Anatomia da órbita: introduçãoRicardo Luiz Smith Professor Titular de Anatomia Departamento de Morfologia, UNIFESP O conhecimento da anatomia da órbita é a referência para os procedimentos em Oftalmologia. As estruturas que constituem esta região da cabeça serão apresentadas como uma introdução, como um roteiro para uma demonstração prática. Órbita óssea O arcabouço ósseo da órbita formado por sete ossos, constitui o referencial para a localização do conteúdo orbitário. Os ossos são: frontal, maxilar, zigomático, esfenóide, etmóide, lacrimal e palatino (fig. 1). 1 contém ramo do nervo maxilar (Vo par).VIo par. sendo a base formada pelos ossos frontal (na margem encontra-se a incisura e ou forame supra-orbital. fissura orbital superior (passagem dos nervos oculomotor – IIIo par com as raízes superior e inferior. lacrimal e nasociliar. Na parede superior. A órbita tem a forma aproximada de uma pirâmide quadrangular. zigomático e maxilar (onde abaixo a margem há o forame infra-orbital). Na parede medial da órbita encontra-se a fossa lacrimal que comunica-se com o meato nasal inferior por meio do duto lacrimonasal. 2005). 2 . A fissura orbital inferior entre a asa maior do esfenóide e o maxilar. Ossos da órbita. nervo infra-orbital que penetra pela incisura e canal infra-orbital.VIo par e trigêmeo . também trajeto da veia oftálmica superior).Figura 1. encontra-se o canal óptico (passagem do nervo óptico – IIo par e da artéria oftálmica). a fossa da glândula lacrimal acha-se lateralmente e a tróclea medialmente. passagem do nervo de mesmo nome). troclear . vasos e nervos no ápice (Grays Anatomy. No ápice entre o corpo do esfenóide e suas asas menor e maior. abducente .Vo par representado pelo seu ramo oftámico aqui com suas divisões frontal. Elsevier. b) média. c) interna ou nervosa formada pela retina que continua-se com o nervo óptico (fig. Músculos extrínsecos do bulbo Os músculos extrínsecos do olho são estriados em número de seis. 2) Figura 2. inferior. lateral e superior) e dois oblíquos (superior e inferior) (fig. Anatomia do bulbo ocular As túnicas contêm os meios dióptricos. nasociliar. Esses meios ocupam as câmaras oculares: anterior. sendo que fibras nuas distribuem-se pela córnea. O olho é inervado pelos nervos ciliares. 3 . esclera e limbo esclero-corneano.3). a lente (cristalino suspenso pela zônula ciliar) e o humor vítreo. íris e corpo ciliar. vascular ou úvea com a corióide.Bulbo ocular O bulbo ocular é formado por três túnicas: a) externa ou fibrosa constituída pela córnea. o humor aquoso. quatro retos (medial. ramos do n. transparentes que são a córnea. posterior e vítrea (postrema). estando envolvidas pela bainha e ligamentos intermusculares. seu ventre se dirige para a tróclea na parede medial e superior da órbita onde se continua com o tendão. passando sob o músculo reto inferior e entre o músculo reto lateral e o bulbo. Todos os músculos perfuram a fáscia bulbar (cápsula de Tenon) atravessando o espaço epiescleral. O músculo oblíquo superior se origina acima do ânulo tendíneo. próximo à margem. dirige-se para trás e lateralmente. 4) e formam um cone retro-bulbar. O músculo oblíquo inferior se origina no soalho da órbita. 2005). Os músculos retos originam-se no ânulo tendíneo (fig. 4 . Dirigem-se anteriormente ao bulbo onde se inserem na esclera. Músculos extrínsecos do olho . sendo o músculo reto medial mais próximo do limbo e os outros se afastando dele num sentido espiral. Este passa através da tróclea e realiza um trajeto para trás. indo se inserir na esclera atrás do equador do bulbo. Elsevier.vista superior e lateral (Grays Anatomy. inserindo-se na esclera abaixo do músculo oblíquo superior.Figura 3. As bainhas musculares possuem conexões com as paredes da órbita (retináculos). A fáscia bulbar (Tenon) envolve o bulbo. inserindo-se na periórbita ou periósteo (fig. Este conjunto delimita o espaço do cone muscular ou retrobulbar. Acima do ânulo. a fáscia bulbar se continua com as bainhas musculares que envolvem os músculos e estão ligadas entre si pelos ligamentos intermusculares. 6).Figura 4. 5 e 6). dividindo a fissura orbital superior em terços e dando passagem aos nervos e vasos. vasos e nervos. septada por tecido reticular. que contém a gordura orbital. indo do limbo anteriormente à emergência do nervo óptico posteriormente. Origem dos músculos retos do olho no anel tendíneo. delimitando o espaço epiescleral por onde atravessam os nervos e vasos ciliares (sensibilidade do olho). origem dos músculos levantador da pálpebra superior e oblíquo superior. Este reveste a órbita em continuidade com a duramater no 5 . no ápice da órbita. A disposição deste conjunto conetivo determina os espaços da órbita. de interesse em anestesia pois permite a difusão de substâncias injetadas (figs. Fáscia orbital O tecido conjuntivo da órbita denomina-se fáscia orbital. Localizada abaixo da conjuntiva bulbar. mais evidentes lateral e medialmente. podendo abrigar coleções hemorrágicas e purulentas em afecções traumáticas e infecciosas. periórbita. septo orbital .. retro bulbar (cone muscular) extra-cone muscular. bainhas musculares. O espaço entre a periórbita e o osso é virtual. delimitando o espaço extra-cone muscular. que se projeta da periórbita no interior das pálpebras (fig. seus elementos – fáscia bulbar ou cápsula de Tenon. Fáscia orbital. preenchido por gordura.ápice e com o periósteo da face.e espaços – epiescleral. 2005). Anteriormente o conteúdo orbital é limitado pelo septo orbital. Figura 5. peri-orbital (Grays Anatomy. Elsevier. 6 . 5). 2005). Aparelho lacrimal e vias lacrimais O aparelho lacrimal é formado pela glândula lacrimal principal (secretor reflexo) localizada na região súpero-lateral da órbita e glândulas acessórias (secretor basal) serosas e mucosas espalhadas pela conjuntiva juntamente com as lipídicas localizadas nos tarsos palpebrais (tarsais ou de Meibomius) e nas bases dos cílios (Moll e Zeis). Fáscia orbital. retináculos (check ligament). A lágrima é recolhida no canto medial da fenda 7 . bainhas musculares.Figura 6. espaços preenchidos por gordura (Grays Anatomy. A – Bainhas musculares e ligamentos intermusculares (suspensor do olho). B – Fáscia bulbar. periórbita. Elsevier. Pálpebras e conjuntiva. inserção do músculo levantador da pálpebra superior e tarsal (liso – Muller) e conjuntiva palpebral. 8 . Aparelho lacrimal. 7). músculo orbicular do olho (fig. No canto medial a conjuntiva forma a carúncula lacrimal e a prega semilunar (fig. 9). tarsos superior e inferior. Pálpebras e conjuntiva As pálpebras superior e inferior possuem estratigrafia com cútis e subcutâneo delgados.palpebral pelos canalículos que se abrem no saco lacrimal e daí para o duto lacrimonasal (fig. Figura 7. 8) Figura 8. etmoidais. aa. a. supraorbital. ramos musculares que conduzem as aa. a. ciliares anteriores. carótida interna. emite a artéria central da retina que penetra no IIo par. Penetra na órbita pelo canal óptico. aa. 9 . Músculo orbicular do olho. aa. ciliares posteriores. ramo da a. Vasos A irrigação da órbita e do olho é realizada pela artéria oftálmica. abaixo do nervo óptico. 10).Figura 9. palpebrais terminando nas artérias dorsal do nariz e infratroclear no canto medial (fig. lacrimal. raizes simpáticas para os mm. simpático via gânglio cervical superior. Figura 11. plexo pericarotídeo. para a pálpebra – facial (VII) m. Drenagem venosa da órbita e olho. Motores viscerais – autônomos – parassimpático – oculomotor (III) divisão inferior para o gânglio ciliar localizado lateralmente ao 1/3 posterior do n. 10 . Nervos Os nervos da órbita e olho são (fig. retos inferior e medial. tarsal.Figura 10. 12): Motores somáticos – para o olho e pálpebra – oculomotor (III) com divisão superior para os mm. dilatador da pupila. óptico – mm. que recebem as veias vorticosas do olho e dirigem-se para o seio cavernoso e plexo pterigóideo (fig. orbicular do olho. ciliar e esfíncter da pupila. Na órbita e olho não há vasos linfáticos. 11). retos superior e levantador da pálpebra superior. existentes apenas na conjuntiva e pálpebras. e oblíquo inferior. e divisão inferior para os mm. Irrigação do olho (Netter. 1986) A drenagem da órbita é realizada pelas veias orbitais superior e inferior. lacrimal (região lateral da órbita). Lemp MA. 11 . óptico. New York. Mitchel A. Snell RS. 1997. Tripathi BJ. 8th ed. Chapman & Hiall. Wolff`s Anatomy of the Eye and Orbit. Elsevier. Blackwell. Grays Anatomy. Clinical Anatomy of the Eye. infraorbital (pálpebra inferior) Figura 12. London. 1998. Sensitivo – n. Bron AJ. nasociliar (nn ciliares longos e curtos para o olho. frontal (supratroclear e supraorbital – sensibilidades da pálpebra superior. Nervos da órbita Bibliografia Drake R. região medial da orbita). supercílio e fronte. trigêmeo (V) Ramo oftálmico (V1) – nn. Tripathi RC. ramo maxilar (V2) – n. Vogl W . Lodon.Sensorial – n. 2005.