fins ritualísticos. AS CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OSSAIN A pessoa cujo Orixá de cabeça seja Oçanhe é considerada pelo culto um filho do Orixá. justamente as mais secretas.Por isso não basta possuir a planta exigida como ingrediente de um prato a ser oferecido ao Orixá. ou seja. A Colheita das folhas já é completamente ritualizada.o domínio de Oçanhe. Seja filho de Oxalá ou de Nanã. 1 o e 2 o Juntós ) também troca energia com as outras fontes que regularizam e ditam normas de seu relacionamento com as outras áreas do conhecimento. Oçanhe tem uma aura de mistério em torno de si e a sua especialidade. utilizadas tanto nos processos de cura. apesar de muito importante. não faz parte das atividades cotidianas. Segundo o pesquisador francês Pierre Verger. que é inclusive um iniciado. Se cada ser humano é individualizado pela soma das características e presenças energéticas de seus próprios Orixás ( ELEDÁ = PAI. 63 . portanto do solo que a vitalizava. capazes de controlar seus sentimentos e emoções. se os vegetais foram para o domínio de outras divindades. como forma condutora da busca do equilíbrio energético. de contato do homem com a divindade. um ramo do conhecimento que é empregado quando necessário o uso ritualístico das plantas para qualquer cerimônia litúrgica. dinheiro ou outros objetos secretos de culto como oferenda para a divindade. que é o próprio Orixá. pois. ou de qualquer outro Orixá. o sacerdote (mão de ofá) tem de colocar no chão. continua sendo segredo de Oçanhe . constituindo-se mais numa técnica. é o responsável pela sua falta de interesse. publicado pela Editora Três ) PERFIL DO ORIXÁ Esta pesquisa se dedica ao Orixá da Doença ou Orixá da Varíola. referentes a um mesmo arquétipo e. Para a maior parte dos devotos do Candomblé e da Umbanda. conseqüentemente. os costumes. É. pois é. o fascinam. a qual geralmente esconde alguma falta importante do passado. mas não se faz notar pela atividade social. O filho de Oçanhe. OMOLU / OBALUAÊ paitandy contato celular operadora vivo (11) 998173814 (o senhor das doenças) (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Obaluaiê e Abaluaê . porém. não devendo ser mencionado pois pode atrair a doença inesperadamente. podem estar presentes. São também comuns as variações gráficas Obaluaê . possivelmente já esquecida. Não é introvertido. Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como na Umbanda. Ambos os nomes surgem quando nos referimos à esta figura. uma vez que representam tipos diferentes do mesmo Orixá. Esta distinção se aproxima da que existe entre as formas básica de Oxalá: Oxalá (o Crucificado). caprichoso. O tipo de Oçanhe é o mais reservado.Essa capacidade de discernimento frio e racional. A ordem. Obaluaê é a forma jovem do Orixá Xapanã . há de se manter certa distância entre os dois termos. correspondentemente. 64 . pouco intervindo em questões que não lhe digam respeito. as tradições e os gestos marcados e repetitivos. a forma Omolu é a que mais se popularizou e acabou sendo confundida não apenas com a forma mais velha do Orixá. Já para alguns babalorixás. não no sentido especificamente reacionário das pessoas que querem a repetição das mesmas e imutáveis relações sociais ad eternum . os nomes são praticamente intercambiáveis. Abalaú. seja Omolu seja Obaluaê. enquanto Omolu é sua forma velha. Como porém. Oxaguiã a forma jovem e Oxalufã a forma mais velha. de teatral. tem certa atração pela religiosidade e pelos aspectos ritualísticos da realidade em geral. Certa aura de mistério ou pelo menos uma reserva sobre o próprio passado. mas com sua essência genérica em si. nunca se deixando levar pela pressa ou pela ansiedade. uma mesma divindade. sem chamar a atenção e evitando que alguém conheça detalhes sobre sua vida pregressa. mas nos que elas tem de místico. porém. meticuloso. Em termos mais estritos. a figuras daomeanas estão mais associadas a uma visão religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é bem maior. há de se temer. Existe uma grande variedade de tipos de Omolu-Obaluaê. nos parece uma evidente limitação. o Daomé. Em termos gerais. é completamente cercada de mistérios e dogmas indevassáveis. pois alguma tragédia está para acontecer. já que atacariam toda uma comunidade de cada vez. é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. entrando num processo que podemos chamar de malignidade de um Orixá do povo subjugado. Enquanto os Orixás iorubanos são extrovertidos. mas resumidos 65 . simplesmente pôr ser a epidemia mais devastadora e perigosa que conheciam os habitantes da comunidade original africana. o que pode ser sentido em seus mitos: A antiguidade dos cultos de Omolu. etc. Pierre Verger. indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum . especialmente as epidêmicas. Existem formas guerreiras e não guerreiras. mais prováveis nos Orixás iorubas. Quando há aproximação. Faria parte da essência básica vibratória do Orixá tanto o poder de causar a doença como o de possibilitar a cura do mesmo mal que criou.A figura de Omolu-Obaluaê. Este ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro. A varíola não seria a única doença sob seu controle. Omolu-Obaluaê seria o registro da passagem de doenças epidêmicas. como acontece praticamente com todos os Orixás. alegres. graves e conseqüentes em suas ameaças. Oxumarê (seus irmãos) e Nanã (sua Mãe). a essa figura é atribuído o controle sobre todas as doenças. A visão de Omolu-Obaluaê é a do castigo. Omolu-Obaluaê é uma criatura da cultura jeje. Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que o conceito original da divindade se referia ao deus da varíola . posteriormente assimilada pelos iorubas. Como parte do temor dos iorubas. que não encontrava correspondente completo e exato (apesar da existência similar apenas de Oçanhe). freqüentemente confundidos em certas partes da África. onde surgiu Omolu-Obaluaê. nesse sentido. de têmpera passional. pois os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico.. Se um ser humano falta com ele ou um filho-de-santo seu é ameaçado. tal visão porém. humanos e cheios de pequenas falhas que os identificam com os seres humanas. assim como seus mitos. castigos sociais . sustenta que a cultura do Daomé é muito mais antiga que a ioruba. sendo difícil uma negociação ou um aplacar . Assim. de idades diferentes. eles passaram a enxergar a divindade (Omolu-Obaluaê) mais sombria dos dominados como fonte de perigo e terror. sombrio e grave como Iroco.Obaluaê e Nanã (Orixá feminino). o Orixá castiga com violência e determinação. fazendo completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais. todas essas vantagens por causa de certos escrúpulos imaginários. A marca mais forte de Omolu-Obaluaê não é a exibição de seu sofrimento. portanto. Sua insatisfação básica. como se todas as riquezas lhe fossem negadas. tal tendência se revela através de um caráter tipicamente masoquista. No comportamento do dia-a-dia. das outras pessoas em geral e principalmente os prazeres. não se reservaria contra a vida. 66 . Pierre Verger define os filhos de Omolu como pessoas que são incapazes de se sentirem satisfeitas quando a vida corre tranqüila para elas. que tanto pode revelar-se como uma grande capacidade de somação de problemas psicológicos (isto é. mas o convívio com ele. pelos sofrimentos implícitos em sua postura. A diversidade de nomes pode também nos levar a raciocinar que existem mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da mesma região. como numa elaboração de rígidos conceitos morais que afastam seus filhos-de-santo do cotidiano. não deixa de mostrar. mas o invejam. mas sim contra si próprio. um filho do Orixá . tal interpretação pode ser demais restritiva. pode apegar-se ao mundo material de forma sôfrega. Gostam de ver seu amado brilhar. como na Umbanda. No Candomblé. Podem até atingir situações materiais e rejeitar. um belo dia. a desgraça que o abate. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OMOLU-OBALUAÊ Ao senhor da doença é relacionado um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança: se nela Omolu-Obaluaê esconde dos espectadores suas chagas. em certos casos. Igui. uma vez que ele foi estigmatizado pela marca da doença.pelas duas configurações básicas do velho e do moço. Mesmo assim. Iximbó. Quicongo. a envolvente Oxum. se sentem capazes de se consagrar ao bem-estar dos outros. Em outra forma de extravasar seu arquétipo. justificando que o Orixá é também conhecido como Skapatá. um certo toque do recolhimento e da autopunição de Omolu-Obaluaê serão visíveis em seus casamentos: não raro se apaixonam por figuras extrovertidas e sensuais (como a indomável Iansã. menos negativista. fonte de paixão e interesse de todos. a transformação de traumas emocionais em doenças físicas reais). Ele se manifesta numa tendência autopunitiva muito forte. pois julgam o outro. Sapatoi. e ficam vivendo com muita insegurança. reservando ao cônjuge de Omolu-Obaluaê um papel mais discreto. como se todos estivessem perigosamente contra ele. Omolu Jagun. o atirado Ogum) que ocupam naturalmente o centro do palco. São pessoas que. gerando um comportamento obsessivo em torno da necessidade de enriquecer e ascender socialmente. já em si uma punição. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos. as pessoas desse tipo são basicamente solitárias. principalmente ressentido. Isso se refletiria em seus filhos como um defeito congênito em uma das pernas ou a tendência a sofrer. mantendo um relacionamento superficial com o mundo e guardando sua intimidade ara si própria. paternidade essa que não é original da criação das primeiras lendas do Daomé. é um Orixá feminino de origem daomeana. Pela experiência inerente a um Orixá velho. Nanã. Seus comentários porém não são prolixos e superficiais. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Esta é uma figura muito controvertida do panteão africano. Um último. seu comportamento seria superficialmente aberto e intimamente fechado. que foi incorporado há séculos pela mitologia ioruba. Ora perigosa e vingativa. a partir de quedas ou desastres que podem ou não ser curados e ultrapassados. motivo de vergonha.Assim como Oçanhe. freqüentando o mundo social. como tantos Orixás. durante sua vida. dando margem a muita confusão e contestação no jeito de se defini-la. mas secos e diretos. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de 67 . ora praticamente desprovida de seus maiores poderes. que vivem criticando. Oxalá (mito ioruba ou nagô) continua sendo o pai e quase todos os Orixás. o Orixá da varíola é apresentado como uma divindade que perdeu uma perna. de certo medo aos outros. mantendo até uma aura de respeito e de imposição. mas importante detalhe. nunca se questionando a paternidade de Oxalá sobre estes também. Não raro são pessoas que julgam. assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida. em diversas de suas lendas. mas sim um Orixá dentro do outro. Resumindo esse processo cultural. o que colabora para a imagem de terrível que forma de si próprio. onde Oxalá obviamente não existia. relegada a um segundo plano amargo e sofrido. Mesmo tendo um grande círculo de amizades. quando o povo nagô conquistou o povo do Daomé (atual República do Benin) . são pessoas irônicas. um conceito que foi sendo gradativamente substituído por outro. Nanã possui não dois lados. O filho do Orixá oculta sua individualidade com uma máscara de austeridade. Ter características detestáveis. NANà (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . por um problema de relativa gravidade em seus membros inferiores. numa repetição do ventre. como elemento . Pierre Verger aponta que Nanã. tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo). por exemplo. sua guardiã. A senhora do reino da morte é. teria um posto hierárquico semelhante ao de Oxalá ou até mesmo do Deus Supremo Olorum . a terra fofa. num par completo. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE NANà 68 . para novo nascimento. e que esse conceito pode (fato não comprovado) ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. justiceira e absolutamente incapaz de uma brincadeira ou então de alguma forma de explosão emocional. como outros Orixás femininos. como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). que recebe os cadáveres. Muitos são portanto os mistérios que Nanã-terra esconde. então. as almas dos que Oxum colocou no mundo real. cercada de muitos mistérios no culto e tratada pelos praticantes da Umbanda e do Candomblé. pois nela entram os mortos e através dela são modificados para poderem nascer novamente. por isso. Tentou-se. o conceito de maternidade como função principal. pai e mãe unificados de todas as coisas. com menos familiaridade que os Orixás mais extrovertidos como Ogum e Xangô. Por isso está sempre presente como testemunha fidedigna das lendas. É a deusa do reino da morte. É. Nanã faz o caminho inverso da mãe da água doce. a primeira esposa de Oxalá. por parte de alguém do culto. pois constituía. era uma figura feminina mas às vezes também alguém acima das distinções macho e fêmea. no culto daomeano. É ela quem reconduz ao terreno do astral. a vivência de um novo destino – e a responsável por esse período é justamente Nanã. Só através da morte é que poderá acontecer para cada um a nova encarnação. da vida intra-uterina. implica um compromisso muito sério e inquebrantável. fossem os Orixás. É neste contexto. acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos. como uma figura austera. Assim Nanã assume. Jurar por Nanã. Omolu (ou Obaluaê) e Oxumarê . quem possibilita o acesso a esse território do desconhecido. fossem os seres humanos. pois o Orixá exige de seus filhos-de-santo e de quem o invoca em geral a mesma e sempre relação austera que mantém com o mundo. os acalenta e esquenta. Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente. Neste contexto. Ela é considerada pelas comunidades da Umbanda e do Candomblé. Nanã. pode levar em conta principalmente a figura da avó: carinhosa às vezes até em excesso. publicado pela Editora Três ) PERFIL DO ORIXÁ Oxumarê é um Orixá bastante cultuado no Brasil. como se fosse muito mais velha do que sua própria existência. Todos esses dados indicam também serem os filhos de Nanã. preocupada com detalhes. com forte tendência a sair censurando os outros. estável ou até voltando para trás: são aqueles que reclamam das viagens espaciais. etc. as mantém sempre no caminho da sabedoria e da justiça. nem aceitar que nem todos pensem da mesma forma que ela. Por causa desse fator.Uma pessoa que tenha Nanã como Orixá de cabeça (mãe no Eledá). um pouco mais conservadores que o restante da sociedade. o que a faz valorizar demais pequenos incidentes e transformar pequenos problemas em grandes dramas. Não consegue entender como as pessoas cometem certos enganos triviais. Suas reações bem equilibradas e a pertinência das decisões. A confusão começa a partir do próprio nome. mas também ranzinza. OXUMARÊ (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Não tem muito senso de humor. são pessoas que envelhecem rapidamente. como optam por certas saídas que para um filho de Nanã são evidentemente inadequadas. É o tipo de pessoa que não consegue compreender direito as opiniões alheias. apesar de existirem muitas confusões a respeito dele. já que parte dele também é 69 . aparentando mais idade do que realmente têm. vive voltada para a comunidade. o perdão aos que erram e o consolo para quem está sofrendo é uma habilidade natural. modos de vida que já se foram. sempre tentando realizar as vontades e necessidades dos outros. desejarem a volta de situações do passado. Às vezes porém. principalmente nos sincretismos e nos cultos mais afastados do Candomblé tradicional africano como a Umbanda. exige atenção e respeito que julga devido mas não obtido dos que a cercam. tem uma grande capacidade de compreensão do ser humano. Quanto à dados físicos. através de seus filhos-de-santo. Querem um mundo previsível. Ao mesmo tempo. dos novos costumes. levando o conceito de mãe ao exagero. da nova moralidade. é atribuído a Oxumarê o poder de regular as chuvas e as secas. Ao mesmo tempo. Eles queriam a crença verdadeira e. perigoso e pecador do que ela na mitologia católica ( recordar os mitos de Adão e Eva. como especialmente no Brasil. não bastava o medo de apanhar. segundo algumas lendas é a ponte que possibilita que as águas de Oxum sejam levadas ao castelo no céu de Xangô. novas chuvas. adaptando divindades. uma cobra. inclusive. São divindades distintas. mas no Candomblé tradicional tal associação é absolutamente rejeitada. novas nuvens. para isso. Não podemos nos esquecer de que tanto na África. Essa busca objetiva do sincretismo sem dúvida foi esbarrar em Oxumarê e na cobra . obrigado a se arrastar agilmente tanto na terra como na água. segundo alguns mitos. tentaram explicar e codificar a religião do Orixás segundo pontos de vista cristãos. mas para alguns. costumam dizer que Oxumarê é uma das diferentes formas e tipos de Oxum. É então. Por essa lenda. macho e fêmea. provocando tudo que é mau e perigoso. seriam santos como os da Igreja Católica. etc. Oxumarê encarna sua figura mais negativa. Uma interpretação antropológica mais cuidadosa.e não há animal mais peçonhento. onde então se aglutinará em forma de nuvem. enquanto o arco-íris brilha. porém. etc. a outra metade é fêmea. a própria existência do arco-íris é a prova de que a água está sendo levada para os céus em forma de vapor. Nos seis meses em que é uma divindade masculina. Algumas correntes da Umbanda. foi continuamente assediada pela colonização branca.igual ao nome do Orixá feminino Oxum . Nos seis meses subseqüentes. a população negra. qualquer definição mais rígida é difícil e arriscada. não pode chover. que trazia consigo todos esses mitos. Essa dualidade onipresente faz com que Oxumarê carregue todos os opostos e todos os antônimos básicos dentro de si: bem e mal. Uma das formas mais utilizadas por jesuítas para convencer os negros. inclusive quanto aos cultos e à origem. pois ele é as duas coisas ao mesmo tempo. recomeçando tudo de novo: a evaporação da água. metade do ano é macho. Em relação a Oxumarê. 70 . já que. dia e noite. é representado pelo arco-íris que. o Orixá assume forma feminina e se aproxima de todos os opostos do que representou no semestre anterior. era a repressão física. Por isso mesmo a dualidade é o conceito básico associado a seus mitos e a seu arquétipo. Sob essa forma. perdendo em transcendência e ganhando em materialismo. Não se pode nem dizer que seja um Orixá masculino ou feminino. pode questionar a validade dessas lendas. doce e amargo. passará por nova transformação química recuperando o estado líquido e voltará à terra sob essa forma. deixando as alturas para viver sempre junto ao chão. introduzindo a noção de que os Orixás. a senhora da água doce. etc. que não podem parar. a cobra é particularmente perigosa para uma civilização das selvas. Isso gera um movimento moto-contínuo pois. Reconhecer na cobra mais um sinal da presença dos símbolos católicos na religião do Orixás e nele reconhecer uma figura que só poderia trazer o mal. da eterna transformação. não seria difícil para um jesuíta que acreditasse sinceramente nos símbolos de sua visão teológica. da possibilidade de movimentação livre e confortável. principalmente nas figuras que não fossem formas semelhantes a divindades que 71 . os iorubas não tentaram impor sua cultura ao povo dominado. Esse movimento representa a rotação da Terra. a dominação de uma sociedade menos rica em produções culturais ou no terreno da superestrutura em geral fizeram com que os mitos dos daomeanos não fossem apenas reprimidos. É o Orixá da tese e da antítese. seu domínio se estende a todos os movimentos regulares. Oxumarê é uma divindade originária da cultura do Daomé. seu translado em torno do Sol. já que ela está em seu hábitat característico. Enquanto o arco-íris traz a boa notícia do fim da tempestade. não só em termos de espécie.a maçã. etc. se ele perder suas forças e morrer. sempre repetitivo. Se essa ação terminasse de repente. ). Há séculos tal civilização foi dominada pelos iorubas. regulados pela força da gravidade e por princípios que fazem esses processos parecerem imutáveis. a concepção de pecado original. pode ser bastante agressivo e violento.todos os movimentos dos planetas e astros do universo. ou pelo menos muito duradouros se comparados com o tempo de vida médio da criatura humana sobre a terra. positivo e negativo. mas principalmente em termos da existência de uma só pessoa. como cobra. não parará de girar. Na verdade. região centronorte da África. Essa. sendo substituído imediatamente pelo caos. pelo contrário. Conta-se sobre ele que. pelo menos. dia e noite. da ação. podendo realizar rápidas Outra fonte de indefinição a respeito do Orixá vem das contradições existentes em suas lendas no Brasil e na própria África. Por isso. enquanto não largar o próprio rabo. Esse mesmo conceito justifica um preceito tradicional do Candomblé que diz que é necessário alimentar e cuidar de Oxumarê muito bem pois. Ficaram na verdade impressionados com sua cosmologia e tentaram assimilá-la. mas. da volta do sol. eternos. é uma das interpretações feitas por pesquisadores que compararam diferentes versões dos mesmos mitos que não encontraram uma divisão absoluta entre bem / arco-íris (ou masculino) e mal / cobra (ou feminino). o que se pode abstrair de contradições como as que apresenta Oxumarê é que este é o Orixá do movimento. sem controle. como a alternância entre chuva e bom tempo. povo mais primitivo no sentido de organização social e visão religiosa. o universo como o entendemos deixaria de existir. em compensação. o que o leva a morder a própria cauda. a conseqüência será nada menos que o fim da vida no mundo. Como aconteceu com Roma e Grécia. Por isso. mais poderoso em termos de organização militar. do contínuo oscilar entre um caminho e outro que norteia a vida humana. por exemplo. visíveis e humanizadas das figura do panteão ioruba. porém. Obaluaê e Nanã. O cordão umbilical. do destino. cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore . enfim: É o senhor de tudo o que é alongado. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXUMARÊ Como é comum a todas as divindades originárias do Daomé (cultura jeje) é relativamente difícil estabelecer um arquétipo específico de comportamento associado ao Orixá. Oxumarê. Oxumarê pode ser associado à riqueza: Oxumarê é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas. segundo sua visão a respeito dos filhos de Oxumarê. ao arquétipo de comportamento associado à figura desse Orixá complexo está a tendência à renovação. já que ele é misterioso e cheio de sombras e mitos. eles costumam possuir o dom da vidência . adivinhava o que ia acontecer. castigam quando dispostos ou provocados. mudam tudo em sua vida: mudam de casa. porém. O princípio da dualidade dos iorubas fazia parte dos Orixás-crianças ( Ibeji ) .A dualidade que eles representam. como se ciclos se sucedessem sempre. Os deuses então decidiram mantê-lo afastado dos homens. Assim. Oxumarê obteve a autorização de descer na terra de três em três anos. Os filhos de Oxumarê são bem mais difíceis de serem reconhecidos dos os guerreiros filhos de Iansã. algumas características básicas podem ser listadas. pois a clarividência total acaba transformando-se em maldição. de emprego. Já Monique Augras. mas raramente se arrependem e não possuem as falhas humanas. a tudo que implica o conceito de determinação além dos poderes dos homens. Mesmo assim. Já a dualidade de Oxumarê é mais abrangente e até mesmo metafísica. Omolu. Para o renomado pesquisador Pierre Verger. os calmos e sábios filhos de Oxalá e os maternais e familiares filhos de Iemanjá. Seus filhos estão entre aquelas pessoas que. é enterrado geralmente com a placenta. por exemplo. a compulsividade à mudança. de amigos. os Orixás do Daomé mais conhecidos e cultuados. Verger acrescenta que Oxumarê está associado ao misterioso. ainda não reprimidas pela codificação social. obrigatoriamente. Há. a tal ponto que não era mais possível viver. de tempos em tempos. Iroco. A Seu pedido. Oxumarê previa tudo. pois representa os ciclos que não estão ao alcance do ser humano. das pessoas pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem sacrifícios para atingir seus objetivos .também possuíssem. sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido. divergências em relação às suas características ao consultarmos autores diferente. Quando vivia na terra. é mais próxima do comportamento contraditório e irresponsável em termos ético das crianças. Oxumarê foi um desses casos. exigindo e provocando rompimento com o passado e 72 . que está sob seu controle. principalmente. segundo algumas correntes. XANGÔ (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Xangô é miticamente um rei. Na mesma linha de uso impróprio.representa a autoridade constituída no panteão africano. alguém que cuida da administração. os filhos de Oxumarê tendem a se movimentar extremamente leve. Ao mesmo tempo. do poder e. em termos hierárquicos. talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. pode-se encontrar a expressão Xangô de caboclo .iniciando diuturnamente a busca de um novo equilíbrio que deverá persistir até num novo momento de ruptura. armarem seus botes na vida sem que as pessoas em torno se apercebam disso e só atacando seus inimigos quando têm plena certeza da vitória. desintegração e substituição. é atribuído a Xangô (enquanto homem. a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô. da revolução como forma de renascimento e ressurreição. e que precisa efetivamente da sua ajuda. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá com especial ascendência sobre os demais. seriam bissexuais em potencial. o astro da morte. Também são apontados nos filhos de Oxumarê certos traços de orgulho e de ostentação. aproximando-o dos mitos ocidentais referentes ao planeta Plutão. Fisicamente. Têm em comum com a cobra a facilidade em serem silenciosos. por vezes é estendida a seus filhos. exibicionista. Na mitologia. da justiça . que a vítima está encurralada num território que não é o seu. Mutabilidade. mais especificamente em Pernambuco e Alagoas. quando surge um grave problema para alguém de sua amizade. reinício é seu princípio básico. algo que os aproxima do clichê do novo-rico. No Nordeste. da destruição. há no Norte do Brasil diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. também chamado de candomblé de caboclo . mas essa interpretação não é aceita universalmente. Estes. Essa confusão acontece por dois motivos: em primeiro lugar. posto que conseguiu após destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe 73 . A androginia do Orixá. que se refere obviamente a um culto sincretizando influências do culto original (candomblé ou umbanda) com cerimônias e mitos dos indígenas da região. pouco levantando os pés do chão. ser histórico) o reinado sobre a cidade-estado de Oyó. Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda. o duplo machado. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas. este fogo é. dentro da qual queima um fogo vivo. Seu Axé. o deus principal da rica mitologia grega. Miticamente. deve temer sua cólera como uma manifestação irracional Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais suas. seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores. nas pedreiras. mas existe algo de comum entre ele e Zeus. Outra informação de Pierre Verger especifica que esse oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça. que o transe não é simulado . Numa visão litúrgica um pouco mais restrita e mais apegada às lendas de origem dos Orixás. Suas decisões são sempre consideradas sábias. e lembra. demonstrando através dessa prova. Ninguém. que ele envia como castigo. ao mesmo tempo. sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada. onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente . portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas. o raio é uma de suas armas. nos maciços. irremovível. corta em duas direções opostas. ponderadas. Suas pedras são inteiras. Numa disputa. íntegro. como o próprio Orixá. que indica o poder de Xangô. é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios. presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). com tudo isso.militar. coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos. indivisível. esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta. duras de se quebrar. fixas e inabaláveis. Ele é o Orixá do raio e do trovão. Segundo Pierre Verger.a famosa balança da Justiça. porém. quando inquiridos. O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado. de certa forma a cerimônia chamada ajerê . Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. hábeis e corretas. Xangô é pesado. Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial. nos terrenos rochosos à flor da terra. Por isso. um filho de Xangô não se pode contentar apenas com uma pedra vinda de uma pedreira ou de uma montanha para guardar numa vasilha o seu assentamento. 74 . sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô. na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos. Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas numa vitrina e não em usá-las. Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte. sabendo muito bem distinguir o que é melhor em cada caso. o Orixá o abandona. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos. o símbolo do poder em toda sua plenitude. Eguns . É da rocha que eles mais se aproximam no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela habilidade em verem os dois lados de uma questão. pela aparência e modo de andar. Não se 75 . Tenderá a ser um tipo atarracado. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE XANGÔ Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a Xangô. Xangô portanto. Xangô é que mais os detesta ou os teme. mas praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça.Xangô então. com isenção e firmeza granítica que apresentam em todos os sentidos. Por essas qualidades. é o administrador que se curva à experiência e sabedoria do velho Oxalá. ombros bem desenvolvidos e claramente marcados em oposição à pequena estatura. não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros. mas com certa quantidade de gordura e uma discreta tendência para a obesidade. mas que deve ser acatado por Xangô quando em suas decisões intervir. pode ter forte tendência à falta de elegância. especial fascínio por indumentárias requintadas e caras. já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos. A mulher que é filha de Xangô. com tronco forte e largo.tem. é relativamente fácil para os iniciados descobrirem que tal pessoa é de Xangô . graças à vaidade intrínseca do tipo. que se ode manifestar menos ou mais claramente de acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa). essa tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea bem-desenvolvida e firme como uma rocha . quando a morte se aproxima de um filho de Xangô. mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor. Por outro lado. Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto. o que é mais difícil para tipos pouco mais sutis e mistos como Oxum. devese ter em mente uma palavra básica: Pedra . retirando-se de sua cabeça e de sua essência. Há quem diga que. Não que não saiba reconhecer roupas bonitas . Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Oçanhe e Omolu. não costumam ser conhecidos socialmente como um tipo dado a aventuras. sejam mulheres (que estão entre as mais ardentes do mundo). o arquétipo associado a Xangô está próximo do déspota esclarecido.deve estranhar seu jeito meio masculino de andar e de se portar e tal fato não deve nunca ser entendido como indicador de preferências sexuais. resolvem tudo de maneira demolidora e rápida mas. especialmente se já tiverem considerado o assunto em discussão encerrado por uma determinação sua. dignos de respeito e atenção. numa filha de Xangô é um processo de comportamento a ser cuidadosamente estabelecido. o senhor de engenho que habita dentro deles faz com que não aceitem o questionamento de suas atitudes pelos outros. Xangô é um tipo completamente mulherengo. É variável no humor. em certas ocasiões por gente mais importante que eles e até mesmo quando não são considerados especialistas num assunto ou de fato capacitados para emitir opinião. Os filhos de Xangô são sempre ouvidos. A postura pouco nobre dos filhos de Xangô e seu cultivo de hábitos considerados aristocráticos ou pouco burgueses. sejam homens. Seus filhos. costumam trazer essa marca. se bem que saibam ouvir. uma clara consciência de que são importantes. exerce-o inflexivelmente. portanto. mas. Em síntese. não admite dúvidas em relação a seu direito de detê-lo. de dar a última palavra em tudo. se tornam rapidamente violentos e incontroláveis. aquele que tem o poder. Porém. ombros largos. sempre lembrando sua consistência de pedra . mas julga a todos segundo um conceito estrito e sólido de valores claros e pouco discutíveis. insubstituível. mas incapaz de conscientemente cometer uma injustiça. porque para eles sexo é algo vital. é resultado dessa configuração psicológica. Gostam portanto. principalmente. feita a lei . São honestos e sinceros em seus relacionamentos mais duradouros. Quando contrariados porém. Não são os mitos sexuais de sua sociedade e é para muito poucos amigos que confessam suas conquistas. 76 . interesses ou amizades. ossatura desenvolvida. Nesse momento. fazer escolha movido por paixões. retornam a seu comportamento mais usual. Em termos sexuais. pois não faz parte de suas necessidades se auto-afirmar através desse expediente.consciência essa um pouco egocêntrica e nada relacionada com seu real papel social. os filhos de Xangô apresentam uma alta dose de energia e uma enorme autoestima. já que seu corpo pode aproximar-se mais dos arquétipos culturais masculinos do que femininos. que sua opinião será decisiva sobre quase todos os tópicos . Os filhos de Xangô. mas o objeto sexual em si não é merecedor de tanta atenção depois de satisfeito desejo Psicologicamente. porte decidido e passos pesados. é o padroeiro dos intelectuais e artistas. IANSà (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . assim como doze são os ministros. sendo figura das mais populares entre os mitos da Umbanda e do Candomblé em nossa terra e também na África. impulsivo. costuma ser associada à figura católica de Santa Bárbara. enquanto são afastados e pouco cultuados no Candomblé. A figura de Iansã sempre guarda boa distância das outras personagens femininas centrais do panteão mitológico africano.. ou Oyá. Nas cerimônias da Umbanda e do Candomblé. destruidor. O mesmo acontece com Oyá. Apesar de discordarmos da visão privilegiada do fogo como elemento de Xangô. violento. ela surge quando incorporada a seus filhos. o senhor da justiça não atingiria quem se lembrasse do nome da amada. que têm participação ativa na Umbanda. e gosta de mostrar seu amor e sua alegria contagiantes da mesma forma que desmedida com que exterioriza sua cólera. na liturgia mais tradicional africana. Ela sabe amar. Como a maior parte dos Orixás femininos cultuados inicialmente pelos nagôs (ou iorubas. mas principalmente porque tem sido Iansã uma das mais apaixonadas amantes de Xangô. Iansã. não deve ser confundido com um domínio sobre a água. pelos africanos. porém. Ao mesmo tempo. onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oyá . Seu número simbólico é o doze. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Iansã é um Orixá feminino muito famoso no Brasil. ameaçando os outros. isso. pois 77 . com os espíritos dos mortos (Eguns). talvez por ser o único que se relaciona. mais redutor e mais abrangente ao mesmo tempo. Em termos de sincretismo. insistimos que a pedra é seu símbolo básico. prometendo a guerra. outro nome para a mesma cultura) é a divindade de um rio conhecido internacionalmente como rio Niger. É um dos Orixás do Candomblé que mais penetrou no sincretismo da Umbanda. brandindo sua espada. ao mesmo tempo. que deve ser saudada após os trovões. ela é a senhora do vento e. Representa o poder transformador do fogo. de Xangô. se aproxima mais dos terrenos consagrados tradicionalmente ao homem. da tempestade. não pelo raio em si (propriedade de Xangô ao qual ela costuma ter acesso). talvez por causa do raio.Xangô é o Orixá julgador. como autêntica guerreira. conseqüentemente. inteligente. Obas . já que a santa é sempre invocada para proteger um fiel de uma tempestade. sempre guerreira e. feliz. Da mesma forma que o filho de Iansã revirou sua vida uma vez de pernas para o ar. agressivos e dados a ataques de cólera. sendo portanto competitivos. em vez de ficar no lar. para outras pessoas não mereceriam tanta atenção e. vencerão todos os problemas. regular. os filhos de Iansã costumam ser mais individualistas. pode acontecer com os filhos de Iansã num dado momento de sua vida. São fortemente influenciados pelo arquétipo da deusa aquelas figuras que repentinamente mudam todo o rumo da sua vida por um amor ou por um ideal. portanto. os personagens que transformam a vida num buscar desenfreado tanto de prazer como dos riscos. fazer mais uma alteração . seus triunfos são decisivos em qualquer tema. está sempre longe do lar. já que Iansã costuma ser íntegra em suas paixões. principalmente. não sendo dada a picuinhas. da paixão. Ao contrário. Costumam ver guerra em tudo. suas zangas são terríveis. Ao mesmo tempo. poderá novamente chegar à conclusão de que estava enganado e. Talvez uma súbita conversão religiosa.enfim. da busca de certa estratégia militar.tão ou mais radical ainda que a anterior. exagerado. que enfrentam a guerra do dia-a-dia. que faz parte da maneira de ser dos filhos de Ogum. O temperamento dos que têm Oyá como Orixá de cabeça. fazendo com que a pessoa mude completamente de código de valores morais e até de eixo base de sua vida. vai à guerra. que preferem as batalhas grandes e dramáticas ao cotidiano repetitivo. as pessoas que lutavam por idéias tão diferentes. Iansã não gosta dos afazeres domésticos. assim nada nela é medíocre. costuma ser instável. quando rompem com uma ideologia e abraçam outra. Faz parte dos filhos de Iansã a maior arte dos militantes políticos não cerebrais por excelência. sendo menos sistemáticos.está presente tanto nos campos de batalha. como nos caminhos cheios de risco e de aventura . pequenas traições. repudiando a experiência anterior de forma dramática e exagerada. porém. vão mergulhar de cabeça no novo território. É extremamente sensual. É o Orixá do arrebatamento. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE IANSà Arquetipicamente. achando que com a coragem e a disposição para a batalha. Iansã é a mulher guerreira que. tão grande dispêndio de energia. São quase que invariavelmente de Iansã. seus arrependimentos dramáticos. discreto. São assim os filhos de Iansã. 78 . raramente ao mesmo tempo. algum tempo depois. e não quer saber de mais nada. onde se resolvem as grandes lutas. apaixona-se com freqüência e a multiplicidade de parceiros é uma constante na sua ação. que os filhos de Ogum. dramático em questões que. mal reconhecendo em si mesmos. Eles têm uma tendência a desenvolver vida sexual muito irregular. também não podem ser considerados confiáveis. costumam ser amigos fiéis para os poucos escolhidos ara seu círculo mais íntimo. na casa de um amigo . A longo prazo. à todos. Um problema. pode atrapalhar tudo: a inconstância com que vê sua vida amorosa. o que é mais desconcertante. porém. possessivo. foi a terceira das esposas de Xangô. podem ser muito violentos quando contrariados. Obá era muito enérgica e forte.São do tipo Iansã. São muito ciumentos. num acontecimento social. vencendo na luta. fazer questão de mostrar. por outro. A rivalidade surgiu entre ela e Oxum. Orixá do rio Obá.e. de atitudes súbitas e imprevisíveis que costumam fascinar ( senão aterrorizar ) os que os cercam e os grandes interessados no comportamento humano. Às vezes tentam ser maquiavélicos ou sutis. um filho de Iansã sempre acaba mostrando cabalmente quais seus objetivos e pretensões. Segundo uma lenda de Ifá. é um caráter cheio de variações. 79 . Obá mais velha e sem muita vaidade. extrovertidos e chocantemente diretos. pois fatos menores provocam reações enormes e. aspectos particulares de sua vida. outros detalhes podem também contaminar os aspectos profissionais. Ao mesmo tempo. Como esse arquétipo que gera muitos fatos. que começam de repente e podem terminar mais inesperadamente ainda. não há ética que segure os filhos de Iansã. aquelas pessoas que podem ter um desastroso ataque de cólera no meio de uma festa. Todas essas características criam uma grande dificuldade de relacionamentos duradouros com os filhos de Iansã. OBÁ (Texto extraído do livro Os Orixás . é comum que pessoas de Iansã surjam freqüentemente nos noticiários. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Orixá ioruba semelhante à Oya. Se por um lado são alegres e expansivos. momentos após extravasar uma irreprimível felicidade. muitas vezes se mostrando incapazes de perdoar qualquer traição . Esta jovem e elegante. dispostos a destruir tudo com seu vento forte e arrasador. se têm a tendência para a franqueza e para o estilo direto. mais que alguns orixás masculinos. mas só detidamente. Oxalá. mas com pretensão ao amor de Xangô. pontilhada por súbitas paixões. Os Filhos de Iansã são atirados. quando possessos.que não a que ele mesmo faz contra o ser amado. Ao mesmo tempo. Xangô e Orunmilá. e também mulher de Ogum. Obá Gideo : Xangô. Oxum = Iemanjá 2. protege o consciente. Motivo pelo qual. o esposo comum. para preparar o prato predileto de Xangô. retirando-se. Xangô ficou repugnado e furioso com a cena. Oxum. Xangô mostrou toda sua irritação e furor. que. retirou seu lenço. cortou uma de suas orelhas e cozinhou com a sopa. Neste momento apareceu Oxum. Sua saudação: Oba sire (Obá xirê). sendo por esta caçoada. seguiu-se violenta luta corporal. fugiram apavoradas e transformaram-se nos rios que levam seus nomes. a fim de esconder uma das orelhas. QUALIDADES 1. quando Obá se manifesta em alguma das suas iniciadas. Quando lhe foi servido. leva a mão para cobrir a orelha esquerda. decidiu fazer a receita predileta de Xangô. Sua cor é vermelha. a um ciúme um tanto mórbido. Quando Obá chegou. Suas tendências são um pouco viril. colocando na sopa. As suas atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. 80 . Na semana seguinte que era a vez de Obá cuidar de Xangô. que irritada decidiu-se pregar-lhe uma peça. adorava. Xangô. todo gentil na companhia de Oxum. e. freqüentemente. onde a sua avidez de ganho e o cuidado de nada perder dos seus bens tornam-se garantia de sucesso. onde Obá viu que as orelhas de Oxum nunca haviam sido cortadas.Sabendo o quanto este era guloso. Obá Rewá : Oyá e Xangô ARQUÉTIPO São pessoas valorosas e incompreendidas. estava com a cabeça coberta com um pano que lhe escondia as orelhas. tomou com apetite e satisfação. Entretanto. Oyá. encontram compensação para as frustrações sofridas em sucessos materiais. ou ata-se um torço (turbante). Oxum e Obá. segundo Oxum. Oxum mostrou dizendo que havia cortado as próprias orelhas. Os seus insucessos devem-se. cozinha uma sopa na qual boiavam dois cogumelos. quando um dia pediu-lhe que viesse assistir a preparação de determinado prato. procurava sempre surpreender os segredos da receitas de cozinha utilizada por Oxum. PARTICULARIDADES DIA: quarta-feira DATA: 30 e 31 de maio METAL: cobre COR: marrom rajado PARTES DO CORPO: audição. orelha e junto com EWA. foi reservado o posto da jovem mãe. a por faixas etárias. pois as predominantemente lodosas são destinadas à Nanã e. ranzinza. Dentro desta perspectiva. região da Nigéria. da mulher que ainda tem algo de adolescente. de todos os rios. e é a ela que se dirigem as mulheres que querem engravidar. por extensão. e a primeira é a idosa Nanã ). Mamãe Oxum" Oxum é o nome de um rio em Oxogbo. Iemanjá é a mulher adulta e madura. Começa antes. correspondentes a cada arquétipo básico. É ele considerado a morada mítica da Orixá. Apesar de não ter a idade de Oxalá ( sendo a segunda esposa do Orixá da criação. não é jovem. avó que já teve o poder sobre a família e o perdeu. folha de amendoeira. a que arbitra desavenças entre personalidades contrastantes. Oxum é destacada como a dona da água doce e. sendo sua a responsabilidade de zelar tanto pelos fetos em gestação como pelas crianças recém-nascidas. Nanã é a matriarca velha. é a que chora. É a mãe das lendas – mas nelas. a água semi-parada das lagoas não pantanosas.SÍMBOLO: ofangi (espada) e um escudo de cobre. SACRIFÍCIO: = (Oyá) ELEMENTO: fogo FOLHAS: Candeia. sentindo-se relegada a um segundo plano. então. Iemanjá e Oxum dividem a maternidade. principalmente as cachoeiras são de Oxum. Mas há também outro forma de análise. Oxum tem a ela ligado o conceito de fertilidade. publicado pela Editora Três ) "Ai Ei Eiô. ao mesmo tempo que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Apesar de ser comum a associação entre rios e Orixás femininos da mitologia africana. negamina. OXUM (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . seus filhos são sempre adultos. pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa e correm os mundos. Portanto seu elemento é a água em discreto movimento nos rios. na 81 . coquete. maliciosa. afastando-se da unidade familiar básica. É a que tenta manter o clã unido. Para Oxum. até. onde costumam ser-lhe entregues as comidas rituais votivas e presentes de seus filhos-desanto. Sua responsabilidade em ser mãe se restringe às crianças e bebês. na sua plenitude. até que estas aprendam a falar. das quase adolescentes até as mais velhas. que usa espada). a atividade sexual e a sensualidade em si. de acordo com os historiadores. aparência da calma que pode esconder correntes. Os filhos de Oxum preferem contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo diretamente. buracos no fundo. Segundo a tradição ioruba. Existem 16 tipos diferentes de Oxum. Oxum também tem como um de seus domínios. mas a maior parte delas é mais pacífica. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXUM O arquétipo psicológico associado a Oxum se aproxima da imagem que se tem de um rio. mas não no seu desenvolvimento como adulto. tendo objetivos fortemente delineados. pois. gostam da vida social. que esconde uma determinação forte e uma ambição bastante marcante.própria fecundação. sendo considerada pelas lendas uma das figuras físicas mais belas do panteão mítico iorubano. A iniciação (na Umbanda ou no Candomblé) é um nascimento e o poder da fecundidade tem de estar presente. A imagem doce. Diz a lenda que as mais velhas moram nos trechos mais profundos dos rios. Iê Iê Kerê. o cobre era o metal mais caro conhecido naquela região. Entre essas 16. das festas e dos prazeres em geral. Oxum portanto. a mais violenta. chegando mesmo a ser incrivelmente teimosos e obstinados. Sua busca de prazer implica sexo e também ausência de conflitos abertos – é dos poucos Orixás iorubas que absolutamente não gosta da guerra. três são marcadas como guerreiras (Apara. Oxum é ambiciosa. gosta das riquezas materiais. a maneabilidade do elemento se manifestam no comportamento de Oxum. muito suave e feminina. que usa arco e flecha. não gostando de lutas e guerras. sua cor é azul-claro com raias de ouro. das águas que são seu elemento. pois Oxum mostrou que a menstruação. são muito persistentes no que buscam. em vez de constituir motivo de vergonha e de inferioridade nas mulheres. sendo portanto 16 o número sagrado da mãe da água doce. na gênese do novo ser. mas pouco claro em termos de forma. e Ié Ié Iponda. 82 . até a versão mais velha. pelo contrário proclama a realidade do poder feminino. colabora a tendência que os filhos de Oxum têm para engordar. a não menos vaidosa Oxum Abalo. a possibilidade de gerar filhos. o fluir nada fixo da água doce pelos diversos caminhos. mas não numa perspectiva de usura nem uma mesquinhez de quem quer ter riquezas para escondê-las. grutas tudo que não é nem reto nem direto. cheio de meandros. seu metal é o cobre – mas a correlação com o ouro não está basicamente errada. Além disso. desde Oxum Obotó. enquanto as mais novas nos trechos mais superficiais. por isso mesmo. mas porque essa é a única maneira de terem informações em troca. uma ironia persistente porém discreta e. o que foi assimilado em arte por muitos ramos da Umbanda. mas diferente dos filhos de Iansã ou Ogum. sendo. por parte deles. Para Iemanjá foi reservado o lugar de Nossa Senhora.O sexo é importante para os filhos de Oxum. procuraram fazer casamentos entre santos cristãos e Orixás africanos. então. o Orixá feminino ioruba Iemanjá é uma figura extremamente simples. bondosos. Os jesuítas portugueses. sensualidade e carinho pode fazer com que pareçam os seres mais apaixonados e dedicados do mundo. que constroem cautelosamente. dos rituais e mitos católicos. IEMANJÁ (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Eles tendem a ter uma vida sexual intensa e significativa. com o nome sempre bem divulgado pela imprensa. temem os escândalos ou qualquer coisa que possa denegrir a imagem de inofensivos. apenas inconseqüente. tanto da Umbanda como do Candomblé. Até um dos defeitos mais comuns associados à superficialidade de Oxum é compreensível como manifestação mais profunda: seus filhos tendem a ser fofoqueiros. Na verdade os filhos de Oxum são narcisistas demais para gostarem muito de alguém que não eles próprios – mas sua facilidade para a doçura. na aparência. pois suas festas anuais sempre movimentam um grande número de iniciados e simpatizantes. uma certa preguiça coquete. Verger define: O arquétipo de Oxum é o das mulheres graciosas e elegantes. pois. Os filhos de Oxum são mais discretos. tentando forçar a aculturação dos africanos e a aceitação. Pelo sincretismo. com paixão pelas jóias. muita água rolou. 83 . assim com apreciam o destaque social. perfumes e vestimentas caras . buscando pontos em comum nos mitos. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Comparada com as outras divindades do panteão africano. porém. mas não pelo mero prazer de falar e contar os segredos dos outros. Faz parte do tipo. artificialmente mais importante que as outras divindades femininas. Ela é uma das figuras mais conhecidas nos cultos brasileiros. que a abandonou e foi viver escondido na mata junto com o irmão renegado Oçãnhim (Oçanhe). deus ( no Daomé. o que é compreensível.) com a recomendação de quebrá-la no chão em caso de extremo perigo. local onde costuma receber os presentes e oferendas dos devotos. lançou o exercito à sua procura. mas pelo caráter. sendo as duas salgadas: as águas provocadas pelo choro da mãe que sofre pela vida de seus filhos. E assim Iemanjá foi instalar-se no Entardecer da Terra.morada de seu pai Olokum. enquanto a maternidade dos Orixás Daomeanos é atribuída a Nanã. e o mar. a origem de Iemanjá também é um rio que vai desembocar no mar. depois com Olofin . São extremamente concorridas suas festas. Teria. não só por tudo isso. levando-a para Okum. senhor das adivinhações. no esconderijo.Mesmo assim. No caso de Iemanjá. De tanto chorar com o rompimento com seu filho Oxóssi. que os vê se afastarem de seu abrigo. A lenda diz que Olofin. Na África. Iemanjá se derreteu.. quebrar a garrafa. foge mais tarde em direção ao oeste. onde acontecem rituais e iniciados incorporam caboclos e pretos-velhos. rei de Ifé. É portanto semelhante às outras mães da água. então. tomando rumos independentes.É uma das rainhas das águas. transformando-se num rio que foi desembocar no mar. atirados à morada da deusa. como na passagem do ano. por medida de precaução. com o qual teve supostamente dez (10) filhos. o Oeste . cansada de sua permanência em Ifé. uma garrafa contendo um preparado (. Apesar dos preceitos tradicionais relacionarem tanto Oxum como Iemanjá à função da maternidade. já que as diferentes tribos e nações acabaram por desenvolver o culto a um Orixá feminino específico. Iemanjá. que relacionavam com um rio da região. o que fez Iemanjá. É tradicional no Rio de Janeiro. as lendas africanas já a identificavam com o mar. rei do Ifé. atendendo a qualquer pessoa que se interesse. São comuns no reveillon as tendas de Umbanda na praia. na mesma hora. Olokum lhe havia dado. se formado um rio que a tragou. Outrora. de tolerância. atual Benin ) ou deusa ( em Ifé ) do mar. em Santos (litoral de São Paulo) e nas praias de Porto Alegre a oferta ao mar de presentes a este Orixá.. As duas Orixás não rivalizam ( Iemanjá 84 . Em uma história de Ifé ela aparece casada pela primeira vez com Orunmilá . pôde estabelecer-se uma boa distinção entre esse conceitos. É a mãe de quase todos os Orixás de origem ioruba ( com exceção de Logunnedê ). aceitação e carinho. sua morada.não se nega o fato de sua popularidade ser imensa. o oceano . como podemos perceber pela narrativa recolhida por Pierre Verger: Iemanjá seria a filha de Olokum. tanto na data específica de suas festas. Também fica fácil entender os conceitos principais se mantivermos a comparação com o Orixá Oxum. não são pessoas obcecadas pela própria carreira. A relação com eles pode ser carinhosa. a família e os filhos têm grande importância na vida dos filhos de Iemanjá. sentem falta da tribo. porém. Ao mesmo tempo. Gostam de viver num ambiente confortável e. São capazes de fazer chantagens emocionais. sem grandes planos para atividades a longo prazo. Enquanto os filhos de Oxum são diplomatas e sinuosos. tendo grande capacidade de perdoar as pequenas falhas humanas. enquanto Oxum é famosa por suas pendências amorosas que a colocaram contra Iansã e Oba ). refratária a mudanças. CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE IEMANJÁ No arquétipo psicológico. deixam de ter restrições. expandem-se as características insinuadas pela descrição dos mitos e lendas de Iemanjá. mas nunca esquecendo conceitos tradicionais como respeito e principalmente hierarquia. se comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte. indicam alguém doce. os de Iemanjá se mostram mais diretos. pode-se notar uma certa sofisticação em suas casas. carinhoso. A força e a determinação fazem parte de seus caracteres básicos. São pessoas que não gostam de viver sozinhas.praticamente na rivaliza com ninguém. sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de empatia com os problemas e sentimentos dos outros. Todos esses dados nos apresentam uma figura um pouco rígida. Mas nem tudo são qualidades em Iemanjá. Seu caráter pode levar o filho desse Orixá a ter uma tendência a tentar concertar a vida dos que o cercam . 85 . Como são pessoas presas ao arquétipo da mãe. também gostam de luxo. apreciadora do cotidiano. por isso casar ou associar-se cedo.o destino de todos estariam sob sua responsabilidade . e costumam. mas nunca diabólicas. mesmo quando pobres. Como os filhos da mãe da água doce. bons conhecedores que são da natureza humana. Os filhos de Iemanjá demoram muito para confiar em alguém. detestam os hotéis . preferindo casas onde rapidamente possam repetir os mecanismos e os quase ritos que fazem do cotidiano. a não ser quando se trata do futuro de filhos e entes próximos. inconsciente ancestral. aceitando-a completamente e defendendo-a. como em nenhum Orixá. Apesar do gosto pelo luxo. Quando finalmente passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro e íntimo círculo de amigos. assim como o sentido da amizade e do companheirismo. Não apreciam as viagens. Cada uma domina a maternidade num momento diferente. seja nos erros como nos acertos. das jóias caras e dos tecidos vistosos. os de Iemanjá. é o que traz consigo a memória de outros tempos. Oxóssi. a metalurgia. no máximo. trouxeram consigo. Iemanjá. a caça. Iansã faz aquilo . a maternidade. Ogum. Se por este lado. Assim. as soluções já encontradas no passado para casos semelhantes. por exemplo. A jurisprudência africana nesse sentido prefere conviver com os opostos. orixás diferentes propõem respostas diferentes . mas sim merecimento de respeito ao título de Orixalá ) veio da colonização 86 . Omolu. o chefe da família. neste caso colocado acima do conhecimento especializado que cada Orixá pode apresentar: Oçanhe. Oxalá merece mais destaque. Para um mesmo problema. Oxum. Oxalá não tem mais poderes que os outros nem é hierarquicamente superior.Um filho de Iemanjá pode tornar-se rancoroso. Oxalá. além do nome do Orixá. que significa. OXALÁ (Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás . Cada membro da família tem suas funções e o direito de se inter-relacionar de igual para igual com todos os outros membros. Esta relação de importância advém de a organização de divindades africanas ser uma maneira simbólica de se codificar as regras do comportamento. a liturgia. o que as lendas dos Orixás confirmam através da independência que cada um mantém em relação aos outros. porém. publicado pela Editora Três ) O PERFIL DO ORIXÁ Orixá masculino. estão todas as matrizes básicas da organização familiar e tribal. Quando porém os negros vieram para cá.e assim por diante. uma outra forma de a ele se referirem. a medicina . das atitudes possíveis. perante um impasse. é OXALÁ. de origem Ioruba (nagô) bastante cultuado no Brasil. dos diversos caminhos para uma mesma questão. o nome que se acabou popularizando. orixá dos orixás. como mão-de-obra escrava na agricultura. o respeito de todos numa sociedade que cultuava ativamente seus ancestrais. Orixalá . Ele representa o conhecimento empírico. onde costuma ser considerado a divindade mais importante do panteão africano. Na África é cultuado com o nome de Obatalá . portanto. Nos preceitos. remoendo questões antigas por anos e anos sem esquecê-las jamais. o considerá-lo superior aos outros ( o que não está implícito como poder. Numa versão contraída. que.e raramente há um acordo social no sentido de estabelecer uma das saídas como correta e a outra não. mas merece o respeito de todos por representar o patriarca. estabelecendo. Ogum faz isso. merecendo. a educação. pois. ao realizá-los. apenas com outros nomes. São amáveis e pensativos. para. gostar e quiser usar roupas com as cores do seu ELEDÁ (primeiro Orixá de cabeça) e dos seus AJUNTÓS (adjutores auxiliares do Orixá de cabeça) não terá problema algum. Por causa de Oxalá a cor branca esta associada ao candomblé e aos cultos afro-brasileiros em geral. São caracteres encontrados nos arquétipos ocidentais também em relação à figura paterna. mas efetivamente Oxalá nunca foi apontado como seu pai. Esclarecida esta questão. são pessoas tranqüilas. porque ela é a soma de todas as cores. e tentaram convencer os negros que seus Orixás também tinham espaço na cultura branca. mas sim de respeito e carinho. apenas dependendo da orientação da cúpula espiritual dirigente do terreiro. Se essa mesma. baseada em códigos a eles completamente estranhos. Alguns escravos neles acreditaram. uma aura não de temeridade (já que não é nada inseguro). Eram constantes as revoltas. É o princípio gerador em potencial. Às vezes chegam a ser autoritários. excetuando-se Logunedé . Sua cor é o branco. o responsável pela existência de todos os seres do céu e da terra. e Iemanjá que tem uma filiação controvertida. mas isso acontece com os que têm Orixás guerreiros ou autoritários como adjutores ( ajuntós ). Estabelece. de toda a humanidade. sendo mais citados Odudua e Olokum como seus pais. 87 . nem o Orixá de cabeça de cada filho de santo. apenas mascarados pela religião oficial do colonizador. prestando homenagem ao Pai de todos os Orixás e dos seres humanos. AS CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXALÁ As características tão bem sintetizadas por Monique Augras ao descrever a dança de Oxalá (no ritual de nação) definem bem o arquétipo psicológico a ele associado. Os jesuítas tentavam introduzir os negros nos cultos católicos. É o que permite a concepção no sentido masculino do termo. que as entidades eram praticamente as mesmas. Segundo as lendas. não negamos as funções únicas e importantíssimas de Oxalá perante a mitologia ioruba. que é filho de Oxóssi e Oxum. Os filhos de Oxalá. é comum que se vistam de branco. Em alguns casos. entre si e os outros. e não importa qual o santo cultuado num terreiro. perceberam que o sincretismo era a melhor saída. Outros se aproveitaram da quase obrigatoriedade da prática dos cultos católicos. passo considerado decisivo para os mentores e ideólogos que tentavam adaptá-los à sociedade onde eram obrigados a viver. mas não bastava. A repressão pura e simples era muito eficiente nestes casos. conseguem o respeito mesmo sem que se esforcem objetivamente para obtê-lo. Oxalá é o pai de todos os Orixás. mas nunca de maneira subserviente.européia. por extensão. Oxalá é o pai dos Orixás e. até nos momentos mais difíceis. com tendência à calma. portanto. efetivarem verdadeiros cultos de Umbanda. porém. Para Oxalá. a idéia e o verbo são sempre mais importantes que a ação. será difícil convencê-los de que estão errados ou que existem outros caminhos para a resolução de um problema. mas raramente orgulhosos. não sendo raro encontrá-los em carreiras onde a linguagem (escrita ou falada) seja o ponto fundamental. como se o peso de toda uma longa vida caísse sobre seus ombros. enquanto no Oxalá novo (OXAGUIÃ) tem um certo furor pelo debate e pela argumentação. São reservados. tendo uma queda para trabalhos que impliquem em organização. 88 . os filhos de Oxalá tendem a apresentar um porte majestoso ou no mínimo digno. mesmo em se tratando de alguém muito jovem.Sabem argumentar bem. Fisicamente. principalmente quando têm certeza de suas convicções. Seu defeito mais comum é a teimosia. essa maneira de caminhar e se postar dá lugar a alguém com tendência a ficar curvado. principalmente na maneira de andar e não na constituição física. não é alto e magro como o filho de Ogum nem tão compacto e forte como os filhos de Xangô. Gostam de centralizar tudo em torno de si mesmos. No Oxalá mais velho (OXALUFÃ) a tendência se traduz em ranzinzice e intolerância. Às vezes.
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