PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA PUC-RIOO EVANGELHO SEGUNDO A CEGUEIRA DOS HOMENS: UMA ANÁLISE DO DISCURSO LITERÁRIO DE JOSÉ SARAMAGO SOB A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO- FUNCIONAL E DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO ODETE FIRMINO A. SALGADO ANTEPROJETO DE TESE DE DOUTORADO DEPARTAMENTO DE LETRAS Programa de Pós-graduação em Letras Estudos da Linguagem Linha de pesquisa 4 Discurso, práticas cotidianas e profissionais Edital Seleção 2016.1 Rio de Janeiro Novembro de 2015 0 ........................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................................... METODOLOGIA ................................................................................... 14 1 ...................................................... OBJETIVOS E PERGUNTAS DE PESQUISA ............................................................................................................. 13 6.............................................................. 1 2..................................................... FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................Sumário 1........ TEMA........................................................ 5 3............................................. 5 4.. 14 7...................................................................................................... JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................................................................................... 12 5............ CRONOGRAMA ................................................................................. 108). em um contexto escolar. Saramago não só refletia sobre o seu país. é solicitar “seminários sobre autores e obras cujo cronograma igualmente segue a linha do tempo da história da literatura nacional e a do antigo colonizador etc”. com temas de interesse da turma e com gêneros requeridos pelo contexto social dos alunos? Saramago foi um autor politicamente engajado. TEMA. p. Uma das práticas mais comuns no trabalho com literatura. mas sobre toda a civilização ocidental. buscando-se quantidade e diversidade de gêneros. segundo Rezende (2013. mas como a produção de significados que abrange questões ideológicas. esse trabalho se insere na área da Linguística Aplicada. a saber. envolvido em polêmicas ainda contemporâneas e premiado como escritor de destaque. Mais especificamente. 2011). em duas de suas obras. p. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO O presente trabalho tem como foco a análise do discurso literário1 a partir de uma perspectiva sociossemiótica de linguagem. “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Cegueira” para que esses textos possam ser trabalhados de forma crítica e reflexiva no ensino de literatura. O autor também foi o primeiro (e até então o único) escritor de Língua Portuguesa a vencer o Prêmio Nobel de literatura em 1998. um dos maiores escritores da Língua Portuguesa. acredito que a teoria linguística pode subsidiar a entrada desses textos na escola para um ensino crítico e reflexivo. observando a interação desses textos com seu contexto social para criação de significados. Por que (de)limitar o estudo da literatura a uma determinada linha do tempo e não trabalhar com autores variados. o discurso literário é uma prática social que constrói representações e relações em uma mensagem textualmente organizada. 1 . Toda a relevância da obra do autor está. contudo seu destaque o fez ser escolhido para a homenagem. se faz necessária. Cosson (2014) 1 Compreendo discurso literário aqui não como a designação do fenômeno literário. atualmente. ou seja. em meu entendimento. pois propõe uma investigação de cunho interdisciplinar (MOITA LOPES. Desse modo. pensava sobre suas bases de pensamento judaico-cristãs e questiona o próprio homem. a ênfase no ensino de literatura deve se dar na leitura. Segundo Krause (2013. observando a construção de sentidos produzida pelo autor. a reflexão crítica sobre sua obra. esse projeto de escrita se articulava fundamentalmente com um projeto de vida. apesar da aparente complexidade das obras do autor. doravante LA. considerada a premiação mais importante em Língua Portuguesa. Desse modo. ou seja. “nos ensinos fundamental e médio. p. contudo pouco aparece em programas escolares e livros didáticos. 19). Desse modo. Este anteprojeto também visa contribuir para as reflexões acerca do ensino de literatura. Segundo Pereira (2011. que. se pauta em um ensino histórico e cronológico de escolas literárias. a análise do discurso de José Saramago (1922-2010). neste anteprojeto. como também. autores e nacionalidades”.1. o que justifica a escolha por José Saramago que é de nacionalidade portuguesa. proponho. o autor não só realizou um projeto literário extremamente bem arquitetado. 101). José Saramago foi vencedor do Prêmio Camões em 1995. na ampla reflexão crítica que fez sobre todos os temas que se propôs a escrever. contextuais e a própria materialidade do texto literário do autor. Saramago foi contemporâneo de outros grandes escritores. Em 1992. Saramago se coloca como um ateu combatente e utiliza seus textos para refutar a ideia de Deus. na diversificação dos gêneros a serem trabalhados. a obra foi impedida de representar Portugal no Prêmio Literário Português. em um paralelo constante com o humano. eu questionava o motivo de a escola não apresentar essas e tantas outras obras. p. De acordo com Dalvi (2012. 37-38). em entrevista concedida a Eduardo Mazo em 2002. toda obra de Saramago “volta-se contra Deus. 2013. no banimento da descontextualização das obras. Segundo Krause (2014. portanto. Segundo Ferraz (2012. Em romances anteriores o escritor já mostrava que Deus era um de seus grandes temas. Isso corrobora a afirmação de Ferraz (2012. 2010. pois permite aos alunos uma reflexão crítica sobre obras contemporâneas. dentre outras estratégias. pois os dois marcam períodos bem distintos da obra de José Saramago. 18). observando não apenas as representações de Deus. mostrando que “no ensino médio o ensino da literatura limita-se à literatura brasileira.corrobora essa afirmação. como livros paradidáticos. Escolher os livros em questão também se justifica. Meu interesse em trabalhar com a obra de José Saramago também advém de uma motivação pessoal. na construção de análises comparativas em um olhar intertextual. o escritor português dedicará boa parte de sua obra a questionar o caráter de Deus. características de um autor e a história. na incorporação de contribuições teóricas. de autores variados. em termos metodológicos. p. isso se traduz. p. Tal análise é importante para o ensino. ou melhor. que decide deixar o país e se exilar em Lanzarote. na época do Ensino Médio. 2014). por exemplo. 2 . Em geral. que foi meu encontro com seus textos ainda na graduação. reconhecendo a importância desse tema para sua escrita. Uma proposta de que enfatize a leitura dos textos em sala de aula recupera o contato do aluno com a obra de ficção (ZILBERMAN. a disciplina que é responsável pelo ensino de literatura acaba por distanciar o aluno do contato com a materialidade do texto e com o estudo dos gêneros para. que proponho ampliar neste anteprojeto. a análise crítica do texto é posta de lado e os alunos leem as obras em casa. p. na Espanha. à história da literatura brasileira. em que o contato com a literatura é obrigatório. 226). Esse encontro com a obra de Saramago motivou minha pesquisa sobre as representações de Deus em “Caim” sob a perspectiva da Linguística Sistêmico-Funcional. ensinar estilos de época. Lendo-os pela primeira vez. que Saramago ratificou sua crítica antirreligiosa. p. mas também a representação do homem e como o autor constrói significados em seu discurso a partir de recursos avaliativos em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Cegueira”. Em minha opinião. Sendo assim. disse que “sem Deus sua obra ficaria incompleta” (AGUILERA. O próprio autor. 250).126). me interessa contrastar como o autor constrói sentidos para representar o divino e o humano. mas foi com a publicação de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. suas avaliações e as possíveis ideologias que permeiam esse discurso. quase como apenas uma cronologia literária”. p. desenvolvida no Mestrado na área de Linguística na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (SALGADO. em 1991. muitas vezes. marcando ainda mais a polêmica em torno do autor. 23) que indica que Deus é um tema estruturador da obra de Saramago. depende de Deus”. visto que essa teoria concebe a linguagem como um sistema de construção de significados (HALLIDAY. o Sistema de Avaliatividade (MARTIN & WHITE. p. Sendo assim. Além de observar como os atores sociais são representados no texto de Saramago. os significados construídos pelo autor em seu discurso literário estão intimamente ligados ao contexto de produção e circulação da obra. 1996. é pertinente observar também se a cegueira dos homens. p. faz-se necessário uma análise dos recursos avaliativos que expressam as emoções. Em resumo. portanto. 1994. explorando a relação do homem com o absurdo. 3 . Também. me interesso pela relação homem/Deus nas obras. voltado para a construção de romances que tentam compreender o que significa ser humano. com este livro Saramago começa um novo momento em sua escrita literária. ou seja.. Sendo assim. M. em “Ensaio Sobre a Cegueira”. HALLIDAY. Para analisar as representações. portanto. M. 1996). de 1995. além de como o autor constrói sentidos para representar e avaliar o homem. 2004) que é responsável pela representação das experiências sobre o mundo. Para fazer uma análise contrastiva com “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. uma tendo como foco o divino e seu relacionamento com o ser humano. por meio de suas escolhas lexicogramaticais e recursos atitudinais/avaliativos utilizados nas duas obras em questão. (HALLIDAY. que pode ser observada por meio do posicionamento tomado por cada ator social. pretendo observar como o autor representa Deus e o homem. 1997). à Metafunção Ideacional da LSF (HALLIDAY. já que a temática do divino é um tema estruturador da obra de Saramago. em que. doravante LSF. afetos. com o próprio isolamento do mundo moderno. & MATTHIESSEN. a cegueira da razão – mote do livro mais recente – não seria uma metáfora para atacar a crença em um Deus. ligando-se. de acordo com a autora (2012. & MATTHIESSEN. C.. Sendo assim. É interessante observar que a relação homem/Deus também aparece em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Em suma. C. EGGINS. ao analisar o discurso de Saramago. o texto só acontece em seu ambiente social. 2004. & MATTHIESSEN. THOMPSON. C. a temática sobre Deus não é privilegiada. com o desconhecido. 1994). pois o texto é a própria linguagem em uso.. que tem como ponto de partida categorias sociológicas com o objetivo de mapear a linguagem enquanto utilizada com o propósito de representar. 21-22). Por isso. e a outra tendo como foco o ser humano e seu possível relacionamento com o divino. M. pretendo observar. como Deus é possivelmente representado e avaliado. proponho como suporte teórico para minha pesquisa a Linguística Sistêmico-Funcional. segundo Ferraz (2012. 2004. proponho o embasamento teórico da rede do sistema da Representação dos Atores Sociais (VAN LEEUWEN. trago a obra “Ensaio Sobre a Cegueira”. 21). compreendo o discurso literário como uma instanciação das possibilidades de representação e de troca organizadas na materialidade do texto. opiniões e engajamentos. 2004. visto que Saramago constrói o relacionamento entre um Jesus humanizado e o próprio Deus. 2005) oferece o suporte junto à LSF (HALLIDAY. Entendo que a análise do discurso literário de Saramago deve assumir uma perspectiva sociossemiótica de linguagem. por meio da análise textual. o que torna mais produtiva uma análise contrastiva das obras. Contudo. pela falta de estudos na área de LA que se debrucem na análise de discursos literários. Sendo assim. 1992. O que não pode é viver fora da ideologia. que ainda é pouco explorada pela LA. 4 . ou seja. ainda. p. 184). se toda literatura é engajada. 1996) e ao Sistema de Representação dos Atores Sociais (VAN LEEUWEN. 1997) para que a análise seja empreendida. em entrevista a Juremir Machado da Silva em 1989. segundo Saramago. 1999. talvez. doravante ACD. FAIRCLOUGH.” (AGUILERA. 2004. Também considero. 1989. do Sistema de Avaliatividade e da ACD ao estudo do discurso literário para uma contribuição pedagógica. as possíveis ideologias que as permeiam. p. 1994. estabelecendo um diálogo profícuo e duradouro. propondo uma articulação teórica e analítica da LSF. 2010. que a LA também trabalhe de forma interdisciplinar com a literatura. 2003) se mostra como mais um suporte teórico para realizar uma leitura crítica dos textos e desconstruir as possíveis ideologias que estejam presentes no texto. 1996. ou seja. Segundo o próprio Saramago. Este projeto também se vincula ao Grupo de Pesquisa Análise Sistêmico-Funcional e Avaliatividade no Discurso. em um olhar mais aprofundado para o texto. do ser humano e dos mecanismos de poder. é possível concluir que Saramago era. determinando o sentido da nossa vida. 2010. THOMPSON. Penso que a condução desta pesquisa possa fomentar novos trabalhos na área de ensino de literatura. Creio que a análise textual que pretendo realizar possa fornecer subsídios teóricos para a discussão de metodologias para o ensino de literatura. EGGINS. mas levar em consideração o texto e as possíveis construções de significado interpretados de forma crítica. 344). (CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH. (AGUILERA. coordenado pela professora Adriana Nóbrega. e que acredito serem fundamentais para o desenvolvimento de novas metodologias para um letramento literário crítico. O autor utilizava sua escrita “para se pôr a serviço da investigação nas zonas obscuras da História. 13). mas não era um panfleto. também coordenado pela professora Adriana Nóbrega e do qual faço parte. pois. de controle ideológico e de injustiça que condicionam nosso entorno. e mostra sua relevância ao se basear na ideia de um letramento literário crítico. Este estudo se alinha ao projeto de pesquisa “(Inter)ações discursivas e construção de significados em contextos pedagógicos e profissionais”. Este trabalho pode se mostrar relevante. que deve ir além do ensino de escolas literárias e do ensino de história descontextualizado. p. sua literatura refletia suas posturas ideologias. por realizar uma problematização do discurso pedagógico sobre o ensino-aprendizagem de literatura. em entrevista a Carlos Reis em 1998. portanto. a Análise Crítica do Discurso. É necessário. do sistema de Representação dos Atores Sociais. Se a literatura não vive fora da ideologia. nas obras supracitadas.HALLIDAY. “a literatura pode viver até de uma forma conflituosa com a ideologia. 2010.” (AGUILERA. influenciado por suas próprias ideologias ao produzir seus textos. Analisar e (des)contruir as possíveis ideologias encontradas nas obras. na década de 40. O entendimento da LA como área autônoma de investigação só veio na década de 70 e tomou força no Brasil nas décadas seguintes. 2011). em seu discurso. que mostra José Saramago como um autor engajado em uma crítica antirreligiosa. Discutir metodologias de ensino-aprendizagem de literatura que promovam um letramento literário crítico. há um diálogo promissor entre a LA e a LSF. sob diferentes perspectivas.2. Investigar a presença de marcas ideológicas no discurso literário do autor. pois proponho uma análise de cunho interdisciplinar entre áreas da linguística de base social e literatura. Segundo Vian Jr. (2013). O campo da LA começou enfocando a área de ensino-aprendizagem de línguas e. uma possível ideologia religiosa? (5) Como a análise textual pode auxiliar uma metodologia de ensino-aprendizagem crítico de literatura? Desse modo. Nessa época. formação de professores e outras 2 Durante a análise dos dados. as questões aqui apresentadas podem sofrer alterações. auxiliando na construção das representações. em uma perspectiva sociossemiótica de linguagem. 3. ganhando um caráter interdisciplinar como campo das Ciências Sociais (MOITA LOPES. 5 . preconizava o desenvolvimento de materiais. observar as relações de poder entre os atores sociais e construir uma leitura crítica. Observar e analisar como os elementos avaliativos constroem significados no discurso literário do autor. OBJETIVOS E PERGUNTAS DE PESQUISA Buscando um olhar crítico sobre o discurso literário de José Saramago. ensino de línguas. podemos encontrar marcas ideológicas em seu discurso literário? (4) Como Saramago constrói sentidos para combater. que permite a adoção de um posicionamento mais realista para as pesquisas em linguagem. o presente anteprojeto possui os seguintes objetivos iniciais para o seu desenvolvimento: Identificar e contrastar nas obras “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Cegueira” as representações de divino e do humano sob diferentes perspectivas. surgiram algumas perguntas iniciais para a elaboração do anteprojeto2: (1) Podemos encontrar nas obras “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Cegueira”. a LA era compreendida como aplicação da linguística. uma representação da relação homem/Deus? (2) Como os recursos avaliativos auxiliam a construção de sentidos no discurso literário do autor? (3) Considerando o contexto. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este trabalho se insere na área de LA. o próprio texto. 6 . Sendo assim. "como as pessoas usam a linguagem umas com as outras. as convenções sociais e as instituições. reestruturados por Halliday para um entendimento do texto dentro do modelo holístico da LSF. Desse modo. Partindo desse pressuposto. um sistema de escolhas à disposição dos usuários na criação de significados em suas interações. p. ou seja. proponho como base teórica para a análise do discurso literário de José Saramago o aporte teórico da LSF. com o objetivo de fornecer uma descrição mais completa e adequada do contexto em que se desenvolvem as interações em sua pesquisa. um interesse comum dos linguistas sistêmicos é a linguagem como um elemento sociossemiótico. quatro pontos teóricos são sugeridos em relação à linguagem pela LSF: (1) o uso da linguagem é funcional. O texto. 2013. ou seja. que realiza “o que combina com o quê”. 127). Inseridos no contexto de cultura. (3) estes significados são influenciados pelo contexto social e cultural nos quais são trocados. Sendo assim.. e se conhecermos a materialização linguística. elegendo o uso como marca fundamental de caracterização de uma língua. Segundo Eggins (2004). 3). o contexto. como ativador das escolhas semânticas. 4 Os termos contexto de cultura e contexto de situação foram inicialmente propostos pelo antropólogo Malinowski (Halliday & Hasan. e sistema – ordem paradigmática –.. o contexto se dá em dois níveis extralinguísticos: o contexto de cultura e o contexto de situação4. Segundo este arcabouço. p. Na LSF. a língua é um sistema semiótico. Os conceitos foram desenvolvidos pelo linguista Firth e.e. poderemos deduzir o seu contexto de produção. centrada das possibilidades que a língua oferece. por meio de sua base paradigmática3. os autores recusam as descrições meramente estruturais. no qual se inclui a ideologia. objetivando realizar sua vida social cotidiana". Desse modo. por seu caráter interativo. Também. p. que exprime “o que poderia estar no lugar de”. i. e (4) o processo de uso da linguagem é semiótico. a LSF enfatiza a importância do contexto no uso da linguagem. visto que a LSF é uma teoria eminentemente interdisciplinar e está em constante diálogo com outras áreas. sendo um processo de significados por meio da possibilidade de diferentes escolhas. precisa ser analisado a partir de seu propósito e de seu processo de criação. que 3 Halliday e Matthiessen (2004:22) contrastam as noções de estrutura – ordem sintagmática –.áreas afins no campo dos estudos da linguagem (2013. é o ambiente em que o texto ganha significado. sejam elas conscientes ou não. O sistema linguístico oferece um elenco variado de significados e esse potencial da língua é o meio no qual o falante/escritor realiza suas escolhas linguísticas. assim como a LA. não ficando restrita apenas à descrição linguística ou a aspectos gramaticais da língua. posteriormente. que desvinculam a linguagem de seu contexto. Essa interface pode ser estabelecida. O contexto de cultura pode ser considerado o ambiente sociocultural mais amplo. temos o contexto de situação. 125). 1989). pois ele possui influência direta sobre as estruturas linguísticas observadas em qualquer discurso. a LSF se preocupa com questões sociais e como a compreensão dos aspectos linguísticos pode oferecer pistas para se compreender a realidade (VIAN Jr. Segundo Eggins (2004. se conhecermos o contexto podemos prever probabilisticamente como o texto representará o contexto linguisticamente. pois ele é produto do seu entorno e funciona nele. do uso da linguagem em interações e em contextos sociais específicos. (2) a função da linguagem é criar significados. é possível dizer que a rede de sistemas da Representação dos Atores Sociais está ligada a esse significado. Um dos objetivos da pesquisa é investigar as escolhas linguísticas de José Saramago ao criar significados ideacionais e interpessoais de acordo com o contexto de circulação e produção em que as obras estão inseridas. são negociados na interação e realizados. Em uma primeira instância. O modo refere-se à como a comunicação ocorre e determina os significados textuais. Cada um dos significados. as representações incluem ou excluem atores sociais para servir aos seus interesses em relação aos leitores a quem se dirigem.1. além das diferentes possibilidades de realização linguística dessas representações. Van Leeuwen encara a gramática como sendo um potencial de significados (o que pode ser dito). Assim como Halliday. modo e relações. criados sistemas que utilizam o arcabouço teórico da LSF como ponto de partida. mas sim categorias sociológicas que têm como objetivo o mapeamento da linguagem enquanto utilizada com o propósito de representar. o significado interpessoal (estabelecimento e manutenção das relações sociais). Van Leeuwen (1996. é possível fazer uma rápida remissão à Metafunção Ideacional. outros estudos foram elaborados e. Sendo assim. A exclusão do ator social pode ser total (supressão) ou parcial 7 . e o significado textual (organização das mensagens). seu ponto de partida não são as categorias gramaticais. 1996.consiste nas variações de linguagem mais particulares dentro de cada cultura. 3. 180). Segundo Van Leeuwen (1997. em termos sóciossemânticos. 2005). construímos nosso mundo interior e exterior. REPRESENTAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS Quando falamos sobre representação. Desse modo. a seguir faço uma breve revisão sobre cada um desses sistemas. Partindo da proposta de Halliday. por meio das Metafunções que ocorrem de forma simultânea na língua: o significado ideacional (representação da experiência sobre o mundo) se realiza por meio da Metafunção Ideacional e do seu sistema de Transitividade. Esse é o caso da Representação dos Atores Sociais (VAN LEEUWEN. os atores sociais podem ser incluídos ou excluídos do discurso. em vez de um conjunto de regras (o que deve ser dito). O aspecto chamado de relações diz respeito à natureza da ligação entre os participantes da interação e se relaciona aos significados interpessoais. que proponho utilizar como ferramentas de análise do discurso literário de Saramago. expressamos aquilo que somos. então. ligados às variáveis. O campo diz respeito à natureza da prática social. p. 1997) e do Sistema de Avaliatividade (MARTIN & WHITE. por meio da Metafunção Textual e do seu Sistema de Tema e Rema. Sendo assim. conforme o momento em que ocorrem e que são descritas por Halliday por meio de três variáveis: campo. léxico- gramaticalmente. 1997) propõe um inventário dos diferentes modos pelos quais os atores sociais podem ser representados no discurso. ao que é dito ou escrito sobre algo e está ligado a significados ideacionais. pois é por meio desses significados que damos sentido à nossa experiência. na Metafunção Interpessoal e no seu sistema de Modo. desse modo a LSF parece ser o suporte teórico adequado. 8 . por diversos mecanismos que formam uma rede bastante complexa5. 1997.. e não se tornam pontos de identificação para o leitor ou ouvinte (VAN LEEUWEN. e impersonalização. 2010. pois. Em nosso contexto. nas narrativas. p. que por vez. Os atores sociais podem ser incluídos. não deixa marcas na representação. 11). o tempo todo. formam um sistema que fornece aos usuários da língua alternativas de empregar recursos avaliativos nas interações cotidianas (VIAN Jr. A exclusão parcial se dá quando os atores sociais são colocados em segundo plano. É necessário observar. a linguagem oferece mecanismos diversos para que façamos essas avaliações em nossos textos. proponho observar como esses atores são representados no discurso literário selecionado para análise neste anteprojeto. Sendo assim. De um modo geral. identificação e valoração. o efeito de determinados atores serem nomeados e outros aparecem apenas por meio da categorização. de acordo com o autor. não irei explicitar todo o inventário proposto por Van Leeuwen (1996. Tais mecanismos. estamos avaliando e também sendo avaliados. A exclusão por supressão. os atores podem ser incluídos por meio da personalização. é dividida em nomeação e categorização. a determinação. (2010. Na categorização o foco da representação está nas identidades ou funções compartilhadas com outros atores sociais. Ela se divide em funcionalização. Segundo Vian Jr. por sua vez. seguidos ou não de sobrenomes. Durante o estudo que pretendo empreender. 3. cujo foco está no que o ator tem de singular e único. ao analisar o discurso literário. p. mas são mencionados em alguma parte do texto e conseguimos inferir. nem sempre com total certeza quem eles são – a isso o autor chama de representação em segundo plano. 1997) para inclusão dos atores sociais. Por exemplo. ou seja.). 5 Por uma questão de espaço. se dá tipicamente pelo uso de nomes próprios.). assim. em que traços não incluem aspectos humanos.(encobrimento). 19). Dentre os tipos de personalização. em que os atores são representados como seres humanos. podemos dizer que ser nomeado é mais valorizado do que ser categorizado. destaco outro exemplo. A nomeação. idem. a algo que acontece ou a algum objeto. suas avaliações e as relações de poder que se estabelecem entre eles. p. SISTEMA DE AVALIATIVIDADE Todos os momentos expressamos nossos pensamentos. ao realizar a análise do discurso literário de José Saramago é necessário indagar por que determinados atores sociais são excluídos ou incluídos e qual o efeito obtido com a utilização dessas categorias. mas não na análise de um único texto (VAN LEEUWEN. opiniões. sentimentos e atitudes em relação a alguém. 200.2. qual o efeito dessa valorização de uns atores em detrimento de outros. poderei analisar os atores sociais nas obras “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Segundo a Cegueira” de Saramago e verificar como se dá o processo de inclusão/exclusão e seus efeitos para a construção de sentidos no discurso literário do autor. só sendo possível desempenhar o seu papel pela comparação crítica de diferentes representações da mesma prática social. às personagens sem nome cabem apenas papeis passageiros e funcionais. . por meio dessa categoria fazemos avaliações de moralidade. quando expressarmos nossas atitudes. na medida em que essas avaliações criam relações entre escritor/leitor ou falante/ouvinte. segundo a categorização de Martin & White (2005). o Sistema de Avaliatividade será importante ferramenta de análise dos recursos avaliativos utilizados pelos atores sociais para criação de sentidos na obra de José Saramago. basicamente. Na análise que pretendo desenvolver. incluem-se. a gradação (grau de amplificação da avaliação) e o engajamento (indicação das fontes da avaliação) (VIAN Jr. segurança/insegurança e satisfação/insatisfação. como as pessoas estão interagindo. os recursos interpessoais estão preocupados com a negociação de relações sociais. crenças individuais. podemos dizer que o Sistema de Avaliatividade liga-se à Metafunção Interpessoal. 07). p. p. p. sobre como devemos nos comportar ou não. p. 20) e pode ser classificado em três categorias felicidade/infelicidade.. o julgamento diz respeito às atitudes de comportamento que admiramos ou criticamos. p. podemos vislumbrá-las como sentimentos institucionalizados. 20). a gradação e o engajamento. Segundo Martin & White (2005. Segundo Martin & White (2005. O julgamento refere-se ao universo das propostas sobre o comportamento. julgamento (quando são utilizados recursos para julgar o caráter) e apreciação (quando são utilizados recursos para atribuir valor às coisas). ou seja. o Sistema de Avaliatividade se localiza no nível da semântica do discurso (MARTIN & WHITE. 9 . p. 12 e 33) e dá conta dos significados interpessoais. que são as atitudes de afeto (quando são utilizados recursos para expressar emoção). assim como o sistema de Representação dos Atores Sociais remete à Metafunção Ideacional. 2005. O julgamento é a categoria semântica que constrói linguisticamente as avaliações das pessoas de forma positiva ou negativa. que são também moldados por uma determinada ideologia e cultura específica. 106) e está dividido. 2010. Esse subsistema abrange três campos semânticos. por meio do julgamento e da apreciação. Sendo assim. capacidade e normalidade sempre determinadas pela cultura na qual estamos inseridos e pelas experiências e expectativas particulares. e a apreciação ao universo das proposições sobre o valor das coisas. O subsistema da atitude é responsável pela expressão das avaliações positivas e negativas. em dois tipos: de estima social e de sanção social. 45). legalidade. 2010. Segundo Martin & White (2005:42). o julgamento está relacionado à questão da ética por fazer uma análise normativa do comportamento baseado em regras ou convenções de comportamento (ALMEIDA. Desse modo. ou seja. à atitude. incluindo os sentimentos que tentam compartilhar. é o centro das atitudes que expressamos (VIAN Jr. aprovamos ou condenamos. Paralelamente a estes três recursos. explícitas ou implícitas. 2010. se elas valem a pena ou não. O afeto. O Sistema de Avaliatividade está dividido em três subsistemas presentes simultaneamente no texto: a atitude. Levando a análise para além do nível da oração. dessa forma. simultaneamente. 2005. um texto que permite negociação de significados) ou da contração dialógica (quando não há o diálogo com outras vozes e o texto não permite negociação). A gradação diz respeito aos recursos que o falante/escritor utiliza para realçar ou suavizar suas avaliações. objetos e fenômenos. O texto (primeira dimensão) privilegia a descrição dos elementos linguísticos. 1992) apresenta uma concepção tridimensional em que os níveis linguístico. Esse olhar crítico que a análise dos recursos atitudinais poderá gerar se conecta com a ACD. que deriva de abordagens multidisciplinares ao estudo da linguagem. ainda. discursivo e ideológico-cultural se articulam e o discurso pode ser considerado. e a explicação. Segundo Meurer (2005. julgamento e apreciação ou elevar e diminuir a intensidade utilizada em seus argumentos (MARTIN & WHITE. que é a base para a segunda dimensão (prática discursiva). A prática discursiva busca interpretar o texto em termos 10 . é possível modificar a força e o foco dos significados criados. pois seu objetivo de análise é mapear as conexões entre as relações de poder e os recursos linguísticos utilizados nos textos. 1989. isto é. em uma proposta pedagógica de inserção dos textos em sala de aula. 2005. Portanto. ao analisar esse recurso. acredito que observar que tipos de avaliações aparecem nas obras. contudo requer a interpretação. Falante/escritor pode construir diferentes graus de positividade e negatividade para suas avaliações de afeto. p. 9). p. Em um primeiro momento. a ACD é social e linguisticamente orientada. a ACD é ao mesmo tempo uma teoria e um método de análise com uma forte preocupação social. 2003) se apresenta como aporte teórico aliado à LSF para análise e (des)construção das possíveis ideologias que estejam presentes no texto de José Saramago e que apareçam na análise das representações dos atores sociais. 3.3 ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO A ACD (CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH. que propõe uma reflexão crítica sobre os modos como o discurso se realiza na prática social. O subsistema da apreciação refere-se às avaliações no âmbito da estética e da forma e por meio dessa categoria são construídas avaliações sobre coisas. 92-93). 136). ou seja. p. como veremos a seguir. texto. 1999. O engajamento indica os mecanismos utilizados para trazer outras vozes para o discurso. prática discursiva e prática social. Sendo assim. p. qual a intencionalidade dessas escolhas linguísticas (sejam elas conscientes ou não) e como elas interagem na construção de sentidos do texto é uma ferramenta para formar uma leitura crítica e reflexiva das obras. Fairclough (1989. abarcando as estratégias que falante/escritor utilizam para negociar seus argumentos (MARTIN &WHITE. ao analisar o discurso literário de Saramago. Ela se divide em três subtipos: reação. 81). é possível observar se a voz autoral se compromete ou não com o que se escreve/diz. De acordo com Resende e Ramalho (2011. composição e valoração. FAIRCLOUGH. base para terceira dimensão (prática social). ao mesmo tempo. por meio da expansão dialógica (quando há vozes dialogando. 1992. 2011. É importante lembrar que Fairclough operou essa articulação tendo como ponto de partida não as funções de Halliday. social – em textos. 82). No modelo mais recente. o discurso figura como modos de agir. Fairclough sugeriu a cisão da função interpessoal de Halliday em duas: a função identitária (que se relaciona aos modos pelos quais as identidades sociais são estabelecidas no discurso) e a função relacional (que se refere ao modo como as relações sociais são representadas e negociadas). de fato. Desse modo. 2005. 94-95). interpretativo e explicativo. mas a sua própria modificação anterior da teoria (RESENDE & RAMALHO. 2005. Segundo Fairclough. uma vez que os significados atuam simultaneamente em todo o enunciado. representações que podem ser legitimadas na ação social e inculcadas nas identidades de agentes sociais. p. p. Para Fairclough (2003). p. Segundo Resende e Ramalho (2011. “entre esses dois modelos houve um movimento do discurso para a prática social. embora Halliday faça a distinção de uma função textual. contudo há um fortalecimento da análise da prática social que compreende a ideologia e hegemonia. a função da identidade é marginalizada no modelo da LSF. 60). mental. o modelo tridimensional é mantido. a princípio. a teoria linguística que mais se alinha em potencial analítico para a ACD é a LSF. p. o modelo tridimensional é ao mesmo tempo descritivo. distribuição e consumo. p.de sua produção. e o acional que focaliza o texto como modo de (inter)ação em eventos sociais e está ligado à função relacional e à função textual6 de Fairclough (1992). se tornando um aspecto menor da função interpessoal (RESENDE & RAMANHO. a dimensão da prática social procura explicar como o texto é investido de aspectos sociais ligados a formações ideológicas e formas de hegemonia. 59-60). as ideologias são. o identificacional que se refere à construção e à negociação de identidades no discurso e está ligado à função identitária de Fairclough (1992).58-59). Fairclough (2003) recontextualiza a gramática sistêmico-funcional de acordo com seus propósitos analíticos. Esses três significados postulados por Fairclough (2003) mantém a noção de multifuncionalidade proposta anteriormente por Halliday. Já em 1992. 60). (MEURER. O conceito de ideologia. 2011. modos de representar e modos de ser na prática social e a cada um desses modos de interação entre discurso e prática social corresponde um tipo de significado. Segundo Chouliaraki & Fairclough (1999). p. 6 Segundo Resende e Ramalho (2011. e discurso passou a ser visto como um momento das práticas sociais”. De acordo com a ACD. propondo uma articulação entre as Metafunções de Halliday e os três tipos de significados do discurso: o representacional que enfatiza a representação de aspectos do mundo – físico. Por fim. a centralidade do discurso como foco dominante da análise passou a ser questionada. Segundo Resende e Ramalho (2011. os textos são perpassados por relações de poder e hegemonia e uma das suas preocupações é investigar como a linguagem é utilizada para manter ou desafiar essas relações no mundo contemporâneo (MEURER. No enquadre de Chouliaraki & Fairclough (1999). ou seja. 11 . Em 2003. Fairclough (2003) rejeita a ideia desse significado separado dos demais e prefere incorporá-lo ao significado acional. na obra Discourse em Social Change. o diálogo teórico entre a ACD e a LSF. p. 29). aproximando se da função ideacional de Fairclough (1992). o autor amplia. por natureza.na ACD. o status de metodologia da LC pode ser confirmado. ainda é preciso observar se essas ideologias estariam reforçando as forças hegemônicas ou se o autor utiliza os recursos ideológicos para. portanto. doravante LC 7. 2009). Para este fim. METODOLOGIA Minha proposta é a análise do discurso literário de José Saramago para promover um letramento literário crítico. Contudo. estudam as coisas em seus contextos. simultaneamente. serve para reproduzir a ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes. ou seja. nasce dos estudos de Thompson (1995). apenas para a organização dos dados a serem analisados. já sabemos. tentando interpretar os fenômenos em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem. além de. A pesquisa enfocará duas obras do autor. por isso. o papel da LC é fornecer meios de lidar com grandes quantidades de dados provenientes do uso. Segundo Denzin e Lincoln (2006. os pesquisadores. Contudo. ou seja desafiar as relações de poder contra às quais lutava em vida. definindo-a como um ramo da Linguística ou apenas uma metodologia. Segundo Shepherd (2009). De acordo com a autora. baseados em procedimentos metodológicos da LC. pretendo adotar procedimentos baseados na Linguística de Corpus.49). para o autor. 17). negativo (RESENDE & RAMALHO. ir contra a corrente. O termo LC é usado para referência a estudos da língua em uso com o auxílio de ferramentas computacionais (programas de computadores usados para identificar padrões e regularidades na linguagem). 12 . Sendo assim. Na obra de José Saramago. textos que foram efetivamente usados em um determinado contexto. visto que pretendo trabalhar com grande volume de texto. meu alinhamento metodológico se dá com a pesquisa qualitativa. em geral. pois uma abordagem que parte do corpus pode ser aplicada a praticamente qualquer área de investigação linguística. ainda. o conceito de ideologia é. 4. 1999) para facilitar o levantamento dos dados8. de certa forma. 8 É importante enfatizar que a LC será utilizada apenas para facilitar a compilação dos dados e destaque das escolhas lexicogramaticais e avaliativas e. “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Cegueira”. acompanhar as variáveis contextuais. p. p. procede-se à compilação de textos reais. como não há um alinhamento desta pesquisa com a área em sua base teórica não serão feitas quantificações de ocorrências ou analises estatísticas. 2011. Dessa forma. Como este anteprojeto está situado em teorias de bases sociais e propõe um olhar crítico em relação ao discurso literário selecionado para a análise. caso elas apareçam. inerentemente. acredito que seja oportuno observar como as ideologias permeiam o discurso. seleção de trechos de análise. Desse modo. Por trazer longos textos para a análise. pretendo utilizar o programa computacional de análise lexical denominado WORDSMITH TOOLS (SCOTT. hegemônica. A pesquisa qualitativa implica uma ênfase nas qualidades 7 Há um esforço para delimitar a identidade da LC. visto que o próprio autor declarou não estar isento delas. pois ela preocupa-se com o contexto de geração dos dados e com seus aspectos sociais. com objetivos específicos (MEURER & BALOCCO. no sentido de que ela necessariamente serve para estabelecer e sustentar relações de dominação e. o corpus selecionado para o estudo contará com o auxílio tecnológico para sua compilação e delimitação de trechos de dados. que postula que a ideologia é. 13 .br/CCIVIL_03/leis/L9610. 2006). 1999) para visualização dos cotextos relativos a cada ator social selecionado. trabalhei apenas com trechos10. Sendo assim. intensidade ou frequência (DENZIN & LINCOLN. não reproduzindo o texto por completo. Seleção dos atores sociais que representam a relação homem/Deus nas obras para a análise de trechos relativos a cada um deles. por meio da análise crítica desses textos.das entidades e nos processos e significados que não são examinados ou medidos experimentalmente quanto à quantidade. Sendo assim.htm 10 Poderão ser considerados os cotextos da oração. Em relação aos direitos autorais. 4. discutir metodologias de ensino- aprendizagem de literatura. Análise das representações dos atores sociais relativos à relação homem/Deus nas obras com base nas categorias propostas por Van Leeuwen (1996. baseadas no letramento literário crítico. Analisar as obras de forma contrastiva em relação ao paralelo homem/Deus. Identificação.gov. 2. Discussão de metodologias de ensino-aprendizagem de literatura. o artigo 46 da Lei de Direitos Autorais9 permite a reprodução de trechos dos livros para fins de estudo. Geração de uma lista de concordância por meio do WORDSMITH TOOLS (SCOTT. por meio de leitura dos romances. Análise das ideologias presentes nos discursos de cada ator social analisado e suas possíveis (des)construções. dos itens lexicais que representam os atores sociais (homem/Deus) ao longo das duas obras. desde que a reprodução em si não seja o objetivo principal da nova produção ou que a exploração normal dos detentores dos direitos não seja prejudicada. para a construção dos sentidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Minha proposta de pesquisa neste anteprojeto de Doutorado tem como objetivo investigar o discurso literário de José Saramago e. volume. 6. 5. 5.planalto. O desenvolvimento do anteprojeto só foi possível devido ao meu amadurecimento 9 A Lei de Direitos Autorais está disponível em: http://www. crítica ou polêmica sempre que o nome do autor e a origem das obras sejam citados. 3. que é a unidade básica de análise da LSF. 1997). 2005) e interpretação do posicionamento de cada ator social representado. 8. pretendo adotar alguns passos baseados em uma metodologia qualitativa de trabalho com o texto: 1. 7. Classificação das ocorrências de avaliatividade (MARTIN & WHITE. Nesse momento também procurarei identificar possíveis exclusões. para realizar a análise. Campinas: Pontes. LINCOLN. Geração e organização de lista de dados no WORDSMITH 4. S. SOUZA. E. Letramento literário: teoria e prática. CHOULIARAKI. L. 2014. 14 . V.). In: VIAN JR. da S. acredito que a condução desta pesquisa pode contribuir não só para a análise crítica do discurso literário. Redação do projeto de Tese 6. K. 2010. p. G.. Ensino de Literatura: algumas contribuições. DALVI.gerado pelos estudos como aluna extraordinária na PUC-Rio. 1ed.2 2019. São Paulo: Companhia das letras. New York: Longman. ALMEIDA. 1989. A linguagem da avaliação em língua portuguesa. PUZZO. In: UYENO. 6. F. no segundo semestre..1 2016. (Org. ambas com a professora Adriana Nóbrega. v. N. S.. Sendo assim. O. D. 15-43. do qual faço parte. Language and Power. campo ainda pouco explorado pela LA. Y. Além disso. 2006. Preparação das cópias da Tese para defesa 9. DENZIN. Atitude: afeto. de. N.) As palavras de Saramago.1 1. Revisão de literatura 3. R.2 2020. sempre criaram oportunidades para discussão e reflexão sobre a área de pesquisa e caminhos possíveis. Linguística Aplicada. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. COSSON. São Carlos: Pedro & João Editores.2 2018. M. (2ªed. Análise dos dados 5.). onde cursei. atualmente.1 2019. Linguística e Literatura: intersecções profícuas. 1. Redação da Tese de Doutorado 8. P.. London: Continuum. (2ª ed.1 2017. A. A. Y. A. L. Discourse in late modernity: rethinking Critical Discourse Analysis. mas também para o ensino crítico de literatura. Cumprimento de créditos 2. N. Defesa da Tese 7. S. FAIRCLOUGH. Gêneros Discursivos e Multimodalidade. Entendendo a importância que o ensino de literatura exerce atualmente e a relevância do texto de José Saramago em um contexto pedagógico. julgamento e apreciação. F. FAIRCLOUGH. (Org. F.2 2017. An Introduction to Systemic Functional Linguistics. BIBLIOGRAFIA AGUILERA. os encontros constantes do grupo de pesquisa ASFAD. EGGINS. 1999. 2012. P. A.. (Orgs).B. no primeiro semestre de 2015. Porto Alegre: ARTMED. B. Edinbourg: Edinbourg University Press. o que é uma das competências a serem desenvolvidas pelos alunos. CRONOGRAMA SEMESTRES ATIVIDADES 2016. Exame de qualificação 7.1 2018. RENDA. S.) São Paulo: Contexto. vejo a necessidade desse estudo para a criação de uma consciência crítica em relação a essas obras. D. 2004. ALMEIDA. ao ampliar os horizontes de leitura dos alunos para autores com nacionalidades e gêneros diversos. a disciplina Linguística Sistêmico Funcional e. M. 2010. Estudos sistêmico-funcionais com base no Sistema de Avaliatividade. L.. 2004. MEURER. A. SALGADO. Uberlândia: EDUFU.150- 172. 2013. C. London: Arnold. Porque a leitura da literatura na escola. M. Cambrigde: Polity Press.K. Linguística aplicada e ensino: língua e literatura. São Paulo: Parábola.. MOITA LOPES. Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. D. 24. In: DALVI. T. N. debates. A. Conversas com um professor de literatura. SARAMAGO. 11-24. P. 2013. Londres: Hodder Arnold. 123-141. v. 1995. O. L. L. J. F. Texts and practices: Reading in critical discourse analysis. J. Lisboa: Caminho. MATTHIESSEN. BALOCCO. 81-106. In: CALDAS-COULTHARD. de José Saramago: um estudo sistêmico-funcional. MEURER. G. 2014.Campinas: Pontes. In: Anais do SILEL. MARTIN. O Evangelho Segundo Jesus Cristo.). Rio de Janeiro. 1996. C. 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