me consolasse!Hoje, depois de chegar ao Calvário, tinha den tro de mim Quem pode fitar e ver todos os caminhos daquele percurso, regados em sangue. Serviu isto para aumento da minha dor: tanto sangue derramado, e tanta ingratidão em recompensa. Via o mundo a fugir àquele Sangue, e eu queria salvá-lo e doutra forma não podia. Se pudesse ser vista esta dor! Se fosse com preendida aquela agonia, quantas almas se salvariam! O coração desfazia-se em amor e Alguém tomava esse amor e espalhava-o pelo mundo: um sopro, como se fosse vento, o levava para toda a parte. Dos meus olhos, dos meus lábios, de todo o meu corpo tiravam não sei o quê, que espalhava também. Eu na cruz, despedaçada de dor, agonizava no abandono, na cegueira, na morte». Esta chama de amor, que é o Espírito do seu Esposo, a Alexandrina sentiu-a muitíssimas vezes como brisa fresca e doce que inundava toda a sua alma de um bálsamo e suavidade celestes. E eis como descreve a acção da Branca Pomba no seu coração: «No sábado, dia 8, véspera do Espírito Santo, eu sentia esvoaçar à volta de mim, e por vezes poisar sobre a minha cabeça uma pomba branca e nos meus ouvidos ouvia o zunir, como se fosse um bando delas a cortarem o ar. Digo branca, não porque os olhos do meu corpo a vissem, mas viram-na, repetidas vezes, os olhos da minha alma. No domingo, dia da Festa do Espírito Santo, essa mesma Pomba poisou sobre mim, rodeou-me, bateu asas, até que entrou para o meu coração e, dentro dele, fez-me lembrar as andorinhas apressadas, canseirosas, a compor seus ninhos. Compunha, compunha, embelezava, aperfeiçoava, uma e outra vez. Eu não sentia vida, sentia-me completamente morta. De vez em quando, essa Pombinha, ora metia em meus lábios o biquito, ora o enterrava no coração, como se estivesse a dar-me alimento. Na verdade, quando ela assim fazia, eu sentia-A ser a vida da minha morte. Logo, no dia seguinte e todos os outros mais, cá está ela no seu ninho, mas agora não esvoaça, não o abandona; está como a descansar com a cabecinha debaixo da asa. De vez em quando, dá sinal de que está ali mexendo com as perninhas ou estendendo as suas asas brancas, deixando coberto com elas o ninho do meu coração. Faz isto com toda a doçura e amor. Parece que está presa e bem enleada no ninho. Estas prisões e enleios são como raios doirados. Sinto a sua vida, mas não me alegro com isso; mas, presa a estes enleios, vou levando a cruz e trilhando meus tristes caminhos» (Do diário de 17-6-46). O Divino Espírito Santo. «O Eterno Pai deu-me uma Cruz. mas dor que tudo tenta destruir». Não sei como o Coração do meu Jesus se infunde em mim. 267 . A minha alma O vê». ajudando-o a caminhar. «Recolhe. Castanha que arrebenta. Jesus entrega-lhe o Coração: «Da Chaga do Divino Coração saía uma enorme chama doirada. porque. caminha. deu-Se todo ao meu.No trabalho operado na alma por esta união divina.. Perde-se em mim e eu nele. Foi um convite e um auxílio do Céu. Acenamos aqui alguns: A 3-7-44. Alexandrina dita estas palavras: «Vem. O fim desta habitação divina na alma é formar nela o Cristo perfeito. Esposa de meu Filho. Sentia na cabeça uma Mão. Alexandrina fala muitas vezes das operações da Primeira Pessoa da Augusta Trindade e frequentemente alude à pode rosa e piedosa Mão. O Eterno Pai. despejou tudo o que d'Ele continha. que podia incendiar e destruir o mundo. está presente toda a Trindade. Alexandrina descreve-nos o processo da sua transform ação em Jesus com aqueles fenómenos que encontramos na biografia dos contemplativos.. que me atraiu muito mais.. piedosamente. prova velmente em 1946. mostra-se à alma na figura de uma Mão: Mão que toca brandamente. Numa folhinha escrita a lápis pela Alexandrina. o mar. selando depois o meu coração». colocou-a entre os meus braços. E a minha alma vê abrirem-se dois braços para recebê-la e levantar o meu corpo de tão grave abatimento... como se acendesse uma lâmpada eléctrica. lemos: «Eu era uma frágil escora.. se apertasse. que anuncia a Paixão íntima. minha filha. Jesus disse-me: «Aceita-a por nosso amor». em ti o meu Divino Coração. Esta voz e estes braços eram do Eterno Pai. Bomba que explode. João da Cruz. tem coragem». é luz que te fará ver e compreender tudo». Que transformação na minha alma!». em forma de Pomba. como afirma S. Abracei a cruz. A 14-9-45. infunde sobre a minha cabeça uma luz. Jesus disse novamente: «Aceita o dom do Espírito Santo. Esta voz e estes braços vinham do alto. Poucos dias após esta entrega da cruz. vem. à minha volta. Jesus derrama-se todo Ele no coração da Alexandrina: «Jesus abriu o seu Divino Coração e abriu também o meu. Uma força benzedora.». destruiria o mundo». porque. que dela estava privada por ausência do Reverendo Abade. (') É cham ado m atrim ónio espiritual.Eis uma entre muitas: «Não vês que estou em ti? Não sou Eu impecável? Não vês que estou transformado em ti? E nesta transformação não podes ofender-Me. num mar de amor. «Recebe uma efusão do meu divino Amor. A mesma expressão. recebe-o. A ssim acon tece entre D eu s e a alma: não haverá m ais segredos que D eu s não lhe revele. pediu à Alexandrina que descrevesse o êxtase e a visão de 1 de Dezembro de 1944. há a fu sã o d e duas vid as. Tudo nos afirma que Alexandrina está pronta para as núpcias com o Cordeiro divino. com a alma que escolhe para sua esposa!». porque ele é a tua vida e tu és vida das almas ( ‘). com outras particularidades que tem a sua importância. encon trando-se em missão no Minho. se o mundo conhecesse esta vida de amor. beijou-me. Além doutras coisas. da minha união conjugal». esta união conjugal com a alma virgem. em que Jesus lhe havia dito esta frase que não se encontrava em nenhum colóquio antecedente: «Oh. E xplica tam bém os títulos que Jesus usa desde este período. acariciou-me e me estreitou docemente a Si. flor cândida do Paraíso. p orque E le é o R ei do m undo. «Neste momento — explicou Alexandrina — Jesus tomou a minha mão. A 18 de Julho de 1945. tal com o entre os e s p o so s terren o s. T odos estes p en sam entos da T eologia transparecem destas breves linhas da A lexandrina. Entre o Director e a Alexandrina trava-se este colóquio: — Nos seus escritos encontrei que Jesus usa estas palavras «União conjugal». cham ando à A lexandrina «rainha dos p ecad ores». a indissolubilidade da união. vem receber ainda uma prova do meu desposório contigo. co m o E le é o seu Pai.» (20-4-45). havia sido dita por Jesus à sua Alexan drina. meses em que lhe tinha sido proibida toda a visita a Balasar. a sua fusão é com pleta. a transm issão de vida a novas criaturas. Fiquei a nadar num mar de gozo. Lembra-se? — Lembro muito bem. dirigia-se a Balasar para dar a Comunhão à Alexandrina. flor deli cada. «m ãe dos pecadores».. «R ainha do m undo». com o E le é o seu R ei. em 29-12-44: «Minha filha. o Director Salesiano. anjo da terra. a vida da alm a assim deificada será fecunda no m ovim ento de com unicar a vida a tantas outras alm as.. a alm a torna-se im pecável d e m od o a n ão m ais se separar do Senhor. 270 . n ão há se g re d o s. Aproveitou esta visita para pedir algumas explicações sobre os escritos dos meses antecedentes. Estava também presente a Mãe do Céu». veio de encontro ao meu mar tírio. sempre em ti habito. exclamei eu! Vale a pena. Alguns anos depois. P. M ada lena de Pazzi. suavizar a minha dor. habitualmente. uma linda visão da SS. e sofrer tudo. desce do Céu sobre ti. «Cansado de amor.. M.. filhinha!».— Poderia dizer-me qualquer coisa de quanto viu durante o êxtase? Enquanto Alexandrina falava. era um trono riquíssimo. uma alma ficou ajoelhada em sinal de reverência. era luz celeste. a 30-3-45 diz à Alexandrina: «É um sinal de que. 16. pág. cap. 4. 65. L a evolución mística. o Qual me estendeu a sua Mão divina. Desa pareceram as três Divinas Pessoas e a alma ficou por algum tem po na mesma posição. B. S. . Alexandrina escreve: «Na noite de 14 para 15. e quem nos uniu foi o Eterno Pai. meu Jesus. Jesus. Diante de nós havia uma taça como acontece nos matrimónios. pág. cap.. para possuir o Céu». Pouco depois. pondo-me a esquerda sobre o ombro. uniu-se a uma mão dela uma mão de Jesus que o Eterno Pai ligou. como se vê nos seus escritos.. ao lado um do outro. Jesus!». Fechou a sua direita na minha. Â n gela d e F olign o. e ouvi como uma bênção de núpcias que descia do Alto. escrevemos quanto segue: «Foi sexta-feira.. que lindo. estavam sentados. Desceu sobre mim a abóbada do céu: Que lindo. no cimo o Divino Espírito Santo em forma de pomba deixava cair sobre o Pai e o Filho que. a conversação familiar ('). uma chuva de raios doirados. (') Cfr. sofrer. 415. Fiquei como junto de Jesus. diante do Eterno Pai. mergulhada no mesmo amor» (Do diário de 25-4-1947). mesmo escondido. parecia o Céu. mais abaixo. de que goza tantas vezes uma fruição directa. Estava por cima o Espírito Santo. Tudo estava iluminado. Repara. é con firmado este acontecimento tão importante na vida dos mís ticos. Na exposição simples da Alexandrina estão as condi ções para constatar a realização nela do mais alto estado de união a que pode chegar uma criatura humana: celebração e contrato feito diante da Trindade Augusta de Quem gozará. Cheia deste amor. Trindade. A rintero. um dia trava-se entre ela e o seu Amado este diálogo: «Tenho o coração cansado. mas não de Vos amar. 272 . O coro fazia-se ouvir cada vez mais e compreendi que cantavam: Glória. era como se nela não estivesse (2). A 25-12-1953. no seu tremendo martírio. pelo gozo da Trindade Augusta que a enche de luz. da grandeza dele. honra e amor! Glória. para se elevar finalmente para o Céu e imergir-se em Deus. viviam uma vida que não era dela. Estás cansada de amor. O quartinho dos Costas pareceu transformado num Céu que arrancou lágrimas a todos os presentes. (I. É ela que vejo em mim». Não era da terra. Comecei a sentir dentro dele um calor que o irradiava todo.. o arranco decisivo da terra. a. honra e amor à Mãe de Deus — Filha e Esposa da Trindade A ugusta!— Glória sempre a Ti. amas o meu Divino Coração até mais não poderes amar.. A 13-7-45 escreve: «Senti como se a abóbada do céu poisasse sobre o meu peito.. nosso Deus e Senhor!.«Cansado de possuir o Vosso Amor. porque não Vos amo nada. raiz de actos m eritórios». como a Beata Ângela de Foligno ('). receb id o na própria essên cia da alm a. II. o amor tam bém consome» (25-5-45). encarregando-a de transmitir uma bênção ao Pontífice «Bem-Amado» e a várias outras pessoas. 24.. durante um êxtase a que assistiram umas cinquenta pessoas e que foi gravado. como se fosse o êxtase dum adeus. Sentia em mim a presença da Santíssima Trindade. a abençoa. O calor ia abrasando sempre o meu peito» (13-7-45). Era o êxtase que se iniciava... Alexandrina vê-se a si mesma na Trindade ou a Trindade Santa se lhe faz sentir. da querida Mãezinha. Tom ás. (') Visões. (2) F roget. muitas vezes. Ouvia um coro que entoava hinos harmoniosos. Alexandrina é consolada. o período mais doloroso da vítima de Balasar. S. q. 3). Entre as trevas e as dores a que a submete a sua imo lação. um princípio de vida sobrenatural. I. arrebatou-me o coração e prendeu-me mais. dist. «Mas amas. glória. 26. glória ao Pai. pág. glória.. torna-se nela com o uma segunda natureza de ordem transcendente. Sent. Cap. Bem sabeis que de mim só tenho miséria. 253: «A graça santificante é um dom estável e p erm anente que. minha filha. ao Filho e ao Espírito Santo! Glória. não dizemos somente na con formidade. a louca de amor. imagem viva do Verbo. mas sobretudo na substituição da própria vontade pela mesma vontade de Deus. sempre assistida pelo Espírito Santo. o Director Salesiano escrevia. a primeira na reparação. ela ouve do Eterno Pai esta palavra que sela o aperfeiçoamento da obra nela completada: «Esta é a nossa filha bem-amada. no sentido de transformar Alexandrina. mas tornaria minhas as palavras de S. na verdade. Depois de dez dias de misterioso trabalho divino. na esperança de obter um apoio para a causa: «Parece-me que se eu tivesse de pintar a bondade e a missão da Alexandrina. se absorve em Deus». ó Mãe querida! Ó Mãe querida! Ó Pai. em quem foram sempre postos os nossos olhares. na generosidade. ó Filho. 18 273 . a frase comum «dons que o Céu dá a quem quer». que se encontra no retábulo do altar-mor da igreja de Balasar. porque o êxtase não resiste a quem obedece. de modo eloquente. soltou este grito irreprimível: «Ó Pai. até torná-la reflexo de Deus e um só espírito com Ele. E. isto é. ó Filho. João da Cruz. por Nós e pelas almas» (4-3-55). a quem sai do seu querer e. Os sintom as sensíveis da vida divina na Alexandrina A um superior do P. Esta é a nossa filha bem-amada. a que ponto tinha chegado. ó Filho! Ó Espírito Santo! Ó Virgem querida! Ó Pai. representá-la-ia como Jesus. não usaria.c Mariano Pinho. inundada pela luz eterna como nunca. ó Espí rito Santo! Ó Mãezinha querida. e isto tanto no modo de pensar como no de agir». em 25-7-44. Alexandrina mostrou praticamente. se tivesse de dar uma explicação dos seus arreba tamentos e êxtases. ó Pai! Ó Filho. ó Espírito Santo! O Mãe querida. assim aliviado. no heroísmo. eu não suporto tanto peso!». a quem lhe perguntava de que modo uma pessoa pode chegar aos êxtases: «Renunciando à própria vontade — respondia o santo — e fazendo a de Deus. através da contempla ção da luminosa treva. o Bom Pastor.r Alexandrina. Esta é a nossa vítima primogénita. Meu Deus. este olhar penetra tudo. prisões. Mas não só o seu olhar é olhar divino.amor. lodo o meu ser era outro. doçuras e amor nada têm que ver comigo. vê tanto com os olhos abertos como com eles fechados: vê tudo. Este olhar é como que uma bola que a todos atinge. Este olhar vê para dentro e para fora. a sua transformação é mais profunda e total. Assim fala. Temo e tremo! Meu Jesus. O que está nele não me pertence. já não sofria» (17-5-45). não permitais que tudo isto nasça de mim. que lava e purifica». ao qual nada se pode esconder. ternuras. E a 1 de Setembro daquele mesmo ano. bondade e carinho! Que riqueza sinto em mim! Nada disto me pertence.. Sinto que esta atracção vem ao encontro do meu coração. Se eu soubesse mostrar tudo isto para bem das almas e glória do meu Jesus. E no mesmo êxtase: «Tu és a fonte e eu a água que corre nela. Não sei o que se passa em todo o meu corpo.. uma vida que não era minha». Sinto como se tudo isto fosse escrito com sangue tirado do meu coração» (15-5-45) ('). 276 . confusa e admirada. Cristo está». Desafogo-me em amor. e com que doçura eu o abro para receber tudo o que nele queira entrar. Jesus diz-lhe: «No teu corpo está Cristo: nos teus olhares. esta vida minha não é. Este olhar tem ainda chaves que fecham: são chaves que só servem no coração. nos teus sorrisos. no diário da semana seguinte: «É o sorriso dos meus lábios: também não é meu. não sei exprimir melhor os meus sentimentos. tudo. Parece-me um sorriso que tem braços para abraçar eternamente e bálsamo para curar todas as chagas. deixava de ser vítima. «Enquanto Jesus dizia isto — explica Alexandrina — senti como se Ele tirasse todas as veias do seu Corpo e as colocasse no meu. Sentia correr em mim um sangue que não me pertencia. nada têm que atribuir a mim: este corpo não é meu. ( ‘) Já falám os desta dor inefável que sentem os m ísticos ao terem de falar das coisas divinas. Estes enleios. mas sim em Vós! Aceitai toda a minha agonia. este olhai dá luz: é como um espelho que tudo faz reflectir. T am bém esta passagem o prova elo q u en tem ente. não sei acabar mais o que dentro de mim se passa. Este olhar tem prisões. Tudo isto se passa nas minhas trevas. e não sei que tem em si que atrai. minha é a dor que destes sentim entos é motivada. são chaves que só fecham o que estes olhares atraem. os sofrimentos da Paixão duravam três horas. para que sejam meios de salvação. a fim de arrancá-lo da sua vida corrompida e. «Hoje. que jorrará até à vida eterna» (João IV. X . sofrido em tempos diferentes. transformada pela graça. devemos observar que.. sem se aperceber. conf. W eiss.». na quarta. ora daquele outro pormenor da Paixão de Jesus» ('). O Padre Weiss indica este duplo escopo: «Na sua misericordiosa Providência. É também necessário saber-se que o mesmo facto do Divino Paciente. até 1942. «Eu não sofro senão em ti» Antes de transcrever qualquer trecho extraído dos escritos da Alexandrina sobre este assunto.. 277 . João. (2) Cfr. com a maior espontaneidade e naturalidade. torna-se por sua vez uma verdadeira fonte distribuidora de vida que é amor divino. isto é. em que tantas almas encontrarão purificação e riquezas divinas. em que Jesus diz à Samaritana: «A água que eu lhe der tomar-se-á fonte de água viva. 14). Deus manda os seus santos para julgar o mundo e recordar-lhes o seu dever. São estes os fins que o Médico das nações se propõe ao escolher os seus santos» (2). mas sofro só em certos dias. anos antes. a alma. são sofrimentos ora deste.Aflora-nos à mente aquela passagem de S.. Disto resulta a amplidão pano râmica das dores de Jesus.. Deixa que elas (as almas) venham todas a ti. Observamos por fim que a substituição de Cristo nela é de tal modo perfeita que mui tas vezes. ( ‘) D ep o im en to feito ao D irector Salesiano a 19-6-46. Segundo esta misteriosa promessa. não: (assim explica ela ao Director Salesiano) o temor por estas dores tenho-o quase sempre. em particular na sua época. Alexandrina usa nos seus escritos. é-nos explicado por eminentes Doutores e Mestres do espírito. é sofrido e descrito com traços diversos: nunca foi sentido pela Ale xandrina de idêntico modo. o mas culino em vez do feminino. 24. tinham um dia e uma ordem estabelecida desde o Horto até ao Calvário. A pol. ou quinta ou sexta. Qual seja pois o escopo que Deus se propõe ao formar estas almas e ao levá-las a participar tão ao vivo da sua Paixão divina. Jesus o diz à Alexandrina a 5-10-45: «No fontenário do teu coração está plantada a fina flor do Amor. sou Eu que os movo e falo em ti». a necessidade de expia ção. dia do Espírito Santo. diz-lhe Jesus (8-7-45). ia-lhes ao encontro. transcrevemos este trecho. guardar esta riqueza que me pertence no meio da minha miséria! Que sou eu. E logo essa lança Lhe foi abrir o peito e o Coração. «Pobre terra. que é a Igreja (2). Bendita luz! Bendito apelo de Deus! Eis quanto encontramos nesta frase da Alexandrina: «Quando os teus lábios se movem para falar. 143. 278 . Depois disto. os cismas no Corpo Místico e o rigor da expiação que foi pedida ao Salvador. Cap. Benditos sofrimentos que aplacam e purificam! Q uantas vezes Alexandrina falará deste complemento que a sua carne dá àquilo que falta nos sofrimentos de Cristo em favor do Seu corpo. (') Santa Catarina de G énova. Sirva esta única citação da Alexandrina: «Todavia. os delitos. Os elei tos. escolhia-as. antes eu via as almas. que horror!». E a 2 de Maio de 1945. passavam-se ao outro Corpo» (18-1-46). e para saber apreciar as grandezas e as magnificências que Ele se digna depositar nestes servos fiéis!» (!). Diálogos. prolongam através dos séculos o sacrifício do Calvário. I. Meu Deus!.. escreve: «O Senhor duplicou a ternura dos meus olhares. os sacrilégios. escrito pela Alexandrina. que parece não conhecer outra forma senão aquela de mostrar-se chagado e sempre triste. amá-las. no dia em que faltarem estas almas! — exclama Santa Catarina de Génova — Que o Senhor dê o espírito de revelação para conhecê-las. As dores. levados deste modo a participarem verdadeiramente na Sua agonia e paixão. Agora. prendia-as a mim com os doces vínculos que tinha no meu coração. Jesus cerrou os olhos e expirou dentro de mim.. em 27 de Setembro de 1946: «Senti nos lábios a esponja e vi ao lado uma agudíssima lança. pelo interior dela. (2) C oloss. 24. atraía-as. a cabeça era uma chaga viva. Para responder de uma vez para sempre a quem se escandalize deste nosso Deus. vou-as ligando ainda mais. que sou eu! O Jesus.É por estes mesmos motivos que Deus mostra aos seus santos os grandes males da Igreja. spec. eu não sei sofrer. • * 279 . Visões do mundo a redimir À alma vítima. Revesti-me de ti. o Salvador mostra o mundo a redimir. vai penetrar no íntimo e faz que eu penetre também! Ai. é o teu corpo açoitado. repara e sofre. agora são milhões e milhões de pecadores que assim Me ferem. São. as minhas maldades». as falsas armadilhas que lhe preparam. Lib. gratiae. Minha filha amada. para reparares. minha vítima querida».. o mundo crucifica-me continuamente. vivo em ti e tu em Mim. 1. Eu não sofro senão em ti. que miséria nas almas! Oh. oh. para te fazer com preen der. «Meu Jesus. Fiquei por algum tempo como se estivesse morta com Jesus. I. quanta maldade! O meu Divino Coração não tem como no Calvário um só soldado que o abra. Entra e traze contigo a humanidade que é tua. aqui estou com o meu Divino Coração aberto. cheio de vida: «Minha filha. aberto pelos pecadores. Com o mesmo Coração aberto falou-me. mas não sou Eu que sofro. que vê com os próprios olhos de Cristo vivo nela (1 ). a vítima do Rei Divino. Acenemos só a este aspecto do panorama proposto ao olhar da Alexandrina. é a tua cabeça que é coroada de espinhos. É teu.. via através dos o lh os divinos do Salvador. sofre. Criei-te para a dor.. repara. M ostro-me assim. quem te pede». por amor. Sofre. nem reparar. é Cristo em ti. por vosso amor e vejo-Vos sempre assim ferido. és tu a vítima imolada. que Lhe crave a lança. é nele a tua morada. que lodo encobre os corpos e alastra (') Tam bém Santa M atilde.. com certeza. que te confiei. são os teus pés e mãos chagados. E o teu coração que é aberto pela lança. depois. e nada valem os meus sofrimentos. aberto com a mal dade do mundo. «Sossega.. É Jesus.Vi cair dele umas gotinhas de sangue e por último água claríssima. «Ai! como eu o vejo (o mundo)! Esta luz nada deixa oculto.. Só Eu conheço o perigo em que ela está. criei-te e fiz de ti um instrumento de salvação para as almas. o teu Esposo. que havia comparado o pecador a um homem com coração de pedra ('). X I. «Arde o edifício. Que fogo abrasador! O edifício (2) continua dentro em mim. que é o m undo. queria m ostrar a sua misericórdia tal qual a vejo. a A lexandrina fala d este «coração de pedra». As labaredas do edifício ardem debaixo e à sua volta. e o rochedo de um lado e de outro. à altura do rochedo que se vai desfazendo a pouco e pouco. Tam bém na Paixão de 10 de A g o sto de 1945. Faz-me lembrar a compaixão de Jesus. o seu amor infinito. (3) O m undo pecador. e mais o meu coração se condói da terra. Alguns pedaços ficam sem que o fogo os consuma. 26. Sobre o rochedo estou eu. Sinto o deslizar das pedrinhas do rochedo. Não posso resistir a esta dor! É tal a compaixão que o prende a este exílio. «coração m undial» que não dá sinais de com paixão e de sentim entos. Como o profeta Ezequiel. Queria dizer quanto Jesus nos ama. Eu bato nele. tenho que fazê-lo estremecer. tal qual a sinto. queima-me o coração. que horror! Ó mundo. O fogo não se apaga. «O meu peito arde. 19. meu Deus. profetizando que Deus o substituiria um dia com o coração de carne. mais o mundo é lama. Mas como penetrá-lo todo? Impossível ser todo transformado em chamas. vai descamando como acha de lenha posta em bocadinhos. é ele que está em labaredas. Todo ele é regado com as lágrimas que caem dos meus olhos: são lágrimas de dor e de amargura. C orpo m ístico. X X X V I. elas saem de mim. é com tanto custo! Há tanto que fazer! Este fogo não pode parar! Este rochedo tem de ser transformado em modelo e em fogo divino» (17-4-45). (2) A Igreja. aqui e acolá. rolam nas minhas faces. a sua misericórdia. Alexandrina em Jesus vê este difícil trabalho a realizar. como eu te vejo! Q uanto mais sobe a torre. são lágrimas de compaixão.toda a humanidade! Que horror. que nada digo!» (15-3-45). que pena! Tanta dor e tanto amor perdidos!» (19-4-45). Mas. vai-se abrindo. tornando o homem fiel aos preceitos divinos. Sinto de novo que sobre este edifício foi colocado um rochedo mundial (3). mas vêm do alto. rodeio-o por todos os lados. E não são minhas estas lágrimas. mas não sou eu. mas brotam dos olhos de Jesus! Oh. mais a luz dá luz. O E zeq u iel. que parece que faiscou lume e estende seus raios de amor de cima para baixo. Pobre de mim. . é ele que fortemente arde e queima. Se houver amor. De rochedo passará a oiro finíssimo. Mas sobretudo sente-se Jesus — misericórdia que quer per doar. Outras vezes.A 20-4-45. está sobre o edifício do amor. 281 . sem que uma só alma se perca. são aquelas almas que não dei xam penetrar em si o fogo do meu Divino Amor. que não se purificam». Jesus explica: «Tens universos de amor. E com as chamas deste edifício que tens em ti. será salvo o mundo. universos de pureza. que sen tes não serem transformados. Os pedaços. subjugar e transformar o universo inteiro. vencer. É ao calor deste amor que o mundo há-de aquecer-se. se houver pureza. o fogo purifica. O amor transforma. O rochedo é o mundo. Alexandrina sente ser Jesus — luz que deve iluminar o mundo — fonte que dessedenta. num êxtase. que o rochedo há-de transformar-se. que lava e purifica.