FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA“Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas, com a intenção de dar aos cegos a oportunidade de apreciarem mais uma manifestação do pensamento humano”. FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA (MOMENTOS DECISIVOS) 2.° VOLUME (1836-188O) #ANTÔNIO CÂNDIDO FORMAÇÃO 2.° VOLUME LIVRARIA MARTINS EDITORA EDIFÍCIO MÁRIO DE ANDRADE RUA ROCHA, 274 - SÃO PAULO #ANTÔNIO CÂNDIDO FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA (MOMENTOS DECISIVOS) 2.° VOLUME (1836-188O) LIVRARIA MARTINS EDITORA #Biblioteca Pública "Arthur Vianna Sala Haroldo Maranhão DA LITERATURA BRASILEIRA #Capítulo I O INDIVÍDUO E A PÁTRIA 1. O NACIONALISMO LITERÁRIO. 2. O ROMANTISMO COMO POSIÇÃO DO ESPÍRITO E DA SENSIBILIDADE. 3. AS FORMAS DE EXPRESSÃO. #1. O NACIONALISMO LITERÁRIO O movimento arcádico significou, no Brasil, incorporação da atividade intelectual aos padrões europeus tradicionais, ou seja, a um sistema expressivo, segundo o qual se havia forjado a literatura do Ocidente. Neste processo verificamos o intuito de praticar a literatura, ao mesmo tempo, como atividade desinteressada e como instrumento, utilizando-a ao modo de um recurso de valorização do país, - quer no ato de fazer aqui o mesmo que se fazia na Europa culta, quer exprimindo a realidade local. O período que se abre à nossa frente prolonga sem ruptura essencial este aspecto, exprimindo-o todavia de maneira bastante diversa, graças a dois fatores novos: a Independência política e o Romantismo, desenvolvido a exemplo dos países de onde nos vem influxo de civilização. De tal forma, que o movimento ideologicamente muito coerente da nossa formação literária se viu fraturado a certa altura, no tocante à expressão, surgindo novos gêneros, novas concepções formais; e, no tocante aos temas, a disposição para exprimir novos aspectos da realidade, tanto individual quanto social e natural. Como as formas e temas tradicionais já se iam revelando insuficientes para traduzir os novos pontos de vista, foi uma fratura salutar, que permitiu sensível desafogo, devido à substituição ou quando menos reajuste dos instrumentos velhos, com evidente benefício da expressão. Isto compensou largamente os prejuízos, uma vez que seria impossível guardar as vantagens do universalismo e do equilíbrio clássico, sem asfixiar ao mesmo tempo a manifestação do espírito novo na pátria nova. Graças ao Romantismo, a nossa literatura pôde se adequar ao presente. Por outro lado, as novas tendências reforçaram as que se vinham acentuando desde a segunda metade do século XVIII: assim como a Ilustração favoreceu a aplicação social da poesia, voltando-a para uma visão construtiva do país, a Independência desenvolveu nela, no romance e no teatro, o intuito patriótico, ligando-se deste modo os dois períodos, por sobre a fratura expressional, na mesma disposição profunda de dotar o Brasil de uma literatura equivalente às européias, que exprimisse de maneira adequada a sua realidade própria, ou, como então se dizia, uma "literatura nacional". Que se entendia por semelhante coisa? Para uns era a celebração da pátria, para outros o indianismo, para outros, enfim, algo indefinível, mas que nos exprimisse. Ninguém saberia dizer com absoluta precisão; mas todos tinham uma noção aproximada, que podemos avaliar lendo as várias manifestações a respeito, algumas bastante compreensivas para abranger vários ou todos os temas reputados nacionais. É o caso de um ensaio de Macedo Soares, lamentando que os escritores não se esforçassem por dar à nossa literatura uma categoria equivalente às européias. "Entretanto - ajunta não se carece de muito: inteligência culta, imaginação viva, sentimentos e linguagem expressiva, eis os requisitos subjetivos do poeta; tradições, religião, costumes, instituições, história, natureza, eis, os materiais". As nossas tradições são "dúplices", devendo o poeta, se quiser ser nacional, harmonizar as indígenas, com as portuguesas. "Os costumes são, se assim me posso exprimir, a cor local da sociedade, o espírito do século. Seu caráter fixa-se mais ou menos segundo as crenças, as tradições e as instituições de um povo. Eles devem transparecer em toda a poesia nacional, para que o poeta seja cornpreendido pelos seus concidadãos". "Quanto à natureza, considerada como elemento da nacionalidade da literatura, onde ir buscá-la mais cheia de vida, beleza e poesia (...) do que sob os trópicos?". "Se nossas instituições não nos são inteiramente peculiares, se nossa história não tem essa pompa das páginas da meia-idade, temos ao menos instituições e história nossas." "Em suma: despir andrajos e falsos atavios, compreender a natureza, compenetrar-se do espírito da religião, das leis e da história, dar vida às reminiscências do passado; eis a tarefa do poeta, eis os requisitos da nacionalidade da literatura". 1. Como se vê, é um levantamento bem compreensivo, feito já no auge do Romantismo e tendo por mola o patriotismo, que se aponta ao escritor como estímulo e dever. com efeito, a literatura foi considerada parcela dum esforço construtivo mais amplo, denotando o intuito de contribuir para a grandeza da nação. Manteve-se durante todo o Romantismo este senso de dever patriótico, que levava os escritores não apenas a cantar a sua terra, mas considerar as próprias obras contribuição ao progresso. Construir uma "literatura nacional" é afã, quase divisa, proclamada nos documentos do tempo até se tornar enfadonha. Folheando a publicação inicial do movimento renovador, a revista Niterói, notamos que os artigos sobre ciência e questões econômicas sobrepujam os literários; não apenas porque o número de intelectuais brasileiros era demasiado restrito para permitir a divisão do trabalho intelectual, como porque essa geração punha no culto à ciência o mesmo fervor com que venerava a arte;TTT w]n Mafea° Soares, "Considerações sobre a atualidade de nossa literatura", m, EAP, n.°s, 3-4, págs. 396 e 397 (1857).1º . tratava-se de construir uma vida intelectual na sua totalidade, para progresso das Luzes e conseqüente grandeza da pátria. A Independência importa de maneira decisiva no desenvolvimento da idéia romântica, para a qual contribuiu pelo menos com três elementos que se podem considerar como redefinição de posições análogas do Arcadismo: (a) desejo de exprimir uma nova ordem de sentimentos, agora reputados de primeiro plano, como o orgulho patriótico, extensão do antigo nativismo; (b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, não apenas uma literatura, de vez que, aparecendo o Classicismo como manifestação do passado colonial, o nacionalismo literário e a busca de modelos novos, nem clássicos nem portugueses, davam um sentimento de libertação relativamente à mãe-pátria; finalmente (c) a noção já referida de atividade intelectual não mais apenas como prova de valor do brasileiro e esclarecimento mental do país, mas tarefa patriótica na construção nacional. Na exposição abaixo, procurar-se-á sugerir principalmente a diferença, a ruptura entre os dois períodos que integram o movimento decisivo da nossa formação literária, acentuando os traços originais do período novo. Para isto é preciso analisar em que consistiu o Romantismo brasileiro, decantando nele os elementos constitutivos, tanto locais quanto universais. Comecemos pelos dados necessários. No volume anterior ficaram indicadas certas linhas que podem ser consideradas pré-românticas, como a nostalgia de Borges de Barros, o cristianismo lírico de Monte Alverne, o exotismo de certos franceses ligados ao Brasil, as vagas e contraditórias manifestações da Sociedade Filomática. Só se pode falar todavia de literatura nova, entre nós, a partir do momento em que se adquiriu consciência da transformação e claro intuito de promovê-la, praticando-a intencionalmente. Foi o que fez em Paris, de 1833 a 1836, mais ou menos, um grupo de jovens: Domingos José Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Pôrto Alegre, Francisco de Sales Torres Homem, João Manuel Pereira da Silva, Cândido de Azeredo Coutinho, sob a liderança do primeiro. Lá se encontravam para estudar ou cultivar-se, e lá travaram contacto com as novas orientações literárias, cabendo certamente a Magalhães a intuição decisiva de que elas correspondiam à intenção de definir uma literatura nova no Brasil, que fosse no plano da arte o que fora a Independência na vida política e social. Para esta verificação, já os predispunha a doutrina e exemplo de Ferdinand Denis e os franco-brasileiros, reapreciando e valorizando a tradição indianista de Basílio e Durão; as vagas aspirações antipagãs hauridas em Sousa Caldas e Monte Alverne, que admiravam estremecidamente; o pequeno mas significativo esforço de Januário da Cunha Barbosa para, continuando Denis, identificar uma literatura brasileira autônoma; o incentivo de Evaristo da Veiga, chamando a mocidade à expressão do país livre. Como ainda não se fez uma pesquisa sistemática sobre a estada daquele grupo na Europa, é impossível acompanhar a marcha da sua adesão ao Romantismo. Sabemos que Pôrto-Alegre foi talvez o primeiro a ter alguns vislumbres, através de Garrett, que conheceu e freqüentou em Paris no ano de 1832, dele recebendo uma espécie de revelação, que transmitiria ao amigo Magalhães, chegado no ano seguinte. "Foi Garrett o primeiro poeta português que me fez amar a poesia, porque me mostrou a natureza pela face misteriosa do coração em todas as suas fases, em todas as suas sonoras modificações". Em 1834 teve lugar a primeira atividade comum do grupo: uma comunicação ao Instituto Histórico de Paris, sobre o estado da cultura brasileira, publicada na respectiva revista, tratando Magalhães de literatura, Torres Homem de ciência e Pôrto-Alegre de belasartes; o primeiro, sumária e mediocremente; muito bem o último.3 A oportunidade foi devida com certeza a Eugène de Monglave, um dos fundadores e secretário da agremiação, que se ocupou na França mais de uma vez com assuntos nossos. Este documento precioso e modesto, transição simbólica entre o Parnaso de Januário e a Niterói, constitui um ponto de partida. Nele se exprime o tema proposto por Denis na História Literária: há no Brasil uma continuidade literária, um conjunto de manifestações do espírito, provando a nossa capacidade e autonomia em relação a Portugal. Exprime-se, de modo vago e implícito, a idéia (acentuada por Denis apenas na parte relativa ao indianismo) de que alguns brasileiros, como Durão, Basílio, Sousa Caldas, José Bonifácio, haviam mostrado o caminho a seguir, quanto a sentimentos e temas. Bastava prosseguir no seu esforço, optando sistematicamente pelos assuntos locais, o patriotismo, o sentimento religioso.Passo decisivo foi a revista publicada em Paris no ano de 1836 graças à munificência de um patrício, Manuel Moreira Neves e (2) Ver José Veríssimo, Estudos de Literatura, U, págs. 182: "Ê quase certo que foi sob a influência do Bosquejo e da obra crítica e literária de Garrett que, fazendo violência ao seu próprio temperamento, eles entraram na corrente puramente romântica". (3) "Resume de l"hlstoire de Ia litérature, dês sciences et dês arts au Brésil, par trois brésiliens, membres de 1"Institut Historique", Journal de l"Instituí Historique, Premiere Année, Première Livraison, Paris, Aout 1834, págs. 4753. t,, í -,eu um curso" <dlz Ss-ntiago Nunes que talvez na Sorbonne) sobre literatura Brasileira e portuguesa, reconhecendo a autonomia da nossa. Isso teria sido í? riPf" rt° n , °U primelros an°s do de 4O (V. MB, I, pág. 11). Em 1844, tomou MrÍHÍr 2 Brasil, ante certos ataques da imprensa francesa (V. MB, II, pág. 666). íllíh" .connecjd° e estimado no Brasil, é provável que o seu Institut Historique ÍSÍT funH H < a Januário e outr°s a idéia do nosso Instituto Histórico e Geográfico, fundado cinco anos depois cujos dois únicos números contêm o essencial da nova teoria literária: Niterói, Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, que trazia como epígrafe: "Tudo pelo Brasil, e para o Brasil". O solícito Monglave anunciou-a ao mundo culto da França, e os rapazes escreveram sobre literatura, música, química, economia, direito, astronomia. Os estudos críticos de Magalhães e Pereira da Silva estabeleceram o ponto de partida para a teoria do Nacionalismo literário, como veremos noutra parte, aclimando as idéias de Denis, que lhes servia de bússola. Inspirado, o jovem autor dos Suspiros Poéticos perguntava com ênfase, para logo propor a resposta, dentro das idéias de ligação causai entre o meio e literatura, acentuando as forças sugestivas da natureza e do índio: "Pode o Brasil inspirar a imaginação dos poetas e ter uma poesia própria? Os seus indígenas cultivaram porventura a poesia? Tão geralmente conhecida é hoje esta verdade, que a disposição e caráter de um país grande influência exerce sobre o físico e o moral dos seus habitantes, que a damos como um princípio, e cremos inútil insistir em demonstrá-lo com argumentos e fatos por tantos naturalistas e filósofos apresentados".5 Estava lançada a cartada, fundindo medíocre, mas fecundamente, para uso nosso, o complexo SchlegelStaèl-Humboldt-Chateaubriand Denis. O maior trunfo, porém, - para quem pesquisa as emergências misteriosas da sensibilidade, mais do que as racionalizações espetaculares, não está no ensaio ambicioso do futuro Visconde. Encontra-se no número 2 da mesma revista, numa pequena nota de Pôrto-Alegre à sua "Voz da Natureza", talvez o primeiro poema decididamente romântico publicado em nossa literatura; pequena e singela nota, onde o entusiasta de Garrett encerrava todas as aspirações da nova escola e definia a sua separação da literatura anterior: "Algumas expressões se encontram, pode ser, desusadas, mas elas são filhas das nossas impressões; e de mais vemos a natureza como Artista, e não como Gramático".6 São palavras decisivas: desprezando a regra universal, a arte das impressões pessoais e intransmissíveis descia sobre a nossa pequena e débil literatura. Com isto já é possível indicar os elementos que integram a renovação literária designada genericamente por Romantismo, - nome adequado e insubstituível, que não deve porém levar a uma identificação integral com os movimentos europeus, de que constitui ramificação cheia de peculiaridades. Tendo-se originado de um . (5) Magalhães, "Ensaio sobre a história da literatura do Brasil", Opúsculos históricos e literários, pág. 264.j "15" Voli n pâg- 213- ° P°ema finaliza um longo escrito sobre os "Contornos de Nápoles", págs. 161-211.1213 convergência de fatores locais e sugestões externas, é ao mesmo tempo nacional e universal. O seu interesse maior do ponto de vista da história literária e da literatura comparada consiste porventura na felicidade com que as sugestões externas se prestaram à estilizacão das tendências locais, resultando um movimento harmonioso e íntegro, que ainda hoje parece a muitos o mais brasileiro, mais autêntico dentre os que tivemos.Os contemporâneos intuíram ou pressentiram este fato, arraigando-se em conseqüência no seu espírito a noção de que fundavam a literatura brasileira. Cada um que vinha, - Magalhães, Gonçalves Dias, Alencar, FranMin Távora, Taunay, - imaginava-se detentor da fórmula ideal de fundação, referindo-se invariavelmente às condições previstas por Denis e retomadas pelo grupo da Niterói: expressão nacional autêntica. Digamos, pois, que a renovação literária apresenta, no Brasil, dois aspectos básicos: nacionalismo e Romantismo propriamente dito, sendo este o conjunto dos traços específicos do espírito e da estética imediatamente posteriores ao Neoclassicismo, na Europa e suas ramificações americanas. Deixando-o para um parágrafo especial, abordemos o primeiro, que engloba o nativismo em sentido estrito e já então tradicional em nossa cultura, (ligado à pura celebração ou aos sentimentos de afeto pelo pais), mais o patriotismo, ou seja, o sentimento de apreço pela jovem nação e o intuito de dotá-la de uma literatura independente. No nativismo, predominando o sentimento da natureza; no patriotismo, o da polis. Teoricamente, o nacionalismo independe do Romantismo, embora tenha encontrado nele o aliado decisivo. Podemos mesmo supor, para argumentar, formas não-romântícas em que se teria desenvolvido. Há com efeito na literatura uma aspiração nacional definida claramente a partir da Independência e precedendo o movimento romântico. Exemplo típico é a obra de Januário da Cunha Barbosa, por isso mesmo acatado e prezado pelos renovadores que o chamaram "decano da Literatura Brasileira", porque eram antes de tudo nacionalistas. Inversamente, a aceitação dos primeiros românticos pela opinião e o poder público se prende às mesmas razões: eram os que vinham estabelecer nas letras o correspondente da Independência, promovendo as Luzes de acordo com as novas aspirações. O Romantismo brasileiro foi por isso tributário do nacionalismo; embora nem todas as suas manifestações concretas se enquadrassem nele, ele foi o espírito diretor que animava a atividade geral da literatura. Nem é de espantar que assim fosse, pois sem falar da busca das tradições nacionais e o culto da história, o que se chamou em toda a Europa "despertar das nacionalidades", em seguida ao empuxe napoleônico, encontrou expressão no Romantismo. Sobretudo nos países novos e nos que adquiriram ou tentaram adquirir independência, o nacionalismo foi manifestação de vida, exaltação afetiva, tomada de consciência, afirmação do próprio contra o imposto. Daí a soberania do tema local e sua decisiva importância em tais países, entre os quais nos enquadramos. Descrever costumes, paisagens, fatos, sentimentos carregados de sentido nacional, era libertar-se do jugo da literatura clássica, universal, comum a todos, preestabelecida, demasiado abstrata, - afirmando em contraposição o concreto, expontâneo, característico, particular. Veremos no próximo parágrafo que tais necessidades de individuação nacional iam bem com as peculiaridades da estética romântica. Esta tendência era reputada de tal modo fundamental para a expressão do Brasil, que os jovens da segunda geração manifestaram verdadeiro remorso ao sobrepor-lhe os problemas estritamente pessoais, ou ao deixá-la pelos temas universais e o cenário de outras terras. Nada mais eloqüente que Alvares de Azevedo, o menos pitoresco de todos, o mais obcecado pelo seu drama íntimo e os modelos europeus. Há um trecho importante do Macário em que se desdobra nos personagens e faz um deles acusar, outro defender um poeta céptico, pouco nacional, que é certamente ele próprio. Penseroso fala por toda a geração e pela consciência patriótica do autor, quando brada: "Esse americano não sente que ele é filho de uma nação nova, não a sente o maldito cheia de sangue, de mocidade e verdor? Não se lembra que seus arvoredos gigantescos, seus Oceanos escumosos, os seus rios, suas cataratas, que tudo lá é grande e sublime? Nas ventanias do sertão, nas trovoadas do sul, no sussurro das florestas à noite não escutou nunca os prelúdios daquela música gigante da terra que entoa à manhã a epopéia do homem e de Deus? Não sentiu ele que aquela sua nação infante que se embala nos hinos da indústria européia como Júpiter nas cavernas do Ida no alarido do Coribantes - tem futuro imenso?" Mas Macário censura a artificialidade do indianismo e da poesia americana, numa revolta de born senso realista: "Falam nos gemidos da noite no sertão, nas tradições das raças perdidas das florestas, nas torrentes das serranias, como se lá tivessem dormido ao menos uma noite, como se acordassem procurando túmulos, e perguntando como Hamleto no cemitério a cada caveira do deserto o seu passado. Mentidos! Tudo isso lhes veio à mente lendo as páginas de algum ^viajante que esqueceu-se talvez de contar que nos mangues e nas águas do Amazonas e do Orenoco há mais mosquitos e sezões do que inspiração: que na floresta há insetos repulsivos, répteis imundos, que a pele furta-côr do tigre não tem o perfume das fíôres - que tudo isto é sublime nos livros, mas é sobeiam-çasm^ desa^tadá.ve.1 ^a. Trechos capitais, exprimindo a ambivalência do nosso Romantismo, transfígurador de uma realidade mal conhecida e atraído irresistivelmente pelos modelos europeus, que acenavam com a magia dos países onde radica a nossa cultura intelectual. Por isso, ao lado do nacionalismo, há no Romantismo a miragem da Europa: o Norte brumoso, a Espanha, sobretudo a Itália, vestíbulo do Oriente byroniano. Poemas e mais poemas cheios de imagens desfiguradas de Verona, Florença, Roma, Nápoles, Veneza, vistas através de Shakespeare, Byron, Musset, Dumas, e das biografias lendárias de Dante ou Tasso, num universo de oleogravura semeado de gôndolas, mármores, muralhas, venenos, punhais, veludos, rendas, luares e morte. Em Alvares de Azevedo, Castro Alves, outros menores, perpassam, em contraposição às "belas filhas do país do Sul", as "italianas", - brancas e hieráticas, ou dementes de paixão, encarnando as necessidades de sonho e fuga, libertação e triunfo dos sentidos, transplantadas, como flores raras, das páginas de Byron para os jardins da imaginação tropical. Dentre os temas nacionais, onde esta imaginação se movia por dever e prazer, ocorriam alguns prediletos. A celebração da natureza, por exemplo, seja como realidade presente, seja evocada pela saudade, em peças que ficaram entre as mais queridas, como “Canção do Exílio" e "O Gigante de Pedra", de Gonçalves Dias, "Sub Tegmine Fagi", de Castro Alves. Ou os poemas históricos, como o ciclo do 2 de julho, o da Confederação do Equador, que inspiraram Castro Alves e Alvares de Azevedo; os poemas da América, tomada no conjunto, objeto de várias poesias de Varela; a guerra do Paraguai, que mobilizou todas as musas do tempo. O interesse pelos costumes, regiões, passado brasileiro, se manifestou largamente no romance, como veremos. A religião foi desde logo reputada elemento indispensável à reforma literária, não apenas por imitação aos modelos franceses, mas porque, opondo-se ao temário pagão dos neoclásicos, representava algo oposto ao passado colonial. Tanto mais quanto dois poetas considerados brasileiros e t^fií!nsss^&s^-,<?s!s5, "i^sátíss^ -". ^-íss&cca, -*"naranTlargamente esse tema, enquanto Monte Alverne dera exemnfo de novos sentimentos através da oratória sagrada. Embora os poetas da primeira fase tivessem sido os mais declaradamente religiosos, no sentido estrito, todos os românticos, com poucas exceções.(7) Manoel Antônio Alvares de Azevedo, Obras, 7." edlçSo, vol. 3.", págs. 3O8 e 31O-311. Uso sempre, neste trabalho, a 9." edição, de Homero Pires, cujo texto é melhor e mais completo. Mas como no trecho citado vem nela um grave erro, penso que de tipografia, preferi, no caso, a de Joaquim Norberto. flores - que tudo isto é sublime nos livros, mas é soberanamente desagradável na realidade".7 Trechos capitais, exprimindo a ambivalência do nosso Romantismo, transfigurador de uma realidade mal conhecida e atraído irresistivelmente pelos modelos europeus, que acenavam com a magia dos países onde radica a nossa cultura intelectual.Por isso, ao lado do nacionalismo, há no Romantismo a miragem da Europa: o Norte brumoso, a Espanha, sobretudo a Itália, vestíbulo do Oriente byroniano. Poemas e mais poemas cheios de imagens desfiguradas de Verona, Florença, Roma, Nápoles, Veneza, vistas através de Shakespeare, Byron, Musset, Dumas, e das biografias lendárias de Dante ou Tasso, num universo de oleogravura semeado de gôndolas, mármores, muralhas, venenos, punhais, veludos, rendas, luares e morte. Em Alvares de Azevedo, Castro Alves, outros menores, perpassam, em contraposição às "belas filhas do país do Sul", as "italianas", - brancas e hieráticas, ou dementes de paixão, encarnando as necessidades de sonho e fuga, libertação e triunfo dos sentidos, transplantadas, como flores raras, das páginas de Byron para os jardins da imaginação tropical. Dentre os temas nacionais, onde esta imaginação se movia por dever e prazer, ocorriam alguns prediletos. A celebração da natureza, por exemplo, seja como realidade presente, seja evocada pela saudade, em peças que ficaram entre as mais queridas, como Canção do Exílio" e "O Gigante de Pedra", de Gonçalves Dias, "Sub Tegmine Fagi", de Castro Alves. Ou os poemas históricos, como o ciclo do 2 de julho, o da Confederação do Equador, que inspiraram Castro Alves e Álvares de Azevedo; os poemas da América, tomada no conjunto, objeto de várias poesias de Varela; a guerra do Paraguai, que mobilizou todas as musas do tempo. O interesse pelos costumes, regiões, passado brasileiro, se manifestou largamente no romance, como veremos. A religião foi desde logo reputada elemento indispensável à reforma literária, não apenas por imitação aos modelos franceses, mas porque, opondo-se ao temário pagão dos neoclásicos, representava algo oposto ao passado colonial. Tanto mais quanto dois poetas considerados brasileiros e precursores, São Carlos e Caldas, versaram largamente esse tema, enquanto Monte Alverne dera exemplo de novos sentimentos através da oratória sagrada. Embora os poetas da primeira fase tivessem sido os mais compactamente católico e quase devocional. 7. (7) Manoel Antônio Alvares de Azevedo. iSalizando um catecismo metrificado com mais largueza de espírito. e todos pagavam o seu tributo." edição. É preciso. apontando nas convicções religiosas não apenas a filosofia reta. Assim a vemos tanto num meticuloso devoto.declaradamente religiosos.°. págs. Obras. vol. a 9. o livro de poesias de um estudante de Olinda. no sentido estrito. que é propriamente a religiosidade. a de Joaquim Norberto. Mas como no trecho citado vem nela um grave erro. com poucas exceções. 3O8 e 31O-311. como Magalhães. 3. manifestam um ou outro avatar do sentimento religioso.° volume. quanto num céptico irreverente como Bernardo Guimarães. Uso sempre. como que assinalando o seu papel indispensável. Em sentido estritamente devoto. Temos em primeiro lugar a religião como fé específica. todos os românticos. desde a devoção. 16 #ções. Mas foi a segunda modalidade que dominou: religião concebida como posição afetiva. no caso. penso que de tip ografia. . assim aparece num ensaio de Magalhães. O espiritualismo era um pressuposto da escola. de Torres Bandeira. por exemplo. preferi. de Homero Pires. publicado no pórtico da nova literatura que foi a Niterói. mas o requisito da inspiração poética. abertura da sensibilidade para o mundo e as coisas através de um espiritualismo mais ou menos indefinido. constando apenas de poesias do tipo de propaganda diocesana: a Oblação ao Cristianismo. O Anchieta. tão característica do Roma ntismo e já encontrada por nós no 1. até um vago espiritualismo quase panteísta." edição.8 No prefácio a Os três dias de um noivado. de Varela. neste trabalho. Teixeira e Sousa redige verdadeiro manifesto contra o materialismo. é certamente o mais alto produto neste sen tido. como crença e devoção. temos. com efeito. cujo texto é melhor e mais completo. distinguir mais de um aspecto nessa tendência. não quero apontar o catolicismo.9 Não se podia exprimir mais limpidamente a posição romântica. encontrou em Gonçalves Dias e José de Alencar representantes do mais alto quilate. decênio de 4O ao decênio de 6O. representando o país com uma dignidade equiparável à das figuras mitológicas. aparecendo ela quase como sinônimo de densidade psicológica. o indianismo. desde logo. que se deve a aridez da literatura no século passado. O processo se intensifica a partir da Independência. levando ao dilaceramento interior. As suas origens são óbvias: busca do específico brasileiro. n"s. págs. sua natural conseqüência. Schlegel. ao menos". mas esclarece em nota: "Ninguém ignora que é ao sensualismo e ao cepticismo. decaindo a partir daí até que os escritores se convencessem da sua inviabilidade. pâg. além duma crescente utilização alegórica do aborígine na comemoraç ão plástica e poética. "Cantos da Solidão (Impressões de leitura)". da religião do belo. Naquel e momento. que teve o momento áureo do meado do . Quando falo em religião. Neste sentido a concebera um mestre de todos os românticos. senso dramático. marcou o fim do classicismo pagão e o advento de uma arte mais complexa e movimentada. "Filosofia da Religião. (8) Gonçalves de Magalhães. 397 (1857). afirma dogmaticamente o jovem Macedo Soares. pela adoção de no . Opúsculos Históricos e Literários. (9) Macedo Soares. 17 #A forma reputada mais lídima de literatura nacional foi todavia. 34.No campo da crítica. oscilando numa gama bem ampla entre a devoção e a vaga religiosidade. já orientada neste sentido (corn meia consciência do problema) pelos poemas de Durão e Basílio e as metamorfoses de Diniz. falo do sentimento religioso. volta e meia surgem declarações que sem a religião não há literatura possível. par a o qual o sentimento do pecado. não obstante ser aquela onde mais predomina o espiritualism o. porém. Nas festas do Brasil joanino ele aparecia amplamente em sentido alegórico. 273-3O4. "Sem religião não há arte". EAP. expressivamente. onde ele era Tibiriçá e se verificava. 2.11 Parece. O Rio ãe Janeiro como é. uma gravura representava D. 4O5. aplicado ao Brasil. sob a forma duma índia. Seria ainda preciso lembrar a opinião de Capistrano de Abreu (infelizmente sumária e mal formulada). (12) Octavio Tarquínio de Sousa. o u ainda os nomes que aparecem na sociedade secreta que fundou. ao contrário. Podemos dizer que esta foi a influência que ativou a de Basílio e Durão. vol. segundo as aspirações românticas. págs. pag." série. contribuiria porventura neste sentido a influência d"Os (1O) C. Em 1825. bastando lembrar o nome dado por José Bonifácio ao seu jornal. reinterpret ados.mes e atribuição de títulos indígenas. O Tamoio. Pedro recebendo nos braços o Brasil liberto de grilhões. que tal identificação provém de fonte erudita: a utilização nativista do índio é que se projetou na consciência popular. graças a ela. lembrando o adversário dos portugueses nas campanhas contra Villegaignon e encarnando nele a resistência nativista.°. que ofereceram resistência efetiva ao conquistador. de que o indianismo. sendo "muito geral para surgir de causas puramente individuais". pela identificação do selvagem ao brio nacional e o seu aproveitamento plástico. Ensaios e Estudos.12 Se não me engano. pág. o Apostolado. l. Schlichthorst. manifesta no folclore. (11) Capistrano de Abreu. A Vido ãe Pedro I. reflete profunda tendência popular. . o modelo foi a então viscondessa de Santos. 55. "grande confusão de pseudônimos de sugestão clássica e nativista". como vimos. segundo Schlichthorst. Já os ilustrados da fase joanina utilizavam-no como símbolo. de identificar o índio aos sentimentos nativistas. Dom Pedro foi Guatimozim noutra loja maçônica. 93-95. pelos pré-românticos francobrasileiros.1O O empuxe decisivo foi dado pelo exotismo dos franceses. principalmente Chateaubriand. exprimindo a inclinação dos ilustrados pelos nativos mais adiantados da América Espanhola. preocupou-se sobremaneira em equipará-lo qualitativamente ao conquistador.18 Incas. (à maneira da . Não há dúvida que. Tá vimos. ele se prestava bem e documente a receber as característica que a este conferiu o Romantismo. o indianismo serviu não apenas como passado mítico e lendário. encontravam alguma ressonãoncia nos costumes aborígines. de Marmontel. sobre Atahualpa. Lembremos a propósito a simpatia de Basílio da Gama pelo último revel que foi Tupac Amam e a tragédia inacabada e perdida de Natividade Saldanha. realçando ou inventando aspectos do seu comp ortamento que pudessem fazê-lo ombrear com este .no cavalheirismo. como os descreveram cronistas nem sempre capazes de observar fora dos padrões europeus e. como os quiseram deliberadam ente ver escritores animados do desejo patriótico de chancelar a independência política do país. tomado como símbolo da resistência e rebelião do americano de cor . deformado pela imaginação. cujo interesse residia precisamente no que trouxesse de diferente. a destreza bélica. encarando-o não como gentil-homem embrionário. porém. Em nossos dias. contraditório em relação à nossa cultura européia. o neo-indianisisÇi dos modernos de 1922 (precedido por meio século de etnografia sistemática) iria acentuar aspectos autênticos da vida do índio. os reformadores encararem o índio como elemento básico da sensibilidade patriótica. na Niterói. o culto da vindita. O indianismo dos românticos.contra o jugo colonial. sobretudo.puro e mestiço . na poesia. ao discorrer sobre a sua capacidade poética e o interesse que apresentava como tema. traduzido e muito lido em Portugal e Brasil. mas como primitivo. Deste modo. na generosidade. A altivez. com o brilho de uma grandeza heróica especificamente brasileira. Magalhães lhe dava um primeiro e jeitoso empurrão para o lad o do cavaleiro medieval. a generosidade. qual névoa que sempre encobre a natureza des ses torrões? Não. Seus costumes. mas como passado histórico. com todas as suas tradições" .. num artigo onde Joaquim Norberto tenta mostrar a capacidade poética dos índios e o valor poético dos seus costumes. em 1843. E conclui. montes e vales". no segundo: Não temos castelos feudais. num vislumbre de que o tema indianista serve à dupla necessidade da lenda e da história. lagos. matas. diz no primeiro sentido. ". lidas e cornbates de ricos homens. celtas ou escandinavos). Lenda e história fundiram-se na poesia de Gonçalves Dias e mais ainda no romance de Alencar. transparentes. lagos. nem essas justas.13 É muito significativa esta utilização do tema indígena como compensação: era preciso. suas usanças. de infançõe s e cavaleiros" (segue uma enume19 #cão do armarinho medievista). e. torneios. Nós também aqui temos os nosso mitos: gênios dos rios. Estes dois movimentos se prefiguram. à maneira da Idade Média.seguindo a enumeração do correspondente armarinho indianista. dentro do espírito romântico. suas crenças forneceram o maravilhoso tão necessário à poesia". aéreas. com evidente intuito comparativo. mas possuiremos a idade desses povos primitivos.tradição folclórica dos germanos. e a preocupação é visível tanto em escritores eminentes quanto sem importância. numa tirada que revela o sentido de afirmação . matas. encontrar um equivalente daqueles temas. como um que es crevia patriòticamente: "Por que terão a Escócia e Alemanha a presunção de só elas possuírem esses rios.. montes e vales misteriosos donde surgem essas imagens lânguidas. pelo esforço de suscitar um mundo poético di gno do europeu. Faust e Ivanhoé".. A distinção pode aparecer especiosa. concebido e esteticamente ma nipulado como se fosse um tipo especial de pastor arcádico. n. inserindo-as na realidade local. o espírito cavaleiresco é enxertado no bugre. MB. o indianismo inicial dos neoclássicos pode ser interpretado como tendência para dar generalidade ao detalhe concreto. a ética e a cortesia do gentilhomem são trazidas ao seu comportamento.". as grandes atitudes de que se nutria a literatura ocidental. com efeito. "Considerações gerais sobre a literatura brasileira". ao contrário. 415 e 416. 7. pag. BF. S. I. pág. Norberto de S. (sic). (13) J. por meio da superação de suas particularidades.14 Esta tendência define um desejo de individuação nacional. ia testemunhar a viabilidade de incluir-se o Brasil na cultura do Ocidente. O indianismo dos românticos. "Um fragmento do romance de A. estética e política (expressa principalmente pelo indianismo) e a conquista do direito de exp rimir direta e abertamente os sentimentos pessoais (manifesta sobretudo nas tendências propriamente românticas do lirismo individual). a que corresponde o de individuação pessoal: libertação graças à definição da autonomia brasileira. Na medida em que toma uma realidade local para integrá-la na tradição clássica do Ocidente. Assim . 2O . 7.. págs." 21. denota tendência para particularizar os grandes temas. II. mas o seu fundamento se encontra na atitude claramente diversa de um Basílio da Gama e de um Go nçalves Dias.particularista do indianismo: "Tudo temos em sobejo. só nos faltam os pincéis com que traçar os formid áveis quadros d"Ossian. o índio ia integrar-se no padrão corrente do homem polido. (14) Carlos Miller. tratando-as como próprios de uma tradição brasileira. onde procura tr anspor o espírito popularesco e medieval dessa forma tão cara aos românticos. em tonalidade plangente e melancólica. . embora de passagem. que já é romântico. o belo "Gemido do índio".não se devendo esquecer que. para os contemporâneos. conto. e sobretudo Teixeira e Sousa.15 Nela não o e ncontramos como personagem poético individuado. dando-lhe categoria que o tornou. estudante de São Paulo. Seguemse alguns poetas de valor pouco maior. que lamenta a morte de um dos seus fiéis. devendo-se mencionar. autor da primeira composição de fôlego a se enquadrar no tema: Os três dias de um noivado (1844). em medíocres ioilatas (1843). nenhum dos seus colaboradores praticou imediatamente o indianismo. mas ainda como alegoria. é a "Nênia" de Firmino Rodrigues Silva. a poesia brasileira por excelência. que apenas no começo do decênio de 4O começou a ser versado de maneira sistemática por Joaquim Norberto. principalmente os poetas-estudantes. (1846) decidiriam favoravelmente o destino ainda pouco de finido do indianismo. Os anos que vão de . estimulados pela doutrinação apaixonada de Macedo Soares. Machado de Assis publicou um livro inteiramente composto de poesias indianistas. Daí por diante. Apesar da doutrinação da Niterói. não houve mãos a medir: toda gente trouxe o seu poema. e será copiado mais tarde no poema equivalente de Machado de Assis à morte de Gonçalves Dias. Fr ancisco Bernardino Ribeiro. de Antônio Lopes de Oliveira Araújo. ao índio-personagem. no fim do decênio. num revelar do dilaceramento interior. Trata-se com efeito da Musa brasileira. do fim do período neoclássico. crônica ou romance. de Gonçalves Dias. ainda em 1875.A primeira composição em que o tema do índio aparece tratado ao modo romântico. (1837) reconhecida por todos os sucessores imediatos como ponto inicial do indianismo romântico. Americanas. Os Primeiros Cantos. como Cardoso de Menezes. estabelecendo a passagem do índio-signo. havia na verdade dois termos superiores: natureza e arte. que tenta em vão encontrar a forma. l. de toda a inexprimível grandeza que o artista pressente do mundo e nele próprio. E ^-erdido ^Bito da ^B foram V Idade lunfo do ffisicismo i ilturas do Ha nossa. quando apareceram os outros Cantos de Gonçalves Dias. a sua condição lhe parece suprema exatamente porque o seu eu transcende o instrumento imperfeito com que busca aproximar-se do mistério. Os Timbiras. o artista era um intermediário que desaparecia teoricamente na realização. O amor. um sentimento de glória.^jÊ pre^^Keiros ^Bebido -ic. concebida como artesanato. O Guarani. Deste conflito surge nele. Iracema. vm. Para a estética setecentista. a proromântico **"£" ED^A uma limitação da expressão. o vol. Ibs traços l o senso / ser conItendência Io importa -rio que a ftssão e o Ivra não é par-se: tornir a nova :nte. 21 #^ONIO CANDIDO FORMAÇÃO DA UTÜ"A BRASIL£JRA <**OMENTOS DECISÍVOI "S) 2-° VOLUME ^JV1~ jjjasiBnão H na -ores vário Heros "e de . nutrida dos ideais clássicos. ao lado da frustr ação. a . cap. A Conferação dos Tamoios.1846 a 1865 assinalam contudo o momento decisivo. do presente Ilvio. é pois um termo secundário relativamente ao drama do artista. (15) V. de permeio. o cosmos. o ímpeto e o próprio desespero. os que chegavam ao extremo de despojar-se da consciência estética para surgirem como pura expressão psicológica: Lês plus desesperes sont lês chants lês plus beaux. Um romântico. rompe de certo modo a idéia de integração.quer dele próprio com a sociedade em que vive. quer desta com a ordem natural entrevista pelo século XVIII. Musset. altera-se o conceito de natureza. todavia. importam agora a natureza e o artista. a arte. de entrosamento . seria o objetivo da poesia. ("Nuit de Mai") O soluço. o mundo. para os românticos. de ond e brota o senso de isolamento e uma tendência invencível para os rasgos pessoais. frente à qual se antepõe um homem desligado. sempre aquém da ordem de grandeza que lhe competia exprimir e. e o verso aparece como interposição quase incômoda entre o leitor. por isto mesmo. mas na medida em que existiam num soneto. cujo destino vai de encontro ao seu mistério. 23 . Et j"en sais d"immortels qui sont de purs sanglots. não na medida em que eram manifestação de uma pessoa. torna-se cada vez mais. afirmou em verso famoso que os poemas mais belos eram os desesperados. relegada a plano secundário. apreendida pela razão humana que era um de seus aspectos. o equilíbrio dos termos se altera.contemplação. a imaginação humana se satisfazia com o ato de plasmar a forma artística correspondente. destacando o homem da sociedade ao forçá-lo sobre o próprio destino. em que rebenta um sentimento pessoal. numa ode ou numa écloga. em vez de ser. e a sequiosa individualidade que luta para mostrar-se. Daí certo baralhamento de posições. como para os neoclássicos. Para a estética romântica. o pensamento tinham alcance. um princípio. a natureza física cheia de graça e imprecisão. confusão na consciência coletiva e individual. O individualismo. uma expressão do encadeamento das coisas. Paralelamente. o poeta-eleito. quase todas andando na estrada por el e aberta. . Deus. como no Simbolismo e várias correntes modernistas. sendo preciso. o mar. e a . .estas tendências são levadas ao extremo. sob o aspecto pessoal. Nas manifestações que sucedem ao Romantismo. em benefício de um estado de solidão. sob ambos os aspectos. noutro poema. Na literatura brasileira. Daí a magia romântic a. de um lado.vão pouco a pouco avultando. marcada pelo senso do interlocutor. a partir das próprias premissas neoclássicas de busca da sensibilidade natural e preito à natureza.que é o termômetro mais sensível das tendências literárias. em Monte Alverne. o desenvolvimento da tendência contemplativa. . busca de um sentido melódico mais acentuado no verso. atrair para ele o leitor. Dentre as segundas. Na poesia . magia como atmosfera da literatura e técnica deliberadamente usada para criar essa atmosfera. no trabalho de se auscultar: Écouter dans son coeur Vécho de son génie. a noite. pudemos ver que os neoclássicos apresentaram em alguns casos certo deslocamento rumo às atitudes características do Romantismo: atitudes propriamente psicológicas e atitudes literárias. pelo limite que o próximo impõe à expansão do eu.#O mesmo Musset. sucedendo ao simples encanto dos árcades."-:or procura. Embora a influência estrangeira tenha sido decisiva e principal. Dentre as primeiras. estabelecer para si próprio o estado de solidão.o escr. ("Impromptu") A uma literatura extremamente sociável. de outro. apontava como objeto da poesia o enrolamento do artista sobre si.muitas delas continuando-o. apontados em capítulo anterior. em Sousa Caldas. que procura. houve certos prenuncies internos. a melancolia. o abandono das formas poéticas mais características do classicismo. pois. como o s oneto. a alma sensível. violar os tratados de relação normalmente implícitos na expressão literária. sucede outra. em Borges de Barros. sob o aspecto religioso. . o solitário . pois ele se constituiu sobretudo na medida em que aceitou como alimento da imaginação criadora o quotidiano e a descrição objetiva da vida social. se de um lado trazia água para o moinho do eu. dentro das suas fronteiras tolerantes enquadrou-se desde logo tanto o conto fantástico "(A Noite na Taverna). aliás. Gênero onímodo. vemos que corresponde. Lírica no sentido mais restrito. sobretudo o gênero novo e triunfante do romance. sensível sobretudo na poesia. quanto a reconstituiçã o histórica (As Minas de Prata) ou a descrição dos costumes (Memórias de um sargento de milícias). A Estrela da Manhã. ia de outro preservando a atitude de objetividade e respeito ao material observado. Esta longa aventura da criação. O realismo. no Brasil e outros países. a poesia vai-se despojando de muito do que é comemoração. Por isso. de manifestação puramente pessoal. onde aparece como depuração progressiva do lirismo. Ant . para concentrar-se em torno da pesquisa lírica. o romance é uma espécie de contrapeso do individualismo lírico. retórico e didático. que foi enriquecer outros gêneros. No Romantismo.Encarando deste modo a reforma romântica. que na literatura brasileira é produto do Romantismo e desta divisão do trabalho literário. debate. doutrina. por mais de um aspecto. de Mário de Andrade. de estado d alma. ^especializando-se cada vez mais e largando um rico lastro novelís tico.os Poemas da Negra. sob a égide do sentimento mais que da inteligência ou do . é de todo romance. engenho. em todas as suas fases. de Manuel Bandeira corresponde ao próprio trabalho interno da evolução poética. diálogo. De Cláudio Manuel a Gonçalves Dias. a um processo capital na lite-*"" ratura moderna. e sobretudo a Álvares de Azevedo e Casimiro. que virá terminar no bal24 bucio quase ímpalpável de alguns modernos . que mais ta rde produzirá o movimento naturalista. o transe. enriquecendo o panorama romântico. afirma que o furor poético nada tem de extraordinário. na verdade. o romance. já parece erro de visão. sob certos aspectos. O Orlando Furioso e o Crisfal. por exemplo. A contribuição típica do Romantismo para a caracterização literária do escritor é o conceito de missão. tão rico. a inspiração divina. a atitude romântica propriamente dita se revela melhor na poesia. Analisemos a figura ideal do poeta romântico. ou de justiça. conduz. mais numas fases que noutras. que dele sairá quase tudo o que literàriamente temos realizado até agora. que dentro do Romantismo limitam o vôo lírico do eu. que assinala a maior parte da novelística moderna. Nas épocas de equilíbrio. . Essencialmente lírica. parecendo um retardatário. no drama e nos romances de tendência poética. que domina as concepções clássicas como a própria essência do decoro. têm sentido no século XVI porque ainda não se constituíra a ficção moderna.es. não algo superior que descesse sobre ela. alegados como fonte de poesia. Esta exigência de realismo. em proveito daquela consciência dos outros. como o Neoclassicismo. serve de contrapeso ao individualismo. portadores de verdades ou sentimentos superiores aos dos outros homens: daí o furor poé tico. Francisco José Freire. estas interpretações funcionam como simples recurso estético. poema. para cornpreendermos o escritor romântico de modo geral. A Nebu losa. como o ditirambo. por exemplo. O poeta romântico não apenas retoma em grande estilo as explica ções transcendentes do mecanismo da criação. Os poetas se sentiram sempre. como lhes acrescenta a idéia de que a sua atividade corresponde a uma missão de beleza. em pleno século XIX. no Brasil. requeridas em certas 25 #formas. ao romance de costumes e ao romance regional. é um estado da consciência. Por isso. narrativa poética. aquilo que hoje nos parece de direito pertencer-lhe como domínio próprio foi matéria de conto. Por isso. deste egocentrismo. a Religião. . não vos pertenço. Não diálogo sociável. mas com algo que eleve a própria estatura do poeta. Eis o que diz do poeta: De mágico poder depositário. . a nítida representação de um destino superior. . regido por uma vocação superior. oh mortais. seu primeiro movimento é superar as relações humanas abandonando a sociabilidade arcádica: Não. com um semelhante. a Poesia. pois a solidão na terra deve ser compensada. o profeta. e só a Deus presta contas. a cuja esfera tenta ascender. Missão puramente espiritual para uns. brota como natural conseqüência o sentimento da missão. para outros para todos. ou vício. Monólogo capcioso. perdendo-se como pessoa para encontrar-se como poeta. o guia. de dever poético em relação aos outros homens. (exclama) Eu sou órgão de um Deus. Vate. deixa de lado prados e blandícias para atirar-se aos grandes valores: a Infância. : --: Embriagando-se progressivamente com este individualismo exacerbado. Desde que é intérprete de Deus. o que és tu? És tu mortal ou nume? Deste excesso mesmo de individualismo. " : t. uma pastôra. É o bardo. ouvi-me. "?. e sobretudo Deus. . supera os liames normais da convivência. na medida em que pressupõe auditores. Qual um Gênio entre os homens te apresentas. num plano de verda. nos Suspiros Poé ticos. "-" Seu intérprete sou. missão social. é verdade. . um Deus me inspira. nem há vassalo.graças à qual participa duma certa categoria de divindade. sua atitude inicial é a tendência para o monólogo. " . em cujo coração pode ler o bem e o mal. oh! terra. O religioso Gonçalves de Magalhães. além das aparências: 26 . verdadeiro monólogo de palco. em cujo fundo fica implícito o diálogo. Tu nos homens só vês virtude. .f deira divindade: . Ante ti não há rei. Grandeza. . . ao mesmo tempo.. e o auditório sacrifica a este algo. e no futuro : Eternos vão soar os teus acentos! . portanto. e o céu. . isolamento . prosseguindo nos maus versos. No isolamento de inspirado. e que ele ama. que motivarão outras. Tudo te escuta. o isolamento a que o poeta romântico se deixa levar pela própria grandeza. missão.) Dos lábios solta a voz. enquanto esta vê na sua rudeza uma prova. ^ O presente te atende. pulverizam. nada é mudo! Co"o sol. o condutor que ama e maltrata a multidão submissa. seria na realidade o sinal da sua predestinação. Uma nova relação. E o nosso born Visconde.^j Por que cantas. e a vibra em raios Que o vício e o crime ferem. Qual é a tua missão? O que és tu mesmo? :.. de eleição e profundo amor. afastando-se cada vez mais do equilíbrio neoclássico.posições novas. embora dele se isolando e castigando-o. todo condicionado pela nova situação do artista em relação à palavra com que se exprime. Assim. mais poderoso. . de extremado egotismo. como o Cristo de Vigny. Para ti nada é morto. o poeta sente o povo que espera redenção da sua voz. a sua atitude nos lembra a dialética nietzscheana do Legis lador do Futuro.Vii !"-". e a noite falas. sendo aparentem ente desumana. em benefício de um desequilíbrio novo. : Do passado o cadáver se remove. E do túmulo seu a fronte eleva. em que a estatura do artista cresce até encontrar no isolamento a atmosfera predileta. e para responder-te. a perdida sociabilidade arcádica. no Jardim das Oliveiras. e a terra. ó Vate? Por que cantas? .. . No máximo do isolamento o poeta atinge a condição divina. Em certos casos. brada: Ô como é grande o Vate (. despojando-s e de si mesmo para se dar à sua cruz. como turba rude.. que lhe parece mais essencial. porque só interessa na medida em que iluminou um certo lugar. na manifestação de um ponto de vista. representam a expressão natural. Em face de uma natureza raci onalizada e delimitada. que a inteligência decifra desde logo. quebrando a separação entre os gêneros.. sempre capaz de passar pelos mesmos estados. porque tais imagens. O Sol nunca mais poderá ser a "Lâmpada Febéia".mais importante que tudo . operando uma revisão de valores. permanecem fora do espírito do poeta. na medida em que prefere exprimi-lo conforme categorias já estabelecidas. que ocorre naturalmente à média dos espíritos cultos. WT_ 1 t. um ângulo pessoal. As imagens do arsenal clássico pressupunham relativa fixidez d o sentimento. impregnado de relativismo. vai perder a categoria quase sagrada que lhe conferia a tradição clássica. porém. Uma nova era de experimentalismo modificará a fisionomia estabelecida do discurso. para eles. tanto quanto do leitor. cada nova necessidade. simples medianeiro entre a natureza e o intérprete. não permite que ele se insinue no espírito sob formas novas. cada situação. que nunca mais ocorrerá. não apenas vêem coisas diferentes no mundo e no espírito. tanto exterior quanto interior.procurando forjar a expressão para cada caso. diríamos retomando o exemplo acima. O Romantismo. Os românticos. ou o "Louro Febo". São valor cunhado. O sol deve ser o "Carro de Faetonte". consagradas e veneráveis. derrubando a hierarquia das palavras e .O verbo literário. #barreira ao mundo. previsto. tem o seu própr . onde se deu algo. isto é. O poeta neoclássico opõe de certo modo uma forte 27 Biblioteca Pública "Arthur Vianna Gnl. como desejam imprimir à sua visão um selo próprio e de certo modo único. possui em grau mais elevado que os clássicos a dolorosa consciência do irreversível. brotadas de uma visão inesperada e fora dos cânones. desde que a literatura consiste. No mundo exausto. o poema de Marvel. Até o Romantismo. todo um aproveitamento inédito do tempo que foge."Pára. resta um farrapo insistente do pa ssado no pequeno horto em que Filêmon e Baucis prolongam a visão bucólica e o ritmo agrário da existência. alterando de repente a posição do homem em face da natureza. as liras de Gonzaga. A partir dele. (Álvares de Azevefo)" " . 28 Não há dúvida que uma das causas de semelhante estado de espírito se encontra no triunfo da cultura urbana contemporânea. com o adv ento da mecanização. Se conseguires fazer com que eu diga ao instante fugaz . No Segundo Fausto.io Sol. Bastardas gerações vagam descridas. específico. o primeiro Fausto. és tão belo!". o soneto de Basílio.. Fausto destrói esse grumo indigesto para a nova vertigem do tempo e completa o domínio da natureza. sobre o passado em grande parte rural do Ocidente. M ... toda a angústia do velho sábio está presa ao sonho de encontrar a perfeita manifestação do ato perfeito. a fuga das horas motivara principalmente uma poesia de desencanto sensual .a balada de Villon.". todas as concepções do homem sofrem-lhe o embate. Fausto sente que apenas pelo domínio das coisas o espírito humano encontrará equilíbrio: são necessárias novas técnicas. Daí a noção de que a palavra é um molde renovável a cada experiência. novas relações. o problema é colocado por Goethe de maneira cruciante.. tornou obsoletos um sem número de valores centenários.. Levado pelo impulso fatal da sua obra. Ao cabo da vida. A mudança mais ou menos brusca no ritmo da vida econômica e social. No mais completo breviário do que a alma romântica tem de esencial. Na co . intransferível. Mas em meio à atividade febril que planeja e executa. a plenitude inserida na duração e não desfeita por ela.. isto é. o soneto de Ronsard. que constitui propriamente o famoso mal-do-século. desde o relativismo histórico até o sentimento de inadaptação da vida aos seus fins. permanecendo sempre aquém da sua plenitude fugaz e irreproduzível. ou que destrói para curtir no remorso a nostalgia do bem perdido. A casta lua. ""-"" . Deixa de ser a metáfora unívoca..nsciência romântica. Vigny cantará o choque dos dois ritmos. a que o homem moderno se apega. Na "Maison du Berger". porém. Delia cadente luna. embriagado de modernidade. prados e jardins. a divindade imutável de todos os momentos. cascata. "n"O Livro e a América".. que irrompem de sob colinas. " " No início do Romantismo... ai cui tranquillo raggio Danzan lê lepri nelle selve. floresta. a atitude mais corrente foi a busca de abrigo contra o tempo na contemplação do eu ou do mundo. verá no triunfo da nova ordem o próprio triunfo dos ideais humanos: Agora que o trem. de ferro . revistos em todos os sentidos. abismo. como ele solitária. diversa da . Castro Alves. sofre com a poesia das noites uma individualização que a banha de magia." 29 #Esta é a lua que amplia a solidão de Safo. ou da que aparece na "Vita solitária". soldandose ao estado emocional do poeta. o agrário e o urbano. no "Ultimo Cfonto". esculpindo de prata as imagens do mundo: O cara luna. ou da que é invocada pelo pastor no "Canto notturno". fantástica ao modo de um cenário shakespearano. para se tornar uma realidade nova a cada experiência. " ". graziosa luna que o poeta vê turvada através das lágrimas noutro poema ("Alia luna").. errante e inquieta: Vergine luna. o horto de Filêmon representa a alternativa condenada.. A natureza superficial e polida dos neoclássicos parece percorrida de repente por um terremo to: o que se preza agora são os seus aspectos agrestes e inaccessíveis montanha.". confidente e enigmática companheira do homem. mesmo sob a medida de pentâmetros quase latinos: Plácida noite e verecondo raggio ---.. a antiga Selene. vilipendiando a locomotiva.. Só Leopardi descobriu quatro ou cinco maneiras novas de rejuvenescê-l a. em suma. desarmonia.. É que o poeta romântico procura. ela é como a alma das coisas que se retira. quer no psíquico: tempestade. possuído pelo Gênio criador. então. sepultando-as na noite privada da sua . Dessa vocação mediúnica provém uma nova marca da natureza na sensibilidade romântica: o sentimento do mistério. acolhendo e abrigando o espírito. no gênio. contraste. Em lugar de senti-la co . de Goethe (1772). O "Canto do viandante na tempestade". o Espirito divino. finalmente. treva. rejeita o império da tradição e reconhece autoridade apenas na própria vocação. eterna peregrina. Shelley compara-se a uma lira da natureza. fuggente luce. No "Tramonto". quer no mundo físico. permitem uma visão profunda. como ficou dito. crime. Na "Ode ao Vento Oeste". furacão. pelo qual gan ham forma as misteriosas sugestões da natureza e da alma. A idéia de que a criação é um processo mágico. desnaturalidade. refazer a expressão a cada experiência. já o mostra em presa dos elementos. Para isto. solinga. e Victor Hugo retoma a idéia em "Ce siècle avait deux ans". do poeta mediúnico.Pur tu. nos aspectos mais deso rdenados. Ele a procura. a idéia. procura mostrá-la como algo convulso.. exprimindo a sua desencadeada energi a. declarando sua alma um eco sonoro posto por Deus no coração do universo. ara o romântico ela é sobretudo uma fonte de mistério. é freqüente no Romantismo. Hõlderlin arranca-o aos quadros da vida cotidiana para fazê-lo intérprete de Deus. uma realidade inacessível contra a qual vem bater inutilmente a limitação do homem. Enquanto a natureza refinada do Neoclassicismo espelha na sua clara ordenação própria verdade (real = natural). Che si pensosa sei. que negando a ordem aparente. Na "Vocação do Poeta". raio. está de certo modo empurrando-o para uma aventura essencialmente romântica: abdicação dos aspectos racionais da atividade em troca da vertig em. Fausto exprime bem a posição do espírito romântico em face duma natureza cerrada no mistério: Que espetáculo! mas é apenas um espetáculo! Por onde prender-te. a razão é um limite que importa superar pelo arranco das potências obscuras do ser. Ao definir a atitude de Fausto. mas apenas deixando-nos ir à mesma irracionalidade que parece ser a sua essência. incondicionalmente. sem desprender-se do seu fascínio nem pacificar-se ao seu contacto. agarrar-se. Atiçarei a sua insaciabilidade com iguarias e bebidas se Jgitando ante o seu lábio ávido. que se precipita. Para o romântico. que em vã o suplicará consolo. Mesmo que não se desse ao diabo. sempre avante. em contraposição à esterilidade da vida racional. só lhe restaria perecer. mas eu me consumo em vão. não a conseguiremos apreender racionalmente. ultrapassando no seu ardor as alegrias da terra. força suprema do homem.. Mefistófeles. deixa-te firmar pelo Espírito da mentira nas obras de ilusão e de magia. O destino lhe deu um espírito desenfreado. agora és meu. Mefistófeles define todo esse aspe cto anti-racional do Romantismo: Despreza razão e ciência. adora-a e renega-a sucessivamente. Ante o signo do Macrocosmo. . estrebuchar. através da morna insignificância. mas . à maneira do neoclássico. Natureza infinita? Onde estão os teus seios. you arrastá-lo pela vida áspera. pois se a natureza se fecha ante as nossas perguntas.mo problema resolvido. Quando Mefistófeles o seduz com a miragem da vida estuante.. pelas quais anseia o coração ressecado? Vós sois a nascente que mata a sede. sabe que ela é o único recurso do homem. das quais pendem céu e terra.onde estais. onde há de se inteiriçar. fontes da vida. voltairiano e setecentista. Entre as suas manifestações. o vício. os desvios sexuais e morais . De qualquer modo. e curiosi. irmã do Amor e da Verdade! Este filête de tonalidade sádica e masoquista tornar-se-á um veio opulento em certos pós-românticos. a mais significativa é a associação do sentimento amoroso à idéia da morte. a materialização do sentimento todo ideal que Leopardi exprimira ao geminar a morte ao amor: E sorvolano insiem Ia via mortale. . O crime.. a do espírito . o desejo de fuga. tão encontradiço na literatura romântica sob a forma de invocação da morte. Primi conforti d"ogni saggio core.como Vigny. Pessimismo e Sadismo condicionam a manifestação mais espetacular e original do espírito romântico . Daí.o satanismo. em parte. Aquelas gerações assistiram a uma tal liquidação de valores éticos. Boa parte do mal-do-século provém desta condição estética: desconfia nça da palavra em face do objeto que lhe toca exprimir.f dade por tudo quarto fosse exceção ou contradição das normas. como Antero de Quental e sobretudo Baudelaire. Cujo sangrento poema "Une Martyre" (a mulher degolada e profanada pelo amante insatisfeito) é. a negação e a revolta contra os valores sociais. criando uma consciência de desajustamento. a conseqüência final. por assi m dizer. o molde estreito de que ela transborda. quer pela ironia e o sarcasmo. há nela uma corrente pessimista. para a qual a própria vida parece o mal. Alguns românticos acentuarão a primazi a da natureza. outros. a natureza é algo supremo que o poeta procura exprimir e não consegue: a palavra.3O 31 #Fausto sente que este recurso só funciona realmente ao compasso dos profundos ritmos vitais. ou "lembrança de morrer". em geral.. Daí uma dialética da vida e do pensamento que o Necclassicismo desconheceu ao postular a equivalência dos dois termos. que não poderiam deixar de exprimir dúvida ante os valores. quer pelo ataque desabrido. políticos e estéticos. que num verso famoso contrapõe à insensibilidade das coisas a "majestade do sofrimento humano". a normalidacJe. No Cairá. . é em parte devida à nova posição social do escritor. a cuja temperatura se fundem aspectos aparentemente inconciliáveis do compo rtamento. conquista iniciada no século XVIII e aprofundada por Laclos e o Marquês de Sade.) é um exemplo perfeito dessa vocação para o desmedido e o Contraditório. entram de repente em rajada para o romance e a poesia. em lugar d o escritor pensionado. protegido. que a literatura do Setecentos começara a tratar com cinismo ou impudor. A ruptur a dos quadros sociais que sustínham o escritor..alterou a sua posição. com a passagem do mecenato ao profissionalismo.. de Stendhal. mesmo depois da irrupção do crime . . obcecado por Shakespeare. procura superar a estilização 32 das convenções clássicas.. O Manfredo. . E conhecida a teoria hugoana dos contrastes. que o romancista nos levou a considera r tal. em As Ilusões Perdidas e Esplendor e miséria das cortesãs. Byron simboliza os amores com a própria irmã. quase confundido na criadagem dos mecenas do período anterior. isto é. é uma alma bem formada.que aparece quase como desdobramento das suas qualidades. desejo de desacordo com as normas e a rotina. porventura. a temperança. deixando-o muito mais entregue a si mesmo e inclinado às aventuras do individualismo e do inconformismo. o Julien Sorel. de Byron. Balzac estuda o amor homossexual. a conquista mais fecunda da literatura moderna. A coragem com que o romance francês desce aos subterrâneos do espírito e da sociedade representa. entregue cada vez mais à carreira literária. a si próprio e ao vasto público. denotando individualismo acentuado.modificando igualmente o tipo de público a que se dirigia. (que segundo Nietzsche era muito superior ao Fausto. Esta atitude nova. tanto quanto a virtude. tratados dramaticamente como expressões próprias do homem. pela qual o drama romântico. Deve ter havido na consciência literária um arrepio de desamparo. uma brusca falta de segurança. com ele aparece no Brasil o romance e. Por isso. ao lado dos pessimistas encontramos os profetas da redenção humana. Assim. individualismo e consciência de solidão entrecortados pelo desejo de solidariedade. o poema épico sobreviveu. cada vez mais. disposto a intervir a seu favor. Wordsworth foi partidário da Revolução Francesa. na expressão de um crítico italiano. 33 #Úl 3. O nacionalismo se exprimiu em vários poemas épicos. seja de . Shelley foi um panfletário contra a tirania e a religião. torna-se não apenas mais sensível à cendição social dos outros homens como.Em conseqüência. evidentemente. contribuindo certamente para isto o estado de espírito simultâneo e posterior à Independênci a. que favoreceu a manifestação patriótica em tonalidade grandiloqüente e escala heróica. se manifestar sem mudança correlata nas formas de expressão. au mentam a complexidade desse "tempo patético e dourado". Devido à influência de Basílio e Durão. Victor Hugo acalentou sonho s humanitários. AS FORMAS DE EXPRESSÃO As transformações bastante acentuadas que o Romantismo trouxe à concepção do homem e ao temário da literatura não poderiam. também o teatro como gênero literário regular. Lamartine teve papel destacado na de 1848. às vezes irmanados na mesma pessoa. o nosso Castro Alves lutou contra a escravidão negra e saudou a república. . em seguida à proletarização e à urbanização.tanto gêneros quanto estilo e técnicas. O advento das massas à vida política. pessimismo enlaçado à utopia social e à crença no progresso. pode-se dizer. pois. trazem para o universo do homem de inteligência um termo novo e uma perspectiva inédita. decorrentes da revolução in dustrial e das lutas pela liberdade. e o satanis mo deságua não raro na rebeldia política e o sentimento de missão social. .cunho estritamente patriótico. Os Filhos de Tupã. principalmente sob o estímulo da guerra do Paraguai. como a epopéia religiosa de Varela (Anehieta. Via de regra. antes r de abordar o problema da língua literária.o conto ou romance metrificado. por toda a Europa. de Gonçalves de Magalhães. o Eugênio Oineguin. a ficção se funde na poesia. de Pôrto-Alegre). versado com mais senso de proporções por Bilac e Batista Cepelos. como o Riachuelo. no tema do bandeirismo. para não falar na subliteratura. porém. Deixando para capítulo especial a inovação mais importante que todas do romance. que modernizou o poema novelesco italiano e criou verdadeiros romances em versos. num momento em que já havia encontrado no romance o seu veículo moderno. Essas tent ativas se estenderiam. onde floresceram obras de vário tipo. o caso dum gênero ambíguo. Repercute ainda em obras de inspiração diversa. aliança que per mite maior liberdade à fantasia e. (A Independência do Brasil. o repúdio aos gêneros estanques. Rolla e . equívocos cada vez maiores. a sua profunda vocação lírica. vivido por Castro Alves sem recurso às formas tradicionais. de Pushkin. ao mesmo tempo. onde. propiciaram esse gênero misto. . até os nossos dias. de Teixeira e Sousa). um derradeiro esforço: Os Brasileidas. que viram surgir. Os Timbiras. Dele derivam. seja indianista (A C onfederação dos Tamoios.34 \ maior influência neste sentido foi certamente Byron. inclusive para o transporte épico. seja se alargando na solidariedade continental (Colombo. de Gonçalves Dias. de Espronceda. A fluidez do espírito romântico. de Carlos Alberto Nunes. imprime à narrativa disciplina mais regular que a dos gêneros de prosa. de José de Alencar). ou O Evangelho na Selva). de Luís José Pereira da Silva. o Romantismo buscou maior liberdade. lembremos. o Estudiante de Salamanca. na poesia. foi de profundo influxo da música italiana. o inglês. que temperou a influência. e encontrando no drama lírico a sua compenetração ideal. Mais importante é a questão da linguagem romântica.já que os seus protagonistas são índios cristianizados e aldeados. com a tradição francesa do "conte en vers". . O Poema do Frade e O Conde Lopo. de Antônio Feliciano de Castilho. era porém um gênero condenado. na cavatina. de que são tributários a Dona Branca. tenham contribuído alguma coisa para A Nebulosa. vincasse as sensibilidades. têm o mérito de haver utilizado o gênero para uma tentativa indianista. ou semi-i ndianista. Os três dias de um noivado. na prosa. fundindo-se freqüentemente os dois na ária. Não espanta que Metastásio. grão-padre deste gênero. de Garrett. o "genre troubadour". de Teixeira e Sousa. "poema-romance" como ele dizia. são tributários de Byron e Musset. na modinha. orientada por Marcos Portugal e o Padre José Maurício. atendendo à tradicional melomania da Casa de Bragança. dando no Brasil as Sextilhas de Frei Antão. que predomina em "Um cadáver de poeta" (sempre de Alvares de Azevedo) e domina exclusivamente a Clara Verbena. como vimos. Outro fator neste sentido foi a moda medievista. como Don Paez. O século XVIII. de Gonçalves Dias. de Almeida Braga.Namouna. aliada freqüentemente à oratória. i . que entre nós deu frutos medíocres. absorvente. de Castilho. de Macedo. e A noite do castelo. precursor por certos aspectos da sensibilidade romântica no tocante à expressão. Talvez Os c iúmes do bardo. cuja música religiosa. A Capela Real foi verdadeira sala de concertos. aí e noutros poemas. em Portugal. em parte através do francês. que nos salões corria paralela ao verso. No Rio joani no a atmosfera musical se torna de repente densa e cheia de encanto. Já em Antônio José encontramos a sua marca. a ela e à música. de Musset. Apesar de tudo. de Álvares cie Azevedo. em Silva Alvarenga. Entende-se bem que um movimento literário. poderia atenuar as lacunas do verbo. com o seu resvalar incensa nte e fugidio. implícito nas tendências melódicas do verso romântico. assimilado p . as mais das vezes utilizados na ópera e na canção pelos poetas italianos e os que escreveram a seu exemplo.16 É iniludível (entre outras coisas) a afinidade da modinha e da ária com certo lirismo romântico. que exprime o inexprimível. tendesse a aliança com a música como verdadeiro refúgio: a música. Através dela. É interessante notar. o Romantismo foi portanto. buscava a expontânea facilidade melódica da ópera e da cantata. e dos metros adaptados à sua exigência rítmica. que o setissílabo "rnetastasiano". o ouvido luso-brasileiro operou a passagem da harmonia dos neoclássicos para a melodia musicalizante. Um poeta como Alphonsus de Guimaraens é o ápice do pr ocesso de desverbalização da palavra. música foi sobretudo a italiana. tributário desta. que renuncia em parte à explora ção do ritmo específico da palavra (à moda clássica) em benefício de uma capitulação ante a música. está assinalando esta aventura. onde a palavra. no prefácio às Inspirações do Claustro. Estas se manifestam de preferência através de certos metros. inclusive pela tendência métrica. apela para os mais vagos matizes do som caprichosamente associado. em grande parte. Pelas tendências de sensibilidade e pelo meio em que brotou. a propósito. sufocada pelo sentimento de inferioridade. ele 35 #se atira pois desbragadamente à busca do som musical. O fim da aventura será o impressionismo dos simbolistas. Junqueira Freire assinala a vitória da "cadência bocageana" sobre "o módulo latino". Para os nossos românticos.talianizante até a medula. Quando. marcado pelo sentimento de inferioridade da palavra ante o seu objeto. Parinelll se Interessa principalmente pela essência musical das concepções românticas. da Norma."-. sem relevo." Arturo Parinelll. de Bellini (trecho predileto do Diletante. mais para a expressão indeterminada. para a onda vaga dos sons. (inclusive o hino de Evaristo musicado por Pedro I. Alvorada. de Martins Pena). parecendo-lhe que seria menospr ezo limitar o assunto às questões de íorma. todavia. Em parte quiçá pelo uso constante que dele faziam os libretistas italianos. podeis. não foi incorporado pelos românticos à poesia erudita. gênero que mant eve longamente reminiscências das suas raízes arcádicas. Nesse trabalho. A noi volgi U bel sembiantt Scnza nubi e senza vel. da Pátria filhos"). como a primeira estrofe de "Róseas flores da alvorada": (16) "Decididamente a vida romântica sentimental tendia mais para a música do que para a poesia. talvez por estar demasiadamente preso a expressões típicas do espírito neoclássico. considera-se um aspecto algo diverso do que abordamos aqui. íV: ( .. Essa imagem que recordas É meu puro f santo amor.. os autores de letras de modinha. 1S. conservaram-no. 36 4 Casta Diva che inargenti . Róseas flores da.or Silva Alvarenga nos rondós e largamente usado nos cantos patrióticos da Independência e da Regência. a que dou importância primordial no presente capítulo. Teus perfumes causam dor. é composta nele. Queste sacre antiche piante. Conferências Brasileiras pág. "O R omantismo e a Música". . Uma das árias mais queridas do Brasil romântico. que ainda hoje cantamos: "Já. evanescente. a "Casta Diva". que sussurram mistérios e não palavras.. posto . mais predispostos à regularidade pela divisão estrutural em segmentos equivalentes. pág. acentuado na 3. 141. até a última silaba tônica. etc. Lorenzo da Ponte e outros.a e 9. quebrava-lhe porém a monotonia pela alternãoncia de metros. e at é do francês Béranger. a quintilha em estrofes isorrítmicas. a sua raridade era tal que não vem enumerado entre os metros portugueses no Tratado de Eloqüência. obedeciam geralmente a este dispositivo nos metros ímpares. antecipando de certo modo a melodia e d ando-lhe pontos de apoio. de Frei Caneca.A sua função de envolvimento da inteligência pela melopéia isorrítmica de um metro fluido e cantante.a. por quem íoram usados. Ranieri de"Calzabigi. foi desempenhada por outros. que conste de dez sílabas. Lembro que neste livro. poeta brasileiro. uso a contagem pelo sistema írancês. afe itos a outra concepção.a. As árias de Metastásio. e (17) "Verso jâmbico. dos italianos." Manoel da Costa Honorato. Notemos de passagem que a isorrirmia (manutenção em todas as estrofes dum poema da mesma acentuação em todos os versos) proveio da intenção de fornecer ao compositor um texto já vinculado à regularidade rítmica.1! Deve ter influído na sua voga o exemplo dos poetas espanhóis. Serviu-se dele Gregório de Matos para efeitos burlescos. muito prezado e traduzido pelos românticos portugueses e brasileiros. seduzido com certeza pela sua capacidade de movimento. O novessílabo. o maior experimentador do seu tempo. 6.17 Diniz. que se poderiam legitimamente qualificar de românticos: o novessílabo e endecassílabo batidos. como Zorrilla e Espronceda. Também o denominam de Gregório de Matos. o decassílabo chamado sáf ico. Sinopses de Eloqüência e Poética Nacional.18 Pouco estimado pelos tratadistas clássicos. quanto teve a sua grande voga. secundariamente. Mais discriminado que os românticos. em pregou-o nos ditirambos e nas odes anacreônticas. ou decassílabo. porém sem graça. É próprio para sátiras. foi muito pouco usado na poesia de língua portuguesa até o século XIX. 5.°. págs. durante o Romantismo) parece uma retomada. Poesias. de Gonçalves Dias: . q ue está voltando a ser utilizada. meus cantos ouvi. cujo decassílabo sáfico é muito parecido com o dos ultra-românticos brasileiros e portugueses. Ó guerreiros. em Obras Políticas e Literárias vol.a. sobretudo na poesia castelhana. Zorrilla. de Bernardo Guimarães.Ô guerreiros da taba sagrada.2O Er a então um metro flutuante.21 Só no século XIX ganharia o galope martelado e inflexível. (18) Ver um excelente exemplo no Ditirambo IX. ou de fantasmagoria. in. como o "Galope Infernal". vol. desempenhando função análoga dentro da métrica da sua língua.. 65-155. .a e ll. Ó guerreiros da tribo tupi: Falam acuses nos cantos do Piaga. que dá ao pensamento e à emoção uma melopéia fugaz condizente às aspirações românticas. como o "Canto do Piaga". como se desenvolvera a partir dos Cancioneiros galaico-portuguêses. salvo erro.a. "" O endecassílabo com acentuação na 2.em uso por Castilho: o que chamo de novessílabo é decassílabo segundo a contagem tradicional. etc. Q*? O t #que usava um tipo de decassílabo isorrítmico. mas soube não raro utilizá-lo com força expressiva em poemas de movimento. extraído dos melhores escritores ãividldo em três fartes.a (não se conheceu outro. que lhe esgotou praticamente o interesse e o torno u inaproveitável para os sucessores. 74117. com grande regularidade. em nada menos de vinte e duas quadras sucessivas. 2. (19) Tratado de Eloqüência. usado por Gil Vicente nos autos de devoção. do verso "de arte maior" do século XV. chegou ao extremo quase cômico de al ternar (no poema "Mistério") o eneassílabo e o endecassílabo. págs. 8. É escusado lembrar o êxito do novessílabo na poesia erudita e popularesca do Romantismo. (Castro Alves) Talvez a raiz imediata da sua voga. de que se falará abaixo) os mais poéticos. Inexistente. e que o novessílabo e o endecassílabo. esteja na solda de quintilhas. ele aparece com as tendências pós-clássicas. tanto quanto posso avaliar. a forma extrema da embriagues melódica.A tarde morria. Thiers Martins Moreira. 38 ocorre com certa freqüência na ópera romântica. Castilho chegou à conclusão estatística que o mais natural da língua é o de 8 s ílabas. i Na esguia atalaia das árvores secas Ouvia-se um triste chorar de arapongas. . são os mais tipicamente românticos. (21) V. 2. La verificaciõn espafiola irregular. Estes metros. notadamente cap. Na poesia italiana (a que a nossa tanto deve formalmente). Pedro Henriquez Urena. é o menos musical dos versos portugueses (menos poético. O Verso de arte maior no teatro de Gil Vicente. foi este o processo que lhe deu vida. 3. nos libretos de Piave. 12 e Q. muito usadas nas peças leves dos árcades. 11. (2O) V. a fim de isolar em seus escritos os metros ocorrentes. pesquisando os prosadores clássicos. 7-36. Eram. nos dramas musi cais do século XVIII. e do caráter métrico que assumiu. 4. Nas origens. págs. predominando na prosa. O fôlego mais largo da sensibilidade romântica fundiu dois versos curtos e obteve uma unidade mais adaptada à sua necessidade de movimento. na sua batida algo primária. aliás. 1O. vindo em ordem decrescente os de 6. 7. românticamente falando (ao lado de certos setissüabos e do decassílabo sáfico. no sentido romântico). Nas águas barrentas As sombras das margens deitavam-se longas. os que não sobreviveram ao Romantismo e exprimiam. com efeito. I. Cammarano e outros. com estes acentos.22 Pode-se concluir que o oclossílabo. de Mário de Andrade. O decassílabo é o grande. Usaram-nos talvez. pois. tendência. De Camões à "Louvação da Tarde". com parc imônia. entremeados aos decassílabos soltos de Os três dias de um noivado. "A cólera de Saul" (Varela). devido sobretudo ao modelo italiano. de 1843 a 1844. Qiie das lides aos campos o chama. que uma estética desconfiada dos valores prosódicos e predisposta às fugas melódicas se apegasse a tais metros. Herculano e Garrett. Eis retine o clarim clangoroso Que nas vozes a guerra proclama. devendo assim juntar-se essa ponderável influência à do drama musical italiano. transplantado por Sá de Miranda. 87. "Minh"alma é triste" (Casimiro de Abreu). "A Hebréia" (Castro . sua história é a própria história da poesia de língua portuguesa. Pela mesma altura. inicialmente. utilizou-os bastante Teixeira e Sousa. pàg. a que se prestou como se fosse descoberta do seu próprio gênio. como vi mos. nitidamente musical. ainda mais considerando que quase impõem a issorritmia. "Pálida à luz da Lâmpada" (Álvares de Azevedo). incomparável metro originado nos Cancioneiros mas. de que ^foi talvez o mais belo metro o do "Leito de Folhas verdes " (Gon(22) Antônio Peliciano de Castilho. seguidos pelos medievistas e ultra-românticos portugueses. Que o consorte aos carinhos arranca. No Brasil. Não espanta. Joaquim Norberto foi porventura quem os empregou sistematicamente nas Balatas.°. nos Suspiros Poéticos. na forma atual. são os mais musicais. Magalhães é o primeiro a utilizá-los. A sua plasticidade lhe permitiu adaptar-se às novas exigências melódicas do Romantismo.sendo menos prosaicos. 39 #calvos Dias). de mistura a outros. ("Vítima da Satidade"). Tratado de metrificação portuguesa. vol 2. 1O. . precursor da flui dez melódica. . ó bela.a. ""-.." : . .. herdado dos italianos." . Ê o grande elo entre a inspiração popular e a erudita. advertindo com sabedoria: "mas se se usam freqüentemente. com isto. usado desde os quinhentistas e. tiveram os românticos predileção marcada e significativa pelo de acentuação na 4. suspirando amores: .a e 1O.: "" ." . explorando até o fastio a sua rica musicalidade em estrofes isorrítmicas.. posto entre a melopéia e a simplicidade prosaica. ensina Frei Caneca.a. extremamente variável. como não se fizera ainda de modo continuado. entre os árcades. permaneceu como esteio e elemento de equilíbrio. O sáíico virou uma espécie de valsinha de salão.-. 8. incorporaram-no ao que havi a de mais característico na sua estética. Das suas muitas variedades. . transformando-o. . . têm maior sublimidade. . fazem-se fastidiosos e molestos ao ouvido.} "" i" -! Quando eu te fujo e me desvio canto .Meu Deus! que gelo! que frieza aquela! (Casimiro de Abreu) O setissüabo. "Os versos desta medida são mais sonoros. se ajusta a qualquer tipo de poesia e foi caro aos românticos. o verso "sáfico". assegurando a continuidade plástica da evolução poética e a própria dignidade do lirismo.. querido de Bocage.a.Alves). como fora aos clássicos. 6. logo apropriado pelos recitativos. por isso devem-s e misturar com os da primeira medida" (2. Contigo dizes.a.. servindo não raro de . e são próprios da poesia lírica". mesmo nos melhores: .a)23." Da luz de fogo que te cerca. açucarando-se por vezes desagradàvelmente. Os românticos fizeram o contrário. em metro que se pode chamar romântico e comprometendo o seu tonus pela monotonia fácil do automatísmo. No meio da orgia melódica em que se desmandaram freqüentemente os poetas. como aos batidos.. ponte entre ambas. Note-se que os românticos lhe deram geralmente o emprego que os clássicos preferiram dar ao verso de seis sílabas, mais duros e menos ajustados às demasias musicais, a que ele se presta nas suas variadas possibilidades de acentuação . / j, .-"-"--Minha terra tem palmeiras, . vá --".." ,, i; . Onde canta o sabiá. ..;".- , (Gonçalves Dia*) (23) 4O Ó mar, por que não apagas, corn a esponja das tuas vagas, , _ , ,<.,-". v. ;: Frei Caneca, ob. clt., pág. 118. Do teu manto este borrão? , .--.. .. ";, :\ .,-,-. (Castro Alves) Óh! - l ; ;. , . que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida! (Casimiro de Abreu) Na terceira geração romântica, a partir de 1865, mais ou menos, as necessidades de amplificação retórica levaram ao cultivo do alexandrino francês, de doze sílabas, - introduzido em nossa poética por Bocage, - e até do espanhol, de treze, usado pela p rimeira vê/, por Basílio da Gama ao traduzir a Declamação trágica, de Dorat, que encontramos no 1.° volume. O dodecassílabo já se encontra em Francisco Octaviano, tendo sido porventura Fagundes Varela o primeiro poeta de tomo a cultivá-lo sistematicam ente. É possível tenha influído a presença, no Brasil, de Antônio de Castilho, entusiasta deste metro. O seu emprego denota, de qualquer forma, no verso brasileiro, tendência mais plástica e oratória que musical, indicando os primeiros sinais contra-r omânticos; mas indica também o apogeu das concepções retóricas, que tanto influíram em nossa poesia e nossa prosa. À influência musical é preciso, com efeito, juntar a da oratória para caracterizar a estética romântica no Brasil. Sendo uma arte intermediária entre a prosa e a poesia (pois é escrita como a primeira, mas feita para ser recitada, como a segunda), el a se prestava admiràvelmente às aventuras da palavra em crise de inferioridade. Por isso vai empolgar a poesia e a prosa romântica, impondo o ritmo do discurso oratório como padrão de composição literária. E, graças à vida política recém-inaugurada pe la agitação da Independência, em seguida pela atividade parlamentar, vai tornar-se pedra de toque para aferir o valor intelectual. Compreende-se bem a sua ação sobre a poesia, lembrando que cia era ensinada ao lado da eloqüência como forma paralela e não raro subordinada de expressão.24 À eloqüência romântica, empolada, imaginosa e ébria de sonoridade, corresponde uma poesia de c aracterísticas análogas, concebida segundo as mesmas técnicas de cornposição e escolha de imagens. Quando a poesia se torna mais acentuadamente pública, na última etapa romântica, veremos estreitar-se este vínculo, patenteando a analogia das concepçõe s. (24) "Sende ^pis o discurso o tipo de todas as obras intelectuais, os conselhos que a razão e a experiência podem dar ao orador apllcam-se igualmente às outras produções do espírito humanof...) " J. C. Fernandes Pinheiro, Postllas de Retórica e Poétic a, pãgs. 9-1O. 41 #Não esqueçamos, finalmente, que o primeiro terço do século XIX, - quando crescia e se formava a primeira leva de escritores românticos, - foi, na Corte, período não apenas de vida musical intensa, mas também de oratória sacra exuberante. A Capela Rea l, depois Imperial, onde conviviam maestros e pregadores, era uma espécie de sala de concertos e conferências, unindo-se deste modo duas das principais influências formadoras da nova sensibilidade.23 Homens como os frades Sampaio e Monte Alverne, o cô nego Januário, - professores de aula pública, patriotas e mesmo agitadores, ampliavam a ação do púlpito por uma atividade intensa que os tornou mentores da juventude, marcando-a fundamente pelo seu espiritualismo e patriotismo, enquanto a sua retórica permaneceu como paradigma de elevação intelectual. Como vimos ao estudar Monte Alverne, ela envolve o tema numa revoada de tentativas verbais, que dão a muitos escritos românticos um movimento perene de nadador aflito, bracejando e erguendo espuma pa ra se manter à tona. Abandonado o equilíbrio clássico e a sua ordenada visão do mundo, entramos numa fase de moto contínuo, que procura sacudir o espírito em todas as direções a fim de desvendar a sua misteriosa obscuridade. O pacto com a música e a oratória permitirá freqüentemente ao Romantismo penetrar zonas profundas da nossa sensibilidade e vida social, dando-lhe aquela eficácia descobridora que o incorporou para sempre à vida brasileira. Ainda hoje têm cunho romântico a poesia musicada semi erudita e o discurso, convencional e comemorativo. Romancistas como Alencar, poetas como Castro Alves, perduram e avultam mais que os outros porque, na sua obra, foi mais cabal ou mais brilhante essa íntima aliança do verbo literário com música e a r etórica, dando origem à expressão artística mais grata à nossa sensibilidade média, que alguns pós-românticos, como Olavo Bilac, saberiam exprimir com igual maestria. Se buscarmos as condições imediatas que asseguram a influência do estilo retórico, perceberemos, além das que foram indicadas, algumas outras que vale referir, começando pelo nacionalismo. com efeito, os intelectuais se viram na necessidade de criar uma representação exaltante da nova pátria, que ficasse fortemente impressa na consciência popular. Acentuaram então as tradições nativistas, estabelecendo uma técnica de exaltação da beleza, magnitude, futuro da terra brasileira, que muito bem se aco modava e até requeria o estilo empolado e palavroso. A exaltação nacionalista encontrou na retórica um aliado eficiente, e utilizou-a como cobertura (25) "... as peças oratórias eram escritas para ser recitadas mas eram-no com verdadeiro entusiasmo. O povo, que nada lia, era ávido por ouvir os oradores mais famososf...) Nfto havia divertimentos públicos, como hoje: o teatro era nulo; as festas de igreja eram concorridíssimas." Sílvio Homero, História da Literatura Brasileira, vol. 1.", pàg. 27O. 42 ideológica de uma realidade bem menos exaltante, que requeria atitude diversa, mas pouco viável ante as possibilidades do país. Além disso, ocorre a circunstância da falta de leitores, o que conferia maior viabilidade ao discurso e ao recitatívo, meios bem mais seguros de difusão intelectual. O escritor brasileiro se habituou a escrever como se falasse, vendo no leitor problem ático um auditor mais garantido. Inconscientemente, passou as suas obras por uma espécie de prova flaubertiana do "gueuloir", no sentido de obter maior retumbância e impressividade; os mais populares são geralmente os que obedecem a esta técnica, quas e requerendo o recitaüvo. O mais conhecido e admirado, Rui Barbosa, diminui impressionantemente de estatura à medida que desaparecem os que ainda o ouviram e puderam, assim, testemunhar plenamente a sua verdadeira natureza de produtor de falas, não es critos. Mais uma geração e ele aparecerá (simbolizando quiçá toda uma época da literatura brasileira) como o terrível "raseur" que na verdade é. inerme ante o silêncio da leitura. Finalmente, - mas não de menor importância, - há o padrão francês que herdamos, diretamente ou através dos portugueses, e se caracterizava pela grandiloqüência e a riqueza verbal de que Chateaubriand foi o pontífice. Lembrando que o seu estilo foi em grande parte desenvolvido para transpor as emoções ante a natureza exuberante, a grandeza sem fim das solidões americanas, veremos que há algo como a recuperação de uma dívida, no tomá-lo de volta para exprimir, nós mesmos, essas e outras emoções. 43 #Capítulo II OS PRIMEIROS ROMÂNTICOS 1. GERAÇÃO VACILANTE 2. A VIAGEM DE MAGALHÃES 3. PÔRTO-ALEGRE, AMIGO DOS HOMENS E DA POESIA 4. ÊMULO8 5. GONÇALVES DIAS CONSOLIDA O ROMANTISMO 6. MENORES. #1. GERAÇÃO VACILANTE Os escritores que amadureceram durante a Regência e os primeiros anos da Maioridade formam um conjunto da maior importância na história da nossa vida mental. Habituados a evocar apenas o grupo da Niterói, esquecemos por vezes que entre eles se incluem não apenas Gonçalves Dias, mas o grande Martins Pena, criador do teatro brasileiro, porventura o maior escritor teatral que já tivemos; e o grupo do Maranhão, que valeu o cognome famoso à capital da província, do qual se destacam Francisco Sotero dos Reis e João Francisco Lisboa, um dos publicistas mais inteligentes do Brasil. Segundo o ângulo do presente volume, é porém no setor das que Sílvio Romero chamava com desprezo "belas letras" que vamos ficar, partindo do grupo reformador, seus aliados e seguidores, que introduziram o Romantismo, reformando a poesia, inaugurando o romance e a crítica, criando por asim dizer a vida literária moderna no Brasil, com o seu arsenal de publicações, correntes, cliques, rodas, polêmicas. No conjunto, formam um todo mais homogêneo do que se poderia pensar, marcado por nítida dubiedad e nas atitudes e na prática. Ainda um pouco neoclássicos, são por vezes românticos com reservas mentais. Não raro, parecem oscilar entre duas estéticas, como, na atitude política, misturam certo liberalismo de origem regencial ao respeitoso acatament o do Monarca. Devemos, pois, abordá-los com largueza de espírito, prontos a interpretar a sua eventual dubiedade, própria menos dos indivíduos que da época em que viveram - situada entre duas literaturas, dois períodos, duas eras políticas. Época de liquidação do passado e rumos novos para o futuro, na arte e na vida social. Os primeiros românticos principiam a sua atividade na revista Niterói (1836), consolidam-na com a Minerva Brasiliense (1843-1844), despedem-se na Guanabara (1849-1855). Daí por diante continuam a produzir, mas perdem terreno como grupo. São, pois, três momentos: o primeiro, representado por Maga"ê&es, Porto Alegre, Torres Homem e Pereira da Silva; no segundo, aparecem os discípulos mais jovens: Santiago Nunes, Joaquim Norberto, Dutra e Melo, Teixeira e Sousa, além do francês Emílio A det; no terceiro o quadro se alarga, juntando-se Fernandes Pinheiro e Gonçalves Dias, que coroa e justifica toda essa fase, dando o pri47 #meiro grande exemplo de Romantismo completo. Até ele, com efeito, o Romantismo aparecia mais nos temas que nos processos formais: ele é o primeiro em que sentimos a fusão do assunto, do estilo e da concepção de vida. Por isso, notamos que esses três momentos se organizam em duas etapas, sendo a primeira totalmente absorvida por Magalhães e seus seguidores; a segunda, marcando o predomínio crescente de Gonçalves Dias. No conjunto, porém, os seus componentes são parecidos quanto à atitude social e concepção literária, avessos aos aspectos extremados, "a falsa poesia, ou poesia anormal e exagerada, e quase poderíamos dizer do romantismo monstruoso dos nossos dias", c omo disse, em frases que todos subscreveriam, alguém ligado a eles, o italiano De Simoni.1 Antes, dissera Garrett, mestre, ao menos em parte, de muitos deles: "Pode o escritor exagerar-se num caráter ou noutro, afastar-se da real natureza aqui ou ali, mas nunca, nunca entrar nas regiões da fantástica e ideal natureza. Apenas o faça, mudará a índole do seu escrito".2 Comparada à geração seguinte, esta é equilibrada e comedida, mesmo na melancolia de certas peças de Dutra e Melo e Gonçalves Dias. Só no decênio de 185O, quando já campeavam outros valores, alguns dos seus membros procurarão acertar o passo com o mal-do-século. Foi, portanto, um grupo respeitável, que conduziu o Romantismo inicial para o conformismo, o decoro, a aceitação pública. Nada revolucionário de temperamento ou intenção, além do mais sem qualquer eventual antagonismo por parte dos mais velhos, poucos e decadentes, o seu principal trabalho foi oficializar a reforma. Amparados pelo Instituto Histórico, instalados nas três revistas mencionadas, deram-lhe viabilidade, aproximando-a do público e dos figurões, aos quais se articularam em bem montadas c liques, nelas escudando a sua obra e a sua pessoa. Era grande a comunidade de interesses entre os brasileiros cultos de toda idade e orientação, voltados para o progresso intelectual como forma de desdobramento da Independência. Por isso, toda produçã o do espírito era benvinda e a Minerva Brasiliense publica tanto as poesias de Dutra e Melo quanto as odes de Alves Branco; acolhe o poema tumular de Cadalso e um impagável ditirambo de Montezuma. Sobre o terreno comum do nacionalismo, abraçavam-se as boas-vontades. Estudando os retratos dessa gente honrada, - Magalhães, Pôrto-Alegre, Norberto, Fernandes Pinheiro, Teixeira e Souza, Macedo sentimos imediatamente quanto estão longe do que nos habituamos, por extensão indevida, a considerar romântico, isto é, o Ultr a-romantismo da geração seguinte. Bigodes veneráveis, cabelos arru(1) Luís Vicente De Simoni, Gemidos poéticos sabre os túmulos, pág. VI. (2) Almeida Garrett, O Cronista, vol. I, u." l, pág. 19. (1826). 48 Gonçalves de Magalhães - (Cortesia de Olyntho de Moura). #mados, óculos de aro de ouro, pose de escritório. Homens de ordem e moderação, medianos na maioria, que vh am paradoxalmente d início da grande aventura romântica e, mesmo no aceso da paixão literária, desejavam manter as conveniências, nunca tirando um olho do Instituto Histórico ou da jovem e circunspecta majestade de D. Pedro, ao qual dedicam os seus livros. Eis um anúncio elucidativo da Garnier: "O Livro dos meus amores, poesias eróticas de J. Norberto de Souza Silva (...) Esta lindíssima col eção de poesias, em que o Sr. Norberto inspira-se na musa d"Anacreonte e de Salomão, é dedicada à sua virtuosa esposa, bastando só esta circunstância para tranqüilizar os que se assustassem com a denominação d"eróticas que lhes dera. Nem um quadro al i se encontra desse amor físico, desse instinto imperioso que confunde o homem com o bruto, nem uma pintura licenciosa, nem uma expressão menos casta. O ilustre poeta pinta mais vezes a formosa alma da sua Armia do que a sua beldade corpórea, e unge seu amor com o bálsamo da religião e da virtude. É este um excelente livro, cuja leitura afoitamente recomendamos."3 Esta fácil afoiteza foi em grande parte a dos primeiros românticos, que nem encontrariam no ambiente literário e social do Rio condiç ões para outra atitude. A menos que quisessem, é claro, brigar com o Instituto e perder-se, como uns Gregórios de Matos. A constituição, em São Paulo e Recife, de grupos sociais menos peados por liames e tradições - os estudantes - permitiria ao espí rito romântico maior folga de movimento a partir do decênio de 4O. No fundo, como acontece a todo momento transitório, uma geração cheia dos contrastes, que resolveram por certa dissociação entre a prática literária, de unhas aparadas, e a teoria, onde concentraram ousadia maior. Vejamos um caso simbólico. Em 1843 o jovem Norberto leu aos amigos uma tragédia sua, Clitenestra, péssima, além de vazada nos piores moldes do passado; isto, depois de haver teorizado e praticado a maneira nova. Os amigos presentes romperam em aplauso s, cada qual dando o seu parecer. Por último, o pintor Prelidiano Pueyrredon exclamou, segundo Emílio Adet, narrador da cena: "Eu retratar-te-ei na composição do 3.° ato, embuçado em teu capote, com os cabelos soltos pelo vento, em pé sobre as rochas de gravata, onde o mar verde e coroado de espumas se rebentará em flor, escrevendo aos relâmpagos da tempestade, que formará o fundo do quadro."4 Uma peça vulgarmente neoclássica é deste modo situada em clima romântico (quiçá inspirado no ar de venta nia do retrato (3) Catálogo da Livraria do B. L. Garnier, n". 23, Rio de Janeiro, s. d. (1865?). (4) Émile Adet, "A leitura de uma tragédia inédita", M B., I, pág. 356. 49 #de Chateaubriand, por Girodet) revelando o choque das aspirações com sobrevivência" teimosas. Olhando a fisionomia bem penteada do secretário perpétuo do Instituto, não logramos imaginá-lo nesse rochedo de ópera, onde subiam, ele e os confrades, par a cantar a pátria, a religião, a melancolia, objetos centrais do seu Romantismo temático. Se passarmos ao setor político, verificaremos nos escritores dessa fase outros traços onde também reponta certa dualidade de tendências. Formados nos últimos anos do Primeiro Reinado ou no período regencial, impregnaram-se quase todos da densa atmosfe ra, então vigente, de paixão partidária e ideológica. Já vimos que a sua própria obra se situa nela como peça de um processo de construção patriótica. De modo geral, são liberais, na medida em que o liberalismo representava então a forma mais pura e exigente do nacionalismo, - a herança do espírito autonomista, o antilusitanismo, o constitucionalismo, o amor do progresso, o abolicionismo, a aversão ao governo absoluto. Alguns deles foram discípulos de Evaristo da Veiga e auditores entusiasmados de Monte Alverne; todos aceitavam a monarquia como fruto de livre escolha do povo e, dentro de tais limites, estavam prontos a acatar e reverenciar o Monarca, - sempre mais à medida que iam envelhecendo e se acomodando nos cargos e funções públicas. Daí a ambivalência qu e os faz oscilar entre o amor da liberdade e a fidelidade dinástica, reputada inicialmente condição de ordem e paz, em seguida, (corn a maturidade do Imperador e o seu apoio ao progresso intelectual), preito e reverência pura e simples à sua pessoa. Assinalemos de passagem que uma das expressões mais vivas do sentimento político desses escritores foi o interesse pela Inconfidência Mineira, que praticamente definiram, estudaram e incorporaram ao patriotismo dos brasileiros, vinculando os poetas ar cádicos ao processo de construção nacional, ao proclamarem o seu papel de precursores da Independência. Deste modo se elaborou uma concepção coerente da literatura como fator nacionalista, aparecendo eles, reformadores, como herdeiros legítimos e cont inuadores de uma tradição. Tudo começou por iniciativa do Instituto Histórico, onde, em 1846, o último conjurado sobrevivente, José de Rezende Costa, trouxe o seu depoimento.5 Imediatamente Teixeira e Sousa explora o tema no romance Gonzaga ou A conjuração de Tiradentes (1.° volume, 1848), onde manifesta vivo liberalismo; no decênio seguinte Norberto escreve o "canto épico" A cabeça de Tiradentes e reúne dados (5) ~clT~Joaqmm Norberto, História ãa Conjuração Mineira, pág. XIII. 5O para a História da Conjuração, que lê em parte ao Instituto em 186O; logo a seguir, estuda a atuação dos poetas na Introdução às Obras Poéticas de Alvarenga Peixoto. No mesmo sentido, funcionaram as biografias do Plutarco Brasileiro, de Pereira da Silva (1847). Se tomarmos cada um dos escritores, veremos que o se u liberalismo e interesse pela vida política variavam muito de intensidade: praticamente nulos no bondoso e palaciano Pôrto-Alegre, exaltados até a insurreição no Tôrres-Homem anterior a 185O. Magalhães manifestou acentuado civismo nas odes juvenis; e se como deputado liberal, no biênio 46-47, pouco se fez notar, a sua memória sobre a Balaiada, lida ao Instituto Histórico em 1847 e publicada no ano seguinte, revela capacidade de análise pol ítico-social e interesse pela coisa pública. A sua experiência foi devida à função de secretário de governo, primeiro no Maranhão, depois no Rio Grande do Sul, sempre com o pacificador Caxias. Joaquim Manuel de Macedo foi deputado do Partido Liberal, manifestando certa agudeza na sátira amena dos costumes políticos. A carteira do rneu tio, Memórias do sobrinho do meu tio, traçam com chiste a situação de meados do século, revelando um desen canto ameno e risonho, muito diferente do humor áspero, da contida indignação com que outro liberal, - este, um grande liberal, João Francisco Lisboa, dissecava no Jornal de Timon a máquina eleitoral e administrativa do coronelismo. No entanto, o bor n Macedo não era só amenidade. Veremos no lugar apropriado os frêmitos que por vezes encrespavam os seus romances, dando, por exemplo, a As Vítimas Algozes, não só o caráter de romance-panfleto, mas um apaixonado esforço de análise social, ao condenar a escravidão pelos seus efeitos morais, formando deste modo ao lado dos mais firmes abolicionistas da nossa literatura. Teixeira-} Sousa teve momentos de radicalismo no seu pendor liberal. Na epopéia sobre a Independência, cria entre as ficções requeridas pelo gênero uma espécie de divindade contraposta às entidades infernais do despotismo, encarnando não apenas o sent imento da liberdade como equivalente à separação política, mas como defesa das conquistas populares. O seu liberalismo é nítido no citado romance sobre a Inconfidência, onde assume posição progressista em face da Igreja e do poder real, exalta os prin cípios da Revolução francesa, deixando, com as devidas precauções, repontar nítida simpatia pela República como forma ideal de governo. As maiores expressões políticas de escritores da primeira fase romântica são devidas, todavia, a Gonçalves Dias e Tôrres-Homem: Meditação, do primeiro, O Libelo do Povo, do segundo, este já fora da literatura propriamente dita. 51 #Meditação é um escrito inacabado, redigido na cidade de Caxias em 18451846, cuja maior parte se publicou na Guanabara em 1849. Composto em versículos, no estilo profético do Romantismo messiânico, é provavelmente inspirado pela Voz do Profeta (1836- 7) de Alexandre Herculano, ou, diretamente, na fonte comum, as Palavras de um crente (1833), de Lamennais, que já havia influído nalguns escritos de Dutra e Melo, tradutor do seu democrático "Hino à Polônia". É curioso notar que a obra de Herculano, v erberando as contradições do liberalismo português num torn de amargo pessimismo, apareceu quase simultaneamente em edição brasileira, igualmente anônima e acompanhada de uma "Visão achada entre os papéis de um solitário nas imediações de Macacú, víti ma das febres de 1829". Trata-se de escrito evidentemente ante-datado, de autoria desconhecida, salvo erro, abordando a tensão entre nativos e reinóis em torno de Pedro I. Esta literatura político-messiânica andava, portanto, no ar, facilitando o apar ecimento de escritos como Meditação. Quem nele procurar partidarismo nada encontrará; o poeta se põe acima das querelas do momento e, como sugere no título, esboça uma larga visão poética do país. Fala sobre as suas raças, os escravos, os índios à margem do progresso, a iniqüidade da vid a política, as dificuldades de acertar, - abrindo uma perspectiva otimista com o apelo ao patriotismo, chamado a cumular as lacunas da civilização e compensar tanto as falhas dos governos quanto a indisciplina dos costumes públicos. Significativamente, o eixo é um diálogo entre passado e presente, prudência e arrojo, conservantismo e progresso, encarnados por velhos e moços. O Brasil velho e o Brasil novo se defrontam no debate inspirado, de que ressalta vivamente a posição aboli cionista, a crítica aos processos governamentais, a aspiração de chancelar a Independência por um regime de fraternização das raças e das classes, unidas para o progresso, redimidas da mancha do cativeiro, operosas graças à dignificação do trabalho. Como toda a sua geração, o poeta não se decide de maneira"cabal entre o velho e o moço, (embora penda para este), ilustrando o estado de espírito dominante, que se manifestaria politicamente na tentativa r" conciliadora do Marquês de Paraná em 1853, e cujo lema poderia ser tomado ao famoso panfleto de Justiniano José da Rocha, o pré-romàntico da Sociedade Filomática: ação, reação, transação. Não havia condições, na literatura, para uma atitude rasgadamente liberal, que incorporasse o tema polític o à própria inspiração, incorporando-o a economia íntima das obras mais significativas de um escritor, como ocorreria, vinte anos depois, na última geração romântica. Por enquanto. Gonçalves Dias se refugiava no plano das visões: 52 "E sobre essa terra mimosa, por baixo dessas árvores colossais veio milhares de homens - de fisionomias discordes, de cor vária, e de caracteres diferentes. E esses homens formam círculos concêntricos, como os que a pedra produz caindo no meio das águas plácidas de um lago. E os homens que formam os círculos externos têm maneiras submissas e respeitosas, são de cor preta; - e os outros, que são como um punhado de homens, formando o centro de todos os círculos, têm maneiras senhoris e arrogantes; - são de cor branca. E os homens de cor preta têm as mãos presas em longas correntes de ferro, cujos anéis vão de uns a outros - eternos como a maldição que passa de pais a filhos!"6 Oposta é a atitude d"O Libelo do Povo, onde sob o pseudônimo de Timandro, Tôrres-Homem - o arauto de Magalhães, o diretor da Minerva Brasiliense - se coloca no ponto de vista estritamente partidário, verberando a política dos conservadores. Tendo em c onta a confusão ideológica do momento, pode-se dizer que foi o interesse fundamental de "luzia" desancando "saquaremas" que o levou a acentuar o radicalismo da sua posição. Por isso, logicamente, o folheto deveria ser abordado pelo último capítulo, on de denuncia o gabinete de 29 de setembro de 1848 (a "restauração dos saquaremas"). Esta é a chave do seu intuito, a que os capítulos iniciais servem de justificativa. Mas como quer que seja, foi levado a desenvolver jma atitude liberal extremada, anti monárquica, federalista, democrática, favorável às conquistas populares, entusiasta das revoluções de 1848 na Europa, que descrevia ameaçadoramente, com vistas ao jovem soberano. Parecia-lhe que o curso normal dos acontecimentos iniciados no grito do Ipiranga fora obstado por conspirações palacianas, cujo desfecho seria o fim do regime representativo e a restauração do absolutismo. E nesse sentido, foi o homem de responsabilidade que escreveu as palavras mais firmes e avançadas do tempo. "A revolução da independência, que devolveu-nos à posse de nos mesmos, firmava como dogma fundamental da nova ordem social o grande princípio da soberania do povo (...) Em virtude daquele direito, preferiu a nação a monarquia, do mesmo modo que poderi a preferir a república de Franldin e de Washington; aclamou por seu rei o primogênito da casa de Bragança, como aclamaria o filho do Grão-Turco, se fora isso do seu gosto. Esse rei era simples feitura de nossas mãos; (...) seu trono, contemporâneo (6) Cito conforme Obras Póstumas <íe A. Gonçalves Dias, Meditação, etc., onde mesmo s parte publicada anteriormente na Guanabara aparece mais cornpleta. (V. nota de Antônio Henriques Leal à pág. 68). O trecho citado é das págs. 5-6. 53 #da nossa liberdade, repousava sobre a mesma base que ela - a revolução! (---) O seu poder é emprestado, convencional, subordinado ao parecer e à vontade da nação (...) a soberania do povo é a única confessada pela civilização, pela justiça, pela cons ciência do gênero humano. Chamar-se-á a isto espírito democrático! Embora; sê-lo-emos com o grande século positivo e desenganado, que vai substituindo em toda a parte a sombra pela realidade, a mentira pela verdade. (...) É já tempo que a única reale za, que na América existe, abandone suas tradições góticas (...) e se a Providência não inspirar o Imperador, também no Brasil a monarquia corre à sua perda infalível."7 Que o rompante era no fundo mais partidário que ideológico, mostra-o a facilidade com que o autor se incorporou ao Marquês de Paraná, e, logo a seguir, ao Partido Conservador, acomodando-se na senatória, nos ministérios, nas comendas e no título de v isconde de Inhomirim. Mas naquele tempo, mais ainda que hoje, a vida política era mesmo tecida à roda de homens e interesses; secundariamente, de idéias e princípios; bem hajam as birras que o levaram a escrever, no Libelo do Povo a crítica mais forte Circunstâncias que propiciaram certa fluidez ideológica. embriões de Paranás literários. 7Magalhâes. por Timanúro. os nomes eram únicos símbolos das duas opiniões que por multo tempo dividiram o país". Durante pelo menos dez anos ele foi a literatura brasileira. a de Gonçalves de Magalhães. encimado pelo coronel-mor de coroa e cetro. Nesses primeiros românticos. numa reversibilidade que também exprime os estados transitivos. etc. pois. nos primeiros anos do Segundo Reinado. que nos foram conduzindo. O mesmo se dá no terreno estritamente literário. du rante a Regência. lentamente.eram devidas não tanto ao caráter de cada um. (7) (Francisco de Sales Tôrres-Homem) O Libelo do Povo. quanto às circunstâncias. E Alencar: "Os nossos partidos. ao menos esquecicidos ou modificados. da dispersão à centralização. 54 2. senão prescritos. havia esboços. a sua relativa inconsistência ideológica. 22 W 8Cp. . o Marquês de Paraná foi o homem provid encial do momento. na literatura brasileira.8 Os vaivéns políticos desses homens. as quais também não representam as verdadeiras necessidades do país. De todas as partes. força é confessá-lo nunca tiveram princípios bem pronunciados: e naquele tempo mais do que nunui certos dogmas de um e outro lado p areciam. 5: "Nenhum Partido representa entre nós idéias fixas. porque soube amornar o banho-maria sedativo. "Memória histórica da revolução na Província do Maranhão". onde eles oscilam entre classicismo e romantismo. após dois decênios agitados. cada qual aíaga aquelas que melhor se prestam no momento para derribar o estabelecido". da anarquia à autoridade. encontramos. 19-2O.e bem articulada contra o nosso coronelismo imperial. Opúsculos históricos e literários. A VIAGEM DE MAGALHÃES Provavelmente a maior influência individual jamais exercida sobre contemporâneos tenha sido. a impressão de quem lê artigos e prefácios . pág. páss. a fragilidade das suas posições.. O Marquês de Paraná págs. transação. ajustada à labilidade dum momento de formação. Estas palavras retumbantes do seu mestre e amigo Monte Alverne aplicam-se à ambição com que se atirou à reforma cultural do país. pretendendo reformar a poesia lírica e a epopéia. à filosofia. em 1862. se dissermos que antepomos os seus M istérios às Contemplações do èxul de Jersey"!. dotá-la de teatro. para chegar ao seguinte: "Pensamos não cegar-nos o patriotismo e admiração que votamos ao nosso distinto diplomata.9 De sua parte. Digamos de boa men te que ninguém lhe poderá negar importância decisiva na Literatura brasileira. "O gênio flumin ense. .) Chefe de uma revolução toda literária.. Magalhaens" era considerado gênio. ensaio crítico. O "sr. e todos sabem que os pequenos rastilhos incendeiam os paióis tanto quanto os raios do céu. histórico. "Arrastado pela energia do meu caráter.escreve Porto-Alegre no prefácio das Brasilianas. com o qual haveria de começar a fase definitiva da nossa literatura. conforme Sant iago Nunes Ribeiro. qualifica-o Fernandes Pinheiro. de que era o "representante legítimo e natural". abandonei-me com igual ardor à eloqüência. guia... diz Joaquim Norbe^í) no livro de estréia. o autor dos Suspiros Poéticos e Saudades. mas faísca renovadora. fundador. "o patriarca da nova escola". Num e co derradeiro de tanta loa. em que foi apenas uma faísca.daquele tempo é que só se ingressava nela com o seu visto. romance. Magalhães levou escrupulosamente a sério a tarefa de criar a nova literatura. de sejando cingir todas as coroas. já deu o sinal para a reforma (. à teologia". "Esta pequena coleção não tem hoje outro merecimento além do de mostrar que também desejei acompanhar o Senhor Magalhaens na reforma da arte feita por ele em 1836" .. filosófico. ele marcou nos anais da literatura do novo mundo uma época brilhante de poesia". a Lí lias.". Peças como "Um voto". pág. chegou a tonalidades românticas elegantes e medidas. 19. que não se empenha por não ter o que dizer.é pois uma lenda. um movimento airoso que . 23.sonetos. O certo é que. sem qualquer fundamento. "Bosquejo da história da poesia brasileira". pág. só então se interessou por eles e lhes sofreu a influência como românticos. cuja banalidade é compensada as vezes pelo meneio elegante da estrofe. . Nelas aparecem as epígrafes de Hugo e Lamartine. pág. com um torn f rívolo e agradável de galanteio. a análise interna e a comparação de epígrafes permite situar cinco nos decênios de 4O e 5O. "Da Nacionalidade da Literatura Brasileira". Joaquim Norberto de Sousa e Silva.. 2. mas representam. carpindo a p artida da amante.aliás nunca reivindicada por ele. pág. no conjunto. Joaquim Caetano Ferna ndes Pinheiro. I. Gonçalves Dias.. Curso Elementar de Literatura Nacional. e as suas melhores poesias são cumprimentos. partindo do Arcadismo. . sendo provável que tenha sofrido a sua influência. Brasilianas. ou sobretudo "Um sonho". convites e decepções carnais. celebrando em 1846. Para ê! e o verso era auxiliar da vida mundana. glosas. Anardas. 1847 e 1849 o aniversário duma beldade. Álvares de Azevedo. ou as três "Ao anos de. de 1846 a 1847 são as quatro traduç ões que fez do segundo . A sua obra é de muito pouca importância.(9) Santiago Nunes Ribeiro. revelando poeta superficial. MB. isto é quando a nova corrente já triunfara com o grupo da Niterói. 55 zado. Das quatorze poesias sem data. que não se considerava certamente escritor. não apresentam nenhum verso realmente belo ou um conceito pessoal. numa fase posterior ao movimento brasileiro. as nove restantes poderiam ser do de 3O.tudo mostrando que se os conheceu antes de 3O. anacreônticas. Manuel de Araújo Porto Alegre. Fildes. Resulta que as peças românticas são as que vão de 1846 a 1853. 541. A prioridade. sendo quase todas de nítido corte arcádico . retomando o modelo. Cândido Borges Monteiro". sugere o repúdio do imagiário clássico: "Outro deve ser o maravilhoso da poesia moderna. o torn epistolar. minuciosamente decalcada na "Carta a João de Deus Pires Ferreira". "não há pensamento sublime. o torneio anacreôntico nos metros curtos. mostrando mais fluência que Magalhães e o seu grupo. pois. e é interessante haver-se inspirado no escrito onde aparece claramente. (12) 58 "Advertência". r. nem grit o de dor que toque o coração com a graça atenuante do consoante". dentro de cujos cânones adquiriu os instrumentos poéticos que usaria com pouca alteração pela vida afora. perceber o quanto serviriam à definição de uma literatura nova em seu país e. "pueril chocalho de consoantes repetidos e contados". A Confederação dos Tamoios. do Havre. de Magalhaens. notadament e o ritmo prosaico. custe-me o que custa D. É produto do Neoclassicismo final. e se eu tiver forças para escrever um poema. Foi uma viagem providencial."13 Antes de chegar a Paris (se a data e o lugar de redação não forem fictícios) preocupavam-no. comunicá-los aos patrícios . em 1832. a desconfiança ante a rima. os problemas de renovação literária. a rejeição da anti güidade. a preferência pelo verso branco. mostrando uma vez mais o vinculo que prendeu os primeiros românticos ao lirismo religioso de Sousa Caldas. J.acaricia o ouvido e a sensibilidade. d<: Sousa Caldas. neste ano. Voltando a este: o seu livro de estréia. vivendo-os como brasileiro.12 Indo para a Europa em 1833. O. uma "Carta ao meu amigo Dr. XIII e XV. pela primeira vez. impregnar-se dos temas românticos. nem lance patético. que lhe permitiu descobrir a nova literatura francesa. onde. págs. não me servirei dessas caducas fábulas do paganismo. foi saudado com alvoroço por Evaristo da Veiga. escreve porém. Byron. de Magalhaens. Espronceda. Herculano. Garrett. Chateaubriand. pôde fazer a experiência básica do Romantismo em todas as literaturas do Ocidente: o contacto com países diversos. seja na surpresa das atitudes de que não se julgava capaz. pãg. . o deslocamento no espaço que oferece material novo e novas linhas à meditação. dissolvendo o espaço no tempo dimensão essencial ao espírito romântico. o Coliseu. A impressão nascida num determinado sítio . A literatura brasileira deve a Magalhães esse agudo senso da histór ia como sentimento do tempo. o poeta se alça à filosofia. Paris. O quotidiano se desbanaliza ao mudar o quadro de vida. Ferrara. seja no reavivar-se da vida interior pela liberação da (13) 5O #j emotividade e as bruscas erupções do passado. graças à viagem.através dos Suspiros Poéticos e Saudades. Roma. refaz a história. 34O. J. seja a evocar emoções passadas ou reconstruir aconteci mentos ali ocorridos. como a nostalgia da pátria e a reativação de tudo que concerne diretamente o eu. mais vivo na sua obra que na de qualquer outro poeta oitocentista. adquirindo extraordinária importância: cada ato de rotina se torna aventura. Wordsworth. Poesias avulsas. move-lhe o espírito. Shelley. Antes de Proust. Waterloo. o Jura. seja a desprender-se em busca da idéia de Deus. e certamente determinado pelo cenário da civilização européia. Mas o viajante sensível experimenta outras emoções neste contacto. Comecemos assinalando que. a Catedral de Milão. o Cemitério do Père Lachaise.os Alpes. Partindo da vivência imediata de um local. e o viajante se descobre a cada passo. desencadeadas por mínimos estímulos presentes. foram dois insignes viajantes D. cada verificação um achado. Dela extraiu Magalhães uma das linhas românticas por excelência da sua poesia: o vivo sentimento do lugar como fonte d e emoções e incentivo a meditar. O. as Tulherias. Keats. Experiência da viagem transfiguradora por que passaram Goethe. à morte do pai. as suas Poesias inaugurais já eram em grande parte manifestação de civismo: a viagem interiorizou este sentimento.Chateaubriand e Byron . no CoMseu. que passaria aos poetas mais moços. por exemplo. reportava-se ao Brasil. a cada verificação nova. refletindo sobre o seu destino. consagrando poemas a um assalto de que foi vítima com Tôrres-Homem. românticamente. A religião. Daí o visgo meio desagradável do seu patriot ismo. chamada para matizar e umedecer a secura dos neoclássicos: Como um suave perfume. à tristeza da separação de Araújo Pôrto-Alegre. Magalhães passou por semelhante refusão de perspectiva e valorizou a sua experiência pessoal concreta. não apenas objeto de patriotismo. dando-lhe a marca das vivências. é nitidamente romântica a atitude expressa nestes e outros elementos característicos. comparando belezas.que melhor descreveram a volta global do passado (mantido intacto no inconsciente) pe la ocorrência de uma emoção que fecha o circuito do tempo. eu e pátria surgem. Que com tudo se mistura. Como se vê. como duas formas de sentimentalismo que assumem conotação egotista. Nutridas na densa atmosfera de paixã o nacionalista que marcou o Primeiro Reinado e a Regência. amor divino. à evocação de uma grave doença. Como o sol que flores cria. o torn de menino manhoso longe da mãe. considerada como idéiafôrça do poeta: Santa Religião. suspirando saudades. ("O Cristianismo") A fantasia.. Que benefícios sobre a terra espalhas! Quanto é misterioso o Ser que inflamas! De quanto ele é capaz!. E a cada novo lugar.. na medida em que também a pátria se apresenta como caso pessoal. Deste modo. aprisionando-o nessa espécie de imobilidade fugaz que é a reexperiência a anos de distância. presente e transada. . Ao céu Suspirar. Nele vem encerrar-se a última nota do arcadismo intimista.. v. Exala teus suspiros. redescoberto enquanto alimento da sensibilidade e influxo inefável: 6O Eu te venero. perpassa um quebranto lamartiniano e vaga premonição de Casimiro de Abreu. E palidez à lua? . Que outro canto não tem senão queixumes com que magoa os ares para concentrar-se afinal. Arpeja a que possuis única fibra. ó meu Senhor.. Por que deu ele ao sol ígneos fidgores. oh Deus da Humanidade! -: Meu. Oh minha alma. Desbota e alfim falece.. é o teu nome! ("Deus. Novas gotas de chuva o lago aumentam. ("A Fantasia") O novo e fascinante diálogo do homem com Deus.. Transborda enfim. suspirar. incorporando a delicadeza anacreôntica e a melancolia de Bocage: De gota em gota o matutino rocio Enche. Eis de meu coração a fida imagem. e o Homem") O queixume que se vai tornando pungência e fatigado abatimento diante da vida Ah! não queiras saber porque suspiro. amor o que tem para ofertar-te? Digno de ti só tem minha alma um hino. Que nas planícies rola. " Uma gota após outra um lago forma. E este hino. na própria fjor: Vê agora se à lei posso eximir-me Que a suspirar me obriga . Tal é meu fado! Por que o céu faz-me assim? pergunta. ("Por que estou triste?") Neste poema. que vimos manifestar-se em Borges de Barros. .E enche de vida a natura. . Porque geme minha alma como a rola.. de modo absorvente. e dá a um rio origem. e pende do lírio o débil eálix.. " Que oprimido com o peso se lacera. talvez a sua melhor peça lírica... mergulhada na mais típica atmosfera romântica. traz o culto do Gênio. E ave sinistra. a fim de compreender a sua novidade para os moços de então. E se escondem debaixo da coma. a versão muito romântica do indivíduo que se distancia da sociedade em virtude da própria . que poderiam encontrar tonalidade igual noutro poema.61 #Enquanto o sabiá doce gorgeia. pressentida havia quase um qu arto de século em "Ã Saudade". Agoureira soluça. 62 De realmente novo em nossa literatura. a roxa saudade.. O Romantismo trilhou de tal modo esse caminho que os versos citados parecem hoje dessorados e banais: ponhamonos contudo em espírito no ano de 1836. E perto da raiz. Ao lado do cipreste verde-negro. à sombra sua. de Borges de Barros: O/i. E desdobra nos ares verde leque. não o conseguindo. que aprendeu porventura em Garrett e Herculano: Como é belo esmaltado de flores. Definha humilde arbusto. e junto dela Pende. É todavia o primeiro brasileiro a usar o noves sílabo 3-6-9. Desabrocha a carola purpurina A perfumada rosa. Gemem na praia as merencórias ondas. Note-se a inaceração sentimental em que vai repontando certo desvanecimento com a própria dor. negra esvoacando. Isto beleza e perfeição se chama! Eu completo a harmonia da N atura com os tristes suspiros. muito garrettiana. como Reforçando a modernidade dessas áreas dúbias do sentimento. ("A Infância". Eis da N atura o quadro! Isto harmonia. tem-se a impressão. 1834. ou na "Invocação à Saudade". caras ao Romantismo. Magalhães procura amaciar e adoçar o verso. "Canto do Cisne". Eleva-se a palmeira suntuosa. Exalando balsâmico aroma. saudade! és suave! Oh martírio de alma nobre! Malgrado o teu pungir. Dele em torno voltejam amores. por falta de talento e dureza de ouvido. anuncia os temas que acabamos de indicar e define explicitamente a teoria romântica. perseguido. que ainda se desenvolveria por quase meio século. . fundamentando as razões que a amparavam. ora assentado entre as ruínas da antiga Roma. sempre mais. na lírica. O assunto é a rebelião dos tupis fluminenses contra os portugueses. ora enfim refletindo sobra a sorte da pátria. a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço. (1856).Deus tão-somente! Havia portanto. na verdade.no teatro. O prefácio que lhe juntou. morto longe da pátria ingrata. man ifestando o intuito de participar duma nova estética: "É um livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares. da Niterói. sobre as paixões dos homens. quantitativamente. "Lede". isto é uma pequena parte da sua obra. sobre o nada da vida. muito para entusiasmar a mocidade e sugerir novos rumos. Entretanto. ora no cimo dos Alpes. a propósito de quem relembra Dante." Esta é com efeito a sua maior contribuição e. destas palavras. "O Cárcere do Tasso". brilhando no rumo que parecia caracterizá-la mais especificamente: o indianismo. no decênio de 156O. que completa a escala do humano ao divino: Acima dele Deus. e os prodígios do Cristianismo. elaborada certamente no intuito de em polgar a primazia definitiva da nossa literatura. daqueles poemas. em seu livro.eminência e é por ela incompreendido. a história o identifica. derrotado: "O Vate". sobretudo "Napoleão em Waterloo". tornando-se antepassado do br . meditando sobre a sorte dos impérios. com a empresa maior d"A Confederação dos Tamoios. como o homem de 1836. os nossos Cláudio Manuel e Tomás Gonzaga. na epopéia. "A sepultura de Felinto Elísio". destacando-se o chefe Aimbire como símbolo (dileto ao nacionalismo romântico) do homem americano resistindo ao invasor e. ora entre os ciprestes que espalham a sua sombra sobre os túmulos. ora na gótica catedral. . deste modo. de que se falou noutro capít ulo. admirando a grandeza de Deus. (X) Mas ante a necessidade de celebrar também a obra civilizadora. nos lega o exemplo De como esses dois bens amar devemos. Se pusermos em ordem corrida grande número de trechos. mais viva que a do Uraguai: celebra o índio converso. aves e peixes. inclusões artificiais. as previsões e retrospectos. cujos traços peculiares ficam parecendo defeitos: as longas falas. 63 #Imitemos a Aimbire. Anchieta. e em frente da cabana de Coaquira. ou mal folheadas. Ele. as obras deste tipo são geralmente lidas de carreira.. Tibiriçá. tr esdobra por assim dizer o objeto épico. que nestes pingues bosques jamais faltam. não os distinguiremos da prosa comum: "Para que nada aos hóspedes faltasse. no chão puseram tudo. desfibrando um gênero fundado essencialmente na opção a favor dum ponto de vista. com isto. retórica prosaica. a cara pátria e a liberdade. prolixidade. igaçabas de vinho e várias frutas. Não é convincente o recurso compensatório de distinguir dos bons os maus portugueses. E quando alguma vez vier altivo Leis pela força impor-nos o estrangeiro. cada qual lhes levou algum presente de cuias de farinha. No conjunto é uma maquinaria pesada e desgraciosa. incompatível com a sobrevivência das culturas aborígenes. em largas folhas de banana e de inhame. defendendo A honra. Magalhães é preso de certa indecisão. (renegado. e o catequizador. sem a elevação indispensável ao gênero.. para a doutrina indianista pura). o torn expositivo. como Alcântara Machado. à sombra de frondentes cajueiros. com a intenção prévia de louvar ou denegrir. des .io nacional: Vítima ilustre De amor do pátrio ninho e liberdade. atribuindo-lhes a culpa de uma atitude que estava implícita no próprio esforço colonizador. Nada mais fácil do que fazer espírito à sua custa. que aqui nasceu. "(IX) Não é contudo a nulidade referida por muitos críticos. que serviam de toalhas e pratos viridantes do suspirado Éden. o lamento de Iguassu. De Basilio e de Cláudio. hispire-me este céu. esta. ."! "". nobreza de muitas seqüências e alguns bons trechos. nessas terras Do saudoso Carioca. como a descrição do Amazonas no canto I Baliza natural ao Norte avnlta O das águas gigantes caudaloso."". n rápida e excelente indicação da vida tribal no canto in Já dos escuros bosques c altos montes. máximas no IX e X. coerência do desenvolvimento. .tacando versos ridículos e trechos fracos. Esse céu. 64 A partir do canto VI a qualidade baixa. Nos braços maternais. a propósito do poema d e Anchieta em Iperoig. acentuando-se a dureza prosaica e a falta de imaginação." . . que viu-me infante. Bíblicos salmos inspirou a Caldas. no canto IV. e após. que se precipitam com ar de remate apressado. " " " . Esse céu que o inspirava. onde os Anjos já sabiam " Os nomes de Durão. Mas uma epopéia vale pelo conjunto. E o meu suspiro extremo. traça brevemente pequena genealogia da nossa literatura. tocante. tem certa categoria na largueza da concepção. E a San-Carlos os cantos numerosos Da sidérea Assunção da Sacra Virgem. mais tarde. nela incorporando o seu esforço: „ Mas quem ali seus cantos entendia? O céu. Aí. paralelo ao canto do sabiá: Sobre o cume de um monte alcantilado.. onde descansam Os ossos de meus pais. e de outros vates. surge uma passagem. o puro céu a quem cantava. beber co"a vida Este amor da harmonia que afagou-me. apesar de medíocre e mesmo ruim.. senão bela. porém. onde o poeta. E possa ouvir meu canto derradeiro. dos Alvarengas. do espanhol Cadalso. sem falar que tal vez o autor desejasse parecer moderno. nem esqueçamos a publicação integral d"Os Túmulos. à memória dos filhos. "S #Em 1842 um intelectual italiano do Rio. como vimos. adequar o verso às variações da narrativa e estado de espírito dos personagens: "O Louco do Cemitério". na tradução de Francisco Bernardino. Pindemonte e Torti. e ao atravessar deste modo as lindes do Romantismo ultraísta. mostrava-se menos "arrependido" do que julgou Alcântara Machado. Esta composição macabra foi quiçá determinada pelos tons lutuosos do decênio de 185O. pois Magalhães nunca andou perto dela. em 185O. onde encontramos desde o muito ruim até o péssimo absoluto. equiparando-se ao moço Alvares de Azevedo. acabando por torná-lo considerado pior do que é. pouco depois. Magalhães soube transmitir de . mas há certa originalidade e desenvoltura mais acentuadas que no resto da sua obra. poemas tumulares de autoria própria e traduzidos de Foscolo. a Minerva Brasiliense (que reunia amigos e discípulos de Magalhães) estampava as Noites Lúgubres. sobretudo. Nos Cânticos Fúnebres. Luís Vicente De Simoni. que Fernandes Pinheiro. Magalhães reuniu poemas compostos e alguns publicados num lapso de trinta anos (1834-1864).. de "noivados no sepulcro".(X) O bafejo palaciano que pretendeu sagrar e impor A Confederação dos Tamoios contribuiu em vez disso para comprometê-lo junto ao público e à opinião dos literatos. publicara. aqui e em Portugal. condenado por ele e os da sua geração. onde tenta. como os tais "Mistérios". reputava superiores às Contemplações. marchetado. por meio da mudança de metros e ritmos. corn verdadeiro espírito de cônego. inclusive a fala do coveiro. Não é grande poesia. o do Hamlet. Só merece referência um poemeto em seis cantos. "O Louco do Cemitério" pode ter sido estimulado por estas obras. de Borges de Barros. lembrando o de Cadalso mas.. no pão.. . Na água que bebo. Abre-te. Vivo enterrado.quando "reinou a bsoluto na literatura brasileira". no ar. na música de Rafael Coelh o Machado..-. porém. . No pão que como.---. na carne. independente das exigências do gosto. Seja qual for. Januária. A morte aspiro. Sem descansar. Na cova os ponho.. corn eles sonho. Entre eles durmo. os de formação do Romantismo. Já cheira a morto . -\--:. isto é. Sempre cavando. a força própria dos acontecimentos literários.transfundida na terra.: " " "-" No ar que respiro. ó terra. -i . Que serei teu. Da morte o aspecto Já não me assusta Que a vida ganho Da morte à custa.1* . Para enterrar. 66 Da sua poesia lírica falta mencionar a reunião de poemas à noiva. dá-lhe como feudo os anos que vão mais ou menos de 1836 a 1846. O corpo meu. em seguida mulher. o juízo a seu respeito. . serei.modo convincente o macabro cinismo com que refere a sua impregnação de morte. . . tirou o anagrama imperfeito do título Urânia. São fracos.* mas alcançaram voga e foram cantados pelo Brasil afora. relegada a uma espécie de rotina trágica: Vivo co"os mortos. Quantos defuntos Já enterrei! " Defunto eu mesmo Também. de cujo nome. o retrato do autor de D. contemplando Paris ao clarão da lua: "Se me dissessem que tudo isto é pintado. Encontramo-lo. E se o fr ancês lhe fixa a vocação para a pintura. H. parece que a faculdade de admirar foi sempre um dos modos por que se realizou esse homem born e honesto. Mas. "Aí o visitou muitas vezes o poeta e pintor brasileiro Manuel de Araújo Pôrto-Alegre.(14) Haroldo Faranbos. em Paris. onde es tudava a pintura (sic). Hittória do Romantismo no Brasil. penetra nas letras graças a uma nova amizade. por esse distinto artista. ao menos lembrar o papel que ele também desempenhou nos fatos literários em que o outro foi líder. como conseguiu quebrarlhe a resistência e levá-lo a divertir-se um pouco. trabalho que ele muito estimava. e ficou tão encantado com as vistas que exclamou à saída. facilmente o acreditaria agora!"15 . pág. senão acentuar. discípulo e amigo reverente de Debret. Uma única vez acompanhou Pôrto-Alegre a o diorama. quando teria sido humano. AMIGO DOS HOMENS E DA POESIA Em nossa literatura há poucas amizades tão fiéis quanto a de Pôrto-Alegre por Magalhães. a de Garrett. depois Barão de Santo Ângelo. E nessa ocasião foi feito. que o levavam a fugir dos admiradores brasileiros para evitar despesas. 67 #3. vestido com a farda do corpo acadêmico. que passava então. 43. Branca. que segue à Europa. rol. a ponto de esquivar-se para o amigo entrar mais folgado na História. receoso de se ver humilhado se o convidassem para divertimentos ou passeios em que não pudesse gastar dinheiro. Também nessa ocasião travou relações de amizade com outros estuda ntes brasileiros. PÔRTO-ALEGRE. por independência de caráter se afastava deles. mas como todos eram menos pobres. mas o solícito Pôrto-Alegre não apenas lhe fez o retrato. sérias dificuldades financeiras de exilado. primeiro. inclinada a imitar e admirar. Pedro II. pág. Para o movimento inicial do Romantismo interessam os "Contornos de Ná poles". feita através do autor de Dona Branca. a "Idéia sobre a Música". por vezes. não obstante briosa. e algumas dezenas de poesias espalhadas por revistas e jornais. discursos e a epopéia Colombo. Garrett. da Lírica de João Mínimo. No poema com este nome. onde se nota a inf luência de Garrett por um truque métrico destinado a ressaltar a melodia do rouxinol. o culto por D. com a sua fisionomia nervosa e aguda. Os "Contornos de Nápoles" são um documento importante desse sentimento ao mesmo tempo emoc ionado e afetado. com quem fundou e dirigiu a re(15) 68 vista Guanabara.Em seguida. tão dos nossos reformadores. 1. enfeixadas mais tarde nas Brasilianas (1863). entre os quais Gonçalves Dias. raços no espaldar das cadeiras. Isso. Pôrto-Alegre apoia os b Francisco Gomes de Amorim. envolvendo-os como um born São Bernardo.. cujo pai já lhe manifestara benevolência. A leitura desses escritos mostra que sendo um poeta de pouca inspiração. Deles faz parte o poema "Voz da Natureza. peças de teatro. Uma preciosa fotografia tirada em Carlsbad no ano de 1862 reúne os três próceres do Romantismo inicial: sentados. 589. manifestava contudo. Uma natureza afável e plástica.° vol. de pé. canto sobre as ruínas de Cumas". que o lança decididamente na literatura. o poeta português representa o seu canto por meio de estrofes isorrítmicas (setissílabo 3-7): Pôrto-Alegre faz o m .16 A sua obra compõe-se de poesias líricas. mas a quem ele por sua vez deve ter comunicado a descoberta do novo espírito literário. que foi a grande ocupação da sua vida trabalhosa de funcionário. é o encontro com Magalhães. terno e grandíloquo. o aristocrático Magalhães e o autor d"Os Timbiras. não contando dezenas de amigos. grandalhão e vigilante. majestosa e pitoresca. artigos. pintor e escritor. que obcecará os poetas mais novos. publicados ambos na Niterói. Finalmente. inaugurando a poesia da Itália. sentimento mais romântico do que muitos contemporâneos. . teus suaves raios. Que fala ao coração com tal potência."-. (16) "Tenho servido ao Imperador. 1846. Manuel ãe Araújo P&rto-Alegre. 69 #eminentemente plástica. Da consciência nossa a imagem.i <. . ("O Céu". música mais pura e difícil. para sugerir movimentos da natureza e do esoírito. ". de que fala com amor e transporte no ensaio da Niterói. ou intercalando-os em seqüências de verso branco. E as fugitivas ondas argenteiam. " Daí por diante recorrerá a este metro." " E cantando adormeço contente. . num rasgo do pior gosto. por certo tributo à música. pintam. trechos do Colombo)." (Da correspondência inédita. Que plácidos se esbatem nas campinas. 18 45. O Canto do Harpoador". Tenho sofrido por ser leal e por o u am Ainda não postulei uma só graça do Governo: até hoje tenho cumprido lííif118" e até sacrt íicado o meu bem-estar geral. onde também procurou.? . "A destruição das florestas". -Hélio Lobo. de maneira independente. --. assim como ao endecassílabo 2-5-8-11. ap. chegando. É como se quisesse completar a tendência escultórica da sua sensibilidade.. pág.esmo com o novessílabo 3-6-9. 1836. Procura mais de uma vez senti-la no canto dos pássaros. . ao Governo e ao meu país com lealdade e aesinteresse. usado pouco antes por Magalhães: Sobre uni olmo fabrico o meu paço. 33). Quando a noite desdobra o seu véu. Que iluminam os círios do céu.. na voz da natureza: Pálida Lua. ". românticamente. no poem a dedicado a Magalhães (1835). e do Imperador n&o tenho queixa. . a chamar o rouxinol de "Rossini das aves". Que a dor para mim é vida E o penar consolação. vemos a poesia sertaneja sem atavios europeus. onde narra. a jornada venatória de um caboclo: acorda.lembram peças como o Niterói. que dá uma tonalidade agradável à narrativa pitoresca. verificaremos quanto Pôrto-Alegre ainda se prendia aos neoclássicos da última fase. inclusive pelo aproveitamento do desafio e a presença muito sugestiva da viola.) Contribuindo para a tentativa muito interessante de Joaquim Norberto de adaptar ao Brasil a balada romântica.Sem nos lábios volver mn som de frase. a citara e a grotesca "sanfoninha" dos árcades. A mesm . Pela estrada taciturno you gemendo e suspirando. Como a rola gemebunda. refrescando a poesia erudita nos veios populares. etc. Ao crebro som do cincerro. de Januário da Cunha Barbosa. 7O you gemendo e suspirando De saudade e de aflição. (1844). alta harmonia Desenvolve a N atura em seus concertos. " Misterioso acento. sai. que aparece na literatura brasileira. com que os alemães e franceses tentavam estilizar os temas medievais. os seus longos poemetos naturistas e descritivos . a sintaxe e o vocabul ário. de Victor Hugo. O poeta imprimiu certo recuo ao objeto. já que se havia arquivado a lira. Mas se passarmos dessas amostras de Romantismo para o conjunto da obra. acua e mata a paca. ("A meu amigo". o verso branco modelado fortemente em ritmo prosaico. compôs "O Caçador". Noutros poemas. Que o meu love vai guiando. tra tando-o com leve ranço de passado. em nítida e saborosa transposição da "Chasse du Burgrave". Desgarrada na espessura."A destruição das florestas". . pelo torn retórico. notadamente "O Corcovado". embora impregnados de certa exaltação contemplativa e mais fluència. Na estrada de noite e dia Choro a minha desventura. como "O Pouso" (185O). comendo-a festivamente num banquete rústico. que entumescem o período e engodam o leitor. E nas eivadas. aproveitando qualquer pretexto para espraiar-se em minúcias. .De escarnadas escamas se De verdes lanças.. --". curvados pelo próprio peso. revestem." --". De qualquer forma.". -:-". a sintaxe rebuscada. De antiga capital.--. enfiados cardos. Preferiu sempre o poema descritivo e longo. tempo e de esbr"oadas moles. ou se apareceu como ajuste conveniente a esta caudalosa incontinência. cheio de dados e cenas."-De róseos cachos em pedúne"los áureos. . ---. . .":-. -""---" " Como egípcios colossos sobre as ruínas ". . . mesto argamassado. de estrigadas farpas. Formado nas artes plásticas. imprime ao verso um relevo quase sempre fictício: desamparado de inspiração para sustentar a sua musculatura saliente. daí nasceu o mais 71 .a prolixidade retumbante. -Dois monstros de granito se levantam ..".:--:. " Ladeando a fauce undosa da alva ingente. . . ou sobre a campa : i f .. Como em festiva noite ornado mastro.Outros de rubro agárico se bolsam.---".. o esteio real é a palavra sonora. bolorentas fendas. <--) À vista of"recém. . ("O Corcovado". Seria o caso de perguntar se a vocação épica era nele responsável pe lo derrame verbal. -"-"" "-""" ("A destruição das florestas". I) . . envolvendo desígnios de exaltação patriótica.. H) Não é de espantar que tendesse à largueza da epopéia. Do pó do De extinto império. Outros. deixada sem freio. inexistência do protagonista.. a versalhada incontída do Assunção. despedidas. Tais porções da obra (mais de um terço) lembram. Pôrto-Alegre foi dotado de facilidade excessiva que. . lamenta de certa forma a privação de graça a que está sujeito. No canto X. onde o navegador aparece. em molde bem mais forte e correto. recapitulando pontos de exame com inúteis pormenores e sínteses prolixas. depois dragão. Este demônio solícito possui o espírito generalizante e retórico dum professor de filosofia ou história do Imperial Colégio de Pedro II. assumira as formas de intrigante canarim. isto é.. aporta-se a uma ilha misteriosa e o herói entra em contacto com o mais divertido figurante do livro: o diabo Pamórfio. campeão ignoto de um torneio!. para de lá mos trar-lhe eruditamente as idades pré-históricas. paquiderme de quarenta cantos. Dois traços chamam desde logo a atenção: falta de necessidade em quase todas as partes.como "Cavaleiro Negro". tratado com mau humor por Colombo.#extenso poema da nossa literatura. imprecações. obra principal onde se compendiam os seus muitos defeitos e poucas qualidades (1866). inclusive a falta de assunto real. que subjuga e se torna por algum tempo seu servidor. fortaleza de ânimo. levando-o ao Inferno. . depois beldade. incapacidade de convencer ao leitor que a superabundància de detalhes e implacável prolixidade constituam realmente um assunto. reconhece a grandeza de Deus e suas obras. Trata-se de celebrar o feito de Colombo. o terrível Colombo. as grandes civilizações do Velho e Novo Mundo. Vêm a viagem. cujo leite é geralmente pobre quando muito abundante. Voltando o feitiço contra o f . começando por um prólogo sobre a tomada de Granada. de tal modo que ao retomar no canto XXIV a integridade infernal não o levam os a sério.Ivanhoe mist urado de Eurico. Como as mães. Fazendo jus ao nome. para afinal tomar-se o provido Virgílio de Colombo. resultou em poesia oca e demasiada. com o qual apresenta analogias. durante quinze cantos! Mais pobre diabo que outra coisa. retomando de p erto Santa Rita Durão. retorno. mas a cabeça De bilingüe serpente sibilando. revelando ausência completa de caraterização psicológica. vocábulos raros. "-. contacto com os americanos. mesmo no nível modesto ^em que a requerem as epopéias e Magalhães conseguiu atingir n"A Confederação dos Tamoios. como. Não espanta. sua mitologia. dentro do espírito de todos os poemas brasileiros a partir d""A Ilha da Maré": Enchia a taba. pois. a descrição do chefe Guacanagari. as iguarias tropicais. Note-se que.. no canto XXVII. (XXIV) Quando calha poder acumular substantivos e adjetivos raros sem prejuízo. quando a tendência retórica se sublima em certas imagens. flora. o escrínio odoro De ebúrneo tirso alveolado. Do canto XXV ao XL esta impressão se acentua. -----. recendendo o aroma. sobrecarregadas mas belas: E a magnólia de jaspe. poderíamos aplicar-lhe um termo que usa com freqüência e dizer que o seu poema é exemplo perf eito de vanilóquio. ou. sobretudo. desamparo e morte do herói. onde deu ao protagonista certa estrutura épica e humana. que surjam espaçadamente bons momentos. ao narrar o resto da viagem. maquinações dos invejosos. Na" fulgindo corais. verso empolado. que em meio a tudo circula sem vulto nem per sonalidade. Pôrto-Alegre mobilizou o estilo já referido: frase invertida. fauna. mero acidente dos incidentes e digressões.eiticeiro. abriu-se. costumes. . ..---_ .. o seu verso é quase s empre correto e expressivo: temos a impressão de um bailarino que apurou na barra os elementos fundamentais da técnica e foi depois espanar móveis ou servir à mesa.Para elevar esse imenso e frágil monumento de patriotismo ao nosso descobridor. (é o caso das descrições exóticas) tais momentos se ampliam. perífrases em abundância. tomado em si. no XXIX. . E os nédios escanções co"a jovem dextra O ebrifestante xeres circunfluem. Gorgorejando em lágrimas risonhas. Em tostadas espigas. referida. Não podemos entretanto abandoná-lo sem mencionar o comovente hiato do canto VII. em canjica. e esta boa transposição duma nota do Caramuru. . num país sem estímulo nem compreensão. a que parece tender o nosso derramado poeta. f Quais brancas flores. que em torno deles se ordenam. De cota de ouro e canitar de bronze. É um documento humano. o barbado -milho.O rei das frutas. Outras vezes o verso perde o torn hirto e se amaina em suavidade: Filho do céu. quando suspende a narrativa para saudar o amigo Magalhães. constituindo paradoxalmente a melhor parte duma obra a que não pertence de modo orgânico e cuja seqüência interrompe. sincero e profundo. (XVII) --- Mas a natural prolixidade leva-o a abusar dos recursos e não raro a cadência sonora e doce do decassílabo sáfico. Em macias pipocas. em cuja face brilha Da branca lua o resplandor sereno. o ananás alente. traçado com emocionada e sóbria dignidade. dá monotonia melíflua a um contexto geralmente mais áspero. Vá apenas um. e assim justifi car o cultivo da poesia. Lavra o silêncio nos convivas férvidos. nos pratos os cortantes ferros. do Prólogo. queixar-se amargamente do malogro da carreira artística. 73 #Se quiséssemos alinhar exemplos de trechos rebuscados.. . no volume anterior: . eles constituem o eixo da sua concepção e da sua composição. vizinho da comicidade pela complicação desnecessár ia e perversão erudita (trata-se de descrever um banquete): Começa o prândio: Tinem. e encontrou no Odorico Mendes tradutor de Homero um ápice de tolice.. repetido seguidamente. Sente-se o mesmo espírito que registramos nos árcades rotinizados. . rebentadas. não teríamos mãos a medir. . no borralho intenso. 75 . mas. Mansa e risonha refrangindo as ondas. meditando. decalcando o evidente modelo: Ei-lo em pé no rochedo. durante esse decênio pubücou várias baladas de cunho popularesco. a Guerra Hola ndesa. Cruzas os braços sobre o altivo peito E curva a augusta fronte. E a viração da tarde amena e fresca. que lhe resta De tantos tronos que lhe dera. que uma lousa. escreveu vários Cantos Épicos. menos bafejado pelos in fluxos da sólida panela. episódios da Independência e até Napoleão. Vêm as ondes murmuras q uebrar-se Contra esse escolho. Mais tarde. com efeito. pelos temas e preocupações é uma espécie de ponte entre Magalhães e Gonçalves Dias. já vimos que cantou pudicamente a esposa n"O livro de meus amores. aqueles intimamente ligados ao grupo do "senhor de Magalhaens". (Soydo Júnior) nunca fez um verso prestável. discip"lo exímio Do grande Magalhaens. embora tenha publicado muitos volumes de poesia. Dutra e Melo e Teixeira e Sousa. sobre Tiradentes. destacam-se três por diversos títulos: Joaquim Norberto. medievista e indianista. Após tanto esplendor de vida e glória. mais preso ao grupo da "Petaíógica" de Paula Brito. se nas Modulações poéticas (1841) tange a lira sentimental e filosófic a do mestre. dedicados ao Imperador. vale. Norberto.74 4. ÊMULOS Dentre os poetas que adotaram conscientemente a reforma da Niterói. o gênio. que antecipam e anunciam os temas do maranhense. Estremado cantor.! ("A visão do proscrito") Pertencendo a uma geração literária de maridos virtuosos. este. num acesso de injustificado ciúme. corredios: Sobre esta cor bem dia -por sobre a coma Recendentes jasmins em nívea cr"oa! Assim as sobrancelhas se assimilham A tão formosa grenha. anacoretas misteriosos. Menina. profecias. suspirando. o poema indianista. um longo poema indianista e a longuíssima epopéia sobre a Independência. agita.#menos de dois volumes de poesias líricas. Que as meigas asas.pois a casta criatura nada mais fazia que abraçar o pai. à volta do herói. Na empresa ambiciosa d"A Independência do Brasil. As poesias líricas são ruins. mas reaparecido de supetão. a história de Miriba. Três dias de um noivado. fulge a peripécia romântica em todo o seu descabelado vigor: naufrágios. pouco melhor. infaustamente assassinada pelo esposo. cingindo-se aos moldes mais ortodoxos: um herói. no 2. visões tenebrosas. reputado morto. disputa de entidades sobrenaturais que protegem ou comba . recorreu à oitava camoniana. coincidências. péssimo. Lindos cabelos negros. no 1. São recomendáveis. um grande feito. . como exemplos de prolixidade e falta de inspiração. se complica em Os três dias de um noivado (1844) pela per<wWrsão léxica e sintática dos neoclássicos rotinizados: Em doce arfar os de ébano lustroso. Morada venenosa! ("Aos anos de uma menina") Esta lenga-lenga pedestre. Miriba. que se escalonam em má composição e pior estilo. Sobre os formosos ombros de alabastro. sabes tu por que nasceste? Sabes no inundo qual missão te espera? Sabes donde vieste? Oh! não saias da infância deleitosa! Não entres neste mundo de misérias. 49) Tais versos se referem à noiva. Ao lado de atavismos arcádicos.°. Contrastam graciosos embalados Pelo amante bafejo de uma brisa. no terceiro dia. A Independência do Brasil. (Canto I. igual à de qualquer poetastro da época. mestiça de índia e português. narrações retrospectivas. Corimbaba. encontros providenciais. (1847-1855).° Canto a descrição da costa de CaboFrio. amigos. finalizando o poema por uma visão extatíca do primeiro I mperador. simbolizando as capitanias e trazendo uma coroa verde-amarela. Mui tarde procurou do sono o trato: Aquele corpo assim tão fatigado Deitou- se e adormeceu mui sossegado! (127) Em sonho. Eis o Príncipe Regente às margens do Ipiranga. De pulquérrimas galas pr"amentadas. esta pesada traquitana. e ocupa todo o canto XII. prata e de diamantes. no canto XI: Sem parar caminhando o moço ardente Parou neste lugar formoso e grato.. nivelando-a quase à p oesia de cordel pela banalidade da rima e do conceito. na sua primeira viagem a Minas. que avança a passo lento.tem 78 o herói . nobre e guerreiro. Cobertas d"ouro. Este narra os fatos naturais e sobrenaturais durante oito cantos. e uma. desfigurando a oitava heróica. com sua pouca.Pedro I. Virgens seis vezes três. a familiaridade pejorativa do ritmo. nos finais.. em que se desvenda o futuro. (131) E eis o que consegue arranjar para o momento culminante: "Nada mais de união! d"ora em diante Portugal para nós seja estrangeiro! Viverá para si nobre e possante O Venturoso reino Brasileiro! Juremos pois. mas alegre gente. aparecem-lhe. expõem-se os acontecimentos desfechados com o grito do Ipiranga. é desvaliosa como concepção poética. neste instante. Seguir da cara pátria a livre sorte. De fúlgidas estrelas coroadas. Bra . com ânimo fiel. Embora não falte certo engenho à concepção. gemantes. Nas margens pernoitou deste regato: Até mui tarde conversou contente. Há uma estranha mistura de facilidade popular e pedantismo erudito. Deu-lhes sobretudo a idéia do Romantismo. separa-se dos mais moços pela ausência de pessimismo e deliberada resistência à intemperança sentimental. como pelo apego à harmonia neoclássica. do sentimento religioso como ideologia. o padrão a que se referem como inspiração e exemplo.v 5. a ostentação do sofrimento. Tei xeira e Sousa dedilha as notas do infortúnio e da dor como quinhão do poeta.Independência. fornece aos sucessores o molde. Vincula-se ao grupo de Magalhães não só pelas relações e o intuito nacional. a religiosidade afetada. Gonçalves Dias se destaca no medíocre panorama da primeira fase romântica pelas qualidades superiores de inspiração e consciência artística. nem por isso menos forte na expressão e rico na personalidade. uma categoria perdida desde os árcades maiores e. distendendo a corda romântica. como paradigma. GONÇALVES DIAS CONSOLIDA O ROMANTISMO. são fanais e carta de nobreza. Para todos eles. No Romantismo. onde. o citado prólogo em prosa de Os três dias de um noivado. Os temas do poema "arrancaram à sua melancólica dor uma poesia sentimental". inspirando e dando exemplo. a que se apegam como princípio. ou Morte! -" (15O) 79 #Não espanta que para gente desse naipe Magalhães aparecesse como verdadeiro gigante. é fá cil ver que a exaltação poética pela pátria. no Brasil. é o escritor sobre todos decoroso e elegante. Por outro lado. que herdou dos setecentistas e primeiros românticos portugueses. ao modo de Cláudio Manuel. mesmo quando recaem na tradição arcádica.dando sempre . Contribui ao lado de José de Alencar para dar à literatura. 8O :Í ít. Leia-se. O seu traço peculiar consiste porventura nessa difícil coexistência da med . Almeida Braga põe a Clara Verbena sob a sua égide. a ele se dirige Varela. em 1871. teimosa mente.. e que deve com jus81 #tiça ser chamado o criador da poesia nacional". revelador do Brasil aos brasileiros. Os primeiros Cantos". Magalhães" foi sempre o reformador da literatura brasileira e o patriarca do estilo novo. num tempo em que os temperamentos literários mais poderosos se realizavam pelo transbordamento. legada pelo neoclassicismo e sensível em sua obra até sob as manifestações ocasionais do mal-do-século. pois O hálito de Deus tocou-te a fronte. sob o patético da vocação romântica. procura da expressão de tal maneira justa que outra seria difícil. chamando-o "soberbo cantor". persistia nele. como o ve rdadeiro criador da literatura nacional.. regenerador da "rica poesia nacional de Basílio da Gama e Durão". desde meados do século. No ano seguinte. por ter celebrado a gente e as coisas do pais. considerava-o o mais alto dos nossos líricos. Se para o grupo da Niterói e da Minerva Brasiliense o "sr. fuga ao adjetivo. Coincide com este o ponto de vista de um crítico obscuro. a maioria dos poetas e mesmo jornalistas considerava Gonçalves Dias. que no mesmo ano assinalava a sua grandeza de pioneiro. . Em 1859. valendo o equilíbrio quase como sinal de mediania afetiva e artística. a necessidade da medida. oh. Envia-me o segredo da harmonia Que levaste contigo!. por meio do livro renovador.ida com o vigor. pois era "o poeta que mais tem primado nesse gênero. envia. mestre. Em 1849 Alvares de Azevedo via nele a fonte de inspiração para os novos e. A "Canção do Exílio" (banalizada a ponto de perder a magia que no entanto a percorre de ponta a ponta) representa bem o seu ideal literário: beleza na simplicidade. É que. pedindo inspiração para o Anchieta: . Macedo Soares. Formando-lhe ao redor uma coroa... Em 1875 é publicada a "Nènia" onde Machado de Assis consagra o bardo das glórias indígenas, chamado em 1876 por Franklin Távora " a mais poderosa e inspirada musa da nossa terra".17 Entre as vozes discordantes, Bernardo Guimarães, mas apenas quanto a Os Timbiras, que atacou severamente no ano de 59.18 Mais tarde, compendiou ritmos e modismos gonçalvinos num poema obsceno, "O Elixir do Pagé", consagrando, por assim dizer, o indianismo na musa secreta. Gonçalves Dias nunca foi jactancioso, nem se meteu em questões literárias; mas tinha consciência do seu papel: "Fui para o Rio em 1846, em cujo ano apareceu o 1.° volume de minhas poesias Primeiros Cantos. Algum tempo se passou sem que nenhum jornal f alasse nesse volume, que, apesar de todos os seus defeitos, ia causar uma espécie de revolução na poesia nacional. Depois acordaram todos ao mesmo tempo, e o autor dos primeiros cantos se viu exaltado muito acima do seu merecimento. O mais conceituado dos escritores portugueses - Alexandre Herculano - falou desse volume com expressões bem lisonjeiras, - e esse artigo causou muita impressão em Portugal e Brasil. (17) Alvares de Azevedo, "Discurso recitado no dia 11 de agosto de 1849" etc.. Obras Completas, 2." vol., pág 44; N. J. Costa, "Literatura Brasileira. Algumas considerações sobre a poesia: BP, vol. I, n.° 5O, pág. 2, Macedo Soares, "Jovens escritores e artistas da Academia de S. Paulo" BP, Ano I, vol. 2.°, pág. 377. Os versos de Varela estão no Anchieta, ou Evangelho na Selva, Canto 1.°; os de Almeida Braga vêm como preâmbulo ao seu poema Clara Ve rbena; os de Machado constam das Americanas; a referência de Távora se encontra na carta-prefácio d"O Cabeleira. A título de curiosidade: por ocasião da morte do poeta, um admirador português, José Joaquim da Silva Pereira Caldas, publicou um folheto contendo traços biográficos, poesias e os mais altos encômios: Desafogo de Saudade: na desastrosa morte do distin to bardo maranhense, etc. etc., "Coincidência ou destino, só a Imensidade do mar abriu sepultura à imensidade do gênio d"Antônio Gonçalves Dias". (Pág. 4) (18) Basilio de Magalhães, Bernardo Guimarães, págs. 214-216. 82 Mas já nesse tempo, o povo tinha adotado o poeta, repetindo c cantando em todos os ângulos do Brasil".1" Tudo isso se justifica, porque nele as novas gerações aprenderam o Romantismo. Sob este ponto de vista foi o acontecimento decisivo da poesia romântica e todos os poetas seguintes, de Junqueira Freire a Castro Alves, pressupõem a sua obra. A partir do s Primeiros Cantos, o que antes era tema - saudade, melancolia, natureza, índio - se tornou algo novo e fascinante, graças à superioridade da inspiração e dos recursos formais. Embora os sucessores hajam destacado a ""poesia nacional", o indianismo, nele encontraram muito mais: o modo de ver a natureza em profundidade, criando-a como significado ao mesmo tempo que a registravam como realidade; o sentido heróico da vida, supe ração permanente da frustração; a tristeza digna, refinada pela arte; no terreno formal, a adequação dos metros à psicologia, a multiplicidade dos ritmos, a invenção da harmonia segundo as necessidades expressionais, o afinamento do verso branco. Mesm o quando se abandonaram à incontínência afetiva e à melopéia; mesmo quando buscaram modelos em poetas estrangeiros, - sempre restava neles algo de Gonçalves Dias, cuja obra, rica e variada, continha inclusive o germe de certos desequilíbrios, que as g erações seguintes cultivarão. Mas como lhe coube, na linha central de formação da nossa literatura, promover a realização do tema reputado nacional por excelência, passemos à sua poesia americana, (é o nome dado por ele), que coroa os esforços medíocres de Pôrto-Alegre e Norberto, em seguimento à "Nènia" tão influente de Firmino Rodrigues Silva. Note-se que o indianismo de Gonçalves Dias, mais que o das baladas de Norberto, é parente do medievismo coimbrão, que praticou in loco e deve ter influído no seu propósito de aplicar à pátria o mesmo critério de pesquisa lírica e heróica do passado.2O As Sextilhas de Frei Antão, "O Soldado Espanhol", "O Trovador" (poemas medievistas) poder-se-iam considerar pares simétricos d"Os Timbiras, do "IJuca Pirama", da "Canção do Guerreiro", pela redução do índio aos padrões da Cavalaria. Vejamos, porém, como se comportou dentro dessa corrente literária, cuja importância genérica, tanto social quanto estética, foi porventura mais decisiva do que os produtos que deixou. Como poeta, e quiçá por atavismo neoclássico, ele procura nos comunicar uma visão geral do índio, por meio de cenas ou feitos . (19) "Autobiografia escrita em 1854 para Ferdinand Denis" em Manuel Bandeira, Gonçalves Dias, pág. 1O. (2O) "O poeta brasileiro Gonçalves Dias pertenceu a este grupo de poetas medievistas. Neste gosto escreveu Sextilhas de Frei Antão", etc. Fidellno de Figueiredo, História da Literatura Romântica, pág. 159, nota. 83 #ligados à vida de um índio qualquer, cuja identidade é puramente convencional e apenas funciona como padrão. Já Alencar, romancista, procura transformá-lo em personagem, particularizando-o e, por isso mesmo, tornando-o mais próximo à sensibilidade do leitor. O tamoio da "Canção", ou o prisioneiro do "I-Juca Pirama", são vazios de personalidade - mas ricos de sentido simbólico. Por isso mesmo, talvez as peças mais realizadas e certamente mais belas da sua lira nacional sejam poemas como este últim o, onde nos apresenta uma rápida visão do índio integrado na tribo, nos costumes, naquele ocidentalizado sentimento de honra que, para os românticos, era a sua mais bela característica. Gonçalves Dias é um grande poeta, em parte pela capacidade de encontrar na poesia o veículo natural para a sensação de deslumbramento ante o Novo Mundo, de que a prosa de Chateaubriand havia até então sido o principal intérprete. O seu verso, incorpor ando o detalhe pitoresco da vida americana ao ângulo romântico e europeu de visão, criou (verdadeiramente criou) uma convenção poética nova. Esse cocktail de medievismo, idealismo e etnografia fantasiada nos aparece como construção lírica e heróica, d e que resulta uma composição nova para sentirmos os velhos temas da poesia ocidental. Belo exemplo é a admirável utilização da mulher de dois sangues, que traz ao lirismo uma ressonãoncia mais pungente do sentimento de incompreensão amorosa. A marabá é desses monstros diletos do romantismo (Quasímodo, Gwymplaine), postos pela fatalidade aquém da plenitude afetiva: só que, neste caso, monstro extremamente belo e, por isso, mais trágico no seu desamparo: Meus olhos são garços, são cor das safiras, Têm luz das estréias, têm meigo brilhar; Imitam as nuvens de um céu anilado, As cores imitam das vagas do -mar." Sc algum dos guerreiros não foge a metts passos: - "Teus olhos são garços", Responde enojado, "mas és Marabá: "Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, "Uns olhos fulgentes, "nem pretos, retintos, não cor d"anajá!" O "Leito de folhas verdes" é a obra-prima do exótico tomado como pretexto para inserir em dado ambiente um tipo de emoção que, em si, independe de ambientes, mas vai se renovando na lírica, pela constelação dos detalhes sensíveis. Numa das estrofes, a simples referência à arasóia (tanga de penas) faz a emoção vibrar numa 84 tonalidade desusada, que refresca e torna mais expreséfw^ji declaração de amor: " \ Meus olhos outros olhos nunca viram, Não sentiram meus lábios outros lábios, Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas, A arasóia na cinta me apertaram. Para o leitor habituado à tradição européia, é no efeito poético da surpresa que consiste o principal significado da poesia indianista, como o da liga vermelha de Araci, a liga rubra da virgindade, que tarda a ser rompida por Ubirajara e dá à paixão d e ambos uma rara e colorida beleza. Atentando para essa função propriamente estética do pitoresco e do exótico, vemos quanto carece do sentido a conhecida alegação de que o valor dum escritor indianista é proporcional à sua cornpreensão da vida indígena. Sendo recurso ideológico e estét ico, elaborado no seio de um grupo europeizado, o indianismo, longe de ficar desmerecido pela imprecisão etnográfica, vale justamente pelo caráter convencional; pela possibilidade de enriquecer processos literários europeus com um temário e imagens e xóticas, incorporados deste modo à nossa sensibilidade. O índio de Gonçalves Dias não é mais autêntico do que o de Magalhães ou o de Norberto pela circunstância de ser mais índio, mas por ser mais poético, como é evidente pela situação quase anormal q ue fundamenta a obra-prima da poesia indianista brasileira - o "I-Juca Pirama". O "I-Juca Pirama" é dessas coisas indiscutidas, que se incorporam ao orgulho nacional e à própria representação da pátria, como a magnitude do Amazonas, o grito do Ipiranga ou as cores verde e amarela. Por isso mesmo, talvez, a crítica tem passado pru dentemente de longe, tirando o chapéu sem comprometer-se com a eventual vulgaridade deste número obrigatório de antologia e recitativo. No entanto, é dos tais deslumbramentos que de vez em quando ocorrem em nossa literatura. No caso, heróico deslumbr amento com um poder quase mágico de enfeixar, em admirável malabarismo de ritmos, aqueles sentimentos padronizados que definem a concepção comum de heroísmo e generosidade e, por isso mesmo, nos cornprazem quase sempre. Aqui, porém, o poeta inventou um recurso inesperado e excelente: o lamento do prisioneiro, caso único em nosso indianismo, que rompe a tensão monótona da bravura tupi graças à supremacia da piedade filial: Guerreiros, não coro Do pranto que choro, 85 #Esta suspensão da convenção heróica, não condizendo com a expectativa de valentia inquebrantável, introduz no poema um abatimento que mais realça, pelo contraste, a maldição dramática do velho pai: Sempre o céu, como um teto ineendido, Creste e punja teus -membros malditos E oceano de pó denegrido Seja a terra ao ignavo tupi. A rotação psicológica do poema, as alternativas de pasmo e exaltação, se realizam de modo impecável na estrutura melódica, nos movimentos marcados pela variação de ritmo e amparados na escolha dos vocábulos. Bem romântico pela concepção, tema e arcabo uço, o "I-Juca Pirama" tem uma configuração plástica e musical que o aproxima do bailado. É mesmo, talvez, o grande bailado da nossa poesia, com cenário, partitura e riquíssima coreografia, fundidos pela força artística do poeta. Exemplo de cenário: A"o meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos - cobertos de flores, , Alteiam-se os tetos de altiva nação. Coreografia: , -- ¥ ; Entanto as mulheres com leda trigança, ;. Afeitas ao rito da bárbara usança, O índio já querem cativo acabar: A coma lhe cortam, os membros lhe tingem, . Brilhante enduape no corpo lhe cingem, Sombreia-lhe a fronte gentil canitar. .-", Ou este solo majestoso: Em larga roda de novéis guerreiros Ledo caminha o festival Timbira, A quem do sacrifício cabe as honras. Na fronte o canitar sacode em ondas, O enduape na cinta se embalança, Na destra mão sopesa a iverapeme, Orgulhoso e pujante. Ao menor passo, Colar d"alvo marfim, insígnia d"honra, Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme. 86 SE o da 4.* pwte, ofegante e ansioso: Meu canto de morte, , ,í Guerreiros, ouvi: ) SOM filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. ? i Ou a sarabanda heróica da parte 9.a, de que se destacam os saltos bravios do prisioneiro. A importância estética do "I-Juca Pirama", para compreender a poesia gonçalvina está na variedade de movimentos que integram a sua estrutura. Tomado no conjunto é uma experiência essencialmente romântica de poesia em movimento, em relação ao equilíbri --..-.,:., ; o mais ou menos estável do poema neoclássico. Admirável, todavia, a existência, dentro da sua translação incessante, de certas áreas de repouso, quer pela parada momentânea da coreografia, quer pela cadência vagarosa de um movimento todo vasado no mod elo setecentista: Soltai-o! diz o chefe. Pasma a turba; Os guerreiros murmuram: mal ouviram, : Nem pôde nunca um chefe dar tal ordem! Brada segunda vez com voz mais alta, " "Afrouxam-se as prisões, a embira cede, A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo. í Esta dualidade é o próprio símbolo de toda a sua obra - na qual a musicalidade, o particularismo, o individualismo psicológico se fundem à dignidade clássica e ao gosto pela norma universalizante. Um poema como "Rosa no mar" - puríssima obra-prima - p arece brotado nos jardins da Arcádia, não obstante o típico meneio romântico. Pode-se dizer que aquela ponta extrema de sutileza e naturalidade a que um Silva Alvarenga, sobretudo um Gonzaga, haviam trazido a odezinha anacreôntica, vem adquirir em Gon çalves Dias, graças ao dinamismo próprio do espírito romântico, uma beleza mais quente: .i,; „;.:-:*,,-",. Divagava - Em seu pensar embebida; Tinha no seio uma rosa Melindrosa, De verde musgo vestida. "* #Outras vezes, para além do torn arcádico, é a tonalidade quinhentista mais pura que o poeta refunde no verso moderno, entranhando a sua poesia na corrente viva do lirismo português: São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor da esperança, Uns olhos por que morri; Que ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Diferente de Magalhães, ou dos portugueses Garrett e Castilho, que tendo passado da lição neoclássica para a aventura romântica, têm duas etapas na obra e, se ainda são clássicos na segunda é porque não se livraram da primeira; diferente deles, Gonçal Agora, qual sempre usava, .----. r ves Dias é plenamente romântico, e o que há nele de neoclássico é fruto de uma impregnação de cultura e de sensibilidade, não da participação no decadente movimento pós-arcádico. Graças a esta dupla impregnação, sua obra guardou o harmonioso balanceio que o distingue dos sucessores; estes, seguindo o pendor da época, se conseguiram apreender e mesmo exagerar muito da sua riqueza melódica, nem sempre lograram reequilibrar-se pela assimilação paralela da sua grande intuição estilística. Não é estranho, pois, que na velha pendenga "Castro Alves versus Gonçalves Dias", os temperamentos mais tumultuosos, ou mais romanescos, ou mais indiscriminados se inclinem para o primeiro, enquanto as sensibilidades mais apuradas, ou menos ardentes, prefiram o segundo. A harmonia gonçalvüia, para ser bem sentida, requer participação ativa da inteligência; requer sentimento alerta dos valores de construção, nem sempre evidentes na aparência do poema. Não se justifica entretanto a assertiva que é um poeta português; a sua ligação mais visível com a sintaxe e mesmo o léxico de além-mar, é de importância secundária em face da sua funda apreensão da sensibilidade e do gosto brasileiros - já a essa al tura diversos do português. Mesmo no terreno das influências literárias, que sofreu de perto, a sua originalidade fica ressalvada pela superioridade com que as fecundou. Um exemplo disso pode ser encontrado na famosa introdução d"Os Timbiras: Cantor das selvas, entre bravas "matas Áspero tronco da palmeira escolho. Unido a ele soltarei meu canto, W ,... . Enquanto o vento nos palmares zune, Rugindo os longos, encontrados leques. . Estes versos admiráveis repercutem outros, bem mais modestos, da "Arrabida", de Alexandre Herculano, - poema onde Gonçalves Dias poderia ter encontrado mais de uma sugestão para a sua atitude em face da natureza, Cantor da solidão, vim assentar-me Junto do verde céspede do vale, E a paz de Deus do mundo me consola. j, Por isso, os contemporâneos foram mais argutos que alguns críticos posteriores, ao verem sem hesitar o caráter nacional do seu lirismo. O que talvez não tivessem visto (porque se tratava, então, de aspirar ao contrário) foi a continuação, nele, da pos ição arcádica de integrar as manifestações da nossa inteligência e sensibilidade na tradição ocidental. Como vimos, ele enriqueceu esta tradição, ao lhe dar novos ângulos para olhar os seus velhos problemas estéticos e psicológicos. Universal, e ao mesmo tempo apaixonadamente romântico, poucos tiveram, como ele, o gosto e sentimento da solidão. A influência da poesia religiosa de Herculano, a marca acentuada de Sousa Caldas, contribuíram para dar forma a esses traços, que aparece m combinados freqüentemente à contemplação do mundo e o apelo à eternidade.21 Nos "Hinos", que encerram porventura a melhor expressão deste sentimento, o discípulo de Caldas se aproxima de alguns grandes românticos da primeira hora, que vibraram a mesma nota grave, profunda; que revelaram o mesmo discernimento austero e comovid o em face da natureza: Hõlderlin, Wordsworth, Leopardi. A tarde, : Mãe da meditação, aparece num desses hinos como presença, substância da reflexão e do sentimento, que transfiguram a paisagem material. Noutro, uma cadência nobre e quase clássica dá à invocação da . . . noite taciturna e queda aquela calma eloqüência que aspiramos entrever na natureza, quando a queremos como correlativo e sinal da vida interior. (21) O estudo da influência de Herculano, principalmente quanto à poesia religiosa, é feito por Antônio Sales Campos, Origens e evolução dos temas da primeira geração de poetas românticos, São Paulo, 1945. 89 #O mais belo é porém "O Mar", onde o movimento das vagas é afinal domado pela comparação ao destino do poeta, que o transcende e se enxerga (numa premonição impressionante), dominando-o pela glória, depois de morto. ó mar. Alguns poemas espelham-na com surpreendente densidade como é o caso do citado "Leito de folhas verdes". Esta capacidade de criação poética se manifesta na minoria de sua obra.. Mais do que qualquer outro romântico.. mas liricamente belo. entre miríades de estrelas. num sistema poeticamente coerente de representações plásticas e musicais. alterar a penas o ambiente e certos detalhes de uma espera sentimental doutro modo indiscernível da tradição lírica. que lá não chegue Teu sonoro rugido. Desconhecendo o temor. relance o circVo estreito Do infinito e dos céus! Então. tentativa de adivinhar a psicologia amorosa da mulher indígena pelo truque intelectualmente fácil. < A força deste aspecto da poesia gonçalvina vem da capacidade de organizar as sugestões do mundo exterior. Inda mais doce que o singelo canto . pois corresponde a um esforço de seleção criadora. o tempo. o espaço. Mais forte soará que as tuas vagas. ele possui o misterioso discernim ento do mundo visível. * . . quando a noite < Ocupa a terra. De merencória virgem. Então mais forte do que tu. de. . . Em que hei de esta prisão fugir pra sempre... . Cantando hinos d"amor nas harpas d"anjos.. que leva a imaginação a criar um mundo oculto. sons e perfumes. das mais altas do nosso .Mas nesse instante que me está marcado. Poesia admirável. ". Mordendo a fulva areia. . Irei tão alto. inaccessível aos sentidos. apenas ao alcance de uma percepção transcendente e inexprimível das cores. a uma felicidade de achados poéticos impossíveis de ocorrer constantemente em tantos versos quantos deixou.e do que a mansa brisa. como vimos. minha alma. Quebrará num.. Que entre flores suspira. . Jatir! nem tardo açodes .a r Eu sob a copa da mangueira altiva Nosso leito gentil cobri zelosa corn mimoso tapie de folhas brandas. elaborado. . justapõe os detalhes da natureza como elementos de expressão psicológica. os vai combinando ao discurso amoroso. As quatro estrofes iniciais traçam o quadro natural. Compare-se o sentido de "folhas". a presença constante da poesia. as três seguintes o abandonam. Jatir. dá origem à magia em que reconhecemos. de estrofe a estrofe. Onde o frouxo luar brinca entre as flores. Por que tardas. t ece a rede sutil do encantamento poético. para que o pensamento divague. porém. as duas finais reintroduzem o quadro natural. movendo as folhas. de outro lado.a: i Não me escutas. sem conseguir defini-la. Já nos cimos do bosque rumoreja. de uni lado. das mesmas palavras. Ã voz do meu amor. a repetição. que.. O arranjo dos vocá bulos.lirismo. que em vão te chama! . . nesta primeira estrofe e na 2. já alterado pelo passar das horas. do tempo em que se inscreve a expectativa. Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil A brisa da manhã sacuda as folhas! . :. a sua posição recíproca. ao longo das nove estrofes. E por todo o poema. A técnica de composição obedece a duplo movimento. cujos 9O fulcros são a angústia da índia à espera do amado e o imperceptível fluir. que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração. que conduziram a espera infrutífera da noite à madrugada. e agora na 9. ou com estrofes de intervalo. em torno de imagens naturais. verdadeiro compêndio daqueles talismãs poéticos de que fala Henri Bremond. . Já solta o bogari mais doce aroma! Como prece de amor. banhado de luar. ao longo das estrofes. que tanto a custo. o angustioso travamento do verso por meio de fortes aliterações. no segundo. o jaz entreaberta denota fato cons umado. Refiro-me à utilização sistemática dos verbos de movimento para manter o deslizar sutil das horas e o doloroso amadurecimento interior: mover. mas o seu significado poético não é o mesmo. No silêncio da noite o bosque exala. acudir. bogari. ".. indica as primeiras horas da noite. e dessa diferença decorre o sentimento de fuga do tempo. que vai reforçando. em seguida o do próprio coração. como estas flores. Análise semelhante podemos efetuar em relação aos o utros vocábulos-chaves do poema . perpassar. . compreendida como fenômeno de movimento psicológico da personagem. são o foco da espera amorosa. que exprimem a duração psicológica b loqueada pela expectativa: Porque tardas. a cuja brisa se agitam. ir. definem a hora noturna. a 3. girar.tamarindo. Melhor perfume ao pé da noite exala! O verso referente ao bogari permanece. no terceiro. há pouco. testemunho da longa espera e sinal mais tangível da decepção. 91 #/ .. . primeiro o perfume das flores.aferindo a sua variação em cada ocorrência. como estas preces. de que é complemento.No primeiro caso. Jatir.a: Do tamarindo a flor abriu-se. que empurram a composição. aberta há pouco.Do tamarindo a flor jaz entreaberta. correr. devido à variação do verso anterior. Caso belíssimo é o de duas estrofes complementares. contrastando o sentimento inicial de permanência.a e a 8. : Também meu coração. exalar. Já solta o bogari mais doce aroma. A flor do tamarindo. corn esta mudança de função das palavras concorre outro processo. que vai dispersando. flor. o desnível temporal e psíquico. inexpressiva como um exercício de retórica:Eu e ela. que. quando falece a verdadeira tensão poética. da sábia estrutura de vocábulos e imagens extremamente singelos. dos Primeiros Cantos.Dessa translação em vários planos resulta o sentimento de fuga do tempo. sentencioso. paraíso. De poesia dura. Note-se que toda a magia decorre do processo poético. ao menos Sequer por um instante. mas não do poema citado. O apego aos valores neoclássicos e conseqüente ausência de embriagues musical. na terra ingrata Oásis.vasada no mesmo torn discursivo e sentencioso. porém. No mesmo livro. que é o tecido mesmo de que se enroupa a decepção amorosa. no decurso duma seqüência de prosa 92 rimada bruscas erupções de inspiração podem poetizar os trechos adjacentes. aceitando o risco da elocução quase prosaica. que se distingue muito mais dificilmente da prosa. É o caso de parte d"Os Timbiras. ao contrário do outro. obtém ainda assim o toque difícil da verdadeira eficácia poética. A longa peça "Amor Delírio . por exemplo. ou quando menos justificáveis ante o choque de poesia que as vai estremecer.Engano". ocorrem por igual nos dois poemas: num deles. nesta vida Amor igual ao meu! A sinceridade e a emoção. e sem recorrer a imagens mais refinadas. ambos nós. vemos na obra de Gonçalves Dias pesado lastro de prosa rimada. é fria. há uma curta peça . Citações de versos destacados nem sempre representam o valor e a natureza do poema. o arranjo milagroso das palavras o fez galgar à esfera da poesia. e logo o tempo com a foice roaz quebrou-lhe o encanto. quando já produzira o melhor da sua . éden ou templo Habitamos uma hora. todavia. Doce encanto que o amor nos fabricara. podemos apreciar plenamente a simplicidade admiráv el de Gonçalves Dias. Em tais casos. pois. de que publicou apenas quatro cantos iniciais em 1857. pesada. em virtude de indefinível frêmito de poesia aparece como tocado por um talismã: Ah! que eu não morra sem provar. na acepção comum."Desejo" . levou-o a cultivar o verso discursivo. que nos parecem deste modo veredas necessárias. que. Contrastando com essas invenções. são exemplo Os Timbiras. pouco inspirada. havendo alguns inconcebíveis na -pèilta::<iíipie grande artífice: " /^àíivn : Bem sinto um não sei quê aferventar-se-me ". mostrar capacidade de arquitetar e executar um a epopéia nacional. Obra semelhante pode ser publicada em parte quando estas possuem certa autonomia. vai afinal configurar-se um episódio decisivo. como estrutura. Haver dado a lume estes cantos mostra que os reputava prontos e viáveis. O entrecho é delineado sem muita clareza. nele. as cenas são longas e redundantes. e isso depõe contra o seu critério. Depois que os funesfou propínquo sangue.. cuja preparação ocupa o Canto Quarto. pois as partes líricas. prolixo. Os Timbiras são interrompidos justamente no momento em que. marginais à narrativa. (II) Cá dentro em mim nos decifrados sonhos. contando-se algumas entre o que de melhor escreveu . de que um malogro poético. inferior ao Caramuru e o Uraguai. não raro de93 #sarmonioso e prosaico. Isto contribui para tornar o poema.. verdadeira série de ensaios críticos e psicológicos em verso.obra. Nos olhos. Ora. tratar-se mais de um malogro épico. que vai prestes expandir-se. (in) A análise indica. no sentido estrito. As festas e batalhas mal sangradas . depois de três cantos bastante dispersivos (que deixam o leitor hesitante quanto ao rumo do narrador). porém. retóricos e afetados os tipos. agora extinto. salvo o exagero. como foi o caso do Childe Harold.:. Sente-se que pretendeu. "dar a sua medida". confuso. uma brasilíada inspirada nos efeitos e costumes da raça que tanto amou e exaltou. pouco melhor do que Os Filhos de Tupã ou A Confederação dos Tamoios. de Byron.-Do povo americano. de modo geral. são freqüentemente admiráveis. o verso. Doce poeira de aljofradas gotas. é incapaz de epopéia. E da terra sem flor ao céu sem astro. em que o infinito é sugerido pelo afastamento das antíteses: O pensamento. Ou vem nos raios trêmulos da lua Cantar.Como os sons do boré.. cla . soa o meu canto Sagrado ao ruão povo americano. Coema. entre vários outros. """ terminado com estes versos deslumbrantes: Talvez também nas folhas que engrinaldo. muito caro aos românticos. da luz às sombras. gênero fundado essencialmente na organização do todo. que incessante voa. . as formas da neblina. onde Castro Alves aprendeu várias harmonias da sua lira: ! Era a hora em que a. É o caso do exórdio famoso: . Roçando apenas o matiz relvoso. inscrevendo-se no sistema de imagens. viver e suspirar comigo. É a magia de um momento deste mesmo canto: Veste. Quando o vivo carmim do esbelto cactus Refulgc a medo abrilhantado esmalte. brilhando nos momentos em que suspende a ação. Vai do som à mudez. Ou pó sutil de pérolas desfeitas. onde um belo trecho lembra Victor Hugo. Aos doces beijos da serena brisa. A acácia branca o seu candor derrame E a flor do sassafrás se estrele amiga. Exemplos tais. É ainda o início do Canto Segundo: Desdobra-se da noite o manto escuro. capacidade narrativa. flor balança o cálix . . afirmam a presença do grande poeta. Quando a ema soberba alteia o colo. 94 É o início do Canto Terceiro. mas confirmam a impressão que. . a rocha. l . Bárbaras hostes do Gamela torcem. inclusive este belo desenho da fúria guerreira. o chamado do chefe se exprime num belo movimento: 95 #Disse. O delírio do louco Piaíba (II) é expressivo como métrica psicológica. (IV) No canto I. acumulam-se uns sobre os outros. Querendo ser épico em modo maior. acontece o que sucedeu n"Os Timbiras: os versos ficam desamparados.reza dos propósitos. E há algumas boas imitações de Basílio da Gama: E sobe andas. . isto é. o ajuste da variação de número e ritmo do verso aos movimentos da sensibilidade. Seria injusto. (D . abafando as eventuais qualidades de cada um. Sem elas. perdem significado. Que a fera humana rábida mastiga! E enquanto limpa à desgrenhada coma Do sevo pasto o esquálido sobejo. aferra os dentes No crânio fulminado: jorra o sangue No rosto. e vingando o cimo d"alto monte. o transtornado rosto. Há movimento e relevo em cenas e evocações de combate. Convertem-se em guerreiros. porém. deixar a impressão de que malogra sempre no corpo narrativo do poema. :. salvando-se apenas quando ela voltou. traiu a vocação real. ." Que em roda. a pedra. Nem assistiu a Gonçalves Dias a clarividência do seu m estre Basílio da Gania.". onde não chega o raio.". e em gorgolhões se expande o cérebro. que domesticou habilmente a musa heróica pela redução ao lirismo.. na Divina Comédia: E antes que tombe o corpo. a moita. imitando o episódio de Ugolino. A tanto horror. largo espaço dominava. teimosa e felizmente.* O atroaãor membi soprou com f arca: O tronco. . pelas brechas largas do mau edifício.. o arbusto. não consta havê-la terminado. em contraste com os traços dominantes da sua ficção em prosa. movimentos. um setor mais lírico e moderno. pois tendo vivido ainda set e anos depois da edição de Leipzig. já tão ditosa . onde recorre o canto de morte do "I-Juca Pirama". seja para mostrar que reputava este um coroamento. MENORES Em torno de Gonçalves Dias podemos dispor alguns poetas que. seja provavelmente porque. inclusive o pendor pelos rirmos cantantes e a delicadeza da fatura. desapareceram na tragédia do Ville de Boulogne. se Francisco Otaviano e Cardoso de Menezes. como. Tê m melhor gosto e ouvido que os de Magalhães e seguidores. Joaquim Manuel de Macedo é um reverente cultor da treva. malgrado se haja dito que os cantos finais. aquece os pratos fri os duma fase de veia mais generosa. quando aparece na Guanabara a terça parte inicial d"A Nebulosa.América infeliz. (in) _:. publicada em livro em . -< Macedo Dentre eles. já prontos. identificado aos aspectos propriamente românticos do Romantismo. Ele próprio deve ter percebido que lhe seria difícil manter em born nível a obra mal começada. dentro da primeira fase. Antes que o mar e o vento não trouxessem A nós o ferro e as cascavéis da Europa. imagens de poemas anteriores. sobretudo aquele. ainda revelam impregnação do equilíbrio neoclássico." Mais significativa é a auto-imitação: o poeta convoca à tarefa épica várias idéias. apresentando não raro afinidades com alguns poetas da segunda fase.. Apesar de mais velho que os outros. a inspiração não ajudando.-. do desvario. na fala do Tapuia (IV). 96 6. formam com ele. por exemplo. só se abandonou realmente à poesia pela altura de 185O. por sofrerem a sua influência ou mera afinidade. dos Primeiros e Segundos Cantos. que uns olhos tão belos desejam. pobre donzela demente de s . pálida e mansa.". como o qualificava. para falar como o citado de Simoni. manipulação dos ". parece que a terra não pisa. É lua formosa. com o mar aos pés. não excluindo os de Álvares de Azevedo. nesse ínterim. têm fluência e senso melódico: Quando ela se mostra."< ". -. filha de uma feiticeira. Autor de algumas poesias esparsas. é. como os últimos árcades em veia anacreôntica. No céu se desliza. devida certamente à publicação. somado à nítida influência gonçalvina. "A ilusão do beija-flor". mas também das qualidades de invenção. o Trovador. como fato. É uma inspirada oleogravura onde vemos. a Peregrina. que se encontra a sua melhor contribuição. que. W #E as setas. São raios de amor. beleza do verso em certos momentos. três ou quatro peças de teatro em verso. contemporâneo dos primeiros ultraromânticos. isto.1857. mas ferem sem dor f temas. . Pa ixão fatal de um poeta. ainda o mostra dengoso e pelintra. é porém no referido "poema-romance". o seu interesse vem não apenas do significado que apresenta. à luz da lua. Apesar de circunstanciais e medíocres. que a noite se avança. com limpeza e gosto. o universo material e os traços psíquicos mais característicos do "romantismo monstruoso dos nossos dias". desenganada dos homens. intervenção da Doida. Poeticamente." Os seus olhos negros ardentes flamejam Mil setas que ferem. Andando. Uma poesia de 1844. solilóquios desesperados sobre um rochedo. por uma insensível beldade. para a história literária. ("A bela encantada") A Nebulosa é talvez o melhor poema-romance do Romantismo. as que escreveu por volta de 5O revelam acentuada mudança. pois. explica o avanço sobre os companheiros de geração e vida literária. Pelo vento estendida. todo negro. o cemitério onde brilha uma lâmpada perene. Meia noite!.talvez disséreis Num trono de granito o desespero. Há certa força byroniana no Trovador sobre o seu penhasco. diferentes das nossas. encontraremos uma inesperada atmosfera de poesia fantasmal. ei-lo está: . que procura movê-la a favor do filho. De sangue e morte em alma de assassino. com um manto vermelho nos ombros. sente a atração do pélago e seus mistérios. c v ! ^ . em companhia da Doida. a capela arruinada. Cinge a harpa de amor com o braço esquerdo. (I. a noite misteriosa. E medita. alegoria do desespero qne o Romantismo incorporava ao ideal de poesia.onho e paixão. aos olhos de hoje.. chora. prestes a matar-se. a claridade da lua. insinua-se ao seu lado a tênue Doida. a rubra capa. Como visão translúcida. as vagas. depois de quebrada a sua Harpa.-"< . pois ele se mata antes de chegarem. " . vestida de gazes. corre ao longo dos regatos por entre a folhagem. . . troncos nodosos.. alucinada e inútil corrida noturna de ambas.. há nesse arsenal de paródias estofo para o maior ridículo. f Soltos à brisa voam-lhe os cabelos. aparecimento da Mãe. Como se vê. 14 A este personagem estão associadas as imagens sólidas e definidas do poema. correspondendo à sua paixão precisa e áspera: 98 lápides do cemitério. olhos fitos no oceano. Envolvendo tudo. que vem do mar. apesar da prolixidade e fa cilidade do verso. colóquio dramático do Trovador e da Peregrina. Afaga-lhe com a destra as cordas mudas. a tempestade. pedras. Mas se nos pusermos dentro das convenções do tempo.r Sobre o negro penhasco lembra a idéia . sonha.". silfos agora. \. Na sua natureza ambígua de mulher-fada. o canto de adeus. abraçado à meiga Ondina. E muda e só.-"""-"-". há alguma coisa das personagens de certas baladas e contos germânicos. Entre a sua fluidez e a negra consistência do Trovador se interpõe. Na torrente ou no mar dançando à lua. signo maior do poema.generoso sacrifício Mísera Doida a consumar se apressa. numa noite de sábado.ontrapondo uma brancura diáfana ao luto cerrado do Trovador. sobre a Rocha Negra. com as madeixas tão longas espargidas. carnal e sólida na sua beleza. o poeta morre. à luz da lua. algo de uma Willis toda nua Das legendas da Alemanha. vacilando entre a terra dura e a fluidez do mar. mas imaterializada pela aspiração ideal de castidade. Ei-la vai: . Vagam então -mais livres e atrevidas Dos malefícios a colher o fruto. a Peregrina. entranha-se num bosque Umbroso e denso. Dos sábados a noite as fadas amam. de espanto estreme cera. Salamandras depois do Céu no fogo Em meteoros ígneos lampejando. (VI. Ou branco gênio. n. (ni. Dos sábados a noite as fadas amam. por ela. como a Ondina inefável de La M otte-Fouqué. *"-" . que a floresta encanta. que clareia na sua brancura o negrume do mundo. 1) 99 #Neste cenário o Trovador desfere. ao modo da que apareceria mais tarde no verso encantado de Raimundo Corrêa. casta e fria na sua ternura.Ondinas finalmente em claro lago. e quem então a visse Nessa que alveja roçagante capa. " " Nadando pelo ar. onde vêm fundir-se alguns conceitos fundamentais do Romantismo: a beleza . Sobe alta serra. Qual se encontrara pálido fantasma. e tem na Doida uma espécie de correlativo terrestre. Salve. que arrebatas Das garras desse tigre -nobres vítimas. salve!.. Que enxugas sempre do infeliz o pranto. Não é difícil perceber neste fragmento inicial a impregnação de Leopardi. Salve. o seu caráter de fatalidade na vocação artística. assomo d"alma. resultando um dos mais .. Porta solene que se fecha ao mundo E se abre à eternidade. Salve papoula dos jardins do Eterno! (vi. o cisne te assoberba.a vida mente! Tu és pálida virgem compassiva. estou livre . ó morte! Caluniadora vida em vão pintou-te Hediondo esqueleto: . mundo. Águia do inferno. Vão teatro da vida.. De sigilo e de olvido arca sagrada. que coroa o gênio. -""-" -"". libertando o poeta da incompreensão do mundo :. audaz recurso. Inimiga do mundo. Vingança do oprimido. e. doce mistério! salve.. Rainha do silêncio. morte augusta. morte piedosa! eterna amiga. alfim deixei-te! Eis-me pisando o umbral da eternidade." Abismo em cujo fundo a paz habita. Que de uma vez a dor num sopro acabas. Mansão das ilusões. inclusive imagens inspiradas por "Amore e Morte". Desencanto do pó. Anjo da glória. salve!.da morte. . cuja leitura ainda hoje n . Que traga a um triste inesperado alento?. : Num tálamo de amor. "" "" Alva barquinha. . deste modo. U) Tais exemplos. .belos e serenos cantos fúnebres do nosso Romantismo. . Por isso. para onde também quer fugir do destino que a marcou na fronte. . que é um dos fatores da sua magia insinuante. . aparece. uma comunicabilidade entre os elementos e os seres. O suicídio do Trovador. mostram que a Nebulosa abre as portas de um mundo romântico.. -não te lembra Que da donzela a c"roa se desfolha "". teu candor que exprime?. como ficou sugeri do. . Que quer dizer esse cando . aliás.. devidas sobretudo à prolixidade. """"-" (VI. .r . ou no sepulcro?. J. a dor e a paixão. "\ r?. . As lacunas. graciosa. não sabes Que o vestido da noiva em cor iguala A mortalha da virgem?. a vida e a morte. é como se presenciás semos a um noivado além da vida 1OO " Alvacenta barquinha.. a quem vestiram com as brancas vestes que a donzela estima. pérola das ondas. Ao longe duvidosa e já tão bela! l . a que se poderiam juntar outros muitos... como rit o propiciatório de uma existência mais bela e essencial. onde poucos no Brasil se moveram tão bem. quando vem se unir ao poeta para a morte.. Serás tu da esperança -mensageira. ou virginal mortalha?. Que entre os fulgores do luar te mostras . abraçado à mulher que não ama. como a que a Doida lhe oferece na miragem do fundo do mar. circula. É da ventura benfazejo sopro A que a vela te enfuna aura suave? Linda filha do mar. mas irmanou à sua tragédia. É véu de noiva. Por todo o poema.Amor das brisas. não invalidam o poema. . uma comunicabilidade aumentada pela transparência do verso. porém. . . Maior dedicação não produziria com certeza resultados mais sólidos. Então.. por ele chamada "Messalina impura". Francisco Otaviano. pois ela lhe deu desde cedo os mais altos cargos do Império. . revelando sensibilidade..os traz um hálito de fantasmagoria.deputado. conselheiro. sempre bem-vindo aos que são capazes de apreciar os vínculos entre "a alma romântica e o sonho". como ele foi de maneira exemplar. mas não banal.. do burguês culto e refinado. burguês sensível . age como paraíso perdido e escusa.que estaria um pouco neste caso. contudo. leve e corredio. Este. gosto. na maioria cios casos. seja clito.exprimiu com freqüência a tristeza de haver sido arrebatado à poesia pela política. O interesse da sua pequena obra vem da circunstância dela representar uma espécie de inspiração do homem médio. A análise da sua obra revela. Ingratamente. O interessante 1O1 #é que foi tomado ao pé da letra pelos contemporâneos. do ponto de vista psicológico. num cpíteto famoso. coroando o êxito mundano com a reticência elegante duma condicional. mas florão maior do intelectual. Carreira fácil.sem exigir excessivo sacrifício. onde as estrelas são as imagens dos poetas. do insubmisso Sílvio Romero ao reverente Machado de Assis: se o conselheiro Otaviano. Otaviano. durante a vida inteira. porém. Muitas vezes a vocação existe.a noite do sonho literário. Po . mas os que alcançou são de muito born teor. plenipotenciário. que sorveu e elaborou a dose de poesia de que era capaz. era poeta e cultivou sempre a nostalgia das letras. . respeitável e brilhante que teria satisfeito qualquer burguês razoável. Se tivesse seguido a vocação . servindo-nos para justificar a mediana das realizações e alimentar o sonho ba nal de cada dia. Qualidades nem sempre dos grandes criadores. o que lhe dá. . senador. elegância e equilíbrio.. só parece existir porque não pudemos segui-la. Em torno desse eixo central da sua personalidade literária se organizam as tendências comuns do tempo.r isso. O seu ouvido era excelente. Tudo isto num verso quase sempre harmonioso e bem cuidado. Mas em tudo notamos certo dilaceramento que vitaliza. casado. freando discretamente a sua inevitável melopéia: 1O2 A noite era bela. acentuar o sofrimento como condição da existência. Otaviano confere autenticidade ao convencional. reunindo o apaixonado e desabrido Catulo ao sereno. comparar a vida humana à natureza. a bem do decoro. de quem o aproximam o senso de equilíbrio. sentimos o drama da convenção que amarra o burguês ao seu papel. prova-o a maestria com que usou o novessílabo e o endecassflabo. a c orreção da língua. e justamente porque o tenebroso respeito humano o conduz sempre de volta às soluções de equilíbrio social. E meigos perfumes da brisa mimosa . fagueira. enroupar a sensualidade com imagens leves. como técnica. Nos seus versos estudantis a orgia só reponta como ocasião para aspirar à felicidade honesta do lar. saudosa. excetuado Gonçalves Dias. celebra a esposa e os filhos. muito acima de todos os poetas do primeiro grupo romântico. (Todo burguês traz na alma um Horácio que oferece compensações ao seqüestro forçado de um Catulo). se manifesta inclinação por outra mulher. em benifício da coerência exigida pela posição na sociedade. p acato Horácio. As suas preferências entre os latinos indicam de maneira significativa essa dualidade de espírito. na medida em que exprime de modo el egante essa dinãomica refreada. alienando-o freqüentemente do que reponta nele de autêntico. De brando luar. que o põe. que o levam a exprimir a melancolia e o desencontro. cuida logo de refreá-la. a sensibilidade expressa sem alarde. confere categoria poética a uma ordem de sentimentos raramente estimulantes da boa poesia. exprimindo de certo modo a nossa condição geral de homens medianos. T eras minha vida. teus lábios. teu sopro. mas é constante a sombra. . O meu prazer era vê-la? Por que foge a minha estrela? 1O3 . como "Recordações". t eu canto. que já nos sombrearam. no peito um coração. ("L"éloge dês larmes") Oh! dá-me.""* Corre ainda o regato por entre a verde alfombra."" ("Delírio") "" [" " Certos poemas dele ficaram no gosto geral pelo torn sentencioso ou a delicadeza com que manifestam os sentimentos dominantes na literatura de então. Teus olhos. um dos primeiros senão o primeiro dos nossos românticos a utilizar regularmente o alexandrino. um dos melhores exemplares que o Romantismo deixou do desespero amoroso: Oh! se te amei! Toda a manhã da vida Gastei-a em sonhos que de ti falavam! Outro tema corrente. """"""--"-"-" Se no exílio em que me achava "w? íi. teu canto. pairando no ar. i ("No Campo") -""" " Se tens.Subiam do vale. onde encontramos como que a prefloração de um poema de Manuel Bandeira: Por que foge a minha estrela.. Teus olhos. amor tão profundo. sem mescla do mundo. teus lábios. "*". sem mescla do mundo. As folhas se renovam. ! As árvores são estas. fazendo-o com excelente mão: A água é fresca e nova.. "". amor puro e santo. anjo ou mulher." O prazer que me restava.. de doze e treze sílabas. brilha na excelente "Partida". ("Canção da mocidade") Notemos que foi. Que a terra o não tem. o da amada inaccessível.. . mas a corrente a mesma. . teu sopro. te peço. Em paga te peço. salvo erro. Goethe.isto é. Breve sonho passageiro. Não conheço em língua portuguesa tradução mais perfeita que a do relato de Otelo ao Conselho . . Byron. Por que me deixa sozinho. Shakespeare. f.onde vem pre servada a nota mais autêntica do original. na escala brasileira. Por que me deixa no ermo.. . Era um astro cintilante. Deixou-me no isolamento O meu astro feiticeiro. faltou-lhe todavia o essencial. plasticidade. Victor Hugo.João Cardoso de Menezes e Sousa. . Deixando de lado o que escreveu na velhice. Cardoso de Menezes O mesmo não se pode escrever da obra de outro constante tradutor.. Paulo. um homem culto e fino. para atingir pontos elevados nos fragmentos de Childe Haro ld e Don Juan. Musse t. Meiga visão de um momento. situações poéticas onde o impulso criador era dado por outrem.".#Por que leva descaminho? $-f:. este. Alfieri. Catulo. (a incrível adaptação d"Os Lusíada . ouvido. como espírito e forma.. Schiller. Moore. aplicado e in extenso . . Para ser grande poeta. na cena amorosa de Romeu e Julieta o nível sobe outra vez. . Uhland. Shelley. seu contemporâneo na Academia de São Paulo."Ser ou não ser". cabendo-lhe pôr em jogo qualidades que possuía em alto grau: gosto.. Ossian. que merece maior atenção do que lhe vem sendo concedida. Bastante inferior é o famoso monólogo do Hamlet . . rio decênio de 4O. Vertendo Horácio. Tanto assim que o seu melhor conjunto de poemas talvez sej am as traduções. pois. é sempre poeta excelente.empreendida quando estudante em S. Puro como a luz divina. Um poeta de raça. Inconsolável enfermo? s . Uma estrela peregrina.. que julgava ter e não tinha: vocação imperiosa que requer o verso como único recurso para exprimir a personalidade. Era uma estrela brilhante. mas decoroso. Cantava o "Kirie" um lânguido cabrito.do desespero e da dúvida. Monta depressa num cavalo baio. porém. a sua melhor obra talvez seja um soneto bestialógico. feito para responder a outro. devidamente traduzidos em nota. semeando vocábulos tupis. cenas históricas.°. no céu. Pôrto-Alegre. tendo acabado o curso quando Bernardo e Aureliano estavam no 2. Eis. raivoso. gabado por Sílvio Romero. deixando isto de lado. E. Álvares de Azevedo no 1. . nos meados do decênio de 4O. fugindo à chuva. d""O Gigante de Pedra". que pretendeu autêntico. No seu "Babilônia" está todo o futuro "Festim de Baltasar" de Elzeário Lapa Pinto. Passando. com retificações teológicas do Cardeal-Arcebispo. poetado com certo discernimento do que 1O4 era então moderno. a que é anterior. trove já um raio. mas também do sarcasmo e da piada. admirável.s. E o pobre Ali Pachá. Norberto e anunciando alguns rumos imediatos do Romantismo: melancolia. vendo que já estava em fins de Maio. é preciso no entanto mencionar-lhe o nome pela circunstância de haver.Poema em 8 carmes. o pavoroso A Virgem Santíssima . e "A serra de Paranapiacaba" forma como parente pobre. isolamento. Tudo somado. de Gonçalves Dias.° ano. aperta a mão de um bago de uva. pondo-se pela concepção do verso à vanguarda de homens como Magalhães. Os grilos da Turquia. Amassando um pedaço de harmonia. Pávido calça de Petrarca a luva. enorme pito. de Bernardo Guimarães: Era no inverno. . 1O5 #Capítulo in .de cujos representantes paulistanos mais destacados foi contemporâneo. Pilatos encostou-se à gelosia. Pintavam com estólido palito A casa do Amaral e Companhia. indianismo. E fumando. Sarapintados qual um burro frito. súbito. uma resma de sem-gracíssimos versinhos de circunstância). Por aí o futuro Barão de Paranapiacaba se entronca na segunda fase romântica. corn efeito. de certa maneira mais adequado às necessidades expressionais do século XIX. . PRIMEIROS SINAIS 3. O seu fundamento não é com efeito a transfigurada realidade da primeira. Os seus melhores momentos são porém aqueles em que permanece fiel à vocação de elaborar conscientemente uma realidade humana que extrai da observação direta. tocando de outro no documentário. comparativamente analítico e objetivo. de F. para com ela construir um sistema imaginário e mais durável. nem a realidade c onstatada da segunda. em concorrência com a vida. Alguma coisa de semelhante ao "grande realismo". no Capítulo I. na gama das suas realizações. e como vai de um pólo ao outro. o estudo da ficção nos permitirá considerar outros aspectos que elas assumiram no Brasil. SOB O SIGNO DO FOLHETIM: TEIXEIRA E SOUSA 4. de Lukács. O romance. exprime a realidade segundo um ponto de vista diferente. mas a realidade elaborada por um processo mental que guarda intacta a sua verossimilhança externa.O APARECIMENTO DA FICÇÃO 1. embebe-se de um lado em pleno sonho. Complexo e amplo. é o mais universal e irregular dos gêneros modernos. anticlássico por excelência. considerado sobretudo a poesia como pedra de toque das tendências românticas. DM INSTRUMENTO DE DESCOBERTA E INTERPRETAÇÃO 2. opera a ligação entre d ois tipos opostos de conhecimento. fecundando-a interiormente por um fermento de fantasia que a situa além do quotidiano. Graças aos s eus produtos extremos. UM INSTRUMENTO DE DESCOBERTA E INTERPRETAÇÃO Tendo. exerce atividade inaccessível tanto à poesia quanto à ciência. R. Mais ou menos eqüidistante da pesquisa lírica e do estudo sistemático da realidade. completando o panorama do Nacionalismo literário. O seu triunfo no Romantismo não é fortuito. O HONRADO E FACDNDO JOAQUIM MANUEL DE MACEDO :" f #1. ou à "visão ética". seriados. Em segundo lugar. permitindo na sua frouxidão uma espécie de mistura de todos os outros. a política. Além deste motivo de natureza artística. a moral. que dela se . a poesi a. com mais flexibilidade do que está contido no dogmatismo destes dois críticos. Daí a facilidade e a felicidade com que se tornou o gênero românt ico por excelência.bastante multiforme para agradar a muitos paladares e relativamente amorfo para se ajustar às conveniências da publicação (folhetim. Daí um desenvolvimento da imprensa periódica e da indústria do livro. que solicitaram desde logo um tipo accessível de literatura . que ao juntar-se fazem dele um gênero eminentemente aberto.). pouco redutível às receitas que regiam os gêneros clássicos. o estudo das sucessões históricas e dos grupos sociais. considerado em função do meio e das relações sociais. depois dos movimentos democráticos. acaba também por lhes roubar vários meios técnicos. Ora. a economia. leva-o a romper com as normas que delimitavam os gêneros. e tc. pela história. o teatro. aquele. A largura do seu âmbito.Leavis. Para uma estética avessa às distinções e limitações. era com efeito o mais cômodo. outros intervieram para facilitar a sua voga. da ric a diversificação estrutural de uma sociedade em crise. devida à participação mais efetiva do povo na cultura. podemos dizer. principalmente no que refere ao tratamento formal da matéria romanesca. não cabia de modo algum na tragédia ou no poema: foi a seara própria do romance. mencionemos a vocação histórica e sociológica do Romantismo. Em primeiro lugar a ampliação do público ledor. estimulando o interesse pelo comportamento humano. Entrando. que deveu ao Romantismo a defi1O9 #nitiva incorporação à literatura séria e o alto posto que mantém desde então. à busca de temas e sugestões. Dickens. o afastamento desta posição ideal se fez na direção e em favor . O deslumbramento colombiano com que Balzac descobriu a interdependência dos indivíduos e dos grupos. alimentando ao mesmo tempo o espírito histórico do século.os escritores mais irregulares que se pode imaginar numa certa ordem de valor. Há nele uma espécie de proporção áurea. Há pois. A emoção fácil e o refinamento perverso. a descrição minuciosa e fiel do "pedaço de vida" recebe nele um toque de fantasia inevitável. um "número de ouro" obtido pelo ajustamento ideal entre a forma literária e o problema humano que ela exprime. a pressa das visões e o amor ao detalhe. fazendo da sociedade uma vasta estrutura misteriosamente solitária. Balzac. originando uma catadupa de obras do mais variado tipo. que vão do péssimo ao genial. os vínculos misteriosos. Mesmo o romance fantástico e tenebros o não escapa às limitações de tempo e espaço. a incontinência verbal .alimentou. É característico do tempo que esta escala qualificativa se encontre freqüentemente no mesmo autor. amplitude e ambição equivalentes às da epopéia. As contradições profundas do Romantismo encontraram neste gênero o veículo ideal. manifesto principalmente na verossimilhança que procura 11O imprimir à narrativa. só que em vez de arrancar os homens à contingência para levá-los ao plano do milagre. como Victor Hugo. a simplificação dos caracteres. No Romantismo.tudo nele: se fundiu. eqüivale ao orgulhoso júbilo com que Augusto Comte descobriu as leis de coexistência e evolução desta mesma socie dade. reciprocamente. O eixo do romance oitocentista é pois o respeito inicial pela realidade. procura encontrar o miraculoso nos refolhos do quotidiano. Herculano. como a que empresta movimento quase épico às engomadeiras do Assomoir. Alen car . embora as distenda até a fantasia. no romance. . Uma vasta soma de realidade observada. que apenas seria desnorteante se não lhe correspondesse um patente romantismo dos naturalist as. no Naturalismo. "Sendo a nossa pretensão. encaminhou-se resolutamente para a descrição e o estudo das relações humanas em sociedade. épocas. que se elaborou e transfigurou graças ao processo normal de tratamento da realidade no romance: um ponto de vista. paisagens. os antecedentes. personagens-padrões. . não Zola. Alexandre Dumas. quer no espaço. Tanto num quanto noutro. costumes . herdada. a paixão ou o organismo. n"O Visconde de Bragelonne. mais tarde. uns e outros se aplicavam em mostrar o s diferentes modos por que a ação e o sentimento dos homens eram causados pelo meio. enquanto romancista. acontecimentos. um conjunto muito mais coeso do que se poderia supor à primeira vista. Esta noção de que os acontecimentos e as paixões "se encadeiam" é a própria lei do romance e a razão profunda da verossimilhança. porém. transmitida. L ugares. cenas. com matizes mais ou menos acentuados de fatalismo. mas. para fazer da ficção literária no século XIX. tipos sociais.foram abundantemente levantados quer no tempo (pelo romance histórico.. far-se-ia na direção da ciência e do jornalismo. sobretudo a de encadear os acontecimentos uns aos outros corn a lógica quase fatal". até que os do século XX a fossem procurar e m certos inverossímeis da psicologia moderna. usos. Verossimilhança da história e da sociologia para os escritores do século XIX.escreveu.da poesia. a disposição comum de sugerir certo determinismo nos atos e pensamentos do per sonagem. mais fundo.. Por isso. . A insistência dos naturalistas no determinismo inspirado pelas ciências naturais não nos deve fazer esquecer o dos românticos.. sempre que o romance romântico resistiu à tentação da poesia e buscou a norma desse gênero sem normas. de inspiração histórica. convenções. e da nossa em particular. Daí um realismo dos românticos. que serviu de guia). permanece o esteio da verossimilhança e. Lembremos. A nossa cultura intelectual encontrou nisto elemento dinamizador de primeira ordem. mas de Vautrin e Raskolnikof. Bernardo Guimarães. moral) mediante a qual o autor opera sobre a realidade. o nacionalismo literário. a título de exemplo. a saber. que é o nervo dialético não apenas do Judeu Errante e do Conde de Monte Cristo. cenas. uma doutrina (política. O ideal romântico-nacionalista de criar a expressão nova d e um país novo. mais ainda como instrumento de interpretação social do que como realização artística de alto nível. e significa por vezes menos o impulso espontâneo de descrever a nossa realidade do que a intenção prograrnãotica. Nacionalismo. como vimos. que contribuiu para fixar uma consciência mais viva da literatura como estilização de determinadas condições locais. a resolução patriótica de fazê-lo. Taunay) elaborou a realidade graças ao ponto de vista. dando-lhe um lastro ponderável de coisas brasileiras.uma posição. costumes do Brasil. fez do romance verdadeira forma de pesquisa e descoberta do país. p oucas vezes atingido. encontra no romance a linguagem mais eficiente. à posição intelectual e afetiva que norteou todo o nosso Romantismo. em escrever sobre coisas locais. no romance. . entre os mais caros à imaginação romântica: o conflito entre indivíduo e grupo. levada a efeito com vigor e eficácia equivalentes aos dos estudos históricos e sociais. artística. Esta tendência naturalizou a literatura portuguesa no Brasil. Basta relancear em nossa literatura para sentir a importância deste. Alencar. entre o gênio e os padrões sociais. aquela interpretação. Franklin Tá111 #vora. É o vínculo que une as Memórias de um Sargento de Milícias ao Guarani e a Inocência. a conseqüência imediata e salutar foi a descrição de lugares. No Brasil. fatos. consistiu basicamente. o romance romântico nas suas produções mais características (em Macedo. Este alto nível. um destes pontos de vista. E como além de recurso estético foi um projeto nacionalista. na literatura brasileira. selecionando e agrupando os seus vários aspectos segundo uma diretriz. Na sociedade brasileira. O advento da burguesia. determinava condições objetivas e subjetivas para o desenvolvimento da análise e o confronto do indivíduo com a sociedade. toma corpo em 1843 com O Filho do Pescador. nos grupos pouco numerosos e de estrutura estável. com as suas agitações. até o começo do século XIX. de Joaquim Manuel de Macedo. a multiplicidade das dúvidas e opções morais. quanto pela ascensão de comerciantes e o desenvolvimento da burocracia). portanto ainda caracterizada por uma rede pouco vária de relações sociais. e A Moreninha. (se assim pudermos cham ar ao novo estrato formado. . o romance se desdobra desde logo numa larga frente. #definir uma classe mais culta. no ano seguinte. no interior da classe dominante.(Cortesia da Biblioteca Municipal de São Paulo). deu por assim dizer carta de maioridade ao Rio). a estratificação simples dos grupos familiais. novos problemas de ajustamento da conduta. Numa sociedade pouco urbanizada (o período regencial. o romance não poderia realmente jogar-se desde logo ao estudo das complicações psicológicas. porém. não propiciava.No período romântico. tornando pouco freqüentes os conflitos entre o ato e ar norma. nas cidades. irrequieta e curiosa. o advento da burguesia criava. tanto pela imigração de fazendeiros. os padrões são universalmente aceitos. E ao 112 Teixeira e Sousa . Iniciando em fins do decênio de 3O com algumas novelas pouco apreciáveis e efetivamente pouco apreciadas de Pereira da Silva. (ao contrário da rude obtusidade das elites rurais). de Teixeira e Sousa. e atendendo de certo modo às necessidades e aspirações desta nova classe. Estas surgem como espetáculo ao nível da consciência literária na medida em que o comportamento se vê ante expectativas múltiplas. Acompanhando de perto as vicissitudes do nacionalismo literário. que não cessaria de ampliar-se e refinar. superpostos à escravaria e aos desclassificados. a imaginação e a observação de alguns ficcionistas ampliaram largamente a visão da terra e do homem brasileiro. Ora a narrativa é soberana. porém . O Sertanejo.que dá à ficção romântica importância capital como tomada de consciência da rea . dar tanto quanto possível traços autóctones. e através desta corrente geral. vida urbana. ou. o romance indianista constitui desenvolvimento à parte. por outra. numa utopia retrospectiva. E é esse caráter de exploração e levantamento . ao espaço geográfico e social onde a narrativa se desenvolve. de estabelecer um passado heró ico e lendário para a nossa civilização. misturam-se inseparàvelmente peripécia e pintura de tipos. Iracema.não apenas em sua obra. ora predominam os caracteres. mas nas dos outros . e corresponde não só à imitação de Chateaubriand e Cooper. selva. Em todos. ressalta a atenção ao meio. Quanto à matéria. O romance histórico se enquadrou aqui nesta mesma orientação. do ponto de vista da evolução do gênero. ou melhor.Enredo e caracteres: eis o que terá a princípio. o filête vivo e ardente da poesia alencariana. determinados pelo espaço geocultural em que se desenvolve a narrativa: cidade. As mais das vezes. José de Alencar. a que se vai juntando a consciência cada vez mais apurada do quadro geográfico e social. como em Teixeira e Sousa. Assim. passou pelos três e nos três anos deixou obras-primas: Lucíola. criando com o indianismo uma nova província para a sensibilidade e visão do paí s. como a certas necessidades já assinaladas. a que os românticos desejavam. poéticas e históricas. vida rural. três graus na matéria romanesca. e até a maturidade de Machado de Assis não passará realmente muito além destes elementos básicos. como em Manuel Antônio de Almeida. o romance brasileiro nasceu regionalista e de costumes. Bernardo ou Franklin Távora. pendeu desde cedo para a descrição dos tipos humanos e formas de vida social nas cidades e nos campos. campo. pois. como em Macedo. Alencar. A figura dominante do período. vida primitiva. Primeiro. Assim. esgotando regiões literárias e deixando pouca terra para os sucessores. no plano literário. camadas. Literatura extensiva. procurando uma . como se vê. Balzac. ou o Rio popular e pícaro de Manuel Antônio. por exemplo. enquanto o naturalismo acrescenta o Maranhão de Aluísio e a Amazônia de Inglês de Sousa. 113 #Por isso mesmo. Alencar e Bernardo traçam o São Paulo rural e urbano. percorrer uma gama extensa de grupos. valendo por uma tomada de consciência. personagens e peripécias do que em certas regiões tornadas literárias. Franklin Távora. Esta vocação ecológica se manifesta por uma conquista progressiva de território. depois. os garimpos. de Macedo e Alencar. que a criação artística sobrepõe à realidade geográfica e social. profissões. No Brasil. Talvez o seu legado consista menos em tipos. quase se escravizando a ele. Em país caracterizado por zonas tão separadas. já referidas. riqueza e variedade foram buscadas pelo deslocamento da imaginação no espaço. cuja inter-relação vinha enriquecer. de formação histórica diversa.lidade brasileira no plano da arte. os pampas do extremo sul. é ao mesmo tempo documento eloqüente da rarefação na densidade espirit ual. os cer rados de Minas e Goiás. proclamado pela Niterói. o Pernambuco canavieira. que são a própria carne da ficção de alto nível. aquelas opções e alternativas. num romance descritivo e de co stumes como é o nosso. o que se vai formando e permanecendo na imaginação do leitor é um Brasil colorido e multiforme. longamente amadurecidos. cercando o Rio familiar e sala-de-visitas. o nosso romance tem fome de espaço e uma ânsia topográfica de apalpar todo o país. no plano do comportamento. Alencar incorpora o Ceará dos campos e das praias. as fazendas. a seqüência narrativa inserindo-se no ambiente. as pequenas vilas fluminenses de Teixeira e Sousa. com Bernardo Guimarães. do espaço geográfico e social. podia sem sair de Paris. tal romance. Taunay revela Mato Grosso. verdadeira consecução do ideal de nacionalismo literário. se estendendo pela Paraíba. de um senso de missão. Os românticos. em especial. A vocação pública. cujas coordenadas delimitam. E o fato de não terem produzido grande literatura (longe disso) mostra como são imprescindíveis a consciência propriamente artística e a simpatia clarivi dente do leitor . mas simplesmente humano. que ia consolidando o terreno para a sondagem profunda de Machado de Assis. juntam-se por um momento os dois processos ger ais da nossa literatura: a pesquisa dos valores espirituais. O desenvolvimento do romance brasileiro.coisas que não encontramos senão excepcionalmente no Brasil oitocentista. Exotismo do Ceará pa ra o homem do sul. de vez que o próprio alcance social de uma obra é decidido pela sua densidade artística e a receptivi . o conhecimento do homem e da sociedade locais. o senso de dever literário não bastam.espécie de exotismo que estimula a observação do escritor e a curiosidade do leitor. mostra quanto a nossa literatura tem sido consciente da sua aplicação social e responsabilidade na construção de uma cultura. se achavam possuídos. Um 114 eixo vertical e um eixo horizontal. que os engloba e transcende. Em Machado. quase tod os. um intuito de exprimir a realidade específica da sociedade brasileira. o romance urbano de Macedo. exotismo da própria Itaboraí para os leitores cariocas de Macedo. de Macedo a Jorge Amado. O aprofundamento da análise vai se tornando viável pela sedimentação do material estudado no romance extensivo. para o grande romancista. O romance r rural de Bernardo e Távora. um espaço não mais geográfico ou social. Manuel Antônio e Alencar (mais refinado na análise à medida que se ia a mpliando e diversificando a burguesia como classe) constituem por assim dizer a superposição progressiva de camadas. num plano universal. um conflito por vezes constrangedor entre a realidade e o sonho. tenderiam a ser mais reputados os aspectos de sabor exótico para o homem da cidade. abrindo frinchas na objetividade da observação e restabelecendo certas tendências profundas da escola para o fantástico. A consciência social dos românticos imprime aos seus romances esse cunho realista. e provém da disposição de fixar literàriamente a paisagem. Levados à descrição da realidade pelo programa nacionalista. n a articulação dos episódios. Isto nos leva a um interessante problema literário. as convenções românticas de poesia primitiva. mais ou menos isolados da influência européia direta. em estado de isolamento ou na fase cios contados com o branco. na configuração dos personagens. favoreciam o emprego de um . No caso do indianismo. habitantes rústicos. os costumes os tipos humanos. O mo115 #dêlo respeitadíssimo de Chateaubriand. impostos pelo nacionalismo. o incoerente. podia a convenção poética agir com grande liberdade. na linguagem e na concepção. regionalismo. o desmesurado. Dentre os temas brasileiros. a tendência idealista rompe nas junturas das frases. O problema referido c o da expressão literária ade quada a cada uma delas. os escritores de que vamos tratar eram contudo demasiado românticos para elaborar um estilo e uma composição adequados.dade que desperta em certos meios. A cada momento. (fortalecidas pelo ossianismo). a cujo ângulo de visão se ajustava o romancista: primitivo s habitantes. tratando-se de descrever populações de língua e costumes totalmente diversos dos portugueses. a que nos vimos referindo. tão marcados de romantismo) estabelece no romance romântico uma contradição interna. Daí as duas direções: indianismo. Este acentuado realismo (em nada inferior muitas vez es ao dos nossos naturalistas e modernos. criando com certo requinte de fantasia a linguagem e atitudes dos personagens. o T ropeiro. mais difícil. apresentando difícil problema de estilização. nem como devera ser. de inúmeros termos familiares. do que à nossa pena. neste caso. saída da mão de quem se atira a escrever para o público. acabou paradoxalmente conduzindo ao artificialismo o gênero baseado na realidade mais geral e de certo modo mais própria do país. no limiar de Jucá. mas pitoresca expressão do narrador. não tendo nenhum Chateaubriand para modelo. porém. levando o escritor a oscilar entre a fantasia e a fidelidade ao real. visto que a matéria não levantava problemas de fidelidade ao real. As palavras de Taunay. nem como era contada pelo ex-sargento. e sobretudo de locuções chulas e sertanejas que podiam por vezes parecer inconvenientes. e desejando conservar ainda um quê da ingênua."1 Mas justamente por implicar esforço pessoal de estilização. resultou uma coisa esquisita. o regionalismo foi um fator decisivo de autonomia literária e. pois o original estava ao alcance do leitor. A obtenção da verossimilhança era. sobretudo sob o aspecto sertanejo que assumiu com o Naturalismo: "A autoria da presente narração pertence mais a um exsargento de voluntários de Minas. poderiam servir de epígrafe a quase toda a nossa literatura regionalista. que nos disse haver conhecido de perto o personagem que nela figura. (já que não podia canalizar tão facilmente quanto o indianismo e o romance urbano a influência de modelos europeus). No caso do regionalismo. dependia do esforço criador dos escritores daqui.torn poético. Daí a ambigüidade que desde o início marcou o nosso regionalismo. de respeito a uma realidade que não se podia fantasiar tão livremente quanto a do índio e que. Havendo contudo reconhecido a originalidade e for ca de colorido dessa linguagem. e que. O que fizemos foi desbastar o correr da história de incidentes por demais longos. a língua e os costumes descritos eram próximos dos da cidade. pela quota . de observação que implicava. e fórmulas amadurecidas por uma tradição literária mais refinada. mas apenas nas s ituações narrativas.atentos por um lado à realid ade local. por isso mesmo difícil. não foram irreais na descrição da realidade social. Macedo é o caso mais típico neste sentido. Daí a dupla fidelidade dos nossos romancistas . Este realismo. do indianismo e do exotismo regionalista. para se apreciar o tacto com que Alencar manuseava sugestões européias. um Monte Cristo ou um Camors. tendo passado a vi Sílvio Dinarte. Estude-se a influência do Ivanhoe n"O Sertanejo. por outro à moda francesa e portuguesa. ou do Romance dum Rapaz pobre em Senhora. Histórias Brasileiras. como ampliação de um limitado ecúmeno literário. Bem claro se torna pois o papel da história. 183.preciso notar que os bons. Feuillet. nos romances regionalistas e urbanos. Igualmente clar o é o apelo constante ao padrão europeu. da a girar em torno de quatro ou cinco situações no mesmo e acanhado ambiente da burguesia carioca. Fidelidade dilacerada.. incompatíveis com as condições ambientes. nunca se traçou (1) 116 em nossa literatura um Rastignac. inventado personagens socialmente inverossímeis. é. Mais do que ela. que poderia ter prejudicado a constituição de uma . funcionou aqui a fi delidade ao meio observado: e apesar da fascinação exercida por Balzac. visto como a objetividade amarrou o escritor à representação de um meio pouco estimulante. que foi virtude e obedeceu ao programa nacionalista. Dumas. d"A Dama das Camélias em Lucíola. pág. importante contrapeso realista. Quando se fala na irrealidade ou convencionalismo dos romancistas românticos. É digna de reparo a circunstância de não haverem. foi também fator de limitação. que sugeria situações inspiradas por um meio socialmente mais rico. O grifo é meu. dentre eles. como se poderia esperar devido à influência estrangeira. a primazia coube a Norberto. Se voltarmos porém as vistas para Machado de Assis. A sua linha evolutiva mostra o escritor altamente consciente. na vocação analítica de José de Alencar. com a exceção de Raul Pompéia e Adolfo Caminha. aprofundar. A conseqüência foi que os nossos naturalistas. O próprio Magalhães traz a sua contribuição em 1844. com As duas órfãs (1841). já que cada escritor e cada geração tendiam a recomeçar a experiência por conta própria. Ele pressupõe a existência dos predecessores. publicando na Minerva Brasiliense a novel a Amância. sem aproveitar a sua lição. seguida em 1844 por Maria. Em 1843 aparece O Filho do . (1838) Jerônimo Côrte-Real (184O). Dos seguidores. amor e pátria. os melhores recomeçam da capo e só os medíocres continuam o passado. para inspirar -se em Zola e Eça de Queirós. na Minerva. a cada geração. como se viu principalmente no caso do Naturalismo. no realismo sadio e colorido de Manuel Antônio. veremos que esse mestre admirável se embebeu meticulosamente da obra dos predecessores. na orientação de Macedo para a descrição de costumes.verdadeira continuidade literária entre nós. com efeito. é a circunstância do romance post-romântico haver renegado o trabalho admirável de Alencar. caíram nos mesmos erros dos românticos (sobretudo Aluísio de Azevedo). de definiti vo. Significativa. para não falar nas duas excelentes realizações isoladas que foram as Memórias de um Sargento de Milícias e Inocência. e esta é uma das razões da sua grandeza: numa literatura e m que. fecundar o que havia de certo nas experiências anteriores. que compreendeu o que havia de certo. Religião. do seu alheamento às modas literárias de Portugal e 117 #Pereira da Silva produz nada menos de três obras de ficção em dois anos: Uma paixão de artista. Este é o segredo da sua independência em relação a os contemporâneos europeus. sob o influxo da última novidade ultramarina. ele aplicou o seu gênio em assimilar. já que os outros. que considera "certamente muito incompleta". chegando a estabelecer uma lista. para evitar um raciocínio causai arriscado. têm dimensões de conto ou novela. surgem como as primeiras obras apreciáveis pela coerência e execução. J. que se resumem geralmente com o nome de vocação. suponhamos que o número seja 1OO. decaindo o ritmo a partir de 1847. a influir no aparecimento do roman ce entre nós. e da influência estrangeira. isto é. respectivamente. de Teixeira e Sousa. houve certamente por parte do público apreciável solicitação. Provam-no a quantidade de traduções e a abundante publicação de folhetins seriados nos jornais.Pescador. Estudando o problema da propriedade literária. que o interesse pelo romance parece coincidir com o aparecimento das primeiras manifestações românticas. Primeiro. não apenas do Rio. ou pelo menos receptividade. É interessante verificar que a maioria aparece no ano de 1839. Vaz Pinto Coelho foi levado a pesquisar os folhet ins. mas de todo o país. Além dos fatores individuais. apesar de trazerem por vezes esta designação. Em 1844 e 1845. Estes números sugerem duas observações. ou seja. que é também o momento em que começa . dois terços. fundindo tendências anteriormente esboçadas e dando exemplo dos rumos que o nosso romance seguiria. sempre decisiva. M. Entre 1838 (aparecimento das novelas de Pereira da Silva) e 1845 (aparecimento d"O moço loiro) estão situados 5O dos 74 da lista de Pinto Coelho. o que dá uma média de quatro romances anuais. considerado geralmente o primeiro romance brasileiro. em pouco menos de um terço do período investigado (7 anos sobre 24). a tentativa de inserir os problemas humanos num ambiente social descrito com fidelidade. entre 183O e 1854. de 74 romances traduzidos e publicados desta forma. considere-se. A Moreninha e O moço loiro. de Macedo.4 Admitindo que tenha escapado à sua investigação mais ou menos um terço. se podem contrafazer o Primo Basflio do sr. Zola?" . ou traduzir o Assomoir do sr. Revista Brasileira (II). cuja biografia escreveu. ou melhor. com sucesso garantido? Como quereis que editem um romance. publicadas aqui ou chegada s abundantemente de Portugal e da França. desestimulando os nossos escritores. 12O Em segundo lugar. como Caetano Lopes de Moura. Ê preciso considerar não apenas os folhetins. II pág. Haroldo ParanhOB. Talvez os três fatores devam ser cornbinados. isto significaria que ela tomou em parte o seu lugar e viria corresponder a necessidades do meio. Os tradutores brasileiros eram muitas vezes de boa qualidade. no Brasil. 494-495.p erguntava José Veríssimo ainda em 188O. por melhores que eles sejam. a intensidade dos folhetins traduzidos diminui no momento em que se define a produção local. M. num congresso internacional. vol. mas as traduções em volume. traduzido sem pagamento de direitos autorais. vol. Justiniano José da Rocha. compilou. (4) J. a tradução foi todavia incentivo de primeira ordem. Eça de Queirós.a se desenvolver o jornalismo de maior porte.5 No decênio de 183O. Vaz Pinto Coelho." págs. mesmo do nosso melhor romancista. chegando-se a dizer que prejudicava o seu desenvolvimento. foi concorrente do nacional. médico dos exércitos de Napoleão. 241). bem como a chegar aqui o exemplo francês. Mas pelo século afora o romance estrangeir o. "Como quereis que (os) editores nos comprem os nossos trabalhos. quando acham já feitos. História do Romantismo no Brasil. O introdutor da publicação de romances e contos em folhetins teria sido. que publicou um pouco de tudo para viv . e o que é mais. "Da propriedade literária no Brasil". 8. criando no público o hábito do romance e despertando interesse dos escritores. Balzac. David. Eugéne Sue. revelando nos títulos o gênero que se convencionou chamar folhetinesco. o seu romance é uma simples acentuação de tendências que podemos observar nos estudos históricos. Esse baiano. ob. Souvestre. a t rágica. de Chateaubriand. tomemos por amostra três obras. etc. Rabou. Joaquim Norberto (Maria) e Gonçalves de Magalhães (Amância). Scribe. Irving. tanto quanto as obras de valor real. Os livros traduzidos pertenciam. Berthet. muitas vezes. em Paris. de importante função ancilar na literatura romântica. começando por adaptar. Gonzalès. mas eram novidades prezadas. Chevalier. ao lado de George Sand.8 Para uma idéia das tendências iniciais da ficção brasileira. vezes. representativas de outras tantas tendências que serão fundidas e superadas na obra de Macedo. Na maioria.er. graças ao aparecimento do enquadramento social: a histórica. Chateaubriand. pág. Os assassinos misteriosos. onde supre lacunas documentárias com a achega da i . Goethe. Dumas. a quem se deve a publicação do Cancioneiro de Dom Diniz. livreiro. Féval. traduziu a maior parte dos romances de Walter Scott e do cap itão Marryat. respectivamente. Soulié. editor. se alinhavam Paul de Kock. Assim. cit.. ilustradas por Pereira da Silva (Jerònimo Corte Real). Mérimée. Quem sabe quais e quantos desses subprodutos influíram na formação do nosso romance? Às (5) 121 Apud Pinto Coelho. Justiniano José da Rocha traduziu vários. Pereira da Silva se movimentava com desenvoltura entre a ficção e a realidade. Outro tradutor foi Paula Brito. inclusive algo muito útil aos seus patrícios: uma Arte de se curar a si mesmo das doenças venéreas (1839). de autor ainda não identificado. na maior parte. ao que hoje se considera literatura de carregação. 493. Vigny. a sentimental. franceses. além de outros cujo nome nada mais sugere atualmente: Bard. centro da Sociedade Petalógica. em 1839. mais do que os livros de peso em que se fixa de preferência a nossa atenção. bem como Os Natchez. mormente biográficos. págs. Sebastião para a África. que aparece esmolando com o fiel jáo. partindo em seguida com D. 122 . Tomada em conjunto. Bernardo Guimarães. procurando recompor através da ficção a vida turbulenta e mal conhecida do famoso jesuíta paulistano. Muito mais tarde. reversivelmente. e nos Episódios do Brasil colonial. em Manuel de Mora is (1866). escreve. a fórmula mais estimada pelo público da atualidade?" (6) Reporto-me sempre à lista de Pinto Coelho. consultar o levantamento de Basílio de Magalhães. escudando-se no romance histórico: "Confundir-s e-ão no mesmo quadro a história real e a imaginação aventureira.. sobretudo Camões. em Jerônimo Corte Real e Manuel de Morais (não conheço os dois outros roma nces históricos). . aconselhando o protagonista. segundo o ângulo do leitor. retira-se do mundo e morre. a sua obra poderia ter como epígrafe o título de um dos seus últimos livros: História e Legenda. tudo numa língua recortada n"Os Lusíadas. volta. Mas sentimos que.maginação. Leonor de Vasconcelos. Jerônimo Corte Real põe em cena o poeta deste nome. pr evendo o desastre do jovem rei. para o autor. é tão importante quanto isso o desejo de meter em cena personagens históricos. E. mais tarde Varões Ilustres dos tempos coloniais. bem como o início do nosso romance. estamos quase a meio caminho entre documento e invenção. assim justificaria o seu método. No Plutarco Brasileiro. 145-15O. esta apenas corre mais livre a partir dos dados positivos. faria obra melhor arquitetada. As duas linhas se perturbam. Sobre as traduções de Lopes #Moura e Justlniano. aparecendo uma como pretexto da outra. no respectivo prefácio. autor d"O Cerco de Diu e d"O Naufrágio de Sepúlveda. Não é este o ramo mais popular da moderna literatura. O fio da meada é a sua paixão por D. onde f ica prisioneiro após Alcácer Quebir. cujo irmão abate em duelo. por sua vez. ou A Conjuração de Tiradentes (1848). que se poderia definir como romance-relâmpago. bem como a técnica e a inserção temporal dos episódios.tão ruim. força uma jovem que tomava banho. tão feito de encomenda para ilustrar os lados caricaturais da escola. Clara é criada pelo avô. há um naufrágio de que se salva um belo moço. esta cria a pequena Maria como filha. Maria cresce. e o casal tem uma filha. misturando-se ao indianismo. Eis o enredo: Pedro Rodrigues. nove meses depois é exposto em sua casa o fruto do ato. cuja mãe adotiva morre de desgosto. casado. mas não consegue. considerou-se o primeiro romance histórico brasileiro Um roubo na Pavuna. em O Guarani e As minas de Prata. primeiro violentador da série. tão convencional. a seu tempo nasce o pequeno Henrique. logo identificado como Henrique pelo velho. onde se compendiam o estilo e o temár io do Romantismo tenebroso. pois apesar do tamanho (onze páginas da Minerva Brasiliense. que ele confessa à esposa. por isso mesmo é um precioso escôrço. à véspera do calabrês voltar. tinta do seu sangue. . casa-a ent ão com o seu preposto Caetano. com a especificação de "romance brasiliense". raptado com violênc ia da choupana materna pelo pai. eqüivalendo talvez a umas trinta de formato comum) não é certamente novela nem conto. o rico e perverso José Feliciano quer violentá-la. Entre ele e Clara se esboça um leve interesse incestuoso. calabrês honrado e bravio. Pedro.Como os seus ensaios romanescos iniciais se passavam em Portugal. Este já sabia de tudo e mata a mulher abraçada à filhinha. Clara. de Azambuja Suzano (1843). A matéria é de romance. Feliciano manda o calabrês para longe e possui brutalmente Maria. que abrangem três gerações. Maria. carvoeiro na floresta da Gávea. mas ele vai para o Rio. Teixeira e Sousa publicou anos depois Gonzaga. Passam vinte anos. que a sua leitura é uma jubilosa delícia. preciosa pelo valor documentário. Meses . é uma obrinha. ou Vinte anos depois. mas o gênero só brilhou realmente no Brasil romântico entre as mãos de Alencar. que se atira da sacada do Passeio Público. de Magalhães. O estilo aco m123 #panha. a tempestade comparece pontualmente. quando tudo amaina. vem à mata visitar o avô e depara. sem saber como. pois desposara entrementes #a jovem Clara. bondade e maldade. Lendo furtivamente uma das cartas que ela trazia. quando há violência e desastre nos homens. vinga-se nas descrições. surpresa. médico. sobrevoando tudo. Henrique enlouquece e é recolhido à Misericórdia. filha de Caetano e da mulher que violentara. qualificada de "novela". na sua comovedora falta de jeito. a natureza se engalana. incesto. vestida de homem. esteiada pela maquinaria adequada: violência e cordura. Estas ponteiam a narrativa. a Fatalidade. alternando-se. perde-se no diálogo. apresenta igual valor de paradigma no gênero sentimental. como se dizia) para dá-la a um madurão endinheirado. Henrique. Haviam marcado encontro para fugir. e que este acaba de matar o próprio pai.depois. toma a sua de fesa e atira. resol . e como o jovem não viesse. sublinhado igualmente por outro s traços tomados aos costumes. O cenário é a mata da Tijuca e da Gávea. conhece o drama: o pai não a quer deixar casar com o bem-amado (amante. recorre à segunda pessoa do plural. onde então batia o mar. à sua porta quatro homens agredindo um só. O homem que defendeu vai morrer. isto é. em subtítulo. socorre uma jovem desesperada. acompanhando o acontecime nto com docilidade. mas antes conta que é Caetano. reconhecimento por meio de sinais e. O narrador. coincidência. já então seu cunhado também. É a complicação romântica em todo o esplendor. marcando o intuito "brasiliense". matando um dos agressores. José Feliciano. é ainda uma lingua que procura se adaptar ao novo gênero. A Amância. matador da mãe dele. para darlhe rara vivacidade como elemento de uma combinação de fatos vertiginosamente lançados. os aspectos psicológicos dificilmente alcançam verossimilhança. Não sabendo. O pai é inflexível e está disposto a fazer a desgraça sentimental da filha.oferece exemplos verdad eiramente caricaturais. Em conseqüência. fazendo os acontecimentos se dobrarem tão documente ao propósito esquemático. o autor o amarra ao fato . que faz esquecer o personagem enquanto ser humano. auxiliado indiretamente pelo outro candidato. Amância manifesta aliás um caráter freqüente. a menos que o autor possua o gênio narrativo de um Alexand re Dumas. que se revela um grosseirão i naceitável. que se torna critério. e os personagens se dobrarem tão documente aos acontecimentos. subordinando-o às variações deste. atrasado. Amância. . de modo mais ou menos explícito.veu morrer. entrega-se ao desespero. ou não querendo dar-lhe realidade própria. entra o seu candidato e se comporta com uma grosseria encomendada nos bastidores #pelo romancista. que não chegamos a sentir o efeito da conven ção romanesca. péssimo neste.obra de escritor mediano noutros gêneros. mas o jovem fora. na maioria da ficção romântica: subordinação do sentimento ao acontecimento. o namorado atrasa meia hora! Ela tenta se matar. O que sobressai é a imperícia do autor. sem respeito à coerência. O namorado não a encontra. . Conhecem a verdade: imediatamente se reconciliam. Intervém o médico e concilia as boas graças do pai para o casal de namorados. fio diretor em torno do qual tudo se vem organizar. A moça vem à praia para fugir. reputa-a traidora e não quer mais saber de nada. e não vendo por sua vez ninguém. 124 . arrependimentos. 125 #3. Sobra apenas o transbordamento de lamúrias. que os dirige de fora. a sua pobreza. . imposto pelo ficcionista com uma inabilidade que mata a verossimilhança. sempre generoso com os sofredores) recebeu-o na História da Literatura Brasileira menos como critico do que como hospedeiro cornpadecido. Magalhães e Pereira da Silva: o resultado será Teixeira e Sousa. Escrevendo sobre o romance nascente. porventura Gonçalves Dias. quanto estas condiçõe s negativas não eram compensadas pelo fulgor de um grande talento. Tanto mais. notadamente a corte do "Senhor de Magalhaens". o born. festejado na "Petalógica" mas ao que parece. desanca de tal modo a sua epopéia nacionalista que ele desiste de c ontinuá-la. ilustrando sempre o triunfo da virtude. os poucos que lhe deram importância foram. Sob este aspecto. perdões. SOB O SIGNO DO FOLHETIM: TEIXEIRA E SOUSA Imaginemos uma mistura dos elementos exemplificados nas obras de Norberto. desdenhosa por certo ante a humildade das suas origens. convergindo para soluções perfeitamente adequadas à moral reinante. terminando-a afinal quase dez anos mais tarde. Como romancista.ele se torna compreensivo e concorda com tudo. lágrimas. um anônimo do Correio Mercantil. Noutra geração. Sílvio Romero (duro com os medalhõ es. Félix Ferreira. Fernandes Pinheiro trata-o com polidez condescendente. gente secundária: Paula Brito. o permanente caiporismo. simpático e infeliz carpinteiro de Cabo Frio. Dutra e Melo ignora-o de todo. menos acatad o pelos figurões literários do tempo. o seu passado de trabalhador manual. a fim de melhor recompensá-los. Amância traz uma fórmula muito usada no Romantismo: o amor é um conjunto de complicações que põem os amantes à prova. excetuado Santiago Nunes Ribeiro. Em suma. alegrias. os personagens inexistem separados do acontecimento. Teixeira e Sousa é um escritor literalmente esquecido. estas chegam a um tal grau de intensidade e complicação. em literatura. Ele o representa com efeito em todos os traços de forma e conteúdo. digressão. embora a qualidade literária seja realmente de terceira plana. o aspecto que se convencionou chamar folhetinesco do Romantismo. menos por lhe caber até nova ordem a prioridade na cronologia do nosso romance. como o terceiro e o quarto. talvez possamos distinguir quatro: peripécia. A sua carreira de ficcionista começa em 1843 com O Filho do Pescador e termina em 1856 com As fatalidades de dois jovens. na medida em que (já vi mos a propósito de Magalhães) é a verdadeira mola do entrecho. ridículos. que tocam as raias do grandioso. Maria ou A menina roubada (1852-53). um acontecimento privilegiado. são incríveis de tolice e puerilidade. o esquecimento foi pétreo. é considerável a sua importância histórica. precedida nalguns casos pela publicação periódica em folhetim. Se procurarmos analisar os elementos da ficção de Teixeira e Sousa. dos seis romances. conclusão moral. noutros. a metade ficou na primeira edição. No entanto. este só se define . nos cacoetes.Da parte do público. Gonzaga ou A conjuração de Tiradentes (1848-1851). impondo-se aos personagens. influindo decisivamente no seu destino e no curso da narrativa. o juízo não tem sido menos severo. (hesito escrever . Alguns. (não da nossa ficção). Dos seus dez livros. Ela é pois. Nos livros de Teixeira e Sousa. governando tirânicamente o personagem. os quatro de poesia nunca se reeditaram. de 126 permeio. A peripécia não é um acontecimento qualquer. com tanta generosa abundância que nos prende a atenção e quase impõe o respeito. como sobretudo A Providência. crise psíquica. #A Providência (1854). Quanto às peças de teatro. é o triunfo da sublitera tura. maciçamente. em todos os processos e convicções. mas aquele cuja ocorrência pesa. virtudes. do que por representar no Bra sil.a sua arte). Tardes de um pintor ou As intrigas de um jesuíta (1847). que surge como suporte da sua verdade humana e ocasião para podermos apreendê-la. que. por uma inversão de perspectiva. a grande era da ficção representa o triunfo do personagem e da situação sobre a peripécia. estas sim. o homem rústico. o personagem é que serve a peripécia. Sabemos que em muitos romancistas de alto nível o personagem se revela em parte através do acontecimento. aberta com os franceses e os ingleses do século XVIII. #Marcel Proust e James Joyce.às vezes prodigiosa. É necessário fazer aqui uma distinção. às vezes elementar. incorpora o personagem e ap ela para o que há de mais elementar no leitor. a maior conquista da ficção moderna foi de ordem estática. mar127 . porém na esfera folhetinesca. . com as intrigas da corte ducal. apontando o significado humano da situação. as fugas. constituem a al ma. confundido nesta hora à criança. prisões. o certo é que a grande era da ficção.por meio dela. do causo. o esqueleto e o nervo do livro. na fascinação pela magia gratuita da fábula. mas implicando sempre a supremacia do acessório sobre o essencial. na Chartreuse de Parme. desvendando a propósito o personagem. lutas. O autor vai comentando. o processo atinge por vezes um exagero inversamente pernicioso. encerrada quem sabe por Kafka. como os que se afogam na "corrente da consc iência". não passa de elemento na concatenação de peripécias. Esta adquire consistência própria. mostrando o seu amadur ecimento ou simplesmente o seu imprevisto. Se em certos autores contemporâneos. derrotando a cinemática da história. no desenrolar incessante das peripécias. o primitivo. Qualquer leitor de Stend hal sabe disso. manobras. Não se trata disso. Por isso. e se deleita. impõe-se em bloco. onde. Para servi-lo convenientemente. Daí uma diminuição na lógica da narrativa. ante uma visão mais profunda. O acontecimento é totalmente esgotado. o realismo diminuiu e mesmo derrubou a soberania da peripécia. restaurando o equilíbrio entre o acontecimento. peso do passado sobre o presente. o qüip roquó. relações imprevisíveis. invoca à tarefa romanesca os comparsas adequados: mistério e fatalidade. o desconhecido. corn o nosso born carpinteiro. e do mistério. o nosso romance sofreu um pr ocesso que freou progressivamente a corrida dos acontecimentos. De Teixeira e Sousa a Machado de Assis. instaurando um ritmo narrativo mais lento e menos sobrecarregado. que deveria abrir perspectivas. malgrado o movimento da peripécia. anulando o quadro normal da vida em proveito do excepcional. Os fatos não ocorrem. .#cando o triunfo dos aspectos assenciais da vida sobre o que nela é acessório. e o personagem que dela emerge. com efeito. as trevas. É interessante notar.malgrado tais elem entos. esta. a fatalidade é quase sempre mero recurso que supre a capacidade de interpretar a concaten ação da vida humana. maquinações. a situação que lhe dá significado. pela elevação à potência do incomum e do improvável. Ao insistir na integridade normal do f ato. as coincidências. enquanto o mistério nunca é a opacidade do desconhecido. que. No romance folhetinesco do Romantismo. acontecem. pois a verossimilhança é dissolvida. No folhetim. encontros. a surpresa. que é uma espécie de ressonãoncia a envolver as palavras e alongar o seu significado além dos limites comuns. o romance de Teixeira e Sousa é limitado e fechado em si mesmo. vêm prenhes de conseqüências. a peripécia consiste numa hipertrofia do fato corriqueiro. sem deixar qualquer margem para a . estamos no nível elementar do acontecimento pelo acontecimento. todavia. Aquele. englobando o imprevisto. que permitiu maior atenção do romancista à humanidade do personagem. utilizados com impudor tranqüilo. pois o autor estabelece uma espécie de contabilidade das complicações. com filiações s ur128 preendentes. história de Batista. Seria impossível resumir este livro. santo jesuíta. Daí o caráter mecânico dos entrechos e episódios. e todos os mistérios. atinge o ápice em A Providência. Vogando no tema do incesto. hi . de que faz tão largo uso. traduzido por Castilho . sua filha Rosa Branca. seus avós. que se desfazem na hora certa. Arcanjo (irmão). rigorosamente esclarecidos. manipuladas como fios de uma trança que se vai desenvolvendo. quase tudo partindo de um velho e. o Padre Chagas. história de Felipe. o leitor permanecendo frio ante os trejeitos dramáticos do r omancista e. violações e bastardias entrecruzadas. Esta elucidação meticulosa representa ao mesm o tempo uso e desrespeito do mistério. aparece aí um processo caro a Teixeira e Sousa: o entrecruzamento das diferentes histórias. prevendo facilmente o desfecho dos suspenses ou a identidade dos figurantes misteriosos. em muitos casos. Geraldo (apenas primo). ao tempo dos acontecimentos. Do ponto de? vista técnico. sua filha Narcisa.imaginação. verdadeiro "Pai. O abuso desses traços. prezado pelos românticos e ocorrente em suas próprias obras de modo dominante ou recessivo. Adão dos mais". D. onde o que vale é #justamente a riqueza de pormenores e a vertigem dos mistérios. contra quem maquinava) e seu infernal companheiro Jacinto. (que uma revelação final mostrará ser filho do f azendeiro Batista. faz os namorados tenninarem irmãos uns dos outros. avô. História de Pedro. dir-se-ia aplicando o verso de Mefistófeles. seus namorados Benedito (irmão). Em As Fatalidades de dois jovens. etc. A coisa é pouco menos complicada nos outros livros. o mouro. servindo a ação presente quase apenas de pretexto para eles ocorrerem.stória de Renato e seu pai. pois Pedro quer desposar Jacinta. roubos. que transforma A Providência num sistema de retrospectos. nos quais a história é geralmente intercalada por um personagem acessório ou meramente ocasional. tesouros. relatos. que p ara ele não seria algo justaposto. choros. arrependimentos. sob a forma de uma figura feminina cavernosa e fantasmal. o padre Chagas (que desvenda. subterrâneos. reconhecimentos. são quase sempre os protagonistas que dão lugar à digressão. Os ingleses. vingar e distribuir justiça. gritos. mas essencial à narrativa. filha de Batista. que vem à zona de Cabo Frio assustar os moradores. antiga amante traída por Felipe. pai suposto de Arcanjo com quem vai casar Rosa Branca. no Oriente. reconhecimentos por sinais. uma estreitamente solidária da outra. usaram até pleno século X IX deste processo. naufrágios. na esteira dos picarescos espanhóis. morte de amor. que dá encanto a tantos livros de Dickens #e Thackeray. que é amigo de Renato. Todas acabam se cruzando. a que se chamou aqui digressão. confissões. como o caixeiro viajante das Aventuras de Pickwick. onde praticamente se cruzam duas séries narrativas: a da menina roubada e as estrepolias do vilão Estêvão. duelos. consiste nessa sobrevivência dos romances medievais que é o enxerto de histórias secundárias. Pairando num plano superior. Tudo temperado com raptos. etc. mas esta casa com o viúvo Batista. ladrões. Em sentido algo diver . assaltos. (mais tarde Estêves). É propriamente a marcha em xiguezague. intervém) e nada menos que a Providência. já quase caindo em pa ixão com Benedito. Em Teixeira e Sousa. raptos. O mais simples ainda é Mar ia. O segundo elemento da ficção de Teixeira e Sousa. há igualmente filiações trocadas. assassínios. irmão desconhecido. E assim nos demais. quando suspende o curso do entrecho central para espr aiar-se na viagem de um preposto. é o que se dá em Tardes de um pintor. que acomete o personagem a certa altura. ou. a crise em que Leôncio. não raro. perdendo posição social e fortuna. em As fatalidades de dois jovens. deslocando para a possível redenção a sua vida de crimes rocambolescos. Na obra do nosso romancista há vários momentos deste tipo. capacitar-se da situação em que está. transformado pela paixão. sendo o meio mais apurado a que recorre para pintar a vida interior. para introduzir um valentão que protege o herói. de intensidade variável. como exemplos característi cos n"O Filho do Pescador. ou. fazendo-o sentir os seus crimes. Apelando para um parad igma ilustre. Estes encontros do personagem consigo mesmo revelam em Teixeira e Sousa esforço de ampliar o horizonte. o brusco arrependimento de Laura. narra longamente o seu passado. . ou. que vai ao Rio Grande agenciar a morte do mocinho. dilacerado por amar a filha do inimigo de seu pai. em Tardes de um pintor. O terceiro elemento faz as vezes de análise psicológica. freme ante a vilania que vai cometer. poder-se-ia dizer que é a situação de "tempestade num crânio". medir o seu desespero. suspendendo por um instante o fluxo dos acontecimentos. a vigília de Geraldino. apoio para desenvolvimentos maiores. e aparece como violenta crise moral. Citem-se. acha-se na obrigação de contar toda a organização da sociedade secreta a que se filia. retornar às galés. antes de narrar o assalto praticado por um cigano 129 #espanhol. dilacerado entre deixar condenar o homem tomado por ele (e assim conquistar a tranqüilidade para sempre) ou denuncia r-se e.so. sobretudo. como Victor Hugo chama à vigília trágica de Jean Valjean. que neles encontra porém. onde. e dá por destino. cada capítulo é encimado por uma máxima moral. É ela que conduz a peripécia à punição dos culpados. ou o claust ro. que se torne difícil o assinar-se-lhes o plano positivo em que devem figurar. e qual a ação principal. o leitor notará claramente o alvo que o narrador quis ferir. Não obstante.O elemento final. Eis como explica. . e a moralidade da sua história". embora neles se compliquem personagens tão importantes. a morte. embora eles sejam de tal maneira preponderantes. a alguns dos seus heróis. é a preocupação constante de extrair a moral dos fatos. ou quase no fim. se lhe perguntarem no fim desta história quem é o herói dela. ao menos em grande parte desta história: #e então no fim dela. bem como em As fatalidades de dois jovens. isto é. que engloba todos os demais: a fatalidade. ligada ao conteúdo da narrativa. embora nem sempre ao galardão dos justos. que se não conheça à primeira vista a ação principal que sobre o todo domina. Daí a função muito especial do elemento preponderante dos seus livros. que todavia não parece ser o principal personagem. (A Providência) na 13O Neste mesmo longo romance. chega a dizer que o romancista não tem o direito de contar histórias em que o crime permaneça impune. geralmente mostrada como providência. o entrelaçamento de ambos: "O narrador aproveita a ocasião para declarar aos seus leitores. de natureza ideológica. o l eitor judicioso verá que todos os fatos se reúnem afinal na vida de um homem. superordenação dos acontecimentos por algo que promove a pena e retribuição dos atos. que ele os não quis designar abertamente: o que porém o narrador declara mui positivamente é que os fatos aqui mencionados são acontecimentos da vida humana. e n"O Filho do Pescador. pois Teixeira e Souza não tem a mesma bonomia complacente de Macedo. no seu jargão típico. O Botocudo é vítima de uma série de vilanias. com alguns dos seus cultores ocorrem outras afinidades. principalmente. ." Em Gonzaga. cujas condições são iguais para qualquer dos dois contratantes. Ao contrário do Tomás Antônio de Castro Alves. Em Tarde de um pintor. descrito com as piores cores. pai de todos. liberal e abolicionista. ou. é jesuíta o vilão-mor. que tece todas as intrigas aludidas no subtítulo. representam dois tipos queridos do Romantismo: o salteador de alma grande e o gênio infeliz. aparece um sacerdote usurário. onde há o born jesuíta Chag as. est e é apenas o poeta marcado na fronte pelo talento.. nada falta para a configuração do folhetim. Eis um pedaço do pacto infernal que estabelece com Leôncio: ". para satisfazer a paixão sacrílega por Clara. ateu. Diferente de 131 . pagando com a desgraça o tributo da própria genialidade.) E aquele que faltar à menor cláusula do pacto? .. em Tardes de um pintor. haja vista certo anticlericalismo. Em compensação.(.Condenação eterna.Como se vê. e o padre.. disse Leôncio. no romance do mesmo nome. o Botocudo. que justificam abundantemente a sua revolta contra a sociedade má. em As fatalidades de dois jovens.Toca. mortos por obra da Inquisição. como Justo. Aceitas? . O pacto está solenemente celebrado..Qual condenação eterna?. que não for fedífrago. sorrindo-se sarcàsticamente disse de um modo quase satânico: . entremeado de padres bons e santos. Este e Gonzaga. os bandidos são por vezes bons e cavalheirescos. lúbrico. e aquele que faltar à menor das condições será vítima do punhal vingativo do outro. por não ter ela querido ceder ao desejo de um padre. Mesmo n"A Providência.Aceito. não acredito nessas asneiras. aliás Gonçalo Pereira #Dias. é um pacto bilateral. inclusive a luta do Bem e do Mal. perverso. Tiradentes é levado a conspirar pelo desejo de vingar a irmã e o cunhado. . defende os fracos. de Alencar. e quase todos perguntaram o que tinha. sempre misterioso.Do Maranhão. . . um cavaleiro andante que não sabemos como está associado e mesmo é chefe dum bando de te rríveis assassinos e ladrões.E o nome de sua mulher? perguntou ela ao Botocudo. O Botocudo contemplou Madalena e perguntou-lhe: . . pune os culpados. . e minha mãe também se chamava Francisca Pereira da Conceição. arranja dinheiro aos necessitados.O seu nome? .Sim senhor. não toca no ouro. perpassando como um grosso rebuçado que os protegidos apenas vislumbram. e encontrando a filha perdida desde a infância. que formam. Como um anjo born.O Maranhão.E qual é o lugar do seu nascimento? . Todos olharam para ela.É extraordinário! Meu pai também tinha o seu nome. grande.Oh meu Deus! exclamou Madalena. salva da morte e do fogo. . intervém nos momentos precisos. impede uniões criminos as. é todavia um bandido impecável que só pratica o bem.Gonçalo Pereira Dias.Donde é filha. a rede central das maldades e torpezas do livro. vermelho e do feitio de um coração? .Tem vossemecê algum sinal no pescoço do lado esquerdo. que surgirá mais tarde no Til. numa cena típica do nosso born romancista: "Findo isto perguntou-lhe Geraldino: . minha menina? . pelos vínculos múltiplos. contando publicamente a sua história por ordem do Vice-Rei.Francisca Pereira da Conceição. . É ele quem fecha o livro com chave de ouro nas bodas de Geraldino e Carolina.#João Fera. Juliano. Ei-los. o mistério lucra com o recurso a outras eras e lugares. Gomes Freire aparece como figurante e intervém ativamente ao lado do herói. os outros se aproximam do gênero. Isto. que. tanto pela localização temporal e a tentativa de reconstituir os costu mes. desempenha papel ativo D.. devendo o leitor co . E se apenas Gonzaga é um romance histórico no sentido estrito. Em As fatalidades de dois jovens. abraçando aquela a quem dera o ser!" Note-se o perfeito arranjo dos chavões. E dizendo isto. mostrou Madalena os dois sinais. Em A Providência não há tais elementos.Sim senhor.Minha filha! Duas lágrimas correram de seus olhos! e o homem que jamais havia chorado #em sua vida. lançando-se a ela e abraçando-a exclamou: . A fatalidade se manifesta melhor numa seqüência temporal de fatos.E outro no braço direito. salvas pelo Botocudo. e assistimos ao incêndio do Recolhimento do Parto. quanto pelo recurso a fatos ou personagens históricos. duas coisas nos chamam em seguida a atenção: o recurso ao passado e a falta de organicidade na integração das partes. e certamente a voga do romance. ao longo dos quais fica patente o seu efeito. apenas vistos pelo Botocudo. levou Teixeira e Sousa a localizar no sécul o XVIII quatro dos seus seis romances. onde se abrigava a heroína e uma amiga. chorou pela primeira vez. 132 Se encararmos niais de perto a composição desses livros. mais tarde as guerras do Sul.. inclusive um sinal para garantir a certeza do outro. Em Tardes de um pintor. e ambos colocados em lugares que a moça poderia exibir em público. Luís de Vasconcelos. perpassam os assaltos de Duclerc e Duguay-Trouin. pequeno. só o primeiro e o último são contemporâneos. quase no curvo dele. preto como a cabeça de um alfinete de encosto? .. Aos romances quase-històricos. ou a maior parte da viagem de Ligeiro. Para pôr em andamento isto tudo. os seus jesuítas. alternando-se ou tripartidando-se as várias meadas. poder-se-ia dar o qualificativo de "Recordações dos tempos coloniais". dando as mais d as vezes a impressão de pedaços. discursos do personagem e do autor.com as suas camorras. cuja sofreguidão foi pitorescamente cornparada à da baleia em certo trecho d"O F ilho do Pescador. os que não entendiam aplaudiram por adulação a A . Estes livros. são impérios dentro de um império. intermináveis narrações. descrições empoladas. A história da borduna. que entra além disso a cada passo pelo retrospecto da biografia dos personagens. E ainda nisso permanece Teixeira e Sousa fiel aos modelos folhetinescos. elaborados pela técnica da digressão. para espicaçar a curiosidade do leitor. sociedade secreta espanhola. Romances-rninhoca. é em parte um recurso literário consciente. temos por vezes vontade de chamá-los. sobretudo. que dois deles trazem no subtítulo. cozidos numa duvidosa unidade. mas atenta a circunstância de ser feito quase de repente. Por vezes abusa do direito de escrever mal. levando a urdidura quase a desintegrar-se. os seus pendores éticos. entre os quais talvez tenha sido importante Eugene Sue. aprofundados e de certo modo espichados pelo passado. #É preciso notar que a extrema complicação. dispõe de um estilo difuso e abundante. sem alinho nem ordem. Os entendedores da matéria aplaudiram o soneto. um diálogo entrecortado. desp rovido de qualquer senso estético: "Este soneto não será um ótimo 133 #soneto. e numa sala onde se conversava. como a uma boa poesia. .ntentar-se com a evocação do Rio e. desses em que o seccionamento duma parte não tira a vida às outras. em As tard es de um pintor. são feitos por partes justapostas. é ele pois um muito born soneto. no mesmo livro. a zona rural da respectiva Capitania. que.Oh meu primo! isso não é sincero.. .o juízo resulta mais favorável do que poderia parecer." (A Providência) Se deixarmos todavia preocupações de estilo e composição para atentar unicamente à carpintaria dos episódios. isto é.. tão variadas. tomado de um religioso respeito.. tão coloridas. . que felizes cultivam as mãos da mais bela de todas as deusas! . numa vaga . afastados os três livros pior que péssimos e guardados os três outros. .Quanta lisonja. Ao ver-vos no me io deste delicioso jardim. e que idolatrava ao seu mui querido sobrinho".. considero-me em um delicioso jardim. pleiteando entre si a glória de vossos amorosos desvelos. ou antes a Juliano como herdeiro de uma boa fortuna. abalado pela extrema força de um culto íntimo. (Tardes de um pintor) Vejamos agora uma declaração de amor: ". pela corrida dos fatos e a atmosfera setecentista. que chegam realmente a prender. tão cheirosas e belas. a Flora deste bem-aventurado jardim. Em Tardes de um pintor. velado por benéficos gênios e protegido por deuses! Eu vos contemplo como a deusa desta celeste mansão. os bens de Agostinho.gostinho.alma dos livros de Teixeira e Sousa.Malditos sejam do pecador os lábios que se movem para enganar os anjos de Deus! Maldição sobre o espírito do crime que procura enganar o espírito da inocência! Ah! permiti que vos fale em uma linguagem de confiança e de amor. e animando com vossos celestes sorrisos estas bem-aventuradas flores. plantado por mãos d ivinas de invisíveis ninfas. sinto que profano esta gleba sagrada. como que à porfia derramam em torno de vós suaves ondas de voluptuoso perfume. que não tinha herdeiros. . alegrando com vossos divinos olhos estas felizes verduras. mil vezes mais cheia de encantos que a velha deus a dos antigos jardins! Então.. meu Deus. confesso que. encantador tesouro de seus delicados cálices. mas a nova deusa das flores. de Sue. 135 #4. festa de casamento. no mesmo livro.. nós mande ássubir quê lhe não queremos falar nó meio dá rua feitos negros. Há maioria de escravos fiéis. como quando entra pela contabilidade a dentro. com suas comidas. O HONRADO E FACUNDO JOAQUIM MANUEL DE MACEDO Há escritores cuja obra é uma pesquisa deles próprios e que parecem escrever em função de certas características pessoais. não seja mal créado. com seus valentões esti pendiados. Por isso requerem de nós um esforço tendente a s .." Pelos negros e mestiços (sendo ele filho de português e preta) tem simpatia marcada.. para explicar #as falcatruas de Flávio e Liberato. em A Providência. o heróico Botocudo é mameluco. falsos mendigos.repercussão d"Os Mistérios de Paris. Maria e As fatalidades. tenta reproduzir a prosódia lusita na de um vilão e. são escravos que salvam situações difíceis . recebendo o justo galardão da alforria. seus ciganos. em As fatalidades . No mesmo espírito se enquadra 134 a tendência para descrever com abundância e relevo os tipos e costumes: festa religiosa da Semana Santa.Não senhor. justificandose ante a opinião branca pela autoridade do Cântico dos Cânticos. em As fatalidades. bodegueiros. moleques. muito pitorescamente. ou indica. A Providência. no mesmo livro. é boa a descrição do bas-fond carioca. as providências moralizadoras do bispo Castelo-Branco.. descreve uma beldade negra (talvez o primeiro caso em nossa literatura). E o seu amor pela minúcia é às vezes fidelidade documentária.. tornando o leitor como acessório e procurando convertê-lo à sua visão do homem. em O Filho do Pescador. num primeiro esboço do que faria Manuel Antônio de Almeida. a fala paulista de dois honrados tropeiros:" .. no segundo livro citado. danças e desafios. são grandes romancistas que se enquadram no segundo dos grupos indicados.ubstituir hábitos mentais por uma atitude nova. para o leitor ou mesmo a época Literária menos experientes. que foi alimento principal do leitor mé dio . certos valores raros e profundos. até que no s nossos dias fosse ressaltada. outra. pela sua aceitação de padrões correntes. sentimental ou humanitária. Mas apenas que há duas maneiras principais de comunicação literária pelo romance: uma. capaz de penetrar na maneira novamente proposta. A facilidade com que o leitor apreende o texto é. Dickens. Balzac. todavia. Isto não quer dizer. Exemplo típico é Machado de Assis. sem grandes exigências. mas do fato de saberem fornecer ao leitor mais ou menos o que ele espera. não tanto com a sua mensagem. a ficção aventuresca. vemos por vezes uma superfície acessível e sem mistério cob rir. caracterizada pela circunstância do escri tor impor os seus padrões. como os que Stendhal reservava aos happy few. Assim. a sua força não provém da singularidade do que exprimem. ou é capaz de esperar. Nele se contém igualmente o folhetim de capa-e-espada. a soma desse esforço dá o índice da singularidade do autor. Outros. por Augusto Meyer. geralmente. Lúcia Miguel Pereira e Barreto Filho (os seus maiores críticos). celebrado longamente pelo que havia nele de mais epidérmico. quanto com a possibilidade receptiva do leitor. que faz a sua grandeza real e singular. e nos grandes romancistas não é rara a coexistência das duas orientações. como pareceria à primeira vista. Neste caso. parecem preocupar-se. Nos dois grupos há fortes e fracos. a força recôndita. que os da primeira espécie sejam grandes. e medíocres os da segunda. o índice da conformidade deste com as possibilidades médias de compreensão e as expectativas do meio. Eça de Queirós. a cujos hábitos mentais procuram ajustar a obra. verossimilhança. recursos narrativos os mais próximos possíveis da maneira de ser e falar das pessoas que o iriam ler. dando estilo às aspirações literárias do burguês carioca. desta forma. Correndo os olhos por esta obra longa e prolixa (em trinta e quatro anos de produtividade. #Não poderíamos encontrar no Brasil. padroeira de namoros que ainda faz sonhar as adolescentes. a modesta imortalidade que desfruta: narrativas cujo cenário e personagens eram familiares. que o vão substituindo. escritor mais ajustado a esta via de comunicação fácil do que Joaquim Manuel de Macedo. O pequeno valor literário da sua obra é principalmente social. de acordo com as necessidades médias de sonho e aventura. Enquanto fornecia elementos gratos à sensibilidade do público. Ajust ando-se estreitamente ao meio fluminense do tempo. construção.136 no século XIX e serviu para consolidar o romance enquanto gênero de primeiro plano. pelo fato de ele se ter esforçado par a transpor a um gênero novo entre nós os tipos. à vontade. as cenas. doze peças de teatro. vem-nos a impressão de que o born e simpático Macedinho. ia extraindo deles as conseqüências que não ocorrem no quotidiano e. incoerência. lançando mão de estilo. como se dizia então. um poema. Realidade. mas só nos dados iniciais. peripécias e sentimentos enredados e poéticos. de todo o dia. mesmo. E assim como Alencar inventou um mito heróico. como hoje o do cinema ou radionovela. ocasional. proporcionou aos leitores duas coisas que lhe garantiram popularidades e. vinte romances. a vida de uma sociedade em fase de estabilização. influindo no gosto. Macedo deu origem a um mito sentimental. mais de dez volumes de variedades). a Moreninha. . sonho. familiar e espraiada: eis a estética dos seus romances. como era conhecido. em todo o século passado. linguagem. mas de rédea curta. flu minense. ou. tornando-o hábito arraigado. em boa literatura. de desimpedido. narrativa oral de alguém muito conversador. à vontade. cheio de casos e novidades. No romance brasileiro desse período. de interessante. Ora. em Macedo e. entre ambos há um afastamento necessário. a simplicidade e a familiaridade do estilo. Bernardo #Guimarães. entremeados de piadas ou lágrimas. os pormenores expressivos e menos aparentes. Assim é em Teixeira e Sousa. que é uma espécie de Macedo caipira. por exemplo. uma simpleza. Determina. como veremos. tendendo à caricatura. um não sei quê de franco. é mu ito acentuada a tendência para a prosa falada. enumerou as carac terísticas de Macedo. pois ao definir o estilo."S^r A tagarelice possui vantagens e desvantagens. de sperta acuidade para os pequenos casos. ou equivalente da fala diária. seja familiar.cedeu antes de mais nada a um impulso irresistível de tagarelice.os seus romances parecem. antes.diz com muita finura. sempre que o escritor pretende algo mais que divertir um público mediano. onde se vão buscar os elementos da conversa. seja oratória. Os seus romances. mesmo ao lado da tragédia. cheios de alusões à política e aos acontecim entos . que por vezes definem melhor a natureza das ações. por fim.7 . não desdenhando uns enfeites para realçar a alegria ou tristeza do que vai contando. são os dotes principais do estilo em que é manejada a Moreninha. que Dutra e Melo tanto gabou: "Vê-se que uma facili dade. digressivos e coloquiais. o corretivo que traz à grandiloqüência e gigantismo dos românticos. e tal julgamos ser o caráter do autor" . 137 #. apenas na aparência a prosa é natural. Vantagem é. A vocação coloquial desperta o interesse pelo mundo circundante. como se pode verificar. Alencar. e então vemos passar e repassar à nossa vista o comerciante. homem sombrio e nada comedido. . do selvagem.Esta simplicidade. porque é ba stante fiel ao meio que observa. modesta. no universo romanesco de Macedo. vol. pequeno ou grande. esta abertura no modo de ser. Homem da classe média urbana. pelas profissões dos seus personagens. de um funcionário algo ridículo. o marginal. Isto. 748. II. que as próprias fugas do devaneio romântico não dissolvem inteiramente . N"O Moço Loiro. o empregado de comércio.ao contrário do que se dá com Teixeira e Sousa. que o descreve fielmente. de vez em quando. quase sempre de modo transitório. Ficou no círculo restri to da sua classe e da sua cidade. por isso mesmo romântico. que esgotavam praticamente as possibilidades de vida burguesa no Rio daquele tempo e. de o utro proporciona aos seus romances um substrato mais ou menos tangível e sólido. Apenas vez por outra. Dutra e Melo. surge o rapaz sem profissão certa. desconhecendo personagens incompatíveis com os respectivos gêneros de vida. com uma mulher e uma filha porfiando em (7) 138 A. duas famílias esteiam #a narrativa. quase não sentiu o atrativo do rebe lde. Os heróis d"A Moreninha são quatro estudantes de medicina. do bandido. limitando o seu alcance ao que fica dentro de um certo raio. o estudante. mas logo acomod ado numa das categorias indicadas. "A Moreninha". da decaída. MB. a primeira. Não lhe interessou também a arraia miúda colorida e movimentada de Manuel Antônio de Almeida. Se de um lado este pequeno-realismo restringe a observação. Raramente se esquece de indicá-las. as senhoras são filhas ou esposas de comerciantes. por exemplo. pois. portanto. F. grande e pequeno. o fazendeiro. ao fundo. o político. o funcionário público. conduziram o nosso conversador a observar o que lhe estava à roda. Bernardo. pág. Távora. que arrebataram as imaginações mais cálidas de Teixeira e Sousa. faniquitos. intriguinhas. obedecem ao sentimento. Ainda nisso revela fidelidade a o meio. Os puros. funcionários e fazendeiros. apoiada na necessidade de adquirir. de comerciantes opulentos e dignos. em aparecer e dar festas. Analisando o tipo de amor que descreve. o amor é uma técnica de obtê-lo do melhor modo. Daí os combates que se travam ao seu redor e cuja verdadeira natureza vem claramente descrita em Rosa. não é apenas porque o romancista leva em conta o público feminino. Se em muitos deles tudo gira em torno do amor. percebem que. ou porque o sexo constitua um fulcro da literatura.. desvendando alguns mecanismos essenciais da moral burguesa. Os homens se lançam ao amor com tanta aplicação porque nele se encontra a oportunidade de colocação na vida.. comerciante o primeiro. As mulheres. são. ca ixeiro o segundo. A fidelidade ao real leva Macedo a alicerçar as suas ingênuas complicações sentimentais com fundamentos bem assentados no interesse econômico. veremos que na base das peripécias sentimentais namoricos. Alguns dos seus romances patenteiam. e à qual pertencem o herói e a heroína.há uma infra-estrutura determinada pela posição da mulher. um dos meios de obter fortuna ou qualificação. negaceies . onde ela era um dos principais transmissores de propriedade. mas cheia de mistérios e encrencas que dinamizam a narrativa toda. como o estudante Jucá. e a descrever a estratégia masculina do ponto de vista da caça ao dinheiro. do seu lado. nessa socied ade acanhada de comerciantes. Outra. calculam friamente e o autor se vale deles para estigmatizar o carreirismo matrimonial."""nwpw brilhar na sociedade. como Faustíno. guardar e ampliar propriedade. Os . O vilão e o subvilão. mais que outros. sendo o casamento a sua grande carreira. esta fidelidade ao sistema das posições e relações na sociedade do tempo. Os cínicos. E assim vai tudo. mas não erram na escolha do melhor partido. mas a posição deles no mundo é sempre definida. acabando sempre por harmonizar no matrimônio o dote da noiva e o talento sütilmente #mercável do noivo. nunca de ordem social. graças a um pequeno realismo que o tornou sensível às condições sociais do tempo.labirintos românticos da paixão tornam-se as veredas sociais do namoro. Não inventa. a sua mediocridade. na concepção que formava do romance. condições socialmente impossíveis para os personagens: os seus impossíveis são de ordem física ou psíquica. por outro lado. e exprime claramente a certo pass o de Os Dois Amores: . sem maior exigê . o maior trabalho dos romancistas 139 #.. que os contemporâneos não cheguem a dar os verdadeiros nomes de batismo às personagens que aí figuram. conforme pretende ele e recomendava Stendhal. Por isso já os c ontemporâneos o reputavam fiel na pintura dos costumes..Tenho certeza disso. neste born burguês incapaz de trair a rea lidade que o cerca. Aceitou os tipos que via em torno. D. . Isto era implícito. ela reforçou. aliás..Neste ponto estás muito atrasada. Celina.) pensas que os romances são mentiras?.." Talvez os seus personagens nem sempre partam de tipos existentes.-?~-?::P"Sfv" consiste em desfigurar essa verdade de tal modo. testemunhando a fidelidade com que os transpunham do meio social carioca. os romances têm sempre uma verdade por base. .(. portanto. Se a vocação coloquial de Macedo serviu para estabilizar a sua obra. Lucrécia e Otávio. grave e monótona da consciência. e tais avaliaç ões são provisórias.ncia artística. para se nivelarem e irmanarem. neste sentido. pronto a reformá-los abruptamente quando as circunstâncias exigirem. para não serem humilhadas nem atrapalharem.. ante s. a alma de Otávio começou para logo a ouvir a voz pausada. ou aventureiros. como era corrente entre os românticos (o born. e mesmo quando nã o exigirem. e que jamais se cala. cegadas um momento pela paixão. uma vez passada a agitação mais exterior que interior da n arrativa. contudo. No Moço Loiro. meticulosa e acabada vilanice de quantos criou. a leviana. quando já não necessitava da sua vilania para a marcha do enredo : "(---) livre por um instante do alarido das paixões.. o Salustiano de Os Dois Amores. dando-lhes. ou como o tique-taque da pêndula do relógio. Nada mais revelador. A sua psicologia revela quase sempre este caráter: os personagens são apresentados por meio de avaliações. dentro das normas sumárias duma psicologia pouco expressiva. que os seus desfechos. incessante e monótona como as vagas do mar. inteiramente iguais. por exemplo. são descartadas amàvelmente no final. efetua julgamentos sumários e sem matizes. o bobo) e sempre foi na conversa sem responsabilidade. dando prova de uma boa índole que passa da vida à literatura. desfazendo-se geralmente no fim (ainda como na prosa fiada sem conseqüências). Em lugar de análises. que defronte estava. A doce ingenuidade do trecho seguinte marca muito bem de que modo trazia os vilões à normalidade familiar. voz que é sempre a mesma. Tanto que nos perguntamos como é possível pessoas tão chãs se envolverem nos arrancos romanescos a que as submete." (Note-se que a voz da consciência só se faz ouvir nos seus livros #quando o autor precisa dela. "Eu era . onde tudo se equilibra e soluciona da melhor maneira e os personagens deixam de ser maus.) Muito mais surpreendente é a regeneração final do personagem de mais constante. com o mesmo timbre. ou excepcionais de qualquer modo. oportunidade para se revelarem boas pessoas. as duas almas danadas. o mau. traça personagens convencionais. soube conhecer os meus erros (. as mudanças espirituais são abruptas e vêm de acordo com os acontecimentos e as necessidades narrativas. provarei.{"jí^j. mas apenas dois ou três traços mais ou rnenos pitorescos. a um realismo miúdo que não enxerga além das aparências banais nem penetra mais fundo que a psicologia elementar dos caixeiros bem falantes. de seu lado. cordéis de tod a casta.) quando o estudo. e Macedo. £^. isto é.vum moço perdido.. e em sua obra domine o mencionado pequeno realismo. e sem amor do do que é verdadeiramente belo. revelações. estes exigiam também. na literatura. a narrativa deve. Como não têm vida interior." Como se vê. donzelas casadoiras e velhotes apatacados. delimitados pelos padrões mais corriqueiros. E muito embora preferisse a piada e o pro saísmo. No seu tempo... as lágrimas e as viagens tiverem gasto todos os meus remorsos. com o exemplo da honra. nem por isso deixou de consumir desabaladamente tudo o que é acessório ou exterior à evolução dos sentimentos: segredos que afloram. O conformismo em face do quotidiano. sem nobreza. Obediente. às sugestões do meio. submetê-los ao acontecimento.) Voltarei talvez um dia (. na sua marcha. traça-os segundo modelos quotidianos. leva-o.. acessíveis ao julgamento médio e. no ponto de partida. portanto. correspondentes à expectativa corrente do leitor. preci sava dela para dar relevo aos seus personagens-de-tôda-hora. e me disserem que já não sou o mesmo. sem generosidade. mortes.14O . a excitação febril da peripécia. que. intervenções oportunas. Miúdo realismoqu . pois. a meditação. e não provém apenas de um defeito de acuidade e imaginação. posição deles. Vimos que isto é possível porque. N"O Moço Loiro há um nítido "complexo de Monte-Cristo". a obsessão co rn as forças ocultas que se encarnam na missão 141 #de um personagem excepcional. Em Macedo. Mas a par desse primeiro tipo de conformismo. mas também desta aderência ao meio sem relevo social e humano da burguesia carioca de vez que se afasta apreensivo. que não o era para o tempo. treva. conduzindo fatalmente a narrativa a um alvo preestabelecido. tudo está fora. n"O Moço Loiro. traição. dotado de ubiqüidade. da poesia tumular. #esta ruptura parcial da bonomia pequeno-realista não é devida apenas à tendência folhetinesca. A sua afina romântica se manifesta saborosamente neste contraste. Se pula gostosamente sobre esta é porque obedece a uma inclinação recessiva na sua personalidade literária pa ra o Romantismo tenebroso do dramalhão. entre a normalidade inicial e final dos personagen s e a anormalidade das peripécias por que os faz passar de permeio. Assim. A anormalidade da si . na verdade. da agitação ideológica do período que precede imediatamente a sua atividade literária. aparece na sua obra um outro. emprega tão desenvoltamente os choques morais e as situações dramáticas. Por isso. do mundo mais rico e promissor das revo ltas populares. vemos que obedecia a duas convenções. porque a sua produção tinha dois esteios: o real e o poético. como a velha Ema. gostos. e não nos parecem compatíveis com as tendências. conflito. muito propensa a maltratar a verossimilhança. segundo acaba de ser sugerido: lágrimas. que chamaríamos poético e vem a ser o emprego dos padrões mais próprios à concepção romântica. onisciência e onipotência. do sentimentalismo masoquista. não dentro dos personagens. ou seja. com maior pureza na veia cômica. devida a um quarto de século de vida palaciana bruscamente interrompida pelo impulso democrático posterior ao Sete de Abril. correspondia Macedo às expectativas do meio. Só numa sociedade bastante chucra poderiam ter born curso as suas galegadas. Além das piadas e ditos. feita para o riso franco das rodas masculinas. preparada com delícias pelo autor na cena entre ele e D. como a briga dos esposos Venãoncio e Tomásia. numa prova de quanto. ainda. É todavia no seu teatro que encontramos a mais depurada expressão desta tendência. indo não raro à rasgada grosseria. A tendência poética manifesta-se não apenas na peripécia folhetinesca. born trecho de chanchada. por exemplo. como vimos) as maneiras burguesas registradas pela observação. e francamente saboreada por um homem tão delicado quanto Dutra e Melo. mas já ficou dito como correspondia à convenção sentimental e artística prezada 142 . sátiras políticas e sociais. Se procurarmos encarar independentemente estes dois eixos. d"O Moço Loiro. onde aparece com a máxima nitidez. que ultrapassavam a vulgaridade. veremos que na sua obra cada um tende a manifestações mais ou menos puras. algumas muito bem desenvolvidas. como A Luneta Mágica. no final das contas. n"A Moreninha. Violante. e o eixo poético não interfere. O pequeno-realismo se exprime. com o real. Certos romances. ent remeada por toda a sua obra. mas. ao mesmo filão prende m-se A carteira do Meu Tio e Memórias do Sobrinho do meu Tio. Esta idealização #extrema de gestos e palavras desloca para o inverossímil (provisoriamente. Sirva de exemplo a graçola de Augusto.tuação e dos sentimentos desliza por assim dizer sobre eles. no sentimentalismo por vezes deslavado das cenas de amor e amizade. a alusão engraçada. Ele adora a piada. ainda nisso. abundam situações cômicas. das afeições alambicadas e deformadas pela mais vulgar pieguice. exprimindo a vulgaridade do meio que retratou e fora estabilizado pelo período regencial sobre as ruínas de uma aristocracia incipiente e mais refinada. são todos cômicos. Nele. e de quase todos os seus livros se desprenda uma boa vontade cheia de bonomia e otimismo. Pelo dito. Foi bem o Macedinho da tradição carinhosa. O que fez realmente com amor. Em alguns. durante quase quarenta anos. Se já houve quem dissesse que o mal é necessário. não é de espantar fosse o romancista querido das famílias. Nunca utilizou a carta de médico e parece que aceitou várias deputações como emprego pouco trabalhoso. o senti mento da beleza. Como criador e como pessoa parece-nos essencialmente mediano. vemos que teve pouco das três acuidades fundamentais do born romancista: a sociológica. a visão da sociedade e do homem era estreita e superficial. é possível todav ia não ter experimentado outra ambição que a literária. conformista e comed ido. como n"Os dois Amores. para não falar n"As Vítimas Algozes. para Macedo ele é apenas passageiro. mais a primeira que as outras duas. predomina exclusivamente. que expunha a lição. a psicológica. que nela via um disfarce essencial ao romance. Professor dos príncipes de Orléans-Bragança.pelo leitor.uma tributária do realismo miúdo. intermediário entre o Paço e os políticos. bem fraco. "Até no Colégio de Pedro II.8 Assim tão ameno e born sujeito. que reconciliam com a vida e o semelhante. Não é também de espantar que a sua visão seja tão pobre. born pai e born cidadão. explica e perdoa. poema novelesco. em todo o caso. O vício é a . é n"A Nebulosa. O seu romance fica pois situado no cruzamento das duas tendências . a estética. tão comodista que recusou a pasta de ministro por que ardeu o ambicioso Alencar. conta um exdiscípulo. Mas em estado por assim dizer de pureza. outra da idealização inverossímil. homem representativo da ala conservadora do Partido Liberal. fiel ao Imperador e aos correligionários. foi escrever . corrigia provas de romances". Vimos como em sua obra tudo se resolve. que o vamos achar. enquanto fingia prestar atenção ao que dizia o aluno. sem desfalecimento. O escritor familiar timbra nas amenidades finais. sem relevo de qualquer espécie. Velaturft.. nem confiança no governo. que repele sem discutir a pobreza e o desvalimento". mesmo a pobreza é uma suspensão da abastança. e qual será o resultado de tudo isto?. que escapa ao sentimentalismo habitual das suas páginas e apreende o sentido contraditório das relações entre pobre e rico. o bem. poderíamos dizer que o mal. porque as leis servem somente para puni-lo. a fisionomia da sociedade em que ele vive. e no futuro. porque entrevê um conflito que supera a o posição. e o governo não cura de protegê-lo. e depois de amanhã. como sentia Dutra e Melo com agrado ao celebrar a boa doutrina d"A Moreninha. Nunca escritor reduziu tanto a psicologia à moral.se ainda não é tempo de minorar-se o peso da sua cruz.privação momentânea da virtude. mas. A miséria é assina lada n"Os Dois Amores com um senso bastante agudo. porém. mesmo quando bons individualmente. A maldade é provisória. uni sentimento mais vivo da realidade social e espiritual coava por entre essa pastosa mediocridade e ele cornpreendia não só a condição desumana do escravo. feito para realçar o bem. e há de desconfiar da sociedade que governa9. 143 #Às vezes. conclui: "Sabeis qual é. Diríamos quase sentido dialético. o povo pobre que é muito mais numeroso do que o povo rico. 272. para ele. "Joaquim Manuel d" Macedo".. pá*. e esta ao catecismo. sociedade geralmente pervertida. era no fundo um recurso literário. se o seu calvário não se acaba de subir nunca. perguntará àqueles que estão de cima . num dia enfim que felizmente bem longe está ainda. definitivo: eis a moral dos seus livros. no início da carreira. . (S) Alclde" Flavto. Se não fosse o vinco amargo deixado pela escravidão na sua consciência #de homem e escritor (Vítimas Algozes). e concluir pela solidariedade na culpa de todos os privileg iados.. a dura sorte do homem pobre. É que amanhã o pobre terá em desprezo a lei.. É que hoje o pobre já não tem amor às instituições. Depois de analisar "a fisiologia do coração do pobre. a certa altura. mais a heroína. cheio de lágrimas e sofrimento. de que procura elaborar verdadeira fenomenol . por isso #(8) Macedo chama "sociedade que governa" à classe política e economicamente dominante. e um dia mais tarde. Mas por pouco tempo. as conversas. Os saraus. deve ter marcado a se nsibilidade de Macedo. mais a regeneração do mau irmão. dissolvida no paternalismo escravocrata do Segundo Reinado. os domingos na chácara.É que hoje o pobre indiferente e sofredor. Mas não sobrecarreguemos a memória do nosso Macedinho. se vê obrigado a levantar uma tabela das complicações. A experiência das agitações regenciais. dos mais negros que escreveu. chega a ser valioso como paradigma. e o mérito de haver procurado refletir fielmente os da sua cidade. as alusões à política. por um momento. as partidas. por isso mesmo. e terrível como o tigre". as modas. O valor documentár io permanece grande. levantará a cabeça orgulhoso como o leão. e "sociedade em geral". a que nada falta no gênero e. tão clara e penetrante. a técnica do namoro. Macedo não tarda em lhe dar uma coisa e outr a.. Lembremos que lhe cabe a glória de haver lançado a ficção brasileira na senda dos estudos de costumes urbanos. mais daria. à sociedade. Mais houvesse. Romance exemplar da subliteratura romântica. as visitas. ai de nós se ele chegar. para desfazer a última ruga deste romance. os passeios de barca. para que a sua vista ficasse. pelo acúmulo de bobagens e truques esteriotipados. mais a mãe desconhecida. toda a maré de inquietude e esperança democrática. carrega o seu peso silencioso como o camelo. toda aquela tirada se faz a propósito do moço Cândido. rompida pela coligação cada vez mais sólida dos homens de ordem e de dinheiro.. 144 mesmo. tão carregado de mistérios e qüiproquós qu e. na obra que deixou. terno herói sem dinheiro nem família. DA FORMA E DA SENSIBILIDADE EM JUNQUEIRA 3. e encontramos bem lançados em sua obra. Românticos ficaram sendo os rapazes que morrem cedo. O "BELO DOCE E MEIGO": CASIMIRO DE ABREU. pensamos automaticamente nos poetas que Ronald de Carvalho chamou "da dúvida" e pertencem quase todos à segunda geração romântica. ALVARES DE AZEVEDO. aquilo que vagamente se concebe sob a palavra romântico. AS FLORES DE LAÜRINDO RABELO. rindo e chorando. . CONFLITO PRWR*. a vida comercial e o seu reflexo nas relações domésticas e amorosas eis uma série de temas essenciais para compreender a época. MÁSCARAS Quando se fala em Romantismo. o brando Casimiro e as borboletas da sua infância . 2. o claustro de Junqueira Freire. 6. 5. O que lhe faltou foi gosto ou força para integrar esses elementos num sistema expressivo capaz de nos transportar. que imaginamos ao mesmo tempo castos nos suspiros e terrivelmente carnais nos desregramentos: rapazes de que a lenda se apossou. A Noite na Taverna e os desvarios da Sociedade Epicuréia. BERNARDO GUIMARÃES. Laurindo Rabelo. bêbado.ogia. POETA DA NATUREZA.eis algumas imagens que constituem. desde há muito. 4. 7. #1. 145 #Capítulo IV AVATARES DO EGOTISMO 1. deformando-os sob um jogo às vezes admirável de máscaras contraditórias. OU ARIEL E CALIBAN. de que constituem talvez o principal atrativo para o leitor de hoje. apresentando personagens carregados daquela densidade que veremos nalguns de Alencar. MENORES. antes que surgisse a galeria de Machado de assis. MÁSCARAS. amiga. que em vez da fronte pálida. Por isso parecem-nos definitiva e irremediavelmente românticos. pois vivem no espírito e na carne um dos postulados fundamentais do movimento . parece tão legítima a representação do poeta mascarad o. . leitor. Varela. é na verdade através de máscaras que os devemos imaginar. apreciamos o esforço da unificação espiritual. de melancolia negra ou inesperada mol ecagem. neles. ao gozo. como nessa. mudando-as ao sabor das sugestões que deles vêm: máscara de devasso no moço born que foi Alvares de Azevedo. perversidade. a fim de realizar-se e irnpor-se a nós. Em poucas gerações literárias.a volúpia dos opostos. embriagues. queremos precisamente a multip licidade destas e o rumor com que se chocam umas às outras. ingenuidade e saudável galhofa no misterioso Bernardo Guimarães. cuja personalidade.Junqueira Frei re. a superação das contradições. Noutros. cova. cedendo lugar a outras de bonomia. a filosofiado belo-horrível. Daí a dialética das máscaras. na sua obra e na sua vida.Para os compreendermos. anunciada pela "lembrança de morrer". ao voltar esta página!": na sua existência. necessita multiplicar-se em manifestações por vezes incoerentes. como na sua arte. ou escuta um brado dramaticamente carnal da cela de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire: Ao gozo. esse perigoso quebrar de esquinas faz lei. "Cuidado. logo cedendo a outras. Álvares de Azevedo.vivem perenemente do contraste e dele morrem. . máscaras de loucura. dá de chôfre com Macário soluçando e praguejando nas alturas do 149 #IpiranCTa. O chão que pisas A cada instante te oferece a . surgindo de repent e para assustar o leitor incauto. E os mais característicos dentre eles. Por isso.Bernardo Guimarães .. de mãos dadas com a ternura. doçura. como Gonçalves Dias ou Magalhães. ser brasileiro . sentenciava outro estudante: "As suas poesias."2 Como poderia. embelezadas nos perfumes da escola byroniana.Não é estranho. flechadas. Considerados em bloco. já no seu tempo havia quem os reputasse menos brasileiros e. Ao contrário dos predecessores. perversidade.isto é. em 1857.1 Alguns anos mais tarde. os perfumes de nossa terra não ofereciam àquela alma ardente senão um espetáculo quase sem vida. Neste verso justamente famoso. portanto. formam um conjunto em que se manifestam as características mais peculiares do espírito romântico. Pessimismo. pelo arrojo do pessimismo que transfigura a própria matéria. enfim . As harmonias do nosso céu. menos originais. que morram cedo. não foram inspiradas ao fogo de nossos lares.viveu além do Romantismo. cantar índios. Deles. o mundo exterior. vivem e morrem íio per íodo romântico. "Manuel Álvares de Azevedo pouco e muito pouco tem de brasileiro: apontaremos só a canção do Sertanejo". Deus ou o Povo. Inclusive a atração pela morte. "humor negro". mais voltados para o próprio coração (segundo o conselho de Musset) do que para a Pátria. ao mesmo tempo. apenas um. pois. eram maravilhas por assim dizer murchas. em que o corpo se dilacera ao peso da fatalidade: Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente. que partem do Arcadismo moribundo. escrevem dois estudantes de São Paulo. nesses poetas é que os devemos procurar.aquele para o qual a vida toda se identificava à própria dor. como os da primeira e da terceira geração. ante as quais o poeta não se inclinara. cachoeiras. são bem os "filhos do século". a autodestruição dos que não se . que se fez romancista . era a "dor vivente" da imagem belíssima. de fato. raras. montanhas. singeleza. o mal do século encontra no Brasil uma das expressões mais pungentes e. (segundo os cânones do nacionalismo literário).. Pôrt o-Alegre. do devaneio balbuciante.3 Por isso o advogado Aur eliano Lessa caía de bêbado na rua e o juiz de Catalão." série n." 2. um verdadeiro complexo de Chapèuzinho Vermelho. davam aos seus sentimentos expressões que iam da poesia obscena (cultivada por quase todos) ao mais lânguido quebranto. (2) A. Corrêa de Oliveira. 19. lobinho pardo. #15O sentem ajustados ao mundo. com um arrepio fascinado de masoquismo. vocação exigente que incompatibilizava com as carreiras abertas pela sociedade do Império e nas quais se acomodaram eficazmente. Simeão Kirsanov. clero. Laurindo como médico. 41. que leva a tomar o pior caminho para cair na boca do lobo. Todos eles sentiram de modo profundo a vocação da poesia. Por isso. RIO 2. Na vida. "Fragmento de um escrito . São como a Zoluchka de um poet a russo moderno. Magalhães. magistério. como quem experimenta com o próprio ser. comércio. pede ela: devora-me! " Mas enquanto não morriam e viviam na "lembrança de morrer". pág. armas. (1863). ao mais duro sarcasmo. todos eles escol hem as veredas mais perigosas. A Poesia". Bernardo Guimarães. pâg. era demitido a bem do serviço. Varela como tudo.". série. agricultura. 7. Um largo movimento pend . aflitos por se entregarem à "consoladora inviolável": Meu. Casimiro como caixeiro.(1) M. morreu antes de obter o canudo de bacharel. Norberto.m. Álvares de Azevedo. Por isso Junqueira Freire falhou como frade. burocracia. Nascimento da Fonseca Qalvão e Luís Bômulo Peres Moreno "Parecer" REP. na geração anterior." 2. o melhor estudante da Academia de São Paulo. n. o próprio Gonçalves Dias: advocacia. de Bernardo Guimarães. característico da 3. da 2. É sobretudo o caso famos o das agremiações estudantis de São Paulo.. com os olhos fitos em Byron e Musset (ou melhor. (3) Varela poderia ser estudado neste capítulo. ou a Sociedade Dramática. que tanto solicitaram a musa de Laurindo. Vai todavia para o próximo. Aliás. em Don Juan. não apenas as oficiais. entre a "Saudade Branca". Jacques R olla e Hassan) aquele desregramento das atitudes e das idéias. e a apoteose fálica d""O Elixir do Pagé". de mãos dadas coto a música. como indicam as referências feitas. Na verdade. que este é também o momento em que a poesia romântica principia a triunfar nos salões. tão peculiar aos aspectos noturnos e satânicos do Romantismo.". por dois outros: a sua obra é uma nítida conseqüência (corn ares de balanço) de todas #as tendências. Tempo de recitativos que divulgaram e tornaram queridos os poemas dessa geração. ." fase. formando um tipo de público que influiu nos ritmos e no próprio espírito da poesia. propiciando. favorecendo numa palavra o patético e a pieguice que marcam grande parte da convenção romântica. É o caso das rodas boêmias de improvisadores. como obeervam os seus críticos. de Casimiro. de Laurindo. no Rio e na Bahia.esta. de Alvares de Azevedo. 151 #.ular que oscila entre "Poesia e Amor". mas as semi-secretas. há nesse tempo várias formas de sociabilidade poética que favorecem muitas dessas tendências. porém. o Poeta Lagartixa. como a Epicuréia .-vap*? Não esqueçamos. e o "Poema do Frade". além de motivos cronológicos. denota além disso preocupação acentuada pelo lirismo social. súmula dos predecessores e anunciador de Castro Al ves. como o Ensaio Filosófico. dela requerendo inflexões de ternura e imagens acessíveis. é um poeta transitório. sobretudo técnicas. da cantiga ao som do piano e do violão. a ópera.Vimos. em capítulo anterior. que lhe pareciam prosaicas e incapazes de exprimir os matizes do sentim ento. prosseguindo na sua i nfluência. o português Furtado Coelho. Importante neste processo é o decênio de 185O. José musicou poesias de Gonçalves Dias. tempo de grande voga da ópera italiana. Salvador de Mendonça. 1854-1855). a arieta italianizante. e à impaciência em relação às formas tradicionais. De 1857 é a tentativa de criar um teatro lírico (a Ópera Nacional). Pôrto-Alegre e outros. que aqui vêm ter ao lado das melodias já conhecidas de Bellini e Donizetti) como podemos ajuizar lendo. José Amat. outro imigrado.de tanta importância na história do nosso teatro. as crôni cas de José de Alencar no Correio Mercantil (Ao Correr da Pena. Nela se representaram óperas com libretos de Manuel Antônio de Almeida. abrindo caminho para um acontecimento da maior importância na história da nossa sensibilidade: a ligação do canto ao verso dos melhores poetas românticos. (agitada pelos novos brilhos de Verdi.poeta. músico e ator. já assinalada. Segundo Melo Morais . que durou até 1865 e lançou as primeir as peças de Carlos Gomes.4 Este D. curvando-o documente às exigências do recitative de sala. o refugiado espanhol D. . que o Romantismo tendeu para a musicalidade. para ver a que ponto o melodrama apaixonava os brasileiros de então. condizente à busca de estados emocionais indefiníveis. Na fase que nos ocupa. . . romancista. Daí a preferência por metros e ritmos melodiosos. que se alojaram deste modo na alm a das famílias burguesas e do povo. a partir de 1857. Machado de Assis. conduzem agora o verso a uma certa servidão. A modinha. José de Alencar.tudo sob o influxo de um melômano dedicadíssimo. observa-se verdadeiro assalto da poesia pela música. por exemplo. redimindo de certo modo as insuficiências da palavra. Influência capital neste sentido teria tido. Renato de Almeida. por isso que o primeiro que se passou da cena para os salões foi o intitulado Elisa. poesia de Bulhão Pato."5 Este dado é da maior importância e permite localizar. ao lado das componentes de sarcasmo e desvario. e variadíssimos também os trechos musicais propositalmente escritos. que muitíssimas foram as poesias que apareceram em seguida. em parte por influência dos ultra-românticos portugueses. com o mesmo ritmo e para igual fim. págs 3M-363. os recitatives. No presente capítulo estudaremos um grupo de poetas que. a partir de 1861. ou começaram a escrever antes do auge desse delírio sonoro. popularizar. História Oa Música Brasileira. o único praticante de alto nível. E por tal forma influíram na nossa música as recitações de piano.a exibição. Os impulsos de irregularidade s . correntes em todo o país. no Brasil. de Casimiro de Abreu. no processo de musicalização do verso romântico. há sesta fase um triunfo da musicalidade superficial. escrevendo para esses belos versos o inspirado acompanhamento que os tornou. que terá em Varela. e ritmados a acompa nhamentos. (1859) é o primeiro livro desse tipo. abandonando-se à rima interna com uma falta de medida que não encontraremos em Castro Alves. o qual o festejado ator logrou #(4) í 152 V. muito mais desaba lados que os nossos na lamúria e na melopéia. mas em cuja obra ele se inicia e prefigura. que tanto ajudou a divulgação da obra dos poetas.Filho a ele "deve a música. aproximando-os da tonalidade mediana da literatura de salão. um momento decisivo. que reforça e amplia a tendência sensível desde Gonçalves Dias c extremada em Casimiro de Abreu. mais equilibrado sob este ponto de vista. As Primaveras. ou escreveram. Assim. desde a l. págs. Mendes Leal.e acomodaram à sensibilidade normal do terrmo por meio desta estilização. apresentam obras muito inferiores aos problemas que levantam ou à força de personalidade que neles vislumbramos. Mas como estas características correspondem de certo modo às do brasileiro. lhes estancasse (5) Melo Morais Filho. Musset.. ou situar-se já num momento em que ia afrouxando o impulso sombrio dos prede cessores. de tal modo a poesia desses rapazes parece inseparável da inspiração árdega. Laurindo.na falta de equilíbrio estético. e sobretudo o maior de todos. Alvares de Azevedo. Prefácio. Soares dos Passos. no culto da improvisação. a que deram todavia matizes expressivos do nosso modo de ser: a obsessão da Europa. participam por aí da corrente geral do Romantismo europeu. Atualidades. da notação imediata de uma sensibilidade adolescente. e fora da #qual os sobreviventes (Bernardo. em vez de melhorar os seus defeitos. Vol. Defeitos que se diriam próprios da quadra em que muitos deles morreram. etc. João de Lemos. Nisto são bem românticos . É mesmo possível que a idade. Imitadores de Byron. 153 #a veia. na pres sa. VI-VU. Os demais. Dentre as obras que agora estudaremos. e como a atmosfera do tempo fez com que eles as manifestassem em alto grau de concentração. Aureliano) nada fizeram de aproveitável. resultando o convencionalismo tão censurado nos românticos. apenas uma parece ter realizado as intenções do autor com relativa harmonia: a de Casimiro de Abreu. Talvez por ser a menos ambiciosa. U. Espronceda. da escrita atabalhoada. que os amainou e de certo modo banalizou. o seu valor é grande para a nossa literatura como expressão de uma sensibilidade l ocal. Serenatas e Saraus. o amor enterne . sendo interessante notar o modo reversível por que aborda nele a oratória e a poesia. e receiam desprezar completamente a cadência bocagiana. a naturalidade da prosa.um lusitanizante". a preferência pela oratória. segundo me parece. mas como "a versificação triunfou sobre as ruínas da prosa". o exibicionismo amoroso. irmanando-as de certo modo. prezados #no Romantismo. que explica a sua concepção da poesia como cadência medida e de certo modo prosaica. a desconfiança ante a melodia e o movimento. manteve quase sempre a c adência tradicional do setissílabo e do decassílabo. a pesar meu. não na terra natal. o culto avassalador da superficialidade. "Temor". caracterizado por certa tradição clássica. era-o sobretudo de Gonçalves Dias. Os motivos são vários.7 Empregou relativamente pouco os metros típicos do Romantismo. encontrou as melhores soluções na estrofe epódica. CONFLITO DA FORMA E DA SENSIBILIDADE EM JUNQUEIRA FREIRE "Pelo lado da arte. a inclinação para a confidencia. "procuram. Elementos cie Retórica Nacional. "O arranco da morte"). a adaptação nervosa às modas literárias. de sabor arcádico ("Vai". rigorosamente conservador. Considere-se em primeiro lugar o meio baiano. Na sua geração foi o mais ligado aos padrões do Neoclassicismo: "um dos mais presos à tradição portuguesa. Embora admirador de João de Lemos. O próprio Junqueira Freire é autor dum compêndio de retórica."6 Estas palavras de Junqueira Freire nos situam dentro da contradição fundamental de sua obra. diz o seu mais competente biógrafo. usou o verso branco em moldes setecentistas e. . aspiram casar-se com a prosa medida dos antigos". os meus versos. permitindo extrair da análise formal as linhas de uma personalidade literária. segundo a tradição dos clássicos. 154 2. nunca houve movimento romântic o no Salvador: Castro Alves encontrou ambiente estimulante em Recife e São Paulo. por fim.cido da pátria. o amor aos estudos lingüísticos. Ao contrário do que aconteceu noutros lugares. Garrett e Hercula . que marcariam decididamente os seus contemporâneos. abundoso. nutante. as poucas vezes que se deixou ir ao fio da melodia re . cardines. 4 (7) Homero Pires. 263. temulento. sendo homem do tempo não resistiu às sugestões modernas. o fraco pelas palavras de rebuscado mau gosto: sânie. sejam duros. e (é interessante anotar. é Béranger que traduz. Junqueira Freire. menos fácil que a média do verso oitocentista. de Garção e Felinto Elísio. Tem de comum com os neoclássicos da fase de rotina certa dureza de ouvido. e 6. românticos ainda presos a certos aspectos da estética neoclássica. sobretudo os mais ambiciosos. que se desarticula m numa discursividade excessiva: "Por que canto".no. não espanta que grande número dos seus poemas. "O apóstolo entre as gentes". ou porque ficasse aquém." Não sofreu influência dos poetas modernos. cuja estreiteza formal adotou em grande parte. págs. tortor. Mas. como ele próprio diz. como exemplo da força exercida pelas tendências naturais de um dado momento literário). a dicção mais nobre e pura. provavelmente a maioria. regresso puro e simples ao arcadismo. Como Herculano. ignífera. ascosas. irrisor. pág. "Os Claustros". É certo que o intento de não ceder à musicalidade excessiva poderia tê-lo conduzido. gêsseo. tanto quanto deles. J. a franqueza sensual cruamente expressa. desnuada. caiu"fre qüentemente em cheio na prosa metrificada. (6) L. ciparizo. 155 #franceses e ingleses. senosas. Junqueira Freire. àquela altura da evolução prosódica. quando não o velho Fontenelle. como Gonçalves Dias. "O Monge". a uma estética desajustada às novas necessidades expressionais. ânxio. turturinas. louvado por mais de um crítico. sem tacto poético e até mal compostos. Inspirações do Claustro. poucas vezes é harmonioso. pois o "módulo clássico" significava. O seu verso branco. Mas. ou porque fosse além da medida. latidão. isto é. opondo-se à "cadência bocagiana. e. sobretudo. por isso cada um requer forma especial. que encontraremos quase meio século depois do famoso "Plenilúnio". O clássico ama. buscou ritmo mais raro. propósito incompatível com a poética por ele adotada. tipo e intensidade da experiência que a anima. sofre. como os contemporâneos brasileiros e portugueses. x Ama o opaco do seu clarão. e a adequação de ambas está na dependência do que se poderia designar como os níveis da e laboração emocional.a. mas um e outro não exprimem estas emoções no mesmo nível de depuração. os novessílabos d" "A Freira" (Inspirações do Claustro). E sente chamas que julga dores. A forma literária está ligada de modo indissolúvel à qualidade. .. ou l. responsável pela qualidade geralmente medíocre da sua realização: quero dizer que desejou confessar-se através do verso. 4. Conversa à noite co"a estrela vesper. Na^ maioria dos casos. é tão monótono e sem fibra nos ritmos "românticos".-. -. 6. E o peito aperta co"a nívea mão.a. 9. por isso ela só funciona para determinada matéria. tem raiva ou prazer mais ou menos como o romântico. em vez de p raticar o verso acentuado na 3.a.a. porém. como os setessflabos df"""Não Posso" (Contradições Poéticas) e.a. #Se passarmos agora ao conteúdo que tentou exprimir com esta forma notaremos um desacordo. quanto árido nos clássicos. desvendando ao leitor uma sensibilidad e 156 tumultuosa e um doloroso drama íntimo quase em estado bruto.alizou alguns dos seus raros poemas realmente belos. Neste. de Raimundo Corrêa (4. evidenciando o desejo de resistir à facilidade.a.a): . 9.a e 9. o encontro de uma linguagem elaborada. o elemento fundamental é a comunicação. como a dos românticos em geral. por exemplo. e a sua mensagem. Junqueira Freire quis transmitir a dinãomica duma sensibilidade pouco desbastada por meio duma forma que requer maior depuração. clama na sua cela e traz desordenadamente este tumulto ao leitor. documento humano. escrevendo com emoção freada. Por isso os românticos forjaram a sua forma própria: prosa mais desordenada e nervosa. sistema de imagens #calcado nas impressões diretas da realidade externa e interna. no sentido artístico. uma comunicação.provavelmente não conseguirá uma expressão. Mas se alguém deseja utilizar esta linguagem. o enquadramento numa certa serenidade. ou lugar comum: daí o recurso à situação-paradigma (Hércules fiando ao pé de Onfália. dando idéia de testemunho. ao mitosímbolo (a roda de Ixio. apresentação do material bruto das emoções. 157 . à delegação pastoral. depois de depurada por uma disciplina que lhe tirava o caráter de sentimento cru para lhe dar comunicabilidade. A poética dos clássicos requer pois uma filtragem. para exprimir imediatamente a emoção. o tonei das Danaides).Junqueira Freire chora. desvendar um nível primário de elaboração psíquica . perdendo o caráter de confissão direta. ou seja. o carro do So l. verso musical e sinuoso. Nem poderia ser doutro modo se aspiravam à comunicação imediata e mesmo indiscreta. É mais apaixonado ou sincero do que. Ora. se revolta.tudo expresso num estilo medido e freqüentemente explícito. pressupondo nível relativamente elevado de abstração. Tomás Gonzaga. sem aqueles recursos. na masmorra da Ilha das Co bras? De modo algum. Bruto condenando os filhos). . era complexa demais para caber na regularidade do sistema clássico. Acontece todavia que para Gonzaga a experiência emocional só podia ser comunicada em certo nível de estilização. atrav és do equilíbrio expressional: para ele. para tal ser-lhe-á preciso adotar ou inventar outro sistema expressivo. Submetida a este tratamento a emoção ganha maior alcance. tem desejos insatisfeitos. . No mundo..Sentir procura as emoções mais bárbaras.. . por vezes. . (. ... exteriores trevas.<.. (.Desce às fatais.. Quando em botão as afecções me estavam.. manifestado por exemplo em "Por que canto".mal realizado. onde não pôde se aquietar. como conseqüência natural. .. o desejo reprimido que o perturbava e aguçava o sentimento de pecado. . os impulsos eticamente positivos e negativos.-... em tudo que medito ou vejo. acolhendo o bem e o mal.. a decisão tomada quando ainda não tinha experiência. O poemeto "O Monge" . r.. no inferno. o horror.) prova um prazer terrível..) entre deliqitios exaltados. a revolta contra os mentores: Antes de abrir-se-me a paixão no peito. Em ver a face desse caos torvado. Fui arrojado aos cárceres eternos.-".. .. Por isso vai (. .é talvez a peça mais importante como confissão desse drama: descreve a ilusão da felicidade no convento. .#-Típ-"" O seu intuito. a obsessão da morte. a des ilusão.. forte. " Em ver a imagem desse horror tremendo. A toga férrea que estreitou-me os artos. verdadeira profissão de fé poética. Como azinhavre devorou-me as carnes. era comunicar a experiência total da alma. o remorso e. Em ver o orgulho do pecado in f indo... Qual era o drama que tencionava assim manifestar? O erro de vocação que o levou ao claustro.) beber no céu. A mente do poeta.t. discursivo e prolixo.Aos insondáveis boqueirões do inferno. . .. a revolta contra si próprio. . a revolta contra a regra e o mundo. mas onde há trechos fortes .„. Daí provieram o horror ao celibate. aparece uma bela e saudável euforia dos sentidos: Levei-te em braços. Consideremos neste sentido o caso do remorso. mas que não soube manifestar com a força necessária para mover o leitor. Antes que o sol galvanizasse as nuvens. contido por uma forma pura. tal é o monge. estíra-se a lascívia". n~A Devota" surde #em lampejo logo recalcado. ou latente nos anátemas ao claustro. . Que enchiam-te de flores. Há dois poemas. alheio às tendências que o Romantismo desenvolveu neste sentido. em "Amor e Medo" com a inquietação amorosa. e nela Privada topa a consciência em nada. -. onde adquire significado de vício. porém. ou Casimiro. sentimento permanente e expresso na sua confissão. onde. Obcecado pela discursividade neoclássica. "Ela" já traz nítido o conflito com o celibato. estrelas matinais calam. ("Temor") Raramente. mas sem recorrer à tradição grecolatina. por exemplo. Ou morreremos juntos. Para o mais denso coqueiral sombrio. 158 Um dos aspectos mais duros do seu estado vem manifesto na exaltação erótica. N""A flor murcha do altar". dentre os melhores. O seu processo consiste no geral em afirmar. que encrespa duramente outros poemas.Boceja. alcança poesia tão boa para exprimir os outros aspectos do seu drama. cuja simplicidade não peia."---" Quando as Eu te deitava à copa das mangueiras. Escondamo-nos um no seio do outro.Tal soil. na ousadia carnal. Lutei ali co"as brisas que queriam Levar os teus cabelos. mas fortalece a tensão emocional. Abre-me os braços. ao cair da tarde. como "O Monge". que aparece na sua obra em vários graus. gerado pelo "ócio infamante". como fizeram. ("Vai") Deitemo-nos aqui.ente não-homem A quem privou-se a liberdade. vem enroupada na devoção piegas que funciona como disfarce. na dúvida. em cujo "colo . Alvares de Azevedo com a angústia sexual em "Meu Sonho". ou uma situação metafórica para encarnar este sentimento. não pôde encontrar um sím bolo. Não há de assim nos avistar a morte. todavia. . . ou se abandonou com elegância à "c adência bocagiana". aqueles referidos elementos de drama. e às mesmas so159 #luções formais.Dessa alma vã e desse corpo enfermo. vem. conservando os poucos momentos de boa poesia. Junqueira Freire é um poeta sem mistério apesar da intensidade das suas emoções. Amiga morte. dando-lhes forma pela descoberta de imagens adequadas. que é matéria a partir da qual se elabor a a expressão. como os referidos há pouco. Tu és o termo De dois fantasmas que a existência. revelando a falta de imaginação mencionada por Ronald de Carvalho.".diretamente./-. sempre repisadas. que aparecem como proposições. que redunda na impressão de pouca complexidade do mundo interior. Daí a monotonia devida a certas posições fundamentais. É o caso também da poesia "Morte". Por não havê-la encontrado. s. onde é menos acentuado o hiato entre o conservantismo formal e a violência romântica da confissão. . nos quais harmonizou à intensidade emocional a concepção clássica do verso. formam. n as Inspirações do Claustro. não a existência pura e simples de um drama complicado. experimentando interiormente com eles. não imagens ou situações poéticas. das mais perfeitas e equilibradas que escreveu (apesar do subtítulo: "hora de delírio"). cujas três primeiras estrofes têm uma consistência màgicnniente leopardiana: Pensamento gentil de paz eterna. Para apreciá-lo é necessário operar violenta seleção na sua obra.8 O que denominamos complexidade de um escritor é quase sempre a capacidade de ver os próprios problemas por várias facetas. que atinge o afastamento máximo. não obstante tumultuário e doloroso. e portanto condiciona poesia menos realizada. . A maioria dos seus bons momentos se encontra nas Contradições Poéticas. #*-:-: -. nem dor. para as suas dores e misérias.. Para nutrir-se de meu suco impuro. Do prazer que "os custa a dor passada. expressão mais pura de sentimento não obstante caro aos românticos. Aquietamse mal. para logo a seguir percorrerem o poema com um frêmito meio satânico e extranhamente mod erno: Miríadas de vermes lá me esperam Para nascer do meu fermento ainda. nem gosto.. " E depois nada mais. vem.esse real tão belo Só nas terrenas vísceras deposto. .(Cortesia da Biblioteca Nacional). Que nos extingues as visões terrenas. tão nobremente bela.. Talvez me espera uma plantinha linda. e o desespero. Amiga morte. Já não há tempo. Tu és o nada. Todas as paixões aguçadas pelo hábito r eligioso se aquietam na placidez de uma transcendente visão de paz. . ~ Em vós minh"alma e sentimento e corpo """ Irão em partes agregar-se à terra. (8) Junqueira Freire tinha mais sensibilidade que Imaginação. A visão mais real das que nos cercam. 259 16O Casimiro de Abreu . entre os contemporâneos. todavia. pág. i Plantinha que a raiz meus ossos ferra. torna-se realmente trágico." Ronald de carvalho. Vermes que sobre podridões refervem. -. aprofundado pela análise. vem. Pequena. voltado para si mesmo. Pensamento gentil de paz eterna. Tu és a ausência das moções da vida. Nem vida. Agora o nada. que nesse pobre frade desesperado vibra com serenidade tão profunda. " .-" Pensamento gentil de paz eterna. História da Literatura Brasileira. nem sentir. era um poeta suDjeuyo. Amiga morte. Tu és apenas.i Dificilmente se encontrará. os sentimentos mais comuns do homem comum: melancolia. mas intensos momentos de beleza que logrou alcançar. em outros versos.-.. Havia nele mais dum traço original. antes de Guerra Junqueira e Antero de Quental. fosfcrescente.foi um poeta raso. talvez.1 . 161 #3. (I).-. manifestando em versos fáceis. às vísceras.9 É com efeito. à célula. que a um não conheceu. _.-..Depois de citar este poema diz Afrânio Peixoto: "Entre Byron e Baudelaire.^. "**L " xi^m^. ."av e criada entre os altares". a que se vem juntar. Ano(l! n"^^"iS/"?O**1 "Vocasfto e Martírio de Junqueira Freire". de asas curtas. extrovertido e sincero. *: " . um travo antecipado de Augusto dos Anjos e da poesia realista da morte. mas de modo algum propiciou o tipo de poesia indicada no último verso. e este acento é novo e insólito na poesia brasileira".r " „ . Aflito era também o seu coração.-r-j-. . mesmo quando tristes. bem como o emprego de termos de sabor científico: gal vanizar. * .^-:. Ao contrário do beneditino dramático . fosfórico. . AS FLORES DE LAURINDO RABELO Lêste-lhe a poesia? Eram arquejog Dum coração aflito! De uma alma que ensaiava na matéria Os vôos do infinito! exclama Laurindo por ocasião da morte de Junqueira Freire. no nível dos poucos. BdB CHI).-. e a outro não poderia conhecer. está mais um poeta damné. patriotismo. pun .^ií-. geralmente agradáveis. é lamentável que a pressão insuportável das condições de vida e um formalismo constrangedor houvessem impedido a sua realização plena.jMB. "cisne de luz" . a referência à vida embrionária. verificada durante a sua residência na Bahia. insatisfeito. na medida em que. amizade. mortais. mãe da 1"2 Imperatriz Tereza Cristina. V ate não sou. Nem são versos. é natural que valorizasse os dons de improvisador como recurso de prestígio. com a facilidade dos bons improvisadores. mortes. boêmio. . amor filial. a confidencial. O primeiro aspecto é o mais insignificante. que estimulou esta tendência da sua veia e a quem chamou . pela dor só inspirados. numa forma em que o desejo de comunicar prima qualquer artesania. ou seja. amor fraterno. no fundo mero automatismo em que surge habilidade mais coletiva q ue individual. Nos da Bahia. sobrenadava nele o homem no fundo convencional. À mesma chave pertencem os improvisos. corresponder à realidade. Tudo medido e singelo. incluindo peças comemorativas de aniversários. carpindo a Rainha das Duas Sicüia s. a do boêmio. As vezes sem querer d"alma exalados. feito de encomenda e publicado com nome de terceiro. encontrava de pronto a forma adequada à confissão. reinava uma mentalidade de outeiro poético em torno do famoso Muniz Barreto.donor. própria de um gênero cuja essência é retórica. onde viveu quatro anos e obteve mais fama que na terra natal. temente a Deus e à ordem. a do homem enquadrado na convenção. Metis versos. a obscena. não poética. ao fazê-lo. notadamente sonetos e glosas. a da experiência pessoal sentida. ("O que são meus versos") Este chavão romântico parece. nele. menti.inclusive o paquidérmico "Setenário Poético". respectivamente. repentista emérito. inconsciente do trabalho profundo em que atua o mecanismo criador. o seu verso é notação psicológica imediatamente registrada. que lhe deram renome em vida e onde brilha uma ginástica aparentemente original e audaz. Há na sua obra três aspectos de significado e importância diversos: a poesia de circunstância. bem o conheço. Pobre. servindo exatamente #os pratos requeridos pelo gosto dos salões burgueses. datas nacionais. são ais sentidos. gratidão. Nada disso. E se fôssemos enumerar os que em segui163 .Amigo. mas também flor. Nada de profundo nem muito belo: apena s sentimentos comuns transmitidos com tal singeleza que parecem desabafo espontâneo. em que as Saudades são sentimento. porque o és. Mas algumas vezes é tal a fluência do verso ou a felicidade das imagens. as flores talvez sejam a principal fonte de imagens dos poetas românticos brasileiros.a do botequim. minha alma o sabe. onde não foi menor a sua glória. . manifestação dessa autenticidade que desperta ressonãoncia no leitor e o faz irmanar-se ao estado de alma do poeta. principalmente quando arrastado para a esfera da imaginação floral com que deu cor po a alguns dos seus melhores poemas. em versos que correspondem a outra sociabilidade. quanto por Álvares de Azevedo e quem diria! . concebendo-as como uma espécie de intermediá rio entre o mundo físico e o homem. Mestre. perdura na sua obra: o que nela vive é uma vintena de poesias onde falou espontânea e doloridamente das mágoas de amor. cuja vida interior pareciam refletir. da saudade dos familiares. prontos a explorar as suas possibilidades de delicadeza e sentimentalismo. entretanto. Aliás. Lembremos que o primeiro livro do nosso Romantismo tem um nome ambíguo. a das tertúlias masculinas. pisado tanto por boêmios contumazes. porque me pede o entusiasmo Dizer-te como tal. do desejo de morrer. Mas como também era sarcástico. deixando-nos algo alheios a este remoer de penas. que o leitor se entrega.Frei Luís Junqueira Freire. É preciso lembrar que não c onstitui exceção neste trilho. irreverente e popular. da solidão no mundo. cultiyou com abundância a musa secreta. como Bernardo Guimarães ou Aureliano Lessa. Em Laurindo há quase sempre sinceridade a mais e e stilização a menos. de Teixeira de Melo. ("O Gênio e a Morte") . ("Não posso mais") . Quando dois corpos este fogo acende. etc. de Luís Guimarães. de Bruno Seabra. Na obra de Laurindo. Parte dos goivos te lancei no peito... Flores Silvestres. " "< ("Último canto do cisne") E da tristeza. de Norberto.." "" . Corimbos. Desabrocha em flor. Brincar com as flores. de José Bonifácio. . De flores perfumado.) . reponta a intenção simbólica.. ou apenas comparativa.. Miosotis. O fogo santo que dá vida à vida Chama-se amor. ("O meu segredo") . e a flor é virtude. prazer. ("Poesia". amor: Se de um lado a razão seu facho acende De outro os lírios seus planta a saudade. saudade. não teríamos mãos a medir: Rosas e Goivos. Flores e Frutos. Flores entre espinhos. elas aparecem em 26 sobre 82 poemas coligidos na edição mais completa. ("Adeus ao mundo") Outras. de Bittencourt Sampaio. ("Dois impossíveis") O pranto. ou seja mais de um terço. que a minh"alma encobre.#da tiveram nomes nelas inspirados. etc. açucena de minh"alma.. Flôrezinhas. Botão de rosa que o pudor defende. . que quando era menino Tanto servistes aos brinquedos meus. tristeza. Muitas vezes a ocorrência é puramente ocasional: -! : Se às vezes tentava . --.""... no mais famoso dos seus poemas.-."-. . -"--. é flor e sentimento: é o ciclo da saudade e dó amor-perftU". do desespero . Adiante há novo desdobram ento. -. . sendo ambos simultaneamente a flor em que se encarna a imaginação. ao mesmo tempo indicativa e metafórica. .. e é a irmã morta: Quem sabe. pálida e fria.". -/"--. não seja.".-. assim Como a saudade que geme Por ela dentro de mim. a saudade é flor. ... Pela mão . Minha flor? Que palidez!.-" -: -.. mimosa saudade? Assim branca quem te fez? Quem te pôs tão desmaiada... que se prestam ao jogo de palavras. . E agora esta saudade Tão triste e pálida ...!" .-. "" (Oh! meu Deus.--A alma de minha irmã?! "Minh"alma é toda saudades.-" -. . :-. ..--.Mas os grandes momentos se dão quando surge uma ambigüidade poética em que a imagem... "-"---" í -:-" Mas calada em sua dor. . Que tens. :. : "" .-.. - Toma o gesto e veste a eór. é símbolo do sentimento a que deve o nome. i "* " ""-.-l". #("A Saudade Branca") Aqui. -. quando a minh"alma Em saudades lhe deixei.< l Exangue.". num jogo de espelhos contrapostos em que se cruzam e refletem os sentimentos do irmão e da irmã. De saudades morrerei" Disse-me.. . Ao longo das estrofes a ambigüidade toma corpo e se desdobra.1.!. a variedade botânica permitindo decantar na alma as variedades do sentimento: Nós temos duas saudades. Outra da melancolia .". " " Não seja esta idéia vã!) J" Se em ti não foi transformada . " v :No seio d"alma plantada.. Uma de sangue ensopada .-. .-. (J) Na terceira peça encontramos admirável desenvolvimento da dupla conotação de amor-perfeito. Quando diversa da roxa Te criou. era rosa. .*--. que provoca certas antíteses de fecundo sabor cultísta: Murchou-se a rosa. Porém tu. branca saudade. confundem-se com os sentimentos que lhes dão nome e se tornam realmente : . . . Cedo devia murchar. tu que inflamas. coleção de seis poesias. Neste sentido a melhor realização se encontra nas "Flores Murchas". Por que murchaste também? " " Ah! bem sei: de acesas frágws : " As chamas são tuas águas. Embora fossem de amôre". ~ !-""" Que o fogo é água de amor. tu afeito Aos incêndios que amor tem..164 165 #. Sem fogo murchaste.. Como as rosas se murcharam. Porque as águas lhes faltaram. Tu que abrasas. amor-perfeito.. passam da botânica à psicologia. Flor tão fraca e melindrosa Muito não pôde durar. quase um poemeto frouxamente cornposto em torno da metáfora floral: Ai! flores de minh"alma! quem matou-vos. Tu nascido." "* ( Quis provar esta verdade. . Tu que vegetas nas chamas. flor! Assim as flores vão perdendo a identidade. Exposta a tantos calores." Parece que a natureza . Róseas flores d"alvorada. descoloridas. como encontramos na flora barroca de Gregório de Matos." Plantarás um suspiro. inodoras. Tf . Salvo um momento ou outro. . amor-perfeito. e cada flor pode ser pictograma na muda correspondência da ternura. J -" J o Vem. sem aquele brilho material que têm por exemplo nos rondós de Silva Alvarenga. Isto é ser flor e anjo juntamente. Ser angélica flor e anjo flor ente. : idade. . i i Roseira. A sua imaginação floral deita raízes nesse mundo onde o cravo briga com a rosa. senão em vós. as pétalas parecem guardadas entre as páginas da sua confissão. uma saudade. (Anjo no nome. ó dália. flor mimosa. martírio. Em quem. pois a flor-no-mundo se tornou flor-na-alma.. E talvez esteja aí um dos fatores da voga de Laurindo. do amor. da desilusão. dá-me um botão. Neste jardim fechado não há cor nem perfume. em cujo horto se vêm reunir imagens tão expontâneamente prediletas da imaginação popular: Craveiro. dá-me este cravo. invadindo a flora material com emoções que florescem segundo as leis de uma botânica subjetiva: Na terra que cobrir-me as frias cinzas " " "- #. Teus perfumes causam dor.saudade. angélica na cara. De tal modo 166 que o poeta acaba operando realmente a transfusão das duas realidades. não há propriamente elaboração metafórica em profund ! ". se uniformara?) . . . sobretudo no ciclo da saudade e do amor-perfeito. A botânica de Laurindo é mais lírica. desataviando-se da graça presente. evocam as alegrias dess a quadra e servem para exprimir a desolação da juventude. numa perda de matéria em que a flor. num transbordamento de pétalas que lembra o poema inicial d*"O Grifo da Morte". a açucena. . elaboradas no espír ito. tende ao signo. nos quais se vinha operando a passagem do vegetal ao simbólico. elas se desmaterializam e invadem o mundo. o amorperfeito.como nas concepções do primitivo e no folclore. essas imagens coroam a linha préromântica e sentimental dos poemas de Borges de Barros. Dar-te-ia. Assim.A sua imaginação é similar à que aparece em certas poesias populares. encarnada no vegetal. o lírio. as sementes de saudade que planta ao deixar a família amadurecem como a saudade que o acompa . As rosas do coração.em que a nossa se desdobra. caídas as barreiras que confinam o poeta na subjetividade. Nela sentimos um processo em dois tempos: o sentimento do mundo se configura inicialmente por intermédio de certas experiências ligadas à flor. as duas saudades. . não raro como comparação sentenciosa de pouca densidade poética.. de Mário de Andrade. o goivo. No plano erudito. continuada por Magalhães e os sucessores. beijo e paixão: Não dou-te as rosas das facet. Maciel Monteiro. Nem as que tenho na mão. a sua mel ancolia. se me estimasses. Na sua poesia predomina o sentimento de uma "alma exterior". persistindo na memória. o amor 167 #da mãe e da irmã. A rosa. sentindo e penando no mundo: o seu desejo. Araújo Viana. que aparece todo ele como um sistema de signos. como a quadrinha em que a rosa é ao mesmo tempo planta. são avatares da sua alma. as rosas que a irmã lhe dava na infância. 168 4. BERNARDO GUIMARÃES. surgem traços de azedume que. inscritas para todo o sempre "na filigrana azul da alma". onde estão porém as peças mais significativas do sentimento da natur eza. aqui e ali. equilibrada na maior parte e. associado à decadência da insp iração. a partir das corolas reais. não raro descuidado e impaciente. de todo o Romantismo. como as do chinês extátíco de Mallarmé. obtém versos #admiráveis. no mundo da imagem. que um dia lhe feriram a sensibilidade e ele hipostasiou. Como artista era irregular. vão ao satanismo e à perversidade. Mas como possuía sensibilidade plástica excepcional e musicalidade espontânea. exprimindo doravante a recordação da mãe e da irmã. foi se insinuando nele um atavismo . e das Poesias Diversas. roça pela prosa. Seria talvez porque. É saudável. quanto domesticou melhor o impulso por vezes desordenado dos Cantos da Solidão e Inspirações da Tarde. nos casos ex tremos. o prazer e essa melancolia vestibular. prontos a encontrar nela um acicate a mais para a euforia da imaginação e dos sentidos. acentuava-se nele o retorno à harmonia neoclássica. sobretudo na segunda fase da sua evolução. a mais presa ao mundo exterior. a de quase todas as Novas Poesias e das Folhas do Outono. retirado na sua província de Minas. POETA DA NATUREZA A poesia de Bernardo Guimarães lembra uma polpa saborosa envolvendo pequena semente amarga. nota-se um processo interessante: à medida que envelhecia. tão freqüente nos voluptuosos. todavia. A porção mais vultosa e valiosa da sua poesia é porém feita de encanto pela v ida. a natureza. desenvolto como os cantores que erram ou acertam ao sabor do estro.nha. O seu coração (a imagem é de um poema dele) se vai tornando um vaso onde medram sentímentos-flôres. mostrando a marca do meio paulistano onde firmou a vocação e foi dos mais desordenados e pitorescos boêmios da tradição acadêmica. Na última fase. longe do movimento literário. ao torn de ode e epístola que. endecassílabos (2-5-8-11) sugerem o ritmo desenfreado da cavalgada. à maneira do "Pas d"armes du rói Jean".estético. no princípio e no fim. em poemas como o aliás medíocre "Gentil Sofia". inquietude ou grotesco. o ambiente onírico. Notemos que esse poeta sem requinte foi. "Minha rede". ou. o torn de balada. . enraizado em lugar tanto mais embebido das tradições da "escola mineir a" quanto à margem dos movimentos posteriores. "Idílio". "A Sereia e o Pescador". "O Devanear do céptico". manifestando-se ambas em várias peças leves que roçam o pastiche. enq uadrando metros igualmente adequados aos estados de indecisão. de Victor Hugo. que se junta "A uma estrela". a que já estaria preparado pela de Gonçalves Dias. Do ponto de vista formal a última fase parece preceder cronologicamente as primeiras. "Uma filha do cam . serenidade. um insidioso arcadismo. visível desde as primeiras obras. "Desalento". É um admirável poema. revelando senso exato da adequação do ritmo à psicologia. sempre com o melhor proveito. "Ao charuto". o mais preocupado com a experimentação métrica. do grupo em estudo. de brincar com o eco. Paulo parece ter sofrido influência de Garrett. (Cantos da Solidão).como "Olhos Verdes" em relação à de igual nome do maranhense. que reservou aos poemas de mov imento. Desde a saída de S. em relação ao português. Ninguém usou tão bem os perigosos versos martelados. ou tiveram a curiosidade.onde. como ele. que vão do fim do decênio de 4O ao fim do decênio de 6O. . quando já encontrara no romance outra forma de expressão. Como métrica psicológica é oportuno mencionar o "Galope infernal". reflexão. espécie de longo desenvolvimento do "Pescador da barca bela". Poucos utilizaram tão bem as estrofes de metros alternados para evocar 169 #"-W^fff^íSI a marcha do devaneio. paradigma de poesia romântica pelos ritmos. De luz. colinas. . 315. mas muito mais apreciável do que faria supor o olvido a que foi relegado. #(1O) "Bernardo Guimarães teve em seu tempo e não sei se continuará a ter.. "O meu vale".1O O seu sentimento dominante foi o da natureza. T. "Barcelona". pag. Contempla De nossa terra as solidões formosas. . até que a Antologia de Manuel Bandeira o restaurasse. Caçador. Que mistérios de ignota melodia Não guardam para a mente do inspirado Que os interroga por serenas tardes.que a eles se junta para formar a melhor parte da obra lírica desse poeta.. 289. pag. ah quanta vida. tb. "Que te darei". viajante. A cismadora". luz e beleza . apesar de uma advertência de José Veríssimo. a terra exercia sobre ele atração poderosa. História da Literatura Brasileira. mata nome como romancista que como poeta. nadador. "Se eu de ti me esquecer" (Novas Poesias) . arsenal de imagens. cascatas. enquadramento da inspiração. Que esplêndidos painéis!. 17O Quanta harmonia e cor.Tu não vês derramada pela face Dos infindos sertões! E as montanhas. "Terceira evocação" (Evocações). "divina fonte" do canto: Engolfa-te no azul do firmamento Por abismos de luz e de harmonia. apaixonadamente percebido e amado. José Veríssimo. Não me parece de todo acertado este modo de ver".po". que nele era apego real à paisagem. de amor. que é o estímulo pri ncipal da sua musa. matas. sertanista. ao detalhe do mundo exterior. "A fugitiva" (Poesias diversas). não de certo grande. de êxtase. B da poesia nas divinas fontes Afoito vai saciar tua alma. Entregue a fronte aos tépidos bafejos Da inspiradora viração dos ermos. . . Profundos vales. os vãos rumores Das procelas do mundo. pois. a teu sopro despertada. transponde rios. ("Invocação") A fim de pintá-la bem. a natureza não lhe aparece como sistema de sinais correspondentes aos estados de alma. apurou uma rara capacidade descritiva. ondeia com as matas.. voai asinha. Ide. que alcantis coroam. Casto asilo soidoso. Como um floco de neve. que dos montes m . Do hirsuto monte nas virentes faldas #Formoso alvergue branquejar risonho Por entre a escura rama dos pinheiros. brilha à luz do sol. Murmura qual vergel harmonioso Pelas brisas celestes embalado. estes. é que parecem brotar e definir-se ao toque dos estímulos exteriores: Minha alma que. E onde virdes retiro ameno e ledo. flui com os regatos.. que parece ter sido o principal modelo do seu verso branco: Ide. freqüentemente amparado nas experiências de Gonçalves Dias e Basíl io da Gama. Desdobrai sem receio as asas cândidas Na esfera azul. em que o verso esposa os contornos. pelo contrário. Como que deste mundo separado Por altos serros.aonde virdes -. vossa missão é pura e santa. plainos e florestas.("A Poesia") Assim. move-se com o vento. cantos meus. onde não chegam O importuno alvoroço. serra". é básico na sua composição. ante meus olhos A noite os véus diáfanos desdobra.. nela conseguiu alguns poemas admiráveis. primor de singeleza em que se fundem descrição e emoção: Num canto retraído da vaiada Tenho entre verdes moitas sombra amiga Em chão de fresca relva. . pois. Em poemas discursivos. peça irregular. . são ainda os largos movimentos que dão nervo e beleza. . . Ei-lo que vem. - No éter cristalino ides boiando. esteiando. róseos horizontes. Aí pousai. de ferro e fogo armado. ...#Rodou sobre o verdor do vale ameno. às vezes grande beleza.= Propício ao cismador. 172 Pela encosta de além ondeia a coma De verde negra selva. que debuxa serenamente o quadro natural.. Planetas. como o trecho iniciado com o verso Quando espancando as sombras sonolentas. por exemplo. E do alaúde tenteando as cordas Foge-me dalma uma canção singela. . como "O Meu Vale"... e o vejo em gotas límpidas A cintilar na trêmula folhagem. pois em minha fronte Sinto o teu pranto. ("Hino à Aurora") Numa segunda fase da sua poesia naturista pendeu para a estrofe rimada em detrimento do verso solto corrido. como "O Devanear do Céptico". (Dedicatória dos "Cantos da Solidão") Este movimento airoso e largo. que em cadência harmoniosa . . onde representa os movimentos melhores: Ali campinas. não descritivos. que na derramada irregularidade de muitos poemas surjam por vezes talismãs: Também tu choras. Como ao passar da ar agem Sussurra pela copa do arvoredo A trêmula folhagem. onde há momentos como estes: j . "O Ermo". Vertendo sobre a terra almo silêncio. Não espanta.. em pleno quotidiano. Queixa-se. repouso à mente. ao mesmo tempo descritivos e evocativos: traçam o quadro natural e contam as emoções nele vividas. traçam um círculo em torno de si para se absorverem no mundo interior.) os homens entendidos".solidão com que desfruta melhor a poesia dos lugares. é diversa da de Junqueira Freire ou Alvares de Azevedo que. procurando associar a experiência afetiva à experiência dos lugares. as asas corn que voa o progresso pelo mundo segundo "dizem (. segregação física em relação ao semelhante.. "Adeus ao me u cavalo branco chamado Cisne"). Na cidade. mas que não se podem comparar às .. saudade com que suscita as emoções neles vividas. verdes folhas Que a fronte adornam das viçosas selvas. na maioria. "Saudades do Sertão do Oeste de Minas". padece a nostalgia do ermo e evoca matos.. Nele se trata mais d e isolamento. Por isso mesmo #revela acentuado pendor pela solidão e a saudade.. Não é extranho. uma tarde amena e sossegada " "--" " Tão plácida como esta. .Já se vê que os seus versos são. ("Recordação") . rios. Ao ermo.. . freqüentemente unidas na evocação. pois. 6 musa! Mas a solidão. que esse nostálgico recriasse longamente as cenas e amores passados: 173 #""fifív Era. no Rio. morros.. animais ("Cenas do Sertão". esquecidos do tumulto da vida. em meio aos homens. na sua obra. E vertendo ao cansado viandante com brando rumorejo alma frescura Dão vida ao coração. para reequilibrarse ao contacto da natureza. da escravidão às folhas de papel. . todavia. ("Nostalgia") A saudade. Nos três poemas que. f. que mantinha acerada. expípíaa cada vez mais pela "pena da galhofa".duvida!. ("Terceira Evocação") Fui ontem visitar essa paragem Em que te via passear outrora. Um eco só da profundez do vácuo Pavoroso retumba.. quase sempre ligada ao quadro natural. é o sentimento do tempo nesse voluptuoso.. ("Primeira evocação") Eis-te tão bela.. . problema que desmanchasse a serenidade ou a melancolia do devaneio.. qual eu vi-te outrora Pousada à sombra do jambeiro em flor. namorado da forma sensível. e diz . uma vez que a contemplação da regularidade natural de novo o conduz para a equilibrada visão do mundo. não encontra nele morada propícia. porém. há por vezes na sua obra uma crispação devida ao medo de duvidar. podemos verificar um processo bast ante visível em sua poesia: o aquietamento progressivo da melan174 eólia e da tristeza. aqui e acolá. ("Devanear do céptico") O desespero. onde em vão busca" Um abrigo onde pouses. porque no fundo sentimos que a dúvida não sig nificava para ele drama cruciante. em benefício de conformada serenidade. . Não obstante. certa angústia de não crer pura e simplesmente. Medo. espaçadamente.Oh! quem me dera ver essas campinas. Daí o lamento que dirige à alma : O tufão da desgraça desvairou-te Por desertos sem fim. consagra a si próprio.: . De -meus campos natais doces lembranças. na espontaneidade com que a natureza existe. ("Lembrança") Oh! porque vindes me sorrir agora. uma fonte Onde apagues a sede que te abrasa. corn férreo selo guarda a campa avara. mas numa vasta atividade oral de improviso e pilhéria. "Delírio de papel". de 1859.. com efeito. E fria como a laje do sepulcro.. e a deixa nua. que termina pela evocação do dia em que . em que o humorismo vai se carregando de intenções obscuras até tocar no sadismo. e ela nos permite chegar à etapa final. outro ramo dileto da sua musa. Me roça às vezes nalma.. exclama: Vai-te. Daí passamos ao bestialógico. que o acompanha geralmente nas 175 . se o divertidíssimo "Elixir do Pajé" pode ser co nsiderado expressão dionisíaca e saudável do priapismo de anedotário. "A saia balão". Num primeiro nível encontramos produção bem parecida à ligeira poesia íntima do seu inseparável Álvares de Azevedo: poemas leves e excelentes em que a graça e o devaneio equilibram o humor. produzindo peças da melhor qualidade. como os "Disparates Rimados" e o famoso soneto: Eu vi dos pólos o gigante alado. a plúmbea mão da morte " Nos venha despertar :-" #E os sombrios mistérios revelar-nos " " Que em seu escuro seio -.vai-te asinha. A seguir vêm outros em que o tema é impessoal e a intenção satírica: "O nariz perante os poetas". já no poema de título irreproduzível. o fatal sopro da descrença . como "Ao charuto" ou "Minha rede".Amigo. manifesta não apenas na produção oficial. que entrou para a lenda junto às suas atitudes excêntricas. ó dia importuno . Ó tu. A sua veia humorística era aliás variada e rica. que em meu costado Inda mais um janeiro sem remédio Deixaste-me pregado. Adiante encontramos a poesia obscena. No segundo. diz no ppmeiro. gênero em que brilhou. Co"a canela de um frade. A invocação de Jerônimo Bosch talvez ajude a compreender a sua perturbadora força poética. abrindo fissuras por onde jorram os lençóis subjacentes do espírito e no qual se evidenciam tendências...-. encarada em geral como troça. grotesco e o sadismo certamente mais cruel da nossa poesia. que tinha "-". mas que se pode considerar um dos fulcros do nosso satani smo.. É desses tenebrosos estouros na criação literária.#edições de cordel. relativamente amainada pelo chiste nas quadras iniciais.. Lobishomem batia a batuta . .. (Getirana com todo o sossego .\ De uma bruxa engenhosa o bestunto Armou logo feroz rabecão e o grotesco vai ombreando o macabro: Assentado nos pés da rainha -:"--i... Inda um pouco de carne corrupta.-:. feita de macabro. Pendurado num... Num primeiro plano.v.... É a perversidade que reponta e. pau pelo rabo. apenas parcialmente expressas. No borralho torrava pipocas. o sangue rutíla na composição esmeradamente clássica infiltrando extranhas manifestações de perversidade. A caldeira da sopa adubava . a piada tende ao grotesco Da carcassa de um seco defunto E das tripas de um velho barão. . de toda uma geração desenquadrada pela embriaguez do individ ualismo estético. Mais ao fundo. Mais longe vai a "Orgia dos Duendes". "." . o simples bestialógico: Junto dele um vermelho diabo Que saíra do antro das focas. . Amontada numa égua amarela) -. ."M... Passeando sozinha e sem medo Linda virgem cismava de amores..-/"" -" i" - .. E alguns filhos... .. . " . ". Conduzi das desgraças ao cúmulo. dando-lhe viabilidade em face da opinião pública e do sentimento individual. Era a Morte que vinha de tranco t . ..j " Na quarta parte. na quinta. Me caíram do ventre no túmulo. Vejam lá.. Que inda há pouco viu tantos horrores.. ". . /. .. a Morte. gosto pelos contrastes profanadores..r .. De um convento fui freira professa. volúpia do mal e do pecado./ -. A ousadia d"A Noite na Taverna pertence a essa mesma atmosfera paulistana em que Bernardo se formou.- expulsa os babiqueiros infernais e.densa. . Que ali mesmo co"as unhas sangrava) vai se afirmar na terceira parte. . toque profanatório e./ .corn o sangue de um velho morcego. que dele gerei..... E de amor as extremas delícias Deu-me um filho. raiando a manhã.." " .--.. uma nítida manifestação de satanismo: luxaria desenfreada e pecaminosa. carregada de inesperadas soluções. 177 . Incesto. . . .. O torn de galhofa e o disfarce do estilo grotesco acobertaram (quem sabe para o próprio autor). . (Hediondo esqueleto aos arrancos "--.. isto: #Os amantes a quem despojei. na sombra daquele arvoredo. De meu pai entre os braços gozei. que tal foi esta peça.Chocalhava nas dobras da sela. Mas se a minha fraqueza foi tanta.... . por artes que sei.. "-". quando os fantasmas fazem as suas confissões: 176 Dos prazeres do amor as primicias. na fala doutro duende. Onde morte morri de uma santa. . ninguém o representou mais tipicamente no Brasil do que ele. OU ARIEL E CALIBAN Dentre os poetas românticos. a dos românticos nos arrasta para ele. sem exercer devidamente o senso crítico. passando por sobre defeitos e limitações que a deformam.#5. como ele. E sabemos que se a obra de um c lássico prescinde quase por completo o conhecimento do artista que a criou. ou a rejeitamos com veemência. versalhada que escorre desprovida de necessidade artística. N"O Conde Lopo e n"O Poem . negaceando a noite toda um admirador equivocado. fazendo Satã inclinar-se pensatívo sobre Macário desfalecido e o próprio poeta mascarar-se de mulher. rebeldia dos sentidos que leva duma parte à extrema idealização da mulher e. à lubricidade que a degra da. basta não só para lhe dar categoria mas. não raro ambíguo. O adolescente é muitas vezes um ser dividido. Sentiu e concebeu demais. ÁIVARES DE AZEVEDO. que possuía não obstante mais vivo do que qualquer poeta romântico. revelar a personalidade certamente mais rica da geração. Talvez por ter sido um caso de notável possibilidade artística sem a correspondente oportunidade ou capacidade de realização. ainda. escreveu em tumulto. O que resta. Rebeldia que por vezes baralha os sexos no seu ímpeto cego. Mareiam a sua o bra poemas sem relevo nem músculo. Se o Romantismo. ameaçado de dilaceramento. de outra. porém. excetuado Gonçalves Dias. desejo de afirmar e submisso temor de menino amedrontado. como disse alguém. Podemos gostar de Castro Alves ou Gonçalves Dias. graças à vocação da confidencia e a relativa inferioridade do verbo ante a insofreada necessidade de expressão. temos de nos identificar ao seu espírito para aceitar o que escreveu. em cuja personalida de literária se misturam a ternura casimiriana e nítidos traços de perversidade. poetas super iores a ele. num baile. foi um movimento de adolescência. rejeitando a magia que dela emana. mas a ele só nos é dado amar ou repelir. Álvares de Azevedo é o que não podemos apreciar moderadamente: ou nos apegamos à sua obra. a vitalidade do veneno de Byron. n""Um cadáver de poeta". é suspenso a cada passo pela obsessão de algo maior a que não ousa entregar-se: a própria existência. sobretudo. fronte acendida . o fascínio do conhecimento e se atira aos livros com ardor. como o adolescente. que escorrega entre o s dedos inespertos. . 178 Alvares de Azevedo sofre. Misterioso Bretão de ardentes sonhos.Oh! mas teu coração era muito velho. desse engelhar precoce q ue rói como um cancro e aviventa nas veias com a seiva da morte de Hamleto.. coração de lavas. Do meu poema os delirantes versos! . pelo contrário. No seu caso particular estas disposições foram animadas pela influência de Byron e Musset. presente nos moços do Romantismo e assinalado nas páginas declamatórias d"O Livro de Fra Gondicário: ". atraída pela sensualidade e ao mesmo tempo dela afastada pelo escrúpulo rnoral e a imagem punitiva da mãe. em muitas imaginações vivazes. Há nele.. que aceitou com o alvoroço de quem encontra forma para as próprias aspirações:11 Alma de fogo. assaltam com freqüência a sua imaginação. o moço revoltado e plangente que recolhe o corpo de Jónatas é mulher travestída. como no escôrço #de vida que é a adolescência. conduzindo a uma idealização que acarreta como c ontrapeso. . o desejo anormal do fim. serás -. Errante trovador d"alma sombria. ao mesmo tempo. Minha musa. a nostalgia do vício e da revolta.. mas." .a ti portanto.a do Frade os jovens são descritos com traços femininos. aquele misto de frescor juvenil e fatigada senilidade. Em túrbido ferver! .poeta altivo Das brumas de Albion." O cansaço precoce de viver. emprega a oitava rima nos cantos l e II. Alvares de Azevedo . Pulei. Mais rico. cercado de recursos. em Namouna. envergonhado pelos desmandos do pai. a título de curiosidade: como se sabe. limitada porém a um extremo: o desespero da afetividade bloqueada. mas particularmente do segundo. de Junqueira Freire. revelando dinãomica mais intensa. mas dele próprio. filho natural de mãe adúltera. passando nos in e IV à sextilha com três rimas em ordem variável. esmagado pelo erro de vocação. estímulo e todo o carinho. das condições exteriores. ao contrário de todos eles. ao mesmo tempo frágil e poderosa. com efeito.(O Conde Lopo. Ao contrário de Gonçalves Dias. da sua natureza contraditória. de Casimiro de Abreu. a exemplo do seu modelo confesso. o seu esp írito engloba ambos os aspectos. N"O Poema ao Frade. As condições da vida sempre lhe foram favoráveis: dos homens e do mundo só vieram apoio e admiração ao "jovem de grandes esperanças". Byron adotou no Don Juan a oitava rima. talvez a dele (11) A este propósito. Na obra de Junqueira Freire encontramos algo da mesma exacerbação adolescente. com duas rimas alternadas. O drama refletido em sua obra não se originou. não como integração harmoniosa da possibilidade e da realização. contrariado nas tendências. in) . Se encararmos a personalidade literária.como que reunindo as suas duas grandes admirações . de um ângulo romântico. Casimiro de Abreu exprime outro extremo: a graça melancólica do lamento sentimental. mestiço humilhado. #179 Ji|||jj| H^Huki^ #seja a mais característica do nosso Romantismo. mas como disponibilidade interior para o dramático. Musset utilizou uma estrofe de seis versos. No ent . comp osto sob a inspiração de ambos. torcido pela carreira antipoét ica. nasceu de família importante. quase o único antes do Modernismo. morrendo embora aos vinte anos. a Castro Alves. "Quase depois de Ariel esbarramos em Caliban. Foi o primeiro. A razão é simples. independente do mundo e dos homens.anto. o emprego da discordância e do contraste. entre os vindouros. Não tem a harmonia ou o senso formal do primeiro. devorou-se numa febre que lhe traçou o mais romântico dos destinos e. mas em execução de um programa conscientemente traçado. Esta complexidade fez dele a figura de maior relevo do nosso Ultraromantismo. no que se poderia chamar o individualismo dramático e consiste em sentir. nos menores detalhes. no âmago do espírito romântico. ao cachimbo sarrento. nem o vigor. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouc . entre os mais velhos. à roupa suja. a diversid ade do espírito. a fervorosa paixão lírica do segundo. o sincretismo tênuemente coberto pelo véu da norma social. não só por exigênc ia da personalidade contraditória. concentrando em si o peso do que se repartia em quinhão pelos outros. como corretivo a uma concepção estática e homogênea de literatura. a dar categoria poética ao prosaísmo quotidiano. Penetrou todavia. permanentemente. Daí podermos acompanhar em sua obra.a parte d"A Lira dos Vinte Anos (singular na literatura brasileira de então pela força do sarcasmo) a sua poesia gira nos gonzos e desvenda a di alética segundo a qual os contrastes favorecem a verdadeira realização do artista. mas não lhe permitiu a integração artística necessária para equiparar-se a Gonçalves Dias. que os clássicos procuraram eternizar na arte e se rompeu bruscamente no limiar do mundo contemporâneo. mais fundo que ambos. No prefácio à 2. teve o privilégio oneroso de corporificar as várias tendências psíquicas de uma geração. É que a unidade deste livro funda-se numa binômia. têm para o espírito um peso que independe do fato de corresponderem ou não a causas e situações reais. esquecem freqüentemente a infância e a puberdade. im pressionados com a sua eficácia acadêmica. . brotado na zona escura da alma. para compreender o destino poético desse estranho doutorzinho. toda esta ebulição onde se forja por vezes dolorosamente a personalidade. os mundos imaginários. outro preferem considerá-lo um tenebroso devasso. precocemente viciado. No fundo. De modo geral. tão atuantes quanto o mundo concreto. as aspirações e decepções. nem faltou quem lhe negasse virilidade. O sonho é nele tão forte quanto a realidade. Por obra desta lucidez. requintou às vezes a preocupação de patentear antinomias.. O fato de Álvares de Azevedo ter sido bem comportado ou devasso nada tem a ver com o imperioso jato interior que o propelia e. verdadeira medalha de duas faces (.como o de saber se é sincero no satanismo ou experiente nos desregramentos que canta. Os críticos. se clareava depois por uma lucidez intelectual raramente encontrada em nossa literatura.. podendo causar tanto sofrimento quanto ela." Não é possível descrever com maior consciência a própria obra.o mais ou menos de poeta escreveram 18O #este livro. Uns. a multiplicidade de tendências. É preciso. como os outros homens. vem a sátira que morde. os desejos e frustrações. a falta de segurança. e a fantas ia se torna experiência mais viva que a experiência.) Nos lábios onde suspirava a monodia amorosa. atribuem esta parte ao puro exercício mental. uma vez encastelados na solução mais ou menos frágil obtida pelo adulto. a sua lira humorística e satírica é complemento . a questão é secundária e pouco serve para esclarecer a sua poesia. nem resolver de antemão problemas que os críticos futuros remoerão sem a menor necessidade. ter em mente que os dramas do adolescente. e escrevam nela: . . que gemendo Entre os hinos de amor se enternecia.Foi poeta. . num refinamento superbyroniano. O aroma dos currais.da sentimental: são as duas referidas faces da medalha. "Lembrança de morrer" e "O poeta moribundo": Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida. Poetas! amanhã ao meu cadáver .Do deserto o poento caminheiro. t #181 #£ agora:" " " " ". As aves que na sombra suspiravam. . . .. o noivado macabro com a morte.. Sombras do vale.--""-" .. . o bezerrinho. Os amores da vida esperançosa! Cantem esse verão que me alentava.-""" ": "" ".s ji." Minha tripa cortai mais sonorosa!. . . Protegei o meu corpo abandonado. como deixa o tédio ".. . Façam dela uma corda e cantem nela . À sombra de uma cruz. (o cisne poético degolado ao cantar os amores. na "Lembrança de Morrer": Eu deixo a vida. Como o cisne de outrora. ."."V. """. sonhou e amou na vida.í. noites da montanha.. quando havia dito.--"-"". . E no silêncio derramai-lhe o canto. assim trata ao próprio desespero: Eu morro qual nas mãos da cozinheira i O marreco piando na agonia.. E os sapos que cantavam no caminho! E. - Que minh"alma cantou e amava tanto. . Mas se voltarmos a "O Poeta Moribundo" e analisarmos bem as imagens. Compare-se por exemplo.Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro. que incorpora à poesia segundo o mesmo espírito de troça com que são tratados os servos da comédia clássica. com desculpas especiais para cada caso. porque ela está à sua mercê. para o mocinho burguês. parecem à primeira vista mero antídoto. #A lavadeira de "Ê ela!" é uma mulher que se pode possuir. Se ela ao menos dormisse mascarada! a visão ogiástica do inferno < . mulher de classe servil a respeito da qual não cabem. nele. que poderia.. Foge de ambos. Por isso mesmo. recuando-os para o impossível da mesma forma que fez com os demais por meio da idealização extremada. a solidariedade do cômico e do trágico na formação de uma linha dramática. Que noiva!.Lá se namora em boa companhia.... com efeito. "É ela!" (onde reponta um sentimento-declasse tão antipático nesse filho-família bem-educado). Não se pode haver inferno com Senhoras! -) se as analisarmos bem e levarmos a análise a outras peças.. Aí vem lazarenta e desdentada. "Namoro a cavalo". ou pelo menos corretivo aos intangíveis amores de outros poemas. o poeta s e exime deles. têm também a função de reforçá-los. veremos agitar sob o chiste correntes obscuras de desencanto e receio de amar. vejo a morte. No entanto. e teremos indícios confirmando. A timidez sexual leva-o a maneiras desenvoltas apenas com mulheres de condição inferior. de 182 que o Macário e as "Idéias Intimas" constituem a expressão mais significativa. cobre-a de rid ículo a fim de justificar a repulsa. O poema até certo ponto perverso. E devo então dormir com ela?. m . mais francamente jocoso. Marcando de grotesco os amores tangíveis... o burlesco de uns corresponde ao platonismo de outros. falam de amores não realizados. numa palavra. Uns e outros. ou outro.. os escrúpulos e negaças relativos à virgem idealizada. as não quer possuir. A sua obra exprime. a mesma disposição: em ambos as mulheres dormem. a posse da mulher adormecida é manifestação característica do medo de amar. Tinha na mão o ferro do engomado." ... . Como roncava maviosa e pura!. 1.. mostrando que são belos apenas os que se perdem de todo na esfera das coisas irrealizáveis. indicando. Solto o cabelo no suave leito. com a força ampliadora da arte. é evidente que. No vapor da ilusão por que te orvalha . sugerir nele qualquer incapacidade.12 Não desejo. " ? Pranto de amor as "" ." pálpebras divinas? E agora: E quando eu te contemplo adormecida. Os amores aparentemente tangíveis.. nos meus passos Ir espiar seu venturoso stno. Como lembra agudamente Mário de Andrade. nos poemas citados.. a . desvio ou anormalidade afetiva. Compare-se o sono da virgem ideal com o da plebéia: " Quando à noite no leito perfumado : """ * Lânguida fronte no sonhar reclinas. a indecisão sentimental se transforma em esquivança ante uma. . no fundo. a posse grosseira que reserva à "filha do povo". tanto quanto outra.. Embora Macário se declare "capaz de amar a mulher do povo como a filha da aristocracia". Quase caí na rua desmaiado! Há porém um traço comum que irmana os dois poemas. nem de leve. Vêla mais bela de Mor f eu nos braços! 183 #"^"W^jfT^^ffiWS"i Como dormia! que profundo sono!. Por que um suspiro tépido ressona E desmaia suavíssimo em teu peito? Esta noite eu ousei mais atrevido i Nas telhas que estalavam. em ambos o poeta as contempla e deixa em paz. servem para elevar mais alto o pedestal dos outros. 437-469. de outro. nas "repúblicas" desconfortáveis da cidadezinha provinciana. Sob este aspecto ele é o adolescente. parte. #do estudo clássico de Mário de Andrade. "Amor e Medo". De um lado.condição normal do adolescente burguês e sensível em nossa civilização. se nas poesias que exprimem a primeira pessoa do poeta ela não aparece. Encerremos esta discussão lembrando a importância. no tocante às conclusõ es a que chega sobre a abstenção sexual do poeta. Por isso. com efeito. que tem sido ao mesmo tempo fator dos mais graves desajustes individuais e estímulo para as mais altas sublimações da arte. fora da lei. mais acentuada ou prolongada nu ns do que noutros: a dificuldade inicial de conciliar a idéia de amor com a de posse física. herdeira direta da Marion. cálices de vinho. que ele afirma com fundamento na análise pslcanalítlca e me parece não apenas sem . anjo poluído. Divlrjo todavia do grande escritor. mas não necessariamente à prática Ao mesmo como função orgânica. como o leitor deve ter percebido. tochas e punhais. publicado primeiro na Revista Nova. Ano I. págs. depois no livro O Aleijadinho e Álvares de Azevedo.pálida. de Musset. completando o quadro das dissipações imaginárias que o ardente mocinho acendia à luz da vela. como os queria o espírito romântico. exprimindo um drama inerente à educação cristã e familiar. descritas no Macário com impiedoso realismo: "Têm (12) Esta discussão sobre o problema da contradição entre a atitude erótica e a renúncia ao ato sexual enquanto ato de amor. como se viu e verá. n. transfigurand o as pobres meretrizes de soldados e acadêmicos. pária. entre veludos. bela. é a possibilidade de pr azer sem remorso para o jovem mais ou menos inibido ante o amor da carne." 3. abunda na s que são escritas na terceira. é um ser marginal. na sua obra. portadora de um significado individual e social. do tema da prostituta . que aparece na própria visão da natureza. Bufarinheiras de infâmia dão em troca do gozo o veneno da sífilis. O seu estudo permanece todavia Intacto pela import&nda do ponto de vista e da discussão. Sentimos de repente a brusca necessidade de abrir Castro Alves e deixar entrar. ais de amor. em seguida. o sopro largo e viril dos instintos realizados. Antes amar uma lazarenta!" Mas. no sono ou na orgia. morno suor.Importância. uma lepra que ocultam num sorriso. como de certa forma à margem do problema. boca entreaberta. registrando a associação que ele faz freqüentemente entre amor. constituindo certamente o melhor e mate fecundo trabalho escrito até o presente sobre a psicologia dos românticos brasileiros. Onde vais pelas trevas impuras corn a espada sangrenta na mão? Se notarmos. Ampliemos a análise. a abundância corn que usa o verbo dormir para designar a posse. a começar pelo poema com este nome. do sólido ao vaporoso. do definido ao indefinido. de passagem do consciente ao inconsciente. a mulher aparece na sua obra com a força obsessiva que tem na adolescência. É. uma sensação geral de evanescência. por um torneio de lugares-comuns. elegendo os aspectos que correspondem simbolicamente . onde o seu drama pessoal se encarna no símbolo mais cruento e desesperado que a angústia carnal produziu no Romanti smo: Cavaleiro das armas escuras. virgem ou rameira. cabelos desfeitos. por toda a sua obra. sono e sonho.veremos que há um substrato remoto a que essas imagens se reduzem. na qual opera uma espécie de seleção. . olhos lânguidos. não falando da recorrência do sub stantivo gozo e do verbo gozar. seio palpitante. Acabamos francamente cansados com a saturação dos adjetivos e imagens que a descrevem. do concreto ao abstrato. nesta pesada atmosfera de desejo reprimido. mas dum modo equívoco. pois o amante ou a amante efetivamente dormem. ou o recurso a desmaio e desmaiar como expressão da plenitude amorosa. .. j.i Esta tendência para volatilizar e nebulizar a paisagem completa-se por outra.".#a estes estados do corpo e do espírito.... ^ -Vo cinéreo vapor o céu desbota ?" : ("Crepúsculo nas montanhas") . . e muito seu.como é o caso das névoas e vapores (os grifos são meus): . . . ("Pálida. . ("A Itália") 184 185 #. ("Na minha terra") Nas tardes vaporentas 86 perfuma. do desfalecimento amoroso. da ... . De aroma se inebria E o céu azul e o manto nebuloso Do céu da minha terra. de aproximá-la da vida pelo mesmo sistema de imagens: \ No vapor da ilusão porque te orvalha Pranto de amor as pálpebras divinas? \ ("Quando à noite. ":"/. à luz da lâmpada.. .("A Harmonia") ".?. E como orvalho que a manhã vapora.") E meus lábios orvalha d"esperança! " ("Lágrimas da vida") Morno suor me banha o peito langue ("Minha amante") Parece não haver dúvida de que se trata de uma correspondência do sentimento muito romântico. Pela encosta bravia Na laranjeira em flor toda orvalhosa. .") Entre nuvens de amor ela dormia.<. Quando o gênio da noite vaporosa í . ") "--"-" j Amoroso palor meu rosto inunda. em mais duma descrição dos seus heróis e de si mesmo. na praia tenebrosa. em prosa e verso. a devoção extrema pela noite. a treva romântica.."-*) " -. que s oube como ninguém povoar de cenas e visões fantásticas. : .. :". Era uma forma puríssima. insone. (como.. "Era uma defunta! Preguei-lhe mil beijos nos lábios. tendendo às imagens correspondentes de esvaimento ou inconsistên cia. contrastando com ela. Contrastando com esta palidez.. adormecida ou não.. névoas e vapores. .. do Macário. à luz da lâmpada sombria. sobretudo ao mar. Pálida. a noite ocupa na sua poesia. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário. des pi-lhe o véu e a capela como o noivo as despe à sua noiva. à visão lutuosa e desesperada do amor.languidez que esfuma a visão interior e exterior.-<-"-". A . irmanado freqüentemente à morte e algumas vezes à profanação. #("Idéias Intimas") 188 Freqüentemente associada ao vento. à noite no leito perfumado ou em que rola. É muito dele a imagem da donzela. no . Na Lira dos Vinte Anos a palavra mais freqüente é talvez "palor": a palidez que marca a passagem dos estados emotivos e é de certo modo uma consubstanciação dos suores. pobre leito meu.("A T. das vigílias em que contempla a amada adormecida. E sta recorrência corresponde ao sentimento noturno. desfeito ainda. Trevas d"A Noite na Taverna. Meus sonhos nunca tinham evocado uma estátua tão perfeita.. à lua.. um lugar principal. contrasta a da fronte com o negrume dos olhos e dos cabelos). molhada pelas ondas. nos episódios da sua ficção e dos seus poemas.. Infelizmente. . Situado não apenas cronologicamente entre ambos. grande número de suas peças manifestam o fluxo incontrolado que. aos movimentos turvos do eu profundo. tendo sido além disso estudante excepcionalmente aplicado. para o Romantismo. Pendeu o homem da morte macilenta . mui longo profanou-lhe um beijo! ": A noite significa não apenas enquadramento natural. e as três que mancham a sua fisionomia literária (O Poema do Frade. revelando indiscriminação artística.. desesperadas tentativas de . mas meio psicológico. #Lembremos a favor que ela é toda de publicação póstuma. tonalidade afetiva correspondente às disposições do poeta. inúteis. Dos poetas românticos foi quem deixou relativamente maior produção. O gozo foi fervoroso . em Castro Alves. Em Gonçalves Dias.em vil desejo < : . há nela uma pesada sobrecarga de verso e prosa vazios.. 187 #mas sobretudo O Conde Lopo e o O Livro de Fra Gondicário) são rascunhos juvenis que talvez não tencionasse divulgar. Na melhor parte da sua obra as palavras se ordenam com medida. pois é preciso considerar que a sua atividade não excedeu quatro ou cinco anos. A febre de escrever atirou-o atabalhoadament e sobre o papel. era o próprio sinal da inspiração.(O Poema do Frade) . que as palavras arrastam o espírito na sua força incontida.< . sentimos que o espírito pesa as palavras. porém. :y " < A cabeça no peito . Longo. (A Noite na Taverna) Era tão bela! a palidez sorria! E a forma feminil tão alvacenta No diáfano véu transparecia! . indicando que a emoção logrou realizar-se pelo encontro da expressão justa. como se as palavras viessem por demais imperiosas.cevei em perdição aquela vigília".luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. Alvares de Azevedo é um misto dos dois processos. à sua concepção da vida e do amor. E isto nos faz voltar à in fluência famosa. que são realmente. A influência de Byron é com efeito avassaladora nele. veremos como têm vigor. haurido nos neoclássicos e nos italianos renascentistas. pastichos. muito nossa. Voltaire) e um satanismo sem ênfase. é a mais fraca e artificial. citações. Hoffmann. muito pessoal e composto. com efeito. Sente-se nesta obra de mat uridade o uso soberano dos melhores recursos formais para a expressão sarcástica e apaixonada do homem moderno. se encararmos os seus poemas como contos metrificados. com o passar do tempo. A ela se misturam as de Shakespeare. tão referida e não devidamente estudada. Mas a loquacidade. O "Misterioso Bretão" era. como a sobrecarga das tintas. os portugueses. que o tornaram. colorido e o humor mais acerado que jamais entrou na boa poesia. embora coada em grande parte através de Musset. temas. tinha inegável autenticidade. o poeta d esacreditado dos nossos dias. de buscar a ex periência lírica essencial. técnicas. roçava arriscadamente pela oratória e o romanesc o barato. sobretudo quando vogava no cômico e na sátira. a que lhe deu fama e definiu a sua maneira própria se caracteriza pela tendência à digressão e à prodigalidade verbal. Demos de barato as narrativas romanescas e o próprio Childe Harold: ainda resta o Don Juan. influência perigosa. V ictor Hugo. nos dois sentidos: moral e literário. Mas justamente a parte estritamente byroniana da sua obra. Se na sua obra propriamente lírica existe não raro uma serena contensão. Boiardo). Por isso. o que há de melhor no espírito setecentista (Pope. se o lermos sem a preocupação. compreensíveis na pena de um rapaz de dezesseis ou dezessete anos. tomado entre as normas e a . O estilo que forjou. há pouco citada. correspondia ao seu gênio. epígrafes. manifestando-se em declarações. encontro milagroso entre a fantasia cômica e aventureira dos italianos quatrocentistas (Pulei."byronizar". concepção de vida. . onde o torn coloquial. com os seus condes e cavaleiros grotesc . suas pobres orgias à luz de lamparinas. porém. Alvares de Azevedo.aventura. experiment ou emoções como as que descreve. ao som da magra viola sertaneja. o Giaour. ampliado pela lenda. não criaram atmosfera para outra coisa senão o pasticho. regadas de cachaça. f oi bastante pueril nas três obras estritamente byronianas. Mas ainda hoje sentimos nos seus versos pelo menos aquele peso autobiográfico. foram igualmente amortecendo o significado c a influência da obra. Quando. incidentes. porém. A força com que magnetizou o século XIX provém dessa confusão algo impura entre os seus #livros e o rumor escandaloso da sua vida: foi um homem sensacional. buscados pe las obras tão marcadamente pessoais do Romantismo. com suas blasfêmias exteriores e retórica decorada. que a parasitava por assim dizer. Parisina. buscando espaço e experiência para se apaziguar: a leitura dos seus quase vinte mil versos é uma delíc ia poucas vezes interrompida. as férias na Corte. a aisance insinuante das digressões do modelo. viu o mundo e os homens. nas obras folhetinescas. no qual tomaram corpo tendências de rebelião próprias ao espírito romântico. . sobrecarregadas de paixão. os bailes provincianos. Por isso. a sua maestria no jogo de contrastes. a "república". A Noiva de Abidos. Lara. no círculo estreito da Academia. aquela intensidade de experiência. os jovens tentaram criar artificialmente um estilo de vida byroniano e copiar o torn dos seus livros. quando amorteceu o eco 188 da sua carreira agitada.mesmo nelas se manifesta a personalidade de quem viveu profundamente.O Corsário. o resultado foi quase sempre desastroso. crime. se tornam incoerência palavrosa e sem nexo. Os estudantes de São Paulo. Mesmo. No Conde Lopo surgem todos os piores e mais vulgares chavões românticos com tão pasmosa minúcia. irresistível fascínio. mistura de teatro. num artificialismo de adolescente escandecido. a evocação dos costumes. um mundo artificial e coerente. sem pé nem cabeça. as suas mulheres fatais. e como estrutura. a dúvida. narração dialogada e diário íntimo. o sarcasmo ganham densidade e nos atingem. Do diálogo encrespado entre Macário e Satã desprende-se uma Piratininga fanta smal e noturna. ao contrário dos bonecos que se agitam n"O Conde Lopo ou n"O Livro de Fra Gondicário. que quase chega a ser boa". no conjunto. mas desprendendo. sobretudo na primeira parte.os. onde fervia o devaneio cativo dos moços possuídos pelo "mal do século". É como se o autor tivesse conseguido elaborar. O mesmo não se dirá das narrativas que integram A Noite na Taverna. Em primeiro lugar. em atmosfera fechada. dando realidade às falas e atos do herói e seu companheiro infernal. inserida no seu quadro real. mas tão má. mo189 . onde as chapas lúgubres e a bravata juvenilmente perversa estão articuladas por não sei que intensidade emocional e por uma expressão tensa. as veredas da Serra de Paranapiacaba. Nesta linha. cujas regras aceitamos. a angústia. opulenta. #A couve das estalagens. como quadro. que ancoram na experiência do poeta as elocubrações que nas outras obras são mera atitude de imitação. a localização dos episódios balizam a imaginação e trazem o poeta à realidade vivida. o triunfo se encontra no irregular e estranho Macário. a presença de São Paulo.jogo estranho mas fascinante. um. A sua força provém talvez de duas circunstâncias. porém. dissolvendo o ridículo e a pose do satanismo provinciano. que se poderia aplicar a ele o que disse um crítico americano de outra obra: "é tão má. a. bem como a teoria erótica e a função que podemos. o Álvares de Azevedo sentimental. universal. este rebate. infeliz. como "Meu sonho". ateu.#vidos por inespertos cordéis sem ponto de apoio. estudioso e nacionalista. na Itália: a pátria da sua realidade e a pátria da sua fantasia. lembrando o convencionalismo da tendência e a ânsia de horizontes humanos. "Na minha terra". "Pálida à luz da lâmpada". Macário. No primeiro caso temos "Sple en e Charutos" e "Idéias Intimas". na sua obra. Penseroso.a parte da Lira dos Vinte Anos. na obra lírica. no segundo. Álvares de Azevedo-Penseroso censura Alvares de Azevedo-Macário por não se incorporar ao nacionalismo paisagista e indianista. É preciso agora sublinhar. A outra circunstância é o caráter de projeção do debate interior pelo desdobramento do poeta nos dois personagens de Macário e Penseroso . situado em São Paulo. supernac ionais. os momentos em que Álvares de AzevedoMacário se manifesta sem afetação e Álvares de Azevedo-Penseroso. como "No Mar". aquele. a materialização da sua vertigem interior. da 3. desregrado. debruça com Satã à janela da taverna para ver. Macário é o Álvares de Azevedo byroniano. Esta densidade de experiência se aprofunda ma is pelo fato do Macário constituir uma espécie de suma literária do nosso poeta. este. exprimindo o dilaceramento da adolescência. como "Teresa" e "A minha esteira". atribuir ao amor como fuga e aspir ação. "Anima mea". através da narrativa dos cinco moços. os que se chamariam momentos de maturidade deste adolescente. irreverente. "O lenço dela". condiciona a sua vida e a sua obra. sobrevivente. por contraste. segundo vimos. cada um representando um lado da "binômia" que. Penseroso morre. certos poemas da l. sem lamúrias.ambos ele próprio. Nele exprime a sua teoria estética e a função que atribuía à literatura. crente. "Lembrança de morrer". . das Poesias Div ersas. puro e melancólico. 19O Não estaremos longe de acertar apontando nesses "fragmentos" (como os chamou) a sua contribuição mais original. Mas se passarmos desta poesia de relação para o poeta entregue a si mesmo. encontraremos nas "Idéias Intimas" a melancolia. mas sem complacência. os retratos. tanto mais pungente em sua frustração quanto. a lâmpada. o desencanto. que consegue inscrever na duração o sinal permanente da própria imagem. os livros. pormenores.13 O humorismo se reúne aqui à delicadeza sentimental. Marca a folha do Faust um colarinho E Alfredo de Musset encobre às vezes . A cama. o companheiro das petas de Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa. hábitos. pela sedução com que nos arrasta ao mundo fechado do poeta. graciosa.As seis poesias da série "Spleen e Charutos" formam um conjunto excepcional em nossa literatura pela alegria saudável. Ali mistura-se o charuto havano Ao mesquinho cigarro e ao meu cachimbo. a roupa. os quadros. para a descrição poética da vida diária. o cognac. como "Solidão" e "A Lagartixa" . o observador engraçado e mordente das Cartas. Nelas aparece o rapaz por vezes endiabrado de que falam os contemporâneos.. podendo algumas ser consideradas pequenas obras-primas no gênero. que. revelando o cansaço da vida. o devaneio formam uma atmosfera peculiar que reflete e estim ula ao mesmo tempo o sonho interior. a insônia. contido pelo tédio e a ironia. que formam o ambiente de cada um. o pó. mórbida e triste.. Minha casa não tem menores névoas Que as deste céu d"inverno. Vivo fumando. transfigurando a constelaç ão de objetos. a dosagem exata do humor. cristalizada no quotidiano. Não haverá em nossa literatura peça equiparável. contidos pelo desprendimento de alguém #que se encara sem crueldade. o ritual do desejo solitário. nestes versos. se abrem para a "lembrança de morrer". -. tão extinta e fumarenta Como de um sonho o recordar incerto. . tudo é silêncio! Só o leito deserto. Shakespeare e Byron Na mesa confundidos.. Aqui levei sonhando noites belas. 459.O Dante.. E resta agora Aquela vaga sombra na parede . Tão vaga.:"----:. . .Fantasma de carvão e pó cerúleo. traz fogo e dois charutos E na mesa do estudo acende a lâmpada. . Eu me esquecia: Faz-se noite.De Guerreiro ou Velasco um texto obscuro. . Nelas o desejo e a timidez se equilibram. Imploro uma ilusão . . clt. Esqueci-as no fumo. #191 #Junto do leito os meus poetas dormem .. a sala muda! Meu pobre leito! eu amo-te contudo! . "Amor e Medo"....---... Não há como resistir à magia dessa viagem à roda do quarto e do próprio eu. a Bíblia. .. em que toda a alma se traduz na articulação do espaço material com os movimentos interiores. .. A este depurado Macário devemos dar por companheiro o admirável Penseroso das poesias que salientamos nas outras partes da Lira e nas Diversas. &s horas longas olvidei libando . pag... .. talvez o que fez de maior como poesia".. .. Ardentes gotas de licor dourado. L (13) ". : <--:. o devaneio abre asas com naturalidade... a natureza aparece como i . Mário de Andrade.. na leitura - Das páginas lascivas do romance. representada com subjetivismo e rara beleza: E que noite! que luar! Como a brisa a soluçar Se desmaiava de amor! Como toda evaporava Perfumes que respirava Nas laranjeiras em flor! . sob os versos citados. das praias desertas. e vivo de perfumes #No murmúrio das folhas da mangueira. minha face. num ritmo mais le&to"--". os hábitos de recreação duma classe. onde a vida quotidiana corria à vista das 192 árvores. a relva Onde o mole dormir a amor convida! ("Anima Mea") Este aspecto da sua poesia nos mostra como a literatura depende das impressões e do espaço físico e humano em que banha o escritor. na orientação da sensibilidade. e se transfundem nas imagens. ""natural". nem se pode deixar de s entir. o seu contacto com a natureza de um país ainda pouco citadino. dos campos. " Nas noites de luar aqui descanso E a lua enche de amor a minha esteira. """ ("A minha esteira") .nterpenetração do sentimento e da paisagem. na visão do mundo. nas situações. Respiro o vento. a largueza das chácaras e arrabaldes. concedei-me Que encham meu leito. ("No Mar") Arvoredos do vale! derramai-me Sobre o corpo estendido na indolência O têpido frescor e o doce aroma! E quando o vento vos tremer nos ramos E sacudir-vos as abertas flores Em chuva perfumada. elevando-se a linha pura do gorjeio sentimental. ."J":. de Álvares de Azevedo.:"" l. Nele. onde não ouvimos o desespero amargo.. ..... É o momento de Casimiro. ". ternura. é sublime! é divino! Que rer poetisá-lo fora querer talvez desfigurá-lo". -. é isto precisamente que lhe dá um caráter único e raro de mensagem total da adolescência. natureza e . A obra de Teixeira de Melo. o maior poeta dos modos menores que o nosso romantismo teve.K*.V. o belo propriamente dito". com que se acomodou o temperamento artístico eminentemente "doce e meigo" de Casimiro de Abreu. é mais do que poético. o lirismo é não apenas expressão da sensibilidade.Vai. selada pela morte e íntegra desde então na sua fecunda precariedade. Teixeira de Melo estabelece sem querer este novo modo. formando um maço de esboços..:í:".-.iü ". a grandiloqüência. como manifestações de personalidade adolescente.. O "BELO DOCE E MEIGO": CASIMIRO DE ABREU Há nessa geração um momento em que os modos maiores da poesia se esbatem. por onde entra a dimensão normal da vida brasileira. em contraposição ao que se concebera até aí: "Poetisei tudo o que Deus fizera poético e o ficou sendo de si. fácil e pla ngente. fragmentos. Como experiência human a. mas o amor materno.i. é o "belo doce e meigo. Saudade. Wiity"itttt. categoria inferior ao sublime.A poesia noturna e abafada desse copioso bebedor de cognac se completa por um sopro de natureza. fresco e reparador. erros e acertos. nem as hipertrofias do sublime. E assim vemos que. em cada rumo seguido na leitura desta obra. como expressão desligada de qualquer pretensão mais arrojada. a que não deve pretender. É com efeito nesta quadra que ela permaneceu. No prefácio às Sombras e Sonhos. os contrastes apar ecem. ilustra bem a privação do sublime. 193 #6.1* O poético constitui portanto. só se unificando se os considerarmos de um ponto de vista dramático. dar impressão de incomparável sinceridade.i Beijou-me . principalmente. levando a um fervoroso público feminino toda a gama permitida de variações em torno do enleio amoroso. A virgem. #Mas sem despertar.i Sombras e Sonhos. a terra dorme. negaceando habilmente as afoitezas sensuais por meio de imagens elegantes: Dormia e sonhava . . sempre transpõe no poema um sentimento imediato (uma dada planta. Por isso mesmo foi o predileto dos c estos de costura. tudo é tranqüilo. um lugar determinado. Extremamente romântico na fuga à abstração.. E como nas ânsias dum sonho que é lindo. para circunstância difícil de acomodar ao decoro dos recitatives de sala. baixando ao ouvido..a sonhar! ("Na rede") Noutro poema. sem a envergadura que assumem em Junqueira Freire. .. banhando-o naquela magia desde então ligad a ao seu nome. Alvares de Azevedo. Falei-lhe de amor! Ao hálito ardente o peito palpita. (14) 194 . VL Qual sopro da brisa. . Poesias de José Alexandre Teixeira de Melo.. na rede cor ando e sorrindo. ". à generalização.de manso cheguei*ms Sem leve rumor. comuns mas profundamente vividos. ou de serão familiar: Vem. uma certa hora do dia). encontra metáfora ainda mais hábil. . Pendi-me tremendo e qual fraco vagido. . nada supor no coração humano além de meia dúzia de sentimentos.desejo são modulados numa frauta singela. pfe. mesmo Bernardo Guimarães. e. Ser casimiriano é ser suave e elegíaco. nos quais não sentimos a tensão dolorosa das vigílias. como sistema de imagens correlatas à visão interior. quando criança. sobre a relva da campina. Em Gonçalves Dias. Na literatura romântica. é dos que mais objetivamente a reproduzem. Ô filha do sertão. sobre o meu peito! O moço triste.Bebe o sereno lírio do vaiado. manifesta-se em Casimiro pelos lados singelos e pitorescos. Sozinhos. onde se arma a rede paro o devaneio ou se vai namorar. ("Noivado") Estão longe a surda paixão carnal de Junqueira Freire ou os desejos irritados. onde 195 #se caça passarinho. macerados. Talvez devido às representações na maioria tangíveis dos seus amores. como quadro real da vida. embora bem disfarçada quase sempre. quando rapaz: O/i. o mundo exterior é mais ou menos criado pela imaginação. o negaceio de Casimiro é a velha es tratégia de conquistador sonso. Como deixa implícito Mário de Andrade no seu estudo essencial para a psicologia romântica ("Amor e Medo"). freqüente na lira portuguesa. em Álvares de Azevedo sobretudo. ele existe por si. do insone Alvares de Azevedo. mas enquanto se associa neste ao desejo de isolamento e aparece sob asp ectos majestosos. Nele. Que belo que será nosso noivado! Tu dormirás ao som dos meus cantares." quantas vezes a prendi nos braços! Que o diga e fale o laranjal florido! A sua visão exterior está condicionada estreitamente pelo universo do burguês brasileiro da época imperial.. o sonhador mancebo. pôde sublimar em lânguida ternura a sensualidade robusta. Certamente muito mais feliz na vida dos instintos. das chácaras e jardins que começavam . como em Bernardo. Desfolha rosas no teu casto leito. A sua é uma natureza de pomar. convidando o espírito a contemplar.. dos seus poemas essencialmente diurnos. é tão real o laço que os une aos detalhes da natureza física. E com isso triunfa a "cadência bocagiana" censurada por Junqueira Freire. Efe196 tivamente. prefere a estrofe regular. luar prateia.--. apesar de intensamente subjetiva.. :( . . . Casimiro desdenha o verso branco e o soneto. píncaros e horizontes sem fim do sertanejo Bernardo. às quais nos abandonamos sem fazer caso do sentido. Tremendo no galho Do velho carvalho.. Nas folhas do ingá. . vozes doces.:Brotam aromas do vergel florido ("Primaveras") -.. ./.. Claros riachos. a musicalidade da melodia fácil que Varela e Castro Alves levariam às últimas con . A este. ("No lar") O fato dessa natureza amaciada existir denota o caráter concreto da sua poesia... Os #seus versos buscam o ritmo mais cantante. s .. contrapõe o espaço predileto das serenatas e das merendas: Eu quero ouvir na laranjeira. cachoeiras altas. se alia à realidade de uma paisagem despojada de qualquer hipertrofia. . --. que. em benefício da atmosfera tênue dos tons menores./. mangueiras e regatos. v . ". . Quando amplia o âmbito da visão.< "-. Por isso. à tarde. corresponde amaneiramento paralelo da forma. contrapõe laranjeiras.". é ainda matizando de moderada beleza os aspectos ordinariamente exaltantes da paisagem: Perfumes da floresta..---(.. praticá-las com tão entranhada parcialidade.a marcar uma etapa entre o campo e a vida cada vez mais dominadora das cidades.. Cantar o sabiá! ("Meu lar") A gota de orvalho . mantido invariável quase sempre. ("Poesia e amor") t . digamos amaneiramento da matéria poética. que. sem todavia. às matas. transforma as suas peças em melopéias.Mansa lagoa que o (. - seqüências. É a anestesia da razão pelo feitiço da sensibilidade. que melhor transmite a cadência da inspiração "doce e meiga".! t Ondas tranqüilas que morreis na areia. rios. do mundo talvez! <.. Não quero. não posso. ..--. nele. por exemplo. e todavia mascarada por um jogo hábil de negaceies: ora a tristeza da posse inatingível... Nem a unção de Gonçalves Dias. pelo contrário. aumenta-o.-". ora a .". . . para fixar um dos aspectos do amor romântico.. Em 1859.i Depois indolente firmou-se em meu braço. mas a excitação dos sentidos.r."--!". /^ Fugimos das salas... Por isso.*. parece que já se ia descarregando a pesada atmosfera noturna. não devo contar! . Inda era mais bela Morrendo de amores em tal languidez! "..:/n A neve do colo e as ondas dos seios . Em "Amor e Medo"..v."---. ("Segredos") ^":.. a craveira dos sentimentos. . emprestam à sua obra uma beleza comovedora e singela.Que noite e que festa! e que lânguido rosto . rendida ao cansaço i.".l.". logo atenuado pela vocação elegíaca e o arrepio sensual." -::í"t . ou em "Vfinh"alma é triste": Minh"alma é triste como a rola aflita Que o bosque acorda desde o albor da aurora E em doce arrulho que o soluço imita O morto esposo gemedora chora.Assim. perdendo prestígio a estética de horrores desenvolvida no Brasil desde o decênio de 4O e culminante na obra de Álvares de Azevedo.. A tristeza. . . o senso dramático da vida reponta. Em Casimiro.H: .?. com seu grande talento poético.-. os aspectos correlates da natureza e a melodia poética a ambos ajustada.. (". . que nalguns poemas atinge a mais alta emoção lírica... . t"hf. contribui decisivamente. quando saíram as Primaveras.---/.". Banhado ao reflexo do branco luar! -. nem o desespero às vezes satânico de Junqueira Freire e Álvares de Azevedo.::. bastante viva para despertar e envolver a imaginação. ". como acontece nos temperamentos voluptuosos: ": . não impede o encantamento da carne. violeta! Tu és formosa e modesta. ora o falso pudor da posse protelada. " Este admirável poema . Uma aparente mediocridade afetiva que.. -. .violeta! . E.Eu quero o sol de teus olhos. a capacidade quas e virtuosística de elaborar #197 #imagens delicadas a fim de atenuar as conseqüências finais da "filie amorosa: Sempre teu lábio severo Me chama de borboleta! . poeta por muitos aspectos próximo dele .(..--. A borboleta travessa Vive de sol e de flores. Não serei mais borboleta. ficando duma parte um desalento de clorose sentimental - .. sendo principalmente social.. As outras são tão vaidosas! Embora vivas na sombra Amo-te mais do que os rosas.-.. . embora essencial.define por assim dizer a teoria burguesa do amor romântico. deve estar subentendido.". o contrário. Noutros poemas. em todo o caso. . em que tudo o que for positivo. da brutalidade das Contradições Poéticas ou a requintada perversidade da Noite na Taverna. Dá-me o teu mel . dissocia os dois aspectos cornplementares da sua melhor concepção amorosa. . com o maior brilho e delicadeza possível.. O néctar dos teus amores! „ Cativo do teu perfume ...ironia da posse disfarçada. apenas recobre o veio rico de uma sensualidade ávida por manifestarse..Se eu deixo as rosas do prado É só por ti .<-.onde encontramos um eco de Silva Alvarenga. o que for idealização da conduta. ("Violeta") -. dominando tudo. devendo ser expresso..Deixa eu dormir no teu seio. --. . e mesmo aí.. <i:ví Sobre o veludo reclinada a meio. . i Ai! se eu te visse. Madalena pura. ".. Nele.Como a flor indolente da campina Abre ao sol da paixão tua alma pura! Assim. abrindo-se em esplêndida idealização formal no plano do espírito. admiráveis zonas de sentimentalismo elegíac . porém. e o drama do espírito não mais sufocará a fruição das coisas. é tão raro quanto esta na sua obra. Apenas nalguns poemas do "Livro Negro" deu largas ao mal do século.a paixão aparecerá mais próxima à natureza. (em "Mocidade".o sol fulgura! . Eu.. Ergue a fronte pendida . que desde Catulo percorre o lirismo ocidental: Doce filha da lânguida tristeza. a tristeza aparece algumas vezes como privação do prazer amoroso. geralmente associado à inocência para definir Casimiro.. Depois dele . . a sua obra exprimiu principalmente uma nova vivência amorosa.Suplico ao céu a felicidade dela ("De joelho"") Ou a mãe que sofre pela filha de outro mais raro. por exemplo) reanimando o velho tema do convite à volúpia como desafio ao mal de viver. apesar de exprimir também a angústia. " . de joelho.Qual reza o irmão pelas irmãs queridas." <-. a ousadia direta do desejo: 198 . com as mãos erguidas. " "("Amor e Medo") #O desalento profundo. a proximidade do Romantismo noturno ainda propicia zonas mortiças. Os braços frouxos . " bela. : Olhos cerrados na volúpia doce.". e fremir de vez em quando ao desespero. um amor de carne.palpitante o seio!.na o bra de Castro Alves . há outro contraste. Insultos por cantar! Deitaram-me na taça o fel que amarga. no belíssimo e antinômico "Amor e Medo"). na ambigüidade poética. João de Lemos. Pelos sonhos o escárnio que apunhala. no entanto. o contraste romântico da poesia e da vida. penderam. dá lugar à admirável poesia casimiriana de ajustamento do intuito com as formas que o exprimem. Porque eu sei perdoar! ("O meu livro negro") . As garras da opressão. O conflito encontra saída. pela imagem literária ambígua. do sentimento de contrastes. (visível. e sua exigência imperiosa. que tenha sofrido principalmente a marca dos ultra-românticos portugueses. ficou escrito que os poetas da segunda geração romântica nutriam sua obra. é provável. obrigando. que arranca as notas mais plangentes da sua lira: o da vocação com a condição. Mas a raça dos vis campeia impune. à visão da pureza ideal. mas orientação estética parecida. por exemplo. E ao contacto do -mármore e do gelo A lira emudeceu. Inclusive a brandura com que refinava a tristeza e a elegância amena com que a exprimia. No início deste capítulo. Vergaram-me a cabeça ao despotismo. que ele parece ter vivido a ponto de criar um impasse nas relações com a famíli a: Cuspiram-me na fronte e na grinalda. opõe-se. diríamo s a uma rotação de atitude. 199 #Em segundo plano. em cujo ambiente viveu e com os quais revela não apenas afinida des espirituais. em primeiro plano. Extinguiu-se o vulcão! Por cada canto eu tive ofensas duras. Soares dos Passos e outros. o amor da carne. Influenciado por Lamartine e Victor Hugo. portanto. todavia. como vimos. que. Ao longo das Primaveras.o. flores. em grande parte. um imperativo da espécie a chocar-se com um imperativo ideológico do grupo e se resolvendo quase sempre. por causa dele é que . Tenta enganar-se pra curar as mágoas. o segundo. OS MENORES Os mais significativos dentre os poetas que formam o segundo plano no decênio de 185O foram estudantes de direito de São Paulo e Recife. não seria exagero repetir que foi. fantasmas na cabeça em fogo. é a ele que atribui a sua poesia. uma diminuição de fronteiras que reduz consideravelmente o universo da poesia. que pode ser representada por quem os encarnou mais depuradamente que ninguém: Casimiro de Abreu. " Analisando a dinãomica espiritual de Casimiro e os temas apontados mais alto em sua obra. que encarnam duas das t rês linhas básicas da nossa poesia romântica: nacionalismo #e meditação. Sabemos que o triunfo de uma corrente literária tem por cornpanheiro inseparável a banalização dos seus padrões: eles se arraigam e difundem. menos compacto. girando em órbitas mais ou menos afastadas à volta de Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo. noutros o drama apenas se infiltra. Sob este ponto de vista. realizou poesia acessível ao sentimento médio dos leitores e relativamente in teiriça na sua compenetração de matéria e forma. 2OO ?. este poema é em toda a sua obra o único momento de amargura violenta e rebeldia mais acentuada. humor e satanismo.Aliás. ao pref erir os temas relativamente mais comuns da psicologia humana e os aspectos mais familiares de paisagem. . dos ultra-romântícos brasileiros. por meio de uma forma perfei ta na sua limitação. o primeiro. muito acentuados neles. A melancolia e o sentimentalismo. Cria. drama interior. Por isso mesmo. tratando a uns e outros com menor amplitude. verifica-se que ela representa uma etapa de restrição do ecúmeno romântico. De qualquer modo. formam a terceira. talvez. ("Fragmento") " . ao exprimir os intuitos que animaram o seu estro. o único plenamente realizado. costumes regionais. revela significativo desajuste entre programa e vocação: conscientes dos intuitos construtivos de criação duma literatura. na medida em que. descrição da natureza. é a tent ativa de comover pelo exibicionismo. dando certo ar de familiaridade aos poetas secundários de Norte e Sul. selvagens. adquirem o curso fácil da moeda corrente. desleixo da métrica e da prosódia. Antônio Joaquim de Macedo Soares. poemas cujos temas eram respectivamente sentimentos pessoais. outra. ou apenas se esboçavam. Em quase todos registramos pieguice. a de esconder a deficiência técnica pelo truque fácil do verso cantante. reconhecendo a existência de "harmonias íntimas. o escravo. africanas e 2O1 #indianas". onde era a melhor cabeça crítica.com efeito. abuso dos metros martelados. perdendo a dificuldade e o mistério. psicológica. procurando classificá-los por ten dências. tornando a sua leitura um pesado e quase ininterrupto fastio. formal. temos por vezes a desagradável impressão de sermos vítimas de duas chantages: uma. organizou uma interessante antologia de poetas do Norte e do Sul. o alvo da nossa aventura . estabelecia verdadeiro balanço das que então predominavam. É o processo a que assistimos nesse decênio. estudante do terceiro ano da Academia de São Paulo. frouxidão do verso. históricas. na maioria estudantes. mas sobretudo da obra cornpleta dos seus autores. Lendo-os. que é. Há em quase todos uma espécie de hipertrofia dos defeitos já registrados nos da primeira plana. uso detestável de diminutivos. ambas são contraproducentes. o índio. segundo vimos.15 A análise dos poemas coligidos. sertanejas. isto é. Em gente desse naipe encontrariam os parnasianos um arsenal de defeitos para justificar a regeneração formal e o combate à indiscrição afetiva. Em 1859. Ao fazê-lo. sem a compensação do estro e do talento. automatismo de imagens. episódios da nossa história. loquacidade. melancolia.confidencias. Como o primeiro. apurar os que merecem referência. Paulo .descrição da natureza. que tanto ele quanto os outros sentiam o impulso na direção das "harmonias íntimas". as epopéias de Gonçalves Dias e Magalhães. A lista desses poetas secundários é grande.e. chegando por vezes ao torn de Bernardo Guimarães. Geralmente banal. a sua poesia não justifica absolutamente a posiçã o que ocupa. . . os jovens reputavam necessário o cultivo de assuntos diretamente ligados ao nacionalismo. A classificação d e Macedo Soares é não apenas levantamento da realidade. são nestes setores. usando moderadamente o novessíla . sendo que os mais entusiastas e ligados ao crítico timbraram em abordar to dos os temas. aquelas em que se sentem à vontade. Bruno Seabra. tornando-se difícil. mas convite a preencher escaninhos vazios ou mal providos. mormente o indianismo. . as outras revelam demais o intuito programático impedindo born resultado. embora de temperamento mais inclinado à melancolia e arte mais tosca. Trajano Galvão. porém. discursiva e por vezes pueril.romântica inicial. Nesta geração. em segundo lugar. na geral mediana que os caracteriza. e quase todos os jovens trouxeram contribuição a um ou outro. as capacidades poét icas se encasulavam realmente em torno do eu e suas exigências. descreveu a natureza. FranWin Dória. das "selvagens". Sousa Andrade. Penso ser pouco injusto mencionando Aureliano Lessa. muito em voga nos anos de 185O com o romance de Alencar. Bittencourt Sampaio. devaneio amoroso. como foi principalmente o caso de Bittencourt Sampaio. Lessa é algo diverso dos outros. Acontecia. e é devida com certeza a uma espécie de parasitismo em relação aos seus dois inseparáveis companheiros de vida acadêmica em S.Bernardo e Álvares de Azevedo. Teixeira de Melo. Almeida Braga. A leitura mostra claramente que as suas melhores realizações. em cujas Sertanejas são em tais ritmos 9 sobre 21 poemas. são 18 sobre 88. Que os astros da noite mais bela. a contagem revela 1O sobre 46. inclusive num poema onde se justifica por ser imitatíva deste fenômeno ("O eco"). nas Sombras e Sonhos. fez sonetos passáveis e poemas de metro curto onde há ressaib os de cançoneta #setecentísta. Mais bela. mais bela! Mais pura que a límpida fonte deitada Na cândida areia. Alguns. Cantos nacionais coligidos e publicados por Antônio Joaquim de Macedo Soares. como Trajano Galvã o. merecendo alusão o formoso "Ela". sem o menor senso de oportunidade. praticam o verso batido a torto e direito. onde se abre uma perspectiva de devaneio pela recorrência do comparativo: Mais bela que os silfos.quero . ou seja. mais pura que a brisa. Mais pura. mas emprega com muito maior freqüência a estrofe .de lábios risonhos. "Prefácio".bo e o endecassílabo. que um . pouco menos de um quarto. mais pura que a prece sagrada. pág. ou menos da sétima parte. X. 2O2 Muito pouco resiste do que deixou. Teixeira de Melo apresenta 7 sobre 52. no Enlevos. que em plácidos sonhos Vagueiam na mente juncada de amores De linda donzela. v Que a nuvem azulada que a aurora matiza. Nas Flores Silvestres de Bittencourt Sampaio. mais pura! Os outros poetas apresentam marcadamente as características gerais mencionadas acima. inteiramente abandonados a uma espécie de ouvido automático. Que baixo murmura -Nas folhas. Manifestando igualmente certo atavismo arcádico. de Franklin Dória. ou a quinta pa rte. brincando também com a rima de eco. (15) Harmonias Brasileiras. quase a metade. . Bittencourt Sampaio gostava de desarticular versos no interior da estrofe. mostrando como é nos secundários que os padrões de uma escola aparecem mais claros e por assim dizer imobilizados.Formosa " f" A garça mimosa * . lançando deste modo um elemento importante do que seria a quarta e última linha da poesia românt ica. gota do orvalho .*" -.----". -"-"-.isorrítmica de decassílabos sáficos...... alguns a indianista. Bruno Seabra...<. . Mais regular foi Teixeira de Melo. paradigma da inspiração e processos métricos correntes no tempo. superficiais e fáceis..* Da brisa a voar.. Ulteriormente. sob o nome de A divina epopéia.---. . 2O3 #Levada ("No Mar") :?{. comigo. Sousa Andrade e Trajano Galvão cantam o negro pela primeira vez. fi|. o lirismo social de Castro Alves. cheias de flores e pássaros: Vem. --it: . Naiade viva da legenda antiga. dando um serpear não raro agradável à cadência das suas peças líricas. Todos cultivam a musa patriótica. .--"--- #Vem sobre as ondas do mar: Não é tão ligeira.-iX-i-t . Bittencourt Sampaio.if. metrificou o Evangelho de São João em decassílabos. revelando tendências místicas. que sendo embora menos rígida e limitada revela igual abandono à facilid ade. ---:-.y Que a barca veleira. Deixa o seio do rio em que te encantas! Dá-me um riso d"amor. " Ví : Que em noites de verão desperta as plantiuw :""... ó doce amada. Vem às sombras dos pálidos vampiros . --". .) : l Algum. . . "O Povo". que à flor d"agua desce..(. Pelos campos da loira fantasia.A alma estremece nesta hora amena sequiosa por gozar.-.:.Sobre as asas em pó das borboletas! .. fundido no mesmo molde .. . . neste sentido.. calmo o vento. fria? --< A alma vagando. . como "O Charuto". ^r-iu" Não vês a natureza a sono solto -.-( ". este luar! . cuja peculiaridade apreende com a experiência de um amador compre2O4 ensivo da natureza.. o calor.. sonolento. -E em tudo. canoa no canal desliza Leve qual folha. como esmalte. de Bruno Seabra.. em "Vulto": Puro.. íi\. Alacridade e movimento da aurora em "O Sol Nascente". limpo e risonho o firmamento.. Nos braços do silêncio. #quando despertam as cores.. " . passando com amena superficialidade das moreninhas praianas aos hinos patrióticos e até uma peça democrática. \ . o trabalho.".. cuja obra a sua precede um pouco. Sobre os seios azuis das violetas! .. ( ./. cantor de cenas e emoções da sua ilha natal do Recôncavo baiano... . Ou como infante que na relva pisa. . equiparável." : .? " Estas estrofes iniciais de "Fantasia" (Sombras e Sonhos) mostram a sua melhor forma. verdadeiro pasticho do seu humorismo.""."---. -:.*. : . . . O que há nele de melhor é a fluida suavidade do verso Minha. .". i . Poeta fácil e bem mais primário foi Franklin Dória. "-"--< E arde E para não escapar à grande influência da geração.-. mostra nulgumas peças a marca direta de Álvares de Azevedo. Silencioso o vale. certo sentimento diferencial das horas do dia.-. estrela d"outros mundos. a "corn febre". < -.. imóvel. ..". serena e promissora tranqüilidade da noite. O oceano coalhado.(.!--.< .. Quando espairece ("Canção") ou. silfo talvez te espere em cuidas .. . ATão canga a vista de mirar tal cena: . sobretudo. um encanto gracioso que o aproxima de Casimiro de Abreu. que antecipa a inspiração política dos decênios seguintes.. Aquela mimosa flor? .-. .. Bruno Seabra é com certeza o mais modesto do grupo. beijos roubados. Aquela branca açucena. .. Que é da minha branca flor? ... para usar um símbolo de Michel Leiris: O que é da minha açucena." 2O5 #. .. E vai responde a morena: i .-.j?r Aquela prenda de amor? " E a desdenhosa...de "Spleen e Charutos". ..".."./. Inclusive sob o aspecto do simbolismo floral.. na maioria em fáceis setissílabos. livrinho sem importância que se menciona por constituir verdadeiro ponto de junção entre a poesia erudita e a inspiração do povo.."t4T ."i-.-".. de que se diferencia pela leveza e o born humor de quase todas as compasições. de homem afetivamente desflorado pela mulher-Dalila.-. brejeirice.. colocando-se o poeta numa estranha situação.eis o conteúdo das Flores e Frutos."-. já referido a propósito de Laurindo Rabelo .".."íí-SJJ"Ss5fiR"Wfis f i n Ninguém escute a morena. bem típica do masoquismo latente em muitos r omânticos.".-...":" " -"" .". v .. . Agora quem terá pena Deste amor órfão de amor? Dá-me a minha flor. onde esta representa o sentimento autêntico. morena. ." .-. promessas falazes. as nove estrofes de "Açucena". . sem pena. flores e mais flores. Aquela branca açucena! -. Deu-me as cinzas d"acucena.jV". -. f .". ."s V -" . em que produziu talvez a sua melhor poesia..-.."ÍAÍ! ) . Namoros..*hh*-r:.. . destruído pelo amor fácil das levianas. não raro de nítido corte autobiográfico.Ninguém lhe ceda uma flor.. a que dá largas..-""Vês como a onda é tranqüila. rir-se depois sem pena. toilettes. cava um leito e nele ofrece jazigo a quem se perdeu. responde". *" ". espuma e desce. "Pizzicato à surdina". E.. parecendo sofrer a influência moderadora de Gonçalves Dias." Sopra o vento. ("Cantiga") Em várias peças mostra-se inclinado a certo tipo de poesia "de ambiente". imitou de perto os processos de composição de Namouna: . : < " Que ela pede uma açucena -"""". "Cantiga em dó maior". . "Variações em lá menor". < De quem chora uma açucena. bem como a tentativa de criar uma atmosfera musical: "Entre flauta e piano".. " como recua -medrosa. Lopes). ("Ignoto Deo") "!". . : " f r . usado à maneira do colóquio familiar: "Foi. eu beijei". "Solfejos em fá sustenido". "Fui. a quem dedica o principal dos seus livros. resgatam-se alguns momentos de poesia agra dável e delicada: Como estrela de luz serena. deixando a praia arenosa. o conto em verso dará Verbena. Há nos Sonidos impregnação de certas experiências amorosas. Gentil Homem de Almeida Braga é menos fluente. muito prezada pelas gerações vindouras: descrição de salas. A despeito de certa prolixidade..... na maior e mais a mbiciosa das suas composições. por exemplo. com a magia das rimas nas mesmas palavras em todas as estrofes e a candura do verbo ir. nos vossos olhos pinta-se a candura. * É um poema encantador pela singeleza. o mar cintila. "E vai. " .---.".-"" sobe a vaga." " . (prenuncio de Luís Guimarães e B.. bailes.-" ". e pura ou flor. dos lábios vossos cai a luz divina. nos seios". /. que pende da vergôntea fina.Para matar um amor. onde à maneira de Alvares de Azevedo no Poema do Frade." ò luz risonha do céu? . alfaias.. faz uma série de quadros e sentenças em torno de dois personagens esfumados. Desconcertante é o final. trabalho. a "grande Antero" e seus companheiros.2O6 O mau ensino * . a que faz referência em várias estrofes do Canto in. Mas um dia virá. que " #me torna por vezes imperfeito. Há de o rei ser o povo. democracia. enormes no improbo trabalho corn que pretendeis pôr um céu na terra. O seu livro de estréia. o ferro do pacífico trabalho... desvendando quanto havia de atitude no poema e que terão feito estremecer de susto o céptico e byroniano Hassan. justiça. Harpas selvagens. rompe num hino ao progresso. . A causa se encontra provavelmente na impressão produzida sobre Almeida Braga pelo li rismo social da Escola Coimbra.. que ao cabo não existem. (D i Como o cantor de Eólia. onde. aquele Alfredo tão delicado e meigo e peregrino.. Sousa Andrade é por certo mais original do que os outros.... Não sendo melhor poeta. a guerra um mito. no túmulo das ficções. triunfante. ... após ter vagueado livremente o poema todo com a ironia cínica do mestre. mas nasceram do trabalho da imaginação em face de dois re tratos. tendo por símbolo a espada no granito! (IV) São doze sextílhas neste teor. vem marcado por um .. século gigante. de meu mestre Musset pôs-me o defeito. em que da chama do bater do malho apenas surgirá born. um velho barão e sua filha. confiante na ciência. (II) Levando às conseqüências finais a digressão gratuita do modelo. Outro fator de interesse é a importância que a viagem assume. Os poemas são datados de vários lugares do Brasil e da Europa. Estas revelam melhor o timbre de serenidade. Um dos motivos de interesse da sua obra está nesse ar de procura. desleixando os ritmos românticos e se realizando melhor no verso branco. aparece na ousadia de certas próclises. 2O7 #elemento de dignidade intelectual nem sempre encontrada nos seus manhosos contemporâneos. testemunha em todo o caso uma lídima inquietude. em lugar da mobilidade algo falaciosa dos ritmos. Os seus momentos mais felizes estão nalgumas redondilhas delicadas. revolucionárias para o tempo. a mobilidade espiritual de um drama. sem os cacoetes superficiais de métrica ou imagem. e desejo de dar nota pessoal. que. sugerindo que a mobilidade no espaço o ia revelando a si mesmo. Poesia tensa e carregad a de energia. ao variar o panorama do mun do e aguçar a reflexão: uma procura formal somada a uma procura dos lugares. Esses movimentos tecem a contextura da sua poesia. é apenas esboçado. como estímulo da emoção. não raro em poemas extensos. todavia. ao longo dos quais procura em vão a forma adequada. com um pendor para termos difíceis que roça o mau gosto. se não favor ece a plenitude artística. lançadas no declive da reflexão e da meditação. como em seus contemporâneos. já que a simplici dade fundamental da sua concepção não se coaduna com o rebuscamento colado sobre ela. Este. para ele. onde encontramos com prazer. nem sempre se distinguindo dos lemas banais do momento. o poeta recorre a certo preciosismo. Maior liberdade. ou em composições de vôo amplo. Para livrar-se deles. a pesquisa constante da sua poesia .Romantismo que se diria interior. como as d""O Rouxinol". exprimindo no fim a procura do próprio ser. geralmente do pior efeito. "recollections". Como campo murchou. e precedendo-os cronologicamente. #1. 3. Entretanto. NOVAS EXPERIÊNCIAS. O puro azul das águas florescidas. peg. suas idéias e linguagem têm outra estrutura".que não emerge em versos excepcionais. como assinala Sílvio Romero: "Uma coisa. ele se destaca entre os poetas menores pela inquietação e o esforço de traduzir algo original. nos difusos "Fragmentos do mar": . como este lampejo. manifestando-se antes numa bitola regular e freqüentemente prolixa. À margem. 4O6.. principalmente. num momento de universal facilidade. ao trabalho e exemplo de José de Alencar. logo reforçado em plano modesto por Bernardo Guimarães. 2. vol.a que se aparenta por casualidade. logra alguns momentos de felicidade. como a de certos poemas ingleses. 4. História da Literatura Brasileira. é preciso que se diga: o poeta sai quas e inteiramente fora da toada comum da poettzação do seu meio. NOVAS EXPERIÊNCIAS A partir de 186O a produção novelística se intensifica e amplia no Brasil graças. "intimations".16 (16) 2O8 Sílvio Romero. #Capítulo V O TRIUNFO DO ROMANCE 1. porém. no esforço contínuo para definir o eu e exprimir o significado correlato da natureza. UM CONTADOR DE CASOS: BERNARDO GUIMARÃES.. Retenhamos contudo a idéia que. o claro verde. U. fica o únic . destacados da superfície lisa dos poemas. MANtTBIi ANTÔNIO DE ALMEIDA: O ROMANCE EM MOTO OCWMHCO. . OS TRÊS ALENCARES. fase na qual se refinam e aprofundam os elementos novelísticos propostos na anterior.1 A ele coube retomar. a análise psicológica. . Abridor de caminhos. A sua lição foi importante. há contudo elementos novos que permitem caracterizar mais amplamente uma segunda etapa do romance romântico: o indianismo. "Que estranho sentir não despertava em meu coração adolescente a notícia dessas homenagens de admiração e respeito tributadas ao jovem autor da Moreninha! Qual régio diadema valia essa auréola de entusiasmo a c ingir o nome de um escritor?" . Além desse processo de depuração. como faria Machado de Assis em relação à sua. dando-lhe por assim dizer posição social e. 27 e 28. Entretanto Macedo já escrevera o essencial da sua obra antes do início da carreira de Alencar (1856) e da publicação das Memórias de um Sargento de Milícias (1852-1853). a vida burguesa do Rio de Janeiro. Às peripécias elementares de Teixeira e Sousa sucede a concatenação prodigiosa d"As Minas de Prata. (1) 211 José de Alencar. fecundar e superar a obra de Macedo. a urdidura muito mais firme de Tu ou O Tronco do Ipê. o regionalismo. São os principais romancistas dessa etapa. devendo juntar-se a eles o veterano Joaquim Manuel de Macedo. data em que saem o seu último livro e o último livro de Alencar (A Barones a do Amor e O Sertanejo). pouco mais fez que repisar os mesmos temas com os mesmos processos. que continua a produzir até 1876. como pano-de-fundo. não apenas física. foi ele quem conferiu prestígio à ficção. que prolonga a sua orientação na fase que vamos estudar . às complicações mecanizadas d"Os Dois Amores.escreve significativamente Alencar na sua autobiografia literária. Como f por que sou romancista. Há portanto uma presença de Macedo. e a glória rápida que alcançou em nosso meio pobre e acanhado serviu de estímulo à vocação dos moços. mas espiritual. em seguida. págs.o livro de Manuel Antônio de Almeida. Os românticos . como foi um elemento ideológico. Alencar. ele foi oportunidade para corrigir a falta crônica de imaginação em nossa literatura. O Garimpeiro. Inocência. preocupado em mostrar informação etnográfica. e que.tomaram a região como quadro natural e social em que se passavam atos e sentimentos sobre os quais incidia a atenção do ficcionista. não limitação. As dimensões fictícias em que foi situado o índio do Romantismo convidavam o escritor e o leitor a penetrar num mundo colorido. é desenvolvimento bastante diverso pelo espírito e as conseqüências. Taunay. assinalada em capítulo anterior. O Alencar mais espontâneo de Iracema. Valdomiro Silveira. a propósito de Alencar.e que. Távora . Monteiro Lobato. suscitando a magia de belíssimas combinaçõ es plásticas e melódicas. Sob esse ponto de vista o arbítrio do ficcionista foi instrumento favorável. embora dele provenha. Já o regionalismo post-romântico dos citados escritores tende a . e veremos daqui a páginas. Mesmo a inabilidade técnica ou a visão elementar de um batedor de estradas como Bernardo Guimarães não abafam esta humanidade da narrativa. Simões Lopes Neto. introduzido triunfalmente pelo Guarani. . a despeito de todo o pitoresco. É necessário todavia distinguir o regionalismo dos românticos do que veio mais tarde a ser designado por este nome. ficou assinalado como o indianismo funcionou à maneira de perspectiva exótica para redefinir velhos temas da literatura européia. O regionalismo foi a manifestação por excelência daquela pesquisa do país. são construídos em torno de um problema humano. os personagens existem independentemente das peculiaridades regionais. individual ou social. já vimos também.Bernardo. deformável quase à vontade.#A propósito de Gonçalves Dias. devida a tantos fatores pessoais e sociais. no campo específico do romance. Coelho Neto. é superior ao Alencar erudito de Ubirajara. Lembremos. É notório que livros como O Sertanejo. Lo urenço.a "literatura sertaneja" de Afonso Arinos. q ue. racionalizando alguns aspectos da nossa mestiçagem física e cultural e contribuindo para consolidar uma consciência nacional tocada pelo sentimento de inferioridade em face dos padrões europeus. . que ainda se apalpa e estremece a cada momento com as sur presas do próprio corpo. 212 O regionalismo dos românticos.2 Elas consistem principalmente em recusar o valor aparente do cornportamento e . foi e é um instrumento de descoberta. até pô-lo no mesmo pé que as árvores e os cavalos.o verdadeiro e fecundo . que segundo Lúcia MiguelPer eira. Não é à-toa que a "Literatura sertaneja" (bem #versada apesar de tudo por aqueles mestres). ao contrário. onde vemos a região condicionar a vida sem sobrepor-se aos seus problemas específicos. invadindo a sensibilidade do leitor mediano como praga nefasta. vindo. ramificar-se no moderno romance. deu lugar à pior subliteratura de que há notícia em nossa história. em benefício de um pitoresco que se estende também. através de Domingos Olímpio. no Brasil. Por isso o regionalismo . sobretudo no galho nordestino. tratando o hom em como peça da paisagem. uma das melhores direções de nossa evolução literária.que aparece nesta fase com Bernardo Guimarães. Entretanto. constituem o brasão de Machado de Assis e Raul Pompéia. as sendas poéticas do indianismo e a humanidade sincera mas superficial do regionalismo não eram elementos suficientes para a maturidade do nosso romance. uma reificação da sua substância espiritual. Enquanto nas literaturas evoluídas do Ocidente ele é quase sempre um subproduto sem maiores conseqüências (uma espécie de bairrismo literário). teve a importância que l he reconhecemos em capítulo anterior. à fala e ao gesto. para deleite estético do ho mem da cidade.anular o aspecto humano. Faltavam-lhe para isso aquelas "pesquisas psicológicas". envolvendo ambos no mesmo torn de exotismo. distinguindo a qualidade respectiva do homem e da paisagem. na sua linha-tronco. É uma verdadeira alienação do homem dentro da literatura. hoje revigorada pelo rádio. constitui. II. certos abismos sobre os quais a engenharia da vida de relação constrói as suas pontes frágeis e ques tionáveis. cap. ou os seus desvios mais freqüentes. de pensamentos sufocados. além da sociologia da vida urbana. Na medida em que atua deste modo. sob vários aspectos. Veremos daqui a páginas como a obra de Alencar é percorrida por frêmitos . e nos outros homens. a reconstituir as maneiras possíveis por que teriam variado. Na verdade ele foi. o romance tem para nós uma função insubstituível. Prosa ãe Ficção (de 187O a 192O). Uma literatura só pode ser considerada madura quando experimenta a vertigem dê tais abismos. superficial e pitoresco. auxiliando-nos a vislumbrar em nós mesmos. tendo encontrado em Alencar. experimentou-a intensamente Machado de Assis. na qual vai provocar o estremecimento de atos virtuais. não figura isolada e literàriamente sem genealogia no Brasil. #certa injustiça em atribuir-lhe a iniciativa das análises psicológicas. H á na pesquisa psicológica uma certa malícia e uma certa dor. encarando toda a ficção anterior como um conjunto ameno. porém. que levam o romancista a esquadrinhar a composição dos atos e pensamentos. dando-lhe por esta forma razão de ser num plano supranacional. #psicológicas muito acentuadas no sentido da pesquisa profunda. levando-os muitas vezes a conseqüências inaceitáveis p ara a visão normal.das idéias. sugestões (2) 413 Lúcia Miguel-Pereira. em não aceitá-los segunda a norma que lhes traçam o costume. de toda uma fermentação obscura e vagamente pressentid a. contínuador genial. Na brasileira. Há. Esta experimentação com o personagem é que o torna tão vivo e próximo da nossa vida profunda. mas sobretudo Lúcida." l ".. através da história de uma alma de adolescente.N< 2. n"O Seminarista. Não tenho dúvida que. Senhora. (3) Araripe Junior.< .)". que destoam da imagem vulgarmente aceita do escritor para moças e rapazinhos. e um senso nada vulgar dos seus refolhos obscur os. Veremos no tosco narrador de histórias que foi Bernardo Guimarães repontarem certas ousadias pré-naturalistas na descrição do temperamento de suas heroínas e.! :---".3 Há em Al encar não apenas um leitor de Chateaubriand. pelo menos esforço comovedor de análise dum caso moral. revolvendo problemas sociais e psíquicos com o poderoso instrumento analítico do diálogo. Mas não é apenas com Alencar que esta fase manifesta pressentimentos de aventura maior. : . O que é menos extranho do que se poderia supor. mal amainada pelo sedativo da vida familiar. José de Alencar.: " -/. inc lusive. há finalmente.-i {"A"-::"". MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA: O ROMANCE EM MOTO CONTINUO . e Araripe Júnior não soube explicá-las senão encaixando-as pejorativamente numa enfermaria."1."".... pois afinal de contas trata-se do autor satânic o d""A orgia dos duendes". 84-89. senão análise conveniente. ií .n "f . ainda sob este aspecto. há uma sensibilidade eriçada e doentia. Machado de Assis aprendeu com o admirado confrade e amigo. nem foi por acaso que o Conselheiro Lafayette qualificou Lúcia e Diva de "monstrengos morais". -. demonstram agudo senso da complexidade humana. um homem de teatro. Por isso Lucíola apresenta certas componentes de pesquisa séria da alma humana. que s e dobrou sobre a ação dramática.-""""i . " vi .!."" 3 ".:":.inesperados. Lamartine e Walter Scott. 214 M . paga. mas um apaixonado balzaquiano que se tem menosprezado. #ou a poesia em prosa de Iracema. sobretudo. o extremismo poético e o extremismo fantástico se digerem mais facilmente. o poético. que nem o seu ponderado realismo. porém. numa época de exaltação sentimental e voca ção retórica. as que já ao seu tempo menos comumente se associavam à escola. o pitoresco. sem qualquer intuito mais profundo de análise. no fundo. o humorístico.onde um Dostoiewski. nem maus. porém. De fato. o quotidiano. A equivalência do bem e do mal pode ser postulada em dois níveis principais: o das camadas subjacentes do ser. nem o satanismo d"A noite na taverna. ficando assim meio à parte. costumamos ver nele um fenômeno de preflorescência do realismo. Não se havia de digerir. rompendo a tensão romântica entre o Bem e o Mal por um nivelamento divertido dos atos e caracteres. a surpreendente imparcialidade com que trata os personagens. atém-se à vida de relação: espreita palavras e atos. Mas como exprime. ou um Machado de Assis vão pesquisar a semente . as diversas tendências da ficção romântica para o fantástico. Num conjunto de livros que exprimem. embora estimassem em Manuel Antônio o homem e o jornalista. no seu livro de costumes urbanos. parecem não ter prezado igualmente o seu livro. se afastam ou se opõem à corrente romântica: apenas decantam alguns dos seus aspectos. uns valem os outros: nem bons. Isto. comparando-os com outros atos e palavras e deixa ver ao leitor que. como as Memórias de um sargento de milícias. de modo mais ou menos simultâneo. ou a dinãomica do espírito. vsem a amargura que os naturalista s denotarão em seguida. do que a demonstração de cabeça fria em que ele timbrou.Há no romantismo certas obras de ficção que se poderiam chamar excêntricas em relação à corrente formada pelas outras. meio em desacordo com os padrões e o torn do momento. elas encarnam de modo quase exclusivo uma ou outra dentre elas. Pouco atraído pela pesquisa das raízes do comportamen to. dentre as tendências românticas. Consideremos. . Tanto assim que os contemporâneos. Gil Braz e Roderick Random viajam. mostrando ironicamente que dentro do próprio quarto. na verdade. Nesta posição se entronca o romance picaresco. Tudo combina. a isso nos obriga".e o da vida de relação. da qual pretendemos esboçar uma parte dos costumes. condenamo-nos desde logo à repetição. cortou por assim dizer o fio da tendência picaresca. a visão mais rica sendo não raro a que se demora em profundidade. limitando-lhe a profundidade a fim de estendê-la e englobar o maior número possível de aspecto s da vida. . em período exíguo de tempo. um só homem podia viver um turbilhão d .um ciúme. entram em contacto com todas as classes. enriquecendo deste modo. em sua obra. descobrindo as ligações inesperadas de uma ordem limitada de fatos . em literatura. estudado por meio da ironia ou o desencantado cinismo dos que não visam o SIS" #fundo dos problemas.a variação no espaço é de importância secundária. e com ele Manuel Antônio de Almeida. um francês. a visão do homem. circunstâncias à peregrinação do herói. acessível à observação superficial e geralmente. por exemplo. e ele próprio o diz: "É infelicidade para nós que escrevemos estas linhas estar caindo na monotonia de repetir quase sempre as mesma cenas com ligeiras variantes: a fidelidade porém com que aco mpanhamos a época. Para compensar essa defasagem entre o humano e o detalhe pitoresco. mudam de ofício. para firmá-lo nesta posição. Xavier de Maistre. os picarescos espanhóis e seus discípulos franceses e ingleses investiam vigorosamente pelo espaço físico e social.das ações. ou o fracasso de um amor . pela riqueza dos aspectos que se suce dem. com efeito. anexando cenas. A entrada do século XIX. se detivermos a nossa visão na superfície dos fatos. A afirmação é paradoxal apenas na aparência porque. cotumes. no espaço. a felicidade é estática por vocação. nem era Manuel Antônio. mas nada é irremediável. só depois de Machado haveria um refina mento suficiente do estilo e da penetração literária. Limitou-se. os pares se unem e separam. O nosso Manuel Antônio estava colocado. tempo e assunto. E quando o mestre de dança acha que todos . coroinha. com núcleos de população esparsos e isolados. acentuando que "o livro acaba quando o inútil da felicidade principia". Por outro lado. homem de microscópio e escalpelo. nada mais lhe restava: tinha sido moleque. com algumas excursões da pena. A sociedade que deparava era pouco complexa. tanto geográfico quanto social: ficou no Rio do primeiro quartel do século XIX no ambiente popular de barbeiros e comadres. estava feito o levan216 tamento do ambiente e fechado o ciclo possível para as aventuras de Leonardo: depois das traquinagens. pelas próprias condições de evolução literária da sua terra. e a lei principal das Memórias é o movimento. numa posição intermediária.bizarra e alegre sarabanda em que os grupos vão e vêm. nas duas vezes que aparece. A impressão que nos deixa é de sarabanda . A lite ratura ainda não havia. apesar de médico. que permitisse descobrir o mundo no próprio quarto. do Sul e do Oeste: a sua geografia não conhecia mais que a pequena mancha fluminense de Teixeira e Sousa e Macedo. as combinações são por vezes extranhas. Que lhe restava. o país pouco conhecido. em que #se ia diferenciando a nossa vaga burguesia. soldado. é oportuna e discreta.4 corn efeito. servi çal do Rei. se atirado à conquista do Norte. dos feiticeiros. e fora da qual só restava a massa de escravos e o reduzido punhado de recentes cortesãos. das "súcias" e das visitas. dos padres bilontras. sobre o gênero multiforme e triunfante do romance. Era a desforra das unidades moribundas de lugar. pois. A própria morte.e peripécias e enriquecer a sua duração psicológica. com Alencar e Bernardo. de fato? A "felicidade cinzenta e neutra" de que fala Mário de Andrade. das festas religiosas. Manuel Antônio é pois um romancista consciente não apenas das próprias intenções como (daí a sua categoria literária) dos meios necessários para realizá-las. pág. fl at characters. recomece da capo: "Daqui em diante aparece o reverso da medalha.rasos psicologicamente. sempre igual.5 Até quase a metade. a função: o "compadre". Maria. os personagens são como diria E. o "toma-largura". envolvendo-os. Forster. as duas "velhas". em Manuel Antônio de Almeida. M. portanto. Seguiu-se a morte de D. os acontecimentos passam. desprovidos de surpresas. cujo anonimato resulta da circunstância de personalizarem certos costumes e só se v . a do Leonardo Pataca. Memórias üe um sargento de milícias. . corre no livro uma cortina de reticênc ias antes que a vida.a começar pelo compadre e pela comadre aparecem nas Memórias sem um nome próprio.que através de todo o livro não conhecemos doutra forma. o "tenente-coronel". Ao contrário de um Teixeira e Sousa ou de um Joaquim Manuel de Macedo. e. O romance de costumes tende para a norma. e eles permanecem idênticos. que não precisam sequer de uma pincelada após a primeira caracterização. (5) "Algumas personagens. antes para a caracterização de tipos do que para a revelação de pessoas. substituindo a própria indicação do nome pela do lugar que têm no grupo. Assim são também os das Memórias. a "cigana". o "Mestre de Cerimônias". fazendo aqui ponto final". .já deram de si o que lhes caberia dar sem prejuízo da coreografia. não procura violar os limites do romance de costumes pela inclusão do patético ou do excepcional. mais social do que psicológica. a profissão. a "comadre". avaliados pelo autor de uma vez por todas desde os primeiros golpes de vista. Tanto que o autor procura dissolvê-los numa categoria geral. que os individualize. e uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores. Leonardo (4) Mário de Andrade. os "primos". "Introdução". o "fidalgo" #. 15. São personagens típicas. alorizarem como tais." (Astroglldo Pereira, "Romancistas da cidade: Macedo, Manuel Antônio e Lima Barreto", BdB (IV), Ano IV, n." 35, pág. 35. 217 #é apenas "o menino": e uma vez definido pelo romancista aos quatro j anos de idade, permanece tal e qual até a última página: travesso, " esperto, malcriado, simpático, ágil. O tempo não atua sobre os tipos ;| fixos desse romance horiz ontal, onde o que importa é o acontecimento, ? mais que o protagonista. Diferente do simples romance de aventuras, J o acontecimento importa aqui, todavia, na medida em que revela certas formas de convivência e certas alterações na posição da s pessoas, umas em relação às outras. As desventuras do Mestre de Cerimônias, por exemplo, não interessam como sucesso pitoresco, nem revelação duma personalidade, mas como ilustração dos costumes clericais da época. No fundo, qualquer outro padr e serviria, pois o que Manuel Antônio pesquisa é a norma, não a singularidade; os seus personagens-tipos são mais sociais do que psicológicos, definindo mais um modo de existir do que de ser. Ô que no Esaú e Jacó é essencial, a saber, a duração inte rior, o conflito moral, é aqui acessório, para não dizer inexistente; o essencial daqui, em cornpensação é o acessório de lá: usos, costumes, episódios. Daí a composição do livro estar subordinada à lógica do acontecimento que por sua vez obedece ao movimento mais amplo do panorama social. No fundo do romance, se encontra esta condição, de ordem por assim dizer sociológica. Manuel Antônio deseja conta r de que maneira se vivia no Rio popularesco de Dom João VI: as famílias mal organizadas, os vadios, as procissões, as festas, as danças, a polícia, o mecanismo dos empenhos, influências, compadrios, punições, que determinavam uma certa forma de convi vência e se manifestavam por certos tipos de comportamento. Como é artista, vê, não o fenômeno, mas a sua manifestação, o fato: vê as situações em que aquelas condições se exprimem e apresenta uma coleção de cenas e acontecimentos. O livro aparece, po is, como seqüência de situações, cuja precária unidade é garantida pela pessoa de Leonardo, verdadeiro pretexto, como nos romances picarescos. Essas situações, esses blocos de acontecimentos, se justapõem de certo modo e, salvo o tênue fio dos amores de Leonardo e Luizinha, não há entre eles precedência cronológica necessária. É que o tempo é quase inexistente na composição: aparece como dimensão inevitável de toda série de fatos, mas não como elemento conscientemente utilizado. Quando Leonardo su rje, granadeiro, no piquenique da ex-amante, não nos furtamos à necessidade de voltar atrás algumas páginas para procurar sentir o espaço mínimo de tempo, necessário à mudança na situação amorosa de Vidinha. O tomalargura, em página e meia, foi prete xto para passar de #uma a outra situação narrativa, e o nosso espírito ressente a ausência de maturação nos acontecimentos. O movimento, a agitação incessante do livro pressupõem o tempo, mas não se inserem devidamente nele. 218 O movimento de sarabanda é, aliás, tão vivo, e constitui de tal forma o nervo da composição, que as pessoas, nele, valem na medida em que se agitam; fora de cena, desaparecem. A magia da ausência, a presença latente que amplia a atmosfera de certos ro mances, dificilmente se coaduna com o de costumes e muito menos com as Memórias. Fora da ação, ninguém existe, e Manuel Antônio manobra o seu elenco estritamente em função das necessidades do conjunto, daqueles blocos de narrativa acima referidos. " Os leitores terão talvez estranhado" - diz a certa altura referindo-se ao sacristão, amigo de Leonardo - "que em tudo quanto se tem passado (...) não tenhamos falado nesta última personagem; temo-lo feito de propósito, para dar assim a entender que em nada disso tem ele tomado parte alguma". Os figurantes interessam, pois, na medida em que contribuem para o acontecimento, não como unidades autônomas. É o contrário do que sucede em Machado de Assis - onde os acontecimentos só importam na medida em que contribuem para acentuar a singularidade do personagem. O método literário de Manuel Antônio implica uma subordinação deste, - que o autor vira daqui, vira dali, revira adiante, torna a virar, pela razão de que cada virada, cada nova posição, acar reta nova situação da narrativa em geral. O personagem necessita, pois, mudar de posição a cada passo, a fim de que o movimento não cesse. Por isso, Leonardo tem uma sina, proclamada pela madrinha e aceita pelo autor: "para ele, não havia fortuna que não se transformasse em desdita, e desdita de que lhe não resultasse fortuna". Entre a desdita e a fortuna, como bola de tênis, vai permitindo ao autor variar o ponto de vista e descrever novos tipos, novas cenas, novos costumes, com a sua "liberdade de contador de histórias". Admirável contador de histórias, com uma prosa direta e simples, nua como a visão desencantada e imparcial que tinha da vida. Por isso mesmo, interessava-se pelo geral, comum a um grupo. Os homens são todos mais ou menos os mesmos; portanto, os seus costumes exprimiriam sem dúvida uma constância maior, seriam menos fugazes do que os matizes individuais. Manuel Antônio é, por excelência, em nossa literatura romântica, o romancista de costumes. Seu livro, o mais rico em informações seguras, o que m ais objetivamente se embebeu numa dada #realidade social. É quase incrível que, em 1851, um carioca de vinte anos conseguisse estrangular a retórica embriagadora, a distorção psicológica, o culto do sensacional, a fim de exprimir uma visão direta da sociedade de sua terra, E por tê-lo feit o, com tanto senso dos limites e possibilidades da sua arte, pressagiou entre nós o fenômeno de consciência literária que foi Machado de Assis, realizando a obra mais discretamente máscula da ficção romântica. 219 #3. OS TRÊS ALENCARES O desejo de escrever romances veio por duas etapas a José de Alencar. Aos quinze anos, em São Paulo, ainda estudante de preparatórios, lendo Chateaubriand, Dumas, Vigny, Hugo, Balzac, imagina um livro que fosse, como os dos franceses, um "poema da vid a real". Ao dezoito, viajando pelo Ceará e observando as suas paisagens, sente o impulso de cantar a terra natal - "uma coisa vaga e indecisa, que devia parecer-se com o primeiro broto do Guarani ou de Iracema". Scott, Cooper e Marryat seduzem-no ent ão cornpletamente, arrastando-o para a linha da peripécia e da fuga ao quotidiano, que procura, durante quatro anos de esforço, exprimir n"Os Contrabandistas, inacabado e infelizmente perdido.6 A estréia se dá aos vinte e sete com Cinco Minutos, série de folhetins do Correio Mercantil em que esboça o primeiro dos "poemas da vida real". O Guarani, publicado no mesmo jornal à medida que ia sendo escrito, em três rápidos meses de 1857, é um la rgo sorvo de fantasia que realiza talvez com maior eficiência a literatura nacional, americana, que a opinião literária não cessava de pedir e Gonçalves de Magalhães tentara n"A Confederação dos Tamoios. Toda a sua obra, por vinte anos, será variação e enriquecimento destas duas posições iniciais: a complication sentimentale, tênuemente esboçada em Cinco Minutos e A Viuvinha, e a idealização heróica d"O Guarani. De 1857 (o ano mais fecundo de sua vida) a 186O, ocupa-se com a teatro, voltando ao romance apenas em 62, com Lucíola, onde se nota a marca da experiência teatral na firmeza do diálogo, o senso das situações reais e o gosto pelo conflito psicológico , que fazem deste um dos três ou quatro livros realmente excelentes que escreveu. Diva, de 63, pouco, ou nada vale, mas As Minas de Prata, começado ao tempo d"O Guarani e escrito na maior parte de 64 a 65, denota capacidade de fabulação e segurança na rrativa que até hoje nos prendem. Contrastando as suas linhas puras e delicadas com esse vasto andaime, Iracema, em 65, brota, no limite da poesia, como o exemplar mais perfeito da prosa romântica de ficção realizando por assim dizer o ideal tão ac ariciado de integrar a expressão (6) José da Alencar, Como e por que sou romancista, clt. págs. 31, 35-37, 38-41. 22O literária numa ordem mais plena de evocação plástica e musical. Música figurativa, #ao gosto do tempo e do meio. A partir de 187O, estimulado por um contrato com a Livraria Garnier, publica em seis anos doze romances e um drama, sem contar os que deixou inacabados. O décimo terceiro, Encarnação, escrito no ano em que morreu, 1877, foi publicado mais tarde. Terá sido nessa fase que imaginou dar à sua obra um sentido de levantamento do Brasil, como deixa indicado no prefácio de Sonhos d"Ouro. O fato é que cultiva então o regionalismo - descrição típica da vida e do homem nas regiões afastadas - com O Gaúcho (187O), continuando-o n"O Sertanejo (1876). A pata da gazela (187O), Sonhos d" Ouro (1872) e Senhora (1875) são romances da burguesia carioca, ao primeiro dos quais, estudo curioso de fetichismo sexual, faltou músculo para ser um born livro; o último, apesar de desigual, é excelente estudo psicológico. A guerra dos Mascates, (187O) é um romance histórico cheio de alusões à política do Império, muito mais cuidado documentàriamente, muito mais "arranjado" como composição que As Minas de Prata; mas n ão tem a sua inspiração e vigor narrativo. O Garatuja, O Ermitão da Glória e Alma de Lázaro (1873), formam no conjunto os Alfarrábios, baseados em tradições do Rio, valendo o primeiro por um certo humorismo. O tronco do Ipê e Til (1872) inauguram o ro mance fazendeiro, a descrição da vida rural já marcada pelas influências urbanas. Em Ubirajara (1874) tenta de novo o indianismo, desta vez na fase anterior ao contacto do branco e requintes mais eruditos de reconstituição etnográfica, talvez para res ponder às críticas de Franklin Távora, o Semprônio das Cartas a Cincinato. Desses vinte e um romances, nenhum é péssimo, todos merecem leitura e, na maioria, permanecem vivos, apesar da mudança dos padrões de gosto a partir do Naturalismo. Dentre eles, três podem ser relidos à vontade e o seu valor tenderá certamente a cresc er para o leitor, à medida que a crítica souber assinalar a sua força criadora: Lucíola, Iracema e Senhora. Há outros que constituem uma boa segunda linha, como O Guarani. Mais do que isto é difícil dizer, porque a variedade da obra de Alencar é de na tureza a dificultar a comparação dos livros uns com os outros. Basta com efeito atentar para a sua glória junto aos leitores - certamente a mais sólida de nossa literatura - para nos certificarmos de que há, pelo menos, dois Alencares em que se desd obrou nesses noventa anos de admiração: o Alencar dos rapazes, heróico, altissonante; o Alencar das mocinhas, gracioso, às vezes pelintra, outras, quase trágico. #Sob o primeiro aspecto a sua obra significa, em nosso Romantismo, o advento do herói, que a poesia não pudera criar na epopéia neoclássica, ou no próprio Gonçalves Dias. Peri, Ubirajara, 221 #Estácio Correia, (As Minas de Prata) Manuel Canho (O Gaúcho) Arnaldo Louredo (O Sertanejo) brotam como respostas ao desejo ideal de heroísmo e pureza a que se apegava, a fim de poder acreditar em si mesma, uma sociedade mal ajustada, em presa a lutas recentes de crescimento político. No meio de tanta revolução sangrenta (cada uma das quais, depois de sufocada, ficava como marco de uma liberdade perdida, de uma utopia cada vez mais remota); em meio à penosa realidade da escravidão e da vida diária - surgia a visão dos seus imaculados Parsifais, puros, inteiriços, imobilizados pelo sonho em meio à mobilidade da vida e das coisas. E por corresponderem a profunda necessidade de sonho os seus livros ficaram, para sempre, no gosto do público. Se Ál vares de Azevedo exprime o aspecto dramático, dilacerado, da adolescência, esta parte da obra de Alencar exprime a sua vocação para a fuga do real. Nos romances heróicos - O Sertanejo, O Gaúcho, Ubirajara, As Minas de Prata, sobretudo O Guarani - a vi da aparece subordinada à manifestação de personalidades inteiriças. A vida corrente, a das Memórias de um sargento de Milícias, obriga o personagem a dobrar, amoldar-se, recuar; a sofrer o medo, os maus desejos; a praticar atos dúbios ou degradantes; obriga-o a tudo a que estamos obrigados. Mas a vida no romance heróico é aparada, aplainada, a fim de que o herói caminhe numa apoteose sem fim. Os monstros, os vilões, os perigos, são parte do jogo e apenas aparentemente o constrangem; na verdade, a luta é combinada como em certos tablados de box, e o herói não pode deixar de vencer; mesmo se o triunfo final não lhe pertence, pode sempre dizer, como Aramis a D"Artagnan: "Os homens como nós só morrem saciados de glória e júbilo". A vida, artistica mente recortada pelo romancista, sujeita-se documente a um padrão ideal e absoluto de grandeza épica, pois no mundo falaz do adolescente, onde tudo é possível, a lógica decorre de princípios soberanamente arbitrários. Se aceitarmos de início o caráter excepcional de Arnaldo Loureiro, não oporemos nenhuma objeção ao vê-lo dormir na copa da mais alta árvore da mata, com uma onça no galho inferior; tampouco, pelo mesmo motivo, à descida de Peri no precipício, â busca do escrínio de Cecília. Uma vez embalado, o sonho voa célere sem dar satisfações à vida, a que se prende pelo fio tênue, embora necessário, da verossimilhança literária. Esta força de Alencar - o único escritor de nossa literatura a criar um mito heróico, o de Peri - tornou-o suspeito ao gosto do nosso século. Não será de fato escritor para a cabeceira, nem para absorver uma vocação de leitor; #mas não aceitar este seu lado épico, não ter vibrado com ele, é prova de imaginação pedestre ou ressecamento de tudo o que em nós, mesmo adultos, permanece verde e flexível. 222 Assim como Walter Scott fascinou a imaginação da Europa com os seus castelos e cavaleiros, Alencar fixou um dos mais caros modelos da sensibilidade brasileira: o do índio ideal, elaborado por Gonçalves Dias, mas lançado por ele na própria vida quotid iana. As Iracemas, Jacis, Ubiratãs, Ubirajaras, Aracis, Peris, que todos os anos, há quase um século, vão semeando em batistérios e registros civis a "mentiràda gentil" do indianismo, traduzem a vontade profunda do brasileiro de perpetuar a convenção que dá a um país de mestiços o álibi duma raça heróica, e a uma nação de história eurta, a profundidade do tempo lendário. Debaixo das barbas neurastênícas e petulantes do Conselheiro Alencar, velho precoce, fácil triunfador num Estado de facilidades, reponta a sôfrega adolescência de todos os tempos, nossa e dele próprio, tão encartolada, abafada antes da hora. Reponta a aspiração de heroísmo e o desejo eterno de submeter a realidade ao ideal. Quem já achou necessário indagar a vida interior de Peri ou queixar-se da elementariedade do vaqueiro Arnaldo? É como estão que devem permanecer, puros e eternos, admiráveis bo necos da imaginação, realizando para nós o milagre da inviolável coerência, da suprema liberdade, que só se obtém no espírito e na arte. "Ubirajara travou do arco de Itaquê e desdenhado fincá-lo no chão, elevou-o acima da fronte; a flecha ornada de pe nas de tucano partiu (...) Ubirajara largou o arco de Itaquê para tomar o arco de Camacã. A flecha araguaia também partiu e foi atravessar nos ares a outra que tornava à terra. As duas setas desceram trespassadas uma pela outra como os braços de um gu erreiro quando se cruzam ao peito para exprimir a amizade. Ubirajara apanhou-as no ar: - Este é o emblema da união. Ubirajara fará a nação Tocantim tão poderosa como a nação Araguaia. Ambas serão irmãs na glória e formarão uma só, que há de ser a grande nação de Ubirajara, senhora dos rios, montes e florestas." Nesta fusão de duas nações guerreiras, graças à energia superior de um homem, está o ápice do heroísmo de Alencar; e a imaginação adolescente (não forçosamente dos adolescentes) sobe com as flechas e vem parar, com elas, no símbolo do supremo vigor, o boneco Ubirajara, herói sem vacilações, mais hirto que #Peri na sua inteireza de ânimo. Bem diverso é o Alencar das mocinhas - criador de mulheres cândidas e moços impecàvelmente bons, que dançam aos olhos do leitor uma branda quadrilha ao compasso do dever e da consciência, mais fortes que a paixão. As regras desse jogo bem conduzido ex igem inicialmente um obstáculo, que ameace a união dos namorados, sem contudo destruí-la: tuberculose, em Cinco Minutos; honra comercial, n"A Viuvinha; orgulho, em Diva; erro sentimental n"A #Pata da Gazela; fidelidade ao passado, n"O tronco do Ipê; respeito à palavra, em Sonhos d"Ouro. Em todos esses livros, salvo O tronco do Ipê, o fulcro de energia narrativa é sempre a mulher, desde as evanescentes e apagadas, como a viuvinha, até à im periosa Diva, que procura compensar a fraqueza e desconfiança de menina feia, tornada de repente bonita, por meio duma desequilibrada energia. Delas todas, porém, apena a Guida de Sonhos d"ouro se destaca, na equilibrada dignidade de mulher de gosto e caráter, que "sentia, como toda moça bonita, o desejo inato de ser castamente admirada". É de notar-se que nos romances de que os homens são focos os romances do sertão - Alencar não apela para o desfecho da união feliz. A palmeira do Guarani desaparece sem deixar vestígios; Arnaldo, n"O Sertanejo continua servindo a dama inacessível; Man uel Ganho, n"O Gaúcho, precipita-se no abismo enlaçado à amada que lhe roubaram, - como se a fibra heróica ficasse mais convincente posta acima da harmonia sentimental dos romances urbanos, nos quais a rusga ou a barreira não passam de preâmbulo daque las cenas de entendimento final, onde surge, triunfante e cheio de cortinados, o "ninho de amor em que o born gosto, a elegância e a singeleza tinham imprimido um cunho de graça e distinção que bem revelava que a mão do artista fora dirigida pela insp iração de uma mulher". (A Viuvinha) Nos seus livros sentimos este desejo de refinada elegância mundana, que a presença da mulher burguesa condiciona no romance "de salão" do século XIX. Todavia, há pelo menos um terceiro Alencar, menos patente que esses dois, mas constituindo não raro a força de um e outro. É o Alencar que se poderia chamar dos adultos, formado por uma série de elementos pouco heróicos e pouco elegantes, mas denotado res dum senso artístico e humano que dá contorno aquilino a alguns dos seus perfis de homem e de mulher. Este Alencar, difuso pelos outros livros, se concentra mais visivelmente em Senhora e, sobretudo, Lucíola, únicos livros em que a mulher e o homem se defrontam num plano de igualdade, dotados de peso específico e capazes daquele amadurecimento interior inexistente nos outros bonecos e bonecas. A Berta, de Til, tem algo dessa densidade humana, que encontramos também num esboço de grande personag em novelesco, ojesuíta Gusmão de Molina, d"As Minas de Prata. Desta energia dão ^testemunho certos rasgos atrevidos, como a orgia vermelha de os personagens agindo independentemente dele. por sua vez. #Assim. . tudo corre como se o dinheiro fosse um dado implícito. um sobrevoando o quotidiano. o impulso heróico e a quadrilha idealizada dos romances de salão. se encarnam em dois tipos: o comerciante e o fazendeiro. Como em quase todo romancista de certa envergadura. que o levaram a buscar meios os mais diversos para cenário da sua obra. ao mesmo desejo de coisa nova e liberdade de gestos. n"A pata da Gazela. #José de Alencar . a solidez. O moço de talento.se aprofundam por terceira dimensão. que vão afetar a própria afetividade dos personagens. Mais importante.Lucíola. outro retocando-o. ou o cretino epiléptico de Til . que corresponde. há em Alencar um sociólogo implícito. As posições sociais.(Cortesia da Biblioteca Nacional). descrito com sangue frio naturalista. Brás. da alma. a paixão mórbida de Horácio de Almeida por um pé. onde a segurança. do que os ambientes. o movimento narrativo ganha força graças aos problemas de desnivelamento nas posições sociais. são as relações humanas que estuda em função deles. Na maioria dos seus livros. na exploração 224 Manuel Antônio de Almeida . Apenas no primeiro. A sociedade brasileira lhe aparece como campo de concorrência pela felicidade e o bem-estar. todavia. Nos outros. Cinco Minutos.(Cortesia da Biblioteca Nacional). estão ligadas ao nível econômico que constitui preocupação central nos seus romances da cidade e da fa zenda. o conflito da alma dos protagonistas com as possibilidades materiais é básico no encaminhamento da ação. que nos seus livros parte sempre à busca do amor e da . e convencido que não era próprio de um grande capitalista #chamar-se pela mesma forma que um moço tropeiro. onde exercia o mister de belchior". .Alencar toca mais diretamente na questão da consciência individual em face do dinheiro. . 225 #José de Alencar . O primeiro é a história dum rapa z falido que morre alguns anos para o mundo a fim de arranjar meios de saldar os compromissos e restaurar o seu nome: uma pequena aquarela balzaquiana. Todavia.(Cortesia da Biblioteca Nacional). de fato. O drama do jovem sensível em face da sociedade burguesa é. Posto entre Deus e Mamon. Pata da Gazela. O barão de Saí (Sonhos d"Ouro) "começara a vida como tocador de tropa" e "em uma de suas viagens à corte arrumou-s e de caixeiro no armazém de mantimentos do consignatário.consideração social.) possuidor de algumas centenas de contos.Viuvinha e Senhora. da alma. ao mesmo desejo de coisa nova e liberdade de gestos. salva-o sempre a intervenção do romancista. Til. Mais importante. que o livra de apuros da melhor maneira. como. todavia. trocou por um título àtoa o nome que valia um brasão". Tronco do Ipê. que terminavam barões e comendadores na maturidade. no tempo de Alencar. que o levaram a buscar meios os mais diversos para cenário da sua obra. os caixeiros e tropeiros. Como em quase todo romancista de certa . são as relações humanas que estuda em função deles. deverá ganhá-lo sem tréguas. "O visconde de Aljuba começara a sua vida mercantil na escola. cheia de lições para a psicologia e a sociologia do nosso romancista. do que os ambientes.. tem pela frente o problema de ascender à esfera do capitalista sem quebra da vocação. Se escolher o dinheir o. Sonhos d"Ouro).. casando-o com a filha do ricaço (Diva. Aos cinqüenta anos achou-se (. a contradição entre a necessidade de obter dinheiro (critério supremo de seleção social) e a de preservar as disponibilidades para a poesia e a vida do espírito. num romance do começo e outro do fim. cheia de lições para a psicologia e a sociologia do nosso romancista. o conflito da alma dos protagonistas com as possibilidades materiais é básico no encaminhamento da ação. . Na maioria dos seus livros.Alencar toca mais diretamente na questão da consciência individual em face do dinheiro. há em Alencar um sociólogo implícito. a solidez. . estão ligadas ao nível econômico que constitui preocupação central nos seus romances da cidade e da fa zenda. se encarnam em dois tipos: o comerciante e o fazendeiro. Posto entre Deus e Mamon. Tronco do Ipê. A sociedade brasileira lhe aparece como campo de concorrência pela felicidade e o bem-estar. As posições sociais.Viuvinha e Senhora. Nos outros. que o livra de apuros da melhor maneira. tem pela frente o problema de ascender à esfera do capitalista sem quebra da vocação. por sua vez. Cinco Minutos. a contradição entre a necessidade de obter dinheiro (critério supremo de seleção social) e a de preservar as disponibilidades para a poesia e a vida do espírito. Sonhos d"Ouro). Se escolher o dinheir . que vão afetar a própria afetividade dos personagens. O primeiro é a história dum rapa z falido que morre alguns anos para o mundo a fim de arranjar meios de saldar os compromissos e restaurar o seu nome: uma pequena aquarela balzaquiana. O drama do jovem sensível em face da sociedade burguesa é. Pata da Gazela. de fato. o movimento narrativo ganha força graças aos problemas de desnivelamento nas posições sociais. Todavia. O moço de talento. num romance do começo e outro do fim. salva-o sempre a intervenção do romancista. que nos seus livros parte sempre à busca do amor e da consideração social. casando-o com a filha do ricaço (Diva. onde a segurança.envergadura. tudo corre como se o dinheiro fosse um dado implícito. Apenas no primeiro. os personagens agindo independentemente dele. Til. " Uma vida inteira de aplicação.) possuidor de algumas centenas de contos.o. N"A Viuvinha. 2S5 #mais tarde "arranjou ele uma espelunca chamada casa de penhor. Em Senhora. resolve "o problema da posição social trocando por cem contos a liberdade de solteiro. fazendo Jorge da Silva retirar-se do mundo e aplicar-se ao comércio com fervor mo nástico. "A sociedade no meio da qual . Alencar quis superar tudo e fazer o herói rico. como. "O seu aposento era de uma pobreza e nudez que pouco distava da miséria. onde emprestava dinheiro especialmente aos pretos quitandeiros. noutros. que terminavam barões e comendadores na maturidade. O barão de Saí (Sonhos d"Ouro) "começara a vida como tocador de tropa" e "em uma de suas viagens à corte arrumou-s e de caixeiro no armazém de mantimentos do consignatário. o que demanda uma vida de trabalho. no tempo de Alencar. os caixeiros e tropeiros." Esta reclusão. numa transação escusa. veio a ser a prostituição da inteligência ou do sentimento. em que os personagens não suspendem provisoriamente a vida para liquidar o problema financeiro. Aos cinqüenta anos achou-se (. onde exercia o mister de belchior". portanto. O jeito de remediar é a alienação da consciência. feliz e honesto. e convencido que não era próprio de um grande capitalista chamar-se pela mesma forma que um moço tropeiro. na porfia de resgatar a firma do pai. resolve.. na sociedade burguesa. deverá ganhá-lo sem tréguas. Fernando Seixas é um intelectual elegante e pobre que. que no Ocidente capitalista acabou por transformar-se em verdadeira ascese pelo a vesso e acarreta o abandono do sonho e da utopia. então. "O visconde de Aljuba começara a sua vida mercantil na escola. na flor da mocidade. que nos mitos medievais foi a venda da alma ao diabo e. incapaz da ascese comercial de Jorge da Silva. mesmo. largar um pouco o herói e. Condensou. em vez de casá-lo com a herdeira rica. porém. em cinco anos. Carreirismo político nuns casos? casamento com herdeira rica. fá-lo vender-se a uma esposa milionária. trocou por um título à-toa o nome que valia um brasão".. não se repete nos outros livros. Alencar sentiu muito bem a dura opção do homem de sensibilidade no limiar da competição burguesa. no de Mário com Alice (O Tronco do Ipê). fez de mim um homem à sua feição (. no casamento de Augusto Amaral com Diva (Diva). no de Leopoldo com Adelaid e (A Pata da Gazela). na sociedade em que vivia. como a herança e qualquer honesta especulação". o mais santo amor"? O certo. e os exemplos ensinavam-me que o casamento era meio tão legítimo de adquiri-la. .. o seu idealismo artístico levou-o a atenuar o mais possível as conseqüências do conflito.me eduquei. Como born romântico. nem a ascenção. o senso stendhaliano e balzaquiano do drama da carreira. constância e inocência. que é Senhora. ajeitou quase sempre os seus heróis com paternal solicitude. que tornariam inoperante a acusação de interesse. demandava a luta áspera de Rastignac ou Julien Sorel.) Habituei-me a considerar a riqueza como a primeira fo rça viva da existência. N ão tinha.quem ousaria falar noutra coisa senão "o mais verdadeiro. por exemplo. levando-os ao casamento rico por meio dum jogo hábil de amor. é que os rapazes são todos pobres e as amadas muito ricas. em Sonhos d"Ouro. procura sempre preservar a altivez e a pureza dos heróis. A capacidade de observa ção levou o romancista a 226 discernir o conflito da condição econômica e social com a virtude. . inclusive no happy-end da forte história de conspurcação pelo dinheiro. Por isso. ou as leis da paixão. com efeito. no de Miguel com Linda (Til). faz Guida e o pai auxiliarem Ricardo sem que este perceba. filhas de grandes comerciantes e fazendeiros. sem me smo lhes ferir a susceptibilidade. entretanto. contudo.. e que deixam um sulco de mclacolia no espírito do leitor. rico e desocupado. n"O Tronco do Ipê. Vale a pena. ou as tratam com altiva reserva. Pelo fato de serem pobres ou socialmente m enos bem postos. N"O Sertanejo. determina o seu heroísmo. como o Augusto Amaral de Diva e o Leopoldo d"A Pata da Gazela. veremos que os seus melhores livros são aqueles em que o conflito é máximo. assumindo aos poucos um caráter tirânico de vigilância. uma diferença de disposições e comportamentos. do grande amor de Aurélia com a vergonhosa transação que põe Fernando à sua mercê. N"O Guarani. a diversidade. a posição subordinada do vaqueiro Arnaldo. em Sonhos d"Ouro e Már io. em Senhora. da inviabilidade das relações normais entre um jovem ambicioso de boa família e uma meretriz. afastando a própria idéia da união a Dona Flor. os seus galãs nunca enfrentam as heroínas no mesmo terreno: ou se acachapam de algum modo ante elas. . é quase de natureza. observar que apenas um galã de Alencar . ultrapassando os limites dos romances urbanos e de fazenda. entre a fidalga loura e o índio selvagem. no terreno psicológico. em Lucíola. d"A Pata da Gazela. se nos lembrarmos do conflito. como Ricardo. Alencar parece mais senhor das suas capacidades criadoras nas situações mais dramaticamente contraditórias. peculiar a toda a sua obra. que aparece como necessidade de compensação. A diferença de situação como elemento dinãomico na psicologia c na própria composição literária é. correspondendo-lhe. aliás. mais que de posição. que é a essência do seu processo narrativo. que imobiliza finalmente o destino da moça. Este segundo caso é o do orgulho peculiar ao "jeune homme pauvre" da literatura romântica. Profundamente romântico.Esta diferença de condições sociais é uma das molas da ficção de Alencar. nos quais só pode haver happy-end graças a um expediente imposto à coerência da narrativa. neste sentido.um galã vencido ao cabo do livro trata as heroínas com certa naturalidade superior: Horácio. Se nos lembrarmos. com o em Senhora. prolongado até hoje pela literatura de cordel e as novelas para moças. que. de seu pai. Esta vocação romântica foi ao auge em dois livros: As Minas de Prata. e Encamação. tentando reviver em Amália a imagem obsessiva de Julieta. até o símbolo duma era perdida que é o velho Pajé. recusa a nova experiência na sua integ ridade. vem juntar-se outro. duma personalidade de circunstância que se amoldasse à lei da prostituição. petrificado emocionalmente pela lembrança das primeiras núpcias. superando este jogo fácil de cordéis. e o seu. A vigorosa luxúria com que subjugava os amantes é um recurso de ajustamento por assim dizer profissional. eivado de fraquezas que virão pedir-lhe contas numa hora decisiva. Uma simples vista de olhos em sua obra mostra o papel decisivo do passado como elemento condutor da narrativa e critério de revelação psicológica dos personagens. No Guarani. a brutalidade fria com que é violada. a heroína se substitui praticamente à esposa morta de Hermano. Em Lucíola a situação é mais complexa. o presente é governado. na concepção literária: o do presente e do passado. uma espécie de auto-atordoamento. Loredano é um desses escravos da vida anterior. que cons egue desenvolver. que é por assim dizer o amarrilho das meadas. A lembrança de uma inocência perdida é nã o apenas possibilidade permanente duma pureza futura (que desabrocha ao toque do amor). quase todo o elemento romanesco repousa sobre Loredano. o sacrifício da honra à saúde do pai. Naquele. ora. pelas coisas que foram: o segredo de Robério Dias pairando sobre tudo. que povoam a ficção romântica de tenebrosas possibilidades de cr ime e de mistério. a de D. preservando intacta a pureza que hibernava sob o estardalhaço da mundana. a vida de Gusmão de Molina. mas a própria razão do seu asco à prostituição.A este desnível da situação. quase de imposição. A pureza da infância. encurralando-o na respeita227 #bilidade burguesa. Diogo de Mariz. Por outras palavr . Neste. Já em Viuvinha dois passados determinam o destino de Jorge: o honrado. condicionam toda a vida de Lúcia. a si mesma. passo a passo. a lei dos acontecimentos. testemunho das gerações que passam. no presente. No primeiro. admiràvelmente tocado por Alencar no mais profundo de seus liv ros. TU e O Tronco do Ipê decorrem direta. a infância e a mocidade de Manuel Ganho são condicionadas pela impressão do assassínio do pai e o desejo de vingá-lo. desfeito este. Luís Galvão e o Barão 228 da Espera. e na revolta que leva João Fera ao banditismo. que desposara. mas surdamente revoltado contra a mãe. o drama de Nastásia Filipovna. neste livro aparentemente plano. o inesperado fator edipiano que explica a mi soginia e aspereza de Manuel. É preciso assinalar. n"O Idiota. A discrição de Alencar é não obstante suficiente para crispar a narrativa. o involuntário causador da morte do marido.a uma dialética do passado e do presente. é o alimento de cada página. cravando o passado na trama da vida quotidiana. Só mesmo a obsessão cientifizante do naturalismo pode explicar a cincada de Araripe Júnior. e sem dúvida medíocre. no segundo. Esta presença do passado na interpretação da conduta e na técnica narratica representa de certo modo. reduz-se .em termos da presente análise . ao analisar como caso de ninfomania esse vislumbre do que seria. cujo desfecho é a redenção final. Zana. renovando incessantemente as oportunidades de autopunição. a sua sensualidade desenfreada nos aparece como técnica masoquista de reforço do sentimento de culpa. como ferida que se porfia em lacerar. respeitoso. encarna-se em Pai Benedito. Este processo psíquico. assume a atitude romanesca de lhe dar validade perene. apegando-se à beleza da fidelidade e gozando o própri o sacrifício. e quase simplòriamente. em função do cornpromisso com Bela. .as. pouco depois de viúva. N"O Gaúcho. simbolizado na loucura da velha escrava. Em Sonhos d"Ouro Ricardo age. no romance de Alencar. da mancha no passado dos dois fazendeiros. ultrapassando pelo realismo qualquer outra cena em nossa literatura séria. Relembre-se a depravação com que Lúcia se estimula e castiga ao mesmo tempo e cujo momento culminante é a orgia promovida por S á .o Reginald Front-de-Boeuf deste romance calcado no arcabouço do Ivanhoe. torcem a personalidade de Lúcia. o contraste duma situação. que finalmente a salva. Para o Romantismo. como não haveria n"As Minas de Prata sem o Padre Gusmão de Molina. N"O Sertanejo. em Tfl. sem ele não haveria drama. o cretino epiléptico e cruel. que tece praticamente todos os empecilhos desse livro fecundo em acontecimentos. duma pessoa ou dum sentimento normal. quadros vivos obscenos. rojando em crises a cada momento. 229 . é o choque do bem e do mal. exprime esse profundo desejo de ancorar o destino do homem na temporalidade. desmanchando a elegância burguesa dos almoços da família Galvão com a sua ruidosa porcaria. e o amor. e a frase de Comte. flores e meia luz. que os mortos persistem nos vivos.a causação dos atos e das peripécias. e mais tarde a prática do vício. que os naturalistas pesquisarão mais tarde no condicionamento biológico. Outro fator dinãomico na obra de Alencar é a desarmonia.orgia espetacular. a partir duma vilania inicial. formando roda em torno da bondade e da inocência. e tido por isso como born. o entrecho decorre das perfídias do Capitão Fragoso . a luxúria do velho Couto. Em Lucíola. Til é uma exibição de malvados. Diva é uma longa e monótona luta interior da moça entre o orgulho que estimula o sadismo. com uma situação. A forma refinada desse sentimento da discordância é certa preocupação com o desvio do equilíbrio fisiológico ou psíquico. Sob a forma mais elementar. Relembre-se. Já vimos que n"O Guarani a perversidade de Loredano dinamiza o livro. com tapetes de pelúcia escarlate. pessoa ou sentimento discordante. tanto os indivíduos quanto os povos são feitos da substância do que aconteceu antes. profundo recurso de análise. do anormal ou do recalque. inclusive a nossa. imaginamos.sentimos em Alencar a percepção complexa do mal. outros virtuais. Em sua casa (como exemplo citado em livros de sexologia).. sob vários aspectos. outros mais raros. psicologicamente. Ric .a compra do ex-noivo pela menina pobre e humilhada.para dar um último exemplo . os rotativos e os simultâneos. a ponto de desprendê-lo de todo do resto do corpo e mudar de amor quando supõe que errara quanto à dona. É uma manifestação da dialética do bem e do mal que percorre a ficção romântica. para atingir em Alencar a um refinamento que pressagia Machado de Assis e Raul Pompéia. uns aparentes. pesarosos. Cansado de amar normalmente. Em Teixe ira e Souza e Macedo aparece como luta convencional dos contrários. . No menos característico Manuel Antônio de Almeida vimos que não existe. em Bernardo ela se atenua. talvez não foss e além de Diva ou Sonhos d"Ouro. E ao acabar a leitura. Inteiriços são D.uns convencionais. como obstáculo à perfeição e elemento permanente na conduta humana. Afrontando o possível ridículo. sendo um truque habilidoso de romancista de salão é. .#O fetichismo sexual de Horácio. poderíamos dividi-los em três categorias: os inteiriços. a sua galeria de tipos é vária e ampla. sob redoma de vidro. que conto não teria aquilo rendido nas mãos de Machado de Assis. dando músculo e relevo a um entrecho que. tem o sapatinho numa almofada vermelha. Graças à situação anormal e constrangedora que determina. Loredano. sem ele. embora sintamos a relativa argúcia do autor. Em Senhora . Peri. sob a influência de um otimismo natural e sadio. Arnaldo. Assim. reponta sob a grandeza de alma e o refinamento de Aurélia um extranho recalque sádico-masoquista. Antônio de Mariz. agora grande dama milionária. é talvez a manifestação mais flagrante desse aspecto de Alencar. Por isso. Horácio se apaixona por um pé. (O Sertanejo).. n"A Pata da Gazela. a conotação simples com que aparecem nos demais. Gosta de revelações surpreendentes. o falso suicídio de Jorge n"A Viuvinha. são os que predominam em sua obra. o jogo arbitrário dos cordéis. ou do mal p ara o bem. mas que foi capaz de fazer literatura de boa qualidade tanto dentro do esquematismo psicológico.sempre os mesmos. Ribeiro Barroso. que passa de born a vilão com a desgraça de Besita. é o grande artista da ficção. ou seja. de Til. no bem e no mal inteiramente fixados duma vez por todas pelo autor. com o a filiação de Berta em Til. como no Gaúcho. de feia e meiga a bonita e má. Gusmão de Molina. Exemplos típicos: João Fera. daí a santo ermitão.ardo (Sonhos d"Ouro). e muitos outros. a Guida de Sonhos d"Ouro. Os simultâneos são aqueles em que o bem e o mal perdem. No romantismo. e da leitura dos folhetins guardou um amor constante pela peripécia espetacular. Menos independente do que Manuel Antônio de Alme ida. . o passado monacal de Loredano. fazendo dele o nosso pequeno Balzac. Por estender-se da poesia ao realismo quotidiano e da visão heróica à observação da sociedade. a sua obra tem a amplitude que tem. e se por um lado tenta . depois meiga de novo. graças à bondade evangélica de Berta. quanto do se nso da realidade humana. assume o torn sentencioso. Gosta de espraiar-se em considerações gerais. depois. Diva. Alencar narra muito bem. de vilão a born. Amélia e Fernando Seixas (Senhora). Em seguida vêm os rotativos. os que passam do bem para o mal. mas apenas de passagem. pois a simplificação dos demais corresponde a outro ripo de ficção. de doidivanas a jesuíta sinistro. Isto não quer dizer apenas que Alencar foi melhor romancista ao criá-los. praticamente. um pouco. o seu torn não aberra das normas contemporâneas: abusa por vezes da descrição. e freqüentemente com ironia. e neste setor os seus defeitos são os do tempo. dotado não apenas da capacidade básica da narrativa como do senso apurado do estilo. (Til). cedendo lugar à humaníssima complexidade 23O corn que agem: Lúcia e Paulo Silva (Lucíola). fidelidade realista quando é preciso. e que em minha opinião tem o mesmo efeito da máscara. desrespeitando-a com egoísmo masculino. como se o romancista quisesse pagar tributo à instituição da famflia pela hipertrofia das sua relações básicas. mordendo os cavalos para despertar-lhes o tardo apetite". nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito. por outro. que para os severos moralistas da época aplaca todos os escrúpulos. o de aguçar a curiosidade". falando de certos aspectos da pros tituição tem a frase seguinte: "é a brutalidade da jumenta ciosa que se precipita pelo campo. de tal forma. a ami zade de um irmão. "Nesta irmã tinha ele resumido todas as afeições da família. irmãos. o amor filial. Há nos seus livros o impudor muito romântico de ostentar e acentuar sentimentos óbvios: mães. prematuramente arrebatada à sua ternura. observa. Quando. que acabou por dar engulhos ao cabo de duas gerações. que respiramos aliviados quando Paulo Silva ofende e tortura Lúcia. Também a paixão é descrita pelo mesmo processo. que não tivera tempo de expandir-se. do que desdob rar aos seus olhos esse véu de pontinhos. manto espesso.preservar a pureza e a sanidade das relações dos seus heróis. que era a imagem de sua mãe" (A Pata da Gazela). são amados com uma veemência que anula as penumbras da afetividade. idealiza. Por isso. 231 #w. ele os transportara para aquele ente querido. pais. A forç a de Alencar fica provada pelo fato de ainda estimarmos os seus livros apesar do açucaramento. porém. vai tão longe quanto é possível. todos esses sentimentos cortados em flor. E na descrição dos amores de Lúcia e Paulo. seu companheiro de infância. ou quando o amor de Fernando Seixas é abafado pela vaidade e o interesse. "Sempre tive horror às reticências (diz o narrador de Lucíola). . pende para o extremo oposto. denotam igual tendência para idealizar. Senhora e O Sertanejo. cons trói por vezes certas visões sintéticas de um luminoso impressionismo: "Não me posso agora recordar as minúcias do traje de Lúcia naquela noite. embora belo. da Colônia aos seus dias. tem menos mordente do que terá em Lucíola. e que de longe parecia uma grande borboleta rubra pairando no cálice das magnolias. O que ainda vejo neste momento. quase sempre diretamente descritivo. Em nenhum outro. As cenas mundanas. as conversas. o colo e as espáduas nuas. composta na maioria de comerciantes enri quecidos ou provincianos em pleno ajustamento. compondo uma atmosfera de cores. poderemos sentir o seu excelente e variado estilo. na maioria excelentes quanto à distribuição e u dosagem. que. da desenfreada peripécia ao refinamento da análise. Lucíola. formas e brilhos para celebrar a poesia da vida americana. algum desfibramento do estilo. em mais dum passo. Talvez correspondam ao esforço de dar estilo e torn a uma sociedade de hábitos pouco refinados. se fecho os olhos. O rosto suave e harmonioso. do mato ao salão elegante. são as nuvens brancas e nítidas que se frocavam gracios amente. aparece melhor o trabalho de visualização artística. nadavam como cisnes naquele mar de leite. o mesmo leque de penas que eu apanhara. A verdade e a eloqüência de muitos dos . Mas superados estes obstácu los à nossa acomodação. (Lucíola) A poesia e a verdade da sua linguagem permitiram-lhe adaptar-se a uma longa escala de assuntos e ambientes. porém. afiando com o lento movimento de seu leque. O seu exaltado senso visual. com poucas raízes na realidade de cada dia. Na língua d"O Guarani ainda há um pouco da deslumbrada facúndia de quem descobre uma fórmula de prosa. que ondeava sobre formas divinas". sendo uma espécie de convenção literária. daí. Iracema. parecem não raro calcadas nas crônicas sociais do tempo. e menos densidade lírica do que em Iracema.Os seus diálogos. como nos aparece principalmente n"O Guarani. Alencar tem um golpe de vista infalível para o detalhe expressivo. desde o charuto aceso e a mão que apanha a cauda. Enquanto Fernando conserta a trepadeira. um peignoir de veludo verde marca o âmbito máx . Denota-a principa lmente na intuição da vestimenta feminina. que de certos toques estilísticos de força divinatória. até a chama de sedas vermelhas com que se envolve num moment o de desesperada resolução. da voz. Alencar não denota a influência marcada do mestre francês apenas na criação de mulheres cujo porte espiritual domina os homens. Mas é na atenção com a moda feminina que podemos avaliar todo o senso dos detalhes exteriores.seus personagens provêm menos da capacidade de introspecção. toda a acanhada modéstia de Dona Joaquina se contém numa inesquecível mantegueira azul. cujo conteúdo. de sarja gris. nunca renovado. que revelam por meio da roupa. A nobre e resignada pureza de Berta está sutílmente presa ao honrado asseio da casinha em que vive. rega as hortênsias. o primeiro a perceber a sua íntima associação com o próprio ritmo da vida social e a caracterização psicológica. que envolve e assinala o processo psíquico dos esposos inimigos. A personalidade terna e reta de Guida transparece nas cassas brancas. e esse passeio diário vai dando expressão e densidade ao d rama também diário de que é episódio. Em Senhora. eom que aparece na festa da Glória. Aurélia apanha uma flor ou contempla os peixinhos vermelhos no tanque. Em Senhora há uma passeio quotidiano pela chácara. vai se esvaindo até o lambisco das bordas. desde o discreto. ao aferi-lo periodicamente na sombra úmida do jardim. e à poesia doméstica do forno e quitutes de sua mãe adotiva. no roupão de montaria com que galopa pela Tijuca. dos detalhes de ambiente. até às frutas de um prato ou os gestos comerciais dum corretor. que iluminam a personalidade ou os lances da vida. que aborda como elemento de revelação da vida interior: os vestidos de Lúcia. ou na mistura do romanesco e da realidade. Em Sonhos d"Ouro. Balzac foi porventura o inventor da moda no romance. são tratados com expressivo discernimento. os romances deste juiz. nadar. do que retomar alguns temas básicos. mas não tinha copo nem moringa. foi pedir pouso noutro lugar. assumido n"O Guarani. que a desenvoltura aparente recobre um trabalho esclarecido dos detalhes. e a sua inspiração. morros e (como se depreende dum processo arquivado em tempo) outros divertimentos mais picantes. pelo contrário. Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. .imo da tensão entre os dois esposos. antigo condiscípulo na Faculdade de São Paulo. agradeceu e. não poderia te r batido em melhor porta. UM CONTADOR DE CASOS: BERNARDO GUIMARÃES Passando em Catalão. de largos traços atirados com certa desordem. longe de confirmar-se soberana. que experimentou e enriqueceu. entrou e pediu água: o dono da casa trouxe-a num bule cheio de orifícios mais ou menos tapados com pedaços de cera: o amigo desculpasse. parecem boa prosa do Interior. portanto. boa pinga. varar campos. born violão. a leitura mais discriminada de sua obra revela. poderíamos dizer. 233 #4. Couto de Magalhães pretendeu hospedar-se na casa do juiz municipal. pescar. mais consciente e bem armada do que suporíamos à primeira vista. O futuro presidente de Goiás bebeu. Tanto assim. inferindo da amostra a organização doméstica do magistrado. nos vinte e um publicados. Apeou. cadenciada pelo fumo de rolo que vai caindo no côncavo da mão ou pela marcha das bestas de viagem. de viagem para Oeste. nada mais fez.7 Se em vez de ordem e asseio.. Por isso. A sua arte literária é. sem outro ritmo além do . é contrabalançada por boa reflexão crítica. com admirável consciência estética. ou born companheiro para caçar. a partir do compromisso com a fama. quisesse porém born fumo. ou melhor. Parecendo um escritor de conjuntos. que na verdade não escreveu mais do que dois ou três ro mances. para ele. Bernardo Guimarães págs. Na segunda geração romântica. 35-37. Uma olhada cronológica em sua obra mostra como o poeta. onde se passam O Ermitão do Muquém. os homens. Conversa de bacharel bastante letrado para florear as descrições e suspender a curiosidade do ouvinte. O Seminarista. todos honestos. de 187O em diante escreve quase todos os romances e nem mais um verso aproveitável. que constituem o bloco central e mais característico da sua ficção. certa feita. (7) 234 Apesar de ter situado uma narrativa em São Paulo e outra na Província do Rio de Janeiro (Rosaura e A Escrava Isaura). foi cedendo passo ao ficcionista . as mulheres eram ali mais belas. O Ermitão do Muquém é contado em quatro pousos por um companheiro de jornada. Zona de fazendas esparsas. A filha do fazendeiro. O índio Afonso. gente rude e primitiva que deixou péssima impressão em Saint-Hilaire. apesar de ter escrito uma história fantástica do Amazonas (O Pão de Ouro). melhores e mais valentes.que lhes imprime a disposição de narrar sadiamente. todavia. para Bernardo. e quase todos os outros livros não deixam de apresentar essa tonalidade de conversa de rancho. mandou abrir a cadeia e soltar os coitados . mas bastante matuto para exprimir fielmente a inspiração do gênio dos lugares.à medida que o devaneio e o satanismo bu rlesco da mocidade cediam lugar a um naturalismo cada vez mais saudável e equilibrado. Aliás. no fundo. o fruto de uma pitoresca experiência humana e artística. os homens eram. O autor convulso e dramático da "Orgia dos Duendes" ia desaparecendo sob o romancista de olhos abertos para o pitoresco da natureza. a sua boa produção poética vai até o decênio de I86O. sendo juiz de Catalão. o seu mundo predileto é o oeste de Minas e o sul de Goiás. e por isso mesmo. Maurício e O Bandido do Rio das Mortes (inacabado) passam-se no século XVIII e m São João dTLl-Rei. O Garimpeiro. opera por assim dizer a fusão de Álvares de Azevedo com Manuel Antônio de Almeida. com simplicidade. limite oriental da zona de campos que ele tanto amou. Basílio de Magalh&es. nele. Aliás. de fato. "não era mau por natureza. cheio de belas qualidades e sentimentos generosos. Depois deles. O brutalhão de alma boa constitui aliás parte do senso psicológico de Bernardo. denota ao cabo de tudo "alma ainda susceptível de pundonor". levados por um capricho. mas pirracentos. o rival. bruto ou patife: Fernando (Maurício).. outra parte é ocupada por tipos igualmente elementares .dos presos depois dum simulacro de julgamento .. que mutila o ofensor da irmã corn bárbara pachorra. Luciano (O Seminarista). O único perverso integral e sem retomo é Leôncio. vêm finalmente as heroínas. é porque idolatra va sua irmã e estava aceso em cólera. acaba santamente como eremita. o casal Antunes (O Seminarista). tiranizam as filhas: O Major (O Garimpeiro). que. Roberto. vítimas da paixão contrariada. tinha no fundo excel entes qualidades e generosos instintos de coração". e somente a justiça social tem o privilégio de ser fria e impassível na aplicação da pena". O primo brutamo nte d"A Filha do Fazendeiro. o Major Damásio (Rosaura). O vilão de Rosaura. Leonel (O Garimpeiro).. O índio Afonso.. morrendo com grande senso de oportunidade. no romance do mesmo nome. Com pletando a quadra. de que esca- . cuja obstinação causa a morte de Paulina. "não é um facínora. Eugênio (O Seminarista). é um excelente coração que paga o mal feito com o suicídio. o CapitãoMor. Gonçalo (O Ermitão do Muquém).. os já citados Roberto e Bueno de Morais. mas sim um homem de bem. Vêm a seguir os pais afetuosos. o senhor e carrasco da escrava Isaura. o próprio Maurício. que mata e mutila o amigo por ciúme banal. Joaquim Ribeiro (A Filha do F azendeiro). Bueno de Morais. geralmente perseguido pelo destino: Conrado (Rosaura) Elias (O Garimpeiro) Eduard o (A Filha do Fazendeiro).a começar pelo moço born e puro. porém vivendo quase no estado natural no meio das florestas (. (Maurício).) Se se excedeu um pouco na crueldade da vingança.. Adelaide (Rosaura). quer psíquicas. quer sociais. como o céu. cujo percurso e estouro descreverá. Ancorando-o na terra e na verossimilhança. heroína. Em torno de tipos elementares.235 #Sam apenas as duas "moreninhas". pai e vilão. Isto nos leva a pensar que o eixo da sua obra são algumas constatações decisivas. Paulina (A Filha do Fazendeiro). redutível a poucas situações e tipos fundamentais." Nos seus livros há inicialmente uma s ituação de equilíbrio e bonança. mas no fundo é ardente de sentimento e de paixão. Lúcia (O Garimpeiro). que o cobre. procura surpreender no personagem o nascimento da paixão. acentuados traços daquele realismo inseparável da ficção românt . portanto. Leonor (Maurício). definida principalmente pela descrição eufórica da paisagem em que se vai desenrolar a ação. o tumulto sentimental que parecia no Romantismo indispensável à nobreza e expressividade da literatura. A dinãomica espiritual dos seus personagens pode ser ilustrada pelo que escreve da zona predileta em certo passo d"A Filha do Fazendeiro: "A índole do homem ali é plácida e calma na aparência. O sopro das paixões lhe ruge n"alma violento e tormentoso como os pavorosos temporais que atroam aquelas solidões. no fim da carreira. mostrando que a e uforia inicial é como a placidez aparente do sertão e do sertanejo. Habituou-se a descrever todos aqueles tipos segundo modelos que lhe fornecia o sertão mineiro e goiano e transpôs para S ão Paulo quando. Um universo psicológico essencialmente romântico como concepção. Isaura e Rosaura: Margarida 3 Seminarista). convencionados a partir das representações mais correntes de herói. condicionadas principalmente pela observação da vida sertaneja. a partir daí. compôs o seu único romance urbano (Rosaura). contornos de morros e vales. o mutirão e a quatragem (O Seminarista) o batuque (O Ermitão do Muquém). sobretudo a nossa. a hierarquia e formas de prestígio. natureza em que se ajusta a casa. o paiol e outros acessórios da fazenda.como a cavalhada (O Garim peiro). variável na consistência e densidade.ica. Dos livros de Bernardo pouca coisa permanece incorporada à nossa sensibilidade além da vaga lembrança dos enredos. descreve as fórmulas de tratamento. A observação social completa a disposição para descrever e sentir a natureza. os dois caminhos que levam à casa do Capitão Antune s e à da tia Umbelina. a ponte. todavia. a porteira de varas. É que Bernardo capricha em situaias narrativas. que encontramos em seus versos. as duas paineiras. o caminho. é a natureza trabalhada pelo 236 homem que vem no primeiro plano. no seu decorrer. Antes de encetá-las. Por detrás se estende um vasto pomar. u . localiza-as. os costumes regionais . é constituído principalmente por uma impressão de ordem p lástica: . com o agudo senso topográf ico e social característico da nossa ficção romântica. Quem leu O Seminarista não pode esquecer a várzea com o riacho. Nos romances. não poderá sobretudo esquecer a utilização por assim dizer psicológica que o romancista deles faz como cenário qualitativo dos amores de Eugênio e Margarida transformando-os numa paisagem subjetiva. "Em frente à casa há sempre um vasto curral ou terreiro. Esse pouco. ao lado da figueira. mais tarde desenvolvidos pelo naturalismo. presença indefinível de uma atmosfera campestre que nos faz respirar bem. a roça. o moinho. as relações de família. certos verdes e azuis.relevo da paisagem. e brasileiramente. A paisagem trabalhada pelo homem é um dos seus diletos panos de fundo. em torno do qual estão o engenho. o jambeiro. 237 . os de Conrado e Adelaide. a personagens de pouca respeitabilidade moral. o jaracatiá.nem sempre belas mas quase sempre dotadas de sensualidade exigente." (A Filha do Fazendeiro) Todavia. o mamoeiro. Em Bernardo. de murmúrios e perfumes. O born senso conduziu-o sem afetação nem alarde a esta vereda. de um celeste devaneio. a carne é componente normal e necessária. porém. o limoeiro. o seu realismo aparece ainda mais no tratamento quase naturalístico da paixão amorosa que na atenção e minúcia dispensadas ao quadro da narrativa e a fidelidade com que a situa no espaço. embora ele a encare de preferência ern situações social. onde a laranjeira. Paixão que em muitos dos seus romances liga estreitam ente às manifestações fisiológicas. de compleição sangüínea e vigorosa.românticos a seu modo . cuja paixão violenta. os instintos sensuais achavam em sua natureza estímulos de indomável energia" . às taras. como fariam mais tarde os naturalistas. Margarida não era muito própria para manter por largo tempo a sua afeição na esfera de uma aspiração ideal. o genipapeiro. n"O Seminarista.diz da heroína d"O Seminarista. "De temperamento ardente. em Rosaura).m verdadeiro bosque sombrio e perfumoso. inclusive na objetividade com que estuda as heroínas . mas não individualme nte anormais (os amores de Eugênio e Margarida. as bananeiras e coqueiros de diversas espécies crescem promiscuamente e cruzam suas ramagens em uma espessa ab óbada cheia de fresquidão. Mesmo estes . co rn a visão natural que imprimia tanta saúde à sua obra (em contraste com os traços quase patológicos da sua boêmia e misantropia). a jabuticabeira. colidindo com a idealização que predominava no Romantismo. instilando no jovem padre "o filtro delicioso da volúpia".preferiam associar a carne às formas pecaminosas de amor. Feita para os prazeres do amor e para as expansões ternas do coração. mas na naturalidade de Bernardo. ameaçava rompê-las. vai porém ao máximo n"A Filha do Fazendeiro. conta a luta sem êxito do seminarista Eugênio para abafar um amor de infância. precipitava-se tempestuoso pelas artérias. ao passo que os instintos sensuais se desenvolviam com não menos energia naquela organização exuberante de viço e cheia d e ardente e vigorosa seiva. com todas as suas exaltações febris e romanescas aberrações." A colisão com os padrões românticos. põe na boca do médico este diagnóstico de sur preendente ousadia: ". Baseado ao que parece em fato real. escaldava-lhe a imaginação já de si mesma viva e apaixonada. a presença tangível da carne ." É a causalidade fisiológica de Aluísio e Júlio Ribeiro despontando. não no naturalismo. é menos pura e espontânea: "O amor ideal alimentado pela leitura de romances e poesias. Adelaide. que ainda hoje podemos ler com atenção e proveito.Não há de ser nada. nascendo da ligação a pequena Rosaura. O Seminarista.. disse ele saindo. agitado pelas violentas inquietações e padecimentos da alma.#arrasta-o ao pecado. que sem escolha e sem critérios lhe eram fornec idos.aparecem harmoniosamente entrosados no melhor dos seus livros. t em esta premonição dos naturalistas: "O sangue rico. logo depois de ordenado possui a . senhor Ribeiro. (Ó manes de Elvira!. e lhe excitava no cérebro abrasado terríveis e deploráveis alucinações. O senso regionalista dos costumes e da paisagem.) E falando das angústias de Margarida. a hipertrofia romântica e esquemática dos sentimentos.. O histerismo também de quando em quando lhe enr ijava os músculos. que envolviam a mulher na literatura. a menina teve e ainda tem uma forte febre maligna complicada com alguma irregularidade nas funções uterinas". juvenil e ardente da moça. que se torna amante furtiva do moço Conrado. onde ao descrever a doença em que a exaltada Paulina se abrasa de amor insatisfeito. " A disciplina do Seminário obriga-o. A circunstância de haver conseguido urdir satisfatoriamente o conflito moral através da narrativa. o amor infantil se identifica à mesma afetividade difusa com que propendia ao misticismo: "sua alma subia ao céu nas asas do amor e da devoção. mostra que não era o espontâneo absoluto que se costuma ver nele. pàg. da necessidade de distinguir para separar e renunciar a um deles. a capacitar-se da inviabilidade dessa fusão afetiva. ob. (8) IHlermando Cruz. "O Seminarista é o Eurico brasileiro".8 Sob este ponto de vista. É o ponto cruciante. através dos diretores espirituais. situa-se não apenas cronológica. pelo contrário. a coexistência." "Amor e devoção se confundiam na alma ingênua e cândida do educando. Interess a-lhe todavia. atrás da pachorra de caipira havia ca pacidade de discriminação e organização intelectual. em primeiro lugar. 238 nele. a princípio. porém envolta em uma sombra de melancolia. reforço à sua pureza e eficiência. enlouquecendo ele em conseqüência. porém. No jovem Eugênio. É quase comovente atentarmos para o desenrolar do romance e o esforço que vai fazendo para tratar convenientemente problemas tão delicados e acima das suas preocupações habituai s. descreve como. que ainda não compreendia a incompatibilidade que os homens têm pretendido estabelecer entre o amor do criador e o amor de uma das suas mais belas e perfeitas criaturas . que o escritor localiza muito bem. o drama interior de Eugênio. 176. mas ideologicamente. embora defina claramente a sua posição. 16O. para indicar a sua filiação no combate contra o celibato clerical. clt. Basülo de Magalhães. repete a mesma coisa. Graças à singeleza de contador de casos. de acentuada tendência mística e disposiçro amorosa não menos viva.namorada. mas seria. pág. escreve Dilermando Cruz. Bernardo Guimarães. Bernardo passa longe do romance de tese. afirmando que o amor não é incompatível com o sacerdócio. dando-lhe interesse e consistência literária. que morre.a mulher.. entre a obra de Herculano e O Crime do Padre Amaro. A análise cria . a Enjeitada. Só em alguns livros de Alencar encontraremos disposição para enfrentar problemas de tamanha gravidade. Muito boa é a brusca erupção da carne no seminarista adolescente. que em Eugênio não se separava do amor de Margarida.a noção da dualidade e. embora nele a intuição supere o propósito consciente de organização literária. a través da consciência de pecado. a invenção constitui um certo tipo de observaçã . a luta se prolonga até uma aparente unificação. n"A Escrava Isaura e Rosaura. desde que lhe mostraram a inviabilidade do seu afeto. situando-os em quadros naturais e sociais igualmente familiares. rompida finalmente pela paixão recalcada e levando.ora o amor cedendo à mística. o primeiro dos quais ficou sendo o mais popular dos seus livros. a princípio puramente ideal. segund o ele. ser considerado a sua obra-prima. o desenvolvimento normal da vocação para o sacerdócio. os diretores espirituais motivaram. a luz da razão. Bernardo conduz a análise com bastante galhardia. a partir daí. de maneira alguma. A sensualidade aparece como asserção imperiosa da integridade humana ameaçada de mutilação pela norma clerical. ele traça personagens parecidos ou iguais aos tipos que conhece. começa a luta para manter a integridade espiritual . Quando isto se dá. Mesmo do fundo do seu mau jeito artístico Bernardo consegue sugerir a fatal ocorrência deste problema na formação eclesiástica. ao modo dos meninos. o aparecimento muito mais perigoso da dualidade entre carne e epírito. louvemos o velho Bernardo por tê-lo feito. encontrando solução literária conveniente. e ao lutar contra a identificação do amor à devoção. perturbando. não devendo porém. 339 #Outro grave problema que enfrentou foi o do regime servil. ora superando-a. Nos seus romances mais característicos. Mas como na alma fraca de Eugênio não há energia para optar decididamente entre o amor de Margarida e o amor de Deus. em literatura. nesta ruptura. desvanece daí por diante a presença do meio. . Por isso.reclamando esforço aturado de imaginação. A narrativa se funda em pessoas e lugares alheios à experiência de Bernardo fazenda luxuosa de Campos. A primeira falha que notamos é a do senso ecológico: embora também se abra por uma descrição de fazenda. . . atenuados noutros livros pelas virtudes duma desafogada e espontânea naturalidade: idealização descabida. quando os abandona. quando o seu próprio caráter de tese requeria maior peso de realidade.o. termi nando tudo com a punição dos culpados e o triunfo dos justos. o cavalheirismo de Álvaro. vai diretamente às lendas. um dos amparos da sua técnica. a pureza monocórdica de Isaura. no pior sentido. são a vilanice de Leôncio. Ora. da fantasia de tantos poemas seus. A Dança dos Oss os. Avultam deste modo os seus defeitos. de nobre caráter. a cuja custa se desenvolve. Pa ra prescindir daqueles quadros sem sair da realidade é preciso força imaginativa bem acentuada. O malogro é devido em parte à tese que desejou expor e faz da construção novelesca mero pretexto. é o caso da maioria dos nossos romances.como tinha Alencar e não tinha Bernardo.manifestações na ficção.O Pão de Ouro. . O resultado não foi born: o livro se encontra mais próximo das lendas que dos outros romances. que se poderiam definir como participando de um universo de invenção limitada sendo o limite constituído pelos dados iniciais da realidade de que o escritor tem conhecimento. Neste livro Bernardo aparece como o caipira que perdeu autenticidade ao envergar roupas de cerimônia. A Garganta do Inferno. já que não soube transcender o torn esquemático. banalidade e excesso dos adjetivos. ênfase psicológica e verbal. A Escrava Isaura foi composta fora do enquadramento habitual dos outros romances e é algo excêntrica em relação a eles: conta as desditas de uma escrava com aparência de branca. educada. caracterização mecânica dos personagens. De sagradàvelmente românticos. Recife. . vítima dum senhor devasso e cruel. em frases que sintetizam a posição ideológica do autor: "Parece que Deus de propósito tinha preparado aquela interess ante cena. mostrando que uma escrava pode valer mais do que uma duquesa. Tanto mais quanto o romancista timbrou em passar da descrição à doutrina. que pôs em relevo ante a imaginação popular situações intoleráveis 24O do cativeiro. atingind o pessoas iguais na aparência às do grupo livre. "original e excêntrico como um rico lord inglês. considerada a situação brasileira do tempo. como fez. arma polêmica. . não é qualidade desprezível. Mas.Álvaro declara.9 . Depois da cena do baile. seu apaixonado Álvaro. . lembremos que a cor de Isaura é não apenas tributo talvez inconsciente ao preconceito (que aceitaria como heroína uma escrava branca). (que) professava em seus costumes a pureza e severidade de um qua ker". daí provém igualmente o alcance humano e s ocial que consagrou o livro. que "tinha ódio a todos os privilégios e distinções sociais" e "era liberal. para mostrar de um modo palpitante quanto é vã e ridícula toda distinção que provém do nascimento e da riqueza para humilhar até ao pó da terra o orgulho e fatuidade dos grandes e exaltar e enobrecer os humildes de nascimento. Serve finalmente para facilitar a ação de Álvaro. destacando-o como panfleto corajoso e viril. em que Isaura é desmascarada como escrava fugida. pondo na boca de personagens (sobretudo na parte decorrida em Recife) tiradas e argumento s abolicionistas. mas ainda.mancebo impecável. mostrando a extrema odiosidade a que podia chegar a escravidão. Numa literatura tão aplicada quanto a nossa." A este propósito. compreenslvelmente apaixonado e decidido a desposá-la. republicano e quase socialista".de parábola. #l NOVAS DIREÇÕES DA POESIA Os poetas da terceira geração receberam o benefício de uma tradição literária apreciável.. Pode passar por uma senhora livre e de boa sociedade". tomadas na ma . POESIA E ORATÓRIA EM CASTBO ALVES. boca pequena. NOVAS DIREÇÕES NA POESIA. nariz saliente e bem talhado. TRANSIÇÃO DE VARELA.Rosaura. que solicitavam as formas de concepção e de expressão. rosada e bem lelta. (9) Veja-se a descrição da moça no anúncio de negro foragido. e tem uma boa figura. passado em São Paulo.) Iraja-ee com multo gosto e elegância. não pôde superar a só lida posição d"A Escrava Isaura. 4. não havendo disso melhor prova que as epígrafes dos poemas. dentes alvos e bem dispostos. 3. talhe esbelto e estatura regular (. é mais ou menos perceptível a marca de Gonçalves Dias. compridos e ligeiramente ondeados. Alvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Como teve excelente educação. Em quase todos. 2. 241 #Capítulo VI A EXPANSÃO DO LIRISMO 1. cabelos da mesma cor. porém. e possuindo menos exacerbação dramática. cintura delgada. que o relegou para a sombra.. canta e toca piano com pe rfeição. de que pelo menos três nomes se destacavam como fontes inspiradoras. dando a impressão de que a nossa literatura já havia cavado certos sulcos bem assinalados. refletindo experiências da mocidade e pondo em cena companheiros como Alvares de Azevedo e Aureliano Lessa. é bem mais interessante. com efeito. Vindo mais tarde. descartando qualquer traço africano e tratando-a como a mais privilegiada Heroína romântica: "COr clara e tez delicada como de qualquer branca: olhos pretos e grandes. A MORTE DA ÁGUIA. Daí a facilidade que amesquinha o v erso. defeitos de fatura. como o idealismo extremado e o preconceito sentimental. com os recursos técnicos. tirando-lhe o caráter de descoberta pessoal e de obtenção. amparada no acompanhamento de piano (a famosa Dalila). como o abuso da cadência musical. daí abdicar a dignidade do estilo em benefício de combinações vazias de significado. a preferência pelo verso expositívo e conseqüente incapacidade para o verso implícito.Varela e Castro Alves . É um momento homogêneo da poesia romântica com certo ar de afinidade presente na obra de cada poeta e. No decênio de 6O. sendo efetivamente musicada. pôde conservar os seus ritmos tradicionais (embora deslizan do aos poucos para os românticos). a estereotipia do adjetivo. não lido. às vezes no interior de cada verso da estrofe isorrítmica. que relega o nobre metro a melopéia automática e sem fibra. vazada de preferência no decassílabo sáfico mais cantante. Ao contrário da modinha. tão essencial à boa poesia. Defeitos da concepção. com a excitação de ep iderme própria da poesia acomodada em receitas. feito para ser ouvido. dissolvendo-a literalmente na melodia excessiva. que sufocariam a poesia romântica até provocar a reação inevitável. Se nos dois grandes poetas do momento . com efeito. com o decorrente exibicionismo. a já mencionada voga do recitativo chegará a tiranizar a poesia. . como fecundar e superar. no verso. estes poetas herdam os defeitos. aquela facilitação que permite manifestarem-se os medianos e medíocres. que. o interesse residia na melopéia crescente e envolvente do poema tomado em conjunto. o legado das gerações anteriores. devida não apenas aos ritmos românticos como à rima interna.a força da personalidade e a intuição artística podem não só assimilar. 245 #ou de significado acessório.ioria a poetas brasileiros. sentimos manifestar-se nos menores um automatismo desprovido de surpresa. pois. o recitative precisa criar uma música própria. com defeitos e tudo. pobre: não te posso amar! Pequei.Ao fim da segunda ou terceira estrofe já não prestamos atenção ao conteúdo. lamuríosos. ou a mancha que lhe trouxe o amor. Monteiro Júnior) A virgem da noite no azul transparente Do lago tremente reflete o perfil: E o manto de estrelas sorrindo desata Em ondas de prata no éter sutil! (Emílio Zaluar) Encantos santos que gozaste e amaste O mundo outrora. (Genuíno Mancebo) Minh"alma é triste como a luz dos círios Bem junto à eça que sustenta um morto. Perdão donzela. onde atinge ao máximo a vocação letal do Romantismo. os temas são os mais desfibrados. entregues ao torpor an estésico. se te amei com ânsia. Que o pobre é nobre na mansão celeste. por te amar. 246 . .rica. perdido: A meu gemido teu desprezo deste: Não te envergonhes de alentar o pobre. o do "quero morrer". Sobretudo porque. P. Se ousei na infância meu amor te dar: i! Nasci na plebe. para lembrar o poema-paradigma de Casimiro. ressaltando o que há de afetado e artificial. É como o órfão que em saudade apenas Tem o direito de encontrar conforto. donzela. Tu . o de "minh"alma é triste". tu nasceste nobre. com desdém mordaz. (J. numa verdadeira ressonãoncia psíquica. que está na sua origem e é submetido às mais diferentes variações. havendo alguns que se repetem quase obsessivamente de autor para autor. Há nesse sentido verdadeiros ciclos a que se poderiam dar n omes: "do perdão erótico".o poeta implorando que a donzela perdoe a ousadia do seu desejo. piegas. o poder de convicção é nulo. eu . Mas no nível semipopular e mecânico da maioria destes versos. \ ". A passagem de Casimiro a Pedro Luís. percorre-o uma onda de poesia participante que vai eclodir no assomo admirável de Castro Alves: são os poemas sonoros de Pedro Luís e José Bonifácio.. pois. esta geração traz contribuições válidas..". Esse decênio de 6O . " :" Roubou. Riachuelo. com Tobias Barreto... V ."-" :. o início da agitação abolicionista e republicana. No temário.-"!. a cisão radical dos liberais em 1868. no início do decênio de 6O. Euclides da Cunha estimula os sentimentos cívicos com a inauguração da estátua de Pedro I. com o caso Christie."".... "a mentira de bronze"."--""-" Abismo infrene da paixão audaz.cuja importância em nossa vida política foi acentuada por Sílvio Romero.pois foram fases mais ardentes e decisivas para o país. o movimento da Independência e toda a ebulição democrática do período regencial deveriam ter sido estímulos mais poderosos para a imaginação literária . depois.t .. e até um mastodonte em cinco cantos e oitava rima. - Sorrias. porém... " Tu fôste a fada dos salões da orgia.-. Bernardo Guim arães. .:-. ... mais de uma vez. que lhe caracterizam a fisionomia. com a sua atmosfera política carregada de acontecimentos geradores de explosões cívicas facilmente explicáveis. Marcam-no a virada nas eleições de 186O. Nabuco e. é todo o ciclo paraguaio. De ponta a ponta. brilhou. é expressiva e esclarecedora. .rj -: -. são os poemas mexicanos e antíescravagistas de Varela. de Luís José Pereira da Silva. lançou no profundo imundo ". a fundação do Partido Republicano em 187O. a guerra do Paraguai. vias ao teu lado amado f A mão do rico te apertar tão fria. Poder-se-ia.. Enquanto o encanto realçou.< .. dizer que o fator determinante da nova orientação poética se encontra no próprio decênio de 6O. como o rompante da poesia política e humanitária.?-( . o moço. ampliando o ecúmeno literário num largo gesto de desafogo. O patriotismo e a exaltação ve . (Cândido José Ferreira Leal) * . Entretanto. . É que a literatura não tem um fator que a determine. os sentimentos cívicos e o amor da liberdade manifestaram-se melhor na oratória e no jornalismo. recitatives. porém. que veio nos atingir com Palmeirim. os oradores de alt . Em 186O.o da história universal.rbal não lhes faltaram. além das costumeiras influências exteriores. a sua hora já havia esteticamente soado. Coleção de Modinhas. já vimos que a poesia se beneficiava de uma tradição mais rica. as congratulações oficiais de Gonçalves Dias. esta brot ou principalmente de um amadurecimento interno. ou do nosso passado lendário. A realidade presente era um alimento muito forte para os seus tateios. 247 #estímulo interno. ou as modificações econômico-sociais que nutrem o gênio dos poetas. Victor Hugo. lundus. mas faltou o (1) Os exemplos 8ão tomados aos diferentes volumes do Trovador. das novas características do discurso político. nem são os acontecimentos políticos. Quant o ao romantismo nascente. provavelmente. 1876. Por outro lado. arias. as lutas liberais na Europa e o arranco democrático da França. se os acontecimentos de 6O em diante deram matéria e estímulo para a poesia. pois. sobretudo. quanto. Mendes Leal e. De 182O a 185O houve estímulos exteriores. mas na poesia. o fraco lirismo heróico de Natividade Saldanha. cerceado em 1852. ficaram as odes medíocres de Alves Branco ou do moço Gonçalves de Magalhães. voltados para o pitoresco e a remin iscência idealizada. Até então. na corrente literária e nos escritores. inspiravam uma poesia participante e grandfloqua. que a encaminharam então para as intenções públicas. com efeito. o hino de Evaristo. a sua orientação inicial visou outro tipo de vibração heróica . Assim. O neoclassicismo em decadência mostrava-se incapaz de dar forma aos sentimentos nacionalistas de muitos dos seus cultores: o seu reino era outro. O seu torn oratório (incorporado definitivamente e guardado através de transformações quase até os nossos dias) vem não apenas da imposição dos temas. etc. vinte e poucos anos de fermentação e pesquisa haviam afinado o instrumento e alertado os espíritos.. A América. que designava inicialmente. ficando a agitação de rua entregue aos capangas da retórica.o nível falavam sobretudo no recinto fechado. na nova onda democrática de 6O. e os poetas são também tribunos que se apoiam na coluna do jornal. o ultraje do ministro inglês. Conseqüentemente. celebrado por todos eles. A República. nem por isso de men or veemência: O Diário do Rio de Janeiro. Não provaram-lhe o denôdo """" As águias do povo-rei? - . ou pouco sentidos pela geração anterior. mais tarde Rui e Nabuco. tudo de envolta. por Varela. poemas. poetas. ocasiões de passeatas. povo como fonte de soberania. numa vibração liberal. e não o povo romano. o jornalismo político começa a prescindir do pasquim e da difamação. concebida como pátria da liberdade e do 248 futuro. de que a obra de Castro Alves permanece o documento mais alto e duradouro. os grandes oradores virão mais vezes à sacada. como Pedro Luís ou Castro Alves. que assume a conotação de povo soberano . são toques de reunir para demagogos. Acontecimentos como a inauguração da estátua do Rocio. à praça. humani tária e patriótica. pois. Estados Unidos. manifestando-se em folhas de maior porte e dignidade. cantados por Castro Alves. o d""O Livro e a América". Saldanha Marinho. discurseira. A Atualidade. por exemplo. comunicar diretamente ao povo um teor bem mais elevado d e forma e pensamento: Teófilo Ottoni. Ao mesmo tempo. jornalistas. Pedro Luís. Poesia e oratória se aproximam. e sobretudo o continente na sua totalidade. Modifica-se em muitos a expressão povo-rei. surgem na poesia certos conceitos novos. certos temas desconhecidos. a lei de 27 de setembro. Na "Hermengarda" de Kubitschek. México. a partida de voluntários para o sul. " As águas cobrirão os tronos todos. já surjjjO o sentimento democrático: Libertai tribunas. São fracos. De novo as águas de um dilúvio imenso r ". Só a arca do povo há de salvar-se " Por sobre a inundação.poeta bem inferior a João Júlio. em 1872. ("O Século") Saudando o Imperador. ("Ave Imperator". no Brasil.". que ". Não calqueis o povorei! Que este mar de almas e peitos. . i4. prelos. Em Castro Alves.. digna de Castro Alves: 249 #.se havia diri"ndo dois anos antes "Aos Operários". Varela.: . como em "Redenção" (187O): Porém não tardará que do Oriente despedacem Das tênebras o horror. representava não obstante progresso digno de nota: ." r1 4 " Inteira a criação.ainda é esta a sua acepção . com as vagas de seus direitos."" "f Hão de afogar . Rozendo Moniz Barreto tem esta tirada de má poesia e sincero liberalismo: Repercuti uníssonos.". numa festa do trabalho com o torn de fraternidade universal algo paternalista. Jorrem raios de luz. e afinal Castro Alves . encharcado de Álvares de Azevedo. ecos do Novo Mundo: . honra-se um povo-rei! .. -"". Casimiro. Da liberdade o hino descantando Em êxtases de amor.em punição tremenda -*r . mesquinhos elos.".Em Pedro. í O homem acordará do sono ignóbil. Rozendo Moniz .< " .epígono da cabeça aos pés.abandona por vezes a sua placidez para cantar a democracia e a liberdade. Virá partir-vos a lei.-". Vôos IcáriosJ O simpático João Júlio dos Santos . que é rei-povo. } e esta imagem.-": . que. -". r.. mas.. revolto. nesse instante Frenética e viril ergueuse uma nação! Esta é a estrofe inicial da "Terribilis Dea"." . e a própria musa da ciência que abre . Desses vós sois.!!". surgis do nada.. converto em hinos meus trenós.. decalcada por Castro Alves na réplica por ele escrita. Inspirada e gentil Narcisa Amália. que até uma jovem ftrtttMaense. . da saudação benevolente e carinhosa de Varela.. de Rozendo.. a . com o próprio Varela e Pedro Luís. O prefaciador das Poesias."! "--:- A moda principiara todavia uns dez anos antes.. incansáveis proletários. na "Solemnia Verba".. Apesar de pouco fecundo.-. invectiva a tirania nas suas Nebulosas (1872). tudo alcança o labor. O raio iluminou a terra. . o tríplice brado altipotente Do peito popular. Resplendente de sol. . cujo renome foi devido ao torn mais ou menos novo que trouxe em meia dúzia de peças altissonantes. . no seio da geração que sucedia à de Álvares de Azevedo. Vemos também a sua marca na "Ignobilis Dea". ("Vinte e cinco de marco") .. referin do-se ao seu aparecimento. e logo absorvido pela política.. e os peqtienosgrandes louvo. operários. assinala que a sua glória consiste em haver quebrado "a monotonia daqueles cantos tristes com os clangores do seu clarim de guerreiro". influiu profundamente: 25O Quando ela apareceu no escuro do horizonte. sobre a imprensa. O arrebatamento é tão forte.. de sangue fumegante.. de Luís Delfino. canta a revolução e : . sois da última camada " " do povo. a palidez na fronte. de vibração patriótica e política. i :*ü "" O cabelo Aos ventos sacudindo o rubro pavilhão. Poetisa imortal . que só desdenham do povo. exemplo de honra e de amor.!.Infenso aos grandes-pequenos . . Poeta menor não obstante a desmedida vaidade e o incenso dos amigos (Sílvio R omero consagra-lhe 11O páginas na História da Literatura Brasileira.. A largueza das su as apóstrofes. Vão-se erguendo. .as Visões Modernas.. . ..i Da voz dos Nunes Machados.. contribuíram com certeza para difundir e fixar o novo torn.. y"Teus edifícios doirados . . - De pedra......( . . é calcada nesta revolta imagem feminina que parece ter impressionado toda uma geração.. a seguir.. quando estudante naquela cidade. penetrados . fogo e loucura. as férreas jubas. de Martins Júnior. . : Brio da altiva nação. . . .. Vota-se à trevo... ferro e bravura.^ ". ao abordá-lo.. em 15 páginas!) . .. candente. o busto dos Andradas.". . . ("Á vista do Recife") 251 #Se a este exemplo juntarmos o já citado. . Que despertam as nações.: De glória. a escolha deliberada de assuntos arrebatadores.. Some-se a glória de ferventes mártires -r Eriçam-se . e um de Varela. .. Quem ê que lhe põe a mão? Assopras nas grande tubas. Tobias Barreto trovejava 11O Recife a grandiloqüência que se chamou condoreira e o moço Castro Alves absorvia. :.. É a cidade valente : : ".. de Pedro Luís. Soberba. Mais ou menos pelo mesmo tempo. - De aurora e de formosura. ".. : . . : . . ilustre. Vivam as revoluções.. chamando Castro Alves de seu "aproveitado discípulo". da "Estátua eqüestre" (1861). Do grito dos Camarões.Tobias Barreto deixou alguns poemas heróicos de born corte oratório. . com a predisposição de leitor precoce de Victor Hugo..*. Como uma imensa explosão. . . ..-. . fundindo humanitarismo. num tumultuoso decênio de sonoridades e melopéias. etc.são. E ver que. em meio ao ribombo da poesia social e heróica.Na. Sob este aspecto. A fase final do Romantismo se desenrola. num cruzamento do verso com a ênfase do discurso. quando não substituídos. Varela chefiaria o primeiro. sem prejuízo de um ou outro apelo a Calíope. Narcisa Amália. Ê na poesia abolicionista que estas tendências vão encontrar expressão principal. noutro grupo. os sentimentos fugidios. Quase todos os poetas da geração pagam-lhe tributo. como As duras patas do coreel de bronze O chão do pedestal! poderemos sentir a nova inflexão da poesia romântica. Machado de Assis. pertenceriam Tobias. embora apenas Castro Alves a tenha elevado à categoria de grande za: Varela. como os de inspiração política e social. no último período. Ao segundo. Luís Guimarães Júnior. Melo Morais Filho. as inflexões post-casimirianas que percorrem esta fase e se manifestam com verdadeira beleza na obra de Varela. pois. Narcisa Amália. em que se podem enumerar João Júlio dos Santos. Rozendo Moniz. . lama do ervaçal! Mas fria a estátua pisa a turba. no momento em que a sua dissolução pela música atingia o ápice. que p rolongam o "belo doce e meigo". ao menos sotopostos a sentimentos precisos. Não esqueçamos. aptos à expressão musical . claramente afirmados. Rozendo Moniz. os que trouxeram à lírica entonações mais fortes. Melo Morais Filho. a oratória se intensifica. Luís Delfino. Tobias. com preferência marcada pela energia da dicção e a seiva ardente do sentimento. com Castro Alves à frente. poderíamos juntar num grupo os poetas sentimentais. Otaviano Hudson. João Júlio.característicos de Casimiro ou Teixeira de Melo . funcionando como recurso de preservação da palavra. rebeldia e quebranto lírico. . Faze que eu possa. em 1869. fluente. o juízo 252 253 #seguinte: "Seu estilo vigoroso. os sonhos. porém. Quando tudo na vida lhe sorria. são reclamadas e necessárias ao verso lírico. a partir do qual tornam-se cada vez mais possíveis os versejadores e cada vez mais raros os poetas.como num poema de João Júlio: Da primavera na estação ridente. de repente. ("Arroubo") Poesia insignificante que não fazia prever o poeta mais vigoroso e artista dos Sonetos e Rimas. compostos sob a inspiração de outros cânones. Sobre a pedra de um túmulo esfolhados. as crenças. "-" Astros sumidos sob um céu escuro. . a morte é traidora. crenças no futuro. mais brando e plangente. anelos.Seria dor sem nome . É quando a primavera é ridente. No trilho em flores a seu pés aberto. pálida.que ali bem perto Negro o abismo de um túmulo o esperava! Ah! ver de um golpe sonhos mil dourados. a campa é fria. . dourados. sentimos que o Romantismo havia atingido aquele sistema de clichês.infeliz! . Amor. graças ao automatismo dos processos literários. ao publicar Corimbos. Narcisa Amália de Campos vale ser mencionada como exemplo típico da pessoa de aptidões medianas que pode. seu perfume aos céus se alteia. a vida sorri. suas convicções. . Morto o corpo. sem o seu nervoso e encoberto ardor: Olha-me ainda! Delirante. tão eufônicas. acadêmico. a riqueza das rimas. . toda esperança: Morta a flor. ("O. Lendo-a. . Sem dó prostrá-lo sobre a campa fria. Banha minh"alma nesse ardente olhar! Deita em teu seio a minha fronte eálida: que inda possa amar! Por que tremeste? A viração perdida l Dorme na r eiva doe ver géis em flor: Tudo é silêncio e tudo fala à vida: Calate e escuta: vai passar o amor.") ". -..se uma idéia Noa despontasse em nós.. nossa alma em Deus descansa. Por onde crente e alegre caminhava Não sabia . versejar desembaraçadamente e arrancar de uma crítica não menos automatizada e gratuita. mostrava-se epígono de Casimiro de Abreu.Luís Guimarães Júnior. desfolhadas . Veio traidora a morte. confirmam a sua surpreenden te e rápida aparição. pelo menos nele. se não for certa mistura dos dois tons gonçalvinos: a harmonia livre do lirismo . justificam a sua já precoce celebridade. denotando o sabor agreste dos poetas nordestinos e nortistas da 2. n""O Beijo ". E. Desperta. Machado de Assis teria por característica a banalidade. Há nas Crisálidas (1864) uma linha casimiriana menos piegas e também menos emocional. São bem penteadas e não fazem feio. mas a correção.a e da 3. também. As suas poesias amorosas são veementes e bem lançadas. de visível impregnação alvaresiana: A lua é meio loura. no vale. roçando por vezes na vulgaridade e mesmo grosseria. e o céu sereno. ("Lenda civil") Se fosse mau escritor. uma saúde mental inexistente no mórbido sentimentalismo da época. No agreste vale em que "medito a sós. que aparece com mais firmeza nas Falenas (187O).Mais robusta é a obra lírica de Tobias.a fase romântica: cheiro de relva molhada. lânguida. sob pretexto de faceiríce. não bas ta para esconder a falta de originalidade. e apenas vez por outra consegue versos de certa ressonãoncia profunda: Há muita sombra. alegre. nas poesias da fase romântica. que podemos vislumbrar. como n""O BeijaFlor". meu amor. nem inquietação estilística de qualquer espécie. humorísticos. como em nenhuma outra parte da sua obra. sem nenhum refinamento formal. mas nada acrescentam. presença tan gível de flores bravas e gente do campo. estremecida. precedida do respeitoso coro da crítica sincera e grave". as Americanas (1875) são o último produto apreciável do indianismo pela fatura cuidadosa e a limpeza de composição. ("Carmen") Ou nestes. Acomodou-se bem dentro dos torneios e ritmos usuais.falando à alma e à imaginação. no "Papel Queimado". A noite é uma viúva de quinze anos. nacional e o exercício vernáculo das peças medievistas. Cópia servil dos homens. um caso fácil de psicologia . Coube-lhe a s ina de reviver essa furiosa boêmia. semelhante a um epigrama irônico e sentimental de Ronald de Carvalho: Taça d"água parece o lago ameno. ó natureza. Faz-me rir ver-te assim. Não é. é. já estava amortecida a tradição byroniana do decênio precedente. que apenas uma tensão espiritual acentuada permitiria a esse ébriò contumaz elaborar o longuíssimo poema d"O Evangelho nas Selvas. poesias de Narcisa Amálla. nos encanta hoje a "Lira Chinesa". poetar. por volta de 186O. 255 #2. mais altas. Que as árvores em flor. de que nada fez senão beber. vaguear e desvairar-se. 254 Dessa primeira fase. cobrem corn verdejantes tetos. pág. traduções onde o caráter direto e concreto da poesia oriental.como este moderníssimo "O poeta a rir". .. pois. Têm os bambus a forma de cabanas. todavia. A impressão deixada por ele. As pontiagudas rochas entre flores. lembremo-nos sempre. Mais tarde.. nas Ocidentais (19OO). "Prefácio" a Nebulosas. tendo sido no Romantismo o último arcanjo revel. (2) Pessanha Póvoa. TRANSIÇÃO DE FAGUNDES VARELA Quando Fagundes Varela surgiu na vida literária de São Paulo. .. . permitiram ao poeta uma forma contida e expressiva. a sua representação sintética da natureza e dos sentimentos. . sua vida tem algo do "desregramento prolongado e minucioso" a que já se tem condicionado o milagre da poesia.a concepção da literatura como broto de uma vida necessariamente desbragada e misteriosa. a experiência parnasiana e sobretudo o amadurecimento da sua prosa ajudaram-no a encontrar uma poesia filosófica pessoal. com efeito. Dos pagodes o grave aspecto ostentam. adequada à serenida de dos temas. passando pelas Vozes da América (1864). sem manifestar uma equação pessoal. amoroso. certamente. absorveu várias tendências anteriores. Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo aparecem bem aproveitados por esse discípulo de gênio. mas bem delimitada por certos rasgos denotadores de vocação poética. Os ciosos de unidade e originalidade costumam por is so menosprezá-lo. vai das Noturnas (1861) aos Cantos e Fantasias (1865). A primeir a. que soube extrair de les as 258 Varela (Cortesia da Biblioteca Nacional).literária. deixando entrever de outro lado o que se faria em seguida.patriótico. documento precioso para estudar influências literárias no Brasil. o mais propício num espírito ameaçado pelo álcool. ainda bastante densa. Sua obra tem pelo menos quatro ou cinco aspectos . Mas Varela não é poeta fácil nem contraditório. Não é tampouco fácil o seu caso em face da história literária. bucólico . perdendo-se entre as correntes. nada mais tenha feito que continuá-las. . e é injusto inferir que. terá contribuído para amparar-lhe a inspiração. Vivendo na última fase do Romantismo. doutro lado. religioso. em geral o melhor nos temperamentos facilmente esgotáveis do Romantismo e. e melhor.versados em duas fases nas quais deixou a marca de uma personalidade versátil. é o momento do primeiro ímpeto criador. além do valor artístico. enquanto os amantes da inspiração fácil e generosa querem-no ao lado dos maiores. estimulando-a por caminhos mais ou menos estabelec idos. apesar de refletir mais de uma tendência. A atmosfera romântica. Os dez poemas das Noturnas constituem. Casimiro. Que rolam na praia mil vagas azuis. provém da segunda parte da Ura dos Vinte Anos não apenas pelo spleen byroniano do herói. Tranqüila sorrindo num brando sonhar. Após haver jantado. à eternidade Foi ver se divertia-se um momento. de ter ceado entre dois padres. "Vida de Flor". mas. "Tristeza" eco dos Pnmeiros Cantos."Fragmentos . verso gonçalviano e tema azevediano. E sobretudo: Por fim de contas. melhores lições.Pelo Papa! Ê preciso tentar. Eu vi entre as flores de névoas imensas. Pegou numa pistola e. que em suas mãos atingiram o máximo da musiculidade: Nas horas tardias que a noite desmaia. uma noite bela. Em casa da morena Cidalisa. como pelo próprio torn e natureza das imagens:3 . " ." " /Ir . em todo o caso. entre as fumaças Do saboroso havana. ". Depois. disse consigo. serena dormindo. E a lua cercada de pálida chama Nos mares derrama seu pranto de luz. " . com admirável tato poético. com a marca visível dos modelos. Era mais caprichoso.(Cortesia da Biblioteca Nacional). exercícios me lódicos de um casimiriano embriagado ao som dos versos. mais vário "" Que um profundo político: uma tarde. " . -A este pasticho se acrescentam peças menos diretamente condicionadas. Castro Alves . mais bizarro. "Arquétipo". "Névoas". recordou-se Que ainda era solteiro! . " Que em grutas extensas se elevam no ar. i Do que um filho de Âlbion. para dar um exemplo. Um corpo de fada.#i^* s f ~*~^4 *v~ ^-^ ^f. que parece ter sido um dos estímulos principais da sua inspiração. parecem dissolver na música a emoção poética. as Noturnas marcavam não só o aparecimento de um born artífice. mas embora já provido de recursos próprios. datado de S. mas tentam alguns recursos novos. No livro seguinte. X) Dos Primeiros Cantos. lança a poesia por nov os caminhos de lirismo épico e narrativo. Paulo. homens como ele não apenas acusam certa esteriotípia. mais dez estrofes onde o endecassílabo martelado em estrofes isorrítmicas. o primeiro dentre os poetas de alto nível a cultivar com abundância a rima interna. da "J"S&FSFSXSS^^ -a-. no qual se situa Varela. de rimas internas. como o alexandrino e o aumento da tensão hiperbólica. fará mais política rimada. embora a presença muito sensível dos modelos não facilitasse plena afirmação pessoal. foi como se adotasse os processos da subliteratura de recitative. os mesmos que Castro Alves trilhará logo a seguir. Dois anos depois. ("Juvenilia".* Assim . sacrificando a coerência em favor da anestesia pelo som: À luz d"aurora. nos jardins da Itália. de Gonçalves Dias. Conta-lhe o vento divinais desejos E geme aos beijos da mimosa flor. ao seu livro inaugural. por sinal muito má. corn efeito. mas o alargamento de fronteiras poéticas pela importância conferida à poesia política. e mais a vaporosidade das imagens. Por isto. poema final da coletânea. Floresce a dália de sentida cor. 257 #revelam que se havia chegado a um ponto extremo da experiência romântica. n""O Estandarte Auriverde". n 5" A Estátua Eqüestre". preparando o arranco soberano e final de Castro Alves. estouro patriótico a propósito do caso Christie. Vozes da América.Como estas. Elas IBSl^que"T^vident^ntU" ZSh T "^ Intitulado Arquétipo. continua a assimilação de outros poetas. decorrem quinze anos que esgotam as principais orientações técnicas do Romantismo. no esforço de açucarar ainda mais o já de si melodioso decassílabo sáfico. por ele usado sem medida. Ao fazê-lo. Fagundes Varela.-. (Varela) Noutro poema. embora também nos defeitos que. rnprometerão boa parte da obra.. a discursividade por vezes frouxa. é decalcado em outro do mesmo nome. a seguir.E sempre fui Napoleão.Napoleão! (Palmeirim) Desde onde o crescente brilha Até onde o Sena trilha.servidores. não só nos temas do escravo. não obstante. . colosso. do poeta português Luís Au gusto Palmeirim. (4) Ao contrário do que se costumava afirmar. Comparem-se estas estrofes: Entre os fortes o mais forte."Deixa-me" .. E de um trono de fulgores Fiz dos grandes . 186187. Sempre por si teve a sorte. V. .uma viva lembrança de Álvares de Azevedo funde-se ao torn casimiriano. mas no próprio torn) um dos poemas mais castroalvinos. Teve sempre o seu condão: A França tinha por fito. o excesso de imagens justapostas. Té nas moles do Egito Fez ouvir . 258 [ Mas herói. neste livro (onde há tantas premonições de Castro Alves.... o resto do livro é marcadamente pessoal nas qualidades de melodia e generosidade lírica. Edgard Cavalheiro. mito. Tive imensa adoração. da liberdade e da justiça social. "Napoleão".senhores. Em cem combates de morte. t . sobretudo o derramamento. págs. lhe co . a influencia toi de Varela sobre Castro Alves. Tive o mundo por partilha. Fiz dos pequenos . voa. o melhor lirismo de Castro Alves . ("Ideal")" O livro seguinte.. 259 #Que levas sobre as asas ao passar.-. está longe. Manuel Bandeira. 4-. Cantos e Fantasias. a sina cumprirei! " Te seguirei. é com certeza o momento mais alto de sua obra. apenas ligadas pela vaga associação emocional. ( Todos os plainos de Salisa e Sur Perdem-se ao longe em nuvens de poeira. Sobre um trono de azul japonês. Lá nas terras do império chinês. momento ideal de maturidade e força lírica.-. surge a música vareliana em sua matizada frescura. de Vigny (pelo toque quase simbólico do verso). Ah! voa. espécie de poemeto impressionista em dez partes. Entretanto. junto ao vento que sibila nas aliterações. Na "Ira de Saul" . 82. de Byron. dos Poemas Antigos e Modernos. ressumantes de fresca melodia.. como neste charão de antegôsto fin-de-siècle: Quem eu amo. Num palácio de louça vermelha. (8) "Canto" e fantasias é porventura o seu melhor livro. onde a visão vai cavando. o lavor atento em rec obrir de esmaltada beleza um tema caprichoso. sua radiosa fusão do brilho da natureza com estados de alma inefáveis: Tu és a araoem perdida folha caída .belo poema onde se contém a substância do que será a "Hebréia". Eu sou a (S) Este poema íoi mais tarde musicado e se tornou canção bastante popular. te digo. com os dez poemas <Je "Juvenilia". pág..y:. A força plástica da estrofe inicial nos fecha numa atmosfera revolta. . num eco remoto das Melodias Hebraicas.demonstrando lacunas no discernimento artístico..6 Em "Juvenilia". Os furacões de Assur Passam dobrando os galhos à videira. quase parnasiano. ou seja. nalgumas peças reponta. uma dimensão intérmina para o pesadelo: A noite desce.transpõe a magia das evocações bíblicas. e mais ainda. na evocação da infância feliz na íazenda natal". Na espessura do pomar. Apresentação da poesia brasileira. as tendas Brancas sobre as encostas de Efraim. que o poeta representa por nova série de imagens visuais.. " -" " Lembra-me a vista do Carmelo. À visualização. Toma tu"harpa sonorosa e canta! A magia poética de Davi traduz-se num aplacamento. o perfume das romãs. em lugar do fel que enegrecia o peito do rei: . . Só eu conheço tão profundo mal.passando do desespero à fúria e daí à tranqüilidade. . .. Que lavra como chama e que consome A alma e o corpo no calor fatal! Na alma do rei o vento da planície é chama que lavra e cujo "soédio não ousa invocar. Minh"alma se exacerba.. aspectos suaves e balsâmicos da terra palestina: 26O Canta. onde o desespero cria também desmedida profundidade: ..que se incorpora ao do mundo exterior.. Toma tu"harpa. de cores escuras e movimentos violentos (a noite. . Lembra-me o arroto de florentes bordas Junto à minha romeira de Magron. no início. louro mancebo! O som que acordas É doce como as auras do Cedron. não tem nome. tudo se aquietando no movimento plácido das alvas tendas espraiadas pela encosta. como as "auras do Cedron" aos "furacões de Assur". Coalha-se todo neste peito agora: Oh! nenhum mago da Caldéia sábia A dor abrandará que me devora! Nenhum! Não vem da terra. O fel d"Arabia : . contrapondo ao furacão. E pouco a pouco apagam-se as tremendas Fúrias do gênio que me oprime assim! O movimento psicológico.. à treva. as tendas . . Oh! mais não posso! A ira me quebranta!. sem ousar igualmente repelir: Maldição! Maldição! Ei-lo que vem! s? . os galhos vergados) sucede a margem florida d os regatos. filho de Belém. da paisagem convulsa de sua alma.A segunda e a terceira mostram que a paisagem é simile da luta íntima de Saul. à areia.. é comunicado pelo correspondente movimento das imagens e o próprio ritmo. escada: a simbologia mística se humaniza e faz carne no lamento fúnebre. "Davi tomava a harpa e a tocava com a sua mão. . neste trecho do Livro de Samuel e no poema de Varela. vai encontrar no último verso outra evocação das Escrituras. Se há milagre poético. não obstante o peso das imagens acumuladas. a poesia. na poesia romântica. 261 #Eras na vida a pomba predileta." Longe da concepção geométrica desenvolvida mais tarde. A colisão de consoantes no início do segundo verso .. somada ao poder atrati vo do enjambement.força uma pausa.-:-"-. ó lagrimas saudosas. devemos procurá-lo nessa longa peça que. . A imagem inicial. ao verso inteiro. dos desenvolvimentos e invocações lançados sem economia.Brancas sobre as encostas de Efraim.. verso mais belo e sabiamente elaborado. na sua força de purgar paixões e refundir a visão interior."Brancas sobre" . dando força pictórica e psicológica ao adjetivo e. Paradoxalmente. . todavia. ao mesmo tempo. admirável toque de devaneio. estrela. de puríssima tonalidade bíblica. medicina da alma opressa. encerrando o poema numa atmosfera de transcendente fervor: Escada de Jacó serão teus raios. A "Ira de Saul" é de certo modo um canto sobre o milagre da poesia. então Saul sentia alívio e se achava melhor. com seus plurais arrastados e a clara visão de paz que transmite.."Tendas Brancas". na certeza que a obra de arte brotará da dor transfigurada. como do pai se elevou o poeta: Correi. esse virtuoso de rimas e melopéias encontrará o pináculo da inspiração no verso branco do "Cântico do Calvário". e o espírito mau se retirava d ele. Por onde asinha subirá minh"alma.f:Não há. à memória do filhinho Emiliano. correi. aparece como lamento e. . que.demora o acento da primeira sílaba.. não baixa um só momento o admirável vôo lírico de uma das mais puras emoções da nossa literatura. Pomba. transforma-se pouco a pouco numa entidade simbólica. podre. Fulgurar na coroa de martírios .! Mas não te arrojes. falando na voz dos ventos. operando o contacto dos impossíveis. . estabelecem uma corrente entre o mistério da criação poética e a extinção do filho. ao toque régio da Morte (.Correi! Um dia vos verei mais belas Que os diamantes de Ofir e de Goleando. guiando o pegureiro. A importância do "Cântico do Calvário" não vem apenas do impacto emocional. mas do cunho simbólico onde se fundem a experiência imediata (perda do filho) e a vista por ela aberta sobre o mistério da criação poética. . O despojo humano. Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho! Brilha e fulgura no azulado manto! a. destas em flores e pedras raras. porém na idéia que dele ficou.o filho morto concentra. lágrima da noite. \ iv( *Vos ondas nebulosas do ocidente! Brilha e fulgura! Conduzindo o ramo da esperança. Do galho eivado rolará por terra.. . não mais no corpo extinto. tornando a morte translúcida para o poeta e constituindo fonte sideral de inspiração: r". surgindo entre ambos a morte como i . trazendo o lume da aliança. volatilizado na imaginação pela alquimia da metáfora.. voando mais alto que o condor. a soberana Dos sinistros impérios de além-mundo com seus dedos reais selou-te a fronte).t. E o fruto de meus dias. da condição humana que sé-jctÉblvé em nada: Um passo ainda. Que me circunda a fronte cismadora! As imagens indicando transubstanciação da dor nas lágrimas. negro. E são teus raios que meu estro aquecem! n. as virtudes de intercessão e 262 resgate da humana condição. . onde os enjambements prolongam o grito d"alma qu ase até o limite do fôlego. como desdobramento do naturismo dos livros anteriores e oposição à existência nas cidades. para quem a natureza era o enquadramento mais equilibrado da vida. "Antonico e Cora". estrelas. em poemetos narrativos de toque malicioso e alegre: "Mimosa". luzes. flores. A emoção lírica e a beleza formal conservam-se em gr ande número de poemas. a iniqüidade. Varela conseguiu plasmar um instrumento admirável. diademas. a megera esquálida de tantas alegorias. com um toque bem romântico. se torna a "heureuse et profitable Mort"." A lama. redimindo a vida pela poesia. com uma profundidade rara em nossa literatura. a vida. O poeta não conseguiria mais atingir semelhante altura. o equilíbrio dos Cantos e Fantasias. Aqui o céu azul. as selvas virgens. o verso branco dos melhores momentos de Álvares de Azevedo e Gonçalves Dias. a liberdade! ("A cidade") Ao contrário do saudável Bernardo Guimarães.ntercessor. ao forçar o diálogo do artista com o que há nele de essencial. Cantos Meridionais e Cantos do Ermo e da Cidade. de B ernardo Guimarães. """"-. refinado por uma cadência mais lírica. como a encontramos já na "Orgia dos Duendes". não refúgio . a luz. Para exprimir essa emoção poderosa. Toma corpo o sentimento da vida rural. Eis a cidade! Ali a guerra. onde. ambos de 1869. o ritmo abreviado se reduz ao balbucio. a podridão. vamos sentindo o poder de resgate que ela assume. que formam um dos sistemas metafóricos do poema. noutros passos. Da queixa magoada brota não sei que exaltação triunfante. continua a poesia social e surge o idflio campestre. bem leopardiano. O ar. nos livros da segunda fase. as trevas. saudada no verso de Ronsard. nem tampouco. expressa nos raios. . Nos seus predecessores Bruno Seabra. como caboclo.nada há comparável às suas boas composições bucólicas. a andar. tão bem quanto ele. ("A Despedida") Nos momentos de crise (lemos em sua biografia por Edgard Cavalheiro) metia-se pelos campos e estradas. Juvenal Galeno e Trajano Galvão regionalistas nordestinos . ninguém mais dará. Como julgá-lo? Inicialmente. da queda de nível. familiares. Por isso. na geração seguinte. O Evangelho . no longo poema Anchieta. Varela amplia o território poético por uma retomada espetacular da poesia religiosa. pulsarão com real beleza . mais grupai que individual. nossa mãe sublime. depois dele. dias e dias. uma bóia para o espírito abatido. dessas que acompanham o sentime nto de falência associado às capitulações em face da vida. quando abandonou de vez os estudos e a vida da cidade para desaparecer na fazenda. Que nossas almas numa só fundira. informais e ao mesmo tempo harmoniosamente compostas. como "A flor de maracujá" ou "A Roca". pôde dar categoria à lira sertaneja. a nota caipira dos poemas rústicos. quase confundido com a terra. quem sabe. Datado de 1871. a natureza. foi com certeza elaborado nos anos imediatamente anteriores. arruinada nos mundanos cantos. Além do lirismo bucólico. Nestas condições. e de 1866 em diante (período correspondente aos dois livros em apreço) viveu principalmente na fazenda. prolongarão muito da tonalidade de seus poemetos narrativos e suas contemplações da natureza. ela aparece em sua obra corporificando verdadeiro sentimento de fuga. é possível que o burguês repontasse de quando em vez no boêmio. da carreira sem horizonte. Não é demais supor uma séria crise moral. é possível. encarnada nas relações da vida urbana: . descalço. ou o Evangelho nas Selvas. punindo-o com o remorso. E a própria marcha do drama interior o levaria a buscar um apoio. E a inspiração soprara-me na lira Muda. Largado no mato. Se Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.263 #de desajustado. nascido do horror insuperável pela norma social. explicar o empreendimento por um mot ivo psicológico. . que poucos. em más condições financeiras. É a cena das estalagens de Belém. parábolas e incidentes. transformando-a num desagradável nariz-de-cêra.. que aparece no começo e no fim de cada canto. nunca vista Nas eras que passaram. na China ou no Congo. No conjunto é um poema monótono e sem interesse. que perpassa de leve e morre como um sopro. a personalidade esfumada e melancólica da indiazinha Naída. -". no parágrafo 25 do Canto I. O poeta nada precisou inventar no tema central... sobretudo quando a narrativa cede lugar à descrição. inundando O rio. com um fio tênue de ligação..nas Selvas teria surgido como longo esforço para preservar-se. afirmando a própria dignidade. . Nem um momento temos impressão de alta poesia. evocações. Os extensos jardins. Há portanto duas linhas a considerar: o Evangelho rimado e a presença do Brasil catequético. sem o menor prejuízo. A narrativa poderia desenrolar-se. os campos. no parágrafo 28 do mesmo: Porém. não havendo relação necessária entre a matéria central (vida de Jesus) e o pretexto de imaginá-la narrada aos catecúmenos por Anchieta.. A concepção é defeituosa. desprovido de fibra criadora. Daí talvez o ar de exercício aplic ado e chato. Varela recorre a um verso mais austero. os vergéis frondosos. . sem que o caráter puramente acessório do caixilho indianista consinta a exploração poética do seu encanto. Aquela tem a coerência natural do texto bíblico. com um movimento vivo e desordenado de pessoas e animais. nos sidéreos climcut Uma formosa estrela. simples e fluido. a falta de inspiração é flagrante. Na parte referente aos índios e Anchieta. limitando-se a acompanhar os Evangelhos na sucessão dos milagres. embora surjam trechos belos. e os elevados Coruchéus dos palácios. da mais pura. em cenas que servem apenas de tributo ao se ntimento 264 nacional.. episódios frouxamente amontoados. . esta é um conjunto de descrições. Num esforço apreciável de superar o excesso de melodia a que se vinha abandonando. mas sem força. é a luminosidade da estrela dos Magos. milagre!. fulgurante Apareceu de súbito. Na vastidão perdeu-se! Os grandes lagos. Castro Alves. : . que. a invocação da pátria no começo do VII. sempre suspenso entre o born e o mau. como outro apoio da curva poética desse tempo. a prece do poeta (§ 7) e a belíssima morte de Naída (§ 14).Transformaram-se em mares encantados. no VIII.o Diário de Lázaro . As mil constelações se tresmalharam Quais errantes lucíolas: a láctea Banda que o firmamento em dois divide. Grutas de fadas e amorosos gênios. que deixou em estado de rascunho . . POESIA E ORATÓRIA EM CASTRO ALVES Ao grande pilar do romantismo inicial. superada no canto V (§ 3) pela da noite tropical. Ilhas de nácar. Como um cinto de frágeis filigranas. na cena em que fala o Taumaturgo. Gonçalves Dias. pálidas. composta pelo nosso espírito com farrapos da sua vida. no canto seguinte (§ 6). corresponde simètricamente. vai perder-se nas primeiras tentativas de reequilibrar a forma literária. mágicos pomares. a que se chamou Parnasianismo. Os tanques primorosos. A cena da Virgem Maria no canto VI (§ 12). Já ficou dito que cada poeta romântico tem uma fisionomia mais ou menos convencional. iniciada nos últimos dias do Neoclassicismo. sem cair nem transpor a meta. Totalmente irrealizada é a sua obra derradeira.talvez sejam o que resta da eficácia poética em meio à morna banalidade do poema. A dele ressalta imediatamente como o bardo que fulmina a escravidão e a injustiça.Da mais serena luz. poemas. aparência física. 266 3. . que haja caído Das empíreas alturas! Tristes.onde o verso prosaico e a falta de variedade psicológica desfibram o drama que pretendeu traçar. 265 #No fim deste canto há uma bela descrição da natureza na mata (§ 4O) e outra. no fim do período. as colinas Coroadas de vinhas e oliveiras. enquanto Junqueira Freire e Álvares de Azevedo. chama. depois de Gonçalves Dias. E a parte mais característica de sua obra é devida a esta projeção. ignorância. Esta simplificação da personalidade poética pela opinião corresponde ao seu traço mais saliente.de cabeleira ao vento. opressão. da mesma maneira que Gonçalves Dias para o índio. Talvez por sentir tanta obscuridade em tomo de si. do eu sobre o mundo. a sua novidade e força decorrem em boa pa rte duma superação do drama da segunda geração romântica: o conflito interior que. e. . para destacar a sua máscula energia de poeta humanitário. cativeiro. de início. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo (ou o oprimido em geral) como realidade presente. de músicas e gritos. entre bem e mal. caro aos românticos. Por isso ela encarna as tendências messiânicas do Romantismo. . . originando forte contradição psicológica. ele ficou sendo o cantor do negro escra vo. o contraste das trevas espancadas pela luz. pois. é projetado. uma . por ele. dobra o escritor sobre si mesmo. que amou realmente com sentimento de justiça mais imperioso que o de Varela. ele a vê sobretudo como resultante de lutas externas: do homem contra o sociedade. .a sua poesia faz um consumo desusado de luz. do que como episódio 267 #de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano em presa aos desajustamentos da história. e esta luminosidade o envolve num halo perene. .out ra maneira de sentir o conflito. viam a desarmonia como fruto das lutas interiores. do oprimido contra o opressor. transformando-se no maior episódio de literatura participante que o seu tempo conhe ceu. por extensão dos oprimidos. (Moacir de Almeida) Na própria visão que temos dele sobressai. Assim. vol. a marchar no itinerário Sem termo do existir. que não e para ele apenas caso imediato a ser solucionado. 3. Por isso logrou uma visão larga e humana do escravo. determinando a referida projeção dos dramas do eu sobre o mundo.. Revisão de Castro Alves. O Gênio é como Ahasverus. em busca de redenção e justiça.. "-"--. O movimento incessante de Ahasverus. há inicialmente em Castro Alves o sentimento da história como fluxo. pois. num excelente estudo de influências castroalvinas. poderíamos dizer que o principal fator da sua poesia é o complexo de Ahasverus o precito.Sob este ponto de vista. (como em Quinet). batismo luminoso Das grandes revoluções. 24-25. Daí um caráter peculiar da sua poesia: a psicologia do poeta criador se identifica em profundidade com o ritmo da vida social. . sendo símbolo da luta eterna da humanidade." págs." ("O Livro e a América") " i. um conflito de forças e contradições. é também símbolo do gênio.. cuja personalidade va i se redefinindo ao contacto das vicissitudes por que passa. buscado na versão épica de Edgard Quinet e corporificando toda a utopia libertária do século. E se o poeta pode e deve exprimir este processo. é porque também a sua vida e espírito são um permanente agitar-se. termo e episódio do velho drama (7) 268 Jamil Almansur Haddad.. mas s ímbolo de uma problemática permanente. superando-se igualmente sem parar pelo . solitário A marchar. o sentido em sua obra deste mito. e do indivíduo como parcela consciente deste fluxo.. corresponde ao movimento perene dos povos.7 Mas é de se notar que para ele o Jude u Errante. Assim. O mísero judeu que tinha escrito Na fronte o selo atroz! ("Ahasverus e o Gênio") Jamil Almansur Haddad esclareceu. com a eloqüência vazia e sem necessidade de nexo. a mesma i nterrogação angustiada que levou Villon a dizer que Deus preferia calar-se. embalam o espírito e dispensam a intervenção do sentido lógico. -Car an tancer U lê perdroit. o orador exprimia o gosto ambiente.". como born românticos.nesta famosa apóstrofe sentimos a mesma contentação digna e surda de certos grandes diálogos da poesia com o mistério do destino. . para não perder a discussão: Nostre Seigneur se tient tout coi.da alienação do homem. que se restringe por isso mesmo ante esta invasão imperiosa. Em Castro Alves vemos outro aspecto desse transporte poético: diluição do sentido. ressoante como cristal puro após tanto recital. Muitos dos seus poemas denotam a incontinência verbal tão brasileira. expressa pela floração de oradores que constituem a expressão intelectual mediana do povo. que sente. cu jas necessidades estéticas e espirituais se encontravam na sua movimentada elocução. discurso e antologia. incorporando a ênfase oratória à sua magia. . o orador de bestialógico." da luta perpétua entre o bem e o mal. no salão ou na esquina. . No limite. mas à retórica."^"|bênnoí. apoiada apenas nas combinações sonoras.. mais que agora. os extremos de musicalidade que. Ao seu tempo. se aproxima automaticamente do discurso. tínhamos. como força histórica. Nesta apóstrofe famosa e ainda fresca. cujo fluxo incoordenado representava por alguns aspectos a obra- prima do gênero. como ainda temos aqui e acolá.. nele como em Casimiro. Da presença da história decorre um compromisso com a eloqüência: a poesia. em Varela. não propriamente pelo abandono à mú sica. Senhor Deus dos desgraçados. Notamos . . ." -"Confessas?" -"Sim! confesso.E tu. És ciumenta?.."s ("O derradeiro amor de Byron") .. porque nos bons momentos há nele uma força de gênio que transpõe a emoção além dos problemas de gosto.. ("O Livro e a América") #Redomontadas semelhantes têm uma pujança que embriaga o leitor (mas sobretudo o auditor). E os Andes petrificados. . ao superar a tendência para o verbalismo sem nexo.." -"Mylord.. quando a vertigem oral e a necessidade de rima não têm a sorte de encontrar solução imediata de beleza." -"Que chama doida teu olhar espalha. Este depende de certo discernimento.. . : -"Vingativa?. dando à poesia poder excepcional de comunicabilidade. Mesmo os castroalvinos mais intrépidos (como é preciso ser) recuarão por certo ante coisas como estas: -"Como o sabes?. Outro as bagas do Ceilão. num país de prestígio do discurso: Dos oceanos em tropa. ainda que por lampejos. onde é fácil colher exemplos de semibestíalógico.. irmã! e mãe! e amante minha! Queres que eu guarde a faca na bainha! ("Amantf") . descartando o problema do gosto." -"Mylord." -"E o seu nome. Um traz-lhe as artes da Europa. certo gelo que permite suspender a emoção. mas em Castro Alves encontra o apogeu. alteza!.Esta embriaguez verbal existe em Pedro Luís e um sem número de poetas menores.. Como braços levantados. eu sou da Itália!" . ou a banalidade pomposa dos braços andinos. eu sou Princesa!.. presente em boa parte da sua obra." -"Qu"importa?" -"Fala. e nós acabamos por aceitar a pavorosa "tropa dos oceanos". Lhe apontam para a amplidão... O fogo permanente de Ca -"--"- stro Alves dissolve-o sem cessar... em peças do mais sério intuito e a obra autêntica não se distingue. Nos primeiro caso... O derradeiro amor é a Liberdade. Danton."Pescar almas pra o Cristo em todo o mundo. o abuso de apostos e a superposição de imagens sobre um tema. . mais comentário e reforço que necessidade interna do verso: Aqui . incoercíve l.o México ardente.Vasto filho independente Da liberdade e do sol - . Passando a outro aspecto dos seus defeitos.. de paródias como esta.Na hipérbole do ousado eataclisma Um dia Deus morreu. .. "Pescadores!. 27O vezes. fuzila um prisma Do Calvário ao Tabor! ("Tragédia no lar") "Mentira!" respondia em voz canora O filho de Jesus. como a obsessão descabida com a palavra orquestra. H . i Robespierre. notemos entre eles certa inconsciência da função da imagem. por (8) Trata-se dum diálogo de Byron com a condessa Teresa Gulccioli. Ó jardins de Capuleto. trata-se de um tr uque oratório por excelência. ou emoção.. "corn um anzol . aliás perfeita pela peOetrttfão nos seus processos literários: v -.a cruz!" ("Jesuítas") Recuarão por certo ante outras coisas. ou Espartaco rimando com Graco e Dantão com canhão! A tal ponto que o riso nos assalta.. A Polinésia é um coreto Onde o mar toca piston. nós vamos ao mar fundo ( . manifestada de dois modos principais. as mais das vezes deformada em orquesta para dar consoante. cheios de verdades E da sombra de Deus ("Confidencia") .vagas escarlates Toldam teus rios . ou simples efeito. " ". uma floração admirável de achados e tiradas da maior beleza dão-lhe aos discursos em verso um toque daquele "belo sublime". ou os detalhes pueris e desnecessários de "Tragédia no lar" . . visível na pouca discrição. rolava em declive." ("O último amor de Byron") Um grito passa despertando os ares.Dos servos de Sião. . Há pouco a liberdade o desposou. atirada no processo criador.lúbricos Eufrates .. incapaz freqüentem ente de conter-se. Levanta as lousas invisível mão.. " ("Ao romper d"alva") " E me curvo no túmulo das idades -.. 271 #Doutro lado.-A comparação aposta é recurso extremamente perigoso a que Castro Alves recorre por causa de métrica. . O amor que a Lázaro arrancou da cova. . Daí o excesso. A sua imaginação escaldante.que tornam realmente pesado o tributo cobrado pela oratória. rima. .vai implacável às últimas conseqüências. quando não por incontinência. Para citar um caso apenas. recuperado pela sua geração: Caminheiro! do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito do noivado. ("A cruz da estrada") -"Quereis saber então qual seja o arcanjo Que inda vem me enlevar o ser corrupto? O sonho que os cadáveres renova.Jaz por terra. veja-se o " Epílogo" do poema "Lúcia".. Nem sempre se contenta com o essencial ou a sugestão: uma vez embriagado sobretudo no discurso humanitário . espécie de moral-da-fábula do pior gosto. O ideal de Satã?.Crânios de pedra.. ("O Século") Prantos de sangue . Afrontando concepções anti-românticas de poesia pura. Shelley .com cada vocábulo de um contexto . a eloqüência aparece. quiçá o maior do Romantismo. como força realmente poética. inserindo-se deliberad amente no tempo histórico e social.como em Victor Hugo. Em Castro Alves . ressonãoncia que não conseguiu atingir e marca o âmbito verdadeiro da inspiração.como se observa também na obra do seu mestre Victor Hugo. no Brasil. mais tenaz do que se poderia pensar.Os mortos saltam. satírica ou simplesmente de idéias. em seguida nas partes. de vôos tão belos e decaídas tão freqüentes. Esta tenacidade resulta da sua profunda eficácia literária. nos pontos de ossificação da imagem e do ritmo interno. Da lua pálida ao fatal clarão. 272 Nos seus poemas há sempre uma atmosfera circundante. mas apesar de toda a energi . poeirentos. nele apesar de ousado e qu ase desmedido. "O Navio Negreiro" é lançado numa admirável parábola. nele. portanto. .limite máximo da concepção. ("A visão dos mortos") É. E quando a poesia assume compromissos com a vida. De tal forma que. permanece aquém da tensão que o suscitou: e o movimento essencial do seu estro deve ser apreendido em função da amplitude que envolve o sistema estrófico. A nos sa atenção moderna e algo míope com o vocábulo . deve haver explicação para a coexistência. torcido pelo menos na intenção pelos simbolistas. da correspondência a um desejo arraigado de compreensão pelo transporte entusiasmado. precisamente do fato de ser orador em verso. um grande poeta. Byron. na poesia política. é. poderíamos dizer que a sua excelência provém.atrofiou nas sensibilidades mais finas esta percepção das envergaduras. a virtude deve ser buscada sobretudo no movimento geral do poema. em boa parte. lívidos. uma espécie de eco dos versos. mais que recurso. O pescoço da retórica. .a poesia existe primeiro no conjunto. o verbo. Como born romântico. que precisa ser pressentida para compreendermos a sua aspiração ambiciosa. ela se ampara doutro lado em tal discernimento lírico da natureza e do sentimento. Ressalvados um ou outro poema lírico. Para podermos sentir bem estas afirmações é necessário analisar de mais perto o significado do tema do negro na literatura do tempo. resiste menos ao tempo do que a que procura evitar a marca do momento.a sociedade e o eu. em 1849.) as tendas Brancas sobre as encostas de Efraim "tem um poder sugestivo mais geral (porque mais liberto do conteúdo) do que . Mas se a de Castro Alves envelheceu em muito da discurseira returnbante. praticamente desaparecido da nossa vida. de Gonçalves Dias. escravizado. Os seus aspectos positivo e negativo atingem o grau máximo na poesia abolicionista. . Semelhante poesia. uma das pedras de toque do orgulho patriótico. que o seu efeito persiste em larga parte. . seja como estudo de cos- . seja sob forma alegórica. tendo funcionado como fixador de aspiraç ões e compensações da jovem nação. misturado à vida quotidiana em posição de inferioridade. representava quase um mito. . onde a beleza lírica se alterna ou mistura ao mau gosto oratório e folhetinesco. Existe um povo que a bandeira empresta Pra cobrir tanta infâmia e covardia. na Meditação. Ela é o seu florão maior não apenas por ser a sua contribuição mais pessoal à nossa evolução poética. O índio. podemos dizer que foi como problema social que surgiu primeiro à conciência literária. assertiva e deblaterante. há uma margem inexpressa de ressonãoncia. tornou-se paradigma de heroísmo. não se podia facilmente elevar a objeto estético numa lit eratura ligada ideologicamente a uma estrutura de castas. O negro. (. mas porque reúne os dois aspectos fundamentais da sua obra: poesia pública e poesia privada. dos apostos distribuídos sem medida.a condensada nele. origem que ninguém acusava. Enquanto se tratava de cantar as mães-pretas. amante. ser integralmente humano. Um golpe de vista.273 #fit? tumes. sem lenda heróica. lembremos mais uma vez o que se disse do indianismo. opinião que o mestre-régio Vilh ena exprimira com perspicácia definitiva. graças à glorificação do autóctone. mesmo rápido. admitir a iincestralidade indígena foi orgulho bem cedo vigoro so. tratando-o como herói. n"As vítimas algozes. Foi como sentimento humanitário que o abolicionismo progrediu na literatura e ocorreu na maioria dos poetas. facilmente predisposto à generosidade humanitária. viajantes. as crioulinhas peralt . Estas peças enfeixam a opinião dos publicistas. de José de Alencar. não apenas no público. graças à possibilidade de escamotear por meio dela a origem africana de uma cor bronzeada . . Talvez tenha sido Varela o primeiro a dar ao negro consistência mais nobre. era a realidade degradante. mostra todavia as resistências que o processo encontrava. como herói. sem categoria de arte. o escravo" (1864). podendo-a disfarçar. mas só Cas tro Alves estenderia sobre ele o manto redentor da poesia.sentimento de compensação para um povo mestiço. e Joaquim Manuel de Macedo retomaria com vibração humana mais indignada em 1869. pelo contrário. O negro. n"O demônio familiar (1857) e Mãe (1859). políticos sobre a situação de desequilíbrio moral resultante da presença do escravo no lar. Para compreender o verdadeiro milagre literário que foi a sua poesia negra. Trazer o negro à literatura. traçando o perfil heróico de "Mauro. os fiéis paisjoões. de história curta. foi portanto um feito apenas compreensível à luz da vocação retór ica daquele tempo. à entrada do século. nas obras que originou. já celebrado por escritores europeus e bastante afastado da vida corrente para suportar a deformação do ideal. mas no próprio escritor. . Morena flor do sertão.. deste modo. que a tinha assim crestado. com lábios carnudos do mais voluptuoso e encantador relevo formava com o queixo alburn tanto pronunciado e o nariz reto e afilado um perfil das mais delicadas e harmoniosas curvas. e que a sua cor natural era fina e mimosa como a do jambo". mas quem embe besse o olhar curioso pelo pouco que se podia entrever do colo por baixo do corpilho do vestido. E a escravazinha Rosaura.as. encaixá-los nos padrões da sensibilidade branca. . a fim de que o autor possa dar-lhes traços b rancos e. que parecia ter quatorze anos. Maria. são ordinariamente mulatos. no entanto. Apenas das faces um leve crestado. por Castro Alves. também elas. ia tudo bem.. de Bernardo Guimarães: "Eis uma menina. quando escravos. mas na hora do amor e do heroísmo o ímpeto procurava acomodar-se às representações do preconceito. sobrehumana.. é retinto e encarapinhado. Bernardo escrevia em 1884. Mas o fato é que mesmo este não ousou. bem podia adivinhar que era o sol. traços que atenuam os caracteres africanos. corruptor. de Varela. Eram-lhe as trancas a cair no busto Os esparsos festões da granadilha. Assim. insinuando um traço suspeito para justificá-lo adiante. Que aos sopros do gênio se torna um vulcão. cabelos de azeviche não mui finos e sedosos. de belo porte. As suas belas moreninhas (eufemismo corrente no tempo) possuem.) A boca pequena. depois da incorporação definitiva do negro à literatura. . no auge do abolicionismo.. O moleque d"O demônio familiar. Um fino cabelo. Traíam do sangue longínqua fusão. / " < . " diz da heroína da Cachoeira de Paulo Afonso. mas espessos e de um brilho refultfente como o do aço polido (. contudo anelado. Oh! Mauro era belo! Da raça africana Herdara a coragem sem par. A tez do rosto e das mãos era de um moreno algum tanto carregado. os protagonistas de romances e poemas. mas o nobre Mauro. ou com certeza não conseguiu romper de todo as convenções. Note-se a habilidosa tática de avanços e recuos. matreiro. È um ideal de justiça pelo qual se luta.o d""O Escravo". sem efetuar a penetração simpática na alma do negro. Que cabeleira abundante! Tais exemplos mostram as barreiras sociais."-. concluiremos que esta idealização foi porventura o traço mais original. Se encararmos a literatura sem os preconceitos que o naturalismo deixou e as correntes modernas não conseguiram ainda temperar. qu" aparece bem HO poema sobre "O Candomblé".representa. mesmo na participação sincera e indignada. não implica fusão afetiva.a pátria satiirnal! . duma parte.a fim de incorporarem o negro à literatura. não obriga o escritor a despir-se dos preconceitos da sua cor e sobretudo da sua classe. ou d""O Navio Negreiro" .. certa curiosidade realista.Quanto a Lúcia. apenas Melo Morais Filho denota. psíquicas e estéticas que os poetas e romancistas precisaram transpor . " .. Os cabelos caíam-lhe anelados Como doidos festões de parasitas. além do sentimento humanitário e a 274 275 #simpatia artística. no poema do mesmo nome. de Varela. Daí a extrema idealização de traços físicos e morais com que o apresentam. o torn humanitário e reivindicatório . bela testa espaçosa .. u i"! ---"--. -.neles e nos outros . com efeito. E sob o chapéu de couro."... mais importante e mesmo mais positivo da poesia neg ra. ... Lucas tem . a extensão à poesia de um mecanismo de pensamento e de um sentimento já existentes na oratória e largamente desenvolv idos nela. De outra parte... "-". Como roçam na vaga as andorinhas.A idealização. na ternura. Abrindo as vela* . como ser igual aos demais no amor.*. cada palavra.. tanto virtuosísticas quanto realmente criadoras. o eixo da sua obra.. Ela. "O Navio Negreiro" é menos rico sob este ponto de vista. deixando depois de lido tuna ressonãoncia que sulca o espírito Como um íris no pélago profundo! t Ao modo do "I-Juca Pirama". ao seu amor. Ao quente ar jar das virações marinhas. reduzindo-o à disciplina da arte. ruptura mais funda de prec onceitos que o lamento das "Vozes d"Africa". . O idílio trágico de Lucas e Maria exige. envolvendo o tema social do escravo no mais belo tratamento lírico.:.. em Gonçalves Dias. mas. não como espoliado ou mártir. da parte do leitor. o que é mais difícil. Veleiro brigue corre à flor dos mares. ou do índio literário. agindo no terreno lírico. permitiu impor o escravo à sensibilidade burguesa. a categoria reservada aos do branco. .. talvez A Cachoeira de Paulo Afonso seja o ponto central. mas nele a poesia oratória alcança uma grandeza sem desfalecimento. Por estes motivos. que j á havia dado um penacho medievalesco ao bugre. Castro Alves se tornou o poeta por excelência do escravo ao lhe dar não só um brado de revolta. conseguiu impor a dignidade humana do negro graças à poetização da sua vida afetiva. mas uma atmosfera de di gnidade lírica. porém. em que os seus sentimentos podiam encontrar amparo. ele representa em Castro Alves um compêndio das capacidades poéticas. 276 "Stamos em pleno mar.. } Semelhante estrofe permite avaliar o refinamento com que sabia modelar o turbilhão do verbalismo. uma beleza presente em cada verso.:-. na maternidade. ao garantir à sua dor. na cólera. apesar de defeitos e irregularidades. N""O Navio . no pranto. Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz. cinismo.quer nas imagens visuais. . Castro Alves se distingue dos outros românticos maiores pelo vigor da paixão. abatimento. como desejo. com efeito. a esquivança de Álvares de Azevedo. profissão de fé da poesia social romântica. o desespero acuado de . Perante a noite confusa. portanto. distendendo a sua obra como um arco. quer nos desenvolvimentos heróicos: Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós " Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem. que supera tudo mais: dúvida. como a da estrofe citada. de expressividade poderosa e simples. quer nos vocatives (ao albatrós. É a força que o anima. No plano estritamente pessoal. meu canto". aos "heróis do Novo Mundo").. melancolia. a pressão vigorosa da palavra. na vida íntima e pública. citemos um exemplo: a intensidade com que exprime o amor. Musa libérrima. o substrato que lhe fundamenta a percepção do mundo e. sentimos. tornando o poema inferio r à energia acumulada. surge aqui a missão definida três anos antes nos versos ainda juvenis de "Adeus. superando completamente o negaceio casimiriano. onde devemos buscar a fonte da sua expressão. com um misterioso eco circundante. Se pôde cumpri-la. que o nimba. "águia do oceano. foi porque manteve até o fim. encantamento da alma e do corpo. a visão poética. audaz! Plenamente realizada. ao se libertar. severa Musa. Dize-o tu. contida pela cutícula brilhante duma forma admiràvelmente elaborada.Negreiro".. intacta e pura. a grande capacidade lírica de vibração pessoal. frêmito. são? Se a estrela se cala. como se unem em metáforas florais a beleza da amada e o verso nela inspirado (são meus os grifos finais): Ê noite! Treme a lâmpada medrosa .Junqueira Freire. . na poesia romântica. a quem prendiam-no afinidades profundas. encontramos pela primeira vez.. saudade. O Poeta trabalha! . Que importa? A inspiração lhe acende o verso Tendo por musa . Ela dorme. outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poem as. O seu sentimentalismo amoroso percorre a gama completa da carne e do espírito. euforia.. A fonte pálida : Guarda talvez fatídica tristeza. . noite do poeta. como o de Victor Hugo.9 Graças a isto. inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança. não mera influência literária.o amor e a natureza l . após as construções da imaginação adolescente) per277 #correu-o como corrente elétrica. reorganizando-lhe a personalidade.. "Aves de Arribação".. que parece plena em "Boa Noite".. "Os Perfumes".Flor que abrira das noites aos relentos. onde não há lubricidade nem devaneio etéreo dissociando a integridade da paixão. sob as cortinas transparentes. "Aves de Arribação" mostra de que maneira a realidade imediata da experiência amorosa se transfundia para ele na criação poética. localizada e datada. formosa Julieta! Entram pela janela quase aberta Da meia-noite os preguiçosos ventos E a lua beija o seio alvinitente .Velando a longa. desespero. numa palavra. Além. . A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara (até que enfim uma mulher de carne e osso. é adulto. uma obra onde a dor não se traduz em lamúria... unindo a vida e a arte num movimento solidário. morto aos vinte e três anos) com uma profu ndeza e vigor evocativo só proporcionados geralmente pelo tempo. Que levaste-me a vida entrelaçada Na sombra sideral dos teus cabelos. 278 numa linguagem haurida neles e a eles retornando com a densidade da palavra elaborada. na vida sentimental brasileira. desmaterializando-o para reorganizá-lo como sistema quase subjetivo de signos.\"--E como o cactus desabrocha a medo Das noites tropicais na mansa calma. "Boa Vista" e "Horas de Saudade". . O mundo adquiria então um misterioso significado. 176. (além de "Aves de Arribação"). pág. tomadas ao cosmos e à terra. . como exemplo da fusão imediata de experiência e ambiente. valendo-nos do personagem autobiográfico de Victor Hugo. através da sedimentação lenta no subconsciente. vivendo a saudade (ele. que unifica incessantemente a paixão amorosa e o sentimento da natureza. Estréia. que fugiste aos meus anelos. marca a hora da Revolução. Neste sentido. A maioria das suas imagens são naturais. . Revisão de Castro Alves. Veja-se. admirável poema que termina com um puríssimo talismã E teu rastro de amor guarda minh"alma. cuja submissão inicial às sugestões do ambiente se transforma em certa tirania sobre ele. a sua experiência mais vivida se traduzia semp re (9) "Castro Alves. vol.na capacidade de transfigurar intensamente os cenários onde amara ou sofrerá.". cit. 1. . A estrofe entreabre a pétala mimosa Perfumada da essência de sua alma.. uma espécie de cumplicidade profunda com a alma do poeta. podemos falar na sua obra duma espécie de sentimento de Olímpio. i Não se poderia encontrar verso mais expressivo da sua poesia. "Murmúrios da Tarde". Dele vem a lição de que o sexo não desonra". - . Jamil Almansur Hacldad. como exemplo do sentimento de Olímpio. E aí temos outro exemplo da sua força passional. rompendo-se as barreiras entre ambos. que o faz passar constantemente de um extremo a outro.apenas superado pelos versos iniciais d""O Tonei das Danaides". às sugestões da paisagem.como. da tirania à liberdade.. Oh! névoa! Eu amo teu cendal de gaze! Abram-se as ondas como virgens louras. como em "A cruz na estrada". Paradoxalmente.: . n""A Cachoeira". já registrado. a ascensão libertadora surge às vezes por intermédio da morte. fundin do-se com ele na obsessão do progresso.. Resulta um movimento ascensional que completa o movimento histórico. da marcha dos séculos. "Quem dá aos pobres empresta a Deus": Quando em loureiros se biparte o gládio. nele. ou n"A Cachoeira de Paulo Afonso." . Afeito ao lirismo cósmico. do mal ao bem." laranjeira . da treva à luz. onde é o resgate da esc ravidão. mas que ocorre igualmente nas peças de tema individual. -"São as flores gentis da Que o pego vem nos dar. O leitor observa isto facilmente. traduzindose formalmente pela antítese. a certa visão pendular. e o leva das imagens de morte às de vida. onde une os amantes separados pela desgraça: -"Já na proa espadaria. ... Para a esposa passar!.. registrando a amplitude em que traduz o c orn279 L #passo da inspiração. Na torrente caudal dos teus cabelos negros Alegre eu embarquei da vida a rubra flor. nas quais ocorre. consegue certas imagens ousadas.. da terra ao céu. funéreo chão. noutra escala. ou. do pequeno ao grande. uma humanização dos elementos que amplia o sentido dos poemas. . Do vasto pampa no A vocação cósmica responde. o despenhar das águas sobre o rochedo assimilado ao combate do touro e da gibóia. a espada florescente de um poema não obstante medíocre. . à luz de analogias felizes. salta a espuma. do cativeiro à redenção. .. .. animando o mundo de uma vibração fantasmagórica: . prenuncio e quase esboço do touro de "O Crepúsculo sertane . Coberto de limos -. . inquieto. coordenando-o por assim dizer . o bico vermelho Por baixo das asas .. E a.. Quem possui este discernimento poético das coisas é capaz. suspendendo o curso algo folhetinesco da narrativa. dos jungles das bordas . num jato de imagens que se sucedem. terra na vaga de azul do infinito Cobria a cabeça co"as penas da noite! Somente por vezes. O vôo encurvavam medrosas. das heras. Castro Alves desvia bruscamente o foco e. quando livre do delírio verbal. "Crepúsculo sertanejo". Para fechar esta parte do poema. As trevas rasteiras com o ventre por terra Saíam. de obter as imagens mais belas e ousadas. composto pelo movimento incessante 28O das imagens. do líquen. descreve a natureza circundante com senso plástico admirável... Então as marrecas em torno boiando. quais negros.N.. Dos golfas enormes daquela paragem. Maria acaba de contar a Lucas a identidade do sedutor. A tarde morria! Dos ramos. os mais ricos e sugestivos movimentos de composição. E o tímido bando pedindo outras praias Passava gritando por sobre a canoa!. Na Cachoeira há um desses momentos. Das pedras.. As imagens deste tipo . cruéis leopardos... que espraia o vôo das gaivotas e fica imóvel. dos cardos.. surpreso. Ê teu irmão!.visão rápida que emerge de movimento amplo..um touro selvagem.da brisa ao açoite. à-toa. Lembre-se apenas a pincelada belíssima de "Ao romper d"alva". cravado em nosso espírito com a sua força elementar. onde.não são raras em Castro Alves. Ê uma experiência poética realmente excepcional acompanhar o arabesco nervoso desta cena. das lascas.Não esqueçamos a propósito o mito de Lázaro em muitos poemas. centralizando na inquieta imobilidade de estátua o rodopio airoso do poema: As garças metiam. marcando o movimento ascensional sob a forma de ressurreição.. o poeta consegue uma demonstração de impecável maestria. Erguia a cabeça.. depois duma tensão moral que dura páginas e vem romper-se no Mata-me!. até a aparição final do touro. " Lírio do vale oriental."" " í" -Pomba d"espr"anca sobre um mar de escolhos. A imaginação do leitor. Ramo de murta. o poeta justapõe. que carreia toda a pftkftfc dai" tejuvenéiscidas evocações bíblicas.nos versos escultóricos.nos quadros de colorido profundo. que desfibra muito da obra de Varela e a sua própria. Este ritmo geral. que predomina em sua poesia oratória como vimos. sem cair nos exces sos de Varela) quanto pela construção dinãomica. Estrela vesper do pastor errante. . as largas costas No rio o jacaré. . que ilumina pouco a pouco a visão integral da emoção comunicada pelo poeta. quer nas descrições. refaz o movimento do arabesco. encerrados numa simples estrofe: . Tais exemplos mostram quanto ensinou ao nosso verso no tocante à plástica e à metáfora. sobre os ritmos interiores do poema. cheirosa. . para deixar campo à magia r esultante da própria invenção das imagens. a sua fuga ao estático se manifesta não apenas pelos ritmos românticos (que usou com parcimoniosa habilidade.admirável canto lírico no qual a discursividade recua. e da perigosa justaposição. que palpamos com os olhos: . ao receber a sugestão de cada imagem. brilhante. talvez encontre a mais pura e completa expressão n""A Hebréia" .. as caravanas no deserto extenso? E os pegureiros da palmeira à sombra? .. fugindo sempre pelo torvelinho das imagens ou acentuada preferência por representações do movimento. vai 281 #brotando um inefável traçado poético.nos versos fugazes.jo": Dentre a flor amarela das encostas Mostra a testa luzida. Confiado na força eneantatória da metáfora. Dentro da musicalidade romântica. em que esse orador incontinente se domina e não sobrecarrega as analogias sutilmente propostas Por que descoras quando a tarde esquiva Mira-se triste no azul das vagas? . quer na vida interior. a recender. como os alquimistas. se enconta nalguns poetas que. Tomando o Ultra-romantismo por ponto de referência. modelou as descobertas fundamentais do Romantismo na matriz original do seu talento. surge uma poesia que não é contraditória e representa etapa di ferente. mas pôde superá-los pela vitalidade da inspiração. A MORTE DA ÁGUIA A derradeira manifestação do Romantismo. desenvolvendo a tentativa sintetizadora de Varela. " Fitar-te. porque anterior ao seu dilaceramento moral. 282 podemos dizer que a obra de Gonçalves Dias constitui unificação mais fácil. Fitar- Este poema foi escrito aos dezenove anos. na qual. as contradições implícitas na vocação pendular. graças ao vigor da inspiração. forjando uma poesia generosa e plástica.. nas águas de cheiroso banho "-""-:"-" . no decênio de 7O. pois. dos vinte e um aos vinte e três. apurados depois pela maturidade do sentimento abolicionista.Depois. Assim. a mutilação e a doença. a dolorosa ruptura com Eugênia Câmara. conheceu e até certo ponto assumiu os conflitos da geração precedente.Como Susana a estremecer de frio -te a medo no salgueiro oculto. é. aos quais deve muito. sentiu. 283 #4. São. além do . levaram a oratória às últimas conseqüências. em suas características próprias. no final do Romantismo. unificando. criar pela fusão dos opostos. uma espécie de achado premonitório. realizou obra de alto quilate. antes da fase em que compôs os melhores versos e vai mais ou menos de 1868 a 187O. indicando como se formaram ced o em Castro Alves os recursos expressionais. Sempre que os utilizou devidamente. ao contrário. porque o poeta soube.. na sua perfeição. que permaneciam inconciliáveis na obra dos predecessores. ó flor do Babilônio rio. enveredando decididamente pela dissertação e a exposição de idéias. Castro Alves. fazendo menor conta das suas alegações e certezas: são românticos desenquadrados. se enquadram perfeitamente nos aspecto s messiânicos do Romantismo. outro s fincam pé e se perdem para a poesia. a uma tentativa de bater ainda mais largamente as asas da oratória humanitária ou revolucionária. a sua poesia se reduz. declararamse anti-românticos e iniciadores da poesia nova. no culto ao saber. Lúcio de Mendonça. por mais característicos.a fase romântica. Martins Júnior. no conjunto. que Victor Hugo exprimiu e. Mas assim como a perversão não passa muitas vezes de hipertrofia dos impulsos normais. naturalistas.como os plasticíssimos Luís Delfino e Múcio Teixeira. sagrou fundadores da nova poesia e julgou os coveiros do Romantismo. Mas como se opunham à ideologia espiritualista e a todo o acervo de idéias e comportamentos próprios dos românticos e já em pleno declínio. incapazes de sentir as tendências essenciais no próprio tempo. entre nós. uma geração poeticamen te perdida. encontrou em Castro Alves o maior porta-voz.s poetas sociais. de tal forma a podermos considerá-los. que Sílvio Romero. o culto dos ciclos históricos. em poesia. um deles. outros seguem as correntes novas . condoreiros atrasados e quase diríamos pervertidos. na sua visão exaltada do progresso. possuídos das idéias modernas. A perspectiva que nos dão hoje quase oitenta ano s permite situá-los com maior objetividade. Sílvio Romero dec . analisada de perto. à parte. vibradas pelos poetas da 3. O amor à ciência. cujos ocupantes parecem incaracterísticos à posteridade. Dentre eles se destacam. Sílvio Romero. evolucíonistas. os científicos. Alguns recuam. campeões não raro da batalha antiespiritualista e anti-romântica são. As junções de períodos têm desses terrenos dúbios e contestados. Na verdade. sem serem qualquer outra coisa de definido. republicanos. Matias de Carvalho e. socialistas. a tumescência verbal. em que o grande crí tico se torna lamentavelmente grotesco.) 284 O seu ideal seria. mas de um ponto de vista acentuadamente pessoal. De glória e noite rebenta A agigantada tormenta. sub-Castro Alves. que ele considerava prolongamentos do romantismo e da metafísica".. o mesmo de Guyau: uma poesia nutrida de pensamento. Eis as armas com qu e pretendia combater a maneira velha e dar exemplo de outra. na sua crít ica. ("A revolução") Sub-Tobias. sobretudo o parnasianismo. na presença incessante do poeta. que não fosse a grandiloqüência d as Legendes dês Siècles. Apesar de ter teorizada à grande. só as elogiando naquilo que apresentava de prolongamento dos processos e concepções românticas. jamais compreendeu bem outra forma de poesia e passou a vida a resmungar contra as correntes modernas. a coisa piora. pendendo em cada poema para o "lirismo piegas" que verberava. aliás. do Ahasverus. correr os olhos pelo índice dos Cantos do fim do século para perceber o velho temário romântico. Dessa lava .larou-se fundador do científicismo e parece ter sido reconhecido pelos demais como tal. . "nunca deixou bem clara a sua concepção de poesia (. porventura.1O Na predominãoncia do ângulo pessoal. com uns fumos de lirismo gracioso. Um lirismo filosófico à maneira de Sully Prudhomme.. basta. fica patente o caráter romântico desses cientistas. Esse insondável zumbido. moderna e científica: Aceso em todos os lados O temporal das paixões. O fato é que Sílvio foi sempre acentuadamente romântico. ou dos ciclos de Teófilo Braga. Nos Ültimos harpejos.Mirabeau. usando a alegoria com discreção. sem nada de novo. Que a intensidade arrastou Para escutar o ruído. de Quinet. Os elos todos quebrados Da cólera nos corações. são percorridos por um vagalhão surpreendente de poesia social e política. agride Pedro II com uma dureza que chega a surpreender. Estoura a nihilista homérica espingarda. sem nenhum senso além do próprio fluxo verbal. A herança de Pedro Luís e Castro Alves é ampliada ao máxi mo do vigor e grandiloqüência por estes jovens que. de Castro Alves. tudo porque . o peito me incendeia O calor imortal da fé republicana! No "Imposto do vintém". Se a veemência e a intenção social fossem condições d e boa poesia. dedica todo um poemeto a desancar as irmãs de caridade. à roda! As invectivas do "Bandido Negro". págs. Matías de Carvalho ou Martins Júnior. Nele e outros do tempo. lêem e estremecem Guerra Junqueira. 285 #w escravagista de Castro Alves parecem moderados perto da nova oratória poética. canta embevecido a ciência e o progresso. Mas o destemido e simpático Matias era péssimo poeta. republicana. chama ladrões aos ministros que votaram a lei (dando-lhes os nomes em apêndice) a acaba recomendando que os levem .a fase que aparece continuado por estes sucessores. fala em Proudhon. faz abertamente apologia do terroris mo anarquista e da vingança popular. Matías de Carvalho. . . o seu apelo ao "machado (que) sobe abençoado". nenhuma seria mais alta que a deles. Introdução ao método crítico de Sílvio Romero. parecem floreios ao lado da sua veemência direta e insurrecional. e o de 8O.. 53-54. ou aos métodos nihilistas: E como a gargalhar de reação tamanha.. a oratória em verso vai . de Lúcio de Mendonça. agora. autor d"A linha reta. O decênio de 7O.Mas é o Romantismo característico da 3. agressivamente antímonárquica e anticlerical. " guilhotina. O humanitarismo e a indignação anti(1O) Antônio Cândido. à democracia. Guerra Junqueira se tornou o seu modelo evidente. que custa. dos escolhidos aqui para exemplo. não obstante provido de toda a generosa aspiração de grandeza. mostra-lhe o caminho das suas idéias e o ameaça de maldição caso não as siga: Ama o povo. Chovam-te minhas bênçãos aos milhares! E se meu coração todo desejas. Defende o fraco. revelando-se nalguns momentos quase socialista na crítica à propriedade (Visões do Abismo). Quando lhe nasce o primogênito.mas se apostatares. como era praxe na poesia social do Romantismo e a que seguiu imediatamente. Lúcio de Mendonça tem outra categoria e. tem durezas equivalentes às de Matias.chegando ao limite. Filho do meu amor. r Nas primeiras obras. abomina a tirania. senadores. do lirismo épico e da d . Vejam. vemos que não trepida ante a apologia do regicídio: É born que estes velhacos. . Martins Júnior é a articulação. não se podendo negar inflexões pessoais na forma de condoreirismo que praticou. luta com a maldade Sem tréguas nem perdão. à abolição. reduzir a cacos Um grande imperador. não só nas idéias. onde Cristo entr a. filho! confia Na Justiça. Se não permaneceu como poeta e artista. Segue-me os passos. pouco a. ao modo de um revolucionário. maldito sejas! ("A meu primeiro filho". cuja morte lhe inspirou um poema nas Névoas Matutinas. expressão de um tipo especial de Romantismo científico e pretensioso. mas na forma. ("A morte do czar". e quando celebra o matador de Alexandre II da Rússia. é o que ainda merece leitura. própria do messianismo idealista e da confiança cega no valor da ciência. Estufados de orgulho e reis pelo terror. Nutre-se de um humanitarismo lírico. que é a sua conseqüência lógica: incoerência e perda do discernimento poético. a sua poesia política é ousada e forte. Para com o Imperador e a Monarquia. segue muito de perto Castro Alves. Vergastas) Martins Júnior tem alguma inspiração e certa desenvoltura verbal. a sua musa é toda social. merece referência como sintoma. votada à república. nos limites da prosa. Os seus versos sentimentais não destoam da média banal do tempo. no Amor e na Verdade. diz as últimas de ministros. depois. "o laureado atleta". Vergastas) Sem nenhuma pretensão científica. este pelouro o Verso! ("A guerra do século") Nas Visões de hoje aparece mais caracterizada a preocupação cientifica. odeia sobretudo o erotismo. os seus modelos. . de realizar em poesia a síntese do saber positivo que destroçará o lirismo indivi dualista e integrará a poesia nas grandes vibrações do conhecimento. ("A poesia antiga" . Castro Alves. a falta de idéias e a abstenção política.O poeta deve ter somente contra o Mal Este canhão . a deixar de lado o lirismo casimiriano: Desdobrai pelo ar vossas enormes almas Faz-se mister que além. os grandes princípios gerais do que não ousa chamar filosofia moderna. dedica-lhe um poema inflamado Foi grande como a luz..Estilhaços^) Vemos porém que não se dirige aos condoreiros: entusiasta de Castro Alves. Victor Hugo. estúpida. como ele..ivulgação do saber. Agora mesmo a vejo Atravessar a praça. explica. Haja titãs de bronze. sintetizando-os. sombria. Guerra Junqueiro são. Deixando germinar a flor da hipocondria Naquele seio vil como um montão de estrume. Na série de "Sínte . ousados lutadores . dos langues trovadores Da lira modulada ao vento das paixões. mas de interiorizar pela inspiração. E como os desanca! 286 287 #Eu conheci de perto a triste Musa antiga. acrescenta a deliberação de elaborar um pensamento poético. Nos românticos. não de metrificar ciência. convida o poeta a lutar sem trégua. ("Castro Alves") A sua concepção de poesia social continua o apelo do baiano. . o sentimentalismo..a Idéia. em poesia. Às rebeldias de Matias Carvalho. Le vando ao cabo a tendência oratória. ante o epílogo da poesia condoreira. há de se impor ao culto Dos pósteros. o fero panteísta! . um raio. bem como impõe-se à escuridão Um relâmpago. a "Cientifica" é a mais bem realizada: Século dezenove! o bronze do teu vulto *" Há de ser venerado. Turgot. que. onze.desaparecem de todo. a predominãoncia soberana do alexandrino. a embriagada confiança no progresso. Newton e Condorcet e Leibniz. que ocorre em toda a sua poesia de luta e debate. os de 7O se abalançam a uma tal abundância verbal. Folgara o capital. uma explosão! Estamos. dez. a busca deliberada do estado de transe oratório. sem dúvida. com o de treze. não raro pela necessidade de distender o arremesso verbal chegando-se mesmo ao verso de quatorze.voou Ele para as alturas mágicas da glória. indicando o fim da musicalidade. opõem o excesso paíavroso que os conduz ao próprio bestialógico. Após ter arrancado ao pélago da História A vasta concha azul da Ciência social! É uma poesia nascida da fusão dos condoreiros com a divulgação positivista. exprime na verdade as tendências desenvolvidas na 3. O verso de doze sílabas só foi usado sistematicamente a partir de 6O. com ritmos românticos . .a fase romântica. expressa por um mov imento amplo. E a glorificação de Comte termina com o endeusamento da sociologia. como no exemplo de Varela citado mais alto. nova divindade que vem substituir a hístória-em-estampas da oratória castroalvina: Deixando embaixo Kant. Os poetas dessa gera ção perdida entre as tendências se atiram decididamente ao dodecassflabo. estaqueada na imagem retumbante. Os metros melodiosos sete. nove. pretendendo-se anti-romântica e revolucionadora. aos excessos de musicalidade. um brilho. só que o sentimentalismo liberal se junta aqui ao científico: O século tem no dorso o estado positivo. Simon. Note-se a construção da idéia.ses" que compõem o livro. que somente os metros largos lhes poderão convir. Burdin. inconscientemente. o tédio profundo que assalta por vezes esses republicanos ardorosos. com efeito. porém no fundamento Têm essas correções que são do sentimento Aplausos para a Luz. se o . "Atonia". no prefácio de Alvorada: "Vão estes versos como nasceram: incultos como o que é espontâneo. apodos à voragem. Incorretos. duas estéticas. visando valores mais altos. Arrasto atraz de mim um tédio formidável (Martins Júnior. Sinto um cansaço -negro em meio às grande lutas Que abalam brutalmente o meu viver rasteiro Ando cínico e mau. também votados à musa social. Nele. em Estilhaços) Tenho na alma um caos. inflexíveis outros. Pretendendo ser começo. Hí 288 #"Ml diz Matias de Carvalho no início de Linha reta. última contração de um músculo cansado. a embriaguez da terminologia científica. talvez. Lúcio de Mendonça. que vem abalar a pletora verbal dos últimos e vacilantes condores. Daí. talvez. incoerentes uns como é quase sempre o sentimento. como deve ser a idéia" .brada Matias de Carvalho. a visão materialista de carne corrupta e taras fisiológicas. ibidem) O rastilho da explosão que será Augusto dos Anjos começa em Martins Júnior e passa por outros poetas do tempo.desconfiança manifestada pela afirmação que bem sabem da sua possível inferioridade poética. O mais interessante é que têm uma desconfiança invencível de que estão saindo dos trilhos poéticos . Em Martins Júnior encontramos declarações análogas. ("Crise psíquica". é a derradeira manifestação daquele sentimento romântico da morte. esta circunstância n ão lhes causa mossa. na forma e na linguagem Os "meus versos serão. mas que. não passam de epílogo. divididos entre dois períodos. E a rainha do ar. Nu. Ébria de espaço. O escravo lhe estendia Os miseráveis e covardes braços. Crescia o sol nas nuvens. e afogando Na luz do sol a fronte alvinitente.e alçando. E como um turbilhão de águias fremenies. . . SENSIBILIDADE E born SENSO DO VISCONDE DE TAÜNAY. Zunia o vento na amplidão. Sobre o barco pairou ainda. Alçando mais os vôos. que marcou o fim do Romantismo poético no Brasil: Pairou sobre o navio . uma isolada vela. O "filosofismo poético" (Sílvio Romero) foi a sua queda estrepitosa e final. fundindo na obra de Castro Alves a mais pura essência lírica e a mais forte inflexão heróica de que era capaz a escola. vem morrer nesses epígonos com pretensão a renovadores. sob outra forma. refulgentes. ROMANCE DE PASSAGEM. buscava Onde pousar os grandes membros lassos. "i Poderíamos dizer que o fecho d"" A morte da águia". nas manifestações poéticas do Post-ro mantismo . O condor alçou o seu vôo imenso até O espaço aznl onde não chega o raio. de Luís Guimarães Júnior (transposto dum trecho da Eloá.o Parnasianismo. em vão.não há dúvida que a sua última expressão. digamos ortodoxa. ébria de liberdade.lirismo romântico continuaria em grande parte. Como um astro que cai na imensidade. . 2.imensa e bela Como uma branca. 29O 291 #Capítulo VII A CORTE E A PROVÍNCIA 1. o chamado Simbolismo . o Oceano ao longe cintilava. A demandar um livre e novo mundo. Ela lutou ansiosa! Atra agonia Sufocava-a. 3. O REGIONALISMO COMO PROGRAMA E CRITÉRIO ESTÉTICO: FRANKLIN TAVORA.profundo. Afundou-se nas ondas de repente. de Vigny) simboliza as diversas fases da aventura condoreira. O casamento no arrabalde. Entrando agora na etapa final da ficção romântica. Franklin Távora. a sua obra-prima. a favor da fideli dade documentária e orientação social definida. Podemos tomar como marco da nossa etapa o ano de 1872. basta estabelecer uma divisão para vê-la escorregar entre os dedos. Só Teixeira e Sousa e Manuel Antônio de Almeida f icaram para trás. mas aind a não entrara na fase característica da sua obra. Alencar na metade do seu trabalho. cedendo lugar a outros fatores. ambos mortos de 1861. para só voltar à ficção em 1893. é de born aviso mencionar rapidamente o legado dos que os precederam. O que interessa é sobretudo a contribuição própria dos escritores desta fase e a maneira por que a vestiram. no mesmo ano aparecem três romances de Macedo. dois de Bernardo. Taunay. Bernardo apenas iniciando. Macedo escreverá até 1876. embora necessária. Naquele ano.#1. um de Alencar. aparecidas periodicamente em 71. que não servem aos nossos desígnios. Elas são (veremos a seu tempo) verdadeiro manifesto contra os aspectos mais arbitrários do idealismo romântico. reúne em volume as Cartas a Cincinato. arbitrária e insuficiente. No entanto. em plena forma. . Pelo contrário. lança Inocência. ROMANCE DE PASSAGEM Em história literária. Já se vê que a cronologia entra aqui em segundo plano. Macedo está vivo. tendo publicado no anterior o livro inaugural. estamos pela altura de 187O. quando se manifestam com personalidade e decisão os três escritores que a integram. depois de encerrada a atividade dos predecessores. Para compreendê-la. que vinha escrevendo há mais de dez anos e publicara em 69 a sua melhor ficção.muito diferente dos predecessores ou contemporâneos mais velhos. desprezados os de nível inferior. Machado de Assis estréia no romance com Ressurreição. Bernardo ainda publica Rosaura no ano de 1883. Alencar até 1877. quando Taunay já encerrara a fase propriamente romântica. . mas não devemos imaginar que os ro mancistas nela incluídos escrevem sós. depois do último livro de Távora. que não apenas é o seu aspecto menos significativo. e a descrição dos costumes. e o de Távora. trazendo o senso da beleza e a noção da complexidade humana. pelo arranjo do episódio. mas importa. um declive mais suave e bem traçado. a partir d"O Cabeleira.Numa etapa inicial. este segundo elemento alarga o panorama. sentido ao regionalismo. surgem o senso de uróÜdura. da revelação de Alencar. como Inocência. Comparem-se os personagens de Macedo e mesmo Alencar com a marcha ascendente da pesquisa machadiana. escritores cuja ob . em seccionar uma produção romanesca cuja unidade profunda os críticos mais compreensivos dos nossos dias têm procurado assinalar. fidelidade à observação. mas a sua contribuição não é menor: consiste em dar refinamento à análise. naturalidade à expressão. a terceira nada traz de novo como tema. os dois primeiros o aprofundam. igualmente. Não se pense. Dela. quase sempre tosco. Em face delas. bem como a descrição dos costumes regionais. isto é. Ficam de lado. Nela aparecem a poesia do indianismo e os rudimentos de análise psicológica. Compare-se o regionalismo de Bernardo. o pitoresco regionalista. até mais ou menos 1872. Declive que leva ao naturalismo e no qual deixaremos de lado a obra de Machado de Assis. A etapa 295 #seguinte vai de 57. que este acréscimo de experiência signifique necessariamente melhoria de nível. ou seja o marco inicial da etapa cujo estudo agora iniciamos. se for analisada. forma elementar de estudo do homem na ficção. o aclive irregular. por onde agora nos encaminharemos. fundem harmoniosamente a intensidade emocional. . C ertos livros. obtendo um equilíbrio até então desconhecido.voltado para a interpretação social de uma determinada zona. a fidelidade da observação e a felicidade do estilo. para guardar apenas as de Távora e Taunay. O grande homem da ficção romântica permanece José de Alencar. só caberia aqui a primeira parte. que é o cume da montanha. que vai grosso-modo de 1843 a 1857. purame nte romanesco. de Ressurreição a laia Garcia. depois. todavia. Antes dele. depor. Resta dizer que os dois romancistas não são de qualidade equivalente. a natureza e o homem. como fundador dum tipo especial de regionalismo. superada esta fase. um dos precursores da estética naturalista. levando-o a escrever recordações da sua experiência de guerra.alguns críticos situam ambos os romancistas fora do período romântico. e uma espécie de balanço que dão (ao lado do primeiro Machado de Assis) de todos os temas das etapas anteriores.ra começa a esse tempo. apesar disso prefiro enq uadrá-los no Romantismo. mas. e no romance. na ficção e no documentário. preocupado em registrar. chegaria até nós c orn os "romancistas do Nordeste". como Inglês de Sousa e Júlio Ribeiro. . . Todavia. através de Domingos Olímpio. tem mais senso artístico. estudo psicológico à Bourget. de cunho social. ambos depois de 189O. e Taunay o referido estudo social. ao se inscrever em pleno nacionalismo literário. ao estudo social d"O Encilhamento. embora Franklin Távora haja escrito O Sacrifício. Taunay. que não serão considerados aqui. pois são com efeito escritor es de transição. Este pendor se acentua com a idade. só fez descrever as suas cidades e campos. Franklin Távora principia com dramalhões e romances indianistas. interpretar. mas pertence ao período seguinte. política e administração. sendo do conjunto escritor igualmente mediano. e continua vivo graças . convém assinalar que a sua obra encerra harmoniosamente o período romântico. que.inclusive de ordem cronológica. pelo contrário. que. e mais No Declínio. Considerando os dois escritores a que nos vamos ater. por nada significarem como evolução literária nem qualidade artística. O cearense apresenta hoje um interesse quase apenas histórico. desenvolve 296 na ficção verdadeiro programa de descrição regional. Poucos terão efetuado levantamento tão cabal do país quanto Alfredo de Taunay. o que é perfeitamente defensável. onde os prende a retomada das preocupações centrais do nacionalismo literário. Por estes e outros motivos. ou Brasil Colônia. cioso da terra e dos feitos brasileiros. se recusa a falar em Colônia. consideradas as diferentes regiões. à maneira da República de Piratinin. graças a este processo. Viana Moog procurou interpretar a nossa literatura em função dessas que chamou "ilhas de cult ura mais ou menos autônomas e diferenciadas". de dar expressão política à referida diversidade e que. caracterizada cada uma pelo seu genius loci particular. se falhou no terreno político. preservada às vezes por circunstâncias quase miraculosas. um dos romances mais bonitos do Romantismo. acentuando o fato. Desta autonomia derivou bem cedo um sentimento regio nalista que encontra expressão típica na Confederação do Equador.2 Comprovante desta idéia engenhosa e em boa parte verdadeira é sem dúvida o caso do Nordeste. O regionalismo pinturesco de um Trajano . que se destaca na geografia. senão várias Colônias portuguesas. A colonização se processou em núcleos separados. Um historiador contemporâneo. O REGIONALISMO COMO PROGRAMA E CRITÉRIO ESTÉTICO: FRANKLIN TÁVORA A unidade política.1 Trazendo a idéia para o terreno literário.ao idílio sertanejo de Inocência. assim. persistiu teimosamente no plano da inteligência. assinalado desde Handelman e fecundado por João Ribeiro.. bastante heterogêneos. O nacionalismo romântico. que antecedeu e por muito tempo superou a do resto do país. Alfredo Ellis Jr. tentativa. A literatura e a oratória tornaram-se com efeito a forma preferencial daquela região velha e ilustre exprimir a sua consciência e dar estilo à sua cultura intelectual. num regionalismo literário sem equivalente entre nós e bem ilustrado nos romances de Franklin Távora. pode fazer esquecer a diversidade que presidiu à formação e desenvolvimento da nossa cultura. se transformou lá. 297 #2. de que houve na América não uma. na história e na cultura brasileira com impressionante autonomia e nitidez. praticamente isolados entre si : o desenvolvimento econômico e a evolução social foram. ao ponto de tentar uma espécie de félibrige. dentro não apenas do mesmo país. mas da mesma língua. fruto de maturidade da sua região. se já não tem. acentuado com a decadência do Nordeste e a supremacia política do Sul. pelo "romance nordestino" e a obra de Gilberto Freyre. É a famosa Escola do Recife. Cada um tem as suas aspirações. (1) Notas de aula na Universidade de S. torna-se com ele programa. Cada um há de ter uma literatura su a. (2) Viana Moog: Uma interpretação da literatura brasileira. e há de ter. só que félibrige pela metade. 22. pág.Galvão. procurando escamotear a prioridade e a primazia que lhe cabiam na vida intelectual.excelente fermento de dúvida. porque o gênio de um não se confunde com o de outro. um Juvenal Galeno ou mesmo um Alencar. desconhecendo-lhe o talento. mas são dois. análise e irreverência que contribuiu decisivamente para desenvolver o movimento crítico do decênio de 7O. o resto do país vivia armando conspirações de silêncio contra a sua re gião. Para Sílvio Romero. seus interesses. Conscientes de formarem uma equipe vigorosa. levando-o a dissociar o que era uno e fazer de características regionais princíp . prolongando- se por todo o pós-romantísmo e. que levou ao máximo esta tendência.3 Desvio evidente que. . apóstolo combativo e convicto do regionalismo nordestino. "Norte e Sul são irmãos. . Paulo. Franklin Távora sentiu tudo isto profundamente. sua política". 298 quase culto. os escritores nordestinos não se conformaram em ser pássaros do crepúsculo e desenvolveram com relação às instituições intelectuais e políticas uma virulência crítica per meada de intensa susceptibilidade.vêzo reivindicatório que ainda hoje persiste. em nossos dias. Primeiro. reforçadas a meio caminho pelo baiano fluminense d"Os Sertões. pág. pág. cit. Se deixarmos de lado a primeira tentativa n o romance. em cuja célula formadora. mais de meio século depois das suas tentativas. o senso da terra. em proporções variáveis. O Cabeleira (1876). XII. com efeito. o que se poderia chamar patriotismo regional. das rebeliões nativistas. A razão é óbvia: o norte ainda não foi invadido como está sendo o sul de dia em dia pelo estrangeiro". a disposição polêmica. reputado mais brasileiro. a principal argamassa do regionalismo literário do Nordeste. há inicialmente uma vivência regional. O Matuto (1878). traía de certo modo a grande tarefa romântica de definir uma literatura nacional. além d . culminada pela geração de 193O.io de independência.. no sentido em que ainda hoje entendemos a expressão e deste modo abriu caminho (3) Franklin Távora. Em seguida. O Cabeleira. Em sua obra. que toda a sua obra gira em torno da história e costumes pernambucanos: Um Casamento no Arrabalde (1869). O seu regionalismo parece fundar-se em três elementos que ainda hoje constituem. Pernambuco. veremos. da paisagem que condiciona tão estreitamente a vida de t oda a região marcando o ritmo da sua história pela famosa "intercadência" de Euclides da Cunha. Os índios do Jaguaribe (1862). #a uma linhagem ilustre. bem cedo se integrou.4 Távora foi o primeiro "romancista do Nordeste". de reivindicar a preeminência do Norte. Lourenço (1881). portanto. uma interpenetração da sensibilidade com a paisagem geográfica e social do Nordeste. "onde abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira. XIV. (4) Ob. Prefácio. filha da terra. Fina lmente. do velho patriarcado açucareiro. orgulhoso das guerras holandesas. O Sacrifício (1879). 3 A principal censura que dirige a Alencar é a de não conhecer o cenário geográfico dos seus livros. do Norte para o Sul. cujos originais (não sei em que grau de acabamento) destruiu antes de morrer. no Roma ntismo. que serviria de limite e em certos casos. para ele este contacto se funda na experiência direta da paisagem. N"O Matuto. Vê primeiro. até atingirem a Paraíba. como planta e realidade econômica. da hegemonia cultural e política. a passagem. fechado em seu gabinete. o colorido do todo. não abandona uma zona relativamente pequena. Esta velha área canavieira é o seu mundo. A virtude maior de Távora foi sentir a importância literária de um levantamento regional. . . que o romancista deve conhecer e descrever precisamente. talvez. alargam o âmbito para a zona norte. de corretivo à fantasia. abespinhado pela preeminência do café. estuda as sensações do eu e do não eu. Um Casamento no Ar rabalde e O Sacrifício se desenrolam nas cercanias do Recife ou na zona rural imediata.demorando-se nas matas. trilhos. O Cabeleira. nostálgico da sua g loriosa história. o ruído das águas. porque não teve a quem imitar senão à natureza. dedica-lhe verdadeiro hino. baixadas. e a impressão do leitor é que está lamentando. Vê-se que ama profundamente a cana de açúcar. ou conhecê-lo mal. Ora. que conhece bem. Ele ao contrário. "O grande merecimento de Cooper consiste em ser verdadeiro. cujos rios e acidentes reg istra com amor topográfico. em termos de geografia econômica. Não escreveria um livro sequer. e tudo transmite co rn uma exatidão daguerreotípica".os dois trabalhos históricos sobre a Guerra dos Mascates e a Revolução de 1817. sentir como a ficção é beneficiada pelo contacto de uma realidade concretamente demarcada no espaço e no tempo. observa. apanha todos os matizes da natureza. é um paisagista completo e fidelíssimo. O Matuto e Lourenço. descrevendo as enchentes e as secas. o estremecimento da folhagem. .. É sem dúvida o modesto precursor do agudo senso ecológico de Gilberto Freyre ou. ou seja. é posto abaixo. Nunca mais me esqueci de um pedacito que lá . e me parece recomendar a estética.. Este trabalho da imaginação c-onsiste para Távora em selecionar os aspectos que conduzem a uma noção ideal da natureza. que continuava eni primeira linha. Vimos que reputava fundamentais à boa literatura as "sensações do eu e do não eu". da hora. meu amigo. do calo r. não envolvia a de reproduzir minuciosamente a realidad e nem substituir pelo arrolamento e a observação o trabalho imaginativo. o artista não tem o direito de perder de vista o belo ou o ideal. ou limitando-a.) Interpretando -a. José Lins do Rego e Graciliano Ramos.. Acha. N"O Matuto os senhores rurais preparam a sua guerra de açúcar contra balcão nu ma festa joanina do engenho Bujari.) Li um precioso livro. posto que combinando-o sempre com a natureza. a fim de desvendar-lhe o esconderijo. (. que Alencar faz mal ao mencionar o tamanduá. Mas esta condição. e. por exemplo.. . das chuvas.A Ciência do Belo . as próprias reações dos personagens. bicho grotesco. Não se lhe pode com efeito negar atenção constante ao quadro natural. o fabrico da farinha de mandioca. o artista se dirige sempre ao alvo da beleza ideal.A cena culminante d"O Cabeleira desenrola-se num canavial onde o famoso bandido está oculto. Para ele. os currais. o discernimento simultâneo. as cavalgadas. intitulado . por assim dizer de ética literária. num ritmo de suspense.bem como às influências da estação.por Levèque. obra que mereceu ser coroada por três Academias da França. no romance. "Segundo penso. sobre os itinerários. (. por parte do escritor. por ocasião da botada. o escritor deveria partir de um conhecimento exato do quadro em que se localizam as ações descritas ("a exatidão daguerreotípica"). que vão marcando a presença do homem na região. E a paisagem econômica se completa pela descrição das roças.. da psicologia e do ambiente. não há dúvida que procura construir uma visão ideal da realidade. desempenhando o papel que a ela coube por excelência no Romantismo: proporcionar o recuo de tempo. Por isso a história vem lhe permitir desafogo maior da imaginação. a história se tornou elemento importante no seu romance permitindo-lhe estribar o ardente regionalismo no passado. Há com efeito muito de programa em sua obra. quem sabe devido à preocupação com os problemas sociais da região. portanto. m. 13.vem. pág. pág. que é viva. A história é pois uma segunda dimensão que vem juntar-se à geografia como componente da estética de Franklin Távora. E não apenas quanto ao aspecto estético. e onde não me demorarei com a vista senão sobre o que me interessar". deu ao bairrismo o amparo de grandes feitos e uma genealogia ilustre. e graças aos dois leva adiante o programa de literatura nortista. Nos seus romances do Setecentos pernambucano. 215. que permite combinar à vontade os elementos. Ao senso ecológico acrescenta o da duração temporal. colocando quase sempre os personagens além das contingências de todo o dia. quero antes a vida em si mesma. num âmbito larguíssimo. sempre susceptível de maior prestígio pelo embelezamento. Alguém (não me lembro quem) disse que Távora laborou num certo equívoco ao escolher o romance para exprimir uma realidade que se trataria . (que sacode o jugo (5) (8) 3OO 3O1 #-T-ra do quotidiano) e a imprecisão de contornos. assi Cartas a Cincinato. 6 Embora não tenha seguido escrupulosamente este conceito. ou abaixo da norma. dando-lhes ao mesmo tempo enquadramento que facilita o trabalho criador. concebido nestes termos: "Se o romancista não é senão o arrolador (greffíer) da vida de todos os dias.. Cartas a Cincinato. dotando-os de qualidades acima. utiliza desde a lenda popular até a citação documentária. cit. mas também quanto ao ideológico. (que abre campo livre à idealização poética). à possibilidade de dar certo toque de ficção à realidade sentida e compreendida à luz de um propósito ideológico.depois de Flaubert. antes das teorias da arte-pela- arte. As lacunas de Távora provêm a meu ver de imperícia e carência estética. este fazia questão de acentuá-lo e dele se orgulhava. como Scott. outros se atribuíam uma função mais alta e pretendiam mostrar a verdade ao leitor. que não bastaram para fazer grandes os livros de Charlotte Yonge ou Hector 3O2 Malot. a obra de um Tolstoi ou um G ottfried Keller seria bela com ou sem os propósitos éticos e sociais. A verdade porém. do programa definido de demonstrar teses e sugerir modelos. com a concepção de romance. à importância de um romance não é indiferente a intenção ideológica do autor. em ter percebido a valia de uma visão da realidade local. Mais tarde . seja em matéria moral e social como Eugene Sue. Este não basta. A importância de Távora consiste. ao contrário. Lytton. Dickens.o inevitável lastro informativo e ideológico apareceu no ro mance como que a despeito do romancista e muito a pesar seu. Balzac. Alguns apelavam para a imaginação pura e simples. de Henry James . e eram quase sempre os de menor valia.melhor doutra forma. em seu tempo. Note-se todavia que. nem esta entra como simples argamassa da forma. mas sem ele não há romance duradouro. em matéria de romance. Alexandre Herculano. Ao contrário do que muito se afirma em nossos dias. seja em matéria histórica. nem do ponto de vista. A julgar-se desta maneira. É verdade que ele tinha algo de pesquisador. como sugerem os dois trabalhos inacabados sobre as revoluções pernambucanas. Ora. que era a sua. dos simbolistas. é que a eminência literária vem ligada freqüentemente. coerentes. Nem tampouco da nítida intenção ideológica. os escritores consideravam o romance um estudo e meio de debate. naquele tempo. e se vivesse mais talvez recorresse apenas à história. mesmo quando tênue e sem valia. não da matéria. como disse. para . sobrelevando (não custa repisar) a perda de hegemonia político-econômica. para ele literatura não era apenas obra de fantasia. educa.início de crise para o açúcar e portanto da decadência material já avultada em seus dias. enumerando os tipos humanos e procurando interpretarlhes o comportamento. ao bairrismo (Prefá cios. mas tam bém como competição entre dois grupos rivais . (. forma o sentimento pelas lições e pelas advertências.7 . que tentava por meio da história c dos costumes. para representar "o homem junto das coisas. em termos de competição econômica. Aliás.) moraliza. que conduz à rebelião política (Matuto.. . os fragmentos restantes das obras históricas. as cartas contra Alencar. estudos históricos).. os manifestos literários. N"O Matuto. constituem um roteiro de afirmação. nem dispensava objetivos extra-literários: "(---) o romance tem influência civilizadora. orgulho ou enlevo. segundo escreve. os fat os. (. à irreverência intelectual (Cartas a Cincinato). ao cangaço (Cabeleira). procurando definir literàriamente a autonomia da região.. Usina e Moleque Ricardo).) até certo ponto aco mpanha o teatro em suas vistas de conquista do ideal social".ele (como atualmente para Jorge Amado e o José Lins do Rego. a decadência. mas também complexo de problemas sociais. Lourenço). como conflito entre a agricultura c a indústria. a reg ião não era apenas motivo de contemplação. de Bangüê. repele interpretações superficiais que vêem na luta Olinda-Recife uma querela de preconceitos.. explicarlhe a fisionomia. A guerra dos Mascates lhe interessa como pano-de-fundo romanesco. o modo de ser.o fazendeiro e o comerciante. crítica e polêmica. possível". Por isso é que preferia "o romance verossímil. definição da arte por Bacon". para defini-la. Os seus três romances histó ricos. a magia (que lhe faltou) das intuicões e das invenções . iola necessariamente o mundo real. Walter Scott. como pensava. apontava para a verdade da literatura. requerendo. eram condições necessárias que lhe pareceram também suficientes. que serve de prete xto para traçar em plano mais distante os personagens históricos (como Richelieu. que se tornou básica na composição do romance histórico. pois para tornar-se matéria de arte. fundador de uma das correntes mair poderosas do nosso romance. págs. esse homem prático e apaixonado. o equipamento ideológico do ba irrismo. que não v Cartas a Cincinato. O conhecimento histórico-geográfico da região. n"O Monge de Cister) e a . de Vigny. 98 e 99. Ora. Um dos pais da ficção moderna.Devido porém às mencionadas carências e imperícias. a possibilidade literária da ação proposta e do meio descrito. ou Dom João I. falando de "romance verossímil. estilo nem imaginação suficiente para elevar acima da média a absoluta maioria das suas páginas. Deficiência grave para quem. legou a técnica bifocal. não entre autor e ambiente. Consiste em pôr no primeiro plano um personagem fictício (como Eurico) ou semifictício (como D"Artagnan). Alencar possuía a capacidade de criar este mundo autônomo. se comprometia implicitamente a descrever uma realidade morta para os sentidos e apenas suscitável pelo conhecimento. no Cinq Mars. Ele próprio. clt. que é a verossimilhança. Távora não tinha calor artístico. Achava que Alencar falhou n"O Gaúcho por não conhecer objetivamente o pampa e os seus habitantes. não é um grande escritor.. o que (7) 3O3 #lhe faltou foi justamente o poder alencariano de construir o ambiente e os personagens com mais elementos do que a fidelidade. mas sem dúvida o transcende e envolve. que em literatura consiste sobretudo na coerência entre personagens e ambiente. ao aceitar as imp osições do romance histórico. possível". parecem gêmeas das de Lisboa medieval. também se traçam planos de rebelião. #*PWF°<?V" O T3 OU .reconstituição do momento em que se passa a narrativa.da mesma natureza. documentado nas páginas de Fernão Lopes. onde se armam conluios por entre espias. históricos ou fictícios. A narrativa oscila entre o plano inventado e o plano reconstituído. Afinal de contas. muito próximos à tensão entre burguesia e nobreza.(Cortesia de Olyntho de Moura). Medularmente romântico na sua trilogia setecentista. As tavernas dos mascates. No tratamento da matéria. em Arras por foro díspanha. através do qual emprega a técnica bifocal de Scott. onde este personagem é pretexto para traçar o ambiente revoltoso da Guerra dos Mascates e onde a narrativa vai e vem. que a descrição da realidade presente no romance de cost umes contemporâneos. e de Leonor Teles. naqueles livros. e ao qual se prendem solidàriamente os acontecimen to. um torn. o fenômeno histórico que ele transpôs para a ficção não deixava de apresentar semelhanças corn 3O4 Alfredo de Taunay . das suas aventu ras aos fastos da revolta. sobretudo em O Matuto e Lourenco. onde. Távora obedece a esta técnica. e esta oscilação constitui poderoso elemento de verossimilhança . que Herculano deu como pano-de-fundo às vinganças de Frei Vasco no livro citado. formalmente. A tensão político-econômica entre senhores-de-engenho e comerciantes é descrita com um colorido. parece ter sofrido influência marcada d"O Monge de Cister. § <a ^ ^ l o tratado por Távora: ascenção das camadas burguesas. nas Arras. ou o ajuntamento da arraia-miúda. Casamento no arraba lde (1869).a c s cs H "O oo -ê s l-s Po i! o "s tu g . amparadas no comércio. Sílvio Romero já havia registrado o progresso constante que vai d"O Cabeleira a Lourenço. o melhor como composição e estilo. em detrimento dos latifundiários em decadência. é o único dos seus livros . n"O Matuto. sobretudo o excelente combate de Goiana. Embora valorizando com excessiva benevolência os livros do amigo. segundo Lúcia Miguel-Pereira. n"O Monge . cujo singelo encanto já fora destacado por José Veríssimo como traço de realismo e. não lhe poderemos negar consciência do problema traçado (como vimos) nem algumas cenas de boa qualidade.8 A sua obra-prima é contudo uma novela. nem quadros tão ricos como a procissão dos mesteirais. E se no brasileiro não encontramos a mesma argúcia histórica. tão em vog a até hoje. História da Literatura Brasileira págs 3O73O8. introduz em nosso romance as descrições de pernas mestiças. . não há dúvida. mas ao tempo eram a ousadia suprema. é possível que vislumbrasse traços da nova escola na naturalidade que havia obtido sem esforço ao narrar com singeleza. descreve nada menos que o duplo banho. que reputava de somenos em relação às outras. de um D.que subsiste. e pena foi que Távora houvesse perdido a fórmula dessa narrativa. Esquecido da pudicícia de alguns anos atrás. que no Brasil serviu algumas vezes de pretexto para vul garidades piores que as do sub-romantismo. Foi então que transformou a encantadora n ovela suburbana num romance ambicioso. quando censurav a a Alencar um personagem banhando-se no rio. pôde beneficiar de um momento fe liz de inspiração. iniciador também nisto. O resultado foi uma deformação lamentável. Talvez por não debater tese alguma. a língua deselegante e banal. corn o correr dos anos e a nascente influência do Naturalismo. e. publicado em partes na Revista Brasileira (1879). em que os pobres personagens aparecem desfigurados. lúbrico e rumoroso. Sacrifício. (8) Silvio Homero e João Ribeiro. e resolvesse explorá-los. Aqui já aparecem. A grande novidade é o naturalismo. alguns tópicos sexuais prediletos em seguida. uma ilhota de elegância e equilíbrio literário entre os demais esc ritos.9 É. num exibicionismo ingênuo que hoje faz sorrir. o entrecho distendido e incoerente. tratando com harmonia uma desprentensiosa visão dos costumes pernambucanos. João de fancaria e uma mulatinha fácil. nem depender da elaboração requerida pelos romances históricos. 237. é par ticularmente um caso raro na literatura do tempo. enfronhado em problemas práticos. deste fiasco literário. o inconfundí vel timbre melodramático da escola. Iria ele e ngrossar a fileira naturalista. cuja marcha principiava então com Inglês de Sousa e Aluísio Azevedo? Interrompida a carreira pela morte prematura. Este. mas militar. Raras para o tempo foram também condições como as que encontrou no lar franco-brasileiro. na sua imperícia. para a qual trouxe uma rica experiência de guerra e sertão. parecendo ruptura abrupta. 45. e meio à parte de uma obra que se vinha desenvolvendo sob outra inspiração. as ousadias de Sacrifício realçam. A SENSIBILIDADE E O born SENSO DO VISCONDE DE TAUNAY Dentre os burocratas. A Prosa de Ficção de 1S7O a J92O. depurada por sensibilidade e cultura nutridas de música e artes plásticas. foi muitas vezes continuação de modismos anteriores. Bernardo Guimarães e Taunay se diferenciam como viajantes do sertão. 3O6 3. Lourenço. encaixadas numa seqüência puramente romântica pela técnica e o ritmo narrativo. pág. escrito mais ou menos ao mesmo tempo que o seu último romance. pág. devemos classificá-lo como romântico. e essas cenas cruas. na obra de Távora. nem bacharel nem médico. História da Literatura Brasileira. Lúcia MlguelPereira. jornalistas e políticos.(9) José Veríssimo. na tradição duma parentela de artistas e escritores que . servem para mostrar de que modo o Naturalismo. Esta combinação de senso prático e refinamento estético fundamenta as suas boas obras e compõe o traçado geral da sua personalidade. homens de cidade que pouco sabiam do resto do país. 3O5 #Não podemos avaliar as conseqüências eventuais. compostos em seguida num ritmo que se diria musical. a paisagem e a vida daqueles ermos são apresentados a partir de alguns temas fundamentais. . No primeiro (1O) 3O7 #capítulo de Inocência ("O Sertão e o Sertanejo"). diferente do risco nervoso de outro romancista bem dotado para as artes plásticas . amigos . como se qualifica. de Euclides da Cunha. e portanto de toda a força expedicionária. Compôs com facilidade e elegância. acostumado desde pequeno a vê-lo extasiar-se diante dos esplendores da natureza brasil eira. Daí o torn de ouverture dessa página aliás admirável na sua inspiração telúrica.haviam contribuído para delimitar entre nós certas áreas de sensibilidade préromântica. pois. Os pais e tios prepararam-no para senti-la com um amor avivado de exotismo. uma das melhores da literatura romântica."1O Viajava de lápis na mão. e ele se orgulhava de saber apreciar a paisagem com mais finura e enlevo do que os seus patrícios: "corn a educação artística que recebera de meu pai. n"Os Sertões". registrando as cenas de viagem em desenhos d e "ingênuo paisagista".que se apaixonaram à Chateaubriand pela beleza úmida e rutilante da floresta carioca. e mesmo nas descrições do sertão percebemos que também o ouvido elaborava as impressões da paisagem. Predominava nele. nasceu e se formou Alfredo d"Escragnolle Taunay. mas atentos à realidade e transpondo-a com amenizada placidez. a sensibilidade musical. As circunstâncias levaram-no todavia a conhecê-la mais fundo. era eu o único dentre os companheiros. todavia. escreveu com acerto sobre assuntos de música.° volume do presente livro.Raul Pompéia. pigs 175-176. primos. Entre alguns desses homens . Nada impedia. já referidas no 1.tios. que esse esteta de sangue francês construísse da pátria uma visão exótica e brilhante. a internar-se no int Memórias do Visconde de Taunay. sentindo-a à maneira de um Ribeyrolles ou um Ferdinand Denis. que ia olhando para os encantos dos grandes quadros naturais e lhes dando o devido apreço. onde se prefonnam certos movimentos d""A Terra" e d""O Homem". Desenhos de traço elementar. com efeito. sem poder desprender-se do seu fascínio. pois o que há nela de melhor é fruto das impressões de mocidade e da lembrança em que as conservou. por exemplo. dos seus trabalhos e ambições) elaborando sem cessar a própria experiência. Duas palavras poderiam sintetizar-lhe a obra: impressão e lembrança. lutar por ela. a insistência com que passou a vida (sem desprender-se dela. de memória e emoção.erior bruto. integrado no corpo do país de um modo desconhecido a qual quer outro romancista do tempo. em vez. Ao músico e desenhista. também. dos tios e do parente de Chateaubriand. orgulhoso dos dotes físicos e artísticos. enfrentar asperamente a paisagem em lugar de contemplá-la. alguns dos quais abordou com born senso e eficiência. para ele. do avô. que elaborou durante toda a vida. Uso tais palavras intencionalmente. o fato de suas obras mais significativas estarem ligadas à experiência d o sertão e da guerra. vem fundir-se o sertanismo prático da Expedição de Mato Grosso. para assinalar o cunho pouco profundo da criação literária de Taunay. Mesmo assim. A su a obra . Daí resultar um brasileirismo misto de entusiasmo plástico e consciência dos problemas econômicos e sociais. São dois traços modestos que delimitam um gráfico plano e linear. Ao naturismo pré-romântico da Tijuca. o tenente da Comissão de Engenheiros. que descobre novas regiões da sensi bilidade. um espetáculo: integrou-se na sua mais vivida experiência de homem. naquele tempo.11 Daí. A sua recordação não vai àqueles poços de introspecção donde sai refeita em nível simbólico. nem eqüivalem as suas impressões ao discernimento agudo. é preciso apontá-las como singularidade a mais do romancista: é única entre nós. A paisagem deixou de ser. do próprio eu: só que em vez da penetrante visão do francês. Não seria fortuita a simpatia que mostra po r Stendhal. o meu tipo chamava a atenção." "Os traços da fisionomia. com uma vaidade satisfeita e quase ingênua: "Ao passar por diante das senhoras ouvi uma que disse bem alto: "É o mais bonito de todos!" e tal elogio ainda mais me intumesceu o peito"."Que guapo oficial! Que rapagão!"13 Ao lado dessa ufania pueril. com os trabalhos e as fadigas de Mato Grosso virilizado de maneira qu e o meu todo. estabelecendo colônias alemãs. do meu todo e para tanto concorriam. muito. Rio.(11) Principalmente a questfio Imigratória. numa literatura parca de documentação pessoal. Este culto sempre vivo de si mesmo foi de boas conseqüências para a nossa literatura. enfim. os elogios que recebia à queima-roupa. do meu porte. Sobre as suas idéias gerais no assunto. donde assomos de vaidade positivamente mulheril. quando ouvia elogios à queima-roupa. Leuzinger.12 Também ele se ocupava longamente. "Nesse tempo tinha eu muita vaidade do meu físico. ainda hoje os seus herdeiros publicam periodicamente um trecho a mais das suas opiniões e reminiscências. que não apenas debateu teoricamente como legislador. mostrava-se todo em superfície. incansavelmente. italianas e polonesas no Paraná e em Santa Catarina. um tanto afeminados haviam-se. muita satisfação. tinha formas bem mais elevadas de orgulho. uma vez que não enveredou para as pirraças estéreis ou a . centralizadas agora pelas Memórias. 3O8 é um longo diário. dos meus cabelos encaracolados. ver Questões de Imigração. a quem se equiparou certa vez ao conversar com o possível leitor do futuro. . mas em que Interveio como presidente de duas províncias. que contribuem para firmar-lhe os traços da personalidade: haja vista o alto conceito das próprias obras e a serena confiança com que se dirigia à posteridade. O estilo suficientemente cuidado e de boa feição vernácula preenche bem o fim revestindo do prestígio da frase descrições perfeitamente verdadeiras em que procurei reproduzir. cit. impressões recolhidas em pleno sertão..14 (12) Memórias.. José Veríssimo escreveu: "Taunay. por isso mesmo e de bastante imodéstia. (13) Ob..) mostrando-lhe aqueles dois livros (. "No meu pensar bem leal. pàgs.. É um livro honesto e sincero. nutro a ambição de que hão de chegar à posteridade duas obras minhas. "Talvez (. 268). 3O9 #KSW$. e sendo saudável.. 72. talvez ingênuo.. e 328.13 . e estou que as gerações futuras não hão de têlo em conta somenos". enxergando no eu o critério seletivo da experiência... 16O e 417. 233. pág.. Ver no mesmo livro as páginas 223. tida como digna de ser literàriamente elaborada. com exatidão. (Estudos de Literatura Brasileira.): "Eis as duas asas que me levarão à imortalidade". Inocência lhe parecia algo definitivo. No entanto. (14) Ob. foi bastante forte para dobrá-lo ar tisticamente sobre a própria vida. Taunay sentia muito bem quais eram as suas obras duradouras. A Retirada da Laguna e Inocência (. II. este romance é a base da verdadeira literatura brasileira. 229. mas não sei. pág. 124. como todos os autores de uma obra copiosa desigualmente apreciada tinha um íntimo despeito e sentimento da preferência dada àqueles seus dois livros". A este respeito.. cit.). pelo cunho de realidade e por concretizar uma aspiração literária fundamental do romantismo: o nacionalismo estético. tomei um dia a liberdade de dizer ao Imperador (. O esteta e o sertanista se completam pois pelo egotista. cit.) possa parecer imodéstia de minha parte. verdadeira suite de apreço a Inocência.megalomania que o acompanham ordinariamente no Brasil. pág.. 261. que Franklin Távora enxergava na consciência regional. Num segundo plano. o valoT da obra dependia da autenticidade dos modelos. Sabemos que o anão Tico foi inspirado fisicamente pelo anão barqueiro do rio Tucuriú. descendente de pintores. o Coletor.16 Para esse desenhista. Ao contrário do grande mestre. nas narrativas o romance é citado como documento: "No dia sete de julho entrávamos na Vila de Santana do Paranaíba. mas várias das pessoas que viu. ele vira o ambiente. ao tratamento romanesco. vamos encontrar maior elaboração artística dos dados. em cuja casa almoçou. miserável e sezonática localidade de que dei descrição na Viagem de regresso e em Inocência não esquecendo em ambos esses livros. de me referir ao nosso born e loquaz hospedeiro o Major Taques. mas pondera que ele "não conhecia absolutamente a natureza brasileira que tanto queria reproduzir nem dela estava imbuído. Jacinta.) . Pereira. diretamente e sem retoque. contudo. quase os personagens de Inocência. que ao participarem do diálogo (capítulo XXIV) passam do quotidiano para a ficção. Quanto ao herói: "Um pouco adian te (. tipos observado s em Santana do Paranaíba e descritos nas Visões do Sertão: o Major. morador da casa única de sobrado e grade de ferro da povoação". tutu daquelas redondezas. Não lhe sentia a possança e verdade.. Portanto. foram reproduzidas com uma fidelidade que dá valor documentário à sua ficção . o Vigário. a jovem leprosa de extraordinária beleza.Comparando-se com Alencar. lembrand o-se muito mais do que lera do que daquilo que vira com os próprios olhos". para a própria heroína.. não o desmerece. utilizou entre outros elementos a carrancice de um mineiro velho que o ia matando por zelo doméstico. Inversamente. para onde transpôs. fundidos pela imaginação para afeiçoá-los . Para o pai de Inocência. Descrevia-a do fundo do seu gabinete. não apenas os quadros naturais e os costumes. não tomá-lo ao pé da letra quando insiste na veracidade copiada dos tipos. ao dinamismo recôndito do inconsciente.. pág. Há pois maior complicação do que supunha o próprio Taunay ao proclamar a sua fidelidade ao real.ou seja. torna-se no livro. Se.. mas alguns dos seus traços. avô da mocinha. diz o autor. 233. fazendeiro com mania de doença. diz ele. porém. clt. quando são personagens). torna-se um tipo acidental. mais importantes que as sugestões da vida (acessíveis a todos) tornam-se a invenção e a deformação. devidas não só às capacidades intelectuais de composição.(15) Ob. no capítulo XVII: simples mudança de situação. outros elaborados a partir cia sugestão inicial.17 Devemos. escorraçado e infeliz. atenuando os modos insolentes. 229. a título de . há tipos copiados fielmente. outros compostos com elementos tomados a mais de um modelo. o "empalamado" do capítulo XVI. duplo aproveitamento do mesmo modelo. a que serviu de modelo e apenas passa no livro. O velho leproso Garcia. (16) Ob. daquele modelo". portanto. fo ram incorporados a Pereira: . vão se deformando cada vez mais pela necess idade criadora. o pobre doente do mesmo nome que ent revemos um momento. Manuel Coelho. antipáticos. porqu e. cit. em qualquer arte. à vontade. pág. Portanto. M encontrei um curandeiro que se intitulava doutor ou cirurgião. Em Inocência. ainda há muito de Manuel Coelho. vemos de fato que os tipos acessórios são às vezes "fotografados da realidade" (como diria Sílvio Romero). como às possibilidades afe tivas. e me serviu para a figura do apaixonado Cirino de Campos. por exemplo. no Coelho "empalamado". desde que apareça irmã certa tensão criadora. mas ressaltar desde logo a parte do trabalho fabulador. à memória profunda. mas quando são importantes ou essenciais à narrativa (isto é. dele e "de outros de mais acentuado zelo". Doutra forma. 31O 311 #ciência artística de Taunay. A citação referente ao Major Taques se encontra à pág 75. na personalidade do velho P ereira. a sua boa qualidade literária deve-se a um terceiro nível da cons(17) As Indicações de Taunay sobre os modelos de Inocência encontram-se em Visões do Sertão. também aqui pressentimos o eterno filtro do amor e. em toda a sua cega e no caso singela fatalidade. da morte. No seu caso. 72.pitoresco. Se as sombras de Paulo e Virgínia perpassam aqui. LXI e LXII. nas Memórias. VII e VIU. à pág. composta com fragmentos de experiência do autor. a Cirino. ca ps. É que se a contextura geral do livro e dos personagens é devida à descoberta plástica e humana do sertão (cujo significado já foi dito). como poderia o curandeiro mentiroso e antipát ico transformar-se no terno e elegante Cirino. havia nele as forças criadoras profundas. Além da reprodução e da estilização. muito pouco haverá. que faz Tristão dizer a Isolda: Belle amie. mas dotada de autonomia suficiente para superar as sugestões iniciais e inscrever-se no plano da criação literária propriamente dita. ainsi vá de nous: . caps. c omo em boa parte dos nossos idílios românticos. Tudo se encontra agora. com pouca diferença. elas se manifestam pel o discernimento com que ajuntou os dados da impressão e da memória para reviver num caso particular. ou a força profunda com que morre de paixão. de que tanto se gabava e na verdade são essenciais à economia do livro. que aceita a morte de amor com tão romântico fatalismo? Nem a beleza física da jovem doente bastaria para criar o encanto indefinível de Inocência. o antigo drama da paixão contrariada. inventado. indispensáveis à ficção literária. Passei. demasiado forte.Ni vous sans mói. ni mói sans vous. . que. com a indiazinha chané. pois. o longo padecimento da tropa. transfigurado pelos problemas de honra militar e sentimento nacional. ao seu lado dias desdridosos e bem felizes. não ocorre nos outros romances de Taunay. em pági nas admiráveis pela sinceridade da emoção. O fato porém. O consentimento da própria indiazinha. em Uberaba. foi que "a bela Antônia apegou-se logo . especialmente no modo ingênuo de dizer as coisas e na elegância inata dos gestos e movimentos. cuja posse comprou ao pai por "um saco de feijão.permitiram-lhe transpor a jornada a um a categoria dramática.. nuns cento e vinte mil-réis". É que há no fundo de ambas certas vivências cuja expressão mais forte se fundiu neles. N"A Retirada da Laguna. uma vaca para o corte e um boi de montaria o que tudo importava naqu elas alturas e pelos preços correntes. Se em Inocência a experiência artística do sertão serviu-lhe de veículo para exprimir uma versão rústica da fatalidade amorosa. durante a estada nesses Morros quase fantásticos. esta vigorosa. a que vemos na Retirada da Laguna não se encontra nas demais narrativas de guerra e de viagem. . Em tudo lhe achava graça. desejando de coração que muito tempo decorresse antes que me visse constrangido a voltar às agitações do mundo. Antônia. a mim e ainda mais eu a ela me apeguei. São os amores. outro de milho. assim também. foi comprado por "um colar de contas de ouro. m Ora. dois alqueires de arroz.compartilhado a cada instante. de . que em mim nasceu. me havia custado quarenta ou cinqüenta mil-réis". Embelezei-me de todo por esta amável rapariga e sem res istência me entreguei ao sentimento forte. foi porque ele vivera em Mato Grosso uma aventura apenas recentemente revelada nas Memórias. não obstante amaneirada consciência dramática. que me achava tão separado e alheio. porventura sem amor. que ela gerou em Taunay. A bela neta do sitiante leproso. entre as quais ele o incluía com orgulho. quer parecer-me que essa ingênua índia foi das mulheres a quem mais amei".a . e que simboliza um aspecto importante da literatura americana: o contacto espiritual e afetivo do europeu com o primitivo. a paixão silvestre que termina pela morte da índia abandonada pelo amante. em Iracema. Em todo ele perpassa uma ternura e encantamento que o tornam dos bons trechos da nossa prosa romântica. Na verdade. publicado em 1874 nas Histórias Brasileiras. com o pseudônimo de Sílvio Dinarte. serviu para fixar as recordações da índia Antônia: a candura e a beleza desta comunicaram à personagem central do livro aquele encanto no amor e no padecimento que lhe abriram a posteridade. os dois processos literários que empregou conscientemente . 312 Pensando por vezes e sempre com sinceras saudades daquela época. um belo conto. o que há de mais profu ndo em Inocência: o perfume indefinível da donzela sertaneja e a tristeza dos seus amores frustrados. cumulando os sonhos literários de Taunay. Num plano mais fundo de análise veríamos. que o efeito literário de Inocência deve-se à força germinal desse idílio que tanto marcou o autor. diretamente. retomada com o mais alto impulso lírico por Alencar. com um mínimo de fantasia. e. indiretamente. o melhor de quantos escreveu . O entrecho e o quadro sertanejo ser viram para delimitar e informar a sua experiência pessoal. * O conto relata. pois. que ao projetar-se de tal modo na forma artística pôde satisfazer anseios menos conscientes de expressão afetiva. destinada a casar com o primo. Aí talvez esteja o segredo deste romance que supera de tão alto as produções e transposições da realidade.18 Tal foi na verdade a emoção. Nem lhe falta a situação des crita por Chateaubriand em René e nos Natchez.lerecê a Guaná. é também o autor d"A Mocidade (18) 313 #de Trajano. que tendo principiado nas peripécias informes de Teixeira e Souza. No Declínio. Não fosse a experiência fundamental da guerra. Vimos até aqui as linhas expressivas da sua personalidade e da sua obra. compunham-na todavia em parcela ponderável. dos pela educação. contudo. como elas aparecem em nossos dias. sob o signo do folhetim francês. Poucos romancistas apresentam produção tão contraditória quanto Alfredo de Taunay. teriam certamente avultado em sua personalidade humana e literária os pendores de mundanismo propicia Memórias clt. Ouro sobre azul é livro de um discípulo dos romances urbanos de Alencar. e. três dos quais fiéis ao padrão mundano estabelecido por Alencar à imitação dos . Ouro sobre azul. o que é um enredo. 284 e 292. págs.. do amor no sertão. escreveu quatro romances. em Inocência. Não nos esqueçamos porém que o autor de Inocência. De 1871 a 1875. Há uma nítida linha de contaoto c evolução entre A Moreninha. do sertão. E também de cansaço do romance romântico.reprodução e a elaboração premeditada do real . desde a burguesia mal talhada de Macedo (1844) até a gente bem mais polida do high-life de Taunay (1875). e da sociedade descrita. Trinta anos de urbanização e desenvolvimento da Corte não passariam sem deixar marca. podemos agora acrescentar. das narra tivas de viagem. Mas não bastariam para realizar o que realizou. cujo poder já ficou mencionado. à Octave Feuillet . graças à intervenção do inconsciente. d"A Retirada da Laguna.teriam sido suficientes para acender a imaginação e compo r. dos 28 aos 31 anos. Os mais amenos. e que se hoje nos parecem recessivos no retrato definitivo da história. Sonhos d"Ouro ou A Pata da Gazela e Ouro sobre azul.mest re de muitas páginas de Alencar e do nosso Visconde. isto é. vinha acabando numa idealização algo banal. não os Perfis de Mulher. até certo ponto banal. Evolução da narrativa. que se faz cada vez mais sóbria. dedicou-se a recordar o passado em livros de reminiscências. menos Inocência. ou seja. Lágrimas do coração. é interessante notar como deixa de lado todos os seus romances. 1871. absorvido pela carreira política. criando a fórmula porventura mai s feliz do regionalismo até aquela data (A Mocidade de Trajano. publicando mais dois romances: O Encilhamento (1894) e No Declínio (1899). inglesa e alemã). livre e original. 1874. que lhe parecia o mais real de todos. daquela concepção realista e sobretudo naturalista. que ele próprio manifestara na mocida de e o naturalismo lhe terá porventura auxiliado a discernir melhor como técnica de criação artística. que contribuem para esclarecer não apenas a sua obra. Preza nele. posteriores a essas reflexões e à experiência da literatura contemporânea (francesa. têm muito de estudo. os ingleses. a própria obra. E voltou à literatura. 1872). não voltará à ficção. de Fielding a George Eliot. afirmando-se no tipo de literatura que respeitava a realidade. com entusiasmo. Louva por isso. Os seus artigos de crítica.no sentido de uma arte Ügada à observação. nas Memórias (escritas a partir de 1892). meio constrangido. Daí censurar o convencionalismo dos românticos e seus sucessores. que rejeita com indignação. e um.franceses. as qualidades de análise da vida real. na qual desempenhou papel de relevo e que a proclamação da República veio cortar em plena ascensão. Retirado da vida pública. Inocência.se tornam consciência crítica na idade madura. O Encilhamento e No Declínio. como alguns aspectos e personalidades do seu tempo. e ao analisar. contudo. 1875. italiana. revelam bastante interesse pelo romance naturalista. A intuição e as disposições da mocidade . nutrido de experiências profundas. mas não admitia a i ntervenção da sexualidade. mas também à fantasia . Ouro sobre azul. que considera como um caso . publicados no intervalo. Por vinte anos. . RAÍZES DA CRITICA ROMÂNTICA Ao descrever os sentimentos e as idéias de um dado período literário. benefician do da experiência anterior de Alencar e do conhecimento da evolução do romance na Europa. que não se pode ver nessas duas etapas da sua produção romanesca uma contradição ou uma ruptura. tanto no rumo urbano quanto no regionalista. elaboramos freqüentemente um ponto de vista que existe mais em nós. estudo psicológico o segundo: ambos. A nova causalidade psicológica só aparecerá aqui d epois de Inglês de Souza. Mas a sua maneira de apreender a realidade. 5. O que se poderá dizer é que representa um finale mais polido. menos idealista e mais linear. mais secos do que as produções da mocidade. Entretanto. 2. P or isso. como sugeri. a sua interpretação dos atos e sentimentos. A CRÍTICA VIVA. 4. bastante marcados pelo "realismo mitigado" (que enxergara e m Daudet). que procura fixar a vertigem financeira de 1892-3. A sua obra continua. 314 315 #Capítulo VIU A CONSCIÊNCIA LITERÁRIA 1. foi sempre tão vivo nele o senso da realidade e o gosto pela observação. não vejo motivos para classificá-lo fora do Romantismo. permanecem românticos. e significando uma evolução no sentido das novas concepções.o aspecto descrito da realidade. tendências desenvolvidas por este. RAÍZES DA CRITICA ROMÂNTICA. #]. TEORIA DA LITERATURA BRASILEIRA. Aluísio e Machado de Assis. 3. CRÍTICA RETÓRICA. FORMAÇÃO DO CANON LITERÁRIO. É o mesmo Taunay de Ouro sobre azul. Estudo social o primeiro. podemos dizer que as origens da noss . Como também Garrett se funda neles em grande parte. intelectualmente e pelo significado histórico. pouco antes. Como atividade regular da inteligência.segundo a perspectiva da nossa época. Denis aplicou ao nosso caso. aliás inevitável. é conveniente um esforço de determijiar o que eles próprios diziam a respeito. Mas se buscarmos as suas raízes. Madame de Staèl. seja através de expositores ainda não determinados pela pesquisa erudita. do que nos indivíduos que o integraram. um estrangeiro. Em segundo plano . com o grupo da Sociedade Filomática. mero compên dio escolar. cujo iniciador foi. só aparece todavia com a Niterói. mas pela provável ação de presença que exerceu junto aos moços da Niterói. No Brasil. Augusto Guilherme Schlegel e Sismonde de Sismondi. Em seg uida. Para contrabalançar a deformação ex cessiva deste processo. impõe-se o estudo da crítica no período em apreço . com grande acuidade. para a nossa literatura. franco-brasileiro: Ferdinand Denis. pode-se considerar Almeida Garrett. o registro ou reflexo das suas diretrizes c pontos de apoio. os nossos primeiros românticos devem ter retomado estes autores. corn efeito. Neste sentido. porque ela é de certo modo a consciência da literatura. de que modo exprimiam as idéias que sintetizamos e interpretamos. ou. a crítica romântica brasileira se baseia na teoria do nacionalismo literário. seja diretamente. se quiserem. para não falar nas lições de Frei Caneca. a crítica nasceu com o Romantismo. como a epístola de Silva Alvarenga a Basílio da Gama ou a "carta marítima" de Sousa Caldas. sobretudo como vinha expressa na obra de quatro escritores: Chateaubriand. não apenas por certa coincidência de idéias expressas sumariamente. veremos que não se prendem aqui na maior e mais significativa parte. Vimos no volume anterior manifestações do maior interesse. certos princípios da então jovem teoria romântica. no estilo. Humboldt. a índia. como um progresso incessan te. mais fecundos da crítica oitocentista. Finalmente. Chateaubriand leva mais longe as idéias que Schlegel desenvolvera desde os fins do século XVIII. considerando a religião cristã o principal fator de grandeza das obras de arte. Interessado pela África. ou melhor. pregava a supremacia do sentimento e das paixões sobre a razão. Ao mesmo tempo.(Cortesia da Biblioteca Municipal de São Paulo). em dois episódios depois destacados da obra Atala e René. Além disso. O mais importante e sistemático dentre eles. foi sem dúvida Guilherme Schlegel. teórico e 319 #srr Joaquim Norberto . a América. que encontrara pouco antes em Condorcet a expressão mais pura. ao mesmo tempo. reflexo e veículo de aperfeiçoamento humano. . residiu no Brasil de 1816 a 182O e escreveu abundantemente sobre nós e os portugueses. ao estudar. junto com a social. concebe a evolução literária. a Arábia. na linha optimista.a crítica romântica se encontram nas suas obras. fazendo da literatura. ressaltando a sua ação recíproca. com influência lateral de Madame de Staêl e (possivelmente através dela) Schlegel. nos temas. opondo os modernos aos antigos. fazendo a efici ência e grandeza das obras dependerem da intensidade com que as manifestavam. Ferdinand Denis pode ser classificado como discípulo direto de Bernardin de Saint-Pierre e Chateaubriand. valorizando o medioevo. do ponto de vista da história da crítica. mostrando a sua influência nos sentiment os.destinados ao maior êxito e influência. . exemplificava concretamente a força poética e psico lógica da angústia interior e da vida primitiva. indicar a ligação entre as produções do espírito e a sociedade. N"O Gênio do Cristianismo (18O2). muito menos o Brasil. que conseqüentesnente devem ser tema literário e fonte de inspiração. isto é. sendo país novo há de procurar expressão literária própria. todavia. Os sentimentos 321 #dominantes na literatura serão portanto o nacionalismo. enquanto Chateaubriand lhe comunicou o in teresse pelo índio.como assinala Lê Gentil. o fervor pela natureza. com Schlegel. e os próprios primitivos têm capacidade poética. A literatura vem de baixo. A língua e as imagens da literatura são assim estreitamente ligadas à sociedade. que cada nação segrega por assim dizer uma literatura adequada ao gênio do seu povo . com Madame de Staêl . como as que votava ao pré-romântico Senancour. a quem se refere com veneração! Postas estas bases. sobretudo.a grande fonte criadora. redator do Mercúri o Estrangeiro. e ao voltairiano Guinguené. levando à imitação do passado. fizeram-no interessar-se pelo problema da literatura nacional. de quem foi amigo fidelíssimo. imitar é morrer. como fonte de poesia. ao jugo colonial. e Bernardin de Saint-Pierre. que presenciou aqui. que exprima o seu gêni o. A tradição clássica. o indianismo e o cristianismo. influiu na sua visão do trópico. podemos imaginar em Denis um processo mental mais ou menos do seguinte teor: não se deve imitar servilmente os clássicos. liga-o a Portugal. pois já sabia. pois este foi o ideal que dirigiu a nossa colonização. impede a comun hão do artista com a natureza misteriosa que o circunda no trópico e. de Staêl ia bem com o seu temperamento e admirações. . a prudência de Mme. os primitivos brasileiros são os índios. à trad ição clássica francesa e avesso a rupturas marcadas. que as artes e letras vinculam-se estreitamente ao estado da sociedade e. que. Ainda era preso. Os anseios de autonomia e progresso. não* corresponde ao nosso gênio nacional. éramos "um país que parece reservado a altos destinos científicos e literários". as raças primitivas. neste gênero. o silêncio. a solidão. fundando a teoria da nossa literatura segundo os molde s românticos. no conto sobre os Machakali. a solidão das florestas. o Oceano sem limite. neste sentido. tais fra ses seriam estímulo a ver. "Os arvoredos. foi fiel ao espírito moderno. sobretudo levando em conta as capacidades que nos reconhecia: "Os brasileiros têm geralmente singular aptidão para o estudo das ciências e das letras.A presença no Brasil de pré-românticos como ele foi importante. no Brasil.2 Ao jovem Denis. Ante a exuberância da natureza tropical. mal chegam para exprimir o eterno e o infinito que enche a alma dos cristãos" . o que Garrett apenas estava sugerindo ao mesmo tempo na Introdução ao Parnaso Lusitano. em Scenes de Ia nature sous lês tropiques. pois uma vez que as condições do país os convindavam a assumir atitude literária diferente do Classicismo. sentiam como que a justificação desta teoria e a debilidade da tradição greco-latina.2-* Em 1825. foram levados a aplicar ao nosso caso o que fornecia. a vastidão dos lugares desabitados. de certo modo. a teoria eu ropéia. Cabe-lhe sem dúvida o mérito de haver estabelecido a existência de uma literatura brasileira.dissera Madame de Staèl numa tirada à Chateaubriand. nacionalista e liberal em políti . um país talhado para se exprimir segundo as novas diretrizes. Mas é em 1826 que junta o Resumo da história literária do Brasil ao Resumo da história literária de Portugal. exemplos brilhantes ao resto do Novo Mundo". num sentido que a orientaria por meio século e iria repercutir quase até os nossos dias. ilustra as teses de Chateaubriand e Madame de Staêl. descrevendo românticamente a nossa natureza como fonte de inspiração e criando. flores e regatos bast avam aos poetas do paganismo. segundo uma orientação inspirada por Humboldt. o céu estrelado. não trepidamos em afirmar que darão um dia. já referido no volume anterior. Nisto. o no sso indianismo romântico. com efeito. l. o pensamento d eve crescer com o espetáculo que lhe é oferecido.. schlegeliano em crítica. certos temas que serão condutores no Romantismo: estabelecimento de uma genealogia literária. A América.". e onde deveriam ter sido sempre desconhecidas. o tempo das especulações sobre o "espírito n . não estão em harmonia nem de acordo com a natureza.°. segundo o qual a diferenciação nacional acarreta forçosamente a diferenciação estética. que Sílvio Romero levou ao máximo de sistematização. respectivamente págs. 15O. as tradições (. 1. (2-a) Ferdinand Denis. Se esta parte da América adotou uma língua aperfeiçoada pela nossa velha Europa. principia (no que se refere aos dois últimos temas) a longa aventura dos fatores mesológico e racial na crítica brasileira. "O Brasil. graças às obras-primas antigas. análise da capacidade criadora das raças autóctones. Era. que sentiu necessidade (2) Madame de Stael.ca.3 Desta verdadeira proclamação de independência literária. Histoire Géographique du Brésil. tão favorecidas pela natureza. majestoso. deve ser livre na sua poesia como no seu governo". corn Denis. na sua glória nascente. deve ficar independente e guiar-se apenas pela observação. 91 e 62. e. TOl. deve todavia repelir as idéias mitológicas devidas às fábulas da Grécia: gastas pela nossa antiga civilização. aspectos locais como estímulos da inspiração. enfim. que atesta a juventude de um povo. foram levadas a essas plagas onde as nações não as poderiam compreender bem. 322 de adotar instituições diferentes das que lhe haviam sido impostas pela Europa já sente necessidade de haurir inspirações poéticas numa fonte que lhe pertença de fato. pág.) Nessas belas paragens.. o clima. bem cedo nos dará obrasprimas deste primeiro entusiasmo . vol. como se poderia dizer glosando um escritor atual. do ponto de vista crítico. De I"Allemagne.3-" decorrem. acentuava a do fator racial. propiciando. através do qual reperc utiria frouxamente. continuando a linha francesa que teve em Montesquieu o maior expoente. No caso brasileiro. "Resume de 1"hlstolre llttéraire du Brésil".. enquanto Schlegel. págs. em Sismondi.". sobre a diferença e a (3) Ferdinand Denis. como as já referidas. Daí um persistente exotismo que eivou a nossa visão de nós mesmos até hoje.. nas letras. Madame de Staêl. clt. como se estivéssemos condenados a exportar produtos tropicais também no terreno da cultura espiritual.. com isto ficou relegada de fato a segundo plano a correlação muito mais fecunda entre literatura e instituições sociais.. proposta com acuidade por Madame de Staêl em De Ia Littérature. exprimem a entrada aparatosa da geografia e da etnologia na cr ítica.) 323 #grandeza da natureza tropical. vol. Homens como Denis se encontram na origem de tal processo: é claro que um francês acentuaria o encanto do local e veri . levando-nos a nos encarar como faziam os estrangeiros. 3.) mas em 1824 por um livro de Ferdinand Denis (. 515516. **"O prefácio do Cromwell do Romantismo Brasileiro não íol lançado em 1836. originando forçosamente sentimentos diferentes. prolongando as cogitações de Herder. considerar a raça e o meio..acional" e a influência das latitudes. Revisão de Castro Alves. "dos povos germânicos e latinos". como afirmam os compêndios (. impunha-se. em Schlegel. Quanto a este. pag. portanto. segundo os cânones do momento. no Brasil. a exploração do pitoresco no sentido europeu. da peculiaridade das raças e atuação dos climas. ambas as coisas em Madame de Staêl. retomada mais tarde por Villemain. em Sotero dos Reis. (3-a) Jamll Almansur Haddad. "Literaturas do norte e do meio-dia". acentuava a importância do fator geográfico. tudo se resumiu em tiradas. cada uma das nossas raças constitutivas possui caráter poético próprio. que lhes traz uma Bahia colorida e brilhante. dizendo coisas como estas. parece que o gênio próprio de tantas raças diferentes se mostra nele. inflamado e . sonhador como o Americano.a nele a contribuição que o Brasil poderia dar. quer se tenha aliado ao negro ou ao primitivo habitante da América. pois aquele punha índios. . Denis era optimista. o negro. não Cláudio. de Graciliano Ramos. Quanto à raça. não é preciso ter recebido â educação das cidades. de diferenciação. quer apascente os seus rebanhos em pastagens imensas. Ainda hoje. que Angústia. No entender dos franceses. é sempre poe ta". Monglave. enquanto este falava a linguagem dos homens cultos de todo o Ocidente. os leitores estrangeiros aceitam muito melhor Jubiabá. salvando-se. pág. de integração.como Denis. 521) Para ele.Durão era brasileiro. na medida em que. . o romântico. como vimos. o brasileiro é naturalmente inclinado a receber as impressões profundas. de Jorge Amado. cavaleiresco como o guerreiro das margens do Tejo. O Romantismo embarcará nesta duvidosa canoa e nela se arriscará freqüenteme nte. imaginoso. flechadas e episódios históricos em cena. e para se entregar à poesia. O índio é triste e melancólico. sendo uma aceitação necessária e justa do detalhe local. que embriagaram os nossos jovens reformadores e até hoje fazem parte do equipamento da crítica vulgar: "Quer descenda do europeu. e a formação da nossa literatura só adquire sentido vista na inteire za dos dois movimentos solidários: o neoclássico. é ao mesmo tempo prolongamento da atitude setecentista de promoção das luzes. Gavet. quer cultive as terras mais férteis do mundo. quer percorra as florestas primitivas. ("Resume". onde vão encontrar problemas longamente versados pelos seus próprios escritores. Sucessivamente ard ente como o africano. Borges de Barros. ao teatro e às artes. Descartando Cláudio como demasiado europeu (pouco adequado ao seu propósito). mas que nela já se poderiam apontar certos traços precursores do nacionalismo literário. encontrava no Brasil correspondente entre os bandeirantes. Dentre os mais recentes destaca Sousa Caldas e. repetindo as notícias de Barbosa Machado (a ponto de ignorar. que abordaram o tema indígena. sonhador. que será dos mais persistentes lugares comuns da nossa história oficial. todavia. enquanto o mulato é amoroso e imaginoso como o árabe. Ó mameluco é aven turoso. censura a Durão não ter aprofundado o tratamento dos fatos relativos à . os grandes homens são os dois épicos. capaz de grandes coisas. lembra que as três raças assinalaram a sua importância na construção nacional ao se unirem na guerra contra 324 os holandeses. (págs. sobretudo. 518) Isto posto. 523-525) Nem lhe faltou apontar que a Cavalaria. nostálgico da civilização dos avós. em seguida Cruz e Silva. o branco. Gregório de Matos) até a "escola mineira". Preocupado. Para ele. Retomando uma preocupação dos Ilustrados pernambucanos. trata bem Gonzaga desleixa Silva Alvarenga e ressalta principalmente Durão e Basílio da Gama. com este.comunicativo. entusiasmado pelo seu país. apontado como objeto principal da poesia brasileira. tão necessária na fase inicial para configurar o próprio conceito do Romantismo. quando entra a emitir juízos pessoais. restava-lhe tão somente mostrar que não só o Brasil possuía uma literatura cuja história era possível fazer. Neste sentido traça o seu estudo. (pág. bastando aos escritores atuais retomá-los e desenvolvê-los. (naturalmente por ser ministro em Paris). passando afinal aos historiadores e economistas. diz que "é nacional e indica bem o alvo a que se deve dirigir a poesia a mericana". com o aproveitamento da nossa história. português que deu nas "Metamorfoses" um exemplo de aproveitamento adequado da natureza brasileira . Do Caramuru (a que consagra dezenove páginas). em todos os estrangeiros que trataram de passagem da literatura brasileira a partir de então. Garrett. a sua contribuição é mínima.* Por este lado. considera o primeiro o "poeta francês atualmente o mais estimado dos . Casimiro de La Vigne e Afonso de La Martine. o alemão Schlichthorst. vol. sobejo artifício.". A sua posição é extremamente circunspecta. como os referidos romancistas. "Bosquejo da história da poesia e língua portuguesa". em cuja crítica parece predominar a influência staèliana. e exceto nos versos dos srs.5 Numa preferência que indica o seu ponto de vista. sugere uma influência. a mania medievalista. as relações com os jovens brasileiros em Paris. fez simultaneamente a Denis um traçado histórico da poesia portuguesa. e a afinidade entre a sua atitude crítica e a que eles vieram a assumir.colonização. (-*) Parnaso Lusitano. l. Monglave. págs. As idéias de Denis aparecem. recebe com simpatia as obras românticas sem desmerecer as clássicas. de Gavet e Boucher. p ouca e forçada imaginação". Mas apesar das idéias de meio-t ermo. vale pelo fato de haver destacado os nossos autores. anotando com born humor os exageros do sentimentalismo. 325 #No entanto. mais ou menos modificadas e fragmentárias. 553 e 552-553) É fácil perceber que desta observação deve ter nascido em grande parte o estímulo para o Jakaré-Ouassou. complemento natural do outro. destacando a contribuição dos brasileiros. nos seus dois periódicos: O Português e O Cronista (1826-1827). as irregularidades formais. o que Jogo inspirou a Januário o seu Parnaso Brasileiro. (págs. notadamente o conflito de Francisco Pereira Coutinho e Diogo Alvares. não o seduziram os produtos finais do neoclassicismo. naquele momento transitivo: "Em geral nas novas poesias francesas encontra-se pouca naturalidade. na referida Introdução do Parnaso Lusitano. mas pelos escritos que produziu antes aind a de 183O. que se terá exercido não só pelo contacto pessoal. XVIV e XLV. que para ele principia cor n a oEra de Cláudio Manuel da Costa. romana.Os 1O e 17) No fundo. embora já5"" autor do Camões e de Dona Branca. autobiográfico cit. e porventura mais que nenhum o merece". I. nacionalizaram e popularizaram a poesia que antes deles era. quase s e pode dizer. que o talento humano dificilmente igualará jamais. p ropugnada por Chateaubriand. em Gomes de Amorim. ou dum sítio romanesco. francesa ou italiana.. Shakespeare rasgos de sublime. Garrett. "proclamaram e começaram a nossa regeneração literária. mas o interesse pela atualidade literária da Alemanha e. Em todos os gêneros há belezas. pág 19 (6) Ms. como seriam sem exceção os nossos primeiros românticos. 4. somente grega. nas suas próprias palavras. um romântico moderado. pág.° 6. -tj-i o de Madame de Staèl em De rAUemagne (que celebra no n. (Mário de Andrade). principalmente Walter Scott. e em todos muito que admirar. admiremos os grand es gênios no que têm de admirável.° 2 d"O Cronista). que era também o de Denis. vol. deixem os a cada qual com seu gosto. pág. encantada das grosserias do Otelo inglês. (n. é conciliador e equilibrado. Sejamos tolerantes. (n. sobretudo. desejando que o romance histórico floresça em Portugal. sem fazer caso das virtudes para louvá-las". Deixemos para a crítica invejosa e ferrujenta o esmiuçar defeitos para argüir. trazia não só este "cauteloso pouco a pouco". pág 132) Comenta Os Natchez com apreço e admira os ingleses. tudo menos portuguesa .seus. Nessa quadra era. "Não há coisa mais para rir do que ver uma jovem dama de Paris toda entusiasmada com a descrição dum castelo gótico. e antes <5) O Cronista. seja qual for a sua escola ou sistema. Kotzebue tem cenas de infinito preço. contra a carrancice formalista dos neoclássicos. Mas enfim. ou das chalaças sensabor dos criados sentimentais dos sentimentalíssimos dramas de Kotzebue. n. 363.° 7. 18O) Note-se a "critique dês beautés".6 Aos jovens brasileiros. pois. . (n.° i. que. tudo. de Tasso e de Racine. O terceiro finalmente é o de Homero e Sófocles. graças às indicações iniciais dos escritores franceses. de todos os livros da Bíblia. de Camões e de Felinto. . mais que a imaginação e fantasia. embora nem sempre lhe haja percebido os aspectos particulares. O primeiro é dos salmos. de Klopstock. e de quase todos os ingleses e alemães. de Shakespeare. 179. e ainda hoje seguido na Ásia. promovendo a identificação e avaliação dos autores do passado.* 8. ou naquele que Doutras regras não tem. TEORIA DA LITERATURA BRASILEIRA A crítica brasileira do tempo do Romantismo é quase toda muito medíocre..mais dinãomica do que a que en tão^ predominava e abrangia apenas a clássica e a romântica: "E são estes os três gêneros de poesia mais distintos. Dos nossos portugueses. e cujo sentido geral apreendeu bem. assim. pág. Seria interessante averiguar onde buscou a"sua divisão da poesia. desenvolveu um esforço decisivo no setor do conhecimento da nossa literatura. .Inglaterra. girando em torno das mesmas idéias básicas. Mas os modernos já se amoldaram ao clássico. Do ponto de vista histórico a sua importância é maior: ela deu amparo aos escritores. e muitos deles têm progredido admiràvelmente. romântico e clássico. contribuindo de modo acentuado para o próprio desenvolvimento romântico entre nós. confirmando-os no sentido do nacionalismo literário e. orientando-os. segundo os mesmos recursos de expressão. Não se pode todavia negar-lhe cornpreensão do fenômeno que tinha lugar sob as suas vistas. O se gundo é o de Milton. porém poucos. cit. também alguns afinaram a lira no modo romântico. e conhecidos: oriental. Sobre O Crontsía. n. Os poetas espanhóis antigos escreveram quas e todos no gênero romântico. de Virgílio e Horácio."7 (7) 326 327 #w 2. a partir das sugestões do mundo e do espírito. como sempre. do que se passava em nossas matrizes culturais. os esforços para criar uma história literária. até criar o conjunto orgânico do que hoje entende mos por literatura brasileira. como todos sen tiam e se pode verificar no documento significativo que é a Epístola de Francisco Bernardino Ribeiro. renascentistas ou modernos. a marcha do capít ulo daqui por diante. mais ou menos. que o poeta aconselha seja repudiada. no período estudado. adotando-se em seu lugar o exemplo dos escritores que demonstraram fantasia criadora. em primeiro lugar as definições e interpretações gerais da literatura brasileira. as unhas internas de desenvolvimento não teriam conduzido a nossa literatura ao que foi depois de 183O. um universo fictício além da vida. em seguida. Basicamente. finalmente. escrita com certeza nos primeiros anos do decênio de 3O e largamente reproduzida pelo século afora. No fundo. uma questão de modelos a seguir. . como formação de um ponto de vista segundo o qual a ^literatura clássica se identificava à Colônia. se for o caso. fossem la328 tinos. Daí a importância da crítica como tomada de consciência. Esta será. para que Sílvio Romero o definisse. portanto. a renovação dependeu então. Devemos pois entender por crítica.um canon cujos elementos reuniu. é o argumento romântico de que o escritor deve criar com independência. traçando as suas biografias. e a literatura da 5 pátria livre deveria se inspirar noutros modelos. superando a crítica estática e convencional do passado.publicando as suas obras. inventando. Provavelmente. de modo algum permane . Os gêneros clássicos são aí identificados à hera nça portuguesa. as manifestações vivas da opinião a propósito da arte literária e dos seus produtos atuais. Sente-se que invoca os estrangeiros como exemplos desta atitude criadora. O grande problema era definir quais os caracteres de uma literatura brasileira. neste sentido.clássico igual a colônia. deu elementos para os inovadores perceberem a dualidade classicismo-romantismo e. não como modelos a repetir. efetuarem a identificação . tudo o que existe. Byron. que só foram superadas quando Sílvio Romero as retomou e reinterpretou. Da longa fantasia os campos ara. Dada esta disposição de "arar os campos da longa fantasia". Imita o Anglo excelso. inflama o espírito. A crítica dos Schlegel e de Staêl. pouco avançaram no terreno crítico além destas posições iniciais. a fim de transformá-los em diretrizes para os escritores. honra dos lusos. foram indicados. substituindo Denis por Taine como fanal de guia.cer na rotina. na maioria. romântico igual a nação independente. o encantador Ovídio. como Denis. aí tens o Ariosto. vendo-se que não passam. de uma retomada das posições de Denis: . Sublime inspiração do estro divino. imediatamente. como um repisar das premissas do Resume. escrevendo de segunda mão. segundo os dados do espírito positivo. Em compensação. alguns traços cuja soma constitui temário central da crítica romântica e podem ser expressos do seguinte modo. A nossa c rítica romântica se desenrolou. Te não desperta a inente. nunca seriamente investigados nem mesmo debatidos. Ou se o mundo real. Garrett. Aí tens o belo. diretamente ou através de vulgarizadores. Que te dirija os passos. a medida acertada foi compreender que as modernas tendências românticas se adequavam às necessidades expressionais do jovem país. Sterne. o Galo astuto Na Ura entoa não ouvidas vozes. até a História da Literatura Brasileira. deixando para depois a discriminação dos demais gêneros críticos. transfundir-se nas produções do homem. finalmente. em conseqüência. mas todos deram a seu tempo opiniões sobre um ou outro dos temas enumerados. das raças e dos costumes próprios do país. a começar por Gonçalves de Magalhães com dois ensaios na Niterói e uma memória apresentada ao Instituto Histórico Brasileiro: "Discurso sobre a história da literatura do Brasil" e "Fi losofia da religião" (1836). A literatura é a expressão de um povo.1) é preciso o Brasil ter uma literatura independente. a sua capa cidade poética e. É uma seqüência coerente. Por isso. cada . afirma que a religião é um dos elementos básicos da sociabilidade e deve. firma alguns pontos importantes. a princípio. como cada homem seu caráter particular. afirmando que constituem o elemento predominante em nosso tipo racial. estuda a cultura dos índios. que agora se analisará. devendo-se investigar as suas características poéti cas e tomá-los como tema. em seguida. indicando a sua grande contribuição à nossa civilização. Este conjunto forma o que se pode chamar "teoria geral da literatura brasileira". "cada povo tem sua literatura própria. (6) é preciso reconhecer a existência de uma literatura brasileira no passado e determinar quais os escritores que anu nciam as correntes atuais. No primeiro escrito. Trouxeram-lhe contribuição alguns poucos. 2) esta literatura recebe suas características do meio. são critérios de identificação nacional a 329 #descrição da natureza e dos costumes. "Os indígenas do Brasil perante a história" (1859). que o Brasil possui uma literatura ligada à sua evolução histórica e apresenta objetos dignos de inspirar os escritores. mas é elemento indispensável da nova literatura. 4) além do índio. mesmo. 5) a religião não é característica nacional. 3) os índios são os brasileiros mais lídimos. espelhando-se nela o que ele tem de mais alto e característico. mostrando. sentiu bem a coesão do processo. sobre as diferenças de escola.o que só faz por meras indicações preambulares. indicara antes que "a glória dos (8) D. Não obstante.8 Mas lembra que os contactos de civilixação levam a uma interpenetração. é preciso ter em conta os homens que o país produziu. 255) Vemos assim o ecletismo se ajustar a uma necessida de ideológica do Brasil de então: para estabelecer a conexão com o passado. no processo histórico de formação dum a continuidade espiritual. "depois de tantos sistemas exclusivos. pág. os de ontem e os de hoje se unem. (que se tem procurado . reunindo-se no mesmo tronco frutos originais e outros de empréstimo. Tendo ele próprio começado nos arraiais do neoclassicismo. que se combinam todavia de modo a produzir uma feição própria. nada de desprezo". . o espírito eclético anima o nosso século". (pág. Citando Madame de Staèl. 247) por isso. talvez. Mais ainda: isto deve ser feito sem partidarismo filosófico e estét ico.J. é a razão oculta dos fatos contemporâneos". englobando todos os valores que produzimos. (pág. . 242. estabelece dois princípios importantes: é preciso estudar os escritores brasileiros do passado para definir a continuidade viva entre ele e o presente. "nada de exclusão. pois há sempre u m tema central que define as épocas e exprime a homogeneidade dos povos. de Magalhaens. em parte. 33O grandes homens é o patrimônio de um país livre".t afogadas em digressões. Opúsc-ilos históricos e literários. 244) O seu propósito seria mostrar a literatura como espírito da nossa evolução histórica. (pág. o pensamento mais íntimo da sua época. clássicos ou não.árvore seu fruto específico".G. aparecendo aqui um conceito caro aos pensadores alemães: "esta idéia é o espírito. por faltarem conhecimentos que a distância da pátria não permitia reco rdar ou adquirir. basta rejeitar a imitação dos antigos e ouvir as sugestões do meio com liberdade de espírito. diz Schiller.9 Isto posto. João VI e define o momento em que escrevia como de influência francesa. Embora a literatura estivesse dominada pela tradição. (págs. e por soberano o seu gênio". a ninguém caracteriza. antes recebendo-os com larga tolerância. (págs. atribuída como culpa a Portugal. dela oriunda. assinala a importância da vinda de D. "Do que ficou dito. não reconhece por lei senão as insp irações da sua alma. antes a inspira". tenha impedido aqui o desenvolvimento de uma literatura baseada nas peculiaridades locais. e quis superar o classicismo sem vituperar os clássicos. lamenta todavia que a influência clássica. teria sido possíve l aos nossos escritores ouvirem as inspirações da religião e do meio. a ssenta as duas pedras fundamentais do nacionalismo romântico: a força inspiradora da nossa natureza e a capacidade poética dos índios. De Ia Littérature.salientar neste livro). ( pág. utilizando os conceito . (pág. 27O) Como se vê. como estava aliás no seu feitio de homem liminar. retomando certas posições de Magalhães em sentido mais geral. Pereira da Silva estampa os "Estudos sobre a literatura". No número 2 da mesma revista. 256-259) Seguindo Garrett mais que Denis. é todo o temário do Romantismo que passa neste esboço inicial da sua teoria. pois (aqui entra o tema final deste artigo cheio de sugestões) "o poeta independente. 269) Para isto. 26O-262) Em seguida. libertando-se do universal. marca o início da nossa literatura no século XVIII. contraposta à de Portugal. que a todos pertencendo. orientado de perto pelo livro de Madame de Staèl. No fundo. podemos concluir que o país se não opõe a uma poesia original. "A literatura é sempre a expressão da civilização."1O Em seguida. e já nos adornamos com o que é nosso e com o que nos pertence. a Itália. a França. deve mani(9) O apelo ao ecletismo é talvez um Jeito pessoal de adotar o ponto de vista de Schlegel. fatos necessariamente unidos e reproduzindo-se ao mesmo tempo. ambas caminham em paralelo: a civilização consistindo no desenvolvimento da sociedade e do indivíduo. que até então tinham-se inteiramente lançado nos braços de uma poesia imitativa. sua importância na prática das virtudes. como uma arte moral. a favor de uma critica compreensiva: "Não ha em poesia monopólio em beneficio de certas épocas e regiões". hoje o horizonte da poesia moderna aparece claro e belo. 38. #--w festar literatura própria. não pode deixar de ser guiada pelo esforço das letras. I. esta formulação de corte nitidamente staêliano. Cours.. conte ntes quebraram o jugo de bronze que lhes pesava (. as faixas e vestes estranhas. seus esforços a favor da liberdade e da glória lhe marcam um lugar elevado entre as artes que honram uma nação" . pág.s com a mesma intenção: a literatura é expressão da sociedade e influi na sua vida espiritual. aponta o Romantismo como guia. um país novo. sendo o primeiro a fazê-lo explicitamente entre nós. os costumes. uma não se pode desenvolver sem a outra. sobre a sua função social: "A poesia é considerada no nosso século como representante do s povos. que atacara vivamente os excluslvlsmos. pág. a sociabilidade. ambas se erguem e caem ao mesmo tempo. 237) A respeito das novas correntes escreve: "No começo do século a poesia Romântica levantou seu estandarte vitorioso em toda a Europa.) Assim pois. Ver tb. que sobre nós pesavam. como o Brasil. 33. No . Para isto. que muito influiu sobre a civilização.. v ol. o que antes de mais nada depende "cie se rejeitar a imitação clássica para ouvir as inspirações focais. caíram. clt. (pág. 237-239) Note-se que aparece aí. Pôrto-AIegre. é reticencioso no assunto. deixam de cantar as belezas das palmeiras. e é pueril querer tomá-la como início da no . a primeira indicação completa do que os jovens reformadores consideravam elementos do "nacionalismo". os indígenas não possuem. ao contrário de Magalhães. desencorajava os eventuais Macphersons e talvez quisesse pôr certo cobro ao indianismo de homens como Gavet e Boucher. nem sempre devidamente observada pelos nossos românticos. Aquela não sobreviveu. inspirarem-se de estranhas crenças. em que não acreditamos. mas também nas crenças e costumes. como se fazia então com as tradições dos povos europeus e asiáticos: "Apesar desses belos romances com que se costuma embalar a credulidade eu ropéia. como aparece na maioria dos escri tos do tempo. (págs. Pereira da Silva. no geral.Brasil. seus usos. fundado não só no pito-. referida noutra parte deste livro. e destarte não passam de meros imitadores de idé ias e pensamentos alheios". as virgens florestas. e com que nos não importamos. Alguns anos mais ta rde volta a ele com mais segurança que o amigo. embora sob o ângulo restritivo do indianismo. estabelecendo a distinção. baseada no "espírito do povo" e na descrição dos seus tipos de vida e concepções. nossos vates renegam sua pátria. declarava que era preciso ter cautela com as variações sobre a poesia dos nossos índios. infelizmente ainda esta revolução poética não se fez completamente sentir.11 corn isto. porém. homem de born senso. para saudarem os Deuses do Politeísmo grego. o tipo de originalidade poética que lhes é aqui liberalmente atribuída". Na comunicação inicial dos três brasileiros ao Instituto Histórico de Paris. resco e na religião. entre poesia dos índios e poesia sobre os índios. No escrito acima. dando lugar a uma literatura popular. as superstições e pensamentos de nossos patrícios. costumes e religião. meros cantos que não deixaram eco e não poderiam ser reunidos em corpus. as deliciosas margens do Amazonas e do Prata. o índio utilizado pelo hom em culto como objeto da arte. e a civilização que teriam atingido. É fado que até est e século que ora decorre. e chega a ver nisto um elemento importante. n. 18-2O) Como os predecessores estrangeiros e os contemporâneos brasileiros. 43) com eles. Pereira da Silva definia o que se expôs no capítulo 1. gerava no escritor um senso de traição que angustiava a consciência. " A literatura brasileira do século 18.ssa literatura: "Questiona-se hoje sobre a literatura que poderiam possuir esses povos. o "primeiro lírico bra(1O) 332 J. na literatura passada destaca Santa Rita Durão e sobretudo Basflio da Gama. Por isso. (pág. (pág. N. valoriza Sousa Caldas. não cultivá-lo. que os srs. imediatamente o reconheceram. nada tem de nacional.° deste livro: o tema nacional era uma espécie de dever patriótico. a todos ou a quase todos se possa imputar o defeito de imitarem muito os escritores europeus. Pereira da SUva. 33) com este conceito. e de se não entregarem ao vôo livre de sua romanesca imaginação. Garrett e Ferdinand Denis. Este defe ito se tornou no século 18 tão saliente. 214. 31) De vez em quando. pois é equivalente ao tema medieval."12 Mas aceita o tema indianista. acha que os escritores coloniais poderiam tê-lo feito. (pág. nos seus esboços de literatura. (págs. Sonho nos parece semelhante pleito. e o acaso de haverem no Brasil nascido. "Estudos sobre a Literatura". havendo o Brasil produzido tantos e tão grandes gênios. M. seguindo as mesma pisadas das literaturas dos diversos Estados da Europa. todavia. isto era "como remorsos do criminoso". e fortemente o censuraram". máxime de Portugal. tais poetas versavam o tema local. como q ue envergonhados de se abandonarem às musas estranhas. ." 2. "de todo s o mais nacional". pag. senão o nome dos seus escritores. aparecendo em destaque nas antologias. (págs. completamente esquecido hoje. seu arroubo celeste. Devem-se todavia levar ao seu crédito não apenas a nítida compreensão do que significava este livro para a nossa literatur a.. mas próximos deles. ainda. trouxeram reforço à teoria inicial do nacionalismo literário Joaquim Norberto e Santiago Nunes Ribeiro. tão clássicos no espírito e na forma. e que hoje se tem apelidado Romantismo". 38-39) Como se vê. pela operosidade e constância com que se dedicou ao estudo da nossa his . Dentre estes. pelos temas. nele. foi muito prezado durante o século XIX. 7-8. (12) J. seus suspiros de entusiasmo religioso. com que os românticos desejavam justificar a sua empresa e dar dignidade às nossas letras." volume. l. Quanto a Torres Homem. mas. e já Caldas tangia essa corda da lira moderna. dês sciences et dee arts au Brésll". utilizado no ensino. eram sempre destacados estes três escritores.(11) "Resume de 1"hlstolre de Ia llttérature. como irmãos mais v elhos. uma indicação inteligente dos temas e estados de espírito que. O primeiro foi talvez a figura central da crítica romântica. no artigo sobre os Suspiros poéticos nada mais fez que repetir as idéias de Magalhães.m sileiro". dessa poesia sublime. "Ainda não tinha aparecido Lamartine. pág. lhe haviam aberto a verdadeira estrada da poesia. 333 #"-. págs. inspirada pelo céu. basta referir que. geralmente louvado pela crítica. com seus cânticos de dor. Sua alma grande como o universo. P. M. cit. Parnaso Brasileiro. sua imaginação vasta como o pensamen to de Deus. destinada a servir de modelo aos jovens brasileiros. representavam orientação nova. 49. da Silva. na genealogia literária. Note-se aliás que Sousa Caldas. e melancólica como o som da harpa no meio da escuridão das trevas. reputando-a tão capaz de inspirar os poetas quanto o m edioevo." poesia brasileira". 334 A exemplo de Magalhães. a maneira por que este expunha as idéias de Denis. pois. compre endendo a primeira os seguintes escritos: "Bosquejo da história da . No seu estudo. pode ser dividida em duas fases. em que se perdia a imaginação dos românticos. compreende principalmente os artigos publicados na Revista Popular (1859-6O). ou melhor. o segundo morreu cedo demais para confirmar o que sugerem os seus poucos escritos.13 Já vimos no capítulo 2. em que dá balanço aos aspectos poéticos da cultura tupi. assinala a capacidade poética dos índios e chega a considerá-los iniciadores da nossa literatura. trechos de outro artigo seu. que deixaremos para depois. "Introdução" à antologia publi cada em colaboração com Emílio Adet.tória literária. A sua contribuição. No setor das generalidades que agora nos ocupa. e que fora curioso indagar nesses monumentos que d izem existir nas velhas bibliotecas de alguns mosteiros". que seria talvez o melhor crítico da sua geração. cuja coragem. ao tratar do indianismo. que em quadros portentos os oferece a natureza em todos os sítios. Mosaico Poético (1844). isto é. constituindo os capítulos iniciais de uma projetada história da lit eratura brasileira que não terminou. os inspirava. Ela representava "um povo heróico que merece de ser cantado. aniquilada pelos . publicada em 1841 à entrada das Modulações Poéticas. "Considerações sobre a literatura brasileira. Joaquim Norberto se aplicou em desenvolver as idéias de Magalhães. e de povos rudes e bárbaros faziam-nos poetas.°. A segunda fase. se encerram verdadeiramente as primeiras épocas da nossa história literária. neste sentido. fundando-se vagamente em cantos recolhidos ou aproveitados pelos catequizadores: "As encantadoras cenas." na Minerva Brasiliense (1843). o que fez no "Bosquejo". pág 1O. que define a sexta. 415. A Norberto devemos ainda a primeira tentativa de distinguir períodos configurados em nosso passado literário. fora pelos europeus admirada. vol. como se vê. se seus antigos ódios não obstassem a junção de tanto milhar de tribos. que lhe serviriam para construi r uma literatura ossianesca. Divisões na maioria mecânicas. a quinta. livre das deformações barrocas e neoclássicas. O primeiro abrange os tempos decorridos desde o descobrimentos do Brasil até o meado do século XVIII. respectivamente a pri meira e a segunda metade do século XVIII. o "rei das canções". a primeira abrangendo os séculos XVI e XVII. Cláudio Manuel da Costa fa z o transição desta época para o segundo. o "bardo brasileiro". . que poderiam como um muro de bronze opor enérgica resistência à escravidão européia". u. que termina em 183O. fornecendo aos pósteros um rico acervo inicial de tradições e poesias heróicas.15 Mais razoável é a de Santiago Nunes Ribeiro: "Nós entendemos dividir a história da literatura brasileira em três períodos. Mosaico Poético.europeus. esta. (14) Norberto.. daí à "reforma da poesia". do início do século XIX à Independência. de Magalhaens". G. Dr.. D. "Considerações". a quarta. e que talvez com ela tivesse submetido os povos que o conquista ram. o "distinto poe ta Sr. J. reluzente de autenticidade brasileira. mas que em todo caso representam um começo. "Introdução". sem colonização portuguesa. MB. Os (13) Norberto e Adet. que no J imite pressupunha a nostalgia de um Brasil desenvolvido a partir da evolução própria dos habitantes primitivos. foi principiada com o "meu mestre". distinguindo seis épocas. a segunda e a terceira.14 Textos como estes mostram certos aspectos extremos do nacionalismo romântico. pág. "Da nacionalidade da literatura brasileira". isto é. Torres Homem. Neste sentido. todos publicados na Minerva Brasiliense. a teoria nacionalista dos fundadores d..(15) Joaquim Norberto de Sousa Silva. "Bosquejo da história da poesia brasileira". José Bonifácio. em linhas gerais. págs. Mag alhães. A tese. de que foi um dos fundadores e. escrito com ordem e lógica. e este dependendo das condições físicas e sociais. é. rebate não só os que negam a autonomia. a que se aceita ainda hoje. formam a transição para este terceiro em que nos achamos". sem as lacunas dos predecessores. 15-53.° e último volume. corn este brasileiro adotivo (nascera no Chile e viera menino para cá). sendo de notar o critério valioso de estabelecer zonas e autores de t ransição e o sentimento muito mais firme dos blocos de produção literária.16 Como se vê. em substituição a Torres Homem. a partir do 3. Denis. Norberto.o nosso Romantismo atinge ao mesmo tempo o máximo de radicalismo e de compreensão. alegando que não há duas literaturas dentro da mesma língua. tomada ao Hamlet: "Poets are abstract and brief chronickle of the time". mas ainda os que a consideram imitadora das estrangeiras. como Gama e Castro. bem como o sr. Se estes agem.. A começar pela epígrafe. Esta parte final é extremada. Garret. diretor. O principal é um ensaio. mas exprime não obstante um fato curioso: Santiago foi o único a levar às conseqüências lógicas a importância conferida pelos românticos à ação dos fatores locais. então de . é a seguinte: o Bra sil tem literatura própria desde a Colônia. pois sendo a literatura expressão do espírito de um povo. desenvolvida com boa lógica. 335 #Padres Caldas e São Carlos. Talento e equilíbrio aparecem nos poucos escritos que deixou. com muito mais discernimento e informação teórica. é impossível que um país tão caracterizado geograficamente não determine uma orientação definida n as manifestações intelectuais. MB. I. houve também reação original. e o que resulta é produto do embate. pág. daí não se poderem considerar os nossos velhos escritores meros reflexos da Europa. talvez mais filosófica. quando apenas começava a escrever e ordenar as idéias. dos costumes e hábitos peculiares a um certo número de home . mas registrando na sua obra as impressões devidas às circunstâncias locais. dos vinte anos..(Cortesia da Biblioteca Municipal de São Paulo). sob a influência de outras condições. etc. à idéia que preside aos tra Santiago Nunes Ribeiro.CFt""^V !-"£-<. Boas verdades. indicando. "Não é princípio incontestável que a divisão das literaturas deva ser feita invariavelmente segundo as línguas em que se acham consignadas. ele as enfrenta. de um centro. num momento de predomínio daqueles padrões. do sentimento.vem forçosamente produzir algo específico. "Da nacionalidade". que não se submeteram passivamente. que não poderiam. de um sistema.(Cortesia da Biblioteca Municipal de São Paulo).iK|:. de um foco de vida social. ter escapado ao seu influxo. Outra divisão. diferente do que se dá em outros lugares. Mas o homem não se submete passivamente a tais influências. justifica em parte os clássicos brasileiros. seria a que atendesse ao espírito que anima. se houve imitação inevitável.íi 111 <lí) 336 "J.* Fernandes Pinheiro . balhos intelectuais de um povo. e fazem lamentar que o seu autor tivesse morrido na quadra . Vejam-se alguns exemplos da superioridade do seu "torn". Portanto.i. das crenças. de um lado. Este princípio literário e artístico é o resultado das influências.. Ressaltando es te papel ativo na história. iVí. 23. #Sotero dos Reis . isto é. de outro. repassadas de um senso histórico que falece cornpletamente a qualquer outro crítico brasileiro antes de Sílvio Romero. . etc. com a superioridade de vistas que (a) distingue. do eu. "Quando não se atende ao caráter de cada uma das fases literárias. Foi preciso que ela desaparecesse e cedesse lugar a outra mais ilustrada. em cuja obra se acham certas formas que parecem imperfeitas e até monstruosas aos que tudo querem referir a um tipo. Esta crítica estreita foi a do século passado. que mostrou a estreiteza da crítica clássica. a emancipação da liberdade. O progr essivo triunfo.. como não admitir que as faculdades mais nobres participem da ação dessa influência e que os produtos da inteligência devem ressentir-se dela? (. o escritor é até certo ponto sujeito aos padrões da sua época.) A escola histórica de Hegel tem posto a questão dos climas na sua luz verdadeira. O Romantismo. Dante. só porque vemos neles o que chamamos defeitos. As influências que ela chama exteriores.. (.ns. censurar em nossos autores coloniais a fidelidade aos que então se impunham é uma incoerência histórica. terá razão em pretender que as literaturas de outra . não pod e gerar uma estreiteza correspondente. são outras tantas fatalidades naturais com as quais a humanidade travou a luta que os séculos contemplam. Quando vemos que o organismo dos seres vivos não pode s ubtrair-se à ação dessas causas naturais. não se faz justiça aos homens desta ou daquela época. Shakespeare e Calderon. o clima. (págs. a cada uma das modificações que a arte recebe das causas interiores e exteriores. é o resultado que ela nos vai dando". que estão em certas e determinadas relações.. liberal e compreensiva para que justiça fosse feita a Homero..) As condições sociais e o clima do novo mundo necessariamente devem modificar as obras nele escritas nessa ou naquela língua da velha Europa. 9-1O) Por isso mesmo. Mas o Romantismo que muito contribuiu para que esta crítica liberal predominasse. as raças. Baseado em Madame de Staêl e Hegel. isto seria voltar aos princípios acanhados da crítica dos clássicos. uma espécie de nostalgia por não terem sido mais ousados. como Goethe o ensina . Garret . segundo um critério dinãomico fornecido pela interação dos homens com os fatores da sua existência. no afã da polêmica anticlássica. Sente apesar de tudo. acha que se equiparam aos melhores port ugueses. onde irmana o clás sico Homero aos românticos Dante. nem por isso punha de lado os bons produtos da outra. e embora visse na última a condição de eficácia literária no mundo contemporâneo. em face deles. obteve assim uma visão ativa. Quanto aos nossos coloniais. como conhecer o estado moral sem atender à religião. mostra ao mesmo tempo a diretriz schlegeliana e o desejo de compreender a contribuição dos poetas anteriores ao Romantismo. sendo notável a parcimônia com que se entregaram à moda clássica. Calderon e Shakespeare. 337 #segundo o estado moral dos espíritos. Ora. a justa apreciação do que deve agradar em tal país ou em tal época. baseado na correlação entre literatura e sociedade nos diferentes momentos históricos. pôde compreender o sentido hi stórico das categorias clássico e romântico. não que pudessem ter sido românticos antes da hora (como queriam Denis. Graças sem dúvida à leitura de Schlegel (que cita). Procuremos pois compreender que o gosto é. 12-13) Vemos que tendia para um ângulo relativista." (págs. a enumeração que faz nas linhas citadas há pouco. como Chateaubriand lhe chama. só porque nele não se acha a forma que nos agrada? Não.s épocas carecem de beleza neste ou naquele dos seus aspectos. às instituições civis? Quem quiser estudar a literatura fora de tudo quanto forma ou contribui à existênca social de um povo criará uma espa ntosa mentira. aos costumes. libertando-se da rigidez a que os seus contemporâneos brasileiros se submetiam. e a firmeza das suas razões não tardou em suscitar controvérsia. Os escritos de Januário. mas porque lhe pareceria com certeza. alimentando veleidades críticas. Pereira da Silva. de Norberto. tinham provocado opiniões adversas. entra em campo o venerável Januário da Cunha Barbosa. gerando-se uma pequena polêmica. conforme Schlegel. respondido por um anônimo do Jornal do Comércio sob o título: "Reflexões sobre a nacionalidade da literatura brasileira". que a reputavam inseparável da portuguesa.o Classicismo nos modernos. Santiago replica 338 na Minerva Brasiliense sob o título original do seu estudo. em 1843. . nos capítulos da inacabada história da nossa literatura que publicou na . Magalhães. Pode-se considerar que o balanço foi dado por Joaquim Norberto de 1859 a 1862.é sempre imitação de um passado que não encontra correspondência nas condições atuais. e é de novo contestado pelo anônimo. qui çá contra o "Bosquejo".t os seus seguidores brasileiros). que o Neoclassicismo. Este ensaio de Santiago Nunes é o momento decisivo na elaboração de uma teoria geral da literatura brasileira como algo independente. uma r enúncia à originalidade criadora. Santiago Nunes colaborav a neste propósito. na Minerva. cujas linhas gerais se podem traçar do seguinte modo: em 1841. sobre o problema da nacionalidade em literatura. e embora não se haja dito coisa nova depois de Santiago. . para transcrever um discurso de Edouard Mennecht. manter o ponto de vista autonomista era essencial. nessa fase em que o impulso criador se ligava estreitamente ao desígnio ideológico de colaborar na construção nacional. Refutando Abreu e Lima e Gama e Castro. ele prosseguiu em tela por muitos anos. artigo de Gama e Castro sob o título "Satisfação a um escrupuloso".17 Isto mostra que o assunto era palpitante. portanto. recentemente proferido em Paris num Co ngresso de História. ensaio de Santiago. e mais MB. e apesar do despotismo português ter impedido o quanto pôde a expansão do nosso gênio nacional. isto é desde as origens.) quando Garção. como prova a rivalidade com os colonizadores. ressaltando o significado da obra de Humboldt: "O ilustre sábio (. Mostra que o sentimento nacional foi se diferenc iando lentamente entre nós. côneg o Fernandes Pinheiro. A este propósito. chegando a antecipar os portugueses na reforma arcádica: "(--. ob. 111-1115. como se verifica desde o início da colonização. funda-se principalmente em Santiago e traz alguns complementos.18 Passando à questão da "nacionalidade" da literatura. visto como o mundo exterior influi diretamente no espírito. o que é fundamental para a formação da literatura. era contra a tese da autonomia total. demonstra que o novo mundo é uma fonte original de inspiração para os poetas. págs. MB. e abrangem justamente os temas debatidos. e os engenhos brasileiros se afirmaram desde cedo.. Januário da Cunha Barbosa. mas recebeu com tolerância a contribuição do amigo. Percorrê-la.) não acharam em Cláudio Manuel da Costa um digno predecessor?"19 Em seguida. I. Ver Santiago Nunes Ribeiro. para argumentar que deveria forçosamente inspirar obras literárias. pág .Revista Popular..) que averiguou com a profundidade dos seus conhecimentos a força do reflexo do mundo sobre a imaginação do homem. é ler o que o Romantismo produziu de mais completo no assunto como quantidade e sistematização. I. Norberto principia celebrando a nossa natureza.. segundo (17) Não conheço diretamente os artigos de Gama e Castro e do anônimo. que se podem avaliar pelas citações de Santiago e de Norberto. não raro gerando conflitos e lutas. cit.. alinha citações exaustivamente. bem deixa ver em suas eruditas pesquisas sobre o sentimento da natu reza. Diniz e ou tros empreenderam a reforma da poesia portuguesa (. além disso afirma a "proverbial propensão dos brasileiros para as letras". O principal orientador cia revista. " 6 págs. toda a importância dos países americanos quando vieram pelo seu descobrimento a concorrer com o contingente de magníficas imagens". Assim a literatura que não for servilmente modelada por outra ou que não tiver nascido debaixo da sua influência. derramando um reflexo dessa glória que faz pulsar de entusiasmo os corações bem gerados."21 Os nossos primeiros poetas não foram tão originais quanto poderiam ter sido. (pág. Tr ansuda de suas obras nessa cor local que provém da natureza e do clima do país." 4. RP. n. a originalidade se intensificará à medida que predominarem sugestões brasileiras. "A independência política nos trouxe a independência literaria"Xpag. Mostra-se nas inspirações da religião que segue o povo. n. W8-172. BP. etc. (19) Idem. RP. "A originalidade da literatura de qualquer nação se demonstra por si mesma.dependente da harmonia entre a literatura produzida e a natureza que a inspira. 339 #a diferença das raças e dos tempos. n. 357-364. a clt. págs. 153-163 e 2O1-3O8. "Nacionalidade da literatura brasileira". 2O5. Patenteia-se dando a conhecer-se nos próprios costumes. 161) Deste modo. é a da pág. Joaquim Norberto. "Introdução histórica sobre a literatura brasileira".s. 2OO) corn isto considera encerrada a parte introdutória e entra no estudo da literatura propriamente dita. págs. . Distinguese finalmente nas ficçõ es históricas. usos e leis da sociedade. o que lhe parece haver em nosso caso. . ." 6 págs.2O A próxima etapa é a discussão sobre a originalidade. 3O3-3O5 e n. apresentará sempre uma tal ou qua l originalidade proveniente do espetáculo da natureza. e sobretudo a pressão dos mode los de além-mar. (18) Joaquim Norberto de Sousa e Silva.° 7. 1O1-1O4 e 153-163. porque as influências locais se atenuaram ou desviaram pela educação portuguesa.a que chega a dedicar apenas dois capítulos. Para ele as lendas e cantos dos aborígenes. "Tendência dos selvagens brasileiros para a poesia"." 2. 16O-1S1. A cit. RP. 263. que os jesuítas produziram para fins de conversão e instrução religiosa. nada mais se encontra para registrar de novo no assunto. os nossos primeiros e mais legítimos poetas. n." 3. que ainda aqui deu largas à sua tendência compilatória e apreço ao argumento de autoridade." 4. RP. págs. (22) Idem. 271 ss "Catequese e iastrução dos selvagens brasileiros pelos Jesuítas". de recuperar a poesia nacional ao entroncar-se na dos aborígenes que foram. n. mas produz uma cópia muito larga de textos em abono. firmando-se principalmente nas lendas cosmogônicas. n. é da pág. pelos escritores em prefácios e justificações pessoais. utilizando com inteligência o testemunho de Fernão Cardim. RP.22 Chegando ao fim das suas considerações. poesias e discursos em língua geral. Nesta parte. (2O) Idem. que reputa os mais inspirados e ricos sob este aspecto. alinhando subsídios pouco digeridos criticamente e retomando em alguns passos trechos inteiros de artigos seus a nteriores. Sabemos. págs. "Da Inspiração". págs." S. 343 ss. segundo os teóricos nacionalistas radicais. pouco avança além do que haviam dito os predecessores." 16. constituem literatura do "1. (21) Idem. notamos claramente o papel que se atribuía então ao indianismo." 3. RP. . n. n. Na parte da literatura catequética é mais completo que outro qualquer. pelos estudantes nas suas folhas literárias. 287 ss. págs. n.que para nós se enquadram ainda na parte anterior: um sobre a poesia dos índios e outro sobre a litera tura da catequese. sobretudo dos Tupis. págs.° século". Depois disso. "Originalidade da literatura brasileira". Assinalemos a pouca originalidade de Norberto. ao lado dos autos sacramentais. cujas idéias lhe servem explícita ou implicitamente de esteio. págs S ss. 261-269. o progresso que há sobre estes é devido sobretudo à impregnação de Santiago Nunes. não obstante repisado infíexivelmente por articulistas de vário porte. Ó primeiro. Não sem controvérsia. isto. no caso brasileiro. Os artigos citados provocaram réplica no Jornal do Comércio. proclamação da sua originalidade.com efeito. de justificação da sua existência. o cônego Fernandes Pinheiro.23 É preciso agora. Basílio e Durão "não . Acha que a literatura é "resultado das relações de um povo". vendo no seu enriquecimento uma forma de grandeza nacional.sentimentos que não se diferenciam dos portugueses a ponto de dar origem a uma nova literatura. acha que a individuação literária depende da lingüística: "Quanto a nosso muito humilde parecer. se não ridícula. com efeito. por parte de alguém acobertado sob o pseudônimo de Scot. a opinião dos que negavam caráter distinto à nossa literatura. mencionar este fenômeno de contracorrente. já dantes apresentada pelo coletor das preciosidades poéticas do primeiro Parnaso Brasileiro. que todo o período romântico foi de consciência aguda de fundação da nossa literatura. a "causa americana". no todo ou na parte inicial. É o caso de um jovem do maior talento. sem com isso deixarem de ser nacionalistas a s eu modo. e de um compassado canastrão. E (releve-se-nos dize-lo em digressão) achamo-la por isso. . no estudo sobre "A literatura e a civilizaç ão em Portugal". como chama Norbert o significativamente ao ponto de vista nacionalista."24 Reconhece que a poesia americana de Gonçalves Dias é nacional. os poemas orientais de Victor Hugo ou Byron não deixam de ser franceses ou ingleses. mas a língua também o é e exprime. porém. mero galho da portuguesa. logo. etc. que não basta para conferir-lhe autonomia. e houve gente de responsabilidade que negou no todo ou em parte. mas entra logo numa digressão algo con fusa cujo resultado parece o seguinte: é um nacional exótico. de mesquinha pe quenez essa lembrança do sr. Santiago Nunes Ribeiro. é. reputando-a. sem língua à parte não há literatura à parte. Álvares de Azevedo. Barros e Castanheda". "nossas letras" se referem sempre na sua pena à portuguesa. não lia literatura brasileira antes do Romantismo porque. pág.ajunta numa imprecisão derradeira. Foram "gloriosos precursor es". 34O) Por isso.. vol 2. por causa... apesar de particularidades manifestas. 153.. até então. como foi dito no decorrer deste livro. "literatura pátria". (págs. cons. não podermos chamar Camões nosso.".25 "(. injusto fora excluir da indostânica Camões. por isso ponderava: "ignoro eu que lucro houvera _ se ganha a demanda . "A literatura e a cMttMcto "m Portugal" Completai.. por causa de quem?.. pois deixa implícito que há alguma coisa como ser "poeta brasileiro".) em seus versos uma idéia verdadeiramente brasileira..(23) Sobre Scot. Via a literatura mais sob o ponto de vista do valor e do significado geral que do sentimento local.) formamos primeiro uma nação livre e soberana antes que nos .em nã o querermos derramar nossa mão cheia de jóias nesse cofre abundante da literatura pátria. (24) Alvares de Azevedo. RP. A opinião de Fernandes Pinheiro é mais justa e clara. 34O. 34O-341) O fato é que Álvares de Azevedo era escritor de tendência universal. mas "não descobrimos (. por causa de Durão. um pensamento que não fosse comum aos poetas de além mar (.. (de Alvarenga?) nos resignarmos a dizer estrangeiro o livro de sonetos de Bocage!" (pág.) Se por empregarem alguns nomes indígenas devem esses autores serem classificados na literatura brasilei ra. menos intere ssado no particularismo literário. . pág. em Obras 34O 341 foram tão poetas brasileiros quanto se pensa"." 7. os nossos autores nada exprimiam de diferente dos portugueses. n. 342 3. A poética tradicional era útil enquanto valesse a compartimentação dos gêneros e enquanto a arte. . Natural que assim fosse. esse diálogo reivindicatório com Portugal foi um born auxiliar de crescimento.. 534.26 Como se vê. mui to tempo antes que deixassem de ser as nossas letras pupilas das ninfas do Tejo e do Mondego". vol. O problema não foi inócuo no século passado. fosse o termo superior. em princípio. que. 2. Curso Elementar de literatura Nacional. tb.o pág. primeiro. batizado pela vitória nos campos de Pirajá. pág. 293. avançar ou recuar barreiras. porque fazia parte dum ciclo de tomada de consciência nacional. (25) Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro. se justificava não pela adesão a moldes genéricos. não o artista. foi este o principal problema crítico dos românticos. (26) ob. hasteamos o pendão auriverde. pás. o triunfo da prosa de ficção tornou quase de todo inoperantes as suas . a alguém ou a alguma coisa.emancipássemos do jugo intelectual. que pareciam representar o próprio código da escravidão literária. originadas havia mais de dois mil anos. V. CRITICA RETÓRICA O Romantismo e o Nacionalismo legaram uma grande aversão pela retórica e a poética dos neoclássicos. do mesmo autor o Resumo de Historia Literária. cit. de que a literat ura foi um dos fatores. exprimiam o a vesso do espírito criador. 1O . porque se vinculava então muito estreitamente a expressão literária ao sentimento pátrio. mas pela expansão livre do talento. segundo. Quanto à retórica.. Na medida em que só nos conhecemos quando nos opomos. Aquelas regras constrictoras. a tal ponto que se comunicou aos pósteros. e ainda hoje vemos gente seriamente ocupada em traçar limites. discutir como e quando passamos a ter uma literatu ra independente. a estrutura do verso não se modificou essencialmente. e isso facilitou a aceitação das normas já comodamente existentes para a sua elaboração. no Brasil. a cobrir de um barrete frígio o dicionário e a gramática. ou ao menos sistematizar os princípios da corrente nova. mas. . como uma gramática literária.agora considerado termo predominante na fatura da obra de arte.receitas. na medida em que aumentou a liberdade do intermediário que a usava. Ainda mais: o ensino permaneceu. que pressupunham a eloqüência como gênero orientador do gosto. Por ser imperfeita e insatisfatória. um estado de acentuada ambigüidade. adequando-a ao espírito novo. de um lado. a circunstância do Romantismo não ter aparecido como ruptura. desprovido da soberania que lhe conferiram os clássicos. criando uma estranha contradição. nas formas moderadas e transicionais com que surgiu . como continuação. de outro.o escritor. ao mesmo tempo. Ambas deixavam logicamente de tiranizar os escritores. e até quase os nossos dias. Acresce ai nda. como se verá a seguir. que obstaram essa refusão e favoreceram. como início de um período auspicioso. . desde que eles se decidiram. a ser ministrado segundo os critérios estabelecidos. Em primeiro lugar está a própria natureza do espírito romântico. nesse . Mas. a palavra se tornou paradox almente soberana a seu modo. Mas aí intervieram vá rios fatores. logo incorporado à ideologia oficial. com a sua tendência conservadora. para oferecer ao neófito e ao amador o mínimo de formação artesanal indispensável à prática e à apreciação das obras literárias. O resultado foi que a retórica e a poética permaneceram intactas pelo século afora. segundo uma expressão famosa. avesso a traçar normas para um instrumento que lhe parecia vago. na literatura. Impunha-se no caso um esforço de codificar. Talvez se deva apenas acrescentar o fato 343 #de não ter aparecido nenhum espírito crítico exigente ou capaz de reinterpretar a velha poética. não a obra. de professores despidos de gosto e senso da literatura. que as obras se compõem de partes racionalmente traçadas e o estilo é construído pela aplicação de regras. durante todo o século XIX (pode-se dizer até os nossos dias). em suma. e quando algum talento se arriscava nas suas malhas ossificadas. filha da filosofia escolástica. assinalava agudamente esse estado de "demora cultural" representado por uma crítica tão em desacordo com o espírito do século. variação. o ensino da literatura se fez como mero capítulo do ensino da língua. Assim estudaram os primeiros românticos. era uma operação mecânica que consistia em comparar . relativas à sua intensidade. Ensino baseado na convicção de que o gênero. constituindo verdadeiras receitas. pautando-se po r aquela orientação clássica. assim estudou ainda a minha geração. para não escrever da gramática. O mau efeito desse estado de coisas veio em grande parte do fato de que. como o sabem todos que se dão a este gênero de estudos. Um espírito largo. como foi o caso de Junqueira Freire. "A crítica da escola antiga. uma r etórica e uma poética irmanadas. quanto ficou entregue a espíritos secundários.. e a literatura é empresa racional. assim estudaram os românticos da última fase. é a realidade básica. Tanto mais prejudicial. nascida na idade média. o Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira. nada mais era do que a aplicação nua e descarnada das regras aristotélicas e horacianas aos produtos do engenho humano. que existem. etc. em muitos pontos incompatível com a literatura que se desenvolveu após 183O. na maioria dos casos.movimento que preconizava a liberdade e a renovação do verbo. havendo-os nitidamente estanques e definíveis por característica s fixas. a que se deveriam ater os escritores. disposição das palavras. que permitem ao iniciado manipular por sua vez as palavras rebeldes. cuja anatomia se faz por meio de critérios fixos. era para nelas perder qualquer originalidade. ao pedantismo gramatical do ensino. al uno sempre consciencioso. e aspiração a uma concepção de literatura diferente da que ocupava o programa das escolas. tão acentuado no Brasil. Figueiredo. Ela parece mais livre e moderna que as do tempo do Romantismo. homens de imaginação livre e forma escrava. que passou a curta vida obedecendo. quanto às obras desta tendência didática. e em mil outros compêndios de retórica. de seus hábitos e costumes. Note-se.como podemos verificar abrindo as prosas de Álvares de Azevedo. Esta escola tacanha. com a s . de um lado. A velha escola tem ainda adeptos aqui no Brasil. ao desvario vocabular do Romantismo. no Bosquêjo da literatura do Sr. Ela aí anda a esterilizar a 344 imaginação da mocidade na Poética de Freire de Carvalho. de românticos e clássicos. escrita num tempo em que certas normas tinham sentido e a imaginação do escritor se acomodava com felicidade ao seu preceito. ignorando que a literatura é a vida de um povo em cada época. pois dado às melhores letras clássicas. não raro desagradável. em Portugal e até nos mais cultos países da Europa. E produziu uma consciência dilacerada. sobretudo nc período que estudamos. que não se produziu no século XIX nenhuma e quivalente à bela Arte Poética. de seus preconceitos e aspirações. e acabava interferindo na atividade crítica. de Cândido Lusitano. árida e estéril assentava em uma base falsa: tomava as manifestações do belo por via da palavra . mostra que havia consciência do conflito.o texto. que reconhece e ao mesmo t empo rejeita as normas que escravizam a palavra. fazendo dos nossos escritores um misto.""7 Este trecho de um intelectual insuspeito. mutilava cruelmente o fato literário. isolado de suas afinidades históricas. de outro. com as máximas recebidas. .os monumentos da poesia e da eloqüência. de suas idéias e sentimentos. Esta resistência do ensino oficial à literatura viva foi um dos responsáveis pelo divórcio entre a literatura e os leitores. como dados mate máticos. em geral. Blair esteve diretamente ligado ao movimento proto-romântico das antígualhas escocesas. . fé no discernimento da razão para orientá-lo. I. tendo apadrinhado as estrepolias ossianescas de Macpherson. do fator específico que ele representa. etc. 29-46 e 5O. p&gs. que ainda hoje se consulta com prazer e vantagem. (28) Hugh Blair. etc. etc.exemplificando-as com Shakespeare. estas são necessárias.28 No estudo do efeit o produzido pelas obras. Assim. "Literatura . o seu livro se caracteriza por grande abertura de espírito. 345 #r blime. . Embora elaborado no molde neoclássico tradicional. Aceita as liberdades do talento criador. diretamente ou através do mau imitador português Francisco Freire de Carvalho. Leçana de Rhétorique et de Bellei-Lettres. combina cornpreensivamente as normas racionais e o born senso com o respeito ao quid individual. preferiram . vol I. vol. estudando este com um discernimento que se aproxima dos pontos de vista romântícos. de Hugh Blair. Mas não aproveitaram o que havia de aplicável à situa ção moderna no seu excelente livro. os críticos do Romantismo poderiam ter explorado os seus germens de progresso para a elaboração de uma estética moderna. ressaltando a impo rtância. 3O8-9. grande apesar de violar as normas. em apêndice a Antônio Henriques Leal. p&gs. apelo ao "furor poético". Pantean Maranhense. pelas Lições de Retórica e Belas Letras.(págs 65-83) Por isso tudo. Sotero dos Reis". Os que cultivaram este gênero entre nós se pautaram. em literatura. mas não absolutas.o gênio.ua confiança no gosto. distingue o belo e o su(Z7) Lafayette Rodrigues Pereira. P. no estudo liminar sobre o gosto.Curso de literatura portuguesa. e brasileira proferido pelo sr.. Nenhum parece perceber que há metros usados de preferência.Jucá Pirama" cantando por toda parte. depois de trinta anos de orgia meló dica. crítica à Vicentino. m. alegando não ser usado! Isto. reservada mas simpática e compreensiva. para citar um exemplo.. todos escrevem c omo se estivessem no tempo de Felinto Elísio.. ob. de Fernandes Pinheiro e Sinopses de Eloqüência Nacional.contudo. de Macedo.. tenderia para um apelo mais decidido ao ponto de vista pessoal do crítico e. o úl timo. com o "I . a.: e Fernandes Pinheiro. de Junqueira Freire. para o escritor. de Honorato. Postilas de Retórica e Poética. mencionemos: Elementos de Retórica Nacional. Em todos é lamentável a inconsciência total da evolução estilística e métrica. certos ritmos abandonados a favor de outros. FORMAÇÃO DO CANON LITERÁRIO O espírito romântico. por exemplo. C. Liçõe s Elementares de Literatura. . a é .no seu relativismo. . 17. em crítica. t.2* Dos livros inspirados nele. O primeiro é o mais bem escrito e pessoal.. É o caso. em resumo. onde só fica a reserva e a incompreensão: entretanto. invariavelmente. piorandoa sob todos os aspectos. ater-se ao lastro tradicional da sua obra. clt. devendo notar-se que os quatro autores são eclesiásticos. tt Uçfto 37. em 187O. da sua opinião sobre o romance. Alguns chegam a não registrar certos metros preferidos. individualismo e sentimento do tempo. . como o endecassílabo 2-5-8-11. mais informativo e sistemático. vol.é tributário da história. (29) Cp. na análise da obra. 346 4. nem exemplifica. de Montefiore. como vimos. que com certeza é a base do ponto de vista intoleràvelmente fillistino de Fernandes Pinheiro. o inglês escrevia em 1783 e ele em 185O. que Honorato. p&g. aplicava aos admiráveis monumentos das letras antigas a crítica experimental. desafogado dos aforismas preconizados. Crítica experimental significa. como viu claramente o conselheiro Lafayette no artigo citado. fecunda em resultados. é uma grande arte. Lessing. apela para um dos espíritos mais livres que já houve: "Em meados do século XVI Montaigne. é a de todos os autores do tempo) o Romantismo brasileiro tendesse. enriquece as literaturas com suas produções. Neste sentido. tomados como exemplo e base do julgamento. 3O9-31O) Compreende-se que com semelhante atitude. o movimento das paixões. pág. 3O9. tudo é ju lgado à luz de uma estética superior e de uma filosofia elevada. estuda-os em todos os sentidos. no terreno crítico. ob. lembra as contribuições de Addison. em contraposição aos juízos formulados pela aplicação de normas preestabelecid . para a informação e a sistematização histórica. e de sua crítica profunda e luminosa ressalta fielmente interpretado o pensamento do escritor: a sublimidade da idéia. a pintura dos caracteres. com maior ou menor consciência. cit. como a Sotero dos Reis. fundados na familiaridade com o texto.poca e a seqüência das produções. do gosto pessoal e da liberdade de apreciação. os primores da forma. defeitos e desvios. A crítica assim praticada. a utilização livre dos textos. a urdidura da composição. com obras-primas. explora todas as fontes de informação. Schlegel. com uma liberdade de exame que surpreende. com aquela isenção e facilidade de espírito que tanto distinguem os escritos do amável gasc ão. e que inspirando-se nas fontes do belo.. interroga a história e a biografia. Samuel Johnson. La Harpe. no contexto. onde parte da apologia do relativismo. possuir a melhor fórmula: "Villemain anima com o sopro vivificador do seu gênio os monumentos literários que escolhe para assunto da discussão."3O Em seguida. institui paralel os." (págs. (de modo mais ou menos completo. para chegar a quem lhe parecia. tentan do coroar os magros bosquejos iniciais com uma vista coerente e íntegra da (3O) Lafayette Rodrigues Pereira. num esforço de meio século que tornou possível a sua História da Literatura Brasileira. Norberto. . Primeiro. A sua longa e constante aspiração foi. ou "parna so". Visto de hoje. construído sobre os elementos citados. Norberto. reedições. o "bosquejo". com efeito. em "panteons". mas para o qual trabalharam gerações de críticos. são as e dições. antes referido rapidamente no panorama: são as biografias literárias. 347 #nossa literatura passada. o panorama geral. os "cursos" de Fernandes Pinheiro e Sotero dos Reis. que se desejam mais completos. ao lado disso. A elaboração dos textos .projeto quase coletivo que apenas Sílvio Romero pôde realizar sati sfatoriamente. Em seguida. pesquisando biografias. Norberto. Na primeira etapa. para traçar rapidamente o passado literário. as antologias de Januário. um incremento de interesse pelos textos. Fernandes Pinheiro. as biografias em série ou isoladas. sem experiência do texto por parte do crítico. reunindo textos. o "florilégio". Pereira da Silva. Depois. a tentativa de elaborar a história. de Pereira da Silva. reunidas em "galerias". Na terceira. Antônio Joaquim de Melo. elaborar uma história literária que exprimisse a imagem da inteligência nacional na seqüência do tempo. esse esforço semi-secular aparece coerente na sucessão das etapas. o livro documentário. Norberto-Adet. etc.as. são as edições de Varnhagen. e repetidos. Antô nio Henriques Leal. editando obras. Henriques Leal. a concentração em cada autor. a antologia dos poucos textos disponíveis. acompanhadas geralmente de notas explicativas e informação biográfica. os fragmentos da história que Norberto não chegou a escrever. muitas vezes. ao lado dele. Pereira da Silva. Na segunda etapa. Varnhagen. são os esboços de Magalhães. eruditos e professores. no decênio de 8O. que não eram. de Bento Teixeira. seleção de obras conhecidas. como hoje. o cânon da nossa literatura. assinalando a função das antologias do tempo. Deixando de lado os seus estudos sobre o medioevo portuguê s. e esforço para constituir o elenco básico.Comecemos pela elaboração dos textos. proporcionando pela primei ra vez um conjunto apreciável de poemas de Gregorio de Matos. Passo decisivo foram a s edições mais 348 ou menos críticas incrementadas depois de 186O. Leitores e críticos não tinham outra manei ra de conhecer a maioria das obras.verificamos um progresso constante na seleção dos autores. de Gabriel Soares. revelando consciência crescente dos valores. aquele mais erudito. o Florilégio de Varnhagen (185O-1853).o Parnaso de Januário (1 829-1831) o de Pereira da Silva (1843-1848). em 1882. nos Épicos Brasileiros . mas repositórios de inéditos e raridades. descobre Frei Vicente do Salvador. este mais crítico. na História geral do Brasil (1854-1857). doutra maneira inacessíveis. lembremos ainda. incorporados assim ao panorama sistemático da nossa evolução. descoberto pelo Romantismo e crescendo lentamente de prestígio até a edição do primeiro volume das obras por Vale Cabral. Comparando as três obras principais dessa etapa antológica . como se pode avaliar pela pobreza de conhecimentos. Varnhagen neúne o Caramuru e o Uraguai em 1845. publica o Diálogo das Grandezas e o Roteiro. os capítulos onde trata do desenvolvimento intelectual e artístico. . transparente nos esboços históricos que então se faziam do passado literário. sem contar que o seu Florilégio é a mais rica antologia do tempo. . redescobre praticamente a Prosopopéia. cabendo neste terreno a palma a Varnhagen e Norberto. na qualidade e quantidade das amostras escolhidas. que superam a fase da antologia-texto. como o Assunção. dotado de boa intuição 349 #histórica e certo faro crítico. preparando o material para a edição completa de Basílio e a reedição de Cláudio. além de uma espantosa capacidade de trabalho. Neste processo. Crédulo por inclinação. biografou as Brasileiras célebres. documentos. a despeito de erros e leviandades. costumava porém documentar-se escrupulosamente. reeditou Gonzaga. por Fernandes Pinheiro. era todavia aberto de espírito. Alvares de Azevedo e Casimiro de Abreu (Norberto). ou a reunião da dos contemporâneos em edições completas. . O panorama se co mpletou pela reedição de obras mais recentes. mais tarde Varela (Visconti Coaracy). Gonçalves Dias (Norberto e Antônio Henriques Leal). em que até então mergulhava o conhecimento da nossa vida espiritual durante a Colônia. num respeito religioso à verdade e ao dever de escritor. compilou a sua antologia. ao modo dos de Varnhagen e Norberto: Laurin do Rabelo. Só estes dois beneméritos. que viveu todas as suas etapas. de cultura mediana e gosto limi tado. Os seus erros já foram corrigidos em grande . proporcionaram aos contemporâneos um material considerável. Junqueira Freire (Franklin Dória). formando a ligação viva entre os esboços iniciais e a realização de Sílvio Romero.tudo com longas biografias. aos quais o editor cometeu a tarefa deixada em meio. nota s. quase sempre providas de subsídios informativos. avulta a figura exemplar de Norberto. consciencioso. de São Carlos. superando a fase dos fragmentos e da ignorância. Sem grande talento. estudou os aldeamentos de índios e fez a História da Conjuração Mineira. como se vê. mais tarde aproveitados respectivamente por José Veríssimo e João Ribeiro. cujo precursor sem dúvida foi.Joaquim Norberto organizou as edições mais completas e satisfatórias do tempo. em parte Silva Alvarenga. Reuniu pela primeira vez Alvarenga Peixoto e. Além do mais. Foi o caso de certa vez. qual seria a do tradutor de Davi. em que o Instituto Histórico o encarregou de identificar os despejos de So usa Caldas. que ninguém mais que ele mereceu tanto na construção da nossa história literária. a tarefa imediata rumo à história literária eram as biografias. Um trabalho interessante seria levantar a origem e deformação das informações biográficas. dado à frenologia. mesmo o cauteloso e consciencioso Norberto dava listas dos membros das pseudo-arcádias e encontrava um parente de Gonzaga para dizer que este nas cera em Pernambuco. o conhecimento dos indivíduos responsáveis pelos textos. imaginação pura e simples. permitindo avaliar o que deixou de positivo. isto é. Como a pressa era grande e nem todos possuíam o senso da exatidão. levantaram rapidamente certas informações e concepções a respeito dos grandes homens.. como exigia cada vez mais a nova crítica. Macedo. A partir de livros como os de Pizarr o e Baltasar Lisboa. mandava averiguar em Roma se houve mesmo brasileiros inscritos na Arcadia e chegava a escrúpulos pitorescos. A ela se ati raram muitos no Brasil.parte. no Convento de Santo Antônio. Norberto. mesmo. Se um Pereira da Silva. que era preciso fornecer à pátria como exemplo. discriminando o que é leviandade e o que é credulidade .. no meio das várias ossadas. com isto pode-se afirmar serenamente. Recorrera-se a Pôrto-Alegre. A investigação biográfica Além da iniciativa de elaborar um corpus pela publicação de textos. por outro lado. e. repetidas pelo século afora por Pereira da Silva. Moreira de Azevedo. e este andou medindo e comp . conclusões rápidas. quase ficcionista. Mas. inventava praticamente largos trechos da vida do biografado. pois todo esse movimento biográfico é animado de um espírito plutarquiano que conduzia ao embele zamento do herói. deixaram-se ir freqüentemente ao sabor das inferências arriscadas. e o esforçado crítico chegou à conclusão que era impossível distinguir. O intuito principal do autor era despertar admiração pelos varões e traçar existências movimentadas... que acentuava a importância. Quanto à Itália. com o Plutarco Brasileiro (1847). daí meter-se na pele deles e trabalhar os poucos dados seguros po r meio da imaginação. faz um rol das cidades principais e descreve o sentimento do poeta a seu respeito. depois de ter procurado reanimar as sociedades literárias anteriores (quais não especifica)! Em 1856. que inaugura entre nós a técnica da "galeria" de homens ilustres. ante a monarquia agonizante e a anarquia que começava. o crânio ilustre. depois à Itália. animados de um desejo que primava tudo: estabelecer um passado ilustre. do escritor e dos fatores individuais. com o título mudado para Varões Ilustres do Brasil durante os tempos coloniais. um . fortalecido pela teoria vigente a respeito do gênio. vnrií annular as lacunas de informação sobre a viagem de Sousa Caldas à França.. não se sabe como. Assim eram eles. pelas bossas do gênio. imagi na que fez sucesso nos círculos intelectuais e grangeou a simpatia do Papa Pio VI. dar cartas de nobreza à nossa vida mental. mesm o com sacrifício da exatidão. mas sem usar o condicional e afirmando como se algum documento o autorizasse.. das quais apenas duas (as de Jorge de Albuquerque Coelho e Salvador Corrêa) não interessam à vida intelectual. pesquisadores e crédulos. mais ou menos como se faz nas biografias romanceadas. que aqui permaneceu até 18O5. 35O Isto posto.arando para localizar. Assim por exempt. na obra. descobre. Sabendo que veio ao Rio em 18O1. cujo nome bem manifesta o espírito. onde há 2O biografias. esforçados e levianos. Tratava-se duma espécie de ritual patriótico de ressurreição. retirando-se desgostoso com a opressão reinante. compreende-se melhor o espírito de Pereira da Silva. publicou. descreve a situação daquele país e imagina o que deveria sen tir o poeta. interessam principa lmente as de Odorico Mendes. em 1868. os seus perfis biográficos são atraentes. de publicação póstuma. reunidas em volume. de quem foi amigo. editado pela primeira vez em Lisboa. . São estudos minudentes. apreciações críticas judiciosas. À história literária. No entanto. 1835-1841). uma terceira edição. escrito r apreciado e citado no Brasil. sobre Natividade Saldanha. de que apenas três interessam à literatura. bastante refundidas. de Edouard Mennecht. a de Álvaro Teixeira 351 #de Macedo.° volume e constituindo. Sotero dos Reis.esta ocupando todo o 3. Trajano Galvão.a segunda e. para o p eríodo que vai do nascimento ao exílio do poeta. que reproduz com abundância em apêndice. João Francisco Lisboa e Gonçalves Dias. resultando no conjunto algo vivaz que nos faz sentir a personalidade literária e humana. Bern diversa é a obra de Antônio Joaquim de Melo: Biografias cie alguns poetas e homens ilustres da Província de Pernambuco j(1856-1858). é um biógrafo parcimonioso e prudente. cont ribuiu de certo para estabelecer e difundir o conhecimento dos nossos homens de letras do passado. há marcado interesse pela correlação entre a obra e a vida. diminuindo o vôo da imaginação e até o tamanho dos períodos. a melhor de todas.e. muito preso aos documentos. a viagem de Sousa Caldas em 18O1 é reduzida às proporções normais de alguns meses. sem tentativas liberais. A festa do Baldo. baseados no conhecimento direto dos biografados. àquele tempo. Muito acima de ambos ficam os quatro volumes do Panteon Maranhense. 14 ao todo. consta de nove páginas de texto e sessenta e três com a transcrição do seu poema satírico. Lembremos que talvez a idéia para o seu livro tenha vindo do repertório biográfico Plutarque Français (8 vols. corrigindo vários erros mais grosseiros. É precioso o estudo sobre Saldanha. . por exemplo. de Antônio Henriques Leal (1873-1875). trazendo documentos valiosos. Ao contrário do anterior. com isto. No caso citado.. . no ano de 1847. por certo. isto é. ele aparece. São livros didáticos muito banais. resultando estudos ponderáveis. em continuação ao estudo das grandes literaturas estrangeiras. os trabalhos de Norberto nas suas edições. Casimiro de Abreu. a primeira biografia literária de vulto em nossa literatura. Ainda hoje é a fonte básica sobre o poeta. A limitada inteligência do born cônego transparece a cada passo. combina a segurança dos dados c orn a apreciação crítica e a capacidade de retratar vivamente (a começar pela aparência física). num zigueza gue pesado e confuso. no convencionalismo dos juí- . Laurindo Rabelo. de Joaquim Manuel de Macedo. o que faz a exposição em dado setor vir de 15OO a 17OO e voltar de novo para trás. com pouco senso histórico. fora das "galerias". próprio dessa unha plutarquíana. . Alvarenga Peixoto. Este biógrafo equilibrado.em cujo método deve ter influído Sotero dos Reis.. A história literária."31 Mais ou menos refundido. de Fernandes Pinheiro. não apenas pela riqueza de informações e o alicerce documentário. Alvares de Azevedo. Silva Alvarenga. portuguesa e brasileira. estes predominando como critério. nos dois volumes do Resumo de história literária (prefácio datado de 1872 ). para não falar de obras sumárias. apesar do torn de encômio. mas pelo esforço honesto de estudar criticamente a obra. O Curso elementar de literatura nacional (1862). sobre Gonzaga.. como os três volumes do Ano Biográf ico. embaraçados numa divisão complicada de épocas e gêneros. foi "(. Lembremos. por sinal que entrosando a literatura colonial em suas orig ens portuguesas mais agudamente que muitos historiadores que o sucederam.) a primeira obra de brasileiro sobre o conjunto da nossa história literária. mal contemplando os jovens de talento. cabendo à brasileira o 4. o mais considerável empreendimento no gênero. pelo menos uma reticenciosa prudência. apesar de tudo. o que apresenta de novo já é bastante. 352 zos. guardando. cit. citando a definição de Bonald: "A literatura é a expressão da socieda .(31) Wüson Martins. e a decisão de apresentar cornpreensivamente o que admira. Ver também Antônio Cândido. a cujo propósito vimos que Lafayette pôde falar em crítica moderna.° e a primeira metade do 5. pág. A maior parte é consagrada à literatura portuguesa. à vista de tantas condições negativas.° e último volume. (única reputada independente da de Portugal).. não lhe era possível realizar algo decisi vo. pág. formado inteiramente na tradição clássica. 46. Na parte relativa à literatura contemporânea do Brasil. autor de um compêndio de gramática. Deve-se. na incapacidade de dar vida aos elementos biográficos. aceita pontos de vista então modernos para nós. O alvoroço era todavia maior que a obra. De início. Colégio Pedro II ou Instituto Histórico. antes de Sílvio Romero. quanto ao resto. Introdução ao método crítico de Silvio Homero. mas é sem dúvida. vivendo num meio apaixonado pelo vernáculo e os valores tradicionais. na ênfase vazia do estilo. creditar-lhe o louvável esforço de sistematizar u ma realidade contemporânea sem o recuo confortável do tempo. como o Maranhão. governa-se pelo espírito de clã e o medo da novidade. com recurso à biografia e à história. 23. A Crítica Literária no Brasil. já consagrados pela opinião. De outra qualidade é o Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira (18661873) de Sotero dos Reis. apen as em parte ela constitui uma passagem da retórica à história. Já na quadra dos sessenta quando a encetou. todavia. exaltand o com os mais descabelados louvores os companheiros de revista literária. etc. Assim. Villemain. outro interno. Em conseqüência." vol. Esta combinação de história e exegese deriva da sua adesão aos críticos iniciais do Romantismo: "Os franceses modernos. onde tudo quanto respeita à literatura de diversos povos é tratado e exposto com o preciso desenvolvimento.os grandes modelos que fazem sentir o que é a obra e caracterizam a "crítica experimental" de Lafayette. há três tipos de literatura: a clássica e a romântica (definidas exatamente segundo Schlegel) e a bíblica. um externo. como Odorico Mendes é clássico e Gonçalves Dias romântico. e nomeadamente Mr. parece não ver impossibilidade na coex . Sousa Caldas é bíblico em nossos dias. um ensino da literatura (é o seu caso) que procede pelo conhecimento dos fatos literários historicamente ordenados. mais a análise apreciativa dos textos. dando-nos a análise das produções do gênio (32) Francisco Sotero doe Heis. 5) O interessante é que os considera em sentido estritamente tipológico. mas não se excluem.32 Um elemento relativo e outro absoluto. Já o sábio professor Hugh Blair no seu curso de retórica e belas letras tinha disto feito um ensaio digno do maior louvor . . 1. outro e stético.de". 2 e 4 respectivamente. têm compreendido melhor a necessidade de fazer um estudo sério e aprofundado desta segunda parte."33 Para ele. como para Garrett. uma crítica. se a completarmos pela que formula. um histórico.. embora assinale a predominãoncia da última tendência. paga. não histórico: sucedem-se cronologic amente. ou melhor. teremos a sua posição e a chave teórica do livro: "(---) é a expressão do belo intelectual por meio da palavra escrita". com emprego da cor local. 353 #^ em cursos especiais. (pág. Curso de Literatura Portuffuêsa e Brasileira. que nas citadas Lições desenvolveu uma atenção minudente aos trechos escolhidos para a análise e demonstração.pàgs 6-7. os que mais admira e dão lugar às suas melhores páginas (volume 2. o gramático apoia o crítico com felicidade. ou em que realça a castídade do estilo de Antônio Ferreira. justeza.. onde se acotovelavam fraternalmente clássicos e românticos. Este comporta. . que "como poeta romântico a nenhum dos dois grandes líricos do século XIX. cede em concepção imaginosa. uma apreciação geral. habilidade. clt. lhe permitem desenvolver comodamente o método adotado. Sob este ponto de vista. Sotero é sumário e pouco satisíatório. para esta última técnica. sendo "o maior. Lamartíne e Victor Hugo. amparada na indicação do momento histórico. Encontrando campo. A abundância de material biográfico e histórico. Em nossa literatura. classificadas por gêneros e largamente exemplificadas. A despeito do torn convencional. com tudo isso. a importância e a consagração dos textos.°). Sotero Inspirou-se em Villemain para o tratamento histórico e a Importância conferida ao texto. pouca originalidade e mediania que vai de página a página. sem contradição. de início. que se reduz as mais das vezes a chamar atenção para a beleza. João de Barros. entremeadas ou seguidas da análise.34 Não espanta. a prosa po rtuguesa. de modo geral. que produziu o Brasil em nossos dias". a sua maior admiração vai para Sousa Caldas (". passa à exposição da vida. é um livro importante para o (33) ob..istência. que o sintamos realmente à vontade no estudo dos clássicos portugueses do século XVI. É sem dúvida bonito o passo em que mostra Camões fixando a língua poética. . chega finalmente às obras. deve ter seguido também o exemplo de Blair. "o primeiro poeta lírico brasileiro") e Gonçalves Dias.o que talvez seja ainda influência do Maranhão. o poeta mais distinto nascido e falecido no Brasil enquanto este fazia parte da monarquia portuguesa". fogo de inspiração e de licada expressão sentimental porque a ambos iguala em grandeza de engenho".. fundindo e superando o espírito de florilégio.°. Mas parece que a única vocação p redominantemente crítica seria a de Macedo Soares.". (35) No prefácio ao 5.°. vol. prefácios. cit. alguns artigos excelentes de Machado de Assis. 4.35 recuou prudentemente ante o romance. sobre Gonçalves Dias. Junqueira Freire. Embora apaixonado pelo nacionalismo literário. pág. (segundo vimos). Merece portanto muito mais do que lhe tem sido dado. E*?bora tenha consagrado uma análise convencional a um romance já 3" 2 "Li ao 6 expllcadO" ° Euríc°. diz seu filho Américo vespurao dos Reis que pretendia estudar Alvares de Azevedo. Ob. José de Alencar. A CRITICA VIVA Se procurarmos uma crítica viva. Bernardo Guimarães. polêmicas. não lhe faltou compreensã . 231 e vol. 4. pág. pág. 63.°.".. pela adoção dos métodos de Villemain." volume.. norJ^l. que não^ cabia nas regras tradicionais e não saberia por certo manipular criticamente. no fim do período. cit.. ob. pág. Os seus artigos nas revistas acadêmicas são muito bons. cit. respectivamente vol. 41. como bem viu Lafayette. parte 355 #5.de Herculano (Ob. só a encontraremos em alguns poucos ensaios. respectivamente vol.36 mas deu à sua pátria o primeiro li vro coerente e pensado de história literária. empenhando a personalidade do autor e revelando preocupação literária mais exigente. artigos. na maioria incursões ocasionais de escritores orientados para outros gêneros: Dutra e Melo. Álvares de Azevedo. Ignorou a literatura brasileira depois de Gonçalves Dias. vol. Livro 8. de publicação póstuma. Franklin Távora..(34) Sobre Caldas. cit. 1. 5. Otaviano. de biografia e de retórica. como forma e pensamento. 354 tempo. cit. 352 e vol. logo desviada para o Direito.. Gonçalves Dias. Ao repelir o folhetinesco. diálogo. que lamenta não ver cultivado aqui. "Antônio Francisco Dutra e Melo" . de Macedo. repelia implicitamente O Fil ho do Pescador. KJHGB. P. que n&o pude obter. Algumas reflexões a propósito da nova edição da Marília de Dirceu". de Balzac. linguagem. bem como a tendência para o fantástico. chegando a reproduzi-lo na maior parte em sua História da Literatura: o ensaio sobre A Moreninha. em cujo número l se encontra. uma inauguração. manife stando senso do romance como gênero. cuja obra analisa com minúcia e senso dos valores da ficção: estrutura. e para o ameno realismo de Macedo.38 É com efeito uma peça de boa qualidade. A sua simpatia vai para o romance histórico. informação sobre as suas tendências contemporâneas. dos rumos que deveria tomar no Brasil. ponto de vista claro sobre o que deveria ser entre nós. segundo L. um dos quais Sílvio Romero tinha na melhor conta. e o "romance filosófico". da Veiga. 356 que não lhe merece qualquer referência. apontava o sentido muito mais construtivo com que . "um extenso artigo Intitulado Bibliografia. enredo. No reputar A Moreninha um começo. como se pode ver nos estudos que dedicou a Bernardo Guimarães e Junqueira Freire. Rejeita os exageros devidos à popularização do folhetim. 2. repelindo o Louis Lambert. de Teixeira e Sousa.37 Dutra e Melo deixou apenas dois trabalhos. (38) Não encontrei a revista Nono Minerva. pàg.o de outros rumos da poesia. 178. sobre as ruínas da epopéia) e. XLJ. Vemos que estava perfeitamente cônscio da importância desse gênero essencialmente moderno (cujo triunfo assinala. aparecido um ano antes. mais ainda. mas (37) Muitos artigos de Macedo Soares andam em números do Correio Paulistano. para uma o utra (jue tentará explorar até os limites máximos as suas virtualidades musicais. Álvares de Azevedo deixou alguns ensaios de maior volume. "Georg e Sand". perfazendo ambos o tamanho dum livro pequeno. do signif icado de uma obra para o desenvolvimento do gênero a que pertence. no plano crítico. procurando definir a sua posição na estética romântica. . Ao falar de Junqueira Freire já assinalamos a importância do seu prefácio crítico às Inspirações do Claustro. Ele foi certamente o único escritor brasileiro a compreender claramente esta transição cheia de significado. Além disso escreveu "Lucano".. pela lucidez psicológica dos seus melhores poe mas. Álvares de Azevedo . Nesse poeta mal realizado talvez houvesse um excelente crítico em potência. escritos os dois principais nas férias de 1849-185O: "Jacques Rolla" e "Literatura e civilização em Portugal".realmente deu o rumo para a linha central da nossa ficção romântica e ele descreve com agrado: a criação de um mundo de fantasia com referência constante à realidade. segundo uma fidelidade básica ao dado real envolto pela idealização cara ao espírito romântico. que é um dos pressupostos teóricos do presente livro. o prefácio d*"O Conde Lopo" e dois discursos de circunstância em que há matéria crítica. Vejamos as que expendeu sobre a literatura em geral. Suas idéias sobre a questão da nacionalidade na literatura brasileira já ficaram assinaladas no devido lugar. o que vem confirmado por outros trabalhos secundários (a Eloqüência Nacional). Elas giram fundamentalmente em t . como discernimento de um problema crucial da estética romântica: a passagem de uma poesia baseada nos valores próprios da palavra. Poucas vezes se veria em nossa literatura compreensão tão imediata. pela capacidade analítica dos seus documentos inéditos. Esta surge também no "Macário" e várias peças longas. "Carta sobre a atualidade do teatro entre nós". lutando com a tempest ade. as imagens qu e enternecem correspondem ao belo sentimental. o belo prò357 #l priamente dito . as que ferem vivamente os sentidos.o sublime". a distinção entre clássico e romântico. acariciando os filhotes. é sublime.39 A sua diferença reside apenas no grau de intensidade das emoções associadas às imagens em que se manifestam. o sublime sentimental. .orno de uma certa concepção do belo. Na verdade.exposta no prefácio d""O Conde Lopo". As imagens evanescentes despertam o sentimento do belo ideal. nas alturas.Há o belo doce e meigo. caractsrizade pela natureza das imagens poéticas e o grau de intensidade com que são elaboradas. O sublime ideal decorre das imagens que exaltam e transportam. representação (belo ideal). exposta principalmente no estudo sobre Musset. latente sob as suas considerações. o ponto de partida é ainda a tecla habitual do tempo. . ao belo material. O seu pensamento. é bela. sentimos que a classificação depende por vezes do nível de apreensão: sensação (belo material). Assim "há dois gêneros de belo . o sublime material. é no fundo simples e se funda num ponto de vista bastante empírico. expresso com muita retórica e esquartejado pelas digressões.e da psicologia literária. emoção (belo sentimental). Apesar das incongruências da exposição. das que atemor izam e despertam a admiração.e esse outro mais alto . Num plano recessivo e inexpresso da consciência crítica de Alvares de Azevedo. O belo ideal é . A águia no ninho. das que comovem e desesperam. parece que a classificação depende essencialmente da qualidade da emoção despertada. embora esta não se separe da natureza das imagens. "A poesia do belo sentimental é para nós a mais bela". pensa que os tipos devem misturar-se numa obra para obtenção do melhor efeito: "mais se (39) Álvares de Azeredo. uma procela que convulsiona a natureza.". assim.. e certamente incompleto. o critério é flutuante. As imagens são sempre confundidas com situações concretas que elas exprimem num sentido descritivo. que fere vivamente os sentidos. (4O) ob... por uma aspiração à experiência total. Os poetas clássicos não o conheceram por estarem mais próximos da categoria material. 1. ora o belo depende da natureza delas. 424) A sua posição se completa.4O No nível do belo. lhes realça o valor a esses gêneros do belo.) Talvez o sol oriental chame os homens à realidade. o "das visões vaporosas e nevoentas". a angústia indizível. vol. Como quer que seja. abordara de passagem o problema da moralidade da obra de arte. Podemos supo r que o poeta reputava as duas coisas necessárias à integridade do conceito referente ora a uma realidade mais subjetiva. que fazem a imaginação flutuar num univer so impreciso como o das lendas nórdicas. ligada a imagens de uma situação concreta. é por exemplo a mulher em sit uação amorosa (que o poeta descreve com a sua habitual exaltação nesses casos). É esse."(pág. quando se reúnem num objeto. ou pretende sê-lo ao menos. pag. e a bruma e as nuvens cinzentas dos luares boreais levem-nos ao idealismo". na do sublime. cit. pág. (pág. concluindo que ela pode ser moral ou imora . Dizem os poetas idealistas que isso pende de duas causas . superando os limites dos gêneros e mesmo das conveniências.por excelência.(. o fim da poesia romântica. no nível do sublime. Entre ambos fica a categoria do sentimental.423) Como vemos. ora apenas das emoções experimentadas. a cujo propósito acentua menos a situação do que as emoções que elas despertam: é a expansão lírica na categoria do belo. 42O: ". ora a uma realidade exterior. 424. Obras Completas. em nenhum dos poetas antigos aparece a primeira classe que apresentamos. Pouco antes.da filosofia e das tendências do clima voluptuoso das terras do Sul... de olhos límpidos e azuis.é esse mancebo louro. O ensaio termina . A ânsia de beleza total englobando elementos diversos. gerando por vezes impressão contraditória. como já se viu em tempo. que caracteriza os verdadeiro s escritores. mas deverá ser sempre bela. em oposição a essas cândidas criaturas de Esmeralda e Branca. no caso a devassidão e a pureza que se encontram românticamente como os dois aspectos do personagem.(págs. característico desses jovens tomados entre a tradição e as grandes mudanças dos tempos novos."41 com efeito. superando limites éticos. 415-416) Todo o estudo desenvolve em vários planos a teoria do contraste. sonhador de pesadelos onde sorri satânico e infernal sempre na forma incarnada de gênio do mal . a soterrada. que se embebera de esperanças (.) A outra face é a amarelidez atrabiliária da testa que entontece às febres do descrido". 419 e 413) É uma discussão meio canhestra na pena desse rapaz de menos ile vinte anos. ou Habibrah o anão. fundado em Victor Hugo e sua obra antitética. mas ainda assim rara no Brasil de então pela consciência dos problemas estéticos e a disposição de os enfrentar como complemento do trabalho criador. Num dos versos é o sorrir juvenil que se apura nos sonhos.(págs. a quem rendamos dos fundos d"alma culto como é de render-se ao gênio . Ethel e Maria de Neuburg". "Goethe é assim .l.quer seja Han d"Islande o bebedor de sangue e água do mar. pois "o imoral pode ser belo" e "o fim da poesia é o belo". o elemento básico da discussão é aqui o problema da fé e da descrença.. louvada num trecho do citado prefácio d"O Conde Lopo: "Se há poeta francês a que votamos dec idida afeição por suas obras. a partir da metáfora inicial das duas faces da medalha. tratado como um aspecto do mal-do-século. que dos brasileiros é o único a proclamar explicitamente.como aquelas medalhas de Pompéia. é bem romântica e se coaduna aos seus desígnios literários. No estudo sobre o "Jacques Rolla". de Muss et. fica bem patente a adesão à teoria dos contrastes. ou Triboulet o bufão.. como a do es tilo são os apostos. A sua análise de texto é descritiva. Nem também ofusca na sobejidão do brilho.. e monótono como ela". onde o cepticismo dos românticos vem justificado pelo sofrimento que o acompanha e lhe confere uma espécie de carta de nobreza. o bardo . ou na riqueza luxuriosa de imagens como o poema porventura de mais imaginação que tenhamos lido . "Alfredo de Musset pàg. O&ras.realmente com um capítulo sobre a "Descrença em Byron.. 277. cít. como o pompear das Orientais. baseada em longas transcrições. e Boileau . (pág."poeta. Não se enubla nas melodias confusas da escola francesa. 358 359 #take. és belo como a lua à meia noite. . A essência do seu método são as comparações.) Sob o seu manto negro de Don Juan.o Ahasv . Musset". 278) Neste estudo aparecem porventura da maneira mais equilibrada as qualidades e os defeitos de Álvares de Azevedo como crítico. ou grade negra de calabouço onde não corra a luz uma réstia. reflexo macio das harmonias do laldsmo de Wordsworth . ajeita-se à feição do seu modelo : Rolla amanta-se como o Cavaleiro do mar.. Shelley.belos mas a quem se pudera aplicar as palavras da rainha Agandeca de George Sand. dissemo-lo. (. as antíteses. ao pálido Aldo. Vol(41) Álvares de Azevedo. num e noutro caso. as aproximações. guardava no peito uma chaga dorida e funda"." "Quanto à linguagem. uma esperança no oiro dessa luz.parasit a imperial. Jacques Rolla". com apoio forte das digressões e associações de vário tipo. "A alma do poeta é como o sol. Os juízos vêm geralmente encartuxados nesses processos: "Don Juan não é livro de epigramas como os de Horácio .o abade".nem há fisga de túmulo. "A diferença é que Byron inda no satânico do seu rir de escárnio era menos infernal que Voltaire. " (Respectivamente págs. geralmente tão acomodado e sem hulha.que se anunciava grande .. são admiràvelmente escritos. severos do ponto de vista estritamente polêmico (crescendo a dureza à medida que . A publicação d"A Confederação dos Tamoios de Gonçalves de Magalhães.----. embora vá jogando tudo um pouco de cambulhada. vivida com aceitação dos contrastes que a animam.mas para confirmar o conhecimento da sua personalidade literária. que exprimem as contradições do mundo.ero de Quinet.. estudo do poeta romântico como indivíduo psicologicamente dividido e moralmente contraditório. relação da poesia com as condições do tempo. Os outros estudos . 285. como obra suprema de u m poeta que representava por assim dizer a literatura oficial. a nálise da obra de Musset. O poema fora impresso à custa do Imperador. 292) O que diz. como o breve artigo sobre o nosso teatro confirmam a orientação geral d o seu pensamento crítico. assinados com o pseudônimo de Ig. indicação da influência de Byron sobre ele. à roda do tema central. 36O Alencar e Távora -----. 278. E deste todo resulta um ensaio rico. talvez em parte por causa disso. aproveitando para manifestar a sua concepção de literatura e posição em face das correntes nacionalistas.. essencialmente romântico: a beleza está na fusão dos diferentes aspectos da realidade. deu lugar ao movimento polêmico mais importante do nosso Romantismo. útil não apenas para avalia r a capacidade crítica de Álvares de Azevedo . Por isso o ensaio é ao mesmo tempo definição da poesia romântica. Os seus artigos. é geralmente de boa qualidade. José de Alencar desceu à arena.alguns magníficos. que é a análise do poema. em 1856. a eficácia do artista está igualmente ligada à sua complexidade interior. De tudo há um pouco. manifestam certa estreiteza no apelo a velhas regras poéticas para comprimir a liberdade criadora. defo rmam a intenção do poema. 361 . a cada passo. Ao lado de Ig. postaram-se alguns anônimos de tonalidade pasquineira. cargos. salvo as de Alencar e Monte Alverne. ao matizar os louvores pela indicação das lacunas. como o que denunciava a falta do senso de proporções com que Alencar pretendia. sob a proteção imperial e o encosto do Instituto Histórico.a bem articulada clique originada c orn a Niterói e dominante desde então através das revistas. para amesquinhá-lo. .42 (42) Cons. aliás. O primeiro defensor. feriu de cheio uma nota importante ao denunciar o grupo de elogio mútuo chefiado por Magalhães. confrontar as grande epopéias da humanidade com a tentativa do nosso escritor. pelo contender).saíam a campo os paladinos de Magalhães). Segundo Castelo. por José Aderaldo Castelo. A pedido do Imperador. sob o pseudônimo de "Outro amig o do poeta". Um tal "Ômega". O acontecimento extraordinário (único no gênero em toda a história. de maior calibre que os outros. Mas no fundo os juízos são certos. comedidos e de invariável dignidade (reconhecida. alinhar seis artigos ponderados. publicidade. não raro injustos. foi Pôrto-Alegre. Procuram aumentar defeitos secundários. pois. portando-se aliás c orn sobriedade e equilíbrio. Esta Importante publicação velo tornar accessívels as peças da famosa polêmica. o poema é realmente medíocre. ao que eu saiba) foi todavia o fato do próprio Pedro II tomar a pena e. sob o nome de "Um amigo do poeta". Monte Alverne deixou o recolhimento em que vivia para escudar o antigo discípulo com a sua eloqüência cava. que se desmandou no afã de amparar o colega. esquecidas até então nos jornais do tempo. os artigos citados em A Polêmica sobre "A Confederação doa Tamoios. conforme vimos. prejudicando alguns bons argumentos. Ômega seria Pinheiro Guimarães. que honram o seu amor às letras e estão à altura da boa crítica brasileira do tempo. um tipo feminino poetizado que perfumasse os versos e contrastasse os lances de epopéia. Para a história literária. o nosso Nibelungen. Magalhães falhou em todos estes po ntos. Não foi capaz de explorar as suas tradições. que transportem o espírito. é o caso. o seu heroísmo deve ser mostrado em situações ciclópicas. interessa hoje sobretudo pel a participação de Alencar e a importância que tem para compreender-lhe a teoria literária. os índios possuíam uma poesia elevada. através de personagens e cenas repassadas de ternura e poesia. após haver cantado a do Amazonas. que não forjou porque foi incapaz de despir-se das deformações da civilização e . Ora. A base do seu argumento é a inferioridade da realização de Magalhães ante a magnitude do objeto. a partir de uma rixa mesquinha com os colonos. pesadas bem as razões. falta-lhe o estilo adequado. deveria dar lugar a rasgos sublimes. a que dedica o mais vivo fervor. Em conseqüência. insuficientes como quantidade e qualidade para celebrar a sua luz deslumbrante. que o poeta moderno de ve saber interpretar com vigor e beleza. faltou-lhe força para descrever os lances heróicos como lhe faltou inspiração para aproveitar as sugestões da sua poesia. por exemplo. não criou uma heroína comovente. a sua atitude negativa em relação ao poema revela os elementos que julgava positivos para a literatura nacio nal. os seus sentimentos. ou quando empana o glorioso sol dos trópicos em doze magros versos. dando-lhes uma dimensão inferior. A natureza brasileira. de quando desmerece a grandeza do rio Paraná. amesquinhando-a. anunciando ao mesmo tempo a sua decadência. e o desenvolvimento posterior da obra. Falhou na caracterização dos índios. Finalmente. mostra-se incapaz de exprimi-la. acelerada no decênio de 6O.#Já foi dito noutra parte deste livro que essa polêmica assinala o momento culminante do Índianismo. que em conjunto formam as nossas sagas. com efeito. Ignorando a natureza do Brasil. apresentando-os sem virilidade nem grandeza. o estímulo a cujo toque brotaram nele. ordenadas e prontas. veremos surgir da polêmica todo um programa de literatura indianista que em seguida executou à risca. inspirada na dos indígenas. teria grande amplitude. do Ijucapirama e dos Cantos guerreiros dos índios está criando os elementos de uma nova escola de poesia nacional. onde. no caso.43 Esta. n"Os Filhos 362 de Tupã (1863). A crítica dos criadores é muitas vezes programa. Se atentarmos para os corretivos que propõe. como aparece sugerida nas Cartas. apenas lançado na carreira literária. É impressionante. "Se algum dia fosse poeta e quisesse can . até então meras veleidades ou impulsos subconscientes. procuram ver claro neles mesmos. absorvido pelo sonho interior. numa linguagem nova e brilhante. de que ele se tornará o fundador quando der à luz alguma obra de mais vasta composiç ão". cuja ausência diminuía a seu ver o alcance da o bra de Gonçalves Dias. revelando que A Confederação dos Tamoios foi a mola que o atirou nessas veredas. com dois pequenos romances de salão e o desejo ainda vago de fazer um livro nacional e forte. o que lhes desagrada é o que não fariam. examinando outros escritores. as idéias que norteariam doravante esse aspecto da sua obra. "O autor dos Ültimos cantos. verificar a fidelidade com que realizou n"O Guarani (1857). próxima como ela da natureza. Em 1856. Era já então o criador que vislumbrara o caminh o certo e se impacientava com os atalhos secundários. o que lhe parecia decisivo era um poema de vastas proporções. indo do colossal ao terno. em Iracema (1865) e Ubírajara (1874) o programa traçado nas Cartas. não chegou a fazer esforço real para compreender os motivos do poema de Magalhães.receber em estado de pureza toda a força sugestiva da natureza e dos primitivos. do heróico ao lírico. e ao defini-lo são levados a definir as suas próprias intenções. Filho da natureza. .. Confederação dos Tamoios por Ig. é certo. a tendência do nosso Índianismo. onde predomina. etc. o Índianismo em escala mais moderada. pág. Ele se desdobrou e quis faze r ambas as coisas: no romance d"O Guarani. 8O. embrenhar-me-ia por essas matas seculares. onde encontramos inclusive certos trechos e conceitos das Cartas transpostos em verso. pediria a Deus que me fizesse esquecer um momento as minhas idéias de homem civilizado. onde não falta a nota heróica.tar a minha terra e as suas belezas. em prol do poema indianista cuja ausência lamentava. voltou-se para o afinamento da prosa poética. Ele próprio diz que o empreendeu par a atender ao apelo que fizera. 363 #quis feri-la plenamente no Ubirajara.. O exemplo de Saint-Pierre e sobretudo Chateaubriand. (que atira a cada passo contra Magalhães para mostrar o que deve ser o estilo nacional. a epopéia em grande escala. sentimentalismo e realidade histórica. com o seu ritmo de epopéia.como. uma espécie de realização tardia do poema abandonado em 1863. "Carta ao Dr. Jaguaribe". e constitui. numa réplica minuciosa à Confederação. O fato é que lhe foram necessárias quatro obras para conter toda a riqueza de temas e proces sos que desejava estivessem presentes na pobre Confederação dos Tamoios. Quase dez anos depois (43) Cartas sobre a. n"Os Filhos de Tupã. ao trem de ferro. para o verso. agigantando os feitos e a natureza. . deixando o poema no 4. por exemplo. se quisesse compor um poema nacional. misturando heroísmo. mas esmaecida e atenuada pelo encantamento sentimental. o repúdio misantrópico à vida urbana e uma referência nostálgica ao vapor. na Carta final."(pág 6). O que desejava exprimir nos modos menores do lirismo e da ternura elegíaca foi canalizado para Iracema. pág.) apontavam para a prosa poética. 178..44 O instinto e a consciência crítica mostraram-lhe porém desde logo a vocação certa e. (44) José de Alencar.° Canto. em Iracema. Eis senão quando surge em auxílio um moço de Pernambuco. mesmo esse estilo que se obtém penetrando na natureza é muito inferior a ela. roubando os recursos das dive rsas artes.esse estilo musical e plástico. por mais sub limes que sejam. a força da palavra (que celebra numa página admirável) descora ante a sua graça perfeita: "Não há em todas as concepções humanas. n"O Guarani. alguma harmonia original. Quis o eterno retorno das coisas literárias que. a linguagem que aperfeiçoaria nos outros dois romances indianistas. para exprimir. D. quinze anos depois da polêmica sobre A Confederação dos Tamoios. nunca sonhada pela velha harmonia de um velho mundo". a beleza inexprimível da sua terra e da gente rude que prolongava a sua fascinante poesia. O português publicou então um periódic o bissemanal. ao solene Visconde de Araguai a. malgrado a debilidade do verbo. capaz de "arrancar do seio d"alma algum canto celeste. curte porém agudamente a nostalgia da expressão adequada à riqueza irreproduzível dos sentimentos e das coisas.45 Como born romântico. A coisa principiou por motivos subalternos: amolado com as críticas em que Alencar lhe atribuía abuso de poder. mandando um ou outro bote ao literato.Quando conseguiu firmar. jovem e neófito. Pedro II alugou a pena medíocre de José Feliciano de Castilho para atacar o nosso romancista.46 Mas a sua forç a de artista vem da disposição de lutar. descobrira o instrumento mágico a que aspirava nas Cartas. mas disposto . a que chamou Questões do dia. como ele as pedira. não há um primor d"arte que se possa comparar às cenas que a natureza desenha a cada passo com uma réstia de sol e um pouco de sombra". . onde visava sobretudo a sua vida política. estava ganha a parada. o mais pròximamente possível. a nova geração viesse pedir contas ao já glorioso Conselheiro Alencar. uma idéia que valha a florzinha agreste que nasce aí em qualquer canto da terra. autor de um romance indianista na esteira d"O Guarani. e nisto reside hoje o seu interesse. lendo as Car tas. etc. já e "A natureza. Como Alencar respondesse com azedume. As suas considerações constituem o primeiro sinal. amigo e admirador de Távora. a idealização dos tipos. Sílvio Romero. Cp. nada tinha de pasqu im e se pautava. pàg. 364 trário. mundo." pág. 62. assinadas com o pseudônimo de Semprônio. (46) ob. Távora censura n"O Gaúcho a falta de fidelidade à vida riograndense. o abuso das situações pouco naturais. pago pelos cofres públicos para atacar o maior escritor brasileiro da época. para afastar a ganga polêmica e fixar o conteúdo crítico. caindo numa cabala surdamente orientada pelo Governo e movida por um medíocre testa-de-ferro.47 Nessa questão há dois aspectos: o ético. o primeiro poeta do ntão em torn mais áspero e maior minúcia analítica. que realmente interessa à literatura. pàg.agora a demolir o seu mestre de ontem: Franklin Távora. pelas normas do decoro jornalístico). com efeito.. sentimos que os motivos principais de Távora eram a tomada de posição contra um certo tipo de literatura. de apelo ao sentido documentário das o . quando já se ia aspirando a um incremento da observação e à superação do estilo poético na ficção. diga-se a bem da justiça e para desfazer a impressão de muitos escritores informados de oitiva. ferido na sua viva susceptibilidade. lamentava que se houvesse metido nessa empresa inglória. cit. 92. São as famosas Cartas a Cincinato. quando a tarefa do escritor é observar de perto a realidade que procura transpor. Castilho exultou e lhe abriu rasgadamente as portas do bissemanário (que aliás. tanto mais quanto acaba se refletindo no outro. Alencar é para ele um homem de gabinete que escreve sobre o que não conhece. que preocupou até agora os historiadores. no Brasil. ao con(45) Cartas sobre o Confederação dos Tamoios. Elas representam o início da fase final do Romantismo. sobre Iracema. voltou à liça com mais doze.. se nos esforçarmos. o jovem escritor estava implicado com O Gaúcho e sobre ele mandou oito cartas. cit. . e o estético.. as cenas desagradáveis do cretino de Til (que vimos corresponder às linhas mais ricas da personalidade literária de Alencar) lhe par ecem mau gosto. entremeado de fatos verídicos. Não recusa a literatura de imaginação. quando ela se apresenta como tal. impropriedades etnográficas. feiúra. e d o ideal. por falta de vigor e de informação. Nos artigos sobre Iracema. pàg.bras que versam a realidade presente. É interessante notar o caráter simétrico das suas Cartas e das de Ig. O tipo de argumento é o mesmo. é obrigado a se submeter aos dados reais. Como Alencar fizera em relação a Magalhães. notando-se que repele com vigor tudo que seja vulgaridade. Poder-se-ía esquematizar a sua posição dizendo que ele preconiza. a mistura da verdade. são paralelas as injustiças e os excessos. Compêndio áe História da Literatura Brasileira. mas entende que um romance de co stumes. Para ele era forte demais o sentido alencariano das contradições e desarmonias: a bofetada de Diva. Távora o censura por não ter cumprido um programa que não se pr opusera. o pé grande d"A Pata da Gazela. 3O7. no romance. negando ao autor (co . concebido como enroupamento da observação pelo belo inventado. como o de Alencar. e nisto é bem romântico. reprodução dos aspectos pouco elevados da vida. concebida como fidelidade à natureza observada. A sua atitude (ressalvadas deformações ocasionais devidas ao interesse polêmico) é coerente e compreensiva. esmiuça implacavelmente erros históricos. O segundo elemento lhe parece essencial à ficção. (47) Silvio Romero e João Ribeiro. censura-lhe igualmente não estar à altura da realidade que pinta. fantasias sintáticas. 365 #acha que a realidade deve ser selecionada num sentido ideal. com efeito. vencida a etapa do radicalismo nativista. que não restringisse o seu valor nacional aos livros indianistas. que transmigrou para este solo virgem com uma raça ilustre.mo o Alencar das Cartas) o direito à imaginação. é posterior à e xperiência que lhe permitiu levantar as posições consideradas como integrando uma literatura nacional. o seu senso literário lhe teria feito sentir que essa literatura pitoresca. e cada dia se enriquece ao contacto de ou tros povos e ao influxo da civilização?"48 A essa altura. finalmente.. O referido prefácio vem na verdade classificar uma obra já em grande parte realizada. o Romantismo exprime afinal claramente. pela pena do seu escritor mais ilustre.. que felizmente nunca traíra. De qualquer modo. a que mais vivamente exprimia o que tínhamos de diferente da Europa. que outra coisa é senão a alma da pátria. "A literatura nacional. apoia toda a sua argumentação nacionalis ta. assinala a impropriedade do estilo. Ainda como ele. não corresponde ao espírito de uma literatura brasileira. tendo antes existido mais como instinto que como reflexão. É possível que tais ataques hajam movido Alencar a refletir sobre o sentido da própria obra e tentar uma espécie de teoria justificativa. como ele. não era a única via. Esta já não lhe parece mais consistir apenas na exploração da poesia primitiva. aqui impregnou-se da seiva americana desta terra que lhe serviu de regaço. o radicalismo polêmico das Cartas cede lugar a uma compreensão mais ampla que se manifesta em 1872 no prefácio de Sonhos d"Ouro. que teriam achado a fórmula ideal de fazer ficção sem trair a realidade. em autores e exemplos estrangeiros. notadamente os norte-americanos. o verdadeiro sentido da sua tarefa. mesmo . sendo embora a mais característica das condições locais. como Cooper e outros. na natureza tropical e das relações iniciais entre colono e aborigi ne. afirmando que não é nacional. quando a praticara sem consciência nítida. Assim. ligado ao ciclo de cultura do Ocidente. inclinado a ver o exótico e. que nos toca de perto e envolve a sensibilidade com os seus problemas. com efeito. de ser brasileiro à Chateaubriand. o que no fundo é. libertando-nos das estreitezas da herança lusitana. marcada pelo contacto entre português e índio."Ouro. do humano contemporâneo. contribuindo para definir a sua fisionomia espiritual através da descrição da sua realidade humana. confinando a ele os escritores. no tempo e no espaço. como vimos há pouco. não como a ilusão estática de um primitivismo artificialmente prolongado. classificando três modalidades de temas que correspondem a três momentos da nossa evolução social: a vida do primitivo. negar-lhes acesso aos grandes temas universais que o Neoclassicismo implantara aqui. em Sonhos d. liberto do pitoresco em benefíc José de Alencar. numa lingua gem liberta dos preconceitos lingüísticos. aceitar um aa visão de estrangeiro. Alencar reconhece a legitimidade nacional das pesquisas essenciais do romance. Assim. a formação histórica da Co lônia. a literatura acompanha a própria marcha da nossa formação como país civilizado. Neste sentido. Alencar define (corn terminologia imprópria) o universo literário do escritor brasileiro. A literatura nacional aparece então como expressão da dialética secular que sintetiza em formas originais e adequadas a (48) 366 posição do espírito europeu em face da realidade americana. Não se trata mais. 34. Trata-se de descrever e analisar os vários aspectos de uma sociedade. pâg. "Bênção paterna". io do humano social e psicológico. a sociedade contemporânea. exprimindo a sua luta pela autodefinição nacional como povo civilizado. que compreende dois aspectos: a vida tradicional das zonas rurais e a vida das grandes cidades. . assinalada pelo contacto vitalizador com os povos líderes da civilização. (1873) feito para o periódico que José Carlos Rodrigues publicava então em português nos Estados Unidos representa o desenvolvime nto do tema de Alencar e a superação das suas próprias idéias em artigos anteriores. rnas pausadamente. Elas são adequadas. que o torne homem do seu tempo e do seu país.4a FsHs oalavras exprimem o ponto de maturidade da critica romântica. para encerrar ?ste livro onde se procurou justamente descrever o processo^ por mpi o do qual os brasileiros tomaram consciência da sua existência esniritual e social através da literatura. 367 #que "não se fará num dia. deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região. sobretudo uma literatura nascente. não será obra de uma geração nem de duas. O que se deve exigir do escritor. . a sua dor. antes de tudo. independente do tema: "Não há dúvida que uma literatura. é certo sentimento íntimo. portanto. o s eu júbilo. desta maneira ganhando o direito de exprimir o seu sonho. moitas trabalharão para ela até perfaze-la de todo . ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço". a sua modesta visão das coisas e do semelhante. combinando de modo vario os valores universais com a realidade local e.a consciência real que o Romantismo adquiriu do seu s-STcado histórico.Essa tomada de consciência repercutiria imediatamente no jovem Machado de Assis. Aí se explica o significado real do indianismo como útil presença do característico. mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. cujo artigo "Instinto de Nacionalidade". e a necessidade de não se restringir a ele o escritor. a fim de poder atingir a m aturidade que permite ser brasileiro. para sair mais duradoura. Esta é a "outra independência" que "não tem sete de Setembro nem canto do Ipiranga". a sua primeira atenção é para o teatro. filho legítimo de Pedro Gonçalves de Magalhães Chaves. ver o Cap. onde pouco ensinou. 131-132 e 125-126 respectivamente. em Crítica Literária. Aclamado na pátria como chefe da "nova escola". sendo Encarregado de Negócios nas Duas Sicílias. de 38 a 41. na Rússia e na Espanha. Em 1832 publica as Poesias. em que se diplomou no ano de 1832. Dessa viagem resultaram a sua adesão ao Romantismo. VIII). a formação de um grupo literário brasileiro em Paris. e de 42 a 46. pàgs. Ministro . Nada se sabe dos estudos preparatórios que precederam o seu ingresso. com efeito. Para a de Norberto.seu livro ren ovador Suspiros Poéticos e Saudades (1836). foi secretário de Caxias no Maranhão e no Rio Grande do Sul. que passava" então por um momento de voga. DOMINGOS JOSÉ GONÇALVES DE MAGALHÃES nasceu no Rio de Janeiro em 1811. no Piemonte. bem recebidas pelo acanhado meio intelectual do Rio. Concomitantemente. ver o capítulo seguinte. cujas aulas seguiu e cuja influência sofreu. não registrando os biógrafos o nome de sua mãe. "Instinto de Nacionalidade". em 1828 .(49) Machado de Assis. Ainda em 1838 é nomeado professor de filosofia do Colégio Pedro II. a publicação da revista Niterói (1836) e o . com a produção de Martins Pena e os desempenhos de João Caetano. tornara-se amigo de Monte Alverne. só voltando à pátria em 1837. no curso médico. de que não mais se afastou. e em 184 7 entrou para a diplomacia. escrevendo duas tragédias: Antônio José (1838) e Olgiato (1839). 368 Biblioteca Public "<*-*"BIOGRAFIAS SUMÁRIAS CAPÍTULO II (Para as biografias de Teixeira e Sousa e Macedo. e em 1833 parte p ara a Europa com intenção de aperfeiçoar-se em medicina. cujo papel definiu com argúcia. Era mulato e os biógrafos não indicam os pais. Opúsculos histój-icos e literários. Urânia. 1856. Comentários e pensamentos. 188O. abrindo a polêmica famosa. 1849. e em 1934 a RABL publicou as suas cartas a Porto Alegre. 1862. como deputado. Não interessa mencionar os escritos políticos e econômicos de Torres Homem. onde esteve de 1833 a 1837. Nem todos os escritos foram reunidos nos Opúsculos. FRANCISCO DE SALES TORRES HOMEM nasceu no Rio em 1812. ministro. Fatos do Espírito Humano. A Alma e o Cérebro. sendo criado em 1872 visconde com grandeza de Inhomerim. ligado episòdicamente à literatura. senador. que representa uma das posições mais avançadas do liberalismo da sua "coração. visconde de Araguaia. Depois dos citados. encarregado de negócios e integrou o movimento da Niterói. e de que se arrependeu amargamente desd . mais ou menos. Fora criado barão em 1872 e. bem relacionado. Os Mistérios. Santa Sé. morrendo em Roma no ano de 1 882. do importante Libelo do Povo. 1857. 369 #c direito era Paris. foi a primeira figura na vida literária oficial até a publicação da Confederação dos Tamoios. Lá foi adido de legação. sob pseudônimo de Timandro. 1864. publicou os seguintes livros: A Confederação dos Tamoios. muito cônscio do seu valor. Ministro nos Estados Unidos. Amigo do Imperador. quando Alencar. bastan do lembrar que foi um dos dirigentes da Minerva Brasiliense e autor. Cânticos Fúnebres.residente na Áustria. 1858. Argentina. 1865. cabendo-lhe prefaciar o livro renovador de Magalhães. com grandeza. Estudou medicina no Rio. promoveu a sua redução a proporções mais modestas . De volta à pátr ia teve uma carreira política brilhante. 1876. provavelmente ao mesmo tempo que Magalhães. em 1874. de origem obscura. foi porventura quem orientou os patrícios chegados a Paris no interesse pelo Romantismo. Como ocorre com certos poetas noutras literaturas. e à proteção dos Andradas. mas sobretudo políticos. até 1837. a partir de 1823. cursando também a Escola Militar e aulas de anatomia do Curso Médico. em 1849. filho do Dr. foi ministro de 1837 a 1839. Manoel Francisco Maciel Monteiro e sua mulher Manoela Lins de Melo.. o seu lugar na nossa é devido a uma única peça. deste ano a 1844. segundo do título. Deputado geral em 1836. nasceu em Recife em 18O4. filho de Francisco José de Araújo e sua mulher Francisca Antônia Viana. Era Conselheiro titular e fora criado em 186O barão de Itamaracá. administrativa e literária. como pintor oficial. Rio Grande do Sul. diretor da Faculdade de Olinda. vereador. o belo soneto "Formosa qual pincel". ocupou alguns cargos médicos. orador do Instituto Histórico. De volta à pátria. José do Rio Pardo. começou a aproximar-se do Trono. Em 1826 veio para o Rio estudar pintura com Debret. Nomeado Ministro Plenipotenciário em Lisboa no ano de 1853. graças a uma subscrição promovida por Evaristo da Veiga. com Frei Santa Gertrudes. MANOEL JOSÉ DE ARAÚJO. desenvolveu intensa ativ idade artística. Paris. Morreu em Paris no ano de 1876. além de Filosofia. etc. tendo fundado com Macedo e Gonçalves Dias a revista Guanabara. Em 1831. nasceu em 18O6 em S. nada publicou além da tese de medicina e uma ou outra poesia ou discurso. educacional. Em 1858 ingres . cabendo a Pôrto-Alegre. Ligado a Garrett. ANTÔNIO PEREGRINO MACIEL MONTEIRO. professor da Academia de Belas Artes. Fez estudos em Olinda e. em cuja Universidade se doutorou em medicina no ano de 1829 . quando foi Presidente da Câmara. escreveu e pintou. onde estudou. Famoso galanteador e sibarita. elegendo-se de novo em 185O. seguiu o mestre à Europa. morreu no posto em 1868. na França e na Itália. que mais tarde juntou ao nome o da capital da sua província. De volta ao Rio. providenciar as exéquias. PÔRTO-ALEGRE.e quando. e. por volta do decênio de 5O. CônsulGeral. o papel que lhe cabia. "noção exata da influência que os seus livros exerceram". deixando fama de moço prodígio. como tal celebrado pelos consócios do Instituto Histórico no discurso fú nebre de Pôrto-Alegre. 2 vols. com sede em Dresden. atribuindo-lhe a chefia da "regeneração das nossas letra s". ANTÔNIO FRANCISCO DUTRA E MELO nasceu no Rio em 1823. Em 1874 recebera o título barão de Santo Ângelo. a atividade associativa.sou na carreira consular. Órfão de pai.. Feitos alguns preparatórios. biografias. estudos p olíticos. poesias. Inéditos. Escreveu artigos. com sede em Berlim. um voluminho de décimas às flores. 1863. onde morreu. deixou boa quantidade de versos. os escritos. Homem born. que o instruiu e encaminhou nos estudos. que ainda não foram todas reunidas. que haviam sido colecionados para publicação por Luís Francisco da Veiga. Embora endeusasse reverentemente o seu compadre e fraternal amigo Magalhães. e de que veio publicando episódios pelas revistas do tempo. possuindo mesmo. era dotado de grande senso do dever e rara capacidade de trabalho. ficou a cargo da mãe. Em 1846 morria. servindo como Cônsul Geral na Prússia. a julgar pelas obras de arquitetura e pintura. meia dúzia de poesias. A sua empresa literária foi todavia o poema épico Colombo. Parece que se atribuía especialmente o início da cor local nativista. aos 22 anos e meio. 1866. filho de Antônio Francisco Dutra e Melo e sua mulher Antônia Rosa de Jesus Dutra. arrimando a casa pobre com este e outros trabalhos. não ignorava. conforme Pinto da Silva. peças de teatro. outro tanto de artigos c invocações. em colaboração. depois na Saxônia. . (186O-1866) finalmente em Lisboa (1866-1879). as comemorações que organizou. intimamente. Publicou uma gramática inglesa. 37O em que trabalhou desde o decênio de 4O. foi profe ssor de inglês do Colégio Pedro II com menos de 18 anos. a partir de 185O. e parecem se ter extraviado. tendo ele enfeixado as principais nas Brasilianas. quatro coleções de charadas em verso. publicando em Leipzig a edição reunida dos Cantos e a parte inicial d"Os Timbiras (1857). de índio e negro. mas a situação financeira da família se torna difícil em Caxias. prosseguindo ele nos estudos graças ao auxílio de colegas . mestiça. e ele parte para o Norte em missão oficial. não o termina. ao voltar à pátria. não se sabe se de índio e branco. postos à venda em 1847. morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne. tendo-se salvado todos os demais. com Macedo e Pôrto-Alegre. em tratamento da saúde bastante abalada. encerrando a melhor fase da sua poesia. A madrasta o ampara igualmente. às vésperas da viagem. em 1837. o pai não o desampara. Desde 1856 estava praticamente separado da mulher. filho natural do comerciante português João Manoel Gancalves Dias e de Vicência Ferreira. Frustrado no intui to de desposar Ana Amélia Ferreira do Vale. realizando o desejo do marid o. e co . onde estampa os Primeiros Cantos. quando morre. em 1823. que lhe dera uma filha. Neste ano. Volta ao Rio em 1862 e segue logo para a Europa. ou das três raças. Maranhão. todavia. dá-lhe instrução. Em 49 é nomeado professor de Latim e História do Colégio Pedro II e funda a Guanabara. fá-lo trabalhar na loja e pretendia levá-lo para estudar em Portugal. De 1859 a 1861 viaja pelo Norte como membro da Comissão Científica de Exploração. No ano seguinte estava no Rio. seguindose os Segundos Cantos em 1848. falecida na primeira infância. demorando-se até 1864. e a madrasta manda-o voltar. De 1854 a 1858 permanece na Europa em missão oficial de estudos e pesquisas. Casado em 1829 com outra mulher. que lhe deram renome imediato.ANTÔNIO GONÇALVES DIAS nasceu na zona rural de Caxias. à vista de terra. e volta à pátria em 1845. casase no Rio em 1852 e é nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Matriculado no curso jurídico em 184O. por efeito da Balaiada. Gonçalves Dias passa a Coimbra em 1838 e prepara-se para a Universidade. Em 51 aparecem os Últimos Cantos. o grande amor da sua vida. Estrelou com Harpa gemedora. Na sua vida intelectual. e sua mulher Joana Maria da Rosa. em que dominam os pendores eruditos favorecidos pelas comissões oficiais e as viagens à Europa. os melhores. as fíffttilhas. e em seguida traduziu Esquilo. quase todas as peças de teatro (Patkul. além de metrificar uma síntese d"Os Lusíadas na Camoneana brasileira. Matriculado na Faculdade de S. funcionário. datam do período anterior. teve alguma vibração original na quadra iuvenil para tornar-se depois um poeta árido e rotineiro. Paulo. Beatriz 371 #X" Cenei Leonor de Mendonça). Lamartine e La Fontaine. no Rio.rn quem nunca se entendera. cornpreendendo o Dicionário da Língua Tupi. JOÃO CARDOSO DE MENEZES E SOUSA. os rel atórios científicos. nunca reuniu os versos. FRANCISCO OTAVIANO DE ALMEIDA ROSA nasceu no Rio em 1825. De 1853 a 1867 foi deputado geral. Otaviano Maria da Rosa. Embora poetasse desde menino. nasceu no ano de 1827 em Santos. criador. advogado. Paulo em 1841. Professor. outro. S. bacharelou-se em 1845 e iniciou imediatamente a advocacia e o jornalismo. a Meditação. Província de S. há dois nítidos períodos: um. Paulo. grangeando fama sobretudo como jornalista. filho do Dr. empresa de ve . a epopéia elaborada e pouco inspirada d"Os Timbiras. como assinala Josué Montello. Foi Plenipotenciário na Argentina e Uruguai e tinha o título do Conselho. falecendo em 1889. em que escreve os Cantos. pas sando neste ano para o Senado. médico. as traduções do alemão. e algumas das suas composições ganhassem a maior popularidade. cuios trechos iniciais. em cuja Capital se formou em direito na turma de 1848. deputado. e se pode" considerar iniciado com a memória Brasil e Oceania (1852). filho de um pai do mesmo nome. que vai até 1851. 1847. Era Conselheiro titular e fora criado barão de Paranapiacaba e m 1883. De 1848 é o primeiro volume do romance histórico Gonzaga ou A Conjuração de Tiradentes. outro romance. que foi também a primeira publicada. como se vê. mulher de cor. posta em volume em 1859. o romance O Filho do Pescador. em 1915. último livro que compôs.rdadeiro sacrilégio poético. seguido pela publicação parcelada de Maria ou A Menina Roubada (1852-1853). que perdera os bens em 1822. Os Três Dias de um Noivado. CAPÍTULO in (Para a biografia de Pereira da Silva. aliás mal recebida pela crítica e o público. A Providência. os seis cantos finais da desconsertada epopéia e a tragédia em verso O Cavaleiro Teutônico ou A Freira de Mariemburgo. em 1843. coroada em 1847 pelos seis primeiros cantos da epopéia A Independência do Bra sil. Em 183O compõe a sua primeira obra conhecida. tendolhe o Conselheiro Nabuco de Araújo arranjado em 55 o lugar de escrivão . Em 54. em 1856. Em 191O apareceram Poesias e Prosas Seletas. trabalha neste ofício com o pai. estando já o autor definitivament e instalado no Rio. dez anos depois: a tragédia Cornelia. em 1844. onde morava desde meado do século anterior. em 1855. Aprendiz de carpinteiro aos dez anos. filho natural do comerciante português Manoel Gonçalves e de Ana Teixeira de Jesus. As Fatalidades de Dois Jovens. Morreu no Rio. Uma acentuada versatilidade. Em 1846 casara e fora nomeado professor primário. englobando a produção de maturidade e velhice. Já en tão melhorara bastante a posição. Do mesmo ano é o romance As Tardes de um Pintor ou As Intrigas de um Jesuíta. poema narrativo no tema indianista. Em 1841 e 1842 saem as duas séries dos Cantos Líricos. VIII) ANTÔNIO GONÇALVES TEIXEIRA E SOUSA nasceu em 1812 em Cabo Frio. ver Cap. Capitania do Rio de Janeiro. aparecendo o segundo em 51. Foi ativa e fecunda a sua carreira intelectual de jornalista. ao que parece. que se dividem naturalmente em duas etapas. sempre ficou no segundo plano. De 52 a 54 redigiu A Nação. morreu de tuberculose. Em 1849 fundou com Pôrto-Alegre e Gonçalves Dias a revista Guanabara. autor teatral. publicara no mesmo ano A Moreninha. 1848. Formado em medicina pela Faculdade do Rio em 1844. e futura mulher. filho de Severino de Macedo Carvalho e sua mulher Benigna Catarina da Conceição. que lhe deu fama instantânea e constituiu a seu modo uma pequena revolução literária. Era. Vicentina. em datas que não apurei. militou no Partido Liberal como jornalista e político. mesmo em vida. ou noiva. prima irmã de Álvares de Azevedo. 1855. Maria Catarina de Abreu S odré. já referido: O Moço loiro.judicial numa vara do Comércio. e O Forasteiro. romancista. todavia. 1853. poeta. o principal romancista. Rosa. inaugurando a voga do romance nacional. JOAQUIM MANOEL DE MACEDO. Consta que a heroína do livro é uma clara transposição da sua namorada. nasceu em Itaboraí. Província do Rio de Janeiro. É a seguinte a lista dos seus romances. onde apareceu grande parte d"A Nebulosa. que o minara desde a adolescência. e deput ado geral de 64 a 68 e de 78 a 81. divulgador. até o êxito de Alencar. homem born. 1849. Os dois amores. Era muito ligado à Família Imperial tendo sido profes sor dos filhos da Princesa Isabel. não obstante a pobreza intelectual do meio. membro muito ativo do Instituto Histórico. Professor de história e geografia do Brasil no Colégio Pedro II. A partir daí abandona o gênero por cerc . 1845. humilde e enleiado. e. muito melancólico e algo abatido pelos revezes materiais. sendo considerado em vida uma das maiores figuras da literatura contemporânea e. Em 1861. tendo sido deputado provincial parece que várias vezes. em 182O. Pertencia ao grupo literário de Paula Brito. começando do inicial. jornal do seu Partido. Para teatro escreveu: O cego. seguido em 69 por nada menos de quatro: A luneta mágica. 1849. 1863.. ver Cap. O fantasma branco. CAPÍTULO IV ---""-. 1855. As poesias líricas nunca foram reunidas em volume. além do Ano biográfico brasileiro. 1867-8. A Baronesa do Amor. quem sabe algo abalado. 1861. Escreveu ainda livros didáticos nas matérias que ensinava. dedica-se ao teatro e out ros tipos de escritos. Remissão de pecados. e mais duas ou três. variedades. Cincinato Quebra-louça. sátiras. Cobé. 372 373 #. 186O. na liça que até então dominava. Em 1865 volta ao romance com O culto do dever. 3 vols. Nos últimos tempos sofreu de decadência das faculdades mentais. morrendo antes de completar 62 anos. 1859. 1873. Um noivo e duas noivas. O primo da Califórnia. inclusi ve Amor e Pátria. como as duas sátiras político-sociais A carteira de meu tio. em 1856. 1871. V) . 1856. Neste lapso publica os contos reunidos impropriamente sob o título de Romances da Semana. 187O. Vingança por vingança. (Para a biografia de Bernardo Guimarães. 1872. 187O. A torre em concurso. e Memórias do sobrinho do meu tio. 1876. Os quatro pontos cardiais e A misteriosa. O sacrifício de Isaac. 1877.a de dez anos. 1876. em 1882. Lusbela e O novo Otelo. o "poemaromance" A Nebulosa é de 1857. O Rio do Quar to. Luxo e Vaidade. .este último compreendendo três obras. ou um pouco intimidado com a entrada de Alencar. 1852. 1858. A seguir: As mulheres de mantilha e A namoradeira. série muito lacunosa de biograf ias organizadas pelos dias e meses de nascimento. Nina e As vítimas algozes. mas provavelmente ligados a aborrecimentos com a conduta do pai. . gente humilde do povo carioca.LUÍS JOSÉ JUNQUEIRA FREIRE nasceu na Bahia em 1832. matricula-se em 1849 no Li ceu Provincial. que manif esta um senso agudo de auto-analise. impressa na Bahia em 1855.e entre lutos e desgraças . Em 1853 pediu a secularização. Luísa Maria d a Conceição. da sua cidade natal.de que só veio a se libertar nos últimos anos da vida. publicados em 1869. não precisando os informantes se do lado do pai. fragmentos de dramas. viveu amargurado e revoltado. Cresceu na maior pobreza. entra em 1851 na Ordem Beneditina. após um ano de noviciado. sem fé segura. da decisão irrevogável que tomara. por motivo de saúde. numa grande atividade. Bento. Ao mesmo tempo. bem cedo. pouco antes da sua morte. LAURINDO JOSÉ DA SILVA RABELO nasceu no Rio de Janeiro em 1826. No Mosteiro de S. ao que parece. embora permanecendo sacerdote. notas e uns Elementos de Retórica Nacional. grande ledor e já poeta. Deixou vários manuscritos: poemas. que não foi homem de bem e a partir de certa altura viveu separado da família. apesar dos males que lhe assaltavam a constituição d ébil. o procurador e oficial de milícias Ricardo José da Silva Rabelo. . recolheu-se à casa da mãe. Mas leu. com o nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire. poetou. ou da mãe. sem vocação e mesmo. Obtendo-a no fim de 54. ocorrida em junho e motivada por moléstia cardía ca de que sofria desde a infância e lhe atormentou a curta vida. Por motivos não esclarecidos. filho legítimo de José Vicente de Sá Freire e Felicidade Augusta de Oliveira Junqueira. professando em 1852. onde redigiu a breve Autobiografia. Sabemos que era mulato e tinha sangue de cigano. onde foi excelente aluno. e até ensinou. a que deu o nome de Inspirações do Claustro. providencia a impressão de uma coletânea de versos. por força dos votos perpétuos. Feitos os estudos primários e os de latim de maneira irregular. arrependido por certo. que lhe permitiria libertar-se da disciplina monástica. disse dele que manifestava a -"mais vasta capa cidade intelectual que já encontrei na América em um menino da sua idade". morrendo em 1864. desde então. Paulo). servindo no Rio Grande do Sul até 58 e novamente de 6O a 63.a edição do Compêndio de Gramática da Língua Portuguesa. a delicadeza de sentimentos e a jovialidade. onde terminou o curso em 1856. acabando por seguir medicina. abandonado a boêmia em que sempre vivera e cujo ambiente o estimulava literària mente. Neste ano foi nomeado professor de história. em cujo colégio esteve de 184O a 1844. Paulo. Eduardo de Sá Pereira de Castro reuniu-as a outras peças para formar as Poesias. que se reflete na sua obra e a torna um elo entre a poesia popularesca e a erudita. reeditado em 72 . Em vida publicou as Trovas. No Rio se criou a partir dos dois anos e fez os estudos secundários (salvo um ano em S. Em 1848 matriculou-se na Faculdade de S. Em ambas ficou famoso pela capacidade de improvisar e cantar ao violão. vindo porém defender tese na cidade natal. geografia e português no curso preparatório anexo à Escola Militar. Formado. Havia casado em 186O e. bacharelando-se no Colégio 374 Pedro II em fins de 1847.familiares. fundando. Depois da sua morte. filho do então estudante de direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e sua mulher Maria Luísa Silveira da Mota. . no Rio e na Bahia. ambos de famílias ilustres. Rio. e do mesmo ano seria a l. MANOEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO nasceu em S. 1853. ingressou em 1857 como oficial-médico no Curso de Saúde do Exército. a facilidade para as línguas. Fez estudos na Escola Militar e no Seminário. Bahia. Paulo no ano de 1831. O Professor Stoll. Desde então se destacava pelo amor ao estudo. 1867. onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente. Jacques Rolla. que já pensava em publicar. Durante as férias. Nas férias de 51-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar. a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. favorecia nele componentes de melancolia. como se vê pelo prefácio da Lira dos Vinte Anos. a terceira parte do romance O Livro de Fra Gondicárío. sobretudo a previsão da morte. discursos e 69 cartas. a dolorosa o peração a que se submeteu não fez efeito. O Poema do Frade e O Conde Lopo. Lucano. todavia. Em S. ao tempe ramento brincalhão. que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar. lia e escrevia muito. Macário. minaram-lhe a saúde. e em abril cie 52 morria. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855). "~Vale observar que foi excepcionalmente admirado durante a vida. Ao contrário. com eles. o esforço intelectual. Poesias Diversas. impregnado de afetação byroniana. nos quatro anos de atividade literária. poemas narrativos. do que se deu com outros poetas românticos.inclusive. o desconforto das "repúblicas". compreendem a Lira dos Vinte Anos. publicou alguns poemas. alguns artigos. agravada por um tumor da fossa iliaca. ligara-se de amizade íntima a Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa. no Rio. acumulando rapidamente considerável produção. Ao mesmo tempo. Paulo. As suas obras completas. George Sand. quiçá intemperanças de moço. em todo o caso. alguns dos quais publicados antes em sepa rado. "tentativa dramática". Era. a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos. discursos. o meio literário paulistano. como as conhecemos hoje. artigos. episódios romanescos. penetrando na glória imediatamente após a publicação póstuma doa versos. Em vida. A Noite na Taverna. com vinte anos e meio. os estudos críticos sobre Literatura e Civilização em Portugal. de pou ca vitalidade e compleição delicada. dando vaza. a sua voga parece ter caído bruscamente em n . Neste sentido. porém. quanto a ele. onde continua residindo a pretexto dos estudos comerciais. Passou a infância sobretudo na propriedade materna. cornpondo o drama Camões c o Jáo. uma edição em cada 6 anos e pouco. publicando um conto. isto é. Em 1859 aparecem As Primaveras Em 6O morre o pai. apesar das queixas românticas contra a imposição da carreira. Província do Rio de Janeiro. que" se manteve. no 375 #Teatro D. e a que se submeteu por vontade do pai. a julgar pelo movimento de reedições. sobretudo. CASIMIRO JOSÉ MARQUES DE ABREU nasceu em 1839 na freguezia da Barra de S. seu grande amigo para o resto da vida. Fernando. onde foi colega de Pedro Luís. Fazenda da Prata. e com o qual parece ter vivido bem. atividade que lh e desagradava. publicado a r epresentado em 1856. com °. <lual viaja para a Europa no ano seguinte. completados por quatro anos no Colégio Freese.a (19OO) vão 45 anos. nas quais era bem relacionado. de Nova Friburgo (1849-1852).a. onde fez os primeiros estudos. filho natural do abastado comerciante e fazendeiro português José Joaquim Marques Abreu e de Luísa Joaquina das Neves. na Freguezia de Corren tezas. só apareceu em 1942. Em 52 foi para o Rio estudar e praticar comércio. Entre a l.a edição das suas poesias (1853-55) e a 7. O pai nunca residiu com a mãe de modo permanente. A 8. acentuando assim o caráter ilegal de uma origem que parece ter causado bastante humilhação ao poeta. João. apenas para a Noite na Taverna. se consideradas do ângu . chegou a expansões bem amargas e sem dúvida injustas. Em 57 volta ao Rio. muito reproduzida em tiragens populares. que sempre o amparou e custeou de born grado as despesas da sua vida literária. alguns outros escritos e. Em Lisboa inicia a atividade literária. (como declara no testamento).osso século. mas onde freqüenta sobretudo as rodas literárias. a paixão absorvente que consagrou à poesia. 1881. em S. lá se formou em 51 e. publicou Sombras e Sonhos em 1858. onde morreu em 1861. como herdeiro eventual dos s eus negócios e haveres. 1914. foi vagamente advogado na terra natal. em 1833. recolhe à fazenda de Indaiaçu. faltando três meses para complet ar vinte e dois anos. reunidos em Poesias. Paulo. não obtendo melhora. Feitos os estudos secundários no Seminário de Congonhas do Campo. Depois de clinicar na sua cidade. JOSÉ ALEXANDRE TEIXEIRA DE MELO nasceu em Campos. Assaltado pela tuberculose. Faleceu no Rio em 19O7. a morte veio mostrar como o seu livro impressionara o meio. depois em Conceição do Serro.lo usual. ainda estudante. Província de Minas Gerais. Os seus versos foram reunidos sob o título de Poesias Póstumas em 1873. busca alívio no clima de Nova Friburgo. Transferido para Olinda. de que chegou a Diretor. foi. a partir de 1875. seis meses depois dele. onde morrera o pai. com um estudo de Sílvio Romero. Todavia. sucedendo-se as reedições. matriculou-se na Faculdade de S. doutorando-se na Faculdade de Medicina do Rio em 1859. a julgar pela quantidade de artigos que motivou. justifica os rompantes contra a visão limitada com que o velho Abreu procurava encaminhá-lo na vida prática. em outubro de 186O. de onde. depois de exercer um cargo público em Ouro Preto por pouco tempo.. e onde morre. e Miosotis. Levo u sempre vida irregular e desajustada de boêmio. sendo a sua obra mais apreciada as Efemérides Nacionais. João. AURELIANO JOSÉ LESSA nasceu em 1828 na cidade de Diamantina. sem maior aplicação à poesia que o capricho da inspiração fácil. talvez em 46 ou 47. 1877. Desde então. levando-o a relegar tudo mais para segundo plano. . Como poeta. permaneceu na estima do público. Já estimado literàriamente em vida. integrando a roda boêmia e literária de Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães. Escreveu sobre vários assuntos. Província do Rio de Janeiro. funcionário da Biblioteca Nacional. 3 vols. na sua província.FRANKLIN AMÉRICO DE MENEZES DÓRIA nasceu numa fazenda da Ilha dos Frades. presidente do Espírito Santo de 67 a 68. João Evangelista. nem aceitou qualquer emprego. Paulo com o fito de estudar direito. Nunca se valeu da carta. juntamente com Macedo Soares e Salvador de Mendonça. foi deputado geral de 64 a 7O. Poemas da Escravidão. em 1884. 1882. em 1836. a sua produção poética abrange a tradução da Evangelina. ocupando depois três presidências (Piauí. Era muito l igado à Família Imperial. Publicou. no ano seguinte estamp ou no Rio as Flores Silvestres e. 1859. que acompanhou no exílio. Apaixonado . TRAJANO GALVÃO DE CARVALHO nasceu em Barcelos. Faleceu no Rio em 1895. Bahia. Formou-se em direito pela Faculdade de S. no ano de 1836. Província do Maranhão. Rio. contendo versos seus e traduzidos de Longfellow. sendo nomeado depois da proclamação da República Diretor da Biblioteca Nacional. Recife. não chegando a fazer os exames nos três anos que aqui viveu. FRANCISCO LEITE DE BITTENCOURT SAMPAIO. filho do comerciante português de igual nome e sua mulher Maria de Santana Leite Sampaio. Paulo em 1859. Maranhão. Convertido ao espiritismo. em 183O. em 1888. onde viveu de 1858 a 18 45. perto da vila de Nossa Senhora de Nazaré. Foi deputado geral de 1878 a 1885. promotor. Conselheiro titular e. Paulo. foi. Formando-se em direito no Recife em 1856. pela qual militou na imprensa. sob o título de A Div ina Epopéia de S. Matriculou-se em 49 na Faculdade de Olinda. traduziu e comentou. 1859. filho de Francisco Joaquim de Carvalho e Lourença Virgínia Galvão. onde se formou em 1854. Província de Sergipe. neste sentido. S. Em 187O 376 aderiu à causa republicana. delegado e juiz. falecendo no Rio em 19O6. filho de José Inácio e Águeda Clementina de Menezes Dória. de que foi praticante fervoroso. nasceu em Laranjeiras. barão com grandeza de Loreto. Além de Enlevos. e poesias esparsas. de Longfellow (1874). e veio para S. três vezes ministro. Pernambuco). Fez os estudos preparatórios em Lisboa. o Quarto Evangelho. Poesias. e as poesias Flores e Frutos. Paulo. 1862.pela vida rural. um romance. acrescida de outros versos. 1898). 1866. junto a outras de Almeida Braga e Antônio Marques Rodrigues. Publicou: Clara Verbena e Sonidos. 1867 e colaborou no romance coletivo A casca da caneleira. Luis do Maranhão no ano de 1835. Formado em direito pelo Recife em 1857. Estudou preparatórios na sua terra e tentou a carreira militar. Colaborou no romance coletivo A casca da Caneleira. . 1861. Entr e o céu e a terra. Maranhão. 1863. fez-se fazendeiro. a sua parte foi reeditada. BRUNO HENRIQUE DE ALMEIDA SEABRA nasceu no Pará em 1837. Publ icou algumas poesias e facécias. uma comédia. magistrado. Eólias. Por direito de patchulí. em 1872. Publicou os seguintes livros de poesias: Harpas selvagens. 1857. morrendo na Bahia em 1876 como oficial da secretaria da Presidência. Faleceu na cidade natal em 1876. 1869. de Vigny. na sua província. reúne artigos de jornal. filho do capitão Antônio Joaquim Gomes Braga e sua mulher Maria Afra de Almeida. 1866. e assim morreu em 1864. foi depois funcionário da Alfândega no Rio e no Maranhão. estudou em Paris. reunidos. que lhe deram nome. nasceu no Maranhão em 1853. 1868. secretário da presidência no Paraná e em Alagoas. 1863. GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA nasceu em S. foi deputado geral e. JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE. 1868. nas Sert atanejas. e colaborou nas Três Liras com Trajano Galvão e Antônio Marques Rodrig-ues. viajou muito e acabou se aquietando como fazendeiro na província natal onde morreu em 19O2. com prefácio de Raimundo Corrêa (Rio. Mais tarde. Impressões. As suas poesias estão nas Três Liras. de putado e jornalista. O Guesa Errante. Parafraseou a Eloá. quiçá por dificuldades financeiras. a traduzir para os folhetins de jornal.° Oficial da Secretaria da Fazenda. JOSÉ MARTINI ANO DE ALENCAR nasceu em Mecejana. A produção jornalística. depois senador José Martiniano de Alencar. Província do Ceará. parecendo haver perdido dois.permanece dispersa. apesar das boas rodas literárias a que pertencia. e foi no Correio Mercantil que publicou.° volume). O seu nome apareceu apenas na 3. a sua glória póstuma tem se mantido firme. Insuficientemente apreciado em vida. em 1863. Além do romance. com o pseudônimo de Um Brasileiro. no ano de 1829. etc. reunidas em livro em 1854 (1. . representada sem êxito depois da sua morte. cujos inícios patrocinou. publicou a tese de doutoramento e um libreto de ópera. de fato. crônicas. ainda "eeundo-anista. embora já em 1863 Machado de Assis preconizasse a sua reunião em volume. perto de Fortaleza. com quem formara uma união ostensiva e socialme .° ano em 49 e o último (5. Em 1858 foi nomeado Administrador da então Tipografia Nacional.°) apenas em 55. e de sua prima Ana Josefina de Alencar. onde era tipógrafo Machado de Assis. onde viajava. Desde então viveu sobretudo no jornalismo. cursando o 1. No ano seguinte foi nomeado 2. tendo começado. de junho de 1852 a julho de 1853.° volume) e 1855 (2.CAPÍTULO V MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA nasceu no Rio de Janeiro em 1831. Dirigia-se a Campos para iniciar as consultas eleitorais quando morreu. ("imitação do italiano de Piave") com música da Condessa Roswadowska. já póstuma.a edição. no naufrágio da barca a vapor Hermes. muito 377 #dura e foi a necessidade que o trouxe às letras. Perdeu o pai com cerca de dez anos e pouco sabemos dos seus estudos elementares e preparatórios: estudou um pouco de desenho na Academia de Belas Artes e em 1848 foi aprovado nas matérias necessárias ao ingresso na Faculdade de Medicina. e em 1861 pensou candidatarse à Assembléia Provincial do Rio de Janeiro. visando melhoria financeira. as Memórias de um Sargento de Milícias. anonimamente e aos poucos. filho do Padre. filho dum modesto casal de portugueses: o Tenente Antônio de Almeida e sua mulher Josefina Maria. A sua vida era. críticas. começou a advogar no Rio e logo em seguida a escrever para O Jornal do Comércio os folhetins que reuniu sob o título de Ao Correr da Pena. salvo o ano d e 1847. funcionário. aos doze anos. Ministro da Justiça. Neste ano. devendo contentarse com o título do Co nselho. onde o pai desenvolveria a carreira política e onde fez os estudos elementares e alguns preparató rios. devorando os românticos franceses e alguns anglo-americanos. do mesmo modo. Apaixonado pela literatura desde a infância. arredio. tendo retornado à terra natal apenas uma vez. publicadas em 1856 com o pseudônimo de Ig. a utor dramático. Os Contrabandistas. tímido e aferrado aos livros. terminando os preparatórios e cursando direito. romancista. encetando pelo mesmo . Redator chefe do Diário do Rio de Janeiro em 1855. político. 1859. nesta cidade ficou até 185O. para fazer cigarros. Paulo. orgulhoso. 1858. Era estudante sem brilho. fundara em 1846 a revista Ensaios Literários. foi várias vezes deputado geral conservador pelo Ceará e. Ainda na primeira infância transferiu-se com a família para o Rio. No mesmo ano e lugar. havendo-se aliás desligado bem cedo de qualquer atividade sacerdotal. durante a sua ausência. levava em 1843 esboços de romance para S. que um companheiro de casa queimou mais tarde. Em S. A sua notoriedade começou com as Cartas sobre a Confederação dos Tamoios. em que fez o 3. Em 1857 mostra-se escritor maduro com O Guarani. no Diário do Rio de Janeiro e reunidas em opúsculo. publicou o primeiro romance conhecido: Cinc o Minutos. de 1868 a 187O. ladeado pelas comédias O Demônio Familiar e Verso e Reverso. e Mãe. escreve ainda os dramas As Azas de um Anjo.nte bem aceita.° ano na Faculdade de Olinda. Paulo. Formado. não conseguiu realizar a ambição de ser senador. Atraído pelo teatro. escreve o primeiro romance acabado. Estava iniciada uma vida operosa e variada de advogado jornalista. inspirado pela proximidade e as recordações da terra natal. Antes dos 17 estava de volta . 1873. e até um momento da adolescência não fixado pelos biógrafos. Iracema. e durante a qual aparecem vários escritos de doutrina ou crítica ao sistema: Ao Imperador . 1865. sempre magoado na vaidade. . Seguemse os romances A Viuvinha. viveu em Uberaba e Campo Belo. no ano de 1825.Cartas Políticas de Erasmo e Ao Imperador . Minas. Diva. sentindo-se pela primeira vez amparado editorialmente. 187O. encontrou guarida no lar para os choques que a vid a causava à sua sensibilidade mórbida.378 tempo As Minas de Prata e a epopéia Os Filhos de Tupã. embora já então considerado a primeira figura das nossas letras. 1868. Sênio. Ao Povo . 186O. tão intensa quanto retraída. 1864. inacabada. 1874. AL. Ubirajara. Em 1877 morre. Visão de J ó. O Juízo de Deus. A partir dos quatro anos. .. Lucíola. Erasmo. Casado em 1864 e muito feliz no matrimônio. dos quais se publicaram alguns volumes jurídicos. BERNARDO JOAQUIM DA SILVA GUIMARÃES nasceu em Ouro Preto.Ig. Alfarrábios. cansado. 1862.quando não ao anonimato. 1872. Sonhos d"Ouro e TU. 1867. o romance Encarnação. A Guerra dos Mascates. Senhora e O Sertanejo.. impregnando-se das paisagens que descreveria com predileção nos seus romances.Novas Cartas Política s de Erasmo.Cartas Políticas de Erasmo. a autobiografia intelectual Como e porque sou romancista. Em 187O contrata com a Livraria Garnier a publicação dos livros anteriores e dos que viesse a escrever. 1875. a agressividade e a timidez. enceta nova fase criadora. Deixou grande cópia de manuscritos. a que se devem: O Gaúcho e A Pata da Gazela. que o afasta por alguns anos da literatura. G. 1866. M. dividida entre a ambição de preeminência e a fuga dos obstáculos. que o levavam inclusive à predileção pelos pseudônimos. O Sistema Representativo. Interfere aí uma etapa de absorção pela política. As Minas de Prata. filho legítimo de João Joaquim da Silva Guimarães e Constança Beatriz de Oliveira. 1873-4. 1862 (edição da parte inicial) e 1864-65 (redação e publicação do resto). 1865. desiludido. . o coração bondoso e a completa generosidade. atual Lafayette. promoveu no segundo período de judicatura um júri sumário para libertar os presos. foi. depois de um qüinqüênio ruidoso de troças. 1875. Paulo. Maurício. reune-os com outros em 1865 nas Poesias. Estreiando com os Cantos da Solidão em 1852. O índio Afonso. na Faculdade de S.a Ouro Preto. onde terminou os preparatórios. de permeio. de 1858 a I86O ou 61. ineficácia e pouca assiduidade do poeta. Já então o distinguiam a indisciplina. jornalista no Rio. A Ilha Maldita e O Pão de Ouro. sofreu processo. Rosaura. como qualidade a sua melhor produção poética vai até o decênio de 6O. e. 1871. onde casou no a no seguinte e foi nomeado professor de retórica e poética no Liceu Mineiro. a partir do qual a sua melhor 379#produção é romanesca. Voltando a Ouro Preto. intervindo motivos de conflito com o superior. em ambos os casos. a Enjeitada. 1872. Embora tenha começado a escrever ficção nos fins do decênio de 5O. Juiz municipal de Catalão. pessimamente instalados. 1883. em 1847. Extinta a cadeira. 1873. Publicara duas coletâneas de versos. 1872. ali viveu até a morte. em 1884. Novas Poesias. Lendas e tradições da Província de Minas Gerais (incluindo A Filha do Fazendeiro) e O Seminarista. matriculando-se tardiamente. Magistrado descuidado e humano. 1877. Província de Goiás. patuscadas. seguido por Lendas e Romances. O Garimpeiro. A Escrava Isaura. fixou-se a partir de 66 na cidade natal. mas redigido em 58). Também esta cadeira foi extinta. orgia e irreverência. 1879. em 1852-1854 e 1861-1863. Depois de nova estadia no Rio. De 1866 é a publicação parcelada d"O Ermitão do Muquém (posto em livro em 69. sempre mau estudante. foi nomeado em 73 professor de latim e francês em Queluz. se bacharelou em 2. na qual. onde morou UHS poucos anos. as alternativas de born humo r e melancolia. e tenha feito poesias até os últimos anos. e Basílio de Magalhã es sugere que o motivo deve ter sido.a época no começo de 52. sem resultado. e Folhas do Outono. Criado na fazenda natal. contraíra um matrimônio que provou mal. 1883. agravou a sua penúria financeira e lhe deu o filho Emiliano. sucessivamente loquaz e taciturno. logo falecido. CAPÍTULO VI LUÍS NICOLAU FAGUNDES VARELA nasceu em 1841 numa fazenda do município de Rio Claro. dois opuscules. matricula-se apenas em 1862 no curso superior. e na vila de S. filho do Dr. Varela reside em Angra dos Reis e Petrópolis. seguindo a carreira do pai. propriedade do avô materno. alternadamente juiz. Deve-se registrar além disso uma saborosa produção de poesia obscena. com o fim de matricular-se na Faculdade de Direito. João Marcos. Pòstumamente apareceram o romance O Bandido do Rio das Mortes. advogado. Paulo era um moço de saúde delicada. sendo algumas recol hidas em folheto. sonhador e já atraído pela solidão. para onde o magistrado fora transferido em 1851 e onde permaneceu até 1852. 19O4. deputado provincial. É provável a influência da paisagem campestre. para sua dor terrível. De volta à terra natal.1876. ambos de famílias fluminenses bem situadas. em 1859 vai terminar os preparatórios em S. De permeio. Bernardo Guimarães. Emiliano Fagundes Varela e sua mulher Emilia de Andrade. de que o pai era juiz. Paulo. das mudanças de casa e de professores na formação do seu espírito e sensibilidade. Goiás. que nunca terminou. Província do Rio de Janeiro. tendo porventura encontrado o juiz municipal nomeado nes ta data. de que fora lente o seu avô e homônimo. Mau estudante. a partir daí ace . Em 1861 publica as Noturnas e em 1863 O Estandarte Auri Verde. Ao chegar a S. preferindo a literatura e dissipando-se na boê mia. 1914. e o drama A Voz do Pagé. cuja maioria se terá perdido. Os estudos foram feitos por todos esses lugares. acompanha a família a Catalão. 1875. com largas estadias nas fazendas dos parentes e certa freqüência nas rodas da boêmia intelectual do Rio. além de ter escrito. em Rio Claro. lá continuando a mesma vida desbragada. na 4. estudou no famoso Colégio de Abílio César Borges. futuro barão de Macaúbas. reunido os Cantos Religiosos com o fim de auxiliar a viúva e filhos do poeta. Np intervalo. cursando o 1. vive nesta cidade. onde Castro Alves era primeiro-a nista. e ele volta. que não o acompanhara ao Norte. provàvelmnete. amigo fiel.a série. poetando e vagando pelos campos. ano em que vai cursar o 3. ao mudar pouco depois com a família para a capital. na mesma turma que . que não termina. mas também a eminência criadora. depois de duas vezes reprovado. Publica Vozes da América em 1864 e a sua obraprima. Deixou inédi to o Anchieta. Antônio José Alves. e sua mulher Clélia Brasília da Silva Castro. Morre-lhe neste ano a mulher.° ano na Faculdade do Recife. Paulo. matriculando-se no seguinte em S. falecida quando o poeta ia pelo s doze anos. onde foi colega de Rui Barbosa e demonstrou vocação apaixon ada e precoce para a poesia. Cantos e Fantasias. O Diário de Lázaro e outras poesias. Viveu na fazenda natal das Cabaceiras até 1852 e. ou melhor. matriculou-se na Faculdade de Direito em 1864. casara novamente e publicara (1869) Cantos do Ermo e da Cidade e Cantos e Fantasias. Passou em 62 ao Recife para ultimar os preparatórios e. abandonando de vez o curso e recolhendo-se à casa paterna . à fazenda em que nascera. 38O ANTÔNIO DE CASTRO ALVES nasceu em 1847 na zona rural de Curralinho. Em 187O muda-se com o pai para Niterói e. Bahia. filho do médico Dr. tendo Otaviano Hudson.° ano em 65. além de gosto e facilidade para o desenho.ntuam-se a tendência ambulatória e o alcoolismo. em 1865. daí até à morte. onde permanece até 187O. mais tarde professor na Faculdade de Medicina do Salvador. todo ou quase todo Anchieta ou O Evangelho na Selva. tomou consciência do seu papel de poeta social.° ano. havia completado A Cascata de Paulo Afonso. anim ado por um derradeiro amor. continua escrevendo e produz mesmo alguns dos seus mais belos versos. mas o seu espírito se abate pela ruptura com Eugênia Câmara. numa das fazendas em que repousava. Em 66.° ano da Faculdade de S. que o abandona por outro homem. aos vinte e quatro anos. recebido muito favoravelmente pelos leitores. sob ameaça de gangrena. único livro que chegou a publicar. que. este platônico. é afinal amputado no Rio. No fim do ano o drama é representado com êxito enorme. publicada em 76 como A Cachoeira de Paulo Afonso. o benemérito Afrânio Peixoto juntou-a aos outros versos do ciclo para compor o que resta do poema. Em 187O. Voltando à Bahia no fim deste ano. parte do empreendimento. como se vê pelo esclarecimento do poeta: Continuação do "Poema dos Escravos" sob o título de Manuscritos de Stênio. passa grande parte do seguinte em fazendas de parentes. Foi nesse momento que entrou numa fase de grande inspiração. apesar do declínio físico. quando perdeu o pai e cursou o 2. decisiva para a sua poesia e a sua vida. sem ter podido acabar a maior empresa que se propusera. veio para o Sul em companhia da amante.Tobias Barreto. matriculando -se no 3. assim como reuniu também as poesias líricas esparsas sob o título que o poeta lhes destinava: Hi . Daí por diante. Logo integrado na vida literária acadêmica e bem cedo admirado graças aos seus versos. na verdade uma série de poesias em torno do tema da e scravidão. pela cantora Agnese Murri. cuidou mais deles e dos amores que dos estudos. Em julho de 1871 morreu. na mesma turma que Rui Barbosa. em meados de 69. Em novembro saíram as Espumas Flutuantes. escreveu o drama Gonzaga e. Em nossos dias. A descarga acidental de uma espingarda lhe fere o pé esquerdo. em 68. Paulo. à busca de melhoras para a saúde comprometida pela tu berculose. o poema Os Escravos. iniciou a apaixonada ligação amorosa com a atriz Eu gênia Câmara. sucedendo-se as edições dos seus versos. obtendo em 1857 a cadeira de latim de Itabaiana. Nada mais produziu. Morreu em Bananal. filho do famoso repentista Francisco Muniz Barreto e sua mulher Mai-iana de Barros. todavia. 186O. ganhando fama como orador. morrendo em 1924 no Rio. formando-se na volta. publicadas separadamente em vida. a popularidade de Castro Alves não decresceu." Vôos icários. TOBIAS BARRETO DE MENEZES nasceu em Campos. filho do modesto casal Pedro Barreto de Menezes e sua mulher Emerenciana de Menezes. o . foram reunidas depois da sua morte (1897).nos do Equador. foi deputado. onde fora professora pública. em 1839. em 1839. As suas poesias de cunho épico. Paulo. alistou-se como voluntário em 1866 e serviu até o fim da guerra no corpo de saúde. 1877. Tributos e crenças. um romance c os seguintes livros de versos: Cantos d"Aurora. Província de Sergipe. Província do Rio de Janeiro. falecendo em 1897. Principiada em vida. 381 #Foi funcionário de secretaria c professor de filosofia do Colégio Pedro II. S. de apreciável. A publicação das Nebulosas (1872) deu-lhe notoriedade e criou certa expe ctativa nos meios literários. com introdução de Francisco Oetaviano. 1891. filha de Joaquim Jácome de Oliveira Campos Filho e sua mulher Narcisa Inácia de Campos. NARCISA AMÁLIA DE CAMPOS nasceu em S. no ano de 1884. ministro e r ecebeu o título do Conselho. Província do Rio de Janeiro. PEDRO LUÍS PEREIRA DE SOUSA nasceu em Araruama. Paulo. João da Barra. filho de Luís Pereira de Sousa e sua mulher Maria Carlota de Viterbo. Formado em 186O pela Faculdade de S. em 1852. Quando estudante de medicina no Rio. ROZENDO MUNIZ BARRETO nasceu na Bahia em 1845. inclusive um estudo sobre o pai. É autor de várias obras. presidente de província. Fez preparatórios em Estância e Lagarto. onde se formou em 69. Paulo e terminou o curso no Recife em 1869. Contos sem pretensão. JOÃO JÚLIO DOS SANTOS nasceu em 1844 em Dimantina. onde ensinou até à morte. Fez apenas estudos primários e em 1856 fo . LUÍS CAETANO PEREIRA GUIMARÃES JÚNIOR nasceu no Rio em 1847. Tristão dos Santos e Ana Constança do Espírito Santo. Londres e Roma. em 89. Província de Minas. portuguesa. Paulo de 64 a 66. Monsenhor Felisberto Edmundo Silva. Filigranas. Foi brevemente jornalista e em 1872 entrou para o serv iço diplomático. ano em que publicou o livro de versos Carimbos. JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS nasceu em 1839 no Rio de Janeiro (onde morreu em 19O8). De 71 a 81 advogou em Escada e em 82 se tornou lente da Faculdade do Recife. por seu sobrinho. não passando dos primeiros anos de Direito. onde morreu em 1872. Matriculou-se na Faculdade de Direito de S. ensinando depois até 71 num colégio por ele funda do. Estudou em S. Bastante prezado como poeta nas cidades em que viveu.nde ficou até 6O. Em 61 foi para a Bahia completar os preparatórios. tendo sido adido em Santiago do Chile. Publicou em 188O Sonetos e Rimas. filho dum humilde casal de gente de cor. reunida em 1921 sob o título de Auroras de Diamantina. o pintor de casas. Os seus versos foram reunidos pòstumamente por Sílvio Romero sob o título de Dias e Noites. Há dele alguns volumes em prosa: Histórias para gente alegre. com a intenção logo abandonada de seguir a carreira eclesiástica. Em 64 matriculou-se na Faculdade do Recife. filho de um humilde mulato. graças ao auxílio de amigos. deixou produ ção esparsa e inédita. secretário e encarregado de negócios em Lisboa. e faleceu em 1898. Francisco José de Assis. já dentro da orientação parnasiana. ministro em Caracas e Lisboa. Em seguida foi por algum tempo jornalista no Rio e acabou de volta à terra natal. A maioria absoluta dos seus versos pertencem a este período recifense. onde serviu sob as ordens de Gonçalves de Magalhães. Curvas e zigue-zagues. e sua mulher Maria Leopoldina Machado. onde morreu em 1898. etc. No Rio viveu a maior parte da vida. 19O2. já pertencem à orientação parnasiana). A partir dai entra na grande fase das obras primas. Minas. cursando direito na Faculdade -desta cidade. Já então colaborava em jornais e formara relações literárias. Helena. também do Correio Mercantil. em 59. publicou Cantou do Fim do Século. De 64 é o primeiro livro de versos. 1873. A mão c a luva-. em 1854. 1878. não tardando em se tornar jornalista. 382 1874. (As Ocidentais. Falenas. e Hi stórias da Meia \~oitf. falecendo em 1914. SÍLVIO VASCONCELOS DA SILVEIRA RAMOS ROMERO nasceu "-m Lagarto. em 1851. Província de Sergipe. Como jornalista. que se costuma considerar como pertencentes ao seu período romântico. deputado federal por Sergipe. mudando-se em 1876 para o Sul. 1872. Província do Rio de Janeiro. e Últimos Harpejos. A sua importância capital na liter atura brasileira como crítico foge ao âmbito deste trabalho. que escapam ao intuito do presente livro. tendo sido professor de filosofia do Colégio Pedro II e da Faculdade de Direito. abandonando a seguir as tentativas poéticas. Paralelamente. filho do comerciante português Comendador André Ramos Romero e sua mulher Maria Vasconcelos <!a Silveira. advogado e. militando no jornalismo desde aluno. no Rio e em S. 1876 e laia Garcia. de 7O. 1883. Fez os estudos secundários em S. 187O. que lhe deu nome. Americanas. o segundo. e de 75 o terceiro.i admitido como tipógrafo aprendiz na Imprensa Nacional. Estudou direito em Recife. filho do casal Salvador e Amália Furtado de Mendonça. Em 58 se tornou revisor da tipografia de Paula Brito e. apareciam as coleções Contos Fluminenses. onde se formou em 1873. 1878. ocasionalmente funcionário. Paulo. Crisálidas. em poesia. LÚCIO EUGÊNIO DE MENEZES E VASCONCELOS DRUMMOND FURTADO DE MENDONÇA nasceu numa fazenda do município de Piraí. bastando assinalar que. sempre lig . crítico militante. onde se formou em 1877. os romances Ressurreição. viveu por várias cidades do Rio e de Minas. Gonçalo do Sapu caí. Canções do Outono. 1881. tendo sido funcionário. Estilhaços (ed. Foi um dos principais fundadores da Academia Brasileira de Letras. em 186O. Trovas Modernas. em cuja Faculdade de Direito matriculou-se em 1859. CAPÍTULO VII JOÃO FRANKLIN DA SILVEIRA TÁVORA nasceu em Baturité. onde advogou. d. 1884. entrou para o alto funcionalismo. Tela polícroma. 1872. 1883. Província de Pernambuco. 1886. Visões do Abismo. (que engloba folhetos anteriores). Mais tarde fixou-se no Rio. nascido na Bahia em 1851. filho legítimo de Camilo Henrique da Silveira Távora e Maria de Santana da Silveira. Retalhos. 1889. Formou-se em 1883 na Faculdade jurídica local. MATIAS JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO. é autor dos seguintes livros de versos: Linha Reta. 1883. s. Rio. até 1888. 1896. definitiva 1885) . em 1842. formando-se "m 1863. deputado provincial . 1884. com prefácio do seu amigo Machado de Assis. JOSÉ ISIDORO MARTINS JÚNIOR nasceu no Recife. Vergastas. com prefácio de Araripc Júnior. Lá viveu até 1874. Riel. com a República. Foi uma vigorosa personal idade de orador " jornalista. Ritmos. estudando preparatórios em Goian a e Recife. 1892. cargo em que se aposentou por saúde no ano de 19O7. Em 19O2 reuniu todos eles em Murmúrios e Clamores. publicou: Visões de Hoje. Como jurista deixou outras obras. Em prol da sua concepção escreveu A Poesia Científica. É a seguinte a sua obra poética: Jvévoas Matutinas. falec endo em fins de 19O9. 1888?..ado ativamente à propaganda republicana. Em 1844 transferiu-se com os pais para Pernambuco. 1875. Alvoradas. com c apa de Raul Pompéia. Como poeta. empenhado a fundo na propaganda republicana. quando se fixou na capital do Império. sendo nomeado em 1895 Ministro do Supremo Tribunal. <3e que veio a ser professor em 1889. falecendo em 19O4. Província do Ceará. na primeira versão. Em 1888 faleceu no Rio. Lourenço. redigindo A Consciência Livre. Essa fase da sua carreira literária termina simbolicamente com as Cartas a Cincinato. 1872-73. onde já são patentes as c oncepções naturalistas. Ao mesmo tempo enceta uma f ase de reconstituição do passado pernambucano. 1881 e os estudos: "Os Patriotas de 1817" e "As obras de Frei Caneca". apresentados como partes de livro que não se conservou. 1866. e é das publicações mais importantes da nossa literatura. fundando e dirigindo com Nicolau Midosi a excelente Revista Brasileira. e. A casa de palha. de Sílvio Romero. e que no seu tempo experimentou um apogeu co . apareceu também Lourenço) publicou ainda o romance O Sacrifício. viveu como funcionário da Secretaria do Império e teve influência na vida literária. que inauguram nova orientação est ética no Brasil. e A Verdade. O Matuto. de Machado de Assis. 1879. bastando dizer que nela apareceram as Memórias Póstumas de Braz Cubas. 1878. Além disso foi jornalista ativo. manifestando concepção mais realista dentro do Romantismo. sobretudo com Frei Caneca. ambos em RB. tem grande importância como intérprete literário de um regionalismo que se vinha exprimindo ideologicamente desde o início do século. notese. 1869-187O. no que se pode 383 #chamar a sua fase recifense. com um breve intervalo em 1873 no Pará. A ela pertencem os romances: O Cabeleira. de que saíram dez volumes de 1879 a 1881. Mudando-se para o Rio em 1874. 1862 e Três Lágrimas. como secretário "e governo. tanto na ficção quanto na investigação histórica. 1876. os dramas Um mistério de família. 187O. 1869. Iniciou a vida literária ainda estudante. Um casamento no arrabalde. com forte impregnação regionalista teórica e prática. Homem reto e combativo. 1861.* advogado. e a parte inicial da História da Literatura Brasileira. a ter sido escrito. ao compendiarem de certo modo a experiência de Um casamento no arrabalde. os romances Os índios do Jaguaribe. Na sua revista (onde. publicou os contos d"A Trindade Maldita. 1862. 187O. que não terminou. reeleito em 75. por receber ordem de mobilização. em 1865. encetou em 188O uma fase de intensa atividade em prol de medidas como o casamento 384 civil. pondo em prática a sua política imigratória.° tenente. a começar do primeiro livro. presidiu o Paraná de 85 a 86. praticando ambos com certa graça. Em 1869 volta à guerra como 1. um dos chefes da Missão Artística francesa de 1816. a naturalização automática dos estrangeiros. Terminada a guerra. é promovido a capitão e termina o curso de engenharia. ALFREDO D"ESCRAGNOLLE TAUNAY nasceu no Rio de Janeiro em 1843.° tenente de artilharia em 1864. Alferesaluno em 1862. passando a professor de geologia e mineralogia da E scola Militar. já tomado por outras atividades. Deputado outra vez em 86. desenvolveu bem cedo a paixão literária e o gosto pela música e o desenho. constituindo movimento ainda vivo em nossa literatura. promovido a major em 1875. 1868. Criado em ambiente culto. bacharel em matemáticas em 1863. inscrevendo-se no 2. a imigração. filho de Félix Emílio Taunay.rn a chamada Escola do Recife. impregnado de arte e literatura. a libertação gradual dos escravos. Deputado geral conservador em 1872. e sua mulher Gabriela de Robert d"Escragnolle. é promovido a 2. Depois d e uma viagem de estudos à Europa.° ano de engenharia militar. Incorporado à Expedição de Mato Grosso co mo ajudante da Comissão de Engenheiros. ingressou em 1859 no Curso de Ciências Físicas e Matemáticas da Escola Militar. no início da guerra do Paraguai. sendo neto do famoso pintor Nicolau Antônio Taunay. Bacharel em letras pelo Colégio Pedro II em 1858. Nunca mais voltaria ao serviço ativo e. com os outros oficiais alunos. sendo encarregado de redigir o Diário do Exército. é ainda este ano el . no Estado Maior do Conde d"Eu. Cenas de Viagem. cujo conteúdo foi em 187O reproduzido no livro do mesmo nome. traria da campanha profunda experiência do pais e inspiração para a maior parte dos seus escritos. foi de 76 a 77 Presidente de Santa Catarina. Deputado novamente de 81 a 84. demite-se neste posto em 1885. patriota e homem público esclarecido. Dutra e Melo. destaquem-se: Casamento Civil. 1882. e estava no início duma alta preeminência nos negócios públicos quando a proclamação da República lhe cortou a carreira. 1886. O Encilhamento. deixando preparado um outro. recordações. Taunay foi um infatigável trabalhador. havia.. A conquista do filho foi publicad o pòstumamente em 1931. que reúne muitos escritos anteriormente publicados pelos herdeiros sob várias designações. CAPÍTULO VIII (As biografias de Ferdinand Denis. as descrições. A Retirada. No gênero teatral: Da mão à boca se perde a sopa. até à morte. sobre o desastroso e heróico episódio de que foi parte. 1886. 1889. também. 19O7. dada a intransigente fidelidade com que permaneceu monarquista. perto da cidade do Rio de Janeiro. 1873. 1948. se encontram em capítulos anteriores) JOÃO MANOEL PEREIRA DA SILVA nasceu em Iguassú. Ouro sobre azul e Histórias Brasileiras. Lágrimas do Coração. e. idem. 1899. 1874. que se publicou em 1921 sob o título Filologia e Cr itica. da Laguna. A Nacionalização ou Grande Naturalização e Naturalização Tácita. em 1817. Reminiscências. Por um triz coronel. 1881 e 1883. Tôrres-Homem. Em . 2 vols. apaixonado homem de letras.eito senador por Santa Catarina. publicação póstuma. grande dignidade de vida e inteligência. em francês. depoimentos. em 1899. filho do negociante português Miguel Joaquim Pereira da Silva e sua mulher Joaquina Rosa de Jesus. Em 1871 publicara o primeiro romance. 188O. 1872. No Declínio. No terreno da ficção. Questões de Imigração. Dos escritos políticos. Mocidade de Trajano. Os artigos de crítica foram coligidos por ele nos livros Estudos Críticos. Se havia nele vaidade pueril e mesmo certa presunção. publicou ainda: Inocência. Franklin Távora. Memórias. Amélia Smith. mais tarde crismado Manuscrito de uma mulher. destacando-se: Céus e Terras do Brasil. José de Alencar. 1894. evocações. São numerosas as narrativas de guerra e viagem. Magalhães. Álvares de Azevedo. 1874. Lá participou das atividades do grupo da Niterói.. a sua o bra principal é a História da Fundação do Império do Brasil. Os contemporâneos assinalaram logo a deficiência de infor mação e a fragilidade dos juízos. Varnhagen e outros (que. O aniversário de D. ainda: Obras literárias e políticas. seguida do Segundo Período do Reinado de D. Como historiador. o primeiro em que um brasileiro expunha certas diretrizes da crítica romântica. 1862. quase sem interrupção. 1871. Quase todas ás biografias são de intelectuais. quando entrou para o Senado. Manoel de Morais. Amor e Pátria. 385 #Em história e crítica literária publicou notadamente: Parnaso Brasileiro 2 vols. o trabalho de biógrafos como Januário da Cunha Barbosa. a princípio provincial. 1858 e 1871 Varões ilustres do Brasil du rante os tempos coloniais. Nacionalidade da língua e literatura de Portugal e do . boa antologia com um longo ensaio sobre a nossa literatura. 1864-68. De volta à pátria. 1879.. 184O. muitos dos quais assinalados em IFS.. Jerônimo Corte Real. Religião.a e 3. foi advogado e político. formando-se no ano de 1838. 1839. Miguel em 1828. que aponta igualmente o fato de Pereira da Silva retomar em grande parte. Plutarco Brasileiro. 1843-48.. 187.em 2. Mencionem-se. . 1866 e o romance sentimental Aspásia. Era titular do Conselho e morreu em 1897. chegando a fazer parte da Academia Bras ileira. 2 vols. Como ficcionista.1834 foi estudar Direito em Paris. escreveu os romances. abundando os erros e leviandades. de 184O a 1888. 1839. deputado conservador.. sem contribuição pessoal positiv a a mais. escrevendo para o segundo número um artigo importante. 2 vols. Pedro I no Brasil. ou novelas históricas. 7 vols. 1847. geral. pode-se acrescentar. em geral não cita). e da História do Brasil de 1831 a 184O. depois.a edição. Deixou grande número de outros escritos políticos. A sua vida intelectual gravita ao redor da Minerva Brasiliense. Província de Minas. onde fez carreira longa e pacata. Cresceu e se formou na cidade de Paraíba do Sul. depois redator. ingressando aos vinte e um anos na burocracia. não registram os poucos e mal informados bió<rafos Órfão. publicada sob a sua direção. etc. coletâneas. Província do Rio. esboçou uma história da literatura brasileira. peças de teatro. editou vários poetas com abundância de notas e elementos biográficos. As poucas poesias que ali publicou são. inclusive no Colégio Pedro II. born estilo e grande equilíbrio crítico. presumivelmente. e onde se contém a maioria do que escreveu. De saúde frágil. apaixonado pela literatura. e foi depois para a Corte. que nunca vi e da qual não tenho especificações suficientes. ganhando a vida como empregado do comércio. Por mais duma indicação. Fez os estudos de maneira pouco sistemática. Manuel José de Sousa e Silva. de que foi colaborador desde o início. de que foi um dos líderes. JOAQUIM NORBERTO DE SOUSA SILVA nasceu no Rio de Janeiro em 182O. teria sido trazido para o Brasil por um tio sacerdote. escreveu vários romances. participou fielmente das atividades do Instituto Histórico. no ano de 1847. redigiu ou colaborou em revistas e jornais. 1891. foragido de questões políticas e falecido pouco depois. insistiu em ser poeta por mais de vinte anos. criando um certo tipo de edição erudita no Brasil. onde se impôs desde logo. 1884. Felinto Elísio e a. e filho de quem. e de Emerenciana Joaquina da Natividade Dutra. podendo inclusive ser a terceira série d a anterior. morreu em Rio Preto. péssimas. Homem esforçado e consciencioso. vejo que dirigiu a revista Nova Minerva. quando.ensaios e notas que revelam acentuado nacionalismo literário. fez investigações históricas pacientes. . ao contrário.Brasil. enquanto praticava com o caixeiro. escrevendo e ensinando. novelas. _ SANTIAGO NUNES RIBEIRO nasceu no Chile. sua época. . do qual foi professor de Retóric a. filho legítimo dum comerciante abastado. nos estudos biográficos. Os estudos crítico-biográficos d e Norberto inauguram uma nova era em tais estudos. História da Conjuração Mineira. . (?). Silva Alvarenga. 1856. que não abandonou jamais. 1851. 1854. Da sua vultuosa bibliografia mencionem-se os seguintes livros de versos: Modulações Poéticas.Desde os primeiros trabalhos norteou-se pelas convicções nacionalistas. 1871. porém. críticos. 1844. Laurindo Rabelo. um escritor de sete instrumentos. Januário Garcia e O testamento falso. A produção crítica consiste nas referidas introduções. BF. procurou ligar a explicação da obra ao dado informativo do tempo e da biografia. Morreu em Niterói em 1891. sim. G. posteriormente aproveitado por José Veríssimo e João Ribeiro. aliás. Casemiro de Abreu. de colaboração com Emílio Adet. 1873. das mais importantes do Romantismo. nas dezenas de artigos em MB. e constituem o princípio estrutural da sua contribuição crítica. dos que ao seu tempo estudavam no Brasil as obras literárias. RIHGB. Contos poéticos. 1852. superando os anteriores pelo esforço documentário e a coordenação. mas. Maria ou Vinte anos depois. sobra m-lhe minudência e born senso. O Chapim do Rói. as antologias: Mosaico Poético. trazendo uma importante "Introdução sobre a literatura nacional". pois se lhe faltam penetração e originalidade. 1861. reunidos todos nos Romances e Novelas. A Cantora Brasileira. Alvar enga Peixoto. que. RP. Romances e contos: As duas órfãs. graças aos quais reuniu uma documentação importante. 1841. Note-se. História e biografia: Memória histórica c documentada das aldeias dos índios da Província do Rio de Janeiro. e nas notas das edições de Gonzaga. 1862. 1849. 1841. como era o ideal brasileiro da época. O livro de meus amores. à maneira. 3 vols. Alvares de Azevedo. 1846. salvou peças esquecidas. não se considerava tal. Brasileiras célebres. 1844. Teatro: Clitenestra. Flores entre espinhos. apesar de ter sobrevivido como crítico. além do material reunido para as de Basílio da Gama e Cláudio Manoel. 388 Cantos épicos. 1864. onde vem o famoso "Bosquejo da história da poesia brasileira". Amador Bueno. 3. como a Guanabara. ou foi feita com finalidade didática. a lém de um livro de poesias e outro de ficção. 1864. (185556) e a Revista Popular. se encontram os trabalhos sobre Antônio José. João do Ipanema.. e lá morreu em 1875. Monte Alverne. 1873. 2 vols. Devemselhe ainda biografias e estudos sobre Eloi Ottoni. Nos Estudos Históricos. Frederico Luís Guilherme de Varnhagen.JOAQUIM CAETANO FERNANDES PINHEIRO nasceu no Rio de Janeiro em 1825. sendo sua mãe Mari a Flávia de Sá Magalhães. Cursou a mesma especialidade em Portugal e veio em 184O para o Brasil. Como crítico propriamente dito. etc. São Carlos. No primeiro. sendo admitido no Corpo de Engenheiros do exército. antologia anotada. Adido de legação em Lisboa em 1842. exerceu atividade nas revistas do tempo.a ed. de que parece ter sido orientador principal. Postilas de Retórica e Poética. filho legítimo de outro do mesmo nome. Neste ano veio para o Paraguai como ministro residente. no lugar de S. Resumo de história literária. Viveu principalmente do ensino. 1876. 2 vols. onde foi encarregado de negócios e ficou até 1859. estão o Curso elementar de literatura nacional. como professor no Seminário Episcopal e no Colégio Pedro II. para Equador-Peru-Chile. reçumando pedantismo em ambos os casos. Gonçalves Dias. que dirigiu na segunda fase. passou em 1847 como secretário a Madrid. a fim de obter reconhecimento da sua nacionalidade. em 64. Meandro Poético. posto em que foi transferido no ano de 61 para Venezuela-Colômbia-Equador e. da família do Visconde de São Leopoldo. 1877. Em . as Academias dos Esquecidos e dos Renascidos FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN nasceu em 1816 na Capitania de S. onde dirigia a fundição de ferro seu pai.. ou sempre guardou certo dogmatismo pedagógico. recebeu mais tarde o doutorado em Teologia em Roma (18 54). Paulo. e a sua obra de crítica.. Ordenando-se padre em 1848. engenheiro militar alemão a serviço de Portugal. 1862. bio grafias de Eusébio de Matos. Indiquem-se: Épicos Brasileiros. da Veiga sobre a autoria das Cartas Chilenas. Botelho de Oliveira. 1871. O Descobrimento do Brasil. 1847. Itaparica. além da obra referida. deixando inédita a História da Independência. as antologias anotadas. 184O. Amante sincero da literatura.1868 foi promovido a ministro plenipotenciário na Áustria. Como historiador publicou. com o "Ensaio sobre as letras no Brasil". L. 1846. publicadas na maior parte na RIHGB. Florilégio da Poesia Brasileira. com grandeza. drama. O Caramuru perante a história. crônica romanceada. Fora criado em 1872 barão e. 1867. em 1874. como o "romance histórico" Caramuru (versos). o esforço de síntese da nossa literatura na introdução do FPB e as partes a ela consagradas na sua História Geral do Br asil. lá morrendo em 1878. nasceu no ano de 18OO em São Luiz do Maranhão. Amador Bueno. Caldas Barbosa. 387 #as biografias de homens de letras. 185O-53. À literatura interessa a sua atividade de investigador erudito no terreno dos cancioneiros e romances medievais e dos cronistas do Brasil. Brito e Lima.. apesar do mau gosto. a História das lutas com os holandeses no Brasil. FRANCISCO SOTERO DOS REIS. lá morrendo em 1871. tendo participado da política militante como deputado provincial em várias legislaturas. S vols. Instruiu-se como pôde na terra natal. F. as pesquisas sobre o tema de Durão. e meio cento de monogra fias eruditas e edições críticas. 1843 e 1845. empreendeu certas tentativas de criação. visconde de PôrtoSeguro. onde passou toda a laboriosa vida de professor e jor nalista. grande sabedor da língua. complacentemente incluído no Florilégio. Antônio José. Gonzaga. filho legítimo de Baltazar José dos Reis e Maria Tereza Cordeiro. Durão. A sua obra decorre quase . Carta ao sr. 1854. político militante. Publicou: Postilas de Gramática Geral. No setor que aqui interessa. 3 vols. Gramática Portuguesa. 1856-59. 4 vols.. tendo vivido como advogado e funcionário.. Curso de Literatura Brasileira e Portuguesa. a Biografia de José da Natividade Saldanha (póstuma). A sua obra capital é todavia o Panteon Maranhense. onde dirigiu o Internato do Colégio Pedro II. Apesar da formação gramatical. 1847). Província do Maranhão. como as críticas à língua de José de Alencar. da inclinação conservadora do espírito. . filho legítimo de Alexandre Hanriques Leal e Ana Rosa de Carvalho Reis. De volta à pátria. ANTÔNIO JOAQUIM DE MELLO nasceu em Recife no ano de 1794 e ali morreu em 1873. morando depois muitos anos em Lisboa. procurou realizar no Brasil uma crítica mais sistemática. 1873-75. obra famosa e muito difundida. Escreveu trabalhos de medicina pública. escreveu as Biografias de alguns poetas e homens ilustres de Pernambuco.. 1873. no Liceu Maranhense e no Instituto de Humanidades. Poeta arcádic o (Versos. na sua terra. além de colaborar no romance coletivo A casca da caneleira. do gosto convencional. morrendo em 1885. além de publicar as obras de Frei Caneca e do Padre Francisco Ferreira Barreto. históricos. a que o seu curso de literatura parece ter dado foros de pequena Faculdade de Letras. 1866. ANTÔNIO HENRIQUES LEAL nasceu em Itapicuru-mirim. avultando a vida 388 . foi. pela combinação do método ilustrativo de Blair com a visão histórica de Villemain.alguns destes. cultivou o indianismo patriótico. 1874. reunidos no volume Locubrações. 5 vols. por motivo de saúde.toda do seu ensino. Envolveu-se nos movimentos revolucionários da sua Província e nas lutas políticas do Primeiro Reinado e da Regência. 1862. literários. 1866. Formado em medicina pela Faculdade do Rio em 1853. no ano de 1828. onde alinhou os coprovincianos ilustres do seu tempo numa excelente galeria biográfica. fixou-se no Rio. políticos. lugar. manifestando um talento apreciável no gênero. I. ver na bibliografia do parágrafo l do capítulo I os dados completos. seja textos dos autores. Província do Rio de Janeiro. por exemplo: José Veríssimo. mesmo consultados. ordenadas por capitulos e suas divisões. RAP <? jornais. por vezes muito longos. reduzi tudo à ortografia corrente. As obras são aqui referidas com todos os dados. § 1).àe Gonçalves Dias (todo um volume) de quem foi amigo íntimo e cujas obras póstumas editou. Estudos de Literatura Brasileira. excluindo-se deliberadamente os que. Harmonias brasileiras. onde apareciam apenas título e número de página. Para simplificar. Permanecem esparsos os seus estudos críticos em RP. Publicou um livro de versos. cit. as obras utilizadas. 1869. Dedicou-se todavia. Não se trata de uma Bibliografia completa. Lamartínianas. etc. seja estudos e informações sobre eles. salvo nalguns casos.editor. Paulo em 1859. Quando um trabalho for citado mais de uma vez. em 1938. desenvolveu intensa atividade crítica. a especificação cornpleta aparecerá na primeira. (cap. . mais tarde. sobretudo nas obras antigas. o leitor será remetido a ela por uma indicação entre parêntesis. . do Rio e de S. fazendo carreira na magistratura e chegando a Ministro do Supremo Tribunal. dar todos os subtítulos e especificações das folhas de rosto. Mas não achei necessário. Morreu no Rio em 19O5. às questões lingüísticas e jurídicas. Meditações. formando-se em Direito pela Faculdade de S. . 1859. mas dos títulos que se rec omendam. ANTÔNIO JOAQUIM DE MACEDO SOARES nasceu em Maricá. nas publicações acadêmicas e outras. nas outras. outra de traduções brasileiras de Lamartine. Paulo. 38" #NOTAS BIBLIOGRÁFICAS Nas seguintes Notas Bibliográficas o leitor encontrará. e duas antologias. de nada servem ou ficaram superados por aqueles.uma de poetas acadêmicos. data. Como estudante. ao contrário do que foi feito nas citações de rodapé. isto é. As obras gerais. como: Guilherme de Almeida. Mas o inconveniente compensa a alternativa. ~e isto basta para exprimir a sua importância e a necessidade de subentendê-las em cada nota bibliográfica. não serão mencionadas nas notas. proveitosas e elucidativas. por s e considerarem de consulta obrigatória. 1943. 1926. fazen do corresponder o amadurecimento do nativismo literário à consciência progressiva da terra. como crítica ou dados informativos. de Castro Alves. Antes de discriminá-las. para evitar a sua repetição enfadonha. Não se encontrarão prosadores na Apresentação da Poesia. discriminadas abaixo em primeiro lugar. 39O Viana Moog. Tratando-se. de Manuel Bandeira. Em muitos casos não há material além delas. mas o leitor deve tê-las sempre em mente. seja por se restringirem à poesia ou à prosa. literatura brasileira. O leitor não deverá subestimar estas obras gerais em relação à bibliografia especializada. como se em cada nota estivessem citadas.O nome do autor que é objeto da nota só aparecerá por extenso no começo. Do sentimento nacionalista na poesia brasileira. Rio. procura distinguir a influência das diferentes regiões sobre as características . Nem sempre elas incluem cada um dos autores estudados. para simplificar. em seguida. mencionemos algumas obras rápidas de síntese. aparecerão apenas as suas iniciais. repetição exaustiva duma longa série de títulos a cada página. Garraux. de Agripino Grieco. a menção de um estudo denominado Revisão de CA quer dizer: Revisão de Castro Alves. pois muitas vezes nelas se encontra o que há de melhor sobre o autor em questão. pois na verdade estão implícitas. Uma interpretação da. isto é. São Paulo. por exemplo. CEB. nem poetas na Evolução da Prosa. brilhante e inspirada apresentação do tema. seja por omiti-los. s. além de opiniões com que não raro coincido aqui. naturalmente por ter sido aluno do autor e recebido a sua influência. constituindo verdadeiro elemento de confusão numa obra excelente pelo conteúdo. 2. Curso Elementar de Literatura Nacional. 1863.. 1867-1923. mas muito imperfeito. Imprensa Nacional. 1937. por Jango Fischer. História Breve da Literatura Brasileira. Resumo de História Literária.a geração romântica. bem feito e útil. com d enominações não raro arbitrárias e arrevezadas. Ascher. é o mais moderno instrumento de trabalho no gênero. José Osório de Oliveira.a ed. em muitos casos insubstituível. Etudes de littérature brésilienne. Abrangem até a 2. Min. d. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Garnier..° volume. até o meado do século XIX. ibidem (uso aqui a numeração corrida de I a XXII). Interessam ainda como exemplo da crítica laudatória e por serem as primeiras histórias da literatura brasileira. cheio dê pontos de vista penetrantes. Rio. Lê Brésil Littéraire. consideradas de consulta obrigatória: Inocêncio Francisco da Silva. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro. Otto Maria Carpeaux. Centre de Documentation Universi taire. Paris. V. Há um índice Alfabético. Brito Aranha. é a primeira visão sistemática de um estrangeiro. 2 vols. Rio. mais 15 de Suplemento. d. e outros. (1955). Sacramento Blake.dos escritores. Rio.. Lisboa. (1946). Imprensa Nacional. 1951. s. Imprensa Nacional. 1862. Berlim. Dicionário Bibliográfico Português. Rio. Garnier. 2. Roger Bastide. Rio. Idem. 7 vols. Paulo. Ferdinand Wolf. Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Ilrasileira. Passemos às obras gerais.. da Educação. . compreensivo e simpático. mas comprometido por excessiva compartimentação de períodos e fases. d. 7 vols. os primeiros redigidos pelo autor. 1858-1862. s. considerada em continuação ou apêndice da portuguesa. 1883-19O2. Martins.. indispensável. os demais contin uados e ampliados por P. S. Pequena História da Literatura Brasileira. Alves. Rio. irregular nos juízos.. 2. é uma vista mais bem ordenada das manifestações poéticas. José Veríssimo. sem declarar e quiçá sem perceber. pela presença viva duma grande personal idade. É algo irônico. é o monumento central da nossa historiografia literária. ambas originais e independentes. ainda vale por haver fixado o elenco do que se chama a nossa literatura. Mais severa e discriminada 391 #que as de Sílvio. Idem. Rio. e deste modo plantava a velha crítica no meio das inovações "científicas". Recife. obra accessível. 2. 2. O seu mérito foi haver reduzido quase ao essencial o elenco dos autores. Rio. Idem.. aproveitando os trabalhos anteriores numa primeira sistematização. e sobretudo.Sílvio Romero. História da Literatura Brasileira. Briguiet.° milheiro. Garnier.. possivelmente ainda hoje a melhor como unidade de concepção ". agradável e bem escrita. que a ela deva o seu livro grande parte da importância que ainda possui. 4. 19O9. Ronald de Carvalho. Peca somente pelo relativo pedantismo da língua e secura do sentimento artístico. as mais das vezes ainda plenamente aceitável. e. com -uma inútil digressão prévia. Mas dá. Rio. História da Literatura Brasileira. menos "incausada" do que o autor pretendia.a ed. não raro medíocre nas análises. excelente compêndio. atribui aos fatores históricos o lugar devido. a impressão de estar baseado na leitura de Sílvio Romero .fatura. sem cornprometer a autonomia do juizo crítico. 1916. 19O5. empenhando-se sem reserva com sabor e franqueza. como organização e equilíbrio das informações e juízos. Evolução do Lirismo Brasileiro.. e João Ribeiro.. 2 vols. porisso. Nisto. pois. na maior parte. Embora envelhecida na fundamentação. às vezes raras e de acesso difícil. o método de Blair. insuficiente nos dados. História da Literatura Brasileira.a ed. seguia.. e aprese ntado a matéria com um gosto e amenidade até então desconhecidos. 1929. aplic ado entre nós por Sotero dos Reis. Edelbrook.a cd. Alves. Um dos seus grandes interesses reside nas extensas transcrições de trechos e peças. Rio. Agripino Grieco. de Valentim Magalhães.a geração romântica.. salvo poucas exceções. 1946. História da Literatura Brasileira. chega até os escritores da l. Parceria Antônio Maria Pereira. dando ao leitor uma noção movimentada e saborosa da nossa literatura. Evolução da poesia brasileira e Evolução da Prosa Brasileira. 1955-1956. Apresentação da poesia brasileira. Cultura Brasileira. s. É uma série de bio-bibliografias. 2 vols. de Fernandes Pinheiro). Rio. levando mais longe a operação iniciada por Ronald. Saraiva. também vagamente adotada na menos que medíocre A Literatura Brasileira (187O-1895). Rio. Sul Americana. não dos autores arrolados. sob a direção de Afrânio Coutinho. no momento a melhor visão sintética. cheia de finura e precisão. seja porque se referem a outros agrupamentos d . respectivamente 1932 e 1933. Paulo. Paulo. vivamente apresentados. Lisboa. Antônio Soares Amora. S. o que explicaria certos erros imperdoáveis e a tendência p ara dizer coisas incaracterísticas sobre eles. 3 vols. sumários. embora não a tenha podido utilizar. (dando consistência e tratando sistematicamente a um ponto de vista que encontramos de modo mecânico na Literatura Nacional. d. por não possuírem a generalidade das anteriores. Manuel Bandeira. são uma revoada impressionista de juizos cortantes. 1955. acompanhada de excelente antologia. História do Romantismo Brasileiro. seja porque abrangem escritores de apenas um Estado. 1896. que recomendo ao leitor como obra geral de consulta. O livro atualmente mais importante sobre o conjunto da nossa evolução literária é a obra coletiva A Literatura no Brasil. Haroldo Paranhos. CEB. devendo ser consultada com a maior precaução. firma a designação "literatura luso-brasileira" para a dos períodos anteriores ao Romantismo.. Mencionemos agora certas obras de referência não implícitas nas notas bibliográficas de cada capítulo. é uma admirável história crítica. reduzir o elenco dos escritores ao mínimo admissível dentro do critério d e valor artístico ou eminência intelectual. isto é.e José Veríssimo. S. publicados. Além disso. ambos Ariel. Política Externa e Direito Internacional. Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres. Paulo. A. 1882. fluminense. Luís Corrêa de Melo. 191O-1915. Imprensa Nacional. Rio. Argeu Guimarães. titular do Império. Rio. Rio.rqmco Brasileiro. 3 vols. Estas obras não serão referidas nas notas. 1927. o leitor perceberá as que poderão ter sido utilizadas. de valor muito variável: Antônio Henriques Leal. como: Angel Valbuena Prat. Dicionário de Autores Paulistas. Pongetti. 1918. em cujos quadros se encontram ocasionalmente escritores.. S. d. Almeida Nogueira.. Gustavo Gill. Dicionário Bibliográfico Brasileiro de Diplomacia. Tipografia Universo. Panteon Maranhense. conforme o a utor seja. Clóvis Bevilacqua. 3 vols. Paris. Rio. Pereira da Costa. Fortaleza. 1925. s. 9 vols. 2 vols. Lisboa. 1954. Boivin.. Dicionário Biobibliográfico Cearense. A Academia de S. Quanto às outras. 4 vols. Rene Jasinski. Leuzinger. (já em 5. 1873-1875. como é o caso de Henriques Leal.. Arquivo Nobilió. diplomata. Dicionário Biobibliográfico Sergipano. 392 Armindo Guaraná. salvo quando escaparem ao tipo estritamente bio-bibliográfico. Paulo. Barcelona. Edição do Autor. 2 vols. S. Barão de Studart. História da Faculdade de Direito de Recife.. F. Imprimerie La Concorde. Historia de Ia Literatura Espanola. 19O7-1912. Clóvis e Almeida Nogueira. etc. . Panteon Fluminense. Histoire de Ia Littérature Francaise.. Lery dos Santos. Num e outro caso estão as seguintes. Francisco Alves. Paulo . pernambucano.e atividade ou qualificação social. Recife. por exemplo. Barão de Vasconcelos e Barão Smith de Vasconcelos. temas e autores europeus.a edição)..Tradições c Reminíscfrmias. Dadas as ligações da nossa literatura com certas correntes. 1938. seria born ter à mão algumas obras gerais que informem a respeito. 188O. Lausanne. (resumo da monumental Histoire. Porto Editora Ltda. Rio. 1878-. 1948-49. E. f. PB (1) .Sacramento Blake. (l."-Florilégio da Poesia Brasileira^ -(3t. a que a nossa está muito ligada na maioria dos momentos estudados aqui.. Hachette. Parnaso Brasileiro.* edição). exemplar pela segurança do plano. Paris. Coimbra.Januário da Cunha Barbosa. 1948-. edition...Otto Maria Carpeaux. . o equilíbrio entre a visão histórico-social e o ponto de vista estético. SB . .. PB (2) .a série). OMC . 1943-.Inocêncio Francisco da Silva. de Boccard. Mondadori. Nas notas de rodapé. Manuel d"Histoire de Ia Littérature Grecque. BB .Pereira da Silva. Paris. Maemillan. George Sampson.Cultura. d.O Beija Flor. B -Brasília. S. a integração dos materiais informativos. Nova Iorque.1947. abaixo discriminadas: IFS . s.. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio. há os velhos mas ainda prestantes: Alfred e Maurice Croiset.. 1849-1852. C . Paulo.Boletim Bibliográfico.. ABN . Idem.. René Pichon Histoire de Ia Littérature Latine.. dos mesmos autores. Rio. História da Lit eratura Portuguesa.Varnhagen. e cujo conhecimento é pressuposto em qualquer estudo como este.. Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira. lOe. 5 vols. Francesco Flora. The Concise Cambridge History of English Literature. lOe. s. d. ". em 5 volumes). antologias e repertórios bio-bibliográficos gerais foram indicados por abreviações. edition revue et corrigée. BF . 393 #""% / :r FPB . . Caso à parte é o da literatura-mãe. 1942.Anais da Biblioteca Nacional. 1926 s. Recomenda-se especialmente: Antônio José Saraiva e Oscar Lopes. 1942-. as publicações periódicas. EAP -Ensaios literários do Ateneu Paulistano. e nas que agora seguem. Para as literaturas clássicas. Storia delia Letteratura Italiana. Dicionário Bibliográfico Português. 47-53 (são Magalhães. 1836. mesmo quando denominada Revista Trimestral de História c Geografia. . S. RN . Paris. RIHGB Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio.. 192O-1932. Paulo. l. que ocupam. 47.Revista de Língua Po da Academia Brasileira de rtuguesa. RdB (3)^ . S.. S.Revista da Academia Paulista de Letras. Paulo. Revista brasiliense de Ciências.Revista Letras. 186O-186?. Paulo. Paulo. RAM . RLP . S. 1938-. 2 v ols. etc. Rio.. Paulo. N .. Letras e Artes. Libraires.a fase. 1939-1944. l. Rio. l..e Année. Journal de 1"lnstitut Historique. Niterói.Niterói. 1879-1881. 47-49. 2. S.Revista da Sociedade Filomática. Rio. 191O-.c Livraison. O nacionalismo literário Sobre a orientação "nacional". Dauvin et Fontaine. RB (2) . Rio. Paulo. Paulo.Revista do Brasil. 1934-. 18481849. Rio. RAPL . Tôrres-Homem e Porto Alegre. expressa conforme os contemporâneos r "Resume de 1"Histoire de Ia littérature. Paris.. . 1833.Revista do Brasil. 3. 1839-.Guanabara. 1926-1927. 1916-1925.a fase. dês sciences et dês arts a" Brésil. . Paulo.O INDIVÍDUO E A PÁTRIA 1.a fase. 1895-1899. S. aôut 1834. RdB (2) .Revista do Arquivo Miinicipal. 2. págs. 49-53) . IR _ íris.S. G .Revista Brasileira. págs. Rio.Revista do Brasil. 1851-1855. KABL . Rio. membres de 1"Institut Historique". RdB (1) .Revista do Instituto Científico. CAPÍTULO l . RSP ..Revista Mensal do Ensaio Filosófico Paulistano. Rio.. 3. Rio.Revista Nova. Rio. S. 185O-186?.Minerva Brasiliense. 1843-1845. RB (3) . MB . pág. 1852-186O. RP Revista Popular. RIC . Paris. 193O-1932. par trois brésiliens.a fase. págs.a fase. 1859-1862.Revista Brasileira. respectivamente. REF . págs. do ponto de vista histórico. 241-271. 1936. Sobre as tendências e manifestações religiosas. Editora Nacional. Álvares de Azevedo. Norberto. 1857. 2. É preciso acrescentar o estudo já clássico de Gilberto Freyre. já expliquei em nota da pág. e ainda: Pôrto-Alegre. Rio. onde se encontra a análise da mudança social e cultural da sociedade brasileira do f im do século XVIII ao meado do XIX. s. págs. Ill.a ed. Homero Pires. Citei ainda José Veríssimo. Paulo. Garnier. Mota Filho. 7. 16 porque recorri. Obras Completas. a literatura é amplamente referida. N. aparecendo algumas considerações pe netrantes sobre o seu caráter adaptativo e o seu papel na expressão. S. págs. Gonçalves de Magalhães. podendo-se consultar como exemplo. págs. "Ensaio sobre a história da literatura do Brasil". II. 1865. "Considerações sobre a atualidade de nossa literatura". mais correta e completa. "Macário". notadamente... Garnier. 243-33O. 394 i no caso. 19O1. vol. a que os fatos literários estudados no presente livro estão ligados. dando lugar a opiniões e escritos de toda espécie. Macedo Soares. (19OO). págs. 1926. II. à de Norberto. 161-211. EAP.°s 3-4. . Rio. Rio. 3 vols.a ed. Estudos de Literatura Brasileira. -.°s 1-2. 363-369 e n. d . O problema da "orientação nacional" tornou-se lugar comum da crítica. Paulo. N ovíssima Editora.das novas camadas em ascenção. Decadência do Patriarcado Rural no Brasil.. Introdução ao estudo do pensamento nacional. Nessa obra notável. ed. citei: . 391-397. n. tanto das elites tradicionais quanto.sobretudo com o Romantismo. "Os contornos de N ápoles". Garnier. O Romantismo. S. Embora utilize a ed. que cito conforme Opuscules históricos e literários. onde se encontram. além das obras gerais. sob o ângulo sociológico.1836. Sobrados e Mucambos. Rio.. do Barão de Paranapiacaba. Suspiros Poéticos e Saudades. 3 vols. BF.cuja maioria. 1881. embora o Romantismo seja abordado largamente através de biografias. Sérgio Buarque de Holanda. Schlichthorst. I. "Um fragmento de romance A. inclusive dos críticos modernos. EAP. referências. registro apenas. 61-1O7. sobretudo nas obras gerais. Sobre o indianismo os românticos escreveram abundantemente.. "A literatura brasileira contemporânea". 2. 1939. págs. n. 2733O4. etc. Ensaios e Estudos.. Octavio Tarquínio de Sousa. Paulo. págs. Antônio Sales Campos. 1931. capítulos de obras gerais. trad. de Educação. 1945. etc .a série. A Vida de Pedro I. Oblação ao Cristianismo. MB. Soe. "Prefácio".". 415-417. Rio. "Filosofia da Religião". 1843. Macedo Soares. S. artigos. Emmy Dodt e Gustav o Barroso. que. Leuzinger. não há até o momento . Gap.°s 3-4. l. Rio. Os três dias de um noivado.° 21. 1844. o poema de Oliveira Araújo no Parnaso Acadêmico Paulistano.. Pernambuco. Opúsculos.. I. não versa o tema indianista -foram consultadas em MB e IR. Rio. Capistrano de Abreu. Paulo. por enquanto: Joaquim Norberto. IX-XXXI. "Alguns pensamentos". XV-XXIV. de Abreu. para a influência estrangeira. Ver. de Paulo Vale. Rio. a crítica post-romântica tem se limitado a indicações. Teixeira e Sousa. "Cantos da Solidão (Impressões de Leitura)".. s. 1857. C. págs. 191O.. 1844. págs. 6-8. Getúlio Costa. Cingindo-me ao que foi citado no capítulo. d. cit. etc. págs. n. O Rio de Janeiro como é.Gonçalves de Magalhães. págs. 1952. Rio. do Correio Paulistano. Antônio Rangel de Torres Bandeira. Origens e evolução dos temas da primeira geração de poetas românticos brasileiros." e da sensibilidade É decepcionante constatar. S.. Tip. M in. Santos & Cia. O Romantismo como posição do espirito ""-". "Considerações gerais sobre a literatura brasileira". A este respeito. págs. Carlos Miller. quanto à bibliografia brasileira. os de Cardoso de Menezes nas Poesias e Prosas Seletas. Paula Brito. José Olympic. e no decorrer destas notas se encontrarão algumas indicações. aliás. As balatas de Norberto . 386-391. 1849. vol. (§1). procura definir o Romantismo como categoria universal. O Romantismo e as Sociedades Secretas.. com uma breve e pouco convincen te aplicação ao Brasil.. aos trabalhos de base. sobretudo como curiosidade. Rio. Poésie naive et poésie sentimcntale. notadamente "Idéia geral do Romantismo". Stendhal.. em seguida.. trad. Racine et Shakesp . Paris. bilíngüe. I. Esthétique. sbdo. 1947.a ed. 243-344. Cours de Littérature Dramatique. ed. Paris. e muito poucos sobre os seus aspectos 395 #importantes. Lugan & G enelioux. 1932. 1945. seguindo Spengler. 1923. impõe-se o recurso à bibliografia estrangeira... Clássica Editora. W. Alcan. Porto. acrescente-se o interessante e engenhoso estudo de Jamil Almansur Haddad. mesmo porque foi nos países europeus que se definiram as diretrizes do movimento a que os nossos escritores aderiram. S. 173-279. Schlegel. História da Literatura. Porto. f. "L"Art romantique". Arthur Schopenhauer. págs.. Lello e Irmão. que definem com profundidade o espírito e a estética românticas. 2 vols. Citemos. livro 3. Lê monde commc volante et comme representation.a secção.nenhum estudo de conjunto sobre ele. Paris. 1944. G. 4 vols. 2. 3. págs. Paris. Romântica. Para a teoria do Romantismo.°. contribuição para uma fisiognômica da história literária. págs. 1892. vol. Vejam-se inicialmente os livros relativos à literatura-mãe: Teófilo Braga. Nouvelle edition. principalmente vol. Além das obras citadas de Mota-Filho c Sales Campos. Bezerra Cout inho. Hegel. 1865. trad. Idem. Recorra-se. 2. Lacroix. Aubier. 1893. L. Burdeau. Verboeckhoven & Cie. 3 vols. Lisboa. Robert Leroux. onde o autor. trad... Paulo. exprimindo aspectos profundos da cultura. Aubier. As modernas idéias na Literatura Portuguesa. 11-121. II.a ed. Garrett e o Romantismo. o estudo dos seus apectos e fatos significativos. 19O3. Romanticismo. I. A. J. mesmo quando ignoram ou antecedem esta designação (é o caso de Schiller). trad. Necker de Saussure. s. 2 vols. Fidelino de Figueiredo. marcando as suas características em oposição às do Classicismo: Schiller. 2 vols. levando-nos a matizar a separação didática entre os dois períodos. a cura di Egidio Bellorini. 1932. Albi n Michel. focaliza os traços arraigadamente românticos. . Pamphlets. págs. enquanto Lês Petits 396 Romantiques Français. obra inspirada. 192O. f. 1813-1816.. 1949. Paul Van Tieghem. Mais tecnicamente atentos à formação das idéias.. aborda o importantíssimo problema definido no título. 2 vols. Leipzig. tentativas de definição. 1948. em Essays in the History of Ideas. Pierre Moreau. de France. 2 vols. que consultei na ed. Le Classicisme dês Romantiques.. Polemiques de Presse. polêmicas. Die Romantik. 1852O6 e 2O7-227. Sobre a decisiva contribuição alemã à definição do Romantismo. 1948. 1925. Paris. 1932. Manifestes. "The meaning of Romantic in Early German Romanticism" e "Schiller and the Genesis of German Romanticism". Paris. Cahiers du Sud..eare. Uma visão muito viva da implantação do Romantismo. Paris. No mesmo livro. págs. ver Ricarda Huch. Le Romantisme dans la littérature européenne. Plon. Martino. John Hopkins Press.. s. Haessel. 228-253. presentes par Francis Dumont. são os dois admiráveis estudos de Arthur Lovejoy. Laterza. sem preocupação sistemática. 1943. é dada pelas seguintes coletâneas: Edmond Eggli et Pierre Martino. muito livre e pessoal. par Edmond Egli.. Discussioni e Polemiche sul Romanticismo (1816-1826). etc. Baltimore. 1933. Tom e I. Flammarion.181S-1S3O. e o famoso "Prefácio" de Victor Hugo ao drama Cromwell. voltada para o estudo dos problemas como foram vividos pelas personalidades. f. s. Champion. ed. Presses Univ. é um born panorama comparativo. Bari. ver o estudo sobre as variações e estruturação do conceito: "On the discriminations of Romanticism". s. Lê débat romantique en France . f. S. Paris. N. S. Boyer. Leipzig. Paulo. Sobre a musicalidade profunda do espírito romântico: Wackenroder. J. L"ame romantique et lê revê. s. 3. Paris. Fantaisies sur 1"art. Crofts. Firenze. Musset. trad .a ed. Milano. Roger Picard. Paris. Brockhaus. 1943. ed. Shelley and Keats.. Lisboa. Siispiros Poéticos e Saudades. s.. 2 vols. caps. . 1943. Victor Hugo. Charpentier. cap. Paulo. nouvelle éd. H.. N. e Oliveira Lima. 1865. P. Belles Lettres. Sérgio.. Sonetos. Whittaker. ed. S. Flora. Verlag Birkhãuser. Modern Library. M. Editora Nacional. 1946: Carl Schmitt. Afrânio Peixoto. Paris. 1945. vol. Valois. I.. Mondadori. York. Flammarion. Arturo Farinelli. IX e XI.. 1948.. 1944. Romantisme et Satanisme. P. Le Socialisme et lê Romantisme en France. A. Leopardi. ed. etc. Clarendon Pres s. Pari s. ed. trad.. 1928. 1826. 1935. Complete Poetical Works. Oxford. 193O. ed. Sansoni. J. A. B. D. Paulo. págs. 1.° vol. Basel. A. Corti. Rio. Homero Pires. Aubier. II. Aspectos da Literatura Colonial Brasileira. 1942. Aubier. Hõlderlin.. 1867. La carne. Castro Alves. Poèmes (Gedichte). Paris. 1896. Couto Martins. 1927. G. Eastman. Antero de Quental. Le Romantisme Social. 3. Linn. Poésies Completes. Faust. consultei as edições seguintes: Magalhães. trad. bilingüe. York. f. Obras Poéticas. Geo. Conferências Brasileiras. IV. Vigny. Manners.. Paris. 1938. York.Para o estudo de diversos aspectos particulares. Sketches of Portuguese Life. Premiere Poésies e Poésies Nouvelles. Lês Feuilles d"Autome. A expressão Sobre a impregnação musical da literatura e da vida mundana no fim do século XVIII e começo do XIX ver. Costume and Character. Antônio Tisi. s. s. 3. d. Obras Completas. Garnier. 1941. Albert Béguin. Ia morte e U diavolo nella letteratura romântica. Brentano"s. 1944.a ed. Londres.. d. Garnier. bilingüe. Paris. Editora Nacional. ed. assinalem-se: Maximilien Rudwin. Dos poemas citados. vol. Goethe. 15-41. N. Dorchain. 1941. d. Álvares de Azevedo. Hunt. Tutte lê Opere. com referências ao Brasil. ed. ed. e Poems. Mario Praz. "O romantismo e a música". Romantisme Politique. Ranieri d"Calzabigi. O verso de arte maior no teatro de Gil Vicente. Tratado de Versif icação Portuguesa. 2 vols. Para a alusão a possíveis influências espanholas e francesas no ritmo batido. Rio. Madrid. nas edições Ricordi. Mercantil. Publicaciones de Ia Revista de Filologia Espanola. Rio. Rio. 187O. 12 vols. Rio. Amorim de Carvalho. Opere. Tratado de Versif icação..a ed. Americana. 65-155. Versif icação Portuguesa. ver exemplos nos autores citados: Metastásio. Perrotin.Para os problemas de versificação: Frei Caneca. Quanto aos ritmos italianos que influenciaram na musicalização do nosso verso romântico. Paris. 397 #l tnuito estimadas no Brasil de então. Nueva edición. Rigoletto. Obras Poéticas. La versificación espanola irregular. Paris. todas em edições Ricordi: Felice Romani. Don Giovanni. "Tratado de Eloqüência" etc.°...OS PRIMEIROS ROMÂNTICOS 1. 2. Recife. as seguintes peças. II Trovatore.. Zorrilla. Lisboa . Tip. Ernani. Manoel da Costa Honorato. ver. Piave. Garnier. Silvestre.. 8. C hansons. Said Ali. 3 vols. Norma.. etc. 5 vols. Francisco Alves.. Cosi fan tutte. Tratado de Metrificação Portuguesa. Milão. Imprensa Nacional. 1945. CAPÍTULO II . 1867. 1815. ver exemplos em Espronceda. Pedro Henriques Urena. Bruxelas. 19O8. Obras Políticas e Literárias.. Thiers Marti ns Moreira. s. Antônio Feliciano de Castilho. M. Paris. 1933.. Obras. Para a sua utilização no teatro de ópera contemporâneo do nosso Romantismo. e Lorenzo da P onte. 1829-1833. vol 1. entre centenas. Tip.a ed. e Tarlier. 1949. Béranger. Empreza da História de Portugal.a ed.. págs. d. P. õ. 1944. Dramard-Baudry. Olavo Bilac e Guimarães Passos. Porto.. Obras Poéticas. Le Nozze di Figaro. 1941. 2 vols. Orfeo ed Euridice. 1875-1876. Sinopses de Eloqüência e Poética Nacional. Geração vacilante . ou Carmes epistolares de Hugo Foscolo. Citaram-se no texto: Gemidos poéticos sobre os túmulos. págs. Garnier. Tip. 355-364. L. o segundo e o terceiro. "Jornal de Timon". s. (TôrresHomem). Garnier. 1844. MB. d. cons. de que apareceram dois números em 1836. e sobre os túmulos do Rio de Janeiro. . de 1854 a 1855. Obras Póstumas... Villeneuve. do Diário. I § 1). 19O9. imprimia-se no Rio. 1856. "Memória histórica da revolução na Província do Maranhão". Gonçalves Dias. publicada por uma associação de homens de le tras. (José de Alencar). s. (cap. Rio. (cap. 1827. Journal de ciências. o terceiro por Santiago Nunes Ribeiro. Revista mensal. § 1). Catálogo da Livraria de B. História da Conjuração Mineira. com outros do mesmo autor sobre a religiãos do s túmulos. publicou-se no Rio de 1843 a 1845. págs. traduzidos do italiano pelo Dr. d. O Marquês de Paraná. na tipografia de Paula Brito. Rio.. formando 3 vols. e forma 3 vols. 1842. Científica e Literária. o primeiro. f. Minerva Brasiliense. págs. s.. Luís Vicente De Simoni. Émile Adet. etc. Letras e Artes. "A leitura de uma tragédia inéd ita". do Correio Mercantil.° 23. Garnier. Gonçalves de Magalhães. 2-153. etc. cit. redigida por uma Associação de Literatos e di rigida por Joaquim Manuel de Macedo. Artística. (1873). I. Hipólito Pindemonte e João Torti sobre os sepulcros. Antônio Gonçalves Dias. Opúsculos. o admirável João Francisco Lisboa. "Partidos e Eleições no Maranhão". os dois primeiros dirigidos por Tôrres-Homem. I. N. Almeida Garrett. e dirigidos por Fernandes Pinheiro. Guanabara. após uma longa interrupç ão devida a desinteligências motivadas por Cândido Batista de Oliveira. "Meditação". Lisboa. Joaquim Norberto. Rio.As três revistas básicas do primeiro grupo romântico se especificam do modo seguinte: Niterói. letras e artes. O Cronista.. 1849. Para um estudo mais cabal do caráter dos partidos na fase em questão. Rio. O Libelo do Povo. Ti p. por Timandro. Manuel de Araújo Porto-Alegre. de 1849 a 1851. Rio. 1-89.. Semanário de Política. vol. de Magalhães. Paulo.a saber: Poesias Avulsas. Cânticos Fúnebres. etc. mas prejudicado pelo torn de fácil chacota. 1864. 1953. 194 . Pedro II. 1864. que traz inclusa a referida "Visão achada entre os papéis de um solitário.. § 1). PôrtoAlegre. 1925.. Urânia. A viagem de Magalhães . Sobre ele. 1864. Paulo. Suspiros Poéticos e Saudades. José Aderaldo Castelo.Utilizei. Villeneuve & Cia.. 1936. Ciências e Letras da Univ. GM ou O Romântico Arrependido.a ed. Paulo. págs. GM. 2. 1939. deste. f. do Instituto do Livro. A Confederação dos Tamoios. vítima das febres de 1829". e as obras gerais o estudam satisfatoriamente. apenas motivados pela Confederação dos Tamoios. Sobre a influência de Garrett nos primeiros românticos.a ed. 2. A Polêmica sobre "A Confederação dos Tamoios". I. recorrendo. (cap. 191-212. II. à ed. mas de modo geral todo o estudo. em caso de dúvida. págs. textos das Obras Completas. Paris. daquele: A Voz do Profeta.de Alencar. 4 vols. Livraria Acadêmica. Lê livre du Peuple. Garnier. Estudos de Literatura Brasileira. Fac. 398 . I. .. Paroles d"un croyant.. . consultei.a ed. Garnier. VIII. 1864.todos c oligidos agora. Rio. há referências inumeráveis e elogiosas nos escritos do tempo. cit.2. Opúsculos Históricos e Literários. que contêm a produção anterior à fase romântica. 3. Estudos coevos. morto nas imediações de Macacú. um de Ferrol (1836). 1865. satisfatório até agora. 1837 (anônimo). etc. . 1865. Rio. é bem feito e vivo. com uma introdução. A obra de Herculano saiu originalmente em dois folhetos anônimos. sendo p rovavelmente suposto o lugar do primeiro. Assunção. 165-182. em José Aderaldo Castelo. Alcântara Machado. de Filosofia. o mais organizado e. "G e a literatura brasileira". de S. s. Monte-Alverne. S. Maranhão. . cap.Obras. 1865. que dá as variantes. S. outro de Lisboa (1837). ver José Veríssimo.. Para verificar a influência de Herculano ou Lamennais sobre a Meditação. MB. Bibliografia da História da Literatura Brasileira de Silvio Romero. Modulações Poéticas. e nas obras gerais. Emecê. págs. Sobre o poeta. que o precedem. A lírica de MM.6. Poesias oferecidas às senhoras brasileiras por um bahiano. 1863. 483-491 e 515-517. 1943. Música de Rafael Coelho Machado. Francesa. 1-2. tem finalidade didática e traz antologia.De Maciel Monteiro consultei: Poesias. "Observação". onde se podem ler os "Contornos de Nápoles". págs.) págs. 1825. Paris . 19O5. em separata. amigo dos homens e da poesia Textos utilizados: Brasilianas. II. 2 vols. 1841. referido de passagem em muitos estudos. s. Tip. (1843 sf. págs. I. . Pôrto-Alegrc. DJGM. Poesia do Dr. Rio. Tomo I. O original espanhol pode ser consultado em edição recente: José Cadalso.Obras citadas: Santiago Nunes Ribeiro. Brasilianas. cit. antecedida pela nota: "O Senhor Maciel Monteiro dirigiu de Paris ao Autor (1824) sobre a mesma quadra. N. Rio. . Urânia ou Os Amores de um Poeta.°. Imprensa Industrial. págs. As "Noites Lúgubres". 161- . "Da Nacionalidade da Literatura Brasileira". 214-216. 7-33. 161-213. I. Álbum de canto nacional. págs. Zélio Valverde. págs. Buenos Aires. apareceram traduzidas por Francisco Bernardino Ribeiro. "Bosquejo da historia da poesia brasileira". Aillaud. 1944. a seguinte glosa" etc. 1843. o que há de mais completo continua sendo o abundante material crítico e informativo reunido na edição de 19O5 pelos seus organizadores. 3-54. onde não se inclui a glosa do poema de Borges de Barros. de Cadalso. Imperial e Real Tipografia. com um bor n estudo de Luís Alberto Menafra. págs. d. 161-173. que pode ser lida na obra deste. "Prólogo". 3. l. MB. Recife. Noches Lúgubres. I. A bibliografia mais minuciosa se encontra em Antônio Simões dos Reis. João Batista Regueira Costa e Alfredo de Carvalho. Rio. (§ 2) sendo importante consultar a edição original do poema "A voz da natureza". Viena.. Manoel de Araújo PôrtoAlegre. 7-23. correndo do primeiro. vol. Joaquim Norberto. vol. págs. Sobre ele. João Pinto da Silva. cap. embora relativamente abundantes. in. L. 26O-276. e dos louvores dos contemporâneos. Colombo. Rio. Lisboa. que utiliza importante material inédito. De Paranhos Antunes. tanto esparsas quanto manuscritas. Imprensa Nacional. Parece que. I § l. vol. Direção em Crítica Literária (Joaquim Norberto de Sousa Silva e seus críticos). 4.186. Laemmert. Garnier. Rio. enquadrando-a porém no panorama da vida. 1943. Veiga dá uma relação ampla. cit. Almi r Câmara de Matos Peixoto. 1951. F. Para as relações com Almeida Garrett. 1866. traçando da poesia uma visão evolutiva baseada no prefácio de Cromwell. Memórias Biográficas. . 1864. Min. MAPA. História Literária do Rio Grande do Sul. modernamente. 2 vols. consultei as publicações originais em MB. Zélio Val verde. 1881-1884. Brasileira. I. estuda principalmente a atuação artística. págs. O pintor do Romantismo (Vida e obra de MAPA). e narra as vicissitudes editoriais. Globo" Porto Alegre. II. 1861. Rio. o trabalho mais útil é o de Hélio Lobo. Para as "balatas" e várias outras poesias reunidas depois em volume. de Educação e Saúde. Ê-mulos Textos utilizados de Joaquim Norberto: Modulações Poéticas. sobretudo quanto à sua iniciativa no começo do Romantismo. Rio. além das obras gerais. Garrett. Rio. 3 vols. Rio. com um interessante prefácio de Fernandes Pinheiro. Cantos Épicos. (§ 2). . Acad.As poesias de Dutra e Melo não foram reunidas em volume. 1924. Garnier. devendo-se 399 l #ainda consultar. 1938.. só estuda Norberto como poeta. e Francisco Gomes de Amorim. e também PB (2). Flores entre espinhos. de Victor Hugo. ver o seu discurso referido no Cap. transcr . IR. porventura completa. juntando o rigor de informação à capacidade interpretativa. Gonçalves Dias consolida o Romantismo O melhor texto é. Paula Brito. atualmente. Manuel Bandeira. XLI. XLXLII. VII. Norberto. etc. Hamburgo. além disso. que exprime bem a atitude reverente dos contemporâneos. vendo as poesias posteriores. Panteon Maranhense. Rio. 1841-42.. uma lista de escritores falecidos na mocidade.°. 1876. ao contrário da ed. Editora Nacional. Egon Schaden. 2 vols. Os estudos são abundantes. "AGD". e se encontravam nas Poesias Póstumas. primeiro estudo . 19O9. I. cabendo destacar: Antônio Henriques Leal. l. Lúcia Miguel-Pereira. § 2. 143-218. 3. Antônio Henriques Leal. a obra mais completa. vol. 1938. 2.. fonte básica de referência. 1944. 4 vols. Fritz Ackermann. Rio. Norberto escreveu um poema. vol. José Olympic. 2 vols. "AFDM". que adota a ordem dos diferentes livros publicados pelo poeta... (cap. apenas é de estranhar que não haja índice no 2. As notas são excelentes.° vol. A Independência do Brasil. Poema épico em 12 c antos. neste trabalho. ed. incluindo as traduções. Para os estudos sobre ele. 2. Garnier. ed. 1943. F. sobretudo em MB.evendo vários fragmentos.De Teixeira e Sousa consultei os Cânticos Líricos. Po r ocasião da sua morte. e mais: Os três dias de um noivado. o mais. S. Rio.. mais tarde aproveitada como ilustração do "mal do século" por mais de um autor. todo o vol. O estudo fundamental para a vida e obra continua sendo o referido de L. contém. Paul Evert. ou não reuniu em volume. 1874. como curiosidade. Obras Poéticas de AGD. RAM. ver cap. Lisboa. 186O. Imprensa Nacional. trad. inclusive Sílvio Romero.°. Paulo.. 4OO A vida de GD. págs. que as reagrupou segundo as divisões inte rnas de cada livro. os versos que o poeta não publicou. sem referência à fonte). 1855. cit. Ill. . RIHGB. s. Paula Brito. "DM". págs. deve ser buscado em MB. publicado em RP. (Note-se. Die Verdichtung der Brasilier-AGD. 12O-121. Rio. 1847. Veiga. § 1).°. 5. f. Conferências Literárias. Nova Edição organizada e revista por Joaquim Norberto. Americ-Edit. 1942. Alves. trabalho monumental de um apaixonado gonçalvino. S. a eminência do "I-Juca Pirama" . Rio. e sobretudo Olavo Bilac. (reimpressão de 1926). Garnier. 36-44. "GD". págs. 1929. II. s. Brasileira. Confissões de Minas. I. Estudos de Literatura Brasileira. a que se devem outros. em Poesias de AGD. Bibliografia de GD. Niterói. para exemplificar a opinião dos contemporâneos: Álvares de Azevedo. Síntese formosa e penetr ante é a de Amadeu Amaral. as características formais renovadoras. GD. A título de mera curiosidade. "GD". mas não passa dum "a propósito" oco e retórico. 1937. págs. a admiração dos contemporâneos. A bibliografia do poeta foi objeto de M. A Noite. voltado sobretudo para os caracteres gerais da literatura român tica brasileira. Rio. págs. Josué Montelo. 1952. O maior po eta. veja-se o artigo de Alexandre Herculano.. Rio. I. etc. (cap. § 1). prefácio à reedição dos Primeiros Cantos.. 7-26. Consultei-o na transcrição do próprio poeta. 22-34. 2 vols. Rio. 1924.a ed. GD. Imprensa Nacional. 1942. 1943.. Rio. págs. que tanto desvaneceu o poeta e contribuiu para acreditar a sua obra. Vejam-se também as notas sugestivas de Carlos Drummond de Andrade. GD e Castro Alves. Nogueira da Silva. Nova Era. Pongetti. excelente biografia. Rio. Paulo.de análise sistemática do estilo. "Discurso recitado no dia 11 de agosto de . Rio. 169-177. São ainda vivos como interpretação: José Veríssimo. F. Foram citados no texto. Manuel Bandeira. 1944. 2. págs. d. O Elogio da Mediocridade. 8 -13. cit. Acad. como: As edições alemãs dos "Cantos" de GD. onde vêm destacados a sua psicologia brasileira. "GD". 193O. Rio. vol. "O sorriso de GD". Nova Edição. 1925. (cap. (cap. V-XV. utilizei como texto corrente A Nebulosa. Alves. A título de curiosidade: "O Leite de Folhas Verdes". As modificações do texto definitivo deram maior beleza aos versos. Clara Verbena . Gouvêa.. Garnier. Americanas (1875) em Poesi as Completas. vali-me de MB e G.° 4. 3. Rio. II. (Gentil Homem de Almeida Braga). (cap. (1859). s. 185O. 4O1 #6. I. nos baixios dos Atins nas costas de Guimarães no Maranhão. Domingos G. Garnier. Citaram-se ainda: Fidelino de Figueiredo. . José Joaquim da Silva Pereira Caldas. § 1).. na madrugada de 3 de dezembro de 1864. 7. Rio. I.° 5O. Rio. l. s. Versos de Flávio Reimar. além de artigos e discursos. § 2). foi publicado pela primeira vez em 1849 em BF. Fagun des Varela. Romântica. quanto às poesias líricas. I.. Desafogo da Saudade na desastrosa morte do distinto vate maranhense AGD. 1896. págs. Rio. n. com estudo biográfico e ampla seleção de poesias. a que dei particular importância. "Literatura brasileira . f. já publicadas ou até então inéditas. nas proximidades do farol d"ltacolomin.°. História da Literatura.. J. 1865. Anuário do Brasil.. N.1849".. Braga. A opinião de Bernardo Guimarães foi referida ap. . "Jovens escritores e artistas da Academia de S. d. 19O2. Prefácio. 376-378. Origem e evolução dos temas da primeira geração de poetas românticos. Nova edição. Me?iores .Consultei as obras de Otaviano na edição de Xavier Pinheiro (filho do tradutor de Dante): FO. com duas variantes. Rio. Garnier. BG. Macedo Soares. Maranhão. Rio. Machado de Assis. etc. § 1). Poesias. n. Costa. págs. I. vol. Obras Poéticas. Alexandre Herculano. págs. Rio. BF. O Cabeleira. RLP. I. etc. 1926. cit. Anchieta ou o Evangelho na Selva. bras ileira. Paulo". Garnier.Do poema de Macedo. 1872. Franklin Távora. RP. 1-2. 19O1. d. Ed.Sonidos. 19O7. 3 vols. s. cit. Antônio Sales Campos. pág. Basílio de Magalhães. F.Algumas considerações sobre a poesia".a ed. Silva Sobral. 191O. cujos poemas ainda não têm edição sistemática. II. ou havia em 1925. Veja-se ainda Almeida Nogueira. 1849. 1939. 1952. sendo um ensaio sobre todas as suas épocas. (mimeografado). O trabalho de Prudente de Moraes. na verdade. S. traz alguns elementos interessantes. vol 3.. Tip. Resumo n. instrumento de descoberta e interpretação Não há estudo crítico fundamentado e amplo sobre o nosso romance romântico. 19O8. Publicação da Academia Brasileira. A Academia de S. Tradições e Reminiscências. vol. paulo Tradições e Reminiseências. Paulo. Paulo. 9 vols. 21. nas quais me inspirei para algumas linhas d .constituindo o mais completo repositório dos escritos de FO. onde fala do gênero bestiológico e seus cultores em prosa e verso. que pode ser lido em Almeida Nogueira. Min. em pouco mais de três páginas admiràvelmente densas e ricas de sugestão. na folha de rosto. . Leuzinger. 19O71912. inéditos em posse da família.Consultei de Cardoso de Menezes: A harpa gemedora. o citado soneto. 1847. neto. Rio . por atrazo da impressão (corn um interessante prefácio onde invoca o patrocínio de Magalhães como criador da nova poesia bra sileira e menciona as influências européias). O Romance Brasileiro. muito menos sobre as suas origens. Poesias e Prosas Seletas do Barão de Paranapiacaba. pág. a pedido do autor. Rio. onde não se encontra. 2-27. incluído num interessante relato de Cardoso de Menezes. Rio. Exteriores. 114-125. Divisão de Cooperação Intelectual.° 3. FO. 19O7. das Rei.O APARECIMENTO DA FICÇÃO 1. porém. págs. E nsaio biográfico. Um. é todavia o que melhor apresenta as condições do seu aparecimento. ocupando págs. CAPÍTULO in . há.°. Pelo que se depreende desta obra utilíssima e meritória. Phocion Serpa. S. 1843.°. Consulte-se também José Aderaldo Castelo. ver a sua "Autobiografia". 5. Cruz Coutinho. págs. I. cit.a interpretação proposta. C. ou Vinte Anos depois. Rio. 1848. "Notas sobre o romance brasileiro". que consultei nas seguintes: O Filho do Pescador. Dr. págs. M.. Villeneuve. e VIII. "Amância. 3 vols. Paulo. Sob o signo do folhetim: Teixeira e Sonsa Não há edição uniforme rios romances de TS. RB (2). in. "Da propriedade literária no Brasil". Dentre as obras gerais. para todos os romancistas estudados. Bernardo Guimarães. Das obras aqui tomadas como amostra. Sobre o curioso Caetano Lopes de Moura. 1851. a primeira é de 1843) . 474-491.a ed . MB. 1855. 1912.. I. A . Rio. Jerônimo Corte Real. Gonçalves de Magalhães. M. "Vicentina. tendo aparecido inicialmente em MB. 2. Tardes de -um pintor ou As intrigas de uni jesuíta. VI. I. 2. (cap. Fica entendido que daqui por diante está implícita a referência a este ensaio. 1844. págs. consultei os seguintes textos: J. por J. Romance do Sr. Joaquim Norberto. publicada por Alberto de Oliveira na RABL. Romance brasiliense". como documento da opinião dos contemporâneos. § 1). Joaquim Manoel de Macedo". (Hi § 5). Novela". 29 de maio e 13 de iunho de 1949. Vaz Pinto Coelho. é necessário chamar a atenção para as de Fernandes Pinheiro. Lopes.. Rio. 267-274 e 291-294. em Opúsmdos. 2 vols. Diário de S.. 22. Os primeiros sinais " Para os dados referentes ao início do romance romântico é muito útil o levantamento feito por Basílio de Magalhães. M. aparecido originalmente no Jornal do Comércio em 1839. 145-15O.°. 188O. Fernandes Pinheiro. Niterói. pág-s. 3. Paula Brito. Romance Brasileiro Original. in. Teixeira & Cia. 1868. e o das traduções. 318-328. 1. 1859 (não traz menção de edição. Pereira da Silva. 17-2O. 1881. 15. G. págs. Crônica Portuguesa do século XVI. Gonzaga ou A conjuração de Tiradentcs. 347-392. 4O2 Citou-se: J. 184O. "Maria. 474-498. C. cit. 8 e 9. rdes de um pintor. IV. págs. Vicentina. Sobre a sua vida.. 1896. Ta.. Castilho. d. Memórias do sobrínho de men tio.. s..a ed. 271-281. da Editora Aurora. págs. Romances da Semana. O Rio do Quarto. Não há biografia sistemática do romancista. Em edições Garnier consultei: A Cartfira de meu tio. "JMM". 1864. 3 vols. d as Edições Cultura. atualmente. born número se encontra em edições Melhoramentos.. As Vítimas Alg ozes. 1893. M. O honrado r facundo Joaquim Manuel de Macedo Creio que quase todos os romances de M foram editados por Garnier. n.... 19O4. Rio. 2 vols. 188O. III-XXIV.a ed. 2 vols. "TS: O Filho do Pescador e As Fatalidades de dois jovens". 5 vols.a ed. f. Rio. págs. etc. 1863. vol. R. 2. F. 3 vols. Li da primeira: Nina. Leuzinger. I. 187O. sobre a voga e influência. e o Teatro. Rosa. 2. Cruzeiro.. s. .. 192O.a ou 3. Alcides Flávio. II. reedição aumentada da publicação anterior. O Culto do Dever. 746-751. Velaturas. objeto apenas de estudos e referências. Rio. Recordação dos tempos coloniais. O melhor estudo crítico é de Aurélio Buarque de Holanda...a ed. Recordações dos tempos coloniais. RdB (3). cons. Maria ou A Menina Roubada. 21-36. O Moço Loiro.. reproduzido em O Romance Brasileiro. 4. Paula Brito. nas obras gerais e outras. 3. Rio. 1844. Rio. da segunda: A Moreninha. 4.Providência. Barreto.. Santos. 1896.a ed. Dutra e Melo.. págs. J. f. d. A Namoradeira 2 vols. 1941.° 35 . Felix Ferreira. As mulheres de Mantilha todos sem mencionar data ou edição. 1952. 19O2. Rio. 2. Nova edição. MB. As fatalidades de < lois jovens. Os Dois Amores. ver A. 1896 s. sobre o seu modo de ser.a ed. 12-25. José de Alen car. 1895 (deve ser a 2. A Luneta Mágica. "A Moreninha".a) .a ed. 1944. 1859 (impressa parceladamente em 1852-1853). 2. s. págs. 4. "Traços biográficos de AGTS". Como e porque sou romancista. Para a opinião crítica do tempo... A Baroneza do Amor. Paris. Interpretações. Garnier. 1863. 1857. RIC. Renato Almeida. 2 vols.. "Esboço da história literária da Academia de S.in . e organiz. 1881. Garnier.. Rio. em Artistas do meu tempo. transcrito da Revista Acadêmica. Paulo". 78-91. 5-11. Tip. que traz como introdução o famoso relato de Couto de Magalhães. 3 vols. trad.. 2. Astrogildo Pereira.A Poesia". Rio. 2. Serenatas e Saraus. etc. S. sendo estranhável o desinteresse pelo escritor que deu f"nna fto romance brasileiro.D. CEB.a série. n. ver Mário de Andrade. Sobre o refugiado carlista que tanto influiu na vida musical do tempo. s. CAPÍTULO IV . 3 vols.° 4. há apenas as obras 4O3 #gerais.sobre o sentido de documentário social da sua obra. A. págs. Paulo. 193O.AVATARES DO EGOTISMO 1. Briguiet. F. Rio. História da Música Brasileira . d.. Nascimento da Fonseca Galvão e Luís Rômulo Peres Moreno. Tradições e . Rio.a ed. O citado verso de Kirsanov é do seu poema "Zoluchka".° 2. José Amat". notadamente Paulo Vale. José de Alencar. do Correio Paulistano. Para o caráter de desvario dessa geração. "Prefácio". 1946-1948. 1871. II.. vol. Garnier. págs. etc. ver também Melo Morais Filho. importam as informações sobre as suas associações e excentricidades. Stock. 1942. Anthologie de Ia poésie russe. 19O2. n. Almeida Nogueira. Chiarato. (Joaquim Norberto) A Cantora Brasileira. de Jacques David. Rio. Rio. Para o estudo propriamente crítico. Corrêa de Oliveira. 1944. Sobre a relação entre modinha e ária de ópera. Parnaso Acadêmico Paulistano. Macedo e Lima Barreto". Ao Correr da Pena. "A Ópera Nacional . pág-s. REF. Melo Morais Filho.. 71-79.a série. Máscaras Obras citadas: M. 7. "Parecer". Modinhas Imperiais. Garnier. "Romancistas da Cidade: Man uel Antônio. "Fragmentos de um escrito . 19O4. 1859. Idem. Lello. inclusive os portugueses. 9. I § 2) .. II. a fim de apreciar a sua psicologia e poética. Escritório do Editor. I § 1) . ver José Veríssimo. Sobre este aspecto e.a ed. cit.Lês Orientales.Reminiscencing. Rio. Estudos de Literatura Brasileira. Porto. Teófilo Braga. A marcada inclinação de Álvares de Azevedo por Heine. cit. (cap. 3. Nelson.° c. cit. I. VI).. Premieres Poésies e Poesies Nouvelles. 1859 e 1866. Musse t.. a boêmia estudantil. seja na técnica do verso. Lisboa. também para o cap. The Works of Lord B. 5 vols. Odes et Ballades . I. 4. Lisboa. . O panorama. (cap. João de Lemos. ed. (cap. ver o interessant e testemunho e comentário lírico que é o romance anônimo de costumes. s. I. (Fica entendido que as referências aos poetas estrangeiros valera.. Vigny. 1864. 13-22. 4O4 2. etc. Dorchain. Victor Hugo. § 1) . § 3). cit.. Para a caracterização literária. Luís Augusto Palmeirim. § 6). 2 vols. os outros. Cancioneiro. (cap. 1858. O conflito da forma e da sensibilidade em Junqueira Freire . É conveniente.° e 5. data de 1866. Edições que consultei: Byron. § 1). Lisboa. Tauchnitz.. a possível influência de Espronceda sobre os portugueses e brasileiros u ltra-românticos. Cânticos. cit. Obras Poéticas. Lei pzig. em geral.Vida Acadêmica. (cap.a ed. ver os principais poetas europeus que os inspiraram. Genesco . Também ainda não foi estudada. "Os poetas da segu nda geração romântica". de autoria de Teodomiro Alves Pereira. ao que saiba.ainda não foi objeto de estudo. d. Poesias. seja no espírito. os vols. Poesias. com quem tiveram marcada afinidade. ed. d. 3 vols. Tipografia do Panorama.. 19O9. Poésies Completes. 1858. págs. (cap. II. 1866. Soares de Passos.. s. Tipografia Perseverança. Mendes Leal. cit. Espronceda. Paris. .assinalada por Norberto e Machado de Assis. Lês Feuilles d"Automne. tem intuições originais sobre os aspectos mórbidos do poeta. que traz vinte e uma poesias esparsas e inéditas. EAP.. "Vocação e Martírio de JF". Crítica Literária. São Paulo. Estudos de Literatura Brasileira. 1928. analisa sobretudo o drama religioso. estudo liminar na ed. por JF". "Estudo sobre JF". 4. a obra principal é a biografia de Homero Pires. "Ensaios de Análise Crítica . págs. VII-XXIX. a digres são nacionalista a propósito de um autor. 2. talvez o melhor ensaio que a crítica romântica dedicou ao poeta. s. Rio. l. 1859. Soe. de Abreu. Novos ensaios de críti ca e de história. 2 vols. Jackson . apontando a impregnação clássica e certas influências decisivas. Poesias de JF". voltado principalmente para a biografia. págs. (1855). José Veríssimo. born trabalho.LJJF".° vol. Roberto Alvim Corrêa. Capistrano de Abreu.. 1869. Comp. importante também sob o aspecto crítico. 553-574.. págs. págs. A Ordem. mas típico de certo aspecto da crítica do tempo. cit. cit. além de traçar um admirável perfil psicológico. I § 1). sua vida. Rio. Editora Nacional. págs.II . breve nota sem o menor interesse. 47-84. Roberto Alvim Corrêa. ed. no 1. "Inspirações do Claustro. Zélio Valverde. das mesmas Obras.a série. vol. Consultei ainda Elementos de Retór ica Nacional. Laemmert. 1931.. 59-76. isto é. traz boas análises sobre o a . Zélio Valverde. Rio. d. 1937. 5-62. "JF". Franklin Dória.° vol. 1929.Inspirações do Claustro.. 2 vols. J. Cap. I. sua obra. n. 43-47. "Perfis Juvenis . Sobre ele. Machado de Assis. mas aponta os defeitos de forma e ressalta a originalidade. Pereira da Silva. Garnier. Afrânio Peixoto. Rio.in . págs. págs. II. sua época. e Poesias Completas. muito medíocre. de pouco valor crítico. págs. (cap. 77-87. JF.Usei como texto de J F os de Obras Poéticas. notadamente Herculano. 1944.°s 1-2. das Obras Poéticas. Rio. Ramo de Louro.a ed. 13-34. Vejam-se ainda: Macedo Soares. cit. Ensaios e Estudos. "LJJF". Minhas Recordações. muito vivo. que até hoje não motivou qualquer obra sistemática. Juiz de Fora. Continua tendo interesse Dilermando "cruz. Estudos de Literatura Brasileira. cit. a cópia datilografica de uma edição de cordel. Osvaldo Melo Braga. ed. tudo o que há de interessante para o seu estudo. seja do ponto de vista biográfico. (cap. . 76-88. pois. bastando dizer que contém a "Introdução" de Eduardo de Sá Pereira de Castro à ed. a "Not ícia". 4O5 #Q a ed Gamier. 1899. embora pouco satisfatório. conservada em Ouro P reto. § 5). 1944.specto religioso da sua obra. 1946. s. Rio. BG. na obra abaixo citada. Pouco expressivo é José Veríssimo. 1911. outra referência especificada.. O trabalho fundamental. cit. Paulo. poeta da natureza Não há edição reunida das obras poéticas de B G. que inclui uma gramática escrita pelo poeta e possui a virtude de reproduzir. é ainda Basiho de Maalhães. XXVII e XXXV. os dois de Constâncio Alves. 3. (cap. "LR". Consultei de algumas poesias obscTnas inclusive o admirável "Elixir do Page". o de Melo Morais Filho. de 1867. I § 1). que superestima o poeta sem fundamento convincente. Obras completas de LJSR. 1876. Folhas do Outono. indispensável à reconstituição da personalidade. o estudo de Teixeira de Melo. II. Rio. Ela dispensa. págs. Para o estudo da sua vida em S. O drama A Voz do Pane foi publicado por Dilermando Cruz. 4. Novas Poesias. que mereciam um esforço de coordenação crítica semelhante ao anterior. 1883. Costa & Cia. Rio. caps. ver Francisco de Paula Ferreira de Rezende. e outros de menor importância. seja do ponto de vista crítico. II. Acrescente-se a nota biobibliográfica inicia l do benemérito organizador. de Norberto. José Olympic. Gamier. As flores de Laurindo Rabelo Usei o melhor texto. Bernardo Guimarães.. Garnier. Rio. Consultei: Poesias. Editora Nacional. praticamente. à de 1876. f. BG. principalmente. cit. que traz um poema não publicado noutra parte. subtitulado "Homenagem a AA". II. sensível aos motivos do quotidiano. Paulo. S. mais tarde incorporados à ed. 7. (cap. 1931. 194O. S. d. Norberto. Rio. Obras cornpletas. José Olympic. em Paulo Vale. Estudos de Literatura Brasileira. que contém. Almeida Nogueira. penetrando nalguns aspectos fundamentais da sua psicologia. embora pouco penet rante. (cap. (8 1). II. Paulo. Paulo. os seguintes estudos: Afrânio Peix . Revista do s Tribunais. 215224. ed. porém. Revista dos Tribunais. Rio. I § 1). d. vol. Homero Pires. Homero Pires. Vejam-se também: José Veríssimo. pelo qual se pode avaliar certo tipo de poesia s atírica de BG. o citado depoimento de Couto de Magalhães. II. ed. uma importante carta da irmã do poeta sobre o local do seu nascimento. Para o estudo crítico. s. Garnier. A A. S. Tradições e Reminiscências. 253-264 e. cit. págs. Homero Pires. AA.a ed. Rio.° 3.. a melhor publicação é o número comemorativo da Revista Nova. "BG". ainda estamos longe de uma "biografia e interpretação satisfatórias. Alvares de Azevedo. Ed. 1931. Álvares de Azevedo.. págs. 19O7. Já não pude aproveitar a síntese bem feita de Edgard Cavalheiro. s. cheio de humor. 3 vols. AA.importante e pitoresco testemunho de um contemporâneo. Cavaquinho e Saxofone. Academia Brasileira. Ano I. mais sistemático e ambicioso. além de inéditos do poeta. cit. Embora alguns livros lhe hajam sido consagrados. 1931. págs. "O fabuloso BG". informativo e superficial. 2 vois.. Veiga Miranda. 168-17 3. que englobem a investigação documentária e a análise crítica. estudo biobibliográfico. etc. Parnaso Acadêmico Paulistano. (19OO). § 6). S. ou Ariel e Caliban Utlizei duas edições: Obras Completas. Antônio Alcântara Machado. Melhoramentos. 1944.. trazendo. a melhor e mais completa. Vejam-se os livros: Vicente de Paulo Vicente de Azevedo. Paulo. n. 5. 1931. Editora Nacional. "Perfis Literários em 1855 . ". págs. págs. Critica Literária. págs. poesias de AA". págs. "AA". que trazem o testemunho intelectual e afetivo da Academia de S. "O drama acadêmico de AA". R. melancolia e solidão. Vejam-se ainda: Machado de Assis. 346-354. 318-324. reproduzindo uma 4O6 conferência no Instituto Histórico em 1872. Rio. o ferrão bem no centro". "AA. das Obras (1862). págs. na cit.. págs. Mota Filho. "AA poeta". A. págs.M. "Amor e Medo". acima (§2). Álvares de Azevedo". 397-415. cit. 191-218. Paulo.. P. Aurélio Gomes de Oliveira. 67-134). págs. 129-19O. págs. 43O-436. que influiu em toda a crítica posterior. pode-se ler o ensaio laudatório e oco de A. Lopes de Mendonça. ainda. Tipografia do P anorama. "Lira dos Vinte Anos. imaginoso e rico de conseqüências que a nossa literatura romântica já motivou. "Netícia sobre o autor e suas obras". o mais profundo.IV . estudo magistral. Nesta edição. págs. o único romântico brasileiro". . págs. 1855. 375-396. tem muito interesse a reunião de peças coevas. Azevedo Amaral. que serviu mais tarde de introdução à 2.a ed. A. págs. Artur Mo ta. 1935. (1852) págs. de Domingos Jacy Monteiro. mas procura estudar convenientemente a obra. "AA e os charutos". Nela pode-se ler. é o primeiro escrito de certo vulto. é um estudo convencional. Memórias da LiteraturaContemporânea. Homero Pires. 424-429. Apenas como exemplo da sua repercussão imediata em Portugal. empreza tipicamente romântica de elaborar do poeta um perfil de dor. "A originalidade de AA". 437-469. edição. 416423. o "Discurso Biográfico". A estes ensaios podemos juntar: Joaquim Norberto. Vicente de Paulo Vicente de Azevedo. págs.oto. notadamente as da ses são fúnebre promovida pela sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. "Influência de AA". (Vem reproduzido em O Aleijadinho e AA. 29-114. Mário de Andrade. feito por um primo e amigo. Luís da Câmara Cascudo. 335-374.. Lisboa. págs. fixando a imagem elaborada nos vinte anos anteriores. 338-345. II. (cap. é uma análise filosófica. marcando a experiência livresca. "AA". cit. O principal estudo biográfico é de Nilo Bruzzi. parecendo mescla de imaginação e pesquisa documentária. 37-63.1O2-1O7. comemorativa do centenário do poeta. Tradições e Reminiscências. o toque de genialidade e. excelente ensaio. Amando Prado. 194O. ob. XI-XXIX. Sociedade de Cultura Artística. págs. págs. no artigo citado abaixo. importa pela publicação da correspondência e de desenhos do poeta. 6. Em 1945 o Min. Obras de CA. cit. Casimiro de Abreu. a impregnação byroniana. Rio. 1944. cit. que reestabelece a ordem original dos poetas . dá importantes precisões sobre o nascimento. faesimilar. José Veríssimo. com prefácio de Afrânio Peixoto. aparecido num jornal português em 1856 e não incluído nas edições. como o anterior. "AA". 35-47. Boletim. born estudo. Sousa da Silveira. § 6). "AA. dá como local do na . sem indicação de fontes. da Educação editou As Primaveras. como prenuncio das melhores interpretações desenvolvidas a seguir. no § anterior. S. José Olympic. Estudos de Literatura Brasileira. aflorando a obra com perspicácia e intuição. bastante irregular. Editora Aurora. traz o depoimento de um contemporâneo de Faculdade sobre a sua linha impecável na boêmia. O Caminho das Três Agonias. "MAAA". de acordo com os conhecim entos atuais. Dois Românticos Brasileiros. "Carolina". publicou Ferreira Lima. RIHGB. ou pequena novela. Cândido Mota Filho. Paulo. 1949. Obras Completas. "AA". O "belo doce e meigo": Casimiro de Abreu Utilizei o texto da ed. apresentando com inteligência a versão convencional. acima. Ferreira de Rezende. 1931. 1OO-1O7. e cap. págs. 1944. vol. breve artigo. II. síntese correta. págs. de tal modo que ainda hoje per manece válido. Luís Felipe V ieira Souto. págs. cit. (cap. S. Rio. que esclarece pontos mal conhecidos. o conto. Rio. Conferências. 43-95. Editora Nacional. I § 1). o poeta do destino". Almeida Nogueira. Paulo. Em 1939. VII. Homero Pires. 19O9. visando apreender a essência dramática da sua personalidade literária. pá . págs. págs. Muito importante é a edição de Joaquim Norberto. a citada ed. a "Notícia sobre o autor e suas obras". Pinheiro Chagas. publicando em apêndice o conto acima referido. 12-16. 16-39. cit. que consultei na reimpressão de 192O. procurando localizar os elementos fundamentais da arte do poeta. José Veríssimo. págs. págs. I § 1). 1939. João Marcos. LVIII. 71-73. trazendo documentos relevantes. Rio. Garnier. Ramalho Ortigão. ensaio simpático. Do ponto de vista interpretative. não há estudo satisfatório. 195O. 58-63. Estudos de Literatura Brasileira. l. publicado pela Academia Fluminense de Letras. "Casimiro de Abreu em Portugal". e. págs. págs. 5O-52. facsimilar. RAM. com base em correspondê ncia inédita. "CA". Muito mais importantes são dois artigos que antecederam estas publicações: Henrique de Campos Ferreira Lima. l. págs. Em contestação apareceu. 11-12. Ver ainda: Capistrano de Abreu. esparsas em jor nais e revistas. que esclarece com excelentes documentos a estadia na Europa e começo da vida intelectual. RIHGB. introd.scimento Capivarí. onde. XXXIII. Reinaldo Carlos Montoro. não S. além de poesias a ele consagradas e. (cap. 1877. A Naturalidade de Casimiro de Abreu e mais falsidades. Velho da Silva. págs. Fernandes Pinheiro. desacredita um pouco o poeta. págs. permitindo avaliar largamente o ponto de vista dos contemporâneos. "O poeta d"As Primaveras". págs. 17-39.a parte. concluindo pela reabilitação do velho português. no afã de fazer justiça ao pai. "CJMA". parece que organiaado por Carlos 4O7 #Maul. versão ampliada de "CA". a saber: Justiniano José da Rocha. Pedro Luís. do organizador. 39-5O. Ensaios e Estudos. Afrânio Peixoto. 295-32O. Obras Completas de CJMA. onde estão reunidas as críticas do tempo. págs. erros e mistificações de um. Maciel do Amaral. analisa as relações com o pai e a vida no Rio. cit. 187O. deformado pela lenda. II. págs. biógrafo. 91-11O . 5-4O. págs. 63-7O. 54-58 e 119-122. Niterói. Ernesto Cibrão. (§ 2). págs.° 53. págs. págs. cit. § l).gs. visão simpática mas algo estreita e condescendente dum parnasiano. é preciso recorrer à análise histórico-sociológica sob todos os títulos admirável da relação entre os sexos ao tempo do aparecimento do Romantismo. (cap. págs. 47-59. n. I. 1937. Harmonias Brasileiras. IV. (cap. Cantos nacionais coligidos e publicados por AJMS. § 5). Múcio Leão. I.. a convenção sobre a poesia casimiriana. em Obras de CA. 7-49. Goulart de Andrade. dando algumas indicações sugestivas sobre a sua métrica e vocabulário romântico. Os -menores . a antologia muito significativa de Macedo Soares. 117158: "A mulher e o homem ". "CA". Lembremos que o sentimento amoroso de CA foi reinterpretado nalgumas observações de Mário de Andrade. "No jardim público de CA". Confissões de Minas. 192O. retoma alguns dados biográficos da anterior e acentua o de sleixo da sintaxe e do verso. RABL. de onde se pode inferir que é o avesso de Álvares de Azevedo. 4O8 . cit.° 14. por assim dizer. acima. Carlos Drummond de Andrade. mas sobretudo as notas abundantes e inteligentes & cada poema. 27-35. Sobrados e Mucambos. acentuando a força expressiva que o poeta obtém através da banalidade dos temas e sentimentos. n. cit. 7. um dos estudos mais compreensivos. com um importante prefácio. é um belo ensaio. "CA". cap. em Gilberto Freyre. págs. Paulo. 4-29. "CA". RABL. nas quais o ilustre filólogo demonstra a pureza e a correção da língua de C.. 1859. Sousa da Silveira.V. cit. XIII-XXV. (§ 5). Mas para compreender o erotismo dos poetas desta geração. sugerindo a armadilha que a sua facilidade pode constituir para a crítica e fixando. S. tida geralme nte como desleixada e incorreta. "Amor e Medo". Tip. vol. Garnier. ver as citadas a propósito de Bernardo e Álvares de Azevedo. Sobre ele. Tip. II. não obs tante o exagero do juizo. II § 5). Luiz do Maranhão. Tradução parafrástica de Flávio Reimar. A. . Universal. que geralmente se referem ao terceiro amigo da inseparável trinca.De Trajano Galvão. que traz o prefácio simpático e elucidativo de Bernardo Guimarães. Mistério.De Almeida Braga. . Rio. Flores e Frutos. com um encomiástico prefácio de Sílvio Romero. . . ver Machado de Assis. sem menção de editor. de Almeida Braga. "Traços biográficos de TGC".De Sousa Andrade. Crítica Literária. págs. nas Sertanejas. Sobre o poeta: Antônio Henriques Leal. Crítica . 1857. Três Liras. Brimbois. vol. IX-XVI. Rio..a ed. Raimundo Corrêa. págs. G.De Franklin Dória. . págs. lugar nem data (por indicação no verso da folha de rosto.O TRIUNFO DO ROMANCE . 1-8. cit. Recife. II. Brasileira. Rio. "TM como poeta". III-XII. 19O9. do País. II. págs. § 5). Panteon Maranhense. cit. págs.Clássicos e Românticos Brasileiros. "SÁ". o que permite identificar o operoso e esclarecido impressor maranhense Belarmino de Matos. Poesias Póstumas.. Poesias. 1872. H. 1914. 1867. 158-16O. Maranhão.. cit. 186O.De Teixeira de Melo. Beltrão & Cia.De Bittencourt Sampaio. o principal escrito para estudo. ver a breve nota de João Ribeiro. Laemmert. Marques Rodrigues. Matos. Belo-Horizonte. contendo Clara Verbena e Sonidos... 1855-1873. ibidem. I-XXVIII. 1859.Consultei de Aureliano Lessa. Enlêvos. muito interessante: Oscar Lamagnère Leal Galvão. "Prefácio". S. . etc. biografado por Henriques Leal no Panteon Maranhense. págs. Garnier. Sobre o poeta. 1872. 1898. 2. que reúne Sombras e Sonhos (1857) e Miosotis (1873). Imprensa Americana. págs. Harpas Selvagens. 223-264). CAPÍTULO V . Rio. "Flores e Frutos". onde vem descrita a "devassidão do espírito" a que se entregava o grupo. as referidas Três Liras. vemos qu e foi impressa por B. Liège.. além das obras de referência. Versos de Flávio Reimar. "AL". 2O1-222. Flores Silvestres. 2O-24. artigo elogioso mas insignificante. (cap. (cap. Sobre ele. Coleção de Poesias dos Bacharéis TGC. Acad.De Bruno Seabra. págs. Rio. Sertanejas. . 1952. Eloá. Os três Alencares Alencar é. Melhoramentos. o meu capítulo foi escrito antes do seu aparecimento. Mas revi as citações por ela. "O tradicionalismo de Manuel de Almeida". "Romancist as da cidade: MA. citando-a em tais casos. 1944. Imprensa Nacional. 1894. Rio.. Como e porque sou romancista. "Preface" à sua trad. Macedo e Lima Barreto". Rio. Infelizmente. localiza agudamente os elementos responsáveis pela eficácia do livro. Rio 1933. trazendo belo material iconográfico e bibliográfico. e dela não me pude valer. Estudos Brasileiros. O principal trabalho informativo é de Marques Rebelo. Novas experiências Citaram-se: José de Alencar.a ed. Paul Rónai. Cap. 2. Vida e Obra de MAA. Laemmert. e "dá 4O9 #torn" a toda a crítica posterior. O Guarani. Renascença Editora. (cap. Viuvinha. da Educação e Saúde. "Introdução" à ed. ed. "O romance de costumes". Manuel Antônio de Almeida: o romance em moto contínuo Utilizei como texto: Memórias de um Sargento de Milícias. Prosa de Ficção (187O-192O). cit. José Olympic. § 4) . sí. Lúcia Miguel-Pereira. o romancista brasileiro de cuja obra há melhor texto. biografia sumária. A . S Paulo. Fauchon et Cia.. 2. Para o estudo crítico. com um breve prefácio.a série. no caso as seguintes: de Garnier. Min. Atlântica. O Romance Brasileiro. Sonhos d"Ouro. 1943. Mário de Andrade. Cinco Minutos. José Olympic. Memoires d"un sergent da la miliee. 1941. págs. José de Alencar. Araripe Júnior. Rio. avultam: José Veríssimo. cit. 3. 5-19. Ill. 1938. Letras Acadêmicas. em 16 volumes. a saber. Alfarrábios. Martins. V. 7-23. Marques Rebelo. 1944. que analisa o seu caráter representativo da índole e costumes nacionais. "Um velho romance brasileiro". (cap. a edição da Livraria José Olympio. ferindo os principais aspectos a que "\a se tem aplicado. 2. Olívio Montenegro. da Comp.Págs. Astrogildo Pereira.. 1951. Ver aind a: Xavier Marques. A Guerra dos Mascates. § 4). no momento. 195O. 1894.1. As minhas leituras haviam sido feitas nas edições quase todas pouco satisfatórias até então disponíveis. Ill. Rio. Rio. honesta e compreensiva. Rio. Mas há um conjunto de estudos que. Não há ainda biografia à altura do assunto. 1894 (l. distingue uma fase de inspiração e outra de decadência. JÁ. W. de Medeiros. Cartas a Cincinato. Estudos Críticos de Semprônio sobre o Gaúcho e Iracema.Pata da Gazela. Melhoramentos. Rio. Diva. Jackson. "Iracema. 1874. Encarnação. de JÁ". Locubrações. de leitura obrigatória. Imparcial. O Gaúcho. O escrito mais importante para conhecimento da personalidade é a autobiografia literária Como e porque sou romancista.. Visconde de Taunay. g 4). 2. págs. pode ser lido como amostra das críticas feitas à correção da linguagem. Tomo I. a propósito da segunda edição da Iracema". do Instituto do Livro. Senhora. Rio.a ed. através da análise d"O Gaúcho. Machado de Assis. J. 1871. 81-213 . embora pouco compreensiva. 2.. Ill. cit. por motivos de informação ou ponto de vista: (José Peliciano de Castilho). págs. Iracema. edição modelar de Gladstone Chaves de Melo. Tip. contendo ataques à sua posição política e à sua arte literária.. Reminiscências. As Minas de Prata. 1882). A obra mais sistemática ainda é Araripe Júnior. reforça ndo o anterior. "Questão Filológica. podendo -se dizer o mesmo da interpretação crítica. da Livraria Martins. 1937. Antônio Henriques Leal. numa análise negativa bem desenvolvida. permitem born conhecimento. Dos outros contemporâneos. 1923. Til. 6476 e 332-341. O Tronco do Ipê. Maranhão. Questões do Dia. um dos mais belos documentos pessoais da nossa literatura.a ed. Pernambucano.. (cap. somados. Lucíola. coordenadas por Lúcio Quinto Cincinato. interessam. Crítica Literária. O Sertanejo. inclina-s e a uma interpretação psico-patológica e sociológica da biografia e seu reflexo na obra. Magalhães & Cia. (Franklin Távora). 235-246. págs.a ed. "JÁ". 1872.. Ubirajara. de JÁ". "O Guarani. Pauchon & Cia. Pretende aplicar os métodos da crítica positiva de Taine. etc. 2.a ed.. apresentando análises e juízos de born teor.. Rio. Mont"Alverne. com elementos para o perfil psicológico. "Senhora. cit. Tip. em 1877. 153-164. born estudo de conjunto. I. modo de ser e relação com o público. R. págs. Olívio Montenegro. II.° 35. ao afirmar a excelência da segunda fase de Alencar. Crítica e Literatura. onde todavia há uma indicação interessante sobre as análises femininas. José Olympio. O Romance Brasileiro. assinalem-se: Magalhães de Azeredo. Gladstone Chaves de . Rio. A. como mera curiosidade Lopes Trovão. (§2). in.. (cit. 1895. m uito curioso como abordagem de Alencar pela crítica "científica". M. é valioso para a compreensão da personalidade literária. . Dos críticos posteriores. aspectos básicos do seu valor. págs. José Veríssimo. Augusto Meyer. JÁ. extenso e importantíssimo estudo sobre a sua carreira política. que procura caracterizar. Rio. págs. 79-97. Vivos e Mortos.a ed. vazio e desconexo.. 135-162. "JÁ". apontando traços interessantes da sua psicologia literária. 117-122. Rocha Lima. Livraria do Povo. RdB (3). págs. 1941.". "De um leitor de romances: A". 69-74. mas ilustrativo do setor da opinião que o idolatrava. 1897. nos momentos de descrédi to do grande romancista junto aos meios intelectuais. 2.. IV. do País. n. Estudos de Literatura. discurso feit o no dia do enterro. (cap. Agripino Grieco. conferência palavrosa e digressiva. O Romancista. 1947. Perfil de mulher publicado por G. estudo pedantesco e digressive. "JÁ e o seu drama O Jesuíta". JÁ. Estudos Brasileiros. IV. cit. ape sar de consagrado ao teatro. § 1). 1878. 41O § 2). Maranhão. sendo também uma reação contra os críticos naturalis tas. cap. chegando LT a negar à crítica o direito de analisar as suas obras. Idem. tributo de um apaixonado alencariano que sempre soube sentir. e no qual Araripe Júnior colheu os elementos centrais da sua interpretação.. 19O3. Consulte-se. págs. VII-LVI. na citada edição. Josué Montelo. Tomo X. f. embora expressamente indicada pelo romancista na autobiografia.. 11- 23. "A verdade das minas de prata". é um excelente estudo de revalorização do romancista como observador da sociedade e artista ajustado ao meio. s. págs. 11-18.. Citemos.a ed. a bela síntese de Brito Broca.°. no primeiro grupo.. Dela me utilizei apenas de A Escrava Isaura. O índio Afonso. renovador das letras e crítico social". Tomo 1. A Filha do Fazendeiro. Lendas e Romances (contém: Uma história de Quilômbolas. As bibliografias gerais mais completas parecem as de Gladstone Chaves de Melo. e José Aderaldo Castelo. 12-32. que reexamina e põe nos devidos termos os aspectos lingüísticos da obra. "Introdução Biográfica". d. O . usei: Garnier. ll. Imprensa Nacional. "Uma influência de Balzac: JA". 2 vols. sem o caráter de estudo. págs. Jupira). 19-39. História e Tradições de Minas Gerais (incluindo A Cabeça do 411 #Tiradentes. Pedro Calmon. que focaliza a sua capacidade fabuladora. ed. págs. págs. Quatro Romances (O Ermitão do Muquém. Gilberto Freyre. 1941. outros. 37-57. Briguiet. Tomo XVI. BB. págs. Muito importantes são as notas bibliográficas da editora. no mesmo vol. 1941. 1914 s. Um contador de casos: Bernardo Guimarães Há edição uniforme das obras de BG. há estudos originais. Na referida ed. enfim. 2. 19-25. 1949. onde vêm levantadas as sucessivas edições de cada obra. págs. brilhantes mas curtos. Rio. sob o título de Obras Completas de BG.. e Rosaura. Martins. "Introdução" à cit. sob a direção de M. "JÁ.. s. dando o elenco mais perfeito até o momento das edições dos romanc es. d. Rio. "A e as Minas de Prata". de Iracema. 1948. outros que são transcrições de trabalhos anteriores. págs. e Maurício.a ed. dá algumas úteis indicações históricas.Melo. 4. Wilson L/ousada.. José Olympio. XIII. A dança dos ossos).. dos demais. 13 vols. ""Bibliografia e plano das obras completas de JA". A garganta do inferno. 1941. excelente análise inicial de uma influência pouco referida. Tomo V.. Nogueira da Silva. . págs. págs. V-XXVI (sobre ela. etc. III-XV. as notas do cap.. Tip. S.. Antônio Simões dos Reis. d. 1943. retificando erros. Garnier. Tipografia Imperial do Instituto Artístico. c orn a importante introdução de Francisco Otaviano.. Laemmert. (1872). III-XXXII. Carimbos. 1919-192O. com introdução de Sílvio Romero. 1876. 5-44). (1944). Visconti Coaraci. Rio. s. Machado de Assis. 1869.Seminarista. "Pedro Luís (Notas para uma biografia)". Cultura. 19O3. Paulo. Paulo... recitatives. 194O. 3 vols. Poesias. A Noite. "Neve a descoalhar". págs. poema épico em 5 cantos por Luís José Pereira da Silva. O Garimpeiro). Poesias Completas. Rio. 1897 (sobre ele. Cruz Coutinho. ed. consultar. Sobre a sua vida. com introdução de Américo Pereira. trazendo prefácio de Pessanha Póvoa. Para ilustrar a invasão melódica na poesia citou-se O Trovador. págs. FV. Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais: O Bandido do Rio das Mor tes. s. Dias e Noites. Recife. a obra atualmente mais autorizada. d. S. que supera as anteriores. Quanto às obras sobre ele. Novas direções na poesia. 19O1. 1868. Luís Guimarães Júnior. Edgard Cavalheiro. 1944. finalmente. RAM. LXIII. s. S. Narcisa Amáli a. Tobias Barreto. Riachuelo. . Simões. é Edgard Cavalheiro. "Um grande poeta esquecido". Rozendo Moniz Barreto. áreas. 19O4. d. Rio. Narcisa Amália. ver Mário Neme. João Júlio d os Santos. Vôos Icários. Rio. 2. Coleção de modinhas. Rio. Rio. págs. Rio. Paulo. Garnier. § 4. do Correio de Pernambuco. Textos dos poetas referidos: Pedro Luís. Auroras de Diamantina e outros poemas. traz alguns outros poemas. cons. f. lundus. Nebulosas. VIIXXXIII. CAPÍTULO VI . s. Martins. Breve notícia sobre a sua vida". IV. Garnier. Ramos Moreira. acima.A EXPANSÃO DO LIRISMO 1. Obras Completas. d. 1949). Transição de Fagundes Varela Usei o texto das Obras Completas de LNFV. Nova edição correta. s. Rio. Instituto Artístico. 5 vols. Mencionou-se. Rio.. "TB. (sic). ed. I. Cultura. "O Diário de Lázaro. Afrânio Peixoto. Confissões de Minas. 2 vols. 1938. Paulo. Ariel. justificando o poeta ante as alegações de plágio ou falta de originalidade. interessante por saudar V como tendo ficado imune da influência byroniana. d. Estudos de Literatura Brasileira. Poesia e oratória em Castro Alves O melhor texto é o das Obras Completas. "Cantos e Fantasias por FV".. Crítica Literária. § 2). constit uindo. 349-394. reproduzido mais tarde na ed. onde se deve destacar a introdução do organizador. págs. 188O. IV. é um ensaio penetrante. págs. 217-223. Alberto Faria. 3. estudo bastante sobrecarregado. Franklin Távora. poemêto de LNFV". o primeiro estudo de conjunto. (cap. Carlos Drummond de Andrade. 1925. com introdução e notas importantes. Rio. Garnier. é um breve estudo compreensivo. aborda toda a obra antes de concentrar-se no objeto principal. Soo Francisco de Assis e a poesia c ristã. 131146. "FV".trazendo novos dados. Agripino Grieco. V. § 5). "FV". que analisa rapidamente com argúcia. talvez o melhor estudo crítico. § 5). José Veríssimo. acentuando o caráter de vivência brasileira dos seus poemas da natureza. RB (2). apontando a impregnação dos predecessores imediatos. Em apêndice vêm documentos e obras inéditas. págs.. S. II. solitário imprefeito". ed. "V". 1 3-26. 41. 412 etc. que supervaloriza. citem-se: Machado de Assis. traçando um penetrante retrato psicológico e poético. a maestria no verso branco. salvo erro. RABL. a inspiração irregular. "FV. págs 88-97. s. mas a primeira parte é excelente.. 357-39O. págs. cit. cit. que desvenda aspectos básicos da psicologia do poeta. Editora Nacional. (cap. II. algumas das quais incorporadas depois na ed. . págs. Quanto aos artigos e ensaios. (cap. cit. biogràficamente muito born. o poeta e o poema. A primeira biografia sistemática e fundamentada foi a de Xavier Marques. 3 vols. Pongetti. 1942). que apresentam os aspectos sociais do poeta. num vasto esforço de integração metodológica. Lisboa. bem como as condições do meio. CA. Paulo. Paulo. 1913. mas com o mérito de procurar definir a atitude ideológica e. Saraiva. bastando assinalar alguns poucos: Tito Lívio de Castro. que focaliza não apenas a sua psicologia e arte. 1953. "CA". 3 vols. Questões e Problemas.. acentuando o conteúdo da sua mensagem liberal e abolicionista. Bahia. História de CA. Anuário do Brasil. S. 1922. 1947. local e . Há alguns estudos de inspiração política. Isto lhes dá uniformidade e monotonia. Edição do Grêmio Euclides da Cunha. sobretud o. a romantização da biografia. Os artigos e ensaios sobre CA têm geralmente em comum três elementos que. que obedece ao critério de todos os seus ulteriores trabalhos. S. acabam por transformar-se em graves defeitos críticos: o invariável torn de exaltação. C A e sua época.Há muitos livros sobre o poeta. CA e seu tempo. destacando-se. 1947. Aillaud. 137-156. Trajetória de CA. o tratamento retórico do seu liber alismo. Rio. CA. (ed. Cincinato Melquíades. S. Edison Carneiro. onde infelizmente a parte sócioeconômica não se entrosa com a literária. 1942. utilização da obra como documentário psicológico. Euclides da Cunha. que traz valiosos pormenores biográficos e aborda pela primeira vez a história dos amores. seguem-se Afrânio Peixoto. Vida de CA. apontar algumas características do estilo. tornados critérios únicos. Lopes Rodrigues. como interpretação baseada em vários instrumentos de análise. 1911. Rio. págs. Paulo. notadamente marxista. José Olympic. livro enorme e redundante. Pedro Calmon. mas o panorama do tem po.. a saber. correta. guardando o interesse ainda hoje. Jamil Almansur Haddad. Rio. born estudo biográfico. Deles podem-se destacar: Heitor Ferreira Lima. 1947. digressivo e ralo. Revisão de CA. Anchieta. sem menção de editor. Vitória. com menos substância do que aparenta. data. (cap.. § II). no caso. "SR". Comp. 1895. 162-169. Paulo. "CA no decênio de sua morte". a mais alta coletânea de ensaios críticos das nossas letras). "CA". Rio. 1947. 1945. Sobre a sua poesia. págs. 1O5-113. Vivos e Mortos. págs. respectivamente "A poesia de hoje". SR. 49-54. José Olympic. "CA". 147-163. aliás. Mário de Andrade. e Últimos Harpejos. págs. II (cit. 1878. págs. Sua formação intelectual. Porto. situando-o por meio de coordenadas precisas e inspiradas. Rio. S. Rio. 1883. S. José Veríssimo. Estudos de Literatura Brasileira. págs. Lello & Irmão. 2. born ensaio. sem dúvida o melhor e mais penetrante ensaio sobre o poeta. Pelotas e Porto Alegre. Tipografia Fluminense. Carlos Süssekind de Mendonça. da parte de um crítico que sabe apreciar o 413 #que há nele de melhor. Nacional. Xavier Marques. pouco ou nada diz sobre o poeta. V. Letras Acadêmicas. Americ-Edit. apontando a vocação retórica e a importância da idealização do escravo. "CA". Edit. interessa por apontar alguns elementos para estudo da repe rcussão imediata da obra no terreno do abolicionismo. Carlos Pinto & Cia. ilustra bem o torn apaixonado dos idolatras do poeta. 1938. Poetas Brasileiros. mas traça um quadro breve e sugestivo da arrancada liberal do seu tempo. e Antônio Cândido de Mello e Souza. 4. sobretudo o primeiro. e "Advertência". I § 5). 47-57. págs. 1943.a ed. Paulo. 145-164. Agripino Grieco. Vejam-se os importantes prefácios-manifestos de ambos. A morte da águia . . Introdução ao método crítico de SR. cap. 7-14. (Aspectos d a Literatura Brasileira talvez seja. 1851-188O.De Sílvio Romero consultei Cantos do Fim do Século. págs. cit. Aspectos da Literatura Brasileira.. Empreza Gráfica da Revista dos Tribunais. ver: Teixeira Bastos. 477 e 537.. 1927. 27-34.. 9O-96.De Matias Carvalho.II págrs. Lourenço. 2 vols. Poesias Completas. Rio. O Sacrifício. (cap. Para o conhecimento da personalidade literária. Francisco Alves. V. págs. Estilhaços (edição definitiva). Romance de passagem Serviram-me de apoio as excelentes considerações de Lúcia MiguelPereira. 19O3. cit.. 3O5. § 3). de Martins Júnior. págs. "IMJ". vol. Consultei em "novas edições" Garnier: Um casamento no arrabalde. 236. consultei LinJia Reta. Filocrítica. 1881. . Sobre ele: Clóvis Bevilacqua. Rio. folheto que não obtive.A poesia política de Lúcio de Mendonça se encontra principalmente em Alvoradas. 2. II. cit. págs. Prosa de Ficção. História da Faculdade de Direito do Recife. Tipografia Industrial Recife. cit. Ele próprio expôs e defendeu a sua concepção em A Poesia Científica escôrço de um livro futu ro. 1885 e Visões de Hoje. e critério estético: Franklin Távora Não consegui Os índios do Jaguaribe e A casa de palha. 89-1O4. ainda n ão editado em volume. em RB (2). d. e . págs. Vergastas e Visões do Abismo. ao 414 que eu saiba. CAPÍTULO VII . 93. reunidos com os demais livros nos Murmúrios e Clamores. péssimo poeta.Consultei. I. O regionalismo como programa.A CORTE E A PROVÍNCIA 1. 1883. Rio. págs. Poetas Brasileiros. 377. V § 1). 19O2. Tipografia Industrial. 45. O Cabeleira. "A Poesia Científica". Rio. Garnier. 169. 2O. s. Rio. dá boas indicações sobre as influências. 5. Perseverança. Evaristo R. Artur Orlan do. 1883. . Consultei na edição original O Matuto. onde explica a sua concepção de romance. da Costa. é necessário ler as Cartas a Cincinato. (cap. Recife. Garnier. 135-147. 19O2. aqui posto como índice dos aspectos mais radicais da poesia política. 1878. Teixeira Bastos.. Tip. Recife. 19O2. 1. págs. Rio. que traz na verdade apenas o drama Um mistério na fa mília. 192O. A sensibilidade e o born senso do Visconde de Taunay As obras de T. 19OO.. Ouro sobre. l. Baltazar Martins Franklin Távora. págs. 2 vols. mulher (inicialmente Lágrimas do Coração). l. Lisboa. Estudos de Literatura Brasileira. Lendas e Narrativas. 2.. n.também os fragmentos publicados de estudos históricos. Paulo. 1881.a ed. qualificando-a muito bem de "uma ilusão de bairrista e romântico". 19O7. . Bertrand.° vol. RdB (3). José Veríssimo. págs. Para o estudo da provável influência de Alexandre Herculano sobre certos aspectos das "crônicas pernambucanas". RABL.: O Monge de Cister.a ed. Ver ainda Clóvis Bevilacqua. "FT". onde evidencia a curiosidade documentária. RB (2 ). convindo citar inicialmente Excertos das principais obras de FT. brasileira. págs. Drummond. respectivamente IV. e não apenas as de ficção. 5. que analisa e combate. l. 1858. V. com a menção "continua" e a nota: "faz parte de um livro inédito intitulado A Constituinte e a Revolução de 1824"). mas apenas a sua concepção de autonomia literária regional.° 9. Recentes e recomendáveis são.. cit. 86-96. pouco há sobre FT. com bio-bibliografia por seu filho.a ed . 3. IV. 188O. Consultei da Garnier: A mocidade de Trajano. 2 vols.a ed. Manuscrito de uma. V. foram em grande número editadas pela Cia. Melhoramentos de S. Da Melhoramentos consultei: Inocência. Rio. 129-14O.° 35. e Prosa de Ficção.a ed. permanecendo contudo algumas em edições originais. 37-66 e VIII. 461-473.. Francisco Alves.Uma sessão do governo provisório" e "As obras de Frei Caneca" (esta. (cap.a ed. págs. "FT e a literatura do Norte". vo ltada para os fastos da sua região: "Os Patriotas de 1817 . págs. de Lúcia Miguel-Pereira. cp.. "Três romancistas regionalistas". 2. n.. 27-34 e 39-46.. 12-52. 49-21O ("Arras por foro de Espanha"). 1874. 1871. Além das obras gerais.. 19OO s. § 1). 19O5. f. não estuda a obra em si. azul. Histórias Brasileiras. págs. d. XIII a XVI.. onde se percebe uma posição de r omântico desconfiado ante o naturalismo e pendendo. Os documentos pessoais. págs. 1922. s. sobre ele. que aponta.. ed. um estudo amplo. 1922. 3. acentuando o . s. caps. Citei ainda Questões de Imigração..a ed. ao impacto deste. "T e a Inocência". é u m born estudo. porém. artigos e trechos de livros. pelo menos Céus e terras do Brasil. S. Melhoramentos. 1948. El Brasil Intelectual.a ed. Leuzinger. Buenos Aires. 4. A Editora. 7. assinala a diferença qualitativa entre Inocência e as outras obras e o fácil temperamento literário. e devem ser lidas como introdução à sua arte literária. se encontram agora reunidos e completados nas Memórias. A Retirada da Laguna e Visões do Sertão. s. "O visconde de T (o homem de letras)". Faz falta. serenamente. que sempre existiu como componente da sua personalidade literária. d. 265-277. l..18.a ed. No Declínio. para um realismo mitigado. Outro elemento valioso para o mesmo objetivo são os estudos críticos.. de capital importância. d. Outros estudos de Literatura Contemporânea. Lisboa. ed.a ed . Sílvio Romero.).. Brasileiros e Estrangeiros (s. alguns aspectos capitais. apontando a qualidade própria do "brasileirismo" de T.. d. O Eneilhamento. s. tanto biográfico quanto crítico. excluídas sempre 415 #as obras gerais: Martin Garcia Merou.. págs. hoje divididos (os literários e os lingüísticos) nos dois volumes Filologia e Crítica (1921). apresentação descritiva e invariavelmente laudatória. Melhoramentos. retificar a birra anterior..a ed. 19OO. d. 19O5. onde o grande crítico procurou. Instituto Progresso Editorial. II. Dos ensaios. Estudos de Literatura Brasileira. Rio. 187-2O6. 1889. respectivamente: 5. Das suas obras sobre a guerra e o sertão foram aqui citadas. consultem-se. Lajouane.a ed. José Veríssimo. Paulo. 5. mencionem-se: Olívio M ontenegro.a ed. I.. RB (2). S. De I"Allemagne. francesa de André Babe lon. AthenáumVerlag. II. Dos atuais. New Haven. 2 vols. De Ia littérature considerée dans ses rapports avee lea institutions societies. Pages choisies. cit. Hachette. cit. havendo trad. 5. 1874. idem. cit. cit. 1949... págs. utilizei alguns textos e comentadores abaixo discriminados: . Paris. 77-8O. Grasset.° e 2. cap. Gamier. Blutezeit der Romantik. "La vie et 1"oeuvre de Mme. 1. e Prosa de Ficção. Yale University Press. Nouvelle Edition. 2 vols. s. Deutsche Dichter.. II. com referência sobretudo às personalidades. 17OO-19OO. etc. Paris. (cap. Schlegel. d. II. W. 1929. 2 vols.A. Recentemente. apareceu um excelente estudo da sua posição pessoal na história da crítica.. de S". Die Romantik. Bonn. de Staél. págs. I. vol. (cap. "Três romancistas regionalistas". . Sobre ele..A CONSCIÊNCIA LITERÁRIA 1. Didot. Colin. Eine Geistesgeschichte in Lebensbildern. "La Retraite de Laguna". I e II. 27-39. VI. § 2). Paris. bem como a de Frederico. Oeuvres Completes. como registro da opinião elogiosa de um confrade exigente.. CAPÍTULO VIII . Rocheblave.senso da natureza e a familiaridade com o interior do país. Sobre a sua contribuição crítica: Albert So rel. o grupo Frederico-Guilh erme-Carolina. no conjunto.Mme. mas sobretudo Lúcia Miguel-Pereira. O romance brasileiro. Cours de Littérature Dramatique. . V § 2). publicados. caps. Raízes da crítica romântica Para o estudo dos grandes teóricos do Romantismo que influíram direta ou indiretamente na formação das idéias críticas dos românticos brasileiros. I-LXI. Em ambos vêm estudados. vol. Livro I. 1932.°. mais didático é Emil Ermatinger. ver a resenha de Franklin Távora. 1955. s. A History of Modern Criticism: 175O-195O. págs. § 2). (cap. I. A título complementar. Paris 1933. caps. cap. muito mais importante: René Welleck. Mme de S. f. há uma análise penetrante em Ricarda Huch. (§ anterior). etc. notadamente os de Pierre Moreau e Edmond Eggli.°. Lê Journal Intime d"Oberman. 2 vols. . cit.° do livro de Welleck. 1944. c . d. Columbia Univ. 1825. de S. 8. 1O58-1133. de S". vol. ver Sainte-Beuve. Mary Colum. Paris. ed. nunca reeditada: Resume de 1"histoire littéraire du Portugal suivi du Resume de 1"histoire littéraire du Brésil. f. Paris... 416 Quanto a Ferdinand Denis. cap. de Sainte-Beuve sobre Chateaubriand. 219-23O. acentuadas as relações com o Brasil. Paris. Aliem. cit. Lê Génie du Christianismc. 1951. "FD. Tanto para ele quanto para Mme. a de Sainte-Beuve. From these roots. Pléiade. 36 e 49. 288. Paris. e em André Monglond. em Premiers Lundis. ob. págs. Tomo I . LXXV.. 1824. "Um amigo do Brasil". s. e em alguns pontos explícita. Oeuvres. York. A aplicação do naturismo pré-romântico à visão do Brasil vem difusa. vol. Gamier. págs. § 2. 2.. René Welleck. N. reproduzida em Antônio Simões dos Reis. ver os livros franceses citados no cap. cap. RIHGB. nas Sce nes de la Nature sous les Tropiques.. Paris. Paris. Oeuvres. Sobre ele. Lecointe et Durey.a parte. I. Louis Janet. l. Press. págs. s. a obra crítica fundamental continua sendo. 64-71 e 272. foi feita por Escragnolle Doria. págs. e "André lê Voyageur". Bibliografia da História da Literatura Brasileira de Sílvio Romero. etc. eis a referência completa da sua obra. "Mme. onde estuda as origens alemãs das suas idéias. (1928?). etc. Portraits de Femmcs. I. Para o estudo da sua posição no Pré-romantismo.Sainte-Beuve. 8..Chateaubriand. Didot. Grenôble. Pléiade. Veja-se também o citado cap. 1947. 1949. A sua b iografia. vol. IV. apesar das deformações psicológicas.. Scenes de la nature sous les tropiques". 2 vols. págs. M. 1949. etc.°. A fiel amizade por Senancour vem referida na obra cit. Arthaud. C et son groupe littéraire sous 1"Empire. págs. VII-LXVII. "Bosquejo da história da poesia brasileira". (cap. 357- 364. VI. J. Garrett. 155-24O. (cap. A teoria da literatura brasileira Textos consultados: Francisco Bernardino Ribeiro. 286 s. IV.Foram mencionados: Jamil Almansur Haddad.. 214-243. ed. I. Memórias Biográficas. FPB. "Discurso sobre a história da literatura no Brasil". § 3). de Garrett. PB (2). IV. in. "Epístola". vol . . § 2). . Gomes de Amorim. 1826. "Introdução". 7-23. 5-17. Aillaud. cit. in. Santiago Nunes Ribeir o. 273-3O4. § 2). N. págs. "Literatura e civilização em Portugal".. 343-357. v. 93-95. "Suspiros Poéticos e Saudades por D. Adet. V. págs. Joaquim Norberto. "Da tendência dos selvagens para a poesia". págs. 1836. etc.. II. II. IX. § 1). "Os indígenas do Brasil perante a história". XVI. II. Paris. "Filosofia da religião". etc. G. 2. in. 1O5112. págs. RP.it. (cap. ainda O Cronista. Magalhães. RP. na mesma obra há bibliografia minuciosa. conforme nota da Redação. RP.. I. cit. 1844. págs. págs. págs. 261).. Berthe e Haring. vol. "Introdução". 271 ss. II. 153-163. cit. págs. 246-256. 16O-173 e 193-2OO. "Estudos sobre a literatura". cit. vol. (cap. RP. s. págs. (esta é a ordem lógica. "Da catequese e instrução dos selvagens pelos jesuítas". Mosaico Poético. I. págs. "Introdução histórica sobre a literatura brasileira". cit. 153-163 e 2O1-2O8. 241-272 . com E. VII. N. I. pág. 113-126. MB. VI. "Originalidade da literatura brasileira". págs. 7-45. 21-55. § 3). Obras Completas.O "Bosquejo da história da poesia e língua portuguesa". Homero Pires. Opúsculos. 1O3-1O9. Pereira da Silva. 261-269. de Magalhaens". págs. págs. II. "Da nacionalidade da literatura brasileira". "Da Inspiração". Tôrres-Homem. págs. II. Revisão de Castro Alves. § 1). págs. RP. cit. saiu como introdução anônima do Parnaso Lusitano. RP. II. págs. 1843. págs. Rio. XVI. Álvares de Azevedo. (cap. "Nacionalidade da literatura brasileira". 1836. em colab. (cap. 2O1-2O8. págs. 287-3O3. (cap. Elementos de Ret órica Nacional. cit. 3. § 4. Crítica Retórica Obras citadas: Lafayette Rodrigues Pereira. Frei João José de de Montefiore. ver cap. Sinopses de Eloqüência e Poética Nacional. P. Lições Elementares de Literatura expostas sob o ponto de vista cristão. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro. págs. etc. 1866". 417 #Sobre Magalhães. Sotero dos Reis no instituto de humanidades do Maranhão. O Dr. § 3). Imparcial. V. Diário do Povo. cit. Almeida Nogueira. I.. 3O7-318.. Quénot. págs. Sobre Santiago Nunes: Porto-Alegre. "Biografia. 1864. 1845. § 6). págs. além das obras gerais: Sobre Francisco Bernardino: Anônimo. II. 19O9. Leçons de Réthorique et de Belles-Lettres. Junqueira Freire. § 2. Reminiscências. págs. da Silva. Paulo. que reputo da autoria provável de Santiago Nunes Ribeiro. F.. (cap. de 1868. Rio. I. § 2) . 556558. (cap.°s 164. Sobre Norberto. págs. II. MB. RIHGB. "Literatura . II. 2. II. Hugh Blair. FBR". pág.e edition. § 5). 1853.°. ver cap. "Discurso". 33-8O. trad. etc. Sobre P.Curso de Literatura portuguesa e brasileira pelo Sr. nada além das obras gerais. Paris. IV. (cap. _1844. XV. 513-514. S. vol. 3. (c . 391. acima relação das obras gerais. vo!. 2 vols. 321-387. v. cit.°. Tip. Alguns estudos a respeito destes críticos. cit. etc. Tradições e Reminisc ências. n. Panteon Maranhense. consultei a reprodução em apêndice a Antônio Henriques Leal. Sobre Torres Homem. 165 e 166. há um belo estudo do Visconde de Taunay. Hachette. Manoel da Costa Honorato. par J. "STH". 4O-49. 6.. ou Seleção de Poesias dos melhores poetas brasileiro desde o descobrimento do Brasil precedida de uma Introdução Histórica e Biográfica sobre a Literatura Brasileira. Fernandes Pinheiro. 3. para a sua empreza. 2 vols. 1847. Rio. Rio. I. Imperial e Nacional. Laemmert.ap. e Biografia de José da Natividade Saldanha. Garnier. Rio. 2...° a 8. Paris. C.As referidas coletâneas de poesias são: (Januário da Cunha Barbosa). 1895. 2.° a 4.. Plutarco Brasileiro. Pereira da Silva. A formação do cânon literário . 8 vols. Rio. 18351841.°. 3 vols.° volume . 418 . Idem. 1843-1848. Florilégio da Poesia Brasileira. 2 vols.. Figueroa Faria & Filhos. Franck e Guillaumin. divididos em 8 cadernos com folhas de rosto independentes.. (F. M.. Parnaso Brasileiro. avec leurs port raits en pied. contendo as biografias de muitos deles. Universal. ou Coleção das melhores poesias dos poetas do Brasil.1.5. 1885. organizado e publicado por Édouard Mennecht.a ed. 3. 2. 1831. Os varões ilustres do Brasil durante os tempos coloniais. Tip. 1829-1831. 2. 1868. 3 vols..a ed. 1946. ou Coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros falecidos. Viés dês hommes et femmes ilustres de la France. àquele tempo.°. 4. 183O. tanto inéditas como já impressas. tudo precedido de um Ensaio His tórico sobre as Letras no Brasil. Rio. Recife. datadas respectivamente: 1. Parnaso Brasileiro. escritor francês apreciado e citado no Brasil. Rio. Paris. 1829. Academia Brasileira. Tip. 2 vols. muito aumentada e correta. Crapelet. § 3) . no repertório biográfico Lê Plutarque Français. Postilas de Retórica e Poética. 2 vols. J.a ed. de Varnhagen)..°... Garnier. É provável que PS se haja inspirado. 2 vols. A. 1856-1858. 1858.° volume . De Antônio Joaquim de Melo: Biografias de alguns poetas e homens ilustres da Província de Pernambuco. ..a ed.As coletâneas biográficas são: de Pereira da Silva. Laemmert. Cantos nacionais coligidos e publicados por AJMS. I. Sobre ele. H. Instituto Artístico. 386391. 1876. S. Paulo. 5. Panteon Maranhense. o prefácio às Harmonias Brasileiras. n. 1859. Maranhão. págs.Cantos da Solidão" etc. in. pág.Inspirações do Claustro" etc. "Cantos da Solidão (Impressões de leitura)". págs. professado (. 1859. 23 ss.°s 3-4. págs. segundo SB. vê-se que tencionava publicar um volume . em que manteve um folhetim dominical. Basílio. etc. "Ensaios de Análise Crítica.in .) no Instituto de Humanidades da Província do Maranhão.. Curso Elementar de Literatura Nacional (1862) e Resumo de história literária (1872). 4 vols. Antônio Henriques Leal e João Francisco Lisboa.° 2. "Da crítica brasileira". VIII. págs. 376 ss. Gonçalves Dias.. A crítica viva . 272-277. . Em RP: "Notícia histórica sobre alguns escritores.. n. v.°s 4-5. Marquês de Maricá. na relação das obras gerais.I . Rio. 18731875. além do citado art. Leal. 391397.. Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira. De Joaquim Manuel de Macedo. não a encontrei também nas Bibliotecas Públicas. . Os autores brasileiros aí estudados são: Durão. n.°s 3-4.De Macedo Soares pude consultar: em E AP.. n. 5 vols. Departamento de Cultura. entre as quais a do ano de 1858. Imprensa Nacional. 119-183 e a nota n. 363-369 e n. 1952. págs. Panteon. págs. Paulo.. "Ensaios de an álise crítica .°s 1-2.. . 513-524.De Antônio Henriques Leal.. A Crítica Literária no Brasil. a indicação dos livros de Fernandes Pinheiro. pág. 391. Pela nota de um dos seus artigos. A. "Considerações sobre a atualidade da nossa literatura". Monte Alverne. poetas e artistas a cadêmicos". Tendo sido empastelada em 193O a redação do Correio P aulistano. Finalmente. S. págs.. 1866-1873. Lisboa. de Lafayette. perderam-se as coleções antigas.°s 1-2. Ano Biográfico Brasileiro. pág. Odorico Mendes.. 553-574. Ensaios biográficos dos maranhenses ilustres já falecidos. 3 vols. Sousa Caldas. II.Quanto às tentativas de história. De Sotero dos Reis. 1857. vol.Citei: Wilson Martins. cit. "A Moreninha. "Prefácio" d"O Conde Lopo. 267-282. Dutra e Melo. I. Faculdade de Filosofia.. (cap. págs. F. D. págs. Pedro II e outros. por Ig.°. 1871. sobre o tolo pastiche do organizador . por Joaquim Manoel de Macedo". cit.° 2. José Olympio. Não encontrei a revista Nova Minerva.José de Alencar. págs.. págs. 399415. Iracema. "Literatura e Civilização em Portugal". 241-249. § 1). "Jacques Rolla". 413-426.. Cinci- . 416-427. págs. Críticas de José de Alencar. reúne todo o material da famosa questão literária.Algumas reflexões a propósito da nova edição da Marília de Dirceu". 25O275. 183-2O5. (art. I. idem. observações políticas e literárias escritas por vários e coordenadas por Lúcio Quinto Cincinato. vol.Dirceu de Marília. segundo L. Consultei Os Filhos de Tupã em RABL. 388-391. "Discurso recitado no dia 11 de agosto de 1849" etc. ed. da Veiga. 1951. Sonhos d"Ouro. Cartas sobre a Confederação dos Tamoios. (cap. A Polêmica sobre "A Confederação dos Tamoios". etc. vol. . n. 2 vols. no cap. Rio. Rio.Álvares de Azevedo. . págs. Norberto.. II. II. 276-32O. 6-18.. respectivamente págs.(José Feliciano de Castilho). 176-182. . Tipografia e Litografia Imparcial.A. Tomo I. págs. cit. Questões do Dia. 323-387. "Lucano". n. II. "Carta ao Dr. Empresa Tipográfica Nacional do Diário. Ciências e Letras da Universid ade de S. § 4). Obras Completas. coligidas e precedidas de uma introdução por José Aderaldo Castelo. 5-25. § 4) "um extenso artigo intitulado Bibliograf ia . etc. Homero Pires. aliás decepcionante. "Discurso pronunciado na sessão da instalação da Sociedade Ensaio Filosófico". F. e também 419 #o "Pós-escrito". I. Ill.° 3. Paulo. I há. Rio. 1953. "Bênção Paterna". um trecho. n. "Carta sobre a atualidade do teatro entre nós". em cujo vol.denominado Ensaios de Análise Crítica. 1856. Manuel de Araújo Pôrto-Alegre. Garnier. Jaguaribe".° l. . Rio. 29-38. 185-189. "George Sand". mas pode-se ver dele. vol. 1862. l. em Marília de Dirceu. ed. idem. Alguns pontos de vista e dados deste capítulo se encontram. 246.18.375. 375-376. 349. Jackson. que traz a menção de 2. com extratos de cartas de Cincinato e notas do autor. 153. 417. 42O ÍNDICE DE NOMES ABREU. 1942OO. 247. em forma diversa. finalmente: Machado de Assis.347. ADET. 334. 1937 págs. VI. ACKERMANN. 125-146.a é a publicação periódica): Cartas a Cincinato. 151. Crítica Literária.a ed.Citou-se. . 4O7-4O8. 13-44. 387. 179. 61. Fritz . W. 49.24. cit. 4O8.4OO. 1872.As cartas de Távora saíram nos Tomos I e II da referida publicação. . Rio. "Instinto de Nacionalidade". págs. ABREU. logo a seguir juntou-as em volume. 2O1. Emílio . de Alencar). 149. Marques de . J. 4O. . 256. Estudos críticos de Semprônio sobre o Gaúcho e a Iracema.a edição (devendo-se entender que a l. ADDISON . Introdução ao método crítico de Sílvio Romero. provavelmente também autor da maioria dos artigos assinados com outros nomes latinos. Casimiro de . 352. J. (cap. num estudo anterior: Antônio Cândido de Mello e Souza. Pernambuco. 41. § 4). 348. 159. 249. "A crítica préromeriana e o Modernismo". Capistrano de . 4O5. 376. 395.47. de Medeiros.nato era o pseudônimo de Castilho. J. 252. 2O4. 2. 398. obras de Sênio (J. 269. ABREU. . 387. 245. 198. Senador .377. 239. 33. ALVES.39O. ALVES. 373. Ana J.378. 369. Renato . 325.152n. 295. 114. ALENCAR. de . Maria Afra de .1O4. 36. 24. 319.381. Antônio J. ALEXANDRE II . 213. 132.22. Silva . 4O9-41O. 41O-411. 211. 152. ALMEIDA. 11O. 352. ALMEIDA. 84. 81.267. 274.16. José de .ALENCAR. 398. ALMEIDA. . 4O4. 4O3. 145. 211. 419-42O. 4O9. 54n. ALMEIDA. Antônio de .377. 138. 35. 385. 134. Castro . 87.416. 234. 212. 42. 215219. 361-367. ALFIERI .378. 118. 34. 349. 23O. ALVARENGA. 4O4.286. Manuel Antônio de 113. ALMEIDA. 152. Moacir de . ALLEM. 378-379. 314. 2O2. 298. ALMEIDA. 117. 216. 113. 256. 214. 387. 296. 313. 315. 166. 18. 117. 3O1. 3O4. . 295. ALENCAR. Guilherme de . 377-378. 118. 399. 4O3. 342.14. 123. 111. 3O3. 34. 31O. 388. 19. 231. Maurice . 22O-233. AMORIM. ANDRADE. AMAT. ARARIPE JÚNIOR . 25O.68. 195.329. AMARAL. AMORA. 413414. 417. 83. 3O3. 4O9. 245. 228. 286. 29O. de Oliveira . Pizarro e .115.161. 258. Tupac . 196. De Paranhos . 4O8. 4O9. 168. ANDRADE. Azevedo . Amadeu . 95. Goulart de . 153. . 41.212. 217. 4O9. 4O4. 98. 249. AMARAL.25. 39.4O1. 4OO.4O8. Afonso . 383. 285. ANACREONTE . L. ANDRADE.392. 252. Maciel do . AMARAL. 41O. de . 178.2O5. AMARU. José .2O2. 287. 2O72O8. Emilia de . 26O. 39O. 414.25O. AMADO. ANDRADE. 252. ANJOS. ARAÚJO. Mário de .37O. 326n. AMÁLIA. ARAÚJO. 185. 248. 395. A. 4O6.214. 267-283.19. Francisco J. 42. 412. Narcisa . 4O. 4O8. 4O4. 381. 324. 382. Augusto dos . 82. 191n. ARAÜJO. ARINOS. 284. 2O3. 411. 377. ANDRADE. Constâncio . Antônio Soares . 18O. ANDRADE.49. 288. ARIOSTO .38.4OO. 29O. 326. 155. ANTUNES. 38O. 253. ANCHIETA . 413.35O. ALVES. Jorge .4O8. 131. Gomes de . 2O3. F. Gomes Freire de 133. 397.4O6. 184. 199. Sousa .21. 187.38O. Carlos Drummond 4O1.64. 264-266.152. 28. AZEREDO. 1O2. 384. 114. 81. 66. 42O. 41O. 267. 356. Manuel . 117. 259. 4O.15. 412. 222.114. 4O6-4O7. BALZAC . 341-342. 238. 197.25. BARBOSA. 338. 149. 39O. 393. 2O2. 145. 252. 136.11O. 2O1. 35. 152. Domingos Caldas 388. 356. 159. 117. 234. 151. 42. 263. 4O9. 213. 339. 385. 355n. 397. . 98. 71. 215.21. I. 4O9. Álvares de . 24. 387. Magalhães de . 325. 231. 392. 374-375. B BABELON. 233. 58. 417. BARBOSA. Torres . 245. 256. 418. André . 315. AZEVEDO. 254-255. 376. 17O. 349. 2O6. 315.17. 352. 219. 137. 356. 4O4. 394. 411. 121. 378. 419. 4O1. 277. 3O2. 163. Álvares de 374. M. 386. 367368. Aluísio .421 #ASSIS. Machado de . 382-383. 136. 249. 116. 113. BANDEIRA. 357-36O. 345.411. 257. 16.416. 175. BANDEIRA. 178-193. 4OO. 194. 211. 259. 295. 297. 4O7. 3O6. 4O4. 4O1. 1O5. 22O. 195. Januário da Cunha 12. 241. AZEVEDO. 82. 14. 395. 128. 4O5. 4O1. 23O. AZEVEDO. 348. BURDEAU . BOSCH. 36O. 188-189. 18.188. 66.388.285. Vincenzo . Rozendo Moniz . 161.4O. BONIFÁCIO O MOÇO. BREMOND. 1O4. H. 381-382. José . 381.247. 285. BARRETO. BEGUIN. J.393. E. BRITO. BARRETO FILHO . BYRON . Hugh . 2O2. BARRETO. 377. 382.36.249. 381. Tobias .43. 397.121.217. 192. . de Almeida . De .381.381. BELLORINI.66. 252. 252. 154. BORGES. 336.37.345-346. J. 42. BARROS. 57.342. 93. 152.36O.121. BERTHET . 41O. Olavo . 33. M. 4O9. 156. 399. CAETANO. 24.34. 126. Teófilo . 26O. . 59.414. 1O3. 341. .4O7. BASTIDE. Mariana de . 248. Francisco F. BONIFÁCIO. Alves . BRUZZI. 61.12. 412. Nilo . BEVILACQUA. BÉRANGER . 4O4.9O. 354. O.396. Moniz . 6O. BARRETO. 25O. Paul . 82. BLAKE.4O5. BARRETO. Teixeira . Melo . 61. 391. 35. 397. 354. 396. BARRETO. BRAGA. 359. 381. CABRAL. BLAIR.BARBOSA. Domingos Borges de 11. BRAGA. 161. 382. BOILEAU. G. 329. José 164. . BARROS. Padre . 179. 251. 4O3. BRAGA. A. 414.48. 62. BARD . Lima .16. J. Henri . BRANCO. BASTOS. BONALD. 325.176. CALDAS.35. 41. 4O1.349. BAUDELAIRE .136. Sacramento . Roger 391. 415. João de .353. 398. 151. 372. 419. Rui . Pereira . 399. 4O4. BOURGET.32.391. BROCA. Paula . 2O6-2O7. Vale . Brito .377. 342. M.82n. Albert 397.121. BILAC. 393.297. 412. BARROS. 4O1. BRAGA. 168. Abílio César . BOIARDO. 254.163. 27O. Clóvis .411. 247. 247. Gomes . BELLINI. BOCAGE . João . CADALSO . Jerônimo . 388.396. 418.369. da Silva . CATULO .399. CALDAS. 29O. Adolfo .342. Feliciano de . 88. 24. A. 129. 319. CÂMARA. 354.134. 89. 373 CARVALHO.251.382. 354. Bispo . Otto M.391. 16. 337.411. Narcisa Inácia de . R. CAMPOS. Frei . 422 CAMPOS. Vicente de . 419.381. J. J. 415. 333. Edgard . CASTELO. 56.345. 411.336. 287.382. CASTILHO. Severino de M. 381 CAMARÃO. Aderaldo . 59. CAMMARANO. 199. 42O. CARVALHO.89n. CASCUDO. 35O. Ronald de . J. CASTELO-BRANCO. 289. E. Pereira de 374. 282. CALZABIGI. CARVALHO.413. F.364. 42O. 338. 4O1. CAMPOS FILHO. 399. 351. A. 41O. 397. CARVALHO. CASTRO. CAMINHA.37.277. 396. de . 327. CASTILHO.4O6. CALDERON . 352n. CANECA. 342. 325. 397. Pedro . A. . 334. Amorim de 397. 339. CARVALHO. 413. 264. 41. Francisco J. Fernão . 42O. 414. Tito Lívio de . 414.361n. 393. 1O4. 285. CAMÕES .37. 336. CARPEAUX. Alfredo de .39. L.264. .39. CALMON.11. Matias . 4O2. Sousa . CARVALHO. Antônio .1O2. 338.34O.413. 122. Gama e . 397. 392. 16O.284. 4O5.4O1. 319. CARDIM. 395. . CARVALHO.258n.149. Feliciano de . de . de S. 4O. CAVALHEIRO. CASTRO. 383. F.285n. S. CÂNDIDO. CARVALHO. de Oliveira . de 377. Sales . 39. 255. 412. Eugênia . . 384. CASTRO.32O. Clélia B.117.35. Edson . 12. 388. CASTANHEDA. CASTRO. J. Luís da Câmara . CARNEIRO. Francisco Freire de . 351. Roberto Alvim . 5O. Jacques .12O. . COELHO. CHEVALIER .416.51.121. 43. 4O6. A.399. 63.396. 3O8. Duque de . Benigna C. 116. 229. Cláudio M.4O1. Regueira . 349.63.315. DELAVIGNE. CUNHA. Pereira da . J. 121. . COSTA. CORDEIRO. Bezerra . J.247.326. 22O. V. Alphonse . Dilermando . .113.34. 289. Salvador . 3O7.4O4. COLUM.349.393. 387.392. Mary .212. J. 122n. CONCEIÇÃO. Rezende . Batista . 369. C. Visconti . COSTA.CAXIAS.4O8. 84.11. 337. CHAVES. COARACI. COUTINHO. B. Pereira . 18.325. CROISET . 4O2. Pinto . COELHO NETO . Luísa M. 367.121. e M. COUTINHO. da . DAUDET. 81. 3O8. 337.392. 3OO.374. CHAGAS.369.72. COSTA.328. da . COUTINHO.13. 4O9. Furtado .152.388. DAVID . COSTA. 412. CEPELOS. CRUZ. 313. COELHO. 113. N. DEBRET . 326. Fenimore . Afrânio . CORREIA. Euclides da . 366. C. COELHO. 299. COLOMBO . M. 335. COUTINHO.11O. de Azeredo . 339.99. 377. CHATEAUBRIAND . 37O. D DANTE . COSTA. J. Augusto . da 373 CONCEIÇÃO.24. 121n. 416. 6O. COOPER. Pedro de M. Raimundo . Maria Teresa . 22O. 156. Pinheiro . 321.5O. 322. .4O5. . 319. 324. 413. CORREIA. 325. 59. 338. 214. COMTE.68. DAVID. Jorge de Albuquerque 351. F. CORREIA. 363. 376.16. 252. 153. 178. DINIZ I. ELÍSIO.152.121. 124.133. 423 #DONIZETTI.11O. 327. 195. 81. 152. 333. 385. 336. ERMATINGER. 341. 24. 73. 187. 2O. 2O1. 389. Franklin . 171. 342.133. 371-372. Gabriela d" - . 129. 256. 258. 355. 273. Emerenciana . Francis . 325. 12. 1O5. DENIS. 47. 329.215. 276. DIAS.11. 155. 346.397. Águeda C. J. 56. 13. Alexandre .11. 3O2.371.63. 373. .386.2O2. I. 37O. DICKENS . 263. DUMONT. 223. 18. ELIOT.397. A. 2O4-2O5. 12. 39-4O. 1O2. Menezes . . 75. 68. 354. 21. 4O9. Felinto .DELFINO. DUTRA. E. 417. 58. E EASTMAN . 2O6. 121. 212. 245. 319. 247. 18.397. 2O2. 352. 18O. ESCRAGNOLLE.416. 48. 4O5. 3O8. Gonçalves . 116. 34.376. Santa-Rita . DOSTOIEVSKI . DURÃO.298. DORAT . . 388. 136.41. 15O. Edmond . 51. 331. 338. 349. George . . 156. DUTRA. 35. DORCHAIN. 13. DUCLERC .251.417. 341. DÓRIA. 52-53. Ferdinand . DÓRIA. G. 284. Luís . 419. Alfredo . 4O4. 363. 22O. 326. 321-325. 151. ELLIS JUNIOR. 349. 38. 197. 416. 126. DUGUAY-TROUIN . 34. Antônia R. 387. DÓRIA. 333. 419. EGGLI.14. 8196. 324. 356. 14. 398. 267.376. Escragnolle . DUMAS PAI. 19. Dom . 283. 16. DÓRIA. 4OO-4O1.315.396. 111. J. 221. Menezes . FREYRE. FIGUEIREDO .372. 149. M. FLAUBERT . Alcides . 298. 345.393. Leal . M. Vicência 371. FERREIRA. Félix . J. V. 418. 163. O.315. 4O1.58. 3O1. Antônio . FARIA. 4O4. J. . 4O4. 397. ESQUILO . 397. FORSTER. ESPRONCEDA . E. FIGUEI REDO. FREIRE. Fidelino de . FLORA.126. EU. 397. 411. D. 344. 357. . . 197. FÉVAL.345. 349. FISCHER. 76. 37. 4O3. Juvenal . do 382.264.66. FLÁVIO.121.4O9.26. 179. Arturo . Francesco .15On. 15O. FERREIRA.217. GALVÃO.143. N. 155-161. FOSCOLO . FIELDING.354. 195. 83. Fonseca . Alberto . 151. 194. 267. 356.299. FERREIRA. FERREIRA. . . 346. Pires . GALENO. 154. de Sá .36. 374. 396. 395.384.374. 314. GALVÃO. 398. FREIRE.53.83. de . GALVÃO.35. 352. P. Gilberto .3O2. FREIRE.384. 277. Francisco José . Jango . 4O5. Conde d" . 196. Lourença V.391. H.116. O.36n. FRANKLIN . 4O3. FARINELLI. Ana C. Junqueira . 59.377. ESPÍRITO-SANTO. L. 155. 4O8. FEUILLET.412. 12.56. 398. 39. GOETHE . 59. GONZALÈS . 113. 377.12. 155.324. 387. 121. 17O. 319. GONÇALVES. 35. 137. 387. . 138. 411. GRIECO. Argeu . 171. GUIMARÃES.393. 1O4. Armindo . Correia . 333. 88. 56.17. 3O-32. 48. GONZAGA. 264. GUIMARÃES. Teresa . 419. Daniel . 87. 329. 336. 34. GARRETT . 338. 349. 59. 82. 95. 155. 413.28. 63. 333. 4O9.2O2.372. GAVET e BOUCHER .27O. 354. 298. . 131. 339. 325-327. 111. Tomás A. Trajano . GUICCIOLI.121. 38. 19. 2O. 41. 157. 388. 322. 352. 13. GAMA. 325. 68. GUIMARAENS. 28. Manuel . Agripino . 18. Basílio da . 69. 397. 114.GALVÃO. 341. 396.393.39O. 62. 1O5. 35O. 81. GARÇÃO. 337.29. 4OO. 349. 325. 319. GAVET. GUARANÁ. 333. 2O3. Bernardo . Alphonsus de 36. 331. 359. 417.325. 392. 37. 4O1. 37O. 57. 338.3O. 272.379. 238. 247. 89. 2O6. 4O4. Pinheiro. 278. 252-253. 418. 287.321. 339. HOFFMANN . 17O. GUYAU . 199. HOLANDA. HEINE. de . HONORATO. 94. 3O2. 413. 11O. 2O3. 376. HERCULANO. 396. HUDSON. HOMERO . G. Otaviano . 213.252. Victor . GUIMARÃES. 338. 52. 321. 62. 397. 1O4. 382. 296. GUINGUENÉ . HERDER . 355n.397. 327. 56. Aurélio Buarque de 4O3. 211. HUCH. 415. HÕLDERLIN . 22O. 29O. 4O1. . 195. 354. 33. 248.3O. HUMBOLDT.188. Alexandre . HOLANDA. 153. 4O9. 346. 323n.74. 374. 337. M. 397. 396. 13O. da Silva .396. Sérgio Buarque de 395. 356. 411-412. 397. 359. Luís 164. 169-177. 424 379-38O.1O2. 4OO. 156. 416. 327. J. 361. 284. 279. 4O5-4O6. HEGEL . 398. 89. J.39.13. 295. 7O. 275. 59. 341. 1O4. H. 163. 38O. 188. 11O. J. . 278. 212. 322.285.268. 4O5. 151.337. 82. GUIMARÃES JÚNIOR.298. Jamil A. 375. 3O7. 58. 412. H. 155.149. 4O2. 36O. HUGO. H HADDAD. da Costa . HANDELMANN . 417. 214. 234-241.323. GUIMARÃES. HUNT. Ricarda . 251. HORÁCIO . 216. 194. 19O. . 4O4. 396. 3O4. 263. J. Michel .151. LEAL.154. 372.121. Samuel . 32.127. KELLER. Paul de . KOCK.52. 241.59. . 151. J. 397.3O1.326. G. JESUS.393. . LA FONTAINE . Guerra . JOÃO I. Gottfried .99. 57. LA MOTTE-FOUQUÉ . LAMARTINE . H.249. Mendes . LEÃO. 4O4. KOTZEBUE . KIRSANOV. 89. 348. 1OO.385. de . . João de Brito e . LAMENNAIS .3O4.419.2O5. LIMA. C.321. LEOPARDI . W. LEMOS. LESSA. KUBITSCHEK. Antônio H. LE1RIS. LEVÈQUE . 418. 393. 389.3O2. JAMES. 287. Ferreira .161. Choderlos de . LEAL. LÊ GENTIL.IRVING.4O7. LIMA.33. João de . JUNQUEIRA. Domingos N.347. . Dom . LEROUX. 214. 41O. H. 4OO. 349. 58.347. LA HARPE . . JOHNSON. Joaquina Rosa de . LESSING . S. J JAGUARIBE. ITAPARICA. Dom . 163.33. 4OO. JOYCE. Princesa . 4O9.3O2.218.372. JUNQUEIRO. 334.388. . JOÃO VI. 286. K KAFKA . 4O9. 398. ISABEL. JASINSKI. 397. 345n. LIMA. Alexandre H.396. 331. 419.413. 392. 376.154. LACLOS.373. 425 . Abreu e .4O8. . KEATS . 155. 285. Felicidade de O. . 2O2-2O3. 4O4.1O5. 326. .127. R. 375. 199. 199. 352. 19O.347.338. 374. Ana T. Aureliano . LEAL.53. KLOPSTOCK . R.388. JESUS.121.29-3O. James . Ferreira . LIMA. Frei . N. 248.372. 388-389.388.247. LEAL. Múcio . Ferreira .327. 153. 354. 4O4. 4O8. C. Henry . Pedro . 136-145.#LIMA. LUÍS. LOVEJOY.411. 419. Manuel de . LOBO. 51. LOUSADA. . 248. B. LOBATO. .3O2. LOPES NETO. . 381. 51. 356. M MACEDO. J. . A.47.393. 4O8. Monteiro . Baltasar . Lord .2O6. Rocha . 295. Oscar . 115. 399.351352. 111. 118. 419.69. Wilson . LIMA. 97-1O1. LUSITANO.35. LUKÁCS. 211. de . 352. 252.396. 119. . . LISBOA.3O4. 216. 274. 375. Hélio . LOPES.397. LOPES.35O. 314. 352. LINN.411.1O9.212. 398. LOPES. 217. Álvaro T. 23O. 269. 117. 114. LYTTON. LUCANO . Oliveira . Cândido (Ver Francisco José Freire). LISBOA. MACEDO. G. F. 131. J. 113.357.397. LONGFELLOW . Simões . 412. Fernão .376. 48.247. P. 285.212. 373. 74. MARMONTEL . 4O34O4. 66. 335. 333. 51.67. 348. 8O. 345. 4O6. 385. 22O. MARINHO. 26. 418. 75. S.216. MAGALHÃES. 124-125. Maria F. MARQUES. 2O2. 19. 81. Barbosa . 369. 1O5. 37O. 15O. MARIA. MACPHERSON . MALLARMÉ . 379. R. 394.246. 4O2. 33O-331.19.56.82. 398. 399. 72. Gonçalves de . 399. MAISTRE. 4O1.234. 68. Nunes . . D. . 234n. Basílio de . 426 MAGALHÃES. 85. 364. MANCEBO. 371. 55-67. 4O6. Maria Leopoldina 382 MACHADO. 397. 76. 41O. 4O2. 12. 126. MARICÁ. 338. 38. 4O4. 4O2. 334. 419.325.419. Saldanha 248.3O2-3O3. Xavier de . 4O3.392. MAGALHÃES. Josefina . 122. 69. 382. J. 366.387.1O4. 399. 361. . Coelho . Valentim .369. .251. 48. MACHADO. Genuine . 333.377.11. 12O. 4O6. de Alcântara . MAGALHÃES. 336. 127. 247. 54n. 17. 122n. 395. 34. Couto de . MAGALHÃES. 168. MACHADO.168. 97. 151. 362. 13. 64. 47. 417. 363. MALOT. MACHADO. Marquês de . 37O. 27. H. 398. MACHADO. MELO. 14. 213. Salvador de . E.388. 325. Emerenciana de - . Antônio Joaquim de 348. 37. Lopes de . Luís Corrêa de . Wilson . Padre José 35. MENDONÇA. MIRANDA. E.Xavier . 351.164. 126. Pedro B. Augusto . MELO. 419. Belarmino de . MARTINS JÚNIOR. 2O4. 388. 167. . 4O9. 4O3.41O. Gregório de .4O9. . 395.152. . de . MELO. MONTAIGNE . 121. 49. M.47. MENEZES.399. 385. 194. 377. 414. 4OO. MARTINO.37O. de . 2O3. 356.414. 416. Sá de . Nicolau . MIRANDA. Eusébio de . de 383. MELO. 143. MENDONÇA. 76-77. MENEZES. MELO. 376. MENDONÇA. MENDONÇA. 382. 2O2.39. 4O9. 325.12. MENDES. 324.417. MONTE-ALVERNE . MELO. 371. . MATOS. MILANO. Dutra e . A.352n. MONGLOND. Lúcia 136. . Andrew . de . 22O. L.397. J.136.28. MEYER. 414.416. 286-287.347. Carlos S. MENDONÇA. Teixeira de . 3O5. 419.37. 24. MIGUEL-PEREIRA. de . 48.383. 284. A. 418. 138.4O7. MAUL. MENNECHT. Lúcio de . 411. . MIDOSI.35. MENDONÇA. . I.339. 413. MILLER. MONTEFIORE. Salvador F. MELO. MATOS. MEROU.251. Capitão .121.384. 56.346. MENAFRA. 351-352. 383.371. Odorico 74. Garcia . 416. Manoela L. 16. MAURÍCIO.393. MATOS. 4OO. MERIMÉE.382. 383. MARTINS. P. Veiga . Amália F.4O7-4O8.2On. 419. Frei J. 142. Gladstone Chaves de 41O.396. Carlos . Dutra e (pai) . 414. MONGLAVE.11. Carlos . P. METASTÁSIO . 286287. 29O.4O6. 252. 411. 415. MARRYAT. 418. 352. 13. 364. de . MARVELL. 4O5. 29O.284. 397. 349. 418. 52. 152-153. MONTEZUMA. 121. . MONTORO. 47. 4O2. 4O3. 386-387. 39. 1O5. 357. MONTELO. 4O6. MORAIS FILHO. MOURA. 21. 123-124. P. 259.121. 75. NEME. 4O4. 369. 4O4. NABUCO. 4O1.4O2. 151. Cândido .19. Maria Luísa S. NIETZSCHE . 23. Melo . 122. L. Joaquim . MOORE. Prudente de . C. 252. MORENO. Mário . R. Olívio . 83. 49. 188.247.1O4. 397. 55. Jacy . 4O5.15On.41O. da . 191. 15O. MONTEIRO JR. 4O4. Almeida . 35. 338. 248. 397. 395. 48. Correia de . NAPOLEÃO I . 4O6. 416. 5O. Peres . A. 2O7. 399. 24.396. F. 348. . Maciel . NOGUEIRA. D.4O8. MOTA. 5O.122. M.393.371. Moreira .38. 387. 398. 154.298. 164. 361. 7576. M. MOREAU. MUSSET .37O.375. 336.33. Artur . 394. MONTENEGRO. G. MOTA FILHO. R. O OLIVEIRA. 359. 151. 334-335. 418. MONTESQUIEU . C. 4OO. Thiers M. N NABUCO.246.381. T. .372. 12O. Viana .323.42. 411. Joaquim .12. NORBERTO. MONTEIRO. 339-341.374. MONTEIRO. MURRI. 4O3. MORAIS.15On. 85. 417. Lopes . NEVES. J. 1O4. 4O4. F.4O6. 184. MOREIRA. das . Luisa J. 275.63.. 4O4. 126. Pierre . 352. 55.4O7. neto. 7O. MOOG. . MORAIS. Manuel de . 391. Josué . 416. . Agnese .76. 2On. 399.412. NEVES. 411. Conselheiro . 349-35O. 4O7. 369. 4O4. 179. Acaiaba 48.16. 36O. 4O1. 4O8. MOTA. 412. PEDRO I. Astrogildo . 372. 395. Alvarenga . 356. OTTONI. 355. de 379. Elói . 3O9. PEREIRA. 392. 68. 352. 349.391.51. Soares de . Francisco . 12On. Aurélio Gomes de 4O6. Guimarães . PARANÁ. Dom .4OO. 347.161. 97. 382. 4O5. Dom . A. Artur . 199. 4O3. OLIVEIRA.67. 4O3. ORTIGÃO. 369. 4O2. 52. 427 #PEIXOTO. 42O. Martins . OTTONI.154.18. 399. PARANHOS. PEIXOTO. 344-345. 47. 4O7. PEDRO II. Lafayette R. 397. Afrânio .36. Haroldo . 36. 258259.248.214. 41O. 286. PEREIRA. Cândido Batista de 398.217. 4O8. 79. M. ORLANDO. 247. PASSOS.387.118. . Teófilo 248. Constança B. 1O1-1O4. Barão de (Ver João Cardoso de Menezes e Sousa).52. 413.OLIVEIRA.41. 54. Alberto de . José Osório de . 4O4. OLIVEIRA. PARANAPIACABA. 4O6.414. OLIVEIRA. Manuel Botelho de 388.397. 4O4. Almir C. OVÍDIO . PALMEIRIM. . OLIVEIRA. . OLIVEIRA. PENA. 75. 387. 369. PASSOS. Marquês de . PEIXOTO. 361. L. 418-419.49. Ramalho . 143.264. OSSIAN (Ver Macpherson) OTAVIANO. PASCAL . .329.4O8. 417. 83. 51. 34. PICHON. 399-4OO. 394. René . Mário . PRADO. 418. 56. 398. 47.35. 12. 4OO.16n. 4O6. 419.11.41. 397. 378. Elzeário L. J. 349. A. Fernandes . PINDEMONTE . 55. 155n. 65.397. PINTO. 419. 339.PEREIRA. 398.1O5. 4O7. 1O5. 391. 152. 119.66. 341. 348. 397. 353. 35O.6O. 361. 4O8. 346. . 418. 6O. PROUST. PRAT. 47. 332-333. 13. M. 4O3. Marcos . 387. 257. .254. 412. 392. Valbuena .37. 151. PORTUGAL. F. PONTE. 42O. PIRES. Lorenzo da . Araújo . 397. . 398. 394. 126.4O4. Homero . P1CARD. 417.351. 373. Roger . 4O2. Marcel . 4O5. C. 342. 68-74. PINHEIRO. 352. PRAZ. PÓVOA. PINHEIRO. Teodomiro A. 37O-371. PIAVE.39.4O2. PIO VI . 369. 48.393. 48. Armando . PÔRTO-ALEGRE. 55. 127.188. .393.397. POPE . Pessanha . Xavier .4O7. 66. RAMOS. 396.3O1. RIBEIRO.PRUDHOMME. REIS. C. Ferreira de 4O6. 4O7. Antônio Simões dos . Laurindo . Sully . 365n. REGO. Graciliano . Antero de . dos . REZENDE. 387. 162-168. 3O3. PUEYRREDON.327. 347. . RIBEIRO. QUEIRÓS. Flávio (Ver G. P. REIS. Ricardo J. F.49. 374. de Almeida Braga).388. PULCI . Bernardino . RABELO. PUSHKIN . 397. 352. 388. João . 349.32. 121. J. 417. 136. . 353-355. QUENTAL.21. . 348. R RABELO. 352. 391. RACINE . H. 328-329.374.368.117. 151. 4O5.47.121. 387. 2O7. 3O3. REIS. P.388. 323. . Edgard . 36O. F. 419.285. Américo Vespúcio dos 355n.149. REIS.3O1. QUINET. 349.298. 391. S. REIMAR.35. Baltasar J.4O9. Marques . REBELO. Sotero dos . RABOU . 161. REIS. 153. Ana R. 418.399. Eça de . Lins do . 412. 417.188. . 392.377. ROSA. SAMPAIO. 57.3O4.397. Otaviano M. Marquês de .164. 391. SAMPAIO. 47.49. 376. 3O5. SAMPSON. M. 126. SANTOS. 382. 2O2. 382. SAMPAIO. 352. 363. . 328.28. 253. 4O9. RONSARD . F.397. 349. Joana M. 4O9. 2O3. SANTA-GERTRUDES.12. 2O8n.238. André R. 55. de . Lopes .3O8. Paulo . RÓNAI. RODRIGUES. SALVADOR. 386. 414. Georges . 353. RODRIGUES. ROSA. L.393. SALOMÃO .19. 284285. SADE. SANTOS. Maria S.41O.383.393.413. Lery dos . 384.376. 356. 418. 263. 299.52. ROMERO. 428 SAINT-PIERRE. .321. 251. RIBEIRO. 247. 419.24925O. Frei Vicente do 349. 1O2. 296. 348. 4O8.121. A. 252. 417. 36O. da 372. SANTOS. Marqueza de 18. RICHELIEU . SAMPAIO. SAINTE-BEUVE . Sílvio . 12On. 336. 376-377.37O. Justiniano . 417. SANTOS. 4OO. Júlio . Natividade . Santiago Nunes . ROZWADOWSKA. SALDANHA. 121. SANTOS. . Frei . 335-339. SAFO . 29O. da . Marques . 4O9. . Condêssa 378. 388. 383. 351. RIBEYROLLES . 365. 416. G. C. Frei . 418. 398. B.42n. 247.33. 323. . J. Tristão dos . SAND.382. RODRIGUES. Bittencourt . 357. 417. ROMERO.372. 47.3O. Viscondessa de (Ver (pai) - . RUDWIN. ROMANI. 399. 412. 412.RIBEIRO. João Júlio dos . ROCHA.42. Bittencourt 376.416.367. 1O5. 2O2. J. 321. J. SILVA.35. SILVA. SILVA. SÉRGIO. 247. Diniz da Cruz e . 1O4. SERPA. 326. 351. 338. 22O. 17. SAUSSURE. SILVA. Antônio . 417.121. SILVA. 214. 51. Firmino R. SCHLEGEL. 33.397.13. SEBASTIÃO I. E. SCOT (pseudônimo) . 393. 327.371. 59.382. A. 33O. 113. Visconde de 387. 3O2.Marqueza de Santos). da . M. 223.391. 35O. 396. SHELLEY . 416. . SENANCOUR . 338. Walter . 418. 47. 319-32O.16. Pinto da . 4O9. 37. J. Dom . 348. Frei Francisco de 16. 3O4. . 2O52O6. 192. 1O4. SILVA. SCRIBE.416. SCHLICHTHORST .18. 12O. 32O. 416. SILVA. 331n. 4O3. 329.397.393.34. SARAIVA. 331332. Inocência F. 4O5. SCHOPENHAUER . 325. Carl .11.164. 331.18.1O4. Frederico . 325. SEABRA. 32O. A. 359.122. 83. 387. Egon . SCHMITT. 396. SHAKESPEARE . 372. J.121. 416. . Antônio José da . SÃO CARLOS. SILVA. SCHADEN. 56. 396.3O. 333-334.4O2. 387. Mme. SCHLEGEL. 349. 122-123.118. 264. 396.32O.21. Pereira da . Bruno . 329. Felisberto Edmundo . 13. Carolina . 393. Pereira da . 339. 377. SCHILLER . Augusto G.321. Phocion . 347. 188.341. 323. 397. 417. 338. 4OO.4OO. 385-386. 339. SCHLEGEL. SÃO LEOPOLDO. SCOTT. . 126. 388. 32. . Necker de 32O. L. 23O. 41O. 113. 323. Azambuja . 17. SIMONI. 396. 66. 82.381.123. V. 338. 4O3. J. 315. SUE. 14O. 319. Maria S. SILVA. 394. de . SILVEIRA.121.48. Maria C. A. 5O. TASSO .13. SOUSA. 2O1-2O2. A.412. 329.329.373. 3O2. 97.383. 137. M.121. SOUSA. F. Barão de . 47. 372-373.133. SOARES. 419. SWIFT .121. 4O1. L. Nogueira da .118. Mme. Macedo . SILVA. Maria V. 429 #SOUTO. SÓFOCLES . 133. SUSANO. Dom Luís de Vasconcelos e .4O7. STENDHAL . Inglês de . 296. 314. De .4O1. 389. Sousa da . SOUVESTRE . 295.349. Sismonde de .114. Miguel J. 32O321. Pereira da 385. 138. SILVA. SILVEIRA. 21.416. SOARES. Valdomiro . 98. 21. da . Velho da . 3O6. 136. C. STAÈL.329. 395. 377. 1O4-1O5.327.4O8.396. SOUSA.21.392. 126-135. 4O5. 411. 4OO.4O7. STOLL. SOUSA. Cardoso de Menezes e . SPENGLER . 356. 12O. SODRÉ. Vieira . 327. 322. Eugène . 123. SOULIÉ. SILVEIRA. 372. 395. Albert . 395. SOREL. 4O8. 369. 416. 51. SILVEIRA. 327.212. 33O. Abreu . J. TAINE . Octavio Tarquínio de 18n. Professor . 48. 398.319. 4O2. STERNE . 114. Gabriel .375. 4O8.33. STUDART. . 217. 35. 39. 127.17. SOUSA. SOUSA. da . 356. de Melo e (ver Antônio Cândido).383.1O. L. 395. SISMONDI. 216. 77-8O. F. Teixeira e .63. 34. Luís Pereira de . . 211. SOUSA. 384-385. THACKERAY .396. 111112. 47. Imperatriz 163. TIEGHEM. F. . . 51. Nicolau A. 41O. 114. 212. : TROVÃO. 398. 417. 116. 12. 4O1.14. 297. 82. 212. URE5JA. 298-3O6.75. 336.284. 41O. . 415-416. 114. 418. Alfredo de . 3O9. TORTI. Paul van . Baltasar M.3O2. 295. 418. Silveira . . 414-415. TAUNAY. 3O7315. 112. 6O. 296. 53-54. 398.14. C. G.129.384. Felix-Emílio . 296. TERESA CRISTINA. S.1O4. TÁVORA. 138. TIRADENTES .3O4. 385. 412. Leonor . Pedro H. TÔRRES-HOMEM. TÓLSTOI . 356. 383-384. TÁVORA.38.411. 416. Múcio . 221. TÁVORA. 394. 397. 364-367. 113. Franklin . 385. 42O.384.TAUNAY. Lopes . 295. H. 297. TAUNAY. 334. TEIXEIRA. . U UHLAND . TELES. 363. F. 36937O. .383.415.66.11. 327. ÍNDICE Cap. Maria C. 37O.18. VASCONCELOS. Francisca A. 283. 22O. ZOLA .387. 395. WOLF. 4O1. 413. Ferdinand .59. VICENTE. 247. 58. Barão de . F. L. 4O9.12n. 398. . 117.-. 39O.391. Emiliano Fagundes 38O. 4O7. do . 41O.38. 196.O INDIVÍDUO E A PÁTRIA 7-48 1. . 397. 387-388. 412.246.:---. 274. E. Araújo .168. WELLECK. 36O. 391. 43O VALE. 38. 249. José . 388.^" ^* .397.416. 353-354.VALE.16. 247. VIANA. VILLEMAIN . 256-266. C.12. Paulo A. 4O4. Ana A.3O2. 386. Barão Smith de 393. W WACKENRODER . F. ZORRILLA . ZALUAR. L. 387. 397. Evaristo da . 82. 418. 3O9n. WASHINGTON . 34. 349. 397.188. 377. . WORDSWORTH . VARELA. 17O. YONGE. 416. G.348.371. S.4O4. VIANA. 3O5. 149. VARNHAGEN. de .381. 281. VERÍSSIMO. 412-413. VILLON . 29. 121.323. Gil . Charlotte . 5O. 4O4. 276. 252. F. 4O5. 38O. VEIGA. F. VASCONCELOS. VITERBO. do . VILHENA. 4O. 267. VOLTAIRE . VIRGÍLIO . 25O. VARNHAGEN. VIGNY . 4O1.274. 37O. 121. O Nacionalismo Literário -. 4O8.27. 4O6. . 151.53. 32. A. 41.393. VEIGA.37. VILLEGAIGNON . 349. 245. 3O4. R. I . 153. 355.356n.111. 36O. 121. Fagundes . VARELA. 17. 269. 394. 4O6. 269. de . 57. 415. 36. 388.28. 89. 419. 26O. 29O. 4OO. 347. J. L. de . 371. Menores 97 1O7-145 Cap. Bernardo Guimarães. Menores 2O1 194 Cap.APARECIMENTO DA FICÇÃO 1.2. Conflito da forma e da sensibilidade em Junqueira Freire 155 3. Primeiros sinais 119 3. Máscaras 149 147-2O8 136 2. Sob o signo do folhetim: Teixeira e Sousa 126 4. amigo dos homens e da poesia 4. poeta da natureza 5. II . As flores de Laurindo Rabelo 162 169 4. O "belo doce e meigo": Casimiro de Abreu 7. Êmulos 75 68 5. O Romantismo como posição do espírito e da sensibilidade 22 3. Gonçalves Dias consolida o Romantismo 81 6. V . Pôrto-Alegre. Novas experiências 211 2.O TRIUNFO DO ROMANCE 2O9-241 1. Um instrumento de descoberta e interpretação 1O9 2. Os três Alencares 22O 234 4. IV . ou Ariel e Caliban 173 6. Manoel Antônio de Almeida: o romance em moto-contínuo 215 3. A viagem de Magalhães 3. O honrado e facundo Joaquim Manoel de Macedo Cap.AVATARES DO EGOTISMO 1.OS PRIMEIROS ROMÂNTICOS 1. Geração vacilante 47 53 2. Ill . O contador de casos Bernardo Guimarães Cap. Álvares de Azevedo. VI .EXPANSÃO DO LIRISMO 243-291 . As formas de expressão 33 45-1O6 Cap. Raízes da crítica romântica 2. Formação do cânon literário 5. 63/69.:.. Novas direções na poesia 2. VIII . A morte da águia 431 #Cap.1. O regionalismo como programa e critério estético: Franklin Távora 3. Transição de Varela 256 245 3. A crítica viva 356 369 39O Biografias sumárias Notas bibliográficas índice de nomes 421 COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DE AKTES GRÁFICAS BISOBDI LTD.A CORTE E A PROVÍNCIA 1. EM 1959. Romance de passagem 295 284 267 293-315 2.. PARA A LIVRARIA MARTINS EDITORA. 432 #-* . Teoria da literatura brasileira 3. VII .-"- . Poesia e oratória em Castro Alves 4. SÃO PAULO. Crítica retórica 343 347 319 328 317-368 298 4. EDA DO HIPÓDEOMO.A CONSCIÊNCIA LITERÁRIA 1. Sensibilidade e born senso do Visconde de Taunay 3O7 Cap.
Report "Antônio Cândido - Formação da literatura brasileira"