Do Rovuma ao Maputo Antologia de Autores Africanos Organizada por Carlos Pinto Pereira Introdução a esta edição Entre Brasil e os países africanos de língua portuguesa, "apenas um mar nos separa"...e isto é muito pouco nos dias de hoje. O leitor desta RocketEdition TM da eBooksBrasil vai notar, pelos escritos de seus poetas e escritores, que a língua, o coração e a história nos une. Resultado da correspondência entre amigos, infelizmente este exemplar não pode reproduzir a correspondência entre eles, que se trata de literatura epistolar...e das boas. Ela, entretanto, está disponível em "Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo" [http://nicewww.cern.ch/~pintopc/www/africa/africa] coordenado por Carlos Pinto Pereira [
[email protected]], obra que mantém em conjunto, entre outros, com Mario Vaz [
[email protected]], Joaquim Fale [Joaquim Fale:
[email protected]], Vicenzo Barca [Vincenzo Barca:
[email protected]], Abdul Cadre [
[email protected]], Eduardo M.L. Paes Mamede [
[email protected]], Paulo Lemos: [
[email protected]], Margarida: [
[email protected]]. Ao corresponder-me com ele sobre esta edição, recebi este email que, por si só, vale por uma apresentação, e por isso aqui vai transcrito: Viva Teotonio Aqui estou a responder-lhe como prometi ontem. Como deve imaginar não tenho quaisquer direitos de autor sobre os poemas publicado na WEB e faço-o (fazemo-lo) pois achamos que é uma maneira de os fazer conhecer. Se o seu objectivo é o mesmo então ficaremos muito gratos que lhe dêem ainda mais possibilidades de se fazerem conhecer. Um abraço para si também. Carlos Sim, leitor, queremos que você os conheça. Por isso, sem mais, a eles. ÍNDICE A-B-C-D-E-F-G-J-K-L-M-N-O-P-R-S-T -V-W-Z -AABRANCHES, Henrique (Ago) Ao Bater da Chuva ALBA, Sebastião(Moz) A Pomba para o Cheina ALCÂNTARA, Adriamo (Moz) A Utopia dos Olhos Escancarados ALCÂNTARA, Oswaldo (Cpv) Filho ANAHORY, Terêncio (Cpv) Nha Codê ANDRADE, Costa (Ago) Contratados ANTÓNIO, Mário (Ago) Uma Negra Convertida Rua da Maianga ARTUR, J.Armando (Moz) Arte de Viver Divagações AZEVEDO, Lícinio (Moz) O Comboio de Sal e Açúcar AZEVEDO, Pedro Corsino (Cpv) Conquista Galinha Branca Terra Longe -BBARBEITOS, Arlindo (Ago) Em Teus Dentes Simeão (Moz) Xikalamidade Xirico CANCIONEIRO . Crianças Cantos 1-4 CARDOSO. Jorge (Cpv) Canção de Embalar Prelúdio BARCA.Esperança Mão Frágil Saudade Vem Ver BARBOSA. António (Ago) Árvore de Frutos Um dia CARDOSO. Conto Amor de Baoba CHIZIANE. Paulina (Moz) Balada de Amor ao Vento COUTO. Suleiman (Moz) Nyeleti. Alberto da (Moz) Um Cão em Maputo BUCUANE. Carlos (Moz) Cidade 1985 CARVALHO. Ruy Duarte de (Ago) Chagas de Salitre Dias Claros Diogo Cão às Portas do Zaire Novembrina Solene Venho de um Sul CASSAMO. Fernando (Moz) . Juvena (Moz) O Húmus do Homem Novo -CCACHAMBA.Vamos Cantar. Feições Para um Retrato COUTO. Viriato (Ago) Makèzú Namoro Serão de Menino -DDÁSKALOS. Alexandre (Ago) A Sombra das Galeras Carta . José (Moz) A Nossa Casa Aldeia Queimada Barbearia A Boca Cela 1 Depoimento Autobiográfico Eles Foram Lá Fábula Gente a Trouxe-Mouxe Gula Outra Beleza Reza Maria Sementeira Terra de Canaã CRUZ. Mia (Moz) A Adivinha A Confissão de Nhonhoso A Multiplicação dos Filhos Estréia nos Viventes Cartas dos Primos Ladrões Governado Pelos Mortos Mar Me Quer Nas Águas do Tempo Venho Aqui Brincar no Português CRAVEIRINHA. Manuel Meigos (Moz) Arremessos FILIPE. Alda (Stp) Em Torno da Minha Baia Onde Estão os Homens. Joaquim Filhos da Miséria FEIJOÓ. -FFALÉ. Mário (Cpv) Viagem na Noite Longa FORTES.Morna FONSECA. António (Prt) A Pedra Filosofal .Manhã No Temporal da Revolução O Meu Amor Poesias Porto E Agora Só Me Restam DICK. Lopito (Ago) Meditando FILIMONE.. Elisa (coord) O Macaco e o Cágado -GGEDEÃO. Daniel (Cpv) A Ilha e a Solidão .. Stefan Florana Um Epidécio ao Escritor Maconde -EESPÍRITO SANTO. Corsino (Cpv) De Boca a Barlavento Girassol Pecado Original FUCHS. (Ago) Carta Dum Contratado Castigo Pró Comboio Malandro Declaração Era Uma Vez Monangamba Vadiagem -KKHAN. Grandal (Moz) Casa da Justiça KNOPFLI.GONÇALVES. Rui (Prt) Aeroporto Mangas Verdes com Sal Matinés do Scala Miradouro Naturalidade A Pedra no Caminho . António . Carneiro A Guerra dos 100 Anos A Lua do Advogado GONÇALVES. Cacimbo GUITA Jr. (Ago) Por uma Sereia de Treva Psicoalteração do Rato No Jardim da Noite com Estrelas -JJACINTO. Gulamo (Moz) Moçambicanto I KNEPE. Henrique (Ago) Vem. Zeto Cunha (Ago) Escorraçados da Morte Os Ombros Modulam o Vento GUERRA. Emído Moçambique Vozes do Sangue MAIMONA. Gouvea (Moz) Canção da Angonia LOBO. Hortencio (Moz) Mabogue ya M'bizwa Topas-ou-viras LARA. João (Ago) Arte Poética As Muralhas da Noite Memória Poema para Carlos Drummond de Andrade MARGARIDO. Hilário M. Alda (Ago) Noite Prelúdio Presença Africana Regresso Rumo LEMOS. Maria Manuela (Stp) Alto Como o Silêncio Paisagem Serviçais Socopé Vós Que Ocupais a Nossa Terra MARIANO.-LLANGA. Gabriel (Cpv) Caminho Longe Única Dádiva MATUSSE. Candongas . E. Manuel Sousa (Moz) Menir Barroco -MMABUNDA. David (Ago) África Espera O Sol Nasce a Oriente MOMPLÉ.A Viagem do Adalfredo MAZUZE. Minh'amor MUTEIA. João (Ago) Dunas MENDES. Marcelo (Moz) Chão de Pátria MUIANGA. Orlando (Moz) Exortação História Noiva Para um Fabulário MENDONÇA. Yolanda (Cpv) Barcos MOSSE. Helder (Moz) Ai o Mar Ensaio de Lágrimas Reflexão -N- . Simeão Calças Molhadas Picasso MEIGOS. Líla Os Olhos da Cobra Verde Stress MORAZZO. Aldino (Ago) A Noiva de Kebera Maria. Filimone (Ago) Morte MELO. José Luís (Ago) De Asas Sob a Terra MESTRE. Marcelo (Moz) A Lua e a Morte PINDULA. Mauro Morte em Dois Actos PINTO DE ABREU. Virgilio .(Cpv) Mané Fú Reminiscência . Mutxhini (Moz) A Coruja Amor Verde Double Trouble Mamã Preocupada Pensar Alto -OOSÓRIO. Agostinho (Ago) Antigamente Era Com os Olhos Secos Confiança Lá no Horizonte ou 'Poesia Africana' O Choro de África NETO. Oswaldo (Cpv) O Cântico do Habitante Cavalos de Silex Holanda Manhã Inflor -PPANGUANA. António (Moz) Milagre Obstéctrico PIRES.NETO. Eugénia (Prt/Ago) Poema à Mãe Angolana NEVES e SOUSA (Ago) Angolano Ilha de Moçambique NGWENYA Malagatana Valente e N. Marcelino ou Lilinho Micaia Kalungano (Moz) Ódio Sonho de Mãe Negra SANTOS. M. Ana de (Ago) A Abóbora Menina Núpcias Rapariga SANTOS. Correia da (Ago) Canção do Silêncio SILVEIRA. Jofre (Ago) Paisagem do Nordeste Quando a Manhã Vier ROMANO. Manuel (Ago) O Jogo Museu -SSANTANA. Onesimo (Cpv) As Águas Quadro .-RROCHA. Luis (Cpv) Símbolo Vida RUI. Arnaldo (Ago) A Vigília do Pescador SANTOS. Nelson A Pátria Dividida Ignorância SILVA. Aires de Almeida (Ago) Mulemba Meu Amor da Rua Onze SANTOS. Monteiro (Ago) Tudo Treme SAUTE. Paula (Ago) Cerimónia de Passagem TENREIRO. João (Cpv) Exemplo Fragmento VASCONCELOS.SOUSA. Noémia (Moz) Magaíça SUKRATO (Cpv) Não me Lavem o Rosto -TTAVARES. Francisco José (Stp) Coração em África Romance de San Martinho TOMÉ. Cândido da (Ago) As Idades da Pedra VICTOR. António (Moz) O Coleccionador de Quimeras Nunca é Tarde -VVARIO. Julião Soares (Gwb) Cantos de Meu País SOUSA. Leite (Moz) Canto do Verbo em Busca da Forma Declaração Ladaínha VENTURA. Geraldo Bessa (Ago) Chove Não Venhas Mais ao Cais O Menino Negro Não Entrou na Roda . Reis (Ago) Baião de Luanda VELHA. José Luís (Cpv) Curvo-me TAVARES. Carlos (Moz) . Alberto (Ago) Camaleão VIEGAS. (Gwb) Sofrimento VIEIRA da CRUZ. Teobaldo (Cpv) Rota Longa -WWHITE. Luandino (Ago) Canção para Luanda Sons VILANOVA.O Feitiço do Batuque VIEGAS. Tomáz (Ago) Coqueiro Fruta N'gola Quissange . Jorge (Moz) Nirvana VIEIRA. Tomas (Moz) Lei do Passe VIRGÍNIO. Eduardo (Moz) O país de Mim Poemas da Ciência de Voar -ZZIMBA. Carlos-Edmilson M. João Maria (Ago) Canção para Joana Maluca Canção na Morte de Nga-Caxombo VIMARO. Armério (Cpv) Isto é Que Fazem de Nós Mar VIEIRA.Saudade Negra Rebita Romance de Luanda VIEIRA. Sorrisos Mutilados ZITA. Isaac (Moz) Os Molwenes Alguns Dados Biográficos Esta edição . Chamava-se Infeliz aquele rapaz que levaram ontem do coração da aldeia. no coração da aldeia do Mazozo. a chuva bate o capim molhado. A chuva cai em bátegas doces. que agudiza o bater da chuva. As mulheres já choraram tudo . as pausas alongadas em silêncios de uma angústia nova.. As vozes caladas em torno de nós. são a descontinuidade do tempo interrompido dentro da casa que arrombaram ontem. e soa. Como ela nos lembra o som odiado que dia após dia nos sobressalta! . A chuva matraqueia ainda e sempre na porta fechada como uma obsessão. Os homens dizem de quando em quando um nome obstinado. Esvaem-se agora em surdina muda.A Mãe Gonga comandou o coro. A humanidade é fria.Ao Bater da Chuva Autor: Henrique Abranches (Angola) A porta fechada é uma obsessão.. aquele rapaz que levaram ontem..Foram fuzilados.. Edições 70. que dia após dia desce o morro da Calomboloca e bate naquela porta fechada.. obsecada de protecção! A gente conhece o som da metralha quando ela vem no fim do dia. Lisboa 1981 Pontos de vista entrecruzam as balas e nós ensaiamos a pomba desenhando-a encurvando-lhe o dorso antes do voo largando-a no prisma puro dos olhares da multidão Logo uma estrela fugaz se lhe cola ao bico Rodopiará no céu entre colunas colossais de cogumelos e sóis que a inflectem mas bem aninhada no oco habitáculo de penas . em sobressalto. então. silencia a aldeia. E ninguém sabe do Infeliz. o povo diz: . A Pomba Para o Cheina Autor: Sebastião Alba Moçambique Do livro "A noite Dividida". Quando ela vem..Como ela recorda o som da metralha. com a chave em nossa mão. Se porém impossível te for a sangria das palavras a sério e ao cansaço sem outra saída com fúria não conseguires opor a beleza dum punho bem apertado. Nunca ouses monstro malfadado . . imune farás tombar do muro os pecados com que este presente impune procura sarcástico esconder-nos o futuro. poderás então entrever por entre as brumas do tempo a imensa multidão e o verde prazer das tuas mais urgentes utopias. A Utopia dos Olhos Escancarados Autor: Adriano Alcântara Nos Cadernos "Diálogo" alguns autores desconhecidos do grande público tiveram a oportunidade de ver trabalhos seus publicados. Se depois com ardor escreveres .ridícula como o poeta a dizia uma simples carta de amor cuja verdade ofereça fogosa o seu pudor sinceros significados tão prementes que a ouro fiquem bordados no seio nu das palavras inexistentes.Joaquim Falé Se num momento de loucura acaso arriscares acima do tédio e afoito sozinho dobrares a agreste solidão da esquina dos dias. arrepia caminho e não ouses. É o caso de Adriano Alcântara. tudo ficou lá longe. Nicolau. que trazes a arrastar o teu brinquedo morto? Nicolau. entra. menino. menino. Nicolau. roça. Porque só o amor mata a hipocrisia e reconhece os homens iguais porque para além deste dia só de olhos escancarados se sonha a utopia. Quando acordares a jornada será mais longa. medos imediatos. onde foi que deixaste o corpo que te conheci? Deus há-de querer que o sono te venha depressa no meu catre. . Filho Autor: Oswaldo Alcântara (Cabo Verde) Nicolau. Vem dizer-me onde foi que tu estiveste e a estrela fugiu das tuas mãos. Dorme sem medo. Porão. Deita-te. menino. entra. Onde estiveste. o fantasma ficou lá longe. Nicolau. Tens comigo o teu catre de lona velha.dobrar a esquina deste tempo de cobardias prenhe e silêncios cheio. .. Da tua pele fizeram tambor para nos ajuntar no terreiro! Dondê nha Codê? Não não mataram o meu filho que eu sei que o meu filho não morre.Nha Codê Autor: Terêncio Anahory (Cabo Verde) in "Caminho longe". (Se choro são saudades de nha Codê. 1962 Tiraram o lume dos teus olhos e fizeram braseiro para aquecer a noite fria. noite de qualquer dia.. Roubaram o teu riso e encheram de gargalhadas de luz e de música as suas reuniões frustradas. E em mim essa saudade de nha Codê! Contratados .) Nha Codê vive na evocação de um mundo distante no riso e no choro das ervas rasteiras na solidão dos campos nas pândegas de marinheiros na vida que nasce e morre em cada dia que passa! .. da cor do carvão. renasce em cada braço a força de um secreto entendimento.. Minha avó negra de panos escuros que nunca mais deixou.. Andas de luto. e nos homens cansados de lembrar a distância vai calando mágoas. Uma Negra Convertida Autor: Mário Antonio (Angola) Minha avó negra.muito longe um risco brando acorda os ecos dos quissanjes vermelho como o fogo das queimadas com imagens de mucuisses e luar. de panos escuros.Autor:Costa Andrade (Angola) (1959) A hora do sol posto as rolas traçam desenhos de feitiços sinuosos caminhos sob a calma das mulembas e abraços de segredos e silêncios..... .longe. Canções que os velhos cantam murmurando... . das algazarras dos óbitos. tuas mãos.. quitabas e quifufutilas . Avózinha. tuas mãos calosas da enxada. desfilam as contas gastas de um rosário já velho. Heroína de idéias.. dos sonhos de alambamento que supunhas merecer. das tentadoras mentiras do quimbanda. rompeste com a velha tradição dos cazumbis. às vezes. dos quimbandas.toda és tristeza.. talvez revivesses as velhas tradições! Rua da Maianga Autor: Mário Antonio Angola Rua da Maianga que traz o nome de um qualquer missionário mas para nós somente . da cubata onde nasceste.. Teus olhos perderam o brilho. se pudesses... E penso que.. e da tua mocidade só te ficou a saudade e um colar de missangas.. Não xinguilas... Tuas mãos de dedos encarquilhados.. no óbito. ora tranquilas. tuas mãos que preparam mimos da Nossa Terra. ouço vozes que te segredam saudades da tua velha sanzala... a rua da Maianga Rua da Maianga às duas horas da tarde lembrança das minhas idas para a escola e depois para o liceu Rua da Maianga dos meus surdos rancores que sentiste os meus passos alterados e os ardores da minha mocidade e a ânsia dos meus choros desabalados! Rua da Maiaga às seis horas e meia apito do comboio estremecendo os muros Rua antiga de pedra incerta que feriu meus pezitos de criança e onde depois o alcatrão veio lembrar velocidades aos carros e foi luto na minha infância passada! (Nene foi levado pró hospital meus olhos encontraram Nene morto meu companheiro de infância de olhos vivos seu corpo morto numa pedra fria!) Rua da Maianga a qualquer hora do dia as mesmas caras nos muros (As caras da minha infância nos muros inacabados!) as moças nas janelas fingindo costurar a velha gorda faladeira e a pequena moeda na mão do menino e a goiaba chamando dos cestos à porta das casas! (Tão parecido comigo esse menino!) Rua da Maianga a qualquer hora o liso alcatrão e as suas casas . as eternas moças de muro Rua da Maianga me lembrando meu passado inutilmente belo inutilmente cheio de saudade! A Arte de Viver Autor: Armando Artur Moçambique Habito no halo dos meus versos onde incansavelmente rimo palavras sem rima e seco lágrimas sem pranto é a arte de viver... como lacrar a vida e o amor sem cantar? como vencer o tédio e o temor sem bailar? eis a razão porque sonho sem sono porque voo sem asas porque vivo sem vida no avesso dos versos escondo o tesouro da minha contrariedade o mistério da minha enfermidade e o feitiço da minha eternidade Divagações Autor: Armando Artur Moçambique . . com gravidade. aqui onde o tempo pára e as coisas mudam. Vocês estão aqui para defender o comboio e o que ele transporta." O Comboio de Sal e Açúcar Autor: Licínio de Azevedo Moçambique Trechos do livro "O comboio de sal e açúcar".Vocês não podem fazer isto! . acocorados. Omar não se intimida. No próximo combate. E para que o nosso sonho renasça com a levitação do vento e do grão. . E a nossa perseverança é como a da erva daninha que lentamente desponta na pedra nua. eis-nos aqui de novo. nº 15 da colecção Timbila (outubro de 1996) Pelo dever de resistir e caminhar pelos destroços da nossa utopia. . Este sempre será O nosso amanhecer. Associação dos Escritores Moçambicanos.diz um dos soldados. editado em 1997 ". no tear da nossa existência. não podem tocar na carga . Os soldados espantam-se. passivos como os espelhos. velhote .afirma.diz Omar. a primeira bala é para ti.Capítulo de "Estrangeiros de Nós Próprios" Publicado pela AEMO.Eu conheço os regulamentos militares. eis-nos aqui de novo.Cuidado. . esteiras e mantas que nem todos têm. .Vamos dar-te chamboco .. Não vou cozinhar para si .Este velho é maluco. mas as suas forças são insuficientes contra os músculos bem .. com uma atitude agressiva. junto à estação.. o alferes Salomão está parado diante de uma jovem de pouco mais de vinte anos.defende o primeiro.diz a jovem. como se agarrasse um pau. . indiferente aos olhares das pessoas que circulam por ali. com as suas cozinhas improvisadas. Ela resiste. aperta os lábios e bate com o pé direito no chão. ameaçando Omar com a mão fechada.Não sou sua mulher. com firmeza. Mesmo assim. Muitos "passageiros" percorrem as cantinas. Surge logo um pequeno mercado de lenha. mas gente de cidade. .. grande e bonita.diz outro soldado. As pessoas que estão por perto fingem nada ver ou ouvir e afastam-se.Eu dou-te um tiro . A tentativa de saque obriga Omar a permanecer no seu furgão. Salomão lhes grita: . Basta um tiro . vestida com modéstia. Elas continuam abertas apenas por formalidade. velhote . . nos nossos. mas não há nada à venda.Não digas que não te avisámos.fala o soldado que parece liderar os outros e se afasta... temos que escrever a verdade. Informados de que vão ficar ali até o dia seguinte. quer confusão com a tropa... há muito que não são abastecidas.Eu sou o condutor coordenador destes três comboios. . determinada a não ceder.ameaça Salomão. com atenção redobrada aos vagões de carga. levando os companheiros consigo.Um tiro..ela grita. ." . os viajantes instalam-se nos arredores dos comboios.Não vou .Saiam daqui! O que querem? Ele agarra a jovem por um braço e começa a arrastá-la para o "ferro" onde está o barco. é melhor não se envolver em assuntos de militar com mulher. Vocês põem nos vossos relatórios que o vagão foi assaltado mas nós. pois respondemos pela carga perante os CFM. "No 1103. Salomão? .continua o alferes. . como se alguém tivesse tocado na corda adormecida da sua coragem. .Aqui a conversa é de homem para homem e quem manda no meu comboio sou eu . mas não consegue fazê-la subir.declara Salomão. e fica a assistir ao desfecho do confronto. exaltado. A sua ordem espalha electricidade no ar.Tenente. . todos eles da escolta de Salomão. Os soldados mais próximos. agora.Taiar ordena. enfrentando em silêncio o olhar ameaçador de Salomão. ele larga o braço da jovem que se afasta uns metros. como se fosse algo tão natural como marido bater em mulher que não obedece.O alferes vai dar-lhe porrada é na esteira . .Quer ajuda.comenta um deles. Dez anos! Tenho direito à mulher que quero! Ao responder ao tenente. Salomão . no entanto. seguro de si. que acredita estar.pergunta o tenente Taiar. Vai pilar esta gaja! Salomão arrasta a jovem para junto do "ferro". Para isto precisa de mais do que a sua força física e leva a mão ao coldre. Taiar permanece calmo.diz Taiar.diz um outro. mansamente. . capitão. Ela não pára de gritar.Largue-me! Largue-me! Soldados que assistem à cena sorriem. . . indiferente à . sem erguer a voz.treinados e a habilidade do corpo seco do alferes. Os civis demonstram agora que vêem e ouvem.Esta gaja tem que levar porrada .Largue-a! . parando ao seu lado. param de sorrir e observam a cena. . ninguém me dá ordens a respeito de mulher . querendo intimidar Taiar com as suas AKM. . com dignidade. com manifesta antipatia pelo tenente. Sem lhes dar atenção. completamente perdida. o alferes olha para Taiar sem sacar a pistola nem largar a jovem.Ganhei a minha patente a combater.Não me provoques. Surpreendido. Dois soldados do alferes aproximam-se. A jovem segue atrás dele e emparelha com a sua marcha.Ninguém muda de comboio durante a viagem. Sou enfermeira.Faça o que quiser .diz Taiar. 1947 Trás!.. andando com dificuldade devido ao peso. gostaria de ir para o seu comboio. O meu nome é Rosa. por ficar no meio dela. para dormir um pouco. o tenente segue em direcção ao seu comboio. De agora em diante. n°5. posso. Ela corre até o "ferro" onde tem a sua bagagem.. pois aqui já não me sinto segura. cada um tem lugar marcado.. pega nela e vai atrás dele. mal olhando para ela. testemunha do ocorrido com Rosa. sem nenhum motivo especial. ." Licínio de Azevedo é um cineasta brasileiro radicado em Moçambique.. Rosa percorre a composição e decide-se. no "ferro" em que está Mariamu. Salomão impede-o.Obrigada por me ter ajudado. Conquista Autor: Pedro Corsino Azevedo (Cabo Verde) in "Claridade". como quem pronuncia uma condenação: . Explodiu a Verdade.expressão de desprezo de Salomão. Taiar dirige-se ao furgão do 1101. Agora sou capaz De tudo . sem se deter. Um casal que viaja no 1103. Sem voltar a olhar para ela. . procura também mudar-se para o 1101. duas sacolas de tamanho médio e um estojo branco com uma cruz vermelha. . Litoral ardente. Nem pinga de água. ano XVI. O céu plasmando infernos.Indiferente e quedo e mudo Deixarei escangalhar o brinquedo Que temi na Infância. Montes nus. Pó vermelho. cristal! E eu a namorar o mal.. Raios a prumo. Desilusão! Cristal. Nem dá gosto Viver. julho 1964 Sol de Agosto. Galinha Branca Autor: Pedro Corsino Azevedo (Cabo Verde) in "Mensagem". Rasgou-se o céu em mil fatias lindas. cristal. Na valsa doida do vento leste. Meio-dia. n°6. Casa dos Estudantes do Império... Ricos Fanicos Que recolhi na mão. A agonia Da gente pobre . E mais: É mim É bô É Carlos É Valério É Fêdo.Não!.. E mais.. Somos todos. todos. Depois da ceia..Pobre de tudo -. Vento amainado. .. . Mas: Noite de luar.. Brincam crianças Ao canto da varanda: Galinha Branca Que anda Por casa De gente Catando Grão De milho. Catando Grão De milho Em anos de crise. O olhar mudo Que sufoca gritos Que não partem. .. Galinha branca O espectro da morte A sorte De todos. Terra-Longe . Olha pra mim! Assim. França lendária Terra longínqua De onde os meninos Costumam vir em cestos E para onde Em anos de crise Num cesto de pau (Mácabra nau!) Canivetinho Canivetão Coitadinhos Vão!. ..A única esperança.Canivetinho Canivetão Vá Té França. Canivetinho Canivetão Vá Té França.. eu. tal cavalinho vai terra-longe. com eles. e. Depois vieram os anos. gritam: vai! Mas a voz da minha mãe. meu menino.Autor: Pedro Corsino Azevedo (1905-1942) (Cabo Verde) in Claridade. Terra-longe! terra-longe!.. "Ai. . pequenino.1947 Aqui. gente-gentio come gente".Oh mãe que me embalaste . a gemer de mansinho cantigas da minha infância.. distante das realidades que apenas sonhei. perdido. suponho minha mãe a embalar-me. Hoje. lá no fundo.. cala.. terra-longe tem gente-gentio. aconselha ao filho amado: "Terra-longe tem gente-gentio. terra-longe tem gente gentio gente-gentio come gente". zangado pelo sonho que não vinha. gente-gentio come gente" A doce toada meu sono caía de manso da boca de minha mãe: "Cala. não montes tal cavalinho. cansado pela febre do mais-além. tantas saudades!. Oh meu querer bipartido! Em Teus Dentes Autor: Arlindo Barbeitos Angola Em teus dentes o sol é diamante de fantasia a lua caco-de-garrafa e a mentira verdade vagabunda errando de cágado em torno da lagoa dos olhos da noite na treva aveludada de tua pele os dedos curiosos são estrelas de marfim à busca de um dia caprichoso despontando de miragem por detrás das corcundas de elefantes adormecidos (Angola. angolêma) Esperança Autor: Arlindo Barbeitos Angola in "Vozes poéticas da lusofonia". angolê.. Sintra 1999 Por entre as margens da esperança /e da morte meteste a tua mão . angolê. 1940 saudade é o tempo de pacassas pardas .e eu vi alongados nas águas os dedos que me agarram em lagoa de um sonho corpo de jacaré é soturna jangada de palavras /secas por entre as margens da esperança /e da morte Mão Frágil Autor: Arlindo Barbeitos Angola em mão frágil de amarelo se quebra o galho de gajajeira pela tardinha vermelha em flor sussurrar de vento não é voz de capim crescendo é murmúrio impaciente de gentes no azul de parte alguma em mão frágil de amarelo se quebra o galho da gajajeira pela tardinha vermelha em flor (Angola. angolêma) Saudade Autor: Arlindo Barbeitos Angola. Angolêma) Vem Ver Autor: Arlindo Barbeitos Angola escuras núvens grossas de outros céus vindas entrançando-se por entre asas de pássaros canibais e chuva de feiticeiro em sopro de arco-íris dependurada irmão vem vem escuras núvens grossas temem o sol de nossos olhos todos pássaros canibais a garra de nossas mãos todas e chuva de feiticeiro se perde no ar de nossos copos todos irmão . Angolê.e macacos sem rabo servindo de administradores quando o calor ia derretendo o céu e a chuva se vendia na farmácia do comerciante de cabelos de fio saudade é o tempo de patos bravos e macacos sem rabo servindo de padres quando o medo ia gelando a terra e o pranto se dava de beber aos porcos do comerciante de cabelos de fio (Angola. ..... Ti Lobo talvez. Não fala de mamãe. Angolêma) Canção de Embalar Autor: Jorge Barbosa Cabo Verde in "Ambiente".. O homem branco talvez que lá vai de vez enquando.. Maninho acorda depois por causa da voz falando baixinho segredando no meio escuro.. 1941 "Dorme Maninho pra não vir Ti Lobo.vem vem (Angola.. Apaga-se a luz.. Mas nhô Chico Polícia há dias contava: "Ti Lobo não tem...... Angolê.." Maninho volta-se e dorme no colchão de saco vazio sobre a terra batida." Essa voz nocturna segredando. Ao lado no chão dormindo também o naviozinho de lata que fez com suas mãos.. ." Volta-se e torna a dormir. E a vegetação cuja sementes vieram presas nas asas dos pássaros ao serem arrastadas para cá pelas fúrias dos temporais. Havia somente as aves de rapina de garras afiadas as aves marítimas de voo largo as aves canoras assobiando inéditas melodias.... Prelúdio Autor: Jorge Barbosa Cabo Verde "Cadernos de um ilhéu". 1956 Quando o descobridor chegou à primeira ilha nem homens nus nem mulheres nuas espreitando inocentes e medrosos detrás da vegetação. Amanhã cedo vai correr o naviozinho de lata nas poças da Praia Negra.."Dorme Maninho pra não vir Ti Lobo... Nem setas venenosas vindas no ar nem gritos de alarme e de guerra ecoando pelos montes. pois não tolera que lhe interrompam o sono em nenhuma circunstância. Procurou sim pelo dono . normalmente mais regada com o referido líquido. Não procurou pelas panelas. era um cão! Um cão indesejado desde o primeiro . entrou casa adentro. E neste caso. indisposto. Um sono bêbado. Tinha os olhos vermelhos e um ar aborrecido. O cão faminto latiu.pelo Langa. Encontrou-o a ressonar. O sono era profundo. Este. 1990 "Leão apercebeu-se de que ninguém lhe ligava importância. continuou o seu sono pesado e imperturbável. e lamentou o facto de o "sócio" só lhe ter arranjado tão pouca quantidade para uma refeição de Domingo. Assim. Esvaziou cinco garrafas. Langa acordou. Um Cão em Maputo Autor: Alberto da Barca Trecho do livro "Um cão em Maputo". Com efeito. enquanto fazia a sesta. Editora Escolar. interrompido de quando em quando por soluços e arrotos causados pela muita cerveja que bebera ao almoço. Leão sentou-se quieto olhando faminto para o Langa. Não deu pela presença do cão.Quando o descobridor chegou e saltou da proa do escaler varado na praia enterrando o pé direito na areia molhada e se persignou receoso ainda e surpreso pensando n'El-Rei nessa hora então nessa hora inicial começou a cumprir-se este destino ainda de todos nós. com o rabo entre as pernas e o focinho descaído. "A RAIZ E O CANTO" foi o seu primeiro livro publicado. para o quintal. e com força e velocidade. Virou-se para o lado. chorou de tristeza. desapertou as calças e derramou a barriga saliente no leito. sofrendo agora mais uma dor . Como é que eu posso aturá-lo? O raio do cão até dormia na cama com o patrão e agora quer fazer isso comigo! Comigo isso não pega! Com esta sapatada que o gajo levou no focinho. meu filho Não quero que vejas nem sintas . e uma lágrima grossa escapou-lhe do olho esquerdo. Langa pegou no sapato que descalçara.dia. A Cláudio. Enquanto isso. de fome e também de raiva. Deitou-se à sombra da laranjeira. Não tardou a recuperar o sono interrompido. colecção Início No 2. Pensou no amigo Silva." ALBERTO DA BARCA nasceu na cidade da Beira no dia 21 de Junho de 1954. e. em Dezembro de 1984 pela AEMO. desandou para fora. colecção Início nº 2. atingiu o focinho do Leão em cheio. Assim. bem como o ressonar aos soluços. AEMO. tenho a certeza de que não me chateia mais!" Langa voltou a deitar-se. O bicho latiu de dor. O Húmus do Homem Novo Autor: Juvenal Bucuane Trecho do livro "A Raiz e o Canto". 1984 Juvenal BUCUANE nasceu no Xai-Xai a 23 de Outubro de 1951. Langa murmurava: "o sacana nem deixa um gajo descansar.a da sapatada no focinho. a dor que me amargura.. Não quero que vejas nem virtas as lágrimas do meu pranto. deixa que eu pise a calidez do chão desta terra e o regue até com o meu suor. Deixa que eu chore as mágoas e as desilusões. Xikalamidade Autor: Simeão Cachamba in Cadernos "Diálogo" ." Juvenal BUCUANE nasceu no Xai-Xai a 23 de Outubro de 1951.. Este penar é o resgate da esperança que em ti alço! Este penar é a certeza do amanhã que vislumbro na tua ainda incipiente idade! Não quero que vejas nem sintas o meu tormento ele é o húmus do Homem Novo. deixa que eu deambule. deixa que me toste sob este sol inóspito que me dardeja o lombo sempre arqueado. quase seminu .As Palavras Amadurecem Se um dia me viste a vagar as ruas da cidade (qual molweni atribulado na sua vagabundagem) o corpo constelado de remendos. com as medidas que eu meço é porque em estado natural sempre iguais são os homens polana/85 XIPAMANINE: mercado onde se vende grande quantidade de CALAMIDADE: roupas doadas para os países do terceiro mundo.todavia por todos poros respirando dignidade hás-de me ver hoje envolto em nova embalagem caso cruze denovamente a mesma esquina com tu Não me pergunte o raio por que deixava eu esta indumentária envelhecer lá bem no fundo do baú Um pouco de bom-senso e apenas dois dedos de testa e saberás que ninguém grama de andar com o corpo nu Se antes de minhas foram alguém que eu desconheço estas «jeans» coçadas que ao meu corpo se ajustam bem como se feitas por encomenda.As Palavras Amadurecem domesticadas asas estrebucham o ancestral sonho sitiado que a exiguidade geométrica da gaiola calca enquanto ouvimos rádio na sala de estar dura um instante infinitesimal a pausa do locutor e nesse vazio breve oportuno subversivo o pássaro entoa as cores do arco-íris os sons fluem em cascata através dos arames e estacam na sala . e que neste são comercializadas MOLWENI: rapaz da rua Xirico Autor: Simeão Cachamba in Cadernos "Diálogo" . há sabor a manga a escorrer-te na boca e dureza de maboque a saltar-te nos seios. és o sonho feito carne do meu bairro antigo do musseque! Um Dia Autor: Antônio Cardoso Angola in Poemas de Circunstância. 1961 ao António Jacinto Um dia eu vou fazer um romance com as histórias da minha rua . com que me provocas.. Amor. No teu corpo sons antigos dos batuques ah minha porta. enchem-me o cerebro de fogo incontido.vá tu saber se o bicho está triste ou alegre" XIRICO: pássaro e marca de transístor muito popular Árvore de Frutos Autor: Antonio Cardoso Angola Cheiras ao caju da minha infância e tens a cor do barro vermelho molhado de antigamente. Misturo-te com a terra vermelha e com as noites de histórias antigas ouvidas há muito. cajueiros. o bêbado Rebocho. semeio algumas esperanças e parto com o meu veleiro a dar uma volta ao Mundo! Cidade 1985 Carlos Cardoso Maputo. lixeiras. o sô Floriano do talho com muita mistura de amor e muito suor de trabalho. quando os homens estão desesperados e as fardas passam em fila. cubatas. a Joana Maluca da garotada. Vai entrar a lua e meninos sem cor a Domingas quitata. acendo um sol de Fevereiro. capim e piteiras. os batalhões do "Treze" e do "Setenta e Quatro". Vou meter as cabras e os cães vadios da velha Espanhola os batuques da Cidrália e dos Invejados. e mesmo no fim da história.antes de se chamar Silva Porto e os pretos irem embora. De manhã quando acordo em Maputo o jantar é uma incerteza . o velho Salambió. Mãe tenho fome marido tenho bicha e mil malárias me disputando a vontade. 1985 De manhã quando acordo em Maputo o almoço é uma esperança. De manhã quando acordo em Maputo Porra para a vizinha que estoirou a torneira do rés-do-chão Porra para o guarda que não ligou a bomba quando veio a água Porra para as cem gramas de carne apodrecidos no silêncio desenergetico de Komatipoort mais as ó eme sed de efes e o soldado que ainda não ouviu dizer que os passeios são lugares públicos e os fulanizados exploradores de outrora que se preparam para cuspir na tua campa. De manhã quando acordo em Maputo o vizinho já candongou o que me roubou a estomatologia não tem anestesia a chuva abriu dialecticamente mais um buraco na estrada e o conselho executivo continua desdentado de iniciativas.o serviço uma militância política do outro lado do sono incompleto e o chapa-cem* um regulado impiedoso no quatro barra oitenta sem contra-argumento. ó Mataca. De manhã quando me percorro em Maputo enfio ominosamente o cérebro numa competentíssima paciência desembainho felinamente mais uma mentira diplomática e aguardo a lucidez companheira me leia nas acácias em sangue nos jacarandas estalando sob a sola epidérmica do povo que este é ainda o eco estridente do Chai . as ordens de um Mouzinho boer. Olha-me a história de um país perdido: marés vazantes de gente amordaçada. 1972 Olha-me este país a esboroar-se em chagas de salitre e os muros. que é manso e afaga ainda a mesma velha costa erosionada. 1941in Chão de Oferta. Então. a ingénua tolerância aproveitada em carne. Portugal. Olha-me as brutas construções quadradas: . dos fortes roidos pelo vegetar da urina e do suor a carne virgem mandada cavar glórias e grandeza do outro lado do mar. Chagas de Salitre Autor: Ruy Duarte de Carvalho Radicado em Angola Santarém. À noite quando me deito em Maputo não preciso de rezar. com a raiva intacta resgatada à dor danço no coração um xigubo guerreiro e clandestinamente soletro a utopia invicta. negros. Já sou herói. Pergunta ao mar.até que Botha seja farmeiro e Mandela Presidente. Olha-me os rios renovados de cadáveres. pra meu governo. a cor do sol. Eu estou parado no meio do terreiro pastado dos meus passos e da minha gente. depósitos de gente. 1972 para o António Eu tenho os dias claros de sucessivas luas de Setembro e a noite que me impõe sinalizar as direcções cruzadas das mensagens verticais. sobretudo. atenta podes ver uma história de pedra a construir-se sobre uma história morta a esboroar-se em chagas de salitre. nestes olhos de um povo condenado a amassar-te o pão. ando a ganhar noções de translação e a medir. pouco atento ao vento . Eu Tenho os Dias Claros Autor: Ruy Duarte de Carvalho Radicado em Angola Santarém. 1941in Chão de Oferta. Olha-me amor. Olha-me a noite herdada. Olha-me as igrejas restauradas sobre ruínas de propalada fé: paredes brancas de um urgente brio escondendo ferros de educar gentio. Portugal. Eu entardeço. os rios turvos de espesso deslizar dos braços e das mãos do meu país.embarcadouros. Diogo Cão às Portas do Zaire Autor: Ruy Duarte de Carvalho Radicado em Angola desde 1963 Santarém. 1941in Chão de Oferta. furtivamente. eu estou aqui sentado e nu a procurar não ir além da bárbara carícia de um olhar sem tacto e que nem uma lágrima machuque a capa muito fina da lembrança que tenho para dar-te. Portugal. molhos já secos de memória fêmea. Entendes.que não devo perturbar na sua rota alheia. Por isso eu sei de estrelas . Eu finjo que não sei de elásticas tensões da claridade e a cada passo meu faço estalar membranas frias que a tarde debruou em rente azul. quando muito. Meu fim é circular. Permito. ir mais além. Do mar sabemos nós e aos capitães a fama da conquista. Faço-me ao Sul porque pertenço ao Norte e a costa só me serve p'ra cumprir tarefas de abandono. companheiro. que me sinta o cheiro e deixo-o desfazer. 1972 Deste lado da história o rio morre aqui. . Fronteiras só conheço as do meu lar e sei amá-lo. De Deus. as tuas vacas como estão? Longe daqui subimos os morros Fomos procurar a água que resta do ano que passa. Cumpro tarefas. só. porque viajo. 1972 Seu Zuzé. noutras distâncias. Assim nasci sabendo o que me aguarda após a descoberta.direcções e nada sei de fruto que se projecta e espera. Pois que sabeis da vertical sagueza? Novembrina Solene Autor: Ruy Duarte de Carvalho Radicado em Angola desde 1963 Santarém. Ao Rei e a Vós apenas dou noticias do rumo horizontal. Portugal. sim. porque sou eu quem lhe constrói a face. empreendi que mora aqui no mar. 1941in Chão de Oferta. Senhora Luna a farinha? Está secar Tarda a chuva seca o milho A lavra não vai medrar. Chimutengue. Que é do leite pra lhe dar a carne pra lhe engordar? E os filhos? Estão magrinhos doentados vão ficar igual com o pai Que é da escola pra lhes dar . a tua mulher? Está mal. Imigrante Silva. meu vizinho então por cá? Pois que vim te visitar te avisar que o meu gado vai passar aqui por perto Tarda a chuva e é preciso procurar o que lhe dar de comer o que lhe dar de beber O capim está ficar negro está na hora de mudar. . Ernesto. Olhai pela vida das fêmeas e pela saúde dos machos. Calembera.sapatos pra lhes calçar oficio pra lhe ensinar? Dunduma amigo companheiro Chipa Zeca. Venho de um sul medido claramente em transparência de água fresca de amanhã. olhai pelo gado. Portugal. Venho de um Sul Autor: Ruy Duarte de Carvalho Radicado em Angola desde 1963 Santarém. 1972 Vim do leste dimensionar a noite em gestos largos que inventei no sul pastoreando mulolas e anharas claras como coxas recordadas em Maio. De uma nação de corpos transumantes confundidos na cor da crosta acúlea de um negro chão elaborado em brasa. 1941in Chão de Oferta. De um tempo circular liberto de estações. Protegei os pastos. para o fundo da mata. Errara por terras e terras. Edição da Ndjira. esse peixe que conserva a dignidade do seu bigode. a lembrar grandes pepitas de ouro. traziam as noites e vinham. de madrugada. o rapaz que. gordas e doiradas. E os dias iam. Chegou como só chegam os fantasmas. para as figueiras. em cacofonia. ressoando na membrana das lagoas. Bebia-se sumo de melancia. O sabor da nossa terra. levissimo sabor a terra. junto dos bichos. Nas machambas. do xuaxualhar das chanfutas. diante da brasa. do rumorejar dos regatos. 1998 Introdução: "Que da leitura destes contos vos fique um leve. morreu de amor. a mandioca rasgava a terra. bisbilhotava-se. Nas lagoas crescia o peixe-preto." " Lamentava. voltariam no amadurecer das espigas. Também as rãs acolhiam as noites com rezas. no espeto. Mas ao nascer-morrer igual dos dias. Partiram para longe as rolas. a mesma terra que dava forca aos seus músculos. palito. há o acontecer de massinguita: Malatana reapareceu. as abóboras jaziam. dois pirilampos no lugar dos olhos e a barba grande de Jesus Cristo. a macaroca nascia filas de dentes e deitava cabelo loiro. porque o amor negado envenena. havia cruzado o rio . mesmo com o sal e o piripiri esperando de lado. construiu uma cabana. Chocariam os ovos. cada um o recomeço do anterior. afinal. Longe do mundo.Nyeleti Autor: Suleiman Cassamo in "Amor de Baoba" (crónicas). eu já arranjei um namorado.Sarnau. Pulei em frente. Edição da Ndjira. pareciam elefantes embalsamados. Balada do Amor ao Vento Autor: Paulina Chiziane do livro "Balada de Amor ao Vento" Capítulo 1 ". . 1998 página 24: Mas. Sabe-se lá se da Europa. entrei de rompante na sala e anunciei: . Em vez de estar ali a chocalhar.Os meus parabéns. derrubei o maldito aparelho com um golpe de karaté. se das Américas.Maputo.E tu o que esperas? Aposto que estavas a olhar para esse . ponha-te à vista. ainda marcialmente. a televisão também estupidifica. rebola. ó Eco. Será. a pouco e pouco. para as moscas perseguirem as tuas curvas. diz ainda Eco. a regressar. Olha.A a-vó mo-rre-u!!! Só então começaram. que isso se confirma no episódio com que fecho este texto? Naquela noite fatídica. ginga. então. e. amiga! . lá onde o mundo acaba e recomeça. Presos ao ecrã. hoje é o dia de arranjar namorado. tinha visto Xivimbatlelo. e proclamei como que em teatro: . e que janota. chegara a Mamanga. menina. pulei para cima do baú." Amor de Baoba Autor: Suleiman Cassamo in "Amor de Baoba" (crónicas). Malatana trouxe nos bolsos rotos o feitiço que viraria o coração da Nyeleti.A avó morreu! Nem deram pela minha presença. De volta. Wê. enquanto esta.. é estaca de eucalipto.. Fiquei furiosa... sim senhor.se do filho herdeiro. wâ. Aquele Mwando interessava-me.. Mulher é que não. mergulhando os dedos enfileirados no prateado leitoso que embacia o céu... Como se chama? Ah..Kenguelekezeee!. de prata sim... todos se viraram contra mim. A Eni fora ao encontro dos meus pensamentos e ferira-me a forma como se referira àquele jovem tão distinto.. porque a Lua cheia pintava o rosto angélico. wâ! Fiquei zangada. aquele está a estudar para padre..Kenguelekeze! Eis aqui uma vida nova! Majestosa Lua: .. página 73: ".. na intenção de aborrecer a adversaria.. Eis aqui o herdeiro da coroa! O menino negro . Coloquei as mãos nas ancas e vomitei todo um palavreado provocador. mas ao ver que o espectáculo estava perdido pois a Eni não se desfazia. . não vale a pena tanta fanfarra.negro não... Braços negros erguem-se no ar. limitava-se apenas a murmurar: . partindo do coração da Lua.. nem curva no rabo.Mas vocês ainda não viram? A Sarnau é pau de carapau..ranhoso filho do Rungo.. de olhar trocista. Finalmente os marotos deixaram-me em paz e pude à vontade contemplar o meu ídolo e preparar planos de abordagem.Kenguelekeze!.. Capítulo 11. Tenho um vestido novo que não me apetece machucar... cobrindo-o com o seu manto de prata . Sarnau. Hoje é dia de festa e não estou para guerrinhas. estás a perder tempo. . A malta incitava-nos para a luta. Pois digo-te menina." .. Nem curva no peito.cumpria o ritual da lua nova que se realizava na lua cheia por tratar. Todo o bando me rodeou e trocou... wâ... .. é o Mwando. soltando gritos de protesto.. doenças nervosas. onde estudou. suspenso nos braços erguidos das madrinhas. as madrinhas dançavam à volta da fogueira sagrada. A seguir administraram fumos e drogas purificantes para afugentar feitiços e maus-olhados. quando encheres e quando morreres. "Balada de Amor ao Vento" foi o seu primeiro livro. No areal se sepulta o choro do mar em seu clamor e seu soluço e a fúria do vento largo veste de saliva os arbustos sobreviventes. Fechou os olhos. Prepararam-lhe vacinas e amuletos. 1971 "Na agreste paisagem de dunas expira a vastidão da savana. Com o menino erguido no ar. Paulina Chiziane nasceu a 4 de Junho 1955 em Manjacaze. com contos publicados na imprensa moçambicana. Poupa-a das diarreias. Na orla do tempo.. Feições Para um Retrato Autor: Fernando Couto trecho do livro "Feições Para um Retrato. esperneou. colecção Karingana No 12 da AEMO. O menino nu tremia de frio. e lançou um jacto de urina molhando a cabeça de uma delas. província de Gaza. esta gota de água que veio ao mundo para ser feliz. colares de pele de leão para ter a coragem e a audácia do rei da selva. as aves marinhas contemplam os despojos com olhos tranquilos . kenguelekezeee!. Iniciou a sua actividade literária em 1984. Dá-lhe a bênção. ataques. quando nasceres. tendo crescido nos subúrbios de Maputo.recebe esta criatura. esfregou-os. Mangal de raizes nuas doí-me o desespero dos teus dedos ainda longos e cravados à terra. e as contas do ter e do haver. disciplinar arrebatamentos. Seus país se preocupavam. Os pais de Mimirosa assim julgavam. só nos vemos a delgada fímbria do encontro da morte e da vida e conturbamo-nos. a menina. as coisas sem consequência. Há o bomem. a corrigir os panos do tempo. Aqui. tudo em tamanho não aparado: os senhores em infância. Ermelinda. proibida de frequentar a companhia de Ermelinda.e nos conturbamo-nos à vista dos despojos e do jeito dos pássaros. poeira e chão. Mimirosa. Não queriam nem . A avó. avivamos o traço esguio e sinuoso dessa fímbria de encontro de morte e da vida". o homem passa a linha. em redondezas de carinho. E o ser é apenas o que resta. Acreditava ser tudo simples como o molhado e água. E assim. A Adivinha Autor: Mia Couto Tudo é um jogo. em primeiro lugar. Noves fora. sabia-se. Em meia palavra: era companhia de se evitar. Passava a idade e Mimirosa demorava a aprender o regime da realidade. ancorada em irresponsabilidade. A escola. nada sabia desses acertos. A menina devia era evitar os risos. Quem estragava esse madurecimento da miúda era sua avó. brincriável. por isso. Mimirosa estava. Custa é haver o humano. isso é facto. A senhora se convertera em parceira de infância. novos de fora. desprezava a escola. no calor da família. Que se aprende mais é fora dela. Que há deveres. E. A vida descostura. amando-nos. . Podia um rio assim? Ou já se viu a estrada correr sem o amparo de duas ambas bermas? . de mão acompanhada. Ali gazetava dos deveres. mal se soltava das vistas. inevitável. se ensine.Pense. até às imediações escolares.Jure. Prémio que haveria era só o serem as duas.Vês a sombra? Essa sombra é pequena. chegava o jogo da adivinhação. perto do caminho da avó. Já sabe que o prémio que há-de haver. pairada. entretida nos nenhuns afazeres da velha senhora. . onde já não poderia desviar a direcção. avó! E do outro lado fica o quê? . ela não sabia . berlindavam-se os olhos dela. A velha deixava o mistério durar. rectificando um aqui no além ela. Uma só arbustozinho nele cabia. perguntas sem mistério. ali.Qual é um rio que não tem senão uma margem? . se internava no atalhozito que dava na casa da avó. no escondido. E voltavam às lides.. o mundo vai ficar tão admirado que até o tempo há-de parar.que fosse vista junto. Mas existe uma sombra que é da terra toda inteira. A menina era conduzida.Mas há o prémio de verdade? . parada.Se você‚ adivinhar esse mistério. O jardim da casa parecia obra de inventar. avozinha?. . Até que.Isso é coisa que não pode. Conforme os olhos distraídos da velha ela ajudava. sem obrigação de nada. a menina era inquirida pelos pais. . Imaginava-se. A pergunta labirintava na cabeça de Mimirosa. Voltada a casa. Porque ela. coisas de calcular o futuro: quando fores grande já escolheste o que vais ser? Simplesmente. Ninguém a viu penetrar na penumbra da casa. A menina se admirava: aqueles não gostavam de si mesmos? Por que razão eles queriam que ela lhes fosse diferente? Só a avó gostava de ser como era. vaticinava a mãe. A velha Ermelinda se sentira mal. E. nesses dias. . sei a adivinha! No rosto da senhora nenhum sinal. na cabeceira da moribunda avó. enquanto seu olhar fingia percorrer o caderninho.Avó. ninguém suspeitava que se anichara. Mimirosa. A sombra do morcego se desenha no tecto? Pois o pensamento da neta n o saía do mesmo assunto: saudade de sua avó. veio o alvoroço. fronteira entre a vida e a morte. assim. Como deviam ser infelizes. . Um dia. aqueles dois. nem uma ruga se alterou. ofegante. Mimirosa. Escapou da escola e correu pelos campos.Ou dessas que faz as contas e faz crescer dinheiro. obrigada e vigiada.querer ser grande. assim. somaram-se os dias. sua ausência na resposta. preferia o pai. E.Lembra a adivinha. Até que. a menina suspulou da carteira e se flechou porta afora.Ela vai ser doutora hospitalar. voltou escola. o peito dela se amarrotara. seus pais. Mas não a deixaram entrar na velha casinha. Nenhuma luz a trazia à superfície de si mesma. . vó? Aquela do rio de um lado só? . urna tarde. Parecia que Ermelinda já cruzara aquele risco feito na água. ela se convertera em fundo escuro. . deixou a escola. mas não queremos que sejas como nós. cuidadosamente desarrumadinha. A senhora não reconhecia ninguém. .Tudo serás filha. Mas a luta logo se desgraçou.É o mar. chegaram até no caderno.Que estas a fazer. E se cborou! O caderninho órfão. não me chateia. se atirou contra mim.Para com isso. desvitaminados o pé e o soco. . mais suas criaturas profundas. se levantou e. essa árvore é minha. Mas teve medo.E os olhos da menina se atabalhoaram de água. Os dois nos sacudimos. A mão dela ainda arriscou tocar no braço da avó. Só os nossos respiros se farfalhavam nos peitos cansados. avó. em suas mãos. Mas depois esgueirou-se. aos tropeços. o nosso Xidimingo. sofria a catarata das lágrimas. parecia transtornado em juízo de bicho. desafeitos. cegos. . Esse cujo rio. como se o papel não mais contivesse aquela água. por um instante. Primeiro ela cedeu. A Confissão de Nhonhoso Autor: Mia Couto do livro "A Varanda do Frangipani Sétimo capítulo .A confissão de Nhonhoso ". acariciaram o azul da imagem. O branco me solavanqueou. sentida sozinha no grande mundo. Domingos Mourão.Não está ver? Estou cortar essa árvore. . convergindo violências. Os dois brigamos. Depois. Já se retiravam daquele luto. é o mar. Nunca tínhamos falado assim. E a voz da menina tombada com um derradeiro lenço: . todos mais Mimirosa quando os dedos da avó tactearam o ar e. Estava aberto numa figurinha do oceano. e depositou o caderninho escolar no leito da água. Até que os braços do pai a puxaram. caraça de tu! . E caderno começou a pingar. Nhonhoso da merda.Sua? Suca mulungo. ... Batemos as mãos. seu velho branco. Parecia desmaiado.A diferença entre mim e você é que. em acordo.Você está respirar.Você sempre quer mandar em mim. vocês falam mal dos brancos mas a única coisa que querem é ser como eles. Xidimingo. a mim.Ouve Nhonhoso: quer apanhar mais outra vez? . .. ambos desatamos a rir.Deixa-me descansar um pouco e já lhe despacho uma boa murraça. Então..Para me dar um murro você precisa descansar um século.é pá. nunca desenrola todo o rabo. Ficou um tempo imóvel.Não quero mandar em ninguém.Você é que apanhou maningue." A Multiplicação dos Filhos . Sabe uma coisa: colonialismo já fechou! .. De repente. . se ocupou em ajeitar o corpo. pretos. Branco é como camaleão.Porquê? . Aquilo havia sido briga de disputar gafanhoto.. Lhe doía a garganta como um torcicolo em pescoço de girafa. ... O velho branco riu-se sozinho. . .Como não quer? Eu nos brancos não confio. Mourão? . ficam cabelos no pente enquanto a você ficam pentes no cabelo. . chapamos as palmas. Nos olhamos sérios. estou-lhe a agradecer bastante.Os brancos são como o piri-piri: a gente sabe que comeu porque fica a arder a garganta. . Depois.E vocês.. olhos semicerrados. lhe disse: . .Cala.Charra! Eu quase ia morrer sem bater um branco. Você é um arrota-peidos. bicho sem fruto nem carne. Xidimingo. Alguma suspeita o fez ficar de coração atrás: porquê tão tardia visita? Mas ele esmerou em simpatia. em final da existência. contar. Chegaria ao ponto de não ter tempo de terminar sua peregrinação? Contou as linhas das mãos e lembrou o desafio do seu tio materno perante as estrelas: contar. como flor que morre na imortalidade da semente. Aqui e além foi encontrando mais uns. E o pai seguiu a prestar visitas a seus outros descendentes. E outros apontaram mais outros. Como fossem muitos. Mulando se orgulhava de ter as linhas da mão em inacabado estado. ele avaliasse a única eternidade que nos é certa: continuarmo-nos em nossos filhos. o filho mais velho disse que havia uns tantos irmãos espalhados pelos lugares. entornaram as primeiras gotas no chão dos antepassados. Como se. Mulando sentiu vontade de ver os seus filhos. Já cansado de tanta visitação. Na despedida. Mulando sentou-se a contemplar as linhas da palma da mão. decidiu dedicar todo o tempo que lhe restava em paternais visitas. Até que Mulando descobriu que eram muitos. Que revelaram outros. Festejaram esse milagre de haver pai e filho. Queria saber das outras vidas de sua vida.Autor: Mia Couto do livro "A Varanda do Frangipani Certa vez. sempre fugidias. Lhe pareceu ver que elas tinham mudado de desenho. O filho varão se admirou da visita. O pai se hospedou por uns dias. comeram.bem para além dos muitos que ele imaginava. Começou pelo mais velho. Foi um tempo de transbordar a alma. Mas agora uma nova vaidade se sobrepunha: o ser tanto pai. . Riu-se de suas façanhas. Já visitara mais de duas dúzias e ainda havia mais prole. Beberam. uma garrafa. são nossos filhos.Você também? E Mulando riu-se. Mulando olhou para as mãos. minha filha. isenta de maus olhados. neste mundo.Crime é um pai não cuidar dos filhos. Um longo braço da preguiça amoleceu a sua vontade de prosseguir. triste. A seu lado. Escapou do colo de Mulando e se encrispou toda. todos. . até quase perder a voz: . E lhe segredou que ela.Gostava de saber. uma mulher de ninguém escutou a sua missão. estranhamente. faz conta estreasse o sentimento de ter um pai. cabeça tombada para trás.Esses todos seus filhos: sabe o que é? . fizesse de conta que era outra. Ele cruzou os braços sobre ela. lhe perguntou: . a ganhar fôlego e estendeu as pernas: . passou por um copo. A prostituta o afastou com firmeza. E ele desistia como o dedo do tio desmaiando perante as tantas estrelas. A moça. por momentos.Você também é minha filha? A prostituta sorriu-se. repetindo com ante-sabidas intenções: . . uma neblina.contar até chegar a um ponto em que já não há número. Uma mulher sem pecado. no fundo. Havia um bar e ele passou por lá. em subtil prisão. Ela demorou a ajeitar-se no vivo assento.Então.É que. . sente-se aqui no meu colo. E naquele esbotar de contornos ele sentiu alguém se postar diante. Pela primeira vez. . quatro chambocadas.Sou seu pai. Ele dava o assunto na bandeja. as formas ainda se acertavam. E a voz do outro lhe chegou. Um mais filho? Daquela idade? . Isso é um crime sem perdão. Então você é o quê? .Meu filho: eu vou seguindo. A manhã se adiantara. O outro fez regressar a matraca em sua bolsa e falou nos . mortais. olhos escancarados perante o sol. As suficientes. Mulando já não usava o pescoço. Insustentável. O bar estava deserto. Se as vistas eram sombras. calor adentro. duas. as linhas da mão de Mulando se moldaram em desenho fixo. o clima não estava para disputas.Não sou seu filho! . em bom recorte: . Em redor. os sons pareciam bem mais nítidos. Mulando lançou o jornal para se resguardar da luz e encerrou-se para balanço. E ditas as três palavrinhas desfechou uma matraca sobre o outro. Uma.. Tentou focar o rosto do outro e notou que ele a si se semelhava. da prostituta nem sobrara o perfume. Além disso.Isso é verdade.Venho lhe matar! Nem lhe veio discernimento para a devida resposta. daqui vou para mais adiante. Mulher que não queria o seu colo deixava de existir.Não é? Mas você me parece. a cabeça lhe descaíra para trás. o nublado era um céu dentro da cabeça dele. sem demais. quando Mulando despertou. Em sua nova maneira de ver. faceando o mar se vê a velha fortaleza colonial. Com ele eu emigrava no penumbroso território de vultos. Estou num canto de sua alma.visitando-o na sua última mudança de residência. um mulato que foi responsável pelo asilo de velhos de São Nicolau. vou nele. Estavam lá os filhos todos.Sou seu pai e você nunca me veio visitar. Espreito das nuvens. A Fortaleza de São Nicolau é uma pequenita mancha que cabe num pedacito de mundo. Lá em baixo. a promessa de visitar toda a sua descendência. . Meu hospedeiro anda esgravatando verdades sobre quem matou Vasto Excelencio. sou eu. Sua profissão é avizinhada aos cães: fareja culpas onde cai sangue. o homem cumpria. Olho da janela. é lá que estou enterrado. Estréia nos Viventes Autor: Mia Couto Segundo Capítulo do livro "A Varanda do Frangipani "Este homem que estou ocupando é um tal Izidine Naita. Vou com ele. essa nem se distingue. Neste momento. Dizem assim: o funeral de Mulando nunca se viu tristeza mais repleta. em missão enviada pela Nação.seguintes termos para o chão: . Tem graça que eu tenha saído directamente das profundezas para as nuvens. por exemplo. Minha campa. espreito-lhe com cuidado para não atrapalhar os dentros dele. enganos e mentiras. É lá que fica o asilo. Mulando acrediou presenciar no cemitério a inteira humanidade. de uma só vez. inspector da Policia. Nesse momento. estou viajando num helicóptero. agora. Porque este Izidine. Sonho quem ele sonha. Falo com quem ele fala. Desejo quem ele deseja. Izidine iria percorrer labirintos e embaraços. por cima das vertigens. vou ele. Se demorar a sair agora até há bons advogados que aparecem logo a defender-nos. Esse mesmo monumento que os colonos queriam eternizar em belezas estava agora definhando.. meu primo? Eu estou mal aqui na aldeia Julius Nyerere. isto é. em Maputo. . Aqui.Como está meu irmão.. uma fraqueleza. caro primo: venha para a cidade. Minhas madeirinhas. os ladrões urbanos. eles afogam o ladrão que roubou o boi. Se notam os escombros como costelas descaindo sobre o barranco. sem remédio contra o tempo e a maresia. Aqui está bem acompanhado-filhos de gente grande e alguns próprios grandões. . essa senhora que Liga para os Direitos Humanos. no campo. Se for preso sai logo no dia seguinte. as coisas tornaram-se muito difíceis para os ladrões de gado. primo. Não é que tudo seja bom. Eu lhe dou um conselho. Primo rural .Vista do alto.. isto é. andam com medo da população. pobres criminosos. caro primo! Aqui eu o enquadrarei. isso está feio por ai." "Cartas dos Primos Ladrões" Autor: Mia Couto Excertos da crónica "Imaginadâncias" no jornal "Domingo" .. é o contrario.Lhe digo e redigo meu primo-irmão: junte-se aos bons. antes. Vocês. mete num saco e afoga-lhe no rio Limpopo! Estamos cheios de medo.. a concorrência com ladrões de fora.é pá. Sabe o que faz a população? Pega no ladrão. aquelas que eu ajeitara.. Primo urbano . Aqui afogam é o boi. Primo urbano . Nós. estamos numa boa. a fortaleza é. frente à praia rochosa.. Ai. agoniavam podres. Por exemplo. aos maus. Que venha. Até já escrevemos para a Alice Mabote. Só para poderem pedir a alguém.. no mato.Isso não está correcto.Os mortos perderam acesso a Deus.. ainda há aqui bichos ? . Começam a aparecer criminosos nigerianos. Porque eles mesmo se tornaram deuses.E bichos. . até já falamos às autoridades policiais. . é que ainda abundam. nº 4.E estes campos. aqui.Agora. só há inorganismos. . Querem voltar a ser vivos. malawianos. Dão licença sem nos contactarem a nós? Primo rural .vou para Maputo.. tradicionalmente vossos. se não houver lugar. foram-vos retirados? .Foram. É a única coisa que um ladrão pode temer nesta bela cidade moderna! Rouba uma boa viatura e venha. Só lhe dou um conselho ." CHAPA: transportes semi-colectivos de Maputo. sul-africanos. Só mais lá.Esses se inflamam no crespúculo: são os inflamingos. tanzanianos.evite vir de chapa.. juntar-me a si. Governado Pelos Mortos (fala com um descamponês) Autor: Mia Couto in Revista Lua Nova. Primo urbano .Optimo.Já tomei decisão . Nós só ficamos com o descampado.E agora ? . é pá! Então onde está a protecção do empresariado nacional? Então isto é assim . . 20 ". empurra. E têm medo de admitir isso. Entrar enquanto houver lugar.Agora somos descamponeses.nigerianos da droga já tem lojas e empreendimentos em Maputo. . . Cá lhe espero.Nós ainda ontem vimos flamingos. . p. . os olhos de Agualberto não eram os mesmos. A partir desse dia meu pai se adentrou em si mesmo. Passavam gentes vindas de longe para espreitar de longe o preto de olhos da cor do mar. Se chamava de arvorestruz." Mar Me Quer Autor: Mia Couto Trechos do livro "Mar Me Quer". É um nome que deveria ser consertado. .. tapando os olhos. há nomes que eu acho que estão desencostados. voava de galho em flor. Ninguém conseguia olhar meu pai de frente. toda a hora sentado na praia contemplando o horizonte. .. tal iguais aos grandes e dentilhados bichos. Sua humanidade estava lavada a modos de peixe. a avestruz pousava em árvore.. edição da Ndjira páginas 37-38: Seus olhos subiram do chão até se fixarem no rosto dele.Antes de haver deserto. Aquela manhã acordou com vontade de esquentar e eu me . Porque aqueles olhos dele estavam da mesma cor do mar: azuis. Porque o sol só finge nascer. páginas 43-44 O dia começa sempre de mentira. A flor é que levaria o título de beija-pássaros. Foi quando ela gritou. de transparência marinha. E se espalhou um murmúrio de que Agualberto tinha os olhos de tubarão. Agora. Ele ficara muitíssimo demasiado tempo debaixo do mar. . Quarto capítulo. Pode falar delas ? .E outras aves da região..Caso do beija-flor.Os olhos dele! Sim. Os restantes se aproximaram de meu pai e um rumor se espalhou como nuvem fria. ela soltou um grito. cumprindo seu dever.Não recebo quentura da água. . lesmas babadoiras lavrando nas coxas de Luarmina. .Entrar onde ? . Espreitei pela esquina dos olhos: a gorda Luarmina estava flutuando. Os bichos desqualificavam viscosas salivas sobre a vizinha e eu só pensava: mal empregadas as minhas próprias babas. De repente. Me entornei na toalha da água e fechei os olhos igual como ela. Eram peixes mortos boiando. pescando entre roupa e corpo. Para meu espanto. Aproximei e lhe perguntei a razão daqueles banhos. embenvencida. . Dona! O que foi ? Luarmina apontou qualquer coisa sobre as águas.Susto. Entrei. pastando nessas gorduras dela. Meus dedos prosseguiram. E salvo seja.A água está quentinha ? . Ela respondeu que queria aquecer as pernas.. Foi quando encontrei Luarmina mergulhada numa poça de água. porém. Minhas mãos fingiram ser caracóis. com o devido respeito. Quem me aquece são caracóis. E explicou: havia uns certos caracóis que lhe lambiam as pernas.Nessa água onde a senhora está ser banhada.Dá licença eu entrar ? . Emendei minha malandrice. Estava vestida e as roupas colavam-se no corpo. fui-me achegando perto da vizinha.decidi passear pela praia. Nas Águas do Tempo Autor: Mia Couto in Estórias Abensonhadas . parecia um navio repousando em desenho de criança. a mulata não me repeliu. mãos atrás das costas. onda lá. . E eu lhe imitava. nele. nunca esqueça! Era sua advertência. era ele quem me conduzia. parecendo ir mais sozinho que um tronco desabandonado. .Sempre em favor da água. Eu me admirava da sua magreza direita. Porque a rede ficava amolecendo o assento. Peixe nã era. nesses dias. A maneira como me apertava era a de um cego desbengalado. Aquele era o lugar das interditas criaturas.Mas vocês vão aonde? Era a afliçã de minha mãe. A canoa solavanqueava. nossos pés pareciam bater na barriga de um tambor. somente raspando o remo na correnteza. Vovô era dos que se calam por saber e conversam mesmo sem nada falarem. . Antes de partir.Meu avô. Ele remava. No entanto. Depois viajávamos até ao grande lago onde nosso pequeno rio desaguava. O velho sorria. o velho se debruçava sobre um dos lados e recolhia uma aguinha com sua mã em concha. O barquito cabecinhava. ensonada. enfilado em seu pequeno concho. todo ele musculíneo. Os dentes. Nã se pode contrariar os espíritos que fluem. ele me segurava a mã e me puxava para a margem. eram um artigo indefinido.Voltamos antes de um agorinha. o dia já crepusculando. um passo à frente de mim. Entrávamos no barquinho. Garantido era que. Nem eu sabia o que ele perseguia. onda cá. O avô era um homem em flagrante infância. . chegada a incerta hora. Tirar água no sentido contrário ao da corrente pode trazer desgraça. devagaroso. me levava rio abaixo. respondia. sempre arrebatado pela novidade de viver. De repente. minha mãe nos recebia com azedura. nós éramos os únicos que preponderávamos. Nunca. Aquelas inquietas calmarias. desabotoando os nervos. fosse ali a manhã eternamente ensonada. ela ensaiava a brincadeira: . se zangava com o avô. vislumbrei por ali alma deste ou de outro mundo. Nosso barquito ficava ali. nos próximos futuros. Nã vê o pano branco. acenava. naquele lugar se perdia a fronteira entre água e terra. como em reza. É lááá. Tudo em volta mergulhava em cacimbações. a dançar-se? Para mim havia era a completa neblina e os receáveis aléns. A quem acenava ele? Talvez era a ninguém. E muito me proibia.Você nã vê lá. . Mas o avô acenava seu pano.Ao menos vissem o namwetxo moha! Ainda ganhávamos . E regressávamos.Tudo o que ali se exibia. O avô. desconfiando dos seus nã-propósitos. na margem? por trás do cacimbo? Eu nã via. viajando sem companhia de palavra. O velho. excitado. temia as ameaças que ali moravam. sonecando no suave embalo. nem por pinte. Tirava seu pano vermelho e agitava-o com decisã.Nã é lá. Com o balanço quase o barco nos deitava fora. Mas ele insistia. sobre as águas nenufarfalhudas. quieto. Em casa. calado. espiava as longínquas margens. encolhido no seu silêncio. se inventava de existir. Ficávamos assim. depois. sombras feitas da própria luz. . Meu velho. meu avô se erguia no concho. Primeiro. perdia a miragem e se recolhia. afinal. Pois. Nã queria que fôssemos para o lago. onde o horizonte se perde. já amolecida pela nossa chegada. Mas depois. tã quietos que parecia-mos perfeitos. O velho acorreu-me e me puxou. Dizia ele que. Mas a nós. um braço. aventurosos. Com a agitaçã. Decidi me equilibrar.. procurando o fundo lodoso da margem. aflautinados. minha perna descia engolida pelo abismo. eu e vovô aguardávamos o habitual surgimento dos ditos panos. O namwetxo moha era o fantasma que surgia à noite. lutando dentro do lago. Sucedeu-me entã que não encontrei nenhum fundo. Acontece que. uma perna. colocar pé em terra nã-firme. a partir daqui. ainda em juventude. o barco virou e fomos dar com as costas posteriores na água.Neste lugar não há pedacitos. se tinha entrevisto com o tal semifulano. Estávamos na margem onde os verdes se encaniçam. nem nos passava desejo de duvidar. O primeiro homem? Para mim nã podia haver homem mais antigo que meu avô. Invençã dele. feito só de metades: um olho. busquei chã para assentar o pé. dessa vez.. Eu jamais assistira a um semblante tã bravio em meu velho. De repente. Nós éramos miúdos e saíamos. Mas nunca nos foi visto tal monstro. Certa vez. Todo o tempo. Eu tinha um pé meio-fora do barco. . Meu avô nos apoucava. agarrados às abas da canoa. Queria subir à margem. Mas a força que me sugava era maior que o nosso esforço. Dizem: o primeiro homem nasceu de uma dessas canas.Nunca! Nunca faça isso! O ar dele era de maiores gravidades. no lago proibido. são eternidades.vantagem de uma boa sorte. meu . Desculpei-me: que estava descendo do barco mas era só um pedacito de tempo. miudagens. procurando o moha. avisava minha mãe. Mas ele ripostou: . Ficámos assim. me apeteceu espreitar os pântanos. No mais ou menos.Me entende? Menti que sim. E assim lhes causamos uma total tristeza. acenando sem convicções. Mas obedeci ao avô. Mas o tempo passou em desabitual demora. deixámos de ser puxados para o fundo. O avô se inquietava. deu-se o espantável: subitamente.Não conte nada o que se passou. Na tarde seguinte. O remoinho que nos abismava se desfez em imediata calmaria. ele interrompeu o nada: . meu filho. O que acontece. Nem tudo entendi. Nem a ninguém. ele falou assim: nós temos olhos que se abrem para dentro. erguido na proa do barco. palma da mão apurando as vistas. o velho me pediu: . Ao amarrar o barco. Desta vez. dividimos o trabalho do regresso. De súbito. . Voltámos ao barco e respirámos os alívios gerais.avô retirou o seu pano do barco e começou a agitá-lo sobre a cabeça. esses que usamos para ver os sonhos. é que quase todos estão cegos. . Do outro lado. Em silêncio. Os outros? Sim. ele me explicou suas escondidas razões. Eu levo-lhe lá nos pântanos para que você aprenda a ver. você! Olhei a margem e não vi ninguém. esses que nos acenam da outra margem. deixaram de ver esses outros que nos visitam. Chegados à beira do poente ele ficou a espreitar.Cumprimenta também. Não posso ser o último a ser visitado pelos panos. Então.Fique aqui! . ouviu? Nessa noite. bem o avô não via mais que a enevoada solidão dos pântanos. Meus ouvidos se arregalavam para lhe decifrar a voz rouca. o avô me levou uma vez mais ao lago. havia menos que ninguém. em desmaio de cor. entre a neblina. Enquanto remava um demorado regresso.. tirei a camisa e agitei-a nos ares. E vi: o vermelho do pano dele se branqueando. ele se declinou em sonho. o aceno do pano vermelho do meu avô. Então. A esse rio volto agora a conduzir meu filho. A canoa ficou balançando. Fiquei ali. do outro lado do mundo. me vinham à lembrança as velhas palavras de meu velho avô: a água e o tempo são irmãs gémeos.. O avô pisava os interditos territórios? Sim. o pano branco. Me recordo de ver uma garça de enorme brancura atravessar o céu. nascidos do mesmo ventre.Mia Couto . Fiquei indeciso.a língua nossa. Meus olhos se neblinaram até que se poentaram as visões. mesmo ao lado da aparição. fazendo sangrar todo o firmamento.. essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós. lhe ensinando vislumbrar os brancos panos da outra margem. Foi então que deparei na margem.E saltou para a margem. Presenciei o velho a alonjar-se com a discrição de uma nuvem. Parecia uma seta trespassando os flancos da tarde. em desequilibrismo com meu peso ímpar. na margem da miragem. ficarmos mais Moçambique" . moçambicanos. lentamente. ele seguia em passo sabido. frente ao meu espanto. Até que. E eu acabava de descobrir em mim um rio que não haveria nunca de morrer. barafundido. Venho Aqui Brincar no Português Autor: Mia Couto in Estórias Abensonhadas 11/04/1997 "Venho brincar aqui no Português. com muito espanto. Pela primeira vez. Enquanto ainda me duvidava foi surgindo. tremendo de um frio arrepioso. eu coincidia com meu avô na visão do pano. me roubando o peito no susto. o gosto de saborear ignorâncias. A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta. Mas nós. embarco nesse gozo de ver como a escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. vamos criando uma língua apta para o futuro. Não aquela que outros embandeiram. Entretanto. veloz como a palmeira. essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós. Meu desejo é desalisar a linguagem. E quantas são? Se a Vida tem. . Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência. Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. O que me apronta é o simples gosto da palavra. colocando nela as quantas dimensões da Vida. ficarmos mais Moçambique. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. nunca me guardou. plástica. excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. aqui na mais meridional esquina do Sul. Nos falta domínio. moçambicanos. neste sulburbio.Perguntas à Língua Portuguesa Venho brincar aqui no Português. é idimensões? Assim. Mas a língua nossa. a língua. estamos exercendo é a ciência de sobreviver. papelosas comunicações. que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. o mesmo que a asa sente aquando o vôo. Meu anjo da guarda. Língua artesanal. felizmente. carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma. No enquanto. defendemos o direito de não saber. aderindo ao invisível. Veja-se. das leis da língua. Pois. em anterior vida. Pois se ele. amando o indomesticável. Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. um pensamento nosso. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo. Precisamos.fugidia a gramáticas. sim. beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação? O elefante que nunca viu mar. procurando os outros tempos deste tempo. sempre vivendo no rio: devia . afinal. alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. o que é senão o ovo das galinhas de ouro? Estamos. perguntas que se podem colocar à língua: Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo? No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco? A diferença entre um às no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética? O mato desconhecido é que é o anonimato? O pequeno viaduto é um abreviaduto? Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente? Quem vive numa encruzilhada é um encruzilheu? Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado? Tristeza do boi vem dele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. O idioma. num sumário exemplo. de senso incomum. sim. Eu falo português cortamato. Sim. Lembro a camponesa da Zambézia. afinal. é um barrilgudo? Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca? Brincadeiras. brincriações. isso que ela fazia é.na travessia dos matos. E é coisa que não se termina. E um menor: será que pratica minoritério? Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose? Um gordo. tipo barril. Será daí que vem o nome: "finanças"? Um tufão pequeno: um tufinho? O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha? Em águas doces alguém se pode salpicar? Adulto pratica adultério.ter marfim ou riofim? Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"? Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço? Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro? Mulher desdentada pode usar fio dental? A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel? As reservas de dinheiro são sempre finas. dizia.o nosso português . Devolvemos . trabalho de todos nós. fizemos que ele se descalçasse pelos atalhos da savana. Colocamos essoutro português . Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Sonho realizado. Tudo sito no derradeiro bairrismo que é morar no bairro de Lhanguene. Classica arquitectura rectangular. Caminho. 1998 Ambição minha e da Maria foi termos uma casa nossa onde nos contarmos os cabelos brancos. Fachada pintada a cal.o racionalismo trabalha que nem lixívia. Lote 42.cores que dela haviam sido desbotadas . O resto na altura mais propícia surgirá por si. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites. Devolver a estrela ao planeta dormente. somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. Casa definitiva já temos. Parece que está por pouco. É urgente recuperar brilhos antigos. Aldeia Queimada . Talhão 71883. A Nossa Casa Autor: José Craveirinha Moçambique in "Maria". Uma via asfaltada com um único sentido. Pelo menos envelhecer já não é problema. Na lista onde eu consto É injusto que tarde estarmos juntos. Os que viram dizem que Júlio foi escanhoado até às carótidas do colarinho em requintes de gilete dos facões de mato. Maputo 1997 Mas nas noites desparasitadas de estrelas é que as hienas actuam. Barbearia Autor: José Craveirinha Moçambique in "Babalaze das Hienas". É de cinzas o vestígio das palhotas. A Boca Autor: José Craveirinha Moçambique in "Babalaze das Hienas".Autor: José Craveirinha Moçambique in "Babalaze das Hienas". Os barbeiros do Chaúque deixaram em toalhas de folhas secas congruentes nódoas roxas. Maputo 1997 Na barbearia às escuras Júlio Chaúque foi barbeado quando voltava da machamba de milho. Maputo 1997 . Na adolescência meus filmes de aventuras punham-me muito longe de ser cobarde na arrogante criancice do herói de ferro. E agora choro. Como chora um homem! Aforismo .Jucunda boca deslabiada a ferozes júbilos de lâmina afiada. Exotismo de povo flagelado esse atroz formato da fala. Como um homem treme. Um Homem Nunca Chora Autor: José Craveirinha Moçambique Do livro "Cela 1". poemas escritos aquando da sua passagem pelas masmorras da PIDE em Moçambique Acreditava naquela história do homem que nunca chora. Alva dentadura antónima do riso às escâncaras desde a cilada. Agora tremo. Eu julgava-me um homem. Depoimento Autobiográfico Janeiro de 1977 José João Craveirinha nasceu em 28 de Maio 1922 em Maputo. Estávamos iguais com duas diferenças: Não era interrogada e por descuido podiam pisa-la. Mas não me chames negro. Iniciou a sua carreira como jornalista no "O Brado Africano". Assim não te odeio. e colaborou/trabalhou com diversos orgãos de informação em Moçambique. Mas aos dois intencionalmente podiam por-nos de rastos mas não podiam ajoelhar-nos. (1968) Pena Zangado acreditas no insulto e chamas-me negro.Havia uma formiga compartilhando comigo o isolamento e comendo juntos. Porque se me chamas negro encolho os meus elásticos ombros e com pena de ti sorrio. . .Teve um papel importante na vida da Associação Africana a partir dos anos 50. Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. vitória e derrota. sacrifício até à exaustão.Joaquim Falé "Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. competição. Quando o meu pai foi de vez. Esteve preso pela Pide. a terra natal em termos de Pátria e de opção. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Quando a minha mãe foi de vez. A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra. do Zichacha entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. na celebre Cela 1 com Malangatana e Rui Nogar. Talvez por causa do meu pai. Temperado por tudo isso. sendo considerado um dos grandes poetas de Africa e da Língua Portuguesa. Bairros de quem? Bairros de pobres. Pela parte da minha mãe. tive outro pai: o seu irmão. outra mãe: Moçambique. encontrando no Amor a sublimação de tudo. Chamaram-me Sontinho. Outra parte permanece inédita. Isto num domingo. Tem muitas obras publicadas. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Grande parte da sua poesia ainda se mantém dispersa na imprensa. entre outros. claro. . mais agnóstico do que ateu. muito cedo. Aonde? Na Av. Nasci ainda mais uma vez no jornal "O Brado Africano". não tendo sido incluída nos livros que publicou até à data. A seguir fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros. Por isso. diminutivo de Sonto. Por causa da minha mãe só resignação. Talvez por causa do meu pai. Ou antes: principalmente da Pátria. Mesmo da Pátria. Por parte do meu pai fiquei José. Esforço. de 1965 a 1969. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Joaquim Falé página 19: Vovó amanhã não precisa ir ao hospital. E como quis. recentemente lançado em Maputo e da autoria de José Craveirinha. Escrever poemas. muitas vezes altas horas da noite. dia das FADM e comemoração do inicio da luta armada contra o regime colonial português. nada mais "adequado" que um excerto do livro "Babalaze das Hienas". Outros doentes privilegiados . Depois eu casado. Ontem eles foram lá deram maningue tiros partiram tudo. Autodidacta. o meu país também. o meu refúgio. Uma edição da AEMO com o apoio do Instituto Camões. Mas casado quando quis. os horrores cometidos durante a guerra civil que devastou o país. tudo mataram doentes mutilaram o senhor enfermeiro e violaram a senhora parteira. Este "incómodo" livro de Craveirinha lembra algo de que já não se fala muito em Moçambique." Eles Foram Lá Neste dia 25 de Setembro. Minha grande aventura: ser pai. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país.Uma luta incessante comigo próprio. Foram." página 50: TORRESMOS À MACHIMBOMBO QUEIMADO À partida o machimbombo parecia um ónibus lotado de gente em viagem..foram carregar na cabeça farinha açucar e arroz da cooperativa . Lá para o quilómetro 20 a oeste da Gorongosa chaparia e respectivo tejadilho ficaram fuliginoso similar de frigideira fritando várias doses de torresmos derivantes fósseis de passageiros interrompidos antes da terminal. Menino gordo assoprou assoprou assoprou .. Sobra este prosaico odor da sintomática machimbombesca fotocópia de esquife." Fábula "Menino gordo comprou um balão e assoprou assoprou com força o balão amarelo. O impaciente estardalhaço dos tiros ainda por cima esfrangalhou o original. A castiça folia. página 11: Gente a trouxe-mouxe da má sorte calcorreia a pátria asilando-se onde não cheira a bafo de bazucadas.. . página 28 CARREIRA DE GAZA Escusado fazer pontaria.." Gente a Trouxe-Mouxe No livro "Babalaze das Hienas". Chusmas de rajadas acertam sempre. Gente dessedentando martírios nos charcos se chover.o balão inchou inchou e rebentou! Meninos magros apanharam os restos e fizeram balõezinhos. Povo armado de maternitude e velhice . Das minas. de José Craveirinha. ou a pé descalço dançando. Gente que gastronomiza desapetitosos bifes de cascas guisados de raízes ao natural e sobremesas de capim seco. Maputo. Gula Autor: José Craveirinha In "Babalaze das Hienas". 1997 Uns exibem insólitos perfis de outra beleza maquilhada . Rituais de tão escabrosa gulodice que até nos esfomeados aldeões da tragédia a gula das quizumbas se baba nas beiças das catanas. AEM. AEM. 1997 Uivam as suas maldições as insidiosas hienas própria sanha. Objectivo estratégico de maternitude machibombo da carreira de Gaza atingido em cheio calcinou.esgota a lotação das carreiras de Gaza rumo à saudade de onde saiu. A mãe que dava o peito ao bebé de três meses foi removida assim mesmo. dos machados. Outra Beleza Autor: José Craveirinha In "Babalaze das Hienas". Maputo. Maria! Do ódio e da guerra dos homens das mães e das filhas violadas das crianças mortas de anemia e de todos os que apodrecem nos calabouços cresce no mundo o girassol da esperança . são homens e os velhos. mulheres e crianças e não são feras. ou do viés ou de frente perfeitos modelos de caveira desfilam sem nariz.no mato. as mulheres e as crianças são os nossos pais nossas irmãs e nossos filhos. Maria! Feras matam velhos. Maria! Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos e não são cães são seres humanos. Reza. Maria Autor: José Craveirinha 1ª versão Suam no trabalho as curvadas bestas e não são bestas são homens. Maria! Crias morrem á míngua de pão vermes na rua estendem a mão a caridade e nem crias nem vermes são mas aleijados meninos sem casa. Cresce a semente que a povoação plantou curvada e a estrada passa ao lado macadamizada quente e comprida e a semente germina lentamente no matope imperceptível como um caju em maturação.Ah! Maria põe as mãos e reza. E a vida curva as suas milhentas mãos geme e chora na sina de plantar nosso suor branco enquanto a estrada passa ao lado aberta e poeirenta até Gaza e mais além . Cresce a semente enquanto a vida se curva no chicomo e o grande sol de Africa vem amadurecer tudo com o seu calor enorme de revelação. Pelos homens todos e negros de toda a parte põe as mãos e reza. 1955 "Cresce a semente lentamente debaixo da terra escura. Maria! Sementeira Autor: José Craveirinha 1ª versão. Foi para este holocausto que sobreviveste ao teu genocídio nos tempos da Nazilandia? Achas que é esta a tua ambicionada Terra de Canaã? Tu achas que assim ganhas a paz na Terra Prometida?" Makezú Autor: Viriato da Cruz . Desce velozmente mais baixo no teu caça-bombardeiro. Voa mais baixo. Acelera até os motores e as bombas de fósforo contigo oscularem sofregamente o chão sagrado. Desce até Eichman. piloto Israelita. Depois de tanga e capulana a vida espera espiando no céu os agoiros que vão rebentar sobre as campinas de Africa a povoação toda junta no eucalipto grande nos corações a mamba da ansiedade. Inútil procurares nos incêndios de Beirute e nos inocentes corpos mutilados pelos estilhaços ardentes as belas palavras do Cântico dos Cânticos. Desce ainda mais baixo piloto hebreu.1982 Não. Oh! Dia de colheita vai começar na terra ardente do algodão!" Terra de Canaã Autor: José Craveirinha 10.camionizada e comprida. E voa mais baixo. Voa até ao fundo dos ascos.8. .. Avó Xima está velhinha."Antão... Makèzú. Mas de manhã... Já não tem a cor berrante Que tinha nos outros anos. Makèzú........ O pregão da avó Ximinha É mesmo como os seus panos.." . Makèzú..Angola Poemas... Makèzú. Lá vai para um cajueiro Que se levanta altaneiro No cruzeiro dos caminhos Das gentes que vão pà Baixa.. véia.. hoje nada?" ....." ........... 1961 ..... Como é aqui tás fazendo isso?" ... mano Filisberto."Kuakiè!!!."Nada.... Pede licença ao reumâtico E num passo nada prático Rasga estradinhas na areia... Hoje os tempo tá mudado...... manhazinha...... Nem criados."Kuakiè.."Mas tá passá gente perto.. nem pedreiros Nem alegres lavadeiras Dessa nova geração Das "venidas de alcatrão" Ouvem o fraco pregão Da velhinha quitandeira......" ..... .... cheirando a rosas sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo tão rijo e tão doce ..) Qui o nosso bom makèzú É pra veios como tu"... da cor do jambo. .como o maboque. Seus seios... E diz ainda pru cima (Hum.. 1961 Mandei-lhe uma carta em papel perfumado e com letra bonita eu disse ela tinha um sorrir luminoso tão quente e gaiato como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas espalhando diamantes na fímbria do mar e dando calor ao sumo das mangas Sua pele macia .. mbundo kène muxima."Eles não sabe o que diz." Namoro Autor: Viriato da Cruz Angola Poemas....."Não sabe?! Todo esse povo Pegó um costume novo Qui diz qué civrização: Come só pão com chouriço Ou toma café com pão."É pruquê nossas raiz Tem força do makèzu!.laranjas do Loje .era sumaúma.. laranjas .... Sua pele macia. Pru qué qui vivi filiz E tem cem ano eu e tu?" . . E ela disse que não. Levei á Avo Chica. á porta da fabrica.(ai. ficamos num banco do largo da Estátua..?) não viu Benjamim?" E perdido me deram no morro da Samba. me desse a ventura do seu namoro..... não viu.. paguei-lhe doces na calcada da Missão. Mandei-lhe essa carta e ela disse que não. como um mona-ngamba... Mandei-lhe um cartão que o amigo Maninho tipografou: "Por ti sofre o meu coração" Num canto . Esperei-a de tarde. e ela disse que não.. Andei barbudo. rogando de joelhos no chão pela Senhora do Cabo....marfim. sujo e descalço.NÃO E ela o canto do NÃO dobrou Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete pedindo. . pela Santa Ifigenia. afaguei-lhe as mãos. falei-lhe de amor.. quimbanda de fama a areia da marca que o seu pé deixou para que fizesse um feitiço forte e seguro que nela nascesse um amor como o meu. Procuraram por mim "-Não viu.. noutro canto . ofertei-lhe um colar e um anel e um broche.SIM. Para me distrair ..seus dentes. E o feitiço falhou. .. ("não tarde que ele chegou!") Abriu a boca e falou - ......tuc....sorriu para mim pedi-lhe um beijo ... de volta das estrelas. Serão Menino Autor: Viriato da Cruz Angola Na noite morna.. escura de breu.. na noite de breu...levaram-me ao baile do Sô Januario mas ela lá estava num canto a rir contando o meu caso as mocas mais lindas do Bairro Operário......e ela disse que sim... meninos se encantam de contos bantus..foi entrando para o conselho animal. "Era uma vez uma corça dona de cabra sem macho...dancei com ela e num passo maluco voamos na sala qual uma estrela riscando o céu! E a malta gritou: "Aí Benjamim !" Olhei-a nos olhos .. .. Tocaram uma rumba ..... ao quente da voz de suas avós... ...... os anjos escutam parábolas de santos..... o cágado lento tuc. enquanto na vasta sanzala do ceu.Matreiro. quais fogareus......... por pedregosos trilhos .Eué . E a gente grande bem perto dali feijão descascando para o quitende a gente grande com gosto ri. Angola. Sangrentos os pés. Com gosto ri... os teus filhos escravos nas galeras correram as rotas do Mundo. 1961 Ah! Angola." Mas quando lá fora o vento irado nas frestas chora e ramos xuxualha de altas mulembas e portas bambas batem em massembas os meninos se apertam de olhos abertos: ..deu a sentença final: "-não tenham medo da força! Se o leão o alheio retém -luta ao Mal! Vitória ao Bem! tire-se ao leão . em negra noite..Felicidade. aos mais seres busca. porque ela diz que o cazumbi males só faz a quem não tem amor.. essa outra voz de cazumbi essa outra voz .É cazumbi.dê-se à corça.. A Sombra das Galera Autor: Alexandre Dáskalos Angola Poesia. . tudo tão presente. A América é bem teu filho arrancado à força do teu ventre. tudo distante.. Hoje no entrechoque das civilizações antigas essa figura primitiva se levanta simples e altiva.. a ânsia de ali descansar Ah! As galeras! As galeras! Espreitam o teu sono tão pesado prostrado do torpor em que mal te arqueias. ao longe. outros rumos. Depois outros destinos dos homens. a fome. Escravo! Escravo! O mar irado. Que longa noite se perde na distância! As cargas enormes os corpos disformes. A vida. presente como na floresta à noite.. o brilho duma fogueira acesa. a morte. já não sente. a sede. Na praia. o lar. a morte. a febre... ardendo no teu corpo que de tão sentido.vinham do sertão.. lá do sertão. ... lá bem do fundo vergados ao peso das cargas enormes... o suplício de arrastar dessas correias. a terra. E onde vão seus rumos? Onde vão seus passos? . O seu cãntico vem de longe e canta ausências tristes de gerações passadas e cativas. Depois.. Angola vais na sede da conquista. De tão distante.. apenas pestanejam as estrelas. Chegavam às praias de areias argênteas que se dão ao Sol ao abraço do mar.. Angola.Guarda. Mais. 1961 Jesus Cristo Jesus Cristo Jesus Cristo. porque esperas? Ah! Mata.. meu irmão Sou fio dos pais da terra Tenho corpo p'ra sofrer Boca para gritar E comer o que comer Os meus pés que vão No chão Minhas mãos são de trabalho Em coisas que eu não sei E não tenho nem apalpo Trabalho que fica feito Para o branco me dizer "Obra de preto sem jeito" E minha cubata ficou Aberta à chuva e ao vento .Não sou cativo! A minha alma é livre. mata no teu sangue o presságio da sombra das galeras! Carta Autor: Alexandre Dáskalos Angola Nova Lisboa... Portugal. 1924 . vivo. vem numa força hercúlea gritar para os espaços como os dardos do Sol ao Sol da vida no vigor que em ti próprio reverberas: .. é livre enfim! Liberto.Ah! Vem. liberto. Manhã Autor: Alexandre Dáskalos Angola Poesia. Jesus Cristo Jesus Cristo Jesus Cristo meu irmão Sou fio dos pais da terra Um pouco de coração De coração e perdão Jesus Cristo meu irmão... e depois? Se é caçador de palanca Se é caçador de leão Isso não faz mal nenhum Lança as redes no mar Não sai leão sai atum. Limos na pasta dos cabelos escondem o mistério dos olhos olhando a curva do seu ventre..Vivo ali tão nu e pobre Magrinho como o pirão Meus fios saltam na rua Joga o rapa sai ladrão Preto ladrão sem imposto Leva porrada nas mãos Vai na rusga trabalhar Se é da terra vai para o mar Larga a lavra deixa os bois Morre os bois. Flutuando entre sombras e reflexos . 1961 Erguida do fundo das águas plácidas dum lago surge Mulher.. misturados confundidos para a sua criação. abrindo nas sombras o seu perfil que nasce o seu perfil de Mãe dos Homens do futuro. em fosforescências arbóreas de constelações que lembram os recessos da vida. musgos. desesperos e cansaços. Em volta. feras e povos divididos. marítimas. Maria Autor: Alexandre Dáskalos Angola Do Tempo suspenso. jovem. chegam-lhe da floresta lutas de homens.duma luz longínqua. líquens. E tudo esquecido ou ignorado. Os seios erguidos apontam ao longe a aurora que vem. a forma dos braços ganha o mais e mais fundo das águas. 1998 No temporal da revolução os baús de enxovais preciosos das raparigas casadoiras . só no lago o corpo erguido. Em plantas aquáticas. algas. perdi meu enxoval. Quero as ânsias do mar quero beber a espuma branca duma onda a quebrar e vogar. no entanto. .não canses os olhos nos bilros. Poesias Autor: Alexandre Dáskalos Angola Poesias. 1924-Guarda. Portugal 1962) O meu amor está triste e enche-me de cuidados. E. Angola. Onde está a almofada dos bilros? Já provaste os dendêns com açucar? Não reduzas a valsa a um cheese-burguer num pub desconhecido! Ele disse-me .naufragaram. O meu amor está triste e enche-me de cuidados. Ainda hoje me consolo com as leituras de Marx. MARIA Autor: Alexandre Dáskalos Angola (Nova Lisba. 1961 Quando eu morrer não me dêem rosas mas ventos. E eu e o mundo. mudos. A gente do mar dos que ficam em terra. E a vida. a rosa dos ventos a correrem na ponta dos meus dedos a correrem. . ficar quieto. a correrem sem parar. 1961 Havia nos olhos postos o sentido de não vencerem distâncias. o meu coração fica para ti. Onda sobre onda infinita como o mar como o mar inquieto num jeito de nunca mais parar. Oh mar. sentir sempre no peito o tumulto do mundo da vida e de mim. Para ter a ilusão de nunca mais parar. Os carregadores falavam da gente do mar. Morrer. não. Por isso eu quero o mar.Ah. Os navios chegavam ao porto e partiam. de lábios colados no silêncio os braços cruzados como quem deseja mas de braços cruzados. Calados. Porto Autor: Alexandre Dáskalos Angola Poesais. Oh. traziam as novas das terras longínquas. 1999 e agora só me restam os poetas gregos. Sintra.esquece. Sentada à beira do cais da minha baía do cais simbólico.As mercadorias seguiam. Os navios chegavam ao porto e partiam. Os ventos. dos fardos. na areia. O silêncio diz . dispersos na alma do tempo. Os deuses não assistiram a isto. Tomé e Príncipe 1963 Aqui. Segredavam-se em noites e dias a todos os homens em todos os mares e em todos os portos num destino comum. das malas e da chuva caindo em torrente .. Em Torno da Minha Baía Autor: Alda do Espírito Santo S. E Agora Só Me Restam Autor: Maria Alexandre Dáskalos Angola in "Vozes poéticas da lusofonia". E o espinho da rosa enterrado no peito é meu.. . nesta hora morna do entardecer no mormaço tropical desta terra de África à beira do cais a desfazer-se em ruinas. canções melodiosas numa toada universal num cortejo gigante de humana poesia na mais bela de todas as lições HUMANIDADE. rubra de sangue...sobre o cais desmantelado. num voo magistral em torno do mundo desenhando na areia a senda de todos os destinos pintando na grande tela da vida uma história bela para os homens de todas as terras ciciando em coro. dos homens tombados na arena imensa do cais. à roda de mim. abrigados por um toldo movediço uma legião de cabecinhas pequenas. caindo em ruinas eu queria ver à volta de mim. Fernão Dias para sempre na história da Ilha Verde. Tomé e Príncipe 1958 O sangue caindo em gotas na terra homens morrendo no mato e o sangue caindo. caindo. Onde Estão os Homens Caçados Neste Vento de Loucura Autor: Alda do Espírito Santo S. os grilhões. as casas. . Zé Mulato. na mão dos verdugos sem nome. .Nós estamos de pé Nossos olhos se viram para ti. os homens.Aí o cais. Os corpos tombados no mato.. o sangue.. Zé Mulato. erguem o coro insólito de justiça clamando vingança. As vítimas clamam vingança O mar. Nossas vidas enterradas nos campos da morte. os homens do cinco de Fevereiro os homens caídos na estufa da morte clamando piedade gritando p'la vida. o mar de Fernão Dias engolindo vidas humanas está rubro de sangue. a soarem caindo no silêncio das vidas tombadas dos gritos.. . as casas dos homens destruídas na voragem do fogo incendiário. na história do cais baleando homens no silêncio do tombar dos corpos.. os golpes das pancadas a soarem. Aí. dos uivos de dor dos homens que não são homens. mortos sem ar e sem água levantam-se todos da vala comum e de pé no coro de justiça clamam vingança. a soarem. Zé Mulato. as vias queimadas. ...Onde está o meu povo?.. É a chamada da humanidade cantando a esperança num mundo sem peias onde a liberdade é a pátria dos homens. Um a um.Que respondeis? . E eu respondo no silêncio das vozes erguidas clamando justiça.E vós todos carrascos e vós todos algozes sentados nos bancos dos réus: . A justiça vai soar.. E o sangue das vidas caídas nos matos da morte ensopando a terra num silêncio de arrepios vai fecundar a terra. carrascos. todos em fila.. clamando justiça. Para vós.engoli dum espinheiro um grande raminho & da tese concebida ao prefácio por escrever teço toc toc enquanto toco levemente o provir . Meditando Autor: Lopito Feijoó Angola . ..Que fizeste do meu povo?.... o perdão não tem nome. mais do que a vermelha e a clássica são estes bolsares viscerais. Exaustos de exaurir cifrões. barrete e folhoso são o vai-vem obvioimplícito. No ponto a mesma musica: os fúnebres encontros para chorarmos um entre comuns: os irmãos foram-se de largada. nossa fúria cosmopolita mas agora falemos de ortodoxias.d'outra gestão daí a cor do sangue escasso caro irmão protestante que tão bem partes os passeios que passeio assim que passo passo a passo me ditando! Arremessos Autor: Filimone Meigos no livro "Poema & Kalash in love" "A despeito de questiúnculas. a minha geração dar-se-á ao desplante de reescreve-la. jornalista e oficial das Forcas Armadas de . também. Para os ruminantes. mero cidadãos do ocaso? Mas por criar. mangungu d'ontem maningue chatos. que o xibalo e a palhota sirvam para nos nacionalizarem. De facto. me ti cu lo sa mente(m)! " Manuel Meigos Filimone nasceu na Beira a 4 de Marco de 1960. sempre e sempre o futuro. só porque se u$a? Ou seremos nos. basta o ruminar e bolsar sobre. estão os dias que nos transportam es-cru-GULOSA-mente (m) (por via erudita). secretario de governador. É verdade que o que somos tem sempre segmentos do que fomos.. Foi professor secundário. se a história está a ser mal escrita. sobram-nos os mesmos filhos que vamos sendo dos nossos pais. há caso. É verdade irrefutável que. Será verdade. e a despropósito das overdoses do born in. Morna Autor: Daniel Filipe Cabo Verde A Ilha e a Solidão E já saudade a vela. (Ó deuses lúbricos. onde a tristeza se contém. na tarde morta a eterna ronda de pecados que ia bater de porta em porta!) E ao ritmo túmido do canto na solidão rubra da messe. deixo correr o sal e o pranto . além. Viagem na Noite Longa Autor: Mário Fonseca Praia.Moçambique. Ilha de Santiago. Cabo Verde. Membro activo da AEMO. "Poema & Kalash in Love" é o seu primeiro publicado. baça. colecção timbila No 14 da Associação dos Escritores Mocambicanos em 1995. ousáveis erguer. É editor cultural do semanário Savana. então. plúmbea. tem colaboração espalhada por vários orgãos de informação. 1939 . os pares deslizam embrulhados de sonhos em dobras inefáveis.subtil e magoado encanto que o rosto núbil me envelhece. a música esvoaça na tarde calma. Serena. Cabo Verde. E o infinito se detém em mim Na noite longa uma remotíssima nostalgia afunda minha alma E eu choro marítimas lágrimas Enquanto meu desejo heróico de engolir os céus se alarga e é já céu Tenho então a sensação esparsamente longa de vogar no absoluto. 1933 Pão & fonema. De Boca a Barlavento Autor: Corsino Fortes Mindelo.1962 Na noite longa minha alma chora sua fome de séculos Meus olhos crescem e choram famintos de eternidade até serem duas estrelas brilhantes no céu imenso. 1974 I Esta a minha mão de milho & marulho .Selô. S.Vicente. Este o sol a gema E não o esboroar do osso na bigorna E embora O deserto abocanhe a minha carne de homem E caranguejos devorem esta mão de semear Há sempre Pela artéria do meu sangue que g o t e j a De comarca em comarca A árvore E o arbusto Que arrastam As vogais e os ditongos para dentro das violas II Poeta! todo o poema: geometria de sangue & fonema Escuto Escuta Um pilão fala árvores de fruto ao meio do dia E tambores erguem na colina Um coração de terra batida E lon longe Do marulho á viola fria . n°9. Navios sem mares Sem rumos De velas rotas. Amanheceu! Orça o teu leme E entra em mim . 1960 Girassol Rasga a tua indecisão E liberta-te. Aderido Aos teus flancos Singram navios.Reconheço o bemol Da mão domestica Que solfeja Mar & monção mar & matrimónio Pão pedra palmo de terra Pão & património Girassol Autor: Corsino Fortes in "Claridade". Vem colar O teu destino Ao suspiro Deste hirto jasmim Que foge ao vento Como Pensamento perdido. E não poder fugir Não poder fugir nunca A este destino De dinamitar rochas Dentro do peito. A Pedra Filosofal Autor: António Gedeão " Eles nã sabem que o sonho . Olho para as coisas E torno-as velhas Tão velhas A cair de carunchos. 1960 Passo pelos dias E deixo-os negros Mais negros Do que a noute brumosa. Só charcos imundos Atestam no solo As pegadas do meu pisar E fica sempre rubro vermelho Todo o rio por onde me lavo...Antes que o Sol Te desoriente Girassol! Pecado Original Autor: Corsino Fortes Cabo Verde in "Claridade". é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer. Colombina e Arlequim. passo de dança. ouro. que é Cabo da Boa Esperança. Eles não sabem que o sonho é tela. Eles não sabem que o sonho é vinho. é cor. capitel. como este ribeiro manso em serenos sobressaltos. pináculo de catedral. . máscara grega. que fossa através de tudo num perpetuo movimento. de focinho pontiagudo. contraponto. rosa-dos-ventos. caravela quinhentista. Infante. bastidor. é fermento. como estas aves que gritam em bebedeiras de azul. canela. magia. é espuma. base. bichinho álacre e sedento. marfim. como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam. é pincel. sinfonia. fuste. vitral. arco em ogiva. mapa do mundo distante. que é retorta de alquimista. florete de espadachim. como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso. barco de proa festiva. alto-forno. ultra-som. Soletram .passarola voadora." Escorraçados da Morte Autor: Zeto Cunha Gonçalvez Angola in "Vozes poéticas da lusofonia".e soletram: alfabeto de passos. locomotiva. Escorraçados da morte a terra nos levará à água? Sem mapas nem sentido do regresso . desembarque em foguetão na superfície lunar. nascemos . Sintra 1999 Escorraçados da morte soletram a nómada caligrafia dos pássaros.para ainda sobreviver. Paizinho. televisão. que o sonho comanda a vida. nem sonham.nosso è o fogo passo a passo em rições guardado. . Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos duma criança. geradora. E as matas . Da Lua viemos. radar.obrigado. para-raios. cisão do átomo. um linguajar de setas envenenadas petras. Eles não sabem. 1962 Estende teus dedos anelados sobre a minha carapinha derrama a tua inconsciente tranquilidade sobre a minha angústia submergida. Sintra 1999 Entristece a tua tristeza . Vem.e soletram: alfabeto de passos.e canta (os ombros modulam o vento modulam a noite a soberana voz dos horizontes) entristece a tua tristeza . Cacimbo Autor: Poetas angolanos. um linguajar de setas envenenadas pedras. Os Ombros Modulam o Vento Autor: Zeto Cunha Gonçalvez Angola in "Vozes poéticas da lusofonia". Soletram . cacimbo eu quero ver os cafeeiros ao peso dos bagos vermelhos endireita os troncos vencidos dos bambus coroa os cumes altos das serras do Bailundo .e canta Vem.Escorraçados da morte soletram a nómada caligrafia dos pássaros. limpa a visão empoeirada dos comboios que descem para Benguela nimba poeticamente os horizontes dos camionistas de Angola. Vem, cacimbo debruça-te cuidadosamente sobre as plantas da madrugada, destrói a angústia resignada das gentes da minha terra abre-lhes os horizontes dos cantos de esperança. Vem, cacimbo Derrama a tua inquieta saciedade sobre a minha natureza a esta hora empoeirada com o barulho das esquinas com o cheiro a óleo sujo dos automóveis e com a visão daquele nosso amigo cujo ordenado são quinze escudos diários irremediavelmente caido sobre a grama do jardim O cacimbo eu quero percorrer teus campos sossegados orquestrados pela alegria do beija-flor. VI. Por Uma Sereia de Treva Autor: Francisco Xavier Guita Júnior (Guita Jr.) no livro "O agora e o depois das coisas (1990-1992)", de Guita Jr., edição da AEMO, colecção Início, No. 7. Publicado em 1997, página16: sem segredos melhor que nós ninguém sabe a morte a dois e como heróis subterrâneos que somos procuramos a vida por entre as trevas navegamos algas ao amanhecer para encontrar um irmão pelas mãos empresta-me a tua máscara quero saborear esta melodia ter nos olhos a cor e antes que o dilúvio se propague nademos nas profundezas do asco talvez surja uma sereia de treva onde possamos pousar o coração que em fragmentos se dissolve no iodo da atmosfera que transportamos às costas sem segredo melhor que nós ninguém por entre a fresta da porta da noite apalpa este enigma: prestar contas ao silêncio dos olhos e conter a náusea por um instante ultrapassando o passado hóspede da masmorra da presente folia ardente transeunte Francisco Xavier Guita Júnior (Guita Jr.) nasceu em Inhambane a 14 de Março de 1964. Professor de Português, membro fundador e coordenador do XIPHEFO, caderno literário que surgiu em 1987 em Inhambane, onde foram publicados os primeiros poemas de Guita Jr. VIII. Psicoalteração do Rato Autor: Guita Jr. Do livro "O agora e o depois das coisas 1990-1992", página 18 rói o rato a roupa na corda ao fim da rua e arrota num ror de razão o rato rouba arroz ao porto do povo e roto troca o troco por trigo trancando-se atrás do rasto raro e fica rico o rato e por um triz não é trazido de rastos pela rua a trote mas chega ao trono e trás! Rato sem roldana trás!... catrapuz! Sem ruga roga a quem ri rato rói rato até à raiz mais radical a ratazana tradicional num golpe de rins reluz ao raiar de um enorme sol de luz e ao farejar o rumorejar do país corre pr'o Rand pela ração sem retalhos e quando regressa rola ruela à risca e acende o rastilho e não se rala por quem se roa o rato resignado recolhe a rede e rema rompendo as rugas do mar sem rumo e aí sem renitência reina sem rusga nem ratoeira e não se rala o rato roedor rói até rédea rato recto faz do rito revolução XIV. No Jardim da Noite Com Estrelas de Verão Autor: Guita Jr. Do livro "O agora e o depois das coisas 1990-1992", página 26 para a Carla agora órfão ou castrado perdoadas estão as naus de da Gama e contemplo só estrelas e flores onde tragava a humilhação e o chicote do patrão? vasculho as ruas da cidade na procura do subterfúgio a nu é inevitável o retorno haverá fantasmas em meu redor há micaias em meu corpo que deflagram como minas cansadas dos silêncios quando sonho alegrias acendo uma vela no peito sobre o castiçal do coração e volto a desaguar na escuridão e apalpo e amarfanho a agonia no dorso da noite porém não tenho armas para falar de amor é esta a loucura da minha intenção Carta Dum Contratado Autor: António Jacinto Luanda, 1924Eu queria escrever-te uma carta Amor, Uma carta que dissesse Deste anseio De te ver Deste receio De te perder Deste mais que bem querer que sinto Deste mal indefinido que me persegue Desta saudade a que vivo todo entregue... Eu queria escrever-te uma carta Amor, Uma carta de confidências íntimas, Uma carta de lembranças de ti, De ti Dos teus lábios vermelhos como tacula Dos teus cabelos negros como diloa Dos teus olhos doces como macongue Dos teus seios duros como maboque Do teu andar de onça E dos teus carinhos Que maiores não encontrei por ai... Eu queria escrever-te uma carta Amor, Que recordasse nossos dias na capopa Nossas noites perdidas no capim Que recordasse a sombra que nos caia dos jambos O luar que se coava das palmeiras sem fim Que recordasse a loucura Da nossa paixão E a amargura da nossa separação... Eu queria escrever-te uma carta Amor, Que a não lesses sem suspirar Que a escondesses de papai Bombo Que a sonegasses a mamãe Kiesa Que a relesses sem a frieza Do esquecimento Uma carta que em todo o Kilombo Outra a ela não tivesse merecimento... Eu queria escrever-te uma carta Amor, ah.não sei escrever também! Castigo Pró Comboio Malandro Autor: António Jacinto Luanda. por que é. meu bem Que tu não sabes ler E eu .Oh! Desespero! .. por que é. meu amor..Uma carta que ta levasse o vento que passa Uma carta que os cajus e cafeeiros Que as hienas e palancas que os jacarés e bagres Pudessem entender Para que se o vento a perdesse no caminho Os bichos e plantas Compadecidos de nosso pungente sofrer De canto em canto De lamento em lamento De farfalhar em farfalhar Te levassem puras e quentes As palavras ardentes As palavras magoadas da minha carta Que eu queria escrever-te amor Eu queria escrever-te uma carta. Mas. 1961 Esse comboio malandro passa passa sempre com a forca dele ué ué ué hii hii hii te-quem-tem te-que-tem te-quem-tem o comboio malandro . 1924Poemas. eu não sei compreender Por que é. passa Nas janelas muita gente ai bo viaje adeujo homéé n'ganas bonitas quitandeiras de lenço encarnado levam cana no Luanda pra vender hii hii hii aquele vagon de grades tem bois múu múu múu tem outro igual como este de bois leva gente..'" esse comboio malandro sòzinho na estrada de ferro passa passa sem respeito uéué ué com muito fumo na trás hii hii hii te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem .. muita gente como eu cheio de poeira gente triste como os bois gente que vai no contrato Tem bois que morre no viaje mas o preto não morre canta como é criança "Mulonde iá késsua uádibalé uádibalé uádibale. Deixa!UÉ ué ué Te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem . musicada e divulgada por Fausto: Esse comboio malandro passa passa sempre com a forca dele [..Castigo Pró Comboio Malandro Autor> António Jacinto Luanda.. Se na lavra tem kiombos Eu tiro a espingarda de kimbundo E mato neles Mas se vai lá fogo do malandro .] passa passa sem respeito uéué ué com muito fumo na trás hii hii hii te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem Comboio malandro O fogo que sai no corpo dele Vai no capim e queima Vai nas casas dos pretos e queima Esse comboio malandro Já queimou o meu milho Se na lavra do milho tem pacacas Eu faço armadilhas no chão. 1924 Este poema do António Jacinto tem uma versão mais longa. Nem com chicote Finjo só que faço forca Aka! Comboio malandro Você vai var só o castigo Vai dormir mesmo no meio do caminho. Tantas.Só fica fumo. Mas espera só Quando esse comboio malandro descarrilar E os brancos chamar os pretos p´ra empurrar Eu vou Mas não empurro . Ei-lo que to apresento . Que não se frustre o sentimento de o guardar em segredo como liones. como voam livremente num voar de desafio! Eu te escrevo. Declaração Autor: António Jacinto Luanda 28/9/1924 1953 As aves. meu amor. Muito fumo mesmo. correm as águas do rio! corram límpidos amores sem medo. tantas coisas comigo adentro do coração que só escrevendo as liberto destas grades sem limitação. num escrever de libertação. Era Uma Vez... ao sol que se coava da mulembeira por sobre a entrada da casa de chapa. O meu escrever-te é realização de cada instante germine a semente. Autor: António Jacinto Luanda.puro e simples . 1924Poemas.o amor que vive e cresce ao momento em que fecunda cada flor. 1961 Vovo Bartolomé. e rompa o fruto da Mãe-Terra fertilizante.a lumbramento de muito moço pegada por um pobre d'Ambaca fez passar muitas conversas andou na boca de donos e donas. .. escrevendo que nem nos livros! Teresa Mulata .. enlanguescido em carcomida cadeira vivia .relembrando-a a história de Teresa mulata Teresa Mulata! essa mulata Teresa tirada lá do sobrado por um preto d'Ambaca bem vestido. bem falante. . 1961 Naquela roca grande não tem chuva é o suor do meu rosto que rega as plantações.. aos regatos de alegre serpentear e ao vento forte do sertão: Quem se levanta cedo? quem vai a tonga? Quem traz pela estrada longa .. Vovo Bartolomé enlanguescido em carcomida cadeira adormeceu o sol coando das mulembeiras veio brincar com as moscas nos lábios ressequidos que sorriem Chiu! Vovo tá dormindo! O moço d'Ambaca sonhando. negro da cor do contratado. Negro da cor do contratado! Perguntem as aves que cantam. Hum. Monangamba Autor: António Jacinto Luanda... torturado. 1924Poemas.. vai ficar negro. Naquela roca grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja são gotas do meu sangue feitas seiva. O café vai ser torrado pisado.Quê da mulata Teresa? A história da Teresa mulata. .ter dinheiro? .Quem? Quem dá dinheiro para o patrão comprar maquinas. carros." Ah! Deixem-me ao menos subir ás palmeiras Deixem-me beber maruvo. panos ruins.. 1924Poemas.. maruvo e esquecer diluído nas minhas bebedeiras .'" Vadiagem Autor: António Jacinto Luanda. cinquenta angolares "porrada se refilares"? Quem? Quem faz o milho crescer e os laranjais florescer .a tipoia ou o cacho de dendém? Quem capina e em paga recebe desdem fuba podre. 1961 .Quem? E as aves que cantam. ter barriga grande . senhoras e cabeças de pretos para os motores? Quem faz o branco prosperar. peixe podre. os regatos de alegre serpentear e o vento forte do sertão responderão: ."Monangambééé.."Monangambéée. tudo caminho serenamente negro sangue fervendo cheiro bom a flor de mato a Maria a dançar (que bem que dança remexendo as ancas!) E eu a querer. a Carminda. vieram também cheirando a flor de mato .Naquela hora já noite quando o vento nos traz mistérios a desvendar musseque em fora fui passear as loucuras com os rapazes das ilhas: Uma viola a tocar o Chico a cantar (que bem que canta o Chico!) e a noite quebrada na luz das nossas vozes Vieram também. a Maria.cheiro gravido de terra fértil as moças das ilhas sangue moço aquecendo a Bebiana. a querer a Maria e ela sem se dar Vozes dolentes no ar a esconder os punhos cerrados alegria nas cordas da viola alegria nas cordas da garganta e os anseios libertados das cordas de nos amordaçar Lua morna a cantar com a gente as estrelas se namorando sem romantismo na praia da Boavista o mar ronronante a nos incitar . Uma viola a tocar o Chico a cantar a vida aquecida com o sol esquecido a noite é caminho caminho. a Teresa. caminho. Foi primeiro. jornalista. mais tarde. elaborada após a sua morte. no acidente de aviação que vitimou também Samora Machel. 8. em Mbuzini. Uma edição da AEMO. O livro "Mocambicanto" é uma recolha dos seus textos. no. na África do Sul.. colecção "timbila". quando morreu a 19 de Outubro de 1986.Todos cantando certezas a Maria a bailar se aproximando sangue a pulsar sangue a pulsar mocidade correndo a vida peito com peito beijos e beijos as vozes cada vez mais bebadas de liberdade a Maria se chegando a Maria se entregando Uma viola a tocar e a noite quebrada na luz do nosso amor. José Craveirinha e Julio Navarro.. Calane da Silva. por Albino Magaia. Moçambicanto 1 Autor:Gulamo Khan Gulamo Khan nasceu em Maputo a 11 de Maio de 1952. locutor na Rádio Clube de Moçambique e. "céleres as águas zambezeiam pela memória das almadias do silêncio . Era adido de Imprensa na Presidência da República. Da enxada e do martelo é o verso escrito na palma da tua mão punho fechado que nas alavancas das horas faz refulgir o aço analfabetamente parido Cavador maldito pronto a decepar o tronco deste imbondeiro tão paria carcomido pelas talecuas sugadoras do seu sangue es o veneno da nhoca cuspideira queimando as migalhas bélicas postadas de cócoras no caminho dos simples assim altivo ergues o teu nome num pais ainda de nadas e famélicos desbravando os crápulas bem como os satanhocos. .nem o zumbido da cigarra me entontece nem o troar do tambor me ensurdece as vozes que são sulcos das nossas esperanças Oh pátria Moçambiquero-te neste alumbramento e amar-te devo-o à carne e ao nervo deglutidos em revolta. escondi-me com a corda ao pescoço em cima da copa do cajueiro da aldeia e daí podia ver Mariana correr para a esquerda e para a direita. é má e dizia: . vim a correr e deixei-os cair no chão.Vou-me enforcar.Basílio. 1994 Página 48: " Corri para a cozinha à procura da Mariana e pedi-lhe para cozinhar depressa.." pagina 126: "Excelência. Edição do Autor. chorava e chamava: . para a frente e para trás. Sempre pensei que Mariana é como Nossa Senhora.Aquele pateta inventou mais uma das suas! .. porque sabia que eu estava na copa do cajueiro com a minha corda esticada de sisal. Henriqueta. a minha cabeça não é uma batata! Sou um gajo .nema!. não ando sempre a correr.. e enforquei-me.. pelo seu lado. parti. mas como nunca mais morria. é boa e gosta de mim. Os grandes pensam que os pequenos não sofrem e que eu não tenho coração só porque ontem fui buscar os óculos para ler os correios. não chorava. Assim. escrevi numa folha .Sei da Pátria o nome erguido a estrela tatuada no corpo do Indico uma timbila canção guerreira" Casa da Justiça Autor: Grandal Nkepe in "Casa da Justiça". pelo contrário.. Por outro lado..Bruno Capanema! Bru.pa. Comecei a ter medo de voltar para baixo sem me enforcar.os...no! uno! Bruno Ca. aparecer e desaparecer. " Aeroporto Autor: Rui Knopfli in "O monhé das cobras" Página 56 É o fatídico mês de Março.de sorte. nem que assobie por eles. ao barulho. tem-se de esperar que Deus todo poderoso as faca crescer. baixa a Nikon e olha-me. Estive vinte anos na guerra. O meu primeiro passo para ganhar a vida era ao frio. ninguém é capaz de me conhecer. Não voltarei.Mete-me esse malandro no calabouço! . deixe-me viver à tripa forra para levar uma vida mais folgada. para receber uma lição de pesado fardo! Não me ralo nada. obliquamente. mas ficarei sempre. esses vinte anos. o fotógrafo. mas estou armado em palhaço.dizia o chefe. a salvo de todas as futurologias indiscretas. nos olhos: Não voltas mais? Digo-lhe só que não. é o que estou a dizer. Kok Nam. Eu sou um autentico homem da sociedade. algures em pequenos sinais ilegíveis. Deixe-me apertar-lhe a mão. Eu sou um tipo afortunado. Essa é boa! O resto talvez seja o mais importante. Acabei dois dias a rir. à poeira. um oficio em que posso dar à língua e que nada tem que ver com ratos nem canoas. . como não se pode fazer crescer as árvores. não voltam. a correr o país de lés a lés. preservado apenas na exclusividade da memória . por mais que eu o tratasse por senhor chefe. tinha de partir de manha sem tomar chá. embrulhado nas mulheres com palavreado. estou no piso superior a contemplar o vazio. um presunto no rio. tudo se lembra ocultamente. alegria reconstituída no instante desprevenido. Mangas Verdes Autor: Rui Knopfli. o sono do bronze na morte obscura das estátuas inúteis. Sabor insinuante que retorna devagar ao palato amargo. Desmantela-se a estátua do Almirante. ao meio da vida. Nunca se esquece. Não quero lembrar-me de nada. no minuto da suprema humilhação. só me importa esquecer e esquecer o impossível de esquecer. Desmantelado. Sabor lento. à crista do tempo. na maré-baixa. eu sobreviverei apenas no precário registo das palavras." Matinés do Scala . o Almirante dorme no museu. sabor acre da infância a canivete repartida no largo semicírculo da amizade. o quilómetro cem durando orgulhoso no cimo da palmeira esquiva.privada. Desmembrado. 1972 "Mangas verdes com sal Mangas verdes com sal sabor longiquo. à boca ardida. peça a peça. os desenhos animados e a coboiada. palominos amestrados completavam o circo. enfunadas as crinas ondulantes. 1997. Rotina . Mas.Rui Knopfli in "O monhé das cobras". o Piricas. Empinando. até ser Marrocos. edição da Caminho. edição da Caminho. O episódio da série. o Piricas regia a partitura. Devolvida a senha de entrada. gesticulante. Miradouro Autor: Rui Knopfli in "O monhé das cobras". recomeçava o espectáculo. rente à pantalha. o picadeiro ideal para o exibicionismo laurentino. ao fim da tarde. miradas discretas em redor. Hopalong Cassidy jogava à porrada. sobranceiro à baía e à Catembe. neste embuste. idem. 1997. páginas 45-6 Entre a rampa e o caracol da barreira. página 43 Obrigatoriamente aos sábados à tarde. passeio raso. Ao intervalo. da pinha. alguma vez. sem que o sacana do chapéu de aba larga lhe caísse. flexionando peito e músculo. Pavoneavam-se as meninas e nós. Na fila Z. o único herói autêntico era. no comando das operações. Enquanto a malta ia e vinha. a surtida ao Hazis para comprar scones e laranjada. 1959 "Naturalidade Europeu.diária. Entretanto. falhado o tiro. Mesmo com a ruidosa chegada do Cagalhim. a tossir e a resfolegar. dizem que o Cagalhim. com alarido. Pior ainda. no Miradouro.. os que não tem. um cocone que. que vexado. o terá colhido. envergando os óculos do caçarreta. sempre cumprida sem atropelos. É provável. arrancando-lhe da cara os óculos.. Pulsa-me o coração ao ritmo dolente . o boi-cavalo. Presumido herói. sua maior aventura rezava a lenda . É certo. cansada das correrias da véspera. Não sei se o que escrevo tem a raiz de algum pensamento europeu. para gáudio do pessoal. sob o holofote. o teria capado.fora a de ter enfrentado. me dizem. Naturalidade Autor: Rui Knopfli in "O País dos Outros". faca em punho. a cavalo na sua desconjuntada carrinha Ford. até hoje percorre os matos em busca dos testículos perdidos. o Cagalhim era só o bobo daquela festa. o Cagalhim exibe. Caçador furtivo e nocturno. espezinhado. Eivam-me de literatura e doutrina europeias e europeu me chamam. mas africano sou. De borco. Não. acolá acerado. toma esse poliedro imperfeito. acolá acerado. em sua coesão molecular. Chamais-me europeu? Pronto. Ao meio-dia em ponto. Aperta em tua mão esse objecto frio. duro e poeirento. uma fita de fumo vertical. Trago no sangue uma amplidão de coordenadas geográficas e mar Indico. em suas linhas irregulares." Pedra no Caminho Autor: Rui Knopfli no livro Reino Submarino. todavia poderosa.desta luz e deste quebranto. calo-me. 1962 " A pedra no caminho" "Toma essa pedra em tua mão. tensa. na avenida . uma arma em tua mão. redondo aqui. redondo aqui. Uma coisa inócua. caso-me mais à agrura das micaias e ao silêncio longo e roxo das tardes com gritos de aves estranhas. Rosas não me dizem nada. Segura com força esse granito bruto. Mas dentro de mim há savanas de aridez e planuras sem fim com longos rios langues e sinuosos. um negro e uma viola estalando. Uma pedra. Ao meio-dia na avenida tu és um homem segurando uma pedra. Barbudos. é o seu primeiro livro. Segurando-a com amor e raiva. tu és um homem um pouco diferente. alimentavam-se de carne e leite azedo. Adoravam os deuses das águas. colecção Karingana. pode assim dizer-se. Viveu a sua infância e parte da adolescência no Chibuto. "Magoda". os seus feiticeiros eram consagrados no fundo dos rios onde permaneciam longo tempo dedicando-se ao estudo dos mistérios da vida e da morte. 15. Edição da Associação dos Escritores Mocambicanos. o rei Mabogue para se prevenir da conspiração dos chefes das tribos vizinhas. De lá. penetrou no "ninho das víboras". No. escrito em 1986. pois os N'Gongwe eram uma tribo aguerrida e de terrível ferocidade. É pela via da arte musical que se inicia na criação literária sob forma de composição poética para canção. principalmente pela musica e pintura. tanto em língua portuguesa como em língua tsonga.ensolarada. assim o exigia a sua natureza. "Conta-se que. emergiam numa noite de luar como monstros de . ele próprio se disfarçou e. onde começou a interessarse pelas artes. naquele tempo." "Mabogue ya M'bizwa" Autor: Hortencio Langa Capítulo I no livro "Magoda" Hortencio Langa nasceu a 23 de Marco em Manjacaze. incógnito. Tem artigos publicados sobre temas culturais em suplementos literários. grossos como touros. Ao fim de longos dias e longas noites de danças e preces. só saiam depois de prolongados rituais à beira das águas. matope. quando certo dia um mecânico conhecido por Juca Mulato caiu de borco ao sair do banco onde estava sentado e para sua grande surpresa. é difícil senão mesmo impossível. protegidos pela distância. Juca. No bar. dirigiu-se resfolegando à mesa de "matraquilhos" e introduziu as bolas ainda por jogar baliza adentro. ainda sufocado pela sede de vingança. já no chão. Quando o lodo escorria dos seus corpos reluziam então as escamas. imundos e grotescos. a gargalhada foi geral. guinando numa travagem brusca para evitar um atropelamento fatal. sob o olhar de protesto dos miúdos que ofegavam a salvo. em peregrinações.. tolhendo.lhe o passo. A raiva com que ficou Juca Mulato. podia medir-se pela maneira como se desembaraçou das botas. Mas Mabogue ya M'bizwa também possuía o segredo da magia dos deuses da floresta sagrada onde os reis seus antepassados. para se precipitar sobre os miúdos.. páginas 30-31 "O espírito farrista e brincalhão dos seus novos amigos depressa se revelou." . capítulo V. viu-se com os atacadores das botas atados um no outro. descalçando-as. 27 Apr 1997 15:02:13 gmt+0200 From: Joaquim Falé Autor: Hortencio Langa in "Magoda". Mas imaginar o que teria acontecido se uma camioneta não tivesse estacionado entre ele e os miúdos em debandada. iam buscar coragem apondo as suas armas em riste na boca de perigosos felinos e eram vacinados por autenticas cobras mamba para alcançarem o poder da invulnerabilidade. corais e corpúsculos aquáticos encrustados na sua pele exalando um cheiro a peixe." Topas-ou-Viras Date: Sun. expandindo-se à esplanada onde os miúdos que jogavam "matraquilhos" sacudiam-se em risos convulsivos. ... esqueceram as histórias..... mas tristes. . Noites africanas tenebrosas. com que as amas-secas pretas os adormeciam...... Ha cantos de tunguruluas pelos ares!. e esqueceram as histórias. Noites africanas endoidadas.Noite Autora: Alda Lara Angola Noites africanas langorosas. tenebrosas langorosas. e sulcado de rugas. povoadas de fantasmas e de medos.. nas longas noites africanas. é que os meninos brancos.. E os meninos brancos cresceram. perdidas em mistérios.. onde o barulhento frenesi das batucadas..como o rosto gretado. poe tremores nas folhas dos cajueiros.. contavam aos meninos brancos. como a solidao das terras enormes mas desabitadas.. povoadas das histórias de feiticeiros que as amas-secas pretas............ como o olhar cansado dos colonos. das velhas pretas. esbatidas em luares. Por isso as noites são tristes. endoidadas. desce com ela. Mãe-Negra tem voz de vento. Mãe-Negra. voz de silêncio batendo nas folhas do cajueiro. pela estrada.... de mansinho. nem brincadeiras de guisos.. Só duas lágrimas grossas.. Prelúdio Autor: Alda Lara Angola Pela estrada desce a noite. Que é feito desses meninos que gostava de embalar?.. Que é feito desses meninos que ela ajudou a criar?.. Tem voz de noite... Quem ouve agora as histórias que costumava contar?. Mãe-Negra não sabe nada..esqueceram!... em duas faces cansadas.. nas suas mãos apertadas. Mas ai de quem sabe tudo. como eu sei tudo .....Os meninos brancos. Nem buganvilias vermelhas. nem vestidinhos de folhos.. descendo... mãos cruzadas no regaço.. ainda sou.Mãe-Negra! Os teus meninos cresceram. de cabeleiras verdes e corpos arrojados . e esqueceram as histórias que customavas contar. ainda sou a mesma! Livre e esguia. a Irmã-Mulher de tudo o que em ti vibra puro e incerto. bem quieta. bem calada. Muitos partiram p'ra longe.. Presença Africana Autora: Alda Lara Benguela. Mãe-Africa! Mãe forte da floresta e do deserto. Angola E apesar de tudo. de mansinho pela estrada. quem sabe se hão-de voltar!. desta saudade descendo. é tua a voz deste vento...... So tu ficaste esperando.. A dos coqueiros. filha eterna de quanta rebeldia me sagrou. A do amor transbordando pelos carregadores do cais suados e confusos... a força destes dias. mansamente... aquela longa história onconsequente. A das acácias rubras. a raça escreve a prumo..) pelos meninos de barriga inchada e olhos fundos...Rua 11!... E eu revendo ainda.. de tronco nu e musculoso.. Minha. longas e floridas.. Terra das acácias. mordendo o chão das Ingombotas. Terra! Ainda sou a mesma. Ainda sou a que num canto novo .. e sempre. salpicando de sangue as avenidas.. A do dendem nascendo dos abraços das palmeiras. ainda sou a mesma. eternamente..sobre o azul. A do sol bom.... nela.. Minha terra..... Sem dores nem alegrias.. Sim!. dos colios baloiçando. dos dongos. pelos bairros imundos e dormentes (Rua 11!. para voltar.. que se alongue sobre o mar..minha terra!.. em Cambambe. (oh!. que o sol. circundam de magia. Voltar. .. e faleceu em 1962.. com o tom da tua paisagem.pura e livre. me levanto. Poder de novo respirar. Quando eu voltar. Regressar.. quando a autora viveu alguns anos em Coimbra e Lisboa. ao aceno do teu povo! Regresso Autora: Alda Lara Angolana Esta poesia foi escrita em 1948.. onde se formou em medicina... numa alegria selvagem.) aquele odor escaldante que o humus vivificante do teu solo encerra! Embriagar uma vez mais o olhar. vida e amor. Voltou. o meu canto ao Creador! Porque me deu.. Ver de novo baloicar a fronde magestosa das palmeiras que as derradeiras horas do dia.. ANGOLA.. na verdade. Não mais o pregão das varinas..a dardejar calor. do casario plano.. não ha nada que mo impeca. e o silêncio envolve tudo Sede.. nem o crepitar mordente destes ruidos.. das calemas traiçoeiras. nem o ar monotono.. das cheias alucinadas.. transforma num inferno de cor..Tenho saudade do horizonte sem barreiras. não mais esta visão. Não mais o agitar fremente de uma cidade em convulsão. igual.... de tons quasi irreais.Tenho sede dos crepusculos africanos... Com que prazer hei-de esquecer ... os meus sentidos anseiam pela paz das noites tropicais em que o ar parece mudo. todos os dias iguais.... tenho de voltar. noites fora!... Saudade. Saudade das batucadas que eu nunca via mas pressentia em cada hora. Sim! Eu hei-de voltar... Hei-de ver outra vez as casuarinas a debruar o oceano. soando pelos longes. e sempre belos... . que em frente estah a terra angolana.. o meu prazer sem lei.toda esta luta insana. Longe. e se tu es negro. Nela..... a sangrar numa verbena sem fim. florir so para mim!.. Hão-de as acacias rubras. E o sol esplendoroso e quente. a Terra chama por nos.. ha-de gritar na apoteose do poente. a mesma Terra nos gerou! .... Rumo Autor: Alda Lara Angolana é tempo companheiro! Caminhemos... A minha alegria enorme de poder enfim dizer: Voltei!. e eu sou branca. a prometer o mundo a quem regressa... o sol ardente. Ah! quando eu voltar.. e ninguem resiste á voz da Terra. o mesmo sol ardente nos queimou a mesma lua triste nos acariciou. para o Diário de Moçambique da Beira.... Depois passou por vários jornais de Moçambique...Vamos companheiro! é tempo. da região do Chimoio. Ouves? é a Terra que nos chama.. um dos marcos do jornalismo independente ... Vamos! que outro aceno nos inflama. quando rasgarmos os trilhos de um mundo melhor. Que o meu coração se abra á magoa das tuas maguas e em prazer dos teus prazeres irmão: que as minhas mãos brancas se estendam para estreitar com amor as tuas longas mãos negras.. Canção da Angonia Autor: Gouvea Lemos Gouvea Lemos nasceu em Lamego. Portugal. o jornal dos Padres. E é tempo companheiro! Caminhemos. Inicialmente começou a trabalhar na área contábil da Textafrica na Soalpo e começou ainda de lá a escrever as suas primeiras linhas como correspondente. tendo como um dos grandes feitos ser um dos fundadores do jornal semanal Tribuna. Foi para Moçambique em 1949 aos 25 anos de idade. E o meu suor.. Já com problemas cardíacos e com a aflição de ter que deixar a sua Pátria adoptada. onde some o rio.de Moçambique colónia. Sei que G. sem ver as mulheres. Quem de nos. sem ver a minha terra. Em 1972. juntos com G. José Craveirinha. Fernando Couto (pai de Mia Couto) e muitos outros. para lá do mato. Rui Knopfli. no Rio de Janeiro. Quem de nos.L. veio a falecer. sem ver o meu boi. viveram grandes momentos históricos do jornalismo moçambicano. nasceu em Portugal mas sei como ele sentia-se Moçambicano e como sofreu pelas injustiças dos tempos da ditadura colonialista. . Vou para além da montanha. José Paulo G. Nos últimos anos de Moçambique foi o Director de Redacção do Noticias da Beira. três meses após a sua chegada ao Brasil. trabalhar lá longe. resolveu migrar para o Brasil. quem de nos ira voltar? Vinte e quatro luas. já cansado da ditadura colonial e das pressões de orgãos como os da PIDE e da censura. Sei bem disso pois como filho convivi com muitas das suas aflições. Lemos Visto a camisa lavada e vou para o contrato. Quem de nos ira morrer? Visto a camisa lavada e vou para o contrato.L. e ver nossas terras e ver nossos bois? Quem de nos ira morrer? Quem de nos? Quem de nos? Menir Barroco Autor: Manuel Sousa Lobo Moçambique brilham trutas na brasa um corpo na pira arde ao ritmo de pés vísceras de uma virgem rodando Avoé Terra! ânfora escorre mel mãos azeite vão olear ombros no capim cerveja derramaram espuma Avoé Mandiceu! raça grega aroma de ramisco . quem de nos ira morrer? Quem de nos. vamos andar noite e dia. Quem de nos ira morrer? Veste a camisa lavada. irmão. e hora de ir ao contrato. Quem de nos ira voltar e ver as mulheres.Quem de nos. Quem de nos ira voltar? Quem de nos. Quem de nos. no vagão. Quem de nos ira voltar? Quem de nos. Entra. ostras e olhos de anho em bandejas de prata o bode berra quer fugir da faca Avoé Baco! incendiou-se o colmo de um telhado a velha já não tece cavalos desfazem nuvens lábios sobram cinzas Avoé Gudrun! olhar para oriente chegaram de Damasco vinhos muito leves frutos muito secos Walada omíada princesa era ruiva e escrevia Avoé Profeta! rosado mármore açafrão café engrenagem que chia bustos capitéis o verbo a honra a espada roldanas degraus Avoé Cruz! 10 caravelas indo 100 brâmanes de cócoras 1000 índios sem orelhas 10000 negros em fila Avoé Esfera! deitada uiva a rainha o morto sai de um espelho Queluz tem labirintos castanholas o infante traz coelhos para a sala do trono Avoé Vazio! Arte Poética Autor: João Maimona Angola 1979 Que erosão no choque genésico das marés de encontro às pedras habitadas. Cai areia na areia. . Os dias namoravam sob a barca do espelho. Entre os dentes do mar acendiam-se braços. manadas de estradas perdidas onde cantavam soldados de capacetes por pintar no coração da meia-noite. cadeiras. Havia uma chuva de barcos enquanto o dia tossia. As Muralhas da Noite Autor: João Maimona Angola A mão ia para as costas da madrugada As mulheres estendiam as janelas da alegria nos ouvidos onde não se apagavam as alegrias. Eram os barcos que guardavam as muralhas da noite que a mão ouvia nas costas da madrugada entre os dentes do mar.Assim o gasto da palavra limando os duros conformismos libertando as verdades mais remotas tão necessárias ao fruir dos gestos. camas. Memória Autor: João Maimona Angola Baloiçando nos escombros de teu itinerário saberás que os gados constroem estradas. E da chuva de barcos chegavam colchões. E quando a mão dezlizar pela margem das cicatrizes que se afundam na noite saberás que a tua mão viaja para a . 1957 .colina dos dias sem escombros e saberás que no berço da noite jaz a luz drogada e ouvida pela cruz sobre quem viajaste. No caminho doloroso das coisas. Fechaste os teus dois olhos aos ombros do corpo do caminho e apenas viste uma pedra no meio do caminho. Anuviaste a linguagem de teus olhos diante da gramática da esperança escrita com as manchas de teus pés descalços ao percorrer o caminho das coisas. Poema para Carlos Drummond de Andrade Autor: João Maimona Angola É útil redizer as coisas as coisas que tu não viste no caminho das coisas no meio do teu caminho. Fechaste os teus dois olhos ao bouquet das palavras que estava a arder na ponta do caminho o caminho que esplende os teus dois olhos. Alto Como o Silêncio Autor: Maria Manuela Margarido Ilha do Príncipe 1925Alto Como o Silêncio. Oh. Tomé e Príncipe in "Poetas de S. Paisagem Autor: Maria Manuela Margarido S. Tomé e Príncipe" Entardecer. No fundo da sombra bebendo por conchas de vermelha espuma que mundos de gentes por entre cortinas espessas de dor. a tarde clara deste fim de Inverno! Só com horas azuis no fundo do casulo.A ilha te fala de rosas bravias com pétalas de abandono e medo. e agora a ilha. Alto sonho.. alto como o coqueiro na borda do mar . capim nas costas do negro reluzente a caminho do terreiro. na porcelana azulada das ostras. Papagaios cinzentos explodem na crista das palmeiras e entrecruzam-se no sonho da minha infância.. a linha bravia das rosas e a grande baba negra e mortal das cobras. aos muxitos do Sul. E uma figura de linhas agrestes se apodera do tempo e da palavra. Lenta. No céu perpassa a angústia austera da revolta com suas garras suas ânsias suas certezas. Tomé e Príncipe in "Poetas de S. Trazem na pele tatuada a hierarquia das relíquias alimentando-se de um sangue . é chuva grossa empapando os campos de Cabo Verde a germinar o milho da certeza. palanca a devorar a distância. sulcando o céu com o seu penacho doido. a regressar a Angola. Os moleques sonham cazumbis nas lajes do secador. Serviçais Autor: Maria Manuela Margarido S. a narrativa dos serviçais sentados no limiar da esperança é palanca negra a derrubar paliçadas e fronteiras.com os seus frutos dourados e duros como pedras oclusas oscilando no ventre do tornado. 1963 O aroma dos mamoeiros desde a grota. Tomé e Príncipe". Socopé Autor: Maria Manuela Margarido S. Ouço os passos no ritmo calculado do socopé. livres enfim os homens e a terra dos homens. névoa da vida. 1963 Os verdes longos da minha ilha são agora a sombra do ocâ. café ou cacau . Tomé e Príncipe". Tomé e Príncipe in "Poetas de S.tanto faz). nos dorsos dobrados sob a carga (copra. Amanhã os clamores da resta acordarão as longas avenidas de braços viris e a terra do Sul será de novo funda e fresca e será de novo sabe a terra seca de Cabo Verde. os pés-raizes-da-terra enquanto a voz do coro insiste na sua queixa (queixa ou protesto .desprezado que elege os magistrados da morte.tanto faz). Vós Que Ocupais a Nossa Terra . Monótona se arrasta até explodir na alta ânsia de liberdade. Tomé e Príncipe in "Poetas de S. A tragédia já a conhecemos: a cubata incendiada. 1965 Caminho caminho longe ladeira de São Tomé Não devia ter sangue .Autor: Maria Manuela Margarido S. apenas esvaziados fantasmas do homem? Vós que ocupais a nossa terra? Caminho Longe Autor: Gabriel Marianp Cabo Verbe in "12 poemas de circunstância". Nós nos conhecemos e sabemos. E vós. Derrubam as árvores fruta-pão para que passemos fome e vigiam as estradas receando a fuga do cacau. Tomé e Príncipe". apenas desbotadas máscaras do homem. 1963 É preciso não perder de vista as crianças que brincam: a cobra preta passeia fardada à porta das nossas casas. arrancamos a casca do cajueiro. tomamos chá do gabão. o telhado de andala flamejando e o cheiro do fumo misturando-se ao cheiro do andu e ao cheiro da morte. Enquanto eu vivo as perguntas duram E eu vivo da fome interrogativamente.Não devia. Praia. 1965 Os engajadores levaram a nossa única dádiva e já ninguém devolve o que nos foi roubado. E as bocas reservam fechadas a dor para mais além Antigas vozes pressagas no mastro que vai e vem. mas tem. Caminho caminho longe ladeira de São Tomé Devia ser de regresso devia ser e não é. Devia sorrir de outro modo o Cristo que vai de pé. . Longa è a ladeira que a fome alonga. Única Dádiva Autor: Gabriel Mariano Cabo Verbe in "12 Poemas de Circunstância". Parados os olhos se esfumam no fumo da chaminé. Minerva. Longa è a ladeira que a fome alonga. Morte Autor: Filimone Meigos Angola in coluna "é verdade.". hoje e amanhã.No dia do enterro Não tenho que imaginar nada aqui estas sensível ao ser . jornal Savana Morte.. É verdade a vida são três dias: ontem.Como podem ladrões rondar meus olhos se amor só meus olhos tem? Longa è a ladeira que a fome alonga terralonginquamente.. essa unidade tridimensional do Universo Cósmico (24 horas antes do enterro da minha irmã) Imagino-te amanhã a olhares-me morta e a pores a malta toda a viajar contigo nas três dimensões vitais. II Onde morre um preto há sempre um feitiço a quem arranjar dono. tal é o mito UKEMELIDAS . III (choro de minha mãe) Sentada ao lado de S.desta ausência suprema tua presente inexistência. No meu coração qual acto. urna de contrição. No teu olhar mais uma pazada de dor. tu minha irmã querida a seres comida por esses vermes sub-terraneos só por causa dum paraíso? Tempo espaço não sei se me refaço. buraco leva tal é o destino de todos eles (isto é. Pedro estas minha filha ao lado dos que já cá não estão pai nosso que estais no céu desgraça a minha nesta terra que se fendeu e recebeu minha Dina. Numa dimensão religiosa "da terra vieste e à terra retornaste". Mas como imaginar-te. todos nos) Sobre os mortos OS MORTOS TAMBÉM AMAM ACASALAM-SE À TERRA E FAZEM-SE LENDA PARA QUE NOVAS GERAÇÕES . Já não tenho duvidas fender é sempre receber buraco dá. Sintra 1999 Dunas brancas dunas onde altivo brilha o sol.. tuas nádegas suaves frescas e belas Exortação . NO ENTANTO CUSTA-ME PRESENCIAR ENTERROS TAL É A AVERSÃO QUE OS EVITO EMBORA OS HAJA INEVITÁVEIS. Dunas Autor: João Melo Angola in "Vozes poéticas da lusofonia". O PONTO É QUE ENTRE A PIOR IMAGEM DA TUA VIDA E ESTA DO TEU ENCAIXILHO PREFIRO A VIVA REMADORA CONTRA A MARÉ QUE ERAS. Dunas doces dunas onde trémulo sucumbo ardendo.SE AMEM MAIS E MELHOR. tuas nádegas Dunas firmes dunas onde célere pulsa o sangue.. destrói-os. Descendo e deles herdei todos Os caracteres fundamentais E talvez herdasse alguns mais Da mestiçagem de outras raças Que fizeram guerras. E admito pois que o tamanho. para que possas transmiti-los a um amigo quando depois do venal acto de amor forem também vender a irresistível suspeita da tua voz trémula e dos teus outros actos. Destrói-os. 25 "Jovem. combatendo Conquistaram e perderam praças.p. Peço-te que não. edição da Académica Lda. O rosto." História Autor: Orlando MendesBR>Moçambique Diz a História que descendo De celtas. Diz a História e não tenho Do contrario uma prova séria Em testamento que a revele.Autor: Orlando Mendes no seu livro "Adeus de Gutucumbui". o sangue. se tens exercícios de literatura escritos há mais de um mês. Rasga-os ou queima-os de preferência (consta ser universalmente mais ortodoxo) e se a chama te chamuscar unhas e pele e as sujar a cinza. não queixes a dor e lava-te. palavra por palavra. Guarda-os todavia fiéis na memória. mouros e visigodos. Mas não deixes de escrever. colecção O SOM E O SENTIDO. . A fria razão e o instinto. a cor da pele. Admito. Para ser a mão direita firme Que enche de palavras o papel. Contudo. E as datas festejo E retomo lutas que não venço E amo nas horas do desejo Com o mesmo requinte que deu Origem de mim à Criação E bebo o vinho e como o pão Da minha sede e da minha fome. Desejo. Admito. fome e sonho De vinho. Não apenas sede. Noiva Autor: Orlando Mendes . nada herdei que dome A grandeza nova que transmito. Não própriamente o enredo Mas esta seiva elementar De África nos versos que digo E os homens a saibam cantar. de pão ou de infinito. E por isso. deponho.Adquiri em séculos de Ibéria Para ser o que penso e sinto O que mostro e o que oculto. posse e fecundidade Coragem forjada no segredo Medo que se chore ou se brade Guerra de amigo ou de inimigo. Excitável carne e uma voz Memória de um país adulto Que se não cala por não trair-me No idioma de meus avós. Perpétuo aprendiz que sou eu De velho oficio sem licença. " Para um Fabulário Fazei as medições convencionais Por esbatido que seja o horizonte Declarai que existe uma fronteira Onde a dor já não possa calar-se Guardai incontaminada a esperança Pelo desespero de um e outro lado Apagai na vossa terra bem amada Os vestígios de passos paralelos Deixai envelhecer nos rostos viris As rugas impregnadas de silêncio . 33 Eu te daria frescas flores de laranjeira para uma grinalda na carapinha desfrisada. Uma rosa encarnada se desfolha na fonte do teu corpo em cada lua nova como se fosses a virgem noiva a quem eu daria flores de laranjeira. um colar e um trevo que te darei talvez para usares quando não puderes ser noiva de todos fazendo bandeira às nove horas da noite naquela rua de areia. Eu te daria um colar de missangas coloridas para uma cruz de outra carne a fogo marcada sobre o seio esquerdo ao rasgar da virgindade.in "Adeus de Gutucumbui" p. Eu te daria se não fosses a noiva de todos fazendo bandeira com uma capulana garrida às nove da noite naquela rua de areia suburbana. Eu te daria um trevo de quatro folhas verdes para que te nascesse o primeiro filho varão. " De Asas Sob a Terra Autor: José Luís Mendonça Angola Ergue-te cidade malar vigília de pássaros estrangulados cheiras a crepúsculos e água. África Autor: David Mestre Angola 1972 . cidade onde o vinho abre o sexo ao gume dos astros ó tambor de sangue espuma de um tempo e metal à proa que mãos te alijam o som de asa sob a terra. amor consumado E contai a todas as crianças.Escutai a noite que o vento possui Com a sedução das palavras matinais Escolhei um dia claro e fecundo De flores abertas. contai Que se fundou o país das maravilhas. O Sol Nasce a Oriente (de um quadro de Malangatana .é neste silêncio neste assalto do vento a navegar a floresta neste sol neste amor neste vegetal cobrir-me de verde e ser catana cerce a executar o ânimo afagar as mulheres no regresso da lavra fazer das mãos a festa sonora do sexo na cultivação do milho é neste grito rente ao corpo frágil das folhas que mais em ti me venço e moro nas grandes batalhas da vida no extenso vale das nossas angústias no duelo cíclico das nossas intenções Espera Autor: David Mestre Angola in "Crónica do ghetto". aqui esqueço África. grávida luena sentada no verso da fome. permaneço rente ao tiroteio dialecto das mulheres negras. pasmadas na superfície do medo que bate oblíquo no quimbo quebrado. mapa de conversas na visitação da lua. dois geógrafos vão assinalar a estranha posição dum poeta cruzado na esperança morosa das palavras africanas aguardarem acento. 1973 existo acento de palavra. carapinha recordação áspera de monandengue. num gabinete da Europa. Autor: David Mestre Loures. 1948 Vive em Angola desde os oito meses de idade Povo. sem a menor . meu lamento minha bandeira de outro vento aurora urdida nos lábios de Zumbi De ti guardo o gesto as conversas leves das árvores a fala sabia das aves o dialecto novo do silêncio e as pedras. De ti amo a denuncia felina das tuas mãos quebradas ao presente a dança prometida do sol nascer um dia a Oriente Os Olhos da Cobra Verde Autor: Lila Momplé in "Os olhos da cobra verde". guardada em sua mágoa. Portugal. as palavras do medo os olhos falantes da mata quando a onça posta a sua arte nos fita. colecção Karingana Nº 18 da AEMO. quissange em trança Do longo longe do tempo arde minha flecha. 1997 página 23 "Mulher e Cobra fitam-se longamente. de ti canto o movimento teu nome. canção feita de fronteiras lua nova. javite ou lança tua hora. Vicente. conserva no rosto a rara luminosidade de quem uma longa vida não conseguiu extinguir a inocência e a capacidade de encantamento próprios da infância.animosidade ou receio. Canto e sorrio. Ilha de S. já velha em anos e sofrimento. A Cobra reconhece-lhe essa íntima mansidão visto que também ela é uma cobra mansa. de um verde mais claro. . Fantasmas De pescadores Contrabandistas Desaparecidos Em qualquer vaga Nem eu sei onde.... como duas esmeraldas incrustradas no corpo delgado e curto. A mulher. não obstante a postura derreada do corpo. 16/12/1928 "Nha terra é quel piquinino É São Vicente é que di meu" Nas praias Da minha infância Morrem barcos Desmantelados. brilhantes e verdes. Por isso a observa com os seus olhinhos redondos. isenta de veneno e de malícia. E eu sou a mesma Tenho dez anos Brinco na areia Empunho os remos." Barcos Autor: Yolanda Morazzo Mindelo. Cabo Verde.. Olho com fixidez. Dezembro 1994 "Cale-se a vergonha dos balazios leva-se o verbo ao escárnio e nos aos escombros Eis-me perante o rancor que emerge da merda das etiquetas oficiais. Vasculho num traço flutuante: as garras do tédio novamente charmosas e o labor perene das micaias nas franjas da alma. edição do autor e Editora Escolar.. Chão de Pátria Autor: Marcelo Mosse in revista "XIPHEFO". E o pobre barco O barco triste Cansado e frio Não se moveu.A embarcação: Para o mar! É para o mar!.... 1992 . os pseudo discursos expendidos com nojo a tiracolo." A Noiva de Kebera Autor: Aldino Muianga in "A noiva de Kebera". É tal o dramatismo e o entusiasmo que põe na narração que as imagens dos personagens parecem suspender-se na atmosfera da palhota como seres reais e concretos. Minh'Amor Autor: Aldino Muianga do conto Maria. ele é amante de Maria e entra aqui em casa já. E apalpa o inseparável canivete de mola metido no bolso traseiro das calças. XITALAMATI é a sua estreia em livro. Sanga-Kebera virou o ambiente frio e fúnebre que ameaçava viciar aquela noite de serão. Tudos dia costuma ir levar Maria na letaria. bebendo e vertendo cabaças de sangue sobre as cabeças uns dos outros. você vai saber qué nhé filho de Mutchatchane». Narrou um arrepiante nkaringana que ouvira nos remotos tempos do avô Sa-Kebera. Uma edição da AEMO. 67 Aldino MUIANGA nasceu a 1 de Maio de 1950 em Maputo. mas porqué deixa esta gajo entrar aqui? Deixa cabar festa. eu não pode companhar Maria por caso dele. Cresceu e viveu nos arrabaldes alagadiços desta cidade. tendo-se deixado contagiar e marcar pela vida agreste dos bairros pobres suburbanos. Maria. Família sabe eu quer casar Maria. com mortos e vivos a confraternizar em fantásticas orgias. Juro cinco chaga. p. . A própria tia Taba-Mayeba não conseguiu suster um calafrio que lhe sacudiu o corpo inteiro. Este família não é bom família. colecção INÍCIO número 7 de 1987 «Eu disse há-de matar este home um dia. Maria com ele está a brincar comigo. Eu já sabe. Minh'Amor.Página 13 Com a habilidade nascida da experiência. todos mirando-o. varado de surpresa ouve a matrona apresentar-lhe: . De queixo caído.. Faustino está à beira de um desmaio. Este é. As pessoas vão-se sucedendo nos cumprimentos. Não lhe dá importância e retorna à conversa com os da casa..Pelo canto do olho. curiosos. e invejando Maria pela aparente boa escolha que fizera. Faustino não crê no que ouve. outros saem. ordeiramente. faz favor não faz poco de mim. «Oh Maria. vaga nas nuvens montado em tenebrosos planos. Este é avô de Maria. onde você estás? Juro que você estás lá fora esperar conversar com aquela tua amigo. Está ausente. A mesma matrona que ali os introduzira adianta-se e. .Este é pai de Maria. papá Fopence apercebe-se da brusca mudança de atitude do seu acompanhante. empertigado e exibindo no rosto um sorriso de triunfo.Este é Jacobe. À sua frente. Há um grupo de pessoas que se aglomera à porta. irmão de Maria. Maria não está lá. senão eu mata vocês dois e depois morre também. «aquela gajo com olho de cão» estende-lhe a mão com confiança. distribui lugares pelas cadeiras e esteiras previamente preparadas para o efeito. E envolvem-se num abraço quente que dissipa para sempre a cortina de ciúme que Faustino erguera e deixam-se sacudir por .» Faustino vai correspondendo distraidamente aos cumprimentos. Uns entram. Então porqué não vens? Maria. Ai. o Mar "As palavras que desenhei na areia O mar as levou em lembrança Os meus segredos de criança O mar os contou à sereia.uma gargalhada convulsiva que é o presságio de uma amizade sólida e duradoira. As conchas do mar também ficaram Com os meus segredos do anoitecer Tudo o que os meus avós me sussurraram Ainda estava por tecer. Os estilhaços da minha infância Ficaram emulsionados na forca da água Os versos feitos em minhas mágoas Também ficaram em turbulência. . p. colecção Timbila Nº 6 da AEMO." Ensaio de Lágrimas Autor: Hélder Muteia in "Verdades e Mitos". 85 Se as nossas lágrimas apagassem o ódio que nos cerca e apagassem também o fogo que nos mata mãe eu pediria as lágrimas de todos sangrando as pupilas. O mar levou o meu amor A filha do gra-marinheiro Pois ela partiu primeiro Sem escutar o meu clamor. Mas temo, mãe que nos afoguemos um dia dentro das nossas lágrimas." Reflexão Autor: Hélder Muteia Helder Muteia nasceu em Quelimane, Setembro de 1960, e "Verdade dos Mitos" foi o seu primeiro livro publicado. Pela AEMO, colecção TIMBILA nº 6. O autor foi secretario-geral da AEMO e é deputado na Assembléia da República. "E se fosse apenas a dor matemática do chicote sorria e olhava-te nos olhos e cuspia-te na cara só! E se fosse apenas a dor física da inércia das lágrimas bem, ai talvez fingisse chorar a mulher amada e cuspia-te somente à cara! Mas de que nos adianta agora discutir a matemática e a física?" Antigamente Era Autor: Agostinho Neto Angola 1951 Antigamente era o eu-proscrito Antigamente era a pele escura-noite do mundo Antigamente era o canto rindo lamentos Antigamente era o espírito simples e bom Outrora tudo era tristeza Antigamente era tudo sonho de criança A pele o espírito o canto o choro eram como a papaia refrescante para aquele viajante cujo nome vem nos livros para meninos Mas dei um passo ergui os olhos e soltei um grito que foi ecoar nas mais distantes terras do mundo Harlem Pekim Barcelona Paris Nas florestas escondidas do Novo Mundo E a pele o espírito o canto o choro brilham como gumes prateados Crescem belos e irresistíveis como o mais belo sol do mais belo dia da Vida. Com os Olhos Secos Adutor: Agostinho Neto Angola Com os olhos secos - estrelas de brilho inevitável através do corpo através do espírito sobre os corpos inanimes dos mortos sobre a solidão das vontades inertes nós voltamos Nós estamos regressando África e todo o mundo estará presente no super-batuque festivo sob as sombras do Maiombe no carnaval grandioso pelo Bailundo pela Lunda Com os olhos secos contra este medo da nossa África que herdámos dos massacres e mentiras Nós voltamos África estrelas de brilho irresistível com a palavra escrita nos olhos secos - LIBERDADE. Confiança Autor: Agostinho Neto Angola O oceano separou-me de mim enquanto me fui esquecendo nos séculos e eis-me presente reunindo em mim o espaço condensando o tempo Na minha história existe o paradoxo do homem disperso Enquanto o sorriso brilhava no canto de dor e as mãos construiam mundos maravilhosos John foi linchado o irmão chicoteado nas costas nuas a mulher amordaçada e o filho continou ignorante E do drama intenso duma vida imensa e útil resultou certeza As minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo mereço o meu pedaço de pão. Lá no Horizonte Autor: Agostinho Neto Angola Poemas, 1961 Lá no horizonte o fogo e as silhuetas escuras dos imbondeiros de braços erguidos No ar o cheiro verde das palmeiras queimadas Poesia africana Na estrada a fila de carregadores bailundos gemendo sob o peso da crueira No quarto a mulatinha dos olhos meigos retocando o rosto com rouge e pó de arroz A mulher debaixo dos panos fartos remexe as ancas Na cama o homem insone pensando em comprar garfos e facas para comer à mesa No céu o reflexo do fogo e as silhuetas dos negros batucando de braços erguidos No ar a melodia quente das marimbas Poesia africana E na estrada os carregadores no quarto a mulatinha na cama o homem insone Os braseiros consumindo consumindo a terra quente dos horizontes em fogo. O Choro de África Autor: Agostinho Neto Angola Poemas, 1961 O choro durante séculos nos seus olhos traidores pela servidão dos homens no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas nos batuques choro de Africa nos sorrisos choro de Africa nos sarcasmos no trabalho choro de Africa Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal meu irmão Nguxi e amigo Mussunda no circulo das violências por nós! E amor .mesmo na magia poderosa da terra e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas e das hemorragias dos ritmos das feridas de Africa e mesmo na morte do sangue ao contacto com o chão mesmo no florir aromatizado da floresta mesmo na folha no fruto na agilidade da zebra na secura do deserto na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens o choro de séculos inventado na servidão em histórias de dramas negros almas brancas preguiças e espíritos infantis de Africa as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas o choro de séculos onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro da desonesta forca sacrificadora dos corpos cadaverizados inimiga da vida fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar na violência na violência na violência O choro de Africa é um sintoma Nós temos em nossas mãos outras vidas e alegrias desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas . Avança pelo incomensurável horror da guerra Entre a chuva de bombas que ilumina a terra Mas avança porque é necessário. Avança com teus bracos feitos asas Abertas sobre o solo pátrio Para proteger os teus filhos.e os olhos secos.. Avança Mãe Angolana Que a tua coragem fará vacilar os soldados Os soldados que já foram meninos Os soldados A que o fascismo tolheu a vontade E que caminham sobre os cadáveres das crianças Com risos sarcásticos de vingança.. Não te detenhas nos gemidos do vento Não prendas a forma das flores Sublima o amor neste momento. Poema à Mãe Angolana Autora: Eugénia Neto Portugal/Angola Avança Mãe Angolana E dá o melhor de ti própria Nesta luta de vida ou de morte Avança pelos rios perigosos Pelos pântanos lodosos Pela savanas sem fim. Avança Mãe Angolana Na terra ensopada de sangue Dor e lágrimas . . Que ela florescerá Sustentada pelo teu querer E terás para os teus filhos O sol aberto nas pétalas E a serenidade dos heróis Depois de ganha a batalha. será que tem cor o coração? Ser africano não é questao de cor é sentimento. não é questao nem mesmo de bandeiras de lingua. Angolano Autor : Neves e Sousa Pintor e Poeta Angolano Ser angolano é meu fado. Mas. é sentimento e nas parecencas de outras terras longe das disputas e das guerras encontro na distância esquecimento! Ilha de Moçambique Autor: Neves e Sousa Angola Ilha de oiro e angustia Feita de sol e de prata Marfim talhado em reliquias .. de costumes ou maneiras. A questao é de dentro.Causadas pela guerra. vocação. talvez amor... é meu castigo Branco eu sou e pois já não consigo mudar jamais de cor ou condição. Sermões de S. Senhora do Baluarte velando As brancas velas do Canal.. de oiro e de cobre Cobre batido do vento. Francisco Xavier Guardados nas rochas de coral. Alem-portas de marfim Paredes meias com a História Dentro da fama e memória Para que nela sempre fique A Ilha de Moçambique.. momento de indias descobertas e vencidas Monumento.. monumento.. Portico dos sonhos. De memórias esquecidas. Fortaleza escancarada A memórias esquecidas. Riquexos vagueando ão sol Brancas praias sonolentas Enfeitadas de saris e cofios Brancos. A Coruja Autor: Malangatana Valente Ngwenya in "Vinte e quatro poemas". Instituto Superior de . encarnados E rostos cor da verdade De viver num monumento De prata..Cobre batido do vento Num moinho de saudades. pretos.. artista multifacetado..Psicologia Aplicada. Malangatana. Página 35 A coruja agoira-me e diz-me que nunca chegarei além onde o desejo me leva e assim evapora-se o sonho. Produziu uma vasta obra no campo da pintura e é hoje um dos mais notáveis artistas africanos. Na noite sem estrelas dois gatos pretos iluminaram a cabana da Kokwana Hehlise que morreu depois dos gatos terem miado. teatro. cerâmica e escultura. que canta. O tambor foi tocado na noite densa do feitiço enquanto Kokwana* Muhlonga apitava o Kulungwana** mortal. Lisboa. Moçambique. 1996 Malangatana Valente NGWENYA nasceu a 6 de Junho de 1936 em Matalana. Eu lutando comigo só é impossível vencer as ondas que feiticeiramente me esboçam as corujas." * kokwana = avó **kulungwana = ulular . Representado em inúmeros museus e colecções particulares em todo o mundo. é grande animador sócio-cultural e vê erguer-se presentemente o sonho de construção do Centro Cultural na sua aldeia natal. gatos e tambores. dança. faz poemas. ISPA Instituto Superior de Psicologia Aplicada . 09." Double Trouble Autor: Mutxhini Ngwenya Chimoio.06. Flor vermelha na lapela. Fazer oferendas á lua. tão lindo. Quiz brindar as estrelas. verde. Beber teus pomos.CRL. Teu abraço me vestindo.Amor Verde Autor: Malangatana Valente Ngwenya in "Malangatana . Minha arma de trova.97 Quiz vestir esta lua. Meu fato mais bonito. bom. Guitarra acesa na mão. Lisboa. . 1996 Porque o amor não é sempre verde que bom quando verde é nem quero que mudes de cor oh amor verde. Arrasar a praça. verde ele é tão bom. lindo.Vinte e quatro poemas". Engomado e arejado. bom Na cama quando passei a primeira noite senti-me feliz quando corria dentro dela a lágrima que nos fez amigos infinitos porque dela veio quem nos chama: Papá e Mamã o nosso primeiro filho. Dançar uma valsa. Enxugar minha jornada. e. Quiz tantas. Saltar. p.. Não sabe ainda A cor de tua alegria. Lançar sementes estrelas." Mutxhini Ngwenya Chimoio. 24 Nos teus braços eu fiquei quando me nasceste muito preocupada quem estava aflita naquela altura perigosa com o receio de que Deus me vai levar? Tudo em silêncio olhava para ver se o parto corria bem tudo lavava as mãos para poder receber quem vinha dos Cés . edição do ISPA. Dizer ás gaivotas e ao vento Que em suas asas levassem. Rosas ressequidas de espera. tantas vezes Fazer poema fresco. atirar para ontem. Lavá-la na enxurrada de beijos.Quiz minha parra de barro. Mas. Notícias flores ao mundo.06. 09.. Quebrá-la e branquear minha alma.97 A Mamã Preocupada Autor: Malangatana Valente Ngwenya in "Vinte e quatro poemas". Portugal. Minha alma parra. e toda a mulher quieta e aflita Mas quando afastei-me do lugar em que me guardaste durante longo tempo dei logo o primeiro respiro tu gritaste logo de alegria o primeiro beijo foi o da Avó Que levou-me logo para o lugar que me guardaram e é secreto tudo foi proibido a entrar no meu quarto porque tudo cheirava mal e eu todo fresco, fresco respirava finalmente dentro das minhas fraldas Mas a Avó que se supunha doida estava sempre ao meu lado ver-me e rever-me sempre porque as moscas vinham ter comigo e os mosquitos inquietavam-me Deus que revia-me também era o amigo da minha Avó velhinha Malangatana Valente NGWENYA nasceu a 6 de Junho de 1936 em Matalana, Moçambique. Produziu uma vasta obra no campo da pintura e é hoje um dos mais notáveis artistas africanos. Representado em inúmeros museus e colecções particulares em todo o mundo, Malangatana, artista multifacetado, que canta, dança, faz poemas, teatro, cerâmica e escultura, é grande animador sócio-cultural e vê erguer-se presentemente o sonho de construção do Centro Cultural na sua aldeia natal. Pensar-Alto Autor: Malangatana Valente Ngwenya in catálogo da exposição retrospectiva e antológica de Malangatana que teve lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes, Portugal, em 1986 Sim às marrabentas às danças rituais que nas madrugadas criam o frenesi quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar em contraste com o verdurar das canções dos pássaros sobre o já verduzido manto das mangueiras dos cajueiros prenhes para em Dezembro seus rebentos dançarem como mulheres sensualíssimas em cada ramo do cajual da minha terra mas, sim ao orgasmo das mafurreiras repletas de chiricos das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer mas sim ao som estridente do kulunguana das donzelas no zig-zague dos ritos quando as gazelas tão belas não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique amassam o barro dos rios para o pote feito ser o depositário de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo." Nome de Pão Autor: Oswaldo Osório Cabo Verde O Cântico do Habitante ouso nosso pão e posso ouso nosso pão e posso ainda molecular a ideia para dedos de haver esperança ouso pensar coragem e amar e tanta coisa que é pão. Cavalos de Silex Autor: Oswaldo Osório Cabo Verde O Cântico do Habitante 1971 ainda estávamos em guerra quando fomos a lua e tínhamos fome e feridas nos olhos de cegar agarrávamos o futuro com a luz do laser e as flores gelavam aqui donde partíamos com carbúnculos nos braços pássaros de pio futuro por onde andávamos deixámos a terra grávida de salamandras esventradas ganhávamos o pão nosso cada dia com medidas de suor e um inverno de vómito estarrecia sob as raizes as galáxias mediam-se por braçadas de legumes ou milho ou arroz que no-las distanciavam e as estrelas fugiam perseguidas por cavalos de sílex o sonho criava lodo cada manha as palavras mal nasciam apodreciam em limo nesta situação-limite os seios o sexo o sémen convenceram os homens nas suas fábricas de cavalos de sílex tarde peitos punhos pulsos resolvemos ousar nosso pão Holanda Autor: Oswaldo Osório Cabo Verde Holanda companheiros chegámos chegámos com barcos guildas nos olhos e desejo de vencer chegámos intermináveis e actuais às docas betão aço cargueiros e braços precisados chegámos numa dimensão nova (ah as roças de S.Tomé serviçal meu irmão) e pusemos todo o nosso esforço lubrificámos máquinas alimentámos caldeiras navegámos por oceanos de fogo e fiordes de gelo mas foi nos mares da terra nova no tempo em que de Boston a América mandava seus barcos baleeiros para nos contratar que ganhámos o bronze da nossa pele The Best Sailors of the World sob bandeiras estrangeiras brigámos guerras que não eram nossas para agora amarmos ao ritmo de torno novo e múltiplas bocas ao nos verem dizem Let them get by chegámos às docas companheiros nas docas com barcos guildas nos olhos e nossa terra nos nossos sonhos chegámos intermináveis para o match e pusemos todo o nosso esforço na luta pusemos esperança na nossa força de trabalho e quando nos vêem chegar dizem Let them get by aqui ou ali passaremos sempre porque chegámos companheiros a esperança transformada em actos nos nossos punhos a seca o sol o sal o mar a morna a morte a luta o luto ao nos verem passar dizem que ultrapassaremos os sonhos e o match é em nossa terra que vai terminar Manhã Inflor Autor: Oswaldo Osório S. Vicente, Cabo Verde, 1937 conto "A Lua e a Morte" .1971 as héveas murcharam desertas de folhas desertas de flores propositadamente nem só o sangue mas também a seiva nem só a criança mas também a pétala nem só o homem mas também a planta nem só a carne mas também a lenha propositadamente tudo o hamadricida flagelou a beleza da flor a inocência da criança a certeza dos campos o aconchego duma sombra mas nos covis a vida continuou e o apelo a luta redobrou as héveas murcharam e com as héveas a manhã inflor a terra nua mas ainda a vida nos covis continua A Lua e a Morte Autor: Marcelo Panguana in "As Vozes que Falam de Verdade". assim se chamava o homem. Não foi com pouca violência que a vassoura atirada deitou abaixo um bonito quadro que retratava um conhecido tema tradicional.Não. e ali." . Um pouco depois estalaram-se os nervos. Dobrado sobre si mesmo à entrada da porta que dava acesso a sala comum. O barulho provocado pela queda do quadro acentuara o choro da Isa. surgiam decididamente tempestuosas. estava atónito. O Beto e a Flavia. O tempo passava e a criança ia minguando a olhos vistos. acrescentou. O corpo retesou-se e depois se fez o gesto. filhos mais velhos. percorria o olhar um pouco por toda a parte. a filha mais nova. A meia distância do espaço que o separava da Lindiwe. os fragmentos de duas chávenas de fabrico chinês e uma porcelana de barro. ainda incapaz de adoptar uma atitude apaziguante. A mulher ficou espetada à sua frente ostentando aquela atitude exacta e decidida." Milagre Obstrético Autor: Antonio Pinto de Abreu Moçambique in "Antologia da nova poesia moçambicana" As lampadas da cidade fundiram-se todas e numa das esquinas . Isto não pode continuar assim. O homem observou-a e rapidamente concluiu que aquelas palavras tinham amadurecido anteriormente. Samo. naquele confronto a dois. Como a forca do vento na mudança das estações. aproximaram-se e a expectativa infantil ficou depois a envolver a conversa cada vez mais acesa entre marido e mulher. a mulher. às voltas com umas dores de estômago que faziam questão de ser irremoviveis. apesar da propalada eficiência dos médicos e dos medicamentos ingeridos. Cabo Verde.. O jornal não deu a grande noticia . Contudo no velho latão urbanizado o pirilampo brinca e chora (como alguns meninos) luzindo com o satírico brilho da esvaziada lata de sardinhas da "ração de combate". 1935 Louco que povoou a minha infância Que contava histórias maravilhosas Histórias de Branca Flor De bruxas e de princesas Mané Fú Mané de Deus Que tinha o corpo todo preto Mas as palmas das mãos brancas Porque as sextas-feiras subia aos céus E ia banhar os anjos Mané Fú Mané de Deus Outras histórias me empolgam hoje . Glória ao novo ser que nasceu ao anoitecer. Mané Fú Autor: Virgilio Pires Praia.da grande aldeia de cimento um latão urbanizado pariu um pirilampo..os fotografos tinham as maquinas aguardando o plano superior. Cabo Verde. 1935 Quem não se lembra dos bailes da bola preta? ritmos brasileiros fox mazurcas E a morna a sublimar paixões Ao longe na Achada o roncar cadenciado Dos tambores da Tabanca No campo de futebol ali pertinho O Vitória sucumbia perante um Trovadores Em que o Chabali era o rei O mundo em guerra E na terra amaldiçoada Sem canhões sem Hitler O povo morria de olhos voltados para o céu Num gesto clamor secular Que o hábito tornou ritual Chuva! Fome! Chuva! Fome! Quem não se lembra dos bailes da bola preta? A sala decorada com bolas pretas Os ritmos brasileiros a transportar os pares Para o "Rio de Janeiro cidade maravilhosa" .Histórias de crianças famintas (Lembro-me do filho da Violante Que comia a cal das paredes) Histórias de velhos abandonados (Como aquele que morreu a chorar No Pavilhão de Alienados E não era doido) Histórias de prostitutas (Ah! humilhadas amigas) Histórias tristes nunca divulgadas Reminiscência Autor: Virgilio Pires Praia. 1973 rio estátua braço sem carne chuva no mar em terra seca sol na paisagem terra em desgraça fome nos lábios fome nos olhos ossadas brancas urubus em volta .Mazurcas com passos rigorosamente medidos E a morna morna no violino crioulo do Djédji Há muitos anos Os nazis perderam a guerra A Tabanca desapareceu Anatematizada como vergonhosa reminescência africana O Chabali morreu Surgiram outras guerras Outros tiranos outros ídolos outros ritmos E na terra amaldiçoada O ano passado hoje e sempre O povo continua com os olhos voltados para o céu Num gesto ritual Clamor súplice para outros homens e para Deus Chuva! Chuva! Chuva! Paisagem do Nordeste Autor: Jofre Rocha Cachimane. 1941Tempo de cicio. Angola. Angola. 1963 . Símbolo Autor: Luis Romano Ilha de Santo Antao. Cabo Verde. 1922 Clima. 1941Quando a manhã vier com um sol maduro ofertando beijos aos órfãos da ternura quando a manhã vier em apoteose de luz a semear no vento risos de alegria quando a manhã vier definitivamente em alvorecer roseo de paz e tranquilidade de mãos nas mãos saberemos chegado o nosso dia.terra em brasa ar calcinado plantas com fome homens com fome fome nos olhos no ar morte Quando a Manhã Vier Autor: Jofre Rocha Cachimane. eu sentia: um aprazível devaneio pela maravilha escultural duma Mulher Perfeita.O formato daquele berço foi um símbolo O menino em miragens impossíveis dormia sonhando com navios de papel enquanto eu contemplava a cismar. a Vida separando Nós-Dois a confusão. erguendo no seu riso uma canção extraordinária. outros portos. Navio-berço de menino crioulo navio-guia que ficou sem ir "navio idêntico ao navio da nossa derrota parada". a graça. Não foi um romance de amor nem mesmo um pequeno segredo entre ambos. o mistério. o perfume e os cantares . os ruidos. Cabo Verde. o conjunto daquela harmonia sumindo-se na linha do mar. 1922 Clima. 1963 A crioula que meus olhos beijaram a medo perdeu-se na confusão de um porto francês Ela sorria continuamente. os braços agitando-se e o vapor levando para outros mares. Vida Autor: Luis Romano Ilha de Santo Antao. quando Ela falava ao pé de mim. Somente. Depois. O Jogo Autor: Manuel Rui Nova Lisboa. Angola. 1973 Que jogo é este o de saber nos pés só a espuma de imensas madrugadas. 1941A Onda. Angola. Que jogo é este o de chorar os destroços de um navio/que chegou a navegar ou as asas de uma gaivota apodrecida/que voou Sem me chorar Que jogo é este o de esperar um rebentar da onda sem me estender sem me estender pelos teus túneis.da crioula que meus olhos beijaram a medo no tombadilho daquele vapor francês. 1941A Onda. 1973 De meus antepassados não recordo mas invento em cada pedra colocada em praças por seus braços noutros braços . Museu Autor: Manuel Rui Nova Lisboa. onde pombas poisam e turistas fazem souvenirs de sol e manuelinos E pátrias não conheço Assisto aos exercícios outonais da morte sem idade do cremar olhos na distância por noivas adiadas e mãos correndo terços de velhas esperando a morte simplesmente E deuses não conheço Não fui navegador embora me quisessem em vários continentes em que sempre estive e disse nunca para que naufragasse minha história com o peso das grilhetas amarrado aos oceanos E epitáfios não conheço O que ergueram meus braços não está em Africa a minha musica não está em Africa a minha estatuária não está em Africa idem para o meu marfim as minhas lanças os meus diamantes o meu ouro idem idem A Abóbora Menina Autor: Ana de Santana . será que não aprovam? Rapariga . Interrompo estas núpcias com o coral. 1983 Tão gentil de distante. tão macia aos olhos vacuda gordinha. de segredos bem escondidos estende-se a distância procurando ser terra quem sabe possa acontecer o milagre folhinhas verdes flor amarela ventre redondo depois é só esperar nela desaguam todos os rapazes. vem-me o mavioso murmurar das palmeiras pela brisa. Núpcias Autor: Ana de Santana Angola Penetro esse colchão de cristal e um lençol de mar me envolve tecendo o meu vestido raro. espuma e sal.Angola Benguela. .. a tábua Eylekessa Filha de Tembo organizo o milho Trago nas pernas as pulseiras pesadas Dos dias que passaram. 1985 Cresce comigo o boi com que me vão trocar Amarraram-me já ás costas. Sou do clã do boi Dos meus ancestrais ficou-me a paciência O sono profundo do deserto a falta de limite... Da mistura do boi e da árvore a efervescência o desejo a intranquilidade a proximidade do mar Filha de Huco Com a sua primeira esposa Uma vaca sagrada concedeu-me o favor das suas tetas úberes. Odores & Sonho..Autor: Ana de Santana Angola Sabores. A Mulemba Secou Autor: Aires de Almeida Santos Angola A mulemba secou. de olhos esbugalhados A velha Jaja a contar Histórias de arrepiar Do feiticeiro Catimba. siripipis Que o Chiquito da Mulemba Ia vender no Palacio Numa gaiola de bimba.) Mas a mulemba secou E com ela. Faziam roda. A ouvir. Ficaram as folhas Secas. (De dia.No barro da rua. Viuvas. O Ze Camilo. Como as folhas da mulemba Foram-se os sonhos gaiatos Dos miudos do meu bairro. O Macuto da Ximinha Que cantava todo o dia já não canta. coitado. sentados. Pisadas. . Secou tambem a alegria Da miudagem do bairro. amareladas A estalar sob os pes de quem passava.. De noite. por toda a gente.. Depois o vento as levou. Espalhavam visgo nos ramos E apanhavam catituis. já não quero Mais mentir. já ninguem o arrelia. Tantos beijos roubamos..Passa o dia deitado A pensar em muitas coisas. Meu amor da Rua Onze. já não quero Mais fingir.. Como o meu bairro esta triste Porque a mulemba secou. já mais ninguem lhe assobia. Meu Amor da Rua Onze Autor : Aires de Almeida Santos Angola (Benguela) Tantas juras nos trocamos. Meu amor da Rua Onze.. Quando passa por ali. Como o meu bairro mudou.. Era tao grande e tao belo Nosso romance de amor . So o velho Camalundo Sorri ao passar por la!. já faz a vida em sossego. Meu amor da Rua Onze. Tantas promessas fizemos. E o velhote Camalundo. Meu amor da Rua Onze. Tantos abracos nos demos. tao doce Nossa maneira de amar Que ainda pairam no ar As promessas que fizemos. Terminou Nosso romance. A Vigília do Pescador . Tanta loucura e doidice Tinha o nosso amor desfeito Que ainda sinto no peito Os abracos que nos demos. E agora Tudo acabo.Que ainda sinto o calor Das juras que nos trocamos. Nossa maneira de amar era tao doida. Sinto nascer E crescer Uma saudade infinita Do teu corpo gentil De escultura Cor de bronze. Meu amor da Rua Onze. Quando te vejo passar Com o teu andar Senhoril. Era tao bela. tao louca Qúinda me queimam a boca Os beijos que nos roubamos. Os seus trabalhos literários foram traduzidos em russo.. O texto reproduzido foi publicado na Gazeta de Artes .Nampula. E enquanto espera A sua ansia descobre os passos da mare na praia e o sono do borco das canoas.Autor: Arnaldo Santos Angola Na praia o vulto do pescador é mais denso que a noite. Ódio Autor: Marcelino dos Santos Marcelino dos Santos. E enquanto espera A sua ansia solidifica em concha E sonoriza os ventos livres do mar. nasceu a 20. holandês e italiano..5. é manha e o pescador ainda espera e enquanto o mar não lhe devolve o seu corpo de sonhos Num lencol branco de escamas Um torpor de baixa-mar Denumcia algas nos seus ombros. checo.1929 no Lumbo . com apelido de Lilinho Micaia Kalungano. Membro fundador da Frelimo. é um dos seus mais populares dirigentes. revista Tempo No 915.e Letras. " Foi assim que tudo aconteceu senti uma dor aguda e o cão não ladrou o xirico não cantou a lua não estava a lua não estava Foi ali na estrada Ilha-Monapo era 14 de Marco Uma enorme gargalhada e tudo foi silêncio sem cor Cerrei os dentes O peito inchou duro Uma lágrima desce lenta pesada Uma só Anita caiu morreu Mamã onde está a minha arma" . 16.1988 .xirico = pássaro Sonho de Mãe Negra Autor: Kalungano (Pseudonimo de Marcelino dos Santos) Moçambique Mãe negra Embala o seu filho E na sua cabeça negra Coberta de cabelos negros Ela guarda sonhos maravilhosos Mãe negra Embala o seu filho E esquece Que o milho já a terra secou Que o amendoim ontem acabou Ela sonha mundos maravilhosos Onde o seu filho iria à escola À escola onde estudam os homens Mãe negra Embala o seu filho E esquece Os seus irmãos construindo vilas e cidades Cimentando-as com o seu sangue Ela sonha mundos maravilhosos Onde o seu filho correria na estrada Na estrada onde passam os homens Mãe negra Embala o seu filho E escutando A voz que vem de longe .3. Colecção A Palavra Africana. 1947 Mar ie mil. Nem a luz acanhada do candeeiro quando escrevo na obscuridade ao pulsar da mão emboscada . VEGA. Nada os ampara.Portugal. 1974 tudo treme neste poiso de espanto breve. de que me servem dedos no contorno estéril da mão? A Pátria Dividida Autor: Nelson Saúte in "A pátria Dividida". Angola. apresso a palavra e digo país: e o teu corpo se despenha vertical aqui entre as cordas desta febre. Tudo Treme Autor: Monteiro dos Santos Cutato. 1993 ao Rui Knopfli e ao Eugénio Lisboa Os mortos tombam no poema.Trazida pelos ventos Ela sonha mundos maravilhosos Mundos maravilhosos Onde o seu filho poderá viver. digo espaço e as águas demoram. Não se enterram os sonhos dos mutilados em perfil no chão ultrajado desta pátria dividida. Na incerta madrugada diviso os rostos mutilados que vigiam os meus gestos e narram sonhos degolados." A Ignorância do Poeta Autor:Nelson Saute in "A Pátria Dividida". Lisboa. 1993 Pagina 17: O poeta contempla o mar no agoniado tédio da tarde. O cão que lhe roça a solidão .na metáfora que me conduz. O algoz estilhaçou o coração frágil da criança aos gritos nas imagens do apocalipse na televisão. Caminha ao som de seus passos ombros recurvos mãos nos bolsos perseguindo a sua sombra. Na ignomínia noticiada pelos jornais esta consentida memória dos mortos para sempre insepultos porque não existe vala comum para os gritos da mulher rasgada à baioneta numa manhã inocente. Vega. " Canção do Silêncio Autor: M. De esguelha admira a inocência dos gestos amorosos. silêncio das noites sombrias. Capim verdejante nas húmidas chanas. Aonde costuma rugir o leão.. Segredos da selva.. Matizes da selva. Vislumbro paisagens confusas. O poeta ignora mas a direcção leva-o ao coração dos homens. Lençol de esmeralda que o sol vai corando.Arroios cantando. Os namorados não o fitam.. pacacas pastando. Correia da Silva in " Cantares de Angola " Ouvindo o silêncio das coisas remotas.. . Desvendo os mistérios da selva distante.. À sombra de jacarandás percorre o trajecto sobre as folhas silenciadas... caladas. luar das savanas. remotas. Anharas perdidas p'ra além do sertão.não tolhe o verso escrito da memória. Mabecos fugindo.. . Distingo legendas que os outros não lêem...... murmúrios da aragem. num som murmurante. .Silhuetas de imagens que muitos não vêem!.. 1935 in Hora Grande.Canção do silêncio da selva distante.. .. do alto .-Holongos ligeiros. se a fome as aperta.. Cabo Verde.qual "hóstia boiante" Envolve o cenário num manto sidério. sachando os arimbos Depois que o som cavo do goma as desperta Chingufos ao longe . Quimbundas alegres.. Latidos de hienas em torno dos quimbos. 1962 A chuva regressou pela boca da noite Da sua grande caminhada Qual virgem prostituída Lançou-se desesperada Nos braços famintos Das árvores ressequidas! (Nos braços famintos das árvores Que eram os braços famintos dos homens. em manadas. fugindo. E a lua. São Vicente.rufar permanente Chamando ao batuque de intensa folgança. Agitam as ancas na febre da dança!. Bem poucos entendem teu som de mistério! As Águas Autor: Onesimo Silveira Mindelo. gingando pra trás e pra frente.. E os pretos...) .. Regatos correndo por entre a folhagem. já dentro da noite... Vicente.. a vagabunda.. Nos braços dos homens... Ilha de S.. 1962 Lá vem nho Cacai da ourela do mar Acenando a sua desilusão De todos os continentes! Ele traz o peito afogado em maresias E os olhos cansados da distância das horas. Com histórias das farturas das Américas.Derramou-se sobre as chagas da terra E pingou das frestas Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas E escorreu do dorso descarnado dos montes! Desceu pela noite a serenar A louca.. Cabo Verde.. a pérfida estrela do céu Ate que ao olhar brando e calmo da manha Num aceno farto de promessas Ressurgiu a terra sarada Ressumando a fartura e a vida! Nos braços das árvores. 10/2/1935 in Hora Grande... Lá vem nho Cacai Com a boca amarga de sal A boiar o seu corpo morto Na calmaria da tarde! Nho Cacai vem alimentar os seus filhos Com histórias de sereias. Os seus filhos acreditam nas Américas . Quadro Autor: Onesimo Silveira Mindelo.. 1996 Canto as mãos que foram escravas nas galés corpos acorrentados a chicote nas américas Canto cantos tristes do meu País cansado de esperar a chuva que tarde a chegar Canto a Pátria moribunda que abandonou a luta calou seus gritos mas não domou suas esperanças Canto as horas amargas de silêncio profundo cantos que vêm da raiz de outro mundo estes grilhões que ainda detêm a marcha do meu País Magaíça Autor: Noémia de Sousa Moçambique in M.E sabem dormir com fome. Cantos de Meu País Autor: Julião Soares Sousa Guiné-Bissau in Um Novo Amanhecer.. de Andrade e Francisco J. 1953. Lisboa.. Ed. Tenreiro: Poesia negra de expressão portuguesa. dos Autores . magaíça? trazes as malas cheias do falso brilho do resto da falsa civilização do compound do Rand. tecida de sonhos insatisfeitos do mamparra..A manhã azul e ouro dos folhetos de propaganda engoliu o mamparra. entontecido todo pela algazarra incompreensível dos brancos da estação e pelo resfolegar trepidante dos comboios Tragou seus olhos redondos de pasmo. Ás costas . E um dia.. sua trouxa de farrapos carregando a ânsia enorme. de sobretudo. E na mão. da mocidade e da saúde que ficaram soterradas lá nas minas do Jone. voltou. arfando. arfando. cachecol e meia listrada e um ser deslocado embrulhado em ridículo. A mocidade e a saúde.ah onde te ficou a trouxa de sonhos. à cata das ilusões perdidas.. magaíça. seu coração apertado na angústia do desconhecido. o comboio voltou. magaíça atordoado acendeu o candeeiro. oh nhanisse.. e com ele. Não Me Lavem o Rosto Autor: Sukrato . as ilusões perdidas que brilharão como astros no decote de qualquer lady nas noites deslumbrantes de qualquer City. Por todo o meu corpo animais em deserção. não me lavem os olhos! Curvo-me ao Obstinado Peso das Raízes Autor: José Luís Tavares Cabo Verde Curvo-me ao obstinado peso das raízes. bélicos murmúrios.. desdenhada fortuna. Não sei de barcos.. já disse não! Deixai-me ver. impendentes murmúrios. sentir. viver tudo em mim mas não me lavem os olhos! Deixai-me crer por mim aceitar a realidade mas não me barrem a caminhada não me lavem os olhos! Deixai-me sofrer realidade ao sonhar fraternidade mas. Afeiçoados ficaram os olhos ao sonhado verde dos campos. por favor. para outro tão melodioso território. Cabo Verde.. 1951 Não me lavem os olhos! Não. Derrotados sob o adivinhado zelo do sol por quantos dias a ilha estremece ao temor da sede e da ruína.Boavista. não sei de pontes. Mais alto se erguem os morosos frutos da inquietude. .. pela ocidental terra que o dia já desnuda. velho cadamosto. diogo gomes. antónio da noli. E na hora terreal. quando à vista das angras lágrimas e gritos se confundiram. eu vos saúdo desde esses picos de sede de onde a noite mais veloz se confunde com os desfraldados estandartes da alegria. irmãos dos chibos. E ficámos náufragos. um destino de penumbra ali se traçou. feito o sinal da cruz. Cerimónia de Passagem Autor: Paula Tavares Angola Luanda.Deram-lhe navegadores nome de santo. 1985 "a zebra feriu-se na pedra a pedra produziu lume" a rapariga provou o sangue o sangue deu fruto a mulher semeou o campo o campo amadureceu o vinho o homem bebeu o vinho o vinho cresceu o canto o velho começou o círculo . Pelos sinos da matriz avisando da inexorável aproximação dos corsários (um tempo de rapina subjaz ainda na memória desses anos) eu vos saúdo. divisa de quem por tão longes terras os mandara navegar. o círculo fechou o princípio "a zebra feriu-se na pedra a pedra produziu lume" Coração em África Autor: Francisco José Tenreiro São Tomé 1967 Caminhos trilhados na Europa de coração em África Saudades longas de palmeiras vermelhas verdes amarelas tons fortes da paleta cubista que o sol sensual pintou na paisagem. Ou antes ou talvez seja que desta vez vai haver guerra para que nasçam flores roxas de paz com fitas de veludo e caixões de pinho: Oh as longas páginas do jornal do mundo são folhas enegrecidas de macabro blue com mourarias de facas e guernicas de toureiros. Em três linhas (sentidas saudades de África) - . saudade sentida de coração em África ao atravessar estes campos de trigo sem bocas das ruas sem alegrias com casas cariadas pela metralha míope da Europa e da América da Europa trilhada por mim Negro de coração em África. De coração em África na simples leitura dominical dos periódicos cantando na voz ainda escaldante da tinta e com as dedadas de miséria dos ardinas das cities boulevards e baixas da Europa trilhada por mim Negro e por ti ardina cantando dizia eu em sua voz de letras as melancolias do orçamento que não equilibra do Benfica venceu o Sporting ou não. Mac Gee cidadão da América e da democracia Mac Gee cidadão negro e da negritude Mac Gee cidadão Negro da América e do Mundo Negro Mac Gee fulminado pelo coração endurecido feito cadeira eléctrica (do cadáver queimado de Mac Gee do seu coração em África e sempre vivo floriram flores vermelhas flores vermelhas flores vermelhas e também azuis e também verdes e também amarelas na gama policroma da verdade do Negro da inocência de Mac Gee) . de coração em África ao meio dia do dia de coração em África com o Sol sentado nas delícias do zénite reduzindo a pontos as sombras dos Negros amodorrando no próprio calor da reverberação os mosquitos da nocturna . De coração em África com o grito seiva bruta dos poemas de Guillen de coração em África com a impetuosidade viril de I too am America de coração em África com as árvores renascidas em todas estações nos belos poemas de Diop de coração em África nos rios antigos que o Negro conheceu e no mistério do Chaka-Senghor de coração em África contigo amigo Joaquim quando em versos incendiários cantaste a África distante do Congo da minha saudade do Congo de coração em África.três linhas no jornal como um falso cartão de pêsames. Caminhos trilhados na Europa de coração em África. de coração em África com as mãos e os pés trambolhos disformes e deformados como os quadros de Portinari dos estivadores do mar e dos meninos ranhosos viciados pelas olheiras fundas das fomes de Pomar vou cogitando na pretidão do mundo que ultrapassa a própria . De coração em África em noites de vigília escutando o olho mágico do rádio e a rouquidão sentimento das inarmonias de Armstrong. De coração em África na mão deste Negro enrodilhado e sujo de beira-cais vendendo cautelas com a incisão do caminho da cubata perdida na carapinha alvinitente. De coração em África em todas as poesias gregárias ou escolares que zombam e zumbem sob as folhas de couve da indiferença mas que tem a beleza das rodas de crianças com papagaios garridos e jogos de galinha branca vai até Franca que cantam as volutas dos seios e das coxas das negras e mulatas de olhos rubros como carvões verdes acesos. olha um mulato (tanto faz) olha um moreno (ridículo) e procuro no horizonte cerrado da beira-mar cheiro de maresias distantes e areias distantes com silhuetas de coqueiros conversando baixinho a brisa da tarde.picadela. De coração em África trilho estas ruas nevoentas da cidade de África no coração e um ritmo de be bop be nos lábios enquanto que à minha volta se sussurra olha o preto (que bom) olha um negro (óptimo). cor da pele dos homens brancos amarelos negros ou as riscas e o coração entristece à beira-mar da Europa da Europa por mim trilhada de coração em África. deixa-me acreditar que do desespero másculo de Picasso sairão pombas que como nuvens voarão os céus do mundo de coração em . e chora fino na arritmia de um relojo cuja corda vai estalar soluça a indignação que fez os homens escravos dos homens mulheres escravas de homens crianças escravas de homens negros escravos dos homens e também aqueles de que ninguém fala e eu Negro não esqueço como os pueblos e os xavantes os esquimós os ainos eu sei lá que são tantos e todos escravos entre si. Chora coração meu estala coração meu enternece-te meu coração de uma só vez (oh orgão feminino do homem) de uma só vez para que possa pensar contigo em Africa na esperança de que para o ano vem a monção torrencial que alagará os campos ressequidos pela amargura da metralha e adubados pela cal dos ossos de Taszlitzki na esperança de que o Sol há-de prenhar as espigas de trigo para os meninos viciados e levará milho as cabanas destelhadas do último rincão da Terra distribuirá o pão o vinho e o azeite pelos alíseos. Deixa-me coração louco deixa-me acreditar no grito de esperança lançado pela paleta viva de Rivera e pelos oceanos de ciclones frescos das odes de Neruda. na esperança de que as entranhas hiantes de um menino antípoda haja sempre uma túlipa de leite ou uma vaca de queijo que lhe mitigue a sede da existência. Africa.. À hora do espalmadoiro os moços do comércio passaram de gravatas garridas. 1942 Sam Marinha a que menina foi no norte chegou naquele navio à ilha. Romance de Sam Marinha Autor: Francisco José Tenreiro São Tomé Ilha de nome santo. O monhé chegou na porta e limpou o suor . Braços pendentemente tristes só os olhinhos estão pulando para lá da fortaleza querendo ver a Europa!. Risadas brancas e goles de champagne! A hora do espalmadoiro os moços do comércio passaram de gravatas garridas.. O monhé chegou na porta e limpou o suor ao lenço de seda que importou do Japão! Ai! Aquela que chegou na ilha como uma risada branca está fechando a carinha à terra. Depois ponho-lhes asas e deixo-as voar como pássaros em busca de primaveras imprevisíveis. Braços pendentemente tristes só os olhinhos estão pulando para lá da fortaleza querendo ver a Europa!. Ouve a voz inefável das guitarras Tingindo de paixão a madrugada .. Coleccionador de Quimeras Autor: António Tomé Quando as minhas angústias começam a morder-me ponho-lhes a trela saio a rua a passeá-las e deixo-as ladrar ao tédio transeunte.. Nunca é Tarde Quando no cais só fica ancorada A indiferença e já não resta nada Senão as ilusões a que te agarras.ao lenço de seda que importou do Japão! Ai! Aquela que chegou na ilha como uma risada branca está fechando a carinha à terra. divididos Em dois por eles. e não sofrendo nada mais do que o tempo concede. se . Mas. Vicente. se por eles Ganhamos o tempo. que sem ti eu anoiteço. Fim de novo e reconhecimento de novo E tudo é crime. 1966 (Fragmento) Há muito passado no estar aqui com o tempo. E não peças jamais ao rio que aguarde. Aumento e festa. Oh amamos tanto.T. Saberás então que há sempre um começo No profano rio em que a vida arde.Tiofe) S. e tempo de cair e tempo de seguir. ou crime sempre. não tardes. Tempo de mal cair e tempo de mal seguir. pedimos a forma mais fácil De indagar que vamos morrer e. Criminosissimamente crime. Cabo Verde 1937 Exemplo Geral. E é nessa maré viva que estremeço.No fim duma viagem povoada Do canto indecifrável das cigarras. amamos tanto estar aqui com o tempo E sabendo que há nisso pouco passado. Fim e reconhecimento. comemorando. crime ou crime. ou cilício. ainda que saibas que nunca é tarde." Exemplo Geral Autor:João Vario (conhecido também como T. um dia. Quando arriscamos a intensidade. com eles indo. Porque maiores que os desígnios da vida São os desígnios da medida e. entre a casa e o limiar? E evocamos. esse provérbio sessouto. depois faremos ou fará o tempo. a memória. Aquele blasfemissimo comentário. Sem que a causa. porque regressaremos. a cevada as ervas de termo. Cabo Verde. Vicente. perdidos que estais. Havemos de ser úteis como mortos há muito. Era em abril dois dias depois da neve e da cidade dos nevões. chamadas. e ganhando constância. mais uma vez. E olhamos para os penhascos da beira-rio. Dividida em duas por elas. hoje como ontem. junto da via férrea. de outros. o delírio.O tempo for deles e. o chisto. E. 1937 Exemplo Relativo. na serra. e as colinas. os homens do país miravam-nos como se fôssemos nós e não eles os mortos desta terra. as oliveiras. Depois. E. a designação. E então consta que amámos. o homens. na verdade. Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável. . 1968 E então subimos aquele grande rio e as portas do Rodão. por sua vez. Fragmento Autor: João Vario S. homens do medo e do tempo da discórdia que trazem para o cimo das estradas a malícia que vai apodrecendo seus pés neste mundo e em terras de outrem. O julgamento nossa medida abandonem. Com o título "Resumos. numa cerimónia que juntou muitos amigos. Insumos e dores emergentes".após tantos anos. Alguns dias antes de falecer disse: "gostaria de ter publicado o meu livro". Eu presido a todos os enganos os do céu os da terra há tantos anos que nem o tempo os lembra Antes do mar fui voo Antes do sal fui mar e sede antes da água fresca Antes do verso eu fui a poesia Eu sou antes de Deus e do universo Estando antes eu nunca fui ontem e sendo a tudo preso nunca fui refém nem de mim mesmo porque a minha fome não tem distância horizonte não tem nome Sempre que me contam sou inumerável sempre que me caçam sou invulnerável Eu nunca estou no pé e nunca estou no passo a minha dimensão é outra sou o compasso cósmico a que palpitam todas as galáxias e a que se geram flores nos ramos das acácias Não fui planeado nem projecto Não sou vontade . a este tema? Será que a morte nos ensinou a olhar para o homem com pavoroso êxtase? Canto do Verbo em Busca da Forma Autor: Teodomiro Alberto Azevedo Leite de Vasconcelos Moçambique Teodomiro Alberto Azevedo LEITE DE VASCONCELOS nasceu a 4 de Agosto de 1944. Faleceu no dia 29 de Janeiro de 1997. vítima de prolongada doença. o mesmo foi lançado pela AEMO (colecção Timbila No 16) em agosto de 1997. AEMO/93. Ausentes dele qualquer abstracção. Mais declaro que nele não encontrei outro elemento além dos ditos e descritos nos comuns manuais de anatomia. declaro por minha honra que deste corpo extraí o que pulsava e fazia cumprir suas funções quando funcionava. 101 Eu. p. embalsamador de profissão. . abaixo assinado.Nas letras de prisão lêem-me liberdade não a minha a tua a deles ou a de todos Eu sou a liberdade do desejo Do desejo dos lodos e das aves dos rios dos homens e mulheres de todo o espaço de todas as coisas de todos os seres Por isso eu presido a todos os enganos os do céu os da terra há tantos anos que nem o tempo os lembra Sou a razão de todas as derrotas o coração da mágoa as mãos do desespero Eu sempre estou e permaneço e espero desde o cáos e canto o refazer do desejo na sua liberdade como lábios no beijo Em mim tudo recomeça grão a grão ponto a ponto peça a peça mão a mão sol a sol segundo a segundo porque comigo recomeça o mundo até que tudo seja o que não vejo até que o mundo seja o do desejo" Declaração Autor: Leite de Vasconcelos Moçambique in "Irmão do Universo. colecção Timbila no 12 da AEMO. Por minha fé ainda certifico a apropriada condição estéril do que remanesceu e expeço via aérea com garantia firme de ser reconhecido por quem o conheceu quando o corpo era inteiro e se reconhecia.sintomas de tristeza. "Irmão do Universo" foi o seu primeiro livro. p. extraído d' O Ciclo da cidade. 36 XXV Pela noite pela rua passamos gatos e cães somos as lendas raivosas do sangue das nossas mães Pela noite pela rua somos cavernas e vento temos a boca cansada do asfalto e do cimento Pela noite pela rua somos navalhas abertas . revistas e antologias." Ladaínha Autor: Leite de Vasconcelos in "Irmão do Universo". sinais de medo ou discordância em relação à hora da paragem. 1993 Leite de Vasconcelos nasceu em 1944 e é predominantemente jornalista. Tem trabalhos dispersos em jornais. desagrado. é Luanda uma flor. Como é sem favor. . e tão presa nos mistérios das ondas do mar. do Cruzeiro e da Se. são a nossa maior tentação. do Balão. na Paris. meu amor! Luanda ao sol-por.Vem ver . divinal! Raparigas do Bungo e da Samba. Polo Norte ou Mutamba." Baião de Luanda Autor: Reis Ventura Angola Tão velhinha e tao linda. Paulo à Marginal .já fomos estátuas mas tivemos canções e festas Pela noite pela rua vendemos a mocidade somos canções esquecidas parasitas da saudade Pela noite pela rua de braço em braço tocado tecemos o nosso tempo levamos a morte ao lado Pela noite pela rua já nem somos o pecado perdoou-nos o silêncio deste seio amarrotado. De S. uma beleza com perfume e encantos sem par. . Pelos bailes selectos da Alta.Tudo isto é Luanda. É Luanda sagaz. desvenda o rumo no sobressalto das ondas. 1969 É do mar que vêm estas vozes silabando a linguagem das marés. Tão velhinha e tão bela e fagueira. nos batuques tão ricos de cor. Este permanente arfar marinho desperta a ressonância de oculto escuro de obscuros templos submersos onde o coração. Samba e Sambizanga ou Portas do Mar .I Autor: Cândido da Velha Angola in As Idades de Pedra. . Quem cá chega. feiticeira.Nesta terra onde eu nasci eu quero casar e ter o meu lar e rir e chorar só por ti. quem sabe ver. numa festa de vida e amor. cá quer ficar! As Idades da Pedra .. é Luanda que dança e que salta. debruçada nas ondas do mar. Bungo. gravando na areia estranhas grafias onde. cidade e quitanda ao luar. tudo nas pálidas palmas das mãos quando. (beijo africano de húmidas pressões). Idades da Pedra . A viagem regressiva aos ancestrais: O reencontro para lá da linha quebrada. 1969 As pálidas luas das tuas mãos negras. atrai as pegadas para a líquida planura pela saudade de verde glauco que estira o corpo na fronteira do mar. justificação de sermos outra vez humanos. nesta urgência de sal em nossos membros. Cheiros de primeira pâtria. materna. simples. de olhos vítreos.II Autor: Cândido da Velha Angola in As Idades de Pedra. desperta nossa cólera e angústia de malograda fuga e de nos vermos. teu corpo conspirando com a noite.descompassadamente. neste marulhar à concha dos ouvidos. se perturba na iminência do segredo revelado. toda a claridade da hora aprofundada no ventre generoso e farto. oculta no tempo. Reminiscência da primeira voz. adormecidos peixes sobre a areia. apresentaste o peito à concha do ouvido para que ouvisse . os olhos da paisagem insular. na babugem das águas. As nuvens negras sao virgens tontas. espiritos do mal lancam da Altura para incendiar a Terra. Dia de Chuva no Mato Autor: Geraldo Bessa Vitor Angola "Chove. os seus bailados febris. O vento Ora violento. uma estranha batucada. E a trovoada é um batuque incessante. amável. errando como sonambulas . Os raios sao setas de fogo que mesteriosamente. em tom de guerra. em tragicómica festa. o vento é o cazumbi dos cazumbis -o deus do mar. o seu coro de mil vozes. ora brando. na grande verdade a nosso respeito.o rumor da noite longinqua e permitiste ao sono que viesse. do ria e da florestaque vai cantando e dancando. quais almas do outro mundo. e em toda aquela aurora sem mentira arborizando o corpo quebrantado ansiávamos o dia para celebrarmos o cacimbo matinal em nosso olhar no fresco odor da casa de madeira. nessa noite sensual em que tiveste por lencol nupcial uma folha de palma. sonhaste viajar num enorme vapor que navega no mar grande e vai para Lisboa! Ouve.. menina negra: mato não é cidade. menina negra. Não Venhas Mais ao Cais Autor: Geraldo Bessa Victor Angola não venhas mais ao cais.pelo ceu negro e profundo. Habituada ao balouco da canoa nas margens do rio Dande. olhando o cais. e depois embalada pelo amor. constante e forte. é o pranto (parece eterno) dos deuses negros que a Morte sacrificou no Inferno. mas não sabias nem soubeste que o branco tem feitiço na alma. cantaram o feitiço do teu corpo. Cantaram o feitiço do teu corpo.. E a chuva. oceano não é rio. ves o teu lindo sonho que já finda. dongo não é navio .. Que esperas tu ainda? já sabes a tua sina: o branco que partiu não volta mais! E tu.. menina negra linda. disse um dos meninos com seu ar feliz. as canções e danças das brutais procelas. bailaram seus vôos. voaram chilreando sobre as cabecinhas lindas dos meninos e pousaram todos em redor... o menino negro não entrou na roda. em bando. o menino branco já não quiz. não quiz. E chegou o vento junto das crianças . é saudade.. logo fez reparo. menino negro não entrou na roda. "Venha cá.. O menino negro não entrou na roda.e o sonho que sonhaste não é sonho. que o branco não volta mais! O Menino Negro Não Entrou na Roda Autor : Geraldo Bessa Victor Angola O menino negro não entrou na roda das crianças brancas . Pássaros.as crianças brancas que brincavam todas numa roda viva de canções festivas . gargalhadas francas. pretinho... .e bailou com elas e cantou com elas as canções e danças das suaves brisas. cantando seus hinos. não venhas mais ao cais. O menino negro não entrou na roda... venha cá brincar" . A mamã. Por fim. zelosa. cantando. tocam e dancam.e meus sonhos. Desolado. E meus versos sao feitos desse canto. quanto o batuque avanca desflorando o silêncio de virgens madrugadas. colossos. ressuscitam.e já sou possuido de magia! . em riso e pranto.. seu ritmo louco no meu sangue vibra. ficou só. e negras bailarinas. agitando meus impetos carnais. O batuque ressoa-se nos ossos.O menino negro não entrou na roda das crianças brancas. nas noites em que o fogo das queimadas parece caminhar para o infinito. . vibra-me nas entranhas. povoando a noite calma. o ritmo do batuque no meu sangue. já mortos. parado com olhar cego. sinto em mim o batuque penetrando . fibra a fibra. é a voz da marimba e do quissange. Músicos negros. que vibra e plange dentro de minhàlma.. Tenho na minha voz ardente o grito desses gritos febris das batucadas. ficou só. que o vento vai cantando. calado com voz de morto. absorto. O Feitiço do Batuque Autor : Geraldo Bessa Victor Angola Sinto o som do batuque nos meus ossos. sensuais. já destrocos. ficando apenas com dois dedos em cada mão e em cada pé.Uma vez. queimei-me!. nunca mais tera fim. Uma vez curado. Edição da Associação Moçambicana de Escritores. os pés e todo o corpo gravemente queimados. queimei- . a 10 de Junho de 1927..A batucada tem feitiço eterno. Uma vez. distrito de Cuamba. A sua sorte foi passarem por ali. É professor sendo este o seu primeiro livro publicado. recebendo tratamento que o salvou da morte. colecção " a palavra ao lado". n. que sinto no meu ser. vai cumprindo até hoje:.. o camaleão decidiu firmemente nunca dar um único passo sem se ter certificado da ausência de fogo e doutros perigos. o tiraram do fogo e o levaram a um . dentro de mim.. O Camaleão Autor: Alberto Viegas Angola in " O que nos dizem certos animais" (contos e fábulas) Alberto Viegas nasceu em Kharau. acorrendo em seu socorro.. 2 " O desgraçado tinha-se enganado de todo. Afinal. nem mesmo alem do Ceu e alem do Inferno! Capítulo 15.. E. O batuque de dor e de alegria. Ficou com as mãos. uns viandantes que. naquele mesmo instante. as cinzas não estavam frias como ele pensava e escondiam perigosa e traiçoeiramente um fogo vivo.. onde ficou internado durante muito tempo. província do Niassa. Isto é Que Fazem de Nós Autor: Armenio Vieira Ilha de Santiago. mas num estar que é viagem." Nirvana Autor: Jorge Viegas Moçambique in "Vozes Poéticas da Lusofonia". Poeta que não sou. 29/1/1941 Isto! E perguntam-nos: . esporear o vento.animais de capoeira. . Sintra 1999 Ser como uma arvore na paisagem. deixar adormecer o pensamento. Existir. Não haver marcas da minha passagem.sois homens? Respondemos: . vida que não tive Permiti que o sono que em mim vive Se torne o mais humilde dos meus servos. Estar. a inundar-me os nervos.diz o camaleão de cada vez que levanta e poisa a mão ou pé nalgum sítio. Tornar menos pesada a minha imagem. existir sem sofrimento. Esboroar-me na terra humilde e fria Sem o suor negro da melancolia A orlar-me a testa. Iluminar o sol. Buscar na placidez o alimento. no seu passo vacilante.me!. Cabo Verde. Dizem-nos: .estais vivos? E em nós as galinhas respondem: . Pensamos: lá fora. Poema Autor: Arménio Vieira Praia.dormimos.bom dia.. Santiago.. Isto é que fazem de nós quando nos inquirem: . Cabo Verde 19411962 Mar! Mar! Mar! Mar! Quem sentiu mar? Não o mar azul de caravelas ao largo e marinheiros valentes Não o mar de todos os ruídos de ondas que estalam na praia Não o mar salgado dos pássaros marinhos de conchas areias e algas do mar Mar! . 1998 A dor que em mim mora não é o mal no meu corpo carne destinada à terra húmida última guardiã do sofrimento pois esse já fiz oferenda ao mais Homem de todos os Homens mumificado pela injustiça humana que estrangula o nosso ser a dor que em mim mora é a que vi em Bissau .Raiva-angústia de revolta contida Mar! Siléncio-espuma de lábios sangrados e dentes partidos Mar! do não-repartido e do sonho afrontado Mar! Quem sentiu mar? Sofrimentos Autor> Carlos-Edmilson M. Nouvelles du Sud. Vieira Guinéu-Bissau in "Um Cabaz de Amores". Ivry-sur-Seine. Éd. ruina e gotica coluna .. . quando se vive a mentir.é a que viveram na travessia para Dakar é a que viveram na travessia para Cabo Verde é a que vejo no corpo dos outros MESMO Coqueiro Autor: Tomaz Vieira da Cruz Angola Ali. Mas tudo acaba e o tempo tudo anda a destruir. E onde um par enamorado teve sonhos de Amor. como filho nos maternos bracos ali ficou. nesse pedaco de Luanda antiga agora modernizada. tombado na direcção da Rua da Pedreira.porque tudo é passageiro. na rua do Carmo um coqueiro ficou abandonado quando destruiram a casa velha a que deu sombra. E o coqueiro ligado ah terra. Oh pincelada verde na cidade. Talvez para saudar alguem que muito sofreu e amou.. cometam a crueldade de te expulsar e matar. Ou.. tao maus. . é triste quando se matam almas. laranja. E perdoa. caju... E a quintandeira passou. limao.de marmore verde.. Antes que os homens. saudavel. viva. então. coqueiro morre..Minha senhora. fresquinho. porque tudo... da-me um gomo de laranja para matar a sede. será melhor dar-me um veneno qualquer porque eu ando perturbado e o meu sonho anda queimado por uns olhos de mulher! . com uma flor desfolhada no seu sorriso escarlate. Fruta Autor: Tomaz Vieira da Cruz Angol Quitanda de fruta verde. ananas ou abacate!. Morre. afinal. Morre de pura saudade. mas sofre como um homem. na vida. coqueiro das verdes palmas.. graciosa. quase finda! Neta dum soba que acabou chorando.Saudade Negra Autor: Tomaz Vieira da Cruz Angola não sei.E no ar um som de musica ficou e um perfume de fruta que não matou minha sede Oh agri-doce quitanda da fruta verde!.Flor de Bronze Autor : Tomaz Vieira da Cruz Angola Filha de branco que morreu na guerra e de uma preta linda do Libolo.. N'gola . .. o que me encanta. por estas noites tropicais. filha de branco que morreu lutando e duma preta tristemente linda! Quissange .. a tua dor na terra! Oh flor estranha do febril Capolo neta dum soba que perdeu a guerra! Estatua ardente em bronzeadas chamas que tentação e perdição derramas por sobre a história negra. o teu olhar ate de noite encerra todo o luar das lendas do Catolo! Oh flor estranha! já não tem consolo a tua magoa.. lira gentia. Indo mares fora.Se é o luar que canta ou a floresta aos ais. negra saudade do teu olhar diamantino.. por entre a floresta virgem o meu saudoso "Quissange". que disponho e crucifico nesta amargura morena. mares bravos. que a tua voz. dolente e quase morta. e chorando a nostalgia do sertão... Dolente. já mal escuto a tua voz dolente. cantando o sol e o luar. Qual o som que aflora dos lábios da noite misteriosa! Sei apenas. fatalidade deste meu triste destino. por andar ausente. aqui neste sertão de música dolorosa qual é a voz que chora e chega ao coração. e isso é que importa.. . Quissange. a tua voz "luena". Quissange. lá do distante Moxico. Quissange.. Que é o destino selvagem duma canção em que tange.. já mal a escuto. por sobre o mar. não sei... não sei. Ouvindo. vou dancar e vou beber o vinho do teu olhar... e as mais tristes desventuras do meu amado Quissange! Rebita Autor: Tomaz Vieira da Cruz Angola Mulata da minha alma batuque dos meus sentidos. não sei. a razão de tanto grito. sem ter calma. a queimar minha desdita nas chamas do teu sorriso. que me faz entontecer. oh morte. meus nervos encandecidos vibram por ti. -Se és tu. não sei.em noite primaveril acompanhando os escravos que morreram no Brasil. exaltando as amarguras. morrei! Mas deixa a vida que tange. assim. Por isso vou ah rebita. neste verão infinito. E. triste. longe. quase triste e indeciso. tocar o quissange do gentio. vou dancar. . . E ela..adormeceu sonhando placidamente sorrindo.. Por isso vou ah rebita. oh minha linda mulata. a negra maravilha condecorada com reflexos de prata com que o céu a está beijando... enfim.... alem no palmar...que vive... onde corre o verde rio! E depois adormecer na tua esteira de prata. batuque dos meus sentidos....... . morrer.Poesia d'Africa. Romance de Luanda Autor: Tomas Vieira da Cruz (1900/1960) radicado em Angola desde 1924 in Tatuagem . . a queimar minha desdita nas chamas do teu sorriso. Um dongo flutua na baia........ quase triste e indeciso.. 1942 Coqueiros esguios .. com que o céu a está vestindo.... onde quero..... Mulata da minha alma.... ..leques ao vento abanando a Ilha...... um preto atleta. Vai rompendo a madrugada! Canção Para Luanda Autor: Luandino Vieira Angola A pergunta no ar no mar na boca de todos nos: ..Nas águas verdes da baia calma.Luanda onde esta? silêncio nas ruas silêncio nas bocas silêncio nos olhos . jovem pescador e um brutal Cupido. caem pétalas vermelhas de uma linda flor de ónix! E o timoneiro. Um dongo flutua na baia. caem pétalas de sangue. ..é o Deus do Amor em bronze reproduzido! Nas águas verdes da baia calma. duma flor já desfolhada.Xé mana Rosa peixeira responde? . m'boquinha boa doce docinha" . ola almocoeee matona calapau ji ferrera ji ferrereee" . .seu corpo cubata! Seu corpo vendido viajado de noite e de dia. saltando os pes percorrendo caminhos vermelhos de todos os dias? "maboque.E voce mana Maria quintandeira vendendo maboques os seios-maboque gritando.Mano não pode responder o tempo é pequeno para vender! Zefa mulata o corpo vendido baton nos labios os brincos de lata sorri abrindo o seu corpo .-Mano não pode responder tem de vender correr a cidade se quer comer! "Ola almoco. Luanda onde esta? Sorrindo as quindas no chão laranjas e peixe maboque docinho a esperanca nos olhos a certeza nas mãos .Manos Rosa peixeira quitandeira Maria voce tambem Zefa mulata dos brincos de lata .Luanda onde esta? Mana Zefa mulata o corpo cubata os brincos de lata vai-se deitar com quem lhe pagar .precisa comer! ..Mano dos jornais Luanda onde esta? As casa antigas o barro vermelho as nossas cantigas tractor derrubou? Meninos das ruas cacambulas quigosas brincadeiras minhas e tuas asfalto matou? . caidos mostraram o coração: .os panos pintados garridos.mana Rosa peixeira quitandeira Maria Zefa mulata . Partiram-se as cordas esticadas pela vida. Chorei fado. Que importa hoje se o recuso: o ngoma é o som adivinhado! Cançao para Joana Maluca Autor: Joao Maria Vilanova Angola Para eles eras unicamente a suja a piolhosa colhendo beatas á porta do Nacional .Luanda esta aqui! Sons Autor: Luandino Vieira Angola 1963 A guitarra é som antepassado. Na escudela da noite entre cassuneiras e muxixis uma pobre escura flor adormecia. Joana eles sabiam tua mao e a temiam (tua mao espinho-de-piteira tua mao ngana-acusadora-mesmo ah! kikata kikata muene) ate quando estendida tua mao pedia.. Canção na morte de nga-Caxombo Autor: Joao Maria Vilanova Angola Olho nga-Caxombo ali na esteira deitado morto a todo comprimento Vejo-o caminhar sem descanso do Amboim ao Seles do Seles ao quipeio outra vez ao Seles rotas sem rota mato longe quem que sabia? .E lestos enquanto o sol brincava no ombro alcantilado das encostas seus rafeiros te lancavam de dentro dos quintais.. Tipoia o ombro pesava que pesava duramente Zua e voz de Kalandu voz serena do sertao ele a escutava atraves do fogo atraves da agua o geito sem raizes de amar o coração das coisas. ..Lei do Passe Autor: Tomas Vimaro Moçambique in "Terra do Alambique". ". .. É jornalista e tem publicações dispersas por jornais moçambicanos e portugueses. o qual foi escrito entre 1979 e 1984.Ai tem pequeno problema .atrapalhou-se a outra.É que não tem mesmo tampa. Olho-o pela vez ultima na luz rasante desse dez de Julho a barba ah monangamba cavada sua negra face morto deitado morto a todo o comprimento. nasceu em Inhambane a 6/5/1959.. 15 . Fez parte do movimento CHARRUA e "Terra no Alambique" é o seu primeiro livro. Mas minha senhora deve . V Capítulo Tomas Vieira Mario.. de seu verdadeiro nome. na atrapalhice das pressas.. o que é que pensa?! Se os chefes até são os primeiros no roubo! .. está a ver. . 1973. .. dessa maneira. tinha chegado primeiro e ficado com as tampas. na gargalhada. gelatinosa..Minha senhora. a Ancia outra vez de mãos nas ancas. é que não deu tempo. e a Ancia aproveitou para rir também. para apanhar as tampas. na fabrica.. . as tampas quem roubou o chefe!. não? Então acontece que no mesmo dia que apanhei estas panelas.Minha senhora.. para mais tarde lá voltar buscar então as panelas.apressou-se a considerar.Mas. para a questão da tampa . ela mesmo dizia isto rindo as gargalhadas. no seu espanto. por causa dos vigilâncias populares. o corpo lhe dançava. . Rota longa rota longa .." Rota Longa Autor: Teobaldo Virgínio Cabo Verde in "Viagem Para Lá da Fronteira".Então. o chefe da secção.divertida com a história..ter em sua casa panelas do mesmo tamanho.. admirada. Publicações da Casa de Cabo Verde Irei na rota branca da rosa de espuma na hora madrugada promissora da brisa.. São coisas que a gente tira lá mesmo na hora do despego. A sorte. naquela pressa toda. é que eu cheguei lá a tempo e então carreguei logo as panelas. minha senhora. como não tem tampa?! .E. Lisboa. Rota longa rota longa Rota longa de espuma vou irei espalhar minhas pétalas ressequidas na hora madrugada das correntes desatadas. Rota longa rota longa Vou irei sem detença para além das distâncias secas em busca do abraço ancorado na outra margem da curva líquida. Rota longa rota longa Vou irei na hora alta desta vigília e a manhã clara acontecerá. Rota longa rota longa Vou irei contra todas as cadeias protestantes do meu rumo em cada protesto que embarco na ondulação que se desatraca. edição AEMO 1989 O peso da vida! . O País em Mim Autor: Eduardo White Moçambique Do livro "O País de Mim".Irei com a pétala ressequida da tórrida paisagem para além das distâncias secas. Eduardo White colecção Timbila no 10. também. Caminho. a casa da concórdia. 1992 Página 17 . repete-o quantas vezes for preciso até dentro dele tudo durar e ter sentido Deixa nele crescer o sol até tarde. em carne viva. Lisboa. Assume o amor como um oficio onde tens que te esmerar. mas. Poemas da Ciência de Voar Autor: Eduardo White Moçambique do livro: "Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave". a da terra e que é a tua 2. não queria apenas esta vocação paciente do lavrador. repete-o até a perfeição. não queria somente rasgar-te a ferida. deixa-o ser a asa da imaginação. só nunca deixes que sobre para não ser memória.Gostava de senti-lo à tua maneira e ouvi-la crescer dentro de mim. "Uma mão relampeja na casa da escrita. Faísca Troveja. Procura um claro instante para a aparição. Pode-se ve-la correr pelo dorso do papel, deitada do seu lado ou do seu modo rastejante, pode-se ve-la provando o ruminante delírio das palavras, a sua rasante arrumação, e leva vozes aquela mão em cada delicada passagem, rítmica, latejante ou um nervo animal que faz lembrar a textura pedestre do papel. Mas a mão voa, explosiva, e não cai nem agoniza no espaço vibrante onde se comunica. Voar é um fervoroso recolhimento. E no que é quase a medida elementar do esquecimento a escrita navega num estuário de silêncio. Escrever é uma droga antiga, uma bebedeira que queima com lentidão a cabeça, traz as luzes desde as vísceras, o sangue a ferver nas vias tubulantes, traz a natureza estimulante das paisagens que temos dentro." Página 28 "Ocorre-me agora a pupila minúscula de uma criança. A sua engenharia desde o corpo na guerreira pequenez ao dedo provador da boca. Ocorre-me esta criança este monge da franqueza em seu templo de inocência. Amo-a. Vivo-a. Voar é poder amar uma criança. Sonhar-lhe o peso no colo, as mãos acariciantes sobre a palma da alma. Voar é tardar a boca na rosa do rosto de uma criança. Pronunciar-lhe a ternura, a seda fresca e pura da sua infância. Voar é adormecer o homem na mão sonhadora de uma criança." Sorrisos Mutilados Autor: Carlos Zimba Moçambique na revista "XIPHEFO", Dezembro 1994 "No meu país a (in)competência doentia mutila-nos o sorriso e nós teimosamente arranjamos muletas e sorrimos deitados à sombra da esperancà esculpida pela nossa paciência Coragem, gente pois galopa celere o instante em que sorriremos sem muletas!" Os Molwenes Autor: Isaac Zita Moçambique no livro "Os Molwenes" Com a mão estendida e bem aberta, a cega está sentada no chão de cimento e move sem descanso as pálpebras desprovidas de pestanas, pondo a descoberto, deliberadamente, as cicatrizes vermelhas que figuram no lugar dos olhos. Um homem idoso pára à frente dela, olha para as horríveis orbitas e mete uma mão no bolso de onde extrai uma moeda de prata. A seguir, fica alguns instantes a contemplá-la, indeciso, talvez pensando na alegria que com os seis bolos comprados com aquela moeda, poderia proporcionar aos netos quando chegasse a casa. Uma voz interior segreda-lhe que deve dar a moeda de prata porque é uma boa acção e lá no Céu, DeusTodo-Poderoso, além de aumentar os seus dias de vida, irá perdoar todos os pecados que cometeu, até mesmo aqueles que já tinha esquecido; outra voz, entretanto, diz-lhe que o melhor será comprar os bolos e fazer essa surpresa aos netos, que por essas e por outras, cada vez o adorarão mais. Por fim, evitando olhar para os olhos da cega, estende a mão e entrega-lhe uma moeda que ela, sofregamente, se apressa a guardar na capulana rota e suja, com uma rapidez inesperada numa invisual. Fascinado, o homem de idade permanece de mão estendida e agora vazia, comovendo-se quando a ouve balbuciar um doce "Obrigado", ecoando como o som cristalino da água a deslizar num regato celestial. Quando o homem se refaz do encantamento, já a cega estende de novo a mão e diz um novo - "Bom dia", continuando sempre a bater com as pálpebras sem pestanejar. O homem idoso recomeça a caminhar, pressentindo uma lágrima de emoção a querer soltar-se dos olhos e a voz de Deus-Todo-Poderoso a confirmar que os seus pecados já tinham sido absolvidos e prometendo, se ele continuasse a ser assim bonzinho, enviar mais cedo ou mais tarde, uma pomba direita ao seu coração. ... ... ... - Avô - consegui interromper eu, finalmente - Porque é que Deus é sempre branco e Satanás, sempre negro? É assim que o padreca ensina... O avô mostrou-se pela primeira vez perturbado e limitou-se talvez por isso, a olhar alternadamente para a pele negra que cobria os nossos rostos e mãos. Depois, levantando-se ruidosamente, apenas disse: Já vai alta a noite. Vamos dormir, meu filho... Morte em Dois Actos Autor: Mauro Pindula in Jornal Savana, 6/06/1997, Página Juvenil "Estacionou o carro junto à calçada. Saltou e com dois passos ágeis entrou no edifício do jornal "NOTÍCIAS". Dirigiu-se ao sector de publicidade e preencheu o formulário que encontrou no balcão. Era um texto necrológico. Humedeceu os lábios e disse: - É para dois dias. - Traz a foto? - perguntou o balconista. Era grisalho e baixinho. O homem que queria anunciar mexeu na sacola preta de couro e tirou de lá uma foto nítida. Arrastou a foto pelo balcão e o grisalho recebeu-a. Não pôde deixar de abrir os olhos: era a foto do próprio homem. Entrou silenciosamente e inspirou o cheiro a sândalo. Era reconfortante. Atirou a sacola preta de couro para o chão da sala. Foi buscar café à máquina, sentou-se no sofá e ligou a televisão. Deixou o café a meio e trocou-o por um uísque. Entretanto soou o telefone. Levantou o auscultador e ouviu uma voz rouca e feminina. Já sabia que não precisaria de cerimónias: - Jantas comigo? - Não sei... A voz do outro lado calou-se. - Sinto-me algo desestruturado, sabes..." Stress Autor: Lilia Momplé inteiramente preenchido pelo Xirico e pelo copo de cerveja. sem desviar os olhos do homem "toda a tarde vai beber". E. um local sombrio. na enorme sala comum que poderia ser alegre e arejada. maples de veludo e pesados cortinados. É. aquele olhar resvalante a exclui do seu campo de visão. É domingo. Até mesmo a poeira parece circular na sala agitadamente. procura escamotear de si própria o motivo real da sua indignação. recostado na cadeira de napa meio encardida. alcatifas. "Bêbado". Almoçou sózinha. Consegue vê-lo perfeitamente. nº 3. O homem vai beberricando a cerveja com uma sofreguidão mal contida. abril/junho 1997. Xirico na mesinha ao lado. bibelots de metal. p. ansiosa por se libertar de tamanha ostentação. indignada: "bêbado". Autor: Simeão Mazuze in "Calças Molhadas". 30 . dadas as suas dimensões. como sempre. tal a profusão de mobiliário de precioso e escuríssimo jambire. Por um instante. pórem. repete ela. copo de cerveja na mão. p. a atenção centrada no copo e no Xirico. 7 A amante do major-general crava os olhos no homem que está sentado na varanda do 2o andar mesmo em frente e sibila.in "Lua Nova". a amante do major-general vem até à varanda que dá para a rua. com estas palavras. órgão da AEMO. a amante do major-general supõe que ele dá pela sua presença mas logo se apercebe que. a cor branca das paredes e a ampla porta envidraçada que comunica com a varanda. e como acontece todos os domingos a esta hora. 090 a vermelho. Relanceando o olhar em volta. .redarguiu.Você bateu para perguntar isso? Donde vem você? Não é deste pavilhão concerteza. . está na cela 0303 a conversar com os amigos dele. senão saberia que o Mussava se não está na cela dele o No.Obrigado senhor. só queria saber onde encontrá-lo...Uma voz rouca e baixa convidou-o a entrar. desapareça. Picasso . Não queria incomodar. . lia-se num dos cantos a mercadoria que transportara.Já disse. Empurrando a porta assomou para o interior da cela e abarcou a imagem de um homem deitado sobre um catre de ferro sem colchão coberto com retalhos de cartão. Não é aqui a cela do senhor Mussava? . notou por cima daquela porta estava pintado o No.Boas tardes. Surpreso por não ver o amigo apesar de ainda em paralelo se encontrar outra cama nas mesmas condições. timidamente balbuciou. senhor. Tinha-se enganado. a curtir uma de "jell" e aparece um estupor de preso para incomodar e ainda diz que não queria incomodar! O Tomás boquiaberto retirou a cabeça e respirando fundo fechou a porta. . . restos duma embalagem de acondicionamento de chá.. 0990. "Five Roses Tea".Já viram isto! Um gajo está a descansar nesta merda fedorenta.. Três homens que ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Só coisas reais. Tu. Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique . o qual é mais conhecido como cantor Página 8 ". a coisa passava-se em Portugal. Era o quadro do nosso camião. fielmente pintado.Picasso fez o teu retrato. 1996. meu amigo! . .Autor: Simeão Mazuze (Salimo Mahomed) in "Calças molhadas". . Uma cabeça que avança no espaço e de cima de um camião.O meu retrato? Perguntou Roberto. exacto como uma foto." O Macaco e o Cágado Do livro "Contos Macuas".Parecidíssimo. mas não compreendi o que ele queria representar.. . tal como estás agora no camião.O quê? Não oiço nada. Pinta como se fotografasse. Tenho os ouvidos tapados. o .coordenação de Elisa Fuchs -ilustrações de Malangatana "O macaco e o cágado fizeram-se amigos.. o outro três cabeças.O teu retrato . e eu não tenho senão a cabeça falta-me o corpo.. gostei muito.repetiu. É um génio. Não lhe escapou um único pormenor. mas não tens a boca... Quando vi pela primeira vez este quadro. Certo dia. 1992. Um tem cinco pernas.. tu tens a voz... E só agora começo a perceber. edição do autor. É o retrato do nosso camião. mataram um galo. mas antes pediu ao macaco: . dá-me as minhas ferramentas para me ir embora. o macaco foi a casa do amigo. O macaco foi ao poço com a sua mulher. O cágado respondeu: . vamos lá comer a echima.Não há água. O cágado saiu e foi a casa do seu amigo.Está bem.Hei-de ir na próxima semana . Tentou subir.pensou o cágado. Quando lá chegou. Quando lá chegou. fez echima. O cágado deitou fora a água das panelas e disse para o amigo: .macaco disse: .Ah.Quando é que vais a minha casa? . perguntou ao macaco: . vem a minha casa. Quando estava para sair. . o macaco matou um galo. mas não conseguiu comer a echima! Por fim resolveu ir para casa.Amigo. pô-la na mesa e disse: .Amigo.disse o macaco. o meu amigo pôs a echima na mesa sabendo que eu não consigo subir? . mas podes lavar as mãos no poço. tentou. Na semana seguinte. fizeram echima.Amigo.Está bem . . Lavou as .respondeu o cágado. Tem cuidado para não as pores no chão quando voltares. Depende. . O cágado tinha queimado todo o capim à volta da casa e havia muita cinza.mãos e começou a andar só com duas patas. Maputo ".farinha de milho cozida A Guerra dos Cem Anos Autor: Carneiro Gonçalves. Fez isto tantas vezes que acabou por desistir. Foi com a sua mulher despedir-se e pedir as suas ferramentas. o macaco não aguentou mais e pôs as mãos no chão ficando com elas todas sujas.Pode não ser mau. .Ser mulher e ter um amante é mau? Para ganhar tempo o homem sentou-se. 1990. O adulto soergueu-se. Quase ao chegar. remexeu na areia." echima .disse a criança . .Bem . apoiado no mesmo braço. Global. in "Contos Moçambicanos". A partir daí o macaco e o cágado nunca mais voltaram a ser amigos. Teve que voltar ao poço para as lavar de novo.refiro-me ao caso de a mulher não ter marido .Mas pode não ser mau? . .Brasil/Livraria Universal.Ouve .disse a criança. . .Depende de que?? .voltou a criança.Talvez não entendas. . gosta muito dos dois .Sim. És um tipo simpático. vamos ficar amigos.insistiu a criança. . E logo a seguir: . .Não tenho duvidas.Assim como . Pergunto para saber. . e foi então que rompeu a chorar.. ." António CARNEIRO GONCALVES apresentava-se assim: "Tenho trinta e um .Olharam-se bem nos olhos.De certeza? .disse o homem. .me que tens razão.disse o adulto .. . . .Calha bem . vais beber uma laranjada comigo.Vai à merda.repetiu o adulto. .Depende .Estou cheio de sede. Tenho dez escudos. .Bem.Desculpa.Mas de qual gosta mais? . Eu é que quero saber.Gosta-se sempre mais dos filhos.Parece. percebes? Isto não tem nada a ver com a minha mãe.De muitas coisas. encontrei-a depois no futebol de quinta-feira. Lá virá o dia. roçava-se nas nossas pernas. A gazela olhava os nossos abraços. como costumam os homens gostar das mulheres. 1980 Eu conhecia Noémia há muito tempo. vi a luz do dia em Braga.. Lá falei aos pais . com força. No quintal havia uma árvore e uma gazela. Morreu num acidente de viação. Faço questão de conhecer o Zambeze. ela disse que sim. assim a modos de paixão.p." Não alcançaria o Zambeze. Depois comparou-me ainda a um rio (isto mais tarde). 29-30. outro domingo.. com 33 anos. Ontem ia mesmo na primeira pagina.anos. engasguei-me ao princípio. Uma vez ela até confundiu o roçar da gazela com uma caricia minha e disse "isso não.. Mais uma saída.. Ensaiei 1 romance que reescrevi várias vezes. Ri como um perdido. Vi-a pela primeira vez à saída da igreja e comecei logo a gostar dela. A Lua do Advogado Autor: António Carneiro Gonçalves in "Contos e Lendas". Instituto Nacional do Livro e do Disco. Depois veio aquela coisa difícil. publicado a seguir à sua morte em 1974. Só costumávamos dar beijos à noitinha. quando viajava para o Zambeze. aquele momento chato de que nenhum homem gosta. mas nasci em Tête. que eu devia ser franco como um rochedo. isso não". Com os contos que tenho poderia pelo menos publicar 2 livros. não voltaria ao romance nem assistiu ao lançamento do seu livro "Contos e Lendas". que eu tinha a impetuosidade dos rios. segundo se comenta. àquela hora em que nos costumávamos dar beijos. à tardinha. Ela disse apenas "aqui não". horas a fio..). mordi-lhe os ouvidos (devagarinho. rapariga que eu conheço bem. Ah! carago. 44 "Estes foram no momento imediatamente anterior às eleições. Uma vez..a alegre. quando calhava. Faltava um mes para o casamento. Noemia ia jantar a casa duma amiga. no quintal. isso não" como tinha acontecido da outra vez. a Luisa. respondia. fiz-lhe aquela festa que costumava fazer a gazela. a festa. já se vê. p. Nos sábados. lembro-me bem. ela esperava-me cá fora. eu fui franco como o rochedo e impetuoso como o rio. O resto. que sim senhor.dela. Organização Nacional de Jornalistas. a nossa mesinha de cabeceira. seguidinhas. capítulo "Candongas e Açambarcamentos na RDA". eu ouvia. a boda". disse-lhe muitas vezes que a felicidade de um homem está no verdadeiro amor. Ela disse "aqui não". Recordo. Era sábado.. a tal talhada de que falava o advogado. Merda para as amigas. A lua já tinha nascido. ela "tenho mais uma renda. Eu disse-lhe não sei quantas coisas. eu gostava dela a valer. Autor: Hilário Manuel Eugénio Matusse jornalista e escritor nascido a 22 de Junho de 1956 em Maputo in "Ecos da RDA".. que eu era honesto e bom rapaz. Abraçamo-nos. Formando enormes bichas . Eu estava aturdido. os senhores sabem como é. que ela não disse "isso não. posso dizer sem mentir que me comoviam os trapos que ela comprava todos os dias e me mostrava sempre. protagonistas de um fenómeno de açambarcamento nunca visto por ali. como desta vez. eles adquiriam tudo o que é caro e raro. p. produtos que habitualmente ninguém olhava para eles.nº 1. alcatifas. penetra também por um enorme vazio. chegara a ter o dinheiro para comprar aquele zinco. há duas razões para este fenómeno: para os géneros alimentícios o problema está ligado a rumores de que o Governo vai retirar proximamente. Pelo que se pode depreender das informações que então correram.. pois adquirindo esses artigos todos guarda-se o dinheiro. de forma a reinvesti-lo em momentos mais adequados e quando as coisas já estiverem claras. os subsídios aos preços desses produtos. electrodomésticos dos mais variados tipos e até de carácter supérfluo. deixado por um zinco que sempre faltou. o quarto do madala Adalfredo costuma não aguentar muito calor.nos maiores estabelecimentos comerciais. optara em comprar bebidas no candongueiro. 9 . São os casos de televisores a cores e vídeos. No que se refere aos móveis e a outros artigos valiosos..Jovens pela literatura . Adalfredo Faz de Tudo. E tudo isso era comprado em grandes quantidades. após as eleições.publicação regional propriedade da AEMO e financiada pela Cooperação Francesa Toda a vez que chega o Verão." A Viagem de Adalfredo Autor: Mapfuxa-tô-tala in "Oásis" . O sol do meio-dia. trata-se de se precaver da união monetária e suas consequências. além de se derreter no zinco que protege a mesinha de cabeceira. mobílias e também produtos alimentares. de seu nome completo. . mas porque quisera apressar a inauguração da casa. a sombra abandona-lhe. . e parece-se com ele quando encurvado com a bengala. desde o dia que viu Das Dores passar pela esquina do Muchina. Lembra da Maria Das Dores. arrombou a sua porta e indicou-o aos milícias: . a única mulher que já adorou de verdade. retomei a caminhada. Mas. aquelas tetas ainda verdes que saltavam a corda. a localidade mais próxima era Inchope e situava-se a cerca de 180 km. a sua vista mergulhou-o na escuridão. nas quais tive dúvidas em as ultrapassar. 9 Do local onde estava. Como que há-de sentir? Os olhos roubaram a mente e foram ficar lá. aquele stapor. Para tal tive que pedir uma ajuda divina fazendo uma oração. O calor aperta o passo. que Adalfredo estende-se horas e horas na sombra da bananeira. mas Adalfredo não sente a careca a transpirar. havia duas grandes elevações (subidas). com braçadeira castanha-amarela e nariz impinado. Perdeuse na noite em que Macuácua. Lembra do dia do lobolo que ficou com dívida de duas capulanas de chita. E a mente começou a levá-lo para viajar na boleia dos tempos em que a sua careca ainda curtia na juventude. p. no infinito. Maria Das Dores perdeu-se no tempo. onde ele vendia dobrada. Lembra de tudo.Ele é desempregado! Viagem em Bicicleta em Moçambique Autor: Emídio Mabunda Moçambique in "Viagem em Bicicleta em Moçambique". bastava Das Dores andar depressa.Agora a casa sofre de dores de coluna. É por causa desse sol do meio-dia. Cansado de ficar distante. aqueles rapoios de fazer inveja. mais adiante. Assim mesmo cheguei num quartel e apresentei aos soldados. a bicicleta ia sempre subindo. Então os soldados levaram aquelas coisas da base e eu fui levado para Inhambane. soprava um vento quente que me empurrava deixando assim de pedalar. cheguei a Inchope onde hospedei na Administração.me procurar a agura. Vozes do Sangue "Eu sou José Zefanias Machava. só andava de qualquer maneira. Fui lá com a tropa. Depois de matarem o meu pai me exigiram para mostrar os amigos dele. abandonei a lata e fugi. Era em Sinhavuro. Deixaram-me assim mesmo a sangrar e foram embora. Agora a minha missão era andar a procura de água e de lenha. Não sabia onde ia. Eu disse que estava a fugir dos bandidos. mas esperei um ano até ficar bom. Galgados estes dois monstros o vento que fazia sentir sobre mim parou.Quase a atingir a metade da primeira subida senti nas costelas algo de estranho. investigaram-me até . Tornaram-me a perguntar dos amigos do meu pai e eu repeti a dizer que não sabia. Depois de acabar esse ano. Eu aproveitei. Ai zangaram mesmo e cortaram-me uma orelha. Acabaram-me quatro dedos e eu a dizer que não sabia. no ano a seguir fui raptado pelos bandidos. aprendi a desmontar arma e a montar. Eu disse que não sabia quem eram nem onde estavam. Investigaram-me. província de Inhambane. Logo aqueles soldados disseram para eu ir mostrar onde era. Encontramos só uma pessoa. O meu pai era um miliciano que os bandidos mataram quando chegaram a minha casa. Quando me pegaram começaram a perguntar de onde eu vinha. Tenho 14 anos e sou natural de Massinga. Treinei lá na base. assim continuei pedalando todo espantado pelo milagre feito por Deus. Um dia desses mandaram. que mataram. Então eles cortaram-me um dedo para eu falar. Consegui curar com remédios tradicionais. Maputo. financiamento da ASDI. Maria. e UNICEF. Ilha de Moçambique "Queres mesmo saber quem eu vi chorar? Foi ali. saltou e logo tossiu Ei! Já chega meu primo Tomé Acabei de lavar agora o meu pé" 2. primo Tomé Quero ver como dança o jacaré Ah! o bicho a água engoliu deu a volta. Autoridade Sueca para o Desenvolvimento Internacional.Vol.Cancioneiro . Ilha de Moçambique "Eu. Vivo bem aqui.me aqui para o Centro de Lhanguene. Edição Tempografica. Edição do Inst. A dança do jacaré. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Vamos Cantar. 1981 1. ao pé do jardim Eu vi uma árvore tão triste . toca bem.enviarem. Crianças in "Vamos Cantar.1. fui lavar os pés lá no rio onde mora o jacaré Paro e vejo: quem vem dançar? É mamã que traz o Tomé p'ra tocar Toca. A árvore que eu vi chorar. Crianças" . Já estou a estudar na 2ª classe. Recolha e tratamento de texto de Eduardo White e Helder Muteia. Nacional do Livro e do Disco." O livro "Vozes do Sangue" reúne depoimentos de crianças que foram vitimas de atrocidades da guerra em Moçambique. Porque chorava tanto chorava assim.(Tête) "Ouçam o que eu vou contar ouçam o meu cantar Saia todo o dia a levar o gado para pastar via também Maria que logo cedo ia machambar Enquanto o boi mugia eu via Maria com atenção . O passarinho e os outros animais . Maria Alegria . sem mais fim Só não sei quem a fez chorar Como a vi posso recordar Tinha um largo tronco.(Cabo Delgado) "O elefante o elefante passeia o passarinho que lhe tira todos os bichinhos A palapala a palapala passeia o passarinho que lhe tira todos os bichinhos O crocodilo o crocodilo passeia o passarinho que lhe tira todos os bichinhos O passarinho o passarinho voa bem baixinho come muito e volta para o seu ninho" 4. folhas verdes e uma sombra grande uma sombra assim sem mais fim" 3. pentalido. quem não quer.e só queria Maria Alegria morando em meu coração Mais uma vez o galo cantou bem cedo p'ra me acordar mas eu não vi Maria que com João fora se casar Não vou chorar sim vou cantar Não vou chorar sim vou cantar" Um Epidécio ao Escritor Maconde Autor: Stefan Florana Dick texto escrito após o assassínio de Grandal Nkepe numa das barracas de Maputo in revista Lua Nova. não hei-de o conseguir ler. Tens inveja de mim.Caguei para ti. Merecia a gaveta por cinco a dez anos. Lixem-se. e só depois de lido. que não leia. vens a mando deles denegrir a minha escrita. treslido. . relido. e mesmo que venha a fazer esforço a mais. não consegui ler CASA DE JUSTIÇA. tetralido. porque consegui singrar ao lado desses filhos da mãe que se acham donos de literatura. nº 4. Stefan. E ficas a saber: o meu livro é um sucesso. mandaste-me à fava e: . E tu com a mania de que és amigo desses cágados. fui um dos mais corajosos que te disse cara-a. E tu. é que podias ter a ousadia de o mandar publicar. por ti próprio. cheio de copos na cabeça. Este livro é uma merda que não devias publicar agora.cara: . Quem quer leia. 18 "Se não estou em erro. p.Nkepe. Já não tens maçada de aturar professores chatos que te faziam vida negra na Universidade. como tu próprio tinhas essa certeza. Morreste." Filhos da Miséria Autor: Joaquim Falé Moçambique Pedaços de fundo vagabundo buscando no lixo um mundo perdido fugindo de tudo sábios esquecidos nunca arrependidos Vinde ó ilustres da miséria a nossa hora está chegando recompensa merecida estamos num canto fechados vingando o passado somos o lixo por este ou aquele motivo Levantemo-nos Irmãos! Derrotemos a Razão vão-se desviar de nos vão escutar bem alto a nossa voz rosto aberto de encontro aos mascarados somos flores do Inferno crescemos num deserto açoitados pelo vento noite e dia enfeitiçados pela morte desejados somos cinzas somos restos despojos amordaçados corremos mesmo parados não fujimos quando somos olhados Esquecidos pela esperança vagueamos na escuridão almas desertas abraços de solidão entre as pedras adormecemos companheiros na ilusão somos pássaros da noite artistas com vida de cão .. os outros escritores que achavam que a tua literatura era de dó menor. quer não.. E lá no subsolo ou no céu. descansas em paz. quer queiram. hão-de ler os teus livros. Os vivos. os alunos que se riam do teu ar boémio nas escolas onde eras professor part-time. e serão obrigados a admirar-te pela coragem que tiveste em publicar aquilo que te ia na alma e no pensamento.. Morreste. Não temos capas de vergonha não disfarçamos o medo sentimos o desespero não trocamos de lugar não nos podem dominar já mortos nos hão-de lembrar enquanto vivos vão-nos evitar Está-nos reservado o fel sabemos porque pagamos o preço da liberdade fugindo do tempo não temos idade amantes sedentos conquistamos cidades Brincamos como crianças num jardim de terceira idade fingimos ser apenas uma flor no paraíso vingamo-nos da memória bolsas vazias perdidas no Infinito Vestimo-nos no escuro de amor e desespero saímos noite adentro buscando alimento . Jornalista e analista político. José CRAVEIRINHA José João Craveirinha nasceu a 28. é actualmente biólogo e um dos escritores moçambicanos mais conhecidos no exterior. Foi jornalista com funções de chefia no diário "noticias" e Agência de Informação de Moçambique. com livros traduzidos em diversas linguas. 1962. Jornalista com o pseudónimo Mario Vieira. Carlos CARDOSO Nasceu a 10. Portugal. "Estrangeiros de Nós Próprios" é o seu terceiro livro publicado. Mia COUTO Pseudónimo de Antonio Emilio Leite Couto. Moçambique. voltou a Portugal em 1984.1922 em Maputo. Publicou Direito ao Assunto em 1985.03.1951 na Beira. Professor e jornalista. Os anteriores: "Espelho dos Dias" (1986) e "O Hábito das Manhas" (1990). nasceu em Braga. nascido a 5. o qual viria a retirar da sua biografia. atleta e . Continua activo como jornalista. Moçambique. a 11.1940. a 28 de Dez.05. Prêmio de jornalismo investigador em 1987. publicou Poesias em 1965. escritor. João ARMANDO ARTUR Nasceu na Zambézia.Dados Biográficos Sebastião ALBA Pseudónimo de Dinis Albano Carneiro Goncalves.07. O Ritmo do Presságio em 1974 e A Noite Dividida em 1982.1955 na cidade da Beira.08. Radicado em Moçambique a partir de 1950. Depois de uma adolescência bastante vagabunda. tem numerosas obras publicadas e recebeu alguns prêmios literários. Foi preso pela PIDE/DGS de 1965 a 1969 por fazer parte da Frelimo.08.cronista. Rui KNOPFLI Rui Manuel Correia Knopfli nasceu a 10. foi um dos elementos mais activos da então Lourenco Marques. colaborou em várias revistas e jornais moçambicanos e portugueses. Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Coimbra. teve que sobreviver. É de nacionalidade portuguesa com alma assumidamente africana. "Casa da Justiça" foi o seu primeiro livro. Rafael KNEPE Rafael André Luis Grandal Nkepe nasceu a 10 de Maio de 1958 em Muidumbe. Nangololo.Poeta. e altura em que se estreou na literatura. romancista e dramaturgo com numerosas obras publicadas. Orlando MENDES Orlando Marques de Almeida Mendes nasceu na Ilha de Moçambique a 4. província de Cabo Delgado.08. Deixou Moçambique em 1975. Desempenhou (é possivel que ainda assim seja) funções na Embaixada Portuguesa em Londres. Com diversas participações na imprensa escrita moçambicana. da qual foi assistente. Malangatana NGWENYA Malangatana Valente NGWENYA nasceu a 6 de Junho de .1916. Poeta. Colabodor de jornais e revistas de diversos países. editado em 1994. jornalista. entre outras actividades. crítico literário e de cinema.1932 e fez os seus estudos na Africa do Sul. Tem colaboração dispersa por varios jornais e revistas e publicou alguns livros. Professor durante 2 anos.02. 8ª e 9ª classe quando morreu. freqüentava o curso de Professores de Português para as 7ª. Publicou Os Molwenes. a 17. artista multifacetado.1936 em Matalana.1961. Malangatana. teatro. com apenas 22 anos. dança. é grande animador sócio-cultural e vê erguer-se presentemente o sonho de construção do Centro Cultural na sua aldeia natal.1983. que canta. Representado em inúmeros museus e colecções particulares em todo o mundo. . Isaac ZITA Isaac Mario Manuel Zita nasceu em Maputo a 2. faz poemas.07. Moçambique. Produziu uma vasta obra no campo da pintura e é hoje um dos mais notáveis artistas africanos. cerâmica e escultura. org].com *** pdf: eBooksBrasil. Todos os direitos de versão para RocketEdition® renunciados.org — Maio 2008 .org/ebooks] e Teotonio Simões [
[email protected] Rovuma ao Maputo" [http://nicewww.ch/~pintopc/www/africa/africa]mantida por [Carlos. editorado para RocketEdition e.ch ] que você está cordialmente convidado a visitar.teotonio. Autorizado o uso e reprodução apenas para fins educacionais.Pinto-Pereira@cern. todos os créditos identificados.ebooksbrasil.cern. Foi preparada a partir de texto público localizado em "Autores Africanos .Esta RocketEdition® é de inteira responsabilidade e iniciativa de ebooks@TeoCom [http://www. mencionados e explicitados. Todo conteúdo original foi preservado. RocketEdition® setembro de 1999 www.