Análise de Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camõesdia10.1.08 Análise da obra Publicado em 1572 sob a proteção do Rei D. Sebastião, o poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, tem como assunto central a viagem de Vasco da Gama às Índias (1497 - 1498). As perigosas viagens por mares nunca dantes navegados, o contato com povos e costumes diferentes, a exaltação do homem-herói (navegador, soldado, aventureiro, cavaleiro e amante) encontram, na euforia antropocêntrica do Renascimento, um instante oportuno para o sentimento heróico e conquistador, não apenas dos portugueses, mas de toda Europa quinhentista. Obra de cunho enciclopédico, o poema narra, além da descoberta do caminho marítimo para as Índias, as grandes navegações portuguesas, a conquista do Império Português do Oriente e toda a história de Portugal, seus reis, seus heróis e as batalhas que venceram. Paralelamente a essa dupla ação histórica (a viagem de Vasco da Gama e a história de Portugal), desenvolve-se uma importantíssima ação mitológica: a luta que travam os deuses olímpicos (o "maravilhoso pagão"), contrapondo Vênus e Marte (favoráveis aos lusos) a Baco e Netuno (contrários às navegações). Os Lusíadas fundem harmoniosamente os ideais renascentistas, imperialistas e nacionalista de expansão do Império, com a ideologia medieval, feudal e conservadoras; a mitologia pagã com o ideal cristão; o tom épico na exaltação dos feitos dos navegadores e guerreiros e o tom lírico do amor trágico de Inês da Castro; a objetividade e a subjetividade; o ufanismo e o espírito crítico; o espírito clássico com acentos maneiristas e antecipação barroca. O poema divide-se em 10 cantos. Cada canto contém em média 100 estrofes ou estâncias. O canto III é o mais curto, com 87 estrofes; o canto X é o mais longo, com 156 estrofes. O poema todo compõe-se de 1.102 estrofes ou estâncias. Cada uma delas contém regularmente 8 versos (oitavas). O poema totaliza 8.816 versos, decassílabos (medida nova), predominando os decassílabos heróicos, com a 6ª e a 10ª sílabas tônicas. Há também alguns decassílabos sáficos, com a 4ª, a 8ª e a 10ª sílabas tônicas. Os Lusíadas são o maior poema da língua portuguesa e a maior expressão de sua excelência literária. Camões soube elaborar uma linguagem suficientemente rica e maleável, elegante e sonora, com que exprimiu tanto os feitos heróicos e altissonantes, como as dolorosas súplicas de Inês de Castro diante de seus algozes ou o desconsolo do eupoemático diante do "desconcerto do mundo" e da decadência de seu país. Os Lusíadas tem cinco partes, como a tradição clássica impõe a uma epopéia: 1 - Proposição - É a apresentação do poema, a síntese do assunto. Ocupa as três primeiras estrofes. Evidencia algumas características fundamentais da obra: o caráter coletivo do herói, a valorização do homem (antropocentrismo), a sobrevivência do "ideal cruzada", a valorização da Antigüidade clássica, o nacionalismo (ufanismo), sintaxe rica e complexa. 2 - Invocação das Tágides - É o pedido de inspiração às musas. Camões elege como suas inspiradoras as Tágides, ninfas do rio Tejo, "nacionalizando" suas musas. 3 - Dedicatória ao Rei D. Sebastião - É como menino ainda, como dádiva de Deus, que Camões apresenta D. Sebastião na dedicatória. O jovem rei assumiu o trono aos 14 anos, em 1568, e como a redação do poema consumiu mais de 12 anos, Camões não deixa de observar que ele é "novo no ofício" e disso abusam seus conselheiros. O fato do jovem rei ser exaltado como símbolo e esperança da pátria, não impede de o poeta critique as intrigas palacianas e a ambição de mando e de riqueza dos jesuítas e seus aliados. 4 - Narração - A narração de Os Lusíadas compreende três ações principais: a viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da história de Portugal e as lutas e intervenções dos deuses do Olimpo. São, portanto, duas ações históricas e uma ação mitológica que se alternam e se interpenetram no poema. A narrativa começa já no meio da aventura do herói, quando Vasco da Gama e os navegadores estão em pleno Oceano Índico, na costa leste da África, próximo ao Canal de Moçambique. A narrativa histórica termina com a partida de Calicute. Camões não narra o regresso a Lisboa. Os acontecimentos anteriores são relatados por discursos dos protagonistas humanos (Vasco da Gama e seu irmão Paulo da Gama), e os acontecimentos futuros são anunciados por deuses ou outras personagens com o dom da profecia. Nessa profusão de episódios históricos, mitológicos, proféticos, simbólicos, líricos, guerreiros e romanescos, Camões entremeia descrições de fenômenos naturais (a tromba marítima, o fogo-de-anselmo etc) e freqüentes dissertações poéticas sobre a moral, sobre a desconsideração de seus contemporâneos pela poesia, sobre o verdadeiro valor da glória, sobre a onipotência do ouro e da riqueza e sobre o destino de Portugal. É uma verdadeira enciclopédia de Portugal e do homem renascentista. 5 - Epílogo - Contém as lamentações e críticas do poeta, suas exortações ao Rei D. Sebastião e os vaticínios sobre as futuras glórias portuguesas. São as doze últimas estrofes do poema. Contrastando com o tom vibrante e ufanista do início, o tom agora é de pessimismo, desencanto e de crítica à decadência do país e aos portugueses de seu tempo, esquecidos dos valores nacionais. É uma clara premonição da derrocada de Portugal, submetido em 1580 ao domínio espanhol, e da retratação do Império do Oriente. Há ainda o sentido de desabafo de Camões, que se queixa da incompreensão e das privações pelas quais parece ter passado em seus últimos anos de vida. Enredo dos Cantos Canto I e II - Após as partes introdutórias e a rápida apresentação dos navegadores em pleno Oceano Índico, narra-se o Consílio dos Deuses no Olimpo. Convocados por Júpiter, os deuses irão deliberar sobre o destino dos novos argonautas. Baco é contrário aos portugueses, pois teme que eles superem seus feitos no Oriente. Vênus, e depois Marte, toma a defesa dos lusos. Júpiter encerra o consílio, decidindo a favor das navegadores. Baco, inconformado, resolve agir. Assumindo a formas humana de um velho sábio, instiga o governador de Moçambique contra os portugueses, põe a bordo da esquadra um traidor, falso piloto, arma ciladas em Quiloa e Mombaça. Graças às intervenções de Vênus, das nereidas, de Mercúrio e à coragem e astúcia de Vasco da Gama, os portugueses chegam a Melinde, terra de muçulmanos que, por obra de Mercúrio, enviado por Júpiter, a pedido de Vênus, tinham se tornado simpáticos aos portugueses. Durante os perigos e provações, o capitão roga a proteção da Providência Divina e agradece por ela ao Deus cristão, mas quem atende às suas preces é Vênus, divindade pagã, meiga e sedutora, deusa do amor, que convence Júpiter a ajudar seus protegidos. Paganismo e cristianismo juntos, sem qualquer constrangimento. Nota: Essa ação mitológica, a disputa entre Vênus e Baco, tem o propósito de elevar os navegadores à condição de semi-deuses. Numa clara alegoria, os portugueses, senhores do amor e da guerra, protegidos por Vênus e Marte, triunfam sobre os oceanos (Netuno) e sobre seus adversários no Oriente (Baco). Canto III - Após Camões invocar a inspiração de Calíope, musa grega da poesia épica, Vasco da Gama começa a contar ao rei Melinde a história de Portugal. Principia pela localização geográfica do país no mapa da Europa : “Eis aqui quase cume da cabeça / De Europa toda, o Reino Lusita no / Onde a terra se acaba e o mar começa / E onde Febo repousa no Oceano” (Lus., III. 20). Fala das origens de Portugal, do primeiro herói, Viriato, o Pastor da Serra da Estrela, que resistiu à dominação romana. Na Guerra de Reconquista, que os povos já cristianizados moveram contra árabes invasores, no século XII, surge o Reino de Portugal e a Primeira Dinastia, a Casa de Borgonha. O terceiro canto contém a história de todos os reis dessa dinastia, destacando-se seu fundador, Afonso Henriques de Borgonha. vencedor da Batalha de Ourique, contra os árabes, ao lado de Egas Moniz, símbolo nacional de lealdade e honradez. Ainda sob a Dinastia de Borgonha, no reinado de D. Afonso IV, ocorre o epis ódio de Inês de Castro, aquela“que depois de ser morta foi rainha". Canto IV - Vasco da Gama prossegue a narrativa da história de Portugal, concentrando-se na Segunda Dinastia, a Casa de Avis. Fala da Revolução de Avis (1383 - 1385), de seu grande herói, D. Nuno Álvares Pereira, da Batalha de Aljubarrota e de D. João I, Mestre de Avis, que funda o Estado Nacional Português, consolida a centralização monárquica e inicia a expansão ultramarina, com a Tomada de Ceuta, em 1415. A partir do reinado de D. Manuel I, o Venturoso, Vasco da Gama começa a narrar os episódios preliminares de sua viagem. D. Manuel tivera um sonho profético: os rios Indo e Canges, sob forma de dois anciões, profetizam os sucessos e perigos que os portugueses enfrentariam no Oriente. Estimulado por esse sonho, D, Manuel I pede a Vasco da Gama que monte uma esquadra para concretizar a profecia. Na partida das naus da praia de Belém, um ancião, o Velho do Restelo, faz uma enfática advertência contra as navegações portuguesas. Canto V - Vasco da Gama conclui a narrativa de sua viagem até Melinde. Fala da partida da esquadra, do Cruzeiro do Sul, descreve o fogo-de-santelmo, depois uma tromba marítima na costa da Guiné, e a aventura cômica de Veloso. Perto da África do Sul, na travessia do Cabo das Tormentas, os portugueses defrontam-se com o Gigante Adamastor, monstro disforme que simboliza a superação do medo do “Mar Tenebroso” e o domínio do homem sobre as crendices medievais e sobre a natureza. De volta a Melinde, Vasco da Gama conclui o seu relato elogiando a tenacidade portuguesa. Encenando a primeira parte da epopéia, Camões retoma a palavra para lamentar o descaso dos portugueses pela poesia. Canto VI - Enquanto os portugueses rumam em direção às Índias, Baco desce ao palácio de Netuno e incita os deuses marinhos contra a esquadra de Vasco da Gama. Novamente Vênus e as nereidas salvam os navegadores. A bordo da Descobri-la-á a primeira vossa frota. Segue-se o epílogo do poema. da idéia de que não há pecado sexual. Vasco da Gama retém a bordo vários mercadores indianos. Vasco da Gama é feito prisioneiro.Vasco da Gama faz contato com as autoridades de Calicute. RESUMO DA NARRAÇÃO DE "OS LUSÍADAS" . entre gritinhos de prazer. sem que se dê particular importância. Que Vênus com prazeres inflamava.. com pau vermelho nota. O catual colhe informações sobre os recém-chegados e. Vênus decide premiar os navegadores e. numa ilha paradisíaca. Mas cá onde mais se alarga. X. E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves. desafiando o espírito da Contra-Reforma.. Mas julgue-o quem não pode exp’rimentá-lo. visita o samorim e oferece a amizade dos portugueses.Ainda em Melinde. cumprida sua missão. IX. Oh! Que famintos beijos na floresta. Tétis conduz Vasco da Gama a uma elevação e mostra a ele a Máquina do Mundo. mas Camões encerra aqui a matéria propriamente histórica do poema. Aí. Egas Moniz. Os muçulmanos tramam contra os cristãos portugueses e envenenam as boas relações com o samorim. orientada pelos jesuítas. para que ardam de amor pelos portugueses. Nota: A obra Os Lusíadas passaram pela censura inquisitorial. feridas por Cupido com suas setas. a elevação dos navegadores à esfera da imortalidade. indaga Paulo da Gama acerca do significado das figuras desenhadas nas bandeiras lusas. deslumbrados com o espetáculo divino. É o congraçamento entre os homens e os deuses. em troca de mercadorias européias. 83) Após um banquete oferecido por Tétis e pelas ninfas. fantástico. as convenções moralistas e repressoras da corte. O poeta encerra o oitavo canto com dissertação sobre o poder do dinheiro. fala-se do Descobrimento do Brasil. Os navegadores avistam Calicute. (Lus. 140) Na estrofe 144 do 10º canto. Sirena (ou sereia). ali tereis Parte também. na partida das naus. Manuel de Portugal. De Santa Cruz o nome lhe poreis. anuncia as futuras conquistas portuguesas. e que somente os deuses podiam contemplar. uma delas. O samorim (= rei) determina ao catual (= governador) que receba os navegadores. Novas ciladas. Manuel. a quem não deviam desagradar as críticas do poema aos jesuítas. e o narrador medita sobre o sentido e valor da glória. O irmão do comandante assume a narrativa e conta os feitos dos heróis da pátria (Viriato. Estes. Vasco da Gama desembarca na Índia. que ira honesta. Dona Francisca de Aragão (amiga íntima da rinha). Negocia com o catual sua liberdade. dois feitores portugueses que vendiam mercadorias em Calicute são retidos em terra para retardar a partida das naus e permitir que fossem alcançadas e destruídas por uma esquadra muçulmana. Trocam-se os feitores portugueses pelos mercadores orientais. o marinheiro Veloso entretém seus companheiros com a narrativa cavaleiresca de Os Doze de Inglaterra: doze portugueses. réplica em miniatura do sistema solar. Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta. Afonso Henriques. liderados pelo Magriço. Nuno Álvares e outros). em visita à esquadra.nau capitânea. passam a perseguir as ninfas que se deixam alcançar e se entregam. A publicação deveu-se ao empenho de alguns admiradores de Camões: D. É a mais clara manifestação do pan-erotismo. segundo a teoria geocêntrica de Ptolomeu. D. vão à Inglaterra resgatar a honra de doze donzelas inglesas ultrajadas por doze cavaleiros bretões. Canto VII e VIII . os dominicanos. Os historiadores registram ter sido uma viagem acidentada. o frei dominicano Bartolomeu Ferreira. O longo episódio da Ilha dos Amores pertence já ao plano mitológico. Canto IX e X . D. iniciam a viagem de regresso a Lisboa. O censor da obra. o samorim manda devolver as fazendas que os portugueses pagaram como resgate pelo capitão. reúne as nereidas (ninfas marinhas). Em represália. e os navegadores. Melhor é exp’rimentá-lo que julgá-lo. (Lus. não só aprovou a obra como também a elogiou. Descobrindo o orbe terrestre. em nome de D. os portugueses estão de volta a Lisboa. Tétis aponta os lugares onde os portugueses ainda se farão presentes. Mas obedecerá ao seu pedido. Vénus. Fernando. Segundo ele. é recebido por Vasco da Gama. refere as diferentes lutas travadas por ele: contra sua mãe. fogem precipitadamente lançando-se ao mar. Afonso IV. cujo rei fora avisado por Baco para receber os portugueses e os destruir . não será o mais correcto. indicando também a situação geográfica do seu país relativamente ao resto da Europa. que descobrira a traição de Baco. CANTO III O narrador começa por invocar Calíope. São de destacar os episódios referentes a Egas Moniz (estâncias 35-41) e a Batalha de Ourique (estâncias 42-54). mas com a ajuda dos marinheiros portugueses consegue vencer os mouros. quando verifica que os Portugueses eram Cristãos. Quando Vasco da Gama desembarca na ilha‚ é atacado traiçoeiramente. O Régulo. E. o episódio da batalha do Salado. por mais longo que seja. destacam-se os episódios da formosíssima Maria. ouvindo as suas palavras. falará da sanguinosa guerra. finalmente.CANTO I Depois do Concílio dos Deuses. Afonso IV. A armada continua a viagem e chega a Melinde. se torne curto para tantos e tão grandiosos feitos. que acaba por descobrir a traição que lhe estava preparada e à qual escapou milagrosamente. desde Luso a Viriato. e. Relativamente ao primeiro rei de Portugal. Após a descrição da Europa. o episódio de Inês de Castro. com a ajuda das Nereides. a mísera e mesquinha que depois de ser morta foi rainha. Quando os portugueses regressam à armada. afasta a armada da costa por meio de ventos contrários. Afonso VII e contra os mouros. Vasco da Gama fala das origens de Portugal. contra D. indo contra o que deve e procurando ser breve. Vénus. encarregados por ele de obterem informações acerca da terra. segundo ele. Aí recebe a bordo da nau alguns Mouros da Ilha. onde é magnificamente recebida. convencidos de que estavam entre gente Cristã. Perante o espanto de todos. Quando a armada se aproximava de Quíloa. mas Vénus está atenta e impede que isso aconteça. em que sua filha lhe vem pedir ajuda para seu marido. Júpiter fica comovido e manda Mercúrio a terra para preparar uma recepção em Melinde aos Portugueses e inspirar a Vasco da Gama qual o caminho a seguir. eles não avançam. Entretanto os portugueses continuam a viagem para Norte e chegam a Mombaça. Baco disfarça-se de sacerdote cristão. perante a admiração de Vasco da Gama. Os dois portugueses são levados à casa onde ele se encontra e vêem em Baco um sacerdote cristão junto a um altar onde se representavam Cristo e os Apóstolos. não contará história estranha. D. O piloto mouro e os companheiros que também tinham sido embarcados na ilha de Moçambique. em virtude de o grão rei de Marrocos ter invadido a nobre Espanha para a conquistar. dão informações falsas a Vasco da Gama. O piloto mouro tenta outras vezes aproximar a armada da costa para a destruir. para que a ordem leve e siga. A partir da estância 23. para que lhe ensine o que Vasco da Gama contou ao rei de Melinde. em que juntos os dois Afonsos vencem o exército árabe. pensando que os seus objectivos tinham sido descobertos. que recebera ordens para levar os portugueses a cair numa cilada em Quíloa. o chefe da Ilha. Teresa. Vasco da Gama agradece à Divina Guarda o milagre concedido e pede-lhe que lhe mostre a terra que procura. Vasco da Gama recebe a bordo um piloto. . isto é. resolve destruí-los. para alargamento das fronteiras em direcção ao sul. Vasco da Gama resolve entrar com a armada no porto de Mombaça. o que. mas irá ser obrigado a louvar os seus. Os principais episódios narrados dizem respeito aos reinados de D. rei de Castela. manda desembarcar dois condenados portugueses. Por outro lado. o rei de Melinde visita a armada portuguesa. Vasco da Gama envia um embaixador a terra e o rei acolhe-o favoravelmente. musa da poesia épica. anulando assim a traição. A partir daqui o narrador passa a ser Vasco da Gama. irá primeiro tratar da larga terra e. começa a narrar a História de Portugal desde o conde D. último rei da primeira dinastia. por medida de segurança. impede os barcos de entrar no porto. Após várias manifestações de contentamento em terra e na armada. Afonso Henriques e a D. Henrique até D. Vénus apercebe-se do perigo e. em seguida. Vasco da Gama. inspirado por Baco. fica comovida e vai ao Olimpo queixar-se a Júpiter pela falta de protecção dispensada pelos deuses aos Portugueses. O Mouro. apesar do vento empurrar os barcos em direcção à cilada. a armada de Vasco da Gama chega a Moçambique onde pára para se abastecer. CANTO II O rei de Mombaça convida a armada portuguesa a entrar no porto a fim de a destruir. Após o triunfo. receia que o tempo de que dispõe. No reinado de D. No reinado de D. As areias no fundo dos mares vêem-se revolvidas. sem se desconcertar. e a Batalha de Aljubarrota. a largada de Lisboa e o afastamento da armada até ao desaparecimento no horizonte da fresca serra de Sintra. Na armada a situação é caótica. é narrada a conquista de Ceuta e o martírio de D. Fernão Veloso aventura-se a penetrar na ilha de Santa Helena. Entretanto Baco desce ao palácio de Neptuno. Fernando. em seguida. Por ordem de Neptuno. perseguido por vários nativos. para ir buscar outro tão longe. tendo referido também a mais crua e feia doença jamais por ele vista: o escorbuto. a figura de D. os portugueses contactam com um nativo. no Norte de África. As lágrimas interrompem-lhe a dado momento as suas palavras. os marinheiros procuram gozar com Fernão Veloso. Vendo-se perdido. os portugueses contam histórias para evitarem o sono. interpelado por Vasco da Gama. as árvores arrancadas e com as raízes para o céu e os montes derribados. Nuno Alvares Pereira. Quando se apercebem da chegada da tempestade. Neptuno manda a Eolo recado para que solte os ventos. Este. apresentando honesta e claramente as razões da sua presença. fazendo com que de imediato todos os deuses se inflamassem tomando o seu partido. gerando assim uma tempestade que destrua os portugueses (estâncias 6-37). Assim que se encontram todos reunidos. que continua a sua narração ao rei de Melinde. dizendo-lhe que o outeiro fora melhor de descer do que subir. tendo Vasco da Gama de ir em seu socorro. momento a partir do qual Vasco da Gama refere diversos fenómenos meteorológicos. entre as quais a dos Doze de Inglaterra (estâncias 43-69). o fogo de Santelmo e a tromba marítima (estâncias 16-23). no qual um velho de aspecto venerando critica os descobrimentos. CANTO V Vasco da Gama. Baco profere o seu discurso. João I de Portugal a D. as despedidas na praia de Belém e. O canto termina com os elogios feitos pelo Gama à tenacidade portuguesa e com a invectiva do poeta contra os portugueses seus contemporâneos por desprezarem a poesia e a técnica que lhe corresponde. a quem oferecem vários objectos. Manuel I. conta a sua história. a fim de incitar os deuses marinhos contra os portugueses. travando-se uma pequena luta entre eles. Manuel I confia a Vasco da Gama o descobrimento do caminho marítimo para a Índia e é-nos depois apresentada a partida das naus. . CANTO VI Após as festas de despedida. com os preparativos para a viagem. Vasco da Gama relata o resto da viagem até Melinde. da qual saiu Vasco da Gama ferido numa perna. despovoando-se o reino e enfranquecendo-o consequentemente. Afonso V e de D. surge a correr a toda pressa. e. Em seguida. Baco é recebido por Neptuno no seu palácio e explica-lhe os motivos da sua vinda. É tal a fúria dos elementos que nada lhes resiste. São a seguir apresentados os reinados a seguir a D. a fúria com que os ventos investem é tal que não lhes dá tempo de amainar as velas. apresentando-nos os preparativos para a guerra com Castela. pois vê-os quase a atingir o império que ele tinha na Índia. Regressados aos barcos. no começo deste canto. que opôs D. é apresentado o seu sonho profético (estâncias 67-75). entre os quais se contam os seus próprios irmãos. tais como súbitas e medonhas trovoadas. o qual faz diversas profecias aos portugueses e. A certa altura. que deixava criar às portas o inimigo. João I de Castela. Crendo haver conquistado a confiança dos nativos. Sem nada pressentirem. A viagem prossegue normalmente até à passagem do Equador. apresenta agora. o Infante Santo. com as naus alagas e os mastros derribados. Manuel I. Junto ao Cabo da Tormentas. levando a bordo um piloto melindano. rompendo-as e quebrando os mastros. em seguida. entre 1383-85. João I. foca o reinado de D. finalmente. Vasco da Gama pede ajuda à Divina Guarda. Fernando. respondeu-lhes que correra à frente dos nativos por se ter lembrado que os companheiros estavam ali sem a sua ajuda (estâncias 24-36). ocorre o episódio do Gigante Adamastor (estâncias 37-60). entre os quais os de D. João II. D.CANTO IV O canto IV começa por referir o interregno que se seguiu à morte de D. apontando os seus inconvenientes e criticando mesmo o próprio rei D. a armada larga de Melinde para prosseguir a viagem até à Índia. Chegados à ilha de Santa Helena. o episódio do velho do Restelo. Tritão vai convocar todos os deuses marinhos para o concílio. o seu insurgimento contra aqueles que se colocaram ao lado de Castela. João I. As gentes gritam e vêem perto a perdição. não aceita a proposta. ordena a partida. mas não consegue o que pretende. Entretanto. por isso. O canto termina com a oração de agradecimento de Vasco da Gama e com uma reflexão do poeta acerca do verdadeiro valor da glória. o Catual apresenta nova proposta a Vasco da Gama: deixa-o embarcar. que já estivera em Castela e sabia quem eram os portugueses. Quando acorda.Vénus apercebe-se do perigo em que os portugueses se encontram e. porque adivinham eterno cativeiro e destruição da gente indiana pelos portugueses. Por ordem do Samorim. o Samorim recebe os portugueses no seu palácio. o Catual impede o cumprimento das ordens do Samorim e pede a Vasco da Gama que mande aproximar a frota para embarcar. . Uma vez chegados a terra. Baco resolve agir contra os portugueses. tomando-os como reféns. Após a visita. CANTO VIII Paulo da Gama continua a explicar o significado das figuras nas bandeiras portuguesas ao Catual. Vasco da Gama. visita a nau capitaina. em seguida. o Catual procura colher informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e. são restituídos a Vasco da Gama os dois feitores portugueses e as fazendas. o narrador faz o elogio do espírito de cruzada luso e exorta as outras nações europeias a seguirem o exemplo dos Portugueses na luta contra os infiéis (estâncias 2 a 15). mas são detidos em terra. Das estâncias17 a 22. Após os discursos de apresentação. Enquanto estes aqui permanecem. Subornado pelos muçulmanos. na primeira estrofe do Canto VII entram na barra de Calecut. Quando a tempestade se acalma (estâncias 70-85). onde o recebe e lhe dá de comer. astuto e desconfiado. Como represália. Camões invoca as ninfas do Tejo e também as do Mondego. Este mensageiro encontra o mouro Monçaide. Algum tempo depois. Vasco da Gama desembarca com nobres portugueses. mostrando-lhe o desejo de trocar fazendas europeias por especiarias orientais. pescadores em leves embarcações mostram aos portugueses o caminho para Calecut. Com o receio de ser castigado pelo Samorim. O Gama é informado disso pelo árabe Monçaide e. ordena a Vasco da Gama que regresse à frota. amanhecia e o piloto melindano avista a costa de Calecut. Depois disto. Na estrofe 2. com o intuito de a destruir. fazendo várias perguntas. Por ordem do rei da Índia (estâncias 45 a 46) os Arúspices fazem sacrifícios. Vasco da Gama aceita e regressa à frota. a fim de dar tempo a que uma armada muçulmana viesse de Meca para a destruir. Aparece em sonhos a um sacerdote árabe (estâncias 47 a 50 ) incitando-o a opor-se aos portugueses. a quem pergunta o significado das figuras presentes nas bandeiras de seda. que. onde vive o rei da Índia. adivinhando que se trata de mais uma acção de Baco. é feita a descrição da Índia e apresentados os primeiros contactos com Calecut. agora. CANTO IX Dois feitores portugueses são encarregados de vender as mercadorias. por causa da demora. CANTO VII Os portugueses. impede vários mercadores da Índia de regressarem a terra e. Convida-o a ir a sua casa. para retardar a partida da armada portuguesa. que o leva ao palácio do Samorim. Monçaide visita a frota e fornece elementos acerca da Índia. o sacerdote maometano instiga os outros a revoltarem-se contra Vasco da Gama. o Catual regressa a terra. após o que se iniciou o regresso a casa (estâncias 13 a 17). Vasco da Gama avisa o rei da sua chegada e manda a terra o degredado João Martins. ficando muito admirado por os ver tão longe da sua pátria. queixando-se dos seus infortúnios. mas terá de lhe dar em troca fazendas europeias. após violenta discussão. que tinham chegado à Índia ainda no Canto VI (estância 92). que se mostra bastante interessado. Monçaide e o enviado regressam à nau de Vasco da Gama. onde é recebido por Paulo da Gama. depois de ter entregue as mercadorias pedidas. procurando fazer com que os dois feitores portugueses regressem secretamente à armada. sendo preso pelo Catual. Das estâncias77 até ao fim do Canto VII. decide partir. Vasco da Gama procura entender-se com o Samorim. é recebido pelo Catual. O canto acaba com as reflexões do poeta acerca do poder do « metal luzente e oiro». manda as Ninfas amorosas abrandarem as iras dos ventos. Finalmente. Tomé e faz referência ao naufrágio de Camões. na sua maioria heróicas (acentuadas nas sextas e décimas sílabas). que tanto sublimaram. tomando o Gama pela mão. foi colocada no ponto que divide a obra na proporção áurea (início do Canto VII). Dentro das várias profecias. Assim: Os Lusíadas é constituído por dez partes. da ocidental praia lusitana. a encontrasse. recebendo-o com honesta e régia pompa. Finda a invocação. e manda reunir as Ninfas numa ilha especialmente preparada para os acolher. chamadas de cantos na lírica. tipos de rimas. apenas se deixando apanhar ao fim de algum tempo. iniciando-se uma perseguição. B Em perigos e guerras esforçados. ou seja. ver na citação ao lado). e a quem todo o coro das Ninfas obedecia. que embarcam para empreenderem a viagem de regresso (estâncias 142-143). onde lhe explicou (estâncias 89 a 91) o significado alegórico da «Ilha dos Amores»: as Ninfas do Oceano. Tétis conduz Vasco da Gama ao cimo de um monte. apresentou-se a Vasco da Gama. A «Ilha dos Amores». ritmo. efectuando-se. no orbe terrestre. Tétis e a Ilha outra coisa não são que as deleitosas honras que a vida fazem sublimada. B E entre gente remota edificaram C Novo reino. a chegada à Índia. CANTO X Tétis e as restantes ninfas oferecem um banquete aos navegantes e durante ele uma ninfa começa a descrever os futuros feitos dos portugueses. Entretanto (estâncias 8-9) o poeta interrompe-lhe a descrição para invocar uma vez mais Calíope. infalivelmente. Canto I. Os portugueses desembarcaram na ilha e as Ninfas deixam-se ver. etc. Assim. número de versos por estrofe. Sendo Os Lusíadas um texto renascentista. Para aumentar o desejo dos portugueses. onde acaba a prolepse (avanço no tempo. falando dos heróis e futuros governadores da Índia. de modo a que esta. O Canto IX termina com uma exortação dirigida aos que aspiram a imortalizar o seu nome. Dirige-se. com esse objectivo. cada verso é constituído por dez sílabas métricas (decassilábico). Tétis. o clímax da narrativa. as estâncias são oitavas. figuras de estilo.Vénus decide preparar o repouso e prémio para os portugueses (estâncias 18 a 21). A partir da estância 74. Depois de se ter apresentado e dado a entender que ali viera por alta influição do Destino. B Por mares nunca de antes navegados A Passaram ainda além da Taprobana. levou-o para o seu palácio.C” — Os Lusíadas. os lugares onde os portugueses irão praticar altos feitos. previsão de factos futuros). não poderia deixar de seguir a estética grega que dava particular importância ao número de ouro. A Mais do que prometia a força humana. o cada canto possui um número variável de estrofes (em média. o «casamento» entre elas e os marinheiros. a seu filho Cupido (estâncias 22 a 50). era uma ilha flutuante que Vénus colocou no trajecto da armada. então. as Ninfas opuseram uma certa resistência. tendo portanto oito versos. cuja viagem se efectua com vento sempre manso e favorável. número de sílabas métricas. a rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB AB CC. chegando à foz do Tejo sem quaisquer problemas (estância 144). Tétis despede os portugueses. Estrutura “As armas e os barões assinalados A Que. . a maior. exortações a D. Tétis narra o martírio de S. cuja descrição se apresenta nas estâncias 52 a 55. Das estâncias 145 a 156 são apresentadas lamentações. a ninfa retoma o seu discurso. estrofe 1 A estrutura externa refere-se à análise formal do poema: número de estrofes. 110). onde lhe mostra uma miniatura do Universo e descobre. Sebastião e vaticínios de futuras glórias. o poeta invoca as ninfas do Tejo e pede-lhes a inspiração para escrever (estrofes 4 e 5 do Canto I). e depois prosseguir na linha temporal. Plano do Poeta . acreditar nos deuses do panteão greco-romano. .são descritas as influências e as intervenções dos deuses da mitologia greco-romana na acção dos heróis. A fé única no Deus cristão é defendida por toda a obra. Camões lendo Os Lusíadas. há um epílogo a concluir a obra (estrofes 145 a 156 do Canto X). em que o maravilhoso não passa dum artifício necessário. mitológicos. apresentação do assunto e dos heróis (estrofes 1 a 3 do Canto I). é o próprio personagem da deusa Tétis que afirma: «eu. Plano da História de Portugal . Só pera fazer versos deleitosos Servimos ». Júpiter.Camões refere-se a si mesmo enquanto poeta admirador do povo e dos heróis portugueses. e a prova é a não censura dos inquisidores aos «Deoses dos Gentios». Dedicatória . Ao longo da narração deparam-se-nos vários tipos de episódios: bélicos.são relatados episódios da história dos portugueses. como já a Eneida. líricos e naturalistas.o poeta dedica a obra ao rei D. No episódio da Máquina do Mundo (estrofe 82 do Canto X).A estrutura interna relaciona-se com o conteúdo do texto.[1] o Parecer do censor do Santo Ofício na edição de 1572 declara que percebeu que este recurso «não pretende mais que ornar o estilo Poético ». Esta obra mostra ser uma epopeia clássica ao dividir-se em quatro partes: Proposição . in medias res.onde se trata da viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia de Vasco da Gama e dos seus marinheiros.a narrativa da viagem. Juno. Plano da Mitologia . Os planos temáticos da obra são: Plano da Viagem . em tempos de Contra-Reforma. Por isso. Os Lusíadas. Fingidos de mortal e cego engano. Saturno e Jano. Apesar de terem cortado excertos da obra nas suas primeiras edições. Não se pode pensar em heresia porque não fazia sentido. partindo do meio da acção para voltar atrás no tempo e explicar o que aconteceu até ao momento na viagem de Vasco de Gama e na história de Portugal. mas só literário. é uma epopeia moderna. Por fim. Narração .introdução. simbólicos. Sebastião (estrofes 6 a 18 do Canto I). fomos fabulosos. Invocação . [editar] Parecer do Santo Ofício O poema épico mais genuíno é o canto da construção duma nação com a ajuda de Deus ou dos deuses. históricos. Lisboa. os Lusíadas. O herói da obra. os portugueses. a presença destes deuses ocupa um lugar de muito relevo no poema. recompensa ficcional da gloriosa caminhada portuguesa através dos tempos. estrofe 24. Canto I. No final do poema surge o episódio da Ilha dos Amores. Deveis de ter sabido claramente. Gregos e Romanos).” — Início do discurso de Júpiter no concílio dos deuses. O rei dos deuses afirma que desde Viriato e Sertório. Persas. ou os filhos de Luso. e claro assento. Como é dos fados grandes certo intento. . o herói desta epopeia é colectivo. os portugueses. Portugal “Eternos moradores do luzente Estelífero pólo. mostra como um país tão pequeno descobre novos mundos e impõe a sua lei no concerto das nações. o destino (fado) dos valentes portugueses (forte gente de Luso) é realizar feitos tão gloriosos que façam esquecer os dos impérios anteriores (Assírios. E é confirmado o receio de Baco de as suas façanhas de conquista serem ultrapassadas pelas dos portugueses. pois além de ser marcada pelas sucessivas e vitoriosas lutas contra mouros e castelhanos. O desenrolar da sua história atesta-o. relatados na narrativa. Persas. São as suas intrigas que ligam os episódios dispersos da epopeia e as suas intervenções deus ex machina que emprestam lógica a acontecimentos inesperados da viagem. [editar] Tema [editar] O herói Como o título indica. «não tivémos por inconveniente ir esta fábula dos Deoses na obra ». que todos os Deoses dos Gentios são Demónios ». Todavia. mas não resiste a acrescentar «ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fé. Que por ela se esqueçam os humanos De Assírios. Monumento aos Descobrimentos Portugueses em Belém. Gregos e Romanos. surge a orientação laudatória do autor. Se do grande valor da forte gente De Luso não perdeis o pensamento. que abre a parte narrativa. Nas estrofes iniciais do discurso de Júpiter no concílio dos deuses olímpicos.continua. dominando ou abatendo o poder do Islão. E o comandante das forças cristãs fôra D. admirador. João de Castro). a quem se devia o descobrimento da rota para o oriente numa viagem difícil e com poucas probabilidades de êxito. de redigir o épico português. Sebastião de Portugal. Foi neste contexto de exaltação que o poeta terá contribuído para incitar o jovem rei português a partir em conquista para a África. a aparente invencibilidade do sultanato turco tinha sido desmentida na batalha de Lepanto. Os objectivos passavam por fazer uma concorrência comercial aos muçulmanos. El-Rei D. desde há muito ambicionada. filho bastardo do imperador Carlos V. como o «Castro forte» (o vice-rei D. Navegadores e capitães eram heróis recentes da pequena nação. soberano a quem Camões dedicou Os Lusíadas [editar] A cruzada contra o mouro O poema pode ser lido numa perspectiva que já era antiga. O próprio "movimento" dos descobrimentos surgiu numa lógica de combate ao poderoso Império Otomano que ameaçava a Europa cristã. empolgante. humorístico. Esta viagem épica foi por isso usada como história central da obra. incapaz de vencer o inimigo em guerra aberta. falecido poucos anos antes de o poeta aportar na Índia. Sebastião. Dependendo do assunto que tratam. homens capazes de extraordinárias façanhas. que poderiam ser eles mesmos cristãos. João de Áustria. Havia um ambiente de orgulho e ousadia no povo português. Os feitos inéditos dos descobrimentos portugueses e a chegada ao «novo reino que tanto sublimaram » no Oriente. Sebastião. mas a que factos recentes haviam dado acrescida actualidade. à volta da qual vão sendo contados episódios da história de Portugal.Camões dedicou sua obra-prima ao rei D. com os desastrosos efeitos que daí se seguiram. ao mesmo tempo ganhando proveitos e debilitando a economia dos rivais. e que vencera inúmeras batalhas contra reinos muçulmanos em terras hostis aos cristãos. E principalmente Vasco da Gama.[2] Em 1571. [editar] Narradores e os seus discursos Cada um dos tipos de discurso neste poema evidencia particularidades estilísticas concretas. foram sem dúvida os estímulos determinantes para a tarefa. . Mas também se ambicionava encontrar aliados dos europeus nas novas terras. a da cruzada contra o mouro. o avô de D. ou passíveis de conversão. Sentia-se que os otomanos afinal não detinham a supremacia no Mediterrâneo. o estilo pode ser heróico e exaltado. lamentoso e melancólico. As lutas no Oriente seriam a continuação das que já se haviam travado em Portugal e no Norte de África. reconhecido como «facundo capitão» (eloquente). quando o poeta pede às Tágides «um som alto e sublimado. estrofes 95 a 104).Pintura de Vasco da Gama. Que o peito acende e a cor ao gesto muda. etc. Se tão sublime preço cabe em verso. que abre em grande estilo e retoma a palavra em várias ocasiões. que também toma a palavra em diversas ocasiões. Um estilo grandíloquo e corrente. está certamente a pensar nesse tom empolgante da oratória. Tétis. Júpiter. Porque de vossas águas. Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa. que a Marte tanto ajuda. Na Invocação. . por oposição ao estilo da poesia lírica. Que se espalhe e se cante no universo. Um estilo grandíloco e corrente ». E não de agreste avena ou frauta ruda. mas os seus narradores são quase sempre oradores que fazem discursos grandiloquentes: o narrador principal. na chegada à Índia Os Lusíadas é uma obra narrativa. de «verso humilde». Paulo da Gama (Canto VIII. Camões. “E vós. Canto I. Dai-me agora um som alto e sublimado. estrofes 2 a 42). Tágides minhas. Mas de tuba canora e belicosa. Dai-me uma fúria grande e sonorosa. Vasco da Gama. Febo ordene Que não tenham inveja às de Hipocrene. protagonista por excelência de Os Lusíadas.” — Invocação às Tágides. pois criado Tendes em mim um novo engenho ardente. o Velho do Restelo (Canto IV. Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mim vosso rio alegremente. a Sirena que profetiza ao som de música (Canto X. estrofes 10 a 74). estrofes 4 e 5. estrofes 42 a 54) e Aljubarrota (Canto IV. estrofes 1 e 2 e Canto X. Exemplos de descrições dinâmicas são a da «batalha» da ilha de Moçambique (Canto I. São muitas as ocasiões em que o poeta assume um tom de lamento: a última estrofe do Canto I. Em todos esses casos o estilo é muito assemelhado à écloga. que seja digno dos «feitos da famosa Gente vossa» (célebre gente do Tejo. mas antes de chegar à Índia (estrofe 19). o discurso de Paulo da Gama ao Catual (Canto VIII. Por vezes. o deus inimigo dos portugueses. Camões é mestre nessas descrições. A Máquina do Mundo (Canto X. essas descrições são feitas ao modo de uma passagem de slides: as coisas descritas estão ali e há alguém que as mostra. certas esculturas dos palácios de Neptuno e do Samorim. estrofes 1 a 42). a da tempestade (Canto VI. início e final do Canto VII e partes da Profecia da sereia. A fé e os apelos a Deus têm uma presença forte na obra. [editar] Descrição da narrativa Aviso: Este artigo ou se(c)ção contém revelações sobre o enredo (spoilers). estrofes 94 a 104). entre outras. Por exemplo. o começo geográfico do discurso de Vasco da Gama ao rei de Melinde (Canto III. Canto I Depois da Proposição. a acção começa in medias res com a frota de Vasco da Gama já no Oceano Índico. etc. Vasco da Gama irrompe em oração: em Mombaça (Canto II).Um tom assemelhado à «tuba canora e belicosa» (trompeta de guerra) e não à «agreste avena ou frauta ruda» (flauta do pastor). estrofes 120 a 135). É o caso da parte inicial do episódio da Linda Inês (Canto III. do encontro na Ilha dos Amores (Canto IX). estrofes 26 a 44). às ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII). estrofes 37 a 60). a do jantar no palácio de Tétis (Canto X) e a do traje do Gama (final do Canto II). ] O concílio dos deuses . parte do discurso do Velho do Restelo (Canto IV. estrofes 77 a 144). fazem lembrar outros lamentos da lírica. Representação de Baco. da Invocação e da Dedicatória. em momentos difíceis. pela abundância de sensações visuais e acústicas e por expressivas aliterações. Os textos em que se concretizam são no geral narrativo-descritivos. estrofes 84 a 92). estrofes 26 a 44). Por várias vezes. As invocações do poeta às Tágides. as das batalhas de Ourique (Canto III. a do locus amoenus (lugar aprazível. da parte final do episódio do Adamastor (Canto V. estrofe 8). estrofes 6 a 20). no meio do terror da tempestade. ameno) da Ilha dos Amores (Canto IX). são também orações. marcadas pelos verbos de movimento. Há n’Os Lusíadas vários momentos líricos. em termos tipológicos. Já Vergílio chamava ao seu herói «pio Eneias». como as dos palácios de Neptuno e do Samorim de Calecute. O vilão d'Os Lusíadas. os portugueses). a Calíope (Canto III. De assinalar excelentes descrições. na aparição do Adamastor. lembra que não só já é merecido que consigam realizar a sua façanha. depois de uma original saudação. O Nascimento de Vénus. porque isso lhes está predestinado. de Bouguereau Baco discorda porque. onde se apela à benevolência dos deuses para com os filhos de Luso . . Segue-se um tumulto. Vem depois a confirmação: com factos do presente corrobora o que já. O discurso com que Júpiter começa a reunião é uma acabada peça de oratória. até que o poderoso Marte se impõe. se pôs diante De Júpiter. e Apolo. Contra o que seria de esperar. Mas Vénus vê os portugueses como herdeiros dos seus amados romanos e sabe que será celebrada por eles. que também celebrava o amor na sua lírica. se isto for permitido. com os restantes olímpicos a tomar partido de Baco ou Vénus. Júpiter conclui determinando e não abrindo o debate.[3] “A viseira do elmo de diamante Alevantando um pouco. e talvez por isso tivesse escolhido a deusa romana desse sentimento para patrona do seu povo. expõe brevemente o tema a desenvolver. Abre com o inevitável exórdio (1ª estrofe) em que. Camões era um homem de paixões. Por dar seu parecer. a decisão dos fados cumprir-se-á inexoravelmente. Com o conto do bastão no sólio puro. de torvado. O Céu tremeu.Neste momento. a seu modo. O amante de Vénus. armado. as suas próprias conquistas no Oriente serão esquecidas. é convocado o Concílio dos deuses (estrofes 20 a 41) para decidir se os portugueses devem ou não conseguir alcançar o seu destino. e admirador dos feitos guerreiros dos portugueses. como Júpiter já tinha decidido conceder esse favor e não deveria voltar atrás na palavra. E termina com duas estrofes de peroração. a narração comprovara (4ª estrofe). forte e duro: E dando uma pancada penetrante. Júpiter afirma que sim.aliás. mui seguro. Segue-se. ultrapassadas por este povo. ao modo da retórica antiga. a narração (o passado mostra que a intenção dos fados é mesmo a que o orador apresentou). assustando Apolo num aparte (estrofe 37). O rei dos deuses concorda e encerra o concílio. que será uma referência ao reino de Preste João. o segundo é Mombaça. e com a ajuda das Nereidas impede a entrada dos navios portugueses. que tomara a forma mortal de um dos seus conselheiros. Enganados pelos mouros e por Baco. intimidados pelo poderio bélico das naus. Mas as suas verdadeiras intenções são a destruição dos portugueses. Por duas vezes o piloto indica bons portos de acolhimento: uma terra de cristãos. que fornecerá tudo o que procura. [editar] Canto II Caminho percorrido pela expedição de Vasco da Gama (a preto). como enfiado. prosseguindo depois com o bombardeamento da cidade. mas com a intenção de armar uma emboscada. [editar] Chegada a Melinde . Nesta figura também se pode ver o percurso de Pêro da Covilhã (a laranja) separado de Afonso de Paiva (a azul) depois da longa viagem juntos (a verde). desvia a frota com ventos contrários. estes aconselham a entrada em Mombaça. Vasco da Gama confia no piloto. a segunda estratégia do deus do vinho. Mas estes. vendo que na realidade se trata de terras de muçulmanos capazes de vencer os portugueses.Um pouco a luz perdeu. Vasco da Gama envia primeiro dois degredados à cidade para passarem a noite e avaliarem a situação. que chega à ilha de Moçambique. Seduz Júpiter com a sua beleza e queixa-se dos perigos que a expedição está a correr. O primeiro porto é ultrapassado. A primeira estratégia é atacar os marinheiros que forem a terra abastecerem-se de água. vão armados e desbaratam as forças inimigas. O regedor rende-se e oferece então um piloto que os conduza para terras inimigas. E o canto termina com duas estrofes plenas de suspense. Vénus sai então em direcção aos céus (estrofe 33). cuidadosos. O rei dos deuses reafirma que os fados já destinaram sucesso para os portugueses e envia Mercúrio para avisar Vasco da Gama da existência de Melinde. São acolhidos por muçulmanos que. a pouca distância do qual a frota lança âncora. Mas Vénus. Canto I. e outra em que cristãos e muçulmanos viveriam juntos.” — Descrição de Marte no concílio. A inspiração do soberano mouro vem de Baco. Mas Vénus interfere mais uma vez. onde encontrará um rei justo e bondoso. [editar] Cilada em Mombaça O rei de Mombaça envia um mensageiro com promessas de bom acolhimento e pede que a armada entre no porto da cidade. estrofe 37 [editar] A ilha de Moçambique e o piloto mouro A acção volta então à frota lusa. lhes prometem mantimentos e um piloto que os leve à Índia. Afonso Henriques se recusou a acatar estas condições. este episódio é um documentário da descoberta de novas terras e novos povos. munições e piloto para a Índia. Vasco da Gama começa por explicar a geografia da Europa e a situação de Portugal no continente (estrofes 6 a 20). por Soares dos Reis Inicia então a narrativa da história de Portugal. desfaz. e como foi feito o contacto diplomático.” — Batalha de Ourique. . como se apresentou a esquadra portuguesa. Réplica da original de Guimarães. como foram as reacções de uns e de outros. a sua história e as suas gentes. pede a Vasco da Gama que lhe conte sobre a sua viagem. passa para o rei D. Afonso Henriques no Castelo de São Jorge em Lisboa. leoneses e mouros. De uma grande riqueza descritiva. Afonso VI de Leão e Castela. Tendo dado a sua palavra ao rei de Castela que o soberano português lhe prestaria vassalagem. Subindo a bordo da nau capitânia. Afonso Henriques pela formação da nacionalidade e a enumeração dos feitos guerreiros do primeiro rei de Portugal contra castelhanos. Mas como D. couraça e malha Rompe. Henrique. «quase cume da cabeça De Europa toda». estrofe 51 Estátua de D. O rei melindano oferece mantimentos. por ele se consegue "ver" Melinde e os melindanos. Por toda a parte andava acesa a guerra: Mas o de Luso arnês. Teresa e o conde D. é confirmada a boa notícia do reino de Melinde. a recepção que teve. De Luso a Viriato. [editar] Egas Moniz Neste episódio (estrofes 35 a 41) conta-se a história do aio de D. Apesar de naturalmente romanceado.Depois de interrogarem prisioneiros feitos em Mombaça. [editar] Canto III Após uma invocação do poeta a Calíope. D. com a mulher e os filhos. A frota dirige-se para lá e é bem recebida. corta. Afonso Henriques. comovendo a todos pela sua lealdade e honra. Egas Moniz foi entregar-se ao rei castelhano. “Golpes se dão medonhos e forçosos. Mas que primeiro descreva o reino de Portugal: a sua geografia. Segue-se a luta de D. conseguiu o levantamento do cerco castelhano a Guimarães. Canto III. abola e talha. com falsas e ferozes Razões. corta. A descrição das conquistas do rei Afonso continua (estrofes 55 a 68) em ritmo acelerado: Leiria. Sancho II). Serpa. Alenquer. no caso de D. Seguem-se os restantes reis da dinastia de Borgonha. a Batalha do Salado. Palmela. O primeiro é um episódio lírico. Afonso acaba por ser cercado pelo rei de Leão. à morte crua o persuade. Sesimbra. em que a filha de D. Sintra. que se torna no assunto do canto bélico juntamente com o pai. Afonso IV que vão surgir mais alguns episódios célebres d'Os Lusíadas: a Formosíssima Maria. desfaz. e depois da morte deste (estrofes 83 e 84) como rei.[editar] Batalha de Ourique O Milagre de Ourique de Domingos Sequeira. Badajoz. Óbidos. Mafra. Ela com tristes o piedosas vozes. Torres Vedras. Sancho I na história. o rei parte em ajuda do genro. Arronches. Comovido. Santarém. [editar] Dinastia de Borgonha Nesta última cidade D. e filhos que deixava. Alcácer do Sal. Saídas só da mágoa. Canto III. Lisboa. tantos são mortos em batalha que o sangue destes corre em rios e pinta o campo verde e branco de carmesim. em que o fundador de Portugal derrota cinco reis mouros depois de ter uma visão de Cristo. Évora. e Inês de Castro. e saudade Do seu Príncipe. Esta sequência torna a narrativa num carrocel de emoções. mais um exemplo de luta épica. estrofe 124 . pondo os restantes em fuga apavorada. e Camões introduz o seu herdeiro D. O corajoso exército «Rompe. É mais um exemplo de uma vívida batalha épica. [editar] Inês de Castro “Traziam-na os horríficos algozes Ante o Rei. óleo sobre a tela (1793) Em seguida (estrofes 42 a 54) é narrada a lenda da batalha de Ourique. abola e talha » as forças inimigas. Que mais que a própria morte a magoava” — Sobre Inês de Castro. É no canto do reinado de D. em que os portugueses enfrentam um inimigo cem vezes superior em número. Afonso IV roga a ajuda deste para o seu reino de Castela contra os mouros. destacando a coragem e o bom reinado de cada um (ou mau reinado. Beja. Moura. No final. Por este motivo pinta os cinco escudos e os trinta dinheiros na bandeira de Portugal. já movido a piedade: Mas o povo. na batalha do Salado. Elvas. Já os versos iniciais da estrofe 124. só para poder criar os filhos do seu amor. D. quem nunca amou será mais ríspido nas críticas. Interpretando estas crises como consequência ou castigo do amor do rei por Leonor Teles. dos mais comuns episódios bélicos. o monarca tem desculpa (estrofe 143) para quem já amou. é apresentado o brando D. entre «toda a feridade». Manuel I. só para poder cuidar dos seus filhos. O poeta que tinha escrito sonetos tão sombrios. O seu amor é ilícito. talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas. Por isso. Inês e D. distinguindo-o assim. a peripécia. em que a sua armada parte para a Índia. Trazida à presença do rei. sobretudo. consolação extrema da mãe velha ». e mesmo a 135. responsabilizado pela quase perda do reino durante as guerras fernandinas e pela crise que o país enfrentaria após a sua morte. o cruel. proibido pelos poderes. quando é comparada com «a linda moça Policena. elementos trágicos como o destino. até ao momento. e censura o rei. Convém que se não perca de vista a sua integração no poema. continua. quando ela suplica a comutação da pena capital por um exílio na Sibéria (Cítia) ou na Líbia. Costuma-se classificá-lo como lírico. até algo próximo do papel do coro (apóstrofes). recusa. de quem tanto elogiara os feitos guerreiros. chama repetidamente este de «puro amor». A solução é eliminá-la. [editar] Canto IV Vasco da Gama prossegue a narrativa da história de Portugal. Fernando. quando o leitor escuta toda a estrofe 134. A nobreza moral e social dos personagens é também salientada. o romântico poeta acrescenta «Mas quem pode livrar-se por ventura Dos laços que Amor arma brandamente». Súplica da Linda Inês (de Castro) D. desde a Revolução de 138385. apaixonado por Inês. Afonso IV pretende casar o filho que. esta implora pela sua vida. que conduz a acção para o final trágico. via alocução de Vasco da Gama ao rei de Melinde. Fernando Depois da vingança de D. Quando Inês teme mais a orfandade dos filhos que a própria perda da vida. [editar] D. com maior ou menor clareza. E assim a frágil e bela apaixonada é assassinada «só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la» (por amar quem soube conquistar o seu coração). Fala agora da 2. Pedro. mas os conselheiros e o povo exigem a morte. de sofrimento amoroso. do reinado de D. estão-se a dedilhar os acordes da piedade.ª Dinastia.O turbilhão de emoções continua com este episódio lírico-trágico (estrofes 118 a 135). Comove o velho soberano. . de modo a criar no leitor sentimentos de terror e de piedade perante a desgraça que se abate sobre a protagonista (catástrofe). Pedro são os amantes trágicos por excelência. Uma rápida análise do episódio permite encontrar aí presentes. por esta sombra no seu reinado. a apóstrofe com que termina a 130 (e antes a da segunda metade da 123) e a estrofe 133 estão ao serviço da sugestão do terror trágico. que por cobiça dos poderosos lança tanta gente à morte. Socorre a Ala dos Namorados que se encontrava na vanguarda e. e a batalha de Aljubarrota (estrofes 24 a 44). Nuno Álvares Pereira. Afonso V. Fernando. Com força (a)tira. Dois heróis partilham as glórias destes episódios: o régio D. sem medo de morrer pela causa portuguesa. João e o guerreiro D. o poeta deixa a opinião de quem maldiz a guerra. deixando tantas mães e esposas sem maridos e filhos. que tem de lidar com o conflito acrescido de lutar contra os seus familiares. Duarte e D. Entra a Ínclita geração. fazendo lembrar Ájax na Ilíada. Canto IV. particularmente os irmãos de Nun'Álvares. Os feitos do Mestre de Avis também são cantados de forma particularmente épica. Nuno Álvares Pereira na Batalha de Aljubarrota. as atenções do reino viram-se para Marrocos e para o mar. deste único tiro. “Eis ali seus irmãos contra ele vão. e depois D. representada por D. e. Critica amarguradamente quem se juntou ao partido castelhano. Que menos é querer matar o irmão. a par com o canto da glória. Muitos lançaram o último suspiro ". quer sejam humildes ou poderosos. estrofe 32 Mas no fim de mais uma batalha sanguinária. Camões elogia os patriotas que defenderam a independência. (Caso feio e cruel!) mas não se espanta. [editar] Expansão portuguesa Com a paz. "sopesando a lança quatro vezes. . Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:” — Sobre D.Representação medieval da batalha de Aljubarrota [editar] Batalha de Aljubarrota A narrativa da revolução de 1383-85 é dividida em duas partes: o levantamento do povo para apoiar o pretendente português (estrofes 1 a 23). na estrofe 38. A sua coragem salva a batalha. Canto V. ter entrado pela terra adentro na companhia dos nativos. [editar] Fernão Veloso “Disse então a Veloso um companheiro (Começando-se todos a sorrir) -"Ó lá. Depois de uma escaramuça para o salvarem. os companheiros fazem troça da sua fuga apressada. É a narrativa da grande aventura marítima. o Cruzeiro do Sul nos céus desconhecidos do novo hemisfério. João II não conseguiu concretizar antes de morrer e que iria ser realizado por D. A isto ele responde que. na praia de onde saíu a expedição de Vasco da Gama Depois da viagem Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva. depois de. vendo como tantos inimigos voltavam para atacar a praia. e enfrentaram perigos e obstáculos enormes como a hostilidade dos nativos.Torre de Belém. a doença e a morte provocadas pelo escorbuto. no episódio de Fernão Veloso. desejo que D. percebendo as intenções assassinas destes. Quando estão a despedir-se das famílias na praia de Belém. Chegados ao Cabo das Tormentas no meio da uma tempestade. uma perda de recursos e homens. É um episódio também humorístico. que fariam falta na luta contra os inimigos mouros ou para a defesa do reino contra uma eventual invasão castelhana. «Por me lembrar que estáveis cá sem mim». com tanta confiança. [editar] O Velho do Restelo Ver artigo principal: Velho do Restelo O canto termina com a partida da armada. a fúria de um monstro. os portugueses fizeram contacto com os povos nativos. Veloso amigo. A expressão passou a significar o conservadorismo." . Este personagem é a representação da contestação da época contra as aventuras dos descobrimentos. estrofe 35 Aportados na costa africana. vinha a correr só para ajudar a frota. [editar] Canto V Vasco da Gama conta agora como foi a viagem da armada. Mas. aquele outeiro É melhor de descer que de subir. a quem os rios Indo e Ganges apareceram em sonhos. Este aventureiro (estrofes 30 a 36). surge a narração dos preparativos da viagem à Índia. de Lisboa a Melinde. convidado para conhecer a sua aldeia. «Mais apressado do que fora. os navegadores são surpreendidos pelas palavras de um velho que estava entre a multidão. acompanhou despreocupadamente os anfitriões. Havia quem pensasse que era puro orgulho e simplesmente suicídio tentar estes projectos de navegar para partes longínquas do mundo. o mau agoiro. no episódio do Gigante Adamastor. É o episódio do Velho do Restelo (estrofes 94 a 104). (responde o ousado aventureiro) Mas quando eu para cá vi tantos vir Daqueles cães. em que os marinheiros observaram maravilhados ou inquietos a costa de África. [editar] O Adamastor Podem-se considerar três partes no episódio do Adamastor: a primeira é uma teofania (estrofes 37 a 40). Manuel. depressa um pouco vim. tão terrível que «Arrepiam-se as ."Sim. os marinheiros avistam o titã. vinha ». pela bazófia do português. profetizando as futuras glórias do Oriente.[4] O episódio entrou no imaginário português. é. frente a projectos originais que exigem alguma ousadia e gastos de recursos. Por me lembrar que estáveis cá sem mim” — Fernão Veloso. a mávontade e a falta de espírito de aventura. o Fogo de Santelmo e a Tromba Marítima. perseguido por um grupo. do qual o sofredor é constante e eternamente recordado: «Enfim. fazendo contrastar todo o espectáculo de disformidade e gigantismo com o cenário precedente. onde são manifestos os encantos de uma noite dos "mares do Sul". os cabelos crispam-se. Neste remoto cabo converteram Os Deuses. Portugal O espectáculo é envolvente. encarnação dos perigos da arriscada travessia. terrificante. Finalmente surge uma écloga marinha (estrofes 49 a 59). Me anda Tétis cercando destas águas». grandioso. fisicamente sentida . É uma forma inteligente de o poeta dos meados do século falar de acontecimentos do passado. O lado maravilhoso desta aparição também é acentuado. escultura de Júlio Vaz Júnior no miradouro de Santa Catarina. vaticina o destino cruel que espera alguns dos navegadores que atravessarão os seus domínios.carnes e o cabelo A mi e a todos só de ouvi-lo e vê-lo». Aqui está o puro pavor. que em termos cronológico-narrativos é uma prolepse. Lisboa. o mar de longe brada. Então começa a segunda parte do episódio (estrofes 41 a 48). «prosperamente os ventos assoprando». como um oráculo. a separação forçada (pela titanomaquia). Adamastor. O Adamastor fala e. e por mais dobradas mágoas. a traição.[5] Rota de Vasco da Gama desde a África do Sul até à Índia . não correspondido). a ameaça iminente da aniquilação. que obedece a um desenvolvimento comum a muitas composições líricas de Camões: o enamoramento (de Adamastor por Tétis. Este semideus maléfico. o lamento pelo sonho frustrado. mas que seriam futuros para o navegador do início do século que faz a narração. Mas mais surpreendente ainda é a orquestração que o mar faz com este elemento aéreo «Bramindo. Como se desse em vão nalgum rochedo ».as carnes engelham-se. precede-se de uma nuvem negra. minha grandíssima estatura. que surge rasante sobre as cabeças dos navegantes. Pela boca de Vasco da Gama. e a censura do poeta pela iliteracia dos seus conterrâneos. Até que. conta como os poderosos do mundo. não havia compatriotas que se atrevessem a enfrentá-los. [editar] Canto VI Finda a narrativa de Vasco da Gama. Uma vez que estes eram homens poderosos da Inglaterra. O canto encerra com a admiração dos melindanos por toda a epopeia portuguesa. A decisão destes é oposta à dos olímpicos. Apesar de um acolhimento cordial dos povos da África do Sul. os marinheiros matam despreocupadamente o tempo ouvindo Fernão Veloso contar o episódio lendário e cavaleiresco d'Os Doze de Inglaterra (estrofes 43 a 69): Nos tempos de D. particularmente o escorbuto. e lançado o desafio a quem quisesse defendê-las em um torneio. a poesia e o cantar e louvar de heróis e povos. o desânimo também aumenta por não haver quem dê notícias sobre a Índia. o duque de Lencastre João de Gante lançou um apelo ao seu genro rei de Portugal. e os festejos dos melindanos. [editar] Os doze de Inglaterra Entretanto. João I. E lamenta que os seus contemporâneos desprezem a língua. depois de Moçambique e Mombaça. doze cavaleiros ingleses teriam ofendido a honra de doze damas inglesas. resolve pedir ajuda a Neptuno. guiada por um piloto que deverá guiá-la até Calecute. Baco. os navegadores agora enfrentam a doença. que lhe empresta legitimidade. a armada sai. vendo que os portugueses estão prestes a chegar à Índia. eram amantes das letras. . a narrativa termina com a alegria da chegada a Melinde. que convoca um concílio dos deuses marinhos. e assim ordenam a Éolo que solte os ventos para fazer afundar a frota. especialmente gregos e romanos. Assim. e um clima a que não estão habituados.Passado mais este obstáculo. que resolveu ir primeiro por terra até à Flandres. estrofe 72 A história de Veloso é interrompida pela chegada da tempestade provocada pelos deuses marinhos (estrofes 70 a 84). [editar] Canto VII Ilustração de Brahma uma das divindades principais do hinduísmo. franceses e ingleses renegam a verdadeira fé e enfraquecem o poder cristão. chegou ao local da justa no preciso momento em que esta ia começar e. com os conflitos internos da Europa (estrofes 2 a 15). Mais uma vez. os reis e os nobres das outras nações europeias perdem-se em guerras intestinas. Os alemães. O canto termina com considerações do poeta sobre o valor da fama e da glória conseguidas através dos grandes feitos.Ilustração da nau de Vasco da Gama com os deuses nas nuvens Em resposta. relâmpagos e trovões. com a sua ajuda. expandindo o cristianismo e fazendo a guerra santa. no romper da vela. mandando as ninfas seduzir os ventos para os acalmar. Mas só onze embarcaram. A bomba. a quebra de mastros. [editar] A tempestade “O céu fere com gritos nisto a gente. não cessando. Depois de algumas aventuras. que nos imos alagando!"” — A tempestade. disse o mestre rijamente. a nau pendente Toma grã suma d'água pelo bordo: "Alija. Segundo o ponto de vista de Camões. lutando uns . confundido por Camões com Jano Este canto inicia com a comparação dos feitos dos portugueses contra os muçulmanos. e uma crítica a quem procura estas e a fortuna por intriga e favor dos poderosos. Dissipada a tempestade. a ondulação. Vão outros dar à bomba. armaram-se imediatamente doze cavaleiros portugueses para partir do Porto para aquele país. Os italianos são corruptos. os gritos dos marinheiros. inglórias e injustas. É uma descrição dramática de quem viveu situações semelhantes e conhece a gíria náutica: os ventos. O 12. a armada avista Calecute e o capitão agradece a mercê divina. as naus alagadas.º era Álvaro Gonçalves Coutinho. Canto VI. todos os cavaleiros ingleses foram derrotados. não falte acordo. é Vénus que ajuda os portugueses. Alija tudo ao mar. o Magriço. Vasco da Gama dirige uma prece a Deus. Com súbito temor e desacordo. Que. salvando-se a honra das damas ofendidas. Vendo as suas embarcações quase perdidas. Mem Moniz. Soeiro Viegas. história. Henrique (da Ínclita Geração). Teotónio. enquanto o soberano indiano pondera. Geraldo Sem Pavor. o filho ou companheiro de Baco. Viriato e Sertório. D. Pelo contrário.contra os outros com o único objectivo do ganho pessoal. Paio Peres Correia. que o acolhe e lhe serve de tradutor. Henrique e D. política. Vasco da Gama envia um mensageiro ao soberano indiano. Martins Lopes (que capturou Pedro Fernando de Castro. o marinheiro encontra Monçaide. Rui Pereira (batalha naval do cerco de Lisboa) e Martim Vasques da Cunha (que com 17 homens defendeu-se de 400 castelhanos). um mouro hispânico falante de castelhano. João I. Pedro e D. o bispo D. A descrição do que os portugueses vêem é um exemplo da sociologia da descoberta e da interpretação de uma cultura absolutamente nova. com as mais nobres intenções. Camões conta um pouco da sua biografia e lança-se num lamento indignado pelo modo como a sua pátria o tem tratado. Pêro Rodrigues e Gil Fernandes (vencedores de escaramuças com os castelhanos). estão presentes D. No meio deste novo povo. com quem não consegue falar. Portugal A descrição da pintura (estrofes 1 a 42) começa com Luso. religiões e costumes da Índia. Sancho I. sentindo-lhe faltar a inspiração. juntamente com algumas personalidades que se evidenciaram durante a primeira dinastia: Egas Moniz. Depois D. Monçaide acompanha-o até à frota e explica aos portugueses um pouco da geografia. Pedro de Meneses (capitão de Ceuta) e D. “Sabe que há muitos anos que os antigos Reis nossos firmemente propuseram . D. a embaixada volta à nau capitânia. [editar] Canto VIII [editar] Painel da história de Portugal Monumento ao lusitano Viriato em Viseu. a quem só pretende cantar a glória portuguesa (estrofes 78 a 87). Já durante a revolução de 1383-85 e o reinado de D. Afonso Henriques. lutam contra os mouros e turcos. D. Duarte de Meneses (capitão de Alcácer-Ceguer). Fuas Roupinho. só os portugueses. Aqui encontra-se um painel representando a história de Portugal. um ministro que os acompanha até ao Samorim (estrofes 43 a 65). O capitão e Monçaide desembarcam e encontram-se com o Catual. Nuno Álvares Pereira. Entretanto anoitece e o Catual volta a terra. Mas antes da explicação deste. o prior D. De seguida vêm o Conde D. D. renegado leonês aliado aos mouros). É proposto um tratado comercial e. depois Ulisses. Assim que aporta em Calecute. Chamando Vasco da Gama. O navegador responde com dignidade (estrofes 65 a 75). Vénus pede a ajuda do seu filho Cupido para juntar os amores e ferir as nereidas com as flechas do amor. que ira honesta. acusando os ocidentais de pirataria e incitando à destruição a frota. Isto é confirmado pelos conselheiros islâmicos do soberano. consegue informar o capitão português dos planos dos inimigos. vender a mercadoria e obter especiarias. Com mercadoria e alguns prisioneiros indianos. Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã. Que Vénus com prazeres inflamava.De vencer os trabalhos e perigos. Mas Monçaide. Melhor é experimentá-lo que julgá-lo. pretenderam De saber que fim tinham. Canto VIII. influenciado pelos muçulmanos do reino. Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo. e sai da audiência com autorização para comercializar. a quem durante a noite Baco visitara durante os sonhos. aceita trocar Vasco da Gama por mercadorias das naus. Canto IX. para dar tempo que chegue uma armada muçulmana do Mar Vermelho.” — Discurso de Vasco da Gama. por serem pagãos são facilmente enganados pela sua fé errada. Mas o ministro indiano. Quando esta estratégia falha. a frota tem provas da chegada à Índia e zarpa. o Samorim tem de decidir entre as vantagens económicas do tratado com os portugueses e as previsões catastróficas da noite. estrofe 70 [editar] Tratado com o Samorim O Samorim entretanto manda examinar os augúrios que. e onde estavam As derradeiras praias que levavam. entretanto aprisionados. [editar] Canto IX O Catual ainda tenta demorar os portugueses. coloca uma ilha mística na rota dos portugueses. e na sesta. acusa-o de apátrida e pirata. No dia seguinte. E. Que sempre às grandes coisas se opuseram. e a ela traz os amantes. Ao mesmo tempo. águas límpidas e cantantes. faz o capitão de refém e tenta trazer a frota portuguesa para mais perto. incitando-o a confessar a verdade. com os seus chãos maciamente relvados.[6] “Ó que famintos beijos na floresta. O Demónio engana-os dando a previsão de que os portugueses virão a subjugar toda a Índia. . para a poder assaltar. reafirmando as suas intenções. segundo o poeta.” — A Ilha dos Amores. E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves. Vasco da Gama aprisiona alguns importantes do reino de Calecute e troca-os pelos feitores. estrofe 83 Podem ser consideradas três descrições no episódio da Ilha dos Amores: O locus amoenus: o cenário onde decorre o encontro amoroso (estrofes 52 a 67 e mais algumas até ao final do canto) é típico do locus amoenus. cobiçando o lucro e temendo o castigo do seu soberano por estar a desobedecer às suas ordens. Com as ninfas e Tétis sob esta influência. convertido agora ao cristianismo. fazendo-se passar por Maomé. proibindo o comércio com os feitores das naus. [editar] A Ilha dos Amores Vendo agora a frota em segurança no seu regresso a Portugal. descobrindo os mares inimigos Do quieto descanso. industriadas por Vénus. a Sirena profetiza os feitos dos portugueses no Oriente (estrofes 10 a 73). Lopo Soares de Albergaria (50 e 51). de écloga. enquanto os restantes marinheiros e as suas companheiras ficam nas praias e nos bosques. É acompanhado por Tétis até a um magnífico palácio de cristal e ouro. [editar] Canto X [editar] A profecia da Sirena Depois de saciados os primeiros apetites. Francisco de Almeida e o seu filho Lourenço de Almeida (26 a 38). Martim Afonso de Sousa (63 a 67). não quis. que da mesma forma vão merecer a presença na Ilha dos Amores: Duarte Pacheco Pereira (estrofes 12 a 23). Outra cousa não é que as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada » (estrofe 89). Duarte de Menezes e o próprio Vasco da Gama (53). Pêro Mascarenhas (56 a 58). É um cenário paradisíaco. arrebatado e carnal. houve a intenção de separar e dignificar Vasco da Gama na carnalidade do episódio. arvoredos frondosos e até um lago. Tethys e a Ilha angélica pintada. Camões descreve o encontro dos nautas com as ninfas que os esperavam. Diogo Lopes de Sequeira (52). o indefectível cantor do amor. e o tempo em que o poema foi escrito. Garcia de Noronha e António da Silveira (62). Estêvão da Gama (62 e 63). o ano da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Leonardo (estrofes 75 a 82) aqui representa a consumação do seu sonho. Em um pormenor curioso. evitar que isso se reflectisse n'Os Lusíadas. Que quem quis sempre pôde: e numerados Sereis entre os heróis esclarecidos E nesta Ilha de Vénus recebidos». Nuno da Cunha (61). e se calhar não pôde. Neste. Repare-se que as queixas deste navegante recordam as do poeta na lírica e como é um lamento delicado e belo. O poeta fala ainda da simpática fauna que aí se cria e dos frutos que se produzem sem cultivo. Mais uma vez Camões usa o artifício da profecia para contar o que se passou entre 1498. Henrique de Menezes (54 e 55). os marinheiros chegam ao palácio de Tétis. Se os amores mal sucedidos do Adamastor deixam entrever o caso real do poeta. E fica dado o recado aos que condenam a expressão mais física do amor: «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo. São então cantados os heróis e governadores da Índia. de Ptolomeu (1660) [editar] A máquina do mundo . A terminar o canto. Representação artística do modelo geocêntrico. Afonso de Albuquerque (40 a 49). Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo. reforça a intenção alegórica e incita aos feitos de valor: «Impossibilidades não façais. A alegoria: com um arrojo inesperado para um maneirista. tão fermosas. Leonardo: Camões. Lopo Vaz de Sampaio (59). idílico. João de Castro e os seus filhos Álvaro e Fernando (67 a 72) e João de Mascarenhas (69).» A recompensa dos portugueses tem um sentido alegórico: «Que as Ninfas do Oceano. Tristão da Cunha (39). onde lhes é servido um farto banquete. Heitor da Silveira (60). O amor que experimentam é de paixão: imediato. dirigindo-se ao leitor. em que se salvou a nado com Os Lusíadas. movem-se. Tétis convida o Gama para o espectáculo da Máquina do Mundo. o espectáculo único das esferas celestes de Ptolomeu (estrofes 77 a 144). se junta o da astronomia (do século XVI. Musa. governe com justiça." Incluídas neste episódio ainda vão estar mais "profecias" sobre os portugueses. . [editar] Epílogo “Nô mais. nô mais. vêem-se todas ao mesmo tempo com igual nitidez. e o movimento é perceptível. "é um dos supremos sucessos de Camões".” — Epílogo. evangelizador da Índia (estrofes 108 a 118). os portugueses embarcam novamente e chegam sem mais problemas a Lisboa. "as esferas são transparentes. Depois disto. premeie apenas e sempre quem merece. naturalmente). Nas palavras de António José Saraiva. mitologia. para lhe dar alguns conselhos: que se aconselhe com os melhores. onde recebem as glórias que lhes são devidas. e uma curiosa previsão de que a sua «Lira sonorosa Será mais afamada que ditosa » (a sua obra seria mais famosa do que a sua vida afortunada). Camões cantará o seu rei. religião. mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. Tomé. guerra. Conseguir traduzir isto por meio da "pintura que fala" é atingir um dos cumes da literatura universal. tal como Aquiles foi cantado por Homero. Aqui vemos que ao génio e aos conhecimentos de Camões sobre geografia. na estrofe 128 uma referência ao naufrágio de Camões. embora a superfície visível seja sempre igual. estrofe 145 A epopeia termina com um epílogo (estrofes 145 a 156). lute com bravura e inteligência para expandir Portugal e a fé cristã. Canto X. comportamento humano e navegação.Acabado o banquete. Deste modo. Sebastião e aproveita. que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida. em que o poeta lamenta mais uma vez as injustiças que o Reino lhe terá cometido. luminosas. com uma breve mas arriscada crítica aos Jesuítas na estrofe 119. E não do canto. a história dos milagres de S. como homem experiente da vida e dos conhecimentos. história. Reforça a dedicatória da obra ao jovem rei D.