ANALISE DA TÉCNICA DA BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA EM RELAÇÃO A SUA VALIDADE

March 28, 2018 | Author: Marco Antonio Sousa | Category: Electricity, Mass, Electrical Impedance, Electrical Engineering, Electric Current


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ArtigoANALISE DA TÉCNICA DA BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA EM RELAÇÃO A SUA VALIDADE Ronaldo S. Giannichi * José Elias Rigueira* Rodrigo F. Bedim * * RESUMO Este estudo teve como objetivos analisar o método de Bioimpedância Elétrica, com relação à sua validade, por meio da comparação de dois aparelhos semelhantes, e, conseqüentemente, da técnica, pois esta vem sendo utilizada por profissionais de várias áreas e para vários fins, e os resultados emitidos devem ser confiáveis, como afirma o Guia do Usuhrio. Os dados foram coletados em uma amostra de 3 1 sujeitos com idade entre 18 e 19 anos, pertencentes ao Tiro de Guerra da Cidade de Viçosa - MG. Os testes foram executados um logo após o outro, para que fossem mantidas as mesmas condições dos sujeitos em relação ao teste I. (aparelho 1) e ao teste 2 (aparelho 2). Os dados foram analisados utilizando-se o teste "t" de Student - duas amostras em par para médias. O nivel de significância estipulado foi de P = 0,Ol. Os resultados mostraram que houve diferenças significativas em todas as variáveis analisadas, com exceção da biorresistência do aparelho. Assim, a leitura do aparelho da composição corporal teria que ser, teoricamente, igual que o aparelho não é ou bem próxima, o que não aconteceu, inferindo~se válido para medir a composição corporal, por apresentar diferenças significativas em nivel de P < 0,01 em todas as variáveis estudadas. Palavras-chave: bioimpedância elétrica, validade, teste. Introdução O organismo do ser humano é constituído de várias partes organicamente diferenciadas, sendo a composição corporal uma importante estrutura deste. De modo geral, a composição corporal de um indivíduo está subdividida, basicamente, em componente de gordura e componente isento de gordura. GUEDES e GUEDES (1998) afirmaram que o componente de gordura é formado pelo tecido adiposo, que apresenta em sua composição adipócitos, fluidos extracelulares, endotélio vascular, colágeno e fibras elastinas. Em contrapartida, a gordura é definida como o total de lipidios existentes no organismo. *Professores da Universidade Federal de Viçosa - MG. Acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa -MG. " R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,2000 7 O componente isento de gordura 6 defuiido, segundoos mesmos autores, de duas maneiras: massa magra ou lean body mass (LBM) e massa livre de gordura ou fat-free mass (FFM). A massa magra representa valores de água, de minersiis e materia orgânica, incluindo-se uma certa quantidade, não determinada, de lipidios não-essenciais. A massa livre de gordura está relacionada com todos os componentes do organismo, sem nenhuma forma de gordura, ou seja, com total exclusão dos lipídios. Atualmente existem vários instrumentos e métodos para medir a gordura corporal, que estão sendo cada vez mais estudados e, conseqüentemente, sofrendo evolução. A avaliação da composição corporal pode ser realizada por três tipos de procedimentos: direto, indireto ou duplamente direto. O m6todo direto 6 aquele no qual se avalia a composição corporal atrav6s da dissecação de cadáveres, sendo realizado apenas em laboratórios. Pelo m6todo indireto, segundo GUEDES e GUEDES (1998), são obtidas informaçõesquanto As variáveis de domínio físico e químico, e, posteriormente, lançando mão de pressupostos biológicos, desenvolvem-se estimativas de percentual de gordura e de massa isenta de gordura. Nos procedimentos duplamente indiretos, os mesmos autores mencionam que são envolvidas equaçdes de regressão, a fim de predizer variáveis associadas aos procedimentos indiretos, que, por sua vez, na seqüência, deverão estimar parâmetros da composição corporal. Podem ser citados como instrumentos indiretos a densitometria, a hidrometria, a espectometria, a absortometria radiológica de dupla energia (DEXA), a ultra-sonografia, a tomografia computadorizada, a ressonância magnética, a condutividade elétrica total, a absorção de fótons, a ativação de nêutrons e a interactância de raios infiavermelhos. Como método duplamente indireto têm-se a antropometria e a bioimpedância elétrica ou impedância bioelétrica, usadas como forma de mensuração do percentual de gordura da amostra deste estudo. A bioimpedância elétrica é considerada por muitos autores, ou profissionais,como correta nas análises que faz. Muitos confiam, plenamente, nos resultados que ela fornece, não se preocupando com os possíveis erros. Para eles, basta o testado estar dentro dos padrões exigidos pela técnica para que esta forneça o resultado correto. Alguns autores, principalmente McARDLE et al. (1998), criticam a técnica e não acreditam na validade e fidedignidade do aparelho. Muitos a usam sem maiores esclarecimentos, pois é uma máquina relativamente fácil de se manusear, apresentando resultado automático, sem nenhum trabalho ou perda de tempo. 4 técnica pede somente que o avaliado esteja dentro de uma série de normas qùe compõem o padrão a ser seguido. Com o cumprimento dessas normas, o testado estará sendo avaliado segura e corretamente; o erro que existir será mínimo. Esta afirmativa é relatada no GUIA DO USUARIO (1 994), que acompanha o aparelho de bioimpedância. 8 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 Não existe a possibilidade de calibração entre as máquinas, que se ajustam automaticamente quando são ligadas. Portanto, se a máquina é válida e fidedigna e se está calibrada corretamente, o profissional que a utiliza não sabe. O que se sabe é que esses fatos podem afetar muitas prescrições, tanto de exercícios, numa academia, quanto de dieta, num centro médico. Isso é preocupante. Para que o aparelho seja considerado válido, os testes nos mesmos indivíduos, em dois ou mais instrumentos, num mesmo momento e nas mesmas condições de temperatura e umidade, devem apresentar resultados iguais ou muito próximos. Este estudo teve como objetivo principal analisar o método de bioimpedância elétrica, em relação à sua validade, por meio da comparação de dois aparelhos semelhantes. Hipóteses do estudo Hipótese Nula: não existe diferença significativa entre os dois aparelhos utilizados para medir a composição corporal (P < 0,O1). Hipótese Experimental: existe diferença significativa entre os dois aparelhos utilizados para medir a composição corporal (P < 0,Ol). Revisão de literatura De acordo com McARDLE et al. (1998), pode-se avaliar a composição corporal através de dois processos: - avaliação direta, por análise química da carcaça animal ou do esqueleto humano; e - avaliação indireta, por pesagem hidrostática ou com mensurações simples das pregas cutâneas e das circunferências, ou utilizando outros procedimentos. Numa proposta mais apurada, GUEDES e GUEDES (1998) afirmaram que, para análise da composição corporal, podem-se empregar técnicas com ' procedimentos de determinação direta, indireta e duplamente indireta. i Os procedimentos de determinação direta, segundo GUEDES e I GUEDES (1998), "são aqueles em que o avaliador obtém informaç6es in loco dos diferentes tecidos do corpo, mediante dissecação macroscópica ou extração Ijpídica. Apesar da elevada precisão, esse procedimento implica incisões no corpo, o que limita sua utilização a laboratórios e cadáveres humanos". De acordo com os mesmos autores: Nos procedimentos indiretos são obtidas informações quanto às variáveis de domínio físico e químico, e, posteriormente, lançando mão de pressupostos biológicos, desenvolvem-se estimativas dos componentes de gordura e I - - R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,2000 9 de massa isenta de gordura. Em contrapartida, nos procedimentos duplamente indiretos são envolvidas equações de regressão, afim e predizer variáveis associadas aos procedimentos indiretos que, por sua vez, na seqüência, deverão estimar parâmetros da composição corporal. Analisando tais conceitos, pode-se perceber a importância da forma direta para a estimativa da indireta, ou seja, a dissecação de cadáveres, em laboratórios, 6 de extrema importância para o desenvolvimento das tecnicas indiretas e duplamente indiretas. Segundo GUEDES e GUEDES (1998), os meios indiretos que mais aparecem são as técnicas da densitometria, da hidrometria, da espectometria, e da absormetria radiológica de dupla energia. No entanto, não se pode deixar de lado a existência de outros métodos, que tamb6m são importantes, como a ultra-sonografia, a tomografia axial computadorizada, a ressonância magnética nuclear, a condutividade eletrica total, a absorção de fótons, a ativação com nêutrons e a interactância de raios infravermelhos. Como recursos duplamente indiretos, verifica-se o emprego de duas tecnicas, sendo as principais a bioimpedância eletrica e a antropometria. Como esta pesquisa 6 relacionada somente com técnica de bioimpedância eletrica, pode-se explicá-la melhor, como descrito a seguir. Bioimpedância elétrica Conforme GUEDES e GUEDES (1998): A oposição oferecida por um circuito elétrico a uma corrente alternada é denominada impedância. No caso das estruturas biológicas, a impedância deverá sofrer influência de dois componentes: da resistência apresentada pelos próprios tecidos à condução da corrente elétrica e da oposição adicional (reatância) causada pela capacidade de isolamento à passagem da corrente elétrica apresentada pelas membranas celulares e pelos tecidos não iônicos. A técnica da bioimpedância elétrica produz informações quanto à impedância que o corpo humano oferece à condução de uma corrente elétrica. Segundo a Nota Técnica da empresa Tanita Best Weight, que aborda a confiabilidade em medir a gordura corporal com os TBF-5 I I, TBF-50 1 e TBF305, a técnica de impedância bioelétrica utiliza três variáveis para estimar a composição corporal: estatura, peso e bioimpedância. Destas variáveis, o valor da bioimpedância varia de acordo com o conteúdo de fluidos existentes iio organismo, que gira em torno de 60% do peso corporal. 1O R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,2000 I 1 McARDLE et al. (1998) esclarecem que: A análise da impedáncia bioelétrica (AZB) se baseia no conceito de que o fluxo elétrico é facilitado através do tecido hidratado e isento de gordura, assim como da água extracelular. em comparação com o tecido adiposo, em virtude do maior conteúdo em eletrólitos (e, conseqüentemente, da menor resistência elétrica) do componente isento de gordura. Conseqüentemente, a impedáncia ao flwco da corrente elétrica estará relacionada diretamente com a quantidade de gordura corporal. A mesma Nota Técnica salienta que as condições para medição com este equipamento devem ser fixas, tanto em pesquisas como em várias medidas num mesmo dia. Ainda nesta referência, pode-se observar que a variação da bioimpedância, durante um mesmo dia, ocorre conforme a variação da quantidade de líquidos no organismo em conseqüência da ingestão de alimentos, de água e da distribuição desses componentes, que se modificam pelo movimento do líquido intravascular e intersticial. No que se refere a colocação dos eletrodos, GUEDES e GUEDES (1 998) esclarecem que: Seu protocolo de medida consiste na Jixação de dois eletrodos emissores e dois eletrodos receptores. Os eletrodos emissores são colocados distalmente na superfície dorsal da mão e do pé, no plano das cabeças do terceiro metacarpo e do terceiro metatarso, respectivamente. Por sua vez, os eletrodos receptores são colocados proximalmente também na mão e no pé. O primeiro no pulso, em um plano imaginário de união das duas apófises estilóides; e o segundo na região dorsal da articulação da tíbio-társica, na linha imaginária de união da parte mais saliente dos dois maléolos. Por convenção; os quatro eletrodos são colocados na mão e no pé esquerdos, com o avaliado colocado na posição decúbito dorsal. Segundo o Manual do Usuário, que acompanha o aparelho, esta padronização unilateral para fixação dos eletrodos existe, mas o lado em que se deve colocá-los é o direito. De acordo com as características do equipamento, os eletrodos receptores (proxim?is) são de cor vermelha, e os emissores (distais), de cor preta (GUIA DO USUARIO, 1994). GUEDES e GUEDES (1 998) salientam que, através de dois eletrodos responsáveis pela transmissão, se aplica uma corrente alternada, de baixa R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 intensidade ( 8 0 0 ~ Amp), a freqüência de 50 kHz; os fluidos celulares serão utilizados como condutores, e as membranas celulares cdmo condensadores.A diferença de corrente causada pela impedância é detectada, depois, pelos dois eletrodos que a receberão. O analisador mede a resistência e a reatância produzidas e calcula os valores de impedância. De posse do comprimento do condutor (estatura) e do valor da impedância para esta corrente elétrica, pode- / se calcular o volume do condutor. Quando se verifica que a massa isenta de gordura, principal responsável pela condutibilidade da corrente elétrica, contém grande parte da água e dos eletrólitos do organismo, pode-se estimar o componente da massa isenta de gordura e, depois, embasado no peso corporal, o componente de gordura (GUEDES e GUEDES, 1998). A técnica de bioimpedância elétrica requer alguns cuidados para que o resultado do teste seja correto. De acordo com GUEDES e GUEDES (1998), "apesar da relativa facilidade e rapidez de medida, a utilização da técnica da bioimpedância elétrica requer um conjunto de procedimentos prévios por parte do avaliado, sem os quais poderá ocorrer prejuízo a qualidade das informações". De acordo com o GUIA DO USUARIO (1994), existem alguns fatores que alteram a medida da biorresistência: a ingestão recente de álcool, que ocasiona mudança na concentraçãoeletrolítica na água e também a desidratação, fazendo com que o indivíduo pareça menos magro; se o indivíduo perde uma quantidade de água durante o exercício, antes de ser testado, os resultados podem predizer uma grande porcentagem de gordura corporal; a ingestão de alimentos resulta primariamente numa troca do peso e não tem efeito seilsível sobre os resultados do teste; e algumas drogas ou medicamentos diuréticos, que causam perda dos fluidos corporais, podem também elevar a leitura da gordura corporal. Segundo McARDLE et al. (1998), um fator que influi na precisão da bioimpedância elétrica é a hidratação do indivíduo, pois tanto a desidratação quanto a hiper-hidratação modificam as concentrações de eletrólitos normais no corpo, o que altera o fluxo da corrente, independentemente das alterações reais na composição corporal. Ou seja, quando se perde água, a medida da bioimpedância se tornará menor, produzindo um percentual de gordura mais baixo, enquanto a hiper-hidratação produzirá o efeito contrário. A temperatura da pele (influenciada pelas condições ambientais) também interfere na resistência corporal total e, dessa forma, na predição da gordura corporal quando se utiliza a técnica de bioimpedância elétrica. O que se prevê num ambiente quente é uma gordura corporal muito mais baixa (menos impedância ao fluxo elétrico) do que em um lugar frio. Bohn et al., citados por KUSHNER (1992), mediram as trocas na água corporal total em 38 pacientes, 10 minutos antes e 10 minutos após uma diálise. Os resultados foram comparados com a quantidade de água extraída no processo. O coeficiente de correlação encontrado foi de 0,99. I 12 R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,2000 De acordo com a Nota Técnica mencionada anteriormente, a bioimpedância aumenta com a diminuição do peso, decorrente de uma desidratação, assim como a bioimpedância diminui quando o peso auineiita, ocasionado pela maior hidratação e ingestão de comida. Conclui-se, assim, que a mudança na bioimpedância é inversamente proporcional as mudanças de peso, de acordo com as variações do dia-a-dia. McARDLE et al. (1998) esclarecem que: Até mesmo em condições de hidratação e temperatura ambienta1 normais, a predição resultante da gordura corporal pode ser questionável em relação aos valores obtidos pela pesagem hidrostática, existindo a tendência de realizar uma predição excessiva da gordura corporal nos indivíduos magros e atléticos e de subestimar a quantidade de gordura nas pessoas obesas. Ainda, McARDLE et al. (1998) fazem críticas a técnica d e bioimpedância elétrica, colocando em evidência os seguintes aspectos negativos: A técnica pode ser menos precisa que os vários métodos antropométricos que utilizam as circunferências e as pregas cutáneas para predizer a gordura corporal. Existe também a consideração estatística embaraçante que consiste em incluir as variáveis das dimensões corporais (altura, peso corporal, circunferências) na equação de regressão para predizer a gordura corporal, pois os fatores são todos altamente inter-relacionados. Esta prática pode gerar relações espúrias e essencialmente invalidar o próprio critério das variáveis de maior interesse. Existe também evidência conflitante acerca da capacidade da técnica poder detectar pequenas modificações na composição corporal durante uma redução ponderal. Na melhor das hipóteses, AIB constitui outro método incruento, indireto e relativamente fácil de proporcionar uma avaliação geral da composição corporal, desde que as mensurações sejam feitas em condições estritamente padronizadas, em termos de temperatura ambiente e do nível de hidratação, e com a compreensão de que a validade do software usado para gerar os valores dos critérios resultantes pode estar sujeita a alguma incerteza estatística. Deuremberg et al., citados por KUSHNER (1992), compararam as relações na predição de massa livre de gordura com bioimpedância elétrica e a hidrodensitometria em 12 voluntários, que consumiram uma dieta muito baixa R. Min. Educ. Fls., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 13 em calorias por dois dias. A técnica de bioimpedância elétrica subestimou a perda de massa livre de gordura, e os autores sugeriram que este método poderia ser impreciso na predição de pequenas modificações na gordura corporal. KUSHNER (1992) enfatizou que "modificações no peso em relação à inassa livre de gordura estariam abaixo da precisão da bioimpedância elétrica em todo o corpo." O mesmo autor demonstrou algumas perspectivas futuras para a bioimpedância elétrica: - Medição segmentária - O corpo humano pode ser dividido em cinco cilindros: dois membros superiores, dois inferiores e tronco. Ao se colocarem eletrodos nas partes proximal e dista1de cada cilindro, poder-se-ia ter a medida da impedância de cada segmento corporal. Kurtin et al., citados por KUSHNER (1992), mostraram que a técnica do corpo inteiro não pôde detectar as modificações peritoniais em cinco pacientes. Para se calcular a quantidade de fluidos abdominais, seria mais apropriado utilizar uma medição segmentar. - Medição de compartimentos de água corporal - A água corporal total se divide em dois compartimentos: fluidos extracelularese intracelulares. A distribuição da água nestes compartimentos varia em relação a gordura corporal e ao grau de desnutrição. Assim, a distinção destes compartimentos seria útil para evolução do paciente e para melhor indicação terapêutica. - Métodos mult~frequentes - As correntes de baixa frequência medem melhor os fluidos extracelulares; as de alta frequência medem extracelulares e intracelulares. Os métodos multifrequentespodem medir melhor a água corporal total, pois trabalham com alta e baixa frequência. Deve-se salientar que, de acordo com o GUIA DO USUÁRIO (1994), o aparelho de bioimpedância elétrica não deve ser utilizado em mulheres grávidas, indivíduos com marca-passo e em indivíduos com problemas cororiarianos. Noções sobre a confiabilidade dos testes Um teste deve possuir três fatores indispensáveis para o seu desenvolvimento: validade, fidedignidadee objetividade. Os conceitos de validade, objetividade e fidedignidade, segundo MARINS e GJANNICHI (1996), são: Validade: quão bem um teste mede o que se quer medir. Fidedignidade: grau de consistência dos resultados de um teste em diferentes testagens, utilizando-se sempre os mesmos sujeitos. Objetividade: grau de concordância dos resultados do teste entre os testadores. Quanto maior forem os graus de validade, fidedignidade e objetividade do teste, mais confiável ele será. 14 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 ! Safrit (198 l), citado por MARINS e GIANNICHI (1 996), sugere o seguinte quadro na classificação dos testes, levando em consideração os três fatores essenciais destes: Quadro 1 - Classificação de um teste conforme o valor de sua validade, fidedignidade e objetividade Metodologia Para verificar a validade da técnica de bioimpedância elétrica, foram utilizados, como variável deste estudo, dois aparelhos semelhantes e medidos os mesmos sujeitos quase que simultaneamente. 1- Sujeitos: os dados foram coletados em uma amostra de 3 1 jovens com idade entre 18 e 19 anos, pertencentes ao Tiro de Guerra da cidade de Viçosa, MG. 2- Instrumentos de testagem: foram utilizados dois aparelhos de bioimpedância elétrica semelhantes em suas características e origens. -Aparelho 1- aparelho do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, tipo Body Composition Analyzer. -Aparelho 2 -aparelho do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, tipo Body Composition Analyzer. 3- Coleta de dados: parao emprego da técnica de bioimpedância elétrica é obrigatório, segundo seu manual de uso, um conjunto de recomendações para validação dos resultados. Estas exigências são: -jejum de álcool de pelo menos 48 horas; -jejum alimentar de pelo menos 4 horas; - abstinência de atividades fisicas mais intensas de pelo menos 4 horas; e - não-uso de medicamentos diuréticos. Salienta-se que todos OS avaliados se encontravam dentro dos padrões anteriormente descritos. Os testes se iniciaram com a avaliação do peso e da estatura da amostra. Após essa etapa, os sujeitos ficaram deitados em colchões, na posição decúbito dorsal, por cerca de 15 minutos. O aparelho foi ligado e realizou seu autoteste, , que, segundo a empresa revendedora, é a sua forma de aferição. A partir daí, I o avaliado se deitou, também num colchonete, em decúbito dorsal, e recebeu a ' R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,2000 15 fixação dos eletrodos, os quais foram afixados de acordo com o padrão exigido pelo aparelho, ou seja, o de cor vermelhamais proximalmente, e o de cor preta, mais distalmente, nos membros superiores e inferiores do lado direito. Os dados exigidos pelo aparelho para a realização dos testes, como o peso, a estatura, a idade e o sexo, foram digitados e o aparelho iniciou a análise, imprimindo os resultados em uma fita de papel. Após o término do primeiro teste, começou o segundo, seguindo o mesmo processo do primeiro, só que no outro aparelho. Os testes foram executados um logo após o outro, para que se mantivessem os testes 1 e 2 nas mesmas condições. Salienta-se que todos os avaliados seguiram o mesmo processo de testagem. Análise dos Dados Os 3 1 sujeitosdo estudo foram submetidos aos testes nos dois aparelhos. Os dados foram tabulados e analisados. A análise consistiu em comparar, por meio do teste "t" de Student para amostras pareadas, cada variável fornecida pelos aparelhos. No Quadro 2 estão apresentadas as médias de idade, de estatura e do peso da amostra do estudo. Quadro 2 - Médias de idade, da estatura e do peso da amostra VARIAVEL Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm) MEDIA 18,5 63,45 174,70 Quadro 3 - Demonstrativo das variáveis, valores do Stat "t", do "t" Crítico e nível de significância v‘~IE~L 1 STAT T ( T O I 2,75 2,75 2,75 2,'/5 I Percentual de Gordura Peso de Ciordura Peso da Massa hhgm Taxa Metabólico t3asai I 1 7,/5 7,34 1,34 7,31 1 I I Há Diferença Significativa * Há Diferença Significativa* ix t i v a * . Há Diferença Significativa* I * Nível de Significância P < 0,01 16 I I I I i R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 8 1 Pode-se observar, de acordo com o Quadro 3, que existem diferenças significativas, em nível de P < 0,O 1, entre as medidas dos aparelhosnas variáveis perçentual de gordura, peso de gordura corporal, peso da massa magra, taxa metabólica basal, total de água no corpo, total de água em relação ao peso do corpo e total de água em relação & massa magra. A variável biorresistência, representada pela resistência da passagem da corrente pelo corpo, não apresentou diferença significativa em nível de P < 0,o 1. As figuras a seguir ilustram a comparação entre os testes 1 e 2 em todas as variáveis analisadas. .-+r-~~~cDNu>ao N N (Y z Sujeitos ' Figura 1 - Valores do percentual de gordura nos testes 1 e 2. . - . r b ~ g ~ ~ N u - I " . - Sujeitos I Figura 2 - Valores do peso de gordura nos testes 1 e 2. R. Min.Educ. Fls., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 17 Sujeitos T e s t e1 - - - - .Teste 2 Figura 3 - Valores do peso da massa magra nos testes 1 e 2. . I \ , I - . - -_ i "\ / _ / . r : / i J 7 , i i i i i i i i i i i i i i i i r i m i i i r i i i 8 Figura 4 - Valores da taxa metabólico-basal nos testes 1 e 2. o o 50 - + .-*bfp$lNNbns Sujeitos Figura 5 - Total de água do corpo nos testes 1 e 2. 18 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,20 Pela análise dos gráficos, pode-se inferir que os apyvlhos são fidedignos, uma vez que os traçados das curvas são semelhantes, embora elas não sejam sobrepostas, corroborando o que foi analisado pelo tratamento estatístico. O único grfifico que mostra quase que uma sobreposição das curvas (Figura 8) é o da variável biorresistência, confirmando a ausência de diferença significativa entre os aparelhos. Conclurlo Com base na andlise dos dados, pôde-se inferir que existem diferenças significativasentre os aparelhosde bioimpedância elétrica. A corrente elétrica gerada pelo aparelho para leitura da composição corporal (bioresistência) foi a única variável que não apresentou diferença significativa. Como a base do método de bioimpedância está centrada na resistência, uma vez que os tecidos magros conduzem esta corrente, ao contrário dos tecidos gordos, que são não-condutores, devido ao seu baixo conteúdo de h p a , as leituras dos aparelhos teriam que ser, teoricamente, igual ou bem pr6ximas, fato que não foi constatado por este estudo. Uma afirmativa apresentada anteriormente neste trabalho - extraída do livro de McArdle et al., em que se salienta que a técnica de bioimpedância elétrica costuma superestimar a quantidade de gordura em pessoas obesas e subestimá-la em pessoas magras ou atléticas - pôde ser constatada, uma vez que um dos sujeitos, de 1,81m, pesando 54,8 kg, que estava totalmente dentro das normas exigidas pelo aparelho, apresentou percentual de gordura no teste 1 de 21,3% e, no teste 2, de 22%, inferindo-se que a afirmativa de McArdle pode ser correta, pois estes resultados não deixam dúvidas de que o valor foi superestimado. ABSTRACT Analysis of the Impedance Technique Related to its Validity The purpose of this study was to analyse the method of eletrical bioimpedance, in relation to its validity, through the comparation of two similar analysers and, consequently, its technique, since it was used by several profissional areas and with several objectives. Then, the results must be tnistworthy as the user's guide affirms. The data were colected in 3 1 subjects, between 18 and 19 years old, belonging to the army in Viçosa - MG - Brazil. The tests were performed one afier another, with the purpose to maintain the same conditions to all subjects of the study in relation to test 1 (apparatus I ) and to test 2 (apparatus 2). The Test "t" was used to analyse the results - two samples in pairs for media. The results showed significant difference in all analysed variables, with the exception of apparatus bioresistance. By this way, - - 20 R. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-2 1,200C the reading of the body composition might be, theoretically, similar in the apparatus, but it not occurred. With these results it is possible to affírm that there is no validity in the method of bioimpedance to measure the body composition, presenting significativedifferences related to p< 0.01 in a11 variables studied. Key words: eletric bioimpedance, validity, test. GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Controle do peso corporal: composição corporal atividade fisica e nutrição. Londrina: Meridional, 1998. MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição de atividade fisica: guia prático. Rio de Janeiro: Shape, 1996. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L Fisiologia do exercicio: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. KUSHNER, R. Impedância bioelétrica: revisão dos princípios e aplicações. FILPRESS, V.3, p. 3-5, 1992. GUIA DO USUÁRIO do aparelho de bioimpedância elétrica tipo Body Composition Analyzer, Fourth Version, modelo 3 10, fabricado pela Biodynarnics Corporation, sediado em Seatle - USA. 1 NOTA TÉCNICA da Tanita Best Weights. Confiabilidade em medir a gordura corporal com TBF-5 11, TBF-501 e TBF-305. R.Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 2, p. 7-21,2000 21
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